Tradi o Bon-Po Parte2
Tradi o Bon-Po Parte2
Tradi o Bon-Po Parte2
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Frater Magister X.
Frater Bapphomet VIII
Frater ArcanumVIII
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da E.I.E. CAMINHOS DA TRADIO, na pessoa de seu editor.
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.
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Escrito no Templo da Ordem em
Anno IV: XV
Sol in Pisces, Luna in Aries
Dies Martis
20/03/2007 e.v.
Influncia Bon-Po na Tradio
Vdica
Uma praga com mil olhos vem rolando: e ela procura aquele que me
amaldioa como um lobo procura a morada do dono dos carneiros...
Golpeia aquele que me amaldioa, maldio! ... A ele rogo a morte! - Veda
IV, 6:37. (Tharva Veda dos brmanes - a obra secreta).
O mais importante notar que o Tharva Veda no visto como uma
obra de bruxaria e feitiaria. Entre as frmulas nele includas encontram-
se vrias que na verdade amaldioam os feiticeiros e outras que
procuram munir o sacerdote brmane com eficazes defesas contra a
magia de outros. Assim, do ponto de vista brmane, o Veda magia
branca, ou legtima. A diferena usual entre as frmulas originalmente
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memorizadas pelos sacerdotes brmanes e devendo ser usadas s
depois dos ritos de purificao e dedicao, as frmulas do mui mgicko
Alharva Veda eram tidas como eficazes por milhes de hindus. Chamado
originalmente de Brahma Veda (Livro para Brmanes), seu "status"
segundo a teologia hindu era inferior ao dos Trs Vedas; por isso o ttulo
de Quarto Veda se aplica a ele algumas vezes, duas sempre considerada
em termos do grau de mal que encorajado, mas o Atharva Veda toca a
raiz do problema mgico. Se um encantamento pode fazer bem ou mal,
dependendo do propsito para o qual usado, ele se constitui em magia
branca ou magia negra?
Segundo as crenas dos compiladores dos Vedas, a magia no s
verdadeira como legal quando aplicada pelos puros de corao. Essa a
principal razo por que durante sculos o Atharva Veda foi lido apenas
por seletos iniciados.
Os seguintes extratos formam um estudo interessante do mbito e
propsito das prticas mgickas entre os vedas brmanes.
Encanto para a vda eterna:
Que a imortalidade esteja com ele! Ele partilha a vida eterna do Sol.
Indra e Agni o abenoaram e o levaram sua imortalidade. Bhaga e Soma
esto com ele, elevando-o para prolongar os seus dias.
No haver perigo de morte:
Este mundo te manter, para sempre, eia! O Sol, o vento, a chuva, todos
esto contigo! Teu corpo ser forte e imune a qualquer doena. A vida
ser tua, eu prometo; entra nessa carruagem Imorredoura e muito
antiga...
Teu corao ser forte, no te apartes dos outros. Esquece aqueles que
morreram, no so mais para ti. Os multicoloridos ces gmeos de Yama,
guardas da estrada, no te seguiro (para tomar tua vida). Segue o
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caminho, que o fogo te guiar, a chama purificadora, e ela no te
molestar, esse calor celestial!
Se todas as esferas da ambio humana. Nos escritos secretos,
entretanto, seu uso geralmente limitado proteo, fecundidade,
virilidade, prosperidade e defesa contra bruxaria. Quando completado, o
talism atado ao brao direito. O hino dirigido ao encanto em si varia
segundo o efeito desejado, apesar de a simples possesso do talism
garantir muitos dos poderes associados com suas virtudes tradicionais.
Esta a frmula de proteo usada em conjunto com o talism.
Frmula de proteo do encanto sraktya tibetano:
Atado ao proprietrio, este encanto todo-poderoso. Faz o
possuidor forte e valente, mata inimigos, traz a fortuna ao que o tem.
potente, tambm, contra toda magia. Este encanto foi usado por Indra
para matar Vritra. Ele arrasou os Asuras e tornou-se senhor do cu e da
Terra e com sua ajuda superou as quatro esferas do espao. Sim, este
talism agressivo e vitorioso. Destruir o inimigo e nos proteger dele.
Isso o que Agni e Soma disseram, Indra, Brihaspati e Savitar, todos
concorrem por ele. Aqueles que me atacarem sero repelidos e a mesma
fora que usarem recair sobre eles: pela fora deste talism! O cu, a
Terra, o Sol, os sbios, todos estaro entre mim e o inimigo. Sua fora
recair sobre eles: pela fora deste talism! Este talism para mim e
outros que o usam como uma armadura todo-poderosa. Ascende s
esferas como o Sol subindo no cu, destri toda mgica contra mim.
fora potente e os Rashas tombaro diante dele! Indra, Vishnu, Savitar,
Rudra, Agni, Prajapati, Parameshthin, Viraj, Vaysvanara, todos eles, os
espritos poderosos, estaro por trs do amuleto que ligado ao clima,
como uma poderosa armadura. mais poderosa das rvores, potente
como um lder entre feras, vs sois meu guardio e meu socorro, pois o
que precisei encontrei. E eu, usando este amuleto como um tigre, como
um touro, como um leo, nada pode tocar-me, portador deste
encantamento. Aquele que o usa pode tudo comandar e ser seu
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dominador. Feito e produzido por Kassyapa, usado por Indra em suas
batalhas, ele era sem dvida um vencedor. o poder dos espritos que
faz este amuleto ter seu poder multiplicado mil vezes. Indra, com um
chicote de cem raios e relmpagos, golpeai aquele que quer me golpear,
por virtude deste encantamento! Que este grande e poderoso talism leve
vitria sempre que usado. Produz crianas, fecundidade, segurana,
fortuna! Aqueles que so contra ns no Norte, no Sul, no Oeste, no Leste,
prostrai-os, Indra! Minha proteo, como uma armadura o Sol, o dia e
a noite, os cus e a Terra. Minha proteo Indra e Agni. Dhatar me dar
essa proteo! Todos os espritos que existem no conseguem
atravessar as defesas de Indra e Agni: essa a fora que tenho entre mim
e meu inimigo. espritos! Deixai-me envelhecer e no ter cortada minha
juventude!
Nada pode acontecer ao portador deste amuleto. Ele o talism da
invulnerabilidade!
Se o talism estiver sendo dado a algum por um feiticeiro, o
mestre terminar sua fala com as palavras:
Este o talism todo-poderoso! Indra, doador da prosperidade,
matador de Vritra, senhor supremo dos inimigos, conquistador,
salvaguarda em todos os perigos, protegei este homem e dai-lhe sua
ajuda, dia e noite!
Algumas vezes feita uma oferenda de manteiga. Se o amuleto
desejado para ser usado na guerra, acende-se um fogo de flechas
partidas diante dele para simbolizar a destruio do inimigo""
Medicina Oculta dos Vedas
Segundo o Atharva Veda a maioria das doenas pode ser curada
com encantamentos.
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Encantos contra dores:
A dor no pescoo (ou qualquer que seja a dor) desaparecer. So
estas as 55 dores e as 77 dores e as 99 dores: todas elas desaparecero!
Enquanto continua a repetio - que deve ser feita 70 vezes - 55 folhas da
planta parasu so acesas com alguns pedaos de madeira em brasa. A
seiva que sai das folhas ento coletada, na medida do possvel, em uma
vasilha e aplicada s dores.
Mas talvez mais atraente ao pblico em geral que gosta de
encantamentos seja o seguinte, destinado a combater todos os males, a
banir todas as doenas de qualquer origem:
Encanto contra todos os males:
Livre-me, fora m; por favor, 'livre-me, vtima infeliz de sua
malcia! Deixe-me escapar dessa coisa m e ser feliz outra vez! Se no me
libertar, ento a abandonarei no prximo cruzamento, e voc seguir e
tomar um outro! V, siga outro: tome o homem que meu inimigo,
ataque-o!
A manufatura desse encanto complicada pelo ritual que
suplementa as recitaes. Elas so repetidas noite, enquanto milho
seco peneirado e depois desprezado. No dia seguinte o invocador atira
trs oferendas de comida em gua corrente, como sacrifcio ao esprito
dos mil olhos. Numa encruzilhada ele ento espalha trs pores de arroz
cozido como isca para que entre o mal, antes de ir morar no corpo do
inimigo a quem se destina.
Venenos, diz o Veda, podem ser combatidos por meio deste ritual.
Primeiro recitado o encanto, em voz baixa, reverenciando um dolo que
representa o deus-serpente Takshaka. Enquanto isso, o paciente toma
uma pequena quantidade de gua, enquanto gua tambm borrifada
sobre ele. Essa gua deve ter sido especialmente preparada
mergulhando-se nela um pedao da rvore krimuka. Em seguida, uma
pea de roupa velha aquecida e mergulhada em outro recipiente com
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gua que o paciente tem de beber tambm. Alguns misturam as duas
bebidas com manteiga clarificada e mexem a poo com lminas de
flechas envenenadas. Talvez no surpreenda o fato de se esperar que o
paciente fique doente depois dessas cerimnias. Este o encantamento a
ser recitado:
Brahmana, bebida do sagrado Soma, o de dez cabeas e dez
bocas, deixava os venenos sem efeito. Eu anunciei, por toda a amplido
dos cus e da Terra, por todo o espao, a fora deste encanto.
Garutamant, a guia, bebeu o veneno: mas no teve efeitos contra ela. Da
mesma forma eu desviei a fora do veneno, come uma flecha desviada.
flecha, tua ponta e teu veneno no tm poder: igualmente, todos
aqueles envolvidos na fabricao e uso deste veneno, eu deixei tambm
impotentes. Mesmo os penhascos onde crescem as plantas do veneno
tornaram-se sem poder diante de mim. Tudo deste veneno negativo.
Veneno, teu poder se foi!
Encantos contra doena e demnios
O mago do Atharva tem de proteger contra doenas e demnios: as
primeiras em funo de seus clientes - muitas vezes reis antigos e suas
famlias - os ltimos porque podem afetar adversamente sua magia. O
seguinte encantamento tido como eficaz contra ambos os tipos de
ameaa e tambm contra doenas causadas por espritos malignos.
Primeiro feito um amuleto de madeira da rvore gngida e sobre ele
entoado o encantamento:
Os videntes, falando em nome de Indra, deram Gngida aos
homens. Ela foi feita remdio pelos deuses, desde o princpio, e
destruidora de Vishkandha. Protegei-nos, Gngida, pois cuidamos de
vossos tesouros; na verdade os deuses e os brmanes fizeram-na
proteo que anula as foras do mal! Eu me aproximei do mau-olhado do
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inimigo; Mil Olhos, destru todos eles! Gngida, sois nosso refgio.
Gngida me proteger dos cus, da Terra, das plantas, do ar, do passado
e do futuro. Devo ser protegido em todas as direes! Possa a todo-
poderosa, protetora Gngida, deixar toda a magia dos deuses e dos
homens fraca e impotente!
Essa citao, alm de seu interesse como tpico encanto de
proteo hindu, revela que tal o poder da rvore gngida que mesmo
encantos lanados pelos deuses no tm efeito contra ela. Notamos aqui
a magia surgindo com um poder quase prprio, fora que parece existir
parte ds meramente "emprestadas" de deuses e homens. Esse um
ponto, penso eu, que tem sido insuficientemente notado por muitos
cronistas da prtica mgica. J se disse que o feiticeiro tpico primeiro
apela para os deuses, depois repudia-os ou os ameaa se o
encantamento no funciona. Isso ocorre tambm em conjuraes dos
judeus. Ser isso certamente uma extenso da idia de que o deus ou ser
a que se dirige no o mais alto poder invocado? Em cdices mais
recentes em que as frmulas crists foram submetidas s mais primitivas,
isso muito claro. Igualmente, tambm, se poderia sustentar que s
deuses ou espritos pagos invocados para servir o feiticeiro agem
meramente como intermedirios ou agentes do poder por cujo mandato a
magia exercida. Qual esse poder maior? Pode ou no se referir ao
desejo unitrio subconsciente do homem? Isso levanta questes
teolgicas, mas pode resultar um campo de estudos frtil, se pelo menos
os ocultistas ou mesmo os antroplogos se aventurassem alm das
trilhas conhecidas; isto , se eles parassem de se contentar com
meramente catalogar as observaes de outros.
Em ltima anlise deve-se notar que encantos e frmulas sozinhos
nem sempre so suficientes para efetuar uma cura. Isso explica por que
vrios encantamentos para o mesmo fim so prescritos nos registros
mgickos. Se, portanto, um encanto no funciona, outro experimentado
e assim por diante at que se encontre a cura? Fizemos essa pergunta a
um sacerdote brmane sobre cdigos mgickos do hindusmo. Ele
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respondeu que esse era um mtodo ocidental, emprico, de colocar o
carro na frente dos bois. Segundo posies estabelecidas a cura no s
possvel, mas certa. Pode ser, entretanto, que certas influncias
planetrias sejam apropriadas a um tipo de encantamento e no a outro.
Ou pode ser que um tipo de demnio cause uma doena e outro tipo,
outra. Esses fatos deveriam ser conhecidos de todos os praticantes da
medicina oculta.
Da a variedade de encantos e amuletos empregados em vrias
circunstncias. Esse praticante citou ento a seguinte alternativa de
exorcismo para a doena:
Exorcismo da rvore varana
Esta doena deve ser cortada pela divina fora da rvore Varana;
assim tambm os deuses terminaro esta doena! Estou curando esta
doena a comando de Indra, a comando de Mitra, e por Varuna e todos os
deuses. Assim como Vritra suspendeu o fluxo destas torrentes eteinas,
assim encerro esta doena nesta pessoa, com o poder de Agni
Vaisvanara.
Certas plantas, assim como a gua e a cevada, so adjuntos
importantes ao poder dos encantamentos e amuletos. A fim de expor o
poder latente desses objetos, eles tm de ser consagrados e
"sensibilizados".
O prprio fato de o mago ter em sua casa esses elementos mgicos
atrair o poder oculto, que aumentar de intensidade dia a dia. Esta a
orao geral feita diante de gua fresca e cevada:
Esta cevada foi arada com fora e foi usada em ramos de oito e de
seis. Doenas sero curadas com ela. Assim como os ventos sopram
para baixo, o Sol brilha para baixo, para baixo sai o leite da vaca, que se
v assim doena (que pode ser curada com isto)! A gua cura; a gua
leva a doena; a gua cura todos os males; estas guas faro uma cura
para vs!
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Hino s plantas:
Quando plantas mgicas so colhidas frescas com propsitos
curativos este hino entoado sobre elas:
Invocamos as plantas marrons, brancas, pintadas, coloridas e
pretas; elas devem proteger esta pessoa dos males mandados pelos
deuses: seu pai o cu, sua me, a Terra, razes e oceano. Plantas
celestiais expelem doenas pecaminosas. As plantas que se espalham,
plantas que crescem em arbustos, algumas de uma s vagem, e aquelas
que so trepadeiras; essas invoco. Chamo as plantas que tm brotos,
plantas que tm caules, aquelas que dividem seus membros, as que
foram feitas pelos deuses, as fortes, que do vida ao homem. Com a fora
que sua, poderosas, com o poder e a fora que so seus, com isso,
plantas, livrem este homem de sua m sade! Agora estou fazendo um
remdio. As plantas gvala, naghrisha, givanti e a planta arundhati, que
curam (doenas), esto florindo e eu as chamo para ajud-lo. As plantas
sbias devem vir aqui, elas entendem o que estou dizendo e podemos
nos juntar para em segurana levar este homem boa sade. So os
bens do fogo, as filhas da gua, elas crescem e recrescem, fortes,
curativas, plantas curadoras, com mil nomes, todas trazidas aqui. Plantas
espinhosas, expulsem o mal. Plantas que agem contra a bruxaria devero
vir aqui, plantas que foram compradas, que protegem animais e homens,
elas viro. Os topos, os fins, os meios de todas essas plantas so
embebidos de mel e todas elas devem, mesmo aos milhares, ajudar
contra a morte e o sofrimento. O talism feito de plantas como um tigre;
proteger contra a hostilidade, curar todas as doenas. Doenas
correro com os rios...
Essas invocaes continuam por muitas linhas. Invocando todos
os tipos de deuses e poderes, falando de exemplos clssicos da mitologia
indiana, onde grandes batalhas foram vencidas e perdidas, a trovejante
voz do mago prossegue implacavelmente em seu esforo de juntar todos
os poderes que pode invocar. Ao oscilar levando os quadris para frente e
para trs, o brmane tem de marcar com a cabea o ritmo da recitao e
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deve sentir o poder derivado das plantas crescerem perceptivelmente no
interior de seu corpo. Isso me foi descrito como uma sensao fsica real.
A Magia Bon-Po
Seus Ritos
Dedico-me a obter o poder e o conhecimento neste mundo e a
promoo no outro mundo... - Rito da Invocao da rvore Asuvata.
Apesar da pouca pesquisa comparativa sobre os fundamentos da
tradio oculta oriental e ocidental que tem sido feita por estudiosos
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imparciais, certos princpios importantes a esse estudo j foram
estabelecidos. Talvez o mais surpreendente deles seja a estranha
similaridade entre a escola grega antiga, os ritos dos cabalistas judeus e
os discpulos arcanos do veda na ndia e os Cdices Tibetanos.
Resultantes de uma abordagem mstica s maravilhas conseguidas
por meio da magia, todas essas escolas abarcaram em comum os ritos de
purificao, vestimentas cerimoniais, encantamentos e ascetismo. A
santidade do nome divino, cuja simples enunciao era reservada para
ocasies especiais, e trs graus de iniciao constituem outra pedra de
toque de sua prtica oculta.
Que so as escolas mgickas orientais e como atingem seus
objetivos? Em primeiro lugar, a ndia, China, Tibet, como qualquer outro
pas, est cheia de charlates cujo principal objetivo na vida meramente
sobreviver atravs de prestidigitao ou truques, alguns dos quais
extremamente engenhosos. Mas grande parte da populao se d
crena, seno prpria prtica, da magia. Aqueles cuja nica ocupao
o estudo e a tentativa de utilizar a cincia oculta - como os sadhus e os
faquires - se preparam com uma das mais rgidas e austeras disciplinas
da histria humana.
Ao mesmo tempo, seus "milagres" - que eu mesmo presenciei e
tentei testar como cientificamente possveis - parecem superar em
mbito, todo o resto.
Em resumo, a cincia oculta hindu repousa na crena de que o
poder sobre toda e qualquer coisa da Terra pode ser obtido por meio de
espritos benignos. Assim como com os chineses, tais seres podem ser
as almas dos falecidos ou simplesmente entidades sem corpo sob cuja
superviso esto as leis da natureza. Se, por exemplo, se deseja interferir
com a lei da gravidade, o esprito que guarda essa lei deve ser invocado e
pedida a sua ajuda. Esse tipo de experincia considerado dos mais
elementares; to surpreendentes so os resultados obtidos por esses
sadhus que sou quase levado concluso de que deve haver alguma lei
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natural ainda no descoberta no Ocidente, a qual permite que aparentes
milagres sejam realizados por aqueles que sintonizam suas mentes nesta
faixa.
Eis um caso interessante: nosso instrutor, um mago, iria
demonstrar alguns truques a um grupo de pessoas do nosso crculo de
estudos. Vestindo um traje comum, camiseta e jeans e trazendo apenas
um basto com sete anis - o emblema ou varinha mgica dos ocultistas.
Foram feitos vrios testes. Primeiro foi pedido que fizesse uma cadeira
levitar e flutuar no espao. Franzindo as sobrancelhas em profunda
concentrao, ele fechou os olhos e estendeu ambas as mos na direo
da maior cadeira da varanda. Em dez segundos - marcados num
cronmetro - a cadeira pareceu subir e, oscilando ligeiramente, flutuar
realmente no espao, a uma altura de cinco ps. Pessoas se aproximaram
e a puxaram pelas pernas. Ela desceu para o cho; mas assim que
soltaram subiu de novo. Perguntei se ele podia fazer-me flutuar com a
cadeira. Ele assentiu com a cabea. Puxando-a para baixo de novo - e a
coisa agora parecia ter vida prpria - sentei-me na cadeira e flutuei no ar.
Convencido de que havia alguma espcie de hipnose por trs disso, fiz
com que ele elevasse toda a moblia do lugar. Depois lhe pedi que
trouxesse flores de um jardim prximo - e elas apareceram. No tnhamos
uma cmara fotogrfica, seno essa teria sido uma oportunidade de testar
o assunto de uma vez por todas. Mas eu no podia acreditar que a
hipnose, tal como ns a conhecemos, pudesse existir ali. Em primeiro
lugar, a induo ao estado hipntico teria sido incrivelmente rpida; em
segundo lugar, mesmo enquanto os fenmenos estavam ocorrendo, eu
no podia me fazer acreditar que eles fossem genunos. Eu no parecia
estar de forma alguma en rapport com o mago, pois podia facilmente
voltar minha lista prvia de fenmenos e pedir-lhe que me fizesse mais
alguns. Mas o que finalmente dissipou minha suspeita de que a hipnose
enquanto tal estivesse sendo usada foi o seguinte: pedi que me
descrevesse o contedo das prximas duas cartas que eu recebesse e ele
o fez corretamente. Em seguida, pedi-lhe que me trouxesse
imediatamente um objeto pertencente a minha namorada, uma corrente
.
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com um smbolo egpcio do olho de Horus. E o objeto apareceu. Na
manh seguinte, enquanto eu tomava o caf da manh, ela me ligou me
contando sobre sua perda, no que imediatamente eu disse que no se
preocupasse porque estava comigo. Ela estava um pouco confusa. Disse
ele ter sonhado comigo na noite anterior que me tinha emprestado a
corrente. Que pensar? Meu instrutor veio, conforme disse, "para
demonstrar os poderes que vm a um homem que segue genuinamente o
caminho da virtude". Hipnose, materializao e vidncia.
Essa experincia representativa de grande nmero de
experimentos que eu e vrios outros estudiosos da tradio oculta
realizamos durante um perodo de quase 8 anos. Alguns traos gerais da
minha prtica mgicka surgiram desse estudo.
Em primeiro lugar, parece possvel, se no provvel, que certo
nmero de magos pode induzir de fato fenmenos que seriam
classificados como sobrenaturais. Qual a natureza de seu poder, qual a
sua fonte? Em conjunto com vrios investigadores ocidentais, fui forado
concluso de que temos de conceber a existncia de alguns princpios
cujo controle se torna possvel atravs das disciplinas dos sacerdotes
magos orientais em geral. Pode ser oculto, desde que qualquer coisa no
compreendida pode ser chamada de oculto: muito mais provvel que
sejam foras, talvez afins ao magnetismo ou eletricidade, ou formas
disso, cujas funes ainda no compreendida pela cincia. Afinal
sabemos muito pouco sobre a natureza da eletricidade ou do
magnetismo, ainda hoje. Sabemos como usar essas foras e sabemos o
que elas podem fazer. No entanto, foram conhecidas durante sculos
antes de serem controladas. O que coloca essa "fora oculta" numa
posio ligeiramente diversa o aparente fato de que seu uso feito
atravs de controle mental.
Notem que na minha narrativa existem trs tipos de fenmenos
mgickos em ao. possvel que houvesse uma espcie de hipnose de
estalar os dedos e que isso pudesse ser induzido em questo de
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segundos ou minutos, vontade do operador. Entre uma e outra (isto ,
quando liberado pelo mago) se sente bastante normal, como eu. Em
segundo lugar, a previso quanto ao contedo das cartas. Isso difcil de
avaliar mas no faculdade desconhecida - suspeito que apenas no
reconhecida. Depois h o problema de "projeo da matria": quando a
corrente foi aparentemente trazido duma distncia sob circunstncias
misteriosas e por meio de um poder desconhecido. interessante
tambm que minha namorada parecia estar sob a impresso de que eu o
emprestara.
Por outro lado, pode muito bem ser que um dia se inventem
mquinas capazes de controlar esse estranho poder ou fora. De minhas
observaes pessoais dos estados de transe dos praticantes, concluo
que a maior barreira para o estudo objetivo desse poder a carncia de
cientistas dispostos a se submeter ao rigoroso treinamento necessrio
aos adeptos.
verdade que os sadhus dizem que seu poder vem diretamente
dos espritos, que eles no possuem em seu ntimo nenhuma habilidade
especial, exceto a de concentrao. Ao mesmo tempo um homem pode
acreditar que o fogo seja um esprito e mesmo assim ser capaz de us-lo
a seu bel-prazer. Isso parece indicar a possibilidade real de algum
principio ou fora, cuja natureza no inteiramente compreendida, usado
por parte dos magos hindus.
Seja qual for verdade desses fenmenos, a seguinte dissertao
d detalhes da iniciao e disciplina do sacerdotado Bon-Po, segundo o
seu tratado mgicko.
Ritos e invocaes, segundo o
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Bn theg-pa-rim-dgu
A primeira parte desse tratado secreto das cincias ocultas
tibetanas trata dos ritos que devem ser observados pelos pais de uma
criana, desde o nascimento, at que tenha idade suficiente para receber
o grau inicial de noviciado. O treinamento nos poderes mgicos no se
inicia, porm, antes da terceira parte do trabalho, cujo estudo comea na
idade de cerca de 20 anos, quando o jovem tibetano abandona seu guru
(mestre) e se lana ao que poderia ser chamado de estudo individual.
Portando agora o titulo de bongrihasta, o jovem mgico comea
uma austera vida de rituais e tabus, de invocaes e jejum, de oraes, e
sacrifcios. Para sua tranqilidade, todos os detalhes de sua vida futura
so meticulosamente planejados pelo livro, e qualquer omisso da menor
observncia que seja punida co m o atraso de seu desenvolvimento
espiritual.
Dormindo no cho, sobre uma simples esteira, ele tem de se
levantar antes do amanhecer. Assim que est de p deve falar o nome de
Dorje Naljorma o deus da sabedoria, invocando aquela divindade para
ajuda e bno. Segue-se ento a frmula suprema, em voz baixa:
Dorje Naljorma, vs, e o Esprito dos espritos das sete esferas:
Invoco a todos pedindo que o dia nasa. A isso se segue a invocao a
Bn: Bn, vem a mim, entra em mim, Bn, a tranqilidade e as bnos
estejam comigo... Tsho-gyalma (deus da felicidade) est comigo, estou
calmo.
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Srid-pa-chags-po-lha-dgu
Conjurao de Dorje Naljorma:
Isto dito imediatamente depois da prece a Srid-pa-chags-po-lha-dgu
Criador dos nove deuses:
Senhor, maior de todos, base de tudo e poder alm de tudo,
Senhor do universo, iniciador de toda a vida: vs me instrustes, vs me
comandastes, para que me levante e tome meu rumo nisto, minha vida
cotidiana.
Segue-se ento um perodo de contemplao, Uma hora devotada
exclusivamente a pensar o bem; e ao planejamento da amabilidade e de
atos piedosos que devem ser feitos durante o dia. Depois que a mente
est assim assentada e calma, "diga ento o nome de Dorje Naljorma, mil
vezes".
Isso leva o mago s suas ablues rituais, que so feitas num
recipiente de cobre ou bronze, com a mente concentrada em Dorje
Naljorma,
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Terminado o banho, ele gira lentamente, nove vezes, repetindo os
nomes: Dorje Naljorma, depois mais nove vezes e depois trs vezes.
A parte seguinte do ritual a invocao ao Sol:
Sois o Sol! Sois o olho de Srid-pa-chags-po-lha-dgu, o olho de
Dorje Naljorma: de manh, ao meio-dia e noite. Mais precioso que tudo,
sois a jia das jias, vigilante sem preo sobre todas as coisas, suspenso
no cu'. Esse vosso poder: fertilizador da vida, vara do prprio tempo -
de dias, noites, semanas, anos, estaes - todo o tempo. Dos planetas
sois o lder, o mais alto. Destruidor das trevas, poder que se estende por
incontveis milhes de milhas, carro dourado do universo, aceitai minha
orao!
Rito da rvore
Os ritos continuam com uma invocao diria rvore uma
figueira. O mago se senta sua sombra, repetindo as seguintes palavras:
vs, yar-lha-sham-po (deus do espao infinito), rei das selvas,
representao dos espritos! Em vossas razes vejo luz, em vosso tronco,
energia, vossos ramos so dedicados a fora. Isso significa que sois em
vs mesma a trindade dos deuses!
Dedico-me a conseguir o poder e o conhecimento neste mundo e a
promoo no outro mundo. Todos os que honram a vs, circulando em
torno de vs, conseguiro esses objetivos!
Comeando com o nmero sagrado, sete, o mago gira ento em
torno da figueira sagrada com voltas somando sempre um mltiplo de
sete. Deve fazer isso pelo menos 84 vezes.
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Isso conclui a cerimnia da rvore e seguido do vestir de roupas
limpas, mais um perodo de meditao e dedicao ao sacrifcio que o
operador realizar ento.
Ritos de sacrifcio do mago
O quarto que foi especialmente separado para o rito, ou
especialmente limpo em preparao, ento escurecido. Um vaso de
gua e uma pequena tigela contendo arroz cozido so colocados na
mesa, que serve de altar. Acima disso, uma lmpada pendurada queima
incenso e um pouco de pigmento amarelo, geralmente aafro ou
sndalo.
O operador ento bate palmas ou estala os dedos diante das portas
e janelas, "selando-as" contra maus espritos. Um crculo imaginrio
tambm desenhado diante da porta.
Duas pequenas imagens - uma do mgico, outra para abrigar os
espritos do sacrifcio em sua apario - so ento feitas de lama e gua,
e colocadas um pouco diante de uma chama. Elas compreendem assim
os elementos fogo, terra, gua e ar.
Evocao do esprito
O mago se senta no cho diante do altar em que colocou as figuras.
Cruza as pernas e passa alguns minutos em reflexo. Com o polegar
direito ele tapa a narina direita. A palavra mgicka yoom (inhm)
ento pronunciada em voz alta 16 vezes. A cada repetio da palavra, o
invocador deve se concentrar no esprito que se quer invocar. Deve inalar
profundamente pela narina esquerda, imaginando tambm que seu corpo
est desintegrando e que ele est se tornando to puro e incorpreo
.
21
como um esprito. Quando 16 ou mais repeties da palavra se
completaram ele fecha ambas as narinas com o polegar e indicador da
mo direita. Segurando a respirao tanto quanto possvel ele entoa a
slaba mgica room seis vezes. Teoricamente ele dever ter atingido o
estgio em que no lhe necessrio respirar. Na verdade, "o esprito
aparece mesmo que se respire".
O prximo passo a pronncia da palavra todo poderosa loom 32
vezes. "Sua alma deixar ento o corpo. Ela se fundir ao esprito lunar e
depois retornar ao corpo. Ao recobrar sua conscincia, voc descobrir
que o esprito invocado apareceu e se localizou em sua morada
temporria na figura de barro preparada para ele."
Cuidando de no fazer nenhum erro no ritual sai o mgicko do
transe, repetindo trs vezes oom e nove vezes yoom. Olhando a
fumaa do incenso o estudante invoca o esprito:
poderoso esprito de Darmapala! Grande e nobre! Eu vos
invoquei e vs aparecestes! Eu providenciei um corpo para vs - um
corpo feito de meu prprio corpo. Estais a? Vinde, manifestai-vos nessa
fumaa; partilhai daquilo que ofereci como sacrifcio por vs!
O livro prossegue contando como aparecer a forma do esprito na
fumaa e tomar um pouco da oferenda de arroz. Ele trar ento qualquer
esprito que se queira, inclusive o de antepassados. Daro conselhos e
responder qualquer pergunta que lhes seja feita.
Quando "respostas devidas sobre assuntos naturais e
sobrenaturais" j foram recebidas, o mago apaga a lmpada. Os espritos,
continua o livro, ficaro ainda um pouco, conversando entre si, e muita
sabedoria se pode aprender de sua conversao. Depois de partirem, o
operador pode reacender a lmpada e levantar-se.
Ele ento remover as cobertas das portas e janelas e informar os
maus espritos (que foram obrigados a permanecer nos crculos mgicos)
que esto livres de novo. S depois disso ele pode comer.
.
22
Depois de terminar sua refeio o sbio lava as mos, gargareja 12
ou mais vezes e come nove folhas de hortel. Depois disso preciso
praticar uma ao piedosa. E isso assume geralmente a forma de ser
caridoso com os pobres.
O mestre, entre os monges Bon-Po tibetanos tido como possuidor
- por meio de observncias como essas - de poderes supremos e
surpreendentes.
Para ele no existem deuses: pois todos os deuses e espritos
esto abaixo dele. Ele recebe seu poder do Ser Supremo. Ele pode,
usando apenas sua voz, mudar o curso de rios, transformar cordilheiras
de montanhas em desfiladeiros, produzir granizo, fogo, chuva e
tempestades. Seu poder est em seu basto: o basto com sete anis (ou
ns). Ele comanda todos os espritos do mal do mundo para dentro do
crculo mgico, por meio de seu basto. At as estrelas esto sob seu
comando.
O crculo mgicko do mestre - que pode ser desenhado na areia ou
simplesmente descrito no ar com seu basto - um duplo crculo. Entre
os dois h uma sucesso de tringulos entrelaados.
A estranha e desconhecida doutrina hindu do akasa (esprito da
vida ou esprito do poder) est na base de todos os fenmenos ocultos
descritos ou tentados pela escola tibetana.
Em resumo - se possvel resumir-se tal assunto - akasa significa a
fora de que todos os espritos fazem parte. tambm fonte de todo
poder. Existe, segundo afirmam os iogues, apenas uma substncia da
qual derivam todas as coisas. Leis naturais, tais como a gravidade ou o
processo vital do homem ou vegetal, obedecem a certais leis. Essas leis
no 'so fenmenos distintos ou diferentes: so apenas fases do akasa.
Um mago oriental sustentaria que matria e energia so a mesma coisa:
apenas aspectos diferentes de akasa, que o princpio de que so ambas
compostas. Pesquisas recentes confirmaram essa convico. Akasa num
.
23
estado origina a vida animal. Em outro determina o movimento dos
planetas. Uma forma ou estado dele pode ser transformado em outro.
Assim para anular a fora da gravidade basta carrega-lo com uma forma
mais leve de akasa. Se voc quer levantar uma carga de dez toneladas
necessrio mudar o tipo de akasa presente na carga. Se as dez toneladas
so de ao, voc ter de transformar "akasa ao" em alguma outra coisa.
A cincia moderna admite com a teoria atmica que toda matria
composta da mesma matria-prima - eletricidade. Onde esta teoria
oriental difere da cincia ocidental no ponto em que os orientais
afirmam que essa matria-prima - akasa - pode ser mudada por meio da
mente e no por mtodos mecnicos. Incidentalmente, muito semelhante
o argumento filosfico rabe sobre a transformao dos metais.
Sustentavam os alquimistas rabes que o ouro s podia ser feito pela
concentrao de um intelecto mstico maduro e apropriado. Podia ser
feito de qualquer coisa, mas transformar um metal em outro era mais fcil
do que, digamos, tirar ouro da madeira.
Magia do Amor
Um dos ramos mais populares da magia no Tibet o da magia
venrea. Esse termo (conhecido como anyesrmachen) cobre todas as
formas conhecidas de associao com o sexo oposto. Os homens vo
aos prticos para obter o amor de uma mulher que pretendem desposar;
as mulheres que querem filhos compram amuleto com essa finalidade;
aqueles que j so casados invocam os espritos para apascentar
discrdias ou garantir -a reconciliao.
Rito para conquistar o amor apaixonado de uma mulher:
Esta frmula repetida tantas vezes quantas possvel, durante o
crescente da Lua e tido como universalmente funcional:
.
24
Com a flecha todo-poderosa do amor, penetro seu corao,
mulher! Amor, amor que perturba, surgir em ti, amor por mim!
Essa flecha, voando reta e certeira, lhe far arder de desejo. Tem a ponta
do meu amor, sua lmina minha determinao em possuir-te!Sim, teu
corao est ferido. A flecha chegou certo. Por estas artes subjuguei tua
relutncia, ests mudada! Vem a mim, submissa, sem orgulho, como eu
no tenho orgulho, mas apenas querer! Tua me no ter foras para
impedir tua vinda, nem teu pai conseguir deter-te. Ests completamente
em meu poder. Bstanma-bcu-gnhyis deusa rainha das nove deusas -
despi-a de sua fora de vontade! Eu, apenas eu, tenho poder sobre o
corao e a mente de minha amada!
Essa frmula acompanhada da manufatura e manuseio de uma
flecha que a contrapartida fsica da flecha imaginria mencionada no
texto. Assim como com outros encantos desse tipo, o rito pode ser
realizado pelo amante ou por uma feiticeira contratada por ele.
Frmula para conquistar a paixo de um homem:
Existe grande nmero destes encantos. Em geral, eles seguem
padro similar aos empregados pelo sexo oposto. A maior diferena
parece residir no fato de que eles devem ser praticados pelo menos sete
vezes e as mulheres so sempre aconselhadas, por alguma razo, a no
confiar suas atividades mgicas a outras mulheres. Estou possuda do
abrasador amor por esse homem e esse amor me vem de Bstanma-bcu-
gnhyis, que vence sempre. Que o homem pense em mim, que me deseje,
que seu desejo queime por mim! Que esse amor venha do esprito e o
envolva! Que ele me deseje como nunca antes! Eu o amo, quero-o: ele
tem de sentir o mesmo desejo por mim! Que ele se encha de amor;
esprito do ar, enche-o de amor; que ele arda em amor por mim!
.
25
O Mago Bon-Po, seus
atributos e seus Poderes.
O Tibet, mais do que qualquer outra parte do mundo, sofreu uma
onda de deturpaes, distores e deslavadas invenes na literatura
ocidental quase sem paralelo em qualquer poca. Ao ler as supostas
viagens de escritores que nunca saram da cadeira, as estranhas lendas
de magia, mistrio e maravilhas espirituais que se supe formarem a vida
tibetana, a gente se lembra dos caprichosos mapas, dos antigos
.
26
gegrafos. Quando no estavam seguros dos contornos de um ou outro
lugar eles enchiam o espao com lendas tais como "aqui vivem drages".
Na verdade, o Tibet um dos ltimos pases onde floresceu o
budismo sem muita interferncia de estrangeiros. Sua histria budista,
entretanto, demonstra que em desenvolvimento cultural ele est bastante
atrasado em relao a lugares como Bamiyan no Afeganisto, onde, antes
que o islamismo o substitusse, muito do desenvolvimento extra-indiano
da arte e teologia budista teve lugar. E tambm o Tibet certamente no
impenetrvel. muito mais fcil entrar e ganhar a confiana dos lamas do
que entrar em Meca ou tirar fotografias do tmulo de Mahdi no Sudo.
O segundo ponto a se lembrar a respeito do Tibet seu tamanho.
Os ocidentais que l estiveram, em quase todos os casos, passaram a
maior parte de seu tempo em Lhasa ou na parte que os tibetanos
chamariam de "acessvel". Vieram da ndia, Nepal e China. Alguns
chegaram pela rota de Kashmir. Muito poucos, talvez nenhum, foram s
reas leste e nordeste, ao Turquesto Oriental e Monglia. No entanto,
so nessas partes que prevalecem os aspectos mais importantes do
lamasmo e bonismo.
O budismo uma importao relativamente recente no Tibet.
Existem, na verdade, mosteiros grandes e ricamente dotados, milhes de
devotos. Nas partes ocidentais do pas, diz-se que uma de cada oito
pessoas monge, freira ou aclito da jia do Itus. Essa parte da
populao foi profundamente afetada pelas idias religiosas atravs da
propaganda budista durante os mil e quinhentos e poucos anos da
chegada da religio da ndia e desde ento seu nmero cresceu com a
migrao de monges afegos durante e depois da conquista muulmana
do Afeganisto.
Todavia, apesar de o Tibet ser chamado de "o pas mais religioso
do mundo", isso tambm um exagero. Duma posio meramente
antropolgica o pas est longe de ser urna unidade. Em primeiro lugar,
.
27
existe a luta constante entre trs elementos da parte budista: os budistas
puros, que constituem o sacerdotado estabelecido, o pblico leigo e os
tantras, que tm ganhado poder nos ltimos 30 anos.
A Igreja budista estabelecida, tanto aqui como em todos os pases
que professam essa f, no tem tempo para a taumaturgia mgicka e
sobrenatural. A vida dedicada contemplao e ao aperfeioamento da
alma como pr-requisito para a reencarnao. No h atalhos para o
Nirvana e as ambies deste mundo no so para o devoto budista
ortodoxo. Por que ento deveria ele se permitir a magia? Pelo contrrio, a
magia em todas as suas formas no s mal vista entre o clero
estabelecido do Tibete, como tambm claramente proibida. E o verdadeiro
budista leva muito a srio sua religio. por isso que se deve descontar
resolutamente todas as alegadas histrias de maravilhas dos lamas de f
budista do Tibete.
O laicado, por outro lado, ainda est permeado at certo ponto de
crenas derivadas em parte do animismo pr-budista do pas (bonismo) e
em parte da forma tantra de lamasmo, afluente do rito ortodoxo.
Os lamas, de qualquer tendncia, se inclinam a olhar com
superioridade os no-iniciados, deixando-os seguir as prticas mgickas
contidas nos poucos livros disponveis. O acesso a livros de aprendizado
mais eleva do e significado mais esotrico , restrito no apenas por sua
escassez, mas pelo obtuso de seu sentido.
Provavelmente, a maior parte do pas est dominada grandemente
pelo ministrio "espiritual" do Iamasmo no-ortodoxo e particularmente
do bonismo. Pode-se dizer que o bonismo, se parece intimamente com a
religio taosta e xamansticas que foi tratada neste livro. Acreditando na
possibilidade de atrair demnios, nos poderes das trevas e no bem, na
importncia das palavras mgickas e nos poderes sobrenaturais de seus
sacerdotes, o bonismo talvez o culto mgicko mais bem organizado do
mundo. Iguais aos budistas, contra os quais se empenham numa guerra
.
28
fsica e psicolgica, os bonistas tm seus prprios grandes lamas, seus
exrcitos e seus templos.
Muitos de seus lugares santos, seus mosteiros e palcios so
embelezados com um luxo que faria at o prprio palcio do dalai lama
parecer comum. Ao contrrio dos budistas, eles repetem o credo (Om
Mani padme hum) de trs para a frente: Muh-em-padmi-mo! E tambm
diferentes de seus vizinhos eles acreditam na invocao da alma e desde
tempos imemoriais praticaram isso e o sacrifcio humano em seus ritos
propiciatrios. Seu sacerdotado emite talisms contra a doena e
demnios, e at mesmo para fazer a colheita aumentar ou minguar, para
provocar ou anular o amor, para tornar o portador invencvel e rico. Estes,
como com os outros povos selvagens da Alta sia, so quase sempre
pedaos consagrados de ossos, cabelo, dente e metais comuns. A
adivinhao e augrio so amplamente praticados, tanto pelos iniciados
como pelos leigos. H uma estranha semelhana entre seus ritos de
propiciao ao esprito do Hades (Yama) e culto do drago com os ritos
da missa negra da bruxaria europia.
Num ritual tpico dos sacerdotes Bn, o chefe se senta numa
clareira solitria, cercado de seus associados menores. No centro do
local, cercado de pequenas vasilhas de incenso queimando, levanta-se o
altar, oferecendo-se carne, l e pele de iaque ao esprito que se quer
invocar. A corneta de osso tocada trs vezes. A congregao canta a
invocao ao demnio e seus companheiros, chefiada por seu alto
sacerdote: Yamantaka! - repetida trs vezes e depois mais tres. Todos
.
29
devem se concentrar na imagem da divindade que pode geralmente ser
vista em esttuas enormes e assustadoras nos templos bn: um monstro
com cabea de touro, presas e chifres, pisando corpos humanos, com
ornatos de crnios e cabeas humanas, cercado de lnguas de fogo.
Acreditam os bonistas que a divindade aparecer e partilhar do
alimento, o que sinal de que aceitou sua homenagem. O chefe ento
dirige uma prece ao esprito, contando-lhe os desejos de sua gente, e
esses sero realizados. Aqueles que no do o mximo de si para
contribuir com sua parte individual de fora espiritual para a reunio,
sofrero dores terrveis e podero at mesmo perder a viso ou alguma
outra faculdade.
O bonismo, assim como o lamasmo e o budismo, em geral no
procura converter. Se algum no dos iniciados, no importa a mnima.
Existe um interessante relato de uma reunio bn original do sculo 6 da
era crist, que tpico daqueles ritos negros:
Os oficiais (tibetanos) se renem uma vez por ano para os votos
menores de fidelidade. 'Eles sacrificam carneiros, ces e macacos,
primeiro quebrando suas pernas e depois os matando... Tendo sido
convocados feiticeiros eles invocam os deuses do Cu e da Terra, rios e
montanhas, o Sol, a Lua, as estrelas e planetas...
Com a enorme presso desse tipo de propiciao ao diabo,
corrente por quase todo o pas, o budismo comum, devoto, do tipo de
Lhasa, est cercado pelos ritos tntrcos e mgickos. Tem havido vrias
tentativas de combater essa ameaa, que comeou, segundo se diz, com
Asanga, durante o sculo 6 e est condensada num livro muito lido,
Yogachara Bhumi Sastra. Diabos e deuses menores dos cus inferiores
so invocados e adaptados do budismo ortodoxo para servir como
gnios dos tantras. A reencarnao, conforme entendida pelo devoto e
inculto leigo do Tibete budista, est quase sempre muito longe do ideal
de seus seguidores ocidentais. Encontra-se freqentemente com alguma
.
30
pessoa em vias de agir hostilmente (e, portanto contra a lei) contra a
outra, baseada em sua crena de que no teria tido esse pensamento
pouco caridoso se o outro indivduo no o tivesse ofendido de alguma
maneira na vida anterior.
A contribuio do budismo ortodoxo magia oriental na medida em
que afeta nosso estudo bastante mais filosfica do que os ritos
familiares de pensamento mgico de outras partes do Oriente - com
exceo do sufismo. J de incio, a dedicao tida tanto pelos budistas
tibetanos quanto pelos ocultistas como essencial para se conseguir a
concentrao mental que todos desejam. Como outros pensadores
sobrenaturais os tibetanos enfatizam a higiene mental.
O buscador deve sempre se purificar antes de assumir qualquer
operao mgica. Algumas vezes ele tem de se assegurar de que esse
passo seja dado at mesmo por seus empregados. s vezes por nove
dias que inclui o tabu de contato com mulheres e a abstinncia de peixe e
veado.
A mente deve ser sempre purificada at que possa receber as
impresses que lhe permitiro tornar-se cada vez mais prpria para a
eventual absoro ao Nirvana ou absoro pelo esprito do Todo. De onde
vem esse poder? Parte vem de dentro, daquela enjaulada pecinha de
fora psquica da misteriosa "estao sem fios" de alguma montanha
distante, qual devem retornar todos os espritos e da qual eles esto
destinados a reencarnar, na forma de seres encarnados, at que o
processo de purificao se complete e ento o Nirvana perptuo a
recompensa.
Essas vibraes que devem guiar o anacoreta so perceptveis em
todo o mundo. Elas guiam o iniciado, deixando o ignorante em sua
ignorncia. No realmente papel do homem dedicado espalhar essa
doutrina ou mesmo refor-la, a menos que sua posio na vida seja tal
que assim o exija.
.
31
Os que atingem a quase-perfeio recebem dos lamas um anel de
alta graduao - doutores do budismo. Eles no devem pensar, no
entanto que atingiro a perfeio em apenas uma vida: isso s aconteceu
no caso do prprio Gautama. Nesse ponto possvel solicitar dispensa
da vida monstica a fim de se desenvolver para conquistar o mrito que
contrabalana o pecado.
Geralmente ele avisado antes de deixar o mosteiro que
certamente retornar triste e alquebrado, para reaprender muito do que
perdeu no contato com os simples mortais. Aqui a filosofia esotrica do
lamasmo difere radicalmente do sufismo apesar de orientalistas
superficiais se deliciarem em afirmar a ntima identidade entre os dois
sistemas.
Quando ele "retorna da vida de perfeio para a vida de
imperfeio" so retiradas duas Pedras de seu anel pelo mentor. A
primeira significa a perda que ele sofrer, conforme j relatado, a segunda
porque ele "duvidou do conselho dado" para que permanea no
lamastrio. Quando a lio foi aprendida e o monge retorna, as pedras
so recolocadas e depois nunca mais so tiradas do dedo - "mesmo no
fogo da cremao".
Se, no entanto, o lama chega a tal perfeio que embalsamado e
preservado, colocado por trs de uma veneziana para todo o sempre, o
anel colocado acima dele. E ento "todos os que olham os gloriosos
.
32
restos mortais e principalmente o anel, tm de piedosamente baixar a
cabea diante de tal poder e tal grandeza e dizer uma prece que gira a
roda da orao para que a alma possa continuar tendo aquilo que
conseguiu to penosa e lentamente no mais cruel de todos os mundos,
comparados ao qual os primeiros 12 anos de estudo monstico foram
leves como uma pena".
Existe mais do que uma mera insinuao da idia de um
sacerdotado secreto mundial na explicao do caminho dos grandes
mestres que foi transcrito por Morag Murray Abdullah de um original
tibetano que se encontra num convento visitado por ela e que cito aqui:
Os mestres de poderes msticos que escolhem viver afastados do
mundo podem ajudar, atravs da contemplao, os negcios de outros
povos distantes. Enquanto que aqueles que retornaram como
missionrios e falharam, por qualquer razo, e retornaram assim fonte
de todo conhecimento terreno, so quase sempre impedidos de continuar
auxiliando o mundo. Para eles s existe o ouvido. E eles se contentam,
devem se contentar com as inconsistncias do mundo. Tendo trilhado
com sucesso o caminhe do esquecimento, que pode levar muitos anos, o
viajante pode ver todo o mundo colocado sua frente. Ele poder
enxergar aquilo que se desenvolvero em terremotos, guerras, fomes e
pode comear adiantadamente a mitigar com seus pensamentos os
sofrimentos humanos assim engendrados ...
Parte do treinamento para esse tipo de diagnstico espiritual dos
males do paciente consiste em ficar ao relento na encosta de uma
montanha, dia e noite, durante uma semana - exposto na montanha,
durante o inverno. Trs vezes ao dia o aprendiz obrigado a mergulhar
um lenol em gua gelada e envolver-se nele. At que ele seque pelo
"calor interno gerado por suas concentraes". Se o lenol no seca ou o
lama sente frio, porque sua concentrao foi falha e o processo tem de
ser repetido. Os rigores desse treinamento no so do tipo que atrairia
nossos impacientes magos ou mesmo filsofos de cultos mais
.
33
ocidentalizados. Nos lugares onde reina essa pacincia e rigidez, por seu
lado, no h espao para os rituais mais breves que se destinam a
produzir o poder rapidamente, o treinamento tem como resultado urna
criatura doce e muito diferente do feroz feiticeiro que pode estar
escondido a algumas milhas de distncia.
"Os verdadeiros lamas do Tibete contam entre eles com alguns dos
ltimos seguidores reais ds ensinamentos de seu mestre." Seria de se
esperar que eles no aceitassem estrangeiros e se encerrassem nas suas
reclusas montanhas, insensveis a gestos cordiais. Ao contrrio, eu os
achei semelhantes a crianas amigveis, crdulos e desejosos de ouvir o
que eu tinha a dizer sobre o mundo de alm. A princpio, originrio do
Ocidente, onde a diplomacia no se confina apenas ao servio
diplomtico, duvida-se de sua sinceridade; eles parecem ao mesmo
tempo confiantes demais, como se a polidez superficial escondesse
alguma coisa menos recomendvel por baixo. Isso, evidentemente, era
uma opinio pessoal, at que descobri que no ntimo assim como no
exterior eles pareciam no ter nenhum pensamento desairoso a respeito
de ningum. Refiro-me a monges com uma dcada de servios. Ao
ouvirem falar das maravilhas de nosso mundo, que nunca vero, no
demonstram sinais de inveja, ou mesmo descrena: apesar de terem,
como vim a saber, idias muito definitivas a respeito do Ocidente. Em
minha experincia pessoal eles nunca pensariam em quebrar uma
promessa ou em serem pouco hospitaleiros - atitude que mantida quase
como uma religio, como entre os afegos e rabes.
"Os lamas tibetanos acreditam que podem, pelo simples poder da
orao, afastar uma invaso, seja espiritual ou material: o poder das
palavras mgicas Om Mani Padme Hum." Quando lhes falei de guerra eles
disseram que s os espritos infelizes vo para a guerra e que, portanto
eles a merecem e algo que lhes est destinado sofrer: "Se ns que
temos to pouco conseguimos o pouco que conseguimos, vocs, povos
de alm-mar, que tm todas as coisas materiais, como voc diz, sem
dvida podem criar a beleza".
.
34
Uma das coisas mais absorventes das maravilhas tibetanas, do
ponto de vista mgicko, sem dvida o rito de caminhar sobre o fogo. A
aparente habilidade de caminhar sobre carves em brasa demonstrada
na ndia, Polinsia e outras partes do Extremo Oriente. Mas desde que
minha experincia pessoal se limita ao ocultismo em geral, e no s aos
tibetanos comentarei apenas. Tanto o sacerdotado bonista quanto o
lamasta encaram o caminhar sobre fogo como importante parte de seus
ritos. - Porque essa atividade figura nos crculos budistas onde a magia
no encorajada? Porque ela tenta demonstrar as alturas de
autodisciplina que os iniciados podem atingir. J disseram que caminhar
sobre brasas deixa espaos de ar, bolhas de ar, tal como, se
passssemos a mo na vela. Entretanto, se voc mantm a mo no fogo
queima, e se voc para em meio s brasas queimaria tambm. Um homem
capaz de superar suas limitaes naturais a ponto de pisar carves em
brasa comprova claramente que conseguiu estabelecer o domnio da
mente sobre a matria. A teoria - seno a prtica - bonista muito
diferente. Em primeiro lugar e antes de mais nada, caminhar sobre o fogo
uma cerimnia propiciatria. feita porque o deus do fogo exige
homenagem em troca da qual ele concede o poder de suportar o calor
para aqueles que acreditam nele.
Em ambos os casos provvel que algum tipo de dissociao
mental afim com a hipnose seja induzida, apesar de parecer a mim que h
algum outro fator em questo. Uma pessoa hipnotizada da maneira
convencional poderia, talvez, suportar a dor do fogo, independente do
ferimento fsico real. Nenhum sacerdote lama ou bonista que caminhou
sobre o fogo sob minhas vistas pareceu sofrer qualquer dor ou ferimento.
Isso s deixa a possibilidade de hipnose de massa, da qual muito se ouve
falar, mas pouco se prova - como no caso do truque da corda, na ndia.
Num ritual bonista, alm dos sacerdotes passarem por entre as
chamas, vrios candidatos s "ordens sagradas" foram levados atravs
do fogo sem qualquer dano fsico. Evidentemente, pode haver algum
.
35
truque pelo qual se consiga isso. Comum aos ritos paralelos de outros
lugares isso significa um teste aos candidatos ordenao: uma forma
de tese de exame.
Outro pequeno fato que pode ser de interesse aqui que se contam
inmeros casos de que quem caminha sobre o fogo fica com as mos,
rosto e cabelos chamuscados - ms sem nenhuma marca nas solas dos
ps. Um outro caso da mesma pessoa que citei acima:
O experimento a que eu assisti foi realizado numa grande clareira,
com uma vala de trs ps de profundidade por 30 ps de comprimento e
cerca de dez de largura, Pedras redondas e lisas foram colocadas ali e
depois grande quantidade de madeira e galhos empilhada em cima, acesa
e queimada por cerca de seis horas. Depois o carvo foi amontoado e a
superfcie varrida e alisada. Havia uma multido de cerca de duzentas
pessoas assistindo demonstrao. Um sacerdote bonista, seco, cheio
de amuletos pendurados e caracterizado principalmente pelos trapos que
usava e a aparente sujeira de seu rosto, mos e capa de pele de ovelha,
deu um passo frente. Sob as peles, que ele despiu, usava sua tanga
amarrada na cintura e entre as pernas. Na mo levava um basto, uma
vara de cerca de 15 centmetros, que terminava num tufo de penas
pequenas. Ele caminhou em volta do fogo, primeiro trs vezes no sentido
horrio, depois cinco vezes na direo oposta, enquanto levantava e
baixava as mos sobre as brasas que ainda estavam muito quentes.
Resmungando preces ou encantamentos ele comeou a golpear as
pernas, primeiro uma, depois a outra, com o basto. Ao sinal de uma
buzina de osso, dez homens avanaram lentamente por entre a multido e
se alinharam em frente do mago. medida que cada um se curvava era
tocado, primeiro num ombro, depois no outro, com a varinha. No se
ouviu um rudo. Parecia quase haver algo de sobrenatural no ar. O calar
da fogueira e do sol era destruidor. Vrias pessoas da platia, vencidas
pelo calor ou pela emoo, caam ao cho. Ningum dava maior ateno a
isso e todos os olhos estavam presos na sinistra figura do sacerdote. Em
fila simples, enquanto o feiticeiro entoava um agudo canto nasal, os
.
36
homens cruzaram a brilhante massa ardente, pisando no outro lado numa
pequena bacia de gua ao terminar sua marcha. Depois o feiticeiro
continuou e efetuou uma dana no centro da vala. Depois chamou
pessoas, no iniciadas, que quisessem participar do rito, enumerando os
vrios e numerosos grandes poderes que eram conferidos pelo deus Sol
a esse ato de devoo. Apenas trs homens e duas mulheres aceitaram o
desafio, sendo um de cada sexo de feies bem mais claramente indianas
que monglicas. A mesma cerimnia de correr em torno do fogo, as
mesmas saudaes e gestos de mos, os encantamentos e dessa vez os
primeiros dez homens juntavam sua voz do feiticeiro. Liderados pelas
duas mulheres, que foram quase empurradas pelo feiticeiro, os cinco
cruzaram o fogo sem danos. Notei que seus rostos estavam cobertos de
suor e que pareciam mortalmente amedrontados. Ao sarem da trilha
examinei seus ps: no havia como no faz-lo, pois eles os mostravam a
todos e tal era seu alvio que chegava a ser tocante. No havia sinais de
queimaduras nem em seus ps nem em nenhuma parte de suas roupas de
algodo ou de pele de iaque.
.
37
Outra pessoa, que viu o ritual ser celebrado de maneira semelhante
num Estado indiano, onde quatro britnicos participaram, escreveu:
Um quarteto de britnicos - um escocs, dois irlandeses e um
ingls - mostrou seus ps aos outros hspedes durante muitos dias. Eles
suplicaram ao velho que lhes contasse o segredo e eu me juntei s
splicas. Ele no aceitou nem quinhentas libras esterlinas pelo
ensinamento, mas disse que se os quatro se ligassem a seu templo ele
lhes ensinaria tudo. . . Nenhum dos quatro teve coragem de aceitar. A
nica coisa que o velho lhes confiou foi que somente, aqueles com poder
psquico desenvolvido poderiam fazer a experincia sem se ferir a si
mesmos. Esse poder era, algo que voc" aceitaria um dia como natural,
apesar de esperar que seu corao no venha a ser obrigado a faz-lo.
Esse poder era praticamente desconhecido na maioria dos lugares
especialmente na ''ndia materialista" como ele dizia devido a uma falta de
f real, em oposio hipocrisia. Encantamentos e talisms podiam, dizia
ele, ser dados queles que no tinham poder e esses lhes permitiriam
caminhar sobre o fogo e fazer muitas outras coisas: mas para que t-los
se no beneficiam a alma?
Evidentemente esse sacerdote em especial pertencia ao culto
budista estabelecido do Tibete. Com esses talisms os ignorantes, sendo
ento capazes de concentrar suas mentes inferiores em algo tangvel,
porque no podiam se absorver realmente em coisas espirituais, podiam
conseguir poder dos smbolos e segredos (dos talisms porque havia
algumas espcies de espritos que os ajudaria). Interrogado sobre 'o
poder "real" que no necessita desses talisms, essa autoridade disse:
A concentrao e meditao podiam, a seu tempo, conseguir tudo
que era necessrio. A mente primeiro tem de ser ensinada a no pensar
em nada. Essa outra maneira de dizer que no deve haver nenhum
pensamento consciente. Essa a parte mais difcil. Quando era
conseguida, vinha o auxilio ao estudioso. Muitas pessoas nesse estgio
tinham impresses mentais, que nada mais eram que fantasias de suas
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mentes tentando restabelecer o processo de pensamento. Se essas no
fossem identificadas e afastadas, permaneceriam para sempre com a
pessoa e matariam seu esprito. Pareceriam tambm dar mensagens e
essas poderiam at ser de maus demnios.
Quando interrogado sobre como se sabe que se est iluminado ele
respondeu que isso se v e se sente e que assim o mundo invisvel se
torna algo que de fato realidade, apenas uma realidade diferente
daquela em que vivem os leigos: mas tem substncia e grande nmero de
analogias.
Contrrio idia corrente em alguns crculos no Ocidente, no
existe no Tibete prtica paralela ao "espiritismo". Existe, verdade, uma
forma de xamanismo (curandeiros) entre os bons ou propiciadores
animistas de quem j falei. Suas sesses so semelhantes em alguns
aspectos s taostas e de fato se dedicam a invocar espritos. Mas o
contedo das revelaes espritas geralmente inteiramente diverso
daquelas que se produzem no Ocidente. H muito menos materializao
dos mortos e mais contato com as chamadas "entidades espirituais" que
aparentemente nunca tiveram forma encarnada. E tambm a comunicao
com espritos usada com finalidades diferentes: para a melhoria de
colheitas e expulso de demnios da doena tais como a peste; para a
realizao de ambies mundanas e para conselho sobre o que fazer na
carreira. No h nunca nenhuma sugesto do tipo de bons votos e
saudaes geralmente insignificantes que so trocadas no Ocidente por
parentes e aqueles que "j partiram". Uma razo para isso que a crena
na reencarnao e transmigrao to universal que se acredita que os
parentes mortos j esto provavelmente num processo de outra vida na
Terra e fora de contato por meios espirituais.
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