Gesell
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Profa. Dra. Eliane Mauerberg-deCastro Laboratrio de Ao e Percepo Departamento de Educao Fsica, UNESP Av. 24-A, 1515, Bela Vista, Rio Claro, SP, 13506-900 Fone: 019-35264333 Fax: 019-3526-4321 E-mail: mauerber@rc.unesp.br www.rc.unesp.br/ib/e_fisica/aplab Crditos: 6 Horas-aulas: 90
Aula # 1
Teorias do desenvolvimento da criana A Psicologia do desenvolvimento pega o perodo vital inteiro Desenvolvimento infantil 1. Dcada e meia de vida da criana Por que bebs mostram um afeto intenso pelas mes na 2. metade do 1. ano? A falta de afeto pode prejudicar os bebs mais tarde? Importncia das teorias sobre desenvolvimento Para os profissionais guiar a prtica Para pediatras prevenir doenas e problemas no desenvolvimento Para pais entender as mudanas que seus filhos passam
Definio de uma teoria um conjunto organizado, integrado de conceitos e argumentos que explicam e predizem o comportamento. Inmeras teorias com pressupostos opostos sobre a natureza e curso do desenvolvimento humano. Alguns tericos acham que a criana e o adulto respondem de maneiras parecidas. Outros acham que o papel gentico mais importante Outros acham que existe um equilbrio entre fator gentico e ambiental Pense que sua tarefa estudar uma criana. O que voc ir observar? Relaes com os pais, irmos, pares Performance na escola Processos de pensamento Habilidades de comunicao e linguagem Hbitos de alimentao
Preferncias de jogo Coordenao e controle motor Entre outras Teorias nos do uma direo organizada e significativa aos nossos esforos na pesquisa. Sculo (XVI e XVII) as idias religiosas de que a criana era a concepo do pecado original (especialmente os protestantes). Embora criatura de Deus, frgil, tambm era nascida pecadora e teimosa. Tinha que ser domada e mantida civilizada pra sua salvao. A educao dos meninos era mantida em instituies separadas de homens adultos e jovens. Meninas e crianas de classes baixas eram misturadas com adultos em afazeres similares. No sculo XVII a renascena trouxe uma perspectiva mais humanizadora sobre o entendimento das crianas. John Locke (1632-1704) foi o filosofo pioneiro no entendimento da criana e influenciou pensamentos nas teorias comportamentais no sculo XX. Tabula rasa ele foi pioneiro na idia de nutrir invs de curso da natureza. Em seu livro Some thoughts in educationele valorizou a idia de que pais podem moldar o filhos a seu modo atravs de associaes imitao recompensa punio
No sculo XVIII Jean-Jacques Rousseau Pensava o contrrio de Locke; a criana era um selvagem nobre Ele tinha f que a criana nascia com um senso de certo e errado e o curso de seu desenvolvimento seguia de acordo com um plano da natureza. Sua filosofia era permissiva e centrada na criana. O adulto devia ser um instrumento para a criana expressar sua natureza nos diferentes estgios do desenvolvimento: primeira infncia, infncia, pr-adolescncia e adolescncia. Darwin O pai cientista do desenvolvimento da criana Meados do sc XIX Darwin escreveu sua teoria sobre evoluo 2 princpios relacionados: Seleo natural Sobrevivncia do mais apto Ele observou que a sobrevivncia era determinada pela natureza de acordo com as demandas do ambiente Ele observou que os traos genticos eram passados por uma reproduo efetiva sempre pelos melhores exemplares da espcie; os fracos morriam. Embries de muitas espcies diferentes eram parecidos entre si, mas diferenciavam no crescimento por presso da evoluo ditada pela seleo natural. O mesmo ocorreu com o homem.
Ele acreditava que os comportamentos de determinadas espcies tinham tambm um valor de sobrevivncia. Este conceito influenciou estudiosos com Freud, Gesell, Hall O incio dos estudos empricos sobre a criana As biografias dos bebs Final do sculo XIX e incio do Sculo XX Inmeros dirios foram escritos, o mais famoso do prprio Darwin sobre o prprio filho em 1877. Estes dirios embora tenham paralelo com os mtodos contemporneos de observao naturalstica, e pesquisa longitudinal, foram criticados com vrios argumentos: Investimento emocional Avaliao ingnua e no objetiva com anedotas Falta de direcionamento terico Interpretaes invlidas Servem como exemplos de como no fazer pesquisa sobre crianas O perodo normativo e de testagem G. Stanley Hall (1844-1924) 1 a inserir uma tentativa de estudos de normatizao sobre o comportamento de crianas. Utilizou questionrios com centenas de crianas de idade escolar. Seus resultados no foram considerados muito vlidos, mas sua metodologia e abordagem teve sucesso por dcadas. Arnold Gesell foi um dos alunos de Hall. Como Hall, Gesell baseou sua teoria em hereditariedade e premissas evolutivas e ele assumiu que a maturao era a fora reguladora no desenvolvimento da criana. Na opinio dele o ambiente tinha uma importncia pequena e tanto taxa como seqncia no desenvolvimento seguiam uma determinao gentica. Os trabalhos de Gesell e outros autores caracterizaram o perodo normativo/descritivo dos anos 40 que durou at os anos 70 (Gesell & Thompson, 1934; Bayley, 1935, 1969; McGraw, 1935, 1940). A abordagem normativa/descritiva caracterizou o interesse de pesquisadores sobre o que feito pelos seres humanos ao longo do desenvolvimento. O maior desafio dos estudiosos do passado foi determinar classes de comportamentos comuns em certas idades e descrev-los para finalidades especficas: diagnsticos clnicos e, mais tarde, preditores do comportamento inteligente. Estas investigaes foram em sua maioria conduzidas por psiclogos e mdicos interessados na criana. Entretanto, a psicologia do desenvolvimento praticamente abandonou o desenvolvimento motor nos anos 40. Segundo Clark e Whitall (1989) foram os educadores fsicos que, no final da dcada de 40, retomaram o estudo do desenvolvimento motor. Embora influenciados pela abordagem maturacional, o interesse centrou-se na identificao e mensurao das habilidades motoras predominantes durante a idade escolar. At a dcada de 70, a maioria dos estudos centrou-se na normalizao e descrio das habilidades motoras com o objetivo de organizar o contedo de programas de educao fsica e padronizar testes de performance. As incontveis descries
biomecnicas dos estudos da dcada de 60 foram uma das formas de identificar e quantificar parmetros nas diferentes habilidades motoras em crianas de diferentes idades. O estudo das seqncias na aquisio de habilidades de movimento de bebs foi o centro de interesse das teorias do desenvolvimento. Para nomear algumas: teoria maturacional (Gesell, 1928; McGraw, 1935), teorias cognitivas (Piaget, 1983), e teorias de estgios (Rarick & Thompson, 1956; Halverson, 1966; Roberton, 1978). Gallahue e Ozmun (1997) esclarecem que os trabalhos clssicos sobre o desenvolvimento motor focaram preferencialmente a aquisio da habilidade motora invs da performance motora. Ao lado das riqussimas contribuies clnicas diagnsticas e de avaliao peditrica de Gesell e seus seguidores, estes cientistas da criana fizeram suas prprias proposies tericas. Por exemplo, a teoria maturacional, a qual foi e continua (em parte) sendo racionalizada como uma explicao central dos fenmenos de aquisio e na mudana no desenvolvimento da criana. A teoria maturacional fundamenta-se na aquisio e mudana comportamental especificada nos reflexos, reaes posturais, que, eventualmente facilitam a evoluo dos movimentos exploratrios precursores da inteno. A aquisio e a mudana comportamental so analisadas em termos de taxa, ordem, seqncia e distribuio corporal. Por exemplo, para ilustrar a seqncia e distribuio dos comportamentos, Gesell enfatizou a direo do desenvolvimento (e.g., cfalo-caudal; prximo-distal) e, desta maneira, a relao estrutura-funo dependente de fatores biolgicos. Gesell e seus colaboradores deixaram uma obra inestimvel com detalhes impressionantes sobre quais comportamentos os bebs exibem nas diferentes idades, e que hoje so utilizados para fins de estudo e diagnstico. Embora o escopo de Gesell e seus colegas fosse o desenvolvimento geral, suas contribuies tornaram-se essenciais para o desenvolvimento de uma perspectiva terica sobre o desenvolvimento motor. A Contribuio de Gesell Na viso tradicional de neuromaturacionistas como Gesell, o status maturacional e o status neuromotor esto intimamente relacionados no desenvolvimento e sua avaliao permite confirmar o funcionamento neurolgico. De fato, tais concepes devem ser as premissas mais importantes que trouxeram a luz diversos detalhes do desenvolvimento infantil e implicaes sobre os seus desvios. Seguindo o modelo mdico, Gesell e seus colaboradores (Gesell & Thompson, 1934) chamaram a ateno para as discrepncias na taxa de desenvolvimento, referidas como sinais de imaturidade cronolgica, e as discrepncias no comportamento neuromotor, em termos de emergncia da ao ou comportamento e o desaparecimento de padres primitivos como os reflexos. Estas ltimas devem ser determinadas como sinais de disfuno neuromotora. No exame do desenvolvimento neuromotor tradicional repousam a identificao e a elucidao da anormalidade. Esta preocupao metodolgica tem como base o reconhecimento do modelo mdico que universal. Ou seja, no sofre influncias culturais diretas pois baseias-se na idia de que melhor ser saudvel do que doente (Hardman, Drew & Egan, 1999). Os exames desenvolvimentistas se apoiam em cinco reas do comportamento, originalmente propostas por Gesell e organizadas por seus seguidores (Knobloch & Passamanick, 1990): comportamento adaptativo,
comportamento motor grosseiro, comportamento motor delicado, comportamento da linguagem e comportamento pessoal-social. Comportamento adaptativo
o campo comportamental mais importante e complexo do desenvolvimento por causa de suas interaes com os outros campos. O comportamento adaptativo envolve a forma como o beb se ajusta s demandas para a ao intencional subjacente percepo. Envolve a organizao perceptual das respostas frente aos estmulos, s relaes entre objetos, decomposio do todo em partes e a reintegrao dessas partes de maneira significativa. Incluem-se os ajustes sensrio-motores subordinados s coordenaes durante o contato com objetos e situaes, por exemplo: 1. coordenao de olhos e mos para alcanar e manusear objetos. Ajuste s caractersticas fsicas de objetos. 2. capacidade de explorar alternativas para soluo de problemas prticos de modo a facilitar processos adaptativos para o ganho funcional do comportamento. O comportamento adaptativo utiliza da experincia prvia na soluo de novos problemas o que garante o aperfeioamento cognitivo.
Comportamento motor grosseiro Inclui as reaes posturais, o controle postural da cabea e demais partes do corpo, particularmente do seu eixo, envolvendo grandes grupos musculares para estabilizar a ao de sentar, ficar de p, engatinhar e andar. Comportamento motor delicado Consiste no uso das mos e dedos na aproximao, preenso e manipulao dos objetos. Os comportamentos motor e adaptativo esto intimamente relacionados por causa do uso da viso. Comportamento da linguagem Envolve o uso intencional de formas socialmente ou culturalmente convencionadas de transmisso e aquisio de informao. As formas podem ser visveis e audveis, e incluem: expresses faciais, gestos, movimentos posturais, vocalizaes, palavras, expresses ou frases. Inclui a imitao e a compreenso da comunicao de outras pessoas. A fala articulada uma funo que depende do meio social, mas requer tambm a prontido das estruturas sensrio-motoras e corticais. Ao apontar para uma direo, a criana pequena est utilizando de recursos gestuais de comunicao. Comportamento pessoal-social Evolui sob influncia da cultura social em que a criana vive. O controle dos intestinos e da bexiga, por exemplo, so requisitos culturais, muito embora sua aquisio dependa da maturidade neuromotora. Alimentar-se, independncia nas
brincadeiras, cooperao e receptividade s convenes sociais, todos so comportamentos pessoais-sociais. Dentro destes campos de comportamento diversas tarefas devem ser organizadas para avaliar o status do desenvolvimento. Veremos mais tarde como algumas delas devem ser organizadas e o que significam em termos de idade de desenvolvimento. Idades do desenvolvimento Hoje pesquisadores do desenvolvimento motor sabem que a qualidade e a estabilidade dos padres de comportamento so afetadas por fatores ambientais. A extenso e a flexibilidade de um padro podem variar entre bebs e crianas, mas tudo depende do objetivo imposto pela necessidade na tarefa. As idades mais importantes do desenvolvimento so: 1, 4, 6, 9, 12 meses e 1.5, 2, 3, 4 e 5 anos. Em resumo, as aproximaes cronolgicas incluem (Knobloch & Passamanick, 1990): 1o. trimestre (nascimento at 3 meses): bebs adquirem controle de seus 12 msculos oculares. 2o. trimestre do primeiro ano (16 -28 semanas; 3.5 - 6.2 meses): bebs adquirem controle da cabea e tronco, tambm controlam mos e braos. Bebs estendem suas mos, agarram, deslocam e manipulam objetos. 3o. trimestre do primeiro ano (28 - 40 semanas, 6.2 - 9 meses): bebs adquirem controle total do tronco e dedos. Eles tocam e pegam objetos com seus dedos, sentam e engatinham. 1o. ano (40 -52 semanas; 9 -12 meses): bebs ganham o controle das pernas e ps e assumem a locomoo independente. Eles manipulam seus brinquedos com um controle fino tipo adulto. 2o. ano: Bebs andam e correm, articulam palavras e curtas frases. Eles adquirem o controle dos esfncteres (ambos, intestino e urinrio). Seu senso de identidade ainda rudimentar. 3o. ano: As crianas no so mais bebs, especialmente por conta de sua crescente independncia e do uso da fala como meio de expresso prpria. Eles mostram um interesse positivo pelo meio ambiente e sua cultura. Nesta idade, segundo Bee (1998), as crianas j expressam preferncias e comportamentos discriminatrios contra seus pares. 4o. ano: As crianas fazem perguntas, fazem analogias e tm uma tendncia de generalizar as idias. 5o. ano: O desenvolvimento motor fundamental est completo o que permite uma mobilidade eficiente para a explorao diferenciada, especificamente aquela sob desafios de problemas prticos. As crianas perderam a articulao infantilizada e narram longas estrias. Elas preferem brincar em grupos e valorizam quando so includas entre adultos. Elas imitam valores e padres de comportamento, e se sentem orgulhosas, por exemplo, de sua escola, seu uniforme, seus brinquedos. Os princpios tericos A explicao do fenmeno do desenvolvimento seguiu uma tendncia biolgica, nem sempre simplificada, centrada no funcionamento do sistema nervosoidentificada como teoria maturacional (Gesell, 1928; McGraw, 1935). Gesell, a partir de inmeras observaes de casos, contribuiu para a formulao dos princpios do desenvolvimento
conhecidos popularmente na literatura. Da contribuio de Gesell e outros importantes pesquisadores do desenvolvimento infantil, seis princpios gerais foram estabelecidos. 1. Princpio da Integrao dos Reflexos e Emergncia das Reaes Posturais O recm-nascido traz consigo uma variedade de reflexos primitivos que so considerados mecanismos de sobrevivncia. A sua presena em determinadas idades indica se o SNC est intacto ou no. Estes reflexos que tm caractersticas estereotipadas, eliciados sob a presena de um estmulo especfico sob certa intensidade constante, tm durao limitada. O primeiro semestre em geral marcado pelo desaparecimento ou, mais apropriadamente falando, pela integrao destes reflexos. Em contrapartida, reaes posturais tornam-se mais evidenciadas com o repertrio comportamental mais complexo. No h uma clara separao temporal entre o fenmeno da integrao destes reflexos e o aparecimento das reaes posturais. As reaes posturais so consideradas reaes de equilbrio. Sua funo principal responder automaticamente ao efeito das foras gravitacionais durante mudanas sbitas na orientao do corpo no espao. Antes do ganho da posio bpede estas reaes so observadas na posies decbito e depois sentada. 2. Princpio da uniformidade na sequncia e progresso ordenada Este princpio determina que a emergncia dos componentes de comportamentos tem uma seqncia uniforme. Por exemplo, a alternncia entre os movimentos oscilatrios dos braos durante a marcha aparece depois de um perodo onde os braos foram mantidos abduzidos e elevados lateral do corpo. A progresso ordenada referese sequncia em que um comportamento surge aps o outro, sem inverso. Por exemplo, antes de uma criana ficar em p sozinha, tipicamente ela dever ter a capacidade de sentar e rolar independentemente. 3. Princpio da atividade geral-para-especfica ou diferenciao Movimentos de pegar objetos podem parecer grosseiros no incio das manipulaes. Com a prtica, a acurcia e a rapidez tomam lugar dando ao gesto uma aparncia fluda e diferenciada com as propriedades especficas dos objetos ou ambiente. 4. Princpio da direo cfalo-caudal O controle motor segue uma progresso de desenvolvimento que vai das movimentaes da cabea (postural e exploratrias), seguindo de um controle da cintura escapular, abdominal, plvica e membros inferiores. Desde o incio dos ganhos posturais at o incio da mobilidade independente, decorre um ano. Esta evoluo o resultado do aperfeioamento de suas aes mais ou menos na direo cfalo-caudal. 5. Princpio da coordenao prximo-distal Gesell observa que o aperfeioamento coordenativo e postural que iniciam-se no eixo do corpo pr-requisito para a coordenao distal fina, particularmente aquela observada nos membros superiores durante a coordenao olho-mo.
6. Princpio da coordenao motora bilateral para cross-lateral um princpio de que os movimentos iniciais ocorrem de forma bilateral, como por exemplo, a elevao e abduo dos braos nas primeiras semanas de experincia com a locomoo independente para depois dar lugar alternncia dos mesmos.
Disfunes e Retardo no Desenvolvimento No beb com desenvolvimento anormal, algum grau de retardamento quase sempre o sintoma mais bvio, mas no necessariamente em todas as reas comportamentais (linguagem, motora, social, adaptativa) ao mesmo tempo. Segundo Knobloch e Passamanick (1990), o volume de retardamento e distoro depende da natureza dos fatores etiolgicos, de sua gravidade e da poca de sua ocorrncia no ciclo vital da criana. Os fatores etiolgicos anteriores, como complicaes da gravidez e o baixo peso ao nascimento, com suas seqelas neuropsiquitricas, so mais comuns em camadas de baixo nvel scio-econmico. Para eles, a leso grave resulta numa disfuno mutilante significativa no SNC, como a paralisia cerebral, epilepsia, e deficincia mental. Mesmo graus sutis de danos orgnicos so capazes de desorganizar o desenvolvimento comportamental resultando em diversos tipos de problemas comportamentais e de aprendizagem. No possvel afirmar: Agora estamos avaliando o potencial intelectual; a seguir faremos o exame neuromotor (Knobloch & Passamanick, 1990). A anlise do desenvolvimento atpico reside no: - tnus muscular e postural - integrao ttil, cinestsica, vestibular e visual - problemas nos reflexos e reaes posturais - desajeitamento neurolgico Disfuno neurolgica pode ser suspeita quando h: - preservao de um reflexo alm da idade esperada - ausncia completa de um reflexo - presena de respostas reflxicas bilaterias desiguais - presena de respostas muito fracas ou muito fortes Entrada do behaviorismo na Amrica do Norte nfase na influncia ambiental, os behavioristas abandonaram as idias maturacionais de Gesell, mas seus dados e descobertas sobre estgios e comportamentos emergentes permaneceram. Tanto que o Instituto Gesell nos anos 70 revisou vrias de suas provas dentro de uma perspectiva scio-cultural mais moderna. Outro aluno de Hall foi Lewis Terman, autor do teste Stanford-Binet Intelligence Scale. Foi uma reviso de Alfred Binet e Theodore Simon de Paris. Estes autores desenvolveram o teste no incio de 1900 com o objetivo de identificar crianas com retardo mental. Binet ofereceu fortes argumentos para justificar seus sofisticados mtodos de medir a inteligncia. Para ele, inteligncia era vista como bom senso que envolvia planejamento, reflexo crtica, sentido prtico e iniciativa.
Usando o teste Binet, Terman realizou o primeiro, mais extensivo estudo longitudinal at hoje. Em 1921, 1500 crianas com QI acima de 135 foram acompanhadas at a idade adulta. O sucesso dos testes de QI levou criao de testes de personalidade tambm. Contribuies de profissionais Pediatras Spock & Rothenberg 1946 Baby and Child Care. Orientao da criana e a abordagem psicanaltica. Estudos normativos mostraram como se parecem as crianas mas no ofereceram opes de como e por que as crianas so ou tornam-se do jeito que so. S. Freud (1856-1939), mdico e neurologista, comeou a observar que pacientes com problemas de alucinaes, paralisias e problemas mdicos sem aparente sinal fsico, respondiam positivamente a terapias de falar abertamente sobre problemas na infncia. Acreditando nos impulsos sexuais desde a infncia e direcionados s na fase adulta, Freud concebeu que as manifestaes sexuais e agressivas dos jovens como resultado de gerenciamento dos pais acabavam determinando os traos de personalidade na vida adulta. importante lembrar que este foi o perodo vitoriano repressivo com valorizao de condutas morais extremamente sublimadas. Trs pores da personalidade Ego Id Superego Freud tambm acreditava em estgios de desenvolvimento da personalidade, O estgio oral (nascimento ao 1. ano) prazer obtido nas atividades orais. Necessidades orais ou falta de gratificao resultavam em adultos obsessivos (tendncias oralistas como morder lpis, sugar o dedo, fumar, roer unhas, comer compulsivamente) O estgio anal (1. ao 3. ano) Fase em que a criana aprende a reter fezes, urina e condiciona alvio com regras sociais. Conflitos nesta fase podem resultar em adultos obsessivos com pontualidade, super organizao, mania de limpeza. Ou o oposto. Estgio flico (dos 3 aos 6 anos) Perodo em que a criana descobre o prazer na estimulao dos rgos genitais. Identifica-se com o pai por medo de causar cime pelo seu desejo sobre a me (complexo de dipo); ou Elektra no caso das meninas. Assumem os papis de seus pais identificadores. O superego formado aqui. Estgio de latncia a sexualidade est dormente. Perodo em que as imposies sociais so mais assimiladas, particularmente com afiliao com o mesmo sexo.
Estgio genital (ps-puberdade) toda a expresso sexual madura agora direcionada para relaes afetivas, socialmente aceitas, fora da famlia (casamento, concepo de filhos). Crticas super nfase na questo sexual, aspectos scio-culturais e intelectuais negligenciados, caractersticas sexistas (a culpa dos problemas recaiam sobre a me perversa ou ineficaz), e Freud nunca estudou crianas diretamente. Erik Erikson (1902-?) seguidor de Freud e formado no Instituto de Psicanlise em Viena, redirecionou a teoria dos estgios de Freud. Estgios Confiana irrestrita ou desconfiana (nascimento a 1 ano) A criana satisfeita em suas necessidades primrias com carinho e previsibilidade pela me ou cuidador. A falta ou irregularidade, assim como atraso nesta proviso causa a desconfiana. Autonomia ou vergonha ou dvida (nascimento at os 3 anos) neste estgio, o controle muscular e a coordenao das novas habilidades exploratrias levam a criana ao poder menta de escolhas e decises. A autonomia encorajada pelos pais guiando os filhos as oportunidades de livre escolha sem restringir em demasia, ou embaraar a criana. Iniciativa versus culpa (3 aos 6 anos) Atravs do jogo imaginrio, a criana aprende sobre papis e instituies da sociedade e ganha conhecimento do tipo de pessoa que quer ser. Iniciativa denuncia um senso de ambio e responsabilidade social, e se desenvolve pelo encorajamento dos pais. O perigo deste estgio quando os pais demandam auto-controle em demasia dos filhos favorecendo a culpa. Construtividade versus inferioridade (6 anos at puberdade) o perodo onde a criana desenvolve uma capacidade construtiva para trabalho produtivo, participao cooperativo com outros, e o orgulho de fazer as coisas bem feitas. A inferioridade uma sensao de que ele nunca ser bom em nada, e isto acontece das experincias com os pares, na escola, e de pais que no incentivam sentimentos de competncia. Identidade versus difuso da identidade (adolescncia) o estgio que culmina na transio da vida de criana para a adulta. Culminam as experincias anteriores e as presentes num senso de identidade permanente. Inclui expectativas sobre o futuro. Uma conseqncia negativa neste estgio leva a uma confuso sobre a definio sexual, ocupacional, e pessoal. Intimidade versus isolamento (jovem adulto) so os envolvimentos afetivos com outros (parceiros, amigos). Aspectos negativos refletem no medo da rejeio que limita as iniciativas de contato. Altrusmo versus estagnao (adulto) o estgio de se dar para as prximas geraes. quando o adulto procria ou d contribuies que lhe do um senso de utilidade e influncia positiva para as prximas geraes. A estagnao associa-se com uma sensao de estagnao, tdio e ausncia de conquistas significativas. Integridade do ego versus desespero (adulto velho) o ltimo estgio da vida. O adulto olha para o passado e sente que contribuiu significativamente e que a morte no
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ameaadora. Idosos desesperados sentem medo da morte, sentem que a vida muito curta para mudar o curso do que viveram ou criarem situaes construtivas. A influncia da Psicologia acadmica e o aparecimento das teorias e mtodos modernos Behaviorismo Entre os anos 30 e 40 o estudo sobre a criana foi modificado radicalmente das teorias psicanalticas pelo aparecimento do behaviorismo. Uma tradio consistente com a tbua rasa de Loecke. O behaviorismo tem origem vrias dcadas antes. Psiclogos acadmicos como John B. Watson (1878-1958) que advogava a observao objetiva de estmulos especficos associados com comportamentos identificveis e no descries abstratas de constructos internos da mente. Watson foi o pai do behaviorismo. Infuenciado pelo trabalho do russo Ivan Pavlov com o experimento de condicionamento clssico do cachorro que salivava ao som de um sino, Watson realizou um experimento com um beb de 9 meses que foi condicionado a temer um rato branco de pelcia aps emparelhamento de um som aversivo com o objeto branco. Seu experimento apoiou o conceito de que o ambiente era determinante no desenvolvimento da criana. Pais que soubessem emparelhar cuidadosamente estmulos e resposta num esquema de condicionamento poderiam dirigir o comportamento para fins aceitveis. Sua teoria de condicionamento era extremamente rgida, pois destitua comportamentos afetuosos entre pais e filhos com a premissa de atingir a aprendizagem de comportamentos socialmente aceitveis do tipo adulto. O treinamento de controle de esfncteres podia comear at aos 3 meses de idade, o que hoje considerado abusivo e absurdo. Psiclogos modernos recomendam entre 18 meses at 3 anos este tipo de treinamento. Sua teoria de aprendizagem por condicionamento, entretanto, gerou inmeros seguidores. Clark Hulls (1884-1952) criou a teoria da reduo de motivao. Para ele o organismo busca satisfao para suas necessidades bsicas, fome, sede, sexo. Se estes so satisfeitos, o resto considerado motivao secundria. Assim, as motivaes primrias eram o nico meio de aprender comportamentos aceitveis. Fazer a criana se comportar podia ser emparelhado com a recompensa com comida (doces, ou coisas que ela gosta). B.F. Skinner (1904-?) rejeitou a teoria de Hull e criou sua teoria de condicionamento operante. Para ele uma variedade de estmulos recompensadores podia ser emparelhada com comportamentos alvos de condicionamento. Tambm a punio podia ser emparelhada em esquemas diversos de reforo (reforo contnuo, intermitente) Teoria de aprendizagem social O ponto comum entre Freud e Hulls era sobre as motivaes de gratificao centradas em necessidades biolgicas. Apesar de psicanalistas e behavioristas terem pouco em comum, nos anos 30 houve um movimento intenso de colocar as predies psicanalticas em teste de experimentos rigorosamente controlados. Por exemplo, a teoria Freudiana predizia que a frustrao intensa da criana com suas necessidades bsicas levaria a comportamentos ansiosos e mal-adaptados, como agresso. Os tericos de aprendizagem social aceitaram os princpios de condicionamento e expandiram princpios tericos encima deles. Albert Bandura nos anos 60 foi responsvel por inmeros experimentos nesta rea. Ele observou que aprendizagem por observao
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(modelagem) era a base para uma variedade de comportamentos como agresso, comportamento pr-social, tipagem sexual. Eles aprendem estes comportamentos observando e escutando sem necessariamente serem reforados. O que faz as crianas imitarem? O desejo de se parecerem com adultos que expressam poder, o desejo de possurem algo, etc. Fazendo isso eles garantem obter coisas que lhe serviro para o futuro. O impacto desta teoria levou a criao de mtodos como modificao de comportamento que combina reforamento, modelagem, e manipulao de dicas situacionais com o objetivo de mudar comportamentos das crianas. Estudos naturalsticos e ecologia do desenvolvimento humano Uma grande massa de psiclogos do desenvolvimento comeou um movimento de crtica aos estudos em laboratrio. Urie Bronfenbrenner, o lder da teoria contempornea e pesquisa em ecologia do desenvolvimento humano dizia que os experimentos em laboratrio traduziam ...a cincia do comportamento estranho de crianas em situaes estranhas com adultos estranhos no mais breve momento das suas vidas. Uma nova casta de pesquisadores agora surge no sentido de estudar as crianas em seus ambientes naturais. O maior volume de estudos foi dedicado ao ambiente da escola. Para a teoria de Bronfenbrenner, o ambiente visto como uma srie de estruturas ambientais encaixadas que se estendem alm do conjunto imediato. Cada camada do ambiente vista como tendo um efeito poderoso na criana. No seu modelo, o nvel mais interno chamado de micro-sistema. Neste nvel uma relao diadtica se estabelece entre me e beb onde a relao recproca e bi-direcional. O segundo nvel o meso-sistema que se traduz por relaes entre microsistemas num dado ambiente, por exemplo, a escola ou o jardim de infncia. um tipo de relao triangular que se estabelece entre a criana, a me e membros da escola, inclusive os pares. O prximo nvel e o exo-sistema. Nele as relaes sociais no diretamente disponveis no ambiente da criana fazem o papel enquanto influncia. Por exemplo, o ambiente da comunidade ou do trabalho dos pais pode indiretamente afetar a criana. O ltimo nvel o macrosistema. No se refere ao contexto ambiental direto, mas sim aspectos culturais e sua expresso nas convenes como leis, regulamentos, concepes e costumes. Etologia outro modelo centrado no papel do ambiente. Baseia-se em modelos de sobrevivncia e mecanismo adaptativos que originaram-se nos princpios evolutivos daquela espcie. Baseia-se em paralelos com a evoluo dentro de outras espcies. Por exemplo, o conceito de estampagem imprinting onde a primeira exposio visual ou auditiva da espcie cria o vnculo materno. O outro conceito o de perodo crtico. Um exemplo o do contato de humanos com filhotes felinos que se realizado precocemente, reduz o medo e averso aos humanos quando adultos. As crianas, segundo esta teoria, tambm passam por perodos crticos onde a estimulao apropriada deve ser dada em perodos auto-delimitados no curso evolutivo (ex. integrao de reflexos primitivos).
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Piaget Nas teorias anteriores a criana vista como agente passivo de aprendizagem. Piaget revolucionou a forma de entendimento do desenvolvimento infantil. Para ele as crianas constroem e manipulam sua realidade ativamente. Seus conceitos centrais so: Organizao: ocorre quando a criana est interagindo com o ambiente e envolve a coordenao e integrao das respostas da criana. Adaptao: As estruturas cognitivas da mente mudam para ajustar o comportamento aos requerimentos ambientais; Inclui dois processos inter-relacionados: a assimilao e a acomodao. Assimilao: a criana retira das experincias passadas as circunstncias para tirar concluses sobre uma nova situao ou evento. Muitos dos comportamentos prvios no so significativamente alterados (detalhes coordenativos que referem-se ento acomodao) Acomodao: um processo mais sofisticados das estruturas cognitivas que ajusta o comportamento propriedades especficas do objeto. De acordo com Piaget, sempre existe uma tenso entre assimilao e acomodao. O processo que regula esta tenso chamado de equilibrao. Equilibrao: uma forma de auto-regulao que a criana usa para dar coerncia e estabilidade nas suas concepes do mundo. A equilibrao ajuda a criana a compreender a inconsistncia de suas experinciasveja que nem sempre mudana no ambiente significa mudana na estrutura conceitualex. o teste de conservao de lquidos). Os estgios propostos por Piaget (Piaget, 1983). O estgio sensrio-motor que vai de 0 a 2 anos de idade de rpidas mudanas. A integrao sensorial (organizando e derivando significados de estmulos sensoriais) comea ao nascimento, muito antes do movimento voluntrio ser possvel. O sistema sensorial ttil informa a criana sobre fralda seca e molhada, superfcie confortvel versus desconfortvel, condies quentes e frias. Tambm recebe e interpreta sensaes de dor. O sistema sensorial cinestsico (posio do corpo) e vestibular (equilbrio) atuam juntos para dar significado a todos os tipos de movimentos (reflexos, voluntrios, e externamente impostos). Do mesmo jeito, sistemas sensoriais auditivo, visual, olfativo, e gustativo operam de tal modo que a criana adquire um conhecimento elementar do eu e do no-eu, e comea a atrelar significado s pessoas e aos objetos no ambiente. Ao longo destes significados comea o conhecimento sobre causa e efeito (chorar traz a me de volta, tocar certos objetos provoca um no!). Este estgio rene exemplos interessantes das respostas do beb ao brinquedo. Nesta fase o beb responde ao jogo do achou! O jogo implica em um adulto esconder um objeto ou a prpria face por detrs de um obstculo por alguns segundos, reaparecer e, simultaneamente demonstrao de surpresa pelo beb, exclamar Achou! Outras atividades de engajamento em forma de jogo so os movimentos de imitao. A imitao das expresses, por exemplo, j so vistas nos primeiros meses e refletem um marco no desenvolvimento do comportamento social.
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Jogos e brincadeiras, nestas idades dependem muito dos ganhos no desenvolvimento motor. Quando a marcha independente alcanada, a criana comea a navegar pelo ambiente e interagir com objetos, obstculos e intensamente realiza buscas, coletando e movendo coisas que encontra no meio do caminho. Em forma de brincadeiras, estas atividades do uma oportunidade de satisfao da curiosidade e facilitam a aprendizagem das relaes. Das interaes atravs de jogos observamos ela devolver a bola lanada ou rolada. Crianas com deficincias severas no brincam espontaneamente. Nem riem ou mostram evidncia de divertimento. Dos 2 aos 6 anos a criana passa pelo estgio pr-operacional. Nele os conceitos adquiridos com a linguagem comeam a evoluir, e a criana v suas aes terem efeitos sobre os objetos e as pessoas sua volta. O jogo paralelo (2-3 anos) ocorre quando a criana rene seus brinquedos e estabelece o espao perto de outras crianas, mas brinca sozinha. Ela comea intencionalmente exercitar estas consequncias nas brincadeiras infantis. Suas brincadeiras favoritas so siga o mestre, esconde-esconde, dana das cadeiras. Ela realiza aes junto com canes. Joga futebol e basquete sem regras. Dos 3 aos 4 anos as crianas exibem o jogo associativo, ou seja, falam entre si enquanto exploram seus ambientes brincando. a poca dos jogos de fantasia ("casinha," "cowboys," etc.). Os professores de atividade fsica adaptada freqentemente usam jogos e atividades recreativas centrados nas dinmicas de jogos paralelos, e jogos associativos. No primeiro caso--o do jogo paralelo--, temos atividades em circuitos. Vrias atividades envolvendo habilidades motoras fundamentais so executadas ao mesmo tempo por todos os alunos, num ambiente onde os marcos esto distribudos longitudinalmente e de forma circular. O jogo associativo pode ser resgatado dentro de atividades fsicas em atividades de expresso de baixa organizao. Quando o professor pede ao aluno para dramatizar temas que ele prope (e.g., fantasiar um tubaro vegetariano indo a um restaurante). A dramatizao pode evocar interaes com os pares, tutores ou o prprio professor. Estas interaes evoluem no formato associativo quando a idia original ganha um andamento histrico, com acontecimentos. Aos 5 anos surge o jogo ou atividades cooperativas onde h uma baixa organizao com uma ou duas regras. o formato preferido pelo professor que usa o estilo de ensino inclusivo (Ver detalhes no captulo 10). Qualquer que seja a atividade (e.g., habilidades motoras fundamentais, introduo de jogos com regras, dramatizao), a cooperao vem no sentido de proporcionar s partes envolvidas no processo ensinoaprendizagemou seja, todos, sucesso na resoluo de tarefas. Estas tarefas podem ter problemas amplos, seqenciados ou inesperados que devem ser resolvidos por todos. Por exemplo, uma sequncia de obstculos num trajeto a ser ultrapassado por um grupo de alunos que carregam juntos um para-quedas com objetos encima representa uma necessidade cooperativa. A meta do grupo , juntos, concluir o percurso sem deixar cair nenhum objeto, sem soltar o para-quedas, e desviar de obstculos. A ao de um aluno afeta a ao do grupo como um todo, e vice-versa. Dos 5 aos 6 anos a criana tem um repertrio de habilidades motoras locomotoras surpreendentes que a tornam confiante e incansvel para o jogo. Entretanto, uma fase em que as crianas adoecem em mdia seis vezes ao ano (Bee, 1998). A maioria delas sofre das doenas agudas que duram alguns dias (e.g., gripe). Uma outra parcela que sofre de doenas crnicas (e.g., asma, diabetes) so a preocupao maior dos profissionais da sade. Estes quadros
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predispem problemas nas idades posteriores e na adulta. A maioria das crianas com deficincia tem uma vulnerabilidade maior s doenas agudas (e.g., resfriados que facilmente tornam-se pneumonia) e muitas tm quadros associados de doenas crnicas (e.g., cardiopatias e obesidade com a sndrome de Down). Assim, combinar atividades centradas no interesse, na dinmica do jogo cooperativo, e com demandas nas capacidades fsicas e na sade, o verdadeirao desafio do professor. As operaes concretas iniciam-se aos 7 e vo at os 11 anos. Os interesses em jogos tornam-se mais dependente de aplicaes conceituais associadas com o uso dos smbolos (i.e., alfabetizao). No jogo estes conceitos surgem em atividades com atribuio de papis e funes. tambm um marco na competncia fsica. O pegapega e "caador" so exemplos de atribuio de papis e condies para as aes motoras com componentes de competio. A reverso de papis permite a criana testar suas noes sobre o que certo e errado. Neste perodo tornam-se muito vulnerveis violncia na TV. Comea o teste de popularidade e exerccio de influncias sobre os outros colegas. O controle de equilbrio esttico melhora, e as noes espao-temporais permitem a dramatizao e resoluo de problemas. Seu desenvolvimento moral est entrelaado com o social e cognitivo. O professor de educao fsica regular tem ampla experincia nesta fase do desenvolvimento dos alunos. Nesta fase o interesse direcionase para os jogos pr-desportivos. A competncia fsica, interesse e vulnerabilidade social e moral so variveis freqentemente expostas no contexto da educao fsica e do esporte. O professor, a instituio (e.g., escola, clube, centros de iniciao ao esporte, etc.), a famlia, todos devem capitalizar suas aes sobre estas variveis. A meta formar alunos e futuros atletas com um forte senso de responsabilidade, tica, e companheirismo. Para a criana e o adolescente com deficincia estas aes so importantes para validar seu senso de identidade dentro do grupo e facilitar seu empoderamento enquanto cidado. Em outras palavras, crianas com deficincia fsica precisam de um suporte social especial para validar suas atitudes dentro do grupo de convvio. Suas defesas so importantes para a auto-estima porque seus corpos, com aparncias diferenciadas de seus colegas no-deficientes, so avaliados constantemente em sua esttica pelos pares e por ele mesmo. De fato, sua competncia fsica, muitas vezes, o maior impedimento na insero social. No modelo inclusivo, o trabalho de resoluo de conflitos morais e polticos deve ser abordado com seriedade e honestamente com todos os lados envolvidos, inclusive a famlia. O jogo com grupos heterogneos deve ser flexvel a ponto de acomodar qualquer forma corporal e qualquer nvel de habilidade. J o jogo dramtico pode permitir a expresso de valores de ambas as partes, uma vez que pode ser uma oportunidade para educar e promover a apreciao pela diferena. Jogos onde a simulao (vendar os olhos) ou uso de equipamentos adaptados como cadeira de rodas so oferecidos para as crianas sem deficincia pode dar uma oportunidade realista sobre o que a real competncia fsica. Discutir as diferenas e satisfazer a curiosidade so formas sensatas de educar e que podem ser ilustradas pela criana com deficincia. Em jogos ou atividades adaptadas, ela pode assumir um papel esclarecedor com os pares, dialogando e demonstrando sua habilidade. Obviamente jogos competitivos podem no ser teis a menos que se equilibrem os oponentes com indivduos de diferentes habilidades. Para aquelas crianas com atraso no desenvolvimento, o uso de pares tutores uma tima oportunidade para se desenvolver respeito mtuo pela troca de oportunidades: educar e ser educado.
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O perodo das operaes mentais formais comea aos 12 anos. As noes dedutivas feitas a partir de observaes empricas, acumuladas na intensa rotina escolar, do aos adolescentes oportunidades de deciso lgica sobre vrios assuntos. Ao mesmo tempo, estas decises, no plano pessoal, passam longe da lgica e muito perto dos conflitos de identidade. Enquanto eles acatam as leis existentes e respeitam a comunidade, ao mesmo tempo podem testar sua independncia e desejo de liberdade quebrando regras impostas por figuras de autoridade. Violao de leis e transgresso vista aqui como distrbios de comportamento e, do ponto de vista legal, tratada de forma diferente. Existem mecanismos de consultoria psiquitrica, assistncia social e legal que podem auxiliar o professor com estes casos. Infelizmente, a violncia nas escolas pblicas no Brasil banalizou a expresso comportamental do adolescente. Hoje a controvrsia entre atos verdadeiramente violentos e atos de desafio oposicional prprios na idade do adolescente criou uma sombra no convvio entre as partes envolvidas (i.e., os adolescentes e as figuras de autoridadecomo os professores e os pais, por exemplo). Os jogos e esportes so as atividades preferida nesta idade. Tambm existe a diferena entre violncia gerada pela cultura (e.g., crime, contravenes e violao de regras) e violncia involuntria (e.g., manifestaes psiquitricas)os detalhes nas diferenas foram discutidos no Captulo 7. O desejo de vencer e tornar-se publicamente reconhecido aumenta a necessidade de disciplina na prtica em esportes complexos e multiplica as estratgias comportamentais (e.g., diversidade de jogadas que um atleta pode optar numa unica situao no esporte) e o aperfeioamento do movimento (e.g., perfeio do gesto artstico ou de mxima performance). Aqui, o professor deve priorizar as responsabilidades pessoais e com o grupo, enfatizando respeito e tica durante as competies, por exemplo. O interesse pela atividade sexual decorre, em parte, da mudana fsica e da presso social dos pares. O engajamento em atividades de risco para si prprio e com os outros no pode ser ignorado na educao fsica. Ao mesmo tempo, o professor no pode ignorar mecanismos afetivos que podem manifestar suas tendncias negativas, como o caso da depresso e das desordens alimentares. O quadro 11.1 mostra uma relao entre os nveis do desenvolvimento cognitivo-moralsocial-motor desde a infncia at a vida adulta. Esta relao ilustrada em forma de conceitos e exemplos de comportamentos e seus marcos no desenvolvimento. Quadro 11.1. Nveis do desenvolvimento cognitivo-moral-social-motor (adaptado de Kohlberg, 1981; Piaget, 1979; Sherrill, 1998).
Nveis de desenvolvimento social do brinquedo Desocupado Consciente da permanncia de objetos no campo visual Jogo solitrio Joga os brinquedos no cho Incio do jogo de esconder: achou! Nveis de desenvolvimento da personalidade e moral Sem compreenso da linguagem Nveis de Nveis de desenvolvimento desenvolvimento motor cognitivo (Piaget) Operaes mentais sensrio-motoras Imita algumas expresses faciais Reflexos primitivos e movimentos rtmicos/espontneos
6 meses
Reage a estranhos
Movimento voluntrio Reaes posturais Controle da cabea, cintura escapular Senta apoiado Inicia o rolar Pega uma pelota em cada mo e solta todas
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8-10 meses
12-18 meses
Jogos do achou; o beb busca objetos completamente escondidos Jogo construtivo Explora e constroi com objetos
Responde ao no
Inicia-se a imitao de aes com dois componentes 1a. palavra reconhece gnero Operaes mentais pr-operacionais Usa o ensaio verbal e repete movimentos
p/pegar a 3a. Engatinhar Comea a quebrar a perseverao manual Reaes de retificao Fica em p apoiado Preferncia manual Anda sozinho
2-3 anos
4 anos
5 anos
Empurra brinquedos enquanto anda Jogo paralelo 1os. sinais de jogos de imaginao Jogo associativo prefere brincar com os pares Inicia-se o jogo scio-dramtico (brinca de cawboy atribuindo o papel de mocinho. Jogo cooperativo
Galope
6-7 anos
Declina o perodo de desafios e manha; Incio da pr-escola Auto-conceito (se identifica como esperto, forte, medroso Operaes mentais concretas
Saltito, anda sobre uma linha, escorrega e balana Pedala triciclo Joga bola Enfia fio na agulha e costura Combinao de habilidades
8 anos 9 anos
10-11 anos
Vulnerveis violncia na TV Esportes individuais, duplas, escondeesconde, corridas sem propsito de competio Esportes coletivos
12 anos
Negociao + concordncia
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Convico
Teoria de Vygotsky Lev S. Vygotsky viveu na mesma poca que Piaget. No foi familiarizado com o trabalho de Piaget mas escreveu suas experincias com crianas e escreveu sua teoria revolucionria que ao ser traduzida para o ocidente nos anos 70, revolucionou a concepo de desenvolvimento da inteligncia. Vygotsky advogava que a aprendizagem conceitual emergia das funes de linguagem. A criana era capaz de fazer uso da linguagem antes de abstrair o significado conceitual de sua comunicao. Ele acreditava que a aprendizagem favorecida pelo ambiente social caracteriza uma zona de prximo desenvolvimento. Teoria de processamento de informaes Baseada na analogia computacional, a TPI trouxe a tona conceitos como fluxo de sinais, processamento de sinais informacionais. A TPI influenciada pela pesquisa da cognio de adultos, psicolingstica, e cincias computacionais. A TPI no uma teoria unificada mas uma generalizao do funcionamento do crebro ou do ser humano como um sistema onde informao flui no processo de aprendizagem.
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Teorias e abordagens mais importantes Teoria Maturacional (Hall, Gesell) Teoria Psicoanaltica (Freud, Erikson) Behaviorismo e teoria de aprendizagem social (Watson, Skinner, Bandura) Teoria ecolgica (Berker, Bronfenbrenner)
Viso do desenvolvimento da criana Comportamento pr-determinado por desdobramento maturacional. Sries qualitativamente distintas de estgios psicossexual e psicossocial. O aumento quantitativo na resposta aprendida devido a modelagem e reforamento. O contexto ambiental a fora de influncia sobre a criana. As interaes sociais so bi-direcionais, processo recproco. Origens evolutivas e valor adaptativo do comportamento da criana. Existncia de padres comportamentais inatos e sinais sociais que promovem a sobrevivncia. As estruturas cognitivas mudam qualitativamente segundo estgios distintos. A criana adapta ativamente ao ambiente Aumento quantitativo no conhecimento e uso ativo das estratgias de processamento de informao
Mtodo dominante Estudos normativos usando questionrios, observaes. Mtodos clnicos Estudos em laboratrio
Observao naturalstica
Orientao no cuidado com a criana; tratamento de distrbios emocionais. Modificao do comportamento para eliminar comportamentos indesejveis da criana; adoo de respostas socialmente aceitveis. Design de ambientes para favorecer o desenvolvimento
Programas educacionais enfatizando a aprendizagem pela descoberta; avaliao da inteligncia baseada em estgios. Emparelhando tarefas de aprendizagem segundo as habilidades de processamento das crianas; melhorando as habilidades de aprendizagem e estratgias de soluo de problemas.
Processamento de informao
Estudos de laboratrio
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Referncias
Bee, H. (1998). Theories of development. In: H. Bee (Ed). Lifespan development (pp. 2650). New Your: Addison Wesley Longman. Berk, L.E. (1989). History, theory, and method. In: L.E. Berk (Ed.) Child development (pp. 3-37). Boston: Allyn and Bacon. Fitch, W.E. (1985). Theories of Child Development in: W.E. Fitch. The Science of Child Development (pp. 32-63). Homewood: The Dorsey Press. 4 horas de leitura
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