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A Psicanalise Depois Freud Cap 5

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5 MELANIE KLEIN.

A FANTASIA INCONSCIENTE COMO CENRIO DA VIDA PSQUICA APRESENTAO

1. Introduo

A obra de Melanie Klein se estende desde 1919, data em que publicou seu primeiro trabalho. A novela familiar em statu nascendi", at sua morte, em 1960. Ela , sem dvida, uma das grandes figuras da psicanlise contempornea. Seus escritos, coloridos, s vezes contraditrios, apresentam uma permanente riqueza de idias originais. Neles, o interesse principal no est centrado em obter precises tericas que permitam construir um conjunto completamente coerente de hipteses. O que transmitem, em compensao, uma preocupao em descrever o mundo rico de fantasias e vivncias que os pacientes em tratamento apresentam. As hipteses de Klein procuram explicar os fatos que surgem, a partir de novos contextos teraputicos e de novas observaes. O ponto de partida sempre o tratamento analtico, mais exatamente, o desenvolvimento da sesso. Assim como em Freud observamos um esforo por formular teorias da mente, com base em modelos cientficos de sua poca: fsico-qumicos, neurofisiolgicos etc., ou, em Lacan, os pontos de partida para suas formulaes so os postulados filosficos de Hegel, a lingstica de Saussure e a antropologia estrutural, Klein quer explicar os eventos que acontecem no consultrio e no vnculo interpessoaI entre paciente e analista. Observa que o paciente se compromete emocionalmente no tratamento, que inclui o terapeuta em suas fantasias, que desenrola um universo cheio de acontecimentos e associaes, mas sobretudo com fortes sentimentos e angstias.

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Esta linha de compreenso define uma de suas hipteses principais: o psiquismo se origina em um vnculo intersubjetivo, em primeiro lugar, a relao de objeto do beb e sua me. Ela estuda as caractersticas emocionais deste vnculo, em que procura descobrir qual a angstia predominante e as fantasias constitutivas. Klein , indubitavelmente, a pioneira de toda a corrente psicanaltica contempornea, que enfatiza a existncia de relaes de objeto precoces como fundadoras do desenvolvimento psquico e da personalidade. Uma grande parte dos autores que revisaram os sucessivos captulos deste livro, nutrem-se, a este respeito, de suas idias renovadoras. importante incluir aqui um fato significativo. Klein comeou trabalhando em anlise com crianas; iniciou uma prtica original, ao introduzir a tcnica do jogo infantil, para ter acesso aos conflitos e fantasias, de uma maneira mais direta e fcil do que a comunicao verbal. Insistiu em que seus pequenos pacientes deviam ser analisados do mesmo modo que os adultos, explorando os conflitos inconscientes e abstendo-se de qualquer medida reeducativa ou de apoio. Isto lhe permitiu observar que as crianas desenvolvem uma neurose de transferncia anloga a dos adultos. Desta maneira, pde delimitar um campo de observao frtil para uma grande parte de suas descobertas posteriores: complexo de dipo precoce, superego precoce, mecanismos de defesa primitivos, organizados em tomo de uma angstia principal e uma relao de objeto. Disto partiu outra importante hiptese, a angstia existe desde o comeo da vida, o motor essencial que pe em marcha o desenvolvimento psquico e, ao mesmo tempo, a origem de toda a patologia mental. Na clnica, ser o eixo de compreenso das.fantasias e conflitos que se desenrolam durante o tratamento. Sobre isso versar o ponto de urgncia da interpretao. Esta noo est ligada grande importncia que, no pensamento kleiniano, tem o problema da agressividade como causa de angstia: as pulses sdicas, e agressivas se inscrevem, em ltima instncia, na pulso de morte, que a,tua no indivduo, desde os primeiros momentos do desenvolvimento. A frustrao provocada pelos objetos ser um elemento coadjuvante, mas no causal, nem definitrio, para tais pulses agressivas. Klein est interessada em descrever o desenvolvimento psquico precoce, principalmente no primeiro ano de vida, pois o considera o fundamento de todo o desenvolvimento psquico posterior. E, embora tome como ponto de partida as propostas bsicas de Freud e Abraham, suas observaes e hipteses a levam a inventar uma teoria original do desenvolvimento e da estrutura da mente, a idia do mundo dos objetos internos. um espao mental povoado de objetos que interagem entre si, produzindo significados e motivaes; descreve as fantasias inconscientes como os elementos bsicos desse mundo interno ou realidade psquica. A idia de conflito mental se modifica, no uma luta entre a pulso sexual e a defesa, ou com a estrutura que impede sua descarga, mas entre sentimentos de amor e de

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dio que se enfrentam no vnculo com os objetos. A vida psquica se organiza, tanto em sua evoluo como em seu funcionamento, em volta de duas posies fundamentais: esquizo-paranide e depressiva. A posio depressiva , para Klein, o ponto crucial do desenvolvimento. Estabelece as bases para o equilbrio psquico e o controle das angstias psicticas. A inveja primria, outra hiptese fundamental, retoma sua idia de que a agresso se origina desde o comeo da vida, tendo uma base constitucional. Este postulado final da obra de Klein (1957) refora suas propostas sobre a hierarquia dos fatores inatos; as pulses, tanto agressivas como libidinais, no so descritas a partir de uma especulao biolgica ou filosfica (Freud, 1920), mas como expresses concretas das foras mentais em luta, que so manifestadas na psicopatologia e nas diferentes situaes observadas na clnica. O desenvolvimento psicanaltico iniciado por Melanie Klein deu lugar criao de um movimento chamado de escola kIeiniana; teve seu epicentro em Londres e se estendeu a diversos pases europeus e americanos. No Mxico, Jos Luis Gonzles foi,-sem dvida, seu pioneiro; teve uma atividade apaixonada na difuso e ensino da obra de KIein. Formou muitos discpulos e, h mais de vinte e cinco anos, realiza seminrios de estudos sobre estes enfoques. O movimento inspirado em Melanie Klein se originou nos anos 40, alcanando seu apogeu nas dcadas de 50 e 60. Unificou um corpo terico e tcnico que o individualizou claramente de outros esquemas da psicanlise contempornea. Resumiremos agora um perfil biogrfico de Melanie Klein, que ampliar a compreeno de alguns aspectos de sua obra. Nasceu em 1880, filha de uma famlia centro-europia de origem judaica. Quando jovem, quis estudar medicina; mas no pde realizar este propsito, devido a seu noivado com Arthur Klein, aos dezessete anos, com quem casou aos vinte e um e teve trs filhos, em um curto espao de tempo. Durante a poca da Primeira Guerra Mundial, d-se sua aproximao com a psicanlise, atravs da leitura da obra de Freud. Deste momento em diante, nunca abandonou sua devoo a Freud (com quem jamais teve um contato direto) e a dedicao pela psicanlise. Seu desenvolvimento foi protegido por trs grandes figuras muito prximas de Freud: Ferenczi, com quem comea sua primeira anlise, em 1919, que a estimula a se introduzir na anlise infantil; Abraham, que a convida, em 1921, a mudar-se para Berlim, apoiando seus novos conceitos tericos. Com ele, inicia sua segunda experincia analtica, nesse ano, que interrompida pela morte prematura do mestre. Finalmente, Ernest Jones, que, em 1926, convence-a a ir morar em Londres, onde ela permanece at sua morte, em 1960. Melanie Klein sempre foi uma figura polmica na psicanlise. Provocou a existncia de apaixonados colaboradores e adeptos e, tambm, de inflamados crticos e opositores. Teve trs grandes enfrentamentos, ao longo

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de sua carreira cientfica: em 1927, com Anna Freud, em redor da anlise infantil e o desenvolvimento da transferncia; em 1943-44, as Controversial Issues (Temas polmicos), dentro da Sociedade Psicanaltica Britnica, quando Glover props a expulso de Klein e seu grupo, acusando-a de afastar-se dos princpios bsicos da psicanlise clssica; finalmente, nos ltimos anos de sua vida, a teoria da inveja primria, que apia decididamente a base constitucional da agresso humana, provocou a discrepncia definitiva com membros de sua escola (Paula Heimann separa-se do grupo) e com outros autores, que compartilham, com Klein, a teoria das relaes de objeto precoces, mas divergem quanto gnese da agresso e do sintoma (Winnicott e Guntrip entre eles). Estas trs polmicas tiveram conseqncias pessoais, tericas e para o movimento. Quanto ao pessoal, a maioria dos autores concordam que seu enfrentamento total com Anna Freud e a Escola de Viena foi responsvel, em parte, de que Freud nunca aceitasse nem apoiasse sua obra, apesar dela se proclamar fiel discpula e continuadora de suas idias. As discusses de 1043-44 provocaram a dolorosa ruptura definitiva com sua filha, Mehtta SchInldeberg, que apoiou Glover em sua postura e; ao fracassar, mudou-se definitivamente para os Estados Unidos. Quanto teoria, os artigos apresentados por Klein e seus colaboradores nas polmicas da Sociedade Psicanaltica Britnica, permitiram reelaborar as idias de fantasia inconsciente, desenvolvimento emocional do lactente, mecanismos primitivos do psiquismo e outras, em uma srie de hipteses mais coerentes e unificadas, culminando, finalmente, na teoria das posies. A leitura , dos textos de Klein apresenta ao leitor uma mistura de deslumbramento, perplexidade e confuso conceptual. Suas descries clnicas esto cheias de finas observaes. So desenvolvimentos dramticos que refletem o mundo de fantasias e vivncias que constituem a base do funcionamento psquico. Em quase todos os seus artigos; prope idias inovadoras, mas, ao mesmo tempo, vai forando a teoria; com a inteno de incluir suas descobertas dentro dos postulados freudianos. H hipteses que aparecem em um momento de sua obra como resposta a determinados problemas e, depois so deixadas de lado, sem que faa uma referncia explcita a isto; por exemplo, a idia da pulso epistemolgica. Conceitos psicanalticos anteriores so redefinidos, ao inclu-los, com novo sentido, em outro contexto terico; isto ocorre com as pulses freudianas de vida e morte, s quais outorga uma significao diferente. H afirmativas que faz, de forma rotunda, e cujos fundamentos no so suficientemente claros para o leitor. Outros conceitos originais, como-identificao projetiva, casal parental combinado, posio esquizo-paranide e depressiva, devem ser compreendidos tanto no desenvolvimento, durante sua obra, como no contexto total de sua teoria. Alguns temas clssicos, como resistncia ou teoria do narcisismo, tambm passam a um segundo plano ou submergem em outra teoria mais abrangente.

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Melanie Klein no fez revises peridicas de sua obra. The Psycho Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizao, em 1932. Depois teorizou, de maneira desordenada, confusa, repetitiva. Isto torna mais rida e laboriosa sua leitura. Mas quem tiver pacincia e insistir, poder descobrir em seus trabalhos um mtodo rico e apaixonante de abordagem da vida mental, cheio de criatividade. Ao estudar o conjunto da produo kleiniana, h autores que enfatizam, como ela prprio o fez, a continuidade com as idias freudianas. Assim, por exemplo, o conceito de introjeo de objeto, que Freud desenvolve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da idia de objeto interno kleiniano; ou a dualidade pulsional de Alm do princpio do prazer (1920), como o ponto inicial que Klein considerou, para teorizar sobre as pulses agressivas e libidinais. Outros autores, pelo contrrio, acentuam que h uma ruptura entre Freud e Klein. Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamento mental e do desenvolvimento psquico. A idia do conflito freudiano, como luta entre a pulso e a defesa, substituda pela de conflito entre desejos de amor e dio. Na mente, lutam a dissociao com a integrao, a negao da dor psquica, por um lado, e a tolerncia a esta dor, junto com o cuidado dos objetos, por outro. A emocionalidade seria a base do funcionamento psquico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento dramtico, que d significao permanente ao suceder mental. Para que cada leitor possa tomar sua prpria deciso a respeito, procuraremos descrever, com certa ordem cronolgica, as sucessivas descobertas de Melanie Klein e, ao mesmo tempo, avali-Ias no contexto total de sua teoria

2. Panorama geral de sua obra (1)


Sua produo terica costuma ser dividida em trs etapas. a) Perodo de 1919 1932: neste perodo, produz uma grande quantidade de artigos, com seus achados tericos e clnicos. Inicia a tcnica do jogo, para a anlise infantil, e a aplica, originalmente, em crianas pequenas. Suas descobertas destacam a importncia da agresso no desenvolvimento mental. As hipteses principais versam sobre a neurose de transferncia completa, na anlise infantil, o complexo de dipo precoce e a formao de um superego precoce. b) Perodo de 1932 a 1946: em 1932, escreve The Psycho-Analysis of Children, onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psquica infantil. Neste perodo, formula o essencial de sua teoria: a idia de posio depressiva, como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935, 1940) e de posio esquizo-paranide (1946). Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia kleiniana, com a descrio da mente como um espao povoado por objetos internos, que interagem com os externos, atravs dos

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Observao: na cpia, h um recorte do texto entre as pginas 84 e 93. Segue ento para a pgina 94, item 3 teoria das posies

3 - Teoria das posies


Posio esquizo-paranide
Desde os primeiros tratamentos de crianas, Klein tinha descrito fantasias persecutrias em idades precoces. Tambm observou, na clnica, no jogo e nas fantasias infantis, que as crianas podiam partir em dois um objeto, dissoci-lo, separando um aspecto totalmente bom, que projetavam em uma .pessoa, de um aspecto exclusivamente mau;"que situavam em outra. Denominou-o de mecanismo de splitting, ou dissociao. Em 1946, em seu trabalho "Notes on some schizoid mechanisms", organiza, de uma maneira coerente, todos estes processos primitivos, ao descrever a posio esquizo-paranide. Concebe-a como uma estrutura que organiza a vida mental nos trs primeiros meses de vida. constituda por:

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1. angstia persecutria. A angstia principal que o ego sente a deser atacado; 2. relao de objeto parcial, com um seio idealizado e outro persecutrio, que so percebidos como objetos dissociados e excludentes; 3. o ego se protege da angstia persecutria com mecanismos de defesa intensos e onipotentes. Eles so: a dissociao, a identificao projetiva, a introjeo e a negao. Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento, que sente a angstia, relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos. O funcionamento mental dos perodos iniciais da vida no seria totalmente desorganizado, catico ou com uma indiferenciao ego-objeto. Para Klein, pelo contrrio, possui uma organizao. O primitivo definido pela qualidade da angstia e as caractersticas dos mecanismos de defesa que, como j dissemos, so intensos e extremos. Ela os considerou de natureza psictica. A angstia persecutria experimentada pelo ego como uma ameaa de foras hostis que o atacam. Esta angstia tem uma origem principalmente interna (a pulso de morte age como uma fora destrutiva dentro do indivduo e tambm outra, externa: a experincia traumtica do parto e todas as situaes posteriores, que provocam frustrao. A pulso de morte projetada no primeiro objeto externo, o seio da me; assim comea a relao entre o ego e o objeto mau externo. Simultaneamente, as pulses libidinais so projetadas no objeto parcial seio bom, que, a partir desse momento, aparece dissociado do seio mau ou persecutrio. Klein d muita, importncia ao efeito que a agresso produz dentro do psiquismo precoce. Expressa-se em fantasias inconscientes oral-sdicas de devorar o seio e o corpo matemos, e anal-sdicas de atac-Ios com excrementos. Isto gera- no beb temores persecutrios de ser devorado e envenenado. Est se teorizando sobre um corpo materno fantasmtico, cuja imago aparece deformada pelas fantasias do sujeito, devido projeo de suas pulses agressivas. Fala de objeto em um sentido anatmico (as pulses orais se dirigem ao seio e no me, pois esta no percebida como uma figura completa) e tambm em um sentido dinmico (objeto parcial idealizado e objeto parcial persecutrio); por um processo primitivo de dissociao, o beb percebe tanto o mundo externo, como a si prprio, divididos em duas partes absolutamente inconciliveis, um objeto idealizado, ao qual atribui todas as experincias gratificantes, e um objeto persecutrio, ao qual atribui todas as frustraes. Os mecanismos de projeo e introjeo permitem a construo de um objeto bom interno e um objeto mau interno, ao introjetar os objetos externos bom e mau, respectivamente. Deste modo, se estabelece uma dinmica constante de projeo e introjeo entre os objetos e as situaes externas e as pulses e fantasias internas, que estaro indissoluvelmente misturadas medida que o desenvolvimento psquico avana, produz-se uma evo

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luo desta estrutura. Por um lado, existem momentos de integrao dos objetos dissociados; por outro, a introjeo do objeto bom fortalece o ego, permitindo-lhe tolerar melhor a angstia, sem projet-Ia. Portanto, diminui, progressivamente, a angstia persecutria e isto, por sua vez, favorece os processos de integrao. Assim se produz a passagem para a organizao seguinte, a posio depressiva Klein diz, em "Notes on some schizoid mechanisms": " na fantasia que a criana cliva o objeto e cliva a si prpria, mas o efeito desta fantasia muito real, porque conduz a sentimentos e relaes (e depois a processos de pensamento) que, em realidade, esto separados entre si" (1946, p. 260). Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizao. Klein estabelece urna relao dinmica entre as experincias internas e as externas, produzida atravs dos mecanismos de projeo e introjeo. O destaque posto, indubitavelmente, no interno: as pulses agressivas e amorosas que lutam na mente, primeiro clivadas e depois mais integradas, no vnculo com os objetos primrios. As experincias com os objetos externos so importantes como moderadoras da angstia provocada, basicamente, por causas internas, de origem pulsional. Assim o manifesta, claramente, Klein, na seguinte citao de "Some theoretical conclusions regarding the emotionallife of the infant" : "As vivncias repetidas de gratificao e frustrao so estmulos poderosos das pulses libidinais e destrutivas, do amor e do dio... Desta forma, a imagem do objeto, externa e internalizada, distorcida, na mente do lactente, por suas. fantasias, ligadas projeo de suas pulses sobre o objeto. O seio bom, externo e interno, chega a ser o prottipo de todos os objetos protetores gratificantes; o seio mau, o prottipo de todos os objetos perseguidores externos e internos. Os diversos fatores que intervm. na sensao do lactente de ser gratificado, tal como o aplacamento da fome, o prazer de mamar, a liberao do incmodo e da tenso, isto , a liberao de privaes e a experincia de ser amado, so todos atribudos ao seio bom. Inversamente, qualquer frustrao e incmodo so atribudos ao seio mau (perseguidor)" (1952a, pp. 178-179). Klein diz que os fatores externos so muito importantes, desde o comeo, pois toda a experincia boa fortalece a confiana no objeto bom externo e todo estmulo de temor perseguio, pelo contrrio, refora os mecanismos esquizides, perturbando o progresso desta integrao; indubitvel, no entanto que, no conjunto de sua teorizao, d mais importncia aos fatores intrnsecos do indivduo, determinados pela luta de suas pulses, do que aos de ndole externa. Por este motivo, autores como Winnicott compartilham de algumas idias de Klein sobre o desenvolvimento precoce, mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela, quando hieraquizam o papel da me como determinante para o desenvolvimento mental da criana. Winnicott acredita que se a me tiver urna boa atitude de sustentao emocional para

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com o beb (holding), alimentando-o e cuidando-o adequadamente, ele crescer bem e ter um bom desenvolvimento psquico. Klein pensa, em compensao, que esta reao no linear. Se o lactente projetar fantasias sdicas e vorazes no seio, senti-lo- em seu interior como um objeto interno devorado por seu ataque e, por sua vez, devorador, o que refora sua perseguio, por mais adequado que seja o cuidado que a me lhe fornea. Acreditamos que o peso que Klein d ao interno importante, pois no nos deixa cair em urna idia simples da patologia, ao pr todo o destaque na inadequao dos pais e em fatores ambientais adversos, eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento. . Outro ponto terico importante que ela no aceita a idia de narcisismo primrio, descrita por Freud. Ao estabelecer que existe um ego incipiente, desde o nascimento, capaz de experimentar angstia, de sentir um conflito entre pulses de amor e de dio, no vnculo com os objetos primrios, e de possuir mecanismos de defesa, atribui muitas capacidades a este ego primitivo, e uma possibilidade de diferenar entre o self e o objeto. Para Klein, a relao narcisista uma relao com um objeto idealizado interno, em que o ego se confunde comeste objeto, enquanto o objeto persecutrio dissociado e projetado no exterior. Esta relao narcisista provocada por um conflito e inexoravelmente produz angstia, embora seja negada ou clivada. importante acentuar as idias kIeinianas sobre o narcisismo primrio, pois, como se ver mais adiante, h outras teorias do desenvolvimento precoce que aceitam as idias de Freud a respeito. Mahler, por exemplo, fundamenta no narcisismo primrio sua idia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento. Tambm Winnicott o aceita, quando pensa que o recm-nascido atravessa uma etapa de no diferenciao ego-no ego.

Mecanismos de defesa da posio esquizo-paranide


J descrevemos alguns destes mecanismos, para explicar a relao com os objetos parciais e sua constituio. Klein os considera como processos extremos, intensos e de caractersticas onipotentes. So indispensveis, ao mesmo tempo, para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental, opondo-se angstia persecutria, que insuportvel para o fraco ego. Denominou-os de mecanismos psicticos, semelhantes aos que ocorrem em estados esquizides graves e esquizofrnicos. Pensou que toda criana passa, durante seu desenvolvimento, por uma psicose infantil, etapa normal, determinada pela presena destes mecanismos e angstias extremos das posies esquizoparanide e depressiva. Neste desenvolvimento precoce, encontram-se os pontos de fixao das perturbaes psicticas posteriores. Por um lado, Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanalticas: um critrio psicopatolgico aplicado ao desenvolvimento normal, atravs do conceito de pontos de fixa

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o. Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este critrio, quando pensaram que as zonas ergenas do desenvolvimento libidinal so os pontos de fixao das diferentes patologias psicticas e neurticas; quanto mais regressivo for o ponto de fixao, mais grave ser a patologia originada. Klein aplica o mesmo critrio aos processos primitivos do desenvolvimento. Introduz um problema conceptal, ao atribuir fenmenos psicticos criana pequena, em sua evoluo normal. Muitos autores consideram que a descrio destes mecanismos muito til para compreender os fenmenos psicticos na clnica, mas no concordam em atribu-los ao desenvolvimento normal. Klein sempre deu a mxima importncia a seu enfoque gentico, tomando-o como uma explicao concreta de que esta a estrutura psquica do lactente e que sua mente funciona assim. Referindo-se a este problema, em 1946, diz: "Na primeira infncia, surgem as angstias caractersticas das psicoses, que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especficos. Neste perodo, encontram-se os pontos de fixao de todas as perturbaes psicticaso Esta hiptese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianas so psicticas, mas j me ocupei suficientemente deste mal-entendido, em outras oportunidades. As angstias psicticas, os mecanismos e as defesas do ego da infncia exercem uma profunda influncia em todos os aspectos do desenvolvimento,-inclusiv'e do desenvolvimento do ego, do superego e das relaes de objeto"i(pp. 255-256). ", No mesmo artigo esclarece que, se os temores persecutrios so demasiado intensos, 'produz-se um frasso na claborao da posio esquizo-paranide, o que leva a um refor:regressivo:dostemores persecutrios, estabelecendo-se pontos de fixao para graves psicoses (grupo das esquizofrenias). Do mesmo modo, as dificuldades surgidas na elaborao da posio depressiva estabelecero o ponto de fixao da doena manaco-depressiva. Klein superpe, assim, um critrio psicopatolgico com uma explicao estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posies). O que confunde, na explicao destes mecanismos e ngstias primitivas, que ela no considera estes conceitos como uma representao hipottica das vivndas do lactente, inferida a partir da anlise de crianas e de adultos neurticos e psicticos. Seu enfoque gentico, e sua preocupao em consolidar uma teoria do desenvolvimento precoce, fazem com que os transforme em uma explicao concreta da estrutura psquica do lactente e de como funciona sua mente. A idia se toma mais forte ainda, se possvel, quando afirma que, na transferncia, so revivids-Qs conflitos reais que ocorreram com o seio. Isto faz parte, em nosso ponto de vista, do "mito das origens". Como poder comprovar que assim sucedeu realmente, na experincia do beb? No h campo de observao capaz de verificar estas hipteses. As posies podem ser tomadas como uma organizao, cujo centro psicolgico a angstia; esta ordena a totalidade da vida psquica, em relao a um objeto e aos mecanismos de defesa' que entram em jogo para se oporem a ela. A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em uma estrutura especfica ao mesmo tempo, mutvel. Klein tem necessidade de relativizar a descrio, um tanto sistemtica, que faz das posies, quando diz, em "Notes on some schizoid mechanisms":

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"Sempre ocorrem algumas flutuaes entre a posio esquizide e a depressiva, que fazem parte do desenvolvimento normal. Portanto, no se pode estabelecer uma diviso exata entre estes dois estados do desenvolvimento, dado que a modificao um processo gradual e os fenmenos das duas posies permanecem, durante algum tempo, at certo ponto misturados e recprocos. No desenvolvimento anormal, esta ao recproca influi, acredito, no quadro clnico, tanto da esquizofrenia como das perturbaes manaco-depressivas" (1946, p. 270). A discriminao que fazemos toma-se importante para poder avaliar na clnica a riqueza que nos oferece a descrio dos mecanismos defensivos da posio esquizo-paranide (Hinojosa, I.R., 1988). Podemos us-Ios para compreender os processos mentais dos pacientes, sem que por isso fiquemos, necessariamente, atados s propostas genticas kIeinianas. Descreveremos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos. Dissociao, projeo e introjeo. Seriam as defesas mais arcaicas, os processos fundamentais para, a construo dos primeiros objetos externos e internos. A projeo aparece, primeiramente, ligada pulso de morte, cuja ameaa de destruio interna neutralizada, ao ser expulsa para fora do sujeito. Esta projeo de agresso e de libido permite que se constituam os objetos parciais seio bom e seio mau. Este conceito de projeo se enriquece com a descrio da identificao projetiva, como mecanismo bsico. A dissociao a resposta do ego diante da angstia persecutria. Permite que se efetue uma primeira diviso bom-mau dos objetos externos e internos; so defesas teis e necessrias para favorecer a organizao das primeiras estruturas da mente, que depois podero se integrar paulatinamente. Se este processo de dissociao fracassar, produzem-se fenmenos de desintegrao e fragmentao e um desenvolvimento patolgico da posio esquizoparanide, base para doenas psicticas posteriores. A dissociao dos objetos acompanhada, inexoravelmente, de uma dissociao do ego. uma defesa necessria para proteger o ego dbil de uma angstia persecutria excessiva. Aplica-se aos objetos e tambm a estruturas e fantasias. Serve para separar o bom do mau, mas tambm o interno do externo e a realidade da fantasia. A dissociao do objeto possibilita que se constitua o primeiro objeto bom interno, como o ncleo do ego e do superego. Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau, para que o aspecto bom idealizado do objeto e do self possam estabelecer uma relao segura dentro do ego. Quando as angstias persecutrias decrescem, a dissociao diminui, produzindo-se uma impulso para a integrao dos objetos

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e do ego. Isto constitui a entrada na posio depressiva. O conflito mental fica, assim, definido como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos, fora e dentro do self. Esta idia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforo por realizar integraes progressivas, atravs da elaborao das angstias e da luta constante do indivduo entre seus desejos de amor e de dio, afasta-se completamente do substrato biolgico que Freud deu sua teoria das pulses e tambm da idia de conflito como uma luta entre o desejo de descarga pulsional e foras internas e externas que se opem a esta descarga. Nas pulses para dissociar e integrar os objetos, h, para Klein, uma inteno inconsciente junto a uma necessidade defensiva. Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psquica diante de seus progressos e de suas regresses. Os objetos danificados ou reparados dentro do self existem como uma realidade concreta em seu psiquismo, tendo conseqncias fundamentais para a sade mental. Grotstein, J. (1981), em seu livro Splitting and Projective Identification, ocupa-se em examinar, amplamente, estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal, isto , corno instrumentos da organizao mental primitiva, e tambm em sua participao nas diferentes patologias. D prioridade clivagem, com o propsito de reavaliar a importncia dos mecanismos dissociativos, no desenvolvimento da personalidade. Entende-se que um dos propsitos do tratamento ser auxiliar, com a interpretao, o paciente, para que possa integrar seus aspectos dissociados. Esta dissociao pode se efetuar de mltiplas maneiras. O paciente pode, por exemplo, dissociar como mau o vnculo com sua esposa e situar o idealizado com seu analista; sentir que ningum pode entend-Io to bem corno ele. Se se interpretar somente a transferncia positiva e no se levarem em considerao os aspectos dissociados, postos no vnculo matrimonial estar-se favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos. Tambm se pode estabelecer uma dissociao entre o objeto bom, posto no presente, e. o objeto mau; no passado. O paciente sentir, ento, que a culpa de todo mal que se passa na vida de seus pais, que no o quiseram o suficiente (objeto mau dissociado no passado), enquanto procura idealizar a relao com o analista. Toda interpretao que no faa justia a ambos os aspectos do objeto dissociado, no poder ajudar o paciente no caminho de sua integrao. Klein insiste na necessidade de interpretar, sistematicamente, tanto a transferncia positiva como a negativa, explcita e latente, do material da sesso. A introjeo tambm um mecanismo essencial para a constituio do psiquismo, :pois por introjeo dos primeiros objetos que se constroem os objetos internos. Isto permite a formao do ego e, tambm, do superego. Queremos acentuar novamente a idia kleiniana de que os objetos que se introjetam nunca so uma cpia fiel dos objetos externos, mas que estes se encontram deformados por uma projeo das pulses e sentimentos

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do sujeito. KIein est descrevendo, com sua idia de mundo interno, uma nova concepo da mente. Ao mesmo tempo em que utiliza a segunda tpica de Freud, pensa que os objetos introjetados vo para o ego e tambm para o superego. Como no se pronuncia completamente por um dos dois modelos, ficaria por definir qual a relao entre o ego, o superego e os objetos internos.

Identificao projetiva. Este mecanismo foi descrito por Klein em seu artigo de 1946, e desde ento se
transformou em um conceito fundamental para a teoria e a clnica da escola kleiniana. A mente tem a capacidade onipotente de se liberar de uma parte do self, colocando-a em outro objeto. O resultado uma confuso da identidade, uma perda da diferena real entre sujeito e objeto. O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmo, identificando-se com o no projetado; ao objeto, por sua vez, so atribudos os aspectos projetados, dos quais o sujeito se desprendeu. Esta seria, para KIein, uma das bases principais dos processos de confuso. produzido por uma motivao pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo. O leitor perceber, sem dvida, a diferena com as ,teorias, inclusive as de relaes objetais, que propem uma indiferenciao sujeito-objeto, por dficit na maturao. Na teoria kleiniana, os processos do desenvolvimento nunca so meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural, mas obedecem a uma inteno inconsciente do sujeito. O beb pode precisar, para aliviar sua angstia, desprender-se de aspectos, dolorosos de seu prprio self, usando a identificao projetiva, colocando-os em sua me. Isto pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento, a partir de um observador externo, mas, ao livrar-se de sentimentos dolorosos, colocando-o em sua me, esta adquirir inexoravelmente um significado persecutrio para o beb, por exemplo, a ameaa de que volte a inocular-lhe tais emoes. Um paciente pode precisar contar as experincias traumticas, que lhe sucederam e nossa inteno ser de escut-Io com compreenso e benevolncia. Mas se o processo de identificao projetiva for intenso, o paciente voltar na prxima sesso com medo de que lhe digamos coisas muito dolorosas, sem nenhuma considerao para com ele. Alm de nossas boas intenes, ele nos percebe a partir de suas prprias projees e sua subjetividade. Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificao projetiva. Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se, tanto dos aspectos maus, como dos bons de algum. Neste ltimo caso, a motivao pode ser, por exemplo, situar os aspectos bons fora do self, para preserv-Ios dos aspectos maus internos. Uma paciente depressiva tinha a capacidade diablica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa que se aproximava e, ao mesmo tempo, isto lhe servia como base de comparao para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade. Dissemos que sua capacidade era diablica porque, se saa de frias com uma amiga, esta era,

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Para ela, a pessoa mais hbil esportes que se poderia encontrar, diante da qual se sentia muito inbil; se ia a um concerto, sentia que algum sabia muitssimo de msica e ela no; quando se tratava de uma conversa social, o ponto de comparao era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam, diante da ignorncia que ela se atribua. Sempre havia uma clivagem, tanto nela como nos outros, que permitia separar qualidades que, objetivamente, no deviam ser, nem to maravilhosas nos outros, nem to deficitrias em si prpria. Poder-se- deduzir, deste exemplo, que um problema da transferncia era sua necessidade de idealizar intensamente o analista, clivando a insatisfao e as reivindicaes, que sempre ficavam situados em outras situaes de sua vida. Uma das conseqncias da identificao projetiva excessiva que o ego se debilita, ficando submetido a uma dependncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons, para voltar a receb-los delas, ou os aspectos maus, para control-los e assim poder se proteger da ameaa de introjeo (4). Em 1952, K1ein prope um equilbrio entre os processos de identificao projetiva e introjetiva, como estruturantes do mundo externo e interno (1952a). Compreende-se que essencial para a normalidade que este equilbrio possa ser mantido. Em seu belo trabalho sobre a identificao (1955b), descreve a identificao projetiva como um fenmeno normal, base da empatia e da possibilidade de comunicao entre as pessoas: nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compreend-Io. Ao mesmo tempo, pode ser entendido corno um fenmeno normal ou patolgico, segundo sua intensidade e qualidade. O essencial para o processo de integrao que predomine o amor e no o dio na dissociao. A identificao projetiva explicada por Klein corno a base de muitas situaes patolgicas (5). Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamente dentro do objeto e control-Io, sofrer um temor pela reintrojeo violenta, a partir do exterior, tanto no corpo como na mente. Isto provoca dificuldades na reintrojeo, que levam a alteraes no ego e no desenvolvimento sexual; podem levar o indivduo a se isolar em seu mundo interior, refugiando-se em um objeto interno idealizado. As angstias persecutrias, provocadas pela fantasia de entrar fora dentro do objeto, so uma das bases da parania. Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeto, pelo desejo de control-Io, o indivduo sofrer de angstias claustrofbicas. Tambm os sintomas de impotncia podem ser entendidos como o temor de ficar preso dentro do corpo da me. A identificao projetiva foi o instrumento terico com que os kleinianos abordaram a anlise de pacientes psicticos e limtrofes. Desta maneira, no modificaram basicamente a tcnica da anlise, mas aprofundaram a compreenso dos fenmenos psicticos, investigando-os na transferncia.

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Idealizao. um mecanismo caracterstico da posio esquizo-paranide. Aumentam-se os traos bons e


protetores do objeto bom ou acrescentam-se-lhe qualidades que no tem. Constitui uma defesa do ego para se proteger de uma perseguio excessiva, mantendo, ao mesmo tempo a dissociao entre objetos idealizados e persecutrios. Portanto, sempre que haja, em um paciente, a necessidade de idealizar, estar se protegendo de um sentimento de angstia. Baranger (1971) destaca que, no seu livro Envidia y gratitud (1957), Melanie Klein amplia a noo de idealizao, entendendo-a no apenas como urna modalidade defensiva, diante da angstia, mas tambm como uma tendncia inerente ao ser humano, uma necessidade intrnseca de procurar a gratificao perfeita. Derivaria do sentimento inato de que h um seio extremamente bom, o que leva a sentir saudade dele e capacidade de am-lo. Baranger hierarquiza esta nova noo de idealizao nas idias kleinianas, pois cr que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como um elemento essencial para sua relao com o mundo social e cultural em que se encontra. O conceito de idealizao procura explicar certos fenmenos mentais que tambm foram explicados em contextos tericos diferentes. Assim, Lacan (1949) se ocupa da ordem do imaginrio como uma necessidade, inerente ao sujeito, de estabelecer vnculos narcisistas que lhe produzam uma sensao de completeza e de integridade. Na teoria de Kohut (1971, 1977, 1983),a idealizao dos objetos primrios indispensvel para a integrao do self. Este autor considera que um fenmeno adequado e necessrio, por isso o transfere tcnica, manifestando que h uma etapa do tratamento em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizao do analista, como parte de um processo de reestruturao do self, a fim de criar um vnculo melhor do que o teve com seus pais. Esta tese no pode ser compartilhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando, pois significa estimular uma dissociao no paciente, que pe seus sentimentos de idealizao na pessoa do analista e seus sentimentos de frustrao e perseguio no passado, na relao com os pais. Para os kleinianos, uma tcnica destas caractersticas fomenta a dissociao do paciente e obstrui os processos de integrao, necessrios para a sade mental. Em Klein, os problemas que resultam da idealizao so resolvidos com a elaborao da posio depressiva. Os objetos finalmente no so, nem to bons, nem to maus, como prope o sistema de valores da posio esquizoparanide. A criao de valores explicada como um processo de identificao com os bons pais internos e no requer, necessariamente, a instaurao do processo de idealizao. Tambm verdade que esta teoria, to atenta aos processos internos do sujeito, detm-se pouco em estudar a relao entre o indivduo e a cultura, principalmente no plano dos valores sociais ou culturais. Talvez algumas idias lacanianas procurem explicar es-

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tes fenmenos, sob um mbito transpessoal, enquanto quc, na teoria kleiniana, todos os fat os so estudados no terreno interno. Negao. um mecanismo onipotente, pelo qual a mente nega a existncia de objetos persecutrios, que cliva e projeta no exterior. Ao mesmo tempo, o ego se: identifica com os objetos internos idealizados, com os quais se contrape ameaa persecutria. A idia de negao, em Klein, descreve um mecanismo violento e primitivo, negam-se as pulses e fantasias da realidade psquica, tanto quanto os objetos que perturbam, na realidade externa, que se considera inexistentes.

Posio depressiva
Na teoria lleiniana, a posio depressiva uma nova organizao da vida mental, constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade. Klein a descreve, pela primeira vez, em 1935, em seu artigo "Uma contribu io para a psicognese dos estados manaco-depressivos". Pensa que ela se produz entre os trs e os seis meses de idade, aps a posio esquizo-paranide. constituda por: 1. angstia depressiva: o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado, com suas pulses agressivas; 2. relao com um objeto total: a me, com a qual o ego se vincula, tanto em seus aspectos bons como maus. Aumentaram, portanto, os processos de integraao; 3. o mecanismo de defesa principal a reparao: atender e se preocupar com o estado do objeto (interno e externo). Esta nova estrutura no apenas um progresso maturativo. uma configurao diferente, onde os interesses narcisistas da posio esquizo-paranide, que procuravam proteger o ego das ameaas persecutrias, mudam para a preocupao central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos, tanto externos como internos. O conflito depressivo uma luta constante entre os sentimentos de amor e de agresso. Os mecanismos de defesa perdem sua onipotncia. O mais importante a reparao, que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do self. Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam, agora se requer que o ego lhes d amor e cuidado, para devolver-Ihes a vida e a integridade. Os sentimentos que predominam nesta posio so a tolerncia dor psquica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados. Reconhece-se um sentimento de amor e dependncia para com os pais, junto ao desamparo do ego e o cime que causa no nos pertencerem completamente. Durante a elaborao da posio depressiva, o vnculo com a realidade externa se modifica. Enquanto na posio esquizo-paranide os objetos

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externos so percebidos deformados pelas projees agressivas e libidinais, clivadas em dois mundos diferentes, agora o vnculo com o mundo externo , por assim dizer, mais realista, pois reconhecido em seus aspectos bons e maus, com menos distores. H uma maior discriminao entre fantasias e realidade, assim como entre realidade externa e interna. Quando Klein descreve, em 1935, a posio depressiva, sobrepe, como j explicamos para o caso da esquizoparanide, uma teoria do desenvolvimento precoce com outra que psicopatolgica; nesta ltima, a posio depressiva o ponto de fixao da doena manaco-depressiva. Klein pensa que as crianas passam, neste perodo, por dores e angstias semelhantes s sofridas pelos adultos, quando adoecem de depresso ou de psicose manaco-depressiva. Por isso, tambm chama estas angstias de psicticas. Aqui se estabelece novamente uma confuso entre o processo normal e o patolgico. A dificuldade solucionada, em parte, quando nossa autora estabelece que so os problemas na elaborao da posio depressiva que constituem um ponto de fixao para futuras perturbaes depressivas do adulto. Em 1940, amplia suas idias sobre a posio depressiva, ao incluir o luto como um fenmeno importante deste processo. A hiptese central que a perda de um ente querido reativa a posio depressiva infantil. a perda da me como objeto amado que revivida em cada perda do adulto. A possibilidade que cada indivduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende, para Klein, de como pde resolver a posio depressiva infantil. O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulses agressivas. Isto resultado no da ameaa externa (como ocorre com a angstia de castrao de Freud), mas do controle e renncia que os sentimentos amorosos lhe exigem. Assim, por exemplo, a resoluo do dipo precoce, na posio depressiva, no provm totalmente da censura superegica dos pais, proibindo os desejos incestuosos. A prpria criana, por necessidade de preservar a unio entre os pais e o amor por eles, procura controlar seus desejos edpicos. Estas caractersticas da teoria kleiniana do um valor axiolgico a suas premissas mais importantes, principalmente as da posio depressiva. No significa, evidentemente, que o terapeuta imponha uma escala de valores s fantasias e conflitos do paciente. Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos, acima dos desejos narcisistas e egoistas, o resultado ser uma "moral' de maior benevolncia e generosidade. A sada do estado narcisista, e tambm a resoluo do conflito edpico, dependem do desenlace que a posio depressiva tiver. A neurose infantil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elabor-Ia, comeando a se resolver quando as defesas manacas e obsessivas diminuem. A simbolizao se relaciona com o processo de luto, que permite recriar o objeto perdido dentro do self. Assim, substitui-se a ausncia do objeto por um smbolo do mesmo: implica criar um conceito, uma recordao,

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uma capacidade de esperar que o objeto volte. A posio depressiva repete o luto precoce pelo seio, embora deva ser pensada, no s como um momento evolutivo do desenvolvimento precoce, mas como uma configurao psquica que se repete durante toda a vida diante de situaes de perdas, tanto externa, como internas. Mais uma vez, dever ser resolvida, para alcanar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psquico. Na teoria kleiniana, o indivduo tem opes diante de cada situao. Sua possibilidade de escolher depender da motivao que prevalecer em seu psiquismo, se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupao por seus objetos. Esta concepo d um certo otimismo em relao possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental, mas ao preo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psquica por todos seus atos, sejam reais ou fantasiados. Para diz-lo de uma maneira simples, de acordo com a teoria da posio depressiva, no mundo interno, quem faz paga; o peso de cada sentimento ou motivao seria inexorvel em nossa mente. A integrao dos objetos e dos sentimentos, que se realiza na posio depressiva, permite entender o prazer que causa, aos pacientes em anlise, conhecer mais sua realidade psquica, embora provocando sentimentos dolorosos. Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes clivadas. No se trata apenas de um problema narcisista ou de superao da rivalidade infantil. uma experincia vital, que produz enriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno. Uma paciente o expressou com simplicidade, ao dizer: "Acabo de me dar conta que, agora, quando algo me acontece, j no ponho a culpa nos outros, e isso me faz sentir melhor".

As defesas manacas. Quando, na posio depressiva, o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda
que se tornam acabrunhantes, pode recorrer s defesas manacas. Hanna Segal (1964), seguindo as idias de Klein, diz que se baseiam na negao onipotente da realidade psquica e se caracterizam pela trade de triunfo, controle onipotente e desprezo, nas relaes de objeto. Existem fantasias onipo tentes de dominar e controlar os objetos, para no sofrer por sua perda. Estas defesas so consideradas normais no desenvolvimento, como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos. Mas, se a elaborao da posio depressiva fracassar e os objetos no puderem ser reparados, produz-se uma regresso fase esquizo-paranide ou, ento, estabelece-se um ponto de fixao para a doena manaca (6). Na situao analtica, comum que o paciente manifeste defesas manacas, para evitar sentimentos de perda: diante do anncio de uma interrupo de frias, poder dizer que, na realidade, o tema no muito importante. O sentimento de triunfo se manifestar, quando acreditar que pode

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substituir a ausncia de sesses com atividades mais atraentes, ou ao afirmar que a interrupo vem bem, porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente. Em qualquer destas situaes, estar procurando negar que a ausncia de seu analista pode lhe ser dolorosa. Quando se desvaloriza o objeto, a perda di menos, ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado.

4. A teoria da inveja
Foi desenvolvida por Klein, em 1957, em seu livro Envy and Gratitude, onde descreve a inveja primria como uma pulso agressiva que o beb sente, desde o comeo da vida, dirigida ao seio da me, com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objetonutritivo oferece. A inveja e a gratido constituem dois fatores dinmicos que interagem normalmente no psiquismo, a partir do nascimento, determinando, em parte, as caractersticas das relaes de objeto precoces. Neste trabalho to discutido, Klein separa inveja de frustrao. No so os elementos frustrantes do objeto materno ou da situao ambiental que provocam a pulso invejosa. Pelo contrrio, esta provm do sujeito, endgena, e sua finalidade a de atacar o que o objeto tem de bom e valioso. Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratido normal. Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno, inato, pessoal; no originada na situao externa que decepciona ou frustra. Pelo contrrio, pe-se em evidncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratido. Este seria o aspecto irracional, paradoxal, da inveja. Aqui, a teoria kleiniana volta a romper com a descrio naturalista de como se sucedem os fenmenos que relacionam a realidade externa com a interna. Se, com nosso senso comum, tendemos a pensar que, ante uma situao gratificante, reagimos com bons sentimentos, Klein complica, com esta idia que aponta o processo contrrio; a inveja ataca o que outro nos oferece, porque no podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias, mesmo que, no caso, sejamos os beneficirios delas. No artigo "Las teoras psicoanalticas de Ia envidia" (1981), Etchegoyen e Rabih fazem uma clara reviso dos antecedentes deste conceito, em psicanlise. Em primeiro lugar, situam a teoria freudiana da inveja do pnis, na mulher, como uma fora primria, que dirige a evoluo de sua sexualidade e do complexo de dipo. Em condies patolgicas, leva a uma grande deformao do carter e a traos masculinos ou homossexualidade, latente ou consumada. Freud no se refere a uma pulso invejosa equivalente no homem. Tampouco atribui inveja do pnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui. Depois, mencionam Abraham e Eisler, que falaram da inveja como um importante fator da personalidade, vinculado a pulses destrutivas, na etapa oral do desenvolvimento psicossexual. O ante-

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cedente que os autores consideram mais significativo, para a teoria da inveja primria de Klen, o trabalho de Joan Rivire, "Jealousy as a mechanism of defence" (1932), no qual estuda o caso de uma paciente com intensas relaes de cime diante do marido. Rivire afirma que o cime uma defesa ego-sintnica da paciente, para ocultar sentimentos invejosos para com ele, que consistem na pulso de se apoderar de coisas que ele possui, com inteno de tir-Ias dele. Estabelece-se uma comparao entre o cime, como expresso de uma relao triangular, e a inveja, como um vnculo didico destrutivo, que teria suas razes na relao do beb com o seio. Klein tinha mencionado esporadicamente, desde os primeiros momentos de sua obra, a existncia de sentimentos invejosos ligados voracidade. So fantasias de roubar, esvaziar e destruir o corpo da me. Em seu trabalho de 1957, inclua a inveja como um elemento psicolgico muito importante no desenvolvimento precoce. Denominaa de primria, isto , voltada para o seio da me, primeiro objeto com que se vincula a mente do beb. Esta urna das idias mais controvertidas do pensamento kleiniano. Mesmo entre os autores que propem a existncia de relaes objetais desde o comeo da vida, a maioria no aceita a inveja como pulso primria. Nos sucessivos captulos deste livro, veremos que o conceito de inveja tambm muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primrio, uma etapa em que no se reconhece o objeto externo ou se est psicologicamente fundido com ele. Esta divergncia terica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambm marcou nitidamente as diferenas com os autores do grupo britnico (Fairbairn, Guntrip, Winnicott e Balint), que pensam que a agresso sempre secundria a uma falha ambiental Outro aspecto polmico que Klein fundamenta a existncia da inveja como fora endgena, na ao da pulso de morte sobre o indivduo. Surge, agora, a acusao de instintivista, que freqentemente feita a esta teoria. Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primria, sem que isso implique apoiar a idia de pulso de morte e sem que nos pronunciemos, como o faz Klein, quanto a estas pulses existirem na mente do recm-nascido. Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situaes clnicas, como o narcisismo, as perverses ou a reao teraputica negativa. Em nossa opinio, fatos desta ndole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade, quando se considera o papel da inveja nos processos mentais. O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminveis. Algumas situaes de transferncia negativa, na sesso, so produzidas pelo ataque invejoso. o caso em que o analista d uma interpretao que provoca alvio e melhora o nimo do paciente, mas, depois, este procura desvaloriz-Ia, com crticas destrutivas, usando para tanto elementos secundrios ou marginais da interpretao. J menciona mos, em outras pginas deste livro, que h, provavelmente, alguma semelhana entre os conceitos kIeinianos de inveja e os de Lacan,

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sobre a tenso agressiva do narcisismo, produzidos pela dialtica intersubjetiva de comparao, lugares que cada um ocupa e rivalidade mortfera. Klein destaca a importncia de diferenar entre inveja, cime e voracidade, como pulses que interferem na introjeo do objeto bom. A inveja, como j manifestamos, um sentimento de dio contra outra pessoa que possui uma qualidade desejada. O cime, em compensao, existe em uma relao triangular, quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o rival. Hanna Segal (1964) considera que o cime uma relao de objeto total, enquanto a inveja ocorre, especialmente, com objetos parciais. Quando existe para com um objeto total, perturba a elaborao da posio depressiva. A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui. um pulso insacivel, que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar. Seu objetivo principal no destruir, como o caso da inveja. Por isso, a inveja primria teria um resultado to prejudicial para o desenvolvimento mental que, ao arruinar as capacidades e bondades do objeto, destri a prpria origem da bondade e da criatividade. Na clnica, s vezes observamos misturas de ambas as emoes. Assim, os sintomas de voracidade podem estar ligados a um componente invejoso. Uma paciente sofria de ataques compulsivos de bulimia, cada vez que a deixavam a ss. Eram acompanhadas de fantasias de roubo, que devia ser feito s escondidas e, quando terminava de comer exageradamente, provocava o vmito, porque tinha a sensao de que a comida incorporada danificaria seu organismo. Isto , o alimento incorporado tambm era objeto de intensos ataques, que o transformavam em um elemento persecutrio. Melanie Klein integra a inveja a sua teoria das posies. Se as pulses invejosas forem intensas, atacam o objeto ideal, que o que provoca o sentimento invejoso, alterando o processo de dissociao normal da posio esquizoparanide. Isto produz uma confuso entre o bom e o mau, no se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutrio, ficando perturbados gravemente os processos de introjeo do objeto bom, que so a base para o xito da estabilidade mental. Assim, fica dificultada a capacidade de gozo e criatividade. Estabelece-se um crculo vicioso, no qual a inveja impede uma introjeo adequada e isto, por sua vez, acentua a inveja. Os kleinianos consideram estas dificuldades precoces da introjeo, e os processos de fragmentao dos objetos, como a base de futuros transtornos psicticos. O excesso de inveja tambm pode acentuar a dissociao entre o objeto idealizado e o persecutrio, o que impede sua posterior integrao e a elaborao da posio depressiva. Ao considerar algumas das defesas contra a inveja, Klein menciona: a) os mecanismos precoces de dissociao, onipotncia e negao so reforados pela inveja; b) a confuso muitas vezes usada de maneira defensiva, para se opor perseguio e tambm culpa por Ler danificado o objeto bom;

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c) a fuga da me para outras pessoas, que sao idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulses invejosas para com o objeto primrio; se estas forem muito intensas, ficam perturbadas as relaes subseqentes; d) a desvalorizao do objeto, para diminuir o ataque invejoso; e) a desvaloriao da prpria pessoa, como forma de negar a inveja; f) procurar despertar inveja em outras pessoas, para no sentir a prpria, leva a uma incapacidade de gozar com os prprios xitos e temor de danificar os objetos amados; g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor, o que se expressa como in diferena; muitas vezes, estas pessoas procuram se afastar do contato com outras, principalmente se lhe forem significativas; h) o acting out empregado, s vezes, para manter a dissociao, evitando a integrao dos sentimentos invejosos. O artigo "De Ia interpretacin de Ia envidia", de Etchegoyen, Lpez e Rabih (1985), destaca a importncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no vnculo transferencial, independentemente das controvrsias sobre o desenvolvimento psquico precoce ou a teoria pulsional. Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primria, para resolver certos aspectos da transfenncia negativa. Dizem: "Em outras palavras, o que se pretende quando se interpreta a inveja primria que o analisante se d conta de que as pulses hostis no dependem da frustrao. mas da intolerncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece. Se isto ocorrer, o analisante aceitar, com mais intensidade, que seus conflitos no dependem apenas da conduta dos demais, mas tambm da prpria. Desta forma, a inveja pode gerar frustrao, enquanto impede receber o que est disponvel. Em outras palavras, a relao entre inveja e frustrao de via dupla, pois a frustrao provoca inveja e a inveja leva frustrao"(p. 1022). As pulses invejosas podem ser elaboradas e mitigadas, se a introjeo do objeto bom for adequada, o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparao. Klein pensa que a inveja pode ser resolvida, em alguma extenso, na anlise, mas evidente que esta teoria, elaborada no ltimo perodo de sua vida, apresenta uma importante limitao possibilidade de xito da anlise, principalmente se levarmos em conta que as pulses invejosas tambm so dirigidas ao ataque do objeto total da posio depressiva, o que explicaria as grandes dificuldades que, s vezes, surgem no processo de trmino de uma anlise. Dito de outra forma, esta teoria fornece elementos tcnicos que permitem abordar situaes difceis e destrutivas no tratamento analtico, mas tambm pe um limite ao excessivo otimismo teraputio que Klein tinha tido nos primeiros perodos de sua obra.

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5. Algumas consideraes sobre a tcnica de Melanie Klein


Se quisermos definir as caractersticas da tcnica psicanaltica de Klein, teremos de afirmar, em primeiro lugar, que existe uma completa congruncia entre seus achados tericos e as concluses tcnicas que implementa. E, ao inverso, como j manifestamos, o campo de descobertas kleinianas se abre, a partir de uma tcnica inovadora: incluir o jogo infantil como maneira de facilitar, em seus pequenos pacientes, a expresso de fantasias e conflitos inconscientes. Desde os primeiros trabalhos, foram estabelecidas algumas caractersticas que marcaro o rumo posterior da tcnica kleiniana. O objetivo analisar os conflitos e fantasias inconscientes, o mtodo explorar sistematicamente a transferncia. Como Klein sustentou a importncia que as fantasias, tanto agressivas como libidinais, tm no desenvolvimento mental, sua conseqncia lgica supor que, no vnculo com o analista, produzir-se-o tanto sentimentos amorosos como hostis, pelo que seria necessrio interpretar, sistematicamente, a transferncia positiva e a negativa, para que o paciente possa chegar perto da compreenso de sua realidade psquica. Klein repele qualquer medida de apoio ou conforto, que apenas serviria para mascarar o suceder espontneo de ocorrncias que nos permitem descobrir o futuro dos eventos inconscientes do paciente. Ao interpretar a transferncia positiva e negativa, tal como aparece na mente do enfermo, o analista, com sua interpretao, ajuda-Io- a integrar os sentimentos ambivalentes em seus vnculos do presente e do passado, na realidade externa e em seu mundo interno. Qualquer medida tcnica que favorea a dissociao dos sentimentos, ajuda-nos na integrao, que um dos principais objetos teraputicos. necessrio, quando se quer obter estes xitos, que o terapeuta tolere a transferncia negativa do paciente, quando este a expressa, consciente ou inconscientemente s vezes, pode ser tentador, por exemplo, aceitar o deslocamento da hostilidade para o passado, aos vnculos do paciente com suas figuras primrias, s quais ele atribui, muitas vezes, todos os seus males. Desta forma, "libera"-se o vnculo transferencial de sentimentos hostis e at se propicia a idealizao do terapeuta. Isto, segundo as idias de Klein, no ajudaria que o analisando avanasse em direo de sua sade mental ou adquirisse uma compreenso adequada de seu presente e de seu passado. Sem dvida, notar-se- a diferena existente entre esta concepo tcnica da anlise e a propugnada por outras correntes. Segundo Klein, a maneira de assegurar o vnculo teraputico, desde os primeiros momentos do tratamento, que o paciente se sinta aliviado em suas angstias e compreendido pelo terapeuta. S o que pode dar ao paciente esta segurana e confiana no processo teraputico, dir Klein, que o analista interprete, em profundidade, as angstias e defesas em suas relaes de objeto.

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