Este trabalho apresenta um estudo sobre a importância dos aspectos culturais na comunicação organizacional de empresas multinacionais. A pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica sobre comunicação intercultural e relações públicas internacionais, combinada com entrevistas com profissionais de comunicação de três multinacionais. Os resultados demonstraram que o respeito e compreensão das diferenças culturais são fundamentais para o sucesso da estratégia de comunicação dessas empresas em diferentes países.
Este trabalho apresenta um estudo sobre a importância dos aspectos culturais na comunicação organizacional de empresas multinacionais. A pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica sobre comunicação intercultural e relações públicas internacionais, combinada com entrevistas com profissionais de comunicação de três multinacionais. Os resultados demonstraram que o respeito e compreensão das diferenças culturais são fundamentais para o sucesso da estratégia de comunicação dessas empresas em diferentes países.
Este trabalho apresenta um estudo sobre a importância dos aspectos culturais na comunicação organizacional de empresas multinacionais. A pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica sobre comunicação intercultural e relações públicas internacionais, combinada com entrevistas com profissionais de comunicação de três multinacionais. Os resultados demonstraram que o respeito e compreensão das diferenças culturais são fundamentais para o sucesso da estratégia de comunicação dessas empresas em diferentes países.
Este trabalho apresenta um estudo sobre a importância dos aspectos culturais na comunicação organizacional de empresas multinacionais. A pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica sobre comunicação intercultural e relações públicas internacionais, combinada com entrevistas com profissionais de comunicação de três multinacionais. Os resultados demonstraram que o respeito e compreensão das diferenças culturais são fundamentais para o sucesso da estratégia de comunicação dessas empresas em diferentes países.
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VANDREZA LIZANDRA PANTONI DA FREIRIA
ASPECTOS INTERCULTURAI S: UM NORTE PARA COMUNI CAO ORGANI ZACI ONAL TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA DE COMUNICAES E ARTES DEPARTAMENTO DE RELAES PBLICAS, PUBLICIDADE E PROPAGANDA E TURISMO CURSO DE RELAES PBLICAS SO PAULO 2 0 0 2 2 Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Relaes Pblicas, Publicidade e Propaganda e Turismo da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, como requisi- to para a obteno do ttulo de bacharel em Comunicao Social habilitao em Relaes Pblicas, sob a orientao da Profa. Dra. Margarida M. Krohling Kunsch. So Paulo, 2002 ASPECTOS INTERCULTURAIS: UM NORTE PARA COMUNI CAO ORGAN I Z ACI ON AL VANDREZA LIZANDRA PANTONI DA FREIRIA 3 BANCA EXAMINADORA 4 Agradecimentos..................................................................................................... Resumo / Abstract................................................................................................. INTRODUO.......................................................................................................... CAPTULO 1: O Contato Intercultural........................................................................ 1.1 Uma Retrospectiva Histrica..................................................................... 1.2 Comunicao intercultural........................................................................ CAPTULO 2: Relaes Organizacionais Interculturais............................................... 2.1 Globalizao, Cultura Nacional e Cultura Organizacional......................... 2.2 O Papel Estratgico da Comunicao........................................................ 2.3 Comunicao Organizacional Intercultural............................................... 2.4 Qualificaes do Profissional.................................................................... CAPTULO 3: Relaes Pblicas e Interculturalidade no Ambiente Organizacional...... 3.1 Uma Conceituao Necessria................................................................. 3.2 Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional Intercultural................... 3.3 Relaes Pblicas Internacionais............................................................... 3.4 Relaes Pblicas Internacionais e Relaes Pblicas Globais..................... 3.5 Relaes Pblicas Comparativas................................................................. 3.6 Relaes Pblicas em Multinacionais........................................................ CAPTULO 4: Estudo Exploratri o As Influnci a dos Aspectos Culturai s na Comunicao das Multinacionais........................................................................... 4.1 Metodologia........................................................................................... 4.2 Instrumento Adotado.............................................................................. 4.3 Critrios da Amostra................................................................................ 4.4 Resultados............................................................................................... 4.4.1 Unilever............................................................................................. 4.4.2 Johnson & Johnson........................................................................... 4.4.3 American Express................................................................................ CONCLUSO............................................................................................................. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... Anexo1 Roteiro da Entrevista............................................................................... Anexo 2 Carta de Apresentao............................................................................. SUMRIO 5 6 7 9 9 11 16 16 19 22 23 25 25 26 27 28 31 32 36 36 36 36 37 37 40 43 46 47 50 51 5 professora Margarida M. KrohlingKunsch, pela orientao, dedicao eamizade. professora EbeGimenes, pelospreciososensinamentos, tanto emambientesacadmicoscomo profissionais. Aosmeusqueridospais, Bolvar eVera, eao meu irmo, Vanderlei, por todo amor. Ao meu grandeamigo Daniel Maganha, pela edio destetrabalho. Aosprofissionaisquecederamseu precioso tempo para asentrevistasemprofundidade. A todosmeusamigosdediferentespases, osquaisforamdeimportncia fundamental por meu interessena comunicao intercultural. Agradecimentos 6 Esta monografia, que tem como mote central a Comunicao Organizacional Intercultural, foi desenvolvida a partir de referenciais tericos e da anlise de entrevistas com profissionais de comunicao de multinacionais. O primeiro captulo iniciou-se com uma retrospectiva histrica dos contatos interculturais no mundo e com um panorama da importncia da comunicao como chave para entendimento da diversidade cultural. Posteriormente, o conceito da interculturalidade foi expandido para o mbito empresarial e termos como Globalizao e Comunicao Organizacional Intercultural foram aprofundados. J o captulo trs destinou-se a salientar o papel estratgico da atividade de Relaes Pblicas nesse contexto. O trabalho tem conti- nuidade com a apresentao das informaes obtidas no estudo exploratrio, as quais con- firmam a relevncia dos aspectos culturais nas aes de comunicao de uma multinacional. Enfim, chegou-se concluso que o respeito e a compreenso das diferenas cultu- rais so fundamentais tambm em ambientes organizacionais e que a rea de Relaes Pbli- cas exerce um importante papel na anlise da interculturalidade como fator estratgico da Comunicao Organizacional. Thi s monograph, whi ch has t he concept of I nt ercul t ural Organi zat i onal Communication as the main theme, was written with the support of theoretical references and the analysis of the communicators interviews at multinational corporations. The first chapter began with retrospective views of the intercultural contacts around the world plus a panorama of Communication as the key to cultural diversity comprehension. On the next chapter, the concept of Interculturalism was extended to an organizational sphere; at that moment, terms li ke Globali zati on and Intercultural Organi zati onal Communication were emphasized. Chapter three focuses its attention to the strategic role of the Public Relations activity in a context of interculturalism at organizations. The monograph continues with the presentation of some information from the exploratory study, which confirms the importance of the cultural aspects at the communication plan in a multinational company. Finally, we can conclude that the respect and the comprehension of the cultural differences are crucial also at organizations and, therefore, it must be analyzed as strategic factor for the Organizational Communication, particularly at the Public Relations field. Resumo / Abstract 7 A. OBJETIVOS Este trabalho de concluso de curso tem como maior objetivo suscitar a importncia vital de aspectos culturais na definio da estratgia de comunicao organizacional. O foco do trabalho est nas relaes organizacionais interculturais e no papel da Comunicao, particularmente das Relaes Pblicas, como intermediadora de um proces- so de conscincia da diversidade e busca pela compreenso mtua. B. METODOLOGIA A metodologia de trabalho utilizada foi dividida em duas partes: uma pesquisa bibli- ogrfica em busca de referenciais tericos acerca do tema e um estudo exploratrio com profissionais de comunicao de empresas multinacionais. Antes de iniciar as leituras especficas de comunicao empresarial, busquei um referencial bibliogrfico relacionado interculturalidade, assunto estudado principalmente por antroplogos e psiclogos. Feito isto, aprofundei-me na expanso do conceito Contato Intercultural para o meio empresarial, lidando com a Comunicao Organizacional Intercultural propriamente dita. Ainda dentro do refencial terico, empenhei-me na busca por materiais da rea de Relaes Pblicas que estivessem relacionados contatos interculturais entre organizaes. Nesta etapa, dediquei-me, mais detalhadamente, ao estudo das Relaes Pblicas Internacio- nais. vlido mencionar que grande parte das referncias bibliogrficas utilizadas no tra- balho apresenta-se originalmente em Ingls. No entanto, por questes prticas e normas de apresentao de monografia, foram feitas tradues e adaptaes ao idioma portugus. Paralelamente s pesquisas bibliogrficas, foi feito um estudo exploratrio por meio de entrevistas em profundidade com trs executivos da rea de Comunicao de empresas multinacionais. O objetivo desse estudo foi o de pesquisar a percepo de profissionais acerca do tema estudado, alm de observar na prtica alguns exemplos de importncia dos aspectos culturais na estratgia de comunicao da empresa. INTRODUO 8 C. A ESCOLHA DO TEMA A escolha de tal tema deu-se no somente por interesses acadmicos, mas tambm por ordem pessoal. Em virtude de uma viagem de estudos ao Canad, mantive contato por sete meses com pessoas de diferentes origens e portanto com diversas culturas. Nesse pero- do, o fato de um mesmo evento poder gerar reaes completamente diversas em pessoas de culturas dspares chamou minha ateno intensamente Como estudante de Relaes Pbli cas, a percepo e acei tao de empresas multinacionais por parte das culturas acolhedoras foram os principais motivos que provo- caram meu empenho em estudar o tema. Utilizando a minha prpria experincia e vivncia na regio, e no particularmente estudos acadmicos, pude perceber o grau de relevncia dos aspectos culturais no desempenho de uma das redes de fast-food mais lucrativas do mundo. A atuao da rede de fast-food McDonalds na provncia de Quebec no Canad foi o ponto de partida. No objetivo deste trabalho analisar tal caseespecificamente, mas vale a pena ressaltar que a partir dele surgiu o desejo de pesquisar como os aspectos culturais podem interferir no processo de comunicao de uma multinacional. Qubec a maior provncia do Canad a maior regio de lngua francesa do mun- do, onde muitos dos seus 7 milhes de habitantes mantm orgulhosos a lngua e cultura herdadas dos antepassados franceses. Portanto, os costumes, as tradies e o modo de viver da provncia so muito influenciados pela cultura francesa, mesmo estando localizada na Amrica do Norte. Como a gastronomia uma das heranas culturais da colonizao francesa na regio, grande parte da populao quebequense pareceu-me apresentar uma certa hostilidade rede americana. E, conseqentemente, a imagem da rede em Qubec apresenta-se distante da imagem que, supostamente, uma populao norte-americana teria. Sem entrar muito em detalhes a respeito do repdio quebeois influncia internacional dos Estados Unidos da Amrica, pude perceber, no dia-a-dia, que a rede no exerce o mesmo fascnio que em pases como Brasil. Em Montreal, por exemplo, o pblico freqentador da rede formado em sua maioria por estrangeiros. Esse apenas um exemplo do quanto o campo das relaes interculturais, incluindo- se a a Comunicao Organizacional, ainda precisa ser analisado e planejado estrategicamen- te pelas empresas. 9 1.1 UMA RETROSPECTIVA HISTRICA Nada mais coerente do que buscar na Histria as explicaes para as mudanas no mundo atual, afinal toda sociedade de hoje nada mais do que o reflexo de aes iniciadas no passado; a Histria sempre um mecanismo acumulativo, no qual o novo absorve e transforma o velho. O processo de mudana, transformao ou mesmo de evoluo, muitas vezes violento e revolucionrio, deve ser compreendido como o resultado das redefinies e re-experimentaes do passado. No h dvidas de que o contato intercultural atual esteja cada vez mais intenso atualmente; no entanto, seria equivocado acreditar que tal fenmeno seja reflexo somente da to falada globalizao recente. Hoje em dia, o termo globalizao tem tido um sentido marcadamente ideolgico, pelo qual impe-se ao mundo um processo de integrao econmica sob a gide do neol i beral i smo, caract eri zado pel o predomni o dos i nt eresses fi nancei ros, pel a desregulamentao dos mercados e pelas privatizaes das empresas estatais. Entretanto, sob o ponto de vista histrico, a globalizao deve ser entendida como um longo processo que envolve no somente a interdependncia econmica, mas tambm contatos interculturais que datam suas razes h muitos sculos. Segundo Voltaire Schilling (portal Terra, http://www.terra.com.br/voltaire/atualidade/ globalizacao.htm1) o estabelecimento de uma periodizao exata para tal fenmeno apre- senta grande controvrsia, mas, pode-se assumir trs grandes etapas: a primeira fase da globalizao, ou primeira globalizao, marcada pela expanso mercantilista (de 1450 a 1850) da economia-mundo europia; a segunda fase, ou segunda globalizao (de 1850 a 1950), caracterizada pelo expansionismo industrial-imperialista e colonialista; por ltima, a globalizao propriamente dita, ou globalizao recente, acelerada a partir do colapso da URSS e a queda do muro de Berlim, de 1989 at os dias de hoje. Vale a pena notar que as diferenas tnicas e culturais sempre existiram no mundo: o CAPTULO 1 O CONTATO INTERCULTURAL 10 que mudou foi a intensidade dos contatos entre os grupos e a sua maneira de difuso. Em todas fases mencionadas o contato intercultural esteve presente e na maioria das vezes deu- se de maneira conflituosa. De acordo com Rogers e Steinfatt, a cultura europia tornou-se dominante pelo mundo por meio da explorao. A expanso do sistema colonizatrio, o que envolvia inva- so e guerra, acabou por incentivar um relacionamento intercultural cada vez maior. Mesmo com o etnocentrismo exacerbado dos colonizadores europeus (que consideravam sua cultu- ra superior s culturas indgenas encontradas na Amrica, frica e sia) no se pode negar a influncia recproca entre as diferentes culturas envolvidas no processo. Vale a pena ressaltar que a prpria cultura europia o resultado da mistura cultural de muitas partes do mundo. Por exemplo: a influncia das comidas e roupas do Oriente Mdio pelas Cruzadas; arte, tecnologia e outras idias da China introduzidas por Marco Plo; influncias rabes na cincia e intelectualidade pelos sete sculos da ocupao Moura na Espanha etc (ROGERS & STEINFATT, 1999). Na busca pela compreenso do tema contato intercultural, a conscincia de que nesses contatos no existe um grau de superioridade entre as partes envolvidas fundamen- tal. Diferentemente dos aspectos cientficos que seguem um padro mensurvel de evoluo (por exemplo, as cincias naturais poderem afirmar que os homens so mais evoludos que os insetos), a cultura no susceptvel a julgamentos qualitativos. A idia da no-existncia de parmetros cientficos que permitam considerar um grupo superior ou inferior a outro foi expressa pela teoria do relativismo cultural, a qual afirma que uma cultura no tem critrios absolutos para julgar as atividades de outra cultura como pobre ou nobre (LEVIS-STRAUSS apud HOFSTEDE, 1991, p. 21). Em todos os tipos de contatos interculturais, sejam nos mbitos polticos, sociais ou econmicos, faz-se necessria uma profunda compreenso dos valores e formas de percepo da realidade das pessoas envolvidas. As imensas dificuldades no nvel da comunicao huma- na na vi da moderna so decorrnci a di reta de rel aci onamentos que envol vem a interculturalidade. A compreenso da importncia de uma comunicao eficiente entre diferentes cul- turas essencial para construo de um mundo melhor. Somente a partir do entendimento e aceitao do outro que se chegar a um convvio sadio em uma sociedade marcada pela diversidade cultural. 11 1.2 COMUNICAO INTERCULTURAL Com a finalidade de entender mais profundamente o termo comunicao intercultural, importante compreender a relao entre os termos cultura e comunicao. Os estudiosos Porter e Samovar resumiram cultura como o depsito de conheci- mento, experincia, crenas, valores, atitudes, significados, hierarquia, religio, noo de tempo, papis, relaes, conceitos de universo e objetos materiais e posses adquiridas por um grupo de pessoas (PORTER & SAMOVAR, 1991, p. 51). J o pesquisador holands Geerts Hofstede definiu o termo objetivamente como: a programao coletiva da mente que distingue os membros de um grupo ou categoria de outro e que influencia a reao do grupo ao ambiente (HOFSTEDE apud WAKEFIELD, 1996, p. 22). Caio Tlio Costa, um dos fundadores da UOL (Universo Online), em uma palestra 1 citou a definio de cultura para o poeta Jos Paulo Paes: A cultura no aquilo que entra pelos olhos. Cultura aquilo que modifica o olhar. Tal definio qualifica muito bem o grande problema da Internet: a existncia de barreiras culturais e no de geogrficas. A Internet, na realidade, repleta de comunidades onde pessoas se encontram em um ciberespao e s conversam com quem pertence quele grupo. Indivduos dos mais diversos lugares do planeta se renem num devido lugar virtual para repartir experincias locais, retratando interesses constitudos localmente em torno do tema que os rene. Assim sendo, a idia de que com a globalizao exista um desvanecimento dos valo- res culturais e uma equalizao de todo o mundo soa equivocada. Inexoravelmente o mun- do est submetido a barreiras culturais mesmo com a tentativa constante de homogeneizao. A prpria Internet um exemplo de que quanto mais se globaliza, mais se particulariza. Como expressou claramente Ciclia M. K. Peruzzo, a globalizao s se realiza no local 2 . Portanto, conclui-se que no atual periodo de globalizaco fatores como identidade, interculturalidade e multiculturalismo contribuem, cada vez mais, para o revigoramento do local. A partir desses conceitos, o termo cultura neste trabalho no deve ser entendido como sinnimo de civilizao ou evoluo no campo das artes e sim como reflexo da manei- ra ser da sociedade em questo: seus valores, costumes, crenas, sua maneira de construo 1 Palestra Cultura local, Internet e Mundializao da Imagem Corporativa organizada pelo Laboratrio Integra- do de Marketing Cultural (LIMC- ECA USP) em parceria com o Jornal Valor no dia 25 de setembro de 2002. 2 Painel OsProfissionaisde RelaesPblicase a Sociedade Global no 3 Congresso Internacional da Associa- o Latino-Americana de RelaesPblicasno dia 07 de novembro de 2002 em Londrina-Paran . 12 da realidade. Ou seja, os valores inconscientes que por estarem profundamente enraizados levam certas pessoas a considerar natural o que outras acham anormal, corts o que outros acham rude e racional o que outros avaliam como irracional. Embora cultura seja um termo muito amplo, a sua influncia na comunicao largamente aceita (VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996); isto , a idia de que os comporta- mentos comunicativos dependem amplamente da cultura na qual as pessoas foram criadas praticamente irrefutvel. Muitos lingistas j escreveram sobre a relao de causa e efeito entre a forma de pensamento e a lngua, ou seja, a relao entre cultura e comunicao. Na viso de Maria Schuler tal discusso se apazigua com a aceitao da interdependncia entre as duas realida- des (SCHULER, 1995). Uma hiptese julga que a lngua na qual uma pessoa foi criada fator estrutural na construo da sua viso de mundo, ou seja, que a comunicao (em especial a linguagem) interfere na criao de formas especficas de organizao mental e comportamento social. J a outra hiptese a de que as diferentes formas de organizao mental (cultura) que influenciam na criao das lnguas como instrumentos de representao da realidade. A verdade que tal discusso tende a cair em um paradoxo como o jargo Tostines vende mais porque fresquinho ou fresquinho porque vende mais? que no termina nunca. Portanto, a soluo mais cabvel admitir a relao de influncias recprocas entre os termos. Enfim, o termo comunicao intercultural pode ser compreendido facilmente como a troca de informaes entre indivduos de diferentes culturas, ou seja, entre pessoas cujas per- cepes e sistemas de smbolos so distintos o suficiente para distorcer o ato comunicativo. Essa troca de informaes entre culturas diferentes cada vez mais freqente entre a populao mundial, o que resultado de trs principais fatores: novas tecnologias e sistemas de informao, crescimento populacional global e mudanas na economia mundial (PORTER & SAMOVAR, 1991). No entanto, sabe-se que cada vez mais, as diferenas culturais entre as pessoas geram dificuldades de comunicao. As diferenas na linguagem, comida, gostos e hbitos so apenas alguns dos proble- mas associados ao contato intercultural. O aspecto mais relevante na compreenso da co- municao intercultural a capacidade de distinguir os valores dos membros de determina- da cultura e os seus modos de percepo do universo. Embora o processo fsico da percepo seja praticamente o mesmo para todos, a cultura que tem papel preponderante no passo final de interpretao e avaliao. 13 Pode-se dizer que a cultura a prpria percepo dos fatos, mesmo que de forma limitada ou enviesada; ela o mais pujante filtro para a leitura e compreenso da realidade. Assim sendo, a heterogeneidade cultural implica em diferentes julgamentos acerca de deter- minado fato e num conflito entre as pessoas envolvidas na relao. Maria Schuler chama ateno para as maiores barreiras comunicao intercultural: o etnocentrismo, os mitos e esteretipos e o choque cultural (SCHULER, 1995). O etnocentrismo ou Critrio de Auto-Referncia, como cunhou James Lee, a ten- dncia inconsciente de se referir ao prprio quadro de pensamento, principalmente pr- pria cultura nacional, para interpretar as situaes e avaliar as pessoas (JAMES LEE apud SCHULER, 1995). Os esteretipos e mitos levam ao um rudo nas comunicaes interculturais na me- dida em que tais figuras padronizadas distorcem a realidade e levam a comportamentos discriminatrios. O choque cultural tambm est intimamente ligado aos esteretipos, j que num primeiro contato com o uma cultura estranha, todas as estruturas de julgamento j esto pr-estabelecidas e o contato com o diverso torna-se incmodo, frustrante e at mesmo amedrontador. O compositor baiano Caetano Veloso por meio de sua cano Sampa, expressou admiravelmente seus sentimentos etnocntricos decorrentes do choque cultural vivido quando deixou seu Estado natal em direo cidade de So Paulo: Quando eu te encarei frente a frente no vi o meu rosto chamei de mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto que Narciso acha feio o que no espelho. Outros versos da mesma cano demonstram que a dificuldade inicial de Caetano na convivncia com a alteridade acabou por tornar-se um sentimento de multiculturalismo, ou seja, culturas diferentes (a baiana e a paulista) co-existindo em harmonia: E foste um difcil comeo, afasto o que no conheo e quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade (...) E os novos baianos passeiam na tua garoa e novos baianos te podem curtir numa boa. 14 Com ajuda de Caetano, pode-se dizer que a chave para uma comunicao intercultural eficiente a aceitao dos problemas potencias inerentes s relaes interculturais e o esfor- o na superao dos mesmos. Um estado de esprito aberto ao conhecimento e compreenso do diverso surge somente a partir da conscincia da dificuldade em se estabelecer tais contatos. Hofstede classificou tal processo como tomada de conscincia, ou seja, o ponto de partida: o reconhecimento de que, devido forma como fui educado, sou portador de uma determinada programao mental e que outras pessoas, educadas em ambientes diferentes, tm uma programao mental diferente, por razes igualmente vlidas (HOSFTEDE, 1991, p. 266). Outra etapa essencial na aprendizagem da capacidade de comunicao intercultural a aquisio de conhecimentos, ou seja compreender intelectualmente em que que os valores dos outros diferem dos nossos (HOSFTEDE, 1991, p. 266). A informao a soluo mais eficaz para os problemas de comunicao intercultural, a partir do momento em que se toma conhecimento da diversidade e da existncia de per- cepes completamente distintas pode-se chegar a um equilbrio nos relacionamentos. No entanto, muita ingenuidade acreditar que os conflitos (as guerras, em especial) possam ser impedidos somente com o desenvolvimento de capacidades de comunicao intercultural. A existncia da informao no significa a inexistncia de conflitos, mas sim o comeo de um processo no qual a pessoa tem maiores condies de analisar os fatos sob a tica do outro. Para que a comunicao intercultural seja eficiente essencial tambm que as partes envolvidas estejam abertas a ouvir umas s outras, a confirmar as informaes antes de tirar concluses precipitadas e a experimentar a satisfao de sentir-se vontade num novo ambiente. Assim, chega-se terceira fase de aprendizagem deste processo: as competncias, isto , o resultado da conscincia e do conhecimento mais a prtica (HOSFTEDE, 1991, p. 266). Outros estudiosos, como Everett Rogers e Thomas Steinfatt, tambm apresentaram sugestes para tornarem os indivduos mais multiculturais (ROGERS & STEINFATT, 1999, p. 240). Tais sugestes devem ser encaradas no como uma receita rgida, e sim como uma orientao na busca do conhecimento cultural. So elas: Ter contato com pessoas de culturas diferentes; Aprender outros idiomas; Buscar entender pessoas diferentes de voc, lendo a respeito das diferenas culturais e conhecendo-as pessoalmente, tentando olh-las sob o ponto de vista delas; 15 Compreender a si mesmo, principalmente seus prprios graus de etnocentrismo, preconceito e esteretipos versusrelativismo cultural, tolerncia e compreenso; Reconhecer e apreciar as diferenas culturais; No julgar os valores culturais. Enfim, pode-se afirmar que a comunicao o meio mais poderoso para compreen- so da diversidade cultural e tem o papel fundamental de abrir as portas para o desenvolvi- mento de relacionamentos. Na medida em que os indivduos forem capazes de se comunicar eficientemente, a diversidade cultural passar a ser vista como uma rica fonte de conheci- mento sobre o mundo e no somente como fonte de conflitos. Como esta monografia tem seu foco nas relaes organizacionais, h de se buscar mais detalhes sobre a influncia dos aspectos interculturais nessas relaes e particularmente sobre o papel estratgico da Comunicao Organizacional nesse contexto. 16 2.1 GLOBALIZAO, CULTURA NACIONAL E CULTURA ORGANIZACIONAL Atualmente, devido ao fenmeno da globalizao, as organizaes cada vez mais ampliam seus mercados em diversos pases, o que significa, entre muitas outras conseqn- cias, a sua insero em diferentes culturas. De acordo com a estudiosa Margarida Krohling Kunsch, a globalizao no pode mais ser vinculada apenas reduo das barreiras comerciais, mas sim deve envolver aspectos ligados reduo do Estado-nao e a insero drstica de novas tecnologias da infor- mao e da comunicao em todo o mundo. (KUNSCH, 1997 [b], p. 135). A partir das teorias de Otvio Ianni, imagina-se que a globalizao, seguindo o seu curso natural, ir enfraquecer cada vez mais os Estados-nacionais e dar-lhes novas formas e funes, fazendo com que novas instituies supranacionais (como as empresas transnacionais e os organismos no-governamentais) gradativamente os substituam e assim se chegue a uma sociedade global. O socilogo destaca como esse processo tem modificado as noes de tempo e espa- o, aumentado a permeabilidade das fronteiras, e sido influenciado pela maior agilidade na comunicao. As novas caractersticas do mundo, na sua viso, no conduzem a uma integrao do planeta, mas a uma fragmentao (IANNI, 1996). vlido ressaltar que este trabalho no tem como objetivo fazer repreenso nem apologia globalizao, mas sim reiterar que a sociedade moderna est impregnada por uma nova ordem centrada nas tecnologias da informao, onde mudanas macro-ambientais (pases) e micro-ambientais (organizaes) so inevitveis. No h como negar a existncia de um novo sistema social global que influencia, direta e indiretamente, a vida das organiza- es, provocando novas posturas e reaes. Portanto, com a nova ordem da sociedade moderna, as organizaes passam a se constituir parte integrante da vida das pessoas, influenciando e sendo influenciadas pelos pblicos que com elas se relacionam. Essa interdependncia, quando tratada de forma estra- tgica, permite organizao alinhar sua misso tanto interna como externamente, gerando mecanismos para o crescimento organizacional. CAPTULO 2 RELAES ORGANIZACIONAIS INTERCULTURAIS 17 Assim, a utilizao estratgica do processo de comunicao entra justamente no alinha- mento desses dois mundos. Segundo Thayer, a comunicao que ocorre dentro da organiza- o e a comunicao entre ela e seu meio ambiente que definem a organizao e determinam as condies da sua existncia e a direo do seu movimento (THAYER, 1972, p. 54). Tambm em funo da era do globalismo, os contatos interculturais entre as organi- zaes tornam-se cada vez mais acentuados. As organizaes, principalmente as multinacionais, cada vez mais se inserem em mares nunca dantes navegados, fazendo acordos operacionais, parcerias e compra de empresas j estabelecidas. Lidando com pblicos internos e externos heterogneos, no h dvidas sobre a complexidade exigida para se chegar a uma estratgia de comunicao que seja eficiente a todos os pblicos envolvidos. Todas as organizaes, e aqui se incluem principalmente as multinacionais, precisam ser compreendidas e estruturadas como organismos vivos e/ou sistemas abertos que influen- ciam e so influenciados pelo meio ambiente onde atuam. Como no poderia deixar de ser, as organizaes multinacionais so palco de contatos intensos entre diversas realidades culturais. As relaes interculturais a desempenham um papel muito importante, uma vez que entram em jogo no s culturas nacionais, mas tam- bm culturas organizacionais. A cultura organizacional pode ser definida como a programao coletiva da mente que distingue os membros de uma organizao dos de outra (HOFSTEDE, 1991, p. 210), ou seja, refere-se ao conjunto de crenas, valores, normas e polticas que so partilhados pelos colaboradores de uma organizao e que afetam seus comportamentos e atitudes. O mercado atual tem mostrado um aumento significativo de fuses e aquisies de empresas que ultrapassam fronteiras nacionais. Sabendo-se que as possibilidades de sucesso das fuses j so incertas dentro de um mesmo pas, essas se tornam ainda mais arriscadas em nveis globais. Manter a harmonia numa empresa global exige, antes de qualquer coisa, flexibilidade e pensamento estratgico. O estudo de Geert Hosftede o ponto de referncia em pesquisas sobre o impacto das diferenas culturais na administrao das organizaes. Em seu estudo, nos anos 70, ele teve a oportunidade de analisar um grande conjunto de dados sobre os valores dos cidados de mais de cinqenta pases, repartidos pelos cinco continentes. Todas essas pessoas perten- ciam IBM, ou seja, trabalhavam nas filiais locais da mesma multinacional. Tal pesquisa revelou diferenas considerveis entre os sistemas de valores nacionais, as quais foram dividi- das em quatro dimenses: distncia hierrquica, individualismo versuscoletivismo, masculi- nidades versusfeminilidade e controle da incerteza. A partir da classificao dos pases nas quatro dimenses, percebeu-se que a posio 18 de um pas oferece tanto possveis vantagens como desvantagens competitivas. O quadro abaixo resume as vantagens possveis de posies nacionais particulares: Baixa distncia hierrquica: Elevada distncia hierrquica: - aceitao das responsabilidades - disciplina Coletivismo: Individualismo: - compromisso dos empregados - mobilidades dos gestores Feminilidade: Masculinidade: - servio personalizado - produo em massa - produtos medida do cliente - eficcia - agricultura - indstria pesada - bioqumica - qumica industrial Baixo controle da incerteza: Elevado controle da incerteza: - inovaes de base - preciso (Fonte: HOFSTEDE, 1991, p. 276) Uma das concluses do estudo da IBM foi que culturas nacionais fortemente moti- vadas pela expectativa de sucesso associam duas caractersticas principais: baixo controle da incerteza e alta masculinidade. Tal combinao foi encontrada em pases Anglo-americanos, como os Estados Unidos da Amrica, onde existem alta competio e gosto pelos valores materiais somados disposio para aceitar riscos. Desta forma, pode-se assumir que em pases onde a feminilidade seja alta (privilegiam a qualidade de vida sobre a performance), a imposio de valores culturais norte-americanos esteja fadada ao fracasso. (SCHULER, 1996). Um dos elementos essenciais na administrao de uma organizao a motivao dos pblicos estratgicos; assim, pensar sobre as influncias culturais que recaem sobre esse elemento tambm essencial. Segundo a teoria de Maslow, os desejos e as necessidades de todos seres humanos so organizados em prioridades e hierarquias, os quais obedecem a uma escalonagem na qual se passa de um nvel a outro mais alto medida que o anterior satisfeito. Inicialmente existem as necessidades fisiolgicas e de segurana, quando estas esto supridas surgem as necessidades sociais, de afeto e estima e por ltimo, o individuo busca as necessidades de sua auto-realiza- o (GADE, 1980, p. 24-25). No entanto, Schuler comparou os resultados da pesquisa de Hosftede com teoria de 19 Maslow e chegou a concluso de que ela no possui abrangncia internacional. Um grupo cultural que se arisca bastante e possui alto grau de individualismo e conseqentemente, coloca em segundo plano preocupaes como afeto e estima, poderia ocupar diretamente o nvel da necessidade de auto-realizao, sem passar pelos outros nveis de satisfao (SCHULER, 1995). Conclui-se, por conseguinte, que a teoria de Maslow deve ser pensada luz das influncias culturais de cada pas, no podendo ser aceita como verdade universal entre todos seres humanos, e que os programas de Comunicao voltados motivao dos diversos pblicos da organizao devem, antes de tudo, primar pelo atendimento das ne- cessidades de cada cultura. Portanto, pensar os aspectos culturais como parte do planejamento estratgico requisito fundamental para o bom andamento do negcio. As multinacionais devem enca- rar as diferenas culturais entre os pases onde atuam com muita acuidade, independente- mente do mtodo de expanso internacional 3 . Mesmo que os fatores culturais paream favorveis, h que se gerir a integrao cultural da nova estrutura organizacional. um argumento srio para ter em conta: as consideraes culturais como parte do planejamento estratgico e da localizao de atividades em pases, regies ou unidades que possuam caractersticas necessrias para serem competitivos nessas reas (HOFSTEDE, 1991, p. 276). As relaes organi zaci onai s i nterculturai s, como qualquer ti po de contato intercultural, apresentam conflitos devido s diversas formas de percepo e interpretao de um mesmo evento. E, seguindo as idias apresentadas no Captulo 1, a Comunicao tambm apresenta-se como o melhor caminho para a soluo dos problemas de contatos interculturais nas organizaes. 2.2 O PAPEL ESTRATGICO DA COMUNICAO O novo panorama mundial no contexto das recentes transformaes geopolticas, econmicas e sociais chama a ateno para a necessidade de se pensar na um novo perfil da Comunicao Organizacional. As organizaes modernas, integrantes do novo sistema social global, passam a ter 3 Criao de novas filiais; aquisio de uma empresa estrangeira; fuso internacional; empresa conjunta internaci- onal (joint-venture) e aliana estratgica internacional (HOFSTEDE, 1991, p. 261). 20 um novo perfil institucional, aumentando sua responsabilidade e sua maneira de comportar- se diante das transformaes mundiais. As organizaes (os chamados grupos supranacionais por Octvio Ianni) assumem um compromisso pblico cada vez maior e passam a operar de acordo com novas exigncias no que se refere competio e qualidade. O que antes era marcado pelo paternalismo, pela subordinao, pelas estruturas anacrnicas do lucro pelo lucro, pela sonegao de impostos e pelo do desrespeito aos inte- resses pblicos passa a ser uma relao de competitividade, de ateno aos pblicos estrat- gicos, de transparncia, de valorizao do empregado, de pleno exerccio da cidadania e de mobilizao a favor dos interesses e necessidades das sociedades (KUNSCH, 1997 [b]). Gerar empregos, pagar impostos e criar produtos e servios adequados s necessida- des dos clientes no so mais os nicos compromissos de uma empresa. O novo conceito de modernidade empresarial traz embutida a noo tica de que preciso se comprometer com o estmulo ao exerccio da cidadania, incentivar a participao ativa na comunidade e envol- ver a contribuio corporativa e individual. Em todo o mundo, iniciativas nesse sentido vm ganhando espao. Ao tomar para si uma parcela da responsabilidade pelo desenvolvi- mento social, as organizaes do a contrapartida de contribuio comunidade, conjugan- do o verbo repartir. De maneira alguma podemos supor que o objetivo maior das organizaes tenha deixado ser a lucratividade, todavia, o que faz a diferena hoje a tica nas relaes de negcio. A forma com que uma empresa busca o sucesso o que define uma empresa socialmente responsvel. Como as organizaes atuais esto cada vez mais cientes do seu papel na sociedade, uma comunicao organizacional excelente passa a ser considerada imprescindvel para a obteno de resultados em todos os processos da gesto organizacional. Jlio Pinho Neto caracterizou exemplarmente como o processo instantneo de trans- misso de informaes ao redor do mundo (revoluo tecnolgica) influencia os novos ru- mos da Comunicao Organizacional na atualidade: Em nossa atual aldeia global, um acidente ocorrido em Bhopal, na ndia como o vazamento de gs nocivo populao causado pela multinacional Union Carbide, em julho de 1987 capaz de repercutir dentro de poucas horas em Nova Iorque, tornando-se um acontecimento fartamente veiculado pela mdia internacional, com conseqnciasdesastrosasno que diz respeito tanto ao aspecto financeiro como para a prpria imagem da empresa (Site Portal RP, www.portal-rp.com.br). Assim, os gestores empresariais, alm da preocupao com qualidade total de seus produtos e servios, passam a ter a obrigao de buscar excelncia tambm na comunicao 21 com seus pblicos estratgicos, como funcionrios, fornecedores, acionistas, clientes, im- prensa, autoridades (os chamados stakeholders). Portanto, no se pode pensar que a rea de Comunicao como prodigiosa se o discurso no for coerente com a prtica. A Comunicao s proveitosa a partir de aes verdadeiras que comprovem um comportamento de mudana da organizao. De acordo com Tereza Halliday, preciso integrar as aes imanentes, as aes trans- cendentes (compromisso com uma causa meritria) e aes discursivas da empresa para se solidificar ou modificar uma imagem. (HALLIDAY, 2001) Portanto, a imagem (o que os indivduos pensam sobre ela) de qualquer organizao resultado da soma de trs fatores: a sua contribuio para o mercado de bens e servios, os seus atos alm da atividade de subsistncia e o seu discurso empresarial. Todas organizaes precisam ser aceitas socialmente pelos seus pblicos estratgicos para garantirem sua existncia e por isso so impelidas a passarem por um processo de legitimao. Legitimidade empresarial pode ser definida como a compatibilidade entre as aes da empresa e os valores e interesses de seus pblicos (HALLIDAY, 2001, p.25). Dentro do processo de legitimao empresarial, a ao discursiva tem papel primordial. As fontes estruturadas de Comunicao da empresa usam palavras e smbolos planejados para argumentar em favor da organizao numa forma de afirmao da credibilidade empresarial. Assim, conclui-se que no processo de legitimao empresarial, a Comunicao Organizacional responsvel pela construo de argumentos em favor da empresa enquanto as aes (imanentes e transcendentes) do retaguarda a estes argumentos. Dessa forma, as funes da Comunicao Empresarial, que antes se restringiam ba- sicamente assessoria de imprensa, agora se ampliam para uma Comunicao Integrada, conceito que pressupe uma juno da comunicao institucional, da comunicao mercadolgica e da comunicao interna, que formam o composto da comunicao organizacional (KUNSCH, 1997 [b], p.115). A Comunicao Organizacional, dentro de uma concepo moderna, torna-se a totalizao de todas as atividades de comunicao da organizao de forma multidisciplinar, baseada nos conhecimentos de Relaes Pblicas, Jornalismo, Marketing, Propaganda e Recursos Humanos. De acordo com o especialista em Administrao, Mauro Calixta Tavares, As perspectivas de atuao e de desenvolvimento de uma organizao a curto e longo prazos decorrem da compreenso e administrao da dinmica dasinteraesentre seusambientesexterno e interno (TAVARES, 2000, p. 199). 22 nessa anlise sincrnica da organizao que a Comunicao Organizacional passa, cada vez mais, a ter uma funo estratgica, ou seja, uma Comunicao que leva em consi- derao a identificao de tendncias e caractersticas do macroambiente (as reas de opor- tunidade e ameaas) aliada a uma anlise situacional da organizao (as suas fortalezas e debilidades internas). A Comunicao Organizacional, em sua nova abrangncia dentro do conceito de Comunicao Integrada, tem o papel de leitura dos ambientes externo e interno, contribu- indo para a anlise dos planos de negcios da organizao e, finalmente, identificando pro- blemas e oportunidades no campo da Comunicao. 2.3 COMUNICAO ORGANIZACIONAL INTERCULTURAL A partir do momento que a Comunicao Organizacional assume uma importncia vital como recurso estratgico de negcio, de entendimento dos pblicos e de integrao sociedade, sua funo preocupar-se com todas os tipos de variveis (culturais, econmicas, polticas e sociais) que influenciam o cenrio para gesto organizacional. Por conseguinte, se os aspectos culturais so variveis influentes no planejamento estratgico, tambm sero na Comunicao Organizacional. No existe maneira de se pensar sobre a dinmica humana (tanto interna como externa) das organizaes sem o conhecimento da cultura e da sociedade em que a organiza- o se encontra. Tal interdependncia foi expressa com muita coerncia por Sidinia Gomes de Freitas, na frase: a ordem organizacional perpassa a ordem social na construo da ordem societal (FREITAS, 1997, p. 41). Portanto, se os aspectos culturais (tanto nacionais como organizacionais) so impor- tantes para gesto da organizao, a rea de Comunicao, conseqentemente, deve consider- los e estar atenta s suas ameaas e fortalezas. J que a cultura importa, as polticas de comunicao empregadas pelas empresas podem perder sua eficincia quando os gestores da comunicao no esto precavidos da influncia da diversidade cultural. Dessa forma, como os aspectos culturais so fatores que influenciam o alcance dos objetivos de negcio de todas organizaes, as adaptaes culturais no contexto da Comuni- cao Organizacional tambm so indispensveis para o alcance da excelncia. As grandes barreiras comunicao intercultural (o etnocentrismo, os mitos e estere- tipos e o choque cultural) podem ser ampliadas para o cenrio empresarial na medida em que os relacionamentos organizacionais so, antes de tudo, relacionamentos interpessoais. Portanto, a mesma prudncia exigida na aprendizagem das capacidades de comunicao 23 intercultural (a tomada de conscincia, a aquisio de conhecimento e as competncias) esperada no contexto da Comunicao Organizacional. Maria Schuler afirma a necessidade das organizaes ferramentarem-se para encarar um ambiente cultural diferente. So estas algumas sugestes para enfrentar tal situao: no menosprezar as diferenas; utilizar intrpretes bi-culturais; desprezar conflitos nascidos de esteretipos e estar atento s informaes sobre a cultura estrangeira com a qual se relaciona (SCHULER, 1995). O que Schuler chama de intrpretes bi-culturais deve ser entendido como os inter- medirios familiarizados com ambas culturas em questo que tm a funo de traduzir os significados, em razo das grandes diferenas entre percepo e fato real. Tais intermedirios ou mediadores culturais so aqueles que compreendem os problemas culturais e fazem os ajustes necessrios visando o bem-comum. Ainda no entender de Schuler, as organizaes que mantm contato com culturas estranhas devem compreend-las e tentar acomodar-se a elas. Contudo, isto no significa que os contatos com tais organizaes no tragam nenhuma forma de aculturao para as empresas locais, mas sim que se deve buscar um equilbrio destas relaes. A Comunicao Organizacional Intercultural, atuando como a intermediadora de um processo de conscincia da diversidade, primando pela administrao da percepo e busca pela compreenso mtua a chave para o alcance do sucesso organizacional. 2.4 QUALIFICAES DO PROFISSIONAL Um profissional apto a lidar com as diferenas culturais nas organizaes aquele que, antes de qualquer coisa, est aberto a ouvir as pessoas. Ouvir o outro e compreender a diferena, com as suas ameaas e possibilidades, essencial para o gerenciamento da Comu- nicao Organizacional Intercultural. De acordo com Everardo Rocha, j que a antropologia assume um vis positivo para entender a diferena, os antroplogos seriam profissionais indicados para lidar com as dife- renas tambm no campo empresarial, sejam nas reas de comportamento do consumidor, de cultura organizacional, de comunicao de marca ou de comunicao organizacional (ROCHA, 2001). No entanto, para Comunicao Organizacional, especialmente, alm da conscincia e respeito pelas diferenas, condio sinequa non o conhecimento das tcnicas de comuni- cao voltados a pblicos distintos. 24 As reas de conhecimento mais adequadas para formao de um profissional que lida com aspectos interculturais numa organizao so teoria da comunicao e do comporta- mento, usos e estruturas de meios de comunicao de massa, sistemas de comunicao interpessoal, metodologia de pesquisa, compreenso de mercado e polticas pblicas (NEWSOM et al. apud HEALTH, 2001, p. 626). Assim sendo, o profissional de Relaes Pblicas, o qual tem por princpio bsico colocar-se no lugar dos diversos pblicos estratgicos e traar estratgias de comunicao dirigida, o mais recomendado para o gerenciamento dos conflitos resultantes de aspectos culturais dentro da Comunicao Organizacional. 25 3.1
UMA CONCEITUAO NECESSRIA H inmeras definies para as Relaes Pblicas, mas, talvez a que melhor conceitue a atividade seja aquela elaborada por Grunig e Hunt: Relaes Pblicas o gerenciamento da comunicao entre uma organizao e seuspblicos (GRUNIG & HUNT, 1984). Essa definio, embora concisa, completa, pois compreende as Relaes Pblicas como o exerccio da administrao da comunicao. Mais que a aplicao de simples tcni- cas ou programas isolados, a rea de Relaes Pblicas, no desenvolvimento da funo gerencial, planeja, executa e avalia o processo comunicativo de uma organizao com todos os seus pblicos para atingir os objetivos finais de negcios. A necessidade de se comunicar permanentemente, de forma integrada, com todos os pblicos estratgicos a nova ordem da Comunicao Organizacional da atualidade. nesse contexto que tambm surge uma nova rea de Relaes Pblicas, inserida no conceito da Comunicao Integrada, isto , integrada com as outras reas empresariais que constituem o composto da comunicao organizacional: Marketing, Publicidade e Propaganda e Recur- sos Humanos. Por meio da segmentao da informao, trabalhando-a estrategicamente de acordo com os objetivos organizacionais e adequando-a aos diferentes pblicos e realidades cultu- rais, o profissional de Relaes Pblicas cumpre uma das funes essenciais para a sobrevi- vncia de qualquer organizao no mercado: a construo da credibilidade. Segundo Cleide Castelllan, diretora para Assuntos Corporativos da Editora Abril, as empresas no vendem mais apenas produtos, vendem atributos que os consumidores identi- ficam como bons, positivos, confiveis, vendem relaes 4 . Assim sendo, funo primordial da rea de Relaes Pblicas fazer a ponte entre a organizao e seus pblicos estratgicos, preservando a reputao da empresa contra amea- as externas e internas por meio da construo de relacionamentos legtimos. Captulo 3 Relaes Pblicas e Interculturalidade no Ambiente Organizacional 4 Oficina Relaes Pblicas e Responsabilidade Corporativa: Um novo desafio, no 3 o Congresso Internacional da Associao Latino-Americana de Relaes Pblicas - 7 de novembro de 2002, Londrina-PR . 26 3.2 RELAES PBLICAS E COMUNICAO ORGANIZACIONAL INTERCULTURAL A partir de uma explanao terica geral da rea, pode-se pensar com mais acuidade o papel das Relaes Pblicas em organizaes que envolvam contatos interculturais. No dizer de Merton Fiur: AsRelaesPblicasso o gerenciamento de funesprimariamente responsveispor moldar e implementar programas de mediao entre os interesses sociais, polticos e econmicos capazes de influenciar o cresci- mento e/ou a sobrevivncia bsica da organizao (FIUR apud KUNSCH, 1997 [b], p. 121). Tal citao ressalta o carter bsico das Relaes Pblicas como funo-meio e no como um fim em si mesma. Assim, a rea de Relaes Pblicas, dentro do panorama atual de Comunicao Organizacional, passa tambm a ser vista com funo estratgica para os negcios. E atuar estrategicamente em Relaes Pblicas significa perceber como os fatores do ambiente externo e interno (incluindo-se a os aspectos interculturais) interferem na imagem corporativa e, por conseguinte, antecipar as necessidades de mediao. O grande diferencial das organizaes da poca atual o relacionamento que elas estabelecem com seus pblicos estratgicos. No h mais dvidas que as empresas e as mar- cas passaro, cada vez mais, a serem lembradas em funo de um relacionamento harmnico com seus pblicos de interesse, o qual, necessariamente, leva em conta os aspectos culturais. O captulo anterior j suscitou a grande influncia dos aspectos culturais (tanto na- cionais como organizacionais) na administrao de uma organizao e conseqentemente em suas polticas comunicacionais. Portanto, especificamente para rea de Relaes Pbli- cas, a existncia de relaes interculturais tambm implica no gerenciamento de conflitos. Conhecer a realidade na qual a organizao se insere, estudar as especificidades de seus pblicos de interesse e traar as estratgias de comunicao adequadas papel da rea de Relaes Publicas. E num contexto de Comunicao Organizacional Intercultural, faz-se necessrio ainda o respeito s diferenas culturais das partes envolvidas, bem como o cuida- do com as formas de percepo de cada pblico. A rea de Relaes Pblicas tem como incumbncia, prpria do seu objeto de estudo (os pblicos), estar sempre atenta s ameaas e oportunidades que os aspectos culturais trazem imagem corporativa. 27 3.3 RELAES PBLICAS INTERNACIONAIS Quando se pensa em contatos interculturais entre as organizaes, no raramente as Relaes Pblicas Internacionais vm tona. Portanto, vale a pena destinar uma parte da discusso especificamente para esse tema. Wilcox, Ault e Agee chamaram de Relaes Pblicas Internacionais o esforo planejado e organizado de uma empresa, instituio ou governo em estabelecer relaes mutuamente benficas com pblicos de outras naes (WAKEFIELD apud CULBERTSON & CHEN, 1996, p. 18). Nesta monografia tal conceito tem como foco todas as prticas das Relaes Pblicas num contexto internacional ou intercultural. Ou seja, Relaes Pblicas Internacionais des- tacam-se em campos distintos, mas todos eles tm em comum a Comunicao Intercultural. Quatro terrenos bsicos (CULBERTSON & CHEN, 1996, p. 2) so propcios para prtica das Relaes Pblicas Internacionais, entre eles: Organizaes Internacionais (por exemplo, Naes Unidas); Relaes entre Governos (assuntos diplomticos entre pases); Transaes Econmicas Transnacionais (multinacionais); Interaes entre indivduos de diferentes naes (turismo, artes, esportes). Percebe-se, assim, como so vastas as possibilidades de mercado para as chamadas Relaes Pblicas Internacionais, as quais podem variar de uma simples ao promocional em uma empresa multinacional a aes diplomticas estratgicas. No entanto, h de se admitir que no Brasil o profissional de Relaes Pblicas que atua no governo, lidando com contatos internacionais, ainda est muito restrito a atividades operacionais (eventos, recepo de comitivas e lderes de Estado e cerimoniais) e pouco envolvido com o gerenciamento de aspectos estratgicos que podem influenciar a reputao do pas. O jornalista e publicitrio Mauro Salles deixa claro a inexistncia no Brasil de uma poltica de criao de uma imagem positiva: O Itamaraty tem a maior dificuldade no relacionamento com a imprensa internacional. Em determinado momento, o governo brasileiro criou a figura do adido da imprensa nas embaixadas mais importantes, favorecendo a escolha de jornalistas e relaes pblicas para a posio. Com raras excees, porm, os premiados com esse cargo foram amigos do poder, e quase todos eles o converteram em sinecura. O 28 Itamaraty foi obrigado a improvisar diplomatas nessas funes, alguns com bastante xito e outros com gritante insucesso. Da mesma forma, at hoje o Itamaraty no conseguiu criar a figura do adido cultural fora da carreira diplomtica. O adido cultural e o adido da imprensa so os dois profissionais da maior importncia de qualquer embaixada de um pas srio, j que ambos concorrem para estimular os fatores positivos da imagem de um pas (SALLES, 1998, p. 46). Ainda que no Brasil tal mercado seja ocupado principalmente por diplomatas, exis- tem possibilidades de atuao do profissional de Relaes Pblicas como gerenciador da imagem do pas, trabalhando no Ministrio das Relaes Exteriores, da Indstria e do Co- mrcio ou na Presidncia da Repblica. Algumas atividades que cabem ao profissional de Relaes Pblicas, neste segmento, so a atuao como agente catalizador de desenvolvimento nacional, a estimulao da integrao de setores econmicos e empresariais, a promoo de intercmbio comercial e cultural por meio de eventos e o relacionamento com a imprensa, a fim de combater de forma sistemtica a divulgao negativa da imagem do pas. Como esta monografia tem o objetivo de destacar como os aspectos culturais inter- ferem na definio da estratgia de comunicao empresarial, tratou-se com mais nfase o desenvolvimento de temas relacionados rea privada. Portanto, o papel das Relaes Pbli- cas na rea pblica (governamental) no foi muito detalhado. 3.4 RELAES PBLICAS INTERNACIONAIS E RELAES PBLICAS GLOBAIS adequado explicitar que os termos Relaes Pblicas Internacionais e Relaes Pblicas Globais, utilizados como sinnimos por muitos estudiosos, apresentam diferenas entre suas prticas. O termo Relaes Pblicas Internacionais est relacionado a programas distintos em mercados mltiplos, cada um adequado s suas distines de mercado geogrfico, en- quanto o termo Relaes Pblicas Globais envolve uma perspectiva geral nos programas de dois ou mais pases, reconhecendo as semelhanas entre os pblicos e adaptando as diferen- as regionais (ANDERSON apud VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996, p. 32). A definio de Relaes Pblicas Globais, apresentada por Anderson em 1989, suge- re que as Relaes Pblicas tm componentes genricos aplicveis em quase todas culturas e sistemas polticos, mas tambm no nega a existncia de aplicaes especficas (estratgias e tcnicas) que difiram em cada localidade. 29 Seguindo essa mesma linha de pensamento, trs reconhecidos estudiosos, Dejan Vercic, James e Larissa Grunig estenderam os princpios genricos das Relaes Pblicas Excelen- tes 5 para as Relaes Pblicas Globais, ou seja, apresentaram quais so os componentes supostamente universais e aplicveis em qualquer organizao, em diferentes naes. Os princpios (VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996) mais significativos foram assim resumidos: - Envolvimento deRelaesPblicasna administrao estratgica: Uma organizao que pratica Relaes Pblicas estrategicamente desenvolve programas voltados aos seus p- blicos estratgicos; - Participao total deRelaesPblicasna alta administrao ou relacionamento direto como executivo principal: Para a funo de comunicao ser parte integral da administrao estratgica de uma organizao, o profissional deve participar da alta administrao ou, pelo menos, ter fcil acesso ao executivo principal; - Funo integrada deRelaesPblicas: As organizaes eficazes integram todas as funes de Relaes Pblicas dentro de um nico departamento. Somente em um sistema integrado de Relaes Pblicas possvel desenvolver novos programas de comunicao para conseguir gerenciar estrategicamente cada pblico; - RelaesPblicascomo funo administrativa, separada deoutrasfunes: Quando a funo de Relaes Pblicas est subordinada a outro departamento (por ex.marketing, recursos humanos, jurdico ou finanas), ela acaba no podendo movimentar seus recursos comunicacionais de um de pblico estratgico para outro e perde sua autonomia; - O papel do Profissional deRelaesPblicas: a rea deve ser coordenada por um administrador mais do que por um tcnico. Excelentes unidades de Relaes Pblicas so administradas por um comunicador snior, que tem como misso conceituar e dirigir os programas de comunicao. Ressalta-se a importncia do profissional como estrategista e no apenas operacionalizador; - Uso do modelo deRelaesPblicassimtrico deduasmos: As Relaes Pblicas simtricas de duas mos esto baseadas na pesquisa e usam a comunicao para administrar conflitos e melhorar o entendimento com os pblicos estratgicos. Os departamentos de Relaes Pblicas excelentes desenvolvem seus programas de comunicao enfatizando as 5 OsprincpiosbsicosdasRelaesPblicasExcelentesnasceram de uma pesquisa (Excelncia em RelaesPbli- cas e no Gerenciamento da Comunicao) financiada pelo IABC (Research Foundation of the International Association of Business Communicators) entre 1986 e 1995. A teoria geral das Relaes Pblicas Excelentes foi concebida por seis pesquisadores e publicada pelo terico norte-americano, James Grunig, em 1992, no livro Excellencein public relationsand communication management (VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996). 30 prticas do modelo simtrico de duas mos e, em menos escala, os modelos imprensa/ propaganda, informao pblica e assimtrico de duas mos 6 ; - Uso deumsistema simtrico deComunicao Interna: Excelentes organizaes tm estruturas administrativas descentralizadas que do autonomia para os empregados e permi- tem a participao no processo de tomada de deciso. Os sistemas participativos e simtricos de comunicao interna aumentam a satisfao no trabalho, j que as metas dos funcion- rios esto incorporadas na misso organizacional; - Diversidadeemtodosospapisdesempenhados: O princpio do requisito variedade afirma que organizaes eficazes possuem tanta diversidade quanto o ambiente. Tal princ- pio importante em Relaes Pblicas porque a rea responsvel pela comunicao dirigida a pblicos variados. Relaes Pblicas Excelentes incluem homens e mulheres em todos os papis, tanto como profissionais de diferentes origens raciais, tnicas e culturais de importncia fundamental a classificao de tais princpios como pertencentes a uma teoria normativa, ou seja, as caractersticas acima descritas representam um pensamen- to hipottico de como devem ser e no necessariamente a realidade praticada. Assim sendo, faz-se necessria a identificao das variveis contextuais que possam impedir a prtica dos princpios genricos e requeiram estratgias especficas. Os princpios especficos que influenciam as Relaes Pblicas Globais so os se- guintes: o sistema poltico econmico, a cultura, a extenso do ativismo, o nvel de desen- volvimento e o sistema de mdia (VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996, p. 40). Conclui-se, portanto, que os princpios das Relaes Pblicas Globais tm como base os princpios genricos das Relaes Pblicas Excelentes e que a utilizao de tais prin- cpios nas diversas partes do mundo depende, necessariamente, de um ajuste s diferentes culturas e sistemas polticos. Mesmo sabendo que as Relaes Pblicas do modelo simtrico de duas mos apre- sentam-se como as mais adequadas em todos os pases, cabe ao profissional de Relaes Pblicas Internacionais o papel de tradutor cultural (TAYLOR, 2001, p. 630), visto que ele quem gerencia a comunicao organizacional, tendo em conta as variaes culturais das diferentes naes envolvidas. 6 O modelo imprensa/propaganda visa despertar ateno da mdia por meio de uma comunicao de mo nica e de tcnicas propagandsticas. O modelo informao pblica visa disseminar informaes objetivas para mdia em geral e para meios especficos, mantendo a comunicao de mo nica (tcnicas jornalsticas). O modelo assimtrico de duas mos inclui o uso de pesquisa e outros mtodos de comunicao para o desenvolvimento de mensagens persuasivas e manipuladoras que visam somente os interesses da organizao (Kunsch, 1997, p. 110). 31 3.5 Relaes Pblicas Comparativas Na maioria vezes que Relaes Pblicas Internacionais so discutidas, enfocam-se os aspectos comparativos, ou seja, a busca por semelhanas e diferenas entre a prtica em diferentes pases. Mesmo com o eloqente estudo de Vercic et al. sobre os princpios genricos que ajudam a definio de Relaes Pblicas Excelentes em qualquer pas, sabe-se que a cultura e os sistemas polticos direcionam a prtica da atividade pelo mundo. Hugh Culbertson e Ni chen, partindo, justamente, de uma anlise comparativa das Relaes Pblicas Internacio- nais, compilaram timos exemplos de tais diferenas. Os exemplos abaixo servem a ttulo ilustrativo de como os fatores culturais e sociais so importantes chaves para compreenso das Relaes Pblicas pelo mundo (CULBERTSON & CHEN, 1996, p. 6): - Como a ndia uma sociedade muito estratificada, as diferentes castas raramente envolvem-se em um dilogo e, conseqentemente, impede-se a evoluo de um sistema de Relaes Pblicas simtrico de mo dupla; - Na China, Japo e outras sociedades orientais, assim como em alguns pases da Amrica Latina e Arbia Saudita, d-se grande nfase s interaes pessoais para o estabele- cimento de confiana, entendimento mtuo e lealdade; conseqentemente, as Relaes Pblicas so focadas maciamente na comunicao interpessoal e os profissionais tm pouca experincia no relacionamento com a mdia. Na sociedade japonesa, particularmente, har- monia e respeito mtuo so muito prezados; assim sendo, jornalistas raramente questionam as corporaes e o governo sobre novos direcionamentos ou crises, o que demonstra a no- valorizao do modelo simtrico de duas mos; - Em pases como Filipinas, Cingapura, Malsia e Tailndia, onde os governos bus- cam incutir ideologias unificadoras e senso de orgulho nacional, as Relaes Pblicas ten- dem a ser assimtricas e orientadas persuaso. No entanto, como reflexo das mudanas econmicas atuais, essas naes tendem a mudar seus conceitos de construo de nao para fases de desenvolvimento de mercados e cooperao regional, o que poder resultar numa maior simetria nas Relaes Pblicas; - Na Amrica Latina, principalmente nas colnias espanholas, o sistema de vice-reis contribuiu para um controle familiar dos negcios. Por conseguinte, a noo de pblico e privado e o desenvolvimento de um sistema de Comunicao de mo-dupla foram prejudi- cados; 32 Partindo das dimenses culturais do estudo de Hofstede, concluiu-se que as culturas com baixos nveis de distncia hierrquica, de autoritarismo e de individualismo e com alto grau de confiana interpessoal entre os trabalhadores so as mais propensas ao desenvolvi- mento das Relaes Pblicas Excelentes (VERCIC, GRUNIG & GRUNIG, 1996). Os poucos exemplos acima ressaltam a importncia dos aspectos culturais na gesto comunicacional das organizaes; alm disto, suscitam um pensamento crtico sobre as es- tratgias de comunicao das empresas multinacionais nos mais variados mercados. 3.6 RELAES PBLICAS EM MULTINACIONAIS Pensar sobre Relaes Pblicas, Public affairsou Comunicao Organizacional em multinacionais uma tarefa rdua em razo da carncia de teorias que serviam de modelo, alm da falta de divulgao de como os executivos traam seus planos estratgicos de ao. Assim que se inserem em novos mercados, as organizaes percebem que em outros pases as polticas de ao empresarial tendem a variar. As principais diferenas tendem a ocorrer em trs reas bsicas: prticas de negcios, fatores culturais e objetivos do governo hospedeiro. Mesmo com a existncia de rea distintas responsveis por essas diferenas, esses trs fatores esto inter-relacionados na rea de Relaes Pblicas. Ou seja, mesmo que as prticas de negcios ocorram essencialmente na rea operacional, que os fatores culturais recebam maior ateno da rea de marketing e que as relaes governamentais fiquem aos cuidados do departamento jurdico, existe uma interdependncia dos trs que recai sobre as Relaes Pblicas ou Public Affairsda multinacional (DUNN, 1979). Assim sendo, pode-se concluir que as Relaes Pblicas de multinacionais esto direcionadas a soluo e preveno de conflitos entre as aes da organizao e o ambiente scio-poltico-cultural onde ela atua. Sempre que assuntos relacionados a corporaes multinacionais esto em pauta, o axioma pensar globalmente e agir localmente vem tona. Nesta monografia, como no poderia deixar de ser, tal tema no foi esquecido. O campo das Relaes Pblicas foi a vertente escolhida para tratar a comunicao global versus comunicao local nas multinacionais, j que a mais indicada para interagir com os diferentes pblicos de uma organizao a fim de transmitir e obter informaes estratgicas e de carter esclarecedor. De acordo com o americano Robert Wakefield, especialista em Relaes Pblicas Internacionais, pensar globalmente e agir localmente uma forma de reconhecer os impe- 33 rativos globais e as sensibilidades locais, contudo, implica em criao de estratgias na sede e somente a operacionalizao no pas hospedeiro. J a idia inversa (pensar localmente e agir globalmente) dita como uma forma de evitar imperialismos, mas ainda pouco explorada no que tange o agir global, visto que as mensagens passam a ser direcionadas aos pblicos especficos, mas, ao mesmo tempo, no podem contradizer temas globais. A soluo mais pertinente para a prtica das Relaes Pblicas Excelentes em multinacionais deve seguir o novo slogan criado por Wakefield pensar e agir globalmente, pensar e agir localmente (Wakefield, 2001, p. 645). de vital importncia que as Relaes Pblicas em organizaes multinacionais no sejam rebaixadas a simples extenso das atividades domsticas da sede para um ambiente global. Embora existam muitas similaridades entre as prticas domsticas e as globais, o descuido na percepo das necessidades locais pode fazer a organizao perder seus rumos estratgicos e sua competitividade no mercado. Mesmo sabendo que, na realidade, as Relaes Pblicas Globais e Locais das multinacionais nem sempre apresentam uma sincronia, a tabela abaixo resume as principais atividades da sede e dos pases hospedeiros, demonstrando uma forma potencial de equil- brio entre as funes globais e as locais. Atividades da Sede Trabalho com executivos seniores para assegurar a valorizao da comunicao de mo dupla. Aconselhar a alta direo em decises globais de negcios que tenham impli- caes em Relaes Pblicas. Conduzir treinamento para os adminis- tradores para que eles entendam a repu- tao global e apiem Relaes Pblicas integradas. Estabelecer diretrizes amplas e flexveis para as atividades de Relaes Pblicas e pesquisa de opinio. Atividades dos Pases hospedeiros Pensar e implantar programas de Rela- es Pblicas apropriados ao sistema de valores e logstica do pas. Assegurar que as atividades locais no contradigam objetivos globais. Estabelecer mecanismos de pesquisa lo- cal para identificar pblicos e monitorar potenciais assuntos locais. Adaptar mensagens da sede em mensa- gens locais apropriadas. 34 (Fonte: WAKEFIELD, 2001, p. 645) Assim, no sobram dvidas sobre a conscincia de que as Relaes Pblicas em multinacionais envolvem pblicos de culturas diversas e merecem cuidado especial no gerenciamento dos conflitos inerentes a essa situao. Reitera-se aqui, especificamente para rea de Relaes Pblicas em multinacionais, a inexistncia de soluo para os problemas da comunicao intercultural que no primem por empatia, sensibilidade e informao. Os profissionais de Relaes Pblicas de multinacionais precisam ser guiados pelo conhecimento de prticas interculturais, saber como manter uma comunicao consistente e proteger a reputao da organizao pelo mundo. Para a construo e proteo da reputa- o de uma corporao global, faz-se necessria uma viso transnacional de algum que seja capaz de um pensamento holstico e cujos interesses no sejam exclusivamente locais. Segundo Wakefield, condio imprescindvel, dentro da Comunicao Organizacio- nal de uma multinacional, a existncia de um lder (integrador cultural) que possa comuni- car as perspectivas globais e que seja versado em assuntos internacionais, habilidoso na integrao cultural e conhecedor de estratgias de Relaes Pblicas (WAKEFIELD, 2001). Outro assunto pertinente ao tema de Relaes Pblicas em multinacionais a contratao de agncias de comunicao. Sabe-se que em multinacionais, mesmo com a existncia de um departamento estruturado de Comunicao, contratam-se servios exter- nos de Relaes Pblicas. Independentemente da escolha de agncias locais ou agncias internacionais (por Trabalhar com time global na constru- o de procedimentos de comunicao nas crises. Fomentar o trabalho em equipe, a troca de informaes entre membros do time de Relaes Pblicas Globais. Assegurar que as diretrizes globais per- mitam importante flexibilidade local. Aconselhar a alta direo em decises locais de negcios que tenham implica- es em Relaes Pblicas. Conduzir treinamento aos administrado- res para que eles entendam a misso das Relaes Pblicas e representem a orga- nizao perante a mdia local. Participar no time de Relaes Pbli- cas Globais proporcionando feedback em assuntos locais e ajudando a resolver po- tenciais problemas transnacionais. 35 exemplo, Burson-Marsteller, Ogilvy, Hill & Knowlton e Edelman), o que as multinacionais buscam o ajuste dos programas globais de comunicao s caractersticas locais dos pases hospedeiros. Ramiro Prudencio, presidente no Brasil e diretor de assuntos pblicos para Amrica Latina da Burson-Marstelle, comentando sobre a contrao de agncias de Relaes Pblicas no Brasil, admitiu que: O alinhamento dascontasde empresasmultinacionaisjamaisser to forte quanto o que existe no mundo da publicidade, uma vez que naquele mercado essa integrao tem a ver com descontosna compra de mdia; o que acontece que asmatrizesdosclientesrecomendam o uso da rede Burson nosvriospasesem que atuam, masa deciso sempre local (PRUDENCIO apud DAMANTE & NASSAR, 2002, p.11). Segundo Clia Romano, diretora da Lide, assessoria de comunicao h catorze anos no mercado, o alinhamento de contas ainda no determinante no mercado brasileiro. Se uma linha de trabalho interessa a eles, as filiais facilmente se desalinham do escritrio da agncia que detm a conta da matriz (ROMANO apud DAMANTE & NASSAR, 2002, p.15). Portanto, pode-se afirmar que o sucesso na terceirizao de aes de Relaes Pbli- cas de multinacionais no est vinculado contratao de agncias internacionais. No Bra- sil, por exemplo, existem vrias empresas multinacionais que contratam agncias locais no somente pelo grande nmero disponvel no mercado, mas, principalmente, pelos custos comparativamente menores e pelas capacidades de desempenho j comprovadas. 36 O estudo exploratrio aqui apresentado teve dois objetivos bsicos: pesquisar a percepo de profissionais de multinacionais acerca da influncia de aspectos culturais na estratgia de comunicao organizacional; colher alguns exemplos de aspectos culturais que j tenham influenciado e/ou redefinido alguma ao de comunicao da multinacional. 4.1 METODOLOGIA O estudo exploratrio, entendido aqui como mtodo semelhante pesquisa qualita- tiva, mas com amostra reduzida, foi o mtodo utilizado para a obteno das informaes. 4.2 INSTRUMENTO ADOTADO A entrevista em profundidade face-a-face foi instrumento escolhido para a obteno dos dados. Apresentou-se como ideal para o trabalho por possibilitar explorar a fundo as respostas dos entrevistados e permitir uma maior flexibilidade na coleta dos dados. Seguindo um roteiro pr-estabelecido (anexo I), os profissionais entrevistados fo- ram levados a discorrer sobre os seguintes assuntos: aspectos gerais da organizao/ estrutura do departamento de Comunicao; aspectos culturais da regio que j reorientaram alguma ao de Comunicao; o profissional que lida com aspectos interculturais dentro da organizao; padres globais de Comunicao versuspadres locais. 4.3 CRITRIOS DA AMOSTRA Por meio de uma carta de apresentao (anexo II) assinada pela Prof. Dra. Margarida M. Krohling Kunsch, orientadora do trabalho, alguns profissionais de comunicao de Captulo 4 Estudo Exploratrio: a Influncia dos Fatores Culturais na Comunicao das Multinacionais 37 multinacionais foram convidados a colaborar com o estudo. Trs profissionais da rea de Comunicao de multinacionais de grande porte (Unilever, Jonhson & Jonhson e American Express) participaram das entrevistas. Como se trata de um estudo exploratrio, a amostra, embora reduzida, mostrou-se suficiente por apresentar alguns casesilustrativos e um panorama geral de como os profissi- onais de comunicao de multinacionais enxergam a influncia dos aspectos culturais na Comunicao Organizacional. 4.4 RESULTADOS As informaes abaixo apresentadas foram colhidas por meio de entrevistas em pro- fundidade e de consultas aos sites das organizaes. As trs multinacionais analisadas servi- ram como caseilustrativo do tema abordado no trabalho. Todos os exemplos apresentados demonstraram o quanto os aspectos culturais (nacionais ou organizacionais) interferem nas aes de Comunicao Organizacional de uma multinacional. 4.4.1 Entrevistada: Ceclia ConteWiethy GerentedeComunicao Corporativa da Unilever Aspectos gerais da organizao Uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, a Unilever tem um portflioexpressivo de marcas de alimentos, produtos pessoais e de limpeza, comercializadas em 160 pases, registrando vendas anuais em torno US$ 50 bilhes e empregando 260 mil pessoas, que representam mais de 100 nacionalidades diferentes. A Unilever uma empresa multinacional com atuao multi-local e tem como prin- cipal misso mundial atender as necessidades dirias das pessoas em todos os lugares do mundo antecipando tendncias e fornecendo respostas rpidas e inovadoras para seus clien- tes e consumidores, atravs de marcas, produtos e servios de suporte adaptados s necessi- dades, aspiraes e gostos locais. Esta abordagem somente possvel e eficaz atravs de uma integrao bastante completa com a cultura local. No Brasil, a Unilever atua atravs de trs divises operacionais: - Unilever Bestfoods: Diviso de alimentos da Unilever Brasil; - Unilever Higiene e Beleza: Diviso de higiene e beleza da Unilever Brasil, entre eles xampus, condicionadores, desodorantes, loes para o corpo, detergentes em p e amaciantes. 38 - Kibon: Diviso de sorvetes da Unilever Brasil. Alm disso, possui uma estrutura global para suportar as trs divises de negcio: - GIO (Organizao de Infra-Estrutura Global): diviso de Tecnologia da Informa- o da Unilever que atende a Amrica Latina nas reas de desenvolvimento e implementao de sistemas aplicados ao negcio (faturamento, vendas, logstica de distribuio, planejamento e controle de produo, recursos humanos e finanas) e infraestrutura tecnolgica (linhas de comunicao dados e voz, servidores, PCs, padronizao do ambiente de informtica, suporte ao usurio). No existe um padro para os departamentos de comunicao da Unilever no mun- do; conseqentemente, as estruturas so independentes da sede. Mesmo com a existncia de encontros anuais de CorporateAffairspara troca de informaes sobre a comunicao em cada estrutura regional, o dia-a-dia dos departamentos marcado por independncia e auto- nomia local. O Departamento de Assuntos Corporativos no Brasil engloba 3 reas: Comunicao Corporativa-Assessoria deImprensa, AssuntosRegulatrios-RelaesGovernamentaise Responsa- bilidadeSocial e est subordinado a uma diretoria ligada diretamente ao presidente. A fun- o desta rea a de trazer o mundo externo pra o mundo interno, ou seja, fazer a ponte entre o mundo corporativo e o mundo real, analisando os cenrios e trazendo novos inputs pra organizao. Os aspectos culturais influenciando a Comunicao Presente em diferentes pases e culturas, a Unilever investe fortemente em pesquisa, conseguindo oferecer produtos que se adaptam aos hbitos, gostos e necessidades de seus consumidores, alm de detectar ou confirmar novos nichos de mercado, tendncias de con- sumo, preferncias locais ou regionais. Os aspectos culturais continuadamente reorientam as estratgias de negcios da companhia, e por conseguinte as aes de comunicao das marcas sofrem modificaes constantes. Alguns exemplos de produtos que inauguraram novos nichos de mercado no Brasil so a linha SEDA HIDRALOE cabelos cacheados, desenvolvida a partir da constatao de que 66% das mulheres brasileiras possuem este tipo de cabelo; o creme dental GESSY CRISTAL que utilizou, com exclusividade, em sua frmula o Ju, um ingrediente natural extrado do juazeiro, rvore tpica da regio Nordeste; alm dos sabores das frutas regionais (caj, cupuau, caju e graviola), presentes nos picols KIBON comercializados na regio nordeste do pas. No que se refere s estratgias de comunicao corporativa da empresa, os aspectos culturais tambm exercem grande participao. Um timo exemplo disto foi a mudana de identidade corporativa ocorrida no Brasil em setembro de 2001. 39 Presente no pas desde 1929 e reconhecida pelo nome Gessy Lever desde a dcada de 1960, a empresa adotou sua identidade corporativa internacional passando a se chamar UNILEVER. A mudana do nome foi uma deciso estratgica tomada no Brasil com base em diversos fatores, entre eles: - projeto regionalizao da Amrica Latina: Brasil passa a integrar grupo Amrica Latina no incio de 2000; - lanamento em fevereiro de 2000 da estratgia corporativa mundial de negcios (no s de comunicao) ThePath to Growth O caminho do crescimento. Um plano divul- gado para o mundo todo com as mesmas metas de crescimento at 2004; - aquisio mundial da Bestfoods, em junho de 2000, representada no Brasil pela Refinaes de Milho Brasil, que, por sua vez, havia adquirido a Arisco em fevereiro de 2000; - anncio mundial da formao de duas divises operacionais globais, uma para alimentos e outra para produtos de higiene e beleza em agosto de 2000. Assim sendo, a redefinio da identidade corporativa da empresa no Brasil foi uma deciso tomada com base nos novos rumos de negcios da multinacional e na percepo das mudanas na cultura organizacional da companhia. Qualificaes do profissional Na viso de Ceclia Conte Wiethy, o profissional que lida com os aspectos interculturais de uma multinacional deve ser uma pessoa com os olhos voltados para o mundo. Em sua opinio, muito mais do que formao acadmica especfica, seja em Relaes Pblicas ou Jornalismo, tal profissional precisa ter um perfil de captador de cenrios, ou seja, ter uma viso de mundo real transportada para o mundo corporativo. Atualmente a diretoria de Assuntos Corporativos da Unilever est nas mos de um ex-diplomata. Padres Globais / Locais A Unilever considera que para buscar constantes avanos em produtividade e inova- o preciso encorajar a criatividade dos funcionrios, valorizando a diversidade cultural. Atrair e estimular pessoas das mais diferentes culturas e experincias, que tragam uma viso diferente, considerado fator vital para o sucesso da empresa e para o desenvolvimento das pessoas que, por sua vez, tm oportunidade de trocas constantes e de crescimento. Esse contato com diferentes culturas e incentivo ao crescimento tambm se d por meio de apoio ao desenvolvimento de carreira internacional. Atualmente cerca de sessenta profissionais da Unilever de outros pases esto trabalhando no Brasil e aproximadamente o 40 mesmo nmero de brasileiros est atuando em algum dos negcios da Unilever espalhados pelo planeta. Segundo a entrevistada, o tipo de comunicao mais eficiente para uma multinacional aquela que segue padres locais, no apenas em nvel nacional, mas tambm regional. O Brasil, por exemplo, apresenta diversas culturas separadas pelas regies do pas. Este pensamento demonstra o que a companhia chama de multinacional multi- local. Enfim, usa-se a expertiseinternacional (adoo de um cdigo de princpios de negci- os mundial, ou seja, polticas de comportamento de negcios iguais no mundo todo) a servio das necessidades locais. 4.4.2 Entrevistada: Nelma Soares Departamento deComunicao da Johnson & Johnson Aspectos gerais da organizao A Johnson & Johnson nasceu h mais de um sculo, no ano de 1886, na pequena cidade de New Brunswick, Estado de New Jersey, Estados Unidos. A idia era criar a primei- ra fbrica no mundo a produzir uma compressa cirrgica assptica, pronta para o uso, que reduzia a ameaa de infeco. A multinacional Johnson & Johnson hoje est estruturada internacionalmente em quatro grandes setores: Produtos Farmacuticos, Produtos OTC/Nutracuticos, Produtos Mdico-Hospitalares e Produtos de Consumo. So 190 companhias, sediadas em 51 pases nos cinco continentes. Seus produtos so comercializados em mais de 175 pases. Atualmente, cerca de 99 mil pessoas trabalham na companhia e fazem da Johnson & Johnson a maior e mais diversificada empresa de cuidados com a sade do mundo. A multinacional tem como misso tocar a vida das pessoas pelo menos uma vez ao dia. A Johnson & Johnson do Brasil uma das maiores filias do grupo fora dos Estados Unidos. Sua chegada ao pas aconteceu em 1933 para suprir o mercado brasileiro com produtos de uso hospitalar e domstico, como algodo, gaze, esparadrapo e compressas cirrgicas, entre outros. Nessa trajetria, a companhia detectou necessidades, treinou mo- de-obra, investiu em infra-estrutura, esclareceu o consumidor, cresceu e ganhou destaque. O Brasil deu, assim, os primeiros passos rumo auto-suficincia na produo de material cirrgico e hospitalar. A Johnson & Johnson construiu e equipou laboratrios e unidades de fabricao e multiplicou a diversidade dos seus produtos, destacados sempre pela qualidade e pelo 41 pioneirismo. Alguns deles mudaram hbitos de higiene pessoal e influenciaram na melhoria da sade da populao. Em 1934, o lanamento do MODESS, primeiro absorvente descartvel do mercado, revolucionou o modo de pensar da mulher brasileira. Na dcada de 1970, as fraldas descartveis modificaram os conceitos de higiene para bebs. E em 1984, a chegada de SUNDOWN ao Brasil inicia as discusses sobre a necessidade de cuidados durante a exposio ao sol. A Jonhson & Jonhson prega que cada filial, seguindo uma filosofia global, deve ser autnoma e sobreviver com sua prpria gesto; logo, os departamentos de comunicao em cada pas tm liberdade suficiente para agir de acordo com as necessidades locais. No existe cobrana nenhuma do Departamento de Relaes Pblicas da sede com relao aos departa- mentos de Comunicao das filiais. Um encontro anual das gerncias de comunicao de todo o mundo acontece nos Estados Unidos com o objetivo de trocar informaes especifi- cas de cada lugar. No Brasil, por exemplo, o departamento de Comunicao se reporta diretamente presidncia e, mesmo que aja uma sugesto vinda da sede, as decises finais so sempre internas. Os aspectos culturais influenciando a Comunicao O calendrio Johnson & Johnson 2002 um excelente exemplo da influncia de aspectos culturais na redefinio das estratgias de Comunicao da multinacional. Tal ca- lendrio, conhecida pea de comunicao institucional anual, era famoso por trazer fotos de bebs loiros, gordinhos e de olhos azuis. Durante anos a Johnson & Johnson do Brasil entregou a seus funcionrios e a outros pblicos estratgicos (mdicos, farmacuticos, jor- nalistas etc.) um calendrio com o padro norte-americano de bebs Johnson. No entanto, este ano, os aspectos culturais brasileiros foram respeitados e adaptados s estratgias de comunicao da organizao. Crianas morenas com olhos castanhos e no muito gordinhas, oriundas de uma creche patrocinada pela empresa, foram fotografas para o calendrio. Tal pea de comunicao institucional sofreu uma adaptao realidade brasilei- ra e ao mesmo tempo atendeu s atuais tendncias de responsabilidade social corporativa. Com essa redefinio de ao de comunicao, influenciada pelos aspectos culturais locais, a Johnson & Johnson do Brasil mostrou que beb Johnson um beb saudvel, independentemente de suas origens tnicas. Outro exemplo muito representativo da influncia de aspectos culturais na estratgia de comunicao da organizao diz respeito ao nome do Departamento de Comunicao. H apenas seis meses, o atual Departamento de Comunicao da Johnson & Johnson do Brasil era chamado de Departamento de Relaes Pblicas, seguindo o padro da sede nos 42 Estados Unidos. A mudana do nome fez-se necessria em virtude de aspectos culturais brasileiros. O termo Relaes Pblicas acabava sendo associado, pelo prprio publico inter- no da filial no Brasil, somente a eventos e atividades operacionais. Enquanto nos Estados Unidos, bero das Relaes Pblicas, o conceito da rea e seu poder estratgico so compreendidos em sua totalidade, no Brasil, por motivos que remon- tam perodos crticos da histria da atividade, o termo ainda apresenta-se carregado de signi- ficados equivocados. Assim sendo, a adoo do termo Departamento de Comunicao, contrariando um padro global, agregou valores positivos atividade e conseqentemente gerou maior credibilidade e empatia no pblico interno. Qualificaes do profissional De acordo com Nelma Soares, o profissional de Relaes Pblicas o mais indicado para lidar com os fatores de inter-culturalidade em uma multinacional, j que ele quem est apto a adequar as linguagens aos diferentes pblicos com que lida. Na viso da entrevis- tada, o profissional de Relaes Pblicas quem tem a competncia necessria para captar as tendncias de mercado, perceber as variveis culturais importantes e fazer as adaptaes necessrias na Comunicao Organizacional da multinacional. Padres Globais / Locais A filosofia global da Johnson & Johnson baseada em uma carta de princpios escrita em 1943 por Robert Wood Johnson, filho do fundador da empresa e responsvel pela trans- formao de um pequeno negcio familiar em um empreendimento mundial. Em um do- cumento de uma pgina, denominado Nosso Credo, Robert Johnson definiu a responsabi- lidade da companhia para com seus consumidores, empregados, comunidade e acionistas, os chamados stakeholdersda atualidade. Colocando os consumidores em primeiro lugar, o Credo representou um novo con- ceito no gerenciamento de negcios. O documento defende que a empresa deve ir alm da simples fabricao e venda de seus produtos. Escrito h mais de 50 anos, ele abordou temas como meio ambiente e responsabilidade social muito antes desses assuntos estarem em evi- dncia. Robert Johnson defendeu que o documento Nosso Credo, a mais importante pea de comunicao corporativa, deveria ser aplicado a todo o momento, na busca de respostas mais adequadas aos problemas do dia-a-dia da Empresa. Hoje, esses valores esto presentes nos escritrios e fbricas da Johnson & Johnson em todo o mundo. 43 Todos os funcionrios participam de uma pesquisa peridica mundial para avaliar se as responsabilidades defendidas no Credo esto sendo aplicadas. Essa avaliao serve como parmetro para que os diretores da Johnson & Johnson planejem as aes e o futuro da Empresa. De acordo com Nelma Soares, a Comunicao que d mais resultado para uma multinacional aquela que segue tanto padres globais como locais, ou seja, uma mistura dos dois tipos na qual as diretrizes globais da organizao sejam respeitadas e as adaptaes culturais sejam levadas em conta. Um exemplo da convivncia harmnica entre padres globais e locais de comunica- o na Johnson & Johnson o do gerenciamento da marca Neutrogina. Mesmo que as estratgias globais da marca estejam direcionadas a um pblico-alvo de mulheres sofistica- das, a forma com que tais mulheres sero atingidas varia muito de cultura pra cultura. Uma mulher sofisticada no Brasil no apresenta o mesmo perfil que uma mulher sofisticada nos Estados Unidos, conseqentemente, cabe ao Departamento de Comunicao fazer as adap- taes locais necessrias. 4.4.3 Entrevistada: ChristianeO. Nunes RelaesPblicasda American Express Aspectos gerais da organizao A histria da American Express Company comeou em 1850 em Bfalo, Estados Unidos, quando os senhores Wells, Fargo, Butterfield, Livingston e Wasson se uniram para comear um servio expresso de transporte de cargas e valores, que depois de pronto se estendeu a produtos financeiros como ordens de pagamento e cheques de viagem. A partir de 1990, a American Express concentrou suas atividades como provedora global de servios de viagens, financeiros e de cartes, expandindo suas operaes atravs de alianas e co-brandings, contando atualmente com mais de 1.700 escritrios de viagens em mais de 130 pases. A American Express conhecida mundialmente como: empregadora de mais de 80 mil funcionrios; seus cartes so emitidos em mais de 52 pases e aceitos em mais de 175; sua base de Associados ultrapassa os 42 milhes. American Express no Brasil comeou nos anos 80, quando a matriz, avaliando o potencial do mercado, optou pela abertura de uma unidade emissora de cartes no pas. A American Express introduziu no Brasil conceitos inovadores, divulgou a importncia do turismo quando poucos percebiam o potencial dessa indstria e antecipou-se abertura de 44 mercado lanando o primeiro carto internacional para empresas. Atualmente, American Express opera essencialmente com Cartes de Compra e Crdito, Travelers Cheques e Servi- os Corporativos. Um dos valores corporativos da American Express : Ser bons cidados na comu- nidade onde vivemos e trabalhamos. Seguindo esta premissa, em 1954 foi criada a Funda- o American Express, instituio no lucrativa que desenvolveu um ambicioso programa filantrpico com interesse em arrecadar fundos para organizaes culturais, educativas e sociais nos pases onde a American Express atua. Em cada pas, a fundao American Express sugere projetos e desenvolve propostas de doaes segundo as necessidades locais. A esta iniciativa soma-se o apoio da Companhia a instituies de assistncia privada e a colaborao dos funcionrios da American Express que destinam parte de seu tempo ao apoio voluntrio a organizaes e instituies de assis- tncia social. rea de Comunicao da American Express no Brasil, chamada de Gerncia de Rela- es Pblicas, reporta-se a uma chefia local (presidncia e ao vice-presidente de Recursos Humanos) e a uma chefia internacional (Public Affairs). Tal rea responsvel pelas aes de comunicao externa, interna, eventos e responsabilidade social no Brasil; mesmo com a existncia de uma gerente em Nova York (sede) para assuntos da Amrica Latina, a rea possui muita autonomia para decises finais. Os aspectos culturais influenciando a Comunicao A rea de Relaes Pblicas da American Express tem uma preocupao natural com as percepes do ambiente externo, incluindo-se a os fatores culturais, que podem influen- ciar alguma estratgia de comunicao da empresa. Tanto para aes de comunicao de produtos (por exemplo lanamento de um carto no mercado brasileiro) como para aes de comunicao institucional, os aspectos culturais so levados em conta. Um exemplo recente de uma ao de comunicao institucional repensada para o ambiente cultural brasileiro foi o da divulgao de uma parceria da multinacional. A rea Travel Global Corporate Service (setor de agncia de viagens) no Mxico fez uma grande parceria com a agncia Nippon Travel, o que gerou repercusses muito significativas (mdia espontnea) para as regies afetas. De acordo com a chefia global, fazia-se necessrio um esforo global de divulgao do fato. No entanto, no Brasil, a agncia Nippon Travel nem existe e conseqentemente no seria uma pauta muito significativa para imprensa brasileira. Assim, coube Gerncia de Relaes Pblicas no Brasil analisar tal evento com olhos brasileiros (voltados cultura local) e perceber que tal noticia, ainda que fosse de grande relevncia para comunicao institucional no Mxico, no teria muito apelo por aqui. 45 Qualificaes do profissional De acordo com a profissional de Relaes Pblicas da American Express, Christiane Nunes, no se deve estipular nenhum perfil acadmico especfico para a pessoa responsvel pelo gerenciamento das percepes de aspectos culturais em uma multinacional. Em sua opinio, o profissional mais qualificado aquele que sabe lidar com o ser humano e que tem uma viso de igualdade nas relaes, o que, na maioria das vezes, encontra-se num comunicador. Padres Globais/ Locais A American Express conhecida, informalmente, como a empresa das polticas, proce- dimentos e formulrios, o que demonstra a importncia do grau de coeso global de suas aes. No entanto, isto no significa que as necessidades locais no sejam respeitadas, mas sim que existem valores universais a serem adaptados em cada pas onde a multinacional atua. Atualmente a diversidade cultural tem recebido especial ateno da cpula diretiva da organizao; em outubro de 2002 o evento Cultureat American Expressreuniu na sede 24 funcionrios de diferentes pases. O presidente da American Express, cada vez mais, tem demonstrado interesse em entender as particularidades de pensamento e comportamento de cada pas, alm de mostrar-se aberto s adaptaes culturais necessrias. A American Express apresenta como um dos seus principais valores a diversidade cultural (diversity) no ambiente organizacional; reconhecida internacionalmente como um timo ambiente de trabalho por pessoas das mais diferentes religies, opes sexuais e origens tnicas. Tal cultura organizacional, marcada pela ausncia de preconceitos, influen- cia positivamente a reputao da corporao internacionalmente. Segundo Christiane Nunes, a Comunicao baseada em padres locais a que apre- senta os melhores resultados numa multinacional. Tanto para o pblico externo como para o pblico interno, as aes de Comunicao com origem local so absorvidas de maneira mais eficiente do que aquelas vindas de fora, no apenas por questes de traduo de idio- mas, mas tambm pelo significado das informaes a serem transmitidas. 46 Com base na literatura consultada e no estudo exploratrio realizado, conclui-se que o respeito diversidade cultural e a capacidade de comunicao intercultural devem ser levados tambm aos ambientes organizacionais. Como os fatores culturais so importantes variveis no planejamento estratgico de qualquer organizao, no h dvidas sobre a sua influncia tambm na Comunicao Organizacional. Uma organizao que assume a Comunicao como recurso estratgico de negcio, de entendimento dos pblicos e de integrao sociedade, preocupa-se com todas os tipos de variveis que influenciam sua gesto. A rea de Relaes Pblicas, dentro do panorama atual de Comunicao Organizacio- nal, passa a ser vista com funo estratgica para os negcios, na medida em que se respon- sabiliza pela percepo e gerenciamento dos fatores do ambiente externo e interno, incluin- do-se a os aspectos interculturais que interferem na imagem corporativa. No que diz respeito ao padro de Comunicao a ser seguido pelas organizaes que envolvem contatos interculturais, chegou-se concluso de que os padres globais no po- dem ser perdidos de vista, mas uma ateno especial deve ser dada aos padres locais. A utilizao dos princpios genricos das Relaes Pblicas nas diversas partes do mundo de- pende, necessariamente, de um ajuste s diferentes culturas e sistemas polticos, ainda que o modelo simtrico de duas mos apresente-se como o mais adequado em todos os pases. Os exemplos de mudanas em aes de Comunicao de multinacionais apresenta- dos no estudo exploratrio vo ao encontro do slogan pensar e agir globalmente, pensar e agir localmente, uma vez que as polticas globais de Comunicao so respeitadas e tam- bm adaptadas s caractersticas culturais locais. Enfim, na sociedade global atual no h mais espao para organizaes que no planejem seu relacionamento com seus pblicos de interesse. E para que esse relacionamen- to seja considerado saudvel, h de se buscar a compatibilidade entre as aes da empresa, seu discurso empresarial e, sobretudo, os interesses e valores de todos pblicos envolvidos. Concluso 47 PUBLICAES CULBERTSON, Hugh M. & CHEN, Ni . International Public Relations. A ComparativeAnalysis. Mahwah: Lawrence Erlbaum Association, 1996. DAMANTE, Nara & NASSAR, Paulo. O toque de Midas. In: Revista Brasileira de Comunicao Empresarial. So Paulo: Aberje, n 42, pp. 10-17, 1 trimestre de 2002. DUNN, S. Watson. 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Globalizao, ontem e hoje. http:/ /www.terra.com.br/voltaire/atualidade/globalizacao.htm Site da Unilever, out.-nov. 2002 http://www.unilever.com.br Site da Johnson & Johnson, out.-nov. 2002 http://www.jnj.com.br Site da Amrica Express, out.-nov. 2002 http://home3.americanexpress.com/br/about/ about_home.asp 50 Pblico Alvo: Profissionais de Comunicao de Multinacionais 1. Explorar aspectos gerais da Empresa: tipo de atividade econmica da empresa; misso; n de funcionrios; n de filiais 2. Explorar detalhes do Departamento de Comunicao: estrutura funcional / diviso em reas; a estrutura da empresa (a quem ele se reporta?); relao de poder entre pases hierarquia / dependncia?. 3. Voc poderia citar um exemplo no qual os valores, crenas, hbitos, maneiras de pensar (aspectos culturais) das pessoas influenciaram e redefiniram alguma ao de comunicao? aspectos culturais da regio que reorientaram a estratgia de comunicao; explorar pblico Externo e Interno. 4. Qual as caractersticas do profissional que lida com tais assuntos? explorar qualificaes. 5. Na sua opinio, como profissional de comunicao de multinacional, qual tipo de comunicao d mais resultado: aquela que segue padres globais ou locais? ANEXO I Roteiro da entrevista em profundidade 51 So Paulo, de outubro de 2002 Prezado (a) , Tenho a satisfao de apresentar-lhe Vandreza Lizandra Pantoni da Freiria, aluna regularmente matriculada no ltimo semestre do curso de Relaes Pblicas da Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, que est desenvolvendo seu trabalho de concluso de curso sobre aspectos culturais que influenciam a comunicao de uma multinacional. Para que a graduanda possa escrever seu estudo, a sua colaborao ser imprescind- vel. Mediante uma entrevista pessoal a aluna poder ter um maior embasamento para con- cluir seu trabalho. Para a rea de Relaes Pblicas e da Comunicao Organizacional no Brasil, o seu trabalho certamente trar relevante contribuio, pois premente a necessidade de pesqui- sas cientficas e de estudos sobre a temtica proposta. Agradecendo, desde j, pelo apoio, aproveito a oportunidade para apresentar-lhes minhas cordiais saudaes. Profa. Dra. Margarida M. Krohling Kunsch Orientadora. Anexo II Carta de Apresentao Direcionada aos Profissionais de Comunicao das Multinacionais UNIVERSIDADE DE SO PAULO ESCOLA DE COMUNICAES E ARTES Av. Prof. Lcio Martins Rodrigues, 443 CidadeUniversitria 05508-900 So Paulo /SP Brasil Tel.: (11) 3091-4122 Fax. (11) 3091-4331