Introdução Geral A Filosofia Iniciatica Aprendiz Pela GLSC
Introdução Geral A Filosofia Iniciatica Aprendiz Pela GLSC
Introdução Geral A Filosofia Iniciatica Aprendiz Pela GLSC
SANTA CATARINA
R E A A
INTRODUO FILOSOFIA
INICITICA DA MAONARIA
APRENDIZ-MAOM
2 0 0 3
INTRODUO GERAL
FILOSOFIA INICITICA
E AOS
MISTRIOS ANTIGOS ( I )
ORIGEM E SENTIDO
DOS
MISTRIOS
INDICE
- guisa de justificao ................................................ 7
- Resenha histrica das iniciaes antigas ...................... 10
- Sntese da evoluo cultural-religiosa .................... 10
- O smbolo, o mito e o rito ..................................... 14
- Filosofia dos Mistrios Orientais ................................... 20
- A origem e o contedos da religiosidade da ndia . 21
- O Budismo .......................................................... 25
- O Taosmo .......................................................... 30
- O Confucionismo ................................................. 32
- O Xintosmo ........................................................ 32
- Doutrinas e Moralidade das Iniciaes Orientais .......... 35
- Resumo histrico das Iniciaes hindustnicas ..... 35
- Introduo Geral .............................................. 35
- A Iniciao Hindustnica ................................... 37
- As Cavernas .................................................... 37
- As Iniciaes ................................................... 40
- Resumo histrico das Iniciaes Persas ................. 49
- As Iniciaes ................................................... 54
- Investidura e Instruo .................................... 59
- Resumo histrico das Iniciaes Gregas ................ 62
- Requisitos do Aspirante Iniciao ................... 64
- Segundo Anaximandro ................................ 64
. Segundo Pitgoras ...................................... 65
- Segundo Plato .......................................... 69
- As Iniciaes ................................................... 72
- Eplogo deste Captulo Terceiro ......................... 73
- Introduo Geral aos Mistrios Antigos ........................ 74
- Sumria e Acdia ............................................. 74
- Assria e Babilnia ............................................ 81
- A Epopia de Gilgamesh ................................... 91
- O combate com Umbaba ........................... 93
- A clera de Ishtar contra os dois heris ...... 94
- A morte de Enkidu .................................... 95
- Gilgamesh procura a imortalidade .............. 96
- Bibliografia ................................................................ 99
GUISA DE JUSTIFICAO
Irmo Aprendiz:
preciso dizer e repetir: No a necessidade de novidade que atormenta os espritos; a necessidade de verdade, que i-
mensa.
(VITOR HUGO, em Odes e Baladas.)
Como trs recomendaes, ANTES DE INICIAR A LEITURA:
1. Neste ltimo Fascculo Isolado do seu Grau de Aprendiz, reveste-se de singular e extraordinria importncia para o seu aprendi-
zado manico-inicitico a grande e expressiva maioria das notas de rodap. Precisamente por isso, no deixe de deitar suas vistas ne-
las. Esto revestidas de importncia suplementar e muito auxiliam, no raras vezes, na melhor e mais ampla compreenso do texto.
2. Sempre que no texto, ou em nota de rodap, ocorrer a transcrio de uma lenda, no a despreze: leia, reflita e procure interpre-
t-la, tentando extrair o maior nmero possvel de mensagens positivas ou negativas que nela, como smbolo, esto veladas. um
exerccio mpar para o crescente domnio do simbolismo, particularmente o manico. Valha-se, quando necessrio, do Fascculo Isolado
A Simblica Manica.
3. NO CAPTULO TERCEIRO, SEES I, II E III, EM CERTOS TEXTOS APARECERO FRASES EM NEGRITO E SUBLINHADAS CADA
UMA DE SUAS PALAVRAS. PROCURE FAZER UMA ASSOCIAO OU COMPARAO ENTRE O QUE ELAS DESCREVEM COMO CERIMONIAL
INICITICO E O QUE SE PASSA PRESENTEMENTE NAS INICIAES MANICAS. DEPOIS, EXTRAIA AS SUAS CONCLUSES PESSOAIS E
FAA OS SEUS PRPRIOS COMENTRIOS.
A sua Loja, em particular, e, em geral, todas as demais Lojas jurisdicionadas que se representam na GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA, tm nu-
trido a salutar esperana de que, ao longo de todos estes meses em que fluram as Instrues Clssicas e seus Complementos, bem como os Fascculos
Isolados versando A Cincia Simblica, as Noes Gerais de Filosofia Pura e a Histria dos Perodos Operativo e Especulativo da Maonaria, tenham
incutido no Irmo uma base mnima e preparatria, suficientemente capaz para inici-lo nas primeiras pginas que certamente o levaro a entender,
mesmo panoramicamente, a Filosofia Inicitica da Maonaria, que, por bvio, no pode ser conceituada ou definida com meia dzia de palavras, tamanha
a sua dimenso e complexidade.
Essas primeiras pginas exibem-se agora neste ltimo Fascculo Isolado sob o ttulo de Introduo Geral Filosofia Inicitica e aos Mistrios Anti-
gos, cuja primeira parte, na sua evidente superficialidade, toma o nome de Origem e Sentido dos Mistrios Antigos, sendo que as outras duas esto re-
servadas para os Graus de Companheiro e Mestre, as quais no passam, em ltima anlise, de uma exposio mais vasta e aprofundada desta primeira
parte.
Contudo, para que o Irmo Aprendiz no se sinta no meio de um deserto cujos horizontes tocam o cu, ou seja, para que possa assimilar com o
mximo de facilidade e proveito esse temrio que, inegavelmente, complexo e difcil , impe-se que tenha o domnio de algumas noes preliminares
relacionadas antiguidade do Homem, de sua cultura e de suas crenas, coligando-as a uma cronologia superficial, que de notvel importncia para a
absoro de tais noes, que se abriro desde logo, isto , j na Introduo Geral.
Para este Fascculo, como tambm para os dois outros que sero destinados s outras duas partes antes referidas j pela inegvel importncia
na sedimentao do fundo de cultura geral do Irmo; j pelo seu acentuado relevo como auxlio benfazejo no trilhar a senda inicitica que as Colunas Zo-
diacais esto simbolizando; j pelo deliberado propsito que objetiva a GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA em converter o Irmo em MESTRE plenamente
consciente e apto a desempenhar o seu verdadeiro papel nos iderios filosfico e espiritual que inspiram e alimentam a Maonaria Universal foi selecio-
nada uma bibliografia de primeira gua, quase toda ela euro-americana em face do notrio pauperismo de obras nacionais especializadas. E ainda mais:
bibliografia em que os autores, manicos ou no, so da melhor e mais reconhecida estirpe nos assuntos ou temas por eles abordados.
Convencida est, portanto, esta GRANDE LOJA, tanto quanto a prpria Oficina do Irmo, ainda Aprendiz, que saber haurir e assimilar com ine-
quvoco proveito o contedo das primeiras pginas deste verdadeiro universo, no apenas literrio, mas tambm mstico-esotrico em que se enclausura e
se vela a Filosofia Inicitica da Maonaria.
Ao concluir este estudo preliminar, o Irmo no apenas ir compreender e se convencer! em definitivo quanto razo de ser da massificao
instrucional que se instaurou com a sua Iniciao, como tambm de que j est dando os ltimos passos no caminho esotrico-inicitico estendido entre as
Colunas Zodiacais dos signos de Leo e Virgem, e assim, j muito prximo do tambm esotrico topo da Coluna do Norte.
Parabns pela sua dedicao, pelo seu carinho devotado ao ideal manico e, sobretudo, pelo xito, sofrido mas supinamente merecido, j se tra-
duzindo pelo direito a ser materializado no justo e perfeito aumento de salrio, que se avizinha.
INTRODUO GERAL
FILOSOFIA INICITICA
E AOS
MISTRIOS ANTIGOS ( I )
ORIGEM E SENTIDO DOS MISTRIOS
Ttulo I
RESENHA HISTRICA DAS INICIAES ANTIGAS
Captulo Primeiro
INTRODUO GERAL
1. Sntese da evoluo cultural-religiosa
Inicialmente, considere-se aqui, em quadrantes supinamente apertados da Antropologia Cultural a lenta, muito lenta, evoluo do gnero ho-
mo para chegar ao homo erectus e da prosseguir para alcanar o status de homo sapiens e deste, finalmente, ao homem moderno. Foi uma longa,
muitssimo longa caminhada que se desenvolveu no perodo de tempo estendido entre 2.000.000 e 10.000 anos e depois entre 10.000/5.000 anos a.C.,
aproximadamente, e de 5.000 aos nossos dias atuais.
Passou de quadrpede a bpede, evoluiu em sua capacidade cerebral, medianamente de 600 a 1.600 cm. Num primeiro estgio desse perodo,
mais no fizeram os nossos ancestrais seno inventar o utenslio grotesco traduzido pelas pedras lascadas, pedaos de slex, seixos rolados e, outros, bifa-
cetados. Descobriu o fogo e iniciou-se na caa de animais de grande porte. Num segundo estgio, aprendeu a viver em grutas e outros abrigos naturais,
mas sem abandonar a vida ao ar livre. S bem mais tarde que manifestou sua propenso artstica atravs de gravuras e pinturas nas paredes das caver-
nas, de uma arte rupestre e de outra, mobiliria-funerria. Aprendeu a viver da caa e da pesca.
Mas houve um momento nessa enorme esteira do tempo em que o Homem se deu conta de que era um ser inteligente e passvel de inquietaes,
e entre as primeiras delas localizavam-se as que estiveram relacionadas ao chamado mito
1
, porque este sempre esteve ligado aos grandes temas da vi-
da, realidade e inevitabilidade da morte e s foras insuperveis da Me-Natureza. O mistrio sempre esteve testa do homem, convertendo-se num de-
safio que precisava ser vencido, principalmente aqueles que se referiam aos fenmenos da Natureza. Diante das insuperveis foras naturais a tempes-
tade, o trovo, o raio, as inundaes, as nevascas, para exemplificar que o homem no podia vencer ou evitar, e, menos ainda, prever; somadas, ade-
mais, a essas foras, a carncia de alimentos nas regies ridas que o conduziam ao natural nomadismo e, por fim, morte, levou tudo isso a que ele sen-
tisse medo, impotncia, espanto e respeito, e por isso sentiu a necessidade de bem relacionar-se com esses poderes superiores que no podia identifi-
car, mas de cuja existncia no mais podia ter dvidas. Esse relacionamento traduziu-se na criao de lendas, supersties, feitios, magias, amuletos,
oferendas, cultos, ttemes, tabus que desaguavam, todos eles, na prtica de rituais e sacrifcios onde pontificavam danas, transes derivados de estupefa-
ciantes destinados aos mais variados fins, principalmente o de afastar ou neutralizar aqueles eventos fatdicos produzidos pelo ser invisvel, causador
tanto da sorte como da fatalidade
2
.
Chegando ao status de homo sapiens que s veio a acontecer no perodo entre os ltimos 200.000 e 10.000 anos a.C. foi possvel constatar
que essa espcie humana teve os seus mitos, e portanto, teve crenas e lendas, teve vida religiosa porque o final desse perodo transmite as primeiras no-
tcias da ornamentao dos corpos e das pompas quando do sepultamento dos mortos. Numa rpida incurso a essa remota antiguidade, ir-se-o encon-
trar descries de desenhos em peas arqueolgicas evocando as mais estranhas figuras animalescas com caractersticas humanas, levando a suspeitar
tratar-se de feiticeiro mascarado praticando magia, pois esta sempre foi definida como a arte que age sobre a natureza, as coisas e os seres atravs de
rituais ocultos destinados produo de efeitos extraordinrios e para os quais o homem do Paleoltico empregou o som e a imagem aquele, atravs de
gritos e cantos orgisticos, ritmo de tambores e outros instrumentos de ressonncia; esta, na representao da finalidade pretendidamente alcanvel por
meio de figuras ou smbolos.
Naquela fase em que viveu o homo sapiens, sabe-se que os que eram caadores consideravam os animais em tudo semelhantes a eles, porm
possuidores de poderes extraordinrios. Alm disso, acreditavam que o homem pudesse se converter em animal e por isso a morte deste era passiva de
um certo ritual, emprestando aos ossos e em especial ao crnio um valor todo particular e muito especial. Entre 70.000 e 50.000 anos so encontradas se-
pulturas que se revestiam de um simbolismo funerrio, induzindo ideia da existncia de religiosidade: o enterro dos mortos significava para os vivos
uma espcie de precauo contra o possvel regresso do defunto e tambm alguma crena na sobrevivncia, j que os tmulos continham moblias e da a
conjetura de que o homem desse perodo admitia que o defunto haveria de ter alguma atividade post mortem. Assim, haveriam de acreditar numa sobre-
vivncia pessoal. MIRCEA ELIADE
3
afirma, com a sua autoridade de sumo pontfice da Histria das Religies, que o homem da pedra lascada tinha seus
mitos cosmognicos sobre a gua e o Criador, que simbolizava numa figura antropomrfica
4
ou num animal aqutico. Tinha mitos, ritos e smbolos relati-
vos ascenso ao cu, ao arco-ris coligado ponte que liga a terra ao outro mundo; mitos sobre a origem dos animais e do fogo e at mesmo sobre a
sacralidade da abbada celeste. Valorizavam o aspecto mgico-religioso da linguagem, qualquer que ela fosse, evidenciando que certos gestos podiam in-
dicar a epifania
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de uma fora sagrada ou de um mistrio csmico.
No perodo que se estendeu entre 10.000/9.000 e 5.000/3.000 anos a.C. entra-se na chamada Idade da Pedra Polida ou Perodo Neoltico, ob-
servando-se um significativo avano cultural pela riqueza e aperfeioamento dos utenslios agora do j chamado homem moderno , atravs do fabrico
de potes de argila para armazenamento de gua e alimentos, no cultivo agrcola e na domesticao de animais, como tambm um refinamento nos costu-
mes funerrios, j porque os cadveres eram coloridos ou pintados com ocre e sepultados em posio fetal, j porque os crnios tambm eram envolvidos
pelo ocre, salvo algumas excees, e eram associados descoberta da alma, do outro duplo do homem neoltico. Desenvolveram-se, igualmente, a ar-
te e a tcnica de trabalhar os metais no fabrico de armas e instrumentos. mais ou menos nesse estgio da cultura humana que se teria desenvolvido a
ideia do ancestral mtico, que casa perfeio com aquela outra ideia mitolgica sobre a origem do mundo, da caa, do homem e da prpria morte.
nesse perodo que se desenvolvem a agricultura, a domesticao dos animais e a formao das primeiras aldeias, ou seja, o comeo da vida gregria
6
em contraposio ao nomadismo at ento praticado. aqui no Neoltico que se acentuam, como afirmado acima, os vestgios reveladores do domnio dos
utenslios, e por isso o sensvel aumento no s da capacidade imaginativa, como tambm da cada vez maior intimidade do homem ainda primitivo
com a matria, fato esse que ir refletir-se na prpria mitologia, ainda em formao. Bem afirma MIRCEA ELIADE
7
: os progressos realizados durante o
Mesoltico
8
pem fim unidade cultural das populaes paleolticas e desencadeiam a variedade e as diferenas, que se tornaro na principal caracterstica
das civilizaes. E assim evoluindo e chegando s cercanias dos anos 4.000/3.200, vieram os sumrios a inventar a escrita, posteriormente aperfeioada
pelos egpcios, quando ento estavam findos os chamados perodos pr e proto-histricos da Humanidade.
2. O smbolo, o mito e o rito
So exemplares as palavras de PAUL POUPARD
9
, referindo-se aos smbolos, mitos e ritos, as quais, pela inegvel preciso, merecem ser aqui transcritas
com os devidos destaques em negrito porque tocam muito de perto aprendizagem manica do Irmo: Na vida do homem religioso, o smbolo constitui
a linguagem das hierofanias. Atravs do smbolo, o mundo fala e revela modalidades do real que no so evidentes em si mesmas. Os smbolos religiosos
que tocam s estruturas da vida fazem ressaltar uma dimenso que transcende a dimenso humana e permite uma busca direta da realidade ltima. O
pensamento simblico precede a linguagem e faz parte da substncia da vida religiosa. O homo religiosus um homo symbolicus. A experincia do mito
, tambm, uma experincia do sagrado, dado que coloca o homem em contato com o mundo sobrenatural. O mito apresenta-se como uma histria ver-
dadeira, sagrada e exemplar, que fornece ao homem religioso modelos para a sua conduta. Os mitos cosmognicos, os mitos originais, os mitos de reno-
vao, os mitos escatolgicos orientam a atividade do homem religioso, fornecendo-lhe uma mensagem normativa. Alicerando-se na imitao de um mo-
delo transcendente, na repetio de um cenrio exemplar, o mito mantm, no homem, a conscincia do divino: graas a ele, o mundo torna-se transpa-
rente para o homem religioso. No mito, h uma referncia a um arqutipo que confere fora e eficcia ao humana. O arqutipo apresenta-se como um
modelo primordial, cuja origem se encontra no mundo sobrenatural. O homem religioso realiza este modelo na terra. Por isso, ele tem necessidade de um
ritual que d fora e eficcia sua realizao, colocando-o em concordncia perfeita com o arqutipo. O efeito do ritual conferir uma dimenso real a-
o do homem religioso. Os ritos de iniciao fazem passar o homem da sua condio profana a uma existncia nova, marcada pelo sagrado. A iniciao
equivale a uma mutao ontolgica do regime existencial. , portanto, atravs dos smbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce a sua funo de
mediao na vida do homo religiosus, atravs do qual ele busca a possibilidade de entrar em contato com a fonte do sagrado, isto , o sagrado como rea-
lidade transcendente. Enfim, o homo religiosus um leitor e um mensageiro do sagrado.
De fato, conta-nos o mito a respeito dos comeos e dos fins, da criao e da destruio, explica-nos o como e o porqu da vida. ele que desnu-
da e mostra a alma de um povo. No ele uma mera histria de algum fato ou de alguma coisa, mas sim um elo na grande corrente da vida humana; um
elo velado, como velado sempre esteve o ritual, mgico ou no, que a ele se associou. Afirmavam os ndios Sioux, de Winnebago, a respeito de seus rituais
mgicos: Nunca fales deste a algum. Conserva-o absolutamente secreto. Se o revelares, ser o fim do mundo. Morreremos todos.
10
.
Foi o mito o fator preponderante no incremento moral, religioso, familiar e poltico das sociedades, desde as mais primitivas at as atuais, como
bem mostram as catstrofes e as vitrias contidas nas lendas e poemas que estrelaram nas prolficas mitologias do Oriente e no portentoso panteo dos
deuses gregos, que j haviam sido humanizados. o mito que descreve a grande trajetria humana ao longo dos sculos e milnios; o nascer, o evoluir e
o desaparecer de suas conquistas espirituais, sociais e polticas, as suas tradies vindas desde os recuados tempos em que, do gnero homo, viu-se al-
ado espcie homo sapiens, pois desde l, mesmo no seu estado de barbrie, j se encontrava predominado pelo mito. Todos os antepassados das
mais distantes e conhecidas civilizaes dos sumrios aos babilnios; dos egpcios, hindus, persas e gregos, para citar alguns deixaram-se influenciar
pelos mitos j existentes e pelos que criaram. No foi sem razo que MIRCEA ELIADE
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magistralmente definiu a estrutura e a finalidade do mito como
agente significante da existncia do homem num contexto histrico e filosfico: ...De modo geral, pode-se dizer que o mito, tal como vivido pelas socie-
dades arcaicas, 1) constitui a histria dos atos dos Entes Supremos; 2) que essa histria considerada absolutamente verdadeira (porque se refere reali-
dade) e sagrada (porque obra dos Entes sobrenaturais); 3) que o mito se refere sempre a uma criao, contando como algo veio existncia, ou como
foram estabelecidos um padro de comportamento, uma instituio, uma maneira de trabalhar; essa a razo pela qual os mitos constituem os paradigmas
de todos os atos humanos significativos; 4) que, conhecendo o mito, conhece-se a origem das coisas, chegando-se, consequentemente, a domin-las e
manipul-las vontade; no se trata de um conhecimento exterior, abstrato, mas de um conhecimento que vivido ritualmente, seja narrando cerimoni-
almente o mito, seja efetuando o ritual ao qual ele serve de justificao; 5) que, de uma maneira ou de outra, vive-se o mito, no sentido em que
se impregnado pelo poder do sagrado, que exalta os eventos rememorados ou ritualizados.
A expressiva maioria dos mitos originrios so criados entre as populaes agrcolas que se dedicavam ao cultivo dos cereais e vegetais. Assim, as
plantas em geral eram originadas do sacrifcio de uma divindade. Sobre esses mitos agrrios que viriam a ser estabelecidas as cerimnias da puberdade,
como tambm a prtica geral de sacrifcios e at mesmo certas cerimnias funerrias. Diante dessa intimidade entre os homens e os vegetais que veio a
mulher a ser colocada em destaque como deusa-me, pois a ela e s a ela era dado o dom da fertilidade, e da a criao desse culto, eis que, para o
homem neoltico (e mesmo o mesoltico) a fertilidade era um mistrio religioso porque ela era a grande regente da origem da vida e da morte. Graas a
esse mistrio da fecundidade que vieram a nascer a sacralidade sexual, a hierogamia
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, o renascer da vegetao e os simbolismos dos astros, do sol e
da lua, que, com o passar dos sculos e milnios, iriam sendo articulados progressivamente como valores religiosos para se converterem em mistrios do
nascimento, da morte e do renascimento, todos eles coligados aos ritmos das estaes do ano e dos ciclos da vegetao. Por isso mesmo que se i-
dentifica como csmica a religio neoltica, ou seja, porque estava toda baseada na renovao peridica do mundo. As atuais festas de Ano-Novo tm
suas razes mais remotas e profundas nessa religiosidade csmica. ainda o mesmo M. ELIADE, na obra citada na nota 7, quem afirma: as cosmologias,
as escatologias
13
e os messianismos
14
, que vo dominar durante dois milnios o Oriente e o mundo mediterrneo, mergulham as suas razes nas concep-
es dos Neolticos. Mas a formao espiritual do homem neoltico revelou-se mais aprimorada quando se identificou, ainda que pela fragmentria do-
cumentao arqueolgica disponvel, que ele tambm havia sacralizado o espao onde se desenrolava a sua vida. Essa sacralizao ele a realizava atra-
vs de oraes e rituais. Foi assim que a sua habitao virou verdadeiro santurio e a aldeia em que habitava converteu-se numa espcie de imagem do
mundo. Enfim, para resumir e finalizar: nesse Perodo Neoltico, como no intermedirio Mesoltico, o edifcio espiritual humano caracterizou-se pelo culto
aos mortos e fertilidade, a se introduzindo os rituais do mistrio da vegetao, criando-se as cosmologias e todo o simbolismo acerca do centro do
mundo, o que bem demonstra a riqueza e a complexidade das ideias religiosas reinantes naquele estgio da cultura humana, carregadas de significados
profundos. Era, sim, uma etapa histrica onde j se podia vislumbrar um marcante crescer da civilizao revelado principalmente pela embrionria organi-
zao urbana e pelo corpo sacerdotal organizado, que a tradio remeteu s civilizaes posteriores, notadamente naquelas sociedades essencialmente a-
grcolas.
De todos os mitos que nasceram os ritos, cerimnias, tradies e, vezes sem conta, os prprios usos e costumes dos povos. a Mitologia que
leva ao e descreve o despertar sonolento da religiosidade do homem, mostrando como evoluiu esse sentimento, que no se faz presente em nenhuma ou-
tra espcie do reino animal. A histria das religies envolve a histria dos mitos, e vice-versa. o mito, enfim, a histria da experincia humana, particu-
larmente quando o homem sentiu medo e passou a acreditar em poderes ou seres que estavam fora e alm de sua compreenso, atribuindo-os a outros
diferentes dos que dispunha ou de si prprio, mas dotados de uma superioridade que no sabia e nem podia medir, compreender e justificar. Da, as ori-
gens mais remotas da Mitologia que, evoluindo da idolatria a animais, vermes, deuses com cornos que viviam no fundo do mar... de gigantes que esculpi-
am as montanhas com enormes martelos, de ovos de pssaros de onde saam diferentes raas e de deuses petulantes que atiravam fogo uns aos outros
atravs dos cus, criando, assim, desertos e vulces
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, pde chegar aos heris lendrios com seu extraordinrio e fecundo simbolismo. Num estgio
bem mais evoludo, como j foi ligeira mente exposto nesta Introduo Geral, tambm se deparar com as oferendas e o culto aos mortos, o ritmo do fo-
go, o culto dos crnios onde acreditavam estar localizada a alma, os ritos de passagem, caracterizando os estgios do nascimento e da puberdade, e os
ritos de separao, ligados morte, aqueles e estes ainda praticados em Moambique e Nova Guin. Tambm os sacrifcios de consagrao, de purificao
e de apaziguamento, todos com as suas mais variadas concepes e complexidades ritualsticas. Considere-se tambm a ritualstica mitolgica representa-
da pelas danas e pelos transes alucingenos at hoje empregados e que inspiram os sacerdotes do rito e lhes emprestam o papel de profetas, e por
isso capazes de interpretar os deuses de quem se dizem representantes e imagem. No Mxico existe o payotl uma espcie de cacto que produz srias
e intensas alucinaes visuais, criando-se em torno dele o mito de que a encarnao vegetal do Fogo e do Sol, desempenhando o papel de interlocutor
entre os deuses e os homens. Como se v, totalmente impossvel a dissociao entre mito, magia e rituais, sem importar as particularidades que os
envolvem e nem as evolues por que passaram e passam no decorrer do tempo entre os variados povos, mesmo porque aquela trade mitolgica acaba
se conformando em e6los de uma corrente contnua iniciada na Pr-Histria da Humanidade e que se projeta at nos dias atuais.
Mas, dentro do at aqui exposto, algo est bem ntido e deve converter-se em destaque: O mito sempre gira em torno de alguma coisa ou de al-
gum ser que o homem primitivo considerou e teve como SAGRADO, sem importar se essa considerao derivava do medo, da incerteza ou do respeito. E
porque sagrado, criou-se o ritual destinado a vivific-lo, homenage-lo e tambm, de certa forma, torn-lo velado.
dentro desse verdadeiro caldeiro borbulhante de cultura mtica, de magia e de religiosidade desenvolvidas, aprimoradas, adaptadas a cada
povo e desde as eras primeiras, que se iro encontrar os motivos, a justificativa para as INICIAES NOS MISTRIOS, que o grande e principal tema
inspirador deste ltimo Fascculo Isolado no Grau de Aprendiz-Maom, encerrando-se aqui esta Introduo Geral, que se tem como bastante para tal te-
ma.
Captulo Segundo
FILOSOFIA DOS MISTRIOS ORIENTAIS
Trs vezes felizes so os mortais que descem aos reinos de Hades depois de haverem contemplado os Mistrios. Pois ali s eles
entraro na posse da verdadeira vida; para os demais haver apenas sofrimento.
(SFOCLES)
Admito que possuam iluminao os homens que estabeleceram os Mistrios, e que, em realidade, tiveram inteno velada ao
dizerem, h longo tempo, que quem quer que v para o outro mundo sem estar iniciado e santificado, jazer no lodo; mas quem
cheque ali iniciado e purificado, morar com os Deuses.
(PLATO, no Fedon.)
Via de regra, entre as tantas definies dicionarizadas, consigna-se
16
que mistrios o conjunto de doutrinas e cerimnias religiosas que s
podem ser conhecidas e praticadas pelos Iniciados; culto secreto, como so os Mistrios de Isis, os Mistrios de Osris, os Mistrios de Elusis, os
Mistrios rficos, s para exemplificar.
No antigo Egito os Mistrios eram divididos em duas classes: a primeira, a dos Mistrios Externos ou Menores, e a segunda, a dos Mistrios
Internos ou Maiores. Os Mistrios Menores podiam ser desvelados ao conhecimento geral da massa popular, mas os Mistrios Maiores pressupu-
nham que o adepto tivesse um conhecimento anterior e aprimorado, apurado atravs de uma seleo rigorosa. Transmitidos esses Mistrios Internos,
prestava o mais sagrado dos juramentos de sigilo porque, em ltima anlise, tais Mistrios estavam ligados evoluo superior e gradativa do homem at
sua preparao para a outra vida, que acreditavam existir.
Em suma e para arrematar esta ligeira introduo ao significado de Mistrios, pode-se conceber os Mistrios Antigos seja a que povo eles te-
nham pertencido como aquele conjunto de doutrinas e cerimnias religiosas que, na mais ampla generalidade e numa sucesso crescente de graus ini-
citicos deferidos aos adeptos, se ocuparam, no apenas com o eterno ciclo da vida vegetal e animal, mas tambm com a vida aps a morte e a prepara-
o dos Iniciados para essa realidade; o ensino de preceitos altamente ticos; o que de mais oculto existe na Natureza e na Cincia; o desenvolvimento e
domnio da mente; os ciclos da vida nos planos mental e astral, a renovao peridica do mundo, a Criao, bem como outros tantos temas de ordem me-
tafsica.
1. A origem e o contedo da religiosidade da ndia
Convm, inicialmente, assentar que a expresso hindusmo leva ideia de um leque de religies, e no de uma religio nica. uma expres-
so que serve como denominador comum de mltiplas formas religiosas componentes do contedo do hindusmo envolvendo o tecido sociolgico, hist-
rico e geogrfico este ltimo das bacias dos rios Indo e Ganges, e os dois primeiros da ndia Dravdica. Quando se fala, portanto, de religio hindu, es-
t-se referindo a esse conjunto de formas religiosas as mais diversas que vigeram na ndia desde tempos milenares, e no a uma nica religio perfeita-
mente delimitada em todos os seus aspectos.
A ndia um pas cujo territrio corresponde a 37% do Brasil, mas possui a segunda maior populao do mundo. Nele habitaram e habitam raas
variadas e sem unidade tnica, isto , sem unidade biolgica e cultural homognea, envolvendo graus muito diferentes de civilizao que vo desde as
mais primitivas at as de nvel muito superior.
Com efeito, esse grandioso pas j era povoado desde a noite dos tempos, o que faz recuar a, aproximadamente, 5.000 anos a.C., e assim, est
inserido na proto-histria da Humanidade.
Ali encontravam-se alguns cls aglomerados em aldeias extremamente primitivas, inicialmente com atividade essencialmente pastoril. Depois, ar-
tesanal base de argila.
Mais tarde, dominaram o cobre, primeiro martelando-o e em seguida fundindo-o; e assim, abandonavam o uso da pedra para o fabrico de ferra-
mentas.
No entanto e at paradoxalmente, esses cls no eram homogneos em suas tradies e costumes, notadamente no que dizia respeito aos seus
mortos: uns, simplesmente os enterravam; outros preferiam a cremao deles. Para as construes, alguns cls preferiam a argila (tijolo); outros, a pedra.
Enfim, j naquela era to distante percebia-se que cada agrupamento humano elaborava a sua prpria cultura, sempre destinada evoluo no correr dos
tempos.
nesse ciclo evolutivo at mesmo enigmtico numa certa poca prxima do segundo milnio onde se constata um misterioso vazio cultural
que se sucedero perodos de tirania, de insegurana, de religio e de magia, mas tambm o de construo de cidades j com inspiraes democrticas,
cujo povo havia associado o pastoreio agricultura, e j o manuseio no apenas do cobre, mas tambm do bronze, embora ainda no fosse conhecido o
ferro.
A religio se que se pode utilizar esse nome tinha muito mais o carter ritual do que cultural, mais personalizado do que coletivo, onde e
quando o banho e a purificao pela gua eram totalmente solitrios, levando ideia de que o to primitivo hindu, em tais momentos, sentia-se sozinho
com a divindade. numa fase bem posterior que surgir, em Mohenjo-Daro, o prottipo dos tanques para a purificao ritualstica, que acabar se de-
senvolvendo por toda a histria da ndia.
Foi nesse lugar que se encontraram selos cncavos, cujas pinturas ou incrustaes puderam revelar a fauna e a teogonia ento existentes naquele
estgio cultural, realando-se nesta ltima o culto da serpente ou da cobra-capelo (naja) que, associado ao culto do touro, iriam posteriormente conver-
ter-se nos emblemas do deus Shiva, pois a serpente evocava o domnio da morte e o touro o da fecundidade, referido ainda ao Sol, que fertiliza a terra.
Entre 3.000 e 1.500 anos a.C. os povos que habitavam a parte subcontinental da ndia limitavam-se a praticar os cultos locais tradicionais. Mas foi
por essa poca que chegaram bacia do Indo os arianos
17
, que, numa progresso lenta, alcanaram as bacias dos rios Indo e Ganges, como tambm o
planalto do Deco e onde ficaram instalados em definitivo.
Mas, antes deles e em tempos muito mais recuados aqueles a que j se referiu nas linhas anteriores , foram os drvidas, de pele negra, que
habitaram a ndia e possuam uma cultura muito desenvolvida. Suspeita-se que eram, pelo sangue, aparentados com os Caldeus. Posteriores aos rias vi-
eram populaes rudes, mais ou menos ligadas aos negroides indochineses e australianos, como tambm os mongis.
Todos esses povos ainda hoje existem na ndia, e, embora vivendo em conjunto, sabem manter-se distintos uns dos outros.
dentro desse complexo que se criaram as mitologias indianas, normalmente difceis ao alcance e compreenso da mentalidade ocidental, a
comear pelo enorme panteo de divindades, todos eles com um intricado simbolismo. Exatamente por causa dessa complexidade que, em sntese, tem-
se a Mitologia Vdica, a Bramnica e a Hindusta, todas as trs criadas em momentos histricos bem distintos e distanciados entre si, na dependn-
cia, ainda, da etnia populacional.
Assim, a populao de lngua munda tinha a sua mitologia base da no totemismo
18
, isto , a vida tribal e individual girava em funo de uma
espcie vegetal ou animal, com prticas sacrificiais que incluam o canibalismo, pois acreditavam que s assim poderiam absorver o princpio vital da v-
tima.
J os drvidas eram idlatras, mas abominavam os sacrifcios e se abstinham de comer carne crua. O ritual cerimonioso levava a perfumar os
dolos e ornament-los com grinaldas floridas. Esses dolos ou divindades representavam-se em monstros-fmeas por que eram havidos como smbolos
da fecundidade da Natureza. Da, a explicao porque esse povo regia-se pela instituio do matriarcado
19
.
Ainda no se falava em budismo, trazido ndia por volta do sculo VI a. C. Foi ao longo desse perodo entre aqueles milnios e esse sculo que
os arianos, nas regies que habitaram, globalizaram em linguagem snscrita todos os conhecimentos litrgicos e teolgicos que obtiveram, sob o nome de
Veda
20
, que quer dizer saber, conhecimento.
De maneira clara, simples e objetiva, pode dizer-se que a mitologia indiana composta pela ariana, muito interligada com a persa e a grega; a
vdica, que imperou poca em que o povo era agrcola e criador de gado; a bramnica, calcada num iderio filosfico de muito difcil penetrao reve-
lada em epopeias como o RAMAYANA e o MAHABHARATA, escritas ao longo do sculo IV a.C.; e o hindusmo, que uma mescla de ritos sociais, reli-
giosos e mitolgicos englobando crenas e supersties muito diversificadas, o que facilmente se compreende, quando se sabe que a expresso hindu
derivada do amlgama de raas habitantes e de mltiplas formas religiosas da ndia, como j inicialmente observado. Em menor escala entra o budismo,
que pretendeu introduzir novos entes na mitologia indiana e tornar mais simplificado o sistema bramnico.
Enfim e resumidamente: a religio da ndia e ao longo de todo o tempo de sua formao e desenvolvimento, atravs de um nmero muito ex-
pressivo e complexo de lendas mitolgicas e de fices que vo desde as ingnuas at as carentes de habilidade, esteve e est centralizada numa ideia
que se pode afirmar como fundamental: o conhecimento e a explicao dos fenmenos do Universo e da gnese da Humanidade.
E isso transparece ao longo de toda essa exuberante mitologia, tal como interpretada pelos filsofos e telogos, onde se reala o seu carter emi-
nentemente csmico, procurando retroceder ao mistrio das nossas origens para que possa encontrar a Causa Primeira.
Vislumbra-se nessa religiosidade a tendncia para um monotesmo que aflora no pantesmo de suas concepes, sintetizando que tudo est em
tudo, a origem da vida s uma e o mltiplo vem do uno. Mesmo quando invoca a sua Trimurti Brama, Vishnu e Shiva , ainda assim
percebe-se que o hindu est, na verdade, velando um deus nico e absoluto, o seu Ivara o Senhor Supremo.
2. O Budismo
A palavra buda ao contrrio do que se possa pensar no nome prprio de uma pessoa, mas sim uma expresso que significa o homem di-
vinizado pela sabedoria e que atingiu a perfeio pela beatitude.
Bodisatva o nome que se d, na ndia, quele que se encontra numa determinada altura do caminho da santidade: Bodisatva aquele que,
tendo reencarnado vrias vezes, alcanar a sabedoria perfeita na sua prxima existncia humana
21
. Em suma, Buda expresso que equivale perfei-
tamente a Iluminado.
Segundo a tradio lendria depositada em documentos escritos em snscrito
22
o iniciador do budismo no seria meramente um sbio huma-
no, mas uma reencarnao do deus solar Vishnu, que teria descido mais uma vez Terra para salvar a humanidade. No se pode precisar a data de seu
nascimento, a nordeste da ndia, mas sabe-se que sua vida se passou entre os anos de 563 e 483 a.C. Viveu, portanto, 80 anos.
Narra a lenda que antes de nascer j tinha atravessado milhares de existncias. Para se preparar para a sua ltima reencarnao, permaneceu
ainda longo tempo no cu dos Tuchitas (os bem-aventurados) e pregou a Lei aos deuses. Um dia, compreendendo que tinha chegado a sua hora, re-
encarnou na famlia de um rei dos akyas, chamado uddhodano, que vivia nos confins do Nepal. A sua concepo foi miraculosa. A rainha Mya (cujo
nome significa iluso), que, embora casada havia j trinta e dois meses, era apenas nominalmente esposa do rei uddhodano, teve uma estranha reve-
lao to estranha que ela prpria no soube dizer se foi um sonho ou uma realidade: sentiu-se erguida at s nuvens e transportada a um palcio en-
cantado, onde um elefante branco (diz-se tambm que era cor-de-rosa), se aproximou dela, fazendo-lhe penetrar no flanco direito uma das suas seis defe-
sas, sem lhe causar a menor dor (Mya j fora cinco vezes me do futuro Bodisatva, nas suas existncias anteriores; quanto paternidade, nenhum
deus foi julgado digno de ser seu pai). O sonho ou viso de Mya foi interpretado por sessenta e quatro brmanes, que lhe predisseram o nascimento de
um filho destinado a ser um imperador ou um Buda. Depois de dez meses de gestao, ao aproximar-se o momento do nascimento, Mya dirigiu-se ao
jardim de Lumibini e ali, de p, segurando com a mo direita, levantada, o ramo de uma rvore la, deu luz Siddhrta (nome que o Bodisatva usava
antes de renunciar ao mundo), que saiu do seu lado direito, sem qualquer sofrimento e sem deixar sinal. Nesse mesmo instante caiu do cu uma chuva de
flores; os instrumentos musicais fizeram-se ouvir sem que ningum lhes tocasse, os rios pararam de correr para contemplar o recm-nascido, os lados co-
briam-se de lotos e sucederam muitos outros prodgios. O menino foi recebido e banhado por Brama e pelos outros deuses, mas, logo a seguir, ergueu-se
do loto branco em que sua me o deitara, contemplou o espao com o olhar do leo e deu sete passos na direo de cada um dos sete pontos cardeais,
tomando assim posse do mundo. No mesmo dia nasceram tambm Yaodhar, que viria a ser sua esposa; o cavalo Kantaka, que ele montaria mais tar-
de, quando fugisse de casa em busca do supremo conhecimento; a rvore sob a qual receberia a iluminao; o seu escudeiro Chandaka e Ananda, seu
discpulo predileto. Cinco dias depois de haver nascido, foi-lhe dado o nome de Siddhrta (aquele que perfeito ). Quanto a Mya, morreu sete dias
aps o seu nascimento dizem uns que foi de alegria; dizem outros que os deuses a consideraram demasiado sagrada para ter mais filhos e, por isso,
resolveram lev-la para junto deles. Sua irm, Mahprajpati, substituiu-a junto do pequeno prncipe, a quem se consagrou com uma dedicao que se
tornou lendria. O richi Asita, um santo asceta que desceu do Himalaia, predisse o destino da criana e reconheceu nela os oitenta sinais que assinalam a
predestinao. E quando Siddhrta foi levado ao templo pela primeira vez, as esttuas dos deuses prosternaram-se na sua presena
23
.
Foi por volta de 525 a.C., aps ter recebido a chamada Revelao, que Buda Skyamuni iniciou a sua pregao na bacia do rio Ganges, exa-
tamente numa poca em que a ndia se encontrava em crescente ebulio intelectual e espiritual, particularmente na regio Norte.
A elite espiritual, ento composta essencialmente por brmanes e ascetas, procurava resolver problemas transcendentais, tais como: O mundo
finito ou infinito?, Eterno ou de durao limitada? O ser do homem (atman) , em si, prprio, eterno ou de durao limitada? O mundo e o Ser so
originados por qualquer outro Ser, ou so produtos sem origem O esprito humano pode adquirir conhecimentos verdadeiros, ou a prudncia impe no
aceitar nenhuma opinio como verdadeira? O Ser subsiste aps a morte? E se subsiste, permanece consciente ou inconsciente? Provido de forma ou
sem forma? Finito ou infinito? Consciente da unidade ou da diversidade? Feliz ou infeliz? Ou o ser destri-se completamente, tal como o corpo, aps
a sua morte?
24
A propagao do Budismo deveu-se particularmente ao rei Aoka, que era fervoroso adepto dessa nova filosofia. Foi ele quem mandou missio-
nrios budistas ensinarem a palavra de Buda em Cachemira e Gandhara, a Oeste, nas regies do Himalaia, no Sul da ndia e at em Ceilo. Atualmente o
budismo est quase esquecido na Unio Indiana, mas predomina no Nepal, na ilha de Ceilo, no Tibete, e com grande desenvolvimento no Japo e
na China, tendo chegado ao arquiplago da Indonsia.
O budismo considerado irmo do janasmo uma seita que principiou a alastrar-se nos sculos VII e VI a.C., na rea entre o rio Ganges e o
Himalaia, cuja filosofia central estava em rejeitar toda a tradio vdica.
Ao nascer, o budismo preocupava-se com uma reforma moral, com a instituio de uma lei (dharma) atravs da qual os fiis seriam conduzidos
f, e os santos, ao Nirvana, havido como estado de beatitude do Santo Perfeito, que haveria de ser o objetivo supremo de todo budista. Mas, a realida-
de mostrou-se outra, pois as lendas e as supersties populares acabaram transformando a simplicidade desse dogma atravs de velhos ritos e crenas
que transparecem nos mitos bdicos.
BUDA recusava energicamente dar resposta aos questionamentos envolvendo o mundo, as suas origens, as suas caractersticas finitas ou infinitas,
eternas ou no eternas, considerando-as questes sem objetividade, totalmente sem valor, isto porque, quaisquer que fossem as respostas, elas no liber-
tariam o ser humano do sofrimento. O importante pregava na forma de Quatro Nobres Verdades, no Sermo de Benares diagnosticar a origem do
sofrimento, em mostrar que a sua causa pode ser eliminada e indicar o caminho a ser trilhado para que essa eliminao acontecesse, e assim, iniciar a
senda para entrada no Nirvana. Foi essa a doutrina que, com inegvel xito, pregou ao longo de 45 anos.
No budismo as divindades, quanto sua importncia, passam a plano secundrio, salvo aquelas que ostentam uma natureza superior humana e
habitam as moradas celestiais. Mesmo assim, pregado que esses deuses em nada influenciam para a salvao do homem, dado que eles prprios tm a
necessidade de se libertar da cadeia de reencarnaes para que possam passar ao Nirvana, como Supremo Cu. Para os budistas cultos, essas divinda-
des (referindo-se s que existiam quando o budismo nasceu) s tem valor simblico e no passam de projees mentais; logo, construes que so frutos
da iluso. Mas esse modo de encarar o problema divinatrio no teve o condo de impedir que as massas populares, em relao ao culto bdico, cons-
trussem as suas divindades status que atribuam aos diferentes buddha e Bodisatva que eram venerados com aquele qualificativo. O que faz a dife-
rena, entretanto, que a venerao, a devoo e o prprio culto dentro da pregao budista no podem ser interpretados com base na filosofia religiosa
bramnica quanto s suas divindades, mas sim e eminentemente luz da rigorosa concepo budista, que muito diferente daquela religio.
Na realidade, no que o budismo negasse o divino: como se acabou de dizer, apenas tinha (e tem) dele uma outra concepo, que era (e )
completamente diferente daquela imperante, poca, na casta sacerdotal bramnica.
Nos comeos do budismo e mesmo ao longo de seu desenvolvimento , o comportamento de seus adeptos teve inegavelmente o carter religio-
so porque proclamava com nfase a necessidade de salvao; para isso, era preciso que o homem primeiramente se conscientizasse de que a aspirao
felicidade, num mundo em transformao como se estava vivendo quela poca (e ainda hoje), s pode despertar em funo de uma exigncia do ab-
soluto, inscrita no corao do homem, da convico que s o fato de atingir o absoluto pode salvar o homem, isto , livr-lo de todo o sofrimento e dar-lhe
a felicidade infinita qual aspira
25
. Ora, BUDA no era em si mesmo o caminho, o Salvador, mas ensinava o caminho que conduz paz, sabedoria,
ao Despertar e ao Nirvana, e assim ensinando mostrou que o budismo uma via, uma senda, marcha espiritual para alcanar a salvao total e definitiva;
nessa medida (e s nessa medida), ento, no pode ser visto como uma filosofia, mas sim como religio; mesmo porque a prpria ideia de salvao,
em toda a sua latitude, evoca indispensavelmente a ideia de religiosidade, j que uma o pressuposto da outra.
Mas nessa via, nessa senda, nessa marcha espiritual que o budismo ensina no ser ela uma espcie de caminho nico que conduz salvao.
Na verdade, nela so indicados os vrios meios, os vrios outros caminhos que, no conjunto, levam quele fim.
Com efeito, prega o budismo que para a abertura da transcendncia necessrio que preexistam aes de vigilncia, de espera e de receptivida-
de. A partir da, indica como meios para buscar a salvao, em primeiro lugar, o triplo refgio em Buda, no dharma e no sangha, neles deposi-
tando o adepto incondicionalmente a sua confiana (dharma a doutrina bdica da salvao e Buda a f). Em segundo lugar, a confiana no seu diretor
espiritual na figura do guru, cuja funo , na prtica, de verificao e de orientao, passo a passo, da caminhada inicitica do seu discpulo. Essa con-
fiana no guru particularmente desenvolvida no budismo tibetano, onde incondicional, tambm, a mais pura devoo devida ao Dalai Lama, igual-
mente considerada como meio de salvao. Em terceiro lugar, nesse leque de meios, a doutrina bdica procura desenvolver no seu praticante a ideia
da indulgncia-compaixo que, no plano existencial, goza de valor espiritual como virtude, pois, de um lado luta contra o egocentrismo sob todas as
suas formas, e por outro, desenvolve no budista a conscincia mais larga possvel da virtude da solidariedade universal como meio de comunho entre os
homens. No entanto, tanto para esse meio como para todos os outros no caminho da salvao, o Nobre ctuplo ou os oito fatores que propiciam a
forma correta para alcanar o Nirvana.
V-se, assim e em arremate, que aqueles outros meios citados e anteriores ao Nobre ctuplo so, na verdade, meios auxiliares para des-
pertar no adepto o encontro com a salvao doutrinada pelo budismo.
3. O Taosmo
Nascido na China, o taosmo resume-se em ser uma atitude humana perante a vida tal como ela se apresenta aos seus olhos. Logo, ao mesmo
tempo uma religio, uma tica, um sistema do mundo e uma inspirao que faz parte constante das atividades dirias dos chineses e daqueles que forem
adeptos.
A expresso taosmo deriva do ideograma chins tao, com o significado de via, muito embora possua sentidos muito diversificados quando
essa palavra transposta para a lngua portuguesa (como, em geral, para as lnguas latinas); ao mesmo tempo, para os chineses tal palavra tem um
contedo riqussimo, o que uma caracterstica daquela antiqussima civilizao.
Na acepo mais importante para os chineses, a Via o real, o autntico, o que existe por si s e animado por um movimento autnomo,
um percurso que avana e est referida a tudo que tem existncia. O homem, nascido da Via, vive entre os seus pais; o Cu e a Terra vivem no seio de-
la; me e educadora de toda a vida, incio e fim de todo o desenvolvimento
26
.
Resumidamente: o Taosmo uma mistura estranha (para a mentalidade ocidental) de adorao dos espritos da Natureza e dos mortos, de sabe-
smo
27
e de fetichismo
28
, de demonologia e de supersties (at grosseiras), que desvirtuam inteiramente a doutrina filosfica de LAO-TSEU, a quem se
atribui a fundao desse culto mito-religioso. O seu culto traduz-se ritualisticamente em procisses em que so figurantes os conhecidos drages chine-
ses. Esse, o taosmo nas suas origens.
Mas o taosmo atualmente vigorante, conhecido como taosmo popular, foi fundado no sculo II d.C. por TCHANG TAO-LING, que acabou deifi-
cado no sculo VIII. Conta a lenda que ele havia recebido vrias revelaes e que, graas a elas, acabara fabricando o elixir da imortalidade; tambm
dera combate aos oito reis-demnios e a todos vencera, graas aos seus talisms. Depois de proezas extraordinrias com o ttulo de Senhor Celeste
subiu ao cu montado num drago negro e acompanhado pela mulher e pelos seus discpulos.
Os taostas dedicam-se a pesquisas, exerccios e vrias prticas consideradas higienistas, alquimia, ginstica de uma yoga especfica, acupun-
tura e ainda a uma outra srie enorme de tcnicas e artes tradicionais da China.
A distino entre profano e religioso, que bem ntida no mundo ocidental, no o no mundo chins, e neste sentido, os menos ligados s
atitudes religiosas no so profundamente arreligiosos, e os mais respeitadores perante o Cu e o Alm caminham com os ps bem assentes da terra
29
.
4. O Confucionismo
Foi fundado no sculo V a.C. por KUNG-FU-TSEU (Confcio) que era, quela poca, o mais clebre filsofo chins.
uma religio se que lhe cabe esse conceito que se traduz pela doutrina de um grande amor Humanidade; dos deveres dos homens, divi-
didos nas relaes entre soberanos e sditos; das relaes entre pais e filhos e entre os concidados. Essa doutrina teve o vezo de dar particular relevo
religio dos antepassados chineses.
Foi sempre a religio oficial da China, mesmo quando nela se instalou a Repblica. Ao tempo do Imprio, o Imperador, quando chegavam a pri-
mavera e o outono, ele prprio oferecia um sacrifcio ao Cu, ao Sol, Lua, ao solo, ao Deus da Guerra, a Confcio e aos seus antepassados, nos seus
respectivos templos. Fora disso no havia qualquer outro culto, exceto aquele a Confcio.
No panteo confucionista contam-se algumas dessas divindades cultuais, mas o povo acabou por alterar-lhes completamente a personalidade m-
tica.
Com efeito, os variados deuses mitolgicos chineses so funcionrios perfeitamente hierarquizados e com atribuies muito bem definidas, se-
melhana da organizao administrativa humana, propriamente dita: fazem relatrios e apresentam-nos ao seu chefe direto, o deus-soberano e Augusto
Jade, a quem compete o elogio ou a censura. E desta forma, para no alongar, vo os deuses sendo promovidos ou rebaixados, podendo mesmo ser
demitidos e morrer para renascer na Terra como homens.
5. O Xintosmo
a atual religio nacional do Japo.
Mas, antes do xintosmo, os japoneses primitivos eram adoradores das foras da Natureza (Kami), notada e particularmente as montanhas, as
velhas rvores e os rios, por reconhecerem nelas mais poderes do que eles mesmos dispunham; como tambm adoravam os homens superiores, a quem
chamavam chi-haya-buru.
Nas antigas tradies os deuses so possuidores de duas almas: uma, suave (nigi-mi-tama), e a outra, violenta (ara-mi-tama). A Natureza, en-
to, reage em funo da presena de uma ou de outra, podendo qualquer dessas almas abandonar o corpo e instalar-se num objeto qualquer, embora
momentaneamente.
Na mitologia japonesa Kami dividido em deuses celestes (Ama-Tsu-Kani) e deuses terrestres (Kuni-Tsu-Kani). So estes ltimos os em
maior nmero e que habitam as ilhas do Japo. Curiosamente, algumas divindades terrestres sobem para instalar-se no Cu, assim como outras, as Ce-
lestes, descem para instalar-se na Terra.
Ainda nessa mitologia encontra-se o mito do Cu e do Inferno, cujas descries respectivas podem ser assim resumidas
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: A palavra Ama,
que traduzimos por cu, evoca, entre os japoneses, um lugar que no distante e nem inacessvel. Ama uma vasta regio, cuja paisagem semelhan-
te do Japo; atravessa-a o rio celeste Ama-no-Gawa, que corresponde Via-Lctea. nas suas margens que os deuses se renem em conselho. Primi-
tivamente, o Cu estava ligado Terra por uma espcie de escada Ama-no-hashidate por onde os deuses podiam descer e subir. Porm, um dia, se-
gundo conta o Tango-Fudoki, enquanto eles dormiam, essa escada ou ponte desabou sobre o mar, formando um longo istmo, situado a oeste de Quioto,
sendo considerado um dos pontos mais belos do Japo. O Inferno: Em oposio ao Cu, existia nas regies subterrneas o reino dos mortos, tambm
chamado o pas da trevas (Yomi-tsu-Kuni), o pas das razes (Ne-no-Kumi) ou o pas profundo (Soko-no-Kuni), que corresponde ao inferno e tem
duas entradas: uma estrada muito inclinada e com numerosas curvas, que principia na provncia japonesa de Izumo, onde ainda hoje mostrada; e um
abismo sem fundo, onde se precipitam as guas de todos os mares e, com elas, no dia da Grande Purificao, os pecados dos fiis. Nesse pas subterr-
neo h palcios e cabanas onde vivem os demnios, machos e fmeas.
Ainda de acordo com a mitologia nipnica, os primeiros deuses foram em nmero de trs e foram os geradores do mundo, mesmo porque nasce-
ram de si mesmos e se tornaram invisveis. Depois, quando a Terra se movia como se fosse uma medusa, surgiram outras duas divindades, que tambm
se ocultaram. Em seguida, vieram sete geraes divinas, mas apenas o ltimo par Izanagi e Izanami , como divindades masculina e feminina, que
ficaram encarregados de consolidar e fecundar a Terra, que ainda era movedia.
Desde os antepassados primitivos e at hoje o sol cultuado pelos japoneses. A deusa Amaterasu adorada no apenas como astro, isto , co-
mo deusa do Sol, mas tambm como divindade espiritual e antepassada da famlia imperial do Japo. Mas nas lendas japonesas existem outras divinda-
des ligadas a esse culto solar.
Em abril e setembro celebram-se, ainda hoje, em Ise, as clebres festas do vesturio divino, em honra da deusa do Sol. Os peregrinos dirigem-
se, antes do alvorecer, praia de Futami, onde existem dois rochedos, um grande e outro pequeno, a que chamam os rochedos dos esposos. Na mesma
praia h um ponto donde se v o Sol erguer-se entre essas duas rochas. Ento, os fiis adoram-no, batendo palmas e curvando-se piedosamente. Uma vez
por ano, realiza-se tambm a ascenso do monte Fuji, para saudar do alto da montanha, com grande fervor religioso, o Sol nascente. Alm disso, os habi-
tantes xintostas das cidades e das aldeias, todas as manhs ou todas as tardes, sadam o Sol nascente ou o Sol poente, dirigindo-lhe breves oraes. Por
isso, os lugares afamados por se avistar dali o esplendor da aurora ou do pr-do-sol so muito visitados e particularmente venerados. Contudo, no xinto-
smo moderno, Amaterasu, sendo embora divindade solar, no adorada como Sol, mas como a maior de todas as divindades, na sua qualidade de ante-
passado da famlia imperial do Japo
31
.
Mas, o panteo xintosta abriga outros deuses em suas fileiras. Assim, a Lua, que tem o seu culto prprio e menos venerada que o Sol, os Ven-
tos, as Chuvas, os Sismos (vulces e terremotos), o Mar, as Montanhas, as Estradas, e outros mais genricos, como os rios, a alimentao, o arroz, as pe-
dras, os rochedos, os campos e os prados, do lar, e at... da porta de entrada, do forno da cozinha, do lugar dos despejos (particularmente respeitados e
temidos) porque neles que se instalam os demnios, causando doenas perigosas.
Em sntese final: o Xintosmo religio que se fundamenta em narrativas lendrias que esto reunidas em dois livros o Kojiki Livro das Coi-
sas Antigas, e o Nihongi Anais da Histria Oficial do Japo.
A primeira parte do Nihongi composta exclusivamente de lendas mitolgicas com muitas variantes relacionadas s pocas em que elas eram
narradas, J o Kojiki se ocupa da fixao definitiva e insuscetvel de ser discutida , da genealogia imperial e das lendas xinticas, que so as que de-
ram origem ao ritual e ao fundamento do Estado japons. Subsidiariamente h um terceiro Livro o Kogoshui que faz uma compilao de tradies
omitidas naqueles dois livros.
Captulo Terceiro
DOUTRINAS E MORALIDADE
DAS
INICIAES ORIENTAIS
Seo I
Resumo histrico das Iniciaes hidustnicas
1. Introduo Geral
Inicialmente seja dito que as Iniciaes, qualquer que fosse a civilizao, sempre estiveram referidas a perodos da mais remota antiguidade.
Na infncia do mundo o cerimonial inicitico era despido de ostentao e solenidades, e consistia, talvez, tal como no batismo cristo, de uma
simples purificao concedida a todos,na esperana de que praticassem os deveres sociais de benevolncia e boa vontade para com os outros homens e
ainda uma devoo no sofisticada ao deus.
GEORGE OLIVER
32
esteve convencido de que assim foi na Maonaria primitiva: na realidade, nada alm da prtica daqueles simples preceitos
morais que foram reunidos por uma religio, puros como vieram das mos de Deus e no adulterados pelas inovaes do homem. Ele mesmo, invocando
a autoridade intelectual de WARBURTON
33
, concorda com o que este afirmava: opinio universal de que os Mistrios pagos foram criados puros, refe-
rindo-se, com certeza, pureza das cincias primitivas, que foram a grande fonte original da qual emergiram esses Mistrios.
Foi depois do fluxo de iniquidades que inundou o mundo, que os homens maus transformaram em ridculo a simplicidade e facilidade de acesso a
uma instituio sagrada, e a partir da se tornou necessria uma certa discricionariedade, obrigando a que os ritos impusessem s Iniciaes uma forma
mais complexa e elevada.
As poucas e destacadas iniciaes que se mantiveram fiis simplicidade ritual, que no se deixaram contaminar pelo contgio do mau exemplo,
bem cedo foram capazes de avaliar os benefcios superiores do isolamento, dando-se ao luxo de serem seletivas e conservarem uma significativa distncia
do escrnio profano, cuja presena, pela linguagem insolente ou profanamente infeliz, poderia poluir a pureza da devoo e da intimidade do ato inicitico.
Para prevenir tal intruso, portanto, os ritos iniciticos foram se tornando progressivamente mais complicados, adotando-se alguns smbolos distin-
tivos como meios infalveis de excluir os no Iniciados e capacitar o Iniciador a detectar com absoluta certeza a verdade ou a falsidade de quaisquer pre-
tenses de ingresso numa Fraternidade mito-religiosa como se fossem fieis seguidores da verdade divina.
2. A Iniciao Hindustnica
A ndia, como j foi visto no captulo anterior, uma nao muito antiga, e, de acordo com os seus prprios anais histricos e lendrios, teria sido
derivada de Sete Richis, isto , aqueles seres cujas virtudes exemplares fizeram com que fossem elevados ao Cu para que residissem nas estrelas.
Essas sete divindades acreditavam formaram colnias nas vizinhanas dos Montes Cucasos, e desde ento suas posteridades espalharam-se
pelo vasto continente da antiga ndia.
A principal divindade indiana acabou sendo uma trade composta por BRAMA, VISHNU e SHIVA (essas duas ltimas palavras, quando aportugue-
sadas, admitem a substituio de sh por x) que se dizia habitarem o sagrado Monte Meru, cujos trs picos eram cobertos de ouro, prata e marfim; o
pico central pertencia a SHIVA e os outros dois a BRAMA e VISHNU.
Porm, os indianos viam deus em cada objeto sob o sol, consagrando e tributando honras divinas a uma multido de coisas diferentes; por isso,
diz-se que o seu panteo continha 330 milhes de divindades.
AS CAVERNAS
Os Mistrios da ndia eram celebrados em cavernas e grutas subterrneas, ou ento nos recessos secretos de pirmides ou pagodes escuros.
A adorao do Fogo Solar e a renomada perfeio que o seu culto transmitia parece ter sido o objeto e o motivo para que algum fosse ini-
ciado.
Essas cavernas e grutas eram frequentemente escavadas no centro de um bosque que, assim, transformava-se na residncia permanente da di-
vindade e se tornava na origem de alentadas supersties de terror para todo o mundo exterior.
As CAVERNAS DE ELEPHANTA e de SALSETTE, ambas localizadas nas proximidades de Bombaim, tm no seu interior divises em locais exclusivos
para celebraes secretas, o que, em geral, se encontrava em toda a antiga ndia.
Essas edificaes estupendas entalhadas em rochas e providas de descrio de cada grau de magnitude so de origem duvidosa, mesmo porque
suas antiguidades esto cobertas pelo vu da obscuridade; e o nome do monarca, cuja disposio corajosa e audaciosa podia projetar e executar to im-
perecveis monumentos ao trabalho e habilidade humanas, est perdido e esquecido pelo fluxo do tempo. Mesmo assim, elas podem ser atribudas aos
primeiros conquistadores da ndia, cujo gnio empreendedor podia ser aplicado, em tempos de paz, a tais gigantescas construes com propsito pratica-
mente exibicionista, indicativo de poder e de superioridade sobre os povos conquistados.
A CAVERNA DE ELEPHANTA o mais antigo Templo do Mundo , construda sobre quatro macios pilares, tinha suas paredes comple-
tamente cobertas por esttuas e decoraes que foram esculpidas com carter emblemtico. Algumas dessas figuras tinham sobre a cabea uma espcie
de elmo em forma piramidal; outras usavam coroas com emblemas suntuosos, esplendidamente decoradas com joias; e outras, ainda, exibiam somente
espessos anis de cabelos crespos ou soltos. Muitas dessas esttuas tinham quatro mos; outras, seis, segurando cetros e escudos, os smbolos da justia
e as insgnias da religio, as conquistas de guerra e os trofus da paz.
A cmara secreta, situada na extremidade oriental dessa enorme caverna, era acessada por quatro entradas, cada uma guardada por duas est-
tuas gigantescas, nuas, decoradas com joias e outros ornamentos.
No santurio (correspondente ao Sanctus Santorum do Templo Salomnico), de acesso restrito aos j Iniciados Maiores, a divindade era repre-
sentada por um Falo
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, geralmente e em larga escala utilizado por todos os povos idlatras da antiguidade para simbolizar o poder fecundante.
De cada lado do Templo estavam os espaos das celas ou cubculos e passagens, construdas com o expresso propsito inicitico; e um orifcio
sagrado, cuja finalidade misteriosa era a de servir como instrumento de regenerao.
As CAVERNAS DE SALSETTE, escavadas numa rocha que externamente tinha a forma de pirmide, localizavam-se no centro de uma extensa e
medonha floresta, infestada por serpentes enormes e animais ferozes, excedendo, em muito, nas suas dimenses, aquelas de Elephanta.
Eram essas cavernas em nmero de 300 (trezentas), todas adornadas abundantemente com smbolos emblemticos entalhados nas suas paredes,
que eram repletas de cavidades abertas em distncias regulares entre umas e outras para servir de aparato hediondo no cerimonial de Iniciao. Essas ca-
vidades estavam destinadas a encerrar o Iniciando em estado de inconscincia e despert-lo para o horror e o medo supersticioso.
As divises internas dessas cavernas eram interligadas atravs de galerias abertas, e aquelas mais secretas, onde eram depositados os smbolos
inefveis
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, eram acessadas somente por entradas tambm secretas, curiosamente projetadas e executadas para emprestar o maior efeito a certos pontos
ou partes do cerimonial de Iniciao; como tambm um caixo funerrio para o sepultamento peridico do Iniciando, quando colocado na maior
interioridade possvel de uma daquelas cavidades nas paredes da caverna.
Em cada caverna havia um vaso ou bacia para ser depositada a consagrada gua da abluo, tambm chamada gua da purifi-
cao, lateralmente engalanado (a) com flores de ltus, consideradas como veculo para conduzir pureza.
Entre a multido de imagens e figuras simblicas com as quais as paredes eram decoradas, exibia-se em toda a imponncia a Linga ou Falo,
muitas vezes isolado e, nalgumas outras, em posies moralmente desconcertantes, simbolizada (o) tanto pela ptala e clice de ltus, como por um pon-
to dentro do crculo, ou pela interseco de dois tringulos equilteros.
AS INICIAES
Os perodos de Iniciao eram regulados em funo das fases lunares
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e os Mistrios divididos em Quatro Passos ou Graus, chamados CHAR
ASHERUM, por serem os atribuidores de perfeio, em maior ou menor grau.
O Candidato podia realizar a sua primeira prova ainda na tenra idade de 8 (oito) anos
37
. Essa prova consistia de uma investidura com o ZENNAR
um cordel sagrado de trs fios para simbolizar os trs elementos: a Terra, o Fogo e o Ar; quanto gua e de acordo com os brmanes, ela
apenas o ar em sua forma condensada.
Essa investidura desenvolvia-se com numerosas cerimnias, atravs de sacrifcios ao Fogo Solar, aos planetas e aos deuses domsticos, mais as
purificaes aquticas e purificaes com esterco e urina de vaca, terminando por uma extensa preleo do Preceptor, normalmente ininteligvel ao enten-
dimento infantil. Os temas principais estavam ligados unidade e trindade da divindade suprema, administrao da consagrao do Fogo, e aos ritu-
ais divinizados para as oraes da manh, da tarde e da noite.
A criana, ento, era vestida com uma pea de linho sem costura, punha-se um cordel sobre a sua orelha direita como meio de purificao e se
colocava sob o cuidado exclusivo de um Brmane, que, ento, se convertia em seu guia espiritual para instru-la nas qualificaes desti-
nadas ao alcance, mais tarde, do Segundo Passo ou Segundo Grau.
Ela era ensinada a acostumar-se s necessidades da vida, como a misria, a opresso, a injustia, o sofrimento, sujeitar-se a penas rgidas
38
at
que atingisse a idade de 20 (vinte) anos; at ento precisaria pr limites aos vcios, tanto carnais como intelectuais, devendo ocupar todo o tempo com o-
raes e purificaes.
A essa criana o seu guia ensinava a preservar a pureza de seu corpo, que era figuradamente chamado de cidade das Nove Pontes
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, e a evitar
as sedues do mundo; a se alimentar com abstinncia
40
; enfim, era instruda em todas as minudncias cerimoniais que seriam adaptadas para
cada ato de sua vida futura e para aqueles que haveriam de distingui-la de uma outra criana no iniciada.
Uma boa parte de seu tempo devia dedicar ao estudo dos Livros Sagrados, pois, para elevar-se ao Segundo Grau, necessitava de
um conhecimento essencial e completo das instituies, cerimnias e tradies religiosas. Quando atingia aquela idade de 20 anos e se
fosse havida, pelo rigoroso exame feito, como plenamente conhecedora do acervo mitolgico do Primeiro Grau, era ento admitida
s cerimnias probatrias do Segundo Passo, chamadas GERISHT.
Tais provas, agora, eram redobradas em austeridade: o candidato se obrigava a levar a vida com base na caridade; passava os dias orando, fa-
zendo purificao e sacrifcios, e as noites dedicava ao estudo da Astronomia. E quando entrava em exausto e a natureza impunha o repouso, deitava-se
sob a primeira rvore que encontrasse para um rpido cochilo e em seguida levantava-se para contemplar os assombros do Cu
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, personificados em sua
imaginao por certas estrelas fixas.
De acordo com uma das Leis de Manu, no vero esse Aspirante ao Segundo Grau sentava-se para ficar exposto aos Cinco Fogos, quatro em
chamas ardentes ao seu redor, com o Sol no znite. Nas chuvas, permanecia descoberto, sem sequer o abrigo de um manto. No inverno, protegia-se com
vesturio mido, e assim ia aumentando, Grau a Grau, a severidade com que era posta prova a sua devoo.
Caso superasse completamente toda essa provao, ento, pela Iniciao, era admitido a participar dos privilgios que os Mistrios lhe conferiam.
Santificado pelo sinal de uma cruz que iria marcar cada parte de seu corpo, sujeitava-se o Adepto prova de PASTOS, tambm chamada Porta
de PATALA, ou, simplesmente, O INFERNO
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. Essa prova consistia numa purificao em que ele era deixado ao cair da noite e at o cre-
psculo seguinte na Caverna do Mistrio, que havia sido convenientemente preparada para essa recepo. O interior dessa caverna, ilumi-
nada com uma luz semelhante do sol meridiano, provinha de uma mirade de luzeiros particularmente brilhantes. Ali sentavam-se, em ricos e suntuosos
trajes cerimoniais, os trs chefes hierofantes
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um, no Leste; outro, no Oeste; e o terceiro, no Sul para representar a grande trade in-
diana BRAMA, VISHNU e SHIVA
44
.
Os Acompanhantes Mistagogos
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paramentados com vesturio sacralizado e tendo suas cabeas cobertas por um solidu (capuz) pi-
ramidal para simbolizar o fulgor espiral ou o raio solar, sentavam-se respeitosamente ao redor.
Assim solenemente dispostos, uma bem conhecida badalada do Sino Sagrado fazia introduzir o Aspirante no centro daquela augusta Assembleia.
Ento, comeava a Iniciao com um coro litrgico para o grande deus da Natureza, quer fosse ele cultuado como o Criador, o Preservador ou o Des-
truidor. Os trabalhos sagrados eram, em seguida, abertos tambm com solenidade e com a seguinte orao ao Sol: poderoso Ser, maior do que Bra-
ma, ns nos inclinamos ante vs como o primeiro Criador! Eterno deus dos deuses! Manso do mundo! Sois o Ser incorruptvel, distinto de todas as coisas
transitrias! Estais frente de todos os deuses, do antigo PURUSH
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e supremo Apoiador do Universo! Sois a manso suprema! E por vs, forma infinita,
o Universo amplamente se espalhou.
O candidato, j debilitado pela abstinncia, pela mortificao, ficava intimidado pelo espetculo que agora se exibia ante ele; mas, tendo concen-
trado sua coragem enquanto era feita aquela prece ao Sol, estava preparado para os rituais de Iniciao. Suas reflexes eram interrompidas por uma voz
que o convocava para fazer uma declarao formal (juramento) de que seria dcil e obediente aos seus superiores; que conservaria puro o seu corpo, pro-
nunciaria boas palavras, observaria uma obedincia passiva quando estivesse recebendo as doutrinas e tradies da Ordem, e o mais firme e inviolvel
segredo sobre os seus mais ocultos Mistrios.
Tendo sido aceito esse juramento, era ento o Aspirante espargido com gua e sussurrava-se ao seu ouvido direito um MANTRA
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ou
encantamento. Em seguida, tiravam-se os seus calados
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porque no podia ser profanado o solo sagrado sobre o qual ele pisava; na sequncia,
executava-se com o candidato, por trs vezes, uma circulao pelo interior da caverna em homenagem TRIMURTI (Brama-Shiva-Vishnu),
cujos representantes estavam triangularmente localizados nos pontos cardeais Leste, Oeste e Sul, dentro do crculo mstico.
Enquanto se desenvolvia essa cerimnia, o Aspirante aprendia a exclamar, cada vez que chegava ao Sul, nessas trs viagens: Eu imito
o exemplo do Sol e sigo o seu curso benevolente. Completadas essas viagens ao redor e no interior da caverna, voltava a ser colocado no centro
delas e solenemente era instado a praticar as austeridades religiosas nos moldes como o seu esprito havia sido preparado para observ-las; dizia-se a ele
que o mrito de tais prticas fariam emitir um esplendor que tornaria o homem, no apenas superior perante os deuses, mas tambm obrigaria a que es-
ses seres imortais se submetessem aos desejos do ser humano.
Aps essa exortao, o Aspirante era posto aos cuidados de seu GURU ou guia espiritual e recomendado a observar um profundo
silncio durante toda a sucesso do cerimonial, sob a ameaa de punio sumria imposta pelo Brmane-presidente que dizia-se ao Nefito ti-
nha poderes ilimitados at para infligir-lhe a morte com imprecao de uma maldio, e tambm se fosse presumido ter violado as regras procedimentais
ento impostas a ele.
Assim instrudo, o subjugado candidato esforava-se ao mximo para preservar a serenidade de esprito durante todo o cerimonial da Iniciao.
Receoso de que qualquer expresso involuntria pudesse ser vista como covardia ou desaprovao sua, ele tratava de evitar a indigna-
o de seu poderoso guru, j que este era detentor de muita autoridade discriminatria e estava sempre preparado para punir o discpulo indiscreto
que falhava em qualquer ponto, fosse em deferncia, fosse em respeito; ou ainda, caso deixasse transparecer qualquer sintoma de medo ou de indetermi-
nao.
Ento comeavam as lamentaes pela perda de SITA.
O Aspirante passava por sete extenses de escurido e por cavernas igualmente escuras, entre rudo uivante e contnuo,
sons agudos, lamentaes lgubres para representar os lamentos de MAHADEVA que, lendariamente, deu volta ao mundo por sete vezes, tendo sobre
seus ombros os restos de sua esposa assassina (Sita)
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.
Entre toda essa confuso provocava-se uma exploso que parecia fazer despencar as montanhas, seguindo-se instantaneamente
um silncio de morte.
Ante os olhos do candidato moviam-se continuamente lampejos de luz brilhante, a que se seguia a mais profunda escurido. Para o seu mais ele-
vado atordoamento, ele agora olhava para sombras e fantasmas das mais variadas e complicadas figuras envolvidas por raios de luz movimentando-se a-
travs da escurido.
Na sequncia, o Aspirante passava a personificar o deus VISHNU e executaria os seus inmeros avatares
50
nas cerimnias que iriam prosseguir.
Era mergulhado nas guas para representar o deus-peixe que descia at o fundo do oceano onde recuperaria as vidas roubadas
51
. Colocava-
se uma carga pesada sobre suas costas para simbolizar a tartaruga suportando a Terra. Depois, era instrudo para ir, de quatro (agachado), no interi-
or da caverna atravs de uma passagem estreitada apenas para permitir o seu corpo. A era recebido por um antagonista que o provocava para uma
luta, seguindo-se um conflito apenas mmico e do qual o Aspirante sairia vitorioso. Enquanto estava entusiasmado pelo xito, voltava a ser ata-
cado por um monstro gigantesco; mas, como representante de VISHNU, acabaria subjugando a fera.
S ento que se lhe ensinava a dar trs passos em ngulo reto
52
, o que estava referido ao 5
o
Avatar. Os posteriores Avatares
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envolviam
o Aspirante numa srie de conflitos furiosos dos quais ele raramente escapava sem ferimentos e contuses; para torn-lo igual aos deuses era necessrio
que ele passasse pelos mesmos processos e se expusesse a perigos semelhantes.
Havendo alcanado a extremidade das Sete Cavernas Msticas
54
, ouvia-se um festivo repique de sinos
55
; e ento o Aspirante recebia a instru-
o no sentido de acreditar que poderia expulsar daquelas cavernas escuras os demnios que estavam propensos a perturbar as cerimnias sagradas e
nas quais haviam se engajado.
Antes de o candidato ser instrudo e introduzido frente do Altar Sagrado, ele pronunciava-se assim: Tudo o que feito sem f, mesmo que
sejam sacrifcios, obras de caridade ou mortificaes da carne, no para este mundo ou o que esteja acima dele
56
. Era, ento, admoestado sobre o
cometimento de cinco crimes
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que, se perpetrados, acarretariam para ele pesadas penas durante a sua vida e a eterna vingana na outra.
Essas particularidades formavam uma parte do catecismo sob o qual o Aspirante estava agora solenemente Iniciado e coberto por sagrada puri-
ficao.
O impressionante e sublime momento havia chegado agora, quando a cerimnia inicitica havia atingido o seu mais alto grau de interesse: a
Concha desabrochara estrondosamente
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; as dobradias das portas rangiam repentinamente para elas se abrirem, quando ento o candidato era intro-
duzido na CAILASA ou Paraso
59
, que era um largo espao luzindo pelo milhar de luzes brilhantes, ornamentado com esttuas e figuras emblemticas,
perfumado pela rica fragrncia de flores odorficas, resinas aromticas e poes inebriantes; ainda, a profusa decorao com gemas e jias; no teto, enta-
lhadas figuras de seres do Ar e de mundos desconhecidos transmitindo a ideia do ato de voar; e o esplndido sacelo (veja nota 59, infra) repleto de sacer-
dotes e hierofantes ordenados em deslumbrantes vesturios, coroados com mitras e tiaras de ouro resplandecente.
Com os olhos fixos sobre o Altar, o Aspirante recebia a instruo para aguardar a descida da divindade no brilhante fogo piramidal que fulgurava sobre
ele. O repentino som da Concha ou da trombeta que ecoava longa e continuamente na caverna, o ranger das dobradias das portas, a prostrao instan-
tnea dos sacerdotes e o profundo silncio que se seguia a essa cerimnia enchiam de admirao a mente do candidato e iluminavam a santa e fervorosa
devoo do seu corao. Desse modo, no momento do entusiasmo, ele podia quase persuadir-se de que havia se tornado um descendente do grande
BRAMA, sentado sobre lotos, com as suas quatro cabeas
60
, portando em suas mos os emblemas usuais da Eternidade e do Poder Absoluto, do Crculo
e do Fogo.
Seo II
Resumo histrico das Iniciaes Persas
Os Mistrios Persas foram devidos a ZARATUSTRA ou ZOROASTRO
61
, nascido na Media
62
no Sculo VII a. C., segundo a tradio Sassnida
63
,
na Prsia Ocidental, o que contestado por alguns autores ao afirmarem ter o nascimento dele ocorrido na parte Oriental daquele pas, j nas proximida-
des do Afeganisto e Turquesto russo, podendo o lugar ter sido Sogdiana, Karsmia ou Bactriana.
Foi o fundador da casta dos Magos
64
e Reformador do Masdesmo
65
, onde est centrada a concepo dualista
66
do Universo. No entanto, Zoroas-
tro, ou qualquer dos seus discpulos, jamais escreveu qualquer coisa que tenha dito. Todo o seu ensinamento foi transmitido pela tradio oral, e s muito
mais tarde, cerca de 700 ou 800 anos aps, na poca Sassnida, que vieram tais tradies a ser escritas nas obras conhecidas como AVESTA e GA-
THAS, ambas esclarecedoras das concepes masdestas. Tal Gathas, conquanto no fosse uma obra teolgica, compunha-se de hinos poticos onde
eram proclamados os grandes Princpios relacionados unicidade dos deuses num Soberano Supremo:Ahura-Mazda. Mas tambm princpios ticos tradu-
zidos pela luta sem trguas quanto ao imprio da Justia e contra a Mentira, o banimento total dos sacrifcios de sangue e, em seu lugar, a adoo irres-
trita de adorao quela Divindade que era simbolizada pelo Fogo Sagrado que era simbolizada pelo Fogo Sagrado -, como tambm a, como tam-
bm a supresso do haoma ou bebida da imortalidade.
Por outro lado, h quem diga, sem confirmao documental autntica, que esse personagem era judeu por nascimento e teria recebido sua edu-
cao religiosa entre os seus compatriotas no Cativeiro da Babilnia. Posteriormente teria se tornado um servo do Profeta Daniel e dele recebera a Inicia-
o em todos os Mistrios da doutrina e da prtica dos judeus. Como suas habilidades eram altamente qualificadas, progredira rapidamente em seus estu-
dos, tornando-se um dos homens mais letrados de sua poca. Percebendo que os tributos honorficos ao seu Mestre deviam-se ao extraordinrio talento
prprio, Zoroastro disps-se a converter tambm seus conhecimentos ao mesmo propsito, isto , angariar prestgio intelectual; mas, como no estava au-
torizado a profetizar se socorrendo do Santo Esprito de Deus, recorreu ao estudo da magia, o que continuou sob a orientao dos filsofos caldeus, que
lhe conferiram o privilgio da Iniciao em seus Mistrios. Isso fez com que ele casse em desgraa perante Daniel, que o expulsou da Caldia e proibiu o
seu retorno, sob pena de morte. Fugiu, ento, para Ecbatana
67
. L chegado e escondendo que era profeta, comeou o rduo e perigoso desgnio de re-
formar a religio persa, cuja caracterstica e objetivo fundamental acabaram sendo paulatinamente subvertidos atravs de alteraes, a princpio impercep-
tveis.
Insinuando-se como um mago rgido embora fosse havido como impostor e tal como acontece com todos os inovadores audaciosos de todas as
pocas e naes -, cedo encontrou-se rodeado por seguidores de todas as camadas, que perfilaram seus planos com incrvel entusiasmo , dando a ele o
mais vigoroso apoio ao seu projeto de reforma religiosa. Foi abertamente patrocinado pelo rei Drio, que o acompanhou at Cachemira
68
, onde pretendia
completar seus estudos preparatrios pelas lies dos Brmanes, com os quais havia sido Iniciado anteriormente. Aps ter concludo seus conhecimentos
sobre os sistemas teolgico, matemtico e astronmico, retornou Bactriana, fixando sua residncia no reino de Balk, onde, possivelmente a convite do rei
VISHTASPA, passou a integrar o corpo sacerdotal. E a comeou a sua pregao religiosa, j aos 36 anos de idade, precedida que foi de um perodo de
meditaes numa montanha, e nessa solido conta a tradio teria recebido do prprio AHURA-MAZDA, o Sbio Senhor ou Deus nico e Supremo,
a misso de seguir o caminho da boa religio.
Acontece que ainda de acordo com a tradio lendria teria Zoroastro sido vtima da inveja dos outros sacerdotes, a ponto de, em sua ausn-
cia, terem colocado em seu quarto um saco com partes de um cadver, cabea de co e gato, sangue, etc. para que fosse havido como feiticeiro diablico,
vindo esse fato a lhe valer a priso decretada por aquele rei. Como Vishtaspa dedicava-se criao de cavalos e um deles, o seu melhor corcel, fosse v-
tima de estranha doena que eclipsou as quatro patas do animal, convocou Zoroastro para que interviesse, prometendo que, se fosse realizado o milagre,
abraaria a boa religio ordenada por Ahura-Mazda. O milagre aconteceu: as quatro patas do animal, uma a uma, foram ressurgindo. A promessa real
foi cumprida e a nova doutrina religiosa implantou-se por todo o reino de Balk.
No zoroastrismo o seu Adepto recebia a instruo sobre o caminho do cu, ou seja, a promessa de ser recompensado com uma longa vida no
reino de Ahura-Masda, caso tivesse levado uma vida de bem, pois seria nesse reino que o Ser Supremo sancionaria o bem e o mal, conforme preco-
niza o Gathas. Esse caminho do cu curiosamente haveria de passar pela Ponte de Cinvat ou Ponte da Deciso, objeto cultuado pela antiga religio
persa que ele, Zoroastro, principiara a reformular, muito embora ele prprio devesse passar por essa ponte, conforme declarava a Ahura-Masda:
Aqueles que eu quero acompanhar perante vs para o louvor, eu os precederei a todos na ponte de Cinvat.
Segundo o Gathas, os justos se deliciariam com as beatitudes na casa de VOHU MANAH, enquanto que os injustos se reuniriam com ARISTA
MANAH, o Prncipe da Mentira, de quem se tornariam escravos.
Em sntese, a religio de Zoroastro ou a boa religio, como lhe havia sido revelada, no contemplava a misericrdia, mas sim e eminentemente a
justia em vez do perdo, pregando aos seus discpulos estas duas mximas: Tudo de melhor que eu desejo para mim mesmo, tambm desejo a vocs e
Aqueles que se dedicam a oprimir, conhecero, por sua vez, a opresso.
Antes dessa poca, os persas faziam suas adoraes a cu aberto, resistindo a faz-las em templos cobertos, posteriormente adotados por outros
povos. Argumentavam que o Ser Imaterial no podia ser confinado em edifcios construdos pelas mos do homem, e portanto, no era possvel restringir
a sublime amplido celeste num templo fechado para ser consagrado Divindade Suprema. Seus locais de sacrifcio estavam expostos ao ar livre de mon-
tanhas, conformados principalmente por crculos irregulares de pedras lavradas, como aqueles das naes do Norte da Europa. Abominavam imagens e
adoravam o Sol e o Fogo como smbolos da Divindade Onipresente.
Zoroastro foi bem sucedido ao persuadi-los a preservar a tradio do Fogo Sagrado, abrigando-o em torres, que eram construes circulares,
com uma cpula e um pequeno orifcio no topo para permitir a sada da fumaa, pois que, ardendo a cu aberto nas mais altas montanhas, estava sujeito
a ser apagado pelas chuvas torrenciais e ventos fortes. Nessas torres, essa Chama Sagrada onde a Divindade supostamente morava, estaria perpetua-
mente conservada e viva. E foi assim que a cpula da torre passou a simbolizar o Universo; e o Fogo Central nela constante, esplendorosamente instalado
e que a iluminava, passou a simbolizar o Sol, como grande luminria.
A partir da, Zoroastro comeou a reformular os Mistrios j existentes, e para dar maior efeito a esse desgnio, retirou-se para uma caverna circu-
lar nas montanhas de Bokhara, ornamentando-a com profusas decoraes simblicas e astronmicas, solenemente consagrando-as ao deus MITHRA,
ou, como ele de quando em quando denominava, a Divindade Invisvel, Aquele que se dizia nascido ou gerado de uma gruta ou caverna entalhada num
rochedo. Nessa caverna o Sol era simbolizado por uma pedra preciosa magnfica que, engastada num lustre, ocupava no teto azul-celeste uma disposio
destacada; ao seu redor espalhavam-se os planetas, enfeitados de ouro resplandecente; o Zodaco era ricamente entalhado em ouro lavrado, no qual as
Constelaes do Leo e do Touro, com um Sol e Lua emergindo de seu fundo e tambm em ouro trabalhado, tornavam o recinto da caverna particular-
mente belo.
As Quatro Idades do Mundo eram simbolizadas por globos de ouro, prata, bronze e ferro. Todo o conjunto se ornava com gemas e adereos de
ouro brilhante. Durante a celebrao dos Mistrios tudo isso era iluminado por um sem-nmero de luzeiros que refletiam mil diferentes cores e matizes,
transmitindo a viso encantada de um palcio celestial. No centro da caverna se encontrava uma fonte de gua cristalina, toda em mrmore,
destinada s ablues e purificaes cerimoniais. A caverna assim ornamentada, equipada e disposta, tornava-se o emblema de todo o
Universo, sustentado por trs pilares: o da Eternidade, o da Fecundidade e o da Autoridade; e os smbolos com os quais estava profusamente
decorada referiam-se a cada Elemento ou Princpio da Natureza.
Quando completados todos os preparativos iniciticos, Zaratustra ou Zoroastro propagava boatos de que tinha sido favorecido com uma viso ce-
lestial, recebida no cume da montanha
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, tendo dialogado face a face com o Ser Supremo AHURA-MAZDA , ento envolvido por um crculo brilhante e
em lnguas de fogo; que tambm a ele havia sido revelado o mtodo de adorao pura quele Ser Divino, mtodo esse que ele, Zoroastro, iria transmitir
somente queles que possuam virtudes bastantes para resistir s tentaes mundanas, desejassem devotar-se ao estudo da Filosofia e contemplao
pura, em suas obras, daquela Suprema Divindade.
A celebrao dos famosos rituais, que exaltaram ao mximo a figura de Zoroastro, era realizada no mais secreto recesso da caverna ou gruta sa-
grada.
E assim a sua fama espraiou-se por todo o mundo. Multides das mais distantes regies chegavam para ouvir suas prelees religiosas. E diz-se
at PITGORAS veio da Grcia para ser Iniciado por Zoroastro
70
. Suas doutrinas, no entanto, eram continuamente entrelaadas por alegorias e nenhu-
ma delas poderia ser entendida por aqueles que no tivessem qualificao inicitica; e essa sistemtica envolvia todas as cincias humanas e divinas.
AS INICIAES
Para preparar o candidato Iniciao efetuavam-se numerosas purificaes com gua, fogo e mel. Uns dizem que o Aspirante passava por 40 es-
pcies de provao, e outros falam em 80, que terminava aps 50 dias de abstinncia.
Essas intensas e prolongadas provas eram sofridas nos recessos escuros de uma caverna subterrnea, onde o cndida to era condenado ao siln-
cio perptuo, totalmente segregado da sociedade, confinado entre paredes nuas e frias, faminto e aoitado, ao que se seguia um extremo, refinado e bru-
tal grau de tortura
71
.
A inflexvel e irredutvel severidade desse horrendo noviciado levava morte, em alguns casos; em outros, o candidato acabava sendo vtima de
perturbaes mentais (loucura parcial); porm, aos poucos Novios cujos nervos de ao lhes permitiam alar ao estgio superior e quando lhes estava re-
servado o mais extremado sofrimento que deveriam suportar at plenitude da provao, tributavam-se as mais altas honrarias e dignidades, recebendo
um grau de venerao igual quele deferido s divindades celestiais.
Mas o infelicitado Novio, cuja to maltratada coragem o obrigava a desistir ou renunciar a Iniciao por causa do excesso de cansao ou tortura,
era rejeitado sob as mais rudes imprecaes de infmia e desonra, julgado profano para sempre e excludo imediatamente do ritual inicitico.
J o Aspirante bem-sucedido, ao concluir sua Iniciao, era trazido para fora da caverna, onde havia entrado frente de uma ponta de espada
em seu peito esquerdo e desnudado, pela qual era levemente ferido, sendo ento ritualmente preparado para a cerimnia que se aproximava. Co-
roava-se com ramos e folhas de oliveira, ungido com blsamo de benjoim e armado com uma couraa mgica por seu Guia e representante de SIMORG
um monstruoso animal mitolgico
72
e importante agente no maquinrio da Mitologia Persa, provido de talisms com os quais podia prontamente com-
bater todos os monstros horrveis que surgiam para impedir o cerimonial inicitico.
Introduzido no espao mais interior da caverna onde fora purificado com gua e fogo, era, ento, colocado nos Sete
Degraus da Iniciao
73
. Do precipcio onde o Novio estava colocado, ele observava um perigoso e profundo fosso: um simples passo em falso poderia
precipit-lo para o reino da misria terrvel o emblema daquelas regies infernais, atravs das quais ele acabara de passar.
Desfilando em crculos pelos labirintos da caverna escura, ele era rapidamente despertado de seu estado de inconscincia para ver o fogo
sagrado, em lampejos intercalados para iluminar a sua caminhada no recinto em que se encontrava; algumas vezes, exploses desse fogo ocorriam sob
seus ps; em outras, descendo sobre sua cabea sob a forma fantasmagrica de uma chama branca.
Diante da surpresa de que era tomado, seu terror excitava-se pelos ranger de dentes de bestas vorazes, rugir de lees, uivar de alcatias de lobos
e ladrar ameaador de matilhas de ces selvagens
74
.
Envolvido pela mais completa escurido, tornava-se intil qualquer esforo em busca de segurana, mas o seu Guia que mantinha um silncio
sepulcral o impelia rapidamente para a frente, na direo do quarto de onde provinham sons apavorantes; ao abrir-se repentinamente uma porta, o No-
vio encontrava-se num covil de animais selvagens, fracamente iluminado por uma pequena lamparina. Seu Guia exortava-o a que tivesse coragem, quan-
do ento era imediatamente atacado, num enorme rebulio, por figuras aparentando lees, tigres, lobos e outros animais fabulosos; ces selvagens, como
que nascendo da terra, ladrando impressionantemente, tentavam do-dominar e amedrontar o candidato
75
; como, de qualquer modo, sua coragem e
bravura no podiam sustar esses entes figurados naquela luta desigual, ele raramente escapava ileso. Passando apressado dessa caverna para outra, esta-
va uma vez mais envolvido pela escurido. Sucedia-se um silncio mortal e se obrigava o candidato a prosseguir com passos firmes, meditando sobre o pe-
rigo de que acabara de escapar e sob as dores agudas que havia sentido. Sua ateno, entretanto, rapidamente se desviava dessas reflexes e se dirigia
para outros perigos que surgiam ameaadores.
Um rudo indefinido, surdo e prolongado, era ouvido num espao distante das cavernas e que se tornava cada vez mais alto medida que o Novi-
o ia avanando naquela direo, at sentir o ribombar de um trovo
76
capaz de despedaar as rochas e estourar as cavernas ao seu redor
77
; e ainda
os vvidos e continuados lampejos de luz cintilando tremulamente, lnguas de fogo, sombras visveis de espritos vingadores
78
que, desagradavelmente car-
rancudos, apareciam para intimidar com destruio sumria aqueles audaciosos intrusos na privacidade de suas sagradas manses
79
.
Cenas como essas eram multiplicadas com crescente horror e at que a estrutura psicofsica do Aspirante no mais pudesse suportar a prova; e
quando ele estava prestes a sucumbir aos efeitos da exausto e da agonia mental, transportava-se para um outro recinto a fim de que recuperasse suas
foras. Aqui, uma iluminao intensa era repentinamente introduzida; sua sensibilidade to agredida era suavizada por meio de melodiosos sons musicais
80
e exalao de perfumes delicados.
Sentado em repouso nesse recinto, o Guia explicava ao Novio os elementos daqueles inestimveis segredos, que seriam mais desvelados quando
a Iniciao estivesse completamente terminada.
Tendo o candidato se pronunciado disposto a continuar as cerimnias remanescentes, era dado um sinal por seu Guia, quando ento trs sacerdo-
tes imediatamente se apresentavam: um deles, aps longa e solene pausa, arremessava uma serpente viva
81
no peito do Novio como smbolo regenera-
dor. Aberta uma porta secreta, de l saltavam frente criaturas horrveis, chorando, lamentando e desesperando, infligindo ao Aspirante novos e indescri-
tveis quadros de horror. Ele volvia seus olhos com movimentos imprecisos tentando encontrar de onde aqueles fantasmas surgiam para provocar, sob a-
queles olhares e formas apavorantes, os mais pervertidos tormentos do Inferno.
Saindo dessa cena de angstia, o candidato transitava por outras cavernas e passagens escuras, at que, tendo sido bem sucedido na travessia
difcil do labirinto, dava seis largos saltos que uniam intricadas galerias, cada uma se abrindo por uma estreita porta de pedra para exibir a cena de al-
guma aventura perigosa; ento, pelo exerccio da coragem e da perseverana, tendo sido triunfalmente conduzido atravs dessas enormes dificuldades e
perigos, abriam-se-lhe as portas do stimo salto
82
, ou sacelo (veja nota de rodap n 59), onde a Escurido se transformava em Luz.
Estava inteiramente concluda a admisso do Novio na espaosa e imponente caverna, j descrita e chamada A Sagrada Caverna de ELYSIUM,
onde, a mesmo, ele era recebido com congratulaes e instado a manter em segredo os sagrados Rituais de MITRA, quando ento lhe eram passadas
as palavras sagradas, entre as quais a inefvel TETRACTYS, ou Nome de Deus, era a principal.
INVESTIDURA E INSTRUO
Uma vez transpostos todos os riscos e perigos da Iniciao, o Nefito era investido e instrudo.
Entregava-se a ele uma abundncia de talisms e amuletos, instruindo-se no segredo da manipulao deles, que estava destinada a afastar todos
os perigos, tanto pessoa dele, Iniciado, como de sua propriedade. Cada emblema havia sido revelado pela luz divina na vastido da caverna e que
cada incidente que o atordoou durante o cansativo ritual de Iniciao estava agora convertido num propsito moral, explicado atravs de
uma srie de investigaes calculadas para inspirar uma dedicao irredutvel, extensiva aos Mistrios e s pessoas que os administravam.
Ao Iniciado ensinava-se que a influncia benigna da Luz Superior derivava da Iniciao e iluminava a mente com alguns raios emanados da Di-
vindade, incutindo nele um grau de conhecimento que seria inatingvel sem a distino desse privilgio. Ensinava-lhe a adorar o Fogo Sagrado ddiva
da Divindade como sendo o da sua morada visvel
83
. Aprendia quanto existncia de dois igualmente poderosos e independentes Princpios: um, essen-
cialmente BOM; o outro, lamentavelmente MAU (veja nota de rodap n 73).
A Cosmogonia era esta: AHURA-MASDA era a Suprema Origem da Luz e da Verdade, que criou o Mundo em seis diferentes etapas. Primeiro, ele
fez os cus; segundo, as guas; terceiro, a terra; quarto, as rvores e as plantas; quinto, os animais; e sexto, o homem
84
, ou seja, um ser composto de
um homem e de um touro.
Esse recm-criado ser viveu num estado de pureza e felicidade por muitos anos, mas acabou envenenado pela sbita tentao de uma serpente
maligna, chamada AHRIMAN, que habitava as regies das Trevas e era a autora do MAL
85
; sua ascendncia sobre a Terra acabou se tornando numa fora
to poderosa que pde rebelar-se contra o Criador AHURA-MASDA, por quem, a final, foi subjugada.
Para neutralizar o efeito dessa renncia Virtude, foi criado um outro Ser Puro, composto, como o anterior, de um homem e de um touro, cha-
mado TASCHTER ou MITRA, inteiramente relacionado ao SOL, por cuja interveno e com assistncia de trs associados, veio a Terra a ser purificada
por um dilvio causado por prodigiosos chuveiros em que cada gota era do tamanho da cabea de um boi, e por isso a purificao pde ser generaliza-
da.
Um vento tempestuoso, que por trs dias consecutivos soprou da mesma direo, secou as guas da face da terra; e quando elas estavam com-
pletamente baixas, foi introduzido um novo germe, do qual se irradiaram as raas da Humanidade.
Tambm se ensinava ao Nefito a seguinte Teogonia: AHURA-MASDA criou seis deuses benevolentes, e AHRIMAN formou o mesmo nmero de
espritos malignos, que estavam sempre engajados numa luta violenta pela supremacia. Os espritos diablicos a final conquistaram o domnio sobre a me-
tade do ano, com o que as divindades celestiais se conformaram e explicava a razo da alterao e da variedade das estaes anuais; desse modo, o ano
era governado sucessivamente pelo Vero e pelo Inverno, ou pela Luz e pelas Trevas
86
. Os seis meses de Vero e os outros seis de Inverno sinaliza-
vam os 12 meses do Zodaco, que estava simbolizado no teto da caverna mitraica. O smbolo misterioso que servira para tipificar esses perptuos Opostos
de Superioridade era duas serpentes disputando um ovo
87
- os dois primeiros simbolizando os poderes da Luz e das Trevas, e o ltimo, o Mun-
do
88
.
Sobre essas lendas foram enxertadas muitas fices extravagantes.
Os arquimagos relatavam aos Iniciados como o Mundo havia sido criado e destrudo sete vezes; como SIMORG, o onisciente animal fabuloso e
que havia sobrevivido a todas essas revolues, contou a um heri, chamado CAHERMAN, que os primeiros habitantes da Terra foram os PERIS, ou se-
res bons, e os DEVAS, ou seres maus, que travaram a luta eterna uns contra os outros, e que foram os primeiros os mais poderosos e que suas com-
peties pela supremacia foram algumas vezes to violentas que a Natureza entrou em convulso e cobriu de assombro o Universo. Ento ocorreu uma
avaliao muito sria do valor e da bravura de certos heris persas que haviam desagregado encantamentos, vencido gigantes e destrudo o poder dos
Mgicos e convertido certos duendes vontade desses heris.
E no arremate da cerimnia inicitica era passado, como ltimo ato, o grande segredo: Ao Iniciado ensinava-se aquela importante profecia de
Zoroastro, por ele aprendida em suas viagens atravs da ndia e do Egito, ou seja, que, no futuro, um grande profeta apareceria no mundo por ser este o
desejo de todos os povos; que seria o filho de uma Virgem pura e que o seu nascimento seria anunciado ao mundo atravs de uma nova e brilhante estre-
la nos Cus, verberando com resplandecncia celestial do meio-dia.
Ao Nefito ordenava-se que seguisse estritamente na direo desse nascimento sobrenatural e at que encontrasse o beb, ao qual deveria ofe-
recer ricos presentes e sacrifcios, prostrando-se ante Ele com devota humildade por ser o Criador do Mundo.
Seo III
Resumo histrico das Iniciaes Gregas
Foram os Mistrios que deram o trao distintivo ao sistema religioso praticado entre os gregos.
Nas instituies politestas os deuses eram adorados abertamente atravs de oraes e sacrifcios; e a esses rituais admitiam-se, sem qualquer
distino, todas as classes populares, porque formavam o caminho que levava os mortais a cumprir suas obrigaes para com os deuses imortais.
Porm, as cerimnias mais elevadas da religio estavam revestidas de uma natureza to sublime que, por isso mesmo, no eram expostas aos o-
lhares do pblico, mas apenas ante uma poro muito reservada da comunidade e da qual no participavam os estrangeiros (no podiam ser Iniciados) e
que havia assumido o solene juramento de manter inviolveis os segredos e no permitir que fossem divulgados ao mundo.
Esses rituais eram conhecidos sob o alto e significativo nome de OS MISTRIOS
89
, que foram subdivididos pelo fato de correr-se o risco de serem pe-
netrados os segredos inefveis, j que estes estavam confiados a um seleto grupo de Iniciados, cuja violao sujeitava o perjuro a penalidades do mais e-
levado carter sanguinrio
90
.
Os Mistrios Menores no eram inefveis e a eles o povo, em geral, tinha acesso; contudo, constituam-se no pressuposto necessrio para acesso
aos Maiores, s alcanveis pela via da Iniciao, e assim mesmo, aps uma preparao seletiva e muito austera.
Na Grcia os Mistrios eram celebrados em forma de culto a vrios deuses, embora o cerimonial fosse invarivel nos seus pontos essenciais.
Os Mistrios de Elusis, tambm chamados Mistrios Eleusinos, eram celebrados pelos atenienses a cada 5 anos em Elusis
91
, uma cidade da
tica (regio onde se encontra Atenas), sendo posteriormente transladados para Roma pelo Imperador Adriano.
Os Mistrios de Baco ou Mistrios de Dioniso
92
, aqueles e estes tambm denominados, respectivamente, Mistrios Bquicos e Mistrios Dio-
nisacos, eram igualmente celebrados e consistiam na Lena e na Dionisaca; a primeira, traduzida como um festival do vinho e preparatria para a se-
gunda, a Dionisaca.
Por fim, entre os mais importantes, os Mistrios de Orfeu ou Mistrios rficos, estreitamente ligados ao grau de Mestre-Maom.
Em Atenas a Lena e a Dionisaca gozavam da maior popularidade, sempre investidas com um grau proporcional de esplendor e magnificncia.
Sob o acalentado cuidado de PITGORAS e PLATO, os Mistrios foram grandemente aperfeioados. Os Mistrios mais antigos recebiam os ru-
dimentos daqueles conhecimentos que, posteriormente, seriam elevados ao mais alto nvel por ANAXIMANDRO
93
, de Mileto, cuja Iniciao ocorreu em Si-
don (cidade da Fencia, na antiga sia Menor) e ficou to impressionado com essa ideia, isto , de que algo mais era pretendido transmitir atravs daquela
solenidade do que os sacerdotes seriam capazes de explicar; por isso, tomou a deliberao de devotar a sua vida a essa descoberta.
Viajou por todo o mundo cultural da poca e foi Iniciado em todos os Mistrios das naes por onde passou. Analisou as peculiaridades de cada
sistema, levando a que pudesse descobrir a fonte da Verdade; por essa razo, ele aperfeioou os Mistrios, aproximando-os o mais possvel da cincia ori-
ginal ao alcance de um filsofo idlatra, despido do dom da revelao.
Algumas partes desse esquema de Anaximandro teriam sido inexplicveis, a partir do fato de sua Iniciao ter sido judaica e das instrues nas
coisas sagradas terem sido a ele passadas pelo Profeta Ezequiel.
REQUISITOS DO ASPIRANTE INICIAO
a) segundo ANAXIMANDRO :
Ele impunha aos seus Aspirantes uma provao de 5 anos de abstinncia e silncio, sendo este ltimo havido por ele como a virtude incontestvel da Sa-
bedoria. Esse interstcio, chamado silncio quinquenal, destinava-se levar os candidatos a abstrair em suas mentes as coisas sensveis, tornando-se assim
mais capazes para refletir sobre a natureza da divindade atravs de um pensamento puro e indiviso
94
. Esse noviciado ou perodo de experincia envolvia
muitas e importantes particularidades, que fogem ao mbito deste Fascculo e grau manico.
O candidato era rejeitado se fosse havido como passional ou intemperante, controvertido ou ambicioso pelas coisas e distines mundanas
95
.
b) segundo PITGORAS :
Esse filsofo fazia um questionamento particular a respeito da espcie de sociedade na qual o Aspirante tinha levado a sua vida. Testava a firme-
za, a coragem e a constncia do candidato infligindo ferimentos corporais por meio de um instrumento de ferro em brasa, ou com a ponta de
uma espada, ou outra arma aguada.
Se ele suportasse esses tormentos sem render-se, e testado em outros itens destacados para a admisso, estava, ento, autorizado a ingressar no
primeiro grau dos Mistrios, de acordo com o sistema de Iniciao grega
96
; e assim, como um exotrico, era enquadrado entre os ACOUSMATICI. Aps o
lapso de outro considervel espao de tempo, era admitido ao segundo grau, tornando-se MATHEMATICI; na sequncia, quando fosse investido no ter-
ceiro grau, seus trajes passavam a ser brancos, por ser essa cor o emblema da pureza, e tambm empossado em todos os privilgios s atribudos aos e-
sotricos
97
.
Essa investidura no terceiro grau processava-se no interior de um certo compartimento, ou no sanctus santorum do prprio filsofo. Da em di-
ante recebia o ttulo de Pitagrico porque havia sido perfeitamente Iniciado nos Mistrios de Pitgoras e plenamente instrudo nos difceis Princpios de
sua Filosofia
98
.
Em suas LEITURAS, Pitgoras definia o seu sistema, o mtodo verdadeiro (segundo ele) para obter o conhecimento das leis divinas e humanas;
e isso por meio de uma meditao sobre a morte, pela purificao das imperfeies da alma, pela descoberta da Verdade e pela prtica da Virtude; e as-
sim, imitando as perfeies de Deus, dentro das possibilidades de um ser humano.
Ensinava a Matemtica como um meio atravs do qual podia ser provada a existncia de Deus, resultante da Razo e da observao, o que have-
ria de transmitir felicidade ao homem.
Gramtica, Retrica e Lgica eram ensinadas com o objetivo de cultivar e incrementar a razo humana; e a Aritmtica, porque era concebida co-
mo o ltimo auxlio do homem, j que ela consistia na Cincia dos Nmeros
99
.
Afirmava que a Criao do Mundo era o efeito da harmonia dos nmeros que existiam nas regies sagradas antes de o Mundo ter comeado. Os
nmeros mpares ele os agregava aos deuses celestiais, e por isso todos os sacrifcios dirigidos queles seres precisavam ser base de nmeros mpares.
Os nmeros pares destinavam-se s divindades infernais
100
.
A Geometria, a Astronomia e a Msica foram introduzidas na sua filosofia porque, na concepo dele, o homem est dominado por essas Cincias
para um conhecimento do que realmente bom e til.
Considerava que o seu Sistema seria infrutfero se no contribusse para expulsar o vcio e introduzir a Virtude na conscincia; pensava que as du-
as melhores coisas para o homem estavam nas virtudes terica e prtica, isto , falar a verdade e tributar benefcios aos seus semelhantes.
Os vrios valores aos quais ele reduziu essas virtudes foram o silncio, a temperana, a coragem, a prudncia e a justia
101
. Prosseguia ensinando
a presena da Divindade, a imortalidade da alma e a necessidade de santidade pessoal para qualificar o homem admisso na sociedade dos deuses; ex-
primia a sua opinio de que nenhum homem podia ter-se na conta de feliz ou miservel at o dia de sua morte, porque, ainda em seus mais nobres mo-
mentos, ele no seria capaz de prever o futuro, ou adivinhar hoje quais males lhe adviro amanh.
Ensinava que o homem dotado de oito instrumentos de conhecimento, passveis de serem aplicados utilmente a qualquer propsito, simblico ou
no, e que eram o sentido, afantasia, a Arte, a opinio, a prudncia, a cincia, a sabedoria e a inteligncia
102
.
Organizava suas reunies na direo Leste-Oeste porque dizia o movimento comeava no Leste, ou lado direito do mundo, e se dirigia para
Oeste, ou lado esquerdo.
Em sntese, ainda que sua Instituio Inicitica fosse o mais perfeito sistema jamais praticado entre idlatras, ainda quando tenha se empenhado
para introduzir o Santo dos Santos e comeado a especular sobre o conhecimento de Deus, ele acabou se emaranhando em noes at infantis e conje-
turas inteis, ao invs de desfrutar dos brilhantes raios de luz da divina Verdade, que teve, pela sua inteligncia incomum, a possibilidade de atingir.
c) segundo PLATO :
Foi esse filsofo profundamente versado em todos os Mistrios espalhados no mundo antigo, os quais ele acreditava fossem capazes de restaurar a alma
sua pureza primitiva (a respeito, leia-se o Fdon).
Adotou em seu sistema inicitico a diviso dele em trs graus porque trs era um nmero mstico, dedicado s divindades celestiais. Esses graus
eram progressivos e para cada um deles o cerimonial atendia a tradio grega.
Nenhum Aspirante era admitido a esses Mistrios sem antes passar por um estgio de estudo e privaes, durante o qual ele ficava sujeito a Pas-
tos, sendo colocado num poo ou reservatrio por um perodo especfico, como meio de regenerao
103
.
O primeiro grau chamava-se Matemtico, envolvendo Aritmtica, Geometria, Msica e Astronomia; a instruo do segundo grau estava restrita
Fsica; e o terceiro grau, no qual a fronte do Aspirante era circulada por uma coroa ou tiara para faz-lo recordar que havia agora recebido uma ddiva i-
nestimvel e um dom superior, e mais o poder de instruir outros Aspirantes, embora restrito Teologia.
Suas doutrinas abarcavam questionamentos sobre a natureza de Deus, a Criao e a Destruio do Mundo (Dilvio).
Sua opinio sobre a natureza divina era a de que ela continha trs hipstases
104
sob o termo TA GATHON: Bondade, Sabedoria e Esprito;
a segunda, emanada da primeira; e a terceira, emanada das duas.
Mas ele ensinava que todos os homens bons, aps a morte, tornavam-se demnios, e portanto, eram credores de adorao; que o Governador
do Mundo havia subordinado todas as coisas sua superintendncia; e que eles, os demnios, eram os mediadores autorizados entre os deuses e os ho-
mens e dispunham de autorizao para transportar sacrifcios e splicas da Terra para o Cu, e tambm bnos e recompensas do Cu para a Terra.
Pregava que Deus criou o Mundo, mas, como este no podia ter sido formado do nada, os materiais deveriam ter vindo de algo preexistente.
Acreditava que o Universo estava condenado a ser destrudo pelo fogo (leia-se, a respeito, o Timeo). Preservou em seu sistema inicitico a tradi-
o dos primeiros seres criados no Paraso; como eles conviveram com os anjos no estado natural e nus; como a terra produziu espontaneamente os seus
frutos para prover com alimentos aqueles favoritos celestes; como eles
consumiram seu tempo em estado de inocncia e inofensiva simplicidade; e como, por fim, pelas sugestes de uma serpente, eles perderam a sua pure-
za, tornando-se envergonhados pela sua nudez, sendo lanados num mundo de tristeza, aflio e desespero
105
.
(Esses traos de autenticidade provam plenamente a fonte de onde os Mistrios geralmente procedem, porque, indubitavelmente, trazem sinais de
que a sua constituio est refletida nos ritos comemorativos, quando apontam para acontecimentos que tiveram lugar no comeo do mundo.)
Ensinava a histria do Dilvio e escreveu ostensivamente sobre esse assunto, escrito a que deu o nome de Atlnticos. Discorreu sobre a me-
tempsicose e doutrinou sobre a responsabilidade pessoal do homem.
Plato, como principal hierofante
106
dos Mistrios, representava o Demiurgo
107
, tendo conduzido sua vida sob retiro e celibato
108
para devotar-
se totalmente ao estudo e contemplao das coisas celestiais, e assim, tornar-se em mestre perfeito de cada cincia admitida pela sua Instituio, da
qual ele era o chefe com ranos de despotismo.
Seus oficiais superiores eram: DADUCHUS, o porta-Archote, CERYX, o porta-Herldica (brases), e o EPIBOMA, o atendente do Altar. Trs
outros oficiais representavam o Sol, a Lua e o planeta Mercrio; alm deles, havia quatro serventes para cuidar das divises menos importantes da cele-
brao dos Mistrios. Eram denominados EPIMELITOS.
Tambm em Plato o Aspirante haveria de ser possuidor de um carter de irreprochvel moralidade. Para um sistema inicitico que era reputado
de imaculada pureza, tinha-se como unanimemente rejeitado com acentuado desprezo um candidato que fosse julgado dissoluto, porque traria desgraa
Instituio, ficando assim passivo de ignomnia, de afronta infamante e alvo permanente de escrnio pblico.
Os testes probatrios eram severos e solenes. O extremamente detalhado exame coloquial do Aspirante havia sido institudo para cor-
roborar o testemunho dos outros que haviam sido exaustivamente procedidos; desse modo, todos os artifcios eram empregados para
diminuir, seno eliminar, a possibilidade de vir a ser bem sucedida uma eventual impostura destinada a elidir as investigaes do mis-
tagogo
109
quanto vida anterior, carter e conduta do candidato.
As Iniciaes
Eram precedidas de um festival pblico, e os Aspirantes, tanto homens como mulheres, eram cuidadosamente purificados em guas translcidas
de um crrego e ao longo de um sofrido e rigoroso perodo de 9 dias de preparao; ato contnuo, seguia-se o incio das cerimnias, com oraes e sacrif-
cios.
Durante a continuao desses rituais preliminares, os Novios eram exortados a abstrair suas atenes das coisas mundanas e concentrar inten-
samente seus pensamentos sobre as altas, supremas celebraes, que se executavam sob a inspeo constante dos deuses imortais, para uma unio e
comunho ntimas com quem agora estavam prontos a ser aceitos.
Os sacerdotes, ento, dedicavam-se, por meio de prece, ao pedido de uma graa divina. As cerimnias eram abertas pelo sacerdote-mor, que
perguntava publicamente: Quem digno de estar presente a esta cerimnia?, sendo ento respondido: Os homens bons, honestos e inocentes. E o
sacerdote ajuntava: Coisas santas so para pessoas consagradas, acrescentando em voz alta: Oremos! .
Agia, em seguida, de conformidade com as solicitaes do Guia dos candidatos para que estes conhecessem as divindades benevolentes.
A partir da era oferecido o sacrifcio com as formalidades de costume, sendo a vtima condimentada com sal porque esse tempero simbolizava a
hospitalidade e a amizade.
O sacerdote pressagiava, pelas entranhas do animal sacrificado, se os deuses estavam propcios a ouvir suas oraes. Se a resposta fosse positiva,
os rituais de Iniciao eram imediatamente executados.
Eplogo deste Captulo Terceiro
Os Mistrios propriamente ditos sejam eles bramnicos, egpcios, mitraicos, gregos, etc. , pela marcante intimidade que eles tm com outros
graus manicos, notadamente o de Mestre, havero de escapar, como escapam, ao grau inicial de nossa Ordem.
Precisamente por esse motivo, tais Mistrios e a Iniciao neles (como o caso dos Dionisacos e rficos, para exemplificar) esto reservados
para comear no grau de Companheiro e concluir no de Mestre.
No obstante, a futura compreenso e assimilao deles, para os devidos estudos e aplicaes manico-iniciticas, estar da dependncia, direta
e imediata, seja em maior ou menor nvel, desses mesmos requisitos sobre toda a extensa matria de que se ocupou este Ttulo I e do que se ocupar o
seguinte Ttulo II, que vale como pequena, muito pequena e estreita ouverture maior intimidade com tais Mistrios.
TTULO II
INTRODUO GERAL AOS MISTRIOS ANTIGOS
Captulo Primeiro
SUMRIA e ACDIA
De um modo geral, quando se fala em mitologia assrio-babilnica, est-se referindo a toda a mitologia dos povos mesopotmicos, conquanto
haja variadas distines e particularidades religiosas para cada um deles, s vezes temporalmente muito distantes entre si. Mesmo assim, tem-se traado
uma espcie de linha mediana em relao s ideias religiosas ento vigorantes.
o caso da mitologia sumria, que exige seja separada da assrio-babilnica porque os seus mitos so consideravelmente anteriores a estes, e se
constituem na fonte, na origem destes ltimos.
A primeira civilizao que se implantou na Mesopotmia (rea compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, em cuja confluncia, no Golfo Prsico,
foi localizada a cidade bblica de UR, ptria de Abraho, atualmente englobada pelo Iraque e o Kuwait) foi sumria, cujo povo de origem e de etnia des-
conhecidas, embora se tenha a certeza de que no era semita. Localizou-se numa regio compreendida, de um lado, numa extenso que ia dos Montes
Taurus (Turquia atual) ao Golfo Prsico, e de outro, do Mediterrneo aos Montes Zagros (Ir atual), mas concentrando-se na chamada Baixa Caldia,
junto ao mar prsico (hoje Kuwait), na regio conhecida pelo nome de Sumer, que deu origem Sumria.
Mais tarde, vieram os semitas ou acdios a invadir a Mesopotmia, estabelecendo-se na regio de Acade, que viria a ser posteriormente a conhe-
cida Babilnia, situada ao norte de Sumer. Esse fato teve a virtude de permitir o contato constante entre sumrios e semitas, da resultando, por bvio,
uma fuso de hbitos e tradies dos dois povos, o que teve a virtude de levar converso de uma nica civilizao, denominada histrica e generaliza-
damente como civilizao sumria, em cujo mago tambm se encontram fundidas e unificadas as respectivas mitologias, de sorte que no mais poss-
vel traar uma linha divisria entre a mitologia da Acdia e a da Sumria, tamanha a identidade entre elas duas.
Deixando margem de consideraes outros aspectos histricos, sociais e culturais desses to antigos povos, importa considerar os traos mais
gerais de sua religiosidade, seus templos e seu culto.
No legaram humanidade quaisquer escritos sobre aquela e estes, e tudo que se sabe a respeito foi extrado de textos esparsos, variados, e at
mesmo contraditrios, levando a erros de interpretao e extrapolaes comprometedoras. Em que pese a isto, so as nicas fontes disponveis para esse
vetor de conhecimento.
Dentro dos escassos e mais srios argumentos em particular aqueles advindos da Arqueologia toma-se cincia de que a cosmogonia sumria
admitia um mar primordial, sem comeo e nem fim, criador de ANKY a Montanha Csmica que se compunha da Terra e do Cu e permaneciam
misturados at que, por causa dos ventos e das nuvens, ficaram separados, instalando-se entre os dois um espao vazio.
Na verdade, essa cosmogonia derivada de uma teogonia onde o mar primordial seria a deusa-me NAMMU, que teria gerado AN, o Cu, e
KY, a Terra. Esta posteriormente passara a ser NIN-HURSAG, a Dama da Montanha Csmica. Da unio entre AN e KY teria nascido INANA, a Deusa
do Amor, e ENLIL, o Deus do Ar. Este ltimo acabou sendo o pomo da discrdia entre os pais, que teriam se separado. Unindo-se, depois, prpria
me KY, geraram todo o Universo, as plantas e rvores, os animais e os homens.
Suspeitavelmente acabaram se unindo o mar primordial (NAMMU) e a Terra (KY) para formar uma s divindade com o nome de ENKI, que rei-
nava num lenol de gua subterrnea onde a Terra flutuava. E assim ficava completa a trade cosmognica Cu, Terra e Ar.
Mas o panteo sumrio no estava restrito a esses quatro deuses que o encimavam; ao contrrio, era um panteo composto por esses e outros
tantos deuses, cujas classes e funes eram muito diversificadas. Havia sete que ditavam os destinos dos humanos e mais outros cinquenta que formavam
uma espcie de nobreza divina e sempre se reuniam em assembleias. Abaixo de todos esses que vinham outros com a funo de servos, ou, se f-
meas, estavam destinadas ao papel de suas esposas ou concubinas. Todos eles, contudo, gerados por AN (o Cu).
A grande deusa da fertilidade e da fecundidade, alm de ser do amor, era INANA, que admitia outros nomes. Mais tarde, na Babilnia, ela ainda
ser a mesma deusa, mas com o nome de ISHTAR. Na Sumria era vista e cultuada mais como a deusa da fertilidade da terra, ao passo que, nos demais
pases da Mesopotmia, como deusa da fecundidade feminina, tanto que era simbolizada nua amamentando os filhos. Mas tambm deusa-guerreira. O
grande deus da fertilidade era ABU (pai da vegetao), que no panteo assrio-babilnio iria receber, respectivamente, os nomes de Tamuz e Nin-
Urta. Era simbolizado com barbas, cabelos ao vento, sempre de p sobre um touro ou sobre uma montanha e junto a ele uma guia, simbolizando a ferti-
lidade.
Curiosamente, eram deuses que padeciam das mesmas carncias humanas, pois se alimentavam, bebiam e se embriagavam como os homens, a-
lm de padecerem doenas, serem vtimas de paixes e cimes, se lanavam em combates, feriam, matavam e at morriam, dando origem a uma rica mi-
tologia lendria onde se vislumbra uma embrionria preocupao com o mistrio do Universo e da prpria vida nele existente.
Seja como for, todas as divindades, em ltima anlise, estavam mais ou menos ligadas fertilidade e fecundidade. Alguns deuses acompanha-
vam o ciclo da vida vegetal, morrendo no Inverno para ressuscitar na Primavera.
Os seus Templos eram geralmente retangulares onde exibiam uma torre (zigurat) de vrios andares, com terraos justapostos aos quais se a-
cessava atravs de rampas externas. No cimo da torre estava uma capela.
ENLIL acabou se tornando o deus mais importante, chamado de Pai dos Deuses e Rei dos Cus e da Terra. Era bom e incontestado Senhor
do Universo, eis que a si tocava a responsabilidade pelo alvorecer e o crescimento das plantas, alm de ser o inventor da ferramentaria agrcola, dis-
tribuidor da prosperidade, senhor dos destinos, das tempestades e at da morte, porque estas eram as leis da Natureza que ele devia aplicar.
Mas, como j dito, era tambm vtima das mesmas paixes das quais sofrem os homens.
Conta uma lenda a seu respeito que no seu santurio, em NIPPUR ( margem do rio Eufrates, a meio caminho entre Bagd e o Golfo Prsico),
tambm vivia a deusa NUBAR-SHEGUNU, cuja filha, NIN-LIL, era particularmente linda e fora por ela instruda a seduzir aquele deus e com ele casar.
Deu certo. Porm, no momento de ser realizado o congresso sexual ela se recusou, deixando o jovem deus ardendo de desejo; espargindo fria, regressou
cidade, convocou seu conselheiro NUSKU, a quem exps o caso. Nusku, ento, providenciou uma barca, nela reunindo o divino casal apaixonado para
um cruzeiro pelo rio Eufrates. Na viagem, porm, Nin-Lil voltou a se recusar consumao sexual. Enlil, desesperado, estuprou-a.
Tendo chegado esse fato ao conhecimento dos outros 50 notveis deuses, estes no se conformaram com o divino crime, mesmo em se tratando
do Pai dos Deuses, vindo a ser convocados os outros sete deuses que decidiam os destinos e que se apoderaram de Enlil, chamando-o de ser imoral
e ordenando que sasse da cidade. Saiu e foi banido para os Infernos, levando consigo o horror pelo fato de seu filho concebido com Nin-Lil naquele es-
tupro, a quem ele entregaria o governo de NANA (a Lua), quando nascesse, j no mais poderia emergir das Trevas para subir ao alto dos Cus. Mas
Nin-Lil, para provar o seu amor, resolveu acompanhar Enlil aos Infernos. No caminho, Enlil se transformou por trs vezes em outras divindades que
eram os guardies das Trevas; e em cada vez possuiu e fecundou Nin-Lil, que gerou trs crianas, que se tornaram divindades infernais, no entanto,
permitiram que seu irmo Nana subisse superfcie da Terra para alar-se aos Cus e ocupar o trono lunar, de onde pde conseguir que os pais fossem
libertados dos Infernos e voltassem para o seu palcio, em Nippur.
Em outro mito relacionado ao mesmo Enlil tem-se a oportunidade de apreciar o quanto os sumrios se preocupavam com a subordinao dos
homens aos deuses, e, em especial, ao Pai dos Deuses, eis que, no fosse a sua interveno, nada existiria no mundo.
Aquele outro deus ENKI, embora fosse brio contumaz tambm se revelara amigo dos homens, e reinava sobre as guas doces subterr-
neas, tanto que fora ele quem instrura ZIUZUDRA ou UTA-NAPISHTIM o No Sumrio sobre como deveria salvar-se e famlia do dilvio, que ha-
via sido decretado pelos deuses.
Era amigo de Enlil e os dois governavam o Universo, tocando a este a orientao e a Enki a execuo de tudo que tivesse sido orientado. J
aqui se entrev uma primeira diviso do trabalho...
Em que pese a essa amizade entre esse deus e os homens, assim no se passava com as outras divindades, cujas relaes eram do tipo senhor-
escravo, malgrado as intervenes conciliatrias de Enki.
Sobre como e por que foi criado o homem, tambm um outro mito lendrio envolve Enlil no cenrio.
Conta-se que os deuses, quando concluram a criao do Universo, deram-se conta de ter cometido uma falha, pois estavam obrigados a trabalhar
para sobreviver, e isso era muito cansativo. Vieram, ento, as constantes lamentaes e, a final, a sublevao contra Enlil. Este, ameaado em seu pr-
prio palcio que estava sitiado pela multido enfurecida por aqueles deuses rebeldes , convocou os 50 Grandes Deuses para evitar a conjura, momen-
to em que lhe acudiu uma ideia genial, prpria da sua condio de Pai dos Deuses: com argila e gua seria possvel criar um ser capaz de subs-
tituir os deuses nas pesadas tarefas do dia-a-dia.
Como a ideia fosse aprovada com grande regozijo e banquetes festivos e mais a exaltao que dominara os deuses rebeldes, coube a Enki, ami-
go de Enlil, unir-se deusa NIN-HURSAG para criar o homem.
Entretanto, como as libaes alcolicas haviam sido exageradas, aqueles dois deuses encarregados da procriao acabaram embriagados, e
por isso os primeiros seres nasceram anormais, imprestveis para qualquer funo, ou seja, as fmeas eram estreis e os machos assexuados. Nenhum
deles continuou vivo!
Esse fato levou a que aqueles mesmos deuses voltassem a se insurgir contra Enlil. Mas Enki, percebendo a gravidade, recuperou a sobriedade
e passou a ensinar a Nin-Hursag e ao harm das deusas-mes no que consistia a arte de fabricar homens, quando e a partir de ento veio o ser huma-
no a ser criado, o que levou os deuses revolucionrios a ficar contentes e tranquilos.
Mas o problema, embora resolvido, comeou a se agravar pela proliferao exorbitante dos nascimentos, gerando tal balbrdia que, alm de no
deixar que os deuses dormissem sossegados, acabou contaminando todo o universo. E a eles no aguentaram mais: reuniram-se, debateram o problema
e decidiram acabar com a humanidade, para isto decretando o Dilvio.
Ocorre que Enki, amigo dos homens, era um deus inimigo das destruies, e por isso, sendo ele o criador da raa humana, no podia con-
cordar com o seu extermnio; mas, ao mesmo tempo, precisava encontrar um meio que evitasse uma crise divina que acabasse obrigando criao de
um outro ser substitutivo. Pensando, encontrou a soluo: uma pequena parte dos homens e mulheres precisava ser salva, e a partir da, recriar a hu-
manidade. Para tanto, escolheu Ziuzudra (sumrio) ou Uta-Napishtim (babilnico) e sua famlia, que foram salvos do dilvio, cuja descrio mais clara
entre os assrio-babilnios, onde os deuses dessa epopeia so os mesmos sumrios, embora com outros nomes.
A religiosidade sumria caracterizava-se pelo pessimismo e o fatalismo: o homem fora criado para suportar e executar as ordens dos deuses, a
quem se sentiam inexoravelmente subjugados e contra isso nada podia ser feito. Seu destino j vinha decretado pelas divindades, e assim sendo mais no
tinham a fazer seno produzir para a sua prpria sobrevivncia.
O mistrio do Universo era a sua grande incgnita, o que tornava o sumrio um ser constante e profundamente angustiado e frgil. No tinha
iluso alguma sobre o seu ltimo destino, que era o Inferno, um reino de onde nunca se retorna. Mas o inferno sumrio tinha uma outra concepo,
diferente daquela das atuais religies monotestas, isto , a regio onde os mortos so atormentados, mas sim o lado sombrio da vida onde tudo continua
existindo sob a vigilncia de guardies terrveis. Da a razo pela qual os sumrios, semelhana dos egpcios, depositavam alimentos e moblias nas
tumbas de seus mortos.
Quanto ao culto e magia entre os sumrios, sabe-se que os sacrifcios ocupavam um lugar de destaque em seus rituais, a ponto de serem reali-
zados vrios deles ao longo do dia, com vistas a que os deuses pudessem se alimentar tantas vezes quanto os humanos faziam.
Nos textos encontra-se a afirmao de que eles, depois do Dilvio, pairavam no ar como moscas atradas pelo cheiro dos sacrifcios
110
, isto , da
morte.
Noutras situaes, quando a inteno era a de provocar a fecundao da terra, o sacrifcio consistia em libaes com vinho de tmaras, oferecido
ao esprito do Sol.
Eram praticadas, tambm, cerimnias religiosas simples, consistindo em oraes pblicas, msica, cnticos e danas sagradas.
Todos os cultos e cerimoniais se praticavam nos templos, cujo formato era retangular, sendo que aqueles havidos como importantes possuam
uma torre (zigurat) de vrios andares e com terraos justapostos, ladeados por rampas externas de acesso.
A prtica divinatria era igualmente constante: analisavam-se as vsceras das vtimas que tivessem sido sacrificadas, como tambm, do alto dos
zigurats, os astros. A magia negra era praticada aplicando-se o flagelo a estatuetas que simbolizassem os inimigos. Mas paralelamente existia a ma-
gia simptica, pela qual era buscada a cura dos doentes, a quebra dos encantos e a atrao da felicidade.
Tambm havia os cerimoniais anuais destinados exclusivamente celebrao da morte e da ressurreio dos deuses, apenas detalhando-se
que essas festas religiosas haviam de estar relacionadas s estaes do estio e da primavera.
Mas, a maior, a excelente festa religiosa era a do hierogamos, que celebrava a unio conjugal do deus com a grande deusa, o que era consegui-
do atravs daquela magia simptica, quando ento a representao se fazia mediante esttuas, ou com a participao real dos sacerdotes e hierdulas,
isto , aquelas mulheres que estavam consagradas ao servio da deusa.
Foram encontradas junto dos templos numerosas placas com representaes alusivas unio dos deuses, bem como rgos genitais de ambos
os sexos, em argila, que seriam oferendas relacionadas com o culto da fecundidade
111
Captulo Segundo
ASSRIA e BABILNIA
A Mitologia Assrio-Babilnica, na sua essncia, no passa de uma continuao e desenvolvimento da dos sumrios e acdios. A diferena est em
que os que deram continuidade a essa mitologia sumeriana no eram semitas.
O assrio-babilnio, ao que parece, no tinha noo de eternidade, mas admitia que tudo tinha um comeo, inclusive os seus deuses, tal como
narrado no Poema da Criao, que na lngua acdia tinha o nome de Enuma Elish:
Quando no cimo o Cu ainda no fora nomeado
E que em baixo a Terra no tinha nome
E que do oceano primordial, seu pai,
E da tumultuosa Tiamat, me de todos,
As guas ainda se confundiam;
Os pousios no estavam fixados,
Os canaviais jamais haviam sido vistos.
Quando nenhum deus fora ainda criado,
Quando nenhum nome fora ainda pronunciado,
Nem fixado nenhum destino,
Os deuses foram criados...
112
Tambm nessa Mitologia encontra-se a lenda da Criao, que no uma originalidade babilnica, pois no passa de uma reproduo de textos
mais antigos, apenas aplicando-se uma nomenclatura diferente aos personagens que nela intervm.
O elemento bsico era a gua. Historiando a Criao, diziam que primeiramente houve uma fuso entre o mar primordial de gua doce a que
davam o nome de APSU e o mar tumultuoso de gua salgada a que denominavam TIAMAT. Na sequncia, esse encontro dos dois mares provo-
cou uma agitao de ondas a MUMMU ; e a, ento, nasceram os primitivos deuses para depois todos os outros seres, sendo que os dois primeiros
foram LAHMU e LAHAMU, supostamente um casal de serpentes monstruosas que teria sido a origem de ANSHAR o princpio macho que simboli-
zava o mundo celeste e de KISHAR o princpio fmea simbolizante do mundo terrestre. Desses dois princpios que teriam se originado todos
os outros deuses, que, segundo a lenda mtica, perturbavam demais o velho Apsu que se clamava a Tiamat alegando no ter descanso durante o dia e,
noite, no poder dormir. Por isso, eles dois resolveram destruir todos os homens, deles descendentes, jurando que dali para a frente o caminho seria
cheio de misrias. Acontece que A o deus da gua e extremamente inteligente soube dessa inteno, vindo a desencadear-se entre eles vrias e
terrveis lutas, cheias de traies, sem que Tiamat a deusa-me , pudesse ser vencida. A, ento, convocou seu filho MARDUK para que comba-
tesse aquela deusa. A luta foi gigantesca, gerando ventos e tempestades, vindo Tiamat a ser vencida e cortada em duas partes, com uma das quais
Marduk construiu a abbada celeste, e com a outra transformou-a em sustentculo da Terra.
Narra a lenda descritiva desse combate: Prepara-te. Que tu e eu combatamos. Tiamat, ao ouvir essas palavras, ficou fora de si, perdeu a razo
e chorou. No paroxismo do furor, tremeu profundamente sobre si mesma, recitou um encantamento, pronunciando sua frmula mgica. Os deuses do
combate consultam suas armas. Eles, Tiamat e Marduk, o sbio entre os deuses, se preparam, ento, para o combate. Caminham, aproximando-se para
a batalha. Marduk estende sua rede e envolve Tiamat; lana o furaco maligno, que se eleva atrs dele, em face de Tiamat. Ele abre a boca o mximo
que pode e faz penetrar ali o mau furaco, de modo que ela no possa cerrar os lbios. Os terrveis furaces enchem seu corpo, seu corao agarrado e
mantm a boca escancarada. Lana uma flecha que perfura seu ventre, atravessa as entranhas, fende o corao e a reduz impotncia, destruindo sua
vida. Derruba o cadver do monstro, ficando em p sobre ele. Depois que atinge Tiamat, aquele que comandava seu exrcito se dispersa, seu bando se
desfaz, e os deuses, seus auxiliares que caminhavam a seu lado, tremem de medo, e, voltando as costas, fogem para salvar suas vidas
113
.
MARDUK, deus essencialmente babilnico, foi a divindade nacional que mais popularidade alcanou no antigo Oriente, tendo atingido o auge du-
rante a dinastia de Hamurabi, quando esse rei fez da Babilnia uma cidade sem rival na Mesopotmia. As principais qualidades desse deus esto consagra-
das no relato da Criao o Enuma Elish , como tambm os feitos valorosos em que se destacou, sendo principal, como acima narrado, aquele em que
lutou contra o monstro TIAMAT, que o desafiou. Em seguida, fez o mundo, construindo no cu a morada dos grandes deuses, cujas imagens so as es-
trelas; na sequncia criou a durao do ano para que nele fosse dividido o curso dos astros. E assim se organizou a ordem celestial. Depois, fez com que a
terra emergisse do mar, que a cobria inteiramente, criando os espritos superiores os ANUMAKI para que a espcie humana, logo em seguida tam-
bm criada, pudesse erguer templos para ador-los e s outras divindades.
O Poema da Criao assrio-babilnico ou ENUMA ELISH, na sua origem acadiana, descreve que o primeiro homem foi feito por Marduk pela
mistura do p e do sangue de um deus morto QUINGU , vindo mais tarde a ser criada a deusa ARURU, com quem aquele primeiro homem produ-
ziu o smen da humanidade. Para finalizar a obra da criao, Marduk criou os rios e os animais.
Quis Marduk que todos os homens fossem instrudos e justos; para isso, encarregou o homem-peixe dessa tarefa. Mesmo assim, apesar de
todos os esforos, nem todos os deuses ficaram satisfeitos com os comportamentos humanos, e um deles BEL resolveu afogar a Terra sob as guas
para que a humanidade restasse completamente destruda. Mas A o deus das guas no concordou com essa destruio total, e por isso ele mesmo
selecionou um homem, UTA-NAPISHTIM e sua mulher, mandou construir um barco, fazendo nele embarcar aquele casal e mais o germe de tudo quanto
havia sido criado na Terra para que no sucumbissem ao dilvio. Ao subir no barco, Uta Napishtim teria dito ao deus das guas: Tudo quanto eu tinha
embarquei nele, toda semente de vida fiz subir ao barco, toda minha famlia e minha parentela, o gado do campo, os animais do campo, os artesos, a to-
dos fiz subir. Shamash havia fixado o momento: O senhor das trevas tarde far chover uma chuva de impurezas. Entra no interior da embarcao e fe-
cha a porta. Como estava predito, o dilvio chegou a tal ponto violento durante seis dias e seis noites, que os deuses se arrependeram de ter consentido
aquela catstrofe. Prossegue a lenda: Os deuses temeram o dilvio, fugiram, subiram ao cu de Anu. Os deuses se acocoraram como o co e sobre a mu-
ralha ficaram deitados. Ela, Ishtar, chorou como uma mulher nas dores do parto; ela vociferou, a soberana dos deuses, de bela voz: Que aquele dia se
transforme em lama, aquele dia em que eu tiver dito mal da assemblia dos deuses; para fazer perecer meu povo, ordenei o combate. Acaso dou luz
meu povo para que, como os filhos dos peixes, encham o mar?. Os deuses, por causa dos Anunaki, choraram com ela. Os deuses ficaram deprimidos,
sentaram-se debulhados em lgrimas
114
. Quando as guas baixaram, foram soltas diversas aves para ter certeza de que era possvel o desembarque de
todos os que estavam no barco, vindo esse fato a acontecer. J em terra firme, fizeram libaes aos deuses, e Bel, profundamente honrado, tambm re-
tribuiu com honras divinas, permitindo que houvesse o repovoamento. O casal sobrevivente do dilvio, ento, passou a viver na companhia dos
deuses, mas sempre pregando a virtude e a piedade. Os descendentes desse casal que teriam sido os reconstrutores da Babilnia, onde ergueram mui-
tos templos.
O panteo assrio-babilnio vastssimo e complicado, cerca de 5.000 divindades; mesmo porque, alm dos deuses sumrios que foram assimila-
dos, muitssimos outros foram criados pela prpria teologia babilnica.
No princpio, esses deuses representavam as foras criadoras e dominadoras da Natureza. Alguns deles possuam sexo indeterminado e outros e-
ram bissexuados. Num primeiro momento, eram simbolizados por animais e depois de uma longa evoluo que vieram a assumir a forma humana, com
barba espessa e cabelos longos, geralmente encaracolados. Num perodo arcaico, suas cabeas eram encimadas por capacetes exibindo chifres e plumas;
mais tarde, substitudos por turbante ou tiara ornamentados com diversos pares de chifres.
Ostentavam a mesma figura humana, mas, por serem deuses, eram superiores em estatura e fora, muito embora tambm padecessem das
mesmas dificuldades e fossem passveis das mesmas paixes dos mortais.
Os deuses inferiores desempenhavam papis diversos, como o de guardas dos templos. Eram representados por um ser que tinha cabea de ho-
mem sorrindo e corpo de touro com asas.
Gozavam da imortalidade, tinham esposas e constituam famlias e eram divididos em duas classes: os celestes e os terrestres. Os primeiros cha-
mavam-se IGIGI, e os segundos que tambm eram deuses dos Infernos eram denominados ANUNAKI.
Havia fundamentalmente trs trades divinas que se constituam cada uma delas e na viso de cada historiador da antiguidade na base do
panteo babilnico: (a) ANU BEL EA; (b) SIN SCHAMASH ISHTAR; (c) ANU ENLIL ENKI. A esta ltima e bem mais tarde viria
juntar-se a rainha dos deuses a deusa-me MAH ou BELIT-ILI.
Do quanto ficou at aqui exposto, extrai-se que a concepo assrio-babilnia da organizao do Universo pode ser assim resumida: (1) As guas
foram o princpio de todos os seres que, originalmente, estavam misturados; (2) desse caos nasceram dois mundos: o mundo alto ou Cu e o
mundo baixo ou Terra; (3) o terceiro mundo o csmico foi formado pelo elemento lquido; (4) o quarto mundo formado debaixo da Terra e
invisvel porque o mundo dos infernos, que o reino dos mortos.
Cada um desses mundos tinha os seus deuses, cujos poderes e atributos eram inerentes ao papel que neles desempenhavam.
Porm, acima de todos estavam os deuses supremos, isto , aqueles que reinavam no Cu, na Terra e nos Infernos; desses trs, todos os de-
mais deuses eram inferiores e a eles subordinados.
Essa trade suprema e com toda a sua supremacia que ir espraiar-se e manter-se, at ser extinta, em todos os imprios da Mesopotmia, parti-
cularmente aqueles que nasceram aps os tempos babilnicos.
Mas, alm dos deuses humanizados, tinha a Assria-Babilnia tambm as suas divindades astrais que se associavam muito de perto vida huma-
na: o Sol, a Lua e o planeta Vnus.
Alis, as Mitologias Mesopotmicas em geral sempre estiveram caracterizadas pelos cultos vincadamente astrolgicos, ante o entendimento de que
os corpos celestes ligavam os destinos humanos quilo que os deuses celestiais decidiam. Esses destinos os homens de ento procuravam decifr-los em
horscopos e augrios.
ANU que era o deus do cu pr-histrico e de origem sumria na figura de AN , cuja esposa era chamada ANTU, havia sado do caos e
presidia os destinos do Universo, mas no cuidava dos assuntos dos homens, tanto que jamais havia descido Terra. Seu exrcito era formado de estre-
las, cuja misso era destruir os maus.
ENLIL era o deus da Terra, senhor dos Ventos.
ENKI (depois A) j constava do Cdigo de Hamurabi (o mais antigo cdigo de leis da humanidade), era tido como o deus das guas, em-
bora no fosse uma divindade marinha, pois esta era Apsu. Enki era tambm o deus da sabedoria, sendo convocado para os encantamentos e para
os orculos; gozava do ttulo de padroeiro dos carpinteiros e ourives. Era particularmente cultuado em Eridu (antiga cidade, ento prxima bblica UR
de Abraho).
NERGAL, o deus que reinava no Inferno, chamado ARALU, que significa a terra sem regresso. Era um lugar de escurido onde os mortos
eram condenados a ficar eternamente estendidos sob o poder da divindade infernal.
SIN ou NANNA, o deus-Lua, era o primeiro e maior da trade astral porque, assim como a noite precede o dia, assim Sin mais antigo do
que Shamash, o deus-Sol, e Ishtar, o planeta Vnus. Era simbolizado como um velho de longas barbas de cor lpis-lazli, ou pela Lua em seu quarto-
crescente. Por que clareava as noites, era visto como o deus que impedia a atuao dos maus, pois estes precisavam da sombra para praticar atos crimi-
nosos. O eclipse da lua era visto como magia dos maus espritos para elimin-lo.
SHAMASH, o deus-Sol, era simbolizado por um disco brilhante emergindo entre as duas montanhas, uma a Leste e a outra a Oeste. Conta a
lenda que todas as manhs os homens-escorpies que habitam essas montanhas e as defendem de qualquer investida abrem uma larga porta, por onde
passa o deus-Sol, que parte dali para a sua corrida diurna no carro guiado por seu filho e cocheiro Bunene. Vem resplandecente; os seus raios luminosos
parecem sair-lhe dos ombros. Depois de atravessar a abbada celeste, enchendo tudo de luz ofuscante, atinge a montanha de Oeste, onde se abre outra
porta, por onde ele desaparece... Durante a noite, Shamash no descansa: continua a sua corrida subterrnea, para reaparecer na manh seguinte na
porta de Leste
115
.
O smbolo, para a passagem solar de Oriente para Ocidente, alternativo: ou uma roda de quatro raios, ou um globo solar com duas asas a-
bertas. Mas esse deus babilnico tinha outras caractersticas. Assim, na sua representao antropomrfica, tambm era o deus da justia porque os seus
raios formam uma rede na qual so apanhados todos aqueles que agem criminosamente. Por isso, na Babilnia, o seu templo era denominado a casa do
juzo do mundo. Era igualmente o deus da adivinhao e atravs do adivinho transmitia aos homens os segredos do futuro. Sua esposa era a deusa A-
YA, carinhosamente chamada Noiva, assim como ao prprio Shamash denominavam o querido de Aya, que geraram dois filhos: KETTU a justi-
a -, e MESHARU o direito.
ISHTAR, personificando Vnus e portanto, a noite era a mesma INANA dos sumrios, ocupando o terceiro lugar na trade astral. Foi
o grande princpio feminino da reproduo e da fecundidade em toda a sia Ocidental. A deusa das manhs e a deusa das noites, tambm deusa da
aurora e deusa do crepsculo. Era ela que fazia a ligao entre o reino da Luz e o reino das Trevas. Entre os Assrios era cultuada mais como uma
deusa guerreira, tomando parte nas batalhas ao lado de seu esposo ASSUR. Era representada em p num carro puxado por sete lees, empunhando
um arco. Em Uruk sua cidade santa ou cidade das cortess sagradas , na Sumria, era cultuada tambm como deusa do amor, integrante da prosti-
tuio sagrada. Quando descia Terra, fazia-se acompanhar por um cortejo de prostitutas.
Narra o mito queela mesma entregava-se intensamente satisfao dos desejos amorosos, escolhendo os seus amantes entre toda a espcie
de seres. Mas desgraados daqueles que ela escolhia! At para os deuses o seu amor era nefasto. Na sua juventude, Ishtar amou Tammuz, o deus da
vegetao. Esse amor causou a morte do jovem apaixonado, que desceu terra sem regresso, onde reinava Ereshkigal. Dominada pela sua imensa dor,
Ishtar seguiu-o e quis forar a irm a entregar-lhe o seu amado. Mas Ereshkigal mandou-a encarcerar e soltou, contra ela, as sessenta doenas. En-
quanto Ishtar esteve prisioneira, a Terra ficou mergulhada em desolao e no cu houve uma tristeza infinita.
Para a libertar, a criou Asushunamir, um ser efeminado, e mandou-o ao Inferno, depois de lhe ensinar palavras mgicas que deviam contrariar
a vontade de Ereshkigal, que no pde resistir e libertou Ishtar, assim como Tammuz. Apesar de ter um carter violento, o corao de Ishtar conhecia
a bondade
116
. O seu prprio nome tem o significado de benevolente, e como tal, dispensou muita bondade aos mortais e muitos reis ficaram devendo
ao seu amor a subida ao trono. A figura dessa deusa cantada no Poema da Criao. O seu culto ultrapassou as fronteiras da Mesopotmia, vindo a ser
na Fencia a mesma deusa com o nome de ASTARTE. Como tambm os seus traos mais gerais, enquanto deusa do amor, na figura de outra deusa,
a AFRODITE grega ou VNUS romana.
Esse panteo astral, entretanto, absorvia outras divindades, como as PLIADES aquelas sete estrelas que, nas terracotas ou monumentos ass-
rio-babilnios, surgem ao lado da imagem da Constelao do Escorpio. Elas simbolizavam, por serem em nmero de sete, os sete deuses dos Cus e os
sete diabos dos Infernos, ou seja, simbolizam ao mesmo tempo o Bem e o Mal.
Tambm NINURTA, identificada com a estrela Srius e at com outras da Constelao de rion, era o deus dos campos e dos canais, o deus
que d a fertilidade. Posteriormente veio a converter-se num deus guerreiro e caador. Refere a lenda que na luta que teve que travar com uma tre-
menda coligao de toda a natureza, at as pedras se manifestaram: umas puseram-se ao seu lado, outras ao lado de seus inimigos. Ni-nurta ficou ven-
cedor e no esqueceu as suas humildes aliadas, amaldioando aquelas que foram contra ele. por isso que, entre as pedras, algumas so belas e precio-
sas, como lpis-lazli, a ametista, a safira e tantas mais, procuradas e apreciadas pelos homens, ao passo que outras so desprezadas e pisadas por
toda a gente
117
.
Entre os assrio-babilnios a Astrologia fazia parte da religio dos Iniciados que eram os astrlogos e adivinhos , os quais estudavam a evoluo
dos astros, estrelas, planetas e constelaes na esfera celeste, porquanto entendiam que do movimento deles e delas dependia o destino do mundo e dos
homens. As constelaes, principalmente, eram chamadas de estradas do sol e estradas da lua, e, embora no tivessem dividido o Zodaco em 12 ca-
sas o que s veio a acontecer no sculo V a.C. , sabiam que o Sol durante um ms percorria um trecho determinado daquele espao zodiacal.
Os outros deuses cultuados pelos babilnios eram da Natureza, da fertilidade, da comida e da bebida. Estes ltimos eram adorados porque repre-
sentavam o princpio criador e as divindades da fertilidade representavam tambm o mesmo papel. Tais cultos se traduziam em festas agrcolas, onde
pontificavam os ritos agrrios.
Alm desse panteo divino, tinham os assrio-babilnios os seus heris semidivinos, mas na condio de figuras lendrias que se relacionavam
diretamente com os deuses, como foi o caso de UTA-NAPSHTIM e GILGAMESH, que, embora sendo de origem sumrio-acdia, ganhou enorme prest-
gio na Babilnia e Assria, cujos feitos mito-lendrios foram cantados num poema que imortalizou esse heri. A ele os babilnios se referiam exprimindo o
que descobriu a origem, o que viu tudo. O texto principal ainda existe e teria sido mandado copiar pelo rei Assurbanipal, ento rei da Assria, para a sua
biblioteca de Nnive, no sculo VII a.C. Como existem fragmentos que remontam ao segundo milnio a.C., tal fato faz prova de que a composio desse
poema muito mais antiga do que se possa pensar.
ele aqui parcialmente narrado, a seguir, como sendo:
Captulo Terceiro
A EPOPIA DE GILGAMESH
118
Suspeita-se que Gilgamesh tenha sido um ente real, possivelmente um rei sumeriano no terceiro milnio, mas transformado pela imaginao e pe-
la lenda num semideus.
De acordo com tal lenda, dizia sua me a deusa NIN-SUN a respeito dele: dois teros do seu ser so divinos e s um tero natureza hu-
mana. Seu pai teria sido um lilu, palavra acdia designativa de um demnio considerado ncubo
119
.
Gilgamesh reinava na antiga cidade de Uruk. Era sbio e valente, mas desptico e duro. Construiu muralhas formidveis, torres mais altas que todas as
outras at ento erguidas, navios enormes que navegavam no grande mar. Por outro lado, a sua vitalidade era uma constante ameaa tranqilidade das
famlias, porque no deixava a filha ao pai e me, a bem-amada ao heri, a esposa ao marido. E o povo lamentava-se do trabalho e das humilhaes
que ele lhe impunha, suplicando aos deuses a sua proteo. Os deuses compadeceram-se e chamaram a deusa Aruru, a Grande, dizendo-lhe: Foste tu
que criaste Gilgamesh; ele submete o povo a trabalhos e insultos que o esmagam, a tal ponto que j no pode oferecer sacrifcios aos deuses. Isto pos-
svel porque s ele poderoso no mundo. Tens que criar outro homem, ainda mais forte, para que lutem os dois e, entretanto, o povo de Uruk possa des-
cansar. Aruru meditou em seu corao na maneira como faria algum mais poderoso que Gilgamesh. Depois lavou as mos, pegou em barro, misturou-
lhe a sua saliva e fez um ser macho semelhante ao deus Anu: tinha o corpo coberto de plo, de maneira que parecia vestido de folhas, e os cabelos cres-
cidos como o das mulheres, formando uma gaforina espessa como a cevada em paveia. Tinha a estatura de um gigante e modos ferozes. Pela violncia e
impetuosidade era irmo de Ninurta; pelo aspecto exterior parecia-se com Sumukan. Mas Enkidu ignorava quem era, a que raa pertencia e qual era
o seu pas. Veio vida num lugar montanhoso, entre animais, uns mansos, outros selvagens, cuja linguagem entendia. Alimentava-se, como eles, de er-
vas; bebia com eles a gua dos regatos. E ali se deixou ficar. Para defender os animais seus amigos, tapava as covas abertas pelos caadores, retirava as
redes que eles estendiam; e assim se espalhou nas aldeias prximas o rumor da existncia de um gnio mau naquela regio. Um dia, um jovem caador
avistou-o e ficou, ao mesmo tempo, espantado e temeroso, pois nunca vira uma criatura assim. Ao regressar a casa ia pensando: Que ser de mim? No
cultivo a terra e no conheo outro modo de vida seno a caa. Mas se os animais deixam de cair nos fossos e nas redes, que hei de fazer para arranjar a-
limento para os meus pais e para mim? Contou tudo ao pai, e o ancio aconselhou-o: Vai a Uruk, onde tantas vezes j foste levar animais ao templo, para
serem sacrificados a Anu, a Ishtar e aos outros deuses. nessa cidade que vive o poderoso Gilgamesh, que ningum pde jamais vencer. Procura-o, di-
ze-lhe o que viste e o que sabes do monstro desconhecido, para que ele te proteja. O caador assim fez. E Gilgamesh mandou-o falar com Nin-Sun, sua
me, que foi buscar uma mulher do templo, para que o rapaz a levasse at regio montanhosa, onde estava Enkidu. Quando l chegaram, deixou-a fi-
car na margem do ribeiro onde ele costumava vir beber com os animais e retirou-se.
Ao v-lo aproximar-se, a mulher deixou cair os vus que a envolviam, e o homem selvagem sentiu-se deslumbrado, sem poder resistir quele en-
canto que se lhe revelava. Os seus corpos uniram-se. Ento os animais desviaram-se daquele que se tornara o seu pastor,e deixaram de o reconhecer co-
mo tal. Enkidu e a cortes viveram juntos, na orla da floresta, durante seis dias e seis noites. Ao fim do sexto dia, o filho da montanha lembrou-se dos
seus amigos companheiros e quis voltar a v-los. Procurou-os, mas todos fugiram dele, porque perdera a inocncia e j no era digno de viver entre os a-
nimais. Sentindo-se envergonhado, voltou para junto da mulher, que lhe props irem para Uruk, a cidade onde se encontra a casa santa, morada de Anu
e Ishtar, e onde Gilgamesh exerce o seu poder sore o povo. Ento ele acompanhou-a.
Entretanto, Gilgamesh continuava no seu palcio e teve um sonho simblico, que o perturbou. Sua me, que conhecia toda a cincia mgica, ex-
plicou-lhe que o meteoro que lhe cara sobre os ombros e que ele mal pudera suportar, quando sonhava, assim como o machado que ele depois vira, ao
despertar a manh, significavam que viria ter com ele um homem que seria seu amigo, seu irmo de armas. um rude companheiro, dedicado e valente,
mais forte que todos os homens deste pas e s comparvel a Anu pelo seu vigor acrescentou ela. E Gilgamesh, despeitado, preparou-se para enfrentar
o desconhecido, disposto a no se deixar vencer por ele.
Ao mesmo tempo que isto se passava, a cortes ensinava Enkidu a comer po e beber cerveja; rapava-lhe os pelos do corpo e ungia-o vigorosa-
mente com leo perfumado. E, um dia, tomando-o pela mo, entrou com ele na cidade de Uruk. Ao v-lo passar, a multido exclama: Eis um verdadeiro
heri! Gilgamesh veio ao seu encontro e lutaram os dois diante do templo. Foi uma luta de gigantes, que fez tremer as prprias paredes do santurio. Por
fim Gilgamesh dominou Enkidu e este exclamou: Tua me, a bfala do cerrado, a deusa Nin-Sun, gerou-te como um ser nico; a tua cabea foi erguida
acima do homem; o deus Enlil destinou-te realeza dos povos. Assim, do combate nasceu a amizade. E os dois heris decidiram unir a sua fora para
vencer os monstros e conquistar a eternidade da glria.
O combate com Umbaba.
Enkidu tornou-se o companheiro inseparvel de Gilgamesh, esquerda do qual se sentava, com vestes magnficas; guerreavam e caavam jun-
tos: o leo e a pantera caam feridos pelas suas lanas. O povo de Uruk aclamava-os porque, finalmente, podia descansar: Gilgamesh j no lhe impunha a
construo de edifcios colossais e j o no levava a combater outros povos de terras distantes. Mas os dois amigos e companheiros ansiavam por novas
proezas. E Gilgamesh resolveu ir combater o famoso Umbaba, que guardava o Amanus a imensa floresta de cedros do Lbano , apesar das objees
de Enkiu, que tivera um sonho simblico, e das advertncias dos velhos que lhe diziam: No sabes o que te espera, Gilgamesh! Ningum conseguiu ainda
penetrar na floresta dos cedros. No conheces Umbaba: o seu grito como a tempestade; a sua boca fogo; o seu hlito a morte!. Gilgamesh insistia:
Irei floresta! E ningum, nem a prpria me, pde demov-lo. Ao v-lo partir, acompanhado por Enkidu, a deusa Nin-Sun vestiu a sua tnica sagrada
e ergueu as mos para Shamash, exclamando: Por que deste a meu filho um corao que no tem repouso?.
A marcha foi longa e penosa. Durante o caminho tiveram sonhos profticos, que Enkidu interpretou como sinal de derrota, mas que Gilgamesh
tomou num sentido favorvel. At que se embrenharam na densa floresta. Enkidu tentou ainda deter o companheiro e confessou-lhe que se sentia fra-
quejar, porm Gilgamesh arrastou-o consigo. Antes de enfrentarem o terrvel Umbaba, o senhor de Uruk invocou Shamash. E, quando o monstro apare-
ceu, desencadearam-se oito ventos furiosos o vento ardente, o vento gelado, o vento das areias e todos os outros , que o sacudiram como se ele fosse
um frgil ramo de rvore, sem poder avanar nem recuar, at que se rendeu a Gilgamesh, suplicando-lhe: Gilgamesh, no me tires a vida e tornar-me-
ei teu servidor! Ento, Enkidu disse a Gilgamesh que o matasse, para que ele no continuasse a ser o terror dos povos. E a cabea de Umbaba foi dece-
pada.
A clera de Ishtar contra os dois heris.
Quando Gilgamesh se purificava e adorava, aps o seu triunfo, a grande e terrvel deusa Ishtar contemplou-o e achou-o mais belo que nunca; a
paixo que h muito sentia por ele e que sempre fora repelida tornou-se devoradora como uma labareda. Ento a deusa props-lhe: Gilgamesh, que eu
seja tua esposa e tu meu esposo ! Virs para a minha morada e os que se sentam em tronos beijar-te-o os ps. Ser-te-o levadas ddivas das montanhas
e da plancie. Mandarei aprestar para ti um carro de lpis-lazli e ouro; as suas rodas sero de prata dourada e as trompas de pedras preciosas; no have-
r cavalos mais belos que os que estaro sob o teu jugo!. Mas Gilgamesh respondeu-lhe: Todos os teus amantes pereceram. O teu amor como uma
porta que abre para a tempestade. como uma fortaleza que cai e esmaga os guerreiros que esto dentro dela. At mesmo Tammuz, o esposo da tua
juventude, foi destrudo. Esto destrudos todos aqueles a quem estiveste ligada. As criaturas que caem sob a tua influncia alegram-se, mas s por pouco
tempo. Por teu intermdio quebrada a asa da ave, o leo destrudo, o cavalo impelido para a morte. Dizes que me amas, Ishtar. Amado por ti, acon-
tecer-me-ia o mesmo que aos outros.
Ao ouvir estas palavras, a deusa ficou cheia de ira; foi ter com Anu e pediu-lhe que fizesse descer o touro do cu para derrubar Gilgamesh. E A-
nu mandou-lhe o touro que expelia lume e era to forte que duzentos ou mesmo trezentos homens no podiam resistir-lhe. Mas Gilgamesh e Enkidu do-
minaramno, num combate corpo-a-corpo to violento como no havia memria, e acabaram por mat-lo. Depois, arracaram-lhe o corao e foram dep-lo
aos ps de Shamash. No alto das muralhas de Uruk, rodeada pelas cortess sagradas do templo, Ishtar soltava gritos de raiva e amaldioava os dois he-
ris. Ento, Enkidu cortou um bocado do lado direito do touro e atirou-o face da deusa, como supremo insulto, enquanto gritava: Far-te-ei o mesmo, a
ti, se um dia estiveres ao meu alcance !. Gilgamesh cortou os chifres do touro, que eram de tamanho descomunal, e ofereceu-os ao santurio do seu deus
Lugalbanda, para os leos das unes rituais. Em seguida, os dois amigos foram purificar-se nas guas do Eufrates e entraram na cidade de Uruk, por en-
tre as aclamaes do povo.
A morte de Enkidu.
A ofensa feita aos deuses exigia castigo. E os deuses reuniram-se para deliberar. Ishtar jurara vingar-se e exigia que os dois heris fossem ani-
quilados para sempre. Anu dava-lhe razo, dizendo: Mataram Umbaba e despedaaram o Touro do Cu; por isso, justo que morram. Mas Shamash
defendia-os, afirmando que, destruindo os dois monstros, tinham cumprido os desgnios dos deuses. Contudo, Enlil insistia: Que Gilgamesh via. Po-
rm, Enkidu deve morrer. E foi essa a sentena final. Ento, Enkidu teve um sonho que o aterrou e comeou a definhar, sem que se pudesse descobrir
qual era o seu mal. Deitado no leito, gemia constantemente e assim esteve durante doze dias. Ao dcimo terceiro expirou nos braos de Gilgamesh, que se
lamentava:
Enkidu, meu amigo, meu irmo, tigre da montanha. Que espcie de sono caiu sobre ti? Olhas sem expresso e no me respondes. Vir es-
te sono tambm sobre Gilgamesh? Irei jazer como Enkidu? Entrou o desgosto na minha alma Por causa do temor da morte, que se apoderou de mim
O meu corao est inquieto; vou partir; vaguearei pela Terra.
Tocou no peito do amigo: o corao estava parado. Ternamente, como se o fizesse a uma noiva, estendeu a colcha sobre Enkidu. Voltou-se; na
sua dor, rugiu como leo ou a leoa a quem roubam a cria. E quando os seus soluos cessaram, a me perguntou-lhe: Que desejas, meu filho, ou o que
poder calmar a tua dor e a inquietao que h no teu corao?. Ele respondeu: Desejo escapar morte, que se apoderou de Enkidu, o meu amigo e
companheiro. Ento, a me disse-lhe: S um homem escapou morte: o teu antepassado Uta-Napishtim, o Remoto, que sobreviveu ao Dil-
vio e tem o segredo da vida. Foi assim que Gilgamesh, dominado pelo pavor da morte, se decidiu a correr novos riscos para lhe escapar.
Gilgamesh procura a imortalidade.
Depois de ler as tbuas do templo, onde estava escrita a histria de Uta-Napishtim, e ficar a conhecer completamente a maneira como ele con-
quistara a imortalidade, Gilgamesh pediu me que lhe ensinasse o caminho para o lugar onde ele se encontrava. E ela respondeu: Tudo o que sabemos
que ele mora para alm do Monte Mashu, onde esto os homens-escorpies que guardam o Sol. Mas preciso atravessar o mar e s o barqueiro Ursha-
nabi que sabe como se vai at l. Muitos trabalhos e aventuras passou Gilgamesh para atravessar o oceano e vencer as dificuldades que se lhe depa-
raram. Por fim, chegou presena de Uta-Napishtim, que o reconheceu como seu descendente e lhe falou com afabilidade. E o heri de Uruk disse-lhe da
sua nsia de imortalidade. Mas Uta-Napishtim limitou-se a esta resposta: Os deuses renem-se para determinar o destino dos mortais; ningum pode co-
nhecer o dia da sua morte nem escapar a ela. Explicou-lhe que, se era imortal, devia esse privilgio benevolncia de um deus, e terminou com esta per-
gunta: Quem reunir agora os deuses para ti, para que encontres a vida que procuras?. No entanto, para lhe provar a fora do destino, props-lhe uma
experincia: como o sono a imagem da morte, que Gilgamesh permanecesse acordado durante seis dias e sete noites. Ele aceitou. Mas, cansado como
estava, mal se estendeu no fundo do barco adormeceu profundamente, at que no stimo dia Uta-Napishtim disse sua mulher: Aqui est o homem for-
te que deseja a vida! Sopra sobre ele um sono forte como uma tempestade. E ela acordou-o.
Assim voltaria Gilgamesh para a cidade de Uruk, conservando a sua condio mortal. Mas a mulher de Uta-Napishtim pediu ao marido que lhe
desse uma recompensa por ele ter vindo procur-lo de to longe, atravs de tantos perigos.
E o heri do dilvio revelou-lhe palavras de mistrio: disse-lhe que havia no fundo do mar uma planta espinhosa que prolongava a vida. O bar-
queiro sabia o stio onde ela se encontrava. Quando l chegaram, Gilgamesh atou pedras aos ps, deixou-se mergulhar nas guas e co-
lheu a planta, cujo nome era O velho torna-se novo. Cheio de alegria, o senhor de Uruk exclamou: Com-la-ei e regressarei juventu-
de. Continuaram a navegar e desembarcaram numa terra, onde encontraram um tanque de gua doce e fresca. Gilgamesh no resistiu a
banhar-se. Mas, quando voltou, j no encontrou a planta milagrosa: uma serpente, atrada pelo seu perfume, viera at ali e tinha-a co-
mido. Imediatamente lhe caram as velhas escamas e lhe nasceu uma pele nova, que a rejuvenesceu. Gilgamesh sentiu-se desesperado e
entrou em Uruk mais triste do que tinha sado.
O poema termina com a invocao de Enkidu por Gilgamesh, e a descrio da maneira desoladora como os homens viviam para sempre na som-
bria Terra dos Mortos o reino de Nergal. Gilgamesh foi ascendendo, lentamente, na lenda, at aos confins da divindade. Apesar dos grandiosos feitos
que praticou, o seu ttulo de glria ter sido aquele que, como Uta-Napishitim, procurou a Vida.
BIBLIOGRAFIA:
(Obras consultadas)
ANTNIO AUGUSTO TAVARES, Estudos da Alta Antiguidade, Editorial Presena, Lisboa, Portugal.
EDUARDO ALFONSO, Historia Comparada de las Religiones, L. Carcamo Editor, Madrid, Espanha.
GEORG OLIVER, The History of Initiation, K. Publishing, LLC, Montana, USA.
HENRI HATZFELD, As Razes da Religio, Instituto Piaget, Lisboa, Portugal.
JEAN-FRANOIS MAYER, As Seitas, Editorial Perptuo Socorro, Porto, Portugal.
JORGE CAMPOS TAVARES, Deuses, Mitos e Lendas, Lello & Irmo Editores, Porto, Portugal.
MIRCEA ELIADE, Histria das Crenas e das Ideias Religiosas, Res Editora, Porto, Portugal.
MIRCEA ELIADE, Imagens e Smbolos, Editora Martins Fontes, So Paulo, SP.
MIRCEA ELIADE, O Sagrado e o Profano, Editora Martins Fontes, So Paulo, SP
MIRCEA ELIADE, Tratado de Histria das Religies, Editora Martins Fontes, So Paulo, SP.
MARIA LAMAS, Mitologia Geral: O Mundo dos Deuses e dos Heris, Editorial Estampa, Lisboa, Portugal.
NEIL PHILIP, Mitos, Contos e Lendas do Mundo, Editora Civilizao, Porto, Portugal.
PAMELA ALARDICE, Mitos, Deuses e Lendas, Publicaes Europa-Amrica, Sintra, Portugal.
PAUL POUPARD, As Religies, Res Editora, Porto, Portugal.
PAUL VEYNE, Acreditaram os Gregos nos seus Mitos ?, Edies 70, Lisboa, Portugal.
ROBERT GRAVES, Os Mitos Gregos, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, Portugal.
V.DIAKOV/S.KOVALEV, Histria da Antiguidade, Editorial Estampa, Lisboa, Portugal.
VICTOR JABOUILLE, Iniciao Cincia dos Mitos, Editorial Inqurito, Sintra, Portugal.
NOTAS:
1
Do grego mythos, 'fbula'. 1. Narrativa dos tempos fabulosos ou hericos. 2. Narrativa de significao simblica, geralmente ligada cosmogonia, e referente a deuses encar-
nadores das foras da natureza e/ou de aspectos da condio humana. 3. Representao de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginao popular, pela tradio, etc. 4.
Representao (passada ou futura) de um estdio ideal da humanidade. 5. Imagem simplificada de pessoa ou de acontecimento, no raro ilusria, elaborada ou aceita pelos gru-
pos humanos, e que representa significativo papel em seu comportamento. 6. Coisa inacreditvel, fantasiosa, irreal; utopia. 7. Em Filosofia: Exposio de uma doutrina ou de
uma ideia sob forma imaginativa, em que a fantasia sugere e simboliza a verdade que deve ser transmitida, como p. ex., no mito da caverna. Tambm em Filosofia: Forma de
pensamento oposta do pensamento lgico e cientfico. Mito da caverna: Aquele com que Plato, no comeo do livro stimo da Repblica, figura o processo pelo qual a alma pas-
sa da ignorncia verdade (Dic. Aurlio).
2
MARIA LAMAS, em sua Mitologia Geral, vol. I, pg. 18, narra que h alguns anos houve na Melansia uma epidemia que se desenvolveu rapidamente e assumiu extrema gra-
vidade. Os indgenas no tardaram a descobrir que todo aquele sofrimento provinha de uma piroga que havia sido retirada da gua e amarrada ponta de um rochedo que, segundo a
crena geral, era o dente de um deus. O peso da piroga magoava aquela divindade e ela vingava-se flagelando os povos em redor. A embarcao foi imediatamente retirada. Quando a
epidemia decresceu, todos ficaram convictos da eficcia do ritual que acompanhara a libertao do rochedo e, ao mesmo tempo, certos de participarem, assim, num poder que trans-
cendia as suas prprias foras.
3
Histria das Crenas e das Ideias Religiosas, Rs-Editora, Porto, Portugal.
4
Semelhante ao homem.
5
Apario ou manifestao divina.
6
Vida em coletividade.
7
De lAge de la Pierre aux Mystres dEleusis, p. 46 (Da Idade da Pedra aos Mistrios de Elusis).
8
Mesoltico o perodo intermedirio compreendido entre o Paleoltico, ou Idade da Pedra Lascada, e o Neoltico, ou Idade da Pedra Polida.
9
As Religies, Rs-Editora, Porto, Portugal, trad. de Filomena Costa Pereira.
10
Citao de NEIL PHILIP, em Livro Ilustrado de Mitos Contos e Lendas do Mundo.
11
Mito e Realidade em Mitologia, vol. I, pg. 4.
12
Referente s coisas sagradas.
13
Doutrinas sobre a consumao do tempo e da histria. Tratado sobre os fins ltimos do homem.
14
Crena na interveno de ocorrncias extraordinrias, ou de individualidades providenciais ou carismticas, para o surgimento de uma era de plena flicidade espiritual e social
(Dic. Aurlio).
15
PAMELA ALLARDICE, em Mitos, Deuses e Lendas, p. 11.
16
Dicionrio Aurlio.
17
Termo normalmente aplicado aos rias, os mais antigos antepassados conhecidos da famlia Indo-Europia.
18
1. Sistema de crenas religiosas e sociais determinado pelo totem. 2. Crena no totem. 3. O conjunto dos atos ou ritos em que se exprimem essas crenas. Totem: 1. Animal, ve-
getal ou qualquer objeto considerado como ancestral ou smbolo de uma coletividade (tribo, cl), sendo por isso protetor dela e objeto de tabus e deveres particulares. 2. Repre-
sentao desse animal, vegetal ou objeto. Tambm tteme (Dic. Aurlio).
19
Organizao social e poltica na qual a mulher exerce autoridade preponderante (Dic. Aurlio).
20
Conjunto de textos sagrados - hinos laudatrios, formas sacrificiais, encantaes, receitas mgicas - que constituem o fundamento da tradio religiosa (do bramanismo e do
hindusmo) e filosfica da ndia.
21
MARIA LAMAS, Mitologia Geral, vol. II, pg. 281.
22
Uma das mais antigas lnguas clssicas da ndia.
23
A narrao de MARIA LAMAS, na ob. cit., pgs. 283/4.
24
PAUL POUPARD, As Religies, pg. 94.
25
PAUL POUPARD, As Religies, pg. 97.
26
P. POUPARD, ob. cit., p. 100.
27
Designao comum aos diversos cultos astroltricos dos sabeus. Designao comum s seitas sabestas (Dic. Aurlio).
28
1. Adorao ou culto de fetiches. 2. Culto de objetos materiais, considerados como a encarnao de um esprito, ou em ligao com ele, e possuidores de virtude mgica (Dic.
Aurlio).
29
P. POUPARD, ob. cit., p. 102.
30
MARIA LAMAS, ob. cit., pg. 329.
31
MARIA LAMAS, ob. cit., pg. 340.
32
The History of Initiation, K. Publishing LLC, USA.
33
Divine Legation of Moses, vol. 1, p. 172.
34
Do grego phalls, pelo latim phallus: Representao do pnis, adorado pelos antigos como smbolo da fecundidade da natureza (Dic. Aurlio).
35
Que no se pode exprimir por palavras; indizvel. Em sentido figurado: Encantador, inebriante (Dic.Aurlio).
36
Via-de-regra no 9
o
dia do quarto minguante porque a essa poca comeava o grande festival em honra deusa DURGA, correspondente deusa ATENA ou MINERVA, dos
gregos. Segundo a lenda, aps vrias cerimnias, a imagem da deusa era afogada no rio Ganges, sendo celebrada com lamentaes a sua morte mstica; durante o xtase mximo
que era atingido, o dolo emergia da purificao aqutica. Um grande festival anual era celebrado em janeiro, no 7
o
dia da lua nova, em honra ao Sol (Holwels Historical E-
vents).
37
De acordo com as Leis de Manu. Do mesmo modo, na Grcia Antiga as crianas eram iniciadas nos Mistrios Menores.
42
Correspondente ao TRTARO, que era o Inferno dos gregos.
43
O sacerdote que presidia aos mistrios. Gro-Pontfice.
44
Quando o Sol nascia, a Leste, ele era Brama; quando atingia o znite, ao Sul, ele era Shiva; e quando se punha, a Oeste, ele era Vishnu (Moores Hindoo Pantheon, vol.
V, pg. 277).
45
Entre os antigos gregos, sacerdote que iniciava os nefitos nos mistrios de Elusis. Tambm: Antigo sacerdote que ensinava as cerimnias e os ritos de uma religio; mestre
dos mistrios; Iniciador, mentor (Dic. Aurlio).
46
Literalmente, purush significa homem; mas no Baghavad Gita uma expresso de cunho teolgico, significando esprito vital ou poro do esprito universal de
Brama habitando um corpo.
47
O mantra uma mera invocao da divindade, do tipo Hare, Hare, Hare, Rama, Hare, Rama, Rama, Rama, Hare, que no passa de uma recitao dos dois nomes do deus.
Os hindus haviam se persuadido de que, pela meditao sobre as perfeies do ser divino e pronunciando os seus nomes, estavam capacitados a prever o futuro e a realizar todos
os desejos do corao.
48
Essa era uma prtica comum na Antiguidade. Assim se passou com MOISS, quando subiu a Montanha para receber as Tbuas da Lei. Tambm assim os sacerdotes egp-
cios, quando iam adorar suas divindades.
49
Narra uma verso que, quando Mahadeva recebeu a maldio de alguns devotos aos quais havia perturbado durante suas oraes, ficou despojado de seu lingham, o que acabou
sendo fatal para a sua vida. Sua esposa perambulou pela terra e encheu o mundo com suas lamentaes. Mahadeva permaneceu em demorada restaurao sob a forma de Iswara e
unido uma vez mais sua amada Sita.
50
Do snscrito avatra = descida (do Cu Terra) Em Filosofia: Reencarnao de um deus, e, especialmente no hindusmo, a reencarnao do deus Vishnu. Tambm: Transforma-
o, transfigurao, metamorfose.
51
o chamado MATSE AVATAR e contm um relato do Dilvio, assim: Estando Brama dormindo, o demnio HAYAGRIVA roubou os Vedas, e, afogando-os, levou-os para um lu-
gar secreto no fundo do mar. Perdidos, assim, os Livros Sagrados, a Humanidade rapidamente caiu no vcio e na iniqidade, tornando-se universalmente corrupta, vindo o mundo a ser
destrudo por um dilvio, exceto um piedoso monarca com sua famlia de sete pessoas, que foram isoladas num barco construdo sob a direo de VISHNU. Quando as guas atingiram o
seu nvel mais alto, esse deus mergulhou no oceano, atacou e matou o gigante HAYAGRIVA, que fora a causa dessa enorme calamidade, e do estmago do mesmo recuperou trs dos Li-
vros, sendo que o quarto j havia sido digerido. Ento, emergindo das guas como meio homem e meio peixe, apresentou os Vedas a Brama; e a Terra retomou sua forma anterior
e foi repovoada por oito pessoas que haviam sido miraculosamente resguardadas (Maurices Indian Antiquities, vol. II, pg. 353).
52
Esse era o 5
o
Avatar e conta que, reduzindo-se a um pequeno Brmane, VISHNU desafiou o mpio dspota BALI, que era um enorme gigante, para uma luta, sendo aceita. VI-
SHNU, ento, reassumindo sua forma original, com um p cobriu a Terra; com o outro ele ocupou todo o espao entre a Terra e o Cu; e com o terceiro, que inesperadamente sa-
iu de seu ventre, esmagou a cabea do monstro e o arremessou para as regies infernais.
53
No 6
o
Avatar, VISHNU, sob a forma humana, encontrou e destruiu todas as hostes de gigantes e tiranos. O 7
o
Avatar constitui-se em volumoso romance, no qual VISHNU o
heri sob a forma de RAMA, sempre representado como um guerreiro valente e vitorioso. No 8
o
Avatar ele esmaga um bando de gigantes, armado apenas com uma enorme
serpente. No 9
o
Avatar ele se transforma numa rvore, com o propsito de compensar uma paixo criminosa havida com a filha do rei. Os hindus semelhana dos judeus a-
guardando ainda hoje o Messias continuam aguardando o 10
o
Avatar.59
54
Essas Sete Cavernas esto referidas s metempsicoses, bem como aos sete lugares de recompensas e castigos que os diferentes povos falavam em suas crenas.
55
Desde tempos imemoriais os sinos so empregados em ritos religiosos ao longo de todo o mundo oriental. Na ndia, nenhuma cerimnia religiosa era havida como eficaz se no
se fizesse acompanhar desse apetrecho ritualstico.
56
Tal como consta no Baghavad Gita, pg. 123.
57
So curiosos os termos desse juramento. O Aspirante jura, em complemento aos pontos que devem constituir aquele segredo, que nunca ter conjuno carnal com sua me,
sua irm ou sua filha, e que sempre estender sua proteo a elas; que no assassinar a um Brmane, ou lhe roubar o ouro ou outro qualquer bem, mas, antes, o socorrer;
que no se dedicar intemperana no comer e beber; e que no se associar a qualquer pessoa que se tenha poludo pelo cometimento desses crimes.
58
Essa Concha Sagrada, que tinha nove vlvulas, refere-se s Nove Reencarnaes de VISHNU (Maurices Indian Antiquities, vol. V, pg. 906).
59
Era o atual nome dado a uma das Grutas no Templo (subterrneo) de ELORA, e deve ter sido o Sacelo Iluminado no qual o Aspirante era introduzido em recluso na sua
Iniciao. Sacelo vem do latim sacelum, significando pequeno santurio, capelinha. Mas tambm diminutivo de sacrum, com o significado de objeto de culto, lu-
gar sagrado, objeto sagrado, qualquer coisa oferecida em sacrifcio, culto, cerimnia religiosa, mistrios.
60
As quatro cabeas de BRAMA representam os quatro elementos (terra, gua, ar, fogo) e as quatro partes do globo terrestre (Norte, Sul, Leste e Oeste).
61
Para os persas, Zaratustra; para os gregos, Zoroastro. Qualquer dos dois nomes identifica uma mesma e s pessoa.
62
Antigo pas situado a sudoeste da sia e a nordeste do atual Ir, tendo sido em certa poca um reinado independente, e em outra, uma provncia da Prsia, atualmente consti-
tuindo boa parte do Azerbaijo.
63
Uma dinastia persa que construiu em volta do planalto do Ir um imprio do mesmo nome, entre cerca de 224 e 652 a.C.
64
Antigo sacerdote zorostrico, entre os medos e persas.
65
Do avstico masdo, 'onisciente', epteto do deus Ahura', + -ismo: Religio antiga dos iranianos (persas e medos), caracterizada pela divinizao das foras naturais e pela ad-
misso de dois princpios em luta, aura-masda e arim (Dic. Aurlio).
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Dualismo: Em Filosofia, a doutrina que, em qualquer ordem de ideias, admite a coexistncia de dois princpios irredutveis. Ex.: dualismo da alma e do corpo, do bem e do mal,
da matria e do esprito. Por extenso: Coexistncia de dois princpios ou posies contrrias, opostas (Dic. Aurlio).
67
Atualmente Hamadan, cidade a Oeste do Ir situada ao p do Monte Alwand.
68
Regio situada ao Norte da ndia subcontinental.55
69
Zoroastro, na Babilnia, havia se familiarizado com a histria mosaica relativa entrega divina das Doze Tbuas no Monte Sinai.
70
Sir W. Jones afirma que muito escassa a possibilidade de que Pitgoras tivesse conhecido Zoroastro. A narrativa pica grega deve ter sido muito avanada em anos; e no h
uma evidncia segura de um relacionamento entre os dois filsofos (Works, vol. II). Inversamente, para Dean Pridaux (Connections, vol. I, p. 228) aqueles que escrevem
sobre Pitgoras fazem quase tudo para informar-nos que ele foi discpulo de Zoroastro na Babilnia, e com este aprendeu todo aquele conhecimento que posteriormente o torna-
ria to famoso no Oriente. Assim disse Apulio e assim dizem Jmblico, Porfrio e Clemente de Alexandria.
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Quando um Aspirante morria em decorrncia dessas rgidas provaes, seu corpo era arremessado no mais profundo canto da caverna, e nunca mais se ouvia falar dele. Con-
ta-se que, no sculo V d.C., os cristos de Alexandria resolveram explorar uma caverna por eles descoberta e que tinha sido consagrada MITRA, tendo estado fechada por um
perodo muito longo. (...) A principal coisa que encontraram foi uma grande quantidade de esqueletos humanos que haviam sido sacrificados. (...) (Maurices Indian Antiquiti-
es, vol. II, p. 965).
72
O Simorg lendrio tinha o tamanho de trinta pssaros, com a aparncia de uma guia enorme, semelhana da Phoenix grega.
73
Esses sete degraus faziam-se presentes numa escada alta. O seu simbolismo, totalmente ligado ao nmero sete, ter sua explicao somente no Grau de Mestre. No entanto, essa par-
te da cerimnia provavelmente podia estar traduzindo alguma aluso ao avano progressivo da alma atravs da metempsicose em busca da perfeio e da eterna beatitude, uma doutrina
que permaneceu velada nos Mistrios Persas.
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Nos Orculos de Zoroastro dizia-se que esses ces saltavam da terra e latiam horrivelmente contra o Aspirante.
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Era costume, na celebrao dos Mistrios, colocar ante o Aspirante fantasmas figurados por ces, e outros espectros monstruosos.
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Os autores so concordes em que eles, provavelmente, tinham conhecimento de algum processo qumico para imitar o trovo e o raio.
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Esse detalhe do ribombar do trovo intencionava representar a tremenda luta entre o Gnio do Bem e o do Mal, que chegou a sacudir a Terra, na sua formao.
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Tem-se acreditado ter sido esse ilusionismo a fonte primeira para a prtica da magia.
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Para simbolizar a Porta de Fogo do Cu, atravs da qual as almas transmigravam sob a conduo de Mercrio o Mensageiro Celestial dos deuses.
80
A msica foi introduzida por Zoroastro nos Mistrios Persas com a finalidade de realar mais pomposamente os seus efeitos.
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Algumas vezes era usada uma serpente de ouro malevel, o que no deixava de ser caso raro, pois analogamente outros povos tambm usavam esse animal, mas sempre real e
vivo.
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Esses sete saltos estavam simbolizados pelas sete cavernas subterrneas, com base nas quais os persas introduziram a doutrina das sete classes de demnios: O primeiro,
AHRIMAN, chefe de todos os outros; o segundo, dos espritos que habitavam as mais distantes regies do ar; o terceiro, aquele que atravessa as densas e tormentosas regies
prximas da terra, conquanto estivesse bem distante dela; o quarto, dos espritos malignos e imundos que povoavam a superfcie da terra; o quinto, o dos espritos das profunde-
zas, agitadores das tormentas e tempestades; o sexto, o prncipe dos demnios subterrneos que habitavam os charcos em galerias e cavernas, devoravam os mortos que haviam
sido corruptos em vida, provocavam terremotos e convulses na Terra; e o stimo, o dos espritos que habitavam o centro da Terra no Reino da Escurido.
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O trono da Divindade era acreditado como sendo o SOL, que era o paraso persa; mas tambm supunha-se que Ela habitasse no Fogo. Alis, no BAGHAVAD GITA, Kri-
shna diz: O Divino est no fogo do altar; e alguns de seus devotos, com suas oferendas, ao adorarem dirigem-nas Divindade no Fogo.
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Mezdam dizia o profeta separou o homem de outros animais, dos quais distinguiu por um alma (esprito), que uma substncia livre e independente, sem um corpo ou
qualquer coisa material, indivisvel e sem posio, atravs da qual ele absorve a glria dos anjos. O Ser dos Seres criou livres os seus servos; se no fossem bons, no conquistari-
am o Cu; se maus, tornar-se-iam habitantes do Inferno (Book of Abad).
85
Essa doutrina persa foi o fundamento da heresia maniquesta, que tanto agitou a Igreja Crist do 5
o
ao 9
o
sculos. (Maniquesmo, em Filosofia: Doutrina do persa Mani ou
Manes (sc. III), sobre a qual se criou uma seita religiosa que teve adeptos na ndia, China, frica, Itlia e S. da Espanha, e segundo a qual o Universo foi criado e dominado
por dois princpios antagnicos e irredutveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo. Tambm e por extenso: Doutrina que se funda em princpios opostos, bem e
mal (Dic. Aurlio) ).
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Assim, cada ms estava sob a tutela peculiar de um Gnio, de quem aquele ms recebia o nome; e um certo dia dele era dedicado quele tutor atravs de rituais e cerimnias
festivas.
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A Divindade era freqentemente representada como envolvida nas dobras de uma serpente e em referncia superstio solar, uma vez que esse animal era o smbolo do Sol, e
ento muitas vezes retratada sob a forma de um anel, entrando a cauda pela boca para tambm simbolizar a Imortalidade da Divindade. Da, por extenso, igualmente simbo-
lizar a Eternidade da Vida.
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Conta-se que os persas ofereciam sacrifcios de agradecimento aos Oromazes; e aos Ahriman, sacrifcios para evitar os infortnios. Utilizavam-se de uma erva chamada
Omomi, que trituravam num almofariz, invocando ao mesmo tempo o Deus do Inferno e das Trevas; misturavam com sangue de lobo que haviam caado, levando esse com-
posto para um lugar onde os raios do sol nunca penetravam, e a o jogavam e deixavam.
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Divididos em trs categorias: Catrsicos, Menores e Maiores. O primeiro, dedicado purificao, limpeza.
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A morte era a pena para aqueles que divulgassem os Mistrios.
91
O festival eleusino processava-se ao longo de 9 dias contnuos, sendo sua celebrao forrada de esplendor e intensificada pelo charme musical, tanto voclico quanto instrumen-
tal. O 1
o
dia era usualmente consumido em recepo e reunio; o 2
o
era empregado em cerimoniais de purificaes e ablues no mar; o 3
o
estava destinado aos sacrifcios; o 4
o
s
procisses pblicas; o 5
o
iluminao com tochas; o 6
o
aos cnticos acompanhados com msica de flautas e instrumental de bronze; o 7
o
aos jogos pblicos; o 8
o
aos cerimoniais
de Iniciao e execuo dos rituais sagrados; o 9
o
s cerimnias de libao (entre os pagos, ritual religioso que consistia em derramar um lquido de origem orgnica (vinho, -
leo, leite, etc.) como oferenda a qualquer divindade (Dic. Aurlio) ).
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Podero ser descritos apenas quando for alcanado o Grau de Mestre.
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A pronncia correta desse nome leva a que o acento tnico recaia na slaba xi (= ksi).
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Esse silncio probatrio diferia essencialmente daqueles que eram denominados panteles ekemysia, os quais implicavam que os Iniciados fossem compelidos a ocultar ao
mundo os segredos da Instituio. Os primeiros (referidos ao silncio) eram peculiarmente exotricos, e os segundos (segredos), esotricos. A provao de 5 anos era algumas ve-
zes parcialmente reduzida para aqueles que, por sua idade e bem conhecida prudncia, eram havidos como possuidores dos requisitos exigidos para qualific-los Iniciao. Pa-
ra estes, o prazo era diminudo para 2 anos.
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Essa rejeio fazia-se acompanhar de circunstncias to agressivas, que o candidato freqentemente sucumbia ao castigo imposto.
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O juramento proposto ao Aspirante era prestado sobre o nmero QUATRO ou TETRACTYS, que era expresso por DEZ iods (caractere hebraico que simboliza o nome
de Yaweh e tambm o nmero dez), dispostos em forma de tringulo, tendo cada lado QUATRO iods. Assim, desenhando-se essa figura geomtrica e colocando-se no vr-
tice o 1
o
iod, subseqentemente viro os outros 2 e, sob estes, outros 3, para, formando a base, os ltimos 4 o que totalizar o nmero 10 (supe-se que essa tetractys seja deri-
vada do Tetragramaton dos judeus).
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A doutrina de ARISTTELES era de duas espcies exotrica e acrotica ( do grego akroatiks, que s compreendido mediante explicaes). Sob a primeira punham-se a
Retrica, a meditao e belas disputas sobre o conhecimento das coisas materiais; sob a outra, estavam a mais profunda e sutil Filosofia, a contemplao da Natureza e discusses
dialticas.
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Conta-se que PITGORAS foi a um pas chamado Phlius, onde fez uma grande demonstrao de sua cultura perante LEO, o prncipe. Este, encantado com o discurso, per-
guntou-lhe que Arte ele professava. Respondeu que no conhecia qualquer Arte, pois era um Filsofo. Leo, surpreso com esse novo nome, perguntou: O que so Filsofos e
o que diferem eles de outras pessoas?. Pitgoras respondeu que a vida humana como os Jogos Olmpicos, onde alguns buscam a glria, outros o lucro, e outros observar curio-
samente o que foi l realizado. Estes ltimos menosprezam a glria e o lucro, empenhando-se em estudar e indagar as causas de todas as coisas. So eles os Filsofos. Quando ele
fundou a sua Escola, foi indagado sobre qual era o nome de seu Sistema, ao que respondeu: Eu no sou Sophos (sbio), mas sim Philo-Sophos (amante da Sabedoria); e meus
seguidores devero ser chamados Filsofos.
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O grande smbolo pitagrico resume-se nos nmeros UM e DOIS, que eram empregados como expressando a ideia de propagao: UM, o pai; DOIS, a me. A multipli-
cao da UNIDADE pela DUALIDADE (uma vez, duas vezes duas) faz QUATRO, a Tetractys, isto , a ideia de todas as coisas, que se resumem ou sintetizam no nmero
DEZ.
100
de perguntar-se: Como podia Pitgoras conciliar sua doutrina de nmeros mpares e pares com o seu conhecido axioma de que os nmeros quatro e dez compunham a
Tetractys ou Sagrado Nome de Deus?
101
Um dos mtodos que Pitgoras usava para forar seus discpulos a praticar a virtude moral era o de usar sentenas curtas e vigorosas que simbolizavam algum grande dever
moral. Assim: Use a prudncia, e se abstenha de paixes incontrolveis; Teste o homem, antes de admiti-lo como seu amigo ou irmo.
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Alguns dos smbolos de Pitgoras, com os comentrios dele, eram os seguintes: O tringulo eqiltero, figura perfeita que se refere a Deus, o Princpio e o Autor de todas as
coisas sublunares; Quem, em seu corpo, assemelha-se Luz e em seu esprito, Verdade. o que foi, , e ser. O esquadro ou ngulo reto, porque envolve a unio das
capacidades celestial e terrestre, e smbolo da Moralidade e da Justia. O quadrado perfeito, porque simboliza a Mente Divina, exposta na Tetractys. O cubo, como sm-
bolo do homem aps uma vida bem exemplar pelos atos de piedade e devoo, estando assim bem preparado por essas virtudes para ser transladado sociedade celestial dos
deuses. O ponto dentro do crculo e o dodecaedro, como smbolos do Universo. O triplo tringulo (= uma estrela de cinco pontas, pois suas cinco linhas se entrecruzam
formando trs tringulos), tambm chamado Hygeia, smbolo da sade. A 47
a
Proposio de Euclides, ou, simplesmente, Tringulo Pitagrico smbolo exaustivamente
conhecido na Maonaria. E a letra Y, smbolo do curso da vida humana. O jovem, chegando virilidade, defronta-se com dois caminhos e delibera qual deles ir trilhar. Se est
acompanhado por um Guia que o dirige para uma filosofia a seguir e ele procura a Iniciao, sua vida ser honrada e sua morte feliz. Mas se ele se omite no fazer isso e segue o
caminho da esquerda, que parece ser mais largo e melhor, ento ser conduzido pela indolncia e a luxria, terminando por afetar a sua sade moral para chegar numa velhice
de infmia e misria.
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Foi em aluso a tais ritos que Plato cuja filosofia fora largamente influenciada pelos Mistrios quis dizer que A Verdade deve ser vista no fundo de um poo. Por verda-
de ele queria significar as especulaes reveladas aos Iniciados, que eram dali em diante intitulados EPOPTAS, ou seja, pessoas que vem as coisas como elas verdadeira-
mente so; e por poo, ele entendia o lugar ou caverna sagrada onde os Mistrios eram to freqentemente celebrados.
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O mesmo que substncia. 1. A parte real, ou essencial, de alguma coisa. 2. A natureza dum corpo; aquilo que lhe define as qualidades materiais; matria. 3. O que necess-
rio permanncia material de alguma coisa; o que tem propriedades de fora, vigor, resistncia. 4. O que no aparente ou superficial; o que realmente importa ao esprito;
fundo, contedo. 5. Em Filosofia: Na tradio aristotlico-tomista, o que h de permanente nas coisas que mudam, e que o suporte sempre idntico das sucessivas qualidades re-
sultantes das transformaes; hipstase. 6. O que existe por si mesmo, sem supor outro ser de que seja atributo (Dic. Aurlio).
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H quem sustente que Plato, pelo seu contato com os judeus, tomou conhecimento da histria bblica da Queda do Homem, o que ele veio a descrever, enigmaticamente, no
Symposacos.
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O sacerdote que presidia aos mistrios de Elusis, na Grcia antiga.
107
Em Histria da Filosofia: Segundo Plato, o Deus que cria o Universo, organizando a matria preexistente. Em Religio: Criatura intermediria entre a natureza divina e a
humana (Dic. Aurlio).
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Para acompanhar essa abstrao, entenda-se que era habitual entre os sacerdotes, nos mais recuados perodos de sua histria, mortificarem-se atravs do emprego de certas
ervas que eram reputadas possuir a virtude de reprimir todas as excitaes sexuais. No somente eles mas at alguns que eram to rgidos a esse respeito ensinavam literalmente
como proceder para o expediente de castrarem a si mesmos, pois toda inclinao para os prazeres ilcitos podia ser efetivamente contida. Essa prtica era vista como altamente
meritria. Era um axioma da mxima valia para um homem poder oferecer esse ato de castrao em sacrifcio aos deuses; e, por isso, investiu-se de um alto grau de louvor.
Tambm na Assria (atual Iraque), durante a celebrao de seus mais solenes rituais, os sacerdotes sujeitavam-se a ser trajados com vesturios femininos e se submetiam ao cas-
tigo da faca (navalha) na presena da multido! Tal a fora, o poder do entusiasmo!
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1. Entre os antigos gregos, sacerdote que iniciava os nefitos nos mistrios de Elusis. 2. Antigo sacerdote que ensinava as cerimnias e os ritos de uma religio; mestre dos
mistrios. 3. Por extenso: Iniciador, mentor (Dic. Aurlio).
110
MARIA LAMAS, ob. cit., vol. II, pg. 246.
111
Idem, pg. 247.
112
Ob. e aut. cits., pg. 249.
113
P. DHORME, Choix de textes religieux assyro-babiloniens (Seleo de textos assrio-babilnios), Paris, pg. 51/53.
114
Idem, nota 113.
114
Idem, nota 113.
116
Idem, idem, pgs. 258/59.
117
Idem, ibidem, pgs. 259/60.
118
MARIA LAMAS, obra citada, pgs. 266 e ss.
119
Demnio masculino que, segundo velha crena popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos (Dic. Aurlio).