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Evolução Da Paisagem Urbana

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MARIA DO CARMO RIBEIRO

Professora Auxiliar do Departamento de Histria da


Universidade do Minho, Investigadora do CITCEM
e da Unidade de Arqueologia da Universidade do
Minho. Doutorada em Arqueologia, na especialidade
de Arqueologia da Paisagem e do Territrio, pela
Universidade do Minho. A sua investigao tem-se
centrado nas questes de urbanismo, morfologia
urbana, arqueologia da arquitectura
e histria da construo.
ARNALDO SOUSA MELO
Professor Auxiliar do Departamento de Histria da
Universidade do Minho, Investigador do CITCEM.
Doutorado em Histria da Idade Mdia pela
Universidade do Minho e pela cole des Hautes
tudes en Sciences Sociales, Paris. O seu campo de
investigao incide sobre a sociedade, economia,
poderes e organizao do espao urbano medieval, em
particular a organizao do trabalho e da produo,
incluindo a histria da construo.
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COORD.
MARIA DO CARMO RIBEIRO
ARNALDO SOUSA MELO
EVOLUO DA
PAISAGEM URBANA
TRANSFORMAO MORFOLGICA
DOS TECIDOS HISTRICOS
EVOLUO DA
PAISAGEM URBANA
TRANSFORMAO MORFOLGICA
DOS TECIDOS HISTRICOS
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MARIA DO CARMO RIBEIRO
ARNALDO SOUSA MELO
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outros ttulos de interesse:
Histria da Construo - Os Construtores
Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro (coord.)
Histria da Construo - Os Materiais
Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro (coord.)
Construir, Habitar: A Casa Medieval
Manuel Slvio Alves Conde
Evoluo da Paisagem Urbana: Sociedade e Economia
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo (coord.)
COORD.
MARIA DO CARMO RIBEIRO
ARNALDO SOUSA MELO
EVOLUO DA
PAISAGEM URBANA
TRANSFORMAO MORFOLGICA
DOS TECIDOS HISTRICOS
FICHA TCNICA
Ttulo: Evoluo da paisagem urbana: transformao morfolgica dos tecidos histricos
Coordenao: Maria do Carmo Ribeiro, Arnaldo Sousa Melo
Figura da capa: Detalhe do Mappa das Ruas de Braga, Ricardo Rocha, 1750, Arquivo Distrital de Braga.
Edio: CITCEM Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria
IEM Instituto de Estudos Medievais (FCSH Universidade Nova de Lisboa)
Design grco: Helena Lobo www.hldesign.pt
ISBN: 978-989-8612-05-2
Depsito Legal: 357874/13
Concepo grca: Sersilito -Empresa Grca, Lda. www.sersilito.pt
Braga, Abril 2013
O CITCEM nanciado por Fundos Nacionais atravs da FCT-Fundao para a Cincia e a Tecnologia no
mbito do projecto PEst-OE/HIS/UI4059/2011
SUMRIO
Apresentao
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Em torno da Rua Verde. A evoluo urbana de Braga na longa durao
Manuela Martins e Maria do Carmo Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O Processo Urbano de vora. Sc. I a.C. sc. XV
Gustavo Silva Val-Flores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Tarraco. Morfologa y trazado urbano.
Ricardo Mar y Joaqun Ruiz de Arbulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
La ciudad en las Partidas: edicaciones y apostura urbana
Juan A. Bonacha Hernando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Operaciones de implantacin de prestigio en la ciudad medieval en los siglos
XV y XVI en Valladolid, Salamanca y Segovia. Anlisis de sus signicados y
cambios urbanos producidos
Jos Miguel Remolina Seivane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Urbanismo medieval asturiano a nes de la Edad Media. Financiacin y gestin del
espacio pblico, entre la tradicin medieval y la modernidad (Oviedo, siglos XV-XVI).
Mara lvarez Fernndez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Para o estudo do mercado imobilirio do Porto: o Tombo do Hospital de Rocamador
de 1498
Lus Miguel Duarte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
O papel dos sistemas defensivos na formao dos tecidos urbanos (Sculos XIII-XVII)
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Tarraco. Morfologa y trazado urbano.
Transformaes no sistema defensivo medieval de Barcelos
Antnio Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Grant fortuna del mar: construcciones portuarias y espritu emprendedor en las
villas portuarias de la Espaa atlntica en la Edad Media
Jess ngel Solrzano Telechea, Fernando Martn Prez e Amaro Cayn Cagigas . . 245
A ao das estruturas porturias na urbanizao do Porto tardo-medievo.
Helena Lopes Teixeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
Indcios e evidncias de integrao morfo-funcional na paisagem urbana de Braga
(Scs. XVI-XVIII)
Miguel Sopas de Melo Bandeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
Ourense: permanencia e transformacins nunha cidade galega
Anselmo Lpez Carreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315
11
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO
URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
1
MANUELA MARTINS
2
MARIA DO CARMO RIBEIRO
3
1. INTRODUO
A anlise da evoluo urbana de Braga entre a sua fundao romana e a poca
atual tem sido objeto de alguns trabalhos, elaborados com diferentes detalhes e
objetivos, atravs dos quais foi abordada a sequncia de ocupao da cidade
4
e
sobretudo as grandes alteraes que caracterizaram a sua morfologia urbana, entre
os perodos romano e medieval
5
, entre este e o sculo XVIII
6
, bem como as grandes
transformaes que afetaram o tecido urbano bracarense no sculo XIX
7
. Um estudo
mais consistente e aprofundado da evoluo urbana de Braga entre a poca romana e
o sculo XVI foi produzido mais recentemente,
8
tendo por base os dados fornecidos
1
Este trabalho foi realizado no mbito do Projeto PTDC/HIS -ARQ/121136/2010, nanciado pela
FCT e pelo Programa COMPETE, intitulado Paisagens em mudana. Bracara Augusta e o seu territrio
(sculos I -VII).
2
Professora Catedrtica do Departamento de Histria da Universidade do Minho; responsvel da
Unidade de Arqueologia; investigadora do CITCEM: Agrupamento Paisagens, Fronteiras e Poderes (Pest
OE/HIS/UI4059/2011) mmmartins@uaum.uminho.pt.
3
Professora Auxiliar do Departamento de Histria da Universidade do Minho; investigadora do
CITCEM: Agrupamento Paisagens, Fronteiras e Poderes (Pest OE/HIS/UI4059/2011) mcribeiro@uaum.
uminho.pt
4
Oliveira et al. 1982.
5
Martins e Fontes 2010: 111 -124; Fontes et al. 2010: 255 -262; Fontes 2011: 313 -334; Martins et al.
2012: 29 -68; Fontes 2012a: 443 -474; 2012b.
6
Bandeira 2000; Maurcio 2000; VVAA 1989 -91.
7
Analisadas no mbito da tese de doutoramento de Miguel Bandeira (2002).
8
Ribeiro 2008, Vol. I e II. Este trabalho foi desenvolvido no mbito de um projeto nanciado pela FCT
(Projeto POCTI/HAR/46459/2002), com o ttulo Da Braga romana Braga medieval. A transformao
de uma paisagem urbana.
12
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
pela arqueologia e pelas fontes histricas, iconogrcas e cartogrcas, no qual se
procurou caracterizar as sucessivas formas urbanas da cidade romana, alto e baixo
imperial, tardo antiga, bem como as suas sucessoras medieval e moderna.
Apesar dos trabalhos existentes, que abordam quase sempre a totalidade do
tecido urbano de Braga nos diferentes perodos, continuam por fazer anlises mais
detalhadas do modo como evoluiu a estrutura urbana da cidade romana entre o
projeto fundacional e a tardo antiguidade, estando igualmente por valorizar no
pormenor a evoluo do quadrante nordeste da cidade romana, o nico que per-
sistiu ocupado nos perodos posteriores (Fig. 1).
Este trabalho representa um contributo para uma anlise mais na da evoluo
morfolgica da cidade de Braga na longa durao, centrando -se num setor que
corresponde periferia ocidental da cidade medieval, a qual est representada pelo
eixo virio conhecido, entre a Idade Mdia e o sculo XIX, como Rua Verde/Couto
do Arvoredo e reas limtrofes. A escolha desta rea resulta do facto da referida rua
corresponder na sua gnese ao traado da parte norte do cardo mximo da anterior
cidade romana, bem como ao tramo inicial da via XIX, que viria a ser integrado
no espao intramuros, denido pela muralha do Baixo -Imprio. Trata -se de uma
via que foi documentada arqueologicamente, quer na sua original congurao
romana, quer na sua posterior feio medieval e moderna, constituindo o nico
eixo virio de origem romana que perdurou at ao sculo XIX, momento em que
foi cortado pela implantao da parte sul da atual Rui Frei Caetano Brando. Vrias
escavaes realizadas em diferentes imveis da referida rua permitiram entretanto
detetar vestgios relacionados com os quarteires residenciais romanos que se
distribuam ao longo da via na poca romana, ocupados por domus e outros edi-
fcios, que foram evoluindo entre a sua primitiva ocupao alto imperial e a tardo
antiguidade. Uma vez que possumos informao arqueolgica relevante sobre os
quarteires romanos que se situavam a nascente e poente do cardo mximo e que
este eixo persistiu no traado virio da cidade de Braga at pocas recentes, cor-
respondendo rua poente do antigo Bairro das Travessas, entendeu -se que seria
importante analisar a evoluo sofrida pelo parcelamento associado rua, tendo -se
recorrido para o efeito a fontes iconogrcas e cartogrcas da poca moderna e
do sculo XIX, a que nos referiremos no ponto seguinte.
Assim, este trabalho tem por objetivo caracterizar as transformaes urbanas
ocorridas na rea envolvente do cardo mximo, que persistiu na conhecida Rua Verde/
Couto do Arvoredo, tendo em vista vericar as continuidades e descontinuidades do
tecido urbano romano no posterior traado medieval da parte ocidental do Bairro
das Travessas, vericar a evoluo da urbanizao da Rua Verde/Couto do Arvoredo,
entre a poca medieval e moderna e avaliar os impactos da abertura, no sculo XIX,
da parte sul da R. Frei Caetano Brando, a qual cortou o anterior eixo virio.
13
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
Na prtica, pretende -se proceder a uma anlise detalhada da morfologia urbana
do quadrante nordeste da cidade romana que dar origem parte sul da cidade
medieval e moderna, tendo em vista compreender os processos dinmicos que
determinaram a recongurao urbanstica da cidade de Braga relativamente ao
seu original traado romano.
2. FONTES E METODOLOGIA
2.1. As fontes
2.1.1 As fontes arqueolgicas
A rea abordada neste trabalho, centrada em torno de um eixo virio estrutu-
rante da cidade romana, o cardo mximo norte, que persistiu no traado de Braga
at ao sculo XIX, constitui um dos setores melhor conhecidos da cidade romana,
Fig. 1. Representao das reas ocupadas pelas cidades romana e medieval sobre fotograma de 1948.
14
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
em resultado de vrias intervenes realizadas no mbito do Projeto de Bracara
Augusta, as quais forneceram dados relevantes para caracterizar a sua ocupao
ao longo do tempo (Fig. 3).
Uma dessas intervenes foi realizada no logradouro do antigo Albergue Dis-
trital
9
, onde se situa atualmente a Biblioteca Lcio Craveiro da Silva (Fig. 3), local
onde foram detetados vestgios associados aos limites da via romana, que seria
ladeada pelos prticos que se dispunham ao longo das fachadas das habitaes que
ocupavam os quarteires limtrofes deste importante eixo da cidade romana. As
escavaes permitiram identicar igualmente as alteraes sofridas pelo eixo virio,
que se tornou mais estreito na tardo antiguidade, tendo sido documentados vestgios
de calada associados sua utilizao nas pocas medieval e moderna. Sob a rua
foi ainda identicada uma grande cloaca, que corria ao longo de toda a via. Uma
outra interveno, realizada no edifcio correspondente aos ns 183 -185 da R. Frei
Caetano Brando
10
, permitiu identicar os silhares que assinalam o prtico de uma
outra habitao, os quais deniam o limite nascente da via (Fig. 3). Uma terceira
escavao teve lugar no edifcio da Escola Velha da S
11
e permitiu detetar um con-
junto de silhares que deniam o prtico nascente de uma outra domus, parcialmente
escavada (Fig. 3). Os referidos silhares denem o limite poente do cardo mximo.
12

Finalmente, uma quarta interveno arqueolgica, de carcter mais circunscrito,
realizada na R. Frei Caetano Brando n154,
13
permitiu exumar vestgios da cloaca
que corria sob o cardo mximo, a qual revela a uma ligeira inclinao para nordeste.
2.1.2. As fontes documentais
As fontes histricas utilizadas para analisar o setor em estudo neste trabalho
consistem num conjunto de documentos produzidos pela instituio religiosa
bracarense. Na realidade, a informao arquivista mais antiga existente para Braga
foi produzida no mbito da Arquidiocese, essencialmente pela Mitra e pelo Cabido
da S Primacial de Braga, que se assumiram como os grandes produtores e autores
da documentao escrita para o perodo medieval mas, tambm, para os perodos
posteriores
14
.
9
Lemos e Leite 2000: 15 -38.
10
Leite et al. 2013.
11
Interveno realizada pelo Gabinete de Arqueologia da Camara Municipal de Braga. Agradece -se
ao Dr. Armandino Cunha, responsvel pela interveno arqueolgica o acesso aos dados da escavao.
12
Magalhes 2010.
13
Interveno realizada pelo Gabinete de Arqueologia da Camara Municipal de Braga. Agradece -se ao
Dr. Armandino Cunha, responsvel pela interveno arqueolgica o acesso aos dados da referida escavao.
14
Ribeiro 2008 I: 195 -198.
15
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
Entre as fontes selecionadas para este trabalho encontram -se o 1 Livro do
Tombo do Cabido, referente ao perodo entre 1369 e 1380
15
, o ndice dos Prazos das
Casas do Cabido
16
, que cobre o perodo entre 1406 a 1905 e os Livros dos Prazos
das Propriedades do Cabido, referentes ao perodo entre 1465 e 1517.
17

Produzidos com ns administrativos, estes documentos reportam -se basica-
mente s propriedades que o Cabido da S de Braga possua na cidade. Apesar de
fornecerem informao indireta acerca das caractersticas urbanas, permitem extrair
dados relacionados com os diferentes espaos urbanos, nomeadamente ruas, praas
e largos, identicando o seu topnimo e a sua localizao no plano urbano, tendo
como referncias os espaos ou edicaes mais emblemticas, como as portas
e postigos da muralha, os locais relacionados com a atividades comerciais ou os
ofcios. Estes documentos fornecem, igualmente, dados acerca do parcelamento
e do uso diferenciado do solo referenciado s ruas, nomeadamente habitao,
identicando diferentes tipos de casas mas, tambm, serventias e logradouros
18
.
Apesar da grande diculdade em georreferenciar a propriedade urbana com base
na informao escrita, o seu cruzamento com as restantes fontes permite uma
aproximao s caractersticas do tecido urbano em torno do eixo medieval da
Rua Verde, usado para caracterizar a morfologia das cidades medieval e moderna
(Figs. 7 e 8).
2.1.3. As fontes iconogrcas
A cidade de Braga foi uma das contempladas pela tendncia renascentista de
ilustrar os espaos urbanos, integrando a obra Civitates Orbis Terrarum, de Georg
Braun e Franz Hogenberg, publicada na cidade alem de Colnia, entre os anos
de 1572 a 1618
19
, na qual se integra a gravura intitulada de nova Bracarae Avgvste
descriptio que ter sido produzida no ano de 1594, constituindo a primeira ilustrao
geral conhecida para a cidade, vulgarmente designada por Mapa de Braunio. Pese
embora o facto de no se tratar de um mapa no sentido topogrco do termo, esta
ilustrao fornece pormenores relativos ao tecido urbano de Braga no sculo XVI,
o qual consideramos igualmente vlido para a morfologia da cidade medieval
20
.
15
Este documento pertence ao Arquivo Distrital de Braga e foi criticamente datado entre 1369 -1380
por Avelino Jesus da Costa (1997 -2000).
16
Publicado conjuntamente com o 2 volume do Mapa das Ruas de Braga (VVAA 1989 -/91: Vol. II).
17
Documentos pertencentes ao Arquivo Distrital de Braga. Transcrio paleogrca gentilmente
cedida pela Professora Doutora Maria da Conceio Falco Ferreira.
18
Ribeiro 2008, I: 195 -198; II: 65 -70.
19
Bandeira 2000.
20
Ribeiro 2008, II: 50 -52.
16
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
Entre as inmeras informaes que o Mapa de Braunio fornece destacam -se as
que se relacionam com o sistema virio intramuros, nomeadamente para o setor
da cidade em anlise neste trabalho. Este corresponde, na generalidade, ao mesmo
que se encontra ainda representado, trs sculos mais tarde, na planta topogrca
de 1883/84, sendo coincidente, quer com o rol de ruas do sculo XIV, referidas no
1 Livro do Tombo do Cabido, quer com as fontes iconogrcas e cartogrcas
posteriores.
Uma outra ilustrao da cidade de Braga, produzida no sculo XVII, corresponde
a uma planta colorida, de autor desconhecido, que integra um lbum onde esto
representadas mais 38 povoaes portuguesas
21
. Contudo, a delidade morfolgica
da representao reduzida, apresentando claras deformaes planimtricas,
permitindo, todavia, quando comparada com o Mapa de Braunio, documentar o
processo de crescimento da cidade. Para o setor urbano em anlise neste trabalho
destaca -se o aumento do espao construdo, nomeadamente atravs do maior
nmero de parcelas edicadas na parte sul da Rua Verde.
O sculo XVIII foi bastante profcuo na produo de iconograa, sendo de
destacar o Mappa das Ruas de Braga
22
e o Mappa da Cidade de Braga Primas, da
autoria do arquiteto bracarense Andr Soares.
23

O denominado Mappa das Ruas de Braga, habitualmente designado pela sigla
MRB, um documento de inestimvel valor iconogrco e cadastral, elaborado
em 1750, pelo Padre Ricardo Rocha, a mando do arcebispo, com o objetivo de
registar os bens patrimoniais do Cabido da S de Braga. Trata -se de um livro que
retrata um elevado nmero de espaos de circulao da Braga setecentista, onde
se encontram representados os alados das construes anexas s ruas, bem como
aos largos ou praas, que compunham o espao urbano. A verso utilizada neste
trabalho
24
consiste numa reedio e ampliao publicada pelo Arquivo Distrital
de Braga, composta por dois volumes, o primeiro publicado no ano de 1989 e o
segundo no ano 1991. Esta verso, para alm de divulgar o documento original
25

apresenta uma anlise da relao existente entre as propriedades assinaladas
como pertencentes ao Cabido e a informao documental existente acerca das
mesmas, designadamente a constante dos ndices dos Prazos das Casas do Cabido,
que cobrem o perodo entre 1406 a 1905. Esta fonte permite conhecer os alados
das casas pertencentes Rua Verde/Couto do Arvoredo e s ruas envolventes, em
21
Nunes 1994.
22
VVAA 1989 -91, Vol I.
23
Andr Rybeiro Soares da Silva, 1755 (?) Mappa da Cidade de Braga Primas, s/escala, s/cota,
Biblioteca da Ajuda, Lisboa.
24
VVAA 1989 -91, Vol. I.
25
O primeiro volume composto por 60 flios e 19 pginas prvias.
17
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
meados do sculo XVIII e obter dados relativos largura e altura das fachadas,
medidas em varas e seus submltiplos.
O Mappa da Cidade de Braga Primas, datado de meados do sculo XVIII, possui
uma escala aproximada de 1:2000, que assegura a relativa proporcionalidade dos
elementos representados, tentando conciliar a escala com a perspetiva, apresentando
rigor na projeo visual tridimensional do espao urbano, com evidente sentido
esttico
26
. Atravs da sua anlise possvel obter informao acerca da urbanizao
setecentista da Rua Verde/Couto do Arvoredo e rea envolvente.
2.1.4. As fontes cartogrcas
As primeiras representaes cartogrcas rigorosas para Braga datam do
sculo XIX e esto representadas pela planta executada pelos militares Belchior
Jos Garcez e Miguel Baptista Maciel, na escala de 1/4000 e pelo mapa da autoria
de Francisco Goullard, na escala 1/500, realizado entre 1883/1884.
A primeira planta constitui um levantamento rigoroso e geomtrico do espao
urbano bracarense oitocentista, possibilitando uma leitura topogrca precisa do
plano da cidade. Considerando as parcas alteraes morfolgicas ocorridas no
espao intramuros desde o sculo XVI, conforme se pode observar pela anlise
comparativa com o Mapa de Braunio, esta planta representa o primeiro documento
sobre o qual podemos cartografar rigorosamente o plano medieval de Braga,
nomeadamente o setor em anlise neste trabalho. Destaque -se, que esta planta
constitui a nica representao cartogrca rigorosa da Rua Verde, anteriormente
sua alterao ocorrida em nais do sculo XIX. O documento , todavia, pouco
elucidativo quanto ao parcelamento, pois representa o espao construdo como
uma mancha contnua que acompanha as vias de circulao, sem que haja uma
individualizao das parcelas construdas
27
.
J o mapa da autoria de Francisco Goullard, na escala 1/500, realizado entre
1883/1884
28
assume maior relevncia para a anlise do urbanismo oitocentista, pois,
para alm do sistema virio, regista os quarteires, o parcelamento, o edicado e
o uso diferenciado do solo, anteriormente s grandes transformaes urbansticas
dos nais do sculo XIX, que romperam, em denitivo, com o traado urbano da
Braga renascentista, herdado do perodo medieval
29
. No entanto, a parte sul da Rua
26
Ribeiro 2008, II: 49 -65.
27
Ribeiro 2008, II: 56 -58.
28
Planta escala 1/500, composta por 32 folhas, pertencente Cmara Municipal de Braga, instituio
a quem agradecemos a sua cedncia em formato digital.
29
Ribeiro 2008, II: 60 -62.
18
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
Verde, apresenta j nesta fonte as caractersticas morfolgicas que decorrem das
alteraes de nais do sculo XIX.
Finalmente rera -se que o suporte cartogrco usado como base digital cor-
responde ao levantamento topogrco de 1992.
2.2. A metodologia
A anlise da evoluo urbanstica de uma cidade, na longa durao, uma tarefa
complexa que exige o manuseamento de dados de diferente natureza, fornecidos
pela arqueologia, pela documentao histrica, pela iconograa e pela cartograa.
No entanto, no basta juntar as referidas fontes para que se torne evidente qualquer
plano urbano, sendo necessrio produzir informao nova a partir da interpreta-
o realizada com base na valorizao dos diferentes tipos de testemunhos. Por
outro lado, importa referir a necessidade de utilizar uma metodologia de anlise
regressiva, tendo por base a cartograa rigorosa mais antiga, que, no caso de Braga,
data do sculo XIX, Falamos, naturalmente das primeiras plantas topogrcas,
que permitem conhecer o traado da trama viria e do parcelamento, que embora
caracterizando o urbanismo oitocentista, podem ser usadas para interpretar as
anteriores cidades da Baixa Idade Mdia e Moderna. Tambm em relao ao par-
celamento cabe destacar a utilizao da importante fonte representada pelo Mapa
das Ruas de Braga (MRB), que assinala o grau de urbanizao dos diferentes eixos
virios bracarenses em meados do sculo XVIII.
Assim, o exerccio que procurmos desenvolver neste trabalho contemplou o
uso de distintas fontes em diferentes perodos, cuja articulao se encontra repre-
sentada na gura 2.
Para caracterizar a morfologia urbana da cidade romana e tardo antiga foram
usados como fonte principal os dados arqueolgicos disponveis, resultantes das
intervenes referidas no ponto 2.1 e como fontes secundrias a fotograa area
e a cartograa atual de Braga, datada de 1992. Foram tambm as fontes arqueo-
lgicas que potenciaram a abordagem da morfologia alto medieval de Braga, em
articulao com a planta topogrca do sculo XIX, da responsabilidade de B.
Garcez e M. Maciel, a qual fornece a morfologia da cidade num perodo anterior
s grandes transformaes que a mesma sofreu na 2 metade do sculo XIX. A
restituio da morfologia baixo medieval teve como fontes principais a planta
topogrca de B. Garcez e M. Maciel, para a restituio do traado virio e o MRB
(Mapa das Ruas de Braga) do sculo XVIII para a anlise do parcelamento. Como
fontes secundrias utilizou -se a documentao histrica disponvel e a icono-
graa, em particular o conhecido Mapa de Braunio, de 1594, o qual nos fornece
uma imagem da urbanizao do setor analisado. As mesmas fontes serviram para
19
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
caracterizar a morfologia da cidade moderna, entre os sculos XVI e XVIII. Na
anlise da morfologia urbana do sculo XIX privilegiou -se como fonte principal
a planta topogrca de Francisco Goullard, datada de 1883 -84, que nos fornece
ainda o traado original da Rua Verde, mas que tem j projetada a abertura da
parte sul da R. Frei Caetano Brando, que destruir a Rua do Couto do Arvoredo,
facto que implicou igualmente o arrasamento do edicado que se dispunha ao
longo do referido eixo virio.
3. A EVOLUO URBANA DE BRAGA: DO CARDO MXIMO
RUA VERDE/COUTO DO ARVOREDO
3.1. O urbanismo romano
A fundao da cidade romana de Bracara Augusta inseriu -se no contexto da
organizao poltica e administrativa da Hispnia, que se sucedeu ao m das guerras
cantbricas, constituindo um dos trs centros urbanos criados por Augusto no NO
Fig. 2. Esquema da metodologia com indicao das fontes utilizadas
20
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
peninsular
30
. Face aos dados histricos e ao dossier epigrco disponvel parece-
-nos possvel admitir que a cidade tenha sido fundada entre 16 e 15 aC., tendo
provavelmente conhecido um processo de povoamento anteriormente aos anos 5
e 2 aC, altura em que est j documentada a existncia de um corpo cvico que se
referenciava pelo nome da cidade (bracaraugustanus), parecendo igualmente certo
que a rea urbana teria ento j sido objeto dos necessrios rituais fundacionais
que antecediam o incio das atividades construtivas.
As inmeras intervenes arqueolgicas realizadas nos ltimos 36 anos na cidade
de Braga forneceram um conjunto de dados muito signicativos que permitem
caracterizar o traado fundacional da cidade
31
, o urbanismo da poca imperial
32
, bem
como a sua evoluo at aos sculos V -VII
33
, sendo de destacar igualmente os dados
disponveis que permitem articular o urbanismo com as infraestruturas urbanas, com a
arquitetura pblica e privada, com a economia e com a vida cvica da cidade romana
34
.
A arqueologia demonstra que Bracara Augusta sofreu contnuas transforma-
es urbansticas e arquitetnicas entre a sua fundao e a Antiguidade Tardia, as
quais constituem um reexo do dinamismo e da capacidade econmica da cidade
ao longo de sculos.
3.1.1 A morfologia alto imperial
Como cidade fundada ex novo Bracara Augusta foi objeto de uma planicao
ortogonal que congurou uma cidade de planta perfeitamente retangular, com uma
rea de cerca de 29,85Ha. A cidade teria como eixo maior, no sentido N/NO -S/SE,
cerca de 10 mdulos de 156 ps (1560 ps = 461.76 m), o que equivaleria a cerca
de 2,5 estdios romanos e no sentido E/NE -O/SO cerca de 14 mdulos (2184 ps
= 650,30 m), correspondente a 3,5 estdios.
Pouco sabemos sobre o forum da cidade, cuja localizao sugerida pela inter-
pretao global da forma urbis, pelo aparecimento de elementos arquitetnicos
de grandes dimenses
35
e por uma referncia contida no mapa de Braunio, que o
situa nas imediaes da capela de S. Sebastio, junto ao atual Largo Paulo Orsio
(Fig. 3), que constitua a rea mais elevada da cidade. Apesar dos escassos dados
disponveis, e por razes topogrcas, julgamos que deveria desenhar um retngulo,
30
Martins 2009: 181 -211.
31
Martins et al, no prelo.
32
Martins 2009: 181 -211; Martins et al 2012: 29 -68.
33
Ribeiro 2008 I: 292 -312; Fontes et al 2010: 255 -262; Fontes 2011: 313 -334; Martins et al 2012:29-
-68; Fontes 2012a: 443 -474; 2012b.
34
Martins et al 2012: 29 -68.
35
Ribeiro 2010: 326 -328.
21
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
com o eixo maior disposto no sentido N/NE -S/SO, podendo ter -lhe sido reservada
a rea correspondente a 3 quarteires, no sentido do comprimento, por dois de
largura. O recinto foral possuiria assim um comprimento mximo de cerca de 450
ps (133,45m) e uma largura de 294 ps (87,17 m).
Os limites do forum esto representados pelos eixos principais, correndo o
cardus maximus a nascente e o decumanus maximus a norte. Para alm da parte
norte do cardo mximo esto arqueologicamente documentados outros cardines e
decumani menores, cuja largura mdia de 12 ps. Por sua vez, e luz dos dados
disponveis, os quarteires residenciais possuiriam reas construdas de 120 ps
(1 actus), que incluiriam os espaos reservados aos prticos, que registam em
mdia 12 ps de largura.
Tendo por base a documentao disponvel tudo aponta para uma grande regu-
laridade da malha urbana de Bracara Augusta, denida pela uniformidade dos seus
quarteires e pela dimenso semelhante das ruas e dos prticos que constituem
um elemento caracterstico do urbanismo da cidade alto imperial.
A parte conhecida do cardo mximo corresponde ao seu setor norte, tendo
sido detetada em trs intervenes arqueolgicas descontnuas que permitiram
conrmar a orientao desta importante via da cidade. A sua existncia deixa-
-se perceber a partir dos alinhamentos dos silhares dos prticos, identicados
nas escavaes realizadas na zona do ex Albergue Distrital (Fig. 3)
36
dispostos a
nascente e poente da rua, que possui uma largura de 7,24 m (24 ps). Na zona
arqueolgica que se situa imediatamente a sul (Fig. 3), foi possvel detetar tambm
alguns silhares que integraram o prtico de uma domus, construda na poca
via,
37
cujo alinhamento assinala a parte nascente da via. O mesmo acontece
na zona arqueolgica da Escola Velha da S (Fig. 3), que forneceu silhares de
assentamento da colunata de um prtico situado a nascente de uma outra domus,
igualmente de cronologia aviana.
38

Num momento que podemos situar entre Cludio e Nero foi construda no
eixo do cardo mximo uma grande cloaca, que acompanhava toda a via, uma vez
que foi detetada numa interveno realizada na Rua Frei Caetano Brando n 154,
oferecendo a j um desalinhamento relativamente ao eixo da rua. Assim, tendo por
base a extenso da cloaca, podemos estimar que o cardo mximo se desenvolvia, no
seu troo norte, ao longo de cerca de 625 ps (185,125 m), valor que corresponde
medida romana de 1 stadium.
36
Magalhes 2010: 67 -77.
37
Lemos e Leite 2000: 15 -38; Magalhes 2010: 60 -61.
38
Magalhes 2010: 50 -51.
22
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
Apesar das evidncias associadas aos limites da parte norte desta via, no
encontrmos vestgios que possam ser claramente associados ao seu pavimento
romano, o que poder dever -se circunstncia desta artria ter continuado a ser
utilizada at ao sculo XIX, muito embora fosse ento ligeiramente mais estreita.
39

As sucessivas repavimentaes da via no deixaram registo estratigrco, sendo
possvel atribuir ao perodo medieval os restos de calada documentados na esca-
vao da zona arqueolgica do Ex Albergue Distrital.
3.1.2 A morfologia baixo -imperial
Tudo leva a crer que a morfologia alto imperial permaneceu na traa da cidade
romana do sculo IV. Essa ideia resulta do facto de se terem observado interven-
es construtivas em vrios quarteires residenciais e em edifcios pblicos, que
mantm a orientao dominante dos eixos virios do perodo anterior. Na verdade,
trata -se de intervenes relacionadas com a remodelao de espaos termais
40
, que
39
Ribeiro 2008, I: 416 -420.
40
Martins 2005.
Fig. 3. Malha urbana de Bracara Augusta no Alto Imprio.
23
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
se inscrevem na estrutura dos quarteires alto imperiais e, no caso das domus, de
remodelaes que se caracterizaram pela introduo de banhos privados, associa-
dos a uma reorganizao dos espaos do interior das casas, que se ornamentam de
mosaicos e pinturas murais.
41
Estas alteraes construtivas zeram -se acompanhar
pelo encerramento dos prticos, num processo de clara privatizao dos espaos
pblicos, onde se tero instalado as tabernae, que anteriormente se integravam nas
fachadas das habitaes.
42
As casas teriam assim ganho mais espao, necessrio
incluso de reas termais no seu interior.
A grande maioria das remodelaes assinaladas teve lugar entre nais do sculo
III/ incios do IV, momento em que Bracara Augusta foi promovida a capital da
Galcia e objeto de um programa militar de forticao.
43
A robusta muralha, com
torrees semicirculares, ir abraar a periferia construda (Fig. 4), designadamente
41
Magalhes 2010.
42
Este processo tem sido documentado noutras cidades hispnicas, designadamente em Emerita,
onde se admite a integrao das lojas na prpria estrutura das casas (Alba 2002:371 -396).
43
Lemos et al. 2001: 121 -132; Lemos et al. 2007: 329 -341.
Fig. 4. Estrutura urbana de Bracara Augusta no Baixo -Imprio.
24
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
os bairros artesanais que se dispunham do setor poente e sul
44
e o complexo
comercial/religioso que se desenvolveu no setor nordeste, durante o Alto Imprio.
45
O novo estatuto poltico da cidade ser certamente responsvel pelo dinamismo
construtivo que se observa a partir de nais do sculo III/IV, persistindo ao longo
do sculo IV, documentado por reformas nos edifcios pblicos, designadamente nas
termas do Alto da Cividade
46
mas, tambm, em numerosas habitaes. O sculo IV
regista assim uma grande continuidade urbanstica e arquitetnica relativamente ao
perodo anterior, pese embora a possibilidade dos grandes edifcios de espetculos,
como o teatro
47
e o anteatro, poderem ter sido abandonados at nais do sculo.
Ao longo do sculo IV a nica alterao da trama urbana aparece sinalizada pela pri-
vatizao dos prticos e sua incluso nas habitaes.
48
No entanto, apesar da continuidade
estrutural e funcional do urbanismo alto imperial, no podemos deixar de referir que
ser nesta centria que se criaro as condies que iro inuenciar o desenvolvimento
de uma nova paisagem urbana que emerge e se arma nos sculos seguintes. Referimo-
-nos generalizao do cristianismo, com impacto cultural, mas tambm topogrco,
uma vez que a primeira baslica paleocrist da cidade ser construda intramuros, entre
nais do sculo IV/incios do V, reaproveitando um anterior edifcio civil, situado no
local onde se ergue a S catedral.
49
Tambm a construo da muralha, que implicou
a abertura de portas nos eixos das principais vias urbanas, acabou por determinar o
incio de um processo de alterao de algumas artrias da cidade que, a termo, tero
sido desafetadas circulao viria, permitindo o avano da construo sobre os seus
espaos, processo bem documentado na topograa da cidade tardo antiga.
50
O cardo mximo persistiu no Baixo -imprio como um dos eixos principais da
cidade, tendo na sua parte norte integrado parte do que seria, no perodo anterior,
o traado periurbano da via XIX (Fig. 4). Essa parece ser a razo pela qual este eixo
virio congura dois segmentos distintos, um orientado segunda a malha urbana
fundacional e outro com um desvio de cerca de 3 NE, congurao que persistir
na morfologia da Rua Verde /Couto do Arvoredo at ao sculo XIX. A referida
orientao encontra -se comprovada pela localizao da porta norte da muralha
que, ao invs de se abrir no eixo do primitivo cardo mximo, se encontra centrada
relativamente ao segmento que teve a sua gnese na parte do traado da via XIX
que viria a ser integrada intramuros pela construo da muralha.
44
Martins et al. 2012.
45
Martins et al. 2012.
46
Martins 2005.
47
Martins et al. 2006; Martins et al. no prelo.
48
Martins et al. 2012.
49
Fontes et al. 1997 -98: 137 -164; Fontes 2011; 2012a; 2012b.
50
Fontes et al. 2010.
25
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
3.1.3 Transformaes tardo antigas
A arqueologia documenta que a partir do sculo V/VI Bracara, ento capital
do reino suevo e lugar central do cristianismo do noroeste peninsular (Sedis
Bracarensis),
51
conheceu um conjunto de alteraes urbansticas que conduziram
a prazo ao desaparecimento do urbanismo romano original, determinado por
mudanas na utilizao funcional dos espaos nalguns setores da cidade, designa-
damente, na rea situada a poente do forum, onde antes se encontravam instalados
importantes equipamentos pblicos ligados ao cio, designadamente umas termas,
abandonadas entre incios/meados do sculo V e um teatro, que poder ter dei-
xado de funcionar ainda no sculo IV.
52
Paralelamente ao abandono dos edifcios
pblicos verica -se uma reutilizao dos seus espaos por novas construes, com
funcionalidades distintas, como as que foram erguidas em reas limtrofes do teatro,
ou que aproveitam alguns espaos do mesmo. Trata -se de construes de carcter
domstico e artesanal, que rompem completamente com a lgica da malha orto-
gonal anterior, ainda dominante no sculo IV, revelando tambm caractersticas
construtivas bastante diferenciadas das conhecidas para o Baixo -Imprio.
53

Noutros setores da cidade observa -se uma clara tendncia para construir em
reas que correspondiam a antigos eixos virios, os quais, deixando de funcionar,
fazem pressupor uma reorganizao da malha dos quarteires residenciais, que
ter caracterizado a cidade at pelo menos aos nais do seculo IV/ meados do V.
54
Os dados arqueolgicos documentam tambm alteraes na arquitetura privada,
com construo de estruturas que parecem deformar a tradicional articulao
entre os espaos de residncia e de representao das domus, processo certamente
articulado com a simplicao dos programas tcnicos e ornamentais que carac-
terizavam as habitaes ainda durante o sculo IV e talvez mesmo parte do V. Na
prtica, julgamos que a partir do sculo V dever ter desaparecido a clssica domus,
como forma de residncia da elite urbana.
55
Embora as evidncias arqueolgicas
disponveis para este perodo sejam limitadas, tudo aponta para uma mudana
das caractersticas das habitaes, que se devem ter tornado mais pequenas, facto
que deve associar -se a uma alterao das condies de vida e, a partir de nais
do sculo VI, perca de importncia poltica da cidade, com o m do domnio
suevo e a sua integrao no reino visigodo, aps a invaso e saque de Braga, em
51
Fontes 2011: 316.
52
Martins et al. no prelo.
53
Ribeiro et al. no prelo.
54
Fontes et al. 2010.
55
Situao semelhante parece ocorrer em Emerita, no mesmo perodo (Mateus Cruz e Caballero
Zoreda 2011:511).
26
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
585, por Leovigildo.
56
Bracara manteve contudo a sua importncia religiosa, como
sede metropolitana eclesistica da Gallaecia provinciae, facto que assegurou a sua
continuidade como ncleo urbano.
Tendo por base os dados arqueolgicos sabemos que o cardo mximo se torna
mais estreito neste perodo, acompanhando o processo de avano da construo
sobre as ruas, documentado em vrios locais da cidade
57
e que permaneceram
ocupados os quarteires limtrofes. Julgamos que a persistncia do traado deste
eixo virio se relaciona com a articulao da cidade com o territrio rural a norte,
garantida pela continuidade do funcionamento do traado da antiga via XIX, que
seguia para Lugo, por Tude, em cujas imediaes se construiu, no sculo VI, o
mosteiro de Dume, ordenado pelo bispo So Martinho e, no sculo VII, o de So
Salvador de Montlios, por iniciativa do bispo S. Frutuoso.
58
A arqueologia documenta uma intensa ocupao no quadrante nordeste da
antiga cidade romana entre os sculos V -VII, contraposta a uma progressiva
rarefao e ruralizao na restante rea da cidade. A referida concentrao parece
claramente articulada com a armao do um novo polo administrativo e religioso,
vinculado ao poder episcopal na cidade, que se consolidar a partir da construo
da catedral e do respetivo complexo episcopal, situado na periferia nordeste,
59
num
claro voltar costas ao anterior centro de poder romano, representado pelo forum.
3.2. O urbanismo medieval
3.2.1. A morfologia alto medieval (sculos VIII -X)
Os dados arqueolgicos documentam que uma parte signicativa do ncleo
urbano romano se tenha convertido em rea rural a partir do sculo VIII, em bene-
fcio de uma clara concentrao populacional no quadrante nordeste da anterior
cidade romana e de uma disperso por zonas perifricas da antiga urbs romana,
onde ao longo dos sculos V -VII se ergueram novos edifcios de culto cristo, que
funcionaro como polos agregadores da populao, nomeadamente em S. Pedro
de Maximinos, S. Vicente e S. Vtor.
60
Os tumultos provocados pelas primeiras incurses muulmanas, a partir de
711, tero ditado o abandono da cidade por parte das autoridades eclesisticas,
muito embora as implicaes urbansticas dessas investidas permaneam ainda por
56
Fontes 2011: 316.
57
Fontes et al. 2010.
58
Fontes 2011: 313 -334; 2012a: 443 -474; 2012b.
59
Fontes 2009a; Fontes et al. 2010: 255 -262.
60
Fontes 2009a: 272 -295; Fontes et al. 2010: 255 -262.
27
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
determinar do ponto de vista arqueolgico. No entanto, as iniciativas documenta-
das do bispo Odorio, na segunda metade do sculo VIII,
61
bem como a reunio
em Braga de uma cria rgia, onde esteve presente Afonso III, rei das Astrias,
62

apontam no sentido de que Braga se ter mantido nesse perodo conturbado como
centro urbano e religioso, com uma populao residente ainda signicativa.
Por sua vez, a integrao da cidade no processo de reorganizao do territrio
da regio bracarense, empreendida pelos reis asturianos e leoneses nos sculos IX
e X, que, segundo as fontes restauram e delimitam a cidade, em 873, e conrmam
a sua posse ao metropolita Flaviano Recaredo, em 905 -910,
63
poder ter estado
na origem da denio de um novo permetro defensivo da cidade, que denir
uma rea urbana bem mais pequena, basicamente correspondente ao conhecido
bairro medieval das Travessas. Enquanto a norte se ter mantido em uso o pano
da muralha romana do Baixo -Imprio, que sabemos em utilizao ainda no sculo
XIII,
64
a sul, ter sido construda uma nova cerca, at ao momento apenas docu-
mentada arqueologicamente nas escavaes da Escola Velha da S. A nova rea
urbana possua uma dimenso modesta que no ultrapassaria os 15 Ha.
A parte norte da muralha integrava a porta que articulava o anterior cardo
mximo com a antiga via XIX, cujo traado permitia a ligao aos vales dos rios
Cvado e Homem, seguindo para norte at Limia.
65
Por sua vez, o novo tramo da
muralha, construdo a sul, ter deixado extramuros a rea correspondente ao antigo
forum romano, situado a sudoeste, bem como o antigo decumanus principal que
corria no sentido E/O (Fig. 5).
Os dados arqueolgicos permitem admitir que a primitiva catedral, construda
segundo o modelo basilical de tradio crist
66
, ter conhecido diversas remode-
laes, uma das quais, datvel dos sculos IX -X, que ter consolidado a sua forma
retangular, com orientao E/O, com trs naves e uma porta rasgada na fachada
sul. Este templo, s viria a ser substitudo por um outro, de traa j romnica, que
o bispo D. Pedro mandou erguer no decurso da segunda metade do sculo XI.
67
As escavaes realizadas at ao momento no espao ocupado pela cidade no
perodo alto medieval registam para o perodo posterior ao sculo VII numerosos
saques de muros de edifcios pblicos e privados que tero caracterizado o tecido
urbano da cidade baixo -imperial, certamente para obteno de pedra necessria s
61
Costa 1965: 44 -51; 1997: 48.
62
Fontes 2009a; 2011: 313 -334.
63
Costa 1965: 33 -38.
64
Fontes et al. 1997 -98: 137 -164.
65
Fontes 2011: 313 -334.
66
Rodrigues et al. 1990: 173 -188; Fontes et al. 1997 -98: 137 -164.
67
Fontes et al. 1997 -98; Fontes 2009a; 2011.
28
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
novas construes. No entanto, o registo arqueolgico disponvel particularmente
omisso relativamente s caractersticas das construes desse perodo, bem como
prpria estrutura urbana, com exceo do eixo virio constitudo pela denominada
Rua Verde/Couto do Arvoredo, eixo estrutural da morfologia da cidade neste per-
odo. Esta ausncia de informao decorre da natureza das intervenes realizadas
no atual centro histrico, que incidem, na maior parte dos casos no miolo dos
atuais quarteires, que evoluram a partir da morfologia medieval, no deixando
de constituir um indicador de que a ocupao dos mesmos poderia j organizar-
-se segundo um parcelamento caracterstico do perodo medieval, estruturado ao
longo das ruas, associando -se a casas, muito provavelmente trreas, com pequenos
quintais traseiros (eixidos), caractersticas das cidades medievais portuguesas.
68

Muito embora os primeiros dados objetivos acerca do sistema virio medieval,
bem como da forma dos seus quarteires, datem do sculo XIV, resultando do
cruzamento dos dados fornecidos pelo 1 Livro do Tombo do Cabido e pelo Mapa
de Braunio, parece -nos possvel admitir que neste perodo estaria j ultimada a
estrutura morfolgica bsica que viria a caracterizar o conhecido bairro medieval
das Travessas.
Atravs da sobreposio do sistema virio romano com os arruamentos medievais,
identicados a partir da topograa do sculo XIX, possvel propor algumas hip-
teses explicativas relativas ao processo de formao do plano urbano alto medieval
e denir as suas principais caractersticas. Assim, ao nvel da morfologia urbana,
identicam -se duas alteraes principais relativamente aquela que caracterizava a
cidade romana neste setor (Fig. 5), uma relacionada com a estrutura viria e outra
com a forma dos novos quarteires.
Relativamente estrutura viria verica -se uma reduo do nmero de ruas
que corriam no sentido E/O, passando a existir apenas uma artria com essa orien-
tao, que ir corresponder Rua das Travessas. J o nmero de eixos orientados
N -S permanece praticamente idntico ao dos antigos cardines menores da cidade
romana, assinalando -se na parte norte apenas mais um eixo virio. Todavia, ape-
nas a Rua Verde/Couto do Arvoredo decalca inteiramente o traado de uma rua
romana, na circunstncia o cardo mximo na sua congurao baixo -imperial. A
sua incluso na topograa da cidade medieval dever relacionar -se com o facto
de se articular com uma porta aberta na parte conservada da muralha romana
que, tal como j referimos, se manteve em funcionamento at aos nais do sculo
XIII/incios do sculo XIV. As escavaes arqueolgicas realizadas na rea da
68
Ferreira e Grenville 2003:359 -389; Ferreira 2004: 127 -142; Conde 2011: 80 -81.
29
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
Fig. 5.
1. Alteraes morfolgicas de
Braga na Alta Idade Mdia;
2. Principais arruamentos e
quarteires.
1
2
30
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
porta da muralha
69
permitiram identicar uma calada medieval, que julgamos
corresponder ao prolongamento daquela que foi identicada nas escavaes do
ex Albergue Distrital.
70
Todos os outros eixos virios se encontram desfasados dos
eixos romanos, muito embora mantenham a lgica da sua orientao. Na verdade,
julgamos que as novas vias que caracterizam o traado medieval se estruturaram
por processos de fragmentao dos antigos quarteires romanos, que vo perdendo
a sua topograa original devido ao avano da construo sobre os eixos de cir-
culao, processo documentado arqueologicamente em vrios setores da cidade,
entre os sculos V -VII. Esta caracterstica do urbanismo tardo antigo, que revela
um dinamismo organicista, acabar por condenar a estrutura morfolgica da
cidade romana, que se recongura com a abertura de novos espaos de circulao,
descentrados dos antigos eixos virios, mas que mantm a sua orientao geral,
muito embora apresentem traados sinuosos e no retilneos.
A outra alterao morfolgica, decorrente da primeira, relaciona -se com a estrutura
dos quarteires, genericamente retangulares, que correspondem, no sentido N -S, a
uma agregao das reas dos antigos quarteires romanos, com o desaparecimento
dos decumanos que os separavam na morfologia romana original (Fig. 5.2).
Na estrutura da cidade que se organiza entre os sculos VIII -X cabe destacar
a importncia do eixo virio mais ocidental, herdeiro do cardo mximo romano,
representado pela Rua Verde/Couto do Arvoredo, que se articulava com duas portas,
uma a norte, j referida, e outra a sul que assegurava a ligao da cidade com Cale.
3.2.2. A morfologia baixo -medieval (sculos XI -XV)
A importncia eclesistica e poltica que a cidade de Braga readquiriu no
sculo XI, nomeadamente com a sagrao da S Catedral, em 1089
71
e, no sculo
XII, com a sua constituio como couto eclesistico, em 1112, iro determinar a
sua revitalizao urbana.
A nova Catedral, de traa romnica, mandada construir pelo arcebispo
D. Pedro, vai exercer um papel destacado na organizao do ncleo urbano, cujo
papel central ser reforado pela edicao de outros edifcios religiosos, como a
Escola Episcopal, bem como vrios anexos que se destinavam ao bispo, ao cabido
e a servios administrativos
72
. A realizao de obras desta envergadura permite
69
Escavaes dirigidas pelo Dr. Armandino Cunha do Gabinete de Arqueologia da Cmara Municipal
de Braga, a quem agradecemos as informaes.
70
Lemos e Leite 2000.
71
Real 2000: 435 -511.
72
Costa 1997; 2000.
31
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
conrmar a existncia de um ncleo urbano que dispunha dos necessrios recursos
humanos e materiais para a sua execuo.
Ao que tudo indica, o crescimento da Braga medieval faz -se sentir gradualmente
a partir dos incios do sculo XIII, facto que parece atestado pela complexicao
do sistema virio
73
e pela construo de nova cerca fernandina que duplicar a
rea da cidade alto medieval.
Enquanto as fontes arqueolgicas do conta da destruio da parte norte do
anterior sistema defensivo,
74
as fontes escritas documentam o crescimento da cidade
para noroeste e norte, com a construo do pao arquiepiscopal
75
e do castelo
76
e
a referncia a novas ruas.
77
A edicao paulatina de um novo sistema de defesa,
que alarga os limites urbanos alto medievais, ir denir um novo permetro amu-
ralhado, com novas portas, ultimado nos nais do sculo XIV (Fig. 6.1), merc da
interveno rgia de D. Fernando e na consequncia dos ataques militares realizados
a Braga por Henrique de Trastamara
78
.
A conjugao dos dados fornecidos pelo 1 Livro do Tombo do Cabido, dos nais
do sculo XIV, que regista todas as ruas medievais, bem como as casas que se encon-
travam emprazadas ao Cabido, com o Mapa de Braunio e a cartograa do sculo XIX,
nomeadamente a planta de B. Garcez e M. Maciel, permite denir as caractersticas
principais do sistema virio e dos quarteires para cidade baixo medieval
79
.
O plano urbano do sculo XIV reete claramente dois tipos de estrutura mor-
folgica. Uma, localizada na parte que se sobreps ao plano romano, identicado
como Bairro das Travessas, caracterizada pela regularidade do sistema virio
e dos quarteires, enquanto a outra, decorrente do crescimento da cidade para
nordeste e norte, parece claramente inuenciada pelo sistema defensivo (Fig. 6.1).
A Rua Verde, localizada no Bairro das Travessas, aparece referida, nos nais
do sculo XIV, como uma artria que vay toda direyta desda cruz da apataria
ataa o Postigo da Cividade
80
, situao que se continua a vericar no sculo XV,
quando identicada como Rua Verde, como vai toda direita desde o canto da
sapateira at ao Postigo da Cividade
81
. Trata -se, por conseguinte, de uma longa
73
Ribeiro 2008, I: 328 -330.
74
Fontes et al. 1997 -98; Lemos et al. 2001.
75
Marques 1983.
76
Marques 1986.
77
Ribeiro 2008, I: 328 -330.
78
Marques 1983.
79
Ribeiro 2008, I: 411 -482.
80
A.D.B., 1 Livro do Tombo do Cabido, . 124; Ribeiro 2008 I: 416.
81
A.D.B., Livro 2 dos Prazos das Propriedades do Cabido, . 63v, de 1481 (transcrio paleogrca
de Maria da Conceio Falco Ferreira); Ribeiro 2008, I: 417.
32
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
rua, orientada N/S, com incio num postigo da muralha, designado de Postigo da
Cividade, terminando na Rua dos Burgueses, ligando -se a Rua da Sapataria.
Aproximadamente a meio do seu percurso, do lado nascente, liga -se Rua das
Travessas, atual Rua Afonso Henriques.
82
Esta artria a mais ocidental do espao medieval intramuros, encontrando -se
no tramo sul, junto da muralha, pouco urbanizada, situao que ainda se veri-
caria nos nais do sculo XVI, segundo a sua representao no Mapa de Braunio
(Fig. 7). Alis, o topnimo Verde deve derivar precisamente do vasto espao arbo-
rizado, por construir, que existiria nessa zona, nomeadamente na parte sul. Esta
circunstncia leva -nos a considerar a possibilidade desta zona se ter ruralizado
durante o perodo da Antiguidade Tardia, permanecendo assim at ao sculo pas-
sado, como documenta ainda a planta topogrca de 1883/84.
Os emprazamentos referidos pelo 1 Livro do Tombo do Cabido assinalam cerca
de 10 casas e 3 pardeiros na fachada poente e cerca de 12 casas e 2 pardeiros no
lado nascente
83
. No entanto, haver que considerar a possibilidade de existirem
outros imveis na rua que no se encontravam emprazados ao Cabido.
A construo pblica de maior expresso da Rua Verde, ao longo da Idade Mdia,
ter sido um hospital que se situaria no lado poente,
84
que seria o menos urbanizado.
Atravs da referida fonte, camos ainda a saber que na Rua Verde existiam
diferentes tipos de habitaes, onde se incluem as casas pequenas, casas sobradadas,
casas terreiras e pardieiros. Esta tipologia encontra -se expressa na representao
que consta do Mapa de Braunio, do sculo XVI, enquadrando -se no tipo de casas
caractersticas dos centros urbanos medievais, predominantemente pequenas, tr-
reas, sendo poucas as que possuam mais de um piso ou sobrado.
85
igualmente
bem evidente o predomnio de espaos por construir no interior dos quarteires,
caracterstica que se ir manter nos sculos seguintes.
A partir da conjugao dos dados referidos pelo 1 Livro do Tombo do Cabido
com o Mapa de Braunio pensamos que a urbanizao da Rua Verde se aproximar
daquela que est representada no MRB do sculo XVIII e no Mapa de F. Goullard
do sculo XIX. A utilizao conjugada destas fontes permitiu -nos elaborar uma
proposta para a ocupao dos quarteires e respetivo parcelamento, nomeadamente
ao nvel das parcelas construdas, espaos verdes e limites da propriedade (Fig. 7).
82
Ribeiro 2008, I: 416 -420.
83
A.D.B., 1 Livro do Tombo do Cabido, s. 124, 124v e 125.
84
Oliveira et al. 1982.
85
Ferreira e Grenville 2003: 359 -389; Ferreira 2004: 127 -142.
33
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
Fig. 6 1. Proposta de restituio da cidade baixo -medieval e representao da R. Verde; 2. Proposta de
urbanizao da Rua Verde/Couto do Arvoredo e das ruas limtrofes (Fontes: MRB e 1 Livro do Tombo
do Cabido).
34
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
3.3. O urbanismo moderno
A cidade de Braga ir conhecer nos incios do sculo XVI, nomeadamente com
o governo do arcebispo D. Diogo de Sousa (1505 -1532), uma signicativa renovao
pautada pela criao de novas ruas e praas, mas tambm pela regularizao e
alargamento de outras. Tambm no espao extramuros, o referido arcebispo criou
as condies necessrias para que a cidade crescesse para a periferia nos sculos
posteriores, nomeadamente atravs da abertura de grandes largos em frente das
portas da muralha medieval.
86
A interveno de D. Diogo de Sousa incluiu, igualmente, a modernizao da
sionomia e arquitetura dos edifcios mais emblemticos da cidade, como a S
Catedral, o Pao dos Arcebispos e o Castelo, tendo procedido ao melhoramento
global das infraestruturas urbanas, ordenando o calcetamento de ruas e praas
e renovando o sistema de abastecimento de gua cidade, atravs da criao de
novas fontes e chafarizes, ou da reparao dos j existentes
87
.
Ter sido a conjuntura poltica, econmica e social de Braga que ditou o seu
crescimento demogrco e urbano no sculo XVI, sendo de assinalar que a popu-
lao havia praticamente duplicado, possuindo aproximadamente 3575 habitantes
nos incios do sculo XVI, comparativamente aos 1745 rastreados nos nais do
sculo XV.
88
A continuidade deste crescimento encontra expresso na comparao
do Mapa de Braunio dos nais de quinhentos, com o Mapa da cidade de Braga
Primas, de meados do sculo XVIII, que permite vericar o aumento das reas
urbanizadas na periferia urbana, mas tambm no espao intramuros (Fig. 7).
A sionomia e o parcelamento da Rua Verde, na representao do MRB,
apresentam -se muito coincidentes com os que podem inferir -se do Mapa de
Braunio, circunstncia que nos permite admitir que fossem igualmente idnticas
na Idade Mdia.
A confrontao dos dados representados no MRB com os emprazamentos do
Cabido para o sculo XVI, constantes no ndice dos Prazos das Casas do Cabido,
89

permitem adiantar uma proposta de urbanizao para o sector em anlise neste
trabalho, como se apresenta na gura 8.
A maior alterao do plano urbano medieval ao longo da Idade Moderna deve
ter ocorrido precisamente ao nvel do tipo de edicaes, muito embora seja pos-
86
Ribeiro 2009/2010: 179 -201.
87
Ribeiro 2008, I: 512.
88
Marques 1983.
89
VVAA 1989 -91, II.
35
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
svel vericar atravs do MRB a existncia de casas muito simples, algumas delas
ainda trreas, embora j maioritariamente de dois pisos.
90
Atravs da anlise do MRB camos a saber que, em meados do sculo XVIII,
esta rua se encontrava dividida em duas: uma situava -se a norte da Rua das Tra-
vessas, mantendo o nome de Rua Verde, enquanto a outra, situada a sul, chamava-
-se Couto do Arvoredo. No lado poente existiam 33 casas e no lado nascente 24
casas. Porm, dada a prpria extenso da rua e como se pode observar pelo MRB,
uma parte signicativa do seu lado poente, correspondente ao Couto do Arvoredo,
continuava a possuir poucas construes. De facto, a parte norte da rua, que se
90
Ribeiro 2008 I: 416 -420.
Fig. 7. Morfologia da cidade de Braga no sculo XVI com proposta de parcelamento (Fontes: MRB e
ndice dos Prazos das Casas do Cabido).
36
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
aproximava mais da Rua dos Burgueses e da S Catedral, seria a mais atrativa e
procurada, conhecendo maior nmero de construes.
3.4. As transformaes urbanas do sc. XIX e o m da Rua Verde/Couto
do Arvoredo
O sculo XIX ditou um conjunto de transformaes urbanas, relacionadas
com a destruio das portas das muralha medieval e, simultaneamente, com a
necessidade de facilitar o trnsito no centro urbano.
Uma das artrias mais afetadas no processo de reorganizao urbana foi preci-
samente a Rua Verde, cujo traado medieval, herdeiro do romano, foi praticamente
Fig. 8. Planta de Braga no sculo XVIII com parcelamento (Fontes: MRB e ndice dos Prazos das Casas
do Cabido).
37
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
todo alterado nos nais do sculo XIX. A sua sionomia medieval conserva -se ainda
na planta topogrca de B. J. Garcez e M. B. Maciel, mas encontra -se j alterada
no Mapa de F. Goullard, de 1883 -84. As alteraes ocorridas articulam -se, primei-
ramente, em 1892
91
, com o prolongamento e alargamento da Rua das Travessas,
atual Rua Afonso Henriques, at ao Largo das Carvalheiras, que ir romper com
a muralha fernandina e dividir sicamente a rua. Posteriormente, a Rua Verde
ser destruda com a abertura da atual Rua D. Frei Caetano Brando, criada em
28 -07 -1890, por deciso camarria.
92
A conformao do traado atual desta artria
ocorreu, contudo, em dois momentos distintos. Inicialmente, apenas foi alterado
91
Oliveira et al. 1982.
92
Oliveira 1993.
Fig. 9. Planta de Braga nos nais do sculo XIX (Fonte: Mapa de F. Goullard de 1883 -84).
38
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
o tramo sul, permanecendo a parte norte com a congurao medieval, tal como
aparece representada ainda no Mapa de 1883/84.
4. ALGUMAS LINHAS DE FORA DA EVOLUO URBANA DE
BRAGA
O exerccio que nos propusemos realizar neste trabalho, centrado na evoluo
da rea envolvente do eixo virio conhecido por Rua Verde/Couto do Arvoredo,
herdeiro do cardo mximo da cidade romana, permitiu avaliar algumas hipteses
relativas progressiva recongurao urbanstica do quadrante nordeste da cidade
romana que dar origem cidade medieval e moderna de Braga.
Entre as principais linhas de fora que ressaltam da interpretao realizada,
tendo por base a utilizao de diferentes fontes, destacaramos, em primeiro lugar,
a longa permanncia do cardo mximo, fossilizado nas cidades posteriores, que se
mantm em toda a sua extenso naquela que foi a sua congurao baixo -imperial.
Por se tratar do nico eixo romano conservado at nais do sculo XIX julgamos
que a sua sobrevivncia se dever importncia que esta artria ter assumido,
desde o Baixo -Imprio, enquanto elemento de articulao com a via XIX, atra-
vs da porta norte da muralha. Na prtica, a importncia dessa artria e do seu
prolongamento virio no territrio deveria existir j no Alto Imprio, tendo sido
perpetuada nos perodos posteriores, pelo que ter que ser explicada pela relevncia
que a rea rural, situada a norte da cidade, possua desde a implantao da cidade
romana. Trata -se da extensa veiga do Cvado, onde se encontram os traos mais
consistentes e extensos do cadastro romano
93
e onde se localizavam vrias villae,
entre as quais cabe referir, porque melhor conhecida, a de Dume,
94
cujo fundus
deveria ser considervel.
95
Julgamos assim que a importncia da parte norte do
cardo mximo resultar da ntima relao que estabelecia na poca romana com
a via XIX e, atravs desta, com o territrio rural, relao que permanece na Anti-
guidade Tardia, pois ser ao longo do traado daquele eixo virio que se fundam
dois dos mosteiros mais carismticos da regio, o de Dume, no sculo VI e o de S.
Frutuoso de Montlios, no sculo VII
96
. A importncia de Dume, enquanto sede de
93
Carvalho 2008.
94
Fontes 1991: 199 -230.
95
L. Fontes (2011:320) admite que este fundus poderia corresponder basicamente aquele que ter
sido incorporado no mosteiro de Dume, fundado em meados no sculo VI e extinto no terceiro quartel do
sculo IX, que deveria aproximar -se do valor de 600Ha, tendo por base a rea contemplada na demarcao
do termo de Dume, em 911, que conrma uma anterior doao de 870 (Fontes 2011: g. 4).
96
Fontes 2011; 2012a; 2012b.
39
EM TORNO DA RUA VERDE. A EVOLUO URBANA DE BRAGA NA LONGA DURAO
bispado, durante o reino suevo, onde se construiu uma baslica,
97
poder explicar
a perpetuao da importncia do cardo mximo norte e a sua persistncia na
estrutura da cidade alto medieval, denida pela construo de uma cerca, cujo
traado, na parte ocidental, abraa a totalidade do referido eixo virio, garantindo
97
Fontes 2009b; 2011; 2012a; 2012b.
Fig. 10. Sntese da proposta de evoluo da cidade de Braga entre o Alto Imprio e os nais do sculo XIX.
40
EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
a sua continuidade nos perodos posteriores, muito embora se tenha tornado um
eixo perifrico da cidade medieval e moderna (Fig. 10).
Uma outra linha de fora articula -se com o processo de transformao orgnica
que parece caracterizar a recongurao da morfologia urbana no quadrante nordeste
da cidade romana durante a tardo antiguidade e a Alta Idade Mdia. Com efeito, se
ainda no sculo V este setor da cidade se organizaria em funo da estrutura dos
quarteires romanos, estamos certos que o avano da construo sobre os eixos
virios, correspondentes aos cardos e decumanos menores, que se intensica nos
sculos seguintes, conduziu ao progressivo abandono dos eixos virios romanos
e abertura de novos arruamentos, que fragmentaram e/ou aglutinaram os ante-
riores quarteires. Os processos de reparcelamento que destroem a malha urbana
romana e fazem emergir uma nova rede de quarteires, estruturados em funo
de um eixo virio E/O, correspondente futura Rua das Travessas e de novas ruas,
orientadas N/S, so difceis de datar em termos arqueolgicos. No entanto, a siste-
mtica ausncia de dados construtivos, reportveis ao perodo posterior ao sculo
VII, no interior dos quarteires onde tm sido realizadas numerosas escavaes,
constitui um argumento em favor de uma datao alto medieval para a estrutu-
rao, pelo menos embrionria, do Bairro das Travessas, tal como o conhecemos
para os perodos medieval e moderno, tendo por base a topograa do sculo XIX.
Finalmente, uma terceira linha de fora releva do aparente conservadorismo
da estrutura urbana do bairro das Travessas, que pouco ter mudado entre a sua
sionomia medieval e o sculo XIX. Embora a rede viria que se estabeleceu a nas-
cente da Rua Verde/Couto do Arvoredo se encontre desfasada dos anteriores eixos
romanos, ela segue a orientao geral da cidade romana, pese embora o carcter
sinuoso das ruas. No entanto, cabe referir que a organizao do parcelamento, que
se estruturou ao longo das ruas, parece fossilizar os eixos de orientao romanos,
que ainda persistem no traado das construes e respetivos quintais traseiros,
antes da alterao das ruas e respetivo edicado operada a partir de nais do
sculo XIX, que pode ser recuperado a partir da planta topogrca de Francisco
Goullard.
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EVOLUO DA PAISAGEM URBANA: TRANSFORMAO MORFOLGICA DOS TECIDOS HISTRICOS
Resumo: Este trabalho representa um contributo para a compreenso da evoluo morfolgica da
cidade de Braga na longa durao, centrando -se num setor que corresponde periferia
ocidental da cidade medieval e moderna, a qual est representada pelo eixo virio conhecido,
entre a Idade Mdia e o sculo XIX, como Rua Verde/Couto do Arvoredo e reas limtrofes.
A escolha desta rea resulta do facto da referida rua corresponder na sua gnese ao traado
da parte norte do cardo mximo da anterior cidade romana, bem como ao tramo inicial da
via XIX, que viria a ser integrado no espao intramuros, denido pela muralha do Baixo-
-Imprio. Trata -se de uma via bem documentada arqueologicamente, quer na sua original
congurao romana, quer na sua posterior feio medieval e moderna, constituindo o
nico eixo virio de origem romana que perdurou at ao sculo XIX, momento em que
foi cortado pela implantao da parte sul da atual Rui Frei Caetano Brando. Assim, este
trabalho tem por objetivo caracterizar as transformaes urbanas ocorridas na rea envol-
vente do referido eixo virio, tendo em vista vericar as continuidades e descontinuidades
do tecido urbano romano no posterior traado medieval da parte ocidental do Bairro das
Travessas, vericar a evoluo da urbanizao da Rua Verde/Couto do Arvoredo, entre a
poca medieval e moderna, bem como a reorganizao operada neste setor da cidade pela
abertura de um novo eixo virio nos nais do sculo XIX.
Palavras-chave: Evoluo Urbana; morfologia urbana;topograa urbana; Rua Verde; Braga
Abstract: Tis paper represents a contribution towards the understanding of the long term
morphological evolution of Braga focusing on a sector that matches the western outskirts
of the medieval and modern towns, which is represented by the street known between the
Middle Ages and the XIX century as Rua Verde/Couto Arvoredo and its bordering areas.
Te selection of this area arises from the fact that the considered street matches its origin
in the northern part of the former Roman cardus maximus including the initial stretch of
Via XIX that was integrated into the intramural space set by the lower Empire wall. Tis
is a well archaeologically documented street, either in its original Roman setting, either
in its subsequent medieval and modern feature being the only road axis of Roman origin
that lasted until the nineteenth century time it was cut o by the southern part of Rua Frei
Caetano Brando. Tis study aims to characterize the urban changes occurring in the area
surrounding the referred road axis in order to verify both the continuities and changes
in the urban fabric in the western part of the medieval Bairro das Travessas, to check
the urbanization evolution of Rua Verde/ Couto do Arvoredo, between the medieval and
modern times, as well as reorganizing operated in this section of town by the opening of
a new street in the late nineteenth century.
Keywords: Urban evolution; urban morphology; urban topography; Rua verde; Braga

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