Adultos Filhos de Alcoolatra
Adultos Filhos de Alcoolatra
Adultos Filhos de Alcoolatra
Adultos
Filhos de Alcolatras
Prefcio
Eu escrevi esse livro para levar aos adultos filhos de alcolatras informaes sobres eles mesmos.
No me preocupei com detalhes. Nem todas as informaes parecero aplicveis a todos. Podem parecer
excessivamente simplificadas tendenciosas ou simplesmente erradas; no entanto, a maior parte dos
leitores que aceitar essas limitaes encontrar aqui muita coisa que pode estimul-los e nutri-los. Este
livro resulta de minha experincia como psiquiatra e diretor de uma unidade de tratamento de alcoolismo,
bem como do trabalho direto com adultos filhos de alcolatras e de minha experincia dentro de minha
prpria famlia. Sua meta falar do vnculo comum que une todos os adultos filhos de alcolatras, unindo
suas mentes, seus coraes e seus espritos.
Na segunda edio eu inclu novo material, especialmente sobre abuso emocional, estendendo a
experincia dos adultos filhos de alcolatras para outras famlias disfuncionais e transformando um
programa de recuperao em mudanas concretas em sua vida.
A vida com um pai ou me alcolatra no tem que ser dramtica para ser dolorosa; sempre
dolorosa, mesmo que no seja dramtica. Este ponto parece ser um dos aspectos mais sistematicamente
mal compreendidos a respeito da experincia dos adultos filhos de alcolatras.
Muitas das mudanas feitas para a segunda edio tiveram em mente ajudar voc a perceber as
sutis e quase imperceptveis formas atravs das quais a experincia de perder seus pais para o lcool, as
drogas ou outros problemas pode mudar a atmosfera emocional na qual voc vive o resto de sua vida at
que sua recuperao comece.
1 Sendo um adulto filho de alcolatra, h boas razes para voc ser o tipo de pessoa que
Reconhecimento
O primeiro passo para descobrir essas razes admitir que um de seus pais, ou ambos ou foi um
alcolatra. Muitas vezes esse reconhecimento vem devagar. Para muitos, isto quebra regras familiares e
viola o silncio que emudece as famlias amedrontadas. Revela segredos que foram mantidos escondidos
por muitos anos a grande custo, e parece algo frio e duro como uma traio. Revira memrias dolorosas e
s vezes feias, e voc se sente como se estivesse mexendo em velhas feridas com as quais aprendeu a
viver at que bastante bem.
Negao
H um monte de boas razes para evitar encarar o fato de que voc um adulto filho de alcolatra.
Sua vida j suficiente difcil; agora no hora de adicionar outros desgastes. Ou sua vida est indo bem
atualmente; para que balanar o barco sem necessidade?
As boas razes vo por a, e no tm fim. As frias esto chegando; estou nas vsperas do meu
aniversrio ou de um exame; ou sexta-feira, ou sbado, ou domingo... A verdade que todas essas
razes so boas; no entanto, estas so exatamente as mesmas razes usadas pelos alcolatras para
justificar sua deciso de no encarar mais realisticamente o fato de que bebem.
Esperana
A principal razo para reconhecer como a vida com um pai ou me alcolatra afetou voc a
promessa de esperana. Devido ao fato de que, durante muitos anos, os ajustes e concesses que muitos
adultos filhos de alcolatras fizeram em suas vidas pareciam estar funcionando, eles desapareceram de
sua conscincia e passaram para a sombra, para o fundo. Mas cada concesso significa um imperceptvel
puxo nas rdeas daquilo que se pode esperar da vida. Ao final, os adultos filhos de alcolatras se
convencem de que esto vivendo vidas plenas e ricas quando, na realidade esto apenas batalhando para
sobreviver. Este livro foi feito para mostrar que voc tem o direito de fazer escolhas em sua vida alm da
mera sobrevivncia. Soa muito bom para ser verdade? Soa como um arranjo facilitado s para fazer voc
se sentir um idiota pro acreditar nisso? Talvez voc j esteja fazendo escolhas em sua vida. Ser que
demais esperar que voc possa aprender a fazer ainda mais?
A promessa esperana esperana de ser mais livre do que voc jamais ousou at agora;
esperana de ser mais saudvel do que voc jamais imaginou que fosse possvel; e esperana de se sentir
mais seguro, mais vivo e mais humorado do que jamais se sentiu.
Essa nova esperana tem que ser alimentada. Para que possa crescer, a esperana necessita de
constante exposio verdade a respeito de seus sentimentos, de suas memrias, seus medos e dos fatos
relativos sua vida passada e presente. Para a maioria de ns, esta nova esperana tambm precisa de
constante exposio a outras pessoas sejam aqueles que esto lutando em busca de sua prpria
recuperao ou terapeutas com um interesse especfico em adultos filhos de alcolatras. Uma esperana
nova sempre frgil e no floresce quando est escondida dentro dos confins de nossas prprias mentes.
Ela necessita do calor de ser partilhada com outras.
A recompensa por explorar seus sentimentos e o que significa ser um adulto filho de alcolatra
que voc comeara a se permitir ter a esperana de uma vida que se tornar melhor do que voc jamais
ousou sonhar. Esta esperana o precursor da cura e vem como o primeiro canto de pssaro anunciando a
primavera. Ela sua em troca do preo de reconhecer as realidades de sua vida. Esta a promessa.
Eu no posso prometer de antemo que a promessa ser mantida. Voc ter que aceit-la por pura
f. Mas, acredite voc ma promessa ou no, ela espera voc pacientemente. A promessa esperana, e
est a para voc torn-la, sua.
2 Ressuscitando o passado
Ser que necessrio ressuscitar o passado, relembrando velhas memrias que foram enterradas
para repousar e velhas dores que voc fez tudo esquecer. Ningum pode responder esta questo por voc.
Para alguns adultos filhos de alcolatras, a necessidade de explorar os efeitos do alcoolismo de seus pais
literalmente uma questo de vida e morte. Pra outros, menos crtica, mas pode servir como uma
poderosa via para melhorar a qualidade de suas vidas. Ela tem o potencial para aumentar a completude e a
riqueza de experincias que esto disponveis para eles. Os indivduos tm que decidir por si mesmos
quo necessrio para eles olhar o que significa ser um adulto filho de alcolatra.
Medos
Antes de voc decidir ressuscitar o passado, pode ser til olhar mais atentamente para algumas
atitudes que esto por baixo de qualquer relutncia que voc possa ter. O que h para ser temido numa
imagem mais bem informada do passado?Uma resposta cndida seria que muitos medos podero surgir:
medo de abandono, raiva, traio e tristeza. Talvez pior que todos seja o medo do desconhecido.
No minimize nem ignore estes medos; eles so os marcos de que necessita para fazer progressos
na sua viagem. Esteja consciente de que esses medos podem alcanar magnitude suficiente para
comprometer voc, reemergindo quando voc menos esperar. Quando eles reemergem, isto um alerta: o
passado ainda est muito vivo e traz com ele algumas questes importantes ainda no resolvidas.
Voc pode achar que no faz sentido ressuscitar um passado morto, ou que a vida simplesmente
muito curta para que gastemos tempo com assuntos aparentemente sem nenhuma importncia. No
entanto, nossas mentes no tm nenhum medo daquilo que verdadeiramente est morto. Seus medos esto
presentes porque o passado ainda est presente. Voc o carrega dentro de si.
Liberdade a meta
Quaisquer sentimentos que sejam ressuscitados por este livro so sentimentos que continuam
vivendo dentro de voc hoje, esteja ou no consciente deles. Esquecer no a meta, mas liberdade
liberdade da dor que vem de ter um pai ou uma me alcolatra. O que voc esquece voc est destinado a
confrontar uma e muitas vezes sem fim. Liberdade da dor vem quando damos a permisso de que a dor
esteja to presente e to profunda quanto ela realmente .
Para alguns adultos filhos de alcolatras, essa liberdade necessria porque, sem ela, eles no
teriam como continuar crescendo, ou nem ao menos continuar. Para outros, tal liberdade ser um
acrscimo bem vindo a uma vida j bem sucedida. Para a maior parte, a explorao de como o alcoolismo
de seus pais continua a afetar sua vida hoje uma excelente oportunidade de aprender a experienciar
nveis mais profundos de liberdade pessoal. Afinal de contas, difcil imaginar alguma verdade que no
acabe levando a uma cura.
Caminho para a liberdade
Embora ressuscitar o passado traga, em geral, muita dor, no cometa o equvoco de pensar que esta
dor a meta. Permitir-se experienciar essa dor simplesmente o caminho que todos ns temos que tomar
para nos livrar do passado. Quando algum fica atolado na dor, pode precisar de ajuda profissional. Ou
pode precisar reconhecer que ainda no est disposto a sentir a dor.
Disposto a sentir a dor? O que pode significar isso?
Isto significa que a recuperao vem atravs da disposio de reconhecer que voc necessita de
seus pais, que voc provavelmente amava seus pais e que o lcool impediu seus pais de estarem
inteiramente atentos a voc. Quando quer que percamos um pai ou uma me prematuramente, mesmo que
seja uma perda parcial, isto di. Se resistirmos a essa dor, ela vai para o subterrneo e fica conosco.
Acabamos fingindo que nossos pais eram menos importantes do que eles realmente eram. Ns nos
separamos um pouquinho da realidade. Ao regressar ao que real em nossas vidas, temos que estar
dispostos a sentir a dor daquela perda.
Mas a dor no a meta.
4 O que alcoolismo?
Muitos adultos filhos de alcolatras se vem presos num debate interno sobre se seus pais eram
realmente alcolatras ou no. Este um estgio normal no processo de negao. Assim como pessoas que
tm uma doena terminal tentam encontrar alvio diante da verdade simplesmente no acreditando nela,
os adultos filhos de alcolatras acham difcil admitir que seu pai ou sua me alcolatra. Em outros
casos, esse questionamento deriva da ignorncia. Talvez a realidade de que seus pais bebiam tenha sido
ocultada das vistas da criana pelo pai ou me no alcolatra, seja por cuidado ou por embarao. s
vezes, o que existe simplesmente uma falta de informao a respeito da doena que chamamos de
alcoolismo.
Quando Galileu pediu aos padres que olhassem atravs de seu telescpio para os corpos celestes,
eles se recusaram. Eles tinham certeza de que o telescpio os estaria fazendo de bobos se mostrasse a eles
qualquer coisa diferente daquilo que esperavam. Apenas por alguns instantes, ponha de lado suas noes
preconcebidas e tente olhar para o conceito de alcoolismo como doena como se fosse o telescpio de
Galileu. V em frente, tente! Olhe dessa maneira, atravs dele, para seu pai ou sua me, e ver que a
doena do alcoolismo tem muitos aspectos, alguns dos quais se estendem alm do alcolatra. Alcoolismo
, simultaneamente, uma doena fsica, mental, familiar e espiritual.
Alcoolismo como uma doena fsica
Para comear, alcoolismo uma doena fsica. Nem todo mundo que bebe uma igual quantidade
de lcool se torna dependente. Algumas pessoas experimentam blackouts (falhas de memria) na
primeira vez que ficam bbadas. Meninos filhos de pais alcolatras numa taxa quatro a nove vezes maior
do que a populao em geral. Isto acontece mesmo se eles so adotados por pais no alcolatras desde o
nascimento. Num nvel, alcoolismo uma doena fsica como a diabete. No entanto, diferente da diabete,
o maior impacto do alcoolismo, uma vez que se torne ativo, sobre o rgo mais necessrio para a
recuperao da sade o crebro.
Alcoolismo como uma doena mental
Num outro nvel, alcoolismo uma doena mental. Uma vez que as pessoas se tornam fisicamente
dependentes do lcool, mesmo que num grau mnimo, suas funes mentais ficam alteradas. Elas j no
podem sentir emoes intensamente nem podem pensar com o mximo de clareza. Um piloto campeo de
moto descobriu que, por duas semanas aps uma noite de bebedeira, ele era incapaz de recuperar sua
velocidade mxima.
Alcoolismo uma doena mental porque o uso crnico de lcool (ou de qualquer outra droga que
seja especificamente ingerida a fim de alterar a funo cerebral e, assim, alterar experincias) diminui a
capacidade de auto-observao, de completa honestidade e de crescimento psicolgico. A habilidade dos
alcolatras de avaliar suas vidas e as reais fontes de sua misria comprometida pela prpria doena que
eles tm que enfrentar a fim de recuperar a sade. Crebros que so cronicamente, ou mesmo
intermitentemente, embebidos com substncias txicas no podem suportar os processos psicolgicos
complexos, sofisticados e maduros necessrios para a cura. Gradualmente, alcolatras aprendem a lidar
com o mundo a partir de uma posio de defesa, usando negao, inculpao e racionalizao. Eles vem
a causa de suas misrias como estando fora deles. A bebida vista mais como uma reao a essa misria
do que como sua causa. Quando alcolatras param de beber, freqentemente se torna dolorosamente claro
que sua inculpao no param. Elas continuam como hbitos arraigados. A recuperao um longo
processo de reconhecer essas atitudes defensivas e, gradualmente, abrir mo delas.
Alcoolismo como uma doena espiritual
Alcoolismo tambm uma doena familiar. A idia de que a unidade familiar pode ser adoecida ,
de inicio, difcil de entender e aceitar. Mas ela simplesmente significa que boas pessoas podem se ferir
mutuamente quando tentam se ajustar s regras distorcidas que governam famlias alcolatras. Elas
tambm podem se encontrar vivendo num virtual estado de isolamento. quase impossvel para algum
viver com um alcolatra ativo por um substancial perodo de tempo e manter uma perspectiva objetiva.
Ao invs disso, os membros da famlia quase que invariavelmente comeam a se sentir embaraados pelo
comportamento do alcolatra, a se culpar por no fazer o suficiente e a se responsabilizar por tentar fazer
com que o alcolatra pare de beber. s vezes os membros da famlia encontram desculpas para a bebida
ou negam que seja daninha, tentando fazer o melhor que podem enquanto ajustam os antolhos da
negao.
5 O que a co-dependncia
O cenrio abaixo, bem conhecido, demonstra as relaes distorcidas que existem numa famlia
alcolatra, e o papel que todos os membros da famlia desempenham na manuteno dessas distores.
[Um casal senta-se em meu consultrio com suas costas ligeiramente voltadas um para o outro. Seu
filho mais velho, quase s lgrimas, est sentado entre eles. Eles no falam abertamente sobre o que est
acontecendo. Os pais negam sentir qualquer coisa. O filho parece ter medo de chorar e insiste que as coisas
esto melhores, agora que bebedeira parou. Um dos pais olha para o filho com desprazer. O outro olha com
pena e estende a mo para segurar o filho que se retrai.]
Quem alcolatra na famlia? Poderia ser qualquer um dos trs. Faz alguma diferena? H algo em
comum no comportamento dessas pessoas. Este algo chamado co-dependncia.
Co-dependncia deve ser distinguida de interdependncia. Quando duas pessoas (ou duas naes) se
tornam interdependentes, ambas concedem outra poder sobre seu bem estar. Por outro lado, quando duas
pessoas se tornam co-dependentes, ambas do outra poder sobre sua auto-estima. Quando algum falha
com voc numa relao de interdependncia, voc padece uma perda de dinheiro, tempo, etc. Mas quando
algum falha com voc numa relao de co-dependncia, voc padece uma perda de auto-estima.
Co-dependentes vivem de acordo com um conjunto de regras no faladas, que validam e legitimam a
crena de que seu senso de auto-estima depende de como se comportam os que lhes so prximos. A fim
de se sentir bem a respeito de si mesmos, eles direcionam suas energias para fazer outros felizes. Eles se
bajulam dizendo que so amorosos, ajudadores e que esto salvando algum. A verdade que eles esto
tentando controlar a vida de outra pessoa, num esforo de tornar suas vidas mais seguras. Nesse processo,
eles do ao outro um grane poder sobre si mesmos.
Quando estamos numa relao de co-dependncia com algum que est indo bem, difcil imaginar
que a relao possa no ser uma aliana saudvel. Esse tipo de situao permite a duas pessoas, que so
incapazes de se sentir bem consigo mesmas, conseguir uma sensao de auto-aceitao atravs de sua
conexo uma com a outra. O preo de construir o prprio autovalor dessa maneira cresce na medida em que
passa o tempo. Os laos entre co-dependentes transformam-se em limitaes. Cedo, os dois se sentiro
aprisionados por sua inabilidade de tolerar rejeio e exauridos pelo peso da responsabilidade, pela
segurana e felicidade do outro. Sua intolerncia rejeio literalmente os tranca dentro de uma relao de
co-dependncia.
Na medida em que ambos os membros numa relao de co-dependncia se tornam mais e mais
estressados, um deles, usualmente, no consegue mais continuar seu papel e busca algum tipo de alvio.
Essa pessoa freqentemente descobre que o lcool alivia as tenses de uma vida de co-dependncia,
tornando-a mais tolervel e, assim, possibilitando sua continuao. De acordo com esse entendimento da
co-dependncia, claro que todos os alcolatras so co-dependentes, e que a co-dependncia
freqentemente precede o alcoolismo.
Uma vez que o alcoolismo ativo se estabelece, os co-dependentes no alcolatras tambm tendem a
mudar para pior. O no alcolatra incapaz de viver com ou sem o alcolatra. Num esforo para recuperar
algum controle sobre suas vidas, os no alcolatras tentam implorar, negociar ou bajular os alcolatras para
que parem de beber. Sua meta retomar primitiva relao de co-dependncia, que parecia estar
funcionando bem.
Cinco caractersticas da co-dependncia
Num livro para terapeutas, fiz uma detalhada descrio d comportamento de co-dependentes. Tudo
aquilo pode ser condensado em cinco caractersticas. No que voc for lendo essas caractersticas, pode ir
procurando em voc mesmo evidncias de sua co-dependncia.
Primeira caracterstica
Co-dependentes mudam quem eles so e o que esto sentindo para agradar outros.
Co-dependentes esto partidos entre dois mundos. Um mundo a fachada que mostramos para os
outros a falsa verso de ns mesmos. O outro mundo o quo catica, amedrontadora e vazia sentimos
nossa vida, no fundo. Co-dependentes se cobrem com uma aparncia de tudo bem enquanto, por dentro,
esto chorando ou morrendo. Eles fazem isso para se proteger do medo de que as coisas vo apenas piorar
se eles deixarem os outros saber como realmente se sentem, ou quem eles realmente so.
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fora de vontade. A idia de ser capaz de vencer os problemas da vida pela pura fora da vontade o
engano central. A co-dependncia no pode ser vencida, e s um co-dependente persistiria em tal esforo.
A natureza paradoxal da fora de vontade
A natureza paradoxal da fora de vontade reconhecida no campo do tratamento do alcoolismo pelo
menos desde o nascimento dos Alcolicos AA em 1935. Dado que todos os alcolatras so tambm codependentes, dever-se-ia esperar que um fator determinante na recuperao de ambos seria a deciso de
redefinir sua relao com a fora de vontade. Talvez uma parbola possa ser til aqui:
Um garoto foi agredido por um grandalho vrios anos mais velho que ele quando voltava da
escola.Ele ficou muito embaraado e prometeu a seus amigos que nunca mais deixaria que isso acontecesse.
No dia seguinte, ele teve que fazer alguma coisa no caminho de volta para casa, e fez um percurso diferente.
Quando perguntaram se ele tinha batido no grandalho naquele dia, ele explicou que no tinham se
encontrado, mas que, se tivessem, ele teria feito o outro pagar caro. No dia seguinte ele ficou na escola at
mais tarde, e o grandalho no estava vista quando ele disparou para casa. A os amigos comearam a
duvidar de que ele poderia derrotar o grandalho. Eles achavam que, talvez, ele estivesse com mais medo
do que admitia. O garoto estava determinado a arrasar o grandalho. No que o ano passava e o garoto
continuava a evitar encontrar-se com o provocador, at mesmo ele comeou a se sentir um fraco.
Finalmente, ele se forou a desafiar o provocador a fim de recuperar sua auto-estima, e foi novamente
espancada pra valer.
Evidentemente, como demonstrado pela experincia do garoto dessa histria, nem todas as realidades
podem ser mudadas pela fora de vontade. Ns temos um poder limitado para determinar aquelas coisas
sobre as quais temos controle e aquelas sobre as quais no temos. Claramente, alcolatras esto
empenhadas em tentar usar a fora de vontade pra mudar a forma como seus corpos reagem ao lcool,
negando, assim, a existncia de sua doena. Os diabticos podem, igualmente, tentar exercer a fora de
vontade para controlar seu nvel de acar no sangue, ou voc e eu podemos tentar usar a fora de vontade
para reverter a fora da gravidade depois de tropearmos num abismo.
O universo decide aquilo que ns, como humanos, temos sob nosso potencial controle. Muito, mas
nem tudo, do nosso comportamento est sujeito nossa vontade, enquanto que o comportamento dos
outros no est. Nossa vontade tem uma grande quantidade de poder sobre nossa ateno e sobre onde
escolhemos foc-la. Somos livres para limitar a percepo consciente de nossos sentimentos, mas temos
muito pouco poder sobre se temos ou no sentimentos, mas temos muito pouco poder sobre se temos ou no
sentimentos, sobre quais sero esses sentimentos.
Co-dependentes agem como se tivessem o poder de trazer todas as coisas sob seu controle,
simplesmente por desejarem que seja assim. A despeito da acumulao de esmagadoras evidncias de que
esta atitude autodestrutiva, eles continuam insistindo nela. Co-dependentes no alcolatras acreditam que
podem conseguir que outros parem de beber apenas dizendo ou fazendo a coisa certa. Eles tambm
acreditam que podem colocar de lado sua raiva, e que fazendo isso, a raiva deixar de existir. Cada vez que
sua fora de vontade fracassa em alcanar sua meta. Sua auto-estima despenca (como no garoto da
parbola). A tpica resposta dos co-dependentes a este fracasso redobrar seus esforos para fazer com que
o impossvel acontea.
Os esforos dos co-dependentes tambm so nobres... H uma cano no musical Don Quixote
chamada The impossible dream (o sonho impossvel), que deveria ser o hino dos co-dependentes. A fora
de vontade reverenciada, at mesmo idolatrada, como o mais louvvel caminho para a auto-estima.
Alcolatras repetidamente demonstram uma inabilidade de controlar o efeito do lcool em seus corpos e
ento buscam o consolo no fato de que pelo menos eles esto empenhado num mortal combate com seus
problemas.
A fora de vontade contm as sementes de sua prpria destruio quanto dela comea a ir alem das
fronteiras do que possvel.Alcolatras que tentam vencer o alcoolismo evitando o lcool acabaram se
sentindo como o garoto que est at hoje evitando o provocador. Ento torna-se uma questo de auto-estima
se testar, geralmente tomando s um trago... O alcolatra usa a fora de vontade uma vez atrs da outra
para dominar o impossvel, e o fracasso interpretado com um sinal de sua fora de vontade ainda no est
o suficientemente forte .
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No Fale
No Confie
No Sinta
Filhos de alcolatras aprendem, ainda muito crianas, que sua sobrevivncia emocional, e mesmo
fsica, depende de aprender e seguir tais regras. Isso era uma realidade. Eles no estavam imaginando
coisas.
Como adultos, eles muitas vezes falham em reconhecer que estas regas j no so mais necessrias
fora da famlia alcolatra. Ao invs disso, eles raramente falam a partir da fonte interna de suas verdades
mais simples. Eles no fazem nada to louco ou to vulnervel como confiar, realmente confiar em outras
pessoas, e eles cegamente mantm uma rdea firme sobre seus sentimentos. As regras que uma vez foram
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13 O processo de recuperao
Quando os alcolatras param de beber, eles tm, muitas vezes, que encarar o fato indesejvel de que
sua abstinncia apenas a primeira de muitas mudanas difceis que tm que ser feitas. Muitos alcolatras
se recusam a tentar levar sua mudana alm da abstinncia e, como resultado, no entram no processo de
recuperao. Eles so capturados pela iluso de que, meramente por pararem de beber, passaro a ter uma
vida plena e rica. Mas evitar o lcool, simplesmente, tem o mesmo efeito para a mente que dizer a si mesmo
que seu nariz no est coando. Na verdade, concentrar-se em no beber intensifica a devoo ao controle
e fora de vontade. Abstinncia um processo ativo, motivado pela atrao da riqueza de uma vida
emocional plena. Ela no poder nunca ser alcanada meramente pela eliminao da bebida.
Estar alerta
O que necessitam fazer os alcolatras E os co-dependentes para entrar no processo de recuperao?
Eles precisam aumentar sua conscincia naqueles momentos crticos nos quais se sentem ameaados,
defensivos ou fechados. Ns podemos restringir nossa conscincia de muito mais maneiras do que se pode
imaginar. A bebida limita nossa conscincia, mais isso apenas uma das maneiras. Ns podemos tambm
ignorar nossos sentimentos, forar-nos a esquecer qualquer coisa que achemos desagradvel, sonhar
acordados, intelectualizar, nos defender, negar, no prestar ateno, sair do ar, ir dormir, evitar conflitos,
ficar deprimidos, ter um ataque de pnico e assim por diante.
Quando os alcolatras param de beber e continuam a fazer uso de todos os outros modos de
permanecer inconscientes, eles no fizeram ainda a mudana fundamental que leva a uma autntica
recuperao. Em vez disso, eles permaneceram to comprometidos como sempre em usar a fora de
vontade para lidar com todos os aspectos de suas vidas. Quando sua energia est prestes a se exaurir pelo
uso de todos esses meios puramente psicolgicos, o uso ocasional do lcool prov uma alternativa que
ainda compatvel com sua abordagem bsica da vida, ou seja, O que voc ignorar no pode te ferir.
Questes dos co-dependentes
Alcolatras entram no processo de recuperao integral apenas quando comeam a encarar os
aspectos de sua co-dependncia, bem como sua adio ao lcool. Um notvel nmero de alcolatras acham
impossvel olhar honestamente para sua co-dependncia at que uma crise desesperada criada pela bebida
os leve a fazer isso. Co-dependentes no alcolatras tm mais dificuldade ainda em ver a necessidade de sua
prpria recuperao. Sua perspectiva de co-dependentes muito confortvel, pois podem culpar o
alcolatra por suas misrias e baixa auto-estima.
A verdade que a recuperao da co-dependncia , freqentemente, uma questo de vida e morte
tanto para o alcolatra, e os passos na direo da recuperao so os mesmos para ambos. Co-dependncia
co-dependncia, esteja ou no presente o alcoolismo. A recuperao da co-dependncia requer uma ativa
pesquisa sobre o uso da negao na vida do co-dependente e o compromisso de desfazer a negao,
independentemente das realidades que sero reveladas.
Embora a recuperao seja um processo ativo, ela tambm envolve a prtica de abrir mo, deixar ir.
Isto pode ser bem ilustrado se imaginarmos dois homens comeando a entrar no mar. Quando uma
gigantesca onda quebra inesperadamente sobre eles, duas reaes so possveis. O co-dependente que ainda
no est em recuperao enfia seus calcanhares na areia, endurece o corpo e tenta ir contra o poder
esmagador da onda. O co-dependente em processo de recuperao reconhece a futilidade de resistir a
tamanha fora e reage indo junto com a fora da onda. Na hora certa, e quando muito do poder da onda j
tiver sido gasto, esse indivduo ter energia suficiente para nadar at a superfcie. O outro ter gasto muito
de sua energia antes que qualquer ao efetiva tivesse sido possvel. O sentido dessa ilustrao est mais
bem expresso ainda na tradicional Prece da Serenidade.
Senhor, d-me serenidade para aceitar o que no pode ser mudado, coragem para mudar o que eu
puder mudar, e sabedoria para reconhecer a diferena.
Antes da recuperao, ns vivemos obcecados tentando provar que podemos mudar coisas que, em
ltima instncia, esto alm de posso poder. Na medida em que a recuperao avana, passamos a enfatizar
mais o fato de sermos efetivos, de alcanarmos resultados, e menos os sermos poderosos.
O processo de recuperao ocorre numa srie de estgios que sero discutidos no prximo captulo.
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14 Estgios da recuperao
A recuperao em estgios previsveis. Estes estgios so os mesmos, independentemente de codependente ser uma alcolatra ou no. Um grande fator de cura para os adultos filhos de alcolatras
reconhecer que sua prpria recuperao envolve essencialmente as mesmas tarefas enfrentadas pelo seu pai
ou mo alcolatra. Os aspectos que adultos filhos de alcolatras e seus pais tm em comum so maiores que
aqueles que os separam. Na medida em que experimentam dificuldades com sua prpria recuperao os
adultos filhos de alcolatras comearo a sentir empatia pela doena que afeta seus pais.
Cinco estgios do processo de recuperao
H cinco estgios no processo de recuperao: Sobrevivncia, Identificao, Temas Centrais,
Integrao e Gnesis.
Estgio de sobrevivncia
Muitos alcolatras ficam presos nesse estgio. Eles precisam beber para evitar sentir-se mais doentes
ainda do que j se sentem. Desmaios, deliram tremes e intensa auto-recriminao so as experincias que
eles se arriscam a ter que enfrentar se param de beber. A bebida prov uma maior sensao de bem estar e
normalidade do que a fase anterior de abstinncia. Conseqentemente, a negao parece necessria por uma
simples razo de sobrevivncia.
Adultos filhos de alcolatras que negam que seus pais so ou eram alcolatras ou que se recusam a
examinar como eles realmente se sentem a respeito da bebida de seus pais esto no estgio de
sobreviventes. Raiva e tristeza so intensamente contidas para evitar ser esmagado pela conscincia a
respeito do alcoolismo de seus pais. As rdeas so mantidas apertadas, contendo a espontaneidade num
esforo constante de sentir-se a parecer normal. Novamente, a negao parece necessria por uma simples
razo de sobrevivncia.
Embora o estgio de sobrevivncia seja o primeiro do processo de recuperao, a recuperao
comea realmente no estgio de identificao.
Estgio de identificao
Para os alcolatras, esse estgio comea no memento em que eles passam da recusa em reconhecer
que so alcolatras para uma aceitao mais realista de sua doena. Duas coisas so particularmente
importantes a respeito do ato de mudar de uma auto-identificao como no alcolatra para uma de
alcolatra. Primeira, a mudana envolve dar um grande salto baseado apenas na prpria f. Alcolatras tm
que abrir mo da negao como seu meio de sobrevivncia. Isto feito sem que haja nenhuma garantia de
que alguma coisa melhorar uma vez que eles reconheam seu alcoolismo. Segunda, simplesmente
identificar-se como um alcolatra no iniciar o processo de recuperao. Isso s pode acontecer quando o
indivduo compreende que sua relao com a fora de vontade est totalmente distorcida.
Alardear que voc um alcolatra um desperdcio de energia.A fim de fazer sentido, essas palavras
tm tambm que ser acompanhadas de uma mudana nas fronteiras da prpria auto-imagem. Durante o
estgio de identificao, a auto-imagem do alcolatra encolhe, passando da condio inflada, controladora
que prpria do estgio de sobrevivncia, para dimenses mais realistas. Esse encolhimento , muitas
vezes, uma experincia profunda e espiritual. A qualquer momento que experimentemos uma relao mais
realista entre ns e o universo, nosso esprito energizado. A qualquer momento que experimentemos uma
relao mais realista entre ns e o universo, nosso esprito energizado. Ao mesmo tempo, isso pode ser
tambm amedrontador e humilhante.
Adultos filhos de alcolatras tm que comear sua prpria recuperao com uma mudana similar
em sua auto-imagem. O estgio de identificao envolve uma avaliao mais realista do passado, e tem que
incluir uma nova conscincia sobre sua prpria relao com a fora de vontade. Muitos adultos filhos de
alcolatras ficam empacados no meio desse estgio, tal como acontece com muitos alcolatras. Reconhecer
que voc um adulto filho de um alcolatra fornece uma moldura a partir da qual, pela primeira vez, voc
pode construir uma viso realista de seu passado.
Uma avalanche de sentimentos pode acontecer uma vez que os adultos filhos de alcolatras
abandonam sua negao e vejam os eventos do passado de sua famlia sob uma luz mais realista. Raiva, que
esteve, desde de sempre, sufocada ou redirecionada contra si mesmo, , finamente, botada para fora. No
entanto, a menos que isto seja equilibrado com uma honesta avaliao do uso contnuo das distores
prprias da co-dependncia, a plena recuperao no ser possvel. Tanto para o alcolatra quanto para o
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Falta de espontaneidade.
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Voc tem o direito de dizer no a qualquer coisa quando sentir que no est preparado, ou que
no seguro.
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Voc tem direito de encerrar conversas com pessoas que o fazem sentir-se diminudo ou
humilhado.
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