DESCONSTRUINDO O NOME DE TROMBUDO CENTRAL

Charles Alexandre Porto1

Sabrina dos Santos2
Samuel Salzio dos Santos3

SUMRIO
1 A Guisa de Introduo...........................02
2 Verdade, mito e folclore: a explicao
standard................................................... 04
2.1 Desconstruindo a herana oral..........06
2.1.1 Desconstruindo H1 ..........................09
2.1.2 Desconstruindo H2 ..........................11
2.1.3 Desconstruindo H3...........................13
3 Em busca de um novo esboo
explicativo.................................................14
3.1 O rio Trombudo..................................16
3.1.1
Primeiras
aparies.........................19

3.1.2 Trombudo: curioso topnimo..........24

3.2 O Morro do Trombudo: uma breve
digresso...................................................26
4 Enfim, um novo esboo explicativo.......29
5 Consideraes finais..............................32
Referncia bibliogrfica...........................38
Anexo I - Mapa de Emil Odebrecht..........41
Anexo II - Carta de Assentamento do
Marco no Morro do Trombudo.................42
Anexo III - Vista Area do Morro do
Trombudo..................................................43

RESUMO
O objetivo precpuo do presente artigo consiste em desconstruir alguns equvocos
histricos que envolvem o nome da cidade de Trombudo Central, bem como apontar
novos caminhos investigativos na determinao de sua origem. Com efeito, quando
indagados sobre a origem do nome da cidade, os moradores de Trombudo Central
leigos ou estudiosos logo abrem mo de um cabedal terico composto de trs
hipteses principais: o elevado nmero de antas que habitavam a regio (da espcie
Tapirus Americanos), animais cuja compleio fsica compreende uma pequena
tromba; as constantes tombas dgua que se precipitavam na regio em
determinados perodos do ano; e, por fim, a formao resultante da juno dos rios
Trombudo e Brao do Trombudo no centro da cidade, supostamente em forma de
tromba. No obstante alguns estudos realizados, inexistem evidncias histricas a
favor de uma ou outra dessas hipteses, o que nos obriga a inclu-las no mbito das
conjecturas. Por conseguinte, partindo da premissa de que a nomeao do rio
Trombudo precede, cronologicamente, a da cidade, argumentaremos que na origem
do nome do rio Trombudo, um dos afluentes do rio Itaja-Au, que devemos buscar a
origem do nome de Trombudo Central.

1 Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

E-mail: charlesaporto@hotmail.com.
2 Graduanda de Letras Alemo pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). E-mail: bynahporto@gmail.com.
3 Graduando em Servio Social pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). E-mail: samuelsalezio@gmail.com.
1

1 GUISA DE INTRODUO

A curiosidade e perspiccia humanas sempre revelaram boa parte do

que o passado manteve oculto. No obstante isto, muitos fatos ainda esperam
por uma explicao (racional). Muitos fatos ainda permanecem como
verdadeiros mistrios. Outros, porm, apenas parcialmente. A histria, em cujo
escopo investigativo encontra-se o interesse no passado dos fatos, repleta de
mistrios, uns maiores, outros menores. Um desses mistrios gira em torno
da gnese do topnimo Trombudo, que hoje designa o municpio de
Trombudo Central.4
Com efeito, os traos incognoscveis que acompanham o nome
Trombudo Central so facilmente evidenciados no sentimento de estranheza
que, via de regra, invade as mentes das pessoas quando deparadas com ele.
Este desconforto materializa-se, muitas vezes, na forma de interpelaes:
Trom... o qu?; Trambuco?; Trambolho?; Localiza-se no Brasil?; Por que
Trombudo?. Mas, questes como estas acerca do epteto Trombudo no so
exclusividade daqueles que se deparam com a palavra pela primeira vez
elas tambm inquietam muitos moradores locais. De fato, nos ltimos anos
temos nos contorcido com indagaes como as que seguem: qual a gnese ou
origem ltima do apodo Trombudo? Quem utilizou pela primeira vez o nome
Trombudo Central? Haveria alguma relao entre o rio Trombudo, que corta a
regio, e o nome do municpio? Seria o nome do municpio inspirado no nome
4 Tpica cidade do interior catarinense, localiza-se a uma latitude 2717'57" sul e a uma
longitude 4947'25" oeste, estando a uma altitude de 350 metros. Sua populao estimada no
momento em que escrevemos este artigo de 5.738 habitantes. Para mais detalhes desta
natureza, veja-se o site da Prefeitura Municipal de Trombudo Central:
www.trombudocentral.sc.gov.br.

do rio, ou vice-versa? Quem nomeou o rio Trombudo? Em suma, estariam

corretas e historicamente bem fundamentadas as explicaes usualmente
empregadas para justificar o nome de Trombudo Central? Ou, por outro lado,
haveriam fatos e evidncias que endossam uma explicao alternativa, mas
que, at ento, havia escapado s investidas dos estudiosos do assunto?
Pois bem, em nossa jornada investigativa direcionaremos os holofotes
de nossa ateno a estas e outras indagaes, haja vista que o nosso objetivo
precpuo aqui consiste em desconstruir alguns equvocos histricos que
cerceiam o nome da cidade de Trombudo Central, bem como apontar novos
caminhos investigativos na determinao de sua origem. Dito de outra maneira,
partindo do que denominaremos de abordagem standard amplamente
difundida, diga-se en passant, entre os moradores e historiadores locais, e em
cuja base se encontram alocadas, como veremos, trs hipteses lapidares
distintas , procuraremos empreender uma desconstruo da mesma em
detrimento

de

uma

estratgia

alternativa

que

centra

seus

esforos

metodolgicos na fundamentao de uma nica hiptese, qual seja: a chave

para solucionar o mistrio em torno do nome da cidade de Trombudo Central
consiste em determinar, primeiramente, a origem do nome do rio Trombudo,
cuja nomeao precede, cronologicamente, a nomeao do municpio.
Portanto, cremos que, se alcanarmos uma explicao plausvel para a origem
do nome do rio Trombudo, cumpriremos com nosso propsito mor e,
consequentemente, lograremos sucesso em nossa empresa.
Antes, porm, de darmos prosseguimento ao nosso empreendimento e,
assim, passarmos ao primeiro momento uma breve apreciao da explicao

padro (standard) para o nome de Trombudo Central , cumpre-nos dizer ainda

que o presente estudo, em decorrncia das dificuldades insuperveis com as
quais nos deparamos ao longo de sua realizao 5, possui alcances e limites.
Em particular, alertamos ao leitor que este estudo no encerra o debate em
torno da origem do nome de Trombudo Central, limitando-se a, no mximo,
lanar luz sobre alguns aspectos do debate at ento ignorados pelos
exploradores incautos. Entretanto, pondo de parte os limites, havemos de
reconhecer que a pesquisa realizada, da qual o texto que segue resultado,
conserva todo o seu valor por abordar o tema de modo sistemtico, de forma
que, consideradas as limitaes supracitadas, no se pode negar que o
essencial do tema est aqui exposto de forma clara e objetiva, ainda que no
suficientemente fundamentada.

2 VERDADE, MITO E FOLCLORE: A EXPLICAO STANDARD

Segundo a historiografia oficial, o incio da colonizao de Trombudo

Central remonta ao incio do sculo XX, coincidindo com a chegada, em 1904,
de Ernesto Prada e Emlio Graupner s terras hoje compreendidas pelo
municpio mais especificamente localidade de Bracatinga. 6
5 Em primeiro lugar, tais se devem escassez de documentos, de modo que, no que toca s
informaes a que tivemos acesso para a elaborao do texto que segue, muitas continham
imprecises e, no raro, no foram capazes de satisfazer as necessidades e urgncias da
pesquisa. Em segundo lugar, no obstante a especificidade do tema investigado, a ausncia de
registros documentais contribui para que, num estudo no exaustivo como o que se tem em
mos, no haja aquela preciso que de se desejar de uma exposio de carter sistemtico e
objetivo.

6 Cf. TERNES, A. Trombudo Central: Subsdios para Histria. Rio do Sul:

Nova Era, 2008. passim. Na ocasio, Emlio Graupner, nascido em 09 de
setembro de 1886, em Indaial, era empregado de Ernesto Prada, nascido em
24 de maio de 1870, na Itlia, vindo tornar-se seu genro anos mais tarde, ao
casar-se com sua filha Maria, sua primeira esposa, e, posteriormente, por conta
4

As terras concedidas a Ernesto Prada faziam parte da gleba que Otto

Hermann Blumenau recebera do Governo Imperial na dcada de 1850 o que
estava em consonncia regra geral segundo a qual os ncleos coloniais
existentes no Estado deveriam ser mantidos por empresas particulares sob a
concesso de terras por parte do Governo. 7 Deste modo, conforme sugere o
Dossi: Colonizao/Imigrao8, a manuteno da Colnia Trombudo seria
implementada pelo Sindicato Agrcola de Blumenau,9 instituio junto a qual
Ernesto Prada adquiriu suas terras.
Devido grande eficincia obtida no processo de desenvolvimento
desta colnia10, j em 1933, Trombudo Central foi elevado categoria de
Distrito de Rio do Sul, vindo a emancipar-se poltico-administrativamente em 22

do falecimento de Maria, com Rosa, tambm filha de Ernesto Prada. As

informaes concernentes a Emlio Graupner so confirmadas por seu neto,
Celso Graupner, tambm em entrevista concedida a Sra. Denise Mueller.
7 Cf. CABRAL, O. R. Histria de Santa Catarina. 4 Ed. Florianpolis:
Lunardelli, 1994. p. 216 et seq..
8 Cf. FUNDAO CULTURAL DE RIO DO SUL. Ncleos Coloniais. In: Arquivo
Pblico Histrico. Dossi: Colonizao/Imigrao. Caixa 1.
9 Segundo Zanella, o Syndicato Agrcola do Municpio de Blumenau deu
continuidade ao processo de colonizao de Bella Aliana, atualmente Rio do
Sul, iniciado pela Sociedade Colonizadora Feddersen, Reif, Jensen. Deste
modo, subentende-se que a colonizao de Trombudo Central deveu-se
mesmo atuao daquele Syndicato. (Cf. ZANELLA, F. A Colonizao Italiana
no Alto Vale do Itaja. In: PIAZZA, W. F. (Org.). Italianos Em Santa Catarina.
Vol. 1. Florianpolis: Lunardelli, 2001. p. 559).
10 Cf. FUNDAO CULTURAL DE RIO DO SUL. Ncleos Coloniais. In:
Arquivo Pblico Histrico. Dossi: Colonizao/Imigrao. Caixa 1.
5

de julho de 195811 apenas, aproximadamente, quatro dcadas aps a

chegada dos primeiros colonizadores.12
No obstante haja relativa disponibilidade de informaes documentais
quanto emancipao poltica e administrativa de Trombudo Central, pouco,
ou quase nada, refere-se origem do seu epteto. Alis, as escassas
informaes de que disponibilizamos a este respeito transitam entre a verdade
requerida pelos fatos histricos, a fantasia comum aos mitos e a oralidade dos
fenmenos folclricos. Por conseguinte, no passam de meras conjecturas,
pois inexistem evidncias histricas concretas que as comprovem.
Deste modo, antes de tudo, nossa jornada constitui-se num trabalho
investigativo que preza pela busca de evidncias documentais ou outras
que nos auxiliem a vislumbrar, pelo menos, lampejos de veracidade em torno
da origem do nome de Trombudo Central. Mas, ento, por onde devemos
inici-la?

2.1 DESCONSTRUINDO A HERANA ORAL

11 O municpio de Trombudo Central foi criado a partir do projeto de resoluo
n 01/57, de autoria do ento vereador Werner Mueller, de Rio do Sul, em 1957,
posteriormente convertido na Resoluo n 29, sendo finalmente instalado por
decreto estadual em 1958. Cf. PREFEITURA MUNICIPAL DE TROMBUDO
CENTRAL. Trombudo Central. In: www.trombudocentral.sc.gov.br. (Acesso
em 06/12/2007). Antes, porm, de pertencer a Rio do Sul, Trombudo Central
integrou os territrios de Porto Belo, Itaja e Blumenau. Ver tambm ADAMI, L.
S; ROSA, T. Agrolndia: de Trombudo Alto aos Nossos Tempos. Itaja: S&T
Editores, 2005. p. 26.
12 No h consenso absoluto entre os historiadores quanto chegada dos
primeiros colonizadores de Trombudo Central. Segundo Ctia Dagnone, No
ano de 1909, tem incio o povoamento, em Agronmica, Rio do Campo e
Trombudo Central. (Cf. DAGNONE, C. Primeiros Ncleos de Povoamento. In:
Rio do Sul: Nossa Histria em Revista. Tomo II, n 6, 2000, p. 08). Contudo,
conforme antecipamos acima, comumente aceito que o povoamento de
Trombudo Central iniciou-se em 1904. (ADAMI & ROSA, 2005, op. cit., p. 26 et
seq. p. 27).
6

Lugar comum para darmos incio busca por informaes concernentes

origem do nome de Trombudo Central a Ata de Fundao do municpio, que
data de 22 de julho de 1958. Contudo, nela inexiste qualquer referncia
procedncia do nome da cidade, limitando-se a, simplesmente, mencion-lo.
Com efeito, a ausncia de informaes quanto gnese do epteto de
Trombudo Central presenciada em sua Ata de Fundao reflete, em ltima
instncia, a nulidade de informaes documentais disponveis sobre o assunto
em questo no obstante o empenho empreendido nos ltimos anos por
Denise Lenzi junto a Prefeitura de Trombudo Central com o intuito de reunir
documentos referentes histria do municpio.13
Neste nterim, uma vez que inteiramente desconhecida at o momento
a existncia de evidncias documentais mais precisas, a tradio oral encerra
nosso principal banco de dados quanto origem do nome de Trombudo
Central. Ora, segundo a tradio oral local, j amplamente disseminada na
literatura,14 existem trs hipteses principais que, supostamente, explicam o
nome Trombudo Central, quais sejam:

H1 o elevado nmero de antas na regio, animais cuja compleio

fsica compreende uma pequena tromba;

13 O trabalho visou a elaborao do livro Trombudo Central: Subsdios para

Histria, de autoria de Apolinrio Ternes, j citado acima.
14 Cf. ADAMI & ROSA, 2005, op. cit., p. 26 et seq.; CARNEIRO, M. M. Origem
dos Nomes dos Municpios de Santa Catarina. Blumenau: Nova Letra, 2006.
p. 50 e 169; TERNES, 2008, op. cit., passim.
7

H2 as constantes trombas dgua, que se precipitavam na regio em

determinados perodos do ano;

H3 a formao resultante da juno dos rios Trombudo e Brao do

Trombudo, no centro da cidade em forma de tromba.15

Note-se que as trs hipteses (H1, H2 e H3) fazem meno palavra

tromba (seja dgua, de anta ou de uma formao resultante do encontro de
dois rios). Por conseguinte, de acordo com a tradio oral, acredita-se que a
palavra Trombudo deriva da ocorrncia da palavra tromba, ou em H1, ou em
H2, ou em H3.
No resta a menor sombra de dvida de que a tradio oral um
riqussimo instrumental explanatrio dos fatos histricos, contudo, desde que
concomitantemente

respaldada

em

evidncias

contrafactuais

e/ou

documentais. No obstante isto, conforme salientamos acima, estes ltimos

so desconhecidos at o momento o que nos impele a incluir as hipteses
supracitadas no mbito das conjecturas , ainda que a sua confrontao com a
experincia nos indique que tais hipteses possuem, pelo menos, certa
plausibilidade.
Tendo isto em vista, a seguir, daremos incio a um trabalho de
desconstruo e construo das hipteses aventadas pela tradio oral para a
gnese do epteto Trombudo Central. Acreditamos se tratar de um movimento
de desconstruo e reconstruo por duas razes elementares: em primeiro
15 Ver tambm PREFEITURA MUNICIPAL DE TROMBUDO CENTRAL, 2007,
op. cit., passim; TERNES, 2008, op. cit., passim.
8

lugar, porque no objetivamos apenas desconstruo do patrimnio oral

erigido pela tradio local com o intuito de mostrar as falhas e incongruncias
que lhe so inerentes; em segundo lugar, porque acreditamos que o trabalho
de desconstruo das hipteses acima listadas nos permitir visualizar suas
eventuais falhas estruturais e, assim, ou corrigi-las, quando isto for possvel, ou
abandon-las definitivamente, reconstruindo-as em novas bases. Neste nterim,
procederemos a uma anlise mais detida destas hipteses (H1, H2 e H3) com a
finalidade de verificar seu status e acuidade, isto , se so mesmo capazes de
resistir ao crivo lgico da razo e dos fatos histricos.

2.1.1 Desconstruindo H1

De acordo com relatos dos moradores mais antigos da cidade entre os

quais, notadamente, o da Sra. Ana Prada (in memoriam), filha de Ernesto
Prada , havia, de fato, uma vasta populao de antas, da espcie Tapirus
Americanos, habitando a regio de Trombudo Central e arredores quando da
sua nomeao. Estes relatos apiam-se, ou em conversas realizadas com os
primeiros colonizadores da regio, ou nos depoimentos dos tropeiros que
transitavam pela regio por conta de suas viagens comerciais entre Curitibanos
e Blumenau, e vice-versa.16
Segundo relato da Sra. Ana Prada, em entrevista concedida a Denise
Lenzi, o nome Trombudo Central deriva da juno de ambos os elementos
apontados acima, a saber: a presena massiva de antas e a presena

16 Cf. TERNES, 2008, op. cit., passim.

9

peridica de tropeiros na regio.17 Encontramos a aproximao de ambos na

seguinte passagem de seu depoimento:

De Rio do Sul at Otaclio Costa tinha s uma trilha estreita onde

tropeiros passavam com poucas mulas carregadas e em fila indiana,
tambm para no facilitar o ataque de tigres, pois havia muito na
poca e esses tropeiros tinham pousos para descansar. Um desses
pousos era aqui onde morava o Sr. Ervino Prochnow. Ali tinha uma
vantagem, pois o lugar ficava entre os dois rios que se unem; faziam
fogueiras em trs pontos, assim as mulas e as barracas ficavam no
centro protegidas dos animais ferozes: as mulas no podiam sair nem
os animais selvagens podiam entrar por causa do fogo. Chamavam
este lugar de Pouso do Bico, devido a unio dos dois rios. 18

Mais adiante, afirma:

Quando Ernesto avistava fumaa, sabia que os tropeiros acabaram
de chegar; ento ia ao encontro deles para fazer negcios. Numa
noite dessas, os cachorros dos tropeiros acuaram muito. Um homem
atirou e matou um animal grande de tromba cumprida, que se tratava
de uma anta macho, um animal velho pelo tamanho que apresentava.
Fizeram carne, comeram. Um homem fez uma forquilha, enterrou na
terra e falou: Agora aqui no vai mais ser o Pouso do Bico, mas se
chamar Pouso do Rio Trombudo. A que est a origem de
Trombudo Central, contado pelo meu sogro Ernesto Prada. Depois foi
surgindo Barra do Trombudo, Trombudo Alto e Brao do Trombudo.
Por este motivo mudou de Pouso do Rio Trombudo para Trombudo
Central, porque ficou no centro destas localidades.19

Suponhamos que a verso decorrente do relato da Sra. Ana Prada, que

denominamos de H1, seja verdadeira, por um momento. Deste modo, temos
que, antes de receber a designao de Trombudo Central, o local chamava-se,
segundo o relato da Sra. Ana Prada, Pouso do Bico, vindo mais tarde a ser
denominado de Pouso do Rio Trombudo, por inspirao de um tropeiro
itinerante que, numa ocasio incerta historicamente, se aventurava pela regio

17 Cf. PRADA, A. Entrevista concedida a Denise Mueller em 10/03/2005.

18 Cf. PRADA, A. Entrevista concedida a Denise Mueller em 10/03/2005.
Apenas a ttulo de esclarecimento, os rios mencionados so o Trombudo e o
Brao do Trombudo.
19 Cf. PRADA, A. Entrevista concedida a Denise Mueller em 10/03/2005.
10

e topara com uma enorme anta, vindo a mat-la, alimentar-se de sua carne e,
finalmente, enterrar seus restos naquele local. 20
Apesar de a verso encontrar respaldo no relato de uma antiga
moradora da cidade, e fazer referncia a um suposto tropeiro (que permanece
desconhecido), o apodo Pouso do Rio Trombudo deixa implcito a
precedncia do nome rio Trombudo em relao ao nome da cidade, Trombudo
Central. Pois, se o Sr. Ernesto Prada presenciou ou ouviu diretamente do
tropeiro a histria que deu origem ao nome da cidade, ento este episdio teria
ocorrido pelo menos por volta de 1904 ano em que Ernesto Prada teria
chegado a Trombudo Central. Contudo, temos evidncias documentais (como
os dados coletados para elaborao de seus mapas por Emil Odebrecht) que
comprovam que o rio Trombudo recebia esta designao j na dcada de
1860.21 Dito de outro modo, a partcula Rio Trombudo, em Pouso do Rio
Trombudo, sugere que o nome do rio antecede a prpria designao de
Pouso do Rio Trombudo em pelo menos 40 anos e, por conseguinte, tambm
o nome de Trombudo Central.
Por todas estas razes, salvaguardada toda a engenhosidade e relativa
coerncia inerentes ao relato da Sra. Ana Prada, acreditamos que H1 no se
20 Os ditos pousos, segundo o emprego ordinrio do termo, eram locais
selecionados e estabelecidos pelos tropeiros para descanso e pernoite. No que
diz respeito s expresses Pouso do Bico e Pouso do Rio Trombudo,
desconhecemos qualquer referncia documental at o presente momento, bem
como outros relatos que comprovem sua veracidade. Seja como for, o local
preciso deste episdio encontra-se prximo agncia do Banco do Brasil e do
Posto Mime, e entre as duas pontes existentes no centro da cidade, uma sobre
o rio Trombudo e outra sobre o rio Brao do Trombudo. Atualmente, o terreno
pertence ao Sr. Gervsio Ramos.
21 Cf. ODEBRECHT, R.; ODEBRECHT, R. S. Cartas de Famlia: Ensaio
Biogrfico de Emil Odebrecht e Ensaio Biogrfico de seu Filho Oswaldo
Odebrecht Snior. Blumenau: Edio do Autor, 2006. p. 48. Ver tambm
ANEXO I.
11

presta indubitavelmente justificao do epteto Trombudo Central. Como

ensejamos uma base slida fundamentao do nome de Trombudo Central,
vejamos como se sai H2 a hiptese que deriva o nome da cidade das
torrenciais trombas dgua que assolavam a regio.

2.1.2 Desconstruindo H2

Assim como H1, tambm H2 encontra sua origem nos relatos dos
primeiros colonizadores e exploradores da regio. Segundo estes relatos, a
regio de Trombudo Central era fustigada, especialmente no vero, por
precipitaes torrenciais peridicas, vulgarmente denominadas de trombas
dgua.
Entre os relatos que nos chegaram, destaca-se aquele imortalizado nos
dirios de Emil Odebrecht, engenheiro contratado junto administrao da
Colnia Blumenau j em 1862, com a finalidade de empreender estudos acerca
da topografia da regio do Alto Vale do Itaja e investigar a possibilidade de
construo de um caminho at o planalto a estrada Lages-CuritibanosBlumenau ou serrastrae.22 Em seus dirios Odebrecht relata enfaticamente as
chuvas torrenciais que os assolavam quase que diariamente em suas
aventuras pelas matas do Alto vale do Itaja, dificultando muito seu trabalho. 23
22 Odebrecht trabalhou praticamente 20 anos (1862-1881) na Colnia
Blumenau e/ou para o Ministrio da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas.
Porm, de seus dirios, chegou-nos apenas a cpia de janeiro/fevereiro de
1863, feita por Frederico Kilian uma vez que o original foi consumido pelas
chamas no incndio ocorrido na Biblioteca Municipal de Blumenau em 1958 ,
e o dirio-livro-caixa do perodo de maio de 1886 at novembro de 1889. (Cf.
ODEBRECHT; ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 48).
23 Veja-se, a ttulo de exemplo, ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit.,
p. 51 et seq..
12

No obstante encontre respaldo nos dirios do engenheiro Odebrecht,

no h qualquer referncia explcita em seus dirios vinculando a ocorrncia de
trombas dgua na regio com o nome de Trombudo Central ainda que
Odebrecht tenha visitado o rio Trombudo em uma de suas expedies
regio.24 Tambm se desconhece qualquer outra referncia, alm dos relatos
dos moradores locais, que estabelea e fundamente a associao entre as
constantes trombas dgua ao nome da cidade de Trombudo Central.
Ademais, se as trombas dgua eram comuns regio do Alto Vale do
Itaja, no parece haver um motivo em particular que permita inferir Trombudo
de tromba dgua, at onde podemos vislumbrar. A menos que, conforme
contra-argumentou a Sra. Denise Lenzi em conversa, o rio Trombudo assim
chamado em virtude da rpida elevao do seu nvel de gua em decorrncia
das trombas dgua. Some-se a isto o fato de que nestes tempos o volume de
gua do rio Trombudo era superior ao constatado atualmente.
Contudo, mais uma vez nos encontramos no mbito das meras
especulaes, inexistindo qualquer referncia documental que comprove H2.
Por

todos

estes

motivos,

cremos

igualmente

que

H2

no

explica

satisfatoriamente a origem do nome de Trombudo Central, bem como do rio

Trombudo.

2.1.3 Desconstruindo H3

H3

hiptese

mais

difundida entre os moradores de

24 Cf. ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 118.
13
Figura 1 Encontro dos rios Brao do
Trombudo e Trombudo, no centro da
cidade. Fonte: Google Earth, 2009.

Trombudo Central e tambm a

que

acreditamos

ser

mais

implausvel e fictcia. De acordo

com ela, o anteposto Trombudo
deriva de uma estrutura em forma
de tromba resultante do encontro, no centro da cidade, dos rios Trombudo e
Brao (Grande) do Trombudo o mesmo local onde supostamente teriam
transcorrido os episdios citados em H1.
No entanto, se observarmos com ateno a formao decorrente do
encontro dos referidos rios25, ainda que isto seja apelativamente subjetivo, logo
notaremos que antes de assemelhar-se a uma tromba, tal estrutura aparentase mais com um bico, o que, alis, vem ao encontro do relato da Sra. Ana
Prada, segundo o qual, como vimos anteriormente, nos primrdios, Trombudo
Central chamava-se Pouso do Bico.26 No obstante isto, conforme mostramos
acima, no h argumentos e/ou documentos que nos permitam estabelecer um
vnculo lgico entre Pouso do Bico e Trombudo Central, assim como entre este
ltimo e suposta estrutura em forma de tromba possivelmente nascida do
imaginrio popular local.
Por

conseguinte,

H3

encontra-se

inteiramente

desprovida

de

fundamentao, no se prestando satisfatoriamente explicao da origem do

nome de Trombudo Central.

3 EM BUSCA DE UM NOVO ESBOO EXPLICATIVO

25 Ver Figura 1.
26 Para detalhes, ver tpico 2.1.1.
14

Uma vez demonstrado que as hipteses aventadas pela tradio (oral)

para justificar o epteto Trombudo Central no encerram um cabedal terico
que disponha de um alicerce lgico e factual seguro a ponto de resistir s
investidas da razo, faz-se mister abandon-lo em detrimento de um novo
background terico e factual, que d novo flego e roupagem ao tratamento do
problema em questo. A pergunta que emerge a seguinte: o que colocar em
seu lugar? Ou ainda: o que tomar o lugar da herana oral na explicao do
nome de Trombudo Central?
Nossa resposta a esta indagao compreende dois momentos distintos.
O primeiro passo na adoo desta nova perspectiva consiste em subsumir que
tem havido um mau direcionamento quanto ao emprego usual de H1, H2 e H3,
de tal modo que sua perpetuao ao longo dos anos praticamente o converteu
num equvoco incontornvel. A confuso toda consiste em se aplicar
diretamente as hipteses supramencionadas na explicao da origem do nome
de Trombudo Central quando, contrariamente ao que amplamente difundido
entre leigos e estudiosos, deveriam ser aplicadas justificao do nome do rio
Trombudo. No entanto, uma vez que j demonstramos acima que H1, H2 e H3
no explicam satisfatoriamente a origem do nome da cidade ou do rio
Trombudo, podemos dar prosseguimento nossa empresa e, assim,
passarmos ao segundo momento.
Com efeito, o segundo movimento consiste em conceber a determinao
da origem do nome do rio Trombudo como a ferramenta capaz de solucionar o
mistrio em torno do nome da cidade de Trombudo Central, uma vez que,

15

comprovadamente, a nomeao do rio Trombudo precede, cronologicamente, a

nomeao do municpio. Ademais, note-se a centralidade do rio Trombudo na
denominao das localidades e municpios cujas terras por ele so cortadas.
Desta forma, o rio Trombudo no apenas empresta a partcula Trombudo para
composio do topnimo de Trombudo Central, mas tambm para compor o
nome de Brao do Trombudo, Trombudo Alto (atualmente municpio de
Agrolndia, mas que ainda conserva um bairro com aquele nome) e o bairro
Barra do Trombudo, j no municpio de Rio do Sul. Todos os topnimos acima
citados so complexos e consistem no substantivo/adjetivo Trombudo,
complementado pr ou sufixalmente por um advrbio de lugar, indicando sua
posio em relao ao rio.
Por conseguinte, pode-se inferir, na origem do nome do Rio Trombudo,
sem qualquer referncia a H1, H2 e H3, onde devemos buscar a origem do nome
de Trombudo Central. No obstante toda a obviedade implcita nesta
suposio, ela nos levou a percorrer caminhos aparentemente inexpugnveis e
inescrutveis. Antes, porm, de trilh-los, preciso emprestar algum tempo
apresentao do rio Trombudo um annimo, um desconhecido que a tantos
beneficia com suas ddivas, com suas guas.

3.1 O RIO TROMBUDO

O rio Trombudo pertence bacia hidrogrfica do Atlntico Sul, figurando

como principal afluente do rio Itaja do Oeste que, tendo suas guas somadas

16

s do rio Itaja do Sul, na atual cidade de Rio do Sul, d origem a um dos mais
importantes rios do Sul do Brasil, a saber, o Itaja-au. 27
De acordo com levantamentos topogrficos atuais, a nascente principal
do rio Trombudo remonta ao Planalto Serrano, na Serra Geral, mais
especificamente cidade de Otaclio Costa fato este acordado por Peluso Jr.
em seu breve relatrio do levantamento hidrogrfico da regio, ao precisar que
[...] o rio Trombudo nasce no planalto de Lajes, penetrando no municpio de
Agrolndia lanando-se da Serra Geral. 28
quela altura, o rio Trombudo recebe a denominao de rio Carrapato.
Muito embora uma anlise mais detida da rede fluvial da regio nos indique a
existncia de outros formadores importantes do rio Trombudo, como o Brao
Grande do Trombudo, o crrego Carrapato , sem sombra de dvida, o mais
longo brao do rio Trombudo razo necessria e suficiente para eleg-lo
como sua nascente principal. Este ttulo advm da considerao dos trs
critrios comumente empregados para definir a nascente principal de um rio,
quais sejam: o seu volume de gua, a sua distncia da nascente at a foz e
sua altitude.29

27 A nascente principal do Rio Itaja-Au encontra-se no Morro do Lajeado,

localizado no municpio de Alfredo Wagner, a uma altitude de 1.752 metros.
Segundo Altair Wagner, da sua nascente at a foz, o Rio Itaja-Au percorre
uma distncia de aproximadamente 295.970m, o que equivale a 295, 97 km.
(Cf. WAGNER, A. Alfredo Wagner. Florianpolis: Do Autor, 2002. p. 30 et
seq.).
28 Cf. PELUSO JR. Vtor A. Rio do Sul. Rio do Sul: Fepevi, 1953, p. 49. Vale
destacar que, na ocasio da redao do livro de Peluso Jr., o municpio de
Otaclio Costa ainda no havia se emancipado de Lages, o que viria a ocorrer
apenas em 10 de maio de 1982. Da o autor empregar a expresso planalto de
Lajes.
29 Cf. WAGNER, 2002, op. cit., p. 30.
17

Conforme

deixamos

implcito

acima,

grande

deficincia

de

informaes precisas inclusive com relao nascente do rio Trombudo. Esta

mesma carncia nos impede de saber com preciso sua extenso total, volume
de gua, entre outras caractersticas informaes de suma relevncia a um
estudo como este que empreendemos. Deste modo, mais uma vez
confrontados com a dvida e a incerteza, a fim de confirmar algumas
informaes e/ou levantar novos dados, partimos em expedio aos 03 de
janeiro de 2008 em direo s previstas cabeceiras dos rios Trombudo e
Carrapato, j no municpio de Otaclio Costa, e ao sul do municpio de
Agrolndia.30
A regio corresponde j parte serrana do estado de Santa Catarina,
sendo indicada nos mapas como pertencente bacia do rio Uruguai. No
obstante isto, ainda na Serra Geral, importante bero de guas, localizam-se as
cabeceiras do rio Carrapato e de alguns de seus afluentes, como o rio do Gado
e o crrego Cachoeira, que do conformao a bacia do Atlntico Sul.
Em nossa expedio a Otaclio Costa, encontramo-nos prximos
localidade de Goiabal onde, em conversa com o Sr. Geovani, morador local,
obtivemos informaes sobre a cabeceira do rio Carrapato. Segundo seu
relato, e subseqente verificao, a nascente do rio Trombudo (ento
Carrapato) encontra-se no Morro do Estrepe, na extremidade entre as
propriedades do Sr. Alosio Werneck (Fazenda Carrapato), do Dr. Cristiano e da
empresa MADEPAR.31 quela altura, aps avanar por entre as encostas
30 Alm dos autores deste artigo, participaram da expedio o Sr. Salzio dos
Santos, pai e sogro.
31 Ao verificar os mapas da regio, constatamos que o Morro do Estrepe d
conformao Serra do Faxinal e/ou Serra Grande.
18

ngremes e completamente tomadas de vegetao que delineiam o Morro do

Estrepe, o rio Carrapato recebe, mais adiante, o crrego Cachoeira, com
nascente na divisa entre os municpios de Petrolndia e Otaclio Costa, e o rio
do Gado, com cabeceira ao norte da localidade do Goiabal, em Otaclio Costa.
Aps receber o rio Carrapato e o ribeiro Garganta, o rio Trombudo
continua seu curso captando tambm as guas de importantes afluentes,
dentre os quais, margem esquerda, o ribeiro Novo, o ribeiro So Joo e o
ribeiro Pitangueira; j margem direita, o ribeiro das Pedras, o ribeiro
Bonito, o ribeiro do Tigre e o ribeiro Donato, todos estes compreendidos no
territrio agrolandense.
J em Trombudo Central, sua margem direita, o rio Trombudo recebe
os seguintes afluentes: ribeiro Caf, ribeiro Sabugueiro e ribeiro Prada; e
margem esquerda, o Brao Grande do Trombudo e o ribeiro Bracatinga.
Mais adiante, j no atual municpio de Agronmica, o rio Trombudo
recebe, margem esquerda, o ribeiro Kunt e, margem direita, os ribeires
Mosquito, Mosquitinho e Pastagem.
O rio Trombudo finda seu curso, conforme mencionamos anteriormente,
imediatamente aps ingressar no municpio de Rio do Sul, para logo encontrar
as guas do rio Itaja do Oeste, na localidade de Barra do Trombudo.
Para os nossos propsitos, salutar salientar que, durante o processo
de colonizao da regio do Alto Vale do Itaja, as ocupaes seguiram as
margens dos referidos rios, em geral no sentido leste-oeste, ou seja, rio
acima. Entre outras coisas, esta constatao evidencia que a hidrografia da
regio possui conexo direta com a sua ocupao e, no raro, com as atuais

19

denominaes regionais, municipais e locais. Neste nterim, a partir desta regra

geral, a hiptese segundo a qual o nome de Trombudo Central deriva do nome
do rio com mesmo nome comea a assumir um status histrico. Por
conseguinte, na prxima seo, direcionaremos os holofotes de nossa ateno
para as referncias histricas mais antigas que mencionam o rio Trombudo.

3.1.1 Primeiras Aparies

Entre as primeiras referncias documentais acerca do rio Trombudo,

destaca-se a indicao feita por Emil Odebrecht em seu dirio, datando de 12
de maro de 1874.32 Nele lemos:

Apesar dessas dificuldades foi possvel medir 146,684 m, assim

distribudos:
no Rio Itaja-au, da foz do Rio do Sul acima
90,716m
no Rio do Sul
10,500m
no Rio Trombudo
8,100m
no Rio das Pombas
3,680m
no rio Tai
23,688m
146,684m 33

Como se pode depreender da passagem acima, uma vez que a medio

do rio Trombudo feita por Emil inicia na sua foz, na localidade de Barra do
Trombudo, na confluncia com o Itaja do Oeste, um percentual muito pequeno
de sua extenso total foi explorado, isto , apenas aproximadamente 8 km. Por
32 A mesma citao encontrada no resumo enviado por Victor Gtner, cnsul
da Alemanha em Blumenau, para o pas de origem, tendo sido publicado no
ano seguinte (1875) na revista da Gesenllschaft fr Erdkunde (sociedade
geogrfica de Berlim).
33 Cf. ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 118. Ver tambm
ODEBRECHT, Emlio. Levantamento do Rio Itaja-Au. In: Rio do Sul: Nossa
Histria em Revista. Tomo II, n 6, 2000, pp. 15.
20

conseguinte, podemos inferir que Odebrecht no alcanou nesta expedio as

terras que atualmente correspondem ao municpio de Trombudo Central.
Seja como for, ainda que breve e prematura, esta incurso pelo rio
Trombudo lhe permitiu assim caracteriz-lo:

3) O rio Trombudo
Este rio apresenta muita semelhana com o Itaja-au, do rio
Benedito para cima. A largura do leito de 20m e a profundidade
contnua de 1m de uma margem outra, sendo que tambm aqui
possvel navegao de baixo calado; com exceo de um local, com
nveis especialmente baixos de gua, existe uma cachoeira de
metro, que impede a navegao.34

Com base nos levantamentos geodsicos realizados por Odebrecht,

sobremaneira durante as dcadas de 1860 e 1870, vrios mapas da regio
foram construdos. Entre estes, figura o mapa ampliado por Richard Kiepert, de
187435, e o mapa desenhado pelo prprio Emil Odebrecht, datado de 1875. 36
Em ambos, acrescente-se, so delineados os primeiros quilmetros do rio
Trombudo.37
Outra importante referncia devida ao ento diretor da Colnia
Blumenau, ningum menos que o Dr. Hermann Otto Blumenau, em carta a
Joo Capistrano Bandeira de Melo Filho, presidente da Provncia de Santa
Catarina, em 1876. Ao descrever os progressos obtidos por Emil Odebrecht na
construo do picado para o planalto, assim escreve o Sr. Blumenau ao
diretor da Provncia: O engenheiro Odebrecht saiu em 16 deste ms e neste

34 Ibid., p. 119.
35 Cf. ODEBRECHT, 2000, op. cit., p. 16-17.
36 Ver ANEXO I.
37 Cf. ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 126-126.
21

momento j estar nivelando e definitivamente fixando o novo trao da cesso

da estrada para Curitibanos, sita entre os rios Trombudo e Pombas. 38
Talvez uma das mais esclarecedoras passagens onde encontramos uma
associao direta entre o rio Trombudo e o nome de um lugar especfico seja
devida a Osvaldo Odebrecht, filho de Emil Odebrecht. Em seu Ensaio
Biogrfico, podemos ler a seguinte passagem:

Em 1916/17 Oswaldo adquiriu o lote rural localizado no lugar da

estrada (carrovel) Blumenau-Lages de onde partia o picado para
Tai e o Alto Vale do Itaja, prximo da confluncia deste ltimo com o
rio Trombudo. Ponto que por esta razo recebeu o nome de Barra do
Trombudo; situado no distrito de Bela Aliana, que em 1930 foi
elevado a municpio com o nome de Rio do Sul.39

De fato, esta passagem bastante esclarecedora quanto origem do

nome da localidade de Barra do Trombudo, hoje bairro de Rio do Sul. Segundo
Rolf e Renate Odebrecht, ele se deve ao fato de a regio compreendida pela
localidade estar disposta s margens do rio Trombudo at seu encontro final
com o Itaja do Oeste, formando assim uma barra. Da Barra do Trombudo.
No entanto, ela deixa escapar que o nome do rio que d origem ao seu prprio
epteto lhe cronologicamente anterior. Dito de outra maneira, o nome do rio
surgiu antes do nome Barra do Trombudo.
Ora, esta precisamente nossa hiptese geral, isto , assim como Barra
do Trombudo deriva seu nome da sua localizao em relao ao rio Trombudo,
o mesmo se d em relao a Trombudo Central. Por conseguinte, muito
embora nenhuma das referncias supracitadas faa meno direta ou indireta
38 Cf. BLUMENAU, Hermann. Diretoria da Colnia Blumenau: Fevereiro de
1876. In: Rio do Sul: Nossa Histria em Revista. Tomo IV, n 5, 2002, p. 19.
39 Cf. ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 505.
22

quanto origem do nome Trombudo, elas evidenciam nossa suspeita inicial

de que o nome de Trombudo Central deriva do nome do rio.
Ademais, a varredura empreendida em torno das primeiras aparies do
apodo Trombudo nos revelou um fato, no mnimo, curioso: a despeito de
nossas suposies iniciais e do espanto causado nas pessoas que o ouvem
pela primeira vez, o epteto Trombudo mais comum do que aparenta ser.
Este sentimento advm do fato de que em nossa busca deparamo-nos com
muitas variantes do topnimo em diferentes regies do estado de Santa
Catarina e mesmo do Rio Grande do Sul.

3.1.2 Trombudo: Curioso Topnimo

De fato, a palavra trombudo, descrita nos dicionrios como sinnimo de

carrancudo, que tem tromba, que tem aspecto sombrio, empregada para
designar diferentes anfractuosidades e localidades em lugares distintos. 40 Alm
daquelas advindas do rio Trombudo (Brao do Trombudo, Barra do Trombudo,
Trombudo Alto e Trombudo Central), j supramencionadas, outras aparies do
topnimo h que podem ser destacadas: a comunidade de Trombudo, no
municpio de Nova Trento, em Santa Catarina 41; o morro do Trombudo, na
tambm cidade catarinense de Itapema42; o morro do Trombudo existente na
40 Cf. FERNANDES, F.; LUFT, C. P.; GUIMARES, F. M. Dicionrio Brasileiro
Globo. 39 Edio. So Paulo: Globo, 1995.
41 De acordo com o site oficial da Prefeitura de Nova Trento, Trombudo uma
das localidades (bairros) do municpio, e Leva este nome talvez devido aos
morros. Para detalhes, consulte-se o site www.novatrento.sc.gov.br.
42 Para mais detalhes, ver REVISTA TURISMO. In:
http://www.revistaturismo.com/Dicasdeviagem/itapema.htm. (Acesso em
08/07/2009);
23

capital barriga verde43; o rio Trombudo, situado na cidade de Lebon Rgis; j no

estado do Rio Grande do Sul, encontramos o morro do Trombudo na cidade de
Vale do Sol44; a fase arqueolgica Trombudo, em decorrncia dos achados
arquelogos realizados no Vale do Rio Pardo, prximo ao morro do Trombudo,
em Vale do Sol; por fim, em regresso Santa Catarina, destacamos o tambm
denominado morro do Trombudo, situado entre as cidades de Alfredo Wagner e
Bom Retiro.45
O conhecimento da existncia deste ltimo nos chegou, contudo, por
vias bastante casuais. De fato, em um dia e ms incerto de 2008, em saudosa
conversa sobre a curiosa ocorrncia de quantos lugares e anfractuosidades
com o epteto Trombudo com o Sr. Aliatar Ramos (in memoriam) um
verdadeiro aficionado por Histria, bem como um grande contador de boas
histrias, alm de voraz e assduo leitor , este nos revelou a existncia de um
morro situado no municpio de Alfredo Wagner tambm denominado Trombudo.
Tendo vivido naquele municpio at os 12 anos de idade, mais especificamente,
na localidade de Lomba Alta, o Sr. Aliatar recordava com vivacidade e brilho
nos olhos os alegres e difceis anos vividos ao sop do morro do Trombudo.

43 Consulte-se os sites http://www.manezinhodailha.com.br/Relevo.htm e

http://www.radarsul.com.br/florianopolis/trilha_dos_naufragados_solidao.asp.
44 Curiosamente, antes de sua emancipao poltica, Vale do Sol era conhecida como distrito
de Trombudo. No ato da emancipao, contudo, operou-se a troca de nomes. Segundo o site
oficial da prefeitura da cidade, Para alcanar xito na Campanha de Emancipao, a troca do
nome de Trombudo era uma estratgia, alm de uma questo de bom gosto. (Ver
PREFEITURA MUNICIPAL DE VALE DO SOL. In:
http://www.valedosol.rs.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=100143447. (Acesso em
08/07/2009). Vale do Sol Sol venceu com larga vantagem.

45 Cf. PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFREDO WAGNER. Alfredo Wagner. In:

http://www.alfredowagner.sc.gov.br. (Acesso em 08/07/2009).
24

Lembra do frio extremo que fazia na regio no inverno, alm das incontveis
plantaes cultivadas nas encostas e no cume do Trombudo. 46
Intrigados, partimos imediatamente em busca de evidncias quanto
existncia e localizao precisa da at ento desconhecida anfractuosidade.
Para nossa surpresa, uma rpida consulta ao Google Earth permitiu-nos no
apenas confirmar sua localizao precisa e, por conseguinte, sua existncia,
como tambm descortinou diante de nossos olhos a possibilidade de uma nova
hiptese para explicar a origem do epteto de Trombudo Central.

3.2 O MORRO DO TROMBUDO: UMA BREVE DIGRESSO

Localizado entre os municpios de Alfredo Wagner e Bom Retiro, o morro

do Trombudo conta com 1306 metros de altitude, estando seu cume situado
nas seguintes coordenadas: Latitude 27 4555 e Longitude 47 2524. 47
Apesar de cado em esquecimento por muitos anos, recentemente, o
morro do Trombudo tem se revelado um importante marco delimitatrio e de
referncia para os primeiros grupos colonizadores que acorreram regio
ainda no sculo XVII e XVIII. Na verdade, as evidncias histricas e
arqueolgicas angariadas nos ltimos anos confirmam que o morro do
Trombudo importante no apenas para a reconstituio da histria local,

46 O mesmo relato, vale destacar, foi confirmado em conversa pessoal pelo Sr.
Werner Muller - precisamente o autor do Projeto de Lei que criou o municpio
de Trombudo Central, conforme j mencionamos acima.
47 Cf. SILVEIRA, A. N. Agrimensores em busca de colnia perdida. In:
www.amiranet.com.br/conteudomostral.php%3Farq
%3Dmateria_05012009142641.pdf+"altair+wagner"&cd=7&hl=ptBR&ct=clnk&gl=br. (Acesso em 12/07/2009).
25

especialmente de Alfredo Wagner e Bom Retiro, como tambm para a

elucidao de acontecimentos regionais.48

Figura 2: Morro do Trombudo, entre os municpios de Alfredo Wagner e Bom Retiro. 49

As afirmaes acima encontram respaldo nas descobertas recentes

empreendidas pelo Sr. Altair Wagner pesquisador da histria de Santa
Catarina e arquelogo amador. Conforme sugere o pesquisador, o morro do
Trombudo serviu de refgio para os primeiros colonizadores de Alfredo Wagner,
chegados por volta de 1840 ento liderados pelo Coronel Serafim Muniz de
Moura, logo aps a Guerra dos Farrapos. J de acordo com alguns
historiadores entre eles Oswaldo R. Cabral , em 1853, foi criada a Colnia
Militar Santa Tereza, tendo sido [...] seu primeiro Diretor o Major Afonso de
Albuquerque Melo e o estabelecimento fixou-se no Trombudo, com seu Diretor

48 Cf. SILVEIRA, op. cit., 2009, passim.

49 Ver tambm ANEXO III.
26

e 19 colonos-soldados.50 Contudo, em virtude da abundncia de neve no

inverno e das chuvas torrenciais que fustigavam a regio, o destacamento
mudou-se dali um pouco mais para baixo, no atual bairro Barraco, de Alfredo
Wagner.51 Seja como for, salvaguardadas algumas divergncias entre ambas
as verses, fato que os primeiros colonizadores se fixaram no Trombudo ou
em suas proximidades.
Contudo, o fato mais notvel vinculado ao Trombudo antecede os
acontecimentos descritos acima. Foi no morro do Trombudo que foi fixado, em
1791, o marco divisrio entre as capitanias de So Paulo e Santa Catarina.
Sim, entre So Paulo e Santa Catarina. Nesta poca, o estado do Paran ainda
no havia sido criado, de modo que faziam fronteira os atuais estados de So
Paulo e Santa Catarina. Segundo Altair Wagner descobridor da sua
localizao , o marco foi instalado no local por conta da construo de uma
estrada (picado) entre So Jos e Lages, por ordem do ento Vice-rei de
Portugal, Dom Lus de Vasconcelos de Souza, ao governador da Provncia de
Santa Catarina, Jos Pereira Pinto. A execuo da obra, entretanto, ficou a
encargo do alferes Antonio Jos da Costa. O alferes iniciou a demarcao do
percurso em 11 de janeiro de 1787, e s o concluiu em 9 de agosto daquele
mesmo ano. Acontece que cerca de 100 quilmetros da estrada estavam em
territrio da Provncia de So Paulo o que obrigou as autoridades paulistas a
instalar o marco.52 Desta forma,
50 Cf. CABRAL, O. R. Histria de Santa Catarina. 4 Ed. Florianpolis:
Lunardelli, 1994. p. 235.
51 Cf. PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFREDO WAGNER, op. cit., 2009,
passim.
52 Cf. BEVILACQUA, V. Passado Desenterrado. In: Dirio Catarinense.
02/12/2007. p. 46. Ver tambm o Anexo II.
27

Este marco - um pedao de madeira com a inscrio SP de um lado e

SC de outro - foi assentado no ponto culminante do Morro do
Trombudo (1.306 metros acima do nvel do mar), no dia 12 de abril de
1791, pelo alferes Antnio Marques de Arzo, representando a
Provncia de So Paulo, e pelo capito Joo da Costa da Silveira,
representando a Provncia de Santa Catarina.53

Entre outras coisas, os fatos acima descritos evidenciam que o morro do

Trombudo havia angariado fama j no final do sculo XVIII. No obstante isto, a
descoberta empreendida pelo Sr. Altair e seus colaboradores surpreendeu a
muitos inclusive os moradores locais, que ignoravam o fato.
Seja como for, a pergunta que muito possivelmente transita entre os
pensamentos do leitor a seguinte: qual a relao ou ligao existente entre o
morro do Trombudo e Trombudo Central? Ou ainda: alm da ocorrncia da
partcula Trombudo em ambos, que outros pontos de interseco os
aproximam? Ora, precisamente aqui que, definitivamente, rompemos com a
tradio estabelecida em torno da explicao da gnese do nome de Trombudo
Central, representada nas trs hipteses supramencionadas H1, H2 e H3. Em
seu lugar, postulamos uma nova hiptese, qual seja:

T4 o Rio Trombudo deriva seu nome do morro do Trombudo.

Mas que evidncias histricas, ou outras, podem ser aventadas para

sustentar esta hiptese?

4 ENFIM, UM NOVO ESBOO EXPLICATIVO

53 Cf. BEVILACQUA, op. cit., 2007, p. 46.
28

Inicialmente, importante ressaltar que, assim como H1, H2 e H3, tambm

T4 corroborada pela tradio oral, conforme relato do Sr. Aliatar Ramos. Outro
relato que corrobora T4 devido AP Sr. Werner Mueller (in memoriam).54 De
acordo com o Sr. Werner, j h muito tempo era do seu conhecimento que o rio
Trombudo teria sua nascente localizada prxima ao Morro do Trombudo. No
entanto, T4 configura-se como uma hiptese alternativa explicao standard,
j que independe da ocorrncia de H1, H2 e H3.
Mas, havemos de reconhecer que, para alm do respaldo da tradio
oral local, no nos chegou ainda qualquer outra evidncia direta que a
confirme, isto , que trace alguma relao direta entre o nome de Trombudo
Central e o morro do Trombudo. Seja como for, acreditamos que haja uma
plausibilidade maior de T4 em relao s suas rivais.
Em primeiro lugar, chamamos a ateno para a relativa proximidade
entre a nascente do rio Trombudo localizada na Serra do Estrepe, no
municpio de Otaclio Costa, como precisamos acima e o morro do Trombudo,
situado entre as cidades de Alfredo Wagner e Bom Retiro. De acordo com
medies realizadas atravs do Google Earth, chegamos marca de
aproximadamente 35 km. Ao leitor, 35 km pode parecer uma distncia
exagerada, e no apenas relativa. Entretanto, se considerarmos as limitaes
tcnicas para realizao de medies existentes na poca, bem como as
imprecises

quanto

ao

dimensionamento

de

formaes

naturais

54 oportuno destacar que o conhecimento de T4 no se deu atravs do Sr.

Werner Mueller, mas do Sr. Aliatar Ramos. Procuramos o Sr. Werner Mueller
em sua residncia para uma conversa com o intuito de obter alguma
informao adicional a respeito e, como o leitor pode inferir, obtivemos
sucesso.
29

anfractuosidades, no encerra um absurdo completo cogitar que os

nomeadores do rio Trombudo pressupuseram sua nascente no morro do
Trombudo.
Em segundo lugar, temos as diferentes denominaes dadas ao morro
do Trombudo. De fato, em nossa reviso bibliogrfica, alm da designao
morro do Trombudo, por vezes encontramos referncias ao campo do
Trombudo, e outras ainda Serra do Trombudo. Apenas a ttulo de
ilustrao, considere-se a passagem a seguir:

A Colnia Blumenau ao passar para a repartio de terras pblicas

tinha como limite a Colnia Militar Santa Teresa. Essa, por sua vez,
teve por rea uma lgua quadrada com a faculdade de expandir-se
por todo o territrio ao longo da estrada, entre o morro Chato a leste,
e o campo do Trombudo a oeste. (SILVA, 1954, p. 10).

Por conseguinte, pelo menos trs designaes distintas so encontradas

na literatura relativamente mesma formao que convenientemente temos
chamado de morro do Trombudo. Acontece que serra, campo e morro no
so apresentados como sinnimos. A expresso morro sugere tratar-se mais
de uma formao particular; j a expresso serra pode designar um
encadeamento de montanhas; por fim, a palavra campo comumente
utilizada para se referir s terras localizadas em planaltos, com caractersticas
completamente diferentes daquelas compreendidas por morros ou serras.
Tendo isto em vista, um argumento a favor de T4 ganha forma medida que as
expresses campo e serra designariam formaes com vastas extenses de
terras. Por conseguinte, poderamos cogitar que, ou o campo do Trombudo,
ou a Serra do Trombudo, ambas as formaes localizadas entre os

30

municpios de Alfredo Wagner e Bom Retiro, compreenderiam tambm as

terras onde nasce o rio Trombudo, a aproximadamente 35 quilmetros de
distncia.
Em terceiro lugar, possvel argumentar que o epteto Trombudo tenha
sido apenas inspirado no morro do Trombudo. Conforme sugere a citao
supramencionada, a Colnia Blumenau, que compreendia as terras de
Trombudo Central, fazia divisa com a Colnia Santa Tereza, implantada ao
sop do morro do Trombudo. Ademais, outro aspecto interessante diz respeito
proximidade nas datas de fundao da Colnia Santa Tereza e as primeiras
incurses do Dr. Blumenau e do engenheiro Emil Odebrecht regio do rio
Trombudo. Enquanto estes ltimos teriam acorrido ao vale do Trombudo e
proximidades j no incio da dcada de 1860, a Colnia Santa Tereza teria sido
fundada por volta de 1853. Dessa forma, tanto a proximidade geogrfica,
quanto a proximidade cronolgica ou histrica serviriam de base sustentao
de que o nome de Trombudo Central encontraria sua inspirao no morro do
Trombudo.
Os argumentos expostos acima no possuem uma base de sustentao
histrica livre de dvida. Na verdade, tais evidncias nem sequer foram ainda
encontradas. Por conseguinte, T4 nossa hiptese de que o rio Trombudo
deriva seu nome do morro do Trombudo tambm carece de fundamentao
histrica. Seja como for, ainda que T4 no esteja acompanhada de provas
cabais, pelo menos, h que se reconhecer que, como esboo explicativo, ela
possui o mrito de abrir uma nova frente investigativa, descortinando novas
possibilidades, novos horizontes.

31

5 CONSIDERAES FINAIS

Os novos horizontes investigativos descortinados por T4 exigem que se

desconsiderem algumas imprecises e equvocos por parte da tradio
estabelecida tendo em vista o preenchimento de algumas lacunas histricas
que cerceiam o nome de Trombudo Central.
Neste nterim, em retrospectiva aos caminhos percorridos na realizao
deste estudo ora em companhia do velho stableshment ou tradio standard,
ora incautos, por caminhos nunca antes trilhados , convm destacar os
seguintes movimentos:
M1: a explicao standard no infalvel e livre de dvida. Em virtude
disso, faz-se mister um movimento de desconstruo dos equvocos e
imprecises que a acompanham. Isto fez-se na primeira parte deste artigo,
onde procedemos a uma avaliao rigorosa e sistemtica das trs hipteses
(H1, H2 e H3) que usualmente so empregadas para explicar a origem do nome
de Trombudo Central. O que se verificou foi a insustentabilidade terica e
histrica da tradio oral local. Por conseguinte, uma vez que a tradio oral
invocada na explicao da gnese do epteto Trombudo carece de todo tipo
de fundamentao lgica e histrica, sentiu-se a necessidade de partir em
busca de um novo esboo explicativo.
M2: a busca por um novo esboo explicativo compreende dois passos:
primeiro, subsumir que tem havido um mau direcionamento quanto ao emprego
usual de H1, H2 e H3, aplicando diretamente as hipteses supramencionadas na

32

explicao da origem do nome de Trombudo Central quando, contrariamente

ao que amplamente difundido entre leigos e estudiosos, deveriam ser
aplicadas justificao do nome do rio Trombudo. Segundo, reconhecer a
determinao da origem do nome do rio Trombudo como a ferramenta capaz
de solucionar o mistrio em torno do nome da cidade de Trombudo Central,
uma vez que, comprovadamente, a nomeao do rio Trombudo precede,
cronologicamente, a nomeao do municpio. Dito de outra maneira, na
origem do nome do Rio Trombudo, sem qualquer referncia a H1, H2 e H3, onde
deve-se buscar a origem do nome de Trombudo Central.
M3: a busca pelas origens do epteto Trombudo descortinou uma
multiplicidade de possibilidades histricas. Entre as quais, destacamos os
dirios e mapas confeccionados pelo Sr. Otto Hermann Blumenau, que
remontam as dcadas de 1860 e 1870. Desta forma, a esta altura, o Sr.
Blumenau tornara-se o principal suspeito quanto nomeao do rio Trombudo.
Esta suspeita se intensificou ainda mais aps nos depararmos com a afirmao
de Silva de que o Dr. Blumenau nomeava as localidades conforme avanava
em sua explorao pelo Alto Vale do Itaja, tomando como fonte de inspirao,
entre outras coisas, os locais das batalhas ocorridas durante a Guerra do
Paraguai.55 Contudo, nem seus dirios, nem seus mapas ou a consulta aos
nomes das batalhas da Guerra do Paraguai que contaram com a participao
direta do Brasil foram capazes de explicar a origem do epteto trombudo.
Ademais, esta incurso revelou-nos que a palavra trombudo mais
comum do que supnhamos inicialmente. De fato, conforme referendamos
acima, alm daquelas advindas do rio Trombudo (Brao do Trombudo, Barra do
55 Cf. SILVA, op. cit., 1954, p. 125.
33

Trombudo,

Trombudo Alto

Trombudo

Central),

conhecidas

dos

trombudenses e arredores, outras aparies do topnimo h que podem ser

destacadas: a comunidade de Trombudo, no municpio de Nova Trento, em
Santa Catarina; o morro do Trombudo, na tambm cidade catarinense de
Itapema; o morro do Trombudo existente na capital barriga verde; o rio
Trombudo, situado na cidade de Lebon Rgis; o morro do Trombudo na cidade
de Vale do Sol, no Rio Grande do Sul; a fase arqueolgica Trombudo, em
decorrncia dos achados arquelogos realizados no Vale do Rio Pardo,
prximo ao morro do Trombudo, em Vale do Sol; por fim, o tambm
denominado morro do Trombudo, situado entre as cidades de Alfredo Wagner e
Bom Retiro. Alm da curiosidade, nosso objetivo em investigar estas aparies
baseava-se na suposio de que poderamos encontrar algum argumento
comparativo para explicar a origem da palavra trombudo, mas isto no
aconteceu.
M4: no obstante isto, a jornada empreendida em busca das origens do
epteto trombudo possibilitou-nos vislumbrar uma nova hiptese (T4), um novo
esboo explicativo, qual seja: o rio Trombudo deriva seu nome do Morro do
Trombudo. Conforme sustentamos acima, amparam T4 trs argumentos
principais: a relativa proximidade entre a localizao do morro do Trombudo e a
nascente do rio Trombudo; as imprecises terminolgicas quanto
denominao do morro do Trombudo o que poderia apoiar a concluso de
que a nascente do rio Trombudo localizava-se no morro, campo ou serra
do Trombudo; e a simples tese segundo a qual o nome do rio Trombudo foi
apenas inspirado no morro do Trombudo. No entanto, ainda que T4 tenha sua

34

validade histrica assegurada no simples fato de abrir novas frentes

investigativas, havemos de reconhecer que estes argumentos no nos
permitem atestar com absoluta certeza a veracidade de T4.
Portanto, a partir das consideraes postas acima, possvel afirmar
que T4 to deficitria de evidncias quanto as hipteses compreendidas pela
explicao standard ou padro (H1, H2 e H3). Pelos menos, at o momento, uma
vez que no foram exauridas todas as possibilidades investigativas. De fato,
muitos foram os locais e as obras a que no tivemos acesso para a realizao
deste estudo. Entre os quais, destacamos o Arquivo Pblico e a Biblioteca
Pblica do Estado de Santa Catarina, o Centro da Memria da Assemblia
Legislativa do Estado de Santa Catarina e o acervo do Ministrio da Agricultura,
todos em Florianpolis. Alm destes, outros h que devem ser mencionados,
com destaque para o Instituto Ibero-Americano, localizado em Berlim. Este
ltimo, em particular, contem obras de suma importncia, in exempli: Aufnahme
des oberen Stajah Ass, de Emil Odebrecht; Colnia Blumenau: relatrio do
ano 1862; Sdbrasilien in seinen Beziehungen zu deutscher Auswanderung
und Kolonisation: abgerissene Nachrichten, Bemerkungen u. Winke fr
Auswanderer; e Jahresbericht ber die Ereignisse und Fortschritte der
deutschen Kolonie Blumenau im Jahre 1856. Conforme relatam Rolf e Renate
Odebrecht, em seu Cartas de Famlia, no Instituto Ibero-Americano foi
localizado um mapa at ento indito de Emil Odebrecht. 56 Ora, no mnimo,
de se supor que documentos similares venham a ser encontrados, uma vez
que, como sabido, tanto Emil quanto o Dr. Blumenau enviavam para a
Alemanha, atravs de seu cnsul, cpias de seus relatrios sobre os eventos
56 Cf. Anexo I.
35

transcorridos na Colnia Blumenau. Neste nterim, sabe-se, por exemplo, que

em 1875, atravs de Victor Gtner, foi publicado na revista Gesenllschaft fr
Erdkunde (Sociedade Geogrfica de Berlim) um resumo das incurses de Emil
Odebrecht no Alto Vale do Itaja. Note-se que neste relatrio mencionado o
rio Trombudo. Some-se a isto o fato de cpias dos relatrios do Dr. Blumenau e
do engenheiro Emil eram encaminhados tambm ao Ministrio da Agricultura
brasileiro.
Com efeito, tudo isto somado nos faz crer que muitas evidncias
podero ser encontradas nestes locais e nas obras supramencionadas.
Ademais, deixa claro que nossa jornada est longe de terminar. O tempo
nosso libi e nosso delator: ele dir se estamos enganados ou no.

REFERNCIA BIBLIOGRFICA

ADAMI, Luiz S; ROSA, Tina. Agrolndia: de Trombudo Alto aos Nossos

Tempos. Itaja: S&T Editores, 2005.
BLUMENAU, Hermann. Diretoria da Colnia Blumenau: Fevereiro de 1876. In:
Rio do Sul: Nossa Histria em Revista. Tomo IV, n 5, 2002, pp. 19-23.
BEVILACQUA, V. Passado Desenterrado. In: Dirio Catarinense. 02/12/2007.

36

CABRAL, O. R. Histria de Santa Catarina. 4 Ed. Florianpolis: Lunardelli,

1994.
CARNEIRO, Mrcio Matos. Origem dos Nomes dos Municpios de Santa
Catarina. Blumenau: Nova Letra, 2006.
DAGNONE, Ctia. Primeiros Ncleos de Povoamento. In: Rio do Sul: Nossa
Histria em Revista. Tomo II, n 6, 2000, pp. 07-11.
FERNANDES, F.; LUFT, C. P.; GUIMARES, F. M. Dicionrio Brasileiro
Globo. 39 Edio. So Paulo: Globo, 1995.
FUNDAO CULTURAL DE RIO DO SUL. Ncleos Coloniais. In: Arquivo
Pblico Histrico. Dossi: Colonizao/Imigrao. Caixa 1.
KLUG, J.; DIRKSEN, V. Rio do Sul: Uma Histria. Rio do Sul: Fundao
Cultural de Rio do Sul, 2000.
LUCAS, Victor. Olhos Azuis: A Histria de um Rio... Rio do Sul: Nova Era,
2001.
ODEBRECHT, Emlio. Levantamento do Rio Itaja-Au. In: Rio do Sul: Nossa
Histria em Revista. Tomo II, n 6, 2000, pp. 15-17.
ODEBRECHT, Rolf; ODEBRECHT, Renate S. Cartas de Famlia: Ensaio
Biogrfico de Emil Odebrecht e Ensaio Biogrfico de seu Filho Oswaldo
Odebrecht Snior. Blumenau: Edio do Autor, 2006.
PELUSO JR. Vtor A. Rio do Sul. Rio do Sul: Fepevi, 1953.
PIAZZA, W. F. (Org.). Italianos em Santa Catarina. Vol. 1. Florianpolis:
Lunardelli, 2001.
_____. Italianos em Santa Catarina. Vol. 2. Florianpolis: Lunardelli, 2001.

37

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFREDO WAGNER. Alfredo Wagner. In:

http://www.alfredowagner.sc.gov.br. (Acesso em 08/07/2009).
PREFEITURA MUNICIPAL DE TROMBUDO CENTRAL. Trombudo Central. In:
www.trombudocentral.sc.gov.br. (Acesso em 08/07/2009).
PREFEITURA MUNICIPAL DE VALE DO SOL. Vale do
http://www.valedosol.rs.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?
iIdMun=100143447. (Acesso em: 08/07/2009).

Sol.

In:

SACHET. C.; SACHET, S. Santa Catarina: 100 anos de Histria. Vol. I.

SILVA, T. P. O Vale do Itaja: Documentrio da Vida Rural. N 6. Rio do Sul:
Servio de Informao Agrcola/Ministrio da Agricultura, 1954.
SILVEIRA, A. N. Agrimensores em busca de colnia perdida. In:
www.amiranet.com.br/conteudomostral.php%3Farq
%3Dmateria_05012009142641.pdf+"altair+wagner"&cd=7&hl=ptBR&ct=clnk&gl=br. (Acesso em 12/07/2009).
TERNES, A. Trombudo Central: Subsdios para Histria. Rio do Sul: Nova
Era, 2008.
TROMBUDO CENTRAL. In: Potencialidades e Oportunidades de
Investimentos no Alto Vale do Itaja. Rio do Sul: Grfica Tambosi, 2004.
TROMBUDO
CENTRAL,
SC.
(CD-ROM).
Trombudo
infoDigitalle/National Starch & Chemical/ ACITC, 2002.
WAGNER, A. Alfredo Wagner. Florianpolis: Do Autor, 2002.

38

Central,

ANEXO I
Mapa de Emil Odebrecht (1874)

39

Fonte: Cf. ODEBRECHT & ODEBRECHT, 2006, op. cit., p. 126-126.

ANEXO II
Carta de Assentamento do Marco no Morro do Trombudo
40

Fonte: BEVILACQUA apud Dirio Catarinense, 02/12/2007.

ANEXO III
Vista Area do Morro do Trombudo

41

Fonte: GOOGLE EARTH, 2009.

42