Folha Fev 1
Folha Fev 1
Folha Fev 1
HLIO SCHWARTSMAN
Tu, cobarde
SO PAULO - "Tu choraste em presena da morte?/ Na presena de estranhos
choraste?/ No descende o cobarde do forte;/ Pois choraste, meu filho no s!".
O leitor de boa memria deve ter reconhecido os versos de "I-Juca Pirama", em
que Gonalves Dias captura o paradoxo da bravura: ela s existe porque existe a
possibilidade de covardia.
O heri do poema, I-Juca Pirama, era to valente que no temeu passar por
covarde, a fim de cumprir suas obrigaes filiais. No final, tudo se inverte e o
ndio opta pela morte com honra, mas fica o registro das incongruncias da
coragem.
Chris Walsh, autor de "Cowardice" (covardia), no menciona Gonalves Dias,
mas recorre a Homero, Plato, Aristteles, Dante, Montaigne e, principalmente,
histria militar para destrinchar a noo de covardia. Ele at prope uma
definio: "o covarde aquele que, por excesso de medo, deixa de fazer aquilo
que deveria". o primeiro, porm, a reconhecer que a definio no resiste aos
testes da realidade.
Walsh mostra que possvel ser covarde por ter pouco medo. A introduo do
conceito de dever na definio tampouco ajuda. Para falar em dever, afinal,
necessrio ter mais ou menos claro o que significam agncia moral e livrearbtrio.
Gostei particularmente da observao do marechal Georgi Jukov: "No Exrcito
Vermelho, preciso ser muito valente para ser covarde". que os soviticos,
aps a proclamao da ordem n 227, que proibia os soldados de recuar,
puseram em campo as temveis companhias penais, que fuzilavam
imediatamente qualquer homem que parecesse fugir. Estima-se que centenas de
milhares tenham sido mortos por esses pelotes.
"Cowardice" erudito, bem escrito e gostoso de ler, ainda que seja algo
inconclusivo. Traz elementos suficientes, porm, para perceber que Stlin e o
pai de I-Juca Pirama foram severos demais. O homem, afinal, precisa de vcios
para ser virtuoso.
BERNARDO MELLO FRANCO
O papel do historiador
Prestao de contas
RIO DE JANEIRO - O general Figueiredo ao se despedir do povo brasileiro
pediu que o esquecessem. Que estava ressentido, estava. Tanto que se negou a
transmitir o poder ao seu substituto Jos Sarney. Sua assessoria de relaes
pblicas exibiu em rede nacional um documentrio de quase uma hora,
mostrando as grandes realizaes do seu governo.
Evidente que soube encerrar sua passagem pelo poder sem grandes traumas,
com exceo do caso do Riocentro, finalizando o perodo militar da ditadura.
Negando-se, inclusive, a passar a faixa presidencial ao seu sucessor
constitucional.
O documentrio mostrou suas realizaes: o Po de Acar, o Cristo Redentor,
Itaipu, o rio Amazonas, as Cataratas do Iguau, o Maracan, algumas aves
exticas, cartes postais como obras de sua administrao.
Dona Dilma no ficou atrs. Na primeira reunio com o novo ministrio pintou
um quadro paradisaco com seus feitos, sem mencionar os defeitos, citando
enfaticamente algumas maravilhas dos 12 anos da hegemonia do PT. Entre as
quais, Bolsa Famlia, Minha Casa, Minha vida, ascenso da classe mdia e o
combate a corrupo, que est sendo uma batalha perdida. Todas elas de seu
sucessor e condestvel Luiz Incio Lula da Silva.
Praticamente, no mencionou as promessas de sua campanha eleitoral. O maior
acontecimento de seu governo foi o rombo criminoso da Petrobras, no qual, de
certa forma ela estava envolvida, pois exercia o topo da nossa maior estatal. Em
verdade, reagiu energicamente contra os Estados Unidos indecente
intromisso nos assuntos da poltica e das finanas do Brasil.
No incio de seu segundo mandato est enfrentando violentas cobranas, no s
dos seus adversrios mas de sua decantada base aliada. Incluindo novos
escndalos e o assustador receio de uma inflao insustentvel.
ELIO GASPARI
Passados dois anos os juros esto onde esto, as tarifas de energia vo subir e o
"risco do racionamento" est a.
Com m vontade pode-se ver no pronunciamento da doutora uma sucesso de
lorotas. Com um pouco de boa vontade v-se outra coisa, diferente e, sob certos
aspectos, at pior: a f numa realidade virtual. Ela queria baixar as tarifas e
acreditava no que dizia, mas acreditava demais. Bastava que tivesse evitado os
superlativos, tais como "tem e ter energia mais que suficiente", "sem nenhum
risco (...) no mdio ou no longo prazo".
A doutora governa com trs realidades. Na da racionalidade sabe perfeitamente
que no se deve dizer o que disse. Na da autoglorificao, cria um mundo
virtual. No campo da militncia poltica, manipula a fantasia compondo um
conflito no qual apresenta-se como uma princesa combatendo as foras das
trevas que querem "amedrontar nosso povo". Isso no debate poltico, mas
videogame.
do embaixador Marcos Azambuja a explicao de que os diplomatas
produzem bl-bl-bls, mas no os consomem. At que ponto a doutora acredita
nos seus bl-bl-bls, no se pode saber, mas sua f na fantasia mais complexa
que a pura enganao. tambm um estado da mente. Todo governante
acredita demais no que diz, mas a gua ferve quando diz algo em que no pode
acreditar. Por exemplo: no haver problemas com a energia "no curto, no
mdio ou no longo prazo".
O marqueteiro Joo Santana, cujas impresses digitais esto na fala do paraso
energtico, pode acreditar que Elvis Presley est vivo, mas a doutora no podia
acreditar no que disse. No seu depoimento ao livro do reprter Luiz Maklouf
Carvalho ("Joo Santana - Um marqueteiro no poder"), ele diz que tem "uma
relao misteriosa e cotidiana" com o fsico italiano Ettore Majorana. O baiano
Santana tem um p na cincia poltica, outro no mundo mgico e vive bem nos
dois. Sua fascinao pelo caso de Majorana mostra como se pode ser feliz
acompanhando ora a razo, ora a fantasia.
Erro
Estava errada a informao aqui publicada segundo a qual dos campos africanos
que a Petrobras vendeu metade de sua participao em 2013 saa 60% do
petrleo que importa e 25% do que refina. Os erros eram dois: as duas
percentagens referiam-se situao de 2013, quando deu-se a venda, e no de
hoje. A percentagem do refino (25%) relacionava-se com a processamento de
petrleo importado, e no com o total do refino da Petrobras, que muito
maior.
Eremildo, o idiota
Eremildo um idiota e alistou-se para a batalha da comunicao da doutora
Dilma. Ouvindo seu discurso de tera-feira convenceu-se de que vai tudo bem
com o governo, menos o teleprompter que a ajuda a ler discursos. Eremildo
encanta-se com o estilo da doutora. Na noite de sua reeleio ela foi a primeira
candidata vitoriosa que se impacientou com os aplausos da plateia.
Lula e Dilma
Mesmo pessoas que no acreditam na possibilidade de um rompimento entre
Lula e a doutora Dilma esto tensas com o tamanho da amargura que se
instalou entre os dois. Esto tensas, mas continuam achando que ambos sabem
que no existem sem o outro.
O povo sabe
O Planalto e alguns governadores esto perplexos diante de um cenrio no qual
tero que fazer racionamentos. Um diz uma coisa, outro diz outra e
frequentemente algum est querendo empulhar a patuleia. Trata-se de um
problema inexistente. Nos ltimos 50 anos os brasileiros j tiveram seis
moedas, falta d'gua em diversas cidades, apago no tucanato. Aguentaram
firme. A crise de hoje incomoda sobretudo porque os governos mentem.
O MISTRIO DO SUMIO DE ETTORE MAJORANA
Na sua fala a doutora Dilma anunciou como poltica pblica uma realidade
fantasiada. Com o caso de Majorana pode-se manipular fantasias e, para quem
est atrs de uma obsesso, um prato cheio. Trata-se de um mistrio sem fim,
mas apenas um brinquedo pessoal. Majorana era um fsico italiano, da turma
de Enrico Fermi, prmio Nobel de 1938 e chefe da equipe que em 1942 libertou
a energia do urnio. Da at a exploso da bomba atmica sobre Hiroshima
passaram-se trs anos.
Majorana tinha 31 anos, e Fermi colocava-o na categoria dos gnios como Isaac
Newton e Galileu. Ainda criana, extraa razes cbicas de cabea. Misantropo e
depressivo, sumiu em maro de 1938. Estava na Siclia e tomaria uma barca
para Npoles. Sumiu. Passaram-se 77 anos, e o enigma persiste. Ele teria
antevisto a bomba atmica, talvez at achado que detinha seu segredo e matouse. Ou saiu do mundo recolhendo-se a um mosteiro. Um padre viu um sujeito
parecido com ele pedindo abrigo. Teria fugido para a Unio Sovitica, pois anos
depois outro fsico da equipe de Fermi sumiu e apareceu em Moscou. Duas
pessoas juram que viram Majorana depois do seu desaparecimento. Na mo do
escritor Leonardo Sciascia, isso valeu um grande livro. H poucos mistrios
melhores e o lance do cientista que v a bomba e some de grande beleza.
Dois fatos simplificam a histria. Quando ia de Npoles para a Siclia, Majorana
mandou uma carta de despedida a um colega dizendo que tomara uma deciso
"inevitvel" e que desapareceria. Noutra carta, aos pais, pediu que no usassem
luto por mais de trs dias. No dia seguinte escreveu um telegrama ao professor
pedindo que desconsiderasse o assunto e, numa nova carta, contou-lhe que "o
mar me rejeitou". Comprou passagem para a barca de volta a Npoles e sumiu.
Seu corpo nunca foi achado.
De todas as hipteses, a mais plausvel , de longe, que Majorana queria matarse na viagem de ida, desistiu, e matou-se na da volta.
Falta explicar por que estava com todo o dinheiro que tinha no banco e por que
viajou com o passaporte. Com a fantasia, ganha-se um grande enigma para
Nem os que se sentiram ofendidos pelo uso do sinal grfico sabiam com certeza,
mas reagiram com a intensidade e a convico de que boa coisa no devia ser.
Foram 115 mensagens ombudsman (60 delas com contedo idntico), em
protesto contra o que qualificaram de deboche e falta de iseno jornalstica.
O alvo da ira foi a reportagem "Jovens 'liberais' do aula pblica sobre
transporte", que relatava um evento promovido pelo Movimento Brasil Livre, no
vo do Masp.
Reza a norma que aspas devem ser usadas para abrir e fechar citaes, destacar
uma palavra fora de seu contexto usual ou exprimir ironia. Citao no era, e o
MBL um grupo que prega o liberalismo econmico e a reduo do tamanho do
Estado --mais dentro do contexto, impossvel. Sobrou a ironia.
"Ao usar o termo entre aspas, o reprter manifestou condescendncia e falta de
respeito com aqueles que so reconhecidos como proponentes de ideias
liberais", escreveu o consultor de empresas Ricardo Castro, 44. "O que os
editores pensariam a respeito de manchetes como: 'Encontro mundial rene
jovens 'catlicos'" ou "Folha recebe prmio por jornalismo 'investigativo'"?
Para corroborar o vis depreciativo, a reportagem descreveu o MBL como um
movimento de "jovens de classe mdia que se dizem liberais". Se dizem?
"Imagino que o reprter acredite que, em algum outro lugar, haja verdadeiros
liberais e que aqueles eram impostores", concluiu o mesmo leitor.
Os simpatizantes do MBL ficaram particularmente incomodados com o
destaque dado a um dos organizadores e palestrante, o estudante de economia
Kim Kataguiri, 18. Avaliaram que o foco em sua juventude era uma forma de
ridicularizar o evento --e aqui discordo muito.
Salientar a precocidade de um militante ainda adolescente, que expe teorias
econmicas ou cita filsofos modernos, dar o destaque correto a um
personagem incomum. Basta lembrar a projeo mundial conferida a Joshua
Wong, 18, lder do movimento Scholarism e figura de frente na onda das
manifestaes pr-democracia em Hong Kong.
O problema, noves fora as aspas indevidas, que a matria focou Kim, e ali
ficou, descurando de dados que completariam o cenrio, como os outros
palestrantes ou o nome da banda "de terno e gravata borboleta, cantando em
ingls".
A editoria "Cotidiano" afirma que no houve inteno de desqualificar o evento,
mas reconhece o erro. "A Folha se prope a exercer um jornalismo crtico em
relao a todos os partidos polticos, grupos, acontecimentos e tendncias
ideolgicas. Esse princpio orienta a cobertura das manifestaes sobre a
questo do transporte em So Paulo --sejam promovidas pelo Movimento Passe
Livre, o Movimento Brasil Livre ou outras organizaes. No entanto, o uso de
recursos de estilo inadequados, como as aspas em liberais e aula pblica, deram
margem interpretao de que houve deboche em relao ao grupo. No essa
a posio do jornal."
Trinta e quantos?
Voc faz 35 e entra numa zona cinzenta (ou seria grisalha?) em que
idade no significa mais muita coisa
Outro dia, numa mesa de bar, hesitante e assustado, me dei conta de que eu no
sabia a minha idade. Trinta e seis parecia pouco, 38 parecia muito e 37, sei l
por que, me soava meio estranho. Que era alguma coisa por a, eu tinha certeza.
Trinta e cinco eu tive j faz muito, muito tempo, mas no tanto, tanto tempo
para que eu j pudesse estar com 40; no, se eu fizesse 40, eu iria perceber, ou,
no mnimo, iria ouvir algum comentrio dos mais prximos. Cus, como pode, a
esta altura do campeonato -qual altura, exatamente?- a pessoa ignorar quantos
anos tem?
Quando voc criana, a idade um negcio fundamental. o dado mais
importante depois do seu nome. Voc aprende a mostrar nos dedos e passa uma
dcada dizendo "quatro, vou fazer cinco", "cinco, vou fazer seis", "seis, vou fazer
sete" e assim por diante. Lembro que, na poca, eu achava de uma obviedade
tacanha esse "vou fazer", mas hoje entendo: o desejo de crescer uma parte
fundamental do software com o qual viemos ao mundo. "Seis, vou fazer sete"
menos uma constatao bvia do que uma saudvel aspirao.
Na adolescncia, a idade continua sendo importante. Afinal, a diferena entre 14
e 16 , geralmente, a diferena entre Mario Bros e o sexo. Pense no Mario Bros,
pense no sexo, e fica evidente que h certas coisas que s dois aniversrios
fazem por voc.
Dos 20 aos 30, avana-se lentamente, com sentimentos contraditrios. A escola
foi h sculos, mas ser adulto ainda estranho. Pelo menos, adulto como
aqueles ancios de 30 que usam grias "de pai", danam de um jeito engraado e
parecem ter aprendido a se vestir em algum sitcom da Warner. A resposta
sincera a quantos anos voc tem, nessa fase, seria: "26, queria fazer 25", "25,
queria fazer 24", at chegar a 20 -acho que ningum, a no ser dopado por doses
cavalares de nostalgia e amnsia, gostaria de ir alm, ou melhor, aqum, e voltar
adolescncia.
Trinta anos uma idade marcante. Agora inegvel que voc ficou adulto, e se o
seu quarto ainda guarda algum vestgio da escola (uma coleo de latinhas? Um
cone de trnsito? Uma bandeira da Jamaica?) o caso de refletir seriamente
sobre a sua autoimagem. Trinta e um, 32, voc vai anotando, sem perder a
conta. Mas a voc faz 35 e entra numa zona cinzenta (ou grisalha?) em que
idade no significa mais muita coisa. A impresso que eu tenho, a esta altura do
campeonato -qual altura, exatamente?-, que todo mundo tem a minha idade.
Meus amigos de 60 e poucos, meus amigos de 20 e muitos. Trinta e dois?
Quarenta e oito? No sendo pbere nem gag, to todos no mesmo barco, uns
com mais dor nas costas, outros com os dentes mais brancos, mas no mesmo
barco, trabalhando, casando, separando e resmungando no Facebook. Deve ser
por isso que, sem perceber, parei de contar.
"Trinta e sete, Antonio! Voc tem 37!", interveio minha mulher, l no bar, meio
brava com o meu lapso. Ainda fiz as contas no celular, pra ter certeza. Era isso
mesmo. Trinta e sete, vou fazer 38, se Deus quiser e no morrermos todos sem
gua e sem luz at agosto de 2015.
O bengals Sumsul Hoque Khokon, 28, que abriu um salo de beleza h duas
semanas, mostra a foto do jogador Neymar. "Corto igual ele, se quiser", a R$ 10.
Levaria milhes de anos para uma sonda ir at l. Mesmo que chegasse, ela seria
engolida ao se aproximar do horizonte de eventos --a "fronteira" do objeto-- e
no conseguiria mandar dados de volta. Milhes de anos em vo.
At se sabe como isso ia acontecer: a sonda seria espichada pela gravidade,
virando um espaguete sendo sugado pelo centro do buraco negro. (O nome
cientfico disso mesmo "espaguetificao").
Mas fique tranquilo: se voc no for se meter de bobo perto de um buraco negro,
este nosso canto do Universo bem pouco arriscado. Tais objetos surgem a
partir da morte de estrelas, mas o Sol magrinho demais para virar um. Ele
teria de ter pelo menos trs vezes sua massa para isso.
Se hipoteticamente o Sol virasse um buraco negro, nem sugaria a Terra, que
seguiria a orbitar, bem fora do horizonte de eventos. O chatinho que o planeta
viraria um picol espacial, a quase -273C.
Alm disso, na sua formao o buraco negro ejetaria raios gama. Eventuais ETs
entusiastas de pirotecnia ficariam embasbacados: mesmo a centenas de anosluz, seria possvel ver um claro mais forte do que cem sis.
REINALDO JOS LOPES
Deu zebra
Saber por que zebras tm listras era algo que deixava os zologos
perdidos. Est nas moscas, porm, o motivo
Em momentos de perplexidade, um velho amigo costumava desfiar um rosrio
jocoso de perguntas existenciais: de onde viemos? Para onde vamos? Por que
mulheres usam bobes no cabelo? Proponho incluir na lista outra dvida cruel
que assola a humanidade desde a noite dos tempos: por que as zebras tm
listras?
"Para confundir predadores na savana", possvel que voc tenha respondido,
caso tenha se interessado alguma vez por equdeos listrados. Boa tentativa, mas
no o que indica o estudo mais completo j feito sobre o tema. Ao que parece,
o modelito caracterstico foi projetado pela seleo natural para enganar
inimigos muito menores, e s vezes at mais perigosos, do que lees: moscas
sugadoras de sangue.
o que concluiu a equipe capitaneada por Tim Caro, da Universidade da
Califrnia em Davis, em artigo na "Nature Communications". Caro e companhia
basicamente realizaram uma anlise estatstica sofisticada de todos os fatores
que poderiam estar por trs do visual.
E, acredite, os fatores j propostos so muitos, sinal de que os zologos
andavam meio perdidos na tentativa de explicar o padro de pelagem dos
bichos. A lista inclui, bvio, a hiptese da camuflagem --a ideia que o padro
de listras claras e escuras mimetizaria a alternncia de luz e sombras tpicas de
reas florestais relativamente abertas e ensolaradas.
H ainda a proposta de que, quando as zebras esto em bando e em movimento,
aquela mistura de listras confunde a cabea de um predador, que no consegue
mais ter certeza de onde terminam as ancas de um bicho e comea a cabea de
outro. Experimentos mostraram que humanos, por exemplo, tm dificuldade de
acertar objetos listrados em movimento que aparecem em uma tela.
Outra ideia vai na contramo da hiptese anterior: listras ntidas e bonitas
seriam, na verdade, sinal de qualidade gentica da zebra, uma "propaganda" de
sua agilidade e rapidez para o predador, do tipo "srio que voc vai tentar
capturar um exemplar magnfico feito eu?".
O fato que as ideias acima so engenhosas, mas no se encaixam na montanha
de dados levantados por Caro. As trs espcies de zebra existentes hoje passam
a maior parte do tempo em reas abertas, e no em bosques, o que lana por
terra a ideia da camuflagem. Os pobres bichos, alis, so mais capturados por
lees do que seria esperado considerando a populao de equinos e de felinos -ou seja, se era para confundir os bichanos, no funciona.
Por outro lado, a distribuio geogrfica das zebras bate direitinho com a das
moscas ts-ts (transmissoras da clebre "doena do sono" em humanos) e das
regies com excelentes condies para a proliferao de mutucas.
O mais intrigante que h evidncias experimentais de que listras brancas e
pretas confundem os insetos --eles tm mais facilidade de pousar em superfcies
de uma cor s, e listras com largura similar s presentes no corpo das zebras so
as mais eficazes em atrapalhar as manobras de aproximao das moscas.
Se parece capricho no visual por causa de umas mosquinhas, considere que,
alm de transmitir parasitas, moscas que sugam sangue podem afetar para valer
a sade do gado --vacas leiteiras americanas deixam de produzir 200 litros de
leite por ano por causa desses insetos, por exemplo. De repente, at que os lees
no parecem to perigosos assim.
O mapa do semestre
Nos ltimos anos, planejar tem sido mais importante do que
priorizar; isso que forja um time campeo
Ser no dia 19 de abril a descoberta dos dois finalistas do Paulisto. Quatro dias
antes, o So Paulo estar em Montevidu para enfrentar o Danbio, e o
Corinthians receber o San Lorenzo, em Itaquera --claro, se eliminar o Once
Caldas.
Como a provvel chave de Corinthians e So Paulo ter a companhia do San
Lorenzo, atual campeo da Libertadores, legtimo imaginar que s a ltima
rodada pode decidir os classificados. E isso acontecer exatamente entre os
mata-matas de oitavas e semifinais do Campeonato Paulista. Uma coisa pode
atrapalhar a outra.
Mas, diferente do que se imagina, a Libertadores no costuma interferir no
resultado do Paulisto. Nem o inverso.
Dos ltimos dez campees paulistas, cinco estavam na Libertadores e ganharam
o ttulo estadual mesmo assim.
Dos cinco campees estaduais que compartilhavam as disputas estadual e
continental, quatro chegaram pelo menos semifinal do torneio internacional -o So Paulo de 2005 e o Santos de 2011 foram campees, o So Paulo de 2006
foi finalista, o Santos de 2007 e 2012 foi s semifinais.
No perca o show
Os antigos pontas-de-lana e meias armadores so os responsveis
pela grandeza do futebol brasileiro
Escrevi que Gerson, Cruyff e Xavi foram os atletas que melhor entenderam o
jogo enquanto jogavam. Seria como se eles sassem da partida para a
arquibancada e voltassem para atuar, algo parecido com o personagem que saa
da tela de cinema e retornava, no belssimo filme de Woody Allen, "A Rosa
Prpura do Cairo".
Cruyff , entre os ex-jogadores, o que tem melhores ideias sobre futebol, apesar
de muito criticado, s vezes ridicularizado, no Brasil. Foi o grande inspirador de
Guardiola, que difundiu muitos conceitos, aos poucos, incorporados por
No dia 6/1, s 12h59, resumiu seus votos para 2015, ao mencionar os memes
(piadas que circulam na rede) do comendador Jos Alfredo: "Gostando do
mimimi do meme de mim mesmo".
MAURICIO STYCER
Aos 81 anos, Othon Bastos criou um mordomo que fugia aos clichs
consagrados --nem excessivamente afetado nem bisbilhoteiro nem autoritrio.
Agora, ao saber que seu personagem o primeiro marido da patroa, est
justificadamente aturdido.
Num dos poucos livros dedicados a este ofcio especfico, o ator de televiso,
Artur da Tvola, pseudnimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros (19362008), observa: "Na telenovela, o ator comea a criar o personagem com base,
apenas, na sinopse, numa conversa com o autor e com o diretor. Ele tem que
cri-lo antes de conhecer o todo da obra".
"Se difcil para qualquer ator e lhe exige muito talento e intuio, tal prtica,
por outro lado, permite uma composio nova na histria da interpretao: a
descoberta gradual do personagem enquanto vai sendo vivido no prprio
processo da obra", continua em "O Ator" (editora Nova Fronteira, 1988,
esgotado).
E conclui: "O (bom) ator pode fazer descobertas, vivncias prprias, revelaes
de seu personagem enquanto se desenrola o processo interpretativo". Agora no
papel do mordomo que era marido da patroa, tenho certeza, Othon Bastos vai
tirar essa maluquice de letra.
CRTICA SERIAL
LUCIANA COELHO - coelho.l@uol.com.br
Sherlock em srie
A permanncia pop do detetive de Baker Street
RESUMO Criado no sculo 19, o personagem de Sherlock Holmes conhece hoje
uma nova fama com sries de TV que reencarnam suas histrias e outras, de
investigaes, baseadas em suas caractersticas. Irascvel, o investigador de
Arthur Conan Doyle influenciou figuras como o doutor House e mesmo o jogo
Detetive.
RICARDO BONALUME NETO
"VOC UM PSICOPATA!"
"Sociopata altamente produtivo!", corrigiu Holmes.
O curto dilogo foi tirado da srie britnica de TV "Sherlock", na qual o ator
Benedict Cumberbatch interpreta o clssico detetive ingls Sherlock Holmes,
criado pelo escritor escocs Arthur Conan Doyle (1859-1930) no hoje distante
sculo 19. A srie, cuja terceira temporada foi ao ar em 2014, adapta as histrias
do detetive para o momento atual --todos os episdios esto disponveis no
servio por assinatura Netflix.
No existe semelhante dilogo no cnone, isto , os nove livros de Conan Doyle
contendo os 56 contos e quatro romances de Holmes, o "primeiro detetive
consultor" da histria. Os casos foram apresentados nos livros pelo amigo do
detetive, o mdico John Watson --interpretado pelo ator Martin Freeman nessa
srie recente.
O mdico Watson tinha servido no Exrcito britnico na campanha do
Afeganisto de 1878-80, onde foi ferido por bala de fuzil. Como a histria gosta
de se repetir, o Watson vivido por Freeman tambm era mdico do Exrcito de
sua majestade e foi ferido no Afeganisto --na campanha ainda em curso. O
novo Watson no publica suas histrias dos casos de Holmes em revistas ou em
livros, como o Watson vitoriano. Ele tem um blog.
INSULTOS Um dilogo semelhante ao do comeo deste texto seria plausvel
nos livros, assim como Holmes se assumir um sociopata. Pois o Holmes de
Doyle tem um lado bem irascvel. Ele realmente detesta gente burra.
Logo, os Holmes modernos da TV e do cinema agem do mesmo jeito. No
faltam Holmes na recente indstria cultural, ou seus discpulos, mesmo que
estejam longe de serem detetives ou policiais --como o mdico Gregory House,
da srie "House" (uma espcie de "detetive mdico" baseado no personagem de
Conan Doyle --e igualmente ou at mais irascvel).
"Cala a boca! Voc diminui o QI da rua inteira!", diz Holmes/Cumberbatch a um
desafeto em outro episdio. Irascvel, sem dvida.
Quando surgiu o que hoje tem vrios nomes --"romance policial", de "crime", de
"detetive" ou de "mistrio"--, tudo girava basicamente em torno de desvendar
uma ocorrncia misteriosa como se fosse uma equao matemtica, ou um
quebra-cabeas.
O detetive --embora ainda sem esse nome--, conhecido como o primeiro de
todos, Auguste Dupin, apresentado em 1841 pelo escritor americano Edgar
Allan Poe (1809-49), era um crebro sem grande charme mas capaz de resolver
enigmas. Ou melhor, algum sem grandes maneirismos.
"Cada escritor de histria de detetive comete erros, e nenhum nunca vai saber o
tanto que deveria. Conan Doyle cometeu erros que invalidavam completamente
algumas de suas histrias, mas ele era um pioneiro, e Sherlock Holmes, no
fundo, principalmente uma atitude e algumas poucas dzias de linhas de
dilogo inesquecveis", escreveu Chandler.
Para ele, o "detetive cientfico" pode at ter seu "brilhante laboratrio novo; mas
me desculpe se eu no consigo lembrar seu rosto". simples, diz o americano.
Se voc conhece tudo sobre algo bem extico --como cermica egpcia antiga--,
dificilmente sabe como a polcia funciona no dia a dia.
Curiosamente, o detetive de Chandler, Philip Marlowe, de Los Angeles, no
deixa de ser um sujeito excepcional. Marlowe era irnico, duro, no to
irascvel quanto os demais detetives acima. Mas era sentimentalista, "um sir
Galahad com uma pistola automtica". Como Chandler disse, um sujeito que
poderia seduzir uma duquesa, mas nunca deflorar uma virgem.
Marlowe bebia usque, brandy, bourbon --e tinha verdadeiro horror a qualquer
coquetel cuja apresentao inclusse um pequeno guarda-chuva.
Chandler e Dashiell Hammett (1894-1961) so os dois grandes nomes da escola
realista que Symons chamou "revoluo americana". Chandler tem muita
admirao pelo colega mais novo: "Hammett devolveu o assassinato s pessoas
que o cometem por motivos, no apenas para providenciar um cadver; e, com
os meios mo, no com pistolas de duelar artesanais, curare, e peixes
tropicais".
SEM JOGUINHO Chandler ficaria indignado com o jogo Detetive. Para ele, "a
fico em qualquer forma sempre teve a inteno de ser realista"; e no existe
literatura de mero entretenimento ou "escapismo". Todo mundo escapa da
realidade para se entreter lendo um livro, seja ele de Marcel Proust ou de Paulo
Coelho.
Realista, Hammett certamente era. Ele trabalhou como detetive particular da
agncia Pinkerton, serviu no Exrcito americano e at se filiou ao Partido
Comunista. O PC tambm enriqueceu as fileiras dessa literatura com o italiano
Camilleri e seu comissrio Montalbano, por sua vez uma homenagem a outro
autor comunista, o espanhol Manuel Vzquez Montalbn (1939-2003), criador
do detetive particular galego, gourmand e algo irascvel (com certeza o adjetivo
mais usado neste texto) Pepe Carvalho.
Holmes, convm relembrar, o pai de todos. A literatura policial nasceu e tem
sua espinha dorsal no mundo anglo-saxo, de onde se expandiu para o resto do
mundo. A Frana, com seu "roman noir" (romance negro), fornece o exemplo
bsico. Mas o belga Georges Simenon (1903-89) e o seu comissrio Maigret,
estrela de incrveis 75 romances e 28 contos, oferece um caso parte, uma
literatura quase mais social do que policial.
Um dos autores mais interessantes fora do universo anglo-saxo JeanFranois Parot, criador do detetive Nicolas Le Floch, policial que revela casos na
Paris do sculo 18, durante o reinado de Lus 15. Floch um Holmes
literalmente "avant la lettre" --antes de ser inventado. Faz dedues com base
em pistas quase irrelevantes, analisa cadveres como um moderno membro do
CSI e tem at sua tropa de mendigos e meninos de rua informantes, como os
"BakerStreet Irregulars" de Holmes. Tambm virou srie de televiso.
Como Symons previra, muitos outros pases criaram sua literatura do gnero. O
Brasil, por exemplo, demorou, mas hoje tem dois autores excepcionais, Luiz
Alfredo Garcia-Roza e Joaquim Nogueira.
Nada, contudo, escapa inclume aos modismos da indstria cultural. Nem
Sherlock Holmes.
O diretor de cinema Guy Ritchie produziu filmes recentes com o ator Robert
Downey Jr. (o mesmo de "Homem de Ferro") como um Holmes meio dndi,
meio boxeador; e um Jude Law como um Watson mais bonito e mais homem de
ao. Perfeito para o momento atual, sem fugir demais do cnone.
Esses filmes, assim como as sries "Sherlock" e "Elementary", abusam, porm,
da influncia da cultura das novelas, dos quadrinhos e dos super-heris.
Neles, personagens menores e pouco citados na obra literria de Conan Doyle
ganham importncia e relevncia. Moriarty, o "Napoleo do crime", o
arquirrival, arquivilo, por quase ter matado o detetive; Irene Adler, "a mulher"
descrita por Holmes, por ter conseguido engan-lo, vira um par romntico; e o
irmo igualmente gnio que pouco aparece nos livros, Mycroft Holmes, surge o
tempo todo no vdeo (no caso, com razo, os roteiristas e atores criaram
personagens muito divertidos para o irmo mais velho). Elementar, meu caro
leitor.
CINCIA
Artifcios da inteligncia
O que ser da mente se mquinas pensarem?
RESUMO A busca do ser humano por ampliar sua capacidade fsica e
intelectual deu origem a tecnologias transhumanas. Apesar disso, as mquinas
no devem ser capazes de destruir a humanidade, j que s conseguiro evoluir
junto ao crebro que conhecemos hoje, sem uma inteligncia superior
independente.
MARCELO GLEISER
Considere a seguinte situao: voc acorda atrasado para o trabalho e, na
pressa, esquece o celular em casa. S quando engavetado no trfego ou
amassado no metr voc se d conta. E agora tarde para voltar. Olhando em
volta, voc v pessoas com celular em punho conversando, mandando torpedos,
navegando na internet. Aos poucos, voc vai sendo possudo por uma sensao
de perda, de desconexo. Sem o seu celular, voc no mais voc.
FOLHA 02-02-205
LUIZ FERNANDO VIANNA
Nei Lopes
RIO DE JANEIRO - No custa registrar que, ao se falar aqui de "Bilac V
Estrelas", em cartaz no Rio, a ideia no agradar o colega de coluna Ruy Castro,
autor do livro que deu origem ao musical. O assunto Nei Lopes, criador das
canes.
No deveria haver qualquer surpresa em se afirmar que Nei, carioca do
subrbio do Iraj, um dos maiores compositores brasileiros em atividade.
Profcuo sem perder o rigor, j produziu sucessos como "Senhora Liberdade",
"Gostoso Veneno" (ambos com Wilson Moreira) e "Tempo de Dondon", dentre
dezenas de exemplares da melhor msica popular. Logo, por que se escrever
sobre ele?
Por causa do espanto. Ouvir, em apenas uma hora e meia, 15 canes novas, no
menos do que excelentes, um acontecimento rarssimo, espantoso. Lembra o
tempo antediluviano em que comprvamos discos, pnhamos no aparelho de
som e ficvamos chapados ao escutar um trabalho deslumbrante.
Pode ser que nenhuma das 15 tenha vida longe dos palcos, to perfeitas que so
para a pea. No importa, pois trilha de musical feita para funcionar no teatro,
no necessariamente fora dele --embora esse seja um efeito colateral desejvel.
Mesmo sem conhec-las antes, o pblico improvisa coros, sai do Sesc Ginstico
cantarolando-as e conferindo as letras no programa.
Faz lembrar a figura do "bvio ululante", de Nelson Rodrigues. Como no
chamar de grande um autor capaz de produzir --em menos de dois meses, pelo
que foi informado-- um repertrio dessa qualidade e com esse poder de
seduo? Nei estar entre os maiores o bvio ululante.
E, embora sempre tratado pela imprensa como "sambista" (rtulo redutor e algo
racista), ele no fez sambas para o espetculo, pois o gnero no existia em
1903, ano da trama.
Cole Porter, quem diria, acabou no Iraj. E se deu bem.
PAULO GHIRALDELLI
TENDNCIAS/DEBATES
preencher existem, mas uma medida que faa com que prefeitos e governadores
apresentem resultados de melhoria da capacidade intelectual dos alunos e da
condio de estudos dos professores, no h.
Se no me enganei com a entrevista de Cid Gomes, ele parece saber disso mais
do que eu. S que, ao contrrio do que estou dizendo, ele confessa que no far
outra coisa que aquilo que a lei vem chancelando: o ensino popular
regionalizado, estadualizado e minguado --e assim ser. No se pode quebrar
isso, um tabu. Cid Gomes parece no ter nenhuma inteno revolucionria de
quebrar isso.
ANLISE/ELEIO NA CMARA
Est cacifado para impor seu ritmo de trabalho, o que apontado por
adversrios como algo perigoso para o pas, mas tender a compor com o
governo para exercer seu poder com tranquilidade.
Cunha ter desafios. Dever dialogar com o PT e com uma oposio mais ativa
(a votao de Jlio Delgado foi significativa), mas principalmente com a nova
base encarnada nas foras aglutinadas por Gilberto Kassab.
Alivia tambm para o governo saber que Renan Calheiros suou frio, mas
permaneceu na cadeira no Senado, servindo de contraponto a iniciativas
incmodas da Cmara. Seguir assim, exceto que venha a ser abatido pela
Operao Lava Jato.
NOIVA
Todos encenaram discursos e fingiram assinar papis, para ter fotos em poses
comuns aos parlamentares.
Mesmo deputados fizeram seus registros; entre os novatos, houve quem se
sentasse na cobiada cadeira de presidente da Cmara.
Floriano Pesaro (PSDB-SP) simulou um discurso na tribuna e recorreu a um
"pau de selfie" para uma foto com a famlia no meio do plenrio.
Pela primeira vez no cargo de deputado federal, o cantor Srgio Reis (PRB-SP)
disse que a carreira poltica ser uma "emoo nova", mas que continuar
fazendo shows.
"Eu viajo todo o pas e conheo de perto os problemas da populao. Eu, que j
tive o carinho do povo durante 55 anos de carreira, quero dedicar quatro anos
da minha vida para retribui-lo", afirmou.
O palhao Tiririca (PR-SP), que se apresentou para um segundo mandato,
afirmou estar "muito feliz" em permanecer na Cmara --e que trabalhar para
conseguir aprovar algum projeto seu.
Questionado sobre fazer seu primeiro discurso na tribuna do plenrio neste
mandato, Tiririca desconversou.
"Vou sim", contou, para logo negar: "Claro que no".
"Eu venho do circo, que muito organizado. Tem hora para entrar, para sair.
Por isso demorei a entender como a Cmara funcionava. As pessoas fazem o
discurso e ningum presta ateno", disse.
Apesar de acostumado ao protocolo da Casa, o lder tucano, Carlos Sampaio
(PSDB-SP), chegou atrasado cerimnia e teve de ser empossado
separadamente.
Deputado mais novo da legislatura, Uldurico Jnior (PTC-BA), 23, se disse
confiante; relatou que no fez o curso preparatrio oferecido pela Cmara aos
novos deputados, porque acompanhou o trabalho do pai, Uldurico Pinto,
deputado por trs vezes.
"Acho que a maior carncia do nosso povo a corrupo. Vou tentar focar o meu
mandato em aes para combat-la, principalmente no meu Estado", afirmou.
RICARDO MELO
Boa parte dos imveis comprados por ele fica na regio de Santana, bairro de
classe mdia da zona norte que sofreu um boom de novos empreendimentos na
ltima dcada e hoje tem ruas entre as mais valorizadas da cidade.
Entre os 83 imveis que negociou, 50 deles foram comprados nos ltimos dez
anos.
Em 2006, por exemplo, com alguns scios, comprou nove apartamentos de luxo
na Riviera de So Loureno, em Bertioga, litoral norte.
A Folha mapeou a venda de oito deles nos anos seguintes, cujos valores
somados chegam a R$ 4,7 milhes.
Em outro negcio imobilirio, na Vila Guilherme (zona norte), o fiscal foi scio
de Amilcar Canado Lemos, auditor fiscal suspeito de ter idealizado o esquema
de cobrana de propina de construtoras da mfia do ISS, que deu R$ 500
milhes de prejuzo aos cofres municipais.
Assim como a Folha, a Controladoria tambm encontrou dezenas de imveis
no nome de Freitas, colocando-o no topo da chamada matriz de risco utilizada
pelo rgo --alm do patrimnio, as possibilidades que determinado cargo tem
para cometer atos de corrupo so levados em considerao.
Atualmente, alm dos imveis, ele tambm tem algumas empresas em seu
nome, entre incorporadoras, assessorias imobilirias e SPEs (Sociedades de
Propsito Especfico), geralmente abertas para a criao de novos
empreendimentos imobilirios.
Folha, Freitas diz que no ter problema para explicar a origem do seu
patrimnio --segundo ele, vindo de negociaes imobilirias e de seu salrio
como auditor.
"Quisera eu ter tudo isso que voc [reprter] falou aqui. Infelizmente no , mas
alguma coisa tem", afirmou o fiscal, que no soube dizer o nmero total de
imveis que possui atualmente.
Paralelamente apurao na prefeitura, o fiscal investigado pela Promotoria
do Patrimnio Pblico, rgo que apura a mfia do ISS desde fevereiro do ano
passado.
Ele afirma ter sido comunicado oficialmente da investigao na ltima semana.
OUTRO LADO
J est planejada uma continuao do "Spider Life Show" para o ano que vem,
com mais 13 episdios. Nela, Anderson mostraria a histria do muay thai (boxe
tailands), uma das principais modalidades de seu arsenal.
Tambm provvel que ele participe em um terceiro reality show, sobre forma
fsica, exerccios e alimentao no canal americano AXS. Mas, oficialmente, o
time do lutador afirma desconhecer sua participao.
Trata-se do "Celebrity Sweat" ("Suor das Celebridades"), que tem prevista a
participao de atletas, atores e celebridades como o guitarrista e lder da banda
musical Kiss, Paul Stanley.
Por fim, Spider pode cair no samba. Ele receber, em breve, um convite da
escola carioca Unidos da Viradouro, que planeja homenagear grandes
personalidades negras em seu desfile no Carnaval deste ano.
GREGORIO DUVIVIER
Abrao caudaloso
O problema do casamento entre palavras o mesmo do casamento
entre pessoas: sempre algum ama mais
Amizade entre cronistas um perigo: todo papo esbarra em crnica, j que toda
crnica uma espcie de papo. Foi numa conversa com o Antonio Prata, meu
ex-amigo-platnico --"ex" no por no ser mais amigo mas por no ser mais
platnico-- que a bola comeou a quicar. "Isso d uma crnica", ele disse. Mas
nenhum dos dois escreveu, por escrpulos de estar roubando a ideia do outro.
Eu, que tenho menos escrpulos e menos ideias, resolvi escrever.
Palavras, percebemos, so pessoas. Algumas so sozinhas: Abracadabra. Eureca.
Bingo. Outras so promscuas (embora prefiram a palavra "gregria"): esto
sempre cercadas de muitas outras: Que. De. Por.
Algumas palavras so casadas. A palavra caudaloso, por exemplo, tem unio
estvel com a palavra rio --voc dificilmente ver caudaloso andando por a
acompanhada de outra pessoa. O mesmo vale para frondosa, que est sempre
com a rvore. Perdidamente, coitado, um advrbio que s adverbia o adjetivo
apaixonado. Nada ledo a no ser o engano, assim como nada crasso a no ser
o erro. Ensejo uma palavra que s serve para ser aproveitada. Algumas
palavras esto numa situao pior, como calculista, que vive em constante
mnage, sempre acompanhada de assassino, frio e e.
Algumas palavras dependem de outras, embora no sejam grudadas por um
hfen --quando tm hfen elas no so casadas, so siamesas. Casamento
acontece quando se est junto por algum mistrio. Alguns diro que amor,
outros diro que afinidade, carncia, preguia e outros sentimentos menos
nobres (a palavra engano, por exemplo, s est com ledo por pena --sabe que
ledo, essa palavra moribunda, no iria encontrar mais nada a essa altura do
campeonato).
Esse o problema do casamento entre as palavras, que por acaso o mesmo do
casamento entre pessoas. Tem sempre uma palavra que ama mais. A palavra
rvore anda com vrias palavras alm de frondosa. O casamento aberto, mas
para um lado s. A palavra rio sai com vrias outras palavras na calada da noite:
grande, comprido, branco, vermelho --e caudaloso fica l, sozinho, em casa,
esperando o rio chegar, a comida esfriando no prato.
Um dia, caudaloso cansou de ser maltratado e resolveu sair com outras
palavras. Esbarrou com o abrao que, por sua vez, estava farto de sair com
grande, essa palavra to gasta. O abrao caudaloso deu to certo que ficaram
perdidamente inseparveis. Foi em Manuel de Barros. Talvez pra isso sirva a
poesia, pra desfazer ledos enganos em prol de encontros mais frondosos.
LUIZ FELIPE POND
Humildade
O sucesso fsico, financeiro, intelectual ou imaterial, sempre foi um
desafio: o risco deformar a alma
A humildade uma das virtudes mais difceis na vida. Principalmente porque
est fora de moda, confundida com baixa autoestima. Somos ensinados a buscar
o orgulho como autoafirmao. Nada mais distante de uma personalidade
razoavelmente madura do que o orgulho.
A humildade uma das virtudes bblicas. O filsofo judeu Martin Buber, quando
elenca em seu maravilhoso "Hasidism and Modern Man" (Prometheus Books),
de 1988, as quatro principais virtudes do mstico hassdico, coloca a humildade
como a mxima entre elas.
O hassidismo uma escola judaica tpica do leste europeu dos sculos 18 e 19, e
o termo vem da palavra hebraica "hesed", que pode ser traduzida por "piedade".
As quatro virtudes so: xtase na contemplao ("hitlahavut"), trabalho
("avod"), a inteno reta do corao ("kavan") e a humildade ("shiflut").
Segundo ele, algum que tem intimidade com D'us (no judasmo, no se escreve
o nome de Deus completo) tem gosto pelo trabalho, seja ele qual for, porque
sente que ser parte do mundo colaborar com ele.
O xtase o que acontece com quem v D'us e sua piedade com frequncia. O
ato de contemplar D'us --a palavra "hitlahavut", em hebraico, remete ao fogo-"incendeia a alma". A intimidade com Deus leva o mstico a no conseguir
mentir aquilo que sente e pensa, ele diz. Da a ideia de um corao reto.
Por fim, a humildade. As trs anteriores convergem para o que Buber se refere
como a conscincia de que D'us carrega o mundo na palma da Sua mo, imagem
comum na Bblia hebraica (o Velho Testamento dos cristos).
comum personagens como Davi e Abrao usarem essa imagem ou similares
para descrever a relao entre D'us e o mundo. A humildade marca suprema
da alma que se conhece sem mentir para si mesma.
A humildade tambm pode ser vista como grande virtude e desafio para pessoas
distantes de qualquer sensibilidade religiosa, mas que tm grande sucesso na
vida.
Se voc algum que no teve sucesso na vida, dizer que humilde mais falta
de opo do que qualquer virtude de fato. Por isso, a humildade sempre foi
cobrada de grandes guerreiros e mulheres lindas.
O sucesso, seja ele fsico, financeiro, intelectual ou "imaterial", sempre foi um
desafio: o risco do sucesso deformar a alma. Sobre isso, basta ver o horror que
o mundo intelectual e seu profundo desprezo (ao contrrio do que querem
transparecer) pelo "povo".
A chamada "segurana de si" vai melhor com a humildade do que com o selfmarketing. Qualquer pessoa sabe que no se pode falar das prprias virtudes,
porque o autoelogio signo de desespero.
A humildade o manto com o qual a alma virtuosa se cobre e esconde sua face.
E isso nada tem a ver com tristeza ou falta de percepo do sucesso. A felicidade,
quando verdadeira, sempre uma forma de generosidade.
Assim como D'us esconde a sua face, segundo o hassidismo, para nos "proteger"
de sua grandeza, o virtuoso esconde seu rosto "em chamas", seja ele incendiado
por D'us, seja pelo sucesso, para que no saibam que ele est acima do homem
comum.
No outro o sentido de se dizer, no cristianismo, que Jesus era um humilde.
Qualquer homem comum que fosse alado a condio de D'us seria um
miservel orgulhoso.
Porm, existe um outro tipo de humildade, de que no se costuma falar muito,
mas que considero to essencial quanto o que mais falado no mundo da
filosofia moral. Trata-se da humildade da qual fala Freud. Estranho? Nem tanto.
Na psicanlise, a humildade tambm essencial.
O sbio de Viena dizia que se ele conseguisse levar seu paciente a trabalhar e a
amar razoavelmente, estaria satisfeito como psicanalista.
Alm do fato de que grande parte dos psicanalistas to horrorosamente
orgulhosa quanto minha tribo de filsofos e afins (em alguns casos, o orgulho de
alguns beira o grotesco), acho que essa fala de Freud no serve apenas para
esses profissionais, mas tambm para os pacientes.
FOLHA 03-02-2015
HLIO SCHWARTSMAN
Facilidades venda
SO PAULO - A eleio de Eduardo Cunha para a presidncia da Cmara no
vai facilitar a vida do governo nos prximos e difceis meses que Dilma Rousseff
ter pela frente.
Se as anlises que li esto corretas, Cunha representa (e coordena) aquela massa
de parlamentares que no hesita em criar dificuldades para depois neutralizlas, cobrando, claro, o devido preo na forma de verbas, cargos e sabe-se mais
o qu.
Se isso j incmodo em condies normais, torna-se um tremendo estorvo
numa conjuntura em que a crise econmica, que limita severamente a
capacidade do Estado de gastar, se soma s incertezas polticas geradas pelas
investigaes do escndalo da Petrobras. Ainda que discretamente, a palavra
"impeachment" j vai aparecendo nos jornais.
Penso que Dilma desperdiou as chances que teve para tentar melhorar a
paisagem institucional do pas. O cenrio mais otimista agora que ela termine
seu mandato equilibrando-se tropegamente entre vrias crises. Mas isso no nos
deve impedir de discutir o que pode ser feito para evitar que, no futuro, figuras
como Cunha, que exploram com competncia as vulnerabilidades do sistema,
possam prosperar. O pas, afinal, continuar a existir depois de Dilma.
A resposta para o problema, por paradoxal que parea, passa por reduzir o
poder do Executivo. Temos de tentar transformar decises discricionrias hoje
na mo de governantes em rotinas institucionais. surreal, para dar um s
exemplo, que existam 20 mil cargos de confiana cujos ocupantes so definidos
pela caneta da presidente ou seus ministros.
No preciso ser um gnio da administrao pblica para perceber que tanto o
governo como o pas estariam melhor se esses postos fossem em sua grande
maioria preenchidos por critrios impessoais e objetivos, como concursos, e no
por indicaes polticas. O espao para a chantagem diminuiria, e os servidores
seriam, em tese, mais competentes.
CARLOS HEITOR CONY
Ad petendam pluvium
Presos polticos
Na semana passada, em artigo nesta prpria Folha, o colunista Gregorio
Duvivier lembrou com propriedade uma das mais aberrantes heranas da Copa
do Mundo de 2014: 23 ativistas processados por associao criminosa armada.
Alguns deles, como a professora de filosofia Camila Jourdan, impedidos de sair
do Estado do Rio de Janeiro mesmo para ministrar palestras. Outros, como
Rafael Braga, preso e condenado a cinco anos de priso at hoje por ser pobre,
analfabeto e participar de protestos portando uma periculosa garrafa de Pinho
Sol, alm de gua sanitria. de se esperar que mais pessoas falem contra tal
situao intolervel.
O dono da bola
Gilmar Mendes luta com as armas que tem e no gosta de perder.
Quando perde, solta o verbo, e o seu verbo calculado para
polemizar
O STF abriu nesta segunda-feira (2) o ano judicirio. O tribunal teve uma pauta
conturbada em 2014 e a de 2015 no ser diferente.
Na medida em que ganhou envergadura poltica na ltima dcada, muito se
discutiu sobre o papel que o Supremo Tribunal Federal conquistou, seu volume
ocenico de casos e a qualidade de suas decises.
Um aspecto, porm, ainda pede maior cuidado crtico: o modo como alguns de
seus ministros frequentam e manipulam, sem parcimnia, a mdia cotidiana. O
ano de 2014 foi exemplar nessa superexposio pblica e a conduta de um
ministro, em particular, serve como bom ponto de partida para essa reflexo
institucional.
Gilmar Mendes, como de costume, fez-se onipresente. O tiroteio retrico lhe
encanta e dele participa com artilharia pesada. Seu vocabulrio recheado de
clichs da hiprbole poltica. Jornalistas no mais o procuram por sua
clarividncia, mas, sim, por uma manchete.
Tanto faz se o assunto est para ser decidido pelo Supremo ou se nem chegou ao
tribunal. Sente-se autorizado a mandar recados pela imprensa. Entende, pelo
visto, que a Lei Orgnica da Magistratura a ele no se aplica. Princpios de
circunspeco judicial, que buscam promover no s a imparcialidade mas
tambm a imagem de imparcialidade, servem para os outros.
Por exemplo, quando provocado a opinar sobre a validade de uma constituinte
para a reforma poltica, ponderou: "No razovel isso, ficar flertando com uma
doutrina constitucional bolivariana". E concluiu com ironia: "Felizmente no
pediram que na Assembleia Constituinte se falasse espanhol".
A opo escolhida foi o uso de tecnologia por meio de parcerias entre empresas
do setor (como Google e IBM) com colgios membros de uma rede ligada ao
papa.
A ideia do projeto, chamado Scholas Labs (aluso s palavras "escolas" e
laboratrios"), permitir que alunos e professores desenvolvam aplicativos ou
ferramentas educacionais, com apoio dessas companhias.
Os detalhes sero apresentados nesta quinta (5), num bate-papo on-line do
papa com estudantes, incluindo um brasileiro. No ano passado, Francisco j
participara de uma conversa virtual na primeira fase da iniciativa.
A articulao feita pela Scholas, rede de colgios lanada pelo papa em 2013,
que rene hoje 400 mil escolas no mundo, segundo os organizadores (2.000 no
Brasil).
A rede foi criada para que colgios em diversos pases trocassem experincias,
tanto educacionais quanto de cultura. Alunos e professores conversam com
colegas em outros pases por meio de uma plataforma virtual.
Nessa segunda fase, haver desenvolvimento de novas ferramentas, por meio
das parcerias com as empresas, que ajudem no ensino.
A iniciativa conta com o apoio de figuras pblicas como os jogadores Messi, da
Argentina, e Buffon, da Itlia.
"Queremos usar a tecnologia como meio de integrao das pessoas. Colocamos
em contato colgios da China e da Argentina, por exemplo", disse Folha Jos
Maria del Corral, diretor do Scholas.
A maior parte da rede de colgios catlicos, mas ela aberta --h escolas
judaicas, islmicas ou sem inclinao religiosa, afirmou Corral.
O embrio da rede surgiu quando o papa ainda era arcebispo de Buenos Aires.
Junto com Corral, eles criaram programa em que alunos de diferentes escolas
discutiam problemas da comunidade.
O uso da tecnologia para melhorar a educao visto por educadores como
processo irreversvel. Mas estudos indicam que sua simples adoo no
assegura ganhos no ensino. Uma pesquisa que analisou conjunto de programas
de computador usado nos EUA para melhorar a leitura dos alunos mostrou que
os estudantes no tiveram melhora significativa.
CLVIS ROSSI
Pode ser tudo parolagem, como diria Elio Gaspari, mas, parolagem por
parolagem, mais sedutora a de Obama, no? Ao menos pe esperana de
melhores dias no horizonte. Como se fosse pouco, Obama mostra uma ponta de
simpatia pelo novo governo grego e sua rejeio austeridade. "Em algum
momento, necessria uma estratgia de crescimento para poder pagar suas
dvidas", disse o presidente CNN.
essa estratgia que faltou na Grcia e falta no Brasil.
Barcelona tambm no teria pago cerca de 250 mil (R$ 763 mil) em impostos
relativos aos direitos de imagem do atacante.
Com a inteno de agilizar os processos contra o Barcelona e Rosell, Perals pede
que seja aberto um processo parte para Bartomeu.
Segundo Perals, Rosell teria ocultado os custos da transferncia em 2013,
mantendo o valor de 57,1 milhes na prestao de contas aprovada em
assembleia geral do clube, mesmo diante de questionamentos de associados.
Para o promotor, Rosell quis se assegurar da transferncia do jogador
aumentando os valores, mas deixou de informar esse incremento ao fisco de
modo que as contas do clube no fossem afetadas.
"Para realizar esse plano e com a inteno de ocultar o custo real do jogador,
Rosell fragmentou o pagamento em diversas parcelas, formalizando uma srie
de contratos com o Santos e com Neymar", disse o promotor.
As negociaes teriam envolvido trs empresas de propriedade do pai de
Neymar.
"A finalidade dessas empresas era fragmentar o valor real do jogador. Elas
operavam unicamente como intermedirias nos pagamentos feitos pelo clube",
afirmou.
At a concluso desta edio, o Barcelona no havia se pronunciado sobre o
caso.
AUTOR DA PARADINHA
Natural de Jundia, Dalmo jogou por Paulista e Guarani. Chegou ao Santos em
1957, onde viveu sua melhor fase. Fez parte da gerao de ouro, com Gylmar,
Lima, Mauro, Calvet, Zito, Dorval, Menglvio, Coutinho, Pel e Pepe.
Deixou o Santos em 1964 com cinco Paulistas, um Torneio Rio-So Paulo, duas
Taas Brasil, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes.
Diante do Milan, em 1963, marcou de pnalti o gol da vitria por 1 a 0, no
Maracan, no terceiro e decisivo jogo da final do Mundial de Clubes.
"Aquele foi o maior feito da minha vida", disse Dalmo Folha, em novembro de
2013, ao reencontrar os vencedores do Mundial-63, no aniversrio de 50 anos
do ttulo.
A cobrana foi com "paradinha", semelhante ao milsimo gol de Pel, em 1969.
Os amigos de Santos, inclusive, dizem que Dalmo quem criou essa forma de
bater.
"Nos treinos, ele sempre batia com 'paradinha'. Como os cobradores oficiais
eram Pel e eu, poucos sabem disso. O Pel observava o jeito do Dalmo e passou
a usar a 'paradinha'. A ela ficou famosa. Esse foi um legado que o Dalmo
deixou", disse Pepe.
Sete anos antes, uma derrota contra o Once Caldas praticamente selou a sada
do jovem jogador, ento com 19 anos, do So Paulo.
Ele falhou no gol da vitria do rival, no ltimo minuto da semifinal, em
Manizales.
"So coisas que acontecem no futebol. Eu era muito jovem e no tenho muitas
lembranas da partida em si", desconversa o jogador.
No Corinthians, depois da eliminao em Ibagu, Fabio Santos fez parte de uma
sequncia de ttulos que o colocam como um dos laterais esquerdos mais
importantes da histria do clube.
Nos ltimos quatro anos, conquistou o Mundial de Clubes (2012), a
Libertadores (2012), o Campeonato Brasileiro (2011), a Recopa (2013) e o
Paulista (2013).
"Fica um trauma. A derrota [para o Tolima] foi complicada. Foi uma noite ruim
para mim e para o Corinthians", assegura, esperando que no se repita em 2015.
A decepo da diretoria e da comisso tcnica com Roberto Carlos e a proposta
do futebol russo fizeram com que o ex-lateral da seleo brasileira deixasse o
Parque So Jorge em 2011. Desde ento, Fabio virou titular e no largou mais
essa condio.
Se exorcizar os "fantasmas" do Once Caldas e da primeira fase da Libertadores o
ala deve manter a posio.
"Talvez a gente no tenha se preparado como deveria [em 2011]. Com certeza,
isso no vai se repetir agora", garantiu.
Razo tinha George Orwell, quando dizia que a tirania dos homens
comea com a tirania das palavras
1. Todos os domingos, presto homenagem ao mundo lusfono. Como? Fazendo
um churrasco aqui na Inglaterra, embora os meus vizinhos talvez no apreciem
o gesto. Por causa do cheiro?
No. Por causa das carnes. Os meus vizinhos so a Oxford University Press, que
pelo visto tem problemas com "porcos", "salsichas" e outros produtos
associados.
Em recomendao editorial aos seus autores, e sobretudo aos escritores de
histrias infantis, a vetusta Oxford University Press aconselha que tais palavras
sejam evitadas para no ofenderem muulmanos e, v l, judeus. Segundo a
empresa, os livros so vendidos em mais de 200 pases. preciso ter
"sensibilidade" para respeitar a "sensibilidade" de culturas diferentes.
Eu, por mim, concordo e prometo moderar as minhas gulas sunas. S no
entendo por que motivo a editora se limita ao inocente porco. Em nome de uma
agenda verdadeiramente multiculturalista, o pessoal da Oxford University Press
deveria apagar dos seus livros tudo aquilo que ofende algum, algures, em
qualquer religio ou sociedade.
Porcos, sim. Mas tambm o uso abusivo de vacas (sagradas na ndia); marisco
(que os judeus mais rigorosos condenam); e vrias classes de peixes (que muitas
tribos africanas no consomem).
Depois dos bichos, a empresa poderia avanar com iguais limpezas na sua
literatura (apagando personagens homossexuais; cenas de sexo fora do
casamento; casos de aborto ou eutansia); nos seus livros cientficos (Darwin
seria o primeiro a ser jogado no lixo); e at nos manuais mdicos (todos
sabemos que a menstruao pode provocar exploses em Cabul ou Riad).
No final dessa purga, no sei quantos livros a Oxford University Press teria para
vender. Mas, como dizem os eruditos, quantidade nunca foi qualidade.
2. Em Paris, dois homens encapuzados fizeram 12 mortos no ataque ao jornal
"Charlie Hebdo". No fim, gritaram palavras heroicas em nome do profeta.
Confrontados com esse episdio, qual a melhor palavra para descrever os dois
autores do massacre?
Se o leitor pensou na palavra "terroristas", a BBC discorda: em entrevista ao
jornal "The Independent", um dos diretores da casa afirmou que a palavra um
pouco "pesada" e que basta dizer "dois homens armados" para arrumar o
assunto. Sem nenhuma carga pejorativa.
O sr. Tarik Kafala tem toda a razo. E o que vlido para Paris vlido para a
Nigria, onde o pessoal do Boko Haram continua a degolar "infiis" com uma
impressionante eficcia. Se uma pessoa comea a chamar "terrorista" a algum
Sndrome de WhatsApp
03/02/2015 02h49
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Mais opes
Hoje apelei para uma profissional de enorme competncia, a Lili. Comecei de
novo um tratamento de fisioterapia. Em dezembro, a mdica j tinha me
receitado tambm uma injeo de anti-inflamatrio, alm de bolsas de gua
quente e exerccios. Mas os exerccios s comecei agora, porque piorei.
Estou com vrias tendinites de novo, alm de dor nas costas. No vou pr a
culpa no excesso de trabalho nem em ningum. O problema sou eu mesma.
Passei as frias lendo os trs grossos volumes da biografia do Getlio, escrita
pelo Lira Neto (Companhia das Letras). tima, alis. S que li metade na cama e
a outra metade na esteira de praia. Deitada.
O resto do tempo, quando no estava dormindo, cozinhando ou lavando loua,
passei lendo notcias no iPad, checando o Instagram e trocando mensagens por
SMS, WhatsApp e e-mail, entre outras atividades no celular. Algum pode
imaginar a posio do meu pescoo?
A Lili me contou que hoje mesmo atendeu um rapaz de 18 anos com uma baita
hrnia de disco no pescoo. O rapaz alto, mas o agravante, segundo ela, o
tempo que ele passa checando o WhatsApp. Sndrome de WhatsApp, me disse
com a maior naturalidade.
Escrevo WhatsApp e na imaginao ouo vozes pronunciando What's Up! Mas
melhor seria dizer Whats Down! Para baixo! para o celular que a gente dobra
o pescoo. com o celular que a gente tambm tensiona o indicador, ou o
polegar, ou ambos: para digitar. A propsito, tambm estou com tendinite na
mo direita.
Voltei ao trabalho e passo o dia inteiro em frente a um computador enorme,
lindssimo. Pescoo projetado para a frente do corpo, esse um dos meus vcios
posturais. Outro problema que a mega tela do computador, descobri hoje,
mais de dois anos depois de compr-lo, que grande demais para mim. Eu,
que sou pequena, tenho de levantar a cabea para enxerg-la direito, e com isso
tensiono o pescoo.
A alternativa seria levantar a altura da cadeira, mas a os meus ps no
alcanariam o cho e detesto aqueles apoios de p. Sinto que fico engessada.
Quem acredita que um mobilirio "padro" serve para quem pequeno ou para
quem grande? Quantos sero os "normais"?
Outra alternativa para o meu caso, pensei agora, seria abaixar a altura da mesa,
mas a eu no poderia dividi-la com outras pessoas, como fao hoje.
O custo de passamos mais tempo conectados no s de eletricidade, telefonia,
troca de equipamentos com obsolescncia programada, atualizaes de
softwares etc. O custo de sade fsica.
Mas tem trs coisas que eu adoro no WhatsApp. 1) Funciona. At em
circunstncias em que o SMS no funciona (no me pergunte por que o SMS
FOLHA 04-02-2015
HLIO SCHWARTSMAN
Terror no Carnaval
RIO DE JANEIRO - Algum ligado ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerver,
ora domiciliado na Polcia Federal de Curitiba devido Operao Lava Jato,
ameaou processar quem o usasse como modelo de mscara de Carnaval. Os
Costa nega que haja alguma empreiteira investigada na Operao Lava Jato por
trs do pedido.
A legislao prev que tanto as empreiteiras quanto os seus diretores sejam
condenados se a Justia concluir que houve fraude em licitaes da Petrobras e
que as empresas agiam como um cartel.
ELIO GASPARI
Isso e mais a certeza de que a Operao Lava Jato vai desentranhar as contas do
PT. (A regulamentao da Lei Anticorrupo est engavetada h um ano.)
O governo resolveu inflar seus desastres porque, na batalha da comunicao,
egocentrismo e megalomania abafam a rotina. Mesmo assim, nem tudo so
espinhos. Esse mesmo governo mandou passear o lobby das concessionrias de
energia que pretendia espetar na Viva uma conta de R$ 2,5 bilhes. Mandou
passear tambm os clubes de futebol com suas dvidas de pelo menos R$ 1,5
bilho. Muito justamente reduziu o crdito estudantil para jovens com
desempenho pouco acima do medocre no Enem. Contrariou os bares das
escolas privadas, mas conteve a privatizao de seus recursos. Essa batalha
ainda no terminou, como ainda no entrou em cena a das operadoras de sade,
comeada nos dias das festas de fim de ano.
Resta doutora Dilma um consolo. Na oposio, a nica novidade que Acio
Neves deixou a barba crescer.
SAE desde 2013 e foi confirmado na pasta durante a reforma ministerial que a
petista fez no fim de 2014 para compor seu segundo governo.
A SAE responsvel por assessorar diretamente o presidente da Repblica no
planejamento nacional e na formulao de polticas pblicas de longo prazo
voltadas ao desenvolvimento nacional.
A secretaria responsvel pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica
Aplicada).
ANLISE
Espontaneidade
A psicanlise, com sua influncia na cultura, tem culpa no cartrio
desse espontanesmo todo
"Ah, eu boto mesmo pra fora! Eu estou sentindo a coisa, no estou? Pois ento:
a minha verdade. Eu sou muito espontnea, no disfaro que nem muita gente
falsa que eu conheo. No quero nem saber. Isso afasta? Isso magoa? Dane-se!
A verdade mais importante. Eu sou autntica!"
A psicanlise, com sua influncia na cultura, tem culpa no cartrio desse
espontanesmo todo. A crena na "verdade por trs das coisas", e naquilo que se
oculta "no fundo, no fundo", mais a viso reichiana de que " preciso se livrar
das couraas de defesas, e se expor", tudo isso foi atropelando, passando por
cima da boa educao e da cerimnia, do jeito diplomtico de lidar com
divergncias, que so suavizadores sociais, facilitadores da convivncia.
Esses ltimos so vistos como "hipocrisia", "mscaras e disfarces". Claro que se
aproxima da hipocrisia a minha atitude corts de aturar um espontanesta
desses --s pelo tempo necessrio para poder tomar distncia sem me fazer
notar-- porque ofend-lo de volta seria dar-lhe uma intimidade imerecida.
Never complain, never explain ("nunca se queixe, nunca se explique"), o
precioso conselho que Disraeli, primeiro-ministro ingls, deu rainha Vitria
para que ela no concedesse intimidade sem querer. "Quem se explica, ou quem
se queixa, abre a possibilidade de debate, uma porta para que invadam sua
intimidade."
Intimidade, esse bem precioso que precisa de muito zelo, carinho e cuidados
nessa poca de redes sociais, tuter, uotizap e feicibuques de exposio extensa
em frases curtas, que estimulam a reatividade, a inveja e o rancor "espontneos"
junto com um triunfalismo felicssimo que d para desconfiar.
No nego a utilidade potencial dessas ferramentas, mas me parece que ainda
estamos na fase de muito ensaio e muito erro, que ainda no acertamos a mo
no bom uso delas.
Convenhamos: um mximo de cento e quarenta caracteres no propriamente
um estmulo ao pensamento reflexivo. O mesmo serve para o dilogo pinguepongue, digitado com rapidez, que est deixando muita gente consu- mida e
viciada em sua aparncia de no solido.
E, afinal, que verdade essa que surge no espontanesmo? Ser mesmo "a
essncia" da pessoa, sua "natureza"? Algo menos construdo que a educao, a
cortesia, a considerao pelo prximo, a diplomacia? Algo mais autntico
(significando algo que no veio de fora, que prprio da pessoa)?
Levando em conta que a obsesso, a paixo doentia, a compulso perversa e
vrios outros sintomas de doenas psquicas so total- mente espontneos,
posso dizer que o espontanesmo tambm traz tona algo que foi construdo e
que veio de fora: todos os atropelos e sofrimentos que passamos na nossa
infncia, que nos feriram um dia e que hoje aparecem como doloridas cicatrizes.
Faz emergir uma histria que no foi escrita por ns, e sim a nosso despeito, ao
nosso atropelo, sobre a qual nunca pudemos opinar, pois quem a escreveu era
mais forte: uma histria que nos foi impingida e que agora o espontanesta quer
impingir aos outros... Mas no assim que se libertar dela. S a repetir.
FAUSTO CASTILHO (1929-2015)
Fausto Castilho morreu nesta tera (3), aos 85 anos, em Campinas, onde estava
internado desde 25 de janeiro. Seu enterro ser nesta quarta (4), s 11h, no
cemitrio do Ara, em So Paulo.
Os fantasmas existem
O Corinthians precisa ganhar bem para no se amedrontar com o
fantasma do Tolima no jogo de volta
Tite, com seu rigor ttico, uma virtude, desde que no iniba a criatividade e a
improvisao, queria transformar Lodeiro em um Jorge Henrique melhorado,
para atuar pelos lados. Jadson, que estava na reserva, superior a Lodeiro e a
Jorge Henrique, mas no esse tipo de jogador. um meia clssico, pelo centro.
Como, hoje, o Corinthians vai pressionar desde o incio, os trs meias atuaro a
maior parte do tempo no campo do adversrio, sem precisar de tanto rigor na
marcao pelos lados.
O Corinthians tem de conseguir uma boa vantagem para no se amedrontar
com o fantasma do Tolima no jogo de volta. Os fantasmas existem e incomodam
mais que os vivos.
PROVOCAES
Um reprter do jornal "El Pas", de Madri, lembrou-me que Neymar gosta muito
mais do confronto individual que Romrio, Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, que
tambm brilharam no Barcelona. Neymar, sem querer querendo, irrita o
adversrio com seu repertrio enorme de dribles. Diferentemente de Messi, que
muito marcado, porm, sem violncia, os adversrios adoram derrubar e
provocar Neymar.
Em todos os jogos, cria-se um atrito, que pode ser bom para Neymar, pois,
quanto mais faltas sofre, mais dribla e joga melhor, ou ruim, pelos riscos de
contuses, expulses e de se tornar antiptico a todos os rivais.
Neymar acrescentou muito com seu talento e velocidade nos contra-ataques. O
Barcelona no mais apenas o time de troca de passes e de infiltraes em
pequenos espaos para fazer gols. No contra-ataque, Messi tem dado passes
espetaculares para Neymar, atrs dos defensores. O grande desafio do tcnico
Luis Enrique manter o excepcional trio de atacantes, com Messi, Neymar e
Surez, sem fragilizar a marcao, quando enfrenta grandes equipes.
LTIMA CHANCE
No documento final sobre o refinanciamento das dvidas dos clubes, que est
sendo discutido em Braslia, com as contrapartidas relevantes e necessrias,
essencial, para ficar claro, clarssimo, que, se continuarem irresponsveis e no
cumprirem o combinado, o governo, alm de aplicar as penalidades, no faa
nada para evitar que os clubes quebrem, seja quais forem. Deveria ser a ltima
chance.
CRISE DO PASSE
Independentemente da colocao final do Brasil no Sul-Americano sub-20, o
time um retrato da crise do passe, como bem disse Carlos Eduardo Mansur, no
"Redao SporTV".
mais que uma crise. nosso estilo de jogar nos ltimos tempos, com excesso
de bolas longas, areas, chutes, estocadas isoladas e individuais. Raramente se
trocam trs passes. E ainda temos de escutar Gallo dizer que a equipe joga um
futebol moderno.
IRONIA
Um leitor me perguntou se foi ironia minha exaltao aos Estaduais. Pensei que
era bvio. Ironia e piada no se explicam. Perdem a graa.
DE SO PAULO
O lutador brasileiro de MMA Anderson Silva foi pego em exame antidoping
realizado no dia 9 de janeiro.
Foi detectada na urina do atleta o esteroide Drostanolona. Sites especializados
informaram que traos da substncia Androsterona tambm foram encontrados
na urina do lutador, mas essa informao no foi confirmada pelo UFC. As duas
substncias so proibidas pela Wada (Agncia Mundial Antidoping).
O teste foi realizado no perodo em que o lutador treinava para a luta da
madrugada do ltimo domingo (1) contra o americano Nick Diaz, em Las
Vegas, vencida pelo brasileiro.
O adversrio de Anderson tambm foi pego no doping. Em exame realizado no
dia da luta, foi detectado no exame de urina de Nick Diaz o uso de maconha.
Ambos ainda podem pedir a contraprova dos exames.
Se o doping for confirmado, o resultado da luta pode ser anulado e nenhum dos
dois ser declarado vencedor.
Anderson Silva passou ainda por outros dois testes antidoping, nos dias 19 e 31
de janeiro. Os resultados destes exames no foram divulgados pelo UFC.
A informao sobre o doping de Anderson foi divulgada em comunicado no site
do UFC no fim da noite de tera (3). A organizao informa que s foi notificada
pela Comisso Atltica de Nevada sobre o resultado positivo de Anderson nesta
tera (3).
A entidade afirma ainda que mais testes sero realizados para confirmar o
resultados do exame.
"Anderson Silva tem sido um excelente campeo e um verdadeiro embaixador
do esporte das artes marciais mistas e do UFC. O UFC est desapontado por
saber destes resultados iniciais", disse a organizao no comunicado.
Caso o doping de Anderson Silva seja confirmado, o lutador poder sofrer
sanes devido ao teste positivo.
Entre as punies aplicadas pelo UFC esto a suspenso e at banimento das
lutas de MMA. Em casos como o de Anderson, a suspenso costuma ser de at
um ano.
O lutador e seu estafe no comentaram o resultado do exame antidoping.
Casos de doping no so raros no UFC. No dia 6 de janeiro o campeo dos pesos
meio-pesados, Jon Jones, anunciou que havia sido pego em exame antidoping
por uso de cocana. Outros lutadores, como os brasileiros Wanderlei Silva e
Vitor Belfort, tambm j testaram positivo em exames antidoping.
A reclusa escritora norte-americana Harper Lee, 88, vai publicar seu segundo
romance em 14 de julho, 55 anos depois de lanar o clssico "O Sol para
Todos" (1960), anunciou a editora Harper Collins nesta tera (3).
O novo romance, "Go Set a Watchman", embora tenha sido escrito antes, uma
sequncia de "O Sol". A personagem Scout Finch, a menina narradora do
primeiro livro, reaparece adulta, 20 anos depois, para visitar o pai, o advogado
Atticus. Outros personagens do livro anterior voltaro na histria.
"Go Set a Watchman" (arrume um vigia) foi concludo nos anos 1950, mas o
editor de Lee na poca a convenceu a modificar o livro e contar a histria na
perspectiva de Scout ainda menina.
As mudanas resultaram em "O Sol para Todos", um fenmeno de crtica e
pblica como raras vezes j se viu.
O romance recebeu um prmio Pulitzer, vrias vezes foi classificado como um
dos dez mais importantes publicados no sculo 20, foi traduzido em quase 50
lnguas, vendeu mais de 40 milhes de exemplares no mundo e inspirou um
filme homnimo de sucesso vencedor de trs Oscar em 1963, incluindo melhor
ator (Gregory Peck) e roteiro adaptado.
O romance, ambientado em uma cidadezinha do Estado do Alabama dos anos
30, retrata um negro acusado de estuprar uma mulher branca.
Atticus Fincher, interpretado por Peck no cinema, um advogado idealista que
ir defender o acusado. Pelos olhos da pequena Scout, filha do advogado, Lee fez
um retrato do preconceito racial acirrado do sul dos EUA.
Apesar de todo o sucesso de seu romance de estreia, Lee nunca mais publicou
outro livro. Passou os ltimos 50 anos numa recluso quase total.
Segundo o comunicado divulgado pela editora Harper, Lee julgava que "Go Set a
Watchman" estivesse perdido ou destrudo. Os originais teriam sido descobertos
pelo advogado da escritora.
"Depois de muita hesitao eu compartilhei o livro com algumas pessoas de
confiana e fiquei satisfeita ao ouvir que eles o consideravam digno de
publicao. Fico maravilhada por ele ser publicado depois de todos esses anos",
divulgou por nota.
Ainda no h indcios para aferir se a inusitada histria ou no um golpe de
marketing, mas certamente ser um timo negcio para editora e escritora.
A Harper Collins classifica o livro como um "acontecimento literrio
extraordinrio" e planeja imprimir 2 milhes de cpias.
Quando conversou brevemente com jornal ingls "Daily Mail" em 2010, Lee
morava em um modesto apartamento de uma residncia para idosos em
Monroeville, sua cidade natal no Alabama.
'O Sol para Todos' coloca dedo em ferida dolorosa dos EUA
CADO VOLPATOESPECIAL PARA A FOLHA
Monroeville, Alabama, sul dos Estados Unidos, tem menos de 7.000 habitantes.
Porm, dois dos maiores escritores americanos passaram a infncia na cidade e
foram amigos: Truman Capote (nascido em Nova Orleans) e Harper Lee, cidad
de Monroeville.
O tempo na cidade foi decisivo na vida de ambos. O primeiro romance de
Capote, "Outras Vozes, Outros Quartos" (1948), trabalha os climas
fantasmagricos do sul profundo e tem uma personagem inspirada na amiga.
E Harper Lee transformou Monroeville em Maycomb no clssico "O Sol para
Todos" (Jos Olympio, R$ 45, 364 pgs.), lanado com tremendo sucesso em 11
de julho de 1960. At agora, era o nico livro publicado por ela.
O livro no gentil com Monroeville. A fictcia Maycomb uma tpica cidade
sulista nos anos 30: velha, pobre, indolente e racista. Lee conta a histria de
uma famlia sem me, formada pelo pai, Atticus, um advogado de provncia
(inspirado no pai da autora), e os filhos, Scout e Jem.
Nas primeiras cem pginas, vemos a menina Scout liderando o irmo e o amigo
Dill (baseado no pequeno Capote) em aventuras. H um vizinho misterioso, que
costuma deixar presentes para eles no buraco de um tronco.
Nas demais pginas, a tenso racial da Grande Depresso explode. quando o
pai de Scout defende um negro acusado de estupro, e a cidade se volta contra ele
e a famlia.
Tolerncia, empatia e o dedo numa das feridas mais dolorosas da histria
americana, o racismo, so os temas fundamentais. Mas o livro no seria to bom
sem o ponto de vista escolhido por Lee. Tudo o que vemos pelos olhos
assombrados da menina Scout.
V-la na idade adulta, nesse inesperado segundo livro, um presente ao qual
seus leitores fiis ainda vo demorar para se acostumar.
Conhecido por apelidos como "Rabic", Elmiro Costa Ferreira Neto por pouco
no dispensou "Gordinho Gostoso". Um amigo lhe apresentou a msica, e ele
ficou meio assim no comeo. "Poxa, cara, vou cantar isso, e a galera vai zoar com
a minha cara", reproduz sua resposta inicial.
Mudou de ideia e de vida. Ele, que j fazia barulho no circuito nordestino, viu
seu hit viralizar Brasil afora. Na internet, encontra-se verses que vo do
camarada no vaso sanitrio a policiais balanando a pana no quartel.
Ao exaltar quem no v graa quando o garom pergunta se a Coca normal
(como se a Zero fosse uma alternativa...), Neto traa um paralelo entre ele e
aquele cantor que s queria chocolate.
"Tim Maia uma inspirao de gordinho famoso e gostoso. No Carnaval, quero
sair fantasiado como ele."
Outro plano para a folia momesca: desbancar o sofredor Pablo ("Homem No
Chora") e emplacar a ode s gordurinhas como o novo "Ai, Se Eu Te Pego" da
estao.
NA GRINGA
A opulncia aparece sobretudo no estilo de vida que Neto canta. o tal do
arrocha ostentao, que rende letras como "Vida Mais ou Menos" ("vem beber
usque, vem ver como rico vive") e "Frias em Las Vegas" ("mandei um
WhatsApp pro coroa, e ele transferiu um milho pra minha conta em Dubai").
Neto s saiu do pas uma vez, para "estourar o limite do carto em Miami". Isso
mudar: seu prximo clipe ser gravado em Dubai.
Beijo (no ombro) do gordo.
MARCELO COELHO
Tiques e taques
Mesmo com o mximo de desencanto e realismo, impossvel viver
sem uma dose forte de fico
Qual seria a histria mais simples do mundo? Ou, para modificar um pouco a
pergunta, qual o modelo de enredo mais bsico que se pode imaginar?
Para o crtico literrio sir Frank Kermode (1919-2010), a resposta poderia bem
ser o tique-taque de um relgio. O tique, escrevia ele em "The Sense of an
Ending", corresponde "a uma humilde gnese", e o taque, "a um dbil
apocalipse".
entrar um vento de inverno --de que estamos mais precisados do que nunca
nestes dias.
Mas claro que Kujawski no se limita a esse efeito de choque --e logo
estaremos admitindo, junto com o autor, a presena de seu velho mestre, o
filsofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955).
Com muita clareza, "O Sentido da Vida" mostra o quanto j havia de "sartreano"
nas primeiras obras de Ortega y Gasset --incluindo-se a a famosa noo de que
o ser humano "est condenado liberdade". Mais importante ainda a ideia de
"projeto".
No se trata, claro, de um mero "capricho": posso desejar ardentemente ser
um grande pianista, mas no serei capaz de inventar um Marcelo-pianista que
no sou.
Ao mesmo tempo, para viver a prpria vida, preciso constru-la. "A vida nos
dada", diz Kujawski, "mas no nos dada feita".
Desse modo, completa o autor, inventamos, dia a dia, o que vamos ser. Mas essa
frase seria algo banal (e tambm irrealista), no fosse um adendo
importantssimo. Essa inveno se d conforme aquilo que somos.
Uma pessoa tem (muito teoricamente) a liberdade de ser qualquer coisa --mas o
que importa que ela se transforme naquilo que tem de ser.
Mal comparando, isso deveria ser to fcil quanto cada um ter sua prpria voz.
Mas sabemos, infelizmente, o quanto estamos merc de uma dublagem
constante, que nos ensurdece para ns mesmos.
FOLHA 05-02-2015
KENNETH MAXWELL
O desafio de Atenas
Em 25 de janeiro, o parlamento grego viu a conquista de 149 dos 300 assentos
pelo Syriza de Alexis Tsipras, de extrema esquerda e antiausteridade.
Novo ministro das Finanas, o economista poltico Yanis Varoufakis, 53, se
recusou a receber os representantes da chamada "troika" --Unio Europeia,
Fundo Monetrio Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE)--,
revelou propostas para encerrar o conflito entre a Grcia e seus credores por
meio da converso das dvidas em novos ttulos vinculados ao crescimento, e
prometeu manter superavit oramentrio permanente e reprimir os ricos
sonegadores de impostos.
Varoufakis, que se descreve como "libertrio marxista", est fazendo uma visita
crucial s grandes capitais da Europa. Em Londres, George Osborne, ministro
da Fazenda britnica, disse depois do encontro que "o impasse entre a Grcia e a
zona do euro a maior ameaa economia mundial". Varoufakis disse acreditar
em um "acordo rpido para acabar de vez com a crise grega".
Mas Angela Merkel j indicou que no est disposta a perdoar dvidas gregas. E
seu ministro da Fazenda, Wolfgang Schuble, disse que "quem quer que
entenda dessas coisas conhece os nmeros e a situao". Varoufakis apontou o
banco de investimento norte-americano Lazard para assessorar a Grcia em
suas negociaes sobre uma dvida que sobe a mais de 175% do PIB do pas.
Barack Obama declarou que "no se pode continuar pressionando pases que
esto em meio a uma depresso. Em algum momento, preciso haver uma
estratgia de crescimento a fim de pagar suas dvidas e eliminar parte de seu
deficit". A maioria dos gregos concordaria, como a maioria dos espanhis. Uma
coisa certa: negociaes muito duras aguardam a Grcia e a zona do euro.
Varoufakis especialista em teoria dos jogos, mas o tempo para negociar
curto, tanto por conta da expectativa popular intensificada, da parte dos gregos,
quanto pelos prazos que esto se esgotando para os acordos atuais do pacote de
resgate Grcia.
A Grcia j flertou com o abandono da zona do euro. As consequncias
econmicas seriam menos catastrficas hoje do que teriam sido em 2009,
quando a crise anterior de dvida do pas estava em seu pico. A zona do euro
agora conta com mais mecanismos para se defender. Isso pode fazer com que a
linha dura de Berlim e Frankfurt se disponha menos a transigir. Mas, de 2009
para c, os perigos polticos de uma sada grega se multiplicaram. O confronto
entre a Rssia de Putin e a Ucrnia, bem como o conflito na Sria e no Iraque,
fazem da Grcia um parceiro inescapvel, nem que apenas por sua proximidade
geogrfica. Rssia e Otan esto bem cientes disso. Os gregos tambm.
SYLVIO BACK
TENDNCIAS/DEBATES
A DBCA uma sociedade de gesto coletiva, sem ecos gremistas nem laivos
polticos e/ou partidrios, mas, inspirada e explicitamente apoiada pelas
maiores e mais atuantes entidades do mundo: ADAL (Alianza de Directores
Audiovisuales Latinoamericanos), DAC (Argentina), Directores Mxico, DASC
(Colmbia), ATN (Chile), Writers & Directors Worldwide (Frana) e CISAC -confederao de profissionais da Inglaterra, Itlia, Alemanha, ustria, Espanha.
Outra pergunta sobre a esdrxula falta de retorno pecunirio pela veiculao
pblica de nosso audiovisual que deve ser feita por quem nos assiste esta:
quando no filmam, como sobrevivem os diretores fora da preparao e do set
de filmagem ou das ilhas de edio?
No Brasil, acumulamos a funo de produtor e de diretor, expediente crucial
para respirar em uma cinematografia sempre em construo, ao contrrio das
redes de TV, que so indstria. Cada um se v, ento, compelido a engendrar
sua prpria indstria, provocando o terrvel interregno de trs a cinco anos a
separar cada filme do prximo.
Por isso estamos articulados para, com a DBCA, preencher esse hiato
civilizatrio pela defesa da vida, tanto a nossa como a dos nossos rebentos
audiovisuais.
SYLVIO BACK, 77, cineasta, roteirista e poeta, autor de 38 filmes, entre
curtas, mdias e 12 longas-metragens. Est em fase de preparao de "A
Histria Teimosa", docudrama sobre a Guerra do Paraguai
JANIO DE FREITAS
Reino do 'nonsense'
A desgraa lanada sobre a Petrobras decorre de que a gatunagem
foi constatada e abriram-se inquritos
Se a Petrobras ainda estivesse sob a ao ignorada e tranquila de gatunos, a
realidade dos ltimos 11 meses seria assim: suas aes em altas cotaes na
Bolsa, bafejadas pelo crescimento da produo a despeito da queda de preo do
petrleo, os corruptos embolsando seus ganhos com a segurana de sempre, e
bancos e corretoras festejando em vez de derrubar os dirigentes da empresa. Ou
seja, toda a desgraa lanada sobre a Petrobras decorre de que a gatunagem foi
constatada, abriram-se inquritos com numerosas prises de corruptores e
corrompidos.
Era possvel, anteontem, ouvir a notcia da reunio de Dilma Rousseff e Graa
Foster, para o afastamento da presidente da Petrobras, e logo a notcia de que "a
Petrobras bateu o recorde de produo em dezembro". Que associao se
poderia fazer entre os dois fatos to ntimos entre si, a no ser sua naturalidade
brasileira?
Pior para quem ouviu tais notcias e no mesmo dia leu, do autor pago de um
parecer favorvel a impeachment de Dilma, que a "insistncia, no seu primeiro e
segundo mandatos, em manter a mesma diretoria que levou destruio da
Petrobras" caracterizou improbidade. Essa Petrobras "levada destruio"
conseguiu em 2014, portanto quando os diretores a destruam, o recorde da
produo de derivados com 2,17 milhes de barris de petrleo por dia. O sexto
recorde anual seguido, sendo este ltimo, deduz-se, de produo
fantasmagrica.
A "insistncia" de Dilma, "no seu primeiro e segundo mandatos", em "manter a
mesma diretoria que levou destruio da Petrobras" contm importante
revelao: a empresa tinha duas diretorias paralelas. Uma, presidida por Graa
Foster, substituiu a existente no governo Lula. A outra, imperceptvel a olhos
comuns como os nossos, mas captada pela viso de pareceristas bemaventurados e ficcionistas consagrados.
Neste ltimo caso se encontrou a tambm novidadeira informao, por um dos
nossos cronistas, de que "o maior acontecimento" do governo Dilma "foi o
rombo criminoso da Petrobras". No creio (bem, s porque no sou homem de
f) haver alguma ponta de inteno na constante falta de clareza, quando citada
uma gatunagem, sobre o perodo em que se deu. Nem por isso se fica impedido
de ver que o maior acontecimento do governo Dilma deu-se no governo Lula.
primeira vista, s um escorrego crnico, mas que pe Graa Foster, uma
pessoa a ser respeitada, sob a acusao de presidir "o rombo criminoso da
Petrobras".
No se sabia que o petrleo torna as pessoas sentimentais. Mas ontem se teve a
notcia de que a Petrobras recebeu o OTC-2015, o Distinguished Achievement
Award for Companies, Organizations and Institutions, "o mais importante para
operadoras off-shore". O prmio foi em reconhecimento ao "conjunto de
tecnologias desenvolvidas para a produo na camada pr-sal". Mas, percebe-se,
foi s por nostalgia, para uma empresa que deixou de existir, para a destruda
Petrobras.
PETROLO
mortos. Seu cinturo no explodiu. Ela foi detida e acabou sendo condenada
morte em 2006.
O outro executado Ziad al-Karbouly, um ex-assessor de Abu Musab alZarqawi, lder da Al Qaeda no Iraque j morto.
Ele foi condenado morte em 2008 por planejar ataques contra jordanianos no
Iraque.
Mohammed al-Momani, porta-voz do governo da Jordnia, informou que as
execues ocorreram na priso de Swaqa, a 80 km de Am, a capital do pas,
onde os dois estavam presos.
Os extremistas sero enterrados em local no divulgado pelas autoridades.
'RESPOSTA SEVERA'
O rei da Jordnia, Abdullah 2, que na tera (3) j dissera que a morte do piloto
seria vingada e que a presso contra os terroristas aumentaria, prometeu
"resposta severa" para o assassinato, mas sem detalhar aes.
Em comunicado lido na TV estatal nesta quarta (4), ele afirmou que o EI no
est lutando apenas contra o seu pas, mas est em guerra contra o prprio "isl
nobre".
Lderes polticos e religiosos disseram que o brutal assassinato do piloto vai
contra os ensinamentos do isl.
Da mesquita de Al-Azhar, no Cairo, um dos maiores centros de ensinamento do
isl sunita, o im Ahmed al-Tayeb disse que os militantes do EI merecem a
punio da morte, da crucificao ou da amputao dos braos previstas no
Alcoro por serem inimigos de Deus e do profeta Maom.
"O isl probe a eliminao de uma vida inocente. Ao queimarem vivo o piloto,
os militantes do EI violaram a determinao do isl que veta a imolao ou a
mutilao de corpos, mesmo durante uma guerra", afirmou o im.
Aps a divulgao da morte do piloto, centenas de jordanianos foram ao palcio
real pedir maior presso contra o Estado Islmico. Alguns manifestantes
pediram que a faco seja destruda.
Em Karak, cidade natal do piloto, dezenas de manifestantes atacaram um prdio
do governo e culparam as autoridades por no fazer nada para salv-lo.
CLVIS ROSSI
A falncia e o deboche
informativa foi dito que somente seis meses depois seria possvel comear a
frequent-los de forma a valer para seu cumprimento. A alegao era falta de
vaga.
Mesmo com dezenas de grupos na cidade, apenas trs contavam oficialmente. E
no estavam lotados. Como funcionam independentemente das regras da
habilitao, decidimos ir a reunies de um deles, o que foi possvel sem
problema.
O objetivo era retardar a entrada oficial dos documentos para a habilitao.
Assim, as estatsticas de desempenho melhoram, embora no correspondam
realidade.
Outro exemplo foi a demora de quatro meses para ser concludo o relatrio da
visita de 20 minutos do assistente social. Mesmo o juiz extrapolou o tempo que
tinha para deferir ou no a habilitao e, quando o fez, colocou a data do
primeiro dia de prazo.
Claro, o Estado precisa avaliar com cuidado as pessoas para quem sero
entregues crianas que j enfrentam uma situao de abandono ou risco. Ainda
assim, quase desnecessrio lembrar o quanto essas crianas so prejudicadas
por tamanha demora numa etapa preliminar da adoo.
O segundo problema foi que no meu Estado a Justia ainda permitia, embora o
sistema de assistncia social dificulte, a adoo consensual: pais biolgicos que
querem dar o filho para a adoo de um determinado casal ou pessoa. Nesse
caso, a habilitao pode ser agilizada.
Em outros lugares isso proibido em razo, por exemplo, do risco de comrcio.
Sou testemunha disso. Por um advogado, conhecemos uma jovem que j tinha
dado um beb adoo consensual e estava grvida novamente. Em troca,
queria uma ligadura de trompas. Dissemos que por lei no poderamos pagar
por isso. Mas era possvel orient-la a procurar no SUS.
Ao nascer, o beb precisou de dez dias de internao com a me para
amament-lo. Apesar de nossas visitas e do acerto dos procedimentos, os pais
desistiram na ltima hora. Como no nos avisaram, fomos at sua casa para
ouvir o que no queramos acreditar. Vendo a criana que j tinha como filho,
no posso garantir que, se tivesse ocorrido, teria recusado um pedido de
dinheiro.
A adoo consensual deveria acabar de vez. Soa como atalho para quem capaz
de acionar uma rede de relaes, em particular via advogados da rea. Porm,
alm do risco de comrcio, injusta com os demais adotantes e no traz ganho
para a criana. Seu caso mais comum, o de bebs, tem adoo rpida.
Se os pais biolgicos no querem criar um filho, devem entreg-lo ao Estado,
que o destinar adoo conforme as filas de espera. Havendo agilidade, todos
(crianas, pais biolgicos e adotivos e a sociedade) so atendidos.
Conheci timos profissionais. O sistema tem vrias coisas boas. Contudo, minha
experincia ruim no deve ser to rara.
Foi a fertilizao in vitro que acabou nos dando nossas filhas. A elas, a recmchegada Rosa e Dolores, dedico a coluna. E tambm ao filho que chegamos a ter,
a quem desejo que esteja muito bem com a famlia que decidiu se esforar para
ficar com ele.
PASQUALE CIPRO NETO
1,00 - com - aparelho" (no havia esses tracinhos; eu os pus para indicar as
quebras de linhas que havia no cartaz).
Munido de R$4, um cliente entrou na loja e foi logo pedindo quatro aparelhos,
com os respectivos chips, claro. Estabeleceu-se a confuso. A polcia foi
chamada etc. Um atendente da loja disse que a inteno era informar que, na
compra de qualquer celular, o chip custaria R$1, mas, como diz um velho
ditado, de boas intenes o inferno est mais que cheio.
A construo no mnimo ambgua. As frases que expressam a real inteno do
redator exigem um verbo ou um substantivo que designe "o ato de". Nesse tipo
de mensagem, a ausncia desses termos muito comum e se explica pelo
imediatismo que se quer alcanar.
Posto isso, convm citar algumas das possveis solues (que vou escrever com a
forma e a pontuao de um texto "corrido"): "Oferta imperdvel: na compra de
um celular, chip (da) Vivo por R$1"; "Oferta imperdvel: na compra de um
celular, o chip (da) Vivo sai por R$1".
A imprensa noticiou o fato como "erro de portugus". muito mais do que um
simples erro de portugus; na verdade nem propriamente erro de portugus.
erro de pensamento, de lgica, de raciocnio.
Pergunto, pela ensima vez: no difcil ser claro quando se escreve, ? E por
que ser que esses desvios que vimos so to frequentes? Arrisco um palpite:
falta raciocnio complexo, falta desconfiar da obviedade da linearidade, falta
releitura da prpria escrita, falta... isso.
ANLISE
Ela filha de Leci Brando e irm gmea de John Lennon. Usa culos de sol,
carrega um celular a tiracolo e passa at perfume. Tem seis anos e traumas de
infncia --foi abandonada pela me.
No ltimo sbado (31), a ovelha Madonna viveu outro acontecimento triste: foi
sequestrada. Agora, os autores do crime pedem R$ 10 mil para libert-la.
O pedido de resgate foi escrito num pedao de papelo, com local e hora para o
pagamento. Madonna dcil e conhecida na rea rural de Jundia (a 58 km de
So Paulo).
O prazo venceu e o dono, um cuidador de animais que diz no ter o dinheiro do
resgate, acionou a polcia. Ainda no h pistas dos suspeitos.
Osvaldo Nelson Igncio Matioli, 59, se diz "despedaado" com o
desaparecimento de sua ovelha.
"Ela foi arrastada. Arrombaram a cocheira onde ela estava e levaram a
Madonna. Todo mundo a conhece porque vou para a cidade com ela. Ela virou
uma popstar."
O sumio foi notado na manh de sbado por um primo do cuidador. Ele chegou
para tratar do animal, que estava numa chcara prxima de Matioli, mas no o
encontrou.
Mais tarde, Matioli achou o bilhete, que levou polcia.
O dinheiro, dizia o cartaz, deveria ser colocado debaixo da ponte do rio Jundia
at o fim de domingo (1). O cuidador afirmou que foi at o local, mas no
encontrou ningum. "No tenho dinheiro. S tenho uma Parati 68 que est
muito velha", disse.
O delegado Daniel Juns, do 3 DP de Jundia, informou por meio de assessoria
que o caso de Madonna ser encaminhado para investigao na DIG (Delegacia
de Investigaes Gerais) da cidade.
Sem trauma
Corinthians espanta 'fantasma' com goleada e est perto de entrar no grupo do
So Paulo na Libertadores
ALEX SABINOMARCEL RIZZODE SO PAULO
Salvo tome uma virada de propores picas, o Corinthians garantiu que far
um clssico contra o So Paulo no Itaquero, no prximo dia 18, Quarta-Feira
de Cinzas.
Decifra-me ou te devoro
'O Jogo da Imitao' leva ao cinema o enigma Alan Turing, matemtico que
desvendou cdigos nazistas e foi condenado por ser homossexual
MARCELO GLEISERESPECIAL PARA A FOLHA
"s vezes, so aqueles que ningum imagina poder fazer algo que fazem algo
que ningum pode imaginar." Essa a frase central de "O Jogo da Imitao", o
filme sobre o matemtico britnico Alan Turing, um dos mais ilustres e mais
desconhecidos cientistas da histria.
"O Jogo da Imitao", filme que estreia nesta quinta (5), passa por cima desses
detalhes para contar a histria do cientista que decifrou cdigos militares
usados pelos nazistas e ajudou os Aliados a vencer a Segunda Guerra. Na tela,
Turing (Benedict Cumberbatch) retratado de forma bem mais pudica e agindo
de maneira absolutamente aptica, alheio a todos ao redor.
"No pretendemos ser a ltima palavra sobre ele, apenas a primeira", diz
Folha o roteirista e produtor-executivo do longa, o americano Graham Moore,
indicado ao Oscar por roteiro adaptado --uma das oito estatuetas a que "O Jogo
da Imitao" concorre, incluindo melhor filme.
F de Turing desde a poca em que era "um adolescente estranho e sem muitos
amigos", Moore, 33, conta que escreveu a primeira cena do roteiro aps
"algumas doses de usque" numa viagem de avio. " a histria de algum que
nunca se encaixou socialmente e por isso via o mundo de forma diferente e pde
conquistar o que conquistou."
Em 2011, o roteiro, o primeiro escrito por Moore, encabeou a lista do site "The
Black List", que rene scripts ainda no rodados.
MANIFESTO OU EQUVOCO?
A maior parte da trama, com clima de filme de espionagem, envolve Turing e
sua equipe tentando desvendar o Enigma, o tal dispositivo alemo que enviava
mensagens em cdigo para coordenar os ataques militares aos Aliados.
Fora um frustrado amor na infncia e a meno a um amante de 19 anos que
nunca aparece em cena com o protagonista, o filme ignora sua vida afetiva e
prefere centrar fogo na relao platnica entre Turing e sua assistente,
interpretada por Keira Knightley.
Em janeiro, Andrew Hodges, autor do livro que embasou o roteiro, disse
Folha que o filme pecava por no dar o devido peso vida sexual do
matemtico, que se submeteu a uma castrao qumica aps ser condenado
pelas leis "anti-indecncia" da Inglaterra dos anos 50.
Apesar da omisso, a organizao Human Rights Campaign abraou o filme
como uma espcie de manifesto gay, publicando anncios de pgina inteira nos
jornais "The New York Times" e "Los Angeles Times" pedindo aos membros da
Academia para votar em "O Jogo da Imitao" para o Oscar.
"A campanha fantstica, mas no h filme mais equivocado em que se apoiar",
escreveu Tim Teeman, editor de cultura do site "The Daily Beast". "No h
nenhuma fagulha sequer de desejo gay nas telas."
Graham Moore se defende: "Tudo indica que ele era celibatrio, mas no por
opo, e sim porque ser gay era ilegal. Ainda assim, sua mente era muito lgica,
matemtica: ele no conseguia conceber nada de errado nessa orientao."
CRTICA - CINEMA/FICO CIENTFICA
FOLHA 06-02-2015
EDITORIAIS
Duros golpes
Dilma sofre forte desgaste ao longo da semana, e situao do PT se
complica ainda mais com desdobramentos do escndalo da
Petrobras
Os papeis da Petrobras se valorizaram mais de 20% na Bolsa desde a sexta-feira
da semana passada, quando haviam atingido seu menor preo em 11 anos.
Ainda assim, o governo federal, principal acionista da empresa, no teve
nenhum motivo para comemorar.
Na tera-feira (3), a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu as cartas de
renncia de diretores da estatal. Precisando de tempo para encontrar
substitutos, combinou com Graa Foster, chefe da Petrobras, que o grupo sairia
no final deste ms, aps a publicao do montante desviado por corrupo.
Menos de 24 horas depois do acerto, contudo, cinco dos sete diretores
rejeitaram o cronograma, e a troca no comando da empresa ser confirmada
nesta sexta-feira (6).
Se se tratasse de uma estatal qualquer, j seria uma situao indigesta para
Dilma; estando em jogo o futuro da maior companhia do pas, a abdicao
coletiva representou um durssimo golpe contra a petista. E era s o primeiro.
Na prpria quarta-feira (4), 182 deputados federais preencheram requerimento
para a abertura de nova Comisso Parlamentar de Inqurito sobre o escndalo
da Petrobras. Prostrado, o Planalto viu o nmero mnimo de assinaturas (171)
ser ultrapassado com a ajuda de 52 parlamentares governistas.
Por dever de ofcio e provvel satisfao pessoal, o presidente da Cmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou a CPI no dia seguinte. Sua instalao, porm,
deve ficar para depois do Carnaval, quando sero indicados seus integrantes.
Com alguma razo, o ministro Pepe Vargas (Relaes Institucionais) lembrou
que as CPIs perderam o protagonismo que tiveram no passado --mas talvez
tenha se esquecido de que a base de Dilma no Congresso mostra-se a cada dia
mais alheia aos interesses do PT.
Seja como for, Vargas tambm observou que, atualmente, ganharam destaque
os rgos de investigao, como a Polcia Federal e o Ministrio Pblico. De
fato.
Soube-se nesta quinta-feira (5), por exemplo, que Pedro Jos Barusco Filho, exgerente da Petrobras, estima que o PT tenha recebido at US$ 200 milhes, de
2003 a 2013, a ttulo de propina em contratos da estatal. O clculo consta de
depoimento prestado em novembro, fruto de acordo de delao premiada feito
com procuradores.
Em seu testemunho, Barusco d detalhes precisos sobre o esquema, incluindo a
participao de Joo Vaccari Neto, tesoureiro do PT j citado por outros
delatores.
No pouco sendo esta somente a primeira semana de trabalho do Judicirio e
do Legislativo em 2015. Prestes a completar 35 anos, o Partido dos
Trabalhadores tem poucos motivos para comemorar.
HLIO SCHWARTSMAN
Impeachment golpe?
SO PAULO - "Qualquer deputado pode pedir Mesa da Cmara a abertura
de processo [de impeachment] contra o presidente da Repblica. Dizer que isso
golpe falta de assunto." A frase no de um tucano em busca do 3 turno,
mas de um petista insuspeito. Ela foi articulada por Jos Dirceu em 1999,
quando o PT liderava um movimento para afastar o ento recm-reeleito
Fernando Henrique Cardoso, que, como Dilma, perpetrara um estelionato
eleitoral ao manipular o cmbio em favor de sua candidatura.
Trago essas incmodas lembranas numa tentativa de flagrar o militante,
petista ou tucano, no ato de aplicar pesos diferentes mesma medida. Se
deixarmos de lado a paixo poltica para tentar pensar os conceitos com rigor,
teremos de concordar com Dirceu. O impeachment o contrrio de um golpe.
Trata-se de um mecanismo constitucionalmente previsto que pode ser utilizado
para sair de certas crises. Embora seja um processo traumtico, certamente
prefervel a tanques nas ruas.
Como toda relquia institucional, o impeachment encerra ambiguidades. Ele
surgiu na Inglaterra medieval como um procedimento penal. Para que seja
aplicado, a autoridade precisa ser acusada de um "crime de responsabilidade".
Mas a definio do que seja esse tal de crime de responsabilidade
suficientemente aberta para comportar qualquer coisa, o que permite que o
instituto seja utilizado como instrumento poltico.
Na prtica, o impeachment um mecanismo de revogao de mandato
travestido de trmite judicial. Seria legal troc-lo pelo mais moderno recall de
voto, que existe na Venezuela e em pores dos EUA, mas improvvel que
legisladores transfiram populao um poder que hoje seu.
Quanto a Dilma, no creio que ela ser afastada nem o desejo. sempre mais
didtico quando o governante conclui seu mandato. nessas horas que o eleitor
decide se vai ou no rejeitar as polticas por ele adotadas.
LUIZ FERNANDO VIANNA
O vazio poltico
RIO DE JANEIRO - A Petrobras perdeu diretoria e muito dinheiro. O governo
federal desmorona. Governantes estaduais e municipais esto com um olho na
falta de gua e outro na Lava Jato --ambos os olhos quase fechados de tanto
medo. O Congresso virou um navio de piratas orgulhosos de sua podrido.
Como diria Agamenon Mendes Pedreira, jornalista inventado pelo Casseta &
Planeta, at a tudo bem.
O mais doloroso a inexistncia de ofertas (e de interesse?) de sadas polticas,
no sentido maior do adjetivo, no no dado pelo PMDB e pelos PQPs que o
seguem.
Nas ltimas duas dcadas, o PT e o PSDB, apesar de tropeos, foram as legendas
que mantiveram a poltica institucional num nvel um pouco acima do volume
morto. E agora?
O PT parece aquele cachorro que, depois de anos fazendo coc atrs da cortina,
espanta-se por ter sido descoberto. Est com o rabo sujo entre as pernas e sem
coragem de botar o focinho na rua, seja para o que for: pedir desculpas,
defender conquistas, propor metas de governo e de ao poltica mais limpas e
concretas, assumir-se como um ator que no tem o direito de se esconder.
A revolta do maior lder do PSDB se resume a deixar crescer a barba e dizer que
as denncias de corrupo so "estarrecedoras". penria esttica e estilstica
se somam os flertes do partido com o golpismo. No custa lembrar a Acio
Neves que, quando Carlos Lacerda tentou enxotar Getlio Vargas, era do lado da
legalidade que estava seu av Tancredo Neves.
Ficaram, governo e oposio, refns de Eduardo Cunha. O primeiro, por
covardia e burrice; a segunda, por oportunismo. Entregaram o ouro ao bandido.
Sobramos ns, populao, divididos, perplexos, receosos, sem saber por onde
retomar o fio das manifestaes de 2013. Mas no ser dos gabinetes que vir
uma sada.
ALCINO LEITE NETO
contou Barusco. A propina no caso dos navios foi de 1%, mas em outras
diretorias chegava a 2%, segundo ele.
O ex-gerente tambm forneceu documentos que, diz ele, comprovam os
pagamentos realizados pelos estaleiros em contas na Sua.
Segundo o delator, o 1% sobre o valor dos contratos era dividido da seguinte
forma: "2/3 [dois teros] para Vaccari; e 1/3 para 'Casa 1' e 'Casa 2'". A "Casa 1",
para o ex-gerente, era o termo usado para o pagamento de propina para Duque
e Roberto Gonalves. Citado pela primeira vez, Gonalves substituiu Barusco no
cargo de gerente.
A "Casa 2" referia-se "ao pagamento de propinas no mbito da Sete Brasil".
Barusco citou Joo Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e
Eduardo Musa, diretor de participaes.
Barusco aposentou-se da Petrobras em 2010 e foi diretor da Sete Brasil de 2011
a 2013. A Sete Brasil foi criada para atuar no mercado de sondas do pr-sal e
tem como scios fundos de penso como o Previ e os bancos BTG Pactual e
Bradesco.
O ex-gerente entregou aos procuradores planilha em que detalha a diviso de
propina num total de 89 contratos.
REINALDO AZEVEDO
O chefe do galinheiro
As empreiteiras so, at aqui, as vils do petrolo. Mas o Estado
quem foi tomado de assalto
Uma espcie de jacobinismo sem utopia --formado de preconceitos contra o
capital e sem nenhuma imaginao-- estava tomando conta do noticirio sobre a
Operao Lava Jato. Algum ainda acabaria sugerindo que se enforcasse o
ltimo defensor do Estado burgus com a tripa do ltimo empreiteiro. A
distoro era fruto da hegemonia cultural das esquerdas no geral e do petismo
em particular, financiada, em parte, pelos... empreiteiros! A histria no
plana.
Era assim at ontem --refiro-me ao tempo fsico propriamente, no ao histrico.
Nesta quinta, veio luz parte do contedo do depoimento de Pedro Barusco
Justia. Ele estima que, entre 2003 e 2013, Joo Vaccari Neto, o tesoureiro do
PT, recebeu entre US$ 150 milhes e US$ 200 milhes de propina decorrente
de contratos das empreiteiras com a Petrobras.
As empreiteiras so, at aqui, as vils do petrolo --e no sugiro que sejam
transformadas nem em vtimas nem em heronas. A questo saber quem
Se, de todos os seus primos, aquele que tem cara de que pode assassinar a
famlia inteira a qualquer momento o seu preferido, e, se de todas as suas
namoradas, aquela que faria da tua vida um inferno a nica que vez ou outra
aparece num sonho ertico, no deixe de assistir essa maravilha.
Voc j se pegou querendo dar uma joelhada no queixo dos civis da-casa-prafirma-da-firma-pra-casa-sempre-pensando-positivo-e-postando-foto-de-prdo-sol-irado? Procura veneno na alminha alheia, o tempo todo, pra no morrer
de tdio? Acha gente muito bonita e muito magra e muito rica e muito sem
glten e muito "acordo cedo pra correr" e muito suco detox a coisa mais
invejvel do mundo por dez segundos at ter muita vontade de explodi-los todos
numa balada trance em Jurer Internacional? Em suma: valoriza mais o que a
pessoa ao lado faz com a prpria angstia do que com os msculos e a conta
bancria? Ento Olive na cabea!
ILUSTRADA - EM CIMA DA HORA
"Sem desrespeito, mas o [voto do] Corinthians no pode valer menos que o da
Federao do Acre. A Federao do Acre no deveria participar de nada. Os
clubes, sim", opina.
No que pretenda negligenciar o que acontece dentro de campo no Corinthians.
"Os ttulos viro", garante.
O OUTRO CANDIDATO
A Folha pediu tambm uma entrevista ao candidato da situao, Roberto de
Andrade. Alegando estar com a agenda lotada antes da eleio, ele disse que no
poderia atender reportagem.
Ainda em marcha
Subestimado pelo Oscar, filme sobre Martin Luther King acirra debate sobre
questo racial
SYLVIA COLOMBODE SO PAULO
1965 ou 2015?
O filme "Selma", que retrata as marchas comandadas por Martin Luther King
(1929-1968), no Alabama, para assegurar o direito de voto dos negros, ganhou
uma incmoda atualidade.
Ao chegar aos cinemas dos EUA, em novembro passado, as ruas ainda ferviam
por conta dos protestos motivados pela srie recente de assassinatos de
cidados negros desarmados por parte da polcia.
As crticas, a maioria positivas, pegaram carona no grito das ruas e ressaltaram
o quanto o pas ainda tem de avanar para cumprir o "sonho" de King, e para
afastar-se do nefasto bordo do ento governador do Alabama, George Wallace,
interpretado no filme por Tim Roth: "Segregao hoje! Segregao amanh!
Segregao para sempre!".
A bronca sobe de tom agora, quando as indicaes para o Oscar menosprezaram
a obra. O filme, que estreou nesta quinta-feira (5) no Brasil, concorre no
prximo dia 22 em apenas duas categorias --melhor filme e melhor cano
original.
O escritor e colunista do jornal "The New York Times" David Carr foi um dos
que atacaram duramente a Academia "composta por 93% de brancos, 76% de
homens e com uma mdia de idade de 63 anos".
Para Carr, a diretora negra Ava DuVernay deveria figurar entre os indicados.
"No h um negro entre os 20 indicados a melhor ator e coadjuvante.
Indicaes importam, e significariam muito no momento que estamos vivendo."
Mas barulho mesmo esto fazendo apoiadores de Lyndon B. Johnson (19081973). Segundo eles, o ento presidente est representado de forma equivocada,
e muito negativa, na obra.
Interpretado por Tom Wilkinson, o personagem surge como principal obstculo
na campanha levada adiante por Luther King.
"O filme, de fato, no muito justo com relao a ele. Johnson amenizou as
posies mais extremas e segregacionistas que existiam na poltica", diz o
professor de cinema e histria da Universidade de Michigan, Fernando Arenas.
AULA DE HISTRIA
Mark Updegrove, diretor da biblioteca de Johnson, e Joseph Califano, assistente
do presidente, saram a defender o ex-chefe e acusaram DuVernay de faltar com
a verdade histrica.
Numa carta ao jornal "The New York Times", o jornalista Gay Talese, que cobriu
os protestos em 1965 e retratado no filme, respondeu a Updegrove e Califano,
defendendo a leitura da diretora.
DuVernay admite que tomou liberdades, mas que seu filme no se props a ser
um documentrio ou uma aula de histria.
"Entendo a defesa de uma liberdade potica no cinema. Porm, num filme como
esse, que vai virar referncia para explicar o movimento negro nos anos 1960, a
cineasta deveria levar em conta que tem, sim, um compromisso com a histria",
diz Arenas.
Marley, 70
Americano ocupa seis quartos com arquivos do jamaicano; a coleo j recebeu
visitas de Keith Richards e foi base para livros e documentrios
"Bob teve sorte de morrer quando morreu porque sua reputao ficou intacta.
Anos mais tarde e ele no seria a figura que reverenciamos", diz Steffens,
conhecido pelas fotos psicodlicas que tirou ao longo da vida, reunidas neste
ano no livro "The Family Acid" (ed. SUN Editions).
FERNANDA TORRES
O Imprio Colonial
Existe o mito de que, nesta terra, em se plantando, tudo d. Ainda
vivemos as fantasias da poca colonial
A memria do monarca que transferiu a corte portuguesa para o Rio de Janeiro,
salvando a coroa das garras de Napoleo, desaparece dos livros didticos de
Portugal no momento em que ele deixa o porto de Lisboa.
Nenhum puto aprende na escola o que a presena de D. Joo 6 significou para
o Brasil.
Como que por desforra, ns tambm, colonos, ignoramos o destino de D. Pedro
1, tornado 4 em Portugal, assim que ele abandona o Brasil para garantir os
interesses reais da famlia na Europa.
Uma esttua imponente de Pedro 4 a cavalo domina a praa do Rossio, em
Lisboa, mas os brasileiros que circulam por ali, todos os dias, o encaram como
um ilustre desconhecido.
O desprezo ao passado comum ainda mais acentuado quando se trata da
frica.
Janto com o escritor angolano Jos Eduardo Agualusa na capital lusitana.
Agualusa um intelectual branco, perseguido por suas posies contrrias ao
partido que se perpetuou no poder aps as guerras de independncia e civis, que
se estenderam desde 1970 at o ano 2002 em Angola.
Seu ltimo livro narra a saga de uma guerreira de nome Ginga, que se aliou aos
holandeses desejosos de interromper o lucrativo trfico negreiro entre Portugal
e Brasil.
Contempornea daquele que visto como nosso maior traidor, Domingos
Fernandes Calabar, Ginga foi derrotada por foras lideradas por Salvador
Correia de S, descendente de Estcio e Mem, fundadores da cidade do Rio de
Janeiro.
Foram os brasileiros que reconquistaram Angola, afirma o escritor.
Agualusa me explica que Luanda uma das cidades mais caras do planeta. A
populao se divide entre o povo carente e uma casta ligada ao partido poltico
que, apesar das eleies, nunca deixou o poder.
Ao contrrio do Brasil, a concentrao de riqueza em Angola no se divide por
cor. A aristocracia africana fez fortuna com o comrcio de escravos e goza dos
mesmos privilgios da elite branca daqui.
A herana escravocrata define, at hoje, as relaes sociais das colnias. A
diferena que o Brasil formou uma classe mdia capaz de impulsionar o
consumo e exercer presses democrticas. Angola, no.
Dona de uma das maiores reserva de petrleo e de diamantes do planeta, a
potncia africana vive um perodo de expanso econmica, mas o furor
predatrio dos seus governantes deixa qualquer petrolo no chinelo.
Isabel dos Santos, a mulher mais rica da frica, filha do presidente angolano,
Jos Eduardo dos Santos. Os privilgios no se limitam famlia do presidente.
O primeiro canal pago de TV angolano, por exemplo, tem como acionista o
general Manuel Hlder Vieira Dias, mas Isabel um caso especial.
Em 1999, sem explicaes ou concorrncia pblica, a jovem se tornou scia da
estatal Endiama, que detm os direitos sobre a explorao de diamantes no pas.
O mesmo ocorreu com a empresa de telefonia, a Unitel.
Desde ento, sua participao no controles de bancos e grupos no para de
crescer. E seus interesses atravessaram fronteiras, chegando at Portugal, onde
comanda empresas de eletricidade e telefonia.
O estopim da crise que levou a falncia do Banco Esprito Santo, o BES, em
2014, teve origem em Angola.
Fundada no sculo 19, a maior instituio privada de Portugal maquiava sua
sade financeira promovendo emprstimos entre empresas do grupo. O BES fez
um mtuo bilionrio para o BESA, o Banco Esprito Santo de Angola, com
garantia pessoal do presidente africano.
Para surpresa do BES, Eduardo dos Santos revogou o aval aps a transferncia
do valor, e o banco ficou a descoberto. A crise acendeu o alerta dos investidores
que abriram a caixa de pandora da financeira.
O caso terminou em falncia. Parece vingana histrica, talvez seja.
Os descalabros revelados pelas denncias da Operao Lava Jato no diferem
da maneira com que Eduardo dos Santos confunde os seus interesses com os do
povo.
Os partidos polticos tendem a repetir o mesmo no Brasil.
FOLHA 07-02-2015
HLIO SCHWARTSMAN
Ainda o impeachment
SO PAULO - Como o espao desta coluna meio apertadinho, no deu para
desenvolver no texto de ontem as razes pelas quais no acredito muito que a
presidente Dilma Rousseff venha a sofrer impeachment e nem os motivos pelos
quais no desejo que isso ocorra. Como alguns leitores escreveram me
indagando sobre esses pontos, volto ao tema.
Hoje, a cada desdobramento da Operao Lava Jato, a situao parece ficar pior
para o governo do PT e para Dilma. preciso considerar, porm, que nossa
amostra , por assim dizer, viciada. Por enquanto, esto sendo divulgadas s
acusaes referentes a indivduos que no tm foro privilegiado. Dentro de
algumas semanas, quando vier luz a parte atinente a polticos, que tramita no
STF, a distribuio das suspeitas deve ficar um pouco mais democrtica.
Se as informaes de bastidores publicadas na imprensa so corretas, gente
importante de outros partidos tambm vai ganhar espao no noticirio.
Especula-se at que os nomes dos presidentes da Cmara e do Senado podero
aparecer. No impossvel que o Legislativo saia to ou mais fragilizado quanto
o Executivo.
E esse o tipo de situao que gera pizza. Sem um fato novo que ligue
diretamente Dilma a um malfeito, o mais provvel que parlamentares faam
algum teatro, mas, no fundo, trabalhem para que o "status quo", do qual so
beneficirios, seja mantido.
E por que o impeachment indesejvel? Destituir a presidente no seria o
melhor meio de "cortar o mal pela raiz", como escreveram alguns leitores? No
gosto da ideia de reduzir o problema da corrupo ao nome de Dilma. Nada
indica que ela seja a mentora nem a maior favorecida pelo esquema. Creio que
faz mais sentido que as pessoas possam ver o resultado das polticas que ela
adotou e tenham a chance de rejeit-las. Esse processo de excluso de ms
ideias, que a base do avano institucional, fica mais transparente quando os
governantes concluem seus mandatos.
RUY CASTRO
roqueiros chegou ao auge. Um deles, Rod Stewart, disse com desprezo: "Ns no
somos Frank Sinatra". Queria dizer que no eram caretas, no cantavam
canes romnticas, no usavam smoking, no faziam shows em Las Vegas e
no eram amigos de presidentes dos EUA. Eram "rebeldes". Embora o rock os
tivesse tornado milionrios, era preciso manter a aura de "rebeldia".
Mas, j ento, um certo padro se afirmara. Se a carreira de um deles parecia
emburacar, ele se convertia aos standards --o repertrio de Sinatra. O primeiro
foi Ringo Starr, o nico Beatle incapaz de sobreviver sem os Beatles. Em seu
disco "Sentimental Journey", de 1970, ele -- cantando!-- submeteu clssicos
como "Night and Day" e "Stormy Weather" a um massacre que Lennon e
McCartney nunca o deixaram fazer com as canes deles.
Depois, foi a cantora Linda Ronstadt. Em 1983, com suas vendas minguando,
ela gravou um LP, "What's New", todo de standards e com arranjos de... Nelson
Riddle --o mesmo de Sinatra--, com o qual voltou s paradas. E, de 2002 a
2010, quem lanou cinco lbuns intitulados "The Great American Songbook",
destruindo dezenas de canes com sua voz de lata? Rod Stewart. Que faz show
hoje em Las Vegas, de smoking e cantando standards.
Agora a vez de Bob Dylan assassinar canes indefesas, como "Autumn
Leaves" e "Why Try to Change Me Now?", em seu novo disco "Shadows in the
Night".
Pensando bem, what's new? Roberto Medina contou outro dia a "O Globo" que
s conseguiu produzir o primeiro Rock in Rio, em 1985, porque Sinatra (que ele
trouxera ao Rio em 1980) garantira sua seriedade para os empresrios
americanos --inclusive o de Rod Stewart.
PETROLO
Corpo de delito
Dilma desperdiou a chance de queimar sua bandeira mais
querida, apontando um homem de preto para resgatar a Petrobras
Joaquim Levy um homem de preto; Aldemir Bendine, no. Ao nomear Levy,
Dilma Rousseff abdicou do comando da poltica econmica. A escolha de
Bendine, pelo contrrio, indica que Dilma no queimou todas as bandeiras. O
executivo subserviente ao Planalto, alado presidncia do BB por Lula, no
equivale a Sergio Gabrielli, mas algo como uma Graa Foster sem a
experincia no setor petrolfero. A presidente almeja conservar o controle direto
sobre a Petrobras. Ela no compreende a raiz da crise --e ainda imagina que
pode ter um almoo grtis.
Gabrielli, o anjo que presidiu a Petrobras entre 2005 e 2012, desfiou a verso
lulopetista sobre a crise. Ao jornal "Valor", o "amigo do povo" disse que a
oposio inflaciona episdios perifricos de corrupo com as finalidades
destruir a estatal e abrir o pr-sal explorao gananciosa das empresas
petrolferas internacionais. O jornalismo oficialista reproduz a essncia do
diagnstico fantasioso, com a prudente ressalva ocasional de que, talvez, a
corrupo seja mais que insignificante. A opo por Bendine evidencia a adeso
de Dilma a esse conto de fadas.
Na entrevista de Gabrielli, existe uma noz de verdade: por maiores que sejam,
os nmeros do "petrolo" empalidecem sobre o pano de fundo da
movimentao financeira da Petrobras. Os desvios de bilhes de dlares em
contratos superfaturados, abastecimento de partidos e formao de patrimnios
privados catalizaram o desenlace, mas o colapso financeiro da estatal estava
escrito nas estrelas. A sua raiz encontra-se na diretriz poltica definida pelos
"amigos do povo" desde, pelo menos, a descoberta das jazidas do pr-sal. A
Petrobras ingressou em espiral falimentar porque metamorfoseou-se de
empresa pblica em ferramenta do neonacionalismo reacionrio.
O crime, premeditado, foi cometido em meio aos acordes do verde-amarelismo
balofo e entre imagens de Lula e Dilma com macaces laranja e as mos sujas de
petrleo. No corpo de delito, destacam-se os superinvestimentos no pr-sal, a
sangria de capital provocada pela poltica de contedo nacional, a diversificao
Lula critica PT e diz que partido tem se tornado igual aos outros
Nos 35 anos da sigla, ex-presidente afirma que petistas praticam vcios que
sempre criticaram
Dilma defende estatal e diz que quem errou tem de pagar, mas que
preciso preservar a histria da legenda
CATIA SEABRAANDRIA SADIENVIADAS ESPECIAIS A BELO
HORIZONTE
Em um discurso para militantes no aniversrio de 35 anos do PT, o expresidente Luiz Incio Lula da Silva admitiu que o partido sofreu desgastes no
governo, lamentou a repetio de desvios e disse que a sigla est se tornando
igual a outras.
Lula esteve com a presidente Dilma Rousseff nas comemoraes dos 35 anos do
partido, em Belo Horizonte.
Segundo ele, o PT pratica vcios que sempre criticou na poltica tradicional. "
neste ambiente que alguns cometem desvios que nos envergonham. Precisamos
dar um fim a essa situao", discursou, sem citar casos de corrupo, como a
crise na Petrobras.
O ex-presidente lamentou que "o PT tem se tornado cada vez mais um partido
igual aos outros". "Cada vez mais deixando de ser um partido de base para se
transformar num partido de gabinete."
Segundo Lula, muitos petistas "esto mais preocupados em se manter nos
cargos. E essa a origem dos vcios da militncia paga".
Ele comparou a adoo de medidas amargas na economia ao tratamento contra
o cncer a que ele e Dilma foram submetidos. Para justificar, disse que os dois
so obrigados a tomar medidas que no querem. "Faa o que tiver que fazer.
Faa, Dilma. Um erro desastroso nosso seria no atender ao povo brasileiro."
Lula disse que ficou to indignado com a "conduo coercitiva" do tesoureiro do
PT, Joo Vaccari Neto, para depor Polcia Federal, que preferiu ler seu
discurso.
"Eles esto repetindo o mesmo ritual que comeou em 2005, quando
comearam as denncias que eles chamaram de mensalo", afirmou,
acrescentando: "na campanha, Dilma foi vtima disso como poucas vezes vi ser".
Lula tambm criticou a atuao da imprensa. "Eles trabalham com a convico
de que preciso criminalizar o partido, no importa se verdade ou no
verdade. O que importa a construo da narrativa".
Aps chamar o ex-presidente FHC de "prncipe da sociologia", Lula disse que a
oposio no tem autoridade para atacar o governo. "No se incomodam do
prejuzo que causaram Petrobras e ao Brasil. Eles vo prestar contas
histria".
Ao discursar, Dilma defendeu a Petrobras e, sem citar nomes, disse que quem
errou tem que pagar, mas que preciso preservar a histria do PT. "Se tiver
erro, aqueles que erraram paguem por eles. Mas devemos preservar a histria
deste partido e dos nossos governos."
A presidente no fez meno ao tesoureiro do PT. Ele estava presente no evento.
A petista disse que o partido tem que ter orgulho e no pode aceitar que
"alguns" coloquem a Petrobras como "vergonha". Afirmou ainda repudiar a
"tentativa de golpe contra a manifesta vontade popular", em recado a quem
prega que ela seja alvo de processo de impeachment.
Ela defendeu apurao das irregularidades: " fundamental que no deixemos
repetir nenhuma irregularidade dentro da Petrobras".
pode publicar qualquer coisa on-line, muito desse 'contedo' (sic) ser
propaganda ou puramente mentiras", termina.
Quem definiria o que contedo, sem aspas, e o que "contedo" --propaganda
ou puramente mentiras? O governo. Para ele, a regulamentao estatal a chave
para acabar com a maioria dos problemas da rede, desde os monoplios at o
"bullying" adolescente em redes sociais.
Os modos de fazer isso na prtica, entretanto, no so abordados. Em resumo, a
internet falhou em suas misses primordiais e mais importantes, o autor
conclui.
QUEM PERGUNTA
O livro permeado por um misto de amargura e arrogncia, soando falso
desdm pelos empreendedores da web, o que no justificado pelas credenciais
do autor. O que nos leva segunda questo posta a partir do ttulo do livro,
sobre quem pergunta.
Keen historiador com mestrado em cincia poltica pela Universidade da
Califrnia em Berkeley. Nos anos 1990, tentou empreender na web, da qual j
era considerado especialista. Falhou.
Em dado momento, qui em um surto de "sincericdio", Keen confessa: "No
era difcil ser especialista em internet naquela poca. Principalmente em teoria".
No eplogo, ele informa que pensou em dar ao livro o ttulo de "Epic Fail"
("fracasso pico"), uma popular gria da web. Seria mais apropriado.
Desencantamento
Que incentivo tm os polticos para reformar um sistema que lhes
tem gerado tantos benefcios?
Temos vivido um perigoso processo de desencantamento com a poltica. Razes
no faltam para esse mal-estar generalizado.
evidente que todos assistem bestializados dilapidao da principal joia da
coroa. O que causa mais perplexidade, no entanto, que o esquema de
rapinagem, que aparentemente irrigou as burras de partidos e polticos, no
tenha se sentido intimidado pela condenao de figuras importantes do
governo, no caso do mensalo. Isso aponta para verdadeiro deboche das
instituies de aplicao da lei.
Na caso da falta de gua, a desolao no menor. A crise de abastecimento
denota no apenas a incompetncia do governo em face das mudanas
climticas e da reduo da disponibilidade de recursos hdricos, mas tambm
uma falta de responsabilidade poltica em manter os cidados devidamente
informados sobre a situao.
A lista poderia ser longa, incluindo as reiteradas tragdias na rea de segurana,
como a das trs crianas mortas por balas perdidas numa mesma semana, no
Rio de Janeiro, mas pouparei o leitor.
O fato que nosso sistema poltico no tem demonstrado ser mais capaz de
selecionar bons governantes. E, mesmo quando o faz, impe limites quase
intransponveis para que consiga atender o interesse pblico. Reformas,
portanto, so necessrias.
Os altssimos custos de entrada no jogo poltico parecem afastar aqueles que
no disponham de abundantes recursos e que no estejam associados a
estruturados grupos de interesses.
O dia foi marcado por fortes presses para que a deciso fosse revertida.
Inicialmente, as torcidas organizadas do Corinthians, que sero as beneficiadas
com os ingressos vendidos aos visitantes (nmero que ser redefinido),
ameaaram no permitir no domingo a sada do nibus do time do centro de
treinamento, onde o time estar concentrado.
No meio da tarde, o Corinthians divulgou nota oficial revelando deciso da juza
Luza Barros Rozas, que concedeu parcialmente a tutela antecipada pretendida
pelo Corinthians.
No texto, a juza determinava que a FPF deixava de correr risco de sanes,
conforme desejava o Ministrio Pblico, caso realizasse a partida com a
presena de torcedores das duas equipes.
Mas a liminar no exigia mudana na deciso sobre torcida nica. Cabia
federao, como de costume, definir o modelo.
Ao fim da mesma nota, saltava aos olhos a ameaa corintiana. Assinada pelo
presidente Mrio Gobbi, o texto informava que o time no entraria em campo se
seus torcedores no tivessem acesso ao setor de visitante, o que acarretaria
derrota por W.O. com 3 a 0 contra no placar.
A presso corintiana gerou uma "operao de guerra" na sede da FPF, na Barra
Funda.
Uma reunio com participao do vice-presidente da entidade, Reinaldo
Carneiro Bastos, que assumir a presidncia em abril, do vice-financeiro,
Rogrio Caboclo, e do chefe do departamento de segurana, Marcos Marinho,
chegou ao fim com a concluso de que a melhor sada era reverter a proibio,
usando como argumento a deciso da juza Luza Rozas.
A Folha apurou, porm, que a repercusso negativa de um W.O. em um clssico
pesou para que a federao recuasse, apesar de a entidade sempre ter sido
contra a recomendao do Ministrio Pblico de que o jogo tivesse torcida
nica.
Na entrevista que concedeu, no momento que a FPF definia que os corintianos
entrariam no estdio, o presidente do Corinthians, Mrio Gobbi, criticou o
palmeirense Paulo Nobre, inclusive o acusando de ter influenciado na deciso
do Ministrio Pblico (leia mais acima dir.).
Antes disso, contudo, em entrevista na sede do Ministrio Pblico, os dois
promotores que recomendaram torcida nica, Paulo Castilho e Roberto Senise,
disseram que Nobre no tinha pedido a eles que os corintianos no entrassem
no jogo, apesar de o Palmeiras admitir ser essa a sua vontade para o jogo.
O clube estima que perder cerca de R$ 1,2 milho de receita com a venda de
ingressos, j que no poder vender bilhetes em setores ao lado de onde ficaro
os corintianos --ao menos seis mil cadeiras estaro inativas.
O anti-Garca Mrquez
nico romance do colombiano Andrs Caicedo, 'Viva a Msica!' chega ao Brasil,
vira filme e traz prestgio tardio ao autor cult, o avesso de Gabo
RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHA
Pense na maior referncia possvel da literatura colombiana --o realismo
fantstico de Gabriel Garca Mrquez-- e, ento, esquea tudo o que diz respeito
a essa referncia.
a melhor maneira de comear a entender Andrs Caicedo, autor de um
romance s, "Que Viva la Msica!" (1977). A obra ajudou a causar uma
reviravolta na produo literria latino-americana, mas passou dcadas
despercebida no Brasil.
Narrado por uma garota rica e loira que se joga no submundo de festas e drogas
da Cli dos anos 70, o romance foi eleito pelo jornal colombiano "El Espectador"
o segundo mais importante da literatura daquele pas no sculo 20 --o primeiro
foi "Cem Anos de Solido", de Gabo.
Apesar disso, s agora chega ao Brasil, pela editora Rdio Londres, com o ttulo
"Viva a Msica!", na traduo de Luis Reyes Gil, e na esteira de um indito
reconhecimento internacional para o autor.
Editado h tempos pela Alfaguara em pases hispnicos, influncia declarada
para escritores como o argentino Fabin Casas e o chileno Alberto Fuguet, "Viva
a Msica!" chegou a Frana, Itlia, Holanda, Inglaterra e Finlndia a partir de
2012. Alm disso, acaba de ser adaptado ao cinema.
Ospina resume essa angstia de modo contundente: "O mundo no foi feito
para Caicedo". Isso ajuda a explicar por que, enquanto Gabriel Garca Mrquez
morreu aos 87 anos, seu oposto literrio quis viver menos que um tero disso.
CRTICA - LITERATURA/ROMANCE
A situao retratada, prossegue o diretor, "no foi inventada por ningum". "Ela
me especialmente cara pois perdi um irmozinho quando eu tinha dois anos.
Cinquenta e cinco anos depois, o tema ainda tabu entre meus pais."
TECNOLOGIA
O pesquisador de teledramaturgia brasileira Nilson Xavier, autor do livro
"Almanaque da Telenovela Brasileira" e do site "Teledramaturgia", reconhece
que essa situao, em que um autor faz meno obra de outro, tornou-se
comum na televiso brasileira.
"Mas no vejo como plgio", diz. "Esses autores sabem que as pessoas vo
reconhecer na hora a referncia que est sendo feita", explica.
Para Xavier, a reincidncia de situaes similares na Globo tambm deriva de
uma vontade de mostrar capacidade tecnolgica. Desde 2007, quando as
novelas da emissora passaram a ser gravadas em alta definio (HDTV), o canal
passou a buscar uma qualidade de produo e imagem antes vista s na telona.
" como se esses autores dissessem 'ns podemos fazer igual'. A televiso tenta
se aproximar esteticamente do cinema, tambm na fotografia e na iluminao",
explica.
Para o dramaturgo Zen Salles, que fez parte da equipe de roteiristas da srie
"Sesso de Terapia", Fernando Meirelles "foi honesto" ao deixar "bem evidente a
sua homenagem ao colega dinamarqus".
"Apesar de 'Anticristo' ser um filme recente, a cena em questo j se
transformou em um clssico, assim como Norma Desmond descendo as escadas
em 'Crepsculo dos Deuses' e dizendo 'estou pronta para o close', cena j
reproduzida na novela 'Duas Caras', de Aguinaldo Silva."
Segundo Thiago Jabur, advogado especializado em direito autoral, "a lei no
protege ideias". "O plgio se caracteriza quando a semelhana deixa de ser uma
inspirao para ser uma cpia integral ou maquiada."
CAIXA DE BOMBONS
O recurso comum tambm no cinema. Em uma cena de "Kill Bill: Vol. 2"
(2004), de Quentin Tarantino, por exemplo, a protagonista vivida por Uma
Thurman enterrada viva, uma referncia aos filmes de terror como "O Silncio
do Lago" (1988), do francs George Sluizer, e o clssico "Carrie, a Estranha"
(1976), de Brian de Palma.
Se as novelas "Imprio", atualmente no ar, e "Avenida Brasil" (2012) resgataram
a mesmssima cena recriada por Tarantino, elas esto, na opinio de Meirelles,
demonstrando "como funciona a dinmica da cultura" ou representando uma
"maneira de a sociedade ruminar e deglutir suas prprias imagens e mitos", diz.
Ele promete bombons a quem conseguir lhe mostrar uma cena "100% original".
A ORIGEM
Semelhanas entre cinema e TV
'Felizes para Sempre?'
Enrique Diaz e Maria Fernanda Cndido deixam o filho sozinho e ele acaba
morto na piscina. A cena similar ao incio de "Anticristo", de Lars von Trier,
pelo tema e pela cmera lenta
'Imprio'
Quando o Comendador (Alexandre Nero) enterrado vivo na novela de
Aguinaldo Silva, copiou-se a claustrofbica cena dentro do caixo do filme "Kill
Bill: Vol. 2", de Tarantino
OUTROS CASOS
'O Astro'
A morte de Salomo Hayala na verso de 2011 lembra cena de "Watchmen",
filme de Zack Snyder, em que um personagem cai da janela, de costas, com um
boto da roupa em destaque
'Gerao Brasil'
Cena da novela, exibida em 2014, copia "Breaking Bad", em que o ex-traficante
Hector Salamanca (Mark Margolis), imobilizado por causa de um derrame, se
comunicava com uma campainha
'Avenida Brasil'
De novo o filme "Kill Bill" copiado, na cena em que sua protagonista
enterrada viva. Na novela brasileira, a vil Carminha (Adriana Esteves) enterra
a personagem Nina (Dbora Falabella). Depois, um take da novela mostra a mo
da vtima saindo da cova
DRAUZIO VARELLA
Embora o tratamento com antibiticos nas mais tenras idades possa guardar
relao com a obesidade futura, a janela crtica e a durao dos efeitos
certamente sero diferentes em camundongos e homens.
H que considerar ainda o impacto da descoberta dos antibiticos na reduo da
mortalidade infantil. No caso de uma infeco grave, quem deixaria de
prescrev-los por medo de que a criana se tornasse obesa mais tarde?
Podemos tambm especular que, nas famlias com grande nmero de obesos,
antibiticos administrados logo aps o nascimento poderiam reverter os efeitos
obesognicos da flora materna transferida para o beb no parto vaginal.
A obesidade fenmeno de alta complexidade associada a fatores evidentes,
como o excesso de aporte calrico, a hereditariedade e a outros ainda nebulosos,
como os descritos nesta coluna.
Atribui-la exclusivamente glutonaria dos obesos ignorncia. Como disse o
jornalista H. L. Mencken: "Para todo problema complexo existe sempre uma
soluo simples, elegante e completamente errada".
LENTE
Amor de laboratrio
TESS FELDER
Voc est assistindo a um filme romntico. Enquanto acompanha a histria de
amor, pensa que uma ligao desse tipo deve ser fruto do acaso, algo que foge ao
controle das pessoas. Mas ser que ? O psiclogo Arthur Aron diz que no.
Ele conduziu um estudo, anos atrs, em que duplas de pessoas que no se
conheciam respondiam a perguntas de natureza cada vez mais pessoal e depois
se olhavam profundamente nos olhos, em silncio, por quatro minutos. A
hiptese de Aron era que a interao entre as duas pessoas criaria um
relacionamento estreito, e os resultados se evidenciaram em pelo menos um
caso. Como escreveu Mandy Len Catron no "New York Times", "seis meses mais
tarde, dois participantes do estudo se casaram".
Aron publicou seus resultados h mais de 20 anos, mas Catron achou suas
ideias to provocantes que no ano passado sugeriu a um conhecido seu que
fizessem a experincia. Diferentemente dos participantes no estudo original,
eles no eram desconhecidos. Fizeram o experimento em um bar, no em um
laboratrio.
Comeando com perguntas como "voc gostaria de ser famoso?", os tpicos em
pouco tempo levaram Catron e seu companheiro para terreno mais srio,
incluindo o relacionamento de cada um deles com suas mes. "As perguntas me
lembraram do infame experimento da r fervida, em que a r s sente que a
gua est ficando mais e mais quente quando j tarde demais", escreveu.
Depois veio o contato olho no olho. Saindo do bar, eles caminharam at uma
ponte, onde ficaram parados, olhando-se nos olhos, por um tempo que pareceu
uma eternidade: quatro minutos. "O mais importante do momento no foi
apenas que eu estava enxergando algum, mas que estava vendo esse algum
me enxergar de verdade", escreveu.
Eles se apaixonaram? Sim.
Catron no pensa que eles se apaixonaram unicamente devido experincia,
mas diz que ela foi crucial por ter criado um vnculo forte entre eles. " verdade
que no podemos escolher quem nos ama, se bem que eu tenha passado anos
torcendo para que isso fosse possvel", escreveu. Mas, acrescentou, "o amor no
foi algo que nos aconteceu. Estamos apaixonados porque cada um de ns fez
essa opo."
Mas como encontrar algum com quem tentar um experimento desse tipo? Os
sites de namoro so uma opo, como observou o colunista David Brooks.
Para aqueles que conseguem identificar por meio desses sites uma pessoa para
conhecer melhor, ainda falta o encontro cara a cara. Para que ocorra qualquer
vnculo duradouro ser preciso algo que Brooks chama de "salto do encanto":
"Quando algo seco e utilitrio explode em algo cheio de paixo, inescapvel e
marcado pela devoo". Para que isso ocorra, preciso vulnerabilidade -"a
passagem do egosmo ao altrusmo, do pensamento prudente ao pensamento
potico".
Se o romance no der certo, esse pensamento potico pode ser aproveitado na
escrita, como props Anna North no "NYT". David A. Sbarra, da Universidade
do Arizona, fez um estudo que estimulou pessoas que tinham passado por
separaes recentes a falar de seus sentimentos. Ele sugeriu que "escrever
detalhando seus sentimentos", pode ajudar a reconstruir o senso de identidade e
a superar o rompimento.
Mas isso no quer dizer passar o tempo todo transcrevendo seus pensamentos.
Como escreveu Anna North: "Passe um pouco de tempo com seu dirio -e
depois saia para caminhar".
Muitas coisas da vida de Chris Kyle j fazem parte dos mitos das Foras
Armadas americanas: certa vez, ele acertou um tiro em um homem a uma
incrvel distncia de 1.920 metros.
Mas o Chris Kyle que o espectador v no filme uma figura muito mais
complexa que aquela que os leitores encontram no livro. Kyle comeou a
escrever sua autobiografia em 2010, um ano depois de concluir seu quarto
perodo de servio militar no Iraque.
No livro, ele alude aos inimigos como "selvagens" e descreve o "mal desprezvel"
que encontrou no Iraque.
"O que temos um vislumbre desse homem em um momento particular no
tempo", explicou Hall. "Ele tinha passado uma dcada em guerra ou treinando
para a guerra. Em alguns trechos, ele soa brutal, mas isso foi o que ns criamos.
isso o que essas pessoas precisam ser."
Hall entregou o primeiro rascunho de seu roteiro no dia 1 de fevereiro de 2013.
No dia seguinte, Chris Kyle foi morto por um ex-marine que vinha tentando
ajudar. Brad Cooper, que estava produzindo o filme e seria seu protagonista, s
tinha tido um encontro de cinco minutos com Kyle.
A viva de Kyle, Taya, deu aos responsveis pelo filme acesso a vdeos caseiros,
cartas e uma dcada de e-mails. "Jason e eu passamos horas ao telefone",
contou. "Ele me ligava a qualquer hora do dia ou da noite, em momentos em
que eu s precisava chorar, desabafar ou discutir alguma coisa."
Hall contou que, depois disso, o roteiro mudou. "A primeira verso, que eu tinha
escrito sob a tutela de Chris, era um filme de guerra." Ento, o enfoque do filme
se deslocou para o relacionamento entre Chris e Taya e as dificuldades que Chris
enfrentou para se readaptar vida de civil.
Mustafa, sniper iraquiano que uma figura de destaque no filme, aparece
apenas de passagem no livro. "Eu realmente peguei no p de Chris sobre esse
assunto. Ele disse que achava muito possvel que esse sujeito tivesse matado seu
amigo e que no queria eterniz-lo no livro", disse Hall.
O filme tambm mostra o irmo de Kyle, Jeff, um marine, se queixando sobre a
guerra. "Jeff no teve esse momento na vida real", comentou Taya Kyle. Mas
milhes de outros veteranos de guerra, sim. "Jeff entende que havia necessidade
disso no filme", acrescentou. "Mas vai ser difcil para ele suportar isso."
Polticos e analistas discutem o significado e as intenes do filme, que j
recebeu indicaes ao Oscar por seu roteiro e ator principal, entre outras
categorias.
" muito fcil dizer que o filme isso ou aquilo", disse Cooper.
"Para mim, Chris foi uma figura totalmente humana. Em nenhum momento
precisei passar do cone ao humano. Eu estudei um homem e tentei encarn-lo."
FOLHA 08-02-2015
HLIO SCHWARTSMAN
Ideologia e sade
SO PAULO - A ideologia um troo esquisito. Ela no se limita a turvar a
viso das pessoas em relao aos assuntos de sempre, como papel do Estado,
aborto, legalizao das drogas, mas tambm est sempre em busca de novos
temas sobre os quais possa lanar seus feitios.
Um caso bem documentado desse fenmeno a atitude dos norte-americanos
em relao ao aquecimento global. Mais ou menos at os anos 80, a proteo
ambiental em geral e o efeito estufa em particular no constituam questes
ideolgicas. A probabilidade de um poltico defender uma plataforma
ambientalista era praticamente a mesma fosse ele democrata ou republicano.
Do final dos anos 90 para c, porm, o panorama mudou bastante. Pesquisa do
Instituto Gallup mostra que, em 1998, 47% dos eleitores republicanos e 46% dos
democratas concordavam com a afirmao de que os efeitos do aquecimento
global j se faziam sentir. Em 2013, os nmeros eram 67% para os democratas e
39% para os republicanos.
Agora, assistimos praticamente ao vivo a um movimento semelhante em relao
a um tema improvvel: as vacinas. Os EUA vivem hoje um surto de sarampo que
pode ser diretamente ligado queda nas taxas de vacinao. E h dois tipos de
pais que deixam deliberadamente de vacinar seus filhos. Pela direita, temos
ultraconservadores religiosos que desconfiam de tudo o que venha de cientistas
ou do governo e, pela esquerda, h, principalmente na Califrnia, bolses de
liberais desmiolados que acreditam sem base ftica que a vacina trplice viral
est associada a casos de autismo.
Em comum, ambos colocam suas convices, que tm muito mais de emocional
que de racional, frente de slidas evidncias cientficas. Pior, sua obstinao
faz com que ponham em risco no s seus prprios filhos como tambm
terceiros. Nunca foi to verdadeira a mxima segundo a qual a ideologia faz mal
sade.
CARLOS HEITOR CONY
Salzburgo
RIO DE JANEIRO - So trs horas de trem, saindo de Viena. A paisagem
quase alpina, arrumada, assptica como um postal. O trem para numa cidade
mais ou menos amaldioada pela histria: Linz. Ela no tem culpa de nada.
Apenas foi a cidade que Hitler amava, que considerava a "sua" cidade. Na
verdade, o ditador nazista nasceu em outro canto, viveu em Viena, Munique e
Berlim.
Linz uma cidade como outra qualquer, sem o fascnio de Viena, sem a glria de
Salzburgo. uma cidade cinza, no fosse a parada do trem e seria apenas uma
tabuleta na plataforma. Mas Salzburgo a cidade de Mozart, das igrejas que
marcam seu cho, as belas fontes copiadas dos italianos, o rio que a atravessa
sem pressa, mais paisagem do que rio e a enorme fortaleza l em cima, falando
de tempos passados e passadas glrias.
No outono, o palcio do festival est fechado, todos j debandaram em busca de
outras emoes e Salzburgo resta, inclume, para os curtidores de Mozart. A
sim, pegar a programao, no Palcio Mirabell, na mesma Marmorsaal onde
Mozart estreou aos cinco anos.
Tudo est l: o diabo que sempre aparece um turista querendo ver os cenrios
de "The Sound of Music" ("A Novia Rebelde"). Um austraco, como Robert
Wise, teria de aproveitar os cenrios de Salzburgo para contar a histria da
famlia Trapp.
Mas alm de Mozart, a cidade em si, pequenina, boa de ch, boa de chocolates,
velhinhas coradas vendem castanhas e figos, as lojas se preparam para o Natal,
no longe dali nasceu o hino oficial da grande noite crist, o "Noite Feliz".
Ao longe, a fronteira com a Alemanha, a Baviera alpina, azul e branca. O carro
me leva at Berchtesgaden, o santurio nazista. Ali foi a casa de Hitler. L de
cima ele via as montanhas da ustria, contemplava Salzburgo e ouvia Wagner.
Eu prefiro Mozart.
BERNARDO MELLO FRANCO
NOMES NA RODA
No ano passado, quando o empreiteiro Ricardo (UTC) Pessoa chegou
carceragem da Polcia Federal, sabia-se que um homem-bomba entrara no
elenco da Lava Jato. Para o bem de todos (sobretudo dele), o doutor est
colaborando com as autoridades.
Sabe-se agora que o petro-comissrio Pedro Barusco botou um novo nome na
roda, o de Zwi Skornicki, operador do estaleiro coreano Keppel Fels. Zwi guarda
uma memria bem maior que a de Ricardo Pessoa. A Receita Federal conhece-o
bem, por conta de uma negociao formal feita h alguns anos.
Engenheiro que trabalha com plataformas de explorao de petrleo desde a
poca em que elas eram uma novidade no Brasil, sabe tudo do assunto.
um tipo inesquecvel, pelo Rolex de ouro cravejado de brilhantes que carrega
no pulso.
O SENADOR NO INFERNO
Quem tiver trs minutos para perder em busca de talento e bom humor pode
entrar no YouTube em busca do vdeo em que o repentista Maviael Melo recita
seu poema "Campanha eleitoral".
Maviael um pernambucano de 41 anos, poeta da grande tradio dos
cordelistas nordestinos.
USP
Um dia essas denncias de trotes violentos e estupros em universidades,
inclusive na USP, cairo nas mos de um juiz tipo Sergio Moro. Quando os
jovens delinquentes e seus pais descobrirem que podero passar o tempo de
durao do curso na cadeia, a festa acabar.
E acabaro tambm os ilustres professores, sobretudo da Faculdade de
Medicina, que, como o petrocomissariado petista, atribuem tudo a exagero da
imprensa.
LAVA TUDO
O PSDB sabe que no sair ileso da Operao Lava Jato. Suas petrofortunas
recentes eram conhecidas antes mesmo do surgimento do juiz Moro.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo um idiota e se deu conta da frequncia com que sai do Planalto a
informao de que a doutora Dilma ficou "contrariada", "irritada", "aborrecida",
"atnita" ou mesmo "furiosa".
O cretino se pergunta: E da?
NAUFRGIO
Terminado o primeiro ms do segundo mandato da doutora Dilma, uma vbora
assegura ter ouvido a seguinte histria de um sobrevivente da viagem inaugural
do navio mais famoso da histria, aquele do filme com Leonardo DiCaprio:
-- Uma jovem da tripulao embarcou em Southampton e eu lhe perguntei se
estava emocionada com a viagem at Nova York. Ela me disse que achava a ideia
boa, mas o que gostava mesmo era de naufrgios.
(Na vida real, a garonete Violet Jessop j naufragara um ano antes e
naufragaria novamente em 1916. Morreu em 1971, em terra firme, aos 84 anos.)
EUREKA
Joo Carlos Meireles, secretrio de Energia do governador Geraldo Alckmin,
matou a charada da falta de gua que a imprevidncia de seu patro cevou:
"Tem gente que acha 'eu sou rico e pago quanto for por essa gua', mas no
assim. sobretudo esprito de comunidade. Mas parece que tem gente que vive
no mundo de Marte e no tem solidariedade nenhuma."
A culpa do povo.
Bem que ele poderia reunir a imprensa amanh e exibir as contas de gua do
secretariado de Alckmin durante os ltimos 12 meses.
A POROSIDADE DA CABEA PETISTA
Nas manobras para a indicao do novo presidente da Petrobras apareceram
perto de dez nomes. No se sabe de onde eles saram, pois no incluam o nome
de Ademir Bendine, que acabou escolhido. Nessa roda de fogo, entrou o
economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs. Ele teria a simpatia do
ministro Joaquim Levy. A menos que tenha sido uma brincadeira, essa simples
referncia reflete a geleia em que se transformou o centro de decises do
governo.
O PT tenta associar a Operao Lava Jato a um processo de destruio da
Petrobras, de forma a permitir sua privatizao. Para quem gosta de teoria
conspirativa um bom roteiro.
Leme tem mais de vinte anos de destacada militncia no mercado financeiro.
Em 1998, quando o real estava indo para o ralo, a Goldman Sachs divulgou uma
anlise da crise dizendo que eram "necessrias medidas de grande impacto,
como a incluso da Petrobras, da Caixa Econmica e do Banco do Brasil no
programa de privatizaes". Ele era o diretor da Goldman para a rea de
mercados emergentes e, segundo a reprter Vera Magalhes, estimou que a
estatal pudesse valer entre US$ 20 bilhes e US$ 60 bilhes.
Naquela ocasio o nome do doutor entrou na lista de candidatos de Armnio
Fraga para a diretoria de assuntos internacionais do Banco Central. Foi abatido
As linhas da dificuldade
Um erro de Dilma foi no impedir, e at facilitar, que a Petrobras ficasse
tratada como parte do governo
Os ingredientes da conturbao poltica crescem em nmero e peso a cada dia,
sem cessar. De fontes variadas. Com direes, ou propsitos, que se cruzam e
ainda assim se combinam. Que situao esta? Difcil tentar entend-la no
espao possvel. Tende a dar em qu? No h como prever.
O peculiar da atual situao comea em que ilusria a impresso de um bloco
de fatores interligados, criando a situao problemtica do governo e, em
particular, de Dilma Rousseff. O que h, de fato, no assdio que perturba o
governo so duas linhas mestras e paralelas. Uma, claro, o direcionamento,
contra o governo, de toda a ressonncia proveniente da Lava Jato. Outra so os
problemas propriamente polticos, decorrentes do movimento conduzido pelo
novo presidente da Cmara, Eduardo Cunha.
O canhonao de US$ 200 milhes que o delator premiado Pedro Barusco lanou
no PT desvia parte do ataque at aqui dirigido a Dilma, no envolvida pelos
delatores, e no ao PT j acusado por vrios desde o comeo. Foi a escolha til
feita pela oposio e predominante na imprensa. Mas o que abriu caminho a
esse desvio foi um erro de Dilma, ao no impedir, e at facilitar, que a Petrobras
ficasse tratada, no escndalo, como parte do governo, o que no .
Com isso, para todos os efeitos, no houve o assalto a uma empresa com direo
prpria, urdido por grupo de dirigentes seus, mas corrupo no governo. O
desgaste causado por esse erro custou muito a Dilma, e repar-lo, se no
continuar crescendo, no seria simples. At porque Dilma corre o risco de
receber parte do desgaste a que o PT estar sujeito se a farta parte que lhe cabe
na Lava Jato for adiante no escndalo e no processo.
Uma semana do co
Ebulio incomun do noticirio poltico requer dose extra de cautela para no
incorrer em desequilbrios jornalsticos
Era sabido desde o ano passado que a conjuno de fatores polticos e
econmicos prometia uma segunda gesto tumultuada para Dilma Rousseff.
Nem o mais renhido inimigo podia, porm, sonhar com o surto de ms notcias
que soterrou o governo na semana.
O marco zero foi um artigo em "O Estado de S. Paulo", em que o ex-presidente
Fernando Henrique criticava a deteriorao do sistema poltico e defendia a
CLVIS ROSSI
O que torna ingnua, a meu ver, a proposta de Gillian Tett de pararmos de clicar
nos vdeos postados pelo EI o fato de que h uma diferente reao a eles: a
maior parte dos espectadores se horroriza (pelo menos espero que se horrorize),
mas uma parcela bem menor (espero) fica fascinada e atrada pela barbrie.
Essa parcela exatamente o pblico que os terroristas querem atingir, o que
tornaria incua a no visualizao pela maioria.
O que lamentvel que a selvageria fascina quem no vtima direta dela, no
caso jovens ocidentais desorientados.
Nos pases muulmanos, o apoio a atos terroristas cai verticalmente depois de
um deles no prprio pas, mostra o Centro Pew de Pesquisas.
Na Jordnia, por exemplo, 57% achavam que, s vezes, se justificava o
terrorismo at que houve, em 2005, atentados em trs hotis de Am. Na mais
recente pesquisa (2011), s 13% tinham idntica opinio.
Descobriram, pelo caminho rduo, que terror no videogame.
Daniel
Esta crnica t meio confusa, verdade. que difcil esse negcio de
dar boas-vindas a quem chega ao mundo
Se esta crnica est sendo publicada hoje, porque nasceu o meu filho, Daniel.
(Se esta crnica no est sendo publicada hoje, porque ele ainda no nasceu,
mas, se ele ainda no nasceu e esta crnica no est sendo publicada hoje, esta
frase no tem razo de ser, uma vez que no ser lida por ningum alm de mim
e da Andressa, do "Cotidiano", a quem mando o texto no fim da gravidez, por
precauo. Tudo bom, Andressa? No, Andressa, eu no quis dizer que a gente
era ningum. Ah, o correto "a gente no era ningum"? Com a dupla negativa
mesmo? Hmmm. Obrigado, Andressa. Eu no quis dizer que a gente no era
ningum, mas que as crnicas costumam ser pra mais do que duas pessoas. Se
bem que, pensando melhor, nem todas. Esta aqui, por exemplo, pra uma
A advogada Maria de Lourdes Archer Pinto, 61, diz ter sido obrigada a pagar
propina a um motorista da priso na Indonsia para conseguir ver o sobrinho,
Marco Archer Cardoso Moreira, 53, horas antes de ele ser ter sido executado,
em 18 de janeiro (tarde do dia 17 no Brasil).
"Sofri toda a sorte de humilhaes", disse. Dois funcionrios do governo
brasileiro testemunharam o episdio --um deles tambm o relatou Folha. Na
sexta (6), a reportagem no conseguiu contato com a embaixada da Indonsia
em Braslia.
Maria de Lourdes foi a ltima a ver Marco vivo, no complexo penitencirio de
Nusakambangan, em Cilacap, a 400 km de Jacarta.
Ao relembrar os ltimos dias, agradeceu a ajuda do Itamaraty e diz que deixou o
sobrinho supor que ela o visitaria no dia seguinte.
Primeiro brasileiro executado em tempos de paz, Archer fora preso em 2003, ao
tentar entrar no pas com 13,4 kg de cocana. Ele foi cremado --as cinzas sero
depositadas em um cemitrio de Manaus nas prximas semanas.
Folha - Como foram as ltimas horas da senhora antes da visita ao
Marco?
Maria de Lourdes Archer Pinto - No sbado, vspera da execuo, foram
duas horas de tremenda tortura e sofrimento espera da liberao da visita
pelas autoridades. Para completar, fui extorquida no momento em que o nibus
me levaria at a priso, para v-lo pela ltima vez.
Como foi?
O nibus no saa do lugar e ficou simulando esperar outras pessoas --e o tempo
estava passando. Ao propor dinheiro, imediatamente me levaram priso. Se
no pagasse, eles no sairiam. Foram to corruptos que sabiam que no levava
dinheiro --era proibido levar bolsa visita-- que foram buscar a propina no
hotel em que estava, no mesmo dia [antes de Marco ser morto]. Pediram 500
mil rpias indonsias (R$ 109) e dei 300 mil (R$ 66).
E a ltima visita ao Marco?
No houve clima de ltimo encontro, ltimo pedido, porque deixei que ele
pensasse que eu voltaria domingo para visit-lo e que o Papa poderia reverter o
quadro [o Itamaraty chegou a pedir ao Vaticano que interviesse]. Mas nosso
encontro foi em clima de muito amor, abraos, beijos e choro.
Como ele estava?
Estava muito nervoso e agitado. No acreditava no que estava por vir. Perguntei
se ele havia se arrependido do que fez [do trfico de drogas]. Ele disse que sim.
A rezei uma Ave Maria. O Marco disse que seria morto, mas que os chefes da
droga continuariam vivos na priso.
O alambrado a lei
A questo no a torcida visitante, hoje liberada; a nica soluo prender os
assassinos
A deciso de instalar as torcidas visitantes no anel inferior das arenas de
Corinthians e Palmeiras era um dos argumentos da diretoria de segurana da
Federao Paulista para defender a torcida nica nos clssicos.
Clssico destratado
Primeiro drbi na nova casa alviverde merecia tratamento competente dos
responsveis pela segurana
Maior confisso de incompetncia no poderia haver: no fosse a Justia,
Palmeiras e Corinthians jogariam hoje s para palmeirense ver.
Pedido do promotor Paulo Castilho, que h anos descuida da questo de
violncia de torcidas no Ministrio Pblico paulista --e no do Esporte, poca
em que assumiu a diretoria de Direitos do Torcedor da pasta durante o infeliz
perodo de Aldo Rebelo.
Agora Castilho est cotado para assumir a Secretaria de Futebol do ministrio
do Esporte e, apstolo da paz dos cemitrios, talvez sonhe com jogos sem
torcida alguma e sem bola, para evitar que algum se machuque numa dividida
mais rspida.
Em vez de tomar medidas que afastem a minoria bandida entre os torcedores
uniformizados, Castilho prope outras que probem a presena da maioria, os
torcedores comuns.
E lana livro sobre o tema na sede da entidade que deveria fiscalizar, a
Federao Paulista de Futebol, em relao promscua com a cartolagem.
Castilho alega ter detectado, nas redes sociais, o agendamento de embate entre
os vndalos alvinegros e alviverdes. Vndalos mais que conhecidos e que,
frequentemente, se renem com as autoridades, que acabam por avaliz-los,
embora se saiba da participao at do PCC nas chamadas torcidas organizadas.
claro que, diante de um problema que sobrevive j h mais de duas dcadas,
medidas como a da exigncia de torcida nica encontra defensores e a direo
do Palmeiras estava feliz por poder preservar seu estdio que, no entanto, pelo
bem do futebol, tem de abrigar, como o corintiano abrigou no ano passado, as
duas torcidas.
Complicar no preciso
Fazer mais de uma funo em uma mesma partida diferente de atuar em
vrias posies em jogos diferentes
A evoluo no futebol, nos ltimos anos, tem sido diminuir a importncia dos
jogadores que atuam em pequenos espaos, embora, s vezes, eles sejam
decisivos, e valorizar mais os que fazem mais de uma funo, desde que tenham
talento.
No adianta correr sem pensar. Mas no se deve confundir os atletas que,
durante um jogo, fazem mais de uma funo com os que atuam em vrias
posies em partidas diferentes.
Quando o atacante Rooney, um timo finalizador, volta para receber a bola em
seu campo para, depois, chegar ao ataque, no significa que ele possa fazer, com
Sai da uma aventura simptica, com direo impessoal do prprio Clooney, que
chama a ateno para um aspecto pouco conhecido da guerra, que a luta pela
arte.
pena que Clooney no tenha querido mostrar o quanto profunda essa
batalha. No se trata s de salvar quadros, mas de uma disputa central pela
herana simblica produzida no Ocidente.
a beleza dos valores que a arte produz: no so nada, no valem a conquista
de um ponto estratgico, na guerra; ao mesmo tempo, quem os detm, carrega
sinais da beleza, do conhecimento. Da civilizao. uma razo e tanto para
lutar.
MAURICIO STYCER
que a dos EUA porque aqui temos seis vezes mais homicdios do que l. E
nossos policiais morrem mais que os de qualquer outro lugar do mundo",
protesta ele, citando dados: s no ano passado, diz, 1.500 PMs pediram
demisso motivados pelos baixos salrios e pelo constante risco de morte.
Nessa dinmica, 490 policiais civis e militares foram mortos em servio ou
durante folgas em 2013.
"Para outras sociedades inadmissvel que se mate um policial, porque quer
dizer que ningum respeita mais nada", diz Alexandre de Moraes, secretrio de
Segurana Pblica de So Paulo. "No Brasil, quem mata policial tatua um
palhao para mostrar para quem quiser ver que matou um tira ou um PM",
compara ele, favorvel a alterao no Cdigo Penal que aumente em 50% as
penas para crimes contra autoridade pblica.
Os nmeros de ambos os lados se inscrevem num contexto aterrador: o Brasil
um campeo mundial de homicdios. Em 2013, 54.269 pessoas foram
assassinadas no pas. O nmero corresponde a um estdio do Itaquero lotado,
como no jogo de abertura da Copa do Mundo --s que de cadveres. Trata-se de
uma taxa de 26,9 mortes por 100 mil habitantes, quase seis vezes a dos EUA, de
4,7.
FORA DE CONTROLE A Organizao Mundial da Sade considera
epidmica, ou fora de controle, a violncia que faz mais de 10 vtimas por 100
mil habitantes. Em rankings elaborados pela OMS e pelo Banco Mundial, o
Brasil ocupa as primeiras posies em taxa de homicdios, ao lado de pases
como Honduras, Venezuela, Jamaica, El Salvador e frica do Sul.
Somam-se aos nmeros estatsticas que ilustram a relao negativa dos
brasileiros com suas polcias: segundo o ndice Confiana da Justia, realizado
pela FGV em 2012, 70% da populao do pas no confia na instituio, e 63% se
declaram insatisfeitos com a atuao da polcia.
O medo diante da polcia tambm registrado em cifras: um tero da populao
teme sofrer violncia policial, e ndice semelhante receia ser vtima de extorso
pela polcia --os dados so da Pesquisa Nacional de Vitimizao
(Datafolha/Centro de Estudos de Criminalidade e Segurana Pblica da
Universidade Federal de Minas Gerais, 2013).
Especialistas em segurana pblica dos mais diversos matizes ideolgicos
convergem em seus diagnsticos: salvaguardados alguns avanos pontuais e
localizados, seja na diminuio de certos crimes, seja no aumento da
coordenao e da transparncia em um ou outro aspecto, a polcia mata demais,
ineficiente no atendimento populao e nas investigaes, tem setores
racistas e corruptos, alm de outros que desprezam leis e regulamentos. Como
se no bastasse, as corporaes perdem tempo e desperdiam recursos com
rivalidades entre si.
"A polcia tem vcios e defeitos inegveis", afirma Jos Mariano Beltrame,
secretrio de Segurana Pblica do Rio de Janeiro. "S que existe um
reducionismo no conceito de segurana pblica, que hoje sinnimo de polcia,
anos de servio, ele viveu em 1970 a fuso, imposta pela ditadura, da Fora
Pblica, ento com 25.000 homens, com a Guarda Civil, que tinha 9.000
membros --da nasceu a atual PM. "Houve mal-estar, houve dvida sobre quem
iria mandar, se o inspetor ou o coronel, mas tudo foi, aos poucos, se
acomodando."
Os exemplos de ineficincia na diviso do trabalho policial so cristalinos.
Enquanto a Polcia Militar atua na preveno e no patrulhamento, a Polcia Civil
ou Judiciria investiga, tudo com troca de informaes mnima. A simples
criao de bancos de dados conjuntos revelou-se uma epopeia.
"As polcias se detestam no Brasil inteiro, ento a coisa no funciona", avalia o
especialista em segurana pblica Guaracy Mingardi. A PM a primeira a
chegar ao local do crime e quem o resguarda para a Polcia Civil e a percia.
"Mas, quando elas chegam, no conversam com a PM porque acham que no
tem nada a ver. Ento muito PM no preserva direito o local dos crimes, j que
uma atividade desvalorizada", explica ele, que trabalhou por dois anos na
Polcia Civil em So Paulo, coletando dados para seu mestrado.
FORMAO Em 2010, foi inaugurada a Academia Estadual de Segurana
Pblica do Cear. Celebrada como uma experincia exitosa, ela aposta na
integrao entre policiais civis e militares logo na formao, para que aprendam
desde os primeiros treinamentos a trabalhar juntos.
Para Jos Mariano Beltrame, "quando no h entendimento entre as polcias, h
temor, e cada uma se fecha do seu lado". A soluo no vir de uma "canetada".
"Tem de mudar a cultura, e isso se obtm mudando prticas", diz o secretrio da
Segurana Pblica do Rio, que v na valorizao salarial um fator fundamental
para aperfeioar o servio prestado pelas polcias. "Enquanto a diferena salarial
entre polcia e Judicirio for ocenica, como hoje, o resultado do trabalho
deixar a desejar. Voc tem de levantar essa polcia, pagar bem, dar condies, e
ela entregar um resultado melhor."
Nas polcias da maioria dos Estados verificam-se diferenas salariais entre as
carreiras, o que alimenta ainda mais as rivalidades. Pior: cada corporao
fraturada internamente. As carreiras civil e militar tm duas entradas, numa
espcie de sistema de castas, em que status e salrios so diferentes entre si e
entre os Estados.
Na Polcia Militar, ingressa-se como soldado ou tenente. Mas o soldado nunca
chegar a ser tenente por progresso ou mrito. Enquanto um soldado gacho
pode ganhar apenas R$ 1.375,71, o salrio de um coronel, topo da carreira
iniciada como tenente, pode ser de at R$ 21.531,36 no Paran.
Na Polcia Civil, o concurso para investigador ou delegado, e o melhor
investigador do pas jamais se tornar um delegado, a no ser que preste novo
concurso, para o qual necessrio ser bacharel em direito. O soldo de
investigador varia de R$ 1.863,51 no Rio Grande do Sul, a R$ 7.514,33 no
Distrito Federal. J um delegado pode ganhar R$ 8.252, 59 em So Paulo, o
salrio mais baixo da categoria no pas, ou R$ 22.339,75 no Amazonas.
nem protege direitos, sejam eles das vtimas ou dos criminosos, uma ameaa
cidadania e democracia".
O coronel bis integra a primeira gerao de policiais treinados no apagar das
luzes do regime militar que chega aos comandos da corporao. Quando
ingressou na Academia de Polcia, em 1982, estava sendo descontinuado o
manual de segurana interna e defesa territorial cuja capa estampava a imagem
de um vietcongue, comunista vietnamita, sentado sobre um mundo que
sangrava. Sua primeira aula foi de direitos humanos.
"Mas houve uma coincidncia terrvel e desastrosa. No momento em que
saamos da ditadura e da viso ideolgica de guerra contra os comunistas, o
presidente [norte-americano] Ronald Reagan declarou a guerra s drogas",
conjectura bis. "Ento, o sistema de segurana que vinha operando contra um
inimigo apenas mudou sua figura, mas a mquina continuou a rodar com as
mesmas violaes de direitos e a mesma lgica de combate", avalia o coronel.
Para ele, a dinmica da guerra altera os marcos morais e a noo de certo e
errado. "Quem acha que est em combate, como o caso das nossas polcias,
capaz de cometer atos brutais e ofensivos porque acredita que aquilo que se
espera dele. Isso acontece comigo, com voc, com um monge", diz.
A peculiaridade do trabalho policial, que pede resolues imediatas para
situaes complexas e imprevisveis, contribui para desvios de conduta e uso
excessivo de armas de fogo, pondo tanto policial como suspeito em perigo.
Quando comeou a pesquisar abordagem policial, a major Pinc identificou
problemas no treinamento. Havia protocolos e mtodos, mas no eram
seguidos. Props, ento, um supertreinamento para uma equipe e comparou seu
trabalho com o de outra. "Descobri que a premissa de que treinamento resolve
est furada", revela.
Ela classificou os oficiais em diferentes padres, quanto ao quesito letalidade.
Vo do primeiro, que s age dentro da legalidade, ao quarto, o de policiais que
matam intencionalmente. "So pessoas doentes, transformadas, que, se no tm
oportunidade para matar, criam. Esses tm que sair", diz.
No meio esto os que devem ser objeto de programas que combinem
treinamento com estratgias de superviso, monitoramento por cmeras e
premiao de boas prticas. O segundo o tipo despreparado, que mata para se
defender, mas no assume que atirou no susto. O terceiro aquele que atira por
sucumbir presso. "Ele tem controle da situao, mas sabe que, se no atirar,
vai chegar no quartel e um colega vai dizer: 'P, voc teve a chance e no matou,
por qu?'", diz a major, que entrevistou centenas policiais. "Se esse tipo de ideia
existe na sociedade, claro que existe na polcia tambm."
"As polcias matam porque trabalham em locais violentos; porque h nas
corporaes uma doutrina do combate, e combate se faz atirando; porque no
h fiscalizao eficiente de suas atividades; e, sejamos sinceros, porque, na
sociedade brasileira, isso responde a uma demanda social", avalia Igncio Cano,
da Uerj. "A polcia violenta desde a sua formao."
FOLHA 09-02-2015
LUIZ FERNANDO VIANNA
O ndice Turuna
RIO DE JANEIRO - O Carnaval carioca no seria o mesmo sem a Casa
Turuna. uma loja que vende fantasias h cem anos --o centenrio se completa
em abril. Fica a um quilmetro do edifcio-sede da Petrobras e est sentindo os
efeitos do mau momento da economia.
No ano passado, para cortar custos, reduziu seu terreno de 450 para 190 m,
desfazendo-se do resto. A ampla entrada pela avenida Passos est fechada. Os
acessos so laterais, pelas ruas da Alfndega e Senhor dos Passos. J teve 66
funcionrios. Aps o Carnaval, ter 15.
"Reajustei os preos das fantasias abaixo da inflao, seno ia vender menos. E
90% das compras so com carto de crdito, parceladas em trs vezes sem
juros", conta o proprietrio, Marcelo Servos.
Ele bisneto dos fundadores, dois imigrantes portugueses que se tornaram uma
s famlia aps o filho de um se casar com a filha do outro. Abriram a Casa
Turuna no ento epicentro do Carnaval carioca, a Praa Onze. Na dcada de
1940, a praa foi destruda para a passagem da avenida Presidente Vargas.
Desde ento, a loja est na principal regio de comrcio popular do Rio,
conhecida como Saara.
A loja ganhou o nome que tem por causa de um famoso bloco da poca, Os
Turunas. E um dos scios era chamado de "Turuna", o que significava ser um
valento.
A fora do Carnaval de rua do Rio, com seus 456 blocos, mantm a Turuna viva.
As fantasias mais procuradas no so as de momento, mas as tradicionais:
melindrosa, marinheiro, bailarina, ndio, baiana, rabe... Existem cerca de cem
tipos.
"Mscara de poltico bom s para a imprensa. Vende pouco", diz Servos, 46
anos, desde os 15 trabalhando na Turuna.
Sem filhos, ele planeja vender a marca daqui a uns dez anos, torcendo para que
no acabe a Turuna e uma parte da histria da cidade.
Parcela que diz ter o PT como sigla favorita caiu de 22% para 12%; no
mensalo, nvel mais baixo foi de 15%
RICA FRAGADE SO PAULO
A percepo de aumento da corrupo combinada expectativa de piora nas
condies de vida deflagrou uma crise de representao no pas, evidenciada
pelo aumento na rejeio aos partidos polticos.
A fatia dos brasileiros que dizem no ter um partido de preferncia saltou de
61% em dezembro de 2014 para 71% em janeiro deste ano. Trata-se do maior
patamar desde o incio da srie histrica do Datafolha para essa pergunta, em
agosto de 1989.
A rejeio representao poltica j tinha dado um salto em junho de 2013 -poca dos protestos que pararam o pas--, quando passou de 55% para 64%.
Desde ento, oscilou prxima a esse patamar, mesmo durante a eleio
presidencial de 2014.
O aumento registrado agora foi silencioso, sem novas manifestaes
abrangentes de rua, mas confirma o desalento da populao brasileira. Isso se
refletiu nas respostas a outras perguntas do Datafolha, como as expectativas em
relao ao futuro da economia e ao da prpria situao financeira de cada um.
Todas indicaram um crescimento do pessimismo. O novo sentimento contrasta
com o verificado at o fim do ano passado.
Trs meses e meio aps a reeleio da presidente Dilma Rousseff, o apoio da
populao ao PT recuou para o patamar de dezembro de 1998, pouco antes de o
partido ter conseguido tirar do PMDB a preferncia do eleitorado. Isso acabou
pavimentando o caminho para a eleio de Luiz Incio Lula da Silva em 2002,
em sua terceira tentativa.
Entre dezembro de 2014 e janeiro deste ano, a parcela dos eleitores que dizem,
em resposta espontnea, ter o PT como seu partido favorito caiu de 22% para
12%. Na poca do mensalo, o nvel mais baixo tinha sido de 15%.
SEM BENEFICIRIOS
A queda de apoio ao partido no beneficiou as legendas rivais. Principal sigla de
oposio, o PSDB viu sua base de apoio ir de 7% para 5%. Algumas siglas
pequenas oscilaram de 0% para 1%, mas o movimento tem sido pendular.
A dificuldade da oposio em capitalizar a desidratao do PT pode se explicar
em parte porque, embora generalizado, o aumento do desalento em relao
sigla foi forte entre seu eleitorado mais fiel.
Na pesquisa de dezembro de 2014, entre os simpatizantes do PT, 71%
consideravam o desempenho do governo timo ou bom.
Agora, esse ndice de 52%. Na via oposta, a fatia dos petistas que avaliam a
administrao atual como ruim ou pssima quadruplicou, passando de 3% para
12%.
A queda na avaliao de Dilma foi intensa entre a populao de renda baixa e
pouca escolaridade.
Embora permanea em patamar mais elevado do que nos demais estratos, o
recuo da aprovao entre os brasileiros que tm o ensino fundamental
despencou de 54% para 31%.
No recorte dos que tm renda familiar mensal de at dois salrios mnimos, a
queda foi de 50% para 27%.
Regionalmente, o recuo foi mais marcante no Nordeste, com queda na
aprovao de 53% para 29%.
Com isso, o Norte, onde a queda foi de 51% para 34%, ultrapassou o Nordeste
como regio onde o PT conta com seu maior apoio.
Os dados foram levantados pelo Datafolha em pesquisa realizada entre os dias 3
e 5 de fevereiro, com base em 4.000 entrevistas feitas em 188 municpios.
A margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
RICARDO MELO
Aps presses, holands desiste de batizar navio com nome de pai nazista
Considerado o maior navio guindaste do mundo, embarcao levava nome de
ex-membro da SS, a tropa de elite dos nazistas
DO "FINANCIAL TIMES"
O holands Edward Heerema aceitou "rebatizar" o navio que levava o nome de
seu pai, Pieter Schelte, um antigo membro da SS, tropa de elite do nazismo,
aps presso do governo britnico.
Considerado o maior navio guindaste do mundo, a embarcao pertence
companhia Allseas, presidida por Heerema.
As crticas comearam aps a companhia Shell anunciar que iria utilizar a
embarcao em um campo petrolfero do mar do Norte, em territrio britnico.
Porm, Heerema se mostrou inflexvel ao anunciar que no tiraria o nome de
seu pai do navio. A mudana ocorreu somente com a interveno do governo
britnico, em apoio a protestos de entidades judaicas.
O secretrio de Energia do Reino Unido, Ed Davey, chegou a dizer que o nome
dado ao navio era "totalmente inapropriado e ofensivo".
A companhia Allseas informou sobre a troca de nome em comunicado divulgado
na sexta-feira (6). "Como resultado das diversas reaes nos ltimos dias,
Edward Heerema, presidente do grupo Allseas, anunciou que o nome em
homenagem a Pieter Schelte ser retirado. A empresa ainda afirma que nunca
houve a inteno de ofender ningum", diz o texto. O novo nome do navio deve
ser divulgado nos prximos dias.
Esther Voet, diretora do Cidi (Centro para Informao e Documentao em
Israel, na sigla em ingls), disse que a atitude foi "correta".
" somente uma pena que o dono tenha demorado a perceber que o nome da
embarcao era totalmente inapropriado. Ele deve ter orgulho em possuir o
maior navio do mundo. O nome que ele escolheu deixou uma mancha, e estou
muito feliz que agora est sendo retirado."
PASSADO
Pieter Schelte Heerema foi um criminoso de guerra que serviu na SS durante a
Segunda Guerra Mundial ao lado de Josef Mengele, mdico alemo famoso por
experincias com prisioneiros que morreu no Brasil. Heerema trabalhou ainda
no envio de trabalhadores forados para a Alemanha e cumpriu um ano e meio
de priso aps a guerra.
ENTREVISTA DA 2 JULIAN ASSANGE, 43
discutiu com seu editor, que trabalhou nesse material para publicar. Essa
chamada conspirao parte normal do processo. Se os americanos forem bemsucedidos nessa teoria, qualquer mdia poder sofrer essa acusao.
Quantas pessoas trabalham hoje para o Wikileaks?
Tenho orgulho disso. Apesar de tudo, de bloqueio bancrio, eu aqui na
embaixada, esse apoio tem crescido. No um nmero alto, mas significante.
S no posso falar.
Durante esse tempo asilado, o sr. se arrependeu de algo em relao
ao WikiLeaks?
No tenho arrependimentos, tenho muito orgulho do que fiz. E sobrevivi a isso.
Mas tiro lies das estratgias do passado. s vezes, voc tenta voltar no tempo
e percebe que, em situaes especficas, foi forado pelas circunstncias.
Poderia dar exemplos?
Eu subestimei o quanto a Sucia tinha mudado nos ltimos 30 anos. A Sucia
ficou famosa nos anos 70, quando o premi Olof Palme aceitou refugiados do
Vietn e o pas promoveu sua reputao. Mas, desde seu assassinato, em 1986, a
Sucia se transformou no pas mais prximo dos EUA na Europa, com exceo
do Reino Unido. Foi um equvoco de minha parte. Eu tambm no entendi
direito a natureza do "The Guardian" (jornal que rompeu parceria com
Wikileaks). Sou australiano e o via como um jornal "antiestablishment", mas
isso no era verdade. um jornal que representa parte do establishment
britnico. Quando voc estrangeiro, leva tempo para entender noes de poder
do pas.
O seu novo livro aborda a possvel "morte" da privacidade na
internet. Como as pessoas podem proteg-la?
Isso impossvel para a maioria das pessoas e ainda vai levar muito tempo. Por
outro lado, as pessoas esto acordando para o que est acontecendo com o
Google e criando demandas para algo que preserve a privacidade e reprima o
apetite do Google, cujo negcio coletar informao privada. Pelo menos 80%
dos smartphones so controlados pelo Google, que grava as localidades,
contatos, e-mails, o que pesquisaram.
Essas informaes so integradas com outras coletadas no Gmail e no Youtube
para construir um perfil sobre voc. No s uma empresa de tecnologia. a
segunda maior companhia dos Estados Unidos, com conexes com o
Departamento de Estado, trabalhando com projetos de inteligncia nos ltimos
12 anos.
Por isso afirma no livro que o Google no o futuro da internet?
Seu modelo uma armadilha do servio gratuito, oferecendo maneiras de
pesquisa que parecem ser de graa, mas no so. um anzol, e voc o peixe
que morde a isca com informao pessoal.
As guas vo rolar
Nos blocos de Carnaval, mijes transformam jardins, muros, caladas e at
portas de prdios em banheiro ao ar livre
ROBERTO DE OLIVEIRADE SO PAULO
Chuva, suor e cerveja. E muito xixi nas ruas. A invaso dos blocos abriu alas
para um grupo de folies ganhar mais evidncia no Carnaval de So Paulo: o dos
mijes.
"As pessoas querem se divertir, beber e fazer xixi. Carnaval, mas muito
constrangedor dar de cara com um pipi desconhecido", disse a relaes pblicas
Maria Fernanda Narciso, 25, que curtia o bloco Sargento Pimenta, no Sumar,
na zona oeste de So Paulo, que arrastou uma multido na tarde de sbado (7).
"Vivemos numa sociedade muito mal-educada que no sabe lidar com o seu
prprio lixo", disse o fotgrafo Lauro Medeiros, 55. "E dane-se o outro." Nas
palavras da representante comercial Greicy Oliveira, 36, "o comportamento dos
mijes degradante".
Como escreveu Caetano Veloso na letra da msica "Chuva, Suor e Cerveja", "seja
o que Deus quiser".
DOIS MISERVEIS toques de Vitor Hugo permitiram a Petros chegar antes que
Fernando Prass na bola e pass-la a Danilo, em tarde de Zidanilo, para botar o
Corinthians na frente do Palmeiras no 345 drbi e dar a 120 vitria alvinegra,
no primeiro clssico na nova casa esmeraldina.
O Palmeiras ainda tem uma vitria de vantagem na histria, mas, ontem, esteve
longe dela.
Mesmo contra um Corinthians mesclado, o desentrosado Alviverde deu pouco
trabalho, a rigor uma nica grande defesa de Cssio e outra de Walter.
Em compensao, levou bola na trave e sucumbiu diante do toque de bola
alvinegro, fruto de um time sem nenhuma ansiedade, ao contrrio do rival.
Ainda sem Arouca, ainda sem Cleiton Xavier, sem Valdivia e com Dudu em fase
de adaptao, talvez Z Roberto, embora eleito o melhor lateral esquerdo do
Campeonato Brasileiro passado, devesse ter jogado no meio-campo, para tentar
organizar o principal defeito da equipe, a insegurana na sada de bola.
Mas Cssio fez cera e acabou expulso no segundo tempo.
A exemplo do que fizera no jogo com o Once Caldas quando ficou com um a
menos, Tite estacionou o nibus corintiano frente da rea e passou a especular
em torno de um contra-ataque definidor, como Mendoza, a verso colombiana
de Jorge Henrique, teve nos ps e Prass impediu.
Com Dudu em campo j desde o incio do segundo tempo, e as entradas de Alan
Patrick e Rafael Marques, s restava ir para presso.
Que quase deu certo com Lucas, queima-roupa, mas foi a vez de Walter evitar,
com o p esquerdo.
O Corinthians cozinhou o jogo e, de certa forma, a expulso de Cssio foi ruim
para o Palmeiras, porque permitiu ao Corinthians se recusar a jogar, o que no
faria com 11 contra 11.
H muito o que fazer no Parque Antarctica, muito mais do que falta em Parque
So Jorge.
Para tristeza dos anfitries o grito que ecoava ao fim do jogo em sua casa era o
dos corintianos: "Bi mundial!". Faz parte.
BRUCUTUZINHOS
No ser campeo sul-americano sub-20 no importante. Importante, nos
torneios das categorias de base, revelar talentos, proporcionar esperanas
para o futuro prximo.
Terra prometida
Africanos enfrentam fome e abandono de agentes em busca de vida melhor no
futebol brasileiro
RAFAEL REISDE SO PAULO
Diederrick Joel Tagueu tinha 15 anos quando se destacou em um campeonato
para adolescentes em Camares e ouviu de um empresrio o convite para vir ao
Brasil.
Sem perspectivas na terra natal, o atacante aceitou a proposta. Em 2009,
desembarcou em Irati, no Paran.
Depois de se destacar no Londrina e Coritiba, o camarons foi contratado pelo
Cruzeiro, bicampeo nacional.
Sua trajetria de sucesso virou inspirao para outros africanos que cruzaram o
Atlntico em busca de oportunidade e, mesmo com sofrimento, continuam a ver
o Brasil como terra prometida.
Alegando alteraes em seu sistema de registros, a CBF no soube precisar
quantos atletas africanos jogam por aqui. Em So Paulo, Estado com o maior
nmero de jogadores federados, so apenas trs: um angolano, um ganense e
outro camarons.
"Aqui o pas do futebol. Tem muitas oportunidades", afirmou Michael Wadier,
22, que vive no Brasil h quatro anos e defende o Tanabi, da ltima diviso
paulista.
Natural de Acra, capital de Gana, ele deixou a terceira diviso de sua terra natal
com outros trs compatriotas depois de um empresrio local, cuja principal
atividade ser comissrio de bordo em voos internacionais, arranjou-lhes um
espao em um pequeno clube do Paran, o Camb.
"A gente ficou l e nosso empresrio nos sustentava. S que houve um problema
de documentao e no pudemos jogar. Como ele achou que no daramos
certo, parou de mandar dinheiro."
A falta de oportunidade fez um dos ganenses voltar frica. Outro, Isaac,
quebrou a perna e abandonou o futebol. Restaram ele e Khalil Folly, que atua no
Operrio (PR). A dupla ganha pouco --Wadier diz receber salrio mnimo--, mas
sustenta Issac, o amigo que ficou pelo caminho. "Ele continua aqui no Brasil,
est estudando. A gente banca ele porque fizemos um pacto: quem desse certo ia
ajudar os outros."
FOME E DOR
gua Chanel
Direitos humanos, dignidade ou liberdades individuais deveriam estar na
seo de artigos de luxo
Muito j foi escrito sobre os totalitarismos do sculo 20 --de grandes obras,
como a da filsofa Hanna Arendt, at textos de ocasio.
Em meio a isso tudo, gostaria de apontar uma das causas de formas totalitrias
de organizao social que muitas vezes escapa ao nosso entendimento mais
imediato. Apesar de bvia.
Uma das matrizes mais seguras de formas totalitrias de organizao social so
as boas intenes articuladas coletivamente em momentos de escassez de
recursos materiais ou imateriais necessrios vida. Dito de outra forma:
liberdade individual artigo de luxo, caro como bolsa Chanel.
De tudo o que j foi dito sobre as liberdades individuais pelos filsofos,
psiclogos e cientistas sociais nos ltimos 200 anos, falta dizer que uma
analogia entre marcas caras de luxo e ideias como direitos humanos, liberdades
individuais ou dignidade da pessoa humana se faz necessrio.
Antes de tudo, porque muitas vezes o modo como se fala disso faz os mais
jovens pensarem que coisas assim caem do cu ou so fruto das redes sociais ou
manifestaes na avenida Paulista.
Resumindo a pera at aqui: liberdades individuais so coisas de rico. "Rico",
aqui, significa sociedades com razovel estabilidade de recursos que, por sua
vez, produz em uma razovel estabilidade institucional. Dito de forma, talvez,
mais potica: quando se fica pobre, tudo vai para o saco.
Sei que nossa sensibilidade um tanto infantil decorrente da ideologizao da
filosofia e das cincias humanas impede que percebamos como funciona essa
matriz de sociedades totalitrias. Quer ver?
Recentemente, esta Folha publicou uma matria na qual condomnios
pensavam em formas de assegurar a justa economia da gua. Uma dessas
formas seria a criao de "guardies da gua" nos condomnios. Basta uma coisa