47940
47940
47940
4, 5, 6 e 7
Bioqumica II
Volume
2 edio
Bioqumica II
Volume 2 - Mdulos 4, 5, 6 e 7
2a edio
Apoio:
Presidente
Masako Oya Masuda
Coordenao do Curso de Biologia
UENF - Ana Beatriz Garcia
UFRJ - Masako Oya Masuda
UERJ - Cibele Schwanke
Material Didtico
Departamento de Produo
ELABORAO DE CONTEDO
EDITORA
Tereza Queiroz
COORDENAO EDITORIAL
COORDENAO E REVISO
Jane Castellani
REVISO TIPOGRFICA
Jane Castellani
Ktia Ferreira dos Santos
COORDENAO DE
PRODUO
COORDENAO DE
ILUSTRAO
Eduardo Bordoni
ILUSTRAO
Jefferson Caador
Salmo Dansa
Sami Souza
CAPA
Eduardo Bordoni
REVISO TCNICA
Jorge Moura
PRODUO GRFICA
Marta Abdala
PROGRAMAO VISUAL
Equipe CEDERJ
D111b
2007/2
Referncias Bibliogrficas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governador
Srgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho
Bioqumica II
SUMRIO
Volume 2 - Mdulos 4, 5, 6 e 7
Mdulo 4
Aula 12 - Respirao celular ____________________________________ 7
Aula 13 - Ciclo de Krebs - Parte 1 ______________________________ 17
Aula 14 - Ciclo de Krebs - Parte 2 ______________________________ 29
Aula 15 - Metabolismo de carboidratos I _________________________ 51
Aula 16 - Metabolismo de carboidratos II ________________________ 65
Mdulo 5
Aula 17 - A oxidao dos aminocidos e a produo de uria _________ 83
Aula 18 - Ciclo da uria______________________________________ 95
Aula 19 - Metabolismo de aminocidos ________________________ 103
Mdulo 6
Aulas 20 / 21 - Degradao de lipdeos _______________________ 115
Aulas 22 / 23 - Sntese de cidos graxos _______________________ 135
Mdulo 7
Aula 24 - Via das pentoses-fosfato ____________________________ 149
Aula 25 - Degradao do glicognio ___________________________ 159
Aula 26 - Biossntese do glicognio ___________________________ 167
Aula 27 - Regulao do metabolismo do glicognio _______________ 175
Aula 28 - Introduo gliconeognese _________________________ 187
Aula 29 - A via gliconeognica _______________________________ 199
Aula 30 - Regulao da gliconeognese ________________________ 211
Aula 31 - Introduo aos hormnios ___________________________ 223
Aula 32 - Glucagon e adrenalina _____________________________ 235
Aula 33 - Insulina e glicocorticides ___________________________ 249
Gabarito _______________________________________________ 265
AULA
Respirao celular
12
12 MDULO 4
AULA
FOGO (Flogiston)
Figura 12.3: Representao resumida da Teoria do Flogstico. A Terra
era considerada um elemento pobre em flogstico, enquanto o metal
era um elemento rico em flogstico.
CEDERJ 9
LAVOISIER
Nesse contexto, o francs, economista e servidor pblico, Antoine
Laurent Lavoisier, iniciou, como hobby, seus estudos na rea da Chymica.
Tido como conservador e metdico, introduziu mtodos de trabalho
que lanaram as bases para a qumica moderna. Graas ao seu poder
econmico, pde montar um laboratrio, com instrumentos de preciso
bastante sofisticados para a poca e, at ento, nunca utilizados em
pesquisa.
Lavoisier, interessado em entender os mecanismos da combusto
de diferentes substncias, realizou diversos experimentos, entre os quais
um chamou particularmente sua ateno, conforme o enunciado que se
segue:
Por volta de oito dias atrs, eu descobri que o enxofre, ao ser
queimado, em vez de perder peso, ao contrrio, ganha peso; o
mesmo acontece com o fsforo; este aumento de peso se deve a
uma prodigiosa quantidade de ar que fixado durante a combusto
e se combina com os vapores.
10 CEDERJ
CEDERJ 11
12 MDULO 4
AULA
Pense
sobre isso!
Experimentos de Priestley
1. Calcinao
Hg
metal de
O2
2HgO
xido de
oxignio
mercrio
mercrio
2. Decomposio do xido
2HgO
2Hg
xido de
metal de
mercrio
mercrio
O2
oxignio
2Hg
xido de
carvo
metal de
dixido de carbono
mercrio
(carbono)
mercrio
ou ar fixado
Smbolo utilizado
para representar
aquecimento
brando.
12 CEDERJ
Smbolo utilizado
para representar
aquecimento
intenso.
CO2
12 MDULO 4
CONJUNTO
VELA + AR*
CAMPNULA
CEDERJ 13
AULA
Pense
sobre isso!
1
2
3
Figura 12.6: Calormetro de Lavoisier e La Place. O aparelho apresenta trs cmaras: a mais interna (1) a cmara que abriga a vela ou a cobaia; a do meio (2)
preenchida por gelo e contm uma sada (a) por onde escoa o gelo derretido pelo
calor liberado pela queima ou pela respirao; a cmara mais externa (3), tambm
preenchida por gelo e apresenta uma sada (b) para escoar o gelo derretido.
14 CEDERJ
Produo de CO2
Gelo derretido
Gelo/ CO2
Matria orgnica
112,35g
2998g
26,69g
Cobaia
11,87g
330,30g
27,80g
12 MDULO 4
Pense
sobre isso!
AULA
Esta aula foi baseada no material organizado pelo Departamento de Bioqumica Mdica, CCS, UFRJ.
RESUMO
Nesta aula voc acompanhou como Lavoisier chegou equao geral da respirao
celular, aceita at hoje (matria orgnica + ar respirvel
CEDERJ 15
AULA
13
INTRODUO
Matria orgnica + O2
18 CEDERJ
13 MDULO 4
AULA
OXIDAO E FERMENTAO
Tomemos como exemplo a fermentao lctica em clulas
musculares. Neste processo, a molcula de hexose fragmentada
em duas molculas de cido lctico. Juntas, estas duas molculas
ALBERT SZENTGYRGYI
Nasceu em Budapeste.
Em 1937 recebeu
o Prmio Nobel
em Fisiologia e
Medicina por suas
descobertas na rea
dos processos de
combusto biolgica,
particularmente com
respeito vitamina C e
ao cido fumrico. Ele
no uma gracinha?
o meu favorito.
CEDERJ 19
Consumo de O2
(mols/g de peso seco)
Bicarbonato formado
(mols/g de peso seco)
Sem adio
670
Acetato
1340
393
Succinato
1520
555
Fumarato
1290
705
Malato
1340
756
Piruvato
1070
318
!
O que sugere este
experimento?
20 CEDERJ
13 MDULO 4
CITOCROMOS
Os citocromos foram
primeiro descritos
como mio-hematina
e histo-hematina
por MacMunn. Essa
histria voc ver
com mais detalhes na
Aula 15.
CEDERJ 21
AULA
Fermentao
cido lctico
HCOH
Respirao
Esquema 13.2
!
Levando em conta o esquema proposto por Szent-Gyrgyi, que transformaes voc verifica em cada
etapa desta seqncia de reaes?
Qual o papel das trioses nos processos fermentativos e oxidativos propostos por Szent-Gyrgyi?
O que ocorreria nesta seqncia de reaes na presena e na ausncia de O2?
22 CEDERJ
13 MDULO 4
AULA
!
De acordo com esta passagem, tal efeito cataltico exercido pelos cidos orgnicos C4 pode ser explicado
com a seqncia de reaes proposta por Szent-Gyrgyi?
A seqncia de reaes de Szent-Gyrgyi explica convenientemente a equao de Lavoisier?
CEDERJ 23
24 CEDERJ
MALNICO
Ou malonato um
inibidor da respirao
celular, no passo
de formao do
succinato no ciclo do
cido ctrico.
!
Qual a relao entre tais reaes e a seqncia
de reaes de Szent-Gyrgyi?
PS. A nomenclatura das molculas apresentadas aquela utilizada nos trabalhos da poca.
CEDERJ 25
13 MDULO 4
AULA
Martius e Knoop
!
Baseado nos resultados mostrados acima e nas
citaes, proponha um esquema de reaes que
explique o efeito cataltico do cido ctrico e
do -cetoglutarato, integrando as trioses nesta
seqncia.
26 CEDERJ
13 MDULO 4
AULA
!
Com base nessas informaes, construa o seu esquema representando o ciclo
do cido ctrico.
RESUMO
Nesta aula ns vimos a histria do ciclo do cido ctrico, seus principais personagens
e as etapas iniciais de elucidao dessa via. A evoluo do conceito de Lavoisier
at chegar aos principais intermedirios e reaes do ciclo.
CEDERJ 27
objetivos
AULA
14
INTRODUO
Como voc viu na Aula 12 o ciclo do cido ctrico foi descoberto por Hans
Krebs e, portanto, tambm denominado de Ciclo de Krebs.
Voc viu nas Aulas 9 e 10 que algumas clulas obtm energia por processos
fermentativos em que a molcula de glicose quebrada na ausncia de
oxignio. Para a maioria das clulas eucariticas e para algumas bactrias, sob
condies aerbicas, seus combustveis orgnicos so transformados em CO2
mais gua, sendo a gliclise o primeiro estgio da degradao completa da
glicose. Aps esse estgio, voc viu que a molcula de piruvato poderia seguir
diversos caminhos metablicos; entre eles, podia ser convertida em etanol e em
lactato, se a clula estivesse na ausncia de oxignio. No entanto, a molcula
de piruvato pode tambm ser convertida a acetil-CoA. Na realidade, o grupo
acetil, na forma de acetil-CoA, um intermedirio comum ao metabolismo de
quase todos os compostos biolgicos. Ele pode ser formado a partir de glicdios,
lipdeos e protenas (veja a Figura 14.1).
30 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
graxos
CEDERJ 31
32 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
- Mercaptoe
tanolamina
piruvato desidrogenase
34 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
Acetaldedo
ativado
CEDERJ 35
Figura 14.5: Representao do complexo piruvato desidrogenase e das etapas de descarboxilao da molcula
de piruvato.
36 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
succinil-CoA
CEDERJ 37
38 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
CEDERJ 39
40 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
Succinato
CEDERJ 41
14 MDULO 4
AULA
L-malato
oxaloacetato
Figura 14.16: Reao de formao do oxaloacetato.
CEDERJ 43
44 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
Condensao
acetil
succinil-CoA
REAES ANAPLERTICAS
So reaes para a reposio de intermedirios do ciclo que so
removidos para vias biossintticas.
Em mamferos, a reao mais importante para reposio de
intermedirios do Krebs a reao catalisada pela piruvato carboxilase.
Ela ocorre no fgado e nos rins.
Em organismos aerbicos, o ciclo do cido ctrico uma via
anfiblica, ou seja, serve tanto para processos catablicos como para
processos anfiblicos. Alm de seu papel no catabolismo oxidativo de
carboidratos, cidos graxos e aminocidos, o ciclo fornece precursores
para muitas vias biossintticas. Como podemos observar na Figura 14.19,
-cetoglutarato e oxaloacetato servem como precursores dos aminocidos
glutamato e aspartato. Esses aminocidos podem ser usados para sntese
de outros aminocidos ou para sntese de bases nitrogenadas, purinas e
CEDERJ 45
46 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
CEDERJ 47
48 CEDERJ
14 MDULO 4
AULA
Figura 14.20: Regulao do complexo piruvato desidrogenase por fosforilao e por desfosforilao.
CEDERJ 49
50 CEDERJ
AULA
Metabolismo de
carboidratos I
15
RESPIRAO CELULAR
Agora, que voc conhece o ciclo do cido ctrico, sua histria e o
conhecimento atual, vamos acompanhar um pouco da descoberta dos
citocromos e da cadeia transportadora de eltrons mitocondrial. Esta
etapa fundamental para entender o processo completo da respirao
celular, uma forma mais eficiente de extrao de energia utilizada pelos
organismos aerbicos. nesta etapa que os NADHs e os FADH2s
reduzidos no ciclo do cido ctrico se reoxidam gerando energia para a
sntese de aproximadamente 30 molculas de ATP.
O conhecimento de como isto acontece, veio aos poucos.
Acompanhe nesta aula os passos histricos fundamentais e, na
prxima, acompanhe o processo completo, tal como entendido
hoje. Nesta aula, voc ir encontrar questes que no tem uma
resposta correta, que pode ser mais ou menos elaborada e, por isso,
no apresentamos gabarito. A aula no essencial para entender o
tema (respirao celular), mas importante que voc tente entender a
histria, mergulhando nela. Discuta com seu tutor e seus colegas. Fica
muito mais interessante.
Ver na aula de
fotossntese (Aula 6) o
espectro de luz visvel.
ESPECTRO
caracterstico
52 CEDERJ
15 MDULO 4
No lugar de MacMunn, o que voc faria para ratificar sua descoberta frente s crticas sobre uma provvel
contaminao dos tecidos analisados, com derivados da hemoglobina?
Espectro de
absoro
Prisma
Lente
Lente
Objeto
Estgio do
microscpio
Fonte de luz
CEDERJ 53
AULA
Figura 15.2: Espectro de absoro da luz visvel de msculos de abelha (a). As linhas
mais escuras so as linhas de absoro que aparecem sobre um espectro de luz visvel
de fundo caracterstico (b).
!
Sabendo-se da propriedade oxirredutora dos citocromos e do possvel envolvimento com o fenmeno da
respirao, o que voc espera que acontea com o espectro de absoro quando a abelha movimenta as
asas e quando esta permanece quieta?
Keilin tambm trabalhou com suspenso de levedura. O que voc espera ter acontecido quando Keilin
borbulhou ar na cubeta contendo uma suspenso de levedura?
!
No lugar de Keilin e Hartree, o que voc concluiria a partir destas
observaes?
Qual o destino final dos eltrons aps o ltimo citocromo?
54 CEDERJ
15 MDULO 4
AULA
V. A. Belitser e E. T. Trybakova
!
Levando em considerao estes achados em que etapa est ocorrendo
o armazenamento de energia na forma de fosfagen (steres de
fosfato)?
CEDERJ 55
Fosfagen, mgP2O5
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
Respirao, LO2
1,0
100,0
II
III
V
200,0
300,0
400,0
IV
500,0
!
O que sugere este resultado?
56 CEDERJ
Datas dos
Experimentos
Tecido
Substrato
15 MDULO 4
Respirao em L O2 Aumento de
por 1 g de tecido por fosfagem em mg de
30 minutos
P3O2 por g de tecido
Sem
Com
Sem
Com
substrato substrato substrato substrato
1939
1 de abril
19 de abril
263
399
4,00
7,25
95
386
0,20
5,62*
05 de maio
120
540
0,45
3,40*
07 de abril
206
956
2,30
4,26
03 de junho
280
420
1,84
16 de maio
252
387
1,56
214
420
2,34
10 maio
170
153
1938
CEDERJ 57
AULA
Fritz Lipmann
I- Introduo Histrica
!
Logo foi reconhecido o papel do ATP como um carreador de energia nos
processos metablicos. Mas, qual o stio de sntese de ATP na clula? O que
voc faria para responder a esta questo?
58 CEDERJ
1.000 X g:
15 MDULO 4
FRAO CELULAR
AULA
ACELERAO
Acima de 500.000 X g:
Frao
Mitocndria
Substrato
Citrato
7,1
-cetoglutarato
6,3
Piruvato + oxaloacetato
7,1
Nada
0,18
Sobrenadante
Consumo de
oxignio (M)
1,9
-cetoglutarato
1,7
Piruvato + oxaloacetato
0,98
Nada
0,0
Citrato
0,54
-cetoglutarato
0,0
Piruvato + oxaloacetato
1,4
Nada
0,31
!
Comparando a taxa respiratria (consumo de oxignio) das trs fraes obtidas (mitocndria, precipitado
nuclear e sobrenadante), qual das fraes celulares est envolvida com a respirao, e como voc integraria
os resultados obtidos por Keilin e Belitser & Tsybakova?
Como voc comprovaria o seu esquema?
CEDERJ 59
Consumo de
oxignio
Fosfato
esterificado
32
Pi
esterificado
Nada
0,18
24,2
0,67
Citrato
7,1
106
31,3
cetoglutarato
6,3
113
39,3
Piruvato + oxaloacetato
7,1
113
32,6
0,5
37
3,2
Octanoato
4,5
121
27,8
Experimento
Substrato
CIDO LBIL
CIDO LBIL
Propriedade cido
lbil significa que o
composto sensvel a
meios cidos. Usa-se
lbil em contraposio
a resistente. Temos
ainda termolbil
em contraposio a
termorresistente.
60 CEDERJ
15 MDULO 4
Microtomos de oxignio consumido
2 adio de 5 x 10-6 M
AULA
10
20
30
40
tempo em minutos
50
!
O que sugere o experimento da Figura 15.4?
10
15
20
tempo em minutos
25
30
CEDERJ 61
!
Qual a relao entre o desaparecimento de NADH2 e o
consumo de oxignio na Figura 15.5?
Experimento
nmero
2
Tipo de
enzima
Tempo
Orto-fosfato DPNH2 P/DPNH2
Citocromo
(minutos)
c (M)
(M)
(M)
0
4,72
4,94
2,81
3,92
1,89
0,003M
15
1,96
3,13
1,52
DPN
7,43
17
7,27
H2O
4 X 10-4
Tubos duplicados contendo 0,005M de MgCl2, 0,005M de KCl, 0,002M a 0,004M de ADP, 0,02M de
tampo glicil-glicina pH 7,4, citocromo c, ortofosfato, DPNH2, na concentrao indicada na tabela e
0,03M de NaF. Cada tubo recebeu 0,30 ml da suspenso da partcula indicada (partculas derivadas
de 50 mg de fgado de rato) para um volume total de 2,0 mL. A temperatura nos diferentes experimentos variou de 17 24o C.
!
Observando as medidas de A.L. Lehninger na Tabela 15.4,
sugira o papel do NADH2 durante a oxidao da glicose e
relacione com a sntese de ATP.
62 CEDERJ
15 MDULO 4
investigando o acoplamento entre o consumo de oxignio e
a fosforilao, com o efeito do 2,4-dinitrofenol (DNP):
Figura 15.6: A estrutura do 2,4-dinitrofenol
(DNP), um veneno metablico.
Adies
Consumo de Consumo
de fosfato
oxignio
Razo
Pi: O
Nenhuma
8,0
17,5
2,2
8 X 10 -4 MDNP
7,9
1,3
0,2
!
Que concluses voc tiraria destes dados?
CEDERJ 63
AULA
!
Durante muitos anos, o DNP foi prescrito para uso em tratamento da obesidade, pois os pacientes que o
utilizavam mostravam uma rpida diminuio em seu peso. Como voc explicaria este fenmeno do ponto
de vista bioqumico? Voc acharia adequado tal tratamento?
64 CEDERJ
objetivos
AULA
Metabolismo de
carboidratos II
16
INTRODUO
CONCEITOS INICIAIS
A cadeia transportadora de eltrons (CTE) um conjunto de
reaes que ocorre nas cristas mitocondriais (ver Aula 14) e fornece
energia para outro processo, a fosforilao oxidativa.
Alimento
66 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
AS LANADEIRAS
A lanadeira malato-aspartato
Este sistema usa as molculas de malato e aspartato para
transportar os hidrognios que esto associados ao NADH no citoplasma
da clula. Envolve tambm outras molculas normalmente presentes na
matriz mitocondrial e no citoplasma. Um hidrognio ligado ao NADH
transferido para o oxaloacetato (que voc j conhece), formando
malato no citoplasma da clula. A membrana interna mitocondrial tem
que leva o malato do
A N T I P O R TA
Reveja as aulas de
transporte atravs
de membranas em
Biologia Celular I.
ANTIPORTA
CEDERJ 67
A lanadeira do glicerofosfato
O segundo caminho para entrada dos eltrons na matriz
mitocondrial a lanadeira do glicerofosfato ou fosfoglicerol. Nesse
caso, os hidrognios associados ao NADH reduzido na gliclise so
transferidos para a diidroxiacetona-fosfato (DHAP) formando o 3fosfoglicerol no citoplasma. A enzima que catalisa esta reao a
3-fosfoglicerol desidrogenase. A enzima flavoprotena desidrogenase
catalisa a transferncia deste hidrognio para o FADH2 (o resumo do
mecanismo de transporte est na Figura 16.3).
Diidroxiacetona
fosfato
68 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
Fosforilao
substrato
2 ATP
Acetil-CoA
2 ATP
4
Fosforilao oxidativa
2NADHx3= 6 ATP
2NADHx3= 6ATP
6NADHx3 = 18 ATP
2FADH2x2 = 4 ATP
34
CEDERJ 69
70 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
FMN
Fe-S
UQ
FeS
UQ
CEDERJ 71
Fumarato + UQH2
FADH2
2Fe2+
UQH2
72 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
!
Se voc no se lembra
do conceito de grupo
prosttico, volte s
aulas de protenas,
em Bioqumica I.
CEDERJ 73
O ciclo Q
A coenzima Q (CoQ) ou ubiquinona (Q ou UQ) passa seus
eltrons para o citocromo c (e bombeia prtons) num ciclo redox nico
!
Para relembrar o conceito
de unidades isoprenides,
veja aula de outros lipdeos
em Bioqumica I.
74 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
2e-
CEDERJ 75
Em resumo:
O oxignio o aceptor final dos eltrons na cadeia transportadora.
A reduo do oxignio resulta na sntese de gua.
76 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
A FOSFORILAO OXIDATIVA
O COMPLEXO V - ATP SINTASE
O complexo V - ATP sintase
A ATP sintase uma enzima que catalisa a sntese de ATP. Voc
j viu uma enzima parecida na fotossntese (veja fase clara, Aula 6).
No processo de respirao celular, esta enzima responsvel pela etapa
chamada FOSFORILAO OXIDATIVA. Nesta etapa, a energia do
fluxo de eltrons convertida em ATP.
At o complexo IV, o resultado da cadeia transportadora de
eltrons a sntese de duas molculas de gua e um aumento da
concentrao de prtons no espao intermembranas. Lembre que esses
prtons foram bombeados pelos complexos I, III e IV. O bombeamento
de prtons estabelece um gradiente de prtons atravs da membrana
mitocondrial interna (veja na Figura 16.11).
P ETER D. M ITCHELL
Prmio Nobel de
Qumica de 1978,
por sua contribuio
ao entendimento
dos processos de
transferncia de
energia em sistemas
biolgicos atravs da
formulao da Teoria
Quimiosmtica.
http://www.nobel.se/
chemistry/laureates/
1978/mitchellbio.html
Figura 16.12: O gradiente dos prtons formado durante a cadeia transportadora de eltrons.
CEDERJ 77
Figura 16.14: Estrutura tridimensional da ATP sintase. Em (a) uma vista lateral e em (b) uma viso frontal da
estrutura da protena. Note o arranjo das subunidades.
Fonte: Biochemistry. 2a ed. Garrett e Grisham, Saunders College Publishing.
Disponvel online em: http://www.people.virginia.edu/~cmg/slides_download.html
78 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
Figura 16.15: O potencial de reduo padro dos componentes mveis e dos complexos
indicado pela escala esquerda. Tambm esto indicados os pontos onde a energia
liberada suficiente para sintetizar ATP e os stios dos vrios inibidores respiratrios
(rotenona, amital, antimiciana A e cianeto). Os complexos I, II e IV no sintetizam
diretamente ATP, mas capturam a energia livre necessria para a sntese de ATP pelo
bombeamento de prtons que gera o gradiente utilizado como fora eletromotriz
pela ATP sintase.
CEDERJ 79
DESACOPLAMENTO
Voc j sabe que a CTE e a fosforilao oxidativa so eventos
acoplados, interdependentes. Para que a mitocndria sintetize ATP,
necessrio que os eltrons passem atravs dos componentes da cadeia e
que os prtons sejam bombeados.
Entretanto, em alguns casos possvel desacoplar os dois processos.
Isso pode ocorrer com a utilizao de substncias qumicas chamadas
desacopladores, como o 2,4-dinitrofenol (DNP) ou o carbonilcianeto-p-trif
luorometoxifenilhidrazona (FCCP) (ver Figura 16.16). Estas molculas, por
serem capazes de atravessar facilmente a membrana interna mitocondrial
por difuso, podem levar os prtons do espao intermembranas de volta
para a matriz, desfazendo o gradiente eletroqumico. Na presena dessas
substncias, ento, a cadeia transportadora de eltrons funciona sem que
haja sntese de ATP.
80 CEDERJ
16 MDULO 4
AULA
CEDERJ 81
RESUMO
EXERCCIOS
1. Descreva a rota seguida pelos eltrons da glicose at o O2.
2. Explique como se d o acoplamento entre cadeia transportadora de eltrons
e fosforilao oxidativa.
3. Como os dois processos podem ser desacoplados?
4. Explique o caminho percorrido pelo NADH reduzido na gliclise at a cadeia
transportadora de eltrons.
5. Quais as vantagens e desvantagens do metabolismo baseado no oxignio?
6. Faa um paralelo entre o metabolismo oxidativo de carboidratos (gliclise,
ciclo do cido ctrico, cadeia transportadora de eltrons e fosforilao oxidativa)
e a fotossntese, destacando diferenas e semelhanas. A que concluses voc
chegou a respeito dos princpios bsicos que norteiam os mecanismos utilizados
pelos organismos para obteno de energia?
7. Explique por que a mitocndria de uma clula heptica contm menos cristas do
que a mitocndria da clula do msculo cardaco.
82 CEDERJ
objetivos
AULA
A oxidao dos
aminocidos
e a produo de uria
17
Pr-requisitos
Conhecimento da estrutura e da simbologia dos
aminocidos obtido em Bioqumica I
(Mdulo 2, Aulas 8 a 10).
Conhecimento do ciclo de Krebs obtido nas
Aulas 13 e 14 desta disciplina.
INTRODUO
84 CEDERJ
17 MDULO 5
AULA
Voc pde observar, nas Aulas de 9 a 11, que a degradao dos carboidratos
forneceu piruvato, que, por sua vez, foi convertido a acetil-CoA; a degradao
de cidos graxos tambm gerou molculas de acetil-CoA que foi oxidada no
ciclo de Krebs.
Um ponto importante para distinguir o metabolismo dos aminocidos
do processo de degradao dos cidos graxos e dos carboidratos que
todos os aminocidos contm grupamento amino; logo, seu processo
de degradao inclui uma etapa chave, na qual o grupamento amino
separado do esqueleto de carbonos e desviado para vias especficas de
utilizao de aminocidos. Veja um resumo esquemtico da transformao
dos aminocidos na Figura 17.1. Nela, podemos observar que os aminocidos
podem vir tanto da dieta quanto de outras protenas intracelulares. A cadeia
de carbonos utilizada em rotas metablicas que voc j conhece, enquanto a
parte nitrogenada dos aminocidos, na forma de amnia, processada
em uma via denominada ciclo da uria, que ser abordada em detalhes
na Aula 18.
CEDERJ 85
So aqueles que
devem ser ingeridos
na dieta. As clulas
no possuem enzimas
para sintetizar seu
esqueleto carbnico.
Em mamferos so:
isoleucina, leucina,
valina, lisina,
treonina, triptofano,
fenilalanina, metionina
e histidina.
DESTINO
DO
AMINOCIDOS
ESQUELETO DE
CARBONOS DOS
denominados
AMINOCIDOS
Os aminocidos,
quando desaminados,
produzem cetocidos que,
diretamente ou
atravs de reaes
adicionais, rendem
componentes do
ciclo de Krebs. Os
aminocidos podem
ser agrupados
em duas classes:
glicognicos e
cetognicos.
86 CEDERJ
so
GLICOGNICOS
AMINOCIDOS
AMINOCIDOS CETOGNICOS
GLICOGNICOS
Os esqueletos
carbnicos dos
aminocidos
glicognicos
so degradados
em piruvato ou
intermedirios, de
4 e 5 carbonos,
do ciclo de Krebs.
Os aminocidos
glicognicos so as
principais fontes
de carbono da
gliconeognese
quando os nveis de
glicose caem. Eles
podem ser degradados
para produzir energia
ou ser convertidos em
glicognio ou cidos
graxos para estocar
energia.
AMINOCIDOS
CETOGNICOS
Os esqueletos
de carbonos dos
aminocidos
cetognicos so
degradados em acetilCoA e acetoacetato.
O esqueleto carbnico
dos aminocidos
cetognicos pode ser
catabolizado para a
produo de energia
ou ser convertido a
corpos cetnicos ou
cidos graxos.
17 MDULO 5
AMINOCIDOS
AULA
DESAMINAO
DE AMINOCIDOS
Alm de equilibrar os
grupamentos amino
entre -cetocidos,
as transaminases
recolhem o
grupamento amino
do excesso de
aminocidos da dieta
e transferem para
aqueles aminocidos
que podem ser
desaminados, como
por exemplo o
glutamato.
O esqueleto de
carbonos dos
aminocidos,
que podem ser
desaminados, pode
ser catabolizado para
obter energia ou ser
usado para a sntese
de glicose ou cidos
graxos para estocar
energia.
Somente alguns
aminocidos podem
ser desaminados
diretamente.
cetocido formado.
Figura 17.4: A) Reao catalisada pela alanina
aminotransferase; B) Reao catalisada pela aspartato
aminotransferase. Observe em A que a alanina
doa seu grupamento amino sendo convertida no
-cetocido, o piruvato; em B o aspartato doa seu
grupamento amino sendo convertido no -cetocido,
o oxaloacetato; em ambas as reaes o -cetoglutarato recebe o grupamento amino, tornando-se o
aminocido glutamato.
88 CEDERJ
17 MDULO 5
AULA
B
A
Figura 17.5: A) Estrutura do piridoxal
fosfato O grupo prosttico das
transaminases o piridoxal fosfato
(PLP), um derivado da vitamina B6.
Figura 17. 5: Aminocido PLP na forma de uma base de Schiff C) O -amino grupo do
substrato aminocido desloca lisina da enzima, para formar uma base de Schiff com o PLP.
D) Esse tipo de ligao promove a posterior hidrlise, liberando o -cetocido derivado do
aminocido, o piridoxal fosfato convertido em uma piridoxaminafosfato.
CEDERJ 89
FUNO
ENZIMA
L - G L U TA M AT O
DESIDROGENASE
Retirar do
aminocido glutamato
o on amnio (NH3),
proveniente de
diversos aminocidos,
para que amnia
txica seja utilizada
na formao da uria.
DESIDROGENASE.
MECANISMOS
POSTULADOS
PA R A A
TOXICIDADE DA
AMNIA
1 - Altas
concentraes de
amnia deslocam o
equilbrio da reao
catalisada pela
glutamina sintetase no
sentido de formao
de glutamina. Isso
leva a um consumo
aumentado do
glutamato, um
neurotransmissor
e precursor para a
sntese de um outro
neurotransmissor, o
cido gama-amino
butrico (GABA).
2 - O consumo de
glutamato e altas
concentraes de
amnia poderiam
deslocar o equilbrio
da reao catalisada
pela glutamato
desidrogenase no
sentido reverso,
ou seja, no sentido
de consumir cetoglutarato, um
intermedirio essencial
para o ciclo de
Krebs. Isso limita o
metabolismo
energtico do crebro.
90 CEDERJ
Figura 17.6: Reao catalisada pela glutamato desidrogenase. A glutamato desidrogenase remove os grupamentos N do pool de aminocidos.
Ela uma das poucas enzimas que podem utilizar tanto NAD+ como
NADP+ como aceptor de eltrons.
17 MDULO 5
AULA
glutamato
Figura 17.7: Reao catalisada pelas enzimas glutamina sintetase e glutaminase. As duas primeiras
etapas so catalisadas pela enzima glutamina sintetase. Observe que h consumo de ATP na primeira.
A terceira etapa catalisada pela enzima glutaminase.
CEDERJ 91
FUNO
DA
ENZIMA
tambm pode ser usada como fonte de amnia para reaes biossintticas.
G L U TA M I N A
S I N T E TA S E
Introduzir um
grupamento NH3 no
aminocido glutamato
para sintetizar o
aminocido glutamina.
Esta reao ocorre para
reduzir a concentrao
da amnia livre.
FUNO
DA
ENZIMA
G L U TA M I N A S E
Retirar a amnia
que estava sendo
transportada pela
glutamina. Essa reao
ocorre para alimentar
vias biossintticas e para
alimentar o ciclo da
uria.
92 CEDERJ
17 MDULO 5
AULA
Figura 17.8: Ciclo glicose-alanina. A alanina atua como um carreador de amnia e de esqueletos de carbonos do
piruvato dos msculos para o fgado. A amnia excretada e o piruvato reutilizado para formar glicose, a qual
retorna ao msculo.
RESUMO
CEDERJ 93
EXERCCIOS
1. Faa uma distino entre aminocidos essenciais e aminocidos no-essenciais.
Indique os principais pontos de entrada desses aminocidos no ciclo de Krebs.
2. O que so aminocidos glicognicos e cetognicos? D exemplos.
3. Represente reaes catalisadas por transaminases, glutamato desidrogenase,
glutamina sintetase. Escreva sobre a importncia de cada uma dessas enzimas.
4. Pesquise, em outras fontes, razes que expliquem a toxicidade dos ons amnia.
5. Pense no tipo de alimento e no ambiente em que vivem os peixes, aves e
mamferos e procure responder: por que esses animais eliminam a amnia de
diversas maneiras, ou seja, peixes como amnia; aves como cido rico; mamferos
como uria?
94 CEDERJ
objetivo
AULA
Ciclo da uria
18
Pr-requisito
Conhecimentos adquiridos na Aula 17.
INTRODUO
Na Aula 17, voc aprendeu que a amnia um composto txico e que precisa
ser eliminada pelo organismo. Vimos que em vrios animais o produto de
excreo a uria. Na aula anterior, foram apresentadas algumas reaes
para a canalizao de ons amnio, de diversos aminocidos, at o fgado,
local onde o processo de desintoxicao ocorre. Falamos da importncia das
reaes de transaminao, desaminao oxidativa e do transporte da amnia
na forma de alanina e glutamina. Nesta aula, discutiremos sobre as reaes de
formao da uria, o principal produto final do catabolismo do nitrognio, no
homem. Um indivduo humano consome em torno de 300g de carboidratos,
100g de gordura e 100g de protenas, diariamente; excreta cerca de 16,5g
de nitrognio, sendo 95% na urina e 5% nas fezes. A uria pode constituir
cerca de 90% do nitrognio excretado. O ciclo da uria e o ciclo dos cidos
tricarboxlicos (TCA) foram descobertos por Hans Krebs e colaboradores. De
fato, o ciclo da uria foi descrito antes do ciclo TCA. Em mamferos, o ciclo da
18 MDULO 5
AULA
!
Se voc tiver dvidas sobre
composto rico em energia,
releia as Aulas 1 e 2.
CEDERJ 97
98 CEDERJ
CEDERJ 99
18 MDULO 5
AULA
Figura 18.4:
Transporte de citrulina e de ornitina.
Em cada ciclo, a citrulina deixa a
mitocndria e a ornitina entra na
matriz mitocondrial. Protenas carreadoras presentes na membrana interna
mitocondrial facilitam o fluxo transmembrana de citrulina e de ornitina.
100 CEDERJ
18 MDULO 5
AULA
RESUMO
EXERCCIOS
1. Que composto formado no ciclo da uria pode ser utilizado no ciclo de Krebs?
2. Explique a razo pela qual so consumidas molculas de ATP no processo de
formao da uria.
3. Pesquise algumas explicaes para que os animais tenham escolhido diferentes
compostos para eliminar o nitrognio txico: amnia em animais aquticos;
uria em vertebrados e na maioria dos animais terrestres; cido rico em aves.
4. Faa um resumo das reaes do ciclo da uria.
CEDERJ 101
objetivos
AULA
Metabolismo
de aminocidos
19
INTRODUO
que resultam da deficincia dessas enzimas, quer seja por uma reduo
no nvel de expresso, quer seja por uma alterao na atividade. Essas
deficincias so chamadas desordens do ciclo da uria ou simplesmente
DCUs, erros inatos do metabolismo. Em geral esses erros so doenas
raras, mas representam causa substancial de danos cerebrais e morte entre
recm-nascidos e crianas. A estimativa exata da incidncia de DCUs
desconhecida e, provavelmente, subestimada, pois ainda hoje existe
grande dificuldade em diagnosticar tais desordens, e muitas crianas
morrem antes de um diagnstico definitivo.
104 CEDERJ
19 MDULO 5
AULA
Os sintomas aparecem nas primeiras 24 horas de vida. O recmnascido mostra-se inicialmente irritado e, a seguir, aparecem vmitos
e um aumento da letargia. Logo depois, observa-se hipotonia (tnus
muscular deficiente) e angstia respiratria que podem levar ao coma.
Em alguns casos, os sintomas podem aparecer tardiamente durante a
infncia ou mesmo durante a vida adulta.
Existem sete principais DCUs. Cada uma delas recebe uma
denominao relacionada s iniciais da enzima deficiente. Assim:
CPS- deficincia na carbamoil-fosfato sintetase.
NAGS- deficincia na N-acetilglutamato sintetase.
OTC- deficincia na ornitina transcarbamilase.
AS- deficincia na cido arginino-succnico sintetase (citrulinemia).
AL/ASA- deficincia na arginino-succinato liase (arginino-succnico
aciduria).
AG- deficincia na arginase.
AO- deficincia na ornitina aminotransferase.
As deficincias so, quase todas, conhecidas como hiperamonemias, porque o diagnstico detecta um alto nvel de amnia no sangue.
Isso no ocorre apenas no caso da deficincia de ornitina aminotransferase.
Na pgina http://www3.ncbi.nlm.nih.gov/Omim/searchomim.html voc
pode entrar com o nome da doena gentica (em ingls) e ver sintomas,
caractersticas metablicas e diagnstico laboratorial. Esse um banco de
dados do National Center for Biotechnology Information. Neste centro
de informaes, voc pode acessar o Online Mendelian Inheritance in
Man da Johns Hopkins University. D uma olhada quando puder.
CEDERJ 105
Enzima Deficincia
Sintomas/Comentrios
Hiperamonemia do
tipo I - CPS
Carbamoil-fosfato
sintetase I
Deficincia de Nacetilglutamato
sintetase - NAGS
N-acetilglutamato
sintetase
Hiperamonemia do
Tipo 2 - CPS
Ornitina transcarbamilase
Citrulinemia
clssica - AS
Arginino-succinato
sintetase
Arginino-succnico
acidria - AL/ASA
Arginino-succinato
liase (argininosuccinase)
HiperargininemiaAG
Arginase
106 CEDERJ
19 MDULO 5
AULA
Fenilcetonria (PKU)
Alm dos erros inatos ligados diretamente s enzimas do ciclo da
uria, algumas outras doenas genticas so conseqncias de outras
CEDERJ 107
A inabilidade de remover
o excesso de fenilalanina do
sangue, e o conseqente acmulo
daqueles produtos durante a infncia, produz uma variedade de problemas, incluindo o retardo
mental. Felizmente, um teste simples (o teste do pezinho) feito logo aps o nascimento pode
identificar esse defeito gentico e, com muita ateno quantidade de fenilalanina em sua dieta,
a criana pode desenvolver-se normalmente.
Fenilalanina
108 CEDERJ
Para lembrar
Bioqumica I...
Sabendo-se que o cido
glutmico um aminocido e o cido pirvico
no, identifique quem
quem nas duas figuras
abaixo.
CEDERJ 109
19 MDULO 5
Pense
sobre isso!
AULA
110 CEDERJ
19 MDULO 5
AULA
CHARLES RICHET
Nasceu em Paris em
1850. Tornou-se
doutor em Medicina
em 1869, doutor em
Cincias em 1878 e
professor de Fisiologia
da Faculdade de
Medicina em 1887.
Ganhou o prmio
Nobel de Medicina
em 1913.
http://www.nobel.se/
medicine/laureates/
1913/richet-bio.html
A palavra
estequiometria deriva
do grego stoicheon,
que significa a
medida dos elementos
qumicos, ou seja,
as quantidades
envolvidas de cada
substncia em uma
reao qumica. Veja
a discusso da pgina
http://www.cdcc.sc.
usp.br/quimica/
experimentos/
estequi.html
112 CEDERJ
19 MDULO 5
AULA
FRITZ ALBERT
LIPMANN
Nasceu na Alemanha
em 1899. Cientista
e mdico ganhador
do prmio Nobel de
Fisiologia e Medicina
de 1953.
http://www.nobel.se/
medicine/laureates/
1953/lipmannbio.html
CEDERJ 113
RESUMO
Voc viu nesta aula alguns dos erros inatos do metabolismo de aminocidos que
levam a doenas que, em muitos casos, acarretam a morte de recm-nascidos,
crianas e adultos. A maior parte dos danos provocados por estas desordens
do ciclo da uria conseqncia da toxicidade dos altos nveis de amnia
(hiperamonemias), principalmente no crebro. Nesta aula, pudemos tambm
discutir aspectos experimentais do ciclo da uria, mostrando os principais pontos
da histria da elucidao desta via metablica.
Nesta aula no apresentaremos exerccios: voc j usou neurnios suficientes
por ora.
114 CEDERJ
objetivo
AULAS
Degradao
de lipdeos
20/21
INTRODUO
116 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 117
118 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 119
palmitato-carnitina + CoA
MDULO 6
20/21
AULAS
palmitoil-CoA + carnitina
CEDERJ 121
122 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 123
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 125
126 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 127
128 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 129
130 CEDERJ
MDULO 6
20/21
AULAS
CEDERJ 131
Figura 20.11: O acetil-CoA tem duas portas de entrada: o ciclo de Krebs (porta 1) e a
formao de corpos cetnicos (porta 2). A porta 1 ficar fechada se falta oxalacetato.
Neste caso, o acetil-CoA entrar pela porta 2 formando corpos cetnicos. Se houver
grande disponibilidade de oxalacetato, a porta preferencial ser a 1 e, com isso, a
produo de corpos cetnicos diminui. Isso ocorre, por exemplo, quando o fgado
oxida cidos graxos com nmero mpar de tomos de carbono.
132 CEDERJ
MDULO 6
20/21
EXERCCIOS
Reflita e responda:
1. Vimos que, no fgado, o acetil-CoA formado pela -oxidao do palmitato forma
corpos cetnicos e no entra no ciclo de Krebs, conforme o esperado para o acetil-CoA.
Se o ciclo de Krebs no est funcionando no fgado, neste momento, como o
fgado consegue energia para se manter vivo no momento do jejum?
2. Por que o fgado no manda para os tecidos famintos o acetil-CoA formado
na -oxidao, mas sim acetoacetato e -hidroxibutirato?
3. Explique com suas palavras por que os cidos graxos com nmero mpar geram
menos corpos cetnicos que os cidos graxos de nmero par?
4. Na sua opinio, qual a importncia, do ponto de vista energtico, da ltima
volta da -oxidao, ou seja, da tilise? Compare a reao catalisada pela tiolase
com a reao catalisada pela acil-CoA sintase, que a enzima que pendura CoA
no palmitato quando este precisa entrar na mitocndria.
CEDERJ 133
AULAS
RESUMO
objetivo
AULAS
Sntese de
cidos graxos
22/23
ASPECTOS HISTRICOS
A sntese de cidos graxos foi desvendada depois que as principais
reaes da -oxidao haviam sido descritas. S para lembrar, atravs da
-oxidao que o palmitato quebrado em acetil-CoA. A oxidao
composta por quatro reaes: desidrogenao dependente de FAD; hidratao;
desidrogenao dependente de NAD+ e tilise. Voc se lembra?
Os pesquisadores interessados em conhecer a sntese de cidos
graxos acreditavam que esta via era o reverso da -oxidao, ou seja,
eles acreditavam que havia um nico conjunto de enzimas que era capaz
de quebrar o palmitato em determinadas situaes, ou fazer o palmitato
em outras. Essa crena baseava-se no fato de que as quatro enzimas
envolvidas na degradao do palmitato mostraram-se reversveis quando
purificadas. Logo, parecia simples: se as enzimas da -oxidao podem
catalisar reaes reversveis (substrato
MDULO 6
22/23
AULAS
SNTESE DO PALMITATO
O citrato
A sntese do palmitato ocorre a partir do acetil-CoA (2 tomos
de carbono). Entretanto, o acetil-CoA uma molcula mitocondrial e,
conforme acabamos de ver, a sntese do palmitato ocorre no citoplasma
das clulas. Logo, o acetil-CoA precisa chegar ao citoplasma para que
haja a sntese do palmitato.
Conforme discutimos na aula passada, a coenzima A muito
grande para atravessar as membranas biolgicas e, por isso, o acetilCoA no pode cruzar as membranas da mitocndria para chegar ao
citoplasma. Como, ento, o acetil-CoA chega ao citoplasma para dar
incio sntese do palmitato? Vejamos.
Quando comemos muito acar, a taxa de glicose do nosso sangue fica
elevada. A glicose (6 tomos de carbono) entra nas clulas e degradada
pela gliclise, dando origem a duas molculas de piruvato (3 tomos de
carbono). Se voc no se recorda bem de como ocorre a gliclise, reveja
a aula sobre esse assunto.
O piruvato formado no citoplasma entra na mitocndria atravs
de um translocador localizado na membrana interna mitocondrial.
Na mitocndria, o piruvato convertido em acetil-CoA atravs da
piruvato desidrogenase. O acetil-CoA (2 tomos de carbono) se junta
ao oxalacetato (4 tomos de carbono) para formar o citrato (6 tomos
de carbono) que segue pelo ciclo de Krebs.
Quando h excesso de glicose, todas essas reaes aqui descritas
ocorrem em grande abundncia, j que h excesso e fartura de glicose.
Nesta situao, h uma grande formao de citrato, que se acumula
dentro da mitocndria. A concentrao de citrato aumenta tanto que o
citrato acaba vazando da mitocndria, caindo no citoplasma.
CEDERJ 137
O destino do acetil-CoA
Agora, temos o acetil-CoA no citoplasma! Entretanto, a sntese do
palmitato utiliza o malonil-CoA (composto com 3 tomos de carbono).
Desta forma, o acetil-CoA ser convertido em malonil-CoA
pela ao da enzima acetil-CoA carboxilase. Essa a primeira enzima
envolvida na sntese do palmitato. Como o prprio nome diz, a
acetil-CoA carboxilase pendura um CO2 no acetil-CoA, isto ,
ela carboxila o acetil-CoA, que passa a formar malonil-CoA, um
composto com 3 tomos de carbono. Veja:
acetil-CoA + CO2 + ATP
malonil-CoA + ADP + Pi
138 CEDERJ
MDULO 6
22/23
AULAS
Citosol
oxalacetato
oxalacetato
CEDERJ 139
140 CEDERJ
MDULO 6
22/23
AULAS
CEDERJ 141
142 CEDERJ
MDULO 6
22/23
Acetil-CoA carboxilase
AULAS
Acetil-CoA
malonil-CoA
substrato
produto
substrato
palmitato
produto
CEDERJ 143
filamento
carboxilase
(muito ativo)
(pouco ativos)
144 CEDERJ
MDULO 6
22/23
AULAS
induzida pelo hormnio glucagon. Conforme voc ver nas aulas de regulao hormonal, o glucagon, um hormnio que liberado no momento do
jejum, ativa uma protena cinase que fosforila (pendura um grupamento
fosfato) diversas enzimas, dentre as quais a acetil-CoA carboxilase.
Quando fosforilada, a acetil-CoA carboxilase passa a ficar inibida.
Desta forma, quando estamos em jejum sob a ao do glucagon, a acetil-CoA
carboxilase est completamente inibida, j que se encontra fosforilada.
enzima defosforilada
-P
enzima fosforilada
ativa
inibida
NADPH
Antes de terminarmos, falta compreender de onde vem tanto NADPH
que necessrio para manter a sntese do palmitato. Lembre-se de que em
cada rodada do complexo da AGS h consumo de duas molculas
de NADPH.
Vimos anteriormente que, quando a concentrao de citrato
est muito aumentada na mitocndria, o citrato vaza, alcanando o
citoplasma.
Esse citrato convertido em acetil-CoA e oxalacetato pela ao
da citrato liase. O acetil-CoA ou ser convertido em malonil-CoA pela
acetil-CoA carboxilase ou ser utilizado na primeira rodada do complexo
da AGS para formar palmitato.
E o oxalacetato (OA)? Qual o destino desta molcula?
O
CEDERJ 145
Citosol
oxalacetato
oxalacetato
Figura 22.5: O transporte de citrato para fora da mitocndria gera OA, que, ao
retornar para a mitocndria na forma de piruvato, gera poder redutor (NADPH)
para a sntese do palmitato.
146 CEDERJ
MDULO 6
22/23
AULAS
Sntese do palmitato
1. condensao
2. hidratao
3. desidratao
4. tilise (quebra)
CEDERJ 147
RESUMO
EXERCCIOS
1. Descreva com suas prprias palavras o processo de sntese de palmitato a partir
do acetil-CoA.
2. Como o acetil-CoA chega ao citoplasma, local onde ocorre a sntese de
lipdeos?
3. Quais so os controles da sntese de lipdeos?
148 CEDERJ
objetivos
AULA
24
Pr-requisitos
Seria interessante que voc relesse as aulas sobre
gliclise, ciclo de Krebs e sntese de cidos graxos
antes de comear. Vamos retomar alguns pontos
dessas vias metablicas nesta aula.
INTRODUO
Para relembrar
como so as reaes
catalisadas pelas
desidrogenases, voc
pode retornar s
aulas que trataram
das reaes da
gliclise e do ciclo de
Krebs, e observar as
reaes catalisadas
pelas enzimas
gliceraldedo-3fosfato desidrogenase,
isocitrato
desidrogenase,
-cetoglutarato
desidrogenase, ou
malato desidrogenase.
150 CEDERJ
24 MDULO 7
AULA
6-fosfogluconato
A descarboxilao
oxidativa catalisada
pela enzima
fosfogluconato
desidrogenase
semelhante
reao catalisada
pela isocitrato
desidrogenase, enzima
do ciclo de Krebs.
CEDERJ 151
isomerase
152 CEDERJ
24 MDULO 7
AULA
gluconolactona
ribulose P
isomerase
sedoheptulose
gliceraldedo 3P
4P
CEDERJ 153
154 CEDERJ
24 MDULO 7
AULA
Se voc tiver
dificuldade de
acompanhar esta parte,
volte aula que trata
da sntese de cidos
graxos e relembre
os principais pontos
abordados.
CEDERJ 155
156 CEDERJ
24 MDULO 7
AULA
RESUMO
As clulas usam NAD+ nas reaes oxidativas e NADPH nas biossnteses redutivas.
O NADPH sintetizado atravs de um caminho alternativo de oxidao da
glicose, a via das pentoses-fosfato. Esta via pode ser dividida em duas fases: o
ramo oxidativo e o ramo no-oxidativo. O ramo oxidativo tem como funo a
reduo de NADPH para as reaes de biossntese, assim como a formao de
pentoses-fosfato para a sntese de nucleotdeos, atravs da oxidao da glicose6P. A velocidade desta via determinada pela atividade da enzima glicose-6P
desidrogenase, controlada basicamente pelos nveis de NADP+. A capacidade das
enzimas de distinguirem NADH (que essencialmente utilizado no metabolismo
energtico) de NADPH (utilizado essencialmente como poder redutor das reaes
biossintticas) permite que as reaes de sntese e de degradao sejam reguladas
independentemente. O ramo no-oxidativo permite a converso das pentoses
formadas em intermedirios da via glicoltica, possibilitando sua utilizao em
outras vias do metabolismo da clula.
EXERCCIOS
CEDERJ 157
objetivo
AULA
Degradao do glicognio
25
Pr-requisitos
Ter compreendido a estrutura da clula vegetal
(Aula 5) e ter pleno conhecimento da organizao
dos meristemas primrios e secundrios (Aula 6),
bem como dos sistemas fundamental (Aula 8) e
vascular xilema (Aula 9).
INTRODUO
4,0 %
72g1
Glicognio muscular
0,7 %
245g2
Glicognio extracelular
0,1%
10g3
160 CEDERJ
25 MDULO 7
AULA
CEDERJ 161
GLICOGENLISE
A glicognio fosforilase catalisa a primeira etapa da degradao
do glicognio
A glicognio fosforilase catalisa a fosforlise (clivagem pela entrada
de um fosfato) do glicognio, uma reao na qual um Pi usado na
clivagem de uma ligao -1,4-glicosdica para render glicose 1-fosfato
(Figura 25.2). Essa clivagem sempre ocorre no terminal no-redutor da
molcula de glicognio.
no-redutor
Glicognio fosforilase
162 CEDERJ
25 MDULO 7
AULA
CEDERJ 163
164 CEDERJ
25 MDULO 7
AULA
RESUMO
CEDERJ 165
objetivo
AULA
Biossntese do glicognio
26
Pr-requisito
fundamental rever os assuntos ligados
estrutura e funo dos carboidratos, abordados
nas Aulas 32, 33 e 34 de Bioqumica I.
INTRODUO
168 CEDERJ
26 MDULO 7
AULA
ENZ + Glicose-1,6-biP
Enz-P + glicose-1-P
CEDERJ 169
170 CEDERJ
26 MDULO 7
AULA
(C6)n
UDP
(primer do glicognio)
(C6)n+1
(glicognio)
6]
6,
4 e formam-se
CEDERJ 171
172 CEDERJ
26 MDULO 7
AULA
RESUMO
CEDERJ 173
objetivos
AULA
Regulao do metabolismo
do glicognio
27
Pr-requisito
Conhecimentos adquiridos nas
Aulas 2, 3, 25 e 26 de Bioqumica II.
INTRODUO
Na Aula 25 voc viu uma figura (25.1) que comparava os grnulos de glicognio,
presentes no citosol de um hepatcito de rato bem alimentado, com os grnulos
existentes em um hepatcito de um rato em jejum. Voc aprendeu, nas Aulas
25 e 26, que a degradao do glicognio e a sua sntese ocorrem prximo a
estes grnulos, e, portanto, no citosol. Assim, podemos deduzir que as duas
enzimas chaves do metabolismo do glicognio, a glicognio fosforilase e a
glicognio sintase, estejam distribudas no citosol.
Agora pensemos juntos...
Durante a degradao do glicognio liberamos glicose-1-fosfato pela ao
da glicognio fosforilase; esta molcula usada na sntese do glicognio,
pela ao da glicognio sintase. Uma clula precisa, portanto, de sistemas de
regulao muito aprimorados para impedir a realizao de ciclos fteis, ou
seja, reaes que aparentemente no conduziriam a lugar algum. Neste caso,
a glicose 1-P gerada na degradao do glicognio para atender a necessidade
de aumento dos nveis de glicose sangnea ou para alimentar a via glicoltica
poderia ser imediatamente utilizada para repor as reservas de glicognio. Para
impedir tal ciclo ftil, nosso organismo desenvolveu mecanismos de controle
simultneos para cada uma destas duas enzimas. So estes mecanismos que
sero abordados nesta aula.
176 CEDERJ
27 MDULO 7
AULA
!
Se voc teve dvida sobre o
que regulao alostrica
e regulao por modulao
covalente, leia novamente
a Aula 3.
CEDERJ 177
27 MDULO 7
AULA
180 CEDERJ
27 MDULO 7
AULA
CEDERJ 181
182 CEDERJ
27 MDULO 7
AULA
CEDERJ 183
RESUMO
184 CEDERJ
27 MDULO 7
4. Qual enzima no est presente nos msculos mas est presente no fgado?
CEDERJ 185
AULA
186 CEDERJ
objetivo
AULA
Introduo
gliconeognese
28
Pr-requisito
Voc deve ter acompanhado bem a matria at
agora, pois vai ser necessrio retornar a vrios
pontos explorados anteriormente.
INTRODUO
188 CEDERJ
28 MDULO 7
AULA
Tabela 28.1: Variaes das concentraes plasmticas de glicose e cidos graxos e do contedo de glicognio
heptico de um paciente em jejum prolongado.
0
5,5
glicose] (mM)
0,3
[cidos graxos] (mM)
Glicognio heptico (g) 97
2h
4h
5,4
0,35
84
5,0
0,4
70
3,8
1,18
3
3,6
1,15
--
3,5
1,58
--
3,8
1,36
--
3,6
1,44
--
CEDERJ 189
190 CEDERJ
28 MDULO 7
AULA
Mas, e aps alguns dias? Vemos no grfico que os nveis dessas molculas se
estabilizam, permanecendo constantes ao longo de todo o jejum. Como voc
explicaria essa observao? Ser que o organismo de repente pra de usar os
cidos graxos?
1
2
3
4
5
19
21
28
16
20
Sexo
M
M
M
F
F
Peso (kg)
Inicial
Final
Diferena
125,2
160,6
178,6
104,1
108,9
101,8
138,2
159,6
88,4
93,0
23,4
22,4
15,7
15,7
15,9
Lembre-se de que as
reaes da -oxidao
dos cidos graxos
levam produo de
1 NADH e 1 FADH2
por cada dois carbonos
retirados da cadeia
do cido graxo. Essas
coenzimas reduzidas
levam eltrons para
a cadeia respiratria,
contribuindo para
a sntese de ATP.
Alm disso, as
vrias molculas de
acetil-CoA formadas
tambm podem
ser completamente
oxidadas no ciclo de
Krebs, gerando mais
ATPs.
Ser que todas as nossas clulas esto usando os cidos graxos como fonte de
energia nessa situao?
CEDERJ 191
192 CEDERJ
28 MDULO 7
AULA
GLICEMIA
Concentrao de
glicose no sangue.
se mantm estvel.
De fato, a concentrao sangnea de glicose sempre mantida
dentro de limites bastante estreitos, independentemente de qual seja o
consumo deste nutriente pelo organismo. Essa homeostase de glicose se
d devido a uma srie de mecanismos reguladores, que vamos estudar
em aulas mais frente. Estes mecanismos so extremamente importantes,
j que disfunes na capacidade de manter a glicemia levam a graves
conseqncias: a diminuio acentuada dos nveis de glicose no sangue,
mesmo que por perodos curtos, pode causar graves distrbios no crebro,
e, se for prolongada, pode levar at morte. E no s durante o
jejum que a glicemia mantida constante. A hiperglicemia por longos
perodos tambm provoca vrios problemas metablicos, como aqueles
observados em quadros de diabetes. Estudaremos tambm este aspecto
da homeostase de glicose em aulas mais frente.
GLICOGNIO ,
um polmero de glicose. A
A VIA GLICONEOGNICA
194 CEDERJ
Logo, o que estava de fato ocorrendo no homogeneizado preparado pelo casal Cori era a transformao de piruvato em glicose.
Esses achados levantavam a hiptese de que a via de formao de
glicose, ou seja, a gliconeognese, seria a inverso da via glicoltica, que, como
(levando a diferentes
afinidades) para
seus substratos. Por
exemplo, a isoforma
presente no msculo
esqueltico possui mais
afinidade pelo piruvato
do que pelo lactato.
Por isso, quando o
msculo entra em
alta atividade, logo
aps um pequeno
acmulo de piruvato,
que no pode ser
completamente
oxidado devido a um
aporte insuficiente de
oxignio, o lactato
produzido. Por outro
lado, a isoforma
heptica tem maior
afinidade pelo lactato,
transformando este
em piruvato quando
sua disponibilidade
aumenta.
CEDERJ 195
28 MDULO 7
A lactato desidrogenase
apresenta isoformas
expressas nos
diferentes tecidos.
Estas isoformas se
diferenciam com
relao ao seu KM
AULA
Piruvato
Figura 28.3: Resumo esquemtico da via glicoltica mostrando os valores de G
(Kcal/mol) para cada uma das reaes.
28 MDULO 7
AULA
RESUMO
Embora muitos rgos e tecidos possam manter seus nveis de ATP essencialmente
atravs da oxidao de cidos graxos, alguns tipos celulares dependem
exclusivamente ou preferencialmente da glicose como nutriente. Este o caso
do crebro, das hemcias e de algumas outras clulas em menor nmero no
organismo. Para a sobrevivncia dessas clulas em situaes nas quais a ingesto de
carboidratos baixa ou nula, necessria a sntese de glicose a partir de precursores
no-glicdicos, atravs de uma via metablica chamada gliconeognese.
A gliconeognese pode ser considerada uma reverso parcial da via glicoltica,
uma vez que vrias reaes da gliclise so usadas na sntese de glicose. As reaes
irreversveis da gliclise, catalisadas pelas enzimas hexocinase, PFK-1 e piruvato
cinase, so substitudas por reaes diferentes, catalisadas por outras enzimas,
na gliconeognese.
EXERCCIOS
1. A homeostase de glicose extremamente importante para nosso organismo.
Um dos motivos a existncia de alguns tipos celulares que requerem
exclusivamente ou preferencialmente a glicose como nutriente. D exemplos
de clulas que se comportam assim e justifique a dependncia que elas tm
da glicose.
2. Justifique o emagrecimento de um indivduo mantido em jejum.
3. Por que a gliconeognese no pode ser uma simples reverso da glicose?
CEDERJ 197
objetivo
AULA
A via gliconeognica
29
Pr-requisito
Para seguir bem esta aula, voc deve estar
com uma boa viso geral das seguintes vias
metablicas: gliclise, ciclo de Krebs,
degradao de aminocidos, sntese e
degradao de cidos graxos.
A converso de
piruvato em PEP na
gliconeognese custa
para a clula duas
molculas de ATP,
enquanto a converso
de PEP em piruvato
durante a gliclise gera
apenas uma molcula
de ATP.
200 CEDERJ
29 MDULO 7
AULA
CEDERJ 201
Figura 29.2: Transporte do oxalacetato da mitocndria para o citosol. O oxalacetato pode ser transportado
atravs de sua converso em aspartato (1) ou em malato (2). O caso 2 envolve oxidao de NADH mitocondrial
com concomitante reduo de NAD+ citoplasmtico, levando ao transporte simultneo de equivalente de NADH
da mitocndria para o citosol.
202 CEDERJ
29 MDULO 7
AULA
Fosfoenolpiruvato
Oxalacetato
Oxalacetato
CEDERJ 203
204 CEDERJ
29 MDULO 7
AULA
CEDERJ 205
Quando o cido
graxo oxidado,
os carbonos so
retirados de dois em
dois, gerando vrias
molculas de acetilCoA. Se o cido
graxo possui nmero
mpar de carbonos,
uma molcula de trs
carbonos, o propionilCoA, sobra ao final.
206 CEDERJ
29 MDULO 7
AULA
CEDERJ 207
208 CEDERJ
29 MDULO 7
AULA
contornada
CEDERJ 209
RESUMO
EXERCCIO
NAD+
NADH
CH3CH2OH
CH3COH
210 CEDERJ
objetivo
AULA
Regulao da
gliconeognese
30
Pr-requisitos
Para seguir esta aula, voc deve ter
compreendido bem as aulas sobre gliclise e as
aulas sobre gliconeognese. Tenha-as em mos
para eventuais consultas ao longo da leitura.
212 CEDERJ
30 MDULO 7
AULA
Se voc se esqueceu da
reao catalisada pela
PIRUVATO DESIDROGENASE,
consulte a aula de ciclo
de Krebs.
Oxalacetato
CEDERJ 213
214 CEDERJ
30 MDULO 7
AULA
Oxalacetato
Oxalacetato
Figura 30.3: Esquema da regulao do destino do piruvato durante situaes de baixa glicemia.
CEDERJ 215
216 CEDERJ
30 MDULO 7
AULA
CEDERJ 217
218 CEDERJ
30 MDULO 7
AULA
RESUMO
220 CEDERJ
30 MDULO 7
CEDERJ 221
AULA
EXERCCIOS
objetivo
AULA
31
Pr-requisitos
As Aulas 13 e 14 de Biologia Celular I tratam de
temas complementares aos que vamos abordar
aqui. Seria interessante que voc relesse essas
aulas antes de comear.
INTRODUO
Vamos comear esta aula com uma apresentao dos hormnios e de suas
caractersticas. Nas prximas duas aulas, vamos falar especificamente dos quatro
hormnios que so os principais reguladores do metabolismo energtico:
o glucagon, a adrenalina, a insulina e os glicocorticides.
Uma caracterstica essencial dos organismos multicelulares a diferenciao
celular, que resulta na diviso de atividades entre seus rgos e tecidos, que
desta forma desempenham funes especializadas. Para entendermos o papel
das diferentes vias metablicas e de sua regulao, preciso consider-las
durante o funcionamento do organismo como um todo. A capacidade de os
tecidos especializados funcionarem de uma maneira integrada foi possvel,
em grande parte, pelo aparecimento do sistema endcrino, que, juntamente
com o sistema nervoso, promove a coordenao das atividades metablicas
dos organismos complexos, otimizando a distribuio de nutrientes e de
precursores para os diferentes rgos e tecidos. Essa integrao mediada
H ORMNIOS
Esta terminologia foi
utilizada inicialmente
para definir apenas
as substncias
sintetizadas pelas
glndulas endcrinas
e secretadas
na circulao,
levando a respostas
especficas de um
ou mais tecidosalvo. Atualmente,
o termo se refere a
qualquer molcula
sinalizadora, capaz
de gerar uma resposta
em determinada
clula. Assim,
podemos classificar os
hormnios como: (a)
endcrinos aqueles
que circulam pelo
corpo at atingirem
o rgo-alvo; (b)
parcrinos aqueles
que interagem com
clulas vizinhas;
e (c) autcrinos
aqueles que atuam
sobre a prpria
clula secretora. Ou
seja, os hormnios
so classificados de
acordo com seu raio
de ao.
Insulina
Glucagon
224 CEDERJ
31 MDULO 7
AULA
Colestanos: 27 carbonos
ex: colesterol
CH3
CH3
CH3
Pregnanos: 21 carbonos
ex: progesterona
CH3
CH3
Andranos: 19 carbonos
ex: testosterona
CH3
CH3
Estranos: 18 carbonos
ex: estradiol
CH3
Os derivados de aminocidos incluem a adrenalina, a noradrenalina, a dopamina e os hormnios da tireide, todos formados a partir
da tirosina (Figura 31.3).
Adrenalina
Noradrenalina
OH
OH
OH
OH
CH
CH
OH
OH
CH2
CH2
NH
NH2
CH3
Hormnios da tireide
I
HO
B
I
5
A
H2N
CO2H
O
HO
Tiroxina (T4)
H2N
CO2H
Triiodotironina (T3)
!
Os hormnios da tireide (T3 e T4), que no sero estudados no nosso curso,
tambm so armazenados. Eles so produzidos a partir da clivagem de uma
protena, a tireoglobulina. Essa protena possui vrios resduos de tirosina que
so modificados pela adio de iodo, formando T3 e T4. Grandes quantidades
de tireoglobulina podem ser armazenadas na tireide, garantindo a produo
de T4 mesmo em longos perodos de falta de iodo.
TRANSPORTADORAS
DE HORMNIOS
Especficas:
globulina ligadora de
tiroxina (TBG)
globulina ligadora de
corticosterides (CBG)
No-especficas:
albumina
transtirretina
PROTENAS TRANSPORTADORAS
so
226 CEDERJ
DE SINAL
Hormnios tireoideanos
Vitamina D
Receptor de
membrana
AMPc
Receptor
citoplasmtico
Receptor
nuclear
Transmissores
Hormnios peptdeos
O sangue proveniente
do trato gastrointestinal chega ao
fgado pela veia
porta-heptica, cujas
ramificaes banham
os lbulos hepticos.
Assim, os nutrientes
provenientes da
alimentao so
filtrados pelo fgado
antes de atingirem a
circulao sistmica.
O mesmo ocorre
com o hormnio
insulina, que tambm
liberado do pncreas
na veia portaheptica.
Ca2+
Fosforilao
RNAm
Sntese de protena
SISTEMA
P O R TA - H E P T I C O
Regulao
enzimtica
Figura 31.4: Mecanismos de ativao de uma clulaalvo pelos hormnios. Receptores de membrana
para hormnios hidrossolveis transmitem o sinal
hormonal atravs de mensageiros intracelulares,
como o AMPc ou o clcio. Isso resulta na ativao
de protenas quinases que catalisam a fosforilao
de diversas enzimas do metabolismo, regulando sua
atividade. Hormnios lipossolveis ativam receptores
intracelulares que se ligam ao DNA, regulando a
expresso gnica.
CEDERJ 227
31 MDULO 7
TRANSDUO
AULA
!
Earl W. Sutherland Jr. (19151974) e sua equipe isolaram
o AMPc em 1958, e assim o
chamaram porque os tomos
do nico grupo fosfato da
molcula de AMPc esto
arranjados sob a forma de
um anel. Sutherland Jr. foi
agraciado com o Prmio
Nobel em Fisiologia e Medicina em 1971.
228 CEDERJ
Ligantes
Receptores associados
a cinases
Receptores acoplados
protena G
Receptores associados
a canais inicos
Insulina, fatores
de crescimento
Hormnio do
crescimento,
prolactina, citocinas
Insulina, fatores
de crescimento
Neurotransmissores,
aminocidos
Estrutura
Protena tirosina ou
serina cinase
Tirosina cinase
associada ao receptor
Segundo mensageiro
(AMPC IP3 on)
on
Protenas cinases
citoplasmticas
Figura 31.5: Principais classes de receptores de membrana para hormnios e neurotransmissores. A insulina e
muitos fatores de crescimento se ligam a receptores de membrana que atuam como tirosinas cinases, catalisando a
fosforilao de protenas em seus resduos de tirosina; o hormnio do crescimento, a prolactina e muitas citocinas
se ligam a receptores que se associam a tirosinas cinases citoplasmticas; uma terceira classe de agonistas se liga
a receptores (R) que se acoplam a um efetor (geralmente enzimas que produziro segundos mensageiros) (E)
atravs de protenas G (G); a quarta classe de receptores inclui aqueles associados a canais inicos.
CEDERJ 229
31 MDULO 7
Receptor com
atividade cinsica
AULA
Classe
1 molcula
do sinalizador
Cada receptor ativa
muitas protenas G, que
podem ativar muitas
adenilato ciclases
GTP
Receptor
Amplificao
GTP
Protena G
ATP
GTP
Amplificao
AMPC
Amplificao
Enzima X
Amplificao
Produtos da
enzima X
230 CEDERJ
31 MDULO 7
AULA
ATP
Adenilato ciclase
AMPC
Fosfodiesterase
AMP
!
Voc j viu exemplos de enzimas reguladas atravs de fosforilao catalisada
pela PKA em aulas anteriores.
PT
R
R
R
R
R
RNAm
Protena
hsp
Efeitos fisiolgicos
Figura 31.7: Mecanismo de ao de hormnios esterides. O esteride () chega clula-alvo associado a uma
protena transportadora (PT). Os receptores (R) so protenas intracelulares presentes no ncleo ou no citoplasma
associados a protenas de choque trmico (heat shock proteins, hsp), quando no ligados ao hormnio. O complexo
hormnio-receptor se liga ao DNA em regies especficas, modulando a expresso gnica.
232 CEDERJ
31 MDULO 7
AULA
RESUMO
EXERCCIOS
Os exerccios referentes s Aulas 31, 32 e 33 sero apresentados em conjunto ao
final da Aula 33.
CEDERJ 233
objetivos
AULA
Glucagon e adrenalina
32
Pr-requisitos
Esta aula e a prxima vo explorar a
integrao hormonal do metabolismo. Por
isso, ser importante que voc tenha uma
viso geral bem clara do metabolismo e das
vrias vias que o compem. Aproveite para
adiantar o estudo de toda a matria antes
de comear a ler estas aulas. Assim, elas
serviro para reforar seus conhecimentos e
podero fornecer uma viso mais ampla do
funcionamento do nosso organismo.
INTRODUO
GLUCAGON
Natureza qumica, sntese e secreo do glucagon
O glucagon um hormnio peptdico secretado pelo
PNCREAS
PNCREAS,
Pncreas exgeno:
sintetiza e secreta
enzimas responsveis
pela digesto de
protenas (tripsina,
quimotripsina e
carboxipeptidase),
carboidratos (amilase)
e lipdeos (lipase)
provenientes da dieta,
alm de secretar
bicarbonato de sdio.
Pncreas endgeno:
sintetiza e secreta
os hormnios
glucagon, insulina e
somatostatina.
O receptor de glucagon
O glucagon, assim como os demais hormnios peptdicos, exerce
seus efeitos atravs da ligao a um receptor localizado na membrana
plasmtica das clulas-alvo. O receptor de glucagon pertence
superfamlia dos receptores acoplados protena G (Figura 32.1).
!
Voc aprendeu sobre receptores acoplados protena G na Aula 31 de
Bioqumica II e na Aula 14 de Biologia Celular I.
236 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
Mecanismo de ao do glucagon
Os principais efeitos conhecidos do glucagon so mediados por
um aumento dos nveis intracelulares de AMPc. Isso ocorre porque
o receptor de glucagon encontra-se associado a uma famlia muito
particular de protenas, conhecida como famlia das protenas G, como
j comentamos anteriormente.
!
Para relembrar o que so as protenas G e como os nveis intracelulares de
AMPc so controlados por elas, releia o final da Aula 31 de Bioqumica II e a
Aula 14 de Biologia Celular I.
CEDERJ 237
Adenilato ciclase
ATP
Protena G
AMPc
PKA
Figura 32.2: Eventos desencadeados pela ligao do glucagon a seu receptor presente na superfcie celular.
4 AMPC
PKA ativa
238 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
!
Antes de ser batizado com seu nome atual, o glucagon era conhecido como fator hiperglicemiante
glicogenoltico. Isso se deveu a algumas experincias realizadas entre 1921 e 1938, que mostraram que
extratos pancreticos injetados em animais sem pncreas provocavam rapidamente hiperglicemia, em
decorrncia da mobilizao do glicognio heptico. De fato, o primeiro efeito conhecido do glucagon foi
o estmulo da degradao do glicognio.
SNTESE
DEGRADAO DE
GLICOGNIO
Se precisar, reveja
as vias de sntese
e de degradao
do glicognio, assim
como sua regulao,
nas Aulas 25, 26 e 27.
fosforilar esta enzima. Essa fosforilao faz com que a glicognio sintase
passe de sua forma a (ativa) para a forma b (inativa).
A fosforilase cinase tambm fosforilada pela PKA, tornando-se
ativa. Essa enzima catalisa a fosforilao da glicognio fosforilase, a
enzima-chave da degradao do glicognio. Quando fosforilada, a
glicognio fosforilase sofre uma mudana conformacional, passando
da forma b (inativa) para a forma a (ativa).
Veja um esquema da regulao da sntese e da degradao do
glicognio na Figura 32.4.
CEDERJ 239
Glicognio sintase
a (ativa)
Glicognio
fosforilase b
(inativa)
Protena cinase
Fosfoprotena fosfatase
P
Glicognio
fosforilase b
(inativa)
P
P
Glicognio
fosforilase a (ativa)
P
Figura 32.4: Esquema da regulao das enzimas-chave da sntese (glicognio sintase) e da degradao (glicognio
fosforilase) em resposta ao do glucagon.
!
Reveja as reaes e
a regulao da via
gliconeognica nas
Aulas 29 e 30.
240 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
o transporte das
SNTESE
DE
CIDOS GRAXOS
Reveja a sntese de
cidos graxos em
detalhes nas
Aulas 22 e 23.
242 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
Pncreas
(clulas )
Glucagon
Protena
Intestino
Fgado
Aminocido
Glicerol
Veia porta
Glicose
Entercitos
Lactato
Alanina
Uria
Corpos
cetnicos
Alanina
Crebro
Glicerol
CO2 + H2O
Alanina
cidos graxos
Lactato
Lipdeos
Hemcias
Glutamina
Tecido adiposo
Aminocido
CO2 + H2O
Protena
Tecido muscular
ADRENALINA
Natureza qumica e secreo da adrenalina
A adrenalina faz parte de um grupo de substncias denominadas
catecolaminas, por suas estruturas derivarem do catecol (Figura 32.6).
CEDERJ 243
Dopamina
Catecol
Norepinefrina
Epinefrina
Figura 32.6: Estrutura do catecol e das catecolaminas.
ADRENAL
A adrenal pode
ser dividida em
duas partes: o
crtex, que secreta
glicocorticides e
mineralocorticides
(falaremos desses
hormnios na Aula
33); e a medula, cujo
principal produto
de secreo a
adrenalina.
nome), que se localiza acima dos rins e, por isso, tambm conhecida
como glndula supra-renal.
Em resposta a situaes de estresse agudo (estresse psicolgico,
cansao fsico, jejum prolongado ou hipoglicemia, perda sangnea e
diversas condies patolgicas), ocorre ativao do sistema nervoso
simptico, que parte integrante do sistema nervoso autnomo.
Como parte dessa resposta adaptativa, h aumento da liberao de
catecolaminas pela adrenal. A liberao dessas substncias no sangue e
sua atuao em rgos perifricos, principalmente no caso da adrenalina,
promovem as conhecidas reaes de fuga ou luta. Essas reaes so
caracterizadas por dilatao pupilar, taquicardia, sudorese, tremores,
aumento da glicemia.
!
As aes dos produtos secretados pela adrenal tm grande correlao com as
funes do sistema nervoso simptico. Dessa forma, freqentemente usamos
o termo sistema simptico-adrenal para ressaltar as inter-relaes existentes
entre o sistema nervoso autnomo e o sistema endcrino representado pela
adrenal.
244 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
Receptores adrenrgicos
A adrenalina uma molcula polar e solvel em meio aquoso e,
portanto, incapaz de atravessar a membrana plasmtica das clulas.
Assim, uma vez liberada na circulao, a adrenalina exerce seus efeitos
intracelulares por intermdio da ao de receptores de membrana,
os chamados receptores e -adrenrgicos. Os receptores adrenrgicos,
assim como os receptores de glucagon, se encontram associados
protena G. Como voc j deve estar suspeitando, a seqncia de eventos
que ocorrem a partir da ligao da adrenalina a seu receptor semelhante
quela descrita para a ao do glucagon.
isso mesmo! Entretanto, a distribuio dos receptores
adrenrgicos entre os tecidos diferente da distribuio dos receptores
de glucagon, de forma que os efeitos gerais sobre o metabolismo tambm
vo ser diferentes frente a um estmulo de adrenalina ou de glucagon.
RECEPTORES
ADRENRGICOS
sua ligao a
RECEPTORES
So divididos em
vrios subtipos.
Primeiramente, so
divididos em dois
grandes grupos:
os receptores e
-adrenrgicos.
Os receptores se
dividem nos subtipos
1, 2, 3, este
ltimo exclusivo
do tecido adiposo.
Os receptores so
divididos em 1 ou
2. Os receptores
1 podem ainda
ser subdivididos
em vrios outros
subtipos: 1A,
1B etc.
CEDERJ 245
Lipdeos
Fgado
cidos
graxos
Corpos
cetnicos
Glicose
Glicose
CO2
CO2
Lactato
Tecido muscular
Glicognio
246 CEDERJ
32 MDULO 7
AULA
RESUMO
EXERCCIOS
Os exerccios referentes s Aulas 31, 32 e 33 sero apresentados em conjunto ao
final da Aula 33.
248 CEDERJ
objetivo
AULA
Insulina e glicocorticides
33
Pr-requisito
Esta aula tambm vai explorar a integrao
hormonal do metabolismo. Por isso, ser
importante, novamente, adiantar o estudo de
toda a matria antes de comear a ler a aula, de
forma que voc tenha uma boa viso geral do
metabolismo e das vrias vias que o compem.
INSULINA
Caractersticas qumicas da insulina
A insulina uma pequena protena com 51 resduos de aminocidos,
secretada pelas clulas das Ilhotas de Langerhans do pncreas. Ela
sintetizada como uma forma inativa, chamada pr-pr-insulina. Essa
Pr-pr-insulina
Insulina madura
+
NH3
+
NH3
Seqncia
de sinalizao
S
C
SS
+
H3N
+
NH3
S
Cadeia A
S S
SS
COO-
Cadeia B
S
S S
COO-
COO-
OOC
Seqncia de sinalizao
Peptdeo C
Figura 33.1: Processo de formao da insulina. A insulina madura formada a partir de seu precursor pr-pr-insulina
atravs de sucessivas reaes de protelise. A remoo de 23 aminocidos (seqncia de sinalizao) na regio
animo-terminal da pr-pr-insulina e a formao de trs pontes dissulfeto produzem a pr-insulina. Posteriormente,
nova protelise remove o peptdeo C, formando a insulina madura, composta por duas cadeias A e B.
250 CEDERJ
33 MDULO 7
AULA
!
Existem algumas drogas,
utilizadas no tratamento
do diabetes, denominadas
hipoglicemiantes orais,
que tambm estimulam
a secreo de insulina
(estmulo clnico).
Receptor e mecanismos de ao
O receptor de insulina faz parte da grande famlia dos receptores
tirosina cinase. uma glicoprotena composta de duas subunidades
, que contm stios de ligao para a insulina, e duas subunidades ,
que atravessam a membrana plasmtica da clula e apresentam atividade
tirosina cinase em seus domnios citoslicos (Figura 33.2).
Insulina ligada
ATP
Tyr
Tyr
P
Protena-alvo
Domnio Tyr
tirosina cinase
Stio de autofosforilao
ADP
Tyr
Efeitos intracelulares
CEDERJ 251
!
Os estudos referentes ao mecanismo de ao da insulina tm grande
importncia face alta prevalncia de diabetes mellitus em todo o mundo.
O diabetes a terceira maior enfermidade, que acomete pelo menos 3% da
populao europia e norte-americana e 100 milhes de pessoas em todo o
mundo.
!
Voc aprendeu as caractersticas e a importncia dos
fosfolipdeos na disciplina
Bioqumica I.
Membrana plasmtica
Receptor
de insulina
ATP
p110
p85
Fosfoditil
inositol-3-cinase
Citoplasma
252 CEDERJ
IRS-1
(Figura 33.3).
Figura 33.3: Esquema da transduo de sinal da insulina.
O receptor da insulina ativo se liga temporariamente
IRS-1, fosforilando-a, e esta ltima se liga
subunidade regulatria p85 da PI3K. O complexo
IRS-1/PI3K transloca-se para membranas, promovendo
a fosforilao do fosfatidilinositol.
33 MDULO 7
AULA
KM aproximado
para glicose (mM)
Distribuio
Caractersticas
SGLT-1
0,2-0,5
Intestino e rim
GLUT-1
10
GLUT-2
20-42
GLUT-3
1-5
Neurnios, placenta
GLUT-4
2-10
Transportador dependente de
insulina
GLUT-5
---
GLUT-7
---
Hepatcitos
CEDERJ 253
GLUT-4
Membrana
plasmtica
Insulina
Receptor
de insulina
ATP
Cinase ativada
por AMP
Protenas
cinase B
(Akt)
Translocao
para
membrana
plasmtica
?
Protenas
cinase C
atpica
p110
p85
Fosfoditil
inositol-3-cinase
IRS-1
Domnios SH2
Citoplasma
Vesculas contendo
GLUT-4 (responsivos
ao exerccio)
Vesculas contendo
GLUT-4 (responsivos
insulina)
Figura 33.4: Efeito da insulina sobre os GLUT4. A ligao da insulina a seu receptor induz um aumento da atividade
tirosina cinsica deste ltimo. Um dos principais substratos desse receptor a protena IRS-1 que, fosforilada, vai ativar
a PI3K. A fosforilao do fosfatidilinositol na posio 3, catalisada por essa enzima, levar migrao das vesculas
contendo GLUT4 para a superfcie das clulas adiposas e musculares. Quando a insulina se desliga dos receptores, os
transportadores de glicose GLUT4 so internalizados por endocitose e armazenados em vesculas citoplasmticas.
33 MDULO 7
AULA
Fgado:
Ativao da gliclise e inibio da gliconeognese;
Ativao da sntese de glicognio e inibio da sua degradao;
Ativao da sntese de cidos graxos;
Ativao da via das pentoses.
Msculo:
Aumento da captao de glicose;
Ativao da sntese de glicognio e inibio da sua degradao.
Tecido adiposo:
Aumento da captao de glicose;
Ativao da sntese de cidos graxos;
Ativao da via das pentoses.
Repare que todos os resultados da ao da insulina sobre as vias
metablicas resultam em uma maior utilizao da glicose, permitindo
uma rpida reduo da glicemia e a produo de reservas energticas
com o excedente de glicose.
CRTEX
GLICOCORTICIDES
Os corticides so hormnios esterides sintetizados exclusivamente
no CRTEX das glndulas supra-renais (adrenais). Esses hormnios podem
ser divididos em duas classes principais, os mineralocorticides, assim
denominados por estarem envolvidos com a regulao do equilbrio de
ons, principalmente sdio e potssio, dos quais no falaremos nesta aula,
e os glicocorticides, assim denominados devido ao seu papel central
na regulao do metabolismo de carboidratos, mas que tambm esto
envolvidos na regulao de diversas outras vias metablicas, como a via
de sntese e degradao de cidos graxos, alm de desempenharem papel
central na mediao da resposta imunolgica.
Em um indivduo
adulto, o crtex
compreende 90%
do tamanho total da
glndula supra-renal,
sendo os outros 10%
constitudos pela
medula. Do ponto de
vista histolgico, o
crtex supra-renal pode
ser dividido em trs
zonas: (a) a zona mais
externa, chamada zona
glomerular, responsvel
pela sntese dos
mineralocorticides;
(b) a zona mdia,
chamada zona
fasciculada, que a
maior das trs zonas,
constituindo cerca de
75% do crtex suprarenal; e (c) a zona mais
interna, denominada
zona reticular.
As duas ltimas
so responsveis
pela sntese dos
glicocorticides,
dos andrognios
e dos estrognios
supra-renais.
CEDERJ 255
CH2OH
CH3
HO
O
OH
CH3
Secreo de glicocorticides
A produo de glicocorticides regulada pelo hormnio
GLNDULA
PITUITRIA
A glndula pituitria,
tambm conhecida
como hipfise, s
vezes recebe tambm
o nome de glndula
mestra do sistema
endcrino, por
controlar as funes
das outras glndulas
endcrinas. A
glndula pituitria
est localizada na base
do crebro, unida
ao hipotlamo (uma
parte do crebro que
influi na glndula
pituitria) por meio
de fibras nervosas.
Vrios hormnios
so produzidos
pela hipfise,
como o hormnio
do crescimento,
a prolactina,
o hormnio
adrenocorticotrfico
(ACTH), o hormnio
estimulante da tireide
(TSH), o hormnio
folculo-estimulante
(FSH), o hormnio
luteinizante (LH),
o hormnio
estimulante dos
melancitos,
o hormnio
antidiurtico (ADH) e
a oxitocina.
256 CEDERJ
33 MDULO 7
AULA
!
Lembre-se! Voc j aprendeu na Aula 31 que receptores hormonais podem ser
subdivididos em dois grupos principais: aqueles que se encontram na superfcie
celular e vo mediar respostas citoplasmticas e aqueles de localizao intracelular
e que vo atuar geralmente no ncleo da clula-alvo.
adrenalectomizado
Repouso
6,12 0,22
4,88 0,38
Ps-exerccio
5,63 0,29
2,95 0,41
CEDERJ 257
F O S F ATA S E E
1,6
F R U T O S E -1,6
BIFOSFATASE.
GLICOSE-6-FOSFATASE E FRUTOSE-
B I F O S F ATA S E
Glicose-6-fosfatase
Frutose-1,6-bifosfatase
300
% atividade
% atividade
300
200
100
200
100
0
0.0
2.5
5.0
7.5
Dias de tratamento
10.0
12.5
0.0
2.5
5.0
7.5
10.0
12.5
Dias de tratamento
Figura 33.6: Atividade das enzimas gliconeognicas durante tratamento com glicocorticides. 100%: atividades
obtidas nos animais controle; ( ) tratados com glicocorticide; ( o ) tratado com glicocorticide + actinomicina D.
Condio
Controle
0,023 0,005
Dexametasona
0,052 0,004
33 MDULO 7
AULA
Com este experimento, podemos compreender que os glicocorticides so capazes de ativar a gliconeognese atravs da induo da
transcrio e sntese da PEPCK, levando, assim, a um aumento dos nveis
celulares totais dessa enzima.
Alm de ativarem a gliconeognese, os glicocorticides tambm
agem sobre o metabolismo de aminocidos e protenas.
O tratamento de clulas musculares com glicocorticides aumenta
em, pelo menos, 20% a degradao de protenas. Imagina-se que os
aminocidos resultantes sejam secretados pelo msculo para a corrente
sangnea, ficando assim disponveis para outros rgos, principalmente
o fgado. Neste rgo, os aminocidos podem ser utilizados como
substrato para a gliconeognese ou como substratos para a sntese das
diversas protenas hepticas, cuja produo justamente estimulada
pelos glicocorticides.
A expresso de importantes enzimas relacionadas ao metabolismo
de aminocidos, as
TRANSAMINASES,
TRANSAMINASES
CEDERJ 259
RESUMO
260 CEDERJ
33 MDULO 7
Aumento no contedo de
32
p (pmol/unidade)
Atividade da glicognio
sintase (%)
50
40
30
20
0
10-9
10-8
10-7
10-6
120
80
40
0
0
10-9
Glucagon (M)
10-8
10-7
10-6
Glucagon (M)
CEDERJ 261
AULA
2,8
0,4
0,2
12
Frutose-2,6-bifosfato
2,4
10
2,0
nmoles/g
AMPc
nmoles/g
nmoles/g
0,6
1,6
1,2
Lactato
6
4
0,8
2
0,4
0,0
0,0
0
10 20 30 40 50 60 70 80
Adrenalina
10 20 30 40 50 60 70 80
Adrenalina
10 20 30 40 50 60 70 80
Adrenalina
262 CEDERJ
g/dia
mol/g
tecido/min
g/dia
mol/g
tecido/min
Fgado
107
0,3
104
0,3
Crebro
110
0,31
112
0,3
Msculo esqueltico
98
0,01
980
0,1
50,0
10,0
5,0
1,0
0,5
-80
-40
40
80
120
Tempo (min)
CEDERJ 263
33 MDULO 7
3-metil-glicose + insulina
AULA
3-metil-glicose
Tipo Celular
Gabarito
Bioqumica II
Aulas 31, 32 e 33
266 CEDERJ
CEDERJ 267
268 CEDERJ
CEDERJ 269
I SBN 85 - 89200 - 46 - 9
cdigo
de barras
9 788589 200462