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As Três Fontes

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15/9/2014

V. I. Lnin: As Trs Fontes e as Trs partes Constitutivas do Marxismo (1913)

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As Trs Fontes e as Trs partes


Constitutivas do Marxismo
V. I. Lnine
Maro de 1913
Primeira Edio: Prosvechtchnie, n 3, Maro de 1913. Assinado: V. I.
Fonte: Obras Completas de V.I. Lnine, 5. ed. em russo, t. 23, pp. 40 - 48.
Transcrito por Fred Leite Siqueira Campos para The Marxists Internet Archive.
HTML por Jrn Andersen para Marxists' Internet Archive, 26.7.00.

A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior


hostilidade e o maior dio de toda a cincia burguesa (tanto a oficial como a
liberal), que v no marxismo um a espcie de "seita perniciosa". E no se
pode esperar outra atitude, pois, numa sociedade baseada na luta de
classes no pode haver cincia social "imparcial". De uma forma ou de
outra, toda a cincia oficial e liberal defende a escravido assalariada,
enquanto o marxismo declarou uma guerra implacvel a essa escravido.
Esperar que a cincia fosse imparcial numa sociedade de escravido
assalariada seria uma ingenuidade to pueril como esperar que os
fabricantes sejam imparciais quanto questo da convenincia de aumentar
os salrios dos operrios diminuindo os lucros do capital.
Mas no tudo. A histria da filosofia e a histria da cincia social
ensinam com toda a clareza que no marxismo no h nada que se
assemelhe ao "sectarismo", no sentida de uma doutrina fechada em si
mesma, petrificada, surgida margem da estrada real do desenvolvimento
da civilizao mundial. Pelo contrrio, o gnio de Marx reside precisamente
em ter dado respostas s questes que o pensamento avanado da
humanidade tinha j colocado. A sua doutrina surgiu como a continuao
direta e imediata das doutrinas dos representantes mais eminentes da
filosofia, da economia poltica e do socialismo.
A doutrina de Marx onipotente porque exata. completa e
harmoniosa, dando aos homens uma concepo, integral do mundo,
inconcilivel com toda a supertio, com toda a reao, com toda a defesa
da opresso burguesa. O marxismo o sucessor legtimo do que de melhor
criou a humanidade no sculo XIX: a filosofia alem, a economia poltica
inglesa e o socialismo francs.
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Vamos deter-nos brevemente nestas trs fontes do marxismo, que so,


ao mesmo tempo, as suas trs partes constitutivas.

I
A filosofia do marxismo o materialismo. Ao longo de toda a histria
moderna da Europa, e especialmente em fins do sculo XVIII, em Frana,
onde se travou a batalha decisiva contra todas as velharias medievais,
contra o feudalismo nas instituies e nas idias, o materialismo mostrou
ser a nica filosofia conseqente, fiel a todos os ensinamentos das cincias
naturais, hostil supertio, beatice, etc. Por isso, os inimigos da
democracia tentavam com todas as suas foras "refutar", desacreditar e
caluniar o materialismo e defendiam as diversas formas do idealismo
filosfico, que se reduz sempre, de um modo ou de outro, defesa ou ao
apoio da religio.
Marx e Engels defenderam resolutamente o materialismo filosfico, e
explicaram repetidas vezes quo profundamente errado era tudo quanto
fosse desviar-se dele. Onde as suas opinies aparecem expostas com maior
clareza e pormenor nas obras de Engels Ludwig Feuerbach e Anti-Dbring,
as quais - da mesma forma que o Manifesto Comunista - so os livros de
cabeceira de todo o operrio consciente.
Marx no se limitou, porm, ao materialismo do sculo XVIII; pelo
contrrio, levou mais longe a filosofia. Enriqueceu-a com as aquisies da
filosofia clssica alem, sobretudo do sistema de Hegel, o qual conduzira
por sua vez ao materialismo de Feuerbach. A principal dessas aquisies foi
a dialtica, isto , a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais
completa, mais profunda e mais isenta de unilateralidade, a doutrina da
relatividade do conhecimento humano, que nos d um reflexo da matria
em constante desenvolvimento. As descobertas mais recentes das cincias
naturais - o rdio, os eltrons, a transformao dos elementos confirmaram de maneira admirvel o materialismo dialtico de Marx, a
despeito das doutrinas dos filsofos burgueses, com os seus "novos"
regressos ao velho e podre idealismo.
Aprofundando e desenvolvendo o materialismo filosfico, Marx levou-o
at ao fim e estendeu-o do conhecimento da natureza at o conhecimento
da sociedade humana. O materialismo histrico de Marx uma conquisto
formidvel do pensamento cientfico. Ao caos e arbitrariedade que at
ento imperavam nas concepes da histria e da poltica, sucedeu uma
teoria cientfica notavelmente integral e harmoniosa, que mostra como, em
conseqncia do crescimento das foras produtivas, desenvolve-se de uma
forma de vida social uma outra mais elevada, como, por exemplo, o
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capitalismo nasce do feudalismo.


Assim, como o conhecimento do homem reflete a natureza que existe
independentemente dele, isto , a matria em desenvolvimento, tambm o
conhecimento social do homem (ou seja: as diversas opinies e doutrinas
filosficas, religiosas, polticas, etc.) reflete o regime econmico da
sociedade. As instituies polticas so a superestrutura que se ergue sobre
a base econmica. Assim, vemos, por exemplo, como as diversas formas
polticas dos Estados europeus modernos servem para reforar a dominao
da burguesia sobre o proletariado.
A filosofia de Marx o materialismo filosfico acabado, que deu
humanidade, classe operaria sobretudo, poderosos instrumentos de
conhecimento.

II
Depois de ter verificado que o regime econmico constitui a base sobre
a qual se ergue a superestrutura poltica, Marx dedicou-se principalmente
ao estudo deste regime econmico. A obra principal de Marx, O Capital,
dedicada ao estudo do regime econmico da sociedade moderna, isto , da
sociedade capitalista.
A economia poltica clssica anterior a Marx tinha-se formado na
Inglaterra, o pas capitalista mais desenvolvido. Adam Smith e David
Ricardo lanaram nas suas investigaes do regime econmico os
fundamentos da teoria do valor-trabalho. Marx continuou sua obra.
Fundamentou com toda preciso e desenvolveu de forma conseqente
aquela teoria. Mostrou que o valor de qualquer mercadoria determinado
pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessrio investido na
sua produo.
Onde os economistas burgueses viam relaes entre objetos (troca de
umas mercadorias por outras), Marx descobriu relaes entre pessoas. A
troca de mercadorias exprime a ligao que se estabelece, por meio do
mercado, entre os diferentes produtores. O dinheiro indica que esta ligao
se torna cada vez mais estreita, unindo indissoluvelmente num todo a vida
econmica dos diferentes produtores. O capital significa um maior
desenvolvimento desta ligao: a fora de trabalho do homem torna-se uma
mercadoria. O operrio assalariado vende a sua fora de trabalho ao
proprietrio de terra, das fbricas, dos instrumentos de trabalho. O operrio
emprega uma parte do dia de trabalho para cobrir o custo do seu sustento e
de sua famlia (salrio); durante a outra parte do dia, trabalha
gratuitamente, criando para o capitalista a mais-valia, fonte dos lucros,
fonte da riqueza da classe capitalista.
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A teoria da mais-valia constitui a pedra angular da teoria econmica de


Marx.
O capital, criado pelo trabalho do operrio, oprime o operrio, arruna o
pequeno patro e cria um exercito de desempregados. Na indstria,
imediatamente visvel o triunfo da grande produo; mas tambm na
agricultura deparamos com o mesmo fenmeno: aumenta a superioridade
da grande explorao agrcola capitalista, cresce o emprego de maquinaria,
a propriedade camponesa cai nas garras do capital financeiro, declina e
arruna-se sob o peso da tcnica atrasada. Na agricultura, o declnio da
pequena produo reveste-se de outras formas, mais esse declnio um
fato indiscutvel.
Esmagando a pequena produo, o capital faz aumentar a produtividade
do trabalho e cria uma situao de monoplio para os consrcios dos
grandes capitalistas. A prpria produo vai adquirindo cada vez mais um
carter social - centenas de milhares e milhes de operrios so reunidos
num organismo econmico coordenado - enquanto um punhado de
capitalistas se apropria do produto do trabalho comum. Crescem a anarquia
da produo, as crises, a corrida louca aos mercados, a escassez de meios
de subsistncia para as massas da populao.
Ao fazer aumentar a dependncia dos operrios relativamente ao
capital, o regime capitalista cria a grande fora do trabalho unido.
Marx traou o desenvolvimento do capitalismo desde os primeiros
germes da economia mercantil, desde a troca simples, at s suas formas
superiores, at grande produo.
E de ano para ano a experincia de todos os pases capitalistas, tanto os
velhos como os novos, faz ver claramente a um numero cada vez maior de
operrios a justeza desta doutrina de Marx.
O capitalismo venceu no mundo inteiro, mas, esta vitria no mais do
que o preldio do triunfo do trabalho sobre o capital.

III
Quando o regime feudal foi derrubado e a "livre" sociedade capitalista
viu a luz do dia, tornou-se imediatamente claro que essa liberdade
representava um novo sistema de opresso e explorao dos trabalhadores.
Como reflexo dessa opresso e como protesto contra ela, comearam
imediatamente a surgir diversas doutrinas socialista. Mas, o socialismo
primitivo era um socialismo utpico. Criticava a sociedade capitalista,
condenava-a, amaldioava-a, sonhava com a sua destruio, fantasiava
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sobre um regime melhor, queria convencer os ricos da imoralidade da


explorao.
Mas, o socialismo utpico no podia indicar uma sada real. No sabia
explicar a natureza da escravido assalariada no capitalismo, nem descobrir
as leis do seu desenvolvimento, nem encontrar a fora social capaz de se
tornar a criadora da nova sociedade.
Entretanto, as tempestuosas revolues que acompanharam em toda a
Europa, e especialmente em Frana, a queda do feudalismo, da servido,
mostravam cada vez com maior clareza que a luta de classes era a base e a
fora motriz de todo o desenvolvimento.
Nenhuma vitria da liberdade poltica sobre a classe feudal foi alcanada
sem uma resistncia desesperada. Nenhum pas capitalista se formou sobre
uma base mais ou menos livre, mais ou menos democrtica, sem uma luta
de morte entre as diversas classes da sociedade capitalista.
O gnio de Marx est em ter sido o primeiro a ter sabido deduzir da a
concluso implcita na histria universal e em t-la aplicado
conseqentemente. Tal concluso a doutrina da luta de classes.
Os homens sempre foram em poltica vtimas ingnuas do engano dos
outros e do prprio e continuaro a s-lo enquanto no aprendem a
descobrir por trs de todas as frases, declaraes e promessas morais,
religiosas, polticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe. Os
partidrios de reformas e melhoramentos ver-se-o sempre enganados
pelos defensores do velho, enquanto no compreenderem que toda a
instituio velha, por mais brbara e apodrecida que parea, se mantm
pela fora de umas ou de outras classes dominantes. E para vencer a
resistncia dessas classes s h um meio: encontrar na prpria sociedade
que nos rodeia, educar e organizar para a luta, os elementos que possam e, pela sua situao social, devam - formar a fora capaz de varrer o velho
e criar o novo.
S o materialismo filosfico de Marx indicou ao proletariado a sada da
escravido espiritual em que vegetaram at hoje todas as classes
oprimidas. S a teoria econmica de Marx explicou a situao real do
proletariado no conjunto do regime capitalista.
No mundo inteiro, da Amrica ao Japo e da Sucia frica do Sul,
multiplicam-se as organizaes independentes do proletariado. Este se
educa e instrui-se travando a sua luta de classe; liberta-se dos preconceitos
da sociedade burguesa, adquire uma coeso cada vez maior, aprende a
medir o alcance dos seus xitos, temperam as suas foras e cresce
irresistivelmente.
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