Juventude e Acao Sindical PDF Web
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anderson campos
Juventude e Ao Sindical
Crtica ao trabalho indecente
Jean-Paul Sartre, Furaco sobre Cuba. (Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960).
Che Guevara, O que deve ser um jovem comunista, em Eder Sader (org), Che Guevara. Poltica. (So
Paulo: tica, 1981. Col. Grandes Cientistas Sociais, vol. 19) [grifos meus].
O que se coloca para todo[a] jovem comunista ser essencialmente humano, ser
to humano que se aproxima do melhor do humano. Purificar o melhor do homem [e
da mulher] atravs do trabalho, do estudo, da prtica de solidariedade contnua com
o povo e com todos os povos do mundo; desenvolver ao mximo a sensibilidade, at
o ponto de sentir-se angustiado quando em algum canto do mundo um homem [e
uma mulher] assassinado[a] e at o ponto de sentir-se entusiasmado quando se
levanta uma nova bandeira de liberdade.
Capa e Ilustraes
Vicente Mendona
Reviso
Carla Bezerra
A minha me me solteira
E tem que fazer mamadeira todo dia
Alm de trabalhar como empacotadeira
Nas Casas Bahia
Chico Csar, Mama frica.
Campos, Anderson de S., 1978Juventude e ao sindical: crtica ao trabalho indecente / Anderson Campos.
Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2010.
il.
ISBN 978-85-61012-02-1
1.juventude Brasil. 2. sindicalismo. 3. Brasil mercado de trabalho. 4. estgio. 5.
trabalho decente. 6. assistncia estudantil 7.polticas pblicas de juventude. I.Ttulo
Sumrio
9
12
50
51
53
57
63
75
77
80
87
90
98
115
116
120
125
127
135
136
138
140
147
150
156
Bibliografia citada
Endereos eletrnicos consultados
ndice de grficos, tabelas e quadros
159
166
167
Prefcio
Marcio Pochmann1
10
juventude e ao sindical
etria em transio da adolescncia condio de vida adulta. Somente precisaria estudar para que automaticamente surgisse um
timo emprego e alta empregabilidade, mesmo sem a garantia de
acesso escola a todos que assim desejassem e frente baixa gerao de empregos decentes no pas. Tanto que para os que mais
estudassem, o risco de desemprego terminaria aumentando substancialmente, a tal ponto de haver mais graduados desempregados
que trabalhadores analfabetos.
O Brasil conseguiu dar um salto em termos de polticas pblicas para a juventude, bem como a literatura especializada tornou-se
mais encorpada. As polticas pblicas, contudo, chegaram tardiamente. Passaram a atuar mais sobre os efeitos, poucas vezes sobre
suas causas. Apenas recentemente, com a expanso mais robusta da
economia nacional, que o emprego voltou novamente a crescer, o
que permitiu derrubar as taxas expressivas de desemprego juvenil.
neste contexto que o presente livro de Anderson Campos chega em tima hora, pois permite avanar mais na compreenso sobre
a situao da juventude, bem como a sua relao com a ao sindical.
Em particular, o assunto sindical tambm se torna estratgico para
uma massa juvenil que envolve cerca de 50 milhes de brasileiros,
fundamentalmente no momento em que o tema da juventude deve
ampliar e transplantar para as questes do presente relacionadas
com o passado recente regressivo (desemprego e precarizao) para
o desafio temtico de tratar do presente em relao ao futuro.
Isso porque o mundo do trabalho passa por uma importante
transformao, nem sempre presente na conduo das polticas pblicas. Nesse sentido, sem a vocalizao e articulao sindical da
juventude e sua pauta de ao, o pas pode estar gerando um novo
ovo de serpente, com riscos de aprofundamento dos problemas ao
segmento juvenil. Destaca-se que durante a vigncia da sociedade
agrria brasileira (1500 1930) predominou a convivncia do anacronismo no uso do trabalho forado com condies de vida extremamente precrias, limitadas pela prevalncia de produtividade
nacional praticamente estagnada por longo perodo. Jornadas de
trabalho extremamente longas e expectativa mdia de vida da populao trabalhadora inferior a quarenta anos impuseram a confor-
Prefcio
11
Introduo
Introduo
12
13
Ver M. C. Corrochano. O trabalho e a sua ausncia: narrativas de jovens do Programa Bolsa Trabalho no
municpio de So Paulo (Tese de Doutorado, So Paulo: USP/Faculdade de Educao, 2008).
2
Essas so duas dimenses fundamentais ao sentido do trabalho para a juventude, conforme verificou N.
Guimares, Trabalho: uma categoria-chave no imaginrio juvenil? em H. W. Abramo & P. P. M. Branco
(org). Retratos da juventude brasileira: anlise de uma pesquisa nacional (So Paulo: Fundao Perseu
Abramo, 2005).
1
14
juventude e ao sindical
Introduo
15
consolidao ideolgica baseada na aceitao da vitria do capitalismo, diante do qual no existiria alternativa possvel.
No desenvolvimento das contradies da sociedade capitalista, coube ao Estado o papel de conduzir o processo de regulao do trabalho,
mesmo que, em diversos momentos da histria, ele se apresentasse
dividido a respeito das solues a serem adotadas5, entre a presso
dos trabalhadores organizados e das lideranas empresariais, tendo
estas maior influncia. Mesmo assim, houve o reconhecimento dos
sindicatos e de seu poder de contratao de normas coletivas6.
Clssicos da filosofia poltica, como Antnio Gramsci e Nicos Poulantzas, teorizaram sobre o Estado enquanto arena de conflito de
classe diferente da formulao marxista tradicional que considera-o
comit executivo da burguesia. Para Poulantzas, o Estado a condensao das foras sociais em movimento, somando o conflito que
ocorre na esfera econmica com a luta poltica. O Direito, nesse sentido, legitima o poder da burguesia no Estado capitalista. De acordo
com Gramsci, existe um bloco social e poltico hegemnico, dirigido
pela burguesia, que exerce sua dominao sobre a classe trabalhadora. Essa dominao exercida por uma dupla iniciativa: a fora do
aparato estatal e do despotismo das relaes sociais de trabalho, que
impe a subordinao para explorao e atravs de um conjunto de
instituies sociais que consolidam a aceitao da dominao capitalista. Nesse processo, a classe trabalhadora e o povo oprimido so
convencidos a aceitar a dominao. A hegemonia da classe dominante
, portanto, consolidada pela aceitao dos dominados7.
Recuperando as origens da regulamentao do trabalho no Brasil, M. A. Oliveira, Poltica Trabalhista e
relaes de trabalho no Brasil, cit., (p.173), ressalta que, mesmo prevalecendo os interesses governamentais e empresariais naquele ordenamento institucional, com seus mecanismos de controle sindical,
em muitos momentos os trabalhadores souberam transformar os sindicatos em espaos efetivos de
representao coletiva, foraram o cumprimento e a ampliao das leis trabalhistas, influenciaram decises dos tribunais do trabalho e conseguiram assegurar o cumprimento de acordos trabalhistas.
6
J. D. Krein, Tendncias recentes nas relaes de emprego no Brasil, cit., p.4.
7
Para aprofundar essas questes questes abordas pelos autores citados, ver as seguintes obras: A.
Gramsci, A concepo dialtica da histria (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1981); A. Gramsci,
Maquiavel, a poltica e o Estado moderno (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1991); N. Poulantzas
(2000), O Estado, o poder, o socialismo (So Paulo: Paz e Terra, 2000).
5
16
juventude e ao sindical
Introduo
Importante sistematizao dos desastres provocados pela poltica neoliberal nos anos 1990 est em
M. Pochmann, A dcada dos mitos, cit.
11
Alguns trabalhos fundamentais, produzidos, respectivamente pela OIT e pelo Instituto de Pesquisas
Econmicas Aplicadas IPEA embasam esta opinio: OIT, Trabajo Decente y Juventud. Amrica Latina
(Lima: Oficina Regional para Amrica Latina y el caribe, 2007); OIT, Trabalho Decente e Juventude no
Brasil (Disponvel em www.oitbrasil.org.br, 2009); J. A. Castro & L. Aquino (Org.), Juventude e polticas
sociais no Brasil (Texto para discusso n 1335, Braslia: IPEA. Disponvel em www.ipea.gov.br, 2008).
10
a concluso a que chegou R. Castel, As metamorfoses da questo social. Uma crnica do salrio
(Petrpolis: Vozes, 1998), aos analisar as transformaes pelas quais passou a questo social no sculo
passado, at a consolidao do que denominou como sociedade salarial.
9
A expresso emancipao utilizada aqui como a superao da contradio entre capital e trabalho,
com o fim da explorao do capital.
8
17
18
juventude e ao sindical
estruturao do mercado de trabalho so fortemente ampliados entre seus segmentos mais jovens. Portanto, a agenda de ao poltica
que se prope a alterar esse quadro muito positiva para lograr
alteraes na vida da maioria da juventude do pas. Uma plataforma
de luta juvenil em torno de temas do trabalho precisa se apropriar
fortemente da agenda sindical.
Para deixar ntida a compreenso de que as polticas pblicas
voltadas para a juventude devem considerar centralmente a busca
por proteo social, frente a tenso pela super-explorao do trabalho, recorro ao conceito de padro de insero ocupacional. Ele diz
respeito
trajetria predominantemente traada pelo segmento juvenil da
populao em idade ativa (PIA) na transio da inatividade para o
mundo do trabalho12.
Introduo
19
das no permitem a conciliao com os estudos, as instituies pblicas voltadas para a proteo social no atingem a maioria dessa
juventude e os sindicatos mantm-se distantes de suas demandas.
Nas dcadas de 1980 e 1990, foi alterada profundamente a insero ocupacional de jovens. Nas economias centrais e na periferia do
capitalismo mundial so observados os sinais de piora no que diz
respeito integrao de jovens ao mundo do trabalho14. possvel
afirmar, com bastante segurana, que as pessoas de 15 a 29 anos
de idade constituem o segmento etrio mais afetado negativamente
pelo processo de flexibilizao das relaes de emprego e pelo crescimento do desemprego aberto. E, como veremos em captulo especfico, quanto menor a idade, mais precria a relao de trabalho e
maior a sua explorao.
Essa realidade nos leva a questionar se as polticas de promoo
de emprego para jovens devem ser comemoradas como gerao de
oportunidades ou ampliao da explorao do trabalho juvenil. O
aumento do nmero de jovens procura de emprego eleva a concorrncia no mercado de trabalho. Conforme observou Marx, o aumento da populao procura de trabalho desvaloriza a fora de
trabalho15. Ao mesmo tempo, fragiliza a capacidade de organizao
sindical.
Compartilho com a anlise segundo a qual a forma mais eficaz de reduzir o desemprego manter alta a taxa de crescimento
econmico, em um patamar capaz de absorver tanto trabalhadores
desempregados quanto aqueles que ingressam no mercado de trabalho. Isso no significa que desnecessria a existncia de polticas de preveno do desemprego16, por exemplo, o financiamento
Introduo
21
OIT, Trabajo decente. Conferncia Internacional del Trabajo, 87 Reunin (Genebra, 1999).
22
juventude e ao sindical
Introduo
23
Trata-se, portanto, de um dos desafios novos colocados ao movimento sindical. No final dos anos 2000, as questes trazidas pela
juventude trabalhadora comeam a ser inseridas como item funda-
mental da agenda sindical. Mesmo que nos anos 1990 tenha se tornado lugar comum discutir as polticas pblicas para a juventude,
tais discusses passavam longe das questes relacionadas ao emprego juvenil.
Agora, possvel amplificar a crtica da explorao do trabalho
juvenil em forma de questionamento sociedade de mercado. Nesse tipo de organizao social, ser jovem preparar-se como futuro
adulto produtivo. A juventude como questo social20 resultado da
interrupo dessa fase preparatria. A existncia crescente de jovens
oferecendo sua despreparada fora de trabalho para a venda nesse
mercado pode ser considerada uma ruptura de paradigma com a
lgica da preparao para o trabalho, apesar do enorme esforo ideolgico em torno ao discurso da empregabilidade.
O conceito de juventude no pode ser compreendido pela legitimao funcionalista, de que h uma fase intermediria na qual o
indivduo, em formao, vai receber conhecimentos e iniciar a prtica de atividades que exercer definitivamente quando adulto21. A
realidade social de um sistema capitalista dividida em classes. As
trajetrias das vidas dos jovens diferem de acordo com suas classes
sociais. Diferenas que so absolutamente aprofundadas quando
so jovens mulheres ou jovens negros/as.
A incorporao da juventude trabalhadora como elemento importante da organizao sindical no pode resultar em mera acolhida. Sem uma cultura poltica sindical renovada, as aes voltadas
para jovens podem limitar-se oferta de recreao e at mesmo a
apelao cultura de massas para se afirmar diante deles. Tambm
continuar sem impacto se forem tratados pelo sindicato apenas
como mais uma oportunidade de ampliao de filiados.
As organizaes da classe trabalhadora perderam muito espao
para o conservadorismo. A articulao de alianas sociais com diversos e engajados movimentos populares de juventude abre possibi-
G. Esping-Andersen, As trs economias polticas do Welfare State, em Revista Lua Nova, n.24 (So
Paulo: CEDEC, 1991).
19
P. E. Baltar & E. T. Leone, Perspectivas do emprego formal em um cenrio de crescimento econmico,
em Carta Social e do Trabalho, n 7 (Campinas: CESIT/IE/Unicamp. p.81, 2007).
Para R. Castel, As metamorfoses da questo social, cit., uma questo social se estabelece quando h
o risco iminente de ruptura da coeso social.
21
L. A. Groppo, Juventude. Ensaios sobre sociologia e histria das juventudes modernas (Rio de Janeiro:
DIFEL, p.272, 2000).
18
20
24
juventude e ao sindical
Introduo
25
vrios temas aqui abordados. A cada debate realizado, novas questes surgem e a necessidade de atualizao se impe. Tentei no sucumbir tentao de atualizao do texto a cada nova leitura. Esse
ensaio seria interminvel.
Uma lacuna importante deve ser negritada. No desenvolvi, neste trabalho, qualquer discusso sobre o padro de insero ocupacional de jovens na rea rural. Longe de ser uma displicncia, essa
lacuna foi proposital. A complexidade da vida da juventude rural e
O ato de organizar
a sua experincia de organizao
jovens em atividades
sindical so tamanhas que no consindicais exerccio de
siderei possvel dedicar apenas um
crtica ao trabalho incaptulo. Seria necessrio um ensaio
prprio sobre esses temas23.
decente. Sem isso, no
Um elemento que considero coh sentido de classe.
mum na anlise do conjunto das
estatsticas e estudos sobre a relao entre juventude e trabalho
reforar o argumento que procuro desenvolver nesse livro. Acredito
que o ato de organizar jovens trabalhadores/as em atividades sindicais um exerccio de crtica ao trabalho indecente. Sem essa crtica,
a atuao sindical de jovens perde sentido de classe.
I
Situao da juventude no mercado
de trabalho brasileiro
27
28
juventude e ao sindical
domiciliar per capita entre meio e dois salrios mnimos, o percentual chegava a 60%.
Ainda segundo a PNAD 2006, apenas 8,6% do total de jovens
brasileiros vivia em famlias com renda domiciliar per capita acima
de 2 salrios mnimos.
A pobreza foi jovializada3. Essa condio social a qual est submetida a absoluta maioria da juventude brasileira determina as limitaes de escolha sobre o momento de colocar sua fora de trabalho venda.
Quando tratarmos da juventude brasileira, devemos ter ntido que a maioria desta trabalhadora. Isso porque 66% dos(as) jovens do pas se encontra no mercado de trabalho, seja na condio
de empregados(as) ou procura de emprego. Em outras palavras, a
maior parte da nossa juventude est vendendo sua fora de trabalho.
Grfico 2 | Distribuio da populao de 14 a 29 anos, segundo a situao de
trabalho e de estudo, Brasil, 2006
21%
29
Trabalham ou procuram
trabalho
No estudam e no trabalham
ou procuram trabalho
Apenas estudam
1,9
13%
6,8
66%
11,6
15 a 17 anos
24,1
Fonte: IBGE/PNAD, 20064
10 a 14 anos
At 9 anos
40,6
14,9
Fonte: DIEESE (2008), Anurio dos Trabalhadores. (Elaborao Prpria). Com base na PNAD 2006.
O crescimento econmico do pas no final dos anos 2000 garantiu continuidade no aumento da participao do emprego assalariado, bem como a maior formalizao dos contratos de trabalho
na absoro do aumento da populao ativa. um processo que se
acentua a partir de 20035.
Retirado de M. C. Corrochano et al, Jovens e trabalho no Brasil: desigualdades e desafios para as
polticas pblicas (So Paulo: Ao Educativa, Instituto ibi, 2008).
5
E. T. Leone & P. E. Baltar, Economia e mercado de trabalho no Brasil em Carta Social e do Trabalho, n
06 (Campinas: CESIT/IE/Unicamp, p.7, 2007).
4
30
juventude e ao sindical
A partir de 2004, houve uma modificao da elasticidade do emprego/PIB, as taxas de desemprego estabilizaram-se e a formalizao dos vnculos empregatcios foi ampliada6.
Porm, a despeito desse quadro de moderada recuperao, ocorreu aumento no desemprego juvenil. Do total dos desempregados
em 2006, 46% estavam situados na
faixa etria entre 15 e 29 anos. O
desemprego juvenil assumiu uma
A maioria da populao
dimenso numrica equivalente ao
juvenil de famlias
desemprego adulto7.
com baixa renda. Para
A condio de atividade do joesta maioria, no h
vem no perodo recente identifiopo de estudar; est
cada como um crculo vicioso da
condenada a trabalhar
relao renda familiar/insero
precocemente.
ocupacional do jovem. Segundo
anlise de Thiago Ribeiro sobre
os dados da PNAD 2005, entre os jovens desempregados, 40%
estavam abaixo da linha de pobreza. O autor enfatiza que, por
mais que
Estamos falando, portanto da realidade da maioria da populao juvenil que tem origem em famlias com baixa renda. Para esta
maioria, no h opo de estudar. Ela est condenada ao trabalho o
mais precocemente possvel, dada a sua necessidade de sobrevivncia.
P. E. Baltar et al O emprego formal nos anos recentes, em Carta Social e do Trabalho, n 3 (Campinas:
CESIT/IE/Unicamp, 2006).
7
M. W. Proni & T. F. F. Ribeiro, A insero do jovem no mercado de trabalho brasileiro, em Carta Social
e do Trabalho, n 06 (Campinas: CESIT/IE/Unicamp. P.24, 2007).
8
T. F. F. Ribeiro, A indecncia do trabalho juvenil no Brasil (Campinas: CESIT/IE/Unicamp, mimeo, 2007).
31
S. Sochaczewski, Educao, trabalho e vida, em P. C. Bernardo (Org). Juventudes em debate: Sindicalismo e mercado de trabalho (So Paulo: CUT. p.131, 2007).
10
M. C. Corrochano et al, Jovens e trabalho no Brasil: desigualdades e desafios para as polticas pblicas, cit.
9
32
juventude e ao sindical
33
Vnculos de trabalho
Um dos mecanismos de flexibilizao adotados e que tem assumido grande dimenso so as formas atpicas de trabalho. So maneiras de flexibilizar os contratos de trabalho, estabelecendo relaes
disfaradas de emprego. disfarada porque apesar da contratao
no ser realizada por um contrato de trabalho regular, mantm a
M. C. Corrochano. O trabalho e a sua ausncia: narrativas de jovens do Programa Bolsa Trabalho no
municpio de So Paulo, cit.
15
Para dados estatsticos dessa caracterizao, utilizo, principalmente, as seguintes fontes: DIEESE,
Juventude: Diversidades e desafios no mercado de trabalho metropolitano, Estudos e Pesquisas, n 11
(2005);
A ocupao dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanos, Estudos e Pesquisas,
n 24 (2006); T. F. F. Ribeiro, A indecncia do trabalho juvenil no Brasil, cit.; M. Pochmann, Situao do
jovem no mercado de trabalho no Brasil: um balano dos ltimos 10 anos (So Paulo, mimeo, 2007); M.
W. Proni & T. F. F. Ribeiro, A insero do jovem no mercado de trabalho brasileiro, cit.; M. C. Corrochano
et al, Jovens e trabalho no Brasil: desigualdades e desafios para as polticas pblicas, cit.
14
34
juventude e ao sindical
subordinao nas relaes de emprego, mas com menor proteo social, porque dribla a regulamentao do emprego vigente no pas16.
Os vnculos de trabalho so os mais precrios para os mais jovens. Possuem baixa participao no emprego formal. A ausncia
de fiscalizao do trabalho e a facilidade extrema em precarizar o
trabalho juvenil produz um quadro no qual praticamente todos os
jovens estudantes entre 14 e 15 que trabalham o fazem margem
da legislao17. O trabalho, nessa faixa etria, segundo a CLT, deveria ser contratado unicamente na condio de aprendiz, o que no
ocorre com 90% dos jovens nessa faixa etria que esto ocupados.
Entre os jovens ocupados, as mulheres e os(as) negros(as) esto submetidos a relaes de trabalho ainda mais precrias, no trabalho
autnomo e no servio domstico.
Quase todo o aumento do emprego de adolescentes (16 e 17 anos)
na dcada atual ocorreu na categoria sem carteira de trabalho assinada18. O baixo percentual de vnculos formais de trabalho assalariado de jovens efeito do contexto do mercado de trabalho com
regulao pblica altamente flexvel, favorecendo empresrios que
procuram ajustar seus custos de produo. Informalidade, nesse
mercado de trabalho, significa ampliao da precarizao e da desproteo social. So trabalhadores/as mais sujeitos/as s instabilidades do mercado.
35
16-17
18-21
22-24
25-29
14-29
At 30
37,5
24,7
14,2
13,4
13,9
14,4
De 31 a 44
37,2
41,5
47,9
48,5
48,5
48,0
Superior a 44
25,3
33,9
38,0
38,1
37,6
37,6
Total
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
Mdia
34,0
37,9
41,3
41,5
41,4
41,2
Jornada de trabalho
16
17
19
36
juventude e ao sindical
37
Atendendo a presso das entidades patronais em liberalizar a organizao do tempo de trabalho, o Estado brasileiro, sob hegemonia
neoliberal, ampliou a flexibilizao a partir dos seguintes itens25:
Introduo e consolidao de mecanismos que ampliam as
possibilidades de compensao das horas (banco de horas e
compensao individual);
Regulamentao do contrato parcial;
Liberao do trabalho aos domingos no comrcio varejista;
Contrato temporrio;
Contrato parcial; e
Terceirizao.
Vivemos um perodo de acirramento das contradies sociais,
tpicas do desenvolvimento da sociedade capitalista. Em primeiro
lugar, a flexibilizao do tempo de trabalho no significa maior liberdade para o trabalhador organizar o seu tempo disponvel para
o capital.
A nova economia poltica trai esse desejo pessoal de liberdade. A
repulsa rotina burocrtica e a busca da flexibilidade produziram
novas estruturas de poder e controle, em vez de criar as condies
que nos libertam26.
38
juventude e ao sindical
flexibilizao da organizao do tempo de trabalho. No caso da juventude, que sofreu adiantamento de sua insero no mercado de
trabalho, o aumento da produtividade veio acompanhado de maior
explorao de mo-de-obra juvenil. elevado o tempo de vida destinado produo, pois o ingresso no mercado de trabalho ocorre
com idades muito baixas27.
A luta por mais tempo livre uma luta por mais tempo para viver
sua prpria vida. No entanto, parcela considervel da classe trabalhadora no dedicaria um possvel
aumento do tempo livre para descansar, mas para incrementar sua
O tempo dedicado ao
qualificao para o trabalho, uma
trabalho deve somar a
vez
convencidos pelo discurso da
jornada contratada e as
empregabilidade.
Quando questio
horas dedicadas quana
dos sobre o que fariam com o
lificao profissional.
tempo livre proporcionado por uma
possvel reduo legal da jornada
de trabalho, parcela significativa (30,7%) dos/as trabalhadores/as
pesquisados/as pela CUT em 2006 respondeu a opo estudar28.
Essa uma tendncia de subordinao do tempo social lgica do
tempo econmico. Uma verdadeira invaso sobre a vida social. No
uma prerrogativa conjuntural, mas sistmica do desenvolvimento
capitalista. Se o tempo fora do horrio de trabalho destinado a sua
qualificao profissional, ento podemos considerar que o tempo
dedicado ao trabalho muito maior que a jornada contratada.
(...) os jovens trabalhadores ocupam praticamente todo o seu tempo com
o trabalho e a faculdade, de forma que o tempo livre apenas residual,
restringindo-se a uma parte do sbado, ao domingo e s frias, quando
esses tambm no so dedicados ao estudo. Alm de permanecerem
na fbrica em torno de dez horas por dia, dedicam, em mdia, mais
40
juventude e ao sindical
41
entre dois objetivos contraditrios: a obteno de lucros e o cuidado da vida humana31. A contradio central, sob esse modo de ver,
que o trabalho domstico familiar e de cuidados, est diretamente
relacionado com o comprometimento da sustentabilidade da vida
humana. Essas atividades, no reconhecidas e no valorizadas,
Constituem um conjunto de tarefas que tendem a dar apoio no s
s pessoas dependentes por motivos de idade ou sade, mas tambm
grande maioria dos homens adultos. So tarefas que incluem servios pessoais conectados usualmente com necessidades diversas e
absolutamente indispensveis para a estabilidade fsica e emocional
dos membros do lar. Elas incluem a alimentao, o afeto e, por vezes,
aspectos pouco agradveis, repetitivos e esgotadores, mas absolutamente necessrios para o bem estar das pessoas. Implicam atividades
complexas de gesto e organizao, necessrias para o funcionamento dirio do lar e de seus moradores, realizada dia aps dia nos 365
do ano, no lar e fora dele, no bairro e desde o posto de trabalho assalariado, que cria redes familiares e sociais, oferece apoio e segurana
pessoal e permite a socializao e o desenvolvimento das pessoas32.
A reverso da invisibilidade desse trabalho para as anlises econmicas e orientao para polticas pblicas movimenta hoje um
setor do feminismo mais crtico e anticapitalista. uma crtica que
questiona a extenso da jornada de trabalho das mulheres desde a
sobreposio de dois turnos: no mercado e no lar.
O corte de gastos sociais pblicos teve como contrapartida a transferncia dessas atividades para as mulheres no trabalho comunitrio
e domstico. O que desaparece do oramento pblico aparece na
intensificao da jornada extensa das mulheres33.
42
juventude e ao sindical
Trabalho domstico
As mulheres jovens tm no trabalho domstico remunerado sua
principal forma de insero ocupacional. Elas seguem o caminho
inverso ao dos homens. Enquanto esse tipo de ocupao representa
0,6% dos jovens homens entre 14 e 29 anos que somente trabalham
e no estudam, esse percentual sobe para 16% para as jovens mulheres. E, para elas, a informalidade tambm regra: apenas 3,2%
possuem carteira assinada.
Entre o total de jovens que no estudam, no trabalham e no
procuram trabalho, h uma grande concentrao de mulheres. Elas
esto na posio de cnjuges. So jovens pertencentes a famlias de
baixa renda e possuem baixa escolaridade34. Esto condicionadas ao
trabalho reprodutivo familiar e de cuidados. Dedicam-se integralmente ao trabalho domstico no remunerado.
Anlise do IBGE constata que o incessante crescimento da participao das mulheres no mercado de trabalho no reduziu o tempo
que elas dedicam s tarefas domsticas. Quase todas as mulheres
(94%) com idade entre 25 a 49 anos faixa etria em que a populao feminina economicamente ativa maior executam trabalho
domstico no remunerado35.
M. C. Corrochano et al, Jovens e trabalho no Brasil: desigualdades e desafios para as polticas pblicas,
cit.
35
BRASIL, Tempo, trabalho e afazeres domsticos: um estudo com base nos dados da PNAD de 2001
e 2005 (Braslia: IBGE, 2007).
34
43
A condio social das mulheres, na sociedade capitalista, est diretamente vinculada com a diviso sexual do trabalho, diferenciada entre a esfera pblica (masculina) e a esfera privada (feminina).
Conforme essa compreenso hegemnica, as mulheres devem exercer o papel materno como atribuio principal. Assim, so responsveis pelo cuidado da casa e dos filhos, alm dos doentes e dos idosos
da famlia. So educadas, desde crianas, para exercer tal funo.
Quando verificamos essa responsabilizao do trabalho domstico
no remunerado em faixas etrias menores, chegamos a constataes
alarmantes. Cerca de metade das crianas e adolescentes (49,4%), particularmente originadas de famlias mais pobres, dedicam boa parte
do dia aos afazeres domsticos36. De acordo com a PNAD citada, o
percentual de meninas de 10 a 17
anos que realizam afazeres domsO trabalho domstico
ticos chega a 83%, enquanto que,
essencial para a exisentre os meninos, o percentual de
47%. A famlia educa as meninas a
tncia e a reproduo
sentirem-se responsveis pelo tradas pessoas. o ato de
balho reprodutivo, ao mesmo tempo
cozinhar, de cuidar da
em que desresponsabilizam os meroupa, de limpar a casa
ninos pelas mesmas tarefas.
e de socializao das
Por tratar-se de tarefas no vacrianas.
lorizadas e naturalizadas como de
mulher, o trabalho feminino passa
a ser considerado de baixo valor, de maneira geral. As mulheres de
baixa renda procuram ocupaes que lhes permitam conciliar as tarefas domsticas: trabalhos informais, em meio perodo, temporrios.
A remunerao ser menor que a dos homens, uma vez que seu trabalho considerado complementar a renda familiar mesmo que, na
realidade, sua remunerao seja a principal fonte de renda familiar.
Fortalecer o mito da naturalizao do trabalho domstico como
feminino e sem valor uma prerrogativa fundamental para aumentar a explorao do capital.
CEPAL/OIT/PNUD, Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente: A Experincia Brasileira
Recente (Braslia. p.71, 2008).
36
44
juventude e ao sindical
Sade do trabalhador
De acordo com o Anurio Estatstico da Previdncia Social 2007,
cerca de 40% dos acidentes de trabalho ocorrem com jovens. Houve
um crescimento no registro de acidentes do trabalho entre os anos
2006 e 2007. Neste ano, cerca de 40% dos acidentes do trabalho
registrados afetaram pessoas com at 29 anos de idade, quando no
ano anterior esse percentual foi de 30%.
N. Faria & M. Nobre. O que ser homem? O que ser mulher? Subsdios para uma discusso das
relaes de gnero, em Gnero e Desigualdade (So Paulo: SOF, 1997).
37
45
255.787
At 29 anos
Acima de 29 anos
397.303
Total de Registros: 653.090
FONTE: DATAPREV, CAT em Brasil, Anurio Estatstico da Previdncia Social 2007. Disponvel em
www.previdenciasocial.gov.br (Elaborao prpria)
46
juventude e ao sindical
Pesquisa desenvolvida pela CUT com trabalhadores que realizam hora extra39 demonstra como as extensas e intensas jornadas
agravam seus problemas de sade. As queixas apresentadas pelos
trabalhadores entrevistados (dores musculares, depresso, distrbios do sono e estresse) so relacionadas com os ritmos de trabalho
(67,3%), com a presso da chefia (37,6%), excesso de horas trabalhadas (24,5%) e assdio moral (11,6%)40.
Ocupaes predominantemente juvenis so tambm paradigmas
de precarizao. Dois exemplos de ocupaes com predominncia
juvenil so tambm casos emblemticos de precarizao e adoecimento: operador de telemarketing e motoboy.
De acordo com a PNAD de 2005, os jovens de 15 a 29 anos representavam 72% dos operadores de telemarketing. Nas posies de
atendimento menos qualificadas predominam as mulheres (70%)41.
A racionalidade empresarial explica a preferncia pela contratao
da fora de trabalho juvenil, prioritariamente oriunda de famlias de
baixa renda. mais fcil adequ-la s condies de trabalho e suportar as presses para o cumprimento das metas de atendimento42. A
presso da chefia, por meio de assdio moral, e a intensidade no ritmo
de trabalho conformam uma condio de trabalho que afeta profundamente a condio de vida dessa juventude trabalhadora:
47
C. R. de Lima, Hora extra e sade no contexto da produo enxuta, em CUT, Hora Extra, cit.
Foram pesquisados os seguintes ramos de atividade: comrcio, metalrgico, qumico, transporte e
vesturio.
40
CUT, Hora extra: o que a CUT tem a dizer sobre isto, cit.
41
M. C. Corrochano & E. Nascimento, Jovens, Sindicato e Trabalho no setor de Telemarketing, em
Juventude e Integrao Sul-Americana: caracterizao de situaes-tipo e organizaes juvenis (IBASE/
PLIS, disponvel em www.juventudesulamericana.org.br, 2007)
42
Idem, p.17.
Idem, p.18. As autoras chamam a ateno para o fato de 80% dos operadores de telemarketing
entrevistados por elas terem relatado j ter sofrido algum problema de sade.
44
Acidentes com motoboy acontecem a caminho do trabalho ou na volta para a casa. O Globo, 10 de
outubro de 2008 (disponvel em www.oglobo.com)
45
Relato de um motoboy feito a M. F. L. Carvalho, Vertigem e Angstia no trabalho de motoboys (USP/
Instituto de Psicologia, mimeo, 2008).
46
Idem.
38
39
43
48
juventude e ao sindical
Remunerao
A remunerao dos/as trabalhadores/as mais jovens predominantemente baixa, sendo que 83,5% percebem no mximo o equivalente a dois salrios mnimos, em 2005. Os adolescentes com idade
entre 14 e 15 anos vendem sua fora de trabalho por menos de 1
salrio mnimo47.
Os mais jovens entre os jovens apresentam maiores dificuldades
de insero ocupacional e os maiores sinais de precarizao, sendo
que cerca de 30% dos ocupados na faixa etria de 16 e 17 anos desempenham trabalhos sem rendimento monetrio.
F. Tuma, Participao dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas no cenrio de flexibilizao das relaes de trabalho (Tese de Doutorado, IE/Unicamp, Campinas, 1999).
49
Para mais informaes sobre os rendimentos dos jovens das regies metropolitanas de So Paulo,
Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Distrito Federal, ver DIEESE, Trajetrias da juventude nos
mercados de trabalho metropolitanos: Mudanas na insero entre 1998 e 2007, cit.
48
Para detalhes sobre rendimentos dos trabalhos da populao jovem, ver M. C. Corrochano et al, Jovens e trabalho no Brasil: desigualdades e desafios para as polticas pblicas, cit., Tabela 10. Considerase aqui o salrio mnimo vigente em 2006, qual seja, R$ 350,00.
47
49
50
juventude e ao sindical
II
A precarizao das relaes de emprego e
a juventude trabalhadora brasileira
ao lazer e cultura, e autonomia econmica50. Eles buscam trabalho sob o imperativo da sobrevivncia e sua baixa remunerao cria
obstculos para a emancipao financeira e para o acesso aos bens
culturais e educao.
J. A. Castro & L. Aquino (Org.), Juventude e polticas sociais no Brasil. cit., p.46.
DIEESE, A ocupao dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanos, cit.
52
G. Frigotto, Juventude, trabalho e educao no Brasil: perplexidades, desafios e perspectivas, cit.,
p.181.
O modelo econmico dos anos 1990 imps um padro de interveno do Estado que levou ao seu prprio desmonte. Com o argumento da competitividade, vimos desaparecer segmentos do setor
pblico, a privatizao de tantos outros, e at mesmo a concesso,
terceirizao e reformulao dos mesmos1.
A abertura comercial, a sobrevalorizao do cmbio e a manuteno das altas taxas de juros somaram-se ao processo de reestruturao produtiva defensiva e a reformas liberalizantes, particularmente no que diz respeito s relaes de trabalho. O baixo crescimento
econmico foi o resultado mais marcante desse modelo.
As reformas neoliberais implementadas durante aquela dcada estavam diretamente relacionadas com a busca pela integrao do Brasil
competitividade da economia internacional. Assim, a desregulao
comercial e financeira, a reformulao do papel do Estado e a desregulao do mercado de trabalho compunham a agenda neoliberal.
Esse modelo de desenvolvimento absolutamente regressivo destruiu postos de trabalho, reduziu o poder de compra dos salrios,
aumentou a quantidade de empregados sem carteira assinada e de
autnomos e criou obstculos profundos para a organizao sindical. A reduo do custo do trabalho foi um elemento decisivo do
ajuste neoliberal. As mutaes sofridas nas relaes de trabalho e
no papel do Estado no perodo de hegemonia neoliberal no Brasil
50
51
51
52
juventude e ao sindical
produziram efeitos devastadores sobre o padro da insero ocupacional da juventude brasileira, consolidando-a como segmento
extremamente vulnervel.
A diminuio da renda dos salrios e o aumento do desemprego,
ao rebaixarem as condies de vida das famlias, foraram adolescentes e jovens a buscar trabalho como forma de sobrevivncia coletiva. Eleva-se substancialmente o excedente de mo-de-obra, acentuando a concorrncia em condies
ainda mais desfavorveis. Trata-se
A diminuio dos sade uma fora de trabalho mais deslrios e o aumento do
qualificada e com menor experindesemprego nos 1990
cia. Em um mercado de trabalho
rebaixaram as condialtamente flexibilizado, o segmenes de vida das fato mais frgil torna-se a principal
mlias. Adolescentes e
vtima dos mecanismos de precarijovens precisaram trazao: alvo certo da rotatitividade
no
emprego e da informalidade. O
balhar para sobreviver
impacto central da precarizao a
coletivamente.
ausncia de proteo social.
So os jovens oriundos de famlias de baixa renda os principais
afetados pelo fenmeno do desassalariamento. Eles sofrem, portanto, maior excluso dos benefcios da legislao social e trabalhista2.
Esse captulo est dividido em trs sees, alm desta introduo.
Na primeira seo, relaciono o processo de precarizao das relaes de emprego s iniciativas neoliberais para aumentar as taxas de
lucro. Na segunda seo, discuto como a ofensiva ideolgica buscou
responsabilizar os indivduos por sua condio de desempregados.
A educao de jovens foi redimensionada por essa orientao dominante. Na ltima seo, enfatizo o exemplo da utilizao do estgio como forma de precarizao do trabalho de jovens. Aponto as
limitaes da atual legislao e, tambm, as possibilidades de ao
sindical em torno do tema.
53
54
juventude e ao sindical
Karl Marx, O Capital: crtica da economia poltica (So Paulo: Nova Cultural, 1988).
Idem, p.92. Marx refere-se a Factory Acts Extension Act, de 1867.
8
M. B. Biavaschi, O Direito do Trabalho e Prescrio: fundamentos. (Campinas: CESIT/IE/Unicamp, mimeo, 2007).
6
55
gualdades criadas pelo processo de acumulao capitalista, percebe-se que o princpio que o cimenta o da proteo, do qual so
expresses todos os demais9.
9
10
Idem, p.6.
P. E. Baltar & E. T. Leone, Perspectivas do emprego formal em um cenrio de crescimento da econo-
56
juventude e ao sindical
57
O objetivo central das reformas na legislao do trabalho no Brasil, sob a gide do neoliberalismo, foi encaminhar para o mercado
o trato das relaes capital-trabalho. O sentido da flexibilizao ,
portanto, deixar que as relaes de trabalho acompanhem as variaes do mercado. Foi essa a direo das mudanas promovidas pelo
Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que fortaleceu a
regulao privada das relaes de trabalho14.
A redefinio do papel do Estado foi absolutamente necessria
para o avano do neoliberalismo, porque
[...] grande parte das medidas que viabilizaram a desregulamentao econmica e a flexibilizao vieram dos governos, em consonncia com as expectativas do mercado, assim como o seu processo
de desestruturao e privatizao contriburam com a perda de referncia na estruturao do mercado de trabalho e da sociedade15.
Sobre a reforma trabalhista do Governo FHC, ver: J. D. Krein, Reforma no sistema de relaes de
trabalho no Brasil, cit.; M. Pochmann, A dcada dos mitos, cit.; M. A. Oliveira, Poltica trabalhista e
relaes de trabalho no Brasil: Da Era Vargas ao Governo FHC, cit.
15
J. D. Krein, Tendncias recentes nas relaes de emprego no Brasil, cit., p.10.
14
58
juventude e ao sindical
59
16
A. Gori Maia, Perfil do desemprego no Brasil nos anos 2000, em Carta Social e do Trabalho, n 06
(Campinas: CESIT/IE/Unicamp, 2007).
20
T. F. F. Ribeiro, A indecncia do trabalho juvenil no Brasil, cit.
21
M. Pochmann, Emprego e desemprego juvenil no Brasil: as transformaes dos anos 1990, cit. O
autor observa o crescimento da marginalizao do jovem no mercado de trabalho.
19
60
juventude e ao sindical
61
do projeto no interessa criar concorrentes para a sua atividade comercial. As iniciativas desenvolvidas por esse jovem empreendedor
ficaro restritas a reas pouco promissoras e ele atingir, no mximo,
o patamar de trabalhador autnomo (sem renda fixa, sem contrato de
trabalho permanente, sem qualquer mecanismo de proteo social).
Outra forma de argumentar em defesa do empreendedorismo juvenil como alternativa de trabalho a existncia de novas formas de
organizao das relaes laborais. Essas formas novas buscam excluir
o trabalho assalariado. Por meio delas, o jovem empreendedor estabelece seu contrato individual de trabalho, sua prpria jornada e tem
sua remunerao baseada em sua capacidade produtiva individual. Ele
Os jovens ocupados
pode ser um tcnico em informtica
no autoemprego so
que no tem um patro, mas vrios
dependentes do contrapatres. Sua jornada de trabalho
tante do servio presno tem limites, pois disso depende
tado. uma relao de
sua remunerao. Seguridade social,
para ele, apenas se for privada, um
emprego disfarada.
servio que pode ser comprado, assim como o plano de sade e a escola dos filhos.
Um motoboy, sob esse ponto de vista, poderia ser considerado
um jovem empreendedor. Vende seu tempo de trabalho sem garantias trabalhistas, pois no possui qualquer proteo social pblica.
Na prtica, ele um trabalhador submetido a extrema precarizao
dada a enorme flexibilizao das relaes sociais de trabalho que
(des)organiza sua vida laboral. Essa condio resulta em alarmantes
ndices de adoecimento e at mortes nessa profisso.
, portanto, uma falsa condio de empreendedor. Trata-se de um
trabalhador autnomo disfarado de micro-empresrio, ou mesmo
em sua forma de empresrio individual, a chamada pessoa jurdica
conhecido como PJ. Esse tem sido mais um eficiente mecanismo de
precarizao das relaes de trabalho, flexibilizando direitos.
Na realidade, disfaram a subordinao no processo de trabalho.
Os jovens ocupados no autoemprego mantm dependncia direta a
um empregador (o contratante do servio prestado). Diversas formas foram criadas nos ltimos anos para permitir essa facilidade na
63
O trabalho estgio
A dcada de 1990 data o contexto no qual se aprofundou o uso
do estgio como mecanismo de contratao de mo-de-obra barata
e descartvel em nosso pas. Originalmente definido como mecanismo de interao entre estudo e insero ocupacional, ele distanciouse consideravelmente da forma ato educacional para ser instrumento de precarizao de postos de trabalho.
23
64
juventude e ao sindical
65
27.960
38.159
58.097
1994
70.941
1995
74.994
1996
75.177
1997
1998
91.423
99.204
1999
2000
2001
118.744
151.161
175.822
2002
208.701
2003
212.474
2004
2005
2006
2007
244.335
268.323
327.567
342.194
66
juventude e ao sindical
67
68
juventude e ao sindical
69
lidade de aumentar a comercializao de estudantes atravs da intermediao de estgios. Pela legislao anterior, poderiam estagiar
alunos do ensino mdio, mdio tcnico e superior. A nova Lei insere
a possibilidade de explorar a fora de trabalho de estudantes dos
anos finais do ensino fundamental (na modalidade de educao de
jovens e adultos) atravs de contratos de estgio.
Tal ampliao se d, tambm, pela possibilidade de profissionais
liberais de nvel superior como advogados, engenheiros, arquitetos
e outros contratarem estagirios(as). No satisfeita, a ABRE lamenta
a diminuio no ensino mdio, por conta da restrio imposta a
20% do total de funcionrios da empresa. O CIEE, por sua vez, ao
ressaltar que teve participao ativa na elaborao do texto sancionado, comemorou a autorizao explcita para o estgio de alunos
do ensino mdio.
Apesar dos limites impostos pela
Os benefcios trabanova lei, os empresrios permanecem com bastante liberdade para
lhistas somente sero
usar o estgio como precarizao
estendidos ao estagi
do trabalho juvenil. Por exemplo,
rio se assim desejar
os donos de instituies privadas
o empresrio. Essa
de ensino, que tratam a educao
liberdade empresarial
como comrcio, no so obrigados
permanece, mesmo
a definir seus projetos pedaggicos
com a alterao da Lei
com a participao democrtica da
do Estgio.
comunidade escolar. Tais instituies no so espaos democrticos.
Nas universidades pblicas, os colegiados acadmicos definem os
projetos pedaggicos dos cursos, que podem instituir ou no o estgio como ato educacional. A participao dos trabalhadores/as e
dos estudantes em espaos como esses fundamental para evitar
arranjos fraudulentos que visam facilitar a intermediao de mode-obra barata de estagirios(as).
O estgio precisa ser considerado como ato educacional, mas
tambm deve ser reconhecida a dimenso laboral, dada sua utilizao real. o exerccio prtico do que se aprende, portanto, parte
do processo educacional. Porm, ao submeter-se s regras do local
de trabalho e ao acrescentar valor ao que produzido socialmente,
70
juventude e ao sindical
71
ABB
Accenture
Alcoa
Banco
Ita
Banco
Santander
CPM
Braxis
IBM
International
Paper
Ipiranga
Motorola
Pirelli
Rossi
Residencial
Unilever
Vale
Whiripool
50
167
150
100
300
150
250
63
70
52
100
55
180
1400
255
no
divulgada
no
divulgada
no divulgada
no
divulgada
R$ 1.098 a
R$ 1.846
R$ 600 a
R$ 1.300
R$ 400 a
R$ 900
R$ 575 a
R$ 1.500
no
no
divulgada divulgada
R$ 921 a
R$ 1.299
no
R$ 350 a
divulgada R$ 1.255
R$ 900 a R$ R$ 522 a
1.125
R$ 1.480
Benefcios oferecidos
Benefcios oferecidos
Assistncia mdica/
plano de sade
No
No
Assistncia
odontolgica
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
Estacionamento ou
transporte
No
No
No
No
No
No
Sim
No
No
seguro contra
acidentes pessoais
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
Seguro de vida
No
No
No
No
Vale-refeio,
refeio ou auxlio
Vale transporte ou
transporte
No
No
No
No
No
No
Frias ou licena
No
No
No
No
No
No
No
No
No
13 salrio
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
No
Fonte: Folha de S.Paulo, Estgios e Trainee, Caderno Especial (17/08/2008) Elaborao prpria.
Pela nova lei, o estagirio pode se inscrever como segurado da Previdncia Social ( 2 do Art. 12).
Porm, no h obrigao do empregador contratante em faz-lo.
30
72
juventude e ao sindical
Ao sindical
o exemplo espanhol
73
cobertura legal desta31. Segue a diferenciao a partir da compreenso de que existem finalidades distintas. Se a finalidade do contrato
formativa, o beneficiado ser o
estagirio. Caso a finalidade seja
produtiva, a beneficiada a empresa. Ou seja, o que diferencia a
fraude o receptor do benefcio
de suas atividades.
Mas como verificar a existncia
de tais diferenciaes? A cartilha
da CCOO d algumas orientaes
Pea publicitria da campanha
Estudas ou trabalhas...? (www.ccoo.es)
em termos de informaes que
podem ser solicitadas empresa:
Nmero e relao de pessoas em prticas formativas no laborais
que existem na empresa;
Centro de estudos de procedncia (escola, instituto, universidade
ou outro estabelecimento educacional);
Convnio de colaborao que a empresa assinou para legalizar a
situao dessas pessoas;
Onde esto localizados na empresa (em qual centro, departamento...);
Durao das suas prticas (jornada diria, durao do contrato);
Quem so os supervisores responsveis;
Quais funes exercem.
So orientaes que podem ser utilizadas por aes sindicais em
empresas brasileiras, inclusive na administrao pblica. Antes, porm, ser necessrio quebrar um paradigma da ao sindical, percebendo que a fiscalizao sobre o uso fraudulento de estagirios deve
estar no rol de tarefas do sindicato.
31
CCOO, Jvenes y prcticas en los centros de trabajo. p.41. (Disponvel em www.ccoo.es, 2007)
74
juventude e ao sindical
III
Polticas pblicas para juventude:
trabalho decente e proteo social
As polticas pblicas que tenham como objetivo alterar a realidade da juventude brasileira devem desenvolver-se em dois sentidos.
Ambos esto relacionados ao padro de insero ocupacional dos/
as jovens no mercado de trabalho. Por um lado, a regulao pblica
do trabalho precisa ser fortalecida de maneira a estruturar o quadro
geral do mercado de trabalho. Acabar com o poder discricionrio
dos empregadores, aumentar substancialmente a fiscalizao das
relaes de emprego e garantir a livre organizao sindical nos locais de trabalho so algumas iniciativas urgentes. Dizem respeito ao
conjunto do mercado de trabalho e tero impacto central sobre as
condies de atividade de jovens, sem o que, qualquer agenda voltada diminuio do dficit de trabalho decente no Brasil no lograr
sucesso. Por outro lado, o segundo sentido das polticas pblicas
voltadas para jovens, que pretendo destacar, est relacionado ao papel insubstituvel do Estado no provimento de polticas de carter
emancipatrio.
A recomendao feita pela OIT, segundo a qual todos os pases
membros devem criar mecanismos para a promoo do trabalho
decente, ocorre em um contexto de crise do projeto neoliberal e de
retomada da interveno do Estado sobre a economia e o mercado
de trabalho.
No captulo intitulado Maquinaria e grande indstria, Marx relatou o papel exercido pela presso do operariado, no sculo XIX, para
que o Estado criasse legislao para obrigar a retirada de crianas
75
76
juventude e ao sindical
Trabalho decente
A OIT assumiu importante papel na dcada de 20004, momento
de crise do projeto neoliberal na Amrica Latina e de retomada do
crescimento econmico. Sua importncia fundamenta-se pela orientao em torno da internacionalizao de um padro de trabalho, com
estabelecimento de parmetros para evitar a concorrncia predatria
nesse campo. Com isso, a OIT distingue-se dos demais organismos
multilaterais, como a OCDE (Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico), o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetrio
Internacional). Estes ainda insistem na agenda do ajuste neoliberal,
ao cobrarem dos governos nacionais mais flexibilizao das relaes
de trabalho como argumento para gerar crescimento econmico.
[...] a OIT admite prejuzos reais causados pelos processos de ajustamento estrutural sobre o emprego, a renda e o aparato de proteo
social nos pases em desenvolvimento, o qual, na viso da instituio,
tem trazido grandes dificuldades para a manuteno de direitos sociais bsicos de cidadania5.
As Convenes da OIT so normas internacionais. Quando os governos nacionais ratificam uma Conveno, ela passa a fazer parte
do direito nacional, condicionando adaptaes na legislao vigente.
A OIT possui rgos de acompanhamento e fiscalizao do cumpri-
Desde os anos 90, a presso da OIT tem sido importante para pautar a ao dos governos nacionais em
torno proteo ao trabalho. No caso do Brasil, observa J. D. Krein, Tendncias recentes nas relaes de
emprego no Brasil, cit. como resultado dessa presso externa, ocorreu a reafirmao dos preceitos da
OIT sobre fiscalizao, inclusive aumentando a autonomia do auditor fiscal no exerccio da funo pblica e o Programa de Erradicao do Trabalho Infantil e do Trabalho Escravo, em convnio com a OIT.
5
D. M. Gimenez, A questo social e os limites do projeto liberal no Brasil (Tese de Doutorado. Campinas:
IE/Unicamp, 2007).
4
77
78
juventude e ao sindical
79
Idem, p.42.
CEPAL/OIT/PNUD Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente: A Experincia Brasileira
Recente, cit.
80
juventude e ao sindical
31 milhes: so precrios
(trabalham com remunerao
e no contam com
seguridade social)
81
10 milhes esto
desempregados (no
trabalham no momento e
esto procurando emprego)
10
13
22 milhes no
estudam
16 milhes no
estudam
9 milhes estudam
32 milhes estudam
13 milhes no
estudam
4 milhes estudam
6 milhes no
estudam
4 milhes estudam
Com informaes de OIT, Trabajo Decente y Juventud: Amrica Latina, cit (Elaborao prpria).
82
juventude e ao sindical
Quanto ao tipo de trabalho, dois em cada trs jovens esto ocupados em atividades informais, com remunerao menor que o salrio
mnimo e sem cobertura da seguridade social. Um jovem ganha em
torno de 56% do que ganha um adulto, diferena que diminui conforme avana a idade.
Para comprovar o estreito vnculo entre o desemprego juvenil e
a excluso social, a OIT lanou em 2004 um informe sobre as preocupantes tendncias mundiais do emprego juvenil. Os resultados
demonstram que a realidade latino-americana segue as tendncias
mundiais.
2003
1.011.874 1.118.098
Coeficiente
emprego juvenilpopulao (%)
variao
%
1993
2003
variao
%
1993
2003
10,5
525.142
528.060
0,2
51,9
47,6
Economias
industrializadas
128.166
124.942
-2,5
57.484
55.675
-3,1
44,9
44,6
Economias em
transio
61.883
68.148
10,1
25.037
22.112
-11,7
40,5
32,4
sia Oriental
249.297
221.211
-11,3
183.575
150.530
-18,0
73,6
68,0
sia Sul-Oriental
95.356
107.891
13,1
50.846
50.990
0,3
53,3
47,3
sia Meridional
225.929
275.504
21,9
94.426
105.384
11,6
41,6
36,3
Amrica Latina
e Caribe
92.143
104.229
13,1
46.241
47.513
2,8
50,2
45,6
Oriente Mdio e
frica do Norte
59.151
80.512
38,1
17.264
23.810
37,9
29,2
29,6
frica
Subsaariana
99.946
135.663
35,7
50.268
70.046
39,3
50,3
51,6
Fonte: OIT (2004). Tendencias mundiales del empleo juvenil. Genebra: Oficina Internacioal del
Trabajo.
83
84
juventude e ao sindical
das Convenes 138 e 182 (ver Quadro 3). Fora da OIT, no existia
no momento de publicao deste livro uma conveno internacional especfica sobre o trabalho de jovens.
O que estabelece
Ratificadas
pelo Brasil
C 6, 79, 90
Apenas a C 6
Apenas a C 5
15/02/2002
25/04/1957
26/11/1965
24/03/1969
24/11/1981
NO
02/02/2000
Recomendaes
R 45, 1935
R 136, 1970
R 169, 1984
85
No mbito internacional, o reconhecimento legal do trabalho juvenil est relacionado proteo do desenvolvimento do menor, seu
direito educao e necessidade de uma idade mnima de insero16. No h tratado internacional sobre juventude; apenas sobre a
proteo social da infncia.
No citado informe de 2007, conclui-se que as experincias dos
governos do continente com polticas e programas voltados para o
trabalho juvenil apresentam coberturas muito reduzidas. Nele, reconhece-se a especificidade desse segmento:
Em qualquer outro grupo demogrfico a anlise do mercado de
trabalho envolveria trs categorias simplesmente: os ocupados, os
desocupados e os inativos. Entretanto, devido a que os jovens se
encontram ainda em processo de formao bsica e ps-secundria,
estas categorias de anlise tm que ser complementadas com a assistncia a algum nvel de educao e formao17.
As polticas dos pases latino-americanos concentram-se a regular o trabalho dos jovens em torno da educao e da formao para
o trabalho. De acordo com anlise dos programas dos pases do continente nesta rea, conclui-se que, na maioria dos casos, eles so
concebidos como programas de colocao em empregos com baixa
exigncia de qualificaes, salrios reduzidos e pouca proteo social18. Segundo a avaliao do informe de 2007 da OIT, as propostas
de polticas para favorecer a insero laboral dos jovens tm servido
para reduzir custos da sua contratao, como ocorre com os convnios de formao e de aprendizagem19.
Thiago Ribeiro20 analisou a qualidade da insero do jovem brasileiro, utilizando como critrio os parmetros propostos pela OIT para
Conforme levantamento de M. L. Vega Ruiz, La legislacin laboral: incentivo para el empleo juvenil?
(Disponvel em http://www.oit.org.pe/tdj, 2007).
17
OIT, Trabajo Decente y Juventud: Amrica Latina, cit., p.33.
18
M. L. Vega Ruiz, La legislacin laboral: incentivo para el empleo juvenil?, cit.
19
OIT, Trabajo Decente y Juventud: Amrica Latina, cit., p.101.
20
T. F. F. Ribeiro, A indecncia do trabalho juvenil no Brasil, cit.
16
86
juventude e ao sindical
considerar um trabalho decente. Constatou que, em 2002, a participao relativa de ocupaes decentes era de 37,1% do total das ocupaes de jovens, e em 2005 passa para 39,7%, num aumento de cerca
de 7,4% no perodo. O pesquisador demonstra, ainda, a relao entre
a ocupao em algum trabalho decente e a sindicalizao. Em mdia,
apenas 8,5% dos jovens se declaram associados a algum sindicato no
ms de referncia da PNAD 2005. Esse nmero dobra entre os jovens
com trabalho decente21 alcanando pouco mais de 17%.
46,0%
40,0%
46,3%
39,6%
13,1%
Masculino
Trabalho Decente
Trabalho Informal
Cabe ao Estado, portanto, a tarefa de converter as trajetrias laborais dos jovens em trajetria de trabalho decente. Salienta, porm,
que as polticas promotoras de trabalho decente devem ser dirigidas
ao conjunto do mercado de trabalho e, dentro dele, combater os mecanismos que provocam excluso.
13,2%
0,9%
0,7%
Feminino
Total
87
governos latino-americanos, em busca de melhorar as condies de trabalho deste segmento, recoloca a importncia do Estado a partir de
46,1%
39,8%
13,3%
1,0%
Empregador
Ao compreender que a oferta de empregos de baixa qualidade impacta sobremaneira os jovens, a orientao dada pela OIT para os
Trabalhadores com carteira, estatutrios e trabalhadores domsticos com carteira, a partir dos microdados da PNAD 2005.
21
22
88
juventude e ao sindical
reas
Segurana
e Proteo
Social
Dimenses
Indicadores
Volume de emprego (quantidade)
Taxa de participao
Direitos no
trabalho
e Dilogo
Social
Falta de oportunidades
Taxa de desemprego
de emprego
Nvel de ocupao
Qualidade do emprego
Escolaridade da PIA e dos ocupados
Evoluo do salrio mnimo real
Remunerao
insuficiente ou
inadequada
Emprego
Taxa de informalidade
Excesso de
horas trabalhadas
Taxa de desemprego
Falta de oportunidades
Taxa de sindicalizao
de emprego
Taxa de informalidade
Nmero de jovens que no estudam nem trabalham
Igualdade
de gnero
e cor/raa
Dimenses
89
Indicadores
Falta de sade e
segurana no trabalho
Nvel de garantia de
renda
Acesso proteo
social
Estabilidade no
emprego
Taxa de rotatividade
Incidncia do trabalho
infantil
Incidncia do trabalho
forado
Exerccio do direito de
sindicalizao
Taxa de sindicalizao
Exerccio do direito
negociao coletiva
Oportunidades de
emprego
90
juventude e ao sindical
91
93
seguida, cita o que considera como as principais polticas e aes desenvolvidas no pas. Finalmente, sugere recomendaes de polticas
para a juventude.
Em relao ao diagnstico realizado, destacamos algumas concluses importantes do documento, que reforam a questo social
oriunda do dficit de trabalho decente de jovens no Brasil. Seriam
eles:
Quanto mais precoce a entrada no mercado de trabalho, mais
precria tende a ser a insero laboral e maior o prejuzo na formao educacional das pessoas, contribuindo para a reproduo
da situao de pobreza;
Jovens de famlias com renda per capita elevada, e que ocupam a
posio de filhos, tm maiores condies para permanecer mais
tempo na escola e postergar a entrada no mercado de trabalho,
com maior nvel de qualificao e escolaridade;
Ao contrrio, jovens de famlias ou domiclios com baixa renda
domiciliar per capita, que ocupam a posio de pessoas de referncia e que tm filhos, tendem a ter mais necessidade de ingressar precocemente no mercado de trabalho para contribuir
com a renda familiar, e tero, portanto, maiores dificuldades para
continuar os estudos;
O desemprego no Brasil pode ser caracterizado como jovem, feminino, negro e metropolitano, j que a desocupao maior
para os jovens do que para os adultos, maior para as mulheres do
que para os homens, mais elevada para os(as) negros(as) do que
para os brancos e para as reas urbanas, em especial metropolitanas, do que para as reas rurais;
A insero de parte significativa de jovens brasileiros no mercado de trabalho precria, e se caracteriza, entre outros aspectos,
por elevadas taxas de desemprego e informalidade, assim como
baixos nveis de rendimento e proteo social.
Os desafios que se impem a partir dessa situao so discutidos
de maneira a subsidiar a formulao de recomendaes para polticas pblicas.
94
juventude e ao sindical
A partir de tais balizas, so apresentadas sugestes para a reduo do dficit de trabalho decente de jovens em nosso pas, organizadas no Quadro 5.
Dois aspectos da proteo social so enfatizados como fundamentais. Por um lado, o sistema de seguridade social condicionado
e financiado pelo mercado de trabalho formal est sob ameaa dada
a elevada informalidade entre os jovens.
O segundo aspecto que ganha destaque a proteo social da
juventude brasileira no necessariamente inserida no mercado de
trabalho. Esse aspecto corresponde a mudanas no sistema de proteo social das famlias, de combate pobreza e no sistema educacional. As polticas sociais assumem destaque. Programas como os
de transferncia de renda condicionadas a permanncia dos filhos
na escola como o Bolsa Famlia so destacados como importantes e inovadoras iniciativas governamentais32. Com o mesmo sentido,
so destacadas as polticas do Governo Federal em relao a democratizao do acesso e busca da elevao da qualidade da educao
em todos os nveis o exemplo mais destacado aqui o Programa
de Desenvolvimento da Educao (PDE).
As tenses prprias do tripartismo esto refletidas mais nitidamente quando se afunilam as diretrizes em propostas concretas.
No caso das polticas voltadas para os jovens, parte das orientaes
limita-se ideia de prover o capital humano. Formar jovens produtivos constitui o objetivo organizador da formulao da OIT.
31
30
95
32
Idem, p.123.
Idem, p.126.
96
juventude e ao sindical
Oferta
Outros e Casamento
entre Oferta e
Demanda
97
Duas falhas importantes podem ser identificadas nesse diagnstico. O destacado apoio ao empreendedorismo juvenil ganha conotaes superiores importncia de outras formas de trabalho no
assalariado, como os empreendimentos da economia solidria e a
agricultura familiar. Conforme destacado aqui, esse discurso refora a fraude trabalhista sob o disfarce de empresrios independentes. O documento falha, ainda, em subdimensionar a utilizao de
instrumentos como o estgio para ampliao de trabalhos precrios para a juventude, insistindo em trat-lo como alternativa para
iniciar uma trajetria de trabalho decente. Tratar o estgio como
trabalho produtivo reforar a ideia de sua utilizao para ocupar
estudantes em atividades precrias.
Positivamente, predominam as propostas para adoo de linhas
de ao governamental em busca do trabalho decente de jovens
orientando o fortalecimento da regulao pblica e por polticas pblicas de valorizao do trabalho. Aspectos centrais devem ser considerados nesse documento, tais como a crtica s polticas e programas que buscam reduzir o custo do trabalho juvenil como forma de
gerar emprego e a defesa da ampliao da proteo social, do acesso
seguridade e do fortalecimento dos sindicatos.
98
juventude e ao sindical
No existe, ainda, consenso sobre a forma de mensurao daquilo que poderia ser caracterizado como trabalho decente. No
entanto, atravs da sua formulao poder ser possvel chamarmos
a ateno para o estado de deteriorao do trabalho e estabelecer
um debate pblico sobre o que queremos considerar enquanto trabalho digno.
Por ser ainda abstrato, o trabalho decente est submetido construo social. Requer ao poltica para disputar a maneira de concretiz-lo. A busca pela generalizao de empregos de qualidade, do
respeito s normas internacionais do trabalho, da proteo social e
da liberdade de organizao sindical constituem eixos estratgicos
na luta contra a explorao e dominao do capital.
99
Para construir uma correlao de foras mais favorvel organizao da classe trabalhadora, necessrio romper com o atual padro de insero ocupacional dos jovens. Isso somente possvel
com a presena forte do Estado frente ao mercado de trabalho e s
instituies pblicas.
Desde 1980, o Brasil apresenta uma ligeira expanso na taxa de
atividade da populao juvenil, indicando uma presso constante de
oferta de mo-de-obra sobre o mercado de trabalho. Percebe-se que
o pas, ao contrrio das experincias de economias avanadas, quase
no tem utilizado o dispositivo de alongamento da inatividade como
uma alternativa de postergao do desemprego juvenil e de maior
H. W. Abramo, Consideraes sobre a tematizao social da juventude no Brasil, em Revista Brasileira de Educao, n 5 e 6 (Rio de Janeiro: ANPED, 1997).
34
J. A. de Castro & L. Aquino (Org.), Juventude e polticas sociais no Brasil, cit.
33
100
juventude e ao sindical
M. Pochmann, Emprego e desemprego juvenil no Brasil: as transformaes dos anos 1990, cit., p. 67.
J. A. de Castro & L. Aquino (Org.), Juventude e polticas sociais no Brasil, cit., p.46.
101
M. Pochmann, Juventude em busca de novos caminhos no Brasil, cit., p.230. Essa etapa de ampliao da inatividade vinculada educao tambm exige que os jovens beneficiados tenham aprendizagem terica e prtica capaz de mobilizar os valores de pertencimento e protagonismo, justamente nas
atividades comunitrias e solidrias.
38
M. C. Corrochano, O trabalho e a sua ausncia: narrativas de jovens do Programa Bolsa Trabalho no
municpio de So Paulo, cit., p.58.
39
Promulgada pelo Decreto n 4,134 de 15/02/2002, publicado no DOU 18.02.2002.
37
102
juventude e ao sindical
40
103
104
juventude e ao sindical
105
da famlia, apartado das decises e responsabilidades da vida pblica, incapaz de decidir seu destino48.
Quando tratamos de polticas pblicas de proteo social da juventude, o desafio alcanar uma formulao que combine entre
si polticas sociais universais e focalizao no segmento juvenil,
constituindo um sistema de proteo social, de forma articulada49.
Dessa forma, a dicotomia universalizao versus focalizao pode
ser superada. O pressuposto considerar que existem necessidades
especficas de jovens que, no entanto, no podem ser deslocadas dos
princpios da universalidade dos direitos sociais.
Concordamos com a orientao de Amlia Cohn, para quem o
mercado de trabalho no pode ser a referncia por excelncia para
a incluso social dos indivduos. Isso porque, como demonstrado
no decorrer deste trabalho, a participao da juventude no mercado
de trabalho no a forma mais promissora de insero social. Alm
disso,
a juvenilizao da violncia se insere em um contexto sociocultural em que as categorias organizadoras do mundo adulto
(instituies e papis sociais, mecanismos de mobilidade etc.)
perdem sua fora agregadora e os problemas da dinmica social potencializam a vulneralibilidade juvenil ao apelo violncia50.
Essa condio agravada ainda mais quando constatamos que
nem mesmo a insero no mercado de trabalho garante proteo
social.
(...) se at a dcada de 1980 a insero no mercado formal de trabalho garantia o acesso ao sistema de proteo social, nem mesmo
44
45
M. R. Kehl, A juventude como sintoma da cultura, em R. Noaves & P. Vanuchi, Juventude e Sociedade: trabalho, educao, cultura e participao, cit., p.91.
49
A. Cohn, O modelo de proteo social no Brasil: qual o espao da juventude?, cit., p.170.
50
J. A. de Castro & L. Aquino (Org.), Juventude e polticas sociais no Brasil, cit., p.25.
48
106
juventude e ao sindical
A luta por crescimento econmico que seja expresso do desenvolvimento com distribuio de renda
e valorizao do trabalho o centro
organizador do conjunto das bandeiras da CUT. Para a juventude
sindical, no ser suficiente a luta
por programas focalizados em jovens. Ela dever somar-se, fortemente, no combate mais geral em torno dos fundos pblicos, sem os
quais fica impossibilitado o financiamento de polticas emancipatrias dos e das jovens do pas.
O rumo estratgico se organiza pela busca por desmercantilizao das polticas sociais, tratando-as como direitos, vislumbrando-se,
dessa forma, que no se dependa do mercado para garantir a sobrevivncia das pessoas. Em outras palavras, desmercantilizar uma
poltica de proteo social permitir que o bem estar no dependa
de relaes monetrias52.
Desmercantilizar as
polticas sociais
trat-las como direitos,
de forma que no se
dependa do mercado
para garantir a sobrevivncia das pessoas.
51
52
A. Cohn, O modelo de proteo social no Brasil: qual o espao da juventude?, cit., p.171.
G. Esping-Andersen, As trs economias polticas do Welfare State, cit.
107
nessa compreenso de proteo social que desejo inserir a discusso sobre polticas de assistncia estudantil. A sociedade de mercado,
em sua verso mais ofensiva, ampliou as bases da mercantilizao do
acesso a direitos, sejam eles universais ou especficos. Com isso, ocorreu aumento significativo do custo de vida, com a utilizao de bens e
servios antes pblicos sendo hoje utilizados para acumulao privada. Essa sociedade desenvolveu cidades profundamente excludentes.
Para manter sua permanncia no sistema educacional, os estudantes necessitam de transporte, alimentao, acesso a bens culturais e, fundamentalmente, de tempo livre para seu descanso, lazer
e direito a sonhar um futuro e viver o presente. Em um quadro social no qual a maioria da juventude no possui recursos financeiros
para abarcar o conjunto dessas necessidades, sobram duas opes:
buscar uma ocupao, em sua maioria, ocupaes desprotegidas socialmente, para tentar garantir a continuidade dos estudos, ou abandonar drasticamente a escola para dedicar-se integralmente a busca
de formas de incremento da renda familiar. Em ambos os casos, os
prejuzos para uma trajetria futura esto anunciados.
Uma poltica social voltada para jovens estudantes estratgica para reverter tal quadro. De acordo com essa compreenso, o
centro da poltica deve ser a reduo do custo de vida do estudante.
Esse custo pode ser reduzido com a instituio de passe livre nos
transportes urbanos, com a instalao de refeitrios pblicos, com
a oferta de cursos pblicos gratuitos de lnguas, informtica e artes,
dentre outras iniciativas que podem ser estabelecidas a partir das
realidades locais e segmentos da populao juvenil, considerando,
portanto, as diversas juventudes.
O movimento sindical precisa considerar a juventude oriunda
da classe trabalhadora de forma ampla. O pblico das polticas sindicais no pode ser limitado ao jovem j inserido no mercado de
trabalho, o jovem trabalhador, alvo potencial das campanhas de sindicalizao. Tais polticas devem ser pensadas de forma a englobar
a dinmica da condio juvenil e criar estratgias para reverter tal
condio, ampliando sua proteo social com polticas de Estado.
Por tudo isso, absolutamente estratgica a aliana com o movimento estudantil. A UNE Unio Nacional dos Estudantes tem
108
juventude e ao sindical
acumulado, nesta dcada, forte centralidade em defesa da ampliao das polticas de assistncia estudantil53, por meio de proposta
de vinculao de 14% dos oramentos das universidades pblicas
federais para essas polticas. Isso requer a ampliao do oramento
geral para a educao superior.
Tais polticas no devem ser consideradas assistencialismo, tratadas como doao ou favor do Estado. Elas relacionam-se com a
busca pela garantia de igualdade de condies para o acesso, a permanncia e a concluso do curso universitrio.
Em geral, ela pode abranger diversas reas. Pode possibilitar a
permanncia do aluno na universidade (moradia, alimentao, sade, transporte, creche, acessibilidade para pessoas com deficincia),
pode contribuir com o bom desempenho acadmico (bolsas, estgios remunerados, cursos de lnguas e tecnologias da informao),
pode permitir o desenvolvimento artstico ou esportivo (iniciativas
de produo e difuso artstica, aes de educao esportiva, recreativa e de lazer).
Pesquisa realizada pelo Frum Nacional de Pr-reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis (FONAPRACE) identificou que
as dificuldades socioeconmicas de uma parcela significativa dos
alunos das Instituies Federais de Educao Superior (IFES) eram
causas significativas da evaso e da reteno. Com essa constatao,
a Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de
Ensino Superior (ANDIFES) concluiu que seria fundamental a articulao de aes assistenciais para a permanncia e a concluso de
curso por parte dos estudantes carentes, na perspectiva de incluso
social, de melhoria do desempenho acadmico e de qualidade de
vida. Esse o principal objetivo do Plano Nacional de Assistncia
Estudantil (PNA) proposto pela entidade54.
No referido documento so expostos dados alarmantes sobre a
relao direta entre situao socioeconmica dos alunos e evaso,
alm do custo pblico que acarretado com a ausncia de polticas
Para conhecer detalhes da proposta da UNE para a reforma universitria brasileira, visitar www.une.
org.br.
54
Plano Nacional de Assistncia Estudantil, disponvel em www.andifes.org.br (acessado em 12/07/09).
53
109
de permanncia. citado o estudo intitulado "Diplomao, Reteno e Evaso em cursos de graduao em Instituies de Ensino
Superior Pblicas", realizado pelo MEC, por meio de um grupo de
Pr-Reitores de Graduao, que aponta que 40% dos alunos que ingressam na universidade abandonam o curso antes de conclu-lo.
informado, tambm, que a estimativa da SESu (Secretaria de Ensino
Superior, do Ministrio da Educao) que o custo com a evaso no
sistema federal seja de R$ 486 milhes ao ano, valor correspondente
a 9% do oramento anual das IFES.
Em sua justificativa, o PNA afirma que a assistncia social ao
estudante absolutamente coerente com o objetivo geral da universidade, considerando que ela est inserida em uma sociedade que
reproduz desigualdades. Da a importncia de instrumentos que
criem oportunidades iguais.
A busca pela reduo das desigualdades socioeconmicas faz parte
do processo de democratizao da universidade e da prpria sociedade. Esse no se pode efetivar apenas no acesso educao superior gratuita. Torna-se necessria a criao de mecanismos que
viabilizem a permanncia e a concluso de curso dos que nela ingressam, reduzindo os efeitos das desigualdades apresentadas por
um conjunto de estudantes provenientes de segmentos sociais cada
vez mais pauperizados e que apresentam dificuldades concretas de
prosseguirem sua vida acadmica com sucesso. A no definio de
recursos para a manuteno de polticas de assistncia estudantil
que busquem criar condies objetivas de permanncia desse segmento da populao na universidade faz com que esses estudantes,
muitas vezes, retardem a concluso do curso e at desistam dele55.
Idem.
110
juventude e ao sindical
111
56
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio Teixeira. Sinopse Estatstica da Educao
Bsica 2007. Disponvel em: http://www.inep.gov.br/ Acesso em setembro de 2009.
58
112
juventude e ao sindical
alimentar-se, vestir-se, ter acesso cultura, ao lazer, prtica esportiva, deslocar-se... E tudo isso tem custo. Algum precisa pagar.
O custo com transporte pblico um elemento importante para
a evaso escolar. Uma pequena parcela das famlias pode financiar
a vida de seus filhos para que eles no precisem trabalhar. Esses
podero ter dedicao exclusiva aos estudos.
Essa maioria precisa contar com recursos prprios ou com polticas de Estado. Mesmo que tenha educao e sade gratuitas, precisam deslocar-se para ter acesso a esses servios. E quanto custa
deslocar-se na cidade?
Tomemos o exemplo da cidade de So Paulo, cuja tarifa do nibus custava R$ 2,70 em 2009. Neste cenrio, uma famlia com dois
adultos e dois estudantes possui um gasto mensal de R$ 486,00
com transporte se fizerem apenas dois deslocamentos por dia. Esse
valor tende a aumentar caso essa famlia more em regies perifricas da cidade. Em geral, precisam tomar mais de duas condues
por dia. Outras demandas, para alm de ir ao trabalho ou escola,
pressionam para aumentar os custos com transporte pblico: ir ao
mdico, visitar parentes e amigos, fazer pesquisa em bibliotecas, ir
ao cinema, ao museu ou show a oferta de acesso cultura, em geral,
est nas zonas centrais urbanas, no nas periferias. Se colocarmos
cada trecho na ponta do lpis, podemos nos aproximar ao valor de
um salrio mnimo gasto apenas com transporte por ms!
Para quem vive nas periferias das grandes cidades, a distncia
dos cursos tcnicos, faculdades e espaos de produo cultural no
apenas geogrfica. O custo com transporte faz com que essa distncia tambm seja limitada financeiramente.
Segundo a Pesquisa de Oramento Familiar (POF) do IBGE, o
aumento das despesas com servios de transporte urbano se deve
mais ao aumento das tarifas de nibus urbanos, que cresceram acima da mdia da economia, do que ao aumento do consumo dos
servios59.
M. Stivali & A. A. Gomide, Padres de gastos das famlias com transportes urbanos no Brasil contemporneo 1987-2003, em F. G. Silveira et al. (Org.), Gasto e consumo das famlias brasileiras
contemporneas (Braslia: IPEA, 2007).
59
113
IV
Sindicalizao de jovens
1
Grande parte dos argumentos desenvolvidos nesse captulo pode ser encontrada em: A. S. Campos,
De portas fechadas: limites para a sindicalizao de jovens, em P. C. Bernardo (Org), Juventudes em
debate: Sindicalismo e mercado de trabalho, cit.
115
116
juventude e ao sindical
Sindicalizao de jovens
117
cimento estrutura estatal e impulsionando campanhas de incentivo sindicalizao)2. Em momentos marcantes da nossa histria, o
movimento sindical teve importante influncia no cenrio poltico e
econmico nacional, tal como no pr 1964 e na dcada de 1980.
O crescimento do poder sindical interrompido com o golpe
militar de 1964. A ausncia de liberdades democrticas atingiu em
cheio o principal instrumento da classe trabalhadora para a ampliao de direitos e ganhos econmicos. Por mais que o perodo
tenha sido marcado por crescimento econmico, os anos da ditadura militar demonstraram patamares recordes de desigualdade social.
A impossibilidade de ao dos sindicatos evitou o aparecimento de
reivindicaes de reajustes salariais e de outros mecanismos que
afetariam diretamente a distribuio de renda3.
Aps o perodo autoritrio, as taxas de sindicalizao voltam a crescer a patamares to superiores aos anos de regime militar que, entre
1979 e 1989, quase 1/3 dos ocupados do pas eram sindicalizados.
No mesmo perodo de tempo, a taxa de sindicalizao foi multiplicada por 2,2 vezes. Certamente, o envolvimento dos sindicatos
com o movimento de redemocratizao da poltica nacional e com
a defesa ampliada dos interesses dos trabalhadores, especialmente
no contexto da formulao da nova Constituio Federal de 1988 e
das altas taxas de inflao, terminou sendo extremamente favorvel
expanso da taxa de sindicalizao4.
A dcada de 1990, por sua vez, foi marcada pelo ajuste neoliberal,
responsvel por nveis recordes de desemprego e elevao acelerada
Para caracterizao das estratgias de Getlio Vargas em relao ao movimento sindical, ver: A. C.
Gomes, A inveno do trabalhismo (So Paulo: Vrtice, 1998). Para conferir o debate sobre o alcance
do poder sindical no perodo pr-golpe de 1964, ver: A. Arajo, Estado e trabalhadores: a montagem da
estrutura sindical no Brasil, em Do corporativismo ao neoliberalismo (So Paulo, Boitempo, 2002).
3
W. Henrique, Questo social e polticas sociais no Brasil, em M. A. Oliveira (Org). Economia e Trabalho:
textos bsicos (Campinas: IE/Unicamp, 1998).
4
M. Pochmann, A sindicalizao no emprego formal terceirizado no Estado de So Paulo (Campinas:
SINDEEPRES, 2007, p.11).
2
118
juventude e ao sindical
Sindicalizao de jovens
119
O estudo de Cardoso demonstra que, apesar da destruio de quase 2 milhes de empregos na produo, outros setores econmicos
tiveram crescimento, provocando impactos diferenciados na adeso
sindical. Ele constata que o nmero de filiados cresceu onde houve
crescimento do emprego, ocorrendo o inverso onde houve queda no
emprego9. Se pensssemos a dessindicalizao como um problema
exclusivo da organizao sindical (crise de representao, de orientao poltica, de falta de estratgia), incorreramos no erro de no
verificar a sua relao com o contexto do mercado de trabalho.
A recuperao do emprego e das taxas de sindicalizao retomada na dcada atual (2000), mesmo que de maneira leve, possibilitada por um contexto favorvel. No perodo compreendido entre
1999 e 2005, percebeu-se uma expanso de 13,7 milhes de novos
ocupados com carteira, entre os quais foram detectados 4,2 milhes
de novos sindicalizados. A cada 100 trabalhadores que encontravam
uma ocupao, 31 terminaram sendo sindicalizados10.
A. Cardoso, A dcada neoliberal e a crise dos sindicatos no Brasil (So Paulo: Boitempo, 2003, p.
221).
9
Idem, p. 227
10
M. Pochmann, A sindicalizao no emprego formal terceirizado no Estado de So Paulo, cit., p.17.
8
120
juventude e ao sindical
Sindicalizao de jovens
As consequncias do modelo de organizao social que emerge dessas transformaes no mundo do trabalho expem, de maneira indubitvel, os desafios a serem superados pelo movimento sindical. Hoje, a
aproximao dos sindicatos dos novos ocupados determinante para
o objetivo de recuperar o poder poltico das organizaes sindicais.
Idem, p.49
12
A. Cardoso, A dcada neoliberal e a crise dos sindicatos no Brasil, cit., p.233.
11
Sindicalizao de jovens
121
27,5%
24,6%
23,2%
20,1%
20,5%
19,0%
16,4%
15,0%
12,5%
12,4%
10,0%
5,0%
0,0%
1995
1999
At 24 anos
25 a 49 anos
2005
50 e mais
122
juventude e ao sindical
Mesmo que a entidade passe a falar a lngua do jovem, vista-se como ele,
toque a msica que gosta de ouvir, o que muda no sindicato alm do esttico,
ou seja, da aparncia?
124
juventude e ao sindical
Sindicalizao no corresponde, necessariamente, em participao nas aes sindicais. De maneira geral, filiao no quer dizer
engajamento automtico. Numa sociedade competitiva, que orienta
o comportamento humano a viver o presente, os laos de compromisso e de confiana que esto baseados na convivncia a longo
prazo esto, no dizer de Sennet, muito mais frouxos16. O ato de
sindicalizar-se, de fazer parte, aderir a um projeto coletivo tem seu
sentido reduzido.
O desafio torna-se cada vez mais complexo. preciso compreender quem esse jovem, seus modos de vida e suas perspectivas, para
assim, construir as ferramentas mais adequadas para uma estratgia
de filiao.
O comportamento juvenil da atualidade , ento, compreendido
como a busca continuamente reiniciada pela vivncia do presente
percebido como o tempo de flexibilidade e de mobilidade, de ausncia de compromisso, em que o lazer e a aventura tm um papel
predominante e a possibilidade da emergncia de perspectivas e dimenses novas para a existncia sempre valorizada17.
O paradoxo est colocado, abrindo possibilidades para uma interveno mais qualificada sobre este segmento. O tensionamento
que se impe : de um lado, a presso pela acomodao ordem
social. Viver o momento passa a significar aceitao de uma dada
realidade, pelo reconhecimento da incapacidade de modific-la. De
outro lado, existe uma janela entreaberta, que precisa ser empurrada: a valorizao da busca de um novo sentido para a vida. Esse
Sindicalizao de jovens
R. Sennet, A Corroso do Carter, cit., p.165. O autor alerta, porm, que o atual uso do ns se
tornou um ato de autoproteo, defensivo, podendo at mesmo tornar-se xenofbico, ao rejeitar outras
comunidades, uma vez constituda a sua.
19
J. F. Costa, Perspectivas da juventude na sociedade de mercado, em R. Novaes & P. Vanuchi (org),
Juventude e Sociedade: trabalho, educao, cultura e participao, cit., p.76.
20
D. Harvey, Condio Ps-Moderna, cit., p.148.
18
125
126
juventude e ao sindical
Sindicalizao de jovens
127
ventude, como bem analisa Fontenelle, foi apuradamente mercantilizada. Tornada ela prpria uma mercadoria, poderia ser vendida
e comprada por adultos e idosos. A cultura jovem foi integrada
produo de mercadorias em geral, processo intensificado conjuntamente com o uso da propaganda e da publicidade pela concorrncia
empresarial. Mercadorias igualmente descartveis, compatveis com
a cultura descartvel. a otimizao daquilo que Marx e Engels
anunciaram como consequncia do contnuo revolucionamento da
produo capitalista: tudo o que slido e estvel se volatiliza22.
inserido nesse contexto que se encontra o enigma da sindicalizao de jovens. A nova moral, conforme afirmao de Sennet,
orienta a vida moderna contempornea, estruturada pela acumulao flexvel, por relaes sociais instveis e pela cultura descartvel.
Uma moral efmera, um carter corrodo. Se a organizao sindical
decorrente da solidariedade de classe, a ausncia desta pe em risco a vitalidade da ao coletiva de trabalhadores e trabalhadoras.
128
juventude e ao sindical
vidade e ao coletiva. Significa disputa de valores. Os valores do socialismo democrtico esto presentes nas greves e nas mobilizaes
de vanguarda. Mas hoje essas aes no so suficientes para conquistar coraes e mentes juvenis. O poder miditico e da cultura de
massa, a educao voltada para a competitividade, a cotidiana quebra de laos de solidariedade, dentre muitos outros, so ferramentas
bastante poderosas e eficazes para a adaptao. As dificuldades para
a confrontao nesse campo so imensas.
Aqui, devemos inserir o problema da identificao. Geralmente
ouve-se falar em necessidade de mudar a linguagem e o visual do
sindicato para chegar prximo ao jovem. Mas e depois? O que continua? Mesmo que a entidade passe a falar a lngua do jovem, vista-se
como ele, toque a msica que gosta de ouvir, o que muda no sindicato alm do esttico, ou seja, da aparncia?
As pastorais populares so um belo exemplo de construo de
identidade de classe baseada na transformao da cultura poltica.
Elas foram, durante muitos anos, importante instrumento de organizao popular em razo do significado social e poltico que tinham para aqueles que delas participavam. Ilza Andrade estudou
a construo da cultura poltica impulsionada pela militncia das
pastorais populares, concluindo que sua eficcia e sua continuidade
eram possveis devido :
(..) difuso da ideia de pertencimento, de uma ideia de cidadania e
de democracia entre os pobres; a consolidao de uma cultura poltica diferenciada, que possibilita aos indivduos uma participao
mais ativa no meio onde est inserido; a possibilidade de vivncia
de um novo padro de sociabilidade; a politizao das questes da
vida quotidiana; e a insero de suas lutas e de seus personagens no
espao pblico23.
Sindicalizao de jovens
129
Buscar a construo de significados entre a organizao sindical e o trabalhador e a trabalhadora jovem exerccio fundamental
para abrir a janela de participao.
A identidade no se limita aparncia, semelhana. necessrio sentir o pertencimento. No existem receitas de recrutamento
para a sindicalizao de jovens, especificamente. A diversidade de
cdigos e significados entre os/as trabalhadores/as jovens imensa24. Isso impe um exerccio cotidiano para as lideranas sindicais
ou seja, aqueles que tm o poder de definir rumos para a organizao sindical a fim de entender as razes da falta de identidade de
classe e, assim, ter melhores condies de enfrent-las.
Por que no possuem o sentimento de pertencimento ao sindicato? Por que no se identificam com ele? As respostas, que devem
variar de acordo com cada realidade, sero a base para pensar aes
que objetivem alterar as realidades juvenis. Tm relao direta com
a forma de organizar e com o contedo das pautas de reivindicao
sindical. Tm relao, acima de tudo, com as possibilidades de identificao coletiva a partir do resgate de laos de solidariedade desde
sua condio de classe. Como tratamos ao longo desse livro, essa
condio social mais pauperizada, desprotegida e instvel que a
mdia da classe trabalhadora.
O problema da participao da juventude em movimentos sociais e em aes coletivas no se resume aos movimentos tidos como
tradicionais. No apenas nos movimentos sindical e estudantil se
verificam as dificuldades de identificao com as organizaes e as
aes polticas. Importante estudo sobre a militncia de jovens nos
anos 1990 perodo marcado pelo refluxo dos movimentos sociais
e extrema despolitizao conclui que mesmo a participao em
movimentos novos, mas em um contexto desfavorvel, no possui
significado emancipatrio, chegando mesmo a ser simples defesa
de interesses particulares25. So jovens inseridos em uma gerao
individualista, o que apresenta, por si s, importante limitao para
a produo do novo.
Assim como igualmente grande a diversidade de cdigos sociais na juventude em geral.
J. T. P. Sousa, Reinvenes da utopia: A militncia poltica de jovens nos anos 90 (So Paulo: Hacker,
p.198, 1999).
24
25
130
juventude e ao sindical
Engajados no movimento social, os jovens se valorizam e se apropriam de sua juventude, em um contexto desfavorvel para tal, sob
a hegemonia do mundo das mercadorias. A opo pelo coletivo nos
leva a indagar os limites da civilizao dos negcios, que marca
uma das expresses do globalismo, que comprime o tempo, abreviando a juventude no que tem de sonho e liberdade, prolongando-a
no que tem de estilo de vida e de consumo, de falsa liberdade. Mais
do que uma despolitizao, tal civilizao politiza para a competio, para o egosmo26.
Idem, p.201
Sindicalizao de jovens
131
avanamos na conquista do direito de organizao no local de trabalho e a alarmante rotatividade permanece sendo utilizada como
instrumento de empresrios para o combate sindicalizao27. O
autoritarismo empresarial, conforme tratado em captulo anterior,
outro elemento a ser combatido e que tem relao direta com a
manipulao do medo de trabalhdores/as para evitar sua filiao
sindical. No existem, na legislao trabalhista brasileira, mecanismos de punio s prticas antissindicais de empregadores.
A nova realidade do mundo do trabalho impe que sejam feitas
modificaes internas organizao sindical e que se enfatizem as
reivindicaes por liberdade de organizao dos/as trabalhadores/
as. Esse sindicalismo, portanto,
(...) seria democrtico, como a melhor maneira de mobilizar os trabalhadores; militante, no sentido de que perceberia que um recuo
em qualquer dos pontos de sua rede de lutas levaria to-somente
a mais recuos; lutaria pelo poder e pela organizao nos locais de
trabalho; seria poltico, embora agindo independentemente dos partidos; multiplicaria o alcance de seu poder poltico e social na articulao com outros movimentos sociais; e, finalmente, lutaria por
todos os oprimidos, ampliando seu poder nesse processo28.
Nesse sentido, a busca pela ratificao e regulamentao da Conveno 158 da Organizao Internacional do Trabalho (que impe limites demisso imotivada) tem significado importante para enfrentar
a cultura do medo e lograr o fortalecimento da luta sindical, rumo livre filiao dos trabalhadores as
suas organizaes representativas.
28
M. Santana & J. Ramalho, Trabalhadores, sindicato e a nova questo social, em , Alm da fbrica (So Paulo: Boitempo, p.29, 2003).
27
132
juventude e ao sindical
Alm de procurar
(...) voltar-se para novos grupos de trabalhadores, especialmente jovens, mulheres e migrantes29.
Sindicalizao de jovens
Esse distanciamento pode ser evitado com pesado investimento poltico em organizao por local de trabalho e na comunicao sindical. Diferentemente da concepo stalinista, que trata o sindicato
como correia de transmisso do partido, Gramsci enfatiza o papel
do trabalho de base, da formao das lideranas e da construo das
lutas.
Podemos pensar, assim, o sindicato como uma escola de socialismo. O lugar onde se aprendem e se ensinam os valores da nova
sociedade que desejamos criar. Ou seja, onde se aprende a liderar a
novidade. Em nosso caso, tal novidade o confronto com os valores
e cdigos dominantes da sociedade de mercado. O sindicato como
escola de socialismo uma organizao poltica que educa ou reeduca com prticas polticas que reforam a solidariedade de classe,
que disputam identidades e projetos de vida.
Os sindicalistas que fundaram e deram vida ao chamado sindicalismo autntico no final dos anos 1970 e incio da dcada seguinte
se apresentaram como gerao poltica que correspondeu a determinado contexto. Como foi demonstrado aqui, esse contexto sofreu
alteraes profundas. Uma nova gerao dever apresentar-se com
uma cultura poltica nova. Ou seja, nova relao de poder sindical,
de prtica democrtica e profundamente capaz de transformar o
novo perfil da classe trabalhadora na nova cara da organizao de
classe.
Irene Cardoso, discutindo os conceitos de gerao e herana, afirma que esta no pura repetio imposta entre geraes. Caracterstica importante a possibilidade de escolha daquilo que recebido:
Essa escolha o movimento de que parte de uma deciso de reafirmar a herana, no apenas aceit-la, mas relan-la de outra maneira, reinterpret-la, critic-la, desloc-la, transform-la32.
I. Cardoso, A gerao dos anos 1960: o peso de uma herana, em Tempo Social, Revista de Sociologia da USP (v. 17, n. 2, p.100, 2005). Estudo clssico sobre os vnculos da juventude com o sistema
social, particularmente sobre o papel exercido pela famlia e pela situao de classe pode ser conferido
em: M. M. Forachi, O estudante e a transformao da sociedade brasileira (So Paulo: Nacional, 1965,
especialmente captulo I).
32
29
30
133
134
juventude e ao sindical
V
Alianas sociais e polticas
da juventude sindical
135
136
juventude e ao sindical
condio social das mulheres. Na penltima parte do captulo, defendo alguns argumentos sobre a necessidade de ampliao da aliana
com o movimento estudantil. Encerro, na sexta seo, apontando a
importncia da organizao em rede com outros movimentos juvenis, de forma a potencializar a ampliao da luta anticapitalista.
137
Como requisito para apresentar propostas I Conferncia Nacional de Juventude, realizada em abril de 2008, pelo Governo Federal, a CUT realizou a I Conferncia Livre da Juventude da CUT, nos
dias 24 e 25 de novembro de 2007. A resoluo da Conferncia Livre
apresenta reivindicaes que vo desde o fortalecimento da previdncia social at propostas de proteo social dos jovens no mercado de trabalho. A novidade a incorporao na agenda da CUT
da proposta de polticas pblicas que financiem a postergao da
entrada de jovens no mercado de trabalho, atravs do investimento
em educao e em programas de transferncia de renda.
A diretriz aprovada, que fundamenta o conjunto da pauta, afirma
a defesa de:
Polticas de Estado voltadas para: o retardamento da entrada do jovem no mercado de trabalho e, por outro lado, alterar positivamente
o atual padro de insero ocupacional da juventude brasileira (garantir a formalizao, manuteno e ampliao dos direitos traba4
Idem, p.102.
138
juventude e ao sindical
139
represso militar, o sindicalismo combativo procurou nos movimentos de bairro, na Igreja progressista e na intelectualidade de
esquerda o suporte necessrio para denunciar a ditadura e realizar
a luta sindical contra o desemprego, o arrocho salarial e o alto custo
de vida. Foi um passo fundamental para alargar a percepo dos
antagonismos que regem a sociedade de classes.
Em um momento posterior, a Constituinte de 1988, o movimento sindical teve um papel imprescindvel, aliando-se ao movimento
sanitarista, de educadores, estudantil, dentre outros e parlamentares oriundos do movimento sindical e popular. O resultado foi a
incluso na Carta de direitos como a universalizao do acesso
educao, a constituio de um sistema de seguridade social, reduo da jornada de trabalho para 44 horas semanais, dentre outros
avanos de sentido popular. O extraordinrio dessas vitrias que,
ao mesmo tempo, fortalecia-se ao redor do mundo o avano do neoliberalismo. Foram as foras populares, em luta, que levaram o pas
a nadar contra a correnteza7.
Porm, as conquistas da Carta de 1988 foram seguidas da vitria da candidatura neoliberal presidncia do Brasil. Com o
Governo Fernando Collor (1990-1992) e, mais profundamente,
com o Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), vimos
os constantes ataques a tudo o que possua sentido popular e progressista na legislao brasileira. Nesse contexto de hegemonia
neoliberal, os movimentos sociais e populares unificaram-se no
Frum Nacional de Lutas, a principal frente de resistncia quele
projeto8.
Com a vitria de Luiz Incio Lula da Silva para presidncia da
Repblica, os movimentos sociais depararam-se com um paradoxo
140
juventude e ao sindical
para a defesa do projeto democrtico e popular: defend-lo dos ataques da direita, organizada no Congresso Nacional, nas organizaes empresariais e na grande mdia e, ao mesmo tempo, pressionlo frente s contradies oriundas do prprio Governo. O desafio
da autonomia do movimento sindical foi posto mais uma vez na
histria do sindicalismo brasileiro.
Com o objetivo de superar paradoxos como esse, surgiu a Coordenao dos Movimentos Sociais (CMS). Nesse espao, articulamse os movimentos sociais e organizaes que compem o chamado
campo democrtico e popular9.
As principais iniciativas comuns da CMS foram construdas em
torno de dois temas: a alterao da poltica econmica do Governo
Lula e a democratizao dos meios de comunicao. Mais recentemente, o tema da soberania nacional volta ao centro das mobilizaes, impulsionado pela descoberta do pr-sal e pela batalha contra
os leiles das bacias de petrleo. So temas importantes para a disputa de hegemonia na sociedade. Porm, a CMS ainda est longe
de assumir o vigor que a unidade do movimento sindical e popular
logrou obter em termos de mobilizaes em outros contextos por
exemplo, a luta contra a carestia nos anos 1970, a Constituinte nos
anos 1980, a Marcha dos Cem Mil no final dos anos 1990 e a campanha contra a ALCA na passagem do sculo.
141
A capacidade de mobilizao dos movimentos sociais mais estruturados historicamente foi profundamente afetada pelas mudanas
ocorridas no campo da cultura poltica. Vimos crescer, nas ltimas
dcadas, novos espaos de associao comunitria e de organizao poltica baseada nas identidades scio-culturais. O pragmatismo
de muitas dessas formas recentes de associativismo ocupou grande
parte da arena pblica nacional e local, antes impulsionada por movimentos sindicais, estudantis e pela Igreja Popular.
As formas de interveno poltica, organizao e os discursos
sofreram profundas modificaes. O imediatismo e o fragmentrio
passaram a ser aspectos caractersticos de parte considervel das
organizaes surgidas nesse perodo. Para elas, a existncia de um
projeto alternativo de sociedade no tem lugar privilegiado10. A cultura poltica de jovens que militam nessas novas formas de associativismo juvenil deve ser compreendida, se queremos verificar as
possibilidades de construo de alianas sindicais com elas.
Ao falar de cultura poltica, refiro-me ao conjunto de valores, discursos e comportamentos polticos que so acumulados ao longo da
experincia de vida coletiva. So padres que orientam as opinies e
as aes polticas. Se o sistema capitalista baseado na distribuio
desigual dos recursos sejam eles recursos materiais ou simblicos
o processo de dominao tem bases materiais, que sujeitam a classe
trabalhadora a aceitar a sua condio de dominada. Essa aceitao
no ocorre estritamente pela expropriao dos meios de produo.
A classe dominante necessita construir outros meios para garantir a
dominao voluntria da classe trabalhadora.
De acordo com Gramsci, as instituies, as relaes sociais e as
ideias so constantemente recriadas para garantir a continuidade
da dominao, do consentimento frente a esta. O sistema capitalista
mantido com base na ideologia dominante. Existe uma crena na
igualdade democrtica, segundo a qual todos os cidados e cidads
possuem as mesmas possibilidades no interior da sociedade competitiva. A partir do exerccio do controle cultural, a classe dominante
exerce seu poder sem ser percebido pela maioria da populao dominada como classe dirigente11.
O Estado capitalista garante o arcabouo jurdico e poltico da
democracia burguesa. Porm, a viso economicista segundo a qual
o Estado o comit executivo da burguesia no contribui para cons-
CUT, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Central de Movimentos Populares, Unio Nacional dos Estudantes, Unio Brasileira de Estudantes Secundaristas, Marcha Mundial das Mulheres,
dentre outros.
A. S. Campos, Movimento estudantil: quando novas prticas entram em cena, (Monografia, Natal:
CCHLA/UFRN, 2000).
11
A. Gramsci, Maquiavel, a Poltica e o Estado Moderno, cit.
10
142
juventude e ao sindical
143
Retomando Gramsci, a estratgia do movimento da classe trabalhadora deve debruar-se profundamente na luta ideolgica, materializando-se em relaes, instituies e prticas sociais12.
O esforo ideolgico da classe dominante nos anos neoliberais
imps maiores limitaes para essa estratgia. Dentre os avanos da
dominao burguesa, destaco o esvaziamento do sentido da participao poltica, que resultou na consolidao da ideia pragmtica de
um certo protagonismo juvenil.
Em estudo realizado com militantes jovens da dcada de 1990,
Janice Tirelli Ponte de Sousa, chegou a duas constataes extremamente relevantes:
Muitas vezes, a rede movimentalista qual se vinculam os jovens
no se coloca em confronto direto com aspectos estruturais da sociedade de classes e no inclui em seu repertrio de demandas reivindicatrias imediatas, denncias e questionamentos anti-burgueses,
exceo do movimento Anarco-Punk13.
E segue:
Por outro lado, os sujeitos coletivos tradicionais, mesmo os centrados no mundo do trabalho, so muitas vezes limitados ao corporativismo e realimentao da ordem estabelecida porque destitudos
de um mnimo de rebeldia juvenil, da transgresso e principalmente
da subverso, ou seja, incapazes de ousar a liberdade14.
13
144
juventude e ao sindical
sofreu a concorrncia, dentro dela, de correntes religiosas que atraram massas de jovens para suas atividades carismticas. As pastorais populares viram-se condenadas secundarizao dentro da sua
prpria instituio.
No toa, cresceu a presena de fundaes financiadas por empresas privadas, muitas delas multinacionais, que sustentam projetos sociais de ONGs ditas juvenis. Elas se autoproclamaram a legtima representao da sociedade civil em conselhos pblicos que
tratam de polticas de juventude em diversos governos. Com tal legitimidade, esse chamado terceiro setor ocupou o papel de representao dos interesses da juventude, principalmente quando o negcio
garantir financiamento de projetos com jovens preferencialmente,
nas periferias das grandes cidades.
Essa lgica est vinculada viso geral dominante na sociedade
de mercado. Na dcada neoliberal, foi consolidada a ideia segundo
a qual a sociedade civil deve ser considerada uma esfera harmnica
e homognea, encobrindo, assim, as contradies inerentes a uma
sociedade de classes15.
Essa uma concepo que deve ser combatida. Recupero a compreenso de Gramsci sobre o que vem a ser a sociedade civil. Para ele,
esta uma esfera da sociedade formada por um conjunto de organismos tidos como privados, que se interliga com outra esfera, a sociedade poltica, que seria o Estado em seu sentido estrito. A sociedade civil
formada por classes sociais que, dado seu conflito imanente a luta
de classes do o ritmo da dominao baseada no consentimento a
partir do controle cultural, da estrutura do processo de trabalho e das
relaes sociais mercantilizadas. A hegemonia, compreendida como
padro de dominao de uma classe sobre outra, expressa pela direo poltica, intelectual e moral da classe dominante16.
A estabilizao da ordem social capitalista garantida na esfera
da sociedade civil. Hegemonia burguesa a subordinao ideolgica
E. J. Gracioli & M. R. Lucas, Terceiro setor e ressignificao da sociedade civil, em
Margem Esquerda ensaios marxistas, n.13 (So Paulo: Boitempo, 2009).
16
A. Gramsci, A concepo dialtica da histria, cit.;_____, Maquiavel, a Poltica e o Estado
Moderno, cit.
15
145
Os conselhos pblicos de juventude, como o CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude), tm sido institudos sob essa viso dominante. So equiparadas as organizaes populares e de trabalhadores com as organizaes do chamado terceiro setor, simplesmente
porque no fazem parte nem da esfera do Estado nem do mercado.
Todos so chamados de sociedade civil. E, no raro, as opinies
daquilo que chamam de terceiro setor so consideradas como posies polticas da sociedade civil.
No h espao, de acordo com essa viso liberal, para impor critrios de representatividade poltica. Um sindicato ou um diretrio
estudantil de uma universidade tem menor peso poltico que o representante de uma ONG que oferece cursos de informtica para
jovens em algum bairro de uma grande cidade. A opinio de um
especialista em juventude tem mais audincia do que manifestaes
simultneas da UNE que possam ocorrer em todas as universidades
pblicas do pas19.
146
juventude e ao sindical
Nos anos 1990, tambm presenciamos um processo de adaptao no interior dos movimentos mais tradicionais, como o prprio
movimento estudantil. Estudei, nesse perodo, mecanismos utilizados por determinada corrente poltica para convencer estudantes
secundaristas a participar do movimento estudantil. Naquele estudo,
cheguei a seguinte constatao:
O processo de identificao coletiva tem, como base primordial, no
um discurso poltico-partidrio, mas o oferecimento de um espao
de sociabilidade onde os estudantes fogem de um ambiente domesticador da famlia e da escola, assim como tambm, das preocupaes
atuais relacionadas ao emprego e ausncia de alternativas de lazer
para os jovens. A construo da identidade do grupo tem uma importncia fundamental para a extraordinria adeso de militantes20.
Trata-se de um movimento poltico que se conforma em relao ao jogo. A perspectiva de futuro (um projeto de sociedade)
substituda pelo resultado imediato,
configurando novas formas de reA ao sindical precisistncia. O movimento estudantil
sa ter capacidade de
sofreu esta alterao em sua cultura
convocar a juventude
poltica, assim como muitos outros
trabalhadora e tambm
movimentos, seja como aceitao e
os/as jovens organiadaptao, seja como resistncia na
conformidade21.
zados/as em diversas
mais difcil conquistar a classe
experincia de associatrabalhadora
quando as lideranas
tivismo juvenil.
que conduziro esse processo esto
cada vez mais orientadas por uma cultura poltica pragmtica. A
A. S. Campos, Movimento estudantil: quando novas prticas entram em cena, cit., p.69. O
estudo foi realizado com militantes da JSB (Juventude do Partido Socialista Brasileiro), corrente poltica que passou a dirigir, em um espao de 5 anos, todos os grmios estudantis da
cidade de Natal/RN, e ocupar cem por cento da direo eleita por proporcionalidade da
Unio Metropolitana de Estudantes Secundaristas da mesma cidade.
21
Idem.
20
147
recuperao de novas energias de mobilizao social requer a ampliao de bandeiras polticas que permitam elevar a conscincia
democrtica e anticapitalista.
A disputa ideolgica deve recuperar a luta na sociedade civil,
para construir hegemonia da classe trabalhadora. As lideranas tm
a tarefa de produzir a inovao da cultura poltica, para que seja
militante, democrtica e socialista. Por isso, faz parte da necessidade estratgica do movimento sindical conquistar a juventude trabalhadora, mas tambm aqueles e aquelas que esto organizados nas
mais diversas experincias de associativismo juvenil.
149
um exemplo importante para pensarmos as formas de impulsionar a organizao e mobilizao da juventude trabalhadora na e a
partir da CUT. Existe uma resposta fcil de dirigentes sindicais que
se limitam a produzir alteraes visuais e na linguagem enquanto
estratgia de sindicalizao de jovens ou para traz-los para aes
sindicais. So respostas que podem apenas reforar a transformao do sindicato em espao recreativo. A concepo sindical cutista
compreende, ao contrrio, que o sindicato deve ser instrumento de
organizao e de luta dos interesses desses trabalhadores e dessas
trabalhadoras jovens.
O associativismo puramente recreativo inofensivo sociedade capitalista, pois no contribui para disputar valores e prticas
polticas emancipatrias. Se somarmos isso avassaladora fora
do mercado, que injeta cotidianamente seus cdigos e referncias
consumistas e individualistas, chegamos a uma forma de participao juvenil que nada mais que uma rebeldia acomodada ou uma
resistncia adaptada. ONGs que recrutam jovens com intuito de
form-los para o empreendedorismo individual ou para o engajamento caritativo no contribuem para o enfrentamento das regras
dominantes e no denunciam os antagonismos imanentes de uma
sociedade dividida em classes sociais.
Classe social no faz parte do dicionrio dessa viso associativa.
Seno, como justificar a ao da sociedade civil no Dia Mundial
Sem Carro, que tem adeso de empresrios, trabalhadores e militantes ambientalistas. uma resposta da sociedade civil destruio do meio ambiente, que no considera o fato de que a explorao
capitalista dos recursos naturais tem mais responsabilidade sobre
essa degradao do que o trabalhador que no recicla o lixo da sua
casa. A ttica da ideologia dominante afirmar que todos possuem a
mesma responsabilidade sobre a proteo ambiental. Segundo essa
viso ecoliberal, o empresrio que tem trs carros e um condicionador de ar em cada cmodo da residncia to responsvel quanto
o trabalhador que tem dificuldade de acesso ao transporte pblico
e que toma banho sem chuveiro eltrico. um discurso cnico, que
coloca todos no bojo da sociedade civil como responsveis igualmente pela preservao do planeta.
150
juventude e ao sindical
Ilza Andrade desenvolve instigante problematizao da participao de jovens em grupos polticos. Ela questiona o significado poltico da experincia da participao na vida dos jovens militantes
em termos da realizao do trabalho coletivo, da possibilidade de
reflexo sobre a realidade, da viabilizao de um espao de militncia poltica e de incentivo participao poltica22.
Construir uma poltica de juventude no movimento sindical no
pode se limitar a campanhas de sindicalizao de jovens ou em investimento na renovao de quadros. So, sem dvida, elementos
muito importantes para consolidar um projeto juvenil. Porm, no
so suficientes.
Uma poltica sindical de jovens deve ser composta pelos elementos estratgicos de qualquer poltica sindical combativa: uma
plataforma de reivindicaes que relacione questes especficas
com aquelas mais estruturantes, p.ex., o direito educao e a
reduo da jornada de trabalho; orientaes gerais para disputar
hegemonia na sociedade, como a busca de alianas polticas com
outros movimentos sociais que organizem jovens, construindo iniciativas comuns; fortalecer um projeto sindical mais amplo no
tendo, portanto, a pretenso de ser um sindicalismo puramente
juvenil , p.ex., o esforo em estabelecer solidariedade de classe,
ao construir a luta sindical unificando diversas categorias e ramos
de atividade.
Creio que possvel aproveitar o exemplo do mtodo de construo da MMM. O desafio que se impe fazer com que as bases
materiais de existncia da juventude brasileira sejam impulsionadoras de aes pblicas, de militncia poltica e de unidade entre os
diversos movimentos juvenis.
152
juventude e ao sindical
153
23
24
154
juventude e ao sindical
75,6
32,7
14,9
8,3
8,3
24,3
22,4
62,3
39,8
18,7
13,5
33,8
supletivo de 1 grau
1,9
3,0
2,8
3,4
5,7
3,3
supletivo de 2 grau
0,0
0,9
4,3
4,5
7,1
3,6
superior
0,0
0,7
34,0
59,2
54,7
30,6
alfabetizao de adultos
0,2
0,3
0,6
1,4
2,6
1,0
pr-vestibular
0,0
0,2
3,6
2,7
2,6
2,1
mestrado ou doutorado
0,0
0,0
0,1
2,0
5,5
1,3
total
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100
100
100
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29
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So agendas complementares: garantir o acesso e permanncia no sistema educacional, disputar com o mercado o sentido da
educao e combater a utilizao de estudantes como mo-de-obra
barata.
30 de maro de 2009, Dia Nacional de Luta Contra a Crise. Foto: Parizotti / Arquivo CUT.
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