Introdução À Teoria Documental - Um Estudo Sobre A Teoria Literária JEDP - Corrigido
Introdução À Teoria Documental - Um Estudo Sobre A Teoria Literária JEDP - Corrigido
Introdução À Teoria Documental - Um Estudo Sobre A Teoria Literária JEDP - Corrigido
RESUMO:
ABSTRACT:
Mestrando em Cincias da Religio pela Faculdade Unida de Vitria (2012-2013), com nfase na
Anlise do Discurso Religioso. Pesquisador na rea de Apocalptica, Escatologia, Astronomia e
Metodologia da Pesquisa Cientfica. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie/SP (2009-2010) e pelo Seminrio Teolgico Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Eller/MG
(2002-2005).
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o direito de critica inato da natureza humana
(Jos Carlos Rodrigues)
INTRODUO
tradicional de que Moiss escrevera o Pentateuco, exceto poucos versos do final onde
se relata a sua morte e interpelaes ocasionais feitas por copistas, para efeito
elucidao (HALLEY, 1971, p. 56). Questionava-se, porm, a autoria singular da obra
propondo-se multi-autores.
At o surgimento da filosofia destica do sculo XVIII, a igreja crist sempre
aceitou literalmente as declaraes contidas no Pentateuco, bem como que este era da
autoria de Moiss, servo de Deus. Porm, seria este Moiss do dcimo quinto sculo
antes da era comum o escritor sagrado do Pentateuco ou um autor bem mais recente?
Muitas crticas e ideias se posicionam diante desta pergunta.
evidente que o direito de critica inato da natureza humana (RODRIGUES,
1921, p. 309). Alguns judeus, por exemplo, querendo responder ao questionamento da
autoria mosaica do Pentateuco, entenderam que poderia haver uma autoria posterior de
pelo menos parte da Tor. Portanto, nenhum livro do Pentateuco est salvo de crticas,
pois em nenhum deles tambm se atribui a autoria mosaica.2 Assim, durante sculos
ficaram sem soluo muitas questes, o que hoje em dia tambm objeto de rigoroso
estudo teolgico, sendo que a pesquisa do Pentateuco repercutiu para alm de seus
A Escritura Sagrada judaica defende apenas que Moiss escrevia (Exodo 17.14, Exodo 24.4-7, Nmeros
33.1, Deuteronmio 27.1-13, Deuteronmiot 31.9). Os conservadores postulam que estes textos provam
que a Lei fora dada por palavra e tambm por escrito; que foi escrita num livro sob a imediata autoridade
de Deus. Portanto, este deveria ser lido, obedecido e temido por todo o Israel.
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limites (SHIMIDT, 1994, p. 49). Por isso, antes de conhecer a teoria literria JEDP,
que tenta responder a tais perguntas, preciso conhecer o objeto de estudo, os chamados
escritos sagrados do Pentateuco atribudos ao nome de Moiss em um resumo prtico.
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1.1. O Livro de Gnesis
No hebraico seu nome Breshith (o mesmo que no principio). Em grego a
palavra gnesis quer dizer origem. Da ser o livro que relata o principio de todas as
coisas. tambm um livro de genealogias, onde a expresso filho de... garante a
historicidade dos fatos ali relatados. Seus primeiros onze captulos tratam de temas
universais, tendo como pano de fundo, o Oriente Mdio. A partir do captulo 12, o foco
central da histria volta-se para Israel, tendo como palco a Palestina. Israel inicia-se
com Abrao, cresce em uma famlia com Isaque e recebe o nome de Jac. A terceira e
ltima parte do livro nos mostra a providncia de Deus intervindo na histria para fazer
cumprir os seus propsitos. A histria de Jos e sua venda pelos irmos usada por
Deus para preservao de seu povo. Gnesis pode ser dividido, consequentemente, em
trs blocos de assuntos: (a) Os primrdios de tudo (111), (b) os patriarcas (1235) e (c)
a providncia (3650).
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litrgicos e cerimonias, visando a santidade do povo. Levitico se divide em cinco blocos
de assuntos: (a) o sacrifcio (1-7), (b) o sacerdcio (8-10), (c) a sade (11-15), (d) a
separao (16-22) e (e) as solenidades (23-27).
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A despeito do surgimento de teorias inovadoras,3 por volta do sculo XIX da era
comum algumas proposies j estavam acentadas: o Pentateuco era considerado uma
composio mista e o Moiss histrico no poderia ter escrevido a Tor totalmente. Tais
debates coincidiram com o descobrimento de outras fontes levando muitos crticos a,
pelo menos, mant-lo como legislador, especialmente como autor do declogo
(SHIMIDT, 1994, p. 49).
Ao longo de todo o sculo as teorias foram surgindo tendo os seus pontos mais
fortes em 1.802 com Johann Vatter, em 1.836 com o alemo Friederich Bleek, em 1.853
com o filsofo e telogo Hermann Hupfield, em 1.883 com o alemo especialista em
Antigo Testamento Karl Heinrich Graff. Foi neste contexto que surgiu a teoria
comumente conehcida como JEDP. Foi o alemo Julius Welhausen, brilhante
sucessor de exmios conhecedores das lnguas originais como Graff e Eduard Reuss,
que realou tal teoria. Era o ano de 1.872 da era comum quando o estudioso alemo
August Dillman concordou com o fato que o Javista fez uso do Eloista; e, seis anos mais
tarde, Welhausen concluiu sua grande obra examinando todo o hexateuco. Eis a teoria
documental JEDP, explicada a seguir.
1.1. A Teoria Documental JEDP
Uma das teorias que se pode rememorar envolve o livro de Josu, postulando que este no seria da
categoria dos histricos e seria, literalmente, o complemento do Pentateuco, formando um hexateuco.
Esta teoria do hexateuco vem pelo fato de originalmente os temas sada do Egito e entrada na terra
cultivada estarem unidas originalmente. A tradio do xodo aponta para a tomada da terra. O livro de
Josu fala da concretizao da promisso constantemente repetida aos patriarcas, de que seus
descendentes possuiram a terra de Cana (Gnesis 13.14-17). Assim, Josu formaria uma unidade com o
Pentateuco (HOMBURG, 1979, p. 49).
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1.1.1. O Javista (J)
Provavelmente escrito entre 750 e 700 antes da era comum por um escritor
desconhecido do Reino Setentrional israelita. a narrativa da tradio de Israel junto
com o J, porm, com mais objetividade no seu estilo narrativo, tendo menos cor
conscienciosa de reflexo tica e teolgica (ARCHER Jr., 1974, p. 96). Destaca-se a
transcendncia de Deus, dando preferncia a Elohim como nome de Deus at a
revelao do nome Yahweh a Moiss (Ex 3.6) e, com isso, passa a empregar os dois
nomes para Deus.
Por volta de 650 antes da era comum, um redator desconhecido fez juno do
J e do E em um nico documento, o JE. A princpio, os estudiosos pensaram que
E iniciasse em Gnesis 15, mas confirmaram depois seu incio em Gnesis 20. A
maioria dos especialistas localiza o ambiente do E no norte de Israel, pois dispensa
ateno especial a Betel, Siqum e s tribos de Jos, Efraim e Manasss (LASOR, 2002,
p. 11). As partes remanescentes do documento esto bem fragmentadas. Alguns
entendem que esse fenmeno teria sido causado por algum redator que incluiu no J
material encontrado no E. Por essa perspectiva, quase impossvel recuperar a fonte
E.
1.1.3. O Deuteronomista (D)
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2002, p. 12). Foi composto possivelmente sob a direo do sumo sacerdote Hilquias,
como programa oficial do partido da reforma patrocinado pelo rei Josias, no avivamento
de 621 antes da era comum (ARCHER Jr., 1974, p. 96). A meta principal dessa reforma
foi a centralizao do culto a Yahweh em Jerusalm e a eliminao dos muitos locais de
sacrifcios e dos numerosos santurios situados nos altos, distribudos por toda a terra
(HOMBURG, 1979, p. 68). Este documento foi influenciadssimo pelo movimento
proftico, com destaque a Jeremias. Membros desta escola deuterocannica, mais tarde
fizeram uma obra de redao nas narrativas histricas registradas em Josu, Juzes,
Samuel e Reis. Em termos gerais, essa fonte pode ser considerada como uma coletnea
de mensagens acerca da lei.
Nascido em 1.684 da era comum na cidade francesa de Sauve, Astruc era filho
de um pastor protestante. Estudou medicina em Mountpelier, tornando-se professor
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desta disciplina em Paris (EISSFELDT, 1965, p. 161). Considerado o percursor do
incio do movimento sobre as hipteses documentais, Astruc sustentou que nos dois
primeiros captulos de Gnesis Moiss citava um autor que s conhecia o nome Elohim
e o outro autor s conhecia o nome Yahweh. Contudo, encontrou pouco apoio imediato
sua teoria (ARCHER Jr., 1974, p. 87).
Outro expoente a ser estudado por suas hipteses documentais o telogo
alemo protestante Johann Gottfried Eichhorn. Este procurava correlacionar os assim
chamados relatrios paralelos e histricos duplicados. Cedeu ao ponto de vista que
o Pentateuco foi escrito depois de Moiss (ARCHER Jr., 1974, p. 87). Foi a partir daqui
que a conte JE adquiriu importncia com a introduo do conceito de mito
(SHIMIDT, 1994, p. 50).
Outrossim, o telogo alemo Wilhelm Martin Leberecht de Wette acreditava que
nenhuma parte do Pentateuco vinha dum perodo anterior poca de Davi. Aqui surgiu
a teoria do documento D (ARCHER Jr., 1974, p. 88). Este no pertencia Escola
Documental, mas aos teoristas fragmentrios, ou seja, daqueles que consideravam que a
Tor fora composta na poca de Salomo, onde apenas alguns fragmentos seriam de
Moiss. Alexander Geddes, telogo escocs, tambm partilhava desta viso.
Outras contribuies devem ser citadas. Johann Vater dividiu o Gnesis em nada
menos do que 39 fragmentos (o que naturalmente significou a diviso do E em
diversos elementos). O alemo Heinrich Ewald ressaltou que a base essencial de
Gnesis era muito antiga, se no inteiramente mosaica. No admitiu o uso de repeties
e ttulos no texto hebraico para comprovar autorias diversas, como a de Eichhorn
(ARCHER Jr., 1974, p. 88-89).
Bleek, o estudioso e crtico bblico alemo, criou o termo Hexateuco como
sendo a forma final na qual a tradio mosaica chegara sua forma escrita. Alm disso,
o conservador telogo luterano e hebrasta Franz Dulitzsch props a teoria que todas as
pores do Pentateuco que o prprio texto atribua autoria mosaica eram
genuinamente de Moiss (ARCHER Jr., 1974, p. 90).
Hupfeld marcou sua poca com a chamada Revoluo Coperniciana da histria
da Teoria Documental sujeitando o documento E a um reexame total. Abraham
Kuemem argumentou em prol da unidade do D, insistindo que as pores histricas
deste documento no poderiam legitimamente ser separadas de pores legais
(ARCHER Jr., 1974, p. 91-93).
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Henning B. Witter foi o primeiro a adotar a alternncia entre os nomes de Deus,
Elohim e Yahweh. Foi ele quem descobriu em Gnesis 1 uma fonte prpria. Outro
telogo alemo, Karl David Ilgen, semelhantemente, evidenciou que ao lado de duas
fontes escritas havia uma terceira que usa o primeiro nome de Deus da primeira fonte.
Agora seriam trs documentos (dois de Elohim e um de Yahweh ). Assim, J. Hempel
distinguiu trs partes no J: J1 (a histria de Abrao para a conquista de Cana,
escrito certamente por Davi), o J2 (a histria de Jos) e o J3 (a histria primordial,
omitindo o P), correspondendo s divises do livro de Gnesis (PFEIFFER, 1941, p.
141).
A discusso de Graff em 1.866 da era comum considerava que o cdigo
sacerdotal no Pentateuco continha uma legislao que era posterior, em origem, ao
prprio Deuteronmio (621 antes da era comum), explicando como o D no
demonstrava nenhum conhecimento das pores legais do P. As pores histricas do
P eram, portanto, sem dvida, muito antigas. Assim a ordem dos documentos acabou
sendo, segundo Graff, o P histrico, um acrstico EJDP legal (PFEIFFER, 1941, p.
92-93).
Foi com Julius Welhausen que o movimento das hipteses documentais ganhou
fora. Ele redefiniu a teoria documental com grande percia e capacidade de persuaso,
apoiando a seqncia acrstica JEDP na base da evoluo (PFEIFFER, 1941, p. 93).
Dentre aqueles que procuravam entender Welhausen, destaca-se Willian R. Smith, seu
primeiro intrprete perante o pblico, mesmo com convices teolgicas mais
conservadoras do que os arquitetos da teoria documental. O relacionamento da teoria de
Welhausen e a teoria de Darwin sero mostrados adiante.
3. Welhausen e o Evolucionismo
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estudioso, e a teoria do desenvolvimento do animismo primitivo at o
montesmo sofisticado, conforme explanado por Welhausen e seus
seguidores, se harmonizou bem com o dialeticismo hegeliano (escola
de filosofia contempornea que ento dominava o ambiente) e o
evolucionismo darwiniano (ARCHER Jr., 1994, p. 93).
Neste sentido, o sculo XIX da era comum era predisposto para a teoria
documental e o nome de Welhausen se vinculou teoria, por ter sido ele seu expoente
clssico. O impacto de seus escritos logo se fizeram sentir em toda Alemanha,
recebendo mais e mais aceitao.
CONSIDERAES FINAIS
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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