Rev Copernicana para Thomas Khun
Rev Copernicana para Thomas Khun
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A REVOLUO COPERNICANA
De Thomas Kuhn
ndice
ndice ......................................................................................... 1
O antigo universo das duas esferas.............................................. 1
O problema dos planetas ............................................................. 3
O universo de duas esferas no pensamento Aristotlico............... 4
Reformando a tradio: de Aristteles a Coprnico ..................... 6
A inovao de Coprnico ............................................................. 8
A assimilao da astronomia copernicana ................................. 10
Anlise crtica da obra A Revoluo Copernicana ................... 14
acabaram a destruio completa desta teoria, que considerando uma Terra estvel
e mvel, foi durante sculos uma viso do mundo trabalhada e coerente.
A inovao de Coprnico
Coprnico foi o autor de um dos mais marcantes livros da histria da cincia.
O De Revolutionibus..., publicado em 1543, foi um livro que, destinando-se a
corrigir os erros das tabelas e teorias dos seus antecessores Aristteles e Ptolomeu,
acabou por produzir uma, nica, grande diferena das teorias destes astrnomos.
Retirando a Terra da posio que ocupava desde o incio da humanidade, o centro
do universo, e colocando-a, juntamente com todos os planetas conhecidos, a girar
em redor do Sol, Coprnico foi o grande inovador que, apesar de no ter
conseguido completamente separar-se das antigas teorias, abriu o caminho para
uma nova mentalidade por parte de novos astrnomos e filsofos, que acabou com
o desmoronamento completo da ultrapassada concepo da Terra imvel no centro
do universo.
A obra de Coprnico foi elaborada com o objectivo de resolver o problema
dos planetas, num a tentativa de explicar aquilo que Ptolomeu e os seus seguidores
tinham falhado. Este foi o primeiro grande objectivo de o De Revolutionibus...,
mas no qual tambm Coprnico acabou por falhar. Mas, as consequncias que dele
advieram, fizeram-no uma obra completamente inovadora. Dela deriva uma
completa nova abordagem da astronomia planetria, uma simples, exacta
linguagem matemtica que fizeram-na ser desde logo aceite por alguns dos
pensadores e astrnomos da poca.
Foi o incio duma nova cosmologia, que iniciou-se a ser construda, atravs
dos clculos matemticos fceis e exactos da posio dos planetas, e acabou em
certos aspectos que no so visveis de modo algum no De Revolutionibus: a
abolio dos epiciclos e excntricos, a total dissoluo da esferas, a concepo do
Sol como sendo uma estrela como muitas outras, a expanso infinita do universo...
Porque, em si, esta obra no deixou de ser demasiado semelhante a todos os
trabalhos apresentados pelos astrnomos seguidores de Ptolomeu, enquanto que
as obras que se seguiram, por astrnomos que leram e se baseavam no trabalho de
Coprnico, foram, estas sim, completamente inovadoras e radicais nos aspectos
essenciais que caracterizaram a Revoluo Copernicana.
De Revolutionibus Orbitum Caelestium um texto demasiado matemtico
para ser compreendido por qualquer pessoa que no seja um astrnomo
experiente, e apenas uma primeira parte, por ser mais acessvel, e que resume as
ideias principais de Coprnico, foi utilizada por Thomas Kuhn no A Revoluo
Copernicana, onde se encontram excertos deste Primeiro Livro introdutrio. Mas
no que consistem as ideias fundamentais de Coprnico e o que levou a que fossem
expressas ?
Coprnico, criticando os trabalhos dos astrnomos da antiguidade, e
concluindo a existncia de demasiados erros nas suas teorias, muitas vezes
baseadas em observaes inadequadas ou inexistentes, avana ele prprio com
uma teoria, onde a grande novidade era, perante a impossibilidade de emendar,
acrescentando mais esferas, a teoria de Ptolomeu do movimento dos planetas; de
que o simples movimento do planeta Terra, podia resolver um dos grandes
problemas astronmicos existentes. S um movimento circular uniforme, ou
mesmo combinaes desses movimentos, poderiam explicar a ocorrncia de todos
os fenmenos celestes.
Neste sistema, as maiores irregularidades dos movimentos dos planetas so
apenas aparentes. Pois, ao serem vistos de uma Terra, tambm ela mvel, um
planeta que se movimentasse regularmente, pareceria ao observador que o seu
movimento apresentava anormalidades. Por essa razo Coprnico acreditava no
movimento da Terra. Se tantos astrnomos e filsofos antigos sempre haviam
rejeitado completamente a existncia de uma Terra mvel e, (mesmo assim, nunca
haviam conseguido provar que a Terra se encontrava fixa no centro do universo),
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Por outro lado, este trabalho de Galileu, inclusive a sua inveno, permitiu
uma maior divulgao das teorias cientficas popularizou entre a opinio pblica a
revoluo copernicana.
Foi assim que, aos poucos, os velhos esquemas conceptuais foram
desaparecendo. De incio infiltrando-se, o copernicanismo acabou por vir a fazer
parte da mentalidade de todos os astrnomos logo a partir do sculo XVII. No meio
desse sculo, era difcil encontrar um astrnomo que no se tivesse rendido ao
copernicanismo, e no final do mesmo, impossvel. A astronomia de Ptolomeu e
Brahe foi substituda pela de Coprnico e at mesmo a Igreja teve de se resignar
condio de que a Terra no passava de um simples planeta como muitos outros
que orbitava em redor de uma das muitas estrelas do universo. O triunfo do
copernicanismo foi um processo, gradual e inevitvel, apesar de todas as
dificuldades que teve de enfrentar.
Em 1665, cerca de 120 anos depois de Coprnico ter publicado o seu
sistema do mundo, 50 anos aps Kepler ter determinado as leis que regem os
movimentos dos planetas e 30 aps Galileu ter sido condenado por ter tornado
essa realidade palpvel, atravs da luneta, uma grande mudana estava ainda por
ser operada. Durante quase 2000 anos, a astronomia e a fsica eram consideradas
cincias separadas. Desde a poca de Plato e Aristteles que era proibido
procurar causas naturais para os movimentos dos corpos celestes, pois estes eram
considerados perfeitos, como que divinais. Ao mostrar que a Lua tem montanhas
e o Sol tem manchas, ente outras, Galileu quebrou essa dita perfeio. Que a Lua
no mais perfeita ou divinal que a Terra, nem mesmo o Sol ou os outros planetas,
foram obstculos que, com algum custo, conseguiram ser ultrapassados.
O novo universo
A Revoluo Copernicana terminou muito aps a publicao do De
Revolutionibus... e da morte de Coprnico, e sobretudo no se traduziu somente
numa nova teoria astronmica. Mesmo aps a publicao da teoria de Kepler e das
descobertas de Ptolomeu, vrios foram os problemas que subsistiram acerca
cosmologia astronmica. Problemas como os que envolvem a razo do movimento
dos planetas, a distncia das estrelas, ou a razo pela qual os corpos caiem para a
Terra, apesar do movimento da Terra em redor do Sol.
Kepler teria j tentado explicar primeira destas perguntas atravs da anima
motrix, uma fora motriz por parte do Sol que atravs de raios empurra os planetas
volta das suas rbitas. Mas este problema s seria solucionado muito mais tarde,
atravs da teoria das mecnica celeste de Newton. E se as Leis de Kepler so
consideradas como o produto final da teoria astronmica de Coprnico, o universo
infinito que resulta da teoria de Newton envolveu muito mais que uma cosmologia
inovadora.
Desde Kepler que os acontecimentos e factos encaminhavam-se cada vez
mais para uma maior conhecimento do universo, e vrios so os astrnomos que
do o seu contributo para esta fase da revoluo.
Thomas Digges foi o primeiro a descrever um universo infinito e
copernicano, mas a sua teoria contribuiu para o mesmo paradoxo que surgira a
Nicolau de Cusa alguns sculos antes. Cusa acreditara que o universo era uma
esfera infinita, mas ao declarar que o centro dessa esfera coincidiria com qualquer
ponto da sua periferia, entrava no mesmo paradoxo que Digges, pois como
acreditar na existncia de um Sol central, se um universo infinito no teria centro?
Para Digges, tal como se verifica na gravura, o ncleo central do universo
era idntico ao de Coprnico, e o diagrama mostra as estrelas dispersas para alm
da ltima esfera.
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O universo de Digges:
De reparar que para este astrnomo o Sol no considerado uma estrela como as
outras, mantendo ainda uma posio privilegiada em relao s restantes estrelas.
O italiano Giordano Bruno, cuja abordagem cosmologia pouco se
preocupava com cincia, acreditava tambm numa viso de um universo infinito,
mas que no necessitava, ao contrrio dos universos de Coprnico, Kepler e
Galileu, de um centro. Nem o Sol, nem qualquer outro planeta ou estrela
necessitava de estar necessariamente no centro do universo.
Assim, a sua principal contribuio para a cincia foi o reconhecimento de
certas semelhanas ou afinidades entre as teorias antigas e as modernas, sobretudo
atravs da dicotomia entre o atomismo dos clssicos gregos Leucipo e Demcrito, e
o copernicanismo. Esta afinidade permitiu que, entre as diversas correntes que
nasceram da teoria de Coprnico, o atomismo fosse considerado a mais eficaz no
seio das diversas correntes intelectuais e cientficas do sculo XVII.
O atomismo, revivido durante este sculo, foi apresentado como sendo a
teoria mais preparada para substituir a concepo escolstica, desacreditada como
copernicanismo. Nasceu assim uma teoria baseada numa concepo corpuscular:
os movimentos, interaces e as combinaes das variadas partculas eram
governadas pelas impostas por Deus na Criao. Foi esta uma das maneiras
encontrada para que a religio pudesse ainda ter um papel a desempenhar no
universo, no obstante a sua rejeio pela teoria copernicana.
Foi o filsofo Ren Descartes (1598 -1650) o primeiro a conseguir aplicar
esta teoria para resolver os problemas do universo copernicano. Descartes
procurava uma explicao natural para o movimento dos corpos celestes. Mas este
filsofo repugnava a ideia de uma aco distncia, e decide assim que, para
preencher o vazio entre os corpos celestes, existiriam turbilhes ou vrtices de
matria invisvel, capazes de arrastar, todos no mesmo sentido, planetas e satlites.
Sendo at, este filsofo bastante bem sucedido em algumas das suas teorias,
como por exemplo, a do comportamento dos corpsculos no vazio, outras no
tiveram o mesmo impacto e credibilidade, e algum tempo depois possvel
descobrir todos os erros do seu sistema. Mesmo neste sistema aqui referido, sabiase j na poca que embora todos os planetas conhecidos girassem no mesmo
sentido, alguns cometas no o faziam, e giravam em sentido inverso. No obstante,
o alcance das suas teorias foi tremendo, e marcou um grande contributo para a
formao das concepes que lhe sucederam.
Algumas dessas concepes foram avanadas seguidamente, e dois
caminhos estavam j traados, um que ligava o copernicanismo e a filosofia
corpuscular, e o outro que procurava a resoluo do problema fsico do movimento
dos planetas. Do sistema de Kepler resultava uma explicao para a rotao da
Terra, e o seu desvio para leste; uma explicao do movimento dos planetas,
atravs da fora a que chamava anima motrix, e a existncias de rbitas planetrias
centradas no Sol.
Depois de Kepler, surgiu uma nova concepo, ao mesmo tempo
semelhante sua, adoptada pelo italiano Borelli (1608-1679). Este, continuando
ainda com a fora anima motrix, veio introduzir uma nova fora, que fazia deflectir
os planetas atrados pelo Sol.
Este foi um dos ltimos sistemas que surgira antes da teoria dos
Principia..., de Newton, sendo o outro apresentado por Robert Hooke (16351703). Ao mesmo tempo que, em 1666, foi publicada a concepo de Borelli, este
britnico conseguiu demonstrar completamente o paralelismo existente os
movimentos terrestres e os celestes. No s refutou o movimento rectilneo em que
todos acreditavam, como forneceu ele prprio a concepo de que o movimento
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dos planetas consistia numa curva fechada em torno do Sol, devendo ainda existir
algum princpio atractivo ou uma fora que interagisse entre o sol e os planetas.
A descoberta desse princpio atractivo ficou a dever-se a um astrnomo
conceituado, Isaac Newton (1642-1727).
muitas vezes referido o papel de uma ma, que ter elucidado a este
astrnomo a razo do movimento dos planetas. A analogia que (supostamente) ter
feito fcil de perceber. Se uma ma, assim como todos os corpos sem suporte,
cai para a Terra, o que acontecer Lua? Newton consegue perceber que a Lua
tambm cai para a Terra, pois se tal no acontecesse, no continuaria a girar em
torno da Terra, e desapareceria no espao. Como a sua trajectria inclina-se para a
Terra, significaria que ela cai; mas como a sua velocidade oblqua muito
grande, a sua queda encurva-lhe o percurso somente o necessrio para que se
mantenha mesma distncia da Terra.
Quando pegou neste problema, por volta de 1666, Newton conseguiu
resolver matematicamente, a velocidade qual um planeta atrado pelo Sol, ou a
Lua pela Terra, mas de maneira a permanecer uma rbita estvel e circular. E assim
a gravidade apontada, quer como a fora que ocasionava a queda dos corpos
para a Terra, como a que permitia a atraco entre a Lua e a Terra e entre os
planetas e o Sol. Os mtodos matemticos de Newton permitem-lhe tambm
demonstrar que uma grande esfera, agia como se toda a sua massa estivesse
concentrada no centro. Ou seja, era necessrio calcular o raio da Terra para que se
pudessem realizar tais clculos, trabalho esse que tinha sido conseguido, com
preciso, pouco tempo antes.
Ento Newton, em menos de dois anos, redige os primeiros dois volumes da
sua obra, Principia mathematica philosophiae naturalis. E a partir das frmula
matemticas aqui contidas, Newton permite calcular tanto a forma, como a
velocidade das trajectrias com preciso. Este volumes continham toda a sua
teoria, tanto a da gravitao como as leis gerais que estabeleceu para descrever os
movimentos, que chamamos hoje Leis de Newton e que durante cerca de dois
sculos regeram toda a mecnica.
Porque Newton nunca se satisfez completamente com esta concepo
corpuscular da gravidade, e tentou sempre aprofund-la, de modo a que os seus
seguidores tentaram chegar a uma outra concluso passvel de ser considerada e
aceite. Mas foi s a cincia do sculo XX, onde a gravidade pode ser explicada sem
a necessidade de recorrer a uma fora distncia, que conseguiu justificar as
desconfianas de Newton e seus sucessores.
leigo culto. E prova-se que tal tambm aconteceu com a revoluo copernicana.
Coprnico deu o primeiro passo para o incio de uma nova mentalidade e
perspectiva cientficas, que ocorreu alguns sculos mais tarde.
De incio apenas uma teoria cosmolgica inovadora, como o decorrer do
sculo XVII esta teoria provocou o surgir de novos problemas, que aos quais todos
os campos ou reas da cincia cooperavam para encontrar a soluo. Porque se a
astronomia copernicana rompera com as tradicionais e ingnuas respostas, no
conseguira encontrar substitutos que se adequassem nova teoria. Foi necessrio o
trabalho de vrias especialidades da comunidade cientfica para que ficassem
resolvidas respostas para os mais diversos problemas.
O outro aspecto abordado o descontinuismo desta concepo. O autor
apresentou-nos A estrutura das revolues cientficas como sendo o expressar
do seu ponto de vista descontinuista a nvel do progresso em cincia. Mas ser que
na A Revoluo... publicada alguns anos antes, conseguimos encontrar todas as
caractersticas que distinguem a teoria de Kuhn?
Uma breve introduo ao contedo principal da concepo de Kuhn
necessria apresentar para que seja possvel a compreenso das ideias contidas
nesta anlise, que tenta conciliar o contedo das duas obras do autor.
Existem duas teorias que se sobrepem para o desenvolvimento cientfico,
mas uma delas encontra-se ainda dividida em vrias concepes, cada um
defendida por um filsofo mais ou menos conceituado. Kuhn, Popper, Feyaraben e
Lakatos defendem a tese do descontinuismo da cincia, enquanto que o
continuismo produto sobretudo do empirismo ingnuo humano.
O senso comum, como vulgarmente denominado o empirismo, apresenta
na maioria das vezes uma viso continuista da cincia, de que o aperfeioamento
desta obedecera a um processo contnuo e sem obstculos, com a acumulao de
novos conhecimentos aos j existentes. Mas outros filsofos, insatisfeitos com esta
viso um tanto ingnua, apresentaram teorias descontinuistas que permitem
explicar este desenvolvimento.
Kuhn e Popper so dois exemplos de filsofos que apresentaram
concepes diferentes para o mesmo, mas que ao mesmo tempo apresentavam
uma estrutura semelhante: pregavam que o progresso e termos cientficos contm
momentos de ruptura que separa nitidamente uma fase de outra, por vezes
antagnicas. Num breve resumo, apresentarei de seguida as teorias mais
importantes, concorrentes da de Kuhn.
Popper sublinha que o progresso se faz ao nvel de uma sucesso de
teorias, cuja meta a alcanar a verdade absoluta. descontinuista por no
considerar que o progresso se faa por acumulao de conhecimentos, pois as
novas teorias que surgem, corrigem as anteriores.
Feyaraben e Lakatos, outros descontinuistas de renome, propem uma tese
alternativa de Kuhn, bastante semelhante, mas um pouco menos radical. Sugerem
que os perodos de transio entre os paradigmas no so fechados como Kuhn
referia, mas sim que existiam certas semelhanas entre os paradigmas.
Eis um esquema que pode elucidar este aspecto:
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Legenda:
I: Incio do paradigma
M: Maturidade do
paradigma
Inc.: Incio das
incompatibilidades
FIM
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