02 - Escola Jônica
02 - Escola Jônica
02 - Escola Jônica
A escola jnica foi uma escola da filosofia grega centrada na cidade de Mileto,
na Jnia, nos sculos VI e V A.C. Embora a Jnia tenha sido o centro da filosofia
ocidental, os filsofos que ela produziu, incluindo Tales, Anaximandro, Anaxmenes,
tinham pontos de vista to divergentes que no se pode dizer que tenham pertencido, a
uma escola filosfica especfica. Aristteles os chamou de physiologoi, significando
aqueles que discursavam sobre a natureza, porm jamais os classificou numa escola
jnica. A classificao foi feita pela primeira vez por Scion, historiador da filosofia do
sculo II. Por vezes so designados como cosmologistas, j que quase todos eram
fisicalistas que tentavam explicar a natureza da matria.
TALES DE MILETO
O pensador ao qua1 a tradio atribui comeo da filosofia grega Tales, que
viveu em Mileto, na Jnia, provavelmente nas ltimas dcadas do sculo VII e na
primeira metade do sculo VI A.C. Tales, alm de filsofo, foi cientista e poltico. No
se tm conhecimento de que tenha escrito livros. S conhecemos seu pensamento
atravs da tradio oral indireta.
Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a
existncia de um princpio originrio nico, causa de todas as coisas que existem,
sustentando que tal princpio a gua.
Essa proposio importantssima, podendo ser qualificada como a primeira
proposta filosfica daquilo que se costuma chamar de civilizao ocidental. A
compreenso exata dessa proposio far compreender a grande revoluo operada por
Tales, que levou a criao da filosofia.
Princpio (arch) no termo de Tales, mas certamente o termo que indica,
melhor que qualquer outro, o conceito daquele quid do qual todas as coisas derivam.
Aristteles em sua exposio sobre o pensamento de Tales e dos primeiros fsicos, diz:
princpio aquilo do qual derivam originariamente e no qual se resolvem por ltimo
todos os seres, uma realidade que permanece idntica no transmutar-se de suas
alteraes, ou seja, uma realidade que continua a existir de maneira imutada, mesmo
atravs do processo gerador de todas as coisas.
Tales de Mileto, ento, segundo a tradio filosfica, considera o princpio
(arch) como:
a) A fonte e a origem de todas as coisas.
b) A foz ou termo ltimo de todas as coisas.
delimitao e determinao dele, todas as coisas geram-se a partir dele consistem e nele
existem.
Tales no se pusera a pergunta sobre o como e o porqu do princpio derivam
todas as coisas, e por que todas as coisas se corrompem. Anaximandro, porm, pe a
questo, e responde que a causa da origem das coisas uma espcie de injustia,
enquanto a causa da corrupo e da morte urna espcie de expiao de tal injustia.
Provavelmente Anaximandro pensava no fato de que o mundo constitudo por urna
srie de contrrios, que tendem a predominar um sobre o outro (calor e frio, seco e
mido) A injustia consistiria precisamente nessa predominncia.
Nessa concepo, parece inegvel ter havido urna infiltrao de concepes
religiosas de sabor rfico. Como vimos ideia de uma culpa originria e de sua
expiao e, portanto, a ideia da justia que equilibra, central no orfismo.
Assim como o princpio infinito, tambm os mundos so infinitos, tanto no
sentido de que este nosso mundo nada mais que um dos enumerveis mundos em tudo
semelhantes aos quais os precederam e aos que os seguiro (pois cada mundo tem
nascimento, vida e morte) como tambm no sentido de que este nosso mundo coexiste
ao mesmo tempo com uma srie infinita de outros mundos (e todos eles nascem e
morrem de modo anlogo).
Eis como se explica a gnese do cosmo. De um movimento, que eterno,
geraram-se os primeiros dois contrrios fundamentais: o frio e o calor. Originalmente de
natureza lquida o frio teria sido em parte transformado pelo calor, que formava a esfera
perifrica, no ar. A esfera do calor ter-se-ia dividido em trs, originando a esfera do sol,
a esfera da lua e a esfera dos astros. O elemento lquido ter-se-ia recolhido nas
cavidades da terra, constituindo os mares.
Imaginada como tendo forma cilndrica, a terra permanece suspensa sem ser
sustentada por nada, mas continua firme por causa da igual distncia de todas as partes,
ou seja, por uma espcie de equilbrio de foras. Sob a ao do sol, devem ter nascido
do elemento lquido os primeiros animais, de estrutura elementar, dos quais, pouco a
pouco, ter-se-iam desenvolvido os animais mais complexos.
ANAXMENES DE MILETO
Tambm em Mileto floresceu Anaxmenes, discpulo de Anaximandro, no
sculo VI A.C., de cujo escrito Sobre a natureza, em sbria prosa jnica, chegaram-no trs
fragmentos, alm de testemunhos indiretos.
Anaxmenes pensa que a arch deva ser infinita, mas que deva ser pensada como
o ar infinito, substncia area ilimitada. Escreve ele: Exatamente como a nossa alma
(ou seja, o princpio que d a vida), que ar, se sustenta e se governa, assim tambm o
sopro e o ar abarcam o cosmo inteiro.
Resta a esclarecer, no entanto, a razo pela qual Anaxmenes escolheu o ar como
princpio. evidente que ele sentia necessidade de introduzir uma realidade originria
que dela permitisse deduzir todas as coisas, de modo mais lgico e mais racional do que
fizera Anaximandro. Com efeito, por sua natureza de grande mobilidade, o ar se presta
muito bem para ser concebido como em perene movimento. Alm disso, o ar se presta
melhor do que qualquer outro elemento para as variaes e transformaes necessrias
para fazer nascerem s diversas coisas. Ao se condensar, resfria-se e se torna gua e,
depois, terra; ao se distender (ou seja, rarefazendo-se) e dilatar, esquenta e torna-se
fogo.
A variao de tenso da realidade originria d, portanto, origem a todas as
coisas. Em certo sentido, Anaxmenes representa a expresso mais rigorosa e mais
lgica do pensamento da Escola de Mileto, porque, com o processo de condensao e
rarefao, ele introduz a causa dinmica da qual Tales ainda no havia falado e que
Anaximandro determinara apenas inspirando-se em concepes rficas. Anaxmenes
fornece, portanto, uma causa em perfeita harmonia com o princpio.