Sistema Móvel de Resp Civil
Sistema Móvel de Resp Civil
Sistema Móvel de Resp Civil
Raul Guichard
tamente, no dar conta da concepo do Autor a simples e, porventura, trivial indicao da abertura do sistema).
O essencial do sistema mvel reside em que os elementos ou
foras que o compem tem um peso distinto e so, de algum
modo, fungveis ou permutveis. Mais precisamente, os fundamentos de determinado efeito jurdico assumiro, entre si, diversa
ponderao ou peso (no limite, a particular acuidade de um poderia
levar a prescindir da verificao de outro) e interferiro tambm
com a medida da consequncia (logo ocorrer, a este propsito, a
frmula da glosa: quia eadem est ratio vel major, ergo idem ius).
Particular nfase ps WILBURG na necessidade de, em tal procedimento, exaurir (mas ao mesmo tempo circunscrever) todos os fundamentos valorativos capazes de justificar certa consequncia legal
ou que contra esta deponham.
E tambm distinguiu claramente, quanto ao domnio de aplicao,
por um lado, o plano da conformao das normas pelo legislador
(e, eventualmente, da sua desenvoluo pela doutrina e jurisprudncia), da legstica uma questo de tcnica legislativa e de
temperamento jurdico , e, por outro, o plano da aplicao do
direito (constitudo) em que o mtodo ganhar significado dogmtico. Quanto ao primeiro, acentua WILBURG a possibilidade de o
legislador expressar, exemplarmente, a valorao dos diferentes
elementos ou foras atravs de (grupos de) casos tpicos ou
representativos. Alis, de um modo mais geral, e posteriormente,
aparecer sugerida a aplicao da ideia de sistema mvel e de
jogo de diferentes elementos no mbito das tipologias ou do
discorrer mediante tipos. No que respeita ao segundo plano referido, ocorre constatar, circunstncia, alis, de que WILBURG estava
seguramente consciente, que muitas normas legais no consentem,
enquanto numa estrutura (rgida) estabelecem bem determinados
pressupostos como condio necessria de certa consequncia ou
efeito, que se trabalhe com um sistema mvel. O que, de resto, se
DE
TRADUO DO ALEMO PARA PORTUGUS DO TEXTO DE WALTER WILBURG ENTWICKLUNG EINES BEWEGLICHEN SYSTEMS IM BRGERLICHEN RECHT
O antigo costume de o novo reitor, na sua tomada de posse, abordar um tema da sua especialidade significa, conforme eu o entendo, que ao orador ser consentido explanar perante o elevado auditrio algumas ideias que, no mbito do seu trabalho cientfico, se
lhe afiguram particularmente significativas. Neste sentido, seja-me
permitido dar aqui expresso a uma convico pessoal concernente
estrutura fundamental do direito civil. Todavia, tenho inteira
conscincia, a este respeito, que cada um, ainda que almeje apanhar as estrelas do cu, no melhor dos casos apenas encontrar
um pequeno gro de verdade, devendo dar-se por feliz se de
novo no o perder na poeira do caos.
No decurso de mais de 2 mil anos, o direito civil construiu laboriosamente um edifcio de conceitos reconhecido por toda a cincia
jurdica como escola do pensamento jurdico. Porm, a crise na
qual a jurisprudncia se encontra actualmente parece pr tambm
em causa tal construo. No faltam vozes que pretendem substituir uma actividade jurisdicional orientada por regras gerais pela
A teoria do direito privado, partindo de concretas hipteses e decises, desenvolveu conceitos gerais, os quais, segundo a concepo
da escola histrica, constituem verdadeiros entes jurdicos.
RUDOLF
VON
corpos naturais 1. Nesses moldes, foram, por exemplo, encarados o direito de propriedade ou os direitos de crdito. Imagem esta
que, se pode descrever de modo sugestivo a constituio, extino
e muitas caractersticas dos direitos, facilmente induz a concluses
errneas.
Assim, afigura-se natural que aquele que utiliza uma coisa alheia
para seu prprio proveito, ainda que sem culpa, seja obrigado a
compensar o proprietrio. Porm, j que o direito de propriedade
se extingue com o perecimento da coisa ou com a sua alienao a
um adquirente de boa f, a doutrina no descortinou qualquer fundamento para semelhante dever e, com isso, acabou, ocasionalmente, por o pr em dvida. A rigidez do conceito de propriedade
obstou aqui simples constatao de que o dever indemnizatrio,
enquanto prolongamento ou efeito ulterior do direito de propriedade, deriva afinal do prprio escopo deste2.
Diferentemente, no esprito de uma conformao mvel, considerar-se-o as entidades jurdicas no como corpos mas como
resultado da actuao de distintas foras comparao que d conta da mutabilidade do jogo ou articulao conjunta das foras e da
relatividade do seu efeito.
A impostao metodolgica referida est, alis, prxima de uma
nova e reputada corrente3 que se denomina jurisprudncia dos
1
ses. Ela conduziu os redactores do ABGB a solues de fina sensibilidade e equilbrio. E o seu respeito e cuidado representam hoje,
semelhantemente, enquanto base da formao do direito, uma exigncia imperiosa.
Tambm a ideia de equidade contribuiu valiosamente para o
desenvolvimento do direito. Amide permitiu romper formas rigidificadas. Todavia, seria perigoso institui-la como princpio geral
vlido para o julgador, j que carece de fundamentalidade. O seu
contedo permite, no mximo, reconhecer razes de natureza
social; para alm disso, implicaria um passo no sentido da livre
descoberta do direito.
Igualmente perigoso seria, ao invs, o desenvolvimento de princpios com contedo fixo, os quais, cristalizados em falsas generalizaes, adquiririam um domnio incontrolado e seriam tomados
como axiomas.
Assim, desde h sculos, no direito falimentar vigora o princpio de
que todos os credores comuns ou quirografrios devem ser tratados igualmente, os seus crditos ser satisfeitos com uma quota
igual (scl., proporcionalmente). O princpio da igualdade (par
conditio creditorum) desenvolveu-se para contrariar a livre competio entre os credores, a qual remeteria a deciso para a habilidade destes, para o favor do devedor ou mesmo para o mero
acaso.
Nesta disputa, a ideia da igualdade entre os credores preencheu
uma funo legtima. Porm, no fundamental, tem carcter negativo, representa um princpio de recurso surgido da falta de outros
pontos de vista, permanecendo por demonstrar, de todo o modo, a
sua pretenso a vigorar incondicionalmente.
Ao princpio da igualdade pode sobretudo contrapor-se a ideia da
persecuo de valor. A qual tentei, numa preleco perante a
sociedade de juristas de Viena, expor da seguinte forma: um credor, de quem o devedor obteve um valor ainda presente no patri-
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mnio deste, deve ter o direito de se satisfazer por esse valor preferentemente aos demais credores4.
Um exemplo pode ilustrar esta ideia: um ladro compra um anel
com dinheiro furtado. Se o ladro declarado falido, o anel integrar a massa insolvente e assim aproveitar aos outros credores,
ainda que estes, provavelmente, tenham emprestado durante anos
a fio dinheiro ao ladro, dinheiro esse que, desde h muito, se perdeu numa actividade ou num empreendimento gorado.
A reaco dos juristas perante casos semelhantes muito diversa.
Em parte, admitem que, com os meios de que dispe, o sistema
vigente no est em condies de oferecer uma soluo satisfatria. Muitos, porm, de modo algum consideram o resultado aludido
insatisfatrio, parecendo sugestionados pelo sempre repetido mote
da igualdade.
Na minha opinio, constitui um imperativo da sensibilidade jurdica
que o anel proveniente do dinheiro furtado, apenas seja atribudo
vtima do furto, com excluso dos restantes credores. O que, por
regra, parecer bvio a quem aprecie a questo desprovido de preconceitos e de conhecimentos jurdicos, no deixando de lhe suscitar admirao que aqui possa surgir qualquer dvida ou dificuldade.
A resistncia oferecida pelo sistema vigente a esta deciso natural tanto maior quanto por detrs do princpio da igualdade est
um outro princpio, igualmente antigo e enraizado: o de que o direito de um credor enquanto direito pessoal apenas obriga o devedor e no possui qualquer eficcia perante terceiros. Este princpio
obsta ainda a que se acolha a ideia de que a especificidade de um
crdito, no caso de concurso com outros credores, possa conceder
preferncia em face destes.
Na realidade, contudo, tambm os direitos pessoais tendem a
ganhar eficcia, em maior ou menor escala, perante um terceiro
(que no merea tutela). A impugnao pauliana disso um exem4
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NotZ., 1910, pg. 99. Para uma ampla exposio dos princpios associados ao
preceito de que a ningum deve ser permitido invocar o seu prprio ilcito, KLANG,
Komm. zum ABGB, Neueauflage, 1174.
7
Cfr. Sz. XIX, 184.
13
Assim decidia o Cdigo Teresiano 3, XX, 24. O ABGB remete apenas para eventuais normas de caducidade; as quais, contudo, no existem na maior parte dos
casos; ver, porm, 1031 ABGB.
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HECK, num bem estruturado estudo, ArchZiv.Prax., 124, pgs. 1 e ss., tentou
alcanar um resultado adequado restringindo a aplicao do 817/2 aos casos em
que a repetio se sustenta na reprovabilidade do comportamento do accipiens. A
excluso da repetio pela reprovabilidade do solvens no se fundamentaria no
intuito de o sancionar, mas na ideia de que a condictio, concebida como sano
para o accipiens, no se aplica precisamente porque, no caso de igualdade de turpitude, o possuidor se encontra em situao privilegiada. Contudo, no se v que
a sancionabilidade do accipiens, considerada por HECK como fundamento da condictio, fique eliminada pelo facto de tambm o solvens agir de modo reprovvel. HECK
deveria, mais coerentemente, ter chegado ao resultado de considerar irrepetvel
tudo quanto tivesse sido indevidamente recebido.
Na realidade, a condictio ob turpem causam no se baseia no ponto de vista da
sano, mas apenas explicvel atendendo necessidade de proteco do solvens.
Em pormenor, sobre isto, cfr. H. KLANG, Kommentar, 1174.
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es levantadas a tal disposio foram postas de lado pela comisso de redaco da lei com a mera observao de que a proibio
de invocar o seu prprio ilcito no consente qualquer excepo10.
Este ltimo princpio constitui mais um exemplo de quo fcil as
normas jurdicas escaparem de uma mo razovel e, ento,
como os utenslios e instrumentos nos contos e lendas, animados
de vida prpria, prosseguirem um curso malfico. Muitas ideias,
alteadas pelos seus partidrios at s nuvens, revertem realidade
em queda livre.
O centro nevrlgico do direito privado encontra-se no instituto da
responsabilidade civil. O qual apresenta, contudo, uma imagem
confusa, tendo-se tornado palco de renhido debate de ideias. O
direito natural descobriu o princpio da culpa, ainda hoje aceite de
modo geral: um dano dever ser ressarcido por aquele cuja culpa o
fez surgir. Porm, tal princpio mostra-se, por si s, insuficiente.
Da a doutrina ter-se esforado por estabelecer, em numerosas e
doutas obras, outros princpios que haveriam de valer paralelamente ou em vez da regra da culpa.
A ideia que mais longe foi pretende que a causao de um dano
obriga sua reparao por quem o originou. Este princpio da
causao foi objecto de uma acrrima controvrsia na doutrina do
direito natural. Nesse contexto, avultou principalmente a questo
de saber se os inimputveis devem responder por danos por eles
causados.
Os redactores do ABGB decidiram-se, a este ltimo propsito, por
uma posio de compromisso. O 1310 ABGB remete para a prudente apreciao do juiz a fixao do dever de indemnizar, atendendo nomeadamente situao patrimonial do autor do dano e
do lesado. Em geral, contudo, a lei evitou tomar uma posio definida e inequvoca sobre o princpio da causao. O 1311
determina que um dano fortuito recaia sobre aquele em cuja pes10
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auxiliares. Parece equitativo que, por exemplo, o dono da obra responda quando os seus trabalhadores causem negligentemente
danos a um transeunte.
Deste modo, a controvertida questo da responsabilidade por actos
dos auxiliares, que nos vrios sistemas jurdicos ora recusada ora
aceite em termos gerais, susceptvel de ser resolvida sem o
recurso a frmulas rgidas e de um modo que se enquadra por si
prprio no jogo dos diversos pontos de vista.
Na actuao conjunta dos elementos ocorrer que algumas das foras se dirijam contra o lesado onerando-o. Assim, a culpa ou uma
qualquer deficincia na sua esfera e, em casos de dvida, uma
situao patrimonial comparativamente favorvel deporo, eventualmente, contra a pretenso de indemnizao.
Como resultado global, pode o juiz determinar que a responsabilidade est total, parcialmente fundamentada, ou deve mesmo ser
excluda.
Semelhante sistema consegue compreender todos os casos possveis nas respectivas especificidades. E, ao contrrio dos princpios
anteriores, revela-se elstico, no se estilhaando como um objecto
de vidro quando se altera, ao longo do tempo, o juzo de valor
sobre a fora dos vrios elementos, designadamente, sobre a perigosidade duma actividade. Simultaneamente, propicia-se o surgimento de novos pontos de vista e foras. E os elementos que
assumem relevncia no direito da responsabilidade civil podem
tambm operar noutros domnios e a constiturem o fiel da balana.
Por exemplo, um acrrimo confronto de opinies tem lugar, na doutrina do enriquecimento sem causa, quanto situao em que
algum, de boa f e sem olhar a despesas, despende totalmente
numa viagem de recreio uma soma em dinheiro que lhe foi paga
por engano, como contrapartida, suponha-se, de um servio na
realidade no executado por ele, ou, porventura, por virtude de um
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entretanto
desapareceu.
Segundo
outra
tese,
Cfr. Die Lehre von der ungerechtfertigten Bereicherung, pgs. 141 e ss., especialmente pg. 154, e Komm. zum ABGB, Neuauflage, 1431 a 1437, pgs. 480 e
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LEIBNIZ
FICHTE
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, puseram
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diferentes
22
Um outro elemento de anulabilidade pode consistir no comportamento das partes na altura da concluso do contrato, sobretudo
numa actuao culposo. Actuou, por exemplo, de modo negligente
aquele que incorreu em erro, ento isso depor no sentido de que o
contrato permanea vlido ou, se a anulabilidade mesmo assim se
impuser, que seja indemnizado o dano sofrido pelo outro contraente por ver defraudada a sua confiana. Ao invs, um comportamento deficiente, especialmente a culpa da contraparte, constitui uma
fora que favorece a anulabilidade.
Estes pontos de vista actuam em combinaes distintas que em
parte j encontraram expresso no ABGB. Assim, por exemplo, o
dolo e o medo apenas daro lugar anulabilidade se existir culpa
da contraparte. Esta uma soluo que associa a ideia de vcio
da vontade com o elemento do ilcito.
O erro mereceu lei um tratamento diferenciado segundo a sua
modalidade. Um erro sobre os motivos, exterior ao negcio, apenas
ser tomado em conta no caso do dolo ou tratando-se de negcios
gratuitos. A necessidade de segurana e de vinculao incondicional
palavra dada , aos olhos da lei, menor nas doaes do que nos
negcios onerosos.
Mais terminantemente se impe o erro na declarao. Ele pode
tambm compreender, segundo o 871, os negcios gratuitos
quando amparado por outras foras ancilares. Nomeadamente,
conduz invalidade do contrato se a contraparte o causou de
maneira culposa, quando, mesmo sem culpa, o deveria ter reconhecido ou dele tenha sido atempadamente avisado. Aqui a lei atribui, de modo digno de nota, valor a diferentes foras, o que lhe
valeu ento a dura crtica de um partidrio da jurisprudncia dos
conceitos14.
De modo especialmente claro se revela a diversidade das foras
que se conjugam na hiptese da usura. Esta pressupe, por um
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Especial influncia assumiram no direito contratual a ideia de proteco social e a regulamentao econmica, global, das prestaes
e dos preos. Tambm nesta matria ter a arte jurdica de ponderar todos os pontos de vista de um justo equilbrio e harmonizlos com as exigncias econmicas. Uma das questes mais melindrosas do direito contratual surge quando as circunstncias pressupostas no momento da concluso se alteram posteriormente. Este
problema a clusula rebus sic stantibus reveste igualmente um
papel importante no direito internacional pblico.
A doutrina dominante encara a resoluo do contrato por alterao
das circunstncias como excepcional, apenas admissvel em casos
especiais e desde que tal seja exigvel contraparte. O que aponta
para uma ponderao abrangente dos interesses, de forma que
tambm aqui a actuao conjunta das foras decisiva.
A ocorrncia imprevista de uma nova situao anloga hiptese
de um erro na concluso do contrato. Tudo depende de saber em
que medida a alterao excede o risco normalmente associado ao
contrato. Acresce, como outra fora de anulabilidade, o maior ou
menor dano que quem pretende impugnar o negcio sofreria, e
ainda a circunstncia de que a contraparte possivelmente se locupletaria com esse dano.
Algumas leis surgidas no contexto da ltima guerra ponderaram,
em vez da resoluo do contrato, uma modificao adequada deste
e, alm disso, um ressarcimento do dano da confiana surgido
para a contraparte. Esta constitui uma soluo razovel e elstica.
Os elementos, que segundo o exposto valem para a anulabilidade
de um contrato, podem tambm sustentar as aces de restituio
de uma prestao realizada por erro.
At hoje, a cincia jurdica esforou-se debalde por construir tais
aces (de restituio) com base em frmulas sem contedo,
amparando-as em muletas. Diz-se que a repetio de uma pres-
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tao ser admissvel quando esta carece de uma causa jurdica 15.
Por outro lado, veda-se o direito de repetio e com razo
quele que realizou uma prestao consciente da inexistncia de
uma correspondente causa. Mas, desse modo, quebra-se o princpio.
O direito de repetio resulta, na minha opinio, da articulao da
ideia de enriquecimento com o erro, medo e dolo e outras foras
semelhantes.
O mbito do meu discurso no permite desenvolver esta ideia mais
detalhadamente. Sirvam as referidas reas, at agora expostas,
como comeo de prova do que representaria o trabalho de uma
vida e cuja consecuo apenas constitui uma esperana. Eu vejo a
deficincia da doutrina dominante no facto de ela pensar demasiado segundo princpios absolutos e atar as foras referidas a
determinados contextos histricos. Ela assemelha-se a um general
que no dispe de uma forma soberana e gil dos seus meios
estratgicos.
O mtodo aqui proposto destina-se a conformar o sistema do direito privado de tal modo que, sem perda da sua consistncia interna,
adquira a aptido de receber em si mesmo as mltiplas foras da
vida16. Isto tem, antes de mais, um significado dogmtico. A sua
utilizao para o direito positivo uma questo de tcnica legislativa e, na medida em que a doutrina e a praxis contribuem para o
desenvolvimento do direito, uma questo de temperamento jurdico.
O legislador poderia, por exemplo, configurar no sentido exposto o
direito da responsabilidade civil, resultando a responsabilidade do
lesante do quadro conjunto de determinados elementos cuja
valorao seria expressa de modo exemplar mediante casos tpicos.
15
Ver Komm. zum ABGB, Neuauflage, 1431 a 1437, pgs. 480 e ss.
Para cada uma das foras, por exemplo para o ponto de vista da considerao
social, surgem aspectos novos e ulteriores da ideia da sua aplicao mvel. Daqui
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Nestes termos, o juiz seria chamado a tomar livremente a sua deciso segundo uma discricionariedade orientada, mas no, como
KLANG17 objectou, de modo livre. este justamente o sentido da
minha proposta: evitar que o tribunal seja remetido apenas para a
equidade, para o respectivo sentimento jurdico, para os bons costumes ou para conceitos semelhantes desprovidos de contedo.
Uma lei definindo elasticamente os pontos de vista decisivos pode
mesmo constituir um suporte mais forte, tal como um ligame
elstico muitas vezes se mantm melhor do que uma estrutura
rgida que no possui a capacidade de acompanhar os movimentos.
A conformao mvel parece, todavia, aumentar a responsabilidade
do juiz. A posio deste , porm, muito mais difcil quando tem de
aplicar princpios que conduzem a consequncias inaceitveis. Em
tal caso, a lei revela-se, no s desprovida de valor, mas at um
obstculo que lhe dificulta a deciso. Repetidamente haver que
lanar mo a artifcios de interpretao, os quais representam, afinal, uma velada correco lei, ou a outros meios forados no
apuramento da situao de facto. Amide, o tribunal no se inibe
de aceitar como provada uma culpa leve porque sente como demasiado severa a imposio de um dever de indemnizar a totalidade
do dano, mas no lhe concedida pela lei a faculdade de decidir
por uma indemnizao parcial.
As leis que prescrevem um dever de indemnizao, independentemente da culpa, para determinadas actividades ou coisas tm,
porm, em si mesmas um carcter lacunoso. Elas introduziram, por
exemplo, uma responsabilidade pelo resultado (objectiva) para os
veculos automveis, mas no para os veculos puxados por cavalos. Isto , em termos gerais, compreensvel. Porm, quem anda
pelas ruas com um cavalo de corrida no actua de modo menos
perigoso que um automobilista.
resulta uma anlise compreensiva, conquanto diferenciada para os distintos contextos, desses pontos de vista.
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restituio
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sistema mvel que subjaz sua concepo do direito da responsabilidade civil enquanto esquema de pensamento e ordenao do direito privado.
Como elementos do direito da responsabilidade civil, que num jogo
varivel, segundo o concreto grau da sua intensidade, poderiam
num determinado caso servir como fundamento de uma indemnizao total ou parcial, WILBURG (j em 1941) tinha destacado: a utilizao de esfera jurdica alheia atravs de intromisso ou exposio ao perigo; a causao da ocorrncia do dano atravs de circunstncias da esfera do responsvel; a censura de um defeito
na esfera do responsvel; a fora ou o poderio econmico do
responsvel ou a exigibilidade de este celebrar um contrato de
seguro incluindo os eventuais danos.
No desenvolvimento e, simultaneamente, superao da jurisprudncia dos interesses, WILBURG generalizou ento na sua preleco
reitoral a ideia de que as consequncias jurdicas resultam de um
jogo de elementos mveis: situando (ou deslocando) as foras
mveis identificadas como decisivas nas hipteses das normas e,
atendendo ao respectivo peso, props solues elsticas dirigidas
s especificidades de cada caso. No que apresentou sucintamente
as consequncias do seu ponto de partida atravs de uma srie de
exemplos retirados no s do direito delitual mas tambm, como a
hiptese do negcio usurrio, do direito contratual. Desde modo, foi
reconhecido o significado normativo dos enunciados ou proposies
comparativas no direito e abriu-se a possibilidade de substituir os
rgidos enunciados regra/excepo por flexveis e abertas relaes quanto mais/mais.
Em tempos de uma cada vez mais deplorada avalancha legislativa,
este acesso metodolgico para a superao de complexas questes
jurdicas, agora como antes, e em alto grau actual, pois mostra um caminho para evitar a inevitvel casustica de normas
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