Elster, Jon. Marx Hoje
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MARX, HOJE
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Plnio Dentzien
U.F.M.G. BIBLIOTECAUNIVERSITRIA I
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Cambridge Universi ty PfCSS, f4X
T ra d uzido do orig inal em ingls
An inrtoductioll to Kart M ary
Capa
Isabel Curball o
Cop ydesk
J os Wa ldir de M ora cs
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Oscar F. Menill
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NDICE
Marcelo Mo nd es
Dados de Cata loga<'ill na P u bl ica o (C IP J lnreruuvi c ruu
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Elster, J on . 1940M a rx, hoje I Jon Elster
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Rio de J a neiro
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Bibliografia.
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Com unismo
C inci a poltica ."I ::!().'i1:
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Plano geral
Introduo
Marx : vida e obra
Marx e Engels
() marxismo depois de Marx
Edies da obra de Marx
lIibliografia
Metodologia mar xist a
Introduo
Ind ividualis mo metodolgico
Marxismo e esco lha raciona l . .
A explicao fu nciona l no marx ismo
lrial tica
, ..
.
.
.
.
.
.
.
.
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l-etichismo
.
.
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. . . . . . ..
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.
.
25
26
36
40
45
Bibliografia
"
Alienao
Introduo
.
Alienao: falt a de auto-reali zao
Alienao: falta de autonomia
.
Alienao: o cont role do capital 'sobre o trabalho
lIibliografia
I . Econo mia marxista
Introdu o
9
13
15
15
19
73
75
75
5.
6.
7.
8.
9.
10.
A teoria do valor-trabalho
. 79
Repro duo, acumulao e mudana tcnica
. 85
Teoria da crise
. 89
Bibliografia
. 93
Explorao
. 95
Introduo
. 95
Explorao, liberdade e fora
. 98
A explorao na histria
,
. 101
Explorao e justia '
. 108
Bibliografia
, . 117
Materialismo histrico
. 120
Introduo
. 120
O desenvolvimento das foras produtivas
. 123
Base e superestrutura
" .. 129
Estgios do desenvolvimento histrico
. 134
Bibliogra fia
. 138
Conscincia de classe e luta de classes
. 140
Introduo
. 140
O conceito de classe
,
. 141
Conscincia de classe
. 147
Luta de classes
. 152
Bibliografia ,
. 158
A teoria poltica de Marx
. 160
Introduo
,
. 160
O estado capitalista
. 162
A poltica na tra nsio para o capitalismo ."
. 172
. 177
A poltica na transio para o comunismo ., . . "
Bibliogra fia
,
,
,
. 185
A critica marxista da ideologia
. 187
Introduo
. 187
Ideologias polticas
. 192
O pensamento econmico como ideologia
. 195
A religio como ideologia
. 200
Bibliografia
. 203
O que esta vivo e o que est mor to na filosofia de Marx? . . 206
Introduo
. 206
O que est morto?
,
. 209
O que est vivo?
_
, . 214
APRESENTAO EDIO
BRASILEIRA
lohn Roemer, Gerald Cohen e Claus Offe, entre outros. Nesse trahulho, Elster sintetiza algumas proposies de seus diverso s trabalhos
, ununcia o tema que mais tarde desenvol ver em Making Sense Df
Marx (1985) e neste Uma In troduo a Karl Marx (edio original de
I " ~ 6). Resumidamente: o marxismo deve abandonar sua tendncia
c xplicao funcional, teleolgica (quase teolgica) e voltar-se para a
procura de fundamentos a nivel dos indivduos . Mesmo que isso no
scjn possvel hoje, por causa de nosso conhecimento insuficiente, no
cm prin cpio impossvel explicar a sociedade em term os de compor9
II .,
..
,,,
11\ 111 pura c, esc reveu sete livros, organizou outros quatro c
Krnndc nmero de artigos em revistas como Archives Euro-
Il dil ll l l
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d,' Socioogie, Theory and Society, Politics and Society, Noo/ Peace Research.
t ,/",i%el la For mat ion de l'Esp rit Capitaliste (1975) um cstu/ 0 11 1"11(/1
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11
10
1 . H basicamente trs modos de explicao na cinci a: a causal, a funci onal e a int encional ;
2 . Tod as as cinc ias utilizam a explicao causal;
3 . As cincias fsicas utilizam apenas a explicao causal, outros tipos de formul aes sendo apenas artefatos an alti cos, sem pod er
explic ativo;
4 . No h lugar para a explicao intencional nas cincias biolgicas;
5 . No h lugar para a explicao funcio nal nas cincias sociais ;
6 . Em biologia, pod e-se fazer um a distin o entre causali dade
subfuncional (mutaes, senescncia) e cau salidade suprafuncional
(efeitos benficos ou pr ejudiciais de ada ptaes ind ividuais);
[on Elster noruegus, foi professor do Depar tamento de H istria da Universida de de Oslo e Dir etor de Pesquis as do In stitute for
Social Research de Oslo. Atualmente professor do Departament o de
Cincia Poltica da Universida de 'de Chicago . Coor dena , juntamente
com G . A. Cohen e John Roemer , a srie Stud ies on Marxism and Social T heory, publicada conjuntamente pela Cambridge University Pr ess
e pelas Editions de la Maison des Science s de l'Hornme, Tambm
coordena , junt amente com G . Hermes, a srie Studies in Rationalty
and Social Change, da Cambridge University Press.
OCS
12
PREFCIO
Plnio Dentzen
IFCH I Unic amp
13
PLA NO GERAL
IN T R O D U O
Cem anos dep ois de sua morte. Marx tem gra nd e presena entre
1S
por neas far ia bem, portanto, em conhec er os textos que fazem parte
do arsenal do debate" Ainda que Engels e Lenin sejam os mais freqentemenl e citados, Marx que a verd adeira pedra fundamental.
O interesse que guia esta exposio purament e intrfnseco. Isto
significa trs coisas. Em primeiro lugar , uma questo de estabelecer
o que Marx pensava. Essa tare fa obedece aos princfpi os usuais da
anlise de textos: compreender cad a parte luz do todo e, na dvida,
opt ar pela leitura qu e torne os textos to plausveis e consistentes
qu ant o possvel. No caso de Marx, essa tarefa aprese nta dificuldades
incomun s. De um lado , porqu e a maior parle do corpus consis te em
manu scri tos no publicados e cartas extremamente desiguais. Alguns
desses docu mentos, ainda que pr eservados para a posteridade, at
agora no fora m publicados, de tal modo qu e nenhuma interpr etao
pode reivind icar basear-se em todos os textos de Marx. Alm disso,
muitos textos publicado s so jorn alsticos ou propagandsticos e, como
tais, guias pouco fid edignos de sua opinio. H ain da o problema de
estab elecer o que foi escrito por Marx e o que foi escrito por Engels,
e o problema correlato de sabe r se os textos deste ltimo podem ser
toma dos como evidncia do pen samento de Marx. E preciso, finalment e, levar em conta que o pensamento de Marx mud ou ao longo
do tempo, tanto em rupturas descontnuas como numa evoluo mais
gradual.
Temos, de falo, apenas dois trabalhos publicado s que nos mostram Mar x no apogeu de sua capacidade terica: O Dezoito Brumrio
de Lu s Bonaparte e o primeiro volume de O Capital. Esses dois textos chegam a mil pginas, de um total de ap roximadamente trinta
mil. Form am, por assim dizer, o ponto de referncia a partir do qual
os outros textos podem ser pesquisados, e servem de critrio para
escolha ent re leituras diferentes. No bastam, porm, par a eliminar
toda s as ambigidades - entre outras razes porque eles mesmos
esto longe de ser perf eitamente claro s e consistentes. Mesmo em
seus trabalhos escritos com mai s cuidado, a disciplina intelectual de
Marx nun ca se comparou sua energ ia intelectu al. Seu perfil intelectual uma complexa mistura de busca incan svel da verd ade, confuso entre desejo e explica o (w ishful thinking) e inteno polmica. Entre a realid ade que observava e seus escritos, intervm pelo
meno s dois prismas: primeiro, na forma o de seu pensamento e,
depois, no modo que escolheu para express-lo.
111I5
''O s f atas
que, cm termos preCISO
S, Marx quase nunca esteve u ce rto.
de que lan ava mo eram mal con strudos em term os dos padres
ricntficos modernos, e suas generalizaes eram excessivamente
umplas.
Uma que sto mais interessante, porm, a de saber se Marx
continua til para ns, hoje. Quais das teoria s de Marx esto irremissivclmcnte datadas e mortas , e quais dela s sobrevivem como fontes
de novas idia s e hipteses? A resposta a esta questo requer que
c olhe para a flor esta mais que para as rvores. Como no caso semclhante de Freud , podemo s descobrir qu e uma teoria pode estar
eivada de erros de detalh e e, mesmo, de defeitos conc eituais e, no
cnumto, permanecer imensamente frtil em sua concepo geral. E da
natureza do caso que tais avaliaes sejam um tanto vagas. A filia ~' 1I0 marxista de uma certa linha de inv estigao pode no ser bvia
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da obra aprese ntado a seguir pretende facilitar discusses mais sistemticas desenvo lvidas nos outros capt ulos. No deve ser tomado como
esboo biogrfico. Inclui apenas aquelas infor maes sobre a vida de
Marx diretamente relevan tes para a compreenso de sua obra.
1818-1835: TRIER. Marx cresceu na cidad e de Trie r no Reno
prussiano, provncia submetida a regime duramente opressivo, em.
bora de recente pass ado liberal. Seu pai e sua me era m ambos descendentes de famlias de rabinos, mas o pai converteu toda a famli a
ao protestantismo pa ra escapa r discriminao contra os judeus. O
contexto judaico de Marx tem sido muito expl orado , assim como a
auto-rejeio que o teria levado ao anti-semiti smo. Existe alguma verdade nessas alegaes, mas o anti-semitismo de Marx nun ca tomou
for ma virulenta. Sua att ude em relao aos povos eslavos - sua " russofobia " - uma expresso mais profunda de seu racism o.
1835-1841 : ESTUDOS UNIVERSITR IO S. Depois de deixar a
escola, Marx estudou um breve perodo na Univers idade de Bonn e
cmco anos em Berlim. Em Berlim , veio a conhecer a filosofia de Hegel
e entro u em cantata com um grupo de filsofos de esquerda conhecidos c?mo os "j~v~ns hegelianos", que se ocupavam principalmente
da crmca da religio . Escreveu sua tese de doutoramento sobre "A
Diferena entre as Filosofia s da Natureza de Demcrito e Epicuro ",
ec~ da qua l se encontra nas referncias freq entes, em trabalhos postenores, ~os p~vos que vivem "nos poros da sociedade, como os deuses de Ep icuro '. Os traos hegeliano s que esses anos deram a seu pensamento nunc a .desapareceram completamente, embora no apaream
na mesma medida em todos 08 seus escritos .
1842-1843: JOR NALI SMO E FI LOSOFIA. Durante este perodo, Marx trabalhou como jornalista e, depois, edtor do' Reinische
Zei tung de Colnia . Seus escrtos revelam um liberal radical, preocupado com a liberdade de imprensa e com a proteo dos pobres,
s~m, ~o entan~o, definir os pobres como agente s de sua prp ria eman crpaao. Depois que o jornal foi fechado pelo governo , no incio de
1843, Marx devotou um vero a estudos filosficos. Um dos fru tos
dessa atividade a Crtica da Filosofia do Direto de Hegel cornentrio dos pargrafos 261 a 3 13 da obra de Hegel. Esse tra balho foi
publicado pela pri meira vez neste sculo. Outro, o ensaio "Sobre a
20
obras comp letas de Marx e Engels (ver adia nte a seo ..Edies da
obra de Mar x") . So estudos preliminares para o pri meiro c o terce iro vo lumes de O Capital, e os complementam em alguns pontos.
1865: RESULTADOS DO PROCESSO IMED IATO DE PRO
DUO . Trabalho publicado cm Moscou em 1933 e no Ocidente
cm 1969. Pretendia servir de pont o entre o primeir o e o segundo
volumes de O Capital.
1867: O CAPITAL. 1. Acima de qualquer d vida ou camparaco o trabalho mais importante de Mar x. Forma , com a Origem
l'"
23
*
24
1864-1872: A PRIMEIRA INTERNACIONAL. Marx desempenhou um papel i mportante, dominante at, na In tern acional dos Tra halhadores, organizao dos sind icatos europeus. Escreveu o discurso
inaugural e as regras prov isrias da Internacional, sendo eleito para
o Conselho Geral, encarregado das atividades cotidia nas entre os congressos anuais . Os primeiros anos da Intern acional foram marcados
pela vitria de Marx contra uma faco anarquista, dos seguidores
de Proudhon; os ltimos, por sua luta, sem sucesso , contra outra
faco anarqu ista, reunida em torno de Mikhail Bakunin. O trabalho
mais impor tan te do perodo a Guerra Civl na Frana, uma espcie
de obiturio da insurreio revolucio nria de 1871, conhecida como
a Comuna de Paris.
1873-1883 : LTIMOS ANOS . Os ltimos anos da vida de Marx
foram marcados pela doena. Trabalhava sem muito progredir nos
manu scritos de O Capital. Dirigia a distncia o movimen to emergente
dos oper rios na Alema nha e escreveu um impor tante coment rio Crtica do Programa de Gotha - sobre o docume nto firmado quando
os dois par tidos socialistas alemes se uniram em 1875. Passou a interessar-se pela histria e pela sociedade russas , mantendo correspondncia com socialista s russos sobre a estratgia adequa da revoluo
num pas atrasado, ainda no permeado pelo capitalismo.
MARX E ENGELS
Friedrich Engels (1820-1895) foi colaborador de Marx durante
quarenta anos. Aos olhos da posteridade, especialmente nos pases
comunistas, apa recem fundidos numa s ent idade, Marx-e-Engels. At
mesmo especialistas supem, s vezes sem grandes discusses, que
juzos de Engels podem servir para fundar esta ou aquela interpretao
de Marx. Este traba lho guiado pelo princpio oposto: apenas juzos de Marx sero usados para afirmar que. Marx tinha talou qual
posio.
Marx foi um gnio, uma fora da natureza. Engels foi um escriror menor , prolfico e um tan to pedante . Ele inaugurou a tradio
de codificar o pensamento de Marx nu m sistema abrangente que promete respostas a todas as perguntas da filosofia , das cincias natu25
o
o
26
efe ito estultificante na vid a int electual dos pa ses comu nistas . O s ma rxistas na Europa ocidental, por seu lado, tm mergulhad o no obscurantismo , no utopismo c na irresponsabilidad e. H nuan as e excees, mas no todo difc il no subscrever a avaliao negativa de
Kolakowski sob re o desenv olvimento da doutrina ma rx ista.
A Segunda Int ernacional foi form ada em 1889, como u ma asso ciao de par tid os socialstas, pri nci pa lmen te d a Eu rop a. Em te rmo s
pr ticos , terminou em 191 4 , quando traba lhad ores de di ferentes pases pegaram em armas uns contra os outros. O que sobrou fo i desrrudo pou cos anos depois, quando a Revolu o de Outubro torn ou
evidente q ue as cuid adosas formulaes ne gociadas no serviam par a
orientar difce is op es pol ticas prticas.
Poltica c teoric amente, a Int ernacional era domi nada pelo Par rido Socialista Alemo . Emb ora sua imagem ofi cial fosse a de pon ta
de lan a da cla sse operri a. era de fa to u ma organizao buroc rti ca
conservadora, entrincheirada na def esa de sua prpria sobrevivncia.
O socilogo Rob ert Michels citou o Partido Socia lista Alemo co mo
evidncia de sua " lei de ferro da oligarq uia" . His tor iad or mais recente se referia sua estratgia como a de quem fica fl espera da
revo luo ". O principal te rico do partido, Karl Kaut sk y, era tarnbm o principal te rico da Int ern acional, ao lado do russo Geor ghi
I'lekhanov. [u ntos, completaram o processo iniciado por Engels: red uzir ordem as idias brilhantes, embora s vezes incoerentes, de
Mar x. Com toques finais acrescentados por Lenin, o " rnar xismo-leninisrno" - co m as doutrinas gmeas do materialismo histrico c do
materialismo dial tico - ficaria pronto . Caracteriza-se por uma combinao de hegeli anismo raso , cientificism o ingnuo, no falsificabilidado c forte prefe rncia pela afirmao em relao ao argumento .
r o marxismo -rnoldado em concreto.
A Internacional co nheceu ou tras tendncias e figuras. A primeira
revo lta contra a posio pseudo-revoluc ion ria do Partido Socialista
Alemo foi a de Edua rd Bernstein , pOI' volta de 1900. Essenc ialmente ,
ele declarav a que a revoluo era improvvel, porque o capitalismo
n o mais estaria sujeito a crises cclicas; suprflua. porque os objei ivos socialistas poderiam ser alcan ados por meios no violentos; e
de qua lqu er mod o ind escjvel. porq ue no es como a "ditadura do
proletariado" fariam parte de um estgio atrasado da civiliz ao . Emhora essas posies co incidissem com as prticas do Partido . este
27
ficou emb araado pela publi cidade do debate. "Caro Ede ", escreveu
a Bernstein um ld er sindical,
plesmente se fazem ."
fi
truiao total da filosofia, com exceo parcial da lgica ; pela par alisao total das cincias sociais; e por um severo atraso nas cincias
1111 do campo nacio na l pa ra o intern acion al. Exemp los incluem a teorlu du dependncia de Andr Gu nde r Fran k , a teoria do interc mbio
oI " .I ~ lI ,, 1 de Agh iri Emmanuel c a teoria da acumulao em escala
muudinl de Sarnir Amir. Embo ra Ireqcntemente suges tivos , esses tralHl1 IJ llS so , com poucas excees, eivados de deficincias teri cas e
dt ingenuidade conceituai .
}O
WII Il.: IllCn te preocupados com a relevncia prtica . Esses extremos fre qlk llh..-mente se tocam, numa enervante combinao de teori a extreuuuncntc abstrata e propostas altamen te espec ficas . O marx ismo preI I II do desenvolvime nto do que Robert Merton chamava de "teorias
di' ulcance mdio". Para isso pode ser necessrio - nesta fase , de
111 10 . necessrio pens ar menos na relevncia a curto p razo para
vr mais relevante a longo p razo. Quando Marx se retirou para seu
\ mo interior no Museu Britnico, segu iu a estratgia do "um passo
ulnls , dois passos frente" , roubando tempo poltica para moldar
II 11 III ferramenta a ser depois utilizada na prpr ia poltica. A teoria
q Ul' ele dese nvolveu tcm estado em uso por um sculo , mas se torna
~ udn vez menos releva nte pa ra a maioria de nossos problemas ma is
urgentes , "De volta ao Museu Britnico" no um slogan que at ra ia
1110
mussas, mas os marxistas deveriam lev-lo em considerao .
11
~s
A edio alem de 1953 dos Grundrisse est supera da pel a publicao da nova MEGA . Em 1973, a Penguin publi cou uma traduo pa ra o ingls feita por Martin Nieo laus. A edio standard alem
das Teorias da Mais-Valia era a dos volumes 26 . 1 a 26 .3 da MEW,
q ue foi supe ra da pela nova MEGA . A edio standard em ingls foi
publica da por Lawrence e Wis hart. Resultados do Processo Imediato
de Produo est trad uzid o como apn dice edio do primeiro volu me de O Capital da Pengu in ; um a edio alem foi publicad a pela
32
'II . . "
IJIBLlOGR A FI A
INTROD UO . O melho r guia ao universo marxista de longe,
,1/" 1,, Cur rents 01 Marxism, em trs volumes, de Leszek Kolakows ki
1\ l,l"",d Unive rsity Press, 1978). Fundament al sobre filosofi a e pol11111 , l~ um tanto limitada na teoria social, especialmente na eco nomia.
VIDA E OBRA. No existe nenhuma biografi a int electual comde pr imeira comparvel s que foram escritas sobre Rosa Lurur burgo Oll Leon Tr otsky, referidas abaixo . Um excelente estudo
, " i1 0 o de lsaiah Berlin, Karl Marx, 3 .' ed, (Oxford University
I' " ,, , 1973). Karl Marx: ssai de Blographie Intelectuelle, de Maxi"d l", " Rube l (Presses Universitaires de Fra nce , 1959) til. David
~ lr l cllun, Karl Marx: his Liie and Thought (Macmillan, 1973), faz
1"'"1 upresen ta o biogrfica clar a. Marx 's Fate: lhe Shape 01 a Lije,
01, lcrrold Seigel (Princeton University Press, 1978), mais amb icioso
~ nlcn na uma compreenso psicolgica mais profunda. Sobre o ju.1111 1110 de Marx, ver Juliu s Carlebach , Karl Marx and the Radical
I 'rltluuo 01 [udaism (Routledge and Kegan Pa ul, 1978) e Isaiah Ber1111 , "Benjamin Disraeli , Karl Marx and the Search for Ident ity", em
'o A~lIi"st the Current (Viking Press, 1980) . Do is livros sobre Marx
' " '101l IltO poltico so Th e Red '48ers: Karl Marx and Friedrich En-
1'''''"
33
2
METODOLOGIA MA RXISTA
INTR OD U O
,'
I
II "mtodo marxi sta " tem sido objeto de intenso deb ate. Alguposies nesse debate so justificveis; outras so ex ageradas,
'ii)"" ou ininte ligveis. Embora Marx tenha tido intuies metodolII m. cujas implicaes no foram ainda esgotadas, no existe uma
I II /110 dialtica" que separe os marxistas do comum dos mortais. Ao
11111111: 11'0 contata com a obra marxista, muitos reagem aterrorizado s
l't 1 11 ~ referncias " unidade dialtica dos opostos " ou "unidade
II voluc ion ria da teoria e da prtica" e frases semelhantes . Muitas
VI I I'tI frases como essas tm permitid o que seguidores de Marx fujam
II " debate,
por causa desse contexto de extrema auto-ind ulgncia
111 11' ndoto o que pode parecer primeira vista uma posi o excessivurucutc purista em que stes metodolgicas. O leitor pode tolerar certa
Hlllhi).iidade sugestiva num autor se, em funo de seu trabalho ant e,11 11, csui disposto a conceder-lhe o beneficio da dvida; o marxismo ,
11l11l1111 , esgo tou seu crdito h muito tempo ,
1\ metodologia marxista enfaticamente rejeitada neste livro urna
ll ll llhinao de trs elementos. O primeiro o holismo metodolgico,
v )'III' segundo a qual existem na vida social totalidades ou coletivitludcs, proposies sobre as quais no podem ser reduzidas a propo. I\',,"s sobre seus membros individuais . O segundo a explicao funt lounl. tentativa de explicar fenm enos .sociais cm termos de suas conIII q ncias benficas para algum ou alguma coisa , mesmo que no se
dt uion strc a inteno de produzir tais conseq ncias, O terceiro
11111 "
35
..'
ij!
Desses elementos, os dois primeiros so encontrados, separadamente ou combinados, na cincia social no marxista. Emile Durkheim, entre outros, in sistia em qu e, mesmo qu e a psicologia se tor o
nasse urna cinci a perfeita, sobrariam fatos socia is que ela seria incapaz de explicar. Robert Merton defende a explicao de instit uices
e padre s de comportamento em termos de suas I I funes latentes II
isto , conse q ncias no pretendidas pelo s atares qu e as produzem
nem perc~bi d_as por seus benefici rios. Antroplogos sociai s propu se.
ram exphcaoes ao mesmo tempo hoIsticas e funcio nais. Quand o
Marx empre~a o mesmo mtodo, ele se diferencia no s pelo elemento hegeliano carac terstico, mas tamb m pela natureza das totalidades ~ con:e~ncias benficas que fazem parte da explicao. Mas,
o q ue e mais Importante , ele utiliza a explicao fun cional tanto pa ra
dar conta da estabilidade das socieda des como para demon str ar sua
tendncia ine rente a desenvolver-se na direo do comunismo .
liberto dos supos tos teolgicos explcitos , mas retinha a viso teleolgica del.es decorrente . Como a maioria de seus contempo r neos, estava
ImpresSIonado pelo progre sso da biologi a, e cometeu o err o de acredit ar qu e o estudo da sociedade podia beneficiar-se do estudo dos organi smos. (E justo assinalar, porm, que ele no se deixou levar to
longe pelas analogias biolgicas como, por exemplo, Auguste Comte
e Herbert Spencer.) Seu cien tificismo - a crena na existncia de
"lei,~ de movimento" da sociedade que operam com "necessidade frrea - se baseava numa extrapolao ingnua das descobertas da
cincia natural. Veremos que em seu trabalho com fr eq nci a coexistem con cepes met odolgicas irremediavelment e datadas e intuies
extremamente inovadoras.
36
37
'" .
Existem em Mar x duas instncias principa is de holismo metodo lgico, que correspondem a seus dois objetos tericos centr ais. Na an lise do capitalismo, o "capital" aparece como entidade coletiva, que
no pode ser reduz ida a diversas firm as ind ividuais. Marx acreditava
que o capital tinha uma lgica pr pria, de algum mod o anter ior, na
ordem explica tiva, competio e ao comportamento de mercado . De
acordo com o indi vidualismo metodolgico, por outro lado, quaisqu er
"l eis de movime nto e auto-regulao " do capitalismo devem ser deduzidas como teoremas de axiomas que especifiquem os motivos e limi taes de firm as. tra balhado res e consu midores.
No materialismo histrico , a "humanidade" aparece como sujeito coletivo cujo floresciment o no comunismo constitui o fim da
histria. Marx foi fortem ent e influenciado pela di viso em trs fases
que Hegel fazia da histria , diviso essa em uma unidade inicial indi ferenciada, seguida de uma fase de conflito e aliena o, que culmina va em uma unidade mais alta, capaz de reter a ind ividu alidade desenvolvida na fase anterior. Na teologia secular de Hegel e Marx, a
hum anidade tinh a que se alienar de si mesma para s. ento reencontrar-se de forma enriquecida. N unca fica claro exatamentc como isso
mediado pelas aes dos indivduos, motivados por seus prprios
objetivos.
A questo no deve ser superestimada. Marx no era um pensador pur ament e espec ula tivo. Na maioria das vezes ele estava ocupado
com a formulao dos elos entre motivos individuais, comportamento
ind ividua l e conseqncias agregada s. Por ou tro lado, preciso evitar
o ex tremo oposto, que veria em suas referncias ao capital c hu rna-
iX
IIh lllt ll.: apenas artefatos retricos sem relevncia explicativa. Marx fre'1lIl'lI lc1I1cnte aponta para as necessidades dessas entidades coletivas a
11111 de explicar eventos c instituies que aparecem, como que por
Il lll){ l n. para atender quelas necessidades. Sua crena na lgica indeI" u.lcntc dos agregado s s vezes enfraquece sua motivao ao estudo
um] fino da estrutura e da mudana sociais. Elementos especulativos
li' xistem,. muitas vezes no mesmo trabalho , com proposies mais
lldnmcntc fundamentadas. Os Grundrisse, particularmente, mostram
lur x operando nos dois registras, co m transies vertiginosas.
..Individu alismo " um termo que tem muit as conotaes . l ndep' u. lcntcrnen te das questes discutidas at aqui, pode-se profe ssar o
ltullvidllalismo no sentido tico ou normativo . Esta doutrina, embora
II III contenha cm si mesma nenhum a posio tica substantiva, impe
IIl11l1 cs a essa posio ao estipular que , em ltima anlise , apenas os
uullviduos so moralmente relevantes . Apresento a seguir algumas
nuplicues desta posio. O avan o do conhecimento, a cria o de
t' IiIl Hlcs obras de arte ou a pr oteo da natureza no so fontes inde1'1 u.lcntc s de valor - elas tm valor apenas na medida em que so
vulorizndas pelos indi vdu os. A igual dade entre os sexos, entre as elas0 11 entre as naes no um valo r em si mesma ela s deve
I I
promovida na medida em que leve maior igualdade entre indivrduus. No se justifica pedi r a algum que se sacrifique pela ptria
II ll pelo proletariado a menos que se possa mostrar que h nisso
ll1' lldcios para outros indivduos concretos . ( claro que . mes~o
1It' lt h.~ caso, a justificativa pode ser duvid osa.)
M arx era um individ ualista nesse sentido normativo. Ele percehlll com satisfao que as socieda des de elasses e o capitalismo em
1," , 'lclllllr tinham levado a civilizao a grandes ava nos , medido s peIII rcnlizaes na arte e na cincia. Mas CSf:: :: processo era a realizao
du homem e no dos homens individuais que, em sua maioira, viviam
I
rluhum vivido sempre na misria . Em verdade , apenas pela explo111I;m ) de muitos podiam as sociedades de classes criar o tempo livre
11111 '11 que pouco s contribussem para o progresso da civilizao. O
1III lI Iivo do comunismo a seus olhos residia cxa tamcntc cm que ele
1"lllI iliria a auto-realizao de cada indivd uo , e no mais apenas de
1111111 peq ue na elite . Como conseqncia, haveria tambm um florescinu-ruo sem precedentes da humanidade. Mas isso no , repito . em
I mesmo uma fonte de valor.
39
40
IIIu
II
41
qlh"lI lemente acabam por aceitar sua situao porque muito difcil
I VeI" u alternativa. Mas sabemos muito pouco sobre os limites dentro
.Iii quais esse mecanismo opera, e alm dos quais a revolta se torna
1111111
possibilidade real.
Relorno teoria dos jogos. Estou entre aqueles que acreditam
quo
II
IIl t II Ic
teoria dos jogos oferece um quadro de referncia concei tualunificador para a maior parte das cincias sociais, na medida
' "I que permite compreender trs tipos de interdependncias que atrav, 11 111 a vida em sociedade. Em primeiro lugar, o fato de que o ganho
,I cnda um depende dos ganhos de todos, em funo do altru smo,
01" inveja e assim por diante; segundo, de que o ganho de cada um delide das escolhas de todos, atravs da causalidade social geral; e, em
uclro, de que a escolha de cada um depende das escolhas de todos,
,II I uvs da antecipao e do clculo estratgico. Isso no quer dizer que
I"
I.
U'tllO
' P II I I II '
" I II II
escolha entre duas opes: unir-se greve ou abster-se. Supoalm disso, que melhor para todos os operrios se todos
II11111 0US,
11I It'I' irem greve do que se nenhum 0 fize r, porque assim obteriam o
1I111l' 1I10 de salrio. Suponhamos, finalmente, que os operrios esto
uuulvndos apenas peJos ganhos materiais pessoais. Se assim, ento
1111111 cada operrio sempre mais vantajoso abster-se , independente
til! que os outros faam, Se os outros entrarem em greve, o operrio
.I, 1I0 SS0 exemplo pode pegar uma carona i jree ride) e obter o aumenlo enlurial sem risco e o custo envolvidos na greve . Se os outros se
II ri vcrern , no teria sentido um ato unil aterc' de solidariedade. Don-
43
44
li
IlIllo m ia .
l'or a do domnio da anlise econ mica propriamente dita, o mll llln estr utu ralista de Marx no afetou suas investigaes concretas.
NlI brilha ntes captulos sobre sociolog ia econ mca no primeiro vo-
"I
e.
I I~'XI'LICAO
FUNCIONAL NO MARXISMO
"li III
45
..
" :
' ".. I
II~: : .
A soluo mais plau svel para essa que sto consiste em negar
qu e a explicao funcio nal possa dar cont a de eventos ou processos
singulares. Para qu e alguma coisa possa constit uir-se em objeto de explicao funciona l, c1a deve ser incorporada a um padro de evento s
similares e recorrentes. Cito um exemplo, mais como ilustrao e menos por acred itar em sua verae idade . Se, em cada sociedade cap italista, observamos que a mobil idade social ascendente um fenmeno
regular , de tal modo qu e em cada gerao alguns operrios se tornam
autnomo s ou peq uenos capitalista s, esse padro poderia ser expli cado
pelos benefcios que pro duz para a classe capita lista da seguinte maneira : a mobilidade ascendente em uma gerao contribui para a vita lidade econmica e para a pr osperidade do cap itali smo . Um sistema
prspero in tensifica as opo rtunidades de mobilidade na gera o seguinte . Alm disso , essa cap acid ade legitima o capi tali smo e canaliza
as aspiraes individuais na dire o da mobilidade dentro do sistema
e no na da revolt a contra ele. A opo rtunidade e o desejo de mobilidade criam ou recriam, em conjunto, a mobilidade re al. Da que a mobilidade ascendente num moment o no tempo tenha con seq ncia s qu e
levam mobilidade con tinuada.
O exemp lo mostra que a explicao fun cional envolve um ciclo
de realim enta o (feedback loop) , uma conexo causal das conseqncias de um evento do tipo que tentamos explicar para outro evento ,
posterior, do mesmo tipo. A exp lica o funciona l aplicvel quando
um padro de comportamento se mantm atravs das conseqncias
que gera; mais especificamente, pelas conseqncias que beneficiam
algum grupo , que pode ou no ser aquele que assume o comportament o em que st o. No exemplo da mobilidade, os agentes e aqu eles
que se beneficiam so gru pos diferentes. Segue-se out ro exemp lo, novamente a ttulo de ilustra o , em que coincidem.
Se a teoria da escolha como satisfao estiver correta. as firmas
no maximizam nem podem conscientemente maximizar os lucros.
Elas tomam decises segundo regras corr iqueiras qu e pa recem sufi-
46
utcme nte boas. Num mercado competitivo, porm, sobrevivem apeas firmas que por acaso seguiram a regra que as levou maxiIl dIlU, o; as outras vo bancarrota. Podemos ento explicar o com1'1I11 1llllento observado das firmas apontando para as conseqncias
III II Hicas das regras que seguiram. A razo por que seguiram aquelas
I,
1'IIS e no outras est em que elas maximizam o lucro da firma.
I I ' padro de explicao similar ao da explicao funci onal em
"1"JoRi a , em que a ad aptao tima dos organismo s exp licada pela
11 ,ll1<;flo aleatria e pela seleo natural.
Esses dois exemp los oferecem explicaes per feita men te vlida s,
III I'\'ndendo da veracidade de suas premissas. Por que, ento, objetar
I' rxp lica o funcional no marxismo? Primeiro, porque na filosofi a da
Iii Itl1'ii.l de Marx encontramos explicaes de eventos singulares, no
1I1'1l lTcntes, em termos de suas conseqncias no buscadas. Um arg u1111 11 10 desse tipo se fun da nu ma impossibilidade metafsica . Segundo .
III muitas explicaes funcionais - e no s no marxismo - o ciclo
I. rca limenta o no demonstrado mas apenas postulado ou tac ita"" nrc suposto . Essa a principal objco. No exemplo da mobilidade ,
, ri do de realiment ao sugerido no foi proposto por Marx, que
1I\11ll' lI sugeriu qualquer outro mecanismo cm que pudesse fundarnenIII II explicao.
O simples fato de que uma atividade tenha conseq nci as ben I II li". seja para a dominao capitalista, seja para a integrao social,
1111 pura qualquer outro proces so, no basta para explic -la . possvel
'"" trnr que qua lqu er fenm eno beneficia uma pluralid ad e de gruP" M 0 11 interesses. principalmente se variarmos a perspectiva temporal.
~ J, " x, por exemplo. alegava qu e polticas de Estado no correspo n,11 11 1es aos interesses de curto prazo dos capitalistas deveriam, por
I 11 mesmo, corresponder a seus interesses de longo prazo. Mesmo
1'11 ud mitamos, apenas para argumentar, que assim que isso se d,
uudu no teremos uma explicao . Esta requereria a exibio do me11,1 111 0 atravs do qual a sat isfao dos interesses de longo prazo
III ou cont ribui para as dita s polticas de Estado. Na ausncia desse
II" t unismo , os benefcios poderiam ser, tanto quanto sabemos, puraIUI lll l' ucide nta is e. portanto, no explicativo s.
UII1 modo importan te de explicao marxista combina holi smo
tUI 1I 1do16gico e explicao funcional, ao afirmar que o comportamento
,I. 11 1111 1 classe pode ser explicado por suas conseqncias benficas
11 11
47
i"""
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'." ,"
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DI A L Tl CA
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li'"
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'I
O termo" dia l tica " tem sido u tilizado com diversos sign ificados.
Comum a quase todos eles a viso de qu e o con fli to, antagonismo
ou cont rad io con dio necess ria a cer tos resu ltados. A con tra dio
entre idias pode ser condio para se chegar ver da de ; o conflito
ent re indiv du os, classes ou na es po de ser condio para a mudana
social. Essa observao pr eliminar suge re u ma di stino entre mtodo
dialti co e processo di altic o, isto , entre a dialti ca enquan to caracterstica do pensame n to sobre o mu ndo e a dialtica enquanto caracter stic a do prpr io m undo. Do ponto de vista de uma cer ta con cepo da dia ltica, essas acepes no so alte rnativas, mas complement ares . O m todo d ialtico refl etiria o carter dia ltico do m un do .
Hegel aparentemente acredit ava, pelo menos parte do tempo , qu e nossas ob servaes sob re o mundo tin ham que ser contraditrias porque
o prprio mundo contm contradies . Essa posio praticamente
incompreensvel. e no ser discutida .
Con sideremos ento a posio segun do a qual aq uelas concepes so alternativas . Pod emo s assim definir o mtodo dialtico como
a procura da verdade em que no se proced e lenta e pacientemente
48
I llI du ,
!,,,"
49
Iltl l ll
'I:.""
...,,,.
....".
'111.
'II
pllll'osies 1 e 2. verdade que no observamos co"-' .frequent.uru us to extremas de sistemas de crenas eontradt nes. mas
II 1I11l ltO S casos menos extremos de que derivam contradies lgicas.
11 1111 111 111 alguns acreditavam na possibilidad e de trissecar o ng~lo
I " 1111 com o auxlio de rgua e compasso , acreditavam nu~a COIsa
l\ll I nvolvc uma contradio lgica, embora a demonstraao dessa
'Il lllllliio tenha custado muito trabalho aos matemticos .
Pode-se tambm, em segundo lugar , perguntar se o apelo a tais
I II \ ' II N contraditrias nos ajuda a compreender melhor o mundo ou se
I I l'llllstiluem apenas uma curiosidade psicolgica. Um ~ovo exem1,1" uuxilia a resposta. As proposies 1 e 3 podem ter Sido formu1111 11 . cm termos do desejo de chuva; darei ento um exemplo q~e
II VIII vc desejos e no crenas contraditrias. Mudo ~e t~r~e~o nao
I II I I ncrcditar que sistemas contraditrios de crenas sao tn VI81S. mas
t" II que u ateno aos desejos me permite considerar um dos exem1'111 mnis famosos de raciocnio dialt ico na histria do pensamento,
I uulisc da relao senhor-escravo na Fenomenologia do Esprito. de
II, ~" I , ou melhor, uma verso extremamente simplificada daqu ela
I
II
Il tI~ lIl'ie.
liticamente afiadas.
Existe. contudo , outra acepo do termo
11111
II
, Icconhecido . Ser reconheci do por aquele que adula pode dar alguma
utisfuo mundana; mais ou menos
~O?tradl
II
50
John Maynard Keynes, mas que j est em Marx. um paradoxo centraI do capitalismo que cada capitalista quer que seus empregados
tenham baixos salrios, porque isso bom para seus lucros, mas que
os trabalhadores empregados por todos os outros capitalistas tenham
salrios altos, porque isso cria demanda por seus produtos. Em outras
palavras, cada capitalista quer ocupar uma posio que, por razes
puramen te lgicas, nem todos podem ocupar. Embora o desejo de
~ada capitalista seja internamente consistente, os desejos dos capitalistas em seu conjunto so contraditrios. No existe mundo possvel
em que todos possam ver seus desejos satisfeitos.
Esse no um mero paradoxo lgico. Relaciona-se diretamente
52
11111111'11
a teoria da
I'"
11 ,," deduo parte de uma cadeia mais longa: produto-mercaI " I" vul or de troca-dinheiro-capital-trabalho . Alguns desses conceitos
I ' " -lucs histricas entre si: a produo de subs istncia historilI\l1 Il h ' anterior produo para troca, que por sua vez anterior
que visa ao lucro . Embora algumas das transies faam
ulhlu quando vistas como desenvolvimentos histricos, a conexo
prprios fins ,
BIBLIOGRAFIA
INIJIVIDUALISMO METODOLOGICO . Afirmao clara desse
I .,,,' 1"llI pode ser encontrada em George Homans, The Nature of
,. 1.11 Srirnce (Harcourt, Brace and World , 1967). A formulao cls-
53
..
. '::
"'"
,,,
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, ' 1" ,gS.), State and Society in Contempo rary China (Cornell UniIIV l'rcss, 1983), pp . 53-88, 268-275, discute alguma s impli caes
1111. II
do funcionalismo marxista.
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World, 1968), so boas exposies da abordagem funcionalista. O
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Cohen, Karl Marx's Theo ry of History (Oxford University Press, 1978)
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54
"O que Dialti a", ;11 Con jectu ras e Refutaes, Braslia. Editora da
I I N II , 111M 2. 2." ed. ( N. do E.)
NOIIS
II I, 111l,
jdh ntlv o.
3
ALIENAO
Nro mnrxistas da Escola de Frankfurt afirmaram que o pior asdo capitalismo que as pessoa s nem ao menos sabem que so
IIll dH S, A adeso ao consumo de massa em lugar da busca ativa de
III
II
", ,, , ul lzuo no decorre da fa lta de oportunidades de auto-realizaIII II S da falta de vontade. Essa posio paternalista , eliti sta e peso compartilhada por Marx, pelo menos nos escritos eco de sua maturidade. Nestes, ele louva o capitalismo por criar
t.ldlldes que no pode satisfa zer, contrastando-o com as socieda1' 111 rnpitalistas em que os homens se limitam a um pequeno dr,d,1 d. desejos. Esses desejos, contudo, no podem influenciar o
1 II dn histria antes que um novo modo socia l que os possa sat isI ( IlU l1111 escala de massas) tenha se tornado objetivamente possvel ,
'" '' " . " lludo do desenvo lvim ento das foras produtivas. Antes desse
.. ltI , \'\ li'io condenados utopia . Resumindo:
1111 III II
11111 ti
iNTRODUO
"
',I,,,"",1:111'
, I I'NI I I~ I !
III."".. '
" "" , ~ .
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56
,,
"
1111 \
II
Necessidades
reais
Necessidades
satisfeitas
N ecessidades
que podem ser
satisfeitas
pouca s
poucas
poucas
sub jetiva
muitas
poucas
muitas
o bjctiva
poucas
poucas
muitas
urfns ut picas
muitas
poucas
poucas
muitas
muitas
muitas
nt'llls adaptativas
II
111 \' II
III
57
'",
""
I ..II ::."~
""I""
Para Marx, o bem viver para o indivduo consiste em sua autorealizao ativa. O capitalismo d essa oportunidade a poucos, e a
nega vasta maioria. Sob o comunismo, cada um e todos os ndivduas vivero uma vida fica e ativa. Embora venha a ser uma vida imo
bricada com a vida da comunidade, ser uma vida de auto -realizao.
Auto -realizao, no sentido de Marx, pode ser definida como"
plena e livre atualizao e externalizao dos poderes e capacidades
do indivduo. Vejamos em primeiro lugar a plenitude da auto-realizao. Uma das idias mais utpicas de Marx de que no haver mais
especializao de ocupaes no comunismo . No existiro mais pino
tores, apenas pessoas que, entre outras coisas, tambm pintam. Numa
passagem da Ideologia Alem, que talvez tenha sido levada mais a
srio do que merecia, as pessoas caaro pela manh, pescaro fI
tarde, cuidaro do gado ao anoitecer, para ser crticos depois do jantal'. A questo no est em que Marx negligencia a necessidade de
escolher entre ser um amador em quase tudo e um mestre em (no mximo) uma coisa . Mais importante, esse modo de implementar o ideal
da auto-realizao autodestrutivo, porque impede que as pessoas se
beneficiem da crescente utilidade marginal, que uma das principais
razes para preferir esse modo de atividade ao consumo. A questo
ser mais bem esclarecida adiante .
Ainda que a auto-realizao no possa ser plena, ela deve ser
livre. O ideal de auto-realizao incompatvel com a coero social
sobre pessoas para que desenvolvam talentos socialmente valorizados
a expensas daqueles que elas querem desenvolver. A razo para isso
que o 'I cu" entra duas vezes na noo de auto-realizao, primeiro
como agente e, depois, como matria-prima do processo . A pessoa
dotada, de um lado, de certos talentos e capacidades naturais e, de
outro, de um desejo de desenvolver alguns e no outros. A motivao
subjacente auto-realizao deriva dessa relao peculiarmente ntima ,
58
'onsideremos agora a prpria noo de auto-realizao. Corresa suas fontes em Aristteles e Hegel, ela pode ser decomI ' I II {' m auto-atualizao e auto-externalizao. Auto-atualizao enI\'l 11 111 processo em duas etapas de transformao de potncia em
,,, A primeira o desenvolvimento de uma capacidade potencial
1111 1111 capacidade atuaI; a segunda o desdobramento da capacidade.
I 1111 1 pessoa que no sabe francs tem potencial para falar francs
.1,,1 . passos do ato. O potencial de uma pessoa que sabe perfeitaI II I.
o francs, mas apenas fala correntemente o ingls, est a apeII
11 111 passo. Auto-externalizao o processo pelo qual os poderes
I hulivfduo se tornam visveis para os outros . Pelo agir e pelo fa lar
'" 1'''''0l1a de outros, a pessoa faz de si parte do domnio pblico,
III l i !,! riscos e vantagens que isso implica . O risco de que a autoI III I. J1 III seja destruda, se no for confirmada pelos outros; o beneII 111 dr que adquira substncia e solidez, se confirmada. Em linguaII I II cudiana , a auto-externalizao envolve a transio do princpio
I 1" ",n " O princpio de realidade. Sublinhe-se que pode haver auto,,, <I III'\'ao sem auto-externalizao . O desenvolvimento da habilidade
I .qlll'cinr msica ou vinho pode servir de exemplo.
IlIi du as perguntas complementares que precisamos fazer sobre
Idl III de auto-realizao. Primeiro, quais so seus atrativos, por
lt q lll l'lU;i o aos de outros momentos? Segundo, dados esses atrativos,
II
'I'H' l' liI escolhida mais freqentemente que outras alternativas?
I
, 11.,,"11 <1 0
59
60
Idlllllll .
."'"0
61
Miopia a tendncia a preferir o bem-e star pre sente ao bemestar fu turo s porque ele pre sente , Uma pessoa mope tem dificuldade em desenvolver planos no pad ro " um passo atrs, do i s pas sos fre nte ", porque ser imped ida pelo sacrifcio de curto prazo
requer ido, E esse exatamente o padro da auto-rea lizao, Ela requer
certa dose de autocontrole e de dispo sio a suportar os estgi os menos gratificantes da auto- atualizao.
Ela tamb m requer certa dispo sio a assumir riscos. Uma cara cterstica da auto-realizao ainda no menci onada de que e la est
envolta na incerteza . E difcil saber de ant em o exata rnente quais os
don s e talentos que se po ssui. Dada linh a de ativida de pode m ostrarse to fcil qu e leva ao tdio, ou to difcil qu e leva frus tr ao ,
Par a a maioria das pessoas , a fru strao - tentar e fracassar -
provavelment e pior que o tdio - obter sucess o com excessiv a f'acilidad e . Se elas tm aver so ao risco, tendero a escolher o v eculo
meno s ambicios o para auto-realizao, o que implic a que, em mdia.
haver meno s auto-realizao .
-~ ,
l" '
II
~I
62
I II
'III '
II 1I
mudos. Pode significa r simplesmente a ausncia de auto-realiPode significar a ausncia de oport unidades de auto-realizao,
'III uu sem o desejo de auto-realizao . Pode signifi car a presena de
1111 Ill'hCjO ineficaz de auto-realizao isto , um desejo bloqueado
I lu miopia, peja averso ao risco e pela tendncia a pegar carona
1 11 111 ou sem oportunidade s de auto-realizao . Marx punha nfase
I" , exclusiva na falt a de op ortunidades de aut o-realizao no capi, II 11 .0 . Mas tambm sublinhou que o capitali smo cria a base matetI,.1 pum outra sociedade em que a auto-realizao plena e livre de
I 11111 11 e de cada um se torna possvel. O comun ismo surge quando
II hnsc est criada. No claro se ele pensava que o comunismo
III hlu quando e porque essa base foi criada CI se o pensava , como
"Inci ona o desejo de superar a alienao a suas outras explicaes
I, o perao do capitalismo.
I II
111 .
0111 0 ,
II 1110
Iuvc
63
c!liao pouco plau svel. A natureza social da produo torna imposslve~ a qualquer ind ivduo indicar qualquer produto como seu; a pro.
duao para um mercado de massas tambm rompe o vnculo pessoal
entre produtor e consumidor. A idia de que uma pessoa pode ter
um senso de comunidade ao saber que produz para a " sociedade" '
nao
encon t ra raizes na psicologia individual.
Um 1IJ0do mais plau svel de reconcili ar os dois valores atrav s
da produao com o outro, ou auto-realizao conjunta. Exemplos: um
p;,q.ueno barco d~ ?esc~, uma equ ipe de futebol , uma orquestra sinf~ntca ou a p~rtIClp~ao nas decises numa democracia eccn mca
d~reta. Nessas ~nterao~s percebemos o sentido da observao no Man~f:sto Comu nista: o hvre desenvolvimento de cada um se torna condi o par a o livr: ~esenvolvimento de todos. Novamente no
claro s:' a. pr?d~.ao Indu strial se presta facilmente a essa sntese.
A tend ncia histrica parec e sugerir que processos integrados de trabalh o e auto-realizao no trabalho so objetivos contrrios e no
~~mplementares; ~ linha de montagem atinge um mximo de integra .
ao COI~ um rmrumo de auto-realizao. Outra vez, porm, isso pode
ser devido organizao capitalista da ind stria mais que natureza
do trabalho indus trial.
'I
'I
, .A .ao. soci~l pode ser compreendida em muitos nveis. A aparencia ~medlata e de que as pessoas agem livre e racionalmente na
promoao de. seus objetivo.', quaisque r que estes sejam. O capitalis~o, em particular, expandiu o reino da liberdade ao ampliar o mbito da escolha mai~ que qualquer forma ante rior de sociedade. Marx
nun ca negou ,que a liberdade de escolha nesse sentido valiosa. Acrescentava: po~em, que sob o capitalismo ela distorcida e subvertida.
p~r assim dizer , nos dois extremos. De um lado , a formao dos desejos oc~rre ~um ?~ocesso que o indivduo no compreende e com
o qual nao se identifica. Com freq u ncia seus prprios desejos lhe apar.ecelIJ corno pod eres alheios, e no prprios e livres. De out ro a reahza ao dos desejos tambm freqentemente frustrada por falta de
coo~denao e planejamento. O resultado agregado das aes individuais aparece como uma fora independente e mesmo hostil, e no
64
ruuo buscada livre e conjuntamente. Os indivduos se encontram enluras psicolgicas ininteligveis, que moldam seus desejos, e for." ociais igualmente opaca s, que os bloqueiam. A fina fatia de liber.1,,01 que sobra depois da operao dessas foras aparece agora como
1Illlllu menos valiosa.
Ao contr rio, o comunismo acabar com todos os processos que
III' rum "por trs" dos indivduos. Os indivduos sero finalmente
11 11 nomes - no pleno controle no s de suas aes mas tambm das
'" us e conseqncias dessas aes. A psicologia individual e a cau"lld"de social se tornaro completamente transparentes. Em relao
III t'N
ludo econ mco do capitalismo, Marx escreveu que toda cincia
rlu sup rflua se a essncia das coisas coincidisse com sua aparncia,
Nu comunis mo essa coincidncia acontecer finalmente, extinguindo a
I II I 'N
sidade da cincia social.
Consideremos primeiro as foras causais psicolg icas. ..subinten1"""l s ". que operam por trs do indivduo . Embora no se possa dit que Marx tivesse uma teoria psicolgica propriamente dita, exislo '" .. bscrvaes, notadamente na Ideologia Alem, que podem ser to"",,1,,8 como ponto de partida para esta reflexo . Ele diz que no capi,,,11" "0 os desejos do indivduo tm dois defeitos : so unilaterais e
, ,,''' plllsivos. A crtica da unilateralidade deriva do ideal da au to-reaII "~ f") plena, que descartei acima como utpico. E tambm um tanto
I", ,,,,,Istcnte com o que Marx diz sobre algumas das grandes reali"'. ''''' do passado. Ele diz que Milton escreveu ,o Paraso Perdido
I 1111I! I o bicho-da-seda produz a seda: porque estava em sua natureza.
I 11 11 certamente uma observao mais razovel do que se ele dis. " '1"C Milton pode ria ter roubado algum tempo do dedi cado
I 11I1l par a desenvolver outros talentos.
() exemplo tambm mostra que no precisa haver objees sobre
.I. "'1'" compulsivos, se entendidos como desejo s to fort es que subI II' h ' l lI todos os outros. Pode-se, porm, objetar justificadamente aos
tIl i i los compulsivos desde que se os compreenda como desejos com
'i" .. indivd uo no se identifica e que o levam a agir de modo que
I II
prp rio no compreende e que no lhe d prazer. Marx sugere
11 111 11 0 capitalismo o desejo de consumo por oposio ao desejo
di unto-realizao - tende a assumir esse carter compulsivo, O ca"II II I! " 110 cria um incentivo para que os produtores seduzam os conIIl1d tlores, injetando-lh es novos desejos. dos qu ais eles ento se tor-
I,.
65
,
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comunismo . Isso no quer dizer que a dimenso dos pro"capacidade de enfrent-los so ndependentes do contexto
I ' I II U . OS vitorianos erraram pela nfase excessiv a no autoco~
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1I11 1l'OS erraram na dir eo oposta. De qualquer forma, o eq~l
d " ,kscjvel fr gil e vulnervel, instvel demais para ser at inI I,. pol' todas as pessoas durante todo o tempo.
cuusalidade social ou I/ supra-intencional " que fru s~ra no.ss.os
I" i ' foi discutida. Mas ainda cabem algumas observ aoes adicioI
I' preciso distinguir, mais claramente do que Marx
f~z, ~ntre
li, de lransparncia e falta de controle . Conside remos pnme~ro o
contr ole deriva da opacidade da causahd ade
' 11\ quc a falta de
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,,,I,. 110 qua l a introspeco bas ta como controle. Os produtores e
.lnll costumavam ter uma experincia frustrante: quando ~speravam
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ultos e se comportavam de acordo com essa exp ectattva . aco~II ti oposto. Inversamente, quando esperavam. p~e~s b31xos: obtiRespostas naturais atnbumam o fenomeno
os muito bons
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I 11111111. ao governo ou outras circunstncias ex ternas: Em reahda e,
I 01 1111 eles se emaranhavam numa teia de sua pr pria lavr~ , A ex
de pr eos altos os levava a produ zir mais ani~al s que o
I 1111 1. u que obviamente derrubava os preos; a expectativa de pre, hnlxos operava de forma correspondent~. Uma vez que a. causaII 10,,1 foi claramente comp reendida, e tida como compreendIda, as
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111\ Ihol' nem pior que a dependncia do mercado.
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n lllcluses se equiparam discusso anterior sobr~ a autoI' , I" Mar x concluiu rpido demais que todos os defelto~ que
, , " 110 capitalismo se deviam ao capitalismo. Em realidade,
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II. ln se devem natureza do trabalho industrial. out.ros a fato~
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obre seres humanos, outros ainda a problemas inerentes a
1. 11 11 \ 110 de atividades complexas. Um trao utpico em seu ~:n
11 111 l'I'U II superestimao da medida em que cada um dos v rios
I 1111 do cnpitalismo poderia ser superado. Outro er~ sua recu:a a
, ' '', " " II possibilidade de que talvez no fosse po ssvel supera-I~s
I
IlII ultaneamente na mesma medida em que cada. um podena
II pi I lido cm separado. A crena em que todas as coisas _boas anI III [uutus C a recusa em considerar trocas entre valores sao caract\1I1 l qlh I
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uuportan te, Se eu deixar de controlar as conseqncias de
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Em particular, alie nao enquanto frustrao , por contras enquanto sujeio, um destino que pode ser comIIl1l1ulu por todos.
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FETICHISMO
\ economia capitalista destila iluses sobre si mesma. H a iluso
trabalh adores so livres par a escapar explorao , a ilu.I. que os capitalistas tm direito propriedade dos meios de
I l ll~nu C a iluso de que as mercadorias , o dinheiro e o capital
.., 1" " ,"'iedades e poderes prprios. A esta ltima Marx se refere
IlI lI h'lichismo, por analogia s religies que dotam objetos inaniI" de poderes sobrena tura is. O fetichismo econrnico comea com
1111 110 que surge espontaneamen te da vida econm ica co tidiana e
I I I II
l ' solid ifica em doutrina econmica . Os economistas co dificam
1111 1l1.S naturais dos agentes econmicos .
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II
BIBLIOGRAFIA
AUTO-REALIZ AO . Uma discusso cuidadosa desse aspecto
ulleuuo a de John Plamenatz, Karl Marx 's Philosophy oi Man
1111'.1 University Press , 1975) . A comparao entre a estrutura temI ,,,,I 1111 au to-realizao e do consumo se apia em Richard Solomon
1" 1i,, Corbit , An Opponent-process Theory of Motivation", Psycho, ' /, ,,' Il cview, 81 (1974): 119-145. Discusses teis sobre a auto, " I I/ II ~ ao no tr abalho so : E. A. Locke, "Nature and Causes of [ob
,II Iuction ", in M. O. Ounnetle (org .), Handbook of Industrial and
'.t o/II /zalional Psych ology (Rand McNally College Publishing Co.,
I III>), pp. 1297-1349: J. R. Hackman , " Irnproving Work Design " , n
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ECONOMIA MARXISTA
INTRODUO
primeiro volume de O Capital foi publicado em 1867. Essa
murca o fim da econ omia clssica. Existe acordo geral em qu e
" ","nia moderna nasceu por volta de 1.870. com os tra bal hos quase
,,,," 11 " Cos de Ievons na Ing laterr a, W alra s na Sua e Menger na
II I r!n. Vieses pol ticos parte, a teoria econrnca de 'M arx caiu em
II ldu
surdos, porque apare ceu no momento erra do. Depois de sua
III " l ~ , ela man teve um a existnci a separada, pou co interagindo com
pI usnmento econmco dominante e qu ase sem novos desenvolvi"II nlus. Houve surtos ,de ativ ida de nos ano s 30 deste scul o, com o
I l llvolvimento do marxismo. keynesiano, e novamente nos anos 60,
H il l li bcm-sucedida refutao marxista' de uma pa rte central da eco,," uilu neoclssica, como a orie ntao dominant e veio a ser conhecida .
I
ucontecimentos, po rm, no criaram um conj unto de problemas,
I Il d ll. C conceitos com uma din mica prpria . Hoje a econo mia marI III est, com poucas excees, int electualmente mort a. Esta certa"" III, lima posio sub jetiva. Seguindo os fatos objetivos, quan titatII , concluir-se-ia que a economia marxista floresce. Vem-se todos os
tnul normais de ati vidade acadmica: revistas especializa das, "esco1,1 Invisveis", indicaes para as melhores univer sida des. Alm disso,
, d h\ur t cnico e a sofisticao matemtica da moderna econo mia marI III eliminaram parte do obscurantismo qu e rei nava inconteste. Acon II 1 I , porm, que possvel ser obscurantista de um modo matematicaItll -uc sofisticado. se as tcnicas forem aplicadas a probl emas esprios.
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pum serem produtivos. devem ser usados em certas pro,IRiulIs. Se os fatores forem usados nessas pr opores, o em 1,' um tra balhador adici onal no cria produto adicional. Se" h" II un lise pressupe que a ofert a de trab alh ado res pode depenIII InxII de salrios. i sto . que os trabalhadores so s vezes indu" trnbalhar - ou a trabalhar mais - por salr ios mais altos.
I ' IIJlo marxista, ao contrrio, de que os trabalhadores so for" vender sua fora de tra balho . Terceiro , pressu pe-se ainda
1 Hnuu. para vender todos os seus produtos , deve
baixar os
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1111 proporo inversa do que quer vender. O preo depend e
ll" llll lu est disposto a pagar o consumidor menos interessado.
I , , 1'' '' outro lado. afirmav a que o preo determinado pelo custo
IIl ll pclu demanda.
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II TEORIA DO VALaR-TRABALHO
l h uu das questes fundamentais da economia a explicao dos
A teoria tem certo atrativo imediato. Se eu gastar seis horas reu""" lo palha para fazer um colcho e outro gastar trs horas para pesII II Ill peixe, a taxa esperada de troca se houver troca - ser
,f, dois peixes por um colcho. Eu no aceitaria nada menos que
1,,1 peixes, pois poderia ter pescado essa quantidade no tempo que
I h'l fazendo o colcho ; da mesma forma, o outro no aceitaria nad a
1111 IlOS que o colch o inteiro . Consideremos, porm, as extremas simI'llIknes nessa histria . Supe-se que a matria-prima acessvel e
, " ' custo, Supe-se que a produo no depende do uso de meios de
I',odlliio produzidos, Supe-se ainda que os doi s tipos de trabalho
n" igualmente comp licados ou desagradveis, Capacidades adquiridas
t
lnlcntos inatos so ignorados. Introduzid as essas complicaes; couu-u a ser to difcil defender a teoria do valor-trabalho como for11 111 16la coerentemente.
A maior dificuldade deriva da existncia de diferenas inatas de
mlcnto. Se algum pudesse fazer meu colcho em cinco horas, e eu
," lasse quatro horas para pescar um s peixe, simplesmente por difervnas inata s de talento, ficaria difcil estabelecer a troca entre os
bens. Se formos s os dois, negoci aremos sobre o preo , com um
resultado em geral difcil de predizer, mesmo que acrescentemos inronu a es sobre a inten sidade com que cada um de ns deseja os
bens. Supondo que existam um milho de pessoas exatamente como
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Illod o, Ela pode ser usada, porm , para mostra r que os pre os no
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REPRODUO, ACUMULAO E
MU DANA TCNICA
Um estado de equilibrio econmico tem duas propriedades . De
lado, os preos devem ser tais que os produt ores possam cobri~
"' IIS custos e obte r o lucro mdio . Essa uma condi o que se da
.Iru tro de cada setor ou ind stria. De outro, a produ o em um pei odo deve ser tal que permita os Insumos necessrios para a produ~ o c para o consumo no perodo seguinte. Essa uma condio. qu e
' c d entre diferent es setores e determin a seus tamanh os relativos.
Vimos anteriormente que a anlise de Marx do equilbrio dos preos
t ' , t irremediavelmente incorreta. Sua teoria do equilbrio fsico, porm. embora no seja perfeita, mais valiosa. As anlises, no segundo
volume de O Capital, sobre a reproduo simples e ampliada antecipum teorias de anlises de fluxos e de crescimento multissetorial equilihrado . Os captulos do prim eiro volume de O Capital, que apresenrum uma ampla perspectiva histrica sobre o surgimento e o desenvolvimento do modo de produo capit alista, so ainda mais importantes e influentes.
Consideremos primeiro as condies sob as quais a economia se
reproduz de maneira idntica, supondo que todo o excedente vai
para o consumo capita lista e que no h reinvestimento, De aco~do
com Marx, dividimos a economia em dois setores. O setor I e o
sctor de bens de capital, enquan to o setor II produ z bens de con' uma para trabalhadores e capitalistas igualmente. O valor tota l do
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valor em si mesmo, como meio de auto-realizao.) No capitaliso critrio a maximizao do lucro ou a minimizao do tempo
.t, trabalhe pago. Donde, di zia Marx , o espao para o maquinrio
r- rln maior no comunismo do qu e no capitalismo. O argumento pode
I r- r alguma coisa de verdade, mas certamente menos do que Marx
IIllIlRinava. Um planejador racional consideraria no apenas a soma da
ric de trabalhos necessrios para produzir um bem, mas tamb m o
I'l"I'ri1 temporal da srie, considerao essa que' o aproximaria do criI rio da maximizao do lucr o.
Segundo, Marx afirmava que a lut a de classes poderia impedir (,
pro priet rio capitalista de ado tar a tcnica mais eficiente. Uma inovuo que aumentasse os lucros a uma dada taxa de salrios poderia
rumb m levar a aumentos salariais prejudiciais sua eficincia . As
Inovaes comumente se corporificam em novas mquinas e fbricas.
A organizao fsica e o desenho da fbri ca , por sua vez, afetam a
conscincia de classe e a combatividade dos trabalhadores. Os trabalhudores so disciplinados, unidos e organizados pelo prprio proce sso
de prod uo fabril: o capitalismo produ z seus prprios coveiros. Um
cupitalista racional e prev idente anteciparia esse efeito e, se necessrio, sacrificaria um aumento de lucros a curto prazo pela manuteno
do poder a longo prazo. Embor a potencialmente importante, o argumento est incompleto. Como o nvel de conscincia da classe trabalhadora no determ inado pelas escolhas tcnicas de um capitalista
singular, poderia facilm ente surgir o problema da carona . Todo s os
capitalistas poderiam ser beneficiados se tod os eles se recusassem a
udotar certa inovao, mas as conseqncias da adoo para qualquer
um deles em parti cular poderiam ser insufi cientes para que deixasse
11111
11111 ,
de ado r-la .
TEORIA DA CR ISE
Em sua denncia incansvel do capitalismo, Marx ado tau padres de crtica tanto int ern os como extern os. De um lado, comp arou
o nvel real de satisfao e mudana tcnic a com aqueles que pode. .
riam ser atingidos numa sociedade comunista. Essa comparao est
89
subjacente s denncias fundamentai s produzidas pela teoria da alienao e pelo materialismo histrico , De out ro lado, afirmava que o
capitalismo fracassa em seus prprios termos. Em particular. est sujeito a crises econ rnicas recorrentes que so lapam sua alegao de ser
um modo racional de organizar a produo c a distribuio. O argumento desenvolvido nos trs volumes de O Capital.
s vezes parece que Marx co ncebia o capitalismo como mais
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perversament e irr acional que o possvel. Ele pa rece dizer que o capitalismo levaria tanto ao crescente empobreciment o dos trabalhadores
como a uma queda da taxa de lucros para a classe capitalista. Ainda
qu e o capitalismo produ za uma acelerao macia das foras produtivas, ningum se benefici ar desse desenvol vimento . Uma leitura mais
cuidadosa, contudo, ab solve Marx dessa concepo pouco plau svel.
Nos escrito s econmicos da maturidade, ond e ele formula a teoria da
qu eda da taxa de lucros, no sugere qu e o padro de vida dos trabalh adores cai no sen tido literal. Pode cair relativamente ao da classe capitalista , e relativameotc ao nvel qu e ati ngiria numa sociedade racionalment e plan ejada , mas no em term os absolutos.
Uma importante teoria da crise entre os crticos pr-marxistas do
de preos.
Nem tampouco ele compreende u plenamen te a dinmica dos
ajustamento s salariais.
90
H diversas
nos
nornia keynesiana. Ele estava plenamente consciente do carter para iluxal de um sistema em que cada capitalista quer que seus emprega tios, mas apenas os seus, sejam mal pagos. Ele tamb m acolhia , ainda
'i ue de forma vaga, a teoria de que as crises se devem falta de
puder de compra ent re os trabalhadores . As duas idias permanecem
cparadas em seus tr abalhos, todav ia. Foi Keynes qu e as reuniu, em
lia anlise do proce sso combinado de demand a descend ente e redu \'OCS
salariais .
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Mesmo que admitamo s uma tendncia maior economia de trabalho, no pod eramos concluir por um aum ent o na composio orgnica do capital. Se uma indstria int rodu z uma inovao poupadora
de tr abalh o, ela de fato expe riment ar um aume nto na composio orgnica , mas, se supusermos - como Marx - que tais ino vaes ocorrem em tod as as indstrias, o elo se rompe. Ino vaes na indstria que
produz ben s de capital para a indstria em que oco rreu a inovao
poupadora de trabalho redu zem o valor desses ben s e diminuem a
comp osio orgnica do capital nesta lti ma.
Finalmente , Marx no aderiu consistentemente 80 suposto de que
a taxa de explora o permanece consta nte . Na presena do processo
tcnico, esse suposto implica qu e os salrios rea is aumentam em ter mos absolutos: no h empobrecimen to absol uto. Ta mbm implica qu e
a partilha do produto social lquido entre capital e trabalho permanece constante, de tal forma qu e tamb m no h empobrecimento rela tive. Marx sugere que no desenvolvimento real os salrios aumentam
em term os absolutos mas diminuem em term os relativos, de tal forma
qu e h um aumento da taxa de explorao. Ele no d raz es qu e
justifiqu em, porm. que o efeito lquido de um aumento tanto no J1U~
merador qu anto no denomin ado r da equao funda menta l redu ndar
numa queda na taxa de lucros.
92
II
I. \'("11I05
BIBLIOGRAFiA
INTROD UO . Sobre o lugar qu e a econo mia marxista ocupa
na histria da an lise econ mica, ver Mark Blaug, Eeonom ie T hought
in Retrospect, 3 .' ed. (Cambridge University Pre ss, 1985). A crtica
marxista da teori a neoclssica do cresci mento explic ada em G . C.
Harcour t, Some Camb ridge Controve rsies in the T heory of Capital
(Cambridge University Press, 1973).
A TEORIA DO VALOR-TRABALHO. Expos ies excele ntes,
cm ordem crescent e de dificulda de , so lan Steedm an, Marx after
Srafla (New Left Books, 1977), Michi o Mori shima, Marx's Economies (Cambridge Unversity Press , 1973) e John Roemer, Analytical
Foun datlons oi Marxian Economics (Cambridge Univ ersity Press,
198 1). Podem ser compl ementadas por C. C.von Wci zsck er, SteadyState Capital Th eory (Springer , 1971), e por Ugo Pagano, W ork and
Welfare in Economic Theory (Blackwell, 1985).
93
5
EXPLORAO
TEORIA DA CRISE. Sob re a taxa decli nan~e de I~~ros , ver novamente Roerner, Analytica Fountla tions, c t~":,bem Phl~lppe van Pa.. "The Falling-rate-of-profit Theo ry of Crisis : a Rational Rccon s;;~~tion by W ay of Ob ituary". RevielV af Radi cal Polit icai Ecollamy.
12 (1980) : \ -16.
INTROD UO
O contraste e o conflito entre os possuidor es e os despossudos,
os ricos ociosos e os pobres trabalhadores so temas constantes na hist ria. A teoria da explorao de Marx uma tent ativa de formulao
cientfica rigorosa dessas noes intuitivas. No conjunto de sua obra,
essa teoria serve a dois propsitos distintos. De um lado, tem uma
funo explicati va . A explorao, quando percebida pelos explorados,
gera a motivao par a a revolta , o protesto, a agitao ou a revoluo, Como tal , pod e entrar na explicao da lu ta de classes e da muda na socia l. De outro , a explorao um conceito normativo que faz
parte de uma teoria "mais ampla da justia distributiva. A explorao ,
seja ela percebid a ou no pelos explorados , mora lmente er rada . ~
inju sto qu e pouco s possam se manter sem trabalhar ou que ganhem
desproporcionalmente sua contr ibuio em tra ba lho .
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produo futura que redunda parcialmente em seu ben efcio. A explorao , no sentido normati vo apropriado , um conceito altamente
abstrato , enquanto a luta de classes motivada por . preocupaes
mais imediatas.
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..I.- WIS de ofcio . Alm disso, ele pode nem mesmo saber qu e exphu mlo. Para verificar seu "status lquido de explorao" teramos
empreender clculos tremendamente complicados do valor-trabaIii" dos bens que ele consome. Podemos com segurana supor que o
pu pri o agente no far esses clculos, uma vez que mesmo um ecolllllllista treinado dificil mente poderia faz-lo. No estando consciente
.I, que explora do, o agente de nosso exemplo no ter motivao
1'"1'1I a revolta pelo fato de ser, em termos objetivos, explora do. Aqui,
no o norrnativamente adequada deixa de motivar ; no caso do gen-utc acionista, o que motiva uma noo inadequada,
A teoria da explorao-trabalho de Marx compartilha algumas
dus fraquezas de sua teoria do valor-trab alho. Ao requerer que compnrcrnos a quan tida de de trabalho que uma pessoa executa e a quanrldude incorporada aos bens que ela consome, a teoria pressupe que
rod o trabalho pode ser reduz ido a um denomina dor comum. Sabemos,
11 0 entanto , que em face de diferenas inatas de talento entre os trahnlhadores, ou diferen as no cansao produzido pelas tarefas, essa
.cdu o no pode ser efetuada , Pode-se argumentar, na linha de alKlI ll S socialistas pr-marxistas. que o primeiro problema irrelevante,
rapacidades ou talentos inatos so fatos moralmente arb itr rios qu e
no devem influenciar a distrib uio dos ganhos.
justo deixar que
os salrios variem com o nmero de horas traba lha das, que est sob
o controle da pessoa , mas no com a qualidade do trabalh o executado,
que no est. Embora no seja uma teoria da explorao no sentido
de Marx, essa seria uma teoria da justia econmica utilizando o tempo de trabalho como ni co crii rio. Ela no pode, porm, lidar com a
segunda dificul dade. Se, entre dois trabalhadores, um tem uma ocupao que mais suja ou desagradvel qu e a do out ro, ele ser e dever ser mais bem pago.
Para certos propsitos esses pro blemas podem ser postos de lado .
H semelhana suficien te entre os trabalhadores e entre as tarefa s par a
justificar a utili zao de um modelo simplificado. A teoria da explorao-trabalh o tem alguma coisa de cami sa-de-for a, na medida em
que nos obriga a tornar comparvel o que no o , mas esse tipo de
comentrio se aplica a qualqu er modelo cientfico. De qualquer modo,
ficar claro que mesmo com suas suposies simplificadoras ela pode
sofrer srias objees .
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A coao pressupe a existncia de um explor ador que, deliberuda mente, toma providncias para aumen tar a pro bab ilidade de que
lJ agente escolha a explor ao s outras alternativas. Assim, na escravatura e na servido, os exploradores atribuem penalidades seve ras
h tentativa de escapar explorao. No capitalismo, essa' forma de
coao fsica rara . A explorao capitalista pode, porm , basear-se
na coero econ mica, se o capitalista interferir com opor tunidades
alternativas de empr ego para o trabalhador. Para Marx, os cercamentos (enclosures) ingleses do sculo XV I ao sculo XV II I tinham a
finalidade de expulsar os pequenos camponeses da ter ra, coagindo-os
assim a vend er sua fora de traba lho. Outro exemplo de coero eCQnmica ocorreria se fir mas capitalistas deliberadamente torn assem difcil a vida de cooperativas de trabalhadores, forand o a baixa de preos alm do que normal na prtica concorrencial.
A distin o entre a coao e aquilo a que Marx chamava de "a
fora bruta das circunstncias econ micas" suficientemente clara.
A coao supe, e a fora exclui, esforos intencionais por parte do
explorador para influenciar as alterna tivas (que no explorao)
abertas aos explorados. A distin o entre coao fsica e econ rnica
mais tnue, embora tambm importante. A coao fsica ilegal
no capitalismo, enquanto a coao econ mca pode empregar meios
perfeitamente legais. A coao fsica envo lve uma invaso dos direitos dos ou tros, enquanto a econ mca constitui uma extrapolao
dos prprios direitos. Ta l abuso freq entemente passvel de punio se o motivo for a pura malevolncia , mas usualmente no se o
moti vo for ganha r dinheir o na tr ansao. Se eu erigir uma cerca em
minha propriedade com o simples prop sito de imped ir a viso de
outrem, estou agindo de modo malevolente e corro o risco de ser processado . Se meu propsito for fazer com que o outro me pague para
que no a constr ua, menos claro que minha ao seja legalmente
passvel de puni o. Mesmo quand o o abuso for ilegal, sua punio
s ocorre r se a inteno for demon strada , o que pode ser difcil.
At aqui distin guimos tr s graus de involuntariedade : a coao
fsica. a coao econmica e a fora das circunstncias. Contrariamente ao que Marx acre ditava , a explor ao no precisa ser involunt ria
em nenhum desses sentidos. Consideremos duas razes por que as donas de casa casadas podem decidir ent rar no mercado de tr abalho.
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A EXPLORAO NA HISTRIA
As varieda des histricas de explorao so numerosas e diferen- '
rcs. A explorao pode ocorrer tanto em sociedades capitalistas como
cm sociedades pr-capitalistas; em economias de merc ado tanto como
cm. economias sem mercado ; em sociedades de classe e em sociedades
sem divises em classes.
A variedade mais simples a explorao sem formao de classes, que aparece no que Marx chamava de ..produo simpl es de mero
cadorias" . I o caso de uma comunidade de lavradores e artesos que
possuem seus prprios meios de produo e empregam apenas trabalho familiar. Embora no existam mercados de trab alho ou de crdito,
h um mercado de bens onde os produtores trocam os produtos entre
si. Para simplifica r, suponhamos que seu objetivo seja obter um certo
nvel de consumo - o mesmo para todos os produtores - com um
mnimo de trabalho . I ento int uitivamente claro, e pode ser rigorosa
mente provado , que, se alguns produtores tiverem maior dotao de
capital que outros, eles tero que tra balhar menos horas para obter o
rendimento necessrio para atingir o objetivo de consumo .
Pode-se perguntar se isso constitui explorao, Para compreender
que sim, basta cons ide rar uma outra economia diferente da produo
simples de mercadorias apenas no fa to de que os pro dutores no negociam un s com os outros. Cada famlia produz seus prprios bens de
consumo. Como ante s, o objetivo atingir um nvel fixo de consumo
com um mnimo de trabalho ; como antes, alguns tm mais capital
que out ros ; como ant es, eles tero que trabalhar meno s para atingir
seu objetivo. Para cada uma dessas economias, faremos o experimento
mental de imagin ar qu e os produtores com meno s capital desaparecem
da economia, levando com eles suas dotaes. Na economia sem trocas os produtores que ficaram trabalharo o mesmo nmero de horas
que antes . Uma vez que no interagiam com os produtores de menos
capital,' no so afetados por seu desaparecimento. Na produo simples de mercad orias, os produtores com mais ca pital te~o que trabalhar mais nas condies de nosso experimento mental , porque perdem
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o ganho das trocas. Como grupo, os produtores com mais capital agora consomem bens que incorporam exatamente tanto trabalho quanto
investiram. Quand o , nas condies originais. consumiam os mesmos
bens e trabalhavam menos, isso acontecia porque eles eram exploradores. No h, no entanto , divises de classe nessa sociedade, porque
todos os produtores mantm a mesma relao com os meios de produo . B irrelevant e que alguns sejam ricos e outros pobres, pois a
riqueza no um critrio marxista de classe.
Marx no via a produo simples de mercadorias como um fenmeno histrico significa tivo , e por boas razes . Numa econo mia desse
tipo , os produtores pobres levam uma existncia altamente precria.
So vulnerve is a flutuaes de preo , a acidentes climticos, ii doena
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soluvelmente ligadas.
Em realidad e, a explorao sem classes mais que uma mera
possibilidade lgica. Ela aparece na "troca desigual" entre naes,
qua ndo pases ricos troca m bens com baixo contedo cm trab alho por
hens com alto contedo em traba lho. Embora possam existir divises
de classe em cada um dos pases, a relao entre eles no de classe.
A explorao sem classes pode tambm ocorrer no socialismo de mer-
cado do tipo iugoslavo. Nesse caso todos os trahalhadores so membros de firm as autogeridas, de tal modo que no h diferenas de
classe. Mas por causa de diferenas de dotaes podem surgir desigualdades setoria is e regionais reveladora s da presena da explorao.
Na grande maioria dos casos, porm, a explorao acompanhada da diviso em classes. Os escravos constituem uma classe distinta
porque no possuem nenhum meio de produo . nem mesmo sua pr-
meios de produ o.
Essas so as principais relaes entre explorao e classe: entre
escravo e proprietrio de escravos, entre servo e senhor. trabalhador
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sua dignidade .
Em sua luta , o trabalhador no deixa de ler seus prpri os elementos de barganha . Ele pode no ser faeilmente substituvel, por
produo da firma. Isso pode levar o capitalista a substituir as tcnicas timas por outras que criem menos dependncia em rel ao a
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confund i-las entre si. pois a primeira pode ocorrer sem a segunda (no
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Ainda assim, a explorao no uma relao de poder. Consideremos, como easo limite, a produo simples de mercadoria s, onde
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No prime iro volume de O Capital, Marx discute os determin antes da taxa de explorao no capi talismo . Essa taxa definida como
a razo mais-valia/ valor da [ora de trab alho. A lt ima depende do
salrio real e do conted o, em trab alho , dos ben s qu e entram no
salr io real. Donde a taxa de ex plorao depende da durao do dia
de tr ab alh o, do salrio real e do valor-trabalho dos bens . Desses, os
doi s primeiros so objetos da lut a de classes, enqua nto o terce iro
s pod e mud ar pelo progresso tcnico geral. Um barateam ento dos
bens de cons umo tem de qualquer modo um imp acto sobre a lu ta de
classes, pela modifi ca o dos termo s de ba rgan ha ent re as partes,
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EXPL OR AO E JUSTIA
Explorao um conc eit o normativo, crtico. Isso menos bvio
em ing ls que em alemo , que usa termos diferentes, ausniitzen, para
o sentido neutro de "fazer uso de " , e ausbeuten, para o sentido crtico de "tirar vantagem injusta deli , Marx usa o lt imo termo , que tem
conotaes claramente normativas. E tambm impossvel ler as p gi108
candentes do primeiro volume de O Capital sem sentir a indig de Marx com as p rticas qu e de screve. N o se pode fugir
,,,,,c1 uso de qu e parte d a den nci a do capitalismo por Marx se funda
'" sua in justia. E injusto qu e alguns po ssam ganhar a vida sem tralmlhnr, enquanto outros se extenuam para alcanar uma existncia
1111
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Mas Marx nega exp licitamente que esteja defendendo uma con " 'po pa rticular de justia. Para ele, teorias d a moralidade e da ju st l\'H so construes ideolgicas, qu e apena s servem para justificar e
I" ' rpct uar as relaes de propriedade vigentes. As aes so definidas
u IIIlO justas ou injustas de acordo com um cdigo moral correspon,k ntc a um modo de produo pa rticul ar. No capitalismo, a escravid o
r H frau de so injustas: a extrao do sobretrabalho no o . No
existe uma concep o de ju stia trans-histrica, no relativista . Nem
\'"iste uma teoria comunista da justia. Mais que isso , o comunismo
.c r uma sociedade alm da justia. Por razes seme lhantes Marx tamh m rejeitava a concepo de que o comunismo substitui motivaes
"Kostas por outras altrustas, e dizia que a prpria d stino entre
..gosmo e altrusmo seria transcendida pelo comunismo .
Fica a questo de saber como ele pod eria manter essa posio, ao
mesmo tempo que caracterizava capitalismo e comunismo com termos
que suge rem fortemente uma concep o pa rticular de justia. Fca-se
com a sensao, difcil de aceitar qu ando interpretando um autor da
estatu ra de Marx, de que ele de fato no entendia o q ue fazia . Ele
parece um pouco M . [ourdain, personagem central na pea de Molire Le Bourgeois Gentilhomme, que fica at nto ao descobrir que
Iulara em prosa toda sua vida sem saber que fazia alguma coisa to
elegante. Diferentemente de M. [ourdain, porm, Marx se dedicou a
refu tar a descrio correta do que fazia.
So muitas as razes por que Ma rx se sentia obrigado a negar
que se pudesse falar de justia de modo significativ o e no relativista .
Ele detestava fr ases hipcritas sobre a justia, qu e s serviam para
Icgitimar as terrveis prticas do capitalismo. Ele era tambm ho stil a
concepes morais ou moralizantes do comunismo, considerando-as reacionrias em seus efeitos , se no em suas intenes. Num nvel mais
pro fu ndo, sua atitude explicada pela s razes hegelianas e teleol gieHS de seu pensamento. Ele acreditava que o desenvolvimento hist109
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rico era governado por leis de movimento que operariam com uma
necessidade frrea, de tal forma que a condenao moral seria ineficiente e suprflua. O comunismo no poderia surgir antes que as condies objetivas o permitissem; quando isso acontecesse, o capitalismo
cairia por si mesmo. Enquanto a explorao fosse historicamente necessria, ela permaneceria; quando no o fosse mais, desapareceria.
Em nenhum dos estgios h lugar para restries morais ,
Todas essas concepes so muito pouco plausveis. Elas constituem o que s vezes chamado de socialismo cientfico. de longe a
parte menos cientfica do pensamento de Marx. Para perceber o que
h de errado com elas, podemos comear distinguindo entre os dois
sentidos da expresso "explorao socialmente necessria II. De um
lado, pode-se argumentar que a explorao socialmente necessria s;
uma tentativa de reduzi-la ou elimin-la levar a prejuzos para as proprias pessoas a que supostamente deveria beneficiar. Com menos explorao, os explorados ficariam em pior situao: embora menos
explorados, perderiam em rendimentos ou bem-estar. De outro lado,
a explorao pode ser definida como socialmente necessria quan?o
uma reduo dela puser em perigo a perspectiva de uma futura sociedade comunista , mesmo que melhore o bem-estar dos explorados, A
primeira idia semelhante proposta de Rawls em Uma Teoria da
Justia: desvios da igualdade so tolerveis na medida em que beneficiem ao grupo mais desfavorecido da sociedade , Pode ser necessr io,
por exemplo, pagar mais s pessoas especializadas. a fim de induzi-las
a usar seus talentos socialmente valiosos.
A segunda idia a que Marx abraa, com uma ' nuana, Ele
achava que a explorao necessria em dois sentidos distintos :
inevitvel e indispensvel. Mais que isso, inevitvel porque indispensvel. Ele nunca duvidou do advento do comunismo. E conf iava
em que a explorao era uma condio necessria para o comurusmo.
Assim, podia concluir que ela era, de fato. inevitvel. So diversas as
razes para sua crena em que a explorao levar ao comunismo. A
maioria tem que trabalhar mais que o necessrio para sua subsistncia a fim de assegurar tempo livre para uma minoria criativa . Sem a
explorao , as realizaes artsticas e cientficas do passado teriam
sido impossveis. O desenvolvimento das foras produtivas requer a
operao incessante do motivo do lucro, pelo menos at o ponto em
que esse desenvolvimento mesmo tiver criado as condies materiais
110
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111
o capit alismo, par a obter uma pista do sentido cm que ele pod e ser
injusto. Em segundo, precisamos examinar as afirmaes. menos numerosas, sobre o comunismo, para ver se oferecem uma conce po
positi va da justia .
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Inversamente, pessoas com dotes artsticos ou cientficos extraordinrios podem ter uma vida miservel porq ue, melhor que os outros, percebem o qu anto ficam aqum de seus ideais. Ta is exemplos mostram
apen as que, quando se aplica uma teoria da justia, absurdo buscar
a perfei o de detalhe. Qu alquer tentativa de realizar a perfeita igual.
dade de bem-estar provavelmente fracas sar, por causa dos custos de
uma aferio exata das necessidades individuais.
Resta-nos outra que sto. A anlise que Marx faz do capi talismo
cond ena a explorao apelando para o princpio "a cada um de acordo
com sua contribuio em trabalho ". A anlise que Marx faz do comunismo conden a esse princpio apelando para o princpio "a cada um
de acordo com suas necessidades" . A questo pode ser resolvida imputando a Marx uma teoria em dois nveis, ou hierrq uica, da justia.
A concepo ideal, ou prim eira, a da distribuio conforme s necessidad es. No estgio mais baixo do comuni smo, as pessoas ainda
agiro a partir de motivos egostas. Alm disso, O trabalho ainda ser
forado e oferecer pouca s oportu nidades de aUla-realizao. A implemen tao do princpio da necessidade sob essas condies seria desastrosa, porque ningu m se sentiria motivado ao trabalh o. Haveria de
fato um dilema do prision eiro: todos se beneficiariam se todos trabalhassem, mas, sem uma ligao entre contribuio c retribui o, todo s
prefeririam desistir. Para superar esse problema preciso criar um
elo ent re esforo e retribuio; e isso que o prin cpio da contribui.
o faz. E uma apro ximao pr agmtica, ou a segunda melhor, ao
ideal da igualdade de bem-estar. Promove a igualdad e porque pre screve pagamento igual para trabalho igual , embora viole a igualdad e
admitindo pagamento igual para necessidades desiguais. Se um capi114
talista saudvel ganha uma renda sem trabalhar, isso viola o princpio
da contribuio e no pode ser justificado pelo princpio da necessidade. A explorao condenada tanto pelo melhor quanto pelo segundo melhor princpio da justia distributiva.
A teoria que constru , a partir de alguns textos de Marx, pod e
ser criticada em diversos planos. Pode-se recorrer a outros textos para
dizer que ele no tinha qualquer teoria da justia. J dei as razes
por que no acredito que esse argumento seja decisivo. De modo mais
relevante, possvel discutir a prpri a teori a. E possvel objetar, primeiro, que o princpio da contribuio no nos permite compreender
o que h de errado com a explorao; segundo, que ele no a melhor apro ximao pragmtica ao princpio da necessidade; e terceiro,
que o prprio princpio da necessidade indefensvel.
O princpio da contribuio nos diz que a explorao sempre
e inerent emente injusta. Eis aqui dois contra-e xemplos. Consideremos
cm primeiro lugar uma interao entre dois indivduos que diferem
em dois aspectos. Embora ambos tenham algum capital, um tem mais
que o outro. O que tem menos capital gosta muito de lazer e no
se preocupa com o rendim ento ; o outro tem a prioridade contrria.
Poderia mesmo acontecer qu e o primeiro no utilizasse todo o seu
capital, enquanto o segundo utilizaria todo o seu. O segundo ento
ofereceria para vender sua fora de trabalho ao primeiro. O pobre,
em outras palavras, explora o rico. Seria contrrio s nossas intuies
dizer que o primeiro est agindo de modo censurvel. Esse tipo de
situao provavelmente no acontece com freqncia, mas no impossvel. Demonstra, e creio que conclusivamente, que a explorao
no inerentemente injusta.
O segundo contra-exemplo mais discutvel, mas tambm mais
relevante para problemas reais. Consideremos dua s pessoas qu e tm
os mesmos talentos e quantidade de capital, mas diferem na importncia que atribuem ao consumo presente e ao consumo futuro. Uma delas
tem maior disposio a adiar o consumo que a outra. Aque le indivduo poupar part e de seus ganhos e acumular mais capit al, enquanto o outro gasta todo seu rendimento corrente. Depois de algum
tempo, o primeiro acumulou mais capital que aquilo que pode utilizar
com proveito. Convidar o outro a trabalhar para ele, a um salrio
acima do que ganharia por si mesmo. Ser, em verdade, explorado e da? Para usar a fra se de Robert Nozick , o que h de err ado em
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" atos capitalistas entre adultos que consentem?" Ambos sc bc nc iciam da transa o e ningum prejudicad o. O exemplo sugere que a
explora o legtim a quando as dotaes desiguais de capital tm
uma histria causal "Iim pa ". Casos reais sero menos claros, mas no
creio que se possa destruir o argumento afirmando sua inaplicabilidade ao real.
Esses contra-exemplos no querem dizer que a explorao , no caso
tpico. no seja moralmente censurvel. Nem diminuem a utilidade
daqu ela noo em anli ses histr icas mais amplas. A exp lorao na
histria tem tido quase sempre uma origem causal inteiramente .. suja".
na viol ncia , na coero . ou em oportunidades desiguais . O que os
exemplos mostram que a exp lorao no um conceito moral fundamentaI. A explor ao, quando censur vel, o por cau sa de caractersticas especficas da situao, que nem sempre esto presentes, A
pesquisa futura deve analisar essas caractersticas, sem deixar de estudar a explorao como um caso especial importante.
O princpio da cont ribui o, portan to , no uma boa fer ramenta
pa ra pesqui sas mais finas sobre a moralid ade do capita lismo. Nem
uma aproximao muito boa ao ideal da igualdade de bem-estar.
Um compromisso pragmtico melhor - e que d conta das motivaes egostas da maioria dos indivduos - a proposta de John Rawls
de que as institui es devem ser arranj ad as de modo a melhorar tan to
quanto possvel a situao dos mais desfavorecido s. Ou pode-se advogar a prop osta levemente diferente de que desigualdades de bem-estar
devem ser toleradas na medida em que todos se beneficiem . Amba s
as propos tas correspondem melhor ao esprito da igualdad e de bemestar que o princpio da contribuio . Como este princpio no per- .
mite taxao redistributiva, podc levar a desigualdades de bem-estar
muito grandes. A comparao no deixa de ser um tanto artificial,
porque a descrio de Marx do primeiro estgio do comuni smo muito pouco estruturada para permitir-nos dedu zir como seriam as distribuie s de rend a e de bem-estar. Em relao a qualqu er estrutura
dada, porm, verdade que o prin cpio de Rawls, ou algum princp io
semelha nte, daria melhor aprox imao igualdade de bem-estar .
Tomemos, finalmente , o prin cpio "a cada um de acor do com
suas nece ssidades ". Diz-se algumas vezes que por "satisfao de acordo com as necessidades" Marx qu eria dizer que cada pessoa seria
capaz de satisfazer cada uma de suas necess idades saciedade. Por
116
uma comb inao de abundncia materi al e eliminao de necessidades inerentemente insaciveis , os indiv duos seriam capazes de tomar
o que quisessem , qu an do o quisessem, do fundo comum de ben s. H
alguma evidncia para imputar essa concepo extremament e utpica
a Marx, mas creio que mais plausvel interpretar o princpio da
necessida de como uma afirmao de igualitarismo quanto ao bem-
estar.
Como melhor teo ria da justia . essa viso muito atraente. O
bem-estar aquil o que nos ocupa diret amente ; rendimentos e outros
recursos s importam na medida em que nos proporcionem bem-estar.
H tambm uma suposio geral favorvel igualdade, que deixa o
custo do debate por conta de seus opositores. Existem muitos problemas - de inormao , motivao e custos de deciso - qu e servem
de obstculos bu sca da igualdade irrestrita de bem-estar, mas esses,
pode-se dizer , so irrel evante s para a construo de uma teoria ideal.
Em respo sta, possvel question ar a relevncia de uma teoria que
to ideal que tem que ,abstrair algum as das caractersticas mais fun damen tais da cond io humana, mas no essa a objeo que quero
desenvolver. Quero , antes, apontar para uma con seqncia do igualitaris mo do bem-estar que parece colocar-se contra nossas intuies
ticas. Se algumas pessoas tm desejo s, gostos, prefern cias ou plano s
que tm custo muit o elevado, elas precisaro obter uma qu antidade
despro porcional dos recursos escassos da sociedade.
difcil aceitar
que isso constitua uma alocao justa . Um gosto caro no como
uma deficinci a fsica , pela qual a pessoa deve ser justamente compensada. A sociedade deve reservar-se o direito de advertir a seus
memb ros de que , se desenvolverem gostos caros, no sero capazes de
satisfaz-los na medida necessria para garantir igualdade de bem-estar.
Como resultado, as pessoas culti var o gostos meno s caros, em medida
compatvel com a igualdade de bem-estar para todos . Uma conseq ncia adicional que as pessoas alcanar o nveis mais altos de bemes tar. porque os recursos escassos podero ser utilizados mais efi caz
mente.
BIBLIOGRAFIA
INTRODUO . As melhores anlises da explorao podem ser
encontradas em um livro e diversos artigo s de John Roemer : A Ge117
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118
119
conectar a procura do sobretrabalho com o desenvolvimento das foras produtivas. Ou tra falha, relacionada a essa, que ele no explica
por que os homens teriam um incentivo para mudar as relaes de
propriedade quando e porque as existent es deixam de ser timas para
o desenvolvimento das foras produtivas. Em uma palavra, a inclinao teleolgica de Marx o fez pensar que poderia dispensar os microfundamentos.
O materialismo histrico tem dois lados. De um lado, uma
teoria geral da estrutura e da dinmica de qualquer modo de produo; do outro, uma teoria da seqncia histrica de modos de produo. A primeira diz respeito ao que todos os modos de produo
tm em comum; a segunda, ao que eles tm de diferente.
6
MATERI ALISMO HISTRI CO
INTROD UO
Escravido
Servido
Capitalismo
superestrutura
superestrutura
superestrutura
superestrutura
relaes de
produo
relaes de
produo
relaes de
produo
relaes de
produo
foras
produtivas
foras
produtivas
foras
produtivas
foras
produtivas
MP asitico
Marx tinha uma teoria emprica da histria e uma filosofia especulativ a da histria . A prim eira , que veio a ser conh ecida -como materialismo histrico. um co njunto de generalizaes macrossocio lgicas
sobre as causas da estabi lidade e da modana nas sociedades. A ltima, de inspirao hegeli ana, apresenta um esquema para interpretar
todos os eventos histricos em termos de sua contribuio para a realizao do fim da histria - em ambos os senlidos da expresso. O
comunismo tanto o objetivo da histria como o pon to em que ela
termina. Embora o desenvolvimento c a mudana existam no comunismo, ele no envolve transforma es qualitativas da estru tura social.
A concepo especulati va envolve uma diviso da histria cm
trs estgios: a sociedade pr-classes, a sociedade de classes c a socie dade ps-classes. Em terminologia diferente. os estgios so referidos
como a unidade primitiva, a alienao c a unidade com diferenciao .
O materialismo histrico uma investigao do estgio intermedirio,
as sociedades histricas de classes. O pensamento especulativo, teleolgico interfere com a parte emprica da teoria, especialmente no que
diz respeito concepo d que os sucessivos co njuntos de relaes de
propriedade na histria no so mais qoe instrum ent os para promover a mudana tcnica e, assim, em ltima anlise, para preparar o
ad vento do comunismo. Um grand e hiato, ou falh a, na teoria da histria de Marx que ela no fornece um mecanismo plausvel para
O primeiro dos modos de produo histricos O asitico, baseado na propriedade estatal da terra . Seguem-se as formas mais conhecidas da escravido, servido e capitalismo. Cada um desses modos
de produo tem uma base econmica e uma superestrutura poltica
e ideolgica . Na base econ mica, encontramos as relaes de produo (essencialmente : forma s de propriedade) e as foras produtivas
(essencialmente: tecnologia). Pela grossur a das linha s na tabela , tent ei
indicar O qu anto Marx escreveu sobre esses vrios aspecto s do desenvolvimento histrico. O estudo econmico do capitalismo , em termos puramente quantitativos, de longe a parle mais importante de
seu trabalho. Ele tambm escreveu bastante sobre a poltica e a ideologia do capitalismo e sobre as formaes econmicas pr-capitalistas.
H muito pouco sobre fenmeno s supere struturais em sociedades prcapitalistas.
120
121
O materialismo histrico no simplesmen te uma teori a q ue at ribui um lugar privilegiado a fa tores econ micos. Ele , mais especificamente, uma forma de deter minismo tecnolgico . A ascenso e queda
de sucess ivos regimes de prop riedade so explica das por sua tendncia a promove r ou impedir a mu dana tcnica . Na lin guagem de Marx,
isso se expressa assim . Den tro de cada modo de produ o, d-se inicialme nte uma corr espon dncia entre as relaes de produo e as
foras pro dutiv as. Depois, essa correspondncia se torna um a contradio, que causa uma 1/ poca de revoluo social " e o surgimento
de novas rela es de produo qu e , duran te algum temp o, restabelecem a corres pondncia .
Em termos gera is, as [ocas produtivas podem ser toma das como
tudo o que promove o controle do homem sobre a natureza para a
satisfao de necessidades. (Assim, a tecnologia militar no se incl ui
entre as for as produtivas . Existem formas de determinismo tecnolgico que do iUlportncia fundamental aos meios de destru io, mas '
o de Mar x no um deles.) A tecnologia, a cincia e o talento humano
so as foras produtiva s mais importantes . Muitas vezes Marx inclui
a pura mo-de-obra como fora produt iva , mas isso inconsiste nte
com a teoria geral. O dese::volvimento das foras produtivas medido
pelo grau em qu e, sob condies externas constantes, os mesmos bens
pode m ser produzidos com menos trab alho hu man o. Uma vez qu e as
condies extern as so cambiantes, tal desenvolvimento pode no produzir uma reduo real no tempo de trabalho necessrio e na serv ido
hu mana . A crescente sofisticao tcnica pode ser contraba lana da,
por exemplo, pelo esgotamento de recursos exaurveis. Numa formulao complet a da teoria de Marx devemos levar em considerao
tanto o nivel real de produtividade quanto o nvel hipottico que seria
alcanado sob condies externas constantes.
As relaes de produo so aproximadamente o que na ling ua gem no marxista chamado de direitos de propriedade, com algumas nu anas. Incluem apenas a propriedade de foras produ tivas. A
presena de escravos domsticos, por exem plo, no suficiente para
criar as relaes de pro duo caractersticas da escrav ido, porque
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tais escravos so bens de consumo e no recursos produtivos. As relaes de produo tambm no tm que tomar a forma de propriedade
jurdica, amparada pelo poder do Estado . Em sociedades com um poder central fraco, as relaes de prod uo podem eq uiva ler ao simples
con trole efetivo, fundado na violncia privada ou numa ideologia
domina nte, qu e impede os outros de tom-lo, ou mesmo de querer
tom-lo.
Para descreve r as relaes de produo nu ma sociedade dada.
devemos conhecer as respostas s seguintes perguntas. So os produtores imediatos parcial ou totalmente donos de sua prpria fora de
trabalho? So eles parci al ou totalmente donos dos outros meios de
produo que no o trabalho? Se no, o dono um indiv duo ou
uma coletivdade? Respostas s dua s primeiras pergunta s nos perm item distinguir en tre escravido, servido, produo simples de mercadorias e capitalismo. A resposta ltima nos perm ite distin guir tambm en tre a servido e o modo de produo asitico , ou entre o capitalismo privado e o capitalis mo de Estado . As relaes de produo
so tambm o que distingue um modo de pro duo de outro .
Um conjunto de relae s de produo corresponde s foras produtivas quando otimamente adequado a desenvolv-las. Mas no
existe conjunto de relaes de produo que seja timo para o desenvolvimento das fora s produtivas sob quaisquer condi es . Aquelas
relaes que so de fato tima s dependem de circunstncias histri cas especficas. Numa prime ira aproximao , podemos dizer qu e o
nvel de desenvol vimento das toras produtivas determ ina as relaes
que so timas para seu desenvolvimento continuado. Isso no muito
preciso , porm. Consideremos a razo por que o comunismo , segundo
Marx, se tornar eventualmente um quadro de referncias superior
para o desenvolvimento das fora s prod utiva s. As condies materi ais
criadas pelo capitalismo permitiro, sob condies comunistas, a autorealizao plena e livre do indiv duo e, paralelamente, um a expa nso
sem precedentes das fora s produtivas. Essas condies materiais incluem um amplo excedente que torna o tra balho uma que sto de livre
escolha e no mais um sacrifcio necessrio. Elas no podem, porta nto, ser for muladas em termos de desenvolvimento das foras pro dut ivas, porque um alto nvel de seu desenvolvimento compatvel
com um bai xo nvel de produtividad e real.
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125
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produo , no possvel supor, sem mais aquela, que ela ser atendid a. Homens no so marionetes da histria ; eles agem por objetivos
e mo tivo s prp rios.
Quando nos voltamos para os esc ritos de Marx sobre os modo s
de produo histricos, eles no aplicam nem clari ficam a teoria geraI. No h qu alque r sugesto de que cad a um dos trs modos de produo pr-cap italistas se divida em um estgio progressivo, cm que
as relaes de produ o cor respondem s foras pro dutivas , c um
estgio regressivo , em que a correspondncia se torna uma contradio. Ao contrrio, Marx afirma repetidamente que a tecnologia estava
estacion ria desde a antiguidade at o incio da era moderna. com
exceo da inveno da plvora, da imprensa e da bssola. O elemento desestabili zador no mund o antigo no fora o desenvo lvimento
das foras pro dutivas, mas o crescimento da popul ao . Em certos
momentos, Marx par ece ter concebido a pop ulao como fora produti va, de tal for ma que seu crescimento pudesse ser considera do uma
instncia do desenvolvimento das foras produtivas, mas isso clarament e incon sistente com a teoria geral. O cresci mento da populao
no leva a um aum ento da produo per capita, embora possa levar a
um aum ento da produo total (e do excede nte tota l).
A nar rativa de Marx sobre a tr ansio do feuda lismo ao capitalismo muito complexa, mas tambm parece inconsistente com a
teoria geral. Um resumo tentativo de seu pensamento , ou ao menos
um de seus fios, pode ser o seguinte. Em algum momento, no sculo
XVI ou XVII , as economias europias mudaram enormemente em
relao ao perodo medieval. O crescimento da popula o, a descoberta do Novo Mundo, a inveno de modernas tcnica s de guerra,
juntamente com a destruio do pod er militar da nobre za feudal , foram as causas principai s dessa transformao . Nessa nova constelao ,
mercadores e produtores descobriram que poderiam aumentar o excedent e organizando a produo numa base capitalista. As condies necessrias eram, de um lado , a criao de um proletariado livre e sem
terr as e, de out ro, a acumulao de capital a part ir das atividades
ultramarin as. A extrao do excedente teve lugar essencialmente pelo
rebaixamento dos salrios reais, pelo aumento da intensidade do trabalho e pela extenso da jornada de trabalho . Para esses propsitos,
a efici ncia mxima cons istia em reunir os trabalhadores num mesmo
lugar, a fbrica. Uma vez criada, essa instit uio tambm se prestou
Nessa descrio, o desenvolvimen to das for as pro dutivas desempenha apenas um papel tercirio . As transformaes prvias da economia, que tornaram timas as relaes capitalistas. no incluam a
mudana tcnica, exceo feita a aperfeioamen tos nos modos de destruio. Alm disso, as relaes capitalistas no foram introd uzidas
por serem timas para o desenvo lvimento das foras produtiva s, mas
porque permitiam maior excede nte a um determinado nvel tcnico.
Essa uma explicao mais plausvel que a teoria geral, porque fornece um vnculo imediato com a motivao dos agentes econ micos
individuais. mas no , repito, consi stente com ela. O desenvolvimento das foras prod utivas ocor re apenas como produto acessr io da
introduo das relaes capitalistas e no na explicao de por que
elas foram introduzidas.'
Consideremos, finalmente, a narrat iva de Marx sobre a futura
transio ?Ocapitalismo ao comuni smo, Nesse caso , a teoria gera l se
torna especialmente impl ausvel. Por insistir em que a muda na tcnica no capitalismo estava em acelera o e no em desacelerao,
Marx no podia argumentar que o capitalismo estivesse moribundo
pela estagnao. Ao contrrio, ele tinha que argument ar que os trabalh adore s seria m motivados pela per spectiva de uma sociedade comuni sta que permit Iria a mudana tcnica a taxas ainda mais altas.
De acordo com teorias correntes da revolu o (c tambm com o senso
comum) , essa motiva o altamente improvvel. As pessoas se revoltam quando as coisas pioram ou quando suas expectativas de progresso no se realizam, ou quando ambas as condies se do simultaneamente; mas quando as coisas vo bem elas no tomaro em
armas simplesmente por causa da possibilidade abstrata de uma sociedade em que as coisas poderiam ser ainda melhor es.
H dua s sugestes em Marx sobre como supera r esse problema.
3 . E preciso acrescentar uma modificao. Um modo pelo qual a organizao capitalista da produo aumentou o excedente foi a explorao de
economias de escala, tanto na agricultura como na indstria. Embora isso no
constitua o que normalmente consideramos como mudana tcnica, cria pelo
menos um vnculo entre a introduo de relaes capitalistas e aumentos cc
produtividade.
127
126
_ _____JL~_~_~~
______I
Uma consis te cm apagar a segunda metad e do requi stto de que o comunismo surgir fi quando c porque" mais adequado para o desenvolvimento ulterior das foras produtivas. Marx poderia argumentar
que a revol uo comunista ser causada por alguma coisa diferent e
da contradio entre fora s e relaes de produo, ma s coincidente
no tempo com a emergncia dessa contrad io . O debate teric o c n
experincia hi strica sugerem a improb abilida de dessa feliz coinc idncia. Na fra se de Trot sky, "a con struo das sociedades no to
racional que a data da ditad ura do pro letariado chegue no mesm o
momento cm que as co ndies eco nmicas e culturais estejam maduras para o socialismo ". Em verdade, o opo sto que parece mais provve1. Para ser campo para a revoluo, uma socieda de deve ser to
atrasad a que qualquer revo luo, se acontecesse, seria prematura do
pon to de vis ta do desenv olviment o das tora s produ tivas.
. ,,
"
A segunda sugesto que o comunismo surge quando o capitalismo se torna ineficiente cm relao no ao desenvolv imento das
foras produtivas, mas ao seu uso . As fora s prod utiva s so ma l ut ilizadas quan do os trabalhadores esto desempregados, as mqo inas
esto paradas e os bens produzidos no encontram demanda cfctiva.
Embora a teoria geral no apresente a descri o de tai s fen menos
como uma contradio entre foras pr oduti vas c relaes de produo . Marx se referiu a eles nesse sentido e os invocou em sua teoria
do iminente desaparecim ento do cap itali smo . A objco a esse procedim ento de que no h gar antia de que uma sociedade em que as
foras produtivas sejam utilizadas de modo mais efic iente tambm permita seu mai or desenvolvimen to. Em verdade, Joseph Schu mpeter argumentou que a eficincia dinmica do capi talismo inseparvel de
sua ineficincia esttica , de tal forma que q ualquer tent ativa de reduzir o desper dcio e a irracionalidade do cap italismo tambm o tornar
mais lento .
A questo fundamental diz respeito , obviamente, s razes que
temos para pensar que uma soc iedade comunista seria superior ao
capi talismo no que diz respeito mud an a tcn ica . O processo de
inovao pode ser div idido em dois estgios. Primeiro, urna busca de
novas tcnic as e mtodos; de pois, a seleo de uma da s tc nicas suo
geridas pela bu sca (ou a reteno da antiga tc nica se nenhu ma t cnica melhor for encontrada) . Marx dizia qu e o capitali smo era consistentemente inferio r ao comunis mo em relao ao segundo estgio,
128
porque o moti vo do lucro levar ia os capitalistas rejeiao de in ovaes socialmente desejveis . Ele acredi tava que at cer~o ~onto ~ ~a
pitalismo era superior ao comun ismo em relao ~o ~rImelro estagl~ .
O motivo do lucro um meio de gerar mudana tecm ca . A auto-real izao livre e espontnea outro. Esta lt ima , quando vi~e l , supe rior mas s se torna vivel a um alto nvel de desenvolvime nto das
for'as produtivas, quand o os homens esto j livres d~ nece ssi.dade.
Antes que esse nvel seja atingido , o capitalismo super ior pela ntensidade da busca e, dado que esse o estgio dominante no proces so,
superior em relao ao res ultado lquido dos dois estgios.
Schumpeter aceitava o pont o de vista de Marx em relao eficincia do comunismo quanto seleo, mas o rejeitava em relao
sua eficincia na busca. Hoje, parece mais razove l rejeitar as duas
partes da formulao de Marx . A experincia dos pases comunistas
sugere que eles so desajeitados e inefici ent es tanto em faz~r uso do
conheciment o produtivo que possuem qu ant o no desenvolviment o de
novos conhecimentos . Para pensar de forma dife rente. teramos que
acreditar que o comunismo foi introduzido prematuramente nesses
pases e que a experincia histrica no constitui uma obj: o a u~a
teoria cuja premissa central de que ele no d: ve . ser mt~oduzldo
antes que sua superioridade com relao_ ao .capltahsm? se~ a alc~n.
ada ou este ja ao alcance . Essa ob serva o , ainda q~e l1lega~el, fic a
sem efe ito na med ida em que no se apresen tem shdas razoes para
acreditar que existe um nvel das foras produtivas em que o capitaIismo deixa de ser tirno para seu desen volvim ento continuado .
\30
em termo s de seu impacto sobre as foras produtivas, deve a explicao de sua persistncia ser buscada na superestrutura? Isso pareceria
contradizer a concepo de que a superestrutura explicada pelo seu
impacto sobre as rela es de produo. Ou deveramos dizer qu e relaes de produ o no func iona is so explicadas pelo fato de que alguma v ez foram funcionais da mesma fo rma qu e propriedade s no funcionais de organismos so explicadas pelo fato de ter em sido funci onais num ambiente anterior e diferente? Essa resposta gera uma desana/agia en tre biologia e histria : no h foras que resistam ativamente adaptao em biologia, como a superestru tura na sociedade.
Ou deveramos dizer qu e c existncia de um a superestrutura que explica a persi stncia de relaes de produo no funcionais ela. ~r.
pria explicad a pelo fato de que surgiu anteriorm ent e par a estabilizar
relaes de produo que, naquele momento, eram independentemente
explicadas por seu impacto na s fora s pr odutivas? E qu e a superestrutura. a partir de certo ponto, mantm vivo o que a mantinha viva ?
Isso, novamente, daria um papel mais independente superestrutura
do que possvel dentro da teori a. A resposta marxista tende a ser
que a superestrutura mais fraca "a longo prazo"; ela no pode manter artificialmente vivo pata sempre o qu e perdeu o direito vida.
Na falta de uma teo ria que circ unscreva os lim ites do lon go prazo .
essa afirmao infal sificvel e . portanto. no cient fica .
Na interpre tao qu e Cohen faz de Marx , o fato de que a superestr utu ra tenha um impac to causa l na base no exclui que a primeira
possa ser exp licada pela ltim a. Se pudesse ser demons trado. no exem plo de Weber. qu e o protestanti smo surg iu ou pers istiu po r causa de
seu impac to favo rve l sobre as rel aes de produo cap itali stas, ele
seria exp licado por fatos econmicos para alm dele mesmo. Donde
o desacordo entre Marx e Weber no precisaria ex istir: exerceu o
prote sta ntismo uma infl uncia causal sobre o cap italismo . ou foi o
contrrio? Poderia em vez disso ser: dado que o protestant ismo teve
um imp acto causal sobre o capitalismo , deve ele sua emergncia ou
persistncia a esse impacto?
Para aferir essa concepo, devemos primeiro decid ir o que entendemos por l/supe restrutura"; Primeiro , podemos nela inclui r todos
os fenmenos que podem ser funcionalmente explicad os por seu imo
pacto estabilizador sobre as rela es de produo. Antes da investi~a.
co emprica, a superestrutura pode. tanto quanto sabemos. ser vazia.
13 1
Ou pode vir a incluir tudo o que no econormco , como nas explicaes um tanto paranicas de alguns marxistas que explicaram os
fenmenos mais improvveis - desde o compo rtamento criminoso at
as doutrinas de outros marxistas direita ou esquerda - por seu
impacto estabilizador sobre a dominao capitalista.
Em segundo lugar , a superestrutura pode ser def inida como o
conjunto de fenme nos que pod em ser explicados - cm termos fu ncionais ou em quaisquer outros - em termos da estrutura econmica
da sociedade . Alm dos fen menos cobertos pela prim eira definio,
esta incluiria fatos co mo os seguintes. Algumas vezes a distribuio
do poder po ltico deriva de modo imedi ato c transparente da distr ibuio de recursos eco nmicos: a classe eco nomicamente dominante
concent ra o pode r polt ico em suas prprias mo s. Talvez sur preendentemente, esse arranjo pode ser contrriu ao interesse dessa classe.
Se ela cair na tentao da ambio de curto prazo, pode solapar seu
poder econmico por ab uso de seu poder pol tico . Esse foi o pad ro,
por exemplo , da poltica na Roma antiga, onde os poderosos proprietr ios-senadores usavam das rendas pblicas como fonte adicional de
rendimen tos, a expensas dos bens p blicos e da defesa. Emb ora esse
arranjo no fosse timo para as relaes de produo. ainda ex plicado por elas . Consideremos outro exemplo , o da tend ncia das crenas distoro pelo int eresse de classe ou pela posio de classe.
Quando as vtimas dessa tendncia so membros da classe econ micamente dominante . suas cren as distorcidas. embora exp licadas pela s
relaes de produo, no as refo ram. Na fra se do historiador fra nc s
Paul Veyn e, crenas nascidas da paixo servem mal iI paixo .
Em ter ceiro lugar , podemo s simplesmente defin ir a superestrutura como O conjunto dos fenmenos no econmicos. Esse procedimento insati sfat rio , pois facilmente se presta ao equvoco verbal.
Pode-se, por exemplo, primeiro defini r um fenmeno como superestrutural, dad o q ue ele n o econmico, e depois simplesmente supo r
que ele pode ser explicado por fenmenos econmicos po rque a superestrutura deve ser sus tent ada por algum a coi sa de mais fundamen tal,
a baseeconmica. Se ad otarmos essa defi nio, devemos pelo me nos
cuidar de no prejulgar a questo de se os fenmenos superestruturais
depen dem da ba se econ mi ca.
Dessas, creio que a segunda defin io est mais de acordo com
a tradio marxista. Se pudermos demonstrar que um conjunto de cren132
as amplamente aceitas surge diretamente de certos interesses econmicos, mesmo se aquelas crenas no servirem a estes ltimos , a
maioria dos marxista s os relegaria sup erestrut ura. Algumas vezes
essa definio anda ju nto com a con cepo segundo a qual a superestru tura assim definida exaure todos os fenmenos no eeonmicos. O
contraste com a pri me ira defi nio, adotada po r Cohen, no ape nas
uma que sto de palavras. A questo substantiva importante envolvida
est em saber se h fenmenos que ca bem na segunda definio mas
no na primeira. Se no h, a explicao funcional ser de fato central ao ma rxismo , como que r Cohen . Se h, como parece inegvel, ela
no pode ser tida com o a forma pri vilegiada de explicao ' no ma terialismo hi strico.
Um probl ema conc eitu ai sur ge no modo de produo asitico e,
de maneira ma is gera l. em qualquer sociedade em que a burocracia
estatal for a pr incipal classe exploradora. Aq ui , as relaes de produo parecem coincidir imed iatamente com as relaes pol ticas "renda e taxa coincidem" - de tal forma que difc il ver como a
ltima pod eria ser exp licada pela primeira. Uma cau sa e seu efeito
devem ser entidades diferentes. Dad o que Marx escreveu to pouco
sobre fenmenos superestruturais em sociedades pr-capitalistas, impossvel reconstruir uma resposta a este enigma a partir de sua obra.
O que mai s provvel que no haja resposta. A teoria da bas e e
da superestru tura um a generalizao a partir de sociedades em que
essa relao pelo menos faz sentido (o que no quer dizer que seja
verdadeira) para out ras sociedades sobre as quais ela no pode nem
ao menos ser for mulada ' de modo coerente .
Mar x viveu e escreveu numa sociedade em que atividades econmicas e politicas eram extremamente dissociadas. Na Inglaterra de
meados do sculo XIX essas atividades eram desempenhadas por dois
conjuntos distintos de pessoas : os trab alhadores no votavam e os capitalistas tinham pouco interesse na politica. De modo semelhante , na
antiga Atenas os escravos estavam, claro, excludos da poltica,
assim como os estrangeiros responsveis pelo comrcio. Em tais sociedades, a distino base-superestru tura imediatamente significativa .
Tambm faz algum sentido, embora mais tnue, em socie dades ond e
as mesmas pessoas esto envolv idas tanto na economia como na poltica. mas em diferente s papis sociais . Nas sociedades cap ta lista s modernas . pode-se ser um trabalha dor e tambm um eleitor, um empre133
ESTGIOS DO DESENVOLVIMENTO
HIS TRICO
Par a impo r certa ordem na aparncia catica da mudana histrica, tentador assimil-la a outros fenm enos conhecidos. As metforas orgnicas de' nascimento, crescimento, maturidade , decadncia e
morte se apresentam imediatamente. Da mesma forma, vrias analogias geomtricas. que nos permitem ver a histria como linear, circular ou espiral. A linha est subjacente a imagens da histria baseadas no progresso con stante e ininterrupto. O circulo corresponde a
vises do eterno retorno , ascenso e queda de imprios num ciclo
imutvel. A espiral uma noo mais complexa. Envolve a idia de
um ciclo sobreposto a uma tendncia linear, da histria que se repete
em nvei s cad a vez mai s alto s. O model o linear pode ser resumido
como "um passo adiante e outro passo adiante"; o circular como
" um passo adiante, um passo atrs". Dependendo da perspectiva adotada, a espiral pode ser entendida como "um pa sso atrs, doi s pa ssos frente", ou "dois passos frente, um passo atrs"..
Na prtica dos escritores do sculo XIX, essas analogias ti veram
uma influncia desastrosa. Elas desviaram a ateno da tarefa de .fundamentar os processos histricos nas aes e motivaes de homens
individ uais e, em lugar disso, se detiveram em modos de encaixar
essas mudanas em algum padro ma is amplo. Tornaram legtimo explicar a histria a partir de cima e no a partir de ba ixo . Isso no quer
dizer que no exis tam tais padres na histria, mas que, se eles existirem, preciso mostrar que no resultam de meras coincidncias.
pr eciso demonstrar que esses padres devem surgir, sob ampla gama
de circunstncias, como conseqncias no intenciona is do comportamento de indivduos que agem em funo de objetivos prprios."Os
padres devem ser expli cad os: eles no explicam nada .
134
dida sugerida por Marx, o capitalismo teria constitudo um desenvolvimento mais provvel. Marx tambm no explica por que a escravido deu lugar servido . Note-se que ele no enfre nta a questo
da decadncia do mundo antigo, As propos ies gerais do mat erialismo histrico implicam, cla ro, que a escravido desapareceu qu ando
e porque se tornou inferior servido para o desenvolvimento das
foras pro dutivas, mas nem Marx nem qualquer historiador marxista,
da . era moderna, (como Marx tambm reconhece em outra passagem) por causa da interveno ativa do Estado, e no como uma conseqncia mais ou menos automtica do comrcio externo .
Tambm permanece como enigma que a seqnc ia tivesse que
um tod o no
das dua s senuma ord em
que ocorrer
nos claro se ele pensava que cada pas ou Estado -nao tinha que seguir a seqncia completa, ou se admitia a possibilidade de que alguns
pases pudessem aproveita r as " vantagens do atraso ", saltando um ou
mais estgios. De um lado, h uma passagem, em um dos prefcios ao
primeiro volume de O Capital, onde ele diz que " o pas que industrialmente mais avanado apenas mostra. ao menos desenvolvid o, a
imagem de seu fu turo ". De out ro, h sua sugesto, prximo ao fim
de sua vida, de que a Rssia poderia ser capaz de construir o comunismo diretamente da base do sistema comunitrio das aldeias, sem
passa r pelo purgatrio cap italista. A Rssia poderia empregar a tecnologia desenvolvida pelos pases capitalistas sem ter que seguir seus
passos.
A lio derivada de casos de sucesso ou fracasso no desenvolvimento econ mico no sculo passado parece ser a de que a posio
cria um a difere na que torna a simp les repetio improvvel. No en tanto, difcil negar qu e os pa ses desenvolv idos qu e obt ivera m ma is
sucesso seguiram o caminho de um irrestrito capitalismo de laissezfaire - caminho que a seu tem po lhes torn ar possvel dispensar
esse sistem a . Se h qu alqu er outro cam inho , nenhum pa s ainda o
encontrou .
BIBLIOGR A FI A
INTRODUO . A melhor exposio do ma terialismo histrico
, de longe , G. A. Cohe n , Karl Marx 's T heory of History (Oxford
Universi ty Press, 1978) , q ue sup era todos os tratamentos anteriores .
O DESENVO LVI MENT O DAS FO RAS PROD UTIVAS. A
apresent ao de Cohen da funo explanatria da s fora s pr odutiva s
pod e ser ut ilmen te comp lemen tad a por r . van Parijs, " Marxi sm' s Centrai Puzzle", in T. Ball e J. Farr (or gs.), A l ter Marx (Cambridge Univer sity Press. 1984), pp . 88-104 . Sobre a relao en tre desenvolvimen to das for as produtivas e crescimento da pop ulao , ver E . Boser up, Population and Technological Change (University of Chicago
Press, 1981) . S. Marglin, "What Do Bosses Do ?", in A. Gorz (org.),
The Division oi Labour ' (Longman , 1976 ), pp . 13-54 , apresenta a
transio para o capitalismo enfatizando mais a extra o do exceden te
que a muda na tcni ca. Um bom resumo e discu sso das conce pes
de T rot sky B. Knei-P az, T he Social and Politicai Th ought 01 Leon
T rotsk y (Ox ford Universi ty Press, 1977). Uma boa discusso das condies econrnicas da revo luo a de J. Dav ies, "Towards a Theo ry
of Revolution ", A merican Socio logical Review , 27 (1962): 1-19.
Crtica
(N. do E.)
138
da d iviso
do
1980.
_________l_~
139
tarde, a acumulao da evidncia contrria crena forar um reajuste entre necessidades e desejos.
A teoria das classes de Marx comea com certo conjunto de interesses objetivamente definidos, criados por relaes de explorao e
dominao na produo. Em termos objetivos, as pessoas tm interesse
em no ser exploradas nem dominadas . Para a maioria delas, esse
interesse s6 pode ser realizado pela ao coletiva. O progresso individual pela mobilidade ascendente uma opo para alguns, mas no
para a grande maioria. A teoria aborda em primeiro lugar, ainda que
de modo sucinto, a questo de por que alguns interesses objetivos
so subjetivamente percebidos, e outros no. Investiga ento, de modo
mais extenso, pessoas que subiram da terceira para a segunda categoria e desta para a primeira. Em conjunto, essas anlises constituem
7
CONSClf:NClA DE CLASSE
E LUTA DE CLASSES
IN T R OD U O
Dizer que as pessoas tm interesse em melhorar. sua
s~tu~~ ~
um trusmo. As estratgias de que elas dispem para ISSO sao individuais e coletiv as. Consideremos os casos em 'que as situae s s podem
ser melhoradas pela criao de bens p blicos que esto fora do a!cance do esforo individual. Em qualquer sociedade existem grupos organizados para promover os interesses de seus membros. Existiro.. tambm muitos indivduos eom fortes interesses em algum bem pblieo
ou ;O coletiva que, por diversas razes, no so capazes de unir-se
Desses, o segundo grupo de pessoas forma uma categoria instvel. Se forem incapazes de elevar-se ao primeiro, tendero a afundar
no terceiro. A longo prazo, psicologicamente difcil manter um forte
desejo por alguma coisa manifestamente fora de alcance. A tenso habitualmente se resolve pela reduo dos nveis de aspirao e pelo
Em seguida, a teoria aborda o problema da luta de classes. Quando h diversas classes organizadas com interesses opostos, qual ser
o resultado de seu enfrentamento? Marx acreditava que esse o problema central na compreenso da mudana social, porque, em ltima
anlise, pensava, todo conflito social se reduz luta de classes. Uma
verso crua dessa proposio a de que s6 os interesses de classe so
capazes de cristalizar-se em grupos de interesse organizado . luz da
importncia continuada de movimentos sociais religiosos, tnicos, na-
cionais e Iingsticos, essa verso no pode ser defendida . Outras verses mais sofisticadas tambm no so vlidas. Embora a centralidade
da luta de classes na mudana social no possa ser defendida como
proposio geral, ela era plausvel na poca e no contexto de Marx.
Sua teoria da luta de classes na Europa de meados do sculo XIX
uma de suas principais realizaes. especialmente quando relacionada,
de um lado, sua teoria da explorao c, de outro, sua teoria do
Estado capitalista.
O CONCEITO DE CLASSE
110
Marx nunca disse com todas as letra s o que entendia por classe.
entanto possvel reconstruir uma definio a partir de seus escri-
tox, levando em conta 05 grupos a que ele se refere como classes, aqueI ', que ele diz explicitamente que no so classes, e o prop6sito que
141
o conceito tem em sua teoria mais ampla. Em particular, sua concepo de que as classes so as unidades bsicas no conflito social requer
uma definio que chega a um nmero pequeno, determinado e no
arbitrrio de classes. As classes no podem ser definidas por cortes
arbitrrios numa escala contnua: elas tm uma existncia real como
grupos de interesse organizados e no como meras construes do
observador. Por outro lado, classe no pode ser reduzida a uma oposio dicotmica entre os que tm e os que no tm, ou exploradores
e explorados.
essencial abordagem de Marx que o nmero de
classes, embora pequeno, seja maior que dois, porque de outra forma
no haveria lugar para as alianas de classes, que desempenham papel
importante em sua teoria da luta de classes.
H cerca de quinze grupos a que Marx se refere como classes:
burocratas e teocratas no modo de ' produo asitico; homens livres,
escravos, plebeus e patrcios na escravido; senhor, servo, mestre de
guilda e arteso no feudalismo; capitalista industrial, capitalista finan ceiro, senhor de terras, campons; pequeno-burgus e trabalhador assalariado no capitalismo . No podemos, porm , definir o conceito de
classe com essa enumerao . Para decidir se os exemplos formam um
conjunto coerente, precisamos de uma definio geral. Queremos tambm ser capazes de aplicar o conceito a outras sociedades, diferentes
daquelas estudadas por Marx . Em relao s que ele estudou, precisamos saber 'se sua enumerao das classes exaustiva ou se poderiam existir outras alm das que ele cita . Em uma palavra. precisamos
saber em virtude de que propriedade esses grupos constituem classes.
distintas s pode ser considerada como um lapso.' Ainda que a maioria dos plebeus fosse pobre, alguns deles no poderiam ser distinguidos dos patrcios em termos econmicos.
Na cincia social contempornea, renda, ocupao e status so
os conceitos centrais para o estudo da estratificao social. Esse fato
no implica qualquer inconsistncia com o marxismo, porque a teoria
da .estratificao e a teoria das classes tm propsitos diferentes. Esta
ltima aborda a questo de que grupos organizados sero os atares
principais na ao coletiva e no conflito social; a primeira, porque os
indivduos diferem em termos de desvio, consumo, sade ou hbitos
de casamento. Essa distino ao menos vlida em relao ao prprio Marx, que no tinha uma teoria sociolgica no sentido moderno
da expresso. Em sua dissecao do capitalismo, o foco estava quase
exclusivamente em fenmenos econmicos e polticos, a expensas da
textura e eventos da vida cotidiana fora do lugar de trabalho. Tentativas posteriores de criar uma sociologia marxista baseada no conceito
de classe se dedicam s mesmas questes da teoria da estratificao.
Na medida em que os objetivos das duas abordagens se superpem,
elas so, de fato, incompatveis, pelo menos se cada uma delas tiver a
pretenso de dar a explicao completa dos fenmenos em estudo.
Tendo rejeitado renda, ocupao e status como critrios de classe,
quatro definies mais plausveis devem ser consideradas: propriedade, explorao, comportamento de mercado e dominao. Todos j
foram seriamente propostos por seguidores ou estudiosos de Marx.
Com exceo da explorao, todos so .elementos necessrios na definio final reconstruda. A tarefa de reconstruo difcil por causa
da variedade de sistemas econmicos a que deve ser aplicada. De um
lado, deve funcionar to bem em economias de mercado quanto em
economias sem mercado; de outro, deve ser aplicvel tanto a sociedades em que os meios de produo so individualmente apropriados
quanto a sociedades em que a regra a propriedade corporativa pela Igreja, pelo Estado ou pela moderna grande corporao. Come-
5 . Outro lapso na lista a incluso dos homens livres como uma classe
separada. A noo est incompleta, na medida em que no especifica a relao do homem livre com os outros meios de produo que no sua fora de
trabalho. Isso feito, a categoria se divide entre senhores de escravos, produtores independentes e os sem propriedade - trs classes distintas em vez de uma.
143
cernas pelo caso que mais ocupou o prprio Marx: economias de mero
cada com propri edade individual dos meios de produo.
A pertinncia a uma classe em geral definida pela propriedade
ou no dos meios de produo. Para os objetivos de Marx, essa definio no pode ser completa, embora seja uma parte importa nte. Dependendo de como ela entendida, pode ser muito grossa ou muito
fina. B muito grossa se todos os agentes que possuem alguns meios
de produ o alm de sua prpria fora do trabalho forem includos
na mesma classe. porque isso no permitiria distinguir entre senhor
6. Se o altos execu tivo s da corporao recebem a es alm de seu salrio tornando-se assim co-p ropriet rios, a anlise marxista cl ssica perm anece
apcve1, ainda que com certa tenso. Q~ando ,a propriedade a locad~ c?m?,
um incentivo ao dese mpenho, para reduzir o . problema do agente princ ipal
que de outra maneira asso laria a grande corporao, ela n~o pode mais ser
invocada como varivel independente defi nidora da posio de classe.
146
CONSClf!;NCIA DE CLASSE
O conceito de classe, tal como foi definido, press upe que h
interao entre membros de classes diferentes, por tra nsferncia de
excedente ou de ordens. No pressupe interao entre membros de
uma classe dada ou uma conscincia de interesses comuns. A teoria da
. conscincia de classe tenta explicar sob que condies memb ros de
uma classe se tornam conscientes de que tm situa o e interesses
comuns e, alm disso, so capazes de organizar-se para a defesa coletiva desses interesses. No caso, a expresso l/teoria" forte demais.
Marx fez alguns comentrios sobre a emergncia da conscincia de
classe entre os operrios ingleses e a falta dela entre o campesinato
rancs . Ele tambm afi rmou, embora muito ambiguamente , que o
Estado capitalista uma expresso da conscincia de classe capitalista.
147
proletariado urban o, enqu anto antes tinham encontrado um aliado natura l na burguesia. Subjetivamente , eram incapazes de ultrapassar a
antiga concepo, superada, de seus interesses.
Marx era um tan to mais otimista em relao capacidade de os
operrios ingleses formarem uma concepo adequada de seus interesses. Mas ele tambm se frustrava por sua falta de uma conscincia
de classe revolucionria, que imput ava em parte sua falta de compreenso de seus interesses reais. Por volta de 1850, depois do colapso
do movimento cartista, ele explicava a confuso pelo fato de que os
trabalhadores lutavam numa guerra de duas frentes. Como os capitalistas no tomaram diretamente o poder pol tico , mas deixaram seu
exerccio aos aristocratas agrrios . os operrios se co nfundiram sobre
sugere que, se no fosse pela presena dos irlandeses, os trabalhadores ingleses teriam sido capazes de perceber seu interesse real e seu
inimigo real. Tendo algum abaixo deles para desprezar, distra ramse do inimigo principal.
A verso de Marx das duas questes era excessivamente funcionalista (ou conspiratria) . Ele sugere que a presena de um governo
separado do capital e a presena de clivagens intern as na classe trabalhadora poderiam ser explicadas pelo fato de que forn eciam um praraios para atrair o dio dos trabalhadores e distra f-los em relao ao
capital. ); possvel reter os argumentos, porm, sem apelar para esses
supostos. O segundo pode ser reformulado sem qualquer referncia
aos interesses do capital e apena s em termos da psicologia da classe
trabalhadora. A frustrao mental e a tenso geradas por um estado
de subordinao so diludas quando traamos a principal linh a divisria da sociedade abaixo e no acima de ns mesmos. Num eco do
quiconque est maltre ne peut tre libre, de Rousseau, Marx escreve
que " um povo que subjuga outro povo forja seus prprio s grilhes".
149
151
152
153
resses diametra lmente opostos. Ainda que Marx espera sse que a luta
de classes se desenvolvesse nessa d reo, o confronto entre capitalistas e trabalhadores em seu tempo tinha objetivos mais imediatos. Sem
discut ir a organi zao capitalista de produo, os trab alhadores exigiam salrios mais altos e melhore s condi es de trabalho - como
hoje. Nesse quadro , trabalhado res e capitalistas tm alguns interesses
comun s. Embora tenham interesses opostos em relao diviso do
produto social, ambos tm interes se em aument-lo. Da, por exemplo,
que as greves e os /ockouts sejam facas de dois gumes na luta de classes, porque provocam perda de produo. Em certa medida , eles tm
interesse s superpostos em relao a como dividi r o bolo social. Capitalistas tm interesse em limitar sua ambio de curto pra zo e em evitar
a superexplorao dos trabalhadores; os trabalhadores tm intere sse
em evitar reivindicaes salariais exce ssivas, porque aumentos salariais futuros dependem de que os capitalistas tenham uma sobra para
lucro e reinvestimento. Marx reconhecia essas interdependncias de
intere sses, embora em seu trabalho elas ocupem um segundo lugar em
relao ao conflito de interesse s.
Os capita listas vivem do excedente criado pelos trabalhadores.
Marx insistia, porm, em que eles tambm ,foram a cria o do exceden te que apropriam . Em sua funo empre saria l, so como interme di rios que renem pessoas com talentos complementares , tornando-as
assim mais produtivas do que seriam isoladamente. Embora no tenham direito de apropriar o excedente que incentivam a prod uzir,
verdade que, nas palavras de Marx, eles " ajudam a criar o que ser
ded uzido" . Por oposio, diz Marx, senhores de terras, capitalistas
financeiros ou burocratas no tm nem mesmo essa funo produtiva
indireta. No so mais que para sitas. Porta nto, h um conflito que
ope tra balhadores e capita listas industriais, de um lado, s classes
que no tm qualquer contri buio para o prod uto social lquido, de
outro. Os dois blocos so totalmente opostos, sem quaisquer interesses comuns.
Portanto, em termos puramente econmicos, esperaramos uma
aliana entre trab alhadores e capitalistas contra essas classes improdutivas. Esse padro de formao de coalizes foi observado na luta dos
'capitalistas e trabalhadores ingleses pela rejeio das Leis dos Cereais
ou nos primeiros estgios das revolues francesa e alem de 1848.
Mas logo os capit alista s encontram um dilema: tendo vencido com o
154
apoio dos trabalhadores, arriscam uma derrota para os prprios 'trahalhadores. Referi ndo-se Inglaterra, Marx escreve que os capi talistas
ento preferem conciliar com o adversrio em desaparecimento do
que reforar o inimigo futuro" . Num comentrio quase contemporneo sobre a Frana, ele pergunta retoricamente : "A reduo do lucro
pela finan a, o que isso comparado com a abolio do lucro pelo
proletariado? " H duas razes diferentes para que a classe capitalista prefira conciliar com as classes dirigentes pr-capitalistas, mesmo
que com algum sacrifcio do lucro. Primeiro, combinando suas fora s,
IIS e1asses exploradoras podem reprimir mais eficientemente a classe
explorada. Esse o argumento que Marx enfatiza em seus traba lhos
sobre a Frana e a Alemanha . Segundo , h o argumento da guerra de
duas frente s: os capitalistas podem ganhar com a indistino das linhas
de conflito de classes, isto , forando os trabalhadores a dividirem
sua energia entre o capita l e o governo . Esse o pri ncipa l argumento
citado nos escritos sobre a poltica inglesa.
Essa anlise se funda numa divergn cia entre os interesse s econmicos e polticos da classe capitalista . Essa distino um caso
especial de uma distino mais geral, entre os interesses econmicos
de curto e de longo prazos. O principal interesse de longo prazo do
capital sua sobrevivncia a longo prazo, que pode depender de ter
um Estado cujas decises no coincida m em cada caso com os inte resses de curto prazo do prpri o capital.' Lembre -se aqui de que os
prprios interesses econmicos da classe podem diverg ir dos interesses
cconmicos de cada capitalista individual. Essas formas difere ntes de
compreender o interesse do capital aumentam a ambigida de e a complexidade da formao de aliana s.
Marx acre ditava que a aliana inicial entre as classes produtivas contra as improdutivas era precria, e que seria superada por uma
1/
155
BIBLIOGRAFIA
INTRODUO . A relao entre o progresso individual e o colet ivo foi brilhantemente exp lorada por tr s escritores france ses: Alexis de Tocqueville em seus escritos clssicos sobre a democracia na
Amrica e sobre a Revoluo Francesa; Paul Veyne em seu livro
sobre as relae s de autoridade na antiguidade clssica , Le Pain et
le Cirque (Ed itions du Seuil , 1976) ; e Raymond Boudon em Effets
Pervers et Ordre Social ' (Pr esses Uni ver sitaires de Fra nce , .1977).
O CONCEITO DE CLASSE. A definio aqui proposta deve
muito a John Roemer, A General Theory o] Exploitation and Class
(Harvard University Press, 1982), e a G . A. Cohen, Karl Marx's Theory of History (Oxford University Press, 1978) , pp. 70 e scgs. A imp ortncia do poder para a formao de classes no capitalismo moderno
enfatizada por Ralf Dahrendorf', Class and Class Conjl ict in Indu strial
Society (Routledge and Kegan Paul, 1957) . Um levantamento enciclopdico dos escritos de Marx sobre-classe o de Hal Draper , Karl
Marx's Theory oi Revolution, vol. 2, Th e Politics of Social Classes
(Mon thly Review Pre ss, 1978) . P. M. mau e O. D. Duncan , The American Occupational St ructure (Wiley , 1967), faz uma boa apresentao da teoria da estratificao social.
CONSClj:;NC1A DE CLASSE . Um estudo histric o impressionante da conscincia de classe o de E. P. Th omp son , Th e Makin g of
the English Working Class (Penguin, 1968) . Mais dogm tico, porm til, John Foster, Class Struggle and the Indu strial Revolution
(Methuen, 1974) . A relao entre con scincia de clas se c o prob lema
da ao coletiva discutida no livro clssico de Mancur Ol son, The
Lcg ic o! Col/ective A ction (Har vard University Press, 1965) . Uma
aplicao ao coletiva capitalista a de John R. Ilowman, "The
Logic of Capitalist CoJlective Action ", Social Science l ni ormation , 21
(1982): 571-604 . Uma aplicao ao coletiva do campesinato a
158
159
A TEORIA POLTICA
DE MARX
INTROD UO
H dua s perspectivas sobre a pol tica nos textos de Marx. Na
primeira, a poltica parte da superestrutura c, portanto, das foras
que se ope m mudana social. O sistema poltico estabiliza as relaes econ mica s dominantes. Na segunda, a poltica um meio para
a revolu o e, portanto, para a mudana social. Novas rela es de
produo so introduzidas pela s luta s polti cas. As relaes entre
essa s du as funes da poltica devem ser anali sada s no contexto mais
amplo do materialismo hist rico. Essa teoria afirma que novas rela es do produo emergem quando e porque as relaes existentes
deixam de ser timas para o desenvolvimento continuado das foras
produtivas : essa a explicao ltima para a mudana nas relaes
econ micas. Nessa transio, a luta pol tica no tem fora causal
independente. Ela age como parteira, fazendo acontecer o que est
conden ado a acontecer mais cedo ou mais tarde.
Qu and o as no vas relaes se estab elecem, o movimento poltico
que as fez surgir se solidifica, con stituindo-se num sistema que contribui para mant -las. Ao desempenhar essa funo estabilizadora, a
poltica inicialmente progressista, tornando-se reacionria mais tarde.
:E. progressista enquanto as reJaes de produo permanecem timas
para o dese nvolvimento das fora s produtiv as; torna -se reacionria
quando novas e superiores relaes apare cem no horizonte. No ltimo
estgio, o sistema polt ico no mais pode ser explicado por sua capacidade de pro mover as for as produtivas a uma taxa tima. Em seu
160
estgio reacionrio, o sistema poltico se torna uma fora social independente. Ele agora mantm vivo o que antes o mantinha vivo, a
saber, um sistema de direitos de propriedade que no mais se baseia
cm sua funo econmica progressista . Ele s pod e, no entanto , gauhar tempo. O movimento poltico correspondente s novas relaes
de produ o vencer inevitavelmente.
Essas proposies gerais supostamente se aplicam a todas as
sociedades, do modo de produo asitico ao comuni smo , passando
pela escravido, servido e capitalismo (h uma diferena: o movi- .
menta poltico que leva ao comun ismo no se cristaliza em um novo
sistema poltico aps sua vitria, mas se dedica ao desmantelamento
da poltica). Em realidade, Marx e marxistas po steriores tm aplicado
essas prop osies a um conju nto muito mais limitado de problemas :
a ascenso e qued a do capitalismo. No centro dos textos polticos
de Marx est o Estado capitalista em suas fune s estabiliz ado ras.
EIe achava que escre via num momento em que , de timas , as relaes
capitalistas de produo se tornavam subtima s. De modo corre spond ente, o Estado capitalist a passava pelo proce sso de transformar' c de pro gressista em reacionrio. Esta a questo dominante em
sua teoria poltica : como faz o Estado para manter e sustentar as
relaes capitalistas de produo ante o surgimento do comunismo
como sistema potenc ialmente superior?
Ele tamb m fez numerosas e breves obse rvae s sobr e o processo
aos dois lados do capitalismo : a transio poltica do feudalismo ao
capitalismo e do capitalismo ao comunismo. Ainda que freqentemente
sugestivas, essas observaes so muito menos coerentes que sua
leoria do Estado capitalista. So tambm muito menos plausveis,
porque dependem demasiadamente da referncia teleolgica de sua
leoria da histria. Marx nunca apresenta nenhum argumento que
explique por que indivduos ou classes entraro na luta poltica por
relaes de produo qu e permitam o desenvo lvimento timo das
foras produtivas. A medida de seu desprezo pelos microfundamentos, e de sua f na histria, se manifesta em sua irritao com a
mentalidade estreit a dos burgueses alemes de 184 8, que se recusaram, contra o moviment o geral da histria, a entrar em aliana com
a classe operria. Se Marx tivesse admitido a idia de que se tratava
de ata res polticos racionais e no de tteres de seu destin o histrico,
leria compreendido que , se ele foi capa z de ver que aliana beneficiaria , em ltima anlise, os trabalhadores em sua luta contra o
161
se aceitassem.
ESTADO CAPITALIST A
Marx no tinha uma, mas duas ou trs teorias do Estado capitalista . Antes de 1848, ele mantinha uma teoria puramente instru mental, quase sempre co nsiderada a teoria marxista do Estado , segundo a qual o Estado no seno uma ferramenta dos interesses
comuns da bur guesia. Depoi s de 1848, quando essa pos io se tornou
mais implausvel, ele a substituiu por uma " teoria da abd icao" , de
acordo com a qual os cap italistas abdicam do poder polit ico porque
isso serve melhor a seus interesses. Finalmente, se se remove da segunda teoria tudo o que pur a afirmao infundada , emerge uma
compreenso mais plausvel. Essa a posio em que o Estado
um ator independente na arena social e em que os interesses da
classe capitalista servem como iimites e no como objetivos de suas
ae s.
I,
.: ,~
,
,. 0
lalista podia ser explicada por seu valor para a classe capitalista, sua
autonomia era apenas aparen te. Esse passo tambm questionvel,
porque deixa de considerar importantes elementos estratgicos da situao.
Muitos escritores tm se surpreen dido com o paradoxo aparente
de que a Inglaterra, principal pais capitalista do sculo XIX, fosse
governada por uma elite decididamente aristocrtica, cuja base econmica era a propriedade da terra e no o capital. Na ' histria anterior, a combinao de superioridade econmica e poltica tinha sido
a regra geral quase invariavelmente. A burguesia a primeira classe
proprietria que no tambm a classe governante. A explicao
mais natural desse fato, pelo menos para um no marxista, de que
a aristocracia tinha um monoplio tradicional do governo que no
era fcil de romper. Nas palavras de S. M. Lipset, a aristocracia
"continuava a manter seu controle sobre a mquina governamental
porque ainda era o estamento mais alto na sociedade". A explicao
alternativa, que Marx preferia, era de que a burguesia se mantinha
afastada do poder porque no tinha interesse em tom-lo.
Diversos escritores argumentaram que a burguesia inglesa se
beneficiava de um governo no capitalista. Um editorial no The
Economist em 1862, possivelmente escrito por Walter Bagehot, dizia
que "no s pelo interesse geral do pas, mas especialmente pelo
interesse de seu comrcio, altamente desejvel que o governo paire
acima da influncia do interesse comercial". A implicao parece ser
de que um governo puramente "comercial" ou capitalista seria mope
ou voraz demais a favor do capital; minando seus interesses de longo
prazo. Num argumento semelhante, Joseph Schumpeter dizia que a
burguesia "precisa de um senhor", no por sua voracidade mas por
sua incompetncia, "incapaz que no s de liderar a nao mas at
mesmo de cuidar de seus interesses de classe particulares". Num
sentido diferente, o historiador social ingls G. D. H. Cole observa
que a burguesia inglesa "estava demasiado ocupada em suas prprias
questes para querer tomar o exerccio da autoridade poltica diretamente em suas mos".
A vantagem citada por Marx era muito diferente . Ele observa
que, se os capitalistas tomassem o poder poltico, os dois inimigos da
classe operria - o capital e o governo - se fundiriam num S,
criando uma situao social explosiva. Enquanto os trabalhadores
tivessem que lutar numa guerra de duas frentes, contra a explorao
165
, que ela ainda no se constitura em um atar coletivo estvel. TiIlham, portanto, pouca resistncia a oferecer ao golpe de Estado.
Esse fato, combinado com as (supostas) vantagens que derivavam
de um Estado no capitalista, pode servir de justificativa para a concepo de que tenham optado deliberadamente por este ltimo e abdicado do poder.
Uma analogia basta para mostrar que essa concep o no se
justifica. Um fugitivo da justia se deixa capturar por pura exausto.
Pode acontecer que ele se d melhor na priso do que se tivesse
ficado em liberdade. Claramente esses dois fatos no nos autorizam
a afirmar que ele abdicou da liberdade por seus interesses de longo
prazo ou que a explicao de sua captura deva ser buscada nas vanragens que ele obteve na priso. Escrevendo sobre a Alemanha, Marx,
de fato, se refere ao "cativeiro babilnico" da burguesia na dcada
posterior contr a-revoluo de 1849, afirmando que a falta de poder
poltico a tornou o efetivo poder econmico da terra. Nesse caso,
porm, no chegou a sugerir que o cativeiro pudesse ser explicado
por essas vantagens econmicas.
Embora exista pouca evidncia de que os capitalistas se abstivessem do poder por considerar que essa seria a situao mais vantajosa, isso bem pode conter alguma verdade. :e. possvel que a falta
de ambies polticas da parte de capitalistas individuais fosse reforada pela percepo de que, mesmo que superassem seu problema da
carona, no obteriam vantagens com isso. Evidncia sobre motivao
individual a abster-se da a o , pela prpria natureza da questo,
difcil de encontrar. Exploremos, portanto, a possibilidade de que as
vantagens citadas por The Economist, Schumpeter e Marx de fato
entrem na explicao da absteno capitalista relativamente ao poder.
Marx dizia que, se a presena de um Estado no capitalista pudesse
ser explicada por tais vantagens, isso provaria que o Estado era
" realmente" ou em ltima anlise um Estado capitalista. Discordo
dessa posio.
Marx tinha uma concepo estreita e pr-estratgica do poder,
que O impedia de reconhecer que os Estados que observava tinham
autonomia real e no como mera concesso da classe capitalista. Isso
pode ser visto observando em primeiro lugar que h duas maneiras
em que interesses de grupos podem conformar as polticas do Estado:
servindo como o objetivo que essas polticas tentam promover ou
servindo como limite a elas. primeira vista, tentador acreditar
167
0%
t m"
100%
Alquota de impostos
0%
tm "
100%
Alquota de impostos
169
170
11 111 futuro em que eles podem ser at mais respeitados pode no ser
uimente, considerados os custos da transio. A miopia - uma alta
nvaliao das vantagens presentes em comparao com as futuras pode impedir A de querer tomar o poder, da mesma forma que seu
mn hecimento de sua prpria tendncia a agir de mane ira mope pode
unpedi-lo de quere r t-lo. Esses fatos tambm criam um incentivo
para que B torne os custos da transio to altos quanto p~ssvel e
nsscgure que os interesses de A sejam suficientemente respeitados.
Em linguagem mais concreta, o Estado tem um interesse em
maximizar as receitas de impostos, e a burguesia, em maximizar lucros.
O uso que o Estado faz de suas receitas no nos ocupar aqui. ~s
objctivos substantivos do Estado vo desde enriquecer a burocracia
II t6 promover a expanso cultural, o imperialismo ou o bem-estar social. O fato de que tais atividades correspondam ao Estado que opera
"u ma sociedade capitalis ta no prova que elas " realmente" representem o interesse do capital. Mesmo que intere sse ao capital ter um
Estado com autonomia suficiente para promover alguns daqueles
objetivos, os objetivos especficos promovidos no refletem necessariamente aquele interesse.
Vimos acima que se considerarmos apenas o problema econmico
enfrentado pelo Estado - a necessidade de manter viva a galinha
dos ovos de ouro - o governo pode ter amp la liberdade de impor
seus interesses classe capitalista. Essas no so, no entanto, as
nicas consideraes relevantes. A galinha no deve apenas continuar
viva' ela deve ser saudvel e empreendedora. O Estado tem interesse
cm receitas futuras e no s nas receitas correntes. Se ele maximiza
as receitas de impostos a curto prazo, sobrar menos para o investimento dos lucros capitalistas , e portanto para a criao de renda s
futuramente taxveis. Assim omo a classe capitalista, o Estado tambm pode ser vtima da miopia . Existe , alm disso, uma restrio
poltica. Se o Estado impe um a alquota muito alta. de impostos ,
tima do ponto de vista da receita de impostos, os capit alistas podem
no aceit-la. Eles tm os recursos e a motivao necessria para
derrubar o governo se seus interesses no forem suficientemente respeitados. Ainda que a pre sena de um a classe oper~ria p_oten~ia lment~
perigosa possa det -los durante algum tempo , a situa o nao ficar
estvel indefinid amente. Sabend o disso, um governo racional pode
no querer impor uma alquota de impostos que maximize a receita.
A restrio fundam ental pode ser a poltica e no a econmica. O
171
/
temor da perda de poder a curto prazo pode alcanar o quc o temor
. da perda de receita a .longo prazo talvez no possa.
, ''"'..
173
174
176
177
178
180
atraso" , que lhe permitiri am saltar o estgio capitalista, passando diretamente ao comunismo.
O argumento sugere que as condies subjetivas ~ objetivas do
comunismo se desenvolvero em parte s diferentes do : lStema . ca~lta
lista mundial. As cond ies objetivas emergem nOS paIses capl~ahstas
avanados, e as subjetivas, nos atrasados. Como reumr os dOIS co~
juntos de condies? Por volta de 1850 , Marx afirmou , ~omo ? f~na
Trots ky depois dele, que a revoluo ocorrida na .pen fen a capitalista
se espalharia par a o centro. Uma vez mais depo srava sua esperana
na interveno contra-revolucionria como mecamsmo que deflagrana
a revoluo geral; urna vez mais deixou de reconhecer '!ue um ~over~o
capitalista racional se absteria, por essa mesma raz~o, de m~erv1f.
T rinta ano s depois, sublinhava a difuso da te_cnologla do_ OCidente
para o Oriente, mais que a difuso da revoluao, na ~lfe?~o. oposta.
O argumento tambm fracassa, porm, porque e mais difcil tom~r
tecnologia emprestada do que Marx supunha. O ~so de ~ecnolog,.
industrial avanada requer educao e hbitos mentais que nao podem
ser tomados de emprstimo.
.
Devemos concluir, portanto, que a teoria da revoluo comuDl:ta
de Marx supe que tr abalhadores, capitalistas ou ~overnos de ~aoes
capitalistas devem comportar-se de maneira rracional. A teona. f~a
cassa porque ele no apresenta os argumentos para essa supoSlao.
No que os eventos no possam desenvolver-se de acordo com algum
daqueles cenrios. O comporta mento irracional pode ~er , uma for~
politica extremamente poderosa. Ao contrrio,. a questao e que Ma
no apresentou as bases racionais para acreditar que OS eventos se
desenvolveriam como ele esperava. Seus cenrios es~a.vam, ~m uma
palavra, baseados mais na esperana do que na anahse : oclal.
O movimento socialista tem abrigado concepes dlf~r~ntes. da
estrat gia e da ttica revolucionrias. Elas po~em. ser dst lngudas
pela ordem em que os seguintes objetivos s~o atmgldos : a ocupaa~
proletria do poder , a obten o de uma maiona para a caus~ prole
t ria e a transformao da sociedade. Conforme uma estr at gia, os
trabalhadores primeiro ocupa ro o poder para comear a m~~ar a
sociedade, ganhando, finalmente, a maioria. Essa era a. estrat gia de
Lenin, que utilizou o poder para transforma~ ~ campesmat o em t~a
balhadores industriais, que adeririam aos objetivo s comumstas".Existem indicaes que em algum momento Marx chegou a consl~erar
tal estratgia. Algumas de suas anlises sobre a Alemanha depois da
181
mesma plausibilidade, ser compreendidas como frmulas de compromisso. Uma variante da estratgia minorit ria pode ser encontrada
em alguns comentrios sobre a Rssia a partir de J 870. Ma rx parece
concordar em que os trabalhadore s russos devem tomar o poder ainda
que em minoria, mas acrescenta que sua a o inicial deve ser a to-
mada de medidas para ganhar o campesinato, assim invertendo efetivamente a ordem dos dois ltimos estgios da estratgia leninista.
Uma outra estratgia, reformi sta, prope comear pela transformao da sociedade de dentro, criando assim uma maioria para o
da maquina, m
fa ia tudo explodi r" . Com o crescimento da facque de outra farma r
.d
essidade
o de Bakunin na Int ernacional, ele parece ter senti ~ a ne~
. s ~, sua esqoerda '. e naob mats "indifeapenas
de diferenciar-se dos anarquista
I
dos socialistas de Estado sua direita. Num artig o so re o
tismo oltico" ele adverte contra a idia de que qualquer envoir~n I p
Estado contr rio aos intere sses dos trab alhad ores.
virnento com o
I do que pode ser
it do as Leis de Fbrica s inglesas como exemp o
CI an
. . _
. t ntes
obtido trabalhando dentro das institui es exis e
.
.
E A Ideologia A lem Marx formula um argument o que sena
mais t:::de desenvolvido pelo socialista francs Sarei (muito admi~a?o
- VIO
. Ien t a duplamente necessana,
ar Mussolini) . Uma revoluao
Po no s porqu e a classe dirigente no pode ser derrubada de ,qua~u~r
ira mas tambm porque a classe que a derruba so po ena
outra manei ,
.
aderia livrar-se do rano
ler sucesso dessa maneira, porque so assim p
. d d " Escrido tempo e torn ar-se capa z de fundar novamente a socie a e .
d
. - e sobltnham que uma tran' I Em 1852 Marx afirtos posteriores se afastam essa pos;ao
form as viveis em larga escala podem funcionar mal quando implementadas em pequena escala. " Restrito s formas apequenadas em que
escravos individuais do salrio podem elabor-lo por seus esforos
# .
sociedad e capitalista."
Existe, finalmente, a estratgia da revoluo majorit ria, em que
os trabalhadores obtm a maioria, tomam o poder e o usam para
transformar a sociedade . Esta era certament e a estratgia predileta
de Marx em relao aos pases capitali stas avanados, e permaneceria
. d
ibili
I-
crucial para a perspectiv a revolucionria mesmo se tivesse que comear com movimentos minoritrios em pases atrasados. Outras moda.
Iidades da revoluo majoritria dependem das respostas a trs questes inter-r elacionadas. Deve a classe operria organizar-se secreta
lenta?
182
183
mente nao unha para Marx e para seus contempo rneos. Em sua
poca e em sua obra, ditadura no significava necessariamente alguma
"
trata-se de uma forma de socialismo de Estado com distribuio conforme ao esforo de trabalho. Marx tem muito pouco a dizer sobre
esses dois estgios intermedirios e sobre a relao entre eles. Ta lvez
po~sa se; lido C?':1O se estivesse sugerindo que a ditadura do proletariado e necessana por causa dos conflitos de interesse que existiro
entre os trabalhadores e os antigos capitalistas, enquanto as instituies no .estgi~ mais baixo do comunismo so necessrias por causa
do conflito de Interesses entre os prprios traba lhadores, ainda imbudos de uma mentalidade capitalista, embora a classe capitalista tenha
desapa recido.
No ltimo estgio do comunismo, desaparecem todas as instituies polticas. Seu lugar ocupado pelo autogoverno da comunidade - tarefa que, de acordo com Marx, no mais difcil que o
contro le de um indivduo sobre si mesmo. Com o desaparecimento
da alienao e da explorao, as relaes sociais sero perfeitamente
tra nsparentes e no conflitivas. Essa concepo do comunismo completamente utpica. A causalidade social ser sempre at certo ponto
opaca. Alm da explorao, existem outras bases para conflitos de
~nteresses_: mesmo no comunismo, as pessoas divergiro em relao
a proteao do meio ambiente, aos direitos das geraes futuras ,
quantidade adequada do prod uto social a ser reservada para gastos
com sade e questes semelhantes.
184
BIBLIOGRAFIA
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com T. S. Hamerow, Res toration , Revolution, Reac tion: Economics and
Politics ln Germany, 1815-1871 (Princeton University Press, 1966 ).
9
A C R T ICA MARXISTA
DA lD EO LOGIA
INTRODUO
tempo.
Quais so as foras que conformam e mantm o pen samento
186
teoria freudiana supe-se geralmente que a falsa conscincia acompanhada por uma intuio inconsciente do estado verdadeiro da questo - uma intuio que a pessoa reprimiu, substituindo-a pela representao falsa. A falsa conscincia envolve a automistificao. A
teoria marxista da ideologia no faz suposio semelhante . Em verdade, na formao da ideologia h freqentemente (mas no sempre)
um elemento de desejo, de que o mundo como se gostaria que ele
fosse, mas esse fenmeno difere nte da automi stificao, na medida
que o mero fato de que uma classe dom inante se beneficie das iluses
dos dominados no prova que ela causalmente responsvel por
elas. Se, por qua lquer razo, os dominados so vtimas da distoro
que a pesso a mantm uma relao peculiarmente ntima com as verdades sobre si mesma ; pareceria em ce rto sentido que ela dificilmente
Nem sempre, porm, Marx se atm sua resposta oficial. Ta mbm sugere que as ideologias podem surgir ou enraizar-se esponta neamente nos espritos de seus portadores sem qualquer assistncia de
outros. Aqui novamente ele diverge da concepo freudiana da falsa
conscincia, na medida em que insiste na causao social da ideologia
e no em qualquer explicao gen tica individualizada. A ideologia,
no sentido de Ma rx, no um complexo idiossincrtico de crenas
e atitudes gerado por um conjunto singular de experincias. E uma
figura de pensamento compartilhada por muitas pessoas e causada por
aquilo que comum situao delas. Enquanto a psicanlise pode
muito bem focalizar o excepcional, como no estudo de Leonardo
da Vinci por Fre ud, a crtica marxista da ideologia deve buscar o que
tpico, disseminado, medocre .
H uma outra diferena entre a concepo psicolgica de Freud
e a concepo sociolgica de Marx sobre a falsa conscincia. De
acordo com a teoria psicanaltica, o objeto das atitudes individuais
o prprio indivduo - suas experincias, sua percepo dos outros,
inclusive sua percepo da percepo que os outros tm dele mesmo.
Com algumas excees, a teoria psicanaltica no tenta explicar as
atitude s polticas das pessoas ou suas concepes sobre a causalidade
social. A teoria marxista da ideologia se volta para crena s factuais
188
pode evitar esse conhecimento. O que quer que se pense sobre esse
imediato verdade da sociedade. Qualquer concepo da sociedade
verdadeira ou falsa, disto rcida ou no - uma con struo .
Crenas ideolgicas compartil hadas surgem de duas maneiras.
faz uma
12. Houve, certamente, tentativas de explicar, por exemplo, teorias fsicas como construes ideolgicas. De maneira geral, essas tentativas fracassaram espetacularmente. Basearam-se em geral em "similaridades" arbitrariamente escolhidas entre caractersticas da teoria fsica e caractersticas da sociedade, sem qualquer tentativa de produzir evidncia sobre a conexo causal.
13. A analogia, como freqente em tais casos, tem validade apenas parcial, porque pessoas diferentes aceitam idias diferentes, correspondentes sua
posio social e interesses. No se pode imaginar que uma ideologia dominante possa emergir por variao aleatria e por selec social, de modo
semelhante ao desenvolvimento dos organismos.
189
14. Existem vanas possibilidades adicionais. Pode-se dizer que as condies sociais, ainda que neutras relativamente ao contedo de novas idias,
podem acelerar ou desacelerar a velocidade com que elas aparecem. Ou que
as c.ondi~es_ soci~is,. ainda que ~o sejam o determinante exclusivo do que
surgir, impem dimltes ao conteudo das novas idias.
15. Pessoas que no usam carto de crdito para no incorrer em custos
adicionais podem us-lo em caso de desconto em dinheiro.
190
I tl lIIO
11\1
uufst ica ,
Desses mecanismos, todos menos o segundo tm alguma impor,. ncia na teoria da ideologia de Marx. O primeiro est subjacente
li a muito repetida afirmao de que a religio o "pio do povo",
com a idia concomitante de que a religio ajuda as pessoas a adapturcm-se s suas vidas miserveis neste mundo. O terceiro opera na
escolha de vises de mundo : entre as muitas diferentes explicaes
da causao social e econmica, cada grupo ou classe escolher aquela
que parece atribuir especial considerao a seus prprios interesses.
O ltimo importante quando Marx prefere posio de classe a interrsse de classe como fonte do pensamento ideolgico. O terceiro e o
quarto mecanismos so semelhantes em que ambos podem ser caracterizados como falcias do tipo toma r-a-parte-pelo-todo. A formao
de ideologia por wishiul thinking ocorre quando membros ou represcntan tes de uma determinada classe estipul am que a realizao de
seus interesses coincide com a realizao dos interesses da sociedade
como um todo. A formao de ideologia por iluses especficas de
classe opera quando membros de uma determinada classe acreditam
que os processos causais que observam de seu ponto de vista especfico so tambm vlidos para a economia em seu conjunto.
Assim, os estudos concretos de Marx sobre o pensamento ideolgico diferem de sua "teoria oficial" - as idias dominantes so as
idias que servem aos interesses da classe dominante - de duas
maneiras. Em primeiro lugar, quando ele se refere ao interesse como
uma explicao da ideologia, freqentemente o faz de um modo causal e no funcional. Em vez de apontar para as conseqncias de uma
certa crena relativamente a certos interesses, ele cita o interesse co1110 a causa da crena. No se pode concluir que crenas geradas pelo
interesse serviro ao interesse de quem as tem, porque "crenas baseadas na paixo prestam mau servio prpria paixo", ou que
serviro ao interesse da classe dominante, porque algumas das crenas
daquela classe podem ter sido elas mesmas geradas pelo interesse.
Em segundo lugar, tanto a posio de classe quanto o interesse de
classe entram na explicao do pensamento ideolgico . Uma vez mais,
tais iluses derivadas da classe no tendero a servir aos interesses
dos membros da classe ou aos interesses da classe dominante se seus
membros tambm forem vtimas desse mecanismo.
191
Ideologias fazem pa rte da superest rutura, definida como o conjunto dos fenmenos no econmicos da sociedade que podem ser
explicados pela estrutu ra econmica . O argumen to desenvolvido no
pargrafo precedente voltou-se contra a posio segundo a qual todos
os fenmenos superestruturais tendem a estabilizar a estrutura econ mica servindo ao interesse da classe dominante, e, por implicao,
hurguesia francesa em 1848. Sua demanda por cr dito ba rato nao fOI
vista como correspo ndendo ao interesse de qualquer outro grupo ou
classe.
Nesta concepo, uma ideologia poltica no uma pura expres"l o do auto-interesse. A luta poltica no uma forma de bargan ha,
cm que o auto-interesse reconhecido como a fora m~tivadora por
trs de todos os participantes. Como bem notou Tocquevi lle por volta
de 1830, os partidos polticos que so manifestament e ~oti~ados pelo
auto-interesse no sero capazes de levantar sua audincia nem, o
que mais importante, seus prprios militantes ;
s'chauffent .toujours froid" . No mnimo, preciso pretender. agtr . e~ ?ome do ~t~
resse geral. Quando partidos da classe operna reivindicam a distribuio da renda a seu favor, sentem-se obrigados a argumenta~ que
essa medida no causar grandes prejuzos eficincia e~~nmlca.lT
Seus opositores , quando exigem corte nos impostos, fr~quen~ement.e
acrescentam que outros benefcios e efeitos de oferta funcionaro POSItivamente para todos.
Numa verso mais fort e, possvel afirmar que os membros ou
representantes da classe terminaro por acredi:a r na identidade entre
seu interesse especfico e o interesse geral. Tres argumentos apon.tam
nessa direo. Primeiro, o argumento da s~le?o. natura.l: p~rhd~s
com lderes que no acreditam em sua propna ideologia nao sao
capazes de obter credibilidade nem de ganhar ad~s?~s. Segundo, um
argumento psicolgico: at mesmo pessoas que _ Imcla lm~nte apenas
fingem falar em nome do interesse geral ~cabar~o, .de~~I~ de algu~
tempo, por acreditar no que dizem. Tercei ro, n~o e dlf1~Il chegar a
convico de que o interesse geral mais bem s.ervldo pe!a Impleme.ntao do interesse especfico; a natureza da reahdade SOCIal e da psiqu e
IDEOLOGIAS POLITICAS
Em A Ideologia Alem e nos escritos polticos sobre a Frana,
Ma rx elaborou uma teoria da ideologia poltica que, embora um tanto
obscura e difcil de compree nder em detalhe, permanece em linhas
gerais valiosa e til. O argumento central diz respeito relao entre
os interesses especficos de uma dada classe e os interesses gerais da
sociedade. Isso envolve duas questes. Primeiro, qual o papel causal
dos interesses especficos da classe na formao das concepes que
os membros dessa classe tm do interesse geral? Segundo, em que
medida a realizao do s interesses especficos coincide com a realiza-
pelo menos aceito como tal por membros de outras classes. Quando
'?1s
16. B irrelevante aqui se a necessidade de reduo da dissonncia corresponde aos interesses reais dos dominados, no sentido de um interesse objetivo
na libertao da opresso. Para ter poder explicativo, um interesse deve ser
atuante; no faz diferena se ele tambm real em algum sentido objetivo.
192
19,
humana conspiram para que isso ocorra. Amplio o terceiro argumento, que de importncia fundamental.
. ~ freqentemente verd ade que existem diversos arr anjos in stituCIOnaIS que so melhores para todos do que um estado de anarquia
e c~da um dos quais com o efeito adicional de favorece r seletivame n ts
os Illte~esses de ,u.ma classe particular. Ao comparar o efeito de uma
d:termlllada po.htlca com o efeito de no ter qualquer poltica _ e
nao com _o efeito de ou tra poltica - . fcil apresenta r a poltic a
em questao como correspondendo ao interesse de todos. Alm disso
dada a complexid ade da causao e da interao sociais, dificilmente
se chega ao . consens~ entre cientistas sociais, e muitas vezes h profun?o e pers istente dissenso, Entre vises divergentes sobre a causa o
social, e n,otadamente entre teorias econmicas divergentes, muitas
vezes p~sslvel. encontrar uma que afirma (ou implica qu e) a implementaao do Interesse especfico de uma classe a nica maneira de
promover o be~ comum . Nesse caso, nada mais hum ano que defender essa teona como a explicao correta do funcionamento do
mun~o e a~gume?tar de boa-f que todo s lucraro se removerem os
o_bstaculos a re~hza~o d~ conjunto especfico de interesse s em questao ._Nessa, .e xphcaa?~ o ~mpacto dos intere sses part iculares sobre a
op ao poltica espec ca e mediado por uma concepo do interesse
18
geral. ~J como a conexo indireta e no imediata, no preciso
qu.e se de em todos e em cada caso. At certo ponto, tudo em pro~elto da classe em questo, porque sua tentativa de representar o
Illt~r~sse geral ~anha mais credibilidade se ela ocasionalmente advogar
pohlI~as que vao contra seus intere sses especficos. Isso no quer dizer, e claro, que essa vantagem explica por que uma classe algumas
vezes defende tais polticas.
, .Um moviment ? poltico, neste contexto, uma oferta para o
pubhco. A oferta e acerta quando as circunstncias so tais que a
faze~ p.arecer favorvel. E mais ou menos como um relgio queb rad o
que. ind ica a hora certa uma vez a cada doze horas. Numa economia
18. A.~gumas vezes se diz que em poltica raro o desacordo sobre valo.
res e frequente o desacordo sobre fatos. Essa observao, embora s veze
correta, de.ve ser ~omplementada indicando que a explicao do desacord;
factual denva frequentemente de diferenas sobre valores. O contedo "frio"
das. cren~s entre..as quais se_estabelece o desacordo anda junto com os mecamsmcs quentes da formaao de crenas.
194
capitalista sempre haver partidos defendendo a planificao centraIluda, outros advogando a extenso do estado de bem-estar, outros
uinda pela liberdade das foras de mercado, todos eles em nome do
hem comum. Seu sucesso no depende da racionalidade de seus programas, porque so todos eivados de wishiul thinking, Depende, isto
sim, do fato de que o pon teiro esteja mostrando a hora certa. s
vezes, claro para qualquer um que esteja fora do ncleo dos ideolo- '
gicamente comprometidos que um determinado programa mais adequado que outro s necessidades do momento. Outras vezes, a insatisfa o com o governo que determina que " chegou a hora" de um
novo partido.
Para ter sucesso, uma ideologia poltica tem que ser formulada
cm termos do interesse geral. Marx afirmava, porm, que o sucesso
pode ser autodestrutivo. Quando demandou e obteve a abolio dos
privilgios, a burguesia francesa tambm preparava o caminho para
sua futura derrota, ao admitir seu futuro inimigo na arena poltica.
A burguesia teria sem dvida desejado uma abolio de privilgios
sob medida para seus interesses , mas, como notou Tocqueville, uma
vez introduzida a democracia, difcil det-la. Quando a idia dos
privilgios naturais deixou de ser vivel, as nicas opes restantes
eram a ditadura, que introduziria os privilgios criados pelo homem ,
ou a democracia, que aboliria todos os privilgios. Antes da poca
moderna, a ideologia poltica era ainda particularista e apresentava,
nas palavras de Marx, um quadro quase zoolgico dos direitos, deveres e obrigaes naturais das diferentes classes sociais. Ao escolher
atac ar a prpria noo de privilgio natural, em lugar de substituir
um conjunto de privilegiados por outro, a burguesia se comportou
como o aprendiz de feiticeiro . A ideologia poltica universalista que
ela criou veio a ter conseq ncias muito alm das que ela pretendia.
PENSAMENTO ECONMICO
COMO IDEOLOGIA
justificao do sistema capitalista existente (ou , no caso dos fsocratas, preparam o caminho para sua emergnci a) .
A maioria do s economistas incapaz de passar da aparncia
para a essncia ntima das coisas. Em seus escritos, pouco mais fazem
que reafirmar a forma que as relaes econmicas tomam diante dos
nimos diferentes . Pode ser contrastada com o que est oculto , aceso
svel apenas pela mediao do pensamento. Nesse sentido pode-se
dizer, por exemplo, que por trs da aparncia visual de uma mesa
est a estrutura atmica que constitui sua essncia . Essa era a forma
196
C0 ll1 0
que aparece sempre aparece a uma pessoa que ocupa. uma P?sio
particular e que observa os fenmenos de uma perspectiva p~rllcular.
Qualquer aparncia dada pode ser constatada com a co~st:laao ~lobal
de aparncias, que no est vinculada a q.ualquer pos,lao partl.cula.r ,
Um exemplo seria a distino entre equllbno ,parcia l e ~qUllbno
geral em economia . Na anlise parcial do equilbrio consideramos
um agente que se defronta com um problema de deciso no, qual ~
comportamento de outras firmas tido como dado. Em realidade, e
claro, o comportamento de outras firmas n? _ "dado" a elas, m~s
representa solues a seus proble~as de_dec,ISao. ,Uma compreensao
completa da situao requer a cons~d."raao slmultan~a d~ todos ess~s
problemas de deciso, como na analise geral do equilbrio, Um eq~l'
lbrio geral deve ser um equilbrio parcial para cada um dos agentes
eco nmicos.
197
198
21. Ainda que essa passagem tenha sido escrita dois anos antes da formulao do materialismo hist rico, no pode ser descartada como uma "aberrao humanista" de juventude, porque Marx faz praticamente a mesma anlise
num manuscrito de 1865.
20 \
em conexes cognitivas frias. Infelizmente seus argumentos so implausveis tomado s em separado e inconsistentes em seu conjunto.
a que Keith Thomas se refere como "a unio transitria entre clen~la
e magia" manteve uma existncia subterrnea d~ qua~ a doutrina
muitos escritores posteriore s que tentaram encontrar " hornologias estruturais" ou "isomorfismos" (do is termos elegantes para " similaridades") entre estruturas econmicas e .produtos mentais. Como quais.
22. Cf. a seguinte "Lei da Similitude Familiar': para cada dois membros
de uma famlia, h um terceiro que assevera a existncia de uma forte semelhana entre eles.
202
BIBLIOGRAFIA
INTRODUO. Muitos livros contm discusses da teoria da
ideologia de Marx. Os nicos que podem ser plenamente recomenda dos so os de Raymond Geuss, The ldea of a Criticai Theory (Cam bridge University Press , 1981), e o captulo 5 do de G. A. Cohen ,
Karl Marx's Theory of History (Oxford University Press, 1978).
203
*
**
(N. do E;)
204
205
10
INTRODUO
208
o Q UE EST MORTO ?
I . O socialismo cientifico est morto . Uma teoria poltica no
pode de nenhuma maneira desprezar os valore s e substitui-los por
leis da histria que operam com necessidade frrea. No h argumento .intelectualmente respeitvel que sustente a concepo de que
a histria est sujeita a um padro progressivo que pode ser detect ado
no passado e extrapolado para o futuro. Par a refutar essa concepo
basta indicar a possibilidade de uma guerra nuclear, que levar
extino do gnero humano. Como poderia o materiali smo histrico
rejeitar a priori essa possibilidade? Alm disso, no h razo para
espera r que a histria exiba a propriedade da homeoresis, ou estabilidade dinmica. Imaginemo s uma esfera que rola at o fundo de
um vale. O processo dinamicamente estvel, porque, se a esfera
empurrada para cima, na encosta, mais cedo ou mais tarde voltar
novament e ao fundo - a menos que o impulso seja muito fone,
caso em que a esfera ser mandada para o vale subseqente. Uma
guerra nuclear seria certamente um impulso muito forte. Sem a estabilidade dinmic a, porm, at mesmo pequenos impulsos poderiam
mudar o curso da histria .
"O papel do indivduo na histria" um caso especial. Qualquer
teoria macro -histrica determinista tem que negar que as aes de
um oico iodividuo possam influenciar a histria de maneira significativa , mas a negao no o bastante; ela tem que ser justificada .
E no parece haver qualquer justificativa. A analogia matemtica de
Tol stoi em Guerra e Paz. de que os individuas so como que magnitudes infinitesimalmente pequena s cujas aes so integradas na histria por um processo semelhante integrao matemtica, est no
esprito do socialismo cientifico. E tambm um equivoco, porque
a interao social no um processo aditivo. A ao de um indivduo
pode fazer uma pequena ou grande diferen a para o resultado, dependendo do lugar que ele ocupe na rede de relaes sociais.
O socialismo cientfico tambm falha no tratamento que d aos
valore s. O dilema conhecido. Ou as leis da histria operam com
um~ necessidade to frrea que a ao poltica passe a ser suprflua
- de algum modo o comunismo vir "por si mesmo" sem propaganda , lideran a ou ao de massas - ou, se essa concep o descartada, a ao poltica deve ser orientada por valores. Pode- se acreditar que o comunismo, ainda que em ltima anlise inevitvel,
tambm indesejvel. e a conseqncia disso seria tentar adi-lo o
209
i:
2 . O. rmaterialismo
. ~ . dialtico est morto, Tal dout rina , ass!sIm coo 0 , SOCla ismo ctentffico, associada principalmente a E nge ls, mas
tambem aparece no pensamento de Marx. Em primeiro lugar, no h
qualquer sent ido coerente e interessante em que se possa dizer
qua.lqu~r das concep?es mais importantes do marxismo seja "m~~~
rialista . Nenhum fil sofo marxista apresentou qualquer sada til
par~ .os probl emas do materialismo filosfico, como a relao corpoespinto ou a relao sentidos-dados, e assim por diante E
.
.
.
mesmo
que o marxismo
t~ v~sse uma vers.o especfica, bem defini da e bem
fi
sobre ela, n ~o ,sena possvel afirmao semelhante para qualquer forma de ma terialismo filosfico.
. , Em segu,n,do'lugar, a forma de codificao da dialtica no mater alismo dial tico bem trivial. Algumas vezes no passa ,.
f
- d '
ue uma
~ Jf~~ ao as mterconexe s gerais entre todas as co isas; outras vezes
e utlh~ada como uma frase elegante so bre processos de realimentao '
te-
rialis
". ..
.,
ma e
.
mo mecam co " ,uhhzado como antnimo do materialismo dial -
como efeito do elo anterior como pelo fato de ser parte de uma
cadeia tima .
Essa combinao de teleologia e causalidade pressupe premissas teolgicas e, em particular, a existncia de um sujeito divino.
Para Leibniz, a histria tinha um objetivo e um criador. As duas
coisas vo juntas. Hegel tem sido louvado por ter visto que a histria
um processo sem sujeito. Mas ele tambm acreditava, desastrosamente, na idia de que a histria tem um objetivo, como se a idia
de objetivo pudesse ser desvinculada de um sujeito. Essa concepo
hegeliana importante no pensamento de Marx, pelo menos em muitos de seus trabalhos. A exceo principal A Ideologia Alem, que
defende uma concepo fortemente antiteleolgica. Nos principais escritos econmicos, ele retorna ao hegelianismo de sua juventude e
afirma que o propsito imanente da histria tirar a humanidade
do purgatrio da alienao e do conflito de classes, levando-a ao comunismo, uma vez que a unidade plena no poderia ser alcanada
sem passar por uma temporria perda de unidade. Isso equivale
racionalidade individual em termos amplos, como se a humanidade
fosse um ator supra-individual com a capacidade de adiar a satisfao .
Outra entidade supra- individual misteriosamente dotada de poderes o capital. As numerosas instncias de explicao funcional
nos escritos de Marx partem geralmente da afirmao de que alguma
instituio ou padro de comportamento beneficia o capital , para
chegar concluso de que tais benefcios bastam para explicar sua
210
21 t
presena. So exemplos as explicaes da mobilidade social das dou trinas fisiocratas, da mudana tcnica poupadora de trabalho do
poder do Estado, da lei inglesa das Dez Horas e da pr eval ncia do
crime na sociedade capitalista. (A explicao desta ltima nas Teo rias da Mais-Valia, aparece como uma pardia dos " vcios privados
benefcios pblicos" de MandevilIe, e no em si mesma evid ncia
de uma tendncia a utilizar a explicao funcional no fundamentada .
Criminologistas marxistas poster iores, no entanto , a tm levado a
srio , quando escrevem sobre os benefcios que os crimes contra a
propriedade trazem classe proprietria.)
A questo no tanto que essas explica es sejam necessariamente_fa lsas, m~s que Marx no nos d as razes por que pensa que
elas sao verdad.elras. EXIstem formas de explicao funcional que no
se funda~ na SImples presena dos benefcios, mas que ou especificam
os mecanismos pelos quais os benefcios reforam as causas ou formulam proposies que , mesmo na falta de conhecimento sobre tal
me~a~ismo, podem ser utilizadas para apoiar a explicao. Marx e a
maroria de seus seguido res no sentiram, infelizmente, neces sidade
ou obrigao de justificar sua utilizao da explicao funcion al.
:?rn.ece um crit~io til para a escolha das tcnicas socialmente deseJ ~velS, nem explica a escolha real da tcnica no capitalismo. Ela
dllitorce a teona do fetich ismo e prejudica a crtica efetiva da economia .vu~gar. A teoria do valor -tr abalho tampouco ajuda a estudar a
POSSIbIlIdade de taxa s de intercmbio estveis e do excedente.
O outro pilar principal da teoria econmica marxista, a teoria
Ecol).
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21 3
217
tural como obstculos conscincia de classe. Teve, alm disso, intuies pioneiras sobre a nature za do conflito de classes, da coopera o de classes e das alianas de classes. Do fato de que membros
de diferentes classes possam ter interesses comuns e inimigos comuns
no se pod e conclui r que a luta de ' classes seja uma luta de oposio
implacvel, pelo menos no a curto ou mdio prazos. Enfatizara mos
hoje , mais do que Marx o fez, que a luta de classes tambm esmae-.
cida pela presena de outros conflitos que atravessam as classes. No
b dvida de que a classe uma importante fonte de conflito na
Irlanda do Norte , na. frica do Sul ou na Polnia, mas seria preciso
ser muito dogmtico para afirmar que o nico elemento. ou o dominante. Sentimentos religiosos, raciais e nacionalistas so fontes
indep endente s de lealdade e organizao. O marxismo no realmente capaz de assimilar esse fato , a no ser pela afirmao um
tanto desesperada de que a longo prazo, em termos do surgimento
de um novo modo de produo, essas lutas culturais tm pouca import nca - proposio que parece tanto falsa quanto irrelevante.
Finalmente, Marx desejava que a teoria das classes explicasse
fenmenos polticos e em particular o comport amento do Estado nas
sociedades capitalistas. Sua formulao mais conhecida, aquela segundo a qual o Estado "nada mais " que um instrum ento dos inte. resses coletivos de classe dos capitalistas, a que ele aba ndonou mais
cedo, quando foi conte stad a pela direo dos acontecimentos nos
principais pases europ eus em torno de 185 0. Em seu lugar, ele
pr op s a " teoria da abdicao" do Estado, segundo a qual o Estado
tem uma certa autonomia, mas apenas porque isso convm aos interesses dos capitalistas . Exame mais cuidadoso dessa teoria porm
revela que a autonomia concedida aos governos burocrtico-feudalaristocrticos na Inglaterra, Alemanha e Frana foi substancial. No
seria mesmo grande exagero dizer que nos escritos histricos de Marx,
em contraste com seus trabalhos mais tericos, a pedra de toque
a autonomia do Estado moderno. A razo por que Marx no reconheceu plenamente esse fato deve ser buscada em sua relutn cia em
abandonar sua teoria geral da histria, em que a natu reza derivada
da superestrutura poltica tambm o ponto fundam ental. Em parte
pode tambm ser buscada em sua compreenso insuficiente da natureza estra tgica da poltica e do fato de que um sistema poltico pode
atr ibuir pod er de maneiras que no corr espondam aos recursos prpolticos dos atores. Essas questes no devem, porm, obscurecer a
intuio de Marx de que o Estado depende estruturalmente da classe
2 18