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Artigo 1 - Ginástica Artística Educação Física

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O OLHAR DA CRIANA PARA A VIVNCIA DA GINSTICA ARTSTICA NA

EDUCAO FSICA ESCOLAR

Tatiane Costa Leite - Unisinos

Resumo:
Esta pesquisa apresenta uma reflexo sobre o aprendizado da ginstica artstica na educao fsica escolar,
examinada a partir das manifestaes dos alunos da 3 srie de uma escola pblica localizada na Regio
Metropolitana de Porto Alegre-RS. O estudo de carter qualitativo e de cunho etnogrfico. Autores como:
Nunomura e Piccolo, 2005; Schiavon, 2003; Brochado, 2005 e Koren, 2004; Pimenta, 2006 e Gonzaga, 2006
sustentam as dimenses terico-metodolgicas estudadas. A partir da anlise de contedo realizada, foi
observado que a ginstica artstica vivenciada de maneira ldica possibilita um melhor aprendizado ao aluno,
favorecendo o processo de ensino-aprendizagem e o reconhecimento de si. Da experincia propiciada durante as
aulas de Educao Fsica so trazidas neste trabalho duas dimenses que representaram a ginstica artstica:
significados, aprendizagem. Para alm dos significados dos alunos, possibilitou uma reflexo a respeito da
prtica pedaggica dos professores de Educao Fsica, no sentido de que a Educao Fsica precisa ser pensada
para os alunos, proporcionando um momento diferenciado de aprendizagem, com constante acompanhamento do
professor desempenhando o seu papel pedaggico. Contudo, faz-se necessrio, planejar as aulas com coerncia,
a fim de trabalhar amplamente as capacidades das crianas, buscar capacitao para desenvolver essa
modalidade e encontrar um espao para a ginstica artstica na escola, explorar ao mximo o espao escolar que
deve ser o lugar para a construo do conhecimento, para formao do aluno e professor. , pois, este o ambiente
em que ambos so protagonistas de suas histrias.
Palavras-chave: Significados na aprendizagem; Desenvolvimento na infncia; Prtica pedaggica.

Introduo

A Educao Fsica uma prtica pedaggica que, na escola, trata do conhecimento de


uma rea chamada de cultura corporal, configurada com temas e formas de atividades
expressivas, tais como: os esportes, as ginsticas, as lutas, os jogos e as danas, as quais
formam o que se chamam cinco culturas corporais da Educao Fsica (Soares et alii 1992).
Essas possibilitam a ampliao e a diversificao dos contedos, alm da apropriao de
novos saberes e conhecimentos.
Neste vasto campo da Educao Fsica surge questo: o que essa disciplina engloba?
Conforme Soares et alii (1992), s faz sentido essa pergunta quando h a preocupao em
compreender a prtica e transform-la. Koren (2004, p. 14) diz: como educadora, acredito

que poder haver uma compreenso mais ampla e significativa nas descobertas [...] medida
que nos colocarmos abertos para novas experincias educacionais e as empregarmos em sala
de aula. Pois tudo que o aluno vivencia e oportunizado vai refletir na transformao das
fases da vida. Em relao a esse conceito, Tani (2008, p. 65) afirma: as experincias que a
criana tem durante este perodo determinaro, em grande extenso, que tipo de adulto se
tornar. Se os educadores reportarem-se s suas lembranas, direcionando-se a realizar uma
reflexo sobre as mltiplas maneiras que lhes foram propiciadas e possibilitaram a construo
de momentos inesquecveis enquanto crianas, podero perceber que muitos deles foram
responsveis pela transformao do que cada um hoje.
Na perspectiva de White (1975, p. 302), todas as coisas que as crianas veem e
ouvem na infncia e na sua meninice so profundamente impressas no seu esprito. Sob essa
reflexo, destaca-se que os educadores tm a responsabilidade de contribuir no processo de
desenvolvimento pessoal e de aprendizagem dos alunos, auxiliando na construo de sua
prpria histria e na apropriao dos saberes de forma significativa. Este estudo convida os
educadores a repensar pedagogicamente a Educao Fsica, proporcionando possibilidades de
desenvolvimento e de reflexo quanto a suas prticas.
Ao proporcionar uma prtica diferente, que atenda s necessidades de cada fase do
desenvolvimento da criana durante a sua infncia, esse estudo teve como foco identificar os
sentidos e os significados da prtica da ginstica artstica na escola, baseando-se pelas
verbalizaes dos alunos sobre suas percepes acerca da ginstica artstica vivenciada.

Ginstica artstica - educao fsica escolar - desenvolvimento na infncia

A GA pode ser vista sob diferentes prismas; por exemplo, como ginstica escolar e de
alto rendimento. De acordo com Nunomura e Piccolo (2005), ela tima promotora do
desenvolvimento fsico e motor, ou seja, uma das modalidades que melhor contribui para as
crianas em desenvolvimento. Segundo Galahue (2001), na infncia, as crianas desenvolvem
rapidamente uma srie de habilidades que so fundamentais, como os movimentos unilaterais
e bilaterais. As habilidades motoras bsicas so o rolar, o equilibrar-se, o saltar e o girar.
Aprender a execut-los, combinando-os em sequncia de movimentos facilita o
aprimoramento das capacidades fsicas mais complexas e amplia as possibilidades de
desempenho das habilidades motoras (Piccolo et alii, 2005, p. 32). Alm disso, contribui
para a concentrao, a disciplina, o respeito e para as caractersticas dos domnios cognitivo e
socioafetivo.

Sob a perspectiva de Brochado (2005), algumas caractersticas da GA se destacam.


So elas:
a. Na rea psicomotora: proporciona domnio, percepo espacial; controle dos
movimentos (parar, controlar os movimentos da cabea); lateralidade; conscincia corporal,
limite de fora, tempo de resistncia e reconhecimento dos limites.
b. Na rea socioafetiva: favorece o trabalho em equipe; o respeito e a compreenso
com o prximo; possibilita a superao do medo; auxilia a criana a reconhecer o perigo, a
avaliar os riscos e a procurar solues; proporciona alegria e satisfao com as conquistas e
sucessos; auxilia na formao da personalidade.
c. Na rea cognitiva: contribui na compreenso dos movimentos; no reconhecimento
dos prprios erros e no dos colegas; no entendimento da relao entre fora, resistncia,
flexibilidade e agilidade; na compreenso da necessidade e da importncia da concentrao.
Para Koren (2004), medida que a criana cresce e se desenvolve, gradualmente ela
passa a descobrir e conhecer as possibilidades de ao que seu corpo lhe proporciona.
Envolvida por vrios estmulos e ao estar no meio deste largo universo de movimentos que
vivencia a cada momento, dar-se- o desenvolvimento de sua capacidade cerebral. Durante a
infncia, a criana precisa de uma ateno especial e, para que o seu desenvolvimento ocorra
de forma ideal e satisfatria, necessita receber condies adequadas que favoream seu
crescimento.
Ao viver a infncia brincando e aprendendo atravs das atividades, ela
automaticamente adquire maiores experincias, que resultam no desenvolvimento do sistema
motor, e brincando a criana avana em relao aos seus nveis reais de desenvolvimento
(Velardi, 1997). Isso, segundo Tani (2008), a base para o crescimento do organismo
humano, e essas atividades, quando desenvolvidas de forma satisfatria, faro com que a
criana tenha uma sequncia de sucessos significativos em sua vida. Complementado por
Kamii (1991), o desenvolvimento um processo lento, e so necessrias muitas semanas ou
meses de ensino pacientemente ministrado para se alcanarem os resultados esperados. Nessa
abordagem, destaca Galahue (2001), os aumentos do corpo, que acontecem de forma lenta,
so caractersticos deste perodo, porm na altura e no peso so estveis, porque se encontram
rumo a um progresso de maior organizao dos sistemas sensrio-motor. Esses aumentos
lentos referidos pelo autor fazem parte do desenvolvimento e crescimento da criana, so
processos inter-relacionados, dois conceitos considerados sinnimos, entretanto cada um tem
suas caractersticas, que podem ser descritas conforme Galahue (2001):

a. Crescimento: refere-se totalidade da alterao fsica, ao aumento do tamanho do


corpo, causado pelo aumento das clulas.
b. Desenvolvimento: so alteraes no nvel de funcionamento fsico no decorrer do
tempo e significa que, ao longo da vida, necessrio ajustar, compensar ou mudar para obter
e manter a habilidade.
A esse respeito Tani (2008) afirma que o crescimento e o desenvolvimento so dois
aspectos importantes para a maturidade plena do organismo. So processos que esto
relacionados e podem ser sinnimos um do outro. O crescimento aumenta o tamanho das
clulas nos diversos sistemas do organismo e o desenvolvimento so as transformaes
ocorrentes nas clulas. Durante o desenvolvimento e o crescimento do corpo da criana as
clulas se multiplicam no organismo e o controle desse processo realizado por essas clulas
que podem ou no ativar genes que so influenciados pelas prprias clulas.
Na fase de desenvolvimento em questo, as crianas precisam receber estmulos em
trs aspectos, que Galahue (2001) define como reas do comportamento humano, tambm
definidas por Tani (2008) como domnios de aprendizagem que atuam em conjunto. Por isso
devem ser trabalhados de forma integrada; so eles:
a. Domnio cognitivo: envolve a relao funcional entre a mente e o corpo. Fazem
parte desse domnio as operaes mentais, tanto a descoberta como a reteno de
informaes. A participao dos aspectos cognitivos em qualquer ao motora possibilita uma
melhor programao e controle dos movimentos.
b. Domnio psicomotor: compreende todas as alteraes fsicas e fisiolgicas no
decorrer da vida, e os processos de alterao, estabilizao e de regresso na estrutura fsica e
na funo neuromuscular. Esses processos esto relacionados aos domnios dos movimentos
em funo de um envolvimento muito amplo do aspecto mental. Os movimentos estimulam
os impulsos nervosos e faro crescer a rede de neurnios, atuando na amplitude da capacidade
motora.
c. Domnio socioafetivo: envolve sentimentos e emoes quando aplicados ao prprio
indivduo e a outros por meio do movimento. Contempla a confiana motora, o autoconceito e
a socializao cultural. Esto relacionados ao ensino-aprendizagem: motivao, interesse,
responsabilidade, cooperao e respeito ao prximo.
Esses domnios de aprendizagem, quando experienciados pela criana, no ambiente
em que ela convive e ao qual se adapta, influenciaro em seu crescimento. Tal
desenvolvimento sistemtico, ou seja, acontece de forma linear. Existe uma ordem de
crescimento e de desenvolvimento em todo o organismo.

Ao se compreender a importncia desse processo, percebe-se que a funo do


professor proporcionar aos alunos atividades que contemplem todos esses aspectos que
influenciam no desenvolvimento. preciso criar meios para adequar as atividades,
considerando as possibilidades e limitaes, relacionando com a idade cronolgica,
fisiolgica e emocional da criana.
Para Behrens (2010), o papel da escola formar cidados crticos, produzir o
conhecimento com autonomia e, com criatividade e esprito investigativo, provocar a
interpretao do conhecimento e no apenas a sua aceitao. Para isso preciso adotar uma
prtica organizada que promova a apropriao de instrumentos e saberes, com autenticidade,
criando condies para melhorar a aprendizagem, de forma que o aluno e o professor sejam
protagonistas. O professor contm a informao e, medida que essa transmitida ao aluno,
ele pode se apropriar e construir seus prprios saberes com autonomia, e o professor, no seu
importante papel, se legitima como interlocutor qualificado. Conforme afirma Cosme (2011,
p. 64), aprender um processo que se inicia a partir do contato de significados que cada um
constri [...] e estabelece entre a sua realidade e as regras sociais existentes e prestabelecidas, a partir das vivncias, partilhando as atividades e experincias pessoais.
O foco aqui, portanto, pensado em uma perspectiva pedaggica, voltando o olhar
para os contedos. Esses permitem a possibilidade de introduzir uma prtica na escola que
torne as aulas mais dinmicas, oportunizando aos alunos as mais variadas experincias de
movimentos, extimulando a liberdade, a criatividade e o autoconhecimento. No ambiente
escolar, o trabalho com modalidades gmicas deve estar intimamente relacionado s propostas
educacionais, proporcionando vivncias diversificadas, sem fins competitivos (Schiavon,
2003, p. 9). A rea do conhecimento ideal para essa prtica a aula de Educao Fsica, com
contedos curriculares especficos.
Sobre autoconhecimento, Kunz (2005, p. 15) destaca:

No se trata de formar pessoas que se conheam melhor, apenas, mas formar


gente consciente de que jamais conhecer tudo de si, pois isso consiste em
conhecer a humanidade e o mundo. imprescindvel que a educao
desencadeie um processo de conhecimento de si atavs dos valores humanos
encontrados em cada indivduo, possibilitando condies para que cada
aluno [...] encontre, por suas referncias internas e no apenas do mundo
exterior [...] o que ele de fato em relao ao mundo, aos outros e a si
prprio.

Conforme estudos no mbito da ginstica (Nunomura e Piccolo, 1998; Barbosa 1999;


Koren, 2004; Schiavon, 2003), apesar de serem muitas as contribuies dessa modalidade

para o desenvolvimento das habilidades, podendo fazer sentido e significado ao aprendizado


dentro de um contexto da Educao Fsica, ela atualmente, no existe como contedo de
ensino na escola (Ayoub, 2003 apud Schiavon, 2003, p. 12) ou pouco existe. Esses e outros
estudos tambm indicam as falhas na formao profissional. Falta de materiais e de espao,
entre outros fatores, so citados como justificativa para a falta dessa cultura na escola,
incluindo, ainda, a falta de domnio do contedo pelos professores o fator mais agravante.

Coforme observa Schiavon (2003, p. 14):

A falta de conhecimento em ginstica faz com que a maioria dos


profissionais no visualize as possibilidades de execuo de elementos da
GA permanecendo uma imagem de leigos a respeito das possibilidades de
ensino dessas modalidades no ambiente escolar.

As mltiplas opes de contedos para a Educao Fsica, juntamente com uma certa
insegurana e falta de habilidade do professor, somando com a falta de espao e material,
podem ser apontados como razes dessa modalidade no ser contemplada na escola
(Schiavon, 2003). Para a prtica ldica da ginstica na escola, o espao pode ser adaptado, a
utilizao de materiais alternativos podem ser uma opo para a prtica e aprendizado dos
alunos.

Sobre a metodologia

A metodologia empregada na pesquisa foi qualitativa, observacional etnogrfica de


carter exploratrio, envolvendo observaes, vivncias e entrevistas semiestruturadas,
acompanhadas de roteiros e registros sistemticos. Com esse delineamento de pesquisa,
possvel uma aproximao maior com os sujeitos investigados, possibilitando uma melhor
compreenso da realidade e favorecendo novas interpretaes dos fenmenos (Minayo, 1994).
Os participantes dessa pesquisa foram 17 alunos, nove meninos e oito meninas entre
oito e dez anos, de uma turma de 3 ano de uma escola pblica localizada na Regio
Metropolitana de Porto Alegre-RS. O instrumento principal da pesquisa foram 12
intervenes realizadas no espao da escola durante as aulas de Educao Fsica,
desenvolvidas pela prpria pesquisadora no perodo de junho/2011 a setembro/2011. No
primeiro contato com os alunos foi apresentada a proposta de como seriam as aulas de

Educao Fsica, caso eles concordassem em participar do estudo. Aps a aceitao por parte
dos alunos e a autorizao dos pais atravs do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
foram realizadas as intervenes semanais que tiveram por base aquelas descritas por
Brochado (2005).
O espao para as intervenes foi utilizado de acordo com a estrutura da escola, que
no dispunha de lugar especfico para a prtica da ginstica e nenhum material oficial.
Findadas as intervenes, foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas.
Os depoimentos foram gravados e posteriormente transcritos. A compreenso dos dados foi
realizada atravs de anlise de contedo (Gibbs, 2009). A partir dos registros foram definidas
categorias, conforme Laville e Dione (1999) baseadas nos temas que mais se destacaram nas
falas dos alunos, essas relacionadas com os argumentos tericos para uma melhor
compreenso dos dados.

A prtica vivenciada

Ao vivenciar a experincia da ginstica na escola, as alegrias e emoes


proporcionadas por esta prtica ldica, pode-se perceber que algumas crinas no souberam
verbalizar tudo que a gintica significou para elas, ou seja, no momento das entrevistas
ficaram retradas, tmidas. Devido a isso apresentaram limitaes para responder s perguntas
com clareza. Sobretudo, durante a realizao das atividades, transmitiram atravs da
linguagem corporal o que haviam compreendido dos ensinamentos, envolviam-se nos
prprios movimentos, com os colegas, persistiam no exerccio e vibravam com as conquistas.
importante ressaltar que a ginstica na escola no tem como meta descobrir novos atletas,
mas buscar um melhor resultado no processo de ensino-aprendizagem.
Por meio de anlise das entrevistas realizadas com os alunos, destacaram-se as
seguintes categorias: Significados e aprendizagens. A partir destas categorias foi possvel
descrever a viso que a criana tem em relao prtica da ginstica artstica na escola e o
que essa experincia representou em seu aprendizado.

Significados

Aprender algo novo, novas sensaes, conhecer o prprio corpo, suas capacidades e
limites atravs da ginstica artstica, foi uma experincia significativa para os alunos. Legal
e divertido traduz as diversas manifestaes apresentadas pela turma durante a vivncia, era

perceptvel aos olhos o prazer em realizar aquela prtica. Atravs das entrevistas, os alunos
confirmaram que gostaram muito das aulas, estavam abertos ao aprendizado. Conforme
percebemos em algumas falas: Antes no tinha essas atividades na educao fsica eu ia
gostar se tivesse sempre! (Mnica)1; eu achei bem legal, porque a gente no sabia dessas
coisas, e agora a gente aprende e sabe fazer e conhece (Florzinha). Demonstravam
preferncias pelas atividades, ora distintas, ora semelhantes, o que mostra, de uma certa
forma, a identidade de cada um: eu gostei mais da ponte e do rolinho para trs, mais ainda
gostei da estrelinha, mas mais ainda do elefantinho (Mnica); a parada de mos eu no
sei, gosto mais da parada de 3 apoios (Perna Longa); eu gostei mais de parada de mos e
elefantinho, eu gosto de todas, mas acho mais sem graa a estrelinha porque mais simples
(Florzinha).
Essas falas sustentam as observaes durante a vivncia, pois os alunos pediam para
repetir e fazer mais os elementos preferidos. Quando sentiam dificuldades de executar o
movimento, no primeiro momento a recepo era negativa: esse no gostei, vamos fazer o
elefantinho (Bob); at conseguir execut-lo e ouvir da professora: conseguiu, muito bem!,
ento queriam repetir. De alguma forma isso pode indicar a importncia da interveno do
professor no sentido de estimular a execuo do movimento pelo aluno, que tende a desistir
quando no bem sucedido.
Sobre esse sentimento de prazer que a GA proporcionou aos alunos participantes do
estudo, os registros dessa discusso vem ao encontro do que afirma Koren (2004 p.151):

[...] os movimentos gmnicos permitem que a criana vivencie diferentes


sensaes corporais a partir de suas prprias descobertas e o ato de brincar
com seus movimentos corporais, naturalmente desperta uma enorme
sensao de satisfao, fazendo com que aproveitem bem sua oportunidade
de experimentar.

A aprendizagem de um domnio corporal atravs de movimentos da ginstica


proporciona criana uma sensao prazerosa, de alegria e diverso. Isso tudo possvel
durante a aula regular de Educao Fsica, sem necessariamente uma estrutura oficial, apenas
com os materiais disponveis e adaptados; um pouco que resulta em muito para as crianas
que esto sendo propiciadas com um novo aprendizado.
1

Os nomes utilizados neste estudo so (personagens de desenhos animados) meramente fictcios, garantindo-se
a preservao de identidade dos participantes.

Esse perodo em que puderam vivenciar algo novo foi marcado diferentemente a cada
momento, e como todo projeto, as intervenes tiveram incio e fim. Uma das expectativas era
que ao final do trabalho os alunos ficassem com gosto de quero mais, isso foi constatado e
verbalizado, expressaram vontade de continuar com as aulas, de aprender ainda mais a
ginstica e com a ginstica na escola, queria mais aulas assim, melhorei na sala tambm
(Patolino). Mesmo deparando-se com dificuldades, aos poucos cada um, no seu tempo
conseguiu obter um progresso. As crianas em desenvolvimento tm suas limitaes e o seu
tempo para aprendizagens motoras e o desenvolvimento corporal que so influenciados por
vrios fatores, no apenas da proposta pedaggica e da vontade prpria. Conforme Gallahue
(2001), o aprendizado motor pode ser um processo durante toda a vida e a aptido para o
aprendizado depende da convergncia de fatores biolgicos, ambientais e fsicos. Sobretudo,
destaco a percepo desses alunos sobre suas aprendizagens, representada pela fala da
Moranguinho: Quero aprender as outras atividades [...] fazer as outras coisas que no
consegui, vou treinar em casa. Sobre o tempo individual de cada criana para o aprendizado,
vale ressaltar, que um processo lento, e para alcanar os resultados esperados so
necessrias muitas semanas ou meses de ensino (Kamii, 1991). Outro item revelado, apenas
por trs alunas, mas indicador de que as crianas percebem outros fatores que no somente o
que legal e divertido foi os benefcios para a sade: Faz bem para o corpo, sinto mais
energia (Pocahontas); essa fala de uma das crianas, da mesma forma que outras que viro a
seguir, revela tambm sua preocupao com a sade do corpo, percebendo os benefcios que
pode obter com a prtica da ginstica na escola, para alm do aprendizado pedaggico que os
professores objetivam. bom pra aprender, pro nosso corpo no ficar enferrujado, o meu
tava antes e agora no ta mais (Margarida). Essa aluna, assim como Moranguinho (Sinto
mais energia, antes sentia preguia e agora no sinto mais), identifica tambm uma
mudana no prprio corpo, no apenas ao conseguir realizar os movimentos, mas ao sentir-se
mais disposta para outros afazeres e para as outras aulas. Conforme ressalta Koren (2004)
durante o crescimento e o desenvolvimento, gradativamente a criana ir descobrir e conhecer
novas possibilidades de aes e modificaes que seu corpo lhe proporciona.

Aprendizagens
A categoria aprendizagem do novo foi surpreendente, pois, quando perguntado: O
que mais gostou? os alunos no listaram as atividades que mais gostaram, mas sim, que as
aulas como um todo proporcionaram um aprendizado novo, que foi importante para eles. A

ginstica vivenciada de maneira ldica um momento da aula de Educao Fsica em que os


alunos aprendem algo novo, diferente da realidade cotidiana. Eu aprendi tudo isso da, nem
sabia que existia, a nica que eu sabia era a bananeira, que pra ns (agora) a parada de
mos (Perna Longa). Essa experincia, que oportunizou a muitos dos alunos terem um
contato com algo totalmente novo, constatada na fala de Aladin: No conhecia nada,
aprendi tudo aqui. Registrado tambm por Florzinha: a gente no sabia dessas coisas, e
agora a gente aprende e sabe fazer e conhece desenvolvendo reconhecimento e uma
imagem positiva de si.
J, na categoria aprendizagem do conhecido da forma correta, alm de registrarem
as novas aprendizagens, os alunos que j conheciam alguns elementos da ginstica
reconheceram tambm que aprenderam o que j conheciam da maneira correta: a estrelinha, o
rolinho, a parada de mos, muitas vezes as crianas comeam a se arriscar sozinhos, mas
durante a vivncia perceberam que, na aula de ginstica na educao fsica, que aprenderam
executar da maneira correta, ou seja, houve um avano na aprendizagem simplesmente por
essa percepo. eu fazia a estrelinha diferente, no parava em p do modo que tem que
parar, eu sentava (Mnica). Envergonhada Sininho tambm revela: Aprendi tudo aqui. Eu
sabia um pouco o rolinho pra frente, mas no igual eu aprendi aqui o jeito certo, eu j
colocava a cabea e rolava... agora fao direito. Realizando o movimento correto, para
alm do corpo da criana avanar maturacionalmente, evitam-se possveis leses. Entretanto,
cabe ressaltar que ao ter a iniciativa de realizar o movimento com uma tcnica prpria, o
aluno demonstra uma aptido para desenvolver-se nas atividades, e poder ter mais facilidade
de aprender a executar o movimento da maneira correta; isso se pode observar durante as
intervenes, alguns alunos, mesmo antes de saber como era a execuo do movimento, se
arriscavam a demonstrar; a cada novo elemento eles sempre eram indagados se j conheciam,
se tinham visto em algum lugar. Normalmente, o Patolino, o Perna Longa, a Florzinha e a
Sininho sempre queriam demonstrar, lembravam se tinham visto em algum lugar ou
imaginavam como seria o movimento e realizavam, demonstrando dessa forma aptido para a
atividade. Esses alunos ao aprenderem a execuo da maneira correta tinham mais facilidades
e auxiliavam os outros colegas.
Atravs da GA, o professor tem condies de oferecer para a criana a possibilidade
de uma ampliao do vocabulrio motor, de desenvolvimento global e de suas potencialidades
(Velardi, 1997). Observando o grupo, foi perceptvel durante as intervenes o
desenvolvimento das potencialidades dos alunos e o avano gradativo da maturao corporal
de cada um. Inspirada em Gallahue (2001, p. 74), a maturao evidenciada por meio de

crescentes habilidades que vo sendo melhoradas por meio da prtica. Quando comeamos
as intervenes, os alunos estavam um tanto quanto retrados, apresentavam muitas limitaes
e dificuldades nos movimentos mais bsicos da GA. No decorrer das aulas, com a prtica
regular, aos poucos foram apresentado um desenvolvimento crescente nas habilidades, visvel
na facilidade da execuo e no aperfeioamento do movimento, facilitando o aprimoramento
das capacidades fsicas mais complexas e ampliando as possibilidades de desempenho das
habilidades motoras (Piccolo 2005).

Consideraes

O mundo do tamanho do conhecimento que temos dele. Alargar o


conhecimento, para fazer o mundo crescer, e apurar seu sabor, tarefa de
seres humanos. tarefa, por excelncia, de educadores (RIOS, 2006, p. 24).

Como um todo, a Educao Fsica proporciona o desenvolvimento corporal e contribui


na formao integral da criana atravs de atividades fsicas. Sendo assim, fica evidente o
valor da Educao Fsica escolar, pois as atividades realizadas nessa disciplina proporcionam
criana a construo de seu conhecimento atravs de culturas corporais. A ginstica artstica
vivenciada de maneira ldica possibilita um melhor aprendizado ao aluno, favorecendo no
processo de ensino-aprendizagem e reconhecimento de si. Realizar atividades atravs da
cultura das ginsticas foi algo de grande satisfao, pois durante as intervenes pudemos
vivenciar junto com os alunos a experincia que estava passando em cada um, alm de
perceber o impacto que essa prtica causou. Para eles foi uma Educao Fsica diferente da
ento j vivenciada no cotidiano escolar, expressada por eles atravs dos prprios
movimentos, da fala, com alegria, muitos risos e muita vibrao.
Atravs desse estudo foi possvel observar e acompanhar a criana em seu processo
educacional de forma significativa, constatando que a GA realmente uma cultura corporal
que promove o desenvolvimento fsico e motor das crianas, auxiliando tambm na
construo da identidade desses alunos. Isso porque, alm do desenvolvimento psicomotor, os
alunos apresentaram melhoras significativas na rea cognitiva e socioafetiva, reveladas pelos
prprios alunos durante as entrevistas: melhorei na sala tambm [com a outra professora]
(Patolino). Com base nesses achados, acreditamos que se a GA for aplicada como contedo
disciplinar fundamentado. Assim como outras culturas j presentes na Educao Fsica
escolar, ela poder contribuir positivamente na formao do aluno, pois uma modalidade

com diversos elementos que o colocam em desafio para explorar seus movimentos, capaz de
estimul-lo para descobrir e desenvolver seus prprios potenciais. Essas representaes e
significados dos alunos para a GA mostram a importncia de incluir diferentes culturas de
forma pedaggica na escola.
Faz-se importante e necessria a ampliao das discusses que abordam a temtica da
ginstica artstica na escola, assim como de outras culturas corporais do movimento que
possam vir a melhorar o ensino nas aulas de Educao Fsica.
Vivenciando diversas situaes propiciadas durante o perodo de realizao da
pesquisa, so possveis algumas reflexes acerca da construo da docncia, interpretada por
Nvoa (1992, p. 9): ser professor obriga a opes constantes, que cruzam a nossa maneira de
ser com a nossa maneira ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa
maneira de ser.
A Educao Fsica precisa ser pensada para os alunos, proporcionando um momento
diferenciado de aprendizagem, com constante acompanhamento do professor desempenhando
o seu papel pedaggico. Contudo, faz-se necessrio, planejar as aulas com coerncia, a fim de
trabalhar amplamente as capacidades das crianas, buscar capacitao para desenvolver essa
modalidade e encontrar um espao para a ginstica artstica na escola, explorar ao mximo o
espao escolar que deve ser o lugar para a construo do conhecimento, para formao do
aluno e professor. , pois, este o ambiente em que ambos so protagonistas de suas histrias.

REFERNCIAS

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