Artigo 1 - Ginástica Artística Educação Física
Artigo 1 - Ginástica Artística Educação Física
Artigo 1 - Ginástica Artística Educação Física
Resumo:
Esta pesquisa apresenta uma reflexo sobre o aprendizado da ginstica artstica na educao fsica escolar,
examinada a partir das manifestaes dos alunos da 3 srie de uma escola pblica localizada na Regio
Metropolitana de Porto Alegre-RS. O estudo de carter qualitativo e de cunho etnogrfico. Autores como:
Nunomura e Piccolo, 2005; Schiavon, 2003; Brochado, 2005 e Koren, 2004; Pimenta, 2006 e Gonzaga, 2006
sustentam as dimenses terico-metodolgicas estudadas. A partir da anlise de contedo realizada, foi
observado que a ginstica artstica vivenciada de maneira ldica possibilita um melhor aprendizado ao aluno,
favorecendo o processo de ensino-aprendizagem e o reconhecimento de si. Da experincia propiciada durante as
aulas de Educao Fsica so trazidas neste trabalho duas dimenses que representaram a ginstica artstica:
significados, aprendizagem. Para alm dos significados dos alunos, possibilitou uma reflexo a respeito da
prtica pedaggica dos professores de Educao Fsica, no sentido de que a Educao Fsica precisa ser pensada
para os alunos, proporcionando um momento diferenciado de aprendizagem, com constante acompanhamento do
professor desempenhando o seu papel pedaggico. Contudo, faz-se necessrio, planejar as aulas com coerncia,
a fim de trabalhar amplamente as capacidades das crianas, buscar capacitao para desenvolver essa
modalidade e encontrar um espao para a ginstica artstica na escola, explorar ao mximo o espao escolar que
deve ser o lugar para a construo do conhecimento, para formao do aluno e professor. , pois, este o ambiente
em que ambos so protagonistas de suas histrias.
Palavras-chave: Significados na aprendizagem; Desenvolvimento na infncia; Prtica pedaggica.
Introduo
que poder haver uma compreenso mais ampla e significativa nas descobertas [...] medida
que nos colocarmos abertos para novas experincias educacionais e as empregarmos em sala
de aula. Pois tudo que o aluno vivencia e oportunizado vai refletir na transformao das
fases da vida. Em relao a esse conceito, Tani (2008, p. 65) afirma: as experincias que a
criana tem durante este perodo determinaro, em grande extenso, que tipo de adulto se
tornar. Se os educadores reportarem-se s suas lembranas, direcionando-se a realizar uma
reflexo sobre as mltiplas maneiras que lhes foram propiciadas e possibilitaram a construo
de momentos inesquecveis enquanto crianas, podero perceber que muitos deles foram
responsveis pela transformao do que cada um hoje.
Na perspectiva de White (1975, p. 302), todas as coisas que as crianas veem e
ouvem na infncia e na sua meninice so profundamente impressas no seu esprito. Sob essa
reflexo, destaca-se que os educadores tm a responsabilidade de contribuir no processo de
desenvolvimento pessoal e de aprendizagem dos alunos, auxiliando na construo de sua
prpria histria e na apropriao dos saberes de forma significativa. Este estudo convida os
educadores a repensar pedagogicamente a Educao Fsica, proporcionando possibilidades de
desenvolvimento e de reflexo quanto a suas prticas.
Ao proporcionar uma prtica diferente, que atenda s necessidades de cada fase do
desenvolvimento da criana durante a sua infncia, esse estudo teve como foco identificar os
sentidos e os significados da prtica da ginstica artstica na escola, baseando-se pelas
verbalizaes dos alunos sobre suas percepes acerca da ginstica artstica vivenciada.
A GA pode ser vista sob diferentes prismas; por exemplo, como ginstica escolar e de
alto rendimento. De acordo com Nunomura e Piccolo (2005), ela tima promotora do
desenvolvimento fsico e motor, ou seja, uma das modalidades que melhor contribui para as
crianas em desenvolvimento. Segundo Galahue (2001), na infncia, as crianas desenvolvem
rapidamente uma srie de habilidades que so fundamentais, como os movimentos unilaterais
e bilaterais. As habilidades motoras bsicas so o rolar, o equilibrar-se, o saltar e o girar.
Aprender a execut-los, combinando-os em sequncia de movimentos facilita o
aprimoramento das capacidades fsicas mais complexas e amplia as possibilidades de
desempenho das habilidades motoras (Piccolo et alii, 2005, p. 32). Alm disso, contribui
para a concentrao, a disciplina, o respeito e para as caractersticas dos domnios cognitivo e
socioafetivo.
As mltiplas opes de contedos para a Educao Fsica, juntamente com uma certa
insegurana e falta de habilidade do professor, somando com a falta de espao e material,
podem ser apontados como razes dessa modalidade no ser contemplada na escola
(Schiavon, 2003). Para a prtica ldica da ginstica na escola, o espao pode ser adaptado, a
utilizao de materiais alternativos podem ser uma opo para a prtica e aprendizado dos
alunos.
Sobre a metodologia
Educao Fsica, caso eles concordassem em participar do estudo. Aps a aceitao por parte
dos alunos e a autorizao dos pais atravs do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
foram realizadas as intervenes semanais que tiveram por base aquelas descritas por
Brochado (2005).
O espao para as intervenes foi utilizado de acordo com a estrutura da escola, que
no dispunha de lugar especfico para a prtica da ginstica e nenhum material oficial.
Findadas as intervenes, foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas.
Os depoimentos foram gravados e posteriormente transcritos. A compreenso dos dados foi
realizada atravs de anlise de contedo (Gibbs, 2009). A partir dos registros foram definidas
categorias, conforme Laville e Dione (1999) baseadas nos temas que mais se destacaram nas
falas dos alunos, essas relacionadas com os argumentos tericos para uma melhor
compreenso dos dados.
A prtica vivenciada
Significados
Aprender algo novo, novas sensaes, conhecer o prprio corpo, suas capacidades e
limites atravs da ginstica artstica, foi uma experincia significativa para os alunos. Legal
e divertido traduz as diversas manifestaes apresentadas pela turma durante a vivncia, era
perceptvel aos olhos o prazer em realizar aquela prtica. Atravs das entrevistas, os alunos
confirmaram que gostaram muito das aulas, estavam abertos ao aprendizado. Conforme
percebemos em algumas falas: Antes no tinha essas atividades na educao fsica eu ia
gostar se tivesse sempre! (Mnica)1; eu achei bem legal, porque a gente no sabia dessas
coisas, e agora a gente aprende e sabe fazer e conhece (Florzinha). Demonstravam
preferncias pelas atividades, ora distintas, ora semelhantes, o que mostra, de uma certa
forma, a identidade de cada um: eu gostei mais da ponte e do rolinho para trs, mais ainda
gostei da estrelinha, mas mais ainda do elefantinho (Mnica); a parada de mos eu no
sei, gosto mais da parada de 3 apoios (Perna Longa); eu gostei mais de parada de mos e
elefantinho, eu gosto de todas, mas acho mais sem graa a estrelinha porque mais simples
(Florzinha).
Essas falas sustentam as observaes durante a vivncia, pois os alunos pediam para
repetir e fazer mais os elementos preferidos. Quando sentiam dificuldades de executar o
movimento, no primeiro momento a recepo era negativa: esse no gostei, vamos fazer o
elefantinho (Bob); at conseguir execut-lo e ouvir da professora: conseguiu, muito bem!,
ento queriam repetir. De alguma forma isso pode indicar a importncia da interveno do
professor no sentido de estimular a execuo do movimento pelo aluno, que tende a desistir
quando no bem sucedido.
Sobre esse sentimento de prazer que a GA proporcionou aos alunos participantes do
estudo, os registros dessa discusso vem ao encontro do que afirma Koren (2004 p.151):
Os nomes utilizados neste estudo so (personagens de desenhos animados) meramente fictcios, garantindo-se
a preservao de identidade dos participantes.
Esse perodo em que puderam vivenciar algo novo foi marcado diferentemente a cada
momento, e como todo projeto, as intervenes tiveram incio e fim. Uma das expectativas era
que ao final do trabalho os alunos ficassem com gosto de quero mais, isso foi constatado e
verbalizado, expressaram vontade de continuar com as aulas, de aprender ainda mais a
ginstica e com a ginstica na escola, queria mais aulas assim, melhorei na sala tambm
(Patolino). Mesmo deparando-se com dificuldades, aos poucos cada um, no seu tempo
conseguiu obter um progresso. As crianas em desenvolvimento tm suas limitaes e o seu
tempo para aprendizagens motoras e o desenvolvimento corporal que so influenciados por
vrios fatores, no apenas da proposta pedaggica e da vontade prpria. Conforme Gallahue
(2001), o aprendizado motor pode ser um processo durante toda a vida e a aptido para o
aprendizado depende da convergncia de fatores biolgicos, ambientais e fsicos. Sobretudo,
destaco a percepo desses alunos sobre suas aprendizagens, representada pela fala da
Moranguinho: Quero aprender as outras atividades [...] fazer as outras coisas que no
consegui, vou treinar em casa. Sobre o tempo individual de cada criana para o aprendizado,
vale ressaltar, que um processo lento, e para alcanar os resultados esperados so
necessrias muitas semanas ou meses de ensino (Kamii, 1991). Outro item revelado, apenas
por trs alunas, mas indicador de que as crianas percebem outros fatores que no somente o
que legal e divertido foi os benefcios para a sade: Faz bem para o corpo, sinto mais
energia (Pocahontas); essa fala de uma das crianas, da mesma forma que outras que viro a
seguir, revela tambm sua preocupao com a sade do corpo, percebendo os benefcios que
pode obter com a prtica da ginstica na escola, para alm do aprendizado pedaggico que os
professores objetivam. bom pra aprender, pro nosso corpo no ficar enferrujado, o meu
tava antes e agora no ta mais (Margarida). Essa aluna, assim como Moranguinho (Sinto
mais energia, antes sentia preguia e agora no sinto mais), identifica tambm uma
mudana no prprio corpo, no apenas ao conseguir realizar os movimentos, mas ao sentir-se
mais disposta para outros afazeres e para as outras aulas. Conforme ressalta Koren (2004)
durante o crescimento e o desenvolvimento, gradativamente a criana ir descobrir e conhecer
novas possibilidades de aes e modificaes que seu corpo lhe proporciona.
Aprendizagens
A categoria aprendizagem do novo foi surpreendente, pois, quando perguntado: O
que mais gostou? os alunos no listaram as atividades que mais gostaram, mas sim, que as
aulas como um todo proporcionaram um aprendizado novo, que foi importante para eles. A
crescentes habilidades que vo sendo melhoradas por meio da prtica. Quando comeamos
as intervenes, os alunos estavam um tanto quanto retrados, apresentavam muitas limitaes
e dificuldades nos movimentos mais bsicos da GA. No decorrer das aulas, com a prtica
regular, aos poucos foram apresentado um desenvolvimento crescente nas habilidades, visvel
na facilidade da execuo e no aperfeioamento do movimento, facilitando o aprimoramento
das capacidades fsicas mais complexas e ampliando as possibilidades de desempenho das
habilidades motoras (Piccolo 2005).
Consideraes
com diversos elementos que o colocam em desafio para explorar seus movimentos, capaz de
estimul-lo para descobrir e desenvolver seus prprios potenciais. Essas representaes e
significados dos alunos para a GA mostram a importncia de incluir diferentes culturas de
forma pedaggica na escola.
Faz-se importante e necessria a ampliao das discusses que abordam a temtica da
ginstica artstica na escola, assim como de outras culturas corporais do movimento que
possam vir a melhorar o ensino nas aulas de Educao Fsica.
Vivenciando diversas situaes propiciadas durante o perodo de realizao da
pesquisa, so possveis algumas reflexes acerca da construo da docncia, interpretada por
Nvoa (1992, p. 9): ser professor obriga a opes constantes, que cruzam a nossa maneira de
ser com a nossa maneira ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa
maneira de ser.
A Educao Fsica precisa ser pensada para os alunos, proporcionando um momento
diferenciado de aprendizagem, com constante acompanhamento do professor desempenhando
o seu papel pedaggico. Contudo, faz-se necessrio, planejar as aulas com coerncia, a fim de
trabalhar amplamente as capacidades das crianas, buscar capacitao para desenvolver essa
modalidade e encontrar um espao para a ginstica artstica na escola, explorar ao mximo o
espao escolar que deve ser o lugar para a construo do conhecimento, para formao do
aluno e professor. , pois, este o ambiente em que ambos so protagonistas de suas histrias.
REFERNCIAS
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