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O Filho Pródigo

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Nota Introdutória ao Sermão

Sobre
o Filho Pródigo (112A)
extraído do livro: Jean Lauand (org.) Cultura e Educação
na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998
Agradecemos links a esta página, mas – por razões contratuais -
é vedada a reprodução deste texto em outros sites
Jean Lauand

Dentre os inúmeros sermões de Agostinho que chegaram até nós, vale a pena
conhecer o 112A, pela beleza do tema que aborda: a parábola do filho
pródigo, a paternal misericórdia de Deus para com a fraqueza humana.
Neste sermão, proferido em dezembro de 399 como continuação de um outro,
inacabado, do domingo anterior, Agostinho trata principalmente do
arrependimento humano e do perdão de Deus. Nos tópicos finais, discute
também o problema do judaísmo perante o cristianismo e, nesse sentido, é
fascinante observar a facilidade e a pertinência com que relaciona a parábola
com Isaías e com diversos salmos (partes IV e VI).
Certamente, o objetivo de Agostinho é pastoral. Interessa-lhe em primeiro
lugar que a pregação desperte interesse, convença e seja lembrada pelo povo.
É em função desse primeiro objetivo que ele cultiva o estético. Valendo-se das
artes da palavra, que domina como ninguém, veicula a verdade não só pela
lógica mas também pela beleza.
Seu talento para a metáfora e para a alegoria ( [1] ) atinge o auge quando, na
parte VI, após lançar o ouvinte num paradoxo aparentemente insolúvel, e
criando um clima de autêntico suspense, resolve o impasse com a comparação
das aves, num dos mais empolgantes momentos na oratória de todos os
tempos.
Ao elaborar esses sermões, obras-primas de conteúdo e forma, Agostinho - ele
mesmo no-lo diz no começo do texto - considera a sua tarefa de pregador
como uma tarefa de amor e de entrega.
Apresento aqui a tradução ( [2] ) praticamente completa das primeiras partes (I
a VII), por serem de extrema atualidade, e um resumo do restante do texto no
final.

Sermão de S. AGOSTINHO Sobre o Filho Pródigo


(Sermão 112A - sobre Lc 15,11-32)

Trad. Jean Lauand


"Disse Jesus: Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu
pai, dá-me a parte do patrimônio que me toca. O pai então repartiu entre eles
os haveres. Poucos dias depois ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o
filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou sua herança
vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela
região uma grande fome: e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se a
serviço de um dos senhores daquela região, que o mandou para os seus
campos guardar porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos
comiam, mas ninguém lhas dava. Entrando então em si e refletiu: <<Quantos
empregados há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a
morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai,
pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como a um dos teus empregados>>. Levantou-se, pois, e foi ter com
seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela
misericórdia, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O
filho lhe disse então: <<Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho>>. Mas o pai disse aos servos: <<Trazei-me
depressa a melhor (primeira) veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e
calçado nos pés. Trazei também o bezerro cevado e matai-o; comamos e
festejemos. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido e foi
achado>>. E começaram a festa...
I
Não é necessário determo-nos em assunto de que já tratamos; mas se não é o
caso de nos demorarmos, sim o é de rememorarmos ( [3] ). Vossa prudência
ainda lembra que no domingo passado comentei a parábola, lida no
Evangelho de hoje, a do filho pródigo, comentário que no entanto não pude
concluir. Deus Nosso Senhor quis, porém, que, passada aquela tribulação
( [4] ), possamos hoje continuar a falar.
Sinto-me obrigado a pagar a dívida do sermão, porque as dívidas de amor
sempre devem ser pagas. Assista-me Deus para que meus poucos recursos
possam satisfazer a vossa expectativa.
II
O homem que tem dois filhos é Deus que tem dois povos: o filho mais velho é
o povo judeu; o menor, os gentios.
O patrimônio que este recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o
engenho e tudo o que Deus nos deu para que O conhecêssemos e Lhe
déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor "partiu para
um país muito distante". Distância significa: o esquecimento de seu Criador.
"Dissipou sua herança vivendo dissolutamente": gastando e não ajuntando;
malbaratando tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é,
consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, em todo tipo de
desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.
III
Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. "Sobreveio àquela
região uma grande fome"; fome não de pão visível mas da verdade invisível.
E, por causa da fome, "foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela
região": entenda-se o diabo, o senhor dos demônios, sob cujo poder caem
todos os curiosos ( [5] ), pois a curiositas é o pestilento abandono da verdade.
À margem de Deus, por entregar-se a seus próprios recursos, foi submetido à
servidão e lhe tocou o ofício de apascentar porcos, o que significa a servidão
mais extrema e imunda que costuma alegrar os demônios: não foi por acaso
que o Senhor, quando expulsou a legião dos demônios, permitiu que
entrassem na piara de porcos.
Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são
as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar
( [6] ); alimento digno para porcos, mas não para homens: próprias para dar
aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.
IV
Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto
tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem se tinha submetido. Reparai no
que diz o Evangelho: "Entrando em si..."; primeiramente, voltou-se para si e
só assim pôde voltar para o pai. Dizia talvez: "O meu coração me abandonou
(isto é: saí de mim mesmo)" (Sl 40,13) ( [7] ); daí que fosse necessário, antes,
voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do pai. É o
que diz a Escritura quando increpa a alguns, dizendo: "Voltai, pecadores, ao
coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)" (Is 46,8). Voltando para
si mesmo, encontrou-se miserável: "Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e
invoquei o nome do Senhor" (Sl 116,3-4). "Quantos empregados, diz ele, há
na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de
fome!" (...)
V
Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O
pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele que fala o Salmo: "Entendeste
meus pensamentos de longe" (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o
filho tinha em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei:
Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado
teu filho; trata-me como a um dos teus empregados". Ele ainda nada tinha
dito, só pensava em dizer. O pai, porém, ouvia como se o filho já o estivesse
dizendo.
Por vezes, em meio a uma tribulação ou tentação, alguém pensa em orar, e,
no próprio ato de pensar o que irá dizer a Deus na oração, considera que é
filho e que, como tal, tem direito a reivindicar a misericórdia do Pai. E diz de
si para si: "Direi a meu Deus isto e aquilo; não temo que, em lhe dizendo
isto, e chorando, não seja eu atendido pelo meu Deus". Geralmente, Deus já
o está atendendo quando ele diz estas coisas; e mesmo antes, quando as
cogita, pois mesmo o pensamento não está oculto ao olhar de Deus. Quando
o homem delibera orar, já lá está Aquele que lá estará quando ele começar a
oração.
E assim se diz em outro Salmo: "Eu disse: confessarei minha iniqüidade ao
Senhor" (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de algo interior a ele, de um
mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: "E tu já perdoaste a
impiedade de meu coração" (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de
Deus daquele que se confessa! Não, Deus não está longe de quem tem um
coração contrito, como está escrito: "Deus está próximo dos que trituram seu
coração" (Sl 34,19). E neste triturar seu coração no país da penúria,
retornava ao coração para moê-lo. Soberbo, abandonara seu coração; irado
com santa indignação ( [8] ), a ele retorna.
Indignou-se contra si mesmo, contra o mal que há em si, para se emendar;
retornou para merecer o bem do pai. Indignou-se conforme a sentença: "Irai-
vos para não pecar" (Sl 4,5). Pois quem está arrependido fica irado e, por
estar indignado consigo mesmo, se pune.
Daí surgem aquelas práticas próprias do penitente que verdadeiramente se
arrepende, verdadeiramente se dói, sente ira contra si mesmo. Certamente, é
indício dessa ira o bater no peito: o que a mão faz externamente, a
consciência o faz internamente: golpeia-se nos pensamentos, ou melhor,
produz a morte em si mesmo ( [9] ). E, matando-se, oferece a Deus o
"sacrifício de um espírito atribulado. Deus não despreza um coração contrito
e humilhado" (Sl 51,19). E, assim, raspando, quebrando, humilhando seu
coração, leva-o à morte.
VI
Embora tivesse ainda somente a disposição de falar ao pai, cogitando em seu
interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei...", o pai, que de longe
já conhece essas cogitações, foi ao seu encontro.
Que significa "ir ao encontro" senão antecipar-se pela misericórdia? Pois,
"estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia,
correu-lhe ao encontro". Por que foi movido pela misericórdia? Porque o
filho tinha confessado sua miséria. "E correndo-lhe ao encontro, lançou-se-
lhe ao pescoço", isto é, pôs o braço sobre o pescoço dele.
Ora, o braço do Pai é o Filho: deu-lhe, portanto, Cristo para carregar: uma
carga que não pesa, mas alivia. "Meu jugo é suave, diz Cristo, e meu fardo é
leve" (Mt 11,30). Ele se apoiava sobre o que estava de pé e, por apoiar-se,
impedia-o de tornar a cair. Tão leve é o fardo de Cristo que não só não pesa,
mas, pelo contrário, até ergue.
Não que o fardo de Cristo seja uma carga dessas que se chamam leves (não
há carga, por mais leve que seja, que não tenha algum peso). Pode-se
carregar um fardo pesado, um fardo leve ou, ainda, não carregar fardo
algum. Anda oprimido quem carrega fardo pesado; menos oprimido quem
leva uma carga leve (embora também ande oprimido); com os ombros
totalmente desembaraçados, quem não carrega fardo algum. Não é dessa
ordem o fardo de Cristo, mas um fardo tal que convém ( [10] ) carregá-lo
para sentir-se aliviado; se nos desvencilharmos dele, mais carregados nos
sentiremos.
E que esta nossa afirmação, irmãos, não vos pareça absurda! Talvez
encontremos alguma comparação que vos torne plausível, até em termos de
nossa experiência sensível, o que estou dizendo. Um caso, também ele,
espantoso e totalmente incrível.
É o seguinte: considerai as aves. Toda ave carrega o peso de suas asas: não
reparastes como, quando descem ao chão, recolhem as asas para poder
descansar e como que as levam nos costados? Julgais que estão oprimidas
pelo peso das asas? Tirai-lhe este peso e cairão: quanto menos pesarem as
asas, menos pode a ave voar.
Alguém que, a título de misericórdia, as privasse deste peso, não estaria
sendo misericordioso. A verdadeira misericórdia está em poupar-lhes esta
privação e, se já perderam as asas, em dar-lhes alimento para que
readquiram asas pesadas e possam arrancar-se da terra e voar. É bem este o
peso que desejava o salmista: "Quem me dará asas como as da pomba para
que eu voe e encontre meu repouso?" (Sl 55,7)
Assim, o peso do braço do pai sobre o pescoço do filho não o carregou, mas o
aliviou; foi-lhe honroso e não oneroso ( [11] ). Como é, pois, o homem capaz
de carregar consigo a Deus se não é porque o está carregando, o Deus que
ele carrega? ( [12] ).
VII
E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera
ao pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe
dêem uma veste: a esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena
que lhe dêem um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como
preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos
os pés dos que anunciam a boa nova ( [13] ).
Estas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja.
Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados? Não, apenas
cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo
depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons.
Mandou também matar o bezerro cevado, isto é, que fosse admitido à mesa
em que o alimento é Cristo morto. Mata-se o bezerro para todo aquele que,
de longe, vem para a Igreja, na qual se prega a morte de Cristo e no Seu
corpo o que vem é admitido. Mata-se o bezerro cevado porque o que se tinha
perdido foi encontrado.
8. Resumo e trechos do final do Sermão 112A
"O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu
a música e as danças. Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. Ele lhe
explicou: <<Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar o bezerro cevado,
porque o reencontrou são e salvo>>. Encolerizou-se ele e não queria entrar;
mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: <<Há
tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca
me deste um cabrito, para festejar com os meus amigos. E agora que voltou
este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste
matar um novilho gordo!>> Explicou-lhe o pai: <<Filho, tu estás sempre
comigo, e tudo o que é meu é teu; convinha, porém, fazermos festa, pois que
este teu irmão estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado>>."
Meer resume assim o final do sermão:
"Agostinho compara os judeus ao filho mais velho, que, à volta do irmão, se
aborrece com o banquete e o bezerro cevado. Os judeus se aborrecem com a
precedência dada aos pagãos, povos não cultivados, e que podem agora
sentar-se para celebrar o místico banquete. E traça o retrato do judeu temente
a Deus que medita sobre o enigma da Igreja e tem que reconhecer como o
gênero humano caminha sob o estandarte de Cristo. Tal como aquele filho que
vem do campo e pára diante da casa. Pensativo, discorre sobre esta Igreja e se
pergunta o que ela realmente é. Vê a lei em sua casa e vê a lei entre nós. Os
profetas estão com ele e estão também conosco; ele não tem já sacrifício, nós
temos um sacrifício diário. Vê que esteve realmente no campo do Pai, mas
não pode tomar parte no banquete do bezerro cevado. E depois ouve a
symphonia, a harmonia de nossa unidade. De nada lhe adianta que saiam os
criados e respondam às suas perguntas - por isso não discuto eu com eles:
porque nós somos os criados -, mas a symphonia o comove, comovem-no as
vozes, o coro, as solenidades, a festa eucarística, e se detém junto à Igreja e
escuta; reconhece seus próprios salmos e fica pensativo... Vem o Pai e lhe diz:
"Filho, tu estás sempre comigo" ( [14] ).
É a propósito desse judeu, piedoso e humilde, que Agostinho diz:
"Consideremos um judeu que tenha guardado em sua mente a lei de Deus e a
tenha vivido irrepreensivelmente, como disse ter vivido Saulo, para nós
Paulo. Paulo foi tanto maior quanto menor se considerou; foi o máximo
porque se fez o mínimo. Pois o próprio nome paulus significa pouco,
pequeno, menor, mínimo; daí que, em nossa linguagem corrente, digamos:
paulo post tibi loquor (daqui a pouco falarei com você); paulo ante (um pouco
antes). Que é, pois, Paulo? É ele mesmo quem diz (ICor 15,9): <<Eu sou o
menor dos apóstolos>>." (112A, 8)
E conclui com interessante discussão sobre "o ter", a propósito da sentença do
pai ao filho mais velho: "Tudo que é meu é teu".
"Como pode Deus dizer: <<Tudo que é meu é teu>>? Na verdade, tudo o
que é de Deus, é nosso; mas nem tudo nos está submetido. Uma coisa é dizer
<<meu servo>>; outra, <<meu irmão>>. Sempre que dizes <<meu>>,
dizes com verdade, mas porventura é no mesmo sentido que o aplicas ao
irmão e ao servo? É diferente o <<meu>> em <<minha casa>> e em
<<minha mulher>>; como não é o mesmo em <<meu filho>>, <<meu
pai>> e <<minha mãe>>.
"Excetuando a Mim, ouço que todas as coisas são tuas. Sim, dizes: <<meu
Deus>>, mas será que este <<meu>> é o mesmo que em <<meu servo>>?
Ou pelo contrário <<meu Deus>> é <<meu Senhor>>?
"Temos, pois, um superior, nosso Senhor, no qual fruímos e temos as coisas
inferiores, das que somos senhores. Tudo, portanto, é nosso, se nós somos
dEle" (112A,13).

[1] . As interpretações alegóricas, como a de Cristo enquanto braço do Pai, não pareciam nada estranhas
ao leitor da época.
[2] . Seguimos neste trabalho a numeração (aliás, usual) das edições de San Agustín da BAC (Sermones,
6 vols. 4a. ed., Madrid, 1981-1985).
[3] . Há no original um jogo de palavras: immorari/commemorari.
[4] . Não sabemos a que tribulação está aludindo e também não se conserva o sermão do domingo
anterior.
[5] . Como mostra Pieper (op. cit.), o sentido clássico de curiositas consiste em algo muito mais sério do
que a nossa curiosidade, essa inocente desorientação na periferia do ser humano; a curiositas é um
descontrole fundamental, um afã louco de sensações da "pessoa que perdeu a capacidade de habitar em si
mesma, que se pôs em fuga do próprio eu e que, com asco da devastação que observa em seu coração, se
desespera numa procura com um medo egoísta, e se dissipa por mil caminhos frustrados".
[6] . Trata-se daquele jogo de palavras: sonantes, non saginantes antes mencionado.
[7] . O salmo 40 diz: "Esperei com toda a confiança no Senhor e ele veio a mim. Ele ouviu meu clamor e
tirou-me da fossa mortal e do charco de lodo (...). Porque males sem conta me cercaram; não podia ver,
imerso em minhas iniqüidades, mais numerosas que os cabelos de minha cabeça; e o meu coração me
abandonou". Para os salmos e sua numeração seguimos a Nova Vulgata.
[8] . O original diz simplesmente iratus.
[9] . Evidentemente, Agostinho considera este dar morte a si mesmo no sentido em que Paulo fala
inúmeras vezes da vida cristã como supressão de um "eu inautêntico", que deve morrer para dar lugar à
vida de Cristo no cristão: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gál 2,20). Daí provém a
oposição paulina entre homem exterior e homem interior (cfr. II Cor 4,16), entre homem velho e homem
novo (Rom 6,6: "Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Ele"). É o que, afinal, diz o
próprio Cristo: se o grão de trigo não morre não dá fruto; quem perder sua vida conserva-la-á (cfr. Jo
12,24 e ss.). O bispo de Hipona aplica essa doutrina do Evangelho, familiar a seus ouvintes, recordando a
necessidade das práticas penitenciais como os jejuns, a esmola etc. O que, aliás, é proposto pelo Apóstolo
Paulo: "Os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências" (Gál
5,24); "mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: devassidão, etc." (Col. 3,5 e ss.).
[10] . Agostinho joga aqui com o duplo sentido do verbo expedire: "livrar", "desembaraçar-se" e "ser
conveniente".
[11] . Procuramos manter o trocadilho do original: honoravit, non oneravit, literalmente "honrou-o mas
não lhe pesou".
[12] . No original: ad portandum Deum, nisi quia portat portatus Deus?
[13] . Cfr. Is 52,7; Rom 10,15; Ef 6,15.
[14] . MEER, F. van der, San Agustín... p.122.
O FILHO PRÓDIGO
Quase todas as Igrejas falam sobre a volta do filho pródigo, isto é, daquele que saiu de casa,
depois de ter usado e abusado de alguns recursos que seu pai lhe doou, pois no momento em
que se encontrava sem dinheiro, não teve outra solução, senão a de voltar para seu lar. Mas, o
que significa o filho pródigo? Por que tão grande festa familiar, tendo em vista o seu retorno, se
foi um filho que tão preocupante aos pais? Qual a concepção real dessa historieta, e qual o
efeito para a sociedade moderna, que precisa compreender a sua existência no contexto
universal? O objetivo deste trabalho é proporcionar uma nova visão sobre o entendimento
deste conceito, em uma tentativa de compreender a sociedade moderna quanto ao problema
do filho pródigo, e como se pode contribuir para uma melhora da sociedade que passa por
tantos desajustes no sentido moral.
Na sociedade moderna estão os mais diversos problemas sociais e econômicos, desde um
simples furto a uma execução de um seqüestro, que envolve a busca de muito dinheiro, como
se fosse uma inveja que tem adquirido, para manter uma vida faustosa sem as devidas
condições de tal manutenção. Hoje em dia não se quer mais trabalhar. Entretanto, ter uma boa
residência, carro do ano, ou novo, dinheiro no banco, e amigos ilustres, é o que sempre se
deseja, porém não desprendeu o seu suor para ter esses melhores níveis de vida que tanto se
almeja. É, neste sentido, que aumenta a cada instante, o ódio entre os irmãos, culminando com
inúmeras mortes, simplesmente por causa de ganância que paira dentro de cada um, que não
se conscientizou de sua inferioridade, e que deve ser banida a qualquer custo para o seu
progresso espiritual.
A lenda do filho pródigo se inicia com aquele irmão que se desviou dos caminhos da seriedade,
da caridade, do amor ao próximo, e da senda de pureza que DEUS delineou nos humanos para
que vivessem felizes, e para sempre, no entanto, o homem por sua livre e espontânea vontade
seguiu seu próprio rumo. E lá vai esta criatura trilhando o seu próprio caminho, sem conhecer
seus próximos passos que, por desconhecimento, às vezes são falsos, sem condições de
concerto pela própria pessoa que agora esconde seu rosto com vergonha de si mesmo.
Ninguém quer reconhecer a maldade que está dentro de seu próprio interior, ao fugir de sua
consciência, por conta da ignorância do bem, e da assistência negativa que não lhe abandona,
devido as suas aptidões estarem em suas mãos, isto é, com cada um individualmente.
Na Bíblia Sagrada está esta historieta que relata a questão de um dos filhos de uma
determinada família que saiu de casa, foi viver a sua própria vida, isto depois de usufruir das
benesses das coisas materiais, depois, sem condições de viver com suas próprias mãos, voltou
para casa, e foi recebido com grande festa. O filho que ficou, trabalhador, sempre foi honesto e
obediente ao pai, não gostou daquele afago de seus genitores ao irmão que voltava, rebelou-se
com aquela situação, pois não precisava tanta alegria e tanta pompa para com aquele que saiu
de casa sem necessidade. O filho revoltado precisava também aprender que o irmão pródigo
não é somente aquele que veio pedir arrego aos pais, por sua ignorância de não saber
compreender os ensinamentos que foram dados, e que não entendeu o seu real sentido.
O espiritismo, da mesma forma comenta o significado da parábola do filho pródigo, entretanto,
proporciona melhores condições de compreender quantos filhos pródigos existem na face da
terra, precisando retornar ao seu pai, para dar continuidade a sua jornada na caminhada
espiritual. Visto que a maioria dos seres humanos está no planeta de provas e expiações, é
fácil de perceber que a ignorância do bem está claramente dentro de todos que ainda se
locupletam na maldade, na inferioridade, e na maledicência de seu próprio desconhecimento.
Pois, somente o retorno consciente à casa paterna fará com que se possa eliminar de dentro
de cada um a arrogância, o orgulho, a inveja, o ciúme, e toda uma agregação de maldades que
desviam os irmãos do caminho do amor, da paz, e da prosperidade.
A maldade está em todas as mentes, conduzindo a todos por um caminho muito difícil de
retorno, e uma grande parte parece gostar de tal situação, que não faz nenhum esforço para
compreender a sua ignorância, e tentar sair desse estado de coisas que não lhe traz nada de
bom. Foi preciso que as Igrejas impusessem os seus ensinamentos de medo a tudo, para que
somente assim, muitos não expusessem as suas inferioridades, devido ao pavor que está
impregnado em sua mente, onde aqui e acolá se pratica um desses absurdos atos, cuja
sociedade só lamenta. Não se deve tolher a índole de ninguém, mas tentar ajustá-la a uma
sociedade de compreensão, de sapiência, e de verdadeiro amor em todos os sentidos, que o
mundo inferiorizado ainda não sentiu, onde a transformação está dentro de cada um dos
viventes da terra.
As dores e sofrimentos são decorrentes justamente das pessoas se encontrarem foragidas do
caminho da verdade e da vida real, devido ao uso de drogas de diversos tipos, isto é, maconha,
cocaína, craque, e muitas outras formas de desvios que o ser humano pode ter. As drogas e a
prostituição constituem na modernidade, grandes males difíceis de serem contornados, por
causa de não somente contribuírem para desviar os filhos de DEUS, que têm como objetivo
trilhar pelo caminho da evolução, vivendo na paz e no amor. As drogas têm destruído muita
gente, cujo sofrimento aumenta muito mais, quando não se conhece como viver a vida de filho
pródigo que necessita se libertar das amarras inferiores para uma vida que ele pouco entende,
e que necessita conhecer para o progresso, e auto-libertação.
Os filhos que se desviaram do caminho da retidão e do amor são muitos, mas como teria dito
JESUS e seus prepostos, todos os seus filhos um dia chegarão à casa paterna, mesmo que
esse tempo seja bastante longo, no entanto, a dor vai um dia conscientizar a todos de sua
participação na construção do amor e da paz. Existem aqueles que usam plenamente os seus
instintos na prática de crimes tidos como brutais, extremamente cruéis, e isto se pode observar
nos jornais e televisões, aqueles hediondos que acontecem nos quatro cantos da terra. Esses
amigos precisam ser alertados de seus atos de destruidores da humanidade que DEUS criou
para viverem e sobreviverem aos ímpetos da ignorância da própria humanidade, cuja limpeza
perispiritual da maldade é a volta do filho pródigo.
O filho pródigo é aquele que retorna ao seio da casa paterna, mas não somente por ter
esgotado os recursos que levou dos pais para usufruto nos motéis, nas cervejarias, nas
compras de luxuosidades, assim como em muitas outras formas de abuso que alimentam a
inferioridade do ser humano que precisa se melhorar. O bom mesmo, é que o ser humano se
conscientize, sem ter que sofrer as imposições da lei do progresso e do amor, para tentar
compreender a vida real, que é uma conjugação do mundo material com o mundo espiritual,
que muitos não conhecem claramente. Todavia, enquanto não se aproximar a sapiência
espiritual com a convivência material, o homem procura sempre satisfazer as suas aptidões
imediatas, esquecendo que a vida não é una, isto é, um momento de 60 ou 70 anos, mas que
ela continua pós-morte, e pelos séculos.
Em verdade, a máxima do filho pródigo, deve ser traduzida como uma realidade do ser humano
que mata sem piedade, e o requinte de crueldade é a tônica fundamental naqueles que só
conhecem o ódio, a raiva, a ira, o desejo de praticar violência e exterioriza no primeiro que lhes
aparece. Sabe-se que muitas pessoas possuem a impulsão pelo furto, pelo roubo, e pela
maldade, pois, de maneira incontrolável terminam efetuando atos abominados pela sociedade
que tem indícios de sentimentos que já é um prenúncio do amor. Quando já se tem esse indício
é preciso cultivar com muita fé, com muita vontade de vencer as suas inferioridades, que
devem ser demolidas a todo custo, e muitas vezes isto rende ao ser humano, muita dor e
sofrimento, pois por mais que se adie, ninguém foge desta realidade.
Esses problemas caminham através dos séculos, e somente as reencarnações é que indicam
claramente a situação psicológica e até mesmo comportamental do ser humano, que pouco
compreende as suas dificuldades, como: o por quê se nasce em favelas, o por quê do impulso
para a maldade que está imantada em cada um. Além destas maledicências, pode-se citar o
ímpeto do machismo, as neuroses, as pessoas psicopatas, as patologias sociais, os
homicídios, e muitas outras maneiras de impulso desequilibrantes que muitas pessoas passam
a cada instante. Esses seres pensantes continuam a vagar por este mundo afora, a se
locupletarem com as suas inferioridades, e precisando de ajuda, mesmo que seja de maneira
indireta, por causa do seu desconhecimento da realidade boa do amor, do caminho da retidão,
e de muita paz e felicidade.
Frente a isto, pode-se dizer que os filhos pródigos são todos aqueles que continuam desviados
do caminho do bem, os carentes e necessitados que ainda sobrevivem se alimentando de toda
sua fase animal irracional, porque ainda não adquiriram a sua independência para ter o seu
auto-controle. São esses comportamentos animalescos que criam as doenças, inclusive, as
que constituem os males do século, como a aids, o câncer, o ebola, e alguns outros que ainda
não se conhecem com um nome determinado pelos cientistas da medicina. Os filhos pródigos
são simplesmente a volta desses irmãos que se encontram desgarrados dos caminhos que
DEUS criou para todos indistintamente, porém a sua volta deve ser sempre, e é comemorada
com muita alegria, quando se conseguirá a libertação esperada por todos, e se terá o livre
arbítrio individual pleno.
"E disse: Certo homem tinha dois filhos; e o mais moço disse ao pai: Pai, dá-me a parte
dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda." Lc 15: 11 e 12 segue até o
verso 32.

O filho mais novo via o pai como alguém rude, incapaz de compartilhar de todos os
bens, por isso, exige sua parte da herança. A rebeldia, entretanto, estava no filho, que
descumprindo a lei judaica, se torna herdeiro antes da morte do pai.

Desperdiça toda herança, fica na miséria. Pobre e infeliz resolve pedir ajuda a um
fazendeiro. Pensou encontrar ali abrigo, comida e misericórdia, mas, não foi o que
aconteceu. Sentiu fome, frio e solidão, dia após dia."E ninguém lhe dava nada" (v.16)

"E tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu
aqui pereço de fome!"(v.17)Ele percebeu que o pai era bondoso, generoso até mesmo
com os trabalhadores (com quem não tinha parentesco), não seria com ele, filho?
Percebeu que os bens materiais não foram capazes de fazê-lo feliz. Entendeu que
ninguém o compreenderia tão bem quanto seu Pai.

Quantas pessoas estão passando por problema semelhante? O pai da parábola,


representa Deus. Muitos, por não conhecê-lo, julgam-no distante, impiedoso e egoísta.
Incapaz de compreender sentimentos, de amar os injustos pecadores. Optam por viver
afastados, recebendo apenas "a parte que lhe cabe na herança" (a vida com suas
mazelas).

Procuram ajuda nos "fazendeiros" do mundo, que só têm olhos para seus "porcos",ou
seja, suas vidas sujas, imundas como um chiqueiro. "fazendeiros" que nada têm a
oferecer, porque desconhecem o Pai.

Arrependido, o filho volta para casa. Imagino-o derramando lágrimas durante a viagem.
Quantas lembranças do pai...

"Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas
o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e veste-lho, e ponde-lhe um
anel na mão, e alparcas nos pés" (versos 21 e 22)

As vestes representam um novo espírito, o anel, uma nova aliança, desta feita, eterna.
As sandálias, representam um novo caminho. O filho agora, estava bem abrigado nos
braços do Pai.

O Filho mais velho


Recebeu do pai, conforme a lei, uma maior parte da herança (dois terços), enquanto o
mais novo(um terço). Nunca deixara a casa do pai, era moderado e cumpria com seus
deveres, porém, nunca investira em um relacionamento com o pai. Por isso, não o
conhecia. Sua falta de amor era tamanha que sequer consegue chamar "meu irmão" e se
refere ao irmão como: "este teu filho" (v.30).

Mesmo tenho muitos bens, faz questão do cabrito matado para festa do irmão: "Nunca
me deste um cabrito (V.29). Era egoísta.Esse filho representa os fariseus. A casa do pai,
representa o templo, a igreja. Está no templo, não significa necessariamente, conhecer a
Deus.

Esse filho também precisa de arrependimento, salvação, encontro íntimo e real com seu
pai(Deus). Esse filho ainda não conhece o verdadeiro amor, pois, nunca buscou-o.

A mãe do filho pródigo


Entendo que não por acaso, Jesus contou três parábolas seguidas, presentes em Lucas
15: A parábola da Ovelha Desgarrada, Dracma Perdida e Filho Pródigo. Há semelhança
entre as três que se relacionam entre si. Todas falam do resgate do pecador arrependido
e da necessidade de arrependimento dos fariseus.

Vejo que na Parábola da Ovelha, o Pastor é Jesus. Na Dracma Perdida, a mãe é a Igreja,
a Candeia, O Espírito Santo. No Filho Pródigo- o Pai É Deus. Então: Aqui está o papel
da Trindade na salvação do homem.

Jesus É o bom Pastor que deu sua vida pelas ovelhas, seu sacrifício na cruz, redime o
homem de todo pecado, conduzindo-o a salvação. A Igreja é representante de Deus,
necessita ter o fogo do Espírito Santo, a candeia acesa para ir em busca dos perdidos.
Deus está sempre esperando os filhos retornarem para casa, Ele sempre os recebe com
alegria e amor. Houve festa no céu na parábola da Ovelha, festa na casa da mulher, na
parábola da dracma, festa na casa do filho pródigo.

Então: Sendo a igreja a mãe, a mesma que buscou a dracma, ela está presente na
parábola do filho pródigo. Ela é a casa do filho pródigo. Uma casa que manteve a
candeia acesa por todo o tempo em que o filho esteve distante. àquele pai, deve ter
orado pela volta do filho, derramado lágrimas em suas petições a Deus. É assim que
agem os cristãos cheios do Espírito Santo.

O filho mais velho estava sempre em casa(Igreja) só que sua candeia estava apagada.
Ele não se alegrou com a volta do irmão, não orava por isso, sequer procurava saber
como estava. Ele é o retrato da Igreja inoperante, morta, sem amor pelos perdidos, ou
mesmo pelos que já se encontram salvos.

O Caminho
Fiquei muito feliz ao ver Deus confirmar nesse estudo o que me revelara sobre "Os
caminhos da esquerda e da direita" (publicado anteriormente sob a tag meditações). Em
todas as três parábolas existem os dois caminhos opostos a Deus e os dois tipos de
pecadores: O que se arrepende e o que acha que não necessita de arrependimento por se
achar justo. Obrigada Senhor!

Sendo o filho pródigo


Essa parábola, desde a infância, é uma das minhas preferidas. A ouvi pela primeira vez
em um culto noturno, estava com uma tia. Fiquei acordada do começo ao fim esperando
o desfecho. Não sabia eu que anos mais tarde me identificaria com o filho pródigo,
retornando para casa, após minha conversão.

Esse estudo foi para mim, renovador, revelador. Desejo que assim seja para você
também. Que ele fale profundamente ao seu coração. Amém.

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