Peter Berger - Sobre A Obsolescência Do Conceito de Honra
Peter Berger - Sobre A Obsolescência Do Conceito de Honra
Peter Berger - Sobre A Obsolescência Do Conceito de Honra
Resumo: Nestes ensaios, produzidos com intervalo de 42 anos, Peter Berger discute sobre a
obsolescncia do conceito de honra e a perda do seu sentido na sociedade moderna, e a criao contempornea da noo de dignidade. Palavras-chave: honra, dignidade, sociedade
moderna, indivduo, moral, instituies, self
BERGER/Traduo KOURY
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tambm est muito longe de uma noo
de crime contra a honra. A Weltanschauung da vida cotidiana se conforma
de perto neste sentido com a definio
legal da realidade. Se um indivduo
insultado e, como resultado, prejudicado na sua carreira ou em sua capacidade de ganhar um aumento, ele no s
pode recorrer aos tribunais, mas poder
contar tambm com a simpatia de seus
amigos. Os seus amigos e, em alguns
casos, os tribunais, viro ao seu apoio,
se, por exemplo, o insulto o inquietou
tanto que ele perdeu a sua autoestima ou
teve um colapso nervoso. Se, no entanto, a injria no pertence a um desses
tipos, ele quase certamente ser aconselhado por advogados e amigos para
esquecer a coisa toda.
Em outras palavras, a realidade da
ofensa ser negada. Se o indivduo persiste em mant-la, ele ser categorizado
negativamente, muito provavelmente
em termos psiquitricos (como neurtico, excessivamente sensvel, ou algo
semelhante), ou, se aplicvel, em termos
que se referem a um atraso cultural
(como irremediavelmente Europeu ou,
talvez, como vtima de uma mentalidade provincial).
A negao contempornea da realidade da honra e das ofensas contra a
honra parte de um mundo dado-comocerto, em que um esforo deliberado
requerido at mesmo para v-las como
um problema. O esforo louvvel,
uma vez que pode resultar em algumas
e, talvez, inesperadas novas introspeces na estrutura da conscincia moderna.
O problema da obsolescncia do
conceito de honra pode ser posto em um
melhor foco, ao compar-lo com um
conceito mais atual - o de dignidade.
Tomado por si s, o desaparecimento da
honra pode ser interpretado como parte
de um processo de embrutecimento mo-
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medievais da cavalaria e que estes estavam enraizados nas estruturas sociais do
feudalismo. Tambm verdade que os
conceitos de honra sobreviveram melhor na era moderna nos grupos que
retinham uma viso hierrquica da sociedade, tais como a nobreza, os militares
e em profisses tradicionais como direito e medicina.
Nestes grupos a honra uma expresso direta de status, uma fonte de solidariedade entre iguais sociais e uma
linha de demarcao contra inferiores
sociais. A honra, de fato, tambm dita
certos padres de comportamento para
lidar com os inferiores, mas, o cdigo
completo de honra apenas se aplica queles que compartilham o mesmo status na hierarquia.
Em uma sociedade ordenada hierarquicamente a etiqueta da vida cotidiana
consiste de operaes contnuas de honra, e diferentes grupos se relacionam de
forma diferente com este processo segundo o princpio de "Para cada um o
seu devido". Seria um erro, no entanto,
entender a honra apenas em termos de
hierarquia e suas delimitaes. Para
tomar o exemplo mais bvio, a honra
das mulheres em muitas sociedades tradicionais, enquanto geralmente diferenciadas por linhas de classe, podem dizer
respeito, em princpio, s mulheres de
todas as classes.
J. K. Campbell (1964), em seu estudo sobre a cultura rural contempornea na Grcia deixa isso bem claro.
Enquanto as obrigaes de honra (timi)
diferem em relao s diferentes categorias de indivduos, notadamente entre
homens e mulheres, qualquer um no
interior da comunidade existe dentro de
um mesmo sistema abrangente de honra.
Aqueles que tm alto status na comunidade tm obrigaes especficas de
honra, mas at mesmo os humildes so
diferenciados em termos de honra e de-
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emergiu e que acabaria por liquidar
qualquer concepo de honra.
Assim, o Quixote de Cervantes a
tragicomdia de uma obsolescncia particular, a do cavaleiro andante em uma
poca em que a cavalaria se tornou uma
retrica vazia. A grandeza do Quixote,
no entanto, transcende este trabalho de
desmistificao particular delimitado
temporalmente. Ele desmascara no s a
"loucura" da cavalaria, mas, por extenso, a loucura de qualquer identificao
do self com "padres arquetpicos de
comportamento".
Dito de outro modo, os "encantadores" de Don Quixote, - cuja tarefa, paradoxalmente, precisamente o que
Max Weber tinha em mente como "desencanto", - no podem ser interrompidos to facilmente depois de terem iniciado o seu terrvel perguntar. Como
Don Quixote diz a Sancho, em uma de
suas inmeras homilias:
" possvel que, nesse tempo todo
que voc tem estado comigo, ainda
no descobriu que todas as aventuras
de um cavaleiro andante parecem ser
iluso, loucuras e sonhos, e acabam
por ser o inverso? No porque as
coisas so realmente assim, mas porque em nosso meio h uma srie de
encantadores, mudando sempre, disfarando e transformando nossos assuntos como bem entenderem, de acordo com os seus desejos de nos favorecer ou de nos destruir. Ento, o
que voc chama de uma bacia de barbeiro para mim o capacete de Mambrino, e para outra pessoa pode aparecer como sendo outra coisa (CERVANTES, 1964, I:25, p. 243).
Sir John Falstaff: um cavaleiro gordo e amigvel, personagem da pea Henry IV de Shakespeare [Nota do Tradutor].
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A compreenso de que existe humanidade por trs ou sob os papis e as
normas impostas pela sociedade, e que
esta humanidade tem profunda dignidade, assim, no uma prerrogativa
moderna. O que particularmente moderno a maneira em que a realidade
desta humanidade intrnseca est relacionada com as realidades da sociedade.
Dignidade, como contra a honra,
sempre se relaciona com a humanidade
intrnseca despojada de todos os papis
ou normas impostas socialmente. Compete, portanto, ao self como tal, ao indivduo, independentemente de sua posio na sociedade. Isso tornou muito
claro nas formulaes clssicas dos direitos humanos, a partir do Prembulo
da Declarao de Independncia Declarao Universal dos Direitos Humanos das Naes Unidas.
Estes direitos dizem sempre respeito
ao indivduo "sem distino de raa,
cor ou credo", - ou, na verdade, de sexo,
idade, condio fsica ou qualquer status
social concebvel. H, aqui, uma sociologia e uma antropologia implcita. A
sociologia implcita v toda diferenciao biolgica e histrica entre os homens como algo absolutamente irreal ou
essencialmente irrelevante. A antropologia implcita localiza o self real
sobre e alm de todas essas diferenciaes.
possvel agora ver esses dois conceitos mais claramente. Honra e dignidade so conceitos que ponteiam o self
e a sociedade. Enquanto ambos os conceitos pertencem ao indivduo de um
modo muito ntimo, nas relaes com
os outros que, tanto a honra quanto a
dignidade, so alcanados, trocados,
preservados ou ameaados.
Ambos demandam um esforo deliberado da vontade para a sua manuteno, isto , algum deve esforar-se por
eles, muitas vezes contra a oposio
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revertida entre estes dois mundos. Em
um mundo de honra, o indivduo descobre a sua verdadeira identidade em seus
papis, e se afastar dos papis afastarse de si mesmo: em "falsa conscincia",
se tentado a acrescentar. Em um mundo de dignidade, o indivduo pode apenas descobrir sua verdadeira identidade
atravs da emancipao de si mesmo
dos seus papis socialmente impostos:
estes so apenas mscaras, a enred-lo
na iluso, na "alienao" e "m-f".
Segue-se que os dois mundos contm
uma relao diferente com a histria.
por meio do desempenho dos papis
institucionais que o indivduo participa
da histria, no s a histria de uma
instituio particular, mas a de sua sociedade como um todo. precisamente
por esta razo que a conscincia moderna, em sua concepo do self, tende
para uma curiosa ahistoricidade.
No mundo de honra, a identidade
firmemente vinculada ao passado atravs de uma reiterada performance de
atos padronizados. No mundo de dignidade, a histria a sucesso de mistificaes a partir dos quais o indivduo
deve libertar-se para alcanar a "autenticidade".
importante no perder de vista aqui
as continuidades na constituio do homem, ou das "constantes antropolgicas", se preferirem. O homem moderno no uma inovao total ou uma
mutao da espcie. Assim, ele compartilha com qualquer verso do homem
arcaico conhecido por ns tanto na sua
sociabilidade intrnseca, quanto no processo de reciprocidade com a sociedade,
atravs dos quais suas vrias identidades so formadas, mantidas e mudadas.
Ao mesmo tempo, dentro dos parmetros estabelecidos pela sua constituio fundamental, o homem tem uma
margem de manobra considervel na
construo, desmontagem e remontagem dos mundos em que vive. Isso na
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tir da qual ele tem que trazer tona o
significado e a estabilidade que necessita para existir.
Precisamente por causa da sociabilidade intrnseca do homem, esta uma
condio muito insatisfatria. Identidades estveis, - e isso tambm significa
identidades que sero subjetivamente
plausveis, - s podem surgir em reciprocidade com os contextos sociais estveis, - e isso significa contextos que
so estruturados por instituies estveis. Por tanto, h uma profunda incerteza sobre a identidade contempornea.
Em outras palavras, h uma crise de
identidade embutida na situao contempornea.
neste contexto que se comea a entender a sociologia e a antropologia
implcitas mencionadas acima. Ambas
esto enraizadas na experincia real do
mundo moderno. A educao filosfica
e mesmo as formulaes scio-cientfica, so tentativas, a posteriori, de entrar em ajuste com a experincia.
Gehlen demonstrou isso de forma
convincente para a ascenso do romance moderno, como a forma de discurso que mais reflete o novo subjetivismo. Mas, as conceituaes de homem e sociedade, por exemplo, do marxismo e do existencialismo so igualmente enraizadas nessa experincia. Por
consequncia, esta a perspectiva das
cincias sociais moderna, especialmente
da sociologia. A alienao" e a "falsa
conscincia" de Marx, a "autenticidade"
de Heidegger e a "m-f" de Sartre, e
noes sociolgicas atuais como a de
"outra direo" de David Riesman, ou o
"gerenciamento de impresso" de Erving Goffman s poderiam surgir e reivindicar credibilidade em uma situao
singular, onde o poder das instituies,
para definir identidade, se encontra muito enfraquecido.
A obsolescncia do conceito de honra pode ser visto agora sob uma pers-
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velmente, ao que parece, est sempre
em busca de si mesmo.
Isso, ao ser compreendido, tambm
deixar claro o porqu os sentidos, tanto
de "alienao" quanto de crise de identidade, concomitantemente, so mais
veementes entre os jovens de hoje. Na
verdade, a "juventude" em si, - cujo significado objetivo uma questo de definio social, em vez de fato biolgico,
- vista como uma rea intersticial desocupada ou 'deixada de fora' pelas
grandes estruturas institucionais da sociedade moderna. Por esta razo, , simultaneamente, o local das experincias
mais agudas da autoalienao e de busca mais intensa por identidades confiveis.
Muito ir depender, naturalmente,
das premissas bsicas sobre o homem,
atravs das quais se entristecer e se
ter compaixo ou se acolher estas
transformaes. O que vai aparecer como uma perda profunda para alguns,
ser visto por outros como o preldio
para a libertao.
Entre os intelectuais de hoje, claro,
o ltimo ponto de vista que prevalece
e que constitui a base antropolgica
implcita para o clima geral de "esquerda" deste tempo de agora. A ameaa de caos, tanto social quanto psquica, que se esconde por trs da desintegrao das instituies, dever ser
vista, ento, como a etapa necessria
que precede o grande "salto para a liberdade" que est por vir.
tambm possvel, em uma perspectiva conservadora, ver o mesmo processo precisamente como a raiz patolgica da era moderna, como uma perda
desastrosa de muitas estruturas que
permitem aos homens de serem livres e
ser eles mesmos. Tal pessimismo expresso com fora, embora um tanto petulante, no livro mais recente de Gehlen
(1969): um manifesto conservador onde
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contra as crueldades da guerra no Vietn; o novo reconhecimento da responsabilidade individual para todas as aes, mesmo aquelas designadas para o
indivduo com papis institucionais especficos, - um reconhecimento que
alcanou a fora de lei em Nuremberg;
todos esses e outros mais, so conquistas morais, impensveis, sem as constelaes peculiares do mundo moderno.
Rejeit-los impensvel eticamente.
Da mesma forma que no possvel
simplesmente localiz-los no interior de
uma falsa antropologia.
A tarefa diante de ns, em vez disso,
entender os processos empricos que
fizeram o homem moderno perder de
vista a honra em detrimento da dignidade e, ento, pensar atravs das implicaes antropolgicas e ticas deste
fato. Obviamente, estas observaes no
podem fazer mais do que apontar algumas dimenses do problema. possvel, no entanto, especular que a redescoberta da honra no futuro desenvolvimento da sociedade moderna tanto
empiricamente plausvel quanto moralmente desejvel.
Escusado ser dizer, contudo, que isto dificilmente assumir a forma de uma
restaurao regressiva aos cdigos tradicionais. Mas, de outra parte, o clima
contemporneo de antinstitucionalismo
improvvel durar, como provoca Anton Zijderveld (1970).
A constituio fundamental do homem tal que, mais adiante, inevitavelmente, ele ter, mais uma vez, de
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Duas notas de rodap sobre a obsolescncia da honra
Peter Berger
Traduo de: Mauro Guilherme Pinheiro Koury
Em* 13 de junho de 2012, o The Boston Globe deu amplo espao para a cobertura de um evento que teve lugar no
tribunal federal local. O juiz Douglas
Woodlock condenou Catherine Greig a
oito anos de priso pelo crime de abrigar um fugitivo.
O fugitivo se chama James "Whitey"
Bulger, que j foi uma figura proeminente no submundo irlands de Boston e
est agora na priso aguardando julgamento por diversos crimes, incluindo
dezenove assassinatos. Greig era a sua
"namorada", embora o termo possa parecer um pouco estranho: ela tem agora5
61 anos de idade, ele 82.
Greig no foi acusada de participao em qualquer dos crimes supostamente cometidos por Bulger. Ela, porm, estava escondida com ele h 16
anos. O casal foi finalmente preso no
ano passado (2011) em Santa Monica,
Califrnia, e extraditado para Massachusetts.
Supondo que h leitores que no seguem de perto os acontecimentos em
Boston, darei brevemente algum fundo
histria. Bulger foi o chefe de um sindicato do crime centrado em South Boston, um bairro solidamente irlands outrora conhecido afetivamente como
"Southie" pelos seus moradores. J adolescente, ele pertenceu a uma gangue de
rua chamada "trevos", onde se formou
na sua carreira criminosa. Passou vrios
anos na priso.
Na dcada de 1970, depois de um
acordo de paz com as gangues rivais
*Publicado no blog the-american-interest.com
em 20 de junho de 2012 e reeditado na RBSE
com anuncia do autor, a quem a editorao da
Revista agradece.
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Isto , em 2012 [Nota do Tradutor].
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ram. Um deles se referiu ao fato de que
um dos irmos de Greig tinha cometido
suicdio, e acrescentou: "Se eu tivesse
uma irm como voc, eu teria me matado tambm".
Apenas nesse momento Greig cobriu
a boca e chorou. Woodlock parecia
chocado, e caracterizou alguns dos comentrios como cruis e mais preocupados com a vingana, em vez de justia. Eu me pergunto, porm, o que
que ele esperava.
Kevin Reddington, o advogado de
Greig, disse que o nico crime de que
ela era culpada foi o de amar Bulger e
estar com ele: o advogado sempre se
remetia a sonetos de Shakespeare. O
advogado de defesa apela da sentena.
Greig se recusou de forma incondicional a colaborar com as acusaes que
pairavam sobre Bulger, embora isso
fosse melhorar claramente a sua situao. Carmen Ortiz, a promotora, que
havia pedido uma pena de dez anos para
Greig, rebateu o advogado dizendo que
o que estava envolvido naquele julgamento era um crime, e "no uma saga
romntica".
O The Boston Globe, em seu editorial, informou a seguir o resultado do
julgamento como sendo "uma sentena
dura, mas justa". Kevin Cullen, um colunista, elogiou a sentena como "uma
lio de civismo e de justia". A partir
deste momento, no houve mais entrevistas com os moradores da "rua irlandesa" em South Boston: um grupo demogrfico, alis, que no costuma ler o
Globe.
Nos ltimos anos, South Boston sofreu uma gentrificao considervel.
Mas, quando Jimmy Bulger e Catherine
Greig eram jovens, o bairro ainda era
um enclave tnico praticamente intacto,
dominado por virtudes tradicionais de
lealdade perante "queles" no topo da
lista. As pessoas que l residiam no
estavam inspiradas tanto por um sistema
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quena notcia e fez uma rpida cobertura sobre outro julgamento, o de Hosni
Mubarak, no Egito. A histria em questo relata que a sade de Mubarak tinha
seriamente deteriorado e que ele estava
perto de morte.
Os fatos sobre este assunto, eu acredito, so mais conhecidos do que as
sagas romnticas, ou no, do submundo
de Boston. Mas, do mesmo jeito que fiz
no episdio de Boston, vou esboar
brevemente os acontecimentos de fundo
dessa nova histria: depois da perda do
poder, Mubarak se retirou para uma de
suas propriedades, no Mar Vermelho.
Ele, aparentemente, recusou as oportunidades de ir para o exterior.
Posteriormente foi preso e acusado
de cumplicidade na morte de manifestantes pelas foras de segurana durante
o levante que terminou com sua derrota.
O procurador pediu uma sentena de
morte por enforcamento.
A sade de Mubarak se deteriorou
rapidamente aps a sua deteno e, em
vez de ser mantido na priso, ele foi
confinado em um hospital militar relativamente confortvel. Mubarak reapareceu, para o seu julgamento, em uma
maca, e foi colocado em uma cabine de
grades no tribunal de jri, - o que, ao
que parece, o padro egpcio do banco
dos rus [prisoners dock] britnico.
Em junho de 2012 ele foi condenado
priso perptua e enviado diretamente
para uma priso muito menos confortvel. Motins e mobilizaes de rua clamavam por sua condenao morte. H
relatos de que, aps o julgamento, tanto
a sua sade fsica quanto o seu esprito
declinaram drasticamente.
O governo dos Estados Unidos foi
solicitado pelas novas autoridades egpcias para congelar todos os ativos de
Mubarak, o que foi prontamente executado. No houve qualquer palavra ou
ao americana em relao ao que estava sendo feito em relao Mubarak.
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pas americanas se retiraram aps a Primeira Guerra do Golfo, em 1991. O que
continua, inclusive, a ser visto na sequncia da retirada americana em curso
no Iraque e no Afeganisto.
Eu no quero ser mal interpretado
aqui. No tenho nenhum desejo de passar a limpo qualquer julgamento moral
sobre qualquer lei americana ou sobre a
sua poltica externa.
Eu tenho muitas crticas ao sistema
legal neste pas, comeando com a barbrie da pena capital. Mas, se acusado
de um crime, eu ainda prefiro ser julgado, aqui, porm, do que em muitos
outros pases.
Eu tambm acho que, no cmputo
geral, o poder americano no mundo fez
mais bem do que mal. Cada estado imperial, - e isso que os Estados Unidos
tm sido desde a Segunda Guerra Mundial, - est sob as restries da Realpolitik, mais do que um estado pequeno quem poderia abandonar Liechtenstein?
Tambm no estou assumindo aqui
que as trs pessoas envolvidas nos casos
acima so inocentes de quaisquer irregularidades, muito embora, no caso de
Greig, eu esteja inclinado a pensar que a
ameaa de uma longa pena de priso foi
usada para for-la a depor contra Bulger: uma prtica comum e de mau gosto
entre os procuradores.
O que me interessa aqui que dois
braos do governo federal, o Departamento de Justia, no caso de Greig, e o
Departamento de Estado, no caso de
Mubarak, no mostraram nenhum respeito pela lealdade e nem em pratic-la
Abstract: In these essays, produced with an interval of 42 years, Peter Berger discusses the
obsolescence of the concept of honor and the loss of its meaning in modern society, and the
contemporary creation of the concept of dignity. Keywords: honor, dignity, modern society, individual, moral, institutions, self
BERGER/Traduo KOURY