Manual Controle Ecotoxicologico 2013
Manual Controle Ecotoxicologico 2013
Manual Controle Ecotoxicologico 2013
DE EFLUENTES LQUIDOS
NO ESTADO DE SO PAULO
Eduardo Bertoletti
CapaToxic.indd 1
de Saneamento Ambiental
6/17/13 11:28:53 AM
Eduardo Bertoletti
CONTROLE ECOTOXICOLGICO
DE EFLUENTES LQUIDOS
NO ESTADO DE SO PAULO
GOVERNO DO ESTADO
DE SO PAULO
Governador
SECRETARIA DO
MEIO AMBIENTE
Secretrio
Geraldo Alckmin
Bruno Covas
Otavio Okano
Diretor Vice-Presidente
Diretor de Licenciamento
e Gesto Ambiental
Diretora de Avaliao de
Impacto Ambiental
Diretor de Engenharia
e Qualidade Ambiental
Bertoletti, Eduardo
Controle ecotoxicolgico de efluentes lquidos no
estado de So Paulo / Eduardo Bertoletti. - - So Paulo :
CETESB, 2008.
42 p. : il. ; 21 cm. - - (Srie Manuais / CETESB, ISSN
0103-2623)
Atualiza e substitui os documentos da Srie Manuais
nos 6 e 8, intitulados respectivamente: Procedimentos para
utilizao de testes de toxicidade no controle de efluentes
lquidos e Implementao de testes de toxicidade no controle de efluentes lquidos.
Disponvel tambm em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>
ISBN 978-85-61405-54-0
1. gua anlise 2. Ecotoxicidade - Efluentes lquidos
3. So Paulo (Est.) 4. Toxicidade - ensaios I. Arajo, Rosalina
Pereira de Almeida, rev. II. Ttulo. II. Srie.
571.958 161
628.312.3:502.175
SUMRIO
Apresentao
1. Introduo
2. Fundamento legal
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8. Zona de mistura
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9. Reduo da ecotoxicidade
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Apresentao
No ano de 1990, no perodo de 12 a 15 de maro, foi realizado na CETESB o Seminrio Internacional Controle de agentes txicos em efluentes lquidos. Nesse
evento, que contou com a participao de especialistas nacionais e estrangeiros,
tanto de rgos de controle da poluio como de universidades e de indstrias,
desmitificou-se a complexidade atribuda ao controle ecotoxicolgico de efluentes
lquidos.
Naquela oportunidade, a CETESB divulgou os manuais Procedimentos para utilizao de testes de toxicidade no controle de efluentes lquidos (GHERARDIGOLDSTEIN et al., 1990) e Implantao de testes de toxicidade no controle de
efluentes lquidos (BASSOI et al., 1990). Tais documentos continham as informaes necessrias para a consecuo do controle ecotoxicolgico, em complemento fiscalizao tradicional de efluentes lquidos.
Esta publicao uma atualizao dos documentos mencionados, particularmente em decorrncia da publicao de diplomas legais como a Resoluo SMA
n 03/2000 (SO PAULO, 2000) e a Resoluo CONAMA n 357/2005 (BRASIL,
2005) e sua alterao e complementao realizada pela Resoluo CONAMA n
430/2011 (BRASIL, 2011). Desse modo, a CETESB disponibiliza um manual atualizado contendo as informaes bsicas para controle ecotoxicolgico de efluentes
lquidos no Estado de So Paulo.
COLABORADORES:
O autor agradece a anlise crtica do texto efetuada pelos seguintes profissionais da CETESB: Daniela Dayrell Franca, Eduardo Lus Serpa, Eduardo Mazzolenis de Oliveira, Eleni Stark Rodrigues, Gilson Alves Quinaglia, Hlio Bressan
Jr., Luis Altivo Carvalho Alvim, Marisa Roitman, Marta Cond Lamparelli, Nicanor Barros Maia, Paulo Takanori Katayama, Regis Nieto, Rosalina Pereira de
Almeida Araujo, Sandra Ruri Fugita Gomes e Tnia Mara Tavares Gasi.
CONTROLE ECOTOXICOLGICO
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INTRODUO
1 INTRODUO
O controle das caractersticas dos efluentes lquidos, baseado em anlises
qumicas, tem sido efetuado desde o ano de 1976 para verificao dos limites estabelecidos na legislao brasileira. Tais limites foram originrios de
documentos de orientao norte-americanos, no entanto, naquela poca,
imaginava-se que os limites individuais das substncias seriam suficientes
para preservar a vida aqutica dos corpos hdricos receptores de efluentes. Ao mesmo tempo, nos pases norte-americanos, o controle legal das
caractersticas dos efluentes teve uma implementao diferenciada, a qual
se baseou na implantao progressiva de tratamentos no perodo de 1972
at 1984 e, posteriormente, em aes fiscalizatrias previstas quando todos
os efluentes lquidos possussem tratamento para remoo de poluentes
convencionais tais como: D.B.O., pH, slidos, bactrias patognicas, entre
outros (MOUNT, 1984).
Embora a abordagem norte-americana de controle de efluentes lquidos
tenha sido diferente daquela utilizada no Brasil, ambas convergiram para a
necessidade de tratamento de emisses lquidas. Nesse contexto, a experincia norte-americana permitiu constatar que os efluentes mesmo aps o
tratamento no estavam isentos de provocar efeitos txicos aos organismos
aquticos. Um levantamento parcial realizado nos EUA, no incio dos anos
de 1980, indicou que 79% dos efluentes domsticos e 62% dos efluentes
industriais apresentavam efeitos txicos aps os tratamentos para remoo
de poluentes convencionais. Ainda, e mais relevante, foi o fato de que 43%
dos efluentes domsticos e 46% dos efluentes industriais tinham potencial
para causar efeitos txicos em diferentes recursos hdricos (TEBO, 1986).
Estudos brasileiros tambm j demonstraram que os sistemas de tratamento, em muitos casos, so ineficientes para a remoo da toxicidade de
efluentes, mesmo quando o despejo atende os limites estabelecidos nos
padres de emisso (BERTOLETTI; ZAGATTO, 2006). Nesses estudos tambm foi demonstrado que a toxicidade remanescente dos efluentes, aps
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CONTROLE ECOTOXICOLGICO
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2 FUNDAMENTO LEGAL
Desde 1990, a CETESB tem efetuado o enquadramento legal dos efluentes
que causam efeitos txicos em um corpo hdrico, com base nos ensaios
ecotoxicolgicos. Para tanto, foram utilizados os artigos 2 e 3 (inciso V)
do regulamento da Lei n 997 (SO PAULO, 1976a), aprovado pelo Decreto
Estadual n 8.468 (SO PAULO, 1976b), e suas alteraes. Assim, no passado, o controle ecotoxicolgico ocorreu de maneira implcita uma vez que,
resumidamente, os artigos mencionados probem a liberao de poluentes
que tornem, ou possam tornar, o meio aqutico imprprio, nocivo ou ofensivo fauna e flora.
No entanto, recentemente, os instrumentos legais se tornaram explcitos
quanto ao controle ecotoxicolgico de efluentes. Desse modo, a Resoluo
CONAMA n 430/11 (BRASIL, 2011) que complementa e altera a Resoluo
CONAMA n 357/05 (BRASIL, 2005), particularmente no caput do artigo 18,
prescreve:
O efluente no dever causar ou possuir potencial para causar efeitos txicos aos organismos aquticos no corpo receptor, de acordo
FUNDAMENTO LEGAL
No texto acima, a frase no dever causar significa que o rgo ambiental deve autuar o emissor com base na constatao direta de que o efluente
causa efeitos txicos (agudos ou crnicos) no corpo receptor. Essa constatao dar-se-ia pela realizao de ensaio ecotoxicolgico com amostra coletada no corpo receptor a jusante do lanamento do efluente. No entanto,
em termos prticos, essa constatao torna-se de difcil realizao, visto
que seria necessria uma amostragem das guas do corpo receptor no local
onde h a mistura completa do efluente.
Para evitar a necessidade de amostragens no corpo de gua a CETESB utiliza a frase no dever possuir potencial para causar, uma vez que essa
condio permite o uso de relaes matemticas para estimar a possvel
ocorrncia de efeitos txicos. Assim, os ensaios ecotoxicolgicos devem ser
realizados com a amostra do efluente (em consonncia com o pargrafo 1
do artigo 18 da Resoluo CONAMA n 430/11 que complementa e altera a
Resoluo CONAMA n 357/05) e seus resultados so aplicados em quaisquer das relaes matemticas descritas na Resoluo SMA n 03/2000
(SO PAULO, 2000) (ver Seo 6).
Para o cumprimento da frase de acordo com os critrios de toxicidade
estabelecidos pelo rgo ambiental competente a CETESB utiliza integralmente o descrito na Resoluo SMA n 03/2000 (SO PAULO, 2000), na
qual so fixados os limites de toxicidade permissvel para cada efluente,
com base em duas relaes matemticas, bem como os estudos necessrios
para reavaliao desses limites.
Outro aspecto a ser considerado aquele mencionado no pargrafo 5 do
artigo 18 da Resoluo CONAMA n 430/11 (BRASIL, 2011), que complementa e altera a Resoluo CONAMA n 357/05 (BRASIL, 2005), qual seja:
Nos corpos de gua em que as condies e padres de qualidade
previstos nesta Resoluo no incluam restries de toxicidade a
organismos aquticos, no se aplicam os pargrafos anteriores.
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4 Amostragem de efluentes
A amostragem constitui-se em parte fundamental para a caracterizao
qumica de um efluente, assim como para o conhecimento da sua ecotoxicidade. Dessa forma, do mesmo modo que para a caracterizao qumica,
necessrio que a amostragem dos efluentes seja representativa, englobando as variaes de suas caractersticas, as quais ocorrem por causa da
diversidade das operaes internas bem como de alteraes das matriasprimas e/ou produtos auxiliares.
A amostragem pode ser composta ou simples. Para a maioria dos casos
em que se pretende avaliar a ecotoxicidade do efluente recomenda-se a
amostragem composta, a qual tende a produzir valores mdios dos efeitos txicos. Para efluentes brutos ou tratados por processos fsico-qumicos
com curto tempo de reteno recomenda-se, em especial, a amostragem
composta.
A amostragem simples (instantnea) possibilita a identificao dos picos
de efeito txico, mximo e mnimo, dependendo da frequncia da amostragem. A amostragem instantnea recomendada para efluentes com as
seguintes caractersticas: lanados em regime de intermitncia (batelada);
provenientes de tratamento com perodo de deteno superior a 15 dias; ou
efluentes cuja variao temporal da ecotoxicidade j conhecida.
As amostras devem ser acondicionadas em frascos limpos de vidro ou de
plstico (polietileno, polipropileno ou poliestireno). Os frascos devem ser
totalmente preenchidos com a amostra de modo a evitar a presena de ar
dentro deles. Os volumes necessrios de amostra dependero do ensaio
ecotoxicolgico a ser realizado (Seo 6), variando de um a vinte litros.
Orientaes sobre os procedimentos para coleta de amostras esto descritas no Guia Nacional de Coleta e Preservao de Amostras (gua, sedimento, comunidades aquticas e efluentes lquidos) da CETESB e ANA (Agncia
Nacional de guas) de 2011 (CETESB, 2011) ou suas edies atualizadas.
6 Mtodos analticos
O artigo 18, pargrafo 1, da Resoluo CONAMA n 430/2011 (BRASIL,
2011) faz a seguinte exigncia, quanto ao aspecto analtico:
Os critrios de ecotoxicidade previstos no caput deste artigo devem
se basear em resultados de ensaios ecotoxicolgicos aceitos pelo rgo ambiental, realizados no efluente, utilizando organismos aquticos de pelo menos dois nveis trficos diferentes.
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MTODOS ANALTICOS
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Essa primeira avaliao de cunho obrigatrio, e inicia-se com o conhecimento da ecotoxicidade do efluente, de sua vazo e da vazo mnima do
recurso hdrico receptor1. Essas informaes so aplicadas em quaisquer
das relaes matemticas descritas nas sees seguintes.
1 Considera-se apropriado como vazo mnima de referncia a Q7, 10, isto , a vazo natural
mnima de uma determinada seo de rio, mdia de 7 (sete) dias consecutivos e 10 (dez) anos
de tempo de recorrncia, contabilizadas, sempre que possvel, as vazes correspondentes a
lanamentos e captaes efetuados a montante.
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b) Comparao do resultado da D.E.R. com os resultados dos ensaios ecotoxicolgicos, segundo a Resoluo SMA-03/2000, como segue:
(2)
D.E.R. (em %)
CE(I)50;48h ou CL(I)50;96h
100
ou
(3)
D.E.R. (em %)
CENO(I); 7 dias
10
onde:
10 e 100 = fatores utilizados para garantir a ausncia de efeitos txicos
crnicos, a representatividade de vrios nveis trficos e as variaes temporais da ecotoxicidade.
CE(I)50;48h = concentrao do efluente que causa efeito agudo (imobilidade) a 50% de uma populao do microcrustceo Daphnia similis, em 48 horas de exposio, expressa em %. O mtodo analtico para obteno desse
resultado deve ser a norma tcnica ABNT-NBR 12713 (ABNT, 2009).
de ensaios crnicos expressos por CENO(I); 7 dias. A realizao dos dois tipos
de ensaio mencionados permite a utilizao das duas relaes matemticas,
fato que possibilita a confirmao mtua delas, alm de permitir a seleo do
organismo-teste mais sensvel para futuros monitoramentos do efluente.
Outra possibilidade o uso do ensaio com Vibrio fischeri em substituio
aos mtodos acima citados. Esse mtodo s poder ser adotado por deciso da CETESB tendo como base o estudo realizado conforme descrito
na Seo 6. Nesse caso, a ecotoxicidade permissvel ser estabelecida de
acordo com a relao matemtica descrita a seguir:
(4)
D.E.R. (em %)
CE (I)20; 15min
100
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onde:
CE(I)20; 15 min = concentrao do efluente que causa efeito agudo (inibio de luminescncia) a 20% de uma populao da bactria Vibrio fischeri, em 15 minutos de exposio, expressa em %. O mtodo analtico para
obteno desse resultado deve ser a norma tcnica ABNT NBR 15411-1,
15411-2 ou 15411-3 (ABNT, 2012a, 2012b, 2012c).
Por outro lado, a estimativa da vazo mnima Q7,10 do corpo receptor deve
considerar primeiramente a disponibilidade de dados diretamente observados no corpo-dgua, ou seja, a existncia de posto fluviomtrico prximo
da seo de interesse. Caso haja, ainda necessrio avaliar se a srie histrica razoavelmente longa (mnimo de 15 anos) para que os dados possam
ser tratados estatisticamente, sendo a distribuio Log-Normal bastante
recomendada pela literatura. Importante salientar que a Q7,10 obtida dessa
forma dever ser corrigida por causa da razo entre a rea de drenagem do
posto fluviomtrico e a da seo de interesse.
Na ausncia de dados de vazo observados, a Q7,10 poder ser estimada
pelo mtodo da regionalizao hidrolgica. Conhecidas as coordenadas da
seo de interesse do corpo-dgua e a rea de drenagem, basta acessar o
aplicativo disponvel no site da Secretaria de Saneamento e Recursos Hdricos (SO PAULO, 2012) para a obteno da vazo mnima. importante salientar que esse mtodo estima as vazes mnimas naturais e, dessa forma,
desconsidera as intervenes antrpicas a montante, tais como captaes,
lanamentos e barramentos. Havendo barramento a montante, dever ser
estimada a vazo mnima remanescente composta pela vazo mnima descarregada pela barragem somada mnima produzida na bacia formada a
jusante do barramento. Em qualquer dos casos, o Setor de Hidrologia da
CETESB poder auxiliar na determinao da Q7,10 , orientando os procedimentos de clculo.
Com base nessas informaes, torna-se possvel verificar o enquadramento inicial do efluente com base em uma das relaes matemticas descritas. Assim, o efluente que no atender ao princpio dessas relaes possui
potencial de causar efeitos adversos no corpo hdrico, e desse modo no
se enquadra nas exigncias da Resoluo SMA n 03/2000 (SO PAULO,
2000). Nesse caso, o empreendedor pode solicitar a reavaliao dos limites
de ecotoxicidade (Seo 7.2) ou providenciar a reduo dos efeitos txicos
do efluente (Seo 9).
Um exemplo de aplicao das relaes matemticas descritas apresentado, considerando os seguintes dados simulados:
a) Vazo mdia do efluente = 8,9 L/s.
b) Vazo mnima do corpo hdrico receptor no ponto de lanamento (em
Q7,10) = 1.840,0 L/s.
c) Ecotoxicidade aguda para Daphnia similis, CE(I)50;48h = 2,3%.
Utilizando a relao matemtica indicada para o mtodo de ensaio efetuado, temos:
(2)
CE (I)50;48h
D.E.R
100
Enquanto a substituio dos termos pelos dados simulados resulta em:
(1)
8,9 L/s x 100
D.E.R
8,9 L/s + 1840,0 L/s
D.E.R = 0,48%
e
CE (I)50;48h
2,3%
=
100
100
CE (I);50 = 0,023%
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Nesse caso, a D.E.R. (0,48%) maior do que o valor que garante a ausncia
de efeitos txicos crnicos (CE(I)50; 48h = 0,023%), isto , no atende ao
estabelecido pela relao matemtica, o que permite afirmar que o efluente
tem potencial para causar efeitos adversos aos organismos aquticos do
recurso hdrico. Para essa situao, pode ser solicitada a reavaliao dos limites de ecotoxicidade (Seo 7.2) ou ser providenciada a reduo dos efeitos txicos do efluente (Seo 9). Note-se que nesse caso, com a utilizao
da relao matemtica, possvel constatar que a ecotoxicidade permitida
do efluente deve ser CE(I)50 48% para no possuir potencial em causar
efeitos adversos no corpo hdrico receptor. Outros exemplos de aplicao
das relaes matemticas esto descritos na Seo 10.
7.1.2 Para efluentes lanados diretamente em guas marinhas,
estuarinas, ou represas
x 100
b) Comparao do resultado da D.E.R. com os resultados dos ensaios ecotoxicolgicos, como segue:
(5)
D.E.R. (em %)
10
ou
(6)
D.E.R. (em %)
onde:
CENO(I); 7 dias
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CE(I)50; 48h, CL(I)50; 96h, CE (I)20; 15 min e CENO(I); 7 dias= ver definio
na Seo 7.1.1.
Torna-se importante destacar que os efluentes lanados em rede pblica
coletora de esgotos que est interligada a sistema de tratamento no esto
sujeitos s limitaes de ecotoxicidade. Nesse caso, o controle ecotoxicolgico ser efetuado somente no efluente final da estao de tratamento.
7.2 Reavaliao do limite de ecotoxicidade
Em certas situaes, o limite de ecotoxicidade estabelecido para o efluente (Seo 7.1.1) pode ser reavaliado desde que sejam geradas informaes
complementares sobre o despejo em questo, de modo a eliminar os fatores de incerteza implcitos nas relaes matemticas utilizadas. As situaes que podem exigir tal reavaliao so as seguintes:
a) contestao, por parte do empreendedor, dos limites de ecotoxicidade
estabelecidos;
b) alegao, por parte do empreendedor, de dificuldades em reduzir os efeitos txicos do efluente;
c) constatao, por parte da CETESB, de que o valor que garante a ausncia de efeitos txicos crnicos esteja muito prximo do D.E.R. (diluio do
efluente no corpo receptor).
Para as situaes acima mencionadas o artigo 1, pargrafo 2, da Resoluo SMA 03/2000 descreve:
Os limites de toxicidade so estabelecidos para cada efluente, podendo ser reavaliados pela CETESB, desde que a entidade responsvel
pela emisso apresente estudos sobre: a toxicidade do efluente a pelo
menos trs espcies de organismos aquticos; variabilidade da toxicidade ao longo do tempo e; disperso do efluente no corpo receptor.
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8 Zona de mistura
A interpretao do artigo 4o inciso XIV da Resoluo CONAMA n 430/11
(BRASIL, 2011) de que a zona de mistura uma regio do corpo receptor
que se estende do ponto de lanamento do efluente, delimitada pela superfcie, at o ponto em que atingido o equilbrio da mistura. No artigo 13
da citada Resoluo admite-se a presena de concentraes de substncias
acima dos padres de qualidade estabelecidos e, por conseguinte, a ocorrncia de efeitos txicos causados pela interao dessas substncias. O fundamento legal para o estabelecimento da zona de mistura est descrito no
artigo 13 da Resoluo CONAMA n 430/11 (BRASIL, 2011), como segue:
Na zona de mistura sero admitidas concentraes de substncias
em desacordo com os padres de qualidade estabelecidos para o
corpo receptor, desde que no comprometam os usos previstos para
o mesmo.
Pargrafo nico. A extenso e as concentraes de substncias na
zona de mistura devero ser objeto de estudo, quando determinado
pelo rgo ambiental competente, s expensas do empreendedor
responsvel pelo lanamento.
ZONA DE MISTURA
O estudo de disperso a ser apresentado pelo empreendedor pode basearse em modelagem matemtica ou em levantamento com utilizao de traadores, desde que atenda as seguintes exigncias:
a) modelagem matemtica:
O modelo matemtico empregado deve ser aquele que j se demonstrou
apropriado para esse tipo de estudo, bem como para as condies do
efluente em questo. Algumas experincias bem-sucedidas foram verificadas com os modelos Cormix, Phoenics, Ecomsed, L-CDF/Unicamp e
Visual Plumes. A pluma de disperso deve ser apresentada sob a forma
numrica e grfica, por meio de isolinhas de diluio (expressas em porcentagem do efluente), considerando cenrios desfavorveis do corpo
receptor (por exemplo, vazo em termos do Q7,10 para rios, e condies
de mar e correntes para mar/esturio) e vazo mdia de lanamento
do efluente. Os dados de entrada e as condies de contorno adotadas
devero estar devidamente justificados em relatrio de apresentao do
estudo. Ainda, o empreendedor poder ser convocado para executar o
modelo na presena de tcnicos da CETESB;
b) Levantamento com utilizao de traadores:
Os traadores utilizados podem ser os fluorescentes (rodamina WT ou
fluorescena), os radioativos, ou os qumicos (cloreto de sdio ou ltio)
quando apropriado. importante observar que a rodamina WT no deve
ser utilizada em efluente clorado. Para os despejos em rios, os levantamentos devem ser realizados em duas campanhas, uma para vazo do
corpo receptor no diferente de 20% da vazo mdia estimada e outra
para vazo no superior a 20% da vazo mnima Q7,10 , ambos os levantamentos com a vazo mdia do efluente. J para os despejos em
mar/esturio, o levantamento deve ser realizado, ao menos, em mar de
quadratura. A pluma de disperso dever ser apresentada sob a forma
numrica e grfica, por meio de isolinhas de diluio. O mtodo utilizado
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Aps a realizao do estudo de disperso, cabe CETESB estabelecer a extenso da zona de mistura admissvel para o efluente em questo. Torna-se
importante mencionar que no existem critrios preestabelecidos para o dimensionamento da zona de mistura, e desse modo o rgo ambiental deve
arbitr-lo. Portanto, a princpio, a zona de mistura deve ficar confinada
dimenso superficial que atenda simultaneamente s seguintes condies:
a) a ausncia de efeitos txicos crnicos em poro significativa das sees transversal e longitudinal do recurso hdrico, de modo a permitir o
trnsito e a preservao dos organismos aquticos;
b) a destinao da gua do recurso hdrico, imediatamente a jusante do
lanamento, para qualquer um dos seguintes fins: aquicultura, proteo
ambiental e pesca.
8.3 Definio da zona de mistura
Com base no estudo de disperso (Seo 8.1), a CETESB confronta as isolinhas de diluio do efluente no corpo receptor (expressas em porcentagem)
com o resultado do ensaio ecotoxicolgico (expresso em porcentagem do
ZONA DE MISTURA
efluente). Desse modo, possvel avaliar a extenso do efeito txico provocado pelo efluente e verificar se a rea superficial atende s condies da
Seo 8.2. Baseada na constatao de que a extenso do efeito txico se
restringe zona de mistura apropriada, o resultado do ensaio ecotoxicolgico efetuado torna-se o valor de ecotoxicidade permitido para o efluente.
Caso o efluente demonstre extenso incompatvel para o recurso hdrico (de
acordo com Seo 8.2), o efluente requer uma reduo da ecotoxicidade
(Seo 9).
Deve-se mencionar que as isolinhas de diluio tambm permitem quantificar as concentraes de agentes qumicos do efluente, ao longo do corpo
receptor, caso o objetivo seja o controle das caractersticas qumicas. Para
tanto, deve ser efetuada a determinao qumica do(s) poluente(s) de interesse no efluente lanado para o recurso hdrico.
Para exemplificar a definio de uma zona de mistura e a sua adequao
para evitar efeitos txicos expressivos no corpo hdrico receptor, a Figura
3 mostra o resultado de um estudo de disperso com as isolinhas de diluio em um determinado rio (expressas em porcentagem do efluente).
Nesse caso, considerando que a ecotoxicidade do efluente de CENO(I) =
1,3%, o confronto das diluies demonstra que o efluente possui potencial
para causar efeitos txicos no rio em uma regio com aproximadamente
10 metros de largura e 30 metros de comprimento a partir do ponto de
lanamento.
Essa regio de efeito txico pode ser considerada aceitvel nesse caso, visto que se mostra de tamanho suficiente para evitar danos a um nmero
expressivo de organismos aquticos residentes, uma vez que em 2/3 da
seco transversal do rio possvel o trnsito desses organismos sem que
ocorram efeitos txicos. Essa aceitao complementa-se pela inexistncia
da explorao de pesca (profissional ou amadora), bem como de outro uso
da gua para organismos aquticos, na regio de potencial efeito txico a
jusante do lanamento. Desse modo, a CENO = 1,3% constitui-se no valor
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CONTROLE ECOTOXICOLGICO
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9 Reduo da ecotoxicidade
Vrios estudos tm demonstrado que uma significativa reduo da ecotoxicidade pode ser obtida aps o tratamento de efluentes em sistemas
convencionais. No entanto, mesmo aps o tratamento, os efluentes podem
apresentar ecotoxicidade remanescente, a qual pode situar-se alm dos limites calculados na Seo 7.1.1. Nesses casos, a ecotoxicidade do efluente
deve ser reduzida, ao menos at os limites estabelecidos, utilizando o conhecimento tcnico-cientfico disponvel.
Em princpio, os conhecimentos necessrios para a reduo da toxicidade
esto dentro do prprio empreendimento, ou seja, as informaes sobre a
qualidade qumica do efluente; as substncias utilizadas nos processos produtivos, nos procedimentos de limpeza das instalaes e no sistema de tra-
REDUO DE ECOTOXICIDADE
ESTABELECIMENTO PRVIO DO LIMITE DE ECOTOXICIDADE
10 Estabelecimento prvio do
limite de ecotoxicidade
O limite permissvel de ecotoxicidade pode ser estabelecido para efluente
de empreendimento projetado para o futuro. Para tanto, deve-se utilizar
as relaes matemticas descritas no item 7.1.1. Exemplificando, possvel
que um empreendimento produza um efluente que tenha uma vazo mdia
projetada de 20 L/s e, ainda, que ser lanado em um rio com vazo (em
Q7,10) igual a 2.000 L/s. Assim, com base no clculo de balano de massas
das vazes disponveis, a D.E.R. (diluio do efluente no corpo receptor)
ser igual a 0,99%, e a substituio desse valor na relao abaixo, tem-se:
(3)
D.E.R.
CENO(I)
0,99%
10
CENO(I)
CENO(I) 9,9%
10
Desse modo, o efluente que ser lanado pelo empreendimento deve possuir um valor de ecotoxicidade crnica igual ou superior a 9,9%. Obvia-
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DE EFLUENTES LQUIDOS
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mente, esse limite permissvel dever ser confirmado, por meio de ensaio
ecotoxicolgico, aps o incio da gerao do efluente.
O clculo demonstrado anteriormente tambm pode ser utilizado para estimar o limite permissvel de ecotoxicidade de um efluente j existente, desde
que a informao sobre as vazes (do efluente e do corpo receptor) esteja
disponvel. Torna-se importante mencionar, tambm, que caso o valor de
ecotoxicidade [CE(I)50 ou CENO(I)] resultante seja maior do que 100% o
efluente em questo deve ser considerado como isento de ecotoxicidade
(aguda ou crnica).
Do mesmo modo, possvel estimar a vazo mdia do efluente apropriada
para evitar os efeitos txicos, bem como a vazo do corpo receptor (em
Q7,10) compatvel para o efluente a ser produzido. Nesses casos, com base
em resultados de ecotoxicidade para efluentes semelhantes, recomenda-se
a substituio dos termos na seguinte relao matemtica:
(1,2,3)
vazo mdia do efluente
x 100
Vazo mdia do efluente + vazo do corpo receptor (em Q7,10)
CE(I)50
100
ou
CENO(I)
vazo mdia do efluente
x 100
Vazo mdia do efluente + vazo do corpo receptor (em Q7,10)
10
11 Sequncia de aes
A Figura 4 apresenta, resumidamente, uma sequncia de aes utilizada
pela CETESB para o controle ecotoxicolgico de efluentes lquidos no estado de So Paulo. A sequncia apresentada (com a indicao da Seo
correspondente no presente manual) pode ser usada por empresas sujeitas
a esse tipo de controle.
SEQNCIA DE AES
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CONTROLE ECOTOXICOLGICO
DE EFLUENTES LQUIDOS
NO ESTA DO DE S O PAUL O
12 Referncias
ABNT. NBR 15469: ecotoxicologia aqutica: preservao e preparo de amostras. Rio
de Janeiro, 2007a. 7 p.
ABNT. NBR 15499: ecotoxicologia aqutica: toxicidade crnica de curta durao
mtodo de ensaio com peixes. Rio de Janeiro, 2007b. 21 p.
ABNT. NBR 12713: ecotoxicologia aqutica: toxicidade aguda mtodo de ensaio
com Daphnia spp (Cladocera, Crustacea). Rio de Janeiro, 2009. 23 p.
ABNT. NBR 13373: ecotoxicologia aqutica: toxicidade crnica mtodo de ensaio
com Ceriodaphnia spp (Crustacea, Cladocera). Rio de Janeiro, 2010. 18 p.
ABNT. NBR 15088: ecotoxicologia aqutica: toxicidade aguda mtodo de ensaio
com peixes. Rio de Janeiro, 2011a. 22 p.
ABNT. NBR 12648: ecotoxicologia aqutica: toxicidade crnica mtodo de ensaio
com algas (Chlorophyceae). Rio de Janeiro, 2011b. 28 p.
ABNT. NBR 15308: ecotoxicologia aqutica: toxicidade aguda mtodo de ensaio
com misdeos (Crustacea). Rio de Janeiro, 2011c. 19 p.
ABNT. NBR 15411-1: ecotoxicologia aqutica determinao do efeito inibitrio de
amostras aquosas sobre a emisso de luz de Vibrio fischeri (Ensaio de bactria
luminescente) Parte 1: mtodo utilizando bactrias recm-cultivadas. Rio de Janeiro,
2012a. 24 p.
ABNT. NBR 15411-2: ecotoxicologia aqutica determinao do efeito inibitrio de
amostras aquosas sobre a emisso de luz de Vibrio fischeri (Ensaio de bactria luminescente) Parte 2: mtodo utilizando bactrias desidratadas. Rio de Janeiro, 2012b.
21 p.
ABNT. NBR 15411-3: ecotoxicologia aqutica determinao do efeito inibitrio de
amostras de aquosas sobre a emisso de luz de Vibrio fischeri (Ensaio de bactria luminescente) Parte 3: mtodo utilizando bactrias liofilizadas. Rio de Janeiro, 2012c. 23 p.
ABNT. NBR 15350: ecotoxicologia aqutica: toxicidade crnica de curta durao
mtodo de ensaio com ourio-do-mar (Echinodermata: Echinoidea). Rio de Janeiro,
2012. 19 p.
ABNT. NBR ISO/IEC 17025: requisitos gerais para a competncia de laboratrios de
ensaio e calibrao. Rio de Janeiro, 2005. 31 p.
BASSOI, L.J. et al. Implementao de testes de toxicidade no controle de
efluentes lquidos. So Paulo: CETESB, 1990. 7 p. (Srie Manuais, 8)
BERTOLETTI, E. Controle ecotoxicolgico de efluentes lquidos no estado de
So Paulo. So Paulo: CETESB. 2008. 36 p. (Srie Manuais)
REFERNCIAS
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REFERNCIAS
SO PAULO (Estado) Secretaria de Saneamento e Recursos Hdricos . Sistema de informaes para o gerenciamento de recursos hdricos do estado de So Paulo - SIRGH: Regionalizao hidrolgica do estado de So Paulo. So Paulo [2012?].
Disponvel em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/cgi-bin/regnet.exe?lig=podfp>. Acesso em:
17 set. 2012.
TEBO JR., L.B. Effluent monitoring: historical perspective. In: BERGMAN, H.L.; KIMERLE, A.A.; MAKI, A.W. (Ed.). Environmental hazard assessment of effluent. Elmsford: Pergamon Press, 1986. p. 13-31.
USEPA. Handbook for sampling and sample preservation of water and wastewater. Cincinnati, Ohio, 1982. 402 p. (EPA-600/4-82-029). Disponvel em: <http://
nepis.epa.gov/Exe/ZyPURL.cgi?Dockey=30000QSA.txt>. Acesso em: set. 2012.
USEPA. Methods for measuring the acute toxicity of effluents and receiving
waters to freshwater and marine organisms. 5 th ed. Washington, D.C., 2002a.
266 p. (EPA-821-R-02-012). Disponvel em: http://water.epa.gov/scitech/methods/
cwa/wet/disk2_index.cfm. Acesso em: set. 2012.
USEPA. Short-term methods for estimating the chronic toxicity of effluents
and receiving waters to freshwater and marine organisms. 4 th ed. Washington, D.C., 2002b. 335 p. (EPA-82-R-02-013). Disponvel em: http://water.epa.gov/scitech/methods/cwa/wet/disk3_index.cfm. Acesso em: set. 2012
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CONTROLE ECOTOXICOLGICO
D E E F L UE N TE S L QUI D O S
N O E S TAD O D E S O PAUL O
Diviso de Anlises
Hidrobiolgicas
Setor de Ecotoxicologia Aqutica
Autor
CONTROLE ECOTOXICOLGICO
DE EFLUENTES LQUIDOS
NO ESTADO DE SO PAULO
Eduardo Bertoletti
de Saneamento Ambiental