Familiograma PDF
Familiograma PDF
Familiograma PDF
1 Instituto de Medicina
Social, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, Brasil.
2 Instituto de Comunicao
e Informao Cientfica
e Tecnolgica em Sade,
Fundao Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, Brasil.
3 Centro de Cincias
Biolgicas e da Sade,
Universidade Estcio de S,
Rio de Janeiro, Brasil.
4 Fundao Cesgranrio,
Rio de Janeiro, Brasil.
5 Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, Brasil.
Correspondncia
A. T. S. Pereira
Instituto de Medicina Social,
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
Rua Djalma Ulrich 23,
apto. 901, Rio de Janeiro, RJ
22071-020, Brasil.
anatsp@gmail.com
Abstract
Introduo
O Programa Sade da Famlia (PSF) brasileiro tinha em seu cadastro, em 2006, 81.686.812 pessoas ou 44% da populao do pas, demonstrando
uma resposta significativa poltica do Ministrio da Sade de fortalecimento da ateno bsica, e representando a estratgia principal para
mudana de modelo, sempre integrado ao contexto de reorganizao do sistema de sade.
Ao adotar os princpios fundamentais da
Ateno Bsica no Brasil integralidade, qualidade, eqidade e participao social as equipes
de sade da famlia apiam-se tambm na adscrio de clientela para estabelecer vnculo com
a populao, possibilitando seu compromisso e
co-responsabilidade com os usurios e a comunidade. Seu desafio o de ampliar suas fronteiras de atuao visando maior resolubilidade da
ateno.
A extenso do PSF tornou necessria a construo de indicadores para avaliar a coerncia
da abordagem efetivamente realizada e a adeso
aos princpios que regem o programa, centrados
na incorporao do contexto familiar no processo de tomada de deciso.
Um dos requisitos fundamentais do programa o uso do pronturio familiar enquanto instrumento de trabalho, garantindo o registro das
informaes e permitindo, de forma gil, o acesso s aes realizadas pela equipe de sade da
famlia. , portanto, elemento decisivo melhor
S123
S124
Sobre o tema
Os programas de ps-graduao e de capacitao
para profissionais de sade destacam a importncia do familiograma (genograma) e do pronturio familiar como parte do aprendizado necessrio para o cumprimento das aes de sade
estabelecidas para este nvel de ateno 1. Essa
prioridade transparece da anlise das ementas
de curso aprovadas pela Cumbre Ibero Americana de Medicina Familiar, realizada em Sevilha,
Espanha, em maro de 2002.
A medicina familiar tem como princpio centrar-se na ateno da pessoa como um todo. Para
tanto, necessrio contar com equipes de sade
que vejam a doena no contexto da famlia, e que
conheam as premissas da orientao familiar
na ateno primaria, com o propsito de realizar
intervenes neste mbito de atuao. fundamental que os profissionais de sade da famlia
detectem os indcios ou riscos que uma pessoa e
sua famlia possam correr na esfera psicossocial,
para prevenir doenas e alteraes na funcionalidade familiar. O familiograma ou genograma
um dos instrumentos, entre outros, que as equipes de sade devem utilizar para cumprir tal finalidade.
De forma especfica, ao propiciar uma viso
grfica da famlia e de suas relaes, os instrumentos de registro da ateno famlia permitem
desenvolver no profissional de sade uma viso
integrada dos pontos fortes e das fragilidades da
unidade familiar em sua situao atual, bem como dos aspectos evolutivos ao longo do tempo
que possam influenciar suas interaes presentes. Neste processo de desenvolvimento de uma
hiptese, os resultados revelados pelos instrumentos de ateno famlia permitiro tanto sua
formulao inicial como, uma vez construda,
aportar elementos que possibilitaro revelar ou
reforar hipteses, buscando a compreenso do
entorno de modo a melhor contribuir para o desenvolvimento do ncleo familiar.
Nesse contexto, vrios autores definem e explicitam a importncia do genograma no contexto da ateno primria:
Athayde & Rodrigues 2 afirmam ser o genograma a representao grfica das principais caractersticas de um grupo familiar ao longo do
tempo.
O familiograma um instrumento desenvolvido para avaliar o funcionamento sistmico da
famlia, sendo til para a identificao de famlias cuja estrutura as coloca em alguma condio
de risco de carter biolgico (problemas hereditrios ou de aparecimento familiar), psicolgico
(tendncias a ter uma funcionalidade familiar
inadequada) ou social (famlia numerosa e/ou
sem recursos, etc.). Assim, ao retratar as caractersticas de trs geraes, o familiograma oferece
uma perspectiva longitudinal tendo em conta
que as famlias tendem a repetir seus atributos,
caracterstica conhecida como continuidade ou
alternncia, se isto ocorre sem interrupo entre
pais e filhos ou irmos, ou se salta uma gerao
para aparecer na outra 3 (p. 49).
Neste sentido, ainda que seu aprendizado e
elaborao demandem tempo e pacincia, com
a prtica ele se apresenta elemento indispensvel
na consulta ambulatorial do primeiro nvel e na
ateno primaria de sade em geral 3 (p. 49).
Rogers & Cohn 4, em artigo publicado em
1987, afirmavam que o genograma capturava
mais informaes sobre a estrutura da famlia, os
eventos vitais, as doenas e as relaes familiares
do que os mdicos por si s.
Liossi et al. 5 definem genograma como um
formato para desenhar a rvore familiar com informaes sobre membros da famlia e suas relaes ao longo de pelo menos de trs geraes. O
genograma tem sido utilizado amplamente como
uma ferramenta til para reunir, registrar e expor
informaes sobre famlias visando pratica da
assistncia sade orientada para a famlia.
Por outro lado, o uso do genograma enquanto
mtodo de coleta, armazenamento e processamento de informaes sobre uma famlia complementa o pronturio familiar. Proporciona o
acesso rpido a um grande nmero de dados
sobre a famlia, incluindo seu passado hereditrio e o risco que oferece aos membros atuais,
juntamente com influncias clnicas, sociais e
interacionais. Conhecer a histria familiar importante, mas a coleta dos dados no deve se res-
Metodologia
A pesquisa foi parte dos estudos formulados e
executados pela Fundao Cesgranrio para o
Projeto de Expanso e Consolidao do Sade
da Famlia (PROESF), iniciativa do Ministrio da
Sade. Foram respondidos 469 questionrios pelas equipes de sade da famlia, entrevistados 16
coordenadores municipais do PSF e avaliadas 88
unidades de sade (30% das unidades de todos
os municpios estudados) sob a lgica da acreditao nos anos de 2005 e 2006.
Nesse contexto, no estudo avaliativo realizado, entendeu-se que a adoo da metodologia
de avaliao baseada nos padres de acreditao
internacional se apresentava como instrumento
inovador.
O processo de acreditao tem se consolidado como uma excelente metodologia de avaliao da qualidade dos servios de sade em todo
o mundo. A longa experincia e o sucesso da implementao desse mtodo nos servios de sade dos Estados Unidos pela Joint Commission
on Accreditation of Health Care Organizations
tem sido o principal espelho para expanso desse
processo para vrios pases do mundo.
Impulsionada pela criao, em 1998, da subsidiria da Joint Commission on Accreditation of
Health Care Organizations, a Joint Commission
International, que desenvolve esse processo fora
dos Estados Unidos, a acreditao ultrapassou as
barreiras territoriais, histricas, culturais e tcnicas nas distintas sociedades existentes nos diferentes continentes e se consolidou como uma
efetiva ferramenta de avaliao. Contribui como
um poderoso instrumento para a melhoria contnua da qualidade nos servios de sade e, ainda,
para o aumento da segurana nos cuidados prestados ao paciente nos diferentes segmentos da
assistncia. Atualmente, cerca de 80 instituies
de sade esto acreditadas pela metodologia da
Joint Commission International no mundo, inclusive no Brasil, compondo assim uma rede de
instituies que esto acreditadas e reconhecidas
como de alta qualidade no desenvolvimento dos
processos de assistncia prestada ao paciente e
de gesto.
S125
S126
Foram tambm consolidados os questionrios respondidos pelas equipes de sade da famlia existentes nos municpios que integraram
a pesquisa e as entrevistas realizadas com as coordenaes municipais do PSF.
Resultados e discusso
Quanto avaliao externa utilizando-se o manual de acreditao, verificou-se que em relao
ao padro OPS17: os pronturios dos pacientes
contm informao suficiente para identificar o
paciente, orientar o diagnstico, justificar o tratamento e documentar a evoluo os resultados
demonstram 63% de registros parcialmente conforme, como pode ser visto na Figura 1.
Com relao ao padro OPS18 sobre tratamento continuado: Para pacientes que recebem
servios de cuidado continuado, o pronturio
contm uma lista resumida de todos os diagnsticos significativos, alergias a medicamentos e medicamentos em uso, foi identificado um equil-
Figura 1
Preenchimento adequado do pronturio em unidades de sade da famlia em municpios selecionados * dos estados do
Amap, Par, Maranho e Tocantins, Brasil, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
S127
S128
Figura 2
Graus de conformidade dos pronturios quanto ao registro de tratamento continuado em unidades de sade da famlia em
municpios selecionados * dos estados do Amap, Par, Maranho e Tocantins, Brasil, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
dado ao paciente, verifica-se um grau importante de parcialmente conforme, 66%, sendo que
apenas 30% dos pronturios se enquadram na
categoria conforme (Figura 5).
Constata-se um grau maior de conformidade para o padro SVP32: o cuidado prestado
a cada paciente planejado e anotado em seu
pronturio, apesar de 25% das unidades estarem situadas na categoria de no conformidade
(Figura 6).
Merece ser ainda destacado que, no conjunto
de padres satisfatrios, h prevalncia do status
parcial conforme, evidenciando que so significativas as oportunidades de melhoria de processos e atividades. H, portanto, necessidade
de implantao, monitoramento e manuteno
de aes de melhoria da qualidade, para que as
unidades possam alcanar nvel de desempenho
compatvel aos requisitos dos padres e a conformidade com os mesmos.
Figura 3
Graus de conformidade dos pronturios quanto reviso peridica em unidades de sade da famlia em municpios selecionados * dos estados do Amap, Par, Maranho e Tocantins, Brasil, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
S129
S130
Figura 4
Graus de conformidade dos pronturios quanto ao preenchimento pela enfermagem em unidades de sade da famlia em
municpios selecionados * dos estados do Amap, Par, Maranho e Tocantins, Brasil, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
Concluses
Apesar de constar de vrios currculos de capacitao e de formao universitria sobre sade
da famlia, inclusive entre as normas do prprio
Ministrio da Sade, no houve implantao,
de forma coerente e massiva, da norma sobre o
uso do pronturio familiar e do genograma nos
municpios estudados nesta pesquisa. Portanto,
os preceitos no se transformaram em normalizao efetiva, em contradio com o princpio
bsico ordenador do PSF que articula unidade
familiar a unidade mnima de produo de servios.
Verifica-se, tanto pelo elevado nmero de
pronturios no conforme e parcialmente con-
Figura 5
Graus de conformidade dos pronturios quanto acessibilidade do pronturio em unidades de sade da famlia em municpios selecionados * dos estados do Amap, Par, Maranho e Tocantins, Brasil, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
S131
S132
Figura 6
Graus de conformidade dos pronturios quanto ao planejamento do cuidado em unidades de sade da famlia em municpios
selecionados * dos estados do Amap, Par, Maranho e Tocantins, janeiro de 2006.
* Municpios selecionados: Macap (Amap); Abaetetuba, Ananindeua, Belm, Camet, Castanhal, Marab e Santarm (Par);
Caxias, Cod, Imperatriz, So Jos do Ribamar, So Lus e Timom (Maranho); e Palmas e Araguaina (Tocantins).
Conforme: para os padres cujas evidncias encontradas indicam total atendimento aos seus requisitos; no conforme: para
os padres cujas evidncias encontradas indicam nenhum atendimento aos seus requisitos; parcial conforme: para os padres
cujas evidncias encontradas indicam que determinados requisitos so atendidos (aspectos positivos), mas que, no entanto,
ainda so necessrios ajustes e/ou melhorias para alcanar a conformidade.
Resumo
Colaboradores
A expanso da estratgia do Programa Sade da Famlia no Brasil torna necessria a construo de indicadores que avaliem a coerncia da abordagem efetivamente realizada e os princpios que regem o programa.
Associado ao pronturio familiar, o familiograma (genograma) possibilita melhoria no acompanhamento
da sade da clientela e na qualidade da ateno prestada. A pesquisa utiliza o pronturio familiar com base na avaliao externa (acreditao) das equipes de
sade da famlia e dos gestores. Os resultados mostram
uma variao da conformidade do pronturio com o
padro de acreditao segundo a natureza da funo
avaliada. O estudo revela a importncia da avaliao
externa como sinalizadora do nvel de conformidade
aos padres requeridos, sugerindo a necessidade de
operar um indicador combinado entre a avaliao interna e externa das informaes familiares como instrumento de gesto.
Referncias
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
S133