CAIO PRADO JR.

A REVOLUO BRASILEIRA
Cap.1: Revoluo diferente de insurreio. O significado subsiste na
transformao e no no processo imediato de realizao.
Revoluo [...] significa o processo histrico assinalado por reformas e
modificaes econmicas, sociais e polticas, concentradas em um perodo
histrico relativamente curto. (p.2) Transformaes da sociedade, relaes
econmicas e equilbrio recproco das diferentes classes e categorias
sociais.
A natureza da revoluo no deve ser proposta anteriormente sua
realizao. Tal qualificao s possvel de acordo com a constituio dos
fatos; do contrrio, seria uma determinao apriorstica e doutrinria.
*A passagem do capitalismo ao socialismo uma previso certa, mas sem
data marcada. O que no significa que esteja a todo momento na ordem do
dia; no exclui objetivos que, imediatamente, no se relacionam com a
revoluo socialista.
No devem existir objetivos ocultos e sim a dialtica dos fatos histricos. A
revoluo brasileira ser a interpretao da conjuntura presente e do
processo histrico de que resulta (p.15).
Caio Prado Jr. afirma que o golpe de 1964 foi gerado pela esquerda desde
1955.
Cap.2: Os modelos pr-concebidos de revoluo levaram uma apreenso
errnea dos fatos e tentativa de se encaixar a realidade em tais modelos.
Teoria x prxis: os modelos acima so levados a cabo por homens prticos,
com pouca reflexo acerca da ao e sua crtica terica.
A teoria revolucionria brasileira no evoluiu dos tempos mais dogmticos;
nem sequer foi submetida crticas. uma derivao do stalinismo,
dogmatismo que imperou por todo o pensamento marxista.
*insuficincia das concepes tericas e a crena na sua aplicabilidade
universal: feudalismo, capitalismo, feudalismo.
A ideia de que a evoluo histrica da humanidade se reraliza atravs de
etapas invariveis e predeterminadas, inteiramente estranha a Marx [...]
cujas atenes se voltavam para pases e povos europeus (p.39).
O marxismo essencialmente a previso do socialismo.
Caio Prado Jr. rechaa a tese do feudalismo brasileiro: tal teoria apoiava-se
em traos de semelhanas com o feudalismo europeu, recusando todas as
divergncias e aplicando-se pela semelhanas. Nesse esquema, pases
dependentes encontravam-se em transio do feudalismo ao capitalismo e
deveriam passar pela etapa da Revoluo democrtico-burguesa.
Elementos feudais no Brasil: as parcerias (sistema de meao). No brasil,
diferentemente da Europa, a parceria dava-se como uma relao de
emprego. Os armazns dos donos de propriedades e o tempo de trabalho

gratuito nas terras do proprietrio so, para Caio Prado, reminiscncias da

escravido, e no de feudalismo.
O servo feudal era o ocupante e explorador da terra. Possua os meios de
produo: era o empresrio da produo.
na base das relaes de trabalho e produo que so determinadas as
classes e relaes sociais. A partir delas, cria-se a luta de classes entre o
servo campons e o senhor. A reivindicao camponesa pela posse da terra
encontra sua oportunidade na transio para o capitalismo, quando as lutas
camponesas so incorporadas pela burguesia. No plano econmico,
representa a penetrao do capital no campo.
A reforma agrria a transformao do latifndio feudal em explorao
capitalista; onde situa-se a importncia da reforma agrria como elemento
da Revoluo democrtico-burguesa.
Feudalismo: sistema agrrio assentado na explorao parcelaria da terra
ocupada e trabalhada individualmente e tradicionalmente por camponeses
(pequenos produtores).
Brasil: grande propriedade rural, constituda na explorao comercial em
larga escala, no parcelaria e com mo-de-obra escrava.
A errada concepo do feudalismo brasileiro levou a Internacional
Comunista ditar o modelo da Revoluo Brasileira.
[O autor equivoca-se ao afirmar que, no Brasil, a luta dos agricultores no
pela posse da terra, mas por melhores condies de trabalho]
Outra adaptao quanto ao imperialismo: as foras imperialistas buscam
um certo desenvolvimento do Brasil para seu prprio proveito. A burguesia
nacional contrape-se esse movimento, buscando o desenvolvimento do
pas em prol da indstria nacional. Mas quem desenvolveu a indstria
nacional foram as foras imperialistas, no a burguesia nacional. Estas
muitas vezes se aliaram, tornando impossvel a diferenciao.
Cap.4: A estrutura de classe de uma sociedade e a natureza e hierarquia
de suas classes e categorias sociais refletem sempre a organizao
econmica que lhes serve de base (p.158).
O termo latifundirio utilizado erroneamente para designar o grande
empresrio capitalista do campo.
O que define o capitalismo como um sistema especfico de produo no o
emprego de tcnicas de alto nvel, mas sim as relaes humanas de
produo e trabalho, que determinam, de um lado, os proprietrios de
capital e, de outro, os trabalhadores. A agricultura brasileira capitalista
porque estrutura-se na base de relaes de emprego e produz para o
mercado (ou seja, so empresas comerciais). Assim, os grandes
proprietrios rurais acabam por constituir uma legtima burguesia agrria. E,
segundo Caio Prado, uma burguesia atrasada e de baixo nvel, dadas as
circunstncias em que exercem suas atividades, de tradio colonial.

*as burguesias agrrias e industriais muitas vezes confundem-se nas

mesmas pessoas, ligando-se ao capital financeiro. Assim, no se separa
claramente uma classe de latifundirios contrastante com a burguesia
industrial, atreladas s relaes de produo especficas e distintas.
Tanto o setor agrrio quanto o setor urbano podem apresentar
reacionarismo, no tendo este nada a ver com a origem geogrfica, e sim
com interesses particulares de cada caso.
Burguesia e Imperialismo: os primeiros representantes da burguesia
brasileira (urbana) foram os comerciantes portugueses que aqui viviam.
eles, juntaram-se europeus de outros locais, dada a abertura de portos e a
liberdade comercial. Tais empreendedores no tiveram no Brasil os
obstculos comuns implantao do capitalismo na Europa, impostos pelo
desmantelamento do feudalismo. Aqui, a produo era mercantil, visando
atender a demanda internacional.
A economia de exporta~zo organizada e funciona em ligao ntima e
estreita dependncia do comrcio internacional, que torna o Brasil
vulnervel penetrao do capital financeiro internacional. O capital e o
imperialismo no encontram aqui uma estrutura econmica a ser removida
ou remodelada natureza de suas atividades e interesses.
No geral, a penetrao do capital imperialista no Brasil impulsionou o
desenvolvimento econmico da burguesia, implementando solues
tecnolgicas para a indstria e permitindo um progressivo crescimento do
setor industrial.
No Brasil, portanto, a histria de uma burguesia nacional e anti-imperialista
no passa de um mito, para justificar teorias pr-concebidas.
Capitalismo Burocrtico: A questo Brasileira no , portanto, acerca da
contraposio entre burguesias pr e anti imperialistas. O que antagoniza as
burguesas a predominncia do capitalismo burocrtico, que atrela
interesses burgueses s questes do Estado, criando favorecimentos muitas
vezes ilcitos e transformando o governo num instrumento de acumulao
privada, criando uma burguesia que se alimenta diretamente da ao
estatal e de iniciativas pblicas.
Assim, o antagonismo burgus no Brasil se d em torno dos grupos
favorecidos e no-favorecidos pelo Estado.
Na relao com o proletariado, a burguesia burocrtica tem como fachada
os interesses estatais e, portanto, gerais, amenizando as contradies de
classe, com atitudes de aparente solidariedade e carter paternalista.
O capitalismo burocrtico induz as foras polticas da Revoluo Brasileira
ao erro, pois ambos defendem o intervencionismo estatal na economia. Os
tericos da revoluo enxergam a burguesia progressista nacionalista
naquilo que apenas o capitalismo burocrtico.
Cap.5: a caracterizao das relaes de trabalho e produo no campo
abrem perspectivas revolucionrias amplas, dado que nisto residem a
natureza do conflito e a dinmica das contradies fundamentais includas
no processo histrico-social em desenvolvimento.

[Ao analisar a demanda da revoluo no campo, Caio Prado acerta ao

apontar que, com o fim do governo militar, o movimento das massas
trabalhadoras rurais retomaria atividades em ritmo acelerado. Em 1984,
surgiu o MST.]
[Mas o autor erra ao afirmar que a luta no campo no pela terra, mas por
melhores condies de emprego.] a transformao da grande explorao
com a eliminao de seus aspectos negativos, que consistem basicamente
nos baixos padres tecnolgicos e no tipo de relaes de trabalho
predominantes, que reduzem o trabalhador s miserveis condies
materiais, culturais e sociais.
A questo da soluo do problema agrrio reside no fundamento colonial
mercantil ainda presente na economia. A produo agrria voltada para
interesses externos, buscando atender a demanda externa por produtos
brasileiros, dando um carter especulativo explorao agrria.
A produo rural deveria voltar-se para o atendimento das demandas
internas, criando uma ligao entre produo e consumo, aquecendo a
produo e criando a possibilidade de organizao e melhorias para a classe
trabalhadora rural.
Para Caio Prado, a produo industrial brasileira deve ser orientada para o
atendimento das demandas da maioria da populao, e no de uma minoria
rica consumidora de bens de consumo de luxo. Afirma que o Brasil no
seguir os passos dos pases desenvolvidos, pois estes atravessavam o
perodo de revoluo industrial que permitiu a criao do mercado para sua
produo.
Conclui-se que, no Brasil, para suprir-se a distribuio necessrio que
haja interveno econmica controlada por fatores situados acima da
iniciativa privada. No se trata da eliminao da iniciativa privada mas da
livre iniciativa privada.
Para o impulsionamento de um processo de superao do passado,
preciso romper com a ao movida pelo lucro capitalista; a combinao de
iniciativas pblica e privada deve visar a elevao dos padres materiais e
culturais da populao e a satisfao de suas necessidades bsicas.
A condio necessria para um processo como o descrito acima consiste na
articulao de dois elementos: atividade produtiva e mercado consumidor.
Cap.6: Caio Prado ressalta a importncia da unio entre operrios e
trabalhadores rurais: o operariado tem origens no campo, compartilha a
mesma posio social, de combate a burguesia. Destaca o papel que devem
ter os sindicatos na organizao dos trabalhadores e atribui papel de
relevncias s massas rurais. Critica o distanciamento entre sindicato e
trabalhador.
Cap.7: O modelo pr-estabelecido pela cartilha marxista-leninista de
imperialismo tambm no imediatamente traduzido para a realidade
brasileira. O imperialismo trabalhado por autores europeus retrata uma
nova condio, sobrepondo-se s culturas anteriores e modificando-as. No
Brasil, a dominao imperialista tem razes profundas na nossa vida

econmica e social. O Brasil foi formado dentro do sistema internacional que

deu modernamente no imperialismo
No possvel libertar-se da subordinao ao capital internacional sem a
eliminao paralela e simultnea dos elementos da formao colonial, me
organizao internam econmica e social. Essas ordens formam um todo
que se mantm perpetuando uma pela outra.
A industrializao no Brasil deu-se pela da substituio de importaes, de
modo a produzir aqui o que antes era importado, Mas assim a indstria no
se flexibiliza de modo a atender as demandas amplas de outros setores da
populao: essa industrializao, feita pelo imperialismo mantm o pas
sujeito aos problemas estruturais.
necessrio para a Revoluo Brasileira adotar uma postura de antiimperialismo e atingi-lo em suas bases. O governo deve interferir e regular
as contas externas e o comrcio exterior, de modo a conduzir a economia
brasileira de colonial a nacional. Assim possvel controlar a remessa
de lucros pelo capital imperialista, que privam o pas de recursos essenciais
ao desenvolvimento.
Deve-se ampliar a soberania e no permitir a interferncia de grupos
Econmicos nas atitudes polticas, econmicas e sociais.