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A PESQUISA NA EXTENSO: A FORMAO DO ALUNO
EXTENSIONISTA (Apresentao oral no eixo temtico 2)
Dbora Maria MORETO
(Graduanda em Servio Social, Universidade Estadual de Ponta Grossa Brasil)
Ione da Silva JOVINO
(Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa Brasil e coordenadora do projeto Periferia de Ponta a Ponta: juventude, cidadania e prticas culturais)
Ligia Paula COUTO
(Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa Brasil e coordenadora do projeto Periferia de Ponta a Ponta: juventude, cidadania e prticas culturais) No Brasil, desde a dcada de 30 do sculo XX, j se discutia a importncia da universidade promover a relao entre pesquisa, extenso e ensino. Todos esses trs elementos devem contribuir para a formao do aluno, mas a extenso, devido s suas caractersticas peculiares, proporciona um contato mais prximo com a realidade. Assim, os alunos da extenso, ao entrarem em contato com as realidades sociais, atravs dos projetos desenvolvidos na universidade, participam de maneira mais ativa da comunidade e podem colocar em prtica as teorias estudadas em aula. Por outro lado, a pesquisa pode ser de grande interesse extenso, uma vez que as ferramentas proporcionadas por ela faro com que o aluno extensionista organize os dados encontrados na realidade. A pesquisa, dessa maneira, pode constituir o momento da sistematizao da reflexo e auxiliar na busca de solues para as demandas existentes, de maneira critica e poltica. O objetivo desta comunicao abordar como a aproximao entre pesquisa e extenso pode contribuir para a formao dos alunos universitrios e, mais especificamente, como tal trabalho est sendo desenvolvido em um projeto de extenso da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O projeto Periferia de Ponta a Ponta: Juventude, Cidadania e Prticas Culturais, vinculado ao programa Universidade Sem Fronteiras um projeto de extenso, mas busca fazer com que seus integrantes lidem com a pesquisa. Tal projeto utiliza a pesquisa em dois momentos: para que seus participantes entrem em contato com a bibliografia a respeito da temtica que ser eixo central do projeto e, a partir dessas leituras iniciais, os integrantes escolham um problema para pesquisar. Assim, alm de todas as atividades que os participantes desenvolvem no projeto, eles tem a incumbncia de fazer pesquisa. Dessa forma, a pesquisa da rea temtica abordada no projeto lida pelos integrantes que, posteriormente, produziro suas prprias pesquisas, tendo em vista a aes efetivas do projeto. Como estamos no incio do projeto, temos apenas o esboo do que ser construdo. Neste esboo, j selecionamos as leituras bsicas relacionadas ao tema que ser desenvolvido no projeto; os alunos esto se agrupando para elaborar problemas de pesquisa e um deles j repensou seu tema de trabalho de concluso de curso para privilegiar as discusses que ele tratar no projeto de extenso. Concluindo, tanto a pesquisa quanto a extenso enriquecem a vida acadmica e formam profissionais, crticos e reflexivos, que analisam a sociedade de forma dialtica buscando solues, para nossa realidade e os inmeros conflitos que permeiam as relaes sociais. Essa comunicao, ento, mostrar como a aproximao entre a extenso e a pesquisa contribuem para a formao de alunos extensionistas em um projeto da UEPG. Palavras-chave: <Extenso, Pesquisa e Formao>
O ensino universitrio no Brasil
O ensino universitrio no Brasil tem um incio tardio se o comparamos com outros pases da Amrica Latina. somente com a chegada da famlia real em 1808 que h a configurao dos primeiros cursos superiores. A corte portuguesa necessitava de profissionais mais especializados que a servissem, portanto, o governo se v obrigado a criar cursos que formassem esses profissionais. De acordo com Cunha (1980), as escolas superiores criadas desde 1808 tinham currculos calcados em modelos franceses e muitos dos livros adotados eram da mesma origem. Se nessas instituies passou-se a ler e discutir autores franceses, as idias francesas passaram a influenciar o cenrio cultural brasileiro mais do que nunca. Alm de ter a influncia cultural francesa, o Brasil tinha como objetivo primordial, como dito anteriormente, formar profissionais que servissem aos interesses do governo; sendo assim, esses dois fatores colaboraram para que o modelo napolenico de universidade ganhasse fora e estruturasse o incio de nosso ensino superior. Para o ensino superior brasileiro, esse modelo francs significou uma universidade mais voltada ao preenchimento do quadro de profissionais do que necessariamente ao desenvolvimento de pesquisa. Essa universidade tornou-se dependente do governo e at hoje luta por autonomia administrativa e financeira. As faculdades constituram-se como institutos isolados e o aluno no teve flexibilidade ou autonomia para direcionar sua formao. Por mais de um sculo, o ensino superior no Brasil manteve os objetivos do modelo napolenico, no entanto, no podemos afirmar que durante o sculo XIX havia universidade no Brasili. O que, sim, havia eram escolas superiores que se configuravam de acordo com o modelo napolenico e se preocupavam, assim, com a formao de profissionais para atender aos interesses do Estado. As primeiras tentativas de constituir uma universidade brasileira, escapando dos moldes napolenicos, ocorreram no sculo XX. A fundao da Universidade de So Paulo (1934) e da Universidade do Distrito Federal (1935) so um esforo inicial de estabelecer um novo modelo organizacional de universidade, o humboldtiano (ou alemo) ii. De acordo com Sguissardi (2006, 354): (...) a criao da Universidade de S. Paulo em 1934 e da Universidade do Distrito Federal em 1935 que ir desencadear o processo de adoo, ainda que tentativo e parcial, de alguns traos fundamentais de um modelo de universidade assemelhado ao modelo alemo ou humboldtiano na universidade brasileira. O modelo humboldtiano, ainda segundo Sguissardi (2006, p. 352-353), foi constitudo a partir das idias de Von Humboldt, Fichte e Schleiermacher e foi
experimentado em especial na Universidade de Berlin, na primeira metade do
sculo XIX. Para a Alemanha, tal modelo de universidade significava impulsionar e desenvolver sua indstria e tornar-se independente no campo da cincia e da cultura. Neste modelo, o professor no o nico detentor do conhecimento. Ele constri o conhecimento juntamente com os alunos, portanto, espera-se que os alunos interajam com este conhecimento que, entendido como em constante movimento e transformao. Alm disso, por buscar-se a verdade e o exerccio do intelecto e da conscincia crtica, h um conseqente desenvolvimento da pesquisa. A universidade ganha mais autonomia, mas continua preocupando-se em formar as elites. Santos (2008, p. 193) caracteriza este modelo da seguinte forma: A exigncia posta no trabalho universitrio, a excelncia dos seus produtos culturais e cientficos, a criatividade da actividade intelectual, a liberdade de discusso, o esprito crtico, a autonomia e o universalismo dos objectivos fizeram da universidade uma instituio nica, relativamente isolada das restantes instituies sociais, dotada de grande prestgio social e considerada imprescindvel para a formao das elites. A relao com o conhecimento ocorre de maneira diferenciada nos modelos napolenico e humboldtiano. Enquanto o primeiro se firma em uma concepo moderna de conhecimento, o segundo se pauta em uma viso psmoderna. Na viso moderna, h o destaque para duas reas do conhecimento: lgica matemtica e cincias empricas; conhecer passa a ser sinnimo de quantificar, medir, classificar e, em seguida, relacionar com o que foi separado, com o objetivo de se estabelecer leis e princpios que garantam a estabilidade e a ordem. Na viso ps-moderna, a cincia ganha autonomia frente ao Estado e sociedade, no h hegemonia de um saber sobre outro. Para Santos (2008, p. 224), no paradigma da ps-modernidade, a universidade deve ser um ponto privilegiado de encontro de saberes. Para ele, possvel haver a revalorizao dos saberes no cientficos e a revalorizao do prprio saber cientfico e, a relao entre estes saberes, implicaria um modelo alternativo de investigao, que acabaria por comprometer a comunidade cientfica de forma existencial, tica e profissional com o impacto da aplicao. Podemos concluir, ento, que o Brasil inicia a constituio do ensino universitrio tardiamente, se o comparamos com outros pases do continente americano. Segundo Sguissardi (2006, p. 353), nosso pas tem sido o ltimo ou um dos ltimos a constituir e reconhecer oficialmente universidades. Tanto o modelo napolenico quanto o humboldtiano serviram de base para a estruturao de nossas universidades, no entanto, at hoje h uma predominncia
de caractersticas do modelo napolenico. A resistncia ao modelo
humboldtiano, ainda de acordo com Sguissardi (2006, p. 363-365), ser uma marca dos anos 80 (do sculo XX). Esse modelo considerado caro e no possvel de ser financiado pelo governo. Assim: desta poca a idia at hoje defendida e na ltima dcada posta em prtica, oficial e extra-oficialmente, de um sistema dual: algumas universidades de pesquisa (humboldtianas), alguns centros de excelncia, e uma maioria de universidades de ensino (...). Um modelo neoprofissional ou neonapolenico tem caracterizado o perfil da maioria de nossas instituies de educao superior, que tambm poderiam ser classificadas como universidades de ensino, escolas profissionais, numa proporo a cada dia maior no confronto com as de perfil neo-humboldtiano ou universidades de pesquisa. A extenso universitria e o projeto Periferia de Ponta a Ponta: Juventude, Cidadania e Prticas Culturais Onde a extenso se configura no quadro do ensino universitrio brasileiro? H uma preocupao com a extenso desde a dcada de 30 do sculo XX, mas a partir da Reforma Universitria de 1968 que foram atribudos trs papis universidade: o do ensino, o da pesquisa e o da extenso. No entanto, somente algumas universidades, escolhidas como centros de excelncia, tiveram a oportunidade de desempenhar esses trs eixos. Muitas outras se limitaram docncia. Este fenmeno, no entanto, no se restringe realidade brasileira. Santos (2008, p. 201), ao tratar da questo da universidade e sua produtividade no contexto europeu, descreve a seguinte situao: A natureza da investigao bsica tornou-se problemtica nos ltimos trintas anos, que porque os seus custos aumentaram exponencialmente, quer porque a converso progressiva da cincia em fora produtiva acabou por pr em causa a prpria validade da distino entre investigao bsica e aplicada. Em primeiro lugar, as grandes empresas multinacionais criaram os seus prprios centros de investigao (...). Em segundo lugar, o prprio Estado criou centros de investigao no universitrios (...). Em terceiro lugar, o Estado procurou seleccionar as universidades e os centros de investigao com maior capacidade de investigao e concentrar neles os recursos financeiros disponveis.
Esta retomada histrica da constituio do ensino superior brasileiro serve
para contextualizar a extenso nos dias atuais e as dificuldades encontradas por esse eixo no espao universitrio. A seguir, nos interessa discutir o papel da extenso na formao do aluno e como a pesquisa pode estar integrada a prticas extensionistas. Como vimos, o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extenso no ocorre da mesma forma em todas as universidades brasileiras. H centros que se destinam quase que estritamente ao ensino, enquanto outros centros so escolhidos para primar pela excelncia e, por isso, recebem mais recursos e subsdios governamentais para trabalhar a pesquisa e a extenso. Alm disso, podemos afirmar tambm que a pesquisa tem mais destaque do que a extenso no que se refere s avaliaes do empenho dos docentes universitrios. As agncias de fomento privilegiam, em seus sistemas avaliativos, critrios que se relacionam com a pesquisa. Assim, um docente de ensino superior que somente se envolva com a extenso receber uma avaliao menor do que um que se envolva com a pesquisa. Partindo da idia de que a pesquisa atualmente mais valorizada que a extenso, acreditamos ser fundamental garantir s prticas extensionistas um valor investigativo e a constituio de um carter de pesquisador para professores e alunos envolvidos na extenso. Portanto, a extenso precisa ser reconhecida como espao de desenvolvimento de pesquisa e no s como uma oportunidade de aplicar a teoria estudada na universidade. Segundo o Plano Nacional de Extenso Universitria (2000/2001): A Extenso Universitria o processo educativo, cultural e cientfico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissocivel e viabiliza a relao transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extenso uma via de modupla, com trnsito assegurado comunidade acadmica, que encontrar, na sociedade, a oportunidade de elaborao da praxis de um conhecimento acadmico. No retorno Universidade, docentes e discentes traro um aprendizado que, submetido reflexo terica, ser acrescido quele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadmico e popular, ter como conseqncias a produo do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratizao do conhecimento acadmico e a participao efetiva da comunidade na atuao da Universidade. Alm de instrumentalizadora deste processo
dialtico de teoria/prtica, a Extenso um trabalho
interdisciplinar que favorece a viso integrada do social. Desse ponto de vista e considerando que a extenso necessita ser to valorizada quanto a pesquisa, estruturamos as atividades do projeto de extenso Periferia de Ponta a Ponta: Juventude, Cidadania e Prticas Culturais de modo a garantir a integrao da pesquisa e da extenso. Desde o momento da seleo dos integrantes do projeto, buscamos escolher acadmicos que se interessavam pela escrita, desenvolvimento de pesquisa e apresentavam boa redao ou j haviam desenvolvido algum tipo de trabalho investigativo acerca das temticas do projeto. A partir dos primeiros encontros com os alunos selecionados, explicamos que o projeto, ainda que de extenso, almejava a pesquisa e que, portanto, a desenvolveramos em dois momentos: para que eles entrassem em contato com a bibliografia a respeito das temticas centrais do projeto e, a partir dessas leituras iniciais, escolhessem um problema para pesquisar. Assim, alm de todas as atividades extensionistas que os participantes desenvolvem no projeto, eles tem a incumbncia de fazer pesquisa. Dessa forma, as reas temticas abordadas no projeto so lidas pelos integrantes que, posteriormente, produziro suas prprias pesquisas, tendo em vista as aes efetivas do projeto. Como estamos no incio do projeto, temos apenas o esboo do que ser construdo. Neste esboo, j selecionamos as leituras bsicas relacionadas ao tema que ser desenvolvido no projeto; os alunos esto se agrupando para elaborar problemas de pesquisa e um deles j repensou seu tema de trabalho de concluso de curso para privilegiar as discusses que ele tratar no projeto de extenso. Alm disso, duas alunas j elaboraram projetos de pesquisa que foram aprovados em edital de programa voluntrio de iniciao cientfica: um sobre a temtica das relaes de gnero nos grupos juvenis urbanos e o outro a respeito de das concepes dos jovens sobre direitos liberdade de expresso e de pensamento. Uma terceira estudante de graduao aguarda publicao de resultado de seleo em outros programas do mesmo tipo. Independente da participao em programas de iniciao cientfica, a equipe do projeto tambm se constitui grupo de estudos e pesquisa. Parte das horas de atuao no projeto so dedicadas, conforme j dissemos, ao estudo de textos relevantes para a compreenso das temticas abordadas no projeto. Todos so incentivados e tm orientao para a produo de resumos e artigos para a participao em congressos e eventos cientficos, tanto de extenso quanto de pesquisa, em especial, com temticas relacionadas juventude, relaes de gnero, relaes tnico-raciais e cultura(s). Concluindo, tanto a pesquisa quanto a extenso enriquecem a vida acadmica e devem buscar formar profissionais, crticos e reflexivos, que analisam a sociedade de forma dialtica buscando solues, para nossa realidade
e os inmeros conflitos que permeiam as relaes sociais. Esperamos que a
insero dos jovens universitrios nos problemas e realidade social e prticas culturais dos jovens de periferia possibilite o surgimento de novos campos de aprendizagem e de pesquisas. Indiretamente, objetivamos contribuir para o acesso dos jovens de periferia universidade, tendo em vista que podem espelhar-se nas prticas dos que estaro trabalhando com eles no projeto. Referncias bibliogrficas BRASIL. Plano Nacional de Extenso Universitria. Braslia: 2000-2001. CUNHA, L. A. da. A Universidade Tempor. So Paulo: Editora UNESP, 1980. DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Ed. Autores Associados, 1996. SANTOS, B. de S. Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 2008. SGUISSARDI, V. Universidade no Brasil: dos modelos clssicos aos modelos de ocasio? p. 351-370. In: MOROSINI, Marlia (Org.). A Universidade no Brasil: concepes e modelos. Braslia: Inep, 2006. SPOSITO, M. P. Estado do conhecimento: Juventude. Braslia: INEP, 2000. Notas O projeto financiado pelo Programa Universidade Sem Fronteiras da Secretaria de Estado da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran Brasil. Segundo Buarque (2003, p. 41), irnico que a universidade brasileira tenha sido criada para que fosse concedido o ttulo de Doutor Honoris Causa ao Rei Leopoldo da Blgica, em visita ao Brasil, no ano de 1922. No fosse por aquela visita e a ingnua vaidade de um monarca ou capricho de algum de seus cortesos, a universidade brasileira talvez tivesse demorado mais 10 ou 20 anos para ser criada. (...) Entre 1922 e 1934, a Universidade do Brasil e do Rei Leopoldo, no Rio de Janeiro, foi a nica e precria instituio universitria, embora j existissem no pas diversos cursos de ensino superior. i
ii
Segundo Sguissardi (2006), tanto no caso da USP quanto da UDF, o
resultado no foi a manuteno do modelo humboldtiano. Portanto, tratou-se de duas tentativas frustradas. No entanto, os ideais dos fundadores da UnB no foram enterrados definitivamente. Eles iriam reaparecer em outras novas universidades. Talvez se possa dizer que eles se corporificaram, em moldes um pouco distintos, na criao da Unicamp e na UFSCar, por exemplo.