A Morte e A Ressurreicao Do Messias
A Morte e A Ressurreicao Do Messias
A Morte e A Ressurreicao Do Messias
Sinopse
Unitermos
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Mdico psiquiatra e analista junguiano. Membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analtica. Educador e
Historiador. Criador da Psicologia Simblica Junguiana. E-mail: c.byington@uol.com.br. Site:
www.carlosbyington.com.br
predominncia subjetiva, deixaram de ser estudadas, como por exemplo, a funo tica.
Durante o sculo dezenove, com a hipnose e, posteriormente com a descoberta da
formao do Ego e dos processos inconscientes pela Psicanlise, o subjetivo voltou,
paulatinamente a ser tema de pesquisa. Assim, ainda que tardiamente, a funo
estruturante da tica pode ser estudada dentro da cincia, na teoria psicolgica. Sua
primeira e grande limitao, porm, j existia na religio a identificao redutiva do Mal
com a condio humana dentro do conceito de pecado original. Esta reduo continuou,
quando a psicanlise descreveu toda criana como perverso-polimorfa ao nascer, e, por
isso, necessitada de represso para formar um Superego e civilizar-se.
Jung, por sua vez, desenvolveu, com muita frequncia e nfase, o tema da
conjuno de opostos dentro do Self, enfatizando a incluso do Bem e do Mal dentro da
imagem de Deus. Em funo dessa postura, combateu ferrenhamente a doutrina catlica
do Summum Bonum, na qual Deus considerado exclusivamente bom e do Privatio Boni,
na qual o Mal conceituado como a ausncia de Deus. (cartas entre Jung e Father-While)
Apesar de Jung descrever o Bem e o Mal, principalmente dentro da religiosidade,
como uma polaridade fundamental do Self, a Psicologia Analtica no conceituou
psicologicamente o aparecimento do Mal e o seu relacionamento psicodinmico com o
Bem, no processo de individuao.
O principal conceito da Psicologia Analtica que poderia incluir o Mal como funo
estruturante arquetpica, a Sombra. No entanto, o conceito da Sombra na Psicologia
Analtica est at hoje confuso e incapaz de abranger o Mal pelas seguintes razes:
1) Jung definiu a Sombra como formada exclusivamente por smbolos do mesmo
gnero que o Ego. Assim sendo, se escolhermos a Sombra para abrigar o Mal, deixamos
fora dela os smbolos contra-sexuais da personalidade, o que consiste numa limitao
conceitual irreparvel (Jung, 1921).
2) Jung referiu-se, no Aion, ao Mal absoluto, sem explicar o que isso significa
(Jung, 1951).
3) Apesar de descrever o desenvolvimento psicolgico, a Psicologia Analtica no
definiu como a Sombra se forma, e, sobretudo, no relacionou sua formao com o
desenvolvimento do Ego. Isto ocorreu possivelmente pelo fato de at a dcada de 1950
no se saber que o Ego formado pelos arqutipos.
4) A Psicologia Analtica no relacionou especificamente a formao da Sombra
com as dimenses transindividuais do Self como, por exemplo, com o crime, no Direito,
destruio ambiental na Ecologia, ao sintoma, na patologia, ao pecado na Religio,
explorao na economia, ao erro na Cincia, e ao Mal na tica.
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5) Erich Neumann foi quem melhor estudou a tica na Psicologia Analtica. Ele
conceituou a tica no processo de individuao como a Nova tica em contraposio
tica tradicional, descrita a partir das religies (Neumann, 1949). Contudo, ele tambm
no precisou como e quando se forma a Sombra no desenvolvimento e sua relao
psicodinmica com o Bem.
6) Marie Louise Von Franz escreveu sobre o Mal nos Contos de Fada, mas incluiu
na Sombra o Mal e todo o inconsciente, o que tambm relativizou e enfraqueceu o
conceito de Sombra e invalidou seu emprego como Arqutipo do Mal (Von Franz,
1957/1964). Alm disso, ela afirmou que a Sombra no s m, pois inclui smbolos
bons.
Este ltimo argumento muito usado para no se identificar a Sombra com o Mal.
No entanto, no quero afirmar que os smbolos que esto na Sombra so o Mal, mas que,
por estarem fixados, passam a fazer parte do Mal. Na depresso, por exemplo, a auto-
estima pode estar fixada e, por isso, opera dentro do Mal e at leva ao suicdio. O fato de
smbolos bons estarem dentro da Sombra e passarem a fazer parte do Mal levou a
sabedoria popular a afirmar que de boas intenes o inferno est cheio.
Quaisquer smbolos e funes estruturantes podem ser bons se estruturarem
livremente a Conscincia ou maus se forem fixados e estiverem na Sombra. Como
escreveu Shakespeare: Nada bom ou mau, o pensamento que o faz! (Nothing is
either good or bad, but thinking makes it so! (Hamlet, ato: 2, cena 2)
A Psicologia Simblica Junguiana (Byington, 2008) reformulou o conceito de
Sombra para ser a representao do Mal na psique, e, para isso, nele integrou os
conceitos de fixao, defesa, resistncia e compulso de repetio descobertos pela
psicanlise. A Sombra pode assim se tornar o Arqutipo do Mal na psicologia, e
relacionar-se com o Arqutipo do Bem, formando um complexo de opostos dentro do
Arqutipo Central, tudo o que Jung sempre almejou.
Dentro desta perspectiva, pelo fato do Arqutipo da Sombra ser expresso por
smbolos e funes estruturantes fixados durante o processo de elaborao simblica, ele
pode ser visto no Self Individual e transindividual.
A Psicologia Simblica Junguiana descreveu tambm o processo de elaborao
simblica, originando cinco posies da relao Ego-Outro como as cinco inteligncias do
Self aticuladas arquetipicamente pelo Arqutipo Central e os quatro Arqutipos Regentes.
A posio indiferenciada expressa o Arqutipo Central, a insular, o Arqutipo Matriarcal, a
polarizada, o Arqutipo Patriarcal, a dialtica, o Arqutipo da Alteridade que inclui os
Arqutipos da Anima e do Animus, e a posio contemplativa, o Arqutipo da Totalidade.
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Desta maneira, fica caracterizada a inseparabilidade da polaridade Ego-Outro dos
arqutipos junto com as cinco inteligncias arquetpicas do Self. Da mesma forma,
atravs do conceito de Sombra, formulado acima para abranger o Mal, todas as fixaes
da elaborao simblica e das cinco inteligncias do Self esto nele includas. (Byington,
2008).
Segundo Sabina Spielrein (1912) e Jung (1912), o fenmeno da morte aqui
considerado simbolicamente dentro da transformao psicolgica do processo de
individuao. Assim sendo, o conceito de Morte visto como uma funo estruturante e
um arqutipo operando ao lado da funo estruturante e do Arqutipo da Vida, com o qual
forma uma das principais polaridades do Arqutipo Central. Ambos podem ser normais ou
defensivos, dependendo de estarem ou no fixados durante a elaborao simblica
(Byington, 2002).
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seu protesto. A seguir, Deus se revela a J e lhe mostra a sua grandeza. J se arrepende
de sua contestao e Deus lhe recompensa, devolvendo-lhe em dobro o que lhe havia
tirado. Ao mesmo tempo, Deus repreende os trs amigos e lhes determina que
presenteiem Job.
Algo que chama a ateno na histria de Job a diferenciao que Deus faz entre
Job e seus trs amigos e a deferncia com que Deus trata Job, cuja nica atitude que o
distingue dos trs foi o seu protesto, inconformismo e exigncia de justia.
Job contesta porque no admite que Deus no seja justo. Mesmo voltando atrs e
se arrependendo de sua contestao, como se sua exigncia de um deus justo
prevalecesse no final e o privilegiasse acima dos seus trs amigos, recebendo em dobro o
que lhe havia sido tomado. como se Deus dissesse: Eu no admito minha Sombra de
injustia devido qual ca na manipulao de Satans, que a projetou em voc, mas sou
grato por voc ter me diferenciado dela.
Jung referenda essa interpretao quando caracteriza a aliana de Deus com
Satans para testar a fidelidade de Job, como uma grande fraqueza. Ela evidencia a
insegurana de Deus de ser amado, pela crueldade e prepotncia com que tratou seu
servo to fiel. Falta s Deus acrescentar que, ao louvar Job acima dos seus amigos, isto
significa que, de alguma forma, Ele prezou a crtica de Job, apesar de no t-la admitido
abertamente.
Para Jung, ento, o livro de Job, o Livro de Enoch, os Eclesiates e os Salmos so
captulos preparatrios simblicos prospectivos. Assim, pelo fato de abrir mo de qualquer
pretenso teolgica e de se manter claramente dentro da psicologia, Jung segue
Neumann e se permite situar o Mito do Velho Testamento e a figura de Jeovah como um
estgio psicolgico evolutivo em direo ao Novo Testamento e busca da encarnao
do Homem-Deus.
Seguindo Erich Neumann (1949) e Jung, a Psicologia Simblica Junguiana
concorda que o mito seja o precursor arquetpico e histrico da Conscincia e acrescenta
que, levando-se em conta que o Ego o produto da elaborao coordenada pelo
Arqutipo Central, o smbolo do Homem-Deus, na religio, expressa o caminho mtico da
encarnao do Arqutipo Central para equipar a Conscincia com o Arqutipo da
Alteridade.
Seguindo as cinco posies arquetpicas da elaborao simblica, o incio da
criao do mundo corresponde posio indiferenciada (urobrica) do Arqutipo Central,
e os mitos da fertilidade da natureza expressam a posio insular matriarcal. Ela
seguida pelos mitos solares descritos por Neumann, que expressam a posio polarizada
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patriarcal. A Psicologia Simblica Junguiana foi alm e descreveu a implantao
mitolgica da posio dialtica de Alteridade atravs do Mito Cristo no Ocidente e do
Mito de Buda no Oriente. Segue-se a ela a posio contemplativa que representa, por
exemplo, o Arqutipo da Totalidade no Taosmo. Os mitos formam a conscincia com os
cinco padres de relacionamento Ego-Outro atravs de funes estruturantes. Como j
mencionei, estas podem ser normais, ou, formar a Sombra, quando so fixadas e
defensivamente distorcidas.
Desta maneira, a Psicologia Simblica Junguiana concebeu a Teoria Arquetpica
da Histria que descreve a encarnao progressiva dos Arqutipos Matriarcal e Patriarcal
seguidos pelo Arqutipo da Alteridade. Nesse sentido, o Velho Testamento representa
este processo sob a dominncia do Arqutipo Patriarcal e caminha, no Ocidente, em
direo humanizao do Arqutipo da Alteridade atravs do Novo Testamento e do Mito
de Cristo.
No entanto como j descrevi em outros textos, este caminho, longe de ser linear,
mostra que a coordenao do Self pelo Arqutipo Patriarcal resiste passagem para a
dominncia de alteridade e retoma o poder com frequncia e de inmeras maneiras.
Apesar do simbolismo do sacrifcio extremo de Jesus com a prpria vida, nem por isso
seu mito foi at hoje encarnado na conscincia individual e coletiva em toda sua
plenitude. Como nos mostram os Evangelhos Gnsticos de Nag Hammadi (1945), os
prprios Evangelhos Cannicos j foram patriarcalizados em vrias passagens para
puritanizar unilateralmente a figura de Jesus. O relacionamento de Jesus e Maria
Magdalena, por exemplo, foi censurado junto com os significados terrveis da tortura da
Via Crucis e da crucificao. A pasteurizao defensiva patriarcal do Novo Testamento
coloca o sacrifcio de Jesus dentro de uma submisso total, como fizeram os amigos de
Job, que encobre a brutalidade do filicdio. A frase Porque me abandonaste? revela o
desenvolvimento da tragdia que culmina com a outra frase seja feita a vossa vontade, o
que nos lembra a submisso de J. No entanto, da mesma forma que Jeovah registrou o
clamor de Job por um Deus justo, Ele receber o impacto da morte sacrificial de Jesus por
um Deus de amor. So estas duas passagens inseparveis da morte sacrificial, porque
me abandonaste e seja feita a vossa vontade, que transformaro o Deus guerreiro
possessivo, ciumento, cruel e, muitas vezes injusto, expresso pelo Arqutipo Patriarcal,
no Deus amoroso da compaixo e do entendimento encarnado na Trindade como o Pai, o
Filho e o Esprito Santo, expresso dialtica e sublime do Arqutipo da Alteridade.
Dentro da injustia e da brutalidade do mito, chama a ateno na histria da Igreja
a apresentao de Jesus crucificado e obediente, com a conotao daquele que morreu
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por ns pecadores e no daquele que se entregou morte como a condio de
transformar seu pai. Baseada nessa aparente submisso total de Jesus, a Igreja passou
a exercer o Cristianismo com mo de ferro e repatriarcalizou o Mito a tal ponto, que
desencadeou o controle e a represso at institucionalizar a Inquisio, uma
caracterstica patriarcal que, durante sculos, violenta o Mito.
Sabemos o quanto o Arqutipo Patriarcal capaz de produzir Sombra quando
opera defensivamente e, por isso, como reconhece Jung, no h como no se associar o
Apocalipse de So Joo com as defesas de represso e de idealizao presentes no
Novo Testamento.
O Mito do Cristo se prope ser, por excelncia, o Mito do Homem-Deus e, por isso,
junto com a reduo ertica do feminino vemos tambm a reduo da agressividade e do
Mal depositado no Anti-Cristo e no Diabo. Mas, diante da bondade e da compaixo
depositadas no Cristo, como poderia ele englobar tambm o Diabo e o Mal?
Jung respondeu parcialmente esse impasse, condenando a receita apriorstica de
vivenciar a divindade unicamente atravs dos textos bblicos e recomendando a
experincia viva de Deus.
Depois de sua primeira comunho, Jung relata
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vulcnica no Apocalipse a imagem ertica do feminino e da agressividade sombria sob a
forma do Anti-Cristo. O extraordinrio, porm, que o texto escrito em nome de Jesus,
o que nos permite ver psicodinamicamente o Anticristo como a Sombra do Cristo, assim
como o Diabo, o filho sombrio de Deus.
Assim, de suma importncia para corroborar isto, registrar que o Apocalipse de
Joo comea:
Revelao de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus
servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as
enviou, e as notificou a Joo seu servo; O qual testificou da palavra de
Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto
(Apocalipse, 1: 1-2).
A concluso do livro :
Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amm. Ora
vem, Senhor Jesus (Apocalipse, 22:20).
A bno:
A graa de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vs. Amm.
(Apocalipse, 22:21).
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Byington, Carlos Amadeu Botelho (2011). The Death and Ressurection of the
Messiah. Shadow, Evil and the Anti-Christ. A Study by Jungian Symbolic Psychology.
Abstract
The article conceives the archetype of shadow as the archetype of evil in Jungian
Symbolic Psychology and tries to interpret it as an expression of the central archetype
(Self) side by side with the archetype of good.
In conclusion the author follows Jung in the interpretation of the Apocalypse as the
shadow of the New Testament and calls attention for Jesus shadow expressed in His
name as symbol of the integration of the Anti-Christ in the myth.
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Referncias Bibliogrficas
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ESTRUTURA E DINMICA DO SELF
Processo de Elaborao Simblica
Vivncias Vivncias
SUPRACONSCINCIA
Smbolos Estruturantes
Funes Estruturantes
Sistemas Estruturantes
Arqutipo do Heri
Arqutipo da Conjuno