Segredos de Daniel
Segredos de Daniel
Segredos de Daniel
DOUKHAN
Segredos
De
Daniel
Jacques B. Doukhan
Verso utilizada para os textos bblicos:
Joo Ferreira de Almeida Atualizada, do site www.BibleGateway.com
Contedo
Prlogo
Captulo 1
INTRODUO
A VITRIA DE BABILNIA
o livro de Daniel abre com um conflito militar: Babilnia contra Jerusalm: No terceiro
ano do reinado de Jeoiaquim rei de Jud, Nabucodonosor rei da Babilnia veio a Jerusalm e
cercou-a (Dan 1:1).
Alm da escaramua local que envolve dois reinados histricos, o autor aponta ainda
para outro conflito - aquele universal. A associao clssica Babilnia-Jerusalm j sugere tal
leitura do texto, e ele recebe confirmao posterior atravs da evocao de Sinear (verso 2),
nome mtico de Babilnia e relatado com o episodio bblico de Babel (Gn 11:2). Desde os
primrdios da antiguidade Babilnia tem simbolizado na Bblia as foras do mal que se ope a
Deus e procura possuir prerrogativas e privilgios divinos.
A narrativa de Gnesis 11:1-9 relata como nos dias seguintes ao Dilvio, a
humanidade decidiu construir uma torre que os ievaria at os portes do cu. O texto faia ento,
no sem humor, de Deus descendo para interromper seu projeto peia confuso de sua
iinguagem. Num jogo de paiavras, a Escritura expiana o nome de Babei em reiao raiz de M,
que significa confundir (verso 9). Contudo, Babei, o nome hebraico para Babiinia, o smboio
bbiico para o mundo embaixo usurpando poder que pertence exciusivamente ao que est em
cima.
Mais tarde os profetas usaro novamente este tema assim que Babiinia se torna mais
precisa:
Proferirs esta parboia contra o rei de Babiinia, e dirs: Como cessou o opressor!
Como cessou a tirania!... E tu dizias no teu corao: Eu subirei ao cu; acima das estreias de
Deus exaitarei o meu trono; e no monte da congregao me assentarei, nas extremidades do
norte; subirei acima das aituras das nuvens, e serei semeihante ao Aitssimo (isa 14:4-14; cf
Jer. 50:17-40; EzeSI).
Por trs da confrontao entre Babiinia e Jerusaim o profeta v um conflito de outra
dimenso. Devemos ier o iivro de Daniei ento com esta perspectiva em mente.
' Estudiosos tem estabelecido a data no s baseados na cronologia bblica, mas tambm de acordo com o ciclo
astronmico mencionado pelas crnicas babilnicas que dataram os reinados dos reis, de acordo com eclipses da lua e
conjunes dos planetas.
^ A lista de pedidos indica que os Jovens tinham entre 16 e 18 anos de idade. Alem disso, as Escrituras usam o mesmo
termo yeled, de Jos, que tinha em torno de 18 anos quando foi deportado (Gen. 37:2, 30; ver tambm 39:21-23).
^ Ver Antiquities 10. 1866; ver tambm Taimud b. Sanhedrin 93b.
A palavra saris, traduzida por muitas verses como eunuco (Ver the Ne\w King James Version; ver tambm a
Septuaginta), indica que a pessoa passou por castrao. O sentido original da palavra provavelmente ocorreu na conotao mais
original de um governante oficial. Parece, contudo, que eles foram assim, eunucos no sentido original do termo, como sugerido
pela descrio Assria da vida na corte que retrata tais oficiais como sem barba.
O termo hebraico usado aqui para vegetais deriva de zera, significando semente e implicando tudo que cresce na
superfcie da terra, incluindo gros, frutas e verduras.
O texto de Leviticos 11 como ele registra estas leis, usa a mesma tcnica da palavra e expresso estilistica (bestas da
terra, animais rastejantes, segundo sua espcie, etc). Alem disso, a relao de animais segue a mesma sequncia como em
Genesis 1:24-26 (o sexto dia da Criao). Depois da criao dos animais da terra (Lev. 11:2-8; cf. Gen. 1:24,25), a criao do homem
relatada sucessivamente quela das guas e dos animais (Lev. 11:9-12; cf. Gen. 1:26), daquela dos animais do ar (Lev. 11:13-23; cf.
Gen. 1:26), e daquela dos animais da terra, incluindo repteis (Lev. 11:24-43; cf. Gen. 1:26), Finalmente, em Leviticos 11, como
Genesis 1:24-26, o relacionamento entre humanos e animais tem sua reproduo no relacionam,entre humanos e Deus. Genesis
1:26 associa a responsabilidade da dominao sobre os animais com 0 fato de Deus ter criado o homem Sua imagem. Do mesmo
modo Leviticos 11 liga a responsabilidade de distinguir entre as carnes limpas e as imundas com o fato de que a santidade humana
reflete a santidade divina: Sede santo, porque Eu sou santo (Lev. 11:44, 45).
^ Na Bblia o nmero 10 simboliza uma quantidade mnima de alguma coisa (Gen. 18:32;Ams 5:3; 6:9). Ns devemos
tambm adicionar que Hebreu representa 10 pela menor letra do alfabeto, yod . Num contexto temporal, ele simboliza um instante
do tempo no qual ns encontramos a nos mesmos colocados em teste. Uma contagem regressiva de 10 dias existe entre a Festa
das Trombetas e o Dia da Expiao, servindo de um tempo de preparao e teste.
Abraham Fleschel, God In Search ofMan (New York: 1955), p. 238.
Captulo 2
O GIGANTE E A MONTANHA
Trs anos tinham se passado desde a chegada dos cativos de Jerusalm \ Ns estamos
em 603 AEC, - onde deixamos o capitulo precedente (Dan. 1:18, 19). Daniel e seus
companheiros acabam de se graduar na escola babilnica, e com sucesso, passaram no exame
do rei. De agora em diante eles pertencem classe dos Caldeus. Ocorre ento um evento com
repercusses de destruio. Nabucodonosor encontra-se dominado pela viso que 0 aflige e
todo o reino com ele entra em tumulto. Nos dias de hoje talvez investiguemos o significado de
tal sonho pelas profundas camadas do inconsciente, retornando aos dias da infncia, ou talvez
at como resultante de uma pesada refeio ingerida na noite anterior. De qualquer modo,
voltando particularmente na Babilnia, a sociedade dava boas vindas aos sonhos como
mensagens divinas e algumas vezes compilavam-nos no livro dos sonhos. As pessoas iam to
longe a ponto de passar a noite em um templo de forma a receber mensagens divinas. Assim, a
emoo do rei no nos surpreende, sua mente estava perturbada (Dan. 2:1). O verbo titpaem,
usado aqui para expressar os sentimentos do rei, derivam da raiz que significa the beating of
footsteps prximo do que deve ter sido o som do corao do rei. Nabucodonosor est
interessado no apenas no significado do sonho, mas tambm em seu contedo, meu corao
vibra para ter o conhecimento deste sonho (verso 3, traduo literal).
2. A Pedra
Agora entramos na mais importante parte da viso. Ela ocupa a maior poro do sonho
do rei e parece ser o ponto em torno do qual tudo parece convergir. a segunda parte do
sonho, uma explanao que segue a mesma estrutura de duas partes como a exposio (ver
acima). Antes disso Daniel j tinha introduzido sua explicao com uma referencia ao Deus do
cu que d o domnio (Dan. 2:37). Do mesmo modo, o profeta comea esta segunda parte com
um comentrio sobre o Deus do Cu que agora estabelece um reino (verso 44). Este paralelo
no nvel introdutrio, implicitamente contrasta as duas partes do sonho. Na primeira parte, os
reinos so dados humanidade, enquanto na segunda parte, o Deus do cu estabelece o
reino e ele fica sob seu controle. De fato, o segundo reino no nada parecido com o primeiro,
opondo-se a ele em todos os nveis.
O material. No podemos contrastar a unidade da pedra com a diversidade dos metais
da esttua. A segunda ordem (descrita no segundo parte do sonho) compreende apenas um
reino, enquanto que o primeiro consistia de muitos. As Escrituras usam a figura
da pedra no contexto de uma aliana feita com Deus: para construir o altar (xo. 20:24), o
monumento (Deu. 27:4), e o Templo (I Rei 6:7), e como uma tbua para gravar os mandamentos
da aliana entre Deus e Israel (Exo., 24:12). Isto explica o mandamento proibindo o uso de
ferramentas na pedra (Exo. 20:25), pois ele poderia facilmente degenerar na fabricao de um
dolo (Lev. 26:1). A pedra em sua forma bruta, como um material para construo, veio a
simbolizar a dimenso divina, e por extenso o prprio Deus e o Messias (Sal. 118:22; lsa.28:16;
Zac. 3:9 e Atos 4:11).
Por outro lado, a descrio bblica muitas vezes associa metais com a manufatura de
dolos e implica uma religio de inspirao humana. O livro de Daniel sempre relaciona metais
com atos de idolatria, especialmente aqueles da formao de esttuas (Dan. 3:5; 5:4, 23). A
pedra simboliza o reino de Deus, enquanto que metais representam reinos humanos. Assim
como o barro, supostamente se refere dimenso religiosa, mas nesta associao ferro ele
perde suas prerrogativas bblicas e toma a forma de atos de idolatria.
Suas origens. A intruso da pedra cortada sem auxilio de mos (Dan: 2:34, 35),
contrasta com carter esttico de metais. O reino da pedra diferente dos reinos da esttua.
Este foi 0 Deus do cu que estabeleceu (verso 44). Ele do alto. Em sua explanao, Daniel v
a pedra como uma montanha (verso 45). Pensamento babilnico lembrou a montanha como
0 domicilio dos grandes deuses, especialmente Enlil, a deidade suprema que morava nos cus.
De acordo com crenas babilnicas, esta montanha tocava o cu e sustentava a pesada
residncia do deus supremo. Para Nabucodonosor, a aluso a uma grande montanha (verso
35) ento muito clara: a pedra, cortada da montanha (verso 45) e atirada dos cus,
representa um reino de origem divina. Para o profeta hebreu, a montanha simboliza Sion ou
Jerusalm (Dan. 9:16, 20; 11:45) e por extenso a residncia celestial. As escrituras
freqentemente descrevem a montanha de Sio, ou Jerusalm por essa razo, como sendo nos
cus. A linguagem do Salmo 48:2 alude montanha de Sio como situada no cume mais alto
(literalmente: nas extremidades de Zaphon) (Isa 14:13).
Alm disso, a palavra aramaica tur, ou montanha, equivalente a palavra hebraica tsur,
rocha. A Bblia muitas vezes a usa para simbolizar o prprio Deus . A pedra cortada da rocha
e conseqentemente no tem s de origem divina, mas de natureza divina. Os dois motivos -
rocha (tsur) e pedra (eben) - so sinnimos e representam Deus (Isa. 8:14).
Sua natureza. A viso ope a pedra contra a esttua ao ser jogada contra a segunda. O
verbo ferir empregado em Daniel 2:35 sugere uma luta, um confronto entre as duas ordens. O
reino estabelecido por Deus no um desdobramento dos reinos humanos. Todos os reinos
humanos foram esmiuados (verso 35), destrudos e completamente consumidos (verso 44),
sem deixar nenhum vestgio O novo reino nada tem a ver com seus predecessores, at o barro
sendo destrudo juntamente com o ferro (versos 35, 45).
A diferena essencial est no fato dele vir de outro lugar: a pedra cortada da montanha
altera (muda) de volta, sua misso consumada, a uma grande montanha (verso 35). A
coincidncia entre a origem e o resultado (conseqncia) implicitamente testemunha da divina
natureza do reino. Nada resta da antiga ordem.
Finalmente, o novo reino no ser jamais destrudo (verso 44). Os reinos da terra
foram temporrios, e todos finalmente desmoronaram. O reino final, por outro lado, durar para
sempre. O eterno vence o efmero. Ns podemos apreciar o contraste entre as duas ordens at
em um nvel regional. Gigante como eram eles, a esttua foi definhada pela montanha que
encheu toda a terra (verso 35). O infinito sobrepujou o finito.
O reino celestial se estende sobre toda a terra e permanece para sempre. Nossa mente
racional acha difcil de imaginar tais coisas. Ns mesmos nos encontramos tentados a seguir
numerosos telogos e filsofos e desmistificar a viso. O reino do cu toma ento propores
mais que razoveis de uma igreja, um povo, os prprios esclarecidos, e assim por diante.
A tradio judaica v o reino final como representando todas as esperanas de Israel.
No pode ser humano, mas deve ser o reino do Messias. Rashi e Ibn Exra, seguindo antigas
interpretaes judaicas, lembraram isso como aquele do Rei Messias, malkut melech
hamashiah.^^ Dessa forma Tanhuma, comentando sobre estavas vendo isso (verso 34),
explica: Reish Laquis disse: o rei Messias^^. No verso 35 Pirkey Eliezer identifica o Rei ||
Messias, que no futuro, vai governar o mundo de um canto a outro.
O argumento de Daniel para Nabucodonosor de que fiel sua interpretao est no
fato de que o sonho verdadeiro (verso 45). O vav liga as duas clusulas, uma conjuno de
coordenao que tambm funciona como uma conjuno de conseqncia. Devemos entender
as ltimas palavras de Daniel como sendo o sonho verdadeiro, ento fiel sua
interpretao. A evidncia acena para f. O rei entende a lio e extrai para si seu significado.
Orao por transferncia. Orao a nica reao possvel, ento o rei
Nabucodonosor caiu com o rosto em terra... (verso 46). Esta a segunda orao no livro de
Daniel. O rei ainda no ousa dirigir-se ao Deus do cu, uma deidade muito distante, muito
estranha, talvez muito perturbadora para ele. Em vez disso, o rei leva sua postura de orao
para os ps de Daniel. Isso no significa necessariamente que o rei confundiu Daniel por seu
Deus e que ele pretende ador-lo. Do mesmo modo, de acordo com o testemunho de Flavius
Josephus, Alexandre, o Grande, se prostra no cho perante o sacerdote de Jerusalm, dizendo:
No foi perante ele que eu me prostrei, mas do Deus que ele tem a honra de ser sacerdote.^''.
Alm disso, Nabucodonosor claramente reconhece a soberania de Deus: vosso Deus o Deus
dos deuses (verso 47). Em fazendo assim, parece que ele se submete ao Rei dos reis (verso
47). Mas ningum se deixe enganar pela eloqncia repentina. As expresses usadas so
totalmente ambguas. Rei dos reis foi de fato, outro nome de Marduk, a deidade babilnica da
realeza, e para Nabu, um nome nascido do prprio rei, filho de Marduk. A confisso do Rei
no mnimo duvidosa. O rei babilnico ainda no
entendeu que Deus . Ele fala do Deus de Daniel, mas ele acena para seu prprio deus: Seu
Deus, Daniel, meu; o poder voc o tem do meu deus, meu pai. O rei ainda no mudou. Seu
ato de adorao ambguo.
Eis por que no encontramos um final feliz. O rei no se submete aos esperados passos
de arrependimento, mas ao contrrio volta-se para Daniel. O rei babilnico transfere da
responsabilidade vertical para com o prprio Deus para uma horizontal voltada para Daniel.
Nabucodonosor percebe o mrito de Daniel, mas sua apreciao para a. A religio de
Nabucodonosor no vai alm da pessoa humana de Daniel.
Sua orao est contaminada com o orgulho de um homem que prefere sua prpria
religio e escolhe seu prprio dolo sobre a verdade de Deus. mais fcil se prostrar perante
uma esttua ou at um ser humano do que perante um Deus invisvel. A evidncia dada por
Daniel no teve seu efeito completo. Nabucodonosor agora cr que Deus existe, mas ele ainda
no o adora. Ele prefere evitar um relacionamento com este imprevisvel Deus do futuro. O
plano de Deus para Nabucodonosor assim falhou.
No difcil reconhecer a plausibilidade histrica da profecia de Daniel. Facilmente
podemos identificar os reinos da Babilnia, dos Medos e Prsias, Grcia e Roma, etc. E
podemos at estar convencidos de que Deus enviou o sonho e levou Nabucodonosor a admitir
que Ele o revelador de mistrios (verso 47). Mas quando chega aos eventos alm da
histria, tais como o nebuloso reino de Deus, ns prefeririamos permanecer cticos.
E ainda a total raison dtre do sonho proftico foi convencer-nos da historicidade dos
ltimos eventos, incluindo aqueles concernentes ao reino de Deus. O sonho de Nabucodonosor
teria se restringido apenas a este ltimo e aparentemente mais importante reino. Mas, ao
contrrio, ele prefere vaguear atravs da Histria, permitindo-nos ver passo a passo a validade
da profecia. Nenhum dos reinos da esttua muito importante - eles servem apenas como
ponto de referncia levando ultima profecia referente ao reino de Deus. Eles tambm agem
como marcadores cronolgicos, situando no tempo o reino vindouro de Deus. Os quatro reinos
da esttua nos ensinam duas coisas sobre o reino de Deus: primeiro, real e vai realmente
manifestar-se na histria, exatamente como os reinos humanos fizeram. Segundo, os dados da
profecia nos levam concluso que estamos no tempo do fim, prximo de seu aparecimento.
Como Nabucodonosor, baseamos nossa crena naquilo que j temos visto. O recado da histria
nos desperta e fortalece nossa f no Deus do futuro.
ESTRUTURA DE DANIEL II
A
Ai
' o segundo ano de Nabuoodonosor (Dan. 2:1) corresponde, de fato, ao terceiro ano de seu reinado. Muitas vezes os
antigos omitiam o ano de sucesso ao trono, portanto, o mesmo evento tem datas diferentes de acordo com o sistema usado (ver,
por exemplo, II Reis 8:25 e 9:29; ver tambm Dan. 11:1 EJer. 28:1).
^ Ver A. Leo Oppenheim, Le rve, son interpretation dans Le Proche-Orient ancien (Paris, 1959).
^Andr J. Festugire, La Rvlation d'HermsTrismgiste (Paris:1959) vol. 1, pp. 92, 93.
* Ver os orculos da Prsia e da Babilnia em James B. Pritchard, Ed. The Ancient Near East. Suppiementary Texts and
Pictures Relating to the Old Testamen (Princeton: 1969), pp.606, 607; ver tambm o poeta grego Hesiod do sculo oitavo AEG
{Works and Days 109-180), e at o poeta latino Ovid (metamorphoses 1.89-414).
^ O texto hebraico fala de Yavan, a palavra hebraica para Greda. A palavra originalmente significa pombo e
provavelmente aludia aos pombos-correio criados nas ilhas gregas .De l o termo veio a designar os habitantes daquelas ilhas.
(Felix M. Abeil, Geographie de La Palestina [Paris: 1967], pp. 259, 260). Tambm, a palavra lonian, lonia (do lon, nome de um dos
filhos de Helen), deriva do hebraico Yavan.
VirgilAene/d7. 742, 743.
^ Lucretious De Retrom Natura 5. 1286-1294.
Andr AIba, Rome et Le Moyen Age jusquen 1328 (Paris: 1964), p. 126.
Isa. 29-16; 41:25; 45:9; Jer. 18:2; 19:1; Lam. 4:2; Rom. 9:21.
'Nosson Scherman e Meir Zlotowitz, etc. Dan/e/ArtScroll Tanach Series (Brookiyn: Mesorah Pubns. 1979), p. 105.
" Miqraoth Gdoloth.
Tanhuma Exo. 25:3, 4
14 Rabbi Eliezer, Pirk de Rabbi Eliezer, trans. Gerald Friediander (New York: 1971, p. 83.
15 Antiquities 11.333.
Captulo 3
PASSOS NA FORNALHA
Agora encontramos mais esttuas, mas esta vez o sonho no derivou de Deus, mas
resultou dos prprios desejos de Nabucodonosor. Tendo entendido que, de acordo com o sonho
da esttua, seu reino dificilmente iria alm da cabea da esttua, Nabucodonosor decidiu revisar
a Histria. Ele ordena a edificao de uma esttua humana, daquela que ele viu em seus
sonhos. Empregando a mesma palavra tselem usada para designar a primeira esttua (Dan.
3:1; cf. 2:31), cujo propsito era lembr-lo de suas limitaes. Mas ele a reproduz totalmente em
ouro. Nabucodonosor quer um reino que se estenda at os dedos
dos ps - at ao fim. E ele vai mais alm. Atravs de um jogo de imitaes entre o captulo 2 e 3,
o texto sugere que Nabucodonosor no apenas deseja com seu reino cobrir o tempo todo da
esttua, mas ele quer isso de uma natureza eterna \ igual ao reino estabelecido por Deus,
representado em seu sonho (capitulo 2) pela pedra. Significantemente, na parte aramaica do
texto, a mesma palavra, haqim (Dan. 2:44), usada para descrever o estabelecimento do reino de
Deus (traduzida: suscitar) se torna no capitulo 3 a palavra chave que ressoa como um refro -
ela aparece oito vezes (versos 1,2, 3, 5, 7, 12, 14, 18) - para descrever a edificao da estatua.
O Reno de Nabucodonosor substitui o reino de Deus.
I. A Complexa Babel.
Esta usurpao pelo rei da Babilnia lembra ao leitor aquela da antiga cidade de Babel.
O uso comum da palavra bigah no inicio de ambas as passagens (Gen. 11:1; conf. Dan. 3:1) j
sugere a ligao entre as duas. A torre, como a esttua, e edificada na plancie, evocando a
vasta viso desta regio^ - o espao necessrio para a multido se reunir l para juntos
adorarem.
O mais provvel que ambos os eventos ocorreram no mesmo lugar. Definitivamente
a mesma rea geogrfica. E se tomarmos a expresso vaga da plancie de Sinar usado em
Gnesis 11:2 (KJV) no sentido mais amplo como uma provncia de Babilnia, pode bem ser
que se aplica plancie de Dura, tambm situada na provncia da Babilnia (Dan. 3:1).
Escavaes arqueolgicas levaram a descoberta de um sitio cujo nome Arbico ainda ecoa sua
designao antiga como ToluI Dura (colina de Dura). Ele est localizado, cinco quilmetro ao sul
da antiga Babilnia, perto do Rio Dura, que se junta ao Eufrates. As escavaes ainda
descobriram uma plataforma de 5.94m de altura com 13.8m^ de superfcie que pode bem ter
servido como suporte para a esttua^.
A cerimnia para a qual Nabucodonosor chama seus convidados, como no episdio de
Babel, religiosa. a dedicao, um hanukkah (versos 2,3). A Bblia sempre usa esta palavra
com relao ao altar ou o Templo (Num. 7:10; II Cro. 7:9). A inteno de Nabucodonosor,
portanto, clara: ele substitui o culto de sua pessoa em lugar da adorao divina. Logo no
surpresa que todo o cenrio leva ao ritual de adorao. O mesmo gesto de prostrao, sgd,
atravs do qual Nabucodonosor do captulo 2 expressa sua adorao para Deus (verso 46), o rei
agora requer dos outros para sua esttua. Nabucodonosor substituiu Deus. Tal usurpao de
Deus perfeitamente reflete a tradio orgulhosa de Babel: um movimento de baixo que decola
reclamando a gloria e prerrogativas divinas.
O paralelo entre os dois eventos impressionante. No tempo de Babel todo o mundo
ajuntou-se na plancie unidos em um ato sagrado simples (Gen. 11:1). Nabucodonosor rene, na
mesma plancie, no apenas seus oficiais, mas todos povos, naes e gentes de todas as
lnguas (Dan. 3:4) para uni-los em uma cerimnia sagrada em sua honra. Aqui discernimos um
trao fundamental da religio de Babel: no tolera diversidade. a mesma
paixo por unidade que testemunhamos entre os construtores de Babel: Eia edifiquemos para
ns uma cidade e uma torre... e faamo-nos um nome (Gen. 11:4).
Ambos os metais e as medidas da esttua evoca a preocupao com unidade. A esttua
inteiramente de ouro. Em reao esttua no sonho, constituda de diversos metais, cada um
representando outro reino, Nabucodonosor molda sua esttua em um nico metal, descrevendo
seu prprio reino, o ouro. Ele no apenas rejeita a idia de sucesso, mas tambm o conceito
de diferena: tudo feito do mesmo molde.
A esttua mede 60 cbitos de altura. Devemos entender o nmero 60 aqui no seu
sentido cultural. O sistema numerolgico sumrio-acdio hexagesimal, diferente do sistema
egpcio que ns adotamos. Interessantemente, o sistema hexagesimal tem sobrevivido em
nossa concepo de tempo e espao: 60 minutos, 60 segundos, 360 graus, etc. A utilizao de
uma vara de medir de seis cbitos (aproximadamente 3 metros ou 3.3 jardas) pelo profeta
Ezequiel (Eze 40:5) indica a influncia babilnica. A medida de 60 cbitos confirma a
autenticidade histrica da conta. Alm disso, a desproporo entre os 60 cbitos de
comprimento versus apenas seis cbitos de largura sugere uma forma lembrando mais um
obelisco que uma esttua, similar ao muitos monumentos de antiguidade que Plnio o Velho
compararia com torres.'' A altura extrema faz eco arrogncia de um rei que procura
impressionar os recm-chegados. Mas o nmero 60 aponta ainda para outra preocupao: Na
simbologia numrica da Babilnia, 60 representa a noo de unidade. Ao erguer sua esttua na
altura de 60 cbitos Nabucodonosor procura primariamente reforar seu desejo de unidade - de
um reino, uma religio. Podemos entender melhor sua obsesso por unidade luz de um
recente achado arqueolgico de um tablete cuneiforme datando do nono ano de seu reino (595-
594). O tablete relata uma certa insurreio que ameaou a unidade do reino.
luz de tais eventos depois, entendemos que o rei se sentiu compelido a edificar sua
esttua como um smbolo de unidade. Como um teste para garantir a fidelidade de seus
subordinados. Trazendo para nossos dias sabemos o que tais formas de intolerncia poltica
tm engendrado. De Luiz XIV aos ayatols, no se esquecendo de Hitier e Stalin, uma
constante histrica: quando o ideal a unidade, a suspeita recai sobre qualquer tipo de
diferena. Esta ento deve ser eliminada. Ai daquele que no se enquadra dentro do molde. A
violncia se torna resultado da intolerncia. Ento, o perigo acompanha o chamado para
adorao: E qualquer que no se prostrar, e no adorar ser na mesma hora lanado dentro
duma fornalha de fogo ardente (Dan. 3:6).
A religio descrita nestas linhas no o resultado de uma reflexo, de uma escolha, nem
da expresso de f ou de uma experincia profunda. Aqui, adoramos porque algo nos fora a
faz-lo. Ns ajoelhamos, mas o corao est noutro lugar. uma religio de burocratas, de
carneiros, uma religio automtica. E de fato, eles so prottipo do que encontramos na plancie
de Dura.
A passagem cita primeiramente os burocratas, a posio dos oficiais, do mais alto ao
mais baixo. Encontramos todos presentes, relacionados pela prolongada lista de Daniel em
ordem hierrquica (verso 3). A adorao deles uma formalidade - eles esto l apenas por
causa de sua posio. do maior interesse deles mostrar algum zelo, pois sua religio sua
posio e sucesso na pirmide social.
Seguindo os oficiais vem a multido. Eles so como carneiros partilhando o mesmo
balido fraco, estereotipado. Incapazes de adorar por si mesmo eles precisam ser guiados, um
sinal de partida, como em uma tpica sociedade totalitria. Tudo est em ordem, em uma linha
certa, como narrado pelo texto: estavam todos em p diante da imagem (verso 3), prontos a
levantar suas mos, ou os punhos, qual fantoches, como sugerido particularmente pela leitura
repetitiva da lista de oficiais quando convocados pelo rei e como eles executam suas ordens, e
pelo refro dos instrumentos musicais. Nabucodonosor ento intimou os strapas, prefeitos,
governadores, conselheiros, tesoureiros juizes, magistrados e todos os outros oficiais da
provncia para reunir-se^ para dedicao da imagem que ele tinha levantado (verso 2).
Ento se ajuntaram os strapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os
tesoureiros, os juizes, os magistrados, e todos os oficiais das provncias, para dedicao da
esttua que o rei Nabucodonosor fizera levantar; e estavam todos em p diante da imagem
(verso 3).
Logo que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da harpa, da citara, do saltrio, da
gaita de foles, e de toda a sorte de msica, prostrar-vos-ei, e adorareis a imagem de ouro que 0
rei Nabucodonosor tem levantado (verso 5).
Portanto, no mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da trombeta, da
flauta, da harpa, da citara, do saltrio e de toda a sorte de msica, se prostraram todos os
povos, naes, e lnguas, e adoraram a esttua de ouro que o rei Nabucodonosor tinha
levantado (verso 7).
Um pargrafo longo, mas propositalmente assim, ele destaca o carter automtico de tal
adorao atravs da tcnica de repetio satrica. O papel representado aqui, pela msica, tem
uma funo significante, como o narrador menciona numerosos instrumentos de toda espcie,
equilibrando trs instrumentos de sopro com trs instrumentos de corda, emoldurando assim a
cerimnia com o smbolo triplicado de perfeio. Tudo, no local, est calculado. Ainda que isso
possa deixar surdo, a formao pelo menos mantida. Uma focalizao organizao externa
muitas vezes procura compensar a esterilidade interna. Os administradores esto preocupados
com estruturas e polticas, de certa forma, apontando para uma extino de reflexo e f. O
formalismo da religio de Babel prevalece sobre a verdade espiritual. O papel principal da
msica em tal contexto produzir a iluso de sentimento religioso.
Os antigos sabiam como usar a msica para obter uma experincia mstica. E de fato.
a msica tem h muito sido associada com o uso de drogas e prticas de mutilao para induzir
ao xtase, ou unio mystica. Tudo permanece no nvel das emoes e do sistema nervoso. Ainda
hoje, graas mdia, podemos testemunhar o efeito da msica sobre as massas. Cantores e
msicos exercem tremendo poder sobre as multides de fs adoradores. J no temos mais
necessidade da letra de msica ou uma mensagem coerente para convencer os outros. O
fenmeno tem at invadido comunidades religiosas. Em reao frieza cerebral dos servios
tradicionais, certas denominaes tm cado em outro extremo. Eles do tudo mastigado e
despejam a mensagem pelo bramir continuo de msica de fundo. Fieis transportados pelo
esprito, gritam e choram em delirante entusiasmo. Tais abordagens consideram a reflexo
desnecessria e fora de moda. Isso apenas favorece julgamentos absolutos. Este episdio no
livro de Daniel nos admoesta contra uma religio estritamente emocional. Emoes s podem
fazer parte da experincia religiosa quando unidas reflexo e meditao. Adorao deve
envolver todo o ser, e negligenciar um aspecto pode levar a se curvar perante um dolo. Do
mesmo modo, na plancie de Dura, os pregadores de Babel no gastam tempo em
demonstraes secas ou argumentos. A msica basta para despertar adorao, e seus
partidrios vivem estritamente no presente. Muitas vezes a passagem explicitamente enfatiza a
dimenso do presente.
Logo que ouvirdes e som... prostrar-vos-eis, e adorareis (verso 5). Tomada da emoo
trazida pela msica e levado pela influncia da multido, cada pessoa cai prostrada sem um
pensamento no amanh. quase um reflexo automtico. A fornalha ardente fica prxima como
uma ameaa imediata - um costume, por sinal, ento corrente no Oriente Mdio. Ele foi testado
em Larsa, sul da Babilnia, desde o stimo sculo antes da Era Comum, e uma penalidade
iniciada pelo Cdigo de Hamurabi (nmeros 25 e 110). De acordo com a tradio judaica,
Abrao enfrentou este tipo de morte quando ele recusou a reverenciar dolos de Ninrod. Uns
poucos anos antes de Daniel, Nabucodonosor queimou dois falsos profetas, Zedekias e Acabe.
Jeremias se referiu morte pelo fogo como uma maldio (Jer. 29:21, 22) . Na verdade, tais
fornalhas eram uma parte normal da paisagem da regio, sendo usadas para queimar tijolos.
Escavaes arqueolgicas tm revelado vrias fornalhas dessas na rea em torno da Babilnia.
A Escritura tambm associa a fornalha com a construo da torre de Babel (Gen. 11:3).
tambm provvel que a fornalha ficava exatamente aos ps da esttua. De acordo
com Diodorus da Siclia, os cartagineses tinham levantado uma esttua de bronze de seu deus
diretamente no topo da fornalha escavada embaixo da terra, para a qual havia o costume de
jogar bebs para a morte. De fato, o conceito de fornalha no foi uma abstrao vaga na mente
do antigo Oriente Mdio. Os fogos queimavam com devastao fatal aquelas regies secas. O
povo. Instantaneamente, se lembraria da fornalha como um perigo imediato. Aqui, de novo,
encontramos a dimenso do presente aludido em: Qualquer que no se prostrar e no a adorar,
ser na mesma hora lanado dentro duma fornalha de fogo
ardente (Dan. 3:6). Apavorados pela proximidade do perigo, seus pensamentos se tornaram
encaixados no presente e sua obedincia procede somente do instinto de auto-preservao.
Violenta e intolerante, totalitria e mecnica, a religio de Babel tambm aquela que
focaliza 0 presente. De qualquer forma, funciona: todos obedecem. Todos?
III. No Fogo
Mas 0 rei hesita e no ordena sua execuo imediata. Ele os conhece bem. Por alguns
anos agora eles tem estado ao seu servio. Em lugar disso, d a eles a chance de se
explicarem. Nabucodonosor indaga se eles realmente ignoraram o decreto real. (Dan. 3:14).
Talvez as ordens tenham sido de alguma forma, distorcidas ao longo do caminho. Talvez eles
no tenham entendido a seriedade da situao. O rei, portanto, repete palavra por palavra a
ordem para se submeter, em adorao (verso 15). A confrontao que ento segue ope duas
mentalidades religiosas irreconciliveis.
A religio de Nabucodonosor, aquela dos caldeus, uma do imediato: Agora, pois se
estais prontos quando ouvirdes... para vos prostrardes e adorardes... mas se no a adorardes,
sereis lanados, na mesma hora, dentro duma fornalha ardente de fogo (verso 15). Para ele, s
o presente interessa e ele nem mesmo considera o futuro, quem esse deus que vos poder
livrar das minhas mos? (verso 15). Por outro lado, a religio dos judeus se centraliza
essencialmente no futuro. O nosso Deus, a quem ns servimos, pode nos livrar da fornalha de
fogo ardente, e ele nos livrar da tua mo, rei (verso 17). Os judeus vo alm. Para o se
(verso 15) do rei que introduz a ameaa imediata, os judeus ecoam com o se do verso 18 que
levanta o risco da f e move alm dos limites do futuro prximo. Ambos os casos empregam a
mesma expresso aramaica, hen Ia (se... no, de outra forma). O contraste entre estas duas
concepes de religio impressionante. O se do rei aponta para uma religio mecnica de
casualidade: se no a adorardes... sereis lanados (verso 15), enquanto que o se dos judeus
testemunham da graa e liberdade sustentada pela religio deles: se no, (livrar) fica sabendo,
rei, que no serviremos a teus deuses (verso 18). Tal comportamento vai alm da
compreenso do rei. Desenha-se para ele que os judeus se colocaram alm de sua vontade.
Olhando alm do imediato, eles mantm a esperana no futuro. Em face de falha, eles
respondem por servio incondicional.
Aqui est a diferena entre idolatria e a religio de Israel. Idolatria uma religio
moldada na imagem humana. Os adoradores manipulam automaticamente o dolo - objeto de
beno ou maldio. A religio de Israel, contudo, uma revelao do alto, do Deus vivo com
quem ns podemos estabelecer um relacionamento pessoal que no s implica uma troca de
amor, mas tambm de questes. por isso que, at quando este Deus, no salva, at se Ele
no abenoa, o judeu pode continuar fiel apesar de...
Nabucodonosor d-lhes oportunidade de se defenderem, pois ele argumenta e ameaa-
os, mas no para benefici-los. Os judeus, o texto nos diz, recusam responder (verso 16). O
termo aramaico responder tambm significa no se defender. Os judeus opem-se ao rei de
um modo no violento que o deixa num estado de confuso e sem sada.
Para a religio de Babel, centralizada no presente e conseqentemente legalista, formalista e
violenta, os judeus defendem uma religio focalizada no futuro e conseqentemente livre,
incondicional, e no violenta.
Pressionado alm de seus limites, o rei perde a calma. O texto nos diz que se lhe
mudou o aspecto do semblante (verso 19). O aramaico literalmente diz que seu semblante
mudou. O rei reage com raiva e violncia em resposta serena segurana dos judeus. Ele
ordena que seus servos aqueam a fornalha sete vezes mais (verso 19, isto , no seu mximo
(ver Prov. 24:16; 26:16), como se a temperatura anterior tinha sido insuficiente. Os guardas
atiraram os judeus para dentro, vestidos com toda sua roupa. As vtimas no tiveram tempo de
se prepararem psicologicamente.
Custando a vida de seus executores, como aconteceu, a reao mostra quanto o rei
est perturbado e angustiado. como se ele antecipasse o prximo milagre. Ele , de fato, o
primeiro a notar o inconcebvel, o primeiro a reagir. A passagem apenas tem mencionado que os
trs homens tinham sido ligados e lanados dentro da fornalha (Dan. 3:21) ento o rei v
quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nenhum dano sofrem (verso
25). Os trs judeus no s esto intocados e livres, mas como j destacado, no sem humor,
pelo texto, eles andam passeando (verso 25), testemunhando de um Deus que zomba do
poder humano.
Mas quem o misterioso quarto homem? Nabucodonosor est mais ou menos
consciente da ligao entre aquela quarta pessoa e o milagre. Intrigado, ele contempla o ser
semelhante a um filho dos deuses (verso 25). Na linguagem semtica, o termo filho de passa,
de forma idiomtica, a natureza do que qualificado. Neste caso, um filho de 20 anos significa
20 anos de idade (xo. 30:14); filho do homem, significa pertencendo natureza humana (Jer.
49:18); filho do gado significa ter uma natureza bovina (Num. 15:8); filho da morte significa de
natureza mortal (I Sam. 2:31), etc. O rei conclui que o quarto ser tem natureza divina.
Significantemente, a Septuaginta o traduz como anjo de Deus, uma designao usada de novo
no verso 28. Na Bblia Hebraica o anjo de Deus funciona como representante de Deus e,
algumas vezes, identificado com o prprio Deus (ver Gn. 16:10- 13; 21:17; 22:15, 16; Ose.
12:4; Gen. 32:28, etc.). As Escrituras do a tais seres o ttulo de acordo com Metzudos, por ns
os vimos como se eles fossem parte da famlia Divina. Quando ele identifica a quarta figura
no fogo, Nabucodonosor no tem mais dvidas da origem do milagre. Ele chama para fora os
trs judeus, convidando-os a sair, admitindo assim sua derrota. Humilhado, o rei entende que
ele agora enfrenta um Deus totalmente fora do comum. Ele no pode seno se lembrar de seu
sonho, e reconhecer que est se relacionando com o mesmo Deus. A expresso pela qual ele O
designa como o Altssimo (Dan. 3:26) alude sua confisso no captulo 2 de Deus dos
deuses (Dan. 2:47).
Aqui novamente o milagre no resultado de poder e tecnologia humana, mas somente
ao de Deus. Estamos agora fora do mundo dos mgicos. A quarta pessoa foi
necessria para o milagre ocorrer. A salvao vem de fora, no de dentro, a primeira lio que
podemos derivar da divina presena manifestada na quarta pessoa. No importa quanto
rigoroso e justo algum seja, salvao continua sendo trabalho de um Deus que no se prende
no cu ou em uma atitude de indiferena. Por que Deus ama. Ele escolhe descer ao nvel
humano. Para salvar outros do fogo, o Deus do amor deve ele mesmo passar atravs dele. Por
que Ele prprio quer o nosso companheirismo, Ele caminha conosco (Dan. 3:25), Mas Sua ao
no o limita ao companheirismo. Deus salva tambm. Os trs judeus saram da fornalha em
chamas (verso 26).
Imediatamente a multido se reuniu em volta deles, querendo toc-los, para certificar- se
que eles estavam bem. viram que o fogo no tinha tido poder algum sobre os corpos destes
homens, nem foram chamuscados os cabelos da sua cabea, nem sofreram mudana os seus
mantos, nem sobre eles tinha passado o cheiro do fogo (Dan. 27). Da cabea aos ps, eles
permaneceram ilesos. O Deus dos judeus no parou apenas para confort-los, nem para
assegurar-lhes sua simpatia, mas tambm salvou-os do fogo.
O Deus da Bblia primeiramente a deidade que salva. Ele no s o Deus de uma
experincia mstica, sentimental ou at intelectual. Religio mais que uma impresso - ela se
situa alm das opinies. Os strapas e todos os oficiais do rei agora entendem que o Deus dos
Judeus no somente o Deus que desce, mas tambm o Deus que tem poder sobre a morte.
Os babilnicos olharam para os trs judeus como seres ressuscitados. Afinal eles sobreviveram
morte. Por este milagre Deus se define como sendo o Criador: Mas agora, assim diz o
Senhor que te criou, Jac, e que te formou, Israel:... Quando passares pelo fogo, no te
queimars, nem a chama arder em ti (Isa. 43:1,2).
Somente o criador pode salvar do fogo; somente Ele pode transformar morte em vida.
Os trs judeus esto eles mesmos impressionados, incapazes de expressar uma palavra. Mas
seu silncio tambm ecoa suas ltimas palavras dita antes ao rei: no necessitamos te
responder sobre este negcio (Dan. 3:16). A resposta est no evento. Palavras so suprfluas
em face da evidncia. O verdadeiro fato de que eles esto vivos e bem, testemunha da f deles
em Deus. Esperaramos um longo discurso comentando e trabalhando sobre o assunto, mas os
trs judeus permanecem em silncio.
Aqui est lio poderosa para aqueles sempre vidos para testemunhar, pregar,
vangloriar da ao de Deus em suas vidas! O comportamento dos judeus lembra-nos que o
testemunho silencioso muitas vezes fala mais alto at do mais emocionante testemunho.
Experincias autnticas no precisam de palavras. Onde a salvao e verdade esto
envolvidas, quando trabalhamos com o que essencial, muitas palavras podem ser suspeitas.
Seu barulho e multiplicidade muitas vezes camuflam nosso prprio vazio e incertezas, assim
como estamos procurando convencer-nos de uma verdade no ainda completamente entendida.
a ausncia de profundidade que gera o falar deslizante. Ns confeccionamos frases bem
torneadas que ns ento desatamos quando a ocasio permite.
mas em essncia, realmente no temos nada a dizer.
IV. A Vingana
Os judeus permanecem em silncio enquanto os outros falam por eles. Mas isso torna 0
testemunho mais que convincente.
O rei agora acha falsas as acusaes diretas dos caldeus contra os judeus. O
mandamento {teem) do rei (verso 10) para adorar a imagem de ouro, agora se torna o
mandamento {teem) proibindo qualquer deturpao do Deus dos judeus (verso 29).
Novamente aqui, o rei prefere evitar contato direto com a Divindade hebraica. Apesar de
ter se encontrado face a face com Ele, Nabucodonosor age e fala como se nada tivesse
acontecido. Ele viu os quatro homens, e sua ateno se focalizou no quarto (verso 25), ainda
assim, ele chama apenas trs deles para se juntarem a ele e ignora o outro. Ele,
reconhecidamente, introduz seu discurso com o tradicional Louvado seja Deus (verso 28),^
mas permanece intrinsecamente apartado do Deus do cu - ele est apenas fazendo uma
observao objetiva.
Sua teologia est correta. Nabucodonosor definiu este Deus como um ser que salva e
como a nica deidade. Mas para ele, este Deus existe e age apenas em relao aos judeus.
No sua deidade. Nem Ele no sentido absoluto. Ns podemos sentir a ambigidade de
Nabucodonosor e distncia em suas palavras: O Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego,
que livrou seus servos! por que eles confiaram nele. E frustraram a ordem do rei, escolhendo
antes entregar os seus corpos, do que servir ou adorar a deus algum, seno o seu Deus (verso
28). Para ele, a religio de Israel permanece um negocio tribal. Ele interpreta a atitude dos
judeus como de coragem e resposta herica de um povo que fixa seus prprios princpios. Ele
no considera isso como um ato de f no Deus universal, o nico Deus verdadeiro.
Nabucodonosor admite apenas que o poder do Deus Hebreu obviamente ultrapassa aquele das
outras divindades: porquanto no h outro deus que possa livrar dessa maneira (verso 29).
Mas aquilo de modo nenhum implica em um relacionamento pessoal de sua parte. fora de
questo para ele se converter para outra religio. Algum pode por um instante ficar
impressionado e at perturbado pela fora do argumento, ou reconhecer a unicidade e
superioridade de uma verdade, e ainda cair de volta na posio mais conveniente de cada um
na sua prpria religio. mais sbio ento, para algum, ficar onde est e evitar a necessria
confrontao, o desarraigamento, e at a incerteza do crescimento e explorao religiosa. Afinal
de contas, necessrio ter muita coragem para aplicar as lies da verdade existncia
concreta atual. Todos ns sabemos em que grau nossos pequenos hbitos de pensamento ou
de aes, ou de comidas ou bebidas, so causadores de danos, mas isso no implica que
estamos prontos para mud- los. Tal a natureza humana. mais fcil continuar se enganando,
ainda que saibamos isso, do que parar e andar de acordo com a verdade. Quanto mais
integrado em uma sociedade.
mais difcil faz-lo. Para os reis, os sacerdotes, aqueles possuem poder poltico, para os ricos,
para aqueles que tm tido sucesso - para todos aqueles que esto confortveis e respeitveis
em um sistema, uma tarefa assim quase inconcebvel.
Pelo menos o rei autoriza um decreto legalizando a religio dos judeus. De agora em
diante, sob pena de morte ningum pode ultrajar ou deturpar o Deus Hebreu. A situao agora
revertida. O mesmo pblico intimado a adorar a imagem - todo o povo, nao e lngua (verso
29) - deve agora respeitar a religio dos outros.
Tal decreto tem um pouco a ver com tolerncia. Nem uma questo de respeitar as
outras religies. De fato, a nica religio mencionada a dos judeus. O que das outras? Dado
todas as conquistas pelo exercito babilnico, ns sabemos que as mais diversas religies co-
habitavam sob a soberania da Babilnia. O pblico representa todos os povos. J a religio de
Israel, a nica digna de reconhecimento, dados os recentes eventos. Na mente do rei a
religio Israelita superior daquela dos outros, e ento, a nica digna de ser mencionada. O
decreto no mostra a tolerncia do rei s outras religies, mas testemunha da descoberta de
uma verdade que o perturba - perturba-o ao ponto de se sentir compelido a apoiar seu decreto
com uma ameaa. De fato, qualquer zelo missionrio que aponta um dedo enraivecido e
invoca sob a ira de Deus, procura apenas desviar a ateno das suas responsabilidades.
errado considerara violncia religiosa, sempre como uma expresso de profunda convico.
Assassinato e guerra, as torturas da Inquisio, e todas as medidas repressivas tomadas em
nome da religio so sintomas de covarde angstia espiritual. Para compensar a falha religiosa,
os fanticos, eles mesmo se tornam Deus e assumem o direito de matar. o crime de Caim, a
primeira ocorrncia de intolerncia religiosa, que introduzira uma interminvel brutalidade na
histria humana. Caim matou Abel no por causa da convico de sua prpria verdade ou por
que Abel estava errado, mas por causa de sua falha religiosa, por que ele foi incapaz de
responder a Deus.^^
A (versos 1-7)
O rei levanta uma imagem na
provncia de Dura B (versos 2-12)
Uma acusao contra os judeus
A decreto contra os judeus C
(versos 13-23)
Os judeus lanados na fornalha
Dilogo: o rei e os judeus Ci (versos 24-
27)
Os judeus salvos da fornalha
Dilogo: o rei e os judeus Bi
(versos 28, 29)
Uma beno em favor dos judeus
Um decreto em favor dos judeus Ai
(verso 30)
Os judeus so promovidos na provncia
de Babilnia
'.Em relao a este contexto, interessante notar uma inscrio de Nabucodonosor (Wadi-Brisa) na qual o rei se
refere a uma esttua que ele levantou no Lbano, tambm simbolizando a eternidade de seu reino: Alm de minha
esttua como rei... escrevi uma anotao mencionando meu nome, ... eu edifiquei para a posteridade... Possa minha
descendncia governar para sempre (James B. Pritchard, Ed., Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament,
2nd Ed. [Princeton: 1955], p. 307). Obviamente no a mesma esttua daquela de nosso texto, mas a inscrio
testemunha da afinidade do rei com esttuas e corrobora deste modo com a narrativa bblica.
7Ver Andr Parrot, The Tower of Babel {Hew York: 1955), p. 15.
^Oppert, Expdition Sclentifique em Msopotamie, vol. 1, pp.238ff.
.Plnio Natural History 34. 18.
.Ver William H. Shea, Daniel 3: Extra-Biblical Texts and the Convocation on the Plaino of Dura, Andrews
University Seminary Studies 20, No. 1 (1982): 29-52.
.Tal preocupao por unidade politica explicaria a viagem de Zedequias para Babilnia no quarto ano de seu
reino, em torno de 594 AEG (ver Jer. 51:59-64).
^.A passagem usa a mesma palavra kush na convocao (verso 2) assim como na execuo (verso 3); ns
fazemos isso pela palavra montar.
Babilonian Taimud Pesahim 118; ver tambm Moses AIshekh am seu comentrio de Daniel {habezelet
hasharon, The Rose ofSharon [Venice: 1952]).
^.Sherman and Zlotowitz, p. 128.
'.Cf Gen. 14:20; I Rei 1:48; I Cro. 16:36; Esd. 7;27; Sal. 18:46; 28;6; 31:22; 66:20; etc.
".Ver Jacques Doukhan, APropos Du Crime de Cain, Consolenoe Et LIbert (1976), note 12, pp. 44-48.
Captulo 4
I. Sinais e Maravilhas
Seu corao, ainda est maravilhado com os milagres que ele experimentou.
Nabucodonosor deixa sua alma transbordar com louvores. a terceira orao do livro de
Daniel. Embora composta por um rei pago a orao apesar disso, exemplar e bela. Lendo a
passagem, os rabinos do Taimude exclamaram: O rei roubou todas as canes e louvores de
David.'
Suas primeiras palavras so um clamor, uma exclamao repetida em um ritmo de trs
palavras:
Sinais, quo grandiosos!
Maravilhas, quo poderosas! (traduo literal da primeira parte do verso 3).
A sintaxe da frase aramaica enfatiza cada primeira palavra (sinais, maravilhas) para
transmitir melhor a admirao do rei.
Por definio, a funo dos sinais e milagres atrair ateno pelo seu carter
extraordinrio evocando assim outra realidade invisvel percepo humana.
Vendo tais milagres, o rei intuitivamente sente aquela realidade. Nabucodonosor no s
fica maravilhado pelo milagre - ele tambm percebe, atravs do milagre presente, o
milagre do futuro, o reino de Deus. Para ele, o milagre no apenas um sinal de estar sendo
abenoado e sucesso na terra, mas tambm uma indicao para outro mundo, do reino por vir.
O poema aqui desenvolve em um duplo paralelismo em um ritmo de trs palavras:
Seu reino () um reino eterno
Seu domnio de gerao em gerao (verso 3, traduo literal).
Esta verdade provavelmente a mais difcil para Nabucodonosor aceitar. Desde seu
sonho da esttua, o governador babilnico nunca pode admitir que seu reino era apenas a
cabea. Como filho do deus Marduk, ele queria que seu reino fosse eterno. Pela primeira vez,
ele entende que eternidade uma caracterstica s do reino de Deus. o nico reino eterno.
Apesar de rei da Babilnia, Nabucodonosor reconhece pela primeira vez a existncia de uma
autoridade acima dele. E ele vai mais alm, quando ele reconhece que o domnio de Deus se
estende de gerao em gerao. No s a presente gerao, mas todas aquelas que viro se
submetero Sua autoridade.
Mas 0 milagre foi somente, um antegozo das coisas por vir. Nabucodonosor agora
anseia por mais, por outro tipo de alegria, por outro reino. O milagre no trouxe com ele
nenhuma soluo durvel. Doenas e obstculos iro de novo surgir na prxima virada. A raison
dtre dos milagres essencialmente produzir, em um instante de conscincia, o
reconhecimento daquele outro mundo.
A orao de Nabucodonosor anseia por um reino por vir. Nascendo do milagre, ela,
como toda orao verdadeira, testemunha do reino de Deus.
Um sonho, pela primeira vez, o fez entender como tudo efmero. O terrvel sonho
subjugou-o na poca em que ele estava mais tranqilo, mergulhando-o na profundidade de seu
ser e de sua existncia.
V. Orao do Morto
Isto , ningum a no ser o rei pode alterar: Eu, Nabucodonosor, levantei ao cu meus
olhos, e voltou a mim o meu entendimento (verso 34). No importa quanto severo seja 0 caso
de lycantropia, o paciente sempre retm um fragmento de conscincia e experimenta ocasionais
momentos de lucidez. At nas garras de uma doena mental uma pessoa permanece humana,
nunca perdendo completamente seu potencial para liberdade e vontade livre. Os psiclogos,
cientes disso, ento, recusam classificar seus pacientes sob um rtulo
irrevogvel de louco. Em vez disso eles consideram o paciente como uma pessoa doente,
indicando que sempre existe um potencial para melhora.
Nossa passagem revela que at o mais rgido determinismo pode ser influenciado pela
liberdade humana. At no poo da bestialidade, algum pode erguer os olhos e ser reunido
humanidade. Tudo o que Nabucodonosor tinha de fazer era levantar seus olhos para o cu
(verso 34). Nabucodonosor se tornou um animal quando ele pensou de si mesmo como um
deus e olhou para baixo, da cobertura de seu palcio real. Mas ele readquiriu sua humanidade
quando se viu ele mesmo como um animal, e levantou os olhos da sujeira de sua morada
animal. O paradoxo valioso, tanto no nvel psicolgico como teolgico.
impossvel para o prprio humano se desenvolver sem primeiro conhecer suas
limitaes. Qualquer um que pensar ser um passarinho vai se atirar contra uma janela e
aterrissar no pavimento abaixo em muito ms condies. Para estar habilitado a voar, algum
precisa cultivar um conhecimento das leis da gravidade e trabalhar em torno delas. Aqui
encontramos o segredo da liberdade e felicidade. Mas h ainda outra lio, esta vez com
respeito a salvao. Somente aquele que capaz de ver alm dele ou dela mesmo pode ser
salvo. Salvao de fora, no de dentro. Como Nabucodonosor, devemos levantar nossos
olhos em direo ao cu. Quando o rei descobre esta verdade no profundo de sua alma, sua
sanidade retorna com sua f, confirmando a tradio bblica: Diz o nscio em seu corao:
No h Deus (Sal 53:1, 14:1). A iluso pensar que uma iluso acreditar. Para Daniel, f e
razo so compatveis. F emerge da razo e, a caracterstica fundamental da razo.
A experincia de Nabucodonosor tem implicaes universais. Alm da cura do rei, ns
percebemos o milagre da ressurreio. As primeiras palavras desta seo j apontam para isso:
ao fim dos dias (traduo literal, verso 34). Daniel 12:13 usa as mesmas palavras em relao
ressurreio. A ressurreio de Nabucodonosor, pavimenta o caminho para a ressurreio no
fim dos dias. Q rei babilnico desperta de seu estupor e fala. At agora a passagem tem se
referido a ele na terceira pessoa. Tendo readquirido a conscincia, ele est de novo habilitado a
falar na primeira pessoa. Suas primeiras palavras so uma orao - a quarta orao do livro de
Daniel.
Ainda coberto de sujeira, seus olhos captando os cus, Nabucodonosor deixa seus
pensamentos se alternarem do cu terra e da terra ao cu. Isso d sua orao uma
estrutura particular.
Recuperada sua sanidade, o primeiro movimento de Nabucodonosor para o cu. Das
trs emoes de sua alma (eu bendisse... eu louvei e glorifiquei) ele paraleliza trs atributos de
Deus (Ele vive para sempre, Ele domina para sempre, Ele reina para sempre) (verso 34). As
trs referncias eternidade de Deus fazem eco s trs expresses de adorao por
Nabucodonosor. Tudo comea com o reconhecimento da eternidade de Deus, de Sua
existncia, de Seu domnio, e de Seu reino.
o ressuscitado vai da morte para vida. Ligando-se de volta existncia, ele est para
sempre impressionado com a noo da eternidade de Deus. Sua orao ento aquela de
adorao, ifocalizada totalmente em Deus. Nabucodonosor expressa seu agradecimento (ele
louva a Deus), seu temor (ele honra a Deus), e sua admirao (ele glorifica a Deus). Como ele
emerge da insanidade, Nabucodonosor no v nada seno Deus. Repentinamente ele se toma
ciente de que deve tudo a Ele. Sem Deus ele no nada.
a primeira lio que ele aprende sobre seu retomo, e todos os moradores da terra so
reputados em nada (verso 35). O texto original usa duas palavras: hshb, que significa avaliar,
contar, e Ia, que significa vazio, nada, ou o advrbio de negao, no. Perto de Deus, os
habitantes da terra parecem como nada.
Salvao ento possvel apenas atravs do milagre da criao. Nabucodonosor
claramente alude criao na associao clssica de cu e terra com a ao e a mo de
Deus (verso 35). Na mo de Deus os exrcitos do cu assim como os habitantes da terra so
ineficazes. No h quem lhe possa deter a mo, nem lhe dizer: que fazes? uma expresso
que a Bblia usa no contexto da criao.
Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro!
Porventura dir o barro ao que o formou:
Que fazes? Ou dir a tua obra: No tens mos? (Isa. 45:9).
Ele sbio de corao e poderoso em foras.. Ele d ordens ao sol... o que sela as
estrelas; o que sozinho estende os cus, e anda sobre as ondas do mar; o que fez a Ursa ...
Quem lhe dir: Que que fazes? (J 9:4-12).
Nabucodonosor tomou o milagre da criao para se tornar completo. Ele tinha perdido
tudo, inclusive sua prpria identidade. Agora ele recebe tudo de volta: voltou a mim o meu
entendimento... minha majestade e o meu resplendor (Dan. 4:36). A palavra tub (retomou,
restaurou) aparece trs vezes na passagem, uma vez no verso 34, duas vezes no verso 36.
Ele se tornou at mais prspero: fui restabelecido no meu reino, e foi-me acrescentada
excelente grandeza (verso 36). Neste sentido, podemos comparar a experincia do rei com a
ressurreio. Os ressuscitados se levantaro para a vida, vindo da sepultura em um estado
melhor e mais glorioso que antes (Ver I Cor. 15:35-50).
do alto de seu sucesso que o rei pronuncia as ltimas palavras de sua orao, as
quais so tambm suas ltimas palavras no livro de Daniel. A orao termina como ela
comeou. A mesma estrutura triplicada apia os atributos divinos assim como a emanao
(expanso) de sua alma: Eu, Nabucodonosor, louvo, e exalo e glorifico ao Rei do cu (Dan.
4:37). Como oposto ao satisfeito e prospero Eu Nabucodonosor do verso 4, este Eu,
Nabucodonosor totalmente focalizado no cu. O novo rei pode agora ver alm dele mesmo
em direo a Deus. O quadro de amor a Deus digno de louvor, de honra e gloria agora
completado com a dimenso de justia: Todas as suas obras so retas, e os seus caminhos
justos, e ele pode humilhar aos que andam na soberba. Nabucodonosor se livrou
de seu infantil orgulho. Ele amadureceu para a humildade. O que os outros aprendem em uma
vida inteira, Nabucodonosor entendeu num tempo de sete anos. Tendo experimentado a
precariedade da vida, agora ele sabe que no eterno. E ciente de suas limitaes, ele decide
seguir o caminho do arrependimento e da humildade. O monarca finalmente experimentou a
converso
\Sanhedrin 92b.
^.Herodotus 1. 108.
^.Ver S. Langdon, Building Inscriuptions of the Neo-Babylonian Empire (1905), numero 19; V\fasi Vrisa, B. Col. VII
34.
.Ver A. Bams, Notes on the Book of Daniel (New York: 1881), p. 213.
^.S.Birch, Ed. Records of the Past: Being English Translations of hth Assyrian end Egyptian Monuments (Londres:
1888-1892), vol. 7, p. 71.
.Ver S. Langdon, Building Inscription od the Neo-Babylonian Empire (Paris: 1905),Nabucodonosor, Nb. XIV, col.
II; wer Antiquities 10. 223-226.
^.Ver Albert Champdor, Babyionian, txans. EIsa Coult (Londres/New York: 1958),p. 146.
.Cylindre de Grotefend, KB 3, 2, 39.
.ln the Berlim Museus (citado em Francis D. Nichol, The Seventh-day Adventist Bible Commentary [Washington,
D.C.: 1977], vol. 4, p. 799).
'.Ver James A. Montgomery, A. Criticai and Exegetical Commentary on the Book of Daniel (New York: 1927), p.
244.
21:1 (Trad. Nau.).
Ver especialmente M. Benezech ET AL, A props dune observation de lycanthropie avec violences
mortelles, em Annales medico-psycologiques 147, No. 4(1989): 244.
Gregory Zilboorg and George W. Henry, A History of Medicai Psychology (New York: 1941), pp. 105, 167,
171,228, 261.
Ver J. P. Boulhaut, Lycanthropie et patologie mentale (thesis, Universit de Bordeaux 11,1988), cf. lan
Woodward, The Werewolf Delusion (New York: 1979), pp. 22-29.
Harvey A. Rosenstock and Kenneth R. Vincent, A Case of Lycanthropy, no American Journal of Psychiatry
^3A, No. 10(1977): 1148.
Josephus Aga/nsf Ap/on 1. 146 'T Citado por Eusbio, em Praeparatio Evanglica 9. 11.
A. K. Grayson, Babylonlan HIstorical-Literary Texf (Toronto/Buffalo:1975), pp. 87-92.
Captulo 5
A MO QUE SE MOVE
VI. A Decodificao do
Grafite
A elucidao do mistrio emerge do pecado de Belshazzar. A mo que apareceu na
parede no outra seno a mo que mantm a vida: Deus, em cuja mo est a tua vida, e de
quem so todos os seus caminhos, a ele no glorificaste. Ento dele foi enviada aquela parte da
mo que traou o escrito. (versos 23, 24). O rei tem duas razes de estar com medo: primeiro
por causa da mo flutuando na parede. Segundo, por que ela representa Aquele que ele tem
ignorado e ridicularizado. O que Belshazzar percebe como uma ameaa to somente a
conseqncia de seu prprio pecado. A primeira lio que algum colhe da viso da mo que
o crime produz sua prpria punio.
Mas a mo deixou algo para trs: a inscrio. Na Bblia, quando a mo de Deus escreve,
geralmente o faz em um contexto de juzo. Os livros escritos por Deus (Dan. 7:10; xo. 31:18;
34:1; Apo. 3:5; 21:27) assim como a lei gravada pelo dedo de Deus e colocada na arca da
aliana (xo. 34:1; Deu. 10:5), formam parte daquele juzo.
Familiarizado com o pensamento bblico, Belshazzar sente que a inscrio traz um juzo.
No s a mo do Criador, mas tambm de um juiz. O Criador juiz. Somente Ele que tem
tecido o profundo interior da alma, e que capaz de entender os pensamentos mais ntimos,
est numa posio de julgar. Entendemos agora o casamento bblico de juzo e criao.
Senhor, tu me sondas, e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de
longe entendes o meu pensamento.... Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre
de minha me... Cs meus ossos no te foram encobertos... Sonda-me, Deus, e conhece o
meu corao; prova-me, e conhece os meus pensamentos (sal. 139:1-23; ver Apo. 14:7).
C escrito na parede agora aterroriza Belshazzar. Ele sabe que uma mensagem do
Criador, o juiz divino. De certa forma, ele deve achar um meio de encontrar seu sentido. Mas
esta no uma tarefa fcil.
A primeira dificuldade reside no fato de que, o texto aramaico no usa vogais, como no
caso de muitos escritos antigos, algum precisa estar familiarizado com seu significado.
Oualquer que ler esta escritura, e me declarar a sua interpretao... (Dan. 5:7). C fato de que
no deve ter tido separao entre as palavras, torna o decifrar muito difcil. Para se ter uma idia
do que os astrlogos estavam enfrentando, aqui est o equivalente do texto, em ingls, sem
vogal e sem separao entre palavras: NMBRDNMBRDWGDNDDVDD. Podemos entender a
falha dos caldeus. Somente uma revelao do seu autor tornaria possvel seu entendimento. De
qualquer modo, at com as vogais o texto no faz sentido.
MENE, MENE, TEKEL, UPHARSIN. Em um primeiro nvel de interpretao, estamos
negociando com medidas de peso. Mene (a mina, 600g.), Tekel (o shekel, lOg.), Uphassin
(metade de uma mina, 300g.). Era uma mensagem que qualquer vendedor de rua, num
mercado, poderia estar gritando, para informar sua clientela dos diferentes valores de peso de
sua mercadoria. Belshazzar conseguiu a dica: uma liquidao do estoque venda e.
portanto, o fim de seus negcios. Belshazzar completamente familiarizado com tal jargo
comercial. A histria nos diz que os reis neo-babilnicos, alm de suas funes administrativas,
faziam transaes comerciais. Na Babilnia, comprar e vender era o passatempo nacional.
Belshazzar no foi somente rei da Babilnia, ele foi tambm um reputado comerciante de l.
Com seu background comercial, o escrito na parede deve ter sido claro para ele. Daniel vai ser
ainda mais explcito, voltando etimologia de cada palavra, de acordo com o mtodo bblico de
interpretao.^
Mene deriva de uma raiz que significa contar, designar. determinar. Sua raiz tambm
aparece no captulo 1 em referncia quantidade diria de alimento que o rei determinou
(verso 5). Esta palavra ocorre na Bblia apenas em relao ao Criador, quem controla e
determina o fluxo da histria. A raiz da palavra Mene tambm designa o deus babilnico do
destino, Meni Isa. 65:11, 12). rabes entendem o derivativo Manye no sentido de fatalidade
ou destino. A mensagem divina compara Belshazzar mercadoria que determinada, isso ,
para ser liquidada. O destino do rei o aguarda (Dan. 5:26).
Tekel Vem de uma raiz significando pesar, outra imagem pertencendo ao mundo
comercial. Belshazzar est aqui pesado na balana (verso 27). E como uma pea comum de
mercadoria, seu peso tem sido achado em falta (NIV tem a traduo literal de hassir). Em
outras palavras, ele uma fraude. Ns estamos em um contexto jurdico, como se deduz por
peso e balana. Para a Bblia, e a cultura do antigo Oriente Mdio como um todo, ela tambm
a linguagem do juzo de Deus.
Porque o Senhor o Deus da sabedoria, e por ele so pesadas as aes (I Sam,
2:3).
Pese-me Deus em balanas fiis (J 31:6).
Belshazzar est bem ciente da conotao de juzo e condenao implicados pelas
palavras da mensagem.
Upharsin deriva de uma raiz significando terminar romper. A palavra ocorre muitas
vezes na Bblia num contexto de violncia E lhes esmiuais (prs) os ossos, e os repartis em
pedaos (Miq. 3:3). Em hebraico, a guia de rabo branco, um pssaro predador, peres (Deu.
14:12 por que ela rasga tudo em pedao (prs). A mensagem divina compara Belshazzar a
mercadoria que cai presa de estranhos e rasga-se em pedaos. algo j indicado na forma
plural da palavra upharsin, o nico plural da inscrio. Implicando simultaneamente uma
pluralidade de predadores, os Medos e os Persas. J o som da palavra prs alude aos Persas.
Belshazzar sabe agora que seu reino chegou ao fim.
A idia do fim permeia cada palavra. Mene (numerado) o fim do estoque; Tekel
(pesado) implica uma falta ou uma degenerao; e Upharsin (e dividido) a idia de dissoluo.
Mas alm das palavras em si, em seu ritmo, algum pode ouvir o quarto carrilho do fim. A
inscrio consiste de quatro palavras feitas possivelmente pela repetio intencional da palavra
Mene. E a cada palavra Daniel acrescenta uma explicao de quatro-palavras em
aramaico.
Texto da inscrio: quatro palavras
Explanao de Mene\ quatro palavras
Explanao de Tekeh quatro palavras
Explanao de Upharsiir. quatro
palavras
O nmero quatro desempenha um importante papel no livro de Daniel. A esttua de
Nabucodonosor consistiu de quatro metais, representando sucesses de quatro reinos at o fim.
Os mesmo quatro reinos vo aparecer em Daniel 7 na forma de quatro animais. A literatura extra
bblica tambm observa este ciclo de quatro. Os orculos antigos da Prsia e Babilnia^
muitas vezes falam de um ciclo de quatro reinos, sem necessariamente implicar os quatro reinos
do livro de Daniel. No h um quinto reino. Os reinos terrestres no excedem quadro. O nmero
quatro o pressgio do fim.
Para Belshazzar, a aluso bate em cima. Quatro reis sucederam Nabucodonosor: Amel-
Marduk (562-560),^^ Neriglissar (560-556),^ Labashi-Marduk (556), e finalmente Nabonidus
(556-539), com Belshazzar como regente. No haver mais reis. Belshazzar entende que ele
o ltimo monarca Neo-Babilnico.
V. A Morte do Rei
O ritmo da histria apressa-se. O rei reage imediatamente (traduo literal de Daniel
5:29), no tendo outra escolha. Depois de honrar Daniel apressadamente, ele ento o deixa de
lado para atender assuntos mais urgentes, tais como a aproximao do exrcito inimigo. O texto
termina em uma nota irnica: tendo perdido tudo, Belshazzar est agora querendo partilhar tudo
o que ele tem, at suas prerrogativas reais. Os atendentes do rei vestem Daniel de um manto
prpura, cor real (cf. Ester 8:15),^ E Belshazzar indica-o como a terceira pessoa do reino,
depois de Nabonidus e ele mesmo. Sobre a corrente de ouro, um smbolo de grande honra.
Agora Daniel aceita os presentes, sabendo que os prximos eventos vo nulificar seus
valores. Dentro de horas a profecia cumprida. Foras invasoras ocupam Babilnia e, no
processo, matam Belshazzar. Um novo rei, Dario, o Medo, ascende ao trono.
Entre os documentos cuneiformes relatando a queda de Babilnia, as crnicas de
Nabonidus testemunham da exatido da histria bblica: Gobryas (Ugharu), o governador de
Gutium e o exrcito de Ciro penetraram na Babilnia sem lutar. Mais tarde Nabonidus foi preso
quando retornou Babilnia... No ms de Arahshamnu, no terceiro dia, Ciro entrou na
Babilnia... Gobryas, seu governador, instalou (sub-) governadores na Babilnia.^'' O texto
babilnico no menciona Belshazzar, desde que seu foco principal est em Nabonidus. Mas a
ltima ausncia confirma a existncia de um prncipe regente na Babilnia.
A primeira coisa que o novo governador faz indicar os regentes abaixo dele, algo
tambm mencionado no livro de Daniel (Dan. 6:3). As evidncias sugerem que Gobryas no
outro seno Dario, o Medo. O nome Dario um ttulo honorrio significando ele que segura o
cetro, e Gobryas pode bem t-lo adotado.
De acordo com crnicas antigas, Gobryas morreu um ano e trs semanas aps a
conquista de Babilnia, explicando assim por que Ciro no tomou o ttulo de rei da Babilnia
at um ano depois,^ e por que Daniel 6:28 menciona-o como o sucessor imediato de Dario.
Por outro lado conhecido como Dario, o Medo, Gobrays est com 62 anos no inicio de seu
governo (Dan. 5:31) e reina exatamente um ano sobre Babilnia. E de fato, o livro de Daniel
apenas alude ao primeiro ano de seu reino (Dan. 9:1).
O captulo 5 constitui um ponto de retorno no livro de Daniel: o reino dos Medos e
Persas sucedeu quele da Babilnia em cumprimento parcial da profecia do captulo 2. Como
seu av (capitulo 3), Belshazzar pensou em escapar da verdade, sustentando tenazmente que
Babilnia era eterna. Ambos os monarcas seriam lembrados de sua temeridade pela violenta
interveno do alto. A rvore seria cortada, e a mo pediria de volta 0 flego. Ambos verificaram
em sua existncia o cumprimento das palavras profticas. Do mesmo modo, os eventos
restantes preditos tambm aconteceriam. Na pessoa de Belshazzar, ambas as profecias
encontrariam seu cumprimento: a antiga profecia da esttua, assim como a mais recente escrita
na parede.
ESTRUTURA DE DANIEL 5
A A glria do rei (versos 1-4)
B O mistrio da escrita (versos 5-9)
C O sermo da rainha (versos 10-12)
D Belshazzar consulta Belteshazzar (versos 13-16)
Ci O sermo do profeta (versos 17-24)
Bi Decifrando a escrita (versos 25-28)
Ai A queda do rei (versos 29-31)
Captulo 6
LEES ENCANTADOS
o capitulo 6 comea onde o capitulo 5 parou. Dario ascendeu ao trono, e Daniel foi
exatamente promovido. Estamos em 539 AEG. A vida boa para o prncipe exilado.
Mas isso vai durar? Lembramos dos dias pacficos da ltima parte do captulo 2. L
tambm, os trs hebreus receberam promoes. Mas a honra apenas ativou a prova do captulo
3. A histria vai se repetir? O autor do livro de Daniel parece lembrar isso. O captulo 6 faz um
paralelo com o captulo 3. Com o mesmo desenvolvimento, a mesma construo de palavras, e
as mesmas frases (levantar, acusar, com pressa, decreto, etc.). Do mesmo modo a
repetio das palavras chave dentro do prprio captulo (rei, Daniel, reino, orao, leo,
esconderijo, etc.), faz eco com a repetio dos oficiais e dos instrumentos musicais no captulo
3. Tal processo estilstico sugere que Daniel agora est indo para a mesma experincia dos trs
hebreus do capitulo 3. A ausncia dos trs hebreus neste contexto, assim como a ausncia de
Daniel no captulo 3 no resulta de covardia. Se eles se encontrassem nas mesmas
circunstncias, a reao deles seria a mesma. Os eventos agora se restringem ao nvel da alta
administrao, envolvendo somente Daniel.
O Complexo de Babel
Como no captulo 3, o principal interesse na abertura do captulo 6 construir uma base
forte para o reino. E, como antes, o rei convoca os altos oficiais. No captulo 3 o assunto refere-
se a levantar {hqm) a esttua (verso 1). O principal interesse de nosso captulo presente
focaliza o mesmo levantar {hqm) administradores sobre o reino (Dan. 6:1). Os mesmo verbos
aramaicos aparecem nos dois captulos.
J de comeo Daniel se encontra separado de seus colegas. A administrao foi dividida
entre 120 strapas, ou governadores (ver Ester 1:1; 8:9).^ Acima dos governadores haviam trs
presidentes.:Daniel um deles. O rei at considerou levant-lo {hqm) sobre todo 0 reino ( Dan.
6:3).
Dario pensa em construir seu sucesso administrativo sobre Daniel. Diversas razes
inspiram sua escolha. A primeira de todas que o hebreu, como ele, estrangeiro, um aliado
em uma terra estranha. Daniel tambm previu a queda de Babilnia e a sucesso do reino
Medo-Persa. Alm disso, o profeta acaba de ser nomeado para governador do reino e servir 0
pas por muitos anos. Para evitar futuro caos, Dario decide deixar intactas as estruturas
principais do governo babilnico. Mas a razo real no poltica. Daniel sobrepujava a estes
presidentes e aos strapas; porque nele havia um esprito excelente; e o rei pensava constitu-lo
sobre todo o reino (verso 3) Daniel 5:12 e os captulos 1 e 2 fazem referencia mesma
superioridade para descrever as bnos e inspirao de Deus. Em outras palavras, 0 rei est
procurando se apropriar e explorar o poder extraordinrio que Daniel possui. A mentalidade de
Babel se infiltrou at nas boas intenes do rei. Estamos de novo em um contexto religioso, e
nesta luz que devemos interpretar o resto da passagem.
IV. A Vingana
As duas ordens que o rei deu no incio de nossa histria tem seu eco em mais duas que
ele d agora. A ordem de lanar Daniel na cova dos lees tem sua contraparte no decreto de
lanar os acusadores do profeta, com suas famlias inteiras dentro da cova. Mas est to sem
sentido quanto a primeira. Violncia para Deus no repara a violncia contra Deus. Dario
permanece to obtuso como sempre, pois ele prefere seguir o costume. A punio coletiva
de modo a evitar possvel retaliao de membros sobreviventes da famlia. Esta vez nenhum
anjo intervm. Os lees no do tempo de suas vtimas atingirem o cho. De acordo com a
tradio registrada por Flavius Josephus, os acusadores de Daniel teriam questionado a
autenticidade do milagre sugerindo que os lees tinham sido to bem alimentados que eles
ignoraram Daniel. Eles agora recebem uma chance de testar suas objees.
O edito de adorao ao Deus de Daniel substitui o edito de adorar o rei. O decreto de
Dario faz paralelo com aquele de Nabucodonosor no captulo 3. Mas enquanto que
Nabucodonosor tinha proibido apenas a blasfmia contra Deus, Dario ordena que o povo O
adore: Fao um decreto, pelo qual em todo o domnio do meu reino os homens tremam e
temam perante o Deus de Daniel (verso 26).
Dario entende o aspecto universal do milagre da cova do leo. Quando algum encontra
a realidade da existncia de Deus, impossvel se calar. Seu decreto glorifica o Deus vivo. A
sexta orao do livro de Daniel, nos lembra a orao de Nabucodonosor no captulo 4 por sua
similaridade de estilo, palavras, e contedo. A orao tambm se centraliza em Deus e na
eternidade de seu reino. Mas Dario tem um entendimento mais profundo do Deus hebreu do que
teve Nabucodonosor, como vemos quando ele confessa Deus como o Deus vivo, o Criador e
Salvador. Suas primeiras palavras O descrevem como 0 eterno Deus vivo que permanece
para sempre e cujo reino nunca ser destrudo como os reinos da terra (verso 26).
A orao do rei persa trabalha no tema da vida. Atravs da orao algum se toma mais
ciente da genuna vida que permanece e na qual a felicidade mais que uma miragem. Orao
um ato de protesto contra o sofrimento e a morte, um grito contra o inaceitvel. Atravs da
orao ns recebemos esperana. Orar amar a vida, estar ligado de novo vida atravs de
Deus. Uma orao assim o reconhecimento de que sem Deus nada pode existir ou sobreviver.
De manh nos oramos assim que acordamos para a vida diria. tarde oramos pelo po que
nos sustenta. E noite ns circundamos nossa alma ao Seu cuidado.
O tema da vida celebrado pela orao est enraizado no evento bblico da Criao. A
vida relacionada com Deus porque Ele sua origem, o Criador de tudo que existe. Isto onde
a orao bblica difere daquela dos pagos. Pagos oram por aquilo que eles tm. Fiis da
Bblia oram a Ele que os fez. por isso que a orao reveste o invisvel. Qualquer descrio de
Deus coisa de homem, assim falsificando a orao. O povo ento entende tudo no universo
como sinais e maravilhas (verso 27). O sol e as estrelas, as montanhas e 0 mar, homem e
mulher, saltar tanto por sua prpria iniciativa ou por acaso. Tudo resultou de criao intencional.
E tudo um milagre, um sinal invisvel de Deus. O ato de orar tem suas razes no evento da
Criao. a f de que Deus tem o poder de transformar misria em alegria, morte em vida,
nada em alguma coisa.
Somente neste contexto a salvao pode ocorrer como vimos no terceiro estgio da
orao: Ele livra e salva ((verso 27). Crena na salvao implica crena na Criao, e crena
na Criao comanda crena no Deus vivo. Por que somente o Criador que ainda vive, tem 0
poder de mudar morte em vida. Orao mais que uma experincia confortante e subjetiva. Ela
aspira a uma mudana das dimenses csmicas. Mais que uma experincia transcendental de
harmonia e paz, um clamor existencial por um mundo melhor. Quando oramos por nossas
necessidades dirias, pelo doente, e at pela paz no mundo, a questo sempre a mesma. O
cumprimento final da orao salvao, a vinda do reino de Deus. Os antigos rabinos
costumavam dizer que uma orao onde no h meno do reino de Deus, no orao.^
por isso que a conseqncia final da orao ressurreio. As trs idias contidas na orao de
Dario (o Deus vivo, o Deus Criador, e o Deus que salva) convergem
no evento da ressurreio: Foi Ele quem livrou Daniel do poder dos lees (verso 27).
Os trs temas da vida, criao e salvao j estavam presentes na experincia de
Daniel. Sobrevivendo aos lees e saindo da cova sem nenhum dano, como foi com os trs
hebreus no captulo 3, Daniel considerado como levantado da morte. No Novo Testamento, a
Epstola aos Hebreus, relembra ambas as histrias e interpreta-as luz da ressurreio (Heb.
11:33, 34). A tradio bblica, especialmente os Salmos, muitas vezes usa o leo para simbolizar
o poder da morte (Sal. 22:13, 21; 57:4-6; 91:9-13). A imaginao crist tem tambm mantido
esta histria como um smbolo de vitria sobre a morte. Fiis tem pintado a cena de Daniel salvo
dos lees, em sarcfagos como lembrando, na morte, do milagre da ressurreio. Na
perspectiva crist, a histria de Daniel apresenta muitas similaridades com a histria de Jesus,
um ponto j reconhecido pelos primeiros cristos, para quem o livro de Daniel se tornou uma
constante fonte de inspirao. Como Daniel, Jesus foi vtima de uma conspirao pelos altos
oficiais invejosos de Sua influncia. Como na histria de Daniel, as foras do mal manipularam a
autoridade governamental e invocaram uma razo poltica para justificar a sentena. Em ambos
os casos a vtima era inocente, e as tentativas de salv-lo foram feitas em vo. E nos dois casos
a ressurreio ocorreu de uma tumba selada.
Daniel se levanta da morte maior do que antes. Ele est livre. O Deus condenado a ser
adorado s escondidas, considerado uma simples deidade tribal, agora Deus do universo
(Dan. 6:26, 27). Tudo esta revertido. A vitria de Daniel ressoante. Empolga os oportunistas
que se inclinam aos deuses do sucesso, e encoraja os raros poucos que ainda escolhem o risco
da f.
V. Sucesso de Daniel
O fim da histria menciona o sucesso de Daniel em paralelo com o sucesso dos trs
hebreus no captulo 3. Mas onde a prosperidade dos trs hebreus resultou do rei (Dan. 3:30) a
prosperidade de Daniel permanece independente da clemncia real e continua atravs do reino
de Ciro. O captulo termina em uma nota de esperana que transcende a felicidade pessoal do
profeta e o milagre em si. A meno de Ciro o Persa (verso 28) j aponta para o fim do Exlio
como cumprimento das profecias referentes restaurao de Israel.
No livro de Daniel o nome Ciro , de fato, um ponto de referncia. Ciro marca a
concluso do primeiro captulo, mas tambm ocorre prximo do fim do livro todo. (Dan. 10:1).
Agora ele paira na concluso da primeira parte do livro de Daniel. As duas partes esto assim
claramente delineadas por sua ocorrncia.
A primeira parte da histria de Daniel - sua vida, seus decretos e sucesso. O sonho
proftico desta seo, na maior parte, se limita ao tempo da vida das pessoas envolvidas. Na
segunda parte, porm, deixamos a cena contempornea, para olhar o futuro distante (Dan.
8:26; 12:4, 9) Ambas as partes esto inter-relacionadas. Cada uma confirma a outra.
Testemunhando o cumprimento das profecias do passado, nos encoraja a crer na
autenticidade e eventual cumprimento, das futuras. O milagre encontrado na vida diria o sinal
de outra realidade: o seu domnio durar at o fim (Dan. 6:26; 4:3, 34). A experincia de Deus
em cada dia da vida alimenta o sonho por outro reino ainda. Esta a inteno por trs da
interveno divina: reforar a f e a esperana e despertar nosso anseio por um mundo novo.
A primeira parte do livro preparou a caminho para a segunda parte.
Estrutura de Daniel 6
(cf. Captulo 3)
1.1 Leo
O ieo aiado corresponde ao primeiro metal da esttua em Daniel 2 e representa
Babilnia. No necessrio cavar tradies mitolgicas e astroigicas de modo a justificar seu
reiacionamento com Babilnia. Princpios bblicos, assim como escuituras babilnicas, so
suficientes. De fato, a arte babiinica muitas vezes pinta iees alados, como vemos, por
exemplo, em tijolos vitrificados de muros preservados em vrios museus. Um grande nmero de
lees alados decorou a estrada principal para Babilnia. De modo interessante as Escrituras
representam o prprio Nabucodonosor pela dupla imagem de leo e de guia (Jer. 49:19, 22).
Mas a metfora do leo alado tem at mais com isso, pois ele casa a fora do leo
(Prov. 30:30) com a velocidade da guia (II Sam. 1:23). Ele se torna quase invencvel. Este reino
o animal, exatamente como o reino do captulo 2, descrito como a cabea e, o rei dos reis.
Assim como o arrancar das asas nos recorda de cortar os galhos da grande rvore do captulo
4. O animal ento, levantado da terra e posto sobre dois ps como um homem. No livro de
Daniel caractersticas humanas passam a dimenso religiosa (ver nosso comentrio o barro no
captulo 2). Em uma aluso recuperao e converso de Nabucodonosor, ele recebe o
corao de um homem. A posio vertical simboliza o rei, agora possvel de ser movido por
Deus, o poder do animal destruindo todos os quatro, tendo sido momentaneamente vencido.
Esta converso de um rei pago ao Deus de Israel mais de 10 anos antes, ainda est fresca na
memria de Daniel, extraordinria e dispensa, portanto, uma meno especial. O mistrio do
leo alado ento fcil de resolver: ele representa Babilnia. Mas os ventos da mudana
desenham ainda outro monstro.
2.1 Urso
Deste reino em diante, os animais no refletem o contexto histrico e cultural de cada
reino, mas particularmente uma funo psicolgica deles. Olhar para um horscopo ou mito
antigo, no nos ajudar a entender as imagens. A Bblia caracterizou o urso pela sua crueldade
(II Sam. 17:8; Prov. 28:15; Ams 5:19). A passagem paralela de Daniel 2 identifica 0 urso como
Medos e Persas, uma concluso confirmada pela postura bizarra do urso: o qual se levantou de
um lado (Dan. 7:5). A criatura evidentemente no fica sobre em suas patas traseiras, por que
mais tarde lhe dito levanta-te e devora. Provavelmente o urso se levantou de um lado,
esquerdo ou direito, apresentando uma parte de seu corpo como maior do que a outra, e pronto
para o ataque. E uma tendncia de virar para o outro lado, j apontada pela forma haphel do
aramaico levantado. A imagem do lado, smbolo bblico de agressividade (ver Eze. 34:21, o
qual descreve a agressividade da ovelha que empurra com 0 lado e com o ombro, alude
crueldade das criaturas. No captulo 8 dois chifres, um maior do que o outro (verso 3),
demonstra o poder dos Medos e Persas. Um urso se levantou de um lado, representando
assim a dualidade de poderes, um mais forte do que o outro.
A histria confirma a descrio proftica. Por volta de 650 AEG os persas eram vassalos
dos medos apesar de que eles tinham autonomia e conduziam seus prprios assuntos
governamentais. Nos anos 550 Ciro, filho do rei persa Cambyses I, mas tambm neto por sua
me, do rei da Mdia Astyages, ascendeu ao trono da Prsia. Imediatamente ele empreendeu
um golpe poltico e causou a queda do governo, tornando-se o nico governador de todo o
reino. O grande animal poltico girou sobre seu lado, dando supremacia
aos uma vez inferiores persas. O iivro de Ester, no qual a tradicional expresso Medos e
Persas se torna Prsia e Media (Ester 1:3), tambm confirma o surgimento da supremacia
Persa.
Outra caracterstica do animal que ele traz trs costelas em sua boca. Uma passagem
similar em Ams menciona trs pedaos de carne e ossos recuperados da boca do leo como
os nicos remanescentes de sua refeio (Ams 3:12). outro meio para sugerir a voracidade
do animal. O carter carnvoro da comida (trs costelas ou lados) faz eco posio agressiva
do urso (de seu lado). A passagem ento conclui: Levanta-te, devora muita carne! - uma
passagem muitas vezes entendida como aludindo trs principais conquistas da Prsia: Lidia,
Babilnia, e Egito. Mas se estas trs conquistas so s 0 remanescente, quanto maior foi o
poder de conquista realmente devorador de Ciro! Um livro escolar declara:
O imprio Persa foi criado numa nica gerao por Ciro, o Grande. Em 559 B.C., ele
chegou ao trono da Prsia, ento um pequeno reino bem ao oeste do vale mais baixo da
Mesopotmia. Unificou a Prsia sob seu governo; fez uma aliana com a Babilnia; e comandou
uma rebelio bem sucedida em direo ao norte contra os Medos, que eram os soberanos da
Prsia. Nos anos seguintes ele expandiu seu imprio em todas as direes, no processo
derrotando Cresus e ocupando a Lidia.'
As mais antigas origens da tradio judaica j reconheciam, no sem humor, o urso
como representando a Prsia Persas comem e bebem como urso, tem cabelos como urso, so
agitados como urso. Outra passagem do Taimud chama o anjo guardio persa de urso de
Daniel.
3.1 Leopardo
O leopardo corresponde ao terceiro reino da esttua e representa a Grcia. A adio de
quatro asas intensifica a velocidade j caracterstica do leopardo (Hab. 1:8). Do mesmo modo,
as quatro cabeas multiplicam a idia de dominao. Como j temos visto, o nmero quatro
simboliza totalidade e universalidade. Este reino ento, caracterizado pela rapidez e
universalidade de suas conquistas: e foi-lhe dado domnio (Dan. 7:6). O terceiro reino o
nico que o domnio lhe especificamente oferecido. Seus predecessores jamais receberam tal
poder como um presente. O leo teve um corao de homem (verso 4); o urso recebeu a
ordem que devora muita carne (verso 5); mas apenas o leopardo tem domnio (foi lhe dado
domnio, verso 6) permitido. claro que cada animal adquire certo tipo de domnio: o leo com
o corao humano recebe a supremacia do humano sobre o animal, como Ado, a quem Deus
ordenou: dominai sobre... todos os animais (Gn. 1:28; Jer. 27:5-7). O domnio do urso se
estende sobre o mundo material e regional, mas permanece limitado a uma rea de carne.
Mas para o leopardo o domnio completo. Vamos do muito (traduo literal do aramaico
sagf, na NIV fartura sua) para toda a terra (Dan. 2.29). O domnio do leopardo
envolve muito mais do uma mera conquista geogrfica. Ele se estende tambm no nvel cultural.
E, de fato, o pensamento grego se infiltrou em todo lugar e constitui a espinha dorsal do
pensamento ocidental hoje.
De modo interessante, o domnio no inato, mas algo Permitido por Deus. O verbo
dar (verso 4, 6) tambm serve para juzo de Deus (ver captulo 1). A idia de Deus participando
nos desvios sangrentos da histria pode parecer chocante. Contudo no se deve confundir a
ddiva do poder com sua administrao. O poder est nas mos de Deus. Ao d-lo aos
humanos, ele coloca a responsabilidade do poder sobre eles. A conseqncia somente da
pessoa, de fazer bem ou mal. outra lio de humildade para o poderoso, que imagine que seu
poder surgiu de seus prprios esforos. As Escrituras nos lembram de sua origem e de nossa
responsabilidade para lidar com ele com cuidado. E porque um dia Deus vai exigir o poder, nos
permitido ter esperana. O Deus que comeou a histria vai tambm acab-la.
ESTRUTURA DE DANIEL 7
Ci O chifre pequeno bi O
animal com dez chifres ai Os trs
animais
III. O Filho do Homem (versos 13, 14)
Chegando
Flashback do juzo
Reino de Deus
B. Expiicao da viso (versos 15-27)
I Primeira explicao (versos 15-18)
Os quatro animais, o juzo, o reino
II Pedido de mais explicao (versos 19-22)
O quarto animal, o juzo, o reino
III Explicao final (versos 23-27)
O quarto animal, o juzo, o reino Eplogo:
Pensamentos perturbados (verso 28)
'.Norman Porteous, Daniel: A Commentary, 2nd, Ver. Ed. (Londres: 1979), p. 95; ver |L.F. Hartman and A. A. Di Leila, The
Book of Daniel, Anchor BIble (New York: 1977), vol. 23, p. 208.
7Lacocque, The Book of Daniel, p. 122.
^.Vera insero de Nabonidus em Pritehard, Anclent Near Eastern Texts, PP. 562, 563.
.Donald Kagan, Steven Ozment, e Frank M. Turner, The Western Herltage, 3rd Eed. (New York: 1987), p. 59. ^.Babylonian
Taimud KIddushIn 72a.
.Babylonian Taimud Yoma 77a.
^.A.AIba, Rome et le Moyen Age jusqu'en 1328 (Paris: 1964), p. 164.
.Ver Ren Grousset e Emile G. Lonard, Histoire Universelle, vol. 1, Des origines llslam, sous La direetion de G.
Grousset et D. G. Leonard (Paris: 1968), p. 349; cf. Charles A. Robinson, Jr., Anclent HIstory: From Prehistorlc Times ti the Death
ofJustInlan (new York: 1951), pp. 658-665.
.P. De Luz, Histoire ds Papes (Paris: 1960), vol. 1. p. 62.
'.L'Egllse de St Augustin Tpoque moderne (Paris: 1970), vol. 1, p. 32
".Gense de 1'Antlsmltlsme (Paris: 1956), p. 196.
o livro de Apocalipse descreve o mesmo evento. Parece o mesmo animal de 10 chifres, primeiro ferido depois
completamente curado (Apo, 13:3, 12). A Histria mostra que a autoridade papal, apesar de ter sido sacudida no raiar do sculo
dezoito, foi restaurada no reavivamento catlico do sculo dezenove (ver YCongar, L'Eglise de St. Augustin I 'poque modeme,
PP. 414, 415).
A pequena diferena na pronuncia do nome de Daniel (em Ezequiel Danei, sem o yod) no recebido como um
argumento vlido contra nossa identificao. Sabemos que os Massoretas adicionaram o yod muito mais tarde, em torno do
dcimo sculo, como uma vogal. Alm disso, a tradio Massortica sugere, na margem do texto de Ezequiel 28:3, a leitura
alternativa (qere) Daniel. Este mtodo de leitura dupla tambm atestado para outros nomes. Por exemplo. Gnesis 46:24 chama
o filho de Naftali, JahtseeI e Jahtsiel (com um yod) em II Cron. 7:13; do mesmo modo, o nome do rei srio Hazael escrito com a
letra vogal hey em II Reis 8:8 e sem em II Reis 8:9.
A viso de Ezequiel 14 datada do sexto ano de Jeoiaquim (Eze. 8:1; 1:2), isto , 13 anos depois de Daniel ter chegada
na Babilnia, sinal do juzo de Deus contra Israel (Daniel 1). Ezequiel estava bem acostumado com Daniel, e sua aluso a ele no
contexto mencionado duas vezes na passagem (Eze. 14:14, 20), indica os trs nveis do Juzo divino, variando do geral para o
particular: a terra (No), o povo de Israel (Daniel), a famlia e o individall (J).
'^.Ver I AB 1-7; cotado em Lacocque, PP. 142, 143.
Babylonian Taimud Hagigah 14a.
'^A. Caquot, Les Quatres btes ET Le Fils d'Homme (Daniel 7), in Semitioa 17 (1967): 31-71.
Captulo 8
A GUERRA DE KIPPUR
Terminamos o captulo 7 com o profeta declarando, Eu, Daniel, estive muito
perturbado. O comeo do captulo 8 faz eco com o Eu, Daniel (Dan. 8:1). O captulo 8 a
continuao do captulo 7. Assim que entramos no captulo 8, ns mesmos, ainda estamosl
interessados e preocupados pelos eventos do captulo 7. O relacionamento entre as duas
vises, depois associado por suas ocorrncias cronolgicas. A viso do captulo 7 toma lugar
no primeiro ano de reino de Belshazzar; aquele do captulo 8 no terceiro ano do mesmo reino
(551 AEG). Este mesmo padro, tambm aparece na introduo do captulo 1 e 2
(respectivamente primeiro e terceiro anos do reino de Nabucodonosor), e no captulo 9 e 10 (o
primeiro e terceiro anos do reino de Dario). O padro liga as duas vises consecutivas. Alm
disso, as duas vises tm diversos temas em comum, e cobrem o mesmo perodo histrico at o
fim. Ainda, as duas vises permanecem fundamentalmente diferentes. Na forma, vamos do
aramaico de volta ao hebraico; e no contedo, os quatro animais so agora muito familiares
lutando um com o outro at a morte. a batalha de Kippur, da expiao.
A luta conclui com um estranho ritual, cuja natureza preocuparia Daniel por toda a viso.
Mas a perturbao de Daniel difere do infortnio daquela que aconteceu aos israelitas em 1973,
durante a guerra do Yom Kippur deles. Aquela que ele v (versos 3-12) e ouve (versos 13, 14),
vai alm dos limites histrico e geogrfico de Israel: A guerra de Kippur de Daniel acontece em
uma escala csmica.
2.Uma Criao
De acordo com Levticos 16, este festival tem implicaes csmicas. O povo submeteu
toda a iniqidade do povo ao juzo divino. A expresso todos seus pecados ocorre como o
motivo principal em Levticos 16 (versos 21, 22, 30), e tambm aparece no salmo inspirado por
este grande festival (Sal. 130:8). O Dia da Expiao o momento onde os pecados de todo
Israel recebem expiao, ou perdo. Perdo foi assegurado durante o ano atravs do sacrifcio
continuo, mas no Dia da Expiao, ele necessitou da substituio de outros sacrifcios. A
expiao do pecado j no um assunto individual. O DIa da Expiao era o nico tempo,
quando a totalidade do povo de Israel e todo o espao do santurio, eram totalmente
purificados (Lev. 16:17, 33, 34). Era tambm nico tempo no qual o sumo sacerdote podia
entrar no Santo dos Santos, no santurio, e fisicamente se apresentar a Deus (xo. 30:6-10;
Lev. 16:2, 14). Era o nico tempo quando o Grande Perdo de Deus se estendia alm do
perdo simples, individual. O pecado no era somente perdoado, mas banido do campo. O
sumo sacerdote enviava AzazeI, a encarnao do pecado, para o deserto (verso 21).
Mas, esta cerimnia representa mais do o juzo. A limpeza do santurio , na verdade, 0
sinal da purificao total de toda a terra, no dia do juzo de Deus. A teologia Bblica entende que
os israelitas so os representantes do mundo inteiro que Deus criou. A descrio da construo
do santurio em xodo 25-40, faz paralelo com a narrao da criao do mundo em Gnesis
1:1-2:4. Ambos ocorrem em sete estgios e ambos terminam com a mesma frase tcnica:
acabou a obra (Gn. 2:2; xo. 40:33). A construo do Templo de Salomo, tambm acontece
em sete estgios, e termina com as mesmas palavras acabou a obra (I Reis 7:40, 51). A frase
aparece apenas nestas trs passagens da Bblia, e claramente indica 0 relacionamento entre o
santurio-templo e Criao. Os Salmos tambm testemunham desta ligao: Edificou o seu
santurio, como os lugares elevados, como a terra que fundou para sempre (ver Sal. 789:69;
cf. 134:3; 150:1,6).
De certo modo, Kippur nos lembra, ento, do Sbado semanal, evocado como naquele
dia da criao do mundo (xo. 20:11; cf. Gn. 2:1-3). De forma significante, de todos os festivais
descritos no livro de Levticos, encontramos o livro destacando somente estes dois, 0 Sbado e
o Dia da Expiao, separados como sendo um dia quando o povo deve no trabalhar, como
oposto de fazer, trabalho regular (Lev. 23:3, 28, 35, etc.).
Para os israelitas, Kippur simboliza a purificao do mundo, uma verdadeira recriao.
por isso que Daniel usa a expresso tardes e manhs (Dan. 8:14), uma frase que ocorre
estritamente no com texto da Criao (Gn. 1:5, 8, 13, 19, 23, 31).
A tradio judaica tambm associou a idia da Criao, como aquela do juzo, o dia de
Kippur. O Midrash antigo, interpretando os primeiros versos da Criao, declara: E houve uma
tarde, e houve uma manh, um dia, isto significa que o Santo, Bendito seja Ele, deu a eles
(Israel) um dia, o qual no outro seno o dia de Kippur.^^
As oraes recitadas no Yom Kippur lembram ao crente que o Deus que julga tambm
o Criador que perdoa, Bendito sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do Universo, que abre a
porta de Sua graa, e abre os olhos daqueles que esperam pelo perdo dEle que
criou luz e escurido, e todas as coisas.^^
Como pode o humano ser justo perante seu Criador, quando ele fica nu perante
Ele?^2
A profecia de Daniel v, no horizonte da histria, um Kippur celestial descrito em termos
de juzo e criao. O Kippur que os israelitas celebraram no deserto, no seno um traado
grosseiro do Kippur celestial. Os dois eventos pertencem a duas ordens totalmente diferentes. E
ainda, para compreender o Kippur divino, preciso entender o Kippur terrestre. Sua mensagem
espiritual nos lembra, de que a histria vai chegar ao um fim, que o Deus- Juiz vai se levantar
para selar o destino da raa humana, e preparar para eles um novo reino.
Agora entendemos a relevncia de ambos, o juzo e a criao, durante tais momentos
na histria. Na verdade, o juzo e a criao realizam o mesmo caminho. O Juzo elege um novo
povo, arrancado das garras do pecado e do sofrimento, um povo apartado, separado dos outros
povos, mas tambm um povo perdoado. A Criao molda um mundo novo, liberto da sombra da
morte, um planeta purificado. Neste contexto, o juzo sinnimo de criao, como ambos
implicam numa separao radical.'"' O Kippur simultaneamente o anncio do juzo divino e a
esperana da re-criao.
Por outro lado, o anncio do juzo de Deus convida-nos ao arrependimento. Yom Kippur
0 dia para o israelita negar a si prprio (Lev. 16:29, 31), o dia de assumir responsabilidade
por suas aes. Deus criou [o] mais profundo do ser e pesou todas as aes (Sal. 139). Mas
acreditar no juzo divino no implica em uma atitude desolada, de humilhao em misria e
iniqidade, sempre passando por juzo. Ao contrrio, alegra-te... anime-te o teu corao nos
dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu corao, e pela vista dos teus olhos; sabe,
porm, que por todas estas coisas te trar a juzo (Ecl. 11:9). O Juzo no exclui a alegria da
vida - de preferncia implica isso. Nosso anncio do juzo prov a estrutura na qual sentimos a
vida.
A promessa da re-criao tambm valida nossa esperana. Podemos esperar mudanas
reais. A verdadeira salvao histrica, no somente espiritual. No podemos salvar, a ns
mesmos, em nossa condio presente. Somente Deus pode, e para fazer isso Ele precisa
transformar o mundo - o significado essencial por trs do festival de Kippur. Uma velha histria
fala de 10 rabinos, corretos e justos, torturados at a morte pelos Romanos. O livro de oraes
narra que uma voz ento rasgou atravs dos cus e clamou: essa ento a recompensa do
justo? qual Deus respondeu: cala-te! ou eu destruo o mundo! No h outra soluo para o
problema do mal. A salvao implica a destruio da verdadeira causa do sofrimento e morte.
No uma experincia mstica ou psicolgica, salvao um evento de propores csmicas,
que vem do alm e est situada na histria.
Lembramos que o captulo 7 localiza o juzo depois de um tempo, tempos e metade de
um tempo, isto , depois de 1798. O captulo 8 ainda mais explcito: o reino do chifre pequeno
duraria 2300 tardes e manh. A expresso tarde-manh, emprestada da histria
da Criao, representa um dia que devemos entender, no sentido proftico, como um ano
(representando 2300 anos). Mas esta nova informao no ajuda muito. Um perodo de tempo
sem nenhuma indicao de seu ponto de partida poderia estar suspenso em qualquer perodo
da histria. O anjo Gabriel simplesmente especifica que ele leva ao fim: Entende, filho do
homem, pois esta viso se refere ao tempo do fim(verso 17; tambm ver verso 26).
Daniel est atemorizado pela viso que ele acha ser alm do entendimento {eyn
mebin, verso 27). Deixamos o captulo 8 com uma nota de frustrao porque precisamos de
mais informaes para entender sua viso. Mas a compreenso que elevemos ter, no de
ordem filosfica. Nossa inteligncia no tropea aqui, na complexidade de uma verdade
abstrata, mas no tempo do evento previsto. O profeta entende que ele envolve a questo do
tempo do fim. O livro de Daniel emprega a mesma palavra, entender {Bin) para a profecia dos
70 anos (Dan. 9:22) e depois para a profecia das setenta semanas.'' O que ele no entende
exatamente quando no fim do tempo. O foco menos de implicao teolgica da profecia do
que um evento que vai acontecer em um dado momento.
At receber uma data de inicio, a profecia permanece uma abstrao, sujeita a dvida.
Para se tornar o objeto de esperana, a promessa de re-criao deve ser inserida na cronologia
da histria.
Juzo e re-criao so as duas faces do Kippur. No de surpreender que o livro de
Apocalipse menciona-as como os dois vetores da f durante os ltimos dias. Entrando no ciclo
de Daniel 7, exatamente antes da vinda do Filho do homem - isto , durante o Kippur celestial -
as profecias de Apocalipse 13 e 14 mencionam um mensageiro produzindo a mensagem dual de
juzo e criao: dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glria, porque chegada a
hora do seu juzo; e adorai aquele que fez o cu, e a terra, e o mar, e as fontes das guas (Apo.
14:7).
De acordo com o livro de Apocalipse, que surge do livro de Daniel, os ltimos dias
ressoaro com uma nova adorao, adotando as duas noes de juzo e criao. Esta adorao
ser mais que uma experincia emocional ou espiritual. Ela vai brotar da esperana no juzo
divino e salvao, e f na criao. Ainda mais, esta adorao vai testemunhar da verdadeira f
na Bblia, o livro que comea, de fato, com criao (Gn. 1; Mat. 1; Joo 1) e termina com juzo
e salvao (Mal. 4:2; II Cron. 36:21-23; Apo. 22:17-21)
ESTRUTURA DE DANIEL 8
I. viso
o que ele v (versos 3-12):
a) Eu vi... e observei
0 carneiro (versos 23, 24)
b) Eu vi... e observei
0 bode com um chifre (verso 5-8)
os quatro chifres (verso 8b)
chifre pequeno (versos 9-12)
O que ele ouve (versos 13, 14)
Kippur (versos 13, 14)
II Interpretao da Viso
1. O que ele v: aparncia de um homem (verso 15)
2. O que ele ouve:
Faz entender a viso (versos 16-19)
Carneiro: Medos e Persas (verso 20)
Bode: Yavan (verso 21)
Quatro chifres: quatro reinos (verso 22)
No final:
surgimento de um poder (versos 24, 25a)
sucesso (versos 24, 25a)
queda (verso 25b)
Viso das tardes e manhs (verso 26).
'.Cf. Charles Bounflower, In and Around the Book of Danie\ (Londres: 1923), p. 217.
7Herodotus, 5. 49.
iRobinson, p. 336
'.Miqraoth
Gdoloth.
.Ver Levticos 16:30 na Bblia Septuaginta.
^.Miqraoth Gdoloth
Mraduo do autor do Livro de Orao, Mahzor minoroch hachana weyom hakippurim, primeira parte,31. .Atonement,
Day of The Jewis Encyclopedia (!902)
.Ver Enslklopedia Mlqraoth 3 (1965), 595; cf. K. Hrubi, Le Yom ha-Kippurim on Jour de lExpiation, Old Testament
Studies 10 (1965: 58ff. Notar tambm que o Beney Israel oelebra os dois festivais como um (Van Gondoever, Ftes et calendriers
bibllques (1967), p. 57ff.
'.Babylonian Taimud, Rosh Hashana, 16b.
".Midrash Rabbah, GenesIsA. 10.
'7 Yotser leyom Kippur.
'^.Mosaph leyom Kippur.
'".Gordon J. Wenham, Genesis 1-15, Word Bblical Commentary, vol. 1 (Waco, Texas: Word, 1987), p. 18.
Ver tambm Dan. 12:7, 8, que liga o verbo entender ao perodo um tempo, tempos e metade de um tempo e o
tempo do fim (versos 9, 11).
Captulo 9
setent anos
ESTRUTURA DE DANIEL 9
1 Messias dos setenta anos (versos 1, 2)
2 Ano da vinda de Ciro
3 Profecia de Jeremias
Orao (versos 3-19)
A Invocao de Deus (verso 4)
B Ns... (versos 5, 6)
C Nota universal (versos 7-9)
a Para voc (verso 7)
b Para ns (verso 7) c
Para todo Israel (verso 7) bi Para ns
(verso 8) ai Para voc (verso 9)
Bi Ns... (versos 10-14)
Ai Invocao de Deus (versos 15-19)
O Messias das setenta semanas (versos 20-27)
70 semanas determinadas sobre o povo e sobre Jerusalm (verso 24)
Ai Vinda do Messias: no fim de 7 e 62 semanas (verso 25a) Bi
Construo da cidade (hrs)
A2 Morte do Messias: depois das 62 semanas (verso 26a) B2 Destruio
da cidade (hrs)
A3 Aiiana: meio da semana (verso 27a)
B3 Destruio do destruidor (hrs)
A Histria nos diz que Artaxerxes comeou seu reinado em 465 AEC, o ano de sua ascenso ao trono (ver:
Artaxerxes na Universal Larousse). De acordo com a Bbiia, contudo, o primeiro ano de seu reinado teria comeado no incio do
prximo ano, em Tishri (ver Jer. 25:1 e Dan. 1:1,2; cf. ii Reis 18:1, 9, 10; cf. Mishna Rosh Hashanah 1. 1). O stimo ano de Artaxerxes
teria ento se extendido do outono (Tishri) 458 ao outono 457).
7 Ver Jacques Doukhan, Drinking at the Sources (Mountain View, Caiif.: Pacific Press, 1981), p. 67.
Ver Jacque Doukhan, The Seventy Weeks of Dan. 9: An Exegeticai Study, 17, No. 1 (1979): 12-14.
Ver Geza Vermes, The Complete Dead Sea Scrolls in English (New York: 1997), p. 127.
Ver Wiiiiam Wickes, Two Treatises on the Accentuation ofthe Old Testament (New York: 1970), parts i:32-35; ii:4. Ver
Doukhan, Drinking at the Sources, pp. 135, 136, n. 186.
Para distino entre o servo e israei, ver isa 49:5-7 e 53:4-6.
Josephus, Wars ofthe Jews, 5.6, 10.
Babyionian Taimud Gittin 56a, 56b, 57b.
Miqraoth Gdoloth.
Doukhan, The Seventy Weeks of Dan. 9, p. 21.
Notar que a paiavra para usada geraimente em nossas tradues do ingis no aparece no hebraico. Em nossa
traduo iiterai do hebraico, os dois pontos so como o acento disjuntivo Massortico tifha.
Captulo 10
o SACERDOTE COM OLHOS DE FOGO
Daniel 10:1 contm a ltima referncia a Ciro. Ele j tinha sido mencionado duas vezes:
no comeo (Dan. 1:21) e no meio do livro (Dan. 6:28). Os trs ltimos captulos constituem uma
unidade literria^ e ocorre na mesma amplitude. Estamos no terceiro ano de Ciro (536/535),
dois anos depois do captulo 9, o qual datado do primeiro ano de Dario, correspondendo ao
primeiro ano de Ciro (ver captulo 5).
O captulo comea com uma nota tempestuosa. As primeiras palavras proclamam uma
tsava gado, uma grande guerra (verso 1). Daniel ainda est servindo na corte da Babilnia, e
de modo significante, o livro ainda chama-o pelo seu nome de servio, Beitshazzar (verso 1).
Exatamente um ano atrs ele testemunhou o retorno do exlio, de volta para Jerusalm sob a
liderana de Shesbazzar (Esd. 1:8). Contudo Daniel ficou para trs. Era tarde demais para ele.
O peso de seus 90 anos manteve-o na terra do exlio. O profeta da esperana de fogo e orao
ardente foi incapaz de participar do cumprimento de sua prpria profecia (Dan. 9).
Mas seu sofrimento envolveu mais do que mera nostalgia. Em menos de um ano a
esperana mais profunda do profeta estilhaou. Os acordes vibrantes da cano de Esdras
tinham desaparecido. Um silncio hostil sada o grito alegre do retorno do exlio. Aqueles
deixados para trs na terra, no tinham esperado nem desejado o retomo dos zelosos
refugiados (Esd. 9:1, 2). Ao contrrio, eles fazem qualquer tentativa para minar os antigos
exilados, empregando desencorajamentos, ameaas, cartas acusadora s autoridades persas, e
corrompendo os sacerdotes oficiantes do Templo (Esd. 4:4, 5). Os esforos deles colocaram em
risco a re-construo do Templo. Coraes antes inflamados de esperana agora sustentam as
cinzas da desiluso. As notcias finalmente chegaram at Daniel. Desesperadamente ele se
ajoelha em orao: Naqueles dias eu, Daniel, estava pranteando por trs semanas inteiras
(Dan. 10:2). Aquela mesma angustia que ele teve ento, dois anos antes quando ele tinha se
voltado para a antiga profecia de Jeremias, tomou conta dele de novo.
Na realidade, o captulo 10 segue a mesma progresso do captulo 9, uma
correspondncia temtica levantada pela estmtura tridica dos dois captulos. Os dois captulos
comeam com o desespero de que a profecia no seria cumprida. Nos dois casos, Daniel
expressa seu pesar em um gesto de contrio, e finalmente, nos dois casos, o anjo Gabriel
aparece para explicar.
IJejuando na Pscoa
Daniel jejua por trs semanas. A tradio bblia requer, normalmente, apenas trs dias
para o ato de arrependimento (xo. 19:10-15; Ester 4:16). Tanta a intensidade de sua orao
que Daniel a multiplica por sete. A tradio judaica antiga guarda as trs semanas unidas, para
comemorar as vrias tragdias que sobrevieram ao povo judeu, especialmente a destruio do
Templo. Este perodo de lamentaes, tambm chamado beyn hametzarim (literalmente entre
os apertos, significando em aflio) ocorre de dezessete de Tamuz at 0 nove de Av (Julho-
agosto).^
A orao e o jejum de Daniel ocorrem, contudo, no primeiro ms do ano, Nisan, isto ,
precisamente durante o tempo da Pscoa e dos pes zimos. Isso parece aludir ao fato de que
ele sente a necessidade de especificar aquilo: nem carne nem vinho entraram na minha boca
(Dan. 10:3), o que seria esperado na refeio ritual da Pscoa. Comentaristas judeus tem se
admirado sobre esta irregularidade, que faz Daniel transgredir o mandamento de comer o
cordeiro e os quatro copos de vinho. Eles justificam a deciso de Daniel, portanto, pelo motivo
de que a interrupo da construo do Templo assegurou tal responsabilidade. Ns vamos
encontrar um exemplo parecido de jejum acontecendo na Pscoa em Ester 4:16.
Uma viso vem a Daniel, no dia vinte e quatro de Nisan, imediatamente depois de
concluir a semana da Pscoa, (da noite de quatorze at vinte e um). Certamente, no um
acidente que a viso ocorre contra o fundo de Pscoa, que celebra a libertao do Egito e
marca o caminho para a Terra Prometida.
Duas vezes Daniel sente, em seu corpo, a transio da vida para a morte (A B / / A i Bi).
E duas vezes ele recebe conforto. A batalha contra a Prsia segue seu curso na histria de
acordo com a profecia (verso 20), visto que a Grcia (Javan) est pronta para entrar em cena na
histria (verso 20).
A mensagem de Gabriel de vitria. At o prprio nome do anjo aponta para isso.
Gabriel deriva do verbo gbr (ser forte) e pertence ao vocabulrio de guerra, providenciando a
origem para a palavra gibbor, o heri de guerra.
E na realidade, no clmax de seu discurso (D // Di), Gabriel emite o grito de guerra:
Michael! - quem como Deus? (Mi-ka-el). A tradio bblica apresenta-o como um grito de
guerra de um povo apavorado com a interveno vitoriosa de seu Deus na batalha: O inimigo
dizia: perseguirei, alcanarei... arrancarei da minha espada, a minha mo os destruir. Sopraste
com o teu vento, e o mar os cobriu... Quem entre os deuses como tu, Senhor? Quem
como tu poderoso em santidade (xo. 15:9-11).
Q mesmo grito de vitria permeia os Salmos: Todos os meus ossos diro: Senhor,
quem como tu, que livras o fraco daquele que mais forte do que ele? (Sal. 35:10). E os
profetas: Assim diz o Senhor, rei de Israel, seu Redentor... Quem h como eu?... que anuncia
as (coisas) que ainda ho de vir (Isa. 44:6, 7).
Gabriel menciona Mi-ka-el como algum lutando ao seu lado (Dan. 10:13, 21) e como 0
prncipe de Daniel e seu povo (verso 21). Verso 13 aponta no superlativo: Q prncipe chefe
(traduo literal) e no um dos prncipes chefe (NVI). A palavra echad, normalmente traduzida
como o nmero um, tambm significa primeiro.^ Q ltimo significado se ajusta melhor na
frase e no livro e Daniel.
Q autor usa a palavra echad (um ou primeiro) em lugar da palavra rishon (primeiro)
para evitar, de outra forma a redundncia rishon ha rishonim primeiro dos primeiros. Em geral
o livro de Daniel emprega echad tanto quanto rishon para dizer primeiro. Q superlativo
primeiro dos primeiros prncipes, designando Michael o equivalente da expresso Prncipe
dos prncipes de Daniel 8:25 e se refere, contudo, mesma figura sobrenatural.
Q sacerdote com olhos de fogo, que aterrorizou Daniel na verdade Michael - o filho do
homem do captulo 7 e o prncipe dos prncipes do captulo 8. Nos captulos 7 e 8 o ser s
apareceu depois da longa, e tumultuada histria, dos reinos nascidos das guas, smbolo do
vazio e da escurido. Mas no captulo 10, a revelao toma repentinamente um caminho mais
curto. Ultrapassando os reinos, o ser imediatamente aparece nas guas.
como se ns j tivssemos atingido o ltimo estgio da vinda do Filho do homem. De
p sobre as guas, Michael parece, de fato, familiar. Ele aquele que conclui a linha dos
animais no captulo 7 e no captulo 8. Mas, ele tambm aquele que fica em frente de Josu na
plancie de Jeric, que carregou Israel para cruzar o Rio Jordo, lutou por eles, e conduziu-os
finalmente Terra Prometida.
Assim que o anjo informa Daniel da grande guerra poltica entre os reinos, que estava
impendente (ver Dan. 10:1,20) e a guerra csmica e espiritual mais sria entre o bem e 0 mal, a
viso traz esperana de vitria.
Os autores do Novo Testamento tm identificado este ser - o sacerdote com olhos
flamejantes, o Filho do homem - como Jesus Cristo, o juiz glorioso que vem sobre as nuvens
(Apo. 1:13-18) e sumo-sacerdote oficiando no templo celestial (Heb. 7:5-10 e 9:11-15). Os
primeiros rabinos seguiram uma linha similar de pensamento e viram Michael como o esperado
Mashiach e o sumo-sacerdote oficiando na Tsion celestial.
ESTRUTURA DO CAPITULO 10
Introduo (verso 1)
1 .ltima meno de Ciro
2.Construo do templo comprometida
I Tishri no Tigre (versos 2, 3)
Trs semanas de jejum e orao
II A viso assustadora (Michael) (versos 4-8)
1.1 grande sacerdote (cf. Eze. 1; Apo. 1)
2.Daniel em sono profundo
III A Viso esclarecedora (Gabriel) (versos 9-21)
A Palavras ouvidas, prostrao (verso 9)
B Fortificado pelo anjo (versos 10, 11)
C Encorajado pelo anjo (verso 12)
D Batalha contra Prsia com Michael
(versos 13, 14)
Ai Palavras ouvidas, prostrao (verso 15)
Bi Fortificado pelo anjo (versos 16, 17)
Ci Encorajado pelo anjo (versos 18, 19)
Di Batalha contra Prsia com Michael
(versos 20, 21)
' .Lacocque, The Book of Daniel, p. 200
Contando do primeiro ms, Nisan, Zacarias 8:19 se refere a estes fatos respectivamente a Tamuz (quarto ms) e Av
(quinto ms).
^ Ver Doukhan, Le cri du clel, PP. 40-42.
a nica ocorrncia desta palavra grega no Novo Testamento. A Bblia Septuaginta, contudo, usa-a para se referir a
veste especfica do sumo-sacerdote (na Bblia Septuaginta, ver xo. 25:6, 7; 28:4; Eze. 9:2, 3, 11, etc.; cf. tambm Antiquitles, 3.
153ff; cf Irinaeus Adv Haer4, 20)
f xo. 17:11; I Sam. 2:9; II Sam. 1:23; J 21 ;7; Isa. 42:13, etc.
I Sam. 14:52; Isa. 3;2; Jer. 46;12; Eze. 39;20; Zac. 9:13; Sal. 33:16, etc.
^ Gn. 1:5; xo. 40;2; Lev. 23;24; Deut. 1;3; I Reis 16:23; II Cro. 29:17; Esd. 1:1; 3;6; 7:9; 10:16, 17; Eze. 26:1; 29:17; 31:1,
etc.
O livro de Daniel tem seis aplicaes para a palavra echad significando primeiro (Dan. 1:21; 9:1, 2; 11:1; 6:2; 7:1)
contra quatro aplicaes para a palavra rishon (Dan. 8:21; 10:4, 12, 13). Esta tendncia aparece principalmente na literatura ps-
exlio por causa da influncia do aramaico.
Ver Babylonian Taimud Zebahim, 62; Babylonian Taimud Menahoth 110; Mldrash Rabbah of Exodus 18:5; Mldrash
on the Psalms, Psalm 134, section 1; Peslkta RabbatI, Piska 44, seco 10; etc.
Captulo 11
GUERRAS MUNDIAIS
Captulo 8 Captulo 11
Prsia (versos 3, 4) Prsia (verso 2)
Grcia (versos 5-8) Grcia (versos 2, 3)
Roma (versos 8, 9) Roma (verso 4)
Chifre pequeno (versos Conflito norte-sul
9-12) Tempo do fim (versos 5-39) Tempo
(versos 13, 14, 17, 25) do fim (versos 40-45)
Deve ser adicionado que o poder no norte como descrito no captulo 11 tem muito em
comum com o chifre pequeno, at nas semelhanas lingsticas:
1.1 rei no norte desafia Deus e procura usurp-lo (Dan. 11:36, 37). No captulo 8 o chifre
pequeno se levanta para as hostes celestiais (versos 10,11) contra o prncipe dos prncipes
(verso 25).
2.1 rei do norte profana o santurio e abole o sacrifcio dirio (Dan. 11:31), enquanto que
em Daniel 8, o chifre pequeno profana o santurio (verso 11) e tira o sacrifcio dirio (verso 12).
3.1 rei do norte se estabelece ele mesmo na Terra Gloriosa (tsevi), uma expresso
simbolizando a Palestina (Dan. 11:16, 41, 45), e ataca a santa aliana (versos 28, 30). O chifre
pequeno cresce em direo da Terra Gloriosa) (Dan. 8:9) e destri o povo santo
(verso 24).
4. Como 0 rei do norte, o chifre pequeno do captulo 8 se origina do norte (verso 9).
5. rei do norte o chifre pequeno morrem a mesma morte. O rei do norte chega ao seu
fim sem ajuda de ningum (Dan. 11:45), enquanto o chifre pequeno ser destrudo, mas sem
auxlio de mos (Dan. 8:25; cf. 2:45).
O poder do norte e o chifre pequeno, portanto, apresentam os mesmos traos
caractersticos, o mesmo comportamento, vem da mesma direo, e partilham a mesma morte
trgica. Finalmente, eles cobrem o mesmo espao de tempo, se estendendo desde a queda do
Imprio Romano at o tempo do fim. Conclumos ento que o rei do norte e o chifre pequeno
representam o mesmo poder, desfrutando de reconhecimento poltico e exercendo prerrogativas
divinas. A histria do conflito norte-sul em Daniel 11:5-45 a mesma daquela do chifre pequeno
do captulo 8. Agora precisamos descobrir o significado deste conflito e suas implicaes
histricas.
1.A Significado Espirituai
As duas estruturas literrias do texto e do simbolismo da referncia norte-sul implicam
em um conflito de natureza espiritual.
A estrutura iiterria. Desde o verso 5 a narrao se desenvolve em seis sees. As
trs primeiras (versos 5-12; A, B, C) so simtricas s trs ltimas (versos 13-39: Ai, Bi, Ci). As
duas partes ABC e Ai Bi Ci refletem uma a outra, temtica (mesmos temas) e linguisticamente
(as mesmas palavras e expresses). Alm disso, os ataques dos dois poderes se alternam (A
sul; B norte; C sul, Ai norte; Bi sul; Ci norte). Quando A se refere ao sul, Ai se refere ao norte e
assim vai.
2.Significado Histrico
No fcil encontrar a contraparte histrica de nossa passagem. Neste estgio de
nossa pesquisa, contudo, ainda possvel delinear trs temas principais nos versos 5 a 39.
O tema do confiito entre o norte e o sui. Isso pode se referir ao conflito que
tradicionalmente contraps dois inimigos inexorveis: De um lado, o poder religioso eclesistico
(o norte) representa o papel de Deus na terra, atuando como nico intercessor entre a
humanidade miservel e Deus. E do outro lado, os movimento filosficos e polticos (o sul) lutam
contra o fanatismo e obscurantismo com a arma da razo. Ambos os movimentos
constantemente entram em guerra um contra o outro. Vemos esta luta interminvel revelada nos
ataques dos Neo-Platonistas, as perseguies dos imperadores pagos (Nero, Diocleciano,
Julian, etc.), as correntes humansticas nascidas no Renascentismo, a Revoluo Francesa, e
finalmente em nossas ideologias e formas de governo secular e materialista atuais.
O tema de aliana entre o norte e o sul nos versos 6, 17, 22, 23. Pensamos nas
tentativas de compromisso entre a igreja e o estado de Constantino, as alianas medievais em
questes de lei, controle territorial, poder e filosofia, e muitas foras poltico-religiosas
trabalhando no presente.
O tema do conflito entre e norte e o povo de Deus nos versos 16, 28, 30, 31,35..
Perseguies e intolerncia tm marcado a histria da igreja desde o quarto sculo at a
revoluo francesa.
A forma literria de nosso texto, particularmente sua simetria, admoesta-nos contra uma
interpretao literal dos detalhes. Este trs temas pavimentam o caminho para os eventos do
tempo do fim. Por enquanto os conflitos norte-sul, suas alianas, e ataques do norte contra o
povo de Deus, tm sido meramente preliminares. Devemos esperar pela ltima fase, em relao
ao tempo do fim (versos 40-45), para realmente captar o significado total por trs destes
conflitos e alianas. A passagem fala da perspectiva do fim esboada no desenvolvimento
(versos 5-40), apenas aqueles temas relevantes ao tempo do fim. Somente na concluso da
narrao estaremos, de algum modo, capacitados a captar o significado dos trs temas traados
no desenvolvimento.
Esta ltima batalha ocorre em duas ofensivas, cada uma envolvendo algum tipo de
ataque contra o povo de deus.
1.Primeiro testemunhamos um ataque do sul contra o norte. A batalha curta, mas
intensa, com o sul sendo esmagado pelo norte: vir como turbilho contra ele, com carros e
cavaleiros, e com muitos navios (verso 40). Esta primeira vitria massiva precede a vitria final
do norte. Ele alcana finalmente a Terra Gloriosa, mas a vitria ainda no total:
dezenas de milhares cairo, mas da sua mo escaparo estes: Edom e Moabe, e as primcias
dos filhos de Amom (verso 41).
Historicamente, significa que o poder poltico-religioso vai triunfar sobre os movimentos
atestas e polticos. Durante o calor da ao, sero feitas tentativas contra o povo de Deus.
Apesar disso, se crermos em Daniel, a vitria do norte no nem total, nem definitiva. uma
linguagem simblica, que a profecia sugere uma resistncia do sul pressionando de Edom,
Moab e Armom.''^ Isso significa que os vrios movimentos atestas e humansticos resistiro, e
por pouco tempo, prevalecero sobre as foras religiosas.
2. Mas a profecia de Daniel olha ainda alm. Uma segunda ofensiva toma lugar. O
rei do norte penetra nas regies mais sulistas do sul: Egito, Lbia e Etipia. Mas rumores do
norte, isto , da Palestina (se considerarmos que ele est na Etipia naquele tempo) fora-o a
retornar naquela direo. Ele comea com grande furor (verso 44). Suas intenes so claras:
para destruir e aniquilar. Ocupado com as conquistas do sul, at aqui ele tem negligenciado
tais distrbios. Agora nada mais o segura. J no mais sozinho, seus inimigos agora marcham
ao seu lado (verso 43). Pela primeira vez, o norte e o sul so aliados. As pessoas do sul (lbios,
etopes e egpcios) reconhecem o norte como seu lder e seguem-no para a ltima batalha,
contra o glorioso monte santo. Eles levantam seus campos entre os mares (verso 45), isto
entre o Mar Mediterrneo e o Mar Morto, que cercam a terra de Israel.^'' A aparncia deles
ameaa o Templo de Deus. Na linguagem bblica, o glorioso monte santo designa o local do
Templo, e por extenso, o prprio Templo.^
0 Templo que faz a terra sagrada e maravilhosa (tsevi). Uma terra assim s pode ser
descrita em termos poticos, pois alm de suas paisagens o poeta de Israel sente as dimenses
santas da morada de Deus. O salmista (Sal. 48:1, 2) assimila o monte santo para o monte
Sio (o extremo norte), uma expresso idiomtica designando os altos celestiais da morada de
Deus (ver Isa. 14:13). Encontramos um uso similar por ocasio da dedicao do Templo de
Salomo: Meu nome estar ali; para ouvires a orao que o teu servo fizer, voltando para este
lugar. Ouve, pois, a splica do teu servo, e do teu povo Israel, quando orarem voltados para este
lugar (I Reis 8:29, 30). Os israelitas deveriam ento fazer suas oraes voltados para a direo
ao Templo, residncia do nome de Deus, e ento do cu, 0 lugar da morada de Deus, viria a
resposta.
A expresso glorioso monte santo de Daniel 11:45 ento a localizao celestial da
morada de Deus. J Daniel 2 mencionou uma montanha assim no contexto do fim,
especificamente durante a ltima tentativa de unir os reinos terrenos (Dan. 2:35, 44, 45).
Encontramos os mesmos elementos na famosa profecia do Armagedom, em Apocalipse 16. Ele
tambm caracteriza o tempo do fim pela unio dos reis de todo o mundo (verso 14).
O Armagedom do livro do Apocalipse, assim como a montanha, do livro de Daniel, no
deve ser entendido como uma localizao geogrfica, mas como uma aluso a uma batalha
espiritual de dimenses csmicas. Devemos especialmente manter isso em mente assim
como consideramos as implicaes histricas do monte. De acordo com Daniel 2 e Apocalipse
16, todos os reis da terra, isto , ambos, norte e sul (Daniel 11), unidos pela primeira vez em
uma batalha de implicaes espirituais. O objetivo mtuo deles o trono de Deus, o reino de
Deus. Enquanto isto pode parecer um pequeno absurdo para alguns, um olhar para o que est
acontecendo no mundo nestes dias deve nos convencer da verdade desta profecia.
J ningum mais acredita no reino de Deus. Muitos tratam, com condescendncia esta
esperana dos primeiros cristos, a verdadeira essncia do cristianismo.^ Muitos cristos tem
hoje integrado em suas crenas, ideologias humanistas e materialistas. Em lugar de olhar para a
cidade de ouro que est por vir, eles trabalham e constroem aqui e agora. O foco foi trocado
para a empresa humana. Hoje religio segue os passos da tendncia de justia social e
existencialista, amor e felicidade, e deixa Deus de fora. Encontramos isso na teologia da
libertao dos pases subdesenvolvidos do mundo, e no sonho de Teilhard Chardin, que promete
cantar amanh. tambm a dialtica de Bultmann, que limita a espera do reino de Deus para
a experincia da existncia individual, assim eliminando Deus da arena histrica. Tais teologias
j no definem o reino de Deus em termos de realidade histrica. Preferimos os termos mais
elegantes da evoluo, progresso, e esclarecimento. F se torna mais realista. A igreja nunca
esteve to envolvida com poltica como hoje. Desde a queda do comunismo, a voz da igreja tem
novamente se tornado audvel nos pases do leste europeu. Do mesmo modo o extremismo da
ala direita do Ocidente capitalista tenta combinar religio com poltica.
Traos da mesma mentalidade aparecem no mundo islmico. Movimentos extremistas
proliferam em todo lugar, inclusive no Marrocos, Tunsia, Iraque, Lbano, Arbia Saudita, Turquia,
Algria e Egito. O Isl extremista est intensamente interessado com o poder poltico e
eventualmente mira para o domnio mundial.
Tem at sido mostrado no estado de Israel, revelando-se na influncia da yeshivoth de
New York e nos rabinos Lubavitch na poltica de Israel. Partidos religiosos polticos tem exercido
grande influncia em Israel, para exasperao dos sabras ateus jovens.
Um conceito similar permeia os vrios movimentos da Nova Era que exalta a
humanidade a um status Dino. e sereis como Deus (Gn. 3:5), disse Satans. A antiga
tentao que incendiou atravs das primeiras pginas da Bblia de novo seduz massas
modernas. Como uma onda peridica, ela arrasta milhares de homens e mulheres em seu seio.
O rei do norte rene juntos, todos os movimentos religiosos que de algum modo
exercem poder poltico sob a capa de boas intenes, assim como todas as organizaes que
promovem o cu na terra, enquanto sepultam toda esperana de um reino celestial.
Desenvolvimentos polticos recentes confirmam a profecia de Daniel muito bem. Os
lderes mundiais enfrentam o desafio de fundir seus poderes em uma Nova Ordem Mundial,
um desenvolvimento que, dificilmente, algum podeha ter imaginado alguns anos passados.
Aconteceu tudo to rpido! A indestrutvel cortina de ferro caiu. O corao do comunismo no
seno uma lembrana. A antiga utopia de Babel tem revivido, e unidade de novo uma
possibilidade. Tudo o que precisamos um lder, aceito por todos, e ser leal, independente de
naes julgadas muito poderosas.
A batalha descrita pelo profeta no se refere diretamente ao moderno estado de Israel.
O Templo no mais existe. Alguns pintam o Armagedom na Palestina cercada por rabes
sedentos de sangue. primeira vista, parece muito bblico! Poderia at ser feito um filme sobre
isso! Mas o Armagedom no tem nada a ver com o moderno Israel. Armagedom nossa
batalha. a luta entre duas mentalidades, duas concepes de felicidade e religio. Por um
lado, ns dependemos dEle para salvao e felicidade. a esperana no reino do cu. Por
outro lado a iluso de nossa auto-suficincia, nosso poder de construir um mundo de paz e
felicidade. A batalha to velha quanto o mundo. Dos ramos sedutores da rvore do den ele
tem se espalhado pelas sucessivas eras at o presente. a batalha de cada pessoa no
momento da deciso de voltar para Deus. A batalha do Armagedom vai atingir seu pior estgio
nos ltimos dias quando, no meio das multides inflamadas com sua f no deus concreto da
carne, o povo de Deus vai se agarrar esperana no Deus invisvel. O verdadeiro campo de
batalha o mundo inteiro.
ESTRUTURA DE DANIEL 11
Introduo (verso 1)
Um relance ao primeiro ano de Dario o Medo (cf. 9:1).
1.1 Conflito Persa-Grego (versos 1-4)
1. Trs reinos persas.
2. Quatro reis valiosos contra a Grcia (Artaxerxes).
3. Um rei poderoso (Alexandre); diviso em quatro reinos
(Perodo Helenista)
11.1 Conflito Norte-Sui (versos 5-39)
A Sul ataca o Norte (versos 5-8)
B Norte ataca o Sul (versos 9, 10)
C Sul ataca o Norte (versos 11, 12)
Ai Norte ataca o Sul (versos 13-25a)
Bi Sul ataca o Norte (versos 25b-27)
Ci Norte ataca o Sul (versos 28-39)
111.1 Tempo do Fim (versos 4-45)
A Sul ataca o Norte (verso 40a)
B Norte ataca o Sul (versos 40b, 41)
Al Norte ataca o Sul (versos 42, 43a)
B1 Sul se alia com o Norte contra o
monte santo. Vitria vem do alto. Fim
do Norte.
^Alguns comentaristas incluem o nome de Smerdis, o impostor (521), uma sugesto do Neoplatonista Porfrio,
emprestada recentemente por E. J. Bickerman, Four Strange Books of the Bible: Jonah, Daniel, Koheleth, Esther (New York: 1967),
pp. 117 ff. Escolhemos omiti-lo por diversas razes: 1. Ele reinou menos de um ano (sete meses); 2. Ele foi um impostor originrio
da Media, e a profeoia fala de reis Persas. 3. bem provvel que ele nunca existiu e foi s um rumor planejado por Dario para
justificar sua ascenso ao trono. Herodotus teria aceitado e registrado a verso oficial. Isaac Asimov se refere a isso como talvez
um daqueles casos onde uma grande mentira foi impingida na histria {The Near East: 10,000 Years of History [Boston: 1968)], p.
125). De fato, numerosos comentaristas negligenciaram Smerdis (Ver L. F. Hartman e A. A. Di Leila, The Book of Daniel, Anchor
Bible, [Garden City, 1978], p. 288)
7 Tal como Ibn Ezra, Ralbag, Ibn Yachiah, Malbim, etc. Ver tambm Rosh Hashanah 2b.
^ Boniface and Marechal, HIstolre: Orlent-Grce, p. 99; of. pp.198, 199. Ver tambm o testemunho dos historiadores
gregos Thucydides (em History ofthe Peloponeslan War)\ Diodorus of Sicily 11,71,74, 77; Herodotus 6. 106.
Algumas verses usam a palavra descendentes, uma transliterao da palavra feminina aharith (aqui depois, como
descendente). Esta palavra (aharith) no , oontudo, usada na forma plural na Bblia (ver Sal. 37-38; 109:13; Prov. 21-21; Ecl. 7:8,
Eze. 23:25).
Ver Lacocque, The Book of Daniel, p. 61, e Deloor, Le Livre de Daniel, p. 220; cf. tambm, Rashi e Ibn Ezra em Miqraoth
Gdoloth..
Nossa aproximao permanece pela linha tradicional de interpretao. Do Neoplatonista anti-cristo Porfrio (300 EC,
ver apndice) at hoje, criticas racionais tem lido esta passagem como se referindo guerra entre os Selucidas (rei do norte) e os
Ptolomeus (rei do sul) que enfureoeu at o reino de Antoco Epifnio (versos 21-45). Exegetas conservadores tem mantido esta
interpretao do conflito entre os Ptolomeus e Selucidas e de Antoco Epifnio mas tem aplicado-o a diferentes sees do texto.
De aoordo oom eles, s os versos de 5-13 aludem ao conflito entre os Ptolomeus e Selucidas, enquanto os versos 14-30
apontariam tanto a Roma como a Antoco Epifnio. Versos 31 -39 tem em mente o poder descrito em Daniel 8 oomo o chifre
pequeno, e os versos 40-45 se aplicaria ento tanto a Turquia como ao papado (F.D. Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible
Commentary, rev.ed. [Washington, D.C.:1979)], vol. 4 pp. 868, 869, 876, 877; cf. William H. Shea, Selected Studies on Prophetic
Interpretatlon, Daniel and Revelation Committee Series [Lincoln, Neb: 1982], vol. 1, pp. 44-55). Em qualquer caso, o problema
permanece sem soluo. A grande diversidade de interpretaes em relao a esta passagem testemunha de um estado geral de
confuso, e de solues de carter inconclusivo. Assim para a interpretao espiritual e escatolgica defendida em nosso
comentrio, elas so confirmadas pelas origens confiveis como C. F. Keil, Biblical Commentary ofthe Book os Daniel, Commentary
on the Old Testament (Grand rapids: re-impresso 1991), vol 9, p. 421; E. B. Pusey, Daniel the Pmfet (New York: 1885), p. 136; e esto
implicitamente apoiadas por Ellen G. White (ver Testimonies forthe Church [Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1948],
vol. 9, pp. 14-16).
T Ver Jer. 3:19; Eze. 20:6, 15; cf. Zac. 7:14; Sal. 106:24.
O contexto imediato do verso 28 sugere que o rei do norte o sujeito do verbo retomar (shuv). O verso precedente
(27) menciona dois reis, j implicando que o rei do norte estava ao lado do rei do sul. No prximo verso (29) o verbo retornar
(shuv), que est relacionado ao rei do norte, faz eco ao verbo retomar (shuv) no verso 28. por que o rei do norte esta retornando
para casa que seu ataque no rei do sul descrito como um retomo.
Uma figura de linguagem tecnicamente chamada um merismus.
'.Ver tambm Isa. 43:6, 7: I Cron. 26:17; Sal. 107:3; Ecle. 1:6; Cant. 4:16, etc. As crnicas do Antigo Egito usam a mesma
linguagem para se referir a Artaxerxes como o rei do sul e do norte. Isto , rei do mundo inteiro (Robert William Rogers, A History
ofAncient Prsia: From Its Earliest Beginnings to the Death of Alexander the Great [New York: 1929], p. 176).
". Ver tambm II Reis 18:21; Jer. 2:18; etc.
Ver Lacocque, P. 166.
Cf. Isa. 11:14 e Jer. 25:21, onde os trs pases aparecem na mesma ordem como um modo de sugerir
movimentos do sul para o norte no mesmo oontexto de uma oampanha militar.
Ver Num. 34:6, 12.
Verisa. 2:2; Sal. 68:17; 132:13; eto.
Ver Mat. 9:35; Maro. 1:14; Luo. 4:43; 8:1, Atos 1:3: 8:12; Col. 4:11; eto.
Captulo 12
A VITORIA DE JERUSALEM
II. O Juzo
Mas a cortina no desce na tragdia. O livro de Daniel v um tempo de angstia
atravs da perspectiva da esperana divina.
Depois do tempo de angstia vivido pelo exlio, o profeta Jeremias prev o retorno e a salvao
de Israel: tempo de angstia para Jac; todavia, h de ser livre dela. (Jer. 30:7). Jesus prediz
a vinda do Filho do homem: Logo depois da tribulao daqueles dias...
ento aparecer no cu o sinal do Filho do homem (Mat. 242:29, 30).
Do mesmo modo, em Daniel 12 a salvao, que vem do alto, interrompe a angstia:
mas naquele tempo livrar-se- o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. (verso
1). Como no captulo 7, o captulo 12 coloca a vinda de Michael (o filho do homem) em um
contexto de juzo. Ento, tambm os livros so abertos (Dan. 12:1; cf. 7:10). Mas no captulo 12
0 juzo se expande alm das cenas celestiais do captulo 7. Agora testemunhamos, seus efeitos
na terra, de como Deus toma medidas concretas para lidar com 0 mal. Agora entendemos que
todas as coisas que j ocorreram foram significantes, que cada evento teve implicaes. Tudo
foi registrado e agora est sendo avaliado. O juzo separa o sbio do mau, vida da morte.
Somente uma mudana radical pode esclarecer o caminho para uma nova vida. E somente a
erradicao da morte vai tornar possvel esta nova vida. O juzo csmico e definitivo. A
salvao vai atingir tudo e vai ocorrer em um momento definitivo na histria, muitos dos que
dormem no p da terra ressuscitaro... Os que forem sbios, pois, resplandecero como o
fulgor do firmamento... como as estrelas sempre e eternamente (Dan. 12:2, 3).
preciso coragem para aceitar isso. Salvao implica morte. Para ser ressuscitado,
precisamos primeiro morrer. Mas a recompensa real, palpvel, e no apenas algum tipo de
imortalidade etrea.
A esperana bblica vai alm da esperana humana. No suficiente fazer vagas
promessas de um mundo melhor, fundado na fora de vontade humana. Particularmente,
aponta para um mundo no qual as estrelas brilharo etemamente. De fato, a realidade da
imortalidade da alma ser mais gloriosa do que podemos ousar imaginar: As coisas que olhos
no viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o corao do homem, so as que Deus
preparou para os que o amam (I Cor. 2:9).
ESTRUTURA DE DANIEL 12
A Vinda de Michael (verso 1a)
Naquele tempo (verso 1a)
grande prncipe
tempo de tribulao
JUZO (versos 1b-3)
Naquele tempo (verso 1b)
livros abertos
Ressurreio
At Quando? (versos 4-12)
Tu... Daniel (verso 4)
um tempo, tempos e metade de um tempo
1290 dias
1335 dias
IV. Do esperar para o caminhar (verso 13)
Tu (verso 13a)
fim de Daniel
fim dos dias
\Ver Josu 21:44; 23:9; Juizes 2:14; I Sam. 6:19, 20; 17:51; II Sam. 1:10; II reis 10:4; Jer. 40:10; etc.
7Vero endereo porGordon R. Taylor, Le Jugement Dernier (Ca\mann Levy, 1970).
MJm salmo recitado durante a liturgia de Kippur (ver Prayers of Rosh Hashanah no Shulkhan Arukh, cap. CIO, p. 582).
Parece ter sido desenhada sua inspirao do prprio festival, como foi indicado pela frase tcnica todos seus pecados (cf. Lev.
16:21,22).
.Walter Ullmann, A Short History of the Papacy in the Middie Ages (London: 1972), p. 37. em direo aos anos 500, uma
instituio de incontestvel autoridade emerge... O papa, grande pontifice {summus pontifex), grande sacerdote {summus sacerdos
), algumas vezes chamado... vicar of Christ... considerado de ter uma reputao de prestigio excepcional (traduo do autor de
Marcei Pacaut, La Papaut ds origines au conciie de Trent [Paris, 1976], p. 44).
^Ver Henri Desroche, The Socioiogy of Hope, trad. Carol Martin-Sperry (London: 1979), p. 61.
.J.B. McMaster, A History ofthe People ofthe U.S. From the revoiution to the Civil War{Hew York, 1920), vol. 7, p.
136.
''.Machiah Maintenance Jan. 30, 1993.
Ver Josu 21:44; 23:9; Juizes 2:14; I Sam. 6:20; 17:51; II Sam 1:10; II Reis 10:4; Jer. 40:10; etc. C. Cannuyer, Les Bahais,
p. 11.
JACQUES B. DOUKHAN
Segredos