Werner H Schmidt Introducao Ao Antigo Testamento PDF
Werner H Schmidt Introducao Ao Antigo Testamento PDF
Werner H Schmidt Introducao Ao Antigo Testamento PDF
~
J"v.. ..., .,....
.1:r=
J:- ~::: ~ r: :!
r.:: ..
:
fi:, r: f:" h:.fu
~ -
I":'~' x;,
'=
~
C
p QJ
"'C
"c
cc0.-C)
8,..2
\1;:)0
if.
e
"X .r XL ~: x~ ri"
i:
o
U)
...1'1:. a .. -1' A' ~!, f:.. .9 ; ~ r; ~:, E r' 1& - '1),. , ...... ~
O
to
~ r: f:=1.. f:. .r o' V 01":" .n: x;'" ::c"":0. ~ f:0o r p~ r:, ~ ..
r r:' n. (] ~.;:;
f:- -X ...... 0-" 1":" ;'. o ~.. rr:10 f:
."=10 0-"- D.J'1o ;=.. ~;-
!..I'"' r-- DI'
......... "(]I!:.
--
n l. ~:.
..-.. r~
r: r' .~' AI' ,,-'0 ~":!I' r:~.J' - I": ;r ~:, i' o, '1;);: o c-n;:
.~:
!= I:,~' r:.. r: o o
b- ~
..'i) r:.
fl~ A
~.
~,.
.. .J'. x, o'
O!, 9 .. g"vn~o f:le Olt E" i f:~ ~
n n .. ..
fl ";""
.. r!'
~- .~ ..
...J"',..... r:::
~
:
-to
.J'
~ f: ~
I:
u
1
U-
::E:
.~
A~ n~ ~~o ~:. ~lt E- f:- r:~
I
f l ' n -- Ole r:' f:l! f:' f: {]1.
r xf::...J"'... ~ ~".A' r: '=le Ele r: 97 .0 .. r: - AI ~ .
...J':: ,_ XI' R:o ~: ...J""...J"' - r: -
D ~ ........ 'i)I' -,D: o~:- X, f:10 XI' A :.
~ .~o m ,
X . D ' c A
.....-_ ""-'0 ::t...r:
r:,.:J'. -.. r. U! ::)0 1
~
oo
a:: ~;:
0- X r r: o ~.fI 'D .. -j; r; A. " ..i): ,x;:ox A' ~
fi='"""
Ei,-J'
-
x!: 1:'0 -- ::.1"'... ,,-- r' :; ri)
til:,";' .r::.::.I"'.o~'
r:. ::- r-., o -rr- 00.A fi..
o o
ri)
I
, . (]
r:A, ~I. ~:
-f" r: r
A 'I)I'::-...J"'
I
O' et.J.-
r A'o
b I: C tA
a: O .......
o r-- r--
!t f ...: .r n::
o, '''-
f:!: A . o f:. 9~ ~. ~:- _or.~ ..
A' X .. "-0'
,!J< 1:1 .1)'0 rt...J"', "-O'J'-lc J:: !; ~;. ,.,.!; '~;:...J"'~!!
O"
O...J"'. r . . LLI
r r:- o ~o~, ~ A..
.
-'"
P1
r' O
,,- ef- Xt: x
, - " .
O' o ~ b
f::: r:- r:- 1:- "" lc
x- ;:-:0...J"'_ ti X - ~.....
n
.~ .0
x~ n r
r" ......: ~
::-
~.. Ol:
rio- r:
w a:: I.....
~I:'
D-
-
_.~
_: r~
~
o
z I- O
ffi
FO' Xr !J
r-
z
X""--'
.fi='""" O c; X,
.~, 6=
..... '::;!:
o h: .rr:~
.~ ~-m
~~
~ -
~ r'"
z: ::-
;-'
.....
.f" ~
'_II Q
"i E
l-t
:SI 'F " F
.li -5
:;.
.1 .--s
~
I-
I.
~[
::z::
c::e
a aA _I. ~. __.A _. A .LI 1_IJ .1II1 IUI "li I AAIIIIU U AU'.IIallllll
~~~~ :'~,;. ~'I?r:f~P~ I't~~ 1~ "t?~~~~ ~~~ M' nt~ ,~~ M?IC m
: c1~Q~] : C\rrt~~ N~-~~ C:'~::r ~j~~ ~~~J
::-tW~ y~,,-'~~ ~~ ac:~~~ ~)'P~~3
: Cj~ ~,; .n~~~ =~n ~~} C:r~~~
'N'" M~' c;i, c~~~p "~''1 ~~, cn~-nls
h ~i
ID :
t J~\'~ :~~1 ~~~ a=1,i- -,p~,+,~ ~~1 ~C:,~''';~l
T r
,., ~ :CI~~ 'i:t~~ '~?0;0~?, Ci?"7;1., pi6'1~~ ~'11CIr'~
: C~~ MtQ~-'tVN ~~ cn~t'p ,,~. cft,c~
I'" T -~.. ~. -: , ",.. .I : " .,. :,
.&iEtDtom
ISinodal
g)) Escola
Superior de
Teologia
Werner H. Schmidt
INTRODUO AO
ANTIGO TESTAMENTO
3aEdio
.IaEditora
ISinodal
4J) Escola
Superior de
Teologia
2004
Traduzido do original Einfhrung in das Alte Testament, 4. ed. ampliada. Walter de
Gruyter & Co., Berlim, Repblica Federal da Alemanha.
Schmidt, Werner H.
Introduo ao Antigo Testamento / Werner H.
Schmidt ; I traduo Annemarie Hhn I. -- So
Leopoldo, RS : Sinodal, 1994.
Bibliografia.
ISBN 85-233-0218-9
1. Bblia. A.T. - Introduo 2. Bblia. A.T. -
Leitura I. Ttulo.
94-1896 CDD-221.6
ndices para catlogo sistemtico:
1. Antigo Testamento : Introduo 221.6
2. Antigo Testamento : Leitura 221.6
SUMRIO
Prefcios 9
4 - O Pentateuco 46
a) Nome e estrutura 46
b) Etapas e problemas da pesquisa do Pentateuco 49
1. Crtica referente autoria de Moiss .. 49
2. Descobrimento e delimitao das fontes do Pentateuco.... 49
3. Datao das fontes escritas 51
4. Resultados e questes abertas da crtica literria 52
5. Histria das formas e das tradies 60
5 - Formas narrativas selecionadas .. 64
a) Mito e histria dos primrdios .. 64
b) A saga como forma da tradio 66
1. A saga individual 66
2. Motivos etiolgicos 70
3. A lenda de santurio 70
4. Ciclos de sagas e formas recentes de sagas 71
c) A novela de Jos 72
6 - A Obra Historiogrfica Javista 75
a) Questes introdutrias 75
b) Intenes teolgicas 79
7 - A Obra Historiogrfica Elosta 84
a) Questes introdutrias 84
b) Intenes teolgicas 89
8 - O Escrito Sacerdotal 93
a) Questes introdutrias 93
b) b) Intenes teolgicas 101
9 - Direito veterotestamentrio 110
a) Formas de preceitos legais 110
b) Colees de leis 114
1. O Declogo 114
2. O Cdigo da Aliana 116
3. A Lei da Santidade 117
10 - O Deuteronmio 119
a) Questes introdutrias 119
b) Intenes teolgicas 127
11 - A Obra Historiogrfica Deuteronomstica .. 134
a) Questes introdutrias 134
b) Intenes teolgicas .. 138
c) Do livro de Josu aos livros dos Reis 143
1. O livro de Josu 143
2. O livro de Juzes 145
3. Os livros de Samuel 148
4. Os livros dos Reis 153
12 - A Obra Historiogrfica Cronista 156
a) As Crnicas 156
b) Esdras e Neemias 158
c) Intenes teolgicas 163
m - o PROFETISMO 167
25 - O Saltrio 284
26 - Cantares [Cntico dos Cnticos}, Lamentaes, Rute e Ester 295
27 - Provrbios '" 304
28 - Ec1esiastes (Cohlet), o Pregador 311
29 - O livro de J 315
APNDICES
Bibliografia 363
Lista de abreviaturas 391
Indice remissivo 393
PREFCIOS
Este livro se coloca dentro de uma tradio e ao mesmo tempo rompe com
ela. Tem um precursor na obra de Johannes Meinhold, intitulada Einfhrung in
das Alte 'Testament (3. ed., 1932). Aquele livro, porm, se estrutura historica-
mente, enquanto que a minha exposio segue na sua organizao em grande
parte a literatura veterotestamentria. Pois uma ordenao dos diversos livros,
fontes escritas, cdigos de leis ou at dos salmos em conformidade com a
histria de Israel no pressupe um conhecimento mais seguro sobre a poca
de surgimento dos textos do que aquele que ns pOSSUllOS?
Ao contrrio do termo "Einleitung", o ttulo "Einfhrung" no tem um
significado to restrito na histria das cincias, de sorte que d margem a
diversas interpretaes. Porm evidente que uma "introduo" tem que
incluir elementos das trs reas temticas: da "histria de Israel", da crtica
literria (isto , elementos da tradicional "introduo") e da "teologia do AT".
A apresentao sucinta da histria de Israel se resume no 2 a uma sntese dos
fatos principais, sendo, porm, complementada no 3 por uma exposio de
certos acontecimentos scio-histricos.
Observando o mercado livreiro, vemos que esto em voga os compndios.
Enquanto que na dcada de sessenta ainda havia poucos compndios conside-
rados clssicos, a oferta deste tipo de livros agora to diversificada, que se
torna difcil escolher entre eles. Mas ser que as aparncias externas no enganam?
Em si no hora de compndios, do ponto de vista cientfico. Pois a
pesquisa, ao que parece, est passando por uma fase de profundas turbulncias.
Por tanto tempo a cincia veterotestamentria se mostrou unssona - mas
como est profundamente dividida agora! As mudanas ocorreram justamente
em pontos nevrlgicos: o que antes era mais ou menos bvio e intocvel, agora
se tornou questionvel. A explicao do Pentateuco a partir do assim chamado
pequeno credo (G. von Rad), a compreenso dos primrdios da histria de
Israel a partir da anfictionia (M. Noth), a distino entre direito apodtico e
casustico, a reconstruo da f de acordo com o "Deus dos pais" (A. Alt),
mas inclusive interpretaes mais antigas, como a associao do Deuteronmio
com a reforma do rei Josias ou a contextualizao do Javista nos primrdios
agora so questionadas. At mesmo o direito da diviso do Pentateuco em suas
fontes est sendo contestado.
Diante desta situao, qualquer tentativa de apresentar noes bsicas de
conhecimentos atuais sobre o Antigo Testamento - sobre a constituio, for-
mao e inteno teolgica de seus livros - torna-se um empreendimento subjeti-
9
vo, bastante temerrio. No seria melhor ento simplesmente contrapor as
diferentes concepes? Pode haver mais questes controvertidas do que se
percebe de imediato pela exposio e seus questionamentos. De qualquer forma
me esforcei em colocar em segundo plano minha viso particular e destacar o
que se pode considerar a opinio generalizada ou at dominante. Mas impos-
svel definir esta opinio sem recorrer a um posicionamento pessoal. Por isto
me preocupei em fundamentar a concepo exposta, de forma que o leitor possa
formar sua prpria opinio a respeito da sustentabilidade dos argumentos.
No pressuponho que o leitor tenha conhecimentos da lngua hebraica.
Cabe a ele, em todo caso, decidir at que ponto consegui conciliar trs prop-
sitos que so difceis de coadunar: a transmisso de conhecimentos bsicos
(inclusive noes de conhecimentos bblicos), a devida conciso e a compreen-
sibilidade geral.
Felizmente esta obra foi bem recebida - inclusive entre a crtica especia-
lizada. Reconheceu-se a minha inteno de buscar o consenso na rea vetero-
testamentria a nvel de conhecimentos bsicos, consenso este muitas vezes no
explcito por causa da complexa situao da pesquisa neste campo.
Por ocasio da quarta edio deste livro, a ltima parte referente a aspec-
tos da teologia e hermenutica ( 30-32) foi ampliada; alm disto as indicaes
bibliogrficas foram atualizadas.
Agradeo de corao aos meus colaboradores em Kiel, Marburg e Bonn,
que me ajudaram a elaborar este livro.
10
I - ESBOO GERAL
DO ANTIGO TESTAMENTO
11
1
AS PARTES DO ANTIGO TESTAMENTO
a) Nome e estrutura
12
Na frmula bipartida, e mais claramente ainda na frmula tripartida, "Moi-
ss, os profetas e os salmos", reflete-se a estruturao do AT. Uma diviso
semelhante do AT em trs partes encontramos j por volta de 130 a.c. no
prefcio da traduo grega dos ditos (apcrifos) de Jesus Siraque. Ainda hoje se
usa no judasmo - ao lado de nomes como miqra', "a leitura, o livro a ser
lido" - a sigla TNK (pronunciada ~nak) para designar a Bblia. Ela compe-
se das consoantes iniciais dos nomes das trs partes do AT.
T: 'Ibts, ou seja, a "instruo", os cinco livros de Moiss: Gn, x, Lv, Nm, Dt;
N: Nebiim; ou seja, os "profetas" (inclusive os livros histricos Js - Rs);
K: Ketubim, ou seja, as (sagradas) "Escrituras" restantes, como os Salmos e o
livro de J.
Em contraposio, a traduo grega do AT, a Septuaginta (LXX), antes
quadripartida e, alm disso, mais volumosa, visto que contm em maior ou
menor medida tambm os assim chamados escritos apcrifos (como Macabeus,
Baruque ou Jesus Siraque). Compreende os livros:
da Lei (Gn-Dt);
histricos (Js, Jz, Rt, Sm, Rs, Cr, Ed, Ne, Mac e outros);
poticos (SI, Pv, Ec, Ct, J e outros);
profticos (o Livro dos Doze Profetas Menores, Is, Jr, Lm, Ez e outros).
Se juntarmos os dois primeiros grupos, isto , contarmos os assim chamados cinco
livros de Moiss entre os livros histricos, teremos, em contraposio verso hebraica,
uma diviso mais claramente delineada em trs partes, que corresponde distino dos
tempos: passado (obras histricas), presente (Salmos, Provrbios) e futuro (profetismo).
Atravs da traduo latina, a Vulgata, esta estruturao foi introduzida na nossa Bblia.
13
profetas como Nat, Elias ou Eliseu. Talvez a juno de obras histricas e
profticas em um nico bloco se baseie tambm na concepo de que aqueles
livros histricos foram escritos por profetas (Samuel).
De fato existem certos traos comuns entre a literatura narrativa e o profetismo.
Por exemplo: ambos coincidem em parte na sua compreenso de histria, especialmente
no estreito entrelaamento entre palavra (precedente ou subseqente e interpretativa) e
acontecimento. Alm disso encontramos nos dois mbitos a mesma reviso redacional
(da assim chamada escola deuteronomstica), que v a culpa do povo na transgresso do
primeiro e segundo mandamento. Assim a vinculaoentre literaturahistricae proftica
parece remontarj a uma poca antiga.
Em contraposio, a tradio crist relaciona as obras narrativas no com
o profetismo, mas - acompanhando a traduo grega e a latina subseqente -
agrupa o Pentateuco com os livros Js - Rs como livros histricos e junta a eles
outras obras narrativas (Cr, Ed, Ne, Et). Desta maneira o Pentateuco perde um
pouco de sua posio especial; em vez disso se destacam mais claramente seu
carter historiogrfico e sua relao com o livro de Josu: a tomada da terra
aparece como cumprimento da promessa feita aos patriarcas e a Israel. Sim, toda
a histria de Israel, desde os patriarcas ou mesmo desde a criao at a poca
ps-exlica, forma como que uma continuidade, que apenas se reflete de modo
variado em cada um dos escritos entre Gnesis e Esdras/Neetnias.
A terceira parte do cnone veterotestamentrio constitui muito menos ainda
uma grandeza delitnitada de maneira uniforme na tradio judaica e crist. Neste
grupo se incluam os "escritos" (hagigrafos) que no couberam mais nos dois
primeiros blocos, j considerados concludos; a seqncia destas obras ficou
indefinida durante sculos. Na Bblia hebraica, aos livros mais volumosos de
Salmos, J e Provrbios seguem em geral os cinco Megillot, isto , os "rolos"
das cinco festas anuais: Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentaes, Ester ( 26),
e por fim Daniel e a Obra Historiogrfica Cronista (Ed, Ne, 1-2 Cr).
A tradio crist mantm - novamente com base na traduo greco-latina
- uma parte da coleo (J, SI, Pv, Ec, Ct) como unidade de "livros poticos",
enquanto que classifica uma outra parte (Cr, Ed, Ne, Et) entre os livros histricos
e uma terceira (Lm, Dn), entre os livros profticos.
b) O surgimento do cnone
14
de sculos, assumiu sua forma atual no sculo Vou, o mais tardar, no sculo
IV a.c. Os samaritanos, que se separaram paulatinamente da comunidade de
Jerusalm - em definitivo decerto somente na era helenstica - reconheciam
e mantinham apenas a Tora, portanto os cinco livros de Moiss, como autorida-
de (cf. l2c,4). Tambm j se dispunha h muito do Pentateuco quando da
traduo grega que surgiu no Egito a partir do sculo III a.c.
A este ncleo se agregaram, por volta do sculo III a.C, os livros prof-
ticos como grandeza prpria. Parecia que a era do profetismo tinha chegado ao
seu fmal (cf. Zc 13.2ss.) e que se iniciava o tempo da interpretao. Ao redor
de 190 a.c. Belo 48s. j relaciona no "louvor dos pais" Isaas, Jeremias,
Ezequiel e os doze profetas, enquanto que ainda falta o livro de Daniel, que
surgiu somente por volta de 165 a.C.
o Pentateuco no estava como que reclamando uma continuao, embora esta no
pudesse ostentar a mesma dignidade? Os cinco livros de Moiss aludem muitas vezes
antecipadamente, tanto nas suas passagens narrativas como nas leis, estada de Israel
na terra cultivada. Inversamente os textos histricos, e s vezes tambm os textos
profticos, se reportam s tradies fundamentais dos primrdios de Israel.
Ademais o costume de ler em voz alta durante o culto passagens da "lei" e dos
profetas (At 13.15) poderia remontar a uma poca bem mais antiga (v. abaixo 13a3).
O grupo dos "escritos" delimitado defmitivamente apenas na poca
neotestamentria, quando o AT como um todo e com a atual extenso dos textos
canonizado, isto , reconhecido como inspirado e com isto vlido para a f e
a vida da comunidade. A insero de Crnicas ou do livro de Daniel s nesta
terceira parte do cnone deve-se provavelmente ao surgimento relativamente
tardio destas obras, visto que no encontraram espao nas colees mais anti-
gas, j concludas.
A extenso de todo o AT provavelmente s se determinou em definitivo
em fins do sculo I d.C. (talvez no assim chamado Snodo de Jabne-Jmnia),
quando a comunidade judaica tomou a se consolidar aps a destruio de
Jerusalm e do templo (70 d.C.). No teria um distanciamento do cristianismo
influenciado na canonizao do AT? No s a Tor era bem conceituada h
muito tempo, mas tambm os livros profticos e os Salmos eram considerados
de fato j como "cannicos". Todavia, o Novo Testamento no parece ter
conhecido o Antigo Testamento na sua forma atual, claramente defmida; em
todo caso cita diversos escritos (Jud l4s.; cf. 1 Co 2.9 e outras) que foram
excludos do cnone judeu e considerados apcrifos, isto , no-cannicos.
Esta histria do cnone ainda repercute nas igrejas crists, que no deli-
mitam a extenso do AT de forma igual, em parte conservando os apcrifos
(Igreja Catlica), em parte excluindo-os (Igreja Luterana, mais rigorosamente a
Igreja Reformada).
15
A estrutura do Antigo Testamento (hebraico)
Nome Contedo Provvel fixao
(' 'canonizao' ')
Tora Pentateuco: sc. V/IV a.C.
"Instruo" Gn, x, Lv, Nm, Dt (samaritanos)
Nebiim "Profetas anteriores":
"Profetas" Js, Jz, 1-2 Sm, 1-2 Rs.
,'Profetas posteriores": sc. III a.e.
Is, Jr, Ez
Livro dos Doze Profetas (Os - MI)
Ketubim SI, J, Pv
,'Escritos' , 5 Megillot: Rt, Ct, Ec, Lm, Et ca. de 100 d.e.
Dn, Obra Historiogrfica Cronista
(Ed, Ne, Cr)
16
2
POCAS DA HISTRIA DE ISRAEL
17
pocas principais dIJ histria de lsnd
pocas Datas Acontecimentos principais
L Prhistria nmade scs. x:v Promessas aos patriarcas
(?)-XIII Libertao do Egito
Revelao no Sinai
11. ~ pr-estatai scs. Tomada da terra
XIT-XI poca da consolidao e expanso
poca dos juzes
Ameaa dos filisteus Guerras de Jav
Confederao tribal: "anfictionia" (?)
m. ~ da monarquia
poca do Reino unido ca. de J(XXJ Saul
Davi (capital Jerusalm)
Salomo (construo do templo) Javista?
poca dos Reinos separados: 926 Assim chamada diviso
Reino do Norte (Ismel) do Reino (primeira data certa da
e Reino do Sul (Jud) histria de Ismel; I Rs 12)
- Assdio dos arameus Elias, Eliseu, Elosta?
(esp. 850-8(0) Ams (ca de 7(fJ)
- Hegemonia assria Osias (ca. de 750-725)
ca de 733 Guerra Siro-Efraimita contra Jud
(ca de 750-630)
(2 Rs 16.5; Is 7) Isaas (ca de 740-700)
732 Perdas territoriais de Ismel (2 Rs 15.29) e
722 Conquista da Samaria pelos assrios
(2 Rs 17)
poca de Jud 701 Cerco de Jerusalm pelos assrios
(2 Rs 18-20 = Is 36-39; 1.4-8)
- Hegemonia babilnica ca de 622 Reforma de Josias (2 Rs 22ss.; Jeremias (ca. de 626-586)
(a partir de (fJ5) Deuteronmio)
597 Primeira destruio e, dez anos mais tarde, Ezequiel
IV. Exlio 587 Destruio definitiva de Jerusalm Lamentaes
pelos babilnios (2 Rs 24s.; Jr27ss.) Obra Historiogrfica
Deuteronomstica
(Dt-2 Rs) (ca de 560)
Escrito Sacerdotal
Dutero-Isaas
V. ~ ps.exlica 539 Queda da Babilnia nas mos dos persas
(Is 46s. e outras)
- Hegemonia persa
520-515 Reconstruo do templo (Ed 5s.) Ageu, Zacarias
(539-333)
Em helenstica 333 Alexandre Magno (vitria em Isso Obra Historiogrfica
sobre os persas) Cronista
164 Nova consagrao do templo Livro de Daniel
dumnte o levante dos macabeus
64 Conquista da Palestina pelos romanos
18
a) A pr-histria nmade
19
povo inteiro. De maneira mais adequada as sagas do livro de Juzes descrevem
a poca posterior ainda como histria de tribos. Quando ento investigamos de
forma crtica o transcurso histrico, temos de destacar, num primeiro momento,
a camada interpretativa pan-israelita que marca profundamente as tradies do
Pentateuco. Alm disto o historiador deve verificar a seguinte questo: com a
histria dos grupos familiais do tempo dos patriarcas e com a histria do povo,
que comea na poca de Moiss, ou at com as tradies do xodo e do Sinai
no se fundem diversas tradies de outro meio e contedo, que remontam a
episdios vivenciados por grupos independentes entre si? Isto constitui um dos
problemas principais da historiografia; qualquer reconstruo da histria desta
poca no passar de um tatear no escuro.
20
com Jav, o Deus de Israel (x 3.6,13ss.; 6.2s.; cf. Js 24.23). Este fenmeno no
significava uma distoro da f em Jav por elementos aliengenas, porque j o Deus
dos patriarcas, com a sua palavra que apontava para o futuro, estava voltado para os
seres humanos e com isto para a histria, e era adorado de modo "monoltrico", quer
dizer, como Deus nico dentro de cada cl.
21
protegiam a si e a seus rebanhos contra um demnio do deserto, o "exterminador" (x
12.23; cf. Hb 11.28).
Em Israel, a Pscoa adquiriu um novo carter:vinculadacom a festa dos Massoth,
a festa dos pes asmos, quando por sete dias se comia apenas po sem levedura (x 13;
cf. 23.15; 34.18), tomou-se dia comemorativo do xodo (12.14 P; cf. Dt 16.3,12 e
outras), servindo assim de motivo para a proclamao (x 12.24ss.; 13.8,14ss. e outras)
22
deserto - a salvao da fome (alimentao com man e codornizes: x 16; Nm 11) e
da sede (gua que maria da rocha: x 17; Nm 20; cf. x 15.22ss.), mas tambm da
ameaa inimiga (guerra contra Amaleque: x 17.8ss.). No atual contexto as tradies
distintas testemunham de maneira exemplar a falta de confiana por parte de Israel nas
promessas divinas, que se expressa nas "murmuraes" do povo saudoso das "panelas
de carne" do Egito (16.3; Nm 11).
As diversas tradies locais do extremo Sul da Palestina (em especial x 17)
apontam para um centro geogrfico oculto e de cuja importncia o AT apenas conserva
uma vaga lembrana (Dt 1.46; 32.51; 33.8; Nm 13.26; 20 e outras). Os antepassados de
Israel se demoraram na regio do osis de Cades? Os que haviam sado do Egito
encontraram-se ali com outros grupos, eventualmente tambm da regio do Sinai?
Durante a caminhada em direo terra cultivada este serviu de ponto de parada
intermediria decisiva tambm para a divulgao da f em Jav? Neste perodo da
pr-histria de Israel, j bastante prximo da Palestina, h mais perguntas do que
respostas seguras.
b) A poca pr-estatal
(tomada da terra e poca dos juzes)
23
ocorreu primeiro nas reas montanhosas, menos populosas (cf. Js 17.16; Jz
1.19,34). As localidades fortificadas das plancies, que constituam cidades-
estados politicamente independentes e dispunham, graas aos seus carros de
combate, de armamento superior, no puderam ser conquistadas, como compro-
va a assim chamada "relao negativa de posse" (Jz 1.21,27ss.), altamente
significativa para a reconstruo dos primrdios de Israel.
Desta maneira surgiram quatro reas de ocupao israelita que estavam
interligadas apenas parcialmente: os dois centros eram formados pela' 'casa de
Jos" na Palestina Central e Jud no Sul, como tambm os territrios mais
perifricos da Galilia no Norte (Aser, Zebulom, Naftali, Issacar) e a Transjor-
dnia (Rben, Gade). Entre as trs reas de assentamento na Cisjordnia inse-
riam-se dois cintures de cidades-estados cananias fortificadas: o cinturo
setentrional passava pela plancie de Jezreel (Jz 1.27; Js 17.14), e o meridional
ia de Jerusalm em direo ao oeste (Jz 1.21,29.35). Porm estas duas barreiras
transversais dificilmente significavam uma separao rigorosa das diversas re-
gies de "Israel".
Durante a poca dos juzes - isto , um pouco mais tarde - indivduos e
tambm tribos da Palestina Central e da Galilia tinham oportunidades de se encontra-
rem (Jz 4s.; 6s.). Existiam tambm contatos com Jud no Sul (compare Js 7.1,16; 15.16
com Jz 3.9; eventualmente 12.8)?
tomada da terra, concluda por volta do sculo XII a.C; seguiu-se a
progressiva expanso e consolidao da posse da terra. Parece que somente este
perodo, em que "Israel se tornou mais forte" (Jz 1.28), marcado em medida
maior por confrontos blicos com as cidades-estados cananias, especialmente
pela assim chamada batalha de Dbora (Jz 4s.; cf. 1.17,22ss.; Js lOs.; Nm
21.21ss.; mas tambm Gn 34). Os cananeus foram submetidos a trabalhos
forados (Jz 1.28ss.; Js 9) e assim paulatinamente integrados, de modo que
Israel pde assimilar concepes religiosas da populao autctone.
No era natural que Israel mantivesse os costumes que desde tempos
imemoriais estavam vinculados agricultura (cf. SI 126.5s.)? Acaso a chuva,
que propiciava vida, e a fertilidade do solo no vinham dos deuses do pas, em
especial do deus Baal? Em ltima anlise a exigncia da f israelita de adorar
exclusivamente a Jav permitia apenas wna nica soluo, que por certo s se
imps depois de um perodo de tempo mais prolongado: Jav tambm senhor
das estaes do ano (Gn 2.5; 8.21 J; 1 Rs 17s.; Os 2 e outras). Nos santurios
do pas, como Betel ou Silo, Israel deve ter conhecido as tradicionais festas
agrrias do pas (Jz 9.27; 21.19ss.; cf. x 23.14ss.).
O cntico de Dbora (Jz 5) celebra a vitria que uma coalizo de tribos
obteve com o auxlio de Jav sobre as cidades cananias, na plancie de Jezreel.
De modo similar as tribos diretamente atingidas por qualquer emergncia se
coligavam com outras da circunvizinhana (cf. 7.23s.) para travar a "guerra de
24
Jav", sob a liderana de um "juiz" carismtico - seja contra ataques de
vizinhos inimigos, como os amonitas (Jz 11; 1 Sm 11), seja contra a invaso de
tribos inimigas, como os midianitas (Jz 6s.; v. abaixo llc2).
Como tribos distintas se uniam no caso de uma guerra, tribos vizinhas
tambm se encontravam em diversos santurios de peregrinao para celebra-
rem cultos em conjunto (cf. Dt 33.19 a respeito do 'Ibor). Havia alm disso um
vnculo duradouro, de alguma forma institucional, de todas as tribos? Havia,
antes da formao do Estado, uma confederao das doze tribos, uma assim
chamada anfictionia (M. Noth), que, em conjunto, prestava culto a Jav?
Conforme textos mais antigos (Gn 29.31ss.; 49; Dt 33), bem como textos mais
recentes (p, ex. 1 Cr 2.1s.), as tribos so sempre 12;elas so personificadas nos 12 filhos
do patriarca Jac-Israel e se relacionam conforme seu respectivo ascendente matemo:
filhos de Lia: Rben, Simeo, Levi, Jud, Issacar e Zebulom;
filhos de Raquel: Jos (Efraim, Manasss), Benjamim;
filhos das criadas: D e Naftali [de Bila], Gade e Aser [de Zilpa].
Numa verso posterior da lista (Nm 1; 26) falta Levi; o nmero 12 mantido, no
entanto, pela subdiviso de Jos em (seus filhos) Efraim e Manasss.
Certamente o smbolo e a realidade se confundem neste sistema de clas-
sificao -- mas o que constitui seu fundo histrico? O nmero 12, significati-
vamente constante e mantido por sculos (apesar da troca dos elementos men-
cionados), dificilmente pode ter-se originado no tempo da monarquia; pois a
monarquia trouxe consigo a constituio de um Estado nacional e, por fim,
territorial que ultrapassava em muito a estrutura tribal. Tambm a ordem hierr-
quica das tribos em pocas posteriores no corresponde mais realidade hist-
rica; pois as tribos de Rben, Simeo e Levi (cf. Gn 34; 49.3-7) h muito
haviam perdido sua importncia ou at haviam desaparecido. Assim, deve-se
supor que os diversos agrupamentos de tribos nas listas de 12 nomes espelham,
ao menos em parte, uma pr-histria diversificada das confederaes de tribos.
Especialmente o grupo dos seis filhos de Lia parece ter um passado prprio;
talvez j fosse sedentrio na Palestina Central antes de os filhos de Raquel Jos e
Benjamim imigrarem do Egito, possivelmente trazendo consigo a f em Jav e introdu-
zindo-a em Israel. Ser que Js 24 conserva uma lembrana deste acontecimento?
Como a lista com 12 nomes junta tribos do Sul e do Norte, deve ter
havido certos elementos comuns entre todas as tribos, talvez at uma organiza-
o abrangente.
Certamente exagerado afirmar que Jud, no Sul, e as tribos de Efraim e
Manasss, com o centro religioso em Siqum (cf. Gn 33.18-20; Js 24 e outras), tiveram
uma histriacomum somente a partir de Davi, pois decerto minimiza demais as relaes
j existentes na poca pr-estatal. Neste caso dificilmente se conseguiriaexplicar como
a f em Jav conseguiu se impor tambm no Sul.
25
As tradies dos patriarcas pressupem relaes bastante estreitas entre Berseba
(Gn 26.23ss.) ou Hebrom (Gn 18), no Sul, e Siqum (12.6 e outras), no Norte. Mas ser
que todas as tradies dos livros de Josu e Juzes que abarcam o Sul (Js 7; 10; Jz 3.9
e outras) s surgiram no tempo da monarquia? Mesmo a descrio de Jz 1 compreende
tambm a distribuio de propriedade em Jud. Talvez a lista dos assim chamados
"juzes menores" em Jz lO.1ss.; 12.8ss. at guarde recordaes de um cargo de
jurisprudncia sobre Israel (= tribos do Norte ou sua totalidade?).
De qualquer forma, a partir das diversas cidades-estados nas plancies e
nas reas de colonizao israelita nas montanhas formou-se gradativamente na
Palestina um organismo coeso, da mesma forma como ocorreu com os povos
vizinhos de Israel: os amonitas, moabitas e edomitas no Leste e Sudeste, como
tambm os arameus no Norte e Nordeste, que fundaram estados nacionais.
c) A poca da monarquia
26
Depois de um curto interregno, Davi se tomou rei - primeiro em He-
brom sobre a casa de Jud (2 Sm 2.1-4), mais tarde, atravs de um acordo,
tambm sobre as tribos setentrionais (5.1-3). A investidura no cargo acontecia
mediante uno, que os representantes do povo (2.4; 5.3), ocasionalmente
tambm o profeta, efetuavam em nome de Deus (2 Rs 9; cf. 1 Sm 10.1; 16.13).
Assim o rei o "ungido" de Jav (mashiah, "messias": 2 Sm 23.1s.; SI 2.2; 20.6
e outras), tomando-se, pois, intocvel (l Sm 24.7,11). Ademais considerado filho de
Deus, mesmo que por adoo (SI 2.7; 89.27s.; 2 Sm 7.14). A ele cabe governar o
mundo (SI 2; 110), e sua "justia" se estende para alm do mbito social, inclusive para
dentro da natureza (SI 72).
Davi unificou em sua pessoa no apenas tribos do Sul e do Norte, mas
tambm integrou em Israel as cidades-estados cananias ainda independentes.
Alm disso, com seu exrcito permanente subjugou em graus variados os povos
vizinhos, como os filisteus no Oeste, os amonitas, moabitas e edomitas no
Leste, e at os arameus no Norte (2 Sm 8; 12.30), de modo que conseguiu
formar no mbito srio-palestinense um grande reino, para o qual ele e seu
sucessor tambm providenciaram a organizao necessria ( 3c).
Dentro desta expanso de poder um passo foi de suma importncia para
o perodo subseqente e tambm para a f de Israel: Davi mandou seus merce-
nrios conquistar a cidade canania, mais precisamente jebusita, de Jerusalm,
que se localizava como que em territrio neutro entre o Reino do Norte e o do
Sul. Elevou a cidade categoria de residncia (2 Sm 5.6ss.) e ao mesmo tempo
- com o translado da arca (2 Sm 6) - transformou-a no centro cltico da f
em Jav.
Por meio de intrigas na corte e da deciso autoritativa de Davi, Salomo
tomou-se sucessor no trono (l Rs 1). Erigiu um templo na capital (1 Rs 6-8).
Para tanto se beneficiou de suas relaes comerciais internacionais (9.11,26ss.;
10), que propiciaram um tempo de paz e provavelmente tambm criaram as
condies necessrias para a "sabedoria" de Salomo (3; 5.9ss.; v. abaixo 27,1).
O templo, que mantinha uma relao estreita com o palcio real, obteve
a dignidade de santurio real (cf. Am 7.13), onde atuavam sacerdotes conside-
rados funcionrios pblicos (l Rs 4.2). A nova crena de que Jav habita no
templo (8.12s.) ou no monte Sio (Is 8.18; SI 46; 48; v. abaixo 25.4s.) no
reprimiu exageradamente as lembranas do tempo de vida nmade? Ao lado
dos outros santurios do pas, Jerusalm parece ter sido o lugar onde concep-
es de outras religies - p. ex., do monte de Deus (SI 48.3 [48.2]), da corte
divina (29; 89.6ss. [89.5ss.]), da realeza de Deus (47; 93ss.; Is 6), da luta contra
o drago (SI 77.17ss. [77.16ss.]), mas tambm da criao do mundo (8; 24.2;
104 e outras) - se infiltraram no javismo e foram remodeladas para configurar
enunciados da prpria f.
27
2, A peca dos reinos separados,
especialmente do Reino do Norte, Israel
28
o primeiro governante Jeroboo I (926-907) parece ter emancipado Israel em
termos clticos, elevando Betel e D condio de santurios do reino (1 Rs 12.26ss.;
cf. Am 7.10,13).
Onri (razo pela qual os assrios puderam chamar o Reino do Norte de "casa de
000") e seu filho Acabe (por volta de 880-850) promoveram o sincretismo, para
possibilitar a integrao da populao canania. A tolerncia e at o apoio dado
religio de Baal (l Rs l6.3ls.) provocaram a oposio dos profetas, especialmente de
Elias (v. abaixo 13d).
Je (845-818) chegou ao poder mediante uma revoluo apoiada por grupos fiis
a Jav. Embora combatesse as tendncias sincretistas da corte (2 Rs 9s.), mais tarde
repudiado pelo profetas Osias, por causa das matanas que promoveu (1.4:,,). Je
fundou a dinastia real mais duradoura, que, no entanto, mal governou um SCUlO. Dela
faz parte Jeroboo TI (787-747), durante cujo reinado parece ter ocorrido mais uma
poca urea (2 Rs l4.25ss.). No ltimo quartel de sculo os usurpadores se sucederam
rapidamente (entre eles Menam, Pecaas, Peca), at a derrocada final do Reino do
Norte durante o reinado de Osias em 722 a.c. (2 Rs 17).
Na poltica interna o desenvolvimento deste Estado foi determinado pelo
grande contingente populacional cananeu, que tinha concepes polticas, jur-
dicas, sociais e religiosas prprias. Na poltica externa importava, num primeiro
momento, definir limites territoriais claros com Jud no Sul. Entre ambos os
estados-irmos s temporariamente houve um relacionamento amistoso; repeti-
das vezes houve escaramuas na fronteira, na disputa pela regio benjaminita
ao norte de Jerusalm (1 Rs 14.30; 15.16ss.; 2 Rs 14.8ss.).
Um adversrio muito mais perigoso e implacvel, porm, se levantou no
Norte. J no tempo de Salomo o Estado arameu de Damasco alcanou sua
independncia (1 Rs 11.23s.), logo envolvendo Israel em combates fronteirios
(15.20) e, durante a segunda metade do sculo IX, em pesadas guerras (20; 22;
2 Rs 6s.; 8.12; 13; Aro 1.3s. e outras). Sossego Israel apenas encontrou quando
os assrios enfraqueceram o poder de Damasco, mas no interferiram, por
algumas dcadas (ca. 800-750), no cenrio srio-palestinense, de sorte que Israel
conseguiu recuperar reas perdidas (2 Rs 13.25; 14.25,28). Mas j no [mal desta
mesma poca (a partir de 760 mais ou menos) os profetas Ams, Osias e Isaas
prenunciavam o "fim" de Israel.
J no sculo IX os assrios haviam reclamado a posse da Sria (854/3,
batalha em Carcar, junto ao rio Orontes, contra uma coalizo de pequenos
estados, inclusive Israel), mas s a partir de 740 a.c. esta potncia militar, to
ameaadora para Israel e famigerada por sua truculncia (cf. Is 5.26-29; Na 2),
avanou em direo ao Sul. A sujeio do Reino do Norte aconteceu em trs
etapas, caractersticas para a poltica expansionista assria: cada etapa superava
a anterior em termos de brutalidade:
1. Pagamento de tributo por Menam em 738 a.c. (2 Rs 15.19s.).
2. Reduo do Estado: em 733/2 a.C. a regio setentrional de Israel foi
29
desmembrada e transformada em trs provncias: Dor, Megido, Gileade (2 Rs
15.29); tambm foi instalado um governante ttere, subserviente a Assur (Osias).
3. Incorporao do Estado mutilado restante (Efraim) no sistema provin-
cial assrio e conseqente supresso do ltimo resqucio de autonomia poltica,
deportao da classe alta autctone e instalao de uma elite estrangeira (722
a.C; 2 Rs 17).
Assim, as tentativas dos estados pequenos de se livrarem da vassalagem
apenas os afundavam em uma dependncia cada vez maior, levando-os ao
segundo e, depois, ao terceiro estgio. Neste contexto se insere a assim chama-
da Guerra Siro-Efraimita (por volta de 733 a.C.), que Damasco (Sria) sob
Rezim e Israel (com o centro em Efraim) sob Peca, o "filho de Remalias"(Is
7.2,9), travaram contra o Reino do Sul, Jud, para for-lo a integrar uma
coalizo antiassria e derrubar o davidida Acaz, que se opunha a tal intento (2
Rs 16.5; Is 7) - sem, no entanto, obterem sucesso. Os assrios invadiram
Israel, que acabou no segundo estgio de dependncia, e pouco tempo depois
destruram Damasco (2 Rs 16.9). Jud escapou, mas teve que sujeitar-se a pagar
pesados tributos, tomando-se vassalo assrio (16.8,lOss.).
No ano de 722 a.C; depois de trs anos de cerco, caiu Samaria - o que
significou o fim da histria do Reino do Norte, do antigo ncleo territorial da
f em Jav! As tradies do Norte de Israel (como a mensagem de Osias,
provavelmente tambm o relato do Elosta e talvez uma forma primitiva do
Deuteronmio) migraram para o Reino do Sul, que adotou o nome de "Israel".
A se situa agora o centro gravitacional tambm para as futuras criaes literrias.
Visto que os assrios - ao contrrio do que fizeram os babilnios apenas
um sculo e meio depois - dispersaram a elite deportada (2 Rs 17.6), perdem-
se seus rastros. Da populao que ficou no pas, misturada com estrangeiros
reassentados fora (17.24; cf. Ed 4.2), surgiram mais tarde os samaritanos.
30
Mesmo que a sorte dos povos subjugados pudesse servir de alerta para os
outros pequenos estados, irrompiam constantemente rebelies como o levante
de 713-711 a.C., que irradiou-se da cidade filistia de Asdode, contagiando
tambm aJud (Is 20). Nas tentativas de libertar-se da hegemonia assria
procurou-se garantir a ajuda do Egito, onde reinava a dinastia etope (Is 18) sob
o fara Sabaca. Este arranjo poltico triangular - a grande potncia de Assur,
o Egito e os pequenos estados, inclusive Jud - pressuposto nas palavras da
poca tardia de Isaas, nas quais o profeta ameaa com a derrota do Egito e de
seus protegidos (especialmente Is 30.1-3; 31.1-3).
Depois que Senaqueribe ascendeu ao trono, o rei Ezequias at liderou uma
conspirao. (A partir deste contexto, a libertao da dependncia assria, poder-
se-ia explicar tambm a reforma do culto [2 Rs 18.4]). Os assrios reagiram no
ano de 701 aC., ocupando o pas e sitiando Jerusalm. Mas, por motivos que
no podemos mais decifrar por inteiro, Senaqueribe desistiu de conquistar a
cidade e se satisfez em cobrar um tributo e restaurar a relao de vassalagem
(2 Rs 18.13-16; cf. SI 46.6? [46.5?]). Em meio ao jbilo geral, Isaas convocou
o povo a manifestar seu luto (22.1-14). Jud parece, embora s por tempo
limitado, ter sido separado da capital e repartido entre estados filisteus leais aos
assrios (conforme o relato de Senaqueribe; cf. Is 1.4-8).
Embora os assrios conseguissem subjugar at o Egito por volta de 670
(cf. Na 3.8), seu poder foi lentamente corrodo aps 650 a.c.. Nas dcadas
turbulentas que se seguiram, passou a atuar, ao lado de Naum, Habacuque e
Sofonias, o profeta Jeremias.
Depois do longo reinado de Manasss, vassalo da Assria, Josias (639-609
a.C) conseguiu reconquistar a autonomia poltica, inclusive resgatar parte do
antigo Reino do Norte, durante o declnio da hegemonia assria. Este curto
perodo de liberdade possibilitou a reforma em que se introduziu o Deuteron-
mio ou sua forma primitiva, como uma espcie de lei estatal, depurou-se o
culto, excluindo elementos aliengenas e proclamou-se Jerusalm santurio ex-
clusivo em Israel (622 a.Cc; 2 Rs 22s.). Mesmo que esta reforma seja de
importncia decisiva para a compreenso de amplas partes do AT, sua histori-
cidade objeto de controvrsia (v. abaixo lOa,5).
Nos anos de 614-612 Assur e Nnive sucumbiram diante dos ataques
conjuntos dos medos (ao redor de Ecbtana no Noroeste do Ir) e dos caldeus
ou neobabilnios (que empreenderam uma restaurao do imprio veterobabi-
Inico sob o culto de Marduque). O fara Neco tentou evitar a queda do
imprio assrio. Foi durante esta campanha que o rei Josias (609 a.C.) perdeu
sua vida em Meguido, e seu sucessor Jeoacaz foi banido pouco tempo depois
para o Egito (2 Rs 23,29ss.; 2 Cr 35.20ss.; Jr 22.lOss.). Mas Nabucodonosor
derrotou o exrcito egpcio (em Crquemis junto ao rio Eufrates, 605 a.C) e
assim conquistou a Sria/Palestina para a Babilnia.
31
Quando um filho de Josias, Jeoaquim (608-598), ousou suspender o
pagamento de tributos, Nabucodonosor mandou sitiar Jerusalm. Neste meio
tempo morreu Jeoaquim. Seu filho e sucessor Joaquim s conseguiu governar
por alguns meses e, por ocasio da primeira conquista de Jerusalm, em 597
a.c., teve de seguir para o exlio, acompanhado pela famlia real, classe alta e
por artesos (2 Rs 24.8ss.) - entre eles, o profeta Ezequiel. Mesmo assim
parece que Joaquim em certos crculos continuou sendo considerado rei legti-
mo (cf. a datao em Ez 1.2); mas as esperanas que se associavam sua
pessoa, no se concretizaram (Jr 22.24ss.). Porm a ltima notcia que a Obra
Historiogrfica Deuteronomstica nos d a respeito de Joaquim (2 Rs 25.27ss.)
a de que foi indultado.
Nabucodonosor tratou Jerusalm com clemncia e instalou como regente
um novo davidida, Zedequias (597-587 a.c.; 2 Rs 24.17). Mas Zedequias
avaliou erroneamene a situao poltica e denunciou de novo a vassalagem,
desconsiderando os alertas de Jeremias. Por isto Jerusalm foi sitiada pela
segunda vez e ocupada em 587 (ou 586?) a.c. S ento os babilnios tomaram
medidas drsticas, sim, at cruis (2 Rs 25).
o acontecimento significou uma ruptura profunda em quatro sentidos:
- houve a perda definitiva da autonomia poltica (at o tempo dos macabeus);
Jud tomou-se provncia babilnica, depois persa;
- terminou a monarquia davdica (apesar da predio de Nat em 2 Sm 7);
- foram destrudos o templo, o palcio e a cidade (apesar da tradio de Sio
em SI 46; 48);
- foi expulsa da terra prometida, deportada a elite restante (juntamente com os
utenslios do templo).
Com isto tinham se cumprido as previses profticas de desgraa; porm
a histria do povo de Deus seguiu o seu curso.
d) A poca exlica/ps-exlica
32
afrrrnar depois desta ruptura, o judasmo existia em dois meios: na Palestina e
na gola (no exlio), ou seja, na dispora.
Comunidades na dispora surgiram no apenas na Babilnia, mas por
vrias razes tambm no Egito. Depois da destruio de Jerusalm os babil-
nios instalaram o judata Gedalias como governador sobre os israelitas no-
exilados (com sede em Mispa); aps seu assassinato, um grupo de judatas fugiu
para o Egito (2 Rs 25.22ss.; Jr 40ss.).
As mltiplas perdas externas trouxeram um ganho interno, na medida em
que o tempo do exlio tornou-se uma poca extremamente fecunda em termos
literrios: as Lamentaes (como tambm SI 44; 74; 79; 89.38ss.; Is 63.7ss. e
outras) deploravam a situao vigente no pas. Ali atuava a escola deuterono-
mstica que concebeu a Obra Historiogrfica Deuteronomstica como uma es-
pcie de confisso de culpa. Alm disso tambm transmitiu e retrabalhou a
tradio dos profetas, principalmente a de Jeremias. Em contrapartida mais
provvel que o Escrito Sacerdotal tenha surgido no exlio, onde tambm atua-
ram os profetas Ezequiel e Dutero-Isaas (Is 40-55).
Enquanto que at ento os centros de poder do Antigo Oriente se locali-
zavam no Egito e na Mesopotmia, a partir de mais ou menos 550 a.c. o
domnio mundial passou a ser exercido por outras potncias que, vindas de fora,
invadiram o espao do Antigo Oriente: por dois sculos o domnio passou s
mos dos persas.
O ltimo governante babilnico, Nabnides, que, ao contrrio dos sacerdotes de
Marduque da Babilnia, incentivava o culto do deus da lua.Sin (em Har), residiu por
dez anos na cidade-osis de Tema no deserto do Norte da Arbia, transferindo os
negcios de governo ao seu filho Belsazar. Em Dn 5, num relato em forma de saga,
Belsazar considerado o ltimo rei da Babilnia antes do domnio dos persas.
A ascenso fulgurante do persa Ciro (559-530) sucedeu em trs etapas: o
estabelecimento de um grande imprio medo-persa (tendo Ecbtana por capi-
tal), a subjugao da sia Menor pela vitria sobre o rei da Ldia, Creso, e a
entrada na Babilnia (539 a.C). O segundo acontecimento parece se refletir na
mensagem do profeta do exlio Dutero-Isaas (v. abaixo 21,1).
Os primeiros reis persas respeitavam as tradies dos povos subjugados e
incentivavam os cultos autctones. Condiz bem com esta atitude que j depois
de um ano (538) Ciro teria ordenado que o templo em Jerusalm fosse recons-
trudo e que os utenslios do templo, levados para a Babilnia, fossem devolvi-
dos. O edito foi conservado em Ed 6.3-5 (v. abaixo 12b) em aramaico, que
se tornou a lngua oficial da parte ocidental do imprio persa e suprimiu mais
e mais o hebraico como lngua popular.
O retorno s aconteceu paulatinamente e em sucessivas levas (segundo Ed
2, sob Zorobabel, segundo 7.12ss., sob Esdras; cf. 4.12). Muitos ficaram no
33
exterior, onde sua situao econmica era prspera. A reconstruo do templo
ocorreu apenas de 520 a 515 a.C., por insistncia dos profetas Ageu e Zacarias
(v. abaixo 22).
No tempo de Ciro destacou-se Sesbazar, que foi encarregado de entregar os
utenslios do templo e, pelo que consta, tambm colocou a pedra fundamental do
santurio (Ed 5.14ss.; 1.7ss.). Era funcionrio persa assim como Zorobabel, neto do rei
Joaquim (banido em 597 a.C.), que atuou um pouco mais tarde. Em Zorobabel se
depositaram mais uma vez esperanas messinicas (Ag 2.23; Zc 6.9ss.), que, no entanto,
no se cumpriram.
Os sculos V e IV so uma poca relativamente desconhecida, em que se
destacam apenas alguns poucos acontecimentos isolados. Por volta de 450 a.C.
Esdras e Neemias cuidaram - o primeiro preocupado com o cumprimento
rigoroso da lei e o segundo, com a construo do muro ao redor de Jerusalm
- para que houvesse a consolidao interna, embora o preo fosse um isola-
mento rgido (v. mais detalhes abaixo, 12b). Provavelmente foi mais ou
menos no mesmo perodo que atuou tambm o profeta Malaquias (v. abaixo 22,4).
Depois de dois sculos de hegemonia persa (539-333 a.C), Alexandre
Magno inaugurou com a vitria de Isso (333) a era helenstica. E aps a morte
de Alexandre (323), nas disputas dos didocos, a Palestina foi submetida por
um sculo ao domnio do reino (egpcio) dos ptolomeus (301-198), para depois
ser integrada ao reino dos selucidas (198-64 a.C).
Um fato marcante foi, aps a ascenso ao trono do selucida Antoco IV
Epfanes, a rebelio dos macabeus em repdio a cultos estranhos. Um pouco
antes da reinaugurao do templo em 164 a.C. surgiu o livro de Daniel ( 24).
No ano de 64 a.C, a Palestina caiu sob o domnio romano. No ano de 70
d.C. Jerusalm e o templo foram destrudos pela segunda vez, e, depois do
levante de Sirneo-Bar Cochba em 132-135 d. C, nenhum judeu podia mais
entrar na cidade, agora denominada Aelia Capitolina.
34
3
ELEMENTOS DA HISTRIA DA SOCIEDADE
a) Os cls nmades
Os antepassados de Israel viviam em tendas ou num acampamento co-
mum e migravam de um lugar para outro (Gn 13.3; l8.1ss.; 31.25,33s.; cf. 32.2
e outras). "Armar" a tenda (12.8; 26.15; 33.19) significa permanecer num
lugar; ao contrrio, "arrancar" as estacas da tenda tem o significado de "par-
tir", "prosseguir viagem" (12.9; 33.12 e passim). Ainda sculos depois da
sedentarizao sobrevive o chamado "(Israel), s suas tendas", signillcando o
regresso para casa (Jz 7.8; 1 Sm 4.10; 2 Sm 20.1, 22; 1 Rs 12.16 e outras).
35
(Gn 31.17,34; 24.lOss.), que ainda no era criado em rebanhos. A criao de
gado bovino,pelo menosem escalamaior,apenasfoi possvelaps a sedentarizao.
A criao de gado exigia um estilo de vida especial (menos beligerante).
Ao contrrio dos camelos, as ovelhas e cabras no podem vencer distncias to
longas e necessitam regularmente de locais de descanso, com suprimento sufi-
ciente de gua e pasto. Os rebanhos vivem apenas beira do deserto e na
estepe, onde cai mais chuva.
O que o AT chama de "deserto, estepe" (midbar) uma regio desprovida de
gua (x 15.22), embora esta no falte por completo, isto , h fontes, cisternas (Gn
16.7; 36.24; 37.22) e, s vezes, tambm chuvas esparsas, de modo que aqui e acol pode
crescer um arbusto ou uma rvore (1 Rs 19.4) e vez por outra tambm h pastagem para
ovelhas e cabras (x 3.1; 1 Sm 17.28).
Os poucos mananciais de gua eram objeto de freqentes conflitos (Gn 26.20s.;
21.25; 13.7; x 2.17ss.), mas tambm um lugar de encontro (Gn 24.11ss.; 29.2ss.; x
2.15ss.). Nos osis at havia julgamentos (Gn 14.7; cf. x 18).
Ademais, a vida dos seminmades parece ter sido determinada pela troca
peridica das pastagens, mais ou menos de meio em meio ano, entre a estepe
e a terra cultivada, a assim chamada "transumncia". Durante o perodo de
chuvas no inverno permaneciam na estepe; no vero, depois que a estepe
estorricava, migravam para os campos colhidos da terra cultivada, a que ento
tinham acesso.
Por estarem em constante migrao entre a beira da terra cultivada e a
terra cultivada em si e vice-versa, os seminmades mantinham tambm contato
intenso com a populao local; podia haver comrcio e casamentos entre eles
(cf. Gn 34; 38). Sim, os antepassados de Israel, ao que parece, j se encontra-
vam em transio gradual de uma vida seminmade para uma vida sedentria,
baseada na agricultura e criao de gado bovino (26.12; 33.19; 23 P). Dificil-
mente mera coincidncia o fato de que a maioria dos relatos sobre os
patriarcas tm como cenrio a terra cultivada e de que a promessa de posse de
terras representa um trao que caracteriza todas as histrias dos patriarcas (12.7;
28.13 e outras).
36
Homem
"Casa", isto , ncleo familiar
Depois da sedentarizao o termo usado para designar a famlia, presidida pelo
chefe da famlia. A ele se atribui a autoridade de decidir ou julgar (cf. Gn
38.24ss.; 42.37; 16.5s.; 19.8; x 21.7; Jz 19.24; restringida em Dt 21.18ss.). Por
isto se fala tambm em "casa paterna".
Cl
liderado pelos ancios do cl - decerto os chefes de famlia - e parece
representar "um milhar" de homens em condies de servirem no exrcito (Mq
5.1; 1 Sm 8.12; 23.23; Jz 6.15).
Thbo
A comunidade bsica no a tribo, mas a (grande) famlia. Possivelmente
j nos tempos nmades, com certeza, porm, mais tarde, a famlia podia
compreender trs a quatro geraes: mulher e concubinas (1 Sm 1.1s.; Jz 19.1s.;
8.30), os filhos homens casados, os filhos destes e talvez netos, alm das filhas
solteiras (Nm 30.4), e por fim as irms e irmos do chefe da casa (cf. Dt 25.5;
SI 133.1; quanto questo toda v. Lv 18; Dt 27.20ss.).
A ameaa conhecida do Declogo: "Eu sou um Deus zeloso, que visita a
iniqidade dos pais nos ftlhos at a terceira e quarta gerao" (x 20.5; 34.7 e outras)
decerto tem em mente tal grande famlia, que vivencia e tem que partilhar os golpes do
destino. Apenas a promisso: "e fao misericrdia at mil (geraes)" extrapola em
muito toda realidade histrica.
A grande famlia, uma comunidade econmica, jurdica e cltica, "um grupo
constitudo por consanginidade, onde os deveres e tarefas esto regulamentados, a fim
de proteger todos os membros da comunidade, onde, portanto, imperam a solidariedade
e responsabilidade mtua, onde a propriedade familiar (rebanhos, mais tarde terras),
administrada pelo patriarca, serve para beneftciar e alimentar todos e onde as regras e
proibies autorizadas pelo pai de famlia devem assegurar o convvio harmonioso de
todos" ryv. Thiel).
3. A famlia, o cl, a tribo e at ainda o povo se compreendem como
"Iilbos' de um nico "pai", o pai original, o primeiro ancestral ou epnimo
(Jr 35.16). O grupo se sente personificado ou incorporado (corporate persona-
lity) neste ascendente. Enquanto num primeiro momento a tribo constitui o
grupo referencial de parentesco maior possvel, o povo passa a s-lo em Israel
(cf., p. ex., x 1.1ss. ou as listas de tribos em Nm 1; 26).
Independentemente dos processos histricos que tenham feito surgir uma
confederao nmade ou a tenham transformado, sua coeso e origem so
explicadas por laos de consanginidade (freqentemente fictcios) e atravs de
uma sucesso cronolgica, isto , por via genealgica. A genealogia representa
a unidade (a relao entre o indivduo e a comunidade) e a histria do grupo.
37
4. Dentro do grupo se pratica a solidariedade; o indivduo goza de prote-
o e de direitos. No h uma instncia jurdica superior. Porm em relao s
pessoas de fora do grupo reina uma severa ordem - o ius tsliotiis. o revide de
estrita equivalncia, portanto, no caso de uma leso corporal (x 21.23ss.; Lv
24.18ss.; tambm Dt 19.21) e, no caso de assassinato, a vingana de morte (Nm
35.9ss.; Dt 19; 2 Sm 21 e outras). "Decerto defrontamo-nos aqui com uma
norma jurdica que vigorava entre as distintas comunidades, isto , trata-se de
um direito intergental". (V. Wagner, p. 14.)
Originalmente no se distinguia entre homicdio premeditado e acidental
(cf. o adendo em x 21.13s., em contraposio antiga norma jurdica em
21.12). Do ponto de vista do indivduo, esta atitude cruel, mas fica compreen-
svel a partir do pensamento grupal pressuposto. A vingana de morte propicia
uma compensao para algo que se perdeu, mantendo desta maneira o equil-
brio de foras dentro do sistema de vida nmade: nenhum grupo deve sobrepor-
se consciente ou inconscientemente sobre os demais. Assim tambm a vingana
de morte serve em ltima anlise para proteger o grupoe o indivduo (cf. Gn4.14s.).
Mesmo que o indivduo no tenha direitos, os forasteiros so tratados com
hospitalidade (Gn 18s.; x 2.20s.; Jz ;19.16ss.), e o direito da hospitalidade
inclui o direito proteo.
Em suma, esta maneira de pensar e de viver implica que, muito alm da
poca nmade, a comunidade tenha primazia sobre o indivduo. S paulatina-
mente o indivduo se desprende da comunidade (cf. Ez 18).
b) A posse da terra
38
A herana cabia preferencialmente ao primognito (Dt 21.17). Mas podia
o pai atribuir o direito de primogenitura em tempos antigos tambm a outro
filho (Gn 48; cf. 49.3ss; 25.1ss.)? Em todo caso, a propriedade rural herdada
era, conforme o direito israelita - ao contrrio do direito cananeu (Gn 23; 2
Sm 24; 1 Rs 16.24) - , inalienvel; o proprietrio, portanto, no podia dispor
dela livremente. 'Ialvez no pudesse nem sequer arrend-la; em todo caso, no
podia vend-la (l Rs 21; cf. Dt 27.17 e outras).
Originalmente a "herana" (nali'la) "de um indivduo em todo caso constitui a
posse de terras arveis, obtidas por herana, distinguindo-se por isto da posse de terras
adquiridas por compra, permuta e execuo de hipoteca, etc., diferenciando-se tambm
da parcela de terras coletivas que algum podia possuir. (...) Quando, mesmo assim, se
chegava alienao (venda ou execuo de hipoteca), depreende-se de Ir 32 e Lv 25
que o cl tinha um direito de compra preferencial ou de resgate." (F. Horst, Festschrift
W. Rudolph, 1961, pp. 148s.).
Em ltima instncia o prprio Deus pode ter sido considerado o proprie-
trio (Lv 25.23), que num determinado ponto da histria passou a terra aos
imigrantes como herana (cf. Dt 12.10; SI 78.55). A terra no lhes pertencia por
princpio e por isto a sua posse no era natural.
O israelita reconhecia a soberania de Jav sobre a terra no momento em
que oferecia o melhor, as primcias dos animais e das colheitas a Deus ou as
destinava ao santurio (x 22.28s.; 23.19; 34.19ss.); o primognito humano era
resgatado (34.20).
39
primariamente as terras), eram protegidas a famlia, a liberdade, a vida e a
subsistncia econmica do homem livre, enquanto que mulheres, crianas e
escravos (prisioneiros de guerra, adquiridos por compra) eram considerados,
segundo essa antiga concepo, em maior ou menor escala "propriedade" do
homem (cf. x 20.17).
c) Transformaes ocorridas
com a instalao da monarquia
De forma parecida com a tomada da terra, a monarquia trouxe consigo
uma transformao lenta e gradual, mas profunda, no desenvolvimento social e
econmico - tanto pelas influncias diretas quanto por suas conseqncias
indiretas, qual seja, a incorporao das cidades cananias em Israel e a crescente
influncia estrangeira.
40
'frs listas (2 Sm 8.16-18; 20.23-25; 1 Rs 4.2-6; cf. 4.7ss.) enumeram os
altos funcionrios civis e militares no tempo de Davi e Salomo: o (sumo)
sacerdote (no santurio real), o escrivo (secretrio real; cf. 2 Rs 12.11), o porta-
voz (arauto), o comandante do exrcito e o comandante da tropa mercenria, o
responsvel pelos trabalhos forados, o "amigo do rei" (provavelmente conse-
lheiro) e o responsvel "sobre a casa", isto , o preposto do palcio e talvez
ao mesmo tempo administrador dos bens da coroa (cf. 2 Rs 15.5; Is 22.15ss.).
41
dos funcionrios reais, e ainda tomar o dzimo como imposto. Contudo, no
se sabe ao certo at que ponto exatamente ia na prtica o poder do rei (cf. Dt
17.16; I Sm 22.7; I Rs 9.22; 21; Am 7.1).
Alm do mais, durante a monarquia no se configurou uma situao
uniforme em todas as partes. Assim havia certas diferenas, s vezes at
contrastes, entre a cidade e o campo, no Sul sobretudo entre a cidade de
Jerusalm e a terra de Jud. As elites dominantes da populao rural, denomi-
nadas no AT de "povo da terra" ('am ha'arez) - de novo os cidados com
plenos direitos, proprietrios rurais - , ocasionalmente interferiam intensamente
na poltica e se mantinham leais dinastia de Davi (2 Rs 11.14ss.; 14.21; 21.24;
23.30; cf. 15.19s.; tambm 17,1).
d) Contrastes sociais
no tempo dos grandes profetas
42
do s suas competncias polticas, militares, econmicas, mas tambm clticas
e jurdicas, a monarquia fez com que o poder se concentrasse em locais centrais,
principalmente nas capitais (Jerusalm, Samaria). Assim o centro gravitacional
se deslocou para as cidades, onde havia comerciantes, em vez do campesinato
da rea rural, e onde, ao que parece, desde cedo ofcios e o comrcio se
concentravam em becos reservados para estes fins (Ir 37.15; cf. 1 Rs 20.34).
Agraciado com feudos da coroa, o funcionalismo real, que tambm arrecadava
os impostos, transformou-se em uma nova classe alta.
A transformao na estrutura social parece ter tido ao mesmo tempo
aspectos "nacionais": nela a ordem social e econmica canania se imps
sobre a vtero-israelita, Ali a estratificao mais acentuada da sociedade, a
primazia do comrcio e da vida urbana, mas tambm o latifndio existiam h
bastante tempo. Desde o reinado davdico-salomnico a populao urbana ori-
ginalmente no-israelita havia sido incorporada ao Estado, de modo que pelo
menos a partir de ento tradies nmades e autctones se mesclaram tambm
na estrutura social. Talvez este desenvolvimento geral ainda tenha sido acelera-
do no Reino do Norte no sculo VIII pelo progresso econmico alcanado
devido a uma situao favorvel em termos de poltica externa (2 Rs 14.25).
Com o incremento do comrcio e do fluxo de pessoas, as construes se
tornaram mais suntuosas (Am 3.l5,9s.; 5.11; 6.4,8; Is 5.9). Ricos latifundirios
concediam aos agricultores mais humildes (contra o mandamento de x 22.24)
emprstimos com taxas de juros exorbitantes, que estes ltimos no tinham
condies de saldar. Seu procedimento foi facilitado pela passagem da econo-
mia de troca para a economia monetria (isto , no princpio se pesava apenas
o metal nobre; x 21.32; 22.16; Os 3.2 e outras).
"O rico domina sobre os pobres, o que toma emprestado servo do que empres-
ta." (Pv 22.7.)
Quem tinha dvidas podia ter suas terras penhoradas ou at vendidas. Tal
situao levava ao acmulo de terras nas mos de poucos (Is 5.8; Mq 2.2; em
contraste, Ez 47.14). A perda da propriedade rural transformava o pequeno
agricultor em diarista (cf. Lv 19.14; 25.39s.; Dt 24.13) ou at em escravo por
dvidas (2 Rs 4.1; Am 2.6; cf. j 1 Sm 22.2; 12.3; mais tarde, Ne 5). Enquanto
nos primeiros tempos havia poucos pobres, estes passaram a constituir a maio-
ria. E com o descenso social perderam simultaneamente seus direitos (cf. x
23.3,6s.).
,'A comunidade jurdica perfeita enquanto for uma associao de agricultores
livres, independentes e de posses mais ou menos iguais, cujos interesses devem ser
equilibrados de uma forma justa, que conserve a comunidade intacta. Mas o sculo vrn
(00') mostra-nos uma forte alterao das relaes de propriedade e o comeo de uma
sensvel estratificao da sociedade hebraica. Ao lado daquele que tem posses surge
aquele que nada tem, ao lado daquele que independente aparece o dependente; e ento
43
a comunidade jurdica entra em colapso. O carter oral e pblico de seu procedimento
pressupe que cada integrante do jri pronuncie sua sentena sem depender de outro;
mas o temor diante dos que detm o poder econmico e que podem prejudicar sensi-
velmente o convvio estreito das aldeias, torna as pessoas dependentes e servis e priva-
as de sua liberdade." (L. Khler, pp. 161s.)
e) A situao ps-exI1ica
44
...
11 - TRADIOES E FONTES
ESCRITAS DO PENTATEUCO E
"
DAS OBRAS HISTORIOGRAFICAS
45
4
o PENTATEUCO
a) Nome e estrutura
46
Por um lado, a composio global dos cinco livros concatenada por
certos temas que os perpassam, como os motivos da bno e da promessa (Gn
1.28; 9; 12; 15; 17s.; x 3; 6; Dt 7.12ss. e outras). Por outro lado, encontramos
constantemente referncias projetivas e retrojetivas onde os acontecimentos
decisivos so anunciados em palavras de Deus (Gn 15.13ss.; 46.3s.; x 3.12,19ss.
e outras) ou so resumidos em frmulas confessionais retrospectivas (Nrn
20.15s.; Dt 6.20ss.; 26.5ss. e outras).
O esboo histrico todo abarca o tempo desde a criao e o surgimento
dos povos, passando pelo tempo dos patriarcas, a estada no Egito e junto ao
monte Sinai, at o incio da tomada da terra, quando Moiss morre frente terra
prometida, na 'Iransjordnia (Dt 34). Este perodo histrico pode ser dividido a
grosso modo em cinco fases principais, que ao mesmo tempo compreendem os
grandes complexos traditivos (v. abaixo 4b5):
47
Lv 1-7 Leis sacrificais
8-9 Consagrao sacerdotal (8) e primeiros sacrifcios
(9)
10 Falta de Nadabe e Abi (10)
11-15 Prescries de pureza
16 Ritual do Dia da Expiao
17-26 Cdigo da Santidade
Conduo pelo deserto
x 16-18 Do Egito ao Sinai
x 16 Man e codornizes (cf. Nm 11)
17 gua da rocha (Nm 20), vitria amalequita
18 Encontro com Jetro
Nm 10-36 Do Sinai at Moabe
(Dt 31-34)
Nm 12 Rebelio de Aro e Miri
13s. Espias
16s. Rebelio de Cor, Dat e Abiro
22-24 Balao
o tema da tomada da terra s ressoa nos relatos do Pentateuco (Nm 13s.; 32-34), mas
desenvolvido fora dele Os Iss.; Jz 1). A promessa feita aos patriarcas de que formaro
um povo j se cumpre no livro do xodo, ao passo que a promessa de posse da terra
se realiza apenas no livro de Josu.
Somente em um nico caso a diviso em cinco livros coincide com os
complexos temtico-traditivos. Enquanto que no hebraico em regra os livros so
designados por suas palavras iniciais, os nomes greco-latinos sempre pinam
um acontecimento importante ou o tema principal. A cesura entre os livros de
Gnesis ("origem") e do xodo ("sada") coincide com a passagem da hist-
ria familiar do tempo dos patriarcas para a histria do povo no tempo de
Moiss. Em contrapartida, a apresentao abrangente da estada de Israel junto
ao monte Sinai interrompida duas vezes. Depois da concluso do assim
chamado tabernculo (x 25-31; 35-40) o livro de Levtico acrescenta uma
variada gama de "determinaes levticas (i. , sacerdotais)". As indicaes
sobre o censo demogrfico e a ordem do acampamento no incio do livro de
Nmeros preparam a partida do monte Sinai. Por fim o Deuteronmio (' 'segun-
da lei") forma, com exceo de trechos narrativos no fmal (31-34), uma
unidade prpria: o discurso de despedida de Moiss, contendo outra coleo de
leis (v. abaixo 10).
48
b) Etapas e problemas
da pesquisa do Pentateuco
49
j se percebera na Antiguidade, como caracterstica distintiva de tradies em
Gn 1-2. Foi ele quem descobriu em Gn 1 uma fonte prpria. Sua obra,
publicada no ano de 1711, foi ignorada por dois sculos.
Repercusso teve por primeiro o mdico particular de Lus XV, Jean
Astruc, que dividiu em 1753 todo o Gnesis em dois (ou trs) fios narrativos
paralelos, com base nos nomes de Deus. Com isto se assentou o fundamento
da crtica literria, possibilitando estudos cada vez mais aprofundados nos um
e meio a dois sculos seguintes.
a) A hiptese (mais antiga) das fontes (ou documentos): Algumas dcadas
mais tarde, Johann Gottfried Eichhom, cuja "Introduo ao Antigo Testamen-
to" (1780 e anos seguintes) praticamente fundou - depois de 1. D. Michaelis,
considerado precursor - a isagogia e que, ao mesmo tempo, adquiriu impor-
tncia com a introduo do conceito de mito, retomou a diviso das fontes e a
imps, comprovando a diversidade em estilo e contedo das fontes principais.
Enquanto que Witter e Astruc compreendiam as fontes por eles detectadas
como tradies utilizadas por Moiss, s no decorrer de seu labor cientfico
Eichhom renunciou hiptese de que Moiss seria o redator do Pentateuco.
No [mal do sculo xvrn, Karl David llgen (Die Urkunden des jerusale-
mischen 'Impelsicbivs in ihrer Urgestalt, 1798) descobriu que ao lado das duas
fontes escritas j conhecidas havia uma terceira, que usa o mesmo nome de
Deus da primeira fonte. Deste modo se conhecem agora trs documentos ou
fontes escritas: duas falam de Elohim e uma, de Jav. S muito mais tarde se
percebeu a grande importncia de distinguir-se duas tradies nos textos em que
Deus designado Elohim.
b) A hiptese dos fragmentos: O enfoque progressivamente diferenciado
e a anlise de livros alm do Gnesis ajudaram a descobrir documentos cada
vez mais recentes: colees mais ou menos autnomas e coesas em si mesmas,
originrias de pocas diferentes e que no podem ser enquadradas em fontes
contnuas, pelo menos no de forma inequvoca. Assim se pressups por volta
de 1800 que em vez dos documentos havia tambm partes distintas, muito
diferenciadas, independentes entre si e de extenso variada, ou seja, "fragmen-
tos", que s mais tarde teriam sido juntadas para formarem uma histria
contnua (A. Geddes, J. S. Vater, tambm W. M. L. de Wette).
De fato, a partir do livro do xodo a diviso de fontes bem mais difcil
do que em Gnesis. Particularmente quanto questo do surgimento das cole-
es de leis, como do Declogo, e seu enquadramento nas fontes escritas, at
hoje no se achou uma resposta amplamente aceita. Tambm a hiptese de que
o Pentateuco consiste de complexos distintos, adquire nova importncia quando
recuamos para antes da fixao escrita, ou seja, para o estgio da transmisso
oral do texto. Contudo, sem a diferenciao entre tradio escrita e oral -
50
s alcanada posteriormente - a hiptese dos fragmentos no faz jus conti-
nuidade narrativa do Pentateuco, como aparece na sua estrutura global ou na
alternncia dos nomes de Deus.
c) Conforme a hiptese da complementao, que tenta combinar as duas
solues antecedentes, um escrito bsico, que utiliza o nome de Deus Elohim
(de Wette, H. G. A. Ewald, F. Bleek, F. Delitzsch e outros), perpassa todo o
Pentateuco ou Hexateuco desde a criao at a ocupao de Cana. Tanto o
Declogo e o Cdigo da Aliana quanto um segundo escrito mais recente, que
utiliza o nome de Deus Jav (e Elohim), foram complementados mais tarde por
um redator.
Tambm esta explicao ainda repercute at hoje de outra forma; pois o
processo de formao do Pentateuco atravs da juno de diversas fontes
escritas fica mais compreensvel quando se imagina que estas no foram entre-
laadas mecanicamente, mas que houve sempre uma fonte escrita que serviu de
fundo, onde se inseriu uma outra fonte (v. abaixo item 5c).
Estas trs hipteses constituem fundamentalmente os enfoques interpretativos
possveis para compreendermos o surgimento literrio do Pentateuco, que na poca
subseqente foram modificadas ou combinadas.
51
identificadas e depois tambm na interpretao at ento vlida da histria de
Israel quando se constatou que a obra at ento considerada o escrito bsico
(com o nome de Deus Elohim) na verdade constitui a fonte mais recente, qual
seja, o Escrito Sacerdotal, surgido por volta da poca exilica. Demorou quase
meio sculo (ca. de 1830-1880) at que se imps esta verso, que se chama
hiptese Reuss-Graf-Kuenen-Wellhausen em homenagem a seus incentivadores
e representantes principais. Ela se fundamentou primeiramente na comparao
das prescries clticas do Escrito Sacerdotal com as informaes sobre o culto
de Israel contidas nos restantes livros histricos e profticos. S mais tarde
foram includos tambm os trechos narrativos (cf. 8a,4). A se constatou que
o Escrito Sacerdotal e com ele a parte principal das leis (clticas) veterotesta-
mentrias s podem ser datados depois dos grandes escritos profticos, o que
se pode resumir na frmula sucinta: lex post prophetas [a lei vem depois dos
profetas]. Em razo de ter conquistado o reconhecimento geral para esta hip-
tese e com isto ter esboado uma nova concepo da histria de Israel, J.
Wellhausen pde ser qualificado de "o maior estudioso alemo do Antigo
Testamento do passado" (R. Smend).
J que a crtica literria posterior representa essencialmente a continuao e
correo da posio j defendida por 1. Wellhausen, suas obras principais pertinentes:
Die Composition des Hexateuchs (und der literarischen Bcher des Alten 'Testaments)
(1876s., 1885, 4. ed. 1963) e Prolegomena zur Geschichte Israels (1883, 6. ed. 1923;
publicado primeiro em 1878sob o ttulo Geschichte Israels), ainda hoje se lem com proveito.
Um apanhado geral sinttico e ao mesmo tempo detalhado, ainda extremamente
notvel dos resultados crtico-literrios oferece H. Holzinger em Einleitung in den
Hexateuch (1893), e de forma mais sucinta, C. Steuemagel em Lehrbuch der Einleitung
in das Alte 'Testament (1912).
Exposies mais recentes encontramos, por exemplo, em M. Noth, berlieferungs-
geschichte des Pentateuchs (2. ed., 1960, pp. 17ss.), ou no apndice da coletnea WoIt
und Botschaft des AT (ed. por 1. Schreiner, 3. ed., 1975).
52
J = Javista ca. de 950 a.C.
(poca de Salomo, antes da assim chamada diviso
do reino, 926 a.c.)
E = Elosta ca. de 800 a.c.
(antes do assim chamado profetismo escrito, espe-
cialmente ()sias)
D = (Proto)Deuteronmio aproximadamente sculo VII a.c.
(comeo antes da reforma de Josias, 622 a.C.; mais
tarde, ampliaes extensas)
P = Escrito Sacerdotal ca. de 550 a.c.
(exlio; complementaes na poca ps-exlica)
53
J (ca, de 950, no Reino do Sul?)
E (ca. de 800, no
Reino do Norte?)
P (ca, de 550)
- - -- -- - -- ---'- --,,
\
JEP (atravs de RI) \
~ j R~
As obras sinalizadas pela linha dupla formam a respectiva base em que a outra
obra (assim E em J) ou a combinao preexistente (JE em P) foi inserida (v. abaixo).
'Iodavia, parece que est-se perdendo hoje o consenso atingido graas a 1.
Wellhausen; as opinies atualmente defendidas sobre a existncia, extenso,
poca e local de surgimento das fontes escritas divergem muito. Assim os
resultados da pesquisa crtico-literria em geral esto sendo revistos.
Se quisermos evitar na interpretao de textos o perigo de chegar a resultados pr-
determinados pelo nosso prprio questionamento ou concepo, temos de distinguir
quatro passos metodolgicos na crtica literria:
1) Anlise (separao): Primeiro devemos analisar tanto quanto possvel cada
texto em separado, avaliando a sua coeso (estruturao, momentos de ligao), bem
como a ausncia desta (duplicaes, cesuras).
2) Sntese (correlao): Devemos auscultar as partes textuais distinguidas na
anlise no que se refere s suas ligaes recprocas (coincidncias em palavras, temas,
motivos, intenes) e examinar a sua harmonia interna (estruturao e desenvolvimento
da ao, demais lacunas e falta de coeso). Inteno deste passo reconstruir, na medida
do possvel, uma seqncia lgica da ao, narrativas ou discursos coerentes e com-
preensveis por si ss - e no fragmentos ou parcelas que no podem ter existido de
forma autnoma. Assim a sntese oferece uma espcie de contraprova para a anlise.
54
3) Comparao: S num passo seguinte poderamos relacionar as respectivas
unidades identificadas com outros textos (reconstrudos), para inserir o resultado isolado
num quadro de referncia maior e ao mesmo tempo formar correlaes mais amplas,
seja na circunvizinhana do bloco traditivo, seja na fonte escrita mais abrangente.
Vez por outra, no entanto, os critrios para a separao das fontes ou para o
enquadramento de um texto numa determinada fonte escrita no bastam; nestes casos
as fontes do Pentateuco talvez estejam por demais entrelaadas, ou a redao participou
mais intensamente na elaborao (la forma [mal do texto.
4) Explicao do amlgama textual no estgio atual: como e por que as unidades
reconstrudas foram juntadas para formarem a atual estrutura do texto, e como este
estruturado?
Assim a crtica literria parte do texto dado, para retomar mediante a sua recons-
truo a ele. A meta tem que ser a de encontrar uma teoria que explique tanto a coeso
como tambm a falta de coeso do texto.
Unilateralidades s sero evitadas se considerarmos neste estudo o maior nmero
possvel de pontos de vista e utilizarmos todos os argumentos com sensibilidade para
com as respectivas peculiaridades do texto. Razes diversas, independentes entre si,
concernentes linguagem e ao contedo, deveriam corroborar a soluo preferida
(convergncia dos critrios).
Impulsos e critrios principais para a separao das fontes no Pentateuco
continuam sendo duplicaes (de textos ou partes de textos, frasese eventual-
mente tambm de elementos sintticos) e a altemncia de nomes de Deus ou
de designaes de Deus (Jav, Elohim). Sem dvida, nos deparamos volta e
meia com uma expresso idiomtica fixa (p. ex., Gn 32.29: "lutar com Deus
ou deuses, e com seres humanos") ou o tema exige a meno do conceito Deus
[divindade] em vez do nome de Jav (p. ex., Gn 3.lss., especialmente v. 5: "ser
como Deus"). Na maioria dos casos, porm, a alternncia no se explica
objetivamente (p. ex., x 3.4a/b). Outras caractersticas, como contradies,
escolha de vocabulrio, diferenas estilsticas e teolgicas servem mais para
complementar e confirmar a existncia de fontes diferentes.
A presena das trs fontes escritas (J, E e P) na primeira metade do
Gnesis pode ser vista no grfico rudimentar abaixo. P foi representado maior
(no sentido vertical) para indicar a funo de moldura (no a extenso) do
Escrito Sacerdotal. Nos blocos de texto assinalados por linhas pontilhadas
encontramos, lado a lado, vrias fontes escritas (como acontece de forma mais
ou menos constante a partir de Gn 25).
55
;--------------, - ~
I r-..,
-J
~
' :J/E I--
P J P J/P P J E P'
J 14:? J.
1 2-4 5 6-11 12-13 16 17 18-19 20-22
: 15 f--- 23 I24
--
I ~_ ....
J
I----
- -
56
(principalmente J, mas tambm E e P) foram subdivididas em vrios fios, com
maior ou menor sucesso de caso em caso, no fmal das contas, porm, sem
sucesso completo no todo. At que ponto os autores das fontes escritas so
compiladores de tradies preexistentes e at que ponto so autores que criam
livremente? As fontes escritas mais antigas (especialmente J) retrabalharam o
contedo por elas transmitido com tamanho rigor, que surgiu uma unidade
coesa que desde a sua origem no pode mais conter saltos e contradies? Se
no for assim, ao menos se explicariam incoerncias dentro das fontes escritas':
estas assimilaram tradies que j estavam mais ou menos defmidas, eventual-
mente at incorporaram material escrito.
Ademais, a fonte escrita mais recente (P; algo similar contudo acontece
tambm com D) , na sua forma atual, resultado de um processo mais demora-
do; , pois, obra de vrios autores. Afmal, as obras literrias podem ter sido
complementadas posteriormente com acrscimos (material exclusivo).
A separao das fontes avanou incessantemente, mas no goza mais de aprova-
o geral. Isso no tem a ver apenas com as condies do texto, mas se deve a uma lei
universal que se aplica tambm crtica literria: quanto mais sofisticada e complicada
for uma teoria, tanto mais improvvel ela se toma. Inversamente uma teoria se toma
tanto mais provvel, quanto mais simples for, isto , quanto maior for o nmero de fatos
que ela explica com o menor nmero possvel de suposies. Neste sentido, a teoria das
trs fontes (1,E, P) por certo representa um valor-limite que dificilmente pode ser ultrapassado,
57
Assim M. Noth supe que haja "uma base comum (G = Grundlage) de
que ambas - independentemente uma da outra - hauriram o cerne de seu
contedo" (berlieferungsgeschichte des Pentateuch, p. 41). Tambm no caso
desta grandeza postulada e no imediatamente acessvel no se alcanou um
consenso generalizado. E ela foi questionada com freqncia justamente nos
ltimos tempos, mas continua sendo vlida porque ajuda a explicar coincidn-
cias e diferenas entre J e E. Noth deixa em aberto se essa base G existia em
forma escrita ou oral; provavelmente, porm, trata-se de um material traditivo
oral. no qual tradies avulsas, ciclos de sagas e blocos traditivos j estavam
unidos na sequncia de ao mais tarde testemunhada conjuntamente em J e E.
controvertido se o recente Escrito Sacerdotal conhecia as fontes escritas
mais antigas de forma direta ou (antes) tambm apenas indireta.
58
Se o Javista ou tambm o Escrito Sacerdotal realmente tm ou no
continuidade nas narrativas da tomada da terra no livro de Josu constitui um
problema muito discutido de momento.
59
ronmico at o Deuteronomstico? Mas o material lingstico disponvel basta para
comprovar tal diferenciao?
3) Como a redao deuteronmico-deuteronomstica se relaciona com a insero
do Deuteronmio no Pentateuco? Ocorreu simultaneamente ou a pressupe? Pelo menos
ocasionalmente a redao lembra camadas posteriores do Deuteronmio ou textos
deuteronomsticos.
O Dt formava a introduo da Obra Historiogrfica Deuteronomstica, de modo
que houve por certo tempo uma obra literria que abrangia Gn 2 at 2 Rs? A redao
deuteronomstica no Pentateuco ainda documenta tal obra? Ou o enquadramento do Dt
nos estratos de fontes, e com isto tambm a redao deuteronrnico-deuteronomstica,
apenas ocorreu depois da juno de JIE com P? De qualquer modo se encontram
esporadicamente elementos lingsticos deuteronomsticos tambm em passagens do
Escrito Sacerdotal (p. ex., em Nm 14.8; tambm no Cdigo da Santidade).
Ainda no est decidido se devemos expressar a formao do Pentateuco a grosso
modo pela frmula J-E-D-P ou J-E-P-D.
60
texto atual at uma histria pr-literria que apenas podemos inferir? Por um
lado, a poca da fixao escrita de um texto pouco revela sobre a idade do seu
"material" ou contedo; o que foi codificado na escrita numa poca tardia no
precisa necessariamente ter surgido tarde. Por outro lado, o primeiro testemunho
escrito no precisa necessariamente reproduzir de modo imediato o aconteci-
mento histrico que descreve; pelo contrrio, em regra ambos, o acontecimento
e o relato, esto separados por uma fase mais ou menos longa de tradio oral.
Neste estgio, acontecimentos foram atualizados ao serem narrados, seja no
santurio, seja na famlia (cf. x 12.26s.; Dt 6.20ss. e outras) ou tambm por
um estamento de contadores de sagas. Acrescentaram-se, neste estgio, motivos
novos e diferentes para vivificar e ilustrar os relatos, ou ento tradies prove-
nientes de diversos lugares se fundiram numa nica corrente traditiva? Como
que naturalmente experincias de tempos posteriores penetraram no processo
traditivo, de modo que a narrativa na sua forma fmal pode conter experincias
referentes a longos perodos.
, Por isto o recuo at a pr-histria de um texto - a pergunta por sua
origem, desenvolvimento e inteno na fase da tradio oral - no s
necessrio, mas, em resumo, apresenta uma vantagem mltipla:
a) A anlise da crtica literria reconheceu incoerncias no texto, rupturas
e contradies, que em muitos casos no consegue mais resolver com seus
prprios recursos - a separao sempre mais sutil e complicada das fontes,
chegando at a meios e quartos de versculos. A o enfoque histrico-traditivo
pode ajudar: compreende narrativas isoladas ou complexos narrativos, em lti-
ma anlise at as prprias fontes escritas, como ponto fmal de um processo
traditivo prolongado. Dissonncias que, para o enfoque crtico-literrio, teriam
que ser explicadas como uma associao mais ou menos arbitrria de fragmen-
tos textuais, explicam-se de modo orgnico e significativo a partir da histria
do texto, da formao acumulativa da tradio oral e das variaes introduzidas
no momento da narrao oral.
b) Assim o interesse se desloca de uma obra literria escrita num momen-
to determinado para um processo traditivo que talvez abranja vrias geraes
ou at espaos de tempo ainda maiores, deslocando-se assim tambm do autor
individual para grupos ou "escolas", isto , em regra para grandezas annimas
dentre o povo, no santurio ou na corte. Quando a histria das formas busca
determinar o Sitz im Leben [o lugar de origem] de um texto, pergunta pelas
condies sociais (instituies) em que se formaram e desenvolveram as tradies.
Segundo uma definio conhecida de A. Alt, a pesquisa da histria das formas ou
dos gneros se baseia "na percepo de que em cada gnero literrio, enquanto este
tiver vida prpria, determinados contedos se vinculam estreitamente a determinadas
formas de expresso e na percepco de que estes vnculos caractersticos no foram
sobrepostos ao material posteriormente e de modo arbitrrio por autores; pelo contrrio,
61
eles constituam uma unidade essencial desde sempre, portanto tambm j no perodo
de formao e transmisso oral popular, antes-que se tomassem literatura, visto que
correspondiam aos eventos e necessidades vitais recorrentes a partir dos quais cada um
dos gneros literrios se desenvolveu." (K1eine Schriften zur Geschichte des Volkes
Israel, 1, p. 284.)
Em situaes tpicas e repetitivas "surgem formas lingsticas apropriadas para o
seu propsito e as suas necessidades". Existe, portanto, uma relao entre a forma
lingstica (estilo, gnero, tambm temas, motivos, palavras-chaves) de um lado e forma
de vida, de outro. Esta ltima o lugar de origem (Sitz im Leben) da forma lingstica.
Por isto a histria das formas s informa sobre as expresses vitais de uma
comunidade, e no sobre um acontecimento isolado ou at um detalhe biogrfico.
Tradies tambm podem abandonar seu Sitz im Leben original, aparecer em
contextos bem diferentes e ser transmitidas com novas intenes. Assim temos de
distinguir onde surgiu e onde se utilizou determinada forma lingstica ou tradio.
c) Enquanto que a crtica literria reconheceu primordialmente as camadas
que perpassam horizontalmente o todo do Pentateuco, surge diante de nossos
olhos agora a diviso vertical, em diversos blocos, que j foi percebida pelos
representantes da hiptese dos fragmentos. Ao lado das camadas literrias
contnuas tomam-se visveis os blocos ou complexos treditivos, como as hist-
rias dos patriarcas e a revelao do Sinai. Com isto a unidade do Pentateuco
como um todo volta a ser problemtica: quanto tempo os blocos traditivos
existiram independentemente, onde confluram (nos santurios?), e como aca-
baram formando uma seqncia? Ou nem podemos mais separ-los to clara-
mente? Ser que na origem no estiveram vinculados de modo bem mais estreito?
Enquanto que a crtica literria parte da estrutura do texto atual, a histria das
tradies percorre o caminho inverso; parte da menor unidade, passando por complexos
mais amplos - por exemplo, ciclos de sagas - , at chegar ao texto dado.
Ambos os enfoques, portanto, tm que se encontrar. Mas permanecem algumas
perguntas em aberto (cf. a objeo que R. Rendtorff, apoiado na histria das tradies,
faz separao das fontes). Objetivo ltimo da explicao deve ser apresentar a histria
do texto como processo lgico em sua totalidade, detectando principalmente as inten-
es cambiantes do texto em seus vrios estgios - seja de um trecho isolado, de
complexos mais abrangentes, ou at do todo do Pentateuco - , partindo dos primrdios
mal-e-mal discemveis na tradio oral, passando pelos estgios intermedirios nos
blocos traditivos e fontes escritas at chegar forma cannica final.
d) medida que se pode identificar o material traditivo que precede a
uma obra literria e com isto distinguir entre elementos provenientes da tradio
e a contribuio do autor, possvel tambm destacar a inteno expressa no
material traditivo do deslocamento de nfase que ocorre na fixao por escrito.
Este enfoque da assim chamada histria da redao busca determinar a inteno
com que um autor modifica suas tradies ou que impinge s concepes que
utiliza. Esta remodelao ou este deslocamento se consegue somente em parte.
62
Assim, por causa das caractersticas prprias do material incorporado, pode-se
entender o fato de que nem todos os enunciados textuais correspondem sem
mais nem menos concepo da obra literria.
e) Um caso especial na relao entre tradio e interpretao representa a
apropriao de material traditivo ou iderio extrabblico no AT. S urna abor-
dagem histrico-traditiva permite que se adote o questionamento bisunico-
religioso de forma apropriada, especialmente a comparao com aspectos an-
logos do mundo circundante.
Uma problemtica que no se podia mais solucionar com auxlio da crtica
literria, e que s foi reconhecida em todo o seu alcance depois de 1. We1lhausen,
constituda pela ampla gama de paralelos entre textos veterotestamentrios e vtero-
orientais, por exemplo, entre o mito babilnico da criao Enuma elish e Gn I ou a
tbua XI da Epopia de Gilgamesh e a narrativa do dilvio. Algo anlogo acontece com
os Salmos, textos legais e sapienciais.
Dependncia literria imediata da literatura veterotestamentria em relao
literatura vtero-oriental s ocorre em casos excepcionais; em regra h uma
relao indireta, histrico-traditiva. Quando conseguimos captar o que foi assi-
milado e o que foi adaptado em termos de tradies, qual a inspirao em
modelos estranhos e a reinterpretao corretiva dos mesmos, ento se tornam
visveis ao mesmo tempo o condicionamento externo e a peculiaridade do texto
veterotestamentrio.
63
5
FORMAS NARRATIVAS SELECIONADAS
64
tbua XI). A exclusividade de Deus, que se expressa no primeiro mandamento,
no permite que haja mitos referentes a lutas entre deuses, gerao ou morte de
deuses. Podemos nos referir apenas criao do mundo e no de Deus (Gn
1.1; SI 90.2). Ao contrrio da epopia babilnica sobre a origem do mundo,
Enuma elish, o caos no mais visto pela histria da criao como um poder
personificado que atua por si s, mas apenas como a situao que fmda quando
Deus cria o mundo (Gn 1.2). Os monstros marinhos passam a ser incuos (1.21;
SI 104.26), as estrelas no so poderes astrais (cf. Ez 8.16; Dt 4.19) que
determinam o destino, mas corpos luminosos criados por Deus; servem apenas
para iluminar a terra e diferenciar o dia da noite (Gn 1.14ss.; cf. SI 136.7ss.).
De forma similar os poderes celestiais e demonacos so humilhados, transfor-
mados em servos de Deus (SI 29; 103.19ss.; cf. x 12.23; Am 9.3 e outras).
2) Concepes mticas so transpostas para o futura, isto , no funda-
mentam e idealizam a realidade presente, mas lhe contrapem de modo crtico
uma realidade vindoura (Is 1.21-26; 2.2-4,12-17; 11.1,; 24.21ss.; 27.1; 65.17ss. e
outras). O mtico pode adquirir, assim, a funo de expressar a dimenso
universal ou at csmica do acontecimento esperado e com isto da esperana
veterotestamentria em geral.
Neste mbito voltado ao futuro, porm, o AT de fato propiciou a criao de mitos,
enquanto que no Antigo Oriente - com exceo dos persas - se conhecem poucos
mitos escatolgicos.
3) Motivos mticos servem para ilustrar a importncia de um acontecimen-
to histrico (a assim chamada historizao do mito). Atribui-se, por exemplo,
concepo da luta de Deus contra o mar a funo de ilustrar a salvao junto
ao Mar Vermelho, na sada do Egito (Is 51.9ss., SI 77. 12ss. e outras). A
referncia histria ocorre em forma de recordao e atualizao (x 12.11,14
e outras) e no de repetio do passado.
Ao contrrio dos assim chamados mitos culturais, em Gn 4.17,20ss. J no se
atribui s conquistas culturais e tcnicas, tais como ferramentas, ofcios e profisses,
uma procedncia divina (salvo 3.21 como ato de proteo); elas so, antes, consideradas
invenes humanas. Ao ser humano, criado "imagem" de Deus e, com isto, decerto
incumbido de ser o seu representante na terra, concedem-se liberdade e responsabilidade
(Gn 1.26ss. P; cf. 2.19; SI 8) junto com a tarefa de dominar o mundo.
65
Descendentes de No - Gn 10 J/P (tabela dos povos)
Descendentes de Sem - Gn 11.lOss.
As genealogias continuam na histria dos patriarcas (Gn 22.20ss.; 25.1ss.,12ss.;
36.10ss.) e na histria do povo (especialmente 1 Cr 1-9), visando assim, com
ou sem razo, demonstrar uma continuidade histrica.
1. A saga individual
66
Muitas vezes explicaes de nomes, especialmente de topnimos, baseiam-se em
associaes fonticas ou jogos de palavras. Assim o nome da cidade de Babel, em
babilnico "porta de Deus", relacionado em Gn 11.9 com a confuso de lnguas. Ou
o nome de Moiss, em egpcio "filho", interpretado em x 2.10 pela palavra da filha
do fara: "porque das guas o tirei" (cf. ainda Gn 25.26; x 2.22 e outras). Nestes
casos se costuma falar de etimologias populares, embora tais jogos de palavras dificil-
mente pretendam representar etimologias no sentido estrito da palavra.
Vez por outra se encontram tambm palavras que servem de motivos ou motes
(p. ex., "ver" em Gn 22.4,13s.).
Numa saga podem se mesclar vrios motivos de origem distinta, se
sobrepor enunciados de inteno muito diferenciada, de sorte que no se pode
mais resumir o sentido do relato numa nica frase. J por isto cada saga contm,
ao lado de traos gerais, elementos especficos e singulares e, em ltima anlise,
deve ser examinada em sua peculiaridade, embora seja proveitoso compar-la
com narrativas similares.
Visto que os limites para outras formas narrativas so fluidos, at mesmo
o termo "saga" permanece cambiante e com isto ambguo. No obstante, as
caractersticas formais descobertas h tempos por A. Olrik em sagas proceden-
tes do meio europeu ("Epische Gesetze der Volksdichtung": Zeitschrift fr
deutsches Altertum und deutsche Literatur, 51, 1909, 1-12) aplicam-se em
medida surpreendente tambm a narrativas veterotestamentrias. Assim pode-
mos detectar, mesmo com ressalvas, certos traos comuns das sagas (especial-
mente da poca dos patriarcas):
1) Aspectos histricos ou polticos so apresentados como aspectos parti-
culares, pessoais. A saga condensa o geral, transformando-o em algo individual,
integra o destino de povos inteiros em experincias de indivduos, descreve
situaes annimas e impessoais como encontros diretos. 'Iribos ou povos so
apresentados como consangneos (v. acima 3a,3), corporificados nos seus
ancestrais. As sagas dos patriarcas relatam sobre as relaes entre homem e
mulher, pai e filhos ou entre irmos em forma de "histrias de famlias" (C.
Westermann). Desta forma a misria do povo no Egito se reflete no confronto
entre o fara e as parteiras ou na relao entre me, filho e filha do fara (x
ls.) quando o pequeno Moiss abandonado por fora das contingncias.
2) Simultaneamente s entram em cena duas ou trs personagens (lei da
dualidade ou trindade). Quando aparece uma terceira figura, uma outra tem de
retroceder para segundo plano (cf., p. ex., Gn 21 ou o relacionamento da me
e da irm de Moiss com a filha do fara em x 2). Assim os episdios so
breves e compreensveis. A trama no consiste em um emaranhado de motivos
e fios narrativos que ora correm lado a lado, ora se entrelaam, confundem e
destacam um do outro. A trama se desenvolve, isto sim, numa singela sucesso
de episdios distintos, at chegar ao seu objetivo. As situaes se tornam mais
67
compreensveis ao se destacarem os protagonistas em relao s personagens
secundrias e ao se omitirem aspectos secundrios.
3) A saga tipifica. Assim o fara opressor no Ramss II ou qualquer
outro soberano conhecido pelo nome, mas simplesmente o rei do Egito (x
1.8ss.; cf. Gn 12.15ss.), ou a salvadora de Moiss no qualquer mulher da
nobreza egpcia, mas a filha do fara em pessoa (x 2). Personagens secund-
rias muitas vezes permanecem annimas. - Os atores costumam ser de tipo e
origem diferenciados. Desta maneira a dualidade se polariza, transformando-se
em contraste: Abel e Caim ou Jac e Esa se contrapem como pastor e
caador, representando deste modo dois estgios culturais diferentes.
4) A aparncia fsica e o carter de uma pessoa apenas so esboados de
forma extremamente sucinta ou nem sequer se mencionam (p. ex., Gn 25.25).
Antes, qualidades e idias so transpostas para a ao (16.6; 18.2ss.; 22.3 e
outras). Como a saga costuma proceder de maneira sbria na sua descrio,
podendo omitir traos no absolutamente necessrios para a ao principal,
questes que nos parecem substanciais podem ficar sem resposta.
Nisto dificilmente se manifesta apenas uma caracterstica geral da saga, mas ao
mesmo tempo tambm uma peculiaridade israelita. E. Auerbach comparou a forma
narrativa de Homero, que amplamente elaborada e ilumina claramente os detalhes,
com o relato do sacrifcio de Isaque (Gn 22): neste "s se ressalta nos fenmenos aquilo
que importante para o objetivo da ao, o resto permanece no escuro. Apenas os
pontos altos decisivos da trama so destacados, os acontecimentos intermedirios no
tm importncia. 'Iempo e lugar so indefinidos e carecem de interpretao. Pensamen-
tos e sentimentos permanecem implcitos, s so sugeridos pelo silncio e pela fala
fragmentada. Submetido a uma tenso mxima e constante e mostrando-se neste sentido
bem mais uniforme, o todo permanece enigmtico e obscuro." (Mimesis, 3. ed., 1964,
pp. 13s.).
5) Uma outra caracterstica - que distingue especialmente a saga vetero-
testamentria - que motivos decisivos para o desenrolar da ao aparecem
em forma de discurso direto (Gn 26.9ss.; Ex 1.9ss. e outras). Principalmente a
palavra de Deus assume muitas vezes importncia capital; interpreta na pros-
pectiva ou retrospectiva o pice ou a reverso do acontecimento em questo.
Neste caso se percebe uma inteno teolgica do AT que repercute de maneira
tal, que molda a forma ou configura a tradio (p. ex., Gn 22.11s.; 18.17ss.).
Em sagas tardias os discursos podem ocupar tanto espao e adquirir tamanho
peso, que o desenrolar da ao fica em segundo plano (Gn 24).
6) A saga apresenta em regra um princpio e fnn claros. Muitas vezes a
introduo descreve a situao a partir da qual se desenvolve a ao (p. ex., Gn
18.1b: "Abrao estava assentado entrada da tenda, no maior calor do dia",
ou x 3.1: "Apascentava Moiss o rebanho de Jetro, seu sogro"). Como a fala
de Deus, o intrito tambm pode servir para interpretar ou at corrigir a
posteriori a histriatradicionada, apresentandocomo resumo uma espcie de ttulo.
68
Assim a lenda cltica da apario de trs seres divinos em Mame interpretada
pelo ttulo no sentido da exclusividade de Deus: "Apareceu Jav a Abrao" (Gn 18.1).
De maneira similar se evita a visibilidade de Deus no episdio da sara ardente com a
frase: "Apareceu o mensageiro de Jav a Moiss" (x 3.2). A ordem de sacrificar
Isaque s serve para provar a obedincia de Abrao na f: "Deus ps Abrao prova."
(Gn 22.1.) Funo anloga tambm tem a frase: "Deus criou os cus e a terra" (Gn
1.1.), que unifica diversas tradies sobre a criao.
Visto que uma saga no pretende registrar fatos histricos singulares, mas
algo tpico, ela mantm - para a compreenso moderna - uma relao
problemtica com a histria. Por isto no podemos excluir certos traos "len-
drios ou fantsticos" da saga para atribuir-lhe ento credibilidade histrica;
antes, temos de indagar primeiramente por origem, ensejo e inteno da mesma.
"Decerto no basta alegar o carter folclrico desta tradio para descartar certos
aspectos que comprometem a sua credibilidade histrica, segundo nossos critrios, e
manter ento o resto que sobra como 'ncleo histrico'. (...) 'Irata-se, antes, de apreen-
der, da maneira mais precisa possvel, os pressupostos histricos do surgimento e do
desdobramento destas tradies, em cada caso concreto, a partir das prprias tradies
(...) S quem percebeu sob que condies estas tradies surgiram e o que visam pode
responder pergunta inevitvel por que selecionam da abundncia de acontecimentos
justamente o que contam e por que o contam justamente da maneira como o fazem; e
s ento tambm pode discernir sobre o que podemos ou no esperar informaes delas
e que peso devemos atribuir quilo que dizem e quilo que omitem.' Todavia, as
respostas a estas questes no podem ser inequvocas, mas precisam "ser buscadas de
forma combinatria, ponderando todas as circunstncias (...)". (M. Noth, Geschichte
Israels, 3. ed., 1956, p. 49).
Em termos histricos especialmente importante a seguinte pergunta:
pessoa e ao desde sempre j andam juntas? O protagonista (p. ex., Moiss)
est originalmente ou s secundariamente vinculado com o contedo da saga?
Nesta questo no se pode perceber a relao entre a histria e a configurao
da tradio a um nvel genrico, mas apenas de caso em caso e, mesmo ento,
s com reservas.
Seja qual for a sua origem, na elaborao da saga de qualquer forma se
plasmaram experincias histricas, em especial teolgicas, dos tempos que
transmitiram a saga no intuito de interpretar sua respectiva situao. Nela
convergem e se condensam experincias de geraes inteiras (G. von Rad).
Neste sentido se fundem nela o passado e o presente, que a historiografia
procura separar rigorosamente.
"Ao contrrio de outras sagas (de heris), falta em grande parte s sagas israelitas
a tendncia idealizante, justamente porque Deus o sujeito interno das sagas. Quanto
mais tempo a saga se encontrar sob a influncia modeladora da f das geraes que a
transmitem, tanto mais teolgico ficar seu contedo. Desta maneira a saga se converte
mais e mais em testemunho proftico que retrojeta a ao de Deus (...) em imagens de
validade tpica." (E. Jenni, ThZ, 12, 1956, p. 264.)
69
2. Motivos etiolgicos
Muitas vezes ressoa numa saga a pergunta: por que existe determinado
nome, lugar, situao ou costume? Como surgiu o que existe? A resposta
"sempre esta: explica-se a situao presente com base na atuao dos ante-
passsados". As circunstncias pressupostas, que suscitam a pergunta acima pelo
porqu, "so histricas, o modo como so explicadas, porm, potico" (H.
Gunkel, Genesis, p. XXI). Partindo-se de um fenmeno chamativo deduz-se um
acontecimento histrico que o pode explicar (p. ex., a mulher de L em Gn 19
ou a conquista de Jeric em Js 6). O objetivo da etiologia est dado historica-
mente - mas o mesmo acontece tambm com o seu ponto de partida?
Por isto o problema da historicidade das etiologias, especialmente dos
relatos do livro de Josu, desencadeou uma ampla discusso, que, contudo, faz
tempo se acalmou. que em muitos casos se mostra que o motivo etiolgico
no coincide com os momentos culminantes de uma narrativa (C. Westermann),
representando inclusive um adendo posterior (B. S. Childs, B. O. Long). Ento
a narrativa no est configurada no sentido da etiologia conclusiva - "at este
dia", "por isto se chama ... desta ou daquela forma" ou algo assim - mas a
etiologia acrescenta um novo momento, qual seja, o aspecto etiolgico. Tambm
a concluso etiolgica, portanto, no nos dispensa da tarefa de questionar a
respectiva narrativa quanto a seu fundo histrico e seu interesse especfico.
3. A lenda de santurio
70
Gn 22 - sacrifcio de Isaque (originalmente substituio do sacrifcio de crianas por
sacrifcios de animais);
Gn 28.10ss. - sonho da "escada" celestial junto a uma pedra em Betel (cf. Gn 12.7s.);
Gn 32.23ss. - luta num vau do rio Jaboque em Peniel (cf. x 4.24-26);
x 3 - sara ardente;
Jz 6.11ss. - apario junto a uma rvore em Ofra.
Nos seus detalhes estas e outras narrativas similares (como Gn 35.1ss.;
46.1ss.) so estruturadas de forma bastante diferenciada e apresentam, ao lado
de traos comuns, cada qual sua peculiaridade especfica. Em todo caso, porm,
se evidencia como o significado de uma histria pode ser polivalente, desde seu
significado original, que s infervel, at sua inteno no contexto em que
agora se encontra. No AT as lendas clticas perderam sua antiga vinculao
local, mas, em compensao, passaram a abranger todo o Israel (Gn 32.28) e
aprofundaram a sua projeo para o futuro. No justificam mais o que existe,
mas apontam no discurso de promessa para o porvir (28.14ss. e outras), a fim
de dar esperana ao ser humano, incentivando-o a caminhar futuro adentro,
confiante no cumprimento da promessa.
71
Alm da forma conceptual do mito e da forma narrativa da saga, encontramos j
no Pentateuco outras formas traditivas variadas, como provrbios ou cnticos, palavras
de bno ou maldio (Gn 4.23s.; 9.25ss.; 48.15s.; 49; x 15; 17.16; Nm 6.24ss.;
1O.35s.; 21.17s.,27ss. e outras; cf. 9a,3).
No se conhecem no AT contos fantsticos autnomos, ocasionalmente, porm,
aparecem traos fantsticos isolados. Explicam-se em parte como resqucios de concep-
es mtico-demonacas (p. ex. a fala da serpenteem Gn 3, ao contrrio do jumento em
Nm 22).
c) A novela de Jos
72
do Escrito Sacerdotal (principalmente em 37.1; 46.6ss.; 48.3-6; 49.29-33; 50. 12s.)
reduzida; a fonte escrita mais recente se contenta com algumas poucas frases,
sem apresentar o desenrolar da ao.
Gn 37 Introduo: conflito entre os irmos, Predestinao de Jos para a
funo de regente (tnica, sonhos). Venda para o Egito.
38 Intercalao: Jud e sua nora 1mar.
Primeiro filho: Perez, antepassado de Davi (Rt 4.12,18ss.).
39-41 Ascenso de Jos do crcere para o posto de representante do fara.
39 Jos e Potifar
40 Sonhos dos dois funcionrios da corte
41 Sonhos do fara: sete anos de fartura e sete anos de fome.
Jos (41.38s.), um intrprete sbio de sonhos, dotado do
Esprito, como mais tarde Daniel (Dn 2; 4s.). Introduziu o
armazenamento estratgico de vveres no Egito (cf. 47.13ss.).
Casou com a filha de um sacerdote egpcio, que deu luz
Manasss e Efraim.
42-45 Encaminhamento da reconciliao com os irmos,
42 Primeira viagem dos irmos ao Egito.
43 Segunda viagem, na companhia de Benjamim.
44 O copo. A fala de Jud: proposta troca de Benjamim.
Preocupao com o pai (vv. 18-34).
45 Jos se d a conhecer: primeira reconciliao.
46-47 Encaminhamento do reencontro com o pai.
46 Revelao em Berseba. Mudana de Jac para o Egito.
47.1-12 Jac diante do fara. Assentamento em Gsen (46.28ss.;
45.11; 47.27).
47.13ss. Jos como administrador: egpcios, escravos do fara.
48-49 'Iestamento de Jac. Duas intercalaes.
48 Bno do filho mais novo de Jos, Efraim, antes do mais
velho, Manasss.
49 Bno dos doze filhos de Jac. Ditos tribais como a bno
de Moiss em Dt 33.
Censura de Rben, Simeo, Levi; exaltao de Jud e Jos.
50 Morte e sepultamento de Jac em Hebrom (49.29ss.).
Depois da primeira reconciliao (45.5ss.), a reconciliao definitiva de
Jos com seus irmos (50.15ss.).
Morte de Jos, sepultamento em Siqum (50.25s.; Js 24.32).
Na transio de Gnesis para o livro do xodo, cabe histria de Jos a
funo de refazer o caminho dos filhos de Jac-Israel para o Egito e estabelecer
desta maneira a ligao entre a poca dos patriarcas e a poca mosaica. At que
ponto, porm, esta vinculao original, e at que ponto ocorreu posteriormente
(v. acima 2a)? De quando so os episdios egpcios da narrativa (como Gn
41.45,50; 40.1s.; 43.32)? Mesmo que no haja espao na histria poltica do
73
Egito para a figura e o cargo de Jos, a tradio no precisa carecer de respaldo
na histria. O mais provvel que a verso mais antiga da histria de Jos
provenha do Reino do Norte ou do mbito da Palestina Central (48.22; Js
17.16ss.; 24.32; Jz 1.22s.), que desde muito cedo j mantinha relaes com o
Egito (cf. Gn 46.1ss.). de se supor que a denominao "(casa de) Jos" se
aplique aos descendentes do grupo que esteve no Egito.
Ser que depois a narrativa foi retrabalhada na corte de Jerusalm, nos primrdios
da monarquia? O fundo de sabedoria cultivada na corte faz lembrar o assim chamado
iluminismo salomnco (G. von Rad). Isto corresponderia datao habitual, mesmo
que controvertida, do Javista. Contudo, difcil datar a narrativa de Jos quando tomada
em separado.
Ao contrrio das lendas de santurio, a novela de Jos silencia a respeito
de aparies e falas de Deus (com exceo de Gn 46.1ss.); tambm faltam sagas
vinculadas a locais. De maneira anloga aos relatos sobre Davi (v. abaixo
llc3), a histria com toda a sua trama emaranhada compreendida como um
complexo dinmico de causa e efeito, dentro do qual ocorre a ao humana.
Mas em todas as decises e acontecimentos se realiza o desgnio de Deus. J a
sabedoria reconhece que a atuao de Deus pode permanecer misteriosa e
incompreensvel (Pv 16.9; 19.21; 20.24; 21.30s.). Mas a histria de Jos se
projeta para alm desta percepo, confessando que Deus pode aproveitar
inclusive a injustia e maldade humana em prol de seus planos; mesmo que
apresente desvios, seu caminho alcana sua meta. Os irmos procuram impedir
fora que se concretize o futuro previsto nos sonhos de Jos, a prostrao
diante de Jos (Gn 37), e justamente assim precipitam os acontecimentos
(42.6ss.; 44.14ss.; 50.18). Jos salvo, precisa, no entanto, sujeitar-se a uma
vida de escravo; s ascende ao cargo de substituto imediato do fara egpcio
(41.40ss.; 45.26; cf. SI 105.16ss.) depois de superar grandes dificuldades. Quan-
do os irmos temem a sua vingana aps a morte do pai, que ainda conseguiu
rever o seu filho tido como morto, Jos objeta: "No temais; acaso estou eu
em lugar de Deus? O que planejastes de mal contra mim, Deus o planejou para
o bem." (Gn 50.19s. E; cf. 45.5ss.)
Com isto Jos no s desiste de julgar os irmos, deixando seu julgamento
a cargo de Deus (Pv 20.22), mas entende que toda a questo j foi "resolvida
por Deus" (O. Procksch). Jos no precisa mais demonstrar magnanimidade;
pois Deus j concedeu perdo pela maneira como conduziu a histria, ao
romper a vinculao entre a ao (causa) e o destino (efeito) humanos, trans-
formando desgraa em salvao. Mas, esperanosa, a narrativa aponta para
alm do quadro familiar: Deus transformou o mal em bem, para "manter vivo
um grande povo" (Gn 50.20; cf. x 1.15ss.).
74
6
A OBRA HISTORIOGRFICA JAVISTA
a) Questes introdutrias
75
[mal. Essencialmente dispomos de trs propostas de soluo: a) Uma corrente
de opinio mais antiga acreditava que o fio do Javista se estendia para alm do
Pentateuco, atravs dos livros de Josu, Juzes e Samuel, at a assim chamada
diviso do reino, portanto at o desmoronamento do reino davdico aps a
morte de Salomo (1 Rs 12.19; segundo G. Hlscher e outros). Thdavia, tanto a
linguagem como tambm o entrelaamento do material traditivo to longe do
Pentateuco no indicam de forma inequvoca que haja uma fonte escrita cont-
nua. b) Segundo uma outra concepo, renovada recentemente, a exposio
javista se estende at a tomada da terra inclusive, ou seja at o relato um tanto
estranho de Jz 1 ou, pelo menos, at as narrativas do livro de Josu. De fato,
dificilmente h quem duvide que a obra historiogrfica javista trate (no mnimo)
ainda da tomada da terra pelas tribos. Afinal, ela no s transmite a promessa da
terra (Gn 12.1,7; 28.15; Nm 10.29 e outras), mas contm ainda algumas indi-
caes sobre a imigrao das tribos transjordanianas (Nm 32; cf. ainda Nm
13.18ss.). Entretanto, at agora no se comprovou ainda de forma convincente
que textos fora do Pentateuco faam parte do Javista; algumas afrnidades
lingsticas (compare, p. ex. x 16.35 com Js 5.12 ou x 3.5 com Js 5.15) no
bastam como provas. c) Assim daremos preferncia ao ponto de vista defendido
por M. Noth enquanto no se achar uma resposta satisfatria para a pergunta
ainda em aberto referente ao [mal da obra historiogrfica javista: esse [mal (com
a narrativa da tomada da terra) perdeu-se por ocasio da sua insero no Escrito
Sacerdotal ou no Pentateuco (v. acima 4b4,d). O [mal ainda conservado
apresenta-se de fato na extensa percope de Balao em Nm 22-24, a que apenas
seguem ainda algumas frases isoladas em Nm 25 (vv. 1-5) e 32. Por conseguin-
te encontramos passagens javistas identificveis apenas nos livros de Gn, x e Nm.
Minuciosamente so relatadas a histria dos primrdios (Gn 2-4; 68*;
9.18ss.; 11.1-9 e outras), a poca dos patriarcas (12-13*; 18-19*; 24; 28.lOss.*;
32.23ss; 37-50* e outras) e a sada do Egito (x 1-17*), enquanto que a
percope do Sinai s foi conservada de forma sucinta (mas pelo menos existe
em x 19*). Entre os textos cuja autoria habitualmente se atribui a J esto
alguns, como Gn 15 (aliana com Abrao), x 34 (Declogo Cltico) ou x 4,
que foram omitidos por serem especialmente controvertidos; dependendo de
onde so enquadrados, altera-se em menor ou maior grau a compreenso da
obra no seu todo.
3. Situao: Embora o [mal da obra historiogrfica javista seja controver-
tido, em geral h consenso quanto ao seu surgimento, que se situa na poca
urea de Salomo, portanto, por volta de 950 a.c. Provavelmente esta poca
oferecia os pr-requisitos materiais necessrios para a elaborao de um escrito
to extenso, existindo uma escola de escribas na corte, onde eram formados os
funcionrios pblicos; ao mesmo tempo as relaes internacionais (estados
vizinhos dependentes de Israel, comrcio) eram propcias para suscitar uma
reflexo sobre o relacionamento de Israel com outros povos.
76
Argumentos importantes para recuar bastante a datao at a poca de
Salomo so, por exemplo: a) Parece que as novas impresses dos primrdios
da monarquia motivaram a retrospectiva do passado mais recente ou mais
remoto; pois as narrativas da ascenso de Davi e sua sucesso no trono (l Sm
16-1 Rs 2) so mais ou menos contemporneas e aparentadas com o Javista (cf.
com relao ao "grande nome" Gn 11.4; 12.2; 2 Sm 7.9; v. abaixo llc3). b)
O Javista menciona em sua obra justamente os povos vizinhos (como os
cananeus em Gn 9.l8ss.; filisteus em Gn 26; arameus em Gn 29ss.; Amom,
Moabe, Edom), que tiveram importncia para Israel na era pan-israelita de Davi
e Salomo (especialmente 2 Sm 8). c) A narrativa de No, o viticultor (Gn
9.18-25), que tem o propsito de amaldioar Cana como tambm sujeit-lo sob
Sem (isto , Israel) e Jaf (isto , os filisteus): "Bendito seja Jav, o Deus de
Sem! E Cana seja seu servo!", pressupe as circunstncias vigentes durante o
grande reino davdico. O mesmo vale tanto para a referncia indireta a Davi
como "astro procedente de Jac" (Nm 24.15-19), quanto para a aluso
sujeio de Edom (compare Gn 25.23; 27.40a com 2 Sm 8.13s.; Gn 27.40b,
acrscimo a partir de 1 Rs l1.l4ss.; 2 Rs 8.20ss?). d) O fato de que J integra
vrias tradies de Jud (Gn 38) ou do Sul (Gn 4; 19; tambm Nm 13s.; 16) na
sua exposio, corresponde posio de Jud desde o reinado de Davi (2 Sm
2). e) A descrio da corvia a que Israel foi submetido no Egito em x 1.11
parece que se inspirou nas condies vigentes durante o tempo em que Salomo
esteve ocupado em fazer obras pblicas (l Rs 9.15,19; cf. 5.29; 11.28); depen-
dentes foram forados a trabalhar nas construes. Desta forma possvel que
se possa situar o surgimento da obra historiogrfica javista mais prximo do
perodo das construes executadas por Salomo. f) Por fim, esta poca no s
experimentou um florescimento poltico-econmico, mas tambm espiritual, o
"iluminismo salomnco" (G. von Rad). De fato, o Javista se caracteriza por
intensa espiritualidade que revela sua afinidade com a sabedoria, provavelmente
cultivada naquela escola de funcionrios pblicos. No quer a histria dos
primrdios dar uma resposta narrativa pergunta levantada pela sabedoria (SI
8.5 e outras): o que o ser humano?
Decerto algumas observaes comprovam apenas a idade da tradio que a fonte
escrita adota (tenninus antequem non). Ao contrrio do que postula uma tendncia mais
recente (H. H. Schmid e outros), porm, no necessrio datar o Javista numa poca
posterior, visto que no pressupe nem o fim do imprio davdico com o dualismo de
Jud e Israel, nem a ameaa representada pelos assrios ou a mensagem proftica de
juzo, muito menos ainda a reivindicao deuteronrnica da centralizao do culto
(reforma de Josias) ou at o exlio. Ademais J expe muitas vezes, no em sua estrutura
global, mas em narrativas isoladas, uma verso mais antiga da tradio que E (v. abaixo
7a,1).
Todavia, temos de distinguir com cuidado entre o contedo bsico mais antigo e
ampliaes redacionais mais recentes (v. acima 4b4,e).
77
Uma parte dos argumentos decisivos para a datao tambm pode ser
aproveitada para responder pergunta pelo local de origem do Javista. Em
razo da assimilao de tradies provenientes do Sul (v. d) costuma-se consi-
derar em geral o Javista como sendo oriundo do Reino do Sul, Jud. O mais
provvel que tenha vindo do interior (O. H. Steck) e no da sua capital, visto
que no se destacam concepes tipicamente jerosolimitas.
78
formulou parte de suas narrrativas, acolhendo, portanto, tradies sem ajust-las
entre si por completo; elaborou, isto sim, a concepo geral, mas pouco
provvel que tenha elaborado todas as tradies.
De fato, percebe-se pouco de uma inteno que perpasse toda a obra
javista e se manifeste em repetidas expresses idiomticas. Embora se possa
depreender da histria dos primrdios a inteno do Javista na amarrao das
diversas narrativas entre si, que alm do mais correspondem bem palavra
programtica de Gn 12.1-3, nos blocos traditivos restantes mais difcil dife-
renciar inequivocamente tradio e inteno. S esporadicamente se conseguem
determinar com maior preciso as intenes teolgicas bsicas que norteiam a
elaborao do contedo.
b) Intenes teolgicas
79
Ao contrrio de Gn 1 P o relato de criao javista, contudo, no possui autonomia
prpria, mas apenas prepara o terreno para o relato do paraso. Desde o incio, o Javista
v a criao, o pecado e o sofrimento, o bem e o mal entrelaados (compare com a
seqncia Gn 1.31 e 6.13 P). Por esta razo os relatos da criao e do paraso, que pela
histria da tradio originalmente eram independentes entre si, foram entrelaados: no
encontro com Deus, que lhe designa o Jardim como espao vital e lugar de trabalho
(2.8,15), a criatura o enfrenta com dvidas e em desobedincia. Mesmo assim Deus no
realiza sua ameaa de que "no dia em que comeres da rvore do bem e do mal,
certamente morrers" (2.17), mas continua misericordioso no juzo, impede o pior para
o ser humano, ao garantir-lhe ainda proteo (3.21, em contraposio a 3.7) apesar de
toda a dureza do castigo - maldio lanada sobre o campo de trabalho do ser humano,
bloqueio do acesso vida eterna, expulso do Jardim (3.14ss.,22ss.). As palavras de
maldio criam etiologicamente as condies de vida atuais com suas aflies, como as
dores da mulher na hora do parto ou a fadiga do homem no seu trabalho de prover o
sustento, mas no acarretam a morte imediata nem (ao contrrio de Rm 5.12) a
mortalidade em si para o ser humano. J o fato do ser humano originar-se do "p" -
e do sopro divino - aponta de antemo para sua fmitude (cf. 2.7 com 3.19; tambm
Ec 12.7; J 10.9).
Em Gn 4 a narrativa de Cam e Abel retoma uma tradio que explica, a partir
do ponto de vista israelita, o fenmeno dos quenitas: tambm eles so adoradores de
Jav, mas no possuem terras. Seu ancestral, ou seja, sua figura representativa Caim,
que carrega um sinal de Jav, mas errante e fugitivo (4.14s.; cf. Jz 1.16). Esta narrativa
tribal foi ampliada dentro do quadro da histria dos primrdios javista para dimenses
humanas universais. Depois de Gn 2s., que apresenta tanto o relacionamento entre Deus
e o ser humano quanto o relacionamento entre o homem e a mulher, Gn 4 descreve
tipicamente mais uma possibilidade bsica da existncia humana: o relacionamento
entre irmos, retratado como confronto hostil. O comportamento de Caim tpico: quem
derrama sangue humano, mata seu irmo. Assim Gn 4 fala, sem dvida, de um
agravamento da maldade humana. Alis, ambas as narrativas esto inter-relacionadas
por semelhanas estruturais ("Onde ests? - Onde est teu irmo?": 3.9; 4.9; maldio
lanada sobre a lavoura, respectivamente sobre Caim: 3.17; 4.11). Assim como Deus
no despede Ado do Jardim sem garantir-lhe proteo, tambm o assassino Caim no
expulso impiedosamente da presena de Deus, mas protegido de ser assassinado pelo sinal.
80
Suas palavras do razo a Deus, ao interpretarem a calamidade como conseqncia do
desgnio pecador do ser humano. Com isto o dilvio se converte em juzo punitivo que
o ser humano pode entender por ter sido causado pelo seu comportamento.
Por outro lado, a tradio popular da "justia" de No (Ez 14.14,20; cf. Gn 6.9
P; 5.29 J) reinterpretada no sentido passivo: No "achou graa" (6.8), foi reconhecido
como "justo" (7.1; cf. 18.3; 19.19). Desta forma se evita que a posio privilegiada de
No, de ser "resto" no meio da massa petditionis, seja associada sua moralidade e
piedade (continuao em Hb 11.7).
Tambm em outras ocasies J no delineia seus protagonistas como figuras
idealizadas: nem Abrao (Gn 12.lOss; 16), nem Jac (Gn 27) ou Moiss (x 2)
aparecem como pessoas virtuosas e justificadas pelos seus atos.
O juzo de Deus no melhora o ser humano; ele continua sendo o que
(Gn 8.21; cf. 18.20s. e o dilogo subseqente, provavelmente mais tardio, sobre
a justia de Deus). Esta percepo, desenvolvida por J de forma narrativa, sem
que formule um conceito prprio de "pecado", no se restringe em absoluto
apenas a Israel; antes, o Javista pronuncia, a partir da f, uma sentena sobre o
ser humano como tal (cf. Rm 7).
No todo transparece, pelas variadas narrativas de Gn 2-8, uma estrutura
bsica ou uma trama que podemos talvez parafrasear com os estgios: provi-
dncia salutar de Deus - culpa do ser humano - castigo - preservao
graciosa e, com isto, a chance de recomear.
81
12.6; 28.l3s.), s ressoam de forma bem genrica e preparam a promessa mais
abrangente (12.3):
,'Abenoarei os que te abenoarem,
e amaldioarei os que te amaldioarem;
em ti sero benditas todas as fanu1ias da terra."
No relacionamento com Abrao se deveria decidir o destino da humani-
dade; todos deveriam compartilhar da sua bno. Estaria o Javista contrapondo
esta promessa ambio pelo poder e arrogncia de seu tempo? Explicita-
mente no h referncia sua situao histrica; a palavra tambm promete um
futuro ainda no-cumprido, que no foi garantido pela realidade poltica nem na
era davdico-salomnica. Podemos detectar a a esperana do Javista, que, como
as outras fontes escritas, se mostra muito reticente em fazer declaraes de
cunho escatolgico? De qualquer forma essa palavra programtica interpreta de
modo novo e universal a tradio dos patriarcas. Na redao fmal do Pentateu-
co, tal como se apresenta a ns, esta palavra ainda introduz a histria dos
patriarcas, oferecendo desta maneira uma espcie de "sentido global" da tradi-
o dos patriarcas - se que realmente podemos esperar que haja tal sentido
depois da unificao de correntes traditivas e fontes escritas antes independentes.
A promessa da bno retoma vez por outra na exposio javista (Gn
18.18; 28.14; cf. 22.18; 26.4; Nm 24.9), e ningum menos que o fara tem de
confirmar o seu cumprimento: "O povo dos israelitas por demais numeroso
e forte para ns" (Ex 1.9). - J nas narrativas de Isaque, Jac e Jos se
destaca, em contraposio ao motivo da bno, mais intensamente a promessa
da assistnciadivina: "Eu estarei contigo" (Gn 26.3,24,28; 28.15; 31.3;39.2s.,21,31),
que retoma de novo, por exemplo, nas histrias de Davi. Ser que, naquela
poca, se entendiam a salvao e o xito na histria, certamente baseando-se
em tradies mais antigas, como conseqncia do fato de Jav "estar junto"
(v. abaixo llc3)?
82
Como neste relato sobre a salvao de Israel diante dos perseguidores
(13.13s., 30), o Javista ressalta tambm em outro material traditivo a ao
exclusiva de Jav - ele abenoa (Gn 12.3), conduz o povo para fora do Egito
(x 3.16s.), endurece o corao do fara (10.1), envia as pragas e derrota o
Egito (12.23; Gn 12.17) - e a sua transcendncia: Deus no habita na terra,
nem na sara nem no monte Sinai, mas "desce" (yarad: Gn 11.5,7; 18.21; x
3.8; 19.11,18,20 e outras), para intervir nos acontecimentos. Quando por fim o
Javista consegue formular ele prprio a introduo fala divina, "Jav disse a
Abrao" (Gn 12.1; cf. 26.2), sem indicar de onde e de que forma Deus se
revela, podemos presumir que J se posiciona diante das concepes antropo-
mrficas dadas pela tradio, por exemplo no relato do paraso, com uma certa
liberdade. Ou ser que ele at se atreve a repetir com uma certa dose de humor
a afirmao de que Deus passeia no Jardim no frescor do entardecer (Gn 3.8;
cf. 8.21 e outras)?
83
7
A OBRA HISTORIOGRFICA ELOSTA
a) Questes introdutrias
84
e justificam a distino: d) A Obra Historiogrfica Elosta se destaca aqui e
acol por certas peculiaridades estilsticas e um pouco tambm pelo seu vocabulrio
prprio.
Caracterstica a seguinte seqncia: Deus se dirige a algum, chamando-o pelo
seu nome por duas vezes; e o interlocutor responde: "Eis-me aqui" (com variantes, Gn
22.1,7,11; 31.11; 46.2; x 3.4b).
Mesmo sem perpassar toda a obra elosta, uma srie de coincidncias concatena
textos distintos, como, p. ex., a pergunta: "Acaso estou eu no lugar de Deus?" (Gn
30.2; 50.19) ou a expresso idiomtica: Moiss "conduziu o povo para fora [ou fez
sair]" (x 3.10,12; 19.17).
Parece que E prefere utilizar, no lugar do topnimo "Sinai", a designao
"monte de Deus" (x 3.1b), enquanto que o nome prprio Jetro ou o ttulo "fara"
(em vez de "rei do Egito") so atpicos.
e) Reflexes so ocasionalmente introduzidas no texto e contm indicaes
retrojetivas e projetivas referentes trama, que ligam o passado e o futuro. Por
exemplo, a palavra conclusiva da narrativa de Jos:
"O mal que tnheis inteno de fazer-me,
o desgnio de Deus o mudou em bem;
a fim de cumprir o que se realiza hoje:
salvar a vida a um povo numeroso."
(Gn 50.20; preparado em 45.5,7.)
Esta palavra interpreta a posteriori o destino de Jos e ao mesmo tempo
antecipa tanto conceptualmente quanto objetivamente a percope seguinte (Ex
1.15ss.): as parteiras realizam atravs de seu temor a Deus a inteno dele de
"salvar a vida a um povo numeroso". Desta maneira se verifica uma relao
temtica entre distintas unidades textuais, mesmo quando faltam passagens
literrias que as concatenem. Parece at que Gn 50.20 tem a funo de ligar
dois complexos dentro da exposio elosta; a palavra de Jos conclui a histria
de famlias do tempo dos patriarcas e introduz a histria do povo. De maneira
similar outros textos com falas (como Gn 31.13 com urna referncia que se
reporta a Gn 28.lOss.) comprovam' 'uma arte de composio altamente refletiva"
(H. W. Wolff, p. 415).
1) Por fim podemos, segundo critrios metodolgicos, somente em
conseqncia das observaes feitas acima, reconhecer certas peculiaridades em
enunciados ticos e teolgicos.
Vrias vezes salta a nossos olhos uma especial sutileza no posicionamento tico
do Elosta. Damos trs exemplos disso: enquanto o Javista faz com que a necessidade
obrigue Abrao a pronunciar na emergncia a mentira de que sua mulher Sara sua
irm (Gn 12.11ss.; cf. 26.7ss.), o Elosta transforma Sara em meia-irm de Abrao, para
no ter de acus-lo de mentiroso, enfatizando expressamente a veracidade deste fato (Gn
85
20.2,5,12). - Enquanto, segundo a verso javista (Gn 37.27,28b), Jos vendido a
ismaelitas, 'segundo a concepo elosta, Jos "s" abandonado numa cisterna ou
mantidol cativopor certo tempo, sendoencontrado, porm,por comerciantes rnidianitas
que o levam junto (Gn 37.22-24,28a,29). - Enquanto, segundo Gn 16.6 J, Abrao
obedece sem hesitao a Sara, conforme Gn 21.11s. E, ele expulsa Hagar apenas depois
da interveno de Deus e somente aps prov-la com vveres.
Estes exemplos mostram tambm que o Elosta apresenta muitas vezes tradies
numa verso posterior, mais elaborada - mas nem sempre isto acontece(cf., p. ex., Gn
28.10ss.). Especialmente na estrutura global E conservou a configurao mais antiga do
Pentateuco (v. abaixo).
Entre as peculiaridades teolgicas est particularmente o tema que perpassamuitos
textos de E: o temor a Deus.
86
grfica Elosta. Uns o procuram em Js 24, outros, em Dt 3lss. Como ltimo
texto elosta maior costuma-se identificar a percope de Balao, em Nm 22s.
Textos conhecidos, que podem ser atribudos com maior ou menor grau
de certeza a E, so:
Gn 15*? Vocao de Abrao
Gn 20.1-22.19* Abrao e Abimeleque, nascimento de Isaque, expulso de Ha-
gar e sacrifcio de Isaque
Gn 28.11s.,17s.,20s. Sonho de Jac da escada celestial
Partes de Gn 30-33; 35.(especialmente vv. 1-5.7s.); 37; 40-42
(principalmente); 47s.
Gn 46.1b-5a Revelao a Jac
Gn 45.5b-15; 50.15-26 Perdo de Jos
x 1.15ss. Desobedincia das parteiras (tambm 2.1-1O?)
x 3s.* Vocao de Moiss (mais precisamente 3.lbB, 4b,6,9-14)
x 14* Milagre do Mar Vermelho (especialmente 13.17-19; 14.5a,19a)
x 18* Encontro de Moiss com seu sogro midianita; sacrifcio em
comum, instalao de juzes
x 19* Revelao no Sinai (sobretudo 19.16s.,19; tambm 24.[9-]11?)
Partes de Nm 20s.
Nm 22s* Balao
Houve quem quisesse inferir de certas dissonncias nos textos que houve
uma redao posterior do Elosta ou, ento, a juno de vrios fios elostas. Mas
faltam argumentos slidos para corroborar tais operaes complicadas. Deve-
mos contar, no entanto, com acrscimos em estilo elosta ou deuteronmico-
deuteronomstico. Entre eles esto provavelmente x 20.18-21 ou partes de x
32. Para definir a teologia do Elosta muito importante sabermos se podemos
atribuir (ou com mais razo) no atribuir textos como Gn 15.6; x 32; Nm
l2.6ss. ou at o Declogo e o Cdigo da Aliana (x 20-23) ao Elosta.
Contudo, para emitir um juzo seguro, melhor restringirmo-nos a um mnimo
de textos, assegurados pela crtica.
87
Siqum (Gn 33.19s.; 35.4,8; 48.22; cf. 50.24s.; x 13.19 com Js 24.32) e tambm
Berseba (Gn 21.3lss.; 22.19; 46.1ss.) - esta ltima localizada no Sul, mas com fortes
vnculos com o Norte (cf. Am 5.5; 8.14) - desempenham um papel decisivo. De forma
similarapresenta-se na histria de Jos no a Jud como em J, mas a Rben como porta-
voz (cf. Gn 37.22-24,29s. E, em contraposio a 37.21,26s. J), o que corresponde a um
estgio traditivo anterior.
Alm disso h certos vnculos, ainda que pouco perceptveis, da Obra
Historiogrfica Elosta com os profetas do Reino do Norte, talvez j com Elias,
mas mais visivelmente com Osias (cf. x 3.14 com Os 1.9; tambm x 3.lOss.
com Os 12.14) e com o Deuteronmio, cujas tradies mais antigas, ao que
parece, so oriundas do Reino do Norte ( lOa,3). Assim podemos perceber,
mesmo com reservas, uma corrente traditiva que vai desde o Elosta, passando
pelo profeta Osias e o assim chamado Protodeuteronmio, e que eventualmen-
te assumida por Jeremias no Reino do Sul.
Alm da determinao da procedncia do Elosta, M. Noth tambm ques-
tionou a sua datao habitual depois do Javista, "j que E no seu todo repre-
senta, antes, um estgio anterior a J na histria da tradio" (berlieferungsge-
schichte des Pentateuch, pp. 40s., nota 143). Assim E ignora tanto a histria dos
primrdios quanto as tradies do Reino do Sul no complexo das sagas dos
patriarcas. Mesmo assim tal objeo no necessariamente consistente, j que
um escrito mais recente pode preservar um estgio traditivo mais antigo. Sobre-
tudo em algumas narrativas distintas E oferece uma verso traditiva visivelmen-
te posterior, submetida a uma reflexo teologicamente mais elaborada do que J
(v. exemplos acima ref. a lf). Se observarmos bem as relaes com o Reino do
Norte, a obra do Elosta surgiu - e esta a opinio geral - entre a assim
chamada diviso do reino em 926 a.c. e o aparecimento do profeta Osias,
portanto antes do perigo mortal representado pelos assrios, que E, ao que
parece, ainda no conhece. O mais provvel que devamos situar o Elosta por
volta de 800 ou na primeira metade do sculo VIll a.c.
Neste quadro histrico se encaixa bem a situao teolgico-religiosa retra-
tada. Percebe-se que E tem afinidade com o profetismo (primitivo, que se
manifestou no Norte de Israel). Por um lado, contm elementos traditivos
profticos. Assim a vocao de Moiss em x 3.lOss. elaborada segundo um
formulrio em que tambm Jz 6; 1 Sm 9s. e Jr 1 se basearam. Sobretudo
Abrao chamado de "profeta", em Gn 20.7, por interceder. Por outro lado,
o prenncio do juzo por parte de Osias: "Eu no estou a para vs" (1.9)
parece que retoma a glosa do nome de Jav: "Eu estou (convosco)" (x
3.14,12 E) para rejeit-la.
Inversamente ainda no se percebe nenhuma influncia do primeiro pro-
fetismo literrio, p. ex. de Osias, sobre a Obra Historiogrfica Elosta. Elohim,
"Deus", como sujeito de uma orao absolutamente no-proftico. O Elosta
tambm ainda no conhece a crtica dirigida contra os santurios do Reino do
88
Norte, muito menos o anncio radical do juzo sobre Israel. 'Iambm o sonho,
que o Elosta utiliza como recurso estilstico nas narrativas dos patriarcas, recua
para o segundo plano nos profetas literrios, j que no era considerado como
forma de revelao, sendo mais tarde at criticado por estes (Jr 23.28s.; cf. Dt
13.2-6 e outras).
No destino da fonte escrita elosta encontramos uma ltima coincidncia
com a mensagem de Osias: ambas migraram, depois da queda do Reino do
Norte em 722 a.C; para o Sul. Ali, talvez em Jerusalm, a fonte E foi unificada
com o Javista.
Como prova disso talvez sirva x 3.15. O versculo que a redao intercala entre
x 3.14 E e 3.16 J parece originar-se do Sio, mais precisamente do culto de Jerusalm
(cf. SI 103.14; 135.13).
b) Intenes teolgicas
89
Elias e a pregao de Osias, h um confronto duro entre Jav e Baal! Mesmo
assim dificilmente se encontra uma explicao satisfatria para o fato de esta
fonte escrita evitar o nome de Deus especfico para Israel. Certamente no
podemos ver por trs disto um antigo politesmo de Israel ou - de maneira
mais genrica - simplesmente uma tradio preexistente. pouco provvel
tambm que E pretendesse distinguir, como mais tarde o Escrito Sacerdotal o
fez, diferentes perodos da compreenso de Deus. Certamente E introduz o
nome Jav na resposta de Deus pergunta de Moiss e o interpreta ao mesmo
tempo: "Eu serei (sou) quem serei (sou)" (x 3.14). Mas mesmo depois disso
adota por via de regra o termo genrico "Elohirn".
Controvertido se E utiliza, depois de x 3.14, exclusivamente ou s predomi-
nantemente o termo "Elohim". Querer distinguir, a partir da, duas camadas dentro do
Elosta (C. Steuemagel e outros) deve ser considerado arriscado demais j pelo carter
do material traditivo existente. Pelo menos ocasionalmente nota-se uma influncia
secundria do Javista ou tambm do Escrito Sacerdotal, portanto uma interveno
redacional que introduz o nome de Jav em E (assim j acontece em Gn 22.11,14 antes
do acrscimo dos vv. 15-18). Se x 3.15 for uma complementao redacional, percebe-
se mais claramente que E em regra continua usando tambm depois de x 3.14 o termo
"Elohim".
o motivo mais provvel de E utilizar o termo "Elohirn" que pretende
enfatizar a transcendncia de Deus e, com isto, indiretamente tambm uma certa
universalidade da prpria f: Jav, o Deus do nico povo, Deus em si. No
parece que E pressupe a escolha feita entre a f em Jav e em Baal no episdio
do monte Carmelo: "Jav Elohirn, Deus" (1 Rs 18.39; O. Procksch)?
Assim se tornaria, ao mesmo tempo, compreensvel por que esta fonte escrita
mostra to pouca polmica anticanania nos textos que lhe so atribudos com
segurana.
90
mensageiros e em sonhos - tambm podem aparecer associadas entre si
(31.11; 28.12). A ento o sonho certamente no tem peso especfico, mas
introduzido conscientemente, com inteno teolgica, quase como recurso esti-
lstico literrio, para deixar Deus fa1ar; decisiva justamente no a viso, mas
a fala (Gn 20.3,6 e outras). Alis, fa1as ocupam um amplo espao; interligam e
ao mesmo tempo interpretam o desenrolar da ao (31.13 e outras). A exposio
elosta da vocao de Moiss (x 3.1bB,4b,6,9-14) apresentada quase que
exclusivamente em forma de dilogo. Tambm na descrio da atuao de
Moiss transparece a inteno do Elosta: enquanto que a libertao do Egito
considerada, segundo a tradio mais antiga, como ao de Jav (x 3.8,16s. J
e outras), E faz Moiss conduzir o povo para fora do Egito (3.10,12; cf. 19.17),
a fim de evitar um contato direto entre Deus e o ser humano. "E(losta)
empurrou Moiss muito mais para o primeiro plano, apresentando-o como
instrumento de Deus por ocasio do cumprimento da promessa de Deus de tirar
o povo do Egito" (G. von Rad, Theologie des AT I, p. 305). Ao contrrio do
estilo narrativo javista, a exposio elosta denota, no seu todo, uma reflexo
teolgica mais intensa. Mas no se pode afmnar do Elosta que ele tenha uma
imagem de Deus espiritua1izada e que no contemple os sentidos, visto que o
fa1ar e o ouvir desempenham um papel to decisivo.
91
canania (cf. H. W. Wolff, K. Jaros)? No era de se esperar, diante do perigo
representado pela f em Baal e a ameaa do sincretismo, que se tentasse
delimitar claramente as frentes, enfatizando antes o "temor a Jav" do que
mais genericamente o "temor a Deus' '? Pode ser que a sabedoria tenha passado
a palavra-chave "temor a Deus" ao Elosta. Uma palavra como: "Pelo temor
a Deus mantemo-nos longe do mal" (Pv 16.6; cf. 14.26s.; 19.23 e outras)
parece exprimir exatamente a inteno das narrativas elostas. O Elosta assume,
ento, alm de tradies profticas, tambm tradies sapienciais, de modo que
se anuncia nele a conjuno posterior do profetismo com a sabedoria?
92
8
o ESCRITO SACERDOTAL
a) Questes introdutrias
93
contagem de dias no relato da criao, indicando a datao do dilvio ainda
desconhecida tradio mais antiga (Gn 7.11; 8.13 e outras), at apontar o ano,
ms e dia exatos dos eventos posteriores (Gn 17.1, 24s; x 12.2,18,40s; 19.1 e
outras). Muitas vezes nmeros e nomes se encontram compilados em listas e
genealogias. Estes dados provavelmente provm em parte de um livro de
1bledot, isto , um registro genealgico originalmente independente, que prin-
cipiava com Gn 5.1: "Este o livro dos descendentes de Ado" e que foi
incorporado pelo Escrito Sacerdotal em passagens marcantes, dinamizando o
desenrolar da ao (6.9; 10.1; 11.10 e outras).
J antes de introduzir o livro genealgico, P adota o termo 'Ioledot; no sentido
ampliado, histria das origens, para caracterizar a criao do mundo (Gn 2.4a).
94
distino entre animais puros e impuros (6.19s; 7.15s. P em contraposio a 7.2; 8.20
1). O Escrito Sacerdotal silencia sobre indicaes clticas do tempo pr-mosaico, porque
contradizem a sua concepo $lobal de que sacrifcios legtimos s se tornaram poss-
veis pela revelao do Sinai (Ex 25ss).
95
oferecendo, apesar da extenso variada, um complexo contnuo, que se com-
preende por si s e apenas interrompido por lacunas mnimas que provavel-
mente surgiram com o trabalho da redao posterior (RP).
d) Por firn, os textos do Escrito Sacerdotal so interligados por temas ou
motivos que se alternam. Desta forma a promessa da bno divina perpassa o
Gnesis desde a histria da criao (1.28; 9.1,7; l7.2,20s e outras), at chegar
ao seu cumprimento (47.27; x 1.7), para seguir com a promessa da terra e a
promessa da proximidade de Deus junto ao seu povo (Gn 17.7; x 6.7; 25.22;
29.43 e outras).
o Escrito Sacerdotal, originahnente independente, constituiu mais tarde o material
bsico onde foram inseridas as fontes j combinadas J/E (v. acima 4b4,d). Justamente
porque o Escrito Sacerdotal procede de forma sumria, fazia sentido complet-lo,
introduzindo os textos mais antigos; desta maneira a redao do Pentateuco corrigiu a
reserva que o Escrito Sacerdotal tinha em relao tradio.
96
to bsico o mais coerente possvel e partimos do princpio de que "se pode
conjugar com a narrativa de P (isto , do escrito bsico) somente material
legislativo e enumerativo (listas) na medida em que este esteja vinculado
organicamente com aquela" (K. Elliger, p. 175). Desta maneira obtemos, de
forma anloga s fontes escritas mais antigas, uma narrativa histrica (cont-
nua), e no s uma coleo de leis inserida num quadro histrico. Pois esta a
impresso que causa o Escrito Sacerdotal na sua forma atual, em que est
integrado o material secundrio.
A identificao de diversas camadas no Escrito Sacerdotal, um contedo
bsico e complementaes posteriores, significa tambm que na sua forma atual
o Escrito Sacerdotal - tal qual a literatura deuteronmico-deuteronomstica -
no obra de um nico autor, mas antes de uma escola, isto , de um crculo
sacerdotal que pensava de maneira afim (justificando assim a estreita afinidade
lingstica), coletava, retrabalhava e anotava tradies.
Estas percepes crtico-literrias bsicas G. von Rad tentou desenvolver disse-
cando o escrito bsico do Escrito Sacerdotal em dois fios narrativos paralelos (Die
Priesterschrift im Hexateuch, 1934). Esta hiptese, contudo, no encontrou muita acei-
tao, e mais tarde o prprio autor a descartou. P. l-Vimar repetiu tal empreendimento,
tentando extrair da histria do xodo segundo o Escrito Sacerdotal um documento
escrito anterior a P; no entanto tal procedimento pouco convincente, apesar da
argumentao rebuscada. que o Escrito Sacerdotal costuma retomar ou repetir os
temas e, apesar de toda a desenvoltura com que trata a tradio, no conseguiu fundir
as diversas tradies histricas numa unidade homognea, de sorte que persistem certas
dissonncias.
97
fana" de animais, proferida pelo Deuteronmio (12.15s) no contexto da exign-
cia da centralizao do culto, pressuposta em Gn 9.1ss. P (embora seja
suspensa de novo na Lei da Santidade em Lv 17.3s.). Por conseguinte pouco
provvel que o Escrito Sacerdotal tenha surgido antes da publicao do Deute-
ronmio (621 a.Ci). Ainda h outras coincidncias entre P e o Deuteronmio;
no deve ser mero acaso que ambos entendam que a tarefa de Moiss consiste
sobretudo em servir como mediador da lei.
b) P representa um estgio tardio da histria do culto, como a podemos
perceber no AT. Isto vale para a datao exata das festas, a diferenciao dos
sacrifcios e a hierarquizao da casta sacerdotal (aaronitas - levitas, status do
sumo sacerdote).
"Aaronitas so os privilegiados descendentes sacerdotais, levitas so os membros
no-sacerdotais da tribo de Levi, que compreendia ambas as classes (...). verdade que
se negam claramente eventuais direitos (dos levitas) de assumirem competncias espe-
cificamente sacerdotais (...). Mas de qualquer modo se conferem (...) diversas atribui-
es subalternas aos levitas e, segundo a proposta de P, deve-se-lhes garantir sobretudo
a subsistncia. Com este intuito P apresenta uma regulamentao de suas rendas: cabe
aos levitas o dzimo. No se pode falar, portanto, de uma degradao dos levitas, antes
de um saneamento da sua condio." (A. H. J. Gunneweg, p. 223).
c) P substitui o termo "povo" ('aro) por" comunidade" ('eda) - "pre-
sumivelmente porque ele, como membro da comunidade ps-exlica politica-
mente dependente, considerava decisivo o vnculo com o santurio, o 'ohe1 mo'ed"
(L. Rost, Die Vorstufen von Kirche und Synagoge im AT, 1938, p. 59). A uno
e outros smbolos da realeza se tomam agora caractersticas do sacerdote (x 28s.).
d) A importncia que no Escrito Sacerdotal se confere circunciso e
santificao do sbado como "sinais" e, portanto, como caractersticas distin-
tivas da f em Jav, s se compreende a partir da situao da poca exlica. O
costume certamente antiqssimo da circunciso, tambm existente entre os
vizinhos orientais de Israel (Jr 9.24s.), era desconhecido no mbito babilnico
e pde se tomar, por conseguinte, critrio de diferenciao em relao s
religies circundantes. Segundo o Escrito Sacerdotal no Moiss (cf. x
4.24ss.), mas j Abrao quem recebe o mandamento da circunciso como sinal
de uma "aliana perptua": todo recm-nascido do sexo masculino deve ser
circuncidado no oitavo dia de vida (Gn 17.9ss.; cf. Lv 12.3). Em contrapartida
a observao do sbado j se anuncia por ocasio da criao, quando Deus
descansa no stimo dia, o abenoa e santifica (Gn 2.2s.). As pessoas da poca
dos primrdios e dos patriarcas, todavia, ainda desconhecem o sbado. Israel
descobre a peculiaridade do stimo dia quase que por acaso durante a marcha
pelo deserto.
Quando o povo israelita recolhe o po enviado dos cus, o man no se conserva
98
de um dia para o outro. S no sexto dia encontra-se dupla rao diria e pode-se guardar
parte do recolhido para o stimo dia. Assim Israel observa, de forma mais ou menos
forada, o descanso no sbado (x 16.22ss.). J que simplesmente desnecessrio e
tambm impossvel ,trabalhar no sbado em razo da providncia divina, ainda no h
necessidade de promulgar um mandamento do sbado no sentido restrito do termo. Tal
mandamento se encontra apenas. como acrscimo tardio no contexto das instrues para
a construo do tabernculo; aqui destacado expressamente como nico mandamento
dirigido comunidade (x 31.12-17 PS). O dia do descanso a ser observado rigorosa-
mente vale como sinal para todas as geraes de que Jav "santifica", portanto, escolhe
Israel (cf. Ez 20. 12,20).
Em razo de tais ponderaes acredito que possamos chegar a um con-
senso na questo da datao: o escrito bsico (pG) surgiu no exlio, enquanto
que as complementaes (PS) se sucederam provavelmente na poca ps-exli-
ca. Todavia, P se baseia em material traditivo preexistente nas passagens narra-
tivas e mais ainda nas passagens legislativas e listas e remodelou este material,
de modo que o momento da fixao por escrito pouco revela da antigidade da
tradio, que precisa ser determinada de caso em caso.
Controvertido se o Escrito Sacerdotal foi redigido em Jerusalm ou -
como se presume em geral e provavelmente com mais razo - surgiu no
crculo dos deportados na Babilnia e foi trazido mais tarde (talvez s por
Esdras - Ed 7.14,25s.; Ne 8?) para a Palestina.
99
7-14* Pragas, Pscoa, sada, salvao no mar
16 ~urmuraes, man, sbado
19.1s.; 24.15ss. Revelao no Sinai
25-29 Instrues referentes ao tabernculo
Lv 8s. Consagraosacerdotal(segundox 29) e primeiro sacrifcio
Nm lO.11s. Partida do Sinai
13s. Mensageiros. Falta de f do povo
20 Falta de f de Moiss e Aaro. Morte de Aaro.
27.12ss. Investidura de Josu
Dt 34.1a,7-9 Morte de Moiss
6. Esta delimitao resulta num problema de contedo: por que falta um
relato prprio da tomada da terra no Escrito Sacerdotal- que renova repetida-
mente a promessa de terra e confere a esta questo um peso at maior do que
as fontes escritas mais antigas?
A promessa feita a Abrao: "Dar-te-ei a ti e a teus descendentes toda a terra de
Cana em possesso perptua" (Gn 17.8; cf. 28.4; 48.4) logo comea a se cumprir com
a compra legal da caverna de Macpela e do campo ao seu redor; a aquisio
antecipao parcial do que est por vir (Gn 23; cf. 49.29; 50.12s.). Por ocasio da
vocao de Moiss se refora a promessa (x 6.4,8; cf. Nm 13.2; 14.31; 20.12). Mas
quando Moiss cumpre a ordem de Deus e envia mensageiros do deserto de Par para
explorarem a terra prometida, retomam desapontados - ao contrrio do que relata a
tradio mais antiga - e, com exceo de Josu e Calebe, fazem uma crtica to acerba,
que o povo comea a murmurar. Em seguida pronuncia-se a sentena: a gerao vivente
no pode ver a terra (Nm 13s.). Quando at Moiss e Aaro caem em pecado (Nm 20),
tambm eles so impedidos de entrarem na terra. Aaro morre no Monte Hor depois
que seu filho Eleazar investido como seu sucessor no cargo (20.25-29). Antes de
morrer (Dt 34.7s.), Moiss s pode ver de relance a terra prometida do alto dos montes
dos moabitas (27.12ss.). Morre, porm, na certeza de que a comunidade ouvir o que
seu sucessor Josu tem a lhe dizer (Nm 27.15ss.; Dt 34.9) e de que - podemos concluir
isso? - na prxima gerao se cumprir a promessa. Esta exposio no lembra a carta
de Jeremias escrita aos exilados (29.5ss.,IO): no a gerao vivente, mas to-somente
uma gerao futura poder entrar de novo na terra?
'Ial qual os patriarcas que apenas percorrem a terra prometida e ali so
sepultados, tambm a comunidade est constantemente a caminho no deserto
- communio viatorum, escutando e seguindo a promessa (x 12.28; 14.4;
35.21 e outras), mas tambm duvidando e se indignando (6.9; 16.2; Nm 14.2;
20.2,12; 27.14). Movida pela promessa de Deus, mas tambm descontente
com a orientao de Deus, sempre tem o objetivo diante dos seus olhos, mas
jamais o alcana, persistindo no "ainda no". tal exposio histrica apenas
uma retrospectiva do passado ou tambm transparente para o presente, a poca
do exlio, quando a comunidade tambm mora fora da terra? Enquanto que
o Israel do tempo do deserto no podia entrar na terra por causa de sua cul-
pa, o Israel do exlio tem de abandonar a terra por causa de sua culpa. "A
100
antiga histria e principalmente o que h para aprender dela so apresentados
diante dos olhos do povo de Israel com tanto destaque, porque Israel de novo
est nas mos de uma grande potncia e longe de sua terra herdada. A ali-
ana e a promessa justamente da terra de Cana ainda vigoram." (K. Elliger,
p. 196).
Pretende P suscitar esperana no futuro, ao lanar mo de uma retrospec-
tiva do passado? Deve a comunidade esperar pela realizao renovada da antiga
promessa? De fato, diretamente P no incentiva em lugar algum a esperana e
pelo menos explicitamente no contm enunciados escatolgicos (Nm 14.21b
acrscimo). Assim a exposio do Escrito Sacerdotal admite duas leituras con-
trastantes: pertence P tal qual Crnicas ao grupo das obras literrias exlicas/
ps-exlicas que renunciaram s expectativas salvficas e se contentam com a
existncia da comunidade cltica e, assim, suscitam o protesto do profetismo
tardio ou do apocalipsismo emergente (O. Plger)? Ou, ento, se oculta nos
enunciados no pretrito perfeito um projeto concernente ao futuro, sendo que o
passado delineado luz deste futuro? "Os exilados esto tal qual os antigos
no passado espera da tomada da terra, que, embora lhes seja vetada no
momento, foi-lhes prometida." (R. Kilian, p. 247.) "A percope do Sinai
tambm um programa para o futuro; como era antigamente h de ser de novo."
(K. Koch, ZThK, 1958, p. 40.) Pressupondo que o assim chamado tabernculo
se tome o nico santurio no futuro, espera P uma vida comunitria na ptria
sob a liderana de um sumo sacerdote, sem haver um rei? Devero as leis valer
para esta situao? Toma-se difcil tomar partido por uma ou outra interpreta-
o, visto que a segunda concepo, amplamente aceita, s se apia em uma
fundamentao indireta, pois distingue entre o que o texto diz e o que intencio-
na transmitir - e isto constitui um empreendimento complicado, talvez legti-
mo, mas arriscado.
Parece que no Escrito Sacerdotal ressoa a mensagem radical da desgraa anuncia-
da pelos profetas literrios. J o juzo de Deus sobre a humanidade culpada - "O fim
de toda carne est diante de mim" (Gn 6.13) - como que amplia o "fim" anunciado
por Ams (8.2) e Ezequiel (7.2ss.) para uma dimenso universal, entendendo que este
fim j aconteceu no passado remoto por ocasio do dilvio. Um julgamento quase to
duro quanto o do dilvio tambm recai mais tarde sobre toda a comunidade de Israel:
todos tm de morrer no deserto - com exceo de Josu e Calebe; estes constituem,
como No, o resto que testemunha o tamanho da culpa e do castigo (Nm 14.26ss.).
Onde encontramos ressonncias dos anncios profticos de salvao? Ou o deserto
constitui ao mesmo tempo o lugar onde ocorre o recomeo depois do julgamento (Os
2.16; cf. Jr 29.1O)? Josu tal qual No a "santa semente" (Is 6.13)?
b) Intenes teolgicas
Quando 1. Wellhausen conseguiu impor a datao tardia do Escrito Sacer-
dotal, introduziu para ele a sigla Q, como abreviatura do nome Libet quattuor
foederum, livro das quatro alianas. De fato P distingue no decurso da histria
101
quatro perodos. No incio de cada uma destas pocas ocorre um acontecimento
incisivo, coloca-se um importante ato cltico-ritual ou at se comunica uma
ordenao cltica:
- por ocasio da criao (Gn 1), o descanso de Deus no stimo dia (como
tambm a concesso da alimentao vegetariana aos seres humanos e animais);
- no tempo de No aps o dilvio (Gn 9), a proibio do consumo de sangue
(pressupondo-se uma alimentao com carne) e do homicdio;
- no tempo de Abrao (Gn 17), o mandamento da circunciso;
- junto ao Sinai (x 19.1s.; 24.15ss.), a instituio das leis clticas (x 25ss.),
inclusive da santificao do sbado (16.22ss.; cf. 31.12ss. PS).
J cedo se reconheceu, no entanto (J. J. P. Valeton, 1892; teoria aperfei-
oada por W. Zimmerli, E. Kutsch), que P s tem conhecimento de uma dupla
frrmao de aliana, pois reserva o termo berit, "aliana" para designar os dois
acontecimentos do meio, as promessas divinas feitas a No e Abrao (cf. a
tabela abaixo).
Quadro dos perodos do Escrito Sacerdotal
Gn I Criao do mundo Indicao da alimentao
Elohim
(O ser humano imagem de vegetariana
"Deus"
Deus, senhor sobre a terra) Descanso de Deus no stimo dia
Gn 9 ''Aliana'' com No - com a humanidade Mandamentos a No:
Absteno de consumo de sangue e Elohim
proibio de homicdio "Deus"
Arco-ris como "sinal"
Gn 17 "Aliana" com Abrao - com ofuturo Exigncia de "perfeio" diante de EI Shaddai
povo de Deus Deus "oDeus
(Promessa de descendentes eposse da terra, Circunciso como "sinal" todo-poderoso"
assim chamada frmula da aliana vv. 7s., Abro
=Abrao, Sarai =Sara)
Gn 23 Compra de parcela de terra
Aps o cumIJf!llento da promessa de
descendentes (Ex 1.7):
x 6 poca de Moiss Desde a vocao de
(Frmula da aliana - bipartida, Pscoa (x 12) Moiss
mas somente como ao de Deus x 6.7) S!illtificao do sbado (x 6): Jav.
(Ex 16; cf. 31.12ss.)
x 24.15ss. Sinai
Promessa de Deus de "habitar" entre 1bemcu}o com prescries Junto ao Sinai (x 25) e
as pessoas (x 29.43ss.) clticas (Ex 25 ss.) depois da construo do
tabernculo (x 40; Lv
9): kabod, "glria" de
Jav
102
1. Apesar de seu intenso interesse na comunidade cltica, o Escrito Sacer-
dotal tem - tal qual o Javista, talvez at num grau maior - uma perspectiva
universal. A Histria comea com a criao do mundo. No s o israelita, mas
todo ser humano como criatura imagem de Deus, ou seja, de certo modo
representante de Deus na terra, abenoado e incumbido de domin-la (Gn 1.26ss.).
A tradio em que se baseia Gn 1 se assemelha epopia babilnica da criao
do mundo Enuma eJish e representa a criao como seqncia de oito obras (luz,
firmamento, mar/terra, plantas, astros, animais aquticos e alados, animais terrestres,
seres humanos). Provavelmente ela continha originalmente s um relato de atos criado-
res ["E fez Deus ..."]. A este relato se sobrepuseram, a posteriori, o relato da palavra
["E Deus disse: Haja ..."] e a contagem dos dias, que tambm o corrigiram teologica-
mente (W. H. Schmidt, ao contrrio de O. H. Steck). Se plantas e seres vivos so
criados "segundo sua espcie" (Gn l.11s., 20s.,24s.), j surgem as classificaes que
mais tarde vo ser decisivas para o culto, pois possibilitam a distino entre o que
puro e o que impuro (cf. Lv 10.10; 20.25; 11.13ss.). Para P a existncia de toda a
populao da terra conseqncia da bno divina (Gn 1.28; 9.1,7), ou seja, da palavra
poderosa e autoritativa de Deus. De uma forma sbria as genealogias espalhadas no
texto antes e depois do relato do dilvio confmnam o cumprimento desta palavra (Gn
5; 10; 11.10ss.*).
Enquanto a promessa da multiplicao se enraiza na tradio patriarcal, para P,
ao contrrio, as promessas feitas a Abrao e Jac (17.2ss.; 28.3; 35.11; 48.11) vm a ser
uma renovao da bno sobre a criao e No. Com a formao do povo de Israel se
concretiza de forma exemplar, prototpica ou tambm representativa a promessa feita
humanidade (cf. tambm Ex 1.7 com Gn 1.28).
Tudo o que foi criado cumpre sua funo aos olhos de Deus: "Eis que era tudo
muito bom" (1.31). Todavia, no se inclui neste juzo o derramamento de sangue na
terra (Gn 1.29s.; cf. 2.16 J e a inverso escatolgica em Is 11.6ss. e outras). "Atos
violentos" s aparecem no mundo atravs do ser humano e induzem Deus a modificar
seu juzo: "Eis que a terra estava corrompida" (Gn 6.1ls. P).
Tal qual o mundo, tambm se ordena o tempo; a criao se realiza como Histria.
Ao final de seis dias de labuta est o descanso como concluso e meta do trabalho. Num
primeiro momento o descanso est reservado exclusivamente a Deus (Gn 2.2s.). Mas
constitui tambm aluso e antecipao daquilo que o ser humano deve fazer mais tarde
(x 16). Desta forma o sbado da criao ainda no tem significado de "sinal".
Por isto no de estranhar, nem do ponto de vista da tradio nem do da
prpria inteno do Escrito Sacerdotal, que a criao no seja considerada
aliana. Ao contrrio, P transformou a confmnao de Deus aps o dilvio, de
no mais amaldioar a terra (Gn 8.21 J), em uma "aliana" - uma promessa
inquebrantvel, vlida independentemente de qualquer comportamento pecami-
noso humano (cf. Is 54.9s.). Esta promessa reforada pelo "sinal" do arco-
ris, que deve lembrar Deus de manter a "aliana" (Gn 9.11-17).
Enquanto, segundo a verso javista, o dilvio irrompe com uma chuva forte e
persistente, P descreve uma catstrofe csmica na qual novamente confluem as guas
103
do mar primitivo (Gn 7.11; 8.2) - as guas de cima do fmnamento e as debaixo da
terra - separadas por ocasio da criao (Gn 1.6s.). Representaria o dilvio, ento, o
retomo do caos (1.2)? Sem dvida no se anula a criao; o firmamento permanece,
mesmo que se abram suas comportas e peream todos os seres vivos. O dilvio no
destri o mundo criado e ordenado, mas sua parcela corrompida, os habitantes culpados
(6.12s.).
Depois do dilvio, Deus renova sua bno da criao; surge, contudo, uma
alterao incisiva e profunda na criao: permite-se, agora, a matana de animais (9.2
em contraposio a 1.29s.). Somente se probe o consumo de sangue, onde, segundo a
concepo vigente, se localiza a sede da vida (9.4; cf. Lv 17.11,14; Dt 12.23; At 15.20;
21.25). E a matana de seres humanos, feitos imagem de Deus, acarretar uma severa
punio (Gn 9.6). Desta forma se restringe o domnio do ser humano sobre a terra
(1.28); o ser humano protegido contra si mesmo.
Enquanto a promessa de Deus feita a No vale para todos os seres
humanos, a segunda promessa de aliana (Gn 17) limita-se a um crculo mais
restrito: a Abrao e seus descendentes. Neste caso P talvez tenha podido
recorrer a uma tradio de uma "aliana" com os patriarcas (Gn 15), pelo
menos a desenvolve e lhe confere novos acentos teolgicos. A aliana perptua
suplanta a promessa de uma descendncia incontvel e de posse da terra.
includa a promessa genrica, a assim chamada frmula da aliana: "Eu serei
seu Deus" (cf. x 6.4ss.; 29.45s.). Tambm esta aliana no est vinculada a
nenhuma condio prvia, embora imponha um compromisso aos envolvidos.
Desta vez os seres humanos assumem o "sinal": a circunciso, e com ela
confessam sua adeso aliana de Deus (17.9-14) e, com isto, seu "andar na
presena de Deus" (17.1; v. abaixo).
P compreende a aliana firmada com Abrao como "aliana com Abrao, Isaque
e Jac" (x 2.24; cf. 6.4; de maneiradiferente: Lv 26.42). No entanto, Isaque e tambm
Jos recuam para o segundo plano na exposio do Escrito Sacerdotal. S sobre Jac
relata mais minuciosamente. Ele recebe de novo em Betel a promessa (de terra e
descendncia; Gn 35.6a, 9-13; 48.3s.), que comea a se cumprir em seus filhos (x 1.7).
Caso depois da aliana com No e Abrao esperarmos que P tambm
retrate a revelao no Sinai e a instituio do culto nela contida como uma
"aliana", vamos decepcionar-nos (o termo somente se encontra numa camada
mais recente da Lei da Santidade, em Lv 26.39ss.). Talvez as fontes escritas
mais antigas (J, E) ainda no tenham conhecimento da firmao de uma aliana
junto ao monte Sinai ou Horebe, mas pelo menos sua camada redacional (x
24.7s.; 34.1O,27s.; cf. 19.5) e o Deuteronmio (5.2s.) sabem dela. Temos no
silncio surpreendente do Escrito Sacerdotal to-somente um efeito da tradio
mais antiga a respeito dos acontecimentos junto ao monte Sinai ou h uma
correo explcita da forma traditiva entrementes elaborada? Como j aconteceu
por ocasio da vocao de Moiss (x 6.2, em oposio a Gn 17.1), falta
tambm na percope do Sinai a proclamao do direito divino, nem se falando
104
de qualquer anncio de maldio ou bno. Embora P mencione somente de
passagem as tbuas da lei, estas levam o nome de "tbuas do testemunho" (x
31.18; 25.16,21). Estas tbuas devem ento testemunhar no somente o compro-
misso do ser humano, mas tambm a promessa de Deus. O que significam estas
mudanas na nfase? Manifesta-se na modificao da tradio novamente a
situao vigente no tempo do exlio, onde as ameaas j se tinham concretiza-
do? Foi isto que presumiu W. Zimmerli (p. 215): "Para P tornou-se question-
vel se a aliana do Sinai em sua forma antiga pode ainda servir de fundamento
do relacionamento com Deus. Assim toda fundamentao do estar sob a aliana
ancorada na aliana com Abrao."
105
Escrito Sacerdotal, que no contm nenhum Declogo, concentrou os manda-
mentos fundamentais da assim chamada primeira tbua, especialmente o pri-
meiro mandamento, na exortao: "Anda na minha presena!" e na exigncia
de perfeio (cf. Dt 18.13; 1 Rs 8.61; SI 15.2 e outras). Ao desvelo de Deus
para com Abrao deve corresponder a total dedicao de Abrao a Deus. J o
relacionamento dos patriarcas com Deus marcado pela decisiva exclusividade
da f em Jav, enquanto que o cerne da assim chamada segunda tbua, com os
mandamentos ticos do Declogo, j est contido na proibio de derramar
sangue dirigida a No (Gn 9.6). Parece que P como que divide o Declogo em
seus elementos principais: a exigncia tica vale para toda a humanidade, o
ncleo teolgico reservado a Abrao e seus descendentes.
Como no caso da poca abramica, P introduz o ltimo perodo, a poca
de Moiss, com uma auto-apresentao de Deus, a que no se vincula, no
entanto, nenhuma exortao:
"Apareci a Abrao, a Isaque e a Jac
como EI Shaddai,
mas no me dei a conhecer a eles
pelo meu nome Jav." (x 6.3.)
Compreende P a sucesso de perodos da revelao de Deus como simples
seqncia de fatos ou como uma progresso? Em todo caso parece que se sente
algo da diferena entre Deus e Deus na sua revelao. P professa a identidade
do nico Deus que se manifesta sob diversas formas e com nomes diferentes
no transcurso do tempo. Desta maneira P busca fazer, ao mesmo tempo, jus s
transformaes na histria e identidade da f.
Na poca mosaica, entretanto, nem sempre P menciona Jav, mas introduz uma
nova diferenciao na forma como Deus se revela: a manifestao da glria de Jav (v.
abaixo).
3. De forma parecida como j o fazia J (v. acima 6b, 4), P constri uma
grande ponte que vai da vocao de Moiss, passando pelas pragas, at o
milagre no Mar dos Juncos (x 6-14). Como um lema est colocada sobre esta
seqncia de ao a promessa: "Eu vos resgatarei (...) com grandes julgamen-
tos" (6.6; cf. 7.4; 12.12); os egpcios devem aprender a reconhecer a Jav (7.5;
14.4,18). Nos detalhes, P descreve as pragas como um confronto entre a religio
egpcia e a f em Jav, funcionando o milagre no Mar dos Juncos como
derradeiro julgamento em que Jav se glorifica a si mesmo.
Assim como Elias enfrenta os profetas de Baal (1 Rs 18), Moiss e Aro se
confrontam, em nome de Jav, com uma multido de sacerdotes adivinhos egpcios no
"embate com os magos". Quando os dois cumprem a ordem de Deus e realizam o
milagre que transforma a vara em cobra, os magos egpcios fazem o mesmo, apelando
para suas "cincias ocultas" (x 7.11s.). Assim no se nega num primeiro momento a
106
eficcia de tais poderes, s se estabelece a diferena: os egpcios trabalham com magia,
enquanto os representantes de Israel invocam a palavra de Jav; pois a exclusividade de
Jav no admite nem magia nem bruxaria (cf. Nm 23.23; Dt 18.10 e outras). Num
primeiro momento esta diferena entre f e magia "no se manifesta visivelmente e s
pode ser crida e em seguida professada" (M. Noth). Mesmo assim, ela se toma evidente
tambm no mbito emprico (ou seja, do milagre) quando no decorrer da ao se
demonstra em escala crescente a superioridade dos representantes de Jav ou antes a
superioridade da palavra de Jav (x 7.12). Mais duas vezes os magos logram imitar os
feitos de Moiss e Aro (7.22; 8.7), depois fracassam, de modo que tm de reconhecer
diante do rei a supremacia de Jav: atuando est o "dedo de Deus" e no magia (8.14s).
Por fim os prprios sacerdotes so acometidos pela praga, no conseguem mais "man-
ter-se de p" (9.11) e recuam. Embora no seja dito explicitamente que as foras
mgicas dos magos residam no poder de seus deuses, o motivo retomado na ameaa
de Jav: "Farei julgamento sobre todos os deuses do Egito." (12.12).
Reflete o episdio novamente a situao atual do Escrito Sacerdotal?
Pretende P expressar de forma velada a supremacia da f em Jav sobre a
religio e a magia dos babilnios (cf. Dn 1.20; 2.2ss.; Gn 41.8,24)? Em todo
caso o fracasso das negociaes conforme P , mais ainda do que em J (x
10.1), desgnio divino. Antes de qualquer ao do fara Deus anuncia: "Endu-
recerei o corao de Fara" (7.3; cf. 9.12; 10.20,27; 7.13,22 e outras), e antes
do milagre no Mar dos Juncos, o verdadeiro alvo das narrativas das pragas, a
palavra de Deus de novo antecipa o acontecido: "Glorificar-me-ei em Fara e
em todo o seu exrcito, para que reconheam que sou Jav" (14.4,17s.; cf. 7.5;
dito de Israel: 16.6,12).
107
Quando Israel chega ao Sinai (x 19.1-2a), "a nuvem cobre o monte Sinai
e a glria de Jav desce" - "como um fogo devorador (24.15ss.). Moiss
penetra na nuvem e recebe as instrues de Deus para a construo da "tenda
do encontro" ("tabernculo"; uma combinao de tenda, arca e templo de
Jerusalm) e para a investidura de sacerdotes (25-29). Depois de terminada a
obra, o santurio recm erigido est repleto da "glria" de Jav (40.34; cf.
25.22; 29.43ss.) e esta volta aps a consagrao do altar e a consumao do
sacrifcio, depois do primeiro culto, portanto (Lv 9.6,23). Decisivo que este
processo de revelao no se restringe ao espao santo junto ao monte, embora
o povo seja mantido distncia do santurio, protegido pelos sacerdotes e
levitas, de acordo com a ordem de acampamento sacerdotal (Nm Iss.). Tambm
depois da partida do Sinai, quando a "nuvem se levanta" (Nm 10.11), a "glria
de Jav" intervm em situaes emergenciais - auxiliando, mas tambm
julgando, sendo que o castigo resulta mais rigoroso depois da experincia da
revelao (Nm 14; 20; cf. 16s.). Mediante o conceito da "glria de Jav", que
a histria da sada do Egito j prepara (x 14), P conjuga, portanto, a revelao
do Sinai com a marcha pelo deserto (x 16; Nm 14 e outras). Por conseguinte
P no mantm o evento no Sinai isolado; ele preserva, antes, a continuidade:
no Sinai se revela o Deus que libertou Israel do Egito. A fala e ao de Deus
no culto e na histriase alternam, no podendo,portanto,ser separadas uma da outra.
108
Sem sua concordncia, sim, apesar da sua desobedincia (x 6.9,12; cf. 16.20;
Nm 14.35; 20.10), o povo se encontra na comunho j anunciada e concedida por Deus
a Abrao; tambm por isso esta comunho concebida como "aliana perptua" (Gn
17.7), feita para todo o sempre. A promessa: "meu povo - vosso Deus" formulada
exclusivamente como atuao de Deus (x 6.7); o povo deve "reconhec-lo" (6.7;
16.6,12; 29.46).
109
9
DIREITO VETEROTESTAMENTRIO
110
principal ou complementar (a assim chamada apdose) estabelece a conseqn-
cia legal: impunidade ou determinao da pena, como reparao nica ou
mltipla, eventualmente tambm a condenao morte (p. ex. Dt 22.23-27). As
leis do Antigo Oriente em grande parte apresentam a mesma forma. Esta forma
deve ter sido transmitida a Israel pelos cananeus, se que os israelitas no
adotaram simplesmente preceitos jurdicos vigentes entre os cananeus.
Enquanto se percebem estas trs caractersticas de forma inequvoca, uma
outra propriedade, a funo deste gnero de direito, s pode ser inferida.
Presume-se que o direito casustico - melhor seria falar em direito formulado
de maneira condicional, talvez denominado de mishpat no AT (x 21.1) -
servia de critrio para fundamentar as decises da justia ordinria. Constitua
ele, portanto, a base legal para a comunidade jurdica representada pelos ancios
junto ao porto (v. acima 3b,3)? Surgiram os preceitos jurdicos de fato na
jurisprudncia concreta e foram somente a posteriori generalizados (G. Liedke)?
A. Alt distinguiu deste gnero o assim chamado direito apodtico. incondicional,
apresenta-se de forma rtmico-mtrica, geralmente compilado em sries. Incondicional
e apodtico significa que, por um lado, a lei no contm nenhuma orao condicional
prottica que defma exatamente o caso em questo. Por outro lado, prescreve sempre o
mesmo castigo, qual seja, a excluso da comunidade mediante maldio, banimento ou
morte, ou, ento, tal qual o Declogo, no faz qualquer meno das respectivas conse-
qncias jurdicas.
Este quadro determinou a discusso aps A. Alt. O que A. Alt reclamou como
sendo "apodtico", no representa nenhuma unidade, mas se subdivide em diversas
formas que mencionaremos a seguir. Entre elas podemos distinguir dois tipos bsicos:
por um lado, oraes participiais ou relativas com determinadas conseqncias jurdicas
como sentenas de morte e maldio e, por outro lado, proibies e mandamentos que
no so acompanhados por nenhuma sano: "Tu (no) deves". A rigor, cada forma de
preceito jurdico teria que ser examinado separadamente quanto ao seu Sitz im Leben.
111
se o caso jurdico com auxlio de um particpio, sem estabelecer qualquer
condio prvia, ou seja, de modo "apodtico". Ao caso se vincula uma
sentena jurdica consecutiva que se mantm constante (cf. x 22.18). Os
preceitos valem para o homem adulto, que, alm dos pais, tambm objeto de
proteo. Desta forma a origem deste complexo de leis pode remontar aos
primrdios, talvez at aos tempos nmades, quando o homem era o membro
mais importante da sociedade (v. acima 3b,2). A forma rigorosa, que decerto
se baseia em tradio primitiva oral, se desfaz, ento, no decorrer do tempo
(compare, p. ex., x 21.12,17 com os paralelos Lv 24.17; 20.9); e complemen-
taes dentro do prprio conjunto mostram que mais tarde os preceitos jurdicos
careciam de interpretao.
Visto que x 21.12 fala do homicdio sem especificar se ele intencional ou
acidental, o preceitojurdico definido de forma mais restrita posteriormente (pelos vv. 13s.).
Pelo seu contedo as sentenas de morte lembram a assim chamada segunda
tbua do Declogo em x 20.12-15. Por via de regra, no entanto, ainda no se consegue
explicar de forma genrica o relacionamento entre preceitos jurdicos, que associam
determinadas sentenas a casos especficos, e as proibies desprovidas de sanes do
tipo: "Tu no deves". No caso apresentado, todavia, observa-se que os mandamentos
do Declogo provm de um estgio traditivo mais recente.
Ainda em poca mais recente preceitos jurdicos similares se ajuntam em
colees (Lv 20.2,9-16; tambm 24.10ss; 27.29). No faltam, contudo, determi-
naes isoladas formuladas de forma idntica ou similar (Gn 2.17; 4.15; x
19.12; Jz 21.5; 1 Sm 11.13 e outras).
Observa-se que tais leis isoladas - mais recentes - , inseridas dentro de contex-
tos narrativos maiores, mostram que h, por trs dos respectivos preceitos jurdicos, uma
autoridade que exige ou exclui determinado comportamento (cf. Gn 26.11; 2 Rs 11.8,15
e outras). Mas que autoridade se oculta atrs da antiga srie em x 21.l2ss: o pai de
famlia (segundo G. Liedke) ou o grupo nmade?
112
aos homens, especificamente aos homens maiores de idade, cidados de plenos
direitos, casados (vv. 20-23), juridicamente responsveis (vv. 19, 25) e proprie-
trios de terras (v. 17). As maldies no ameaam com a pena de morte no
caso de um determinado delito, mas constituem uma espcie de auto-amaldi-
oarnento antes de ocorrer qualquer delito de fato, uma sano promissria para
o caso da transgresso da lei, punida provavelmente com a excluso da comu-
nidade. Nesta questo ainda se fazem sentir costumes nmades (cf. Gn 4.11s.;
v. comentrio de W. Schottroff a respeito).
H tambm maldies isoladas, no agrupadas em sries e formuladas de
forma diferenciada, p. ex., na histria dos primrdios do Javista (Gn 3.14ss.;
4.11; tambm Jz 21.18; Jr 17.5; 20.14s. e outras). Alm disso encontramos
maldies (sem a caracterstica frmula de maldio) que se expressam no rogo
de doenas ou pragas (Dt 28.20ss.). Parece que por via de regra a maldio,
originalmente talvez uma poderosa palavra mgica, compreendida, no AT,
como atuao de Deus.
Contrapem-se s palavras de maldio as palavras de bno (baruk,
"bendito"; cf. Dt 28.3-6 em contraposio a 28.16-19). Estas devem ser distin-
guidas, por sua vez, das bem-aventuranas ou macarismos, que no AT consti-
tuem votos de felicidade ('ashre, feliz, ditoso, 1 Rs 10.8; SI 1; 128), cuja
contraparte so os "ais" (v. abaixo 13b3,b).
113
b) Colees de leis
1. O Declogo
114
o Declogo dificilmente se originou, como muitos supem, de um "declogo
primitivo", que j teria compreendido todos os dez mandamentos. Antes, a srie de dez
foi composta de sries menores originalmente independentes, que compreendiam de um
a quatro mandamentos. Podemos delimitar, contudo, com relativa certeza apenas dois
subgrupos: a) o primeiro e o segundo mandamentos (cf. Lv 19.3s.; x 34.l4ss.) e b) as
trs proibies de homicdio, adultrio e roubo (cf. x 21.12ss.; Os 4.2 e outros). Ambos
os subgrupos provavelmente formavam antigamente cada qual urna unidade autnoma.
De forma similar ao que aconteceu com o dodeclogo de maldies em Dt 27 e em
outros textos jurdicos, preceitos ticos e teolgicos se ajuntaram, ao que parece, apenas
de forma secundria no plano histrico-traditivo (ou at literrio?).
Continua controvertido se o profeta Osias (3.1; 4.2; 13.4), no sculo VIII, e
Jeremias (7.9), apenas poucas dcadas antes do exlio, j conhecem o Declogo e citam
livremente dele ou apenas se inserem na corrente traditiva que culminou, mais tarde, no
Declogo.
Os dez mandamentos valem para o grupo que experimentou a promessa
(x 3) e o auxlio de Deus (x l4s.). J o prembulo: "Eu sou Jav, teu Deus"
com sua evocao histrica se refere expressamente ao libertadora de Deus.
Os mandamentos, portanto, no querem estabelecer a comunho com Deus,
seno mant-la. Formulados de forma negativa, no conseguem descrever o
relacionamento com Deus, mas apenas demarcam os limites cuja transgresso
implica o rompimento deste relacionamento.
Se, por um lado, os dez mandamentos apresentam o relacionamento com
Deus em sua peculiaridade (vinculao com a histria, adorao exclusiva de
Jav, proibio de imagens), eles servem, por outro lado, proteo do prxi-
mo. Os pais idosos devem ser protegidos contra danos, abusos, praticados por
filhos adultos (x 21.15,17; Pv 19.26; 28.24 e outros); a vida, a liberdade, o
matrimnio e a propriedade do prximo so resguardados da intromisso alheia.
A proibio do homicdio no-premeditado se refere to-somente ao derrama-
mento ilcito de sangue pelo indivduo e no se aplica ao homicdio perpetrado
pela coletividade, atravs de pena de morte ou na guerra. Em contraposio, a
proibio da "cobia" parece ir alm da apropriao violenta de bens alheios
(cf. Mq 2.2), coibindo j o pensar e o desejar (cf. Pv 6.25). Assim os dez
mandamentos no se contentam em apenas proibir um comportamento inacei-
tvel, mas ao mesmo tempo convidam a uma reflexo sobre a forma como os
pais podem ser honrados e o prximo, protegido. Pelo menos mais tarde, at a
poca neotestamentria inclusive, o Declogo teve seu lugar garantido (tam-
bm) no culto (cf. SI 50.7;81.9ss.).
Alm das caractersticas formais acima mencionadas (al ), A. Alt ainda assinalou
dois outros critrios quanto origem e funo do direito por ele denominado "apo-
dtico". "Por seu vnculo popular, ele seria israelita e por seu vnculo divino, javista"
(KJeine Schriften zur Geschichte des Volkes Israel I, p. 323). O direito apodtico seria,
portanto, singular no Antigo Oriente. Conforme Alt, ele estaria arraigado na leitura da
115
lei diante da comunidade reunida, tendo assim uma origem (Sitz im Leben) cultuaI.
Entrementes, contudo, foram descobertos paralelos no Antigo Oriente. Tambm o texto
arrolado por Alt como prova desta origem cultuaI, Dt 31.9-13 (um acrscimo ao livro
do Deuteronmio), segundo o quaI "esta lei" (deuteronmica) deve ser recitada por
ocasio da festa dos tabernculos a cada sete anos, no constitui um argumento slido
em favor da origem sacro-cultual do direito apodtico. Independentemente de quaI tenha
sido o Sitz im Leben das sentenas de morte e das maldies, o Declogo pelo menos
d margem seguinte concluso: dificilmente determinados preceitos jurdicos provie-
ram do culto, mas este os acolheu posteriormente (cf. tambm as liturgias de entrada
em SI 15; 24.3s.). Em todo o caso o direito integrado de forma surpreendentemente
conseqente na f em Jav.
Indo muito alm de sries semelhantes (x 34; Dt 27; Lv 19s.), o Dec-
logo abrange os mandamentos teolgicos e ticos mais importantes, ordenados
segundo seu peso temtico, na forma mais genrica possvel. A destacada
importncia que lhe foi conferida se depreende do fato de ele ser compreendido
como palavra de Deus (x 20.1; Dt 5.4) e de ser anteposto, na percope do Sinai
como tambm no Deuteronmio, s outras leis, que so estilizadas s como
palavras de Moiss. A partir do Cdigo da Aliana (x 20.22) estas outras leis
se caracterizam, assim, pela composio da percope do Sinai, como disposi-
es complementares ao Declogo.
2. O Cdigo da Aliana
116
(22.17-23.9) chama a ateno (como j o prlogo 20.22-26) pelos proibitivos:
"No fars" (22. 17,27ss.; 23.1ss.) e pelas justificativas parenticas - decerto
mais recentes, mas teologicamente importantes, como: "Vs conheceis o cora-
o do forasteiro, visto que fostes forasteiros na terra do Egito" (23.9; 22.20)
ou: "Quando clamar a mim (o desamparado), eu o ouvirei" (22.22,26s.). Assim
temos a grosso modo a seguinte diviso:
Ill. Moldura narrativa 20.(18-)22
11. Moldura teolgica 20.23-26
Proibio de imagens, lei do altar
I. Ncleo legislativo 21.1-23.9
A) 21.2-22.16
21.2-11 Direito referente aos escravos
21.12-17 Sentenas com pena de morte
21.18-36 Leses corporais
21.23ss. (Lv 24.20) Jus telionis (lei do talio)
21.37-22.14(16) Responsabilizao legal, indenizao
B) 22.17-23.9
22.17-19.27ss. Preceitos religiosos
22.20ss. Conduta social
23.lss. Procedimento jurdico
3. A Lei da Santidade
Se o Cdigo da Aliana a coleo de leis mais antiga, a assim chamada
Lei da Santidade Lv 17-26 (= H) constitui a mais recente, habitualmente datada
na poca do exlio. Tambm ela rene diversos temas e surgiu num processo
117
cumulativo paulatino, em vrias camadas. Recolheu tanto material muito antigo
(p. ex., em Lv 18; 19) como tambm material recente, que em grande parte
reelaborou e reinterpretou. Neste processo tambm a parnese aumentou muito
em relao ao Cdigo da Aliana; evoca a histria - de forma anloga
pregao deuteronmico-deuteronomstica - e exorta obedincia (Lv 18.2ss.,
24ss. e outras). controvertido se H foi, como se costuma supor, originalmente
independente, tendo sido somente mais tarde inserida no Escrito Sacerdotal
(PG), ou se no foi concebida desde o incio como complementao ao mesmo
(K. Elliger). Ocasionalmente H acolhe prescries deuteronmicas, as desenvol-
ve ou corrige (A. Cholewinski). Desconsiderando as normas clticas, h as
seguintes disposies importantes:
Lv 17 Continuao de Dt 12: santurio central, proibio da ingesto de sangue, mas
(ao contrrio de Dt 12; Gn 9.2ss. P) proibio do abate profano de animais.
"A alma da carne est no sangue" (vv. 11,14).
Lv 18 Relaes sexuais (num cl)
2 Sm 13.12: "No se faz assim em Israel."
Lv 19 Mandamentos teolgicos e ticos, similares ao Declogo.
Mandamento referente aos pais, ao sbado, primeiro e segundo mandamentos
(vv. 3s.; cf. 26.1s.).
Mandamento do amor (vv. 17s.,34; cf. vv. 14,32)
Lv 23 Calendrio festivo
Cf. x 23.14ss.; 34.18ss.; Dt 16
Lv 25 Ano sabtico (cf. x 23.10s.) e ano do jubileu; a terra de Israel.
Resgate no a cada sete (Dt 15), mas a cada 50 anos.
"A terra me pertence e vs sois para mim estrangeiros e hspedes" (v. 23).
Lv 26 Bno e maldio (cf. Dt 28)
Vv. 40ss. Promessa de salvao no exlio.
V. 46 Formulao conclusiva.
O material diversificado costuma ser interpretado com a assim chamada
frmula de auto-apresentao "Eu sou Jav" ou, de forma ampliada, com a
promessa de Deus, a assim chamada frmula de benevolncia "Eu sou Jav,
teu Deus". A interpretao que deu o nome Lei da Santidade uma parnese
que compreende a atitude da comunidade como resposta e reflexo da conduta
de Deus: "Sede santos, porque santo sou eu, Jav, vosso Deus." (19.2). A
partir da as diversas leis adquirem sua inteno comum (20.26; 21.8,23; 22.32
e outras).
Em suma, o fenmeno da "lei" aparece no AT sob mltiplos conceitos e
formas; todos eles no pretendem estabelecer, mas manter a comunho com
Deus, a qual se fundamenta numa ao dele, e assim testemunhar que a ddiva
de Deus implica certos compromissos.
118
10
O DEUTERONMIO
a) Questes introdutrias
119
Ao redor do ncleo de leis (Dt 12-26) agregam-se uma moldura interior
(5-11; 27-28) e outra exterior (1-4; 29-30) de discursos, enquanto os captulos
fmais (31-34) interligam o cntico (32) e a bno (33) de Moiss, como
tambm informaes sobre a investidura de Josu (31) e a morte de Moiss
(34), alm de outros temas. Assim podemos visualizar a grosso modo a estru-
tura do Dt num grfico em forma de degraus:
I. Dt 12-26
11. ..--_5_-1_11 127-28
TIL ~ 129-30
120
12 Exigncia de centralizao
13 Seduo para adorar deuses estranhos
14 Mandamentos referentes alimentao (cf. Lv 11)
15 Remisso de dvidas
16 Calendriofestivo, sobretudoPscoa (cf. x 23.14ss.;
Lv 23; Nm 28s.)
b) 16 (v. 18)-18 Disposies referentes a autoridades:
juzes (16.18-17.13), rei (17.14-20), sacerdotes (18.1-8), pro-
fetas (18.9-22; cf. 13.2-6)
c) 19-25 Mandamentos de contedo variado, sobretudo concernentes
conduta social
19 Direito de asilo (cf. 4.41ss.; Nm 35; Js 20)
20 Leis referentes guerra (cf. 21.10ss.; 23.9ss.; 24.5s.)
21s.; 24s. Leis referentes ao matrimnio, entre outras
23.1-8 Leis sobre pertena comunidade (cf. Is 56)
d) 26 Apndice litrgico
(primcias, dzimo, credo)
11. Dt 27-28 Primeiros discursos de despedida
27 Maldio (vv. 15ss.: dodeclogo de maldies)
Ebal e Garizim (cf. 11.26ss.; Js 8.30ss.)
28 Bno e maldio
Ill, Dt 29-30 Segundo bloco de discursos de despedida (parnese)
28.69 Aliana de Horebe e Moabe
30.11ss. Proximidade da lei
IV. Dt 31-34 Concluso do Pentateuco. Apndices
31.9ss. Leitura da lei a cada sete anos
32 Cntico de Moiss
33 Bno de Moiss constituda por um hino (vv.
2-5,26-29) e ditos tribais (vv. 6-25; cf. Gn 49)
34 Morte de Moiss (P: vv. la, 7-9)
2. Depois que surgiram dvidas crescentes a respeito da autoria do Pen-
tateuco, atribuda a Moiss, que diziam diretamente respeito ao Dt como fala
de Moiss, e depois que se elaborou gradativamente a teoria das fontes, imps-
se j no incio do sculo passado (de Wette, 1805) a concepo mais antiga de
que o Dt uma grandeza autnoma que est correlacionada com a reforma do
culto realizada por Josias no ano de 621 a.C. De fato h profundas coincidncias
entre o Dt e o relato sobre a descoberta da lei e a reforma, contido em 2 Rs
22s. Assim as exigncias da lei do Dt coincidem com as seguintes inovaes
de Josias:
a) a centralizao do culto (compare 2 Rs 23.5,8s.,19 com Dt 12), que vai
muito alm do objetivo de reformas at ento conhecidas - de purificar o culto
de elementos estranhos - ao excluir outros santurios de Jav;
121
b) a festa da Pscoa, comemorada em conjunto (2 Rs 23.21ss.; Dt 16);
como tambm
c) a proscrio da adorao dos astros (2 Rs 23.4s.,11; Dt; 17.3), da
prostituio sacra (2 Rs 23.7; Dt 23.18s.), das massebas [estelas] e asheras
[postes sagrados], do sacrifcio de crianas, da adivinhao, da necromancia e
outras prticas tpicas de religies estranhas (2 Rs 23.4s., lOss.,24; Dt 12.2s.,31;
16.21s.; 18.lOs.).
Porm nem todas as disposies do Dt foram colocadas em prtica (cf.
talvez 2 Rs 23.8s. em oposio a Dt 18.6ss.). At o susto do rei ao encontrarem
e lerem a lei (2 Rs 22.11,13,16s.; cf. Ne 8.9) pode ter sido provocado pelas
maldies com que Dt 27(s) ameaa no caso de desobedincia.
Pretendia a reforma de Josias originalmente apenas purificar o culto a Jav de
elementos assrios? Ento a descoberta do Dt no teria desencadeado a reforma, mas
estabelecido um objetivo novo, mais abrangente, para a obra j iniciada (cf. abaixo o item 5).
Ao contrrio de suas pretenses, o Deuteronmio no fala de Moiss,
mas reflete as circunstncias da poca da monarquia ou at de um tempo mais
recente ainda; provavelmente no mera coincidncia que ele conhea os riscos
da monarquia (17.l4ss.) ou alerte contra o falso profetismo (13.2ss.; 18.9ss.).
Em razo desta fixao histrica se levantam perguntas relativas origem e
coeso do livro que at hoje no foram respondidas de maneira definitiva.
122
c) talvez tambm semelhanas com o Elosta (p. ex., na idia de "provar"; cf.
Gn 22.1 E respectivamente Dt 8.2,16; 13.4),
d) a concepo de monarquia, inclusive o alerta contra a instalao de um
estrangeiro no cargo de rei (Dt 17.15), cabe muito bem no Reino do Norte, mas
dificilmente teria sentido em Jerusalm e Jud, onde a dinastia de Davi era incontestada,
e) o alerta contra a apostasia da f em Jav por parte de uma cidade inteira (Dt
13.13ss.) tambm corresponde melhor s condies do Reino do Norte.
Depois de 722 a.C. este legado provindo do Norte de Israel poderia ter migrado
- tal qual a mensagem de Osias e possivelmente tambm a do Elosta - para o Reino
do Sul, fundindo-se ali com as tradies locais.
Outros procuram mais insistentemente tradies jerosolimitas no Dt. Contudo, no
Dt pouco se encontra da teologia sionista, tpica de Jerusalm (como no SI 46; 48; Is
6). Ser que certas referncias no so de camadas posteriores? Jerusalm antes o
lugar onde se aplicam as leis deuteronmicas do que o lugar de onde estas provm.
Tambm a frmula caracterstica: "o lugar que Jav escolheu" (v. abaixo) provavelmen-
te s foi relacionada posteriormente com Sio (cf. o SI 132).
123
Originalmente as leis se dirigiam ao povo, portanto na verso no singular (cf.
abaixo a referncia a Dt 12 e, como exemplo das passagens discursivas, a referncia a
Dt 7.6-8).
Devem-se atribuir as frases no plural em Dt 5ss. redao deuteronomstica (G.
Minette de Tillesse)? Vale lembrar que decerto nem sempre os trechos no plural se
distinguem das passagens no singular, de modo que devemos considerar tambm a
possibilidade de se tratar de um recurso estilstico.
Muitas vezes se percebe claramente a estratificao relativa nos diversos
captulos, enquanto que difcil correlacionar as camadas das diversas passa-
gens e situ-las no tempo, de modo que podemos reconstruir s com grande
reserva a histria do seu desenvolvimento. Provavelmente o crescimento do
livro aconteceu de dentro para fora, num processo demorado que compreendeu
pelo menos trs estgios principais (a-c), que numa classificao mais rigorosa
facilmente poderiam ser, por sua vez, subdivididos de novo:
a) Devemos procurar a primeira verso do Deuteronmio, o assim chama-
do Protodeuteronmio, predominantemente, seno exclusivamente, no ncleo
de leis (Dt 12-25). Esta coleo antiga se constitui ela mesma de corpora legais
menores e complementaes explicativas. Neste primeiro estgio j temos de
destacar, portanto, diversas fontes ou tradies, que podem ser de pocas
diferentes, daquela camada que funde os materiais variados numa unidade.
Inteno principal desta camada a centralizao do culto. Todavia, no se
chegou at hoje a um consenso quanto extenso do Protodeuteronmio.
b) Uma redao deuteronmica retrabalha (na poca de Josias?) as leis e
acrescenta essencialmente a moldura interna das falas introdutrias de Dt 5-11 *,
talvez tambm ainda partes de 27s.
Na lei de centralizao de Dt 12 as duas passagens construdas no plural - vv.
2-7,8-12 - so mais recentes do que a verso dos vv, 13-19, que j sofreram uma
primeira interpretao e restrio no trecho dos vv, 20-27, tambm construdo no
singular. Pode ser que este acrscimo, que sugere a expanso territorial (12.20; cf. 19.8),
pressuponha a poltica expansionista de Josias para dentro do antigo Reino do Norte (2
Rs 23.15ss.). Por conseguinte, a camada antecedente, que j constituiria uma coleo,
teria surgido antes da poca do rei Josias.
Mais difcil que a questo da antigidade a pergunta pela extenso da redao.
Podemos partir, por um lado, dos ttulos (mais antigos) 4.45; 12.1 (cf. 6.1). Por causa
do conceito duplo "estatutos e juzos", estes ttulos parecem apontar para 26.16. Havia
antigamente a um final, de modo que o complexo tinha uma fala introdutria, mas
nenhuma fala conclusiva? Ou ser que partes dos captulos 27s. desde sempre fizeram
parte deste bloco?
Por outro lado, podemos localizar o comeo da redao em Dt 6.4-9, sobretudo
porque a anteposio do Declogo (Dt 5) ocorreu em tempos mais recentes. Talvez as
diversas hipteses devam ser combinadas, pois o livro se formou gradativamente.
124
c) A redao ps-deuteronmica, ou seja, deuteronomstica, que pressupe
o exlio (587 a.Ci), acrescenta complementaes adicionais no corpus de leis,
p. ex., na lei sobre o rei e os profetas (Dt 17.18; 18.19-22) e mais intensamente
nos discursos da moldura interna (Dt 5-11; 27s.), mas, sobretudo, os discursos
Dt 1-4 e 29ss., que constituem a moldura externa. Estes distintos acrscimos
posteriores certamente no provm do mesmo punho, de sorte que ainda pode-
ramos diferenciar entre camadas deuteronomsticas (= dtr.) mais antigas e mais
recentes. Estas camadas tm a ver com a integrao do livro na Obra Historio-
grfica Deuteronomstica (= OHO).
Assim parece que o Dt j teve uma histria preliminar antes de ser
descoberto e de exercer influncia na poca de Josias; e este acontecimento
incisivo teve copiosos desdobramentos. Na reconstruo, porm, no h certeza
de como transcorreu exatamente este processo. Mesmo assim, fica evidente que
o Deuteronmio no surgiu a partir de diversas fontes escritas, mas de sucessi-
vas complementaes. Alis, tal processo de formao certamente s com-
preensvel se concebermos o livro no como obra de um nico autor, mas de
uma escola. Com mais preciso podemos destacar uma escola deuteronmica
de uma outra, deuteronomstica, mais recente. Visto, porm, que ambas tm
afmidade entre si, como mostra a linguagem similar, em parte at idntica,
podemos falar tambm de uma escola deuteronmico-deuteronomstica, cuja
atuao, ao que parece, comea j na poca pr-exlica e adentra bastante a era
exlica e ps-exlica. Mas por razes metodolgicas teramos de fixar o exlio
como limite entre "deuteronmico" e "deuteronomstico".
125
eventos sob Josias. Assim fica difcil imaginar que os fatos tenham sido inventados, ou
seja, que no se apiem em acontecimentos histricos. A favor da historicidade da
reforma no testemunha tambm o fato de que o rei no teve o gosto de ver o xito de
sua obra? O destino do rei no corresponde, neste caso, sua atuao piedosa. Alm
do mais possvel que a reforma at tenha deixado vestgios arqueolgicos.
b) Certamente o profeta contemporneo Jeremias - como tambm o jovem
Ezequiel- no se posiciona explicitamente em relao reforma (cf. Jr 22.15s.; talvez
porm 8.8), mas a polmica que manteve contra o templo no ano da investidura do
sucessor de Josias, Jeoaquim (Jr 7; 26), se toma mais compreensvel se pressupusermos
que, com a reforma, o santurio jerosolimita foi bastante valorizado.
A crtica ao culto articulada pelo jovem Jeremias (Ir 2), como tambm por
Sofonias (1.4ss.), parece denunciar a situao antes da reforma. Ser que outros textos
(Ir 13.27; 17.1ss.) representam provas suficientes contra uma reforma? Ser que a viso
de Ez 8 no condensa num s instante o que na realidade ocorreu em momentos
histricos distintos do passado? Ou os abusos clticos irromperam de novo logo depois
que Josias faleceu?
c) A viagem dos peregrinos da Samaria at as runas do templo na Jerusalm
devastada (Ir 41.4ss.) se justifica melhor se, pela reforma de Josias, o Norte foi
integrado na centralizao do culto.
d) Por que razo o Escrito Sacerdotal pressupe a centralizao do culto como
fato natural (v. acima 8a,4) se a mesma teria sido somente uma reivindicao
deuteronmica, no constituindo fato real e histrico?
e) Uma das primeiras camadas interpretativas do Dt, ainda formulada no singular,
fala da possibilidade de uma expanso territorial de Israel (12.20; 19.8); esta pode ser
muito bem relacionada com a poltica expansionista de Josias (2 Rs 23.15ss.). 1mbm
a meno da Pscoa em Dt 16 provavelmente se deve atribuir a uma camada redacional
antiga que poderia estar relacionada com a celebrao da Pscoa em 2 Rs 23.21s.
Estas e outras ponderaes aconselham que se mantenha - pelo menos proviso-
riamente - a datao habitual.
126
outros antes dele, G. von Rad procurou situar o 01 nos crculos levticos do Reino do
Norte (residentes na rea rural); deles proviria o esprito tanto sacerdotal quanto guer-
reiro do livro; e os levitas que tinham a tarefa de instruir o povo (01 33.10; Ne 8.7 e
outras). Visto que Levi representa no AT uma grandeza complexa, cuja definio exata
difcil, esta teoria pouco contribui para esclarecer a formao do livro. Todavia, deve
haver uma ligao entre o Deuteronmio e os levitas (cf. os acrscimos posteriores:
27.9ss.; 31.9,24ss.), j que o livro se preocupa com o bem-estar destes (l2.12,18s. e
passim) e os inclui no grupo das personae miserae, que carecem de proteo e auxlio
(l4.27ss.; 26.11ss. e outras).
Ou devemos procurar os agentes traditivos - mais tarde - no crculo dos
escribas sapienciais junto corte jerosolimita (Pv 25.1; M. Weinfe1d)?
Chama a ateno que von Rad explica o arcabouo global do livro (certamente
surgido numa poca tardia), com suas quatro partes principais:
Relato histrico e parnese 01 1(ou 6)-11
Leitura da lei 01 12-26
Comprometimento com a aliana Dt 26.16-19
Bno e maldio Dt 27ss.,
no a partir da instruo de leigos efetuada pelos levitas, mas a partir do culto da
aliana, cuja estruturao tambm se refletiria na percope do Sinai (x 19ss.). Todavia
admite que a forma teria estado evidentemente liberada h muito tempo para um
aproveitamento literrio e homiltico diversificado (Altes Testament Deutsch 8, p. 15).
Outros compararam a estruturao do livro ou tambm de algumas passagens do
mesmo com o formulrio de contratos de vassalagem, especialmente hetitas. No se
podem excluir certas semelhanas. A partir da dominao dos assrios no sculo vn
pode ter havido influncias do pensamento contratual. Todavia, no se pode esquecer
que h diferenas j na forma, mais, porm, ainda no contedo (relao entre Deus e o
povo em vez do relacionamento entre povos); ademais nossos conhecimentos do culto
veterotestamentrio da "aliana" so por demais limitados.
Podemos considerar como certo, porm, que pelo menos em pocas posteriores
leis eram lidas no culto em voz alta (Dt 31.l0ss.; 2Rs 23.2; cf. x 24.7; Ne 8; Sl81 e outras).
b) Intenes teolgicas
127
Resumindo a questo numa frmula, poderamos caracterizar a inteno
do Dt com trs conceitos: um nico Deus, um nico povo, um nico culto e
poderamos acrescentar ainda: um nico pas, um nico rei, um nico profeta.
1. Enquanto que para Israel at ento era bvio que houvesse uma multi-
plicidade de santurios (x 20.24), entre os quais alguns gozavam de muito
prestgio como centros de peregrinao, o Dt exige exclusividade:
"Guarda-te que no ofereas os teus holocaustos em todo lugar que vires; mas
somente no lugar que Jav escolher - numa das tuas tribos; ali oferecers os teus
holocaustos" (l2.l3s.).
Seria meio forado, mas possvel, relacionar esta frmula que tpica para
o Dt e que fornece a fundamentao teolgica para a centralizao do culto -
"o lugar que Jav escolheu" - com lugares diferentes, que Deus teria deter-
minado em ocasies diversas. Tanto a indicao do local - "numa das tuas
tribos" - como tambm o tratamento diferenciado dado ao holocausto e
imolao mostram, porm, que aquela verso mais antiga da lei da centralizao
(12.13-19) procurou destacar a vinculao exclusiva da f em Jav a um nico
santurio. E foi neste sentido que a reforma de Josias compreendeu e concreti-
zou tal formulao. A identificao com Jerusalm quase que no se sugere nas
camadas mais antigas do Deuteronmio e nem ressoa imediatamente nas cama-
das mais recentes, visto que o livro no menciona a cidade ou o Sio; todavia,
a Obra Historiogrfica Deuteronomstica retoma esta formulao e a vincula
claramente com Jerusalm (1 Rs 9.3; 11.36 e outras).
forma breve e presumivelmente mais antiga da frmula de centralizao
- o lugar que Jav escolheu (Dt 12.14,18,26) - logo se acrescenta uma
justificativa: "para a colocar o seu nome" (12.21) ou (numa verso provavel-
mente mais recente) "para a fazer habitar o seu nome" (12.11 e outras).
Segundo esta ampliao, o nome divino distingue um santurio (cf. j x
20.24): este o local que pertence a Jav e onde Jav est presente. Pelo menos
mais tarde associa-se a esta concepo uma conotao diferente, mais crtica:
Deus mesmo habita nos cus (cf. Dt 26.15; 4.36), "s" seu nome permanece
na terra. Com esta diferenciao entre Deus e a presena de Deus na terra -
que lembra a introduo do conceito "glria" no Escrito Sacerdotal (v. acima
8b,5) - restringe-se concepo mais antiga (cf. 1 Rs 8.29 e outras; quanto
a esta questo, R. de Vaux), segundo a qual o prprio Deus "habita" no
santurio (1 Rs 8.12; Is 8.18 e outras).
A exigncia da concentrao do culto num nico local acarreta modifica-
es incisivas na vida cltico-religiosa de Israel, principalmente na vida da
populao rural que vive distante de Jerusalm. A conseqncia principal a
permisso do assim chamado abateprofano (12.15s.). Ao contrrio do holocaus-
to que oferecido por inteiro no local santo, a imolao ou o sacrifcio de
128
comunho - ao menos aquele feito longe do nico santurio (segundo vv.
20ss.), local exclusivo em si para a oferenda de sacrifcios - toma-se uma
simples refeio (zabah, "sacrificar", Dt 15.21, adquire o significado singelo
de "carnear", 12.15,21). Qualquer abate era originalmente um sacrifcio, ou
seja, uma refeio sacrifical (cf. 1 Sm 2.13; 9.13 em oposio a Gn 18.7s.)?
Neste caso a determinao do Dt teria sido, para a Antiguidade, um descomunal
ato de secularizao. S o sangue protegido por um rito, determinando-se que
deve "ser derramado como gua sobre a terra" (Dt l2.16,23s.; retomado por P
em Gn 9.4s.; diferente de Lv 17.3ss.). Alm disso a exigncia de centralizao
se faz sentir nas determinaes referentes a dzimo, primognitos e primcias
(Dt 14.22-27; 15.9-23; 26.lss.), ao calendrio festivo (16.1ss.) como tambm a
juzes e sacerdotes (17.8-13; 18.1-8). Assim, as disposies referentes centra-
lizao certamente constituem uma camada mais recente dentro do material
legal, representando justamente a interpretao que congrega as diversas tradi-
es preexistentes sob uma nica inteno.
129
depreender da exigncia de Jav por adorao exclusiva a unidade ou unicidade
do prprio Deus, ela transforma uma definio do relacionamento do ser huma-
no com Deus numa afirmao sobre o prprio Deus (como x 34.6s e outras,
sem referncia histria). Na medida em que a exigncia de centralizao
representa a conseqncia prtica que advm desta percepo, tambm a cen-
tralizao do culto pode ser compreendida como um momento dentro da hist-
ria da interpretao do primeiro mandamento.
caracterstico para o AT que tal enunciado sobre o ser de Deus no fica
isolado; o Dt logo tira uma concluso para a conduta humana:
"Amars, pois, a Jav, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua alma e de
toda a tua fora!" (6.5; cf. 5.10; 7.9; 10.12; 11.1,13,22; 13.3s.; 19.9).
Desta maneira se reinterpreta de novo o primeiro mandamento. Enquanto
que formulaes proibitivas mais antigas excluam apenas a adorao de deuses
estranhos, no enunciando, ao menos expressamente, nada de positivo sobre a
modalidade, o "espao interior" do relacionamento de Israel com Jav, o Dt
compreende a exclusividade num sentido antropolgico, abrangendo a totalida-
de do comportamento humano. unicidade de Deus corresponde a dedicao
integral e incondicional de todo o ser humano para com Deus. J que tanto
"amar" quanto "temer" (isto , um reconhecimento respeitoso de Deus; 6.2,13,24
e outras) se referem a um certo comportamento, pode-se exigir amor e temor
(6.5s.; 1O.12s.) como uma resposta agradecida ao amor de Deus (7.8; 10.15 e outras).
A parnese circunscreve igualmente a totalidade do relacionamento com
Deus como "aderir, servir, seguir" ou tambm "no esquecer, lembrar" (6. 12ss.;
8.18s.; 10.20 e outras). No se expressa nesta conceptualidade, como em todo
o desenvolvimento do primeiro mandamento, uma influncia proftica (cf. Os
2.1; 3.1)? Ao que parece no h outra parte do AT onde se insiste tanto neste
mandamento como justamente no Dt e tambm na literatura deuteronomstica
subseqente. No s encontramos determinaes especficas para o caso de um
profeta, um parente ou at uma cidade inteira convidarem para adorar deuses
estranhos (13.2-19) ou eles prprios os adorarem (17.2-7; cf. 12.30s.; 18.20),
mas as ponderaes gerais precedentes sobre o significado da lei tambm
atribuem importncia decisiva ao primeiro mandamento (7.4ss.; 8.19; 11.16ss. e
outras). Quem se deixa corromper pela idolatria e perde, "esquece" a histria
comete os dois erros bsicos contra os quais o Dt alerta, visto que descaracte-
rizam a f em Jav.
Assim deve ser mais do que mera coincidncia que o Declogo - onde
se juntam referncia histrica e reivindicao de exclusividade (5.6s.) - ocupe
uma posio de destaque entre os mandamentos. Como na percope do Sinai
(x 20), o Declogo anteposto a todos os "estatutos e juzos", embora isto
acontea num estgio de formao mais recente do Dt, e apresentado no
130
como fala de Moiss, mas como palavra direta de Deus (Dt 5.4,22ss., ao
contrrio de 5.5), de modo que todas as leis que lhe seguem se tornam como
que instrues de execuo, comentrio ou desdobramento do Declogo. 'Iam-
bm a "aliana" interpretada a partir do Declogo (4.12s.; 5.2; 9.9ss.) e a
arca se torna o receptculo que contm as duas tbuas de pedra com os dez
mandamentos (lO.lss.; cf. 31.26). Assim se pode at recriminar o Dt por
atribuir aos mandamentos uma valorao exagerada na vida do povo de Deus,
mas no se pode acus-lo de avaliar os diversos mandamentos de forma casus-
tica e uniforme demais.
131
"No vos teve Jav afeio, nem vos escolheu, porque fosseis mais numerosos
do que qualquer povo, pois sois o menor de todos os povos - mas porque Jav vos
amou, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais." (Dt 7.6-8.)
O relacionamento entre Deus e o povo se estabelece mediante um ato
prvio de Deus, a "eleio" (babar), se fundamenta no "amor" de Deus (4.37
e outras) e garantida pelo juramento inquebrantvel prestado diante dos pais
(outra caracterstica da literatura dt-dtr: 6.10 e passim). Assim Israel ganha a
terra no por causa de suas prprias capacidades e mritos, mas em ltima
anlise graas promessa de Deus:
"No por causa da tua 'justia' (isto , tua conduta correta) nem pela retitude
do teu corao que entras a possuir a sua terra, mas pela maldade destas naes Jav
teu Deus as lana fora, de diante de ti; e para confirmar a palavra que Jav teu Deus
jurou a teus pais, Abrao, lsaque e Jac." (9.5; cf. 8.17.)
J que, da mesma forma, a santidade do lugar de culto (12.14 e outras) ou
da classe dos levitas (21.5 e outras) se baseia na "eleio" por Deus, podemos
resumir praticamente a inteno do Dt em uma' 'teologia da eleio" (T. C. Vrie-
zen).
132
sua vinha ou tambm sua mulher (20.5-7), e o regozijo com as boas ddivas de
Deus (12.7,12,18; 16.11,14s. e outras):
"Quando um homem for recm-casado, no sair guerra nem se lhe impor
qualquer [outro] encargo; por um ano ficar livre para a sua famlia e promover
felicidade mulher que tomou." (24.5.)
Tais disposies - que decerto no passaram do plano "terico" - em
que o direito do indivduo ou da famlia pode prevalecer sobre as obrigaes
para com a comunidade, fizeram com que o Dt fosse tachado de "utopia" (G.
Hlscher), no sentido de alienao da realidade. Mas at que ponto a exeqibi-
lidade prtica constitui um critrio apropriado para uma proposta teolgica?
Alm disto o Dt de fato modificou profundamente a realidade num outro sentido.
A mesma atitude humanitria que transparece no tratamento do estrangeiro (10.18;
24.14; cf., porm, 23.20s.), faz com que, segundo a legislao marcial (20.lOss.,19s.),
haja uma certa benevolncia at para com os inimigos. Apenas os cananeus so exclu-
dos deste tratamento mais amistoso - no na realidade, mas s na retrospectiva a partir
de uma poca posterior! - , pois sua religio representa uma tentao perigosa demais
para a prpria f (7.4s.,25; 12.2ss.,30s. e outras).
133
11
A OBRA mSTORIOGRFICA
DEUTERONOMSTICA
a) Questes introdutrias
134
vivenciados diretamente e elabora uma concepo de surpreendente coeso."
(H. W. Wolf, p. 308.)
I. poca de Moiss
Dt 1-3(4) Rememorada por Moiss a caminhada do Horebe at a 'Iransjordnia,
antecipando a indicao de Josu como seu sucessor
Dt 31.1-8; 34 Discurso de despedida de Moiss, instalao de Josu no cargo,
morte e sepultamento de Moiss
Il. poca de Josu
Js 1 e 23(24) Incio e fim da tomada da terra na Cisjordnia
1 'Iransferncia da liderana para Josu
12 Resultados da conquista da terra
135
21.43-45 Observao conclusiva referente ao cumprimento da pro-
messa
22.1-8 Retomo das tribos para a Transjordnia
23 Discurso de despedida de Josu (anlogo a Dt 31)
24.28ss.; Jz 2.6ss. Morte e sepultamento de Josu (cf. Dt 34.5s.)
Ill. poca dos juzes
Jz 2 e 1 Sm 12 Incio e fim da poca dos juzes
1 Sm 8; 12 Discurso de Samuel
IV. poca da monarquia
2 Sm 7 Profecia de Nat
(reelaborada pela redao dtr, com retrospectiva no v. 1)
1 Rs 3; 9 Revelaes de Deus a Salomo
1 Rs 8 (vv.14ss.) Orao de Salomo por ocasio da consagrao do templo
1 Rs 11 Apostasia de Salomo
2 Rs 17 Queda do Reino do Norte
(apresentando uma avaliao retrospectiva: vv. 7-23)
2 Rs 25 Destruio de Jerusalm
(com avaliao sucinta: 21.10ss.; 24.3s.; cf. 22.16s.; 23.26s.)
136
2. Diversas constataes, porm, nos obrigam a corrigir a opinio de M.
Noth em um aspecto: dificilmente houve apenas um nico Deuteronomista,
seno antes uma escola dtr. Desta forma se explicam, em primeiro lugar, certas
irregularidades e complementaes dentro da prpria Obra Historiogrfica Dtr
- caracterizada de resto por um estilo estreitamente afim e imbuda de um
esprito muito similar: o redator mudava, a escola continuava. Em segundo
lugar, se toma compreensvel a ampla influncia que a obra exerceu no AT, que
se estende muito alm dos livros histricos de Js at Rs, p. ex., interferindo
inclusive na configurao dos livros profticos. A escola transmitia e comentava
- sob a influncia do Deuteronmio? - a tradio histrica e proftica.
Ser que o Dt foi como que o fator desencadeador do surgimento da escola dtr?
controvertido se o Dt de fato fazia parte da Obra Historiogrfica Dtr desde o princpio
ou se foi inserido a s secundariamente.
Em razo de certas irregularidades nos livros de Reis suspeita-se tambm que haja
uma verso mais antiga, pr-exlica da Obra Historiogrfica Dtr.
Em tempos mais recentes se atribuem, com mais razo, progressivamente mais
partes dos livros de Samuel e dos Reis redao dtr. Certamente a tradio dtr interferiu
de modo mais profundo na tradio e nos textos do que se supunha anteriormente. Mas
no h tambm o perigo de supervalorizar a contribuio dtr, de classificar contedo
demais como sendo "dtr"? Como no Pentateuco, devemos distinguir entre observaes
concatenadoras e interpretativas, em suma, entre observaes redacionais do tipo mais
geral e o material especificamente dtr - que pode ser identificado lingisticamente.
Esta diferenciao importante para poder determinar a antiguidade do contedo e das
narrativas.
Sobretudo se busca descobrir uma histria da redao dtr, distinguindo uma
camada bsica e duas camadas redacionais mais recentes: "a concepo fundamental da
Obra Historiogrfica (DtrH), uma redao que contribui com textos profticos (DtrP) e
outra ainda, cujo interesse principal est na lei (DtrN)" (R. Smend, Die Entstehung des
AT, p. 123; cf. W. Dietrich; T. Veijola; E. Wrthwein, ATD 11).
Como no caso do Dt (v. acima lOb) deveramos partir tambm aqui das diversas
camadas da Obra Historiogrfica Dtr ao buscarmos as suas intenes teolgicas - caso
possam ser delimitadas com maior ou menor preciso.
137
material traditivo, ao preferir, em razo de suas intenes teolgicas, p. ex.,
tradies que tm a ver com o relacionamento com Deus e o culto, em
detrimento de notcias sobre acontecimentos polticos e blicos. Em segundo
lugar, a tradio complementada, de modo que corrigida por acrscimos. H
tradies, no entanto, que so transmitidas mesmo no correspondendo exata-
mente inteno teolgica da obra (cf. 1 Sm 8-13 quanto ao surgimento da
monarquia). Por fim, a obra julga os episdios a partir de sua idia-mestra. Por
conseguinte a obra certamente no pretende representar situaes do passado,
do jeito "como realmente aconteceram"; ela no se restringe apenas a compi-
lar, ordenar e repassar fatos, mas pretende interpret-los. Descreve a histria em
razo da f, em ltima anlise como conduta frente a Deus e seu mandamento.
Por isso a Obra Historiogrfica Dtr, que, por um lado, foi valorizada como obra
de um historiador, por outro lado, pde ser caracterizada, com a mesma razo,
como "escrito tendencioso" (J. A. Soggin).
b) Intenes teolgicas
1. Israel foi afetado como um todo pelo ocaso do Reino do Norte, muito
mais ainda pela catstrofe que levou ao exlio babilnico. A Obra Historiogr-
fica Dtr, portanto, tinha de responder a uma pergunta que no tinha ainda sido
levantada antes por nenhuma outra narrativa isolada, por nenhum outro ciclo
narrativo: a pergunta pela existncia e pelo destino de todo o povo de Deus.
Assim a obra rasteia (ao contrrio do que fez mais tarde o Cronista em 2 Cr
lOss.) a histria de ambos os estados; importava-lhe "a histria do povo de
Israel como um todo" (M. Noth, berlieferungsgeschichdiche Studien, p. 95).
Afinal, o Reino do Norte e o Reino do Sul no constituam partes do mesmo
povo de Deus, que carregavam ambos uma culpa equivalente e que por isto
tiveram de sofrer um destino parecido, embora consecutivamente (2 Rs 17; 21;
24.3s.)? A concepo da unidade do povo de Deus no corresponde apenas a
uma compreenso condicionada pela situao, mas retoma ao mesmo tempo a
abordagem da mensagem proftica e uma preocupao principal do Deuteron-
mio (v. acima lOb,3).
Enquanto o Dt exorta para a obedincia, temor e amor a Deus, a Obra
Historiogrfica Dtr mostra, com base no passado, como Israel poucas vezes
seguiu tal orientao. A obra oferece, portanto, depois e durante a catstrofe,
uma espcie de auto-reconhecimento ou confisso em forma de retrospectiva
histrica: o passado de Israel, desde a tomada da terra at o tempo mais recente,
uma histria de constante apostasia de Deus, que repetidamente repreendeu,
puniu e, por fim, vingou com severidade a contnua desobedincia. Desta forma
a historiografia adquire um sentido concreto: em vista da catstrofe nacional
indica a culpa exclusiva de Israel e a razo e o direito de Deus.
138
o primeiro resultado a que chegou o Dtr foi que Jav no falhou em nada, que
Israel destruiu sua salvao com as suas prprias mos, ou seja, com seu pecado. O
julgamento de Jav na histria foi justo. "De maneira que sers tido por justo no teu
falar" (SI 51.4). Esta a preocupao do Deuteronornista. Sua obra urna grande
"doxologia do julgamento", transposta do domnio do culto para o da literatura. (G.
von Rad, Theologie des AT 1, 4. 00., voI. 1, 1973, pp. 329s.)
Sem a profecia precedente tal confisso dificilmente seria possvel. Por
exemplo, o cntico da vinha de Isaas (Is 5) contrape a ao salvfica de Deus
ingratido de Israel; as retrospectivas histricas crticas (como Os 11s.; Is
9.7ss.; 43.27s.) parecem mais ainda uma antecipao da Obra Dtr in nuce. A
histria juzo sobre culpa, a culpa do povo, (ainda) no do indivduo. O
castigo pode ser adiado por geraes, mas no suspenso (compare 1 Rs 13
com 2 Rs 23.15ss. ou 1 Rs 21.23 com 2 Rs 9.36).
139
Davi, seu pai. (...) Pois Davi fez o que era reto perante Jav, e no se desviou de tudo
quanto lhe ordenara em todos os dias da sua vida, com exceo do caso de Urias, o
heteu." (l Rs 15.3,5; cf. 9.4; 11.34.39; 14.8 e outras.)
Alm de Davi, vrios reis - judatas - so elogiados: de forma condi-
cional, p. ex., Asa (l Rs 15.11,14); de forma incondicional, Ezequias (2 Rs
l8.3ss.) e sobretudo Josias:
"Antes dele no houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse ao
Senhor de todo o seu corao, e de toda a sua alma, e de todas as suas foras, segundo
toda a lei de Moiss; e depois dele nunca se levantou outro igual." (2 Rs 23.25; cf. 22.2.)
A atitude do rei para com Deus, mais precisamente para com a lei mosaica
contida no Dt, decisiva para a prosperidade ou o infortnio da poca. Este
critrio fatalmente tem que levar condenao da monarquia do Reino do
Norte; pois a separao poltica do Reino do Sul implicou o afastamento do
santurio exclusivo, escolhido por Jav, que se localizava em Jerusalm. Em-
bora tambm o Reino do Norte pudesse ter experimentado a salvao se tivesse
obedecido tal qual Davi aos mandamentos (l Rs 11.38s.), na realidade j o
primeiro rei Jeroboo se desviou do caminho correto ao empenhar-se em atingir
a autonomia cltica, condicionando, assim, a trajetria errada das pocas poste-
riores (compare 1 Rs 14.7ss.; 2 Rs 17.21ss. com 1 Rs 12.26ss.). Com a
instituio de um culto prprio, que seria mantido durante toda a histria deste
Estado e seria considerado o "pecado de Jeroboo" (l Rs 14.16 e passim; 2 Rs
17.21), parece que a queda j estava sacramentada. Mesmo assim tambm o
julgamento dos monarcas de Israel pode realizar-se de forma diferenciada (cf.
2 Rs 17.2).
No todo, portanto, os critrios da Obra Historiogrfica Dtr so bastante
unilaterais. No se fala em transgresses ticas ou polticas, da injustia social
que os profetas criticam; por via de regra se mencionam apenas transgresses
clticas - apostasia e adorao de deuses estranhos, transgresso do primeiro
e segundo mandamento, violao da unidade e pureza cltica. Todavia, a obra
pode ser comparada mensagem proftica ao limitar-se mais a indicar desvios
do que a exortar conduta correta. At "a adorao de Deus vista menos na
perspectiva do desenvolvimento de suas diversas possibilidades, mas antes a
partir dos diversos desvios possveis e de fato ocorridos no transcurso da
histria"; pouco interesse a obra mostra no desenrolar do culto em si (M. Noth,
berlieferungsgeschicht1iche Studien, pp. 103ss.). Independentemente do fato
de que esta verso possa ser simplista ou at injusta, no deixa de expressar a
concluso de que a salvao ou a desgraa se decidem na histria atravs da
fidelidade ou infidelidade prpria f, que exige exclusividade.
140
Historiogrfica Dtr reserva amplo espao, pelo menos na sua verso [mal, a
narrativas de profetas. Ela at atribui aos profetas grande destaque na interpre-
tao do transcurso da histria. A palavra de Deus, que, segundo a mensagem
proftica, se concretiza aqui e acol na histria (Is 9.7), toma-se agora agente
da histria global, de forma similar como acontece no Escrito Sacerdotal, que
mais ou menos da mesma poca, de acordo com o qual a palavra de Deus
cria o mundo no princpio (Gn 1) e configura o tempo subseqente (v. acima
Sb,5). A exposio dtr esboada a partir da palavra de Deus enunciada na
histria como promessa e como ameaa (1 Rs l1.29ss.; 14.7ss. e outras) e
dotada do poder de modificar o futuro (cf. as mltiplas referncias a cumpri-
mentode prenncios, comoJs 21.43ss.;23.14; tambm 1Rs 15.29; 16.12e outras).
Enquanto as narrativas sobre profetas relatam que profetas como Elias
anunciam a alguns reis especficos a morte (1 Rs 21; 2 Rs 1), a Obra Dtr
generaliza esta profecia - sem dvida devido influncia do profetismo
literrio - e considera o ocaso do Reino do Norte (2 Rs 17.23), como tambm
o do Reino do Sul, concretizao do anncio proftico de juzo: destruir Jud
"segundo a palavra que Jav falara pelos profetas, seus servos" (2 Rs 24.2,
depois de 20.12ss.; 21.lOss.; 22.16s.; 23.27).
Mesmo assim, os grandes profetas do juzo, como Ams, Osias ou Jeremias,
estranhamente no so mencionados nominalmente (quanto a Isaas cf. 2 Rs 19s.).
Os "profetas, servos" de Jav, como muitas vezes so chamados de
forma estereotipada na literatura dtr (17.23; 21.10 e outras), por um lado,
ameaam com o juzo, por outro lado, assumem, segundo 2 Rs 17.13, a funo
de alertar o povo, convocando-o penitncia: "convertei-vos!" e exortando-o
obedincia diante da lei (deuteronrnica). Ambas as acepes de profetismo
se tomam possveis porque a Obra Historiogrfica Dtr se coloca diante dos
profetas numa situao completamente diferente da dos seus ouvintes. Os
anncios profticos de juzo se concretizaram e com isto confirmaram a auten-
ticidade da pregao proftica. Assim a pregao proftica assume - tanto no
seu prenncio (agora concretizado) do futuro, como tambm na sua exigncia
(no ouvida) de converso - a funo de apontar a culpa: no h desculpa para
o procedimento do povo, pois foi alertado previamente. Com isto, no entanto,
no ocorre um deslocamento do acento? No estamos a at diante de uma
acepo de profetismo diferente daquela que aparece na autocompreenso dos
assim chamados profetas literrios, que prenunciam o juzo baseados na certeza
da desgraa vindoura e o fundamentam nas suas denncias? Embora a mensa-
gem proftica e tambm a Obra Dtr visem apontar a culpa do povo - queriam
os profetas somente alertar para um possvel juzo?
141
de seu povo". A questo "se afmal o sentido da histria que reproduzia no
estaria no futuro, em coisas que ainda deveriam brotar dos destroos do passa-
do" ele deixou sem resposta; nem mesmo chegou a articular esta pergunta.
Assim o Deuteronomista "viu evidentemente algo definitivo e conclusivo no
juzo divino que acontecia por ocasio da runa externa do povo de Israel
relatada por ele, e no expressou esperana referente ao futuro nem ao menos
na sua forma mais modesta e singela: a expectativa de que os deportados
dispersos fossem reunidos no futuro".
Embora a Obra Dtr de fato ameace vrias vezes com deportao no caso
de desobedincia (Js 23.13ss.; 1 Rs 9.7ss.; 2 Rs 17.18,23; 21.14s. e outras),
raramente se encontram a expectativas projetadas para alm do juzo. (Esta
falta sentida sobretudo em 2 Rs 17; 25). De forma similar ao Escrito Sacer-
dotal, que mais ou menos da mesma poca, a Obra Dtr no contm nenhuma
afirmao expressa sobre um futuro de salvao; tambm neste sentido ela no
retoma a proclamao proftica.
G. von Rad defendeu a opinio de que para a Obra Historiogrfica Dtr "a
imagem do ungido perfeito estava constantemente presente", desde a poca de Davi.
No s as ameaas profticas, mas tambm a "promessa de salvao contida na
profecia de Nat" afmal "atravessou a histria, atuando eficazmente". Assim, atravs
da observao [mal sobre a anistia de Joaquim (2 Rs 25.27ss.), a Obra Dtr apontaria
para uma possibilidade de que Deus ainda disporia (Theologie des AT L 4. 00., pp.
357.355). Todavia, este relato conclusivo no lembra a profecia de Nat e dificilmente
tem a inteno de sugerir um futuro messinico. Salvao ou juzo contidos no futuro
permanecem em suspenso com este [mal em aberto? Ainda valem a oferta e a exortao
de andar diante de Deus "fielmente de todo corao" (1 Sm 12.24,14s.; 1 Rs 2.4; 9.4
e outras)?
Segundo H. W. Wolff, a Obra Historiogrfica Dtr contm mltiplos enun-
ciados ocultos e indiretos referentes ao futuro; pois o tema da converso (shub)
ressoa em quase todas as passagens significativas (Jz 2.6ss.; 2 Rs 23.25 e
outras). 2 Rs 17.13 resume expressamente a mensagem de todos os profetas na
exortao: "Convertei-vos de vossos maus caminhos!" Contudo, a reao ao
chamado penitncia a de que "no deram ouvidos; antes endureceram a sua
cerviz como seus pais, que no creram em Jav seu Deus" (17.14ss.,19; 21.9).
O oferecimento de converso se refere - de novo comparvel, portanto,
percepo proftica (Is 9.12; 30.15 e outras) - a uma situao passada e
desperdiada.
S a orao de Salomo por ocasio da consagrao do templo - ainda
que nas suas complementaes posteriores (1 Rs 8.46ss.) - relembra expres-
samente que Israel poderia converter-se mesmo depois do juzo, no exlio, e
reconhecer sua culpa, fazendo com que Jav atendesse a orao, perdoasse o
pecado (v. 50) e no condenasse o seu povo:
142
"Jav nosso Deus esteja conosco, assim como esteve com nossos pas; no nos
abandone, e no nos rejeite; a fim de que a si incline os nossos coraes para andarmos
em todos os seus caminhos, e guardarmos os seus mandamentos, e os seus estatutos, e
as suas normas, que ordenou a nossos pas." (I Rs 8.57s.; cf. Lm 5.21s.; Lv 26.44.)
Esta esperana inclui o reconhecimento de Jav por parte de todos os povos (I
Rs 8.6O,41ss.).
Com maior confiana a moldura posterior do Deuteronmio percebe um
tempo salvfico depois e durante a poca da disperso, e at espera a reunifica-
o da dispora e o retomo de Israel terra (01 4.29-31; 30.1ss.). Assim, apenas
nas passagens complementares Obra Historiogrfica Dtr., cujas afirmativas
elas ampliam, aparece uma previso de um futuro que ultrapassa o juzo
experimentado, indicando desta forma uma nova meta da histria. A Obra
Historiogrfica em si, ao que parece, contenta-se com a reviso do passado,
com a confisso da culpa de Israel e a justificao de Deus.
1. O livro de Josu
143
10 Batalha de Gibeom contra uma coalizo de cidades sob o
comando de Adoni-Zedeque de Jerusalm; cf. Jz 1.5ss.
"Sol, detm-te!" (vv. 12s.)
li Batalha na gua de Merom contra Hazor; cf. Jz 4.2
11.16ss.; 12 Resumo. Lista dos reis vencidos
ru. Js 13-22 Distribuio da Transjordnia (13.7ss.; cf. 22; Nm 32; Dt 3) e da
Cisjordnia (14-19; cf. Nm 34).
13-19 Delimitao do territrio tribal com descrio dos limites e relaes
de localidades (l5.21ss. e outras)
As duas tradies recebem dataes diversas.
20-21 Discriminao das cidades de asilo (20) e dos levitas (21);
cf. Dt 4.41ss.; 19; Nm 35
22 Retomo das tribos da Transjordnia (vv. 1-6; cf. U2ss.) e construo
de um altar para elas junto ao Jordo (vv. 9ss.)
IV. Js 23 (22.1-6) Discurso de despedida (dtr) de Josu
V. Js 24 Adendo: assim chamada assemblia de Siqum. Profisso de f em
Jav por parte das tribos (cf. acima 2b).
"Eu e a minha casa serviremos a Jav." (V. 15.)
Comprometimento com o direito (vv. 25ss.). Morte e enterro de Josu.
Os discursos Js 1 e 23 (com 22.1-6) formam a moldura interpretativa do
livro de Josu; outras passagens mais ou menos deuteronomsticas so, p. ex.,
8.30-35; 12; 14.6-15 (cf. Dt 1.22ss.) e tambm 24.
Visto que as falas de Josu nos caps. 23 e 24 correm por um tempo em paralelo,
portanto dificilmente estiveram originalmente lado a lado, e visto que o capo 24, que
relata no apenas palavras mas tambm aes, foi no mnimo trabalhado redacionalmen-
te de modo deuteronomstico, devemos contar no livro de Josu em todo caso com duas
redaes deuteronomsticas.
Alm disto encontramos alguns versculos sacerdotais ou, antes, versculos afina-
dos em linguagem e inteno com o Escrito Sacerdotal - que conclui com a morte de
Moiss; cf. sobretudo o relato da Pscoa em Js 5.10-12, a meno dos sacerdotes e da
arca da lei em 4.15ss.; 14.1s.; 18.1; 19.51; 2Us.; tambm 9.15ss. e outras.
At a parte narrativa principal (caps. 2ss.) parece que no uniforme literariamen-
te. A atribuio de um trecho do livro de Josu a uma das camadas de fontes mais
antigas do Pentateuco (cf., p. ex., a coincidncia da frmula de Js 5.15 com x 3.5 J)
ao contrrio no pode ser comprovada com certeza.
As sagas locais (caps. 2-9) que explicam determinadas situaes ( 5b) e
as narrativas blicas (caps. lOs.) que anunciam ou antecipam os acontecimentos
do tempo dos juzes decerto s foram interligadas posteriormente entre si,
transformando-se Josu no comandante do exrcito e elo de ligao das dife-
rentes tradies, agora relacionadas com o pan-israelismo.
O prprio Josu, que oriundo do mbito efraimita (cf. Js 24.30; Nm 13.8),
eventualmente pode ter atuado de maneira similar aos heris carismticos do tempo dos
144
juzes na Palestina Central (cf. Js 10), embora dificilmente desempenhasse um papel to
proeminente como o livro de Josu lhe atribui (Jz 1.22ss. nada sabe dele).
Todavia seu nome - em que pela primeira vez se comprova com segurana o
nome de Deus ("Jav ajuda") - parece confirmar que ao mesmo tempo Josu se
empenhava de forma extraordinria pelo culto a Jav (cf. Js 24). Fundamentam-se nisso
o ensejo e a validade da tradio que considera Josu servidor e sucessor de Moiss (x
33.11; Nm 11.28; 27.15ss.; Dt 31.14.23; 34.9; Js I)?
OS diversos acontecimentos e diferentes tradies so interpretados no
livro de Josu como sendo um complexo nico (cf. 10.42), em conformidade
com a vontade de Jav. A tomada da terra se realiza a seu mando (1.2ss.) e
ocasionalmente por meio de sua interveno milagrosa 00.12s.; cf. Jz 5.20s.).
Assim, em ltima anlise, o prprio Jav concede a terra (Js 1.11,15; 9.24;
24.13). Na segunda e extensa parte principal do livro de Josu se destaca este
direito de posse de Jav procedendo-se distribuio da terra por sorteio
08.8ss.; 14.2 e passim), isto , segundo a deciso de Jav (cf. 7.14ss.; 1 Sm
1O.20ss.); deste modo o direito de escolha e a auto-suficinciado povo se rompem.
Alm disto a tomada da terra representa o cumprimento da promessa que
j havia sido dada aos pais e tinha sido reforada por ocasio da vocao de
Moiss (x 3.8,17 RDtr): "Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras
(...); tudo se cumpriu." (Js 21.43-45). J que a posse de terra no uma
condio natural, no automtica. Seguindo o raciocnio do profetismo, pode-
se afirmar que Deus pode retirar suas boas ddivas de Israel quando este se
mostrar desobediente (23.13ss.).
2. O livro de Juzes
Depois da conquista da terra comea, com a poca dos juzes, uma poca
fundamentalmente diferente para a Obra Historiogrfica Dtr, condicionada pela
mudana de comportamento de Israel. Durante a vida de Josu o povo se
mantinha fiel a Jav (Js 24.31; Jz 2.7), mas agora comete apostasia. Passando
a adorar deuses estranhos, os Baalins, Israel enfrenta dificuldades que os juzes
podem reverter - embora apenas o consigam temporariamente, at que Israel
de novo se mostra desobediente (2.11ss.; cf. 3.7ss.; 4.1ss.; 6.1,6 e outras).
I. Jz 1 Introduo (possivelmente anteposta posteriormente)
Relato ou breves informaes distintas sobre a conquista da terra.
Esta conquista descrita - ao contrrio da orientao pan-israelita
do livro de Josu - como empreendimento de distintas tribos,
sem a liderana de Josu (o que historicamente mais provvel).
Assim chamada relao negativa de posse (vv. 19,2l,27ss.; cf. Js
15.63; 16.10; 17.11ss.)
2.1-5 Subida do anjo de Jav (cf. x 23.20; 33.2) de Gilgal para
Boquim
145
11. Jz 2-16 Parte principal
2.6-3.6 Observaes introdutrias, de cunho histrico-teolgico (dtr) sobre
a relao com Deus de todo o Israel - com diversos adendos no
[mal, em contraposio s narrativas de heris tribais individuais
(3.7-16.31)
3.7-11 Otniel (cf. 1.13; Js 15.17)
3.12-30 Ede de Benjamim contra Eglom de Moabe para libertar
Jeric
3.31 Sangar (cf. 5.6 contra os filisteus
4-5 Assim chamada batalha de Dbora na plancie de Jezreel (Tabor)
contra as cidades cananias. Dbora de Efraim e Baraque de
Naftali contra Ssera (Jabim de Hazor).
Assassinato de Ssera pela quenita Jael
5 Cntico de Dbora. Vitria graas teofania de Jav a
partir do Sinai (vv. 4s.; cf. Dt 33.2) com a ajuda de Israel
(v. 14). Participao de tribos do centro e do norte da
Palestina. Elogio dos participantes, censura dos ausentes.
6-8 Gideo (Jerubaal) de Ofra em Manasss contra os midianitas
(primeiros nmades que se utilizavam de camelos); cf. Is 9.3
. 6.1lss. Frmula de vocao (como x 3.10ss. E; 1 Sm 9s.; Jr 1)
com uma etiologia de santurio
8.22s. Recusa de aceitar a dignidade real (cf. 1 Sm 8; 12). Em
contrapartida:
9 Abirneleque, filho de Gideo, rei da cidade de Siqum
(antes que se formassem os dois reinos)
9.7-15 Fbula de Joto (abordagem crtica da monarquia)
10-12 Jeft de Gileade contra os amonitas.
Simultaneamente heri tribal e juiz (12.7).
10.1-5;
12.8-15 Relao dos assim chamados juzes menores
13-16 Sanso de D contra os filisteus, Sagas de heris populares
m. Jz 17-21 Dois adendos (?)
Reportam-se situao vigente antes da monarquia (17.6; 19.1;21.25)
17-18 Idolatria de Miquias. Justificativa do santurio da tribo de D.
Sua migrao para o norte.
19-21 Crime abominvel de Gibe
Guerra pan-israelita (originalmente apenas de Efraim?) contra
Benjamim. Confronto entre tribos de Israel tambm em l2.1ss.
A interpretao dtr da histria se expressa num primeiro momento na
introduo de Jz 2.6ss., que corresponde ao discurso [mal de 1 Sm 2, ocasio-
nalmente se manifesta em passagens mais extensas (Jz 10.6-16), inclusive na
forma de palavra proftica (6.7-10), por fim em diversas observaes isoladas
(8.33ss. e outras). Parece que a esta exposio histrica precederam sobretudo
duas tradies diferentes provenientes dos primrdios de Israel, entre a tomada
da terra e a formao dos reinos:
146
a) Como o livro de Josu incorporou uma coleo mais antiga, preexis-
tente de sagas (Js 2-9.lOs.), o livro de Juzes contm uma coleo de narrativas
sobre heris tribais, vocacionados de forma carismtica. Surgiam como salva-
dores na emergncia ou "ajudantes" (como aconteceu no quadro referencial
tardio de Jz 3.9,15; cf. I Sm 11.3), em momentos em que uma tribo se via
ameaada por inimigos externos, cabendo-lhes convocar as tribos diretamente
atingidas e as tribos vizinhas para que se alistassem no exrcito. Estes assim
chamados juzes maiores, despertados pelo Esprito de Jav (6.34 e outras)
tiveram uma atuao limitada tanto no tempo como tambm no espao: condu-
ziam determinadas tribos em uma operao militar especfica e retornavam para
casa depois da campanha libertadora como que destitudos de sua funo.
W. Richter definiu aquela coleo de sagas de forma mais precisa como "livro
de salvadores" que se estenderia de Jz 3 (vv. l2s.) at 9, tendo surgido no norte de
Israel no sculo IX.
b) H uma relao onde constam nomes, origem, tempo de atuao e
lugar de sepultamento dos assim chamados juzes menores (Jz 10.1-5; 12.7-15),
que "julgavam a Israel". Exerciam individualmente sua funo - ao contrrio
do que previa Dt 16.18 - e parecem ter tido - ao contrrio daqueles heris
tribais - uma influncia maior que abarcava as tribos vizinhas. Suas funes
dificilmente tinham a ver com poltica externa ou operaes militares, antes
atuavam de forma pacfica, internamente. Eram magistrados, arbitravam (cf. 1
Sm 7.15s.; 2 Sm 15.4,6) ou at pronunciavam sentenas? At onde se estendia
sua jurisdio, s sobre o que mais tarde seria o Reino do Norte ou tambm
inclua o Sul? J se discute at mesmo se a relao de fato transmite recorda-
es de tempos pr-estatais ou apenas projeta sobre o passado circunstncias
(pan-israelitas) da poca da monarquia.
Ambos os grupos se sobrepem na figura de Jeft, que tem uma atuao
tanto de "juiz" (menor) (Jz 12.7) como tambm de lder carismtico (cf.
tambm Dbora, Jz 4.4s.).
Provavelmente inspirada nesta tradio, a Obra Historiogrfica Dtr justape am-
bos os fenmenos. Talvezos heris tribais tenham se transformado em "juzes" (maio-
res) apenas pela sua identiftcao com os "juzes" (menores) - como afirma M. Noth.
Num primeiro momento o acontecimento de que falam as sagas de heris
singular e particular, mas no decorrer da histria traditiva amplia sua signifi-
cao. Em analogia com o processo por que passam as sagas e lendas de
santurio da poca patriarcal, tambm as narrativas tribais da poca dos juzes
so relacionadas com todo o Israel e com isto tornam-se de fato, ou pelo menos
em medida crescente, testemunho da f em Jav. A iniciativa humana recua
para segundo plano, para que Israel no se vanglorie: "Ajudei-me a mim
mesmo." (7.2.) Esta interpretao teolgica (mais tardia) culmina na recusa da
147
dignidade real por parte de Gideo: "Nem eu nem meu filho, mas Jav
dominar sobre vs!" (8.22s.; cf. quanto histria traditiva W. Beyerlin).
Alm disto a Obra Historiogrfica Dtr insere as tradies no seu quadro
referencial global e configura o que, segundo a tradio, acontecia uma vez aqui
outra vez acol como um acontecimento tpico, que se repete de forma quase
que constante: apostasia de Jav - assdio dos inimigos - apelo de socorro,
dirigido a Jav - salvao - nova apostasia. Por isto se perguntou de forma
crtica "se neste programa histrico-teolgico do livro de Juzes Israel no
pagou um perigoso tributo ao pensamento circular vtero-oriental" (G. von
Rad, Theologie des AT I, 4.00., p. 343). Certamente o livro de Juzes descreve
a repetio por vrias vezes da mesma situao ou de outra que lhe similar.
Todavia, falando em imagens, o que parece constituir um crculo antes uma
espiral dirigida em determinado sentido. A sucesso dos acontecimentos tem-
ao lado do movimento circular - um movimento progressivo: a poca dos
juzes de antemo flui em direo poca da monarquia.
3. Os livros de Samuel
148
13-15 Feitos de Saul em guerras contra os filisteus (13s.; Jnatas) e Ama-
leque (15; cf. x 17). Conflito entre a monarquia e a tradio (da
guerra de Jav): mediante antema, todo o despojo ofertado a Jav
Rejeio de Saul por Samuel: "A obedincia melhor do que o
sacrifcio." (15.22.)
149
"No temos parte com Davi." (V. 1; 1 Rs 12.16)
IV. 2 Sm 21-24 Adendos: (?, insero na histria da sucesso ao trono)
22 = SI 18
23 "ltimas palavras" de Davi (espelho de regentes)
Heris de Davi (23.8ss.; 21.15ss.)
24 Etiologia do local do templo de Jerusalm?
Recenseamento. Gade, "vidente de Davi". Escolha do
castigo. Construo do altar na eira de Arana, Reinterpre-
tou-se de forma profana (como eira) um local de culto j
utilizado pelos antigos habitantes?
150
d) 1 Sm 1O.23b-24: Dentro do episdio anterior se conservou uma tradio mais
primitiva, segundo a qual Saul declarado rei porque sobressai no meio do povo,
por ser mais alto ("dos ombros para cima" = altura equivalente cabea; cf. 9.2).
e) 1 Sm 11: Ameaa representada pelos amonitas (Jabes em Gileade). Saul atua como
lder carismtico (juiz maior). Saul proclamado rei "perante Jav" em Gilgal (v. 15).
Conforme o acrscimo dos vv. 12-14, que fala de forma harmonizante de "renovar"
a monarquia, Samuel participou da entronizao.
A ltima verso - talvez a mais antiga - v o motivo para o surgimento
da monarquia, com razo, em conflitos blicos (cf. tambm 1 Sm 8.20; 10.1).
A ameaa, porm, dificilmente provinha dos amonitas (ao contrrio do que
afIrma 1 Sm 11), mas muito provavelmente dos filisteus (cf. 9.16; 13s.; 28s.;
31), cujo acossamento constante exigia uma reao duradoura - tomando
necessrio, por conseguinte, o surgimento de uma monarquia, em substituio
liderana de juzes carismticos, cuja atuao se restringia a uma situao
emergencial. A motivao imediata, portanto, parece no ter sido registrada
literariamente.
Uma questo histrica especial at que ponto Samuel, originalmente decerto um
assim chamado juiz menor O Sm 7,15s.), participou destas importantes inovaes. Na
retrospectiva sua importncia neste processo aumenta gradativamente (uno de Saul em
10.1; convocao do povo em 10.17; adendos em 11.7,12-14; cf. 13d).
Mesmo que o acontecido se reflita de forma mu1tifacetada nos diversos
relatos, estes tm intenes teolgicas afms. O que sugerido em 1 Sm 11.15
com a observao "perante Jav", desenvolvido, tanto pelo ato simblico da
uno quanto pelo sorteio: apesar de toda reserva crtica, a escolha do novo
ocupante do cargo corresponde, em ltima anlise, vontade de Deus, a quem
o "eleito" (10.24), por sua vez, se vincula e deve continuar vinculado.
Os captulos deuteronornstcos de moldura, 1 Sm 8 e 12, que compreendem as
tradies mais antigas e as interpretam, julgam a monarquia na retrospectiva de maneira
bastante ctica, podendo at contrapor o senhorio de Deus autoridade do rei (8.7;
12.12; cf. Jz 8.23). Deus mesmo reclama proporcionar a verdadeira ajuda na necessidade
(cf. 1 Sm 1O.18s.).
As tradies surpreendentemente amplas da poca davdica - 1 Sm 16-2
Rs 2 - costumam-se subdividir em duas unidades maiores: a narrativa da
ascenso (1 Sm 16-2 Sm 5) e a da sucesso ao trono (2 Sm 9-20; 1 Rs 1s.).
Segundo a anlise fundamental de L. Rost (926), o objetivo da histria da
sucesso ao trono responder, atravs da apresentao da intrincada histria dos filhos
de Davi, a questo: quem deve assentar-se no trono de Davi O Rs 1.27)? Salomo!
Todavia, a extenso das duas narrativas no definida de modo uniforme.
Discute-se em especial a paternidade literria dos captulos de transio (2 Sm
5 ou 6-8), que se reportam primeira narrativa e preparam a segunda, entrela-
ando desta maneira a ambas. Nesta passagem intermediria, alm disto, est
151
inserida a ltima parte da narrativa da arca que originalmente era independente
(1 Sm 4-6; 2 Sm 6). Em razo desta juno hbil das fontes - anterior Obra
Historiogrfica Dtr? - uma grande parte dos livros de Samuel desenvolve a
narrativa de forma mais ou menos coerente, adotando um amplo arco temtico
que abrange os vrios episdios isolados, de forma a dar a impresso de ser
mais compacta do que os livros dos Reis com sua constante mudana de
pessoas e ao.
J que as narrativas revelam conhecimentos precisos sobre o que se passa
na corte de Davi, conservaram certamente - ao lado de falas ou at episdios
possivelmente criados livremente? - abundantes lembranas historicamente
confiveis. Mas continuam incertas a datao de determinadas tradies isola-
das, a poca da fixao por escrito do todo (ainda no tempo de Salomo ou s
depois da assim chamada diviso do reino em 926 a.c. ?), a parcela proveniente
da redao posterior e principalmente a inteno da exposio. Quanto mais
complexo for um relato histrico, tanto mais difcil , por natureza, reconhecer
de forma inequvoca sua tendncia. A narrativa da ascenso pr-davdica, a
histria da sucesso ao trono, anti-salomnica, at crtica monarquia heredit-
ria (E. Wrthwein)?
Critica-se o princpio dinstico porque a investidura de Salomo aconteceu sem a
participao dos israelitas livres (cf. 2 Sm 2.4; 5.3; 1 Rs 12.20)? Pode ser que bastante
cedo j tenha havido oposio monarquia (l Sm 10.27; 11.12s.; tambm 2 Sm 15.3s.;
Jz 9.7ss. e outras).
No geral evidencia-se bem a ambigidade da histria. A narrativa chama
a ateno por seu carter "profano". Nela foram introduzidas luzes teolgicas
s de forma reticente, quase que velada: introduo (provavelmente) original
da narrativa de ascenso, que relata como o jovem Davi veio de Belm corte
de Saul como msico (l Sm 16.14ss.), se antepe a narrativa decerto mais
recente da escolha de Davi como rei mediante uno (16.1-13). A vinculao
interna destas duas narrativas, que em termos histricos dificilmente se conse-
guem harmonizar, se d atravs da idia da transferncia do carisma: o Esprito
de Jav passa de Saul para Davi; um esprito mau, igualmente enviado por Jav,
assalta Saul (vv. 14s.). A inteno da histria da ascenso reside na constatao
de que Jav estava "com" Davi (1 Sm 17.37; 18.12,14,28), com a qual
principia (16.18) e decerto tambm finaliza: "Ia Davi crescendo em poder cada
vez mais; porque Jav Deus Zebaote estava com ele." (2 Srn 5.10; cf. tambm
7.3,8s.; 1 Sm 10.7.) Ao que parece explicava-se o sucesso de Israel na poca
davdico-salomnica pelo fato de Jav "estar junto", reconhecendo-se, portan-
to, no transcurso "natural" dos acontecimentos a atuao (indireta) de Deus e
no se atribuindo simplesmente o sucesso competncia humana. Ser que o
Javista, que era mais ou menos contemporneo, adotou esta viso para interpre-
tar as sagas patriarcais (Gn 26.3; 28.15 e outras)?
152
De fato, os livros de Samuel confessam a indignidade e a impotncia do ser
humano e destacam a ajuda de Deus (l Sm 9.21; 14.6; 15.17; 16.11; 17.45,47; 2 Sm 7.18).
controvertido se os juzos teolgicos emitidos na histria da sucesso ao
trono remontam aos primrdios ou se devem ser atribudos a uma viso mais
tardia. Eles entendem o emaranhado de culpa e sofrimento na corte real como
desgnio de Deus: "Jav assim o determinou." (2 Sm 17.14; cf. 11.27b; 12.24b;
14.14 e outras.) De novo se impe uma comparao com a fonte mais antiga
do Pentateuco. Quando a histria da sucesso ao trono mostra tanto os altos
quanto os baixos, tanto as potencialidades quanto as fraquezas dos seres huma-
nos, o leitor lembrado do realismo com que a obra javista v o ser humano
(Gn 4; 8.21).
153
22 Micaas, filho de Yiml.
Em contraposio aos profetas da corte o profeta de desgraa com
duas vises
2 Rs 2-9; 13 Eliseu
2 Ascenso de Elias aos cus.
Eliseu recebe dois teros (cf. Dt 21.17) do esprito de
Elias (2.9)
2; 4; 6ss. Milagres
3 Guerra.contra Mesa de Moabe
5 Cura do srio Naam. Uma carga de terra
9s. Assim chamada revoluo de Je (cf. 1 Rs 19.16s.)
11 Atalia de Jud
17 Conquista de Samaria por Sargom (lI)
Recolonizao da terra
m. 2 Rs 18-25 Histria do Reino do Sul, Jud (at 587 ou 561 a.Cc)
18-20 = Is 36-39. Ezequias e Isaas.
Stio de Jerusalm por Senaqueribe (701 a.c.).
22-23 Reforma de Josias (622 a.C).
Cf. j 18.4ss. (Ezequias); 1 Rs 15.11ss. (Asa)
24 Primeira conquista de Jerusalm (597 a.C)
Deportao de Joaquim
25 Segunda conquista de Jerusalm (587 a.C).
Exlio babilnico. Gedalias. Anistia de Joaquim.
(561 a.c.)
Os livros dos Reis contam uma histria de culpa - com juzos teolgicos
fortes, no oferecendo, portanto, uma verso neutra, muito menos completa da
poca monrquica. Eles falam do relacionamento em geral tenso entre profetas
e reis, de trocas de governo pacficas e violentas, de medidas clticas e de
guerras, mas dificilmente se mencionam problemas sociais e de poltica interna,
que, afmal, alcanaram projeo cada vez maior na poca da monarquia.
Desconsiderando o variegado material avulso, a exposio dos livros dos
Reis se embasa em dois tipos de fontes principais, distintos entre si:
a) O primeiro tipo apresenta carter formal, oficial e contm:
1. o assim chamado sincronismo, que vincula o ano de entronizao de
um novo rei com o perodo de reinado do soberano do reino vizinho (l Rs
15.1,25 at 2 Rs 18.1);
2. a indicao do tempo de reinado, freqentemente tambm da cidade
que serve de residncia (l Rs 2.11; 11.42; 14.20s. e passim).
Estes dados permitem que a historiografia moderna estabelea, mesmo que com
grandes dificuldades, uma cronologia relativa, que, vinculada com pontos de referncia
vtero-orientais, tem que ser transformada em uma cronologia absoluta.
A. Jepsen, que prossegue os estudos de J. Begrich e se manifestou vrias vezes
154
(sobretudo em BZAW 88, 1964; VT 18,-1968, pp. 31-46) a respeito da metodologia,
elaborou aqui um quadro cronolgico claro que d uma viso geral da histria vtero-
oriental e, em especial, da histria israelita (cf. o respectivo apndice aos comentrios
de W. Rudolph sobre o livro dos doze profetas ou A. Jepsen et alii, in: Von Sinuhe bis
Nebukadnezar, 2. ed., 1976). Esta tabela tambm adotada nesta obra.
As duas informaes acima, que sempre so fornecidas, so complemen-
tadas, no caso dos reis judatas, por indicaes sobre:
3. a idade do soberano no momento em que assume o trono;
4. o nome da rainha-me (1 Rs 14.21 e outras) que exercia como "senho-
ra" (gebira) certas funes administrativas (cf. 15.13; 2 Rs 10.13; Jr 13.18).
Finalmente encontramos informaes gerais sobre a morte do rei e sobre
a seu sucessor (1 Rs 14.20,31 e outras).
Estes dados oficiais, alm de outros complementares (12.25 e outras),
poderiam ter sido tomados dos anais citados constantemente nos livros dos
Reis: "o livro da Histria de Salomo" (11.41), as "crnicas dos reis de Israel"
(14.19 at 2 Rs 15.26,31), como tambm as "crnicas dos reis de Jud" (1 Rs
14.29 at 2 Rs 24.5). claro que as indicaes de fontes so do redator ou dos
redatores dos livros dos Reis. A ele ou eles se devem atribuir tambm os juzos
sobre a piedade dos reis (1 Rs 14.218s; 15.3,11,26,34 e outras at 2 Rs 14.19;
v. acima 11b,2).
b) Destas informaes mais ou menos estereotipadas se distinguem as
narrativas de profetIls, elaboradas de forma mais solta ( 13bl). Chama a
ateno que estas narrativas ocupam um amplo espao justamente nos livros
dos Reis. Encontramos ali histrias tanto de profetas annimos (1 Rs 13; 20) como de:
Aas de Silo 1 Rs 11.29ss.; 14
Micaas, filho de Yiml 1 Rs 22
Elias 1 Rs 17-19; 21; 2 Rs 1
Eliseu 2 Rs 2-9; 13 (1 Rs 19.19ss.)
Isaas 2 Rs 18-20 (= Is 36-39)
Da mesma forma como as sagas patriarcais do Gnesis, tambm as nar-
rativas de profetas j estavam em parte reunidas em ciclos narrativos, como, p.
ex., o ciclo de sagas sobre Elias ou Eliseu, antes que fossem integradas na Obra
Historiogrfica Dtr. Um problema histrico-literrio surge com o trabalho reda-
cional, especificamente deuteronomstico, que complementa pressgios e relatos
profticos na retrospectiva: onde realmente temos tradio antiga, onde temos
um trabalho redacional posterior? Porm a redao retoma teologicamente uma
inteno que j marca as narrativas de profetas: o intuito de apontar a eficcia
da palavra de Deus.
155
12
A OBRA mSTORIOGRFICA CRONISTA
a) As Crnicas
Chama a ateno que ao lado dos livros de Samuel e dos Reis se encontra
no AT mais outra verso da poca da monarquia, que no essencial relata
acontecimentos paralelos, mas coloca acentos diferentes: os livros das Crnicas.
O termo hebraico "dirios, anais" (dibre hayyamim) foi parafraseado por
Jernimo com a palavra "crnica", adotada por Lutero.
O nome greco-latino Paralipomena quer sugerir "coisas omitidas", dando a
entender que ambos os livros das Crnicas oferecem contedos "omitidos" nos livros
de Samuel e dos Reis? Ou o nome se refere apenas traduo grega, onde os livros das
Crnicas num primeiro momento poderiam ter sido "omitidos" exatamente por repeti-
rem o contedo dos livros de Samuel e dos Reis e acrescentados posteriormente?
Segundo a acepo habitual, mas de forma alguma inconteste, ambos os
livros das Crnicas formavam originalmente a primeira parte de uma obra
extensa que tambm abarcava Ed e Ne - este ltimo livro totalmente ou em
parte. Como se chega tese de que h tal Obra Cronista (= Cr), cujo autor se
denomina Cronista?
1. Ambos os livros das Crnicas relatam a histria de Israel at o exlio;
do tempo posterior tratam Ed/Ne. O importante edito de Ciro, que marca a
virada do exlio, se encontra tanto no fmal do Segundo Livro das Crnicas,
como tambm no incio do livro de Esdras. Esta repetio (mais precisamente,
uma antecipao do edito em 2 Cr 36.22ss.) tem sua origem na poca em que
a obra foi subdividida, evidenciando que originalmente 2 Cr e Ed formavam
uma unidade ou a exposio contnua.
2. Cr e Ed/Ne se correspondem em grande parte na linguagem, estilo,
idias bsicas e na inteno, mesmo que tambm tenham evidentes diferenas.
Por exemplo, a grande importncia que a monarquia davdica e o profetismo tm
para o Cronista, deixa de existir completamentepara Ed/Ne - acaso pela simples razo
de Ed/Ne se reportarem a uma poca em que ambos os fatores no exercem mais
nenhum papel decisivo?
3. Por fim, o desmembramento da Obra Historiogrfica Cr tem uma ex-
plicao. Como apenas Ed e Ne apresentam informaes que vo alm dos dados
156
oferecidos pelos livros de Samuel e dos Reis, eles foram separados de 1-2 Cr
e canonizados mais cedo. Desta maneira se explica ao mesmo tempo que no
texto hebraico Ed/Ne anteposto s Crnicas (canonizadas posteriormente).
Esta seqncia, que contradiz o desenrolar dos acontecimentos relatados, foi
corrigida na traduo grega, latina e, por conseguinte, tambm nas verses portuguesas.
Estas tradues enquadram a Obra Cr entre os "livros histricos", enquanto na Bblia
hebraica a Obra Cronista est entre os "Escritos", concluindo toda a Bblia. 'Iambm
isto um sinal do surgimento tardio da obra.
Apesar dos argumentos acima, tambm se defende a tese contrria de que
desde o princpio Cr e Ed/Ne foram obras distintas, atribudas ou no ao mesmo autor.
Os ltimos acontecimentos relatados na Obra Cr se situam na poca ao
redor de 400 a.c. Embora o relato no mais mencione a campanha de Alexan-
dre Magno nem revele nenhuma influncia helenstica, no h consenso se a
obra foi elaborada ainda no sculo N ou apenas depois da queda do Imprio
Persa, por volta de 300, ou inclusive mais tarde, no sc. III a.C.
Todavia, a obra no uniforme. Em geral se excluem trechos maiores identifica-
dos como complementaes posteriores. De forma semelhante como aconteceu com o
Escrito Sacerdotal, acrescentaram-se mais tarde sobretudo diversas listas (em 1 Cr 2-9;
23-27; tambm Ne 7; lls. e outras).
Houve vrios redatores ou podemos supor que tais complementaes sejam de
autoria de uma nica pessoa? Retomando anlises anteriores, K. Galling (Altes Testa-
ment Deutsch 12) atribuiu a Obra Cr a dois autores, a um Cronista mais antigo (por
volta de 3(0) e a outro, mais recente, que o complementa (por volta de 200 a.C).
Embora esta bipartio tenha encontrado poucos adeptos, possvel que haja comple-
mentaes to recentes.
Os dois livros de Crnicas contam a histria de Ado at o exlio babil-
nico. O relato se subdivide como que por si em quatro segmentos. A primeira
parte, que abrange todo o tempo pr-davdico, se constitui apenas de uma nica
rvore genealgica - ampliada por diversos informes genealgicos e histricos
- de Ado a Davi. Com isto o Cronista documenta o enraizamento do povo
de Deus na humanidade ou, em outras palavras, o Cronista relata como a
histria da humanidade conflui para a autntica comunidade.
157
2 Cr 1-9 Reinado de Salomo com construo do templo
2 Cr 10-36 Os reis de Jud/Jerusalm -
de Roboo a Zedequias (sem o Reino do Norte), com meno especial de
Asa (14-16), Josaf (17-20), Ezequias (29-32) e Josias (34-35)
36: ira de Deus (v. 16), exlio (v. 20) e virada (vv. 22ss.)
As Crnicas mencionam grande nmero de fontes - perdidas - tanto
sobre reis (2 Cr 16.11; 20.34; sobretudo 24.27), como tambm sobre profetas
(1 Cr 29.29; 2 Cr 9.29; 32.32 e outras). O Cronista de fato dispunha de fontes
com um contedo mais amplo do que o do Pentateuco (em 1 Cr 1-9) e da Obra
Historiogrfica Dtr (em 1 Cr lOss.)? Na verdade, o Cronista podia ter-se
restringido, para a elaborao de suas Crnicas, essencialmente aos livros de
Samuel e dos Reis. Tambm as diferentes tradies exclusivas, principalmente
relatos sobre construes e guerras (como 2 Cr 20), no constituem - com
algumas poucas excees (como a relao das fortificaes em 2 Cr 11.5b-l0a;
cf. 26.6,10; 35.lOss. e outras) - testemunhos historicamente fidedignos da
poca pr-exlica, mas so oriundos do tempo do Cronista (P. Welten).
b) Esdras e Neemias
158
terminado sua obra (2.8,18,20; 6.16 e outras). J por sua riqueza de detalhes o
relato na primeira pessoa do memorial de Neemias extraordinrio. Perguntou-
se se inscries vtero-orientais de reis, inscries votivas ou de dedicao,
estelas memoriais ou - por causa daquele apelo dirigido divindade -
oraes de um acusado poderiam ter servido de modelo. Em todo caso, quando
uma variante daquela frmula pode incluir splica por vingana contra o adver-
srio (6.14; 13.29; 3.36s.), ela ainda deixa transparecer quo duros eram os
confrontos de Neemias com os vizinhos de Israel (2.10,19 e outras) e com os
prprios compatriotas (6.lOss.) em virtude da construo do muro. Assim o
memorial funciona como uma espcie de prestao de contas, que tem uma
tica bem pessoal e expressa "como Neemias compreende sua obra e quer que
seja compreendida pela opinio pblica e diante de Deus" (KeIlermann, p. 88).
A Bblia latina denomina os livros Ed/Ne de 1 e 2 Ed. O 3 Ed um livro apcrifo
que se estende, de acordo com as partes conservadas, da Pscoa de Josias em 2 Cr 35
at a recitao da lei em Ne 8, acrescentando algum material extrabblico (disputa dos
pagens de Dario sobre o que seria o mais poderoso no mundo: vinho - rei - mulheres
- verdade). O quarto livro de Esdras (4 Ed) um apocalipse, importante por sua
distino entre o on presente e o futuro, como tambm por sua expectativa messinica.
Visto que o terceiro livro de Esdras (3 Ed) - tambm utilizado por Josefo nas
suas Antiquitates - omite o memorial de Neemias, Ne 1-7, perguntou-se se esta
traduo no preservaria um estgio traditivo mais antigo, ou seja, se o memorial de
Neemias no teria sido apenas inserido posteriormente na Obra Cr (cf. Pohlmann). Mas
ser que em 3 Ed no temos antes uma omisso proposital?
159
representava o seu primeiro feito em Jerusalm." (M. Noth. berlieferungsgeschichtli-
che Studien, p. 147; cf. Kellermann; In der Smitten).
160
Mas "o povo da terra" (= samaritanos) interfere na construo do templo
(por duas dcadas, at 520 a.C; cf. 4.24).
4.6-6.18 Crnica aramaica de Jerusalm. Coleo (retrabalhada) de epstolas ofi-
ciais interligadas por um texto, em seqncia no-cronolgica:
5 Por insistncia dos profetas Ageu e Zacarias, Zorobabel e Josu
comeam a construir o templo (520 a.C), respectivamente conti-
nuam a construo. Tatenai, strapa persa da Sria, informa-se
junto a Dario (521-485 a.C) sobre a situao legal.
6 A resposta de Dario com base no edito de Ciro encontrado em
Ecbtana (na residncia persa de vero; vv. 3-5). Apoio constru-
o do templo s custas do Imprio.
4.6ss. Reclamao apresentada diante de Xerxes. Por volta de 450 a.C;
sob Artaxerxes (I), proibio de reconstruir as muralhas da cidade
de Jerusalm.
6 Aps a concluso do templo (vv. 14ss.; 515 a.Ci) primeira comemorao
da Pscoa e da festa dos pes zimos (cf. 2 Cr 30; 35)
Ed 7-10 Narrativa de Esdras
7 Apresentao e investidura de Esdras, o "escriba da lei do Deus do cu"
de Babel, mediante um decreto (vv. 12ss. em aramaico) do rei Artaxerxes
(I?): repatriao, lei, doaes para o templo e utenslios do templo
8 Retomo de Esdras com grupos de exilados, sem proteo armada (ao
contrrio de Ne 1.7ss.), to-somente sob a guarda da bno de Deus
9-10 Orao de penitncia de Esdras (9.5ss.) e dissoluo dos casamentos
mistos com concordncia do povo (1O.9ss.). Cf. Ne 9s.
1O.18ss. Relao (posterior?) dos culpados
Ne 1-7 "Histria de Neemias, filho de Hacalias" (1.1). Parte principal do memo-
rial de Neemias na primeira pessoa.
1 Neemias, copeiro na corte persa de Susa. Informao sobre a situao em
Jerusalm. Orao (obedincia lei, congregao do povo)
2 Neemias incumbido por Artaxerxes (I), a seu prprio pedido, de recons-
truir os muros de Jerusalm (vv. 1-10). Preparativos - fiscalizao secre-
ta do muro - e incio da obra (vv. 11-20)
3 Relao dos que construram o muro (na terceira pessoa; documento oficial?)
Diversos trechos da muralha distribudos entre farm1ias de Jerusalm e
Jud para serem construdos (cf. 12.31ss.). Resistncia e orao de vingan-
a por parte de Neemias (vv. 33ss.).
4 Dificuldades externas criadas por vizinhos inimigos: Sambalat, governa-
dor de Samaria, o amonita Tobias e o rabe Gosem (cf. 2.1O,19s.; 3.33ss.).
Operrios da construo armados (vv. lOs.). Sua lamentao (v. 4).
5 Problemas internos. Poltica social de Neemias
Opresso das camadas inferiores em razo do custeio da construo:
penhora de propriedade e filhos (cf. 2 Rs 4.1) camada superior. Em
assemblia geral, suspenso das exigncias, sacramentada por juramento
e Amm (vv. 12ss.). Renncia de Neemias ao salrio de governador,
161
obtido com tributao da populao, apesar de sua rica e dispendiosa corte
(vv. 14ss.)
6 Apesar das hostilidades, concluso da construo do muro depois de 52
dias (6.1,15; 7.1)
7 Providenciada a segurana dos portes da cidade
'Iranslado de parte da populao (sinecismo) para Jerusalm (cf. l1.1s.)?
Relao dos que regressaram Palestina (= Ed 2)
Ne 8(-10) Narrativa de Esdras (retomando Ed 7-10)
8 Leitura da lei por Esdras por solicitao do povo
Uma espcie de culto sinagogal ao ar livre: Esdras parado em cima de um
estrado (cf. 2 Cr 6.13), participao de leigos, instruo (em aramaico?)
Festa das Tendas (vv. 13ss.; cf. Dt 31.10)
9 Cerimnia de lamentao com orao de penitncia (cf. 1.5ss.; Ed 9; Do 9)
10 Comprometimento do povo com a lei (casamentos mistos, manuteno do
sbado, imposto do templo, primcias e outras). Cf. Ne 13
Ne 11-13 A comunidade de Jerusalm
11 Repovoamento de Jerusalm (cf. 7.4s.), relao dos habitantes
12 Relao de sacerdotes e levitas
Inaugurao dos muros da cidade (vv. 27ss.)
13 Medidas de reforma de Neemias (delimitao da comunidade, garantia do
sustento dos levitas, cumprimento do sbado, casamentos mistos)
162
Ser que a acusao no sentido de Neemias alimentar ambies polticas (6.6s.)
tem um fundo real?
Tambm Esdras est a servio dos persas, decerto como "escriba da lei
do Deus do cu" (Ed 7.12). Como encarregado especial para assuntos religiosos
enviado para Jud, acompanhando um grupo de repatriados (segundo 7.7s.,
no ano de 458 a.C), Uma questo famosa, mas que dificilmente ainda encon-
trar resposta, : que obra aquela "lei do Deus do cu" que Esdras, ao que
parece, traz consigo da Babilnia (7.14,25) e (segundo Ne 8) l em voz alta
diante do povo como "livro da lei de Moiss" - o Deuteronmio, o Escrito
Sacerdotal, incluindo determinadas leis (sobretudo a Lei da Santidade) ou todo
o Pentateuco? At que ponto realmente podemos confiar no relato de Ne 8? O
ttulo oficial de Esdras, que o Cronista parece interpretar no sentido de "versa-
do nas Escrituras" (Ed 7.6,lOs.), sugere que Esdras teve importncia decisiva
para que a lei fosse reconhecida - agora oficialmente - em Israel. Desta
forma se viu em Esdras praticamente o "fundador do judasmo".
c) Intenes teolgicas
163
2. Como na Obra Historiogrfica Dtr, tambm na Obra Historiogrfica Cr
se atribui elevado destaque a Davi. Ele "homem de Deus" (2 Cr 8.14),
modelo de fidelidade lei (7.17 e outras); Jav inclusive chamado - em
analogia ao nome de Deus dos tempos patriarcais - de "Deus de Davi, teu
pai" (21.12; 34.3). Da histria de Davi suprimem-se episdios menos agrad-
veis, como o caso com Bate-Seba ou a rebelio de Absalo. Embora o reinado
de Davi seja um tempo de grandes guerras (l Cr 18s.; 22.8; 28.3), tambm
representa um perodo de amplos preparativos para a construo do templo, que
Salomo levar a cabo: Davi adquire o terreno para a obra e planeja o culto (l
Cr 21ss.; 28.19). A profecia de Nat (2 Sm 7) se concentra em Salomo, o
construtor do templo (l Cr 17.11ss.; cf. 22.6ss.; 28.5ss.). Na consagrao o
prprio Deus reconhece o santurio mediante o fogo que desce dos cus sobre
o altar (2 Cr 7.1; cf. 1 Cr 21.26; Lv 9.23s.; 1 Rs 18). Assim a escolha da
dinastia davdica e do santurio de Jerusalm coincidem.
164
distingui-la claramente de elementos estranhos (cf. a polmica contra casamen-
tos mistos em Ed 9; Ne 9.2; 1O.29ss.). Ser que a segregao dos samaritanos,
os descendentes do Reino do Norte, Israel (2 Cr 13.5ss.; 19.2; 25.7; 30.6ss.; Ed
4.lss.; tambm Ne 2.l9s. e outras) - que no so mais considerados seguido-
res da f correta de Israel - representa um dos motivos principais da obra? Sua
inteno "apresentar Jud, atravs do confronto com os samaritanos, como o
verdadeiro Israel, j que a sua monarquia a nica monarquia legtima e o seu
local de culto, o nico local de culto legtimo" (segundo W. Rudolph). Ou a
Obra Historiogrfica Cr apenas espelha o antagonismo cada vez mais aguado
que resulta, por fim, na separao definitiva?
165
fi - O PROFETISMO
167
13
A FORMA DA PALAVRA PROFTICA
168
o leitor uma contradio bvia entre a pretenso da palavra proftica de basear-
se em fala viva e a atual configurao desta palavra: trechos extensos, sem
subdivises, de um raciocnio estranho e incoerente. Como solucionar o proble-
ma posto por estas irregularidades? A histria das formas (H. Gunke1), que
surgiu por volta da virada do sculo, aponta para a seguinte soluo: um livro
proftico se constitui - como tambm os evangelhos sinticos - de muitas
pequenas unidades, que representam falas independentes em termos de forma e
contedo, com sentido prprio, compreensveis a partir de si mesmas, pronun-
ciadas numa situao especfica. Num primeiro momento se havia definido as
unidades da fala proftica de forma muito extensa, mas ento se descobriu que
podem constituir-se de algumas frases curtas, eventualmente de apenas um ou
dois versculos:
"S a vs eu conheci
de todas as fanu1ias da terra,
por isso vos castigarei
por todas as vossas faltas."
(Am 3.2; cf. 5.2; 9.7; Is 1.2s. e outras.)
Ocasionalmente se encontram composies mais extensas, como o ciclo
de vises (7.1-9; 8.1-3) e os ditos contra as naes (1.3-2.16) do profeta Ams
ou a retrospectiva histrica de Isaas (9.7-20; 5.25-29) e a seqncia de ais
(5.8ss.). A devemos verificar caso por caso se estamos lidando com uma
unidade coesa existente j na fase da proclamao oral ou se a srie s surgiu
durante a etapa redacional, ou seja, no momento da fixao por escrito. Parece
que os profetas tardios, como Ezequiel, costumavam utilizar com maior fre-
qncia unidades discursivas mais extensas.
De que forma surgiram os livros profticos a partir da proclamao oral
de ditos independentes? Esta questo, que em determinadas pocas provocou
uma discusso violenta, deve formular-se individualmente para cada livro pro-
ftico e, na maioria das vezes, no encontrar uma resposta inequvoca. A
mensagem proftica foi fixada por escrito apenas depois de um perodo prolon-
gado de tradio predominantemente oral, ou seja, na poca ps-exlica (tese
defendida pela escola de Uppsala; cf. E. Nielsen, Ora11tadition, 1955)? Sobre-
tudo no caso do livro de Jeremias, certamente a tradio oral tem importncia
decisiva, mas no todo sua importncia limitada na formao dos livros
profticos. Vez por outra encontramos referncias (principalmente Jr 36) que
indicam que os prprios profetas (cf. Is 8.1; 30.8) j escreviam parte de suas
mensagens ou faziam com que fossem anotadas por um escriba (cf. Jr 36.4).
Corrobora esta tese, alm das diversas narrativas na primeira pessoa, que devem
ser atribudas ao prprio profeta (como Am 7s.; Os 3; Is 6 e outras), tambm a
forma potica, rigorosamente dentro da mtrica em que a maioria das palavras
profticas se conservou, de modo que em muitos casos ainda possvel distin-
guir entre a formulao original e a redao posterior.
169
Outra parcela, decerto maior, das palavras profticas foi compilada e
transmitida por amigos ou discpulos do profeta. Raramente se fala destes
discpulos diretamente (Is 8.16; cf. 50.4; 2 Rs 4.34ss.; 6.1), porm se consegue
inferir sua atividade. Quem seno discpulos dos profetas teria condies de
redigir depoimentos sobre o profeta na terceira pessoa, que s vezes parecem
estar muito prximos dele (Am 7.lOss.; Os 1; Is 7; 20 e outras)?
Qual a fmalidade da fixao por escrito dos ditos profticos? J que o
juzo anunciado no acontece logo (cf. Is 5.19) e o profeta se defronta com
sarcasmo e rejeio entre seus ouvintes, ele faz com que sua mensajem seja
"selada" - na esperana de que o futuro confirme sua proclamao e lhe d
razo (Is 8.16s.; 30.8; cf. 8.1s.; tambm Hc 2.2s.). Assim as palavras so
anotadas como que no intervalo entre o anncio e o seu cumprimento, toman-
do-se a palavra escrita uma outra forma de pregao que continua testemunhan-
do o signiftcado futuro da mensagem proftica. Acrescenta-se um novo motivo
depois do cumprimento da profecia: os acontecimentos comprovam a autenci-
dade da mensagem proftica (j Am 1.1 e outras).
As diversas colees de palavras profticas foram mais tarde interligadas
e complementadas com mais material traditivo. Por conseguinte, os livros
profticos no so de autoria do prprio profeta, mas se formaram num proces-
so demorado, difcil de ser desvendado, onde as palavras profticas precisam
ser recuperadas e seu contexto original, reconstrudo.
170
'Ianto o prprio profeta (ls 1.2,10; 32.9; Mq 1.2), como tambm a redao
posterior (cf. Os 4.1; Am 3.1 e outras) aproveitam este chamado para introduzir
de forma enftica a sua pregao e caracteriz-la como palavra de Deus. Da
mesma forma expresses idiomticas como "palavra/orculo/dito (Il"um) de
Jav" (Am 2.16 e outras), "pois Jav o disse/ decidiu" (Is 1.2; 22.25 e outras)
ou "pois a boca de Jav o disse" (Is 1.20; 40.5) reivindicam para a unidade
precedente ou posterior a autoridade de Deus. Numa formulao tpica para o
livro de Ezequiel esta reivindicao se encontra como declarao do prprio
Deus: "Eu, Jav, o disse - e o fao" (Ez 5.15,17; 17.24 e passim).
Mesmo no adotando frmulas delimitadoras, novas falas podem se de-
nunciar pela alternncia do pblico receptor, do tema ou da estrutura formal.
As pequenas unidades muitas vezes tm caractersticas de estilo ou formas
estruturais comuns, p. ex., iniciam com um "ai", de sorte que podemos distin-
guir diferentes gneros de palavras profticas (v. abaixo). Por fim, o discurso
proftico se caracteriza sempre pela sua forma potica e mtrica, portanto pelo
paralelismo dos membros (v. abaixo 25,1). Este rigor formal se mantm de
forma to consistente, que palavras em prosa, sobretudo quando esto inseridas
numa fala metrificada, se tomam suspeitas de constiturem complementaes
posteriores (p. ex., Am 3.7 dentro de Am 3.3-6.8). Problemas especiais surgem,
por esta razo, na compreenso do livro de Jeremias, no qual grandes trechos
de palavras profticas so discursos em prosa.
Na sua linguagem potica as palavras profticas, tal qual os Salmos, se
distinguem por sua riqueza, plasticidade e at audcia das imagens (cf. Am
5.19; Os 5.12,14; Is 1.2s.; 28.20; Jr 8.7 e diversas outras). As imagens apenas
aludem a determinado acontecimento e, mesmo assim, o apresentam de forma
marcante ao ouvinte. Excepcionalmente a comparao "(ser) assim como" (Is
17.5; cf. Am 3.12; 9.9 e outras) tambm pode ser ampliada e transformada
numa parbola (Is 5.1-7; cf. 2 Sam 12).
Se a palavra isolada, delimitada por sua forma e contedo, estava sozinha na sua
situao original - que apenas podemos inferir - , o seu significado pode se deslocar
por influncia do contexto literrio em que agora est inserido. A exegese precisa
rastear, na medida do possvel, tambm tais alteraes de significado. A questo da
inteno de um texto dentro do seu contexto, em ltima anlise dentro do livro todo,
procura-se abordar na "histria redacional".
171
crist no preservou a mensagem de Jesus de forma "historicamente pura" nos
evangelhos, tambm a pregao dos profetas foi complementada ou at retraba-
lhada a partir das experincias de anos posteriores. As ampliaes redacionais
revelam, portanto, algo da continuidade, da histria posterior ou da histria da
interpretao da mensagem proftica; constituem uma primeira exegese que
oferece instrumentos importantes para sua compreenso, mas tambm podem
transmitir informaes falsas. A nomenclatura infeliz, mas habitual, que distin-
gue entre "autntico" e "no autntico" no pretende conotar um juzo de
valor, mas apenas histrico: palavras "autnticas" podem ser atribudas ao
prprio profeta com toda a probabilidade que a anlise histrico-crtica permite.
Tambm o material "no autntico", isto , no proveniente diretamente do
profeta, portanto redacional, pode ser "autntico" no seu contedo, isto , pode
conter enunciados verdadeiros sobre os quais vale a pena refletir.
As complementaes no precisam ser somente literrias. s vezes o uso
cultuaI influenciou a formao do livro proftico: quando era lida a palavra
proftica, a comunidade respondia - incluindo a si mesma, em tom de reco-
nhecimento e confisso - na primeira pessoa plural (p. ex., Is 1.9; 2.5; Mq
4.5) ou tambm com uma doxologia que foi acolhida no livro proftico (Os
12.6; Am 4.13; 5.8s.; 9.5s.; cf. Is 12; Mq 7.8ss.; tambm Zc 2.17 e outras). Mais
tarde, no culto judaico se complementava a leitura da Tor com a recitao de
textos profticos, chamada de haftara (cf. At 13.15; Lc 4.17).
A diferenciao entre as assim chamadas palavras autnticas e as redacio-
nais em grande parte pode ser irrelevante ou indiferente, enquanto no esbarrar
em contedos diferentes e, com isto, em intenes divergentes. Mas isto de fato
acontece. Como as complementaes na sua maioria provm de uma poca em
que a desgraa anunciada pelo profeta j aconteceu, elas tm um interesse
completamente diferente que a palavra proftica original.
Por um lado as complementaes buscam por sinais de salvao em meio
desgraa: Deus no quer que o povo sobreviva? Assim os anncios profticos
de juzo so complementados com promessas de salvao (p. ex. Am 9.11ss.).
Os diversos livros profticos foram at mesmo estruturados a partir desta
perspectiva, de acordo com o mesmo esquema: primeiro vem a desgraa (para
Israel e os povos estrangeiros), depois a salvao (para Israel). Esta diviso -
decerto motivada pela pregao proftica (Is 1.21-26 e outras) - parece que
pressupe e sugere uma sucesso de acontecimentos no fmal dos tempos em
duas fases: depois do juzo, a salvao.
Por outro lado aqueles que so atingidos pela desgraa se perguntam: por
que isto aconteceu? - e confirmam que o julgamento por que passaram foi
justo. Desta forma a reflexo sobre as razes do acontecido e a confisso da
culpa adquirem uma funo prioritria sobre o anncio proftico de punio.
Busca-se a culpa do povo na sua desobedincia em relao ao mandamento
172
divino (p. ex., Am 2.4s.) e compreendem-se os profetas agora como pessoas
que conclamaram penitncia, mas cujas exortaes encontraram ouvidos
moucos. Neste sentido a atuao dos profetas diferente na retrospectiva; pelo
menos se desloca o acento: os profetas que anunciam um futuro iminente,
transformam-se, na retrospectiva, em profetas que alertam o povo em vo (cf.
sobretudo 2 Rs 17.13; Zc 1.4 e outras; quanto a isto v. Ub,3).
Sobretudo a escola deuteronomstica (v. acima lla,2) parece ter tido importn-
cia significativa para a compilao e configurao das palavras profticas; pois elemen-
tos deuteronomsticos se encontram em quase todos os livros profticos (pelo menos nos
ttulos), predominantemente no livro de Jeremias.
Thmbm grupos sapienciais participaram na redao dos livros profticos (Os
14.10; Jr 17.5ss.; cf. Am 1.1 e outros).
A partir da se torna evidente que a distino entre a palavra proftica
original e as suas complementaes redacionais de forma alguma representa
somente uma questo histrica marginal. Mas ela levanta um importante pro-
blema de contedo de cuja "soluo" depende a compreenso global do
profetismo: p. ex., a relao entre anncio de juzo e promessa de salvao, o
anncio de um "resto". Mas, da mesma forma que esta distino bsica, ela
continua sendo profundamente polmica.
No se resolveria esta questo, adotando a postura radical de exigir que
se comprove no a inautenticidade do material traditivo tardio, mas, pelo
contrrio, a autenticidade do material traditivo original, assentando desta forma
a exegese sobre uma base segura?
"O verdadeiro problema no mais determinar o que representa material tardio
e distingui-lo de um contedo bsico que, ento, seria considerado sem sombra de
dvida como autntico, mas, ao contrrio, identificar o ncleo da tradio proftica (...).
Numa anlise metodolgica rigorosa a busca pelo genuinamente proftico dever-se-ia
orientar pelo critrio de que apenas autntico aquele material que pode ser compreen-
dido unica e exclusivamente a partir das circunstncias concretas do tempo de um
determinado profeta. Alm disso, necessrio ainda apontar que h entre as diversas
palavras supostamente autnticas a mesma inteno especfica, prpria do referido
profeta." (W. Schottroff, ZThK 67, 1970, p. 294).
Embora um princpio deste tipo parea ser bastante bvio por sua coern-
cia metodolgica, difcil aplic-lo concretamente. A aplicao deste princpio
classificaria necessariamente como redacionais todos os textos que podem ser
explicados tambm a partir de uma situao posterior. Isto, no entanto, no
pode ser justificado de forma convincente.
Se a explicao histrico-redacional for demasiadamente enfatizada - sobretudo
em contraposio questo histrico-traditiva que pergunta pela forma da tradio antes
de sua fixao por escrito - , existe o perigo de que se veja o texto como um todo de
maneira por demais uniforme e se ignorem diferenas perceptveis na estrutura do texto.
173
Justamente textos profticos muitas vezes apresentam camadas agregadas (redacionais),
que revelam algo da histria do texto. Ser que a formao do livro proftico no se
torna mais compreensvel na sua complexidade quando pressupomos que tenha havido
um enriquecimento paulatinode um material bsico proveniente do prprio profeta e de
seus discpulos? Thdavia, muitas vezes no h condies de reconhecer claramente a
delimitao deste material. Neste caso argumentos histrico-culturais s so aproveit-
veis em termos relativos para determinar a "autenticidade" ou no de um texto; pois
dificilmente conhecemos as concepes e convices possveis ou no no sc. vrn ou
VIT. S fatos profundamente incisivos, como o exlio, deixam marcas facilmente detec-
tveis no texto bblico.
Por via de regra certamente no h como comprovar a autenticidade de
um texto. Por isto persiste a tarefa difcil de ponderar cuidadosamente todos os
argumentos cabveis (lingsticos, de contedo, histricos) a favor e contra.
Mesmo assim os critrios que podem ser objetivados no permitem, em diver-
sos casos, uma definio inequvoca - no raro tambm nos casos em si
importantes para a interpretao. Assim temos de adotar, depois de termos
excludo o que reconhecemos como "no autntico", o critrio mais subjetivo
da coerncia: os textos em questo se enquadram na pregao proftica -
inferida a partir de palavras que difIcilmente podem deixar de ser consideradas
"autnticas" - ou a contradizem? Esta questo sobretudo importante para o
julgamento das promessas de salvao questionadas veementemente (v. Is 2; 9;
11): estas promessas suspendem as ameaas de juzo ou as pressupem e levam
adiante? 'Iambm com este procedimento persistem incertezas suficientes, que
permitem diversas acepes.
174
se relata sobre o profeta na terceira pessoa (2 Rs 1). Tambm as palavras destes
profetas foram, portanto, reportadas apenas no contexto de uma ao. Os ditos
dos assim chamados profetas literrios ou clssicos, ao contrrio, esto inseridos
s excepcionalmente numa moldura narrativa, que, ento, descreve a situao
em que foi articulada a palavra (Os 1) ou para dentro da qual foi pronunciada
(p. ex., Is 7). Sobretudo quando se dirige a indivduos (como no caso de Am
7.10ss.; Is 7), para ser compreensvel, a palavra requer uma descrio breve da
situao, com indicao do receptor. Mas o relato tem to pouco interesse
biogrfico, que nem informa sobre o destino do profeta (Am 7.10ss.).
Por via de regra a palavra dos assim chamados profetas literrios se transmite de
fonna independente, sem estar vinculada a uma descrio mais pormenorizada da
situao em que ocorreu. Desta forma ela tambm pode preservar com maior facilidade
a perspectiva do futuro; pois geraes posteriores podemrelacionar diretamente consigo
mesmas o queoriginalmente notinha nadaa vercomelas, visto quefaltaa moldura narrativa.
A diferena na transmisso das palavras dos assim chamados profetas pr-
clssicos e dos profetas clssicos tambm reside no fato de dirigirem sua
mensagem proftica a diferentes destinatrios. Ao contrrio dos profetas pr-
clssicos, os assim chamados profetas literrios se dirigem apenas excepcional-
mente a pessoas isoladas, como ao rei (Is 7). Sua mensagem se dirige por via
de regra a grupos ou a todo o povo. Por outro lado, os assim chamados profetas
literrios no agem mais no sentido restrito do termo, pois no intervm mais
ativamente na rea poltica, mas apenas atuam pela palavra.
As poucas aes profticas transmitidas so as assim chamadas "aes
simblicas" ou "aes metafricas". Estes gestos podem ter origem na magia,
mas eles no desencadeiam os acontecimentos iminentes, apenas os anunciam
atravs de um sinal (Is 20.3 e outras), antecipando-os dramaticamente. Com isto
apiam e reforam a palavra proftica. Assim, Jeremias carrega um jugo de
ferro para mostrar diante dos olhos de todos que Israel e seus vizinhos tero de
carregar o jugo da dominao babilnica (Jr 28.12ss.; cf. 1 Rs 22.11). A ordem
para executar, o relato sobre a execuo e a interpretao da ao simblica so
elementos importantes, mas no necessrios (l Rs 19.19ss.; Os 1; 3; Is 8; 20;
Jr 13; 16; 19; Ez 4s.; 12; Zc 6.9ss. e outras; cf. G. Fohrer).
Nos livros profticos se encontram no apenas narrativas na terceira
pessoa - redigidas por terceiros, um grupo de discpulos ou transmissores
(como Am 7.lOss.; Os 1; Is 7; 20; a narrativa de Baruque no livro de Jeremias
ou o livreto de Jonas), mas tambm narrativas na primeira pessoa, em forma de
depoimento (Os 3; Jr 13; 24 e outras) - redigidas pelo prprio profeta.
Desta categoria fazem parte principalmente os relatos de vocao (Is 6;
40; Jr 1; Ez Iss.). Servem para fundamentar, justificar e dar crdito ao profeta,
que pode alegar, quando algum o questiona, que foi forado a proceder desta
maneira (cf. Am 7.15; Jr 26.12). Entre os relatos de vocao temos de distin-
175
guir de novo duas formas bsicas: por um lado, a vocao acontece num
momento de dilogo entre Deus e o profeta, de sorte que este pode protestar,
argumentando que indigno e a tarefa, pesada; mas a sua objeo rebatida
pela palavra de apoio de Deus, expressa de forma mais ou menos estereotipada,
p. ex. em frmulas como no caso de Moiss em x 3s.; Gideo em Jz 6.11ss.;
Saul em 1 Sm 9s. e Jr 1). Por outro lado a vocao tambm pode acontecer de
forma mais indireta, a partir de uma viso do conselho do trono (Is 6; 40; Ez
1; cf. 1 Rs 22.19ss.; Zc 1.7ss.; J 1). Em ambos os casos a misso pode ser
resumida nas palavras "enviar" e "ir" (x 3.10; Jr 1.7; Is 6.8s.; Ez 2.3s.; cf.
Jr 14.14s. e outras).
Podemos contrapor s narrativas profticas de forma generalizada os "orculos".
Visto que este termo, porm, d margem a mal-entendidos, melhor que nos contente-
mos com a tripartio: narrativas, vises, ditos.
2. Vises
176
Nas visoes o profeta pode manter um dilogo com Deus. Portanto a
conscincia do profeta de forma alguma est desligada, pelo contrrio, ela est
muito alerta. Alm disso o contedo da viso no precisa ser posteriormente
traduzido em pensamentos claros e compreensveis. Antes, as vises de ante-
mo desembocam em audies, ou seja, em contedos que podem ser expressos
em palavras e so, portanto, compreensveis e transmissveis. As vises podem
at transformar-se em meras audies (Is 40.1-9).
Reproduzindo e transmitindo as vises, o profeta de certa maneira j cumpre sua
misso de pregao, de que foi incumbido de forma direta (Zc 1.14) ou apenas indireta
(cf. Am 3.8). Alm disso ressoa no todo da mensagem proftica a percepo que se
impe ao profeta na viso.
Podemos distinguir as vises de acordo com as variaes na estrutura
formal ou segundo critrios que levam em conta seu contedo, em especial
considerando a relao entre imagem e palavra. Se aquilo que foi visto corres-
ponde exatamente ao evento anunciado para o futuro, ento temos uma viso
de um evento (p. ex., Am 7.1-6). Se o contedo da viso e o evento futuro
apenas se vinculam por intermdio da palavra que reproduz o contedo da
viso, trata-se de uma viso de jogo de palavras ou uma viso de assonncia
verbal (Am 8.1s.; Ir 1.11s.). Todavia, a classificao das vises nestes e em
outros tipos (como viso de presena, viso simblica, viso de uma situao)
nem sempre possvel; o enquadramento de uma viso em um determinado
tipo muitas vezes discutvel e as delimitaes entre um e outro tipo de viso
no so ntidas.
Entretanto, no se deveria ignorar uma diferena importante. Em parte o
profeta experimenta a viso como interveno de Deus, que concede ao profeta
a viso: "Isto me fez ver o Senhor" (Am 7.1; cf. Ir 24.1; Zc 3.1; tambm Ez
37.1 e outras); em parte o prprio Deus se toma contedo da viso, d-se a
conhecer: "Vi o Senhor" (Am 9.1; 1 Rs 22.19; Is 6.1). Mas mesmo estas
diferenas podem ficar esmaecidas, pelo menos posteriormente (Am 7.7).
'Iambm na viso de Deus se mantm a transcendncia de Deus; a audio
predomina sobre a viso (cf. j 1 Rs 22.11ss.). O anncio: "Vi o Senhor" promete mais
do que a prpria viso oferece; Deus no descrito nem por Ams nem por Isaas. Na
viso de Zacarias um candelabro dourado com sete lmpadas (4.2) simboliza a onipre-
sena, oniscincia ou tambm a onipotncia de Deus sobre a terra (4.10).
Liberdade maior ousam assumir Ezequiel, na representao do que est ao redor
do trono de Deus (1.4ss.), e sobretudo Daniel, na descrio do "Ancio" (7.9ss.).
Ezequiel acrescenta a ressalva "algo semelhante a" (1.22,26s.), para indicar a inade-
quao da linguagem usada. Apesar destas referncias vagas, Ezequiel ousa constatar
no final: "Esta era a aparncia da glria de Jav" (1.28), mas parece com isto ainda
querer evitar a afirmativa direta: "Esta era a imagem de Jav".
Quando na poca ps-exlica se passa a enfatizar mais a transcendncia
177
de Deus, surge, ainda de forma velada na viso de Ezequiel do novo templo
(40.3s.; cf. Is 40.6), de forma constitutiva no ciclo de vises de Zacarias como
tambm no livro de Daniel (7.16; 8.15ss. e outras), a figura de um anjo que
funciona como intrprete (angelus interpres), como agente intermedirio entre
Deus e o ser humano, de sorte que no h mais um contato direto entre Deus
e o profeta.
3. Ditos
178
Assim diz Jav:
No lugar em que os ces lamberam o sangue de Nabote,
ces lambero o teu sangue, o teu mesmo."
(l Rs 21.19; cf. 2 Rs 1.3s. e outras.)
179
parece ser a mais adequada; ao menos se recomenda adotar uma compreenso
o mais formal possvel dos termos habituais.
O anncio do futuro necessita ser fundamentado, a fim de que possa falar
para dentro da situao concreta, atingir o destinatrio visado e tomar-se trans-
parente para ele. S ento os ouvintes podero reconhecer o juzo como castigo
para sua culpa; em vez de fatum (destino) ela se lhes apresenta como juzo
decretado por Deus. Esta parte do dito proftico, que traz a fundamentao do
anncio e denominada discurso de reprimenda, palavra de censura, denncia
ou tambm indicao situacional, contm uma anlise da situao, portanto uma
crtica da realidade existente, seja referente ao culto, sociedade ou poltica.
Por isso, a anlise da situao constitui o segundo elemento fundamental da
proclamao proftica, ao lado do anncio do futuro. Ambas as partes aparecem
s vezes isoladamente, costumam, porm, constituir uma unidade. Neste caso,
denncia e anncio se interligam muitas vezes por partculas como "por isso,
porque" ou similares.
melhor reservar a categoria de discurso de tribunal a certos textos que refletem
um julgamento (p. ex., Is 1.18ss.; Os 2.4; Jr 2.9; v. abaixo 21,2c). De caso para caso
podemos distinguir a entre disputas preliminares (antes do tribunal), discursos de
acusao ou de defesa e outros (cf. H. J. Boecker).
180
um estquo maior (3 acentos) seguido por um menor (2 acentos) - p. ex.,
Aro 5.2 - , enquanto na apresentao do assunto se costuma contrapor o
passado ao presente (Is 1.21; 14.12ss.; Ez 27 e outras; cf. 26,2).
Contrape-se ao "ai" o macarismo (ashre, "feliz, bem-aventurado") que pode
ser uma congratulao (l Rs 10.8; cf. SI 127.5; 128) ou um elogio a uma determinada
conduta (SI 1.1; 2.12; 32.2s. e outras; cf. Mt 5.3ss.).
181
2.16ss.; Am 9.11ss.; Is 11; Ir 28.2s.; 30s. ou Ez 37). Frmulas introdutrias
costumam ser "naquele dia/naqueles dias" (Os 2.18ss.; TI 4.1), "na sucesso
(ou no [mal) dos dias" (Is 2.2), "eis que viro dias" (Jr 31.31; cf. Am 4.2) e
outras. Da forma mais clara se identifica o "orculo de salvao" - original-
mente sacerdotal - "que em nome de seu Deus prometia a quem orava o
atendimento do seu pedido" (J. Begrich; v. abaixo 21.2a). Devemos distinguir
desta promessa de salvao ainda o anncio de salvao e uma descrio de
salvao (C. Westermann)? Como o anncio de juzo, tambm a palavra de
salvao est muitas vezes marcada pelo eu divino e com isto aponta para
aquele que possibilita e desencadeia o futuro (Os 14.4; Is 1.26 e outras).
182
Entretanto, raro os profetas literrios se relacionarem expressamente com outros
profetas (Os 6.5; cf. Ir 28.8). Vrias vezes contrapem-se, antes, a grupos de profetas
de forma crtica (Am 7.14; Mq 3.5ss. e outras).
183
salvao, muitas vezes justamente em palavras cuja autenticidade controver-
tida (Is 6.13; 4.3; j Am 5.15; 9.8 e outras).
De forma similar apenas na retrospectiva de tempos posteriores que o
chamado ao arrependimento se toma sntese da mensagem proftica (2 Rs 17.3;
Zc 1.3s.)? No raro que os profetas constatam que no houve arrependimento
(Am 4.6ss.; Is 9.12; 30.15) ou que at nem pode ocorrer (Os 5.4; Jr 13.23). De
maneira correspondente podem prometer uma virada propiciada pelo prprio
Deus (Os 14.5; Ez 37 e outras). Aqui, no contexto do anncio da salvao,
tambm h espao para o chamado ao arrependimento (Os 14.2; Jr 3.12; cf. Is
55.6 e outras). Ser que para a pregao proftica o ser humano no consegue
manter a salvao assegurada para si, mas somente receb-la reiteradamente
como presente?
Tais perguntas so respondidas na atual pesquisa sobre os profetas de
forma muito variada. Visto que qualquer compreenso do profetismo pressupe
que se tomem decises referentes "autenticidade" ou "inautenticidade" de
textos, a imagem projetada dos profetas acaba sendo bastante diversificada.
184
e sugerem que a no atua a pessoa do profeta, mas o prprio Deus. Em ltima
anlise todos os relatos profticos, em parte mais, em parte menos lendrios,
pretendem ser "narrativas de Jav" (G. von Rad).
Samuel o primeiro de uma sucesso de profetas individuais? Segundo a
informao, ao que parece a mais antiga de que dispomos, Samuel surge como
um assim chamado juiz menor (1 Sm 7.15ss.,6). Como "homem de Deus" ou
"vidente" (9.6ss.) e at mesmo como esprito de um morto (28.7ss.) ele repassa
informaes, apresenta-se como lder de um grupo exttico (19.l8ss.); e na
histria de sua infncia, certamente mais recente, at lhe atribudo o ttulo
"profeta" (3.l9s.). Uma vez designado como comandante carismtico do
exrcito (7.7ss.); e a tradio conhece sobretudo a participao de Samuel no
surgimento da monarquia (cf. 11c3). Independentemente das funes que o
Samuel histrico tenha assumido, a partir dele liderana e carisma, antes unidos
na figura dos juzes maiores, se dissociam. O profetismo torna-se um corretivo
crtico em relao monarquia.
Na poca de Davi surge, ao lado do "vidente" Gade, que enfrenta o rei
depois de um censo demogrfico (2 Sm 24 com a etiologia de um altar
jerosolimita; tambm 1 Sm 22.5), o "profeta" Nat. Nat anuncia a Davi -
depois do translado da arca para Jerusalm (2 Sm 6) - que a sua casa
perdurar; ao mesmo tempo o desestimula a construir o templo (2 Sm 7). Esta
profecia ressoa por mais vezes no AT e submetida, progressivamente, a
sucessivos condicionamentos no decorrer de vrios sculos de histria (SI 89;
132; 1 Rs 2.4; 8.25; 9.4s.; cf. Zc 3.7 e outras); o profeta do exlio at transfere
a promessa do rei para o povo (Is 55.3s.). Em outra ocasio Nat se defronta
com o rei, no com promessas, mas com ameaas, quando induz o prprio Davi
a pronunciar a sentena sobre seu delito (violao do matrimnio de um no-
israelita), recorrendo a uma parbola sobre um caso jurdico (2 Sm 12). Por fim,
Nat desempenha um papel decisivo nas intrigas palacianas junto ao leito do
moribundo Davi, posicionando-se a favor de Salomo como herdeiro do trono
(1 Rs 1).
Os profetas de renome que lhe seguem atuam, iniciando com Aas de Silo
(1 Rs 11; 14), no Reino do Norte.
Elias , pelo menos do ponto de vista dos tempos posteriores, o mais
importante dos profetas pr-literrios (cf. Ml3.23s.; Me 9.11). O profeta encar-
na no prprio nome ("Meu Deus Jav") a sua proposta: "Tenho sido zeloso
por Jav" (1 Rs 19.10,14). Numa situao de sincretismo ou at de hegemonia
do culto a Baal, promovido no Reino do Norte por Acabe, Jezabel e Acazias,
Elias luta em prol da exclusividade da f em Jav (2 Rs 1: consulta ao deus da
cura Baal). O profeta coloca seus contemporneos diante da alternativa Jav ou
Baal: "At quando mancareis de ambos os lados?" (1 Rs 18.21: julgamento de
Deus no monte Carmelo). Como j Nat havia feito antes dele, Elias se engaja
185
na defesa da justia quando o rei comete um delito concreto, o de mandar
assassinar Nabote, o proprietrio de uma vinha. Por trs desta narrativa (1 Rs
21) encontramos duas concepes distintas de direito: o poder inconteste do rei
- concepo corrente no territrio cananeu - e a inalienabilidade da herana
de acordo com o direito israelita. A importncia de Elias se expressa, por fim,
na tradio segundo a qual ele, na sua condio de sucessor de Moiss, se dirige
origem da f em Jav, ao monte de Deus, experimentando ali uma teofania
(l Rs 19; cf. x 19; 33). Deus no (mais) se manifesta nos fenmenos naturais
da tempestade, do terremoto e do fogo, mas no silncio. Ali Elias recebe a
incumbncia de ungir Hazae1 como rei da Sria e Je como rei de Israel (l Rs
19.15ss.). Desta forma dois acontecimentos incisivos da histria posterior, as
cruis guerras aramaicas e a revoluo de Je (2 Rs 8; 9s.), so vinculados com
o homem de Deus, Elias. Com esta vinculao os mencionados eventos so
compreendidos como purifIcao do povo, j que Elias ameaa Israel com um
juzo a que s escaparo sete mil: "todos os joelhos que no se dobraram a
Baal, e toda boca que no o beijou" (l Rs 19.18).
Na tradio do "arrebatamento" de Elias (cf. Gn 5.24; SI 73.24), da sua
ascenso aos cus (cf. Gn 5.24; SI 73.24) numa carruagem puxada por cavalos
de fogo (2 Rs 2), est expressa a idia de que ele foi um profeta singular. Mas
este episdio - a que Eliseu assiste como espectador e sucessor - j faz parte
do ciclo de sagas sobre Eliseu (2 Rs 2-9; 13). Eliseu vocacionado de forma
imediata e incondicional para assumir o "discipulado" quando Elias lhe atira o
manto sobre os ombros (l Rs 19.19ss.). Do esprito de Elias ele recebe a parte
que cabe ao primognito (2 Rs 2.9; cf. Dt 21.17). Entende-se, portanto, que o
carisma de Eliseu no tenha advindo diretamente de Deus, mas tenha sido
intermediado por Elias (assim como os ancios de Israel, segundo Nm 11.17,25,
recebem parte do esprito de Moiss). O prprio Eliseu mestre de um grupo
de discpulos que ao menos ocasionalmente se rene (2 Rs 2.3ss.; 4.1,38; 6.1 e
outras). Embora a confrontao com a religio de Baal fique em segundo plano
nas tradies de Eliseu, parece que, juntamente com os seus discpulos, ele
conspirou para que se fizesse a assim chamada revoluo do entusiasta de Jav,
Je (845 a.C; 2 Rs 9). Como revela o ttulo honorfico "carros de Israel e seus
cavaleiros (= condutores)" (13.14; 2.12), a atividade poltica de Eliseu tambm
incluiu algum tipo de participao na guerra (com os arameus; 6.8ss.). Alm
disto Eliseu foi associado, assim como j fora Elias, ascenso do arameu
Hazael de Damasco ao trono (2 Rs 8). Ainda mais do que no ciclo de sagas
sobre Elias predominam aqui histrias milagrosas. Entre elas merece ateno
especial a narrativa do arameu Naam - que se converte f em Jav, mas
obrigado a prestar servio num templo estrangeiro (2 Rs 5) - devido s suas
implicaes teolgicas ("converso" de um estrangeiro, porm dispensa do
cumprimento do primeiro mandamento?).
J Elias foi tachado pelo rei de "inimigo meu" (l Rs 21.20; cf. 18.17); e
186
o rei de Israel comenta sobre Micaas, filho de Yim1: "Nunca profetiza de
mim o que bom, mas somente o que mau." (l Rs 22.8,18.) Na nica
narrativa que trata deste profeta do perodo pr-literrio que ainda merece ser
mencionado, j se delineiam os contrastes que mais tarde aparecem no profe-
tismo: a contraposio de profetas profissionais que prometem a salvao e o
profeta individual, que anuncia o juzo iminente. At que ponto a narrativa
influenciada por esta situao mais recente e ilustra de forma didtica e exem-
plar a distino entre profetismo autntico e profetismo falso e at que ponto a
narrativa reproduz eventos histricos do passado? Micaas no s prev o juzo
iminente que afetar todo o povo ("Vi todo o Israel disperso pelos montes
como ovelhas que no tm pastor"), mas tem condies de esclarecer, por meio
de uma outra viso em que participa do conselho da corte celestial ("Vi Jav
assentado no seu trono"; cf. Is 6; Jr 23.22; J 1), a mensagem salvfica falsa
de seus adversrios: o esprito se tomou "esprito mentiroso na boca de todos
os seus profetas".
Em tais vises se esboa a mensagem de juzo dos assim chamados
profetas maiores ou se antecipa a mesma na retrospectiva. Independentemente
de como seja o fundo histrico dos livros de Samuel e dos Reis, que temos
dificuldades em clarear, persiste a certeza de que j os profetas pr-literrios
ousavam enfrentar o rei com ameaas e promessas no seu engajamento por
Jav. Os profetas literrios transferem esta mensagem ao povo todo.
187
14
AMS
188
4.6-12 Retrospectiva histrica com o refro: "contudo
no vos convertestes a mim"
5.1s.,3 Lamentao fnebre
b) "Ai" (5.18; 6.1; talvez 5.7; 6.13)
5.4-6.14s. "Buscar Jav"
5.18-20 Dia de Jav
5.21-27 Contra o culto ("eu odeio as vossas festas"), em
favor do direito, com anncio de castigo ("des-
terro para alm de Damasco")
6.1-7.8ss. Contra os despreocupados em Samaria
m. Am 7-9 Cinco vises, relato de terceiros e ditos
7.1-8(9); 8.1s.(3) Quatro vises em dois pares
"Isto me fez ver Jav"
7.10-17 Relato na terceira pessoa: Ams e Amazias. Ex-
pulso de Betel.
"Eu no sou profeta..." (v. 14)
8.4-14 Ditos isolados
8.11s.: fome pela palavra de Jav
9.1-4 Outra viso, independente
("Vi o Senhor.")
Destruio do altar
9.7(8-10) Contra a conscincia de Israel de ser o povo eleito
"No sois para mim como os cuchitas?"
IV. Am 9.(8-10)11-15 (Anexo secundrio:) Palavras de salvao
9.11s. Restaurar a tenda cada de Davi
189
conclusiva "diz Jav", reduo do anncio de castigo e ampliao da denncia;
2) palavras isoladas como 2.10-12; 3.1b,7; 5.25(s.); em parte tambm 1.1; 3)
dbias so 5.13; 8.11ss.; 9.8ss. e outras passagens.
O livro de Ams formou-se, portanto, gradativamente. No incio havia os
ditos e as vises de Ams, que foram complementados pelo relato na terceira
pessoa (7.10-17) e talvez ainda por outras palavras de um grupo de amigos ou
discpulos do profeta (a assim chamada escola de Ams, que no pode ser
comprovada, mas apenas inferida). Por fim so acrescentadas diversas comple-
mentaes posteriores. Este processo se deu no Reino do Sul (cf. 1.1s.; 2.4s.;
7.10 e outras), de onde provm Ams e para onde expulso (7.12). Uma
redao especificamente judata reconhece-se, porm, com maior clareza no
livro de Osias.
190
proprietrio de um rebanho. Em todo caso no precisa manter-se com sua
atividade proftica. De fato nem se considera profeta ou discpulo de profeta,
pois se sente diretamente vocacionado por Deus (7. 14s.; cf. 1.1) - mediante as
vises?
191
"Ai daqueles que desejam o dia de Jav! (...)
Como algum que foge do leo,
e ento o urso cai sobre ele!
Mal escapando para sua casa,
encosta sua mo na parede,
e a a cobra o pica." (5.l8s.; cf. 9.2-4; 1 Rs 19.17; Is 5.5s.).
Ams tambm anuncia de forma concreta a morte (5.3, 16s.; 6.9s.; 8.3;
9.4) e o desterro (5.5,27; 6.7; 7.11). Inclui neste destino comum a famlia do
sacerdote que o denuncia junto corte por "conspirao" e lhe probe a palavra
(7.17). Nem ao menos um resto sobreviver (3.12; cf. 4.2; 6.10 e outras).
A objees dos ouvintes Ams responde, alegando em primeiro lugar que
sofreu coao (3.8; 7.14s.; cf. 3.3-6). Os ditos contra as naes, talvez a
primeira manifestao pblica de Ams (1.3-2.16), equiparam Israel em maior
ou menor grau aos povos vizinhos em termos de culpa e castigo. Quando os
interlocutores de Ams objetam, ao que parece, que Israel o povo escolhido,
Ams deduz outra conseqncia bem diferente da eleio, a saber, responsabi-
lizao e at punio da culpa; 3.2; cf. 6.12), ou at relativiza a posio
privilegiada de Israel:
"No sois vs para mim, filhos de Israel,
como os filhos dos cuchitas? - diz Jav.
No fiz eu subir a Israel
da terra do Egito
e de Caftor os filisteus,
e de Quir os arameus?" (9.7; cf. 6.2.)
Uma palavra destas revela ao mesmo tempo algo da amplitude universal
de Deus na viso deste profeta. Jav no to-somente o juiz dos povos
(1.3ss.), que pune tambm crimes cometidos contra outros povos que no Israel
(2.1), mas tem tamanho poder que ultrapassa em muito as naes vizinhas (9.7),
alcanando at os limites do cosmo (9.2s.).
6. Enquanto Ams identifica a culpa dos povos sobretudo nas suas aes
blicas (1.3ss.), ele destaca, no caso de Israel, em primeiro plano a transgresso
do direito (3.10; 5.7,24; 6.12), isto , a crtica social: "Vendem o justo por
dinheiro." (2.6; cf. 2 Rs 4.1). Ao lado da opresso dos pobres e do luxo
mantido s suas custas (4.1), mencionam-se delitos econmicos, como a falsi-
ficao de pesos e medidas (8.4s.), a distoro do direito "no porto" (5.10,12,15)
e outros (2.6-8; 3.9s.,15; 4.1s.; 5.7ss.; 6.4ss.,12; 8.4ss.; cf. 7.9,11 contra a casa
real). Em sua crtica Ams aparentemente no denuncia apenas transgresses
da classe alta (2.7: "Um homem e seu pai coabitam com a mesma jovem").
Em todo caso Ams no toma explicitamente o partido da classe baixa. Antes,
a sua crtica. social permanece sendo denncia de culpa, de modo que pode
192
desembocar no anncio de juzo contra todo o Israel (2.13ss., aps 2.6ss.; cf.
3.11). Ams "no vai alm da negao do que descreve, mas justamente a
mostra sua acuidade analtica e agressiva" (M. Fendler, p. 53).
Ams considerado o profeta da justia social. Este realmente o tema
preferido, mas no exclusivo de sua denncia. Polemiza tambm contra a falsa
segurana ou arrogncia (6.1s.,8,13; 8.7) - um motivo retomado sobretudo por
Isaas - e contra o culto. O que Ams experimenta na sua quinta viso (9.1)
transparece em suas palavras: a destruio do altar (3.14), isto , dos santurios
do Reino do Norte (5.5; 7.9). Compreendeu-se esta condenao mais tarde -
certamente em discordncia com Ams - como um posicionamento a favor de
um nico santurio em Jerusalm' (1.2)? Ao contrrio de Osias, que foi quase
seu contemporneo, Ams no fundamenta sua crtica cultual na apostasia do
povo ao optar pelo culto a Baal. Mas da mesma forma que os profetas tardios,
Ams condena, atravs do uso irnico-polemizante da linguagem sacerdotal,
sacrifcios e festas (4.4s.; 5.21ss.; 8.10; cf. 2.8). Tambm a crtica cultual no
pode ser isolada; ela est integrada na mensagem referente ao futuro (5.5,27;
8.10) e com isto na compreenso proftica de Deus. Desta forma o lema
"direito e tica em vez de culto", que apenas abrange um aspecto (5.24,14s.),
em ltima anlise no seria insuficiente?
193
15
OSIAS
194
parte dos outros: "O seu profeta um tolo, o inspirado um louco." (9.7s.)
Desta forma Osias designado de "profeta", mesmo que seja em tom irnico.
195
Vv. 1-3 Promessa. 'Iransformao dos nomes que exprimem des-
graa em nomes promissores: "filhos do Deus vivo".
Vv. 4-15 Ameaa. Deus retira as ddivas da terra.
Imagem do matrimnio. Confrontao com o culto a Baal.
Vv. 16-25 Promessa. Retorno ao deserto ("segundo xodo"). Nova
comunho.
3 Relato na primeira pessoa: "Ama a uma adltera!"
V. 4 "Sem rei e sem sacrifcio"
V. 5 (sec.) Retorno a Deus e a Davi (cf. Jr 30.9)
11. Os 4-14
4-11 4 Contra sacerdotes (vv. 1-10) e culto (vv. 11-19)
V. 2 Nenhum conhecimento de Deus no pas
5.1-7 Contra os lderes do povo
Vv. 4,6 Nenhuma possibilidade de voltar
5.8ss. Guerra siro-efraimita
6.1-3 Cntico de arrependimento (cf. 14.3s.): cura de-
pois de 2, 3 dias
6.4 Israel se mostra incorrigvel
6.6 Conhecimento de Deus em vez de sacrifcios
7.8 "Efraim se mistura com os povos."
8.4ss. Contra a monarquia e o culto
9.7s. "O profeta um tolo."
9.lOss. Primeira retrospectiva histrica (Baal-Peor)
"Achei a Israel como uvas no deserto."
11 Israel como filho apstata
"Quando Israel era menino, eu o amei."
11.8ss. O amor sagrado de Deus: "Eu sou Deus e no homem."
12-14 12 Israel, imagem do astuto patriarca Jac
(cf. Gn 27ss.; Jr 9.3; Is 43.27)
13 Runa de Israel
14 Chamado converso (vv. 2-4), em conseqncia da
cura por Deus (vv. 5ss.)
Observao interpretativa fmal, de cunho sapiencial (v. 10):
"Os caminhos de Jav so retos."
Como aconteceu com Ams, tambm a mensagem de Osias foi levada
ao Reino do Sul, porm decerto s por ocasio da queda do Reino do Norte. A
histria do livro explicaria o estado ruim de seu texto? - De forma similar
segunda parte do livro de Ams (3.1), a segunda parte principal do livro de
Osias introduzida por uma conclamao para ouvir: "Ouvi a palavra de
Jav" (4.1; cf. 5.1). Como acontece vrias vezes no livro de Ams, tambm no
livro de Osias (12.6) se insere uma doxologia. Podemos deduzir disso que h
correlaes entre a redao de ambos os livros profticos, j que palavras de
Ams (5.5; 1,4 e outras) tambm foram acrescidas numa verso alterada no
livro de Osias - provavelmente a posteriori (4.15; 8.14; cf. 7.10; 11.1O)?
1%
Em todo caso houve uma redao judata - provavelmente de mltiplas
camadas - que atualizou no Reino do Sul as palavras de Osias dirigidas
contra o Reino do Norte, ampliando desta maneira o seu alcance (l.7; 4.15; 5.5;
6.11; tambm l.l; 3.5 e outras). Esta redao podia basear-se no prprio Osias,
que, s vezes, inclua Jud nas suas consideraes (5.10,12; 6.4).
O problema principal consiste nas palavras de salvao. Mesmo que uma
pequena parte (l.7; 3.5) possa ser destacada de forma bastante inequvoca como
secundria, muito difcil encontrar provas do carter secundrio de grande
parte do livro (sobretudo em 2.1-3 ou 2.20ss.). Desta forma devemos deixar em
aberto a questo da autenticidade. Ao contrrio de Ams, no entanto, no resta
dvida de que Osias no apenas ameaa com desgraa, mas tambm promete
salvao.
3. Num primeiro momento, porm, predominam o anncio de desgraa e
a denncia, como mostram os dois relatos na terceira e primeira pessoa repro-
duzidos nos caps. 1 e 3. Relatam o relacionamento de Osias com uma mulher
(adltera) e com isto apresentam exegese problemas que at hoje parecem
praticamente insolveis: trata-se do mesmo acontecimento ou de dois aconteci-
mentos distintos; trata-se da mesma mulher ou de duas? Osias casou conscien-
temente com uma prostituta, em obedincia a uma incumbncia de Deus, ou s
tomou conhecimento da infidelidade de sua mulher posteriormente, durante o
seu casamento? O texto (1.2) foi alterado posteriormente? E que sentido tem o
termo "prostituir-se"? Refere-se infidelidade no casamento, prostituio no
templo ou participao num culto estranho, especialmente num rito sexual
cananeu (cf. 2.4ss.; 4.12ss.; 5.4)?
No temos condies de apresentar aqui todas as possibilidades de resposta.
Talvez possamos optar, apesar de todas as incertezas, pela interpretao que H. W. Wolff
d ao capo I e pela que W. Rudolph d ao capo 3.
Osias teria casado ento por ordem divina "com urna das mulheres jovens, em
idade de casar, que se submeteram ao ritual de iniciao nupcial, assimilado por Israel
(00') ocasio em que a virgindade era sacrificada divindade na esperana de, assim,
obter fertilidade" (Wolff, BK XIV/I, 3. 00., pp. I4s.).
O capo 3, ao contrrio, no se refere (segundo Rudolph) mesma mulher, nem a
um casamento, mas compra e ao encarceramento de uma prostituta: "Vai, ama uma
mulher que amada por um outro!"
Independentemente de como tenha sido o desenrolar da ao, o significa-
do de ambos os relatos evidente. No pretendem ser nem vises nem alego-
rias, mas aes simblicas com que o profeta ilustra e refora sua pregao. De
forma similar Isaas mais tarde inclui sua famlia na sua mensagem (7.3; 8.3).
Ambos os acontecimentos relatados em Osias tm uma inteno dupla (sim-
blica), ao caracterizarem tanto a situao atual de Israel como tambm defini-
rem seu futuro. A mulher encarna em ambos os casos o Israel atual, alienado
197
de Jav, seduzido pela idolatria (1.2; 3.1). Em contraste com esta indicao de
culpa, a respectiva ao subseqente representa o futuro. O nome do primeiro
filho Jezreel (segundo o local dos crimes de sangue de Je: 2 Rs 9s.) prenuncia
a queda no s da dinastia, mas da monarquia em si (Os 1.4). O nome da filha,
Aquela-de-quem-no-se-tem-piedade, e do filho, No-Meu-Povo, predizem o
fim da comunho entre Deus e o povo: "Vs no sois [mais] meu povo, e eu
no mais estou a para vs" (1.6,9, ao contrrio de x 3.14). De forma parecida
o isolamento da prostituta (Os 3.3) no simboliza nem disciplina nem a recu-
perao da mulher ou do povo, mas o fim da monarquia e de algumas prticas
cultuais: por longo tempo Israel ficar sem rei e sem sacrifcios (v. 4. O v. 5,
provavelmente um acrscimo, espera uma converso depois do juzo).
4. A inteno de ambas as aes simblicas tambm se mostra no resto
da mensagem de Osias. Em sintonia com Ams, Osias anuncia o fim da
solicitude amorosa de Deus para com Israel (1.6; 2.6), prediz guerra (7.16; 8.3;
10.14; 11.6; 14.1 e outras), morte (13. 14s.) e disperso: "Andaro errantes entre
as naes." (9.16s.) As imagens da ao punitiva de Deus usadas por Osias
so ainda mais fortes do que as usadas por Ams: "Sou como pus, como
podrido, como um leo, como um urso." (5.12,14; 13.7s.; cf. 7.12.)
Na denncia, no entanto, se mostram deslocamentos de enfoque caracte-
rsticos. Enquanto que em Ams predomina a crtica social, em Osias preva-
lece a crtica cultuai. Ele retoma o anncio de desgraa contra altares e santu-
rios do Reino do Norte (8.11; 10.2,8; 12.12), anuncia o fim da alegria reinante
nas festas (2.13; 9.5) e condena os sacrifcios:
"Quero lealdade,
e no sacrifcios;
conhecimento de Deus,
e no holocaustos."
(6.6; cf. 3.4; 8.13; 9.4.)
Indo alm da confrontao isolada de Ams com Amazias (7.10ss.),
Osias proclama uma sentena dura contra os sacerdotes em geral (4.4ss.; 5.1;
6.9). Ele fundamenta a crtica cultual sobretudo em motivos que no so muito
valorizados por Ams (apesar de 5.26; 8.14): Osias censura a apostasia ao
culto a Baal e a idolatria, portanto a transgresso do primeiro e do segundo
mandamento. At que ponto se manifestam a problemas tpicos do Reino do
Norte (cf. 1 Rs 12.28s.), talvez at temas especficos do profetismo do Reino
do Norte (cf. 1 Rs 18; 2 Rs I)? Contudo, a tradio de Elias ainda no se engaja
pela proibio de imagens.
Imagens de Deus so obras humanas e como tais no podem represent-
10, diminuem tanto a Deus como ao ser humano:
" obra de artfice -
no Deus."
198
"Homens beijam bezerros."
(8.6; 13.2; cf. 8.4ss.; 10.5; 11.2; 14.4.)
Como se associava ao culto aliengena a prostituio - originalmente a
reproduo terrena do casamento celestial entre um deus e uma deusa - ,
Osias chama as prticas apstatas de "prostituio" (2.4s.; 4.lOss.; 5.3s.; 9.1;
assimilado em Jr 2s.; Ez 16; 23). Manifesta-se a tanto a desvalorizao do culto
cananeu de fertilidade como tambm a confisso da exclusividade da f em
Jav. At a poltica de procurar apoio junto a povos estrangeiros Osias denun-
cia como "prostituio" (8.9ss.; cf. 5.13; 7.8ss.; 10.4; 12.2). Contudo, quando
descreve o vnculo entre Deus e seu povo como um relacionamento entre um
homem e uma mulher (2.4ss.; cf. Jr 2 e outras), Osias empresta da religio
canania a conhecida concepo mtica do matrimnio entre um deus e uma
deusa, transformando-a numa metfora para o adultrio de Israel, a infidelidade
do povo diante de seu Deus. Com tudo isto Osias concretiza a exigncia do
primeiro mandamento, que ele cita explicitamente (13.4; 3.1). O profeta tam-
bm se utiliza da parte tica do Declogo ou ao menos da tradio do Declogo
para comprovar a culpa do povo (4.2).
Ser que Osias recorre tanto histria por causa da sua confrontao
com a religio no-javista? A histria lhe ajuda a mostrar sobretudo a fidelidade
de Deus e a constante apostasia de Israel, evidenciando, assim, a continuidade
da culpa no transcurso do tempo (caps. 9-12). Nas retrospectivas histricas
predominam as tradies do xodo ("Do Egito chamei o meu filho": 11.1;
12.10; 13.4) e da marcha pelo deserto (2.5,16s.; 9.10; 13.5s.). Osias evoca
tambm a tradio dos patriarcas que apenas Dutero-Isaas mais tarde destaca
(Jac, Os 12).
Enquanto que Ams indica delitos concretos decorrentes dos antagonis-
mos sociais de seu tempo (p. ex., 2.6-8), a crtica social de Osias mais genrica:
"No h fidelidade, nem senso comunitrio
nem conhecimento de Deus na terra."
(4.1; cf. 6.6ss.; 12.7.)
No entanto, entre todos os profetas Osias se apresenta como o crtico
mais contundente da monarquia: "Eles instituram reis sem o meu consentimen-
to." (8.4.) Ele compreende a monarquia como instituio exclusivamente hu-
mana ou, ento, como ddiva da ira de Deus (13.11) e ameaa: "Farei cessar o
reino da casa de Israel." (1.4; 3.4). Da sua crtica adquire seu carter radical;
pois os profetas do Reino do Sul depois de Osias censuram os governantes ou
a casa reinante, mas preservam, nas suas profecias messinicas, a instituio da
monarquia. At a profecia - contestada em sua autenticidade - da unificao
de Jud e Israel promete apenas que haver uma "cabea" comum (2.2; 3.5
acrscimo). Ser que na sua esperana por salvao depois do juzo Osias no
acredita na continuidade da monarquia e do culto? Pois no menciona nem a
monarquia nem o culto entre as ddivas que Deus conceder de novo (2.16ss.).
199
5. O juzo se concretiza de tal forma que Deus retira de Israel os bens
enganosos da terra, mas tambm a monarquia e o culto (2.5,11-14; 3.4). Osias
desenvolve esta idia bsica, tendo em vista toda a histria de Israel. Assur
ocupar a terra e levar a sua populao ao desterro, no s para Assur, mas
tambm para l de onde Israel veio: "Eles voltaro para o Egito." (8.13; 9.3,6;
11.5; cf. 7.16). Desta forma o xodo e a tomada da terra, e at toda a histria
do povo anulada. O retomo ao Egito, ou seja - atualizando para a situao
poltica da poca de Osias - , o exlio na Assria tem um duplo significado.
Ao eliminar-se o que existe, h retomo s origens, mas justamente este retomo
possibilita um recomeo:
"1femendo viro, como passarinhos os do Egito,
e como pombas os da terra de Assur.
E os farei 'retomar' s suas prprias casas." (11.11; cf. 2.l6s. do deserto.)
Esta concepo de um assim chamado segundo xodo retomada mais
tarde por Jeremias, Ezequiel e Dutero-Isaas. Para a compreenso de Osias
decisivo que no se dicotomize sua mensagem em duas partes independentes.
A salvao que promete no limita o juzo nem o suspende, mas o pressupe.
S na "situao de estaca zero" (H. W. Wolff) que Deus concede comunho
renovada, harmoniosa e permanente e restitui o que se perdeu: "Naquele dia
(...) me chamars 'meu marido'; e no mais me chamars 'Meu Baal' (isto ,
Senhor)." (2.18ss.; 14.6ss.)
Embora Israel deva experimentar de novo a salvao, no a pode conser-
var por si s. Onde recebe uma proposta neste sentido, recusa-a (2.4ss.; cf. 4.16;
6.4; 7.14ss.; 1O.12s.). Israel "me esqueceu" (2.15); "eles no escutam" (9.17;
cf. 11.5ss.). "Atada est a culpa de Israel, guardado o seu pecado." (13.12.)
Assim Deus dificilmente pode (apesar de 14.2ss.) contar com a disposio de
Israel de se arrepender, mas precisa suscitar nele este sentimento:
"Eu curarei a sua apostasia,
de espontnea vontade os amarei." (14.5.)
Em ltima anlise, Deus pode fundamentar sua misericrdia apenas na sua
prpria santidade (cf. Is 40.25); no seu corao o amor luta contra a ira justificada:
"Como poderia eu abandonar-te, Efraim?
entregar-te, Israel? (00')
Meu corao se volta contra mim,
minha compaixo arde poderosamente.
No executarei o furor da minha ira;
no tomarei a destruir Efraim,
porque eu sou Deus e no homem,
o Santo no meio de ti." (11.8s.)
Embora as promessas de Osias para com o Reino do Norte nunca tenham
se cumprido, profetas posteriores, como Jeremias (3.12,22; 31.3,20), mantive-
ram viva a chama desta esperana.
200
16
ISAAS
201
significado futuro (8.1s.; 30.8; cf. os relatos na primeira pessoa do singular nos
caps. 6; 8), mais provvel que as colees tenham surgido num grupo de
discpulos (8.16; cf. o relato na terceira pessoa singular em Is 7; tambm 20),
na medida em que no foram ampliadas em pocas mais recentes.
Como no livro de Osias, palavras de salvao foram colocadas no fmal
de colees menores mais antigas, como, p. ex., a promessa de peregrinao
dos povos a Sio (2.1-5) no fmal do capo I ou a profecia messinica (9.1-6)
depois dos caps. 6-8; cf. ainda 4.2-6, depois dos caps. 2.6-4.1, alm de 32.15ss.
e outras passagens.
Mesmo que as expectativas de salvao se acumulem na parte fmal de
Isaas (caps. 24ss.; 33ss.), o princpio estruturador principal do livro no se
encontra na ordem de ao juzo seguir a salvao. H compilaes de palavras
dirigidas contra o prprio povo (caps. 1-12; 28-32) e um bloco de ditos contra
povos estranhos (13-23), de forma que surgem trs segmentos principais (I-ID).
Estes so interrompidos por trs extensos acrscimos posteriores (A-C: caps.
24-27; 33-35; 36-39).
I. Is 1-11(12) Predominantemente ameaas contra Jud e Jerusalm
1 "Sntese da mensagem de Isaas" (G. Fohrer)
Vv. 2-3 Filhos apstatas
Vv.4-8(9) Jerusalm, comparada a Sodoma (701 a.C.)
Vv. 10-17 Crtica ao culto e falta do direito: "Vossas
mos esto cheias de sangue."
Vv. 18-20 Convocao para o julgamento (cf. 3.13s.)
Vv.21-26(27s.) Purificao de Jerusalm
"Restituir-te-ci os teus juzes como eram anti-
gamente."
VV.29ss. Culto s rvores (cf. 17.9-11;57.5; 65.3 e outras)
2-4 2.1,2-4,5 (= Mq 4.1-3,4s.) Peregrinao dos povos ao Sio
2.12-17 Dia de Jav (no quadro referencial em parte
secundrio 2.6-22)
3.1-7,8s. Contra "o sustentoe o apoio" , os cargos de mando
3.16s.,24(18-23) Contra as mulheres nobres (cf. 3.25s.; 4.1; 32.9ss.)
4.2-6 (sec.) Glorificao do Sio
6-8 Assim chamado documento original ou "Escrito Memorial de Isaas"
(6.1-8.18; ampliado at 9.6)
6 Viso de vocao, redigida em forma de relato
na primeira pessoa: "Eu vi o Senhor (...)", com
a misso de provocar o endurecimento
7 Encontro do profeta com o rei Acaz durante a
guerra srio-efraimita, em dois episdios (vv.
3-9, 10-17)
V. 9 "Se o no crerdes, certamente no
permanecereis! ' ,
202
V.14 Sinal de Emanuel: "Eis que a jovem
concebeu..."
Vv. 18ss. Ditos distintos. Juzo realizado por
intermdio de Assur.
8.1-4,5-8 Rpido-Despojo-Presa-Segura
Similar a Is 7, desgraa anunciada ao Reino do
Norte e ao Reino do Sul
8.11-18 Jav, pedra de tropeo. Selada a mensagem nos
discpulos
5; 9-11 Moldura dos caps. 6-8
5.1-7 Cntico da vinha
"Ele esperou o bem e eis a assassinatos!"
5.8-24; 10.1-4 Ais (cf. 28.1-31.1)
9.7-20; 5.25-29(30) Retrospectiva histrica com refro:
"Com tudo isto no se apartou a sua ira."
10.5-9(10-12),13-15 Ai sobre Assur
10.16ss. Diversos ditos
9.1-6; 11.1-5(6ss.) Profecias messinicas
12 Adendo: hino escatolgico de agradecimento
n.Is 13-23 Ameaas contra as naes
Ttulo: "Sentena" (13.1; 15.1 e outras)
Ditos contra Babel, Assur, ftlisteus (13s.), Moabe (15s.), Edom (21)
e Tiro-Sidom (23)
14.12 "Como caste do cu, estrela d'alva!"
14.24-27 Contra Assur. Plano de Jav em relao a toda
a terra
14.28-32 Contra os ftlisteus (vv. 30a,32b acrscimo?)
17 Contra Damasco e Israel (vv. 1-3,4-6)
17.9,lOs. Contra os jardins de Adnis (cf. 1.29s.)
17.12-14 Ataque dos povos e sua destruio
(cf. 8.9s.; 29.5ss.; SI 48 e outras)
18-20 Contra o Egito e a Etipia
18 Palavra dirigida a uma delegao etope
20 Ao simblica de Isaas contra o Egito:
por trs anos (713-711 a.C) "despido e descalo"
22 Contra Jerusalm (vv. 1-14; 701 a.C.) e funcionrios da corte (vv.
15-23.24s.)
A) Is 24-27 Assim chamado apocalipse de Isaas da poca ps-exlica (cf. 24,3)
m. Is 28-32 Ameaas contra Jerusalm da poca tardia de Isaas (antes de 701).
Assim chamado "ciclo de Assur". Diversos "ais".
28s. 28.1-4(5s.) Ai sobre a Samaria (antes de 722 a.C)
28.7-13 Contra sacerdote e profeta
28.14-22 Aliana com a morte.
Obra estranha de Deus (28.21; 29.14)
203
V. 16 "Eis que assento em Sio uma pedra angular."
28.23-29 Poema didtico (ou parbola?) do campons
29.1-4,5-8 Ai sobre Ariel-Jerusalm
29.9s,l1s. Cegueira (cf 6.9ss.)
30s. Contra a proteo do Egito (sobretudo 30.1-3; 31.1-3)
31.3 Os egpcios so seres humanos, no Deus.
32.9-14 Contra as jerosolirnitas despreocupadas (cf. 3.16ss.)
B) Is 33-35 Apndice com palavras de salvao
33 Imitao de uma liturgia com lamentao e orculo de
salvao (cf. Mq 7.8ss.)
34 Juzo sobre Edom (cf. Ob; Ez 35 e outras)
35 Redeno e retomo ao Sio (similar a DtIs)
C) Is 36-39 Apndice histrico extrado de 2 Rs 18-20
Descrio do cerco a Jerusalm feito por Senaqueribe (701)
Salmo de agradecimento de Ezequias (38.9ss.)
Cf. o apndice Jr 52, extrado de 2 Rs 24s.
Com maior probabilidade encontraremos palavras "autnticas" de Isaas nos
caps. 1-4.1; 5-11; 14; 17s.; 20; 22; 28-32.
204
cf. 2.17; 3.3 e outras). Por outro lado, o profeta marcado intensamente pela
tradio de Sio (1.21ss.; 6; 8.18; 28.16s. e outras) e pela tradio de Davi
(29.1; 11.lss, e outras). Enquanto isso, a tradio do xodo ou tambm a
tradio dos patriarcas, importantes para Ams e Osias, so relegadas por
completo a segundo plano. Por seus contatos com o templo de Jerusalm, onde
decerto foi vocacionado, Isaas possivelmente tenha se familiarizado ali com a
linguagem dos Salmos, que, por sua vez, reinterpreta de forma crtica (8.14,17;
28.15; 30.2s.; 31.2s. e outras).
Uma lenda apcrifa e tardia, o "martrio de Isaas", conta que o profeta foi
serrado ao meio no tempo de Manasss (cf. 2 Rs 21.16), por ter afirmado que vira Deus
(Is 6.1), ter chamado Jerusalm de Sodoma (1.10) e ter anunciado a devastao da
cidade e da terra (6.11 e outras). Isto significa que palavras decisivas da mensagem de
Isaas provocaram escndalo at em tempos tardios.
205
a.c. (cf. Is 20.1), se situam a ao simblica de Is 20 e palavras como 18.1ss.; talvez
22.15ss. e outras.
d) Durante ou aps a destruio da regio de Jud pelos assrios sob Senaqueribe
(cerco de Jerusalm em 701 a.C.) foram pronunciadas partes maiores do assimchamado
"ciclo assrio" nos caps. 28-32. No ano de 701 ou 700 a.C. terminaa atuao de Isaas;
seus trs ltimos ditos provavelmente so 1.4-8; 22.1-14; 32.9-14.
206
dida Acaz por um filho de Tabeel, Isaas - retomando a tradio da guerra de
Jav (x 14.13; Dt 20.2-4) - incita o povo a no ter medo e manter-se calmo
e confiante em Jav (ls 30.15). Ambas as naes inimigas, a Sria e o Reino do
Norte, so consideradas, na antecipao proftica do futuro, apenas "ties
fumegantes". A potncia assria, que Isaas menciona nominalmente apenas
mais tarde (8.4ss.; 7.18ss.), avana. Mas tambm a casa real de Jerusalm alvo
no de uma promessa, mas de um anncio condicional de juzo: "Se o no
crerdes, certamente no permanecereis!" (7.9; cf. 28.16). No decorrer do
episdio seguinte, onde Acaz rejeita a proposta apresentada, a ameaa se toma
anncio incondicional de juzo contra o rei e o povo - na profecia altamente
discutida de Emanuel, que em si no visa o nascimento e a colocao do nome,
mas uma indicao cronolgica, qual seja, o momento da diviso do pas
(7.14,16s.).
A correspondncia entre Is 6 e 7 foi percebida apenas na retrospectiva? no
decorrer do dilogo que Isaas se convence da iminente desgraa que tambm atingir
a Jud, causada primeira vista pelos assrios, mas em ltima anlise pelo prprio Jav
(8.12ss.) - ou o profeta entra em cena j pressentindo o desfecho de tudo?
No encontro com o rei, Isaas se faz acompanhar de seu filho Sf10ar yashub. O
nome "(S)-Um-Resto-Voltar" - acrescente-se: da batalha (dificihnente: Um-Resto-
Se-Converte) - decerto se deve compreender como palavra de ameaa dirigida contra
Jud, da mesma forma que o nome de seu segundo filho, "Rpido-Despojo-Presa-
Segura", (8.3s.) prediz infortnio para o Reino do Norte.
Como para Ams (3.12), tambm para Isaas o "resto" o que sobrou (em
sentido negativo) da catstrofe (1.8; 17.3,5s.; 30.14,17) e no (em sentido positivo) o
objetivo do castigo, ou seja, pessoas portadoras da nova salvao (ao contrrio do que
afirmam textos considerados acrscimos: 1.9; 4.3; 6.13; 1O.20s.; 11.11,16; 28.5 e outras).
Alm disto, uma srie de anncios de juzo (5.6,24,29; 6.11; 28.2-4,18-20; tambm 8.8
e outras) no deixa espao nem para um resto de esperana.
207
Os israelitas no queriam ver (5.12) nem ouvir (28.12; 30.9,12; cf. 1.5;
8.6; 29.13 e outras); at a converso aparece como uma oportunidade perdida
(9.12 em relao ao Reino do Norte; cf. 6.10). So filhos de Jav, mas perver-
tidos (l.4; 30.1,9). Desta forma, em vez de cham-los "meu povo" (1.3 e
outras), Deus tambm pode trat-los em tom depreciativo por "este povo"
(6.9s.; 8.6,l1s.; 29.14s. e outras).
Como j o faziam Ams ou Osias, Isaas entende o juzo em regra como
incurso de um exrcito inimigo (5.25ss.; 7s. e passim), s vezes tambm como
interveno direta de Deus (1.24ss.; 8.13s.; 29.1-3), excepcionahnente como catstrofe
natural (2.12-17; cf. 5.14,24; 32.12-14). O profeta no pensa a, em ltima anlise, num
nico fenmeno que se concretiza de diversas maneiras?
Em geral se compreende o juzo como acontecimento iminente, e que at j se
projeta para dentro do presente (1.15; 7.4; 29.10 e outras). s vezes parece, porm, que
Isaas pensa num prazo maior, de dois a trs anos (7.16; 8.4).
208
"A arrogncia do ser humano ser abatida,
e a altivez dos homens ser humilhada;
s Jav ser exaltado naquele dia." (2.17.)
209
14.30a,32b)? Sobretudo aquelas palavras que introduzem, imediatamente depois
de uma ameaa dirigida contra Jerusalm, uma profecia de salvao e esperam,
de forma mais ou menos explcita, por uma mudana radical so suspeitas de
serem acrscimos posteriores (29.5ss.; 31.5ss.; 32.15ss.; cf. 18.7; 28.5s. e ou-
tras). Excluindo textos h muito controvertidos, a pregao de Isaas parece ser
mais uniforme e coesa: visto que no [mal de sua atuao ele retoma os anncios
de juzo (6.11), proferidos por ocasio de sua vocao (22.14; 28.22; 29.9s.;
32.14 e outras), uma eventual mensagem de salvao caberia somente no
perodo intermedirio. Mas falta qualquer indcio de uma dupla mudana de
opinio do profeta. Isaas no censura (28.15,18ss.) - de forma similar a
Miquias (3.11) e Jeremias (7.8ss.) - o sentimento de segurana dos jerosoli-
mitas tal como ele se manifesta na tradio de Sio (5146 e outras)? Em todo
caso Isaas ameaa os habitantes da capital com a morte (22.14; cf. 29.4 e
outras) e a cidade mesma, com sua destruio (3.8; 5.14,17; 32.14).
10. Ser que Isaas "tem esperana" no Deus que "esconde o seu rosto"
(8.17)? No resta dvida de que juzo e salvao se entrelaam: a capital
corrompida ser purificada e receber no futuro de novo o nome de "cidade da
justia, cidade fiel" que antigamente merecia (1.21-26).
Desconsiderando este texto, onde brota o novo do juzo sobre o que
existe, todas as outras expectativas de salvao so controvertidas quanto sua
"autenticidade". Isto vale no apenas para as palavras [mais da viso de
vocao - s o toco "santa semente" (6.13) - , mas tambm para as trs
grandes promessas nos caps. 2; 9 e 11. Estas promessas dificilmente podem ser
atribudas a uma determinada situao histrica. O problema, no entanto, surge
com freqncia em palavras de salvao. J que muito difcil encontrar
critrios objetivveis, independentes da compreenso que cada um tem do
profeta, principalmente critrios lingsticos, que exijam a excluso destes tex-
tos dbios, temos de admitir que eles possivelmente sejam "autnticos" -
pelo menos Is 11, com que Is 9 tem afmidade. De fato, as profecias de salvao,
ao acentuarem com rigor o cumprimento do direito, p. ex., representam a
contrapartida das denncias de Isaas e esto com isto ligadas entre si e com o
resto da mensagem de Isaas.
Is 9.1-6 (decerto sem 8.23b) promete apenas ao "povo, que anda nas
trevas", que vive no mbito da morte (9.1; cf. 29.4), uma "grande luz":
libertao pelo prprio Deus, nascimento de um governante, paz sem fim. Em
contrapartida em Is 11 (vv. 1-5 com complementaes em vv. 6-8,9s.) a profe-
cia messinica se emancipou; o dom do Esprito (11.2) corresponde aos ttulos
honorficos (9.5). O que falta ao povo - conhecimento, justia e solicitude para
com os pobres (1.3,17 e outras) - o governante futuro ir trazer. Conforme a
imagem do broto que nasce de um toco de tronco, o futuro soberano no
210
proceder da dinastia de Davi, que est no poder e que, alis, ter de enfrentar
o juzo (7.16s.).
Como Isaas espera aqui a preservao da instituio, mas no a manuten-
o dos ocupantes do cargo, tambm de Jerusalm permanece apenas a identi-
dade do local. Is 28.16s. proclama um recomeo no Sio: "Eis que assento em
Sio uma nova pedra angular." A promessa da peregrinao dos povos (2.2-4;
Mq 4.1-3 conserva a mesma tradio) menciona inclusive a fundao e exalta-
o do Sio. Mas no se fala da supremacia nacional de Israel nem do seu
domnio sobre os povos, apenas da instituio do direito e do trmino da guerra
entre todos os povos por ocasio do encontro com o nico e excelso Deus (cf.
Is 6.1; 2.17).
211
17
MIQUIAS
212
As trs colees so todas iniciadas - neste ponto tambm h analogia
com o livro de Ams (3.1 e passim) ou o livro de Osias (4.1) - com o apelo:
"Ouvi!" (Mq 1.2; 3.1; 6.1; cf. ainda 3.2; 6.2,9).
I. Mq 1-2
1 Queda da Samaria (vv. 2-6), ameaa contra cidades judatas e Jeru-
salm (vv. 8s.,lOss.)
Vv. 2-4 Convocao dos povos, para que escutem (cf. Is 1.2).
Teofania
2 Ai sobre os latifundirios (vv. 1-5). Pregador para o povo:
Contra a objeo de ouvintes (vv. 6s.), novas acusaes (vv. 8ss.)
Vv. 12s. Promessa (exlica/ps-exlica) da reunificao de Israel
sob liderana do rei Jav (cf. 4.7)
11. Mq 3-5
3 "Prdica aos grupos sociais". Contra os "cabeas, lderes" (vv.
1-4,9), profetas (vv. 5-8), juzes, sacerdotes, profetas (vv. 9-12)
V. 12 Destruio do templo (Jr 26.18)
4s. Promessas
4.1-4,5 = Is 2.2-4: Peregrinao dos povos at o Sio
4.6-8 Retorno da dispora (cf. 2.12s.), do exlio (4.9s.)
4. llss. Vitria sobre os povos (cf. Is 8.9s. e outras)
5.1-5 O governante futuro oriundo de Belm
5.9-14 Cumprimento do primeiro mandamento - contra ins-
trumentos de guerra e culto estrangeiro
m. Mq 6-7
6.1-7.7 Litgio jurdico de Deus com seu povo (vv. 1-8; vv. 4s. so acrscimo?).
As palavras seguintes lamentam o no-cumprimento da exigncia de
Deus (6.8):
6.9ss. Contra a ganncia de Jerusalm. Medidas adulteradas
7.1ss. No h mais nenhum justo no pas (cf. Jr 5.1)
Vv. 5s.: No confieis em nenhum semelhante!
V. 7: Confisso de confiana (cf. Is 8.17)
7.8-20 Liturgia proftica da poca ps-exlica:
Promessa da graa de Deus para Jerusalm, cujas muralhas ainda
esto destrudas (no orculo de salvao, vv. lls.).
V. 18 "Quem, Deus [aluso ao nome de Miquias?],
semelhante a ti?"
Entre os pesquisadores h consenso somente de que a parte principal dos
caps. 1-3 (sem 2.12s. e outras; cf. J. Jeremias) deve ser atribuda a Miquias,
enquanto que a "autenticidade" dos anncios de juzo em 6.1-7.7 e ainda mais
a das palavras de salvao so controvertidas. Este profeta s proferiu anncios
de desgraa - proveniente de Jav (1.9,12)? Mesmo que a maioria das pro-
messas (sobretudo 4.1ss.) no seja de autoria de Miquias, ao menos o material
bsico da profecia messinica (5.1ss.) se enquadra bem na sua pregao. Mi-
213
quias, portanto, parece que vincula - semelhante neste ponto a Isaas? - o
anncio de juzo inevitvel, da destruio absoluta (1.6; 3.12), com a promessa
de um novo incio depois do juzo - mas isto continua sendo uma questo
controvertida.
3. Com Ams e sobretudo com Isaas (5.8ss.) Miquias tem em comum
traos essenciais da crtica social. A crtica do culto a deuses aliengenas e da
idolatria, que predomina em Osias, relegada a segundo plano. Quando
Miquias critica o sistema latifundirio, a ganncia da classe dominante em
possuir casas e terras, parece que atualiza o dcimo mandamento (x 20.17):
"Ai daqueles que maquinam o mal (...).
Cobiam campos, e os arrebatam,
e casas, e as tomam;
assim fazem violncia a um homem e sua casa,
a uma pessoa e sua herana." (2.1s.; cf. 2.8ss.; 3.2s.,1O.)
Alis, Miquias se queixa da opresso exercida pelas camadas superiores
da sociedade, principalmente da transgresso da lei: "Odeiam o bem, amam o
mal." (3.lss.,9ss.; cf. 6.lOss.; 7.2s.). Como j seus precursores profticos (Am
5.21ss.; Os 6.6; Is 1.lOss.), Miquias contrape, caso a palavra for de sua
autoria, a observncia do direito ao culto (de sacrifcios):
"Com que me apresentarei a Jav,
e me inclinarei ante o Deus excelso?
Virei perante ele com holocaustos?
com bezerros de um ano? (...)
Ele [Jav ou sujeito indefinido] te declarou (...)
o que bom; e que que Jav pede de ti,
seno que pratiques a justia e ames a benignidade,
e andes concordemente (humildemente) com o teu Deus?" (6.6-8.)
Como o peregrino informado das condies de acesso ao santurio (SI
15; 24), assim o profeta aponta ao "ser humano" o que lhe deveria ser familiar
como vontade de Deus. Ser que com a escolha de suas trs exigncias Mi-
quias reproduz tambm as intenes principais dos trs profetas literrios mais
antigos: exercer a justia (Ams), amar a benignidade (Osias) e andar sem
arrogncia diante de Deus (Isaas)?
Indo alm da crtica aos sacerdotes (3.11), Miquias retoma um tema que
Isaas (28.7) apenas sugere e que s se tomou decisivo para Jeremias: o
confronto com o profetismo:
"Assim fala Jav contra os profetas
que fazem errar o meu povo,
que clamam: paz!
quando tm o que mastigar entre os dentes,
mas declaram guerra contra aqueles
que nada lhes metem na boca.
214
Portanto, se vos far noite sem viso,
e tereis trevas sem adivinhao (...)." (3.5s.)
Miquias acusa seus opositores profticos de fazerem depender sua res-
posta - seja ela referente salvao ou tambm desgraa - do pagamento
recebido e reivindica dispor de maior conhecimento do futuro; pois ousa anun-
ciar-lhes o fim de sua atuao. Mesmo que no passado possam ter recebido
revelaes, no futuro Deus se cala (3.4,7)! Miquias entende que sua autoridade
lhe foi concedida por Deus, mas esta lhe d o direito de expor o pecado de todo
o povo. Sua incumbncia denunciar a culpa e no chamar penitncia:
"Eu, porm, estou cheio do poder,
- do Esprito de Jav - cheio de juzo e de fora,
para declarar a Jac a sua transgresso
e a Israel o seu pecado." (3.8; cf. 1.5.)
215
18
NAUM, HABACUQUE, SOFONIAS, OBADIAS
Depois que Isaas deixa de atuar, o profetismo silencia por meio sculo,
na poca da repressora hegemonia assria, aproximadamente de 700-650 a.c.
Depois surgem sucessivamente Naum, Sofonias, Habacuque e principalmente
Jeremias.
216
3.1-7 Ameaa (vv. 1-4,5s.), cntico de lamentao ou de zombaria (v. 7)
3.8-19 Ameaa (vv. 8-17), cntico de lamentao ou zombaria (vv. 18s.)
Comparao de Nnive com a conquistada N-Amom = Tebas no Egito(v. 8)
Ressoam nesta composio do livro de Naum, que junta salmos e promes-
sas de salvao para Israel, rituais litrgicos? Tal conjetura encontra mais
respaldo na estrutura do livro de Habacuque.
As ameaas dirigidas contra Nnive evidenciam em parte afinidade to grande
com anncios de juzo contra Israel/Jerusalm, pronunciados por outros profetas, que 1.
Jeremias supe que tambm ditos de Naum (como 3.1ss.) se dirigissem originalmente
contra Jerusalm e s mais tarde tenham sido redirecionados contra Nnive. Naum no
era, portanto, apenas profetade salvao (cf. 1.12)?
O anncio de desgraa sobre Nnive se cumpriu. Independentemente de
quo unilateral se mostre a mensagem de Naum, dirigida que contra o inimigo
externo, em todo caso contm a confisso decisiva para o profetismo posterior
(Zc 2) at o apocalipsismo (Do 2; 7): Deus pode pr fim maior potncia do
mundo. Com esta percepo o livro de Naum quer promover a confiana no
poder do Senhor da histria - e neste sentido decerto tambm foi compreen-
dido em tempos posteriores.
217
2.6-20 Cinco ais (cf. Is 5.8ss.) contra a Babilnia
"Jav est no seu santo templo - cale-se diante dele toda a terra." (V. 20;
cf. Sf 1.7; Ze 2.17)
3 Orao de Habacuque
Lamentaes (vv.2,16,18s.) emolduram a descrio da teofania(vv. 3-12.13-15)
Lamentando-se (1.2ss.,12ss.) e aguardando ansiosamente por uma mani-
festao de Deus (2.1), Habacuque dirige-se na sua atribulao a Deus, pare-
cendo que antes o profeta que toma a iniciativa do que Deus que se revela.
Ser que Habacuque , como se costuma supor, profeta cultual? Alguns ind-
cios, como o ttulo "profeta" (1.1), a forma como recebe a revelao (2.1;
3.2,16) ou a proximidade com a linguagem dos Salmos (1.2ss.,12s.; 3.2.18s.),
deixam margem a tal suposio, mas decerto no permitem chegar a uma
definio segura. Todo o livro - que dificilmente o prprio Habacuque com-
pilou - forma uma liturgia (P. Humbert)? Em todo caso se encontram no capo
3 vestgios de seu aproveitamento no culto (v. abaixo).
Na primeira orao (1.2-4) o profeta lamenta a injustia e violncia -
concretamente se queixa mais da opresso jurdica e econmica vigente em
Israel do que da opresso por parte dos assrios. Deus responde anunciando uma
"obra" incrvel (1.5; cf. Is 28.21). Providencia o castigo por intermdio de um
povo inimigo veloz e avassalador: os babilnios (1.5-11,14ss.). Mas estes ini-
migos se excedem na sua funo de acrisolar Israel? Em todo caso a brutalidade
e at presuno (1.11,16) da potncia hegemnica provocam uma manifestao
de protesto por parte do profeta: como o Deus santo, imortal pode assistir
fria malvada, impiedosa e se calar (1.12s.)? Como uma sentinela no mirante
- um lugar real (para um profeta cultual seria no templo?) ou s se trata de
uma atualizao metafrica? - o profeta busca a resposta de Deus (2.1). Esta
contm em primeiro lugar a incumbncia de transcrever a revelao que se
refere ao "fim" (2.2s.) e em seu contedo restabelece o princpio de que cada
um experimentar os efeitos de sua prpria ao, reafirmando, assim, a diferen-
ciao entre o transgressor e o justo: "[S] O justo viver por sua fidelidade
[para com Deus]." (2.4; radicalizado em Rm 1.17; GI 3.11.)
A palavra de Deus (2.4s.) desenvolvida na segunda parte principal do
livro (2.6ss.) em cinco "ais" do profeta contra o poder conquistador da Babi-
lnia. Todavia, o texto sofreu uma redao posterior (cf. no ttulo 2.6a a
interpretao de que o que se segue uma fala enigmtica ou a polmica
referente aos dolos em 2.18ss.), de sorte que se chegou a questionar se os
"ais" foram realmente dirigidos desde o princpio contra o imprio babilnico
(1. Jeremias; E. Otto). As palavras [mais, que contrapem os dolos mortos ao
Deus vivo (2.19s.), fazem a ponte para a "orao" de Habacuque, que nova-
mente retoma o anncio do futuro (2.4s.).
Lamentaes e declaraes de confIana do profeta ("eu", 3.2,16,18s.)
218
emolduram uma descrio visionria de uma teofania: o aparecimento glorioso
de Deus a partir do Sinai (v. 3; cf. Jz 5.4s.; Dt 33.2), acompanhado pelo
estremecimento da natureza, visa punir o "transgressor" (vv. 13-15; cf. 1.13;
2.5), isto , derrotar a potncia babilnica. Ao receber a revelao, o profeta
tem tremores corporais (3.16; cf. Is 21.3s.; J 4.12ss.).
Embora anseie pela concretizao rpida do que viu (3.2; 2.3) e com isto
busque a ajuda de Deus para seu povo (3.13), o profeta j se alegra no presente,
confiante no poder do "Deus da minha salvao" - caso as palavras finais
(3.18s.) realmente sejam de Habacuque e no de algum outro que as formulou
mais tarde. Pois, como ttulo e apndice (3.1,19b) e tambm os "sel" inseridos
no corpo do texto (vv. 3,9,13) mostram, a viso proftica (3.2ss.) foi utilizada
posteriormente, tal qual outros salmos, no culto de Israel como orao, invo-
cando a interferncia de Deus em situaes emergenciais.
3. Apesar de sua mensagem sucinta, Sofonias, por sua vez, est entre os
profetas "maiores", por causa da radicalidade com que aponta a culpa e
anuncia o castigo. Tematicamente tem afinidade com Isaas e seu contempor-
neo Jeremias. Sofonias atualiza sobretudo o anncio do juzo iminente, visto
como "dia de Jav" (Am 5.18ss.; Is 2.12ss.), de modo que no anncio proftico
da desgraa sobressai claramente seu carter de urgncia escatolgica: "Perto
est o dia de Jav" (1.7,14ss.; 2.2; retomado em TI 1.15 e outras). Sob esta
forma (Sf 1.14ss.) o anncio proftico se torna o paradigma para a seqncia
medieval: Dies irae, dies illa [Aquele dia ser um dia de ira].
11 qual o jovem Jeremias (cap. 2), tambm Sofonias (1.4ss.) denuncia a
idolatria, especialmente o culto a Baal e aos astros, que se alastrou na poca da
dominao assria, no sculo Vll, e pouco depois foi eliminado, pelo menos
temporariamente, pela reforma do rei Josias em 622 a.c. (cf. acima lOa,5).
Visto que Josias foi coroado rei quando ainda era criana (1 Rs 22.1),
compreensvel que Sofonias no mencione o prprio rei na sua crtica dirigida
contra funcionrios da corte e a casa real (1.8). Assim se comprova o que diz
o ttulo (1.1): Sofonias atuou na poca de Josias - mais precisamente, decerto,
em Jerusalm (1.lOs.), antes da reforma, por volta de 630 a.c. A rpida
decadncia da potncia assria ainda no se vislumbra na palavra de ameaa de
Sofonias (2.13ss.).
o ttulo menciona, alm do nome do pai, mais trs geraes. Isto to incomum
nos livros profticos que se especulou que o profeta seria filho de um estrangeiro (Cuchi
= o etope?) ou de descendncia davdica (Ezequias = o rei?).
Embora na estruturao do livro as palavras de desgraa (1.2-3.8) sejam
sucedidas por ditos de salvao (3.9-20), a habitual diviso tripartida aparece
apenas de forma fragmentada. Depois dos ditos ameaadores contra povos
estrangeiros (2.4-15) novamente se retomam os anncios de juzo contra Jeru-
219
salm (1.2-18; 3.1-8); e tambm as profecias de salvao se apresentam em
forma de promessas para os povos (3.9s.) e para Israel (3.11ss.).
1.1 Ttulo
1.2-18 Ameaas contra Jud/Jerusalm
Vv. 2s.,17s. Moldura universal (acrscimo? Cf. 3.8)
Vv. 7,14ss. Dia de Jav. Dies irae
2.1-3 Exortao humildade e justia -
"talvez" proteo no dia de Jav
2.4-15 Ameaas contra povos estrangeiros:
filisteus, Moabe/Amom, Cuche (Etipia), Assria
V. 11 (Acrscimo, expressando esperana universal): "todas as ilhas
das naes, cadaumadoseulugar, adoraro a Jav" (cf. MlUl).
V. 15 Lamentao sobre a queda da autoconfiante Nnive
3.1-8 Ameaas contra Jerusalm
Vv. 1-5 Ai do profeta com prdica contra as classes sociais nos vv.
3s. (cf. Is 3; Mq 3 e outras)
Vv. 6-8 Palavra de Jav: Reno as naes contra vs
Parece que a ameaa contra Jerusalm em 3.8 foi alterada
posteriormente mediante uma correo do texto (contra "e-
les" em vez de "vs"), tornando-o anncio de juzo contra
os povos, e com isto promessa para Jerusalm.
3.9s. Palavra de salvao para os povos
Converso dos povos em adoradores de Jav (cf. 2.11)
3.11-20 Promessas de salvao para Israel
Vv. 14s. Convite escatolgico alegria (cf. Zc 2.14; 9.9s.) por causa
do reinado de Deus
Vv. 16s.,18s.,20 da poca (ps)exlica: Deus "um heri que ajuda". -
"Reunirei o disperso [a dispora]."
Do horizonte universal emerge o anncio de juzo: "Estenderei a minha
mo contra Jud e contra todos os habitantes de Jerusalm." Mesmo que a
expectativa de um juzo [mal, universal, do aniquilamento dos seres humanos e
animais em toda a terra (1.2s.,18), continue injustificada, a punio de Jerusa-
lm motivada por uma denncia detalhada da sua culpa: culto a outras
divindades (1.4ss.), violncia e fraude cometidas pela classe dominante (1.8s.;
3.3) e pelos comerciantes (1.11), deslealdade dos profetas e sacerdotes (304),
excessiva auto-segurana e falta de confiana no poder de Deus, como o
expressa a citao: "Jav no faz o bem nem o mal." (1.12; cf. Is 5.19; Ml
3.l4s.). A crtica exemplar s categorias sociais e aos grupos est incorporada
no anncio de juzo sobre a totalidade do povo (IA), de modo que Sofonias
(3.1s.; cf. 1.12) pode retomar o "ai" sobre a cidade violenta, que desrespeita a
Deus: Jerusalm (Is 29.1; cf. Ez 22). Mesmo assim ele conclama, face ao dia
do juzo iminente:
220
"Buscai a justia, buscai a humildade!
Talvez sejais protegidos no dia da ira de Jav."
(2.3; cf. Am 5.14s.; Is 2.lOss.)
Nesta palavra Sofonias oferece preservao diante do juzo, embora con-
dicionalmente (s vale para aqueles que se humilham diante de Deus), e ao
mesmo tempo mantm a liberdade de Deus ("talvez" haja perdo). At onde
ento vai a confiana do profeta na reta conduta dos seus ouvintes? Em ltima
anlise espera que o prprio Deus mude o ser humano: "Eu transformo" (3.9).
"Deixarei no meio de ti
um povo modesto e humilde,
e procurar refgio no nome de Jav
o resto de Israel.
Eles no praticaro mais a iniqidade,
no diro mentiras." (3.l2s.)
Esta esperana, que parece retomar a expectativa de Isaas da vitria de
Deus sobre a arrogncia humana, superada ainda - seno na pregao
proftica, pelo menos dentro da verso atual do livro de Sofonias - pela
esperana na converso de todos os povos a Jav (3.9s.; 2.11).
221
Arrogncia dos habitantes das rochas (vv. 3s.), violncia perpetrada
contra o povo-irmo Jac/lsrael (vv. IOss.).
Conclamao de Jav para os povos lutarem contra Edom (v. 1).
Vv. 1-4,5 correspondem a Jr 49.14-16.9.
A famosa sabedoria de Edom (Jr 49.7; J 1.1 e outras) acaba (Ob 8).
Ob 15a,16-18 Juzo sobre os povos (cf. Jl 4; Is 34)
Os povos bebem do clice da ira de Jav (cf. Jr 25.15ss. e outras).
Ob 19-21 Trs complementaes em prosa (?).
Vv. 19 e 20 complementam v. 17b, v. 21 complementa v. 17a.
O livrinho est dividido em duas ou trs partes. A principal linha divisria
passa pelo v. 15, cuja segunda metade, v. 15b, indica o princpio e a meta da
primeira parte do livro (vv. 1-14), enquanto que o v. 15a menciona, tal qual um
ttulo, o tema da segunda parte (vv. 16-18). Mas j os vv. 1-14 congregam em
si vrios grupos de palavras, de modo que se pde atribuir o livrinho, que
apenas compreende 21 versculos, a diferentes autores. Ser que o nome do
pouco conhecido profeta Obadias ( = "servo de Jav") no seria simblico (cf.
Am 3.7) - semelhana de Malaquias ( = "meu mensageiro")? mais
provvel, porm, que se trate da mensagem de um profeta que, numa poca
funesta, anunciava como revelao divina o juzo sobre Edom e os povos.
Obadias era um profeta cultual que proferia seus "orculos de salvao" em
cerimnias de lamentao (H. W. Wolft)? Em todo caso encontramos nele
vinculaes estreitas com palavras de outros profetas (sobretudo Jr 49). As
afmidades com TI 4 (Am 9.12) tambm podem explicar a incluso do livrinho
no Livro dos Doze Profetas depois de TI-Am.
Decerto apenas os versculos fmais constituem uma complementao mais
recente. Descrevem as possesses futuras de Israel (vv. 19s. depois de v. 17b),
sobrepujando, contudo, todas as expectativas concernentes esperana pela
vinda do reino de Deus. Apesar de toda a retribuio anunciada, a Deus - e
no a Israel (v. 21; cf. Zc 14.9; Sf 3.15 e outras) - que pertence o domnio.
222
19
JEREMIAS
1. Fala-se vez por outra no livro de Isaas que o profeta anotou ou ditou
palavras isoladas, talvez tambm pequenas colees (8.1,16; 30.8), mas o
livro de Jeremias que oferece pela primeira vez um relato sobre a transcrio
de pregao proftica. Baruque anota as palavras que Jeremias lhe dita em um
rolo e as recita ao povo no templo e mais tarde diante dos funcionrios reais no
palcio. Quando o rolo, depois de lido em voz alta pela terceira vez, rasgado
e queimado pelo rei Jeoaquim, Jeremias dita de novo o seu contedo e o
complementa (Jr 36). Este relato, cuja historicidade freqentemente contesta-
da, defronta a exegese h tempo com a questo: que textos do livro de Jeremias
j constavam do roloprimitivo? A esta altura no h mais como encontrar uma
resposta inequvoca. Visto que o rolo, ao que parece, apenas continha ameaas,
descartam-se profecias de salvao e, da mesma maneira, relatos sobre Jeremias
na terceira pessoa e com certeza todas as palavras redacionais mais recentes.
Mas como podemos distinguir estas palavras?
De fato, o livro de Jeremias apresenta problemas histrico-redacionais
srios. Por um lado compreende - de forma anloga mensagem do profetis-
mo mais antigo do sculo VIII - ditos rtmico-poticos de estrutura mtrica
defmida; por outro lado, porm, tambm contm discursos em prosa que lem-
bram prdicas (como Jr 7). Estes ltimos chamam a ateno por vrias razes:
a) por sua forma em prosa, b) pela sua afinidade em termos de linguagem,
terminologia e pensamento com a literatura deuteronmica e deuteronomstica,
c) pela opo colocada ao ouvinte de escolher entre salvao e perdio. Ser
que Jeremias utilizaria uma linguagem to destoante de seus outros escritos em
termos de estilo e intencionalidade?
Se considerarmos os textos em prosa componentes genunos da pregao jeremi-
nica, podemos explicar as coincidncias das palavras profticas com a literatura deute-
ronmica e deuteronomstica de forma diferente: Jeremias teria sido influenciado, depois
da reforma de Josias, pelo Deuteronmio, representando a sua linguagem o linguajar
culto do final do sculo vn a.c. ou o linguajar tpico do culto. Mas por que este estilo
no se encontra tambm nas palavras metrificadas em que temos de buscar em primeiro
lugar a pregao autntica de Jeremias? Aquele linguajar culto do sculo VII, seja em
prosa literria ou estilo de prdica, no se deveria detectar tambm fora do crculo
lingstico deuteronomstco?
223
Qualquer deciso nesta complexa questo literria acarreta conseqncias
profundas para a compreenso global do profeta. Pois, dependendo desta deci-
so, ou o profeta enquadrado na tradio proftica de seus precursores ou se
admite que o profetismo passou no [mal do sculo Vil a.c. por uma sensvel
transformao, de forma que aumenta consideravelmente o nmero de exorta-
es e advertncias e a conclamao penitncia pode resumir tanto a mensa-
gem de Jeremias (36.3,7), como a de todos os profetas (25.4s.; 35.15).
Inspirando-se no comentrio de B. Duhm (1901), que introduz a pesquisa
mais recente sobre o profeta, S. Mowinckel (1914) discriminou no livro de
Jeremias trs, respectivamente quatro fontes, e esta classificao se imps em
grande parte, embora tenha sido submetida a modificaes:
A) Ditos do profeta e relatos na primeira pesssoa
Como nos outros livros profticos, tambm encontramos no livro de Jeremias
muitos ditos distintos, em forma rtmica. Foram compilados em diversas colees sobre
um determinado tema que tm em comum (p. ex., caps. 2; 4-6 ou os ditos sobre reis e
profetas nos caps. 21-23; cf. Dt 17s.).
Vrias vezes (como j em Os 3 ou Jr 6) so inseridos relatos autobiogrficos do
profeta, na primeira pessoa (Jr 1; 13; 18; 24; 25.15ss.; cf. 3.6,11; 14.11,14 e outras).
B) Relatos sobre Jeremias na terceira pessoa, a assim chamada "biografia de Baruque"
Nos captulos 19-20.6; 26-29; 36-44; 45 (51.59-64) predominam relatos de tercei-
ros que narram os sofrimentos de Jeremias. Principiam na poca de Jeoaquim e vo at
a fuga do profeta para o Egito. Como ali se transmitem pormenores que tm que provir
da proximidade de Jeremias, costumam-se atribuir estes relatos de terceiros a Baruque,
o confidente de Jeremias (cf. caps. 36; 43; sobretudo 45 com uma profecia dirigida a
Baruque). Em todo caso, estes detalhes nos informam mais sobre o destino de Jeremias
do que sabemos sobre a vida de outros profetas.
C) Discursos em prosa, com roupagem deuteronomstica
Caracterizam-se por similaridades em estilo, linguagem e tema (p. ex.: culpa do
povo por desobedecer a Deus, ao no ouvir advertncias profticas, anncio de castigo)
e com isto interpretam a situao de exlio a partir da palavra do profeta, ou seja, de
Jav. A estruturao esquemtica remonta ao estilo depregao da poca exlica/ps-exlica?
At hoje no se conseguiu ainda estabelecer uma delimitao clara desta fonte C;
todavia, enquadram-se nela pelo menos os caps. 7-8.3; 11.1-14; 18.1-12; 21.1-10; 22.1-5;
25.1-11(14); 34.8-22; 35.
D) Profecias de salvao dos caps. 30s.
Com certeza estes dois captulos formam uma coleo prpria. J que no seu
contedo bsico so jereminicos, tambm podemos enquadr-los no grupo A (segundo
W. Rudolph) e vincul-los especialmente com Jr 3.
224
e diferenas estilsticas. Na verdade, o caso mais complexo: a assim chamada
biografia de Baruque no constitui nenhuma unidade; originalmente decerto
apenas os captulos 37ss. estiveram juntos (cf. G. Wanke). Sobretudo nos
deparamos com linguagem deuteronomstica, alm do complexo C, tambm em
B e A, portanto no apenas num estilo amplo, prolixo, mas tambm em
complementaes sucintas, acrescentadas a textos poticos (bsico neste sentido
W. Thiel, que apresenta uma histria da pesquisa). Deste modo devemos
provavelmente partir do pressuposto de que, em vez de fontes, haja camadas de
tradio (como j afirma S. Mowinckel, 1946): na tradio oral ditos de Jere-
mias foram retrabalhados - alguns, mais, outros, menos - e atualizados ou
at recriados na situao do exlio ou aps o exlio. Por isto a passagem entre
os complexos A, B e C permanece fluida.
No livro de Jeremias devemos contar com um processo de formao mais
demorado e uma redao constituda de vrias camadas. At as passagens
deuteronomsticas no so uniformes, mas mostram diferenas bastante marcan-
tes na sua inteno. Alm de estarem direcionadas para Israel ou israelitas
isolados, visam os povos (l8.7ss.; cf. 12.14ss.); ao lado de denncia de culpa e
ameaa h profecias de salvao em estilo igualmente deuteronomstico (p. ex.
Jr 30s., sobretudo 31.31ss.). A esperana na reconciliao de Deus com Israel
depois do juzo, que se expressa de forma embrionria em complementaes
Obra HistoriogrfIca Deuteronomstica (v. acima llb,4), desenvolvida no
livro de Jeremias (l2.14ss. e outras). Se compreendermos a redao deuterono-
mstica como obra de uma escola que se transforma e ao mesmo tempo se
expande (v. acima lla,2), temos uma explicao para as relaes complexas:
similaridades e diferenas com a Obra HistoriogrfIca Deuteronomstica, que
em si j no uniforme na linguagem; assuno e adaptao da pregao jere-
minica; como tambm, por [lID, irregularidades dentro dos prprios textos de
cunho deuteronomstico do livro de Jeremias.
Metodologicamente podemos distinguir entre:
a) Ditos de Jeremias com complementaes dtr;
b) Ditos em linguagem dtr que, embora se baseiem em um dito "autntico" de
Jeremias, o ampliam;
c) Ditos da redao dtr. sem fundo jereminico.
Uma diferenciao inequvoca, porm, se toma difcil, de modo que, por um lado,
a investigao da histria redacional do livro de Jeremias continua inconclusa; por outro
lado, no h consenso quanto identificao do material autntico. Um exame minu-
cioso do material exige a anlise versculo por versculo, e at de cada parte de
versculo. Ao que tudo indica, a redao interferiu mais profundamente no livro de
Jeremias do que nos livros profticos mais antigos. O exlio significou uma ciso que
influenciou a transmisso da mensagem proftica.
225
2. Na estruturao do livro de Jeremias se realam diversos critrios: em
primeiro lugar, predominam na primeira parte (caps. 1-25) os ditos, enquanto
que na segunda parte (caps. 26-45; 52) predominam os relatos em prosa. Em
segundo lugar, encontramos - de forma parecida como no livro de Isaas -
uma certa estrutura cronolgica quando, p. ex., os ditos do primeiro perodo de
Jeremias (caps. 1-6) antecedem as palavras do segundo perodo (caps. 7ss.), e
os caps. 1-39 se referem ao tempo antes, os caps. 40-45 ao tempo depois da
queda de Jerusalm. Por fim, o livro de Jeremias est dividido em duas ou trs
partes segundo o habitual esquema de cunho escatolgico: primeiro vem a
desgraa, depois a salvao (caps. 29; 30ss.); as profecias de desgraa, por sua
vez, se subdividem em ditos contra o prprio povo (caps. 1-25) e contra povos
estrangeiros (caps. 25.15-38; 46-51).
226
9.22s. Ningum se vanglorie (cf. 1 Co 1.31)
1O(vv.I-16) Complementao: polmica sobre a idolatria (cf. Is 40.19s.; 44.9ss.
e outras)
11 Palavras da aliana
Em 11-20 Confisses de Jeremias (11; 15; 17s.; 20)
11.18-12.6 Perseguio em Anatote por parentes
17.14ss.; 18.18ss. Queixa contra os inimigos (cf. 11.20-12.3;20.11s.)
15.lOss. "Ai de mim, minha me! pois me deste luz!"
(cf. 20.14ss.)
20.7ss. "Tu me seduziste, e eu me deixei seduzir."
13 Ao simblica ou viso (?) do cinto junto ao Eufrates
13.23 Incapacidade de fazer o bem (cf. 2.21s. e outras)
14(-15.4) Liturgia com lamentao do povo (vv. 7-9, 19-22) e resposta de Deus
14.11 Proibio de interceder (cf. 7.16; 11.14; 15.1)
16 Celibato como sinal
17.5ss. Palavra sapiencial (cf. SI 1)
17.19ss. Defesa da santificao do sbado
18 Jeremias com o oleiro
Vv. 7ss. Salvao e desgraa das naes, arrependimen-
to de Deus
19s. Ao simblica, quebra da bilha e incio dos maus tratos (20.1-6)
21.11-23.8 Palavras "sobre a casa real"
Salum/Jeocaz - Jeoaquim - Jeconias/Joaquim
22.15 Josias mostrou-se justo
23.1-4 "Ai dos pastores! " (cf. Ez 34)
23.5s. Profecia messinica (cf. 33.14ss.)
23.7s. Novo credo
23.9-20 Palavras "sobre os profetas"
V. 29 "No a minha palavra fogo?"
24 Viso de dois cestos com figos
11. Jr 25 (vv.15-38) Viso do clice que faz cambalear (como introduo para:)
46-51 Ameaas contra as naes
Os ditos contra as naes nos caps. 46-51, s em parte "autnti-
cos" (sobretudo 46.3-12), esto colocadas em outra seqncia na
verso grega (LXX) e inseridas antes de 25.15ss. Desta forma a
tradio grega apresenta, na estrutura global do livro, a ordem
mais clara - por isto seria a mais antiga?
rn. Jr (29)30-33 Palavras de salvao para Israel
30s. Assim chamado "livrinho (cf. 30.2) de consolao para Efraim"
(Reino do Norte)
"Eu mudarei a sorte do meu povo." (30.3)
O material bsico (sobretudo 31.2ss,15ss.) dirige-se aos habitantes
227
do antigo Reino do Norte. Ser que c e l o texto foi retrabalhado
atravs do complemento "e Jud" (30.3s.; 31.27,31) no sentido
pr-judata?
31.15 Raquel (matriarca de Israel do Norte) chora por
seus filhos.
31.31ss. Nova aliana
32 Aquisio de um campo em Anatote durante o cerco a Jerusalm
V. 15 "De novo se compraro casas, campos e vinhas."
33 Diversas promessas
34 Incio do cerco de Jerusalm. Destino de Zedequias
Libertao e recaptura dos escravos hebreus
35 Exemplo dos recabitas
IV. Jr (19s.)26-29;
36-45 "Biografia de Baruque"
26 Destino de Jeremias depois do discurso contra o templo
Citao de Mq 3.12. Morte do profeta Unas
27-29 Contra os falsos profetas
27 Ao simblica: jugo em sinal da submisso a Nabucodonosor
28 Jeremias e Hananias
Vv. 8ss. O verdadeiro profeta, arauto da desgraa (cf. Dt
18.21s.)
29 Carta dirigida aos deportados para a Babilnia (597)
"Edificai casas, (....) orai pela cidade/nao!"
36 O rolo do livro: surgimento, recitao, destino
37-39 Cerco e destruio de Jerusalm
Consultasde Zedequias,advertnciasde Jeremias e destino do profeta
40-43 Assassinato do governador Gedalias (40-41) e partida para o Egi-
to, contrariando o conselho de Jeremias (42s.).
44 Contra o culto rainha dos cus (cf. 7.16ss.)
45 Profecia para Baruque
"Eu te darei a tua vida como despojo."
V. Jr 52 Depois da observao conclusiva, no final dos ditos contra as
naes (51.64), apndice tirado de 2 Rs 24s.: conquista de Jerusa-
lm, deportao, anistia de Joaquim.
Cf. Is 36-39, tirado de 2 Rs 18-20
3. Conforme indica o livro (1.2s.; 3.6; 25.3; 36.2), Jeremias foi vocacio-
nado no 13 ano de governo do rei Josias, isto , no ano de 627/6, significando
que provavelmente nasceu por volta de 650 (cf. 1.6). Deve ter atuado at
aproximadamente 585 a.C.
Dificilmente ele mesmo era sacerdote - como Ezequiel (1.3) -; vinha,
228
porm, de uma famlia sacerdotal; seu pai se chamava Hilquias (1.1). Jeremias
era natural de Anatote (cf. 1 Rs 2.26), no muito longe, a nordeste, perto de
Jerusalm, de modo que, diferentemente de Isaas, no era oriundo da capital,
mas do interior, como, p. ex., Ams ou Miquias. A procedncia de Jeremias
explica seu posicionamento crtico em relao capital e ao templo (5.1; 7; 26)?
Talvez no seja mero acaso que a tradio de Davi e de Sio ocupem um papel
secundrio ou at nem estejam presentes na expectativa de salvao de Jeremias
(23.5s.); "salvao" (shalom) existe para os exilados tambm fora de Jeru-
salm (29.7).
Enquanto que Osias recebeu a ordem divina de casar e seus filhos se
tornaram testemunhas de sua mensagem de juzo (Os 1; cf. Ez 24.16ss.),
Jeremias teve de manter-se celibatrio e sem filhos, em sinal da desgraa
iminente (16.1ss.). A pregao determinava sua vida (15.17; 20.10). Por causa
dela Jeremias sofreu atentados por parte de sua famlia (11.8ss.) e foi persegui-
do, maltratado, preso e deportado para o Egito. Todavia, encontrou em Baruque
um ajudante, amigo e companheiro no sofrimento (32; 36; 43.3; 45).
Nas quatro dcadas de sua atuao, aproximadamente entre 625 e 585
a.c., Jeremias presenciou acontecimentos to incisivos como a centralizao do
culto por parte de Josias, o declnio da potncia assria e a ascenso da potncia
babilnica, a tentativa dos egpcios de barrar este processo, a primeira conquista
de Jerusalm e a sua destruio definitiva em 587 a.c. (v. acima 2c). No
conturbado princpio da poca exlica, Jeremias foi deportado para o Egito,
onde desapareceu sem deixar vestgios.
Em razo dos acontecimentos principais podemos distinguir, como no
caso de Isaas, trs ou quatro fases na atuao de Jeremias:
a) A primeira fase compreende a pregao durante o reinado de Josias e vai da
vocao de Jeremias at a reforma de Josias, ou seja, aproximadamente de 626 a 622
a.c. A mensagem deste perodo est contida a grosso modo nos caps. 1-6 e finaliza com
uma concluso desoladora (6.27ss.). Os abusos no mbito do culto que so combatidos
no capo 2, ao que parece, so eliminados pela reforma de Josias.
A seguir, Jeremias silencia - de forma semelhante a Isaas - por mais de uma
dcada. Depois da reforma, Jeremias no v mais motivos para atuar em pblico como
profeta ou ele se recolhe, aguardando ou at rejeitando o desenrolar dos acontecimen-
tos? (por causa desta problemtica alguns situaram a vocao de Jeremias, em contra-
dio com os dados apontados pelo prprio livro, apenas depois da morte de Josias.)
Embora mantenha boas relaes com os adeptos da reforma (compare 26.24;
36.10 com 2 Rs 22.12), o prprio Jeremias em parte alguma se manifesta expressamente
a respeito dela. O rei Josias elogiado no por causa da reforma, mas por causa de seu
engajamento em prol de justia social (22.15s.). Ser que a palavra crtica sobre a lei de
Jav (8.8s.) inclui o Deuteronmio ou sua utilizao (cf. lOa,5)?
Como Isaas pronunciou no princpio de sua atividade ameaas contra o Reino do
Norte, tambm Jeremias se dirige no incio - na poca em que a poltica expansionis-
229
ta de Josias se estende ao norte? - aos habitantes do antigo Reino do Norte, que fora
destrudo um sculo antes, e lhes promete converso ou retorno e reconstruo (3.12ss.;
31.2ss.,15ss.). Na sua pregao de salvao dirigida ao Reino do Norte, bem como na
sua crtica ao culto, Jeremias poderia estar influenciado na primeira fase por Osias.
b) No reinado de Jeoaquim, ou seja, at a primeira conquista de Jerusalm (de
aproximadamente 608 a 597 a.C), ocorre uma grande parte dos acontecimentos relata-
dos nos caps. 7-20; 26; 35s.
Depois do interregno de apenas trs meses de Jeocaz/Salum (Ir 22.1Oss.; 2 Rs
23.31ss.), Jeremias toma a palavra to logo Jeoaquim assume o trono, proferindo o
discurso contra o templo, em que o profeta parece se opor ao impacto da reforma de
Josias sobre a autoconfiana dos jerosolimitas. Tambm em outras circunstncias teve
de se confrontar com os sacerdotes (Jr 20; 36.5; cf. j 6.13; 8.8s.), como com o prprio
rei Jeoaquim (22.1s.,13ss.). A opinio deste sobre o profeta transparece na sua reao
leitura do rolo (Ir 36) no ano de 604 a.c.
O tempo do reinado do sucessor de Jeoaquim, Joaquim, tambm chamado Jeco-
nias (Ir 22.24ss.), de novo breve, e sua sorte, infeliz (2 Rs 24.8ss.).
c) No tempo do reinado de Zedequias, entre a primeira e a segunda conquista de
Jerusalm (por volta de 597-587 a.C), situam-se os caps. 21-24*; 27-29; 32; 34; 37-39.
Neste seu terceiro perodo de atuao, Jeremias vive um momento de dura
confrontao com os "falsos" profetas (Ir 27-29) e de crescente perseguio, que
culmina na sua priso (37-39). Contudo, o seu relacionamento com o rei se torna mais
amistoso; Zedequias se dispe a ouvir o conselho de Jeremias - de submeter-se aos
babilnios - , mas no o consegue (Ir 21; 27; 37s.).
d) A ltima e breve poca da queda de Jerusalm at a permanncia forada do
profeta no Egito (depois de 587 a.C) se distingue de outras fases da atuao de Jeremias
(Jr 40-44) somente pela situao completamente alterada em que ocorre, o que no
transparece, contudo, no teor de sua pregao.
Quando, contrariando o seu conselho, o povo foge para o Egito, aps o assassi-
nato do governador Gedalias, Jeremias obrigado a declarar-lhe que mesmo na terra do
Nilo no esto a salvo de Nabucodonosor (43.8ss.) e precisa insistir novamente nos seus
protestos contra a idolatria de Israel (44).
230
antes aos seus opositores (23.9ss.). Tambm a misso referente aos outros povos
e a tarefa de "demolir e edificar" - termos que circunscrevem a pregao
global de Jeremias como mensagem de desgraa e salvao - se inserem antes
na sua atuao posterior, j que no incio decerto somente atuou em Jud/
Jerusalm proferindo lamentaes, acusaes e palavras de ameaa. Assim o
capo 1 j delineia antecipadamente o que Jeremias tem que ameaar, prometer
e suportar - como oferece resistncia e lhe conferida fmneza.
Enquanto a primeira viso abarca de novo toda a pregao com a promes-
sa de Deus: "Eu velo sobre a minha palavra para a cumprir" (1.11s.), a
segunda, do panelo fervendo, contm o anncio da desgraa reservada ao
Reino do Sul: "Do norte derramar-se- a desgraa sobre todos os habitantes da
terra." No mais tardar a se manifesta o "autntico" Jeremias. Esta viso
lembra Ams (8.1s.) na sua estrutura, radicalidade e generalidade e introduz um
tema que Jeremias desenvolve progressivamente: a desgraa vinda do norte
acontece no campo militar (1.15), personificada num inimigo do norte que
inicialmente nem identificado pelo seu nome, (Ir 4-6; sobretudo 6.22), mas
que mais tarde identificado com os babilnios (20.4ss. e outras), at que por
fim Nabucodonosor mencionado pessoalmente. Como nos profetas mais an-
tigos, a potncia estrangeira figura no papel de ajudante de Jav no juzo
(20.4ss.; cf. 1.15 e outras), e mais: Nabucodonosor at considerado "servo"
de Jav, representando o seu senhorio no mundo (27.6ss.; 28.14). No fmal das
contas, porm, o juzo permanece sendo obra exclusiva de Jav (9.10; 10.18;
13.26 e outras).
No faltam denncias sociais em Jeremias (5.1s.,26ss.; 6.6; 22.13ss.; cf. a
citao do Declogo em 7.9 e outras). Pelo menos na primeira fase predomina,
no entanto, a lamentao sobre a transgresso do primeiro e segundo manda-
mentos (Ir 2; cf. 7.16ss.; 44; Sf 1.4ss. e outras). Jeremias at parece estar
influenciado por Osias na escolha dos temas de sua pregao: quando compara
o relacionamento de Deus com o povo a um matrimnio, quando compreende
a marcha pelo deserto como tempo de harmonia anteposto apostasia por
ocasio da entrada na terra cultivada ou quando lana acusaes contra o povo
por adorar deuses estrangeiros e praticar a idolatria, referindo-se em especial ao
culto a Baal com seus ritos. Alis, percebe-se esta influncia de Osias at na
terminologia usada ("ser infiel, prostituir-se"; "abandonar, esquecer" Deus),
embora Jeremias tambm formule com suas pprias palavras:
"Dois males cometeu o meu povo:
a mim me deixaram, o manancial de guas vivas,
e cavaram cisternas,
cisternas rotas, que no retm as guas." (2.13.)
No muito fcil distinguir nesta rea temtica o que "autenticamente"
jereminico e o que redacional; pois a escola deuteronomstica retoma a
231
mesma temtica e terminologia, mas parece apenas reproduzir, tipificar e gene-
ralizar a mensagem de Jeremias (p. ex., 2.20b). - At a culpa humana Jeremias
percebe com a mesma radicalidade de Osias (5.4 e outras):
, 'Ainda que te laves com salitre,
e uses muito sabo para ti,
a mcula da tua culpa permanecer diante de mim."
(2.22; cf. 3.1-5; 17.1,9; 30.12s. e outras.)
A maldade tomou-se como que "a segunda natureza" do ser humano (W.
Rudolph), de que no pode (13.23; cf. 4.22 e outras) nem quer (6.16; 8.5 e
outras) se desfazer. De novo se conjugam compulso interna inevitvel e
vontade prpria, carter e conduta, incapacidade e falta de vontade. Israel tem
"ouvidos incircuncisos" que "no podem ouvir" (6.10). Esta obstinao pare-
ce a Jeremias to desnaturada e absurda como tambm j a considerava Isaas
(1.2s.; 5.1-7):
"Acaso se esquece uma virgem de seus adornos,
uma noiva de seu cinto?
Mas o meu povo se esqueceu de mim,
por dias sem conta." (2.32; cf. 2.lOss.; 6.10; 8.4ss.; 12.8 e outras.)
Procura-se em vo nos becos e praas de Jerusalm por "um homem que pra-
tique ajustia" (5.1); nem o acrisolamento do povo teria sucesso (6.27-30; cf. 9.6).
Diante de um testemunho to impressionante pouco provvel, no s por
motivos lingsticos, mas tambm pelo contedo, que a redao esteja com razo
quando, nos relatos na terceira pessoa, resume a mensagem de Jeremias com o chamado
converso (36.3,7; 26.3).
No contexto da mensagem de juzo a inteno de induzir o povo a penitenciar-se
mencionada apenas uma nica vez nos textos metrificados, e neste caso (23.22b),
provavelmente, se trata de um acrscimo (W. L. Holladay, G. Mnderlein e outros).
Como j acontecia com os profetas antigos (Is 9.12; Os 7.10 e outras), o chamado de
Jeremias ao arrependimento no mais promete a salvao, mas serve para acusar Israel
justamente por no voltar atrs (8.4ss.; cf. 3.1; tambm 23.20 e outras).
Provavelmente este juzo crtico valha para exortaes em geral (cf. 2.lOss.,25;
6.16 e outras), embora tenhamos de ter ressalvas em relao a certas palavras, suspeitas
de serem acrscimos redacionais (como 4.3s.). - Uma funo bem diferente adquire a
exortao, inclusive o chamado ao arrependimento, quando enquadrada dentro da
mensagem de salvao (veja abaixo).
Apesar da diferena que h entre a palavra do profeta e a redao dos livros
profticos, no se pode esquecer que tambm o trabalho redacional pode ressaltar a
impenitncia do povo (7.23s.; 11.8ss.; 18.11s.; 44.5,16 e outras). At que ponto ento o
chamado ao arrependimento constitui uma proposta ainda vlida na situao de exlio?
(Cf. 11b,4.)
232
5. Depois de um tempo de silncio, quando Jeoaquim assume o governo,
Jeremias denuncia a falsa sensao de segurana que o templo confere precisa-
mente depois da reforma de Josias (Jr 7; 26). Nas duas dcadas antes da
derrocada Jeremias conclama o povo - atravs de suas palavras e do seu gesto
simblico de carregar o jugo (Jr 27s.) - a submeter-se dominao babilnica.
Aos babilnios Jav confiou o senhorio sobre o mundo, inclusive sobre o Egito
(43.8ss.). A crtica que Jeremias tece contra os ltimos reis judatas (21.11ss.;
36.30s.) at Zedequias (34; 37s.) no fundo constitui uma faceta de sua mensa-
gem de juzo dirigida ao povo como um todo (8.l4ss.; 1O.l8ss.; 13.12ss.;
15.1ss.; 16.3ss.; 17.Iss.),
Por analogia isto vale tambm para o confronto com os profetas advers-
rios, bem mais acirrado do que em pocas anteriores (Mq 3.5ss.). Aos assim
chamados profetas de salvao ou, como aparecem na anlise retrospectiva (do
texto grego, no ainda no texto hebraico), aos profetas falsos, Jeremias contra-
pe sua percepo de que passou o tempo de salvao e de paz (8.11ss.), de
graa e de misericrdia (16.5; cf. 12.12; 30.5), e at de intercesso (14.11ss.;
15.1ss.). Face a esta situao, a mensagem de salvao emana de um desejo ou
de uma mentira (6.13s.; 23.16ss.; 28.15s. e outras), de sonhos humanos, mas
no da palavra de Deus (23.25ss.).
"No a minha palavra fogo - diz Jav -
e martelo que esmia a penha?" (23.29.)
Enquanto os adversrios de Jeremias protestam contra seu anncio de
desgraa (23.17; cf. 28.2s.), ele contesta a legitimidade deles: "No mandei
estes profetas, todavia eles foram correndo" (23.21,16). A verdadeira oposio
no reside na conduta tica (23.11ss.), mas justamente no anncio do que vir.
Na radicalidade da ameaa de juzo que atingir o povo todo no se percebe
um critrio de autenticidade, mas ao menos um critrio de diferenciao entre
profetismo "autntico" e "falso". Somente na retrospectiva o cumprimento do
anncio do futuro pode confirmar (convincentemente?) qual foi a "verdadeira"
profecia.
6. Uma linguagem que nos livros profticos mais antigos s ressoa vez
por outra ocupa amplo espao no livro de Jeremias: ao lado do dito proftico
dirigido aos contemporneos aparece o dilogo com Deus - em forma de
lamentao. Quando Jeremias profere uma denncia ou um anncio de juzo,
pode faz-lo em forma de lamento.
"Ah meu corpo, meu corpo, tenho de me contorcer (...).
At quando preciso suportar o som da trombeta?"
(4.l9ss.; 8.18ss.; 1O.19ss.; 13.17; 14.17s.)
Jeremias adotou esta categoria literria para assim expressar seus prprios
233
sentimentos? As confisses, controvertidas quanto sua autenticidade, mostram
em linguagem mtrica, formal e impessoal o efeito da mensagem sobre a pessoa
do profeta: "Nunca me assentei na roda dos que se alegram" (15.17). s
perseguies externas correspondem sofrimentos internos que o levam a rebe-
lar-se contra Deus e at a acus-lo (20.7ss.):
"Tu me seduziste, e eu me deixei seduzir;
tu te tomaste forte demais para mim, tu me dominaste."
234
nesta terra." (32.15; cf. 31.5; 33.12s.; alm disso as promessas pessoais: 39.17s.;
45.5; 35.19.)
Em contraposio, a profecia messinica do "renovo justo" (23.5s.) pa-
rece mais esmaecida - tambm em comparao com as promessas do livro de
Isaas que retoma. Em todo caso a tradio davdica no tem importncia
decisiva para Jeremias.
A palavra a respeito da "nova aliana" (31.31ss.; cf. 32.27ss.), que foi
retomada de forma to marcante mais tarde (l Co 11.25 e outras; veja acima
la), dificilmente pode ser atribuda a Jeremias; mas, com a oposio entre o
rompimento da aliana por Israel e a renovao da aliana pelo prprio Deus,
a palavra reflete profundamente a pregao proftica. A percepo da maldade
imutvel do ser humano (Jr 13.23 e outras) suscita a esperana de que o prprio
Deus deposite sua vontade no corao humano, propiciando desta forma obe-
dincia voluntria e com isto o conhecimento de Deus por parte de todos (cf. 24.7).
235
20
EZEQUIEL
236
que foram deportados para a Babilnia por Nabucodonosor em 597 a.C., grupo
que compreendia, alm do rei Joaquim e seu squito, tambm parte da camada
superior da sociedade e artesos (2 Rs 24.108s.). Ezequiel vivia num grupo que
estava assentado em Tel-Abibe (em hebraico: "colina de espigas", em babil-
nio: "colina do dilvio"), junto ao rio ou canal Quebar, provavelmente perto
de Nipur. Ali vocacionado no quinto ano aps o desterro do rei Joaquim, em
593 a.C. (1.1-3; 3.15). Nos poucos anos at a destruio de Jerusalm em 587/6,
de que Ezequiel toma conhecimento de longe, por intermdio de algum que
escapou da catstrofe (33.21s.), se formou o material bsico de palavras de juzo
contra a capital e a nao (caps. 4-24; cf. 8.1; 20.1; 24.1). Do ltimo perodo
desta poca procedem tambm, no essencial, os ditos contra as naes estran-
geiras (caps. 26-32), ao passo que a viso do novo templo, ao que consta, teria
surpreendido o profeta mais de uma dcada depois, em 573 a.c. (40.1; cf.
29.17). Da cronologia, em todo caso, podemos depreender que as palavras de
ameaa remontam poca anterior queda da cidade em 587 a.C, enquanto
as palavras de salvao provavelmente surgiram apenas depois desta data.
A viso do templo de Jerusalm (8-11) suscitou a pergunta se Ezequiel no atuou
tambm na Palestina. Contudo, segundo 8.3; 11.24, a viso se baseia em um arrebata-
mento, um "distanciamento geogrfico" efetuado pelo Esprito, e o profeta poderia ter
tomado conhecimento da situao em Jerusalm - se realmente no obteve as respec-
tivas informaes a partir do passado (com contrao dos tempos verbais?) - atravs
de mensageiros (cf. Jr 29).
Da mesma forma que o celibato teve um significado simblico para
Jeremias (16.2ss.), a morte repentina de sua mulher parece adquirir um signifi-
cado simblico para Ezequiel. Representa a reao de Israel diante da destrui-
o de Jerusalm: "Mas no lamentars, nem chorars!" No mais, tambm a
maneira pessoal de Ezequiel vivenciar a sua pregao de forma psicossomtica,
chegando a tremer, ficar atordoado, mudo ou paralisado (3.15,22ss.; 4.4ss.;
6.11; 12.17ss.; 21.11s.; 33.21s. e outras), incorporada na respectiva forma e
inteno da proclamao, sobretudo no anncio do juzo, de modo que no
devemos considerar tais fenmenos estranhos como sintomas de alguma doena.
237
b) As extensas falas metafricas (alegorias) podem retratar o mesmo
contedo com nuanas e intenes diferenciadas: a imagem de uma ou duas
mulheres infiis (16; 23), da videira (15; 17; 19.10ss.), do fogo (22.17ss.; 24).
Diversas imagens (como a da videira e da guia no capo 17) ou tambm a
imagem e sua interpretao podem se fundir.
c) As minuciosas retrospectivas histricas abrangem, de forma metafrica
(16, de Jerusalm; 23, de ambos os reinos) ou no (20), toda a histria desde
as suas origens obscuras (16.2; 20.7s.; 23.3), apresentando-a com incomum
rigor crtico, como acusao ou ameaa, aos olhos de seus contemporneos.
d) Mais ou menos tpicas so certas expresses idiomticas, como a
frmula de reconhecimento: "reconhecereis (reconhecers ou uma forma verbal
semelhante) que eu sou Jav" (6.7,13s. e passim), que costuma encerrar o
anncio de um ato de Jav \IN. ZirnInerli: palavra de demonstrao); o convite
introdutrio para um assim chamado "gesto expressivo": "volta a tua face
para" (6.2; 21.2,7; 38.2 e outras); a manifestao do prprio Deus sobre si
mesmo, por via de regra destacando no [mal a confirmao ou realizao da
palavra: "Eu, Jav, o disse e o fao" (5.15,17; 17.24; 37.14 e outras; cf.
12.25ss.); e sobretudo o tratamento do profeta por parte de Deus como "Filho
do homem" no sentido de ser humano, indivduo, criatura (2.1 e passim).
e) Ezequiel gosta de retomar tradies profticas, para lhes conferir novos
acentos. Ento, por um lado, d nova vida a concepes conhecidas a partir das
tradies dos profetas pr-literrios, mas relegadas ao segundo plano pelos
profetas literrios: a "mo" de Jav vem sobre o profeta (Ez 1.3; 8.1; 37.1;
40.1 e outras; cf. 1 Rs 18.46); o "Esprito" arrebata Ezequiel (3.12ss.; 8.3 e
outras; cf. 2 Rs 2.16; 5.26); ou, ento, o costume de os ancios se sentarem
diante de Ezequiel na sua casa (8.1; 14.1; 20.1; cf. 2 Rs 6.32). Por outro lado,
a sua pregao (compare Ez 7 com Am 8.2) e fala metafrica (compare Ez 16;
23 com Os 2; Jr 3) retomam a temtica do profetismo literrio anterior, em
especial a temtica de Jeremias.
f) O fato de o prprio Ezequiel ser sacerdote, ou pelo menos filho de um
sacerdote (1.3), torna compreensvel no apenas seu interesse pelo templo e
suas instalaes (especialmente 8; cf. 4Oss.), mas explica tambm a afrnidade
marcante de sua linguagem com o linguajar sacerdotal, especialmente com a
Lei da Santidade(Lv 17-26)- o que no se conhece no profetismo literrioanterior.
238
um "ai" (34; cf. Ir 23). Em particular caracterstico que vrias vezes seguem
aes simblicas (4s.; 12; 37.15ss.) aos relatos de vises (1-3; 8-11; 37); alm
disso os caps. 1-20; 29-32 em regra so ordenados cronologicamente.
239
rouba a ponta dum cedro) e do destino de Zedequias (videira diante
de duas guias: o Egito e a Babilnia)
17.13ss. Quebra da aliana por parte de Zedequias
18 Assim chamada "doutrina da retribuio individual" (cf. 33.lOss.)
O justo e o injusto (cf. SI 15; 24.3ss.). Liberdade para converter-se.
"Eu vos julgarei, a cada um segundo os seus caminhos." (18.30)
19 Lamentao. Fbula da leoa e de seus dois filhotes referente mo-
narquia (Joacaz, Joaquim)
e - na complementao (vv. IOss.) - da videira seca (Zedequias)
20 Retrospectiva histrica do tempo no deserto
Revelao do nome de Jav, transgresso do primeiro mandamento e
do mandamento do sbado
Vv. 25ss. Estatutos ruins, que no conduzem vida
(exigncia da primogenitura)
Vv. 32ss. Acrscimo: juzo no deserto "face a face" e salvao.
Segundo xodo.
21 "Espada" de Jav
VV.23ss. Ao simblica: Nabucodonosor diante de dois caminhos.
O sorteio decide por Jerusalm.
22 A "cidade sanginria" (22.2; 24.6,9)
Vv. 17ss. Na fornalha (cf. Is 1.21ss.)
Vv. 23ss. Prdica s classes sociais. Todos so corruptos.
23 As irms infiis Ool e Oolib,
Samaria e Jerusalm (cf. Jr 3.6ss.)
24 Imagem da panela (enferrujada) no fogo
Vv. 15ss. A morte da mulher de Ezequiel como smbolo da queda
de Jerusalm: nenhum luto.
n. Ez 25-32 Palavras sobre (sete) povos estrangeiros (cf. Am ls.; Jr 46ss. e outras)
25 Contra Amom, Moabe, Edom (cf. cap 35), filisteus
26-28 Contra Tiro (no conquistada por Nabucodonosor, cf. 29.18)
Como j no capo 19 se destaca em 26. 15ss.; 27; 28. 11ss.; 32 a forma da
lamentao. Neste bloco ressoam, com maior intensidade nos caps.
28-32; 47, tradies mticas.
27 Lamentao sobre o navio Tiro
28.1ss. Queda ao inferno do ser celestial (cf. Is 14; Ez 31.14ss.;
32. 17ss.)
28. 11ss. Lamentao: o rei, como o primeiro homem, expulso
do jardim de Deus (cf. Gn 3)
28.20ss. Contra Sidom e promessa para Israel
29-32 Contra o Egito (cf. 17.7ss.,15ss.)
O fara como crocodilo (29; 32) e rvore gigantesca (31; cf. Dn 4)
m. Ez 33-39 Palavras de salvao
Apresentando correspondncias com os caps. 1-24, o capo 33 marca
a transio da mensagem de desgraa para a mensagem de salvao
240
33 Nomeao para o cargo de atalaia (cf. 3.16ss.)
Vv. lOss. Prdica de converso: o justo e o injusto (cf. capo 18)
Vv. 21s. Notcia da queda de Jerusalm (cf. 3.26s.; 24.25ss.)
Vv.23ss. Contra a segurana dos que permaneceram no pas e dos
deportados (vv. 30ss.)
34 Os pastores malvados de Israel (vv. 1-10) e o pastor verdadeiro -
Deus (vv. 11ss.) e seu servo Davi (vv. 23s.; 37.22ss.; cf. Jr 23)
Vv. 25ss. Aliana de paz
35-36.15 Juzo sobre Seir/Edom (por causa de sua conduta durante e depois da
queda de Jerusalm; cf. Ob; Is 34; 63) e salvao para os montes de
Israel (cf. capo 6). Contra a pretenso dos inimigos de se apossarem
da terra.
36.16ss. Purificao de Israel. Novo corao e novo esprito (vv. 26s.; 11.16ss.)
37 Viso da revivificao das ossadas; nova vida e retomo do povo
Vv. 15ss. Ao simblica: juno de duas varas com a inscrio
"Jud" e "Jos" representando a unificao do Reino
do Sul com o Reino do Norte
38s. Assalto a partir do Norte (cf. Jr 4-6) sob Gogue, da terra de Magogue,
o principe de Meseque e Tubal. Seu aniquilamento. Segurana para o pas.
IV. Ez 40-48 Viso do novo templo. Assim chamado "projeto constitucional" de
Ezequiel (em diversos estgios de formao)
40 Conduo do profeta por um anjo. Medidas bsicas do
santurio.
43 Retomo da glria de Jav para o templo
44 Servos no santurio. Levitas e sacerdotes
45s. O "prncipe" (cf. 44.3; tambm Ed 1.8)
47 Fonte do templo (rio do paraso; cf. Gn 2.lOss.; Zc 14.8)
47s. Distribuio da terra
241
de Israel", considerada "casa rebelde", toda a responsabilidade, mas ja se
antecipa que ela o reconhecer apenas na retrospectiva. Para poder resistir s
objees daqueles "que no querem ouvir", Ezequiel recebe uma testa dura
como diamante (3.5ss.; cf. 2.6ss.; 12.2ss e outras). Enquanto a viso introdutria
lembra Is 6, a promessa de frnneza em meio a todas as hostilidades um
prolongamento de Jr 1 (vv. 17ss.). Tambm a recepo simblica da mensagem
se processa de tal forma, que uma metfora de Jeremias (15.16; cf. 1.9)
transformada numa experincia visionria: Ezequiel tem de ingerir um rolo de
livro, onde em ambos os lados esto inscritas "lamentaes, suspiros e ais",
que, no entanto, tinham um gosto de mel (2.8-3.3).
242
o juzo acontecer em breve: "O tempo vem, o dia se aproxima." (7.7.)
Como no livro de Isaas (5.19), tambm no livro de Ezequiel (12.21ss.) ressoa
o sarcasmo que esta expectativa da proximidade do fim desperta nos ouvintes.
243
8. Nos captulos 3.17-21; 18; 33.1-20; mas tambm em 14.1-20 h seme-
lhanas surpreendentes que fazem destas passagens um conjunto que se destaca
do seu contexto. As similaridades se manifestam na preocupao com o indiv-
duo, na proposta da converso e na incorporao de aspectos jurdicos. Ser que
todos estes textos no so da autoria de Ezequiel (H. Schulz) ou eles fazem
parte da fase mais tardia de sua pregao, ou seja, so de depois de 587 a.C?
O livro de Ezequiel introduz o anncio da salvao com uma espcie de
segunda vocao (33.1-9; antecipada em 3.17ss.). O ministrio do profeta
ampliado pelo de atalaia ou sentinela (cf. Jr 6.17), que deve alertar diante do
perigo, de modo que o perverso possa renunciar iniqidade e ser salvo. Com
isto se restringe a responsabilidade do profeta pelos atos e o bem-estar do
ouvinte. Cabe a ele apenas executar fielmente a sua tarefa, enquanto o prprio
ouvinte assume a responsabilidade pelos seus atos. Para tal converso pessoal,
a mensagem de desgraa praticamente no deixava espao (cf. Ez 15; 2.5ss. e
outras). A possibilidade de converter-se, que o capo 18 desenvolve amplamente,
s surge de fato a partir da promessa de salvao?
O ditado amargo: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos
que se embotaram" (18.2; cf. Jr 31.29) capta a autocompreenso daqueles que
j foram atingidos pela catstrofe: "O caminho de Jav no direito." (Ez
18.25ss.; 33.17ss.) No entanto, parece que esta citao no apenas expressa uma
experincia histrica, mas tambm contradiz a mensagem (anterior) de juzo do
profeta, que atribui culpa a diversas geraes sucessivas, responsabilizando-as,
assim, pelo juzo (16; 23). A isto Ez 18 contrape agora, incorporando tradies
jurdicas da liturgia de entrada no templo (SI 15; 24.3ss.), a responsabilidade de
cada nova gerao, inclusive a responsabilidade pessoal, e acena com a possi-
bilidade de uma nova vida:
"Acaso tenho eu prazer na morte do perverso? - diz Jav -; no desejo eu
antes que ele se converta dos seus caminhos, e viva?" (Ez 18.23; cf. 33.lOss.; 14.6).
Assim a responsabilidade individual de cada um por sua prpria vida
afirmada de uma forma que o profetismo mais antigo ainda desconhecia, mas
que incorporada no profetismo de salvao mais recente (Is 55.7; 44.5 e outras).
244
21
DUTERO-ISAAS E TRITO-ISAAS
245
crtica aos sacrifcios (43.22ss.) mostra: culpado o povo, no Jav. Mas o
povo continua "cego" e "surdo" (42.l8ss.; 43.8; cf. 6.9s.; Jr 5.21; Ez 12.2) e
insensvel diante da mensagem de consolao de DtIs como havia ficado
tambm diante dos anncios de juzo de seus antecessores. Assim a contradio
entre a palavra do profeta e a realidade com que o povo convive no menor
do que anteriormente, na poca do profetismo de juzo. Caso interpretemos os
cnticos do servo de Deus (sobretudo Is 53) em sentido autobiogrfico, DtIs at
sofreu perseguies e foi morto.
Embora DtIs utilize vez por outra gneros literrios do profetismo literrio
anterior, como o relato de uma viso ou de uma audio (40) ou a exortao,
o centro gravitacional se desloca por completo. As categorias literrias decisivas
so de "origem no-proftica" (J. Begrich):
a) O assim chamado orculo de salvao, originalmente uma palavra de
conforto pronunciada pelo sacerdote e dirigida a pessoas atribuladas a quem
prometia que seu pedido seria atendido (cf. 1 Sm 1.17; Gn 21.17; Lm 3.57; v.
abaixo 25.4b), transferido por DtIs para a totalidade do povo: "No temas,
Israel!" Aps um vocativo, que identifica o destinatrio, e o apelo para nada
temer, Deus pronuncia, na primeira pessoa (no pretrito perfeito), a promessa
de redeno em si: "Eu te remi". Esta promessa desenvolvida ento atravs
da descrio das conseqncias que acarreta para a pessoa a que se dirige (no
imperfeito): "Quando passares pelas guas, eu serei contigo." A unidade cos-
tuma concluir com uma indicao sobre a fmalidade e o objetivo da interveno
divina (Is 43.1-7; 41.8-13,14-16; tambm 44.1-5 e outras). Em geral o orculo
de salvao apenas alude indiretamente, mas s vezes tambm se refere de
forma explcita (cf. 49.14; 51.9ss.) lamentao precedente do povo. Ser que
DtIs proferiu suas palavras no culto, em cerimnias de lamentao da comuni-
dade (Zc 7; 8.19; H. E. v. Waldow)? A liberdade, porm, com que o profeta
maneja os gneros literrios faz supor que a pregao proftica esteja desvin-
culada do culto.
C. Westennann distinguiu entre orculo de salvao (ou promessa de salvao) e
textos como Is 41.17-20; 42.14-17 ou 43.16-21, que denominou anncios de salvao.
A estes falta o tratamento pessoal atravs de vocativo e a exortao ao destemor e se
expressam na forma verbal do futuro, no do pretrito perfeito. Como, porm, apenas
o orculo de salvao apresenta uma estruturafechada com Sitz m Leben originalmente
prprio (no culto), teremos de interpretar os textos mencionados como variantes e
diferenciaes profticas da forma bsica do orculo de salvao.
b) Nas controvrsias ou polmicas, que j eram utilizadas pelos profetas
literrios mais antigos (Am 3.3-6.8; Jr 13.23; v. acima 13b3,d), mas que agora
so ampliadas, DtIs procura se defender contra acusaes. Em regra, no entanto,
tais acusaes no so mencionadas; precisam, portanto, ser inferidas. O profeta
do exlio defende o direito e a necessidade de sua pregao, atualiza verdades
246
da f negligenciadas e esquecidas, interpreta e desenvolve a partir desta "base"
as "concluses [mais": "Os que esperam em Jav renovam as suas foras."
(Is 40.27-31,12-17,21-24; 46.5ss. e outras.) Caractersticas para esta categoria
literria so perguntas - apenas retricas, simuladas ou, ento, de verdade?-,
elementos lingsticos sapienciais e tambm particpios hnicos que costumam
celebrar o poder do Criador, a incomparabilidade de Jav ou a confiabilidade
da sua palavra.
c) Nos discursos de tribunal DtIs dificilmente reproduz um ritual cultual,
mas antes um julgamento profano dos ancios junto ao porto da cidade. As
mltiplas categorias literrias que a emprega, como a convocao ao tribunal
(43.22ss.) ou tambm as falas diante do tribunal (44.6ss.), se refletem na
pregao de DtIs. Temos de diferenciar quanto ao contedo entre a defesa de
Jav diante de acusaes de Israel (43.22-28; cf. 50.1-3) e as confrontaes,
mais freqentes, entre Jav e os povos ou seus deuses, tpicas para DtIs
(41.1-5.21-29; 43.8-13; 44.6-8). Ser que neste segundo caso concepes mti-
cas de um tribunal de deuses (SI 82) so atualizadas de acordo com um
momento determinado da histria?
d) Por fim, h hinos escatolgicos (cf. 25,4a) que convocam todo o
mundo a participar do louvor e do jbilo pela salvao concedida por Deus no
futuro, mas que j irrompe aqui e agora (42.10-13; 44.23; 45.8; 48.20s.; 52,9s.).
Os pequenos cnticos de louvor parecem ser ocasionalmente importantes para
a diviso do livro (C. Westermann), visto que podem finalizar composies
maiores (como evidente em 44.23).
J foi o prprio DtIs quem efetivou a juno das unidades menores em
unidades maiores (como j acontece em Is 40.12-3l)? O profeta logo teria,
ento, formado composies literrias mais amplas? Teria ele atuado (talvez
exclusivamente)como profeta escritor? Ou a redao interveio de forma criativa
no processo de fixao por escrito da pregao? O reconhecimento da eficcia
da palavra de Deus (40.8; 55.10s. com a promessa do retorno em 40.tOs.;
55.12s.) forma a moldura do livro. Tambm se costumam contrapor os caps.
40-48, onde Ciro desempenha um papel importante, aos caps. 49-55, que
anunciam de forma mais genrica a virada da salvao. Ambas as partes,
entretanto, esto interligadas, p. ex., pelos cnticos do servo de Deus, a espe-
rana de voltar ao Sio, etc. A ordem: "Clama!" (40.6), as citaes dos
ouvintes (40.27 e outras), as unidades menores - que podem ser delimitadas
com maior ou menor preciso, por seu contedo e sua forma - e a estrutura
rtmico-potica rigorosa, bem diferente do livro de Ezequiel, mostram que
tambm na base de Is 40-55 esto palavras isoladas, pronunciadas oralmente,
que foram posteriormente ordenadas e transformadas em unidades temticas e
querigmticas. Alm disto devemos contar com certos acrscimos, entre os
quais de modo geral devemos incluir toda a polmica contra os dolos (v. abaixo).
247
o quadro geral abaixo aponta apenas alguns poucos temas-chaves:
40 Prlogo. "Viso" de vocao (vv. 1-8,9-11)
Incomparabilidade de Deus. Controvrsias (vv. 12-31)
41.8ss.; 51 Abrao
44 Derramamento do Esprito (vv. 1-5). Polmica contra as ima-
gens (vv. 9ss.)
41; 44.24ss.; 45.1-7 Ciro
46s. Queda da Babilnia. 47: cntico de zombaria
42; 49; 50; 53 Cnticos do servo de Deus
51.9ss. "Desperta (...), brao de Jav!" Lamento e resposta de Deus
52.7-10 Cntico escatolgico da ascenso ao trono (cf. SI47; 93; 96-99)
54 Aliana de No (vv. 9s.)
55 Promessa de Davi (vv. 3ss.). Eplogo
"Meus pensamentos no so os vossos pensamentos."
248
de ser genrico e atemporal, e passa a referir-se a algo concreto: indica o limite
e o fim do poder dos opressores (51.12s.; 40.24; 41.11s.). Alm disso a promes-
sa: "A palavra de nosso Deus permanece eternamente" (cf. 44.26; 45.19; j Jr
1.11s.; Is 9.7 e outras) refora a constncia e intencionalidade da palavra de
consolao anterior. Dificilmente se pode expor de forma mais clara do que
atravs do episdio celestial que a promessa de salvao no depende da
conduta dos atingidos, mas unicamente de uma transformao do prprio Deus
(43.25; 48.9ss.).
249
retorno de Jav para Jerusalm, etc. tambmh correlaes com o profetaEzequiel, que
atuou um pouco antes (cf. D. Baltzer).
Embora a mensagem de consolao de DtIs se concretize j na expectativa
de retomo, reunificao do povo e reconstruo de Jerusalm, ela de novo
radicalizada e atualizada atravs da evocao de uma figura histrica. Assim
como os profetas mais antigos compreendiam os assrios ou babilnios como
instrumentos do juzo de Jav, chegando Jeremias ao ponto de designar Nabu-
codonosor "servo" de Jav (25.9 e outras), DtIs considera o rei persa Ciro
"pastor" de Jav (44.28) e at o "Ungido" (Messias: 45.1; cf. 48.14). No
so mais os reis de Israel, mas Ciro quem governa, a mando de Jav (41.25).
Por conseguinte, Ciro no tem significncia por si mesmo, mas recebe o
encargo de conquistar a Babilnia e libertar os exilados s dentro do contexto
maior da obra salvfica de Jav: "Ele cumprir tudo o que me apraz." (44.28
numa autopredicao de Jav, vv. 24ss; cf. 41.2ss.,25ss.; 45.13; 46.11 e outras).
O aspecto "poltico" constitui como que uma parte do aspecto "teolgico", da
f e da esperana, numa perspectiva histrica. Em ltima instncia o prprio
Jav que conquista a vitria (42.13; 49.24s. e outras).
250
41.6s.; 44.9ss. e outras). Todavia, as descries da confeco das imagens
decerto devem ser consideradas inseres posteriores - como tambm aconte-
ce com declaraes polmicas similares nos livros profticos mais antigos (Is
2.8; 17.8; Jr 10 e outras). Nestes trechos a f em Jav mostra sua peculiaridade
e superioridade, contrapondo-se s outras religies, chegando mesmo a carica-
tur-las. Professa o nico Deus vivo, que no pode ser representado de forma
alguma e incomparvel (cf. SI 115; 135).
251
Esta salvao de forma alguma se restringe aos que so atingidos direta-
mente, mas se concretiza visivelmente diante de todo o mundo (40.5; 52.10) e
at inclui todos os povos. DtIs radicaliza sua viso da atuao exclusiva de
Deus na criao e na histria, utilizando para tanto declaraes de Deus sobre
si mesmo: Eu crio a luz e as trevas, concedo a salvao e a desgraa (45.7),
"Eu sou o primeiro, e eu sou o ltimo, e alm de mim no h Deus" (44.6;
48.12 e outras). Assim espera que futuramente os povos reconheam esta verdade:
"Diante de mim se dobrar todo joelho
e jurar toda lngua:
To-somente em Jav h salvao e fora."
(45.23s.; cf. 45.3,6,14s.; 49.26; 43.10.)
Assim Dtls reala o primeiro mandamento no s em controvrsias atuais,
mas espera que futuramente seja cumprido em todo o mundo. Para que isto
acontea o prprio povo de Deus incumbido de atuar como "mensageiro"
(42.19) e "testemunha" (43.10,12; 44.8): "Eis que chamars a uma nao que
no conheces" (55.5). Dificilmente se trata aqui de uma "misso" de Israel,
mas, antes, da expanso do povo de Deus mediante a integrao de estrangeiros
(cf. 56.3ss.; Zc 8.20ss.).
252
da de forma mais ampla em dois sentidos: em termos de eficcia e de sofrimen-
to. Em um discurso na primeira pessoa, que lembra o formulrio de vocao de
Jr 1, o servo relata aos povos em Is 49.1-6 como foi comissionado, j antes de
nascer, a no apenas "restaurar e tomar a trazer" Israel, mas tambm a ser "luz
para os povos", a fim de que a salvao de Jav alcance os confins da terra.
Como ponte parece funcionar o terceiro cntico, Is 50.4-9, de novo formulado
na primeira pessoa do singular, apresentando os dois temas: a incumbncia do
servo de pregar, usando como instrumento a lngua.e o ouvido, de um lado, e
a assistncia de Deus e a frnneza do servo no sofrimento, de outro. Auge e
ponto fmal o quarto cntico, onde duas falas de Deus (52.13-15; 53.11b-12)
- de novo situadas num episdio celeste? - emolduram o relato e a profisso
de f de um grupo que fala na primeira pessoa plural (53.1-11a): "Ele tomou
sobre si as nossas enfermidades." As palavras de Deus reforam o triunfo e a
exaltao do desprezado, que sofre no lugar dos outros: o justo far com que
"muitos" (decerto todos os povos) sejam tornados justos, carregar sua culpa
e reis emudecero diante dele (53.11s.; 52.15). As afirmaes centrais sobre
morte, sepultura e - em aluso reticente e velada - nova vida, os enunciados
sobre a justificao de todos e o reconhecimento universal do humilhado trans-
cendem a experincia historicamente possvel.
Como em todo o livro de Dutero-Isaas encontramos tambm nos cnticos do
servo de Deus elementos dos salmos, sobretudo dos salmos de lamentao e de confian-
a no Senhor e da literatura sapiencial. Predominam contudo duas tradies, que se
juntam, surgindo ento algo inauditamente novo (cf. 52.15).
Da tradio real-messinica provm, p. ex., em Is 42 o cerimonial da corte, o
tratamento de "servo eleito", que Deus toma pela mo (SI 89.4,20ss.), a vinculao da
doao do Esprito com a jurisprudncia e a prtica da beneficncia (2 Sm 23.2s.; Is
l1.2ss.). Ou em Is 49 provm desta tradio a palavra da vocao junto com a entrega
de um ttulo (SI 2.7) e a concesso da palavra incisiva (ls 11.4).
Este fio traditivo retomado e reinterpretado em Is 42 e 49 pela tradio prof-
tica, que sabe do ministrio da palavra e do sofrimento e que se impe em Is 50.
Chamam a ateno as afinidades com o livro de Jeremias, especialmente com as
confisses (12.5s.; 11.19 e outras).
Com seu referencial universal que lembra Is 42, no entanto, Is 53 retoma a
tradio rgia, mas a corrige (53.2) e transcende, como a todas as manifestaes de
sofrimento formuladas no profetismo e no Saltrio.
O ttulo honorfico "servo (de Deus)" concedido no AT a Moiss, a
profetas (44.26), reis, at ao prprio Messias (Ez 34.23s.; Zc 3.8 e outras), de
sorte que o conceito no oferece muita ajuda na interpretao da difcil pergun-
ta: quem o servo? As respostas so muito desencontradas: a) A interpretao
coletiva reconhece no "servo" o prprio Israel, seja como o povo todo, seja
como a comunidade do exlio, e pode invocar a seu favor o contexto (Israel
como servo em 44.1s. e outras) e Is 49.3. Neste texto, porm, "Israel" repre-
253
senta provavelmente uma insero, j que o servo recebe uma incumbncia
relacionada com Israel (49.5s.) e, ao contrrio do povo "cego e surdo", aceita
de bom grado sua sina (40.5s.). b) A interpretao individual pode lembrar
pessoas no futuro, passado ou presente e dispe de um leque de opes bastante
amplo: 1) A tradicional compreenso escatolgico-messinica tem contra si o
fato de que o servo no nenhuma figura davdica e de que incumbido da
tarefa de conduzir Israel, em sua poca, de volta para sua terra. Os cnticos
decerto no pretendem ser profecias destinadas a tempos posteriores, mas que-
rem - como acontece com a pregao escatolgica de DtIs em geral - atingir
a situao presente. 2) O servo foi identificado com diversas personagens do
passado, sejam reis ou profetas. Na verdade, os nicos que poderiam entrar em
cogitao so Moiss, tal qual aparece na tradio mais recente (Nm 12.3; x
32.31s. e outras), e Jeremias, cuja herana literria oferece, afmal, vrias afrni-
dades com o servo. 3) A compreenso autobiogrfica, ou seja, de que se trata
do prprio DtIs, a mais aceita atualmente (cf. j At 8.34) e pode invocar a
seu favor que se atribui ao servo a misso da pregar e que no segundo e terceiro
cntico se usa a forma do discurso na primeira pessoa do singular. Tem que
atribuir, no entanto, o quarto cntico, que tambm apresenta certas peculiarida-
des lingsticas, a outro autor, provavelmente integrante do crculo de discpulos
de DtIs (' 'ns' ').
As dificuldades que a interpretao autobiogrfica apresenta podem ser resumidas
em duas questes bsicas. Primeiro: por que a apresentao do servo de Deus em Is 42
no foi incorporada no relato da audio em Is 40? Ser que necessria uma espcie
de segunda vocao porque a misso de DtIs junto a Israel ampliada, atingindo ento
a todos os povos? At que ponto, porm, o profeta realmente assume esta pregao
universal (cf. 42.10; 43.10; 52.10 e outras)?Segundo: ser que os trs primeiroscnticos
no apontam j de antemo para Is 53, de modo que estes quatro textos deveriam ser
compreendidos como uma nica unidade? Como o grupo de discpulos pode confessar
na retrospectiva, em relao a seu mestre, que ressuscitou aps a morte e que carregou
a culpa de "muitos"?
Afinal, as declaraes que constam de Is 53 e que transcendem todas as
experincias histricas no se tomam mais compreensveis se as entendermos
como anncios do futuro? plausvel, pelo menos, que os cnticos do servo de
Deus tenham influenciado as expectativas messinicas mais recentes, visto que
Zc 9.9s. espera por um rei "justo, humilde" que pregue a salvao aos povos
(cf. tambm a aluso obscura ao "Ttaspassado", Zc 12.10).
A expectativa escatolgica imediata de DtIs no se cumpriu da forma
como ele mesmo a descreveu: a destruio da Babilnia, o retomo glorioso do
povo, o reconhecimento de Jav por parte de Ciro (45.3), etc. Mesmo assim a
esperana de que Deus se revelar no futuro e assumir o seu reinado mantida
e transmitida, talvez j por um discpulo de Dutero-Isaas, o assim chamado
'frito-Isaas.
254
8. Como B. Duhm percebeu (1892), os caps. 56-66 formam um complexo
literrio independente. Todavia, continua controvertido se realmente se trata de
uma unidade e no antes de uma composio de pequenas colees de palavras
de pocas diferentes. H concordncia de que pelo menos as profecias de
salvao no ncleo do livro, os caps. 60-62, devem ser atribudas a um profeta
da poca imediatamente posterior ao exlio, portanto j da poca persa. Este
teria atuado (em Jerusalm) depois de 538, mas talvez ainda antes da recons-
truo do templo em 520-515 a.C.
Na estrutura do livro se reconhecem diversas camadas que envolvem este
ncleo mencionado. A camada interior que circunda o ncleo, constituda de
duas lamentaes do povo: uma, estruturada de forma solta (59) e a outra, mais
fechada (63.15ss.). A resposta a ambas as lamentaes est na promessa de
salvao, que se encontra no ncleo. Numa camada intermediria h palavras
de acusao (56-58; 65s.), s quais se acrescentaram anncios de salvao em
forma de intercalaes (57.14ss.; 65.17ss.) ou de apndices (66.6ss.). As pala-
vras mais externas da moldura lembram em proporo menor (56.1-8) e mais
abrangente, quase j apocalptica (66.18ss.) a ampliao da comunidade para
alm dos limites existentes na poca pr-exlica.
56.1-8 "Lei da comunidade" . Admisso de estrangeirose eunucos (contraDt 23)
,'A minha casa ser chamada casa de orao para todos os povos." 01. 7.)
56.9-57.13 Vrias acusas
(oriundas da poca pr-exlica e atualizadas?)
56.9ss. Contra pastores (cf. Jr 23; Ez 34)
57.3ss. Contra a idolatria, prostituio
57.14ss. Palavras de conforto para os humildes e abatidos
58 Assim chamada "prdica do jejum" (cf. Zc 7s.). Exortao sobre o
jejum correto:
"Por que jejuamos ns, e tu no atentas para isso?" (V. 3.)
"Reparte o teu po com o faminto, (...) e se vires o nu, cobre-o!" (Y. 7.)
59 "Liturgia proftica" com elementos de lamentao, acusao, confis-
so de pecados (v. 12) e a promessa de Deus
"No, a mo de Jav no muito curta." (V. 1.)
60-62 Palavras de salvao para Jerusalm. Glorificao do Sio
60 Peregrinao dos povos para o Sio (cf. Is 2; Ag 2)
61.1-3 Ministrio proftico da consolao
61.6 "Mas vs sereis chamados sacerdotes de Jav!" (cf. x 19.6)
63 Retomo de Deus aps o julgamento dos povos, sobretudo Edom (vv. 1-6).
Retrospectiva histrica, com meno especial de Moiss, em tom de
lamentao (vv. 7-14)
63.15-64.11 Lamento do povo com splicas, perguntas (cf. Lamentaes)
Abrao no, mas Deus nosso Pai (63.16; 64.7)
"Oh! se fendesses os cus!" (63.19,15)
255
65 Justos e perversos (vv. 1-16)
"Somatrio" das expectativas escatolgicas de salvao (vv. 17ss.)
"Pois eis que eu crio novos cus e nova terra." (65.17; 66.22.)
66 Crtica do templo: "O cu o meu trono" (cf. 1 Rs 8.27)
Alegria pela riqueza de Jerusalm (vv. 7ss.)
O autor annimo destas profecias de salvao, convencionalmente chama-
do de "Trito-Isaas" (TtIs), assim descreve sua autoridade e sua incumbncia:
.'o esprito do Senhor Jav est sobre mim,
porque Jav me ungiu;
enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres,
a curar os quebrantados de corao
e proclamar a liberdade aos cativos (...)."
(61.1-3; cf. quanto ao tratamento na primeira pessoa do singular: 62.1,6; quanto
questo em si: 57.14; 66.2.)
Este profeta parece compreender-se a si mesmo como discpulo de DtIs,
retoma inclusive literalmente a sua mensagem de salvao e a renova sob as
circunstncias alteradas de sua situao. A mensagem atualizada de Dtls adqui-
re assim um tom mais genrico ou at um sentido figurado (compare sobretudo
4O.3ss. com 57.l4s.). Contudo, mesmo na misria econmica de sua poca,
onde se evidencia de maneira desanimadora que a promessa de salvao de DtIs
no se cumpriu, TtIs insiste em anunciar a virada salvfica e em proclamar sua
esperana na glorificao de Sio. A orientao pelo futuro de Deus deve
mesmo assim determinar a conduta do povo:
'Dispe-te, resplandece;
porque vem a tua luz,
e a glria de Jav nasce sobre ti!"
(60.1s.; cf. 56.1.)
256
mensagem de salvao que retoma DtIs (60-62; cf. 57.14ss.; 65.17ss.; 66.6ss.)?
Tambm as palavras em que se divide a comunidade em dois grupos: "perver-
sos" e "fiis" (57.19ss.; 65; 66.5) parece que espelham tempos mais recentes.
Em todo caso as circunstncias ps-exlicas oportunizam que se retomem a
denncia de culpa e o anncio de castigo que o profetismo antigo continha,
embora agora se restrinjam a grupos especficos.
Alm disto TtIs espera que, servindo a Israel, os povos sejam includos na
salvao vindoura (60.3s.,9; 61.9; 66.12,20; j 49.22s.) e no experimentem o
juzo de Deus (63.1ss.; 60.12; 66.15s.,24). Nas palavras [mais (mais recentes)
do livro, porm, qualquer particularismo sobrepujado pela expectativa univer-
sal de que Deus congregar a todos os povos, mostrar-lhes- sua glria e at
escolher entre eles - dispensando a legitimao por genealogias sacerdotais
- "sacerdotes e levitas" (66.18,21; cf. MI 1.11; Sf 2.11).
257
22
AGEU, ZACARIAS,
DUTERO-ZACARIAS, MALAQUIAS
258
2.6-9 Promessa incondicional: peregrinao dos povos para o Sio (cf. Is 2; 60; 66.20)
Ill. Povo impuro
2.10-14 Instruo (Tor) do sacerdote sobre o que puro e o que impuro (cf. Lv
1O.lOs.), atualizada pelo profeta
IV. Expectativa messinica
2.20-23 Promessa incondicional: estremecimento e pacificao do mundo
ZorobabeI, sinete de Jav
Embora Ageu analise a situao geral com sobriedade, com suas pergun-
tas e exortaes chega concluso: a reconstruo da casa de Deus tem
prioridade sobre a melhoria das prprias condies de moradia (1.4,9; cf. 2 Sm
7.2). O Esprito de Deus tambm est com a obra (Ag 2.5; 1.13), de sorte que
ela ter xito. A carestia enviada pelos cus (1.lOs.) se transformar em salva-
o: "Mas desde este dia vos abenoarei" (2.19; Zc 8.9ss.). Mais ainda: em
breve Deus abalar cus e terra, para que os povos tragam seus tesouros, a fim
de que o futuro templo supere em brilho o templo destrudo: "Minha" - de
Jav, no de Israel - " a prata, meu o ouro." (Ag 2.6-9.) Portanto, a
salvao que profetas anteriores como Dutero-Isaas e fito-Isaas esperavam,
ainda est por vir, mas j irrompe com o novo templo (2.9).
De fato Ageu tem sucesso com seu apelo; a obra inicia logo em seguida
(1.12ss.) e tem continuidade (2.1ss.; Ed 5.1s.; 6.14). Mas Ageu negou a um(a)
(parcela do) povo a participao na obra e com isto o acesso ao templo? A
instruo sacerdotal sobre o que puro e o que impuro, que alerta sobre o
perigo e o poder da impureza, conflui para a percepo proftica: "este povo",
apesar de todas as obras de suas mos e de seus sacrifcios, impuro (2.10-14).
Costuma-se atribuir (desde J. W. Rothstein) a designao imprecisa "este
povo" populao do antigo Reino do Norte, portanto queles que seriam mais
tarde os samaritanos (Ed 4), a populao que, depois que foi reassentada fora
pelos assrios, teve de assimilar levas de estrangeiros com suas respectivas
religies (2 Rs 17). Ageu j segrega a comunidade deste grupo, para rechaar
de antemo um eventual sincretismo da f em Jav? Ou ser que Ageu tacha,
tal qual seus precursores profticos (cf. apenas Is 6.4; Ez 36.25; 37.23), seu
prprio povo de "impuro" (K. Koch)? 'Ianto maior seria ento o contraste entre
a promessa de salvao por parte de Deus e a situao deste mesmo povo.
Ageu incentiva o comissrio persa, designado para atuar em Jud, Zoro-
babeI, neto do rei Joaquim, deportado em 598 a.c. para a Babilnia, e o sumo
sacerdote Josu a reconstrurem o templo (2.2ss.; 1.1,12) - as instituies
poltica e sacerdotal esto lado a lado na poca ps-exlica. Na ltima parte do
livro Ageu atribui ao davidida Zorobabel dignidade messinica. Dentro do
contexto do estremecimento do mundo (2.6,21) o prprio Deus destroar os
instrumentos de guerra dos povos e instalar seu representante no seu reino de
paz (2.22s.). Com isto Ageu parece que renova expectativas de Isaas (9.3ss.),
ampliando-as para o nvel universal; pelo menos vincula as tradies de Sio e
259
de Davi. Entretanto, a linguagem expressa a nova situao: Zorobabel "elei-
to" para ser, ao atuar como "servo" de Jav (Ez 34.23s. e outras), sinete na
mo de Deus (contraposto a Jr 22.24).
Tambm Ageu se enganou com sua expectativa escatolgica iminente
(2.6ss.,20ss.), mas plasmou a realidade, ao incentivar a reconstruo do templo,
de sorte que marcou por longo tempo a histria de f do Israel ps-exlico e
sobretudo manteve viva, em sua situao, a esperana no futuro de Deus.
2. Pouco tempo depois de Ageu, talvez apenas dois meses depois, surge
Zacarias, que atua por pelo menos dois anos, entre 520-518 a.c. (cf. Ag 1.1
com Zc 1.1; 7.1). O profeta mais novo prossegue com a pregao de salvao
do seu predecessor, mas a supera em seu alcance universal (1.7ss.; 6.1ss.) e no
profundo reconhecimento da culpa (5.5ss.). Alis, Zacarias retoma temas de
seus precursores profticos: a dedicao de Deus a Jerusalm, a purificao da
comunidade de sua culpa, o retomo da dispora, a multiplicao de Israel, a
derrocada das naes, mas tambm sua participao na salvao, a concluso
da construo do templo e a expectativa messinica. Porm os motivos tradi-
cionais so configurados e atualizados de forma autnoma com a utilizao de
imagens novas. A encontramos tambm dentro da mensagem de salvao,
como no livro de Trito-Isaas, acusao e anncio de juzo (5; 7).
Atravs das dataes precisas, vinculadas frmula do evento da palavra
(1.1,7-7.1), a primeira parte principal do livro de Zacarias (1-8) se subdivide em
trs sees. Todavia a introduo e a parte [mal, com seu sucinto chamado
penitncia (1.1-6) e um sermo mais detalhado sobre o jejum (7s.), apresentam
caractersticas diferentes das predominantes na composio central, constituda
de vises e ditos (1.7-6.15). Na moldura encontramos referncias retrojetivas
explcitas s palavras dos "profetas anteriores" (1.4ss.; 7.7ss.; 8.9ss.); o emba-
samento na tradio cresce na poca tardia e j prenuncia a validade cannica
dos livros profticos.
O material bsico constitudo por um ciclo (redigido na primeira pessoa
do singular) de sete vises noturnas, que possivelmente tenham sobrevindo ao
profeta numa nica noite (1.8; 4.1; segundo 1.7, em fevereiro de 519). Da forma
como se estruturam - descrio das vises e sua interpretao, pergunta e
resposta - estes relatos lembram vises como Am 8.1s. ou Jr 1.13s., embora
sejam mais elaborados. Enquanto Ams pode afirmar de si: "Isto me fez ver o
Senhor", nas vises de Zacarias Deus representado por um anjo intrprete
(angelus interpres), que d explicaes, faz perguntas e a elas responde, e que
at pode provocar a viso (4.1s.,5; 5.3ss. e outras). Desta forma o anjo atua
como figura mediadora entre o "Senhor de toda a terra" (4.14; 6.5) e o profeta
(cf. j Ez 40.3s.; mais tarde Dn 8; 10).
No ciclo setenrio (1.8-15; 2.1-4; 2.5-9; 4.1-6a,lOb-14; 5.1-4; 5.5-11;
6.1-8) foi inserida uma outra viso (3.1-7), que na sua forma e no seu contedo
260
estruturada de modo diferente, dispensa o anjo intrprete e se dirige, ao
contrrio da srie setenria, a uma pessoa especfica, o sumo sacerdote Josu.
Esta viso foi colocada em quarto lugar, antes da viso messinica central, com
que tem afinidade temtica. (Por conseguinte a contagem varia entre l-VII e 1-
VIII, dependendo da incluso ou no da viso independente do capo 3.)
Como j acontece, p. ex., com as vises do livro de Ams (7.9,10-17;
8.3), juntam-se tambm s vises de Zacarias diversas palavras explicativas,
originalmente independentes (1.16s.; 2.10-17; 3.8-10; 4.6b-1O; 6.9-15). Parece
que por intermdio delas Zacarias transmite as percepes do futuro que lhe
ocorreram. Desta maneira as palavras provm em sua essncia de Zacarias, mas
dificilmente foram inseridas por ele mesmo na composio, cujo fluxo interrompem.
Parece que se deve atribuir antes redao do livro do que pregao do profeta
a frmula que aqui e acol (2.13,15; 4.9; 6.15) introduzida no texto e que lembra
Ezequiel: "sabereis/sabers (reconhecereis/reconhecers) que Jav quem me enviou".
Tal frmula refora a veracidade do anncio proftico de salvao, talvez justamente
frente ao seu no-cumprimento no presente.
As dataes semelhantes no livro de Ageu e Zacarias e os ecos de Ag ls. em Zc
8.9ss. fazem suspeitar que haja entre a redao de ambos os livros um nexo que; por
sua vez, poderia apontar para correlaes com a Obra Historiogrfica Cronista.
O fato de a redao do livro de Zacarias entender que no s o chamado
penitncia (1.1-6) e o sermo sobre o jejum (7s.), mas tambm a volumosa
parte central (1.7-6.15) formam uma unidade recebida em apenas um dia, nos
leva a no dar muito crdito a esta cronologia. E mais: ser que em 1.3-6;
7.7-14 e tambm em 8.14ss. no se percebe uma voz mais recente que tem
afinidade com a escola deuteronomstica (cf. W. A. M. Beuken)? O fato de a
converso ser apresentada como condio para que ocorra a salvao - assim
decerto se deve compreender a anteposio de 1.3ss. - contradiz inteno
das vises (1.7ss.). "As vises noturnas formam uma promessa de salvao
incondicional"; proclamam "a salvao como uma nova realidade de valor
absoluto" (Beuken, p. 112).
A) 1.1-6 Exortao penitncia (out./nov. 520)
B) 1.7-6.15 Composio de vises e palavras (fev. 519)
1 1 viso (vv. 8-13,14s.): homem montado num cavalo castanho, entre
murteiras, atrs dele cavaleiros montados em cavalos de outras cores
Vv. 16s.: Dito isolado
2 2 viso (vv. 1-4):quatro chifres, a serem derrubados por quatro ferreiros
3 viso (vv. 5-9): homem com cordel de medir para tomar as medidas
de Jerusalm
Ditos diversos (vv. 10-17.)
3 Viso intercalada (vv. 1-7): absolvio e investidura de Josu
Ditos diversos (vv. 8-10); pedra diante de Josu
261
4 4 viso (vv. 1-6a,lOb-14): candelabro entre duas oliveiras
Promessas para Zorobabel (vv. 6b-1O)
5 5 viso (vv. 1-4): rolo de livro voador, carregado de maldies
6 viso (vv. 5-11): mulher no tonel
6 7 viso (vv. 1-8): quatro carruagens, indo nas quatro direes dos
pontos cardeais
Coroao simblica (vv. 9-15)
C) 7s. Assim chamado "sermo sobre o jejum" (dez. 518; cf. Is 58) com
denncia e diversas profecias de salvao, em parte posteriores (8.lss.)
Embora o contedo metafrico das vises de Zacarias s vezes seja de
difcil compreenso, toda a nfase recai na inteno das mesmas, como j
acontecia com as vises do profetismo anterior, e esta inteno expressa de
forma clara e inequvoca. Na primeira viso o profeta enxerga cavaleiros
celestes, que Deus enviou para averiguar a situao sobre a terra (cf. J 1.7;
2.2). Em resposta notcia de que a terra jaz quieta e silenciosa, entoam-se
lamentos: ao cabo de 70 anos ainda no tem fim a ira divina lanada contra
Jud e Jerusalm? Deus, porm, responde com palavras de consolo. Desta
forma Zacarias renova e atualiza a mensagem escatolgica (de Is 40.1; 66.13;
Jr 29.10 e outras) para contestar sua poca: o tempo de salvao irrompe,
mesmo que a realidade parea desmenti-lo! Deus "zeloso" com Jerusalm,
est irado contra as naes (Zc 1.15; 8.2). O tempo das naes se esgota. Os
quatro chifres da segunda viso simbolizam a fora dos povos (opressores) que
"dispersaram" Israel, cujo poder, porm, foi quebrado (por quatro artesos).
Visto que o nmero quatro est, como na ltima viso, representando a totali-
dade do mundo, a imagem antecipa a esperana apocalptica da supremacia de
Deus sobre os imprios do mundo (Dn 2; 7; cf. Ag 2.22). Na terceira viso
aparece um homem que mede a extenso de Jerusalm; mas impedido neste
seu empreendimento. A promessa da multiplicao populacional de Jerusalm
(Is 49.19s.) se cumpre de forma to exagerada, que a cidade cresce para alm
dos limites de seus muros, de modo que somente pode ser protegida pela
"glria" de Deus (Ez 43.5; Ag 1.8):
"Jerusalm ser habitada como as aldeias sem muros
por causa da multido de homens e de animais que haver nela.
Pois eu lhe serei - orculo de Jav-
um muro de fogo em redor,
e eu mesmo serei, no meio dela, a sua glria." (2.8s.)
Acrscimos interpretativos apenas tiram a conseqncia desta expectativa,
ao aconselhar que se fuja da Babilnia (2.lOss.; cf. Is 48.20; 43.5s.). O cresci-
mento demogrfico deve-se concretizar mediante o retomo da dispora ou da
adeso de "muitas naes" (Zc 2.15; 8.20ss.). Em todo caso se conclama o
povo no presente para que se regozije com o futuro de Deus:
262
"Canta e exulta, filha de Sio;
porque eis que venho, e habitarei no meio de ti." (2.14,17)
A quinta (ou sexta) viso (5.1-4) mostra um rolo de livro voador aberto,
onde esto inscritas maldies contra ladres e perjuros; desta forma, ainda
antes do tempo da salvao, a comunidade purificada de malfeitores (trata-se
concretamente dos que permaneceram na terra e se apropriaram dos bens dos
exilados e no os restituram quando estes retomaram?) A sexta (ou stima)
viso (5.5-11) mantm esta expectativa de que a comunidade ser purificada
pelo prprio Deus (cf. Ez 36.25; 37.23), usando uma imagem metafrica: a
mulher simboliza a iniqidade. Sentada no efa, em que toda a culpa da terra
est concentrada, levada pelos ares por duas mulheres aladas, de Jud para
Babel. Ali a mulher deve permanecer como imagem divina em cima de um
pedestal no templo. - A ltima viso retoma a primeira, rompe o silncio ali
lamentado: quatro carruagens, puxadas por cavalos de cores variadas, vm de
Deus, passam por entre duas montanhas de bronze na entrada do cu, para
seguirem em direo dos quatro pontos cardeais. A junta de cavalos que vai
para o norte "faz repousar o Esprito de Jav na terra do norte", decerto no
para descarregar a ira de Jav, mas para motivar os exilados a retomarem ou
at incentivar estrangeiros a se filiarem a Israel (cf. 2.lOss.; 8.7s.,20ss.).
As vises externas (1.8ss.; 6.1ss.) delineiam o contexto universal; no
centro do ciclo setenrio est a expectativa do Messias da quarta viso, mais
desenvolvida (4.1-6a,10b-14). Sete lamparinas em um candelabro de ouro, cada
qual tendo sete bicos com pavio (portanto, no total 49 fontes luminosas),
simbolizam os olhos de Deus que vagueiam por sobre a terra e so, falando de
modo no-figurativo, a onipotncia e onipresena do Senhor do universo. Duas
oliveiras, uma esquerda e outra direita do candelabro, simbolizam os dois
"filhos do leo" ou ungidos, que esto a servio de Deus. Com isto se realiza
na viso do futuro uma partilha de poderes desconhecida nos tempos pr-
exlicos; o chefe poltico e o chefe religioso, o poder secular e o poder espiritual
esto lado a lado, no mesmo nvel hierrquico.
Esta expectativa bipartida referente ao futuro s ressoa ainda fora do AT em
Qurnr; na liderana da comunidade ps-exlica se imps o ministrio sacerdotal.
Tambm o sacerdote agora "ungido" (Lv 8.12,30 e outras).
Caso Zacarias, o filho ou neto de Ido (Zc 1.1;Ed 5.1; 6.14), possa ser identifIcado
com a pessoa de igual nome que aparece em Ne 12.16, ele provm, como Ezequiel, de
uma famlia sacerdotal. Desta maneira se explicaria a razo pela qual Zacarias, ao
contrrio de Ageu,atribui ao sumosacerdote importncia capitalna confIgurao do futuro.
A meta da viso central (4.14) desenvolvida numa outra viso, em um
ato simblico e palavras. Os dois ungidos, que no princpio ainda permanecem
no anonimato, mas depois so mencionados nominalmente, so o sumo sacer-
dote Josu e o davidida Zorobabel, ao qual j Ageu havia atribudo dignidade
263
messiamca (2.23). A este, e no ao sumo sacerdote, se promete na palavra
intermediria (Zc 4.6b-1O) que o templo ser concludo: "no por fora nem
por poder, mas pelo meu Esprito!"
Em contraposio, o sumo sacerdote Josu quem est no centro da viso
inserida posteriormente no ciclo setenrio (3.1-7) e estruturada de forma dife-
rente. Diante do anjo de Jav, Josu acusado por Satans, o acusador celestial
(cf. J ls.). Mas Josu despido de suas roupas sujas - e com isto de sua
culpa - e vestido com roupa nova, sendo at coroado com um turbante (cf. Lv
16.4; tambm a palavra de difcil interpretao em Zc 3.8s.). O sumo sacerdote
presta votos de obedincia e assume no apenas a administrao do santurio,
mas tambm recebe a garantia de livre "acesso" a Deus, de modo que Josu
pode interceder pela comunidade (3.7; cf. Jr 30.21).
A contrapartida representa a ao simblica de Zc 6.9ss., que evidentemente foi
corrigida mais tarde e, portanto, interpretada de forma muito divergente; trata-se, como
as vises, de um relato na primeira pessoa. Zacarias incumbido de recolher ouro e
prata entre os exilados, de mandar confeccionar uma coroa e coloc-la na cabea de
algum - segundo o atual texto, na do sumo sacerdote Josu. Como ele, no entanto,
j est com o turbante na cabea e a construo do templo (6.12s.; 4.9s.) tarefa de
Zorobabel, a coroao simblica se referia originalmente com muita probabilidade a
Zorobabel; ele quem proclamado o "rebento" prometido, sob quem "germinar"
(cf. Jr 23.5; tambm Ag 2.23 e outras). Tem a seu lado o sumo sacerdote (Zc 6.13; 4.14).
Mas quando o desenrolar da histria no confirma a entronizao messinica, o texto
corrigido- provavelmente no por Zacarias- de modo que a expectativaescatolgica
no se dirige mais para a histria contempornea, mas para o futuro (6.12).
Zacarias experimenta nas vises que "todo o reino de Deus j est
preparado no cu". "No mundo superior as instituies salvficas e as funes
escatolgicas j esto presentes de forma prefigurada." (G. von Rad).
Segundo K. Seybold (p. 107), a inteno por trs do ciclo visionrio servir de
"conclamao para e anteviso da reconstruo do templo em Jerusalm, memorial e
escrito programtico da restaurao do centro cultual no Sio, e desta maneira adquire
o carter de um meros Jogos do novo santurio". Thdavia, chama a ateno o fato de
que o templo mencionado s esporadicamente e nunca no ciclo de vises (1.16; 4.9s.;
6.12s.). A expectativa de que irromper o reinado de Deus no extrapola em muito a
situao contempornea do profeta?
Os caps. 7s. so diferentes e no mnimo foram enriquecidos posteriormen-
te com material variado; quanto ao contedo tm a ver com a continuao da
construo do templo. pergunta se o jejum ou o luto celebrado no dia da
destruio do templo (ou em outras datas comemorativas semelhantes: 7.3,5;
8.19) podem ser agora cancelados, d-se primeiro uma resposta negativa, j que
se menciona a dureza de corao dos ouvintes. S num segundo momento a
resposta positiva e desemboca numa profecia de salvao: o jejum se torna
264
alegria (8.19). expectativa de uma virada se segue uma seqncia de vrias
promessas (cf. Is 65.17ss.).
Contudo, parece que no tempo subseqente no se abriu mo das cerim-
nias de jejum, mas se as manteve (cf. MI2.13; 3.14). Tanto este detalhe quanto
os prenncios de Zacarias em geral permanecem sendo apenas esperana, mas
esperana no triunfo do poder de Deus neste mundo.
265
anncio de juzo e salvao dos profetas pr-exlicos. Ao lado de textos com
uma inteno claramente perceptvel encontramos tambm passagens realmente
obscuras (como a fala sobre os pastores em l1.4ss.). Aquele que foi "traspas-
sado", por quem os jerosolimitas choram (12.10), uma figura messinica que
teve de sofrer o destino do servo de Deus (Is 53.5)? Em todo caso predomina
no princpio (Zc 9.9s.) a expectativa de um rei humilde, que depende da ajuda
de Deus e que no est montado num cavalo de guerra, mas num jumento,
embora traga com sua palavra a paz para todo o mundo.
9 Vv. 1-8 Ampliao do poder de Jav para o norte e para o oeste
(aluso campanha vitoriosa de Alexandre Magno?)
Vv.9s. Conclamao alegria pelo futuro rei da paz (cf. Mt 21)
Vv. 11-17 Palavras de salvao (glosas explicativas): retomo, guerra de
Jav
10 Vv.ls. Bno de Deus
Vv.3-l2 Guerra e retomo (cf. 9.lOss.)
11.1-3 Cntico sarcstico sobre o que est no alto e cai (cf. Is 2.12ss.;
Jr 25.36ss.)
l1.4ss.; O pequeno livro dos pastores (cf. Jr 23; Ez 34; Is 56.9ss.)
13.7-9
11.4-14,15-17 Mescla de ao simblica, viso e alegoria.
Pastoreio das ovelhas destinadas matana
Duas varas - "graa" e "unio" (cf. Ez 37.15ss.) -
smbolo da separao entre os judeus e samaritanos
11.13: 30 moedas de prata (Mt 27.3ss.)
13.7ss. Purificao do resto (um tero)
12 Ataque frustrado dos povos contra Jerusalm
Derramamento do Esprito. Lamentao pelo "traspassado" (vv. IOss.)
13 Libertao de impureza, idolatria e profetismo (exttico)
14 Ataque dos povos, salvao apenas depois da tomada da cidade. Purificao
de Jerusalm (a metade; cf. 13.7ss.). Teofania.
O resto dos povos adora Jav como rei (vv. 16ss.)
4. Com certeza os trs captulos de ditos de Malaquias constituem a
concluso do Livro dos Doze Profetas Menores. Atravs do ttulo "Sentena.
Palavra pronunciada por Jav contra Israel por intermdio de Malaquias" estes
captulos esto vinculados com Zc 9-11,12-14, formando uma s coleo ou
unidade redacional. Todavia, Malaquias atuou aproximadamente um sculo
antes que Zc 9-11, embora seja, por outro lado, mais recente do que Ageu e
Zacarias. Em todo caso se discute at mesmo se Malaquias o nome verdadeiro
de uma pessoa e no antes o ttulo de um profeta annimo: "meu mensageiro"
(cf. Ag 1.13; Ml 3.1; 2.7).
Da mesma forma que seu nome permanece incerto, tambm sua poca de
atuao s pode ser determinada aproximadamente. Malaquias j tem que
266
combater abusos (1.6ss.) no (segundo) templo (1.10; 3.1,10); o livro tambm
menciona como elemento contrastante o "governador" (persa) (1.8). Parece
que diminuiu o assdio por parte de Edom (1.3ss.), experimentado por Jud
depois da destruio de Jerusalm em 587 a.c. (1.3ss.). O fato de que se faz
necessrio regulamentar questes matrimoniais (2.10ss.) e a oferta do dzimo
(3.8ss.) decerto pode ser compreendido como uma aluso vaga poca de
Esdras e Neemias (Ed 9s.; Ne 13.lOss.,23ss.). Assim, o profeta a que se atribui
o material bsico do livro de Malaquias deve ter atuado no sculo V a.c.,
provavelmente na primeira, mas eventualmente tambm na segunda metade do
sculo.
O gnero da controvrsia, que encontramos ocasionalmente nos profetas
mais antigos e com maior freqncia em Dutero-Isaas, predomina no livro.
Caractersticas so perguntas (1.2s.,6; 2.10 e outras) ou citaes (2.17; 3.13s.).
O profeta retoma as concepes (cticas) de seus ouvintes e de certo modo
adota uma "pregao dialogada" (poimnica), desdobrando sua mensagem em
resposta a perguntas feitas.
1.2-5 Amo-vos e odeio Edom (cf. Ez 35; Ob; Is 63)
Livre eleio de Deus
1.6-2.9 Denncia (1.6ss.) e anncio de juzo (2.lss.) sobre sacerdotes. Sacrifcio
com falhas, impuro (cf. Dt 15.21; Lv 22.20ss.)
" grande entre as naes o meu nome." (1.11)
A aliana com Levi (cf. Dt 33.8-11) rompida (2.4-9)
2.10-16 Denncia contra o povo por causa de divrcios (vv. 13ss.) e casamentos
mistos (vv. 11b,12, decerto acrscimo; cf. Ed 9s.; Ne 13)
"No temos todos um nico Pai?" (Ml 2.10; cf. 1.6)
"Odeio o repdio [divrciol." (2.16)
2.17-3.5 Purificao da comunidade (cf. Ze 5)
"Quem pratica o mal bom aos olhos de Deus" (2.17)?
Deus vem para o juzo (3.1,5; cf. 2.3,9)
"Eis que eu envio o meu mensageiro que preparar o caminho diante de
mim." (3.1)
"Quem pode suportar o dia da sua vinda?" (3.2; Jl 2.11)
3.6-12 Promessa de bno condicional
"Tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vs outros." (3.7; Ze 1.3)
3.13-21 O "sol da justia" nasce por sobre os que temem a Deus.
"Vs dizeis: Intil servir a Deus." (v. 14; cf. Sf 1.12)
Livro memorial de Deus (v. 16; cf. x32.32s.; Dn 12.1;SI 139.16; 56.9 e outras)
O destino dos piedosos e dos mpios (vv. 18ss.; cf. SI 1.6)
3.22,23s. Concluso do Livro dos Doze Profetas Menores
Exortao (deuteronomstica) lembra (alm da profecia) a lei de Moiss
Retorno de Elias
Fazendo frente s dvidas, Malaquias insiste no irrevogvel amor de Deus
para com seu povo (1.2): Deus se mostrar magnnimo diante de Israel (1.5),
267
mas zelar por sua honra (1.6; 2.2). Desta forma Malaquias continua a expec-
tativa de salvao, mas tambm o anncio de juzo, que - ao contrrio do
profetismo pr-exlico - se restringe a grupos da comunidade. promessa de
eleio e salvao segue a acusao de que os sacerdotes no oferecem os
sacrifcios de forma correta. Com isto Malaquias retoma a crtica proftica
contra os sacerdotes (Os 5.1; Is 28.7; Jr 2.8 e outras), levando muito a srio,
porm, a correta execuo do culto como forma de obedincia respeitosa a
Deus (Ml 1.6ss.; 3.6ss.,3s.).
Nos dilogos reais ou retricos percebe-se a decepo causada pelo atraso
no cumprimento das promessas de um Ageu ou Zacarias. Mas contra todo o
ceticismo Malaquias de certa forma pleiteia um voto de confiana na palavra
de Deus: Deus no muda, mantm as promessas de bno e salvao (Ag
2.9,16; Ze 8.9ss.), embora as faa depender da obedincia e do temor a ele (Ml
3.6ss.,17ss.). Deus eliminar abusos, purificar a comunidade de malfeitores
que no o temem, como feiticeiros, adlteros e perjuros (3.5,19; cf. Ze 5). Em
contraposio no encontramos em Malaquias a esperana na derrocada dos
povos (cf., porm, a expectativa universal, provavelmente mais recente: 1.11).
Antes do juzo Deus envia um mensageiro - dificilmente o prprio
profeta, antes um personagem do futuro. Ele preparar o caminho de Deus (3.1;
cf. Is 40.3s.). No apndice conclusivo do Livro dos Doze Profetas Menores este
mensageiro identificado com o profeta Elias, que retomar e reconciliar os
pais com seus filhos. A unio das geraes no constitui a condio bsica para
a transmisso da f (x 13.8,14 e outras)?
268
23
JOEL E JONAS
269
o reconhecimento de Jav (2.27; 4.17), formando assim uma unidade carregada
de tenso. A estrutura geral forma uma espcie de composio litrgica, cons-
tituda de lamentaes (1.4-20; 2.1-17) e promessas de salvao (2.19ss.; 3s.).
Nelas Joel retoma os temas habituais da expectativa escatolgica do profetismo
exlico/ps-exlico: derrocada dos povos, bno, salvao e redeno de Jeru-
salm. Mas caracterstico para o profeta que ele parte de uma situao de
calamidade concreta, contempornea. Assim como, p. ex., Ageu (1.6ss.; 2.16ss.)
se reportou situao econmica desfavorvel de seu tempo, tambm Joel toma
como ponto de partida para sua mensagem uma grave praga de gafanhotos e
uma estiagem.
A) Caps. 1-2
1.2-20 Lamentao sobre a praga de gafanhotos e a estiagem
Vv. 2s. Chamado manuteno da tradio atravs das geraes:
Aflio (v. 4) e salvao por Jav (2.18)
VV.5-14 Convocao do povo lamentao
V. 15 Clamor: "O dia de Jav est perto!" (Sf 1.7; Is 13.6 e
outras)
Vv. 16-18 Lamentao de um grupo ("ns")
Vv. 19s. Splica ("a ti (...) clamo") do profeta como recitador
/liturgo
2 Nova lamentao e atendimento da orao
Vv. 1s. Alerta: O dia de Jav est chegando (cf. Sf 1.14s.)
Vv. 3-11 Descrio do inimigo
Vv. 12-14 Chamado penitncia
Vv. 15-17 Nova convocao lamentao popular
V. 18 Fim da aflio
Vv. 19s. Resposta de Deus ("orculo de atendimento"):
Bno, expulso do "que vem do norte" (gafanhotos,
exrcito?; cf. Jr 1.14s.)
Vv. 21-24 Chamado alegria e gratido
Vv. 25-27 Nova promessa de salvao, tendo por objetivo o co-
nhecimento de Deus (2.27; 4.17)
Nos caps. 3 e 4 a contagem dos versculos varia de acordo com as
verses adotadas.
B) Caps.3-4
3 Derramamento do Esprito (vv. 1s.)
Sinais no cu e na terra (vv. 3s.), salvao em Jerusalm (cf. Ob 17)
4 Juzo sobre as naes em Jerusalm (cf. Is 17.12ss.; 29.5ss.; Ez 38s.;
Zc 12; 14)
VV.4-8 Intercalao em prosa
Vv. 18-21 Apndice depois da afmnao [mal sobre o conheci-
mento de Deus: 4.17
270
Numa moldura narrativa (1.4; 2.18s.) est inserida uma dupla lamentao,
acompanhada por um chamado penitncia. Ao relato introdutrio sucinto
sobre a situao de calamidade (l.4) segue um chamado mais extenso, com
diversas estrofes, convocando para um jejum ou, ento, uma lamentao do
povo (cf. Zc 7s.; Is 63). Na situao catastrfica atual Joel v sinais dos tempos,
qual seja, pressgios do juzo [mal: "O dia de Jav est perto!" (1.15; 4.14; cf.
j Am 5.18ss.; Is 2.12ss.; sobretudo Sf 1.7ss.). Nesta perspectiva escatolgica
(2.1s.,lOs.) Joel convoca o povo pela segunda vez para o lamento pblico: um
inimigo trazido por Deus est se aproximando de Jerusalm! Neste ponto a
praga de gafanhotos retratada com motivos do esperado ataque das naes (Is
5.26ss.; Jr 4-6; Ez 38s.; sobretudo Is 13), tomando-se, com isso, indicativa de
um evento escatolgico-apocalptico: "Grande o dia de Jav, e mui terrvel!
Quem o poder suportar?" (2.11; 3.4; Ml 3.2). A possibilidade de salvao
introduzida pelo chamado penitncia:
"Rasgai o vosso corao, e no as vossas vestes,
e convertei-vos a Jav vosso Deus!
Porque ele misericordioso, e compassivo,
e tardio em irar-se, e grande em benignidade,
e se arrepende da desgraa.
Quem sabe se no se arrepender novamente..."
(2.13s.; cf. Jn 3.8ss.; tambm x 34.6s. e outras.)
Ser que o chamado penitncia foi atendido espontaneamente? Em todo
caso se descreve de maneira sucinta a mudana que ocorreu: Jav' 'mostrou-se
zeloso" (cf. Zc 1,14; 8.2) por compaixo com sua terra e seu povo, promete
salvao, nova bno, reparao das perdas: "No vos entregarei mais ao
oprbrio entre as naes" (2.18s.). - Todo o desenrolar da ao: lamentao,
chamado penitncia, atendimento e promessa de salvao foi considerado to
extraordinrio, que se julgou importante transmiti-lo de gerao em gerao (1.2s.).
As promessas de salvao da primeira parte (2.19s.,25-27) so desenvol-
vidas amplamente nas profecias da segunda parte do livro (caps. 3s.). O derra-
mamento do Esprito concede o dom da profecia para todos, sem distino de
idade, sexo e posio social, proporcionando com isto para todos uma relao
direta com Deus e a capacidade de prenunciar o futuro:
"Depois disto,
derramarei o meu esprito sobre toda came.
Vossos filhos e vossas filhas profetizaro,
vossos ancios tero sonhos,
vossos jovens tero vises.
Mesmo sobre os escravos e sobre as escravas,
naqueles dias, derramarei o meu esprito."
([na verso de Almeida, 2.28s.] 3.ls.; interpretado no sentido universal em At 2.)
271
Por causa da culpa dos povos, Deus os conduz a Jerusalm: "Ali eu me
sentarei para julgar todas as naes dos arredores." (4.2,12.) Assim como o
nico Deus (TI 2.27) acaba com a praga de gafanhotos e a estiagem, ele tambm
proteger seu santurio no juzo [mal. Quem "invocar o nome de Jav" ser
salvo na Jerusalm intocvel (3.5; 4.l6s.; cf. SI 46; 48).
272
Jn 3-4 Em terra
3 Nova misso (vv. 1-3), pregao em Nnive (v. 4), jejum de penitncia
de seres humanos e animais (vv. 5-9) e o arrependimento de Deus (v. 10)
4 Ira de Jonas por causa da graa de Deus
273
sozinho com Deus diante da cidade, Jonas se torna mais loquaz na sua lamen-
tao e justifica a posteriori seu comportamento recalcitrante desde o princpio.
Em lugar de Deus (3.9s.) Jonas quem se zanga e justamente por causa do
arrependimento e da compaixo de Deus (4.2). E, embora este tente fazer o
profeta compreender seu procedimento atravs de perguntas e atravs do cres-
cimento e da morte da mamoneira sombrosa, Jonas persiste na sua teimosia face
bondade de Deus e deseja sua prpria morte (cf. 1 Rs 19.4). A narrativa
encerra com uma pergunta, deixando assim em aberto a questo e convidando
o leitor reflexo. Por um lado, o livreto confronta o povo de Deus com a
constatao: "Nem mesmo em Israel achei f como esta" (Mt 8.10; cf. 12.41);
por outro lado, porm, tenta despertar neste mesmo Israel compreenso para a
misericrdia de Deus para com os estrangeiros.
274
24
DANIEL
275
do livro: a narrativa de Bel e o drago, que ridiculariza toda adorao de imagens, e a
histria de Susana, que exalta a sabedoria de Daniel.
276
3. Assim, o livro de Daniel continua tradies profticas, associadas a
concepes sapienciais (1.17,20; 2.20ss. e outras), e est, ao mesmo tempo, no
princpio da literatura "apocalptica" no sentido mais estrito do termo. (Pode
ser, no entanto, que partes do livro extracannico de Enoque sejam mais
antigas.) O termo "apocalipse" indica o contedo principal desta literatura:
"desvelamento, revelao" do desenrolar e do [mal da histria. Todavia, a
passagem do profetismo tardio para o apocalipsismo fluida, de modo que no
podemos determinar uma delimitao rgida. Na profecia sobre a invaso e a
derrocada de Gogue (Ez 38s.), nas vises noturnas de Zacarias (Zc 1-6), nas
expectativas do dia de Jav no livro de Joel e do 'llito-Zacarias (Zc 12-14), na
esperana por um novo cu e uma nova terra (Is 65.17; 66.22) e no anncio de
um juzo universal no "Apocalipse de Isaas" (Is 24-27) j se prepara o terreno
para o pensamento apocalptico com o tema da imposio do poder de Deus
neste mundo.
Is 24-27, um trecho coeso em si, que no pode ser atribudo a Isaas, localizado
no adendo aos orculos sobre as naes no livro de Isaas, ainda no constitui um
apocalipse, no sentido estrito do termo, embora j se reconheam a certos motivos
apocalpticos (24.21s.; 26.19; 27.1 e outras). Como acontece freqentemente no profe-
tismo ps-exlico, pressupe-se tambm nestes captulos que j existam os escritos
profticos mais antigos, que so atualizados dentro de uma perspectiva universal. A
unidade forma uma composio que no muito clara nos seus pormenores e provavel-
mente s se estruturou de modo gradual. A pesquisa distingue (desde B. Duhm) pelo
menos entre expectativas escatolgicas (Is 24.1ss.,16ss. e outras) e cnticos - introdu-
zidos posteriormente? (24.lOss.; 25.1ss.; 26.1ss. e outras) - que em grande parte
celebram a queda de uma cidade annima. Os aspectos teolgicos mais pertinentes
encontramos em passagens que talvez sejam mais recentes (24.21-23; 25.6-8) e que
exprimem a esperana num reinado de Deus que englobe todos os povos, tendo at uma
dimenso csmica. Esta esperana vencer at a prpria morte - segundo um acrsci-
mo decerto ainda mais recente (em 25.8; cf. 26.19).
277
1 Educao de Daniel e de seus trs companheiros na corte babilnica
2 Sobre o fim dos imprios do mundo. Sonho de Nabucodonosor: uma
esttua de vrios metais, destroada por uma pedra
3 Sobre a firmeza na f: os trs companheiros de Daniel so salvos da
fornalha ardente
4 Sobre a humilhao do soberano do mundo. Sonho de Nabucodonosor,
divulgado em todo o mundo: a rvore do mundo cortada (3.31-4.34)
b) No tempo de Belsazar/(Baltazar)
5 Sobre a punio do soberano: inscrio misteriosa depois da profana-
o dos utenslios do templo durante a ceia de Belsazar
c) No tempo de Dario, "o medo"
6 Sobre a firmeza na f de Daniel: salvao da cova de lees
o livro inicia sua anlise histrica na poca em que Israel perde sua
autonomia poltica. No terceiro ano do governo de Jeoaquim - durante a
primeira deportao, 597 a.C. - Daniel, chamado Beltessazar/(Baltassar),
deportado de Jerusalm para a Babilnia. Junto com seus trs sbios amigos
Hananias, Misael e Azarias, que no estrangeiro ganharam os nomes de Sadra-
que, Mesaque e Abede-Nego (1.6; 2.26), instrudo na corte de Nabucodonosor
no idioma e na sabedoria dos caldeus ou babilnios. Apesar de observarem
rigorosamente as prescries alimentares dos judeus, os quatro apresentam
aspecto melhor do que todos os outros (cap. 1). Quando ento Nabucodonosor
se inquieta com um sonho seu, espera que seus sbios caldeus saibam no
apenas interpretar, mas tambm cont-lo. No momento em que os sbios por
sua vez tomam a palavra, o livro passa lingua aramaica (2.4b). Embora a
incumbncia seja difcil demais para os adivinhos caldeus, Daniel e seus amigos
solucionam a dupla tarefa, revelando o "Deus nos cus, o qual revela os
mistrios" (2.28,22,47; 4.6; 5.11ss.; cf. Gn 41.16,38): o sonho trata de uma
esttua que da cabea aos ps de ouro, prata, bronze e ferro ou barro. Esta
278
esttua quebrada "sem auxlio de mos" humanas por uma pedra que se
avoluma at tornar-se um rochedo que "encheu toda a terra" (2.31-35, Almei-
da). A esttua simboliza quatro imprios sucessivos: provavelmente o imprio
babilnico, o dos medos, persas e ptolomeus/selucidas. (Maior influncia his-
trica teve a interpretao mais recente que reconheceu no ltimo imprio
Roma: assrios/babilnios - medos/persas - gregos - romanos). O reino de
Deus, representado pelo rochedo, esmagar todos estes reinos, mas ele mesmo
subsistir para sempre (2.44).
Se a interpretao de sonho por Daniel antecipa os acontecimentos dos caps. 4s.,
a imagem e a inteno do capo 2 lembram muito o capo 7. A esttua colossal mostra a
histria universal (desde o tempo do exlio) na forma de um ser humano, e a sucesso
dos imprios corporificada pelo valor decrescente dos metais. Aqui ou no relato dos
caps. 7 e 8, onde os poderes polticos aparecem na forma de animais, o livro de Daniel
assimila concepes vtero-orientais.
O soberano estrangeiro Nabucodonosor presta culto ao Deus de Daniel e
investe a este e a seus amigos em altos cargos honrosos (cap. 2). No episdio
seguinte apenas os trs companheiros - representantes e exemplos de Israel no
exlio - so testados na sua firmeza na f e na sua coragem em professar a
sua f. Ao se recusarem a adorar uma esttua dourada erigida por Nabucodo-
nosor (transgresso do primeiro e do segundo mandamento), so atirados na
fornalha ardente, mas no queimam, j que so protegidos por um ser celestial,
"semelhante a um filho dos deuses" (3.25). Como antes, Nabucodonosor louva
ao Deus que pode livrar (3.17,29; 6.28). Em razo de sua experincia com
"Deus, o Altssimo" (3.32s.), Nabucodonosor divulga, num edito, entre todos
os povos o seu sonho de uma rvore gigantesca que cortada at sobrar apenas
o toco. Com isto se antecipa, segundo a interpretao de Daniel, o destino do
prprio Nabucodonosor: o rei insolente (4.27) viver feito um bicho at que
reconhea o Senhor dos cus, que concede poder aos humanos e que os exalta
e humilha (4.29; 5.18s.). Somente ento Nabucodonosor recuperar seu poder
(4.23,31ss.). E assim que realmente acontece.
No capo 4 parece que se atribui por transferncia a Nabucodonosor material
narrativo referente ao ltimo rei babilnico Nabnides, conhecido por sua conduta
estranha (cf. a "orao de Nabnides", achada em Qurnran). Assim tambm se expli-
caria por que Belsazar (5.1; 7.1; 8.1), que s exerceu a regncia na Babilnia durante a
longa ausncia de Nabnides, aparece no livro de Daniel como rei e sucessor de
Nabucodonosor, ignorando-se os soberanos intermedirios e contraindo pelo menos trs
dcadas.
Nabucodonosor ainda encontra misericrdia; o mesmo no acontece mais
com o "rei" Belsazar. Em um banquete, enquanto que Belsazar bebe dos
utenslios que foram roubados do templo de Jerusalm, aparece na parede uma
inscrio escrita de forma misteriosa por uma mo. De novo falham os sbios
279
do rei (2.5ss.; 4.3s.; 5.8,15; cf. x 9. llP). Apenas Daniel consegue ler e
interpretar o que ali est escrito: mene, mene, tequel e parsim - trata-se
decerto de trs tipos de moeda: a mina, o sido e (suas) partes, a meia-mina-
o que significa: "contado, pesado, dividido". Isto , aproxima-se o [mal do
domnio babilnico, o imprio ser repartido entre os medos e persas (cap. 5).
Depois da morte de Belsazar o poder passa para o medo Dario (6.1) -
que na verdade foi rei dos persas e no dos medos, pai e no filho de Xerxes
/Assuero (9.1) e sucessor de Ciro (10.1). Dario se deixa convencer por funcio-
nrios da corte a proibir por escrito e, portanto, de forma irrevogvel (6.9,16;
Et 1.19; 8.8), que, durante um ms, se dirijam oraes a Deus - a no ser ao
rei divinizado. Daniel permanece firme em sua f e por isso atirado na cova
dos lees, mas - como j acontecera com seus trs amigos na fornalha ardente
- salvo. Depois disto Dario expede em todos os seus domnios a ordem de
temer ao "Deus vivo", cujo "domnio no ter fim" (6.27; 3.33; 4.31).
A transio da parte narrativa para a parte das vises na primeira pessoa
e ao mesmo tempo o centro temtico do livro so constitudos pela viso dos
quatro animais, que lembra o capo 2, sendo que os quatro animais representam
os quatro imprios do mundo. Ambos os captulos se vinculam no apenas pelo
idioma aramaico, usado pela ltima vez no capo 7, mas tambm pela temtica
similar; a questo do "fim", j abordada no capo 2, predomina na segunda parte
do livro. Depois de um leo com asas de guia, de um urso e uma pantera
alada, surge um animal com dez (ou onze) chifres, eliminado por um rio de
fogo que emana do trono do juzo de Deus, o "Ancio de dias". Enquanto a
pedra, que, segundo o capo 2, quebra a esttua colossal, simboliza o reino de
Deus que por sua vez substituir os reinos do mundo, aparece ento, somente
depois do juzo de Deus, uma figura de aparncia humana - contrastando com
os animais. "Com as nuvens do cu" vem algum que "como o Filho do
homem"; a ele atribudo o domnio eterno (7.13s.). representado como
indivduo, e assim tambm compreendido tanto no livro de Enoque como no
Novo Testamento. Mas, estranhamente, o "Filho do homem" corresponde na
interpretao da viso a uma grandeza coletiva - aos "santos do Altssimo",
que por sua vez recebem o reino (7.18ss.). 'Irata-se a de seres celestiais ou do
povo escolhido ou (em sentido mais restrito) do povo ainda firme na f, apesar
de oprimido (7.2l,25)? Ou Israel aparece somente em 7.27 como "o povo dos
santos do Altssimo", para, assim, participar do poder? Talvez a viso do futuro
tambm tenha sido reelaborada e reinterpretada. Em todo caso continua extre-
mamente atual na sua forma presente: a srie dos dez chifres do quarto animal,
isto , a sucesso dos dez reis, converge no undcimo soberano, o decisivo,
Antoco IV, sob cujo reinado funesto despontar o reino de Deus.
As imagens da prxima viso parece que foram retiradas do mundo astral.
Daniel v como um carneiro com dois.chifres, representando o reino medo-
280
persa, pisoteado e morto por um bode com um chifre s, smbolo de Alexan-
dre Magno. No lugar do chifre nico surgem quatro chifres (os reinos dos
didocos?). Nasce um chifre adicional (de novo Antoco IV), que avana no
s para o sul e o leste, mas tambm em direo ao cu, e profana o santurio,
de modo que no se podem mais oferecer sacrifcios - mas somente por um
prazo limitado, mais ou menos trs anos e meio (8.9ss.,23ss.). Depois de uma
orao de penitncia com confisso de culpa e splica por salvao (9.4-20;
acrscimo posterior?), Daniel recebe a interpretao da profecia dos "setenta
anos" de juzo sobre Israel (Jr 25.11; 29.10; Zc 1.12; 2 Cr 36.20s.): compreen-
dendo os anos como semanas de anos (isto , 490 anos), a antiga profecia
aponta para a tribulao presente e a proximidade do fim pelo qual se esperava.
Esta atualizao mostra exemplarmente o significado da pregao proftica para
o apocalipsismo e, ao mesmo tempo, a maneira como se relia a tradio,
relacionando-a com o presente e o futuro.
Depois de uma introduo extensa, que fala do encontro com um mensa-
geiro de Deus, a ltima viso (Dn 10-12) acaba de maneira similar num esboo
da histria (em forma de audio), que enfoca em especial a poca de Antoco
IV e que visa anunciar o fim. A queda esperada de Antoco IV, perto de
Jerusalm (11.40ss.) - que, na verdade, no ocorreu desta forma - , representa
o incio dos ltimos dias; a punio do transgressor simboliza o fim da aflio
de Israel. O despontar do senhorio de Deus significa no s o domnio do povo
de Deus (7.27), mas tambm a ressurreio de seus mortos. Todavia, participa-
ro da redeno apenas aqueles que se mantiverem firmes na f; o cisma de
Israel no presente se confirma no juzo fmal:
"Muitos [isto , todos os membros do povo de Deus, ou, ento, apenas os fiis,
em todo caso no toda a humanidade],
dos que dormem no p da terra acordaro -
uns para a vida eterna,
e outros para oprbrio eterno." (12.2.)
Desta forma os ltimos dias cumprem tanto os ameaadores anncios
profticos de juzo como tambm as promessas profticas de salvao: Deus
mantm-se fiel sua palavra.
281
IV - POESIA DO MBITO
DO CULTO E DA SABEDORIA
283
25
O SALTRIO
Destas trs formas bsicas distinguimos ainda como caso especial o para-
lelismo parablico, onde as duas partes do versculo contm imagem e significado:
284
"Como um pai se compadece de seus filhos,
assim Jav se compadece dos que o temem."
(SI 103.11-13; 42.2; Is 1.3; 55.9-11; Pv 26.14 e outras.)
Versculos de trs membros costumam adotar o paralelismo escalonado -
tambm chamado de climtico, repetitivo ou tautolgico - , que repete algumas
palavras decisivas, mas avana o pensamento. Nesta forma se conservou repe-
tidas vezes a tradio vtero-oriental, anterior a Israel.
"Mais que o estrondo das guas torrenciais,
mais imponente que a ressaca do mar,
imponente Jav, nas alturas."
(SI 93.3s.; 24.7s.; 29.ls.; cf. 92.10 e outras.)
Raramente encontramos os assim chamados "versculos curtos", que no apre-
sentam mais nenhum paralelismo, mas que podem ter sido reunidos em sries similares
(SI 111s.; talvez tambm sries de preceitos legais como o Declogo).
Ocasionalmente versculos so juntados, formando "estrofes" que se des-
tacam umas das outras por meio de um refro (SI 42s.; 46; Is 9.7-29; 5.25ss. e
outras). - No acrstico alfabtico as iniciais dos versculos ou das "estrofes"
correspondem ordem alfabtica (SI 9s.; l11s.; 145; Na 1; Lm 1-4 e outras).
Este recurso estilstico funciona como tcnica mnemnica? Ou pressupe a
transmisso em forma escrita do salmo, visto que o acrstico percebido muito
mais na imagem escrita do que na recitao oral?
Sem dvida a poesia hebraica tambm apresenta uma estrutura mtrica; esta se
baseia numa sucesso determinada de slabas tnicas e tonas - no numa ordem certa
de slabas longas e curtas. Segundo uma acepo, o assim chamado "sistema alternan-
te' " slabas tnicas e tonas se alternam quase que regularmente; segundo o sistema
mais livre e, por isso, certamente o mais apropriado, o assim chamado "sistema
acentuante", podem seguir vrias slabas tonas a uma slaba tnica.
Como a pronncia do hebraico mudou no decorrer do tempo e raramente temos
metros puros, difcil chegar a uma concluso totalmente convincente sobre o contro-
vertido problema da mtrica.
285
terionnente e so, portanto, de pouco valor histrico; elas revelam menos sobre
a origem do salmo do que sobre a compreenso do mesmo no tempo em que
foi compilado o Saltrio. "Jav o meu pastor" (SI 23) um salmo de
confiana que dificilmente provm da poca davdica, nem o SI 90 uma
"orao de Moiss". As historizaes secundrias, que ainda aumentam na
Bblia grega, se devem a uma inteno interpretativa que busca situar os salmos
numa situao apropriada na histria de Israel (compare S151.6 com 2 Sm 12.13).
Uma srie de salmos so atribudos a guildas de cantores levticos que
atuavam junto ao templo ps-exlico, como acontece com os SI 50; 73-83,
atribudos a Asafe (cf. 1 Cr 15.17,19). Um grupo de doze salmos (42-49; 84s.;
87s.) faz parte do "hinrio" dos coretas (filhos de Cor), destinados a louvar
"a Jav, Deus de Israel, em voz alta sobremaneira" (2 Cr 20.19; cf. 35.15; 1
Cr 9.19,31). Dificilmente devemos ver nestes cantores do templo os autores,
mas antes os transmissores dos salmos. Da mesma maneira como os ditos
profticos foram complementados mais tarde, decerto tambm as canes mais
antigas foram retocadas em tempos mais recentes.
Os salmos podem ser enquadrados de acordo com os ttulos ou com
palavras-chaves (salmos de entronizao, salmos de aleluia) em colees meno-
res ou maiores (v. abaixo o quadro geral). Vrias duplicaes demonstram que
estas colees originalmente existiam independentemente umas das outras e s
mais tarde se agregaram (SI 14 = 53; 40.14ss. = 70 e outras).
Por quatro vezes, encontramos a doxologia: "Bendito seja Jav ..." no
final de uma coleo (no [mal do SI 41; 72; 89; 106). Esta doxologia permite
entender o Saltrio, pelo menos a posteriori, como uma composio constituda
por cinco livros, em analogia ao Pentateuco. O SI 150 pode ser considerado,
ento, o hino de louvor [mal. Em contrapartida, a bem-aventurana do SI 1 e o
salmo rgio (SI 2), decerto interpretado de forma escatolgica, foram colocados
antes do primeiro livro, que contm o extenso e relativamente antigo saltrio de
Davi (3-41). O segundo livro e uma parte do terceiro contm o assim chamado
"saltrio elosta" (42-89). Este saltrio rene diversas colees menores e
utiliza a designao Elohim, "Deus", em substituio ao nome Jav. Ser que
aqui o terceiro mandamento entendido no seu sentido rigoroso ou ser que se
quer ressaltar - como em outra literatura mais recente (Crnicas, J) - a
diferena entre Deus e o ser humano?
Estnitum do Saltrio
Primeiro livro: SI 1-41
com doxologia final: 41.14
SI 1: Introduo de todo o Saltrio:
"Bem-aventurado" ser aquele que l o escrito (o Saltrio).
SI 2: Salmo rgio, decerto considerado antigamente como SI 1 (cf. At
13.33) e interpretado de forma escatolgica.
286
SI 3-41: Primeiro saltrio de Davi
SI 3-41 (sem 33): "De Davi"
Segundo livro: SI 42-72
com doxologia final: 72.18s.
'Ierceiro livro: SI 73-89
com doxologia final: 89.53
SI 42-83: Saltrio elosta
constitudo de trs colees parciais (a-c);
a) SI 42-49: "Dos coteitss"
Percebem-se pelas observaes complementares os seguintes sub-
grupos: SI 42-45; 46; 47-49
Adendo: SI 50: "De Asafe"
b) SI 51-72: Segundo saltrio de Davi
Para ser mais preciso, trata-se de SI 51-65; 68-70 (conforme a
LXX tambm: 67; 71): "De Davi"
Percebem-se 'pelas observaes complementares os seguintes sub-
grupos: SI 52-55; 56-60; 62-64; 65 + 67s.
Adendo SI 72: "De Salomo" (cf. SI 127; 1 Rs 5.12)
Eplogo de SI 72.20: "Findam as oraes de Davi, filho de Jess."
c) SI 73-83: "De Asafe"
SI 84-89: Adendo ao saltrio elosta
SI 84s.; 87s.: "Dos coretas"
SI 86: "De Davi"
SI 88 tambm: "De Hem, o ezrata"
SI 89: "De Et, o ezrata" (cf. 1 Rs 5.11; 1 Cr 15.17ss.)
287
3. Desde o comeo os salmos foram analisados sob pontos de vista
bastante divergentes:
A interpretao escatolgico-messinica j aparece nos primrdios do
judasmo e desde cedo foi adotada na Igreja, mas encontra pouco apoio no
prprio texto. Certamente os salmos contm enunciados sobre o futuro, mas
mesmo em textos que estamos tentados a interpretar no sentido escatolgico,
devido ao seu horizonte universal (como os SI 96ss.), faltam as frmulas
caractersticas para as promessas profticas como: "naquele dia" ou algo semelhante.
No sculo XIX se imps a interpretao histrica, que tenta interpretar os
salmos a partir da suposta poca de surgimento. Todavia, dificilmente os salmos
do a conhecer um contexto ou local histrico especfico, porque expressam a
situao concreta numa linguagem genrica, tpica, caracterizada pelo uso de
frmulas. No refletem nenhum destino individual nico, mas acontecimentos
tpicos, exemplares, de forma que o mesmo salmo pode ser repetido em uma
situao distinta e serve para exprimir o prprio lamento ou louvor. Por isto as
dataes dos salmos por via de regra so muito incertas e polmicas. S o SI
137- "s margens dos rios de Babilnia ns nos assentvamos e chorva-
mos" - aponta seguramente para a poca do exlio. Contudo, no podemos
considerar sistematicamente todos os outros salmos ps-exlicos (cf. o comen-
trio de B. Duhm), nem em bloco, pr-exlicos. Temos, antes, de contar com
salmos pr-exlicos (p. ex. SI 2; 24; 29; 45-48; 93; 110) e ps-exlicos.
Com base no mtodo da histria das formas (criado por H. Gunkel, se
bem que houvesse precursores; v. abaixo 4), S. Mowinckel elaborou a interpre-
tao histrico-cultuaI. Compreendeu os salmos como cantos clticos e o culto
como um drama sagrado, consistindo o evento central numa festa de entroniza-
o. Mas a interpretao cltica continua ainda muitas vezes incerta, porque os
pontos de referncia so frgeis demais e nossos conhecimentos sobre o culto
a Deus em Israel, reduzidos demais (x 23. 14ss. e outras), para podermos
relacionar ambos os aspectos.
Embora os salmos sejam na sua maioria lamentos ou splicas, foram definidos
pelos ttulos e pelas doxologias intercaladas como "cnticos de louvor". Esta a razo
por que se caracterizao Saltrio como "hinrio da comunidade do segundo templo" (J.
Wellhausen). Mas os prprios salmos dificilmente foram aproveitados, mais tarde,
exclusivamente como cnticos no culto (pblico); eram tambm oraes "pessoais",
individuais (cf. as Lamentaes de Jeremias). Em todo caso, devemos distinguirentre a
primeira localizao e a segunda localizao, entre o surgimento e o posterior aprovei-
tamento do salmo - dentro do contexto do culto ps-exlico, como tambm na coleo
dos salmos.
A interpretao estilstico-literria (M. Weiss e outros) busca ver em cada
salmo uma obra de arte singular, uma unidade em termos lingstico-estruturais.
Mas o peso da tradio no ignorado quando ela considerada mera matria-
prima a ser forjada pela criatividade do poeta?
288
A interpretao na perspectiva da histria da tradio mostra bons resul-
tados em relao ao Pentateuco, ao explicar o texto a partir de sua formao
gradativa no decorrer da histria e ao buscar destacar diversas camadas, sejam
estas orais ou literrias, a partir dos seus respectivos contextos. Mas a aplicao
desta metodologia aos salmos ainda se encontra no estgio inicial.
289
uma orao: hosianna - "ajuda (meu Deus)!" (SI 3.8 e outras), "Senhor,
lembra-te, s clemente, perdoa!" (Jz 16.28; Am 7.2; tambm 1 Rs 18.26 ou,
em sentido profano, 2 Sm 14.4 e outras). A splica, junto com a invocao de
Deus, o cerne da lamentao, de modo que seria mais apropriado falar de
"cntico de splica". A designao "lamentao" provm da justificativa que
acompanha a splica, que consiste num relato da situao vigente, portanto um
lamento sobre a aflio.
"No h um nico salmo de lamentao que se limite ao lamento. A lamentao
no tem sentido em si mesma (...), pois no se trata de exibir o prprio sofrimento e
comiserao consigo mesmo, mas de acabar com o sofrimento (...). A verdadeira funo
da lamentao lanar um apelo mediante o qual o sofrimento saia de si mesmo e se
coloque diante daquele que pode terminar com ele. Vista desta maneira, a lamentao
como tal constitui um movimento em direo a Deus." (C. Westermann, Forschung am
Alten Testament tt. 1974, pp. 255 e 261).
Assim, a forma completa da lamentao consta essencialmente de trs
partes: invocao, lamento e splica. Porm costumam se ajuntar a estes ingre-
dientes bsicos outros elementos estruturais (a seguir designados pelas alneas
a) at e)), sem que se possa determinar rigorosamente a sua seqncia. Na sua
estrutura as lamentaes do povo ("ns") e do indivduo ("eu") se assemelham:
1. Invocao de Deus, muitas vezes acompanhada por uma splica ou pergunta breve:
"Por que nos rejeitas, Deus, para sempre?" (SI 74.1.)
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (22.1.)
"Das profundezas clamo a ti, Jav!" (130.1.)
a) Aluso atuao salvfica anterior de Deus no passado, em especial ao xodo.
"Remiste" (74.2; cf. 44.2-4; 85.2-4; Is 51.9s.)
2. Lamento ou queixa como descrio da aflio ou necessidade: doena, culpa, perse-
guio por inimigos, abandono por Deus - com as perguntas tpicas: "por que, at
quando?"
"Por que diriam as naes: onde est o seu Deus?" (SI 79.10; 115.2.)
"At quando me esquecers, Jav?" (13.2.)
Dependendo do sujeito da orao, o lamento pode ser dividido em trs elementos (C.
Westermann): os inimigos - ns/eu - tu (cf. B.2s.).
b) Protesto de inocncia
"Sondas-me o corao, (...) e iniqidade nenhuma encontras em mim." (17.3.)
c) Manifestao de confiana ou declarao de confiana
"Tu, porm, Deus, s meu rei desde a origem." (74.12.)
"Quanto a mim, confio na tua graa!" (13.6; cf. 22.1Os.; 28.7; 71.6.)
290
Como a retrospectiva histrica (a), a manifestao de confiana (c) contm ao
mesmo tempo motivo para a interveno de Deus.
3. Splica
"Restaura, Jav, a nossa sorte!" (126.4; cf. 80.15.)
"Cria em mim, Deus, um corao puro!'" (51.12s.)
d) Voto que promete louvor e ao de graas aps a salvao
"Para sempre te daremos graa." (79.13.)
"Eu, porm, renderei graas a Jav (...) e cantarei louvores ao [seu] nome." ([7.17]
7.18; 13.6.)
e) Certeza de atendimento
splica pode seguir um orculo de salvao. Desta resposta, proferida por um
sacerdote ou profeta, s restaram raros vestgios nos salmos (12.6; 60.8ss.; 85.9ss.;
107.19s.; 119.25,81; 1 Sm 1.17; Lm 3.57; cf. tambm a resposta que o prprio
salmista encontra em SI 42.6,12 ; 130.5), explicitamente, porm, na mensagem do
Dutero-Isaas (cf. Is 50.4; v. acima 21.2a).
Tal orculo de salvao parece que pressuposto onde a lamentao termina com
uma "inverso no estado de esprito" do salmista, a certeza do atendimento da
orao por parte de Deus:
"Afastai-vos de mim, malfeitores todos:
Jav escutou a voz do meu pranto!" (SI 6.9ss.; cf. 28.6ss.; 56.10ss. e outras).
J lamentaes babilnicas apresentam uma estrutura similar, com moti-
vos anlogos; decerto Israel a conheceu por intermdio dos cananeus. No mais
se percebem ainda diversas relaes dos lamentos israelitas com oraes vtero-
orientais. A peculiaridade dos salmos veterotestamentrios que tanto a comu-
nidade como tambm o indivduo se dirigem na aflio, em aplicao concreta
do primeiro mandamento, somente a Jav, invocando apenas o seu auxlio. Ele
o mdico verdadeiro (x 15.26),que mata e vivifica (l Sm 2.6; Dt 32.39 e outras).
Tanto o hino como tambm a lamentao tinham originalmente seu espao
no culto. A lamentao do povo era recitada em cerimnias pblicas de luto
nacional. Convocava-se o povo para este "jejum" por ocasio de conflitos
blicos, de uma catstrofe natural ou por outro motivo (l Rs 8.33ss.; 21.9ss.; Jr
36.9; Jn 3.5; Jl 1.5ss.). Depois da destruio do templo em 586 a.c. tambm se
realizavam regularmente dias de "jejum" comemorativos (Zc 7.3ss.). Assim
talvez se explique que as lamentaes do povo na sua atual forma (SI 44; 74;
79s.; 83; 85; cf. Lm; Is 63.l5ss.; Dn 9) procedem em sua maioria da poca
exlica/ps-exlica.
Lamentaes individuais (SI 3; 5-7; 13; 22 e muitas outras) decerto se
originaram na maioria das vezes no culto. Mas elas podiam ser rezadas tambm
longe do santurio (SI 42s.), por um doente acamado (Is 38), p. ex. Como h
mltiplas ocasies para dirigir uma splica a Deus, as lamentaes dificilmente
291
tm um nico Sitz im Leben em comum. As diversas aluses a perseguies,
prises e doenas deixam entrever um pano de fundo especfico, como a
situao de um acusado (SI 7; 26 e outros) ou de um entenno (SI 38s.; 41 e
outras) e as instituies de direito sacro correspondentes, como o ordlio ou o
procedimento para a reintegrao do doente (cf. por ltimo W. Beyerlin, K.
Seybold). Entretanto, os salmos por via de regra no so suficientemente con-
cretos, mas genricos e tpicos demais para possibilitar uma concluso inequ-
voca. Em ltima anlise, as lamentaes pedem pelo restabelecimento da co-
munho com Deus.
Independentemente de quais tenham sido as situaes concretas de ori-
gem, tanto as lamentaes do povo como as do indivduo podem transcend-las
e lamentar a situao humana em geral diante de Deus, como o faz o SI 90,
quando deplora a transitoriedade do ser humano (cf. 103.14ss.; 104.29s. e
outras). Nos sabnos de penitncia (51; 130; 32; cf. 6; 38; 102; 143) passa para
o primeiro plano a confisso do pecado, acompanhada de uma splica por
perdo, que substitui a lamentao sobre a tribulao.
Podemos entender o salmo de ao de graas como conseqncia da
lamentao. Agradece aquele que se lamentou e prometeu na aflio: "Eu,
porm, renderei graas a Jav" ([SI 7.17] SI 7.18; v. acima alnea d)). Depois
que experimentou sua salvao, o salmista expressa sua gratido durante o
sacrifcio, junto ao santurio: "Cumpro meus votos feitos a ti." (SI 66.13; cf.
116.17; 118.19; Jn 2.10.) Todavia, o cntico de ao de graas pode tambm se
desvincular do sacrifcio de agradecimento ou at substitu-lo (ambos se cha-
mam em hebraico toda; Am 4.5; SI 50.14). Como o lamento individual, tambm
o cntico de ao de graas se dirige a Deus:
"Render-te-ci graas;
porque me acudiste." (SI 118.21; cf. Is 12.1; Jn 2.3.)
292
louvor, contido na lamentao, o cntico de confiana desenvolve a manifesta-
o de confiana: "O Senhor quem me sustenta a vida." ([SI 54.4] SI 54.6.)
A manifestao de confiana, um elemento estrutural (v. acima c)) da lamenta-
o ou tambm da ao de graas, se emancipou no salmo de profisso de
confiana individual (23; 27) ou tambm coletiva (125; 46 e outras). Porm
ressoa ainda o fundo temtico da calamidade ou aflio, de modo que a
confisso no perde seu vnculo com a realidade, nem contradiz s aparncias:
"Jav o meu pastor: nada me faltar (...).
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, no temerei mal nenhum." (SI
23.1,4.)
293
17.12ss. e outras). Ser que os salmos de Sio pressupem um ritual litrgico
associado a uma procisso (SI 48. 13s.; 46.9)?
Mais importante esta pergunta para a compreenso dos assim chamados
salmos de entronizao ou salmos do rei Jav (47; 93; 96-99), que proclamam
o reinado de Deus: "Jav se tornou rei" ou, como tambm podemos traduzir,
"Jav governa como rei" (93.1; 96.10 e outras). Ser que dentro do enfoque
do SI 47 (vv. 6,9) esta exclamao no sugere uma cerimnia cltica, uma vez
que se realizava uma cerimnia similar por ocasio da entronizao do rei
terreno (2 Sm 15.10; 2 Rs 9.13)? Em analogia com a festa babilnica do Ano
Novo, quando eram comemorados o combate contra o caos, a criao do
mundo e a entronizao do deus Marduque, S. Mowinckel (1922; alis, antes
j P. Volz, 1912) inferiu uma festa de entronizao de Jav como parte da festa
do outono, tese at hoje defendida por uns e veementemente contestada por
outros. O texto no permite que se faa uma reconstituio convincente do
drama cultual; mas pelo menos podemos imaginar que havia uma procisso
com a arca, onde se aclamava Deus como rei (cf. SI 24.7ss.), ao ingressar-se
no santurio. Embora a datao destes salmos seja problemtica, Dutero-Isaas
(Is 52.7-10) pressupe, na poca do exlio, a tradio dos salmos de entroniza-
o. Tambm parece que os SI 47; 93 so antigos, enquanto que os SI 96-99
so mais recentes, talvez at ps-exlicos. Este grupo de salmos tematiza a
decisiva confisso do reinado universal de Deus, vinculado fidelidade de Deus
para com seu povo (93.5; 98.3; 99.4ss.).
Como aqui e acol transparece nestes trs grupos de salmos um rito cultual (SI 2;
110; 46-48), tambm outros salmos contm elementos litrgicos (SI 115; 121; 134 e
outras). Podem-se distinguir concretamente liturgias de entrada por ocasio do ingresso
no templo (SI 15; 24; cf. Mq 6; Ez 18), liturgias de ao de graas (SI 107; 118) ou
discursos profticos de tribunal no culto (50; 81; cf. 95; 82). De forma similar se
refletem em textos profticos (como Jr 14; Mq 7) celebraes cultuais.
Outros salmos (112; 127s.; 133) contm na sua linguagem e no seu contedo
elementos sapienciais. Estes elementos tambm caracterizam os assim chamados salmos
de lei: 1; 119 (19B), que elogiam o caminho do justo; o SI 73 (37; 49), que reflete sobre
o destino do justo face ao "fim" dos mpios, e o salmo histrico 78. Elementos
sapienciais, porm, se encontram em muitos outros textos - por exemplo, na splica:
"Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos corao sbio!" (SI 90.12;
cf. 32.8ss.; 111.10 e outras).
294
26
CANTARES [CNTICO DOS CNTICOS],
LAMENTAES, RUTE E ESTER
295
ritual do casamento sagrado (no culto de Ishtar-Tamuz), que no mnimo teria
influenciado a linguagem utilizada. Certamente h, s vezes, afinidades lings-
ticas com textos cltico-mticos; mas no seu todo Cantares no se explica seno
de forma forada a partir deste contexto. c) A interpretao "natural", literal,
compreende Cantares como uma coleo de diversos cnticos de amor original-
mente independentes. A estrutura geral no mostra uma unidade coesa, direcio-
nada a um objetivo, nem apresenta um enredo dramtico. Ela foi elaborada
posteriormente, como tambm acontece com a redao dos livros profticos, e
s ocasionalmente apresenta motivos temticos, sendo em regra mais acidental,
utilizando-se, p. ex., da associao por palavras-chave (W. Rudolph).
Qual foi o Sitz im Leben dos cnticos de amor e o que motivou a sua
transmisso? Celebram o "amor livre"? A maioria, seno todos os cnticos
devem ter sido entoados por ocasio da cerimnia nupcial, que durava vrios
dias e era acompanhada de msica, dana e folguedos. Celebravam, portanto, o
relacionamento entre o noivo e a noiva (cf. 4.9ss.; 1.2ss.; 2.4ss.). Nesta oportu-
nidade o noivo pode ser tratado como "rei", como ainda documentam cnticos
rabes recentes, podendo ser at comparado a Salomo (1.4,12; 3.11; 6.8s.;
8.11s.). Talvez o nome Sulamita sugira que a noiva seja princesa, da casa de
Salomo (7.1s.). Tambm vrios traos isolados podem ser entendidos como
costumes nupciais, documentados no no AT (cf. Gn 29.2lss.; Jr l6.8s.; do rei:
SI 45), mas em poca mais recente.
Cnticos descritivos celebram a graa e o fascnio da mulher: "Como s
formosa, querida minha, como s formosa!" (4.1ss.; 6.4ss.; 7.lss.; tambm do
homem: 5.lOss.). O texto est repleto de comparaes e aluses. Assim, vinhas
e jardins so smbolos para a mulher (2.15; 4.12), ou colher, comer, beber
significam o gozo do amor (4.16s.; 8.2; cf. 7.3). Surpreende quantas vezes a
prpria mulher tem a palavra: "A vinha, porm, que me pertence no a
guardei" (1.6); "O meu amado meu, e eu sou dele" (2.16; cf. 6.3; 8.6). Em
parte fala o homem; vez por outra se entabula um dilogo (1.15s.).
Como mostra a linguagem, os cnticos provm da poca ps-exlica,
decerto do meio circundante de Jerusalm (3.lOs. e outras), mas contm mate-
rial traditivo mais antigo, da poca da monarquia. J as comparaes do noivo
com Salomo devem ter levado atribuio da coleo a esta personagem
modelar. Como se via tambm em Salomo o mestre da sabedoria e, ao mesmo
tempo, o autor dos livros de Provrbios e Eclesiastes (cf. 1 Rs 5.12), talvez se
possa concluir da que h uma correlao - perceptvel tambm em algumas
expresses distintas - entre Cantares e a literatura sapiencial. que os cnticos
de amor no parecem reproduzir o linguajar simples do povo; so obras artsti-
cas, poticas, que - de modo similar aos salmos - no tm uma orientao
individual, mas exemplar, tpica: devem ser cantadas.
E. Wrthwein resume a sua opinio sobre o surgimento dos cnticos afirmando
296
,'que os poemas de Cantares representam cnticos artsticos que surgiram em crculos
de sbios ps-exI1icos jerosolirnitas e eram destinados a ser recitados por ocasio das
festas nupciais, que em geral duravam sete dias" (Handbuch zum Alten Testament 1/18,
1969, p. 34).
297
familiarizado com a forma da lamentao (8.21s. e outras); mas, por razes
cronolgicas e de contedo, o profeta, que logo depois da catstrofe foi depor-
tado para o Egito, no entra em cogitao como autor. Tampouco se sabe se as
Lamentaes tm um ou mais autores. Mais claramente se infere seu Sitz im
Leben. Se as Lamentaes (sobretudo o capo 1) no foram elaboradas de
antemo para o culto, foram, em todo caso, logo usadas em cultos de "jejum"
ou de luto em que se relembravam periodicamente os acontecimentos terrveis
de 587 (Zc 7s.).
De forma similar Obra Historiogrfica Deuteronomstica, que profere
uma confisso de culpa na sua retrospectiva histrica a partir do exlio, as
Lamentaes tentam interpretar mediante a orao a situao vigente. Assumem
a denncia e o anncio de juzo do profetismo literrio sob a forma de confisso
de culpa:
"Fez Jav o que intentou; cumpriu a ameaa que pronunciou." (2.17.)
"Tomou-se o Senhor como inimigo, devorou Israel (...).
Rejeitou o Senhor o seu altar, profanou o seu santurio." (2.5,7.)
A ira de Jav trouxe a desgraa (2.1ss.; 3.43ss.), mas foi a prpria culpa
que a provocou: "Jerusalm pecou gravemente!" (1.8; cf. 1.13s.; 3.42; 4.6;
5.7,16). Grande parcela da culpa cabe aos profetas de salvao:
"Os teus profetas te anunciaram vises falsas e absurdas,
e no manifestaram a tua maldade, para restaurarem a tua sorte."
(2.14; cf. 4.13.)
298
Vv. 1-7a Exposio: histria preliminar e situao.
Vv.7b-19a Dilogo entre Noemi e Rute. Deciso de Rute.
Vv. 19b-22 Lamentao na ptria, em Belm: Noemi, antes "a graciosa, formo-
sa", retoma, parecendo ser mais Mara, "a amargurada".
2 Vv. 1-17 Primeiro encontro entre Rute e Boaz no campo durante a respigadura.
Vv. 18-23 Rute fala deste encontro a Noemi.
3 Vv. 1-5 O plano de Noemi
Vv.6-15 Encontro de Rute e Boaz noite na eira.
Vv. 16-18 Rute relata a Noemi o que aconteceu.
4 Vv. 1-12 'Iratativas legais junto ao porto da cidade. Renncia do resgatador.
Vv. 13-17 Boaz casa com Rute. Nascimento do filho.
Vv. 18-22 Apndice secundrio. Lista genealgica (secundria) at Davi.
Na poca dos juzes a carestia obriga Elimeleque a emigrar com sua
mulher Noemi e os dois filhos de Belm para Moabe. Depois da morte do pai,
ambos os filhos casam com mulheres moabitas. Quando tambm os filhos
morrem, a desamparada Noemi pe-se a caminho de volta sua terra natal,
Belm. Suas noras, Orfa e Rute, querem acompanh-la, ao que Noemi reage,
insistindo que fiquem na terra delas. Enquanto que Orla volta "ao seu povo e
aos seus deuses", Rute mantm sua deciso de "apegar-se" a Noemi e com
isto, ao mesmo tempo, apegar-se a Jav:
,'Aonde quer que fores, irei eu,
e onde quer que pousares, ali pousarei eu.
O teu povo o meu povo, o teu Deus o meu Deus.
Onde quer que morreres, morrerei eu,
e a serei sepultada.
Faa-me Jav o que bem lhe aprouver -
apenas a morte h de me separar de ti." (1.16s.; cf. 2.12.)
Em casa, Noemi lamenta o destino amargo que Jav lhe reservou (1.13,20s.;
cf. J 1.21). Rute cuida do sustento de ambas as mulheres, fazendo uso do
direito dos pobres (Lv 19.9s.; 23.22; Dt 24.19) de rebuscar as espigas que
ficaram para trs nos campos j colhidos. Por acaso vai parar no campo de
Boaz, um parente de Elimeleque. Boaz acolhe com solicitude a estrangeira,
tratando-a como parente e desejando-lhe a bno de Deus (2.12). Quando
Noemi v quanto Rute conseguiu ajuntar, seu lamento se transforma em louvor
benignidade de Deus (2.20). Querendo arranjar um "lugar de repouso", isto
, um lar para Rute, Noemi lhe aconselha ir de noite ao encontro de Boaz na
eira (3.1; 1.9). L Rute lhe pede que cumpra a lei matrimonial de cunhado ou
a lei do levirato: "Tu s resgatador!" Segundo esta instituio legal (Gn 38; Dt
25.5ss.), o parente mais prximo de um homem que falece sem deixar filhos
obrigado a casar com a viva, sendo o primeiro filho considerado filho do
falecido (cf. 4.10). J que h um parente mais prximo, a quem cabe em
primeiro lugar cumprir o direito ou dever de resgate, Boaz espera at que
299
amanhea, para apresentar-se ento no tribunal dos cidados plenos, junto ao
porto da cidade (4.1ss.; cf. 2.1; v. acima 3b,3), corno intercessor a favor das
duas mulheres. Boaz prope ao parente em questo, na presena de dez ancios,
"resgatar" a terra de Elimeleque (cf. Lv 25.25; Jr 32.7ss.), isto , adquiri-la por
opo de compra e casar com a nora enviuvada. Quando o parente renuncia a
este direito, confirma a sua cedncia a Boaz, mediante o costume antigo de tirar
urna sandlia e entreg-la ao mesmo. Com isto Rute se toma esposa de Boaz.
Nasce-lhe um filho, que considerado filho de Noemi (4.13ss.). Por causa de
seu amor a Noemi, a nora estrangeira considerada "melhor do que sete filhos".
Segundo a lista genealgica [mal (4.l8ss.), o filho primognito de Rute,
de nome Obede, toma-se pai de Jess e, com isto, av de Davi. Esta genealogia,
que se refere ao passado remoto, estilisticamente estranha dentro do contexto
narrativo e foi emprestada de 1 Cr 2.5,9ss., certamente constituindo um acrs-
cimo. Significa isto que a histria foi vinculada s posteriormente com a famlia
de Davi? Objees crticas neste sentido, no entanto, devem levar em conta
tambm a escolha do nome de "Obede" (4.17b) e supor que a criana origi-
nalmente tivesse outro nome. Mas urna interpretao deste tipo no elimina o
escndalo que representa a meno de urna moabita entre os antepassados de
Davi? Alm disso, j a indicao introdutria da origem de Elimeleque aponta
para a ptria de Davi: Belm (na regio) de Efrata (l.ls.; cf. 1 Sm 17.12; Mq
5.1). Talvez tambm no seja mera coincidncia que os votos de felicidade das
mulheres aludam a um outro antepassado de Davi: Perez (4.12). Desta maneira
igualmente possvel que a genealogia mais recente s quisesse comentar
aquilo que a narrativa j sempre pretendeu mostrar.
De qualquer forma tais consideraes ainda no confrrrnam a historicidade
dos fatos, mas apenas expressam a inteno original da "novela". Os aconte-
cimentos ali relatados so para ela situados num passado remoto (Ll: 4.7). -
Se a narrativa ignora a proibio de os moabitas pertencerem comunidade de
Jav (Dt 23.4), ento a histria eventualmente ainda desconhece esta norma,
porque anterior ao Deuteronmio, proveniente ainda da poca da monarquia,
ou a desconsidera, porque de urna poca posterior. Fica difcil determinar a
idade exata do livrinho de Rute, porm mais provvel que tenha surgido em
poca mais recente, ps-exlica, aproximadamente na mesma poca da "nove-
la" de Jonas, que igualmente demonstra simpatia para com os estrangeiros.
A histria conta de urna conduta exemplar, de senso de dever, solicitude
e fidelidade (cf. l.8; 3.10) - certamente se referindo fidelidade na esfera
familiar, mas tambm fidelidade de urna estrangeira para com outra estran-
geira. Mas dentro e junto com a tornada de decises, o planejamento e a ao
das pessoas atua o desgnio oculto de Deus, que dirige, com sua bno, os
acontecimentos e oferece urna soluo (l.6,9; 2.12,20; 3.10; 4.11,13s.) para a
aflio e o sofrimento (l.13,20s.).
300
4. Muito mais reticente nas suas afirmaes teolgicas o livro de Ester,
igualmente uma "novela" constituda de diversos episdios. Sua ao se de-
senrola na corte persa em Sus. Os dois captulos introdutrios (1-2) apresentam
os protagonistas e criam as condies para a trama (caps. 3-9). O rei Assuero
(isto , Xerxes I, 485-465 a.C) repudia sua esposa Vasti porque esta se recusa
a comparecer a um banquete (cap. 1). Quando se procura ento uma sucessora
para ela entre todas as jovens bonitas do pas, Ester, uma rf judia (que em
hebraico se chamava Hadassa, "murta"), cai nas graas do rei e elevada
condio de nova rainha. O primo e tutor de Ester, Mordecai, consegue alertar
o rei para uma conspirao que se est tramando contra ele; e os servios
prestados por Mordecai so registrados por escrito (cap. 2). Contudo, ele se
recusa a prostrar-se diante do favorito do rei, Ham. Chama a ateno que este
no persa, mas um agagita, isto , um membro da dinastia real dos amalequi-
tas, inimigos de Israel (x 17.8ss.; 1 Sm 15). A ento Ham pressiona para que
seja promulgado um edito de que num dia determinado por sorteio, no dcimo
terceiro dia do ms de Adar, todos os judeus devem ser exterminados em todo
o imprio persa (cap. 3). Informada por Mordecai e disposta, aps alguma
hesitao, a interceder junto ao soberano (cap. 4), Ester convida o rei e Ham
para um e depois para outro banquete (5.1-8). Entrementes Ham manda
levantar uma estaca, para executar Mordecai, que continua se recusando a
prostrar-se diante de Ham (5.9-14). Com isto o "perseguidor dos judeus"
(3.10 e outras) atinge o auge de seu poder, e se prepara uma reverso da
situao. Numa noite de insnia, o rei ordena que lhe leiam em voz alta um
trecho das crnicas e assim lembrado dos mritos de Mordecai (2.22s.),
decidindo ento recompens-lo, mesmo que com atraso. Crendo que ele mesmo
seja o agraciado, Ham sugere uma homenagem pblica que, no fmal, tem que
prestar a Mordecai, como constata com horror (cap. 6). No segundo banquete,
Ester revela sua origem judaica e suplica que sua prpria vida e a do seu povo
sejam salvas. Quando o rei pergunta quem o perseguidor, Ham se prostra
num gesto de splica junto ao div de Ester. Por equvoco, porm, o rei entende
esta atitude como atrevimento e manda empalar Ham no lugar de Mordecai na
estaca que ele mesmo havia erguido (cap. 7). Substituindo Ham, Mordecai
recebe o sinete de selar e, com isto, plenos poderes do rei, enquanto que a casa
de Ham dada a Ester. Indo ao encontro do rei uma segunda vez, Ester pede
ao rei que revogue tambm o edito dirigido contra os judeus: "Pois como
poderei ver o mal que sobrevir ao meu povo?" (8.6.) Se a fmalidade da
narrativa fosse a concretizao deste desejo, bastaria um relato sobre como foi
evitado o dano e compensada a tribulao sofrida para ter-se um bom fmal. Por
que, alm disto, os perseguidos precisam tornar-se perseguidores? Como a
legislao decretada pelo rei no pode ser invalidada (8.8; 1.19; Dn 6.9ss.),
permite-se aos judeus resistirem a seus inimigos e matarem seus perseguidores
- assim acontece no dcimo terceiro dia de Adar e no dia seguinte (9.1-19).
301
o fmal tripartido conclui, a partir destes acontecimentos: nos dois dias "em que
os judeus tiveram sossego dos seus inimigos" e o luto se transformou em
regozijo (9.22; 8.15s.) deve ser comemorada por todos os tempos a festa de
Purim, por ordem de Mordecai e Ester (9.20ss.,29ss.). O fmal recorda de novo
o prestgio de Mordecai: ele era "o segundo depois do rei" (l 0.1-3; cf. 8.2,15).
Certamente a narrativa contm um certo colorido persa e nomes persas
(1.10,14; 9.7ss.), mas no se detecta um fundo histrico concreto. O desenrolar
da ao, inclusive o triunfo sobre os inimigos, no tem fundamento histrico,
de modo que o livro de Ester tambm chamado de "romance histrico".
Todavia, histrica a situao geral retratada: o judasmo, disperso em todo o
mundo, experimenta, por ser diferente (3.8), rejeio e chega inclusive a ser
perseguido (cf. Dn 3ss.). O boato sobre a riqueza deste povo (3.9,13) teria tido
algo a ver com isto? Em todo caso pode ser conveniente ocultar a origem
judaica (2.10). Esta situao provavelmente s se criou na poca helenstica, de
forma que a narrativa deve ter surgido no sculo m ou II a.C; provavelmente
no mbito da dispora oriental.
Na sua forma atual, o livrinho de Ester conflui para a festa de Purim e
tenta justific-la. Todavia questionou-se de diversas formas a coeso do texto.
possvel que 9.20ss. constitua um adendo, que ilustra a observao fmal
anterior sobre a festa (9.18s.) e explica o significado do nome "purirn" como
sendo "sorte" (cf. 3.7). Pelo menos dois motivos narrativos, condicionados
pelas personagens Ester (5.1ss.; 7.1ss. e outras) e Mordecai (3.1ss.; 6.l ss.),
foram entrelaados (2.5ss.,19s. e outras). Talvez transpaream aqui e acol
formas preliminares mais antigas, que apontam para um material narrativo oral
subjacente, mas no tanto para fontes escritas preexistentes. A composio
global desde o princpio enfoca a festa de Purim.
A narrativa decerto se tornou apenas posteriormente a lenda da festa; pois
a festa de Purim j existia antes como uma espcie de festa de Ano Novo no
mbito persa ou mesopotmico e certamente foi assimilada pelo judasmo. A
partir da tambm se explicariam os nomes Ester (em persa: "estrela"; cf.
Ishtar) e Mordecai ("adorador de Marduque"?)? No dia do Ano Novo se
definia por "sorteio" o destino ou se deve interpretar (segundo G. Gerleman)
o termo "purim" no sentido de "parcelas", ou seja, a troca de presentes? Em
todo caso a festa tem um carter expressamente "profano", marcado pela
alegria, pela distribuio de presentes entre amigos e pobres (9.18s.,22; 8.16s.),
talvez tambm por jejum (9.31). Como no AT as festas de colheita adquirem
uma fundamentao histrico-salvfica (p. ex. Lv 23.42s.), tambm a festa de
Purim recebe, atravs da narrativa de Ester, uma motivao histrica.
J no judasmo incipiente, muito mais ainda no cristianismo, surgiram
dvidas sobre se Ester deveria ser considerado livro cannico. Sem dvida
Mordecai e Ester se mantm fiis ao judasmo de forma exemplar, mesmo
302
numa situao de perigo. Mas o livro no destaca de forma exagerada a
superioridade do judasmo (6.13)? Por que a salvao do extermnio tem que ser
transformada em triunfo sobre os inimigos? Claro que o anseio de pessoas
perseguidas em fazerem justia com as prprias mos algo compreensvel,
mas uma esperana teologicamente ilegtima. Como o posicionamento do
livrinho de Jonas diferente!
A narrativa de Ester evita mencionar o nome de Deus; mesmo assim o
desenrolar da ao pressupe a providncia oculta de Deus. Quando as pessoas
falham, "de outra parte se levantar para os judeus socorro e livramento"
(4.14). A recusa de prostrar-se diante de Ham (3.2; 5.9) no documenta a
obedincia diante do primeiro mandamento, mesmo que isto implique arriscar
a prpria vida (cf. Dn 3)?
303
27
A SABEDORIA DE PROVRBIOS
304
remontar ao incio da poca da monarquia. Alm disto os profetas pressupem
a sabedoria, referindo-se a ela de forma positiva (Am 6.12; Is 1.2s.; 11.2;
28.23ss.) ou crtica (Is 5.21; 29.14; 44.25; Jr 8.9 e outras).
Todavia, o pensamento sapiencial tem uma longa histria. Ela inclui, p.
ex., desde ditos isolados que retm experincia de vida (1 Sm 24.14; Pv 1O.1ss.;
25.1ss.) at reflexes teolgicas extensas como no dilogo de J ou no livro de
Eclesiastes, abarcando ainda livros fora do cnone hebreu como Jesus Siraque
ou a Sabedoria de Salomo. Mas as unidades mais extensas (Pv 1-9) obrigato-
riamente so mais recentes que as unidades mais curtas, ou provm de um outro
Sitz im Leben? Ser que a personificao da sabedoria (1.20ss.; 8; 9; cf. J 28)
ou a vinculao de sabedoria e "lei" (SI 1 e outras) constitui um fenmeno
mais recente? Em Israel parece que foi isto o que aconteceu. Em todo caso
Salomo considerado, ainda na poca tardia, como autoridade a que se
costumava recorrer freqentemente (Pv, Ec, 0, Sab).
305
a) Na sentena, tambm conhecida como mashal, aforismo ou mxima, a
sabedoria recolhe "os fatos da realidade e os coloca em uma seqncia ou em
frases que descrevem impresses" (W. Zimmerli, Gesammelte Aufsatze L p.
304). Capta-se a vida como ela - p. ex., no comrcio:
" 'Mau, mau', diz o comprador,
e depois vai-se gabando da compra." (Pv 20.14.)
Costuma-se estabelecer um princpio de retribuio, ou melhor, uma rela-
o entre ao humana e futuro do sujeito da mesma ao, de forma que o
destino parece ser conseqncia da prpria conduta:
"Quem abre uma cova nela cair;
e a pedra rolar sobre quem a revolve."
(26.27; cf. 1 Sm 24.14; Pv 11.2,17,25; 22.8s.)
Por via de regra, porm, a situao no descrita de uma forma neutra,
mas valorada. O julgamento muitas vezes se d atravs de conceitos contras-
tantes, como, p. ex., sbio e insensato, justo e mpio, pobre e rico, trabalhador
e preguioso. Nestes conceitos contrastantes o comportamento da pessoa se
identifica com sua postura, sua mentalidade, que determina seu futuro:
,'A esperana dos justos alegria,
o anseio dos mpios fracassa."
(10.28; cf. 11.7,23 e outras.)
Em razo de seu enfoque pedaggico, a sabedoria gosta de adotar a
tcnica simplista do contraste "preto e branco". No se oculta a uma exortao
clara para que se adote uma conduta correta e se rejeite um comportamento insen-
sato?
b) Na metfora ou na comparao (caracterizada pelo "como") so cor-
relacionadas aes ocorridas em reas distintas, geralmente no mundo natural e
no mundo humano. A nfase costuma recair sobre o [mal:
"Como a porta se revolve nos seus gonzos,
assim o preguioso no seu leito." (26.14.)
"Como o co que toma ao seu vmito,
assim o insensato que reitera a sua estultcia."
(26.11; cf. 25.3,l1ss.,26,28.)
A relao que se estabelece desta maneira apenas serve para ilustrar uma
situao ou pressupe, em ltima anlise, uma analogia entre a natureza e a vida
humana, isto , uma ordem universal? Trata-se "em todo caso em Israel no de
uma ordem universal global, mas antes de ordens parciais" (Herrnisson, p. 191),
de analogias descobertas aqui e acol. No deve ser por acaso que muitas vezes
aquilo que as diversas situaes tm em comum, o tettium comparationis,
aquilo que se manifesta nos diferentes contextos e seqncias de ao, no
306
pode ser determinado de forma inequvoca, mas pode ser interpretado de diver-
sas maneiras, permanecendo assim enigmtico (cf. o enigma em 1 Rs 10.1; Pv
1.6; Jz 14.12ss.).
c) Isto vale tambm para o provrbio numrico, que pode ser interpretado
como forma especial da metfora ou comparao, porque igualmente relaciona
fenmenos diferentes:
"H trs coisas que so maravilhosas demais para mim,
e h quatro que no entendo:
o caminho da guia no cu,
o caminho da cobra na penha,
o caminho do navio no meio do mar,
e o caminho do homem com uma donzela." (30.18s.)
O jogo de palavras com o termo "caminho" se refere ao caminho que
nunca foi trilhado, que precisa ser aberto cada vez de novo ou ao caminho que
na retrospectiva no se reconhece mais (como acontece no caso de 30.20)? Em
todo caso tem-se "a impresso de que os trs primeiros fenmenos apenas so
enumerados para dirigir a ateno para o quarto fenmeno: o fenmeno huma-
no" (H. W. Wo1ff). Um saber a respeito da natureza (cf. 1 Rs 5.13) aparece,
portanto, nos Provrbios apenas como sabedoria direcionada para o ser humano
(cf. tambm SI 104; J 38ss.).
Ao lado das enumeraes "trs/quatro" tambm encontramos seqncias
numricas de "um/dois" at "nove/dez" (Pv 30. 15ss.; 6. 16ss.); o prprio
profeta as pode retomar (Am 1.3ss.).
d) Uma forma especfica de comparao contm aqueles provrbios que
contrapem duas situaes, valorando a primeira de forma positiva e a segunda,
de forma negativa:
"Melhor o pouco havendo o temor de Jav,
do que grande tesouro, onde h inquietao.
Melhor um prato de hortalias, onde h amor,
do que o boi cevado e com ele o dio."
(15.16s.; cf. 16.8; 17.1; Ec 7.1ss. e outras.)
A expresso hebraica (tob min), que se costuma traduzir por "melhor do
que", talvez no se deva compreender de forma comparativa, mas excludente
e contrastante: "bom em oposio/contraste a". Esta interpretao no cor-
responde melhor ao raciocnio sapiencial plasmado em conceitos antitticos?
Em todo caso a contraposio pretende, por sua vez, ajudar a enfrentar a vida
- no s no mbito do cotidiano, mas tambm no sentido tico (Pv 19.1,22)
ou at teolgico (SI 118.8s.).
e) S o gnero literrio da exortao convida expressamente a que se
307
adote determinada conduta, acrescentando geralmente uma justificativa ("pois")
ou um alerta quanto s conseqncias ("para que no"). Assim exorta as
pessoas, em razo do princpio da retribuio, para que sejam precavidas diante
do malfeitor:
"No te aflijas por causa dos malfeitores,
nem tenhas inveja dos perversos;
porque o maligno no ter bom futuro
e a lmpada dos perversos se apagar."
(24.19s.; cf. SI 37.1s.)
Este recurso estilstico, que encontramos com freqncia na coleo Pv
22.17ss. (tambm 1.8ss.), influenciada pela sabedoria egpcia, invade muitas
reas literrias, inclusive a mensagem dos profetas (v. acima 13b3,e).
308
o presente por ocasio do surgimento do mundo (cf. 3.19s.),
brinca diante de Deus e, por isto, necessria ao ser humano
(8.32ss.; 2.2ss.).
n 10.1-22.16 "Provrbios de Salomo".
a 10-15 Ao lado de V, uma das colees mais antigas, decerto composta
b 16-22.16 de duas partes (a,b).
Em (a) encontramos em geral sentenas com paralelismo antittico
(como 10.l ss.),
Muitas vezes o comportamento e o destino do sbio e do insensa-
to, do justo e do mpio so contrapostos.
1lI 22.17-24.22 "Palavras dos sbios".
a 22.17-23.11 Grande afinidade com o livro sapiencial egpcio de Amenemop
(anterior a 1000 a.C), Predominam exortaes. Ao dito introdut-
rio (22.17-21) seguem dez temas (22.22-23.11).
b 23.12-24.22 Com exceo de 23.13s. (formulado segundo os provrbios ass-
rio-aramaicos de Ahicar) e 24.10-12, h "pouca influncia estran-
geira", mas uma "forte religiosidade": 23.17; 24.12,18,21 (B.
Gemser).
IV 24.23-34 ,'So tambm estes provrbios dos sbios."
V 25-29 "Provrbios de Salomo, os quais transcreveram os homens de
Ezequias, rei de Jud."
a 25-27 "O segmento 'mais secular' da literatura sapiencial israelita",
constituindo por isto a sua "forma mais original" (H. H. Schmid,
p. 145)? Somente 25.2,22 falam de Deus.
b 28-29 Maior conotao religiosa
Pode-se considerar (a) um retrato da situao de agricultores ou
artesos, (b), um retrato dos governantes (D. Skladny)?
VI 30.1-14 "Palavras de Agur".
Como Vlll, de origem extra-israelita, provavelmente da regio de
Edom ou do Norte da Arbia.
Vil 30.15-33 Provrbios numricos.
VllI 31.1-9 "Palavras dirigidas a Lemuel, rei de Massa".
O filho escolhido para ser rei instrudo pela me.
IX 31.10-31 Elogio da dona-de-casa virtuosa; acrstico.
309
var o princpio da retribuio ou at estabelec-lo (10.3,22 e outros) derivam-
se conseqncias para a ao humana: Entrega os teus caminhos ao Senhor
(16.3), no te vingues a ti mesmo (20.22; 24.29), no te alegres com a queda
de teu inimigo (24.17ss.), mas o socorre (25.2ls.)! Os alertas contra o desres-
peito aos pais (28.24; 30.11,17; cf. 17.25; 23.24), contra o adultrio (6.20ss.;
23.27), o falso testemunho (12.19,22; 19.5; 21.28; cf. 18.5) ou a apropriao de
bens alheios (10.2; cf. 16.8 e outras) se aproximam dos mandamentos do
Declogo. Os oprimidos esto sob a proteo do Criador (14.31; 17.5; 15.25).
Ao lado da exortao de ajudar aos pobres (19.17; 22.9,22s.; 23.lOs.) est a
percepo de que existem ricos e pobres - mas ambos esto na mo de Deus
(22.2; 29.13). Deus consegue olhar para dentro da intimidade do ser humano,
para prov-lo (15.3,11; 16.2; 21.2), mas a pessoa preserva sua liberdade de ao
(16.1,9; cf. 25.2a). Assim o ser humano no consegue perscrutar a si mesmo
nem a seu destino (20.24; 21.30s.). Visto que o conhecimento do sbio sobre a
ordem das coisas (11.24s.) e at sobre o seu prprio corao (16.1s.) limitado,
cabe-lhe ser humilde (16.5,18s.; 22.4; 26.12). Em ltima anlise o temor a
Deus, que ao mesmo tempo confiana em Deus, representa a verdadeira
sabedoria (14.26s.; 1.7; 9.10; J 28.28; SI 111.10; cf. Jr 9.23s. e outras).
310
28
ECLESIASTES (COHLET), O PREGADOR
311
dvida uma conotao crtica, pois alerta, por um lado, contra a infmdvel
compulso de escrever livros e de empreender cansativos estudos (12.12) e, por
outro lado, exorta: "Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos." O juzo de
Deus atinge toda a ao humana, inclusive a ao oculta (l2.13s.).
Esta retificao por parte da f tradicional se mostra tambm no corpo do
livro? provvel que os trechos que falam do juzo de Deus (l1.9b) e da justa
retribuio (8.12b-13) sejam acrscimos. Em relao a outros textos (como
3.17a; 8.5 e outras) h dvidas. Certas irregularidades se justificam pela situa-
o material; pois Eclesiastes retoma tradies da sabedoria, reinterpretando-as
criticamente, sem, no entanto, ser sempre totalmente conseqente ("sim -
mas": 2.13ss.; 9.4s. e outras). Alm disto diferenas lingsticas no so fceis
de detectar. Assim, h aparentemente uma camada redacional "ortodoxa",
embora seja difcil comprov-la.
312
gular e pelo seu contedo, o tema da "nulidade" ["vanidade"] da vida huma-
na. Outras palavras-chaves caractersticas so, p. ex.: "fadiga", "sopro", "cor-
rer atrs do vento", "estultcia", "vantagem", "proveito", "debaixo do sol"
(isto , sobre a terra, face morte).
1.1 Ttulo.
1.2; 12.8 Leitmotiv: "Tudo vaidade."
1.3,4-11 Repetio da mesma situao:
"Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se
afadiga (...)?" (1.3.)
"Nada h, pois, novo debaixo do sol." (1.9.)
1.12-11.8 Desta "pea central", a coleo de sentenas, se destacam:
1.12-2.11: Retrospectiva do rei.
3.1ss.: "Tudo tem o seu tempo."
11.9-12.7 Comentrio sobre o envelhecimento.
12.9-11,12,13s. Eplogos.
313
Segundo: h fiis que tm a mesma sorte que os mpios; h mpios que
experimentam o mesmo que os fiis; o princpio da retribuio no explica a
vida (8.14; 7.15; 9.11).
Juntam-se outras questes difceis a estes dois problemas principais: a evidente
injustia no mundo (3.16; 4.1; 5.7; 8.9ss.; cf. 9.16; 1O.6ss.), a riqueza (5.9ss.), a
incerteza de poder dispor da herana (2.18s.), a maldade do ser humano em geral
(8.6,11)e da mulher em especial (7.27ss.;diferenteem 9.9). 1mbm o fiel imperfeito (7.20).
Por conseguinte, Eclesiastes no mais busca, ao contrrio da sabedoria
proverbial, compreender ordens especficas por trs das experincias, mas busca
apreender a totalidade da vida (muito evidente na comparao das pessoas com
a natureza: Ec 3.19 em oposio a Pv 6.6 e outras). Como aqui no h uma
resposta convincente nem para o sbio (8.17), Eclesiastes chega a uma conclu-
so extremamente dura: "Eu odiava a vida" (2.17), melhor seria nem ter
nascido (4.2s.) - uma opinio que compreensvel, vindo de algum que
desabafa (1 Rs 19.4; Jr 15.10; 20.14s.; J 3 e outras), mas que estranha nesta
concepo genrica ao resto do AT. Certamente a vida tem suas alegrias (como
a juventude ou o vinho: 2.24s.; 3.12s.; 5.17s.; 9.7ss.; 11.9 e outras), de que
devemos desfrutar como ddivas vindas da mo de Deus (9.7; 3.13; 5.19); mas
tambm a alegria frgil diante da morte (2.1; 3.22; 8.15).
Apesar de tudo Eclesiastes sem dvida no desiste do "temor a Deus"
(5.6; 3.14; mas adverte contra exageros em 7.16s.). Deus d e tira a vida (5.17;
12.1,7), d tanto alegria como fadiga, tanto felicidade como desgraa (2.24s.;
3.10; 6.2; 7.14). Aqui no se sentem os efeitos do primeiro mandamento?
Naquilo que Deus determina e faz, o ser humano nada pode mudar (3.14; 6.10;
7.13). Embora Deus tenha feito tudo bem, o ser humano no tem condies de
compreender a obra de Deus (3.11; 8.17; cf. 7.29; 5.1) - e com isto a ordem
da vida e o princpio da retribuio. No conhece o seu tempo determinado
(3.1ss.; cf. 9.1) nem o seu futuro (8.7; 9.12; 10.14).
Podemos repreender Eclesiastes por no mencionar mais o nome de Deus,
o Deus que se mostra clemente para com Israel (x 34.6s.)? Na poca tardia o
nome de Jav j relegado ao segundo plano, sobretudo na sabedoria (cf. J).
Embora o livro de Eclesiastes, completamente atpico para o AT, tenha sido
incorporado no cnone, parece confrontar o leitor com a pergunta: a profisso
de f no Deus que atua, mata e vivifica na histria (1 Sm 2.6), esta profisso
de f se mantm firme diante da experincia individual do mundo e da vida?
314
29
O LIVRO DEJ
315
dificilmente representa uma singela "saga popular", antes uma "narrativa
sapiencial didtica", redigida em prosa artstica (H. P. Mller, pp. 45, 80).
Utilizando-se da figura representativa de J, trata da relao entre piedade e
realidade, melhor dito, da conduta dos que temem a Deus quando so atingidos
pelo sofrimento. Todavia, a narrativa e a parte potica no so independentes
uma da outra; antes, a ltima pressupe a primeira (8.4 e outras). A lenda de
J, no incio transmitida como lenda independente, tornou-se a narrativa que
emoldura o dilogo mais recente. Neste processo foi retrabalhada redacional-
mente. Porm o alcance desta interveno controvertido.
316
3. evidente que a tradio de J remonta a origens remotas, estrangeiras.
J um dos "filhos do Oriente" (1.3; cf. 1 Rs 5.10) e vem da "terra de Uz",
que devemos procurar no Sudeste, na regio habitada pelos edornitas (Lm 4.21).
Alm disto, os amigos de J: Elifaz de Tem (em Edom?), Bildade de Sus
(junto ao Eufrates?) e Zofar de Naamate (no Norte?) so estrangeiros. Todavia,
a narrativa do J temente a Deus difIcilmente surgiu em outro lugar - Edom,
Arbia ou onde quer que seja - seno em Israel.
A narrativa contm, por um lado, elementos traditivos antigos, quando, p.
ex., o pai de famlia oferece pessoalmente sacrifcios, como se costumava fazer
na poca patriarcal (1.5). Por outro lado, encontramos ali concepes mais
recentes como o aparecimento de Satans no papel de sedutor ou antagonista
(cf. Zc 3; 1 Cr 21.1). Por conseguinte, a lenda de J provm, na sua forma
escrita, da poca ps-exlica - como o livrinho de Jonas. Quando o profeta
Ezequiel (14.14,20) cita No, Daniel e J como exemplos de justia e piedade
em tempos remotos, decerto ainda no conhece a narrativa atual, mas apenas
uma tradio oral mais antiga sobre J.
Segundo a acepo habitual, o livro de J surgiu como um todo entre o
sculo Vem a.c., portanto na poca persa ou no incio da poca helenstica.
Torna-se difcil estabelecer uma datao mais precisa.
317
Alm disto parece que no mnimo em mais duas outras passagens houve inter-
veno no texto.
Enquanto nos dois primeiros ciclos de discursos os trs amigos Elifaz, Bildade e
Zofar se manifestam um aps o outro, o terceiro ciclo de discursos (caps. 22-27)
permanece incompleto: Bildade fala bem pouco, e Zofar no mais se manifesta.
O discurso de Deus (caps. 38-41) no deve ter sido acrescido na sua ntegra, mas
provavelmente recebeu complementaes posteriores. Na verso atual se compe de
duas partes que terminam ambas com a submisso de J (40.3-5; 42.1-6). Originalmente
deve ter havido apenas uma nica fala, sendo que 40.3-5 (com os versculos de transio
40.1,6s.) pode ter sido antecipado do [mal para o meio da fala ou, ento, criado
especialmente para o presente contexto. Alm disto se pressupe que as descries de
Beemot - "hipoptamo" (40.15-24), Leviat - "crocodilo" (40.25-41.26) e talvez
tambm a do avestruz (39.13-18) tenham sido inseridas mais tarde.
Devemos contar, portanto, a grosso modo, pelo menos com quatro est-
gios de formao do livro de J:
I. Pr-histria oral da narrativa sobre J (cf. Ez 14.14ss.)
lI. Narrativa sobre J (caps. ls.; 42)
m. Composio potica de J (caps. 3-27; 29-31; 38.1-42.6), que utiliza a
narrativa como moldura.
IV. Acrscimos posteriores na composio potica (sobretudo caps. 28; 32-37)
I. J 1-2 Narrativa da moldura. Prlogo.
Dupla provao e fidelidade de J:
"Porventura J debalde teme a Deus?" (1.9.)
Perda de bens, filhos (cap. 1) e da sade (cap. 2).
n. J 3-31 Dilogo distribudo por trs ciclos de discursos
com monlogos de J (3; 29-31) como moldura
3 Monlogo de J.
Maldio de seu nascimento (cf. Jr 20.14ss.; Ec 2.17)
4-27 Trs ciclos de discursos (4-14; 15-21; 22-27)
com falas de Elifaz de Tem (4s.; 15; 22),
Bildade de Sus (8; 18; 25),
Zofar de Naamate (11; 20)
e respostas de J (6s.; 9s.; 12-14; 16s.; 19; 21; 23s.; 26s.).
28 Excurso: Cntico sobre a sabedoria (cf. Pv 8s.).
29-31 Monlogo de J
com a lamentao: antigamente era respeitado e esperanoso (cap. 29),
agora hostilizado de fora e afligido por dentro (cap. 30).
Confisso de inocncia em forma de juramento de purificao (cap. 31)
com desafio lanado a Deus (31.35ss.).
m. 32-37 Insero: Falas de Eli.
318
IV. 38.1-42.6 "Teofania". Duas falas de Deus
com resposta de J (40.3-5; 42.1-6).
V. 42.7-17 Moldura narrativa. Eplogo.
319
No entanto, percebe-se claramente uma progressiva intensificao no es-
copo global. No incio, os amigos proferem palavras de conforto (4.1ss.), mas
no final acabam lanando acusaes pessoais (22.4ss.). A caminhada de J
comea com o amaldioamento do prprio nascimento (3.3ss.; cf. 6.8; 1O.18ss.),
passa por acusaes contra Deus que atormenta o fraco (7.12ss.) e declara
culpado o inocente (9.20ss.), e chega esperana de que encontrar ajuda em
Deus. Desta maneira J acaba formulando - como que aplicando o primeiro
mandamento ao seu destino - enunciados quase que paradoxais sobre Deus.
Embora constate que entre Deus e ele no h nenhum rbitro, portanto nenhuma
instncia superior neutra (9.32s.), conclama Deus para o julgamento (13.3,18ss.;
23.4ss.). Ser que J segue, por fim, o conselho dos amigos (5.8s.; 8.5s.;
11.13ss.; 22.21ss.) quando se volta - em contradio a seu apelo anterior:
"Deixa-me!" (7.16; 10.20) - a Deus? J pede que lhe seja dado abrigo contra
a ira divina no reino da morte, para que Deus ento se lembre dele com
benevolncia (14.13). Assim, contra o Deus que o persegue (16.9ss.; 19.6ss.,21)
e que lhe tira seu direito (27.2) J invoca o Deus que na aflio defende a ele
e a seu direito. Contra o Deus irado, aparentemente injusto e arbitrrio, J apela
para o Deus que lhe benevolente:
"A minha testemunha est no cu,
e nas alturas quem advoga a minha causa." (16.19-21.)
"Eu sei que o meu Redentor (advogado) vive...
1mbm sem carne verei a Deus." (19.25s.)
J est seguro de que encontrar um intercessor e at que ver a Deus,
seja - segundo esta passagem muito controvertida - diante da morte ou
mesmo na morte. Mas tais confisses no permanecem instantes iluminados no
meio das trevas profundas da lamentao?
Enquanto os amigos de J apenas vem nele a pessoa sofredora, no o
justo, ele mesmo insiste em afirmar sua inocncia (6.24,28ss.; 9.21; 10.7; 16.17;
23.10ss.). Mais ainda: promete manter-se ntegro at o [mal de seus dias
(27.2ss.) e refora suas palavras com um juramento extenso de purificao (31),
assegurando que tem plena conscincia de que nem no passado nem no presente
cometeu qualquer transgresso. A declarao de inocncia culmina - de novo
em contradio com a queixa de que Deus no escuta seu grito por socorro
(30.20) - no apelo de J: "Que o Todo-Poderoso me responda!"
Na verso mais antiga do livro de J, que ainda no continha os discursos
de Eli, a resposta de Deus "do meio de um redomoinho" (38.1) segue
imediatamente ao desafio lanado por J. Esta resposta apenas aborda de forma
indireta a sina de J. Defrontando J com o milagre da criao, perguntas
como: "Onde estavas tu, quando eu lanava os fundamentos da terra? (...) Tens
brao como Deus?" (38.4; 40.9) trazem diante dos olhos de J a incapacidade
do ser humano de criar o mundo ou at de apenas conserv-lo. Cabe a Deus e
320
no ao ser humano, limitado no seu conhecimento e poder, preservar a ordem
na natureza distante e prxima dos homens (astros, condies climticas, animais).
Atravs das perguntas retricas "Deus [transforma] o interrogador em interrogado
e, por fIm, em algum que acaba questionado na sua condio humana (...). As falas de
Deus retificam os enunciados precedentes sobre a relao entre ele e o ser humano,
colocando J diante do Deus visvel na sua criao, mas ao mesmo tempo incompreen-
svel." Recorrendo criao, mostra-se que o ser humano "limitado no tempo, em
poder, conhecimento e capacidade diante do Deus que atua em tudo desde o princpio
e infinitamente superior e incompreensvel" (E. Wrthwein, p. 215).
Para J a palavra de Deus antes reprimenda do que justificao (38.2;
40.8). Mesmo assim a experimenta como a almejada solicitude misericordiosa
de Deus? Em todo caso J se submete ao Todo-Poderoso: "Sou indigno; que
te responderia eu?" (40.4), renuncia sua dvida sobre a ordem universal, s
acusaes contra Deus e seus prprios protestos de inocncia:
"Eu te conhecia s de ouvir,
mas agora os meus olhos te vem.
Por isto retiro o que disse
e me arrependo no p e na cinza." (42.5s.)
Esta "soluo do problema de J" surge a partir de uma vivncia pessoal
de Deus que supera e relativiza qualquer explicao do mundo e experincia de
dor? Quando J "retira o que disse", o J que (no dilogo) se rebela e discute
com Deus volta a ser o J que se sujeita a Deus (o J do prlogo), que na f
aceita sua sina (1.21; 2.10). Ser que o autor do dilogo conservou a narrativa
da moldura porque tinha a secreta inteno de conduzir J, no [mal, novamente
at o princpio? Com as suas ltimas palavras, J volta a assumir a postura
humilde "no p e na cinza" (2.8; 42.6). Tornou-se outra pessoa ou continua
sendo o mesmo, enriquecido por novas experincias?
Depois da retratao de J, Deus precisa pronunciar uma sentena decisi-
va na disputa entre J (13.7; 27.5 e outras) e s~us amigos (20.3; 22.5 e outras),
manifestando publicamente: o autoconhecimento de J de forma alguma con-
firma a teologia dos amigos. Pelo contrrio, eles vivem graas intercesso
dele; pois no falaram "o que era reto" diante de Deus (42.7-9).
A virada na sorte de J, que recebe de volta muito mais do que havia
perdido, no representa pr-requisito, mas antes conseqncia de sua percepo
- ddiva de Deus, confirmao de sua sentena (42.lOss.; v. 11 originalmente
fazia parte dos caps. ls.). Com isto Deus coloca de novo em vigor o princpio
de retribuio, interrompido anteriormente?
321
v- TEOLOGIA E
A
HERMENEUTICA
323
30
COMO SE FALA DE DEUS
NO ANTIGO TESTAMENTO
324
Talvez sobreviva nestas duas tradies to diferentes entre si tambm uma
lembrana histrica: Jav j era adorado antes que Israel se constitusse, porm
dentro de Israel apenas a partir de Moiss? Que divindades eram conhecidas
anteriormente pelos grupos sociais assentados na Palestina, que mais tarde
constituram Israel?
2.1. A frmula de juramento utilizada por ocasio do contrato de delimi-
tao de terras firmado entre Jac e Labo (Gn 31.53) deve ser bem antiga por
causa da forma verbal que estranhamente est no plural: "O Deus de Abrao e
o Deus de Naor julguem entre ns!" Ao que parece se invocam duas divinda-
des que se relacionam cada uma com um dos grupos ("Deus de Abrao" se
relaciona com Jac, "Deus de Naor", com Labo). Cada grupo adorava o seu
prprio deus, um deus diferente? Ambas as divindades se assemelham no
apenas na forma como so denominados ("Deus" + o nome de uma pessoa),
mas tambm em sua natureza; pois ambos ocupam a funo de rbitro e decerto
tambm responsabilizam-se pela proteo do respectivo grupo (cf. Gn 4.15).
Quo diferente a revelao onrica que ocorreu junto ao santurio de Bete1,
ou seja, a apario em sonho de uma multido de anjos (28.12; cf. 32.2)!
Gn 31.53 decerto oferece o embasamento mais firme para a reconstruo de uma
f no Deus dos pais (patriarcas) (A. Alt). Num primeiro momento esta tese foi aceita
amplamente - por causa da correspondncia entre o estilo de vida nmade e a forma
religiosa - , mas entrementes, se no for rejeitada por completo, s pode ser assumida
com ressalvas e alteraes. De fato a expresso "Deus de meu/seu pai" (31.5,42 e
outras) parece ser mais antiga que o plural "Deus de meus/seus pais" (x 3.13ss.); da
mesma forma, formulaes isoladas tais como "Deus de Abrao" (Gn 31.53; SI 47.10),
"Temor (Parente?) de Isaque" (Gn 31.42,53) ou "Poderoso (Touro?) de Jac" (49.24;
SI 132.2,5) parecem ser mais antigas que a frmula sinttica "Deus de Abrao, lsaque
e Jac" (x 3.6,15s.). Nesta frmula se juntam as diversas divindades de cls ou
famlias, formando um nico Deus, o que deve ter acontecido depois da juno das
tradies patriarcais, originalmente vinculadas a diversas localidades. No entanto, a
existncia de uma f de nmades num Deus patriarcal, vinculado a pessoas e no a
lugares, inferida por A. Alt, no pde ser comprovada at agora no Antigo Oriente e
tambm no no caso dos bedunos pr-islmicos. Nomes de Deus formulados de
maneira parecida por via de regra no so nomes prprios, mas apenas cognomes.
Sero, portanto, tambm aqueles nomes do Deus dos pais apenas cognomes, qual seja,
do deus En
Teroos pais adorado seu deus ou seus deuses sob o nome comum entre os semitas: El!
Mas os textos do AT que comprovam que os pais nmades adoravam o Deus El
(Gn 49.25; cf. 33.20; 46.3; x 15.2; 18.4) dificilmente so to antigos e confiveis como
Gn 31.53. Provavelmente devemos diferenciar entre a f dos grupos patriarcais e a
religio praticada em santurios da terra cultivada, como Betel, e distinguir esta, por sua
vez, da posterior adorao de Jav por parte do povo de Israel. Seja qual for a opinio
que se tenha sobre a possibilidade de clarear a escurido da pr-histria, no h dvida
de que a f em Jav tinha precursores.
325
Thmbm os nomes de El so multiformes e podem ser comprovados na forma
conservada no AT apenas de modo restrito atravs de paralelos extrabblicos. O nome
El'Olsm, "Deus (da) eternidade" (Gn 21.33), deve estar relacionado com Berseba, EI
Ro'i, o "Deus que me v (?)" (16.13), com um poo localizado no Sul, EI Bet-El,
"Deus (de) Betel" (35.7; cf. 31.13; Jr 48.13), com o santurio do mesmo nome e EI
'Elyon, "o Deus supremo" (Gn 14.18ss.; cf. Nm 24.16; SI 46.5; 47.3; 82.6 e outras),
com Jerusalm. Parece que nestas denominaes sobrevivem as divindades locais que
eram adoradas no respectivo lugar e (segundo O. Eissfeldt) talvez fossem compreendi-
das como manifestaes locais do nico Deus El. Em contraposio, o nome "El, Deus
de Israel" (Gn 33.20; cf. Js 8.30), que aponta para Siqum, j diferente na sua forma
e comprova antes a vinculao a um grupo.
Em sua tentativa de sistematizare periodizar antigas tradies, o Escrito Sacerdo-
tal sintetiza no conceito EI Shaddai os diversos nomes de Deus da poca patriarcal,
diferenciando, assim, a poca patriarcal (em Cana) da poca pr-histrica anterior e da
poca mosaica subseqente (Gn 17.1; 28.3 e outras at x 6.3; cf. 8b). A traduo "o
Todo-Poderoso" remonta (por intermdio da Vulgata: omnipotens) LXX, que no livro
de J reproduz vrias vezes Shaddai por "Pantocrata".
O AT conservou as mltiplas formas nominais porque EI tambm pode
ser interpretado como apelativo, "Deus", de sorte que o antigo nome prprio
s aparece ainda como cognome ou atributivo de Jav: "o Deus eterno", "o
Altssimo" (Gn 21.33; SI 47.3 e outras). Alm disto os diversos elementos
traditivos mantm ou adquirem em ltima anlise apenas uma intencionalidade
no AT: a de transmitir "as promessas feitas aos pais" (Rm 15.8). Deus conduz
os patriarcas e suas famlias para o futuro, prometendo-lhes proteo e assistn-
cia na sua caminhada (Gn 28.15; 31.3,5; 35.3; 46.3s. e outras), descendentes
(18; 16.11s. e outras), como tambm a posse de terra (12.6s.; 15.7,18; 28.13 e
outras). Por conseguinte a f se manifesta numa confiana esperanosa na
promessa de salvao futura, j presente na conduo divina: "Eu sou conti-
go!" (26.24,28 e outras).
As promessas esto to difundidas na tradio patriarcal, que devem ter a as suas
origens e no em contextos mais recentes. Todavia, um ncleo bsico da tradio
patriarcal - que dificilmente conseguimos delimitar com preciso - foi ampliado
consideravelmente de acordo com experincias posteriores e com isto, modificado.
Desta maneira a promessa de um filho foi associada constituio do povo de Israel
(12.2; 17.4ss.; 26.4 e outras), e a promessa de terra foi considerada cumprida apenas
aps a ocupao da Palestina (sobretudo Dt 6.10 e outras). Segundo o Escrito Sacerdo-
tal, a fonte mais recente, os patriarcasviviam na "terra de (...) peregrinaes" (Gn 17.8;
28.4 e outras) e obtinham com o local de sepultamento (Gn 23) apenas um penhor do
futuro prometido (cf. 8a,6). Com isto o AT constata, ao mesmo tempo, que o povo
no estava vinculado com a terra desde o princpio, como que de forma natural e bvia;
a posse de terra , antes, um bem prometido e concedido por Deus, que Israel no
conseguiu obter com suas prprias foras (Dt 8.17; 9.6), constituindo assim em ltima
anlise no propriedade sua, mas propriedade de Deus (Lv 25.23; Js 22.19).
2.2. Segundo testemunhos antigos do AT, diversificados e por isto confi-
326
veis, o Sinai foi a ptria de Jav (Jz 5.4s.; Dt 33.2; x 19ss.). Talvez Jav j
tenha sido adorado pelos quenitas (cf. Gn 4.15) ou midianitas (x 18.12). Foi
possivelmente na convivncia com eles que Moiss, casado com a filha de um
sacerdote midianita (segundo x 2.15ss.), conheceu o nome de Jav, levando a
f em Jav, em seguida, aos seus conterrneos, obrigados a prestarem trabalhos
forados no Egito. Prometeu Moiss a ajuda de Jav aos oprimidos (como
afirma x 3.8,16s. J, enquanto que 3.10-12 E atribui, decerto para ressaltar a
transcendncia de Deus, um papel de liderana a Moiss)? Neste sentido, os
diferentes fios traditivos (3.13ss.,16) destacam da mesma forma a identidade do
Deus dos patriarcas com Jav; a isto corresponde que Jav se manifesta da
mesma maneira: na promessa. S que esta promessa no mais se restringe
famlia ou ao cl, mas se estende a todo o povo (3.7s.,16s. J,9ss. E). Enquanto
no tratamento utilizado diante do fara se usa a designao "Deus dos he-
breus" (5.3 e outras), entende-se pelo contexto (3.18; 7.16 e outras) que se trata
de Jav. Agradece-se a ele (x 15) depois que o povo salvo dos inimigos que
o perseguem (x 14). J nas tradies mais antigas ainda identificveis este
evento no era considerado mero fenmeno natural nem smples vitria de
Israel, mas feito de Jav: foi ele quem "lanou" (segundo o cntico de Miri:
15.21) ou "sacudiu" (14.27 J) os inimigos para dentro do mar. Assim se
reconhece a Deus atravs de seu agir, e por isto louvado - at o hino tardio
do SI 103.2: "Bendize, minha alma, a Jav, e no te esqueas de nem um s
de seus benefcios!' Visto que o acontecimento preserva um signifIcado que
ultrapassa o mbito daqueles que foram diretamente atingidos e com isto se
mantm aberto em relao ao futuro, podem ser acrescentados a este evento
singular outros acontecimentos, de sorte que na retrospectiva o louvor a Deus
abarca uma sucesso de acontecimentos (como acontece no cntico de Moiss:
x 15.1-18; cf. SI 105s.; 135s. e outras). Mas a libertao do Egito conside-
rada ao longo da histria de Israel como o ato fundamental da eleio de Israel
(Os 12.10: "Eu sou [...] teu Deus, desde a terra do Egito"; cf. SI 114.1s. e
outras). A confisso: "Jav, que conduziu Israel para fora do Egito" se toma,
"considerando a freqncia com que ocorre, o enunciado teolgico mais im-
portante do AT" (E. Zenger), perpassando amplos trechos da literatura do AT
- com exceo da literatura sapiencial ou da tradio jerosolirnita - e con-
vertendo-se em fundamento da eleio do povo (cf. Arn 3.1s.; 9.7 e outras).
2.3. 'Iraos caractersticos completamente diferentes apresenta a percope
do Sinai: o Deus que acompanha seu povo habita ou se manifesta em cima de
um morro, revela-se no atravs de promessas e aes, mas antes em manda-
mento e lei. controvertido se a tradio do xodo e a do Sinai formaram desde
o princpio uma unidade. Comum a ambos os blocos traditivos a figura de
Moiss, mas sobretudo o Deus Jav. Segundo x 19.16ss., sua revelao
acompanhada de fenmenos naturais (trovo, raios, fumaa, fogo; cf. Gn 15.17),
que no tomam Deus visvel (cf. a interpretao tardia em Dt 4.12; v. abaixo
327
3.2), mas apenas indicam sua vinda. Ademais, Jav deixa de ser um deus local
ou de um monte; ele "desce" sobre o Sinai (x 19.18,20 J; cf. 24.16 P) e dali
sai para prestar socorro (Jz 5.4s.) ou acompanhar as pessoas (x 33.12ss.; Nm
10.11 ss.). A prpria teofania do Sinai sobretudo objetiva a comunho entre
Deus e o povo. Esta comunho se d atravs da viso de Deus e reforada
por uma refeio (x 24.10s.) ou um rito de sangue (24.6,8). Conseqncia
desta comunho a proclamao de mandamentos e preceitos jurdicos (x 20;
21-23; 34) que extrapolam o mbito cltico e interferem na vida cotidiana.
2.4. A salvao do povo diante dos perseguidores junto ao mar com-
preendida, desde o princpio ou desde cedo, como feito de Jav e desenvolvida
como sua interveno militar: "Vede o livramento de Jav (...). Jav pelejar
por vs, e vs vos calareis." (x 14.13s.,25; a formulao talvez seja tardia).
Pelo que afirmam x 17.8ss. (v. 16: Jav minha bandeira.) e Nm 21, a
experincia de que "Jav homem de guerra" (15.3; cf. Is 42.13) se repetiu
de novo na jornada pelo deserto, mas uma experincia feita essencialmente
depois, na terra cultivada, em especial no confronto com as cidades-estado
cananias (Jz 4s.) e por ocasio da invaso de povos vizinhos (Jz 6ss.; cf. Js
2ss.). Na conftgurao desta tradio desaparece em medida crescente (Jz 7.2;
SI 33.16ss.; 44.4,7s.; cf. Is 30.l5s. e outras) a colaborao por parte de Israel
(Jz 5.23; cf. 2 Sm 5.24).
328
"No h salvador seno eu." (Os 13.4; Is 43.11; cf. Jr 2.13.)
Se chamamos este relacionamento com Deus de monolatria, temos de
admitir: o "mono-javismo" constitui um "estgio preliminar do monotesmo
(...), porque o postulado de exclusividade de Jav conflui para ele" (W. Hol-
sten). O monotesmo como que conseqncia terica da f veterotestament-
ria, pois com a exigncia de exclusividade se estabelece uma pretenso que
procura pennear mais e mais a realidade da vida humana, da natureza e da
histria, no deixando mais espao em termos de poder para outros deuses.
Por exemplo, probem-se a conjurao e o culto aos mortos (Lv 19.31; 20.6,27; 1
Sm 28), a feitiaria ou magia (x 22.17; Dt 18.9ss.) e o culto astral (Dt 4.19 e outras);
os astros no so grandezas mtico-numinosas (cf. Ez 8.16), mas fenmenos naturais
(Gn 1.14ss.; SI 136.7ss. e outras).
A assimilao - ou at criao - de mitos que pressupem a existncia de
vrios deuses ou a dualidade de um deus e uma deusa, ou que contam do nascimento,
do casamento ou da morte de deuses, no possvel, a no ser que sejam fortemente
alterados. Assim a concepo mtica do matrimnio divino visto como representao
para o relacionamento entre Deus e o povo (Os 1-3; Jr 2s.; Ez 16; 23).
A perguntapela incomparabilidade de Deus (j comum no Antigo Oriente): "Que
deus to grande como 'Jav'?" (SI 77.14; cf. 89.7; x 15.11; 18.11 e outras) se torna
confissoda exclusividade de Jav: "No h semelhante a ti, e no h outro Deus alm
de ti." (2 Sm 7.22; cf. SI 83.19 e outras). O Deus "altssimo" (97.9; 82.6 e outras)
o Deus exclusivo (73.11).
A crena em demnios desempenha no AT um papel secundrio, visto que
tambm os poderes ameaadores foram integrados em Deus, de sorte que o ser humano
recebe a alegria e o sofrimento, o bem e o mal da mesma mo: "Temos recebido o bem
de Deus, e no receberamos tambm o mal?" (J 2.10.)
Por isto o primeiro mandamento - ou o postulado de exclusividade que
nele transparece - tem importncia decisiva para uma parte considervel do
AT. Sobretudo os profetas tiram dele as conseqncias para sua mensagem,
como acontece na confrontao com o culto aliengena (l Rs 18; 2 Rs 1; Os;
Jr 2; 44; Ez 8 e outras), a arrogncia (Is 2.12ss. e outras), a confiana depositada
em outros poderes (30.1-3; 31.1-3 e outras) e diversas outras questes. Do
postulado da adorao exclusiva o Deuteronmio (v. acima lOb) deduz a
unidade ou unicidade de Jav e formula assim a confisso bsica para tempos
posteriores (6.4): "Ouve, Israel, Jav, nosso Deus, uno [ou nico, exclusi-
vo]! " unidade de Deus corresponde a dedicao exclusiva, indivisa do ser
humano a Deus: "Perfeito [ntegro] sers para com Jav, teu Deus." (18.13; cf.
Gn 17.1 P; 1 Rs 8.61; 11.4 e outras). Na Obra Historiogrfca Deuteronornstica
o postulado de exclusividade se torna critrio para avaliar a histria (Js 23.6ss.;
1 Rs 11.2,4; 2 Rs 17.35s. e vrias outras). Quando Dutero-Isaas insiste em
enfatizar a unicidade de Jav: "Eu sou o primeiro, e eu sou o ltimo, e alm
de mim no h Deus" (Is 44.6; cf. 43.10; 45.5; tambm Dt 4.35 e outras),
329
podemos detectar um monotesmo no enunciado de tais palavras, mas no
devemos esquecer que a mensagem do profeta do exlio no visa chegar a uma
concluso terica, mas tem em mente fortalecer a confiana no Deus que , "s
ele" , Criador e Salvador (Is 44.24) e por isto consegue ajudar (43.11; 45.21 e outras).
Aproximadamente na poca do exlio encontramos em diversos mbitos literrios
enunciados monotestas ou de conotao monotesta (Gn 1.1 P; Dt 4.39; 32.39; 2 Sm
7.22; 2 Rs 5.15; DtIs e outras).
3.2. A proibio de imagens, que no tem paralelo na circunvizinhana e
na poca do antigo Israel, encontra-se em todas as colees de leis: interdita a
confeco e adorao de imagens (x 20.4; Dt 27.15; cf. Os 11.2; 13.2) ou
deuses (x 20.23; 34.17; Lv 19.4; cf. 26.1), esculpidos ou fundidos. A primeira
formulao (x 20.4: "No fars para ti imagem de escultura nem semelhana
alguma do que h em cima nos cus, nem em baixo na terra, nem nas guas
debaixo da terra") parece ser a mais antiga; na outra, o primeiro e o segundo
mandamento j se fundiram numa unidade. A proximidade temtica e a estreita
relao entre estes dois mandamentos, decisivos para a f em Jav, tambm
transparecem no Declogo (mediante as glosas interpretativas: x 20.5: "No
as adorars!") e em outros textos (x 34.14,17; Lv 19.4; cf. Jr 1.16 e outras).
A polmica contra a adorao de imagens, caracterstica nas partes mais recen-
tes do AT (Is 2.8,20; 40.19s.; 44.9ss.; Jr 10; SI 115.4ss. e outras), foi iniciada
por Osias (8.4ss.; 1O.5s.; 11.2; 13.2) e ainda falta em Elias ou Ams (apesar
de 5.26; 8.14). Mas provavelmente no houve na f em Jav oficial, sobretudo
no templo de Jerusalm, nenhuma imagem especificamente de Jav (cf. porm
Jz 17s.). O AT exclui o que para o meio religioso circundante (com exceo de
Zaratustra) era algo costumeiro, natural, respeitado e santo. Pode adotar a
expresso "ver o rosto de Deus", sem ao mesmo tempo presssupor o objeto
- que haja uma imagem de Deus no santurio. Israel utiliza, portanto, a
expresso apenas no sentido figurado.
difcil estabelecer de onde provm, o que motivou e como iniciou a
proibio de imagens; mais fcil delinear suas implicaes. Em primeiro
lugar, a proibio de imagens no deve ter tido a pretenso de preservar a
"personalidade" de Jav. Pois no decorrer do tempo e em medida crescente ela
destaca a diferena entre Deus e o mundo, ou seja, a transcendncia de Deus.
Nada nos cus, na terra ou debaixo da terra deve ou pode (segundo a explana-
o em x 20.4) retratar Deus. Seja masculino ou feminino, Deus no pode ser
representado nem concebido em categorias mundanas (Dt 4.15ss.). A no se
traa por princpio um limite entre o mundo espiritual e o mundo dos sentidos;
faz-se, antes, distino entre os prprios sentidos. At por ocasio de sua
revelao Deus no se tornou visvel (Dt 4.12): "A voz das palavras ouvistes;
porm (...) no vistes aparncia nenhuma."
Em conformidade com este procedimento, figuras retricas e de lingua-
330
gem (Os 5.12,14; Lm 3.10 e outras) no so proibidas: o AT admite que o
ouvido escute o que o olho no deve enxergar. Mesmo que - excepcionalmen-
te - algum "veja" a Deus, no se descreve sua aparncia (x 24.10s.; cf. Gn
12.7 J; 17.1,3 P; vises profticas como Is 6). Algumas aluses bastante reti-
centes encontramos apenas em Ez 1.22ss., em uma comparao que j indica,
no entanto, a inadequao da mesma: "semelhante a um homem", e em Dn
7.9ss., que descreve de maneira sucinta o "Ancio de dias". Em si vale o
princpio: "Homem nenhum ver a minha face, e viver." (x 33.20; cf. Jz
13.22; Is 6.5 e outras). At em narrativas de cunho mtico mais pronunciado,
segundo as quais Deus intervm diretamente no que acontece no mundo, ele
continua oculto aos olhos humanos na sua atuao (Gn 2.21; 15.12; 19.17,26;
x 12.22s.). Assim, Moiss (x 3.6) e Elias (l Rs 19.13) cobrem seu rosto na
presena de Deus (segundo Is 6.2 inclusive os serafrns). 1mbm um mensagei-
ro ou anjo pode representar a Deus na esfera do visvel (x 3.2 em contrapo-
sio a 3.4ss.), apresentando-se, atuando e falando como se fosse Deus (Gn
21.17s.; cf. 16.22; Jz 6; 13 e outras). Segundo x 33.12ss., o Deus longnquo
est prximo em sua "face"; segundo a Obra Historiogrfica Deuteronomstica
(l Rs 8.16ss.,29 e outras), no seu "nome"; e, segundo o Escrito Sacerdotal (x
16.7,10; 24.16s. e outras), em sua "glria". Assim se diferencia alternadamente
entre Deus e sua presena na terra, o fato de ele ser-para-si e o de voltar-se ao
ser humano, entre a sua liberdade e a sua revelao, sua transcendncia e sua
atuao na histria; ao mesmo tempo, ambos os aspectos so afrrmados. Con-
tudo, pode-se esperar que haja no futuro um encontro com Deus sem mediao
("face a face": Ez 20.35; "olho no olho": Is 52.8), de modo que "a glria de
Jav se manifestar, etodaacame a ver" (Is 40.5; cf. 52.10; tambm 1 Co 13.12).
3.3. O AT pode compreender um fato histrico to rigorosa e exclusiva-
mente como feito de Deus, que este feito serve para descrever a essncia divina:
"Eu sou Jav teu Deus, que te tirei [i. e., libertei] da terra do Egito." (x 20.2.)
Em analogia, o Deus de Abrao caracterizado na retrospectiva (Gn 15.7): "Eu
sou Jav que te tirei de Ur dos caldeus." Quem e como Deus parece
evidenciar-se na histria. Embora j existisse no Antigo Oriente a concepo de
que Deus se revela na histria, cabe ressaltar que "a noo de que aconteci-
mentos histricos so manifestaes divinas marcou o culto israelita de uma
forma que no encontra paralelos reais entre os vizinhos de Israel" (B. Albrekt-
son). Assim se atribui Pscoa a funo de atualizar a estada no Egito; o rito
que se repete regularmente no deve repetir a histria, mas' 'recordar" o evento
nico (x 12.14; cf. Dt 16.3.12), para que as geraes futuras se conscientizem
tanto do distanciamento temporal como tambm do significado atualizado.
Talvez a exclusividade e a historicidade da f veterotestamentria estejam pro-
fundamente entrelaadas: j que a f de Israel no conhece nenhum inter-rela-
cionamento entre os deuses, todo feito do Deus nico mostra sua postura diante
do mundo e/ou diante do ser humano.
331
Na sntese mais recente do assim chamado "pequeno credo" (Dt 26.5-11;
cf. SI 136 e outras), p. ex., aparecem acontecimentos histricos importantes,
colocados em ordem cronolgica e apresentados como obra de Jav; ou a
comunidade professa, na retrospectiva, que a preservao de Jerusalm consti-
tuiu um ato clemente de Deus: "Se Jav Zebaote no nos tivesse deixado
alguns sobreviventes, j nos teramos tomado como Sodoma, e semelhantes a
Gomorra!' (Is 1.9; cf. SI 94.17). A posteridade pode expressar sua esperana
atravs de uma nova profisso de f que descreve o que acontecer no futuro
como feito de Deus (Jr 23.7s.; Is 48.20; cf. 44.23 e outras). Como, p. ex., na
palavra introdutria do Declogo acima citada, o "eu" de Deus afirma ter
plasmado o passado, assim os profetas podem predizer o futuro, utilizando uma
fala divina na primeira pessoa singular (Am 5.27; 6.14 e outras). J a tradio
do xodo conta que o Deus de Israel tambm tinha poder sobre o Egito (x
7-15; cf. Gn 12.17 e outras), e de maneira mais acentuada ainda os profetas
incorporam os povos estrangeiros na sua mensagem (p. ex. Am 9.7): "No fiz
eu subir a Israel da terra do Egito, os filisteus de Creta e os arameus de Quir?"
As decises que j foram tomadas ou ainda devem ser tomadas na histria, fatos
acontecidos ou anunciados podem ser compreendidos como desgnio de Deus,
de sorte que a responsabilidade humana e a atuao de Deus no se excluem
(cf. Gn 50.20 E; Ex 8.15; 9.12 P; 2 Sm 17.14; Is 29.10; 30.9,15 e outras). No
contexto desta f e desta mentalidade se toma compreensvel que, segundo a
interpretao controvertida de x 3.14, o nome Jav - depois da promessa:
"Eu serei contigo!" (3.12) - desenvolvido como anncio da presena e da
atuao de Deus: "Serei quem eu serei."
Mantendo e desenvolvendo as peculiaridades arroladas acima (3.1-3), a f
veterotestamentria articula novos enunciados sobre Deus que extrapolam em
muito a relao Deus-povo, porm incorporando de maneira criteriosa concep-
es de religies vizinhas, selecionando e adaptando contedos ao prprio da
f israelita.
4.1. A f no Criador talvez constitua a principal herana deixada pelo AT
cristandade. Enunciados referentes criao, no entanto, de forma alguma
marcam todo o AT, mas tm seus centros de gravidade em certas reas (sobre-
tudo em Gn 1s.; o Saltrio; DtIs; a literatura sapiencial: Pv/J/Ec; acrscimos
aos livros profticos) e surgiram predominantemente em um perodo mais
recente, exlico ou ps-exlico (Gn 1 P; SI 8; 33; 136; 148; Is 40. 12ss. e outras),
embora no faltem textos da poca do incio da monarquia (p. ex., Gn 2 J;
14.19ss.; talvez 1 Rs 8.12 LXX; SI 19 A; 24.2; 104; Pv 14.31 e outras). Ao que
parece, a f do AT j estava profundamente marcada pelas tradies histricas
mais antigas (dos patriarcas, xodo, Sinai), que tambm conhecem o poder de
Jav sobre a natureza (x 14-17; 19.16ss. e outras) antes de confessar o Criador.
Assim no se deduz a salvao da natureza, mas se interpreta o mundo como
332
criao a partir das experincias da f na histria. Ao incluir os primrdios, a
f assume dimenses universais - extrapolando a vida da comunidade e do
indivduo.
Neste processo se formularam os enunciados veterotestamentrios a respeito da
criao, em confronto com as concepes cosmognicas e antropognicas conhecidas
do meio circundante. Estas concepes ressoam no episdio retratado em Gn 14.19ss.:
Melquisedeque, rei de (Jeru-)Salm, abenoa Abrao em nome de EI 'EIyaD, "o Deus
Altssimo que criou o cu e a terra" (tambm a estranha designao de Deus aqui
conservada deve se referir a Jav; cf. 14.22; SI 47.3). Motivos que contradizem a prpria
f (como a criao do ser humano a partir de sangue divino) foram excludos; outros
(como a batalha contra o mar e a batalha contra o drago: SI 74.12ss.; 77.17ss.; 89.lOss.;
Is 27.1; 51.9s. e outras) so apenas utilizados em aluses poticas.
Porm as concepes surpreendentemente multiformes sobre a criao no AT (cf.
p. ex. Gn 1.24; 2.7,19; SI 90.2; 139.15s.; Is 42.5; 45.18; 48.13 e vrias outras) no se
fundem numa "cosmoviso" mais ou menos coesa, mas, ao contrrio, so colocadas
de forma dissonante lado a lado. Quando o AT interliga relatos de criao fundamental-
mente diferentes como Gn 1 e 2, parece que no acha mais essencial retratar a maneira
como ocorre a criao; decisiva a inteno comum de enunciados to diferentes: Deus
criou o mundo todo com seu espao vital, as criaturas (Gn 1; SI 104; 121.2 e outras),
os seres humanos (8; 22.lOs.; 139.13s.; Jr 1.5 e outras), e seu Senhor (SI 24.1s. e outras).
Alm disto encontramos ali afmnaes que esto de maneira especial em confor-
midade com a f e - correspondendo ao primeiro e ao segundo mandamento -
destacam tanto a incomparabilidade de Deus como tambm a sua liberdade de atuao:
"Ele falou, e tudo se fez." (SI 33.6,9; 148.5; Lm 3.37; Gn 1.3 e outras); ele "chama"
os astros (Is 40.26) e concede terra a fora necessria para que brote a vegetao (Gn
l.11s.,24; 8.22), como tambm d aos seres vivos as condies necessrias para que se
reproduzam (1.22,28). Seu "criar" (bara': Gn 1.1,27 e outras) no necessita de nenhu-
ma matria-prima e, como no AT este verbo reservado a Deus, seu ato criador no
pode ser comparado com a atuao humana. O termo nada explica a respeito de
"como" sua concretizao.
333
Os salmos destacam que a confisso de f no Criador inclui vivncias
atuais (SI 8; 104; 139 e outras) e expressam a confiana naquele Criador que
pode ajudar na necessidade (121.1s; cf. 33 e outras). Para a Sabedoria na
atitude diante do oprimido que se espelha a atitude frente ao Criador (Pv 14.31;
17.5); mas a criao continua sendo o fundamento que tambm suporta e
comporta a contradio entre riqueza e pobreza (22.2; 29.13; cf. J 31.13ss.; Ml
2.10). Deus criou o mundo "com sabedoria" (Pv 3.19s.; 8.22ss.; cf. J 38s.),
embora Eclesiastes se mostre ctico e acrescente que o ser humano no capaz
de perscrutar esta ordem na criao.
Em contrapartida, o profeta Dutero-Isaas pode justificar suas promessas
recorrendo criao - e no histria, que se tomou dbia pela inciso
profunda representada pelo exlio - para enfatizar: apesar da impotncia do
povo, Deus tem o poder e a capacidade de realizar a redeno anunciada (Is
40.12ss.; 45.7s.,18 e outras). Nisto a criao se aproxima da eleio e redeno
(43.1s.; 44.2,24 e outras), mais ainda: a salvao futura se assemelha a uma
nova criao: "Eis que fao coisa nova" (43.19; 48.6s.), "novos cus e nova
terra" (65.17; 66.22; cf. Jr 31.22 e outras).
4.2. A f veterotestamentria tambm sofreu transformaes quando deu
a Jav o ttulo de rei. De maneira semelhante ao ocorrido com a criao, a f
israelita modificou tambm a concepo do "reinado" de Jav, deslocando seu
significado para o futuro. Em sua origem a maneira como se fala da "realeza"
de Deus justamente no professa a exclusividade de Deus, mas pressupe a
concepo difundida nas religies vtero-orientais de que h um amplo crculo
de deuses presidido por um soberano. Quando Israel assimilou esta concepo
teolgica na terra cultivada, pde proclamar seu prprio Deus como sendo o rei
dos deuses e decretar desta forma o senhorio universal de Jav: "Jav o Deus
supremo, e o grande rei acima de todos os deuses" (SI 95.3; cf. 29.1s.,1O; 47.3;
Is 6 e outras). No entanto, a supremacia deste Deus sobre os outros deuses (SI
97.7,9) se transforma - no sentido do primeiro mandamento - na afirmao
de que ele o nico "rei de Israel" (Is 44.6), "vosso rei" (43.15), de forma
que o ttulo comprova tanto o senhorio, como tambm a disposio de Deus
para estabelecer comunho (33.22): "Jav o nosso rei: ele nos salvar."
Talvez se pudesse ouvir na festa de outono em Jerusalm, p. ex. por ocasio de
uma procisso com a arca, a exclamao: "Jav se tomou rei", como sugerem
os assim chamados "salmos de entronizao", tambm conhecidos por "cn-
ticos do rei Jav" (sobretudo SI 47; 93; depois 96-99; cf. 24.7ss.; Zc 14.16ss.).
Quando Dutero-Isaas assimila esta tradio, transforma a frmula em promes-
sa: "'leu Deus se tornou rei". Entende que esta palavra ainda est por se
concretizar e anuncia o irromper do reinado de Deus " vista de todas as
naes" para o futuro prximo (Is 52.7-10). Quando outros profetas (Ez 20.33ss.;
Mq 2.12s.; 4.7 e outras) assumem e transmitem esta expectativa, a confisso de
334
f no reinado de Deus equivale a uma interpretao do primeiro mandamento
voltada ao futuro:
"Jav ser rei sobre toda a terra;
naquele dia um s ser Jav; e um s ser o seu nome."
(Zc 14.9; cf. 14.16.)
O reinado universal de Deus abrange inclusive os mortos (SI 22.28-30), ou
Deus "tragar a morte para sempre" (Is 24.23; 25.6-8) quando reinar incondi-
cionalmente e aceitar os povos na sua comunho. Todavia, o reinado de Deus
no aguardado apenas no futuro, mas tambm se cr que ele j se concretiza
no presente (SI 103.19) e se professa: "o domnio de Deus sempiterno, e seu
reino de gerao em gerao" (Dn 4.31; cf. 2.46s.; 3.33; 6.26s.; SI 145.13).
Por isto o mundo j pode ser convocado agora para se alegrar com o senhorio
de Deus: "Jav se tornou rei - regozije-se a terra!" (SI 97.1; cf. 98.6.)
335
porque demonstra ser "verdadeiramente Deus" (Jr 10.10) e , como tal, "vivo"
(l Sm 17.26,36 e outras) e pode presentear vida: "A minha alma tem sede de
Deus, do Deus vivo." (SI 42.3,9; cf. 84.3; Os 2.1). Ele "o manancial da
vida" (SI 36.10; cf. Jr 2.13 e outras).
5.2. Alm do credo histrico, que aponta para os feitos de Deus na
histria, o AT tambm conhece uma frmula de confisso estruturada de forma
bem diferente, que descreve a natureza de Deus de forma aparentemente gen-
rica e atemporal, sem fazer nenhuma referncia explcita histria. Encontra-
mo-la com certas variaes em vrios textos mais recentes onde no representa
(apesar de x 34.6s.) uma autodefrnio de Deus, mas uma afirmativa de
terceiros sobre sua dedicao ao ser humano:
"Jav misericordioso e compassivo; longnimo e assaz benigno."
(SI 103.8; cf. 86.15; 145.8; Ne 9.17 e outras)
Como uma confisso to fundamental da benignidade, pacincia e dispo-
sio divina de perdoar se relaciona com a experincia humana histrica?
Mantm-se esta confisso mesmo perante a necessidade e o sofrimento -
inclusive diante da morte - , de forma que at esteja em contradio com a
realidade? "A tua graa melhor que a vida", ousa formular o SI 63.4.
Uma frmula litrgica que aparece repetidas vezes diz algo parecido:
"porque Jav bom; porque a sua misericrdia dura para sempre" (SI 106.1;
136 e passim). Alis, o AT testemunha de mltiplas formas a benignidade de
Deus (x 20.6; Is 54.10; Jr 3.12; 9.23; Os 2.21; SI 33.5; 51.3; 103; 130.7 e
vrias outras).
5.3. A confisso acima, articulada em vrias partes, que se refere graa
de Deus, ampliada em JI 2.13 (em relao a Israel) e em Jn 4.2 (em relao
aos povos) pela seguinte afmnativa: "[Deus] (...) arrepende-se do mal." Para
o AT Deus no simplesmente imutvel e inaltervel; ele no tem um posicio-
namento fmnado em defmitivo desde o princpio - em razo de sua oniscin-
cia - , mas pode "arrepender-se" de sua inteno ou de seu feito, pode mudar
sua deciso em razo do comportamento ou da intercesso humana (Gn 18.17ss.;
x 32.9ss. e outras). Face maldade abissal de sua criatura "Jav se arrependeu
de ter feito o homem" (Gn 6.5-8 J). Visto que este no se regenera mesmo
depois de ter sido punido com o dilvio, Deus muda seu posicionamento em
relao ao ser humano e lhe promete de forma absoluta que, apesar da maldade
persistente, conservar sua criao no ritmo dos anos e dos dias (8.21s. J; cf. Is
54.9). De forma anloga Deus "se arrepende" por ter escolhido Saul para ser
rei (l Sm 15.11,35; cf. quanto condenao de Jerusalm 2 Rs 23.27). Todavia,
nestes dois casos excepcionais se encara o passado como tempo j concludo e
se interpreta a tradio na retrospectiva, usando um conceito teolgico - e no
popular - de "arrependimento", oriundo de um estgio avanado de reflexo
336
(J. Jeremias). Aquilo que Gn 6-8 J sugere de forma narrativa, o profeta Osias
expressa claramente: o prprio Deus se transforma, luta consigo mesmo (11.8:
"meu corao se volta contra mim"), para curar a apostasia de Israel (14.5),
que o prprio povo no consegue superar (5.4; 7.2; 11.7 e outras). Enquanto
que para Ams (7.3,6) o arrependimento de Deus no constitui mais nenhuma
possibilidade real que pudesse adiar ou suspender o castigo desencadeado pela
culpa de Israel (7.8; 8.2), a mensagem de Osias abre a srie de enunciados
segundo os quais Deus muda de opinio, se contm ou sente compaixo e assim
preserva seu povo (x 32.11-14; Jr 26.3,13,19; Jl 2.12ss. e outras) e os outros
povos (Jr 18.7ss.; Jn 3s.) de sua ira justa e, por conseguinte, os livra da
destruio. Desta maneira, o AT pode testemunhar, por um lado, que Deus no
volta atrs para anular sua palavra (de salvao): "Deus no homem, para que
minta; nem filho do homem, para que se arrependa." (Nm 23.19; cf. 1 Sm
15.29 e outras). Por outro lado, porm, espera que as pessoas se convertam e
que Deus se arrependa (Jr 18.7s.; Jl 2.12-14 e outras).
5.4. Deus o juiz do mundo (SI 82; 96ss.) e dos indivduos; ele prova o
corao (7.9ss.; 9.5; cf. 1 Rs 8.30ss. e outras). Este Deus do direito socorre
aquele que o invoca (SI 4.2; 31.2 e outras): "Compassivo e justo Jav; o
nosso Deus misericordioso" (116.5; cf. 25.8; 145.17; Is 45.21). Porque a
justia de Deus constitui sua atuao salvffica (como j afirma o cntico de
Dbora: Jz 5.11), o salmista pode pedir, por um lado: "Por tua fidelidade, por
tua justia, responde-me!" (SI 143.1), enquanto que, por outro lado, pode
louvar a disposio de Deus em ajudar: "A minha boca relatar a tua justia e
de contnuo os feitos da tua salvao." (71.15; cf. 40.lOs.; 145.7 e outras.) Ao
futuro governante ser inclusive atribudo o ttulo de "Jav-Justia-Nossa" (Jr
23.6; cf. 33.16).
Da mesma maneira, outros predicados mais raros, como "fiel" (01 7.9;
cf. Is 65.16 e outras), "perdoador" (SI 99.8) ou tambm "que se esconde" (Is
8.17; 45.15), atribudos a Deus, se referem ao relacionamento de Deus com o
ser humano. A as "propriedades" de Deus compreendem no apenas sua
atitude mental, mas ao mesmo tempo sua capacidade e disposio de agir,
abarcando, portanto, inteno e ao, ser e agir: "Justo Jav em todos os seus
caminhos, benigno em todas as suas obras." (SI 145.17; cf. 103.8-10.)
Deus atua de maneira singular, especial e constante tambm mediante seu Esprito
(em hebraico uma forma feminina). Desperta os assim chamados "juzes maiores" (Jz
6.34 e outras) e os primeiros profetas (l Sm 1O.6ss.; 19.20ss.; cf. Nm 11.16ss.),
enquanto que os assim chamados profetas literrios se apiam antes na palavra do que
no Esprito (ao contrrio: Ez 3.12,14 e outras; cf. Os 9.7; Jr 29.26; Mq 3.8; Is 61.1). O
Esprito de Deus uma fora que concede (SI 104.29s.; J 33.4; cf. Gn 2.7 e outras) e
renova a vida (nova criao: Ez 37; cf. Jl 3.1s.; SI 51.12s.), a presena de Deus junto
sua criatura (SI 139.7). O Esprito de Deus e a "carne", que representa a impotncia
humana, podem se contrapor (ls 31.3; 40.6s.; tambm Zc 4.6).
337
6.1. O rei experimenta de forma especial a dedicao de Deus: Jav "d
grandes vitrias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com
Davi e sua posteridade para sempre" (SI 18.51). Deus escolheu Davi e o Sio
(1 Rs 8.16: LXX; SI 132). Juntamente com a coroa Deus d a bno, vida,
altivez, de sorte que o rei pode confiar em Deus: "O rei confia em Jav, e pela
misericrdia do Altssimo jamais vacilar." (21.4-8.) Embora o rei deva ajudar
aos pobres (72.12ss.), ele mesmo depende de auxlio alheio (20.2ss.,IO). Esta
dependncia se mostra, p. ex., no pedido do rei (1 Rs 3.5ss.; SI 2.8; 21.3,5;
144.7) ou na intercesso por ele (20.2ss.; 72.1; 132.1,10). Enquanto que os
heris da poca dos juzes so convocados diretamente, parece que a instalao
do rei em seu cargo ocorre de forma mediada. Sua legitimao se baseia numa
palavra de Deus que lhe assegura na primeira pessoa do singular (decerto
atravs de um interlocutor proftico): "Tu s meu filho." (SI 2.7; cf. 89.4s.,28ss.)
A distino entre a ao divina e a humana . sugerida na palavra anloga de
instalao do rei em seu cargo: "Assenta-te minha direita, at que eu ponha
os teus inimigos como escabelo de teus ps!" (110.1) e destacada cada vez
mais, at que ambas as atuaes podem ser contrapostas: "No h rei que se
salve com o poder dos seus exrcitos (...). Eis que os olhos de Jav esto sobre
os que o temem." (33.16,18; cf.20.8s.; 147.lOs.) Assim tambm o governante
includo na confisso da impotncia humana (89.48s.; 144.3s.), reservando-se
mais espao atuao de Deus.
6.2. Percebe-se uma tendncia anloga, embora mais intensa, nas profe-
cias messinicas. O Messias no propriamente "portador da salvao", mas
surge depois que Deus j criou uma situao de paz. Assim o Messias pode ser
denominado "governante da paz", porque no promove mais a guerra (Is
9.1-4,5s.). O prprio Deus quebra o jugo (cf. x 14s.; SI 20.8s. e outras), traz
ou a luz, isto , a salvao, a redeno (Is 9.1; cf. 60.1s.; SI 27.1; 36.10 e
outras). O rei do futuro "apascentar o povo na fora de Jav" (Mq 5.3), e
inclusive lhe atribudo o nome "Jav-Justia-Nossa" (Jr 23.5s.). Desta forma
o Messias est, por um lado, bem prximo de Deus e quase se equipara a ele.
Os ttulos honorficos "Planejador de Maravilhas", "Deus Forte" ou "Deus
Heri" e "Pai Eterno" (Is 9.5) so predicativos atribudos somente a Deus (cf.
28.29 ou SI 24.8). Apesar de lembrarem concepes e costumes vtero-orien-
tais, em especial egpcios, em Israel estes ttulos dificilmente foram transferidos
de Deus para o soberano humano (apesar do tratamento - nico no AT -
dado ao rei em SI 45.7: "Deus", "divino"). Estes ttulos, ao que parece,
estavam reservados ao ungido esperado no futuro. Por outro lado, o Messias
continua subordinado a Deus; entre os carismas atribudos a ele tambm est o
do "esprito de temor de Jav" (Is 11.2). De acordo com a ltima profecia
messinica do AT (Zc 9.9s.), o Messias vem pacificamente, montado num
burrico, em vez de estar montado num cavalo de guerra, e carece da ajuda de
Deus como "pobre" que (cf. SI 20.7,10; 33.16), mas divulga sua mensagem
338
de paz em todo o mundo e "proclama a salvao dos povos". Assim, o
senhorio do Messias adquire uma dimenso universal (cf. Mq 5.3; Is 11.10;
tambm SI 72.8 e outras) e ao mesmo tempo se confessa a humildade daquele
que vir. Semelhante o juzo que se faz mais tarde de Moiss: "Moiss era
um homem muito humilde, o mais humilde dos homens que havia na terra."
(Nm 12.3; cf., quanto ao servo de Deus, Is 53.4.)
6.3. O relacionamento especial entre Deus e o rei expresso em 2 Sm
7.14 mediante a seguinte frmula: "Eu lhe serei por pai, e ele me ser por
filho." Por natureza, o rei no de origem divina, mas declarado - presu-
mivelmente na sua entronizao - filho (SI 2.7; cf. 89.27s.; tambm Is 9.5).
Alm disto o AT vez por outra conserva a concepo mtica de "filhos de
deus" ou "filhos de deuses" (Gn 6.1-4; SI 29; 82), que, no entanto, so mais
e mais subordinados a Jav (89.6ss.; J ls. e outras).
O ttulo "filho" atribudo sobretudo ao povo: "Do Egito chamei o meu
filho." (Os 11.1; cf. x 4.22s.) Todavia, parece que em tempos mais remotos
houve uma certa reserva em comparar a relao entre Deus e Israel com o
relacionamento existente entre pai e filho, visto que com esta linguagem meta-
frica facilmente se podiam associar concepes problemticas para a f em
Jav (cf. Jr 2.27). J a afmnao: "Filhos sois de Jav vosso Deus" (01 14.1)
acarreta conseqncias para a conduta de Israel, mas os profetas chegam a
acusar o povo de serem filhos malcriados, pervertidos, rebeldes (Is 1.4; 30.1,9;
Jr 3.14,22 e outras) e com isto atestam a desobedincia de todo o povo (Os 2.6;
Jr 2.29; Ez 2.3ss. e outras). De forma anloga, o cntico de Moiss fala de
filhos em que no se pode confiar (Dt 32.20) e, ao denunciar sua culpa (33.6),
ousa falar do Criador como pai e me: "Esqueceste a Rocha que te gerou, Deus
que te deu luz." (32.18; cf. Nm 11.12.) S em nomes prprios, em parte bem
antigos - como Abrao, "(Meu Deus) Pai excelso" - , Deus chamado
com mais freqncia de "Pai", provavelmente no sentido de lder e protetor.
Em documentos posteriores a designao "Pai" se refere mais ao Criador:
"No temos ns todos o mesmo Pai?
No nos criou o mesmo Deus?"
(Ml 2.10; cf. 1.6; Is 64.7 e outras)
O aspecto da autoridade do pai amoroso (Pv 3.12) pode ficar em segundo
plano, destacando-se sua bondade e solicitude: "Como um pai se compadece
de seus filhos, assim Jav se compadece dos que o temem." (SI 103.13; cf. Mq
3.17.) Por isto a comunidade pode se dirigir ao Redentor, chamando-o "nosso
Pai" (Is 63.15s.; 64.7; cf. Jr 31.9).
339
nos primrdios os profetas podem dirigir-se ao rei com promessas (2 Sm 7) ou
ameaas (2 Sm 12; 24; 1 Rs 2ls.).
7.1. Os assim chamados profetas literrios maiores do sculo VIII e vn
(cf. acima 13) vo alm da simples crtica ao rei (Arn 7.9,11; Is 7; Jr 21.11ss.)
ou monarquia (Os 1.4; 3.4; 8.4 e outras); sua mensagem de juzo sobre a
totalidade do povo atinge os alicerces da f veterotestamentria. Estes profetas
confrontam a acepo fundamental de que Deus simpatiza com Israel e lhe
perdoa sua culpa com a viso do futuro em que o senhorio de Deus se
evidenciar no sofrimento do povo, e mais: levar destruio de Israel.
Num ciclo de quatro vises Ams induzido a dar-se conta: "Chegou o
fim para o meu povo Israel; e jamais [no mais] passarei por ele [poupando-
o]." (8.2.) O profeta transmite tambm este anncio referente a um futuro certo
(1.3-2.6: "no o revogarei") em forma de fala divina na primeira pessoa do
singular: "Eu vos punirei por todas as vossas iniqidades." (3.2; cf. 2.13 e
outras.) J para Ams Jav mais do que simplesmente Juiz de Israel e dos
povos circunvizinhos, que tambm pune transgresses que no afetam Israel
(2.1). O seu poder ultrapassa as fronteiras das naes vizinhas (5.27; 6.14; 9.7),
indo at os limites do cosmo: nem nos confms do cu, nem nos confms do
mundo dos mortos, nem nas profundezas do mar h um esconderijo diante dele
(9.2s.; cf. SI 139.7ss.). Com isto Jav extrapola a categoria de um Deus
nacional, do Deus de um povo, voltando-se inclusive contra seu prprio povo.
Os sucessores de Ams retomam sua pregao, colocando cada qual seu
acento peculiar: Osias parece que contradiz abertamente promessa da presen-
a de Deus: "Serei (estarei presente)" (x 3.14), ao afirmar: "Vs no sois
[mais] meu povo, e eu no estou [mais] a para vs." (Os 1.9.) A dureza desta
mensagem, segundo a qual o prprio Deus denuncia a comunho com o povo,
se reflete tambm em imagens metafricas, tais como: "(...) eu sou (...) como
um leo, (...) despedao, (...) carrego minha presa e ningum salva" (5.14; cf.
5.12; 13.7s.).
I
Para Isaas Deus no mais a rocha segura (SI 18.3 e outras), mas a
"pedra de escndalo e a rocha de tropeo para ambas as casas de Israel" (Is
8.14). Como o profeta j vislumbra na cegueira do povo (9.9s.; 29.9s.) - que
os ouvintes mesmos desejam (9.12; 28.12; 30.9,12,15) e pela qual tambm so
responsabilizados - a antecipao do juzo divino, ele pode negar o atendi-
mento da orao de Israel quando profere a palavra de Deus (1.15): "Sim,
quando multiplicais vossas oraes, no as ouo [mais]."
De forma semelhante a Ams, tambm Jeremias se convence atravs de
uma viso que "se derramar o mal sobre todos os habitantes da terra" (1.13s.).
Ele at pode ser proibido de interceder por seu povo (14.11 e outras), pois deve
testemunhar tambm atravs de sua conduta: "Deste povo retirei a minha
340
salvao, a graa e a misericrdia." (16.5; cf. Am 9.4; Os 13.14.) O Deus
prximo se toma um Deus distante (Jr 23.23). Isto o prprio Jeremias experi-
menta, quando acaba isolado e contestado por causa de sua mensagem (15.17):
"Para mim te tomaste como que um riacho ilusrio." (15.18.) Assim Jeremias
(20.7) sente com maior intensidade ainda do que Ams (3.8; 7.15; cf. Is 8.11)
a obrigao que pesa sobre ele (cf. 1 Co 9.16).
Os profetas podem descrever o juzo de diversas maneiras: s vezes como encon-
tro direto com Deus (Aro 5.17; 9.1ss.; Is 1.24ss.; 2.12ss. e outras), mais freqentemente,
porm, apenas de forma indireta, como feito de Deus. A lembrana da guerra de Jav
em favor de seu povo se transforma para os profetas no prenncio de uma guerra de
Deus contra seu prprio povo (Aro 2.14ss.; Is 28.21: "a sua obra estranha" e outras).
As potncias estrangeiras so consideradas instrumento de Jav, que a seu mando
executam o juzo. Assim, o assrio "um homem forte a servio de Jav" (Is 28.2; cf.
5.26ss.; 7.18ss.; Aro 5.27; 6.14; Jr 27.6; tambm no contexto da promessa de salvao,
Is 44.23; 45.1).
Em face da iminente "ira" de Deus (Is 5.25; Jr 23.19s. e outras) se toma
compreensvel que os profetas destruam a esperana existente. "Ai de vs que
desejais o dia de Javl (...) dia de trevas e no de luz." (Am 5.18; cf. Is
2.12-17.) Quando Sofonias (1.7, 14ss.) retoma este tema, destaca-se especial-
mente que j o anncio do juzo - como mais tarde a promessa de salvao
(Is 43.19) - se concebe como expectativa escatolgica imediata: "O dia de
Jav est prximo! (...) Um dia de ira, aquele dia!" No confronto com seus
adversrios, os profetas de "salvao", Jeremias mantm sua convico: "Di-
zem: 'Salvao, salvao', quando no h salvao." (6.14; cf. 23.16ss.; 28s.;
Ez 13.) Da mesma forma os profetas podem opor-se convico do povo de
ser o povo escolhido (Am 3.2; 6.1; 9.7) e sensao de segurana manifesta
pelo mesmo: "No est Jav no meio de ns? Nenhum mal nos sobrevir!"
(Mq 3.11; cf. Jr 5.12.) Desta forma, at Jerusalm com o templo no pode
garantir a salvao (Mq 3.12; Jr 7; 26; Ez 8ss.; cf. Is 28.14ss. e outras) - ao
contrrio do que afmna a tradio de Sio (SI 46 e outras).
Os profetas esto decerto imbudos da mesma inteno quando criticam o
culto e os sacrifcios, ao proferirem a fala de Deus: "Eu odeio, eu desprezo as
vossas festas." (Am 5.21ss.; cf. 4.4s.; 5.5; Is 1.lOss.; 43.22ss. e outras.) Apon-
tam o "pecado" do povo (Am 3.2,14; 5.12; Is 1.4; 6.5 e outras) em diversas
esferas - no culto, na sociedade, no direito ou na poltica - de forma
exemplar, mas tambm contrapem diretamente e de forma genrica a dedica-
o de Deus e a apostasia de Israel: "Criei filhos (...), mas eles se rebelaram
contra mim." (Is 1.2; desenvolvido na parbola da vinha, 5.1-7; cf. Jr 2.7 e
outras.) Vez por outra se pode rastear a culpa at as suas origens ("No ventre
de sua me traiu seu irmo" - Os 12.4; cf. Is 43.27; Ez 15s.; 23 e outras) ou
constatar que no s h impenitncia (Is 30.15; Jr 6.16; Ez 2.3ss. e outras), mas
341
que at impossvel ocorrer uma converso: "O seu proceder no lhes permite
voltar para Jav." (Os 5.4; cf. Jr 2.22; 13.23 e outras.)
7.2. Apesar desta percepo to radical da realidade, os profetas literrios,
talvez com exceo de Ams, prenunciam, em face do juzo, tambm salvao,
como demonstra a ao simblica de Jeremias: durante o cerco a Jerusalm o
profeta compra um campo (Jr 32.6-15). Osias entende a deportao para a
Assria como se Israel fosse reconduzido ao Egito, de sorte que do retorno s
origens pode surgir um recomeo (8.13; 9.3,6; 11.5,11; 12.10; 2.16s.). A revira-
volta acontece como transformao em Deus ("Meu corao se volta contra
mim": 11.8) e aparece como sua obra: "Curarei sua infidelidade." (14.5;
retomado em Jr 3.22; 31.20). De forma semelhante Isaas ousa ter esperanas
no Deus "que se esconde" (8.17) e aguarda, baseando-se no que houve no
passado, um futuro renovado, concebido como feito de Deus: "Restituir-te-ei
os teus juzes, como eram antigamente, os teus conselheiros, como no princ-
pio." (1.26; cf. 28.16s.) Jeremias renova a promessa de Osias, dirigida ao
Reino do Norte: "Volta (...), porque eu sou compassivo" (3.12); e da mesma
maneira palavras mais recentes exigem um determinado comportamento, seja
de penitncia, alegria ou retido, tendo em vista o futuro salvfico (Is 44.22;
55.6s.; 56.1; 60.1; Zc 2.14; 9.9s. e outras). Enquanto Jeremias constata, sobre
o Reino do Sul, que a salvao s acontecer durante ou depois do juzo (Ir 24;
29; 32), a viso da revivificao das ossadas, por sua vez, evidencia que o
futuro do povo depender de um ato de criao divina: "Eis que porei o sopro
da vida em vs." (Ez 37.5s.) De forma similar se espera que haja uma
renovao da criao (v. acima sob 4.1) ou do ser humano: "Dar-vos-ei corao
novo." (Ez 36.26; cf. Jr 31.31ss.; SI 51.12 e outras.)
Enquanto que na mensagem dos profetas a palavra de Deus desempenha
um papel cada vez mais importante (Am 3.8; Is 9.7; Jr l.11ss.; 5.14; 23.28s. e
outras), o profeta do exlio, Dutero-Isaas, j se reporta ao cumprimento da
palavra de seus antecessores (Is 44.26; cf. 41.22s.; 43.9 e outras). Antecipando
o futuro, j ouve o chamado: "Eis a est o vosso Deus." (40.9; cf. 52.7.)
Embora a sua mensagem de salvao se tenha cumprido s de forma bem
restrita, conservada como palavra "que permanece" (40.8) e mantm sua
eficcia (55.lOs.), sendo por isto transmitida por profetas ps-exlicos como
fito-Isaas, Ageu ou Zacarias: "Canta e exulta, filha de Sio, porque eis que
venho, e habitarei no meio de ti." (Zc 2.14.) Por fim, a expectativa proftica
do futuro incorporada pelo apocalipsismo emergente, que diferencia rigorosa-
mente entre a obra de Deus e a dos homens (Dn 2.34s. e outras).
342
pessoas a enfrentarem as agruras da vida. Dentro deste contexto sapiencial
desempenha um papel importante o princpio da retribuio, ou melhor, a
correlao entre a boa conduta e a salvao, entre a injustia e o infortnio:
"Quem anda em integridade anda seguro; mas o que perverte os seus caminhos
ser conhecido." (Pv 10.9; cf. 26.27 e outras.) Como Deus procede diante desta
ordem existente na vida? Ele "sonda os coraes" (21.2; 16.2) e retribui ao ser
humano de acordo com seus atos (24.12; 25.21s.; Jr 17.10 e outras). "O homem
de bem alcana o favor de Jav" (Pv 12.2); injustia e arrogncia lhe so
"abominveis" (11.1,20; 16.5 e outras). Cabe ao ser humano ser humilde
(20.24; 21.30; 26.12); pois diante da ao misteriosa (25.2) de Deus a percepo
humana se mostra limitada: "O corao do homem traa o seu caminho, mas
Jav lhe dirige os passos" (16.9; cf. 16.1; 19.21); no o esforo prprio, mas
"a bno de Jav [que] enriquece" (10.22). Desta perspectiva resultam tam-
bm conseqncias ticas. Assim, no se deve oprimir o pobre; pois ele encon-
tra proteo junto ao seu Criador (14.31; 17.5; 22.22s.; 23.1s.). J que o prprio
Deus executa o castigo ou a "vingana" (cf. Gn 9.5; 2 Sm 16.8; Is 35.4; 47.3
e outras; em relao a Israel: Is 1.24), no compete ao ser humano vingar-se
(Pv 20.22; 23.17s.; 24.29; 1 Sm 24.13; S137.1s.).
Na f se integram de forma mais eficaz a experincia do mundo e da vida
sob o lema - decerto mais recente - da coleo de provrbios: "O temor de
Jav o princpio do saber." (Pv 1.7; cf. 9.10; 14.26; J 28.28; Jr 9.22s. e
outras.) O profeta Isaas at incorpora de forma crtica a tradio sapiencial na
sua mensagem do juzo de Deus e chega a afirmar: "Pois bem, tambm ele
sbio e traz a desgraa." (31.2; cf. 5.21.)
Diante do destino comum de todos - a morte - o "pregador", Cohlet
(Eclesiastes), tem dvidas a respeito da sabedoria (1.16s.; 2.14ss. e outras) e em
relao ao princpio de retribuio, pois "h justos a quem sucede segundo as
obras dos perversos, e perversos a quem sucede segundo as obras dos justos"
(8.14; cf. 7.15). No entanto, Eclesiastes aceita o .curso das coisas e as ddivas
desta vida provenientes da mo de Deus (2.24s.; 7.14; 12.1,7 e outras). Em tudo
Deus agiu bem e deve ser temido. O ser humano, no entanto, no consegue
desvendar a obra de Deus (3.11; 8.17) e por conseguinte tambm no sabe do
seu prprio futuro (3.21; 8.7; 9.12; 10.14).
Enquanto que Eclesiastes persiste na f de que Deus dirige o destino do
ser humano, apesar de a existncia humana ser imperscrutvel, J luta com o
Deus que o persegue e oprime (16.9ss.; 19.6ss.): "Arruinou-me de todos os
lados, e eu me vou; e arrancou-me a esperana, como a uma rvore." (19.10;
cf. 14.19.) Mas contra o Deus que lhe tira o direito (27.2; cf. 9.20ss.), J invoca
o Deus que defende seu direito: "A minha testemunha est no cu." (16.9-21;
19.25s.). E quando J recebe a resposta esperada (31.35), que lhe mostra a
limitao do saber e do agir humanos (38ss.), acaba concordando com Deus e
343
volta a ser humilde diante dele, depois de ter-se rebelado profundamente (42.5s.;
2.8; cf. acima 29.6).
Certa vez J ousa pronunciar o desejo de que Deus o oculte de sua ira no
reino dos mortos, para ento l se compadecer dele (14.13; cf. 19.26). Entretan-
to, a confisso de que a comunho com Deus continua mesmo depois da morte
extrapola o livro de J: "Todavia, estou sempre contigo. (...) Ainda que a minha
carne e o meu corao desfaleam, Deus (...) a minha poro, para sempre."
(SI 73.23-26; cf. 49.16.)
8.2. Ao contrrio da experincia terrvel com Deus feita por J: "Clamo
a ti, e no me respondes" (30.20; cf. 19.7), os Salmos testemunham: "Na
minha angstia clamei a Jav, e ele me respondeu." (120.1; 18.7; 22.6; 40.2;
Lm 3.55ss.; Jr 29.12; Is 55.6; 65.24 e outras.) Este clamor pode vir das
profundezas (SI 130.1), da experincia de abandono por parte de Deus (22.2)
ou da abscondidade de Deus (13.2; 88.15 e outras). E o salmista lembra e se
anima: "Por que ests to abatida, minha alma? Por que te perturbas dentro
em mim? Espera em Deus!" (42.6,12; cf. 27.14; 37.3ss.) A pergunta: "E eu,
Jav, que espero?" respondida logo em seguida: "Tu s a minha esperana!"
(39.8; cf. 71.5; 130.5ss.) O salmista confia que Deus conduzir at "no vale da
sombra da morte" a cada um (23; 27; cf. Jr 15.20 e outras) e a comunidade (SI
46; 125 e outras). Na confisso de culpa se encontra uma concentrao similar:
"Pequei contra ti, contra ti somente." (51.6; cf. 32.) De muitas maneiras os
Salmos testemunham distncia e proximidade, ira e graa de Deus, impotncia
e altivez do ser humano. Por um lado, louvam o Criador (v. acima sob 4.1):
Fizeste o homem "por um pouco menor do que Deus" (8.6); mas, por outro
lado, lamentam: "Somos consumidos pela tua ira." (90.7.) Deus, porm, "sabe
que somos [apenas] p" (103.14). Assim, o louvor a Deus deve ressoar alm
da comunidade (22.23), em todo o mundo: "Todo ser que respira louve a
Jav!" (150.6; cf. 33; 96-99; 145; 148.) At "os cus proclamam a glria de
Deus." (19.2; cf. 29.1s.)
9.1. O sensato "busca a Deus"; s "o insensato diz no seu corao: No
h Deus." (Sl14.1s.; cf. Pv 19.3.) Tais dvidas que surgem no AT no provm
de nenhum atesmo terico, mas antes de um atesmo prtico, no contestam a
existncia de Deus, mas a eficcia de sua atuao na vida humana: "Ele no
castiga" (SI 10.4,11), "Jav no faz bem nem faz mal." (Sf 1.12; cf. MI2.17;
3.14s.; Jr 5.12; SI 73.)
Em contrapartida, o AT confessa com muitas vozes e de mltiplas manei-
ras: " certo que no dormita nem dorme o guarda de Israel" (SI 121.4), "nem
se cansa nem se fatiga" (ls 40.28). Comprovar isto constitui a finalidade dos
antropomorfismos. Proibidas so em Israel imagens visuais de Deus, mas se
empregam com freqncia imagens auditivas, lingsticas para anunciar o Deus
que intervm no destino humano. E na luta renhida com Deus que se vivencia
344
a tribulao mais profunda que o AT conhece. Ele pode exprimir as aflies
existenciais no lamento diante de Deus ou at na acusao a Deus (SI 22; Jr
15.10ss.; 20.7ss.; J; cf. Is 53; tambm 1 Rs 19.4; Jn 4 e outras). No decorrer
da histria se fazem constantemente novas experincias com este Deus, novas
esferas existenciais so exploradas e interpretadas a partir da f. Assim a
compreenso veterotestamentria de Deus no determinada de forma esttica,
mas est inacabada e em constante movimento, em busca de respostas, porm
tambm se professa com segurana. Articula-se em diversas categorias liter-
rias, como a orao e a palavra proftica, a lamentao e a palavra consoladora.
9.2. Esta compreenso de Deus alcana as maiores amplitudes, alturas e
profundezas e abarca inclusive contrastes: Deus Deus do povo (cf. a assim
chamada frmula da aliana: "Eu serei vosso Deus, vs sereis o meu povo"),
do indivduo e do mundo: "Bendize, minha alma, a Jav (...). Bendizei a
Jav, vs, todas as suas obras, em todos os lugares do seu domnio!" (SI
103.1,22; cf. 139.7ss.) Deus abarca o princpio e o fim dos tempos (Gn 1.1; Is
41.1; 44.6; 48.12; 65.17 e outras); est perto e distante: o Excelso est junto aos
humildes (SI 33.13ss.; 34.19; 113.5ss.; Is 57.15; 66.1s. e outras). O cu presen-
teia a terra com aquilo de que ela necessita (55. lOs.); assim a transcendncia e
a imanncia no se excluem.
Embora o xr diferencie muitas vezes entre a ao de Deus e a ao do ser
humano (x 14.13s.; Is 43.24s.; Zc 4.6; Sl115.1s. e vrias outras), s com o decorrer
do tempo que comea a destacar mais a diferena entre Deus e o ser humano (Os 11.9;
Is 31.3; Ez 28.2,9; J 9.2,32; Ec 5.1 e outras). O nome prprio "Jav" progressiva-
mente substitudo pela designao genrica "Deus" (EI, Elohim, inclusive na orao:
SI 5.11; 51.3 e outras). Contudo, para tanto concorrem ainda outros motivos: a proibio
de abusar do nome de Deus (x 20.7) interpretada com maior rigor, e a confisso de
adeso a um s Senhor do universo (SI 136.26; Lm 3.41; Jn 1.9 e outras) contesta o
poder e a existncia de outros deuses.
345
outras). "Pois, ainda que ele entristea a algum, usar [de novo] de compaixo
segundo a grandeza das suas misercrdias." (Lm 3.31.)
9.3. Neste aspecto o AT de forma alguma enfoca exclusivamente a Israel,
mas inclui muitas vezes os povos em sua reflexo (SI 115.1s.; 126.1s.; Jonas e
vrias outras) e especialmente em sua esperana. Todo o mundo ver a glria
de Jav (Is 40.5) e experimentar: "To-somente em Jav h salvao e fora."
(45.23; cf. 19.21ss.; 25.6; Zc 2.15; 5122.28; 83.19 e outras.) Nas suas expecta-
tivas mais ousadas, o AT at capaz de renunciar ao vnculo com o Sio (Is
2.2ss.): "Todas as ilhas das naes, cada uma do seu lugar, o adoraro." (Sf
2.11; cf. 3.9s.; Ml1.11; Is 66.21.)
Com os relatos de criao o AT abarca desde o princpio toda a humani-
dade e considera todo ser humano, independentemente de sua nacionalidade e
de seu sexo, "imagem" de Deus (Gn 1.26s.) - o que acarreta certas conse-
qncias ticas (9.6). O AT tambm formula diversas concepes teolgicas
com validade bsica, genrica: "Frente a ti nenhum vivente justo!" (51143.2;
cf. Gn 8.21; J 4.17; tambm x 33.20; Dt 8.3; 1 Sm 16.7; Is 2.17; Mq 6.8 e
vrias outras.) Assim o AT ajuda ao ser humano a questionar-se a si mesmo,
diante dos "cus, obra dos teus dedos", e a admitir diante de si mesmo que
vive graas providncia de Deus (SI8.4s.): "Que o homem, que dele te lembres?"
346
31
A QUESTO DA UNIDADE
DO ANTIGO TESTAMENTO
Aspectos de uma "Teologia do Antigo Testamento"
347
percepes, mas a multiplicidade dos distintos fenmenos histricos e as revi-
ravoltas das diversas pocas fizeram com que se perdesse de vista o objetivo de
ver o AT na sua totalidade e unidade. Alm disto as relaes da cincia
veterotestamentria com a teologia como um todo se perderam progressivamen-
te; a autonomia do AT acarretava o risco da marginalidade.
348
Khler oferece uma "compilao daquelas concepes, idias e termos do AT
que so teologicamente pertinentes ou o poderiam ser" (Theologie des AT,
1935, Prefcio, 1966,4. ed.). Embora a proposta e sua execuo tivessem sido
diferentes, relacionaram-se os enunciados essenciais do AT sobre Deus, Israel,
o mundo e o ser humano a um enfoque bsico, para assim indicar a correlao
dos distintos aspectos com o todo, a historicidade da revelao e seu carter
normativo. Quanto mais se buscava, no entanto, a unidade do AT, tanto mais
se arriscava perd-la, j que podia ser determinada de vrias maneiras.
Como centro do AJ' se mencionaram, p. ex.: a santidade de Deus (A. Dillmann,
G. Hnel), a aliana (VI. Eichrodt), a presena do Senhor que exerce o domnio (L.
Khler), o conhecimento de Deus como relao de comunho (Th. C. Vriezen), a
promessa fundamental: "Eu sou o Senhor, teu Deus" (F. Baumgrtel), o reinado de
Deus (tambm W. Eichrodt e outros), a conjuno do senhorio de Deus e da comunho
com Deus (G. Fohrer e outros).
As diversas tentativas de extrair da multiplicidade e contextualidade do
AT uma idia unificadora no levaram a nenhum resultado inconteste. Nenhuma
proposta logrou manter o enfoque bsico em todos os mbitos do AT. Ou a
exposio sistemtica oculta a multiplicidade histrica ou ento o enfoque
logo abandonado no tratamento especfico dos diversos fenmenos. difcil
sistematizar os enunciados do AT, sendo mais difcil ainda fundi-los num s conceito.
349
sua interpretao e tambm encontrar o relacionamento teolgico apropriado entre si"
(1,4. ed., p. 128). Ao AT "falta o centro de que o Novo Testamento dispe" - nem
mesmo Jav pode ser considerado como tal, "pois no vemos quase nunca este Israel
repousando de fato no seu Deus" (11, 4. ed., p. 386).
C. Westermarm concorda: "No [] possvel transferir a questo da definio do
centro do Novo Testamento ao Antigo 'Iestamento." (Theologie des AT in Grundzgen,
1978, p. 5.)
Prosseguindo neste raciocnio, A. H. 1. Gunneweg pergunta "se o Antigo Testa-
mento de fato pode ter um 'centro' na perspectiva de uma teologia crist, visto que na
teologia crist Cristo constitui o seu centro e fundamento" (Vom Verstehen des AT,
1977, p. 79; cf. Festschrift E. Wrthwein, 1979, p. 42). Mas ser que sem a herana
veterotestamentria at mesmo este "centro" pode ser enunciado?
Todavia, G. von Rad insiste na busca da unidade na medida em que
formula "a pergunta pelo que tpico na f em Jav e nos testemunhos da
mesma" (li, 4. ed., p. 447; cf. Gesammelte Studien lI, 1973, p. 295). Enfatica-
mente W. Zimmerli considera que no se pode desistir de buscar esclarecer a
questo do centro do AT (EvTh 35, 1975, p. 102).
Para destacar a coerncia interna do falar veterotestamentrio de Deus ao longo
da mudana da histria, W. Zimmerli reala "a mesmidade de Deus", que o AT
"conhece pelo nome Jav", e inicia seu manual de teologia do AT (Grundriss der
alttestamentlichen Theologie) com o "nome revelado" (1972, 1982,4. 00., pp. lOs. ou
1). Mas, seguindo no desenvolvimento do tema, este programa relegado a segundo
plano. Expressamente o AT s reflete em determinadas camadas literrias (como x
3.14s.; Os 1.9; Dt) sobre o nome "Jav"; e urna parte considervel de escritos ps-
exlicos (J, Ec, SI 42-83 e outras) evita mencionar este nome. Assim, a unidade da f
s pode ser enunciada levando-se em conta a alterao dos nomes (cf. x 6.2): "Sem
dvida a mesmidade deste nico Deus pressuposta, mesmo quando em pocas mais
recentes se evita timidamente mencionar o nome de Jav (...)." (Theologische Realenzyklo-
piidie, VI, p. 445). Mas esta identidade no deveria ser detectvel lingisticamente em
textos veterotestamentrios?
Em sua exposio abrangente do problema, R. Smend encontra o centro do AT
- seguindo o raciocnio de J. We1lhausen - na assim chamada frmula da aliana:
"Jav o Deus de Israel, Israel o povo de Jav". Esta expresso bastante caracterstica
para o AT (embora seja comprovada apenas em escritos tardios) tambm abarca a
literatura sapiencial ou torna compreensvel o processo de confrontao com as religies
circundantes que perpassa o AT? A crtica proftica do relacionamento entre Deus e o
povo, como tambm a esperana de que este relacionamento seja ampliado, ao ponto
de o Deus uno ser reconhecido universalmente, no so suficientemente contemplados
nesta abordagem.
350
habitual - embora controvertida - metfora do "centro' , (entendido no
como um centro, no sentido espacial, mas no sentido de fio condutor) implica
certos aspectos significativos.
a) A questo da identidade da f em Jav, definida em relao ao meio
circundante: o que a distingue objetivamente na sua essncia das religies
vizinhas? Isto significa tambm: o que muda quando se "segue" 'a Jav em vez
de Baal (1 Rs 18.21), quando em vez de Baal Jav sujeito de manifestaes de f?
Numa "teologia do AT" no se pode ignorar o reconhecimento exegtico
de que o AT, por um lado, nega concepes das religies circundantes, por
outro lado, porm, tambm as integra e reinterpreta, modificando profundamen-
te seu significado. Desta maneira se impem intenes da assim chamada
escola da histria das religies no sentido de captar "a originalidade de Israel"
(H. Gressmann, ZAW 42, 1924, p. 10) e a peculiaridade da f veterotestamen-
tria, em comparao com as religies do Antigo Oriente. Nesta tarefa est
implcita a questo mais difcil dos critrios que o XI' adota quando entra em
contato com as concepes de seu meio circundante: segundo que critrios a f
veterotestamentria seleciona entre a multitude de fenmenos manifestados em
outras religies, segundo que critrios transforma o que assimila e rejeita o que
considera incompatvel com sua essncia?
b) A questo da continuidade na descontinuidade da histria: que enfo-
ques e motivaes persistem - sobretudo no que diz respeito relao com
Deus - nas rupturas histrico-traditivas e na sucesso de perodos histricos?
Entretanto, qualquer tentativa de procurar algo que permanea constante nas
mudanas, no encontrar aspectos constantes sem variao; por isto no basta
distinguir entre essncia e manifestao ou entre ncleo e invlucro.
c) A questo dos aspectos comuns entre os escritos multiformes do Antigo
Testamento: h uma inteno bsica que interligue estilos to variados e obras
literrias to diversificadas - seja de forma implcita ou explcita? Sem dvida
uma inteno comum s pode, por sua vez, encontrar expresso vlida numa
forma de linguagem que vai se alterando.
d) A questo do legado deixado pelo Antigo Testamento, os seus efeitos
posteriores para alm de Israel: o AT somente "cristianizado" pela histria
dos seus efeitos, ou h uma concordncia profunda, ltima entre o Antigo e o
Novo Testamento? O que o XI' tem de "singular, peculiar, essencial" , ao
mesmo tempo, aquilo que tem em comum com o NT?
Levando em considerao tudo isto, a unidade buscada na multiplicidade
no deve ocultar a amplitude do AT, suas experincias diferenciadas ou at seus
enunciados antagnicos, nem sua longa caminhada histrica.
Mas ser que no h mesmo nenhuma resposta para as questes bsicas
351
acima mencionadas? A exclusividade da f em Jav, que a distingue das outras
religies vtero-orientais e que se expressa no primeiro mandamento, determina
amplos segmentos do AT (livros histricos, cdigos de leis, profetismo, Salt-
rio), seja desde o princpio ou (como no caso da tradio patriarcal e talvez da
Sabedoria) apenas num estgio de tradio mais tardio. Esta exclusividade
abrange a bipolaridade ou o antagonismo existencial, como vida e morte (l Sm
2.6s.; 2 Rs 5.7; Ez 17.24), luz e trevas, desgraa e salvao (Is 45.7; Lm 3.37s.;
x 4.11; Pv 29.13; J 2.10; Ec 7.14) ou passado e futuro (Gn 1.1; Is 43.18s.;
65.17 e outras).
No NT o primeiro mandamento como que automaticamente continua
valendo (Mt 6.24,33; 22.37s. e outras) - mesmo na expectativa escatolgica
(l Co 15.28; cf. Zc 14.9). No s interpretado de forma renovada pelo
"evento de Cristo", mas este mesmo fato interpretado de tal maneira - at
no desenvolvimento do dogma da trindade na Igreja Antiga - que a inteno
do primeiro mandamento mantida. Quem, alm disto, pode se esquecer das
conseqncias deste legado veterotestamentrio na histria da teologia?
352
32
A FAVOR E CONTRA
O ANTIGO TESTAMENTO
Temas da hermenutica veterotestamentria
353
to, corresponde a descontinuidade de contedo. H telogos que chegaram a
juzos similares.
354
b) Tipologia:
Enquanto a promessa por si s j anncio do futuro, na interpretao tipolgica
uma pessoa, um evento ou at uma palavra podem se tomar, na retrospectiva,
paradigmas ou modelos que antecipam exemplarmente o futuro. Assim a passagem
pelo deserto (x 16s.; 32 e outras) aconteceu de uma forma "exemplar" (l Co
10.6,11; cf. Jo 19.36 com x 12.46; tambm Rm 5.14; dentro do AT, compare Is
52.11s. com x 12.11 e outras; na arte, cf., p. ex., a representao do sacrifcio de
Isaque como prefigurao do sacrifcio de Cristo). Apesar da distncia histrica que
separa dois fatos, eles so relacionados diretamente por apresentarem certas seme-
lhanas, partindo-se evidentemente do pressuposto de que em ambos os acontecimen-
tos atua o mesmo Deus. Alm disto este procedimento de relacionar eventos pode
ser associado categoria "promessa e cumprimento" ou pode ser vinculado a uma
concepo que afirma a continuidade histrico-salvfica e, com isto, sofrer vrias
transformaes. Como o acontecimento posterior pode completar o acontecimento
anterior ou se colocar em oposio a ele, a relao "tipo-antitipo" pode expressar
tanto identidade como diferena Mas podemos de fato depreender de um aconteci-
mento alm de seu significado prprio ainda um significado futuro que ele, por si s,
no tem? - G. von Rad antigamente defendia a interpretao tipolgica, que pode-
ria, "por princpio avanar alm da autocompreenso do respectivo texto veterotes-
tamentrio e super-la" (EvTh 12, 1952, pp, 17-33, sobretudo p. 31); mais tarde,
porm, compreendeu a interpretao mais no sentido de uma histria da tradio
(Theologie des AT Il, 4. ed., pp. 350ss., 387ss.).
c) Histria da tradio:
Observa a recepo e adaptao da tradio no transcurso histrico e com isto se
mantm dentro do contexto da metodologia histrica. Por causa da contingncia da
histria, o processo traditivo, porm, no nenhum continuum sem profundas cises
e rupturas; tradies podem se modificar profundamente, podem se perder e renovar-se.
d) Analogia estrutural:
Na comparao entre o Antigo e o Novo Testamento (ou a atualidade) procuram-se
analogias na concepo de Deus, do mundo e do ser humano, correspondncias na
interpretao de experincias ou no jeito de lidar com situaes. C. H. Ratschow (Der
angefochtene Glaube, 2. ed., 1960, pp. 67ss.) mencionou algumas destas analogias
estruturais, p. ex.: a atuao de Deus em acontecimentos determinados pelo tempo e
pelo espao, uma atuao ao mesmo tempo velada e evidente, a dedicao de Deus
ao que est perdido e o sofrimento de Deus por causa do ser humano (cf. tambm
A. H. J. Gunneweg, H. D. Preuss).
Segundo R. Bultmann, no AT o ser humano " visto em sua temporalidade e
historicidade (...). Esta compreenso da existncia, porm, idntica do Novo
Testamento." (Glauben und Verstehen 1, 1933, p. 324.)
Mas ser que a coeso interna e a identidade prprias de cada Testamen-
to no impossibilitam, em ltima anlise, qualquer esquema, de sorte que
persistem e so necessrias maneiras distintas de abordar e comparar os
Testamentos? Ambas as perspectivas, qual seja, o olhar a partir do Antigo para
355
o Novo Testamento (expectativas concernentes ao futuro no AT; adoo de
linguagem e tradio por parte do NT), como tambm o olhar a partir do Novo
para o Antigo Testamento (identificao de similaridades) no se deveriam
excluir mutuamente, mas podem se complementar. Visto que o Antigo e o Novo
Testamento esto colocados em seqncia e lado a lado, cabe inquirir sobre sua
similaridade, isto , sua unidade na "causa", apesar de todas as profundas diferenas.
No entanto, o AT deveria ter oportunidade de manifestar seu sentido prprio.
E. Haenchen reivindicou com razo: podemos "apropriar-nos de s conscincia
do legado do Antigo Testamento to-somente quando e na medida em que reconhecer-
mos a afinidade do sentido original dos escritos veterotestarnentrios, redescoberto pela
pesquisa histrica, com a mensagem neotestamentria" (Die Bibel und Wir, 1968, p. 27).
356
o importante efeito do AT: para a comunidade gentlico-crist o AT, que tinha "uma
compreenso de Deus segundo a qual ele atua na histria junto aos seres humanos", se
toma "um contrapeso contra as idias da 'teologia natural' que desde cedo se infiltra-
ram. A noo de que Deus se manifesta naquilo que faz se conserva graas ao Al'; e a
partir do Al' tambm surge a possibilidade de compreender a pessoa de Jesus e sua
cruz." (Theologie des NT, 6. ed., 1968, p. 120.)
De forma semelhante opina H. Braun (ZThK 59, 1962, p. 30): "Se os autores do
Novo Testamento no tivessem sido marcados pela mentalidade veterotestamentrio-
judaica, o cristianismo helenstico teria resultado em xtase e misticismo."
Contra a doutrina de Marcio, conforme a qual havia dois deuses (o
Senhor justo deste mundo e o Deus estranho e bondoso), e contra concepes
semelhantes do gnosticismo, a Igreja crist conservou, no sculo Il, a profisso
de f em um s Deus Criador e Salvador; desta maneira manteve ao mesmo
tempo o AT - que j exprime esta unidade (Is 43.1; 44.6 e outras) - como
testemunho da f.
Sem o Antigo Testamento, o Novo Testamento no estaria merc de mal-
entendidos? Por isto tambm no possvel substituir, nas assim chamadas
igrejas novas, o AT pela respectiva tradio local.
357
Em ltima anlise no h uma nica resposta pergunta pela importncia
do AT. E isto no poderia ser diferente, j que tanto o contedo do AT quanto
os seus efeitos sobre a histria so por demais multiformes.
358
elemento "formal" que serve para interligar temas ou como mero motivo bsico, mas
marca profundamente tradies, concepes e experincias, inclusive posicionamentos
ticos (cf. Lv 19.2; Pv 20.22; Rm l2.17ss.) e esperanas.
1mbm as profecias messinicas prometem, em ltima anlise, a atuao de
Deus: "A alegria lhe aumentaste (...). O zelo de Jav Zebaote far isto." (Is 9.2,6; cf.
11.2); o rei vindouro (Jr 23.6) tem o nome "Jav-Justia-Nossa [ou Salvao-Nossa]".
Assim de fato Deus quem o Redentor (cf. SI 130.7s.).
359
mias sofre no meio de seu povo por causa de sua pregao ou o servo de Deus sofre
por seu povo, temos de concordar com o juzo de D. Bonhoeffer de que "no AT a
bno tambm implica a cruz, como no NT a cruz tambm implica a bno".
8. O juzo positivo de Deus sobre sua criao: "viu tudo quanto fizera e eis que
era muito bom" (Gn 1.31) no se aplica ao mundo atual, ambivalente, onde h alegria
e sofrimento, mas vale para um mundo sem derramamento de sangue (1.29s.), ao menos
sem sofrimento provocado por atos de violncia. Com isto se estabelece uma diferena
entre o mundo criado e o mundo existente; assim como est, o mundo no agrada a
Deus. Por isto a injustia e o sofrimento no precisam ser acobertados.
Esta diferenciao retomada pela esperana proftico-escatolgica que esquadri-
nha o horizonte em busca de uma "paz sem fim" (ls 9.6; 2.4), do aniquilamento da
morte (25.8; cf. SI 22.28ss.; 73.23ss.) ou de "novos cus e nova terra" (Is 65.17). J
Isaas (2.17) formula a expectativa futura a partir da exclusividade da f: "A altivez do
homem ser humilhada; s Jav ser exaltado naquele dia." Embora a comunidade
crist - extrapolando o Antigo Testamento - professe o futuro daquele que veio,
espera tambm - com o Antigo Testamento e em conformidade com o seu sentido (Ze
14.9; cf. Is 24.23; 60.19s. e outras) - que "Deus seja tudo em todos" (l Co 15.28).
360
10. A comunidade crist interpreta o conceito "povo", extrado do Antigo Testa-
mento, que espera o reconhecimento do Deus uno por parte de todos os povos (Is
19.24s.; 25.6s.; 45.23; Sf 2.11; SI 22.28s.; 100 e outras), e o emprega para designar em
sentido figurado o povo constitudo por judeus e pagos (Ef 2; 3.6). A Igreja, apesar de
ser "corpo de Cristo", se entende tambm como "povo de Deus" (l Pe 2.9s., segundo
x 19.6) - no entanto, nem como "o povo de Deus", nem simplesmente como "um
povo de Deus".
Assim, a Igreja tem conscincia de que no se fundou a partir de si mesma, mas
que, como Israel, "chamada" (Os 11.1), "escolhida" (Dt 7.7s.)e "criada" (Is 43.1e outras).
Ao atribuir Tor autoridade superior dentro da Bblia hebraica, a comunidade
judaica tambm confessa estar na "aliana eterna" concedida a Abrao (Gn 17.19 e
outras). A comunidade crist, por sua vez, invoca a promessa proftica da "nova
aliana" (Jr 31.31-34; cf. 1 Co 11.25 e outras).
Mesmo que esta diferena seja profunda, a Tor e o profetismo coincidem ao
compreenderem, por um lado, a dedicao de Deus como opo espontnea por parte
dele, sem ignorarem, por outro lado, a desobedincia do ser humano.
Enquanto a salvao prometida pelos profetas pressupe a denncia proftica,
inclusive a acusao de o povo ter rompido a aliana (Jr 31.32), o povo, segundo a Tor,
em seguida responde promessa de ajuda divina "no ouvindo" (x 6.9) e murmuran-
do (14.11s. e passim). Nem o prprio Moiss poupado (Nm 20.12 e outras), como j
os patriarcas ou Davi de forma alguma so retratados como se fossem perfeitos. Neste
sentido a Tor narra a respeito da dedicao permanente de Deus e o profetismo espera
nova dedicao de Deus queles que se tomam ou so pecadores (Gn 8.21; Jr 17.1; SI
143.2 e vrias outras).
361
BmLIOGRAFIA
H. HAAG, Kanon, in: Bibel-Lexikon, 2. 00., 1968, 915-922 (bibI.); H. GESE, Erwgungen zur
Einheit der biblischen Theologie (1970), in: - , Vom Sinsi zum Zion, 1974, 11-30; J. CONRAD,
Zur Frage nach der Rolle des Gesetzes bei der Bildung des alttestamentlichen Kanons, ThVers,
11:11-19, 1980; G. WANKE, Bibel I, in: TRE, 1980, vol. VI, 1-8 (bibl.); H. J. ZOBEL,
Einleitungswissenschaft I, in: ibid., 1982, vol, IX, 460-469 (bibl.). H. J. BOECKER, R.-J.
HERMISSON et al., Aites Testament, 2. 00., 1986; W. R. SCHMlDT; W. TIllEL; R. HANHART,
Altes Testament, in: Grundkrus Theologie 1, 1989.
Panorama: S. HERRMANN, Geschichte Israels, in: TRE, 1984, vol, Xll, 698-740 (bibl.),
A. ALT, KJeine Schriften zur Geschichte des Vo1kes Israel, 1953ss., vols. I-III; seleo em: Zur
Geschichte des Vo1kes Israel, 2. 00., 1979 [seleo em portugus: Terra Prometida; Ensaios sobre
a Histria do Povo de Israel, So Leopoldo, Sinodal, 1987]; M. NOTH, Geschichte Israels, (2.
00., 1954) 9. 00., 1981 [trad. esp.: Historia de Israel, Barcelona, Garriga, 1966]; E. L. EHRLICH,
Geschichte Israels von den Anfangen bis zur Zetstmng des Tempels, (1958) 2. 00., 1980; J.
BRIGHT, A History of Israel, 3. ed., 1981 [trad. port.: Histria de Israel, So Paulo, Paulinas,
1978]; M. METZGER, Grundriss der Geschichte Israels, (1963) 6.00., 1983 [trad. port.: Histria
de Israel, 5. 00., So Leopoldo, Sinodal, 1989]; R. DE VAUX, Histoire Ancienne d'Israel, vol. I,
1971; vol, Il, 1973 [trad. esp.: Historia Antigua de Israel, Madrid, Cristiandad, 1975]; A. H. J.
GUNNEWEG, Geschichte Israels bisBarKochba, (1972) 5. 00., 1984; S. HERRMANN, Geschichte
Israels in alttestamentlicher Zeit, (1973) 2. ed., 1980 (cf. R. SMEND, EvTh, 34:304-313, 1974)
[trad. esp.: Historia de Israel en la poca deI Antiguo Testamento, Salarnanca, Sgueme, 1979]; A.
JEPSEN, Von Sinuhe bis Nebukadnezar, (1975) 3. 00., 1979 (com tabela cronolgica e fontes do
Antigo Oriente); G. FOHRER, Geschichte Israels, 3. ed., 1982; J. H. HAYES & J. M. MILLER,
Israelite and Judaean History, 1977; H. H. BEN-SASSON, 00., Geschichte des jdischen Vo1kes,
363
(1978) 2. ed., 1981, vol, I; H. DONNER, Geschichte des Volkes Israel und seiner Nachbarn in
Grundzgen, 1984, vol. I; 1986, vol. 11 [trad. port.: So Leopoldo, Sinodal, em preparao].
3
Relatos da pesquisa: W. SCHOTIROFF, Soziologie und Altes 'Iestarnent, VF, 19(2):46-66,
1974 (bibI.); ID., Zur Sozialgeschichte Israels in der Perserzeit, VF, 27(1):46-68, 1982 (bibI.).
M. WEBER, Das antike Judentum, (1920) 7. ed., 1983 (Gesammelte Aufstze zur
Religionssoziologie, l i [trad. esp.: Ensayos sobre Sociologia de la Religin, 2. 00., Madrid,
Taurus, 1987-88]); W. SCHLUCHTER, 00., Max mbers Studie ber das antike Judentum;
Interpretation und Kritik, 1981; L. KOHLER, Der hebriiische Mensch. (1953) 1980; R. DE VAUX,
Das Alte 1estament und seine Lebensordnungen, (1960), 2. 00., 1964, vol. I; (1962) 1966, vol, 11
[trad. esp.: Instituciones deI Antiguo 1estamento, Barcelona, Herder, 1976]; H. E. VON WALDOW,
Social Responsibility and Social Structure, CBQ, 32:182-204, 1970; G. C. MACHHOLZ, Die
Stellung des Knigs in der israelitischen Gerichtsverfassung, ZAW, 84:157-182, 1972; F. STOLZ,
Aspekte religiser und sozialer Ordnung im alten Israel, ZEE, 17:145-159, 1973; J. EBACH,
Sozialethische Erwgungen zum alttestamentlichen Bodenrecht, BN, 1:31-46, 1976; M. SCHWANTES,
Das Recht des Annen, 1977 (BET, 4); F. CRSEMANN, Der Widerstand gegen das Knigtum,
1978 (WMANT, 49); H. G. KIPPENBERG, Religion und KIassenbildung im antiken Iuds, 2.
ed., 1982 [trad. port.: Religio e Formao de Classes na Antiga Judia, So Paulo, Paulinas,
1988]; W. DIETRICH, Israel und Kanaan, 1979; N. K. GOTTWALD, The Tribes of Yahweh, 1979
[trad. port.: As 'Iiibos de Iahweh, So Paulo, Paulinas, 1986]; ID., Sociological Method in the
Study of the Ancient Israel, in: M. 1. BUSS, 00., Encounter with the 'Iext, 1979, 69-81; W.
SCHOTIROFF & W. STEGEMANN, OOs., Der Gott der ldeinen Leute, 2. ed., 1981, vol. I; ID.,
'Iiuditionen der Befreiung, 1980, vol, I; W. THIEL, Die soziale Entwicldung Israels in vorstaadicher
Zeit, 2. ed., 1984 [trad. port.: A Sociedade de Israel na poca Pr-Estatal, So Leopoldo, Sinodal,
1993]; G. FOHRER, Zur Einwirkung der gesellschaftlichen Struktur Israels auf seine Religion, in:
BZAW 155, 1981, 117-131; M. KLPFENSTEIN, Jahweglauben und Gesellschaftsordnung, IKZ,
72:118-131, 1982; U. WORSCHECH, Abraham; eine sozialgeschichtliche Studie, 1983 (EHS.T,
225); L. & W. SCHOTIROFF, eds., Mitarbeiter der Schpiung, 1983; R. SMEND, Der Ort des
Staates im AIten Testament, ZThK, 80:245-261, 1983; N. K. GOTTWALD, The Hebrew Bible; a
Socio-Literary Introduction, 1985 [trad. port.: Introduo Socioliterria Bblia Hebraica, So
Paulo, Paulinas, 1988]; N. P. LEMCHE, Early Israel; Anthropological and Historical Studies on
the Israelite Society before the Monarchy, 1985 (VTS, 37); H. NIEHR, Herrschen und Richten, 1986.
Sobre a crtica social dos profetas: H. DONNER, Die soziale Botschaft der Propheten im
Lichte der Gesellschaftsordnung Israels, OrAnt, 2:229-245,1963 = P. H. A. NEUMANN, ed., Das
Prophetenverstendnis (infra 13),493-514; K. KOCH, Die Entstehung der sozialen Kritik bei den
Propheten, in: Festschrift G. von Rad, 1971, 236-257; G. WANKE, Zu Grundlagen und Absicht
prophetischer Sozialkritik, KuD, 18:1-17, 1972; M. FENDLER, Zur Sozialkritik des Amos, EvTh,
33:32-53, 1973; o. LORETZ, Die prophetische Kritik des Rentenkapitalismus; Grundfragen -
Probleme der Prophetenforschung, DF, 7:271-278, 1975; W. KORNFELD, Die Gesellschafts- und
Kultkritik alttestamentlicher Propheten, in: Festschrift Kardinal Knig, 1980, 181-200.
4
Histria da pesquisa: H. J. KRAUS, Geschichte der historisch-kritischen Erforschung des Alten
'Iestsments, 3. ed., 1982; E. OSSWALD, Das Bild des Mose, 1962; R. 1. THOMPSON, Moses
and the Law in a Century ofCriticism since Grai, 1970 (VTS, 19); R. E. CLEMENTS, Pentateuchal
Problems, in: Tal, 96-124.
364
Monografias importantes: 1. WELLHAUSEN, Die Composition des Hexateuchs, (1876s.) 4.
ed., 1963; ID., Prolegomena zur Geschichte Israels, (1883; 6. 00., 1905) 1981; H. HOLZINGER,
Einleitungin den Hexateuch, 1893; O. EISSFELDT, Hexateuch-Synopse, (1922) 1980; G. VON
RAD, Das fonngeschichtliche Problem des Hexateuch (1938), in: -, Gesammelte Studien, (1958)
4. 00., 1971, vol. I, 9-86 [trad. esp.: Estudios sobre el Antiguo Testamento, Salamanca, Sgueme,
1976]; M. NOTH, berlieferungsgeschichte des Pentateuch, (1948) 3. 00., 1966; G. HOLSCHER,
Geschichtsschreibung in Israel, 1952;S. MOWINCKEL, Erwiigungen zur Pentateuch-Quellenfrage,
1964.
Relatos da pesquisa: C. WESTERMANN, Genesis 1-11, 1972 (EdF, 7); ID., Genesis 12-50,
1975 (EdF, 48).
'Irabalhos mais recentes: E. BLUM, Die Komposition der Vfitergeschichte, 1984 (WMANT, 57);
M. KOCKERT, Viitergott und Viiterverheissungen, 1988 (FRLANT, 142).
Sobre xodo: H. HOLZINGER (KHC), 1900 (x, Nm); B. BAENTSCH (HK), 1903 (x-Nm);
H. GRESSMANN, Mose und seine Zeit, 1913; G. BEER & K. GALLING (HAT), 1939; M.
NOTH (Al'D), (1958) 6. 00., 1978; G. FOHRER, berlieferung und Geschichte des Exodus, 1964
(BZAW, 91); U. CASSOTO, ingl. 1967; B. S. CHILDS (OTL), 1974; W. H. SCHMIDT (BK),
1974ss.; P. WEIMAR & E. ZENGER, Exodus, 1975 (SBS, 75) (bibl.);1. JEREMIAS, Theophanie,
2. 00., 1977, 194ss. (WMANT, 10) (bibl.); P. WEIMAR, Die Meerwundererziihlung, 1985; E
KOHATA, Jahwistund Priesterschrift in Exodus 3-14,1986 (BZAW, 166) (cf. ID., AJBI, 12:3-28,
1986; 14:10-37, 1988).
365
Relatos da pesquisa: R. SMEND, Das Mosebild von Heinrich Ewald bis MaItin Noth, 1959
(bibl.); E. OSSWALD (supra 4); H. SCHMID, Mose; berlieferung und Geschichte, 1968, 1-13
(BZAW, 110); R. THOMPSON (supra 4); H. ENGEL, Die Vorfahren Israe1s in gypten;
forschungsgeschichtlicher berblick ber die Darstellungen seit R. Lepsius (1849), 1979 (FThSt,
27) (bibl.); W. H. SCHMIDT, Exodus, Sinai und Mose, 1983 (EdF, 191) (bibl.); H. SCHMID,
Die Gestalt des Mose, 1986 (EdF, 237).
Sobre Levtico: M. NOTH (ATD), (1962), 4. ed., 1978; K. ELLIGER (HAT), 1966; W.
KORNFIELD (NEB), 1983; R. RENDTORFF (BK), 1985.
5a
1. HEMPEL, Glaube, Mythos und Geschichte im Alten 'Iestament, ZAW, 62:109-167, 1953;
B. S. ClllLDS, Myth and Realily in the 01d Testament, 1960 (SBT, 1960); W. H. SCHMIDT,
Mythos im Alten Testament, EvTh 27:237-254, 1967; A. OHLER, Mytho1ogische E1emente im
Alten Testament, 1969; 1. SCHREINER, Mythos im Alten Testament, BiLe 12:141-153, 1971; W.
PANNENBERG, Christentum und Mythos, 1972; J. W. ROGERSON, Myth in 01d Testament
Interpretation, 1974 (BZAW, 134); H. P. MLLER, Jenseits der Entmytho1ogisierung, 2. 00.,
1979; ID., Mythos - Anpassung - Wahrheit, ZThK, 80:1-25, 1983 (bibl.); B. OlZEN et al.,
Myths in the 01d Testament, 1980; J. ASSMANN; W. BURKERT; F. STOLZ, Funktionen und
Leistungen des Mytbos, 1982 (OBO, 48); H. GRAF REVENTLOW, Hauptprob1eme der
alttestamentlichen Theo1ogie im 20. Jahrhundert, 1982, 168-183 (EdF, 173) (bibl.); C. PETERSEN,
Mythos im Alten Testament, 1982 (BZAW, 157).
Sobre as genealogias: C. WESTERMANN, BK, 1974, vol, lIl, 8ss.; R. R. WILSON, The Old
Testament Genealogies in Recent Research, JBL, 94:169-189, 1975; ID., Genealogy and History
in the Biblical W,r1d, 1977.
5b
H. GUNKEL, Genesis, 3. 00., 1910, Vllss.; ID., RGG, 2. 00., 1930, vol. V, 381-380; C.
WESTERMANN, Arten der Erzhlung in der Genesis, in: Forschung am Alten Testament, 1964,
9-91 = Die Verheissungen an die Vater, 1976, 9-91 (FRLANT, 116); ID., Genesis 12-50, 1975,
20ss. (EdF, 48); K. KOCH, Was ist Formgeschichte?, 4. 00., 1982, 182ss.; J. H. WILCOXEN, in:
J. HAYES, 00., Old Testament Form Criticism, 1974, 57ss.; H. J. HERMISSON, in: Bnzykiopsdie
des Miirchens, 1975, voL I, 419-441; J. P. FOKKELMANN, Narrative Art in Genesis, 1975; R.
ALTER, The Art of Biblical Narrative, 1981; J. J. SCULLION, Mrchen, Sage, Legende, VT,
34:321-336, 1984; G. W. COATS, 00., Saga, Legend, 1le, Novella, Fable; Narrative Forms in
Old 'Iestamcnt Literature, 1985 (JSOT.SS, 35); H. GUNKEL, Das Miirchen im Alten Testament,
(1921) 1987; H.-J. HERMISSON, Altes Testarnent und Mrchen, EvTh, 45:299-322, 1985.
366
Se
L. RUPPERT, Die Josephserziihlung der Genesis, 1965; D. B. REDFORO, A Study oi the
BiblicalStory oiJoseph, 1970; C. WESTERMANN, Genesis 12-50, 1975, 56ss. (EdF, 48); G. W.
COATS, From Call11fI11 to Egypt, 1976; H. OONNER, Die literarische Gestaltderalttestamentlichen
Josephsgeschichte, 1976; R orro, Die "synthetische Lebensauffassung"..., ZThK, 74:387-400,
1977; F. CRSEMANN (supra 3), 143ss. (bibl.); H. SEEBASS, Geschichtliche Zeit und
theonome 1tadition in der Joseph-Erziihlung, 1978; I. WILLI-PLEIN, Historiographische Aspekte
der Josephsgeschichte, in: Henoch 1, 1979, 305~331; H. C. SCHMfIT (supra 4); L. RUPPERT
(supra 4); L. SCHMIDT, Literarische Studien zur Josephsgeschichte, 1986.
6
Panorama: H. SEEBASS, in: TRE, 1987, vol, XVI, 441-451 (bibl.).
G. VON RAD, Das fonngeschicht1iche Problem des Hexateuch (supra 4); M. L. HENRY,
JahwistundPriesterschrift, 1960; H. W. WOLFF, Das Kerygma des Jahwisten, in: - , Gesamme1te
Studien, 1964, 345-373 [trad. port.: O Querigma do Javista, in: ID. & W. BRUEGGEMANN, O
Dinamismo das 1tadies do Antigo l.estamento, So Paulo, Paulinas, 1984,47-77]; P. F. ELUS,
The Yahwist, 1968; L. RUPPERT, Der Jahwist - Knder der Heilsgeschichte, in: WuB, 101-120;
H. P. MLLER, Urspriinge und Strukturen der alttestamentlichen Bscbstologie, 1969, 50ss.
(BZAW, 109); V. FRITZ, Israel in der Wste, 1970, 113ss.; F. J. STENDEBACH, Tneologiscne
Aathropoogie des Jahwisten, tese de doutorado, Bonn, 1970; R ZENGER, Die Sinaitheophanie,
1971, especialmente 138ss. (FzB, 3); H. SCHULTE, Die Entstehungder Geschichtsschreibung in
Israel, 1972 (BZAW, 128); C. ~TERMANN, BK, 1974, vol, 1/1, 782ss.; H. H. SCHMID, Der
sogensnme Jahwist, 1976; R. RENDTORFF, Der "Jahwist" als Theologe?, in: Congress Volume
Edinburgh, 1975, 158-166 (VTS, 28); ID. (supra 4), 86ss.; L. SCHMIDT, berlegungen zum
Jahwisten, EvTh 37:230-247, 1977 (bibl.); P. WEIMAR, Untersuchungen (supra 4); E. OTTO
(supra 4); H. VORLAENDER, Die Entstehung des jehovistischen Geschichtswerkes, 1978; H.
LUBSCYK, Elohim beim Jahwisten, in: Congress Volume Gttingen, 1978,226-253 (VTS, 29);
F. CRSEMANN, Widerstand(supra 3), 167ss.; W. H. SCHMIDT, Ein Theologe in salomonischer
Zeit?; Pldoyer fr den Jahwisten, BZ, 25, 82-102, 1981; M. ROSE, Deuteronomist und Jahwist,
1981 (iXThANT, 67); F. KOHATA (supra 4).
Sobre Gnesis 2-11 e 12,1-3: R. RENDTORFF, Gen 8,21 und die Urgeschichte des Jahwisten
(1961), in: - , Gesamme1te Studien, 1975, 188-197; W. H. SCHMIDT, SchOpfungsgeschichte
(infra 8), 194ss. (sobre Gn 2-3); O. H. STECK, Die Paradieserziihlung, 1970 (BSt, 60); 10., Gen
12,1-3 und die Urgeschichte des Jahwisten, in: Festschrift G. von Rad, 1971, 525-554 (bibI.); J.
JEREMIAS, Die Reue Gattes, 1975 (BThSt, 65); W. DIETRICH, "Wo ist dein Bruder?", in:
Festschrift W Zimmerli, 1977,94-111; I. VON LOEWENCLAU, Gen 4,6-7 - eine jahwistische
Erweiterung?, in: Congress Volume Gttingen, 1978, 177-188 (VTS, 29); E. RUPRECIIT, ...Gen
Xll,l-3, VT, 29: 171-188, 444-464, 1979; F. CRSEMANN, Die Eigenstndigkeit der Urgeschichte;
ein Beitrag zur Diskussion um den "Jahwisten", in: Festschrift H. W Wo1ff, 1981, 11-29; R.
OBERFORCHER, Die Funptolog als Kompositionssch1sse1 der biblischen Urgeschichte, 1981;
V. FRITZ, "Solange die Erde steht" - vom Sinn der jahwistischen Fluterzhlung in Gen 6-8,
ZAW,94:599-614, 1982;E. ZENGER, Beobachtungen zu Komposition und Theologie der jahwistischen
Urgeschichte, in: Dynamik im Wort; Festschrift Katholisches Bibelwerk, 1983, 35-54 (bibI.); R-J.
WASCHKE, Untersuchungen zum Menschenbild derUrgeschichte, 1984 (ThA, 43); H.-P. MLLER,
Das Motiv fr die Sintflut, ZAW, 97:295-316, 1985; C. OOHMEN, SchOpfung und Tod; die
Entfaltung theologischer und anthropologischer Konzeptionen in Genesis 2/3, 1988 (SBB, 17).
367
7
Panorama: H. SEEBASS, Elohist, in: IRE, 1982, vol. IX, 520-524 (bibl.).
T. NLDEKE, Untersuchungen zur Kritik des Alten 'Istsmeats 1; die sogenannte Grundschrift
des Pentateuch, 1869; J. 1. P. VALETON, Bedeutung und Stellung des Wortes beritim Priestercodex,
ZAW, 12:1-22, 1892; G. VON RAD, Die Priesterschrift im Hexateuch, 1934 (BWANT, 65) (sobre
isso: P. HUMBERT, ZAW, 58:30-57,1940/1); K. ELLIGER, Sinn und Ursprung der priesterlichen
Geschichtserzhlung (1952), in: - , KJeine Schriften zum Alten 'Istsmeot; 1966, 174-198; 1.
HEMPEL, Priesterkodex, in: PW, 1954, vol. 22, 1943-1967; R. RENDTORFF, Die Gesetze in der
Priesterschritt, 1954 (FRLANT, 62); K. KOCH, Die Eigenart der priesterschriftlichen Sinaigesetzgebung,
ZThK, 55:36-51, 1958; ID., Die Priesterschrift von Ex 25 bis Lev 16, 1959 (FRLANT, 71); ID.,
Saddaj, VT, 26:316ss., 1976; M. L. HENRY (supra 6); W. ZIMMERLI, Sinaibund und
Abrahambund (1960), in: - , GottesOffenbarung, 1963,205-216; S. R. KUELLING, Zur Datierung
der "Genesis-P'Stiicke", 1964; W. H. SCHMIDT, Die Schpfungsgeschichte der Priesterschrift,
(1964) 3. ed., 1973 (WMANT, 17); A. H. J. GUNNEWEG, Leviten und Priester, 1965 (FRLANT,
89); R. KILIAN, Die Priesterschrift - Hoffnung auf Heimkehr, in: WuB, 243-260; W. GROSS,
Jakob, der Mann des Segens, Bib, 49:321-344, 1968; G. C. MACHHOLZ, Israel und das Land,
tese de habilitao para a docncia universitria, Heidelberg, 1969; J. G. VINK, The Date and
Origin of the Priestly Code in the Old Testament, OTS, 15:1-144, 1969 (bibl.); A. EITZ, Studien
zum Verhiiltnis von Priesterschrift und Deuterojesaja, tese de doutorado, Heidelberg, 1970; D.
KELLERMANN, Die Priesterschrift von Num 1,1 bis 10,10, 1970 (BZAW, 120); R. J. THOMPSON
(supra 4); N. LOHFINK, Die Ursnden in der priesterlichen Geschichtserziihlung, in: Festschrift
H. Schlier, 1970, 38-57 (cf. ID., Unsere grossen WiJter, 1977,209-224); C. WESTERMANN,
Die Herrlichkeit Gottes in der Priesterschrift (1970), in: - , Forschung am Alten 'Isuunent, 1974,
vol. 11, 115-137; ID., BK, vol. 1/1 (supra 4), 754ss.; S. E. McEVENUE, The Narrative Sty1e of
lhe Priestly Writer, 1971 (AnBib, 50); W. BRUEGGEMANN, The Kerygma of the Priestly
Writer, ZAW, 84:397-414, 1972 [trad. port.: O Querigma dos Escritores Sacerdotais, in: ID. & H.
W. WOLFF, op. cit ( 6), 121-137]; F. M. CROSS, Canaanite Myth and Hebrew Epic, 1973,
293ss.; P. WEIMAR, Untersuchungen zur priesterschriftlichen Exodusgeschichte, 1973 (FzB, 9);
ID., Aufbau und Struktur der priesterschriftlichen Jakobsgeschichte, ZAW, 86:174-203, 1974; ID.,
Struktur und Komposition der priesterschriftlichen Geschichtsdarstellung, BN, 23:81-134, 1984
(bibl.); A. HURVITZ, The Evidence of Language in Dating the Priestly Code, RB, 81:24-56,
368
1974; E. KUTSCH, "Ich will euer Gott sein", ZThK, 71:361-388, 1974; E. RUPRECHf, Stellung
und Bedeutung der Erzhlung vom Mannawunder..., ZAW, 86:269-307, 1974; M. V. FOX, The
Sign of the Covenant, RB, 81:557-596, 1974; J. VAN SETERS, Abraham in History and 'Iisdition,
1975, 279ss.; O. H. STECK, Der SchOpfungsbericht der Priesterschrift, 2. ed., 1981 (FRLANT,
115); J. BLENKINSOPP, The Structure of P, CBQ, 38:275-292, 1976; R. RENDTORFF (supra
4), 112ss.; V. FRITZ, 'Iempe! und Zelt, 1977 (WMANT, 47); N. LOHFlNK, Die Priesterschrift
und ihre Geschichte, in: Congress Volume Gttingen, 1978, 189-225 (VTS, 29) (bibl.); R. W.
KLEIN, Israel in Exile, 1979, 125-148 [trad. port.: Israel no Exlio, So Paulo, Paulinas, 1990];
ID., The Message of P, in: Festsehrift H W Wo1ff, 1981, 57-66; M. SAEBO, Priestertheologie
und Priesterschrift, in: Congress Volume Vienna, 1981, 357-374 (VTS, 32); R. SMEND, "Das
Ende ist gekommen" - ein Amoswort in der Priesterschrift, in: Festsehrift H W WOLFF, 1981,
67-72; S. TENGSTRM, Die Toledotformel und die literarische Struktur der priesterlichen
Erweiterungsschicht im Pentateuch, 1982 (CB.OT, 17); B. JANOWSKl, Shne als Heilsgeschehen,
1982, 183ss. (WMANT, 55); E. ZENGER, Gottes Bogen in den Wo1ken; Komposition und
Theologie der priesterschriftlichen Urgeschichte, 1983 (SBS, 112); P. WEIMAR, Struktur und
Komposition der priesterschriftlichen Geschichtsdarstellung, BN, 23:81-143, 1983; ID., Gen 17
und die priesterschriftliche Abrahamsgeschichte, ZAW, 100:22-60, 1988; W. H. SCHMIDT,
Nachwirkungen prophetischer Botschaft in der Priesterschrift, in: Festschrift M Delcot; 1985,
369-377 (AOxr, 215); ID., BK, 1988, vol, ll/1, 266ss. (sobre x 6; bibl.); F. KOHATA (supra
4); V. FRITZ, Das Geschichtsverstiindnis der Priesterschrift, ZThK, 84:426-439, 1987; K. KOCH,
P - kein Redaktor!, VT, 37:446-467, 1987; L. PERLITT, Priesterschrift irn Deuteronomium?,
ZAW, 100:65-88, 1988 (supl.); H. UTZSCHNEIDER, Das Heiligtum und das Gesetz, 1988 (OBO,
77); N. LOHFlNK, Studien zum Pentateuch, 1988 (SBAB, 4).
Introduo: H. J. BOECKER, Recht und Gesetz im Alten '!estament und im Alten Orient, 2.
ed., 1984 (NStB, 10) (bibI.).
A. ALT, Die Ursprnge des israelitischen Rechts (1934), in: - , Kleine Schriften, vol, I,
278-332 = Grundfragen (supra 2), 203-257 [trad. port.: As Origens do Direito Israelita, in: - ,
'!erra Prometida; Ensaios sobre a Histria do Povo de Israel, So Leopoldo, Sinodal, 1987, 179ss.];
M. NOTH, Die Gesetze irn Pentateuch (1940), in: - , Gesammelte Studien, 1957, 9-141 [trad.
esp.: Las Leyes en el Pentateuco, in: - , Estudios sobre el Antiguo 'lbstsmento, Salamanca,
Sgueme, 1985, 11-128]; E. WRTHWEIN, Der Sinn des Gesetzes irn Alten Testament (1958),
in: - , Wortund Existenz, 1970, 39-54; H. J. BOECKER, Redeformen des Rechtslebens im Alten
'!estamen~ 2. ed., 1970 (WMANT, 14); E. GERSTENBERGER, Wesen und Herkunft des
"apodiktischen Rechts", 1965 (WMANT, 20); R. HENTSCHKE, Erwgungen zur israelitischen
Rechstgeschichte, ThViat, 10:108-133, 1965/66; W. SCHOTTROFF, Deraltisraelitische Fluchspruch,
1969 (WMANT, 30); H. SCHULZ, Das Todesrecht im Alten '!estament, 1969 (BZAW, 114); G.
LIEDKE, Gestalt undBezeichnung alttestamentlicher Rechtssiitze, 1971(WMANT, 39); V. WAGNER,
Rechtssiitze in gebundener Sprache..., 1972 (BZAW, 127); K. KOCH, ed., Um das Prinzip der
Vergeltung in Religion und Recht des Alten Testaments, 1972 (WdF, 125); G. WALLIS, Der
Vollbrgereid in Dtn 27,15-26, HUCA, 45:47-63, 1974; J. HALBE, Das Privilegrecht Jahwes Ex
34,10-26, 1975 (FRLANT, 114); S. SEGERT, Gemes of Ancient Israelite Legal Sentences,
WZKM, 68:131-142,1976; R. SMEND (& U. LUTZ), Gesetz, 1981; H. LENHARD, Die kultischen
Anordnungen Gottes irn Zusammenhang mit den brigen Gesetzen des Alten Testaments, ZAW,
97:414-423, 1985.
369
Sobre o Declogo:
Panorama: L. PERLlTI, Dekalog I, in: TRE, 1981, voI. VIII, 408-413 (bibI.).
H. SCHMlDT, Mose und der Dekalog, in: Festschrift H. Gunkel, 1923,78-119 (FRLANT, 36);
H. SCHNEIDER, Der Dekalog in den Phylakterien von Qumrn, BZ, 3:18-31, 1959; H. H.
ROWLEY, Moses and the Decalogue, in: - , Men ofGod, 1963, 1-36 (bibl.); G. J. BOTTERWECK,
Fonn- und berlieferungsgesehiehtliche Studie zum Dekalog, Cone, 1:392-401, 1965; E. NIELSEN,
Die zehn Gebote, 1965; J. SCHREINER, Die zehn Gebote im Leben des Gottesvolkes, 1966; H.
GESE, Der Dekalog als Ganzheit betraehtet (1967), in: - , Vom Sinai zum Zion, 1974,63-80; A.
JEPSEN, Beitrge zur Auslegung und Gesehiehte des Dekalogs (1967), in: - , Der Herr ist Gott,
1978, 76-95; A. PHILLIPS, Ancient Israel's Criminal Law, 1970; W. H. SCHMlDT,
berlieferungsgeschiehtliehe Erwagungen zur Komposition des Dekalogs, in: Congress Volume
Uppsala, 1972, 201-220 (VTS, 22); H. SCHNGEL-STRAUMANN, Der Dekalog - Gottes
Gebot?, 1973 (SBS, 67); E. W. NlCHOLSON, The Decalogue as the Direet Address of God, VT,
27:422-433, 1977; S. BEN CHORIN, Die Tafeln des Bundes, 1979; A. LEMAIRE, Le Decalogue,
in: AAT 212, 1981, 259-195; E-L. HOSSFELD, Der Dekalog, 1982 (OBO, 45) (bibI.); F.
CRSEMANN, Bewahrung derFreiheit; das Thema des Dekalogs in sozialgesehiehtlieherPerspektive,
1983 (KT, 78) [trad. port.: So Leopoldo, Sinodal, em preparao]; C. LEVIN, Der Dekalog am
Sinai, VT, 35:165-191, 1985; A. GRAUPNER, Zum VerhItnis der beiden Dekalogfassungen Ex
20 und Dtn 5, ZAW, 99:308-329, 1987; J. SCHREINER, Die Zehn Gebote im Leben des
Gottesvolkes, 1988; W. JOHNSTONE, The Deealogue and the Redaetion of the Sinai Perieope
in Exodus, ZAW, 100:361-385, 1988.
Sobre o Cdigo da Aliana: H. J. BOECKER (v. supra), 116ss. (bibI.); E C. FENSHAM, The
Role of the Lord in the Legal Seetions of the Covenant Code, VT, 26:262-274, 1976; G. WANKE,
Bundesbueh, in: TRE, 1981, voI. VIl, 412-415 (bibl.),
Sobre a Lei de Santidade: W. THIEL, Erwgungen zum Alter des Heiligkeitsgesetzes, ZAW,
81:40-73,1969 (bibI.);V. WAGNER,Zur Existenz des sog. "Heiligkeitsgesetzes", ZAW, 86:307-316,
1974; A. CHOLEWINSKI, Heiligekeitsgesetz und Deuteronornium, 1976 (AnBib, 66) (bibI.); G.
BETTENZOLI, Geist der Heiligkeit, 1979, 51ss.; S. E BIGGER, The Family Laws of Levitieus
18 in Their Setting, JBL, 98:187-203,1979; W. ZIMMERLI, "Heiligkeit" naeh dem sogenannten
Heiligkeitsgesetz, VT, 30:493-512, 1980; H. D. PREUSS, Heiligkeitsgesetz, in: TRE, 1985, voI.
XN, 713-715.
10
Comentrios: C. STEUERNAGEL (HK), 2. ed., 1923; G. VON RAD (ATD), (1964) 4. ed.,
1984; A. D. H. MAYES (NCeB), 1979; G. BRAULIK (NEB), 1986, voI. I.
370
Panorama: S. D. McBRIDE. Deuteronomium, in: mE. 1981. voL vm, 530-543 (bibL).
G. VON RAD. Das Gottesvolk im Deuteronomium (1929). in: - . Gesammelte Stuien; 1973.
voL 11. 9-108 [trad. esp.: El Pueblo de Dis en el Deuteronomio, in: - . Estudios sobreel Antiguo
Testamento. Salamanca, Sgueme, 1976]; ID.. Deuteronomium-Studien, in: ibid.. 109-153; F.
HORST. Das Privilegrecht Jahwes (1930). in: - . Gottes Recm, 1961. 17-154; A. ALT. Die
Heimat des Deuteronomium (1953). in: - . KleineSchriften. voL lI, 250-275; F. DUMMERMUTH.
Zur deuteronomischen Kulttheologie und ihren Voraussetzungen, ZAW. 70:59-98. 1958; O. B.CHLI.
Israel und die Volker. 1962 (AThANT. 41); G. MlNETTE DE TILLESSE. Sections "tu" et
sections "vous" dans le Dtn. VT. 12:29-87. 1962; N. LOHFINK. Das Hauptgebot. 1963 (AnBib
20); ID . Botschaft vom Bund, in: WuB. 179-193; D. J. McCARTHY. 1ieaty and Covenant. 2.
ed. 1978 (AnBib. 21 A); ID. Old Testament Covenant, 1973; H. H. SCHMID. Das Verstndnis
der Geschichte im Deuteronomium, ZThK. 64:1-15. 1967; R. DE VAUX. "Le lieu que Yahv a
choisi ...in: Festschrift L. Rost, 1967.219-228; 1. G. PLOOER. Literarkritische. forrngeschichtliche
und stilkritische Untersuchungen zum Deuteronomium, 1967 (BBB. 26); R. P. MERENDINO,
Das deuteronomische Gesetz, 1969 (BBB. 31) (cf. A. SHlM, Bib. 54:452-456. 1973); ID., D;e
Zeugnisse.... in: Festschrift G. 1. Botterweck; 1977. 185-208; R. E. CLEMENTS. God's Chosen
People, 1968; L. PERLITT. Bundestheologie im Alten Testament, 1969 (WMANT. 36); L. ROST.
Zur Vorgeschichte der Kultusreform des Josia, VT. 19:113-120. 1969; S. HERRMANN. Die
konstruktive Restauration, in: Festschrift G. von Rad, 1971. 155-170; G. SEITZ.
Redaktionsgeschichtliche Studien zum Deuteronomium. 1971 (BWANT. 93); J. LINDBLOM.
Erwagungen zur Herkunft der josianischen Tempelurkunde. 1971; P. DIEPOLD, Israels Land,
1972 (BWANT. 95); M. WEINFELD. Deuteronomy andDeuteronomic School; 1972; S. MITTMANN,
Dtn 1,1-6.3.... 1975 (BZAW. 139) (sobre este ttulo G. BRAULIK. Bib. 59:351-383. 1978); M.
ROSE, Der Ausschliesslichkeitsanspruch Jahwes, 1975 (BWANT. 106); H. J. BOECKER (supra
9); A. CHOLEWINSKl (supra 9); E. WRTHWEIN. Die Josianische Reform und das
Deuteronomium, ZThK. 73:395-423, 1976; R. ABBA. Priests and Levites in Deuteronomy, VT.
27:257-267. 1977; S. AMSLER. La motivation de l'thique dans la parnse du Deutronome, in:
Festschrift W. Zimmetli; 1977. 11-22; E. NlELSEN. "Weil Jahwe unser Gott ein Jahwe ist", in:
ibid. 288-301; F. GARCA-LPEZ. Analyse littraire de Deutronome, RB. 84:481-522. 1977;
85:5-49. 1978; S. A. KAUFMANN. The Structure of the Deuteronomic Law, Maarav 1:105-158.
1978/9; R. POLZIN. Moses and the Deutetonomist, 1980; R. RENDTORFF. Die Erwhlung
Israels ais Thema der deuteronorrrlschen Theologie, in: Festschrift H w: Wolff, 1981. 75-86; L.
PERLITT. Motive und Schichten der Landtheologie im Deuteronomium, in: G. SmECKER. ed .
Das Land Israel in biblischer Zeit, 1983. 46-58 (GTA. 25); 1. G. McCONVILLE. Law and
Theology in Deuteronomy. 1984 (JSOT.SS. 33); N. LOHFINK. Zur deuteronomischen
Zentralisationsformel, Bib, 65:297-329. 1984; ID. ed . Das Deataonomium, 1985 (BEThL. 68);
D. KNAPP. Deuteronomium 4. 1987 (GTI\. 35); U. RTERSWRDEN. Von der politischen
Gemeinschaft zur Gemeine, 1987 (BBB. 65); G. BRAULIK. Studien zur Theologie des
Deuteionomiums, 1988 (SBAB. 2); 1. BUCHHOLZ. Die Altesten Israels im Deuteronomium.
1988 (GTI\. 36).
1l
Histria da pesquisa: E. JENNl. Zwei Jahrzehnte Forschung an den Bchem Josua bis Knige,
lbR. 27:1-32. 97-146. 1961; A. N. RADJAWANE. Das deuteronomistische Geschichtswerk, lbR.
38:177-216.1974; H. WEIPPERT. Das deuteronomistische Geschchtswerk.Thk, 50:213-249.1985.
371
M. NOTH, berlieferungsgeschichtliche Studien, (1943) 4. ed., 1973; A. JEPSEN, Die Quellen
des Knigsouches, (1953) 2. 00., 1956; G. VON RAD, Die deuteronomistische Geschichtstheologie
in den Knigsbchern, in: -, Gesammelte Studien, (1958) 4. ed., 1971, vol. I, 189-204 [trad. esp.:
La Teologa Deuteronomstica de la Historia en los Libros de los Reyes, in: -, op. cito ( 10),
177-189]; H. 1. KRAUS, Gesetz und Geschichte (1951), in: - , Biblisch-theologische Autsstze,
1972, 50-65; O. PLGER, Reden und Gebete im deuteronomistischen und chronistischen
Geschichtswerk (1957), in: -, Aus der Spstzcit des Alten Testaments, 1971, 50-66; H. W.
WOLFF, Das Kerygma des deuteronomistischen Geschichtswerks (1961), in: -, Gesammelte
Studien, (1964) 2. 00., 1973, 308-324 (cf. H. TIMM, EvTh, 26:509-526, 1966) [trad. port.: O
Querigma da Obra Histrico-Deuteronomista, in: ID. & W. BRUEGGEMANN, op. cito ( 6),
99-120]; A. GAMPER, Die heilsgeschichtliche Bedeutung des salomonischen 'Iempelweihgebets,
ZKTh, 85:55-61,1963; G. MINETTE DE TILLESSE, Martin Noth et la "Redaktionsgeschichte"
des livres historiques, in: -, Aux grands carrefours de la rvlation et de l'exgese de l'Ancien
Testament, 1966, 51-76; J. DEBUS, Die Snde Jerobeams, 1967 (FRLANT, 93); N. LOHFINK,
Bilanz nach der Katastrophe, in: WuB, 212-225; J. A. SOGGIN, Deuteronomistische
Geschichtsauslegung wiihrend des babylonischen Exils, in: Festschrift o. Culhnann, 1967, 11-17;
ID., Der Entstehungsort des deuteronomistischen Geschichtswerkes, ThLZ, 100:3-8, 1975; O. H.
STECK, Israel und das gewaltsame Geschick der Propheten, 1967 (WMANT, 23); G. SAUER,
Die ehronologischen Angaben in den Bchem Deuteronomium bis 2 Knigc, ThZ, 24:1-14,1968;
H. J. BOECKER, Die Beurteilung der Anfange des Knigtums in den deuteronomistischen
Abschnitten des 1. Ssmuelbucbes, 1969 (WMANT, 31); G. C. MACHOLZ (supra 8); R.
SMEND, Das Gesetz und die Vlker, in: Festschrift G. von Rad, 1971, 494-509; ID., Die
Entstehung des Alten Testaments, 1978, 111ss.; P. DIEPOLD (supra 10); W. DIETRlCH,
Prophetie und Geschichte, 1972 (FRLANT, 108); H. WEIPPERT, Die "deuteronomistischen"
Beurteilungen der Knige..., Bib, 53:301-339, 1972 (cf. M. WEIPPERT, VT, 23:436ss., 1973; W.
B. BARRICK, Bib, 55:257ss., 1974; E. CORTESE, Bib, 56:37ss., 1975); M. ROSE (supra 10);
T. VEIJOLA, Die ewige Dynastie, 1975;ID., Das Kaigtum in derBeurteilung der deuteronomistischen
Historiographie, 1977; I. L. SEELIGMANN, Die Auffassung von der Prophetie in der
deuteronomistischen und chronistischen Geschichtsschreibung, in: Congress Volume Gttingen,
1978,254-284 (VTS 29); U. KPPEL, Das deuteronomistische Geschichtswerk und seine Quellen,
1979 (EHS.T, 122); R. BICKERT, Die Geschichte und das Handeln Jahwes, in: Festschrift E.
Wrthwein, 1979,9-27; N. LOHFINK, Kerygmata des deuteronomistischen Geschichtswerks, in:
Festschrift H. W. Wolff, 1981, 87-100; K. KOCH, Das Prophetenschweigen des deuteronomistischen
Geschichtswerks, in: ibid., 115-128; R. D. NELSON, The Double Redaction of the Deuteronomistic
History, 1981 (JSOT SS, 18); R. STAHL, Aspekte der Geschichte deuteronomistischer Theologie,
tese de doutorado B, Jena, 1982.
Sobre Josu: A. ALT, Josua (1936), in: -, Kleine Schriften, vol, I, 176ss. = Grundfragen
(supra 2), 186ss.; M. NOTH (HAf) (2. ed., 1953), 3. ed., 1971; H. :
HERTZBERG (ATD)
(1954) 5. 00., 1974 (Js, Jz, Rt); S. MOWINCKEL, Tetrateuch - Pentateuch - Hexateuch, 1964
(BZAW, 90); 1. A. SOGGIN (CAT), 1970 (ingl, OTL, 1972); E. OTTO, Das Mazzotfest in Gilgal,
1975 (BWANT, 107) (bibI.); H. MLLE, Der sogenannte Landtag zu Sichem, 1980 (FzB, 42); L.
SCHWIENHORST, Die Eroberung Ieticbos, 1986 (SBS, 122); H. J. ZOBEL, Josua/Iosuabuch,
in: TRE, 1988, vol, XVII, 269-278 (bibI.).
Sobre Juzes: E. JENNl, VomZeugnis des Richterbuches, ThZ, 12:257-274, 1956; W. BEYERLIN,
Gattung und Herkunft des Rahrnens im Richterbuch, in: Festschrift A. Weiser, 1963, 1-29; ID.,
Geschichtliche und heilsgeschichtliche 'Iraditionsbildung im Alten 'Iestament, VT, 13:1-25, 1963;
W. RICHTER, 11"aditionsgeschichtliche Untersuchungen zum Richterbuch, (1963) 2. ed., 1966
(BBB, 18); ID., Die Bearbeitung des "Retterbuches" in der deuteronomischen Epoche, 1964
(BBB, 21); J. SCHLAURI, W. Richters Beitrag zur 'Iraditionsgeschichte des Richterbuches, Bib,
54:367-403, 1973 (bibI.); THAT, vol, 11, 999ss. (bibl, sobre "Richter"); A. J. HAUSER, The
372
"Minor Judges", JBL, 94:190-200, 1975; 1. A. SOGGIN (OTL), 1981; F. E. GREENSPAHN,
The Theology of the Framework of Judges, VT, 36:385-396, 1986.
Sobre Samuel: L. ROST, Die berlieferung von der Thronnachfolge Davids (1926), in: - ,
Das kieine Credo, 1%5, 119-253; H. W. HER1ZBERG (ATD), (1956) 6. ed., 1982; A. WEISER,
Samue1, 1962 (FRLANT, 81); R. A. CARLSON, David the Chosen King, 1964; G. WALLIS,
Geschichte und berlieferung, 1%8; L. SCHMIDT, Mensch1icher Erfolg und Jahwes Initistive,
1970 (WMANT, 38); J. H. GRONBAEK, Die Geschichte vom Aufstieg Davids, 1971; R.
RENDTORFF, Beobachtungen zur altisraelitischen Geschichtsschreibung..., in: Festschrift G. von
Rad, 1971,428-439; H. J. STOEBE (KXI'), 1973, vol. I; E. WRTHWEIN, Die Erziihlung von
der Thronfolge Davids, 1975 (ThSt, 115); V. FRIlZ, Die Deutungen des Knigtums Sauls ...,
ZAW, 88:346-362, 1976 (bibl.); F. LANGLAMET, RB, 83:114-137, 321-379, 481-528, 1976; T.
N. D. METTINGER, King and Messiah, 1976; T. ISHIDA, The Royai Dinasties in Ancient Israel,
1976 (BZAW, 142); B. C. BIRCH, The Rise of the Israelite Monarchy, 1976; W. DIETRICH,
David in berlieferung und Geschichte, VF, 22(1):44-64, 1977 (bibl.); 1. KEGLER, Politisches
Geschehen und theologisches Verstehen, 1977 (CThM A, 8); E. OTTO (supra 5e); D. M.
GUNN, The Story of King David; Geme and Interpretation, 1978 (JSOT.SS, 6); H. SEEBASS,
David, Saul und das m&n des biblischenGlaubens, 1980; F. STOLZ (ZBK), 1981;F. LANGLAMET,
RB, 93:115-132, 1986 (bibl.); T. SEIDL, David statt Saul, ZAW, 98:39-55, 1986; W. DIETRICH,
David, Saul und die Propheten, 1987 (BWANT, 122).
Sobre Reis: M. NOTH (BK), 2. 00., 1983, vol. I; J. GRAY (OTL), 2. 00., 1970; E. WRTHWEIN
(ATD), 1977, vol. I; 1984, vol. lI; M. REHM (NEB), 1979, vol. I; 1982, vol. lI; H.-D. HOFFMANN,
Refonn und Reformen, 1980 (AThANT), 66); S. TIMM, Die Dynastie Omri, 1982 (FRLANT,
124); H. SPIECKERMANN, Juda unter Assur in der Sargonidenzeit, 1982 (FRLANT, 129); G.
HENTSCHEL (NEB), 1984, vol. I; A. LEMAIRE, Vers L'histoire de la Rdaction des Luivres
des Rois, ZAW, 98:221-236, 1986; E. WRTHWEIN, Prophetisches Wort und Geschichte in den
Knigsbchern, in: Festschrift A. H 1. Gunneweg, 1987,399-411.
12
Relatos da pesquisa: E. JENNI, Aus der Literatur zur chronistischen Gesehichtsschreibung,
ThR, 45:97-108, 1980; D. MPJHIAS, Die Geschichte der Chronikforschung im 19. Jahrhundert,
ThLZ, 105:474s., 1980.
Comentrios: H. G. M. WILLIAMSON (NIC), 1982 (1/2 Cr); 1. BECKER (NEB), 1986, vol.
1(1 Cr); A. H. J. GUNNEWEG (KXI'), 1985, vol. I (Ed); 1987, vol. II (Ne).
G. VON RAD, Die levitische Predigt in den Behem der Chronik (1934), in: - , Gesammelte
Studien, 1958, 248-261; M. NOTH, berlieferungsgeschichtliche Studien (supra 11), 110s.; W.
RUDOLPH (HAT), 1949/1955; K. GALLING (ATD), 1954; ID., Studien zur Geschichte Israels
im persischen Zeitalter, 1964; S. MOWINCKEL, Studien zu dem Buche Esra-Nehemia l-Ill,
1964/5; U. KELLERMANN, Nehemia; Quellen, berlieferung und Gesehichte, 1967 (BZAW,
102) (bibl.); K-F. POHLMANN, Studien zum dritten Esra, 1970 (FRLANT, 104); T. WILLI, Die
Chronik ais Auslegung, 1972 (FRLANT, 106); ID., Thora in den biblischen Chronikbchem, Jud,
36:102-105, 148-151, 1980; R. MOSIS, Untersuchungen zur Theologie des chronistischen
373
Geschichtswerkes, 1973 (FfhSt, 92); P. WELTEN, Geschichte und Geschichtsdarstellung in den
Chronikbchem, 1973 (WMANf, 42); ID., Lade - Tempel - Jerusalem; zur Theologie der
Chronikbcher, in: Festschrift E. Wiirthwein, 1979, 169-183; W. T. IN DER SMITTEN, Esra;
Quellen, berlieferung und Geschichte, 1973 (bibI.); K. KOCH, Esra and the Origins of Judaism,
JSSt, 19:173-197, 1974; 1. D. NEWSOME, Toward a New Understanding of the Chronicler and
His Purposes, JBL, 94:201-217, 1975; H. G. M. WILLIAMSON, Israel in the Book ofChronicles,
1977; I. L. SEELIGMANN (supra 11); S. JAPHET, Conquest and Settlement in Chronicles,
JBL, 94:205-218, 1979; ID., Sheshbazzar and Serubbabel; against the Background of the Historical
and ReligiousTendencies ofEzra-Nehemia, ZAW,94:66-98, 1982;95:218-229, 1983;1. P. WEINBERG,
Das Eigengut in den Chronikbchem, OLoP, 10:161-181, 1979; ID., Die Natur im Weltbild des
Chronisten, VT, 31:324-345, 1981; R. L. BRAUN, Chronicles, Ezra, and Nehemia, in: VTS 30,
1979, 52-64; A. H. 1. GUNNEWEG, Zur Interpretation der Bcher Esra-Nehemia, in: Congress
Volume Vienna, 1981, 146-161 (VTS, 32); ID., Die aramische und die hebrisehe Erzhlung ber
die naehexilische Restauration; ein Vergleieh, ZAW, 94:299-302, 1982; M. A. THRONTVEIT,
Linguistie Analysis and the Question of Authorship in Chronicles, Ezra and Nehemia, VT,
32:201-216, 1982; R. MlCHEEL, Die Seber- und Prophetenberlieferungen in der Chronik, 1983
(BET, 18); A. H. J. GUNNEWEG (KAJ), 1985; T.-S. IM, Das David-Bildin den Chronikbchem,
1985 (EHS.T, 263); S. JAPHET, The Historieal Reliability of Chronicles, JSOT, 33:83-107, 1985;
W. JOHNSTONE, Guilt and Atonement; the Theme of 1 and 2 Chronicles, in: Festschrift W.
McKane, 1986, 113-138 (JSOT.SS); P. R. ACKROYD, Chronicles-Ezra-Nehemiah; the Coneept
of Unity, ZAW, 100:189-201, 1988 (supl.); M. OEMING, Das wahre Israel; die genealogisehe
Vorhalle 1 Chronik 1-9 (BWANT).
1388.
Relatos da pesquisa sobre o profetismo: G. FOHRER, ThR, 28:1-75, 235-297, 301-374, 1962;
40:337-377, 1975; 41:1-12,1976; 45:1-39, 109-132, 193-225, 1980; 47:105-135, 205-218,1982; F.
VAWTER, Neue Literatur ber die Propheten, Cone, 1:848-854, 1965; 1. SCHARBERT, Die
prophetisehe Literatur, in: Festschrift J. Coppens, 1969, vol. I, 58-118; J. M. SCHMIDT, Probleme
der Prophetenforsehung, VF, 17(1):39-81, 1972; ID., Ausgangspunkt und Ziel prophetiseher
Vetkndigung im 8. Jahrhundert, VF, 22(1):65-82, 1977; H. D. PREUSS, 00., Eschatologie im
Alten Testament, 1978; D. KINET, Knder des Geriehts oder Mahner zur Umkehr?, BiKi,
33:98-101, 1978; P. H. A. NEUMANN, ed., Das Prophetenverstiindnis in der deutschsprachigen
Forschung seit H Ewald, 1979 (WdF, 307); W. MeKANE, Prophecy and Prophetie Literature, in:
Tal, 163-188; B. LANG, Prophetie, prophetisehe Zeichenhandlung und Politik in Israel, ThQ,
161:275-280, 1981; W. H. SCHMlDT, UTB 1238, 1983, 31-48; J. JEREMIAS, Grundtendenzen
gegenwiirtiger Prophetenforsehung, EvErz, 36:6-22, 1984; E. OSSWALD, Aspekte neuerer
Prophetenforsehung, ThLZ, 109:641-650, 1984.
374
13ab
H. GUNKEL (supra 13ss.); H. W. WOLFF, Die Begrndungen der prophetischen Heils- und
Unheilssprche (1934), in: - , Gesammelte Studien, 1964,9-35; C. WESTERMANN, Gnmdfonnen
prophetischer Rede, 5. ed., 1978; R. RENDTORFF, Botenfonne1 und Botenspruch (1962), in: - ,
Gesammelte Studien, 1975, 243-255; K. KOCH, WJs ist Fonngeschichte?, 4. ed., 1982, 258ss.;
H. W. WOLFF, BK, XN/2, 165s.; W. E. MARCH, in: J. H. HAYES (supra 5b), 141ss. (bibl.);
A. BJORNDALEN, Zu den Zeitstufen der Zitatfonnel..., ZAW, 86:393-403, 1974; Thwxr, vol.
I, 365ss.; vol, II, 108, 119ss.; W. ZIMMERLI, Vom Prophetenwort zum Prophetenbuch, ThLZ,
104:481-496, 1979; D. VETTER, Satzfonnen prophetischer Rede, in: Festschrift C. ~stennann,
1980, 174-193.
Sobre o relato de vocao ainda: E. KUTSCH, Gideons Berufung und Altarbau, ThLZ,
81:75-84, 1956; W. ZIMMERLI, Ezechiel, (1969) 2. ed., 1979, 16-21 (BK, XIII/l); N. HABEL,
The Fonn and Significance of the Call Narratives, ZAW, 77:297-323, 1%5; R. KILIAN, Die
prophetischen Berufungsberichte, in: - , Theologie im Wandel, 1967, 356-376; W. RlCHTER,
Die sogenannte vorprophetischen Berufungsberichte,1970 (FRLANT, 101); W. H. SCHMIDT,
Exodus, 1977, 123-129 (BK, II/2) (bibl.); B. O. LONG, Berufung I, in: TRE, 1980, vol. V,
676-684 (bibl.).
Sobre lamentao fnebre e ai: H. JAHNOW, Das hebraische Leichenlied, 1923 (BZAW, 36);
H. W. WOLFF, Der Aufruf zur Volksklage (1964), in: -, Gesammelte Studien, 2. ed., 1973,
392-401; G. WANKE, 'j und hj, ZAW, 78:215-218, 1966; H. W. WOLFF, loel/Amos, 284ss.
(BK, XN/2) (bibl.); W. JANZEN, Mouming CIyand Woe Orscle; 1972 (BZAW, 125); H. J.
KRAUS, hj als prophetische Leichenklage ber das eigene Volk irn 8. Jahrhundert, ZAW,
85:15-46, 1973; C. HARDMEIER, Texttheorie und biblische Exegese, 1978 (BEvTh, 79) (bibl.).
375
Sobre a palavra de admoestao: H. W. WOLFF, Das Thema "Umkehr' in der a1ttestamentlichen
Prophetie (1951), in: - , Gesammelte Studien, 1964, 130-150; W. RICHTER, Recht und Ethos,
1966 (StANT, 15); A. J. BJORNDALEN, "Form" und "Inhalt" des motivierenden Mahnspruchs,
ZAW, 82:347-361,1970; T. M. RAm, The Prophetic Summons to Repentance, ZAW, 83:30-49,
1971; G. WARMUTH, Das Mahnwort, 1976 (BET, 1) (bibl.); A. V. HUNTER, Seek the Lordf,
1982; K. A. TANGBERG, Die prophetische Mahnrede, 1987 (FRLANT, 143).
Sobre a palavra de salvao (cf. 21): J. BEGRICH, Das priesterliche Heilsorakel (1934),
in: - , Gesammelte Studien, 1964,217-231; S. HERRMANN, Die prophetischen Heilserwartungen
im Alten 1estament, 1965 (BWANT, 85); C. WESTERMANN, Der Weg der Verheissung durch
das Alte 'Iestament, in: - , Forschung am Alten 1estament, 1974, vol. Il, 230-249; W. H.
SCHMIDT (& J. BECKER), Zukunft und Hoffnung, 1981, 18ss. (bibl.); C. WESTERMANN,
Prophetische Heilsworte im Alten 1estament, 1987 (FRLANT, 145) (cf. ZAW, 98:1-13, 1986).
13c
W. H. SCRMIDT, Zukunftsgewissheit und Gegenwartskritik, 1973 (bibl.); ID., "Rechtfertigung
des Gottlosen" in der Botschaft der Propheten, in: Festschrft H. W Wolff, 1981, 157-168; L.
MARKERT & G. WANKE, Die Propheteninterpretation, KuD, 22:191-220,1976; J. M. SCHMIDT,
Ausgangspunkt und Ziel prophetischer Verkndigung im 8. Jahrhundert, VF, 22(1):65-82, 1977;
H. W. WOLFF, Die eigentliche Botschaft der Idassischen Propheten, in: Festschrift W Zimmerli,
1977,547-557; W. ZIMMERLI, Wahrheit und Geschichte in der alttestamentlichen Schriftprophetie,
in: Congress Volume Gttingen, 1978, 1-15 (VTS, 29); 1. L. SEELIGMANN, Die Auffassung von
der Prophetie in der deuteronomistischen und chronistischen Geschichtsschreibung, in: VTS 29,
254-284, 1978.
13d
H. GUNKEL, Jahve und Baal, 1906 (RV, Il/8); R. RENDTORFF, Erwgungen zur Frhgeschichte
des Prophetentums (1962), in: - , Gesammelte Studien, 1975,220-242; G. FOHRER, Elia, 2. ed.,
1968 (AThANT, 53); O. H. STECK, berlieferung und Zeitgeschichte in den Elia-Erziihlungen,
1968 (WMANT, 26); K. H. BERNHARDT, Prophetie und Geschichte, in: VTS 22, 20-46, 1972;
H. C. SCHMlDT, Elisa, 1972;ID., Prophetie und 'Iradition, ZThK, 74:255-272, 1977;H. SCHWEIZER,
Elischa in den Kriegen, 1974 (StANT, 37); R. SMEND, Das Wort Jahwes an Elia, VT, 25:525-543,
1975; ID., Der biblische und der historische Elia, in: VTS 28, 167-184, 1975; G. HENTSCHEL,
Die Elijserzhhmgen, 1977 (EThSt, 33); H. SEEBASS, Elia I, in: TRE, 1982, vol. IX, 498-502
(bibl.); ID., Elisa, in: ibid., 506-509 (bibl.).
14
Comentrios sobre o livro dos 12 profetas: J. WELLHAUSEN, (3. ed., 1893) 4. ed., 1963; E.
SELlN (KAT), (2. ed., 1929) 3. ed., 1930; T. ROBlNSON & F. HORST (HAT), 3. 00., 1964; A.
WEISER & K. ELLIGER (ATD), (7. 00., 1979) 8. 00., 1982; H. W. WOLFF (BK), 1956ss.
(Os-Mq); W. RUDOLPH (KAT), 1966-1976; A. DEISSLER (NEB), 1981 (Os-Am); 1984, vol. lI;
H. W. WOLFF (BK), 1986 (Ag).
376
Sobre Ams: F. HORST, Die Doxologien im Amosbuch (1929), in: - , Gottes Recht, 1961,
155-166; A. WEISER,DieProphetiedesAmos, 1929 (BZAW, 53); E. wRTHWEIN,Amos-Studien
(1950), in: - , WoIt und Existenz, 1970, 68-110; V. MAAG, Text, WoItschatz und Begriffswelt
des Buches Amos, 1951; H. GRAF REVENTLOW, Das Amt des Propheten bei Amos, 1962
(FRLANT, 80); R. SMEND, Das Nein des Amos, EvTh, 23:404-423, 1963; H. W. WOLFF,
Amos' geistige Heimat, 1964 (WMANT, 18); W. H. SCHMIDT, Die deuteronomistische Redaktion
des Amosbuches, ZAW, 77:168-193,1965; H. H. SCHMID, Amos (1969), in: - , Altorientalische
~lt in der alttestamentlichenTheologie, 1974, 121-144;1.VOLLMER (supra 13); I. WILLI-PLEIN,
VoIfonnen der Schriftexegese, 1971 (BZAW, 123) (sobre Am, Os, Mq); M. KRAUSE, Das
Verhiiltnis von sozialer Kritik und kommender Katastrophe in den Unheilsprophezeiungen des
Amos, tese de doutorado, Hamburg, 1972; M. FLENDER (supra 3); W. BERG, Die sogenannten
Hymnenfragmente im Amosbuch, 1974; K. KOCH, Die Rolle der hymnischen Abschnitte des
Amosbuches, ZAW, 86:506-537,1974; ID., Amos, 1976 (AOAT, 30/1-3) (bibI.); J. M. BERRIDGE,
Zur Intention der Botschaft des Amos, ThZ, 32:321-340, 1976; L. MARKERT, Struktur und
Bezeichnung des ScheltwoIts, 1977 (BZAW, 140); ID., Amos(buch), in: TRE, 1978, voI. 11,
471-487 (bibl.); 1. VERMEYLEN (infra 16), voI. 11, 519ss.; W. SCHTTROFF, Der Prophet
Amos, in: - , Der Gott der kleinen Leute (supra 3), voI. I, 39-66; C. I. K. STORY, Amos -
Prophet of Praise, VT 30:67-80, 1980; W. ZIMMERLI, Das Gottesrecht hei den Propheten Amos,
Hosea und Jesaja, in: Festschrift C. ~stennann, 1980,216-235; P. WEIMAR, Der Schluss des
Amos-Buches, BN, 16:60-100, 1981; H. GESE, Komposition hei Amos, in: Congress Volume
Vienna, 1981,74-95 (VTS, 32); A. J. BJORNDALEN, Jahwe in den Zukunftsaussagen des Amos,
in: Festschrift H. W. Wolif, 1981, 181-202; A. J. BJORNDALEN, Untersuchungen zur allegorischen
Rede der Propheten Amos und Jesaja, 1986 (BZAW, 165); J. JEREMIAS, Amos 3-6; Beobachtungen
zur Entstehung eines Prophetenbuches, ZAW, 100:123-138, 1988 (supI.).
15
Comentrios, v. 14, especialmente H. W. WOLFF, 3. 00., 1976; W. RUDOLPH, 1966; F. I.
ANDERSEN & D. N. FREEDMAN (AB), 1980; J. JEREMIAS (ATO), 1983.
G. FOHRER, Umkehr und Erlosung beim Propheten Hosea (1955), 1967,222-241 (BZAW,
99); G. OSTBORN, Jahwe und Baal, 1956; H. W. WOLFF, Hoseas geistige Heimat (1956), in:
- , Gesammelte Studien, 1964, 232-250; E. JACOB, Der Prophet Hosea und die Geschichte,
EvTh, 24:281-290, 1964; J. BUSS, TheProphetic WJrd ofHosea, 1969 (BZAW, 111);J. VOLLMER
(supra 13); I. WILLI-PLEIN (supra 14); D. KINET, Bacal und Jahwe, 1977; ID., Eschatologische
Perspektiven im Hoseabuch, in: Festschrift E. Neuhausler, 1981,224-257; J. JEREMIAS, Hosea
4-7, in: Festschrift E. Wrthwein, 1979, 47-58; ID., Zur Eschatologie des Hoseabuches, in:
Festschrift H. W. Wolif, 1981, 217-234; H. UTZSCHNEIDER, Hosea; Prophet vor dem Ende,
1980 (OBO, 31); H. BALZ-COCHOIS, Gomer, 1982 (EHS. T, 191) (cf. EvTh 42:37-65, 1982);
J. JEREMIAS, Hosea/Hoseabuch, in: TRE, 1986, voI. XV, 586-598 (bibI.); H. D. NEEF, Die
Heilstraditionen Israels in der Verkndigung des Propheten Hosea, 1987 (BZAW, 169).
Sobre Os 1-3: A. DEISSLER, Die Interpretation von Hos 1,2-9 in den Hosea-Kommentaren
von H. W. Wolff und W. Rudolph im kritischen Vergleich, in: Festschrift 1. Ziegler, 1972, 129-135
(FzB, 2); S. BITTER, Die Ehe des Propheten Hosea, 1975; J. SCHREINER, Hoseas Ehe, ein
Zeichen des Gerichts, BZ, 21:163-183, 1977; L. RUPPERT, Beobachtungen zur Literar- und
Kompositionskritik von Hosea 1-3, in: Festschrift 1. Schreiner, 1982, 163-182; ID., Erwgungen
zur Kompositions- und Redaktionsgeschichte von Hosea 1-3, BZ, 26:208-223, 1982.
377
16
Comentrios: B. DUHM (HK), (4. 00., 1922) 5. 00., 1968; O. PROCKSCH (KAT), 1930; V.
HERNTRICH (ATD), 1950; G. FOHRER (ZBK), 2. 00., 1967, vols. I, 11; O. KAISER (ATD), 5.
ed., 1981, voI. I; 3. ed., 1984, voI. 11; W. EICHRODT (BAT), 2. ed., 1976, voI. I; 1967, voI. 11;
H. WILDBERGER (BK), 2. ed., 1980, voI. I; 1978, voI. 11; 1982, voI. fi (Is 1-12; 13-27; 28-39);
R. CLEMENTS (NCeB), 1980 (ls 1-39); R. KILIAN (NEB), 1986, vol. I.
17
Comentrios, v. 14, especialmente W. RUDOLPH, 1975 (bibI.); H. W. WOLFF, 1982. W.
BEYERLIN, DieKu1ttraditionen Israe1s in derVerkndigung desPropheten Mieha, 1959 (FRLANT,
72); T. LESCOW, Mieha 6,6-8, 1966 (AzTh, 25); ID., Redaktionsgeschichtliche Analyse..., ZAW,
84:46-85,182-212,1972; G. FOHRER, Mieha 1 (1967),1981,53-68 (BZAW, 155); J. JEREMIAS,
Die Deutung der Gerichtsworte Michas in der Exilszeit, ZAW, 83:330-354, 1971; I. WILLI-PLEIN
(supra 14); V. FRITZ, Das Wort gegen Samaria Mi 1,2-7, ZAW, 86:316-331, 1974; 1. L. MAYS,
Mieah, 1976; B. RENAUD, La Forrnation du Livre de Miehe, 1977; H. W. WOLFF, Mit Mieha
378
reden, 1978; ID., Wie verstand Micha von Moreschet sein prophetisches Arnt?, in: Congress
Volume Gttingen, 1978,403-417 (VTS, 29); 1. VERMEYLEN (supra 16), TI, 570ss.
18
Comentrios, v. 14, especialmente W. RUDOLPH, 1975, sobre Na, Hc, Sf; H. W. WOLFF,
1977, sobre Ob (bibL).
Sobre Habacuque: J. JEREMIAS (v. supra); P. JOCKEN, Das Buch Habakuk; Darstellung der
Geschichte seiner kritischen Erforschung..., 1977; E. OITO, Die Stellung der Wehe-Worte in der
Verkndigung des Propheten Habakuk, ZAW, 89:73-107,1977; E. OITO, Habakuk/Habakukbuch,
in: TRE, 1985, voL XIV, 300-306; ID., Die Theologie des Buches Habakuk, VT, 35:274-295,
1985; A. H. 1. GUNNEWEG, Habakuk und das Problem des leidenden tsadik, ZAW, 98:400-415, 1986.
Sobre Obadias: G. FOHRER, Die Spnicbe Obadjas (1966), 1981, 69-80 (BZAW, 155); P.
WEIMAR, Obadja, eine redaktionskritische AnaIyse, BN, 27:35-99, 1985.
19
Introduo: C. WESTERMANN, lereInia, 1967; W. TIllEL, Jerernia, in: G. WALLIS, ed.,
Gerichtund Heil, 1987, 35-57.
Comentrios: B. DUHM (KHC), 1901; P. VOLZ (KJIT), 1922; W. RUDOLPH (HAT), 3. 00.,
1968; A. WEISER (ATD), 8. 00., 1981, voL I; 8. ed., 1983, voL TI; J. A. THOMPSON (NlC),
1980; J. SCHREINER (NEB), 1981, voL I; 1984, voL TI; W. L. HOLLADAY (Hermeneia), 1986,
voL 1; W. McKANE (lCC), 1986, voL I; R. P. CARROLL (OTL), 1986; S. HERRMANN (BK), 1987.
S. MOWINCKEL, Zur Komposition des Buches Ieremie, 1914; ID., Prophecyand 'Iiudition,
1946; H. GRAF REVENTLOW, Liturgie und prophetisches Ich bei lereInia, 1963 (cf. ID., ZAW,
81:315-352, 1969, sobre Jr 7; 26); C. RIETZSCHEL, Das Problem der Urrolle, 1966; E. W.
NICHOLSON, Preaching to theExiles, 1970; W. SCHOTTROFF, Jerernia 2,1-3, ZThK, 67:263-294,
1970; G. WANKE, Untersuchungen zursogenannten Baruchschrift, 1971 (BZAW, 122); P. DIEPOLD
(supra 10); G. FOHRER, Vollmacht ber Vlker und Knigrcicbc (ler 46-51) (1972), 1981,
44-52 (BZAW, 155); W. THIEL (v. supra); H. WEIPPERT, Die Prosareden des lereIniabuches,
1973 (BZAW, 132); ID., SchOpfer des Himmels und der Erde, 1981 (SBS, 102) (cf. ID., VT
379
29:336-351, 1979, sobre Jr 31.31ss.); M. ROSE (supra 10); L. SCHMIDT, Die Berufung
Jeremias, ThViat, 13:189-209, 1975/6; S. B0HMER, Heimkehr und neuer Bund, 1976; W. L.
HOLLADAY, The Architecture of Jeremiah 1-10, 1976; M. WEINFELD, Jeremiah and the
Spiritual Metamorphosis of Israel, ZAW, 88:17-56, 1976; C. WOLF, Jeremia im Frhjudentum
und Christentum, 1976; A. H. 1. GUNNEWEG, Heil im Gericht, in: Festschrift W Zeller, 1976,
1-9; T. SEIDL, Texte und Einheiten in Jeremia 27-29, 1977; Formen und Formeln in Jeremia
27-29, 1978; K. POHLMANN, Studien zum Jeremiabuch, 1978 (FRLANT, 118); C. DE JONG,
De vo1ken bij Jeremia, 1979; 1. KEGLER, Prophetisches Reden und po1itische Praxis Jeremias,
in: Der Gott der kleinen Leute, voI. I (supra 3), 67-79; ID., Das Leid des Nachbarvolkes, in:
Festschrift C. Westermann, 1980,271-287; R. P. CARROLL, From Chaos to Covenant, 1981; W.
McKANE, Re1ations between Poetry and Prose in the Book of Jeremiah, in: Congress Volume
Viena, 1981,220-237 (VTS, 32); C. LEVIN, Noch einrnal: Die Anfnge des Propheten Jeremia,
VT, 31:428--440, 1981; P.-M. BOGAERT, 00., Le livre de Jrmie, 1981 (BEThL, 54); A.
DEISSLER, Das "Echn" der Hosea-Verkndigung im Jeremiabuch, in: Festschrift 1. Schreiner,
1982, 61-75; R. ALBERlZ, Jer 2-6 und die Frhzeitverkndigung Jeremias, ZAW, 94:20-47,
1982; C. LEVIN, Die Verheissung des neuen Bundes, 1985 (FRLANT, 137); D. VIEWEGER,
Die Speziiik: der Berufungsberichte Jeremias und Ezechie1s im Umfe1d aJmlicher Einheiten des
A1ten Testaments, 1986; ID., Die Arbeit des jeremianischen Schlerkreises, BZ, 32:15-34, 1988;
A. GRAUPNER, Jeremia 45 als "Schlusswort" des Jeremiabuches, in: Festschrift A. H. 1.
Gunneweg, 1987,287-308; R. LIWAK, Der Prophet und die Geschichte, 1987 (BWANT, 121); R.
SCHULTE, Persnliche Heilsorake1 im Jeremiabuche, BZ, 32:257-265, 1988; T. ODASHIMA,
Heilsworte im Jeremiabuch, 1989 (BWANT, 125); N. KILPP, Niederreissen und Auibauen, 1990
(BThSt).
20
Introduo: W. ZIMMERLI, Ezechiel; Gestalt und Botschaft, 1972 (BSt, 62).
380
Relatos da pesquisa: C. KUHL, ThR, 5:92-118, 1933; 20:1-26, 1952; 24:1-53, 1956n; H. H.
ROWLEY, Men of God, 1963, 169-210; B. LANG, Ezechiel; der Prophet und das Buch, 1981
(EdF, 153) (bibI.).
G. HLSCHER, Heseldel, der Dichter und das Buch, 1924 (BZAW, 39); V. HERNIRICH,
Ezechielprobleme, 1933 (BZAW, 61); G. FOHRER, Die Hauptprobleme des Buches Ezechiel,
1952 (BZAW, 72); R GESE, Der Verfassungsentwurf des Ezechiel (Kapitel 4(48), 1957; H.
GRAF REVENTLOW, Wiichter berIsrael, 1962 (BZAW, 82); W. ZIMMERLI, Deutero-Ezechiel?
, ZAW, 84:501-516, 1972; ID., Das Phnomen der "Fortschreibung" im Buche Ezechiel, in:
Festschrift G. Fohrer, 1980, 174-191 (BZAW, 150); H. SCHULZ, Das Todesrecht im Alten
Testament, 1969 (BZAW, 114); D. BALTZER, Ezechiel und Deuterojesaja, 1971 (BZAW, 121); E.
VOGT, Die Lhmung und Stumrnheit des Propheten Ezechiel, in: Festschrift W. Eichrodt, 1970,
87-100; 1. GARSCHA, Studien zum Ezechielbuch, 1974; R SIMIAN, Dietheologische Nachgeschichte
der Prophetie Ezechiels, 1974 (FzB, 14); R. LIWAK, berlieferungsgeschichtliche Probleme des
Ezechielbuches, tese de doutorado, Bochum, 1976; C. BARTH, Ezechiel 37 aIs Einheit, in:
Festschrift W. Zimmerli, 1977, 39-52; F. HOSSFELD, Untersuchungen zu Komposition und
Theologie des Ezechielbuches, 1977 (FzB, 20); B. LANG, Kein Aufstand in Jerusalem, 1978
(SBB, 7); ID., Die erste und die letzte Vision des Propheten, Bib, 64: 225-230, 1983; G.
BETTENZOLI (supra 9); E. VOGT, Untersuchungen zum Buch Ezechiel, 1981 (AnBib, 95); J.
BECKER, Erwgungen zur ezechielischen Frage, in: Festschrift 1. Schreiner, 1982, 137-149; E.
KUTSCH, Die chronologischen Daten desEzechielbuches, 1985; T. KRGER, Geschichtskonzepte
im Ezechielbuch, 1988.
21
Introduo: H. D. PREUSS, Deuterojesaja, 1976 (bibI.).
Comentrios: B. DUHM (HK), (4. 00., 1922) 5. 00., 1968; P. VOLZ (KAT), 1932; C. R.
NORTH, 1964; G. FOHRER (ZBK), 1964; C. WESTERMANN (ATD), 4. 00., 1981; P. E.
BONNARD, 1972; K. ELLIGER (BK), 1978 (ls 40-45.7); H.-J. HERMISSON (BK), 1987 (45.8ss.).
Panorama: D. MICHEL, Deuterojesaja, in: TRE, 1981, voI. VIII, 510-530 (bibI.).
381
geistigen Heimat von lesaja, KapiteI4O-55, 1977 (BET, 5); R. W. KLEIN, Going Home - a
Theology of Second Isaiah, CThMi:198-21O, 1978; K. KIESOW, Exodustexteim Jesajabuch, 1979
(OBO, 24); H. C. SCHMITT, Pophetie und Schultheologie im Deuterojesajabuch, ZAW, 91:43-61,
1979; Y. GITAY, Deutero-Isaiah: Oral or Written?, JBL, 99:185-197,1980; R. P. MERENDINO,
DerErste und derLetzte; eine Untersuchung zu Jesaja 40-48, 1981 (VTS, 31); A. S. KAPELRUD,
The Main Concem of Second-Isaiah, VT, 32:50-58, 1982; W. ZIMMERLI, Jahwes Wort hei
Deuterojesaja, VT, 32:104-124, 1982; H. WILDBERGER, Der Monotheismus Deuterojesajas, in:
-, Jahwe und sein VoIk, 1979, 249-273 (TB, 66); O. H. STECK, BereiteteHeimkehr; Jesaja 35
zwischen dem Ersten und dem Zweiten Jesaja, 1985 (SBS, 121); H. KLEIN, Der Beweis der
Einzigkeit Jahwes hei Deuterojesaja, VT, 35:267-273, 1985.
Sobre os cnticos do servo de Deus: W. ZlMMERLI, in: ThWNT, 1954, voI. V, 653-676; C.
R. NORTH, The SufferingServant in Deutero-Isaiah, 2. ed., 1956; H. HAAG, Ebed-Jahwe-Forschung
1948-1958 (1959), in: - , Das Buch des Bundes, 1980, 46-72; O. KAISER, Der knigliche
Knecht, 2. ed., 1962 (FRLANT, 70); H. H. ROWLEY, The Servant of the Lord, 2. ed., 1965; G.
SAUER, Deuterojesaja und die Lieder vom Gottesknecht, in: Festschrift Evangelisch-theologische
Fakultt Wien; nmero especial de EvTh, 1972, 58-66; 1. JEREMIAS, VT, 22:31-42, 1972; K.
BALlZER, Die Biographie der Propheten, 1975, 171ss.; 1. A. SOGGIN, Tod und Auferstehung
des leidenden Gottesknechts, ZAW, 87:346-355, 1975; R. N. WHYBRAY, Thanksgiving for a
LiberatedProphet, 1978 (JSOT.SS, 4); G. GERLEMANN, Der Gottesknecht hei Deuterojesaja,
in: - , Studien zur alttestamentlichen Theologie, 1980,38-60; R. P. MERENDINO, Jesaja 49,1-6:
ein Gottesknechtlied?, ZAW, 92:236-248, 1980; R.-J. HERMlSSON, Der Lohn des Knechts, in:
Festschrift H. W Wolff, 1981,269-287; ID., Israel und der Gottesknecht hei Deuterojesaja, ZThK,
79:1-24, 1982; ID., ThR, 49:209-222, 1984; T. N. D. METTINGER, A Farewell to the Servant
Songs, 1983; E. HAAG, in: N. LOHFINK, ed., Gewalt und Gewaldosigkeit im Alten Testament,
1983, 159-213; O. H. STECK, Aspekte des Gottesknechts..., ZAW, 96:372-390, 1984; 97:36-58,
1985; H. HAAG, Der Gottesknecht bei Deuterojesaja, 1985 (EdF, 233); E. E. VON WALDOW,
Der Gottesknecht hei Deuterojesaja, ThZ, 41:201-219, 1985; E. KUTSCH, KIeine Schriften zum
Alten Testament, 1986, 169-196 (BZAW, 168).
Sobre 'Irito-Isaas (Is 56-66): K. ELLIGER, Die Einheit des llitojesaja, 1928 (BWANT, 45);
ID., Der Prophet 'llitojesaja, ZAW, 49:112-141, 1931; W. ZlMMERLI, Zur Sprache 'llitojesajas
(1950), in: - , Gottes Offenbarung, 1963, 217-233; D. MICHEL, Zur Eigenart 'Iritojesajas,
ThViat, 10:213-230, 1965/6; H. J. KRAUS, Die ausgebliebene Endtheophanie (1966), in: - ,
Biblisch-theologische Aufsiitze, 1972, 134-150; F. MAASS, "'llitojes~a?", in: Festschrift L. Rost,
1967,153-163; G. WALLIS, Gott und seine Gemeinde, ThZ, 27:182-200,1971; K. PAURITZSCH,
Die neue Gemeinde, 1971 (AnBib, 47) (bibI.); E. SEHMSDORF, Studien zur Redaktionsgeschichte
von Jesaja 56-66, ZAW, 84:517-576, 1972; P. D. HANSON, The Dawn of Apocalyptic, 1975,
32ss.; J. VERMEYLEN (supra 16), voI. 11, 445ss.; S. SEKINE, Die llitojesajanische Sammiung
(ler 56-66) redaktionsgeschichtlich untersucht, 1989 (BZAW, 175).
22
Comentrios, supra 14, especialmente K. ELLIGER, 7. ed., 1975; W. RUDOLPH, 1976 (bibI.).
382
Sobre Zacarias ainda: H. GESE, Anfang und Ende der Apokalyptik (1973), in: - , Vom Sinai
zum Zion, 1974, 202-230 [trad. port.: Incio e Fim do Apocalipsismo, Base do Livro de Zacarias,
in: VVAA, Apocalipsismo; Coletnea de Estudos, So Leopoldo, Sinodal, 1983, 190-218]; K.
SEYBOLD, Bilder zum Tempelbau, 1974 (SBS, 70); C. JEREMIAS (supra 13ab); G. WALLIS,
Die Nachtgesichte des Propheten Sacharja, in: Congress Volume Gttingen, 1978, 377-391 (VTS,
29); A. S. VAN DER WOUDE, Serubbabel und die messianischen Erwartungen des Propheten
Sacharja, ZAW, 100:138-156, 1988 (supI.).
Sobre Dutero-Zacarias (Zc 9-14): O. PLOGER, Theokratie und Eschatologie, (1959) 3. ed.,
1968 . (WMANT, 2); B. OlZEN, Studien ber DeuterosachaIja, 1964; H. M. LU1Z, lahwe,
lerusalem und die Volker, 1968 (WMANT, 27); M. SAEBO, Die deuterosacharjanische Frage,
StTh, 23:115-140, 1969; ID., SachaIja 9-14, 1969 (WMANT, 34); I. WILLI-PLEIN, Prophetie am
Ende, 1974 (BBB, 42).
23
Comentrios, supra 14, especialmente W. RUDOLPH, 1971; H. W. WOLFF, 2. ed., 1975
ou 1977 (bibI.).
Sobre Joel: O. PLOGER (supra 22); E. KUTSCH, Heuschreckenplage und Tag Jahwes in
Joel 1 und 2, ThZ, 18:81-94, 1962; H. W. WOLFF, Die Botschaft des Buches loel, 1963 (TEH,
109); H. P. MLLER, Prophetie und Apokalyptik bei Joel, ThViat, 10:231-252, 1965/6; G. W.
AHLSTRM, loel and the Temple Cult. 1971 (VTS, 21); J. JEREMIAS, Die Reue Gottes, 1975,
87ss. (BSt, 65); W. S. PRINSLOO, The Theology of the Book of loel, 1985 (BZAW, 163); J.
JEREMIAS, Joel/Joelbuch, in: TRE, 1988, voI. XVII, 91-97 (bibI.); S. BERGLER, loel als
Schriftinterpret, 1988.
Sobre Jonas: H. W. WOLFF, Studien zum lonabuch, (1965) 2. ed., 1975 (BSt, 47); G. H.
COHN, Das Buch lona im Lichte der biblischen Erziihlkunst, 1969; A. JEPSEN, Anrnerkungen
zum Buche Jona (1970), in: - , Der Herr ist Gott, 1978, 163-169; O. KAISER, Wirk1ichkeit,
Mglichkeit und Vorurteil, EvTh 33:91-103, 1973; J. JEREMIAS (v. supra), 98ss.; J. MAGONET,
Form and Mesning, 1976 (BET, 2); L. SCHMlDT, "De Deo", 1976 (BZAW, 143); T. E.
FRETHEIM, The Message oflonah, 1977; ID., Jonah and Theodicy, ZAW, 90:227-237, 1978; S.
SCHREINER, Das Buch Jona..., ThVers, 9:37-45, 1977; G. VANONl, Das Buch lona, 1978; H.
WI1ZENRArH, Das Buch lona, 1978; S. SEGERT, Syntax and Style in the Book of Jonah, in:
Festschrift G. Fohrer, 1980, 121-130 (BZAW, 150); P. WEIMAR, Jonapsalm und Jonaerziihlung,
BZ, 28:43-68, 1984; H.-J. ZOBEL, Jona/Jonabuch, in: TRE, 1988, vol, XVII, 229-234 (bibI.).
24
383
Comentrios: A. BENlZEN (HAT), 2. ed., 1952; N. W. PORTEOUS (ATD), 3. ed., 1978; O.
PLGER (KAT), 1965; A. LACOCQUE, 1976; L. E HARTMAN & A. A DiLELLA (AB),
1978; J. C. H. LEBRAM (ZBK), 1984; K. KOCH (BK), 1985.
Sobre o chamado Apocalipse de Isaas (Is 24-27), por ltimo: H. WILDBERGER, BK, 1978,
vol. Xl2, 885ss. (bibl.)
25
Introdues: C. BARTH, Einfhrung in die Psalmen, 1961 (BSt, 32); C. WESTERMANN,
Der Psalter, 4. ed., 1980; J. H. HAYES, Understanding the Psalms, 1976; H. SEIDEL, Auf den
Spuren der Beter; Einfhrung in die Psa1men, 1980; K. SEYBOLD, Die Psalmen, 1986; E.
ZENGER, Mit meinem Volk berspringe ich Mauem, 1987.
Relatos da pesquisa: M. HALLER, ThR, 1:378-402, 1929; J. J. STAMM, ThR, 23:1-68, 1955;
A. S. KAPELRUD, VF, 11(1):62-93, 1966; E. GERSTENBERGER, VF, 17(1):82-99, 1972;
19(2):22-45,1974; ID., in: J. H. HAYES (supra 5b), 179ss.;J. BECKER, Wege der Psalmenexegese,
1975 (SBS, 78); P. H. A. NEUMANN, ed., Zur neueren Psalmenforschung, 1976 (WdF, 192); J.
H. EATON, The Psa1ms and Israelite Worship, in: ThI, 238-273; E-J. STENDEBACH, Die
Psa1men in der neueren Forschung, BiKi, 35:60-70, 1980; B. FLUSINGER, A Decade of German
Psa1m-Criticism, JSOT, 20:91-103, 1981; K. SEYBOLD, Beitrge zur Psa1menforschung, ThR,
46: 1-18, 1981.
Panorama: K. GAlLING, RGG, 3. ed., 1961, vol. V, 672-684, 689-691; E. LIPINSKI et al.,
DBS, 1973, vol. IX/48, 1-214 (bibl.).
Comentrios: B. DUHM (KHC), 2. ed., 1922; H. GUNKEL (HK), (1929) 5. ed., 1968; R.
KITTEL (KAT), 5. e 6. ed., 1929; H. SCHMIDT (HAT), 1934; A. WEISER (ATD), 9. ed., 1979;
H. J. KRAUS (BK), (1960) 5. ed., 1978 (bibl.); M. J. DAHOOD (AB), 1966{70; L. JACQUET,
1975{7; E. BEAUCAMP, 1976.
384
1969(SBM, 7); W. BEYERLIN, DieRettungdesBedriingten in denFeindpsalmen desEinzelnen...,
1970 (FRLANT, 99); N. H. RIDDERBOS, Die Psalmen (ps 1-41), 1972 (BZAW, 117); H. GESE,
Die Entstehung der Bcherteilungdes Psalters (1972), in: - , Vom Sinaizum Zion, 1974, 159-167;
L. RUPPERT, Der leidende Gerechte, 1972 (FzB, 5); 1. KHLEWEIN, Geschichte in den
Psalmen, 1973 (CThM, 2); K. SEYBOLD, Das Gebet des Kranken im Alten restament, 1973
(BWANT, 99); ID., Die Wallfahrtspsalmen, 1978 (BThSt, 3); L. VOSBERG, Studienzum Reden
vom Schpferin den Psalmen, 1975 (BEvTh, 69); H. J. KRAUS, Theologie der Psalmen, 1979
(BK, XV/3) [trad. esp.: Teologa de los Salmos, Salamanca, Sgueme, 1985]; O. LORElZ, Die
Psalmen, 1979, voI. 11 (AOJIT, 207/2); A. R. JHNSON, The CuItic Prophet and Israel's
Psalmody, 1979; E. S. GERSTENBERGER, Der bittende Mensch, 1980 (WMANT, 51); W.
BRUEGGEMANN,The Psalmsand the Life ofFaith, JSOT, 17:3-32, 1980;1.REINDL,\\isheitliche
Bearbeitung von Psalmen, VTS, 32:333-356, 1981; E STOLZ, Psalmen im nachkultischen Raum,
1983(ThSt, 129); C. BARTH, DieErrettung vom Tode in denindividuellen KIage- undDankliedem
des Alten 'Istsmems (1947),2.00., 1987; H. GRAF REVENTLOW, Gebet im Alten restament,
1986; E-L. HOSSFELD, 00., Freude an der "-isungdes Herm; Festschrift H. Gross, 2. 00., 1987;
H. STRAUSS, Gott preisen heisst vor ihm leben, 1988 (BThSt, 12); H. SPIECKERMANN,
Heilsgegenwart; eine Theologie der Psalmen, 1989 (FRLANT, 148).
Sobre os salmos de Sio: H. SCHMID, Jahwe und die Kulttraditionen von Jerusalem, ZAW,
67:168-197, 1955;G. WANKE, DieZionstheologie derKorachiten, 1966(BZAW, 97);1.JEREMIAS,
Lade und Zion, in: Festschrift G. von Rad, 1971, 183-198; O. H. STECK, Friedensvorstellungen
im alten Jerusalem, 1972 (ThSt, 111); W. H. SCHMIDT, Alttestamentlicher Glaube in seiner
Geschichte, 4. 00., 1982, 206ss. (bibI.); H. 1. KRAUS, Theologie der Psalmen, 94ss.
26
Sobre o Cntico dos Cnticos:
385
Histria da pesquisa: C. KUHL, ThR, 9:137-167,1937; E. wRTIIWEIN, ThR, 32:177-212,1%7.
H. SCHMKEL, Heilige Hochzeit und Hohes Lied, 1956; O. LORElZ, Das althebriiische
Liebeslied, 1971 (A01Xf, 14/1); 1. B. WHI1E, A Study of the Language of Lave in the Song of
Songs and Ancient Egyptian Poetry, 1978; G. KRINE1ZKI, Kommentar zum Hohenlied, 1981
(BET, 16); O. KEEL, Vergleich und Metapher im Hohenlied, 1984; H. GRAF REVENlLOW,
Hoheslied, in: TRE, 1988, vol. XV, 499-502.
Sobre as Lamentaes:
B. ALBREKTSON, Studies in the Text and Theology of the Book of Lamentations, 1963
(1XfL; 21); R. BRANDSCHEIDT (supra 19).
Sobre Rute:
H. WTIZENRATH, Das Buch Ruth, 1975 (StANT, 40); O. LORElZ, Das Verhli1tnis zwischen
Rut-Story und David-Genealogie..., ZAW, 89:124-126, 1977; K. K. SACON, The Book of Ruth,
AJBI, 4:3-22, 1978; 1. M. SASSON, Ruth, 1979; W. S. PRINSLOO, The Theology of the Book
of Ruth, VT, 30:330-341, 1980; B. GREEN, The Plot of the Biblical Story of Ruth, JSOT,
23:55-68, 1982; R. VUILLEUMlR, ThZ, 44:193-210, 1988.
Sobre Ester:
27
Relatos da pesquisa: W. BAUMGARTNER, ThR, 5:259-288, 1933; ID., The Wisdom Literature,
in: H. H. ROWLEY, 00., The Old Testament and Modem Study, 1951, 210-237; R. MURPHY,
Cone, 1:855-862, 1965; E. GERSTENBERGER, VF, 14(1):28-44, 1969; R. B. Y. SCOTI, Interp,
386
24:2045, 1970; J. A. EMERTON, Wisdom,in: 1I,214-237; H. GRAFREVENlLOW, Hauptprobleme
der alttestamentlichen Theologie... (infra 30), 183ss.
Panorama: H. GESE, in: RGG, 3. 00., 1962, vol. VI, 1574-1581; G. FOHRER, in: ThWNT,
1964, vol, vn, 476496 = BZAW 115, 1969, 242-274; M. SAEBO, in: rnsr, 1971, vol, I,
557-567; H. P. MLLER, in: ThWAT, 1977, vol. 11, 920-944 (bibL).
W. ZIMMERLI, Zur Struktur der alttestarnentlichen Weisheit, ZAW, 51:177-204, 1933; ID.
Ort und Grenzeder Weisheit im Rahmender alttestarnentlichen Theologie,in: -, GottesOffenbarong,
1963,300-315; J. FICHTNER. Diealtorientalische misheit in ihrerisraelitisch-jdischen Auspriigung,
1933 (BZAW, 62); H. GESE, Lehre und Wirldichkeitin der alten misheit, 1958; u. SKLADNY.
Die iiltesten Spruchsammlungen in Israel, 1961; W. McKANE. Prophets and Wise Men, 1965; C.
KAYA1Z, Studien zu Proverbien 1-9, 1966 (WMANT, 22); W. RICHTER, Recht und Bthos, 1966
(StANT, 15); H. H. SCHMID, msen und Geschichte der misheit, 1966 (BZAW, 101); H. J.
HERMISSON, Studien zur israelitischen Spruchweisheit, 1968 (WMANT, 28); G. VON RAD,
misheit in Israel, 1970[trad.esp.: La Sabiduria en Israel, Madrid,FAX, 1973];C. WESTERMANN,
Weisheit im Sprichwort (1971), in: -, Forschung am Alten Testament, 1974, voL 11, 149-161; H.
D. PREUSS, Das Gottesbild der lteren Weisheit Israe1s, VTS, 23:117-145, 1972 [trad. port.: O
Conceito de Deus na Sabedoria mais Antiga de Israel, in: E. GERSTENBERGER. org. Deus no
Antigo Testamento, So Paulo, ASTE, 1981. 313-344]; B. LANG, Die weisheitliche Lehrrede,
1972 (SBS. 54); ID., Frau misheit, 1973; R. N. WHYBRAY. The Intellectual Iiedition of the
Old Testament, 1974 (BZAW, 135); W. BHLMANN, Vom rechten Reden und Schweigen, 1976
(OBO, 12); J. L. CRENSHAW, Studies in Ancient Israelite Wisdom, 1976; C. A. KELLER, Zum
sogenannten Verge1tungsg1auben im Proverbienbuch, in: Festschrift W. Zimmerli, 1977, 223-238;
E. HORNUNG & O. KEEL, OOs. Studien zu altiigyptischen Lebenslehren, 1979 (OBO, 28); M.
GILBERT, 00. La Sagesse de l'Ancien Testament, 1979; P. DOLL, MenschenschOpfung und
mltschOpfung in der alttestamentlichen misheit, tese de doutorado, Heidelberg, 1980; P. J. NEL,
The Structure and Bthos of the Wisdom Admonitions in Proverbs, 1982 (BZAW, 158); O.
KAISER, Der Mensch unter dem Schicksal, 1985 (BZAW. 161); H. D. PREUSS, Binfhrung in
die alttestamentliche misheitsliteratur, 1987.
28
Relatos da pesquisa: K. GALLING, Stand und Aufgabeder Kohe1et-Forschung, ThR, 6:355-373,
1934; O. KAISER. Judentum und Hellenismus, VF, 27(1),68-88, 1982.
E. WDLFEL, Luther und die Skepsis, 1958; K. GALLING, Das Rtse1 der zeu., ZThK,
58:1-15. 1961; H. GESE. Die Krisis der Weisheit bei Kohelet (1963), in: - , Vom Sinai zum Zion,
1974, 168-179; R. KROEBER, Der Prediger, 1963; O. LORETZ, Qohelet und der Alte Orient,
1964; H. H. SCHMID (supra 27), 186ss.; F. ELLERMEIER. Qohelet, 1967. voL JJ1; H. P.
MLLER, Wie sprach Qohlt von Gott?, VT, 18:507-521, 1968; M. HENGEL. Judentum und
Hellenismus, (1969) 2. 00., 1973. 2108s.; M. A. KLOPFENSTEIN, Die Skepsis des Qohelet, ThZ,
28:97-109, 1972; R. BRAUN, Kohelet und die frhhellenistische PopularphiIosophie, 1973(BZAW,
130); A. STIGLMAIR, Weisheitund Jahweglaube im Buche Kohelet, TThZ, 83:257-283. 339-368,
1974; W. ZIMMERU, Das Buch Kohe1et - 'Iraktat oder Sentenzensammlung? VT. 24:221-230,
387
1974; D. LYS, L 'Ecclsiaste ou Que vaut la vie?, 1977; H. P. MLLER, Neige der althebrii.ischen
Weisheit, ZAW, 90:238-264, 1978; F. CRSEMANN, Die unvernderbare Welt, in: - , Der Gott
der kJeinen Leute (supra 3), 80-104; ID., Hiob und Kohelet, in: Festschrift C. ~stennann, 1980,
373-393; J. A. LOADER, Polar Structures in the Book of Qohe1et, 1979 (J3ZAW, 152); C. F.
WIllTLEY, Kohe1et, 1979 (J3ZAW, 148); A. SCHMI1T, Zwischen Anfechtung, Kritik und
Lebensbewltigung; zur theologischen Thematik des Buches Kohelet, TThZ, 88:114-131, 1979; B.
LANG, 1st der Mensch hilflos?, ThQ, 159:109-124, 1979 = Wie wird man Prophet in Israel?,
1980,120-136; A. LAURA, Kohelets Verhltnis zur Geschichte, in: Festschrift H W. Wolif, 1981,
393-401; W. ZIMMERLI, "Unvernderbare Welt" oder "Gott ist Gott"?, in: Festschrift H. 1.
Krsus, 1983, 103-144; I. VON LOEWENCLAU, Kohelet und Sokrates, ZAW, 98:327-338,1986;
O. KAISER (supra 27), especialmente 91ss., 135ss.; ID., Schicksal, Leid und Gott; ein Gesprch
mit dem Kohelet, Prediger Salomo, in: Festschrift A. H 1. Gunneweg, 1987, 30-51; H. P.
MLLER, Theonome Skepsis und Lebensfreude, BZ, 30:1-19,1986; D. MICHEL, Qohe1et, 1988
(EdF, 258); ID., Untersuchungen zur EigenaIt des Buches Qohe1et, 1989 (BZAW).
29
Introduo: A. JEPSEN, Das Buch Hiob und seine Deutung, 1963.
Comentrios: G. HOLSCHER (HAT), 2. ed., 1952; A. WEISER (ATD), (1951) 6. ed., 1974;
G. FOHRER (KXf), 1963; F. HORST (BK), 1968 (1 1-18); F. HESSE (ZBK), 1978; H. GROSS
(NEB), 1986.
Panorama: J. EBACH, Hiob/Hiobbuch, in: TRE, 1986, voI. XV, 360-380 (bibI.).
E. WRTHWEIN, Gott und Mensch in Dialog und Gottesreden des Buches Hiob (1938), in:
- , Wort und Existenz, 1970,217-292; C. WESTERMANN, Der Aufbau des Buches Hiob, 1956,
arnpliado com um relato da pesquisa (1. KEGLER): 2. ed., 1977 (CThM, 6); H. RICHTER,
Studien zu Hiob, 1959; G. FOHRER, Studien zum Buche Hiob, 2. ed., 1983 (BZAW, 159); H. H.
SCHMID (supra 27), 173ss.; E. KUTSCH, Hiob: leidender Gerechter - leidender Mensch,
KuD, 19:197-214, 1973; E. RUPRECHT, Leiden und Gerechtigkeit bei Hiob, ZThK, 73:426-445,
1976; H. D. PREUSS, Jahwes Antwort an Hiob, in: Festschrift W. Zimmerli, 1977,323-343; o.
KEEL, Jahwes Entgegnung an Ijob, 1978; V. KUBINA, Die Gottesreden im Buche Hiob, 1979
(FThSt, 115); F. CRSEMANN (supra 28); P. WEIMAR, Literarkritisches zur Ijobnovelle, BN,
12:62-80, 1980; S. WAGNER, "Schpfung" im Buche Hiob, ZdZ, 34:93-96, 1980; R. ALBERlZ,
Der sozialgeschichtliche Hintergrund des Hiobbuches und der "Babylonischen Theodizee", in:
Festschrift H W. Wolif, 1981, 349-372; N. C. NABEL, "Naked I Carne ..."; Humanness in the
Book of Job, in: ibid., 373-392; V. MAAG, Hiob, 1982 (FRLANT, 128); H. GESE, Die Frage
nach dem Lebenssinn: Hiob und die Folgen, ZThK, 79:161-179, 1982; E. KUTSCH,
Unschuldsbekenntnis und Gottesbegegnung; der Zusammenhang zwischen Hiob 31 und 38ff, in:
- , KJeine Schriften zum Alten Testament, 1986, 308-335 (BZAW, 168); J. VAN OORSCHOT,
Gott als Grenze; eine literar- und redaktionsgeschichtliche Studie zu den Gottesreden des Hiobbuches,
1987;H.-P. MILER, Gottes Antwortanljobund das Rechtreligiser Walnheit, BZ, 32:210-231,1988.
388
30
TRE, 1984, vol. XIll, 608-626 (a as indicaes).
31
Relatos da pesquisa sobre a teologia do AT: H. 1. KRAUS, Geschichtederhistorisch-kritischen
Erforschung des Alten Testaments, 3. 00., 1982, especialmente 503ss.; R. SMEND, Die Mitte des
Alten Testaments (1970), in: - , GesammelteStudien, 1986, vol. I, 40-84; ID., Theo1ogie im Alten
Testament (1982), in: - , ibid., 104-117; W. H. SCHMIDT, Das erste Gebot, 1970 (TEH, 165);
ID., "Theologie des Alten Testaments" vor und nach Gerhard von Rad, VF, 17(1):1-25, 1972;
ID., Die Frage nach der Einheit des Alten 'Iestaments - im Spannungsfe1d von Religionsgeschichte
und Theo1ogie, in: JBTh 11, 1987, 33-57; ID. et al., Altes 'Iestament, in: Grundkurs Theologie 1,
1989, 69ss., 72ss. (bibl.); E. wRTHWEIN, Zur Theo1ogie des Alten Testaments, ThR, 36:185-208,
1971; G. F. HASEL, Old Testament Theology, 3. 00., 1982 (sobre isto E. OSSWALD, ThLZ,
99:641-658, 1974) [trad. port.: Teologia do Antigo Testamento, Rio de Janeiro, JUERP, 1987]; ID.,
The Prob1em of the Center in the 01d Testament Theo1ogy Debate, ZAW, 86:65-82, 1974; ID., A
Decade of 01d Testament Theo1ogy, ZAW, 93:165-183, 1981; W. ZIMMERLI, Zum Prob1em der
"Mitte des Alten Testaments", EvTh, 35:97-118, 1975; W. BRUEGGEMANN, A Convergence
in Recent 01d TestamentTheo1ogies,JSOT, 18:2-18, 1980;H. GRAF REVENTLOW, Hauptprobleme
der alttestamentlichen Theologie im 20. Jahrhundert, 1982 (EdF, 173); ID., Zur Theo1ogie des
Alten Testaments, ThR, 52:221-267, 1987; J. GOLDINGAY, Diversity and Unity in 01d Testament
Theo1ogy, VT, 34:153-168, 1984.
Relatos da pesquisa sobre a teologia bblica: H. 1. KRAUS, Die Biblische Theologie, 1970; K.
HAACKER, 00., Biblische Theologie heute, 1977 (BThSt, 1); W. ZIMMERLI, Biblische Theo1ogie
I: in: TRE, 1980, vol. VI, 426-455; ID., Biblische Theo1ogie, BThZ, 1:5-26, 1984; H. SEEBASS,
Zur biblischen Theo1ogie, VF, 27(1):28-45, 1982; ID., Der Gott derganzen Bibel, 1982; H. GRAF
REVENTLOW, Hauptprobleme der Biblischen Theologie im 20. JahrhundeIt, 1983 (EdF, 203);
M. OEMING, Gesamtbiblische Theologien der Gegenwart, 2. 00., 1987; H. SEEBASS, 1st
biblische Theo1ogie mglich?, Judaica, 41:194-206, 1985; P. HFFKEN, Anmerkungen zum
Thema Biblische Theo1ogie, in: Festschrift A. H 1. Gunneweg, 1987, 13-29; O. KAISER, Die
Bedeutung des Alten Testaments fr den christlichen G1auben, ZfhK, 86:3-17, 1989.
32
Relatos da pesquisa: C. WESTERMANN, 00., Problemealttestamentlicher Hermeneutik, 1960;
A. H. 1. GUNNEWEG, Vom Verstehen des Alten Testaments, 2. 00., 1988 (cf. ID., in: Festschrift
E. WIthwein, 1979,39-46; Sola Scriptura, 1983, 159ss.); H. D. PREUSS, Das Alte Testament in
christlicher Predigt, 1984.
389
ABREVIATURAS
AB Anchor Bib1e
AJBI Annual of the Japanese BiblicalInstitute
AnBib Analecta Bibliea
AOX!' AIter Orient und AItes Testament
ATD AItes Testament Deutsch
AThANT Abhandlungen zur Theologie des AIten und Neuen 'Iestaments
AzTh Arbeiten zur Theologie
BX!' Die Botschaft des AIten 'Iestaments
BBB Bonner biblische Beitrge
BET Beitrge zur biblischenExegese und Theologie
BEThL Bibliothecaephemeridwn theologiearum Lovaniensiwn
BEvTh Beitrge zur evangelisehen Theologie
Bib Biblica
BiKi Bibe1 und Kirche
BiLe Bibe1 und Leben
BK Bibliseher Kommentar
BN Biblische Notizen
BSt Biblische Studien
BThSt Biblisch-theologisehe Studien
BThZ Berliner Theo1ogische Zeitschrift
BWANT Beitrge zur Wissenschaftvom AIten und Neuen 'Iestament
BZ BiblischeZeitschrift
BZAW Beihefte zur Zeitschrift fr die alttestamentliche Wissensehaft
CX!' Commentaire de I' Ancien Testament
CB.OT Coniectanea bibliea - Old Testament Series
CBQ Catholic Biblical Quarter1y
Cone Concilium
CThM Calwer Theologische Monographien
DBX!' DielheimerB1iitter zum Alten Testament
DBS Dictionnaire de la Bib1e. Supp1ment
EdF Ertrge der Forschung
EHS.T Europische Hochschulschriften. Theologie
EtB tudes bibliques
EThSt Erfurter theologische Studien
EvErz Der evangelische Erzieher
EvTh Evangelische Theo1ogie
FRLANT Forschungenzur Religion und Literatur des AIten und Neuen Testaments
FThSt Freiburger theologisehe Studien
FzB Forschung zur Bibel
HXf Handbuch zum AIten Testament
HK Handkommentar zum AIten Testament
HUCA Hebrew Union College Annual
IKZ Intemationale kirchliche Zeitschrift
Interp Interpretation
mL Joumal of BiblicalLiterature
ISOT(SS) Joumal for the Study of the 01d Testament (Supp1ement Series)
ISS Joumal of Semitic Studies
Iud Judaica
KXf Kommentar zum AIten Testament
KHC Kurzer Hand-Commentar zum AIten Testament
391
KT Kaiser-'Iraktate
KuD Kerygma und Dogma
NCeB New CenturyBible
OBO Orbis Biblicus et Orientalis
OLoP Orientalia Lovaniensia periodica
OrAnt Oriens Antiquus
OTL Old 'Iestament Library
OTS Oudtestamentische Studien
PW A. Pauly & G. Wissowa, Real-Encyclopiidie der kIassischen Altertumswissenschaft
RB Revue Biblique
RGG Die Religion in Geschichte und Gegenwart
RV Religionsgeschichtliche Volksbcher
SAT Die Schriften des Alten 'Iestaments
SBB Stuttgarter biblische Beitrge
SBM Stuttgarter biblische Monographien
SBS Stuttgarter Bibelstudien
SBT Studies in Biblical Theology
StANT Studien zum Alten und Neuen 'Iestament
STL Studia theologica Lundensia
StTh Studia Theologica
Tal 7J:adition and Interpretation, ed. por G. W. Anderson, 1979
TER Theologische Existenz heute
THAT Theologisches Hendwncibuch zum Alten Testarnent, 1974/6, vols, I e Il
ThGI Theologie und Glaube
ThQ (Tbinger) Theologische Quartalschrift
ThR Theologische Rundschau
ThR Theologische Revue
ThSt Theologische Studien
ThVers Theologische Versuche
ThViat Theologia viatorum
ThWAT Theologisches WOIterbuch zum Alten Testarnent, 1970ss.
ThWNT Theologisches Worterbuch zum Neuen Testarnent, 1933-79
ThZ Theologische Zeitschrift
TRE Theologische RealenzykIopiidie, 1977ss.
TThZ 'Iiierer theologische Zeitschrift
DF Ugarit-Forschungen
VF Verkndigung und Forschung
VT Vetus Testarnentum
VTS Vetus Testamentum. Supplement
WdF Wege der Forschung
WMANT Wissenschaftliche Monographien zum Alten und Neuen Testament
WuB WoIt und Botschaft des Alten Testarnents, ed. por 1. Schreiner, (1967) 3. 00., 1975
WuD WoIt und Dienst
WZKM WienerZeitschrift fr die Kunde des Morgenlandes
ZAW Zeitschrift fr die alttestarnentliche Wissenschaft
ZBK Zrcher Bibelkommentar
ZdZ Zeichen der Zeit
ZEE Zeitschrift fr evangelische Ethik
ZKTh Zeitschrift fr katholische Theologie
ZThK Zeitschrift fr Theologie und Kirche
392
NDICE REMISSIVO
Abrao: 19ss., 81s., 85s., l04ss. Criao: 27, 64s., 79, 103s., 108, 243, 251,
Aliana: 22, 98, 101s., 103ss., 127, 131, 235, 289,297,320, 332ss., 357
249, 348s. Crtica social (crtica sociedade): 191, 192,
Aliana, Cdigo da: v. Cdigo 199, 205, 208, 214, 220, 242, 256
Anfictionia: 25 Cronista: 138, 156ss.
J\njos; ~ensagerros: 90, 178, 260, 276 Cronologia: 93, 135, 154s.
Apocalipsismo: 101, 159, 176,217,262, 276ss. Culpa, indicao/comprovao da: 141, 180,
Arameus (aramaico): 19, 26, 27, 29, 33, 77, 183,220
160, 186, 190, 276 Culto (crtica ao): 94, 97s., 101, 107, 121s.,
Arca: 27, 108, 131, 152, 294 127s., 14Os., 164ss., 193, 198, 199, 208,
Arrependimento; Converso; Penitncia (cf. 214, 242, 259, 269, 288, 341
, Exortao): 141s., 184, 244, 271
Davi (dinastia de): 26ss., 41, 77, 139s., 142,
Arvore genealgica: v. Genealogia
148ss., 152s., 164, 185, 205, 211s., 215,
Assrios: 29ss., 127, 190, 200, 201, 205ss.,
243, 252, 259s., 285, 293, 300
212, 216, 219s.
Declogo: 39, 50, 87, 105, 110ss., 130ss.
Astros (culto a): 65, 122, 219
Desgraa, anncio da/mensagem da (cf Culpa):
Auto-apresentao (frmula de): 105s., 118
101, 178ss., 183, 212, 213, 215, 219, 222,
231, 233, 240s., 243, 248, 339ss.
Baal: 24,29, 90, 92, 129, 139, 145, 185s., 198,
Deus dos pais: 208., 324ss.
219, 231, 351
Deus, nome de: 19, 49, 55, 84, 88, 89s., 105,
Babilnios: 31ss., 107,201,218,237,245, 278s.
185s., 286, 326s. (v. tambm Deus, reino
Balao: 184
de, e Deus, transcendncia de)
Bno (promessa de): 47, 81s., 89, 96, 113
Deus, reino de: 148, 165, 249, 252s., 265,
Berseba: 20, 26, 88
277s., 293s., 334s. (v. tambm Deus, nome
Betel: 20, 24, 29, 87, 104, 190
de, e Deus, transcendncia de)
Bruxaria: v. Magia
Deus, transcendncia de: 83, 90,105,108, 177s.
(v. tambm Deus, nome de, e Deus, reino de)
Cades: 23
Deuses, casamento de/luta de: 64s., 199, 295s.
Cana (cananeus): 20s., 23ss., 43, 77, 111, 129,
Deuteronmio: 31, 51, 59, 88, 97s., 108, 117,
133, 199
119ss., 163
Caos: 104
Deuteronomista/deuteronomstico: 56, 59ss., 87,
Casamento: v. Deus, casamento de
118, 125s., 134ss., 173, 189s., 224s.
Causa-efeito, relao: v. Retribuio
Dia de Jav: 206, 219, 269, 271
Circunciso: 98, 104
Dispora: 33, 44, 143, 302
Ciro: 33s., 160, 165, 201, 245, 250
Direito (proclamao do); Jurisprudncia; cf.
Cdigo da Aliana: 22, 87, 116ss.
Declogo: 22, 37s., 40, 42, 43, 110ss., 181
Complementao, hiptese da: 51, 58, 86, 96
Documentos, hiptese dos: 50
Conduo pelo deserto: 22, 60
Confisso: 21,47, 129 Edom: 77, 221
Conselho do trono: v. Corte celestial/divina, Egito: 21s., 31, 33, 73s., 106s., 200, 230, 304
conselho da El: 20, 105, 325s.
Corte celestial/divina, conselho da; Conselho Eleio: 128s., 132, 251, 268
do trono: 27, 176,206,248,252,316 Elias; Eliseu: 29, 88ss., 135, 141, 155, 174,
Corvia: v. 'Irabalhos forados 185s.,268
393
Elosta: 30, 53, 57, 72, 75, 84ss., 123 Javista: 53s., 57, 75ss., 86, 88, 150, 152
Escatologia; Futuro: 65, 81, 101, 133, 141ss., Jeovista: 53, 84
165, 173, 182, 183s., 191, 247, 250s., 254, Jeremias: 80, 126, 223
276,288 Jerusalm: 26, 31s., 43, 44, 89, 107, 123, 128,
Escravo: 44 164ss., 206s., 209s., 212, 231, 234, 249s.,
Escrito Sacerdotal: 52ss., 73, 76, 93ss., 118, 262, 296s.
126, 144, 163 Josias (reforma de): 31s., 51, 97s., 122, 124ss.,
Esperana: v. Escatologia; Salvao, palavra de 128, 140, 219, 223, 229
Esprito (de Deus): 147, 152, 238, 259, 263s., Judasmo: 32s., 163, 275, 302ss., 347, 353
271,337 Juzes, poca dos: 25, 139, 147s., 151, 185
Etiologia: 70 Juzo: 106, 139, 189, 268, 312
Exclusividade (exigncia de; 1 mandamento): Juzo, anncio do: v. Desgraa, anncio da
21, 24, 65, 69, 106s., 122s., 128, 129s., Julgamento(s): v. Juzo
139s., 185s., 198s., 209, 231, 250ss., 279,
291, 303, 314, 320, 328ss., 353, 356ss. Lei: 115s., 126, 353s., 357
xodo, Sada: 21s., 65, 199s., 243, 249 Levita: 94, 98, 108, 127, 132, 164, 286
Exortao, palavra de (chamada
converso/penitncialao arrependimento): 46, Magia: 106s., 113
105, 138, 141s., 173, 181, 184, 193, 205s., Maldio: 112s.
232, 234, 259, 271, 306, 307s. Mandamento, primeiro: v. Exclusividade
Expectativa: v. Messias Mandamentos, Dez: v. Declogo
Mandamento, segundo: v. Imagens, proibio de
Fertilidade, culto de: v. Prostituio sacra Mar (luta contra o drago): 27, 65, 79, 103s.,
Festa: 22, 164s., 193, 294, 295, 301s. 251,293
Filisteus: 26ss., 77, 151 Mensageiros: v. Anjos
Fragmentos, hiptese dos: 50 Messias, expectativa do: 27, 34, 165,210,250,
Funcionalismo: 27, 40ss., 76s., 305 253s., 259, 263, 288, 338s., 353, 357
Futuro: v. Escatologia; Salvao, palavra de; Midianitas: v. Quenitas
Desgraa, anncio da Moiss: 19, 22, 48ss., 67s., 81, 91, 95, 99s.,
106s., 327s.
Genealogia: 37, 65s., 157s., 300 Monarquia (cf Davi; Deus, reino de): 26ss.,
Gesto simblico: v. Smbolo 4Oss., 139ss., 150ss., 165, 199, 252s., 338s.
Glria: 106ss., 241s., 249, 262 Monotesmo: v. Exclusividade
Guerra de Jav: v. Jav, guerra de
GuerraSrro-EfirnWrrrita: 30,194,205,209 Nat (predio/profecia de): 32, 149, 164, 185
Nomadismo: 20, 21s., 35ss., 42, 112ss.
Hebrom: 20, 26s.
Histria/historiografia: 20, 65, 69s., 75, 150, Palavra/Promessa de salvao: v. Salvao,
152, 164, 181, 238, 275s., 289, 302, 324, palavra/promessa/profecia de
331s., 347ss. Pan-israelita: v. Povo
Honra: v. Glria Paralelismo: 171, 284s., 304
Parnese (cf Exortao): 118, 126, 130
Imagem de Deus: 65s., 103s., 357 Particularismo: 89, 355s.
Imagens (proibio de/ausncia de; 2 Pscoa: 21, 122, 331
mandamento): 21, 108, 114s., 116, 139, 140, Patriarcas: 19s., 25s., 35s., 60, 249
198, 231, 250, 279, 330ss. Penitncia (v. Arrependimento)
Israel: 24s., 30, 131, 212 Povo, todo o/a totalidade do (cf Israel
[caracterizao pan-israelita]): 19s.,4O, 131,
Jac: 19s., 68, 80s., 103s. 138, 220, 233
Jav: v. Deus, nome de Primeiro mandamento: v. Exclusividade
Jav, guerra de: 23ss., 190, 207, 328 Profecia; Profetismo: 28s., 52, 88s., 92, 101,
394
130s., 139, 14Oss., 164, 168ss., 34Oss., 347, 140,160, 164s., 229, 237, 242s., 249, 258s.,
352 264s.
Profetas de salvao: 168, 232ss. Santurio, lenda de: 70s.
Promessa: v. Salvao, palavra de SatiVSatans: 264, 316
Prostituio sacra (adultrio, infidelidade): 122, Saul: 26, 148, 152
197, 199 Semelhana com Deus: v. hnagem de Deus
Senhorio de Deus: v. Deus, reino de
Quenitas; Midianitas: 22, 35, 66, 80, 94, 326s. Septuaginm: 13,46,148
Servo de Deus: 252ss., 266
Redao: 53s., 59, 62, 87, 124s., 134, 171s., Servo de Jav: v. Servo de Deus
173, 197, 225, 236 Sio (tradio de Jerusalm): 27, 89, 123,205,
Reinado: v. Monarquia 209s., 229, 243, 247, 249, 256, 259s., 264,
"Resto": 81, 101, 183s., 193, 207 293s.
Retribuio, doutrina/princpio da;Causa-efeito, Smbolo; Simblico/a (ato/ao): 175, 197, 203s.,
relao; Vinculao entre causa e efeito 206, 233, 237, 243, 264
(ao e destino): 74, 163, 218, 306, 310, Sinai: 19, 22s., 60, 85, 95, 102, 100s., l07s.,
315, 319, 321, 343 119,327
Revelao; Teofania: 20, 22, 90, 105ss., 183, Sinal: .v. Smbolo
186, 217ss., 254, 277, 305, 349 Sincretismo: 29, 92, 185, 259
Siqum: 20, 25, 28, 88, 143
Sbado: 98s., 102s., 114, 256 Social, crtica: v. Crtica social
Sabedoria (literatura sapiencial): 72, 74, 77, Sorteio: 38, 145, 150s., 302
92, 170, 181, 190, 204ss., 294, 296, 304ss., Sucesso ao trono, histria da: 77, 151ss.
313s., 317, 319, 342ss.
Sacerdotes (cf Culto): 27, 41, 98, 164, 198, 'Ialio, princpio do (retribuio equivalente)
263, 268 (cf Relao ao-efeito): 113
Sacrifcio (cf Culto): 95, 128s., 353 Templo: v. Santurio
Saga: 66ss. Teofania: v. Revelao
Sada: v. xodo Ttulo: 69
Salomo: 28s., 41,77, 139,285,296, 304s., 311 Tomada da terra (promessa da): 14, 22ss., 36,
Salvao, palavra/profecia/promessa de (cf 48, 76, 1oos., 143, 145
Escatologia): 171s., 181ss., 189, 192, 197, 'Irabalhos forados: 21, 41s.
zoos, 213, 217, 219, 225, 234, 246, 250, 'Iranscendncia: v. Deus
251s., 256, 265, 341s., 354s. 'Irbo (estrutura tribal): 25, 37, 147
Samaria: 28, 30, 43, 190, 217 'Iribunal, discurso de: 180, 247
Samaritano(s): 15, 30, 162, 165, 259
Samuel: 148ss., 185 Uno: 27, 98, 150ss.
Sangue (derramar; vingana de): 21, 29, 80, Universalismo: 79, 82, 90,101, 220s., 257, 344ss.
102, 103s., 113ss., 129
Santidade: 94, 118, 131s., 335s. Viso: 176ss., 188, 191, 206, 219, 231, 237,
Santidade, Lei da: 96, 117s., 238 241, 248, 26Oss., 280s.
Santurio; Templo: 27, 33s., 98,101,108, 128s., Vocao: 88, 90s., 175s., 206, 230, 241, 248
395