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Textos de Apoio - e - Ficha-Valores e Valoração

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Filosofia 10ano

3. Os Valores: anlise e compreenso da experincia valorativa


Valores e valorao

Texto 1

Tais so os valores: referncias, que, transpostas sobre um campo de


circunstncias contingentes, proporcionam ao sujeito os referenciais [necessrios para
a aco], permitindo-lhe inventar um projecto de liberdade.
Jean-Paul RESWEBER, A Filosofia dos Valores, 2002, p.91

Texto 2

Todos ns valoramos e no podemos deixar de valorar. No possvel a vida


sem proferir constantemente juzos de valor. da essncia do ser humano conhecer e
querer, tanto como valorar. (...) Todo o querer pressupe um valor. Nada podemos
querer seno aquilo que de alguma maneira nos parea valioso e como tal digno de ser
desejado.
Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os
objectos possveis: gua, po, vesturio, sade, livros, homens, opinies, actos. Tudo
isso objecto das nossas apreciaes.
Johannes HESSEN, Filosofia dos Valores, 1980, p.42

Baseando-se na anlise dos textos 1 e 2, responda justificadamente:

1. Qual a relao que se pode estabelecer entre a ao humana e os valores?

2. Apresente uma definio de valor.

3. Distinga juzos de valor de juzos de facto.

4. Reveja o diapositivo n 1 da apresentao Valores e Valorao e explicite qual a


impreciso contida na citao de Ortega y Gasset.

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Filosofia 10ano

Valores e valorao
O problema da natureza dos valores
Texto1

Os valores so objectivos tanto como as coisas e as figuras matemticas. Assim como


percebemos o tringulo ideal na tosca figura imperfeitssima do quadro, assim
tambm intumos a justia nas toscas instituies da realidade social e poltica. O
tringulo o que , independentemente de que ns o pensemos de um ou de outro
modo. De igual sorte, a justia o que , independentemente de que a imaginemos de
uma ou de outra maneira. Quando dizemos que um acto, ou uma sentena, ou uma
instituio so justos ou injustos, estamos [a estimar] o facto real por comparao com
o valor puro chamado Justia; esse valor algo objectivo, cuja conscincia no
depende de ns, mas que se nos impe, e guia, e sustenta o nosso juzo.
Manuel Garcia MORENTE, Ensaios sobre o Progresso, 1936

FALTA TEXTO 2

1. As coisas e os seres valem por que os desejamos, ou desejamo-los porque tm


valor? Baseando-se na anlise dos textos 1 e 2, indique justificadamente a soluo
avanada por cada uma das concees acerca da natureza dos valores.

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Filosofia 10ano

Valores e Cultura
A diversidade e o dilogo de culturas

NOES CULTURA, PADRAO CULTURAL E DIREITOS HUMANOS

1. O conceito de Cultura

O conceito de cultura remonta a uma comparao dos sofistas na Grcia Antiga: tal
como na agricultura necessrio um lavrador que coloque a semente na terra,
tambm o ser humano necessita de um educador, que coloque o conhecimento na
alma, afinando as aptides naturais do indivduo. Ccero fala-nos de uma cultura animi,
ou seja, do fenmeno de cultivar, domesticar, tratar, aperfeioar, etc. No h, ainda, o
conceito de cultura, mas apenas uma referncia a este fenmeno enquanto aco a
partir do genitivo - animi (incidir ou actuar sobre). Pouco a pouco, surge o conceito de
cultura (portanto, como substantivo): j no se trata dum fenmeno de elevao a um
estado superior da humanidade, mas antes esse prprio estado em si mesmo.
Porm, desde a antiguidade at modernidade, este termo aparece como uma
formao do esprito superior, prpria do homem civilizado. A cultura ope-se,
portanto, ao brbaro, ao primitivo, ao natural. De facto, os termos cultura e
civilizao funcionaram como sinnimos, na linguagem corrente e, por vezes, mais
cientfica, durante sculos. Assim, na crena de que existe uma cultura ideal ou natural
a toda a humanidade, at aos finais do sculo XVIII, fala-se apenas de cultura como um
quadro referencial de um povo ou de uma esfera de saber.
O termo cultura puro e simples - conjunto de tudo aquilo que recebemos da
natureza como aptides (trabalhadas pelos nossos antepassados culturais) e tudo
aquilo que acrescentamos natureza pela nossa actividade - surge na poca de
Herder. Hoje, o conceito de cultura remete para um todo complexo que inclui os
conhecimentos, as crenas, a moral, a arte, as leis, os costumes e todas as outras
disposies e hbitos adquiridos pelo Homem enquanto membro de uma
comunidade. Deste modo, qualquer reflexo sobre a cultura ganha um sentido
antropolgico, pois a cultura consiste numa caracterstica especificamente humana e
num sentido histrico-etnolgico, na medida em que a cultura , tambm, uma

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Filosofia 10ano

manifestao real e objectiva do ser humano e, portanto, concilivel com a histria da


humanidade.
Verificamos, rapidamente, que a cultura poder ser vista como tenso
relacional entre aprisionamento e libertao do Homem-criador. Por outras palavras, o
ser humano , simultaneamente, produto e produtor de cultura. A cultura significa
libertao, porque permite ao ser humano - que se torna verdadeiramente humano
aquando contagiado pela humanidade - a adaptao ao meio e ao seu contexto de
vida, desprendendo-se de condicionalismos biolgicos. Por outro lado, pode ser vista
como aprisionamento, visto que, inevitavelmente, condiciona toda e qualquer
mundividncia. Cabe ao Homem julgar os aspectos culturais e escolher aqueles que
so dignos de acolher a sua identidade no espao da comunidade planetria.
[Por fim], a cultura confere, pois, uma identidade prpria que incide em cada
um de ns de forma diferente em variados planos da nossa existncia encruzilhados
entre si (o sujeito para consigo prprio, para com a comunidade, para com o mundo,
etc). Esta realidade corresponde quilo que denominamos por diversidade cultural.
Por vezes, diferentes culturas assentes numa pluralidade tnica, social, religiosa,
lingustica entre outros aspectos coexistem no mesmo espao - o multiculturalismo.
Este fenmeno uma preocupao fundamental das sociedades contemporneas.
Sandra Martins (2010)

Os Direitos Humanos
AS GERAES DE DIREITOS HUMANOS
As geraes de Direitos Humanos correspondem aos vrios momentos histricos em
que ocorreram alteraes relativamente ao reconhecimento desses direitos. Essas
alteraes foram profundamente marcadas pelo contexto poltico, social e
econmico em que surgiram e por um conjunto de teorias de ordem filosfica.
1 GERAO DIREITOS DE LIBERDADE
Data: Sc. XVIII
Acontecimentos histricos e documentos que estiveram na sua origem:
Independncia dos Estados Unidos da Amrica e a Revoluo Francesa.

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Filosofia 10ano

Da Independncia dos Estados Unidos da Amrica resulta a Declarao Americana da


Independncia (Estados Unidos da Amrica, 1776) e da Revoluo Francesa resulta a
Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado (Frana, 1789).

A Declarao Americana da Independncia em 1776 proclama a passagem dos


direitos da dimenso do divino (presentes sobretudo desde a Idade Mdia at ao
Iluminisno) para a dimenso do secular. Com a Revoluo Francesa e a proclamao
dos ideais do liberalismo (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), resultantes da lutas
dos liberais contra as monarquias absolutistas so garantidos direitos fundamentais
do Homem para toda a humanidade.

Direitos garantidos:
Os direitos garantidos nesta fase so os Direitos de Liberdade. Nesta 1 gerao
assiste-se conquista das liberdades individuais e dos direitos de participao
poltica: Direito vida e integridade fsica; liberdade de pensamento e de
expresso; garantias processuais no caso de sermos acusados de delito; proteo do
direito intimidade e boa reputao, direito a eleger os governantes mediante o
voto

O conjunto de direitos garantidos nesta 1 gerao est relacionado com o conceito


de Estado Liberal: um Estado de Direito.
Assim, um Estado de Direito todo e qualquer sistema poltico que respeita as
liberdades fundamentais de modo que ningum (nem governantes, nem
governados) est acima da lei.

2 GERAO DIREITOS DE IGUALDADE


Data: Sc. XIX
Acontecimentos histricos e documentos que estiveram na sua origem:
As lutas do operariado durante o sc. XIX e XX e o surgimento de sistemas polticos
de ndole socialista (ex: marxismo).

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Filosofia 10ano

Estes acontecimentos histricos visam garantir um conjunto de direitos sociais e


econmicos e culturais. A este propsito tiveram grande protagonismo as lutas
promovidas pelos operrios, no sentido de garantirem o direito ao trabalho e
sade, por exemplo.

Direitos garantidos:
Os direitos garantidos nesta fase so os Direitos de Igualdade: o direito educao,
assistncia sanitria, proteo contra o desemprego, a um salrio digno, ao
descanso e ao lazer, a uma reforma digna, ao acesso aos bens culturais.

Este conjunto de direitos, resultante das lutas do operariado, deu origem a uma
nova configurao de Estado: o Estado Social de Direito.
Isto quer dizer que no basta os cidados serem iguais perante a lei, mas
necessrio que se apliquem medidas para que todos tenham acesso aos bens mais
bsicos necessrios para assegurar a sua participao na vida poltica e social.

3 GERAO DIREITOS DE SOLIDARIEDADE


Data: Sc. XX
Acontecimentos histricos e documentos que estiveram na sua origem:
Surgimento de sistemas totalitrios no mundo e as guerras ocorridas no sculo XX:
1 e 2 Guerra Mundiais. O problema da 2 guerra mundial (1939-1945) e o
Holocausto legitimaram a problematizao desta 3 gerao de Direitos Humanos.

Estes acontecimentos histricos visam garantir um conjunto de direitos de


diferenciao e de direitos coletivos, assim como o respeito pelas minorias
(mulheres, crianas, etc.).
Alguns dos protagonistas foram os movimentos pacifistas e ecologistas.

Direitos garantidos:
Os direitos garantidos nesta fase so os Direitos de Solidariedade: direito a viver em
paz, direito ao desenvolvimento num ambiente equilibrado, direitos das mulheres,
direitos das crianas.

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Filosofia 10ano

Ao contrrio do conjunto dos direitos anteriores que visavam sobretudo a proteo


do indivduo, estes direitos no visam proteger indivduos particulares, mas grupos
humanos. O cumprimento dos direitos de solidariedade s se consegue com um
esforo conjunto da comunidade internacional em prol de um objetivo que
tambm ele comum. A ttulo de exemplo s se conseguir lutar contra condies
adversas do mundo: a falta de recursos, a degradao ambiental, a guerra, se existir
esse trabalho conjunto de toda a comunidade internacional.
Neste caso, no basta tomar medidas sociais no interior de um Estado, necessrio
garantir um esforo solidrio entre todas as naes e povos do planeta. O Estado
passa, por isso a ser configurado como um Estado de Direito Solidrio. Este tipo de
Estado solidrio esteve na origem da criao de organizaes internacionais com a
finalidade de promover estes valores de solidariedade, paz, desenvolvimento
sustentvel e ambiental como a ONU (Organizao das Naes Unidas, FMI (Fundo
Monetrio Internacional); a UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a
Educao, Cincia e Cultura); OMS (Organizao Mundial de Sade) CEE
(Comunidade Econmica Europeia), hoje designada por EU (Unio Europeia).

NOTA IMPORTANTE
Cada uma das trs geraes de direitos humanos exprime exigncias ligadas ao
respeito pela dignidade humana. No seu conjunto, fundam-se em trs valores
presentes ao longo da tradio poltica moderna: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.

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Filosofia 10ano

Relativismo Moral Cultural

O relativismo moral defende que o bem e o mal so convenes sociais, prprias de


cada cultura, ou seja, que existem regras e normas que valem apenas em cada
sociedade.

No relativismo moral no h verdades absolutas, pois tudo relativo ao ponto de vista


de cada sociedade. As verdades da maioria so relativas porque apenas reflectem o
que a maioria das pessoas aprova em cada sociedade.

Se o bem e o mal so apenas convenes sociais, que variam de cultura para cultura,
ento no existem verdades objectivas em moral, pois estas verdades so
independentes de qualquer ponto de vista particular.

Se numa sociedade o infanticdio for considerado um mal, isso no significa que o


infanticdio seja em si mesmo errado; significa apenas que h nessa sociedade uma
maioria de pessoas que o desaprova.

Argumentos a favor do R.M.C.


1. Argumento das diferenas culturais

O relativismo moral diz-nos que:

A moral uma criao de cada sociedade, e inevitvel reflectir os padres de cultura


da sociedade que lhe deu origem. Ou seja, define uma moral prpria e caracterstica.

Se os valores morais fossem objectivos, no dependeriam de nenhum ponto de vista


particular.

Portanto, os valores morais no so objectivos.

2. Argumento do juiz parcial

O relativismo moral diz-nos que:

Em cincia, quando h desacordos, os cientistas acabam por chegar a consenso porque


a verdade em cincia objectiva.

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Em questes de ordem moral, como o aborto, o infanticdio, a eutansia ou a pena de


morte, no possvel chegar a um consenso sempre que h desacordo. No possvel
ser imparcial quando diferentes culturas esto em confronto.

Portanto, os valores morais no so objectivos.

Argumentos contra o R.M.C.


1. Argumento da intolerncia

Os relativistas morais defendem que ao pormos de lado a ideia que ns estamos


certos e eles errados contribui para formar um esprito de tolerncia entre diferentes
culturas e para o seu respeito mtuo.

O relativismo moral acredita que o bem tudo aquilo que cada sociedade aprova;
deste modo, se a maioria dos membros de uma sociedade aprovar a intolerncia (por
exemplo, por motivos raciais), nessa sociedade a intolerncia um bem.

Se o relativista moral pertencer a uma sociedade que aprove a intolerncia, cai em


contradio.

Por um lado, o relativista moral dir que uma das vantagens da sua teoria est na
promoo da tolerncia e no esprito de boa convivncia entre culturas. Em resumo, o
relativista dir que a tolerncia um bem.

Por outro lado, o relativista moral defende que um bem tudo aquilo que a sua
sociedade aprovar; se a sua sociedade aprovar a intolerncia, para ser coerente, ter
de dizer que a intolerncia um bem.

Mas isto contraditrio. Uma teoria que pode implicar uma contradio como esta,
dificilmente merece ser considerada uma boa teoria.

2. Argumento do conformismo

O relativista moral, ao defender que X um bem significa X socialmente


aprovado, pode ser acusado de a sua teoria levar ao conformismo.

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Por muito que algum discorde da opinio da maioria das pessoas da sua sociedade, e
por muito que esta opinio se baseie apenas em preconceitos, falta de informao e
esprito crtico, segundo o relativismo moral, temos de aceitar a opinio da maioria.

o que se passa com o racismo. S o preconceito ou a falta de informao e sentido


crtico que podem levar uma sociedade a pensar que se justifica discriminar pessoas
com base na cor da pele.

Assim, o relativismo moral no favorece o pensamento prprio e a autonomia.

Martin Luther King vivia numa sociedade em que uma maioria de pessoas
preconceituosas e mal informadas pensava que o racismo era bom.

Mas King no estava de acordo. King pensava que o racismo era objectivamente
errado, fosse qual fosse o ponto de vista da sua sociedade: era a sociedade que estava
errada e no ele ou quem se opunha ao racismo.

King no era conformista. No se limitava a repetir de forma mecnica o que a maioria


das pessoas dizia. Pensava pela sua cabea e achava que acima da opinio da maioria
est a razo.

O conformismo diz para no pensarmos pela nossa cabea. E isto est errado. Uma
teoria que tenha esta consequncia no pode ser uma boa teoria.

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