A Vida Na Roça PDF
A Vida Na Roça PDF
A Vida Na Roça PDF
A VIDA NA ROGA
Dui^ D . Juvenal Tavare
A VIDA NA ROGA
POR
feetrjuo, 0 /"-auo
Nasci n'esta zona ardente,
Tive meu bero innoconte
Nas margens do Tocantins;
Os favonios m'embalaram.
As aves me acalentaram
Nos seus eternos festins.
BELM 1893
ntonio
FTif !&
;emo
EXPlilCAES
% fida na %op
Amanh iniciaremos a publicao de interessantes contos, que
descrevem, com amena e deleitavel naturalidade, episdios da
roa.
A PROVNCIA DO PAR no se furta cogitao do que possa ser
agradvel aos seus freguezes.
Assim, A VIDA NA ROA um gnero de trabalho litterario
de que cogitamos, com o lim de contribuir para maior variedade
das seces do jornal e que ha de corresponder ao nosso desejo
e ao gosto de grande numero de leitores.
Occultei-me sob o pseudonymo de Canuto, o Ma-
tuto. Mas a besbilhotice, farejando o autor d'essas
variedades roceiras, no tardou em dar com o foci-
nho sobre o meu nome.
No sei se estas narrativas, lanadas em lingua-
gem simplicissima e despidas de qualquer preten-
so, conseguiram interessar o publico da capital ; do
interior, porm, recebi cartas de amigos meus pe-
dindo-me a sua colleco completa.
Eis ahi o que resolveu-me a dal-as ao prelo, reu-
nidas n este volume, sem considerar os prejuizos que
emprezas congneres j me tm causado.
D'esta breve explicao, v-se que estes Contos
nasceram d'um dever, e que este volume originou-se
d'uma esperana com bom fundamento concebida.
Offerecendo a Vida na Roa ao seu verdadeiro
dono, tenho cumprido o meu dever.
Collocando este pobre volume sob a generosa e
benevola proteco de meus distinctos amigos do
interior, conto desde logo realisada a minha fagueira
esperana.
L. D. J. TAVARES.
%\m totuto HUfn
Um $mH" ht U s-ol
44
O caju st maduro.
Est bom de come.
Olha o doutor!
Olha o Canuto !
Ento vocs tambm deram com os costados
por aqui?...
E terminou; e eu tambm aqui termino.
IV
tntttn
^ laahtl
Dizem os cantores :
Santa d'Eugenio triz, ra per nobis .
*
VII
<| pipU
Depois de algumas palavras trocadas entre o rabe-
quista e o tocador de harmnica, vae comear, como
ordinariamente se diz, o melhor da festa.
E' o lundum, mas um lundum chorado e cheio de
desafios.
Ora, eil-o que principia.
Emquanto a harmnica solua em notas dengosas,
a rabeca geme suspirosa soltando lamentos de fazer
a gente tambm gemer.
O da harmnica :
t Menina da saia verde,
Menina do zlho grande;
Apanhe l este beijo.
E em troca outro beijo mande. >
54
O da rabeca
Menina, minha menina,
Me venda seu passarinho;
Se o preo fr muito caro,
No mecha o bicho do ninho.
O da harmnica :
t Por mais que se bote pedra,
Por mais que se bote caco,
O tatu quando c famoso,
No esquece o seu buraco.
O da rabeca :
c No esquece o seu buraco
O lat quando famoso;
Cava aqui, cava acol,
E' sempre bicho manhoso.
O da harmnica :
< Cachorrinho est latindo
Para a banda do chiqueiro
Cala a bocca, cachorrino,
No sejas mixiriqueiro. >
O da rabeca :
L vem aurora do dia
Tingindo o co d'encarnado;
Meu bemzinho, d gemada
P'ra o cantor, que est damn&do.
fttfmtin*
E comearam na faina.
Grandes rolos de parys de 15 palmos de altura
foram atirados para o tendal afim de serem conve-
nientemente examinados.
Revistaram-se as zagaias; prepararam-se os urics.
E depois, em uma igarit, metteram umas duas
dzias de paus de timb-ass, do verdadeiro, que s
cresce nos campos do Cupij.
O famoso ataque aos valentes tucunars e sagazes
jacunds na madrugada do dia seguinte.
Eu gosto da vida assim
Gozada sem dissabores,
Comendo peixe na folha,
Juntinho de meus amores.
g/w)pEiA noite.
JfiflJfe O Sr. Manoel Joo tossia no seu quarto,
escarrou, bateu a cabea do cachimbo no taboado....
to, to, t.
A mar fazia pra-mar.
Sahiu para a varanda com a cabea envolvida em
um largo leno encarnado, que lhe fingia um turbante
musulmano.
Quatro ces magros, abanando a cauda e mur-
chando as orelhas, faziam-lhe caricias em roda das
pernas.
De um grande sacco de isqueiro, tirou a peder-
neira, o fuzil e a taboca da isca de tracu; petiscou
fogotic,tic,tic, e accendeu o cachimbo, recen-
dendo logo o fumo odorifero de excellente tabaco
tic-terra.
l
p*a
Mundiado?
Sim; foi mundiado pelo b i c h o ; v o u v i n d o . . . .
Pelo puraqu?
No, escute Um dia, por volta das quatro
horas da tarde, eu mais o Joo, fomos p e g a r camaro
no Igarapzinho.
Emquanto eu estava entretida a puxar no canio
u n s acaratingas, o Joo desappareceu.
Gritei : Joo! Joo! e nada.
Depois de olhar para todos os lados, vi ento que
o Joo estava no longe de mim, debruado sobre
um pao que havia cahido, por cima d'um p e q u e n o
poo, no dito igarap.
Elle ria e conversava no sei que e n e m sei com
quem, que parecia estar no fundo d'agua.
Chamei-o por t r s vezes, e no me ouviu.
Fiz ento o signal da cruz, gritando : em nome do
P a d r e , do Filho e do Espirito-Santo.
O Joo levantou a cabea, disse-me que no me
ouvia chamal-o, que estava longe, muito l o n g e , con-
versando com uma menina, que parecia um sol de
formosura.
E poz-se a chorar.
Quando o Joo chegou aos 15 a n n o s , no cessava
de rondar a minha casa uma moa, linda, lindssima,
mais linda do que a aurora!
Ali, e apontou com o dedo para o lado do iga-
rap, ali, em cima d'aquelle meritizeiro que serve
de ponte, ella costuma a sentar-se todas as noites de
luar.
77
E depois continuou :
Quando a lua j vae sumindo por detraz da matta,
desce uma nuvem branca como a prata.
Ella sobe na nuvem a vae brincar com as estrellas.
Agora, que o Joo est entrando nos seus dezoito
annos, ella no tem vindo; mas o Joo todos os dias,
bocca da noite, desapparece por aquelle caminho e
s volta de manh.
E' com a Uyra que elle vae
Com a Uyra ?
Sim; o meu filho est perdido; o meu filho est
p'ra ir para o fundo, encantado.
E desatou em choro.
mm SCSNA
Anninhas no d'aqui ;
E por sua flicidade,
Nunca quiz vir cidade
Esta meiga juruty.
Anninhas do serto ;
Ella nasceu n'uma aldeia ;
Tem a vz d'uma sereia,
Tem de santa o corao.
Anninhas do serto ;
Desabrochou na floresta;
Florinha tenra e modesta
Que desfolhei em boto.
XIBIVA
(Parodia a ^adamatifo)
Um charuto perfumoso,
Fumaa azul, cinza branca,
E' idyllio delicioso
Que as minhas maguas espanca.
BRASILIANA DIGITAL