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Vidas Dos Santos - 17

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I

{N
VIDAS
D()S

SAI\TOS
.1.r\ ,,7,^^
I

Padre Rohrbacher

-_ r'l
AVISO AO LEITOR:
I
I
Os nomes de Santos acompanhados do sina

(*) indicam biografias compiladas por Jannar


Moutinho Ribeiro, s quais constituem acrescen
mento necesrio obra do padre Rohrbacher.
PADRE ROHRBCHER

VIDAS
DOS
SA,.NTOS
EDIO ATUALIZADA POR

JANNART MOUTINHO RIBEIRO


SOB A UPEA,VISO DO

PROF. A. DELL NIN


(BACHARET, EM FILOSOFA)

VOLUME XVII

EDITR DAS AMRICS


Rua Visconde de Taunay, 866 Telefone: 51-0ggg
SO PAI'LO-
aixa Postal 4468
NIHIL OBSTT
Padre Antnio Charbel. S. D. B.
IMPRIMTUR
So Paulo, 10 de ]ulho de 1959
t PuLo RoLIM ToUREIRO
Bispo Auxiliar e Vigrio Geral

Proprlodado literrla o artfutica


EDITEA DAS AMBICA
\7idas dos Santos
Setembro
26., DIA DE SETEMBRO
SO NILO DA CALBRIA
So Nilo nasceu em Rossano, capital da Cal-
bria, e a nica cidade poupada pelos gregos, nos fins
do dcimo sculo, pois oi resto do pas fra devastado
pelas incurses dos sarracenos. A bela natureza do
menino foi cultivada pelo estudo; lia constantemente
as Escrituras Sagradas e sentia um praz'er singular
em acompanhar a vida dos Padr'e's, o que lhe inspirou
uma grande averso pelo vcio e pelas curiosidades
malss, assim como pelas palavras supersticiosas s'-
das contra acidentes de vrios tipos. Tendo perdido
os pais, perman,eceu sob a direo da irm mais velha,
tambm muito piedosa. Porm, o atingir a flor da
idade, atraiu a ateno de tdas as jovens por causa
de sua bela aparncia e de sua voz agradvel; por
sua vez, apaixon,c,u-se pela mais bonita dessas jovens,
embora fsse de humilde condio; e o primeiro fruto
da unio de ambos foi uma menina. Contudo, idia
da morte e dos suplcios eternos comeou a exit-lo
contrio, e seu arrependimento se tornou mais vivo
durante uma febr,e ardente que o acometeu.
: Certo dia, sem nada dizer a ningum, foi casa
de umas pessoas que lhe deviam dinheiro, e disse-
lhes lue enccntrara uma vinha muito bela e que
desejava adquir i-la. Recebeu a quantia de que podiam
10 PADR,E R,OHRBACIIER

dispor, e, no obstante ser prsa da febre, saiu da


cidade acompanhado por um monge chamado Greg-
rio, que _o_ conduziu ao seu mosteiro. Ao transpor
um rio, Nilc sentiu-se sbitamente curado, e inier-
pretou o fato como sinal evid,ente de gue aquela
yiag_eg era agradvel a Deus. Chegou ao moseiro
de Mercrio, onde, entre outras pssoas notveis,
errcontrou ]oo, Fantino e Zacarias. Surpreendeu-se
diante do aspecto gue apresentavam, da-pobr eza .de
seus hbitos, e o desejo de perfeio tornou-se mais
ardente. De seu lado, diante da cultura do jovem, da
doura de sua voz guando lia, e da agudeza d,o, seu
esprito, os Tonge_s imediatamente perceberam que
no apenas le realizaria grandes progressos na vir-
tude, mas gue seria til para a slrrafao de muitos.
Porm, algum tempo depois, chegaram vrias
cartas cheias de amaas, enviadas pelo governador
da provncia; dizia nelas que se algum se atrevesse
a pr as mcs no jovem Nilo, teria o pulso cortado,
e gue o mosteiro seria confiscado. Diante disso, os
superiores resolveram envi-lo para outro mosteiro,
a fim de que I recebesse o santo hbito; e Nilo deci-
diu-se a ingressar l1,cr mosteiro de So Nazrio.
Quando para l se dirigia, encontrou-s,e com um
sarraceno que lle perguntou quem era, de onde vinha,
e para onde ia. Nilo contou-lhe a verdade, simples-
mente, e o sarraceno ficou surprso ao inteirr-se d
resoluo que tcmara, sendo to jovem, pois ainda
no completara trinta anos e usava roupas seculares,
muito ricas. Observou-lhe: "Deverias esperar a
velhice_par9 ingressares na vida monstica, se quo
assim decidiste". Respondeu Nilo: "Deus no guer
que sejamos bons por necessidadl um velho no tem
mais fras para servi-lor ssim ccmo tambm no

t
VIDAS DOS SANTOS 11

as em para empunhar armas pelo seu prncip'e. Quero


servir a Deus na minha juventude, a fim de que le
proteja a minha velhice". Impress,ionado com essas
palavras, o sarraceno indicou-lhe o caminho e dei-
Xou-o, abenoando,-o e animando-o a realizar seu
ob;etivo. Nilo foi prsa do temor, imaginando o
perigo a gue se furtad, ?, seu mdo aum,entou quando
c,trviu o sarraceno retroceder e correr em sua direo,
gritando gue o esperasse. Quando s e o alcanou,
porm, apenas lhe ,entregou alguns pes muito bran-
qos, gue trouxera consigo ao ver gue Nilo no dispu-
nha de provises, desculpando-se por no ter nada
melhor para ofer,ecer; e, ao mesmo tempo, ceosurou-
Ihe o temor ,e o mau juizo gue dle f.izera.
Ao chegar s proximidades do mosteiro, or inimigo
dos bons apareceu a Nilo sob a forma de um cavaleiro,
a fim de dissuadi-lo de entrar, e falou-lhe muito mal
dos monges, dizendo gue eram avarentos, vaido,sos
e glutes. "M,eu cavalo caberia inteiro num dos cal-
deires da cozinha." Nilo tentou contest-lo; mas o
demnio fugiu, assim gue le abriu 'a bca, sem
escut-lo, e o jovem , f.azendo de quando em guando
o sinal da ctJz, finalm,ente entrou no Mosteiro de
So Nazrio. O abade e os monges receberarr-ro
com grande caridade, e vendo gu,e yornuda o f.ati-
gara, ofereceram-lhe peixe e vinho; mas Nilo conten-
tou-se com o po e gua. Pediu-lhes gue lhe dessem o
habito monstico sob a condio, ,entretanto, de que,
decorridos guarenta dias, le retornaria ao convento
onde aneriormente fra recebido. O abade mostrou
o desejo de dar-lhe, logo que se tornasse monge, a
direo de outro mosteiro, mas Nilo achou muito
estranha aguela pro,post a e f.z ento o voto de nunca
aceitar a menor dignidade.
I t2 P D R, E . R-OH R, B A.CII E R

Transcorrido o tempo combinado, Nilo regressou


ao Mcsteiro de Mercrio, onde os padres o acolheram
jilosamente, em particular Fantino, com o gual o
ligou slida amizade. Pouco tempo depois, f oo,
superior de todos os mosteirc,s, ouvindo falar do jovem
monge, resolveu submeter-lhe a obedincia prova,
de vrias maneiras; e. como ficasse muito satisfeito,
reteve-o a seu lado durant,e algum tempo. Em se-
guida, com o cc,nsentimento dos padres, Nilo reti'
fou-e para uma caverna, junto ao mosteiro, na gual
havia um altar dedicado a So Miguel. E imps-se
as seguintes regras de vida: De manh, at tra,
ocupava-s col escrever, pois escrevia bem e depressa.
Da tra sexta, permanecia diante da cLtz, {eci-
tando o saltrio e estudando a Sagrada Escritura e os
Padres. Depois de dizer a nona e as vsperas, saa
da cela para passear e descansar, sem contudo afas-
tar-se de Deus, a guem considerava atravs de suas
criaturas, meditando alguns trechos dos Padres.
Depois do pr do sol, sentava-se mesa e comia po
sco ou ervas cozidas, sem po ou frutas, de acrdo
com a estao. Sua mesa era uma grande pedra, e
seu prato um pedao de argila; s bebia gua e assim
mesmo, moderadamente. Experimentou tdas s rl-
neiras de viver referidas pelos antigos autor'es. Assim
sendo, chegou a passar vinte dias comendo apenas
duas vzes, experincia gue repetiu trs vzes. Du-
rante um ano, s bebeu gua uma vez po ms, embora
s comesse po sco; mas abandcnou sse sistema
para evitar gue seus pulmes secassem, pois a sde
p.rrat o incmodava durante os oito primeiros- dias.
Contudo, muitas vz,es passava a guaresma sem,bebdr
nem comer, nicamente recebendo a santa comunho.
no,ite, concedia uma hora ao sono Por causa da
VID'A DO SANTOS 13

digesto, effi seguida, recitava o saltrio, azendo


guinhentas genufl,exes, depois dizia as preces, das
noturnas s matinas; persuadira-se de gue um eremita
devia f.azer um nmero muito maior de exerccios de
piedade do que os monges gue vivem em comunidade.
Seu hbito era um saco de pele de cabra, gue usava
durante um ano inteiro, e tinha corno cinto um'a corda,
que s tirava uma vez pot ano, sofr'endo pacientemente
as picadas dos insetos. No possua cama, nem
cad,eira, nem canastra, nem saco; seu tinteiro consti-
tuia num pouco de cra colada na madeira. A tal
ponto chegava o seu amor pela pobreza.
Um dos frades lhe pediu permisso para perma-
necer na sua compnhia e, tendo-a obtido com muita
dificuldade, disse-lhe: "Meu pai, tenho trs moedas
de prata, gue farei com elas?" Nilo respondeu-lhe:
"Dai-as aos pobres e s consenrai vosso saltrio".
O frade obedeceu-lhe; porm, d'epois de demor-se
com o santo homem durante algum tempo, aborre-
c,eu-se com a vida austera que levavam e co,meou a
procurar pretexto,s para encolerizar o companh,eiro.
Nilo observou-lhe pacientemente: "Meu irmo, o
Senhor chamou-nos na paz. Se vos impossvel
suportar mais tempo a minha presena, ide em paz
par?.onde vos aprouver; pois vejo que nc, conseguis
despojar-vos da ambio, e do desejo do sacerdcio".
O outro respondeu-lhe, tomado d,e clera: "Resti-
tu-me as trs moedas de prata e irei embcra. Por que
me mandast,e d-las aos pobres?" Nilo assim lhe
fatou : " Meu irmo, escrevei num pedao de papel
que ser eu quem receber a recompensa no cu, e
colocai o papel no altar; imediatamente, devolverei
aS vossas moeds". Desejoso de ver como Nilo, que
nada possua, cumpriria aquela promess, o frade
t4 PADR,E ROIIR,BACHER,

obedeceu-lhe. De posse do papel, Nilo desceu at o


mosteiro de Castel e I pediu emprestadas trs moedas
de prata, gue entregou ao indigno monge. ste se
retirou, f.Cz o gue desejava, e morreu algum tempo
depois. Nilo, gue retornara caverna, escreveu trs
saltrios em doze dias e assim pagou a dvida.
Alguns anos depois, o bem-aventurado Fantino
caiu numa espcie de xtase, que pareceu scbrenatural
queles que lhe conheciam as virtudes; pois saa do
mosteiro e ia de um lado p'ara outro, desfazendo-se
em contnuas lamentaes a respeito de igrejas, los-
teiros e livr,o,s. Dizia que as igrejas estavam cheias
de burros e de mulas, que as profanavam com a sua
sujeira, que os mo,steiros tinham sido incendiados e
destrudos, os livros molhados e inutilizados, a ponto
de ningum mais t,er o gue ler. Quando encontrava
um dos irmos do mosteiro, chorava-o como a um
morto e diziai "Fui eu quem te matou, meu filho".
Enquanto assim falava, no consentia em permanecer
sob um teto. nem aceitava a comida de todos cs dias;
vagando pelos desertos, alimentava-se de ervas gres-
tes. |ulgaram que, tal outro ]eremias, predizia a
invaso dos sarracenos, gue assolaram a regio algum
tempo depois, ou ento, a decadncia dos mosteiros
e o relaxamento da disciplina. Muito consternado por
ver o abade Fantino em semelhantes condies, Nilo
ps-se a acompanh-Io, esforando-se por cc,rvel-
c-lo a regressar ao moseiro; Fantino, porm, sse-
gurou-lhe que no voltaria, e que morreria em cho
estrangeiro. Com efeito, levando consigo dois de
seus discpulos, Vital e Nicforo, dirigiu-se paa o
Peloponeso, demorou-se longamente em Corinto, onde
logrou obter a salvao, de muitas pessoas, visitou a
Igreia da Santa Virgem, en Atenas, foi a Larissa,

VIDA DO ANTOS 15

permaneceu durante doze anos em Tessalnica, cidade


em que se tornou famoso por suas virtudes e seus
milagres e, f inalmente, foi morrer, em adiantada
velhice, em Constantinopla. Gregos e latinos Vefle-
ram-lhe a memria no dia 30 de agstc'. ( 1 )
Tendc Nilo retornado caverna, os padres do
mosteiro de Fantino vieram pedir-lhe que lhes el'egesse
um prior pois o conheciam bastante para no ousar
propor-lhe c, cargo. Nilo entrou no mosteiro e reuniu
a comunidade na igreja; porm, depois da prece,
Lucas, irmo de Fantino, agarou-se aos ps de Nilo,
conjurando-o, em nome da Santssima Trindade, e de
tudo guanto havia de mais sagrado, a aceitar o cgor
de prior da congregao. Nilo dirigiu aquelas lrles-
mas exortaes a Lucas e .z com que o elegessem
prior; pois, embora no tivesse um grande conheci-
mento das Sagradas Escrituras, no lhe faltava o
dom da direo, alm de grandes virtudes. Foi assim
que Nilo se evadiu a ,essa grande tentao.
Quando ainda permanecia na saverna, foi pro-
curado por um discpulo chamado Estvo, homem
de grande simplicidade, mas dotado em altc, grau de
pacincia e obedincia. Havendo os sarracenos errado
durante um ano pela Calbria, espalhou-se a notcia
de que tambm iriam ao canto de Mercrio, e que
no poupariam mosteiros, nem mong,es. Estes se
reftrgiaram rcs castelos mais prximos, e Estvo,
que se encontrava no mosteiro de So Fantino, corrl-
panhou-os, e no teve tempo para regressar caverla.
O prprio Nilo, avistando a poeira gue assinalava a
aproximao dos inimigos, nfo quis tentar a Deus e
ocultou-se num lugar afastado; no dia seguinte, retor-
(1) Acta SS., 30 ug.

!
16 PADRE FOIIR,BAC.IIER
-
nou caverna e verificou gue dela haviam os srce-
nos carregado o seu cilcio sobressalente. Tendo
descido, at o mosteiro, pde ver gue tudo fra depre-
dado; acreditando gue houvessem levado Estvo,
resolveu tornar-se escravo, como le o seria; soube,
porm, que seu discpulo fugira com os monges. Aps
a passagem dos sarraseno,s, Nilo e Estvo voltaram
para a caverna e retomaram a antiga maneira de
viver.
Algum tempo depois, tendo Nilo enviado Estvo
a Rossana para comprar pergaminho, ste voltou
acompanhado por um velho chamado |o,rge; uma das
pessoas mais importantes da cidade, gue acr,editava
ter sido chamado por Deus vida solitria; ofereci-se
a Nilo para azer o que ste guisesse. Respondeu-lhe
Nilo: "No, meu irmo, no por sermos virtuosos
gue permanecemos neste deserto; mas porgue no
conseguimos suportar as regras da vida em comum nos
separamos dos homens, como se fssemos lepro,sos.
Fazeis bem em desejar a vossa salvao; ide, pois, a
gualguer comunidad,e, onde encontrareis repouso pera
a alma e para o corpo". |orge, porm, continuou firme
na sua idia, e no consentiu em deixar o santo, gue
lhe dedicou uma afeio ilial.
Enfim, como os sarracenos retornavam de guando
em quando gu,eles lugares e como a caverna ficava
no caminho, Nilo e seus discpulos acharam gue no
lhes seria possvel l permanecer. Instalarrl-se effi
Ross'ana, eflt terras pertencentes ao santo, e nas quais
havia uma capela dedicada a Santo Adriano. Apa-
receram-lhe ainda alguns discpulos e, com o correr
do tempo, stes chegaram a somar doze ou mais, de
maneira gue o lugar se transformou em mosteiro.
Viviam na vizinhana dois frades gue, tomados de

U
VIDAS DOS SANTOS 77

inveja, com,earam a difamar So Nilo e a cham-lo


de hipOcrita e impostr; ste, por+m, s s.e defendeu
abenoando-o,s e elogiando-os. Certo dia, em .gue o
haviam grandemente maltratado, foi procur-los en-
quanto comiam, ps-se de joelhos e pediu-lhes perdo.
Enfim, to bem soube conquist-lo,s gue o mais velho,
eo mc,rrer, doou-lhe todos os seus bgns, e .recotrlr-
dou-lhe seu irmo.
Sao Nilo no consentia em gue seu mosteiro
possusse gualguer coisa alm do estritamente lcs-
srio, diz'endo gue o suprfluo no passava de ava-
eza. Havendo trs d,c,s seus monges comido fora
de casa, assim lhes falou: "Sois meus escravos para
esconder-vos de mim? Sois meus irmos, nosso po
vosso trabalho, e ningum vos obriga a f.azer nada
contra a vontade". Embora a comunidade se tivesse
ampliado, nunca consentiu em usar o ttulo de abade
ou hegumeno, a fim de melhor observar o preceito do
Evangelho, no se considerando superior; mas deu o
ttulo de abade a outros, dos quais o primeiro foi
Proclo, homem com grande conhecimento do,s autores
sagrados e profanos, e gue deixo,u vrias obras.
Havendo um grande tremor de terra abalado a
Campnia e a Calbria, guase destruindo a cidade
de Ross an:a, So Nilo f.z guesto de verificar com
os prprios olhos o desastre sofrido por sua cidade
natal; para disfarar-se, envolveu a cabea numa pele
de rapsa gue encontrara no caminho, e ps ao ombro
a sua capa prsa ao, cajado. Algumas crianas qti-
raram-lhe pedras, gritando : , "Monge blgaro!"
Outras o chamaram de franco ou d,e armnio. noite,
depois de retomar o seu aspecto habitual, entrou nur.na
grande igreja para orar Santa Virgem, e foi eco-
nhecido por alguns sacerd,ces, gue se lhri atiraram

,h
18 PADRE ROIIIIBACIIER,

aos ps, muito admirados com a sua presena. Depois


de anim-los com palavras piedosas, Nilo demorou-se
na companhia de um dles, chamado Caniscas, de
quem fra discpulo, exortando-o a abandonar o
mundo, pois sempre levara uma vida pura; porm,
no conseguiu persuadi-lo, pois Caniscas era domi-
nado pela avareza, e morreu algum tempo depois,
intilmente arrependido por no haver escutad,o, o
santo.
Muitas vzes Nilo refletia sbre a Joura da
solido, e o desprendimento da pobreza, sem cuidados,
como sem bens, e achava que, se vivesse na corp-
nhia dos outros monges, longe de adiantar-se no
caminho da virtude, nle retrocederia; at, mesmo a
conversa dos irmos lhe pesava, pois o desviava da
contemplao e do trabalho interior. A tais pensa-
mentos, opunha ,o preceito dos apstolos: "Que nin-
gum procure a sua convenincia, mas a dos outros,
se guiser salvar-se". Resolveu, pois, experimentar
seus discpulos, dando-lhes alguma ordem desarra-
zoada: se a ela obedecessem sem ponder-la, tomaria
a resoluo de permanecer em sompanhia dles. Um
dia, depois do ofcio da manh, ordenou-lhes: "Meus
irmos, plantamos demasiadas vinhas, e pur Y-
eza possuir mais do que o necessrio, por isso ide
cortar uma parte delas". Todos lhe obedeceram e,
colocando o machado ao ombro, Nilo conduziu-os
junto mais bela das vinhas, a gue mais produzia.
Todos o acompanharam e puserarl-se a trabalhar, da
manh tra. Ento, ciente da obedincia dos dis-
cpulos, Nilo prom,eteu a Deus gue no os deixaria
tnguanto vivesse. Mas os rumores daguela gxpe-
rincia ,espalharl-sr de um lado at o monte Atos,
e do outio 'at a Siclia, e colno ningum lhe alcan-


VIDAS DO ANTOS 19

asse o significado, interpretavam-no de diversas


maneiras.
Certo dia, como Nilo se encontrasse um
pouco indisposto, em Ro,ssana, Teofilacte, metropoli-
tano da Calbria, e Leo, ,o,ficial da guarda imperial,
arnbos vares de inteligncia e cultura, foram visit-lo
em companhia de magistrados, de sacerdotes, e de
uma poro de gente, na inteno de fazer-lhe algu-
mas perguntas sbre as Escrituras, mais para p-lo
prova do gue no des,ejo de se instrurem. O santo,
que leu em seus coraes, pediu a |esus Cristo, a graa
de pensar e de falar de'maneira adequada. Trocados
os cumprimentos, os visitantes sentaram-se e Nilo
entregou ao oficial um livro que tinha nas mos, da
autoria de So Simo da Antioquia, apontando-lhe
leitura a seguinte sentena: "Em dez mil almas, aipe.-
nas uma se engo,ntra, nos tempos atuais, gue tenha
sado das mos dos anjos". Ao ouvirem essas pala-
vras, todos os presentes puseram-se falar ao mesmo
tempo,: "No verdade! hertico quem afirmou
semelhante coisa! Ser em vo, pois, gue f,o,mos bati-
zados e que adoramos a cruzl gue comungamos e
somos chamados cristos!" So Nilo, vendo gue o
Metro,politano, e o oficial nada diziam aos gue assim
s_e expressavam, respondeu mansamente: "E que
direis, se vos demonstrar gue So Baslio, So Cris6s-
tomo, Santo Efraim, So Teodoro Estudita, o prprio
So Paulc, e o Evangelho dizem a mesma coisa? Deut
nada vos dare pelo que acabais de enumerar. No
ousareis incorrer em heresia, pois sereis lapidados
pelo povo; mas ficai sabendo qu,e, se no fordes vir-
tuosos e muito virtuosos, no evitar,eis as penas eter-
Ilas". Impressionados om gssas palayra, todos se
n PAERE ROHRBACE.ER

puseram a suspirar e a exclamar: "Pobres de ns,


pecadores gue somos!"
Nicolau, primeiro escudeiro, indagou: "Meu pai,
por que diz o Evangelho: Aqule que der um copo
d'gua, seja a guem fr, no ficar sem recompensa?"
Nilo respondeu: "Essas palavras foram dirigidas
queles que nada pc,sseI, fim de gue ningum
possa desculpr-Se por no ter lenha para mandar
aguecer a gua. Mas vs, que tirais do pobre at
mesmo a gua f.ria, que [areis?" Nicolau conseryou-se
em silncio, e um terceiro observou: "Meu pai, gosta-
ria de saber se Salomo foi salvo ou ccndenado".
So Nilo, ciente espiritualmente de que se tratava de
um libertino, assim lhe respondeu: "E eu quereria
saber se sereis salvo ou condenado. Que importa a
vs ou a mim que Salomo o tenha sido? Em nc'ssa
inteno foi escrito: Quem olhar uma mulher e dese-
j-La, j cometeu o adultrio. Quanto a Salomo, no
referem as Escrituras que se tenha arrependido, como
aconteceu a Manasss".
Em seguida, ergueu-se um sacerdote e pergun-
tou: "Meu Dai, de que rvore Ado comeu o fruto
no paraso?" Nilo rq;gcndeu: "De uma maci,eira
selvagem". Todos se pirseram a rir e Nilo observou-
lhes: "No vos riais, pois a resposta est de acrdo
com a pergunta. Como dizer-vos o que as Escrituras
no revelaram? Em vez de preocupar-vos em como
fstes formados, em como fstes postos no paraso, ncs
preceitos que vos foram determinados e que no
observastes,'-nos motivos que Yoz f.izercm expulsar
do paraso e em como l podereis reentrar; em
vez de tudo isso, apenas indagais o nome de
uma rvre e, se chegardes a sab-lo, indaga-
reis como eram as taizes, as flhas, ou a casc'a, e
IIIDA DOS SANTOS 2L

se era grande ou peguena". Propostas algumas outras


perguntas, retirararn-se os visitantes, e o prprio
I\{etropolitano observou gue aqule monge ,era um
grande homem. O oficial Leo impressionu-se mais
vivamente. Tendo retornado com c, escudeiro Nico-
lau para ouvirem o santo discorrer, ambos se deitaram
na relva e divertiram-se colocando na cabea um
capuz de monge gue encontraram ao alcance das
mos. Nilo,, que da sua cela via-os rir da brincadeira,
disse-lhes com voz severa i "Ainda havereis de pedir
com insistncia o objeto de gue zombais para cobrir
a cabea e no o obtereis". Imediatamente o oficial
Leo acometidc, por violenta dor de cabea, volta,
deita-se, chama um sacerdote gue, ao chegar, i o
encontra morto.
Euprxio, gowernador da Calbria, passou por
experincia semelhante, mas gue se encerrou .de p1t3,-
neira mais .eliz. Havia undado em Rossana .um
mosteiro de mulheres; ste caira em decadncia na
gcasq_o_ em gue E-uprxio regressara a Constantino,pla.
So Nilo tratou de restaur-lo. Contudo, pessoas mal
intencionadas foram dizer ao governador que Nilo
pilhara o mosteiro e, em conseqncia, Euprxio
escrevera ao santo cartas cheias de ameaas. Tendo
regressado Calbria, pgmposamente, todos os prio-
res da.provncia, levando presentes, foram cupri-
-
ment-lo e coloc.r-se sob a sua proteo. Nilo foi
o nico a abster-se e a permanecer sossegado no seu
mo.steiro, pedindo a Deus pela salvao o gorre rta.-
-ainda
dor. sse procedim'ento mais aumentou a
indignao de Euprxio, gue procurava meios de
extern-la. contudo, apareceu-lhe uma lcera gue o
atormentc,u durante trs anos e lhe corroeu as partes
secretas do corpo com dolorosa inf,eco. Reconheceu

L*.
22 PADR,E ROTIR,BACIIER

que estava sendo castigado p,elas clissipaes, repeo-


eu-se dos arrebatamntos contra o santo abade, e
mandou pedir-lhe que o fsse ver e dar-lhe a bno.
O santo monge .2-se rogar durante muito tempo, a
fim de, por sua vez, humilhar 9 governador, e s
depois d tres anos, quando soube gue a doena j
h atacara as partes nobres, que foi visit-lo.
Desfazendo-se em lgrimas, o governador bei-
jou-lhe os ps e, tendo-o Nilo erguido, confess'ou-lhe
iodos os pecados, e disse-lhe gqe f.izera o voto de
tornar-se monge. O santo resp'ondeu-lhe: "N4o igno-
rais que todos qules gue pec?ram depois do batismo
so obrigados, sem f.azer nenhum voto, a pratica a
penitnc; mas quanto a dar-vos um hbito. no posso
f.az-lo, pois no passo de simples monge, e no Pet-
teno a nenhuma ordem eclesistica. _Aqui se encontra
um Metropolitano, (era o de Santa Severina) aqui se
encc,ntram bispos e arqrdmandritas; s les podero
satisfazer o vsso desejr''. Contudo, tanto Euprxio
insistiu, gue le lhe cortou os cabelos com suas Pr-
prias mos e ve,stiu-lhe o habito monstico, td p?-
r"ru dc,s bispos e dos abades. O mdico gue-ali se
encontrava, e gua era judeu, apresentou-se e declarou:
"Assisti hoje a maravilhas tais como ouvamos contar
gue outrora aconteciam. \/i o profeta Daniel domes-
ticando lees. Pois ningum jamais ousc'u tocar sse
leo com as mos. O novo Daniel acaba de cortar-
lhe os cabelos e vestir-lhe o hbito monstico". Por
sua vez, o governado,r convidou o santo, os bispos e
os priores para comer, e le mesmo os serviu, to
orte ," ,"ia, embora havia trs anos no sasse da
cama. Em seguida, distribuiu entre os pobres, ou
legou s igrejai, tudo quanto pcssua; deu liberdade
a iodos oi,.r.ruvos, e morreu trs dias depois, cheio
VIDAS DO .SANTOS 29

de compuno e de esperana. Nomeara Nilo eXe-


cutor do seu testamento; mas o santo no guis incum-
bir-se de tantos negcios e deles encarre.gou o
Metropolitano.
Libertou vrios possessos, lrdando QU scer-
dotes os ungissem co,m leo, ou enviano-os aos
tmulos dos apstolos, em Roma; mas no consentiu
em f.azer sbre le's, com suas prprias mos, o sinal
d,a cruz. Embora lhe repugnasem a vista e o tumulto
do-mundo, n deixava, em sendo preciso, de inter-
ceder pelo povo junto aos magisrados, a fim de
salvar infelizes, vtimas de perseguio, e criminosos,
s vzes. E nessa inteno, no temia supcrtar a
fadiga dug caminhadas a p, e ,a inclemcia das
estaes. Vrios oficiais gue iam Italia ofereciam-
lhe grandes guantias de dinheiro, para a manuteno
da sua comunidade ou para or pbres; mas le es
dizia: "Meus irmos sero f.elizs, de acrdo com o
salmo, se viverem do trabalho de suas mos, e os
pobres gritaro contra vs, acusando-vo,s de reter o
que lhes pertence, ,e se admiraro de gue eu possa
t
dispor de tudo sem nada possuir".
Um eunuco do guart do Imperador pediu-lhe
qtre o fsse ver e disse-lhe: "No- tenho parentes e
possuo, muitos bens; resolvi d-los a Deu e fundar
um mosteiro. Acompanhai-me a Constantinopla, rece-
berei o santo hbito de vossa mo e, farei com gue
converseis familiarmente com o Imperador, tal como
o fazeis agora comigo". Nilo traou, como costu-
mava, o sinal da cruz no peito, e respondeu ao eunuco:
"Vosso desejo belo e- agradve[ a Deus, mas
no
.me convm deixar o deserto e os pobr,es gue sofrem
comigo para passear pelas cidades e incumbir-me de
negic,s, Por acaso, faltam em Constantinopla sron-
24 PADRE R,OHRBACIIER

gEs e abades gue possamdar o habito aos que desejam


deixar o mundo? se absolutamente f.azeis guesto de
receb-lo de minhas mos, vinde caminhar conosco
pelo caminho estreito gue escolhemos". Como o
eunuco insistisse em realizar seu desejo, o santo abade
deixou-o agradecendo a Dzus por hav-lo livrado de
mais uma cilada do inimigo.
- Tendo falecido o arcebispo de Rc'ssan'o,, todos
concordaram em que seria preciso surpreender o abade
Nilo e for-lo a ocupar o psto vago. Os magistrados
e as figuras mais importantes dc, clero, j se tinham
psto a caminho com essa finalidade; mas algum os
antecipou, julgando levar ao santo uma agradvel
notcia. ste agradeceu ao informante e at mesmo
mandou dar-lhe um pres,ente; mas refugiou-se col ulr
dos monges nc, recesso de uma montanh'a e to bem
se ocultou gue no conseguiram encontr-la. Depois
de o terem procurado por tda parte e permanecerem
espera durante muito tempo, os sacerdotes e os
magistradc,s, que tinham ido ao mosteiro, regressaram,
consternados, e foram obrigados a eleger outro 'c?-
bispo.
Algum tempo depois, tendo os s:arracenos feito
uma incurso pela Calbria, So Nilo refugiou-se n
frc,rtaleza com seus monges, com exceo de trs, que
haviam permanecido no mosteiro e foram feitos pri-
sioneiros e levados para a Siclia. So Nilo decidiu-
se a resgat-los; e depois de juntar cem moedas de
ouro das rendas do mosteiro, envicru-s Por um irmo
de confiana, numa mula que lhe fra oferecida,
acompanhadas por uma carta dirigida ao secretrio
do Emir, que era cristo piedoso. ste leu a carta
para o Emir, seu senhor, que admirou a sabed'ria e
virtude d,o santo abade; e, tendo mandado chamar
VIDAS DOS SANTOS 25

os monges, tratou-os com afabilidade e apenas cor-


sen/ou a mula como reeordao; mas devolveu o di-
nheiro e vrias peles de veado e incumbiu os reli-
giosos de levar uma carta, na qual dizia: "Se teus
monges fo,ram maltratados, a culpa foi tua; se te
tivesses dado a conhecer, eu te teria enviado um
salvo-conduto, de posse do gual no terias tido leces-
sidade de abandonar o mosteiro; se quiseres vir
minha ptria, poders estabelecer-te em gualquer
parte, e eu te tratarei com respeito e as devidas
honras" .
prevend,.r
Qu a calbria inteira seria devastada
pelos sarracenos, o santo homem resolveu deix-la;
mas no quis ir para o oriente, ro temor da alta
opinio em que 1 erc tido; pois a sua fama chegara
at aos imperadores. Preferiu, po,is, permanecer jnto
aos latinos', acreditando passar desapercebido; porm,
em tda parte era olhado como apostolo. Teno ido
a cpua, prn-
-foi recebido com muitas honras pel,o,
!ip9 Pandolfo, e as mais altas personalidaes da ci-
dade_queriam eleg-lo bispo; -lo-iam conseguido,
se o Prncipe no houvesse falecido. Mas chaaram
Aligerno, abade do Monte cassin,o,, e ordenaram-lhe
que desse ao santo abade um dos mosteiros subordi-
nados ao seu, tal como le o desejava.
Quando so Nilo foi visitar o fam,oso mosteiro
do Monte cassino, a comunidade inteira foi-lhe ao
encontro, o sop da montanha, os sacerdotes e os
diaonos com suas vestes de gala, como se fsss dia
de festa, e caegando crios e incensrios. o santo
curou-lhes as doenas corporais e espirituais, e louvou
a bela ordem e o mtodo da casa, que achou superior
dgl gregos. Em seguida, o abde Alig"rr, gue
tambm tinha fama -
dersantidade, e os ,,uIr consie-

tr*
26 PADR,E ROIIR,BACHER

rados entre os monges, conduzitatrt-no at o mosteiro


que lhe fra destindo, isto , a So Miguel do VaL
e-Luce, onde permaneceu durante quinze anos. O
abad,e e ,cs monges pediram-lhe que fsse com a sua
comunidade inteira ao mosteiro, a fim de la celebrar
o ofcio, ffi grego. A princpio, recusou-s Por humil-
dade, mas finalmente acedeu. Comps um hino em
honra de Sao Bento, festeiando-lhe os milagres; e,
depois de reunir a cc,munidade, que- se compunha de
-is de sessenta monges, subiu ao Monte Cassino e
l celebrou as viglias com um cntico muito harmo-
nioso; pois ensinara vrios monges a ler e a cantar com
perfeio.
Depois do c,[cio, todos os monges latinos, com
a permisso de seu prior, foram procur-lo e fizeram-
lhe vrias perguntas sbre os deveres dos monges e
sbre passagens das Escrituras e le lhes respondeu
em latim. Um dos monges indagou: "Se uma vez
no ano eu comer carne por condescendncia para
cc,m meu corpo, gue mal haver nisso?" So Nilo
respondeu-lhe: "Se gozardes de sade o ano inteiro
e uma unica vez cairdes e quebrardes a perna, que
mal haver nisso?" Tambm o interrogaram res-
peito do jejum do sbado. Respondeu: "Aqule
que comer no deve desprezar aqule gue no comer,
aqule que no comer nc, deve condenar aqule
que comer. Se nos censurardes por no jejuarmos
no sbado, acautelai-vos, para no investirdes contra
as colunas da Igreja, Santo Atansio, So Baslio,
So Gregrio, So Crisstomo, e os prprios conc-
Iios. Fa-zemos bem em no ieiuar no sbado para
nos opormos aos maniqueus, que nesse dia se morti-
ficam- por dio ao .Antigo Tstame1tA; glas no nos

fi ,l
VIDAS DOS SANTOS 27 I
absteremos de trabalhar, a fim de no nos srsle-
Iharmos aos judeus. Tambm tendes razo de jejuar
ness,e dia para vos preparardes para o domin go" . (2)
Era assim que so Nilo, com seus ensinamentos e
exemplos, santificava a Italia Meridional, e cimen-
tava a unio religiosa entre gregos e latinos. A sua
yldu f9i primorosamente traa por um de ,.u,
discpulos.
- D.pois de ter permanecido alguns anos nas ime-
diaes de Gaeta, So Nilo deix,c",u o mosteiro para
ir morrer perto de Rcma. Perdera Estvo, seu
querido discpulc, que lhe servia de modlo ou de
instrumento, se assim nosr fr permitido expressar,
para ccrrigir os outros. Pois se algum dc,rmia na
igreja enquanto pregava, dizia: "Dcerto Estvo
que est roncando!" e punha-o para fora. Muitas
vzes o f.izera levantar-se da *e. por estar comendo
de maneira inconveniente; en[im,' censurav-o por
tud'c, quanto os outros aziam, a fim de instru-ios,
exercitando ao mes,mo tempo a virtude de Estvo.
Sentiu imensamente a mort de seu discpulo . *"rr-
dou erigir-lhe um tmulo duplo, pois eseyava ser
enterrado a seu lado, quando *o"resr". Favendo,
porm, o Prncipe de Gaeta, que era muito piedoso e
tinha muita f nos mrritos de Sao Nilo, sido inteirado
da razo daquelg^ duplo sepulcro, observou aos gue
o rodeavam: "supondes - que guando sse p"r"
morrrer, permitirei que seja enterrado l, em vez de
transport-lo para a minha cidade, a fim de servir-lhe
de prote g?" Ao ter conhecimento das palavras do
Prncipe, So Nilo muito se aborreceu e ecidiu rnu-
dar-se para um lugar onde ningum o conhecesse;

(2) Acta ., 26 sept

\E
28 PADR,E ROHR,BACHEB

pois preferiria morrer miservelmente a ser conside-


iado sano por quem quer que fsse. Ao contrrio,
chegava a simular um gnio colrico e violento, a
p""to de esca ndalizar alguns ignorantes. Resolvido,
pois, a abandonar o Mosteiro de Serperis, onde P?-
manecera crca de dez anos, ps-se penosamente s
co,stas de um cavalo, pois se sentia fraco e velho, e
dirigiu-se para Roma. Como os rades se aligissem
ao v-lo partir, disse-lhes: , "Vou preparar um ffios-
teiro, onde reunirei todos meus filhos disperso".
Chegou a Tusculum, a doze milhas de Roma,
isto , quatro lguas, junc' a um pegueno mosteiro
de gregos, chamado Mosteiro de Santa gata. Esco-
lheu sse lugar para a sua ltima moradia e por mais
que tentassem f.az.-lo, nem os frades gue o corp-
nhavam, nem os grandes que vinham de Roma visi-
t-lo, conseguiram arranc-lo de l: em vo stes
ltimos o conjuravam a gue os acompanhasse, fsse
apenas por causa dos apstolos. Respondia-lhes:
"No sou digno de pronunciar o nome dos santos
apstolos; e, por menor que seja- a nosa , tambm
pde-os vener-los dagui". Gregrio, Conde de
Tusculum, famoso pela tirania e pelas injustias, mas
homem de esprito e de bom senso,- foi p.rocurar So
Nilo, atirou--lhe aos ps e disse-lhe: "Meus rlof-
mes pecados tornam-me indigno de receber sob o
meu teto um servidor de Deus, como sois,; contudo,
jt gue, a exemplo de vosso Mestre, me preferistes
aos-justos, pecdot gue sou, ponho ao vosso dispor
a minha .ur, minha cidade e tdas as minhas terras;
p"Ji tudo gue guiserdes". So Nilo pediuJhe .um
i.rgu, em que pu"tt" o-ra-r com sossgo, o guS de boa
,o"rtud" e foi concedido por Gregrio. Eram os
VIDAS DOS SANTOS -
restos da casa de campo gue pertencea a Ccero,
chamada Gruta de Pedra.
Tendo chegado ao conhecimento dc,s frades que
tinham ficado no Mosteiro de Serperis que o padre
Nilo no mais retornaria, apanharam as capas, as
peles de carneiro, e as sobras do pequeno mobilirio
e dirigirr-se ao, Iugar designado para o novo rros-
teiro, isto , Gruta de Pedra. So Nilo, disso
informado, alegrou-se e mandou dizer-lhes: " bas,
tante, meus irrnos, que tenhais tomado o trabalho
de chegar a sse lugar por amor de mim; permanecei
'ai at que eu v ao vosso encontro". Efetivamente,
preparav-se paa ir a p a Santa gata, situada a
trs milhas de distancia, guando sentiu aproximr-se
o fim. Chamou os irmos que o tinham acompanhador,
assim como Paulo, a quem de,s'ignara, havia muito
tempo, como superior da comunidade; repartiu entre
les os andrajos, nico bem que possua, e pediu-lhes
que lhes ministrassem ,g6 sartos sacramentos. Depois,
diss,e-lhes: "Peo-vos que quando eu morrer no
demor,eis em recobrir meu corpo de tertai no me
enterreis numa igreja, e no construais no meu tmulo
abbada ou qualquer outra decorao" . Deu-lhes a
bno e depc'is se estendeu na cama, onde peffi-
neceu dois dias sem falar, nem abrir os olhos; apenas
parecia eza, pois a lbios se moviam, e le aza o
sinal da cruz com a mo direita.
Tendo sido o Conde Gregrio informado de
que o mornge es,tava nas ltimas, acorreu , ttazendo
consigo um excelente mdico. Desfeito em lgrimas,
atirou-se sbre o santo-moribundo, dizendo: "Meu
pai, meu pai, por gue nos abandonais to cedo? Assim
.azeis por terdes horror crs nossos pecados". E,
beijando-lhe as mos, acrescentou; "No impeais

\J
30 PADRE R,OHR,BACHER

que u beije vossas mos, como j .izestes, dizendo:


"No sou bispo, nem sacerdote, nem dicono, no
passo de um pobre padre grego". Assim falando,
Gregrio derramava tantas lgrimas que arrancava
outras aos assistentes. Os mdicos, apalpando o
pulso do santo, asseguravam que no tinha febre, nem
outro indcio de morte.
Depois de se terem os visitantes retirado e, ao
chegar a hora das vsperas, rescrlveram os frades
levar o santo igreja; pois era dia de So |oo, o
Evangelista, fes,ta que os gregos celebram no dia
vinte e seis de setembro; e sabiam quo devoto era
Nilo em relao s festas dos santos; tambm _co,s-
tumava dizer que um monge devia morrer na igreja.
Tendo sido recitado o ofcio das vsperas, e tendo-se
o sol deitado, o santo expirou. Cc,rria o ano de 1005.
Os monges passaram a noite inteira cantando salmos
e oraes f nebres; de manh, carregaram o leito
onde jazia o corpo e transportaram-lo, entre crios
e incenso, at o lugar onde os outros irmos o espe-
ravam, isto , Gruta de Pedra. O encontro dos
dois srupos de monges reavivou a dor geral; e o
Conde Gregrio, seguido pelos moradores do lugar,
que tinham acorrido, acompanhou o cortejo, chorando.
A comunidade inteira, tendo frente o abade Paulo,
permaneceu junto ao tmulo de So Nilo, trabalhan-
do com as mos e ganhando penosamente a vida, em
vlrtude da pobr eza do lugar. E o mosteiro, que ainda
subsiste, e que continua a ser ocupad'o, por monges
gregos, no tardou a tornar-se famoso. A Igrefa
cultua a memria de So Nilo no dia da sua morte.

+++

I
SO CIPRIANO E SANTA
JUSTTNA (*)
Mrtires
(poca Incerta)
Da Conuerso de So Cipano podemos, rsu-
mindo-a, dizer que, guando o dico,no Prailio pregava
em Antioquia, uma jovem, chamada ]usta, punha-se
atentamente a ouvi-lo discorrer sbre os mistrios
cristos, da janela de sua casa. Profundamente emo-
ci,o,nada, tocada no fundo do corao pelos ensina-
mentos do diacono, Justa, um dia, falou me sbre
o que costumava ouvir.
CledOni d, d me, levou o caso ao conhecimento
do marido, Edsio, que, serr saber que atitude tomar
contra a filha, ficou a matutar naquilo que a espsa
lhe diss era, ate altas horas da noite, sem se deidir.
Seno quando, eis que Nosso Senhor, p?-
cend,c,-lhe, disse:
Vinde a mim, e dar-vos-ei o reino dos cus!
Edsio, impressiorado, assim que amanheceu,
tomou a esps a e a filha e foi apresentar-se ao di-
cono.
Prailio, incontinenti, levou-os ao bispo Optato,
e os trs foram batizados. A Edsio, que era padre
32 PADR,E R,OHR,BACHER,

dos dolos, o prelado conferiu o sacerdote. Dezoio


meses mais tarde, o pai de ]usta morria.
A jovem, assiduamente, freqentava a igreja.
Ora, Aglaida, o Escolstico, enamorou-se dela e p-
diu-a em casamento. |usta, porm, que desejava
permanecer na virgindade, p,orque julgava que La,-
quele estado agradaria mais a Deus, recusou-se a
aceitar Aglaida como espso.
Foi assim que Cipriano apareceu em cena. M-
gico, foi procurado pelo preterido, para que, com as
artes que conhecia, conseguisse atrair a jovem |usta
para si.
Cipriano invoccu ur demnio, que lhe deu uma
poo para ser espalhada ao redor da casa da virgem
filha de Clednia. Aquilo seria infalvel, e levaria a
jovem a apaixorl-se por Aglaida.
Ora, aconteceu que |usta, ao sair para ir igreja,
assim que ps um dos ps fora de casa, sentiu que
o demnio estava por perto: imediatamente f.ez o
sinal da cruz, sbre si mesma, depc,is sbre a casa, e
o diabo no teve outro recurso seno afastar-se e ir
falar a Cipriano do insucesso.
Cipriano, ento, invocou outro esprito do mal
mais poderoso, mas, tambm ste no obteve Qual-
quer resultado foi vencido coqro o primeiro o
fra.
Admirado, o mgico lanou mo do extremo:
invocou o pai dc,s demnios, o qual lhe prometeu gue,
dentro de seis dias, teria a Justa para o gue le
quisesse.
Apresentando-se a ela como uma jovem que
Nosso Senhor lhe enviara para viver a mesma vida
perfeita que levava, pouco depois, perguntava filha
de Edsio:

't
VIDA DOS SANTOS 33

Que recompensa esperas tu, guardando assim


a virgindade? No te vej,c, eu, porventura, exaurida
pelos jejuns?
A pena, respondeu |usta, e ligeira, recor-
pensa imensa.
E o demnio, sutilmente, tornou, cavilosamente:
No princpio, Deus abenoou Ado e Eva, e
disse-lhes: "Crescei, multiplicai-vos e enchei a
terra". Ora, pfece-me gue, se perseverarmos na
virgindade, desprezaremos, por isto, a palavra de
Deus, e acabaremc,s por ser tratadas como rebeldes
no julgamento.
]usta, dir-se-ia, perturt)ou-se. Mas, pensando
bem, acabou por se armar de coragem, orou fervoro-
samente e, f.azendo o sinal da cruz, soprou sbre o
demnicr, gue fugiu precipitadamente.
Depois gue o pai dc's demnios deixou Cipriano
ao par do sucedido, o mgico ficou longamente a
cismar sbre o poder gue tinha a cuz, que ultra-
passava o dos infernais. Ento, de fato, o Cruci ica-
do era mais poderoso'? Assim pensando, dEcidiu gue
jamais havia de ter parte com o demnio, e mandou-o
embora. Ora, o diabo no gueria, de forma alguma
privar-se daguela alma. E, num salto, tentou po-
derar-se do convertido. Cipriano', porm, fazendo o
sinal gue lhe salvara a alma, expulsou o maligno da
gua pr_esena. E, comodamente, foi procurar o
bispo Antmio, para gue lhe desse instrues sbre
a religio crist.
Passou assim, o X-rtrgico, a regentar a igreja,
onde oua atentamente as leituras e as homilis do
bispo.
PADRE R,OHR,BACHER

Um dia, depois que tudo terminou na igreja e


todos saram, oi o dicono Astrio f.ech-la guando
deu com Cipriano, num canto. Admirado, disse-lhe:
Cipriano, levanta-te e sai.
Tc,rnei-me servidor do Cristo, disse le hu-
mildemente, e tu me mandas sair?
O bispo, informado do caso, batizou o cate-
cmeno, emocionado. Oito dias depois', Cipriano era
feito leitor. Passados vinte e cinco, subdicono e
porteiro. Cinqenta dias mais tarde, era dicono e,
depois de um ano, tornava-se pdre. Decorridos seis
anos, sentindo-se oo fim, Antmio f-lo seu sucessor.
Bis,po, Cipriano elevou a virgem |usta a abads-
sa, mudando-lhe o nom e pata |ustina, e deu-lhe um
mosteiro a dirigir.
Desde gue se viu frente da diocese, Cipriano
primou por combater tda a sorte de heresias.

Quanto ao martri'cr de Sao Cipriano e de Santa


)ustina, diz-se que, ambos, presos por ordem do conde
do Oriente, Eutrmio, foram levados para Damasco.
Depois de longo interrogatrio, firmes na ., Cipria-
no ioi rasgadJom as unhas-de-ferro e |ustina chico-
teada com nervos de bois. H uma verso que nos
diz que os dois santos, sendo atirados numa caldeira
de azeite fervendo, nada sofreram
Enviados a Nicomdia, onde ento se encontrava
Diocleciano, oram condenados decapitao; tendo
depois, e intilmente, sido expostos s feras, os cor-
po;, recolhidos por marinheiros cristos, foram leva-

rl
VIDAS DOS SANTO
' dos pata Roma, onde foram sepultados. Diz-se gue
com Cipriano e |ustina foi decapitado um outro cris-
to, Teoctisto.
Diz o Resumo, ro martirolgio:
"Na Nicomdia, a morte dos santos mrtires
Cipriano e ]ustina, virgem. |ustina muito sofreu por
Nosso Senhor sob o imperador Diocleciano e o pe-
feito Eutrmio. Tend,o convertido Cipriano, o mgico,
gue se esforava, com suas artes, para perd-la, com
ela" sofreu o martrio. Os corpos foram expostos
s feras, mas marinheiros cristo,s, apoderando-se
deles noite, transportrrn-los para Roma. Mais
tarde, transferiram-os para a baslica Constanti-
niana, onde foram sepultados perto do batistrio (? ) "

I +++
so coLMAN (*)
Abade
So Colman foi abade de Lann Elo. Era ilho
de Bergna, um notvel no,bre, e sobrinho, por parte
de me, diz-sr-, de So Colomba.
Nascido em 555, foi educado pelo venervel
Coeman, e, admirado das rtudes do jovem,
enviou-o a outrOs abades "para gue se aCoStUmasse
com as regras e gnero de vida", bem como para gue
estudasse, com les, as .Escrituras.
Ordenado, fixou-se Colman, por algum tempo,
em Connor, depois passou Esccia, donde logo
retornou Irlanda, estelecendo-se em Lynally: ali,
fundou Lann Elo, e, em 611, faleceu, muito suave
e santamente, depois de vida austerssima.
Conta-se que, havendo no mosteiro um monge
obedientssimo, mereceu, do abade, o nome de Obe-
diente. Ora, ste Obediente faleceu um dia em gue
So Colman estava ausente. Quando o santo abade
retornc,u fundao, encontrou-o morto, de horas.
Como o amava muito, pela obedincia pronta e ser-
n, ordenou ao monge Obediente gue tornasse a
vida. Obediente obedeceu-o prontamente, e tornou
ao mundo do,s vivos.

I
VIDAS DO ANTOS 37

No mesmo dia, em Antioguia, So Teoctisto,


mrtir (poca incerta). ste o Teoctisto ue pEr-
rece no fim da Paixo de So Cipriano e Santa
fustina, e foi decapitado com os dois santos mrtires
que vimos no dia de hoje.
Na Inglaterra, So Malcan, abade, ro sculo
VII. Segundo alguns, foi ade-bispo em Pembro-
keshire, tendo ajudado So Brieuco e So Cadoc nos
trabalhos de missionrio. Para outros, fra um bardo
gauls, discpulo de Santo lltud. Curiosas so as
variantes gue lhe do ao nome: Maugan, Mawgan,
Mauchan, Mawan, Maugant, Meygan, Moygan,
Morgan, Migan, etc. A forma primitiva deve ser
fuIalcan ou Malcant.
Em Hersfeld, o hr-vnturado Meginardo,
de 1036 a 1059, mais ou menos.
abade beneditino
Em Milo, So ]oo de Meda, humilhado (poca
.
incerta ) Tudo obscuro nas origens da Ordem dos
Humilhado,s.
Em Salerno, Itlia do Sul, a bem-aventurada
Lcia de Caltagirona, da terceira ordem regular de
So Francisco, cujo culto parece ter sido autorizado
pelo papa Calisto III em 1456. Grande devota das
Cinco Chagas do Salvador, operou milagres. Um
o'sso do brao da bem-aventurada Lcia foi levado
para Caltagirona.
Em Girona, Espanha, o bem-aventurado Dal-
mcio Moner, dominicano, falecido em l34L De
grande humildade, dava tudo aguilo que possua.
famais usava habito novo. Quando lhe davam outro,
porgue o seu j se gastara extraordinriamente, f.azia
com gue outro gue no le o vestisse primeiro, para

1
ER

QUe ;e apresentasse mais usado, mais gasto. Viram-


f,o, por mais duma vez, quando orava, ser elvado
da terra. O zlo pela observncia era extremo.
Em Roma, So Calstrato e quarenta e nove
soldados, martirizados sob o Imperador Diocleciano.
Havendo stes visto Calstrato sair so e salvo do
fundo do mar, onde fra atirado dentrc, de um saco,
convertern-se a |esus Cristo e 'sofreram o martrio
com le. Santo Eusbio, Papa. Na Bolonha,
Santc, Eusbio, bispo,e confessor. Em Brscia. So
Viglio, bispo. Em Albano, So - Senador. Em
Tiferno, Santo Amncie, sacerdote, a guem Deus cor-
cedeu o dom dos milagres.

----

I
27.N DIA DE SETEMBRO

SANTO ELZERIO E SANTA DELFINA,


SUA ESPSA
Santo Elz,erio nasceu em 1295, no castelo de
Ansois, entre Apt e Aix. E com le nasceu a mise-
ricrdia: tinha apenas trs anos e, se via um po'bre,
olhava-o com pidade, recusav-se' a seguir adiante
e punha-se chorar at gue o mendigo tivesse recebido
,r-u esmola. Assim sendo, sempre que saa com le
do castelo, a ama levava consigo alguns pedaos de
po. Desde a idade de cinco anos repartia entr,e os '
pobres tudo quanto ganhava nas brincadeiras infan-
tis, ou adguiria em qualquer lugar. Fazia com que
convidatt- crianas para jantar em sua companhia,
sobretudo crianas pobres, com as quais brincava
algumas vzes. ss'es impulsos compassivos e cari-
dc,sos fcram crescendo com os anos; acompanha-
vl-oos tdas as virtud,es passveis de florescer numa
criana bem nascida e favorecida pelo cu. Era
modesto, meigo e educado para com todos, respeitoso
e obedente para com o,s pais, para ccm a governanta,
a piedc,sa amiga de sua me, Garsenda de Alphant,
para com s'eu preceptor, para com todc,s que tinham
alguma autoridade sbr,e le. Sua educao no deu
40 PADRE ROIII}BACHER,

trabalho a ningum; seu bom comportamento mais


parecia espontneo do que o resultado de advertncias.
Em seguida, fo,i confiado a seu tio, Guilherme de
Sabran, cura de So Vtor, ,m Marselha, gue nada
esgu,eceu de tudo guanto poderia formar-lhe o esprito
nas cincias, e o corao na piedade. Mas Elzerio
tinha, com relao cincia da salvao, l mestre
interior que o encaminhava para a virtude e o coo-
duzia pelos caminhos do cu. Ningum notava a
menor leviandade, a menor inconsiderao ou frivoli-
dade naguele jovem. Era prudente no falar, sensato
e circunspecto nos hbitos, srio e reservado na rn-
neira de proceder; contudo, mostrav-se sempre alegre
e agradvel, bem humorado, gualidade gue, aliadas
a um grande encanto fsico o tornavam guerido de
todos. Crescia em idade e em graa diante de Deus
e diante dos homens, e alimentava o projeto de ir
pregar a e entre os infiis, a fim de encontrar ocasio
de sofrer o martrio. Foram diferentes os desgnios
da Providncia. Tinha apenas dez anos, guando
Carlos III, rei de Npoles, Comde de Provena,
enrriou a seu pai uma ordem formal para cas-lo com
uma jovem d" casa de Glandv.r,' qr,. s contava
doze anos. Era digna dle, ainda mais pelas virtudes
do que pela nobreza do sangue ou a importncia da
famlia, uma das primeiras da Provena. Ficaram
noivc,s em Marselha, na presena do prprio rei,
embora ainda no se conhecessem, e no se tivessem
manifestado, em relao ao,s acontecim,entos de gue
participavam.
Delfina perdera os pais muito cedo, E. d,e Sinha,
Senhor de Ptry Miel, e Delfina de Barras. Ao
ouvir seus tios e tutores falaram em cas-la por causa
da grande fortuna gu herdara, corrt um jovem fidalgo,

_l
I
VIDAS DOS ANTOS 41

dos mais nobres e poderosos da Provena, sentiu-se


muito desgostosa, pois desejava conservr-se virgem,
tccada, como fra, pelo amor divino. Teria preferido,
pois, que seus castelos fssem incendiados, suas terras
devastadas e seus navios dispersados, para gue nunca
Ihe propusess,er um casamento carnal. Mais de uma
vez des ejaru ser cega para servir mais livremente a
Deus na sua virgindade. Quando cuidaram de cas-la
com o jovem Cnde de Sabran, resistiu o mais gue
pde. Mesmo em Marselha, no momento em gue
devia co,mparecer perante ,o rei, Delfina fugiu de
seu.c tios e tutores e escondeu-se nos fundos da casa
para recomendar sua virgindad,e, entre abundantes
lgrimas, a |esus Cristo ,e sua Santa Me, dizendo:
"Bendita Virgem, me de Nosso Senhor |esus Cristo,
se aprouver vossa maternal bondade que eu tenha
,orr bendito filho como ,espso, socoriei-tne nesta
hora em gue me vejo abandonada e destituda de
qualquer ajutrio humano". Depois de ter feito essa
orao, sentiu um grande conslo interior e obteve
que, em lugar do casamento que deveria ser realizado,
apenas o noivado fsse tratado.
Contudo, trs anos depois, o casamento foi sole-
nemente celebrado perante a Igreja, no dia de Santa
Agata, no castelo, de Pry Michel. Elzerio contava
treze anos de idade, e Delfina, quinze, Na primeira
noite em que ficaram ss no guarto nupcial, ela con-
tou confidencialmente ao jovem espso que s se
casara c,brigada por seus parentes ,e que seu maior
desejo era permanecer virgem por amor a Deus; que
p,edira essa graa Virgem Maria e ,esta lhe prome-
tera auxili-la. Se consentira em desposa r Elzefuio
fra porque, conhecendo-lhe a virtude e a piedade,
esperava no apenas gue no se opussse c, voto i

\_
42 PADR,E R,OHRBACHER,

pronunciado, mas tambm gue proced,esse da mesma


forma. Elzeria. a guem tal idia ainda no ocorera,
surpreendeu-se com aguela proposta; mas, sendo
m,eigo e complacente, respeito,u cr desejo da jovem
espsa e no lhe dirigiu uma nica palavra que pudesse
desagradar-lhe. Delfina passou a noite inteira sem
fechar os olhos, rogando continuamente a Deus, entre
lgrimas e suspiros, ge se dignasse proteger-lhe a
virgindade. Cons'eguiu do espso, com bcas palavras,
que passassem as trs primeiras noites de vida comum,
tal como o jovem Tobias e Sara, orando fervorosa-
mente a Deus. O quarto nupcial foi desde ento
transfcrmado em cap,ela.
Nesse prim,eiro ano, embora a sua pouca idade
o isentasse, Elzerio jejuou durante a quaresma
inteira. Alem disso obteve, por intermdio de uma
religiosa, parente da espsa, uma corda cheia de
ns, com a gual cingiu o corpo, a ponto, d'e feri-lo e
faz-lo sangrar. Tendo a religiosa reparado na pali-
dez do ro,sto do jovem conde, ameaou-o de contar
tudc, aos pais, caso no tirasse a corda; le consentiu
em faz.-lo, mas substituiu a corda por um cilcio.
Com a idade de quinz'e anos acompanhou o tio
paterno, o Cura de Marselha, ao castelo do tio
maerno, o Senho,r de Sault, onde, no dia da Assuno
da Santa Virgem, ur novo sacerdcte cantaria a
primeira missa e um nobre seri'a armado cavaleiro.
Elzerio assistiu, durante a noite, s matinas; em
seguida confessou os pecado,s e comungou devota-
mente missa como se guisesse preparar-se para
as graas extraordinrias gue Deus se dignaria a
conceder-lh,e nesse dia. No decorrer do banquete,
serviu as carnes, em honra a seus tios. Aps a r,efei-
o, guando por sua vez comia, o Esprito da graa
VIDAS DOS SANTO

sbitamente desceu sbre le e o rosto transfigurou-


se-lhe. ]ulgando gue estivesse com febre, os colr'-
panheiros levarrl-flo para o guarto. Assim gue se
viu szinho , Elzerio prosternou-se no cho, aban-
donando-se, tal como o esprito interior lhe sugeria.
Sentiu-se tocado por uma chama to viva do amor
dtvino gue a suu ha parecia fundir-se e transfor-
IIIEIT-se inteiramente em Deus, E ento Deus rn.os-
trou-lhe a brevidade desta vida precria, e guanto
o mundo despnezivel,em relao aos bens celestiais.
Elzerio concebeu to grande desprzo pelos bens
temporais, gue se lhe tivessem oferecido tdas as
riguezas dste mundo, nada teria aseito, mas tudo
desdenharia como se fsse ldo, to sedento estava
de Deus.
Divisava tambm, muito claramente, a misericr-
dla e a benevolncia divinas que o haviam impedido
at aqule dia d,e cair em gualguer espcie de pecado,
e a graa singular que lhe preservara a virgindade.
Resolveu, pois, gue dsse momento em diante no
mais se preocuparia com deixar herdeiros e coISer-
varia para sempre a virgindade, tal como a espsa o
exortava a f.azer. Comeou a reletir intensamene na
maneira de servir apenas a Deus. Assim meditando,
inflamado de 'arnor, ps-se a orar ervorosamente a
Deus, suplicando-ltr,e qu" lhe mostrasse como desejava
gue vivesse neste mundo. Seu desejo seria tudo aban-
donar e retirar-se para um deserto para servir a
Deus, ignorado de todos; mas uma voz interio,r o
aconselhou 'a no mudar de estado. Obletou sua
fragilidade, mas a voz r,espondeu; "Sei do gue sois
capaz, e suprirei o gue no fordes" . E,lzerio' saiu
dsse xtase, decidido a guardar para sempre a sua
virgindade, sem contudo f,azer voto de castidad,e. E,
I
44 PADRE ROHRBACHER,

extraordinria maravilha da graa divina, confirmada


por ambos os esposos, sentiarn-se, quando ss, mais
fortalecidos em suas santas resolues, do gue quando
se conservavam afastado,s um do outro.
Depois dsse primeiro xtase, Elzerio teve
vrios outros, nos guais o Senhor lhe fez ver, sem
vus, os principais mistrios da , os mistrio,s da
Trindade, da encarnao, da Redeno, assim como
as outras verdades do Simbolo; o gue o encheu de um
inefvel amor para com Deus, Vrias almas piedosas
conheceram, por revelao, a vida anglica e virginal
dos dois esposos.
Assim viveram durante sete anos no sastelo de
Ansois; Elzerio, porm, no conseguia gozar nesse
Itrgar a trangilidade de esprito pela qual ansiava,
em virtude das preocupaes e dos excessivo,s cuida-
dos de seu av e de todos seus parentes em relao
s coisas temporais, em cuja direo procuravam
arrast-lo. Ao co,mpletar nte anos, pediu e obteve,
depois de longas solicitaes, o direito de residir no
castelo de Puy Michel, gue-tinha de sua espsa. I
permaneceram durante trs anos,
Mudando de residncia, tambm mudaram para
melhor. O novo chefe de famlia organizou a casa
como se fsse uma ,espcie de mosteiro. Deu-lhe
uma regra com oito artigos. l.e Todos gue o se-r-
viam, tanto homens como mulheres, deveriam ouvir
diriamente a missa. 2.e Todos deveriam levar uma
vida casta e pura, e os gue com isso no se confor-
massem, seriam expulsos da casa. 3.e Os nobres e
os cavalheiros, as damas solteiras ou casadas, confes-
s-se-iam uma vez Wr semana, e comungariam devo-
tamente todos os meses. {.0 s damas ocuptlr-se-iam
VIDAS DOS SANTOS 48

durante a manh com oraes e atos de piedade ,e


devoo, at hora do j'antar, depois do qual se
dedicariam ao trabalho manual. 5.0 A ningum seria
permitido proferir blasfmias contra Deus, contra a
Santa Virgem, o contra os santos, nem jurar em
fals,o', levianamente, ou sem motivo, nem proferir
palavras desonestas; pois, segundo o Sbio, a vida
e a more estavam nas mos e na lngua; e as ms
palavras corrompiam os bons costumes, it afirmara
o Apstolo. Os transgressores dsse estatuto seriam
punidos da seguinte maneira: ho,ra do janta, set-
tar-se-iam no cho diante dos outros, s comendo
po e bebendo gua, ou ento seriam fechados no
quarto, ond,e apenas receberiam uma alimentao
frugal. 6.n Ninguem deveria jogar dados ou gual-
quer jgo ilcito ou desonesto. Os contraventores
seriam castigados com severidade. 7.n Todos os rneffi-
bros da famlia deveriam viver juntos em paz, amizade
e concrdia; jamais um dles deveria ofender o c,utro
com palavras ou aes; e quem agisse d,e maneira
contrria seria obrigado a reconciliar-se com o ofen-
dido. O Santo velava sbre a observao dsse
artigo com especial cuidado e punia o delinqente de
acrdo com a gravidade de sua falta. 8.n Todos os
dias, d,epois do jantsr, ou a qualguer outra hora da
tarde, a menos que algum motivo legtimo o impedisse,
os membrc,s da sua famlia conferenciariam iuntos,
estando le presente, sbre as palavras do Senhor,
para a maior edificao de suas almas. Nessa reunio,
enquanto um falasse, os outros rezariam intimamente
por le, a fim de que Deus lhe inspirasse palavras
proveitosas a todos. Ningum deveria interromper
de maneira alguma o gue estivesse falando. O trans-
gressor seria privado dagueles bons e devotos col-
46 PADRE R,OIIR,BACHER

guios at gue, arrependido, fsse chamado pelos


outros.
O prp rio Elzerio, com o rostor respland'e certe
de jbilo, proferia nessas reunies palavrat 4" fogo,
que irrompiam da prpria fone da divina sabedo'ria;
os ouvintes sentiam-se interiormente transformados,
tocadcs por s'antos desejos, e tornavaffi-s humildes e
tmidos; pois, como outro Tobias, Elzerio ensinava
famlia a temer a Deus e a se amar,em uns aos
outros, a conservarem os corpos puros e sem mcula.
Com referncia o,rao, dizia que o cristo deve
inici-la humilhando-s,e profundamente, pois a orao
de guem se humilha che ga at o cu.
Tendo seu confessor indagado, um dia, qual o
mtodo por le seguido na orao', e que santo esco-
lhera como especil padroeiro, respond,eu-lhe Elze'
rio: "Escolhi para minha advogada a gloriosa Virgem
Maria, e, ao prepata-ffi? paa a orao, antes de
tudc, considero a minha indignidade e a minha vileza,
e volto-me para a Me da Graa, suplicando-lhe
humildem,ente se digne coloca-le no meu corao e
na bca tudo quanto fr agradvel a ela e ao ben-
dito filho; ofereo-lhe, com todo o, fervor de que sou
capaz, uma Aue'-Matia'; recitada esta, jamais deixo
de encontrar novo assunto para as consideraes
divinas".
Na casa de Elzerio. assim dirigida, reinavam
a caridade, a devoo, a paz, a brandura, a plJeza,
de tal forma que, cc,m exceo do hbito, mais parecia
um verdadeir mosteiro, e uma vida religiosa, do que
a casa de um conde, e uma vida secular. Tanto que
a religiosa Alsia, irm de Delfina, afirmava que vivia
mais iantamente junto aos dois esposos do gue no
seu convento. Alm dc, mais, vrios cavalheiros da

,)
VIDAS DOS SANTOS 47

nobreza, e tambm outras pessoas, influenciados po,r


to belo exemplo , f.izeram o voto de guardar castidade
perptua, e muitos, at mesmo a pureza virginal.
Enfim, tendo-se espalhado a ama de como o Conde
Elzerio dirigia a sua casa, vrios outros fidalgos
comearam a viver e a organizar suas casas de acrdo
com agule modlo; entre outros, o Bispo de Dign,e,
Renaud de Procelets, primo do santo, e gue tambm
chamado de santo por alguns autores daguele tempo,
pediu-lhe o r,egulamento por le ,elaborado e tambm
obrigou sua familia a observ-lo.
Alem dsse regulamento domstico, tambm atri-
buem a Santo Elzeria um regulamento pblico para
os seus domnios, em dez artigos. l.n A nenhum de
meus sditos ser permitido blasfemar nos m,eus
domnios, s,eja de gue maneira fu pois, como os lou-
vores a Deus atraem sbre ns. seus favores e suas
graas, tambm os perjrios e as blasfmias, gue mais
se assemelham linguagem do inf,erno do gue dos
homens, atraem sbre ns os raios do cu, gue d,es-
graam nossos corpos e nossas almas , 2,n Pretendo
introduzir nas minhas terras a piedade para com a
Santa Me de Deus; em consegncia, determino,
gue todos meus sditos a escolham para padroeira;
pois, quando temos necessidade da misericrdia di-
vina, nada nos mais favorvel do gue recorrer a
essa rainha todo-poderosa, pedindo-lhe se digne
acc,lher-nos sob a sua proteo e gue sirva de refgio
a todos os pecadores. Probo expressamente, nos
dias de festas consagradas ao seu culto, gualquer
trabalho servil, e fao guesto de gue nesses dias
todos os meus sditos assistam missa e aos cfcios
dirrinos, sob pena de sofrerem os castigos impostos
pelos meus oficiais. 3.n Ordeno aos meus oficiais gue
PADRE BOHR,BACHER,

zelem para gue todos vivam castamente em minhas


terras, ,e paa gue delas expulsem os libertinos. Pois,
como nada impuro deve entrar no paraso, nada
impuro deve ser tolerado entre os cristos destinados
eterna glria. 4.0 Quero gue tdas as grandes estas
da Igreja, tais como a PscoI, o Pentecostes, Todos
os Santos e Natal, sejam rigorosa e solenemente cele-
bradas em meus domnios; todos confessaro seus
pecados nesses dias, ou pelo m,enos no deixaro
passar dois dles sem o azer.. O mesmo ordeno em
relao Assuno da Virgem, nossa Me, e
sua Anunciao, Er im de gue sempre nos favorea
neste mundo e hora da nossa morte nos assista
como advogada, obtendo-nos a graa de seu Filho.
5.e Probo o acesso de minha casa a todos os vadios
gue se recusem a trabalhar para ganhar a vida; e
para gue a distribuio do trigo gue costumo :azer
todos os anos, t inteno de socorrer os pobres, no
lhes seja motivo d,e preguia, e na expectativa dessa
esmola deixem de trabalhar para viver, probo expres-
samente a todos meus o,ficiais darem trigo aos que
abusarem dsse favor. Determino gue os abandonem
misria, no emor de gue possa favorecer a perdio
de suas almas pela ociosidade, no permitindo com
essa ddiva gue seus corpos peream pela o,me. 6.e
Probo todos os jogos de aza, as reunies nas guais
Deus ofendido com execrveis imprecaes, assim
como tdas as ocasies de rixa. No probo, co,ntudo,
gue se divirtam nos dias de festa, a fim de recrearem
os corpos atigados pelo trabalho; mas sses diverti-
mentos no devero acarretar proveito o,u prejuzo de
bens temporais, pois sses prejuizos s podero gerar
inimizades entre meus sditos. 7.o Desejo que todos
vivam em paz, e gue, para conseryar to bela virtude,
I
VIDA DO SANTS 49

evitem as rixas, as disputas e as injrias, rlis 'ade-


guadas aos demnios do gue a homens sensatos. 8.e
Em caso de desavenas, no guero gue o sol se ponha
sem que haja reconciliao; ste conselho do Evan-
gelho, gue nos recomenda no adormesermo,s na ini-
mizade, no temor de gue o inimigo comum a todos,
em permanente viglia, possa aproveitar a noite a
favor dos nosso,s arrebatamentos. 9.0 Ordeno expes-
sam,ente gue nos dias de festa de guarda, e nos outros
em gue houver sermo, todos os moradores vo
igreja para ouvir a palavra de Deus, verdadeiro ali-
mento de suas almas; se, durante o sermo, for,em
encontrados no lugar pessoas preguiosas, ou sem
religio, devero ser encarcerados e castigados por
negligenciarem a salvao de suas almas. 10.e Ne-
nhum de meus sditos deve prejudicar seu prximo,
no seu bem, ou na sua honrai e, sim, todos devero
respeitar-se uns aos outros, como verdad,eiros cristos,
honrados com o carter de Jesus Cristo pelo batismo,
e destinados a gozarem juntamente a felicidade
eterna. A sano mais eicaz a tdas essas regras
era o prprio exemplo daguele gue as impunha.
O pai de Elzerio faleceu crca do ano de I 309,
deixando-lhe o Condado de Ariano, na Itlia. e diver-
sas baronias na Provena. Elzerio tinha ento vinte
e trs anos. Fo,i ao reino de Npoles tomar p,osse
do condado paterno. Porm, rtr consegncia da
guerra entre sicilianos e franceses, os cidados de
Arian recusarrn.-se a receb-lo na cidade. Essa
rebelio durou trs anos. O Prncipe de Tarento,
filho de Carlos II, gue muito apreciava Elzerio',
ofereceu-s pr dominar os rebeldes pela [ra, rnr-
dando enforcar alguns, e mutilar outros. Elzerio,
porm, a isso se ops, observando: "Deus e a justia
50 P ADRE R OHR,BAC HER,

os vencero". Co,m ef,eito, os sditos insubmissos


acabaram pgr respeit-lo cortro senhor e am-lo
como pai.
Elzerio encontrou cartas escritas por certos
nobres a seu pai, guando ainda vivo, incitando-o
a deserdar o filho, alegando para isso uma poro
de razes baseadas em calnias. Leu essas cartas
em segrdo sua santa companheira, gue lhe pergun-
tou se pr,etendia mostr-las aos acusadores, a fim de
torn-los humildes e co,ntritos em face de crime to
grave. Respondeu-lhe: "Perdo-lhes plena e sincera-
mente; no pretendo mostrar-lhes estas cartas. Ao
contrrio, quero gue suponham gue tudo ignoro; pois,
se perceberem gue estou a par do seu procedimento,
seriam castigados: viveriam cheios de temor e, no
ntimo, sempre me considerariam suspeito". Assim
sendo, destruiu as cartas, sem gue nunca o fato che-
gasse ao co,nhecimento dos culpados. Ainda mais,
tendo, algum tempo depois, o principal forjador
daguelas calnias lh'e feito uma visita em companhia
de outros nobres, o Conde deu-lhe maiores demons-
traes de apreo do gue aos outros, admitiu-o n
sua intimidade, presenteou-o co,m suas prprias roupas
e testemunhou-lhe a vida inteira uma particular
amizade.
Tal era a sua mansuetude gue durante a da
inteira, jamais ninguruviu dar mostras d,e impacincia
ou de clera. Tanto assim gue Santa Delfina, e
lhe observava todos os atos, o interpelou um dia:
"Que espci.e de homem sois, gue nunca vos zangais
ou irritais contra os gue vos injuriam? Pareceis insen-
svel e, contudo, sois homem capaz de sofrer, e no
fizestes votos monsticos. Talvez no saibais ou no
po,ssais encoleriZr-voS. Que mal haveria se, de vez
VIDAS DOS SANTOS 51

em guando, vos mostrsseis indignado contra os gue


vos prejudic am?" Respondeu-lhe o santo homem:
"Delfina, para gue no,s zangarmos? a clera nada
resolve. Contudo, vou abrir-vos er fundo do meu
corao. Ficai ciente de ge, mais de uma vez, ao
ser atacado, comeo por revoltar-me intimamente;
porm, Iogo depois, ponho,-m,e a pensar nos ultrajes
que infligiram a )esus Cristo, e digo a mim mesmo:
"Ainda que teus prprios servos te arrancassem a
barba e te dessem bofetadas, ainda assim |esus Cristo
teria sofrido mais. E asseguro-vos, Delfina, que
nunca d,eixo de meditar nos ultrajes do, Salvador sem
que meu corao fique inteiramente apaziguado. E
Deus concede-re a graa singular de, ofendido, eu
amar meus adversrios com uma afeio igual, ou
mesmo maior, do que antes d,e er sido ofendido, e
assim e.ze, especialmente por les. Enfim, sei e cor-
fesso que mereo ofensas ainda maiores".
Tendo encontrado o condado ,e a baronia onera-
dos com uma poro de dividas e obrigaes, penhoro,u
uma parte das terras, a fim de que as rendas servis-
sem para pagar as dvidas. Disse nessa ocasio:
"Do,u-vos graas, Senhor, por me terdes, na vossa
prim,eira visita, d,espoiado inteiramente do amor ao
sculc, e aos bens terrestres; por vossa providncia,
possuo terras e heranas oneradas por tantas dvidas,
que nem mesmo dariam paze a um amante das
coisas do sculo".
Como a piedade sem justia v, sobretudo em
relao a um prncipe , Elzerio aliava uma outra;
no menos justo do, que misericordioso, aplicava a
justia a seus sditos, temperando-a com misericrdia.
Ordenava a seus oficiais que jamais se afastassem
das regras da justia nos julgamentos e nas sl-
I
52 PADR,E ROHR,BACHEIi,

ten.as. Repreendia com severidade os que se rtlo,s-


travam negligentes e chegava a substitu-los por
outros mais dignos. Perseguia enrgicamente os mal-
feitc,res pblicos e castigv-os de acrdo com os seus
crimes. Quando havia condenados morte, le
prprio os exortava a se reconciliarem com Deus
atravs da confisso de seus pecados, de maneira a
gue o suplcio lhes servisse de expiao. Quanto aos
gue eram condenados a multas pecunirias, costumava
dar-lhes a tra parte, ou mesmo a metade; se eram
pobres, dava-lhes a quantia inteira, secretamente,
porm, atravs de um intermedirio, a im d,e gue,
assim castigados, no perdessem o temor e se absti-
vessem de delitos do mesmo gnero. Em se tratando
dos bens dos condenados morte, destinados ao
fisco, entregav-os s espsas e aos filhos, secreta-
mente, e por algum intermedirio.
Quando o rei Roberto, e muito o estimava, o
armou cavalheiro, em Napo,les, Elzerio, de acrdo
com o costume, z 'a viglia de armas numa igreja,
cuja festa estava sendo celebrada. Passou a noite
inteira num xtase ininterrupto, entretendo-se com
Deus e com os anjos, e desfrutando inefveis alegrias.
Sobretudo sentiu um desejo mais intenso, do gue de
ordinrio de f.azer com sua santa espsa o voto de
virgindade, tal como o Esprito Santo o inspirara
vrias vzes. Escreveu, pois, a Delfina, pedindo-lhe
viesse encontr-lo juntamente com a dama Garsenda
d'Alphant. Ela veio, mas sem a Dama, que cara
doente. Elzerio contou-lhe que a chamara paa
que juntos fizessem o voto de virgindade; queria,
porm, pronunci-lo diante da Senhora d'Alphant,
que o educara desde a infncia com muito cuidado e
dedicao, e desejava ardentemente presenciar agule
T
VIDA DOS SANTs 53

ato. "lremos, pois, sua presena, i que ela no


pode vir at ns." Com efeito, tendo o,btido do rei
Roberto permisso para ausentar-se durante dois anos,
Elzerio e Delfina viajaram para a Provena.
Chegaram ao Castelo de Ansois no dia de Santa
Madalena, ouviram missa e comungaram; depois, diri-
giram-se para a casa da Senhora d'Alphant, gue se
encontrava muito doente, apenas acompanhados pela
religiosa Alsia, irm da Condssa, ,e o Cavaltreiro
Isnard, filho da Senhora d'Alphant. L, na presena
daquela piedosa senhora, f.izeram o vc,to da seguinte
maneira. De joelhos, com as mos pousadas no
missal, o Conde articulou as seguintes palavras:
"Senhc,r |esus Cristo, de guem prooedem todos os
bens e tcdcs os dons, eu, pecador, frgil e enfrmo,
sem vossa graa particular no posso conservar-rn,e
continente, nem casto; porm, confiante em vosso
particular auxlio, pro,meto, a vs, e gloriosa Virg,em
Maria, e a todos c.s santos, viv,er castmente durnte
tda a vida, e guardar a virgindade gue vossa cle-
mncia se dignou preservar-em mim at agora; para
cumprir esta promessa, estou pronto a sofrer tdas
as tribulaes e todos os contratempos, at mesmo
a morte temporal". Quando terminou de falar, a
-pblicamente o voto gue j pro-
Condssa renovou
nunciara em segrdo. O Cavalheiro Isnard tambm
f.ez voto semelhante. Ento, a Senhora d'Alphant,
sua me, exclamou: "Louvores, honra e glria a D,eus
Todo-Poderoso, que me permitiu assisdr guilo que
tanto desejava. Agora morrerei satisfeita; nada mis
desejo neste mundo. Senhor, recebei desde j vossa
serva, e que a vossa santa vontade se cumpra intei-
ramente em mim". Morreu algum tempo depois, e os
dois santos esposos tiveram a revelao da sua glria.
I ;

54 PADRE R,OHR,BACHER,

Tendo Santo Elzerio reto'rnado a Npoles,


transcorridos dois anos, o rei Roberto nomeoll-o P?-
ceptor de Carlos, seu ilho mais velho, Duque de C-al'
bria. O jovem prncipe tinha os de,eitos da sua idade
e, entre outras coisas, gostava de ouvir e de dizer pala-
vras frvolas e po,uco honestas. O Santo chamou-o
em particular e disse-lhe: "No convm a uma pessoa
de mportncia, e a um r,ei, ouvir e proferir palavras
frvolas e indecorosas; pois as ms palavraS Coffolll-
pem o,s bons costumes. Ao contrrio,, preciso que
a nobreza do sangue se assinale nobremente por
palavras honestas e costumes virtuosos". -O jovem
Duqre tirou proveitq da reprimenda: imediatamente
u- sprito de co,rdura desceu sbre le. Os corte-
sos diziam, admirados: "Monsenhor, o Dugue tor-
flou-se outro homem". E havia quem acrescentasse:
" Foi por ter o Conde de Arian conversado com l'e".
endo, o rei Roberto partido para o seu condado
da Provena, coube ao preceptor do prncipe real a
parte mais importante no govrno do reino. Dsse
momento em diante, os nobres e os grandes lhe teste-
munharam um respeito muito maior, e para inclin-lo
favorvelmente em relao aos seus negcios, ofere-
ciam-lhe presentes, ste ouro, agule pr,eciosos tecidos
de esca r.ate. Ejlzefuio recusou firmemente todos os
presentes. Um dia em gue, de regresso da crte, -se
recolhera ao seu guarto para orar, sbitam,ente excla-
mou: "senhor meu Deus! VOs me deveis no paraso
cem onas de ouro ,e duas peas de escarlate". Sua
cunhada, a religiosa Alasie, gue entrava por acaso,
indagou-lhe a slgnificao daguelas palavras. Res-
pondeu: "Eu poderia ter recebido sses presentes,
hoje mesmo, mas por' amor a Deus, recusei-me a
aceit-los".
VIDAS DOS SI\NTOS 55

As gueixas de grande nmero d,e pobres chega-


vam aos seus ouvidos; e no tardou a perceber que
os negcios com les relacionados dormiam na crte.
Foi prccurar o Dugu,e, e pediu-lhe gue o encarregasse
dos negcios dos pobres, pois lhes serviria de advo-
gado. O Dugue consentiu de boa vontade. Elzerio
mandou f.azer um grande saco onde colocava as regui-
sies de todo,s os pobres, gue desde,ento comearam
afluir sua pas.sagem e sua porta, a ponto de le
e seus homens muitas vz'es guase no conseguirem
entrar. Lia os reguerimentos com muita aeno,
resumia em poucas palavras o gue a ignorncia dos
requerentes freqentemente afogava num dilvio de
palavras, falava em no,me dles aor pugu,e e aos o[i-
ciais, resolvendo-lhe os negcios. Um dia, no momento
em que se sentava mesa para j'antar, um pobre
entrou inesperadamente e pergunto,u-lhe: "Senhor,
que f.izestes com a minha splica?" O Santo espor-
deu-lhe com brandura: "Esperai um pouco; po,is, ntes
de co,mer vou resolver vosso negcio". E-levantan-
do-se da mesa, imediatament,e se dirigiu crte;
tendo resolvido o caso do suplicante, tornou a ser-
tar-se mesa. Quando os negcios dos humildes se
arrastavam, sem soluo, dava-lhes do prprio blso
ludo de qu'anto precisavam, e isso por amor ao
Salvador, gue guisera nascer, viver e mo,rrer pobre,
e gue dissera: "Tudo quanto fizerdes aos humildes,
f-lo-eis a mim".
|esus Cristo era sua regra e s,eu modlo, o centro
do seu ,esprito e de seu corao, o senhor de todos
seus pensamentc,s e afeies. Certa ocasio, como se
demorasse um pouco mais em Montpellier, sua santa
espsa enviou-lhe, do Caselo de Puy Michel um
criado com uma arta, na qual lhe pedia notcias.
I
56 PADRE ROIIR,BACIIER,

Respondeu-lhe: "Passo bem de corpo; se guiserdes


ve-rner procurai-le na chaga do lado direito de
fesus 'ai que moro, ,e gue podereis encontr-fr?i
no me procureis em outro lugar".
Alem dos jejuns ordenados pela Igreja, iejuava
tdas as sextas-feiras, o advento inteiro e s vsperas
de muitas outras festas. Trazia um cilcio sob as
luxuosas vestes, Muitas vzes, disciplinav-se com
pequenas correntes de ferro, em memria do Salvado,r,
recitand o o Miserete, e fustigando-se trs vzes, a
cada versculo. Comungava em todos os domingos
do advento e da quaresma, em tdas as grandes festas
do ano e em muitas outras, principalmente naquelas
cc,nsagradas s virgens. Recebeu de Deus to extra-
ordinrias graas em relao prece e a contemplao,
que em qualquer hora, em qualguer tempo, e em
qualquer lugar, seu esprito fcilmente pala se
encaminhav. Contnua e intimamente unido a"l3t Deus,
scbrevinham-lhe amide iluminaes, arroubos, xta-
ses, ,em meio s refeies, s palestras, aos concertos
musicais, e mesmo nos bailes, a tal pcnto que a sua
santa companheira, jt com certa experincia, muito
receava que nessas ocasies, absorvido em Deus, le
desse um passo em falso e levasse uma queda.
Uma de suas recreaes consistia no seguinte:
recebia diriamente doze pobres e leprosos, cujos ps
e cuja bca lavava e beijava. Em seguida, dava-lhes
de comer e despedia-os com generosas esmolas. Um
dia, em que fra caa em companhia de muitas
pessoas, afastou-se com um cavalheiro e um servo
para visitar um leprosrio. L ejncontrou seis homens
atacados de uma lepra muito perniciosa. Alguns iit
tinham os lbios inteiramente comidos, viam-5e-lhes
os dentes, gue comeavarn a air; eram horr'veis'
VIDAS DOS SANTOS 51

Primeiro, Santo cumprimentou-os afvelmente,


depois lhes f.z uma piedosa exorta o, e finalmente
beijou-os muito afetuosamentg um aps o outro.
Depo,is de assim beijados, todos foram logo restitudos
a uma sade perfeita, d casa inteira ncheu-se de
um perfume muito agradvel. O Santo deu-lhes esmo-
Ias e tornou a partir depois de t-los feito prometer
que nada diriam sbr,e o ocorrido, enguanto fosse vivo.
Da mesma forma Deus multiplico em kmpos de
penria, o trigo que distribua aos pobres.
Tal era Elzerio de Sabrun grodo, em 1323 foi
enviado crte da Frana pelo iei de Npoles, na
qualidade d,e embaixador. Acompanhou g"nde nit-
mero de fidalgos do reino. o obletivo derssa embai-
1aq?. era _pedir em casamento, para o Duque de
calbria, Maria, filha do conde'carlos de Valcis.
Foi recebido com tdas as honras merecidas pelo
nascjm,ento, posio e virtudes. A transao i.rr.
um eliz resuitado, e o casamento foi contratdo.
Elzefuro caiu doente em Paris. Fizera seu tes-
tamento muito tempo antes; doava os bens mveis a
santa Delfina, sua espsa, e as terras a Guilherme
de sabran, seu irmo. Havia no testamento legados
para os parentes, criados, e, sobretudo, paia cs
mosteiros e hospitais. Perc,ebendo estar prxima a
hor da morte, o Sanro .ez uma ."nfir!; g;;"1,
acompanhada de abundantes lgrimas; todos os" dias
c,uvia a missa junto ao leito e conf,essav-se com
freqncia. Embora tivesse ocultado durante a vida
inteira- que le e a espsa tinham preservado a vir-
gind-ade, deu-6 a conhecer nos seus lti-or mo,mentos,
ao dizer: "f]m homem mau foi salvo por uma boa
mulher, gue.recebi virgem, e gu,e dei*oiirg"m nesta
vida mortal". Suportu a molstia, gue ioi ;rit;
58 PADRE ROHRBACHER

penosa, no apenas co'm pacincia, mas com alegria.


S"u .tprito ptmattecia continuamente unido a Deus;
com isso, gostava de ouvir palavras edificant'es, e a
paixo de-|esus, cuja leitura reclamava semPre. A
lingua no cessava de louvar a Deus, e repetia muitas
vies as palavras do salmo: "O Senhor or assistir
no seu leio de do,r,es; vs lhe revolvestes as entranhas
na sua enfermidade". Quando, aps o Santo Vitico,
lhe administraram a Uno dos moribundos e chega-
ram a estas palavras das litanias: "Por vossa santa
Cttz e por vossa Paixo, livrai-me, Senhor", le
repetiu ti6s vzes as palavras e disse: "Esta a
mrha .esperana: nel que guero morrer".
Cado em agonia, seu rosto comeou a assumir
expresses terrvis, como o de um homem em luta
.rrrtru adversrios temveis e obstculos poderosos.
Durante essa luta, falou em voz alta: "Os demnios
tm um grande poder, mas perderam a fra pela vir-
tude e plos mritos da bem-aventurada encarnao e
paixo de )esus Cristo". Mom'entos depois, tornou a
-"Enfim
xclamar: o derrotei completamente!" Trans-
corrido mais algum tempc,, acrescentou com um grito:
"Entrego-me inteiramente ao julgamento de Deus!"
E, utti* tendo falado, seu rosto 'transfiguro-se ,
tornou-se resplandecente, e le entregc,u o esprito.
Isso se deu no dia 27 de outubro de 1323, trigsimo-
oitavo ano de sua vida. Foi extraordinriam,ente
pranteado nas crtes de Frana e de Npoles. De
corformidade com as suas ltimas vontades, trans-
portaram-lhe ci co,rpo para a Provena e sepultaram-to
,ra Igteja dos Frnciscanos da cidade de Apt, onde
aind permanece. Pertencia, assim como sua espsa,
Ordm Terceira de So Francisco. Tendo o Papa
Clement VI feito constatar a verdade de um grande
VIDAS DOS SANTOS 59

nmero de milagres operados pela sua intercesso,


Urbano V assinc,u o decreto da sua canonizao, s
publicada em 1369 por Gregrio XI.
Delfina ainda vivia guando incluram seu marido
no nmero dos santos. O rei e a rainha de Npoles,
em cuja crte residia, e gue nela viam um modlo por
causa de suas virtudes, nunca consentiram em que de
l se retirasse. Tendo o rei Robertc, falecido em 1343,
a rainh'a, gue se chamava Sncia, e que era filha do
rei da Maiorca, renunciou s grandezas humanas, e
vestiu o habito no mosteiro das pobres Clarissas, por
ela fundado em Npoles. L viveu dez anos, s,em
consentir em separar-se da gu,erida Delfina, que a ins'
trura nos exerccios da vida espiritual. Depois da
morte da rainha, Delfia retornou Proven erce-
rou-se no Castelo de Ansois, onde continuou a viver
la prtica das mais h,ericas virtudes. Morreu em
Apt, no ano de 1369, com setenta e cinco anos de
idade. Sua bem-aventurada mo,rte deu-se no dia 26
'de setembro, dia em que citada no martirolgio ran-
ciscano. Suas relquias foram conservadas juntamente
com as d,e Santo Elzetuio. (1 )

ti*

(1) Aote S., 27 de rcpt.


VIDA DE SO VICENTE DE PAULO
(A festa se ce,lebra, a 19 de julhol
Depois dos apstolos, talvez no haja homem
gue mais tenha prestado servios Igreja catlica e
humanidade inteira. Para contribuir santificao
do clero e do povo cristo, instituiu uma congregao
de missionrios, gue foi digna do autor, e continua
a propagar a em todo o mundo.
Para a santificao dos sacerdotes e dos fiis,
estabeleceu retiros espirituais, cujo uso se espalhou
por tda parte. Para a formao de jovens eclesisti-
cos, para aperfeioar-lhes a santidade e exaltar-lhes
a vocao, crio,tr seminrios, gue se espalharam por
todo o mundo cristo,
Aos pobres doentes, instituiu a congregao das
filhas da Caridade, cujo devotamento admirvel pro-
vocou o estabelecimento de muitas outras congrega-
es semelhantes.
Para preservar da more as crianas abandonadas
pelas ruas, fundou um hospital de crianas relegadas,
e hoje, dste seu exemplo, hospitais e casas outras do
gnero esto disseminadas pela cristandade tda.
Fz mais ainda; hospitais para velhos, insanos,
presos ,e mendigos. Enviava missionrios com o fim
exclusivo de consolar os escravos cristos. Supria,
s vzes por longos anos, provncias inteiras gue
VIDS DOS SANTO 61

haviam sido devastadas pelas guerras, pela fome ou


pela peste, como a Lo,rena, a Champagne e a Picardia.
E guem era sse homem, sse Vcente de Paulo,
sse benemrito? Filho dum lavrador, comeou por
pastorear o rebanho do pai. Feito sacerdote, foi prso
pc,r corsrios turcos e vendido como escravo nas
costas da frica.
Mcente de Paulo nasceu numa tra-feira de
Pscoa, a24 de abril de 1575, na aldeiazinha de Pay,
perto de Dax, nos confins de Bordus, l para os
Pirineus. O pai chalv-se Guilherme de Paulo, a
me B,ertrana de Moras. Possuam uma pequena
gragia, onde labutavam e donde tiravam o po de
cada dia, para si e para os seis filhos, duas m,eninas
e quatro menino,s.
Vicente, que era o terceiro, trabalhava, como os
outros, na guinta: guardava, cofiro vimos, o rebanho,
levando-o pastar. Desde pegueno, sentia compai-
xo pelo,s pobres. Quando voltava do moinho, com o
saco de farinha s costas, dava-lhes alguns punhados,
quando no tinha outra coisa que dar. Muitas vzes,
com os pobrezinhos, partilhou o po que comia e as
vestes que usava. Tendo econo,mizado, duma feita,
trinta sous, soma considervel naquela poca e para
aquela idade, a um pobre, que lhe parecia ser o mais
abandonado de todos, deu-lhe tudo.
Com essa bondade de corao, mostrava grande
vivacidade de espritc,. O pai, ento, resolveu az-lo
estudar. A despesa seria espantosa, mas, esperava,
um dia seria recompensado. Assim, enviou-o aos
franciscanos de Dax, mediante sessenta libras por
ano, s,egundo o costume do ternpo e do pas.
- Era, ento, pelo ano de 1588. O jcvem Vicente
fz tais progressos, gue, o fiu de guatro anos, elo-
62 PADRE ROIRBACI{ER,

giado pelo superior do convento, o senhor de Commet,


advogado de Dax, acabou por tom-lo 'erl sua
casa para gue se incumbisse d educao dos doi
filhos.
Foi ss'e Commet gue, tocado pela virtude de
Vicente, e edificado, o aot selhou a abraar o estado
eclesistico.
Vicente, que o respeitava muitssimo, tendo-o
como a um segundo pai, recebeu o conselho com
ardor, e d'epois a tonsura e as guatro ordens menores,
a 20 de dzembro de 1596, com a idade de vinte
anc, aps ter empregado nove nos estudos de huma-
nidades em Dax.
O pai, para ajud-lo, teve gue :'e1der uma junta
de bois, e Vicente l se foi para Toulouse, para os
estudos de teologia, nos quais gastou sete nos.
" Durante a eitadia em Toulouse, ia o iovem, algu-
mas vz,es, estudar em Saragoa.
Para no pesar famlia, embo,ra o pai, ao morrer,
ordenasse que lhe dessem o necessrio, retirou-Se para
a cidade zinha de Buset, durante as frias, ali se eICf-
regando da ,educao dum nmero considervel de
crianas, cujos pais tinham posses, e se sentiam satis-
feitos de poder confiar os filhos a um homem do qJral
a virtud e e 'a capacidade eram pblicamente reconhe-
cidas e propaladas. Mesmo de Toulouse, enviavam-
lhe crianas, meninos e meninas, como se v por uma
carta ,escrita me.
Entre os alunos, havia dois sobrinhos-netos do
clebre lean de la Valette, go-mestre de Malta,
as fras c,tomanas.
- resistiu gloriosamente a tdas
ue
O Duque de pernon, governador da Giana,
parente prximo dos dois meninos, deseiou,.e muito,
onhecet vittt'te' monsieur Vicenter colro dizia res-
VIDAS DOS SANTOS 63

peitosamente, por le vindo a c'o,nceber uma estima'


tda particular.
Vicente retorno,u de Buset a Toulouse, com os
pensionistas, terminando, ento, os estudos de teolo-
gia. Bacharel, dizem dles os autores da Gallia
Christiana: "Era doutor em teologia". Contudo, a
prova autntica daquela afirmao no foi ocot-
trada.
Durante os estudos de teologia em Toulous,e,
Vicente recebeu os subdiaconato, a 19 de setembro
de 1598, o diaconato trs meses depo,is, e, afinal, a
ordenao, em 23 d,e setembro de 1600.
Os grandes vigrios de Dax, vacante uma das
sedes, escolherl-lo paa o curado de Tilh, mas um
competidor, gue-havia impetrado em Roma, lho aite.-
batou. Vicente, desejos,o, de paz para continuar qs
,estudos em To,ulouse, no deu a mnima importncia
guesto. Ademais, acenavam-lhe com algo mais
importante, que pleiteavarn com a mediao do Dugue
de pernon. Efetivamenfie, zYicente, nos princpios
de 1605, uma viagem a Bordus, e eve uma entre-
vista com o dugue, sem gue se soubesse por gue
obletivo l fra. Somente diz, numa carta daguela
poca, gue havia empreendido uma uiagem de neg,
cios. A sorte parecia sorrir-lhe. De volta a Toulouse,
ficou sabendo gue um amigo o institura h,erdeiro dos
bens. Pra recolher parte da sucesso, teve gue ir a
Marselha,
Quando estava para regressar, uffi gentil-homem
de Languedoc, com o gual se alojara, props-lhe gue,
juntos, viajassem at Narbona. Era pelo ms de
julho, a estao no podia'ser mais bela e o tempo
apropriadssimo navegao.
u PADRE ROHRBACHEI?,

Vic,ente emb'arcou. O vento era favorvel, e


todos contavam chegar a Narbona absolutamente no
dia e hora estipulados.
O mercado de Beaucaire principiava a funcicnar
ativamente; l os ricaos do Oriente iam negociar
com a Europa. Corsrios, ettr busca de prsas, cru-
zavam o glfo de Lio, ffi todos os sentidos.
Eis seno guando trs bergantis turco,s surgi-
ram proa do barco em gue Vicente viajava. A
abordagem no se f.z esperar , ? luta gue se travou,
curta, gue os turcos eram em nmero muito superior,
terminou pouco depois. Os corsrios perd,eram um
dos chefes e tiveram guatro ou cinco forados mortos.
Vicente recebera uma lechada, o pilto fra
feito aos pedaos e os demais aprisionados, salvos
os endinheirados que no opunham resistncia. O
barco foi sagueado e, eE seguida, com os prisioneiros,
transferiram-se os turcos para os prprios navios.
Mais tarde, numa cata a um amigo, uns dois
anos depois, Vicente dizia:
" Fomos, ento, em Tnis, postos venda, depois
duma descrio verbal sbr,e nossa captura, gue ,
diziam, fra feita num barco espanhol. Tal mentira
era necessria, po,rgue, sem ela, seramos libertados
pelo cnsul gue o rei tinha naguelas plagas, Fizeram
com gue todos rodssemos pela cidade, cinco ou seis
vzes, de cadeias ao pescoo. Vestamos cals fros-
seiras, um jaleco de linho e barrete. Metidos num
dos bergantins, ficamos espera dos compradores.
stes examinaram as f'eridas ganhas na luta, e viram
gue no eram graves nem mortais, apalpa[l-oos,
mediram-flos, examinafrn-ilos os dentes, como se
faz com cavalos. Fizeram-rros andar, observando os
movimentos, os passos, e, em seguida, obrigarfr-nos
VIDAS DOS SANTOS 66

a correr. Passamos, afinal, outra prova, gual seja


a de ca*egar ardos. Por ltimo, "ru- . lut,
para que lhes mostrssemos a ra gue tnhamos.
Foi um desfilar de brutalidades,
vicente foi vendido a um pescador. o pescador,
afinal, vendo gue o novo escrvo no se dava com o
ar do mar, acabou por pass-lo a um mdico, j velho,
gue o santo chamava a guintessncia do. tirador,
hom,em humanssimo, tratilssimo, gue, dizia-me,
havia trabalhado por cinqenta urrou procura da
pedra filoso,fal. Gostava muito de mim, e dL discorrer,
para mim, sbre a alguimia e suas leis, a ela esforan-
do-se tremendament por me atrair, prometendme
grand,es riguezas e saber imenso.
"Deus ssmpre operou em mim uma crena de
libertao pelas ssdas oraes gue eu .azia vt-
gem Maria, pelaintercesso " qul creio firmemente
er-me livrado. E.a esperana e a crena de gue ia
rever-vos, senhor, levara[l-[te a estar bastante atento
com o nosso alguimista, procurando instruir-me sbre
o modo de curar a
-graela, pois gue o via, diari-
m'ente, .azer maravilhas. Eninou -*" mesmo a pre-
patar misturar os ingredientes, bem como a maneira
-e
de administrar u oh,- guantas vzes;;;l;
ter sido escravo -poo.
bem anes da morte de teu irmo!
com o, segrdo gue agora conheo, tenho cefieza de
gu,e no teria morrido daguele mal',.
A carta, gue de 2O de julho de 160T, a
endereada ao mais moo dos ds commet, do quui
o Santo fra preceptor.
Continua:
"Fiquei com o velho mdico de setembro
de 1605
at agsto de 1606, guando, erlto, foi le prso e
l'evado por homens do-sulto, para trabtar -**i,
66 PADR,E R,OIRBACIIER,

O potentado, o gue no aConteceu, po'rgue morreu a


caminho.
"Quanto a mim, deixou-me com um sobrinho'
verdadiro antropomorita, gue me revendeu imedia-
tamente aps a morte do ii", porgue ouvira dzet
gue Morri"u, de Brves, embaiiador do rei na Tur-
guia, vinha com bOas e expressas patentes do Gro.
utco para recuperar os escravos cristos.
"- renegado d'e Nice comprou-le e levou
para o eu ternat,, Temat,- o patrimnio dq
comigo -Senhor,
Grane erras gue o rendeiro lavra,- porgtf
l o povo nada tem, porgue tudo . do sulto' (2
Ema daguele gue se assenhor,eou de mim era na
montanha, onde o pas extremamente guente e ter-
rivelmente deserto.
" LIma das trs mulheres gue tinha era grega
crist, mas cismtica' Outra, ea turca, gue serviu
d,e instrumento imensa misericrdia de Deus para
retirar o marido da apostasia, lev-lo ao grmio da
Igreja,
s e livrar -fre- da escravatura.
"'interessante gue estava a par do nosso modo
de viver. Vinha ver-e todos os as, no campo onde
eu estava a labu tat, e .azia mil perguntas' Um dia'
ordeno,u-r1e CantaSSe os louvores de Deus. lem-
bru"u do Quomdo cantabimus in tetra aliena, das
crianas de Israel cativas na BilOnia, 2-me corre-
r, " lgrimas nos olhos, o salmo Super flumina
Babytonis, e depois o Salue pegina, e muitas outras
coisas de gue ela gostava.
"No deixo,n e contar ao marido, noite, dizen'
do-lhe gue havia errado ao mudar de- religio: a
um
utOii.u,'achava-a bonssima, porgue eu the .izeta
r"lto ,br" nosso Deus e lhe antara alguns louvores,
guando Comigo estivera a Perguntar-me colsas. IJIS-
VIDAS DOS SANTOS 67

sera, ento, ao marid,o, gue sentira tal alegria e satis.


fao tal, como jamais ,experimentara em tda a vida.
"Essa mulher, como outr,o Caifs,- ou como a
jumenta de Balao, tanto falou, gue o marido, no dia
seguinte, de manh, disse-me gue no tinha outro
desejo seno o de nossa salvao, gue nos daria tal
remdio, e Deus, dentro de pouco,s dias, seria louvado.
"Os poucos dias duraram dez m,eses, e eu vivia
de esperanas. Um dia, porm , f.izemo-ros ao mar e
demcs em Avinho, onde Monsieut, o Vice-l,egado,
recebeu pblicamente o renegado, que vinha com
lgrimas no,s olhos ,e a soluar, de corao contrito.
Na igre ja de So Pedro, honrando a Deus e edifi-
cando os assistentes, foi admitido,.
"Depois foi a ida a Rom'a, onde o Vice-legado
prometeu ao penitente gue faria com que pudess,e
ingr,essar no austero convento dos Fateben-Fratelli,
onde agora est". (1 )
Foi de Avinho gue So Vicente d,e Paulo escre-
veu tal carta ao antigo aluno.
Em Roma, Vcente permaneceu at 1608, pela
assistncia gue recebeu do Vice-Iegado, que o hos-
pedou e lhe proporcionou o que .azer. E I estava
le tocado at s lgrimas, por vr-se na cidade mestra
da cristandade, onde o chefe da Igreja militante tem
'assento, onde os corpos de So Pedro e So Paulo
repousam, bem como os de outros santos mrtires e
outras santas personagens.
Quando nc, se dava devoo, empregava o
tempo a repassar os estudos de teologia feitos em
Toulouse. O Vice-legado apresento,u-o ao embai-
xador da Fran, o Card,eal d'Ossat, e ste o erc-

(1) belly, Vida ile So Vlcente de paulo, L. f, c. fV.


68 PADRE R,OHIT,BAC HER,

regou de importante misso, mas secreta, junto a


HenrigueIV,
Vcente tornou, ento, Frana. Era pelo
como de 609.
1 Conversou com o rei, e ficou hos-
pedado em So Germano, perto do hospital da
Caridade. Dali, ia, constantemente, servir os doentes
e consol-los.
Henrigue IV vira e falara com Vicente de Paulo,
mas parecia desconhec-lo. que o Santo evitava,
cuiddosam,ente, tudo. aguilo que pudesse dar-lhe ares
de gran deza, ChamavItr-ilo Monsieur Paulo -' nome
de amlia, e aguilo lhe soava como se fra de estirpe
ilustre, de modo gue, chegando a Paris, apres-entou-se
e .z-se simpl,esmente tratar por Monsieut Vicente,
o nome de batismo,
Ao invs de usar o ttulo de licenciado em teo-
logia, deixava entriever-se como se fra apenas um
pobre professor secundrio. Todavia, por mais cui-
ado gue tivesse, escondendo como escondia as vir-
tudes, acabavam descobrindo-as.
Um dia, foi apresentado rainha Margarida,
primeira espsa de Henrigue IV, a qual, ento, azia
profisso
-ez -piedosa, queria v-lo. E
d piedade. Essa princesa
dele o chLfe duma casa com o ttulo de
capelo-ordinrio.
Retiro-s depois Mcente para os Padres do
Oratrio, gue o pare de Brulle viera de fundar: no
para se agregar companhia, mas pala- viver no retiror
sc,b a dire do piedoio instituidor. Ali ficou o Santo
por dois anos.
Nesse meio tempo, Bourgoing, cura de- Clichy,
Iugar situado a uma lgua de Paris, deixou a freguesia
paia ingressar na Ordem, onde sucedeu, mais tarde,
o*.. stiperior-g,f1, ao padre de Brulle. Aguilo Pfo-
VIDAS DOS ANTO 69

porcionoiu a Vcene encarregr-se do curato ento


yago, cargo gue aceitou apenas por esprito de obe-
dincia,
Em Clichy, a cumprir reta e devotamente os
deveres de bom pastor, caiu nas graas de todos.
Era estimadssimo, no s na prpri freguesia, como
nos curatos da circunvizinhana. Restaurou nove
igrejas, provre-as do gue necessitavao, e instituiu a
confraria do Rosrio.
Tempos depois, corria o 'aro de I 613, deixou o
curato: gue o padre de Brulle o aconselhaa aacei-
tar o cargo de preceptor dos filhos de Filipe Emanuel
de Gondi, conde d ]oigni, Geral dos galeotes de
Frana, e de Francisca Margarida de Silly, mulher
de excelente virtud,e.
O Geral e a espsa tinham trs ilhos: o mais
jovem faleceu com dez ou doz.e anos; o mais velho
oi dugue e par; o segundo tornou-se o famoso cardeal
de Retz.
Vicente de Paulo viveu doze anos na casa do
conde de _]oigni. Quando o casal ia para o campo
som os filhos, levando-o tambm, o maior prazer do
Santo er_a percorrer as vizinhanas e catguizar o.s
pobrezinhos, instruindo-os. Pregando ao povo, xor-
tava-o, administrava-lhe os santos sacramentos, priri-
cipalmente o da penitncia, confirmvEr-o na ,, com
a aprovao dos bispos e o agrado dos curas.
Duma feita, estando no castelo de Folleville, em
1616, na diocese de Amiens, vieram rogar-lhe fsse
a Gannes, aldeia;situada a mais ou ,."oo duas lguas
de distancia.
-' H l, disseram-lhe, um velho, um homem
de bem, que deseja confessar com Monsiieur Mcente,
70 PADR,E R,OIIRBACHER,

Est doente, muito doente ,- perigosamente entre a


vida e a morte.
Vicente [oi, e a condssa acompanhou-'o'.
O velho tinha sessenta anos, e queria f.azer uma
confis,so geral. Ao dar com a condssa, disse:
Ah, senhora, estarei perdido se no 'izer uma
conisso geral! Ah, como ago,ra me atormentam
grandes petados do passado, pecados que deixei de
confessar!
quelas palavras, a condssa Francisca Mar-
garida redarguiu:
Oh, Monsieur Paulo! exclmou comovida
,- Que coisa! Que pensar das- pobres almas tdas?
ste, que era tido como homem de bem, atormenta-se
com giandes pecados ,- que dizer dos que no so
tidos"nesta conta? Quantas almas se perdem!
Era em janeiro, a 25, .esta da converso de So
Paulo. E a condssa rogou a Vicente que pregasse
na igreja de Folleville, a todo,s chamando coni's,so
'Vicente
g"r"i. pregou e ensinou a todos a melhor
aneira de azir uma tima confisso. A prdica
foi to inflamada e to inspirada, que ningum deixou
de comparecer ao confesionrio. F,o,i uma avalan-
afr" ,-' . Vicente preCisou valer-se do concurso de
dois jesutas de Amiens.
bado o xito da pregao, que imensos foram
os frutos recohidos, resolveram f.azer o mesmo nas
adjacncias, nas tegas.suieitas casa de Gondi. Tal
fo a primeira misso de, So Vicente de Paulo.
O santo deixou a casa de Gondi em 1617, reti-
rando-se para Bresse, em Chatillon-les-Dombes. Ali
era uma como parguia abandonada. Havia crca
de guarenta anos gu iazia naguele lastimvel estado,
VIDAS DOS SANTOS 7t

sem nada; certos beneficirios de Lio sugavamJhe


o{s magros lucrozinhos.
Assim, depois de quase meio sculo, aguela
cidade infortun da, composta de duas mil almas, no
tinha prpriamente falando, nem cura, nem pastor,
nem dfuefiizes quaisguer espirituais.
O captulo de Lio dirigiu-se ao;s Padres do
Oratrio putu que lhe indicassem um homem capaz
de remedar tal desordem. O padre Brulle excogi-
tava guem poderia desincumbir-se da misso, guando
Vicente upt.."u para comunicar-lhe que ia deixar a
casa de Gondi: props-lhe, ento, a parquia de
Chatillon, gue o santo aceitou.
So Vicente de Paulo chegou em Chatillon-les-
Dombes no ms de agsto de 1617, em companhia
dum bom padre do pai, chamado Lus Girard. Como
a casa paroquial estava em runas, alojaram-se na
casa dum tal Beynier. sse Beynier, calvinista, com
o tempo se converteu.
Eis o programa que Vicente se props cumprir:
Ievantava-se s cinco horas; meia hora de orao; o
ofcio e a santa missa diziam-se em horas marcadas,
de modo que no se desperdiava o tempo sem oeces-
sidade; cs d,c,is, Vicente e Lus, cuidavam da parte
da casa que lhes co,ubera: les mesmos tratavam da
arrumao dos quartos e faziam as camas. Vicente
no queria gue a enteada do hospedeiro fizesse mais
do que j fazia no resto da casa.
O novo pastor visitava regularmente, duas vzes
por dia, uma parte do rebanho.- O resto do tempo, era
empregado no estudo e no confessionrio.
O desejo de ser til tanto aos pequenos como
ac,s adultos, f-lo estudar com afinco o dialeto usado
familiarmente. Aprendeu-o em pouco tempo, e, pas-
72 PADITE ROHRBACHEIT,

sou a falar correntemente, com grande proveito no


catecismo.
O oficio divino era celebrado com a maior de-
cncia possvel. As danas f,o,ram banidas, bem como
certos escandalosos excessos que desonravam as es-
tas, sobretudo a da Ascenso de Nos,so Senhor.
Havia na parquia seis velhos padres que eram
a negao do bom exemplo: Mcente empenhou-se
e conseguiu exort-los a viver em comunidade, obe-
decendo regra. A cidade inteira, surprsa e edifi-
cada, acompanhava as mudanas gue se operavam
paulatina, mas eficientemente. Tudo estava ficando
transformado, caminhando para a perfeio. Os mais
sbios acreditavam que agule homem, a quem d e.-
forma dum clero como o daguele lugar, rgula rizan-
do-se como estava, sem muitas dificuldades, era assaz
competente e conseguiria ganhar para Deus a paro-
guia tda inteira no demoraria muito tempo.
Efetivamente guatro meses depois, quem visse
Chatillon-les-Dombes icaria embas,bacado, tal a di-
ferena. Os maiores pecadores, em fila, contritos,
compareciam ao tribunal da penitncia, de modo gue
o santo passava um tempo enorme no confessionrio.
To compenetrado estava das coisas espirituais, que
se esquecia das mais prementes necessidades da na-
tuteza.
Houve em Chatillon duas converses retumban-
tes: a de duas mulheres nobres, que no viviam seno
para o mundo e gue acabaram modelos de piedade e
de caridade. Nagueles tempos, quando a peste se
declarou, foram devotadssimas aos pobres e aos
doentes.
O conde de Rougemont, esgrimista, um dos mais
terrveis duelistas da Frana, destemeroso, gil como
VIDA DO ANTO 73

gato, converteu-se, e to completamente, que se des-


fez das terras gue-possua, as elebres de Fiougemont.
vendeu-s pra fundar mosteiros e socorrer"u irrdi-
gncia. O castelo onde vivia, enorme, transforrlou-se
em hospital para religiosos- e pobres. E o conde, pelo
resto da vida, satisfeito, foi modlo de penitncia e
de mortificao.
Mais tarde, Beynier, calvinista, como vimos,
acabou por abraar a vida religiosa, com o condo de
arrastar para )esus um grande nmero de outros
calvinistas.
Um dia, era dia de festa, Vicente estava subindo
ao plpito, quando uma das duas mulheres corver-
'tidas o deteve, pedindo-lhe recoorendasse caridade
{or paloquianos uma famlia extremamente pobre,
da qual a maior parte das crianas e dos domsticos
estava doente, numa guinta afastad d, mais o rtre-
nos meia lgua de Chatillon.
Mcente atendeu o pedido da mulher. E Deus
lhe deu tal eficcia s palvras, gue um grande nmero
de ouvintes f,o,i sit
mos vizias. uns Ievaram
? ^ pobre iamlia,"e ningum de
po, outros nio, ste
carne, aqule farinha. Mcente, depois das vsperas,
tambm l foi, com alguns habitantes da parquia.
E ficou abismado com o movimento que hurriJ
estrada: grupos gue iam, carregand embrulhr; ",
gupo,s que vinham, a conversar e a comentar, rn-
chos gye descansavam sob as rvores, porgue, rt-
quele dia o calor era excessivo.
- Oh, exclamou, gue bela caridade, mas desr-
regrada , inf elizmente! famlia pobre ter muita
proviso duma vel e, pois, no podr consumi-la. E
.qma parte se perder. pena, porque outras f,ami-
lias, nas mesmas condi.., ha pr ai. -
74 PADR,E RO}IRBACHER,

Esta reflexo de Vicente, que tinha um esprito


regrado, todo le .sistema, principiou a _ imaginar o
.o pelo qual todos os necessitados pudesselll fec-
ber alxilio'com ordem. No uma s famlia, mas
tdas as que estivessem em semelhantes aflies
Reuiu, ento, um dia, as mulheres piedosas do
curato e com elas conferencic,u, depois de orar a Deus,
p"Ji"ao-lhe que o inspirasse. As idias foram suf-
irrdo iuntano-sr deinindo-se. Foi como surgiu a
firi-.iu confraria, a primeira sociedade das damas
e caridade, instituio gue, como tdas as de Vicente
de Paulo,, se propagou por todos 9s pases cristos.
O santo,'rroturdo casa de Gondi, em fins de
1617 , apenas para uma inspeo geral sbre o anda'
menro u edcao dos ilhos de Filipe Emanuel,
teve grandes folgas para dedicar-se ao que o attaia:
tratar da gente do camPo.
Assistido por vrios padres virtuorsos, por se-
crlurl. e religisos, emprendeu um _grande nmero
de misses ,r, dOceses de Paris, de Beauvais, de
irr e de Sens, onde a casa de Gondi- possua
t";; Tais misses, nas quais a condssa de ]oigni
trabalhava sua man eira, visitando os doentes, Col-
um
sc,lando os aflitosr, fazendo esmolas, produziram
bem imenso e renovaram as parquias e muitos
herticos foram convertidos f'
e coll-
-i" experin cia f.z sentire aa Vicente
Aquela
necessidade das
der.u ]oig, a importncia
misses ,ro .-po. Dsde 1617 , a piedosa condssa
purrou, ento, a reservar um fundo de seis mil libras
ir" t"t emprsa, guantia que renovaria de cinco em
cinco anos.
Quem se encrregaria das misses? Em vo
recorreu, Sucessivamente, aO iesutas, aos Oratrios
VIDAS DOS SANTOS 15

e comunidades outras. A condssa concluiu gue Vi-


cente de Paulo era quem devia tomar as rdeas da
fundao, com alguns dos seus virtuos,o,s padres,
aqules mesmos gue o haviam ajudado.
Em abril de 1625, a 17, o aio foi redigido. |oo
Francisco de Gondi, cunhado da condssa e primeiro
arcebispo de Paris, doou o colgi o Bons-Enf ants para
que nle se alojasse a nova cmunidade; trataa-se
de um casaro_antigo, gue depois passou a chamar-se
seminrio de So Firmino, tornando-se clebre, tris-
temente clebre, dado o massacre de setenta e cinco
padres, ocorrido em setembro de I zg2. Tempos de-
pois, abrigava cegos.
A condssa de ]o,igni falecia meses mais tarde.
vicente retirou-se, ent, para o Bons-Ei,frtr, ;-
guido de Antnio Portail, d9s primeiros compa-
nheiros, p1{r" da diocese de -rqArles. principiavam as
misses. vinte anos mais tarde, vicente assim se
expressava sbre aqules comeos:
"Fomos enviados por ,rorios senhores, os bis-
pos,- para evangelizar os pobres, como f.izera Noss,o
senhor. E trbalhavams, azendo Deus, por seu
lado, o que j havia previsto na eternidade. ' Aben-
oou nossos trabalhos, e tud,o corria a contento. Dian-
te disso, outros eclesisticos juntaram,se a ns, pelos
anos em fora. salvadoir, jamais pensei gue tudo
ficasse como agora ficou!"
Lus XIII autorizou a nova associao por cr-
tas-patentes do ms de maio de I 62T, .ot u enomi-
nao de "Padres da congregao da Misso". c;;-
tinuava-se a evang elizar o povo dos campo,s, no
.
smente na Fran, rtrs na itlia.
o clero tinha mais necessidade de regenerao
gue o pobre povo. se o povo era ignorante-e viciao,
76 PADEE BOIIR,BACTTER

o clero era a causa, dada a negligncia e os maus


exemplos oferecidos.
Um dia, um bom prelado mandou Vicente de
Paulo trabalhar com seus vigrios, de tal modo col!-
corria o santo para o bem d diocese. Dizia-lhe por
carta:
"H grande nmero, e inexplicvel, d.e padres
ignorantes, viciados, gue me compem o clero, gue
-palavras
rro se corrigem com nem co{n exemplos.
-rO
Sinto horror e* pensar gue na diocese h guase
sete mil padt"t ..got ou impudicos gue sobem todos
os dias * escahntas do altar, sem nenhum senti-
mento nem gualguer vocao".
Outr,o prelado escreveu ao santo:
"Excetuado o cnego teologal de minha igreja,
no sei de nenhum padie, entre os da diocese, gue
possa desincu mbir-se de gualqyel cargo ou assunto
eclesistico. Como precisamos de bons pastres'! Con-
juro-vos que dei*"it vossa misso PaI ajudar-Ilos"'
o gue se viu o suficiente pa? mostrar em gue
deplorel estado se encontrava o clero francs.
um bastardo, filho adulterino de Henrigue IV,
chegou a bispo de Metz e abade de cinco ou seis
ricos, sem ser sacerdo'te' Ao
-oti"itot dos maisa diocese,
invs de socorrer encaminhava os lucros
para a crte - I acabou Por cas-se'''
A restaurao comeou Por Beauvais', diocese
.* g.r" era bispo Agostintio Ptier de Gesvres, admi-
rador de Vicente, que ao santo suplicou sse ferte-
diar os desr.g""-"rrtos do clero, levando-o ao lugar
gue lhe competia estar e ao estado gue lhe era prprio.
Respondeu-lhe Vcente gue era guase imposs-
vel corrifiir os maus padres, uma vez gue j possuam
VIDAS DO ANTOS n
velhos vcios, entranhados na alma, e difcil, seno
impossvel, seria bani-los.
"Para tralhar, dizia, com esperana de fruto,
preciso ir fonte do mal, para, ali, pricar o remedio,
o gug, convireis, durssimo. Todavia, trabalhar
pelS formao dos padres novos, o gue, para o frtrr",
podereis ver, rser timo.
"Que f,azer? Em primeiro lugar auscultar a
vocao do nefito.
t pr".iso descbrir a v,ocao
verdadeira. Em segund lugar, aos verdadeira*;t;
com vocao, ,torn-los cap azes de cumprir as obri-
ga9es. peculiares ao estao, jt que t, claro,
a
verdadeira vocao, o esprito'afinado para as coisas
eclesisticas' .
o bispo de Beauvais apreciou e gostou daqueles
pontos de vista do santo.
Tempos depois, em julho de 162g, ambos viaia-
vam juntos, o bom prelado fechou os olhos e ficou
silencio,soi parecia aormecido. Log, porm, abrin-
do os olhos, disse que estivera a pensar no modo mais
fpido e seguro de bem ensnar . pr.purar os aspiran-
tes s santas ordens.
No seria bom, disse, gfe me viessem para
casa e I me ficassem por arguns ias? poderia
&;r;;:
v-los, faz-los pratiiar convenientes exercciosr, in,s-
tru-los das coisas que devem saber du.
que devem praticar. "- "i.ir,
Mcente exultou:
- Oh, Monsieur, exclamou, dir-se-ia ul pel-
samento de Deus! um excelente meio d",
e pouco, Ievar todo o clero da diocese u",;;;
a"t
. o bispo rogou que le mesmo se incumbisse d-
gueles exerccios para a prxima ordenao de setem-
bro, o gue Mcente logo aceitou, certo "d;
il. .;
78 PADR,E R,OHR,BACIIER,

exigia dele o trabalho. Era como se o Senhor hou-


'o"r" falado pela boca do bisPo.
Agostinho Potier de Gesvres, dePois de exami-
nar os"ordenandos, iniciou os exerccios de retiro,
""tados por dois doutres e Vicente de Paulo,
;il; ; plut o que Qi santo i, de antemo' havia
traado.
Vicente explicou o Declogo, e f-lo de tal fr3,-
neira, to hmpida, afetiva e eiczmente, que os orde-
nandos desefaram f.azer confisso geral, mesmo um
dos doutres.
Foi as.sim que nasceram na Frana os retiros dos
ordenandos, as conferncias eclesisticas e, mais ta'
de, os seminrios. maiores e menoresr'
Aps as misses, So Vicente de Paulo st-
belece confrarias de caridade para o socorro aos
que
doentes pobres. Logo precisou de algum capaz'
visitasse de tempo, L-- tempos as diversas confrarias
e nelas .orr"rrrrr. o zlo da caridade' Deus ez
com que aparecesse uma viva, uma santa mulher -
Lusa de Marillac.
s vzes, as damas de caridade no podiam' em
pessoa, ir servir os doentes. Mandavam' ento' Ia'
Zendo-lhes s vzes, os domrstic,o's, que se desincum-
i"", muito "* do mister. Aquilo propiciou a Vi-
cente aproveitar-se da boa vontade de muitas-iovens;
passou ministrar-lhes aulas rsbre o assunto, forman-
o-u. parao r"r.rir dos doentes. Tal a-origem das
irms de cariJ"","gu" agora vemos em todo o mundo,

Em Paris, o santo estabeleceu uma confraria de


caridde purr' ou galeotes. Lembeno-nos de qqe
Mois;i,eur' d" Goni era o geral dos galeotes de
Frana.
VIDAS DOS SANTOS 79

Vicente, de guando em quando, repousava do


trabalho das misses no campo, visitand a capitI.
Ento, aproveitava a o,portunidade e percorria as
prises. Falava com c prisioneiros, ionsolava-os,
exortav-os a uma vida futura honesta e construtiva,
ouvia-os em confisso. E aos mais infelizes, ics cri-
minosos condenados s gals, unia-se mais estreita-
mente. Encontrava-os num estado deplorabilissim.
laziam trancafiados erx masmorras, onde, r- ;;;;,
permaneciam por muito tempo, comendo imundcias,
como gue largados, tomadoi ae uma terrvel indife-
rena, absolutamente descuidados do corpo e da
alma.
. Dirigindo-se ao Geral, vicente falc,u-lhe do es-
tado e.* que_ viviam os pobres infelizes. er"riu uL
meio
* ajud-los fsica-e espiritualmente.
Monsieur de Gondi dehe pl"nos poderes. sa-
tisfeito, o santo alugou uma casa num subu"bi,
saint-Honor, pur I f.,ram os presos transferidos.
;;
"
vicente visitava-os seguidamente. Irrstrria-s,
Ievantava-lhes a f., fazia-os"confessar com f;;q#
cia, administrando-lhes os sacramentos. No '.or-
tente com a recuperao das almas que semeava,
providenciava ainda medidas para o confrto d;
corpo.
Aos doentes, mesmo aos portadores de molstias
contagiosas, dedicava-se com afinco, destemeroso
do
pudesse suceder, se contrasse esta ou aguera
::]1"
ctoena, tal o rr,,f gue dedicava aos detentos.
Quando era obrigado a afastar-r" por assuntos
outr,ors, deixava-os os cuidados de dois clesisticos,
amigos particulares:, e viajava sossegado, porqr
gue os
:fb1?
le .pobres teriam a mesma assistena gue
Ihes prodigalizava.
\

PADBE R,OEBBACIIEB

Gondi, sabedor da dedicao do san-lo para com


ot ptt, de como incansvelmente trabalhaviJ^T3:
*fi"'de todos, principalmente dos mais abando-
;ild;.;;;;uot, pttto-u nos orados to{s {o
reino. Foi ao;;i;f"1,in" do gue Viente de Paulo
.azia e quo grandiosa obra era aquela'
O Rei L"uis XIII, a uma propositura do Geral
dos qaleotes, o Santo Cpeao-Geral, ou Mor,
"o""" do pas. o diploma foi expe-
;;;; o, forudos
dido a 8 de evereiro de I 619.
Monsieur Vicente de Paulo aceitou o encargo
mais
com rutirtuo: aquilo lhe dava uma semelhana
;; ; Salvado'r o mundo, agule mundo e coll- gue ea
uma imensa priso abarrotada de criminosos
"rr"do, , Jar verdadeirymelte perptuas. A le,
*urrdo ut"rr,1i""u o Filho de Deuj. Fz-se igual
- qutq""r urtr, tomou todos os crimes e tdas
as
p.ru, puru si e liberto,,-os. vicente, pai dos pobres,
" acepo .ir pura, desejava imitar o Salvador.
Em 1622, [o visit* os forados de Marselha.
1es po-
Queria ,., . gue estado estavam e se por
dria azer o qu aos da capital izeta' Chegou sem
para
dar a conhecei o ttulo de Capelo-llot, tanto
as ho*ras gue infvellnente lhe tributariam,
como para *tlrot'?gir. Indo e vindo' dum
"rtt"r lado a
r. o proiJio, du com u* forado, mais in.eliz
;; culpado' or" se desesperava comtua mulhercondio em
e nos
pensand?
il; ;.1,u.,o"1p"tt".do
filhos, certaente reduzids mais
"- negra misria.
vicente ficou to comovido, foi tanta a sua coI-
paixo, gue ;;t? desgraado o gue Paulino
de
o fiho dum.a pobre
Nola para r.rtr u
;il";i ofereceu-se para"r.i"iao
sofrer-lhe a Pen" p*.resto
d vida. Semelhante oferta fo,i aceita, e Vicente
VI.DAS DOS SANTOS &1

levou por algumas semanas as cadeias de ferro dos


galeotes at gue se descobriu gue se tratava do
Capelo-Mor da Frana.
H autores gue guerem pr em duvida ste feito
do santo, mas era to conhecido na cidade tda de
Marselha, gue o superi,o,r dos padres da misso, o
qual ali se estabeleceu em 1643, testemunha ter ouvido
o sucesso de vrias pessoas, e de pessoas dignas de
todo crdito. Acha-se ainda atestado, num antigo
manuscrito, por Sieur Domingos Bleyrie, parente do
santo, re qual, estando na Provena, alguns anos
depois da soltura de Mcente, do fato foi informado
por um eclesistico. Este ltimo foi quem se referiu
a Vicente citando o caso da escravido daguele Pau-
Iino, :servidor de Deus na Barbaria. Afinal, um do,s
padres de Vicente, duma feita, perguntou-lhe se era
verdade gue substitura um forado e gue estivera,
por certo tempo, prso com cadeias. O santo, so-
rindo, no lhe deu nenhuma resposta pergunta, mas
o jeito era de que assim fra, tal o so,rriso. (2)
Concebe-se, depois disto, qual teria sido a cari-
dade de Vicente de Paulo para com os presos, pois
Ihes ouvia as lamentaes com pacincia incrvel, com-
partilhava-lhes as penas, abraavr-os, beijava-lhes
as cadeias que lhes rodeavam o pescoo e as pernas.
Entregav-s-lhes de corpo e alma, rezava po les
cons.tantemente recomendava-os instantemente aos
ofcios, p6rgando-lhes tratamento mais humano para
os desgraados: assim, fcilmente, ganhava os inf.e-
Iizes para Deus.
Quando os galeotes de Marselha foram trans-
feridos para Bordus, err 1623, Vicente para I se foi,
Q) Collet, L. Ir.
82 PADR, ROHRBACHER

com muitos outros bons religiosos de diversas ordens.


Divididos, trabalhavam dois em cada gal.
Um turco, gue Vicente convertera naquele 1623,
e gue fra batizado com o lorne de Lus, vivia ainda,
em Paris, guando Abelly publicou a vida do
santo. (3 )
Ao mesmo tempo, So Vicente socorria catlicos
da Esccia, Irlanda e Inglat era, com missionrios e
esmolas, trazendo,-os para a Frana, onde se re[u-
giavam. Foi o salvador da Lorena contra a gurra,
apesteeafome.
As guerras da Fronde devastaram a Champagne
e a Picardia. Vicente de Paulo correu a socorr-las.
Encarregou missionrios do enterramento dos mo,rtos
nos campos de batalha, com o cuidado especial de
trazerem os soldados sempre voltados para Deus.
Colabor,o,u com So Francisco de Sales no gue
diz respeito ao instituto da Visitao.
Tantos cuidados e trabalhos izeram com que o
santo adoecesse gravemente. Era em 1644. Um amigo
ntimo, o padre Saint-|ure, jesuta clebre pelas obras
de piedade, foi v-tro. Encontrou-o num violento
delrio, a dizer, debatendo.se febrilmente:
In spiritu humilitatis, et in animo contrito sus-
cipiamur a te, Domine. (4)
As crianas gue o santo cuidava estavam aflitas,
sem saber o gue .azer: choravam, gemiam, desoladas.
Afinal, acabaram fazendo uma promessa a Nossa
Senhora de Chartres. Um jovem missionrio', Ant-
nio Dufour, tambm doente, sabendo que o doce e
(3) Abel, L. f, c. XV.
({) 'Dignai-vos, enhor,
dis1rcr-me e receber-me nos senti-
mentos duma verdadeira humildade e dum corao contrito."
VIDAS DOS SANTOS 83

santo ancio estava enfrmo,, e er perigo de morte,


rogou a Deus, sincera e ardentemente:
Senhor, ouvi-me, to,mai-me em seu lugar!
Vicente, ento, comeou a sentir-s mlhor e o
jovem Antnio Dufour pior, morrendo pouco depois.
Era meia-noite_, _e trs pancadas ressoaram na po,rta
do quarto de Vicente. AbrirD-o, mas no havia
ningum. Vicente, que ainda no sabia da morte
de Dufour, ordenara que se comeasse o oficio dos
mortos: no havia duvida de gue fra instrudo pelo
sobrenatural. (5 )
{pe_nas rgs_t_lbelecido, foi o santo solicitado pelo
papa_ Urbano VIII, que lhe pedia missionrios p"r"
Babilonia e s ndias orientis. Antes qre prd".r"
satisfazer o santo padre, Urbano falecia, suspend,o-
se a emprsa.
Mais tarde, a congregao romErna para a pro-
pagao da e a le tamLm recorreu, pedindo mis-
sionrios pal? a ilha de Madagscar. Apesar das
revoltas da Frana, as tempestades e os nufrgios,
os perigos do pas, Vicente envi,otr sucessivamnte
muitos homens apostlicos, que morreram, todos les,
vtimas do devotamen,to. Mas Vicente no se desen-
corajava, dizendo que a Igreja universal fra esta-
belecida pela morte do Filho de Deus.

dos soberanos pontfices A dos bispos maiirizados,.


Multiplicou-se pela persegulo, ,o .*"rrgue dos rr-
"
tires foi a semente dos criitos. Deus .otur. provar
os filhos, premiando-lhes', afinal, a perseverana.
outra caridade ainda ocupava vcente de pauro:
os escravos cristos da frica ou da Barbaria. le
(5) Collet, L. IV.
84 PADRE ROIIRBACIIER,

mesmo pertencera ao nmeno dles e, pois, no podia


-
esquec-los:
Os religiosos para a redeno dos cativos col-
seguiam, d; q.r*o em quando, rec6rmbiar alguns
dies, mas n havia sacerdotes que consolassem os
que na servido viviam, sustendo-lhes a .,, incutin-
o-lhes fra e esperana numa prxima libertao.
Vicente .-pr""ndu tal obra de misericrdia. A Pro-
vidncia auxiliou-o, t
Havia em Tnis um cnsul francs, que o era
tambm de vrios pases cristos, e tinha direito
a um capelo. Msente enviou-lhe um zeloso mis-
sionrio, Lus Gurin, poirs outro, |ean de Vacher, o
primeino, morrera vitimado pela peste..
' Lus Gurin, depois de ter trabalhado por mais
de trinta e trs anos na salvao dos escravos, e dos
turcos mesmo de Tnis e de Argel, teve morte tetti-
vel: metido dentro da bca dum canho, espalhou o
sangue pela f em ]esus Cristo. H as vidas de mais
de nte companheino,s seus, que lhe foram sucessores,
em manuscritos que se guardam nos arquivos de So
Lzaro.
Quanto ao estado geral dos escravos cristos,
Lus Gurin escrevia a So Mcente de Paulo:
"Atendemos a uma quantidade enorme de doen-
tes nas galeras. Se stes muito so,frem no mar, oS
de terra"firme no sofrem menos. Todos os dias,
fazem-nos talhar o mrmore, expostos aos ardores
do sol, que so tais quais os duma fo,rnalha ardente.
, erpurrtoso como possam resistir a 'trabalho to
exceisivo e a calor to abrasador. capaz de-matar
ca.rulor, quanto mais sses pobres crisltos. Vejo-os
sempre com a lngua de fora, como acontece aos ces,
o que nunca penei fsse possvel a um ser humano.
VIDAS DOS SANTOS 85

"Ontem, um pobre escravo, velho, j bem velho


mesmo, sentindo-se 1, pediu permiss,o para reti-
r-se, gue se no agentava mais. Como resposta,
p9rm, teve apenas um olhar para a pedra em gue
labutava, como se lhe dissessem: Coninua! euia
gue soubesses quanto estas crueldades me tocam o
corao e me enchem de aflio!
"H, todavia, o lado edificante. Como sofrem
os po[gr com pacincia! Incrvel a pacincia gue
tm! E bendi zem a Deus pelas crueldaes tdas gue
os fazem passar. Posso dizer com tda a razo gi",
ns, os franceses, vencemos tdas as naes em
bondade e virtude.
"Temos dois doentes nas ltimas. Segundo
tdas no se recuperaro, raz pela
gual j?s..aparncias,
-
lhes ministrarnors todos s sacramentos.' A
semtrna pasrsada, morreram dois outros, dois perfeitos
cristos, cyia. morte, possg dizer, foi preciosa aos
olhos do senhor.- A ompaixo que sinto por sses
pobres afligidos, gue trablham a ,talhar o mrmore,
fora-me a distribirJhes uma parte dos refrigerantes
destinados aos doentes".
Ta! era, geralmente, a posio dos escravos cris-
tos de Tunis, em nmero de cinco a seis mil.
Alguns dles, pilhando patres menos brbaros,
passavam menos mal, mas havia, a atorment-los, o
espantalho da venda: mais hoje, mais amanh, po-
deriam ser vendidos a outros patres mais cruis
gue a venda e a troca de escravos-era comum entre os
senhores.
os escravos de Biserta, antiga tica, sobretudo
os de Argel, eram tratados *is desumanamente
os. de Tnis. Haa em Bisera, Arj"i
llld: que
'r'nis, somados, crca de vinte e cinco a trint mil"
86 PADR,E ROIIR,BACIER,

almas na senrido, homens, mulheres e crianas ver-


didos como animais, como bstas de carga, pelos cor-
srios muulmanos.
Antes da chegada dos missionrios de So Vi-
cente de Paulo, os- inortunados cativos no podiam
nem mesuro dar notcias s famlias, relegadas ao
abandono ou sem saber o gue dos seus fra feito.
a ir a
|ean de Vacher, dum feita, fra obrigad,or
Biserta, a antiga tica, e ao Santo escreveu nestes
trmos:
"Entre os essravos dste lugar, encontrei 9u-
renta doentes num estbulo to pequeno e estreito,
gue mal dava para andar. No recebem ar seno por
- ,urpiro, que se coa po-r uma gtadezinha de ferno''
prso no teto baixo. Tdos est acorrentadosr, dois
; dois, e vivem adoentados desde que ?-gui vieram
ter. No entanto, so forados a trabalhar, o gue
.azemnum moinho movido a brao, com a obrigao
i. ii", render uma determinada guantidade de f.a-
nha, gue lhes vai alm das fras.
"b" gue se alimentam stes pobres? De po^de
dor, ,"r.d"iramente. stes, sim, podem dizet: Co-
memos o po can o suot do tosto!"
Em rgel, o prprio cnsul ra exposto a maus
tratos pelos turcs. Quanto aos escravos, muitos
dles, ,rao suportando aguela vida, desesperados, m.a'-
tavam-se, e outros, acabvam por renegar a ''
chegada dos missionrios, graas s palavras
de consolao, s esmolas e principlmente s virtudes
dos sacruot"tior, trdo, a pouco e pouco, foi mqlhg-
,urrdo. Uma nova igreja ,rmou-se na frica. Cada
escravo era um confssor da f. Houve, mesmo, mais
de um mrtir. |esus Cristo, nos missionrios, estava
dia e noite agules membros sofredores. O
"rrr"
VIDAS DO SANTOS 87

tabernculo onde repousava jamais ficou sem uma


lmpada a alumi -lo. Todos os anos, por ocasio da
festa do Corpo de Deus, e durante tda a oitava,
ficava le exposto venerao pblica. As procisses
mesmas eram peridicamente realizadas.
Qual seria a alegria de So Mcente de Paulo,
j ento septuagenrio, ao saber de tudo aguilo que
os seus padres operavam?
Um dia, o cnsul da Frana em Argel, missio-
nrio, mas no nas ordens, foi prso, espancado, tor-
turado e, afinal, condenado morte pelo sulto, gue
queria constrang-lo a pagar imediatamente a ban-
carrota dum comerciante de Marselha. A importncia
ultrapassava doze mil libras, e o cnsul, chamv-se
Barreau, no pcssua mais do que umas pobres tre-
zentas.
Ia, pois, ser degolad_o, quando foi resgatado pe-
-los escravos mesmos. Sacrificando, todos les, as
pequenas economias, comprarrr-rro, j que le, para
servi-los, deixara ptria. E as minguadas ecryno-
mias pe.izeram a soma exigida.
Haver na histria humana coisa mais bela?
Vicente de Paulo ez com gue os cativos, aos
poucos, fssem reembolsados. E o cnsul Barreau,
quando voltou para a Fran, el 1661, consigo levava
setenta escravcs que conseguira libertar.
Vicente de Paulo resgatou, naquela poca, mil
-rrra
e duzentos escravos, pugudo por ci"r quantia
fabulosa.
Entre os mrtires gue a nCIva igreja da frica
enviou ao cu, conhecefil-se os seguintes. No ms
de agsto de 1646, o primeiro miisionrio escrevia
de Tnis ao santo:
I

88 P.ADIIE R9HR,B-ACHER,

"Creio-me na obrigao de levar o vosso co-


nhecimento gue, no dia de Sant'Ana, um segundo
fos foi sacrificado nesta cidade pela ccrsen/ao
d castidade, depois de ter resistido por mais de um
anCI s solicitaes da impudica patroa, recebendo
ais de guinhentas bastonadas, dadas as mentiras
gue a lba furiosa dle contou. Morreu gloriosamente
por no querer ofender a Deus.
"Prso ao pelourinho, envolto todo le em gros-
sas correntes pesadas, fui visit-lo. Recebeu-rtre com
um manso sorriso. Consolei-,o e exortei-o a sofrer,
a tudo sofrer, para no quebrar a idelidade devida
ao Senhor. Estava resoluto. Confessou e comungou.
Disse-me, ento i " Monsieut, gue me matem do jeito
gue quiserem mas morrerei cristo e cumprirei o
voto!" Quando apareceram paa lev-lo ao suplcio,
confessou-se ainda uma vez. E Deus bondoso guis
gue, para a condenao d,o pobre, fssemos admitidos
para assistir morte, o gue jamais fra permitido por
ste povo inumano.
"As ltimas palavras que disse, erguendo os
olhos para o cu, foram: " meu Deus, eu morro
inocente!"
"sse sano, jovem era portugus e estava com
vinte e dois anos. Invoco-lhe o socorro: como nos
amava na terra, espero que no cu nos ame tambm."
Pouco tempo depoisr, acontecia coisa mais ou
menos semelhante na mesma cidade. Dois jovens
escravos, mais vergonhosamente ainda solicitados gue
o anterior, acabaram os dias nos tormentos, por no
quererem prestr-se a paixes abominveis.
"O primeiro, francs, foi empalado em Tnis'.
Foi to intrpido aproximao do suplcio cruel e
I
VIDAS DO SANTOS 89

vergonhoso, gue, dos carrascos, um fugiu, e os outros


o executaram, tremendo como varas vrdes,,.
So palavras do missionrio que presenciou a
morte do moo.
o outro escravo, do qual se igno,ra a naciona-
Iidade, morreu gm Argel. Resisti"" uo, as:saltos do
infame patro. um dij ahacou-se o sedutor ."m
c,
e acidentalmente, o jovem defendendo-se, vazou-lhe
um dos olhos.
_Foi, ento, o pobre acusado de tent-
tiva de homicdio- vivo. rr;-g;;;;
- enqueimado
de morte, to terrvel, amedrontou o escravo.
"Fni um digno atleta de
missionrio.
|esus cristo, diz o
Edificou a todos ue o ltimo sr.spiro".
Havia em Tnis dois meninos de mais ou menos
doze anos, um da Frana, outro Jr r"graterra.
Ha-
ui1or. sido apresados junlos e vendidos
o*o escravos
a ools senhores gue mo,ravam perto um do outro.
A
amizade gu_e nasceu nos doi meninos estreitou-se
turt-9, que dificil seria encontrar amor igual J,
irmos. "*
.
o inglesinho era luterano. o francesinho, que
era bom catlico, falou-rhe das dvida; que h ;
pela luterana religio, e o missionrio "uu",
convenc-lo a converter. As,sim, abjurou os errois,;;
e
reuniu-se santa Igreja romana.
- um dia, surgiram em Tnis inglses luteranos e
hertico*f gue.vi"fiT, resgatar mas s os do
pas e da seita. Dando com"scruvos,
o pegueno, quiseram
Iev-lo, mas r@ inglesinho gritou ltmente que era
catlico pe-la miseiicrdia " Deus p""r"riu -fic,
-

na escravido tda a vida, professardo'a


" verdadeira
re[igio-, a renunciar a to grande be. para gurh,
a liberdade.
90 PADRE R,OHRBACHER

Os dois amiguinhos viam-se coostantemente, pelo


menos o quanto lhes era possvel. De ordinrio,
conversavam :sbre as vantg"tr. de ser fiel a Deus
Igr"1u, ....rrtando que seria mil vzes prefervel
a morte com sofrimento a renunciar religio. -
"-a
A Providncia preparava-os para o futuro, for-
talecendo-os.
Tempos depois, ao patro do francesinho deu-
lhe na veneta fizer com que c menino renunciasse a
|esus cristo. E, como resistisse,
foi severamente
chicoteado e deixado por morto no lugar do- supli9.
O urnigo, qru"a s'oube do que sucedera' foi'
ccrrendo, scorr-lo e ainda o encontrou no
mesmo
lugar, estiradt, d'olhos fechados, todo lanhado e
lado do fran-
ensang.rrtuo. Aflito, aioelhou-se o
cesinh, tomou-o nos braos, gritandc-lhe o.
nome'
iulsando-o rnolto. No morrera, porm, o amigo' A
ii q""rida e familiar, abriu os olhos e tentou um
sc,rriso.
Infiis, ento, deram de apar'ecer' par? gozar a
sem
cena e escarnecer. E o inglesinho, olhando-os
raiva, disse-lhes:
Vou cuidar dle, que sofreu por meu Deus'
Honro aqueles que sofrem por ]esus Cristo'
meu
Salvador e meu Deus'
Os turcos, a pontaps' esccrraaram-nos dali'
Qua,,do-o,f,u,'.esinho ficou curado das
feridas,
cinco dias'
oi visitar o amigo, i que, havia uns bons
"compuiec"t
.iruru le de . L chegando, encon-
todo
trou-o estirado no, catre, tal qual ]e estivera: porqe
lanhado e rodeado de infiis que -se riam'-
sofria. Diante disto, a corag". o francesinho redo-
;";. E, perante os turcos, em altas vozes' perguntou
ao amigo:
v.r SANTOS

A quem pertencemos ns a Jesus Cristo


ou a Maom?
A ]esus, Cristo! gritou o pequeno ingls. So-
mos cristos, e cristos, com a ajua do bm Deus,
morreremos!
Aquilo movimentcu os infiis, que se encoleriza-
ram. um dles, puxancro duma fiadissima f.aca,
avanou para o francesinho e num instante lhe
cortou
uma das orelhas, perguntando, a rir:
Ainda s cristo, verme?
Ainda, no! respondeu o menino COm SSO[-
broso sangue fri: e intiepidez. S"-pr" fui e nunca
deixarei de ser cristo! Vainosl Tou, corta-me a
outra orelha!
Tal desremor, parece, desarmou o bruto, de cuja
faca uildu pjnsav o generoso sangue do varen
jovenzinho. E, um a um, saram tc,dos] deixand;
tos, e em paz, os dois amigos inseparveis. t;;:
Deus, gue ambos haviam confess,ado com tanta
coragem, acabou por purific-los, por mais um
ano,
com uma molstia ccntagiosa, molti, gr.,
r, 164g',
os Ievou da terra ao cu.
Nos arquivos de so Lzaro, h os atos de mui-
tos outros mrtires. so pedras preciosas da pobre
igreja da Africa, ressuscitda pelagraa de De;;;
meio ao,s ferros, presdios e torments. -
Quando os missionrios de so vicente de paulo
no conseguiam livrar os escravos de todo, p-.rr-
yam, por todos os mei,os, adoar-lhes as amarguras,
f,zendo com ge p-udessem servir de pastres aos
c.ompatheiros de infortnio. A hierarquia catlica,
da qual o chefe est em Rom a, frente do univ"rro
cristo, estendia assim seus rgos e benefci.u ut
nas prises de Tnis .e Argel.
I
92 PADR,E R,OHR,BACHER

A mesma hierarguia comeava, ento, nas ruas


de Pris, pelas mos e So Vicente de Paulo, uma
t"-"lhunte: aftancar totalmente crianas cati'
"tu
vas morte, morte temporal e eterna'
Vimos o fara do Egito ordenar ao povo gue
afogasse nas guas do Nilo todos os meninos nasci-
dos entre os ttt."t. Conhecemos a legislao da
rZ.iu e de Roma pag, que no smente permitia,
mas ordenava aos pais afogar, decapitar, matar de
qrAq*r maneira, entre as crianas- recffi-lSCidas,
todo os nneninos e meninas gue lhes agradassem,
rr"tuJo quando no lhes parecessem saudveis ou
robustos.
Numa palavra, vimos a legislao.humana pvnir
o assassnio d,o homem, gue podia defender-se, mas
oermitir ou mesmo ordent u--orte da inocncia, da
tragilidade, do indefeso.
"
Na China idlatra, o pai e a me atiravam o
filho s imundcias da rua, o lamaal vizinho ou no
bebedouro d,o's Porcos.
No ouvimos porventura a Deus feito homem, a
tambm meninos,
|esus, gue foi criana? Traziam-lhe
Dara que os focaSs, Vendo isto, os discpulos rc:
'rr"ini.dtrt-rtos. Jesus, potm, chamando'os a si'
"iitrL-,-''Oeixri uir a mim os meninos, e no os emba-
raceis, porgue o teino de Deus dos gue se parccem
';;;
d;;. E* uerdade vos dgo: o gue no tecebet o
,iiio a" Deus como um tnenio, nl no enttat, ()
Antes de ]esus Cristo, as crianas abandonadas
pelos pais eram crianas perdidas' D-enois de )esus
'Cristo, tornara[l-Se as ctianas enc ontrada, ilCofl-
trdas' porta das casas, dal igrejas, dos hospitais,
(6) Lc. 17, 16, 17.
I
VIDAS DOS SANTOS 93

onde eram abandonadas pelo crime ou pela misria,


encontradas e ad,o,tadas pela caridade,
Acontecia, e no raro, que, depois de essas crian-
as encontradas serem adotadas por -pessoas carido-
sag, por casais bem formados, gue cuidavam dos
pobres rfozinhos com desvelor, io*o se foram seus
prprios filhos, surgia o pai ou aparecia a me, recla-
mando-os. E quela ciiana, que teria um futuro
sorridente, faltariam os meios e o ambiente gue lhe
daria os pais adotivos.
- lrrS po,r cbro a isso, o primeiro imperador
cristo declarou, por lei, que ai crianas expostas
pertenceriam a guem as encontrasse e delas cuidasse
e nutrisse. Pertencer-lhe-iam como escravos ou como
filhos.
Que f.z o conclio de Vaison? Mais ou menos
na metade d,o sculo V, renovou aguela mesma orde-
nao, confirmando-a.
Nas parquias crists do campo no havia crian-
as encontradas, porque no havia criana abando-
nada nem perdida. Nas grandes cidaes j no
acontecia o mesmo, principalmente depois das revo-
Iues que corrompiam a fc e os costues dos povos.
Assim, em Paris, com a anarquia religiosa, inte-
lectual e moral de Lutero e caivino, ai crianas
expostas s portas das igreiqs ou nas praas pblias
eram em grande nmero. Comissris levaam-ls
po: ordem da polcia. Quantos dles no criaram,
talvez, po,bres enjeitadinhos? A maioria, porm, ia
para a casa duma viva que residia num csaro da
rua de so Landri, e gue, tom duas criadas, s eocr-
regava das crianasr, vestindo-as, banhando-s, ali-
mentando-s, cuidando. de tudo.
94 PADR,E ROHIT,BACHER

Como, porm, grande era o nmero de crianas


abandorradas e pequeno o dos caridoso,s, a viva do
casaro, por ,,r gue fiesse, no vencia a avalan-
cha e, por, a mc,rte por falta de trato, principalmente
de alimentao , ea inevitvel. Que poderiam f-azet
trs pessoas com uma multido de crianas? Por
mais que se desd,c,brassem, era humanamente impos-
svel cumprir programas.
O mais epfuravel era a morte sem o batismo.
A viva *"r*o chegou a dizet que no z batizat
nem batizou qualguer criana.
Quanto s raras p.ttut que a esta ou quela
criarrf l"rurru , paa'delas cuidar, s vzes acaba-
vam por se abonecer g pass-la a outras, -9ut por
sru i"r, dos pobrezinhs se desfaziam, devolven-
do-os, ou abandonand'oFos rua novamente'
Tal desordem tocava sensivelmente o corao
imenso de So Vicente de Paulo. Convidando algu-
mas senh,c'ras para debater o caso, reuniu-as em sua
casa: queria u todo transe resolver aqule -problema
ou ento ,"*di-lo. Era um espetculo deplorvel
o das mes a abandonar os filhos morte'
E lamentvel, dizia, entristecido e abatido,
mais lamentvel, pareCe-Ire, que o massacre dos ino'-
centes por Herodes.
rrnugudas por uma imensa compaixo, mas no
podendo encarr.gur-r" de tda a multido de crian-
;;;;;dr; ,serihoras prometeram incumbir-se de
;;".- b, puru t o"rur a Providncia divina, da qual
ignoravam oS desgnic,S, resolveram tirar a sorte, ao
ivs de escolher eita ou aquela'
Em 1638,-lrrgo,r-se uma casa porta de So
Vtor, para aloiar s pobtezinhos. E a viva Legras,
com as irms de cariade, entrou a cuidar das crian-
VIDAS DOS SANTOS 95

as, alimentando-as com leite de vaca ou de cabra,


mas logo passando alimentao slida.
- Aguelas primeiras crianas, as virtuosas senloras
foram reunindo outras, segndo podiam arcar com
a responsabilidade. E sempre tirvam a sorte.
Afinal, nos comeos a t 640, houve uma ssrr-
bleia
.g"r{-p-rra_tratar do problema da criana aban-
donada. Nela, vicente de-Paul,o louvou a ,bd;;"
das devotadas ,s,enhoras, que se debatiam com
ues-
to de dinheiro. E consguiu( do rei uma verb de
doze mil libras.
Com tal auxlio, a coragem das senhoras, ga-
nhou mais alento e o vaivm na casa porta de So
Vt,cr continuou.
As vicissitudes pelas quais a Lorena passava, o
temor de revoluo no Estado, a Fronde , f.z com
que o nmero de crianas crescesrse. E crescia, assus-
tadoramente, dia a dia, tan'to gue a coragem d-as no-
bres damas foi amortecendo.
Tal despesa, diziam. nervc,sas, est longe,
bem longe de podermos sustentar.
Foi para no deixar de lado assunto to impor-
tante que so vicente de Paulo convocou, em 164g,
outra assemblia geral. As senhoras de Marillac, de
'no,-
Traver,srai, de Miiamior, outras de respeitvel
meada, compareceram. Debateu o santo'o problema
da continuao da grande obra comeada. Fe.- des-
filar as raze.s tdas-, os prs e os contras.
Dum lado, no havia gualguer compromisso,, a
assemblia era livre de estaluir aguilo qi"
;rljar.
mais conveniente. Doutro lado, vcente -fez ve gue,
pelos desvelos caridosos, aguela mesma assembiia
havia at. aquela data .orrr""do a vida duo, g";;;
nmero de crianas gue, sem o socc,rro que nham
t-

96 PADII,E R,OHRBACHER,

tendo, estariam perdidas talvez P?ra a eternidade.


Aguelas crianas, o aprende r a alar, a conhecer as
cor"., no passavam tambm a conhecer e a senrir o
Criador? E o santo, elevando um pouco a voz, te-
minou:
Eia, pois, nobres senhoras! A compaixo e
a caridade levaram-VOS a adotar as crianas como
vossos filhos. Fstes-lhes mes segundo a graa,
depois gue as verdadeiras mes, segundo a natureza,
as abanonaram. Vde agora se ides abandon-las
tambm. Tais vidinhas esto em vossas mos, ou a
m,o,rte dos pobrezinhos de Deus, conforme agirdes,
senhoras. Vivero tdas se continuardes com vosso
caridoso cuidad,o, morrero e arruinar-se-o infalivel-
mente se a tdas abandonardes. A experincia no
vos permitir dvidas . . .
Vicente pronunciou essas palavras com um tom
de voz gue azia conhecer, g b.-, gual lhe era o
sentimento; as senhoras, tocadas, unnimemente co[-
cluiram ser necessrio continuar sustentando a luta,
a gualguer preo. E, entre elas, combinaram o gue
se havia de azer,
Para alojar as crianas, qyatdo j desmamadas,
so,nseguiram do rei o castelo de Bicetre. Como, po-
re-, clima ali lhes parecesse contrrio sade,
"
levaram-rs a So Liaro, onde dez ou doze irms
Je caridade se encarregaram da educao dos rfos'
o* o tempo e a ajud de Deus, outras casas foram
rlirrao. A obra de So Vicente de Paulo foi imi-
;;d em todos os pases da Europa, passando santo,
Am-
rica. Quantas rianas foram salvas pelo
devendo-lhes a vida e a educao?
Os bons catlicos da Frana e da Europa devem
a So Vicente alguma coisa mais preciosa mesmo
VIDAS DOS SANTO 9?

que a vida a pureza da f catlica, que a seita


janseniana queria raptar nos comeos do sulo XVII.
Um magistrado dizia ao historiador Fleury: "O
iansenismo a heresia mais sutil que o diabo ;' teceu.
Os _partidrios, vendo que os prc,testantes separados
da Igrefa so excomungados, tm por mxim funda-
mental de conduta, jamais se separarem exterior-
mente, e protestam sempre submisso s decises da
Igr'eja, com a condio de procurar todos c,s dias
novas sutilezas para explic-las, de sorte que parecem
submissos sem mudar de sentimentos.
De fato, como pode ver-se no tomo XXV da
Historia Uniuersal da lgreja Catolica, os sectrios
diziam cruamente, na intimidade de Vicente de paulo,
que a inteno formal do jansenismo era destruir a
Igreja e a religio.
Ora, depois de Deus, foi So Vicente de paulo
que preservou a Frana e a Europa de to grande
mal.
De tdas - as personalidades do tempo, foi c,
santo quem refutou a nova heresia com mis ardor,
quem mais se rodeou de zlo para combat-la. Basta
ver-lhe asr cartas. So um monumento histrico do
zl,o e do gnio de so vicente. Nao o vemos mais
:9To o pai dos rfos, mas como Doutor da Igreja.
Nle, vem-se o esprito, o corao e a almu .uol.u
da Frana. Foi dle que parti o primeiro impulso
que mcvimentou o rei, a rainha e os bispos. v-se
]gora porque a Providncia o colocou na crte e
frente do cons,elho de conscincia: era para ser o
anjo tutelar do reino num dos momentos mais peri-
go,sos.
uma das ltimas aes de so vicente de paulo
foi distribuir exemplares da regra aos membros da
r@
98 PADR,E ROHNSAC H ER,

sua comunidade. Relembra sucintamente de que


maneira comeara a obra das misses, o retiro dos
ordenandos, ur confrarias de caridade, a obra das
crianas encontradas. E acrescenta:
tNo sei com,o tudo se 2. No o poslso dizer,
Eis, Monsieur Portail, gue tudo foi aparecendo. Os
exerccios da comunid ade, como surgiram? No sa-
bria diz.-lo. As conferncias, por exemplo (ot!
ainda outras faremos juntos!) com-elas nem 'sonhva-
.or. A repetio da orao, gue outrora era despre-
zada,. gu agora se pratica com bnos em muitst-
simas comunidades, passou jamais por nosso peos-
mento? E os vrios exerccio,s gue se empregam na
comunidade? No sei de nada! Fz-se a pouco e
pouco, sem gue dssemos conta. -As coisas vieram
ssim,' diramos, de mansinho, uma aps outra. Foi
Deus, nicamente Deus, quem inspirou tudo"'
Rcgava, ento, aos padres, notadamente a--Por-
tail e lmras, gue viessem receber as regras gue
estabelecera, uma Yez gue lhe era impossvel ir a
cada qual, como, todavia, desejava-.
Vieram les, pois, e de_- joelhos as receberam
beijando o liro, as mos de Monsieut Vicente, com
;;;fr; rlaade. E vicente, a cada um dles'
dizia:
Vem. Para que Deus te abenoe'
Termin A dstribuio, Almras ajoelhou-se
"
e pediu ,o ,"to- q"" o abenoasse e a todos,
igual-
mnte de joelhos.
Vicente, tambm prosternado' orou a Deus:
,--' Senhor, v gue sois a lei eterna e a tazo
imutvel, vs que governais todo o universo
por vossa
emana' como duma
ilfi"d ."b"dtiivs, de guem
as regras do bem
f"t", tda u .o"uta das criaturas e
viver, abenoai, por misericrdia, os gue agui recebem
as regras, como se vindas de vs'. DaiJhs, senhor,
as graas neces;giaq pgra gue as obsenrem sempre
com inviolvel fidelidade at a morte. com ."-
fiana, pensando na vo,ssa infinita b""dud", qr" ;;,
qecS{or, e pecador miserver,-pronuncio as ptu"rut
da bQno: "9y" a bno d Nosso senhr
Cristo .desa sbre vs ; em vs permanea para iil;
lempre!- Em nome do Padre, e do rifuo
Santo. Assim ,seja". (T) "
-Hrffi;
o santo homem fz ainda perto de trinta confe-
rncias aos missionrios sbre esprito e a prtica
{e ggas regras. Era-lhe o testamento, o testamento
de Elias Igreja
so vicente de Paulo morre u a 2T de setembro
de 1660.

***

(7) Conferneias inditas de so vicente de pauro.


-

so cosME E SO DAMIO (")


Mrtres
AorigemdocultodeSoCosmeeSoDamio
Norte. Teo-
lacaliza-se em iro, cidade da Sria do
;: ". r.itt; Jus'"lu cidade' no sculo V'
'Sao Cosme e d baslica dos d'ois santos
i"f" aL
irmos.
so Greqrio de Tours assim se refere aos dois
(In loria mirt., XCVIII): "Dois gmeos, Cosme e
;Ji;, Li.os, tornarr-se cristos, e pelo.mrito
virtudes e intervenc' das oraes' gxptllsavam
das-.ri.rmidaet
r ot dentes' -Depois de diversos
pelos
suplcios, reunirrr-se no cu e azem milagres
compatriotas. se um doente for tumba dos
dois
com f, imediatamente obter remdio
santos e ali orar-que
;;;;;t -ule, o afligem' Dz-se que les P'
reciam .* .orho. .tt[r*ot e
que lhes indicavam
;;;;- .azer. Uma vez despertos e executadas as
ordens, curavam-s Poltamente"'
Procopio assevera-nos que |ustiniano' no
sculo
templo, que d-"9:
VI, construi em Ciro urn irurrde 530'
ccu aos doi.'ru,tt' Teqdo"sio, o peregrino' 93
observa que,' i"- ai"iro so cosme e
So Damio
foram supliciados.
O resumo do martirolgio diz;
4:
U
F
a
U
o
a
a)'

zFl
o
a

os santos irmos cosme e Da,ml,o cuidando de um enfmo. Segundo uma pintura


. de Francesco peseltt. Sculo XV.
PADR,E ROHR,BACIIER,

"Em Egia, a morte dos santos mrtires Cosme


e Damio, irmos: durante a perseguio' de Diocle-
ciano, depois de terem sido carregados de ferros e
encarcerados numa estreita priso, foram atirados ao
mar, depois ao fogo, em seguida pregados na crnz,
lapidad. trespatsados de flechas. Tendo a tudo
suplantado," foram, afinal, decapitados. Contam que
com os doiS tambm sofreram e morreram seus trs
irmos ntimo, Lencio e Euprbio".
No Oriente, ambos os irmos sc comemorados
a 1.n de novembro, 1.e de iulho e a I 7 de outubro. Uma
Paixo grega situa-lhes a morte 'a 25 de novembro.
Os noms de Cosme e Damio aparecem no cnon da
missa rcmana
Adon e os martirlogos subseqentes juntam
ntimo, Lenci,oi e Euprbio aos dois santos mt'
tires.

***
so SIGISBERTO (*)
Re e Mrtir

Depois da morte dum irmo, que foi assassinado,


Sigisberto refugiou-,se na Galia. Pago, recebeu o
batismo e fz questo de receber ensinamentos mais
profundos da religio crist.
Depois de alguns anos de exlio, tornou ptria.
Era em 630, e o pas jazia no paganismo e funda-
mente mergulhado na anarquia.
Ajudadc, por Sao Felix, bispo que viera da Bor-
gndia, Sc Sigisberto levou o cristianismo por todo
o pas. Tendo fundado escolas' e mosteiros,.resolveu
abdicar, para retirar-se a uma das fundaes, feito
monge.
Quando pretendia internar-se flul dos mostei-
ros, no de Santo Edmundo, os brbaros atacaram-lhe
o reino. Chamado assim s armas, o santo atirou-se
s batalhas, seguido ardorosamente pelo pov,o. Ba-
tido e morto, em 637, considerara-no iogo como
mrtir e entraram a vener-lo.
Diz-se que, ao enfrentar o inimigo, desteler,os-
mente, levava nicamente uma cana de junco na mo.

***
SANTA HILTRUDES (N)

Virgem
Hiltrudes, filha de Wibertc, conde de Poitiers,
e de Ada, nobre franca, viveu na vasta propriedade
dos pais, terras de imensas florestas e be[s pasta-
q"rrt, situadas entre o Sambre e o Mosa e Hainaut e
Thierache.
Em Molhaim, Wberto fundou um mosteiro:
conta-se que, um dia, a caar, quando perseguia um
;'avali, deu com um lugar to belo e apazvel que o
denominou Let;cia. Ali surgiu a fundao, que logo
progrediu. Uma capela, em honra de So Lamberto,
ergueu-se em 790. Gcntrad, filho de Wiberto, foi o
primeiro abade da nova casa.
Hiltrudes, prometida a Hugo, conde da Bor-
gonha, triste com o fato de que em breve devia Csf-
J", ,o tinha corao para Deus, ao qual queria dar-se
to somente, principalmente agora, que o pai f.izeta
erguer um vasto mosteiro, onde o bom irmo vivia.
Se pudesse deixar a casa em que. nascera, os pais
que amava, livrar-se do amor dum homem para ter o
amor de |esus . . .
Numa noite de tempestade, acompanhada de
pessoas de confiana, i que Wiberto insistia no
luru*.rrro, Hiltrudes deixou o castelo e fci refugiar-
se na floresta vizinha. |. Peter, no seu Sa,. Hilttudes,
VIDAS SANTOS

Padroeira de Lessies, citando Shakespeare (Re


Lear) , diz gue, dum lado, o velho rei, louco de amor
paternal, fugia, na tempestade, do castelo da filha
ingrata, e, dcutro, a santa filha, em meio a tormenta,
deixa o castelo do pai muito amado para salvar o seu
amor por ]esus.
Hiltrudes, tendo recebido o vu das virgens, com
a bno do bispo de Cambrai, foi recebida pelo
irmc,, que a acomodou atrs da capela do mosteiro.
A s,anta ali viveu por dezessete anos. Quando adoe-
ceu, teve a alegria de receber a visita dos velhos pais,
que lhe amenizaram as durezas da doena.
Falecida a 27 de setembro de 800, o luto e a dor
abateram-se na regio que ela socorria com fartas
esmolas e sbios conselhc,s.
Enterrada na capela do claustro, logo depois
operava vrios milagres.
O culto de Santa Hiltrudes antiqussimo, e
vem-se mantendo vivo atravs dos sculos. Ainda
hoje se fazem peregrinaes sepultura da santa
virgem.

No mesmo dia, em Sora, no Lcio, So Deodato,


confessor, de cuja vida nada se conhece.
Na ilha de Barry, So Barroc, ermito. Disc-
pulo de So Cadoc, viveu do sculo VI para o
sculo VII.
Em Paris, Sac Cerano, bispo de Paris. So
Simplicio foi scu predecessor e Leodeherto o suces-
sor. Faleceu depois de 614.
PADRE ROHRBACHEII,

Perto de Cingoli, na regio de Ancona, So


Bonflio, bispo de Foligno, falecido em l ll5, ao gue
se supe.
Em Roma, Santa Epcares, dama de estirpe se-
natorial, gue, depois de ter sido dilacerada com aoi-
tes guarnecidos de chumbo, durante a mesr pers-
guio, pereceu pela espada.
- Em Todi, os santos
mrtires Fidncio e Terncio, sob o, mesmo imperador.
- Em Crdova, Santo Adolfo e So |oo, seu irmo,
que receberam juntos a coroa do martrio, durante a
perseguio dos rabes.
- Em Sion, So Florentino,
que depois de ter a lngua cortada, pereceu pelo ferro
juntamente com Santo Hilario. Em Biblos, na
Fencia, So Maros, bispo, a quem So Lucas tam-
bem deu o nome de |co. / Em Milo, So Caio,
bispo, discpulo do apstolo Sao Barnab que, depois
de muito sofrer durante a perseguio de Nero, rnor-
reu em paz.
confessor.
- Em Ravenna, Santo Aderito, bispo e

***
-

28., DIA DE SETEMBRO


SANTA LOBA
Virgem e Abodsw

Nos meados do oitavo sculo, enguanto So


Bonifcio, apstolo da Alemanha, propug"ra o Evarr-
ge1ho, e fundava arcebispados e ecolr,"uru simples
religicsa da Inglaterra screveu-lhe em latim u' ,"-
guinte carta:
"Ao Reverendssimo Senhor, agraciado com a
dignidade ponrifical, Bonifcio, gu" , cristo-;
to caro, e a guem, alm diss6, me unem laos de
parentesco, Liguth",
porta o iugj to leve de-u ltima das servas qL" su-
cristo, saudaes e sade
perptua. Suplico,-vos gue vos digneis a lembrur-r,
da velh a amiza* com gue out"or honrastes meu pai
-cujo
nome era Tinne, e que encerrou a sua carreira
h mais de oito anos, a fim de que vos recuseis
.a
rogal a Deus pela sua alma. "a
R""o-errdo-ros il:
bem a lembrar de minh a me, gue se cha-a
Eb"
e que,_ melhor do que eu- o sabeis, est ligad ;;;
pelos laos do sangue; leva uma vida pro.r
e h
mujto tempo que uma enfermidade a atormenta. sou
a nica filha de ambos. Embora indigna, possa eu
merecer que vos considereis meu irmo, pois
el lre-
108 PADR,E ROHRBACHER

nhum de meus prximos tenho tanta confiana como


em vs. Envio-vos sse pequeno presente, no que
seja digno de vossa grandeza, mas para que o con-
serveis-a lembrana da minha insignificncia, e para
que a grande distncia no seja causa cle esqueci-
mento; ao contrrio, para que os laos do 'erdadeiro
afeto se estreitem cada vez mais. O qtle com mais
insistncia vcs peo, bem-amado irmo, e que 9.u leia
protegida pelo esudo de vossas oraes das flechas
rrrr.ri"t adas do inimigo oculto. Tambm vos pelo
que vos digneis corriglr a rusticidade desta epstola
; que no me ,ec,rrs , paa servir-me de modlo'
algumas palavras de vossa afabilidacle, que estou
arriio.a para ouvir. Quanto aos versinho_s que se
encontram mais abaixo, tentei comp-los de acrdo
com as regras da portica, no levada p9r qualquer
presuno," mas para exercitar meu dbil e insigni-
ticanteialento ,ot ,ro,rra benevolente direo. Apren-
di essa arte com Edimburgo, que no cessa de me-
Jitu, a lei divina noite e di. Desejo que passeis bem
de sade, que vivais longamente e f.eliz, que rezeis
por mim. (l )
Essa boa religiosa, como ela mesma nos conta'
chur*rr-se iiobgith", mais comumente Loba. No
;ig; alemo, J p-rimeiro nome quer- dizet Amada
Amada' em
de Deus, no grego'Philothia;- o- segundo'
;;; piiorri"". Desde a adolescncia, Santa Lioba
fra consagrada a Deus, e internada nc Mosteiro de
Winburn, ,o u direo da abadssa Tetta, irm do
.gi ; Inglaterra. Deicava-se aos trabalhos manuais,
porm aida mais leitura; de maneira que se tornou'
ao mesmo tempo, santa e sbia. Tendo So Bonifcio

(1) EPist. 36.


VIDAS SANTOS

reclamado a sua presena para servir-lhe de conslo


e de ajutrio, a abadssa muito sentiu dela ficar pri-
vada. Quando Lioba chegou Alemanha, So Bni-
fcio resolveu utiliz-la u fo",nr" de' religi"- ;;;,
tal como se servira de so sturm na f,c,rmaio de
monges. _Co1stry]u para ela um mosteiro no lugar
chamado Bischofsheim, isto , casa do Bisp",
que uma cidade da diocese de Maiena conservou; ""-
pc,is o mosteiro nc mais subsiste . La foi constituda
qmu grande comunidade, da gual saram as abadssas
de vrios outros mosteiros.
santa Lioba dava o exempro de tdas as virtudes.
Alem disso, era um prodgio e conhecimentos,. Ini-
ciada desde a infncia na gramtica, na potica, e em
outras artes liberais, aumentava sse tesouro, por meio
do estudo e da Ieitura assdua. Lia com ateno os
Iivros do Antigo e do Novo Testamento, e grvv-
lhes as mximas na memria. A isso juntava as
palavras dos santos Padres, os decrecs dos .""".
e todo direito de ordem ecresistica. Entrtr;t;,
sabia mostrar-se discreta em
tudo. como a regra de
sg Bento permite a meridiana durante o estio, isto
, dormir um pcuco depois do jantar, dormia.e fazia
com que suas irms tambm dormissem. "A privao
do sono tira principalmente o gsto de ler'i,
vava ela. Ma-s, seja que dormisse noite, ou depois
"br""-
do iantar, fazia ."-pi" questo de que lhe l"rr".
as sagradas Escrituras. |ovens ,"u"r^*l-se junto
ac',seu leito para fazer essa leitura. E, o que mara-
vilhoso, se saltavam qualquer coisa, ."rr dorminJo
ela as censurava. Pde.ia dizer como a espsa dos
cnticos: "Durmo, mas meu corao ,rera'i. s"oJo
a primeira pela autoridade, pela
'rtud" e pela cul-
tura, contudo se cc,nsiderava a ltima de tds. p;;-
110 PADR,E R,OHRBACHER,

ticava com especial cuidado a hospitalidade: ela Pt-


priu lu"".ru o, ps de todos e servia-os mesa, embora
permanecesse m jejum. O demnio no pde supof-
iur o esplendor de tantas virtudes'
Ua infortunada mulher, prostrada p.ela doena,'I'odos
d,o,rmia porta do mosteiro e-pedia esmolas.
os dias leiarram-lhe comida da mesa da abadssa e
as religiosas forneciam-lhe, pelo amor de Deus, foU-
pas e outras coisas indispensveis. Tendo-se essa
inf.eliz criatura deixado crro*pet por um libertino,
fingia-se de doente paa oculta as tonseqncias d'o
,J i*"- E, haredo dado luz uma criana, du-
rante a noite, atirou-a ao rio gue passava-mulher junto ao
qye- fra
-mt"ir". De manh cedo, uma
buscar gua, encontrou a criana morta e abalou a
aldeia inteira cor seus gritos, dizendo que as reli-
giosas, lo,uvadas como santas, assim b_atizavam seus
ilho.,'ineccionando a gua do rio. O povo.reuniu-
,", .ii"io de indignao, imediatamente a abadssa
mandou chmar uma religiosa que se ausentara com
o seu consentimento', a pedido de seus prprios p"l:;
'Deus
esta protestou perante a sua inocncia,- supli-
."a-fre que "rr" a conhecer I culpada. A aba-
dssa reuniu as religiosas -os d, e com
na capel elas ci-
"de braos estendidos
tou todo o saltrio, pC, com
,rur; depo,is, caminhou frente de tda cotu-
"^
nidade em trno do mosteiro, ef, procisso, trs vzes
por dia, tra, sext , nona' Depois de.'aze'
I",,-rro pela terceira vez, estando tdas as monias I
igreia, ptlt*a do. povo, Lioba aproximou-se do
"u
;il;i. d"'p, i"t" d cruz da procisso, estendeu
as mos", para o cu e falou entre gemidos e lgrimas:
;$;h;;'1"ru, Cristo, rei das amante da
'itg"t"'
pi|i, fi"r, inrrncvel, mostrai vosso poder e livrai-
VIDAS DOS SANTOS 111

n'o';sd infmia gue no6 imputam, pois osr insultos dos


que vos ultrajam recaem sobre nos! "No ..r;-
mento, a infeliz pecadora foi tomada pelo demni-e
confessou seu crime diante de todos. ' poro ,."i"u
graas ao senho( corl
-grandes gritos; s religi.;r;
justificadas, choraram d ,
alegria,"mas .ulpud;;;;
maneceu posrsessa durante o resto da vida. ' D

Santa Lioba opero,u vrios outros milagres.


Antes de levar a efeito a ltima misso na Fr-
sia, onde deveria encerrar seus trabalhos com o
rtrr-
trio, so, Bonifcio recomendou santa Loba u sao
Lulo, seu discpulo e sucessor na sede d; M;;"
fz questo de gu", upgs a sua *rt"-,a foss
sitada no mesmo tmulo em gue le'devia ,"pourur,
A6;j
no Mosteiro de Fulda. santa Lioba roi n"rrra;;
prncipes e_
_rgis, particularmentg po,r Carlos M;;
A rainha Hilde grda, espsa deste urtimo, rv-
como a uma irm, e mandava cham-la sempre
oue
podia, a fim de edificr-se com a sua
ltima vez em gue se viram, su"tu-n" ,"f""I". i;
Li;"r-
mais afetuosamente do gue d" ooutu., na
boc,
testa e nos olhos, dizend: "Adeus, prcioro "
p"uo
da minha alma! Permira nosso c"i" e Redentor,
Jesus -cristo, gue nos vejamos sem confuso
do julg.amerrto, pois no mais nos reveremosno dia
neste
mundo". Com efeito, a santa faleceu lor_ t""
depcis, no Mosreiro de S.lr;;".h;;,*r*tulT
de Maietr, no dia 2g de setembro
de TTg.
ffi::
**t
so CARITON (*)
Abade
Cariton nasceu na Liconia' sia Menor'
Tendo
retirou-
sofrido, pela [, sob o imperador Aureliano'
se a Palstina e ali iniciou vida de
ermito'
Estabel".i" * uadi Farak, a leste de |erusa-
lm, principiu* os discpulcs a afluir.
E, a medida
que iam aparecendo,
- iam construindo celas ao redor
de Faran,
da do santo. surgiu assim a comunidade
em cujo centro Criton erigiu uma
igreja'
para l)uka' nova corlu-
Mais tarde, retirando-se
primeira' Outra' ainda'
nidade ,rrgir, ,tlhu"te
-;i de Suka'
apareceria Kareitun' chamada
"; quilmetros de Belm'
,ituada a sete
diriamente'
m tdas, ieiuava-se at de tarde'
gua, ao qual se
Comia-se, ;,J,-" *oinuao em
*.!,u *1. Ci canto de salmos ea freqente'
ofV-sedediaedenoite,eOtrabalhomanualobri-
io.io e a hospitalidade sagrada'
uo'"'cli,""-r'-[u;--Sao ariton faleceu no ano
de 350.

***
-

SANTO EXUPRIO (*)


Bispo
Santo Exuprio foi bispo de Tolosa, tendo suce-
dido a Slvio, aqule prelado que dera incio cons-
truo duma baslica dedicada a So Saturnino, pri-
meiro bispo e mrtir (250) . Santo Exuprio- termi-
nou-a e para o templo transeriu as relquias daquele
mrtir.
Sc |ernimo tinha-o em alta estima. Em 394
ou 395, escrevia viva Fria: "Vs tende ai a
Exuprio, um santo, que vos poder instruir com seus
conselhos".
Santo Exuprio viveu nos tempos em gue os
vndalos, terrveis, assolavam a regio. Quantas
vzes, para matar a fome dste ou daquele habitante
de Tc,losp deixou de comer!
Supe-se que tenha, por aquela poca, sido exi-
lado. Pelo menos um poema dagueles idos fala de
"um santo velho, banido da cidade prsa do fogo,
conduzindo, pastor exilado, as cvelhas feridas".
Santo Exuprio faleceu depois de 411.

i**
i,.

SANTA EUSTQUIA (*)


Virgem
Filha de Santa Paula, flor da aristocracia orr-
r, Santa Eustquia nasceu em 367, O pai Toxtio,
era pago. Assim gu chegou juventude, dois
tios, Himto, e Pretextata, procuraram instilar-lhe o
venenoso gsto pelo mundo, fra, e s no levaram
avante obra to mpia porque a morte, colhendo a
tia, ps fim a brbara seculari zao,
Depois doc,utono do ano de 382, ]ernimo estava
em Roma. Gozava, ento, d,e grande prestgio. Pro-
curado para f.azer conferncias na casa duma grande
dama de Aventino, chamada Marcela, logo Santa
Paula e a filha, encantadas com o mestre, .aziam
parte dos seus mais ardentes discpulos.
Para aqule grande mentor cristo, Eustguia
f,c,i ouvinte atenta, depois dirigida modlo. A ela
endereou -seguro guia espiritual, e a sua mais longa
carta em matria de espiritualidade (Epstola XXII ) .
Em agsto de 385, perseguido pelos inmeros
inimigos, morto que estava o seu protetor, o papa
Sao Damaso, So |ernim,c, buscou a Palestina. No
tardou pa-ra que Paula e Eustquia, seguidas de outras
virgens, fssem juntar-se ao grande Doutor. Esta-
belecidas em Belm, Santa Paula e a filha ficaram,
assim, ao lado do guia incomparvel.
VIDAS DOS SANTO S 115

Data dagueles tempos os progressos mais c,-


tuados e maravilhos,c,s de sant Estoquia, e a carta
que me e filha escreveram a Marcela, gue ficara em
Roma, na gual carta calorosamente a convidavam -
para viesse juntar-se ao piedoso grupo.
-gu-e
sob a direo do velho'e santo"msfte, Eust-
guia progredia na santidade ininterruptamente, e,
certamente, a ela gue o Douor pinta numa carta
gqe escreveu a Fria, onde, em ierto trecho, diz:
"oh! se tu visses tua irm, se tu ouvisses qr" ti"il-
gem lhe sai da
-bca sagrada, que grande ah tu
verias naquele_ frgil corpo! T otiririas todos os
tesouros do velho e do Novo Testamento sairem,
candentes, do seu corao. Os jejuns, para ,
brinquedos, a orao dLlicias,,. "lu,
santa Paula, faleceu a 26 de janeiro de 404,
-gue
deixou filha a direo das armas- q" rrr
afetas. Qepois de i"r conhecio ;;r ai"r, "r;;;
-",
sempre voltada para Deus, sem se desviar um rrro-
mento sequer do- suave |esus, faleceu, ao que se su-
pe, em 419, quinze anos, portanto, depols da
santa
me.
Foi um grande golpe para So |ernimo, porgue
Eustsuia Ih for"-u''. o anjo visvil ";.1,;
le a Ripri,o,: "A sbita morte da santa e venervel
virgem de cristo, Eustquia, perturbou-rr muito e
quase mudou meu gnero de vida',.
Pouco depois, ia-se tambm o
nimo gozar da paz eterna (Ver So -grande So ler-
]ernimo, 30
de setembro ) .
**t
so sALoMo (*)
Bispo
Salomo, bispo de Gn,cva , ea ilho de santo
Euqurio, que foi-bisfo de Lio em 434'
' Antes 'de 439, So Salomo foi eleito bispo de
G.rr"bru. O irmo, Verano, devia ser elevado ao
episcopadc de Vence, em 450.
' Slomo escreveu uma Exposio Mstica sbre
os Prou rbios e o Eclesiaste, aisistiu aos conclios de
Orurrg" e de Vaison, e, depoii d"- 450, ao conclio de
Arbsl no qual trat'cru da abadia de Lrins'
Bom ,tri.o, faleceu santamente, depois de 450 '

rt*

I
so VENCESLAU (*)
Duque da Bomio, Mrtir

sao venceslau o grande santo nacional da


Bomia. Filho de vratilau, gue governava uma
parte do pas, vences,lau, nascido goz, r neto
de santa Ludmila, que o educou," carinlrosmente,
bem como ao irmo, Boleslau.
Morto o p?i, em 920, quando se fz com expe-
.dio
gue marchou contra s hungaros, a me, Dra-
homira, tomou as rdeas do go.reirro, .o*o regente.
Esprito irrequieto, com um -verniz de cristianisrno,
talvez levada pelos conselheiros, z com
d; ;il;-
sinassem Santa Ludmila, gue encaminhava o jovem
{uque venceslau para Deus, a le que fra r"it p*"
dirigir c, pas.
Quando, oficialmente, o santo :s sse[horeou do
poder, em 925, a me era o foco de tdas as intrigas
que campeavam na crte. Grande foi a luta do filhb
contra os sditos apaganisados, aos guais dizia:
canalhas! Por gue me impedistes de levar
avante o meu aprendi zado de
|esus- cristo e de obe-
decer os seus mandamentos? ' se Deus a vs vos
embotou a alma, por gue impedis uo, outros de am-
lo'? Quanto a mim, desembro-rle de vs todos,
rejeito-vos os conselhos, no oJ guero!
euero, ,i.,
servir a Deus de todo o meu .or"io!
118 PADR,E R,OIIRBACHER,

Referia-s, certamente, morte da av - guerida


e ao desejo gue tinham todo,s de desvi-lo do cami-
nho da verdu", tirando-lhe o doce )esus do cora9.
Drahomira era a maguiavlica Drahomira de
Sempre, a fomentadora do desassossgo, a procurar,
..* intrigas, favorecer osr que lhe eram simpticos:
para tal, encaminhava a poltica para o. terreno gue
'ehor lhe coubesse. Dla vinham todos os dissa-
or"r,- mas Venceslau, com pulso firme, afastou-a
"q*t" vida, e s a chamou novamente guando,
teno abjurado aquela funesta poltica gue f.azia, pro"
*eteu-lh no -us se ocupar com o que s a le dizia
respeito.
---'-
ao Venceslau fz vir de Praga as santas rel-
quias de Ludmila. E aos sacerdotes que as trouxeram,
f"rror".eu-os da melhor maneira possvel. Cedo,
levantav-se e dirigi-se igreja. Ao Pldrg gue o
atendia, rogava qu; por le pedisse ao Senhor um
dia pacfico" e dl iesse o governante gue a Deus
fsse agradvel.
Embora fsse entranhadamente avsso guerra,
teve de participar dalg_umas, mas em carter defen-
sivo. Conta-s" d" SoVenceslau 9ue, um dia, afron-
to, .- combate singular um duque inimigo. O adver-
rri, percebendo, .u cruz a brilhar na sua fronte,
deixou cair a espada, aioelhou-se imediatamente e
tratou o santo com a maior deferncia, com venerao
que no escondeu dos prprios soldados, rudes e
sequiosros de luta.
O santo duque tomou o inimigo pelg brao'e
ajudou-o a levantar-se, abraou-o raternalmente
levou para o castelo.
Em 929, a Bomia foi atacada pelas hordas gel-
mniCas, o santo, para evitar o desastre, a runa
do
VIDAS DOS SANTOS 119

Sigilo da Universidade de praga


120 PADRE ROHR,BACIIER,

lutar. Ora, o irmo, Boles-


DaS, SubmeteU-S, Sem
il;'tomando o partido que quele ut'' se opusera'
.;; ;, demais "*rruaes tratou deelimin-l0.
arcado o di", 27 de setembro' acabariam com
le num banquete. Todavia' I1o ultimo
momento'
azet'
hesitara*, p.it*o melhor no que pretendiam
e' em
O santo, prevenido, compareceu ao banquete'
J" *.ri, u"tado a taa na mo direita,
ergu-se e disse:
Em i;;;;" de So Miguel' ao qual suPlico
que faa entrar vossas almas na paz e na
eterna
alegria!
Os comensais, a uma voz' responderam' colls-
trangidos:
Amm.
Depoi, " ter abraado os amigos' sorridente'
,etir. E, antes de deitar-se' orou lcngamente
Ficou, ento, decidido, que haviam de mat-lo
no dia segu;i;- 28,- pela ,,,ut h, quando, conforme
velho hbito, fsse igreia.
Porta, encontrou o irmo' Cumprimentou-o,
disse-lhe:
Possa o Cristo convidar-te o seu banquete
to bem!
eterno, a ti, qr; ;; tl..U"tte' e aos meus'
Boleslau, a" m catadura, respondeu:
o
- Ontem servi-te como pude' mas eis como
irmo vai servir o irmo!
A jrediu-o. Venceslau pux.oy da espacla'
mas
,o -esiro instante arroiou-El ao cho'
Como fizeste mal! exclamou'
Depois:
--Tu t" cc'ndenaste a ti mesmo! Eu poderia
mas a
aazar-te como a uma msca se artazaria'
desua dum seiOot-Jt Ot's no deve ser fratricida'
VIDAS DOS SANTOS t2t

venceslau deixou o irmo e buscou o interior da


igreja. Ento Boleslau, espumando, chamou ;-;;
gente e acabaram com o .urro. Era a 2g de,.t".r
de 929.
Lc'go os primeiros milagres que o duque operou
correram terras. Enterrado perto u p.querriru greja
de so cosme e so Dami, pouco *ui. tarde
trans-
-i";
feriram-no para Prg91 e ;;; ;" %2),
_d;
repousar na igreja de so Gtiido. . Ali, um paraltico
que fra trazido de longe, "dc, pais rrri.;: -f;i
curado.
Heroi nacional, depois patrono dos exrcitos
checos, os hussitas invo.ru*-no sempre com grande
sucesso. Em 1929, festas magnfi.ur, triunfaiJ, ;";-
caram os mil anos da morte d,o, santo. E os al.aor,
gil9" hoje, cantam o que os antepasrssd6s no sculo
XII cantavam:
"So Venceslau,
duque da terra checa,
nosso prncipe,
rogai por ns a Deus,
o Santo Esprito!
Kyre eleson.

Vs, o herdeiro da terua da Bomia,


lembrai-vos da vossa raa,
no deixeis que pereamos,
nem nossos filhos!
So Venceslau,
K yrie eleison.

Imploramos: vosso socorro,


tende piedade de ns,
I
122 PADRE R,OHRBACHER,

consolai os que esto tristes,


expulsai todo o mal,
So Venceslau,
Kyrie eleison,

A crte celeste um belo palcio:


.eliz daquele gue nle pode entrar Para a vida
eterna,
Kyrie eleison" ,

No mesmo dia em Roma, so Privado, mrtir:


coberto de feis lceras, foi curado pelo bem-aven-
tra" papa Calisto. Depois, sob o imperador Ale-
*urrdr",' a'chicotadas de ordas de chumbo' passou'
fu fa de |esus Cristo, para a eterna bem-aventu-
,urru, provvelmente em 22/ Segundo a Passio de
Cuf.io, Privadcr e soldado e iaza coberto de lce-
ras, que o torturavam noite e dia. ProsternandO-se
l f]. a" Sanro Papa, disse-lhe: "Livrai-me das
lceras, porque cr,eio que o{ Senhor fesus Cristo
Deus vivo e verdadeiro". Foi curado, mas o impera-
dor Alexandre, tomado de grande clera ao saber
que um dos soldados fra batizado, ordenou que o
fustigassem at mc,rrer.
"Er"
Roma ainda, santo Estcio, mrtir (poca
desconhecida ) .
Na frica, os santos mrtires Maral, Loureno
e vinte outros ( Poca incerta ) '
Em Antioquia da Pisdia, so Marcos, mrtir,
purtor-" orlhr. Ao mesmo tempo, a comemorao
dos santos alfio, Alexandre e Zsmo, irmos; Nico,
N-.ao' Heliodoro e trinta soldados' gue' em vista dos
VIDAS DOS SANTOS 723
I
milagres perado,s, sm Cristo, receberam a coroa do
martrio, ern lugares diferentes, em dias distintos e
de diferentes maneiras (poca incertu [.
No mesmo dia, a paixao de so Mximo, sob o
imperador Dcio.
Em Gnova, so saromo, bispo e confessor,
faleclcl.o depois de 450. confus" i;* so
S;l-
nio (?).
Em Brscia, Sao Silvino, bispo (sculo V).
Na diocese de Auch, Santa'Doda, virgem, gue,
sggrydo, alguns, foi martirizada (poca desconhe-
cida ) .
Em Auxerre, Santo Eladio, ou AIeu ( I ),
pogsiv_elmente, o sucessor de Urpo,
So "r-uro
foi, como
$pg de Auxerre. so Germn" t"..u em r4g e
Eladio, cr-se, em 465.
Em Rie r: n? So Fausor, bispo, .ale_
cido depois de 485.^\rove_na,
Nascido na cra-r.t";-;;
gu: sg supe, foi abade de Lrins em 433. n +A,
assistiu a um conclio de Roma.
sucedeu a So Mximo. Exilado _Abad", d"poi, birp,
p;, rri.;: ;;;
visigodor, ariano, s tornou diocese pois
da mo"te
do monarca, ocorrida em 4g1 E;r;J"u, contra
os
arianos, Sbre o Santo Esprito, obr. gue
visava
mostrar Deus consubstanciao .o pJ u"
c,o-tert10. "
Fih;, ;
Em Tarbes, Sao Fausto, bis,po ( ?
do So Fausto^gue vimos acimr, rpo " ). Trata-se
os autores do Gallia christiana amitiro,
ni;;
na lista dos
bispos de Tarbes baseado, ,ru vida
de so Liziero.
Em chalon-sur-saone, sano, l"""rundo, bispo
de Lio, cujo pai foi prefeito au. Gatiur'-vr
rr;
(1) Aldio, Eldio, Eldio, Hetdio.
t24 PADRE ROHR,BACHER,

tempos do rei Dagobetto--I e' Clvis II' Bispo de


Li, aleceu, talvez, em 658.
Na diocese de Sao Die, os ,santos Willigod e
Martinhor, rrloofes. A lenda diz-nos que foram dis-
;C ; So"Die ou Deodato. Teriam fundado
um pegueno mosteiro em Romant. De culto pula-
,.ni" iocal, ambos foram, anteriormente, festejados
rro ,tti*o dc,mingo de setembro. Festejam-lo, hoje,
a 28 de setembro.
Em Pol d, t& stria, o bem-aventurado salomo,
rei d"- Hrrrgri, depois ermito (sculo XI-XIIem ).
teria nascido
fiffr d"- A"r'I, ri da Hungria, guand'o
i48. Coroado muito iovem, 9 P?i -1nda
vivia, principiou a reinar, acredita-se' em 1063' Morto
Andr, teve tio Bela e no-primo Geza' filho de
Bela, srios "" competidores. Feito ermito, morreu
solitrio em Pola, depois de vida tda ela de
p"li-
,U*" ;elas "it* cometidas durante o reinado. de Pola,
Em
no
orr.ujru-se o altar da catedral
l48T ,'J-;;i;;aram,
com outras relguias' as de So
il;i
Salomo.
salz-
Em Ascalon, so Thiemon, -arcebispo de
burgo,mrtir,emll}2.-Educadoentreosmonges maravi-
-.1a"rati.t, diz a legenda que possua Muitas
lhosa habilidl-e;; a* as artes
-serrhoru, manuais'
das estt.ru, fi;;;" r ustria, so tidas
So P--edro de
como sadas de suas mc's. Abade de
Salzburgo, 1077, quando de Henrigue IV' teve
necessiiade
"-
de refugir-se em Hirsau' onde viveu
por trs anos como 'simples nonge' Em 1090'
os
ao papa,
L*bro, do captulo d Salzburgo, iis anos' nos
elegeram-no ariebispo' P-rso-Por 5inco psto
p;; " unti-ut."i.po Bertolo, [oi, afinal,
VIDAS DOS SANTOS t25

em liberdade graas a um beneditino. Pereceu sob os


muulmanos, numa das cruzadas.
Em Die, Santo Ismidon de Sassenage, bispo,
desaparecido em 1 I t 5. Filho do, ,senhor de Sasse-
nage, Ismidon foi cnego de Lio, depois bispo de
Die. As relquias permaneceram na igreia que se
construra em sua hon ra at 1567 , quando ento foi
destruda e os seus santos restos gueimados pelos
prc,testantes.
Em Pistia, na Toscana, o bem-veflturado Lou-
reno de Ripa f.ratta, dominicano. Nascido em Ripa-
f.ratta, muito jovem entrou para os Pregadores, no
convento de Santa Catarina de Pisa. Segundo Santo
Antc,nino de Florena, de quem fo grande amigo,
teria tomado o hbito em 1397 e falecido mais que
octogenrio, em I 457. Estve em Cortona como rtres-
tre de novios: foi ali que trabalhou a alma do futuro
grande bispo de Florena, Antonino. Profundo co-
nhecedor das Escriturasr, chamavrn-Iro, como ao
sublime
' Antnio de Pdu a, Arca do Testamento.
Em Pavia, o bem-aventurado Bernardino de
Feltre, franciscano. Nascido em 1439, faleczu em
1494. Percorreu, a p, tda a Itlia do Norte e do
Centro, a pregar e a condenar os maus costumes.
Em Madri, o bem-aventurado Simo de Roias,
trinitrio. Provincial dos Trinitrios para Castela,
o bem-aventurado foi pregador notvel. A rainha
Isabel de Bc'urbon f-lo seu confessor. Falecido em
1624, durante treze dias os principais conventos de
Madri celebraram-lhe os funerais. Grande devoto
do mistrio da Encarnao, dle sempre falava com
infinita ternura.
***
29,N DIA DE SETEMBRO
So Miguel e os Anjos Bons

A Igreja Catlica, ro seu conjunto, a socie.


dade de Deus com os anjos e os homens fiis. Du-
rante tda a eternidade ela subsistia. em Deus, ou
melhor, era o prprio Deus: sociedade inefve.l de
trs pessoas numa mesma essncia. Agora, ela
transpe os sculos, passa sbre a terra para sso-
ciar-nos ,sagrada unidade universal e perptua, e
retornar conosoor eternidade de que proveio.
Os primeiros chamados a essa unio dina foram
os anjos. Tendo sido criados bons, porm liwes,
Deus os pe prova, tal como f.z cwrosco. Desde
ento houve cisma e heresia. Em lugar de tomarem
como nica regra o verbo divino, alguns dles toma-
ram como regra a si prprios. Foram excludos da
co,munho de Deus, mas no da sua providncia.
Divididos em nove coros subordinados um ao
outro, os anjos gue se conservaram fiCis foram um
exrcito invencvel. Seu nmero . incalculvel.
Quando o Altssimo est sentado, ro su trono, mil
vzes mil anios o seryem, e dez mil vzes cem mil
compem a sua crte. le denomina a si prprio o
Deus dos deuses. H anjos encarregados de governar
os astros, os elementos, os reinors, as proncias;
outros, o comportamento dos indivduos.
VIDAS DOS SANTOS tztl

Como filhos da Igreja, constitumos com les


uma nica sociedade. Pois, diz So Paulo aos cris-
tos da raa de )ac: "no vos aproximastes como
aqules gue receberam a antiga lei de uma montanha
;sensvel ,e terrestre, de um fogo, ardente, de uma
nuvem escura e tenebrosa, de tempestades e raios, do
som de uma trombeta, e do clamor de uma voz formi-
dvel. Mas vos aproximastes da montanha de Sio,
da cidade de Deus vivo, da |erusalm celeste, de
inumerveis mirades de anjos, da assemblia e da
Igreja dos primognitcis gue esto inscritos no cu,
de Deus que o juiz de todos, dos espritos dos
justos que esto na glria, de |esus que o mediador
da nova aliana, e daquele sangue por ns derramado
e que fala mais proveitosamente do que c, de Abel.
Desde o incio existiu o ministrio do,s santos
anjos. Depois de ter lanado a sua sentena sbre
nossos dois primeiros antepassados, Deus coi,ccou o,
guerubins s portas do paraso terrestre, com uma
e.spa{a flamejante, incumbidos de guardar-lhe a errtra-
da. Eram provvelmente os guatro guerubins citados
vrias vzes nas profecias de Ezeguiel, e no Apoca-
lipse de so ]oo, e que aparecia- co,,o a, guatro
principais potncias pelas guais Deus governa o uni-
verso material, o gnero humano, e J Igreja crist.
sey.cgnjunto form uma espcie de carro our"
" ili
o Altssimo avana atravs dos mundos e dos ra.uir;
um trooro onde est sentado, e do gual le lana suas
sentenas sbre os reis e as nas. Do centro do
trono partem os troves e os raios gue executam as
sentenas. ser essa, talvez, a signifitao da espada
de ogo brandida enrrada do faraiso. D;;,
princpio tratara o homem com a familiaridade d " ;
um
128 PADRE R,OHR,BACH ER,

pai, guer azevlhe suceder, segundo parece, o [or-


midael aparato de um senhor e soberano juiz'
Com'Abrao, inicia-se uma era de misericrdia.
Trs anjos ou personagens, nos quais os Padres da
Igreja rconhei"r"* as trs pessoas divinas, lhe apa-
r.". sob o carvalho de Mambr, e lhe anunciam um
filho em gue sero abenoadas tdas as naes {a
terra. Dois anios salvam-Lot e sua amilia, antel _de
comearem a dstruio de Sodoma e Gomorra. V-
se a providncia ministerial do anj,, em rg_lao a
'e
Agar Ismael, pai dos rabes: o anjo de Deus no
epsOdio do sacricio de Isaas na montanha de Mo-
,iah, mais tarde do Calvrio: os anjos de Deus su-
bindo e descendo a escada de )ac, em Bethel: a
luta de faco contra um anj'or, ue oabenoa e lhe da
o nome e Israel: os anios perante Deus, e sat entre
les, na historia de I; o anjo do Eterno na sara
ardnte, confiando uma misso a Moiss: o anjo- de
Deus que guiou o pove de I's,rael: o anio apaecento
a Balaam: o anio e Deus dando ordens a )osu, .a
fim de introduzr o poro na terra prometida: o anjo
a Gede o designando-o para salvar o
"pr...ndo "
seu povo: o anjo anunciand o nascimento de San-
,;,'qr" libertaria o povo do jugo dos filisteus. De-
de Israel,
;;i; e ter pregadc, penitnc no reino
anjo' Isaas v
p-f"ta Efias? alimet tudo P9r Im
, S"rufinr diante do trono de Deus e recebe uma
-i5ao. Os querubins so avistados pelo profeta
Ezeguiel.
so h trs anjos cujos nomes prprics as Escri-
turas Sagradas nos do a conhecer'
Miguel o grande c-aPito do exrcito celeste.
S", Mi-cha"-el signif ica, guem igual a Deus?
"od"L.r.if"r, cego -pelo
;;; orgulho, guis igualar-se
VIDAS DOS ANTOS tzg

ao Altssimo, exclamcu com voz trovejante:


"Quem igual.Miguel
a Deus?" E acompanhad p"l"r'n;.
fiis, precipitou do alto dos cus tropu rebelde jos
aps-tatas. Assim se tornou o generalssimo do incon-
tvel exrcito dos santos anjoJ. v-se, nos profetas,
que ra prgt.etor do povo de Israel; agc,r o
:
Igreja. _Rejubilemo-nos
da
por estarmos ro o comando
de to destemido chef.; hu, tambm imitemos a sua
fidelidade.
A grande batalha iniciada no cu prosseque
sbre a terra. Batalha cuio objeto somos ,rb.. sui-
ns e seus demnios gostariam de arra.star-nos com
le para o inferno; Miguel e seus anjos gostariam de
levar-nos comr lesr pui-a o cu. com guem perma-
neceremos eternamente? com guem estamos agora?
Necessriamente devemos estar com um ou com outro:
qo possvel nos conservemos neutros. Ao lado
de .$ue- combateremos? De guem seguiremos as
_
insiiraes? Do anjo de Deus , do an"jo d" suti
se morrermos no em gue nos encontramos,
seria.Io, ?"lo ou um "rt"do
demni,o, gue nos apresentaria
ao tribunal de Deus? com efeit, ser gue, o rtro-
rermos, nos reconhecer so Miguel fieis
panheiros de armas? "o-o ""r"-
se me deixar derrotar pelo demnio nessa bata-
lha, a culpa ser nicamene minha. D".r--" ;
um defenscr qu.ru o corpo e pa_ra a alma, meu anjo
bom. ser-me- bastante escut-lo, .oo,u ter comigo
e por mim. No fundo, s h um inimigo a temer: eu
mesmo.
Gabriel, cujo nome significa Fra de Deus,
anuncia ao profeta Daniel a poca da grande obr
qe lJeus, a poca do Filh,o de Deus fito homem,
cristo condendo morte, a remisso dos p".uJr,
PADR,E ROHIT,BACHER,

'/ s

o demnio' Segr:ndo uma Pintura de


. Schoen. Sculo XV.
VIDAS DOS SANTOS 131

Evangelho pregado a tdas as naes, a runa de


|erusalm e de seu tempro, a fini Jo
"orri"ruo
povo judeu. ,o, mesmo anjo Gabriel gue pre diz ao
sacerdote zacarias, no tempo, ,o santurio, junto
ao
altar dos perfumes, o nascimento de um ho"- qr"
ser chamado ]oo, ou cheio de graa, e que no, mis
anunciar a vinda do salvaglor, mas que o apontar:
"Eis o cordeiro de Deus! Eis qu.
iiru os peeados
do mundo!" o mesmo arcanj,o, sempre enviado
para anunciar grandes coisas, gue ir humilde cas
de Nazar anunciar virgem Maria a maior de
tdas as coisas; comunicar gue, sem deixar de ;
virgem, ela dari a luz o filho do Altssimo, que seria
amado |esus ou salvador, porgue seria o S"r"rJo,
d'o' mundo. sse glorioso arcanio que
nos ensina
a dizer tal como rei "Ave-M aria, Jh-eia d"
o Senhor convosr(6, bendita sois vs entre as ;;;;;,
mu-
Iheres!"

Rafael, cujo nome significa Mdico ou cura


de
Deus, d-se a conhecer a"f.ii*, 1;Ouundo
orveis,
vs e Sara, vossa nora, ,o.r apresentava o memorial
de vossas oraes diante d" ;;;t"i qrurrd" ;;-
" " vs. euur-
tveis os mortos, estava presente junto
do no vos recusveis a levantar-vos da mesa
e dei-
.*ur vosso jantar para amortarhardes um mo,rto, o
bem gue praticveis no permanecia oculto,;
poir'eu
estava convosco. E- por que reis agradveis
D"ur,
foi necess;,o que fsseis prorrdonl agor, -r;r*:
Deus enviou-me para curar-rrcs, vs
-sou e Su.u, ;;
de vosso filho. Rafaer, um a-r"t." anjos
que
apresentam as oraes dos santos, e que
frontar a majestade do Sntssimo!
poi"o, "-
PADR,E ROHRBACIIEII

Feliz Tobias! diremos ns' Teve um -anio coTo


.o*pr,t Mas cada um de ns no
tem um "iro
"gs"rrr!
arrlo te Du, que o acompanha pol
tda
;;.?^:' .:'-'P.r,r"*o, ns'o com a necessria fre-
qncia?

***
so clRACO (*)
Ano.coreta
Nascido na Acaia, a 9 de janeiro de 449, em
corinto, a cida{g qu" lgmbra o grande apstoilo Fau-
lo, ciraco era filho de |oo, sacrdote, e'de Eudxia.
um de seus tios, _gye era bispo, f-lo ieitor da igreja
da cidade natal. li, ao ler um txto de so Mui",
agule que fala da renncia de si mesmo e manda gue
se tome uma cruz e
'siga o, Mestre, deixou corito
e rumou para a Palestina.
ciriaco contava ento dezoito anos. Recebendo
o hbito das mos de Santo Eutmio, urrr a", putri*-
cas monsticos, estve ao lado do santo arrcio por
algum tempo, depois do eue, ansioso pel. i,i
procurou so Gersimo, gtr vivia perto d rio
I""Jt;.
Nove anos paqsou so ciraco nagueras pragasr,
em duro noviciado levado a po e gu.
' Quando Gersimo faleceu, retornou comuni-
dade de Eutmio, gue se transformava em mosteiro
cenobtico. As divergncias surgidas entre os rnon-
ges, em virtude daguela transfrmao, levaram o
santo a buscar lugar mais trangilo. Foi assim gue
viveu guarenta anos em souca, velha comunidde
venervel. Cuidando dos vasos sagrados e das reli-
guias, fra tambm ensarregado d anunciar os of-
ROHRBAC

cios, o que f.azia "muito conscientemente", a bater


num pedao de pau com um longo ferro.
De Souca, passou a Natufa, onde viveu de bul-
bos, depois em Ro'uba, em Susakim e, novamente, em
Souca.
Falecido em 557, com cento e oito anos, So
Ciraco foi homem simples, doce, proftico, com dons
para o ensino e duma ortodoxia perfeita. Diz-se que
iOru belo, de fsico avantajado e de muita sade.

***

I
BEM-AVENTURADO JOO DE
MONTMTRAIL (*)
Cistercense
|oo, senhor de Montmirail, foi cavaleiro, depois
monge na abadia de Longpont, diocese de Soissons,
na Picardia.
Cavaleiro valor'o,sssimo, a le deveu a vida o
rei Filipe Augusto, guando, num combate, jazia a
merc dum cavaleiro adversrio. Salvo pelo bem-
aventurado, cumulou-o de graas.
|oo, porm, desde algum tempo, pensava .a-
ze-s? religioso. E, um dia, a tud,o, deixando, tomou
o habito. Alguma coisa, porm, da cavalaria, f.icara-
Ihe como que aderida personalidade, e, por isso,
um dia, entrou a gabar-se, efll conversa com um ami-
go, daquilo que, quando no scul,o,, praticava. E
disse, muito cheio de si, que, duma feita, num nico
torneio, despendera mil libras na sua rcalizao,
IJm monge, que ouvia a conversa, advertindo-o
de que no devia, agora que vivia sob ,c, hbito reli-
gioso, discorrer assim to calorosamente, sbre ssur-
tos que s lhe desviariam os passos do estreito cami-
nho do cu, f.z com que |oo,, enfiado com a iactn-
cia; iamais tocasse em mundanas coisas. Refletindo
PADR,E ROHRBA.CIIER,
136

no efmero das criaturas, mudou completamente de


vida.
Tendo buscado Longpont com o consentimento
da espsa, esta e o filho, ais tarde, entraram a des-
pr"ri-lo. Um dia, indo visitar o jov-em,-foi mal rece-
tido. Disse, ento, ao filho, citandc Sao |oo ( 1, 1 I ) :
Veio parc o gue era sett, e os seus no o
receberam.
E, indo-se dali a meditar, passou pela casa da
ex-esp sa, .azendo-se, anunciar. Logo um criado veio
dizer-lhe:
A senhora prepara-se para o seu banho' de
vapor.
'
]oo deve ter sorrido tristemente. E, como que
espantando tristezas do mundo, dizem os bigrafos,
respondeu ao criado:
Que o Senhcr lhe proporcione um suor muito
proveitoso!
Dali buscou, ento, conta-se, uma condssa da
famlia, que o recebeu muito bem, muito alegre e
sinceramente.
Disse o bem-aventurado:
Oh, senhora, pelo menos vs no ides suar!
grande
|oo, de Montmirail foi m-onge penitente,
ieiuaor, uirtuose, como o referem, da mortificao.
Muito humilde, suportava tudo o que lhe faziam ou
o que dele diziam sarcsticamente. Cont-s que,
certa vez, uma criana chorava to alto e insis'tente-
mente que importunava os religiosos a orar. |oo no
teve dvidas i levantou-se do lugar que lhe era esef-
vado, saiu, e, tomando nos braos o choro, foi lev-
lo me, para que dle cuidasse e o pusesse calado.
Aquilo [o motio de risc,s por parte do povo, princi-
palmente para os gaiatos e os moleques: quanoo
I
VIDAS DOS SANTOS 137

)oo passava pelas ruas, os irreverentes e os traves-


sos, disfaradamente, espremendo risadas, imitava o
chro desbragado de crianas, para arreli-lo.
De tudo, porm, com grande pacincia, |oo de
Montmirail valeu-se para alcanar o cu, ao gual s
se chega por estreita e difcil vereda. E conseguiu-o.
Falecido muito santamente em 1217, teve o corpo
exposto na igreja de Longpont, e os milagres gue
ento se realizavam foram inmeros e eram um ates-
tado de que Deus, o recebera na manso eterna.

No mesmo dia, em Auxerre, So Fraterno, bispo


e mrtir, falecido depis de 450. Duchesne inscre-
veu-o como o oitavo bispo na lista dos prelados de
Auxerre. Quanto ao ttulo de mrt ir " sem funda-
mento".
Na Trcia, a morte dos santos mrtires Eut-
quio, Plauto e Heraclia.
Na Prsia, os santos mrtires Dadas, parente
do rei Sapor, Casdra, sua espsa, e Gabdelas, o
filho: depois de serem despojados dos bens todos
que possuam, experimentado diversos suplcios se-
rem pcr longos meses retidos na prisu, foram, afinal,
mortos pela espada.
Na Armnia, as santas virgens Rpsimes e cotr-
panheiras, mrtires sob o rei Tiridates, em 312. Perto
de Edchmiazin V4gharschapt acha-se uma igre-
ja dedicada a "_d"
Santa Rpsimes, Santa Gaian e
companheiras mrtires. Segundo a lenda, Rpsimes,
nascida no Imprio Romano, refugiou-s na Arm-
nia para livrar-se da luxria do tristemente clebre
Diocleciano. chegadas a Vagharschapt, entraram a
138 PADR,E ROHR,BACHER

trabalhar para ganhar a vida. O rei da Armnia,


porm, ainda no ccnvertido, enamorou-se de Rpsi-
mes, e ps-se a persegui-la. Como se opusesse vee-
mentemente aos propsitos de Tiridato, Rpsimes,
Gaiana e as companheiras, pereceram nos tormentos.
O culto das santas mrtires atestado em Vaghars-
chapt desde o fim do sculo IV.
Na Persia, Santa Gudlia, mrtir: depo'is de ter
convertido e de |esus Cristo numerosos pagos e
recusado adorar o sol e o fogo, foi submetida a uma
srie de torturas quando do rei Sapor. Tendo o
couro cabeludo arrancado da cabea, foi atada a um
poste, assim merecendo o triunfo, a conquista da
palma do martrio.
Em Pontecorvo,, perto de Aguino, So Grimoal-
do, padre e confessor. A no ser que Barnio intro-
duziu ste santo no martirolgio levado pela autori-
dade dos documentos da Igreja de Aquino, nada mais
se sabe sbre le.
Na dic'cese de Troyes, Santo rsio.
Ainda na diocese de Troyes, So Lintwin, bispo,
falecido em 713. Segundo a Vida de Lintwin, de
Teofredo de Echternach, o santo prelado era sobri-
nho de So Basin, a quem sucedeu
Na Baviera, os bem-aventurados Catoldo, Anoe
Dietardo, monges, em fins do sculo VIII.
Na ilha de lIfrau, Santo Alarico, monge, ro
sculo X. Da famlia dos Burckhard, foi beneditino
da abadia de Einsiedeln, na Sua. Viveu longos
ancs como solitrio na ilha de Llfnau, no lago de
Zwich.
Na Castela, So Garcia, abade de So Pedro
de Arlanza, Viveu nas temFlos de So Domingos
VIDAS EOS SANTOS 139

de Silos, de Santo Ifrigo d'Ofia e de So Sisebuto de


Cardenha. Faleceu, Ero que parece, no ano de lOT3,
Em Hampole, perto de D,oncaster, na Inglaterra
do Norte, o bem-aventurado Ricardo Rolle, rmito.
Um dos grandes msticos de seu tempo, escreveu,
entre outros trabalhos, O Fogo do Amor e Da Me-
lhora do Pe:cador.
Em Auray, o bem-aventurado Carlos de Bois,
dugue da Bretanha. Filho de Gido de Cha-
tillon e de Margarida, irmo de Filipe VI de
Valois, nasceu em 1320. Casado com ]oana de Pen-
thivre, aos 4 de junho de 1337 , teve dois filhos. Era
grande amigo dos Menores. Vivendo ern poca tu-
bulentssima, soube ser digno e valoroso. eavaleiro
destemido, mas que levava debaixo das vestes e da
armadura rude cilcio, f,oi conhecedor do latim , fr,-
sico e poeta. Dedicava longas horas orao. Quan-
do prisioneiro de guerr, escreveu uma Vida de Santo
Yves, seu santo preerido, do gual, junto do papa
Clemente VI, conseguiu a canonizao,, um pouco
antes da malfadada batalha de La Roche
(20 de junho de 1347). Naguele dia, tendo - Derrien
fugido,
escondeu-se num moinho, sendo perseguido pelos
inglses, gue o feriram em dezoito partes do corpo.
Recapturado, foi libertado em 1351, guando deiiou
os dois filhos iomo refns. Durante todo o tempo
de lutas e de desassossegos, a espsa :soub re" cofo-
panheira valente e forte. Vencido, corr Duguesclin,
na batalha de Auray (1364) , conguistou a paz to
ardentemente desejada. O corpo, que encontraram
:om_9 sp-ero cilcio, foi enterrado em Guingamp.
Pio X confirmou-lhe o culto imemorial.
Em Troyes,_o bem-aventurado |oo de Gand,
ermito de So Claudio, falecido .rr' t13g. Menos
40 PADBE NOHRBACHEA

conhecido do que Santa )oana d'Arc, sui? misso


pelos sculos, Ig-uo de Gand'
-rito gloriosa se imps
junto de Carlos VII e afrontou
todarri, tudo .ez
H;;re V da Ingiaterra para conseguir a libertao
da Frana.
Em santo onofre, Roma, o bem-verturado Ni-
colau de Forca Palena, hieronimita, desaparecido em
|q+Oi. Depois de ter recebido o sacerdcio, Nicolau
foi a Ro-a, o,nde um solitrio da regio chamada
C*po de Maro o iniciou numa vida mais perfeita,
que era o gue mais desejava. Em 1425, o bem-aven-
turado Pero Gambacorta, fundador dos Ermites
de So )ernimo ou Hieronimitas, f.ez uma _p-eregri-
;; a'Rc'ma e concluiu uma aliana gom Nicolau'
qr foi, com o concurso do Papg Nicolau V, gueP
erigiu a igreja e o mosteiro e- Santo Onofre, onde
falceu .*' cem anos. Fundou uma ermida em
Npoles. O papa Eugnio IV doou-lhe um moisteiro
p"rio " ftor"rria. A unio oficial de Santo Onofre
dor Hieronimitas, contudo, s se efetivou, verda-
deiramente, sendo assinada, no ano de 1446. A mul-
tido que acorreu, guando o, bem-aventurado Nicolau
de Forca Palena deixou o mundo, venerou-lhe o
corpo durante trs dias.

***
JO", DIA DE SETEMBRO
SO JERNIMO
Doutor da Igreja
Na segunda metade do guarto sculo, enquanto
nas Glias surgiam dois grandes homens, Hilrio e
Martim, s_ulgiam outros dois na frica: Santo Optat,
bispo de Milev, e Agostinho, gue acabara de nas-
cer- em Taga,sta, el 354. Ambrsio, futuro bispo de
Mil.o, que deveria um dia receber Santo Agotirrho
na Igreja, tinha ento guatorze anos, e estuava em
Roma as lnguas grega e latina. Nessa mesma oc-
sio, Roma viu chegar dos confins da Dalmcia e da
Pannia, outro futuro doutor da lgreja, ]ernimo,
nascido em crca do ano de 331 de pais rios e dis-
tintos. Mera para identificr-se cm a hngua de
virglio e de ccero, ,sob a direo do oradoi vito-
rino e do gramtico Donato, clebre comentador de
Virglio e de Terncio. A Igreja tinha que sustentar
acirradas lutas de doutrina, e a Providncia susci-
tava-lhe por tda a parte grandes doutres.

. Depoir 4" ter estudado em Ro,ma e viajado pelas


Glias, So )ernimo permaneceu algum tempo na
Aquilia, e em seguida dirigiu-se a -Antioquia em
companhia do sacerdote Eviagio; de l, retirou-se
t42 PADR,E ROHR,BACHER

para um deserto, nos confins da Sria e da Arbia.


Foru- seus companheiros de retiro d,o,is amig_os, Irr
cncio e Heliod*o, e um escravo chamado Hilas. O
sacerdote Evrgio, gue era rico, forneceu-lhe tudo de
quanto precisava, pagava escribas para auxili-los
,ot estudc's, que iorrtinru't u a f.aze.r, e remetia-lhe
de Antioquia as cartas que lhe eram dirigidas de v-
rios lugurt. Sao )ernimo perdeu dois de seus coIII-
p"n.1"r"r, Inocncio morru, Heliodoro no tardou
partir, prometendo retornar. O prpric, 5arto foi
cmetid po. repetidas doenas e, o que ainda mais
o fatigava, assaltado por violentas tentaes.impuras,
qo" p"rovinham da lembrana do1 Pazees de Roma.
Corno os jejuns e cutras austeridades corporais no
o libertassem, empreendeu, para dominar a imagina'
iao, um estudo epinhoso: prende.r a lngua hebrai-
., ,ob u direo'de um judeu convertido. Depois
da leitura de Ccero e dos melhores autores latinos,
era-lhe penoso voltar ao alfabeto, e exercitaf-Se rS
aspiraes e nas pronncias difceis. Muitas vzes
ubarrdnou o trabalho, irritado com as dificuldades;
muitas vzes o retomotr e finalmente adquiriu um
profundo conhecimento daquela finS^ga.'
' At mesmo no seu deserto da Sria, So ]erni-
mo foi perturbado pela discrdi1 que irrompera entre
trs bisbos, um ariano e dois catlios. Queriam saber
** quul dles permanecia, se com Vital, Melcio'
ou Paulino. O ispo dos arianos e dos catlicos do
partido de Melecio perguntou-lhe se considerava tais
rip.tr.". na Trindade. Farto dessas perguntas,
Sao |ernimo ao Papa So Damaso nos
".lr.rr"u trmos:
;seguintes
"Como o Oriente, agitado Por suas antigas vio-
lncias, dilacera as vestes sem costura do Senhor,
VIDAS DOS ANTOS LAg

julguei meu dever consultar o trono de Pedrc,, e a f.


louvada pela bca do apstolo, procurando alimento
qara a minha alma no mesmo lugar onde revesti
Cristo por intermdio do batismc,. -Vossa grandeza
me enche de temor, mas vossa bondade " atrai;
cordeiro, peo'socorro ao pastor. Para trs, pois, inve-
ja para trs, digni{ade e grandeza de Roma! diriyo-
me ao, 'sucessor do Pescador e ao Discpulo da Cruz!
No tendo outro senhor a no ser Crist, estou unido
em comunho vossa beatitude, isto r, ao trono de
Pedro. sei gue a Igreja foi construda sbre essa
Pedra. Quem comer o cordeiro fora dessa casa
profano; gugp no estiver na arca de No, perecer
no dilvio. como nem sempre posso consultr vo,ssa
santidade, procuro os .of.rores egpcios, vossos
colegas, como- uma barquinha se co,lo'sob a prote-
s?. dos grandes navios. No conheo vitar, rejeito
Melcio, ignoro quem seja Paulino. euem n se
reunir a vs, qt disperso; isto, , quem no po,r
Cristo, pelo Anticristo.
"Perguntam-me se admiti trs hipstases; pev
gunto o gue significam tais palavras. Respondem-me
que so trs pessoas subsistentes; digo que assim o
creio; argumentam que no suficiente e insistem em
gqe eu pronuncie a palavra . Dizemos em voz alta:
"se algum no confersar trs hipstases, no sentido
de trs pessoas subsi,stentes, que seja antema". E
por no trmos pronunciado a palavra sem explicao,
tratam-nos como a herticos. De outro lado,- tambm
dizemos: "se algum compreendendo por hipstase
essncia, no confessa uma hipostar" trs pessoas, .

estranho a Cristo", e acusrn-los, "*


tal como a vs,
de confundir as trs pessoas numa s. Decidi, pois,
conjuro-vos;'se me aprovardes, no recearei mair ir"t
I
L+4 PADRE RONRBACHER

trs hipstases; se assim ordenais, ser feito um novo


siUol de acrdo com o de Nicia, e professada a .e
ortodoxa guase nos mesmos trmos em gue os. aria-
nos profes'sa* seu rro". F gue os- arianos diziam
irer iiipstases no sentido de essncia, segundo cos-
tumavm f.azer os auto,res profanos; o gue aumentava
u J"..orrfiana de So ]ernimo. Foi por causa disso
que novamente suplicou ao Papa gle o autorizasse
em suas cartas a'dizer, ou a no dizet, hipstases.
Tambm lhe pede para acordar com le sbre o gue
deveria.o*rni.ar'a Antioquia; pois todos os parti-
o, ," gabavam da comut ho d Roma' ( l)
Co a essa primeira carta no fsse dada es-
posta, escreveu uma segunda, onde dizia ao Papa:
"De um lado os arianos praticam violncia-s, apo.iados
pil pa"r secular; de utro, a lgreja, dividida em
trs partes, quer atrair-me: os monges gue me rodeiam
sbre mim a sua antiga auioridade. Contud'o,
"*"r"-
><.iu*o: "Quem estivet uttdo ao trono de Pedro
r "url" Melcio, Vital e Paulino dizem que esto
unidos a vs. Po,deria acredit-lo se apenas um dles
;t;il " afirmasse; mas h dois gue meltem' ou talvez
;;. b po. isso gue conjuro Vossa Beatitude, o"l"
;;, do Serrhor, ; designa -n?, Por intermdio na de
vossas cartas, com guem deverei comunicr-rrl
Siriu. No desprezis uma alma pela qual f esus
Cristo morreu. (2)
O Papa So Damaso servia a Igreia de lult
de uma maneira: no apenas a governava com sabe-
;; " it furia gores"t "t cincias'sagradas.-Ter-
;r f"rO"i"t" ido a Roma com Paulino de Antio'
(1) Eioron, EPist. 14, edi. Bened'
(2) Hieron, EPist. 16.
V IDAS DO S ANTOS 145

quia, que o ordenara sacerdo,te , o Papa reteve-o; .z


dle seu amigo e secretrio, a fim de gue o ajudasse
a responder s consulta's, sinodais do Oriente e do
Ocidente. Profundamente versado nas literaturas
sagrada e profana, fernimo j escrevera vrias obras
sbre as Escrituras; Damaso lia-as vidamente e at
mesmo as copiava, insistindo' para que o santo escr-
vesse outras, propondo-lhe nessa inteno vria's
questes. Bem depressa -lo empreender uma obra
de mais ampla serventia: uma edio correta do Sal-
trio. fernimo executou-, mas com o menor nmero
possvel de alteraes, pois os salmos, traduzidos
pelos Setenta, andavam nas mos e na memria de
todos os fiis, que os cantavam na igreja. Mais tarde
.z outra edio, r gual intercalou, sob a forma de
sinais caractersticos, as diferenas entre grego e
hebraico. Finalmente .z uma verso literal do pr-
prio hebraico.
Desde tempos imemoriais, era utilizada no Oci-
dente uma verso latina do Novo Testamento, co-
nhecida sob a dencminao de ltlica, Latina, Vul-
gata ou Vulgar. Supe-se que tenha sido feita na
prpria Roma, no tempo dos apstolos, ou pouco
depois; pois crca da metade do Novo Testamento
foi redigida em Roma, ou de Roma: o Evangelho de
So Marcos, os Atos dos Apstolos, as duas Eps-
tolas de So Pedro, e as sete Epstolas de So Paulo.
Mas como antes da inveno da imprensa era preciso
copiar tudo a mo, inevitvelmente uma boa guanti-
dade de erros de copistas eram inseridos nos dife-
rentes exemplares, erros que algumas vzes outros
corrigiam, cometendo novos erros. s vzes, tam-
bm, o intrprete no reproduzia fielmente o sentido
do original. Alm disso, cada fiel no possua a
146 P.AD R.E II,OHR,BAC II ER

coleo inteira do Novo Testamento, apenas uma ou


outra parte em separado, nas quais se permitia s
vzes acrescentar ,o,u intercalar trechos de outras.
Tudo isso tinha como resultado variantes, diferenas
mas ou'menos acentuadas entre os vrios exempla-
res. Para remediar sse inconveniente, o Papa insis-
tiu para que So |ernimo organizasse uma edio
correta dos quatro Evangelhc's, e de todo o Novo
Testamento, de acrdo com o texto original, que era
grego. le assim o .2, acrescentando-lhe um ndice
de concordncia entre os quatro Evangelhos. Mais
tarde, empreendeu e levou a cabo o mesmo trabalho
com relao ao Antigo Testamento inteiro, que tra-
duziu do hebraico. Como o povo estava habituado
antiga Vulgata, a verso de So )ernimo encoltrou
certa oposio. Numa igreja da frica, onde era
lida, o povo amotino-s por ter le chamado abo-
boreira, e no hera, planta gue deu sombra e pro-
f.eta |onas. Mas foram certas pessoas invejosas e
ciumentas, gue no se consideravam povo, gue lhe
opuseram as maiores resistncias. Contudo, com o
decorrer do, tempo, a verso de So )ernimo, que os
gregos consultaram desde o seu aparecimento, foi
adotada por tda a Igreja Latina, e o Conclio de
Trento acabou por declar-la autntica. Com efeito,
jamais pessoa alguma se encontr'otr em melhores coo-
dies para bem executar semelhante obra. No
apenas aproveitou tudo quanto ) fra rcalizado, ta-
balhos exaustivos de Orgenes e de outros; porm,
possuindo grande conhecimento do hebraico, do si-
raco, do caldaico, interrogara os doutres das sina-
gogas, visitara, estudara na'companhia deles os pr-
prios lugares referidos pelas Escrituras.
VIDAS DOS SANTOS t47

Mais surpreendente ainda , depois do Pontfice


I
rc,mano, terem sido as primeiras damas de Roma,
descendentes dos CipiOes, dos Paulo-Emlios, dos
Fbios, dos Marcelos, dos |ulios, filhas, espss, vi-
vas de prefeitos e de cnsules, as pessoas gue mais
insistiram com So fernimo para que levasse a efeito
a obra projetada, e que nela participaram de alguma
[,crma, pois chegaram a aprender o hebraico.
Realmente, uma das mais absorventes ocupaes
do santo doutor durante a sua permanncia em Roma
ea dar resposta s damas romanas que o consul-
tavam sbre as Sagradas Escrituras. Malgrado as
precaues ditadas pela sua modstia no sentido de
evitar encontrar-se com elas, era constantemente pro,-
curado. Santa Marcela, Santa Asela, sua irm, e
Santa Albina, me de ambas, incluam-se no nmero
das que lhe solicitavam os pareceres. Marcela assi-
milou prontamente tudo o gue So )ernimo cotse-
guira aprender a custa de muito esfro, tal com,or se
depreende de suas cartas. Tendo ficado viva no
stimo ms aps as suas npcias, Marcela recusou-s
a desposar Cerealis, homem idoso, mas de alta no-
breza e muito rico, tio de Csar Galo e que, sob Cons-
tncio, fra prefeito de Roma, e Cnsul em 358. No
obstante a sua longa vhlez, nunca a pureza do seu
comportamento foi manchada pela menor suspeita.
Retirou-se para uma casa de campo,, junto a fio.a,
onde durante muito tempo praticou a vida monstica
em companhia de sua filha espiritual, a virgem Prin-
cpia, e sse exemplo fz surgir em Roma um grande
nmero de mosteiros para ambos os sexos. Santa
Marcela tomara gsto pela piedade e pela vida rn,o-
nstica quarenta anos antes, quando Santo Atansio
fra a Roma, sob o papa |lio, em 341. EIe lhe deu
148 PADII,E ROHITBACHER,

a conhecer a vida de Santo Antnio, gue ainda vivia, e


a disciplina dos mosteiros de So Pacmio para ho-
mens e mulheres.
Paula, amiga de Marcela, inclui-se entre as mais
ilustres patrcias romanas doutrinadas- por So |er-
nimo. Era filha de Rogato e de Belsila. Seu pai,
grego de origem, .azia chegar a sua genealogiaat
g-".rorr; sua me descendia dos Cipies, dos Gra-
col e dos Paulo-Emlios. Paula desposou |alio Tox-
tio, da famlia ]lia, e, consegentemente, descen-
dente de Iulo e Enias: teve com le quatro filhas e
um filho. A mais velha das filhas, chamada Blesila,
nome de sua av, permaneceu casada apenas sete
meses, tal ccrlo Santa Marcela, ficando viva com
a idade de vinte anos. So )ernimo explicou-lhe o
livro Do Eclesiastco, a fim de incit-la ao desprzo
do mundo. Ela lhe pediu que lhe fizesse um pequeno
comentrio da obra, que lhe possibilitasse corrpfeil-
d-la szinha. Po,rm, guando So |ernimo se Pre-
parava para satisfazer-lhe o deseio, :l^ faleceu, rpi-
ament vitimada por uma febre. Santa Paula, sua
me, mostrourse pesarosa em extremo, e So- I"t9-
nimo consolou-a u-a carta, onde refere gue Blesila
falava tanto o grego como cr latim, que aprendera o
hebraico em poucos dias, e gue tinha sempre nas
mos as Sagradas Escrituras.
A segunda filha de Santa Paula, Paulina, des-
posou Pamaquio, primo de Santa Marcela, da 'ami-
lia Ftria, e que contava vrios cnsules entre os ante-
passados. Era velho amigo, de So |ernimo,- que
studara com le, e lhe dedicou vrias de suas obras.
Paulina precedeu-o t morte e, vivo e sm filhos,
consagroU-s inteiramente ao servio de Deus, e s
boas bras; ingressou Oa vida r-nonstia e emPregoq
VIDA DO SANTOS 149

tda a fc,rtuna para socorrer os pobres, particular-


mente os estrangeiros, recbendo-os num hospital gue
fundou em Prto, nas imediaes de Roma. A ter-
ceira filha de Santa Paula, |rilia Eustquia, nunca a
deixou, e permaneceu virgem; a quarta, Rufin, des-
posou mais tarde Altio, da categoria dos clarssi-
mos. O filho de Santa Paula, o mais mfuo de todos,
recebeu o nome do pai, Toxotio. Desposou Leta,
filha de Albino, pago e pontfice dos dolos, mas que
se converteu na velhice, persuadid,c, pela filha e pelo
genro. Do casamento de Toxtio e Leta nasceu a
jovem Paula; Leta, ento viva, recebeu de So )er-
nimo uma carta com instrues sbre a maneira de
educar cristment a filha. Era essa a famlia de
Santa Paula.
So |ernimo tambm nos legou a apologia de
duas vivas, La e Fabiola, e da rgem Asela. La
dirigia um m'crsteiro de virgens, s guais instrua mais
com exemplos do que com palavras; passava as noites
rezando; seu habito e sua alimentao eram muito
pobres, embora no o fsse ostensivamente. Era to
humilde gue mais parecia a serya das outras, ela que
antes possura um grande nmero de escravos. A
Igreja cultua-lhe a memria no dia vinte e dois de
maro. So ]ernimo soube de sua morte uma manh,
quando escrevia a Santa Marcela, explicando-lhe o
salmo 72; o que lhe deu oportunidade para tecer o elo-
gic, da morta. Dois dias depois tamtm lhe .ez
o de Santa Asela, irm da prpria Marcela, e que
ainda vivia. Fra consagrada a Deus desde a idade
de dez anos. Aos doze, fechou-se numa cela, dormin-
do no cho, s se alimentando de po e gua, je-
juando o ano inteiro, e muitas vzes passando dois
otr trs dias sem comer; na guaresma, passava sertr-
150 PADRE ROHBBACH.ER

nas inteiras em jejum. | completara cinqenta anos


e suas austeridades no lhe tinham alterado a sade.
Trabalhava com as mos, nunca saa, a no ser para
ir s igrejas dos mrtires, mas sem que ningum a
visse. |amais dirigira a palavra a homem algum;
smente sua irm a via. Sua vida era simples e uni-
forme e, em plena 'Roma, -permanecia em completa
solido. A Igreja reverencia-lhe a memoria no dia
seis de dezembro. Fabiola pertencia ilustre famlia
dos Fbio,s. Desposara um homem de co'stumes to
desregrados gue, achando impossvel suport-lo,
abandonou-o; mas como ainda era jovem, usou da
liberdade gue lhe concediam as leis civis, e tornou a
csr-se. Depois da morte do, segundo marido, Fa-
biola caiu em si e, reconhecendo que com agule
casamento infringira a lei do Evangelho, f.Cz peni-
tncia pblica; apresentou-se na Baslica de Latro,
na vspera da Pscoa, de mistura com'os penitentes,
de cabelos soltos, e nas mesmas lamentveis condi-
es em que o,s outros se encontravam, arrancando
lgrimas ao bispo, aos sacerdotes e aos assistentes.
Prmaneceu fora da igreja at que o bispo a cha-
masse, depois de t-la expulso. Em seguida, vendeu
todos seus bens e foi a prime ka a fundar em Roma
um hospital para doentes, onde os servia ccm suas
prprias mos. Mostrava-se extremamente generosa
para com os clrigos, os monges, s virgens, no
apenas em Roma, mas em tda a Toscana, onde i,,
existiam vrios mosteiros.
Enquanto So |ernimo assim entretinha, em
Roma, juntamente com o amor virgindade, o amor
s letras sagradas, certo Helvdio, discpulo do aria-
no Auxnci,o, escreveu um livro em que pretendia
pro/ar, pelas Escrituras, gue a Santa Virgem, depois
I
VIDAS DOS SANTOS 151

do nascimento de Nosso Senhor, tivera outros filhos


com So ]os; e, passando tese geral, sustentava
que a virgindade no oferecia vantagens sbre o
casamento. S9 |erniqo desdenhou d"urante algum
tempo 9 tratado de Helvdio, tanto por causJ da
obscuridade do autor, dle desc,onhcido, embora
ambos residissem em Roma, quanto por causa do
escasso mrito da obra. Enfim, persuadido a refut-
Ia, mostrou claramente que nad i ta nas Escrituras a
desfavor da crena estabelecida na Igreja de que
Maria se conservou sempre virgem, tndo em Sao
]o,s apenas o guard a di .ru 'niigindade. sustenta
mesmo que sse qatto permaneceu virgem; enfim,
enobrece a virgindade, ie- reprovar o casamento.
Porm, embora erguendo to alto a virgindade,
a viuvez, e o celibato religioso, So ]ernimo nem por
isso poupava as pes,soas que, satisf'eitas por .azerem
a profisso exterior do citado estado, desejosas de
serem respeitadas perante os homens, continuavam
a viver, no smente no mundo,, mas como no mundo.

E uma prova disso a longa carta por le enviada
virgem Eustquia, gue versa sbre a maneira de
conservar a virgindade. Nela lamenta a queda coti-
diana de tantas virgens, de tantas vivas gu", depois
de terem professao, Ievam uma vida idolerrie e
sensual, amantes do bom passadio e dos adornos,
mc'strando-se em pblico para atrair os olhares dos
iovens e, ma-is tarde, para escapar desonra do
crime cometidc,, a le acrescentam outros crimes sa-
crificando a criana ainda por nascer. Lamenta o
escndalo dos agapetas, a praga daquelas virgens
falsamente devots, que dei*av* irmos paa pro-
curar estrangeiros, com les ocupando mesma ca,sa,
) mesmo guarto, e muitas vzes a mesma cama, e
1
152 PAD IT,E ROIIR,BA C II ER,

protestando que so caluniadas quando se tornam


bj"to de suspeita; mulheres sem caffimento, concubi-
nas de nova espcie, prostitudas a um s homem, e
no virgens crists.

Quanto a Eustguia, foi advertid a-plra - fugir


dagueLs hipcritas de ambos os sexos. Falando dos
clrigos enparticular, disse: "Existem uns qu.dis-
putam o sacerdote ou o diaconato para mais livre-
mente se astarem com mulheres. S se preocupam
com suas vestes, com terem o calado limpo, com
estarem perfumados. Encrespam os .cabelos com
ferros; ur[i. lhes brilham nos dedos; andam na ponta
dos ps, mais parecem noivos do que clrigos. Exis-
tem outros, cuja nica ocupaor saber os nomes e
as moradas das mulheres de categoria, e ficar a par
de suas amizades. Poderia citar um que mestre
em tal ofcio. Levanta-Se CoItr o sol, e como a ordem
de suas visitas j est preparada, procura os cmi-
nhos mais curtos; sse velho importuno quase entra
nos quartos onde elas dormem. Se v um travesseiro,
um guardanapo, ou qualquer outro objeto a seu gsto,
elog"ia-o, gaba-lhe a-limpeza, apalpa-o, queixa-se de
no pc,ssuir coisa semelhante, e mais o arranca do
qu" obtm; pois todos temem sse correio da cidade.
Inimigo da castidade, inimigo do jejum,^pPr9va, -iss9,
sim, m bom iantar, um ptto apetitoso". So let-
nimor tambm apontava a avaeza dagueles clrigos
interesseiros qu, sob o pretexto de dar sua bno,
estendiam a mo Para receber dinheiro, e tornvl-
se dependentes das mesmas pessoas a guem deveriam
dirigr. Tambem se queixa, alhures, dos gue se P-
gavam a pessoas idoas e a Seus filhos, e lhes pres-
VIDAS DOS SANTOS 153

tavam assiduamente os mais baixos e indignos ser-


vios a fim de serem incluidos na sucesso. (3 )
Servindo-se de linguagem to crua e to severa,
naturalmente So |ernimo .azia muitos inimigos.
Assim sendo, a princpio consideravart-ro um santo,
um homem ao mes.mo tempo humilde e eloqente; a
cidade inteira estimava-o, julgElV-o digno o soh-
rano pontificado e atribua-lhe tudo guando o Papa
So Damaso azia. Porm, quando se atreveu a
verberar os vcios dos romanos, taxaram-ro de patife
impostor; os q-ue lhe beijavam as mos, achicalhavam-
no por trs; censuravam-lhe at mesmo o andar, o
riso, a expresso do rosto; a simplicidade gue o ar-
cava tornou-se suspeita. (4) Nada o assustava; ao
contrrio, divertia-o. "Ento! escrevia le, por gue
no ousa ria dizer o gue os outros no se envergonham
de f.azer? alem do mais, de gue falei com to grande
Iiberdade? descrevi, por acaso, os dolos esculpidos
na baixela dos festins? relembrei que no correr das
refeies crists so ,c,ferecidos aos olhares das vir-
gens os amplexos dc's stiros e das bacantes? externei
desgsto pelo fato de mendigos se tornarem ricos?
achei errado que enterrem aqules de quem herdaro?
por ter tido a desgraa de .azer uma observao, isto
, que as virgens de preferncia deveriam conviver
mais freqentemente com mulheres do que com ho-
mens, com isso ofendi a cidade inteira, todos me
apontam. E julgais que nada mais direi? (5 )
Havia em Roma, entre outros,, um indivduo de
nariz disforme e fala empolada, que se julgava belo

(3) Hleron, eplst. 18, 34.


(4) rbid, 28.
(5) Dplst. 2, ali.s 102.
L54 PADIT,E R,OHRBACHER,

homem e formosor esprito. Ora, sse homem tomava


para si, pessoalment, tudo quanto So |ernimo dizia
acrca de vcios e de extravagncias, e se gueixava a
tda gente. Depois de t-lo ridicularizado por assim
se tra-ir, )ernimo acabou por dar-lhe ste conselho:
"Faze com que teu nariz desaparea do rosto, e de-
pois conserva a bca bem fechada; a sse preo po-
dero acreditar que s um belo homem e que sabes
falar bem. (6 )
No mesmo ano de 385, em que Santo Agostinho
se convertia em Milo, So |ernimo deixava Roma
para retornar ao Oriente. No momento de embarcar,
em Prto, escreveu a Santa Asela uma carta na qual
lhe comunicava as razes da sua partida: calnias de
invejoso, principalmente. Avistou-se, de passagem,
com Santc, Epifanio, na Ilha de Chipre, com Paulino
em Antioquia, e encontrou em Alexandria um novo
bispo, Tefilo, sucessor de Timteo, que acabava de
falecer. So ]ernimo foi capital do Egito ercoo-
trar-se com um cego, ,c, famoso Didimo, e aprender
com le, emb ora j tivesse os cabelos brancos, e fsse
considerado um dos mais sbios doutres da Igreia.
Durante um ms inteiro exps a Didimo as dificul-
dades em relao s Escrituras, e foi a seu pedido
que Ddimo c,ornps trs volumes de comentrios sbre
Osias, e cinco sbre Zacarias, a fim de suprir as
lacunas deixadas por Orgenes.
Durante essa viagem, Sao |ernimo visitou os
mosteiros do Egito; em seguida, retornou Palestina
e retirou-se para Belem. Acreditavam gue, depois
de ter ouvido Didimo, nada mais teria para aprender;
mas ainda tcmou como mestre um judeu que, mediante

(6) fbid., 26, alis 100. -'


A
U
F
a
U
o
a
o'
ts
z
d'
o
a

so Jernimo no deserto (de acrdo corn um quadro da escola de


Andrea del Srto, sculo XVI).
crl
cD

r
166 PADRE R,OHR,BACHER

determinado salrio, ia dar-lhe lies, noite, teme-


roso dos outros judeus. Foi ento que So |ernimo
-aleceuas Epstolas de So Paulo.
resolveu explicar Por
sse tempo So Cirilo de |erusalm, depois
de ter sido muitas vzes expulso da sua igreja, e
muitas vzes nela restabelecido, e de t-la governado
pacificamente durante oito anos, sob Teodsio. Teve
por sLcessor )oo, gue praticara a vida monstica.
Uma cias ltimas tareas de So )ernimo, foi
escrever contra a heresia de Pelagio. sse inovador
fra Palestina e, encontrando o bispo )oo, de le-
rusalm, erl desacrdo com o santo doutor, disso se
apr,cveitou para depreciar ste ltimo, e assim mais
fciLnente spalho a prpria heresia. Paulo Oroso
veio do Ocidnte e aponto- aos bispos. Num corl-
clio de )erusalm foi decidido que entregariam -a
questo o Pontfice Roman'o. Noutro conclio, o de
Dispolis, Pelagio disfara seus sentimentos e os
condna de bca-, a fim de infiltr-los mais fcilmente,
de fato. Logo depois do concilio de Dispo.s, talvez
mesmo durate o conclio, So fernimo publicou em
trs volumes o seu Dilogo entre um catlico, a quem
chama tico, e um pela[iano, quem chama Crito-
bulo. Emprega contra a nova heresia, abundante-
mente, a5 mesmas provas que Santo Agostinho,.:
quem cita na parte iinal nos seguintes trmos: "O
santo e eloqente bispo Agostinho escreveu, h muito
tempo, em Marcen, doiJ livros sbre o batismo das
crianas, contrrios vossa heresia; e um terceiro
contr aqules gue dizem, tal como vs, que- podemos
-pecado,
ser isentos d,o se quisermos; e, ha Pouco
tempo, um guarto, em Hilrio. Dizem que escreve
outros especialente Cntra vs; mas ainda no che-
garam s minhas mos. por isso gue sou de opinio
VIDAS DOS SANTOS - 157

gue devo interromper ste trabalho; pois repetirei


inutilmente as mesmas cc,isas, ou se pretendesse dizq
novas, aqule brilhante esprito me anteciparia di-
zendo as melhores".
No tardou gue o carter da heresia fssg pel-
cebido. Depois d iludir, como vimos, o conclio de
DiOspolis, e julgand@se bastante forte sob a proteo
de |oo, de |erusalm, Pelagio resolveu vingar-se
daqueles que na sua opinio mais se opunham s 'suas
ideias. Enviou, pois, um bando de desordeiros a
)erusalm, atacar os servos e rservas de Deus, - qle
viviam sob a direo de So fernimo. Alguns dles
foram espancados com brbara crueldade; um di-
cono foi morto; os edifcios do mosteiro foram redu-
zidos a cinzas; e So |ernimo s evitotr os maus
tratamentos daqueles mpios, refugiando's'e' numa
slida trre. As virgens Eustquia e Paula, sua
sobrinha, mal puderam livrar-se do fogo e das armas
que as ameaavam, depois de terem visto os irmos
espancados ou mortos. Queixarl-se, assim cno
So f,ernimo, ao Papa Santo Inocncio, sem col-
tudo citar nomes. O Papa escreveu uma carta a
"Tocados
|ernimo, na qual assim se expressou:
pela narrativa de tantas atribulaes,_ apressamo-nos
e*punhar a autoridade do Trono Apost-lico para
reprimir qualquer espcie de atentados. Mas como
ningum foi citado ou acusado em vossas cartas, no
sabemos a quem nos dirigir. ' Fizem,o's aquilo que est
em nosso poder, isto , la(nentar vossos contratem-
pos. Mas 'se depuserdes uma queixa precisa contra
certo nmero de pessoas, .darei iuizes competeltes,
ou, se fr possvel, ordenarei pr,onto remdio. Con-
tudo, escrevi a meu irmo, o Bispo |oo, recomendan-
do-lhe Que seja mais cuidadose, fim de que enle-
158 PADR,E ROHRBACHER

lhante desordem no mais se repita numa igreja gue


lhe foi confiada. (7)
Es,sa carta notvel p,cr quanto mostra a auto-
ridade do Papa sbre'tda a lgreja. Cabia-lhe o
direito de nom ear juizes na propria Palestin , e num
caso criminal. Sua carta a |oo de ]erusalm
extremamente severa. Nela se r,efere s queixas que
Ihe foram dirigidas pelas virgens Eustguia e Pala,
sem contudo designar nem pessoas, nem motivos.
Censura-lhe a negligncia no prevenindo semelhante
desordem. A possibilidade de tal atrocidade ser le-
vada a efeito numa igreja condenava um pontfice.
Censura-lhe a sua indiferena depois da ocorrncia.
"Onde esto vossas consolaes para com aguelas
que [c,1s111 as vtimas? pois dizem que mais temem
pelo futuro, do que sc,freram no passado. Se me
tivessem comunicado algo mais preciso sbre sse
caso, eu falaria mais alto e agiria mais sver-
mente." (8 )
O Bispo |oo faleceu algum tempo depois, no
dia dez de janeiro de 417. Sucedera a So Cirilo e
resistira ao crco de ]erusalm durante mais de trinta
anos. Seu sucessor foi Prayle, cujos costumes esta-
vam de acrdo com o seu nome, que significa doce.
Resistiu ao crco quase treze anos. O prprio So
]ernimc, pouco sobreviveu a essa perseguio. Mor-
reu em trinta de setembro de 420, com a idade de
noventa e um anos. Seu corpo, gasto pelos trabalhos,
pelas austeridades, pelos anos e pelas molstias, foi
sepultado em Belm, na gruta pertencente ao seu
mosteiro. Malgrado seu temperameno, um pouco
(7) Coustant, col. 90?, epist. 34,
(8) Coustan, epist. 3.
VIDAS DOS SANTOS

A comunho de So Jernimo (de um quadro de


Dominiquino, sculo XVI).
PADRE R,OHR,BACHER

veemente, So fernimo foi um dsses homens raros,


e a simples enunciao do seu nome mais xprs-
siva do que qualguer elogio.
Mais tarde, seu corpo, transportado para Rorta,
foi colocado na Baslica de Santa Maria Maior.
so GREGRIO, O ILUMINADOR (*)
Apstolo da Armnia

So Gregrio, apelidado o lluminador, oi o


grande apstolo da Armnia.
Segundc, uma antiga legenda, Krikor ou Kriko-
rios era filho de Anak, prncipe parto. Quando, errr
226, Artaxerxes I usurpou o trono persa, Cosros,
rei da Armnia, da raa destronada, lutou com de-
nodo contra o invasor, mas [,ci assas,sinado por Anak.
O filho de Artaxerxes, Scapor ou Sapor I, pro-
curando Anak, para corromp-lo, soube que bem cedo
Anak fra castigado pelo crime praticad,o,: haviarn-lo
afogado.
Ora, um filho de Cosros, Tiridato, diante da-
quelas ocorrncias polticas, refugir-s em Roma,
e de l, com a ajuda dos romanos, entrou a trabalhar
e a lutar para a reconquista do, trono, o gue logo
conseguiu. Krikor, Gregrio, tambm psto a salvo
daqueles dias agitados, fra levado a Cesaria da
Capadcia. Ali, depois de batizado, feito noo, c-
sou-se e voltou ptria, crte de Tiridato, do gual
cc,nseguiu captat a amizade, f.azendo-s stimado. O
filho de Cosros, todavia, era pago e fiel deusa
Anahita, correspondente a Diana, e, para provr o
amigo, ordenou-lhe gue sacrificasse quele dolo.
162 PADRE ROHRBACHER

Gregrio recuso-s,e. Foi, ento, submetido a


maus tratos: passou por oito suplcios e, como se
mantivesse firme em no aceder aos desejos do prn-
cipe, foi atirado a um fs,so profundo e escuro , Khor-
Virab, onde permaneceu quinze dias a viver entre
serpentes e escorpies.
Sem ser atacado por ofdios, nem aracndeos, oi
alimentado por uma pobre mulher, viva que lutava
com grandes dificuldades, que ia levar-lhe, todos os
dias, um pedao de po.
Depois do suplcio de Santa Ripsima cotp-
nheiros (29 de setembro ) , deu-se converso do rei
Tiridato. [Im dia, pouco depois da morte daguelas
santas mrtires, o rei saiu para caar. Seno quando,
eis gue, fantsticamente, deixa de ser homem e se
transforma num vasto uaraz, javali.
Tornando ser humano novamente, diz a lenda,
tocado pela graa, converteu-se, e uma das primeiras
coisas gue z foi libertar o amigo Gregrio.
Consagrado padre, depois bispo, em 294, em
Cesaria, por Lencio, So Gregrio props-se con-
quistar tda a Armnia para Nosso Senhor fesus
Cristo.
Fundou, ento, escolas, seminrios, onde os cl-
rigos aprendiam o latim e o siraco, j que o alfabeto
armnio era incompleto, alevantou igrejas e, diz a
legenda, ordenou guatrocentos bispos "o gue
exagerado."
A atividade principal de So Gregrio, o llu-
minador foi a'contemplao: convertido c' pas, reti-
ou-se a uma gruta e ali permaneceu at a morte,
que o colheu em 326, segundo se cr.
H, na legenda de So Gregrio, coisas plau-
sveis, tais com o f.azevse amigo do filho, de Cosros,
VIDAS DOS SANTOS 163

que Anak, o pai, matara, os rsuplicios, por no querer


sacrificar a Anahita, etc. Quanto converso da
Armnia, contudo, h um certo exagro, exagro gue
se deve, decerto, aos psteros, porque, antes do Ilu-
minador, a evangel izao do pas ia i bem adian-
tada. No pas j havia algumas igrejas, undadas
por pregadores , dizem os escritores que srios, vindod
da Mesopotmia. So Gregrio, no resta a menor
dvida, z muito e se notabilizou pela cristianizao
da Armnia, mas no de tda a Armnia, uma vez
que as terras do nordeste j estavam sob o Signo da
Cruz quando o grande apstolo iniciou os trabalhos
que levou a cabo pelas regies ainda paganizadas.
So Gregrio teve especial devoo por So
]oo Batista, o precursor, e por Santo Atengono,
bispo e mrtir de Sebasta.

***
SANTO HONRrO (*)
Arcebspo
Santo Honrio foi o quinto arcebispo de Can-
tc,rbry e discpulo de So Gregrio, o Grande. Su-
cessor de ]usto, parece gue em 627, foi consagrado,
presur-s, em 628, em Lincoln, r igreja gue o
prefeito Blaeka mandara erigir. Quem consagrou
Santo Honrio foi o bispo de York, Paulino.
Sant,o Honrio teve longo pontificado e fundou
muitas Igrejas, mas dados sbre sua vida temos Pou-
cos. Diz-se gue consagrou ou reconheceu como bispo
a Flix, aqule prelado que, depois de 631, trabalhou
na converso da Inglaterra do Este. Recebeu a viva
do rei Edwin e o,s missionrios que Paulino lhe enviou,
depois da queda daquele rei e dos cristos mortos
pelos pagos de Penda.
Paulino, arcebispo de York, faleceu em 644 e
teve como sucessor a Itamar. ste Itamar foi consa-
grado por Santo, Honrio e o primeiro ingls elevado
ao episcopado. Foi guem, morto Santo Honrio, col-
sagrou-lhe o sucessor em Cantorbry, Deusdedit.
Honrio aleceu a 30 de setembrc' de 653 ( I ) e
foi enterrado em Cantorbry. As crnicas monsti-
(1) Beda, Eist. Ecel., L. fff, c. XX.
VIDAS DOS SANTO

cas no o do como fundador de mosteiros. O nome


do santo arcebispo ncr aparece em nenhuma carta da
poca. O culto antiqussimo. Os, calendrio,s e os
martirolgios, principalmente inglses, referem-lhe a
festa. O salterio de Bosworth menciona-o.

***

I
so stMo DE CRPY (*)
Beneditino
Sao Simo de Crpy foi beneditino'de So Clu-
dio (Saint-Claude) .
Conde de Crpy-en-Valois, herdou do pai, em
1072, uma das mais invejveis, mais altas situaes
na Frana do Norte. Parente de Guilherme, o Con-
guistador, por trs anos combateu o rei Filipe, para
tomar o Vexin e entreg-lo Normandia.
So Simo ,2 a peregrinao de Roma, diz-se
gue para "obter remisso dos pecados e das faltas
cometidas contra os pais". Em 1075, morto o pai em
Montdidier, foi busc -lo, transportando-o para Cr-
py: data da que, o ver o cadver daquele que lhe
dera a vida, entrou a desgostr-se do sculo e das
glrias que conquistara. Fz-se, ento, beneditino,
encerrando-se no antigo mosteiro de Santo Ouen,
hoje de So Cludio.
Mcnge zeloso e penitente, conta-se que dormia
na sacristia da igreja, para, noite, mais fcilmente
ir orar.
Santo Hugo de Cluny solicitou-lhe os prsti-
mos para levar avante negociaes com o rei da
Frana. So Simo, depois disto, procurou pacificar
Guilherme e os filho,s, que se debatiam num conflito.
Numa misso que lhe confiara o papa So Gregrio
VIDAS DOS SANTOS 167

VII, junto de Roberto Guiscard e seus normandos


na Itlia, o santo monge saiu-se muito bem.
Falecido entre 1080 e 1082, So Simo de Crpy
lc go foi venerado colo santo.
r

No mesmo dia, em Lisieux, na Glia, a morte


de Santa Teresa do Menino )esus, da ordem das
carmelitas descalas: ilustrssima pela inocncia e
simplicidade de sua vida, foi inscrita no catl_o_g_o das
,urta, virgens pelo soberano pontfice Pio IJ, gue
a procla*u especial padr,oeira de tdas as Misses
ih" fixou a fsta aos 3 de outubro. Ver ste dia.
" Em Roma, So Leopardo, mrtir, um dos oficiais
de fuliano, o Apstata,: teve a cabea cortada; o co-rpo
fc,i transferido paa Aix-la-Chapelle (sculo V) .

Leopardo citado entre os mrtires do cemitrio de


Saro Hermes, ro Epitome de locis sanctis, Existe,
sbre le, uma Passio sem valor.
Em Soleure, na Gli a, a Paxo dos santos mr-
tires Vtor e Llrso, da muitor gloriosa legio tebana:
sob o imperador Maximiano, sofreram, primeiramtnte,
cruis torturas, sendo livres quando uma luz celeste,
brilhando sbre les, aterrorizou os executores. Mais
tarde, atirados numa fogueira, nada 'sofreram. A[i-
nal, mc,rreram pela espada (sculo III? ) .
Em Placena, Santo Antonino, mrtir da mesma
legio.
Em Roma, Santa Sofia, viva, me das santas
virgens e mrtires F, Esperana e Caridade, feste-
jadas a 1.n de agsto.
Em Moissac, Santo Ansberto, abade, no :sculo
VI, que, segundo certos manuscritos da Vida de ,So
RE ROH

Didier, de Cahors, teria conccrrido paa a fundao


do mosteiro de Moissac, ou, como querem alguns
autores, de Marsillac.
Em Limou's,in, So Vitorniano, anacoreta
(sculo VI-VII? ) .
Na Inglaterra, Santo Enghenel (sculo VII?),
cujas relquias, ensinam-flc,s, foram levadas para o
mcsteiro de So |uliano de Tours.
Em Chalons-sur-Marne, Sao Lumiero, bispo,
falecido depois de 614.
Na Italia, o bem-aventuradc, Conrado de Llrach,
cardeal cisterciense, falecido em 1227.
Na abadia cisterciense de Villers, Brabante, o
bem-aventurado Guilherme de Dongelberg, monge,
desaparecido em I 250.

***

E
Outubro
1., DIA DE OUTUBRO
F esta do Santo Rosrio
A festa do Santo Rosrio foi instituda pelos
Papas Pio V e Gregrio XIII no primeiro domingo
de outubro, como testemunho de gratido pela vit-
ria obtida pelos cristos sbre os maometanos no
glc, de Lepanto, em dezessete de outubro de 1571.
Nos anos de 1570 e 1571, os maometanos, uxi-
Iiados por um grande nmero de renegados, ap,ode-
rrr-se da Ilha de Chipre e, faltando palavra
empenhada, trucidaram todos os cristos que l se
encontravam. Ameaados do mesmo, destino, os v-
nezianos comunicaram o ocorrido ao Chefe da Igreja,
suplicando-lhe que os socorresse, e instigas os
outros prncipes a proceder da mesma f,o,rma. De
boa vontade Pio V os atendeu. organiza uma frota
comandada por Marco Antnio Clonrru para com
ela reforar a de Yeneza. Envia emissrios aos reis
da Espanha, de P,ortugal, da Frana, da Polnia, aos
prncipes da ltlia, ao Imperador da Alemanha, ao
soberano de Moscou; f.az-lhes ver gue no apenas o
reino de Chipre se encontra em perigo, mas todos os
reinos do Ocidente; prope-lhes uma santa liga contra
t72 PADR,E R,OHR,BAC H ER

os turcos, para a defesa comum da cristandade; os


reis de Portugal, da Frana, da Polnia, e o Impera-
dor da Alemanha esquivam-se sob vrios pretextos;
apenas o rei da Espanha e os prncipes da Italia
constituem com ,o Papa e os venezianos uma santa
liga, uma cruzada em prol da salvao comum da
Europa crist, e convidam outros soberanos para dela
participarem. A fim de manter a harmonia entre os
confederados, o Papa foi aclamado chefe da Liga.
Pio V nomeou generalssimo das tropas a Dom |uan
'E
da ustria, filho natural de Carlos V, irmo de
Filipe II, rei da Espanha gue em vrias oporlunida-
des j revelara grandes dons militares. Recebeu em
Npoles, das mos do Cardeal de Granvelle, o es-
tanarte enviado pelo Papa, no qual fra bordada,
com ouro e prata, a imagem do Salvador crucificado,
embaixo; armas do Ponice, no meio'; s do rei
"t da Espanha, que em vrias oportunida-
Filipe II, rei
juntamente com as do generalssimo, prsas corl pe-
quenas correntes. Marco Antnio Colonna, general
das galeras pontificais, recebera das prprias mos
do Papa o seu estandarte, que reprodu zia a-imagem
do Savador crucificado, ladeada pelas de S. Pedro
e So Paulo, alm da inscrio: Com ste sinal
uencers.
Enquanto as negociaes e os preparatlYou se
arrastavam, chegou a notcia das derrotas de Nicsia
e de Famagust, e da devastao de outras ilhas,
levada a efeito pelos turcos. Pio V apressou enrgi-
camente a expedio, e designou como pont6' da reu-
nio geral o prto de Messina. Mandou dizet ao
g"n".lissimo gue a nica .salvao -possvel estaria
nrora batalha, e prediss,e-lhe que obteria a vitria,
recomendando-lhq porm, gue se preparasse de ma-
VIDAS DOS SANTO,S 173

neira crist, e que dispensasse do exrcito, os homens


de mau proceder. Todos os comandantes seguiram
os conselhos d9 Papa e decidiram-se a ir ca do
inimigo. Imediatamente, no dia 8 de setembro de
1571, Natividade da santa virgem, decretado um
jejum de trs dias; a esquadra inteira confessa-se,
comunga e recebe ind-ulgncias do vigario, de
|esus
Cristo; todos os desafets se reconcilim e em 'nada
mais pensam a no ser em vencer ou morrer lado a
lado. timos sacerdotes e religiosos, espahdos
pela fr'cta, nela entretinham u or"- e a piedad e
distribuam aos soldados teros e Agnus Dei, b"rrio,
pelo santo Pontfice. Alis, a ustria impu-
nha uma severa disciplina. Jyur,
{andou enforca" oi,
desgraados acusados-de terem proferido blasf;
fato gue infundiu salutar temor toda armada
Enfim, depois de embarcarem em'Messina no, dia
16 de setembro, chegaram no sbado, T de outubro,
a uma hora e meia da tarde, ao glfo de Lepanto,
vista dos turcos:, prontos para cmbater. Naquelas
mesmas paragens fra travada a batalha de Actium
entre Otvio e Antnio. A esquadra dos turco,s cors-
tava de trezentos vasos de guer ra; a dos cristos de
duzentos e nove. Dom ]uan da ustria colocou-se
no centro, tendo direita Marco Antnio Cc,lonna,
Almirante do B?pu, e esquerda sebastio v""ier,
Almirante de Yeneza: a ala direita era comandada
por Andr Doria, Almiranre genovs; a ala ;d;rd"
pelo veneziano Barbarigo, o "*urqus de sant; C;";
comandava a reserva. |uan da ustria percorreu
tda a frente num batel, empunhando ,* .ru.ifixo,
e exortando com gestos e com a voz os chefes e os
soldados a cumprir o dever. Enquanto isso, com o
crucifixo nas mos, os sacerdc,tes ouviam rpida-
PADRE R,OHRBACHER,

mente as conisses, davam a absolvi9


geral.acolll'
p.lu i"artgencia plenria do Papa. Enfim,
"Jau
o sinal dado pelo generalssimo, ressoaram as trom-
"tur: todos os cristos invocaram a Santssima Trin-
dade em voz alta e saudaram a Santa Virgem. Assim
Pio V o ordenara.
As duas esguadras defrontfIr-se durante
algum tempo, reciprocamente se estudando' O almi-
rante turco r*p, o silncio com um disparo de
canhc', ao quu Dom |uan mandou responder: ,u
batalha iniciol-se em tda a frente. Eram crca de
quatro horas da tarde. Os cristos recebiam nos
olhot o sol, o vento e a umaa, o que proporcionava
aos turcos uma dupla vantagem, pois tambm eram
mais numerc'sos. Pouco a pouco, porm, o 'sol co,,l'e-
sbitamente Ilu-
ou a bater nos olhos dos infiis; e,
u"ao de direo, o vento lanou a fu"naea da arti-
lharia para o lado da esquadra turca. Pelas quatro
horas meia o almirante turco meteu-se eotfe a nau
capitnea de Dom Juan-e a de Colonna, e outro
pax avanou entre Dom |uan e o Almirante Veniero.
Lutaram encarniadamente, Cofpo--Cop_o, durante.
uma hora inteira; afinal uma bala de artilharia feriu
o almirante turco e um soldado espanhol gue subira
embarcao inimiga por mei,o da abordagem, cortou-
ifr" cabeiu, colocrdo-u na ponta dg uma lana. 4
derrota do. turcos foi complta: perderam trinta mil
homens, duzentos e oitenta navios, dos quais noVenta
q"utto foram impelidos contra a costa e incendia-
"dos: s conseguirm salvar quarenta galeras. P"1-
deram, porm," muito mais do que os navios, isto ,
a reputao de invencibilidade no mar; dessa poca em
diante, tanto seu imprio como o renome que gzavam
;;i;; em decadnia. Os cristos vitoriosos izeram
VIDAS DOS SANTOS

trs mil, guatrocentos e sessenta e oito prisioneiros;


e, ainda mais, guebraram as cadeias de guinze mil
cristos reduzidos escravido. Tiveram a lamentar
a perda de guin ze galeras e de oito mil bravos, entre
os quais o almirante vene ziano Barbarigo, gue morreu
trs dias depois, ern consegncia de erimentos rece-
bidos. 'Miguel Cervantes, famoso escritor. espanhol,
c,c,mbateu em Lepanto, e perdeu o brao esguerdo.
Nos despojos do inimigo foram encontrados cento e
dezessete canhes pesados e duzentos e cingenta e
seis mais leves, os estandartes dos paxs, lanternas
de ouro, pavilhes de prpura com ,irscries de ouro
e prata, estrlas e crescentesr. (1 )
Entrementes, ,o Santo Pontfice Pio V multipli-
cava austeridades e esmolas. Org anizara preces
perptuas nos estabelecimentos religiosos de Roma.
Permanecia dia e noite em orao, e quando ileces-
sidade de repouso, ou a direo de negcios o obri-
gava a afastar-se, confiava a homens de exemplar
devoo o cuidado de reza em seu lugar. Um dia, o
tesoureiro, chamado Bussoti, cumprindo deveres ine-
rentes ao seu cargo, oi prrccur-lo no Vaticano para
submeter-lhe, na presena de vrios prelados, um
importante trabalho. De sbito Pio V impe-lhe si-
lncio com a mo, levanta-se bruscamente, dirige-se
para a janela, abe-a, e durante alguns minutos per-
manece em intensa contemplao. Sua fisionomia,
sua atitude traem uma profunda emoo; depois, vo,l-
tando-se, em xtase, exclama: "No falemos mais
de negcios: a hora no apropriada! Apressai-voS
em dar graas a Deus na sua igreja, pois a vitria

(1) De Hammer, His. des Ottomans, t. IIf, liv. XX)(Vf, p. 566,


em alemo.
a
PADRE ROHRBACHER,

coube nossa esguadra!" Nem bem terminara de


pronunciar essas palavras, despede os assistentes,
extremamente surpresos; e mal stes se retiram, o
Santo Pontfice precipit-se, banhado em lgrimas,
para o seu oratrio, onde se pe de joelhos. Bussoti
e os prelados, testemunhas privilegiadas dsse mila-
gre relataram-no aos mais considerados cardeais de
Roma e s pess,c,as mais recomendadas pela piedade,
|untos, anotaram o dia e a hora da viso do Santo
Padre: stimo dia de outubro, cinco horas da tarde.
Exatamente o dia e a hora em gue a cuz triunfava
no glfo de Lepanto. ,

Em sinal de gratidc, por essa vitria, o Santo


Papa fz guesto de que celebrassem a festa do Ro-
srio no primeiro domingo de outubro, e inseriu nas
litanias da Santa Virgem a invocao: Auxlium
christianorum, Auxlio dos cristos,, rogai por ns!
Os presc,s encarcerados por dvidas abaixo de cento
e vinte ducados foram postos em liberdade s expen-
sas do tesouro pontifical.
Quanto ao Santo Rosrio, prpriamente, foi um
dos meios mais eficazes que So Domingcs empregou
para obter de Deus a converso dos herticos e, ao
mesmo tempo, para doutrinar seus fiis. Podemos
verificar na vida de So Domingos, a 4 de agsto,
em que consiste essa devoo.

***
F

SO REMGIO
Bispo de Rems, Apstolo dos Francos

Pelos fins do sculo guinto, a Igreja de Deus viu


entrar em seu. seio, p-ara nunca mais sair, a primeira
nao crist do ocidente, nao gue, aps guatorze
sculos de revolues de tda espeie, udu onstitui
seu conslo e sua glria. Queiemos falar da coo-
verso de clvis e dos rancos, convers(p gue deu
ensejo a gue o Papa-Anastcio_praticasse o ieu pri-
meiro ato em nome da Igre ja catolica, congratu"rr-
do-o.
A rainha clotilde no cessava de exorr or rei
a abandonar os dolos e a reconhecer o verdadeiro
Deus; mas no conseguia persuadi-lo. F-lo ,-
batalha. os alemes, a mais f.eroz das tribos da
Germnia, gue se tinham estabelecido nas provncias
m'o'dernas da Alscia e da Lorena, em 496 atacaram
os franco-ripuarianos, senhores do territrio da Co-
lnia, e aliados de clvis. o rei dos franco-salianos
imediatamente marchou contra os agressores. uma
grande batalha foi travada nas plancies de Tolbiac,
h9i." lurigue, r regi,o de |uhrs. Clvis, a prin-
gpio_, invocou os seus deusei; mas tendo uiirdo
sigeberto, rei dos francos de colnia, sido""u
r".io
joelho, suas tropas puseram-se rl fuga; as de ClOvis"
tambm comeavam a dispersar-sei os alem;r;il:
I
178 PADR,E R,OHI}BAC HER

vam certos da vitria. Nessa altura,-ClOvis lbmbrou-


se das lies de Clotilde. Ergueu qs mos para o
cu e disie entre lgrimas: ")esus Cristo, vs gue,
segundo Clotilde ama, sois o Filho de Deus vivo,
e gue, Como o proClamam, sog,o,rreis os infelizes e
dais a vitria aos gue em vs confiam, ardentemente
imploro o vosso auxlio. Se me fizerdes triunfar de
-rr inimigos, acreditarei em vs e farei com gue me
batizem em vosso nome, pois debalde invoguei _ os
meus deuses: no devem dispor de nenhum poder,
pois no socorrem os gue os adoram. Por sse
hotivo gue vos invosor, e gue desejo acreditar em
vs; apenas vos peo gue *e i.rt"is de meus inimigos".
Nem b"* terminata a rsua orao e os alemes come-
morto. o
aram a retroceder e a fugir; pouco depois,
iei inimigo, seus soldadoJ render-se a Clvis, di-
zendo: "Cessai vosso morticnio, pois nos entega-
mos em vossas mos". ClOvis mandou suspender o
. atague,
- reuniu os dois povos e retornou m paz' (l)
Fiel ao seu voto de abraar a religio crist,
apressou-Se em receber a necessria instruo, mgs-
de mais rpida-
-o durante a jornada de volta, a fim' Nessa inteno,
mente :se PreP aa para o batismo.
ao passar por'Toul, trouxe consigo- uT santo sacerdote
chmado Vedast ou Vaast, gue vida reti-
-{e l levavavirtude.
rada, e g,CIza.17a da reputa_o grande O
santo hem mais o confirmou na . pelos seus mi-
lagres do gue por suas lies; po.ls,- guando passou
juntamente com o rei pela regl1o de Vou zi, um ceg9,
h postado, a le se diiigiu, "Homem de Deus, tende
piedade de mim; no vos peo nem ouro neq prata,
restitui-me a vista". Seniindo-se assistido do alto,

(1) Greg., Turon, 1. If, n. 30.


VIDAS DOS SANTO

atra tri
t lrulmor
moniarlr

-
Sagrao de So Remgio, bispo de Feims.
de Feirns, sculo XVf.
I 180 PADR,E R,OHR,BACHER,

o religioso ps-se a orar, no_ apenas pela salvao


uq""i" desgraado, mas tambm pel-a salvao do
poo presente; terminada a orao, f.?Z o sinal da
Lrur.bt. os olhos do cego, dizendo: "senhor )esus,
vs que sois a verdadeiia luz, -vs que abristes os
olhos'do ceg,c, de nascimento, abri tambm os olhos
dste, a fim de que o povo aqui presente reconhea
que sois o nico- Deus- capaz de azet prodgios no
CU e na NO meSm6 momentg, O Ceg'Ot fCpe-
tefra".
rou a vista e, para perpetuar aqule milagre, uma
igreja foi construda no lugar. (2')
Entrementes, a rainha mandara buscar secfeta-
mente So Remgio, que acabou de introduzir o rei
no conhecimento o verdadeiro Deus, criador do cu
e da terra, convencendo-o da vaidade dos dolos, de
cuia impotncia j tivera prcvas. "Santssimo Pai,
observou Clvis, de boa vontade vos ouvirei; mas
resta uma dificuldade: o povo que me acgmp?nha .1o
consentiria em abandonui t"rt "uses. Vou falar-lhes
de acrdo com as vossas instrues". Reuniu CIS
francos; porm, antes gue a les se dirigisse, inspi-
rados por Deus, s,tes declararam a um s tempo:
"Senhor, rejeitamos os deuses mortais e estamos pron-
tos a seguir o Deus imortal, que Remgio prega"' O
Bispo, t o auge da alegria, tudo- preparou Pa1 o
batis,-o do ,Ji e dos fiancos. Auxiliadc, Por Sao
Vaast, continuou a doutrin-lo s, e f.az-los obsenrar,
de acrdo com os cnones, alguns dias de iei-um e
de penitncia. Ao mesmo temp, vrios bispos foram
Fi"i-r participar da solenidade, que se realizou no
dia de Natal, no ano de 196,
(2) Acta ., 6 febr.
VIDAS DOS SANTOS 181

\} j\\

so Remgio eura uma mulher paratica, um homem doente,


e batiza o rei clvis (de um marim esculpido no sculo xr).
r* L82 PADR,E R,OHR,BACHER,

As ruas, da residncia do rei at igreja tinham


sido atapetadas,; a prpr ia igreia fra iluminada com
-batistrio
crios perfumados, o envolto em delicio'sos
uronr"r. Todos caminharam em procisso levando
os Evangelhos e a cruz, e cantando hinos e litanias'
So Reniigio segurava a mo do rei; a rainha vinha
atrs com as duas princesas,, irms de Clvis; se-
guiam-se mais de ties mil homens do exrcito dos
r"rr.or, oficiais, na maioria, conguistados a ]esus
Cristo pelo exemplo do rei. No meio dessa po'mpa'
o rei idagou ao Bispo: "Meu Pai, ste o reino
de fesus risto gue me prometeste?" "No' s-
pon", o religio*, C apenas o como do caminho gue
a le conduz".
Tendo chegado ao batistrio, o rei pediu o batis-
mo. Disse-lhe,- ento, o santo Bispo | " Sicambro'
baixa docilmente a cabea; gueima o que adoraste e
adora o gue gueimaste". Enseguida, depois de t-lo
feito conf"riar sua . na Trindade, batizou-o e
ungiu-o com o santo crisma. Os oficiais e os solda-
doi gue o acompanhavam, em nmero de trs mil,
sem contar as mulheres e as crianas, igualmente
foram batizados pelos bispos e outros ministros. As
duas princesas, rms de- Clvis, eram Albofleda e
Lantile. Albofleda recebeu o batismo, e Lantilde,
gue j era crist, mas gu9 professava o arianismo,
ieconciliou-se pela uno do santo' crisma.
ClOvis n,o guis gue as alegrias de to auspiciosa
festa fssem pelas lgrimas dos des 1ta''
"-putt.as los-
ados. Mandou libertar todos os prisioneiros e
trou-se extremamente generoso em relao s igreias'
Durante oito dias ,ro o hbito branco dos nefitos;
; ;;;;o Sao Remgio, -gue continuava a instru-lo,
ie., c"rto dia a paixo d ]esus Cristo, sbitamente
VIDAS DOS SANTOS 183

exclamou: "Ah! se eu tivesse estado presente, com


os meus francos, bem gue o teria vingado!" ( 3 )
Essas palavras j anunciavam a espad crist de
Carlos Martelo, de Carlos Magno, d" Godofredo e
Tancredo.
A princesa Albofleda, renunciando aos dolos,
tambm renunciou aos prazres e grandezas munda-
nas. Consagr,ctr a virgindade a Deus que, pouco
tempo depois, a retirou dste mundo. ClOvis sentiu
profundamente a sua morte. Para consol-lo, So
Remgio escreveu-lhe nos seguintes trmos: "Tomo
yTa grande parte na dor que experimentais pelo
faleciment'c, de vossa irm Albofleda, de gloriosa
memria; mas devemos encontrat consolao na sua
santa vida e na santa morte gue a coroou. ]esus
cristo concedeulhe a graa de receber a bno das
virgens; no devemos chorar aquela gue foi cors-
grada ao senhor e que recebeu no cu a coroa da
virgindade. Expulsai, pois, meu Senhor, a tristeza
do corao. Lembri-vos de que tendes um reino
para governar com a ajuda de Deus. sois o chefe do
povo, e sois vs quem governais". (4)
A notcia da converso de ClOvis encheu de j-
bilo o mundo cristo. O Papa Anastcio tanto mais
se alegrou, quando esperava encontrar na pessoa do
prncipe um poderoso protetor da Igreja. Com efeito,,
era ento Clovis o nico soberano verdadeiramente
catlico. o Imperador Anastcio entrega-s aos
eutiquianos, aos quais protegia; Teodorico, rei dos
ostrogodos, na Italia; Alarico, rei dos sigodos, na

(3) Fredeg., Epist., c. XXJ, Greg. Tur., I. [, r.B_1. vlta s, Bemig.


Aeta SS., 1.o Oct.
(4) I,abbe, t, [V, lZOq.
184 PADRE IIOHR,BACHER,

Espanha e na Aguitnia; Gondebaud, rei dos bur-


gurrdor, nas Glias; e Trasamundo, rei dos vndalos,
na frica: todc's professavam o arianis'mo.
o Papa escreveu a clOvis a._ seguinte carta:
"Ns nos flicitamos, mui glorioso filho, por ter vossa
admisso crist coincidido com o nosso ingresso
o p."iificado; pois poderia o trono de So Pedro
deixar de estreecer- de alegria ao ver a plenitude
das naes acolher-s" uo r" seio? Ao ver a rde
qu" o plscador de homens, o porteiro do cu, recebeu
orJ"*'para lanar, encher-s no decorrer dos sculos?
Fo,i o qr. pretlndemos comunicar Vossa Sereni-
dae por iermedio do sacerdote Eumrio, a fim de
gu", ciente do jbilo de vosso Pai progridais em boas
brat e leveis ao auge a nossa alegria, e sejais nossa
coroa, e a Igreja, vss a me, possa reiubila-Se com
o aperfeioJmento de to grande rei, que _acaba $e
entrega-se a Deus. Glorioso e ilustre filho, s{e,
pois, conslo de vossa me; r9d"-, para sustent-la,
,*" coluna de ferro; pos a caridade de muitos lof-
tece e, por causa da astcia dos maus, nosso barco
est r"rrdo aoitado por uma furiosa tempestu4". Es-
peramos, cotra tda esperan,.e bendizemos
"ororu
Senhor pc,r ter-vos arrancado ao poder das trevas
para dar igreja, na pessga de to augusto prncipe,
um protetor capaz de defend-la contra seus inimi-
gos. Que Deus Todo-Poderoso tambm se digne
orcedef-vos., e ao vosscr reino, sua celeste proteo!
Que o Senhor e seus anjos vos guardem em todos os
cminhos e vos concedam a vitria sbre todos os
inimigos que vos rodeiam". (5)

(5) Labbe, t. rV, 1282.


VID-AS DOS SANTO 185

A carta de Santo Avito, Bispo de Viena, ainda


mais claramente trai a alegria universal que provocou
nos catlicos a converso e o batismo de Clvis;. Era
sse bispo sdito do rei dos borgonheses, que nle
depositava grande confiana. Poder-s e-ia acreditar
que j naguela poca os borgonheses eram tributrios
dos francos pois, na referida carta, Gondebaud e
denominadc, ,soldado ou vassalo de Clvis. ste lti-
mo recomendara ao Bispo de Viena a liberdade de
um cativo, filho de servos seus. Santo Avito apro-
veitou a oportunidade para felicit-lo pela converso.
Disse-lhe,_ em primeiro lugar, gu a esco,lha por
le feita da religio catlica, de preferncia a tantas
seitas herticas, constitua um juizo a- ela favorvel,
tal como um raio atravs do qual a luz da verdade
se manifestava. "Vossa escolha determina o julga-
mento dos outros; julgais por les, embora esc,o,lhis
szinho, e vossa se transforma em vitria nossa.
Aqules a quem instamos para gue abracem a verda-
deira ., na sua maioria opem-nos os costumes e
usos de seus antepassados, que se vexam de conde-
nar; e, por um pretenso respeito a seus pais, persistem
em permanecer infiis. Porm, aps o milagre a que
acabamos de assistir, desaparecero vergorrh u pie-
"
texto. S consentistes em herda a nobrza de vosso,s
antepassados; tudo mais que constitui a glria de um
qrande prncipe vem de vs mesmo e de vs se re-
flete sbre vossos pais. Se reali zaram grandes coisas,
realizastes outras ainda maiores. Aprendestes com
vossos antepassados a reinar sbre a terra; ensinais
a vossicrs descendentes a reinar no cu. Pode a Grcia
felicitar-se por ter um prncipe da nossa santa lei;
no a nica a usufruir essa ventura, Eis que se
ergue uma nova luz na pessoa de um antigo rei do
PADR.E,ROHR,BACIIER

nosso Ocidente. E, -naturalmente, no foi sem mis-


trio gue comeou a cintilat no dia do nascimento do
Redentor. Era conveniente gue- -vos regenersseis
pela gua no mesmo dia em gue o Senhor do Ceu
nascera na terra para a redeno do mundo.
"Que direi da solenidade do vosso batismo?
Embora no a tqnhg assistido em pessoa, estav pre-
sente em esprito,..e compartilhei do regozijo geral.
Pois aprouve bondade divina gue vossa mui ,sublime
humildade nos desse a conhecer antecipadamente a
f.eliz nova. Oh! como essa noite sagrada nos encheu
de conslo ao evocarmos a vossa pessoa! como nos
forneceu assuntor p reflexes e palestras! Que
espetculo, diziamos, ver reunidos um grupo de poT-
tfices, servir com solicitude no batismo de um grande
rei, contemplar aquela cabea temida pelas naes
curr/-se dante dos servos de Deus; ver aquela cabe-
leira crescida sob o capacete mi'litar receber, com a
sagrada uno, o capacete da salvao; ver aqule
guerreiro deixar por algum tempo a couraa-. para
,rar vestes brancas. No duvideis, mais flores-
cente dos reis , a maciez dos novos trajes emprestar
nova fra s vossas arms; e tudo quanto a vossa
boa sorte realizou at agora, a vossa piedade reali-
zar ainda melhor.
"Quereria misturar o's louvores algumas pala-
vras de advertncia e de exortao, caso houvesse
algo que pudsseis ignorar ou deixar de praticar. Mas
p*gui"i:a f. a quem foi confirmado nessa [, e que
del teve cincia sem o auxlio dos pregadores? Pre-
garei a humildade -a guem dela deu tantas- provaf,
antes mesmo que fssem exigidas pela profisso do
cristianismo? Exortarei clemncia aqule de quem
um povO de ativos pSto m liberdade proclama, com
VIDA,S DOS ANTO"g

a alegria az correr, a misericrdia para


9n:r*:._qy"
com lJeus e para com os homens? uma nica
oisa
eu gostaria gue fizsseis- crescer I
it gue D.ur,- p*
vosso intermdio, tornar inteiramrte sua
nao,.podereis tirar as sementes da
a vossa
re "r. t"-
souro do vosso corao-pala lana,lr
a, naes mais
distantes, ainda mergurhadas
mas ainda "a "r"r igir"r;;;,
1ra,9 qorrmpidgs por doj"r.* perversos,
No desdenheis de envir-lhes embii"aor.s, no inte-
rsse de um Deus gue to bem .uiou
.
sujeitos religio,
d; ;;;;;.
, povos pagos, reconhecidos,
vos serviro dg lggge e vos cnideraro ,soberano.
sois como o sol. Todos desrutam ; il rr;;;;
se encontra mais- prximo mais aproveita,
mas o u"
se encontra mais longe-no fica privado
do seu
dor. os vossos trinfos repercutem por td""rpt-
Embora de ourra nao, fuJ.
r.ri.-i" hmbm nos
"." b;ih;? ,,or.u. Mas
alcana: sempre gue-rutais,-
no auge da glgria e do soberano poder,
a vossa piedade brilha menos gue a vossa
r.. por isso
,ob"rurriu.
E sse o motivo por gue vos intressais pera
riu"rJa"
de um de vossos servos. ffi;-;*""tr.u prncioe
gue, embora rei da sua na o, vosso
ao jovem cativo a fericidde de
*ld;JffiJ;
-
menos propcio ser restitudo a seu"""-"..
s"rJI;;:;
verdadei p"i
gue ser apresenrado pai comum de rodos.r--i i
Essa alegria da- 3o
Igr,a catoi d-iurt" da con-
vers,o dos francos fia predita
"
profera.Isaas quando, a"l" -"ro pretermi-
:*iela l:lo,
a
leculos antes,
se dirige: "Alegra-te, estrir, gue no
luz; entoa caiticos d" IL*or e de das
;ubiio,
tinhas filhos, porque os firhos ; ;;parada
tu que no
so
(6) Labbe, t. fV, 1266.
a
188 PADRE BOIIBBAAIIER

muito mais do gue os daguela gue tem.


marido' diz
o Senhor. Alarga o esPao da iua tend ' alonga
? estende
teus pavilhes;
;"d;;'p;il;"r;, f."r'dos
;;-"r* crdas e segura as tuas estacas. Porgue tu
p*u a"direita e para a esguerda; 1ty.
te estenders
dai
"
naes' e povoar as
sse
ilr.;i;U tmar.p^o.
cidades desertas". (7)
As esperanas gue o Papa Anastcio e Santo
-.potitava*-
Arrit,, d" Vi", na nao dos francos
a sua
no foram vs; os votos gue ormularam -Pa?
form Laldados. a espada dos francos,
r"ri.
"o "l{*t.t,
gue salva a crist da
3;t';fi, Eutoo"
u'"t o' ''u"to''
sob
barbrie maometana; ' mesmo
carlc s lrt u g oJ ;;;;rfiida
independncia,
nqlana' e' com ela e Por eta'
,"-;;;;l;"1#i" os reis e Povgs
u ii"rdade e u ndp.ndncia de todos
cristos ; a;t;J;aot i"ncos' sob o comando de
Godofredo e que prepara ao longe a
-;ar.do, core-
fiU.ri;U hu*niade inteira, cujo preldioainda mais
dos ranios,
amos a entrev;;;;redade pessoa de So
invencvel do que a espada 9ue' na
de seus ver-
Lus, o maisi ou tristos, triunfa
;J;;, pel" pr"pr, fortuno. O zlo dos frailccs
da verda-
e de seus prncipes eP prol da propagaco
deira tornou-os fu-oro* e- ta ; terra' de
Na
sia e na frica, o nome Jor francos sinnimo
europeus; u r*. e a -Europa tio
uma s coisa
na China' na
perante sse continente' No Tong$m,
da Europa'
Grcia, r"figi"-tr francos, a religio t entre os
"
Jgrriti.u u ,"igiao catlica. Ainda hoie,
d.1 [c' qu
francos q,'re ,.rige a obra da prop agao
;rp"; * aa-Ji"* da sua cariade t nas ilha" mais
(?) Isalas, 54.
VIDAS DOS SANTO S 189

l,ongnquas do Oceano Pacfico. E, em I 839, atra-


vs dos francos gue novamente Cristo conquista a
frica. H dez anos atrs, Argel era um covil de
ladres nicamente ocupados com escravizar cris-
tos. Hoje, como consegncia do valor dos franco,s,
Argel uma cidade livre e quase crist; um bispo,
escolhido entre os francos, acaba de partir de Roma
com as bnos do Papa e do mundo para reerguer
as antigas igrejas da Cesaria, de Hipona, de Cirta
e de Cartago. E, em 1850, o valor dos francos, e
dos republicanos, tornou a colocar Pio IX em Roma,
onde o conserva com respeito e amor, no, obstante
as traies e o punhal de italianos degenerados; e os
representantes do povo francs declararam solene-
mente que a autoridade do Pontfice romano neces-
sria ao repouso do mundo, e gue direito, e dever
de tdas as naes catlicas mant-la intacta contra
os inimigos de Deus e do homem.
So Remgio nasceu em crca do ano de 439 na
regio, ou mesmo na prpria cidade de Laon. Per-
tencia a uma famlia das mais ilustres. Seu pai cha-
mava-se Emlio; sua me foi Santa Celnia ou Celina.
Teve como ama Santa Balsmia, e como irmo So
Prncipe, Bispo de Soissons. sses nomes indicam
uma famlia romana.
Remgio, cujo nascimento fra predito sua me
por um eremita chamado Montan, fo,i instrudo com
o maior cuidado, tanto nas letras como na piedade.
\a opinio de So SidOnio Apolinario, que acompn-
nhou de perto cis primeros nos de ru vida, 'fe
sobrepujou em eloqnca os oradores do seu tempo.
Ainda existia no sculo nono, em Laon, um aloia-
mento sCcieto, o,nde se habituara a encerrr-s, a fim
de entregar-se mais livremente orao. Chegou a
190 PADR,E ROERBACIIER,

deixar a csa patlnar confinou-se-num.lugar iso-


lado, onde s a Deus tinha por testemunha da sua
vida austera e fervgrosa. .Quanto aparncia fsica,
era respeitvel, com uma estatura de quase sete ps.
Tendo-se vagado o solio episcopal de Reims,
Remgio foi eleito por unanimidade, embora s tivesse
vinte e dois anos. Seuq merecimentos incomuns foram
considerados pelos bispos da provncia raza sufi-
ciente para que lhe fsss concedida a dispensa da
idade cannica. Desde o incio, o novo bispo Dos:
trou-se perfeito pastor; dedicav-se com incrvel zlo
a tdas as funes d,o seu ministrio; orava, e medi-
tava as Escrituras; doutrinava o povo confiado aos
seus cuidados,; trabalhava incessantemente pela cor-
verso dos pecadores, dos herticos e dos infiis.
Anunciava os orculos divino,s com tanto calor e
tanta uno, que houve quem o cognominasse "se-
gundo So Paulo".
So Sidonio Apolinrio no conseguia eICol-
trar trmc,s bastante' expressivos para pintar a admi-
rao inspirada pela ardente caridade e pela pureza
de corao com gue o nosso santo bispo celebrava os
divinos mistrios. No era menos digno de admirao
o zlo ccrn que pregava a palavra de Deus. A uno
que repassava os seus 'sermes tocava os mais endu-
e-levava os mais inveterado-q peca-
recidos coraes -sas
dores a reparar culgas pela penitncia. Sua
eloqncia e piedade,..izia.o mesmo santo, aziam
dle uma das mais brilhantes luzes da Igreia. Acres-
centa : " Consegui cpias de seus sermes que consi-
dero inestimvl tEsour,o. Aclqriro nles a nobreza
dos pensamentos, escolha iudiciosa dos epteto's, a
beleza e .a naturalidade das-figuras , a' exatido, a
solidez e- a for do, rlgioqio qe, podem ser corl-
H
U
I

Sepulcro de So Femgio, consrudo na igreJa do santo,


Ircr Roberto
de Lenoncour, arcebi,spo de f!,sim^s. Sculo XVI.
192 PADBE ROEBBACHER.

paradas impetuosidade do trovo. As palavras


trotam naturaimente e sem afetao. Tdas as partes
da orao so perfeitamente ligadas, o estilo suave
e do courjunto resulta uma fra a que
"no
"rporrtneo
possvel resistir". Nenhum dsses sermes
chegou at ns. Ainda mais lhes ressaltava o mrito
a el,rao das mximas gue encerravam, e o esprito
" pi"dud. com gue eram proferidos; mas sua ei-
cacia decorria principalmente da santidade do pre-
gador, o primero pOr .* prtica as verdades gue
" Deu confirmou com o, dom
anunciava aos outros.
r urilugres a doutrina pregada por seu servo. So
Remgio xorcizou uma pessoa, e, mais tarde, rssus-
citou de entre os mortc,s. Era assim gue o cu o
preparava para o psto de apstolo de uma grande
nao.
ClOvis teve ocasio de conhecer So Remgio
logo aps a sua entrada na Glia. Os francos, ainda
,""g5g;-pilhurum muitas igrejas, entre outras uma de
'R".,'du grrul subtrarao,-r- vasojle prata debeleza
e tamanho extraordinrios. So Remgio, bispo de
Reims, mandou pedir ao rei gue lhe restitusse ao
menos aqule "ro. Clvis disse ao emissrio:
;;;p;ih"-*" a Soisgons; l ser feita a. partilha
dos despojo,s". Tendo qhega-do a Soissons, dirigiu-se
aos Seus soldados: "Meus bravos guerreiros, peo-
vos que me cedais ste vaso, independente.- parti-
tha".' Os mais sensatos responderam: "Glorioso
soberano, tudo isso vos pertence, tal como as
nossas

J;;'.azei o gue vos-Mas aprouvett ,"iTg"l t*:


resistir ao vosso pder". um soldado, mai's audg-
com seu machado
.i;;; do que os outros, p-artiu o vaso"S
ou acha " uo,"r"s, ters-o gue\e
;;";; pela sorte!" "*lamando:
Foi grande o espanto dos guer-
s A_ N_TO s

reiro-s. Dissimulando a indignao, o rei calmamente


apanhcu o vas,o quebrado e entregou-o ao emissrio
da Igreja; mas guardou o ressentimento no corao.
No fim do ano, ao passar suas tropas em revista, no
Campo de Marte, dirigiu-se ao s,c,ldado que quebrara
o vaso nos seguintes trmos: "Ningum tem armas
to sujas quanto as tuas". E, tomando-lhe o ma-
chado, atirou-o ao cho. Quando o outro se curvou
para apanh-lo, o rei ergueu o seu e enterrou-lho na
cabea, dizendo: "Foi assim gue f.izeste com o vaso
de Soissc,ns". Essa execuo inspirou temor aos sol-
dados. Clovis levou a efeito muitas grierras e alcan-
ou muitas vitrias; sobretudo, quando no dcimo ano
de seu reina_do subjugou a Tongria, regio hoje
ocupada por Lige. ( 8 )
Ccntudo, havia dois anos que o rei Clovis era
prsa de uma febre intermitente, sem que a arte dos
mdicos conseguisse restituir-lhe a sude. Enfim,
um ds,tes ltimos, chamado Tranquillim, acon-
selhou-o a recorr er a so severino, abade do Mos-
teiro de Agune, no valais. Imediatamente clovis
envic,u ao religioso Tranvrio, seu camarista, a fim
de pedir-lhe gue viesse cur-lo. O santo abade con-
sentiu em f.azer a viagem. Despediu-se de seus
irmos, como se no mais devess,e v-los neste nun-
do, e ps-se a caminho, ao lado do emissrio do rei.
Ao passar por Nevers, encontrc,u doente o Bispo
Eullio, que havia um ano no podia ouvir, nem falr;
curou-o com as suas oraes e, no mesmo dla,: g
bispo levantou-se, celebrou a mis,sa : e abencu' o
povo.

(8) Greg., 1. ff, n. 27.


194 PADR,E ROHR,BACIIER

Ao entrar em Paris, Severino encontrou ls po-


- tas da cidade um leproso,
-
a quem devolveu a sade
perfeita, beijando-o e esregando-o com sua saliva.
Antes de tudo foi igreja, ezai em seguida, apre-
sentou-se no palcio do rei, prosterno-se -aos pes
do leito de CiO.rit em orao e, despojando-se de
suas vestes exteriores, com elas cobriu o doente. No
mesmo momento, o rei sentiu-se restabelecido, levan-
tou-se da cama e, atirando-se aos ps do seu benfei-
tor, disse-lhe: "Meu pai, tirai do meu tesouro, para
crs pobres, todo o dinheiro qug vo_s -aprouve; em
'ooriu homenagem, concedo a liberdade a
todos os
prisioneiros que disso julgardes dignos". Severino
p"ro., vrio outros_milagres na crte de Clvis, e
n cidade de Paris. Depois, tcrnou a partir e_chegou
u Cfrat"au-Landon, em Gtinois, onde, segundo Deus
lhe dera a conhecer, deveria encerrar a Sua carreira'
Com efeito, faleceu alguns dias aps a che_gada, e
-foram lugar. Uma
foi enterrado na capelao grande uo-
tidade de milagres operadosio seu tmulo; e,
*ui, tarde, CtilaeUerto, fiho de Clvis, l mandou
construir uma igreia. (9 )
Alarico, rei dos gdos, ao ver que ClOvis sub-
havia
fugava nao aps l4o, mandara-lhe dizer, "Se col-
t"po, po, int"rmedio-de embaixadores:
,"rr[r."s, *eu irmo, o deseio dc, meu corao seria
que nos encontrssemos". Clvis no Se recusou.
Encontrfr1-se numa ilha do Loire, junto de Am-
boise, em terras de Tours; e, aps haverem confe-
renciado, bebido e comido juntos, e de terem pfoIe-
tido um ao outro recproCa amizade, separaI-S
(9) Acta SS., 11 feb.
VIDAS DOS SANTOS 195

1m pa? (tOl Mas eram reis e jovens; e os povos


da Galia desejavam os francos; as perseguis de
gue eram vtimas seus bispos, da parte dos arianos,
s lhes estimulava sse esejo. As;sim, restabele-
cidc, da prolongada molestia, Clvis disse aos fran-
cos: "No p9!s9 ve! em mgoa, os arianos ocupar
uma parte ci Galia. vamos drrot-los, com o aux-
Iio de Deu,s, e apoderar-ros de suas terras". Os
francos.aplaudiram-no e_ preparr'-se para gur-
a. Tedorico, rei da lali, sogro d Alario e
cunhado de clvis, de nada descidara para apagar
as primeiras centelhas da discrdia acesa entre os
dois prncipes; enviara-lhes cartas e embaixadores;
tambm as enviara ao rei Gondebaud e aos reis das
Hrulas, de Guardes e dos turingianos., desejoso de
conter os dc,is rivais com uma coligao gerai. Mas
de nada adiantaram seus esforos. -o rei os francos
acabou declarando guerra a Alarico. (l l )
Informado do fato, So Remgio achou gue de-
via dar a ClOvis algun,s corselhos -paternais e escre-
veu-lhe nestes trm,c,s: "Chegura* at aqui rumores
d-e uue- pretendeis empreender uma r"gurrdu expedi-
o militar. Nao de estranhar q,.rJ '.ror mostreis
tal como foram vossos antepassados. Mas, acim
de tudo, deveis proceder de maneira a no vos, afas-
tardes da lei do Senlor; pois o fim que justifica a
ac'. Deveis escolher ionselheiros .uiu sabedoria
possa conferir novo brilho vossa glri. Respeitai
vossos i-spos e recorrei sempre aos seus aorrrlhor.
5e permanecerdes em boas relaes com les, vosso
reino s ganhar em felicidade e sc,lidez. Alivii
(10) Greg. Tur., L. If, c. XXXV.
(11) Cassiod., 1. fff, eplst. Z, g, !.
196 PADR,E R,OHR,BACHER,

vosso povo, consolai os aflitos, protegei as vivas e


alimentai os r[os. Procedei de maneira a f.azer
.;; que todos vos temam e vos amem. Aplicai estri-
tamente a lustia; nada recebais dc,s pobres e dos
estrangeiros. Qr" o vosso palcio permanea aberto
para tdos, e que ningum dale se retire com o cof-
;" pesado. Empregai no resgate d.ot cativos os
.r.'do vcsso domnlo paterno. Nenhum claqueles
que comparecem vossa presena deve sentir que
strangeiro. Em resufno, se quiserdes reinar glorio-
samente, mostrai-vos agradvel com os jovens; mas
s tratai de negcios com os velhos' (12)

A fim de atrair ainda mais bnos do :u para


a sua emprsa, Clvis construiu em Paris Yma grande
igreja dedicada a So Pedro e a So Paulo, iunto ao
tmulo de Santa Genoveva, f alecida alguns ano's
urrt... Tambm publicou uma ordenao na qual
proibiu que os solados pilhassem os lugares sff-
o., que insultassem ou preiudicassem
-clrigos, virgens .o1-
;;;;""s a Deus, vivas, filhos e vivas de
cleiigos, e os escravos das igrejas'
Clovis dirigiu-se diretamente a Poitiers, onde
Alarico o Ao entrar na Touraine, ento
".p"rrru.
pod". dos visigo-dgs, z questo de demonstrar
"-
seu respeito a So Martinho e procurar merecer a
sua proteo. Manclou publicar um pregfu pblico'
destinado ao exrcito, oo qual proibia, sob as mais
que
severas penalidades, que tirassem qualquer coisa
a no ser gua
fOrr" e* tOdu a extenao da provnca,
Tendo encontrado feno em poder de um
" "r"u.
pt" ,1*pcns, um soldado o arrebatou' r$uiler-
(12) Labbe, t. IV, 1402'
VIDAS DOS SANTOS 197

tando que no passava de erva. Informado do ocor-


rido, o rei condenou morte o culpado, dizendo:
" Como poderemos conservar a esperana
de obter
vitria, se ofendermos So Martinho?" Tambm
enviou emissrios ao tmulo do santo com ricos pre-
sentes a fim de obter, _ pela sua intercesso, algqfiq
pressgios da vitria. Ao entrarem na Igreja de.So
Martinho, os delegados ouviram o primicrio entoar
a antfona do salmo dcimo-stimo: "Senhor, vs
me revestistes de fra para a guerra, derrubastes a
meus ps os que s,e erguiam contra mim: fizestes meus
inimigos retroced, e perecer crs que o dio armara
contra mim". Depois de terem entregue seus pesl-
tes e feito suas oraes no tmulo o santo bispo,
os emissrios apressarrn-se em regressar, transmi-
tindo aqules- felizes prognsticos a rei, que vr-
ava, cheio de confiana, pelas margens c, Viena,
sse rio, que separa a Touraine de Poitou; fra
considervelmente engrossado pelas chuvas, e os sol,
dados debalde procuraram um vau. Clvis, sesundo
o testemunho de Gregrio de Tours, passou a nc,ite.
em orao; e, na manh seguinte, uma cora de tama-
nho incomum atravessou o rio pelo vau, vista do
exrcito, gue f.z o mesmo, seguindo-lhe a trilha. CIO^,
vis tambem se preccupou com mandar preservar os
bens da _Igreja de Poitiers, por onsiderao para com
santo Hilario. Esperava merecer-lhe a proteo na.
Iuta contra uma nao ariana, com tanta maior . eorr
fiana po ter-se o santo bispo s,empre mostradc ini-r
migo irreconcilivel dessa heresia. A esperana do
rei no foi frustrada; um_a luz esplendororu, que
parecia sair da igreja de santo Hilario deu-lhe ,-
novo pressgio da vitria. Entrementes, Alarico,
ue
esperava reforc's, no deixava Poitiers. Para atai-
I 198 PADN,E R,OHR,BACHER

lo luta, ClOvis ordenou aos soldados que devas-


tassem a regio; e sse ardil, que no tardou po-
duzir resultados satisfatrios, deu-lhe ense;'o para
admirar a virtude de um s,anto abade daqueles cantes.
Havia nas imediaes de Poitiers um mosteiro
governadc, por So lr{gixent, originrio de Agdg' Oqe
i.ri" em rcluso. Vendo aproximar-se um bando
de soldados francos, os monges arrancaram-no a
contragsto da cela, a fim de op-lo, como um escudo,
ao fur,r dos invasores. Maixent avanou intrpida-
mente ao encontro dstes e pediu-lhes poupassem o
seu mosteiro. Como nica respc'sta um soldado bru-
tal puxou a espada e ergueu o brao para f erir . o
rurto homem; no mesmo momento seu brao imobili-
Zou-s e le se jogou aos ps do monge. So Maixent
vingou-se restituindo a sade quele que pretendera
tirai-lhe a vida. Tendo-se inteirado do duplo mila-
gre, ClOvis prestou grandes honras ao santo abade
ptesenteou-o com as terras de Milon. ( l3 )
Finalmente Alarico deixou Poitiers, onde P?t-
manecia e, avanando pelas plancies de Vouill, ofe-
receu combate ao inimigo que o procurava. A prin-
cpio ambos os adversrios bateram-s corl denodo;
** a luta era desigual. Os francc's nada mais. sabiam
f.azer no ser guerrear e, amolecidos por um longo
descanso na Galia meridional, os visigodos tinham
esquecido as artes da guerra. ( 14 ) Sucumbiram, qgis,
e iugiram como costumavam f.azer, segundo relata
Greg?rio de Tours. A derrc,ta completou-se quando,
avislando o rei Alarico, Clvis correu-lhe ao encontro
e matou-o com Suas prprias mos. E quase pereceu

(13) ctreg. Ttrr., L. rr, c. xxxvll.


(14) Casslod., f. Iff, EPlst. 1.
VIDAS DOS SANTO.S 199

na ocasio, pois dois gdos lanaraln-se sbre le,


inesperadamente, e atacrrtr-lo de ambos os lados.
Clovis ficou devendo a vida solide z da sua couraa
e ao vigor do cavalo em gue montava.

Depois da morte de Alarico, uma parte dos fi-


dalgos visigodos reconheceu por rei a Gesalico, filho
natural do primeiro, e f.izeram novas tentativas para
defenderem-se. CIOvis no lhes deu tempo, assenho-
reo-se da Aquitnia, tomou Toulouse e apoderou-se
dos tesouros de Alarico, guardados nessa cidade.
Enquanto isso, seu filho Teodorico ou Thierri, gue
tivera de uma concubina antes de csr-se com Clo-
tilde, dominava o Rouergue, o Albigeois, o Auvergne,
e avan ava at s fronteiras de Bourgogne.

Tendo passado 'c, inverro em Bordus, e, de ps-


sagem, tomado poss.e de Angoulme, ClOvis egres-
sou triunfalmente a Tours, onde novas glrias o
esperavam. Recebeu uma embaixada do imperador
Anastcio, que lhe enviava o ttulo de cnsul, e um
vestido' de prpura; de maneira que, da por diante,
relata Gregrio de Tc,urs, deram-lhe o ttulo de cn-
sul e de augusto, ou seja, o que os modernos geral-
mente entendem por consulato honorrio, ou melhor,
por patriciado. ClOvis revestiu os adorn,o,s ligados
s novas dignidades diante do tmulo de So Mar-
tinho, que ento se encontrava fora da cidade; e,
montado a cavalo, com diadema cingindo-lhe a c-
bea, cavalgau em triunfo at a catedral de Tc,urs,
atirando grande quantidade de moedas de prata ao
povo que acorrera para assistir cerimnia. Anas-
tcio, o Bibliotecrio, conta gue Clovis enviou uma
I
PADRE ROHRBACHER

coroa de ouro ao Papa; talvez tenha sidc, a mesma


usada nessa solenidade romana. ( 15 )
Alem dcs suntuosos presentes que fz igreja
de Santo Hilrio, em Poitiers, e de So Martinho,
em Tours, o vitoriosc, rei dos franccs escreveu uma
carta circular acs bispos da Aquitnia, recomendan-
dc-lhes que reclamassem tudo quanto tivesse sido
arrancado s igrejas, aos clrigos, s virgens consa-
gradas a Deus, e s vivas pelos soldados, malgrado
as crdens dadas no incio da guerra. Tambm con-
sentiu que fssem reclamados os escravos que no
houvessem sido conquistados na guerra, e prometeu
mandar restitui-los, sob a ccndio de os bispos ates-
tarem sob juramento a verdade que afirmasseffii pe-
cauo exigida pelos, francos, receosos de que se
servissem do ncme da lgreja para privarem-nos de
despojos legtimos.
So Remgio, apstolo dos francos, faleceu no
dia 1 3 de janeiro de 533, com a idade de noventa e
seis anos, aps setenta e quatrc, de episcopado. Ainda
em gzo de plena sade, f.izera um testamento gue
chegou at ns, e no qual constitui seus herdeiros a
Igreja de Reims, Lupa, bispo de Soissons, e o scer-
dote Agrcola, ambos seus sobrinhos. Entre outras
coisas, lega igreja de Reims, e de Laon, ufll grande
vasc,- de prata com o pso de dezoito libras, para
dele serem feitos clices e patenas. Acrescentou,
referindo-se igreja de Reims: "Tambm vos lego
outro vaso que me foi dado pelo rei Hlodovic (ClO-
vis ) , de gloriosa memria, que ergui s ontes sg-
das, e quero que com le seiam feitos um cibrio e

(15) Ana.st., In Eormisd,


VIDA.S DOS SANTO S 201

um clice esculpidos, o gue eu prprio mandarei eke-


cutar, se o Senhor me conservar a vida". Como sse
clice deveria servir para a comunho do povo, orile-
nou que nle fssem gravados cs trs versos latinos,
que mandara insculpir num vaso da Igreja de Laon, e
que expressam a f. na presen a real, e a transubs-
tnciao. sse clice foi conservado na Igreja de
Reims at o tempo de Hincmaro, quando o fundiram
para pagar o resgate dos cativos aos normandos. So
Remigio deu ao sacerdo-te Agrcola, seu sobrinho,
uma vinha, sob a condio de gue fizesse em seu nome
uma oferta ao altar nos dias sanc,s e nos domingos,
e de que oferecesse todos os anos um hanguete aos
,u."rdotes e aos diconcs da Igreja de Reims. Tam-
bem incumbiu outro de seus sobrinhos de oferecer,
todc,s os. anos, Uffi banquete aos sacerdotes e aos di-
conos da Igreia de Laon. sse ato de devoo, vi-
sando u prporcionar,
-cnegos em certos dias do ano, festas
para os e monges, -
ganhou prestgio l'cs
s6cul", seguinies. V-se, pelo nmro de legados,
que So Remgio possua muitas terras e escravos;
pois designa sles ltimos at o nmero de oitenta e
quatro, ds quais libertou uma boa poro. ( 16 )
Certo dia, no obstante a avanada idade, o
santo bispo de Reims foi convidado para participar
de um conclio e confundir um bispo ariano, muito
versado em controvrsias e ng's landros da dial-
tica. Remgio no deixou de comparecer e quando
entrou, imediatamente todos os padres do conclio 'se
levantaram em sua hoinenagem. O bispo ariano foi
o rnico a permanecer sentado, erl sinal de desdm;
(16) Labbe, t. fV, BibI. nov., P. 806.
202 PADR,E ROHRBACHER

Deus,- porm, reservava-lhe uma humilhao propor-


-belo
cionada ao seu orgulho. Sao Remgio f.izera um
discurso atacando o rro e todos aguardavam que o
sacerdote arianc, lhe respondesse; mas ste perde, o
uso da palavra e, incap az de proferir uma uica sla-
ba, foi lanar-se aos ps do santo bispo para confessar
seu pecado e seus erros por entre gemidos e lgrimas.
Ento o santo lhe dissei "Em rro" de )esus tristo,
Noss,c, Senhor, verdadeiro Filho de Deus, se nle
credes, falai e corrfessai aquilo em gue a Igreja Cat-
lica acredita". Imediatamente o urrogurl" hertico,
gue se tornara humilde e cntrito, recobrou o uso da
palavra e confessou claramente a fe na Trindade e
na Encarnao. So Remgio, en lugar de gabar-se
da vitria obtida, s se serviu da c,corrnaia para
demonstrar aos bispos gue nunca deviam repelir os
maiores pecadores, pois o Senhor favorecera com um
milagre a penitncia daguele ariano. (17)
Pouco tempo depoirs; de ter feito seu testamento,
So Remgio perdeu a vista. Essa provao redo-
brou-lhe o fervor e acabou de desprende-lo da terra.
Teve, porm, o conslo de recobrar o uso dos olhos
antes de morrer. So SidOnio e So Gregric, tecem
grandes elcgios sua eloqncia e sua erudio.
Tinha dignos amigos. A histOria menciona um dles,
chamado Anatlio, que chegou a fundar doze hospi-
tais com seus prprios recursos. Sc, Romano, abade
de Mantenai, junto de Troyes, foi seu sucessor na
sede de Reims. Havia formado vrios discpulos
que se distinguiram pela santidade de vida, sendo o
santo abade Thierri o mais ilustre dales. Filho de
um ladro, de tal modo,cr fvoreceu a graa divina que,

(17) Flodoafd, I..l. I, c. ;y1


VIDAS DO SANTOS 203

tendo-se, a contragsto, prendido nos laos do casa-


mento, persuadiu a espsa de que ambos deveriam
conservar-se continentes. Depois foi para junto de
So Remgio e, sc,b a sua ireo, construiu nas
imediaes de Reims, um mosteiro no gual no tardou
em reunir fervorosa comunidade. Tendo sido orde-
nado pregador, trabalhou zelosamente pela converso
4ur almas, em particular pela alma d; seu pai, gue
de ladrcr se tornou monge.
Um dia, quando o santo abade passavar r corn-
panhia de So Remgio, pelas imedaes da cidade,
cantando salmos, sbitamente lhe faltou a voz. Acon-
tecendo-lhe a mesma coisa, na volta, so Remgio
indagou a razo daquele acidente. Respondeu-he
que era causadc, pela pgoa de ver almas perde-
frn-se guase sob os olhos de s,eu bispo, e corse-
Ihou-o a transformar aqule infame lugar num rnos-
teiro de vivas e de qrrependidas, ond aquelas infe-
Iizes pudessem recolher-se. So Remgi aceitou o
conselho e transfornou-o em realidade."(lg) .

q discpulo no sobreviveu muito tempo o rles-


tre. so Thierri faleceu no primeiro dd de ,;ih;,
crca do ano de 533, depois de ter-se tornado fo,oro
ncreino da Austrgri" por grande nmero de milagres"
o rei de Met z, T-ltieri o Teodorico, irrfo"mud; i;
sua morte, apressou-se em comparecer ao mosteiro e
fz questo de levar pessoalmente o corpo at o lugar
da sepyltura, _num ato ac, mesmo tempo de gratida e
de piedad-e. Aqule prncipe
-curado estivera-arriscdo a p;":
der um lho e fra pelo abade, motivo
qual doara ao mosteiro as terras de Germigni. felo

(18) Flodoard, L. r, c. xxrv. Eist. de I'Egllse Galllcane, 1. v.


204 PADRE ROIIRBACHER,

Por essa poca, uma princesa do sangue. de


ClOvis distinguiu-se pela persistncia na f catolica'
Amalarico, ri dos visigoot, que reinava na Septi-
,nri, e na Espanha, dspc,sara uma filha do rei dos
francos, qu" r chamava Clotilde, tal como sua me.
O rei gd nada poupou para conduzi-la ao arianismo.
Ela re"sistiu s suas iarcias e s suas ameaas. Ama-
lrico apelou para os maus tratos:. quando se dirigia
para a igrela, atirava-lhe, ou melhor, mandava que
ihe atirar.. lama e imundcias. Enfim, espancou-a
vrias vzes at .az-la sangrar. Entc Clotilde
*ardo, um leno tinto com sangue a seu irmo Chil-
deberto, rei de Paris, e ste imediatamente se ps
a caminho para libert-la. ( 19 )
Ao passar pelo Berri, visitou um santo eremita
chamado Euscio e ofereceu-lhe cinqenta moedas de
ouro. O santo homem recuscu-se a receb-las e disse
rei: "Por que me ofereceis essas moedas? dai-as
a algum que as distribua- aos pobres. Quanto a
-illll delas no necessito: basta-me orar ao Senhor
pela dos meus pecados". Acrescentc'u:
t'Id", remisso
alcanareis a vitria e fareis segundo a vossa
vontade". Childeberto obteve vitrias por tda parte
e pilhou os tesouros de Amalarico, que foi morto
qundo fugia, ao que parece pc'r Theudis' seu su-
i"rroq pois tendo o novo rei dos visigodos sido assas-
-alguns
sinado anos depois, recomendou insistente-
mente nJlhe vingassem a morte, P!rque le tambm
matara o chefe do seu povo. ( 20 ) Childeberto retor-
nc,u triunfante e distribuiu s igrejas do reino os vasos
,agrudos que se encontravam-nos despojos, a saber:

(19) Greg. de Tours, 1. IIf, -o. X'


(20) Ibid. De glor. conf. c. LXXXII'
VIDAS DOS SANTOS 2A5

sessenta clices, guinze ptenas, vinte capas de livros


de Evangelho,, tudo de ouro puro e guarnecido de
pedras preciosas. Mas Clotilde, sua irm, morreu
em caminho, sem duvida em conseqncia dos maus
tratos que sof rea pela religio. O corpo foi levado
para Paris e enterrado junto ao de Clvis, seu pai.

No regresso, o rei Childeberto' mandou cols-


truir um mosteiro paa Santo Euscio: o de Celle,
nc, Berri. Euscio era originrio de Perigueux. A
pobreza obrigara seus pais a vend-lo'ao abade de
Percy. Serviu algum tempo no mosteiro, onde, depois
de ter sido recebido entre os monges, foi elevado ao
sacerdcio e obteve a permisso de retirar-se para
qualquer lugar solitrio; mas as suas virtudes e os
seus milagres atraram-lhe discpulos. Certo dia,
curou um de seus vizinhos gue estava com febre
intermitente. ,ste, voltando,s, avistou duas colmeias
que os clrigos do santo homem haviam colocado
numa rvore. Resolveu roub-las. Retornou, pois,
nc,ite, juntamente com um cmplice, e subiu rvore
a fim de apanhar as colmeia s e f.az-las descer, dentro
de cestos, s mos do companheiro. )ustamente
nesse momento o santo se aproximou e o cmplice
fugiu sem nada dizer. O outro, effi cima da rvore,
fCz descer a cesta que Santo Euscio recebeu nas
mc,s e depositou no cho. Mas quando ia repetir
a manobra, ouviu o bom velho dizer-lhe: "Chega
por hoje, meu filho; deixa a segunda colmeia para o
seu legtimo dono". Ao ouvir essas palavras, o ladro,
aterrori zado, atinc,u-se ao cho. Tendo-o levado
sua cela, perguntou-lhe Euscio: "Por gue escutaste
as sugest-es- dos demnios? No recbeste ainda
206 PADB,E IIOIIRBACIIER,

ontem a bno do Senhor? Se me tivesses pedido


o mel, eu to teria dado sem .azer objees". Enfim,
depois de entregar-lhe um favo, deixou-o ir, dizen-
do: "No tornes a f.azer isso, pois o roubo dinheiro
de satans". So Leonardo sucedeu a Santo Euscio
no govrno do mosteiro de Celle. (21)

(21) Greg. Tur., I)e glor. Con., c. LXXXII. Isid. Hist. goth.
MARIA MEDTADORA (n)
o.glorioso nome de Maria Mediadora exprime
um poder, o poder, e confortador, gue Mari tem
sbre seu divino Filho, no gue nos diz resp,eito, aos
que habitamos c na terra. um privilgi, e
;:
lgio imenso, fundado sbre sua dupla mterniade,
a maternidade natural, relativa*"" a I"rg ;
maternidade espiritual, no gue respeita uo[ens. "
/. Tal,privilgio,
\virgem o de rndi"rr"ira, corrquistou-o a
Me em virtude d.a coc'perao que prestou
obra de redeno. Recebendo o
;, de obter e
de distribuir tdas as graas destinaas
. por o.u,
aos homens, Maria deve ocupr destacaaissimo ;;;

,3"?ilo'r,\Xi",?:f:*i:{,:;^:Z?,::;
da Virgem, So Bernardo. (l )
Diz ainda ,c, grande santo:
"Quem ma digno do que Vs,
Maria , rlaa
interceder por ns junto do corao de N";;
S;h;;
|esus cristo? Falai, soberana, vosso divino Filho
vos escutar e vos conceder tudo o que lhe pedir-
des",

----
(1) Vf Seru.o sbre a Naividade de N. s.; VI." lio do ocio
de Maria Mediadora.
208 PADRE ROHR,BACHER

As origens desta doutrina encontrl-se no G-


nesis, na passagem que trata do brilhante despique
da muhe e d sua posteridade sbre a serpente.
Sobre ste ponto, Pio IX (2\ diz:
t'Ao e*plica, (3 as palavras com que' d.t:.d"
)
as .nigl". do mundo, Deus anunciou os remdios
a regenerao
r.prdos pela sua mis'ericrdia paraserpente
", homens, confundiu a audcia da "ng?-
nadora e reergueu admirvelmente as esperanas do
g""r" hu-an, dizendo: Pore inimizades entte ti
Z-u muther, entre tua descendncia e a dela
(4), les
ensinaram que, com esta divina profecia, foi clara e
abertamente indicado o misericordiosssimo Reden-
tor do gnero humano, isto , o Filho Unignilo-9" Me'
il;:lr* Crirtor foi designada sua santssima oi nitida-
; i;;-Maria; e, ao -esmo tempo,
mente expressa a inim izade de um e da outra
contra
o deTonio
conseqncia disto, assim como cristo,
fr-
Mediador entre Deus e os homens, assumindo que
iii"r"humana destruiu o decreto de condenao na Ctnz,
havia contra I,;;;;;ndo-o triunalmente
assim tambm a santssima virgeT
unida com le
,|;* l*" estreitssimo e indisiolvel, f'c'i, coniun-
tamentecomleepormeiod'le'aetetnainimiga
da venenosa serpente, e esmagou-lhe a
cabea com
seu p virginal".
A Biblia, assim, Proclama a mediao da Santado
Virgem, anunciando que Por Ela vir o Vencedor ho-
do
dem"nio, oPerando, dessarte, recc'nciliao
1

Q) Bula Ineffabilis Deus'


(3) Os Padres e os Escritores eclesisticos'
(4) Gen. 3' 15.
VIDAS DOS SANTO S

mem com Deus. No Evangelho, Deus no-la d cc,mo


Me, tltulo que o conclio de feso proclamou.
Os I)ia logos de So f ustino c,ferecem-los uma
das' arqumentaes fundamentais da mediao de
Maria a anttese de Eva e de Nos,sa Senhora.
Santo Ambrsio escreveu:
"Maria deu-nos o autor da salvao". (5 )
E Santo Agostinho:
"Maria a me de todos os membrcs de nossa
cabea, |esus Cristo".
So Bernardo fala ainda de Maria Santssima
como o aqueduto das graas.
Santo Toms de Aquino ensina que a Virgem
deu o consentimento encarnao em nome da huma-
nidade inteira.
Bossuet [c,i grande defensor da mediao marial,
e dizia:
"lntercedei por ns, bem-aventurada Virgem!
'Tendes
em vossas mos, se ouso diz.-lo, a chave
das bnos divinas. Vosso Filho e essa chave mis-
teriosa, com a qual se abrem os cofres do Pai Celeste".
Leo XIII (6 ) declarou:
"Do resnc modo que no se pode ir ao Pai
seno pelo Filho, semelhantemente no podemos che-
gar ao Filho seno pela Me".
Pio XI (7),
"Quem considerar atentamente os anais da Igre-
ja Catolica ver, fcilmente, unido a todos os fastos
do nc,me cristo, o valioso patrocnio da Virgem Me
de Deus. E, na verdade, quando os erros, giurrundo

(5) Da insti. das virgens, XIV.


(6) Encclica Octobri mensg 1891.
(7) Encclica Ingravescentibus malis, 1937.
I
210 PADRE ROHRBACHER

por td a parte, procuravam dilacerar a tnica incon-


stil da Igre ja e subverter o mund,o catlico, quela
que, "nica, destruiu tdas as heresias do mundo
inteiro recorreram os nossos pais e se lhe dirigiram
com ,ei coro cheio de confiana. E a vitria por
Ela obtida trouxe-lhes tempos mais elizes. Quando
a impiedade muulmana, confiada em podeross rn-
das e grandes exrcitos, ameaava arruinar e esc-
visar os povos da Europa, foi implorada instantis-
simamente, por conselho do Sum,c, Pontfice, a po-
teo da Me celeste. E deste modo foram destruidos
os inimigos e submergidas as suas naus. E, tanto nas
calamidades pblicas, como nas necessidades parti-
culares, tem recorrido a Maria, suplicantes, os fieis
de todos os tempos, para que Ela venha benignis-
simamente em seu socorro, obtendo-lhes o alvio e o
remdio dos males do corpo e da alma. E jamais o
seu poderosssimo sccorro foi esperado em vo por
aqules que o imploram com prece confiante e pie-
dosa".
Pio XII (8 )
'
"Ao ponderardes a situao to sobrecarregada
de graves perigos, no deveis, Venerveis Irmos,
deixar-vos abater pelo desnimo, mas lembrados da-
quela palavra divina t Ped e dar-s-uos-t, buscai e
encontrareis, batei e abrir-se-t)os- (9), com f mais
firme voltai-vos para a Virgem Me de Deus, sob
cujo manto encontrou sempre refgio o povo cristo
nas horas de perigo, po'is Ela foi constituda causa
de salvao para todo o gnero humano". (10)

(8) p.ncclica Ingruentiurn malorur-


(9) Lc. 11, 9.
(10) Sto. Iren., Advers. h&er., II., 22; Mg., Vff, 959.
VIDAS DOS SANTOS 2Lt

SopioX (il):
"Maria o caminho mais seguro e mais
facil
para Cristo.
"Quem gue no tem por certo que no h
caminho mais seguro e mais fcil que Mau por onde
os homens possam cleg ar a ]esus cristo, r.urur,
p9_r intermdio de cristo, essa adoo perfeita " de
qu os f az santos e imaculados na pr.r"rra de
Illh"l
Deus? Por certo, se realmente foi dito a vi.gem,
Bem'auenturada s'tu gue creste, p.,is se ho deZum-
prir as cosa s eug pel senhor te foram ditas (12) ,
isto , que conceberia e daria lui o Filho de Deus;
se, por conseguinte, Ela acolheu em seu seio Aqule
gle pgr natureza a verdade, de forma que, flgt-
drado numa noua ordem e por um noua nascmen-
to , . ,, inusuel em s, se f izesse uisuel em nosst cf,-
ne ( 13 ) ; visto gue o Filho de Deus o autor e
consumadc,r de n.o1sa t, d" estrita necessidade qu
Maria sei? participunte "-dos divinos mistrios e de
algum modo sua guardi e que tambm sbre Ela,
como o mais nobre alicerce, aps
]esus cristo, te-
pouse a e de todos os sculos.
"E como poderia ser de outra forma? No nos
poderia ter Deus concedido por outro meio, que no
Maria, o reparador da humanidade e o funddor da
f? Mas como aprouve eterna Prcvidncia que o
Homem-Deus rro fs,se dado pela virgem e visto
que esta, tendo-o concebido por virtud do divino
Espirito, r realidade o carregou em seu seio, que
nos resta ainda, sen,c, recebei Jesus das mos 'de
(11) Encclica Ad dlem lllum.
(12) Lc. 1, 45.
(13) . Leo M., seta. p do Navttate Domlnt, c. p.
212 PA-pRE RQ-IrRB-4qrrER
Escritu-
Maria? Por isso, sempre gue nas -Sagradas tambm'
,"1r" t, le da graa que !o: aguard'' :ttpre
homens aparece
;; mais dal v2.., o Salvador dos
;;ffit uo da sua santa Me. O Ccrdeiro domi-
nador da terra h de vir, mas dapedlr do deserto;
no
a [1or brotar, mas da taiz de ]ess' Em vendc'' Ado
futuro, Maria esmagar a cabea- da serpente'
de
estancou as lqrimas que a maldio arrancava
seu corao. Maria ocupa a ment de
Nc na arca
imolar seu filho;
libertador; de Abrao, impedido de
subiam e
de ]acob, .o.,t"mplando a'escad,a por :1d"
desciam os anic.; de Moiss, admirando a sara que
^."o-r,r"itt
ardia sern ," de David' cantando e dan-
Deus; de Elias' lobri-
andc, ao ccnd uzir a aca de E' sem nos
gurrdo a nuven zinha e r$ue-se no mar'
depois .de
alongarmos p'c r demais, em Maria temos'
Cristo, o frm da lei, a verdade das imagens e
dos
crculos.
"Na verdade, que seja por Maria' e sobretudo
oor Ela, que enccntramos c aminho para o conheci-
il"a o-ristc,, ningurn poder duvidar, se consi-
somente
clerarmos, entre outras coisas, que no mundo
Ela teve com 1", sob o mesmo teto e numa familia-
ridacle ntima de trinta anos, essas relaes estreitas
que so prtiprias de me e filho. Os admirveis mis-
trios do nascimento e da infncia de ]esus' mxime
[un-
os q,e ,".p"1to stta Encarnac'' princpio.e
damento dL ssa f, a guem poderiam ter sido
des-
vendado,
".
*rit-pa-""t" clue sua Mae? Ela
guLardaua e cotTsidira,ta em seu corao os aconteci-
mentos qr" ,iru em Belm e presenciara no templo.de
de seus conselhos e dos
l"t"t"fe, ,.nur, participante vcntade,
esgnios secrets de' sua viveu, deve-se
ai)i,a vida mesma de seu Filho. Sim, jamais algum
VIDAS DOS SANTO.S 273

no mundo conheceu, como Ela, ]esus em seu ntimo;


no h mestre melhor, nem guia mais seguro para
.azer conhecer a |esus Cristo.
"Seque-se, como conseqncia, que jamais
algum ser mais podercss ue a Virgem para unir
os homens a Cristo, como j o temcs insinuado. Se,
com efeito, segundo a doutrina do Mcstre divino, a
ttida eterna consiste ern gue les te conheant a ti, um
so Deus uerdadeiro, e a lesus Cstc, gue tu enuias-
-conhecimento
te (14); como por Maria chegamos ao
de fesus Cristo, por le tambm nos mais facil
adquirir a vida, da qual le o princpio e a fonie.
"E agora, por pouco que consideremcs quantos
e quo prementes motivos levam esta Me Sants-
sima a ncs dar profusamente da abundncia de seus
tesouros,_
9ue de incrementos no tomar nossa espe-
rana? Nao Maria a Me de Deus? Portant
Mae ncssa tambm. Pois deve-se estabelecer o prin-
cpio de que fesus, Verbo feito carne, ao mesmo
tempo o Salvador do gnero humano. Em conse-
qncia, como Deus Homem, le tem um corpo qual
os outrcs homens; como Redentor de nosso gnro,
um corpo espiritual ou, como s dizer-se, mstico, que
outra coisa no que a comunidade dos cristos uni-
dos a le pela fe. Embora muitos, somos um so cc,rpo
em Cristo. ( 15 ) A Virgem, pois, no concebeu- o
Filho de Deus s para que, d'Ela recebendo a natu-
eza hurnana, se tornasse homem; mas a fim de que
le se tornasse, mediante esta natureza d'Ela ,"L"-
bida, o Salvador dos homens. o que explica as pala-
vras dc,s anjos aos pastres: Hoje nasceu-uos o
(14) Jo. 17. 3.
(15) RoE. 12, 5.
2t4 PADBE ROIIRBACHER,

Salvadqr, gue o Cris/o Senh-ot, (16) Por isso, oo


seio virginal de Maria, onde |esus assumiu a carne
mortal, I -"r.o le se agregou um corpo espiritual
formado de todo.s'os que deuiam crer n'le. E pc'de
dizer-se que Maria, leando |esus em suas entranhas,
levava tambm todos aqules cu;'a vida o Salvador
trazia. Todos, portanto, QU, unidos a Cristo, somos,
consoante as palavras do Apstol o, membtos do seu
catpo, de sua carne e dos seus osos (17), devemos
crer-nos nascidos do seio da Virgem, donde um dia
saimos qual um corpo unido sua cabea. E Por
isso que somos chamado's,, num sentido espiritual e
mstico, filhos de Maria, e Ela , por sua vez, nossa
Me comum. Mae espiritua'L, contudo uerdadeita
me dos membros de Jesus Crisfo, quais sornos ns.
-Mea Bem-veoturada Virgem ao lrles-
( I S ) Se, pois,
*o i..po de Deus e dos hc'mens, quem- pode
duvidar de que Ela se desvele com tdas as fr1s
junto de seu-Filho, cabea do corpo da Igreja (19),
a fim de que le derrame sbre ns, seus membros,
os dons d sua graa, notadamente aqule que nos
leva a conhec-lot nos f az uiuer por le? (20)
" Mas no f,c apenas para seu prprio louvor
que a Virgem ministrou a matria de sua carne ao
Filho unignito de Deus, que haveria de nascer com
membro, iu.urot (21), que Ela preparou, desta
forma, uma vtima para a salvao dos homens; sua
misso foi tambm-velar por esta vtima, nutri-la e
(16) Lc. 2, LL.
(1?) EPh. 5, 30.
(18) S. Ang., L. de S. Virginitate, c' 6'
(19) Col. 1, 18.
(20) 1 Jo. 4, 9.
(21) S. Beda Ven, llb. IV ltr Luc. XI'
VIDAS DOS SANTOS 2t5

apresent-la
_ao altar, no tempo estabelecido,. por
isto, entre Mryia e |esus reinu perptua
sociedade
de vida e sofrimenos, qug nos permite apricar
a
ambos estas palavras do profeta ,-,{*i;,hu
cans'umindo-gom a dor e o meus anos
uiii;;i-r;
com os gemi-
dos (22). E grrando chegou u ho derradeira
de
Jesus, vemos a Virgem aos" ps da ,rur, horrorizada
certamente ante a viso do espetcuro,
que seu Filha se ofer_ecia
*", y"i-;;;
homens , ademais, a"-uima per'a ,"ru"uo'a,
tat modo'llti"ip" d,e suas
dores que teria preferido padecer os
tormentos oue
cruciaoam o seu Fitho, tar ih" yatr"
"o irr"." ii
"Em consegncia des.a comunho
mentos e de dores entre Maria
de senti-
" J".u., ;V"; i;,
ius ao mrito de se tornar
dc,ra da humanidade dertdu .teqilim"rt" a repara-
pensadora de todos os tesouros gue i;1;';,
portanto, dis-
riu por s,ua morte e por seu sang"t.'--- i;.;,
nos adgui-
E Pio X continua, abordando o tturo "Maria,
a Medianeira poderosssima,' :
"No se pcrds dizer, sem
dvida, gue a dispen-
sao dsres tesouros no seja
particular de Iesli cristo, porque
a"-rJa; ;r;;^"
fruto excrusivo de
sua morte e por le mes*o, em
virtude d" ,u-
reza, o mediador entre Deus "tu-
e os homerrs. cortu,
em vista dessa comunh,c, de
dor" -- urrgstias, j
mencionada, entre a Me e o Filho,
foi concedido
Virgem o ser, junto do Filh;;;ito,'"
poderosssima e advogada de mediadora
t" ,, *undo. (25)
(22) SI. 30, 11.
(23) S. Bonav., f Sent., d. 4g,
ad Llt., d.ub. 4.
(24) Eadmeri Mon., De Excellenila
(2) Pio D(, Bula reffabllis. Virginis Marie, e. IX.
216 PADR,E ROHR,BACIIER

o manancial, pois, |esus cristo I E todos ns tece-


bemos de sua plenitude (26) , do gual todo
o corpo
LoLi.gado e unic' por tilas as iuntas
gue mtuamente
se auxiliam, tiji"d" a operaao du medida de cada
*"*.Uro, efe,u o aumento d c:rpo para edfcao
nota com acerto
de si mesmo em catidade' (27\ Como
Sao Bernardo, Mari a e, na verdade '
o aclueduto;. o1J
unir o
ento, essa parte media que tem por misso
e e[i-
;; J.rU trur,rmitir quela os influxos 1tm' diz
ccias desta, o Or" vale dizer: o pescoo'
; Bernard" a" Sena, Eta o pescoo dons
de
.ryoss1
espirituais
C.b";,-ia"-q;rt io*unira todos os
a seu corpo mstico. (2p) Tcrna-sg' po1deconseguinte'
Deus uma
evidente que no atribuimos Me
que e- s de
virtude g"rua".-d; graa, virtude esla
Deus. Contudo, poryue Maria excede a todos em
santidadeeemuniocomCristo'eportersidossc'-
,o, merece de
ciada por ;'t;,b* ,.d"rrtoru, Ea o que
teloqos'
congruo, segundo a expresso dcs "serrdo
lu
|esus cristo nos ,n"r".".i";
ccndig.no,
a ministra t";t;;^u itpensag{o ut
graas' Pl"
(2g)esta,u,tudo.direitadaMajestadenasaltu-
de seu Filho: O
ras. (30) Ela, Maria, esta direita
de quantos
refitgio mais- seguro, mais ualicso amparo
a.temer sob sua
se acham orTigo, 'udu' pois' temos
"r-
cottdtrta, ..o,i, uspcio's' seu
patrocnio' sua g'
de. (31 )

(26) Jo. 1, 16.


(CI?)EPh. 4, 16.
(28) S. Bern. Sen., Quadrag, de Evang' aeterno serm' X' a 3'
c' 3'
(29) Jesus.
(30) Iileb., 1,3.
(31) Pio IX, Bula Ineffabilis'
VIDAS DOS SANTO,S

"Estabelecido,s stes princpios,


e paratornarmos
ug. Nosso propsito, guem n ,".oh"cer termos
atrrmado cor lusta razo ser Maria, companheira
inseparvel de ]esus desde a casa de Nrze at
o
calvrio, conhecedora mais gue ningum dos ,"gr"-
dos do seu ccro, dispenrdoru, i*" de dirito
materno, dos tesouros de seus mritos, tornando-se,
por todos sses motivos, url auxlio certissimo
e muito
e.icaz para
9e _chegar ao conhecimentc, e ao amor de
|esus cristo? Aht sses homens que, ,""rlar'r.
artifcios do demnio ou .rrgurrudo, p, falsas dou-
trinas, julgam poder prescinr do ur*ilio a" irg"*,
nos fornecem disto sm sua prc,vjl assaz peremptria.
Pobres infelizes, desconhem ;;i"- sob ,il;;;
de tributar honra a cristo! c;ile' pudesr"*,
achar o menino de outro mo qi" ,o p"tu
M;;

***

E
so SULIAU (*)
Abade
Sculo VI

suliau era filhc, de Bromail, rei do Pas de Gales.


Diz-;e dele que, um dia, ainda menino, a brincar com
;t;;;purh"i.os, viu passar ym pldre' chamado Gui-
marck, a cantar hino com doze dos seus discpulos'
e ficou encantarlo. Quis ento, segu-los' para
ptcrr-
os rl-
der aquilo que to docemente cantavam' mas
se fsse
"i"frt pro.*tm ret -1o, dizendo-lhe -q'e
;"i huria de ficar imensamente zangado'
Suliau no lhes deu ouvidos' e' desvencilhando-
se dqueles que deseiavam impedi-lo' deixou-os'
e

largou u .or., atrs do padre Guimarck e


os doze
reu-
irlutor, qu; i iam longe' Alcanando-os'
niu-se a les.
Ora, os amigcs de Suliau' que nada puderam
"menino fsse iuntar-se aos religiO-
f.azer para q""
"
sos, correram avisar o rei.
Bromail, assim que se inteirou do sucesso, des-
pu.hou imediata*"rrt" trinta homens pa'7.1'"-]l-'
trouxessem O filho e rnatassem o padre Guimarck,

I
2t9

mas, quando c,s scldadcs l chegaram, encontraram


o pesaclo porto fechadc e os religiosos, com Suliau,
ao abrigo, atrs dos muros do mosteiro.
O santo ali viveu para sempre, e quando Gui-
marck faleceu, sucedeu-c,.

***
so BAVO (*)
Monge
Bavo teria nascido numa nobre famlia belga e
levado vida pouco edifican te at. a mocidade. Ten-
do-se casado com uma filha do conde Adiliol, qual
the deu uma filha, Agletrudes, morte da espsa,
arrependido de tudo o que f.izera, dispersivamente,
,"roi,r"u no mais se casar. E, um dia, indo em
busca de Santo Amando, ento em Gand, atirou-se
aos ps do santo homem, confessando-lhe, em_ lgri-
rnur, tdas as faltas do passado. Desde aqule dia,
mudou radicalmente de vida: distribuiu os bens aos
pobres e tornc,u a Gand, onde Santo Amando 6;c-
turru de undar um mosteiro em honra de So Pedro.
Bavo foi tonsurado, abraou a vida religiosa e
principiou a f.azer penitncia, depois de ter, por uns
tempos, seguido Santo Amand,o nos trabalhos pos-
tlicos.
Segundo uma das guatro Vidas latinas de So
Bavo, - dia, o sflto encontrou um homem 9e,
outrOra, vendera cOmO Servo a um pOder'o,SO SenhOr.
Transtornado com o encontro, arrependido ao extre-
mo do gue izea a um ser humano, caiu de joelhos
ac,s seus ps e rogou-lhe, instantemente, que o coo-
duzisse priso, como criminoso.
VIDAS DOS SANTO S 227

Foi na recluso gue Bavo principiou a instruir-


se nos Padres do Deserto e u rfr"r , *.roras ten-
taes que Santo Antnio experimentou.
Quahdo se sentiu perto da morte, pediu a um
velhc, solitrio, chamao Donrino, que vivia em
Thourout, para gue viesse assisti-lo. Donlino,
tivesse que atravessar ".b;
umq grande floresta, QUe la-
queles tempos jazia infestad"-p"lo., piores rult"dorr,
no hesitou. Era a I .n de outubr de 659, u",
"
santa e suavemente, faleceu nos braos do velho padre
solitrio de Thourout.
Morto, Bavo apareceu a santa Gertrudes de
Nivelles, e a e1a rogou que lhe enterrasse o corpo,
9 qu: a santa f 2, com uo. sepultado no, interior
de Gand, no mosteiro de Gand, qu; seria, mais
tarde, de So,
1,"'t
o, desapareceu assim - ..Jir.r*;
do pai Amando".

No mesnno dia, em Roma, o bem-aventurado


Aretas, mrtir, e quinhentos e quatro outros.
Em Tournai, na Glia, S, piato, sacerdote
e mrtir: p9r pregar o Evangelho, foi torturado e
morto sob Maximiano, indo-se, assim , paa o senhor.
segundo uma legenda, Piat,c, teria sido enviado de
Roma com onze co-parrheiros, dentre er", DionisJo
de Paris e Quintino, para pregar na Galia. Dion;-
sio teria ordenado Piat,c, para Tournai. so
Quintino ter-se-ia encarregado e Amirrr. so pia-
ci, padroeiro de Tournai, empres,tou o nome a uma
parquia de Chartres.
Em Tomi, no Ponto, os santos mrtires Prisco,
Crescncio e Evgrio.
222 PADRE ROIIR,BACHER

mrtires Vers-
"rrutos santos
Em Lisboa, Portugal,
simo, Mxima e llia, irms, que sofreram du-
rante a perseguio de Diocleciano, em 303'
Em TesalOnica, So Dcnino, mrtir, sob o impe-
rador Maximiano (sculo IV ) . Citado no dia 30
de maro, a 1 .o de outubro novamente aparece: dia
em que e honrado em Constantinopla'
'Em
Orvieto, So Severo, sacerdote e confessor.
De culto antiqussimo, em Orvieto erigiram-lhe uma
abadia in memoriam.
Em Bar-sur-Alba, Langres, Santa Germana'
mrtir. Diz uma antiga legenda que_ Santa Ger-
mana, que servia na igreja de Santo Estvo, teve
a cabe cortada, qrurido' da incurso vndala, Pllo
chefe invasor: tomndo a cabea entre as mos, dei-
Xc,u os carrasccs e voltou igreja, donde fra tirada
fra. (1)
*'Toul, Santo Albino, bispo (seculo VI?-) ,
Em Troesne, diocese de Soissons, So Vulgis'
ermito, no seculo VI. Em 1 1 10, Hugo, o Branco'
senhor de La Ferte-Milon, fundou um pricrado sob
a invocao de So Vulgis, Santo que uma legenda
d como sendo discpulo de So Remgio.
Em Ccnstantinopla, So Romanos, o Melodioso
(sculo VI? ) , .r- dos mais importantes poetas litr-
gicos bizantinos. Natural da Sria, foi dicono da
ig.eja da Ressurreio de Beirute. Passando a Cons-
tntincpla, retircu-se igreja da Santssima Me de
'
Deus. Diz-se que, numa noite de Natal, Maria
upr."u-lhe : traza um papiro na mo e, estendendo-
lhe, ordencu que o comesse. Romanos, prontamente,

So muitas as lendas e legendas de santos que, tendo


(1) a
mos e se vo ao local do martrio'
cabea cortada, tomam-na na.s
VIDAS DOS SANTOS

atendeu-a, e, quando voltou do xtase, ps-se


cantar:

A Virgem,
ho je,
tera Aqule que est acima de todos os sres.

T raduzindo livremente :

Vinde todos,
cantemos Aqtile gue foi crucifcado por ns,.
Maria r.tiu-o sbre o lenho,
e disse:
Tu marauilhosamente suportases a cruz,
'tu, que s meu Filho e meu Deus.

Tu uais,
meu corao,
a uma morte inqua,
e ningum te chora.
Pedra no mais te acompanha,
le, gue disse;
No te renegarei jamais!
Tom deixou-te,
le, que gritou:
Morreremos todos contigo!
E os outros,
todos:
tua casa,
teus filhos,
os gue deuem julgar as tribos de Israel,
onde esto agora?
PAD R, E , R O H R B A C H E R,

Ningum, ningum
Llnico,
Morres por todos,
nteu Filho.
S,
o Saloador de todos,
que rcsgatas a todos,
mau liilho e meu Deus.
Os pcemas de Romanos so longc,s, de versos curtos
e ritmo variado.
Na Bretanha, Santa Urela, virgem (sculo
VII), ou Eurela, irm do rei |udicael, da Bretanha.
- Na cliocese de Cambrai, So Wasmulfo, ou
Wasnon (sculo VII? ) . O culto antigo, mas no
nos ocorre, sbre sua vida, dado algum.
Ainda na diocese de Cambrai, So Dodon, aba-
de, no sculo VIII. Discpulo de Santo llrsmer, que
o enviou a governar a abadia de Wallers. Dodon,
preferindo a vida eremtica, retirou-se solido, a
pouca distncia de Wallers, e ali, governandc, a
fundao, faleceu santamente, depois de muitos anos,
a 1.n de outubro, pelo meio do sculo VIII.
Perto de Sebasta, ou de Nisiba, So Miguel,
arquimandrita, e trinta e seis monges, ern 782.
Em Milo, o bem-aventurado Tc,m, arcebispo,
falecido em 783.
No mosteiro de So Loureno de Leira, na Na-
varra, So Viril, abade (sculo VIII ou IX).
Na Inglaterra, os trem-aventurados Rc'berto
Wilcox, Edardo Campion, Cristvo Bruxton, Ro-
berto Widmerpool, Raul Crockett, Eduardo |ames
e |oo Rbinson, mrtires, em 1588.
Em Nagasakii, lapo, os bem-aventur 'adcs Gas-
venturadcs
par Ficogiro e Andr Yachinda, mrtires, em 16l|.
Em Tolosa, Sao Slvio, bispo e confessor, que
se scbressaiu pelo culto que rendeu a So Saturnino,
apostolo de Tolcsa, cujo tmulo protegeu com uma
baslica. Faleeeu em 400.
Em Osnabruck, Santa Helmetrudes, cujo corpo
repcusava na ioreia das ursulinas de Herse, em
Westflia (sculo X ou XI ) .

***
a

2.0 DIA DE OUTUBRO


Os San tos Anios da Guarda

Bem gue gostaria, meus bons Anjos, de f'azer


uma prece para vs e convosco. Aludai-me, peo-vos.
|esus, vosso Senh'o'r e tambm o meu, ensina-me no
iivangelho que contemplais incessantemente a face
de Nsso Pi gue est nos cus. Oh! como eu u-
reria azer convosco essa prece! Como desejaria;
convosco, contemplar Deus face a [ace, ver tdas as
coisas nle e le em tdas as coisas, admir-lo, am-lo,
e exclamar convosco: "le santo! santo " Ai de
mim! disso no sou digno, nem capaz. Pelo menos,
desejari a f azer aguilo gue fazeis.
Meu hom Anjo, contemplais incessantemente a
face de nosso Pai gue est no cu; rejubilo-fr? cotr-
vosco e po,r vs; p"is a felicidade do prprio Deus.
Mas ao mesmo tempo pensais continuamente em mim:
agradeo-vos, [Io-vos com todo meu corao.
Velais sbre mim, acompanhais-me Por tda a
parte, mais de uma vez me CalTegastes em vossaS mors
p"r" livrar-me de perigos espirituais e corporais: sois
meu guarda do corpo e da alma. _ Foi o prprio lJeus
quem me recomendou a vs; e ha muitos Emos gqe
guardais com amor. Quantas vzes deixei de
"r"
p"rrrur Deus e em vs! Quantas vzes esgueci
"or
VIDAS DO ANTOS 227

a vossa presena, repeli vossas inspiraes! euantas


vzes, enfim, to pouco me rsse*lhei a vs!
Anjos de Deus, ocorre-rr uma idia que mal
me atrevo a expressar. Tambm sou um arrio, tam-
bm deve ser um anjo para as crianas gue "L, *
confia. Anjos invisveis dessas .ri"rr.irrhas, i";"i
com que eu seja a vossa imitao visvel. Contemplais
incessantemente a face de nosso pai celeste; f.azei
sgT gue eu nada mais considere a no ser Deus.
Velais continuamente sbre mim; f.azei com tam-
bcm eu vele sbre os gue foram .o"n"a", u o,i;
guarda. vos me conduiis ao bem por eio de vosso
exemplo e de vossas inspiraes; 'f.azei comn que
eu
tambm conduza os outro, bem; fi*, f.azii;;
gue me assemelhe a vs. "o

*ti
SO LEODEGAR

Bspo de Autun e orios outros sonos da mesma


poca

Pelos fins do stimo sculo, a nao dos francos


estava s voltas com uma dessas crises que na lin-
guagem moderna sc, chamadas revolues polticas.
antiga dinastia finava-se na inrcia e na moleza;
urgia, pois, que desse nascimento a uma nova dinas-
tia: parto longo e doloroso. Os descendentes de
Clovis, conhecidos sob a alcunha de reis indolentes,
anulavam-se cada vez mais. Ora, quando o chefe
se anula, natural que ,c primeiro, Iogo abaixo, Ihe
tome o lugar. Tratava-se de saber quem seria o pji-
meiro do ialcio, o maior, em latim maior palatii. -Em
664, no ieinado do rei nominal da Nustria, Clot-
rio III, era Ebrono o prefeito do palacio; c da Austr-
sia, no reinado do rei nominal Childerico II chama-
va-se Wulfoaldo. Tendo Clotrio III falecido em
670, com dezenove anos, no mximo, imediatamente
Ebrono colocou no trono o terceiro filho de Clovis II,
Teodorico, ou Thierri III, enquanto c segundo, Chil-
derico II continuava a reinar na Austrsia. Mas os
grandes da Nustria e da Borgonha, que no tinham
ido ccnsultados por Ebron,c,, colocram-se ao lado
de Childerico e organ izaram um exrcito, decididos
VIDA DOS ANTOS 229

a lutar. Teodorico IIIe Ebrono no tiveram outro


rcurscr a no ser procurar asilo nas, igreias, e depois
receber a tonsura monstica; o primeiro recolheu-se
ao mosteiro de So Dionsio, e o segundo ao de Lu-
xeuil. No ano de 673, Childerico II, que se tornara'
odios,e, aos grandes foi 'trucidado, assim como sua
mulher e um de seus filhos de tenra idade. Seu irmo
Teodorico III foi elevado ao trono por aqules mes-
mos que o haviam destronado e encerrado ro rlos-
teirc, de So Dionsio. A ustrsia mandou buscar
na Inglaterra Dagoberto II, filho de So Sigisberto,
a quem Wilfrido concedera generosa'hospitalidade.
Em 674, Ebron6, ue deixara o mosteiro de Luxeuil,
proclama rei um pretenso filho de Clotrio III, sob o
nome de Clvis. Um ano depois, f.az desaparecer
aqule fantasma de rei, reconcilia-se com Teodorico,
a quem .az reconhecer na Nustria e na Borgonha,
res,ervando a soberania para si mesmo. Em 679,
Dag,c,berto II condenado morte pela faco de
Ebiono, que tambm assassinado no ano de 681
por um fidalgo franco, cuia perda determinara. Em
687, o Duque Pepino da Austrsia, neto de Santo
Arnulfo e pai de Carlos Martelo, obtm grande
vitria sbre o exrcito da Nustria, aprisic'na Teo-
dorico II[, reconhece-o soberano, reivindica para si o
ttulo de prefeito do palcio, e realmente exerce a
soberania, de que Teodorico era incapaz.
Essas agitaes no impediram gue um grande
nmeror de bispos se santiicasse e santificasse outros.
Os que mais se destacaram fonam So Leodegar, de
Autun, So Prejecto, de Auvergne, e So Lamberto,
de Mastricht. Leodegar pertencia mais alta no-
breza; ainda era crian'a guando seus pais o colocaram
na crte de Clotrio III, que pouco tempo depois o
PADRE ROHRBACHER,

recomendou a Didon, Bispo de Poitiers, seu tio, para


que o instrusse nas letras. O bispo deu-lhe por
mestre um sacerdote muito hbil e, alguns anos mais
tarde, reteve-o ao seu lado, a fim de que coiln o seu
exemplo e suas exortaes lhe preservasse a p:ureza
de costumes. Ordenou-o dicono guando completou
vinte anos e pouco depois f-lo arquidicoro, entre-
gando-lhe completamente a gesto da diocese. Leo-
degar tinha uma bela estatura, boa presena, era
prudente, eloqente e conguistava tdas as simpatias.
Tendo falecido o abade de So Maixent, recebeu das
mcs do bispo, seu tio, o govrno daquela abadia,
gue dirigiu com muita sabedoria durante seis anos,
e qual muito favoreceu.
A sua reputao chegou corte do rei Clotrio
III e de Santa Batilde, rainha-me, e stes pediam
ao bispo de Poitiers gue lhes cedesse Leodegar. Em
pouco tempc o religioso conguistou as boas graas do
rei, da rainha, dos bispos e dos fidalgos; todos o
julgavam digno do episcopado. Quando So Ferreol,
Bispo de Autun faleceu, houve candidatos ao seu
psto que o disputaram a ponto de derramar sangue.
Um dles foi morto, o outro banido como autor do
crime; e, durante dois anos a igreja de Autun pecr-
maneceu vaga. Para dar fim a sse escndalo, a
Rainha Batilde f|z questo de que Leodegar fsse
ordenado bispo, crca do aro de 659. le apazi-
guou os nimos com a sua presena e promoveu a
unio, persuadindo uns e intimidando outros. Muito
se preocupou com o sustento dos pobres e a orn-
mentao das igrejas. Nelas colocou vasos precio-
sos e painis douradcs; adornou magnificamente o
batistrio e trasladou o corpo de So Sinforiano;
tambm mandou restaurar os muros da cidade. Ao
VIDAS SANTOS

mesmo tempo doutrinava cuidadosamente o clero e


preg_ava assiduamente ao povo. Reuniu um snodo
em Autun a fim de restablecer a disciplina clerical
e monstica, e apresentou vrios regulamentos.
Durante a revoluo gue se sguiu morte de
clotrio III, Teodoric, segundo irao do alecido
rei, foi encerrado no mosteir de So Dionsio; e tda
a Franaficou sujeira a childerico II; o pr""it-J"
palcio_, Ebrono,, ue se tornara odio.o plu urur")
e crueldade, correu o perigo de ser iondenado -
morte. Alsun'1 bispos ntercederam por le, p.i""i-
palmente so Leodegar, embora Ebroino fsse seu
inimigo declarado, pc,i! muitas vzes se opusera s
injustias do prefeito. ste conseguiu permsso para
recolher-se o mosteiro de Luxeu"il. i]"rru primeira
fas,e de seu reinado, childerico II ret""" sao-;i;:
gar na crte testemunhou-lhe muita confiana; pouco
durou, porm, essa atitude.
Em obedincia aos conselhos do santo e para
satisfazer a vontade do.s francos, Childerico ordnou
aos juizes que respeitassem as antigas leis de cada
provncia; gue os governadores, de uma provncia no
invadissem as outras; e que no serim perptuos,
evitando assim que algurn dres usurpasse a tirania
como fizera Ebrono. Enquanto Childrico ouviu Sao
Leodega"-, o povo abenoou seu govrno; mas a
-
maioria dos fidalgos , cuja ambio,io se ajustv
a tais reglasj trabalhou para tornar ,o santo bispo
suspeito a wulfoaldo, prfeito_ do palcio, e ao pio-
prio. rei, gue jovem e irascvel, giatuitamente
durru
crdito aos que lhe favcneciam or"prrreres. permitiu
que fssem infringidas leis que acabava d" p;;;;l:
qur, e chegou, mesmo, desposar a filha d" ..uJi.
Acreditando gue Leodegar continuasse a goza
as
232 t AD RE ROHR,BACHER

bcas graas do rei, os oc,rtsos queixtlvl-se do


seu mau procedimento. Muitas vzes o santo brrsno
advertia hilderico em particular;'enfi.m, viu-sg obti;
-e' a ame-l' da
gado a cens,ur-lo pblicamente
ingurra divina, cur no se corrigisse. A princpio
o rei ouviu-,c, com benevolncia; porm, temendo a
retido e e irmeza de Leodegar, de tal modo os
cortesos instigaram o iovem prncipe contra o reli-
gioso, que o inispuseram deinitivamente contra le,
ierrurd -9 a planejar a sua Perda.
Havia trs anc* que Childerico reinava sbre a
Frana inteira, quandoSo Leodegar o convido_u para
purru, as festat au Ps,coa em sua casa, em Autun'
Fci nessa ccasio que Hector, patrcio de Marselha,
migo de Sao Leoegar s_e diiigiu ao t.i,- peljndo-
f[ qu" os bens de lardi", su sogra, lhe fssem
restitud,c,s. Claudia ra uma piedosa mulher de
Auvergne que,'r"urtendo-se coqsagrado a Deus, dra
,u prte " bens a So Preiecto,_ Bispo de
Cleront, e aos pobres da sua igreja. Morrera e
deixara uma filha que Hector raptara e eq seguida
despcsara, assim r considerando com o direito de
reivindicar os bens dados igreia de clermcnt, com
prejuzo para a sua mulher. Conseguiu gue o. rei
Ludurre cha-ar o bispo Preiecto; ste se viu obri-
gado a dar cauo, pgir se encontrava eu Autun,
mbcra no gostasse de ausentaf-se da sua iS1ela
durante u, f"rias. Hector hospedr-se em casa de So
-a
Leodegar, que o apoia a; e amizade que os, ligava
*."iu "de
pt"texto os inimiggs d" -t-u.n19 p?{a o intri'
garem com o prefeito do plcio, {ulfoaldo,'e com
,ei Childerico; convencerIn-Dos de' que Hectcn c
Leodegar conspiravam para se possarem do sob-
;; p|d.r. Na guinta-ira santa, um monge cha-
VIDAS DOS SANTO S 233

mado Bercrio avisou Sao Leodegar de que o rei


I
pretendia mand ar mat-lo; mas nem pc,r isso deixou
o bispo de comparecer ao palcio no dia seguinte,
desejoso de dar seu 's,angue no dia em gue o Salvador
derramara o seu; o rei t-lo-ia morto com suas prprias
mos, se alguns senh,c,res no o houvessem dissuadido
de f.az.-lo, por respeito ao dia. (1 )
Tendo So Prejecto chegado a Autun, entrou
com Hector na Sala da Audincia, onde a causa de
ambos seria examinada; observou, porm, que no
poderia ser ,cbrigado a responder s perguntas nesse
dia, sabado da aleluia, porgue os cnones e a lei do
reino proibiam julgar causas nos dias santificados.
Contudc, instado para responder, disse que os neg-
cios da sua igreja se encontravam sob a proteo, da
rainha Blichilde. No houve prossecuo; ao coo-
trrio, o rei Childerico e a rainha Blichilde, sua
espsa, d"-sculparam-se pblicamente perante So
Prejecto pelo trabalho que lhe tnham dado, fazen-
do-c, vir a Autun. E como o rei, irritado contra So
Leodegar, no desejava assistir ao ofcio por le
celebrado, pediu a So Prejecto que realizasse outro
na Igreja de Sao Sinforiano. Pois jt passara do
meio-dia e aproximava-se a h,c,ra em que deveria ser
iniciada a solenidade da vspera da Pscoa. Todos
os fidalgos e bispos presentes juntaram suas instn-
cias s do rei e Sao Prejecto celebrou o ofcio da
missa daqrrela santa noite. (2)
De seu lado, So Lec,degar oficiou na catedral.
Quanclo para ela se encaminhava, fra mais uma vez
advertido para acautelar-se, pois o rei resolver rln-

(1) Vltae, . Leod.


(2) Vi . Preiect. eta S., 25 jan.
I 234 PADR,E ROHRBACHER

dar mat -lo depois da missa. No deu importncia


ao aviso. Ainda se encontrava no batistrio quando
ouviu o rei cham-l,or er voz alta. O ofcio celebrado
por So Prejecto j terminara e Childerico j comera
e bebera muito vinho, enquanto os outros ainda per-
maneciam em jejum. Dirigira-se catedral, pois,
chamando Leodegar pelo nome. E tendo sido' infor-
mado de que o bispo se encontrava no batistrio para
l se encaminhou; ao entrar, impressionou-se com a
luz abundante e o perfume do santo crisma, gue os
nefitos fiaziam , embora So Leodegar lhe espoo-
desse: "Aqui estou!" passou sem olh-lo e recolheu-
se casa da igreja, onde estava aloiado. Os demais
bispos, que haviam auxilido So Leo,degar a cele-
brar a santa noite voltaram para as suas casas.
Quanto a ste, sem nada temer, foi procurar o rei e
perguntou-lhe com brandura por que motivo no
comparecera ao ofcio e permanecia encc,leri zado em
to santa noite. No sabendo o que responder, o rei
observou: "Tenho razes para desconfiar de vs".
Ento, vendo gue o rei estava resolvidc' a az,-
lo perecer, assim cGmo aor patrcio Hector, resolveu
retirar-se furtivamente. Temia menos por si do que
pelo fidalgo, que se colocara sob a sua pr,cteo, e
no desejava que o dia da Pscoa fsse profanado
com a sua morte, e pilhada a sua igreja. Hector fugiu
naquela mesma noite; So Leodegar ez o mesmo
pouco depois. Mas o rei mandou persegu-los: Hec-
tor foi encontrado e assassinado, assim como todos
os seus, depois de uma intrpida resistncia. Tam-
bem So Leodegar foi prso e levado de volta a
Autun. Seguind cr cotslho dos bispos e dos fidal-
gos, o rei enviou-o para o mosteiro de Luxeuil, onde
ficaria encerrado at que delrberassem sbre o des-
VIDAS DO SANTO

tino gue lhe caberia. No temor de gue o rei levasse


sua indignao longe demais, alguns bispos colse-
lharam So Leodegar a que the 'solicitasse a graa
de permanecer definitivamente naguele mosteiro, o
gue lhe foi concedido. Ebrono ainda l se ercotl-
trava. So Leodegar pediu-lhe perdo, caso o tivesse
ofendido em qualguer coisa, no que foi imitado pelo
outro. Perdoarrt-se mtuamente e viveram juntos
como se nunca se ho,uvessem desavindo e preten-
dessem passar o resto de suas vidas no mosteiro.
Entretanto, dando ouvidos a maus conselhos, o rei
ordenara gue So Leodegar fsse tirado do mo'steiro,
a fim de ser deposto e condenado morte. Erma-
nrio a isso se ops. Era le abade de So Sinfo-
riano, em Autun, e a rgo do povor, o ei rcoffiel-
dara-lhe a cidade depois gue So Leodegar a deixara.
Ermanrio atirou-se aos ps do soberano e tanto lhe
pediu que obteve permisso para o santo bispo PQt-
manecer em Luxeuil. Vendo o abade em fregentes
conferncias com o rei, todos imaginavam gue esti-
vesse trabalhando contra So Leodegar, desejoso de
obter o bispado vago, que efetivamente lhe coube,
mais tarde. Bem diversos eram seus desgnics e,
enquanto S,c, Leodegar viveu, assistiu-o com grande
afeio.
Sempre entregue s suas paixes, o rei Childe-
rico mandou amarrar a um poste um fidalgo chamado
Bodilon e espanc-lo com varas; motivo pelo qual os
outros senhores d,o reino de tal forma se irritaram
que org anizaram uma conspirao. Bodilon matou o
rei na floresta de Livri, assim como a rainha Blichilde,
que estava grvida, e o filho de ambos, Dagoberto,
ainda criana. Os trs foram sepultad,ors r Igreja
de Saint-Germain-des-Prs. Mas Childerico deixara

I
236 PADRE ROHRBACHER

outro filho chamado Daniel. Morreu, pois o rel em


673, com a idade de vinte e trs anos, depois de ter
reinado tJurante onze, Por ocasio de sua morte a
flranrl foi aqitada pcr novas convulses. Teodorico,
irmc de Childerico, foi retirado do mosteiro de So
Dicnsio e aclamado rei da Nustria e da Borgonha;
a Austrsia reconheceu Dagoberto I I, f ilho de So
Sigisberto, que mandaram buscar na Irlanda. (3 )
Nesse perodo de confuso, um indivduo cha-
mado Agrcio, considerando So Prejecto respons-
vel pela morte do patrcio Hector, instigou contra
le os senhores do Auvergne, que se armaram para
destru-lc. O santo bispo partira de Autun com uma
ordem do rei Childerico, que o confirmava na posse
das terras contestadas, e calmamente se encontrava
em sua casa em companhia do abade Santo Amarino,
que outrora trcuxera da regio dos Vosgues. Ciente
de que o acharia em Volvic, Agrcio para l se diri-
giu com uma tropa de homens armados. Quando
ouviram o som da trombeta, Sao Prejecto e Santo
Amarino puseram-se a orar; mas todcs os oficiais
do bispo fugiram para os bosques. Os inimigos, em
nmero de vinte, entraram na casa, e degolaram o
santo abade, que tomaram pelo bispo. Iam retir-s
quando So Prejecto lhes disse: "Aqui est aqule
a quem buscais". Imediatamente foi traspassado por
uma punhalada, enquanto rezava pelos seus perse-
guidcres. Um de seus servos, chamado Elidio, tam-
bem foi morto. sses trs santos so venerados como
martires no dia 25 de jarciro. Vrios milagres foram
cperados ern seus tmulos, e Santo Avito, que suce-
deu a So Prejecto, raandou construir em Volvic, no
(3) Cont. Fredeg, n.o 95.
VIDAS DOS SANTOS 237

prprio lugar do seu martrio, r mosteiro a le de-


dicado.
So Prejecto, mais conhecido pelo nome de So
Prix, ,c,u Priest, era originrio de' Auvergne. So
9"1g., bispo *Tu prorcia, confiou-lhe parquia
de Yssoire, e Flix, seu sucessor, incumbir- do go-
vrno de um mosteiro. Depois da morte de Flix-, a
parte mais s do clero e do povo desejcu que Pre-
jecto o surLstitusse no slio episcopal; porm, o arqui-
dicono carivaldo comprou o a pso de
ouro e morreu quarenta dias depois."pircopadc
Em seguida,
tentaram eleger um senador chamado Genes; ace-
ditando-se indigno do episcopado, ste mandar reu-
nir-sufrgics em favcr de Prejecto, e o rei aprovara
a eleio.
Ainda no existiam mosteiros de mulheres na
provncia do Auvergne; Sao Prejecto incumbiu Ge-
nes, que no tinha filhos, de fundar um nas imedia-
es da cidade, para o_ qual estabeleceu uma regra,
tirada das normas de so Bento, de so cesr e
so columbanc. Mandou construir, perto da mesma
cidade de Auvergne, um segundo -ort"iro e tambm
um hospital, ao qual deu micos, designando rendas
para a manuteno dos doentes. Sao Prejecto escre-
vera a histria do martrio dos santos Cssio, Vitc-
rino, Antoliana, e de outros, supliciaclos no Auvergne,
sob Croco; mas essa obra ,rru foi encontrada.
So Teodardc., sucessor de So Remaclo na sede
rle Mastricht, teve morte idntica de So preiecto.
Fra procurar o rei Childerico, que ainda permanecia
na Austrsia, a fim de pedir-lre a resttuio dos
bens da sua igreja, usurpados por alguns particulares,
quando aquIes mesmos usurpador"i o assassinaram
numa floresta, junto ac, Espira, e lhe cortaram o corpo
238 PADRE R,OHR,BACHER,

em pedaos. Contudo, seus restos foram recolhidos


;;rportados para Tongres por So Lamberto, seu
sucessor.

So Lamberto c,u Landeberto era natural de


Mastricht, de pais nobres e ricos, e de uma famlia
que se cristiani r^r^ havia muito tempo. Ainda crian-
iu, seu pai mandou instru-lo nas letras sagradas;
'p"* o ?orriou a So Teodardo para gue mandasse
educ-lo com o maior cuidad'o,; e de tal modo o santo
rrp" ," f.ioou ao seu protegido, gue o teria feito
elege, como seu sucessor, se os cnone-s lho permi-
tir-J. D.po1, da m,o,rte de Teodardo, Lamberto foi
eleito, de acrdo com o desejo do povo, e com o coo-
do rei Childerico e dos que mandavam na
"""i"nto
sua crte, da parte da qual foi tratado com muita
'Porm, upr a morte do rei childe-
cc,nsiderao.
rico, a faLo de Ebrono exprrlsou-o 9 ps^no seu
-Faramundo.
i"gr um indivduo chamado O santo
bispo retirou-se para o mosteiro de Stavelo, onde
viveu como simpes religio,so. S se distinguia dos
outros pelo feror e pel humildade. Tinha o cos-
tume d lerantar-se antes dos monges- e k tezar na
igreja; no t"Illor de despert-los, ndava descalo
ormitrio, carregando as sandlias nas mos.
o
Certc, dia, tendo deiiado cair uma das sandlias,
"-"o
abade, que ouviu o barulho, ordenou a quem o Pro-
vccara, e que acreditava fsse um dos monges' que
se orostrasse diante da cruz, no ptio do claustro, e
oro. Era uma pepitncia usada nos mosteitrc's.
o santo bispo apressou-se ef, obedecer e, malgrld-o
o rio u ,r".rl {ue caia, l permaneceu at a manh.
Quando" o ,".orrheceu, o abade atirou-se a seus ps
pedindo-lhe perdo. Lamberto passou sete anos nesse
.'l

VIDAS DOS SANTO.S 239

refgio, antes de ser restabelecido no slio episcopal


pelo Prq!" da Austrsia, Pepino de Herisal. (+l
Sao Leodegar, ao contrrio, tornou a ocupar
gloricsamente sua cadeira episcopal no ano de 624.
o rei Childerico enviara dois dgues para busc-lo
em Luxeuil. um de seus criado r.rlrr", assassi-
n-lc assim que sasse do mosteiro; porm, ro 1o-
mento de executar o crime foi pra do temor e
lanou-se ac,s p-"r
4o santo bispo pldindo-lhe perdo.
Tendo-se espalhado a notcia de qu" childeri.o fo
morto, os duques que acompanhavam So Leodegar
transformaram-se em seus gardas e ceram-lhe algrrs
homens pala defend-lo "drrante as agitaes" do
novo reinado. Conduziam-n,c,, pois, a utun, com
uma grande escolta, quando se encontraram com
Ebrono, gue deixara Lxeuil, srr despir o hbito de
ggnge, e tambm se dirigia a Autun, bem escoltado.
Ebrono sentiu-se tentad, u upoderar-se de So Leo-
degar, nc obstante a amizad que lhe prometera no
mosteiro; mas So Genes, arcebispo " Lion, qu
chegou ccm numerosa tropa impeiu-o de levar a
efeitc o seu intentc. No se julgando o mais forte,
Ebrono dissimulou suas malvola-r i.rtenes e com-
panhcu so Leodegar- a Autun, onde o santo bispo
foi recebido com grande i.bilo. As ruas foram o*.r.-
mentadas, c, clero veio-lhe ao encontro, carregando
tochas e cantando hinos; a cidade inteira festeljou o
regresso do seu pastor. No dia seguinte, So'Leo-
degar e Ebrono deixaram Autun u ii- de prestarem
homenagem ao rei Teodorico. Ebrono, po-, dese-
iosg de vender seus sevi,6rs e recuperar o psto de
prefeito do palcio, seprou-se dc bispo no cminho e

(4) Acta S., 1? sept.


24A PADRE ROITRBACHER

foi tecer novas intrigas com os seus apaniguados,. Bem


depressa, chegou-lhe a notcia de que os francos, Coo-
selhadcs por- So Leodegar, tinham escolhido qala
prefeiro d palcio, a Leudsio, filho de Erquinoaldo.
Da por diante, Ebrono no respeitou gualguer
limite. Abandonou o hbito monstico, juntou-se
sua espsa, reuniu tropas e investiu contra o rei Teo-
dorico. Atraiu lreudsio, sob o -pretexto de uma
conferncia, e mandou mat-lc; depois' associou-s
dois bispos
- depostos em virtude de seus crimes. De-
sejado, cognominado Didon, de Chlon-sbre-o-
Sane, e Abbon ou Bodon, de Valena. Dsse col-
cluio fizeram surgir um preteISc filho de Clotrio III,
a quem chamaram Clvis, e declararam que T-eodo-
rico morrera. E sob o pretexto de f.azer reconhecer
o novo rei, Ebrono dirigiu-se para a Nustria e enviou
para a Borgonha os dois bispos depcstos, iuntamente
o* Vaimr, Duque de Champanha. Marcharam
rumo Autun a fim de apoderr-se de So Leodegar,
que trabalhava para reformar o povo da cidade, aps
r desordens provocadas pela sua ausncia. Tanto
SeuS amigos Como o ClerO aConselhfIll-oo a retirar-
se, levarro consigo os tesouros, a fim de desanimar
os adversrios, izendo,o's Perder a esperana de se
tornarem senhores dsses tesouros. Respondeu-lhes'
o bispo: "Para gue arrastar vergonhosamente comigo
aquio que no poderei levar para 9 cu? Ser Pt9-
ferivel a-lo ao,s pobres". E mandou vir a baixela
de prata, que constava de muitas P9as, ordenou que
a dividi.r"- em pedaos a marteladas, a fim de dis-
tribu-los pelas pessoas fieis; reseryou apenas os vasos
que podeiiam servir nos altares e que, no mesmo
momento, remeteu para vrias igrejas. Utilizou o
dinheiro principahnte para melho'rar as condies
t

VIDA DO SANTOS 241

de alguns mosteiros de homens e de mulheres. Em


seguia, ordenou um jejum de trs dias e uma pro:
cis"sao geral ao redor dos muros da cidade, e na_qual
figura.m a crz e as relguias dos- santos. Pros-
teinava-se diante de cada porta e pedia a Deus, der-
ramando lgrimas, que, se o chamasse ao martrio',
no permitiise fOss seu rebanho escravizado. O
temor dos inimigos f.izera com gue o povo acorresse
de tdas as parts da cidade, e tudo fra crganizado
para a defeia. Ento o santo bispo convocou tda a
populao e pediu perdo aos que talvez houvesse
ofendido com censuras excessivamente enrgicas.
Os inimigcs no tardaram em aproximar-se. Os
habitantes da cidade defendefIll-se corajosamente e
lutaram at noite. Porm, diante do perigo a que
se expunham, disse-lhes So Leodegar: "Por favor,
cessai de combater. Se vieram por minha causa, estou
prcnto a entreg-lei enviemos um de nossos irmos
iaber o que pretendem". Um abade, chamado Mer-
caldo, saiu da cidade e dirigiu-se ao bispo deposto,
Didon, coniurando-o a lembrr-se desta palavra do
Evangelho: "Se no perdoardes aos outros., vosso
Pai celeste tambem no vcs perdoar. Assim como
julgardes, sereis julgados". Ao mesmo tempo, Po-
ps-se a dpagar qualquer resgate por le exigido.
Didon respondeu gue s no atacariam a cidade de
Leodegar se lhes fsse entregue, e se ste prometesse
fidelidade ao rei Clvis; tambm afirmou, sob iura-
mentcr, que Teodorico morrera. Inteirado dess es-
posta, So Leodegar declarou pblicamente que pre-
feriria morrer a faltar f prometida a Teodorico,
perante o Senhor. E como os assaltantes ameaassem
a cidade com ferro e fc'go, despediu-s dos irmos
e, depois de receber a santa comunho, caminhou
242 PADRE ROHRBACHER,

intrpidamente para a porta da cidade, mandou-a


abrir_ e entregou-s aos nimigos. Mandaru* urrurr-
car-lhe os olhos. Suportou a tortura sem consentir
em que lhe atassem as mos, e sem sotar o menor
gemido, mas bendizendo a Deus e cantando sals.
vaimer e Didon deram a Bodon o arcebisp"d ;
Autun
-pfra compens-lo pela perda do de V"i"rru,
do qual fra expulso; e o povo iecebeu-o para evitar o
cativeirc,. Dessa forma, ningum foi fevado como
escravo; mas retiraram ci4co moedas de ouro do di-
nheiro da igreja, alm da guantia exigida dos hai
tantes.
Vaimer levou Leodegar para a sua casa, na
Champagne. Didon Boor, ;;";uru. Adal-
" constituir patricio, t,_ pro-
rico, a quem pretendiam
vena. Em caminho, tenci,omavam apossar-se de so
Genes, arcebispo de Lion; mas o povo, que acorrera
de todos os lados, to bem defene, uqi"lu gr"
cidade,.que os invasores foram obrigados a retirar-se.
o arcebirpo Torreu algum tempo epois, no dia 1.,
de novembro de 677 , e teve como sucessor so Lam-
berto, abade de Fontenelle, e depois So Vandrille.
Antes de abraar a vida monstica, ste ltimo fra
muicr considerado na crte de Clotrio III. So
I amberto sucedeu-lhe em Fontenelle e foi o ter.ei"o
abade do lugar, de acrdo com a profecia de so
vandrille, gue designara seus dois primeiros suces-
sores.
Ebrono ordenara ao Dugue vaimer gue levasse
so Leodegar ao corao de ma floresta 'e l o dei-
xasse morrer de fome-
_espalhando depois a notcia
de gue se afogara. vaimer deixou santo bispo
sem comer durante muitc,s dias; em seguida, achurro
gue seus sofrimentos ultrapassavam a capacidade de
T

VIDAS DOS SANTOS 243

sofrer da natu eza humana, compadeceu-se e rrrrt-


dou lev-lo para a sua casa. To impressionados
ficaram, tanto le como sua mulher, .orrr as virtudes
e as palavras de Leodegar, que lhe restituram a
quantia paga como resgate pela cidade de Autun;
guantia gue o santo bispo, mandou de volta cidade
pSra ser distribuda entre o: pobres. Em seguida.
vaimer foi eleito bispo de Tryes por um ardil de
lro;no gue, ao que parecia, temia o ,.u pres,tgioi e
so Leodegar foi a um mosteir,o o"dJ per-
"eclhido
maneceu durante dois anos.
Depois de f.azer desaparecer o pretenso clvis,,
r,
Ebroino-gue tomara a si o cargo de prefeito do palcio
de Teod'o,rico, e de prefeito bsoluto da Ne.istria
da Borqgnha, simulo,u a inteno de vingar a morte
do rei Childerico, apontando como responsveis So
Leodegar e o irmo ds,te, o conde Grino. Foram
ambos levados presena do rei e dos r""h*.
Ebrono cumulou-oi d" .rr.r.rsi mas S; i;;;g*
respondeu-lhe: "Queres colocar-te acima de to,os
na
-Franai mas, muito em b19ve, perders as dig"i:
dades que-to pouco mereces". Bui"" mandou-r"-
parar os dois irmos. Leodegar exclamou enquanto
Ievavam Gerino: "coragem, meu querido ir-",
precisam'c,s suportar tudo ilto porqu. . males
desta
vida em nada se comparam gtoriu futura. Nossos
pecados so grandes, verda"; *u, a misericrdia
de Deus, sempre pronto a perdo ur, iiau .nuior.
tempo de nossos sofrimentos, ser breve, o da nossa

recompensa ser eterno". sem que o submetessem
a c'utra forma de processo, Gerino foi amarrado a
um poste e apg+ei-udo._ Orava enquanto durou o
atroz suplcio: "senhor ]esus, gue n viestes cha*a,
os justos e, sim, os pecadores, rcebei a alma de vosso
244 PADRE ROHRBACHEIT

servo; e i que vos dignastes conceder-me uma morte


semelhante s do,s mrtires, Deus de bondade, co-
roai'essa graa com o inteiro perdo dos meus peC-
dos".
Leodegar deseiava ardentemente morrer com
seu irmo, tonsiderando uma morte rpida como um
benefcio; porm, a crueldade de seus inimig-os rser-
vava-lhe ic,rmentos mais prolongados. Primeira-
mente, Ebrono obrigou-o a caminhar num tanque
-Em que lhe
d'gua cheio de seixs pontiagudos, rsl-
gentaram a planta dos- ps. seguida, ordenou
u" h" retahssem impiedosamente o rosto, lhe cor-
;';;il os lbios e a l;nqua para roubar-lhe o conslo
de cantar os louvorer' . Deus. E, para cobri-lo de
vexame, mandou gue o despojassem de suas roupas
e o levassem pelas ruas. Aiinal, confiou-o guarda
do Conde Vaningue, que o cc'locou num pssimo
cavalo paa conduli-lo sua casa, situada a vrios
dias de viagem da crte.
Na primeira pousada, o abade Sinoberto, que
acompanhara o santo bispo pqra assisti-lo, muito se
afligiu ao encontr-lc, esendido na-palha e coberto
de arrapos; porm, ficou to consolado quanto spr-
prso uo or.r,oi-lo falar, embora lhe tivessem cortado
hrrgr". Derramou lgrimas de alegria e apressgu-:e
em comunicar aquela iraravilha a Ermenrio, abade
Sa" Sinforiarro, mais tarde bispo de Autun. Er-
"
menrio obteve de Vaningue permiiso para ver Leo-
degar; e, tendo-se certificado do milagre, tratou-o
com o respeito devido a um mrtir, considerando-se
eliz p., poder proporcionar-lhe algum alvio nas la-
mentveis cond(ei a gue estava reduzido. Pensou-
it ;r feridas " *andu que lhe dessem bebidas e
roupas, sem temer eXPo-Se aos ressentimentos de
VIDAS DOS ANTOS 245

Ebrono. Leodegar, que tinha algumas, gueixas contra


Ermenrio, acusado por muitos te preender ocupar
g seq- slio episcopal, perdcou-lhe os erros passads e
deu-lhe sua bno.
. Vaningue, que era muito piedoso, e que prsl-
ciara os milagres que Deus operara em favor do
prisioneiro, no pde resolver-se a executar as ordens
recebidas no sentido de maltrat-lo. A,c, contrrio,
nada omitiu que pudesse suavizai-lhe a priso. Nesse
propsito mandou lev-lo ao mosteiro gue fundara
em Fcamp. Nle, Leodegar fz jus venerao das
religiosas, que no se cansavam de ouvi-l, pois
enccntravam nas suas palavras permanente motivo
de edificao. Embora cego, tnha o conslo de
oferecer todos os dias o santo sacrifcio.
Sigrada, me de Sao Leodegar, ainda vivia, e
compartilhava cs sofrimentos do filhc,. Ebrono, gue
persistia em perseguir a famlia, depois de confisar
os ben.s. da pobre senhora, ordenou-Ih., r inteno
de melhor vigi-la, gue se recolhesse ao mosteiro
por le erigido em So,issons. Sigrada abraou a vida
religiosa com um fervor gue lhe permitiu mortificar-
se menos com os infortnios de gue ela e seus filhos
eram vtimas. Sao Leodegar escreveu-lhe uma carta,
confortando-a, e na qual reponta a mesma intensa
que, atravs dos scul,cs, iluminou as cartas de
santo Incio, mrtir. vejamos algumas passagens:
" senhora, e mui santa me Sigrada, gue era
minha me segundo a carne, mas que se tornu bem
mais verdadeiramente minha me_sgundo o esprito;
Leodegar, servo dos servos de |ess cristo, 'rorr
Salvador: a graa e a paz da prte de Deur, ;;;;
Pai, 1 d" Noso "S."ft"i1rur risto.-bou
;;i;;-;
meu Deus, gue no me privou da sua mi,seiicidia,
I
2+6 PADR,E R,OHR,BACHER,

mas gue me ez compreender a -alegria e o jbjlo


p"lu f., a pacincia com -a eUlt suportastes tdas
"
s tribulaes, a exemplo daqele mesmo -que deve
lulgar-nos. Nenhuma ingua, senhora, nenhuI no
p-
u*u pode exprimir a alegria gue deveis sentir
."n.i. Deixastes o qu" tu necessrio abandonar,
obtivestes o que a vo5sa alma deseiava; o Senhor
ouviu vossas oraes, viu vossas lgrimas. le supri-
*i, trdo o que parecia retardar-rt no caminho da
salvao,
-
a fim d" gu", livre dos laos que vos preo-
diam ao mundo, vsseis para Deus e sentsseis
, morte, que d
r"t" doce o Senhor! ienturosa as riquezas
vidal feliz perda dos bens, que merece
ditosa tristeza, gu" ptporciona a aleglia dos
"t".rrurl
urr;ort | experimentastes a msericrdias do Senhor
do,mundo' pata
;;, t" "t inspirou oobservncias
.desprzo
de uma santa
"r".-ro, a pratiCar as
- -At"
'libertou vossos filhos das misrias do
;;;;;
,ut", e deu-lhes a esperana de uma vida eterna,
em lugar de chor-los como mortos se, ao morrer' o's
ti"e.*i. deixado na terra. Acompanhando assim
nosso rei como soldados, acautelelo-nos para gue
nada em ns pcssa existir do homem antigo;- por
""r-qu. fse, cus-los-ia um dano consider-
;1,- sobretudo se persistisse em nosso corao g-gal-
qur- ai" contra os inimigos,- diqne;1e Deus disso
lirrrar o esprito dos crists fieis! Haver virtude
mais perfeita d,o, que amar seus inimigos para tolf-
," flf't de Deus e, perdoando,, obter perdo para
" pecados? E se o autor da vida, gue feves-
todos seus
tiu uma carne sem mcula, orou Por seus inimigos,
ainda mais ns, que estamos repletos de n9c1do1
devemos amar ,rorro, inimigos , e ezar por les? .E
se alguns existem apartados da nossa comunho pela
VIDAS DOS SANTOS 247

perversidade, no devemos odi-los por


causa disso,
porm ainda mais os amar, r.gurl
Senhor, sendo les suas criatura. ( 5
o preceito do
i
Eis como uq gralde fiaalgo f.rr'.o, a quem
t_
bataram bens e dilnidades, arrancaram
os c,rhos e a
lngua, e na expecrariva d; p;;;;; morre
atroz,
escreve sua velha me, igurmente
derpola ;
seus bens e tal como le encerrada
num mosteiro.
Evidentemente, a existe uma ordem
de idias e de
s'entimentos de gue os-historiadores
do mundo ,ro
tm sentimento, nem idia, e que, entretanto,
trans-
form'o'u o mundo. Assim sendo, ,r
lrtorias que rrr-
tuT no passam, na sua maioria, de justaiosies
mais ou menos incompletas de fuios
mentos, cuio conjunto_no tem sentido,
L'd" ;.;;t:;:
nem arma.
Sigrada , d"'Sao L"d.grr, foi venerada como
'santa no ^"mosteiro de NossJ senhora d" s"i.;;;;;
onde suas relquias so conservrd;,
as de So Gerino, seu filho. J;ntamente com
Durante os d,c,is anos que So Leodegar
no mosteiro de,Fcamp, nicamerrt" .,roitu'do passou
prece, teve conhecimento de gue guase ;;;
perseguidores tinham,sido
todos ,"r,
-castigados,
nados morte, outros .orrd"ru1.;;';il;*
rlgrrrr-;";;-
de fidelida Longe a" -iuo,"nroui;l;
que
tivessem morrido sem penirncIa. "r""*,
o ;"i-il"d;r"I
Ebrono convc'caram, entre outras,
geral, na qual vrios bispos ro.u*.tr"rudor.
uma assembria
sas assemblias gerais d na",""r-irps Nes-
se em particular com or ,"gbcios ocupavam-
d iir";u e, junta-
mente com os fidargos, com os
negcios'do'"!t;;.
Era ac' mesmo tempt um conclio
desistico e uma
(5) Labbe, Eibliqtt, nov. t. p. ?U,
f,
248 PADRE ROIIR,BACIIER,

assemblia nacional.Na assemblia de que se trata'


Didon, que tt" Ui*p" dt Chlon' teve a cabea
raspada, o que era um sinal de degradaio;
em

;;ffi;'r; ;id e cnd"'"do mo'te' vaimer'


ffi; i' n"mpagne,. e .depois.foibispo de Torys'
caiu no desa;;;?-brotnol " deposto, batido
com varas e enforcado.
Ebrlcnoeraonicodosp.erseguidoresdeSo
Leodegar que ainda restava; bastou'
porm' pulu
gue o santo
acabar a coroa dc, seu martrio. ordenou
;;; que fsse-degradado no conc-
-;, futu.i"-Jparap"rd*" o direito de oferecer o
ii" Uirpor,
;to ,u.riii.i. Tentaram olrig-lo a confessaf-se
-prL" d, ;;;te
rei Childerico' Re,sryn*'-:l:
i"."dor como todos os homens' mas qu9' el rel'
"r" culpa'-e ilso
;; q;"1" .ti-e, no lhe cabia aosmenor
homens' Ento'
"rr-o t"bi" elhor do que
mandarrl-lo comparecer assemblia geral; Tut
.h"gou a apresentar-se, pois o rei e Ebrono o cha-
"ao com
maram parte, antes que entrasse' e mantiveram
i" ,-u conferncia durante a qual So Leodegar1h?t
prlJirr" muitas coisas que depit u.orteceram. Nada
mais conseguiram arrancar-lhe, embora o interro-
oassem durante muito tempo; ento, rasgaram-lhe,a
rirri." de alto a baixo, o que tambm azia parte da
entre-
;;"ia de degradao e em seguida Ebrono
gc,u-o ,ru, *ao-r"a" nLUerto, tot" dqp^il"'1^TJt:
iurrdo-lh" que mandasse mat-lo. Dsse mododa
o
santo bispo foi deposto, no na assemblcia
geral
bispos' mas numa
nao, nm no cotclio regular dos
conerncia prttur .",rrio rei e Ebroino.
(6) Pode-
se obr"rrur' completa nulidade do rei Teodorico'

(6) acta ., 2 oc. Vlt. Leod'' D.: 45 q lq


I
V..IDAS DOS SANTOS 249

ps.fta por fidelidade par com le que So Leode-


gar voluntriamente se expusera ao ressentimento de
Ebncno quando ste era ministro do pretenso Clvis e
inimigo de Teodorico.
Porm, So Leodegar e So Gerino, seu irmo,
encorrtraram em nossos dias um inimigo ainda mais
cr'uel .do gue o cruel Ebrono: um protestante de G-
nova gue, nurna Histria dos Franceses, oficialm.ente
fecomendada juventude francesa, apresenta a
ambos como regicidas. Vamos dar alguns pormero-
rs, a fim de gue vejam claramente, num exemplo
entre mil, com que leviandade ou m-f ainda hoje
certos,escritores se atrevem a alterar a histria, quan-
do se .trata de calunia;t a Igreja e c,s santos de Deus.
D.iz o genovs Simonde de Sismondi, o coler-
tar, cs' acontecimentos que acabamos de descrever:
:'Childerico abandorv-se cada vez mais s suas
impetuosas paixes, assim atraindo o dio e o des-
przo.de tc'dos os que haviam trabalhado para a sua
elevao. Um dos 'senhores da Nustria, chamado
Bodilon, sofreu, por ordem do rei, um ultraje que
atingiu todos os francos. Por causa de uma ofensa
de 'ns desconhecida, Childerico mand,cu amarr-lo
a um poste e aoit-lo como se fsse escravo. Todos
os grandes da crte se sentiram ofendidos com a
indignidade de semelhante tratamento. Enviaram
emissrios encarregados de consultar o santo bispo
de Autun, Leodegar, que, embora no cativeiro, no
perdera a sua influncia no partido. No podendo
accmppnh-los, Leodegar mndou-lhes Gerino, seu
igmc, pJra .compartilhar os perigos da emprsa. Os
duques Ingoberto e Amalberto incumbirrr-se de vin-
garo ultraje lanado aos nobres na pessoa de Bodi-
lon; surpreenderam Childerico II quando caava na
PADR,E ROHRBACHER,

floresta de Livry, perto de Chelles, a pouca distncia


de Paris, e assassinrrrl-no; tambm mataram sua
mulher Blichilde, que estava grvida, e um de seus
filhcs de tenra idade. (7)
De acrdo, pois, com o genovs Simonde de Sis-
mondi, foi Leodegar quem aconselhou o assassnio do
rei, da rainha e do infante, e seu irmo Gerino par-
ticipou dsses crimes. A acusao grave. As pro'vas
deveriam ser to graves quanto a acusao. O
genovs Sismondi aponta quatro testemunhos: duas
Vidas de So Leegar, o continuador de Fredegrio,
e as Gesta regum Francorum. Mas nenhuma dessas
obras f.az ref.erncia a So Leodegar e a seu irmo, ao
abordar o caso do regicdio. As dua s Vidas de So
Leodegar s mencionam Bodilon; as duas outras peas
s citam os duques Ingoberto e Amalberto. Apenas
diz o continuad,c,r de Fredegrio que, depois de ter
sido Teodorico II reconhecido rei em lugar de Chil-
derico, os francos deram o lugar de prefeito do pal-
cio a Leudsio, filho de Erchinoldo, a conselho do
bem-aventurado Leodegar e de seus amigos. (8 )
Tambm os Gesf a rcgum Francorum, depois de rela-
tarem a eleio de Leudsio, acrescentam: o bem-
aventurado Leodegar, bispo de Autun, e seu irmo
Gerino eram participantes dsse conselho, da parte
da Borgcnha. (9 ) Quando, pois, o genovs Sismondi

(7) Hist. dos francesqs, t. II, P. 68.


(8) Franco ver Leudesium filium Erchivaldi nobilem in majoris
domum dignitatem statuunt per consilun beati Leodegpri e sociorem
ejus. Andr. Duchesne. Eist. Franc. . f. Fredg., n.o 95, p. 738.
(9) I'ranci autem Leudesium filium Erchinaldi nobilem in ma-
jores domg.s pala eligrrnt. Eratque ex Burgundf ftx hoc consilio
beatus Leodegarh.rs augrr.stodunensis episcopus, et Clerinus frater
oonsnJignts, Iblil, Gesta reg. Fr&no., B' 4, p. 717.
VIDAS DO ANTO 251
a

escreve gue os emissrios dos nobres consultaram


o
santo bispo de Autur, e ste, i.possiihtado
parecer pesscalmente, mandou su irmo
de;;
compartihr
os perigos do regicdio, parecem-nos essas
comporem uma adio por le acrescentada
,fi;;;;
s citaas
oDras.
o referido escritor rep_r_oduz a mesma acusao
algumas pginas adianre. 'v.j"; ; que
circuns-
tncias.
vendo Ebro'no que lhe tinham preferido Leud-
sio aomo prefeito do palcio, despe o irabito de ;o;;;,
rene um exrcito; proclama rei um pretenso filho
Clotrio, a guem d o nome d" Cl"ir, f.;;p;il;;
i
notcia da morte de Teodorico, sitia Autun at conse-
guir gue o Ui:ry".lh9,geja^entregue, ou gue reconhea
o pretenso Clvis,III. S?g ,".po"a" qu
-Li"4gu"
prefere morrer a faltar fidelidade "p"r"tida
a Teo-
dorico e, par? poupar sua cidad maiores danos,
entrega-se voluntriamente aos inimigos, qu"
Ihe fu-
ram os olhos. N mesma ocasio, "Ebroino manda
assassinar traioeiramente Leudsio, p;"f"i;6;;:
19. Logo em- seguida f.az a"r"p., o prerenso
clvis, reconcilia-se com Teodori.o, u quem decla-
rara morto, e gue se viu obrigado a aceit-lo como
prefeito, ou mlhor, como r"ihor. ni quando
se
deram os fatos relatados pelo genovs-sirrrrr ;;
alnea seguinte: '
"A fim de ter um pretexto para perseguir
nobres,, Ebrono anuncio 'a. -prri" os
_1ru
assassinos de childerico II,
inteno ;;
embor nunca tivesse
servido quele prncipe. S" Leodejur, ir_-_ j;'il:
'tun, e seu irmo Gerino, fg"r* obiigados a compa-
I".:T perante_ a iustia; Gerino foi imediata."rrt"
Iapidado; so Leodegar sofreu atrozes tormentos, mas
252 PADRE ROHRBqHER
que as
conservcu a vida, e seus biografos asseguram
feridas cicatrizam milagrosamente e
que, embora
a falar
com os lbios e a lngua cortados, continuou
dos olhos e
ainda cc'm *uio, eloltiencia' Privado tlu
com os membros 'nt'iilud'tt' Sao Leodegar i sentia
venerado como um mrtir pelo povg'
Ebrono
a colera aumentar ao ve[ q.u" sue Lizera
.l9qo, nal-Fz questo
ao inimigo so servira par.a glori{ica-lo',
p^elos bispos da
; b;^ [;J deg"radado-678' e tentou colrl-
Fraa, que reuniu em conclio' effi a sua
pelir o santo u ."[",t?t: perante .o.s prelados'
;;p.idade no assassinro'de ch-ilderico
II. O bem-
aventurado no quis manchar o
fim da vida com um
nem
perjrio, ,.gra a participac no regicdio' Con-
atrair sbre si novas desg'aas' confessando-3'
que lhe foram
tentou-s" .o ;;p"""'' perguntli
e' no 9s
diriqidas, dizend que nicmente Deus' os
ler no ntimo do seu corac'
;lr'jj[], ot"r,am
bispos,quenadamaispuderamarrancar-lhe"onsi-
deraram .rru, palurrru.'u*u confisso; -rasgaamJhee
a rnica a" ft a baixo, en sinal de
degradao,
que mandou ccr-
entrega.u*-rr'o " .'ae do palcio'
que a Igreja
tar_lhe u .uul;.- le um dos mrtres
hoje venera. ( 10)
De acrdo com as palavras do genovs Sis-
mondi,soLeodega'"'"t'irmoGerinoso'incon-
mais'- t'9m menos'
testvelmente, dcis regicidas' nem o outro
Um ,"ron'"ai ,ufpudo de cumplicdade,pll!::::^i:
no que, *u,,ni " fik da uida com "* atratt soDre
lo
sua patticpao rescdio' nem
;;"i.
si a"i"r"uir,'r*S"rr,udo-a. E.a Igreia Yene-ra
nouas
seq. irmo.
no up"rrur''-..a"gur, mas tambm
(10) P. 75-77.

o
VIDAS DOS SANTOS 253

A acusao e das mais graves, tanto contra as duas


personagens como contra a Igreja Catolica. Para
sustent -la,.seriam necessrias provas das mais con-
vincentes. O genovs Sis,mondi indica ao leitor inte-
ressado nessas provas as duas vidas de So Leode-
gar que sc, encontradas, entre outras, no primeiro
toriro dos His,toriadores da Frana, de Andr Du-
chesne. Ora, no relatam as referidas vidas os fatos
apcntados pelo genovs Sism,c,ndi; contam, at, coisas
bem diferentes.
Em primeiro lugar, abordaremos os fatos meno,s
importantes:
I .') Os biografos de So Leodegar asseguram,
narra o genovs Sismondi, que tdas as suas feridas
se cicatzaram milagrosamente. Ao contrrio, sses
bigrafos dizem que tais e tais pessoas entraram na
priso para pensar-lhes as feridas. ( l l )
2) ) O genovs Sismc'ndi az sses bigrafos
afirmarem que, depois de ter So Leodegar os lbios
e a lngua cortados continuou a falar ainda com maior
eloqncia. sses bigrafos limitam-se a dizer que
continuou a falar to bem quanto antes. (12)
3!) O genovs Sism,cndi faz supor que a ceri-
mniq, da degradao se tenha dado no conclio. Os
bigrafos assegqram terminantemente que se se pas-
sou, no no conclio, mas durante uma conferncia
mantida entre o rei e Ebrono. ( 13 )
i:::11r
(11) Ipse (Hernrenanus) vulnera ejus steduit dilgenter curare.
Prima vrta S. Leod., apud Duchesne, t. f, p. 610, n." 13.
(12) Nam inter sputamina sanguinum inisa lingua sine labii,s
solitum reddere coepit eloquium. Ibid., p. 699.
"...(13) - Nec tamen irra conciliuni confirmatur fuisse, sed seor-
sm. Ibid., p. 611, n.o 14.
254 PADRE RO}IRBACHER

Abordemos, pcrm, o pc,nto capital, a convico


jurdica do regicdio. O genovs Sismondi menciona,
como prova, as duas vidas de So Leodegar. Ora,
essas vidas contam que, embora desejasse mais do
que ningum a morte de Childerico, Ebrono acusoll
os dois irmos como responsveis; que, tendo So
Leodegar lhe censurado a ambio, separou os dois
irmos; que Sc, Leodegar aconselhou Gerino a
enfrentar cristmente a morte, e que ste no tardou
a ser amarrado a um pos'te e lapidado. ( 14 )
Quanto a So Leodegar, a biografia que relata
os pormenores do seu interrogatrio assegura que fo'i
intimado a confessr-se cmplie do regicdio. Acres-
centa, porm : le pro'testou que, sem neg que tiuesse
culpas como qualouer outro homem, absolutamente
na era culoado daqule crime, e eue Deus o saba
melhor do que os homens. ( 15 ) isso que relata o
bigrafo contemporneo do santo. Ora, o genovs
az o mesmo bigrafo afirmar "O bem-auenturado
Leodegar not quis manchar o fim de sua uda corn
um perjrio, negando a participao ao regcdio, nem
atratir nouas desgraas sbre s, confessando-a. Con-
tentou-se, pois, em reslonder a tdas as petguntas
que lhe f oram drigidas, dzendo que nicamente
Deus, e no os homens, Doderia ler no ntimo do seu
corao" . Que se diria de uma testemunha, de um
jurado, de um juiz que permitisse fsse desfigurado a
tal ponto o processo verbal de um interrogatrio para
obrigar um acusado a confessar-se culpado quando
protesta a sua inocncia!
(14) Ibid., n.o 12, p. 609.
(15) ... Ut de humano se non excusare decto, tt de hoc
facinore nullatens dixit fulsse se mnscitrm, sed pottt)s Deum qunr
homines hoc est scire professus. Ibid., n.o 14, p. 610 et 611,
VIDAS DO SANTOS 255

o historiador , ao mesmo tempo, testemunha,


jurado e juiz; seu dever ser testemunt" -il];lu.;;d;
consciencioso, i*" ntegro. Gostaramos
d" prgu"-
tar ao genovs simonde de sismondi se, com a mo
na conscincia, nos asseguraria ter cumprido sse
plice_dever em relao ."sao Leod.gr-"
tr-
seu irmo,
e se lhe cabe..g direitg d. verbera, "
sarcasmo: " um dos mrtires hoje ";;;il;;;*
urrurudii p;i;
I gre ja!"
Finalmente, em duas arneas encontramos
sete
ou oito alteraes ou falsificaes de fatos
d" p-
vras, feitas no objetivo de trnsformu, "regicidas
dois santos venerados. pera Igr"lu--i.ra "- o genovs
sismondi assim proceddo por ignorncia?
seria
mentvel. Ter procedido con"scientemente? la-
seria
ainda mais lamenvel.
No o' menos o fato de ter o protestante
Gui-
professor de histria, dep titurar d
_zot,
gyto
versidade, embaixador da Frana na ;-
r"glt"o,
ministro do rei dos franceses, na sua ttiraii-
ciuilizao Francesa, ,".or"rdaJo -u--obra i
moadi juventude francesa, sobreiuo juventude de sis-
'toa"r-,
universitria._ sao palavras suas: "De
histrias da Frana qu" poder lndicar-v,os,
lhor , indubitrr"i-"rrt e,'a do sr:- ;;ondi,,.a rre-
Dizemos oue lamenta"i, pois aps (16)
uma recor'er-
dao dsse quit;t;; ;;; exigir sue a juvenrude
consiga discernir a verdade nua historia
gue assim
falsifica palavras e farosl o;;;il;;;r"
reprodu-
zimos no constituem exceo. o t", grar
d ,bru
sempre o mesmo. por td, p"rt" .urumos
a mesma exatido e a mesm" b"-f. com
s r*;;a
(16) Cours d,Etstolre moderne, par Guizot, .
I, p. 40.
I - 256 PEORE R,OIIRBACH.Eh

de vista, o genovs Sismondi podq ser cc'mfarado


a Voltaire, denos o esprito e o estilo'
Mas retornemos ; So - Leodegar,
'palcic''
" entregrte- -s

mos de Roberto, conde do pra e.r' xt


cutado.
Roberto apressou-s em levar o prisioneiro pala
casa. Durant a viagem, vendo-o prostrado ' pela
i;d", "t do, que h dessem de beber' . Enguanto
se pr"p"ruru par? obedecer quela c'rdem' Deus'
que se apazla em gloriicar o servo na proporg em
r" o ultraiav u-^, 6, surgir em trno de sua cabea
il; r..pfrdecente aurola de luz. Os gtrardas,inda- .ao
divisa-l, foram tomados de respeitoso temor e
garam uo .urrto- birp., qual ea.-a significao de .to
xtraordinrio fato. ste imediatamente se proster-
nou e ps-se a orar, deseioso de.agradecer a lJeus
oue se diqnava confort -io e anim-lo com' aqule
"Or
igr". assistentes, transtornados, exortavrll-
ac, Senhor da por diante e diziam
;; ;;"lhcr servir"ste
uns aos outros: homem um verdadeiro servo
com
de Deus". Foi como se a bno do cu entrasse
L..d"gut na casa de Roberqo, pois nela e toca- operou
;;;;;";de rransc,rmao. Servos e senhores, em
dos da mais intensa comPuno' apressavrl-sc
pedir a penitncia e .orr"ttavam humilde.mente- s
ilffi.'-prena. do santo bispo, !o;s, i.sp.l:
rava o u*or' virtlde, que tanto mais importarit
parecia quanto mais ultraiavu '1 sua pessoa'
do pals;; Raf
No tur"rm a chegar ordens 'tardana. : Htrer
que Leodegar fsse executado sem
vendo q.r" ,olu ,"r",udo como mrtir' o cruel
Ebrcno
de um
ordenou gue procurassem um po-o no recesso
;;;;-"-i arirassem o .orp q. bispo,ser depoi$.de
bem recobri-lo, de maneira a no mais eflcon-
VIDAS DOS SANTOS 257

trado. O conde Roberto j comeara a converter-se


sob a influncia das prdicas do santo. No po-
dendo resolver-se a assistir sua morte, mando,u guu-
tro de seus criados executarem a ordem gue recebra.
espsa do conde chorou amargarn"ri"; mas So
Leodegar consolou- e disse-lhe qul, se cuidass,e bem
da sua sepultura, atrairia as banaos de Deus.
Os executores levaram o santo a uma flc,resta,
na gual havia um poo; porm, no conseguiram
encontr-lo. Caminharam durante muito tempo por
caminhos perdidos e depois So Leodc-ar de[eve-se
e diss,e-lhes: "Meus filhos, ser necess:rri,o, que vos
fatigueis caminhando ainda mais? Fazei aqui mesmo
o gue vos foi ordenado". Tres dos quatio algozes
se atiraram a seus ps,, conjurando-o a dar-llies a
bno e a perdoarJhes que iam f.azer. o santo
satisfez-lhes o pedid,c, e depois, ajoelhando-se orou:
"Senhor Deus, Pai de
)eius Cristo, sde bendito
por me terces feito chegar ao.fim das minhas lutas.
Conjuro-vcs, meu Deus, que me faais participar da
vossa misericrdia, e me torneis digno de participar
dos mritos dos santos na vda eteina. E, Senhor,
perdoai acs meus perseguidores; pois, espero gue me
glorificareis por intermdio dles". Teno terinado
a orao, levantou-se e estendeu o pescoo. O euar-
to carrasco imediatamente lhe decepou a cabea. sse
inf.eliz pereceu miservelmente pouco tempo depois.
A Igrela venera a memria de so, Leodegr e d seu
irmo Gerino no dia 2 de outubro. A .oit" do santo
bispo ocorreu, segundo se supe, em 6T8.
A espsa do conde Roberto mandou enterrar
secretamente o mrtir na capela da sua casa de campo,
ento chamada sarcin, hoje so Leodeg ar, tal .onro
a floresta onde foi executado. o corpo o santo per-
258 PADR,E ROHRBACHER

maneceu trs anos e meio nessa capela, onde operou


to grande nmero de milagres qul_attaia gente de
todo os lugares. O fato causou a Ebrono alarme e
confuso. Mandou um de seus agentes secretos
capela, a fim de apurar, no prprlo lugar, a verdade
s6re os propagados prodgios. O emissrio viu um
homem que fra cego e gue lhe assegurou ter recupe-
rado a vista. No quis dar crdito ao que ouvia_e,
batendo com o p ,o trrulo do santo mrtir, desde-
nhosamente, e*Cla.ou, "sse morto no faria mila-
gres!" No tardou a ser castigado pela insolncia
pois pereceu miservelmente antes de ter podido, cofl-
lur o-que vira guele que o enviara. O acontecimento
s seriu para endurecer o corao de Ebrono. Proi-
biu, sob astigos severos, que fssem divulgados -as
virtudes e os milagres de So Leodegar. Mas se du-
rante algum tempo conseguiu obscurecer a glria do
santo bipo, no lhe foi possvel deter o brao da jus-
tia divina que se erguera para vingar tanto sangue
inocente. - fidalgo, chamado Hermenfroi, infor-
mado de gue Ebrono determinara arruin-lo, anteci-
pou-o, assassinando,-o num domingo, [o ano de 681,
quando le s,aa de casa para ir s matinas. Pois
Ebrono no era homem sem religio: fundara, mesmo,
um mosteiro em Soissons. Era realmente capaz de
governar uma nao. A ambio que o tornara
cruel e tirano, tirano do reino e do prprio rei.
Depois da morte de Ebrono', So Leodegar como
que revveu, e agules a guem o temor ou a compla-
cncia conservara em silncio, foram os que com gue
mais eloqncia publicaram seus louvores. O rei
Teodorico tambem reconheceu a injustia gue prati-
cara, e a inocncia do santo bispo; depois de ter
mandado verificar juridicamente os milagres, divul-
VIDAS DO SANTOS 259

gados, glorificou como mrtir aqule mesmo que,


acusado por Ebrono, le considerara criminoso. Cer-
to dia, quando se reali zava no palcio a assemblia
dos bispos e dos fidalgos, tendo o assunto recado
sbre as virtudes e os milagres de So Leodegar,
Ansoaldc,, bispo de Poitiers, pediu ao rei que lhe
permitisse transferir as relquias para a sua diocese,
argumentando que seria justo ceder-lhe o corpo do
santc, bispo, seu parente, e que fra educao na
igreja de Poitiers. Ermenrio de Autun declarou
que s,eria mais conforme justia d-lo igre ja e ao
povo de que fra pastor. So Vindiciano, bispo de
Arras e de Cambrai, tamtm presen,te, alegou que o
santo mrtir sofrera a morte na sua diccese e gue
no deviam transferir suas relquias de um lugar ode
o Senhor o glorificava com tantos prodgios.

O rei e os outros bispos que no desejavl re-


so,lver aquela pendncia, decidirarn-s a consultar
Deus. Foram ordenados jejum e preces. Em seguida
escreveram o nome dos trs bispos em trs papeis
diferentes, que foram colocados sob a toalha que
cobria o altar, sendo convencionado que as relquias
de so Leodegar caberiam ao pretendente cujo nome
fsse o primeiro a s.er tirado. No dia seguinte, depois
da missa celebrada nessa inteno, os bispos mr-
daram um d,cs oficiantes apanhar um do bihetes
colocades debaixo da toalh do altar. le tirou o
que continha o nome do bispo de Poitiers.

O prelado apressou-se em enviar para Artois


Audulfo, abade de so, Maixent e antigo discipulo
de so Leodegar, a fim de levar o santo corpo com
260 PADRE R,OHRBACHER,

o respeito que lhe era devido. Logo que em Sarcin


foi cnhecido o objetivo, daquela viagem, afluram
pessoas de todo lado, sendo que muitas acompanha-
ram as santas relquias. Durante a iornada, sacerdo-
tes e monges vinham de todos os lugares, em pro-
cisso, para glorific-las. O nmero dos milagres
operados nessa traslao foi to grande que o Audul-
o chegou a afirmar que, para relat-los, precisaria
um livro mais grosso do que o saltrio. Con-
"r.r",r", que enviou
tentou-se em f.azer uma relao abreviada,
para Querci, a pedido da abadssa Ermanane. Re-
produziremos alguns dsses milagres atestados p_elos
dois autores contemporneos da vida de So Leo-
degar.
Em terras de Chartres, uma moa chamada Ra-
dingue, surda, muda e paraltica desde os sete anos,
recuperou a sade ao, tocar o esquife do santo. Uma
mulher, acusada de ter matado o marido era condu-
zida ao suplcio pelas ruas de Tours; ao ver as teli-
quias passar, exclamou: "Bem-aventurado Leodegar,
soCorrei -lrtr- , pois morro inocente!" Imediatamente
se r,cmperam as correntes que the cingiam o pescoo
e as mos e ela se atirou sbre o atade do santo
bispo. No procuraram outras provas da sua ino-
cncia. Roberto, bispo de Tours, acompanhou por
deerncia as santas relquias at Ingrande, 'onde um
coxo foi curado. Ansoaldo de Poitiers, que se dirigia
sua igreja, foi at Gilnac, ao encontro do cortejo,
em procisso, f rente de seu clero' As relquias
do santo foram primeiramente colocadas na igre ja
de Santa Radegunda, onde um paraltico se curou,
VIDAS DOS ANTOS 261

e em seguida na de Santo Hilrio, onde uma cega


recobrou a vista.
Satisfei ta a devoo do povo de Poitiers, An-
sodo, aco,mpanhado de seus clrigos, carregoq n-os
ombros o sagado depsito alm das portas da cidade,
e em seguid escoltou-o at um aldeia vizinha, onde
o entregou nas mos dos monges de So Maixent,
gue receberam coI grandes,
-de homenagens e vivo reco-
hecimento o corpo seu antigo abade. Uma me
desesperada levou a sse lugar o filho agonizante;
acredtaram, mesmo, gue tivesse morrido no caminho.
Ela o colocou diante do corpo do santo, exclamando:
"Senhor, restitui-tre meu [ilho!" Trs horas depois,
como gue despertando de um profundo sono, a crian-
a indagou: "Minha me, onde estais?" Resta-
belecera-se completamente. Quando os monges de
So Maixent transportavam as relquias para o seu
mosteiro, uma pobre cega, guiada por seu marido,
gue era caolho, foi at a estrada invocar. So Leode-
gar. A mulher recuperou a vista, mas o marido, gue
s rnorstrava incrdulo, perdeu a sua completamente.
Foi guiado na volta pela espsa, a quem servira de
guia na vinda. A traslao do coqpo do santo foi
realizada no ms de maro de 682.
Ansoald,o de Poitiers, parente de Sao Leodegar,
nada poupc,u para ornamentar-lhe o tmulo. Come-
ou por mandar construir em So Maixent uma belis-
sima igreja, cuja estrutura muito diferia das outras.
E quando ficou pronta, compareceu juntamente com
o seu clero a fim de colocar o copor do santo mrtir
no mausolu que mandara preparar-lhe. O mesmo
prelado e o abade Audulfo encarregaram o -monge
RE

Ursino de escrever a vida de So Leodegar. Erme-


nrio, bispo de Autuf,, a abadssa Ermanane tam-
bem incumbiram outro monge de narrar a parte de
que fra testemunha. Assim, a vida de So Lodegar,
relatada por dois autores contemporneosi e quaao
ainda viviam os que a tinham testemunhado, to
autntica quando seria de desejar. (17)

x**

(17) Acta. SS., 2 oct.


BEM-AVENTURADOS I.UI, - LqIA'
-Nn E FRANCISCo YAKICHI
Mrtres
Lus Yakichi era dono duma barca, em Naga-
saki. Amigo do padre Collado, ste, um dia, veio
oedir-lhe um avor: necessitava da barca para qqe
,"d;; nir"r escapas'se da fria da perseguio de
que vinha sendo vtima.
Lus no titub@,u. Cristo, estava prorrto para
tudo. Infelizmente, a evaso do padre Flres no
.trr"r, satisfatriamente: um incidente, tendo tetat-
dado a sada do barco, propiciou aos agentes perge-
guidores a oportunidad" a. prender 1tg(oi agules
que se mancomunaram com o padre Collado'
Presos em Firando, pouco mais tarde foram
transferidos para Nagasaki. Submetidos a interro-
gatrio, Lus e quatro dos- seus aiu_clantes, por quatro
semanas p"r-ut eceram firmes. Lus experimeltou
dezessete tipos de suplci,c,s. Afinal, a 2 de outubro,
orrokr, o governaor, resolveu liqtiidar a ques,to.
"u em l62i: e Lus Yakichi, a eipsa e os filhos
foram condenados morte.
Lus perece-u no -fogo. -A espQT e.gs filhos foram
decapitads. O valente Lus Yakichi, cujo corrpo,
depois dos tormentos pelos guais passou, era uma
I 264 PADRE ROHRBACHER,

s chaga, ag declararem que o levariam ao lugar do


suplcio, replicou gue no era necessrio: era risto
g, po, tinha fras para ir por si mesmo, a p. E
foi. E era o mais enfraquecdo, o que mais ,f*"ru.
No entanto, era quem, heio de .lor, acorooava,
c9m palavras de consolao e promessa, c,s colpa-
nheiros todos.- E presenciou a morte da espru o,
"
filhos. viu rolar a cabea da fiel companhi"a, Lcia.
Viu rolar a cabea dos filhos qu"rdor, Francisco,
de quatr,o anos, e de Andr, de oto.
Lus foi o ltimo a morrer, depois dos guatro
ajudantes. Atirado ao fogo, recebeu, .oo, os dmais,
a coroa do martrio e a paz eterna no reino que no,
desta terra.

No mesmo dia, em Roma, a Paixo de So Mo-


desto, mrtir: sob o imperador Diocleciano, foi ator-
mentado no cavalete e, afinal, consumido pelo fogo.
O corpo, transportado para Benevento, fci sepultado
na igreja que traz seu nome.
Em Milo, Santa Dioteria, virgem. Honrada
em Milo, clesconhece-se tudo a seu respeito.
Festa de So Gerino, mrtir, irmo do bem-
aventurado Leodegar, bispo de Autun: lapidado por
ordem de Ebrono. O nome de So Gerino p?-
senta variantes: Garino, Gaireno, Warino.
Em Veneza, So Lucrio, mrtir romano.
Na floresta de Yvelines, Santa Escariberga,
espsa de Santo Arnulfo, virgem.
Em Chantemerle, di'c,cese de Troyes, So Se-
reno (sculo VII?). Nascido em Metz, de famlia
nobre- Serenq foi feito prisioneiro por Dagoberto,
VIDAS DOS SANTOS 265

- quando duma expedio que se propunha punir revol-


tosos. Libertado pela me, Serena, gue suplicou a
Dagoberto a soltura do filho, Sereno, para se santi-
f.icar, abdicou da condio-de nobre e se fz pastor
dum grande rebanho de ovelhas. Mais tarde, tornou-
se monge, vivendo solitriamente. Peregrinando a
Roma, ali estve por sete anos e meio. O papa
ordenou-o padre e deu-lhe relguias de So Fabiano
e de So Sebastio, s guais o santo levou para a sua
ermida de Chantemerle, onde morreu e foi enter-
rado.
Em Ccmro, So ]oo, bispo, no sculo VII. Con-
verteu inmeros arianos (Acta sanct. l.n octob.) ,
Na Bretanha, So Melar ou Melor, mrtir
(sculo VIII? ) . Segundo a legenda, era filho do
rei de Domnoneu, So Miliau. Por questes pol-
ticas, foi rrorto pel'o' tio Rivdio, que, aps a morte
de Miliau, cobiando o trono de long a data, resolveu,
pela eliminao do herdeiro, Melar, apoderar-se do
govrno.
Na Sua, Santo Ursicino, abade-bispo, de Di-
sentis, e talvez bispo de Coire (pela metade do
sculo VIII ) .
Em Lerida, na Espanh, o bem-aventurado Be-
rengrio, bispo, falecido em 1256. Berengrio de
Peralta teria sido dominicano e dicono d Lerida,
quando foi elevado ao episcopado, segundo um histo-
riador. _ A julgar po outros, teria iido cnego da
catedral de Lerida des,de os quinze anos e piocla-
mado bispo de Lerida no prinCpio do ano d 1256,
morrend o a 2 de o,utubro do mesmo ano, como se viu.
Na Nicomdia, So Eleutrio, soldado, lrti-
fizado, assim como uma infinidade de outros cristos
falsamente aqusados de terem ateado fogo ao palcio
266 PADRE ROHRBACHER

de Diccleciano, que acabava de ser incendiado. O


cruel imperador, acreditando-os culpados, ordenou
que fssem mortos por grupo: uns foram decapitados,
utros, queimados, outros atirados .ao mar. Eleu-
tric', que era o mais impcrtante de todos, depois de
submetido a cruris torturas, e parecendo adquirir a
cada tormento um novo vigor, tal como o ouro, foi
depurado pelo fogo, e ass,im encerrou 'or seu triunfo.
os santos mrtires Primo, Cirilo e
- Na Antioquia,
Secundrio. Em Constantinopla, So Tefilo, Irol-
-
ge, que na d.efesa das santas imagens, foi impiedosa-
mente aoitadc, na defesa das santas imagens, e, em
seguida, enviado ao exlio, onde Ioreu. - Em He-
reord, na Inglaterra, So Toms, bispo e confessor.

***

I
J., DIA DE OUTUBRO
SO GERALDO DE BROGNE
Nasceu no territrio de Namur, de boa famlia,
e, desde os mais tenrCIs, anos, mostrou-se ternamente
devoto e, sobretudo, muito desapegado para com tudo
quanto pudesse manchar-lhe a pureza. Tomou parte
em vrias campanhas, sob o comando de Berenger,
C,cmde de Namur, sem gue a sua virtude fss;e atin-
gida; ao con'trrio, a dissoluo, ligada s armas, pe-
nas serviu para f.az,-la prosperar. Sua probidade e
sabedoria converteram-no no conselheiro e confidente
do Conde de Namur gue o mandou tratar de alguns
negcios junt,o, ao Duque Roberto, futuro rei da
Frana.
Durante essa embaixada, Geraldo visitou o los-
teiro de Sao Dionsio, onde ass,istiu ao ofcio das
vsperas; e, tendo ouvido referncias a Santo Eug-
nio, indagou quem era aqule santc'. Responderam-
lhe que fra um companheiro de So Dionsio, pti-
mejro bispo de Toledo, de onde viera paa a Glia;
sofrera o martrio na aldeia de Deuil, e suas, relquias,
conseryadas em So Dionsio haviam .cperado vrios
milagres. Geraldo insistiu com os. monges para que
lhe dessem o corpo daquele santo mrtir, pois queria
coloc-lo na nova igreja gue mandara construir nas
suas terras de Brogne. Seu pedid'o no foi atendido:
268 PADRE ROHRBACHER

contudo, deram-lhe a entender que se quisesse entrar


como monge em So Dionsio, lhe concederiam o que
tanto deseiava. Na noite seguinte, Geraldo concebeu
o projeto de abraar a vida rligiosa: D_e effessc,
comunicou sua inteno ao Conde de Namur, que
debalde se esforou para dissuadi-lo. Tambm falou
com Estvo, Bispo-de Lige, seu tio materno. Te-
mendo ,opo-se aos desgnios de Deus em relao ao
sobrinho, o prelado de-lhe sua bno, depois . de
fazer-lhe algumas advertncias para auxili-lo a asse-
gurar-se da sua vocao.
Geraldo retornou a So Dionsio, onde tomou c'
hbito monstico crca do ano de 928, depois de ter
cortado o cabelo e raspad'o a barba. Comeou- a
aprender o alfabeto, como as crianas, e z grandes
progressos nas letras e outros ainda maiores na vir-
iud. Permaneceu dez anos em So Dionsio, e foi
ordenad,c, sacerdote no nono ano por Adelmo, bispo
de Paris, sucessor de Fulrado. D"pois disso, tendo
enfim obtido as relquias de Santo Eugnio, regressou
a Brogne, onde substituiu por doze- monges de -So
Dionsio ,c,s clrigos gue serviam a Igreja. Tambm
fundou um mostiro que dirigiu, e gue se tornou a-
moso pelas virtudes dos monges e do prior.
Gisleberto, Duque de Lorena, e Arnulfo, o
Grande, Conde de Flandres, to edificad'c's ficaram,
que incumbiram Geraldo de reformar tdas as aba'
ius das terras dles dependentes. Os principais
mosteiros reformados e dirigidos pelo santo, na Flan-
dres, foram os de Brogne, o de So Guislain, de So
Pedro e So Bavo,, em Gand, de So Martin, em
Tournai, de Marchiennes, de Hasnon, So' Vast de
Arras, So Bertin, Santo Omer, Santo Armando, So
Vulmer ou Samer, alm dos mosteiros de Lorena e
VIDAS DOS SANTOS 269

vriosr outros da Frana, tais como o de So Remg io,


em Reims, e So Riquier. Importantes milagres
a So Geraldo
aumentaram a autoridade conferida
pela virtude e pela sabedoria.
Arnulfo, Conde de Flandres, ea atrozmente
a'tormentado por clculos, e no se reso'lvia a deixar-
se operar, embora os mdicos e os cirurgies lhe
tivessem declarado que seria o nico remdio contra
o seu mal; para tranqiliz-lo e abrandar-lhe o temor
ins,pirad6, pela perigosa interveno, operaram na sua
presen a dezoito pessoas atacadas pela mesma doen-
a, das quais uma nica morreu. Malgrado essas
experincias, o Conde no consentiu em servir-se de
um remedio que lhe parecia mais doloroso do que o
prprio mal. Recorreu a So, Geraldo e o santo abade
obteve-lhe, com suas oraes, uIl cura completa.
No fim de sua vida, Geraldo f.z uma viagem a
Roma para obter privilgios em favor do seu mosteiro
de Brogne. Depois visitou todos os mosteiros'a le
subordinados e, em seguida, demitiu-se, a fim de
melhor preparar-se paa a morte, que chegou numa
segunda -feira, 3 de outubro de 959. Depois de ter
recebido o santo vitico com intensros sentimentos de
piedade, deu crdens para que fizessem ressoar um
sino que mandara benzer pelo bispo, e, mal ste cole-
ou a tocar, le expirou. Vimos que So Sturme,
abade de Fulda, tambm mandou tocar os sinos para
avisar que entrara em agonia. ( 1 )

***

(1) Acta S., 3 oct. Acta Bened. sect 5.


.1*

SANTA TERESA DO MENINO


JESUS (*)
Carmelita '

Maria Francisca Teresa, ou Teresinha, depois


Teresinha do Menino |esus,, nascida aos 2 de janeiro
de 1873, era filha de Lus |os Aloyes Estanislau
Martin e de Zelia Maria Guerin, dos quais a Santa,
mais tarde, diria: "O bom Deus deu-me um pai e uma
me mais dignos do cu do que da terra".
Depois de terem imitado, durante dez meses, a
vida tda pueza de Nossa Senhora e de So )os,
rogaram ao Senhor que se digns,se dar-lhes muitos
filhos, e os tomasse para si. Com efeito, casados em
1858, em 1860 nasceu-lhes Maria Lusa; em 1861,
Maria Paulina; em 1863, Maria Lenia; em 1864,
Maria Helena, que faleceu em 1870; em 1866, Maria
fos Lus, que faleceu em 1867; em 1869, Maria
Celina, falecida recentemente no Carmelo de Lisieux;
e em 1870, Maria Melnia Teresa, que morreu no
ano mesmo em que nasceu. Com exceo das faleci-
das, as demais oram religiosas.
Santa Teresinha veio ao mundo em Alenon.
Quando a me, a boa Zelia Maria, faleceu, contava
quatro anos, e, embora em tenra idade, sofreu grande
choque. Lus Martin ento deixou a cidade e foi
VIDAS DOS SANTOS 271

fixar-se em Lisieux, nos Buissonnets, perto da f.arm'


cia dc, cunhado Guerin.
Teresinha, para Lus Martin, era a filha 9ue-
rida, a pequenina rainha da Frana e da Nav aa" ,
como a chamava. Invarivelmente, colocava-a sbre
os joelhos, e, em cadncia de cavalinho, ia-a balan-
ando, a cantar, destacando as slabas:

M on petit Reinot
qui a fait la fortune
de toute l'Auuergne,
Iouchtra!
Morta a me, Teresinha viu-se rodeada pela
ternura do pai e das irms, principalmente dos cui-
dadcs de Paulina, a sua mezinha.
Desde os trs anos de idade que a nossa Santa
resolveu nada recusar a |esus,. Assim que, sendo
a caula, e, pois, a mais mimada, assentou que de tal
privilgio no havia de abusar jamais.
Tmida, amvel, obediente, s vzes, ccmo ela
mesmo nos conta, era vaidosa. Vivia-lhe ainda a
me, quando nos relata o que se segue: "Duma f.eita,
devam,c,s ir ao campo, casa duma famlia amiga.
A mame diss,e a Maria que me pusesse o meu lindo
vestido, mas que me cobrisse os braos. No disse
palavra, mostrei at indiferena, prpria das crianas
daquela idade, mas, interiormente, diza: Quanto
mais bonita iria eu com os meus bracinhos de fora".
E ento? Como se os santcs i nascessen srl-
tos! Quantos detratores ha da religio, pelo mundo
afora, que, por isto e por aquilo, desmerecem os esco-
lhidos de Deus. A santidad e ha que se conquistar
I
272 PADRE ROHRBACHER

corn o combate, combate rude, gue s com a graa


do Alto se levar a bom trmo.
Com treze anos por motivo de doena, retiraram-
na do colgio, para icar com uma preceptora da
sociedade, que se encarregaria de lhe completar a edu-
cao. Daqueles tempos, diria: "Nesta salinha
mo,biliada antiga, rodeada de cadernos, assisti,
mutas vzes, recepo de numerosas visitas. A
me da minha professra era quem sustentava a col-
versa. Todavia, nesses dias, no aprendia grande
coisa. Com o nafiz em cima do livro, ouvia tudo, at
mesno o que seria melhor no ouvir. Uma das se-
nho,ras dizia gue eu tinha um lindssimo cabelo, outra,
ao sair, perguntava guem era a mocinha to bonita.
E estas palavras, tanto mais lisonjeadoras porgue
eram pronunciadas para mim, davam-me tal Pa,-
ze que via claramente quanto estava cheia de
-eu.
amor propno .
Em agsto do ano de 1879, estava, ento, com
quase sete anos, ocorreu o "primeiro fenmeno ver-
dadeiramente extraordinrio gue encontramos na vida
mstica de Irm Teresa", ,- como diz Petitot a
viso prrc,tica gue se relaciona com Lus Martin.
Segundo a autobiografia, conirmada pelo depoimen-
to das principais testemunhas, d-nos a cena como
passada no vero.
"Deviam ser duas ou trs horas da tarde". O
sol, esplendoroso, brilhava po,r todo os Buissonets,
e "a natureza parecia estar em festa".
Lus .Martin estava .ora, ausentav-se i de
alguns dias. Em Alenon, tratava de negcios. Ma-
ria e Paulina, num dos quartos da casa, trabalhavam.
Noutro guarto, Teresinha, pela janela, apreciava a
natureza. Teve a Santa, naquele dia, a sombria viso
VIDAS DOS SANTO,S 273

da mais pesada prova moral gue, em 1892, muitos


anos mais tarde, pois, devia afligi-la . Diz ela co,m
pormenores: "Encontrav-fle sozinha a uma das
janelas gue davam para o jardim e tinha o esprito
com pensamentos alegres, guando vi defronte da la-
vanderia, minha frente, um homem vestido exata-
mente como meu pai, da mesma estatura, com o mesmo
andar, mas mais curvad,or e envelhecido. Digo rve-
lhecido para pintar o conjunto geral da sua pessoa,
porgue no lhe vi o rosrto; a cabea estava coberta
com um espsso vu. Caminhava lentamente, com
passo regular, ao longo do jardinzinho'. Imediata-
mente, fui tomada dum sentimento de pavor sobre-
natural e gritei alto, com voz trmula:
Papai! Papai!"
"Mas a personagem misteriosa parecia no
ouvir; continuou a andar sem se voltar, e dirigiu-s
para um bosquezinho de pinheiros que cortava a lea
principal do jardim. Esperava v-la reaparecer do
outro lado das grandes rvores, mas a uiso prof-
/ca desvanecera-se".
Maria e Paulina, quando ouviram aqule gri-
tado "Papai! Papai!", correram atTeresa, em busca
de explicao para as notas de terror gue sentiram na
voz da irm.
Cientes do sucedido, deram minuciosa busca porr
tda a extenso do jardim, e nada encontraram. Mas
Teresa teimava, e dizia:
Eu vi um homem e sse homem parecia-se
absolutamente com papai!"
Cansadas de rebuscar pelas moitas, pelos arbus-
tos, de olhar por todos os recantos que pudessem
escourder um ser humano, acabaram por voltar para
casa. E as duas mais velhas acon'selharam a Teresi-
274 PADRE ROHRBACHER

nha que no mais pensasse no caso. No pensar mais


no que sucedera! "Ah! diria ela, mais tarde, se
estivesse na minha mo! Muitas vzes a imaginao
me representava essa viso misteriosa. Muitas vzes
prccurava levantar o vu que lhe encobria o sentido,
e no ntimo do ccrao tinha a convico de que um
dia me seria inteiramente revelada".
E o [oi, de fato. Anos mais tarde, Lus Martin
precisaria ir a Alenon . " |ulgando-se muito f.eliz,
tonta-nos Petitot, muito cheio de consolaes, ofe-
receu-se com,o vtima na Igreja de Nossa Senhora:
Meu Deus, exclamou le, demasiado! Sim,
sou feliz demais, e no possvel ir assim para o cu
quero sofrer alguma coisa por vs! Ofereo-me
para ser vtima . . ."
"Deus aceitou a oferta dste pai venerando, e,
pouco tempo depois, c,i acometido de ataques _de
paralisia que, a pouco e pouco, acabaram por lhe
tirar o uso das faculdades intelectuais. Que prova
para aqule pai e para a fam;lia a perda da inteli-
gncia! Era a luz, o sol do mundo ideal que se extin-
guia e, com ela, tudo o que dizia respeitc ao esprito
sucumbia nas trevas e no caos.
"Na definio do homem, se se lhe tira o uso
da razo, que ica? O velho curvado que Teresa
vira na sua inesplicvel viso o pai acometido pela
paralisia mental que avana a passo lento pata o
tmulo.
"Coisa notvel, conta-nos uma das filhas, no
princpio da doena, viam,no, muitas vzes, cobrir a
cabea. Como a realidade corresponde exatamente
profecia at nos pormen'c'res, que pareciam secufl-
drios!
VIDAS DOS SANTOS 215

"Mas uma pergunta se formula, que a prpria


Irm Teresa na sua autobiografia se acautela de no
iludir: "Por que, escreveu ela, quis Nosso Senhor
dar esta luz a uma criana que, se a tivesse colpeefl-
dido, teria morrido de dor? Por que? Eis um mis-
trio que s ncr cru compreenderemos para f.azet dle
assunto da nossa admirao".
"A Santa sugere-rros, no entanto, uma explica-
o: Deus proporcionou a prova sua fragueza, quis
que esivesse preparada para ela por esta viso prof-
tica. Esta soluo verdadeira e iusta, mas deixa
subsistir, er grande parte, como a Santa reconhece, o
mistrio impenetruel,
"Outra interpretao, continua o autor, foi su-
gerida pela Historia duma Alma e pelos depoimentos
das irms de Teresa.
"Esta viso proftica do pai, dste pai to bom,
to piedoso, to generoso, to irrepreensvel, a do
just oferecida e aceita como vtita pelas faltas dos
seus semelhantes, os pecadores. Ora, esta viso re-
lembra, por uma sucesso de idias', a de Isaas, a do
servo d |ave, do qual Teresa devia extrair o fundo
da sua piedade
"O homem visto por Isaas, na mais extraordi-
nria das profecias, r uma vtima oferecida em holo-
causto, carregada com ,o pso das suas faltas:
Ofereceu-se porgue asim o quis, e o Senhor
lhe imputou tdas as nossas iniquidades; no respon-
de qu'ando o interrogam, " non aperuit os suttffi" ; o
seu rosto est oculta e uelado, " absconditus uultus
ejus" .
"Da mesma forma, o homem visto por Teres,a
uma vtima voluntria; no responde ao seu aplo,
tem o rosto velado.
276 PADRE ROHR,BACIIER

"A viso proftica de seu pai e a dc justo de


Isaas correspondem-se. Evidentemente, estas po-
ximaes, stes traos simblicos to profundamente
gravados na memria da Irm Teresa " e cu ja lem-
brana lhe est to presente como a prpria viso"
ajudaram-na providencialmente a penetrar no verda-
deiro carter do Messias e nos mistrios inefveis
ocultos na Santa Face do Salvador. "Assim como
a Face adorvel se velou durante a Paixo, assim
a face do seu servo (o prprio pai ) deve velar-se nos
dias, da humilhao, para poder irradiar ccm maior
brilho nos cns".
Petitct, aqui, relembra valiosa enunciao f.op
necida por uma das irms de Santa Teresinha, que
disse:
"Foi no Carmelo, no momento de to grande
provao, relativa doena cerebral de meu pobre
pai, que ela mais se prendeu ao mistrio da Paixo,
foi ento gue obteve licena de juntar ao seu nome o
da Santa Face. Enfim, depois da sua morte, creio
que foi ela quem'inspirou Irm Genoveva a obra
prima da Santa Face, cc,nforme ao Santo Sudrio de
Turim".
O ideal de Santa Teresinha do Menino |esus
porventura no era a imagem de Nosso Senhor su-
bindo o Calvrio, o do Rosto impresso no vu da
Vernica? A viso do pai fra providencial. Guia-
la-ia n,c, futuro.
Embora menina, e menina nova, compreendeu
que a verdadeira gloria consiste em sofrer e escor-
der-se. Diria:
"Recebi uma graa que sempre considerei como
uma das maiores da minha vida: ]esus f.z-me corn-
preender que a verdadeira glria, a nica glria a
I
VIDAS DOS SANTO'S 277

que ha de durar para sempre; que, paa -chegar a


glria no necessrio cumprir grandes obras,
"su
mas sim ocultarmo-nos aos olh,c s dos outros e at aos
nossos prprios, de forma que a mo esquerda igno-
re o gue f.az a direita".
Depois:
Compreendi melhor do que nunca em que
consiste a verdadeira glria. Aqule cu;'a glria no
dste mundo mcstrou-te gue a nica tealeza inve-
jvel consiste em querer ser esquecida e s-e1 tida por
nada, pr a glria no prprio desprzo. Ah! Como
o de |esus, eu queria que o meu rosto se ocultasse a
todos os olhares, que sbre a terra ningum te co-
nhecesse: tenho sde de s,c,frer e ser esquecida".
Assim que a viso que teve, naquele vero,
"pode afirmar-sre selrt mdo de exagea", orientou-a
desde menina. "Do gue escandalizou os judeus, da
loucura gue os gregos nunca quiseram aceitar, isto ,
o Messias cruciicado, smbolo da vida crist, ez
a Irm Teresa o seu ideal desde a infncia".

Em I 881 , entcr com oito anos, Teresinha passou


a freqentar, como semipensionista, a abadia bene-
ditina de Lisieux, onde se aplicou aos estudos, tudo
para gue ao pai pudesse dar alegria. As boas notas
gue tirava, porgue se esforav a para ser sempre das
primeiras da turma, eram tdas para o bom Lus
Martin. E Teresinha estudava muito, mesmo nas
horas em queos c,oegas pulavam no recreio. A ideia
de tirar notas baixas martirizya,-.
218 PADRE ROHRBACHER

''Paulina, a doce Paulina gue escolhera para subs-


tituir a me, a mezinha Paulina, estava prestes a
buscar a quietude do convento.
Em' 1882, abria-se em Teresinha a ferida cu-
sada com a morte de Zelia Maria: com a entrada da
mezinha no Carmelo de Lisieux, ia-se transformar.
No brincaria maisr. Iria viver tristemente, a suspirar.
Com efeito, s f.azia pensar e pensar. Comeou,
ento, a ter dores de cabea com muita freqncia.
s vzes, queixv-se. E, para esguecer a mezinha
gue se fra, estudava, estudava muito. Que f.alta,
que grande falta lhe fazia Paulina!
Em 1883, adoeceu gravemente. Era uma doena
estranha, gue parecia sobretudo nervosa. As dores
de cabea, de suportveis, passaram a terrlveisr, insu-
portveis, e um esguisito tremor entrou a apoderar-se
da menina. E as coisas do quarto em gue jazia,
tomavam formas fantsticas, gue aterravam.- Gritava.
Gritava de espantar. Quando lhe iam administrar
remdios, recuava, apavo,rada, recusav-os terminan-
temente. E gritava, de confranger:
Querem envenen-m!
Maria, a irm mais velha, um dia, percebeu que
Teresa no a recorecia. Que dor! Aflita, ps-se a
dizer guem era. Lanando mo de tda a suavidade,
calcando a dor, procur ava .azer-se reconhecer. Tudo
em vo.
Quem poderia descrever a amargura de Lus
Martin? Que teria a sua Rainha, aguela rainha que
punha sbre os joelhos e enchia de mimos?
Maria, desespera'd, principiou a prgr a Nossa
Senhora, numa novena, a cura da irm zinha que no
mais a conhecia. Lenia e Celina, prontamente,
cheias do mais vivo ervor, uniram-se a ela, com a
VIDAS DOS SANTOS 279

alma a vibrar. E Teresinha, mesmo naquele triste,


desrolador estado, abalada por violentas crises, cor-
panhou-as. A segunda viso da festejada San,ta de
Lisieux estava prxima. Ia dar-se c, milagre.
No quarto da enfrma havia uma esttua da
Virgem. No domingo de Pentecostes,, enguanto as
irms oravam a Nossa Senhora das Vitrias, Tere-
sinha viu a imagem lover-se. "De repente, diria, a
esttua animou-se! A Santsrsima Virgem tornou-se
Iinda, to linda, que nunca encontrei expresso que
pudesse dar uma idia desta divina beleza. O rosto'
respirava doura, bondade, ternura inefveis, mas o
que me penetrou at o fundo da alma foi o seu sorrso
arrebatador! Ento, tdas as minhas penas se des-
vaneceram, duas grossas lgrimas me caram das
plpebras e correram silenciosamente".
Estava curada, radicalmente curada. Tinha o
rosto radiante, t,c, radiante, que as irms adivinha-
ram a cura. E Teresinha, a elas, cndidamente, tudo
contou.

Em 1886, Maria, a irm mais velha, buscava,


seguindo as pegadas de Paulina, o Carmelo.
No ano seguinte , a Rainha da Frana e da Na-
uarra confiava ao pai o deseio que tinha de tambm
entrar naquela ordem. Lus Martin, depois dalguma
reflexo, consentiu, mas o farmacutico Guerin,
embora fsse timo cristo, ops-se.
Teresinha no se desencorajou. E, tda espe-
rana, ps-se espera. Conta-se dela nessa altura
da vida, a converso que conseguiu do bandido Pran-
zini, fra de orao. Havia vencido certos escr-
280 PADRE ROHRBACHER,

pulo,s, porque muito impressionvel, excessivamente


emotiva, e agora, confiante, tda no desejo de salvar
almas,, propuser-se obter de Deus a converso da-
quele homem beira do abismo. Foi atendida. O
capelo, que assistiu aos derradeiros momentos de
Pranzini, contou que o p,cbre condenado, braos a'ta-
dos s costas, pediu insistentemente o crucifixo, ao
qual, com grande amor e maior respeito, vrias v.zes
cobriu de beijos.
Que grande alegria! Salvar uma alma prestes
a perde-se. " o meu primeiro filho. dizia ela de-
pois. Mandava celebrar-lhe missas pela alma, dizen-
do : " No posscr esquec-lo, pois deve ter tanta
necessidade disso, depois das partidas que pregou".
Eis seno quando, o tio Guerin acabou por corl-
sentir que a sobrinha procurasse as carmelitas. Assim,
com o pai, viajou pata Bayeux, erl busca da autori-
zac, para a entrada no Carmelo, porque tinha s-
mente guinze anos.
O superior achava conveniente esperar at que
Teresinha completasse os vinte e uln, mas a jovem
foi to eloqente, o pai apoiou-a to firmemente, 'que
o bispo acabou prcmetendo tudo f.azer para que o
desejo da pequena fsse satisfeito.
Em Roma, a audincia com o Supremo Pont-
fice correu bem. Diss,e a ela o papa Leo XIII:
Se o bom Deus quiser, tu entrars.
Escreveu a Paulina Irm Ins de ]esus: "Se
-
tu soubesses ccmo me bateu o ccrao, o ver que
minha hora havia chegado!"
Santa Teresinha estava no Carmelo aos 9 de
abril de 1 888. A 10 de janeiro do ano seguinte,
tomava o hbito. Desde ento passou a ser a Irm
Teresa do Menino lesus da Santa Face. Em feve-
VIDAS DOS SANTOS 281

reiro, o pai era transferido para a casa de sade de


Caen.
A 8 de setembno, de 1890, f.z profisso. Com
vinte anos, foi encarregada da direo espiritual das
novias. Leiamos o gue escreveu:
"Logo que penetrei no santurio das almas, jul-
guei, primeira vista, que a taref.a excedia as minhas
fras, mas logo me lancei nos braos de Nosso
Senhor . . . e disse-lhe: "Senhor, bem vdes, sou
muito pequenina para alimentar as vossas filhas; dai-
Ihes, em meu lugar, o que a cada uma convm,
enchei a minha mo e, sem deixar os uoss os braos,
sem mesmo afastar a cabea, distribuirei os vossos
tesouros alma que me vier pedir o sustento . . . corn-
preendendo assim que nada podia f.azer por mim
mesma, a tarcf.a pareceu-rne simplificada. Ocupava-
me interior e nicamente em me unir a Deus
cada vez mais, sabendo que o resto me seria dado
por acrscimo . . . Confesso, minha Madre, se ti-
vesse agido doutra maneira, se me tivesse apoiado
nas prprias fras, teria, sem demora, deposto as
armas!"
Por tda a vida religiosa, Santa Teresinha do
Menino |esus procurou, nas mnimas coisas, praticar
a regra do Carmelo. Procurava, contudo, evitar os
excessos, porque no queria ser alvo de atenes.
Queria passar despercebida, desejava trabalhar "sem
ver o fruto do seu labor". s vzes era mal inter-
pretada por esta ou aquela da c'cnnunidade. Dizia
certa irm conversa, que se aza.amava na cozinha:
Vejam como ela anda. Nunca tem pressa.
Quandq tem de azer alguma oisa no serye parc
nada".
282 PADR,E ROHRBAOHEB

Por que ste dito? Porque era moderada, e dizia:


"Vs ,o enftegais com demasiado ardor no que
f.azeis, atormenti-vcrs nos vossos empregos como se
fsseis as nicas, responsveis por les". Cgmo algu-
mas almas no lhe conheciam o carter! Diziam as
irms de Santa Teresinha:
"Viam-na sempre sorridente, mostrando uma
alegria muito amvel, e, no penetrando na sua inti-
midade, podia julgar-se gue seguia uma senda muito
suave, muito cheia de consolaes. Tambem muitcrs
leitores da sua vida no descobrem a significao
dsse sorriso, no vem a cruz. cuidadosamente oculta
debaixo das flres. Esguecem as palavras do rei
profeta: Quando se olha para Deus, fca-se radiante
de alegria".
Se as religiosas que a censuravam pudessem agir
como Teresinha agia, encontrariam, sem dvida, e
bem depressa, o inverso. "I-fma santa religiosa da
comunidade, conta-nos a Santa de Lisieux, tinha
outrora o defeito de me desagradar em tudo. Pro-
curava eu ento f.azer por essa Irm tudo quanto
faria pela pessoa que mais estimasse. Sempre que
me encontrava cc,m ela, pedia a Nosso Senhor por
ela. Prestava-lhe todos os servios que estavam ao
meu alcance, e quando tinha vontade de lhe dar uma
resposta desagradvel, apressava-se a dar-lhe o meu
melhor sorriso, mudando de conversa. Muitas vzes,
tambm, quando o demnio me tentava violentamente
e no podia esquivat-rrte-, sem que ela percebesse a
minha luta ntima, fugia como o soldado desettor.
Entretanto, disse-me ela, um dia, com ar radiante:
"Irm Teresa do Menino fesus, diga-me, em segrdo,
o que que em minr a atrai? Nunca a encontro sem
qu no me d um grqioso sorrigo", A-hl O gue
VIDAS DOS SANTOS 283

nela me attaia, era )esus cculto no fundo da sua


alma, o |esus. gue torna doce guanto ha de mais
amargo!"

A 29 de julho de 1894, Lus Marrin falecia na


casa do cunhado Guerin. Em setembro, celina ia
juntar-se s irms no carmelo. Teresinha, ento,
era monitcra. Em dezembro, nossa santa ,ecebia d
priora, da mezinha Paulina, agora a Madre Ins
de ]es,us, a crdem de escrever as reco,rdaOes d
infncia
santa Teresinha ajoelhou-se diante da imagem
de Nossa senhora do sorriso, a quem devia a cura
milagrosa daqueles du-ros dias de nferma, orou por
alg.um tempo, abriu o Novo Testamento e principrou
a c.bra.
Diz ela:
"Antes de tomar da pena, ajoelhei-me
diante da
esttua de Maria, gue tantas provas nos deu
-aguela-
das maternais preferncias da Rainha do cui p"Ji-
lhe gue me guiasse a mo, para no es,crever uma iirht
1 gue lhe desagradasse. Em seguida, abertos os
santos Evangelhog, os meus olho depararam com
estas palavras: |esus, subindo a uma montanha,
chamou a si agules que quis . . ."
Sem se preocupar ccrm tcnica de composio,
ou com o que guer gue seja, sem consultar livros,
memrias, dicionrios ou-gramticas (apenas alguns
documentos de famlia ) fi escrevendo,' calmamnte,
sem se exaltar. Sentada num banquinho baixo, muito
baixo, escrevia sbre uma caixa, e gurr"tinha, colo-
cada nos joelhos. Quieta, rememorado coisas pas-
PADR,E R,OHR,BACHER,

sadas, ali, dum canto da. cela, perto da enxetga, col-


ps para o psteros.
Ins de |esus, leu o manuscrito e fic'ou maravi-
,

lhada. Era m primor, uma obra-prima de simPlici-


dade e de honestidade.
"Nas primeiras pginas apenas indicou trs p_e-
rodos ben marcadoJ sua nfncia, conta-nos H.
"
Petitot, at a sua entrada no Carmelo. Foi 9 padre
Godofredo Madalena, premcmstratense, que, de acr-
do com a Madre Inei de )esus, dividiu a obra em
captulos.
"Como se adverte no Prefcio das ltimas edi-
es, o trabalho inicial da Irm Teresa s-compfeil-
iu or oito primeiros captulos. Comeada nos pri-
meiros dias e I 894, a *dao estava terminada a 20
de janeiro de 1896, festa de Santa Ins.
Entrando no cro das religiosas paa a orao
da no,ite, a Irm Teresa veio entregar, de joelhos,
Prioresa, a narrativa gue esta lhe mandara escrever'
A Madre Ins de |esul, que estava a acabar o trmo
o ,", priorado g. cujos momentos eram absonridos
por mliplos cuidados, colocou distraidamente o fr-
nuscrito na estante, depois levou-o para a cela e o
guardou.
"Alguns dias mais tarde, as irms tiv-eram guS
eleger otru prioresa. A eleio foi trabalhosa. A
Md.e Ins e ]esus, pelo seu cuter de suave fu-
meza, adquirira esti das religiosas, mas a Madre
Ivlaria de'Gon zaga, pelo prestg da sua autoridade,
conservava as sas partidrias. Aps sete escrut-
nios, oi eleita.
"A transmisso de poderes numa comunidade
religiosa .az-se sem co,mplicaes. Todavia, a Madre
i"# de )esus andava bastante preocupada com tdas
VIDAS DOS SANTOS 285

estas mudanas, e esqueceu por completo o maos-


crito a gue no ligava importncia de maior; e a Irm
Teresa, despegada de tudo, buscando s a paz e o
esquecimento, tambm tinha o cuidado de a le no
f.azer a menor aluso. Ningum pensava ento na
-
publicao dessa obra-prima. A.ssim, decorreram dois
meses.
"A Madre Ins de ]esus, voltando a simples
religiosa e dispondo de mais tempo, encontrou o fr-
nuscrio, leu-o, e ficou edificadssima e encantada".
Aos 4 de abril de 1896, sexta-feira santa, a
doena gue devia levar Teresinha dste mundo de-
clarou-se. A Madre Ins de ]esus estava desolada.
$ ip guase nada escrevera sbre a vida religiosa.
Embora o manuscrito fsse precioso , jazia incomileto,
e incompleto permaneceria se a nova priores no
lhe desse ordem para continuar. Que f.azer, .se a
Madre Maria de Gon zaga era muito consen/adora,
muito autoritria? Era bem capaz de recus a a ordem
sem pestanejar.
Afinal, depois de muito pensar, Ins de |esus,
criando coragem, foi ter com a prioresa. Mais tarde
escreveria:
"Vendo a Irm Teresa do Menino fesus mui-
tssimo doente, na tarde de 2 de julho de I 897 , quatro
meses antes de sua morte, pela meia-noite, fui ter com
a Madre Prioresa: "Minha Madre, disse-lhe eu,
no posso dormir .s,em lhe confiar um segrdo: quando
eu era prioresa, a Irm Teresa escreveu, por obe-
dincia e para me dar praze, algumas recrdaes
da sua infncia. Reli-as outro ia; bonito, mas
no se poder tirar dali grande coisa quando tiver
que se f,azer a circular anunciando a sua morte, por-
que no diz nada da sua vida religiosa. Se lhe orde-
286 PADR,E ROHRBACHER

nasse, ela poderia escrever qualquer coisa mais. grave


e no duvido de que ficaria com coisa muito, melhor
do que a que eu possuo". Nosso Senhor abenoou
os meus passo ,", t o dia seguinte, de manh, a Nossa
Madre ordenou Irm Teresa que continuasse a sua
narrativa. |a lhe tinha preparadc um caderno, mas
ela o achou bom demais, ainda que fsse vulgar, e
temia cometer falta contra a virtude da pobreza, sef-
vindo-se dele. Perguntou-Ire se no seria preciso
apertar as linhas pra gastar menos papel. Res-
pondi-lhe que estava muito doente para se cansar, se
escrevesse dsse modo. O que precisava era esp-
' as linhas
cejar e escrever com letra grande".
Em julho do mesmo 1897, havia redigido cin-
qenta pginas. A pena, ento, caiu-lhe da mo.
Era a fiaqteza. Instalar rt-rl, pois, numa cadeira
de rodas, Tetesinha entrou a escrever no jardim,
ao ar livre, sombra dos castanheiros.
Foi ali que escreveu, para as carmelitas, as Iti-
mas pginas, .o-o que o seu testamento espiritual.

Vefamos algumas passagens da obra de Santa


Teresinha do Mnino |elus. Para mostrar como pde
crescer Wr pegueninos nadas, lemos:
"ReSolvi entregf-r,e mais do que nunca a uma
vida grave e mortificada. Quando digo. mortificada,
no nie refiro s penitncias dos santos. Longe de me
assemelhar a belas almas que, desde pequeni-
"riur
nas, praticam tda a espcie de maceraes, f.azia
nicamente consistir as minhas em guebrar a minha
vontade, reter uma palavra de rplica, prestar peque-
ninos servios aos gue me rcdeavam sem f'azet valer
VIDAS DO.S SANTOS 287

sses servios, e mil coisas do mesmo gnero; pela


prtica dstes nadas, preparav-fiie para me tornar
desposada de |esu,s,, e no posso dizer guanto esta
demora me ..2 crescer na completa entrega,' na hu-
mildade e outras virtudes".
Sbre a instruo das almas:
- _"Compreendo e sei porr experincia que o reino
de Deus est dentro de ns. |esus no tem ileces-
sidade de livros nem de doutres para instruir as
almas; le, o Doutor dos doutres, ensina sem rudo
de palavras. Nunca o ouvi falar, mas sei que le
est em mim. A cada instante me guia e me inspira;
vejo, justamente no momento em gue disto tenho
necessidade, claridades descc'nhecidas at ento. No
r muitas vzes na hor.a da orao gue elas brilham
aos meus olhos, mas no meio das minhas ocupaes
do dia".
Falando da confiana gue se deve depositar em
Deus:
"N9 por tgr sido preservada do pecado mortal
que me elevo, a Deus pela confiana e amor. Ahl
Eu sinto gue, ainda gue tivesse sbre a conscincia
todos os crimef que se podem cometer, nada perderia
da minha confiana r iria, com o corao diacerado
pelg arrependimento, lanar-r,e nos braos do sal-
vador. Sei cc,mo le amou o filho prdigo; ouvi as suas
palavras a Madalena, mulher- adlera, samari-
tana".
Da resignao:
"Havia algum tempo, oferecer-me o Menino
]esus par? ser o seu brinquedo. Disse-lhe que no se
s,ervisse de mim como . dum bonito e car, gue as
crianas olham, mas no ousam tocar, mas sim como
duma bola de valor nfimo, gue se pode atirar ao
288 PADRE ROHRBACHER

cho, empurrar com o p, abrir, atirar para um canto,


ou ento apert-la ao corao, se isso lhe desse-pr'
ze. Numa palavra, queria divertir o Menino ]esus
e entregr-Ine os seus caprichos infaqtis. Acabou
por ouvir a minha prece! Em Roma, |esus urou o
seu brinquedo . . . queria, certamente, ver o gue estava
dentro... e depois, co,ntente com a descoberta, dei-
Xou- cair ao cho e adormeceu. Que ez le enquanto
dormiu trangilamente e gue foi feito da bola aban-
donada? )esus sonhava que se divertia ainda, que a
pegava, deixava, mandava rolar e, por fim, apertou-a
contra o coraor, sel nunca mais permitir gue ela
se afastasse da sua mo".
ste trecho refere-se ao tempo em que estve
em Roma, em busca da autorizao papal para, com
quinze anos, entrar no Carmelo, entrada que s_mente
depois da quares,ma se deu, j que a Prioresa Maria
de Gon zaga achara melhor esperar mais um pouco.
Fra, para postulante, uma decepo.
Eis uma pgina em gue se v uma comparao
moderna: "Bem sabe, minha Madre, o meu desejo
foi sempre tornar-lrle santa, mas, ai de mim! vi sem-
pre, quando me comparava aos santos, gue entre mim
e les existia uma diferena como a gue ns vemos
na natu reza, entre a m,cntanha, cujo cume se perde
nas nuvens, e o obscuro gtozinho de areia calcado
aos ps de quem passa. _ Em vez de desanimar, disse
p^r mim -"t.t "Nosso Senhor no nos po{"
inspirar desejos iruealizveis; po9s9, poisa apesar da
miha pequenez, spirar 'santidade". Crescer, ea
impossve[! Tenho gue me supc.rtar tal como sou,
com as minhas inmeras imperfeies; mas guero
procurar um meio de ir Para o cu por uma via certa,
muito curta, uma senda- inteiramente nova. Estamos
SANTOS 289

num sculo de invenes: j no vale a pena subir


os degraus duma escada; nas ca,sas ricas um ascensor
substitui vantajosamente a escada. Eu queria encon-
trar um ascensor para me elevar at |esus; sou muito,
peguenina para trepar a rude escaCa da perfeio.
Ento pedi aos .livros santos que me indicassem o
ascensor, objeto dos meus desejos; e li estas palavras,
sadas da bca da prpria Sabedoria eterna : " O
que fr peguenino, venha at mim . . ." Ah! Nunca
palavras mais ternas, mais melodiosas vieram alegrar
a minha alma. O ascensor que deve elevar-me at
o c+u sc, os vossos braos, ]esus".
Teresinha aspirava o martrio. No dia da sua
profisso, num bilhete que levava sbre o corao,
tinha escrito:
" |esus, meu divino Espso . . . Fazei que por
vs morra mrtir; dai-me o martrio do corpo cu o do
corao. Ou antes, dai-mos ambos!"
Numa das suas mais belas pginas, simples e
sincera, de estilo lmpido e corrente, l-se sbre o
martrio do corpo:
"Na sexta-feira Santa, muito cedinhc,
Jesus deu-
me esperana de ir depressa ter com le ao seu lindo
cu. Oh! Como esta recordao suavel Quinta-
f.eira, como no obtivera licena para ficar em adora-
o junto ao Tmulo, meia-noite entrei na minha
cela. Mal deitei a cabea no travesseiro, senti uma
farfalheira pelo peito acima, que veio refervendo at
os lbios; julguei que ia morrer e o meu corao des-
pedaav-se de alegria. No entanto, como acabara
de apagar o candeeiro, mortifiquei a minha curiosi-
dade at de manh e adormeci tranqilamente. s
cinco horas, ao sinal de despertar, pensei logo que
ia saber qualquer coisa que me dari-a muita .griu;
290 PADR,E R,OIIR,BACHER

e, aproximando-me da ianela, vi imediatagente que


tinha o leno cheio de sangue. minha Madre, gue
bela esperana! Estava intimamente persuadida de
que o meu Bem-Amado, no aniversrio da sua morte,
azia-me ouvir o primeiro aplo, como um longnguo
e doce murmrio que me anunciava a sua prxima
vinda".
LJm ano e meio depois, ir-se-ia dste mundo.

Santa Teresinha recebeu a extrema-uno aos


30 de julho de I 897 . Aos 19 de agsto, Pqla Ltima
vez, a eucaristia, falecendo pela festa de So ]er-
nimo, aos 30 de setembro, s sete ho'ras da noite,
depois de atrozes sofrimentos.
Arfava, dizia
No posso respirar! No posso morrer!
Ainda quero sofrer! Vamos! Vamos! No gostaria
de sofrer menos!
Depois, para o crucifixo:
"- Oh! ... Amo-vos! Meu Deus!
Amo-vos!
A cabea descaiu-lhe, de repente, para o lado
direito, mas levantou-a ainda, fixando os olhos na
imagem da Santssima Virgem, num longo olhar de
xtse e de amor, depois do gue expirou. Estava
com vinte e guatro anos e nove meses.

A doutrinade Santa Teresinha do Menino |esus


e da Santa Face exprime-se r Histoa duma Alma,
nas cartas que deixou, nas poesias que comps, nas
pinturas que trabalhou e nas recordaes das irms.
VIDA DOS SANTOS 29t

Quanto aos livros gue tinha como verdadeira-


mente formadores, afora os Evangelhos, e a Bblia,
contava com A Imitao, o Fm do Mundo Presente
e o Mistrios da Vida Futura, do Padre Arminjon,
as obras de So |oo da Cruz e de Santa Teresa
de vila.
_ Santa Teresinha queria ganhar mritos "para as
almas, para as necessidades e tda a Igreja, enfi-,
qara atirar rosas a tda a gente, justos e pecadores".
Queria "amar,,ser amadu torn sbre a terra para
f.azet amar o Amo,r".
Dizia, a 9 de junho de 1 897:
"Farei cair uma chuva de rosas". Com efeito,
quantos milagres, quantas graas!
Em 1923, Pio XI proclamou- bem-aventurada.
Em 1925, elevou-a honra dos altares, colocando-
lhe o nome no Catlogo dos Santos. Em 1927, foi
f.eita padroeira principal de tdas as misses do globo,
e a festa, fixada para o dia 3 de outubro, foi estendida
lgreja inteira.
Em 1944, Pio XII nortreou- padroeira scur-
dria da Frana, como Santa ]oana D'Arc.

Ha uma grande diferena entre Santa Teresi-


nha dc, Menino |esu,s, e os santos de outrora. queles,
os xtases,.as vises, as profecias, a estigmatizao,
os milagres eram coisas comuns. Com Santa Teresa
de Lisieux ste aspecto diverso. Durante a vida
terrena, jamais operou um milagre. Na sua auto-
biografia no nos narra nenhum arroubo, "nenhum
rapto prpriamente dito". Tal ausncia de fenrn-
nos extraordinrios na vida duma santa gue foi coo-
292 PADRE ROHR,BACHER,

nizada to rpidamente coisa nova e aprecivel. E


o que Petitot chama de o carter negatiuo da esPiti-
tualidade da lrm Teresa, E diz:
"Notemos que a Irm Teresa do Menino |esus
nunca desejou as graas extraordinrias da vida ms-
tica, nem as ,pteiurru excessivamente, como azem
tantas freiras e at mesmo cristos esclarecidos. Na
idade de dezesseis anos, durante c, retiro para a toma-
da de hbito, escrevia Madre Ins de ]esus a
respeito das provaes inerentes vida de comuni-
dade: "Sim, deseio as feridas do corao, as- pica-
das de alfinte que tanto azem doer; a todos os
xtases, prefiro o sacrifcio".
"Entre as datas comemorativas das principais
graas recebidas, que fcram em nmero de tteze, a
" 1z de fevereiro de 1889, intitulada: A nossa
maior riqueza. Esta data relembra o mais cruel sofri-
mento mcral experimentado pela Irm Teresa, por
causa da entraa do pai,do "rei querido", numa
casa de sade. Na autobiografia, a Santa resumiu
nalgumas linhas a convico profunda - e- que todo's
., iut se ia arraigando durante sses dolorosos le-
SeS: "Mais tarde, no Cu, gostaremos de Conversar
sbre os tristes dias de exlio. Sim, os trs anos de
martrio do nosso pai parecem-me os melhores, os
mais frutuosos da oss vida; no cs trocaria pelos
xtases mais sublimes".
"Preferir aos mais sublimes xtases os sacri-
cios grandes e pequenos, aceitos por amor, um dos
caracteres mais essenciais da espiritualidade da Irm
Teresa, no seu Caminho da Infncia.
"O nmero dos pequenos t muito grande sbre
a terra", escrevia ela".
VI.DA DOS SANTOS 293

No depoimento da irm, a Madre Ins de ]esus,


lemos:
"A Irm Teresa do Menino |esus no se parece
quanto aos dons sobrenaturais, ou pelo menos ma-
nifestao dles, com a maior parte dos santos cano-
nizados pela Igreja".
Dep,ois:
"Excetuando a viso da Santssima Virgem, e
a gue lhe revelou adiantadamente a doena de nosso
pai, excetuando tambm a flecha de amor com gue
disse ter sido ferida uma vez e o xtase da sua morte,
nada vejo na sua vida que 'saia da via ordinria.
Salvo, talvez, certas predies gue ela .z do gue se.
passaria depois da sua morte. preciso, no entanto,
dizer gue os fenmenos msticos extraordinrios foram
na sua vida inteiramente um estado de exceo, a
simplicidade era a sua regra. Pensar doutra rr-
neira seria mudar a fisionomia to animadora que
Nosso Senhor guis dar sua Servazinha expressa-
mente para chamar o, seu divino amor as almas pe-
queninas gue guisessem segu -la" ,

Tratando-se de graas msticas, Santa Teresa


de Lisieux foi favorecida com elas.
Duma f.eita, a Madre Ins de Jesus perguntou-
lhe se conhecera es'tados de orao. Teresinha res-
pondeu-lhe:
"Sim, no jardim, por vrias vzes, hora do
calmo silncio da noife, no vero, tendo-me sentido
em to grande recolhimento e o corao de tal modo
unido a Deus, com tanto ardor e com to suaves
aspiraes de amor, gue me parece gue estas graas
294 PADR,E ROIIR,BACHER

so as gue a nossa Madre Santa Teresa chama uos


de esprito".
"A orao de recolhimento, quando se perpetua,
como fogo que arde debaixo da cinza, diz o autor
de San a Tercsa de Lisieux, ma, er certos momentos
projeta chamas ou transportes de amor. Quando
stes transportes so muito veementes, atravessam
o invlucro da nossa carne mc,rtal e so capazes de
pr a vida em risco".
Nossa Santa provou vrias vzes stes trans-
portes de amor. Uma vez, mesmo, guase veio a
morrer. Diz-nos ela mesma:
"Alguns dias depois do meu oferecimento ao
Amor Misericordioso, comecei no cro o exerccio da
Via Sacra; de repente, 'senti-me ferida dum dardo
de fogo to ardente gue me julguei morte. No
sei como explicar ste'transporte; no h comparao
que possa f.azer compreender a intensidade desta
chama. Parecia-rle gu uma ra invisvel rtre rrer-
gulhava inteiramente no fogo. Oh! Que fogo! Mas,
gue doura! . . . Um minuto, um segundo mais, e a
minha alma separar-s-i do corpo . . . Mas ai! encon-
trava-me sbre a terra... e aaridez, imediatamente,
voltou a habitar no meu corao!"
Depois:
"En[im, minha Mezinha, o gue os santos
tantas vzes experimentaram".
So |oo da Cruz, com efeito, cantou:
" suave ardncia!
o chaga deliciosa!
suave mo! suave toque!
Tendes o sabor da vida eterna
VIDAS DOS ANTOS 296

Santa Teresinha morreu num xtase de amor.


Cc,mo vimos, descaiu-lhe a cabea para o lado direito,
dir-se-ia que terminara o combate, mas, de repente,
levantou-a, fixando a esttua de Maria Santssima
num longo, esttico olhar de amor. Diz a Madre
Ins de ]esus:
"|ulgvamos que tudo estava acabado, quando,
de repente, levantou os olhos cheios de vida e chama,
nos quais se refletia uma felicidade que excedia tdas
as norssas esperanas. A Irm Maria da Eucaristia,
querendo ver mais de perto sse olhar, gue durou o
espao dum Credo, passou e repassou uma luz por
diante das suas plpebras sem as fazer vacilar. Era
um xtase, uma viso do cu, -s uma viso que
Ihe punha no corao demasiado amor, demasiado
reccrrhecimento, e no pde suportar os "assaltos de-
liciosos" e teve gue quebrar os elos dessa cadeia".
So |oo da Cruz exps como morrem os santos
inflamados no amor divino. Sucumbem, sem dvida,
por causa da doena, em virtude das fadigas, do
ps,o da idade, mas o que lhes arrebata a vida
outra coisa " uma aspirao suprema de amor".
Santa Teresinha, na terra, viveu de aspiraes
de amor: poderia, ento, morrer doutra maneira, ela
que, no mundo, vivia no cu?
"No sei bem, dizia, o que que poderei ter a
mais no cu do que o gue possuor na terra. Verei
a Nosso Senhor, certo, mas, quanto a estar com le,
j estcu inteiramente com le na terra".'
E tambm:
"Vives em mim prisioneiro noite e dia",

-t---
PADRE ROHRBACHER

Uma das santas mais populares do mundo, a


origem da venerac, e da glria de Santa Teresinha
data da primeira publicao da sua autobiog raf.ia
Historia duma Alma aparecida em 1898, depois
traduzida para mais de trinta lnguas.
Antes da Primeira Grande Guerra, quando
ainda no tinha sido beatificada, tinham-se editado
nos primeircs guinze anos, crca de duzentos mil
exemplares em lngua francsa. Cartas, pedidos de
retratos, choviam, diriamente, no Carmelo de Li-
sieux. E o pcvo cristo vivia no mais fervoroso af
de ccnseguir o que quer que fsse pertencente a
Santa Teresinha, porque, lendo a Historia duma
Alma, tinha a certeza de que inteiramente conhecia
a alma da meiga Santa de Lisieux, alma que aparecia
"como um lind;ssimo modlo de herica santidade
em que Nosso Senhor ps a sua graa. Sentia-se
que logo seria beatificada, logo seria canonizada. O
pcvo mesmo, antes da Igreja, j a havia canoni-
zado. ( 1 )

*tt

(1) Eistria duma AIma; anto Teresa de Lisieux, de H. Petitot,


Eist. duma Famlia, d PiAt.
so MAXIMIAI{O (*)
: Bispo

Bispo de Bagais, conhece-s So Maximiano por


intermio de Santo Agostinho. ( I )
Bagais vivia agitada, ro conclio de Milevo, a
27 de JgOsto de 402, Maximiano, na esperana de
pr fim aos tumultos gue geravam temores, pro'ps
demisso da dignidad de gr" fra revestido: dona.
tista por uns tempos, no gueria, lgor;, gue retornara
uo t.io da Igreja, ser o perturbador da paz,
o conclio aceitou a demissCI, mas Maximiano,
at 404, ea bispo de Bagais e fra objeto da clera
dos herticos. Por vingana, perseguiram-no e mal-
trataram.
LIm dia, guando estava na igreja, aos ps do altar,
foi assaltado pelos fanticos, que o surraraln, e to
violentamente gue o sangue lhe correu, duma grande
ferida, abundantemente.- Agarrado brutalmente, foi
despojado das vestes, e os catlicos, estarrecidos, que
procuraram, passado o estupor, defend-lo, tal a
fria dos donatistas, no o conseguiram.
Levado para o alto duma trre, brbaramente de
l Sao Maximiano foi arroiado ao solo,, indo caii
(1) Sto. gost., Contra Cresconium, L Ilf, c. XL[f, ](LVII'
PADR,E ROHRBACHER,

sbre um monto de lixo, donde um passante o retirou,


caridosam,eflte, e levando-o corsigo.
Curadc po milagre, Maximiano buscou Roma,
e, diz-se, diante dos ferimentos que apresentava por
todo o corpo, o imperador Honrio, que com le se
entrevistou, sentiu-se profundamente emocionado.
Em 4l 1 , Bagais tinha novo bispo, mas dcnatista:
Donaciano. E Maximiano? Demitindo-se, retirara-se,
ou morr era? Inf,elizmente nada se sabe. Santo Agos-
tinho, falando sbre o santo bispo apenas diz que
repousa no Senhor.
Baseado neste "repousa lc, Senhor", Barnio
introduziu So Maximiano, bispo de Bagais, no 1-
tirolgio".

***

I
SANTO EVALDO, O BRANCO E
SANTO EVALDO, O NEGRO (*)
Mrtires

Entre os monges gue acompanharam So Willi-


brord Frisia, dois chamavrtr-se Evaldo. Para evitar
confuso, passaram todos nome-los Evaldo, o.Branco
e Evaldo, o Negro. No porgue um sse de raa
branca e outro de raa negra, mas sim porque um
tinha os cabelos brancos e o outro negros.
Quando deixaram o, apstolo do.s rsios ambos
buscaram o pas dos saxes. Recebidos pelos chefes,
tiveram livre o caminho para a prtica da religio
crist e ,evang elizao das gentes. O povo, porm,
temendo gue aguilo fsse acabar com as tradies,
um dia, repentinamente, apoderar-se dos dois sr-
tos Evaldo, arrastarl-ros a um lugar solitrio e
mataram ao Branco e ao Negrot a espada.
' Quando um dos chefes gue rec,eberam os santos
soube do gue lhes sucedera, tomado de grande ira,
ordenou gue se incendiasse a aldeia donde saram os
matadores dagueles gue acolhera com simpatia.
Os santos Evaldo, atirados ao Reno, foram,
d,epois, recolhidos por um nobre soldado. Ch'amav-se
Tilmon. Vira uma estranha hM a brilhar sbre as
guas e, curioso, fra em busca de explicao para
300 PADRE ROHR,BACHER,

o mistrio: deparou ento com os corpos; recolheu-os,


e, rever,entemente, sepultou-os.
Mais tarde, Pepino, rei dos francos, fz com gue
os transportassem para a igreja de So Clemente de
Colnia, aquela gue, anos mais tarde, deveria cha-
rtrr-s d'e So Cuniberto.
Os dois santos mrtires oram honrados imedia-
tamente depois da morte, e os numerosos calendrios
franceses, inglses e alemes mencionaffi-nos desde
o sculo VII. Mortos em 695, ambos so padrcreiros
de Westflia.

No mesmo dia, .em Beauvais, Santa Romana, vir-


gem e mrtir.
Em Toulon, So Cipriano, bispo, discpulo dos
mais importantes de So Cesrio de Arles. Compa-
receu a todos os conclios em gue o mestre reuniu os
bispos da Provena: em Arles, err 521; em Carper-
tras, em 527; em Orange e em Vaison, em 529; e
em Marselha, em 533, O maior ttulo de glria de
So Cipriano de Toulon vem-lhe dos escritos: uma
carta endereada ao bispo de Genebra, Mximo, eD
530, onde deixa ver sua ortodoxia na doutrina da
encarnao, e, principalmente, a Vida de So Cesrio:
Cipriano o autor principal da primeira parte da V ida
do bispo de Arles, q13-prima da hagiografia. So
Cipriano faleceu depois d,e So Cesrio (543), entre
543 e 549. A festa, gue se celebra hoje, 3 de outubro,
talvez, a data duma das translaes, ocorridas, uma
em 701, e outra em 1301.
Em Meaux, Sao Pathus, bispo (sculo VII ou
VIII ) . Conta-se de So Pathus ge, sendo cnego,
VIDAS DOg SANTOS 301

fo,i eleito bispo de Meaux. Humilde, no guis aceitar


o cargo, mas, como no conseguiu escapar do episco-
pado, rogou para que Deus o levasse, o gue aconteceu,
anes de tomar posse.
No mosteirc, de And'ain ou Andage, agora de
Santo Huberto, r diocese de Lige, So Beregiso,
abade, desaparecido depois de 725. Nascido, prov-
velmente, em 670, filho de Berila (desconhece-se o
nome do pai ) , foi enviado or rosteiro de So Trond,
ainda jovm. Ordenado padre, estve uma temporada
na casa de Pepino de Heristal. A espsa de seu
me'stre, Plectrudes, um dia, no vo dum rochedo,
encontrou misteri,oso bilhete, no qual se pedia o levan-
tamentc, margem do Andag,e, uffi largo ribeiro_ que
atravess ava a solido da floresta de Ardenne. Bere-
giso dedicou a igreja a So Pedro e reuniu discpulos
que foram cnegos ou clrigos regulares.
Na Borgonha, So Widrad, abade de Flavigny,
em 720. Faleceu em 748,
Em Metten, ci bem-aventurado Lftto, abade.
Metten um mosteiro beneditino da congregao
bvara dos Anios da Gu'arda, situado na Alemanha,
no longe de D,eggerdorf, na Baixa Baviera. Fun-
dado por Gamalberto, em 770, Utto foi seu primeiro
abade. Faleceu, supe-se, em 800 ( Vita Gamalberti) .
Na diocese de Reims, So ]uvino, ermito, ro
sculo IX. Segundo uma l,egenda, sem valor, |uvino
era pastor, humilde, sempre voltado paa Deus. Por-
gue o rebanho que guardava era quieto, os companhei-
ros, que cuidavam doutros, irrequietos, acusaralrl-lo
de negligente ao patro. Ameaado de ser prso,
So |uvino, diz a legenda, enterrou o basto, que
sempre trazia consigo, ro cho. Brotando, e tornn-
do-se rvore magnfica no mesmo instante, o senhor,
302 PADRE R,OHRBACHER

emocionado, penitenciou-se da aspeeza na hora, coll-


ced,endo-lhe a maior liberdade de ao.
Em Poussay, na diocese de Toul, Santa Mena,
virgem.
Em Coire, na Sua, Santo Adalgott, bispo.
Discpulo de So Bernardo e monge cisterci,ense, foi
eleito bispo de Coire em I 150. Foi sagrado rc lo
seguinte pelo arcebispo de Maiena, Henrique. Tra-
balhou com grand,e afinco na restaurao das casas
religiosas da diocese. Faleceu aos 3 de outubro de
I 160.
Em Roma, no bairro, de Santa Bibiana, So Cn-
dido, mrtir. Tambm os santos mrtires Dinis,
Fausto, Caio, Pedro, Paulo e guatro outros que muito
padeceram sob o imperador Dcio. Depois, sob Vale-
riano, tendo sido submetidos a prolongados tormentos
por ordem do imperador Emiliano,, obtiveram a palma
do martrio. -- Na Palestina, Santo Hesguio, confes-
sor, discpulo de Santo Hilario, e seu companheiro
de viagens.

*t*
4., DIA DE OUTUBRO
SO FRANCISCO DE ASSIS
No incio do dcim,o,-terceiro srculo, havia na
cidade de Assis um homem oriund'- d,e estirp,e nobre,
mas gue se f.izera mercador e dispunha de avultada
fortuna. Tinha um filho, gue se chamava |oo. Como
o seu comrrcio obrigava a constante's contactos com
os franceses, f.z guesto gue o filho aprend,esse fran-
cs. |oo ch,egou a falar to bem essa lngua, gue
recebeu a alcunha de Franois (Francisco) , sob a
qual conhecido. nicamente preocupados com os
negcios, os pais do jovem Francisco haviam negli-
genciado, a sua educao, ste, a prinepio, foos-
trava-se muito inclinado aos vos divertimentos
mundanos e a adguirir rigue zas. Entretanto, obriga-
r-se dar esmola a todo e gualguer pobre gue a
pedi.sse p,elo amor de Deus. Certa vez em gue, muito
ocupado, se recusara a aender um mendigo, rrptr-
deu-se, e ccirreu atrs dle para entregar-lhe o bulo
solicitado. Outra vez, recuperando-se de grave rllo-
lstia, mandou azer roupas luxuosas e montou a
cavalo, disposto a divertir-me um pouco. De sbito,
porm, nor meio de uma plancie, 'apeia-se, despoja-se
das vestes, troc-s pelos andrajos de um 'mendigo,
cuja misria lhe qomovera. o corao,' Essa fidelidade
s primeiras graas reCompensada por Deus com
PADRE ROHRBACIER,

graas ainda maiores. Certo dia, ao dar com um


lgproso que se aproxim a.va, o primeiro impulso de
Francisco foi recuar, horrorizado. Recuperando-se,
porm, beija o leproso e d-lhe esmola. Era assim
gu,e agule filho de mercador fazia seu aprendizado
na virtude.
Finalmente decidido a chegar perfeio, Fran-
cisco s achava prazer na solido e pedia a Deus,
incessantemente, gue lhe desse a conheser a vontade.
Muitas vzes visitava os hospitais, onde carinhosa-
mente se punha a servio dos enfermos; chegava a
beilar-lhes as lceras, sem dar ateno s .raguezas e
t'epulsas da natureza Quando no dispunha de
dinheiro para distribuir entre os pobres, dava-lhes
suas prprias roupas. Irritado com as suas prodiga-
lidades, o pai f-lo comparecer perante o bispo de
Assis para que renunciasse aos seus bens. Francisco
devolveu-lhe at mesmo as roupas gue usava, e
cobriu-se com um surrado capote de campons, gue
alguns dias mais tarde, substituiu por um manto de
eremita. Dois 'anos depois, durante uma missa a gu,e
assistia, fico,u extremamente impressionado com estas
palavras do Evangelho: "No gueirais possuir ouro
nem prata, nem tragais dinheiro em vossas cinturas,
nem alforge para o caminho, nem duas tnicas, nem
calado, nesl bordo". Obedeceu-lhe literalmente e
aplicou-as a si mesmo; e, depois de jogar fo,ra seu
dinheiro, d" tirar os sapatos e abandonar o cajado e
o cinto de couro, vestiu um pobre hbito, gue amarrou
com uma corda. Era o traje habitual dos pastres e
dos pobres camponeses daguel,e canto da ltlia.
Foram sses os primrdios de So Francisco;
como seriam os dias gue viriam depois? Possa qu
terminar por onde le comeou! Meu Deus, guando
VIDAS DOS SANTOS 305

medito na vida dos vossos santos, cad a vez mais me


conveno d,e gue nada valho e de gue nada [ao. E
assim mesmo chego a imaginar muitas vzes gue sou
qualguer coisa, gue fao gualguer coisa! Meu Deus,
tende piedade da minha misria e do. meu orgulho.
Concedei-re a graa de .azer com gue me despreze
e me aborrea, mas sem impacincia, e sem desconfiar
da vossa misericrdia,
So Francisco tornou-se o patriarca de uma
ordem religiosa que se espalhou pela terra inteira.
Deu aos seus monges o nome de "Irmos Menctres",
ou "hmozinhos", paa distingui-lo,s dos religiosos
de So Domingos, denominados "Irmos Pecad,o,res".
No decorrer do tempo, receberam tambm as alcunhas
de "franciscanos", e de "Cordeleiros", porgue cin-
giam a cintura com uma corda. Dividiral-se em
vrias famlias, das guais a dos Capuchinhos a gue
mais estritamente o,bserva a pobreza. Francis co dizia
gue o esprito da pobreza era o fund'am'ento da sua
ordem. Seus religiosos nada possuam gue lhes per-
tencesse exclusivamente. Tambm no permitia gue
recebessem dinheiro, apenas as coisas necessrias
subsistncia diria. Chamava a pobrez:a sua dama,
sua rainha, sua me, sua espsa, reclamava-a insis-
tentemente de Deus, como seu guinho, seu privil-
gio. Dizia: " |esus, vs gue vos conprouvestes em
viver na ,extrema pobreza , fazei-me a graa de con-
ceder-me o privilgio da pobreza. Meu desejo mais
ardente ser enriquecido com sse tesouro. Peo-o
para mim e para os meus, a fim de gue para a glria
do vosso santo nom,e nada possuamos, nunca, sob o
cu, para que devamos nossa prpria subsistncia
caridade dos outros e por isso mesmo sejamos muito
moderados e muito sbrios".
C,'
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S. Francisco de Assis casa-se com a pobreza (de um afrsco de Giotto, na


Santo em Assis (sculo XIV).
I
I
)
VIDAS DOS SANTO 307

O amor de Franciscor pela obedincia no era


menos digno d,e admirao. Com fregncia era visto
consultando os ltimos de seus irmos, embora sse
dotado d,e rara prudncia e at mesmo do dom da
profecia. Nas suas viagens costumava prometer
obedincia ao religioso gue o acompanhava. Consi-
derava a propenso gue tinh a para obedincia uma
das maiores graas- g,ue Deus lhE concedera, pois
com a mesma facilidade e pr,esteza obedecia tanlo a
um simples novior como ao mais antigo e prudente
dos rades; dizia, justificando-se, gue evemos corr-
siderar no a pessoa a guem obedeCemos, mas von-
tade de D,eus manifestada atravs da vontade dos
superiores.
Vemos como So Francisco amava a po,b reza e
a obedincia. E, ns, ser gue as amamos? e, ns,
ser que as praticamos?
Quanto milagrosa impresso dos estigmas de
So Francisco, comemorada no dia I 7 de stembro.
Vim,o,s, l,esse dia, como Francisco amava a Deus em
tdas as criaturas em Deus.
Tinha particular afeio pelas cotovias. Com-
prazia-se em admirar na plumagem dsses pssaros o
matiz pardo e acinzentado gue esco,lhera para a sua
ordem, a fim de dar aos frdes freqentes ocasies
para meditaretn na mo,rte, na cinza do tmulo. Ao
mostrar ac,s seus- discpulos a cotovia que se erguia
nos ares e se punha a cantar, depois de ler apanhdo
groiinhos no ' dizi ul"gi;*r",
3lgJT
"Vde, elas
cho,
ros ensinam a dar graas ao pi .o*r*
que nos proporciona alimento, a comer ap,enas para
a sua glria, a despr eza a terra e a elevr-los ao cu,
ond,e devemos nos entreter.
308 PADR,E R,OHRBACHER,

Certa vez, guando pregava no povoado de Al-


viano e no .orruguia sr ovido por causa da alg-a-
zaa das andorinas gue tinham construdo c, ninho
naquele lugar, a elas t ditigiu nestes trmos: "Irms
andorinhas", j falastes bastante, chegou agora ?minha
vez de falar. Escutai a palavra de Deus e fkai em
silncio enquanto eu pregar". As avezinhas no sol-
taram mais um nico pio, e no se mexeram do lugar
em que se encontravam. So Boaventura, gue narra
c, faio, acrescenta gue, sentindo-Se Ul estudante de
Paris incomodado iom o chilrear de uma andorinha,
disse a seus condiscpulos: "Devem ser tnna das que
perturbavam o bem-aventurado Francisco 11o Seu
sermo e qual mandou calar-se". Depois disse
andorinha: "- ror,e de Francisco, servor de Deus,
ordeno-te gue te cales e que te chegues a mim"' Ime-
diatamente o pssaro se calou e posou-lhe na mo.
Surprso, le- a deixou ir, e no foi mais importu-
nado. ( I ) Era assim gue Deus se comprazia em
hcnrar o nome do seu servo.
Um dia, quando So Francisco se preparava
para tomar u r"f"io em companhia do irmo Leo,
sentiu-se intima..t t" confortado ao ouvir o canto de
um rouxinol. Pediu a Le'o, gue tambam cantasse os
louvores d,e Deus, alternando sua voz com a do Ps-
,uro. Como o religioso se desculpasse, alegando falta
de voz, o santo !r-r" a respcnder_ ao rouxinol, e
assim continuou at noite, quando foi obrigado
a interromper-Se, confessando CC,II santa inveja que
o passarinho o derrotara. F-lo pousar na sua mo,
lovou-o por ter cantado to bem, deu-lhe de comer,

(1) S. Bonavent., n.o 12.


VIDAS DOS SANTO

s. Francisco de assis farando aos pssaros (de ,ma miniatura


de run Saltrio do sculo XrII).
\
310 PADRE ROHR,BACHER

e s depois de ter recebidor a sua bno, e com a


p""*isso, foi gue o rouxinol voou ' (2)
,ru 'Quando,
pela primeira Yez, visitou o monte
Alvergne, viu-e rodado por uma multido- de ps-
,uro, ir he pousaram na cabea, nos ombros, no
peito e nas *or, batendo as asas e demonstrando
loo, o movimento de suas cabecinhas o"Veio,Paz'er -que
lhes causava a chegada de seu amigo. disse
Francisco a ,.u .opanheiro, vejo gue devor peItr-
necer agui, pois meus irmozinhos esto contentes".
Durante uma-estada sua nessas montanhas, um fal-
co, aninhando ns proximidades, afeioou-se - o
.urio homem; anunciava-lhe corn um grito _'ue che-
*;" hot" em gue costumava ezai e, se Francisco
Se encontru*r. doente, dava-lhe o aviso uma hora
mais tarde a fim de poup-lo; e guando, ao romper
do dia, sua voz, Cotror um sino inteligente, tocava
as matinas, tinha o cuidado de atenu-la e suavi-
zaplhe ,a sonoridade. Era, afirma So Boaventura,
o divino pressgio dos grandes favores gue o santo
receberia nesse mesmo lugar.
Se isso nos surpreende por nunca termos sufi-
cientemente meditao no mistrio a gue*se refere "A
so Paulo, ao dirigir-se aos cristos de Roma:
natureza inteira, criada pata glorificar-a Deus, est
,ui"itu, embora a contragsto, vaidade do homem;
,or", e espera
-
que os illios de Deus a libertem. Pois
a prpria criao s ser libertada dessa servido
corrupta por uma certa P-articipaq,na .glria dos
fiifr"r de'Deus, na gloria-dos sntos"' (?) o que
-No deve surpreender aos cris-
o Apsto,lo.
"rrriou
(2) Fioretti ili S. Francesco.
(3) Rom., Vff[, Lg'22.
J

VIDAS DOS SANTOS 311

tos, pois, o fato de sofrerem as criaturas com a


sujeio em gue as mantm os pecadores, dE se ale-
grarem vista dos santos gue lhes iniciam a libertao,
lhes testemunharem sua maneira um respeito reli-
gioso e lhes obedecerem voz, como muitas vzes
vimos azer os lees ,e os ursos dos anfiteatros, gue
se deitavam familiarmente aos ps dos mrtires, e os
animais do d,eserto, gue obedeciam voz de Santo
Anto'.
Entre os animais, So Francisco amava parti-
cularmente os gue podiam simbolizar a mansutud,e
de ]esus Cristo, ou figurar gualguer virtude. Os cor-
deiros evocavam-lhe o dulcssimo Cordeiro de Deus,
que se deixava conduzir morte para remir os pecado,
do mundo. Quando passava ao-longo das pastag,ens,
saudava amigvelmente os rebanhos, e as ovelhas
aproximclvrt-se dle e festejvrfl-ro sua maneira.
Mais de uma vez resgatou cordeiros a caminho do,
matadouro.
Ao mesmo tempo, dominava a ferocidade dos
lbos ,e fazia pactos com les. Certo dia, guando via-
java de GreCio a Co,tannelo com um campons, os
lobos achegaram-se ,e acariciaram-no como fazem os
ces. Testemunhando o prodgio, os habitantes dos
arrredores suplicaram a So Francisco gue os Iivrasse
dos dois grandes flagelo,s que os atormentavam, os
lObos e o granizo, Disse-lh,es So Francisco: "Pela
honra e pela glria de Deus Todo-Poderoso, do,u-vos
minha palavra que, se crerdes em mim e tiverdes
piedade de vossas almas fazendo uma boa oonfisso e
dignos frutos de penitncia, o Senhor vos conside rar
favorvelmente, vos livrar dessas calamidad,es e tor-
nar vossa terra abundante em tda a espcie de bens.
Mas tambm vos declaro gue, se fordei ingratos, se
=
312 PADR,E R,OIIIT,BACIIER

fizerdes como o co gue retorna ao vmito, DeuS ajnda


mais irritado ficar contra vs, e dobrar vossas doreS
e tribulaes". Enguanto os habitantes dO vale de
Grcio permaneceram fiis a Deus, os lbos no co'me-
ram ,.r, rebanhos, e a nuvem, pesada de saraiva e de
tempestade, desviou-se de suas terras para desfazef-S
noutro lugar. (4 )
No tempn, em gue Sao Francisco morava na
cidade de Eugubio, unr lObo assolava aqu,ela regio, e
cidados armados andavam Sua procura Como se
fsse um inimigo pblico. No obstante as splicas
dos irmos, S Francisco dirigiu-se, szinhor, 6 11-
contre do lbo. Assim que avistou, ordenou-lhe, em
nome de Deus, gue no fizesse mais devastaes, e o
feroz animal, qu se tornou lllso ccmo um cordeiro'
foi deitaf-se as pes do santo. ste assim lhe falou:
"Meu irmo lb, tu atacas e matas as criaturas de
Deus, s um assassino, e tda a regio tem horror a
ti. Iru, guero, irmo iobo, .que fa1 a paz cc'm ela'
Como e fome que te conduz ao mal, quero q.yege
prom,etas no -"rpratic-lo, se te alimentarem". Em
sinal de consentimento, o lbo inclinou profundamente
a cabea. "D-me um penho,r da tua palavra", Coflti-
nuou o santo homem, stendendo-lhe a mo. O lObo
ergueu com naturalidade a pata dianteira e pouso-Ll-
na"mo de seu amigo e senhr, e depois o acompanhou
cidade. So Francisco, disse ao povo que se reunira
para admirar to grande maravilha: "Entre outras
oisas, Deus perm"itiu sse flagelo p9r causa dos
pecador.r, -u, as chamas eternal do inferno so bem
mais temveis aos condenados do que a ferocidade de
um lbo, que s pode matar e, orpo, Meus itmozi'

(4) S. Bonavent', c. VIff,


aG

VIDAS DOS SANTOS 313

nhos, converti-vos a Deus e f.azei penitncia, e Dzus


vos livrar do lbo, no tempo, e do inferno, na eter-
nidade. Meu irmo lbo, agui presente, prometeu-me
f.azer um pacto convoscor, se do vosso lado prometerdes
dar-lhe todos os dias o alimento necessrio". O povo,
por aclamao, comprometeu-se a az-lo. O lbo
novamente deu m,ostras do seu consentim,ento e, du-
rante dois anos sonsecutivos, veio cidade, de casa
em casa, reclamar seu alimento, como f.azem os animais
domsticos; e os habitantes ficaram muito pesarosos
quando morreu, po,is repre,seltava para les urn ffiero-
rial da virtude e da santidade de Francisco. (5 )
Por amizade para com as abelhas, Francsco
mandava levar-lhes, durante o inverno, mel ou bom
vinho para aliment-las e aguec-las. Amava a gua
por ser o smbolo da penitncia, e por ter lavado nossa .

alma no batismo. Tambm reverenciava as pedras,


lembrando-se da pedra angular do Evangelho.- Reco,-
mendava aos irmos gue iam cortar lenha na montanha
para deixarem rebentos vigorosos em memria de |esus
Cristo gue quisera morrer pela nossa salvao no
lenho da cuz. Fazia questo, de que o jardineiro
conservasse, no centro do jardim principal, um jardin-
zinho composto de flres suaves, fragrantes e belas
ao olh'ar, a fim de que com sua bele za convidassem a
todos para louvar a Deus. As flres elevavam sua
alma a essa flor bro,tada da haste d,e ]ess, e cujo
perfume alegra o mundo. (6 )
Essa fraernidade na piedade e na afeio, Fran-
cisco estendia-se t mesmo aos elementos. Um dia
em que os mdicos iam aplicar-lhe um ferro em brasa

(5) tr'ioretti di an tr"rancesco, c. XX.


(6) Thomas de Celano, l. f, c. x.
314 PADRE ROIIR,BACHER

nas tmporas, primeiro o abenoou e depois lhe disse:


"Meu irmc, [ogo, o Senhor te .z antes de tdas
as coisas, e te fez belo, til e poderoso; s, pois, cu-
teloso hoje, e digne-se Deus suavizar-te de tal maneira
que eu possa suporta-te". O ferro foi-lhe aplicado
e o santo exclamou: "Meus irmos, lo'uvai comigo o
Altssimo; o prprio fogo no gueima, e no sinto a
menor dcr." (7 )
Quando o amor transbordava do corao de
Francisco, le se punha a andar pelo campo; convi-
dava as colheitas, as vinhas, as rvores, as flres do
campo, as estrlas do cu, todos seus irmos da natu-
reza, a juntar,em-se 'a le na exaltao ao Criador,
e sua ingnua e radiosa ternura, erguendo-se de grau
em grau at o sol, um hino ascendia de sua alma.

Altssimo, onipotente, bom Senhor


A Ti glria, Iouvor, hcnras e bno,
Pois s Tu as mereoe
E nenhum homem digno de dizer o Teu nome.
S louvado, Senhor meu, com tdas as tuas criaturas,
E mais que todos pelo Senhor Irmo Sol,
Que o dia produz e a luz nos d.
le belo, radioso e cheio de esplendor:
Uma amostra de Ti, Senhor.

S louvado, Senhor meu, pelo Irmo Vento,


E pelo ar e pela nuvem e por tdas as estaes,
Pelas quais alim,entas tdas as Tuas criaturas.
S louvado, Senhor meu, pela Irm gua
To til, to humilde e preciosa e casta.

fi\ rnica dos Irmqs Men, L ff, , Xf,


VIDAS DOS SANTOS 315

S lo'uvado, Senhor meu, pelo Irmo Fogo,


Com o gual as noites iluminas.
le belo e alegre e to robusto e forte.

S louvado, Senhor meu, por nossa me, a Terra,


Que nos sustenta e conserva e produz para ns
Ervas, frutos diversos e co,loridas flres,

Louvai, agradecei e ben dizei ao Senhor


E a le servi com grande humildade. (8 )
Tendo chegado ao conhecimento de So Fran-
cisco gue o Bispo de Assis e os magistrados da mesma
cidade se tinham desavindo, acrescento,u estas pala-
vras ao seu cntico:
Louvado seja meu Senhor nagueles gue perdoam
por seu amor e suportam sofrimentos e tribulaes.
Felizes os gue perseveram na paz; pois sero
coroados pelo Altssimo.
E disse aos seus companheiros; "Ide com coo-
fiana procurar Gs magistrados e dizer-lhes de minha
parte gue vo casa do bispo. Quando chegarem
pr,esena do prelado, no temais, trovadores de Deus,
cantai em dois coros o cntico de meu irmo, o so".
Essas palavras to simples restabeleceram a paz: os
inimigos raarrn-se e pediram reciprocamente
perdo.
Enfim, tendo o santo homem tido a revelao
de gtle a sua morte estava prxima, acrescentou mais
uma estrofe ao cntico de amor da natueza:

(8) Na traduo de Oscar Mendes em <<Os Santos que Aba-


laram o Mundo.
\
316 PADRE ROHRBACHER

S louvado, Smhor meu, pela Irm Morte,


Da gual vivente algum pode escapar.
Ai dos que morr,em em pecado mortal,
Mais felizes agules gue se acham na Tua santa
Ivontade,
No lhes pode azer a morte nenhum mal.

Louvai e bendi zei meu Senhor, dai-lhe graas,


E servi-o corn grande humildade. (9 )
Havia j dois anos gue So Francisco resebera
os estigmas, e sua sade declinava dia a dia; e, tendo
aumentado os pregos de seus s, no podia mais
caminhar. Pedia gue o levassem s cidades e s
aldeias para animar os outros a carregarem a cruz
de |esus Cristo. Numa dessas excurss, curou uma
criancinha de Bagnara gue, mais tarde foi So Boa-
ventura. Francisco tinha um grande desejo de voltar
s primeiras prticas de humil{ade, servir os -leprosos,
,e obrigar o corpo a servir-lhe, cortror no incio da col-
verso. O fervor do esprito compensava a ragueza
do corpo; mas as enermidades de tal mo,do se
agravaram gue eram raros os lugares nos guais no
sentia dores muito fortes; e, tendo as suas carnes se
consumido ineiramente, s lhe restavam pele e ossos.
Os frades acreditavam defrontar outro Ib, tanto por
causa dos so,frimentos como da pacincia com que os
suportava. O santo pediu-lhes que o levassem Nossa
Senhora dos Anjos, a fim de entregar a alma a Deus
no mesmo lugar onde recebera o ,esprito da graa.
Nos seus ltimos momentos, ditou uma carta diri,
gida a tc'dos os superiores, sacerdotes e irmos da

(9) . f'ranc. Opusculo. Chavin, Vle de . Frangois.


VIDAS DOS SANTO,S 317

ordem, recomendando-lhes respeito para com o sr-


tssimo sacramento do altar. Chegou a ditar su
testamento, no qual recomendou particularmente o
resp,eito para com os sacerdo,tes, a obsewao da
regra e o trabalho manual.
Sentindo aproximar-se a ltima hora, mandou
que o deitassem na terra nua, tirou a tnica, a fim
de tornar mais sensvel o seu perfeito despoiamenfo;
depois, erguendo cs c,lhos ao cu, cobriu com a mo
esquerda a chaga do lado direito e disse a seus
irmos "Fiz o qu,e me cabia: osso Senhor vos ensi-
nar o que deves f.aze" . le! se desfa ziam em lgri-
mas; e um dos religiosos, a quem denominava seu
guarda, adivinhando a inteno do, santo, levantou-se
prontam,ente, apanhou uma tnica e uma corda gue
Ihe apresentou, dizendo: "Empresto-vos ste hbito
como a um mendigo, aceitai-s por obedincia." O
santo homem ergueu as mos paxa o cu e bendisse
a Deus por ter sido aliviado de todos os cuidados. Em
seguida mandou chamar todos os irmos que s,e er-
contravam na casa e exortou-os a p,erseverarem no
amor de Deus, na pacincia, na pobreza, na f da
Igreja Romana; depois, estend,endo sbre les os
braos colocados um sbre o outro em forma de c1J2,
deu sua bno, tanto aos ausentes como aos pr,esentes.
satisfazendo-lhe a um desejo, Frei Leo e Fr.ei ngelo
cantaram em cro o cntico do irmo sol e da irm
morte. Terminado o cntico, pediu gue lhe lessem a
Paixo de Nosso Senhor, segndc, So |oo. Depois
dessa leitura, comeou a reciiar com voz agonizare o
salmo de Davi:
Com minha voz clamei ao Senhor; com minha voz
supliquei ao Senho,r.
\
318 PADRE ROIIRBACHER

Derramo na sua presena a minha orao e


exponho diante dele a minha tribulao, o meu
esprito.
Quando o foi desfalecendo, tu
meu esprito
conhec,este. as minhas veredas. No caminho por onde
eu andava, armr-le laos ocultos.
Vcltava-me para 'a minha direita, e olhava, e
no havia quem me conhecesse. No me ficou pos.si-
bilidade de [uga, e no h guem se importe com a
minha vida.
A ti clamei, Senhor, e disse: Tu s a minha spe-
rana, a minha pc,ro na terra dos viventes.
Atende minha splica, porque fui sumamente
humilhado. Livra-me dos que me perseguem, porque
se tornaram mais fortes'do que eu.
Tira a minha alma desta priso, para eu dar
glria ao teu nome; e'sto me esperando os justos
at orre me faas justia. ( 10 )
Depois de pronunciar as imas palavras, sua
bca fechou-se para sempre: Francisco no mais
pertencia a ste mundo. Era a noite do sbado para
omingo, no dia 4 de outubro de 1226, quadragsimo-
quinto da sua vida, vigsimo da sua converso,
dcimo-oitavo, da instituio da sua ordem.
Depois da sua morte, seus estigmas foram livre-
mente examinados. Descreve-os So Boaventura:
"Eram pregos milagrosamente fo'rmados de carne, e
de tal forma aderentes que, quando 'empurrados de
um lado, avanavam do o,utro, como se fssem nervos
duros e inteirios. Tais pregos eram negros como o
ferro; mas a chaga do lado era vermelha e redonda
como espce de rosa". Reafirmando a C de seus

(10) Salmo, grg,I.


il
,1

VIDA DOS SANTOS 319

filhos, sse espetculo to novo lhes estimulava o


amor e, guando beijavam as maravilhosas chagas,
uma santa alegria lhes suavizava a mgoa. Ao eipa-
lhar-se a notcia da morte do santo, ,iru verdadira
multido acorreu para v-lo, pois todos ,estavam dese-
josos de verificarem o,s estigmas com os prprios
olhos, e compartilharem aguel alegria. Alguns ia"-
dos de Assis tiveram permisso para aprximr-se,
ver e beijar os estigmas; um'dles, chamado |ernimo,
cavalheiro ,e letrado, homem de r,esponsabilidade e de
boa reputao, mal ousando, crer no prodgio, exami-
lou-o mais desembaraada e detidamente na presena
dos religiosos e de outras pessoas. Tocou com suas
mos nos ps, nas mos ,e na espdua do santo ccrpo,
fz mover os pregos e certificou-se to bem da ver-
dade, gue mais tarde foi uma das testemunhas gue
depuseram sob juramento. Ao Ievarem o corpo para
Assis, o ao,rtejo passou pela lgr,eja de So Damio,
onde se encontravam Santa Clara ,e suas companhei-
ras, e l se deteve por algum tempo para dar-lhes
o confrto de verem e beijarem o corpo ,e seus estig-
mas. Finalmente, oi sepultado na cidade, na IgreJa
de So |orge, onde iniciara seus estudos , re- inf-ncia,
e ,onde pregara pela prim,eira vez, Desde ento, Deus
se comprouve em f.azer r'esplandecer a sua santidade
com um grande nmero de milagres. Foi solenemente
canonizado pelo amigo, Cardeal Ugolino, gue se
tornou Papa sob o nome de Gregrio lX. ( l l )

***

(111 Ver tr'. Cecco, 4 de agsto, Clara, 18 de agsto, paeifico,


10 de julho.
I

so PETRNIO (*)
Bispo

Petrnio, ilho de Petrnio, o gue foi vigrio da


Espanha, o autor, segundo Gendio, das V idas
dos Monges do Egito re do Tratado da Ordenao do
Bispo.
-
Bispo de Bolonha, So Petrnio fci admirvel
administrador, ocupando-se ativamente com restaurar
a cidad,e, fortificando-a com muralhas, construndo
casas e edificando um bairro imagem de Jerusalm,
com igrejas ,e um mosteiro, onde, com seus clrigos,
levava vida comum.
So Petrnio faleceu, ao gue se supe, em 4.50,
sendo honrado como santo desde a Idade Media. E
o padroeiro da arquidiocese d,e Bolonha.

***
f

sc PEDRO DE CAPITLIAS (*)


Mrtir

C"pitlias, nc, princpio do sculo VIII, pertencia


ao califado de Damasco. Os soberanos muulmanos,
ento, eram bastante tolerantes com os cristos.
Pedro era sacerdote. Fra casado e tinha um filho
e duas filhas, com o consentimento da espsa, passara
a levar vida solitria, absoluta. Quanto a esta, fra
viver no retiro, e as filhas num convento. O jovem,
instalado numa cela perto da igreja da Virgem, po-
gredia, dia a dia, na religio e no caminho d,c, cu.
Pedro, gue ansiava pelo martrio, via os anos
corr,erem sem gue o desejo se realizasse. Quando
chegou perto dos sessenta anos, icou gravemente
enrmo. Viu, entor com pavor, gue a coroa do
martrio ia fugir-lhe. Teve, ento, uma idia: o,rdenou
a um companheiro, gue o servia, que convidasse alguns
muulmanos notveis de Capitlias para que viessem
v-lo porgue os dese java como testemunhas dum tes-
tamento gue estava para redigir.
Quando c,s muulmanos se reuniram, Pedro
com,eou, falando ardentemente , a f.azet uma profisso
de f crist, inspiradssimo. E terminando com graves,
violentas invectivas contra o Isl, ficou a aguardar o
resultado da ideia que tivera e pusera em ao. ,-
\
322 PADRE ROHRBACHER

Furiosos, c,s sectrios de Maom, a princpio,


quiseram atirar-se a Pedro e liguida-lo, mas, vendo o
estado em gu'e jazia, limitram-se a dar-lh,e as costas
e se foram. noite, porm, r mesguita, debateram
a guesto. Logo, a notcia de gue Pedro se curara,
chegou-lhes ao ccnhecimento: era outra t,entativa de
buscar o martrio, pois, pouco aps a nova, corr,eu a
notcia de que o Santo, pregava contra Macm com
grande veemncia nas ruas mais movimentadas e nas
praas mais centrais.
Aquilo era demais, e os muulmanc,s, furiosssi-
mos, enviaram ao filho do califa Walid I, Omar, uln
relatrio do que se passava.
Omar incumbiu um dos seus lugares-tenentes,
Zora, para gue investigasse a verdade. Zora ordenou
gue prendessem Pedro e interrogou-o. Tudo f.z c,
Santo para obter a palma do martrio. Destarte,
aguilo gu,e respondia, respondia-o co,mprometedcra-
mente. Levado ao califa Walid, Pedrc, foi condenado
morte,
Pregado a uma cuz, acabaram-lhe com a vida
com trs golpes de lana: recebera, assim, a des,e jada
palma gloriosa,

No mesmo dia, em Paris, So Lisbio, mrtir, que,


dizem, foi convertido por So Dions;o.-
Em Eesc, Santo Adauto, mrtir, e a filha, Calis-
tena. Adauto teria sido general, sob Maximino. Ga-
bando a beleza da ilha, tanto falou que Maximino,
impr,essionado, quis v-la. O pai, temercso do que
jovem pudesse suceder, embarco- para o Oriente,
secr,etamente. Quando o imperador scube de gue o
VIDAS DOS SANTOS 323

general lhe afastara a filha, deportou-c pr a Meso-


potmia, dando ordens para gue o decapitassem cc,mo
cristo. A espsa e a filha enterraram-no. Quando
Licnio se torncu imperador, Calistena obteve auto-
rizao para levar c, corpo do pai para [,es,c,. Ali
viveu'ela quietam,ente e faleceu em odor de santidade.
Na Siria, as santas Prosdoc ia e Bernic ia, yiy-
gens, e Santa Dmina, sua me, mrtires, vtimas da
perseguio d,e 202.
No deserto de Ntria, Santo Amon ou Amun,
monge, que faleceu em 350.
Em Tours, Sc, Quintino, mrtir (seculo VI ou
VII). Nascido em Meaux, filho de pais parisienses,
Quintino foi trabalhar na manso dum nobie chamado
Gontran. Gontran era casado com perversa mulher,
Agu. Encantada com o s,ervidor, Aga props viver
com le. Quintino, cc,mo um novo |os, repeliu-a.
Irada, a mulher reuniu fieis servidores para que o
matassem. Levado a lugar escuso, p,crto duma fonte,
ccrtaram-lhe traioeiramente a cabea, que jogaram
s guas da nascente, desde ento tornadas mira-
culosas.
Em Verdun, So Madolveu, bisp,c. Madclveu
[c,i o maior dos grandes bispos de Verdun, na Idad,e
Media. Iniciou-se o seu episcopado quando Pepino
foi sagrado rei, em 754. Faleceu e^ 77
Na diocese de Colnia, Santa Irm,engarda, cor-
dssa de Suchteln, falecida em 1082 ( ? ) .
Em Pal,ermo, c bem-aventurado |uliano Mayahi,
beneditino, falecido em 1470,
Em Corinto, f esta dos santos Crespo e Caio,
acs quis Sc Paulo se refere ao escrever a,cs corn-
tios. - No Egito, os santos mrtires Marcos e Mar-
ciano, irmos, e tambm uma enorme quantidade
PA
ai '.'

d '' cristos de ambos 'cs sexos e de tdas as'


idades, dos quais alguns, depois de aoitados, Q
otros, depc,is d,e sofrerem terrveis torturas de vrias
,espcies, foram atirados ao fogo ou precipitados no
ma[; alguns tiveram a cabea cc'rtada, vrios morreram
d fo-; outrcs, ainda, pregados em patbulos, quase
sempre com a cabea para baixo e os ps para cima:
todos mereceram a preciosa coroa do martrio. - Em
Alexandria, os santos sacerdotes e diccnos Caio,
Fausto, Eusbio, Ceremo, Lcio e seus companhei-
rc.s, dos quais uns oram martirizados durante a pe-
seguio de Valeriano; os outros, que serviam aos
mrtires, receberam a recompensa do martrio. r
Em Atenas, So Hi,erteo, discpulo do apstolo So
Paulo.

**r

I
5., DIA DE OUTUBRO
SANTO APOLINRIO
Bspo de VaIeWo, no Delfinodo

Santo Apolinrio, irmo de Santo Avito, origj-


nrio do Auvergne, pertencia mais alta nobreza de
Roma, era netc, do Imperador Avito, e filho do sena.
dor Hesguio ge, tendo praticado a continncia com
sua mulher, a bem-aventurada Audena, sucedera a
So Mam,erto, no slio episcopal de Viena, onde
tambm venerado como sairto. Teve como sucessor
o filho mais velho,, Santo Avito, cuja vida relatamos
no dia cinco de fevereiro. A mesma famlia contava
com vrios bispos e algumas virgens consagradas a
Deus: Santo Avito mencion-s no seu poema sbre
a virgindade, dedicado a sua irm Fuscina, gue lhes
seguira o exemplo
Apolinrio, nascido em Viena, fra educado nas
virtudes clericais por So Mam,erto. Foi eleito bispo
de Valena crca do ano de 480, cuja igreja havia
muito tempo se encontrava num estado, lamentvel.
Testemunha-o uma carta do Papa So Bonifcio,
datada de 1 3 de junho de 419, e dirigida aos bispos
da Glia. Tem por objeto o julgamento
-vrios de Mximo,
bispo de Valena, acusado, de crimes, entre
326 PADRE ROHRBACHER

outros, o de ser manigueu, crime provado pcr atos


sinodais. Tambm ficara demonstrado por atos de
juzes seculares gue fra prccessado e condenado por
hc,micdio. Mesmo nessas circunstncias, continuava
a declarar-se bispo nos lugares onde se ocultara, e
recusava-se a submeter-se ao julgam,erto de seus cot-
frades, embora j por vrias v.zes houvesse r.ecebido
dos Papas ordem para faz-lo. O clero, da Igreja
de Valena enderreou novas gueixas ao Papa Bcni-
fcio, e cs bispos da Galia a elas acrescentaram
documentos. No obstante'constiturem as fugas de
Mximo motivo suficiente para a sua ccnd,enao,
assim mesmo o Papa lhe deu um prazo para pres,en-
tar-se. Determincu que s,eria julgado pelos bispos
da Glia reunidos em conselho antes do dia primeiro
de novembro ,e que, presente ou ausente, seria julgado
sem cutro adiamento, sob a condio, declarada reces-
sria na carta, de que a autoridade do Papa confir-
masse c julgamento.

No se sabe ao certo guando, nem como, o caso


foi encerrado. Aguela rpoca foi marcada pela maior
ccnvulso gue jamais abalou o mundo. O Imprio
Romano, ue tanto perseguira a Igreja de Deus, e que
decaa dia a dia, estava sendo desmembrado vivo
pelos vndalos, pelos suevcs, burgondos, gdos, ala-
ncs, francos e hunos. Os vndalos, comandado's por
Genserico, invadiram a frica, devastaram Cartago
e pilharam Roma. Na Espanha, os suevos apod ?t-
vrl-se das regies gue os vndalos haviam abando-
nado e derrotavam as tropas romanas; isso enquanto
os visigodos da Galia meridicnal no os batessem,
formando depois com les a nao espanhola. A
Galia estava dividida entre os romanos, os gdos, os
VIDAS DOS SANTOS 327

burgcndcs e os alanos. Os gdos ocupavam a Aqui-


tnia; cs burgondos, que tinham entrado pela H,elv-'
cia, fundaram um reino na regio por les denominada
Borgonha; como no conseglliram expulsar os alanos,
deixaram-lhes as terras de Valena-sbre-o-Rdano.
A avareza dos magistrados era to grande nos pases
subcrdinados aos romanos qu,e ,cs habitantes de mais
categoria se refugiavam entre os brbaros, e os crn-
pc,neses se revoltaram por vrias vzes. Os francos
avanavam, vindos das margens do Reno, e dariam
um dia o nome Glia inteira. E c,s vndalos, os
suevcs, cs gdos, os alanos e os francos eram empur-
rados para a fr,ente por outro, povo, cujo nome e cujas
guerras so menci,cnadas at nos anais da China e da
Armnia: os hunos. De todos sses povos, mais ou
menos brbaros, uns ainda eram idlatras, outros i
eram cristos, pcrm contaminados pelo arianismo:
e, QUe muitas vzes es tornava piores do gue os pri-
meiros.

Foi em meio a essas violentas transformaes


que Santo Apolinrio foi eleito bisiro de Valena. Bem
se cc,ncebe guais tenham sido suas lutas e dificuldades
durante um episcopado de trinta ,e quatro anos, fsse
para reparar o escndal'c, causado pelo seu predces-
sor, fsse para preservar o seu povo no m,eio de to
grandes calamidades. A tantos embaraos e tribula-
:s vieram juntar-se vrias molstias, sendc longa e
grave a que o acometeu em Lion, crca do ano de 510.
Os burg:ndos, senhores da regio, eram quas'3
todos arianos, como o rei Gondebaud. Os bispos
catlicc.s, em especial Santo Avitc, de Viena, e Santo
Apolinrio, de Val,ena, trabalharam ccm zlo para
traz-los f da Igreja. Crca do ano 500, pediram
328 PADRE ROHRBACHER

ao rei gue ordenasse fsse rcalizada uma conferncia,


de que participariam bispos catlicos e arianos, a fim
de gue as dvidas fssem esclarecidas, tornando
possvel a fuso. Santo Apolinrio, tomou parte na
conferncia. Os arianos no souberam como defen-
der-se. Gondebaud tratou muito amigvelmente os
bispos catlicos e chegou a dizer-lhes gue desejava
reccnciliar-se cc.m o catolicismo, porm em segrdo;
faltou-lhe a corag,em para .azer uma declarao p-
blica. Entretanto havia na sua crte uma santa prin-
cesa chamada Caretenea, provvelmente sua prpria
espsa, que azia profisso pblica da verdadeira f,
e que o honrava ainda mais pela piedade dc. que pela
sua nobeza. Vivia no palcio como num conventc,,
usando um cilcio sob a prpura, praticando o jejum,
fazendo esmolas gen,erosas e exortando seus filhos e
seus netos a abraarem a fe catlica. Mc,rreu cheia
de merecimentos, com mais de cinqenta anos de
idade, no dia 16 de setembro de 506,,e [o,i enterrad'a
em Lion, na Igreja de So Miguel, que mandara cors-
truir; o que nos informa o seu epitfio. Sigismundo,
filho cle Gondebaud, no, apenas se convertera ao
catolicismo, com Sigerico, su filho, mas mereceria
ser venerado como santo.
Outra boa obra da qual participaram tanto Santo
Apolinario com,o seu irmo Santo Avito, foi a defesa
da auto,ridade da Santa S e da honra do Papa So
S.maco, contra os atentados dos cismticos; fato que
poderemos verificar em seus pormenores na vida de
Santo Avito, 5 de fevereiro, e na de So Smaco, 19
de julho
, -
Mais outra glria que coube aos bispos do reino
da Borgonha, em particular a Santo Apolinrio, de
VIDAS DOS SANTOS 329

Valena, foi a inquebrantvel f.irmeza com que implan-


taram os bons costumes. Em 517 reuniram um concli'c,
em Epaona, no qual publicaram vrios regulamentos,
visando ccrrigir abusos e reprimir escndalos. Onze
dcs bispos que tinham assistido ao conclio reuniram
cutro em Li,on, flo mesmo ano, ou no seguinte, para
tratar do caso de Estvo, prefeito fiscal do rei Sigis-
mundo. sse fidalgo desposara Paldia, sua parenta,
ou, como relata a vida de Santo Apolinrio, irm de
ua primeira mulher. Por causa disso, os bispos, sem
ccnsiderao pelo seu prestgio, tinham-no excoll-
qado, de acrdo com os cnones, reformados em
Epaona. Sigismundo, que se consider'ou ofendido na
Fessoa do seu ministro, tc,mou abertamente a defesa
dc culpado e ameaou os prelados com a sua cl'era.
Mas stes no tardaram em demonstrar que mais
temiam o Senhor do cu do que os poderoso's da
terra. Reunirar-se em Lion e, depois de confirmarem
a sentena lanada contra o casamento incestuoso de
Estvc, e de Paladia, prometeram reciprocamente
que, se um deles sofresse qualquer vio'lncia em
resultado daquela deciso, tod,os os outros o apoia-
riam, compensando-o pelos pr'ejuzos que pudesse
sofrer; que, caso cr rei continuasse a abster-se da
ccmunho dos bispos, e a no mais encontrr-se com
les nas igrejas, recolher-se-im aos mosteiros, de
cnde no sairiam antes que os outros se vissem
livres de perseguic; gue a nenhum bispo r corce-
dido o direito de usurpar a igreja de outro, ou de
o(iciar na sua ausncia, ou de realizar qualquer outro
ato de iurisdio, sob pena, no sm'ente de ser
admoestado no prximo ccnselho, mas tarnbm de ser
privado da comunho de seus irmos. Alem'do mais,
330 PADRE ROHRBACHER

renovaram a interdio, gue proibia quem guer que


fsse de candidatar-se o, slio de um bispo vivo, e
declararam ,excomungados para sempr,e cs que se
fizessem ordenar a fim de ocupar o lugar dos ausen-
tes, e tambm todos gue participassem dessas orde-
naes. O ultimo cnon dsse conclio faz supor que
finalmente o rei r,econhecera a egidade da sentea
lanada contra c,s d,o,is culpados, pois os bispos dizem
que, de acrdo com o parecer do prncipe, tinham
con_sentido que Estvo e Paldia assistissem s preces
da Igrej a at ora6 rezada aps o Evangelh. ( I )
Santo Apolinario d,e Valena foi um os bispos
que mais firmeza mostrara em relao a sse caso. E
a tempestade desabou sbre le, pois instigado por
Estvo, Sigismund,o exilou-o. Mas pouc depcis
caiu o rei to gravemente doente, prsa de f,ebre, que
parecia mais prximo da morte do que da vida. Arri-
mada de uma viva f., a rainha imediatamente se
transportc,u para o lugar onde o santo pontfice se
encontrava exilado, e suplicou-lhe com lgrimas que
fsse restituir a sade a seu marido. Santo Apolinrio
recusou-se a ir pessoalmente socorrer cr rei; porm,
premido pela insistncia da rainha, entregou-lhe seu
habito de capu z, uma respcie de mura. Quandc, essa
roupa foi estendida sbre o doente, imediatamente le
recuperou a sade. Tocado de maneira profunda por
sse milagre, Sigismundo, que mais tarde mer,eceu s,er
includc, entre os santos, arrependeu-se do rro, foi
procurar c santo bispo, atirou-se a seus ps e pediu-lhe
perdo, dizendo: "P,equei, 'f.iz mal em causar tantas
tribulaes a justos qu,e no as mereciam" . (2)

(1) Labbe, t. IV, 1584.


(2) -Acta SS., 5 oct.
VIDAS DOS SANTOS

Santo Apolinario estreitou laos de amizade com


vrios bispos ilustres da Galia e, sobr'etudo,, com So
Cesrio de Arles, cidade gue visitou quando estve
em Marselha. Acredit-se gue tenha falecido por
volta do ano de 525. Foi sepultado na Igreja de So
Pedro e So Paulo, situada nos subrbics de Valena.

***
BEM-AVENTURADO JOO DE
PENNA (*)
F ranciscano

foo nasceu no primeirc, tro do sculo XIII, na


aldeia de Penna, na Marca de Ancona. Quando
menino e estudava na provncia, uma noite, preceu-
lhe um menino belssimo, que c chamou pelo nome e
disse:
|oo, vai a Santo Estvo, onde prega um dos
frades menores, ffi cuja doutrina cr e a cujas pala-
vras atende, porgue l r mandei eu. D,epois disto,
tens de f.azer uma longa viagem e ento voltars a
mim.
Imediatamente, Ioo, levantando-se, sentiu gr11-
de mudana na alma, e foi a Santo Estvo 11co1-
trou uma grande multido de homens e mulheres a
ouvir uma prdica. Quem pregava era um frade
chamado Filipe , e f.azia-o devotissimam'ente, no, com
palavras de "sapincia hum ana, mas em virtud'e do
esprito de Cristo". E pregando ccm grande calor,
discorria maravilhosamente, a anunciar o reino da vida
eterna.
Os ouvintes, mudos, todo olh,c,s para frei Filipe
e todo ouvidos para to altas palavras, iaziam como
que magnetizados.

I
VIDAS DOS SANTOS 333

Terminada a prdica, o menino |oo proxi-


rlc,u-se do frade e disse:
Frei, se vos aprouver receber-Ine na Ordem,
eu, de boa vontade, hei de f.azer penitncia e servirei
a Nossc, Senhor fesus Cristo.
O rade c,lhou-o ternam,ente. E descobrindo
nle uma inocncia maravilhosa, respondeu-lhe, todo
ternura:
Vai ter cc,migo em Recanati e farei com que
te recebam.
E, marcando o dia e a hora, sorrindc-lhe, dei-
xou-o em meio a multido que se dispersava, piedosa-
mente a comentar-lhe a prdica.
|oo, QUe rf purssimo, "pensou, como dizem os
Fi:retti, gue esta fsse a grande viagem gue devia
f.azer, segundo, a revelao gue lhe fra feita, e depois
ir-se ao paraso; e assim acreditava suceder trogo que
fsse recebido na Ordem. L [oi, ,e o receberam; ,e
vendo que o seu pensamento no se realizava ento,
dizendo o ministro rerr captul,ci Que todo aqule qu,e
quisesse ir prcvncia da Provena, p,el,o mrito da
santa obedincia, le de boa vontade dava licena,
tomou-o grande vontade de ir, pensando, no su cor-
o, que seria aguela a grande viagem qure tinha de
f.azet, antes qu,e fsse ao paraso. Mas, envergc,-
nhando-se de diz-lo, confiando finalmente no dito frei
Filipe, o qual o tinha feito receber na Ordem, pediu-
lhe com instncia que lhe obtivesse a qraa de ir
provncia da Provena. Ento frei Filipe, vendo a
sua pueza e a sua santa inteno, obteve-lhe a
licena". :

O lossc frei foo, julgou, pois, que aquela seria


a grande viagem gue teria de f.azer, antes de ir para
o reino do cu, mas, na provncia da Provena viveu
334 PADRE ROHRBACHER

por vinte e cinco anos, "em grandssima honestidade


e santidade e exemplaridade", a crescer, sempre e
scmpre, na virtude, e sendo amado pelos irmos e
pela sente do lugar, que com le se encantara.
Um dia, lamentando-se e chorands, porQue o seu
desejo no se realizava, Nosso Senhor apareceu-lhe.
E disse:
Filho frei )oo, pede-me o que quiseres.
)oo, com "a alma tda liquefeita", respondeu:
Senhor, meu, no sei o que te pedir senc, a
ti m,esmo. Nada mais d,esejo, a no ser que me perdoes
todos os pecados e que, guando maior necessidade
de ti eu tiver, possa ve-te novamente.
Disse o suave ]esus;
Tua orao [c atendida.
E, dito isto, desapareceu. E )oo todo,consolado,
foi l,evando a vida.
"Por fim, contam-nos os Fioretti, cuvindo os
frades da Marca a fama de sua santidade, tanto ize-
ram com o Geral, gue l,e lhe o,rdenou por obedincia
de voltar Marca. A qual obedincia recebendo ale-
gremente, ps-se a caminho, pensando que, terminan-
do-o, deveria, afinal, ir ao cu, segundo a promessa
de Cristo.
. "Mas voltado qu,e oi provncia da Marca,
nela viveu trinta anos sem ser reconhecido oelos
parentes e em cada dia esp'erava que a misericrdia
de Deus lhe realizasse a promessa. E durante sse
tempo ,eXercu diversas vzes o cargo de quardic'
com grande discrio, e Deus op'er'cu por le muitos
milagres. E entre outros dons que le teve de Deus,
teve esprito de profecia: pelo ge, uma vez, andando
por fcra do convento, um seu novio foi combatido
pelo demnio e to fortemente tentado, gue, col-
VIDAS DOS SANTOS 335

sentindo na tentao, deliberou consigo mesmo sair


da Ord,em logo gue frei ]oo voltasse. A qual tentao,
e deliberao conhecendo frei ]oo p,o,r esprito de
pr,ofecia, im,ediatamente voltou a casa e chamou a si
o dito novio e disse gue queria gue le se confessasse,
Mas antes de confess-lo contou-lhe por ord,em tda
a sua tentao, conforme Deus lhe havia revelado e
concluiu:
Filho, porque respeste ,e no guiseste partir
sem a minha bno, Deus te f.z a graa de gue jamais
desta Ordem sairs; mas morrers na Ordem co,m a
graa divina".
"Ento o dito novio foi confirmado em boa vor-
tade e, ficando na Ordem, tornou-se u santo frade".
|oo de Penna, gue era hom,em calm,o,, alegre,
dir-se-ia de tudo despreocupado, excluindo, natural-
mente, as coisas de Deus, pelas, guais se preocupava,
de modo, trat-las conforme convinha, era criatura
que raras vzes falava. Era, isto sim, homem intro-
vertido, de ,c,rao e d,evoo, especialmente depois
das matinas, porgue no mais, como muitos dos
fracles, retornava cela: ficava na igrej a at a aurora,
em orao.
Certa vez, que varava a noite assim, orando e
orando, apareceu-lh,e de repente, uffi anjo, gue lhe
disse:
Fr'ei )oo, eis gue est concluda a tua longa
viagem, aguela viagem peta gual tanto esperaste. Pr
isso, agora, anuncio-te da parte de Deus, pede a
graa gu'e, quiseres. Mas, olha, digo-te ainda: Que
prefer,es? Um dia de purgatrio ou sete de sofrimento
neste mundo.
Frei |oo, r,espondendo, disse ao anjo de Deus
que preferia os sete dias de sofrimento n,este mundo.
336 PADRE ROHRBACHER

E assim dizendc,, sbitamente, adoeceu - Q adoeceu


de vrias enfermidades. E carregcu consigo a febre,
a gta nas mos e nos ps, fortes dor'as nas costas
e muitos outros males.
A febre, porm , ? gta nas mos e ncs ps, e
as fcrtes dores nas costas no c importunavam tanto
quanto o que via, nagueles dias, horrenCo, diante de
- o demnio, que tit ha na mo um grande pap'el,
em que estavam escritos tcdcs os pecados _que havia
comtido cu pensado. E o maligno filhc das trevas,
atcrmentando-o dia q noite, a mostrar-lhe o rol das
faltas, dizia-lhe:
Por stes pecados que ccm:teste com o pel-
samentc e a lngua sers danaclo nas profundezas do
infernc.
E o bom frei ]oo de Penna no se rec.crdava
d,e bem algum que tivess,e f eito, pela vida em f ora,
nem que eti,resse na Ordem, nem que Ordem per-
tencia. So pensava numa coisa- sempre, sempr?: que
estava danado.
C)ra, o estadc d,e frei |co, pelo modo comc ento
Se comportava, to atribulado, a espantar-Se por qual-
quer coisa, le que sempre fra a calma em pessoa.
entrou a p."o.pu,' cs irmos da comunidade. E
resolverarn chamr ,- velho frade, Mateus de Monte
Rubianc, um santc homem, que era qrande amigo-de
sofri-
]oo de Penna. Era justamente o stimo dia de
mento que o bem-avnturado ,escclhera neste mundo,
ao invrs dum s dia no Purgatrio.
O bom frade velho, venerando e arcadc, aprc-
ximou-se do amigo e perguntou, brandamente:
Como ests, irmo meu?
Ao que |oo respondeu, aflitam'ente:
Esto mal. stou mal pcrque estcu danado.
VIDAS DOS SANTOS 33?

Disse ento . frade velho, venerando, de cabea


branca:
Cra, irmo, no te recordas ento de qye
muitas vzes eu te c.onfessei e inteiramente te absolvi
de todos os teus pecados?
E, como estranhasse o amigo, acrescentou, sem-
pre branda, docemente, porque frei Mateus de Monte
Rubianc era muito brando, muito doc'e:
No te lembras mais, meu bom irmo, que
serviste a Deus nesta santa Ordem por muitos anos?
Ademais, no te recordas de que a misericrdia de
Deus, Senhcr nosso, reXCed'e a todos os pecados do
mundc, e que Nosso Senhor |esus Cristo bendito,
nosso Salvador, pagou, paa nos resgatar, um preo
que, todos sabemos, infinito?
' E acalmando c bcm amigo, que 'azia um grande
esfro para se recordar de coisas passadas, disse
mais:
Tem esp? rana, irmo, tem esperana, PCr-
que, certamente, digc-te, sers salvc.
Terminando t piedosas palavras, "porque havia
chegado ao trmo a purgao, foi-se a tentac, e veio
a ctsolao". E frei |oo de Penna, novamente o
frei foo de Penna de dantes, com imensa alegria, a
sorr, para o frade velho de Mcnte Rubiano, excla-
mou, no mais pensando nas torturas pelas quais
passara:
Porque te afatigaste e j to tarde, pec-te,
meu bom irmo, vai descansar, recolhe-te, vai ?-
pousar.
' Frei Mateus, porm, no queria deix-lo, mas
tanta foi a insistncia de frei ]co', que acabou, para
tranqiliz-lo,por consentir em gozar dalgum repouso.
E fri |oo d Penna ficou szinho com um frade
338 PADRE hoTTngACHER

muito prestativo e bom, muito atencioso e amigc,, gue


o servia, f.azia algum tempo. "E eis gue Crisio bn-
dito vem com grandssim esplendor com excessiva
suavidade de perfumq segundo havia " prometido de
aparecer-lhe outra vez, guando maior preciso tivesse
dle, e'assim o curou perfeitamente de tdas as enfer-
midades. Ento frei ]oo com as mos postas, agra-
d'ecendo a Deus, gue com timo fim ter;inara a sua
viagem da presente msera vida, nas mos de Cristo
bendito recomendou e entrego,u sua alma, passando
desta vida mortal eterna corn Cristo bendio, o gual
havia por tanto tempo desejado e resperado". '
O
bem-aventurado |oo de Penna fule,l no
ccnventc de Penna aos 5 d,e outubro de 1275. O papa
-se
Pio VII aprovou-lhe o culto, culto imemorial, qe
estendeu atravs dos sculos. (1 )

***

(1) Fioretti, Wadding, Annales Minorum.


so PLclDo (*)

Beneditino
Sculo VI

Nos seus Dilogos, So Gregrio, o Grande,


refere-se a So Plcido. Diz-nos le que um patrcio,
Tertulo, confiara o filho, Placido, a So Bento, ao
m'esmo tempo gue Eutcio entregava o filho Mauro
o mesmc patriarca do,s monges do. Ocidente.
Placido, '?d menino ainda, uma tarde, com So
Bento, subiu a uma elevao, ond,e iam orar ao
Senhor para suplicar chuvas, porgue todos na regio
Iutavam com a f.alta d'gua.
" lJm dia que o venervel Bento estava na sua
cela, Plcidc, siu para ir buscar gua a um lago, mas
ali, atirando, sem precaues, a vasilha gue levava,
perdeu ,o equilbrio e a seguiu para dentro d'gua.
E aconteceu gue, num ins.tante, a corrente tomou-o e
levou-o para longe da margem, a uma distncia, pouco
mais ,o,u menos, dum tiro de flecha.
"Ora, cr homem de Deus, do interior de sua
cela, instantnreamente teve conhecimento do sucesso
e, depressa, chamou o filho de Eutcio, dizendo:
340 PADR,E R,OHR,BACHER

Irmo Mauro, corre, porque aqule menino


que foi buscar gua ao lago nle caiu e a corrente est
a lev-lc para longe!"
"Coisa maravilhosa e inaudita desd,e o apostolo
Pedro: tendo pedido e recebido a bno, ordem do
pai, Mauro precipita-se at o lugar em que flutua o
menino, e, correndo cc,mo se fra em terra firme, agar-
ra-o pelos cabelos e puxa-o para a margem. Depois
que o depositou no sco, olhando ao redor, viu que
correra sbre as guas. Estupefatc, tremeu, pensando
numa ccisa que jamais pensara poder fazer.
"De volta ao Padre, contou-lhe o que se passara.
E o ven,ervel Bento comeou a atribuir aquilo no aos
seus prprics mritos, mas obedincia. Ac contrrio,
Mauro dizia que o sucedido devia-se inteiramente ao
mando do venervel Bento. Seno quando, assim
expunham a coisa, o que fra salvo entrou na con-
versa, como rbitro, e declarou:
Quanto a mim, posso dizer que, quandc me
tiraram das guas, vi, acima de minha cabea, o
manto do abade, e pensei que fsse le quem me
viera salvar".
So Placido foi enviado por Bento Sicilia.
Mais tarde, aprisionado pelos sarracenos, mc rreu
nas mos do pirata Manuca, com outros irmos. Diz
assim o resumo do martirolgio:
"Em Messina, n Siclia, a morte dos santos
mrtires Plcidc', monge, discpulo de So Bento,
abade: Eutquio e Vitorino, seus irmos; Flvia, vir-
gem, sua irm; Donato e Firmato, diconos; Fausto
e mais trinta monges, trucidados em defesa da fe de
Nosso Senhor |,esus Cristo pelo pirata Manuca",
VIDAS DOS SANTOS

Em agsto de 1588, fo,ram descobertos no cro


de So |oo Batista de Messina trs corpos de ho-
mens e um de mulher. Eram os de Plcido, dos dois
irmos e da irm. Depois encontrrrl-se outros, mas
o nmero de trinta fc'i ultrapassado. Desd,e ento,
a festa de So Plcido foi instituda para tda a
Igreja, e o seu nome passou a figurar no martirolgio
romano,
Um fresco rupestre gue h perto de Valerano, ertl
Viterbo, mostra-oc,s o Santo ao lado do grande Pa-
triarca So Bento ,e de So Mauro. Trajam tnicas,
trazem escapulrios, e So Placido sustenta, o mo
direita, uma cuz branca.

***
sANTA GALA (*)
Vioa
Sculo VI
Tambm Santa Gala aparece nos Dialogo.s de
So Gregrio, o Grande, Diz o Santo: "No, tempo
dos gdos, uma jovem distintssima de ncssa cidade
( I ), filha do cnsul e patrcio Smaco, csou-se na
flor da idade e, em mrenos de um ano, enviuvou.
Pcssua, larga, de tda a abundncia do mundo:
gueza e juventude impeliam-na a novas npcias.
Todavia, achou melhor unir-se a Deus por uma cs-
mento espiritual, onde se chora no princpio, mas
depois se alegra eernamente, do gue csr-se carnal-
mente, pelo que se alegra no incio, mas se chora
continuamente.
"Ela era de temperamento ardentssimo,, e os
mdicos disseram-lhe que, se no tomasse outro
espso, o gueimar de seu sangue ltr,e tornaria a vida
uma barbaridade, o gue sucedeu. Mas a santa mulher
no se deixou intimidar por aquilo, ela gue amava o
belo Espso de sua alma,
"Assim, logc, depois da morte do marido, deixou
os traj,c,s seculares, e se consagrou ao servio de Deus
Todo-poderoso no mosteiro do bem-aventurado Aps-
(1) Roma.
VIDAS DOS SANTOS 343

tolo Pedrc,. Ali passou anos, a cultivar a orac, e a


simplicidade, a i.azer aos pobres as mais abundantes
esmolas. Quando Deus lhe decretou o fim dos tra-
balhos e a r,ecompensa eterna, f,eriu-a com um cncer
no seio. E as noites, pssv-s ,ela, sempre, com
duas lamparinas acesas ao lado dor leito, porque amava
a luz e detestava as trevas espirituais e mesmo fsicas.
"[Jma noiq em gue jazi:a,,extenuada pelo mal,
agitada, viu o bem-aventurado Pedro Apst,lo de p,
entre as duas lamparinas, ao lado da cama. No tve
mdo, porgue o amor lhe dava fras. Exultando,
disse-lhe:
Que hc,uve, meu senhor? M,eus pecados
foram perdoados?"
"Pedro, de rosto alegr,e, inclinou a cabe a, af.r-
mativamente:
"
- Foram perdoados. Vem".
"Ela, gue tinha uma amiga muito querida no
mosteiro, acrescentou :
" Peo-te para gue a irm Benedita
-
comigo".
venha

"le respc,ndeu:
No, outra pessoa vir contigo. A gue ' tu
d,esejas te seguir depois de trinta diaa" . (2)
"Ditas estas palavras, o Apstolo desapareceu
de seus olhos.
"Incontinenti, ela chamou a Madre da comuni-
dade e lhe ref,eriu o gue tinha visto' e ouvido".
Tudc, se realizou, ao gue se supe, no ano de 547,
***
(2) Santa Benedita foi festejada ags 6 de maio, vol. VfII,
p. 154,
I
-

sANTA FLOR (*)


Religiosa Hosptaleiro de So loo
O senhcr do Quercy, Guiberto de Themines, e
a espsa Aiglina, fundaram, talvez antes de 1246
no caminho que levava de Figeac a Rocamador, um
albergire para o acolhimento de peregrinos, casa 9ue,
em 1295,- doaram acs Hospitaleiros de So |oo de
|erusalm e que f icc,u sendo uma dependncia do
grande pricrado de Sao Gil. Debaixo da direo de
religiosas, aquela fundao foi uma das poucas casas
de mulheres com que a Ordem contou.
Ali, no sculo XIV, prof essou uma religiosa
chamada Flor, filha de Pncic, e de Melhor. Flor,
d,esde menina, educada no seio da famlia, com seus
dez irmos e mais nove primos, sobressaiu-se pela
maturidade e simplicidade. Quando entrou nos
catorze anos, solicitcu dos pais a autorizao p'ara
recolher-se a um convento, porgu'e desejava servir a
Deus. Pais piedosos.. tementes a Deus, no lhe cria-
ram embarao algum. Disseram:
Se Deus a atrai, como iremcs ns ser contr-
rios a le?
Assim, recolh,eu-se ela fundao de Guibertc e
de A;qlina, em Beaulieu, n diocese de Cahors.
Bem cedo, Flor foi assaltada por escrpulos, mas,
um religioso que por I passou, certa feita, conseguiu
VIDAS DOS SA'NTOS 345

demov-la dos pensam,entos que a 'torturavam.


Entrcu, ento, o demnio, a p'ersegu-la, tentando-a
diretamente, lembrando-lhe a palavra de Deus : Cres-
cei-uos e multiplicai.uos, Flor, destemerosamente,
respondeu-lhe:
- Atcrmentador! O que tu me insinuas pev
mitidc, aos seculares, mas aos religiosos que promete-
ram castidade a Deus, no somente lhes proibido
como tambm uma abominao. E Deus, sem a
permisso do qual tu nada podes azer, ordena-te
que cesses de me tentar,
O demnio viu que com insinuaes nad coflse-
guiria: procurou, ?nto, intimid-la. Disse-lhe:
Fica certa que, se no ccnsentires com os
ptazeres da carne e, assim, no perderes a castidade,
perturb ar-te-ei de tl forma e te pcr,?i to mal com
as pessoas que contigo privam que a grande dor que
hs de ter te f.ar desesperar e tu te danars para
todo o s,empre.
E acrescentou, terrvel:
Ser-te- muito mais vantajoso cometer o
pecado. da carne e depois te arrependeres, por um
digno arrependimento, porque o desespro o maior
pecado, + o pecadc contra o Esprito Santo, que no
perdcado nem neste, nem no outro mundo.
FIor ficc,u perplexa. E da perplexidade passou
ao pavor. Fazendo o sinal da cruz, de repente ps-se
a'correr por tda a vasta'casa, os cJhos e as mos
erguidos para o cu, chamando por Deus, chamando
pela Virgem, chamando pelos santos todos, a implo-
rar, aos gritos, muito doridamente, de cortar o cora,o,,
a mi-s.ericrdia do Senhor. E chorav, e ,corri, e gri-
tava, e implorava, suspirando s yzes to fundament
346 PADRE ROHRBACHER

que a tdas as companheiras ps alarmadssimas,


como gue as entorpecendo, pc,rgue no sabiam que
f.azer pcr ela, nem o gue pensar sbre o que lhe
tinha sucedido.
Levadas pelo diabo, acabaram por julg-la louca.
E com aquilo mais a pobre Flor se mortificava e sofria.
Afinal, Nossc, Senhor |esus consolou-a, apare-
cendo-lhe na figura do anjo gu.e fra pintado no
claustro, bem diante do locutrio. Seguidamente, por
trs meses, abismo,u-se em Deus: foi o sossgo e a
paz. E, um dia, um anjc; aparecendo-lhe, presen-
teou-a com uma espada spda com a qual [cil-
-
mente afug,entaria o demnio do prprio corao e
do corao de quem quer que seja.
Conta-se gue, no dia de Todos cs Santos,
extasiada, FIcr viu a felicidade dos escolhidos nc cu,
e, por ocasio da f,esta de Santa Ceclia, assistiu ao
triunfo da grande Santa no paraso.
Desd'e ento, jamais sentiu a presena do dem-
nio. Duma humildade a tda a prova, a todos enter-
necia. E, quando discorria sbre as coisas de Deus,
dir-se-ia que jamais pecara mortalmente. Todcs os
dias, assistia fervorosa e recolhidamente santa missa,
mas, consoante o costume da Ordem, comungava
smente aos domingos e dias de festa. Isto, todavia,
no a impedia, diriamente,. guando o sacerdc,te co-
mungava, de ser tomada pelo xtase, arroubo que se
prolon gava indefinidamente.
Flor, sempre e sempre, meditava sbre a Paixo
de Nosso Senhor, recitando a ordem da Cruz de So
Boauentura, c'Of ficium de Passion e Domini. Demais,
contemplava, com predileo, o mistrio da anuncia-
o. Devota especial de Nossa Senhora, de So
Pedro, de Sao Francisco de Assis, venerava muito
VIDA SANTOS

particularmente a So |oo Batista, gue era oi p.


droeiro da sua Ordem.
De posse da celeste espada, nunca mais foi
assaltada por temores. Levou a vida numa beati-
tude sem par, falecendo num dia, que se desconhece,
do ano de 1347.
Inmeros f,oram os milagres gue Santa Flor, da
Ordem dcs Hospitaleiros d,e So |oo, operou: um
Annimo, recolhendo-os, comps uma coleo de
mais de cem, ocorridc,s por todo o Quercy, err pocas
diferentes, e em outros lugares, tais corrcr Perigord,
Rcuergue, Auvergne, Limousin, Gasconha e Mont-
pellier.
Infelizmente, as relquias de Santa Flor foram
queimadas, quando da Revoluo. O confessor da
bem-aventurada filha de Pncio e de Melhor escr,e-
veu-lhe a Vida em latim, mas se perdeu.

***
SANTO ATILANO E SO
FROTLANO (*)

Bspos
:

Atilano foi bispo, de Zamora, na antiga Lusitnia,


diocese criada por Aonso IlL cognominado o Grande,
rei das Astrias. O nome de Atilatro, 9u foi consa-
grado, acredita-se em 900, aparece numa carta que
Afonso III dirigiu a Sahagur, e em documento,s de
So Tiago de Compostela.
Nascido, possivelmente, D Tarazona, Arago,
conta-se dI,e, numa Vita ond,e pulula o maravilhoso,
gue. vindo de volta duma peregrinao a |erusalm,
todos os sinos da diocese repicaram alegremente, sem
gue mos humanas os tangessem, e gue os trajos gue
envergava, pauprrimos, como os do mais pobre per-
grino
- dum peregrino-endigo - todo esfarrapado,
desaparcrm-lhe do corpo, sendo por via divina,
substitudo por ricas vestim,entas pontificais.
Santo Atilano foi grande amigo de So Froilano.
ste santo bispo de Lio, gue, como Atilano, foi ele-
vado dignidade episcopal por Afonso III, festejado
no dia 3 dste, mas, como foi, com o amigo, "luz
de tda a Espanha", e sempre estiveram juntos, agui
tambm os colocamo,s lado a lado.
VIDAS DOS SANTOS 349

So Froilano nasceu ,em Lugo, na Galcia, em


833, e foi grand,e batalhado,r nos obscuros tempos da
Reconquista, tempos terrveis, de grandes provaes
e de duras batalhas contra a mourama.
Anaccreta, foi no seu retiro dos montes Curue-
nho que encontrou Atilano ; ,ento padre. Encorajados
pelo rei, fundaram, na regio lioneza, vrios mostei-
rcs, onde professaram centenas de homens e mulheres.
Depois do ltimc, mosteiro fundado, em Tvora,
Afcnso III, embora os santos prccurass,em escapr
' da
dignidade, ,elevou-os ao episcopado (900 ) , sendo
consagrados em Lio.
Froilano era austero, austero como o foram os
antigos profetas. Convertendo ladres, salteadores
facinorosos, encaminhava-os ao Senhor, eflcerrr-
do-os em mosteiros, onde se punham, sinceramente,
a azer penitncia, purgando"se dc,s males que prati-
caram.
De Santc Atilano, a no ser a Vita tda ela
repleta de fantasias, como dissemos, pouco se sabe,
realm,ent_e. a no ser gue foi canonizado pelo papa
Urbano II. O culto do santo bispo, de Zamra dsen-
volveu-se ? partir do sculo XII. Cr-se gue faleceu
em 916. Sao Froilano, o gue se presume, faleceu
em 9O5. padroeiro de Lio, assim como o amigo
c, d,E Zamora

***
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so MAURCIO (*)
Abode

Maurcio nasceu em Croixanvec. Filho de hu-


mildes trabalhadores da terra, os Duault, depois de
estabelecidos em Loudeac, por isso que o santo abade,
s vzes, nomeado como Maurcio de Loud?c, o
jovem ea piedoso, inteligente e bom, todo voltado
para as coisas de Deus. Assim, logo procurc,u, com o
consentimento dos pais, a abadia de Langonnet, onde
levou vida calma, de penitncia e de orao. Em
1145, morto o abade da fundao, foi escolhidc, para
substitu-lo.
Em I 170, o duque Conan IV legou certo trecho
de terras da flor,esta de Carnoet abadia de Langon-
net. Vrios monges, ento, fcram erigir nova casa, e
So Maurcio, convidado para govern-los, aceitou a
direo da futura abadia gue iria receber o nome da
floresta que cobria as vastas propriedades do duque.
So Maurcic, tornou famoso o lugar de Carnoet
pelos milagres gue opercu e vida santa que levou.
Falecido em 1191, Clemente XI e Bento XIV
concederam-lhe a festa, sob o rito duplo maior,
ordem cisterciense, que a celebra a 15 de outubro.
Festeiam tambm o santo abade a dic,cese de Quim-
per, Vannes e So Brieuco.
rxt
BEM-AVENTURADO RAIMUNDO
DE CPUA (*)
Mestre Geral da Ordem Dominicana

Raimundo pertenceu nobre famlia dos Della


Vigna. Nascido em Cpua, em 1330, estudou em
Bolonha, mas por pouco t,empo, pois logo se .z para
cs dominicanc,s, com menos de vinte.anos. Estudado
em Rc,ma, ali ensinou, bem como em Bolonha, no
recebendo, contudo, o ttulo de mestre de teologia
seno em 1379.
A 20 de abril de 1366, Raimundo terminava uma
obra que se propusera: A Vida de Santa Ins de
Mcntepulciano, Santa gue faleceu, notvel, a 20
de abril de I 3]_7, sendo solenem,ente canonizada pelo
papa Bento XIII em 1726.
Tempos depois, era o bem-aventurado confessor
e diretor das religiosas de Montepulciano, e, em 1367,
pricr do grande conventc, de Santa Maria da Minerva
de Roma.
_-_
Tendo, por muitos ancs, ensinado e pr,edicado, em
1370 estava em Siena, em 1373 em Flor,na, quando,
qo 1no seguinte, 1371, foi nomeado regente e Ieitor
da Escritura Santa em Siena.
352 PADRE II,OHRBACHER

Certc, dia em que Santa Catarina de Siena, muito


contritamente, crava, conta-se, urrl raio do Esprito
Santo iluminou-a e esclareceu, fazendo com que se
recordasse de que, havia pouco, pedira ao Senhor
fesus o dom da fra. Compreendeu c, mistrio das
tentaes, e, alegrando-se muito, props-se supottar,
sem se gueixar, tdas as penas gue lhe fssem envia-
das por Deus.
Ora, isso contrariava o esprito infernal, que lhe
disse:
Que vais f.azer, miservel? Has de pass ar a
vida tda nessa misria? Hei de te atormentar, at
que consintas nos meus propsitcs!
Catarina, c9m grande f.irmeza, respcndeu ao
maligno esprito das trevas:
-' Elegi c.s sofrimentos para meu alvio. Nq
me difcil, mas at agradvel, sofrer pelo nome do
Salvador, tantc quanto a Deus aprouver.
quelas palavras, o demnio retircu-se, con[uso,
e uma luz que desceu dos cus iluminou maravilhosa-
mente a cela da Santa. E em meio quela lumi-
nosidade intensa, apareceu Ncsso Senhor |,esus
Crucificado. Olhc,u-a ternamente, depois disse-lhe:
V, filha, o quanto sofri por ti. No titubeeis,
pois, em sofrer por mim,
Iluitas fcram as vises de Santa Catarina de
Siena. Outra delas, diz respeito ao pedido que azia,
instantemente, ao divino Espso, para gue lhe rel-
tasse a f. Desejava uma perfeita, para que,
unida a le de maneira mais ntima, tal unio fsse
indissc,luvel. :

Nosso Senhor respondeu-lhe pelas palavras do


profeta Osias:
VIDAS DOS SANTOS 353

Tornar-te-ei minha espsa por uma f invio-


lvel".
Quandc, a quaresma se aproximava, Santa Cata-
rina renovou o pedido que f.izera, agora com mais
ardcr. E o Senhor lhe disse:
l que renunciaste por amor de mim a tdas
as vaidades, desprezando os prazeres da carne para
s em meu corao buscar pazees, resolvi solene-
mcnte celebrar contigo os esponsais de tua alma. E,
como prometi, tornar-te-ei minha espsa por uma f.e
invic lvel.
Apareceram, ento, Nossa Senhora, So ]oo,
o Evangelista, o apostclo So Paulo e So Domingos,
com o prcfeta Davi, gue trazia na mo o Saltrio.
E a Me de Deus, com as mos purssimas, tomou
as puras mos da virgem. E, estendendo-lhe os dedos
em direo do Filho, suplicou-lhe que a Catarina
tomasse como espsa.
f esus aceitcu- , ?, com extrema bondade, colocou
num dedo da Santa um anel de ouro, ornado de bels-
simas prolas e um fulgurante diamante, 'depois do
que, disse-lhe:
Eis que te tomo por espsa, eu, gu.e sou teu
criador e salvador. Tomo-te por uma [ que se con-
servar sempre inviolvel. De agora em diante, minha
filha, .aze ccm corgeffi, e sem delongas, o que a
minha providncia te mand ar fazer: armada de grande
fra, da fra da f., has de vencer a todos os
adversrics.
Ditas estas palavras, a viso desapareceu, mas
o anel permaneceu no dedo em gue |esus o pusera.
Era, todavia, smente visvel para Santa Catarina,
como sempre confessou ao seu diretor espiritual e
futuro bigrafo Raimundo de Cpua, o qual, muitas
-
354 PADRE ROHRBACHER

vzes, como confessav, viu-se tentado a no \ crer nas


vises e nos xtas,es que ela lhe contava.
Diz o bem-aventurado:
"Procurava por tdas as maneiras descobrir se
tais vises e xtas'es vinham da parte de Deus, ou, se
no, donde. Por gue assim fazia erfl Porgue me lem-
brava d,e ter encontrado mais de uma mulher de cabea
fraca e fcilmente seduzida pelo inimigo, cc,mo noss
prim'eira me, Eva,
"Em tal ansiedade, pedindo a Deus que me escla-
recesse e orientasse, veio-me lembrana que, se
obtivesse pelas oraes de Catarina uma grande e
extraordinria contrio pelos meus pecados, isto
representaria um seguro sinal de que tudc, verdadei-
ramente, procedia do Esprito Santc,, porque ningum
pode ter esta contrio seno pelo Esprito Santo.
"Disse-lhe, ento, gue por mim pedisse ao Senhor
o perdo dos meus pecados, e Catarina respcndeu-me
que assim o f.aria com a maior boa vontade. Eu,
porm, repliquei gue meu desejo no ficaria satisfeito
seno, guando estivesse certo da indulgncia como de
uma bula de Rc,ma. Ela sorriu e me perguntou que
bula desejava eu possuir. Respondi-lhe i " Uma
grande e extraordinria contrio dos meus pecados".
"Assegurou-fle gue, imediatamente, havia de
f.az-lo, sem gualguer dvida. Parece-rne, ento, gue,
naguele instante, via a todos os meus pensamentos.
Era noite, ,e no dia seguinte, achei-me doente, tendo
ac, lado um frade.
"Embora estivesse mais doente do que eu, Cata-
rina veio visitar-me, ,rl companhia duma das amigas.
E, segundo costumava, ps-se a alar de Deus e da
ingratido dos homens, porgue vivemos a of'ender to
grande benfeitor.
E I

VIDAS DOS SANTOS 355

"Enquanto falava, veio-Ine uma viso to' clara


dos meus pecados, que me julguei, sem sombra de
dvida, digno da morte, diante do supremo e justo
juiz, o gual, to magnnimo le , no s me livrou
da morte corcr me co,briu com suas vestimentas subli-
mes, tomando-l a seu servio. Isto me f.z chorar,
soluar e corar, e tanto, gu,e temi gue o corao e o
peito fsse romper-se. Catarina calara-se. Deixou-me
cho,rar e sc,luar vontade. Passado o pranto, per-
guntei-lhe: " a bula gue te pedi?" Respondeu-me:
", Lembra-te sempre dos dons de Deus". E assim
dizendo, saiu com a companheira, deixando-me s com
o frade, todo numa grande alegria. Tomo a Deus por
testemunh'a d,e que no disse seno a verdade".
Santa Catarina de Siena fra advertida, por uma
revelac,, quando assistia missa no dia da festa de
So |oo Batista, que o bem-aventurado Raimundo
de Cpua seria seu confessor.
Em 1374, a peste assolou Siena, e a prim'eira
obra comum de Catarina e de Raimundo foi cuidar
dos gue contraram a doena terrvel. Raimundo no
tardou a ser assaltado pela enfermidade, mas Santa
Catarina, orando a Deus e pedindo pela sade do seu
diretor, curou-o em pouco tempo. Insistia a Santa
em que se devia, para debelar o mal, apaziguar a
Deus com dignc,s frutcs de penitncia. E suas pala-
vras, naguela feia poca, fo,ram to f,ervoross e ,r-
trou fundo em todos os coraes, que se viam os
mais empeclernidos pecadores a acolh-las, arrazados.
Gente de tdas as classes aco,riiam c,uvi-l, e os
que tinham a felicidade de v-la e ouvir-lhe as
palavras, glorificavam a Deus, propondo-se levar vida
decente e mais crist.
356 PADRE ROHRBACHER

Morto o papa Gregrio XI em Roma, aos 27 de


maro de 1378, subiu ao trono de So Pedrc,, Bartc-
lomeu Prignano, que era arcebispo de Bari, tomando
o nome de Urbano VI.
Raimundo, naquele ano, encontrava-se em Roma.
Urbanc VI fra recc,nhecido por tda a lgreja, mas
onze cardeais franceses requereram que se transpor-
tasse a crte romana, cutra vez, para a cidade de
Avinho. O novo Pontfice recuscu-se. Ora, aqules
cardeais, depois de servirem o ncvo papa por trs
meses, abandonrrn-ro e entraram a dizer que a
eleio nc, fra livre: por conseguinte, era nula. Disto
resultcu a eleio dum segundc papa, Roberto de
Genebra, que se chamou Clemente VII. ste stimo
Clemente, contudo, no foi reconhecido pela Igreja
Romana.
Raimundo de Cpua e Catarina de Siena, ime-
diatamente puserr-se do lado de Urbanc VI. A
Santa, que havia predito o cisma , inf.eliz cisma, Cz
o possvel para conjur-lc. Escrevera a Urbano, para
que fsse moderado e usasse de pacincia. Escrevera
aos cardeais , para que se lembrass?m que haviam
assegurado a tda a cristandade que c papa gue ha-
viam escolhido era o papa legtimo, pc is gue fra
livremente eleitc,. Escrevera, ademais, o r,ei da
Frana, Carlc'rs V, para gue fsse perseverante na
obedincia ao verdadeiro Pontfice.
Ccmo no pudesse evitar o mal, Santa Catarina
a Deus of ereceu-se em holocaustc. No lhe soara
ainda a hora, porm, de modo que, quela delicadeza,
o Senhor, para tranquiliz-la, ez-lhe entrever melhc-
res dias para a Igreja, no futuro.
O cisma, predissera-o ela quando parava em Pisa.
Raimundo, ento, cumprida a predio, quando se
VIDAS DOS SANTOS Dt

encc,ntrou com a dirigida, lembrou-lha. E prgun-


tc,u-lhe:
Carssima, depois dstes males, gue haver
na Sant a lgreja?
Catarina respondeu-lhe :
Findas as atribulaes e as angstias, Deus
purificar a Santa lgreja: ha d,e suscitar o esprito
dos eleitos, e ha de se seguir tal reforma na Igreja
e tal renovao nos santos pastres, gue meu esprito,
s em pensar, estnemec,e de alegria no Senhor. E a
Espsa, agora coberta de andrajos, ser belssima,
crnada de jias precicsas e coroada de diademas, os
diademas de tdas as virtudes. E todos os fieis se
alegraro por tantos e to santos pastres, Quanto
aos povos infiis, atrados pelo bom S,enhor |esus
Cristo, sses vo,ltarcr o catolicismo, convertendo-se
ao verdadeiro pastor e bispo de suas almas. Assim,
rende graas ao Senhor, porgue, depois desta tempes-
tade, dar le sua Igr'eja uma serenidade extraor-
dinriamente grande.
" Nem a Santa, nem o bem-aventurado viram o
cumprimento de tal predio, porque s mais tarde
se cumpriria.
Santa Catarina de Siena faleceu ,em Rom a, a 29
de abril de 1380, Raimundo de Cpua, ento, acha-
va-se em Pisa, ?, d 12 de maio daguele mesmo ano,
era eleito Mestre Geral.
Foi guando findava de percorrer a Alemanha,
em visitas aos conventos, gue o bem-aventurado Rai-
mundo de Cpua faleceu: ,era em Nuremberg, a 5 de
outubro de I 399, dezenove anos depois daguela gue
dirigiu e da gual escr,eveu a vida.
Ccnta-se gue o corpo foi transferido, no sculo
XVI, para a igreja de So Domingos Maior de
358 PADRE ROHRBACHER

Npoles. Honrado tradicionalmente como bem-aven-


turado, Raimundo de Cpua foi beatificado pelo papa
Leo XIII, aos 15 de maio de 1899, quatrccentos e
trinta e oito anos depois da canonizao de Santa
Catarina, que Pio II elevou s honras dos altares
em I 461.

No mesmo dia, em Soissons, So Discliano ou


Diviciano, bispo (sculo III ou IV), cujo corpo era
venerado na igreja da abadia de So Crispim, o
Grande.
Em Pesaro, a bem-aventurada Felcia Meda,
abadssa clarissa. Nascida em Milo no ro de
1378, tornou-se r[ ainda menina, com dois irmos
mais novos para cuidar: da a precoce maturidade de
que falam os seus bigrafos ( Gallu cci, Vida da Beata
Felcia e Serutina, Monjas de Santa Clara do Copus
Domini di Pesaro; Leon, Aurcla Serfical . Aos
doze anos, votou a Deus a virgindade. Anos mais
tarde, repartindo os bens entre os irmos e os pobres,
buscou as clarissas do mosteiro de Santa rsula de
Milc,. Pouco depois, teve a alegria de ver a irm
juntar-se a si e o irmo a ingressar entre os Menores.
Modlo de regularidade, muito perseguida pelo dem-
nio, que lhe surgia debaixo das mais apavorantes
aparncias, com a ajuda d,e Deus soube levar a vida
pelo estreito caminho spero gue leva ao cu. Aba-
dssa, Santa rsula tc,rnou-se famosa, tanto gue ,
fundando a espsa do dugue de Pesaro um novo
convento de clarissas, Felcia foi convidada para
dirigi-lo. Ali, depois de vida edificantssima, faleceu
a 30 de setembro de 1444, sendo imediatamente acl:a-
VIDAS DOS SANTOS 359

mada como santa pelo povo de Pesaro, gue a idola-


trava pelas virtudes. Pio VII aprovou-lhe o culto
em 1812.
Em Meaux, Santo Antonino, bispo (sculo
IV? ) . Discpulo de So Dionsic, de Paris, Antol
nino, com Saintinc,, teria sido encarregado de levar
ao papa Anacleto, sucessor de Clemente, a relao
da sua misso. Antonino teria morrido a caminho, e
Saintino ressuscitou-o (Ver 22 de setembro ) .
Em Manosca, Santa Tlia, virgem (sculo VI ),
que, dizem os estudioscs, ,era filha de Santo Euqurio.
Na diocese de Mende, Santa Enmia, virgem.
Filha de Clvis, filho de Dago,berto, como no qui-
sesse casar-se, como o desejavam, Deus cobriu-a de
lepra. Anos depois, apareceu-lhe o Senhor, diz'en-
do-lhe que se curaria na fonte de Burl, o QUe col-
teceu, ali se banhando. O nome Enmia, ensinam-oos,
uma deformao de eremia, ermito, ermita; [emi-
nino, ermit e ermitca.
Em Amiens, Santa Auria, abadssa, no sculo
VIII. Segundo uma legenda de Santa Ul[a, ou l[ia,
virgem nascida em Soissonnais, que se consagrou a
Deus quando ainda muito jovem, Auria teria sido
sua companheira, quando do enterramento de So
Dcmcio (31 de janeiro e 23 de outubro). Teria sido
abadssa dum mosteiro fundado em Amiens por
Ulfa. Tudo, porm, so hipteses, e as legendas
so tidas como sem valo,r. A cabea de Santa Auria
era venerada no mosteiro de Paracleto, mosteiro que
foi levantado, sbre o tmulo de Santa Ul[a.
Em Nevers, So |ernimo, bispo, no sculo IX.
Contempornec, de Carlos Magno, conseguiu um
documento (chaue) d" restituio dos bens de sua
igreja. Ao santo bispo atribuda a construo da
PADRE ROHRBACHER

igreja de Sauvigny-ux-Bois. Foi enterrado na


igreja de So Martinho de Nevers, igreja que hoje
no mais existe.
Nc mosteiro de Boeddeken, Paderborn, West-
f.lia, Sac Meinulfo, dicono, ou Manolfo. Foi o
fundador da abadia das cnegas regulares de Boed-
deken, cuja igreja foi ccnsagrada em novembrc de
837. Naquela igreja o Santo teve as relquias depos-
tas, as quais foram veneradas ate 1803, ano em que
o mosteiro fci suprimido.
Em Florena, o bem-aventurado Pedro de mola,
cavaleirc de Sc ]co. Cavaleiro da Ordem de So
|oo, Pedro foi prior da provncia da Roma. Faleceu
em Florena em 1320.
Na Inglaterra, os bem-aventurados Guilherme
Hartley, f oo Hewett e Roberto Sutton, mrtires,
em 1588. Mrtires do tempo da Armada Espanhola,
que c papa Pio XI beatificou em 1929, Guilherme
pertencia a uma famlia de pequenos proprietrios
rurais; nascido em 1 557 , no condado de Derby, ece-
beu educao protestante; convertido, foi ordenado
padre em Chalcns, em 1580; exilado em 1 585, tornou
Inglaterra -secretamente, sendc morto; foo era do
condado de York; estudou em Cambridge; quando foi
prso era dicono; Roberto nasceu em Leicester; como
Hartley, foi educado no protestantismo; ccnvertido,
fci acusado de catolico, prso e. comc,no apostatasse,
morto pela f. Festa de So Trasias, bispo de
Eumnia, que foi martirizadc em Esmirna . t Em
Trreris, So Palmcio e seus ccmpanheiros que,
durante a perseguio de Diocleciano, sc freram o
martrio sob o presidente Ricicvaro. No mesmo
dia, S:nta Caritina, virgern que, sob c Imperador
VIDAS DOS SANTOS

Diocleciano e o consular Domcic, sofreu a tortura do


fogo e foi atirada ac mar. Tendc sadc s e salva,
teve as mos e os ps ccrtados, e os dentes affafi-
cados; e, pondc-se a orar, entregou o esprito. - Em
Auxerre, morte de Sac Firmato, diccno, e de sua
irm, Santa Flaviana, virgem. Em Ravenna, Sao
Marcelino, bispo e conf essc r.

***
6,, DIA DE OUTUBRO
SO BRUNO
Fundador da Ordem dos Cartuxos

Pelo fim do dcimo-primeiro sculo, enguanto o


Papa So Gregrio XII, seguindo o exemplo de So
Leo IX, trabalhava ccm f e coragem invencveis, na
reforma do clero, Deus suscitc,u um novo patriarca
da vida solitria, urn homem da mesma estirpe dos
Anto, da Tebaida, dos Hilario, da Palestina; um
homem e uma ordem que, pela vida penitente, deve-
riam servir de lio e de modlc' ao clero e ao povo
cristo, e atrair para sempre as bnos do cu sbre
tda a Igreja; uma ordem gue, aps oito sculos, .
ainda a mesma, sem nunca ter tido necessidade de
reformas, nem em relao pureza da f., nem em
relao austeridade e disciplina. sse homem
So Bruno; essa ordem a dos Cartuxc,s.
Bruno nasceu em Colnia, onde foi educado.
Fz seus ,estudos na Frana, e o seu aproveitamento
lhe mereceu a ctedra da escola de Reims. Manasss,
arcebispo de Reims, f-lo seu camareiro, como se pode
deduzir de alguns atos que Bruno assinou ness eu-
Iidade. Mas os benefcios com que Manasss o
cumulou no lhe fecharam os olhos para os excessos
VIDAS DOS SANTOS 363

praticadcs por agule prelado, nem lhe esmoreceram


o zlo. Bruno foi um dos principais acusadores de
Manassrs gue, para puni-lo, o privou de seus favo-
res. Bruno sentiu menos tristeza com os maus ttata'
mentos do que com os escndalo,s armados pelo
arcebispo. Primeiro retirou-se para Colnia e, durante
algum tempo, foi cnego d,e So Cuniberto; Deus,
porm, chamav d-o um estado mais perf eito. Desde
o tempcr el que vivia em Reims, junto ao arcebispo
Manasss, Bruno projetara, juntamente com alguns
amigos seus, abraar a vida monstica. o gue conta'
a Radulfo Ie Verd, ,ento preboste de uma igreja de
Reims:
"No vos recordais gue, passeando um dia por
um jardim, prximo da casa de Adam, onde me alo-
java, depc,is d,e termos, eu, vs e Flcio, o caolho,
discorrido sbre a brevidade dos prazeres dste
mundo comparados com a eterna durao das alegrias
celestiais, de tal modo nos sentimo,s tomado,s de fervor
que prometemos, e fizemos um voto ao Esprito
Santo, gue deixaramo,s o mais cedo possvel as coisas
perecveis e vestiramos o hbito monstico, a fim de
merecermos c,s bens eternos; plano, cuja execuo no
teramos adiado se no fsse a viag,em que Flcio
f.z a Roma por ss poca." Essa carta de So Bruno
bem mostra gue a conferncia por le mantida com
seus amigos sbre a vaidade dos bens terrenos, foi a
primeira causa do seu retiro, depois do desgsto ,e da
mgoa gue teve ao viver sob a direo' de um rce-
bispo to escandaloso gu'anto Manasss. sse pre-
lado, embora deposto, manteve-se durante algum
tempo na sua sede; mas foi expulso pelo povo e
retirou-se para a crte de Henrique, rei da Germnia,
onde moruzu miservelmente, excludo da comunho
I 364 PADRE ROHRBACHER

da Igreja. Rainaldo, tescureiro de Sao l\'Iartinhc


de T'ours, eleito em seu lugar, calmamente tcmotr
posse do impcrtante solio episccpal.
Essa mudana no logrou desviar So Brunc do
piedoso desgnio por le concebidc,. Para lev-lo a
efeito, ass.ciou-se a seis companheiros igualmente
ervoroscs. Ainda no tinham assentado o gnero de
vida qlle abraariam para melhor servir c Senhor.
Porm, depois de terem consultado alguns santos
personagens, entre les um piedosc eremita de grande
reputao, dirigirr-se a Santo Hugo, bispo de Gre-
noble. O santc bispo que, na noite precedante, vira
em sonhcs sEte estrlas, acreCitou que Deus quisera
dar-lhe a conhecer o merecimento dos set: peregrinos
que, camo cutros tantos astros, viriam iluminar sua
diocese. Recebeu-os com alegria, e cedeu-lhes, para
que l mcrassem, as impressronantes montanhas,
situadas nc longe de Grenoble, e denominadas Car-
tuxa. So Bruno e seus companheiros ergueram uma
capela dedicada Santa Virgerr e, depois de constru-
rem calas ao redor dessa capela, ccuparam-nas nas
imediaes do dia de Sao foo do ano de 1084. Tal
foi o incio da ncva ordem que constituiu, e no cessa
de constituir motivo de edificac para a Igreja, em
particular na Frana, onde nasceu. A Cartuxa, pri-
meira morada dcs discpulos de Sao Bruno, deu o
nome a tdas as casas do mesmo instituto, e acs
solitrios que o abraaram.
No mencionamos, ,entre as causas da ccnverso
de So Bruno, o milagre do cnego, que durante seus
obsquics, voltou vida por um mcmento para contar
que fra condenado. Nenhum dos autores contem-
pcrnecs que comentaram o desejo de recluso de
So Bruno se referiu a sse fato, de natureza a no
U
a
U
o
a
a)

z
Fl
o
a

C^,
Or
S. Bruno coloca a ordem dos cartuxos sob a proteo da SSma. Virgem (de crl
pintura de Zurbarn, scuio XVII).
366 PADRE E,OHRBACHER,

ser omitido, caso fsse verdico. Chegou-se cor-


cluso, hoje em dia, de que foi inventado, sendo
retirado do, brevirio romano. Contudo, a questo
no parece definitivamente resolvida, pois, no lrlo-
mento em gue estas linhas so impressas, travamos
conheciorerr[o com a Histria de' So Bruno, de
Tromby ( I ) , que se ocupa minuciosamenteem refutar
os argumentcs contrrios ao fato e destaca as tazes
favorveis veracidade do milagre. LIm novo bi-
grafo de So Bruno faria bem se novamente consi-
derasse o assunto.
Bruno e seus companheiros levaram uma vida
angelica nas ttricas montanhas da Cartuxa. Eis como
se expressa Guibertc,, abade de Nogent, famoso
escritor daquele tempo, sbre a maneira de viver dos
primeiros cartuxos: "A Igref a oi construda quase
no cume da montanh'a. O claustro muito cmodo;
mas os cartuxos no moram juntos, cc.mo c,s outros
mong,es. As celas so construdas ao redor do claustro
e cada religioso ocupa uma delas, na qual trabalha,
dcrme e toma suas reeies. Recebem do ecnomo,
aos domingos, po e legumes para a semana. Os
legumes so os nicos alimentos que l,es cozinham
em suas celas; uma fonte lhes fornece gua para beber
e para outras utilidades, atravs de canais gue desem-
bocam nas celas. Aos domingcs e dias santos solenes
comem queijo e um pouco de peixe, quando os ?ce-
bem de pessoas caridosas; pois no compram nada
disso. Quanto ao ouc,, prata, e aos ornamentos
da igreja, no os aceitam quando lhes so oferecidos.
Um clic'e resume a sua prataria. No se renem na
(1) Tromby, Storia del patriarcha S. Bruno, Napoli, t776,
3 volumes in-fol.
VIDAS DOS SANTOS 367

igreja s horas ordinrias; se no me engano, assistem


missa'aos domingos e dias santo,s. Raramente falam,
e, se tm necessidade de dizer alguma coisa, f.azem-no
por m,eio de sinais. O vinho que bebem to aguado
que no tem o mnimo sabor e mais parece gua;
Usam o cilcio em cima da carne; suas roupas so
bastante finas. So governados por um prior: o Bispo
de Grenoble serve-lhes, s vzes, d,e abade. Porm,
embora sejam pobres, dispem de uma rica biblioteca".
Guiberto assim prossegue: "Tendo o Conde de
Nevers ido visit-los ste ano, num ato de devoo,
compadeceu-se da pobr eza em gue viviam, e envio,u-
lhes, ao regressar, algumas peas de prata de alto
custo. Devolveram-nas, e o Conde, edificado com a
recusa, enviou-lhes couro e pergaminho, que sabia
ser-lhes necessrios na cpia de livros. Como as terras
da Cartuxa sc, estreis, semeiam pouco trigo; mas
compram-ro corl a l de suas ovelhasr QUe criam em
grandes rebanhos. Ao sope da montanha moram mais
de vinte leigos, gue os servem com muito carinho, e
que se ocupam com seus negcios temporais, po,is os
religiosos s se dedicam contemplao". Em
seguida, Guiberto refer-se ao grande nmero de cor-
verses gue o exemplo dc's solitrios da Cartuxa
operou na Frana, e da diligncia com que tdas as
provncias se empenharam em construir mosteiros do
mesmo instituto. (2)
A pintura que o abade de Nogent nos f.az da
vida dos primeiros cartuxos, Pedro', o Venervel,
acrescenta vrios traos edificantes. Diz gue us-
vam roupas de m qualidade, curtas e estreitas; que
haviam delimitado uma certa extenso de terreno,
(2) Guib. De vita sua, l. f, c. X.
PADRE ROHRBACHER
t
alm da qual nada aceitavam do que lhes cre oere-
cidc, fsse mesmc um punhado de terra; gue tinliam
um nmero fixo de bois, de ovelhas, de mulas e de
cabras; que , para nc serzm obrigados a aument-Jos,
no recebiam mais de doze monges em cada estabele-
cimento, alm do prior e de dezoito converscs e alguns
criados; que nunca comiam carne, ffie sm6 quando
dc,entes; que na sexta-feira e no sbado s comiam
legumes, e que s segundas, quartas e sextas ccmiam
apenas po escuro e bebiam gua; que s f.aziam uma
refeio pcr dia, exceto aos domingos, festas solenes,
oitavas da Pscca, Natal e Pentecostes; e gue s
ouviam missa acs domingos e dias santificados. Os
seis primeircs cc mpanheiros de Sao Bruno foram
L,anduno, que lhe sucedau no govrnc da grande
Cartuxa, os dois Estvas, cnegos de So Ru[o,
Hugo, que ea o nico sacerdote da comunidade,
Andr e Garin, leigos.
C maior ccnslo de Santc' Hugo, Bispo de Gre-
noble, era .azer freqentes visitas a Chartreuse, a
fim de edificar-se com a santa vida que levavam os
piedoscs solitrics. stes, porm, mais edif icados
ficavam com a humildade do santo prelado, do que
le com as suas austzridades. Santc Hugc vivia entre
c s mcnges como se fsse o ltimo de todos. Seu
fervor fazia ccm que esquzcessem sua dignidade, e
le crestava os rnais nfimos servios quele com
quem sz al:java; pois ncs primordi:s da fundao,
cada cela era ccupada por dois cartuxos. Seu compa-
r.'heiro queixou-se a Sac Bruno de que Hugo azia
que-cto Ce de sempenhar as funes de um criado; mas
o santo bisro s dava cuvidcs sua humildade e
sentia-se honradc em servir os servos de Deus.
VIDAS DOS SANTOS 369

Muitas vzes So Bruno, tomava a liberdade de


mand-lc, de volta sua igreja. "Retornai s vossas
ovelhas, elas precisam de vos; dai-lhes o que deveis."
O santo Bispo obedecia Bruno como a um superior;
porm, depois de passar algum tempo com seu povo,
ietornava solido. Pretendia vender seus cavalcs
e f.azer a t as visitas sua dioc'ese. So Bruno dis-
suadiu-o, receoso de que aguela singularidade pr-
cesse uma condenao lanada acs outro's bispos, e
tambm, de que le pudesse tirar do fato uma glria
v. Hugo seguiu-lhe c conselho; mas sua humildade
obrigou-o a suprimir tudo quanto no julg-asse-d'ever
dignidade episcopal. |untamente com Sc Bruno,
o santo Bispo foi como gue o pai dc's cartuxos. Fez
uma ordenao pela qual proibiu. gue as mulheres
passassem pelas terras dagueles religiosos, pois temia
que pudess,em perturbar-lhes a solido. A ordenao
datada do ms de julhc, de 1084. dsse ano gue,
com mais verossimilhana, datam os comeos do ins-
tituto dcs cartuchos.
Tendo sido o Papa Urbano II, que fra disc-
pulo de Sc Bruno, em Reims, informadc' da santa
vida que ste levava, havia seis anos, nas montanhs
da Cartuxa, e alis, ciente da sua erudio e sabedoria,
chamou-o para junto de si a fim de aproveitar seus
conselhos no govrno da Igreja. O humilde solitrio
no poderia receber uma c,rdem que mais lhe custasse
a obedeaer. Teria gue se arrancar querida solido,
deixar os irmos ternamente amados e arriscr-se
ver dispersar-se o pequeno r,ebanho reunidcr Corl tanta
dificuldade; mas seu respeito pela Santa Se no lhe
permitiu f.azer ponderaes. O Papa recomendou a
Cartuxa a Seguin, abade da Chaise-Dieu, no'tvel
3?0 PADRE R,OHR,BACHER,

pela piedade e autoridade; e Bruno nomeou Landuno


prior_da Cartuxa durante a sua permanncia na Itlia.
Mas os solitrios, habituadc,s a sofrer alegre-
mente as maiores austeridades, no conseguiram su-
portar a ausncia de seu pai. A Cartuxa gue, estando
le presente, lhes parecia um paraso terrestre, retomo,u
aos olhos dos monges o seu verdadeiro aspesfs,, isto
, o de um deserto ttrico e inabitvel. No consegui-
Iam mais suportar os contratempos e a falta de coo-
frto e fcram-s *bora, re* crtudo sprr-s. A
desero dos monged obrigou so Bruno a entregar
a fundao a Seguin, abade da Chaise-Dieu. Entie-
tanto Landuno, gue fra nomeado prior, to patti-
camente exortou os irmc,s a petseverarem que, aps
uma ausncia no muito longa, les retornaram
Cartuxa; foi-lhes esta devolvida pelo -de abade da
chaise-Dieu por ato datado de 17 setembro de
I 090.
Bruno foi acolhido pel'c, Papa com a considerao
devida sua piedade e aos seus merecimentos; e o
Papa, que conhecia a sua prudncia, freqentes vzes
o consultava sbre importantes negcios da Igreja;
mas a confuso e o tumulto ligados crte rana,
para onde eram levadas tdas as causas do mundo
cristo, no apraziam a um religioso gue j experi-
mentara as douras da solido e da contemplao.
Bruno solicitou, pois insistentemente, permisso para
tornar a enterrr-se na sua guerida Cartuxa. O Papa
apreciava-o demais para conceder-lhe o gue pedia;
instcu para que aceitasse o arcebispado de Reggio;
o piedoso solitrio desculpou-se com to sincera
humildade, que Urbano II achou que no devia vio-
lentar-lhe a modstia; consentiu, mesmo, gue se reti-
rasse para um lugar so,litrio, na Calbria, onde levc,u,
VIDAS DOS SANTOS 371

com alguns companheiros que conguistara parl Deu.s,


na Itaa, uma idu semelhante das montanhas da
Cartuxa, Rogrrio, Conde da Calbria e da Siclia,
f elicitou-se pt abrigar em seus estados to santa
colnia, e doou acs tLligiosos algumas terras na dio-
cese de Squillace, onde construram um mosteiro
denominado La Tour, cuja igreja foi co'nsagrada no
ano de 1094.
Fci dessa solido qu. Bruno escreveu a Radulfo
le Verd, ento pr'eboste da Igreja de Reims, e s-e1r
velho amigo. cnvidando-o a renunciar ao mundo.
Depois degradecer-lhe as provas de amizade que lhe
devia, pintaihe os atrativos do novo retiro. Assim se
.*pr.riou: "Habitc um rmo nos ccnfins da Calbria,
baitante af astado do convvio dos homens. Como
descrevef-vOS a beleza do luga r 'e a pureza do ar que
aqui respiramos? uma plancie ampla e 'aprazvel,
que se estende ao longe po'r entre montanhas, e na
qual se encontram pradcs sempre verdes e pastagens
sempre floridas. No consigo descrever a encanta-
dor perspectiva formada pelas colinas gue se elevam
inseniivelmente, e as linhas 'escuras e,profundas dos
vales, banhados por fontes, r'egatos e rios que o[-ere-
cem ao olhar um maravilh'c'so espetculo. Tambm
podemos passear a vista por deliciosos jardins e
d*irur ivores de tda espcie, carregadas de bels-
simos frutos. Mas para que perder tempo d,escrevendo
minuciosamente o atrativos da nossa solido? O
hcmem sbio nela encontra pazeres mais aprazveis
e mais altos, por serem divinos. Contudo ao _esprito,
fatigado pela meditao e pelos exerccios da disci-
plin regular apraz, nos lazeres, a vista de belos crl-
pos, distrao inocente, pois um arco sempre tenso'
perde a [ra".
372 PADRE ROIIRBACHER

Depois do elogio da solido, So Bruno f.az o


elogio da vida solitria e insiste com c amigo para
abra-la, cumprindo a promessa que fizera. Diz-lhe:
"Sabeis ao que vos obrigastes, e o quantc o Deus a que
vos consagrastes terrvel. No lcito mentir-lhe;
pois dle no zcmbamos impunement3". Bruno relem-
bra ac amigo as piedosas palestras por les mantidas
eur Reims, em conseqncia das quais ambos se
tinham ccmprometido a abraar a vida monstica.
Enfim, intima Radulfo a cumorir seu voto e exorta-:
a f.azer uma peregrinao
-concedidaa Sao Nicolau de Bari, a
fim que lhe seja a consclao de v-lo.
Contudo, Radulfo le Verd permaneceu no estado
eclesistico e, mais tarde, fci elevado ao episcopado
de Reims.
So Bruno escreveu, daquela mesma solido, uma
carta a seus irmcs da Cartuxa de Grencble, con-
gratulando-os, assim como a Landuno, prior, que
viera visit-lo, por tudo quanto s:ubera sbre les,
e para exort-los perseverana. Felicita em parti-
cular os irmos conversos pela piedade e cbedincia
de que do provas. Ao terminar, assegura aos solit-
rios da Cartuxa que tem um ardente desejo de v-l:s;
mas que no lhe possvel satisfazer tal des,z jo. So
Bruno morreu santamente nc seu mosteiro da Trre,
na Calbria, no ano de I 101 , num domingo, 6 de
outubro, dia em que a Ioreja lhe glcrifica a memria,
deocis de o ter Leo X solenemente o includo no
nmero dos santos.
Mal Sc Bruno percebeu que a sua hora chegara,
mandou que seus irmcs se reunissem e deu-lhes a
corihecer todcs os acontecimentos da sua vida. como
se quisesse azer uma espcie de confisso publica.
Em seguida, [z sua prc fisso de f, insistindo parti-
VIDAS DOS SANTOS 373

cuiarmente na Eucaristia, a fim de que todos ficassem


cientes de que repelia a her'esia de Brenger, seu
antigo mestr,e. "Creio gue o po e o vinho, coIS-
grados no altar, transormrl-se , depois da cors-
grao, no verdadeiro copc de |esus Cristo, efl seus
verdadeiros sangue e carne, gue recebemos para a
remisso de nossos pecados, e na esperana da eterna
salvao".
o quirot d a conhecer uma carta circular
que seus discpulcs da Itlia enviaram a tdas as
igrejas, de acrdo com o costume, a fim d,e recomen-
d-lo s orae s dos fiis. Em se tratando de perso-
nalidades amosas, essas cartas eram respondidas com
um breve elogio do morto, em prcsa ou versc', o que
era denominado um ttulo. Foram conservados vrios
dsses ttulos, procedentes de vrias igrejas da Itlia
e da Frana, com r,eerncia a So Brunc; so mcnu-
m,entos que confirmam a alta idia em que eram tidas
a sua erudio e piedade, Meynard, abade de Cor-
mri, respondeu circular com a seguinte carta:
"Aos irmos gue servem o Senhor no mosteiro
de La Tour. Recebi vossc blhete no dia 3l de outu-
bro dste ano de I 102, e soube que a bem-aventurada
alma de meu mui caro mestre Bruno d,eixou ste mundo
perecvel e foi levada aos cus pelas asas das virtudes.
O glorioso fim dsse grande homem encheu-me de
consolac. Contudo, como h muito tempo desejava
ir v-lo para abrir-lhe a minha conscincia e viver
convosco sob a sua direo, no pude conter as lgri-
mas ao receber a notcia da sua morte. Sou originrio
de Reims, estudei cor c senhor Bruno e, graas a
Deus, fiz alguns progressos nas l,etras, de gue lhe
sou devedor. Mas, como no pude demonstrar-lhe
minha gratido enguanto vivia, procurarei d,ela dar-lhe
PADRE ROH

provas depois da sua morte, rezando tanto por le


co,mo por mim mesmo".
As respostas gue vrias outras igrejas deram
.carta circular noticiando a morte de So Bruno no
so menos significativas. Referem-se a le como a
um incomparvel doutor e filsofo e colccado acima
de Virglio e de Plato. Foram entregues ao pblico
dois volumes in-folio das obras de So Bruno. Mas,
com exceo do seu colnntrio sbre os salmos e as
epstolas de So Paulo, e das duas cartas a gue nos
referimos, todos os outros trabalhos que levam seu
nome so da autoria de Bruno de Asti, Bispo de
Segni. ( 3)

***

(3) Hist. Univers. do L'Egllee Catholiqug t. XfV.


SANTA F (*)
Virgem e Mrtir

(Sculo III ?)

Santa F nasceu de pais nobres. Virtuc sa e


bela, foi primeira mrtir de Agen. Prsa como
crist, quando o prefeito Daciano passava pela cidade,
foi indu zida a apcstatar, sacrificando Diana.
Respondendo a Daciano que todos os deuses
eram demnios, recusou-se, dizendo que so ao Deus
vivo e verdadeiro rendia homenagens.
Estendida no leito de ferro, o brbarc prefeito
deu ordem para que, d,ebaixo dle, acend,essem grande
fogo. Naquele dia, muitos pagos, indignados, cco-
verteram-se e obtiveram, com a virgem, a coroa do
martrio. Dentre os cristos, Caprsio, vendo Santa
F envolvida pelas chamas, ps-se a orar, a rogar a
Deus que desse a vitoria santa virgem, ao mesmo
tempc que suplicava um sinal que lhe fizesse ver se iria
passar pelo suplcio.
Uma pomba, ento, descendo do alto do cu,
trazendo uma coroa nc, bico, colocou-a sbre a cabea
da mrtir, a quem o fogo no causava mal.
Caprsio, poucc, depois, apresentava-se a Da-
ciano, diz,endo-se cristo. Obrigando-o a sacrificar
376 PADRE ROHRBACHER

aos deuses, prometeu-lhe, se o f izesse de bc a vontade,


cumul-lo de riquezas.
Caprsio, s promessas, sorriu, e o prefeito, vendo
a inutilidad,e dos oferecimentos e no querendo ser
alvo do ridculo, intilmente arengandc, crdenou qtte
ao jovem rasgassem sem do nem piedade.
Houve, ento, uffi murmrio, que perpasscu,
surdc, pelo ar. F, que fra r,etirada da terrvel cama
de ferro, r Caprsio, foram levados ac templo: davam-
lhes a ,ltrrna opcrtunidade de apostatar. Firmes e
imperturbveis, tiveram as cabeas cortadas.
Os ccrpos de Fe e Caprsio foram sepultadcs no
local mesmo ond,e foram decapitados, permanecendo
esquecidos at que, no sculo V, o bispc Sc Dulccio
alevantou uma baslica em hcnra da santa mrtir e
virgem, no lugar do martrio. Quanto s relquias de
So Caprsio, o santo bispo fe-las r?pcu.sar numa
ioreja da cidade.
So inumeros cs milagres que Santa F operou
depois da morte. Aqui destacaremos dcis dles. A
esttua que a representa riqussima. Feita de ouro
Duro, adornada com pedras precicsas artisticamente
engastadas e distribudas pelo corpo. O povo denc-
minava-a a Magestade de' Santa F. Sbre a cabea,
pcusa-lhe um diadema de ouro e pedrarias, e cs bra-
os, enfeitados com riqussimos braceletes, charna a
ateno de tcdos, pela grande beleza.
Um dia, uffi homem, dsses comc sempre houve
pelo mundo, em todos cs tem.pos, loucc pelas riquezas,
vendo a imagem que ,era levada em procisso, disse a
um outro, que lhe estava ao lado, ccmo le tambrm
montando uma alta mula:
Ah, se scubesses o d:sejo imensc que me in-
vade agora! Como desejaria que aquela'esttua
VIDAS DOS SANTOS 377

desabasse dos ombros dos gue a levam e casse por


terra_,quebrando-se! Mais do que ningum, ccm tal
rapidez, recolheria eu tal quantidade d,e ouro e pedra-
rias que ficaria rico para todo o sempre!
Nem bem acabara de prcnuncar to sacrlegas
palavras e eis que, a um'rude corcovo da mula, "foi
estatelar-se numa poa de lama, dond,e, to machucado
ficou, no sairia no fra a ajuda dos que acorp-
nhavam a procisso.
Um jcvem escondeu uma palhta de ouro num
pedao do molde de argila que servira para fundir o
destal de curo da esttua. Dias mais trde, teve um
dos olhos to doente que precisou guardar o leito.
Santa F, ento, apareseu-lhe, pedinc-lhe que resti-
tusse aquilo que pecaminosamente havia escondido.
O lovem no a obedeceu, nem guando a Santa lhe
apareceu pela segun_da vez, reit,erando o pedido. Numa
terceira apario, Santa F veio com uma varinha
na mo, e, visando-lhe o lhc doente, fez-lhe ver gue,
se nc, a obedecesse, restituindo a palheta de cro,
fur-lo-ia. O moo, apavoradssimo, prometeu-lhe que
assim o faria, e, no dia seguinte, cumpriu o prom'etio,.
Conta-se gue, nesta terceira apario, Sata F no
apareceu ao jovem como nas duas primeiras, istc, ,
como fra em vida, mas na aparncia da esttua de
our,c,, a qual a palheta pertencia.
P" Agen s relquias de Santa F foram parar
em conques. Era na pcca em que a paixo " r.
possuir relquias d,e santos estava no auge, para que
se enriquecessem mosteiros e igrejas.
Um mon-ge de Conques, Arinisdo, transplan-
tou-se _para Agen, e ali viveu muito simplesmente,
muito humilde e mod,esto, ajudando os cpeles da
baslica de santa F. Piedoso, mc,dlo de' regulari-
378 PADRE ROHRBACHER

dade, foi feito, porque se insinuara, guardio das


relquias
- da Santa.
No dia da Epifania, vendo-se s, porque todos
se achavam presentes s cerimnias prprias daquel
festa, guebrou um lado da tumba, agarrou os ossos
da virgem e mrtir e col'ccou-os num saco, retiran-
do-se imediatamente.
Quando deram pela coisa, no dia seguinte, j
Arinisdo ia longe, e os cavaleiros que lhe foram ao
encalo no ccnseguiram interceptar-lhe os passos,
ou por terem tomado caminho 'errado ou porque,
encntrando-se com o fugitivo, no o reconheceram,
decertc, disfarado que estava.
Conta-se que, ao passar por Figeac, Arinisdo,
achegando cs ossos da Santa aos olhos dum seg9,
.ganhou
restiiu-lhe a vista. Dali, Conques, onde
depositou as relquias. Diz-se que tudo lhe ccrr'eu
bem porque Santa F queria que as relquias repou-
sassem em Conqu,es".
Daquela cidade, a devoo de S-anta F esp-
lhou-se po. tda a Frana, ganhando a Espanha,
levada pelos cavaleiros que iam combater Qs Sff-
cenos: numerosas aldeiai e cidadezinhas espanholas
ccnservam o rorie de Santa Fe. Os conquistadores,
oS velhos navegantes descobridores, trouxerl-Ilo
para as Amricas. Assim que _h cidades ou vilas
pelo Brasil, Mxico, Estados I'Inidos, Argentina,
Chit. e demais pases americanos que se chamam de
Santa F. Desde longos anos, a capital da Co,lmbia
Santa Fe de Bogc,t.
Apopularidade.da santa_ virgem e mrtir Ill-
tm-se viva desde a Idade Mdia.

rTT
I
so PERDO (*)
Abqde

Perdo nasceu em Sardent, aldeia que se situa


ao sul de Gueret. Filho de agricultores, piedoso e
caridoso para com os pobres, estivera cego por uns
tempos, na juventude.
So Perdo fo,i o fundador da abadia de Gueret,
da qual foi o primeiro abade. Conta-se gue Lantrio,
riqussimo, conde d,e Limog.es, poderoso e, nagueles
tempos, quase independente s,enhor, guis, paa expiar
os pecados duma agitada mocidade e merecer a vida
eterna, fundar urrl rltosteiro em suas terras.
Ouvindo referncias santidade de Perdo,
julgou, e julgou acertadamente, que era o homem que
buscava para os seus propsitos. Assim, acompa-
nhado de vrios serviais, foi a Sard,ent, para v-lo,
e a primeira impresso gue teve foi excel,ente.
Falou das intenes gue tinha ao futuro, abade,
mas Perdo, naguele momento, no queria deixar a
terra natal. Splicas e promessas nada adiantaram,
mas Lantrio, gue desejava levar avante a obra que
se propusera, confabulando com os sercidores, coo-
certaram um plano: todos, a um dado sinal,
atiraram-s.e a Perdo e, agarrando-o, f.izeram-na
montar num cavalo e o l,evaram fra para Gueret:
P A DR E ROHRBACHER

to encantado ficou o Santo ccm o lugar e com que


o conde pretendia [.azer, que acabou por ficar naque-
las paragens, de muito boa vontade.
Quanto regra que adotou, para a fundao de
Gueret, no temos nctcia. le proprio, porm, se-
gundo um biografo, que lhe foi contemporneo, levcu
vida de grande austeridade: no comia carne, no se
vestia com linhos e usava a disciplina com muito rigor,
principalmente pela quaresma; dz-se que, a seu
mando, um dc s discpulos aplicava-lhe varadas; a
maior parte da noite, passav a-a le em orao.
Tendo cumprido muitcs milagres, a gua que
benza era procuradssima, para todcs os males.
Falecido em 737, cento e tantos anos depois Gueret
foi destruda, quandc da invaso normanda.
Originriamente, o ncme do santo abade era
Pardoux, mas foi, atravs dos tempos, alterando-se.
Assim que muitas comunas ao redor de Gueret
trazem o seu nome, mas como Pardon, cutras como
Perdcn da ad,ctarmos Perdo.

***
: -+--:=j-,a;-=ry?a=+?5f- !:p.=+s=;
. -a-:

:j

'3.
.

SAI\TA MARIA FRANCISCA DAS


crNco CHAGAS (*)
T erciriq F rancisccrna

Chamava-se Ana Maria Rosa Nicoletta Gallo


e nascera em Npoles, DO dia 25 de maro de 1715,
de pais pobres Franciscc, e Brbara.
Era pequenina ainda e j se enverzdara pelo
caminhc que iria lev-la a Deus: s irms, um pouco
mais velhas, se lhe prometessem ensinar o catecismo
que conheciam, dava-lhes tda a sobr:mesa que lhe
ccubesse.
Rapiclamente, Ana Maria Rosa faz grandes
progressos na religio, fra de repetir e reter as
lies qu3 recebia. Com quatro ancs, suplicava aos
pais gue a levassem missa. Aos sete, fz a primeira
ccmunho.
Ccntava dezesseis anos, quando Francisco Gallo
lhe escolheu rico partido, um jovem de muito boa
famlia, que as moas de Npoles nc rejeitariam em
hiptese alguma. Ana Maria Rosa, de Npoles,
porm, era uma jovem diferente, que j escolhera
espso o suavssimc- dulcssimo |esus. Assim,
recusou-se aceitar c noivo que o pai lhe apresentava.
Franciscc, boquiaberto, depois furioso, espl-
cou-, mas de nada valeram castigos fsicos, nem
ameaas: Ana Maria Rosa no queria casar-se,
382 PADRE ROHRBACHER

Afinal, a 8 de setembrc, de 1731, recebeu dos


Padres Descalos de So Pedro de Alcntara o
habito da ordem terceira de So Francisco, quando,
ento, adotou o nome com o gual ia tornar-se conhe-
cida de tcdos Irm Maria Francisca das Cinco
Chagas.
Fazendo dos mistrios doloroso,s o ob jeto de
sua piedade, a Paixo de Nosso Senho,r tornou-se a
sua nica meditao. E os xtases que a tcmavam,
logo passaram a ser comentados. Envergonhada de
estar continuamente arroubada, suplicou ao Senhor
que os moderasse.
Com o tempo, tantas as penitncias, a sade foi
descambandc,. Ademais, morta a me, o pai dera-se
a desregramentos, mas morreu com |esus, levado
pela filha. Tendo sofrido muito, no convento em que
se refugiara, foi perseguida, odiada, ameaada: che-
garam mesmo a atirar-lhe no ro,sto uma grande porc,
de brasas. Maria Francisca trancv-se, escondi-se.
Um dia, t.entaram precipit-la escada abaixo, mas,
ajudada, por Deus, a m ao smente ficou na
tentativa.
Em 17 63, a Santa previu a fome e a peste que
iria cair sbre Npoles. No ano seguinte, contraa o,
mal. E o seu maior cuidado era mandar dizer missas
por inteno das almas do purgatrio.
A certa altura da vida, penas do esprito 'entra-
ram a atorment-la,e ,c, coIfessor, gue a ccnfcrtava
e esclarecia, libertando-a, s vzes, de densssimas
sombras, no lhe saa de perto, caridc'so, bondoso e
paciente. Pouco d,epois, passou a scfrer duma ebu-
lio do sangue. Receitados banhos frios, pouca valia
teve aqueJa teraputica, e a sangria, praticada num
dos ps fz com gue seu estado de sade picrasse:
VIDAS DOS SANTOS 383

a gangrena lcgo se manifestou e a cauterizao devia


ser levada a efeitc,.
E Maria Francisca, pacientssima, dizia, confor-
mada:
Meu Deus, f.aze de mim o que tu quiseres
f.azer.
Doze anos de sofrimentos, de grandes dores,
no a levaram, urr instante sequer, ao desespro.
Pelo contrrio, agarrava-se a les como a um bem do
cu, scfrimentcs que ao cu iriam lev-la.
Grande devota da Santssima Trindade, tdas
as oraes que f.azia principiava pelo Gloria, e a
devoo Paixo valeu-lhe os estigmas. Amando os
anjos, particularmente a Sao Rafael, 'a perene et-
rma, sempre conformada, f aleceu, ela gue, perto
da morte j par'ecia um cadver , a 6 de outubro de
1791, dizendc que Nossa Senhora lhe aparecia.
Quando Npoles soube gue a Santa falecera,
saiu s rrras. Todos gueriam v-la pela ltima vez.
E tal foi o movimento e o af., gue a polcia foi mobili-
zada para conter os nimos mais exaltados.
Beatificada pcr Gregric, XVI em 1843, Pio IX
canonizou- vinte e quatro anos depois, ou seja, em
1867 .

Laviosa escreveu uma Vita della Ven. Serua di


Dio ,Suor Maria Francesca delle Cinque Piaghe di
N. S. Ges Cristo.

No mesmo dia, em Bez;a, diocese de Langres,


So Prudente, mrtir.
Em Agen, Santa Alberta, irm de Santa F,
gue, diz a tradio, morreu junto cofin a irm ( ? ) .
384 PADRE ROHRBACHER

Em Hagneville, diocese de Toul, Santa Gontru-


des, virgem, irm de Santa Elofia.
Em Vaison, So Bartos, bispo, ou Brsio, que
teria sucedido a So Quinino.
Em Bourges, Santo Apolinric, bispo ( sculo
vrr).
Na Bretanha, Santo Ywi, monge-dicono', do
sculo VII ou VIII.
Em Pavia, Santa Epifania, religiosa de Santa
Maria delle Caccie (sculo VIII ) .
Em Constantinopla, So Nicetas, monge , f.ale-
cido, cr-se, em 838.
No mosteiro de Lambach, o bem-aventurado
Adalbero, bispo de Wurtzburgo, desaparecido em
1090. Nascido em 1010, Leo XIII aprovcu-lhe o
culto ern 1883.
Na Cartuxa de Arvires, diocese de Genebra,
Santo Artaldc, bispo de Belley. Nascido em 1101,
faleceu em 1206, com centc e cinco anos, como se v.
Em Laodicia, So Sgar, bispo e mrcir, um dcs
antigos discpulos de So Paulo, apstolo , ts Em
Cpua, os santcs mrtires Marcelo, Casto, Emlio e
Saturnino. Santa Erotides, mrtir, que abra-
sada no amor de fesus Cristo, suportou com pacincia
o suplcio do [ogo. Em Trveris, memria de um
nmero quase infinito de santc s mrtires que du-
rante a perseguio de Diocleciano sofreram diversos
gneros de morte pela f de fesus Cristo, sob o
imperadcr Riciovrio. Em Auxerre, So Romano,
bispc e confessor. Em Oderzo,, fl Marca Tre-
visana, So Magno, bispo, cujo corpo repousa em
Veneza.

++r
7., DIA DE OUTUBRO

O BEATO MATEUS CARRIERI


Dominicano

O beato Mateus Carrieri nasceu em Mntua


nos fins do sculo guatorze. Cuidadosamente edu-
cado por pais piedcsos, passou a adc,lescncia em
perf'eita inocncia, e, ao chegar idade de escolher
um estado, ingressou na Ordem dos Irmos Prega-
dores. O ardor com gue, desde o incio, se empenhou
em chegar perfeio religiosa no tardo'u ,er cot-
vert-lo no modlo de s,eus irmos, cuja estima
mereceu. Depois de um fervoroso noviciado e de
grandes xitos obtidos no estudo, julgaram-no apto
para a prdic, e ccnfiaram-lh,e o encargo de anun-
ciar a palavra de Deus. Desempenhou-o com infa-
tigvel zlo, e tendo o Senhor abenoado seus
esforos, coube-lhe o conslo de reconduzir trilha
da virtude grande nmero de almas que dela se
tinham afastado. verdade que tudc, pregava em
Mateus: no era apenas um eloqente orador, mas
tambm um homem de orao, e desde que abraara
o- estado religioso levava vida penitente e mortificada.
Sua reputao no tardou a espalhar-s por tda
parte; assim sendo, nc, se limitou a pregar no ducado
386 PADRE ROHRBACHER

de Mntua, mas foi obrigado a percorr,er sucessiva-


mente a Itlia inteira, a im de obedecer s ordens da
Santa S, corresponder aos convites dos bispos, e
satisfazer ac, grande desejc de ouvi-lo, maniestado
p,el:, povo.
A reforma de vrios conventos da sua ordem
mereceu particularmente a solicitude do santo reli-
gioso. Incumbido por seus primeiros superiores de
trabalhar nessa grande cbra, a ela se d,ediccu com
tanto zlc, e prudncia que tiveram como resultado
a restaurao da disciplina regular das mesmas casas.
Particularmente se empenhou, em cada convento que
reformav, em preparar futuros homens apostlicos,
capazes de corresponder vocac de Irmcs Pr.-
gadores, trabalhando paa se tornarem aptc s a 3rur-
ciar ao povo, com fruto, as verdades da salvao. O
prprio Mateus no deixava escapar uma nica das
oportunidades a le apresentadas para des:mpenhar
essa func do santo ministrio. E Deus abenoava
suas palavras, que frutificavam em ccnverses im-
pressionantes. Uma das mais famosas oi a de uma
jovem senhcra, Lucina que, depois de t'er recebido
uma educao crist, de tal for_ma se entregara
vaidacle gue lhe vinha da beleza, que se transformara
no escndalo da cidade inteira. Embora casada'
,estava sempre rodeada de uma grande quantidade de
jcvens; sua fortuna permitia-lhe cstentar um grande
luxc: mcstrava-se por tda p.arte, cercada de fausto,
e quando entrava nas igrejas, era menos para adorar
Deus do que paa receber sacrlegas homenagens-
Os esforos desenvolvidos por pessoas virtuosas para
fiaz-la de vc,lta a uma vida mais regular, at ento
haviam sido inteis. Enfim, o Senhor digncu-se
olh-la compassivamente, e foi o padre Mateus o
VIDAS DOS SANTOS 38?

instrumento da misericrdia divina que favoreceu


aquela ovelha desgarrada; persuadido de que as
plu,rro. do homem so pouco eficazes quandc .rrt
.o*rtrhadas pela uno da graa, preparou-sa lon-
gamente por meio da orac, das lgrimas e de um
iec*rdescimento da penitncia paa .azet ?9uela
imp.ortante conquista. Enfim, so.u a hcra do ae-
p.rdirn"nto. Lucina, luxuosamente traiada, ercol-
irurra-t. na igreja, num dia em que o santo religioso
pregava. O sermo no tardou em toc-la: viram-na
.riu*ut lgrimas e bater no peito. No final da
predica, nc, era mais uma insc lente mundana gqe
;eru afrontar Deus no seu templo, e sim uma humilde
penitents que, com o fervor e a perseverana no bem,
reparcu, r medida do possvel, os inmeros scr-
dalcs por ela oferecidos aos cc'mpatrictas.
O servo de Deus, que mostrava tanto zlo na
converso dos pecadores, no se desvelava menos
quando se tratava de conduzir pelcs caminhcs da
perfeio as almas de elite, gue o Senhor lhe enviava.
Foi le guem lanou no corao da bem-aventurada
Estefnia Quinzani, ainda criana, as sementes da
virtude que mais tarde se desenvclveram e produzi-
ram abundantes frutos de santidade. |ovens de
ambos os szxos., tccadcs por suas exortaes, gene-
rosamente abandonaram o mundo e abraaram o
estado religicso. Havia outros que, embora perma-
necendo na sociedade, se empenhavam em imitar a
vida austera dcs claustrc,s. Pc,de-se dizer gu'e o santo
pregador imprimia a todos os que evangelizava um
impulso comum para o bem. Contudo, indivduos
perverscs alarmrrl-se ante o seu prestgio e retra-
taram-no ao Duque de Milo ccmc homem a qu'cm
um zlo excessiv o f,azia transpor os limites da modq-
388 PADRE ROHRBACHER

rao. O prncipe quis verificar pessoalmente o pso


da acusao e mandou gue o servo de Deus se 'pre-
sentasse diante dle, a fim de convid-lo, a m,c,strr-se
mais comedido em suas prdicas; mas com tanta
veemncia Mateus se expressou, defendendo a moral
por le pregada, que o Duque acabou por anim-lo
a exercer o ministrio com a mesma liberdade e co-
mendou-se s suas c,raes.
Nada mais foi preciso para incrementar epu-
tao do santo religioso e dar-lhe um nc,vo prestgio
sbre o esprito do povo. Alarmado com os testelu-
nhos de respeito que lhe eram prestados, deixou o
Milans e dirigiu-se p cs Estados de Yeneza, onde
Deus espalhou bnos ainda mais abundantes sbre
os trabalhos do seu ministrio. Chamado, em seguida,
pelos habitantes de Gnova, gue invejavam pr,egador
de tal quilate, Mateus embarco,u numa galera, rumo
a Savona; mas a embarcao no tardou a ser ata-
cada por um pirata gue dela se apoderc,u e que
prontamente manif,estou a inteno de reduzir todos
os passageiros escravido. O santo religioso, levado
diante do che[,e, com tanta inteligncia e dignidade
se expressa, gue obtm a sua liberdade sem mesmo
t-la sc,licitado. Entre seus ccmpanheiros de infort-
nio, encontravarn-se uma senhora e sua filha, ambas
desfeitas em lgrimas diante dcs perigos de que se
viam ameaadas. Debalde o servo de Deus insisten-
temente .suplica que sejam postas em liberdade.
Nada conseguindo, leva a ca,ridade ao ponto d,e ofe-
cer-se como escravo em lugar das infelizes. Por
mais dur,c, e brbaro gue fsse o pirata, no resistiu
a tanta g,enerosidade , restituiu a liberdade, no
apenas s duas mulheres, mas a todos os prisioneiro3
que fizera'na galera.
VIDAS DOS SANTOS 389

O padre Mateus continuou a anunciar a palavra


de Deu-" com o maior zlo at gue, tendo-o finalmente
as fras abandonado, compreend,eu gue se apro,xi-
- mava ,o trmo da vida. Retirou-se ro Convento de
Vigevano, que outrora reformaa, e sua nic ocup-
o era preparar-se para a morte e meditar na paixo
de |esus Cristo. Um dia, quandc, suplicava a Nosso
Senhor a graa de f.az-lo partilhar as suas dor,es,
sentiu o corao ccmo que traspassado por uma [le-
cha, e acometeu-o uma dor to violenta, que percebeu
ter chegado aos ultimc,s mom,entos. ApressarI-se
em administrar-lhe os sacranr,entos da Igreja, e le
expirou calmamente no dia 5 de outubro de 1470.
Vrios milagres, operados no s,eu tmulo, determi-
naram o Papa Sixto IV a permitir que prestassem
culto ao bem-aventurado, cultc, posteriormente apro-
vado pcr Bento XIV, no dia 25 de setembro de
1742, ( I )

*i*

(1) Acta SS., Godescard, 7 oct.


o SANTO ROSRIO (n)
(157 2)

A f esta do Santc Rosrio, que vimcs no dia l.n


de outubro foi transplantada para o dia de hcje, 7.
Matei'ialmente, c ^Rosarius consiste de contas,
enf:adas a prsas por cadeazinhas, que servem para
contar Padre-ncssos e Ave-Marias, na propcro de
um Pater por dez Aue.
O ccstume de contar c raes antiqussimo.
Diz-se qu3 no Oriente havia um monge que tinha o
habito de recitar trez,zntas oraes por dia. Para
no perder a conta, arrebanhava trezentas pedrinhas,
catadas no chc, aqui e ali, e conservara-as consigo.
Espalhando-as diante de si, ia rezando, e, medida
que o f.azia, a cada crao recclhia uma delas, guar-
dando-a no interor do largo burel.
Supe-se que a idia das contas enfiadas e pr-
sas nas cadeiazinhas tenha vindo da ndia e dos
muulmancs. Fala-se tambm duma lady Godiva
(refere-o Guilherme de Malmesbury) que, ao eza,
ccntava a orao fazendc desfilar pelos dedc s as
perolas do seu colar, colar magnf ico, que acabou
por ir adornar o pescoc e o colc duma bela imagem
de Nossa Senhcra.
Em 1328, um Rosrio ou coleo de milagres
de Nossa Senhora atribua a So Domingcs a sal-
VIDAS DOS SANTOS 391

vao do mundc graas a predicao de Ave-Marias


meditadas e r,e petidas.
Donda .rr"io o ncme de Rosrio? O simbolismo
cla rosa , na Idade Mdia, era riqussimo de sentidc'
de b.-leza, ternura, delicadeza, realeza' Que nome
m,: lhor para denominar sse obieto venervel, ccffi
o qual sudamos a Maria, a Rcsa mstica, bela, terna,
delicada, rainha dos anjos e dos hcmens?
Da viva confiana que devemos depositar nc
Rosrio, da confiana que devemcs ter, sem titubear,
e,:n J\4aria. como Mediadora, fala-nos o papa Leo
XIII na sua /uc unCa Semcer. d,e 8 de setembro de
1894. clcimc-stimo do seu pontificadc.
"Com alegre expectativa'e com renovada ccn-
fiana olhamos semrre a volta do ms de outubro,
pcrque. desde guando CCn1,?amcs a exortar oS fieis
a ccnsrsrarem ste ms Beatssima Virgem, le
tem acarretado em tda parte uma poderosa florao
clo Rosri'c entre os catlicos".
Depois, o que atual :
"Visto que os tempcs, prenunciador'es de des-
rfcs pa.n Igreia e para a soci'edade, exigiam o
uxlio poderoso de Deus, ns achamos dever im-
plor-lo justamente mediante a intercesso de sua
Me, e scbretudo com essa frmula de orao cuja
salutar eficcia c pcvo cristo cd,e sempre experi-
mentar. Experimentou-a, com efeito, desde as ori-
qcns do Rosrio mariano, quer na defesa da santa
f contra os nefastos ataques dos her'eies, quer no
renor em hcnra aqu:las virtudes gue haviam sido
sufocadas pela ccrrucc dc mundo. Experimen-
tou-a pcr rma srie ininterrupta de benefcics- Pri-
vados e publicos, cuia larnbrana. por tda parte foi
imortali zada at mesmo com insignes instituies e
392 PADRE ROHR,BACHER

monumentos. E tambm n,c,s nossos tempos, trba-


-reconhecer
lhados por mltiplas crises, folgamos d,e
que justamente do Rosrio tem provido frutos
salutares.
"Olhando em volta, contudo, Venerveis Irmos,
vs mesm.cs vdes que ainda permanecem, e em parte
agravados, os motivos para convidarmo,s, ainda ste
ano, os vossos fieis a reavivarem o fervcr das suas
splicas para com a Rainha do Ceu.
"Alm disto, quanto mais fixamos o pensamento
na ntima nature za do Rosrio, tanto mais claramente
se nos manifesta a sua excelncia e utilidade. E por
istc, cresce em ns o desejo e a e.sperana de que a
nossa recomendao seja to ,ef.icaz que dC o mais
amplo desenvolvimento a esta santssima orao,
difundindo-lhe sempr,e mais o conhecimento e a
prtica.
"Para tal fim no invocaremos aqui os rfu-
mentos que, sob vrios aspe,ctcs, expusemos sbre
ste mesmo assunto nos anos precedentes, mas, antes,
apraz-nos ccnsiderar e expo,r como, de acrdo com
os divinos d,esgnios da Providncia, o Rosrio des-
perta no nimo de guem eza uma suave confiana
d,e ser atendido, e move a maternal piedade da Mr-
gem bendita a corresponder a tal confiana com a
ternura do,s seus s:ccorros.
"O nosso suplicante recurso ao patrocnio de
Maria funda-se no seu ofcio de Mediadora da graa
divina, ofcio que ela
- dgdabilssima a Deus pela
sua dignidade e pelos seus mritos, e de longe supe-
rior em poder a tc,do,s os Santos continuamente
exerce por ns junto, ao trono do Altssimo. Ora,
ste seu 'ofcio talvez por nenhum outro gnero de
orao seja to vivamente expr,essGr cofio pelo Ros-
VIDAS DOS SANTOS 393

rio, onde a parte tida pela Virgem na Redeno dos


homens r posta to em evidncia gue parece desen-
rolar-se agora diante do nosso clhar; ie isto ttaz um
singular proveitc, piedade, seja na sucessiva col-
templao dos sagradc's mistrios, seja na r'ecitao
repetida das preces.

Nos mistrios gozosos


"Primeiramente, apresentam-se-los os mistrios
gozosos. O Filho eternc, de Deus abaixa-s'e t ns,
os homens, feito le prpri,o hom'em; mas com o
assentimento de Maria, "qr. concebe do Esprito
Santo". Da ser )oo, por uma graa especial, l'sqn-
tificadc," ro seio materno e enriguecido de escolhidos
dcns "oara pr,eparar os caminhos do S'enhor". Mas
isto sucede em seguida saudao de Maria, que,
por divina inspirac,, vai visitar sua parenta. Final-
mente, vem luz o Cristo, "o esperado das naes",
e vem luz do seio da Virgem. Os pastres e os
Magos, primcias da f, dirig,gm-se cofii nsia_ps-
surcsa ao seu bro, e "acham o Menino co'm Maria
sua Me". Depois le quer ser levado em pessca
no templo para se oferecer pblicamente em holo-
causto a D.eus Pai. Mas por obra da Me que ali
" apresentado ao Senhor". E sempre ela gue, na
misteriosa perda do Filho, procura-o c'cm ansiosa
solicitude e o reencontra com al'egria imensa.

Nos mistrios doloroso,s

"No mesmo sentido falam cs mistros doloro-


sos. verdade qu'e Maria no ,est presente no
hrto de 'Getsmani, onde |esus treme e est triste
394 PADRE ROHRBACHER

at mcrte, e no pretorio, onde flagelado, coroado


de espinhos, ccnd,enadc, morte. Mas j desde
tempo ela conhecera e vira claramente tdas estas
coisas. Com efeito, quando ela se cfereceu a Deus
como escrva, para depois se tornar sua Me, e
quando no templo se ccnsagrou inteiramente a le,
juntamente ccm c Filho, ja desde ento, em virtude
dstes dois fatas, ela se tornou participante da dolo-
rosa expiao de Cristo, para vantag,em do gnero
humano. No h, pois, duvida alguma de que,
mesmo por tal razo, durante as cruis angstias e
torturas dc Filho ela experimentou no seu corao
as mais agudas dores. Alis, na sua prpria pre-
sena e sob seus olhos devia consumar-se aqule
divino sacrifcio para o qual, ccm o prprio lzite, ela
generosamente criara a vtima. Isto se contempla no
ltimo e mais comcvente dstes mistrics. "Estava
junto Cruz de f esus Maria sua Me", a qual,
movida por um imenso amor a ns, para nos ter como
seus filhos ofereceu, ,ela m:sma, seu Filho justia
divina, e com le morreu no seu corao, trespas-
sada pela espada da dcr.

l/os mistrios gloricsos


"Finalmente, nos mistrios gloriosos, que seguem
os dolorcsos, e mais copicsamente confirmadc,- st,e
nresmo misericcrdioso ofco da Virgem excelsa.
Com tcita alegria ela saboreia a gloiia do Filho
triunfante sbre a mcrte; segue-o depcis com nnater-
nal afeto na sua vclta sede celeste. Mas, con-
quanto digna clo Cu, ela mantida na terra, como
suprema consoladcra e m,estra da Igreja nascente;
"ela pcnetrou, alm de tudo o que se possa crer, nos
VIDAS DOS SANTOS 395

profundos arcanos da sabedc'ria divina" (S. Bern"


De praerogatiuis B. M, V., n.n .3). E, pois gue,.a
ob. sant da redeno dos homens no podia
dizer-se completa ant,es da descida do Esprito Santo,
prometido p. Cristc', eis gue a vemos !? naguele
Cenculo h"io de reco,rdaes, a orar-lhe, iunta-
m,ente ccm os Apstolos e em vantagern dos Aps-
tolos, com gemidos inenarrveis; a apressar para a
Igreja a sa6edoria do Espritc, corsolado_r, supremo
d;; de Cristo, tesouro gue nunca lhe f-altat' Mas
em medida ainda mais cheia e perene poder ela
advogar a nossa causa guandc tiver passado vida
imortI. E, assim, dest vale de lgrimas, vmo-la
assunta cidade santa de |erusalm, por entre as
festas dos coros anglicos; veneramc-la elevada
acima cla glOria de dor os Santos, coroada de
estrlas por" ,.u divino Filho, sentada junto d'le,
rainha e-senhora do universo. Em todcs stes, mis-
trios, Venerveis lrmos, se to bem se manifesta
"o rlesgnio de Deus, desgnio de^sabedoria e desg-
"misericrdia"
nio de (S. Bern., Serm. in Natiu. B,
M. V ., n.n 6 ) , no m,enos claram'ente brilham ao
mesmo tempo os grandssimc,s benefcios da Virgem
Me para ono.co: benefcios que no podem deixar
de ttt encher de alegria, porgue l1o's infundem 'a
f irme esperana de btet*ot, pela mediao de
Maria, a clemncia e a misericrdia de Deus".
E o grande papa da Rerum Nouatum, falando
de cc,mo o Rcsrio comove a Me de Deus, levando-a
a interceder por ns, diz:
"Mas a virtude gue o Ro'srio em de inspirar
a confiana em quem o eza, possui-a tambm em
mover piedade para conosco o corao da Virgem.
Quanto deve ser suave para ela o ve-los e o es-
396 PADRE ROHRBACHER

cutar-nc,s, enguanto entrelaamos em go,roa pedidos


para ns justssimos e louvores para ela belssimos!
Assim rezando, ns desejamos e tributamos a Deus
a gloria que lhe devida; procuramos nicamente o
cumprimento dos seus acenos e da sua vontad,e; exal-
tamos a sua bondade e a sua munificncia, chaman-
{o-o Pai e pedindc,-lhe, embora indisnos dles, os
dons mais preciosos. Com tudo isto Maria exulta
imensamente,
_?, .pela nossa piedade, d,e corao
"magnifica o Senhor". Porque,-quands nos dirigimos
a Qeus pela orac, dominical, ns lhe suprimos
mediante uma orao digna d'le.
"Mas as coisas gue nela pedimos, j de per si
to r'etas ,e ordenadas e to conformes a f., espe-
rana, caridade crist, junta-se um valo, qu" ,o
pode deixar de ser sumamente apreciad" p.iu vir-
gem Santssima. ste: gue nossa voz se une a
de seu Filho ]esus, o gual, d,epc,is d,e nos haver ensi-
nado, palavra por palavra, frmula de orao,
autorizadamente "ru
impe, dizendo: "Vs, pois,
.39-lu
rezareis assim" (M.t. 6, g) . Certos estejamos, pois,
de gue, se formc,s fieis a ste mandato com a reci-
tao do Rc,srio, d,e ss3 parte Maria no deixar
de exercer com maior benevolncia o seu ofcio de
solcita caridade; e, acolhendo com semblante be-
nigno estas msticas corcas de oraes, recompen-
sar-nos- cc.m abundncia de graas".

Pio XI, na Ingrauescentibus malis, dz do Santo


Rosrio:
"Entre as diversas oraes pblicas, que dirigi-
mos frutuosamente Virgem Me de Deus,-o Rosiio
VIDAS DOS SANTOS 397

de Maria ocupa um lugar particular e principal. Esta


orao, que alguns apelidaram de "Saltrio da Vir-
gem" ou "Brevirio dc Evangelho ,e da Vida Crist",
foi descrita ,e recomendada pelo Nosso Predecessor,
de eliz memria , Le,o XIII, nestes entusisticcs tr-
mos , " admirvel ,esta coroa, tecida pela saudao
anglica, ern que se engasta a Orac, Dominical e a
que se junta a cbrigao da meditao interior;
uma excelente maneira de orar e sumamente f.tu-
tuosa para obter a vida eterna". E isto depreende-se
daquelas m,esmas flres com que formada esta coroa
mstica. Que preces, com efeito, podemos encontrar
mais prprias e mais santas? A primeira a que o
Ncsso divinc, Redentor pronunciou, quando os disc-
pulos lhe pediram: "Ensini-flos a orar" (L.., 11, 1).
Orao santssima que, visando a dar glria a Deus,
quanto nos possvel, atende tambm a tdas as
necessidades do corpo e da alma. Como poder o
Eterno Pai, rc gado ccm as palavras do seu Filho,
deirar de vir em nosso auxlio?
"A outra orao a Saudao Anglica, que
comea pelo elogio do Arcanjo Gabriel e de Santa
Isabel, e termina pela piedosa splica com que impe-
tramcs o sccorro da Bem-aventurada Virgem: "agora
e na hora da nossa morte". A estas invocaes,
feitas de viva voz, junta-se a contemplao dos san-
tos mistrios, que coloca como que diante dos nosscs
clhcs as alegrias, as dores e as glrias de fesus
Cristo e de sua Me, d,e tal modo que recebemos
lenitivo e confrto em nc,ssas penas e, seguindo sses
exemplcs santssimos, subimos, pelos degraus cada
vz mais elevados da virtude, at a felicidade da
Ptria sempiterna".
398 PADRE ROHRBACHER

E Pio XI, falando utilidade universal do


sbr,e a
Rcsric, do qual muitos, infelizmente, zombam , a dizet
que montona cantilena, quandc muito, "s para
criancas e mulherzinhas", adverte que tal maneira de
orar "tem o perfume da simplicidade e da humildade
evanglica", cuio desprzc como nos ensina o
divino Redentcr nos tcrna impossvel a aquisio
do reino celeste : Em uerdade uos' digo que se no
uos canuerterdes e fizerdes como as criancinhas, no
entrareis no reinc dos cus ( Mt., 18, 8 ) .
"Todavia, diz o papa, se no seu crgulho o nosso
sculo zcmba dc, santo Rosrio e o despreza, uma
inumervel multido de homens santos, de tdas as
idades e de tdas as condies, no s o estimou
muito e recitcu com tda a piedade, mas a cada
momento dele se utilizou como de uma arma podercsa
para repelir os demnios, para conservar a integridade
da vida. para mais fcilmente adquirir a virtude, para,
enfim, obter a paz entre os homels".
E acrescenta:
"Houve mesmo vares muito emin:ntes pela
dcutrina e sabedcria que, embora submersc s no
estudo e nas pesquisas cientficas, no se esqueceram,
um s dia, de orar, de joelhos ,e com fervor, diante
da imagem da Santssima Virgem, pcr essa forma
to picCosa. Reis e prncipes consideraram tambm
como utn dever esta devoc, embora estivesszm ata-
refadcs ccm ocupa?s e negcios urgentssimos. E
assirn, e.sta coroa mstica no se encontra somente
nas mos de gente rude e pcbre, mas querida de
eidados de tdas as classes sociais".

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VIDAS DOS SANTOS 399

Pio XII diz, na alocuc' Di Gran Cuore (16


de outubro de 1940 ) gr'r" "o Rosrio, segundo a
prpria etimclogia da palavra, uma coroa de rosas",
coisa encantadora que, entre todos os pcvos, pe-
senta urna oferta de amor e um sinal de alegria.
Estas rosas, porm, no so daquelas com que se
adornam a todo o instante os mpios, das guais fala
a Sagracla Escritura (Sab., 2, 8 ) t C'croemo.nosr de
toss
- exclamam les antes que elas murchem,
As flres do Rosrio no murcham: a sua frescura
renovada incessntemente pelas mos dos devotos
de Maria; e a diversidad,e das idades, dos pases e
das lnguas d guelas ro'sas virentes a variedade de
suas cres e de seus perfumes".

gloria do Rosrio, h uma outra festa, deveras


tccante e que enternece: e a festa de Nossa Senhcra
do ]apo.
Em maro de 1865, um missicnrio francs rn-
ravilhou-se por encontrr, bem viva, a fe num pas
do qual f.ra banido o cristianismo. Depois de cento
e cinqenta anos de proscric,, o santo Rosrio era
ali recitado por muitas almas, piedosas e devotas de
Nossa Senhora. a festa e se comemora a 17
de maro, lembrandc, os gue, tendo sobrevivido aos
mrtires daquele pas, transmitiram aos filhc.s a devo-
o do santo Rosrio.
Neste mesmo dia em que f estejamos o santo
Rosrio da Bem-aventurada Virg,em Maria, [est,e-
jamos tambm a Me de Deus sob o ttulo, de Santa
Maria da VitOria, festa que o soberano Pontfice So
Pio V )orescreveu para que a celebremos tc,dos os
400 PADR,E ROHRBACHER

alos, em ao de graas pela vitria insigne alcan-


ada pelos cristcs sbre os turcos, num combate
naval, cuja assistncia particular da Santssima Me
de Deus foi indiscutvel.

No mesmo dia, em Alexandria, Santo Eumeno,


patriarca da Alexandria, falecidc, em 143, cuja festa
comemorada pelos etopes.
Em Agen, os santos Primo e Feliciano, mrtires.
Segunclo alguns antigos manuscritcs, Primo e Feli-
ciano eram pagos. Convertidos, ac presenciarem os
suplcic*" de Santa F e de Sao Caprais, apresen-
taram-se' ccmo cristos e foram decapitados ccm c s
dois santos mrtires de Agen. Todavia, os mais
antigos manuscritos da Paixo de Santa Fe e de So
Caprais no mencionam Primo e Feliciano.
Em Beaune, na dccese' de Orlans, So Pipio.
Na Bretanha, So Cclodoc, monge, no sculo VI.
Na diocese de Bourges, So Leopardino, monge
mrtir (sculo VI? ) .
Em Saintes, So Paladio, bispo, falecido em 596.
Descendente de nc'bre f amlia, tornou-se bispo de
Saientes antes de 573, ano em que assistiu ao conclio
de Paris.
Em Lio, Santo Etrio, bispo, discpulo preferido
de So Nizier. Faleceu ,em 602 ou 603.
Na Inglaterra, Santa Osith, abadssa de Chich
(sculo VII ) . Filha do rei Frithewaldo de Surrey,
h os que 'a do comc, mrtir, trucidada por piratas.
Em Novara, Santo Adalgiso, bispo falecido em
849 ou 850. lu" enterrado na igreja de So Gau-
dncio.
VIDAS DOS SANTOS 401

No mosteiro de Valparaso, na Espanha, So


Martinho de Cid, abade cisterciense, falecido em
1L52, Santo gue ea descendente da nobre famlia
do heri que Co,rn,eille imortalizou na Frana.
Em Cremo,na, So Geroldo, peregrino, desap'a-
recido em 1241. Natural de Colnia, o Santo levou
a vida a peregrinar por |erusalm, Rc,ma e So Tiago
de Compostela. Assassinado por malfeitores, trans-
portaram-lhe o corpo para a igreja dc,s jesutas de
Colnia; operarlrl-se, ento, inmeros milagres ao
p da sepultura.
Na Via de Ardia, a morte de So Marccs,
na.Sria, os santos Srgio e Baco, nobres romanos,
martftizados sob o imperador Maximiano. Baco foi
aoitaclo com nervos de boi, to impiedosamente que,
com o corpo todo estraalhadcr, entrego_u o e'sprito
conf,essando o nome de |esus Cristo. Srgio, obri-
gado a calar sapatos forrados de pregos, -e perma-
ecendc, inquebrantvel na f., teve a cabea decepada.
O lugar em gue rePousa seu corPo chama'se Sergi-
polis e visitado por um grandre' nmero de cristos,
po. causa dos milagres nle operados. Em Roma,
os santos mrtires Marcelo e Apuleio, que a princpio
acompanharam Simo, o Mago; testemunhando, Po-
rm, as maravilhas gue Deus operava por intermdio
de So Pedro, deixaram Simo, ,e abraaram a dou-
trina do santo apstolo. Depois da morte dos disc-
pulos do Salvador, c,btiveram a palma do martrio
sob o consular Aureliano, e foram sepultados junto
cidade. - Na mesma provncia da Sria, denomi-
nada do Eufrates, Santa |ulia, virgem, que sob o
imperador Marciano sofreu a mc,rte pela f. Em
Pdua, Santa )ustina, virgem e'mrtir, gue tendo sido
PADRE ROHRBACHER

batizada pelo bem-aventurado Prcdcimo, discpulo


d,e So Pedro, e permanecendo firme na f de |esus
Cristc oi, pcr ordem do imperadcr Maximiano,
traspassada com uma espada, indo gozar a presena de
Deus.
- Em Bourges, naNa
sacerdote e confessor.
quitnia, Sanio Augusto,
diocese de Reims, Santo
Helano, sacerdote.
-

***

I
B.' DIA, DE OL]TUBRO
SANTA BRGIDA DA SUCIA
Vioa

Nasc,eu nos confins da Sucia, na provncia de


Upland, nc domnio de Finstad, no longe de Up-
,uiu, ento capital do reino, no comc do dcimo-
quarto sculc, crca do ano de 1302. Seu verdadeiro
ncme Birgitte, convertido pelo vulgo em Brgida.
A famlia, ds mais ilustres, era aparentada de perto
com a famlia real, e diescendia dos antigos reis do
pas. Famlia na qual a piedade era to hereditria
quanto a nobre za. O av, o bisav e o tatarav do
pal de Brgida, por devco pelos mistrios da Paixo
do Salvad.. tinham feito peregrinaes a |erusalm e
a outros I'rqares sagrados, glorificados pela pn?sena
de fesus. O prncipe Birger, pai de Brgida, iuiz o-u
gcvernador de upland , ea hc,mem piedoso e cheio de
ii.trd..; fundara um grande nmero de igrejas e de
mosteircs; .izera peregrinaes a Rcma, a |erusal*m
e a outros lugares sagrados. a exemplo de sgu pai,
Pedro, e de sus antepassados. |ejuava, confessava
e comungava tdas as sextas-eiras, a fim de obter a
fra de'-carregar com pacincia as cruzes que Deus
se comprouvesse em enviar-lhe at a proxima Sexta-
404 PADR,E ROHRBACHER
VIDAS DOS SANTOS 405

f,eira A princesa, sua espsa, chamada Ingeburga,


filha de Sigrida, no era menos piedosa. tr'r*rlo
dos dois esposos ainda subsiste na cat,edral de Upsala.
Tiveram sete filhos: trs meninos, Pedro, Bento
e' Israel e quatro meninas, Ingrida, Margarida, Cata-
rina e Brgida. Catarina desposou Gumar, govr-
nador ou prncipe da Gtia ,ocidental, ond seus
psteros ainda sobrevivem. De Israel, sabemo,s gue o
rei da Suecia com le insistiu lcngamente para que
aceitasse um dos mais altos cargos do r,eino, e que
durante muito tempo no consentiu em f.az-lo, pit
alimentava um grande desejo de ir ao encontro dos
infiis e morrer a s,ervio, de Deus, pela santa f.
Enfim, pqra a glria de Deus, ie depoii de uma reve-
lao cla Santa Virgem sua irm Brgida, decidiu-se
a aceitar o cargo. Alguns anos depois, partiu ao
encontro dos infiis e caiu doente em Riga. Sentin-
do-se prxim,o da morte, dirigiu-s catedral, colocc,u
um anel no dedo da virgem, obj,eto de grande devc-
o naquela cidade, e disse em voz alta:-"sois minha
senhora, sempre vos mostrastes benevolente para
comigc,, apelo para o vosso prprio testemurrho; e,
por isso, ,entrego-rne, e tambm minha alma, vossa
providncia e misericrdia". Em seguida, tendo rece-
bido os sacramentos, morreu nos mais vivos sentimen-
tos de piedade. ( I )
Quanto a Santa Brgida, de quem possumos uma
biografia escrita pcr seu contemprane Birger, Bispo
de upsala, seu nascimento fc,i ssinalado por vros
prodgios. _ sua
ryg, a princesa Ingeburga, ocultava
,p" grande piedade sob as. roupagerr, d"guadas
alta posio. Vendo-a assim paramentada, -u reli-

(1) Acta SS., 8 oct. Dissert, proev. n. 40.


I-
406 PADRE RHRBACHER

giosa julgara que sse orgulhosa e- desap'iedada. Na


oite .girrt" , apaecteu-lhe em sc,nhos uma venervel
personagem, qu lh. pergunta: "P9-. qu9 igl-Saste mal
a minha serva, acreditando-a orgulhosa? No vet'
dade; pois dela .arei nascer uma filha, com queT farei
alian, conf,erindo-lhe uma graa to grande qqe
tdas as naes juntas no se cansaro de admir-Ia".
A to maravilhosa ocorrncia, c'arcebispo de Upsala,
assim CCmo outros bigrafos da santa; acrescentam
uma segunda. A princesa Ingeburga estava grvida
de Brgida quando naufragou nas costas da Sucia e
fc,i salva pelo irmo do rei. Na noite seguinte, uma
personagem vestida cc,m roupagens resPlandecentes
puru..u a Ingeburga e disse-lhe: "Foi em considera-
o criana gue trazeis convosco que fstes arran-
cada morte; cuidai de manter no amor de' Deus o
que D,eus vos deu de maneira especial". -Enfim, por
ocasio do nascimento de Brgida, o cura da parquia,
hc,mem venervel pela idade e virtudes, entretinha-se
em orar, noite, numa igreja vizinha, quando 'avistou
uma nuvem luminosa, sbre a qual estava sentada a
Sants Virgem, tendo na mo um livro. Disse-lhe a
Virgem, "Nusceu 'a Birger uma filha cuja voz prodi-
gios se difundira pelo mundo inteiro". o gue relata
arcebispo de Upsala, assim comc, outros bigrafos,
contemporneos de Santa Brgida.
Contudo aque'la surpreendente criana cooser-
vou-se muda durnte seus trs prim,eiros anos de vida.
No im dsse espao de tempo comeou, no a balbu-
ciar cc,m o .azemas crianas, mas a falar perfeitamente,
como os aclultos. Viram nesse f'ato um efeito da
sabedoria divina que abre a bca dos mudos e torna
eloqente a lngua das crianas, a fim de arancar-lhes
da 6Oca , at mesmo das que ainda mamam, louvores
VIDAS DOS SANTOS 407

perfeitos. Entrementes, a piedosa me de Brgida,


cheia de'boas obras cc,mo outro Tabit, caiu grav?m,'nte
doente. Soube gue ia morrer e predisse a m,crte com
vrios dias de antecedncia. Diante da aflio clo
espso e de outras pessoas, assim lh,es falou corajo-
samente: "Por que vcs afligis? |a vivi bastante; ac,
contrrio, deveis alegrar-vos pc,r ter sido chamada
por um Senhor mais podero,so". E, tendo feito suas
despedidas, adormeceu no Senhor. A jovem Brgida
fc,i, ento. confiada por seu pai a uma tia materna,
tc prudente quanto piedosa.
Com a idade de sete anos, a menina viu na frente
de sua cama um altar, e nesse altar uma senhora de
vestes resplandecentes, sentada, tendo na mo uma
coroa, e que lhe disse: "Vem, Brgida". Imediata-
mente a menina levantou-s,e e correu ao altar. A
senhora perguntou-lhe: "Qu,eres esta ccroa?" Como
Brgida respondesse afirmativamente, a senhora colo-
cou-lhe a coroa na cabea e ela a sentiu como se fsse
um crculo. Voltou para a cama e a viso desap .-
ceu; mas nunca mais ccnseguiu ,esquec-la. No de
admirar gue assim tenha acontecido, observa o rce-
bispo de-lJosala, po,is era um sinal d,e que estava
destinada a ser altar de holocausto, onde o fogo da
caridacle divina arderia continuamente, e que ]esus
Cristo, seu espso, Ihe reservaria uma corca imcrtal
e sem mcula nos cus.
Na idad,e de dez anos, dir-se-ia um lrio muito
puro que se elevava da terra para o cu. Era um
rnodlo de tdas as virtudes, de sobriedade, de mo-
dstia, de simplicidade, de moderao- de humildade,
de obedincia, de beleza e sinceridade, de bom-humcr
unido pacincia, e de infatigvel caridade. Lembrava
ura espsa de Deus, uma prola refulgente, cheia
408 PADRE ROHRBACHER

de graa diante de todos os olhos e por todcs amada.


Mas deveria subir ainda mais alto.
Certo dia ouviu um sermo sbre a Paixo de
f esus Cristo; tc, sensibili zada ficou que gravou a
paixo nas fibras do corao. Na noite seguinte, |esus
Cristo apareceu-lhe, tal como se tivesse acabado de
ser crucificado, ,e disse-lhe: "A est como me trata-
ram". |ulgando que se referisse a um acontecimento
recente, Brgida perguntou-lh,e: "Senhor, quem vcs
fz isso?" Aqules gue me desprezam e se mostram
insensveis ao meu amcr", respondeu |esus Cristo.
Da por diante Brgida s,e tornou to sensvel em rela-
o paixo do Salvador, que no podia evcc-la
sem ct,:rramar lgrimas. Uma noite, enquanto suas
jovens companheiras dormiam, deixou a cama e, des-
feita em lgrimas, prcsternou-se em adorao diante
do crucifixo dc seu quarto. Sua tia, que entrara fur-
tivamente, muito se admirou ao v-la em sem,elhante
posio, e, acreditando tratar-se de alguma levian-
dade, mandou buscar varas para ensinar-lhe o colc-
dimento. Com grand,e surprsa de sua parte, as
varas quebraram-se-lhe nas mcs. Ento ela indagou:
"Que izestes, Brgida? Ser que vos ensinararn or-
es malficas? " A virgem respondeu, em pranto :
"No, senhora, mas levantei-me da cama para louvar
aqule que sempre me assiste". "E guem le?" "
o Crucificado, que me apareceu h pouco tempo".
Dsse' dia em diante, a tia comeou a demonstrar-lhe
mais afeio e respeitc, compreendendo gue sem,elhan-
tes disposies no vinham dos homens, mas de Deus.
Outra vez, quando a jovem brincava com s colr-
panheiras, o diabo apareceu-lh,e' sob forma pavorosa,
com cem mos e cem ps. Amedrontada, Brgida
ccrreu para o guarto e recomendou-se humildemente
VIDAS DOS SANTOS 4,09

ao Crucificado. O diabo tornou a aparecer-lhe, di-


zendo: " Nada mais poderei f.azer se o Crucificado
intervier". Informada, mais tarde, do que suc.edera
a Brgicla, recomendcu-lhe a tia que nada dissesse
sbre o que vira, e que confiasse em D,eus, amando
|esus Cristo sbre tdas as coisas, pcis a peregrinao
dos humanos pela vida nunca era isenta de tenta-
es, a fim de que cada um aprendesse a conhecer-si
alis, ningum ccdia ser ccroado sem ter vivido, r'rn
vencer sem luta, nem lutar sem sofrer as tentaes
do inimigo. (2)
Brgida bem que des,ejaria permanecer sempre
virgem; mas, com a idade de treze anos, seu pai obri-
lc'u-a a desp,:sar Ulfon, prncipe cu governador da
Nercia, que contava dezoito. A exemplo do jovem
Tobias e de Sara, sua ,espsa, guardaram a conti-
nncia quase dcis anos, a fim de obterem de Deus
a graa de azer um santo uso do casamento e de
ter filhos dignc,s de servi-lo. Tiveram oito, quatro
homens e quatro mulheres. Os dois mais novos,
Bento e Gudmar, morreram em tenra idade. Os dois
mais velhcs, Carlos e Birger, acompanharam a me
na peregrinao gue z terra santa. Carlos tinha
um gnio muito iovial. mas ao mesmc, tempo era
muito devoto da Santa Virgem. Tornou-se govefl-
dor ou prncipe da Nercia, e casou-se trs vzes. Foi
crdenado cavalheiro, e a sant a me, nos seus escritcs,
relata as disposies crists gue envolveram a ceri-
mnia. Carlcs dela recebeu muitas lies sbre a
milcia e a armadura espiritual, de gue a milci a e a
armadura exteriores eram a figura. Morreu em N-

(2\ Acta SS, 8 oct. Vita S. Birgittae, auctore Birgero,


archiepiscopo Upralengl, c. L
I
410 PADRE ROHRBACHER

poles, no ano de t372, quando se dirigia Terra


Santa em companhia de sua m?, a qual, no dia da
Ascenso, teve a revelac de que le fra salvo.
Birger, seu segundc, filho, tornou-se legisladcr ou
prncipe da Nercia. Santa Brgida tambm lhe deu
instrues sbre a maneira de santificar-se no seu
estado. Birger morreu na Sucia, no ano de 1391,
sem ,,{ eixar f ilhos; doou todos os bens ac mosteiro
de M/atstein, fundado pcr sua me, e onde fci enter-
radc. Das ruatro filhas de Santa Brgida, Marta e
Ceclia santificar-se no e stado do matrimnic;
Ingeburga ?- Catarina abraaram a vida religiosa.
Catarina r,enerada como santa no dia 22 de maro.
Quanto Brgda, depois de ter vivido santa-
mente na virgindade, no mnos santamente viveu
no casamento. Tc bem organizcu a vida, que nunca
deu cporttrnidade mencr suspeita, mais insignifi-
cante maledicncia. No admitia companheiras ou
criadas cuia reputao no fsse impecvel, no receio
de gue a convivncia com pessoas menos reccm:nd-
veis uclessz prejudic-la. Ciente de que a ocicsidade
a me dos vcios, trabalhava com as criadas para
a ioreja e para os pcbres, lia as vidas dos santos e a
Biblia, que mandara traduzir em lngua gotica;
"_i?
igreja prazerosamente assistir ao ofcic divino. Tal
corno o espso, o prncipe Ulfon, conIessava-se
tdas as sextas-feiras e comungava em todos os
dcmingos e dias santificados. imitac de fudite,
tinha rnu capela secreta na qual se recolhia de vez
em quandc, a fim de colocar-se na presena de Deus,
examinar a conscincia e chcrar os pecados i e,
quando c marido Se ausentava, passava noites intei-
ras na olao, na viglia, nc jejum e outras mortifi-
caes; costumava pri,rat-se de iguarias delicadas,
VIDAS DOS SANTOS 41L

mas secretamente, para no chamar a ateno do


mariCo ou de outras pessoas. Consagrava a mais
terna devoo Santa Virgem, gue rc;s sus partos
difceis lhe proporcionara um f.eliz desenlace no
momento em que tc'dos a julgavam perdida. Faza
avultadas esmolas. Alm disso, todc,s os dias dava
de ccmer, em sua cas d, doze pobres; nas quintas-
eiras lavava-lhes e beijava-lhes humildemente os ps,
em memria do que Nosso Senhor izera a seus aps-
tolos. Restaurcu um grande nmero de hospitais na
sua terra natal e nas suas propriedades; ia visitar
pc,bres e enfermos, acompanhada por suas filhas,
esp:cialmente por Santa Catarina. A pie'dosa me
tratava das feridas e das lcer,as dos enfermos ccm
suas prprias mos, prodigalizando-lh:s esmolas e
palavras de confrto e mostrando aos filhos, pelo
exemplo, d" que maneira deveriam servir, algum dia,
c,s pobres e os dcentes, pelo amor. de Deus. Depois
do nascimentc de seus oitc, [ilho,s, Ulfon e Brgida
conservaram-se continentes.
No ano de 1335, o rei Magno da Suecia des-
posou Branca, f ilha dc Conde de Namur e fez
questo de que Brgida, que era sua parenta, perma-
necesse no palcio na gualidade de governante da
jovem rainha. Brgida interessou-se vivamente pela
salvao e pela prosp,eridade do casal, tanto mais
por serem ambos jovens. Rezava por les, dava-lhe's
bons ccnselhos, e at mesmo chegou a fazer-lhes
algumas advertncias, frutos de revelaes sobre-
naturais. princpio os ' jovens soberanos tiraram
proveito dss.es avisos. Mas eram de temperamento
volvel; tambm acolheram conselhos diferentes. Com
ei decorrer do tempo o mal venceu o bem; Brgida
anunciou-lhes calamidades: o rei apenas se ria e inda-
4t2 PADRE ROHRBACHER

gava de Birger, filho da santa: "Que foi que nossa


prima, vossa me, sonhou esta noite a nosso res-
peito?" Mas as predies de Brgida no tardaram
a realizar-se. Como conseqncia do mau gcvrno
de Magno, insurreies declararrr-s, estados revol-
taram-se contra a sua tirania; foi excomungado pelo
Papa por haver confiscado as rendas da Igreja; a
rainha Branca pereceu miservelmente em 1363 o
prprio rei, depcis de haver perdido a coroa da
Sucia, afogcu-se acidentalmente no ano de 1374. (3)

Em boa hora Brgida deixou a crte e Ulfon


seguiu-lhe o exempl,o. Apenas cuidavam de santifi-
carem-se, a.ssim como sua famlia. Fizeram inme-
ras peregrinaes Frana, Espanha, Itlia,
Alemanha, Noru,ega; visitaram, na Nidrsia ou
Drontheim, capital do reinc,, o tmulo do rei e mrtir
Santo Olaus; na Espanha, o de So Tiago de Com-
postella. Embo(a possussem numerosas carruagens,
Brgida f.azia uma part,e do caminho a p,por esprito
de mortificao. Depo,is de terem visitado grande
quantidacie de santurios, retornavam ptria quando
o prncipe Ulfon caiu doente na cidade de Arras; o
mal agrvo-se tanto que recebeu os ltimos sacra-
mentos das mos do bispo, ,enquantc, Brgid a ea prsa
de grande ansiedade. Invocou So Diniz, apstolo
da Frana. O santo apareceu-lhe, predisse-lhe que
Deus desejava dar-se a conhecer ao mundo pcr seu
intermdio, gu,e ela fra entregue sua proteo
especial e gue, co,mo prova, o espso no morreria
daguela doen'a. Alguns dias depois, foi-lhe revelado
que iria por Roma cidade de |erusalm e gue depois

(3) Acta SS., 8 oct. Dissert Proea 8.


VIDAS DOS SANTOS 413

deixaria ste mundo. Deus milagrosam,ent,e permitiu


que tudo isso se tornasse realidade, comenta o rce-
bispo de Upsala. Tendo o prncipe recc,brado a
sade depois de prolongada enfermidad,e, ambos re-
tcrnaram bem dispostos ptria. Renovaram o voto
de guardar a continncia, e resc,lveram entrar cada
um nuln mosteirc,. Depois de regular seus negcios e
clispcr dos bens, o prncipe. Ulfon entrou no mosteiro
de Alvastre, ordem de Citaux, fundado no ano de
I 150 pc,r Suei.cher, rei da Sucia. Viveu alguns anos
na prtica de tdas as virtudes e morreu no anc, de
1344. O prncipe Ulfon de Nercia citado no
calendrio de Citaux no dia 12 de fevereiro.
Poucos dias depois da morte do marido, Br-
gida dividiu os bens entre seus filhos e os pc,bres, e
renuncicu sua condio de princesa, a fim de con-
sagrar-se inteiramente penitncia. No mais usou
roupa branca, ccm exceo de um vu com qu,e cobria
a cabea; vestiu um habito grosseiro, que amarrava
c.m ccrdas cheias de ns. Eram incrveis as auste-
ridades que praticava; redobrav-s aos sbados,
dias em gue se alimentava com um pedao de po
e um pouco de gua. Tendo mandado construir o
mosteirc' de Watstein, na di,c,cese de Lincopen, na
Sucia, nl,e instalou sessenta religiosas; coloiou num
nrdio parte, em hcnra aos doze apstolos e de
So Paulo, quatro diconc,s para simbo,lizarem os
quatro doutres da lgreja, e oito irmos conversos;
deu-lhes a regra de Santo Agostinho, qual cres-
centcu algumas disposies particulares. L-se, em
alguns auto,re's, QUe c, prprio Salvador lhe ditou essa
regra, ordenando-lhe, porm, a subm,etesse ao exame
do scberano Pontfice, pois ]esus viera ao mundo,
no para derrubar a lei, ps5 para cbedecer-lhe,
474 PADRE ROHRBACHER

Todos os mcsteiros da ordem d'e Santa Brgida


ou do Santo Salvador so suieitos aos bispos dioce-
sanos, e precisa uma permisso expressa dc Papa
paa que novcs ccnventos possam ser erigidos. As
principais finalidades da regra so glorificar a Paixo
do Salvador, e sua Santa Me. Os homens so su-
jeitos prioresa das religicsas, em relao ao tem-
poral, como na crdem de Fcntevrault; mas e stas,
em reiao ao espiritual, esto sob a direc dos
religiosos. A razo dsse regulamento particular
baseada nc fato de que, tendo a crdem sidc insti-
tuda para mulheres, os homens s so admitidos
para propcrcionar-lhes socorrcs espirituais. As alas
habitadas por homens e mulheres so separadas pcr
un'^ tapume inviclvel, mas a igreja comum, de
maneira, porm, a nc permitir que se veiam. Os
mosteiros do norte f cram destrudos na poca da
revoluo provccada pela introduo da herasia.
Santa Brgida permaneceu dois anos na Suecia,
tantc junto ao mosteiro de Alvastre, cnde fra seoul-
tado ", espso, como nc novo mosteiro de Wats-
tein. Sua vida de p'cbreza e penitncia, depcis
de ter sido princesa na crte, atraiu as zcmbarias
de muita gente. Respondia ela: "No foi pcr vcssa
causa que comecei, no ser pc_r - vossa catlsa que
.u..ur.- E.stou intimamente decidida a tolzrar vossas
palavras. Rezai para que eu persevere na rasoluo".
Apresentou-se, pobremente vestida, perante o rei da
Suecia para anunciar-lhe qu?,tanto le ccmc seu
reino, seriam castigados com grand'e s calamidades,
caso certcS erros e desordens no fssem corrigidos'
Alguns dos fidalgos puseram-se a murmurar e teriam
dela, mesmo, se no soubessem que ra
".arrr"cido
parenta do rei. Mrs trocaram zombarias entre i,
VIDAS DOS SANTOS 4L5

chamando-a de feiticeira, a ponto de os filhos de


Brgida exigirem reparao. Mas ela lhe pediu que
nad izessm, dizendo: "Deus testemunha gue
prefir,c, sofrer por seu amor o desprzo e os gracejcs
os homens dc, que usar na cabea uma coroa de rei'
Se a .santa viva sofreu por p'arte dos homens,
Deus prodigalizcu-lhe abundantes consolaes, 1td-
a.s inomuns, e at mesmo revelaes. Essas reve-
laes foram impr'essas com 'a apr'cvao de vrios
dc-utres catlicos. Contudo a aprovao significa
ap:nas que o livro a que se refere nada de contrrio
f. encerta, e que, sendo baseadas numa probabi-
lidade histrica, s revelaes podem ser piedosa-
mente acatadas. Bento XIV express-se da seguint,e
maneira sbre c, assunto: "A aprovao de sle-
lhantes revelaes no importa outra coisa, a no
ser que, depois de maduro ,exame, foi permitida a
sua publicao como teis aos [iis". Embora no
lhe devamos e no lhe possam,c,s dar uma garantia de
f catlica, devemc's contudo nelas acreditar com
humana, de acrdo com as regras da prudncia,
segundo as quais so provveis, e baseadas em moti-
,ro suficients para gue meream f piedosa. Tais
so, conf,c,rme os doutres, as revelaes da bem-
aventurada Hildegarda, 'aprovadas, dizem, por Eug-
nio III; de santa Brgida, por Bo'nifcio IX, e de
Santa Catarina de Siena, por Gregrio XI. (4)
As revelaes ou contemplaes de Santa Br-
gida tm como princip'al objeto a Paixo dc' Salvador
e da Santa Virgem. Quanto Paixo do Salvador,
nada encc,ntramos gue j no esteja no Evangelho,

(4) Bened. XIV. De canonisat., l. If, c. XXXIf, n.0 11.


416 PADR,E ROHRBACHER

a no ser certos porm,encres muito verossmeis. Com


referncia Santa Virgem, nelas expressamente
declarado que foi concebida sem pecado ( 5 ) e que
subiu ao cu com corpo e alma. (6) Uma das pr-
ticularidades mais tocantes a r.evelao da prpria
Virgem a Santa Brgida dcs seus progressos no
conhecimento de Deus e de su lei. "Desde a tenra
infncia, guando entendi ,e compreendi guem era
Deus, sempre me mostrei cuidadosa e cheia de temor
gm relao minha salvao e ao meu proceder.
Porm, quando cc,mpreendi mais claram,ente que o
mesmo Deus era o meu criad,c,r e o juiz de tdas as
minhas aes, amei-o prc,fundamente, e temi-o cols-
tantemente, fsse por aes, fsse por palavras. Mais
tarde, guando soube que dera a sua lei e os seus
mandamentos ao povo, e operara tantas maravilhas,
determinei firmemente na minha alma s a le amar,
e as cc,isas mundanas me eram extremamente rnr-
gas. Enfim, tendo, sabido que o mesmo Deus resga-
taria o mundo e gue nasceria d,e uma Virgem, fui
tomada por to grande amor para com le que s
pensava em Deus, s queria Deus. Isolei-me, o mais
que pude, das conv,ersas familiares e da presena de
meus pais e meus amigos. Dava ao,s pobres tudo, de
que podia dispor, reservando-me apenas uma tnica
simples e o imprescindve'l para a minha manuteno;
s Deus me aprazia. Meu corao transbordava do
desejo de viver at o tempo do seu nascimento, na
esperana de gue talvez pudesse m,erecer a graa
de tornar-me a indigna serva da me de Deus. Tam-
bem fiz intimamente o vo,to de conservar a virgindade,

(5) L. Vf, c. XLIX.


(6) L. Vf, c. LX, LXI e LXII.
VIDAS DOS SANTOS 4r1

caso Deus a considerass,e agradvel, e de nada Pos-


suir neste mundo." (7)
Alrn das revelaes concernentes f, h nos
escritos de Santa Brgida, como nos profetas na
antiga lei, muitas advertncias, algumas
vzes muito severas, dirigidas a Papas, a reis' a
""oriues,
povos, a determinada categoria de homens como
sacerdotes e cavaleiros.
Santa Brgida foi a Roma no ano de 1 346,9u-
dragsimo-segndo da sua vida, e le permareceu
durrrt" guine anos. Fez a viagem. por inspirao
Jirirru, a'fim de eza n'o tmulo dcs apstolos e
reverenciar as relguias de tantos santos mrtires,
venerados na capitai do mundo cristo,. onde o brilho
de suas virtude causou admirao. Virria II1 r'co-
lhimento, voltada para a prtica da viglia e de outras
penitncas rigorosas. Visitava as igrejas, servia os
doentes nos hospitais. Dura consigo mesmo, rlos-
trava-se cheia de doura para com os outros. TOdas
as suas aes trazem 'a marca da humildade e da
caridade. Ainda \remos em Roma e nos arredc'res
da cidade, diversos monumentos da sua devoo. A
fundou uma casa para estudantes e_ peregrinos suecos,
gue foi reconstda sob o pontificado de Leo, X.
Durante a sua permanncia de guinze anos em
Roma, Brgida eve muitas revelaes sbre a situa-
o daguela cidade, sbre a devassido de seus
abitants, e os castigos gue os ameaavam. Como
essas revelaes se divulgassem, c,S romanos irrita-
frrr-se. Houve alguns gue chegaram ao ponto de
amea-ia com a fogueira; outros chamav fr-16
(7) L, 1, c. X.
418 PADRE ROHRBACHER

embusteira e pitonisa. Brgida sofria com pacincia


ameaas e ,os, ultrajes, cheia de confina esr
Deus,
_gue lhe ordenara permanecer firme.
No ano de I 371 , a ilustre viva da sucia, s6111s,
outrora a ilustre viva romana, Santa paula, da fam-
lia dos G'racos e dos cipies, empreendeu urur-
ada idade, p9r efeit .de uma revelao, "* uma
peregrinao a ]erusalm. Ps-se a caminho, uao*-
panhada de
love pessoas entre as quais se ercc,l-
travam seus filhos carlos ,e Birger, e iuu filha santa
catarina. chegou a chip,re no ircr de abril de I ,i,
e depois a ferusalm. Teve impressionantes revela-
es_ sbre as desordens e a prxima runa do reino
de chipre, ento regido por uma dinastia francesa.
Tendo retornado u R.*a, )it doente, Santa BrigiJa
sentiu-se pior. Percebendo estar prxima do fim,.,
tocantes conselhos ao filho, o prncipe Birger, e
filha, santa catarina da sueia, qr" lhi faziam
companhia; d,epois, mando,u gue a estendessem sbre
um cilcio, a fim de receber os ltim,cs sacramentos.
Faleceu no dia 23 de julho de I 323, com a idade de
setenta e um anos. sepultaram-na na Igr,eja de so
Loureno, in-Panis-Peina, gue pertencia" clarissas
pres. No ano seguinte, o prntipe Birger, seu filho,
e Santa Catarina, sua filha- *"r"ru- lrrrladar-lhe
o corpo paa o Moseiro de Watstein, na Sucia.
Foi can,cnizada pelo Papa Bonifcio IX, no dia T
de outubro de 1391. O dia 8 do mesmo ms foi
designado para sua festa. ( 8 )

***

(8) Acta SS., 8 oct.


-

so DEMTRIO E SO NESTOR (*)


Mrtires

A carreira de So Demtrio fra brilhante. De


famlia de senadores, chegara a procnsul da Hlada,
depois a cnsul. A tudo, porm, um dia, deixcu, paa
pregar o Evangelho.
Era nos tempos de Maximiano, que residia em
Tessalnica, e o Santo ali apareceu a propagar o
cristianismo. Havia i convertido um nmero imenso
d,e pagcs, quando foi Prso.
Nestcr, jovem de belas propores, f.izeta-se
amig de Demtrio, o quaJ, confinadg uo subterrneo
do fralacio, aguardava decisc, do imperadcr. Ora,
como o p.rr""guidor de cristos havia_ prometido um
prmio a guem vencesse, em luta, a Lieus, seu $la-
iudor favrito, uffi bruto vndalo, Nestcr, que sotl-
bera que Demtric,, na priso, com o sinal da cttiz,
matara um grande escorpio que ia atac-lo, rogou
ao amigo gue o assistisse com as suas oraes' porque
ia enfrentar Lieus.
Demtrio abenoou-o e prometeu-lhe a vitria.
fustamente na hora gue Maximiano ia saind'o
para o estdio, a assistir qs jop_os, alguns soldados
apresentaram-lhe o pregador.. Maximiano, pedindo-
E
420 PADRE ROHRBACHER

thes gue o aguardass-em, saiu, deixando para depois


do espetculc a sua deciso rbr. que iria f.azer com
o ex-cnsul.
Quando Nestor se props combater com Li,eus,
o imperador sorriu, e adveriindo-o, mostrando-lhe o
avantajado sico dc, favorito, procurou demove-l
do intentc. Nestor, porm, inflarnado, certo de gue,
com as oraes de Demtrio, havia de vencer, entrou
na arena, e, numa grande luta, acabou por matar o
gladiador q,e era, para o imperadc,r, invencvel.
Furiosssimo, Maximiano deixou o estdio, sem
cumprir a promessa, qual seja a de entregar ao vefl-
cedor o prmio a gue f.azia juz, e, assim", de nimo
exaltac{o, quando chegou ac parcio e lembrou de
gue o esperavam, chamou cs soldados e ordenou que
ao prso acabassem a go,lpes de lana.
Mais tarde, tendo conhecimento de que Nestor
vencera pcrque Demtrio recorrera magia, favore-
cendo-o, f-z .,o* gue o jovem ,renced. de Lieus
fsse decapitado.
Algum tempo depois, guando uma murtido de
milagres ilustrou a tumba d so Demtrio, L".,
_era prefeito da Ilria, ergueu um oratric, ern
que
sua honra.
cr-se que o que acima se narrou tenha ocorrido
no ano de 306. so Demtrio, esco,lhido coro p-
droeirc de Tessalnica, em virtude de preciosssimos
milagres e pelo- leo que manava da sepultura,
tambem festejado pelos gregos, a 26 d outubro.

***
SANTA PELGIA (*)
Virgem e Mrtir

O martirolOgio ro'mano apresenta-nos quatro


santas com ste nome de P,elgia.
Esta, de hoje, era uma j'cvem de gunze anos,
que, no princpio da perseguio do imperador Dio-
cleciano, effi 302, acusada de crist.. viu, um dia, os
soldados d:, perseguidor varejarem-lhe a casa, dan-
do-lhe voz de priso.
Pelgia recebeu-os bem e, quandc, se propuseram
lev-la, pediu-lhes permisso para que fsse trocar
de roupa. Dado o consentimento, pelo chefe da
esclta, Pelagia dirigiu-se ao guarto: desejosa de
escapar dos ultrajes que a esperavam, infalveis, ,e a
temer pela virgindade, que vot ara a Deus, no titu-
beou ganhou c, mais alto da casa ,em que vivia, em
-
Antioqui, e de l se atirc,u ao cho, falcendo use
que instantneamente.
Santo Ambrsio de Milo, no seu tratado Das
uirgens, apresenta-no,s esta Santa Pelgia como irm
das mrtires Bernicia e Prosdocia, que menciona-
mcs no dia 4 dste mesmo ms. Os estudiosos
dizem-nos que no. Decerto Pelgia se ligou quelas
santas porgue Bernicia e Prosdocia tambm se tira-
422 PADRE ROHRBACHER

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VIDAS DO SANTO 423

iam sendo
ram a vida paaescapar do horror. Prsas,
.ao crcere. Em dado momento', a meio cami-
levadas -
;- q""d" chegaram perto dum rio,pouco' solicitaram
o que
hcen aos soldados para afastar-se um
ser
lhes foi concedido. Destarte, sem gue pudessem
i*iaas, atirafrl-se, de comum acrdo, cofer-
teza (302) .
Pergunt-Se : cometeram o suicdio? Sem
SOIII-

bra de r,ridu. Tcdavia, foram ho'nradas com um


."f,o. p"li.o, porque aqule tirar-se 'aa vida foi con-
siderado .orno'*'ato d obedincia Deus'
Muitas
santasvirgensassimagiram,comovimoseveremos
no transcorrer dos dias e dcs meses' Vieira mesmo'
n"u iitioaiio dsta obra que. vimos atualizando,
fala-nos dos extremos 'a que chegaram as virgens
para ser santu.' igna de Aguilia, d.epois que
Atila
des-
sujeitaru u .iude, oub ea a um capito, como
Levou-a
pro, homem brbaro e sem sentimentos' altssima
;;ig; " f icaram alojados numa trr,e,
trre, gue se erguia beira do rio Batizon. Disse
a
jovem ao caPito:
Se me queres lograr, segue-me'
E, assim dizendo, do mais alto da trre' atircu-se
ao ric, onde se afogou. "Salvou com a morte a sua
castidade".

*-*t
sANTA TAS (*)
Penitente
(Sculo IV ?)

S"qundo uma legenda, nl monge chamado pa-


-fncio foi procurar as. Tas .ru" u*u belssima
ccrtes do Egit9, conhecidssima, comentadssima,
munciana e frvola. Perguntou-lhe o monge:
Podes receber-me nc quarto mais secreto da
casa?
A jovem respondeu;
Se e a Deu; gue tu temes, nada te poder
esconder acs seus olhoi.
Retrucou o monge:
Com que ento tu sabes que existe um Deus?
E, contundente, entrando diretamente na questo
gueaelaolevara:
Pcr que ento tu tens psto a perder tantas
almas? ,ecessrio e urgente que a b.r, p""J;;
conta, porque, seguramente, se no o fiz.eres,, sers
danada!
Tas, chocada, de repente, caiu aos ps do
monge, a horar, destrambelhada, e, entre oluos,
qaoueiou:
V IDAS DOS S ANT O 425

Eu sei tambm, meu Padre, que Pod'emos


agepender-nos, e tenho confiana na tua orao.
Conced e.-fr.e apenas trs horas. Depoij ento, esta-
rei s tuas ordens.
Pafncio, admirado, concedeu-lhe agule pazo,
e Tas, rpidamente, reunindo tudo aguilo fe coI-
seguira pt,o pecado, f.2, na principal praa da
ciJade, u. u-,ntoado de coisas as mais variadas, e
toco,u-lhe ogo. E, enquanto as chamas consumiam
os bens facil e pecaminosamente adguiridos, ia a
formosa jornem gritando, paa gue todos a ouvissem.
vs tod'os gue tendes pecado comigo,
correi, vinde dep,ressa ver o gu,e estou f.azendo com
Ds presentes que me destes!
Consumida uma fortuna, Tas apresento'u-se ao
lrorge, gue a ccnduziu a um-a pequenina cela. Ali a
errceirou. Por uma janelinha, onde receberia po e
gua, todos os dias, perguntou a Pafncio:
Que me ord'enas, meu Padre, para s reces-
sidades da natureza?
Pafncio respondeu-lhe' :
Tu as fars na cela mesma.
E disse mais:
Tu no s digna de pronunciar o nome de
Deus, nem de levantares as mc,s para o cu. O que
tens a f.az'er, nicamente, prosteres-t para o
Oriente e repetir: tu que me criaste, tem piedade
de mimi I '

Passou Tas trs anos naquela celazinha, cul-


prindo risca as re'com,endaes do solitrio monge.
Depois dos trs anos de recluso, Pancio, que corl-
sultara Santo Antnic, sbre que .azer com a peni-
tente, a um sinal do cu, foi libert-la. Ela, porm,
no guis deixar a eta,
426 PADIt,E ROHRBACHER

Sai, disse-lhe o monge, porgue Deus te


perdoou, tal a tua penitncia e o temor que tens
guardado noefundo do corac,.
Tas, depois disto, viveu mais guinze dias, e
morreu em paz,
Os gregos tambm ccmemoram Santa Tas,
para les Tasia, neste mesmo dia e ms.

No mesmo dia, ,em Trveris, So Metrpole,


bispo e mrtir.
Em Grand, na antiga diccese de Toul, Santa
Libria, virgem e mrtir. Esta Santa a mais cle-
bre das pretendidas irms de Santa Elfia, que
veremos a 16 de outubro. A mais antiqa meno de
Santa Libria aparece na Paixo de Elfia, escrita
no sculo XI: "A segunda irm de ElOfia chama-
v-se Libria; mrtir, foi ,enterrada em Grand".
Conta-se gue |uliano, o Apstata aproximou-se de
Libria, que cuidava dum rebanho de ovelhas, e
obrigou-a a apcstatar. Como se opusesse, z com
que a decapitassem na mesma hora. Libria, tomando
a cabea nas mos, lavou-a numa fonte, depois diri-
giu-se cidade, indo parar no centro da principal
praa. A p,orm , fala de ]uliano como o
histria,
grande perseguid,c,r dos cristos da Lorena, coisa
insustentvel.
Na antiga diocese de Auxerre, Santa Paldia, e
na diocese de Sens, Santa Porcria, virgens, cu jos
cultcs so puramente locais.
Na diocese de Llandaff, no Pas de Gales,
Santa Ke1,ne, virgem (sculo V? ) . Filha do rei Bry-
chan Brycheiniog, era belssima, g muitos nobres
VIDAS DOS SANTOS 427

pediram-na em casamento. A todos, ponm, r'ecusara


"rporur, porgue s a Deus teria pol F.tpso' |.?-
rtrtrr-rrr, de Keynwiri, is'to , Keyne, a Vir-
"rro, tudo e de todos, deixou
. Para viver longe denum lugar desoladssimo.
cidade para fixarlse
Tendo peido, licena ao rei, para estabelecr-se
,raq.r"la regio, o monarca riu -gostosamente: tal era
o n*"ro e serpentes gue ali vivia gue ningum,
nem ho.m,em, nem anima, conseguia Passar alguns
minutos naquelas terras. Keyne, contudoa p"1, of-
o, transmudou em pedras os o,fdios. Tendo via-
fu" muito, fundou imeros oratrios. Tia de So
Cadoc, ccnta-se gue o sobrinho tudo ez -para 9,r"
retornasse cidae, em vo; Um dia, dois anios
desce'ram do cu, para arrebatar-lhe o cilcio. Vesti-
rtr-r com uma tnica e lhe disseram que estava
prestes a tomar o lugar gue lhe competia no reino
do Pai. O lugar inftado d,e serpentes chamou-se
Keynsh am ,- So*.*"t, no Avon onde se obs'er-
vam ainda amonitas que tm o asp,ecto de serpentes
petrificadas.
Festa de Santa Melria (sculo VII? ) .
Na Esccia, Santa Triduana, virgem.
Em Honnecourt, diocese de Cambrai, as santas
Valria e Polena, virg'ens.
Festa de So Grato, bispo, falecido 'em 654.
Em Denain, Santa Ragenfreda, abadssa, no
scutro VIII.
No mosteiro de Munsterbilsen, Santo Amor, ro
sculo IX.
So Badilo, abade.
Em Gnova, Santo Hug'c', da o'rdem de So
|oo de |erusalm, ordem 9ue; fundada no' incio do
sculo XiI, foi, na origem, uma comPanhia de enfer-
t'
l:
-a:

428 PADRE ROHRBACHER


r
meiros; em I 130, o papa Inocncio II aprovou sua
diviso em trs classes i a dos nobres, gr" .or,,bate-
riam o infiel; a dos capeles; e a dos irmos-servos,
no sados de famlias nobres, gue tambcm combate-
riam. Santo Hugo, gue faleceu em Gnova em I 230,
pertenceu classe dos capeles; foi capelo dos
cavaleiros de lerusalm.
Em Pdua, o bem-aventurado Compagno, ca.-
maldulo, falecid,o em 1264.
A festa do santo ancio Simeo que, segundo
o e'stemunho do Evangelho, recebeu Nosso sLnhor
)esus Cristo nos . bras e profetizo,u a seu es-
peito. Na Cesaria, na Palestina, Santa Re-
parata, virgem e mrtir gue, no consentindo em
sacrif icar aos dolos, teve finalmen te 'a cabea cor-
!tdu, depois de sofrer vrias espcies de trturas.
Viram sua alma sair do corpo, e subir ao cu sob a
Artemo, sacerdote que, sob o Imperadr Diocle-
ciano, alcanou a glria do martrio padecendo ,e
suplcio do fogo. Na dioces,e de Laon, Santa
Benta, virgem e mrtir. Em Ancona, s Santas
Palcias e Lo,urena que, ,enviadas ao exlio durante a
perseguic de Diocleciano, sob o imperador Dio,
morreram de fadiga e de misria.
Evdio, bispc, e confessor. - Em Roma, Santo

***
NDICE
SETEMBRO
26.' dia de Setembro
So Nilo da Calbria 9
So Cipriano e Santa Justina, mrtires 31
So Colrfan, abade 36

27 ,n dia de Setembro
Santo Elze"no e Santa Delfina, sua espsa 39
Vida de So Vicente de paulo 60
So Cosme e So Damio, mrtires 100
So Sigisberto, rei e mrtir 103
Santa Hiltrudes, virgem 104

28.' dia de Setembro


Santa Loba, virgem e abadssa 10?
So Cariton, abade . .. . . ll1tz
Santo Exuprio, bispo 118
Santa Eustquia, virgem 714
So Salomo, b!.spo 116
So Venceslau, duque da Bomia, mrtir till

293 dia de S,etembro


So Miguel e os Anjos Bons 726
So Ciraco, anaeoreta 133
Bem-aventurado Jo,o de Montmirail, cisterciense 135
430 NDCE

30.0 dia de Setembro

So Jernimo, o doutor da Igreja L4L


So Gregrio, o Iluminador, apstolo da Armnia ' 161
Santo Honrio, arcebisPo t64
166
So Simo de CrPY, beneditino

OUTUBRO
l.e dia de Outubro
FestadoSantoRosrio .'"' 17L
So Remgio, bispo de Reims, apstolo dos Francos L77

zLB
So Suliau, abade
22it
So Bavo, monge

2.' dia de Outubro


Os Santos Anjos da Guarda ...
So Leodegar, bispo de Autun e vrios outros santos da
228
mesma Poca
Bem-aventurados Lus, Lcia, Andr e !'rancisco Yakichi,
mrtires 263 I
3.' dia de Outubro
267
So Geraldo de Brogae
Santa Teresa do Menino Jesus, Carmelita
270
297
So Maximiano, bisPo
Sa.nto Evaldo, o Branco e Santo Evaldo, o Negro' mrtires " 299

4.o dia de Outubro


303
So Francisco de Assis
920
So Petrnio, bisPo
So Pedro Ae CaPitOtias, mrtir 32L
NDICE 43L

5.n dia de Outubro


T
Santo Apolinrio, bispo de Valena, no Delfinado 326
Bem-aventurado Joo de Penna, franciscano 332
So Plcido, beneditino 339
Santa Gala, viva 342
Sa^nta tr'lor, religiosa hospitaleira de So Joo 344
}f,ir,IrLu Atilano tre Dtlu
Santo -frLrral,rlu So IFroilano,
I'ulli,,ltu, bispos
IJrIro 348
So Maurcio, abade 350
Bem-aventurado Rai,mundo de Cpua, mestre geral da Ordem
Dominicana 351

6,n dia de Outubro


So Bruno, fundador da Ordem dos Cartuxos 362
Santa F, virgem e mrtir ? . .. . 375
So Perdo, abade 379
Santa Maria tr'rancisca das Cinco Chagas, terciria fran-
381

7.' dia de Outubro


O Beato Mateus Carrieri, dominicano Bg5
O Santo Rosrio Bg0

8.n dia de Outubro


Santa Brgida da Sucia, viva 408
So Demtrio e So Nestor, mrtires 419
Santa Pelgia, virgem e mrtir 4Zl
Santa Tas, penitente 424
Composto e fmpresso nas
oficinas grficas da
EDITR,A DAS AMR,ICAS
So Paulo 1960

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