Biogeografia e Paisagem
Biogeografia e Paisagem
Biogeografia e Paisagem
BIOGEOGRAFIA E PAISAGEM
Apresentao................................
Apresentao................................................................
................................................................................................
...................................................................
................................... 1
Introduo: o plano da obra ................................................................
.......................................................................
....................................... 3
A Geografia Fsica................................
Fsica ................................................................
..........................................................................................
.......................................................... 15
A Cincia da Paisagem ................................................................
.................................................................................
................................................. 29
O Geossistema: modelo terico da paisagem................................
paisagem.........................................
......................................... 65
A Biogeografia ................................................................
................................................................................................
................................................................ 73
O sistema meio ambiente................................
ambiente................................................................
............................................................................
............................................ 89
Os fatores abiticos e os seres vivos................................
vivos ........................................................
........................................................ 105
Os fatores biticos na repartio dos seres vivos................................
vivos.................................
................................. 117
Distribuio geogrfica dos seres vivos ...................................................
................................................... 127
As grandes formaes vegetais do globo ................................................
................................................ 153
Estudo biogeogrfico
biogeogrfico da vegetao. As pirmides ................................ 189
A Bioclimatologia ................................................................
...........................................................................................
........................................................... 209
brasileiros....
Fitossociologia aplicada ao estudo dos cerrados brasileiros ...............
............... 215
Fitossociologia aplicada ao estudo da caatinga................................
caatinga......................................
...................................... 229
Cartografia da Vegetao ................................................................
............................................................................
............................................ 245
O estudo da paisagem................................
paisagem ................................................................
..................................................................................
.................................................. 255
BIOGEOGRAFIA
BIOGEOGRAFIA E PAISAGEM
Programa de Doutorado em Geografia FCT-UNESP/Cmpus de Presidente
Prudente-SP
Programa de Mestrado em Geografia UEM - Maring/PR
Professor Associado ao Laboratrio COSTEL - Universit Rennes 2/Frana
2 edio revisada
2003
Reviso
Prof. Dr. Marcos Alegre
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maring PR., Brasil)
1
BERTRAND, G. Paysage et gographie physique globale: esquisse mthodologique.
R.G.P.S.O, Toulouse, v. 39, p. 249-72, 1968.
cientfica de se reagrupar e mesmo de se reestruturar a geografia, em
torno dos problemas de gesto territorial. O avano histrico da
Geografia se anula atualmente por um atraso epistemolgico.
Ainda mais, de modo geral, a bibliografia mais comumente indicada
nos Programas de Ensino de Biogeografia dos cursos de Geografia
(CAILLEUX, DANSEREAU, DE MARTONNE, ELHAI, LEMM,
VUILLEUMIER, MARGALEF, STRAHLER...), est muito presa estrutura,
ao arranjo e ao contedo, sem muitas vezes esclarecer, de maneira
crtica, a histria e o desenvolvimento da biogeografia.
Etimologicamente, o termo Biogeografia (1907) faz referncia vida
e repartio no espao. Com raras excees, os Naturalistas e os
Gegrafos admitem este duplo contedo.
Os Naturalistas, e mais particularmente os Biologistas, examinam a
distribuio de uma espcie ou de comunidades de espcies (corologia) e
as relaes que elas mantm com seu meio ambiente bitico e abitico
(Ecologia). Descrio das fitocenoses e explicao de sua localizao e de
sua extenso constituem o objeto fundamental de suas pesquisas que
apresentam uma indiscutvel unidade, reforada pela referncia de um
conceito central, o Ecossistema.
Desde a publicao de "Biogeografia", Tomo III do Tratado de
Geografia Fsica de E. de MARTONNE (1925) - redigido, na maior parte,
por dois naturalistas2 - OS Gegrafos passaram a dar maior ateno,
embora de forma descontnua, s formaes vegetais naturais, descritas
a pequena escala e seus climas especficos. Pouco a pouco elaborou-se
uma Biogeografia geral, que chama a ateno para a distribuio zonal,
ou seja, para as correspondncias entre as paisagens vegetais e os
respectivos meios naturais, combinando relevo, climas, solos..., mas sem
considerar exclusivamente estes meios como causa da manuteno da
cobertura vegetal.
Mas, a Biogeografia geogrfica no pode ignorar as paisagens
vegetais atuais, regra geral, profundamente transformadas pelas
sociedades humanas: elas refletem a influncia indissocivel das
condies naturais e das aes humanas ditadas pelas necessidades
econmicas e ligadas aos dados tcnicos e aos fatos histricos.
Desde Paul Vidal de la Blache e seu minucioso historiador L.
Febvre, que tudo parece j ter sido dito a respeito dos caracteres
geogrficos das paisagens rurais francesas e sobre as relaes histricas
existentes entre os camponeses e o espao cultivado por eles. Todavia,
2
O tomo III do "Trait de Gographie Phisique" de E. de MARTONNE, consagrado
Biogeografia foi redigido por um botnico, AUG. CHEVALIER, e um zologo, L.
CUNOT.
devemos recusar a atitude clssica e cmoda que consiste em folhear,
sob forma de um quadro3, uma introduo geogrfica a uma obra
histrica. Na verdade, o quadro geogrfico foi ao mesmo tempo a
conseqncia e a causa de uma concepo bloqueada das relaes entre
o homem e o meio.
Abrir a histria das paisagens rurais por um quadro geogrfico
supor o problema ecolgico resolvido. mumificar um espao
artificialmente estabilizado no tempo e delimitar no espao; seno
falsificar, ao menos embaraar de pressupostos a anlise das relaes
histricas entre as comunidades do campo e os meios fsicos,
finalmente congelar o movimento da natureza e da histria quando o
que se precisa coloc-lo em evidncia. O quadro tambm supe,
implicitamente a escolha de uma escala espacial de estudo. Os gegrafos
clssicos tomaram como base as regies naturais ou as regies
geogrficas. Mas existem outros nveis espaciais, nos quais a funo
econmica e social variou ao longo da histria (parcela cadastral,
explorao e propriedade agrcola, territrio, comuna etc.). Enfim, os
progressos recentes, mas separados, obtidos pelas cincias naturais e
histricas, levantaram a questo das relaes entre os feitos humanos e
os feitos ecolgicos, s vezes mais abertos, outras mais exatos, de
qualquer forma menos simples que h meio sculo atrs.
A interpretao histrica do fator natural nas relaes com a
sociedade e a estrutura agrria fica, pois, o problema mais mal
elucidado, o mais raramente abordado e, sobretudo, o mais mal colocado
de toda a histria rural. Falta curiosamente uma dimenso ecolgica a
esta histria que, alis, largamente aberta sobre outras disciplinas tais
como economia, etnologia, antropologia etc. A pesquisa histrica sobre
as florestas, as pastagens, os agrossistemas, fica, salvo excees, presa
finalidade econmica e jurdica. A floresta s interessa ao historiador
quando a mesma eliminada ou preservada. Mas a maioria dos
historiadores fica indiferente a estes problemas, cegos diante das
informaes ecolgicas, um verdadeiro disparate e difcil de
interpretar, o que contm os documentos dos antigos4.
3
A escola geogrfica francesa-vidaliana usou e abusou da descrio, para ressaltar os
traos singulares da paisagem, no intuito de delimitar e caracterizar a regio
geogrfica. Na abordagem vidaliana, o estudo da paisagem repousa sobre um quadro
rigoroso base de anlises histricas, de referncias geolgicas e climticas, de
pesquisas pessoais sobre os relevos, enfim, sobre pesquisas e clculos estatsticos.
4
ALENCASTRE J.M. PEREIRA DE, relata os desastres ambientais ocorridos na
capitania de Gois durante o sculo XVIII, chamando ateno, por exemplo, para o
perodo de 1776 a 1782 quando observa-se trs anos de secas seguidos de trs anos
Esta lacuna no fortuita. Ela est ligada diretamente ao esprito da
escola histrica e da escola geogrfica francesa. Existe uma inibio
tradicional da histria face aos problemas naturais que ela considera
como domnio dos gegrafos. Trata-se de uma atitude que vai alm de
uma simples questo de diviso do saber. uma posio de princpio
que emerge da lgica interna de um sistema de pensamento. Uma vez
que o homem domina a natureza - o primeiro sentido do
possibilismo que se difundiu entre os historiadores - o meio natural
no constitui um fator determinante da evoluo humana. Assim, a
grande maioria dos historiadores, se isolou na alternativa brilhante e
confortvel, mas pouco cientfica de L. Febvre que, esquematizando o
pensamento de P. Vidal de La Blache, colocou em oposio o
possibilismo humano ao determinismo natural. Dramatizando as
relaes do homem e da natureza, esclerosou-se a reflexo e a pesquisa
neste domnio, como observa BERTRAND, G, 1975, p. 38.
Dessa forma as ligaes privilegiadas entre a histria e a geografia,
to fecundas h meio sculo, perderam progressivamente seu interesse e
esto normalmente distendidas: um efeito de evoluo prpria da
geografia fsica que foi submergida pelas pesquisas geomorfolgicas e
que, desta maneira, ficou muito desequilibrada e sobretudo muito
setorial, perdendo contato com os problemas humanos. Falta geografia
moderna esta viso global e diretamente explicativa dos fenmenos
naturais e de suas interaes, assim como uma orientao francamente
biolgica. Ora, estas caractersticas constituem mesmo os fundamentos
da ecologia moderna. As transformaes histricas e a dinmica atual da
paisagem devem ser abordadas a partir de uma anlise integrada, com
nfase s relaes existentes entre os elementos, isto , com nfase aos
processos determinantes da construo paisagstica.
A evoluo histrica das paisagens, regra geral, negligenciada
pelos ecologistas - pouco familiarizados com os fatos e os documentos
histricos -; pelos historiadores que, com rarssimas excees, no
interpretam os documentos relativos ao meio "natural" e pelos
geomorflogos, que enfatizam mais o conhecimento dos meios
quaternrios em detrimento da dinmica atual das paisagens, ou seja,
ignoram o perodo histrico.
Nesse sentido, lembramos que a paisagem produzida
historicamente pelos homens, segundo a sua organizao social, o seu
grau de cultura, o seu aparato tecnolgico.
Da pesquisa
H alguns anos que desenvolvo pesquisas sobre "O Processo de
Ocupao da Amaznia Matogrossense",
Matogrossense" de forma mais dirigida Regio
Guapor-Jauru\Sudoeste do Mato Grosso. No perodo de 1967 a 1971,
desenvolvi a Dissertao de Mestrado5, sustentada na proposta de
5
PASSOS, M.M. DOS. Contribuio ao estudo dos cerrados em funo da variao
das condies topogrficas. USP-So Paulo, 1981.
"levantamentos florsticos", segundo BRAUN-BLANQUET6, tendo como
objeto de estudo as reas de cerrados prximas aos municpios de
Indiana e Martinpolis (SP), Goinia (GO), Braslia (DF), Campo Grande
(MS), Rondonpolis (MT), Cuiab (MT) e Chapada dos Guimares
(MT).
No perodo de 1984 a 1988, desenvolvi a Tese de Doutorado7
sustentada na proposta metodolgica de G. BERTRAND8.
Na qualidade de professor-pesquisador do Departamento de
Geografia da UNESP, campus de Presidente Prudente e, ainda, de
pesquisador do CNPq desde 1985, oriento alunos (Iniciao Cientfica e
Aperfeioamento) e Mestrandos/Doutorandos do Curso de Ps-
Graduao em Geografia, tendo como temtica "O Processo de
Ocupao da Amaznia Legal", com nfase para "as transformaes
histricas da paisagem na Amaznia Matogrossense".
O envolvimento com a problemtica amaznica, sobretudo com o
processo de ocupao da Amaznia Matogrossense, levou-me a
percorrer praticamente todo o Estado do Mato Grosso e grande parte
dos Estados de Rondnia, Acre, Par.
Contudo, dada as dimenses territoriais das Regies Centro-Oeste e
Norte do Brasil, o viajar pelo p colorido das estradas, apenas, no seria
suficiente para a melhor compreenso da dinmica da paisagem, na sua
dimenso mais global.
Assim, partindo dos conhecimentos adquiridos ao longo dos
trabalhos de campo, tomei a iniciativa de realizar (1992-1993) - com
apoio da CAPES -, o estgio, a nvel de ps-doutorado, no Laboratoire
Costel\Universit Rennes 2 - Haute Bretagne\Rennes-France.
Ao longo do estgio, priorizei dois objetivos:
- a capacitao no tratamento numrico das imagens magnticas
de satlite, objetivando o estudo das transformaes histricas
da paisagem, resultantes do processo de ocupao da Amaznia
Matogrossense;
- aquisio e anlise bibliogrfica, necessria para a sustentao
da temtica "Teledeteco aplicada ao estudo da paisagem -
Sudoeste do Mato Grosso" ttulo da Tese de Livre-Docncia.
6
J. BRAUN-BLANQUET. Fitosociologia: bases para el estudio de las comunidades
vegetales. H. Blume Ediciones. Madrid, Espanha, 1979.
7
PASSOS, M.M. DOS. O Pontal do Paranapanema: um estudo de geografia fsica
global. USP-So Paulo, 1988.
8
G. BERTRAND. Paysage et gographie physique globale. Esquisse mthodologique.
Rev. Gog. Pyrnes et S. , 39, 3, pp. 249-272, 1968.
A partir dessa exposio de motivos, optei por uma estrutura
temtica para compor o livro, cujo objetivo principal valorizar a
Biogeografia e, evidentemente, a prpria Geografia Fsica, a partir de um
contedo bsico e significativo para os estudantes e professores de
Geografia:
1. A Geografia Fsica: a construo da geografia fsica; a geografia
fsica clssica; as novas abordagens; geografia fsica e geografia
humana; por uma nova geografia fsica; o debate metodolgico;
orientao bibliogrfica.
2. A Cincia da Paisagem: as premissas; a paisagem nas artes
grficas; a paisagem na arte dos jardins; a paisagem na
literatura; a paisagem na geografia; a abordagem alem: a
landschaftskunde; o desenvolvimento da cincia da paisagem na
ex-URSS: a landschaftovedenie; as contribuies anglo-
saxnicas; a paisagem objeto: C.S.I.R.O.; a paisagem na
geografia atual; a paisagem: realidade concreta; conceitualizao
de paisagem; conceitos de paisagem; orientao bibliogrfica.
3. O Geossistema: modelo terico da paisagem; orientao
bibliogrfica.
4. A Biogeografia: introduo; desenvolvimento da biogeografia;
variveis e parmetros em biogeografia; as escolas
biogeogrficas; o objeto da biogeografia; o lugar da biogeografia
no panorama das cincias geogrficas: suas relaes com as
cincias da Terra e Biolgicas; biogeografia e ecologia; os tipos
de biogeografia segundo a abordagem; os tipos de biogeografia
segundo o(s) elemento(s) estudado(s); orientao bibliogrfica.
5. O sistema meio ambiente: as fontes de energia; a estruturao
do meio fsico; nomenclatura dos fatores ecolgicos; fatores
climticos; orientao bibliogrfica.
6. Os fatores abiticos e os seres vivos: meios naturais do globo; a
noo de ecossistema; bitopo e biocenose; o ecossistema; os
elementos do agrossistema. O Homem no meio natural;
orientao bibliogrfica.
7. Os fatores biticos na repartio dos seres vivos: fatores
paleogeogrficos e paleoclimticos; a evoluo geolgica da
Terra e a evoluo da Biosfera; a importncia paleo-ecolgica
das variaes climticas quaternrias; o interesse do
conhecimento da paleodistribuio das espcies para a
compreenso da sua distribuio geogrfica atual; as mudanas
climticas no quaternrio e seus reflexos na distribuio dos
seres vivos no Brasil; fator antrpico: as atividades do Homem
na Biosfera; fatores biticos: fatores intra-especficos; fatores
inter-especficos; orientao bibliogrfica.
8. Distribuio geogrfica dos sres vivos: evoluo das plantas
terrestres; a diversidade tropical; o conceito de espcie; teoria
sinttica da evoluo; especiao geogrfica; o processo de
extino de espcies; reas de conservao; ecorregies; grau de
ameaa; orientao bibliogrfica.
9. As grandes formaes vegetais do globo: principais divises
florsticas do mundo; as formas de vida de Rankiar. O espectro
biolgico; os ecossistemas primrios e secundrios; formaes
vegetais abertas e formaes vegetais fechadas; sempreverde e
caducidade; ecossistema de floresta; as florestas sempreverdes
tropicais midas e o clima; os tipos de florestas da zona
temperada e os climas; as formaes vegetais abertas e os
climas; ecossistema de tundra; floresta de mono, savanas,
prairi e climas; ecossistemas de montanha; ecossistemas litorais;
orientao bibliogrfica.
10. Estudo biogeogrfico da vegetao. As pirmides: introduo
terica e metodolgica ao estudo biogeogrfico da vegetao; o
mtodo dos inventrios fitossociolgicos aplicado
Biogeografia: as fichas e pirmides de vegetao; interpretao
biogeogrfica-esboo estrutural e dinmica da vegetao;
interpretao geomorfolgica; evoluo da vegetao do
Sudoeste do Mato Grosso - os levantamentos biogeogrficos;
orientao bibliogrfica.
11. A Bioclimatologia: observaes para a construo e
compreenso dos climogramas; orientao bibliogrfica.
12. Fitossociologia
Fitossociologia aplicada ao estudo dos cerrados brasileiros: os
cerrados brasileiros: origem, caracterizao e reas de
ocorrncia; orientao bibliogrfica.
13. Fitossociologia aplicada ao estudo da caatinga: os inventrios
fitossociolgicos e as respectivas pirmides de vegetao;
diagnstico bioclimtico: Barreiras-BA; Barra do Rio Grande-BA;
Bom Jesus da Lapa/BA; reflexes tericas; orientao
bibliogrfica.
14. Cartografia da Vegetao: tipos de mapeamentos, diversificao
de escalas e a interpretao cientfica; smbolos e cores; a
sntese cromtica de H. GAUSSEN; orientao bibliogrfica.
15. O estudo da paisagem: a metodologia cientfica; a Geografia
Fsica: de um paradigma perdido a um paradigma re-
encontrado?; metodologia geral para os estudos da paisagem;
fases metodolgicas dos estudos da paisagem; correo de
impactos ambientais; orientao bibliogrfica.
A GEOGRAFIA FSICA
9
Humboldt e Ritter estabeleceram os princpios da Geografia Moderna: 1.
Determinar a coordenao, as conexes superficiais entre os trs estados da matria
- ar, gua, terra - para os explicar traando de novo o encadeamento dos fatos e
precisando o ponto de sua evoluo; 2. Localizar os fenmenos, mostrar a sua
extenso, coloc-los no seu quadro espacial.
Geografia Geral. Ao contrrio, a escola francesa de Vidal de la Blache10,
influenciada pela histria, insistia mais sobre a fisionomia das
combinaes regionais. Para melhor as explicar, La Blache partia das
partes para chegar ao todo. Assim, a primeira fase do trabalho
geogrfico era dedicada coleta de dados realizada a partir da
investigao direta sobre o terreno. Os dados inventariados eram
descritos e classificados, depois confrontados, comparados e
correlacionados em uma tipologia11.
Essa maneira de ver o meio natural, como reflexo de uma
combinao de elementos e, que poderia resultar numa Geografia Fsica
Complexa, no foi suficiente para impedir a subdiviso disciplinar, como
veremos a seguir.
A imploso da Geografia Fsica comeou pela individualizao da
Geomorfologia. Esta foi, no incio, uma Geomorfologia estrutural12. O
10
Vidal de la Blache, fundador da escola geogrfica francesa, se imortalizou na arte de
descrever o Quadro Geogrfico da Frana. , sobretudo, uma descrio
excepcionalista - por evocar um ou outro elemento de maior expresso na
caracterizao da paisagem -; e objetiva - por apoiar-se nos traos mais constantes
e mais visveis da organizao paisagstica. A descrio vidaliana no tem o carter
subjetivo de um romance regionalista, ela est sustentada em vasta documentao.
Ela explicita os elementos e as relaes mais perceptveis, onde os traos mais
caractersticos so apreendidos a partir do olhar objetivo do observador. A descrio
geogrfica cientfica, visto que, no h descrio geogrfica sem a explicao que
lhe d sentido.
11
Para ascender ao status das cincias, a Geografia passa da fase qualitativa e
descritiva fase quantitativa e causal. A explicao e todos os seus passos: -
descrio, observao e comparao - passam a ser imprescindveis s tentativas de
definir as causas. A Geografia exercita o princpio da analogia para, sustentada em
fatos, estabelecer as leis. Na explicao geogrfica, a intuio assume um valor
especial, visto que a elucidao de determinado fenmeno geogrfico nunca de
todo objetiva; logo, as lacunas so preenchidas por hipteses, no sentido de
completar as anlises.
12
preciso estar atento evoluo histrica dos conceitos. Nesse sentido, lembremos
as (fases) hipteses elaboradas pela Geomorfologia com o intuito de explicar a
gnese das formas do terreno: no incio das investigaes, os gegrafos apegaram-se
a uma concepo mecanicista e a sua explicao limitava-se a confrontar estrutura e
forma de relevo. A PENCK, classificava as formas topogrficas segundo os
antecedentes geolgicos. A Geografia estava na vassalagem da Geologia. Em seguida,
prevaleceu a concepo de que o relevo estava na dependncia direta dos agentes
exodinmicos. A evoluo morfolgica tende para o nivelamento das formas
topogrficas: os rios tendem, por eroso e por deposio, a definirem o seu perfil
longitudinal ao longo de uma vertente, cada vez mais nivelada e dissecada, at
atingirem o seu nvel de base. Foi com argumento neste encadeamento dos fatos que
W.M. DAVIS (+/- 1890) idealizou a sua teoria do ciclo de eroso - assentada na
concepo de que as formas de terreno evoluem por uma srie de fases - juventude,
progresso da carta topogrfica da Frana na escala de 1:80.000, dita de
Estado Maior, seguida de perto pela carta geolgica mesma escala,
permitia uma comparao das formas do relevo com a tectnica e a
litologia. Assim saiu da colaborao de um topgrafo, o general de La
No (1836-1902), e de um gelogo, Emm. de Margerie (1862-1953), a
obra intitulada Les Formes du terrain (1888), a qual marca, na Frana a
ecloso da Geomorfologia. Na verdade, os primeiros geomorflogos
foram todos gelogos: Ch. Lyell (1797-1875) na Inglaterra; A. de
Lapparent (1839-1908), Emm. de Margerie, E, Haug (1861-1927) na
Frana; C. E. Dutton (1841-1912), G. K. Gilbert (1843-1918), W. M. Davis
(1850-1934) nos EE.UU. Mas foram sobretudo os gegrafos, Emm. de
Martonne (1873-1955), H. Baulig (1877-1962) na Frana; A. Penck (1858-
1945) e seu filho Walther (1888-1923) na Alemanha que prosseguiram
nesse esforo. W. M. Davis, que considerado por alguns como o
fundador da Geomorfologia, foi antes de mais nada o criador de um
corpo de doutrina aparentemente lgica e simples qual sua forte
personalidade asseguraria um sucesso durvel, ainda que muito
contestado. Ao menos teve o mrito de desengajar a Geomorfologia da
Geologia Clssica, e de a elevar ao nvel de uma disciplina independente
e de valorizar os aspectos dinmicos.
Paralelamente, os meteorologistas, tratando uma documentao
estatstica, de mais a mais volumosa, abriram a via uma Climatologia
Moderna, divorciada dos ditos populares e do folclore. Eles definiram,
pouco a pouco, as caractersticas dos diferentes climas zonais e regionais
e elaboraram climatologias nacionais, como aquela de A. Angot (1848-
1924) para a Frana, ou mundiais como aquela de J. Hann (1839-1921).
As grandes expedies martimas cientficas como aquela do Challenger
(1872-1876) e as exploraes polares como a de A. E. Nordenskjld
(1878-1879) chamando a ateno sobre a Oceanografia que tinha
rascunhado, desde o incio do sculo, os trabalhos dos engenheiros
hidrgrafos da marinha como Beautemps-Beaupr (1766-1854). Os
agrnomos, os florestais, os hidrulicos, confrontados com as realidades
naturais, tinham acumulado observaes e experincias sobre a eroso
dos solos e o escoamento das guas. Snteses parciais foram elaboradas,
como o famoso relatrio de A. Sureil sobre as enchentes (1841, reeditado
em 1870-1872). Eles foram a origem da Hidrologia continental e da
13
O Tomo III da obra clssica de E. de MARTONNE (Trait de Gographie Physique)
dedicado a Biogeografia cuja apresentao do contedo obedece a seguinte
estrutura: (1) Princpios Gerais da Biogeografia, (2) Os fatores climtaicos e
topogrficos em suas relaes com a vida das plantas; (3) Os solos em suas relaes
com a vegetao; (4) As associaes vegetais; (5) Ao do homem sobre a vegetao
e associaes vegetais devidas a sua interveno; (6) As regies botnicas
continentais; (7) Meios biolgicos e associaes animais. O habitat aqutico; (8) O
habitat terrestre; (9) As regies zoolgicas do habitat terrestre.
dimenses: formas do relevo, tipos de tempo, regimes meso-climticos
ou hidrolgicos, formaes vegetais... para as quais ela elabora um
vocabulrio especfico, mas muito freqentemente fechado, abstrato ou
difcil para os no especialistas. Sua preocupao dinmica mais de
ordem histrica que cinemtica: ela traa as etapas e os sentidos das
evolues tendo em conta as heranas, mas ela se fixa pouco nos
mecanismos e nos meios de ao dos diversos processos. Enfim, ela se
fixa mais na importncia das reparties que nas interaes, e a relao
no est sempre evidente entre as diferentes partes do Tratado.
As novas abordagens
Esta abordagem clssica se manteve mais explcita e aceitvel at
1950, quando aparecem as preocupaes com o aprofundamento das
tentativas analticas, da conscientizao da interdependncia dos
fenmenos biofsicos e do desejo crescente da interveno das aes
voluntrias do Homem sobre o Meio.
Em climatologia, aps ter tirado o mximo do estudo dos tipos de
tempo (P. Pdelaborde), os gegrafos se lanam fundo na dinmica da
atmosfera, renovada pelos progressos da meteorologia ao curso da
Segunda Guerra Mundial. Outros criam a Cartografia Climatolgica
mdia escala (Ch. P. Pguy). Mas, a maior parte, continua a negligenciar
a climatologia ao solo14 e a bioclimatologia que eles deixam aos
agrnomos e aos biogegrafos.
So os engenheiros que aportam mais conhecimentos novos sobre
os transportes slidos e sobre a poluio dos rios. Os gegrafos levam
em conta apenas o estudo dos sistemas de utilizao da gua.
A exemplo da climatologia, o impulso da oceanografia mais um
feito dos geofsicos e dos biologistas que dos gegrafos. Entretanto, estes
ltimos, com os gelogos e os petrlogos, contribuem eficazmente para
o estudo do domnio sub-marinho pre-continental (J. Bourcart, L.
Dangeard, A. Guilcheer e seus alunos) e do domnio litoral (A. Guilcher,
F. Verger, J.-P Pinot).
14
JOLY, D. 1987, desenvolve questes instigantes a partir do artigo Le paysage
climatique. Pour une formulation systmique du climat. In: Bull. Assoc. Gogr.
Francais, Paris, 1987, 2, pp. 175-184. Entre outras reflexes, o Autor afirma: ...mesmo
que algumas classificaes do clima repousem sobre uma ou duas variveis, o clima
age a todo momento sobre o homem, o animal, as plantas ou as rochas, pelo
conjunto das variveis que o compe (uma temperatura de 0 grau percebida
diferentemente segundo o ar seja seco ou mido, o vento se desloca mais, ou menos
rpido, o sol brilha ou no...).
Em biogeografia, a cartografia do tapete vegetal toma um rumo
decisivo sob o impulso dos botnicos. H. Gaussen efetua a carta da
vegetao da Frana na escala de 1/200.000, enquanto que L. Embarger
impulsiona o Centro de estudos fitossociolgicos e ecolgicos (C.E.P.E.)
de Montpellier que desenvolve pesquisas quantitativas sobre as
associaes. Paralelamente, os gegrafos se lanam ao estudo fisionmico
detalhado das paisagens vegetais (G. Rougerie).
sobretudo a geomorfologia que, a partir de sua posio
dominante, conheceu as mutaes mais profundas e as mais
espetaculares. Aps 1930, a extenso mundial do campo das pesquisas
geomorfolgicas fez aparecer com clareza as insuficincias da doutrina
de DAVIS. S. PASSARGE (1904), EMM. de MARTONNE (1913) e outros,
j tinham mostrado a importncia dos fatores climticos na evoluo do
relevo. Os acidentes climticos (C.A. COTTON), reconhecidos pelo
prprio DAVIS, resultam no fato de combinaes diferentes dos
processos elementares em funo dos dados estruturais, climticos e
biogeogrficos locais. Para designar as combinaes, A. CHOLLEY
props a noo muito apropriada dos sistemas de eroso. Assim,
aparece uma geomorfologia climtica paralelamente s tradicionais
geomorfologia estrutural e geomorfologia histrica. Por seu
conhecimento planetrio dos problemas geomorfolgicos e por sua
autoridade cientfica, J. DRESCH contribuiu muito para desenvolver esta
nova orientao. Para precisar a noo bastante vaga de eroso, os
geomorflogos avanam pouco a pouco a preocupao com a existncia
e a natureza dos processos de base e de suas leis fsicas. A exemplo dos
pedlogos, esta considerao foi estimulante. Eles dirigem a ateno
pedognese, morfognese, assim como s formaes superficiais,
negligenciadas pelos gelogos, apesar de testemunhos correlativos e
significativos da ao de tais processos. Ou seja, na interpretao das
formas do terreno, os geomorflogos levam em considerao as relaes
mtuas e as interaes entre os fenmenos desenvolvendo uma
geomorfologia dinmica, mais concreta, mais rigorosa, mais
aprofundada e mais interdisciplinar.
Para evoluir, os gegrafos realizam um retorno decisivo para as
cincias no geogrficas bsicas, que eles tinham ignorado at ento. Ao
mesmo tempo em que os gegrafos humanos descobrem as virtudes
da matemtica para as cincias humanas, os gegrafos fsicos estreitam
os laos com as cincias fsicas e naturais. Eles se consideram geofsicos,
meteorologistas, hidrulistas, gelogos, petrgrafos, tecnistas,
geoquimistas, pedlogos, botanistas... Ao menos adotaram os mtodos e
os resultados destes especialistas. Freqentemente eles contribuem de
forma significativa para estas pesquisas e, em todo caso, com novos
elementos de reflexo. Estas transformaes metodolgicas, a introduo
da cartografia de inventrio, da teledeteco (sensoriamento remoto) e
do laboratrio contribuem para uma mudana capital da problemtica,
perfeitamente exprimida nas obras de J. TRICART15 e na orientao de
novas pesquisas.
Contrariamente aos gegrafos humanos, que tendem a limitar-se
a uma criao dos homens organizados em sociedade16, os gegrafos
fsicos continuam a pensar que o espao geogrfico compreende
igualmente os domnios pouco ou no modificado: mares, desertos,
terras congeladas das altas altitudes e das altas latitudes... Este espao ,
alm do mais, tridimensional, ocupando pois, uma certa espessura que
se estende, s vezes, sobre a litosfera, a baixa atmosfera, a hidrosfera e a
biosfera17. Os objetos da geografia fsica no so, em nenhum caso,
inertes ou imutveis e, bem menos ainda isolados. Eles tm uma origem
e uma histria e eles se inserem numa sntese complexa de interaes
bio-fsico-qumico, visto que a alterao de um dos componentes
interfere sobre o conjunto da combinao. Eles devem ser considerados
no somente sob um ngulo individual e gentico, mas ainda de um
ponto de vista coletivo e espacial; isto que os colocam no conceito
sinttico muito freqentemente esquecido de meio natural ou de
paisagem (Landschaft).
Assim se afirmam os dois caracteres fundamentais da geografia
fsica: a importncia dos fenmenos dinmicos (energia, foras,
processos) e a complexidade das situaes (combinaes espaciais e
combinaes temporais).
Observa-se que a pesquisa em geografia fsica muda de base em
relao pesquisa clssica, permitindo algumas concluses prticas
diretamente utilizveis pela geografia humana e pela organizao do
espao. As prioridades desta pesquisa passam do geral ou mesmo
regional, ao local, e da observao descontnua ao levantamento
exaustivo. Ao mesmo tempo, a descrio literria e qualitativa perde
para a anlise quantitativa e o tratamento numrico e experimental dos
dados.
Sobre uma face da Terra considerada como submissa foras
interdependentes e multivariadas, a geografia fsica ultrapassa a simples
especulao intelectual para se constituir em uma cincia, s vezes
15
J. TRICART, lEpiderme de la Terre, Masson, coll. Evolution des sciences, Paris, 1962.
16
H. ISNARD, LEspace gographique, P.U.F., coll. Le Gographie, Paris, 1978.
17
J. TRICART, La Terre, plante vivante, P.U.F., coll. SUP, Paris, 1972.
fundamental e aplicada, dos equilibrios e desequilbrios mveis da
superfcie terrestre, compreendidos nas suas relaes com a ocupao
humana.
Geografia Fsica e Geografia Humana
Por mais paradoxal que possa parecer com a geografia humana
que a geografia fsica tem atualmente menos relaes, especialmente ao
nvel da pesquisa. Os laos entre geografia fsica e geografia humana so,
portanto, de tradio na geografia francesa. Eles dominam toda a
geografia vidaliana que uma cincia dos lugares mais que dos
homens, mesmo que o significado destes lugares seja dado pelas
realizaes antrpicas. Ao contrrio, na geografia alem, geografia
humana e geografia fsica sempre evoluram mais ou menos
separadamente. Na geografia americana, aps a criao no incio do
sculo de algumas disciplinas de geografia para servir de ponte entre
cincias naturais e cincias sociais, a geografia fsica e, sobretudo, a
geomorfologia, ou fisiografia, se diferenciou rapidamente. Na ex-
U.R.S.S., onde existem faculdades de Geografia, os dois ramos restam
perfeitamente distintos. Na Frana mesmo, as disciplinas de geografia
fsica foram criadas em algumas faculdades de cincias.
No Brasil, os debates realizados no seio das Instituies de Fomento
Pesquisa (CAPES, CNPq), da Associao de Gegrafos Brasileiros
(AGB) e, nas prprias Universidades, sobre as necessrias e urgentes
alteraes nas estruturas curriculares de Geografia, materializam-se mais
no contedo disciplinar onde se configura uma disputa no sentido de
ampliar o social e restringir a temtica natural.
O problema , pois, saber qual a ateno que os gegrafos
humanos devem dar ao quadro18 ou ao meio no qual vivem os
homens.
18
Desde Paul Vidal de la Blache e seu minucioso historiador L. Febvre, que tudo
parece j ter sido dito a respeito dos caracteres geogrficos das paisagens rurais
francesas e sobre as relaes histricas existentes entre os camponeses e o espao
cultivado por eles. Todavia, devemos recusar a atitude clssica e cmoda que
consiste em folhear, sob forma de um quadro, uma introduo geogrfica a uma
obra histrica. Na verdade, o quadro geogrfico foi ao mesmo tempo a conseqncia
e a causa de uma concepo bloqueada das relaes entre o homem e o meio. Abrir
a histria das paisagens rurais por um quadro geogrfico supor o problema
ecolgico resolvido. mumificar um espao artificialmente estabilizado no tempo e
delimitar no espao; seno falsificar, ao menos embaraar de pressupostos a anlise
das relaes histricas entre as comunidades do campo e os meios fsicos,
finalmente congelar o movimento da natureza e da histria quando o que se precisa
coloc-lo em evidncia. BERTRAND, 1975, p. 38)
Geografia fsica e geografia humana so duas partes de uma mesma
disciplina, servidas por um mesmo esprito, mas cada uma com seus
objetivos prprios, seus mtodos especficos, suas perspectivas modernas
(experimentao, quantificao, tratamento numrico ou modelizao,
teledeteco) e seu campo de aplicao.
Por uma nova Geografia Fsica
A geografia fsica tem sido acusada de uma ausncia de reflexo e
da falta de debate epistemolgico sobre a natureza e os objetivos do seu
campo de conhecimento. verdade que a maior parte dos gegrafos
fsicos prefere fazer mais a geografia ativa do que pensar para se colocar
corretamente na diversificao dos conhecimentos. Esta atitude tem suas
vantagens e seus inconvenientes. Alm do mais, h o risco de, ao se
privilegiar o debate filosfico se esterilizar a pesquisa propriamente dita.
Durante muito tempo, a geografia fsica se contentou com as
explicaes puramente descritivas, formais e taxonmicas, e ela muito
freqentemente satisfeita de explicaes puramente deterministas19, s
quais deduzem a sucesso dos acontecimentos a partir de fatores pr
estabelecidos.
Os gestores do territrio se apoderaram do termo environnement
(entorno), anglicismo do termo francs milieu20 (meio), de uso comum
desde o incio do sculo XX. Contudo, ainda h lacunas no conhecimento
da estrutura e do funcionamento desse meio geogrfico e ecolgico. O
progresso tcnico e a exploso demogrfica multiplicam seus impactos,
19
O debate determinista deve ser decomposto em vrios nveis de resoluo, em
funo da escala dos fenmenos estudados, quer sejam eles espaciais, temporais ou
sociais. Mas, preciso primeiro se desembaraar do discurso maniquesta sobre as
relaes do Homem e da Natureza que s tem sentido no plano metafsico e que
levanta novamente teorias filosficas que no concernem, pelo menos diretamente
nossa concepo das transformaes histricas da paisagem.. preciso termos
conscincia de que o determinismo natural est sempre no interior de uma dada
estrutura scio-econmica.
20
Para o ecologista, o meio o ambiente fsico-qumico de um ser vivo ou de uma
comunidade de seres vivos com o qual os ltimos estabelecem trocas permanentes
de matria e de energia. Como o indica de outra parte a etimologia, o meio natural
se define com relao a um objeto, vegetal ou animal. Na maior parte dos trabalhos
clssicos de ecologia, trata-se de uma planta ou de uma comunidade de plantas
(floresta, cerrado). Com efeito, a ecologia moderna essencialmente uma
fitogeografia: as plantas so mais cmodas a manipular, mais bem conhecidas,
estreitamente dependentes de um meio homogneo, enquanto que os animais so
mais diversificados, menos bem repartidos e ainda mais mveis. Esta orientao
estritamente vegetal da ecologia naturalista, por mais cmoda que ela seja, muito
restrita para nosso propsito.
conferindo ao problema da gesto territorial uma complexidade cada vez
maior. falsa a posio de muitos gegrafos que afirmam que, o
progresso tcnico suprime os condicionantes fsicos. Na verdade, estes
gegrafos fecham-se em estudos baseados exclusivamente em aspectos
histricos, sociolgicos e econmicos, menosprezando o estudo do meio
fsico. Adotando esta atitude, perdem a essncia geogrfica e, desde o
ponto de vista cientfico, colocam-se como socilogos ou economistas de
segunda ordem. importante que a Geografia seja fiel ao seu papel de
estudo das relaes homem-meio. Isto , que desenvolva, de forma mais
explcita, a concepo ecolgica como foi proposta por MAX SORRE. O
meio fsico impe srias limitaes biolgicas ao homem, enquanto ser
vivo. Apesar dos avanos tcnicos permitir a superao de muitas das
limitaes ecolgicas e geogrficas de determinados meios, estes
continuam apresentando limitaes: pelos custos!
O debate metodolgico
O debate metodolgico concernente a geografia fsica gira, desde h
muito tempo, em torno de uma dupla necessidade: o aprofundamento
da anlise e a explicao sinttica da fisionomia da face da Terra. Cada
um, segundo seus gostos e segundo seus meios, privilegia uma ou outra
dessas abordagens.
Cincia da natureza, a geografia fsica utiliza normalmente, nos
domnios que lhe so prprios, os mtodos que so das cincias
naturais: observao, descrio, classificao, levantamento cartogrfico,
experimentao, comparaes e correlaes. Sua lgica aquela das
cincias da Terra e da Vida, e no aquela das cincias humanas ou das
cincias sociais. Nesse sentido, ela se ope incontestavelmente
geografia humana, mesmo quando ela considera a atividade humana
sobre o meio fsico.
Estas consideraes permitem compreender porque alguns mtodos
da geografia fsica foram tomados das cincias vizinhas ou so comuns a
elas.
No sentido de melhor elucidar a questo mal resolvida do mtodo
em geografia fsica, abordaremos, a seguir, o desenvolvimento da Cincia
da Paisagem e do seu modelo terico: o Geossistema.
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A CINCIA DA PAISAGEM
As premissas
As Contribuies Anglo-
Anglo-Saxnicas
A teoria cientfica da paisagem teve sua origem entre os
naturalistas e gegrafos alemes. Todavia, as contribuies tericas
anglo-saxnicas foram fundamentais para o desenvolvimento da Cincia
da Paisagem.
Em primeiro lugar, preciso lembrar a contribuio de C. H.
SMUTS, cuja teoria do holismo21 essencial para compreender o
conceito de integrao da paisagem.
Do mundo anglo-saxnico provm tambm a elaborao do
conceito bsico de ecossistema22 (A.G. TANSLEY, 1953), sobre o qual se
baseia a Geo-ecologia de C. TROLL e a definio de geossistema de
SOCHAVA.
E mais: a elaborao e preciso do conceito de Sistema Geral, sobre
o qual se apoiam todos os outros sistemas, foi definido por L.V.
BERTALANFY.
21
Conceito segundo o qual todas as entidades fsicas e biolgicas formam um nico
sistema interagente unificado e que qualquer sistema completo maior do que a
soma das partes componentes.
22
O criador do termo Ecologia foi o bilogo alemo E. HAEKEL, em 1869. Todavia, a
elaborao do conceito bsico de ecossistema - e que foi transportado para a Cincia
da Paisagem - foi proposto pelo bilogo ingls A. G. TANSLEY.
principais espcies vegetais, tipos de rocha, de formaes superficiais,
solos, etc. O trabalho completa-se com o estudo de mapas e trabalhos j
existentes. O resultado dos trabalhos expressa-se mediante dois tipos de
documentos:
- uma memria que consiste em organizar os trabalhos
realizados e na qual, principalmente, se explica as unidades
cartografadas;
- um mapa das diferentes unidades de paisagem. Esses mapas
so acompanhados de blocos diagramas que pem em evidncia
a disposio do relevo e suas diferentes partes. So tambm
frequentes os perfis nos quais se apresentam as principais
formaes vegetais, estrutura geolgica, tipos de rocha, etc. Por
outro lado, preparam-se mapas temticos de vegetao, solos,
precipitaes, etc.
(a)
(b)
Figura 1. a e b. Exemplos de representao do C.S.I.R.O.
(Extrado de BOLS, 1992). a) Em forma cartogrfica: 1. aluvies
recentes, argilas e limos; 2. formaes continentais meteorizadas; 3.
rochas metamrficas, granito; 4. aluvies antigos e coluvies; 5.
formaes litorais, argilas e areias elicas. b) Em forma de bloco
diagrama.
23
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filosfico da "Teoria Geral de Sistemas" (BERTALANFFY, L. VON - General Systems
Theory. Ed. G. Brazilier, New York, 1968, 288 pp). Essa teoria, em seu sentido
estrito, trata das propriedades e das leis dos sistemas, e se baseia na teoria
da paisagem. O geossistema, como o ecossistema, uma abstrao, um
conceito, um modelo terico da paisagem (figura 4). Nele encontramos
todas e cada uma das caractersticas que definimos como prprias de
todo sistema.
GEOSSISTEMA
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A BIOGEOGRAFIA
Introduo
26
Processo de subdiviso de uma linha evolutiva em elementos vicariantes, por uma
barreira ecolgica. Ou melhor, a vicarincia o fenmeno que designa a ocorrncia
de subespcies, vivendo em diferentes habitats de uma rea geogrfica e nunca
encontradas na mesma comunidade. (Glossrio de Ecologia, ACIESP, n 57, 1987)
27
Metodologia empregando hipteses filogenticas como base para classificao,
adotando as caractersticas recentes comuns como bsicas dentro de uma seqncia
evolutiva ao invs de utilizar dados de similaridade fentica. (Glossrio de Ecologia,
ACIESP, N. 57, 1987).
Segundo a Teoria do Equilbrio Dinmico as frequentes
imigraes e extines de espcies resultaria numa elevada taxa
de substituio, num sistema insular.
Essas trs escolas biogeogrficas efetuam uma reinterpretao dos
esquemas de distribuio geogrfica a partir da Teoria da Tectnica das
Placas.
A Teoria da Tectnica Global expe os mecanismos segundo os
quais as massas continentais puderam, ao curso de pocas geolgicas, se
desprender uma das outras a partir de um bloco nico.
O objeto da Biogeografia
A Biogeografia o estudo das caractersticas do espao resultante dos
elementos
element os (e da sua integrao),
integrao do funcionamento,
funcionamento da evoluo e do
pattern
pattern
pattern (padro) espacial da combinao entre as plantas, os animais e
solos - includos os aspectos prprios do clima e da geomorfologia - que
se encontram dentro de um certo espao e que o distingue dos outros
espaos. (CROWLEY, 1967).
A Biogeografia um ramo da Geografia Fsica, que tem como
objeto o estudo das paisagens.
O Biogegrafo deve, primeiro, identificar e classificar os elementos
da paisagem a ser estudada. No caso da Biogeografia, so os diversos
aspectos da vegetao, da comunidade animal e do solo, assim como os
aspectos prprios do clima e da geomorfologia. Por diversos aspectos
da vegetao, da comunidade animal e do solo, ns queremos deixar
entendido que cada um desses fenmenos devem ser considerados de
vrios pontos de vista. Ns podemos considerar a vegetao, por
exemplo, do ponto de vista fisionmico, florstico, ecolgico, histrico...
A integrao dos elementos aborda a maneira segundo a qual eles
interagem na ecosfera. A vegetao est fixa no solo e se ergue na
atmosfera, ocupa uma superfcie determinada; ela biodiversa: abriga
uma fauna e uma flora mais ou menos heterognea; ela constitui uma
comunidade viva, uma biocenose28. Nesse conjunto complexo, as plantas
tm um papel parte; fixadas no solo, elas mantm relaes mais
estreitas com o meio fsico. Os animais, pela faculdade de locomoo,
escapam mais facilmente s vicissitudes do meio.
Por funcionamento da paisagem estudada entende-se a maneira
segundo a qual os elementos atuam conjuntamente. Em Biogeografia,
isso compreende as atividades fisiolgicas dos organismos, os
28
Conjunto inter-relacionado da fauna e flora, vivendo num determinado bitopo, num
determinado tempo.
movimentos e os ciclos do ar, da gua, dos elementos nutritivos e da
energia, os processos de desenvolvimento do solo, etc.
Por evoluo entende-se as mudanas efetuadas pelo
funcionamento dos elementos da paisagem ou pelas influncias externas.
Em outras palavras, a evoluo engloba a dinmica da biocenose
(colonizao, consolidao, sucesso, estabilizao, degradao, etc.) e ao
desenvolvimento do solo e das vertentes. Desse modo, a situao atual
o resultado de uma condio anterior; a partir da diagnose29 da
dinmica atual possvel fazer-se uma prognose30 e, ento, propor uma
sntese31.
O lugar da Biogeografia no panorama das Cincias Geogrficas.
Geogrficas. Suas
relaes com as Cincias da Terra e Biolgicas
As cincias sistemticas (Botnica, Zoologia, Pedologia...) esto mais
habilitadas para o estudo sistemtico das plantas, dos animais, do solo...
Regra geral, os estudos sistemticos so elementaristas e pouco globais;
cabe ao biogegrafo combinar os diversos domnios e recobrir as lacunas
para observar o conjunto.
As relaes da Biogeografia com outros ramos da Geografia Fsica
so evidentes:
Com o Clima:
Clima escala do globo, os climas so distribudos
zonalmente. distribuio zonal dos climas corresponde uma disposio
zonal das grandes formaes vegetais.
Onde os fatores geogrficos (relevo, disposio das terras e mares,
correntes martimas...) pertubam a zonalidade climtica, eles pertubam,
ao mesmo tempo, a zonalidade das formaes vegetais e sua fisionomia.
29
Determinao da estrutura da paisagem. A diagnose tem por objetivo conhecer
quais so os principais fatores que mantm a paisagem na forma presente, isto ,
que elementos, interaes e energias so responsveis pela sua estrutura e estado
atual.
30
Prognose provm etimologicamente do grego: pro = antes,
antes e gnose = conhecimento
e, portanto significa conjeturar sucessos futuros. Nos estudos da paisagem a
prognose consiste em poder prever a evoluo da mesma.
31
A ltima fase de um estudo completo da paisagem a sntese ou preveno de
impactos. A sinterese, do grego syntereo = preservar,
preservar a etapa na qual, de acordo
com a prognose estabelecida, se define qual deve ser a gesto dessa paisagem para
evitar possveis impactos no futuro e manter o funcionamento normal da mesma.
Em resumo, os objetivos bscicos da sinterese so: (a) prever, de acordo com a
prognose, futuros impactos; (b) propor a gesto adequada para evitar ou amenizar
os impactos previsveis.
A figura 6 mostra a estruturao da cobertura vegetal natural,
desde o Equador at o Crculo Polar Artico, ao longo da Africa-Eursia,
como resposta s caractersticas do meio regidas pelo clima:
Biogeografia e Ecologia
A Ecologia um ramo da Biologia que se notabilizou a partir do
conceito de ecossistema lanado por A. G. TANSLEY (1935) em oposio
s concepes organicistas32/Bioecologia.
A Biogeografia um ramo da Geografia Fsica, que notabilizou o
conceito de Geossistema.
As relaes entre Biogeografia e Ecologia, muitas vezes confusas,
so bastante evidentes.
A opinio pblica, e a imprensa de modo geral, associam ou
confundem Ecologia com Meio Ambiente. Contudo, a abordagem
ecolgica no a nica, nem tampouco fornece a viso do problema em
termos completos.
Como reao s derivaes antropognicas negativas da paisagem,
assistimos, entre o fim do sculo XIX e os anos 1970, ao surgimento de
trs atitudes que vo marcar o movimento ecolgico desse final de
sculo:
- a conservao da natureza:
natureza consiste em tentar salvar o que
resta da natureza original, isto , como no se sabe restaurar
os equilbrios potencialmente comprometidos, e como no se
trata de designar os responsveis, uma vez que a degradao da
natureza acompanha fatalmente as atividades industriais,
agrcolas e urbanas, encerram-se relquias em santurios, a fim
de preservar, com nostalgia, alguns pobres restos do Paraso
perdido...
- o biologismo social:
social abordagem sistmica do mundo, na qual
todos os elementos, incluindo sociedades humanas, interagem
numa gigantesca rede de relaes. Natureza e sociedade
fundem-se numa totalidade, como organizada, no sentido
prprio: Essa apreenso da Natureza dissocia-se das concepes
32
Em Principles and Methods of Bio-ecology, Carnegie Institution of Washington
Year Book, Waashington DC, 1923, F.E. CLEMENTS defende o conceito de
Bioecologia, sustentado na idia de que so as relaes trficas que estabelecem a
unidadede das comunidades biticas/organicismo.
mecanicistas e busca sua identidade nos modelos biolgicos
(DARWINISMO), mais do que nas construes fsicas;
- a sacralizao objetiva de uma natureza mtica:
mtica ope o Homem
Natureza. O Homem apareceu como um verme numa fruta,
como uma traa num novelo de l, e roeu seu habitat,
segregando teorias para justificar sua ao(DORST, 1965).
Os conceitos de Ecologia no fazem aluso ao carter de um
territrio definido para os organismos vivos, ao padro espacial das
comunidades biolgicas ou de seu meio, ou s regies ecolgicas,
reforando a nossa concepo de Biogeografia como uma disciplina
distinta da Ecologia.
bom lembrar que, ao contrrio dessas atitudes ecolgicas, a
Geografia sempre valorizou o estudo do papel do homem nas
transformaes histricas da paisagem.
Reconhecemos, que embora as relaes Biogeografia-Ecologia, sejam
evidentes, h diferenas profundas entre ambas:
- de escala:
escala o ecossisstema no tem suporte espacial. Ele pode ser
um lago, uma floresta, o oceano, etc. Ao trabalhar com grandes
escalas, muitas vezes microscpicas, o Eclogo d pouca
ateno s noes de extenso, causalidade e analogia,
diferenciando-se do Gegrafo;
- de objeto: a Ecologia estuda os organismos em relao com
seu meio ambiente, cuja nfase colocada sobre os
organismos, enquanto que Biogeografia se interessa mais
sobre o estudo das relaes...
O ecologista antes de tudo um naturalista: A Ecologia uma
cincia biocntrica que focaliza o balano energtico sobre a produo
da matria viva pelo mecanismo da fotossntese, do metabolismo e da
cadeia alimentar G. BERTRAND.
Para a Ecologia, o bitopo inorgnico apenas um suporte dos
fenmenos biolgicos. A Geografia, ao contrrio, privilegia os
componentes do bitopo, sobretudo o relevo.
A partir do esboo terico-metodolgico proposto por SOCHAVA
(1963) e BERTRAND (1968), os gegrafos procuram desenvolver anlises
integradas da paisagem, a partir de abordagens centradas na
Biogeografia;
- de fisionomia:
fisionomia numa perspectiva geogrfica, um meio natural
no se reduz to somente a seus componentes ecolgicos.
O meio se define por suas dimenses. Um grande rio e um
pequeno rio so, numa tica geogrfica, dois meios diferentes.
A localizao, a forma, a configurao do meio constitui, para o
gegrafo, fatores de identificao. Um meio natural ser diferente
segundo sua localizao intra ou pericontinental, sua articulao com
meios vizinhos (contactos, penetraes). Igualmente, as
descontinuidades, continuidades, espessuras, orientaes, etc. so fatores
de identificao dos meios naturais.
O gegrafo concebe a anlise dos meios como um mosaico onde
cada pea, cada ecosssitema, s tem sentido em relao s outras peas.
Uma floresta equatorial no constitui a mesma natureza de meio
segundo ela seja insular, uma floresta galeria, uma extensa rea no
interior de um continente, etc.
- de finalidade:
finalidade a anlise geogrfica dos meios naturais engloba as
aes passadas, presentes ou futuras dos homens. A avaliao
geogrfica de um meio natural no se faz, pois, no interior do
ecosssistema considerado como exclusivamente natural, ela se
faz em relao a sua humanizao em curso ou previsvel em
termos de potencialidades, de acessibilidade, de habilidade, de
adaptabilidade, de ajustamento, de insero das sociedades
humanas neste meio. Nesta perspectiva, a gua, por exemplo,
pode ser obstculo ou recurso, meio de transporte ou de
proteo, fonte de energia a explorar, lenis subterrneos a
captar, guas de escoamento a armazenar e regularizar, lugar
de reproduo de insetos vetores de doenas, etc.
Os tipos
tipos de Biogeografia segundo o Elemento (ou Elementos)
Elementos) Estudado
(s)
- Fitogeografia:
Fitogeografia estudo da distribuio geogrfica das plantas
sobre a superfcie terrestre.
A Fitogeografia pode compreender trs abordagens:
- um estudo descritivo da distribuio dos diferentes vegetais;
- uma anlise das causas desta distribuio, isto , dos fatores do
meio ambiente que interagem com o vegetal;
- um estudo da maneira segunda a qual as plantas se agrupam
por afinidades ecolgicas para constituir em cada tipo de meio
uma associao ecolgica.
- Zoogeografia:
Zoogeografia estudo da distribuio geogrfica dos animais na
superfcie terrestre. As trs abordagens possveis para para a
Fitogeografia, so vlidas para a Zoogeografia. O Biogegrafo,
ao estudar as paisagens terrestres valoriza mais os aspectos da
vegetao, visto que, os animais tm um papel visvel menos
importante na caracterizao paisagstica.
- Pedogeografia/Geografia
Pedogeografia dos Solos: estudo dos solos como um
fenmeno que se produz de maneira natural, tendo em conta o
processo de formao, composio e distribuio; com nfase
para as relaes entre o solo, os organismos e os elementos
biticos e abiticos do meio ambiente.
- Geossistmica:
Geossistmica a interdisciplinaridade, o globalismo, o
ambientalismo e a anlise dialtica da natureza e da sociedade
no puderam se desenvolver seno num ambiente cientfico
dominado pelo esprito de sistema. A passagem da longa
tradio de setorizao da pesquisa para os conceitos de
estrutura e de sistema, e do princpio de auto-organizao,
relanou a Ecologia em torno do conceito renovado de
Ecossistema e, a Geografia Fsica, em torno do conceito de
Geossistema. O geossistema, como o ecossistema, uma
abstrao, um conceito, um modelo terico da paisagem.
O geossistema, como modelo terico da paisagem, se prope a
realizar estudos integrados da paisagem.
Lembremos, por exemplo, a definio recolhida por TRICART e
KILIAN do conceito de paisagem segundo BERTRAND: uma poro
do espao caracterizada por um tipo de combinao dinmica, portanto
instvel, de elementos geogrficos diferenciados (fsicos, biolgicos e
antrpicos) que, ao reagirem dialeticamente entre si, fazem da paisagem
um conjunto geogrfico indissocivel que evolui em bloco, tanto sob o
efeito das interaes entre os elementos que o constitui como sob o
efeito da dinmica prpria de cada um dos elementos considerados
separadamente. (TRICART e KILIAN, 1982, pg. 36).
A concepo global ou integrada da paisagem facilita a introduo
de uma perspectiva dinmica e evolutiva, isto , adotam-se como valores
primrios da anlise geogrfica as noes de escala e tempo.
Esses so os tipos de Biogeografia segundo a abordagem e segundo
o elemento ou os elementos estudados. possvel combinar-se mais de
um tipo de abordagem para o estudo de determinado elemento da
paisagem.
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O SISTEMA MEIO AMBIENTE
Introduo
Fatores climticos
1. Luz.
2. Temperatura.
3. gua.
4. Vento e perturbaes atmosfricas.
Fatores edficos
1. Fatores fsicos: textura (granulometria), estrutura (compactao
e aerao do solo), estabilidade, hidratao.
2. Fatores qumicos: teor em calcrio, pH, nitratos, deficincias
qumicas.
Fatores topogrficos (a configurao do terreno no lugar considerado
intervm para modificar os fatores precedentes).
Fatores biticos
1. Fatores ligados presena de outros vegetais: microflora do
solo, doenas criptogmicas, concorrncia entre plantas de uma
mesma espcie ou de espcies diferentes.
2. fatores ligados aos animais: predadores, mecanismos de
polinizao e de disseminao.
3. Ao do Homem e dos animais domsticos: desmatamento,
fogo, poluio qumica, etc.
Fatores climticos
1. A luz
A luminosidade de um ponto do globo a um intervalo de tempo
dado depende do ngulo resultante da interseco dos raios solares com
a superfcie da Terra, da espessura da camada atmosfrica e da
transparncia do ar. Estes dados dependem por sua vez da estao do
ano, da latitude e da altitude, da hora e do estado da atmosfera
(temperatura, umidade, etc.).
A metade da luminosidade que necessita a planta procede
diretamente da radiao solar; esta maior no vero. A outra metade
procede da difuso da luz solar na atmosfera (radiaes de ondas
longas); nesse caso preciso lembrar o papel do albedo33 (reflexo da
luz).
A intensidade da luz solar mais forte em altitude porque a
camada da atmosfera menos espessa.
A nebulosidade pode reduzir at 30/40% da intensidade da
radiao solar.
A luz solar necessria planta por sua intensidade (fotosntese);
por seu calor (tropismo) e por sua periodicidade (fotoperodo).
Ao sobre a assimilao
Em ecologia, a melhor maneira de avaliar a quantidade de luz que
absorve uma planta medindo os cmbios gasosos: uma planta
33
Razo entre a quantidade de radiao eletromagntica refletida por uma superfcie e
a radiao incidente sobre ela, expressa em porcentagem. (Glossrio de Ecologia:
ACIESP, 1987).
clorofilada no escuro desprende gs carbnico (respirao); na presena
da luz o fenmeno se inverte (absorve gs carbnico) e elimina oxignio
(fotosntese). A intensidade da fotosntese aumenta com a iluminao e,
para um determinado valor, ela compensa exatamente a respirao: o
chamado ponto de compensao que corresponde uma luminosidade
diferente segundo as espcies vegetais (mais fraca para as espcies
vegetais do subbosque do que para as adaptadas a viver em plena luz).
Ao morfogentica
A luz condiciona o conjunto do desenvolvimento das plantas, assim
como a morfologia e o crescimento das partes vegetativas.
- sobre a germinao:
germinao algumas plantas so muito sensveis e
outras so indiferentes iluminao;
- sobre o crescimento das plntulas e concretamente a sntese
clorofiliana: os vegetais que crescem na ausncia da luz
apresentam um aspecto pobre em clorofila, folhas pequenas,
ramos alargados e grandes distncias entre os ns;
- sobre a morfologia e a ramificao: a direo dos talos e dos
ramos sofrem a influncia do fototropismo, ao sobre o porte
geral da planta (rvores isoladas apresentam uma morfologia
diferente das que se encontram no interior de uma
associao/formao vegetal);
- sobre a estrutura
estrutura anatmica:
anatmica numa mesma espcie as folhas
desenvolvidas sombra tm um limbo maior, mais delgados e
mais pobre em tecido modervel;
- sobre a florao:
florao necessrio um mnimo de luminosidade para
que esta acontea. O fotoperodo atua de forma determinante
na florao das plantas. Plantas tropicais - plantas de dias
curtos (dia e noite com uma mesma durao). Plantas
subrticas - plantas de dias longos (florescem durante o vero).
2. A Temperatura
A temperatura do meio no qual vive a planta, isto , do ar e das
camadas superficiais do solo e das guas, tributria da radiao solar e,
portanto, sua distribuio est em analogia com a distribuio da luz.
2.1. Repartio
A partir de medidas tomadas alta altitude (com ajuda de satlites-
sondas), demonstrou-se que a energia recebida por uma superfcie de 1
cm2 perpendicular direo dos raios solares aumenta com a altitude,
isto , com a diminuio do efeito absorvente da Atmosfera, e ter um
limite que se calcula em 2 cal/min/cm2. altitude 0, ela varia em funo
da estao, das condies atmosfricas e da latitude como o mostra a
tabela seguinte (H. WALTER):
a) Energia recebida sobre uma superfcie horizontal, ao meio dia,
em clima temperado (Potsdam), em calorias por centmetro
quadrado e por minuto:
Ms Tempo claro Nebulosidade mdia
Junho......... 1,11 0,57
Dezembro.. 0,24 0,06
3. A gua
3.1. Repartio das precipitaes
As precipitaes esto sob a dependncia da temperatura, que rege
a intensidade da evaporao ao nvel das superfcies marinhas. De fato, o
mximo de precipitaes se encontra nas regies quentes e, sobretudo,
em suas reas insulares (Antilhas, sia e Indonsia Monnica). No
entanto, as isoietas no se desenham to paralelas ao Equador como as
isotermas; elas so muito mais influenciadas pela magnitude relativa das
massas continentais ou das superfcies ocenicas, pelo regime dos ventos
e pela orografia. Em particular o interior dos continentes
frequentemente estpico ou desrtico.
vento
4. O ve nto e as perturbaes atmosfricas
O vento age, diretamente, por uma ao mecnica sobre o solo e os
vegetais e, indiretamente, modificando a umidade e a temperatura.
TRICART, 1977, apresenta uma excelente anlise sobre ecodinmica
e problemas do meio ambiente. Dada a qualidade dessa anlise e,
sobretudo, a facilidade de consulta dessa obra, remetemos os
interessados no assunto para uma leitura da mesma.
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OS FATORES ABITICOS E OS SERES VIVOS
34
A opinio pblica e a imprensa de modo geral, associam ou confundem Ecologia
com meio ambiente. No entanto, a Ecologia uma das abordagens da problemtica
ambiental. No confundir Ecologia com o ambientalismo nascido a partir dos anos
50 - um movimento que prega o retorno natureza, mais geral e melhor
documentado.
trabalhos clssicos de ecologia, trata-se de uma planta ou de uma
comunidade de plantas (floresta, cerrado...). Com efeito, a ecologia
moderna essencialmente uma fitogeografia: as plantas so mais
cmodas a manipular, mais bem conhecidas, estreitamente dependentes
de um meio homogneo..., enquanto que os animais so mais
diversificados, menos bem repartidos e, ainda, mais mveis.
Do ponto de vista das comunidades rurais, o meio natural ,
numa primeira aproximao, o conjunto dos elementos naturais:
relevo, clima, gua, solo, vegetao, fauna, que concorrem para a
estruturao do espao rural.
A existncia do meio est ligada ao equilbrio entre todos os
elementos que o compem. Mas s se pode falar de um equilbrio
instvel, evolutivo. Quando o equilbrio atinge seu mais alto nvel, ou
seja quando o potencial abitico est inteiramente saturado pela
explotao biolgica, diz-se que o meio est em estado de climax (em
grego: o mais alto nvel de escala). O conceito de clmax, ou de
equilbrio climcico, a base de toda a interpretao ecolgica quando
se trata de caracterizar a dinmica dos meios naturais. Ao menos em
teoria, o clmax assimilado ao ponto de partida da evoluo dos meios.
Dessa forma, ele representa para nosso meio natural no sentido mais
estreito do termo, o ambiente ecolgico primrio no modificado pelo
homem. O clmax pois um postulado cmodo para a anlise histrica
do espao natural.
O meio natural no sentido estrito de estrutura do equilbrio
climcico, sem perturbao de origem antrpica, ainda existe em muitas
reas do globo.
No entanto, os solos, as florestas, as pastagens, as lagoas, os rios,
etc., com os quais os camponeses tm contato mais ou menos estreitos,
no so meios naturais no senso estrito, mas meios em geral
profundamente modificados na sua estrutura e evoluo pelo tipo de
explorao (ou tipos sucessivos de explorao).
Assim o espao rural no dever estar em oposio ao meio natural.
Um sucede o outro. Mas se o meio natural no existe mais, o espao
rural comporta importantes elementos naturais. Estes ltimos no
formam uma estrutura da evoluo autnoma, mas participam da
dinmica do conjunto do espao rural. Todavia, em uma primeira
aproximao, preciso distinguir vrios tipos de combinaes:
- Os espaos submetidos cultura intensiva e praticamente
contnua, ou seja inteiramente roados e com solos modificados
pelo modo de cultivo e pelo uso de adubo. Mesmo as condies
climticas podem ser transformadas, sobretudo escala de
microclimas.
- Os espaos semi-naturais, ou seja aqueles que conservaram o
essencial das estruturas naturais (a cobertura vegetal, os solos,
a circulao do ar e da gua), mas onde a evoluo
controlada pelo tipo e freqncia das intervenes antrpicas.
o caso das florestas, de uma parte dos campos de altitude, de
numerosas lagoas, pntanos e rios.
- Os espaos intermedirios submetidos a fases alternadas, mais
ou menos longas, de explorao e abandono. As terras sem
cultivo e a maior parte das capoeiras entram nesta categoria.
Se no h mais meio natural no que diz respeito a estrutura e
dinmica, os elementos naturais e seus mecanismos prprios participam
sempre na formao e no dinamismo do espao rural (exceto o caso
limitado de cultura inteiramente artificial, sob estufa por exemplo).
A noo de ecossistema
Em todo meio natural, uma floresta, por exemplo, se deve distinguir
entre a parte mineral - o bitopo -, e a parte viva e orgnica - a
biocenose -; o bitopo sendo s vezes o suporte e a fonte de energia da
biocenose.
Bitopo e biocenose
O bitopo comporta trs partes aparentemente independentes.
Uma poro da litosfera I (Figura 11), isto , o relevo e suas
correspondentes topogrfica e geolgica, susceptveis de serem
cartografados. Uma poro da hidrosfera II, isto , das guas doces ou
salgadas, estagnadas ou correntes. Enfim, uma poro da Atmosfera III,
isto , da camada gasosa que envolve a Terra e que atravessada pelos
raios solares.
A biocenose uma poro da biosfera, composta de molculas
orgnicas carbonadas. Pode-se a subdividir em fitocenose IV
(comunidade vegetal); em zoocenose V (comunidade animal); em
edafocenose VI (ou solo dos pedlogos). A organizao interna
sistemtica da biocenose complexa: ela permite aos organismos de se
nutrir e de se reproduzir.
Figura 11. Elementos do meio natural. I, II e III so os bitopos.
IV, V e VI so a biocenose. A interveno do homem
simbolizada pela noosfera
O ecossistema
O sistema biocenose no simplesmente superposto ao sistema
bitopo: eles esto conectados pelos fluxos de matria e de energia e,
constituem, em um nvel superior e mais complexo um novo sistema de
ecossistema (oik = eu vivo, eu habito). Por exemplo, a floresta e toda a
cadeia trfica que lhe prpria, dependente da hidrosfera e da
atmosfera: sem gua, sem ar, sem luz, a floresta no seria viva.
Inversamente, a vertente - constituinte parcial do bitopo -, reage
diversamente s chuvas, segundo ela esteja ou no, coberta de floresta.
Em outros termos o ecossistema um sistema de sistemas.
Toda variao importante de um dos termos I a VI modifica o
conjunto do ecossistema. Cada ecossistema tem uma definio, uma
especificidade. O ecossistema, no tem uma escala definida - vai do
oceano a floresta - e, portanto, um conceito pouco geogrfico: para a
geografia, a escala uma varivel imprescindvel: pois que as dimenses
do espao so to importantes quando a sua natureza.
natureza Um grande rio
no o mesmo (geograficamente) que um pequeno rio.
O meio do gegrafo , de alguma sorte, mais completo que o
ecossistema do ecologista: o ecossistema colocado no espao.
No sentido de no ficarmos preso ao escopo de uma biogeografia
essencialmente naturalista e, ainda, de explicitar a dinmica paisagstica
a partir das relaes sociedade-natureza, vejamos a rica e didtica noo
de agrossistema.
O agrossistema
O espao rural ao - mesmo tempo - uma realidade ecolgica e
uma criao humana.
O espao rural no mais que um aspecto particular, mas banal,
da epiderme terrestre. uma superfcie de contato e de instabilidade,
uma interface no sentido dos fsicos, onde se encontram e se combinam
os elementos da litosfera, da atmosfera, da hidrosfera e da biosfera.
Podemos distinguir 3 sub-conjuntos:
- o potencial abitico que agrupa todos os componentes inertes:
o substrato geolgico e o relevo que lhe associado, o clima, as
guas;
- a explorao biolgica que compreende o conjunto das
comunidades vivas, vegetais e animais;
- a utilizao antrpica que est ligada a um certo tipo scio-
econmico de explorao do espao e que interfere com os dois
sub-conjuntos precedentes.
Os elementos do agrossistema
O agrossistema composto de duas sries de elementos ecolgicos
com os quais as sociedades rurais no estabeleceram o mesmo tipo de
relao:
- a terra, o clima e a gua constituem o fundamento permanente
do espao organizado e a base da produo agrcola;
- com os organismos vivos selvagens, animais e vegetais, as
relaes so mais complexas e sobretudo muito menos diretas,
j que eles passam essencialmente pela distncia intermediria
da domesticao e da explorao agrcola.
A destruio da natureza e a rarefao de certos recursos naturais
so atributos da industrializao e do capitalismo industrial.
O Homem no meio natural
As transformaes efetivadas pelas sociedades humanas nos
equilbrios naturais variaram segundo as pocas e segundo as regies. A
grosso modo, admite-se que a humanidade passou pelas etapas seguintes
(segundo P. DANSEREAU e W. SASSIN):
- descoberta do instrumento:
instrumento prtica da colheita, da caa, da
pesca (consumo individual de energia = aproximadamente
5.000 cal/dia);
- domesticao de animais:animais estgio pastoral mais ou menos
nmade (consumo individual de energia = 8.000 a 10.000
cal/dia);
- inveno da agricultura:
agricultura estruturao e sedentarizao das
sociedades rurais (consumo individual de energia = 12.000 a
25.000 cal/dia). Eventualmente contempornea do estgio
precedente;
- revoluo ciberntica:
ciberntica o homem modifica os equilbrios
planetrios e penetra no cosmo (consumo individual de energia
= 220.000 cal/dia).
2. Fator Antrpico
2.1.2. A ao consciente
Valorizao da atividade exercida pelo Homem, como ser racional,
no ecossistema em que vive e na distribuio espacial das biocenoses. De
fato, desde o incio da Histria da Humanidade, o Homem foi o principal
responsvel pela distribuio geogrfica dos seres vivos. Aps as
flutuaes climticas do Pleistoceno ele foi o principal responsvel pela
alterao da Fauna, da Flora e dos bitopos, especialmente quando
integrado em civilizaes que, a par de um elevado nvel tecnolgico,
astingiram supremacia econmica e poltica.
3. Fatores Biticos
Introduo
O estudo da distribuio dos seres vivos na superfcie do Globo e a
anlise das causas a que obedece constitui o objeto da Biogeografia.
Visto que se trata de seres vivos, evidente que a constncia das
formas to somente relativa. Existe uma evoluo,
evoluo da qual se pode
apreciar ainda alguns episdios; o gegrafo deve saber como nascem e
se extinguem as espcies.
A distribuio destas espcies, assim como sua fisionomia, depende
do passado e ofereceria muitos enigmas se no considerssemos as
condies do tempo presente.
Toda espcie animal ou vegetal, ao multiplicar-se tende a ocupar
uma rea cada vez mais extensa. Os meios de multiplicao e de
disperso so os fatores primordiais da distribuio geogrfica.
A extenso da rea ocupada por determinada espcie definida,
primordialmente, pela competio com outras espcies e pelas condies
do meio. H casos de barreiras intransponveis. Porm a adaptao ao
meio comum a todos os seres vivos, e seu estudo constitui um dos
captulos mais interessantes da fitogeografia e da zoogeografia.
Os seres vivos tm uma tendncia geral de se agruparem,
constituindo associaes, que contribuem para as caractersticas
fisionmicas das paisagens geogrficas.
Evoluo das Plantas Terrestres
A conquista dos meios ambientes terrestres pelas plantas s se
tornou vivel a partir de um longo processo de evoluo, que consistiu,
basicamente, no desenvolvimento de sistemas radiculares para retirar a
gua e os nutrientes do solo, de flhas para a fotossntese ao ar livre, e a
mais importante de todas as adaptaes, um caule ou sistema vascular
para o transporte de gua e nutrientes da raiz para as folhas. ste
sistema vascular uma caracterstica comum aos Tracheophyta, que
incluem a maior parte das plantas terrestres; somente os musgos e
hpitcas do filo Bryophyta se adaptaram vida fora dgua sem um
sistema vascular, sobrevivendo pelo fato de serem pequenas e por
viverem em meio mido.
As primeiras tracheophytas fsseis foram encontradas em rochas do
siluriano. Desde stes remotos tempos ste filo passou por trs fases
principais, no decorrer da expanso evolutiva. Cada uma destas trs
fases conduziu ao aparecimento de grupos cada vez mais aperfeioados
e bem sucedidos. A primeira fase inclui todos os grupos das criptgamas
vasculares; a segunda, das gimnospermas e a ltima, a mais evoluda de
todas, corresponde das angiospermas, ou seja, das plantas com flores.
O primeiro grupo, ou seja, o das pteridfitas (fetos, samambaias, etc) e
outras criptgamas vasculares afins, dominaram os continentes durante
grande parte da era paleozica. Como o nome indica (do grego, "cryptos =
oculto e gamein = casar),
casar as criptgamas no possuem flres nem
sementes, faltando nelas um mecanismo eficaz para evitar a ressicao dos
gametas. Confinavam-se, por ste motivo, aos ambientes midos. No
decorrer do perodo carbonfero essas plantas sem sementes foram sendo
aos poucos substitudas pelas conferas e por outros grupos conhecidos por
gimnospermas. Estas por sua vez, diferem de seus antecessores pela
presena de semente e plen, que so adaptaes para proteger os gametas
e garantir o xito da reproduo no meio sco. Pelo fato dos rgos de
reproduo serem bem diferenciados, recebem a designao genrica de
fanergamas (do grego, phaneros = visvel, aparente).
aparente Estas adaptaes
trouxeram grande vantagem, pois, no trissico as gimnospermas
substituram as plantas sem sementes, passando ento a predominar entre
os vegetais terrestres. As gimnospermas foram as principais plantas de
grande porte, durante quase toda a era mesozica, e ainda hoje formam
grandes florestas de pinheiros. Posteriormente, contudo, foram sobrepujadas
pelo terceiro e ltimo grupo de plantas terrestres, caracterizado por mais
uma adaptao de enorme proveito para o grupo. Trata-se da proteo dos
rgos reprodutores e da semente, fatres que asseguram o xito da
reproduo. Trata-se das angiospermas (do grego, angion = vaso, urna e
sperma= semente),
semente ou seja, plantas providas de flres e sementes, sendo
estas envolvidas pelo envlucro protetor. Mais tarde, no decorrer do
cretceo, verificou-se uma rpida radiao dste grupo, que passou a
dominar a paisagem terrestre j nos finais da era mesozica. Hoje em dia,
juntamente com as conferas e filicneas, constituem a grande maioria das
plantas terrestres.
As primeiras plantas com sementes
Com o declnio dos grupos das plantas sem semente do paleozico,
as plantas portadoras de semente, ou seja, as espermatfitas, passaram a
dominar a paisagem terrestre. So compostas de cinco classes:
pteridospermas, j extintas, cicadales, ginkgoales e conferas. Estas
primeiras quatro classes floresceram no fim do paleozico e incio do
mesozico, mas durante o cretceo foram superadas pelas plantas
pertencentes quinta classe, ou seja, as angiospermas, providas de flres
que passaram a dominar a paisagem at a poca atual (Figura 12).
O desenvolvimento e o apogeu das plantas providas de flres
Entre os organismos que mais xito tiveram no decorrer do
processo de evoluo acham-se os pertencentes classe das
angiospermas. O seu domnio na terra firme absoluto, nos dias de
hoje. Das 260.000 espcies viventes, 96 % so angiospermas. Os 4 %
restantes constituem-se principalmente de filcineas. Apesar da
importncia local e da larga distribuio das gimnospermas, estas
contam com apenas 700 espcies viventes.
As principais causas do xito das angiospermas consistem na
proteo da semente e no desenvolvimento das flores (Figura 13). As
gimnospermas sem flres deixam a polinizao a cargo do vento, ao
passo que as angiospermas possuem as adaptaes, j citadas
anteriormente para promover o transporte do plen, e ainda, para evitar
a autofecundao. Outro modo de garantir a propagao das espcies
a produo de frutos comestveis e de sementes resistentes aos sucos
digestivos dos animais fugvoros. Vrios outros dispositivos so, ainda,
adotados com a mesma finalidade. Por exemplo, asas ou tufos, para que
o vento as leve longe, ou ainda, espinhos que se aderem pele dos
animais.
A diversidade tropical
Um dos problemas centrais da Biologia, problema j claramente
formulado no comeo do sculo XIX e hoje ainda nem perto de soluo,
o da diferena em diversidade entre os ecossistemas tropicais e
temperados. Os nmeros variam de grupo para grupo, mas os
ecossistemas tropicais so, em todos os grupos, mais diversificados que
os temperados, embora a biomassa de alguns destes (por exemplo, a
floresta de sequia, ou as florestas de conferas) seja comparvel ou at
maior que a das florestas equatoriais.
Figura 12. Histria evolutiva das plantas vasculares. As linhas
interrompidas mostram as mais provveis relaes na evoluo
dos grupos. A largura das reas brancas indica a abundncia
aproximada de cada grupo. (Extrada de Mc ALESTER, A. LEE,
19..., p. )
O conceito de espcie
A espcie est na base da classificao dos seres vivos. Pode-se
dizer que a espcie uma coleo de indivduos que apresentam certo
nmero de caracteres constantes. Como ponto essencial, os indivduos
da mesma espcie, por mais diferentes que possam ser entre si, so
constantemente fecundos ao cruzar-se, e seus produtos so
indefinidamente fecundos; no podem cruzar-se de modo habitual com
os indivduos de espcies vizinhas que vivem no mesmo habitat.
Em sntese, a espcie est separada das vizinhas pelos caracteres
seguintes:
1. morfolgicos:
morfolgicos os mais visveis (forma das diversas partes,
tamanho, cor, etc.);
2. fisiolgicos:
fisiolgicos modo de vida, alimentao, reao ao calor, luz,
umidade, etc.;
3. mixiolgicos:
mixiolgicos que pe um obstculo maior ou menor ao
cruzamento com outras espcies.
35
Do grego syn = junto; patra= ptria. Vivem juntas, tendo, portanto, a
oportunidade de intercruzamento.
36
Do grego: allos= outro; patra = ptria. Espcies separadas geograficamaente.
Figura 14. Rrepresentao diagramtica das possveis seqncias
de eventos no modelo de especiao geogrfica. (Extrado de
VANZOLINI, 1970, p.8)
37
A conservao deve ser entendida como a definio de uma poltica de uso
racional dos recursos naturais; a preservao, se prope um modelo mais radical,
ou seja, da intocabilidade dos recursos naturais.
ecolgico das diferentes regies biolgico-geogrficas da Amrica
Latina e Caribe.
Primeiro, preciso saber quais so essas reas. Depois, necessrio
medir a riqueza biolgica de cada uma delas. Finalmente, preciso
determinar quo doente est essa regio, quer dizer, quanto ela foi
alterada.
O resultado disso a definio de reas prioritrias, aquelas que
merecem maior ateno, cuidado e recursos.
Ecorregio
Quando se pensa em conservao, a primeira coisa que vem
cabea a quantidade de espcies de uma regio, a biodiversidade, diz
GARO BATMANIAN, diretor-executivo da WWF no Brasil.
Considerar apenas a biodiversidade, diz ele, pode fazer com que
algumas regies sejam mais beneficiadas por recursos do que outras.
Um exemplo: a caatinga, mais pobre em espcies que a Mata Atlntica,
seria considerada menos prioritria.
Assim, os especialistas dividiram a Amrica Latina e Caribe em
unidades mnimas de conservao, chamadas ecorregies.
Uma ecorregio um conjunto de regies geogrficas distintas que
compartilha a grande maioria das espcies e tem condies ambientais
similares.
Ecorregies variam de acordo com o nmero de espcies que
contm, chamada de biodiversidade alfa.
Segundo os especialistas, h um outro tipo de biodiversidade, que
acreditam ser de grande importncia para a adoo de polticas de
conservao: a biodiversidade beta. Ela mede quanto as espcies variam
de acordo com a distncia, isto , como se distribuem ao longo do
ambiente.
Algumas ecorregies tm baixa biodiversidade beta: pode-se viajar
centenas de quilmetros dentro dela sem que se veja mudana na fauna
e na flora.
A classificao das reas de acordo com a riqueza biolgica tambm
considerou o nmero de espcies exclusivas daquela regio e a raridade
de certos fenmenos ecolgicos, como a existncia de migraes de
peixes em diferentes pocas do ano.
Uma rea considerada bioregionalmente importante se for o
nico exemplo de um habitat em uma regio biolgica. Por exemplo: as
restingas de Paranagu so o nico exemplo de formao de duna na
costa da Amrica do Sul.
Grau de ameaa
O grau de ameaa mostra quanto uma rea ainda est saudvel ou
doente. Os pesquisadores adaptaram critrios usados pelo IUCN (Unio
para Conservao Mundial) no seu livro vermelho de espcies
ameaadas.
O resultado foi a criao de seis classes: extinta, crtica, ameaada,
vulnervel, relativamente
relativamente estvel e relativamente intacta.
Cada classe varia de acordo com critrios como grau de proteo
(presena de reas de conservao, como parques), a rea total que foi
perdida e o nmero de blocos que ainda contm o ecossistema
original.
Foi considerado ainda o grau de fragmentao de cada ecorregio.
Quando uma regio alterada, formam-se pequenos trechos de mata
chamados fragmentos. Quanto menores e mais espalhados estiverem
os fragmentos, mais ameaada est uma regio.
Este estudo do Banco Mundial e da WWF fundamental, j que a
primeira vez que se faz um diagnstico ecolgico da Amrica Latina e
Caribe, muito importante para aqueles que tm que tomar a deciso de
investir ou no na conservao de uma regio.
Contudo, este estudo ainda tem srias limitaes, sobretudo porque
os dados, atualmente disponveis, de cada biota sul-americana, esto
incompletos. O cerrado, por exemplo, visto como uma mancha muito
grande porque no h estudos suficientes que permitam dividi-lo em
ecorregies menores. Na verdade, h vrios cerrados, conforme j
chamamos a ateno (PASSOS, 1981). Ao contrrio, a Amaznia, que foi
muito mais estudada, e durante mais tempo, pde ser dividida em vrias
ecorregies, o que facilitou um estudo mais detalhado das reas, e a
classificao das mesmas segundo o grau de ameaa e a riqueza
biolgica (Figura 16).
Figura 16. As ecorregies do Brasil. (Extrado da Folha de So
Paulo, 31.3.96). 1. Floresta mida do Japuru/Negro; 2. Floresta mida
Uatama; 3. Floresta mida do Amap; 4. Floresta mida da Guiana; 5.
Floresta mida da Amaznia; 6. Floresta mida do Juru; 7. Floresta de
Vrzea; 8. Floresta mida Purus/Madeira; 9. Floresta mida
Rondnia/Mato Grosso; 10. Floresta mida Tapajs/Xingu; 11. Floresta
mida Tocantins; 12. Floresta Atlntica costeira; 13. Floresta Atlntica do
interior; 14. Floresta seca das terras baixas bolivianas; 15. Floresta de
Araucria; 16. Savana da Guiana; 17. Savana amaznica; 18. Cerrado; 19.
Savana uruguaia; 20. Terras inundveis da Am. Oriental; 21. Terras
inundveis de So Lus; 22. Pantanal; 23. Caatinga; 24. Restinga do
nordeste; 25. Restinga da costa atlntica; 26. Mangue
a) as regies equatoriais:
equatoriais predominncia absoluta das fanerfitas e
de muitas epfitas. As outras categorias esto menos
representadas, com exceo das carmfitas (na Guiana inglesa:
12 % das carmfitas contra 88 % das fanerfitas, das quais, 22
% so de epfitas);
b) as regies de florestas temperadas:
temperadas as fanerfitas so menos
numerosas; as condies so menos favorveis e a luz penetra
melhor; uma floresta com folhas caducas na Alemanha
apresenta o seguinte espectro: fanerfitas: 27 %; carmfitas: 6
%; hemicriptfitas: 39 %; criptfitas: 23 %; terfitas: 5 %;
c) as regies frias-
frias-midas (o exemplo de Spitzberg): as fanerfitas
so raras (1 %); o frio muito rude e a estao vegetativa curta
e no suficientemente quente. As anuais so pouco numerosas
pelas mesmas razes; ao contrrio, as plantas de pequeno porte
se desenvolvem muito (22 % de carmfitas; 61 % de
hemicriptfitas; 16 % de criptfitas, no anuais). Os espectros
de altas montanhas temperadas no so fundamentalmente
diferentes: nos Alpes Suissos, entre 2.600 e 3.100 m, tem-se as
cifras seguintes: nada de fanerfitas; 24,5 % de carmfitas; 68
% de hemicriptfitas; 4 % de criptfitas; 3,5 % de terfitas.
d) As regies desrticas (Cirenico): as fanerfitas esto isoladas nos
fundos dos oueds; as outras categorias so mais ou menos
representadas, mas h um desenvolvimento considervel das
terfitas bem adaptadas ao deserto; elas iniciam o seu curto ciclo
vegetativo imediatamente aps as chuvas (50 % de terfitas).
AS FLORESTAS SEMPRE
SEMPRE-
PRE-VERDES TROPICAIS MIDAS
MIDAS E O CLIMA.
(FIGURA 20)
OS TIPOS DE FLORESTAS
FLORESTAS (FLORESTAS BOREAIS,
BOREAIS, MEDITERRNEAS
SEMPREVERDES COM GRANDES
GRANDES FOLHAS) E OS CLIMAS
CLIMAS (FIGURA 21)
OS TIPOS DE FLORESTAS
FLORESTAS DA ZONA TEMPERADA E OS CLIMAS
(FIGURA 22)
O porte
O porte elevado da taiga (30 a 60 m) e da floresta equatorial (30 a
40 m); o porte mediano a baixo das florestas subtropicais (7 m a 20 m).
Relao com a precipitao anual e com o regime anual da precipitao
e da umidade relativa.
A estrutura
A estrutura pluri-estratificada da floresta equatorial (4 a 5 estratos:
arbreo, arborescente, arbustivo, subarbustivo e rasteiro) e a competio
pela luz. A estrutura estratificada da taiga com apenas 2 ou 3 estratos
(arbreo e muscinal, ou arbreo, arbustivo baixo e muscinal, na taiga
setentrional, menos densa) e a falta de luz junto ao solo. A estrutura
estratificada das florestas esclerfila e laurissilva, com estratos arbreo,
arbustivo, herbceo (pobre e sazonal), areo e muscinal.
Os espectros biolgicos
Os espectros biolgicos e sua interpretao. A dominncia das
megafanerfitas nas florestas boreais e equatoriais; das mesofanerfitas e
nanofanerfitas na floresta esclerfila mediterrnea; e das
mesofanerfitas, hemicriptfitas e gefitas na laurissilva. Importncia das
fanerfitas trepadoras e das epfitas nas diferentes florestas. Variao
sazonal dos espectros.
A densidade
A densidade do estrato arbreo e as caractersticas higrotrmicas
do microclima florestal; importncia destes no desenvolvimento das
epfitas; a falta de arejamento e de luz; a deficincia de oxignio junto ao
solo, na floresta equatorial.
Morfolgicas
A morfologia radicular das espcies arbreas e arbustivas, e a
relao entre os regimes da gua no solo e o controle da absoro.
Hidromorfismos radiculares na floresta equatorial, devidos
permanncia do lenol fretico superficial (razes superficiais e areas);
xeromorfismos radiculares nas espcies da taiga e das florestas
subtropicais, em especial na esclerfila, de acordo com a posio estival
do lenol fretico e o congelamento superficial do solo, no inverno (para
a taiga).
Fisiolgicas
A auto-regulao fisiolgica dos mecanismos da absoro radicular
e da transpirao estomtica e, ainda do balano da assimilao.
Variao estacional do balano de asimilao nas florestas boreais e
subtropicais. O inverno, como perodo desfavorvel para a taiga, pelo
frio, secura (precipitao sobre a forma de neve) e muita fraca
intensidade luminosa. A adaptao fisiolgica do protoplasma das folhas
das conferas boreais ao frio invernal, evitando o congelamento. O vero,
como perodo desfavorvel para a floresta esclerfila mediterrnea,
devido ao calor e secura, e favorvel para a laurissilva, por ser quente
e a umidade relativa se manter elevada. A inexistncia de perodo
desfavorvel para a floresta equatorial.
Fenolgicas
Os regimes fenolgicos, dependentes do balano de assimilao. A
primavera e o vero, como perodos de crescimento, florao e
frutificao da floresta boreal; a maturao bienal ou trienal dos frutos
das conferas. A primavera e o outono como perodos de florao e
frutificao da floresta esclerfila e da laurissilva; a alternncia dos
perodos de crescimento sazonal, marcada nos anis da estrutura do
tronco, e sua importncia dendrocronolgica; a maturao e a disperso
imediatas (estival ou outonal) dos frutos e das sementes. A continuidade
do crescimento (inexistncia dos anis na estrutura do tronco); a
ausncia de perodos de florao e frutificao para a floresta equatorial;
a variedade dos perodos de florao caractersticos de cada espcie e a
coexistncia de diferentes fases fenolgicas.
A caulifloria das espcies quiropterocricas. A importncia da
ornitocoria e da entomocoria nas florestas subtropicais e equatorial, e da
anemocoria na floresta boreal.
Composio florstica
A elevada densidade florstica da floresta equatorial (+ de 200
espcies/ha), em contraste com a baixssima densidade florstica da taiga
(1 a 5 espcies/ha) e das florestas pereniflias subtropicais (7 a 10 na
floresta esclerfila e 17 a 25 na laurissilva, incluindo as espcies arbreas
e arbustivas). Relao com os fatores limitantes
(climticos/paleoclimticos e edficos) do bitopo e com a longevidade e
natureza da ao humana. O impacto do fogo na composio florstica.
Fazer referncias a explorao econmica dos recursos vegetais e os
seus impactos scio-ambientais.
AS FORMAES VEGETAIS
VEGETAIS ABERTAS E OS CLIMAS.
CLIMAS. (FIGURA 23).
ECOSSISTEMAS DE MONTANHAS
MONTANHAS
ECOSSISTEMAS LITORAIS
LITORAIS
Caracterizao do bitopo
As caractersticas hidrolgicas, geomorfolgicas e pedolgicas. A
diferenciao climtica e a importncia da temperatura da gua do mar
(referir-se ao papel das correntes quentes no estabelecimento e na
distribuio geogrfica do mangue).
FORMAO:
Regio: Domnio:
Municpio: Srie:
Local:
E S T R A T O A\D S A\D
S
ARBREO:
ARBORESCENTE:
ARBUSTIVO:
SUBARBUSTIVO:
HERBCEO-RASTEIRO:
HUMUS:
CLIMA:
MICROCLIMA:
ROCHA-ME:
SOLO:
EROSO:
AO ANTRPICA:
DINMICA DE CONJUNTO:
Figura
Figura 27. Modelo de ficha biogeogrfica, segundo BERTRAND,
1966.
Figura 28. A pirmide de vegetao. Segundo proposta de
BERTRAND, 1966.
Os Levantamentos Biogeogrficos
No sentido de melhor explicar as principais formaes vegetais que
na atualidade existem no Sudoeste do Mato Grosso, selecionamos 04
lotes, cujas informaes biogeogrficas foram recolhidas nas fichas de
campo e representadas graficamente por meio das pirmides de
vegetao.
Desse total de quatro lotes, um de Floresta Estacional
Semidecidual, um de Savana\Cerrado Parque, um de Vegetao
Serrana e, um de rea submetida ao antrpica.
A comparao entre as pirmides permite algumas interpretaes a
respeito da evoluo\dinmica da vegetao e, ainda, fornece parmetros
imprescindveis aplicao da teledeteco ao estudo da paisagem. Por
exemplo, uma floresta (Figura 30) se distingue perfeitamente de uma
formao de cerrado (Figura 31) ou de uma vegetao serrana (Figura
32) pela importncia relativa de seus estratos. Uma vegetao de
capoeira com estrato rasteiro bem desenvolvido se diferencia, muito
claramente, de uma rea de pastagem com paliteiros. (Figura 33).
Na anlise da estrutura vegetal, levamos em conta o nmero de
estratos e o modo de agrupamento das plantas para, ento, represent-la
cartograficamente. Mas , sobretudo, a interpretao dinmica que deve
reter a ateno do biogegrafo. As pirmides traduzem perfeitamente a
concorrncia entre as espcies. Nas formaes florestais, os estratos
superiores sufocam as plantas dos estratos inferiores, interferindo na
evoluo da vegetao. Ao contrrio, as reas desmatadas e
posteriormente abandonadas so invadidas por espcies subarbustivas
muito competitivas que, ao recobrirem o solo atuam no sentido de
proteg-lo da eroso. As reas de pastagens tm uma dinmica
determinada, em grande parte, pela capacidade do potencial ecolgico
resistir s mudanas introduzidas pelo homem e, ainda, pela resistncia
da explorao biolgica, uma vez submetida ao desmatamento,
queimadas anuais e manejo da rea. Regra geral, as reas de floresta
tropical do Alto Guapor-Jauru passam do estgio de biostasia para o de
resistasia muito abruptamente. Ao contrrio, as reas de transio, com
ocorrncia elevada de palmeiras, sobretudo de babau, apresentam
capacidade elevada de regenerao\rebrotamento, atuando, dessa forma,
no sentido da manuteno de uma dinmica menos negativa da
paisagem. No Sudoeste do Mato Grosso, as capoeiras esto restritas
aos getopos onde o lenol fretico ainda se mantm prximo da
superfcie.
O afundamento do lenol fretico, observado 4-5 anos aps o
desmatamento o maior obstculo a uma dinmica progressiva da
vegetao. Como se pode observar nas anotaes das fichas
biogeogrficas, a presena de exemplares jovens no interior da floresta
e do prprio cerrado - onde o lenol fretico ainda se mantm prximo
da superfcie - revela que essas reas mantm uma dinmica progressiva
ou em equilbrio. Observando-se as Figuras 30 a 33, fica fcil seguir a
concorrncia entre os diferentes estratos. Por exemplo, na Figura 30
(Floresta Estacional Semidecidual), observa-se o triunfo absoluto do
estrato arbreo, contnuo e denso que, filtrando a luz, limita a extenso
do sub-bosque. Pelo contrrio, quando o estrato arbreo se apresenta
menos denso, permitindo a penetrao da luz solar, favorece o
desenvolvimento dos estratos inferiores (Figura 32).
A partir dessas observaes, possvel fazer-se algumas
interpretaes da derivao antropognica da paisagem tendo como
elemento norteador as relaes da vegetao com a eroso biolgica.
As pirmides de vegetao permitem fazer idia melhor das
relaes entre a vegetao e a eroso biolgica. Do ponto de vista
estrutural, clssico se opor as formaes vegetais abertas s formaes
vegetais fechadas. A Floresta Estacional Semidecidual (Figura 30)
exerce um papel significativo no sentido de evitar os diversos nveis de
eroso. As plantas isoladas ou em tufos, prprias da vegetao de
Cerrado Parque (Figura 31) e, at mesmo das pastagens artificiais
(Figura 33), deixam entre si largas placas de solo nu expostas eroso.
A as ravinas de alguns decmetros se desenvolvem livremente. O
escoamento do tipo areolar domina as vertentes menos inclinadas e
impede visivelmente a germinao. Sobre as vertentes mais inclinadas
(>10%) passa-se progressivamente para ravinas de escala mtrica que so
j uma manifestao da eroso geomorfolgica. Essas situaes mais
agudas esto presentes nas vertentes inclinadas e com superfcie
neognica. Aqui, a eroso atinge nveis comprometedores, devido
escala de atuao dos agentes morfogenticos. Para se estudar o
equilbrio de uma formao vegetal e suas relaes com a eroso,
preciso pois, considerar, em primeiro lugar, a abertura ou a
fechadura do tapete vegetal ao nvel do solo. Na zona tropical mida,
as formaes abertas secundrias associadas s sries regressivas
agudizam o j delicado problema das relaes dinmicas entre a
vegetao e a eroso biolgica. A eroso um fator de mobilidade
ecolgica. Os ravinamentos provocam o desaparecimento do solo, a
migrao dos substratos coloidais e a seca biolgica do substrato. O
complexo absorvente se empobrece. A vegetao no pode mais se
regenerar normalmente. As espcies exigentes desaparecem. O tapete
vegetal se modifica. A floresta abatida no se reconstitui e deixa o
espao livre eroso. Os elementos climticos se transformam em
agentes morfogenticos. O super-uso e os incndios abrem o tapete
vegetal, os solos so erodidos e a evoluo da vegetao, certamente
irreversvel, resulta em formaes secundrias constitudas por espcies
menos exigentes. Muitas espcies, estabelecidas em fases de otimum
climaticum, no tm valncia ecolgica suficiente para resistir s novas
condies ambientais. A eroso torna-se ento um rigoroso fator-
limitante.
Do ponto de vista biogeogrfico, a eroso aparece como um fator
ecolgico essencial que se tem negligenciado muito. Pode haver eroso
biolgica sob floresta, desde que os estratos inferiores sejam abertos.
Do ponto de vista geomorfolgico possvel compreender melhor como
a eroso pode se desencadear de maneira epidrmica sob cobertura
vegetal e se estender a seguir at a destruio mais ou menos completa
da vegetao.
Essa marcha lenta, no seio de uma formao vegetal em
desequilbrio ecolgico, poder nos ajudar a melhor compreender como
se efetua a passagem de fases biostsicas s fases resistsicas.
As fichas biogeogrficas e as pirmides correspondentes,
apresentadas a seguir, tm o objetivo de sustentar o exposto acima.
No presente estudo, as pirmides de vegetao foram construdas
a partir do software VEGET, elaborado, com uma linguagem bsica,
pelo Prof. Dr. MIGUEL ANGEL LUENGO UGIDOS - Universidad de
Salamanca/Espanha e, traduzido pelo Prof. Dr. MESSIAS MODESTO
DOS PASSOS - Unesp, cmpus de Presidente Prudente.
O software batizado com o nome de VEGET e elaborado com
uma linguagem informtica bsica (Turbo Basic ver. 1.0 de Borland
International, Inc., 1987), consta de seis subprogramas encadeados e
realiza a pirmide de vegetao com base na ficha biogeogrfica de
BERTRAND, ampliada em alguns aspectos.
Orientao bibliogrfica
BERTRAND, G. (1966): Pour une tude gographique de la vgtation.
R.G.P.S-O, t. XXXVII, TOULOUSE, Pgs. 129-145.
BRAUN BLANQUET, J. Fitosociologia: bases para el estudio de las comunidades
vegetales. Madrid: Blume, 1979.
LACOSTE, A. y SALANON, R. Biogeografa. Barcelona: Oikos, S.A., 1973.
PASSOS, M.M DOS, Contribuio ao estudo dos cerrados em funo da
variao de condies ambientais. Dissertao de Mestrado. FFLCH-USP- SP,
1980.
PASSOS, M.M DOS, Observaes fitossociolgicas no sudoeste do Mato Grosso:
interflvio das bacias dos rios Juruena, Paraguai e Guapor. Caderno Prudentino
de Geografia, Presidente Prudente, n. 3, p. 71-9, 1981.
LUENGO UGIDOS, M.A., Organizacion ecologica y dinamica del paisaje en los
montes de leon: el ejemplo de la Cepeda Alta. Universidad de Salamanca, 1990,
280 pp.
TRICART, J. Principes et mthodes de la gomorphologie. Paris, Masson, 1965.
A BIOCLIMATOLOGIA
P<ou=2T
38
O Programa computadorizado BIOCLIMA,
BIOCLIMA contendo a referida metodologia me foi
cedido pelo Prof. Dr. Miguel Angel Luengo Ugidos/Universidade de Salamanca,
durante a sua permanncia (agosto-setembro/96) junto FCT-UNESP, cmpus de
Presidente Prudente, na qualidade de Professor-Visitante.
Figura 34. Modelo grfico de Climograma
1.-
1.- E > 0 (Temperatura mdia das mnimas absolutas superior a
0 C).
2.- E < 0 C > 0.
3.- E < 0 C < 0 A > 0.
4.- A < 0.
Ou seja:
Perodo de Geada
39
Designao utilizada no Brasil para referir-se ao ncleo principal de cada uma das
grandes reas de paisagens dos diferentes domnios morfoclimticos e
fitogeogrficos brasileiros. rea de maior tipicidade de feies geomrficas e
continuidade de vegetao, oriundas de uma evoluo integrada de paisagens.
encravados na Hilia Amaznica (SOARES, 1953), GROSS, BRAUN e
RAMOS, (1959); na Chapada do Araripe GARDNER, (1942), LIMA, A.
(1957); encravadas na zona das caatingas, nos tabuleiros de Pernambuco
(LIMA, A. 1957); em certas zonas da Bahia (BRAMO e BLACK, 1955); e,
em ilhas e zonas de mata do Paran (MAACK, 1949).
As causas dessa distribuio dos cerrados no territrio brasileiro
so vrias, segundo os pesquisadores:
- WAIBEL (1958), estudou a vegetao e o uso da terra no Planalto
Central do Brasil, e ao constatar que dentro de reas muito limitadas,
sob as mesmas condies climticas, pode-se encontrar uma grande
variedade de tipos de vegetao, concluiu que eles dependem
principalmente de condies edficas, as quais, por sua vez, dependem
das rochas que originaram os solos.
- ALVIM e ARAJO (1953), chegaram importante concluso de
que a distribuio dos cerrados dentro de sua regio fitogeogrfica ,
aparentemente, controlada pelo solo, mais que por qualquer outro fator
ecolgico.
- SETZER (1956), verificou que, os limites das reas de cerrados
coincidem com os limites dos solos com baixo teor de fosfato.
- BRAUN (1959), constatou que nas partes baixas do relevo instala-
se a floresta amaznica, com rvores altas e bem copadas. medida que
o terreno apresenta cotas altimtricas maiores, a vegetao vai mudando
de fisionomia, cedendo lugar a uma formao de aspecto mais uniforme,
dotada de rvores mais baixas, que constitui o cerrado. Esta formao,
por sua vez, transforma-se, tambm gradativamente, com espaamento
cada vez maior das rvores e o aparecimento de vegetao rasteira, a
qual domina totalmente logo depois, constituindo, assim, o campo
propriamento dito.
Figura 35. Domnios Morfoclimticos Brasileiros
tropfiloo
Lote n Lote n 01 ........................ Dominio bioclimtico:Tropical tropfil
FORMAO: CERRADO
Sitio: TOPO
Municipio: INDIANA ........................ Serie de vegetao: CERRADO
Estado: SO PAULO
Data: 28/01/1978 .............................. Latitude: 2205 S Longitude:5115 W
Espcies vegetais por N de Alt (m) Espcies Estrato
ESTRATO Indiv. (aprox.)
A\D S S
ARBREO
Annona coriacea (marolo/araticum) 3 4 1 1
Caryocar brasiliense (pequi) 2 6 1 3
Dimorphandra mollis (barbatimo f. mida) 3 8 1 3 =>2<=
Machaerium acutifolium (jacarand-do-campo) 2 6 1 3
Stryphnodendron adstringens (barbatimo) 2 6 1 1
Tabebuia ochracea (ip amarelo) 2 6 1 2
ARBORESCENTE
Duguetia furfuracea (cabea-de-negro) 3 2 1 2
Bauhinia monandra (unha-de-vaca) 2 2 1 1 <=3=>
Byrsonima intermedia (mata-rato) 5 3 1 3
Matayba sp (peito-de-pomba) 3 2,5 1 3
ARBUSTIVO
Eugenia micheli (pitanga) 5 1,5 3 4
Annona dioica (araticum rasteiro) 5 1,5 1 3 =3=
Campomanesia guabiraba (gabiroba) 2 1,5 1 2
SUBARBUSTIVO
Bromelia antiacantha (gravat) 5 0,5 1 3 =2=
HERBCEO\
HERBCEO\RASTEIRO
Echinolaena inflexa (grama-do-campo) 10 0,3 1 2
Aristolochia sp (cip mil-homem/papo-de-peru) 10 0,3 4 4 <=5=>
Smilax sp (cip-japecanga) 5 0,3 + 3
Mandevilla velutina (cip jalapa) 5 0,3 + 2
HUMUS: matria orgnica (folhas secas) sem decomposio. Razes superficiais.
ALTITUDE:
ALTITUDE 456m Declividade: 6 Exposio: Sudeste
CLIMA: Tropical, com duas estaes (mida e seca) bem definidas. Keppen: mesotrmico, Cwa - vero
quente e mido; inverno seco. Pluviosidade anual: 1.100mm a 1.300 mm. Temperatura do ms mais quente
superior a 22 C, e do ms mais frio, maior que 18 C..
MICROCLIMA: umidade satisfatria por conta do dossel superior, das condies pedolgicas e, ainda, da
vegetao rasteira..
Rocha me: Arenito Bauru, de litologia relativamente simples, seqncia de camadas detrticas, na maior parte
arenosa, alcanando espessura mxima da ordem de 300 metros.
Solo: Latossol Vermelho Escuro - fase arenosa. Horizonte A com espessura mdia de 10 cm, contendo matria
orgnica, que lhe empresta uma colorao escura.
Eroso: eroso laminar ligeira, sendo mais acentuada nas picadas. Eroso em sulcos: ocasionais e rasos, no
existindo a formao de boorocas to freqentes em outras reas de condies litolgicas idnticas e
prximas..
Ao antropica: apresenta sinais de retirada de exemplares arbreos. As cercas das pastagens prximas so
constitudas por estacas de espcies retiradas dos cerrados aqui existente. A atividade carvoeira em reas
vizinhas, antes cobertas com cerrados e, hoje ocupadas com pastagens e agricultura, foi uma prtaica muito
difundida..
ARBUSTIVO
Velosia sp (canela-de-ema) 5 1,5 2 3 <=1=>
Bauhinia monandra (unha-de-vaca) 3 2,0 2 3
SUBARBUSTIVO
HERBCEO\
HERBCEO\RASTEIRO
Echinolaena inflexa (grama-d-campo) 60 0,2 4 3 =3=
CLIMA: Duas estaes bem definidas: seca (inverno-primavera: maio-setembro) - chuvosa (vero-
outono: outubro-abril). Mesotrmico mido de vero quente (cuja temperatura do ms mais frio
superior a 22 C - Cwb). Ver grfico ombrotrmico/fig.
MICRO-
MICRO-CLIMA:
CLIMA Baixssima umidade.
ROCHA-
ROCHA-ME: Gnaisses melanocrticos (solos latearticos) e Arenitos cretceos (latossolo
vermelho, capeando a formao pr-cambriana)
SOLO:
SOLO Latossol: amarelado, areno-aragiloso, bastante untuoso ao tato; no apresenta concrees
limonticas e nem seixos - pelo menos at a profundidade de 100 cm.
EROSO: Eroso laminar: moderada; Eroso em sulcos: ocasionais e rasos.
AO ANTRPICA: o solo imporprio para qualquer tipo de atividade agrcola, sobretudo pelas
deficincias minerais. comum a colheita dos frutos do pequi.
DINMICA DE CONJUNTO: De modo geral, h uma dinmica de equilbrio... Contudo a colheita
sem critrio dos frutos do pequi (Caryocar barasiliense) pode limitar de forma negativa a
renovao do seu estoque gentico.
As pirmides de vegetao
40
A estao seca, segundo NIMER (1972), prolonga-se de 9 a 11 meses, com
precipitaes concentradas nos meses de janeiro a maro, e fevereiro a abril, e com
um total anual de menos de 500 mm.
decomposio das rochas e, consequentemente o predomnio da
desagregao mecnica motivada pelas amplitudes trmicas dirias. Os
baixos ndices pluviomtricos (350/600 mm/a) ao lado da intensa
insolao e do ritmo desigual e pouco frequente das precipitaes
(eventuais anos secos se contrapondo eventuais anos chuvosos)
determinam uma rede de drenagem - embora exorreica - intermitente.
, sem dvida alguma, a mais problemtica das regies brasileiras.
Diagnstico bioclimtico
Com a metodologia de uma nova Classificao Bioclimtica da
Terra, elaborada pelo Prof. RIVAS-MARTINEZ, tratamos os dados
climticos das estaes meteorolgicas assentadas ao longo do roteiro da
expedio cientfica. No entanto, no presente artigo sero explicitados
to somente os dados das trs estaes inseridas na rea de caatinga
(Barreiras, Barra do Rio Grande e Bom Jesus da Lapa):
BARREIRAS/BA (Brasil)
Latitude: 12 4 S
Longitude: 45 0 W
Altitude: 760 m
Perodo de observao trmica: 1986 - 1994 (9)
Perodo de observao pluviomtrica: 1986 - 1994 (9)
Meses Ti Mi mi Ti mi Pi EPi
Jan 25.6 31.1 19,4 37.8 16.1 166 132
Fev 25.6 31.1 20.0 36.1 16.7 196 117
Mar 25.6 31.1 20.0 37.2 12.8 146 126
Abri 25.6 32.2 18.9 37.2 13.9 59 118
Mai 24.4 32.2 16.7 36.1 10.6 8 104
Jun 23.3 32.2 13.9 35.0 8.3 0 85
Jul 22.8 31.7 13.3 35.0 8.3 0 82
Ago 23.3 32.8 13.9 38.3 7.2 0 91
Set 26.1 35.0 17.2 37.8 11.1 16 129
Out 26.7 33.9 19.4 37.8 12.8 111 146
Nov 26.1 32.2 20.0 39.4 15.6 134 135
Dez 25.6 31.1 20.0 37.8 16.1 183 133
Anual 25.0 32.2 17.7 37.1 12.5 1019 1398
Figura 42. Grfico bioclimtico de Barreiras-BA
Meses Ti Mi mi Ti mi Pi Epi
Janeiro 24.4 31.1 17.8 32.8 17.2 29 116
Fevereiro 26.1 32.8 19.4 35.0 17.2 96 127
Maro 26.7 33.3 19.4 35.0 17.2 8 144
Abril 24.4 30.5 18.9 31.1 17.8 47 103
Maio 22.8 28.3 16.7 31.1 13.9 62 84
Junho 22.8 30.6 15.0 32.8 10.0 0 80
Julho 21.7 28.9 13.9 32.8 10.0 6 71
Agosto 23.3 31.7 14.4 35.0 12.2 0 93
Setembro 25.0 32.2 17.2 36.1 12.8 3 113
Outubro 26.7 33.3 20.0 37.2 16.1 56 146
Novembro 26.1 31.7 20.0 36.1 18.9 159 137
Dezembro 24.4 28.9 19.4 32.8 17.2 344 117
Anual 24.5 31.1 17.7 34.0 15.0 810 1331
Figura 44. Grfico bioclimtico de Bom Jesus da Lapa-BA
Reflexes Tericas
41
Desta representao grfica da estratificao idealizada por DANSEREAU, BRAUN-
BLANQUET (1979, pg. 54) disse: Os diagramas so muito expressivos, porm para
que possam ser legveis no devem estar sobrecarregados de smbolos.
pesquisadores dedicados Geografia Fsica. E, ainda, que o conjunto de
investigadores dedicados Geografia Fsica e, sobretudo, Biogeografia,
minoritrio atualmente dentro da Cincia Geogrfica.
Concordamos com o Prof. BERTRAND em que a pirmide de
vegetao facilita a anlise comparativa entre as fisionomias de vrias
formaes vegetais, ao menos pour un non-botaniste, porm, por pura
lgica e s desde a vertente fisionmica, tambm pode ser til para os
prprios botnicos. No obstante a leitura crtica do texto no qual
BERTRAND apresenta a pirmide como uma metodologia vlida para o
estudo da cobertura vegetal, revela as razes pelas quais este grfico no
tem ultrapassado o limite dos trabalhos realizados por
gegrafos/biogegrafos:
Lassociation vgtale dfinie par BRAUN-BLANQUET et les
phytosociologues est trop complexe du point de vue floristique et trop
peu significative du point de vue cologique. Le choix sest done port sur
42
la formation vgtaledes phytogographes . Elle se dfinit comme un
groupement de vgtaux qui prsente, malgr des diffrences entre les
espces, des caractres biologiques et un facis analogues (exemple: la
fort, la lande). Malgr son imprcision floristique, elle peut tre retenue
comme point de dpart de lanalyse de la vgtation car elle correspond
un aspect du paysage directement sensible au gographe. La solution
adopte consiste parvenir, par lintermdiarie de la classique mthode
des relevs floristique, une reprsentation graphique qui soit la fois
structurale (aspect physionomique) (tat actuel dquilibre et sens de
lvolution) et, enfin, qui soit comparable dune formation vgtale
lautre. (BERTRAND, 1966, pp. 130-131).
Da leitura desse pargrafo, escrito h 30 anos e que se insere no
contexto de suas idias manifestadas em outros artigos, observa-se vrias
contradies que, analisadas na perspectiva do tempo transcorrido,
podem ser justificveis para aquela poca, contudo, certamente, inibiram
a difuso desta metodologia.
A contradio mais evidente se adverte ao discernir duas maneiras
diferentes de estudar a vegetao, a dos fitossociolgos e a dos
fitogegrafos43 e, por outro lado, propugnar o uso dos inventrios
42
Nesse ponto, BERTRAND recolhe como nota de rodap duas referncias
bibliogrficas clssicas:
- H. GAUSSEN, Gographie des plantes. Paris, Colin, 1954, pp. 105-127.
- P. OZENDA, Biogographie vgtale. Paris, Doin, 1964, pp. 247-250.
43
Interpretamos que BERTRAND identifica com este nome aos que, a partir da
Geografia, estudam a cobertura vegetal.
florsticos (prprios da metodologia fitossociolgica) para o estudo da
formao vegetal realizado pelos gegrafos, fato este que, longe de ser
incorreto, est acertadssimo segundo nossa opinio. Esta contradio
no seria to importante se no fosse porque os argumentos que a
sustentam esto carentes de sentido na atualidade: nem correto que a
associao vegetal seja demasiada complexa desde o ponto de vista
florstico (leia-se: para os fitogegarafos), nem tampouco que carea de
significao desde o ponto de vista ecolgico e fisionmico. Do primeiro,
lembramos os exemplos da colaborao de gegrafos com
fitossocilogos44; do segundo, preciso lembrar que a maioria dos
fitossocilogos nos anos 60 se preocupavam mais pelo componente
florstico da associao vegetal que pelo ecolgico e o fisionmico, os
quais, no obstante constituem parte da definio do conceito, j desde
o princpio do sculo (1910)45
Concluindo, se centrarmos o comentrio crtico no plano superior
do que BERTRAND parece dizer entre linhas neste pargrafo e o
relacionarmos com outras reflexes publicadas posteriormente, a
contradio deixa de ser visvel e passa para o terreno filosfico que, por
sua vez, repercute no epistemolgico. Ou seja, poderamos pensar que
BERTRAND elaborou esta metodologia para uso exclusivo dos non-
botanistes, isto , dos gegrafos. Talvez isso seja verdadeiro, porque
para ele, no s existem distintos pontos de vista entre gegrafos e
fitossocilogos, uns dedicados anlise da vegetao real e, outros, ao da
vegetao potencial, seno porque era consciente de que ambas as linhas
de estudo no deveriam convergir necessariamente.
Esta reflexo, que pode no ser a correta, se assim o fosse, no
casaria com as idias de interdisciplinaridade e de globalidade que
tanto se desenvolveu desde a Cincia da Paisagem, avaliada, entre
outros, pelo prprio BERTRAND, nem com a diagonalidade que o
atribua a essa nova forma de cincia geogrfica (BERTRAND, 1968 e
1972).
44
Tal o caso da importante participao de gegrafos no I Congresso de la
Federacin Internacional de Fitosociologa, celebrado em Oviedo (Espaa) no
perodo de 26 a 28 de Setembro de 1996.
45
BRAUN-BLANQUET (pp. 19 e 20), depois de recordar que o termo associao foi
utilizado pela primeira vez em 1807 por HUMBOLDT, diz que adquiriu carcter
oficial de unidade bsica de vegetao no Congresso de Botnica de Bruxelas, em
1910, com a proposta de FLAHAULT e SCHRTER. Uma associao uma
comunidade vegetal de composio florstica determinada, prpria de condies
ecolgicas uniformes e de fisionomia homognea.
A suposta contradio filosfica de BERTRAND se resume no
seguinte: uma vez marcadas as diferenas, tanto de metodologia como
de objetivos, entre o gegrafo dedicado ao estudo da vegetao e o
fitossocilogo, como opera esta forma de fazer Geografia dentro de uma
Geografia Fsica e uma Cincia da Paisagem que pretendem ser
globais, sintticas e diagonais. Somente esta metodologia se situaria
dentro dessa nova Geografia se a pirmide de vegetao fosse
considerada como um elemento grfico capaz de representar unidades
de paisagem. A versatilidade do mtodo poder permitir isso porm, a
nosso juzo, a pirmide muito mais til se adotada como um
diagnstico de sntese. Em definitivo, vemos a pirmide proposta por
BERTRAND como uma abordagem metodolgica muito vlida para o
estudo geral da vegetao, independentemente das diferenas que
existem entre as disciplinas cientficas que o abordam e dos
investigadores que as desenvolvem.
A Geografia Fsica, pelo menos aquela que se pratica habitualmente,
repousa sobre uma considervel contradio interna: sinttica por seu
objeto, ela no o frequentemente no seu mtodo. Ela tenta entender os
conjuntos naturais a partir de passos setoriais (geomorfologia,
climatologia, hidrologia, biogeografia...). A sntese intervm quase
sempre a posteriori... Alis, trata-se mais frequentemente de uma sntese
com finalidade geomorfolgica que de uma apreenso global da
paisagem.
Orientao Bibliogrfica
BERTRAND, G. (1966): Pour une tude gographique de la vgtation.
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Regionalda FCT-UNESP, Cmpus de Presidente Prudente, SP-BR. 1996, 361 pp.
CARTOGRAFIA DA VEGETAO
Trabalhos de campo
A fotointerpretao da vegetao uma ajuda e uma informao
preliminar que deve ser completada com o trabalho de campo, a fim de
comprovar e assinalar claramente os limites das unidades definidas e de
caracterizar estas unidades. Em alguns casos, a fronteira entre uma e
outra unidade brusca e facilmente identificvel. Tal o caso dos
cultivos, por exemplo. Porm, em outras ocasies, a transio de uma
unidade a outra um gradiente, observando-se uma faixa muito
complexa de interseco de dois ou mais domnios onde difcil
estabelecer um limite.
Realizao do mapa
Transferncia para a base topogrfica - uma vez terminado o
trabalho de campo, a informao assim obtida, que estar plasmada nas
fotografias areas e/ou nas fichas de campo, transfere-se para um mapa
com base topogrfica. Para realizar essa transferncia um sistema
prtico consiste em localizar e delimitar a zona central de cada foto
area sobre a base topogrfica (esta zona central das fotos a que
apresenta menor distoro). Em seguida, prepara-se uma transparncia
na qual se desenha, a partir da carta topogrfica, as curvas de nvel e os
caracteres mais ntidos, como cumes ou rios, de cada uma das zonas
delimitadas no mapa como zonas centrais dos fotogramas. Esta
transparncia, assim preparada, ser traduzida para a escala das fotos
areas (esta escala nunca exata, o que exige aproximaes) e, uma vez
feito isto, colocando a transparncia sobre cada foto, passa-se para ela as
linhas que delimitam as unidades de vegetao, que previamente haviam
sido desenhadas nelas, tendo-se em conta que somente as zonas centrais
so utilizveis. Dessa forma, tem-se as unidades delimitadas na
transparncia, e a partir dela simples transferi-las ao mapa base
topogrfico.
Smbolos e cores
H algumas recomendaes sobre os smbolos e cores a utilizar nos
mapas de vegetao, com o objetivo de facilitar a sua interpretao. Para
isto, coerente seguir as seguintes convenes:
- Vermelho: formaes de clima muito seco (ou quente).
- Amarelo: formaes de clima seco (ou moderadamente quente).
- Verde: formaes de clima intermdio (em relao umidade
ou temperatura).
- Azul: formaes de clima mido (ou frio).
Temperatura:
Muito quente: vermelho;
Temperatura mdia: amarelo;
Muito frio: cinza, com todos os matrizes.
Prognose
Um prognstico, na Cincia da Paisagem, uma elaborao
cientfica que concebe futuros estados de geossistemas, suas
propriedades fundamentais e seus diversos estados dinmicos. Estas
previses tm em conta tanto aspectos da evoluo natural da paisagem
como aspectos sociais e econmicos que so susceptveis de modific-la.
Conseqentemente, a prognose da paisagem concentra seu estudo nos
processos e condies das mudanas que operam na paisagem e nas
demandas sociais. A prognose investiga, portanto, a evoluo e o
desenvolvimento da paisagem, com o objetivo de propor alternativas
esta evoluo.
Sntese
A sntese a ltima etapa nos estudos da paisagem. Esta consiste
no planejamento de tcnicas preventivas adequadas para cada tipo de
paisagem, em consonncia com os resultados de sua prognose e de
acordo com a gesto prevista para ditas paisagens.
Esta nova fase dos estudos da paisagem se justifica, sobretudo,
quando a prognose aponta para possveis derivaes antropognicas
negativas.
Figura 46. Etapas metodolgicas dos estudos de paisagem.
(Extrado de Bols, 1992; p.127)
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