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Apostila Axiologia para Uma Educação de Valores

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AXIOLOGIA PARA UMA EDUCAO DE VALORES

Prof. Izidro

Introduo

A Axiologia uma parte importante do estudo filosfico. Axiologia pode


ser denominada como Teoria dos Valores, pois, o sentido do termo axiologia
indica, etimologicamente, o estudo que se ocupa com a considerao dos
aspectos valorativos.

Em grego, o substantivo axa significa preo, valor de alguma coisa,


e o adjetivo axios o que vale, que tem valor, digno de, justo. Na
antiguidade grega, alm da referncia ao preo, o termo dizia respeito, por
exemplo, a um homem de valor, no sentido de ter coragem ou de ser digno de
estima.

A axiologia teve incio com PIato (427-428 a.C), na teoria das formas ou ideias
subordinadas forma no Bem. A ideia do Bem, no sistema platnico, a
realidade suprema, donde dependem todas as demais ideias, e todos os
valores (ticos, lgicos e estticos) que se manifestam no mundo sensvel; o
ser sem o qual no se explica o vir-a-ser. Desenvolvida, posteriormente, por
Aristteles, pelos estoicos e epicuristas, que investigaram sobre o summum
bonum (supremo Bem). Na filosofia escolstica, o Summum Bonum Deus.
Nas filosofias no escolsticas da Idade Moderna, os valores foram
investigados, seguindo outros rumos (mxima de Protgoras 490-415 a.C. "O
homem a medida de todas as coisas, das coisas que so, enquanto so, das
coisas que no so, enquanto no so". Se o homem a medida de todas as
coisas, ento coisa alguma pode ser medida para os homens, ou seja, as leis,
as regras, os valores, a cultura tudo deve ser definido pelo conjunto de
pessoas e aquilo que vale em determinado lugar no deve valer,
necessariamente, em outro. Nos sculos XIX e XX, pela influncia da
Economia, da Sociologia e da Psicologia, surgiram diversas doutrinas sobre a
relatividade dos valores.

O Relativismo a corrente de pensamento humanista que ensina a


inexistncia de normas, verdades e moral procedentes da vontade absoluta de
Deus. uma das formas de se desprezar a Deus e a sua Palavra.

importante observarmos que muitos dos que defendem o relativismo


moral alegam a questo referente cultura, ou seja, dizem que as sociedades
dos homens em torno do mundo so diferentes, tm valores diversos, no
sendo, pois, possvel haver valores absolutos desta ou daquela natureza.

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Entretanto, apesar da cultura de cada povo ser diferente, isto, de modo algum,
significa que no haja a noo de pecado em cada cultura.

A partir do sculo XIX, quando surgiu a teoria dos valores ou axiologia


como disciplina filosfica, o conceito valor adquiriu um sentido especfico na
discusso sobre o que bom o que estimado e tambm aquilo que deve ser
realizado ou que serve para orientar a ao.

Quando uma pessoa no consegue adequar sua prpria conduta a uma


determinao restritiva de sua liberdade individual, temos uma postura moral.
Contudo, se um indivduo observa a lei e as regras (que, supe-se, pretendem
uma validade universal), e procura respeitar este limite, temos uma conduta
baseada na tica. Immanuel Kant (1724-1804) enunciou a regra de ouro da
tica do seguinte modo: Age de tal modo que a sua vontade possa valer
sempre ao mesmo tempo como princpio de uma legislao universal.
Basicamente, as aes morais so motivadas por interesses individuais,
enquanto as aes ticas se orientam por questes que apelam para
compreenso de razes em comum. Em relao tica, no se trata
exatamente de um respeito forado ou condicionado, pois, para ser tico, um
indivduo precisa, antes, compreender o significado da regra, aceitar isto por
sua prpria vontade e reconhecer a importncia da tica para o bom
funcionamento da convivncia em sociedade.

Se os valores esto na base de todas as nossas aes, inevitvel


reconhecer a sua importncia na prxis educativa.

A educao se tornar mais coerente e eficaz se formos capazes de


explicitar esses valores, ou seja, se desenvolvermos um trabalho reflexivo que
esclarea as bases axiolgicas da educao.

I. A teoria dos valores

O ser humano capaz de transformar a natureza conforme suas


necessidades existenciais, por meio de uma ao intencional e planificada. Ao
estabelecer as suas prioridades, escolhe os meios e os fins da ao a partir de
valores.

Desde o nascimento nos encontramos envoltos por valores herdados,


porque o mundo cultural um sistema de significados estabelecidos por outros.
Em outras palavras, estamos sempre fazendo juzo de valor, quando as
pessoas e as coisas provocam em ns atrao ou repulsa, quando julgamos
que algo bom ou mau, belo ou feio, se til, e assim por diante.

As questes colocadas pela axiologia versam sobre os vrios tipos de


valor, a sua natureza, se so subjetivos ou universais, relativos ou absolutos.

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Os principais filsofos que no sculo XIX comearam a desenvolver essa
temtica foram, entre outros, Rudolf Lotze (1817-1881), Franz Brentano (1838-
1917), Max scheler (1874-1928). Mais radical Friederich Nietzsche (1844-
1900), props a transvalorizao dos valores, pela qual indaga sobre o valor
dos valores, concluindo que os valores, tais como so conhecidos, no
existiram desde sempre, mas foram criados ao longo do tempo e incorporados
pelo hbito e, na nossa civilizao ocidental, impostos pela tradio crist, que
ele critica acerbamente.

O pensamento de Nietzsche se orienta no sentido de recuperar as foras


inconscientes, vitais e instintivas subjugadas pela razo durante sculos. Para
tanto, critica Scrates por ter encaminhado pela primeira vez a reflexo moral
em direo ao controle racional das paixes. Segundo Nietzsche, nasceu a o
homem desconfiado de seus instintos, e essa destruio culminou com o
cristianismo, acelerando o processo de "domesticao" do homem.

A moral crist a moral do rebanho, geradora de sentimentos de culpa


e ressentimentos, e fundada na aceitao do sofrimento, da renncia, do
altrusmo, da piedade, tpicos da moral dos fracos.

Nietzsche defende a transmutao de todos os valores, superando a


moral comum para que os atos do homem forte no sejam pautados pela
mediocridade das virtudes estabelecidas. Para tanto preciso recuperar o
sentimento de potncia, a alegria de viver, a capacidade de inveno.

Nietzsche desenvolve uma crtica intensa aos valores morais, propondo


um estudo da formao histrica dos valores presentes na cultura ocidental.
Para ele, ao contrrio do que pensa a tradio ocidental, no existem noes
absolutas de bem e de mal. Estas noes so produtos histrico-culturais,
elaboradas pelo homem a partir de interesses humanos, mas que, as religies
impem como se fossem produtos da vontade de Deus.

Aceitar tais valores como provenientes de uma existncia divina traz


perigos ao desenvolvimento humano. A estes valores o pensador chama de
moral de rebanho. As pessoas acomodam-se diante das dificuldades e
submetem-se docilmente aos valores dominantes da tradio crist e
burguesa, no enfrentando o desafio de viver as prprias vidas,
responsabilizando ou esperando que uma potncia externa a ns (Deus) faa o
que o indivduo deve fazer.

Mas o que so os valores? Para simplificar podemos entender o Valor


como um princpio geral e universal que serve de guia para o agir e pensar do
homem no mundo. O valor est presente no homem, nas atividades humanas e
no mundo humano. O valor o princpio norteador das escolhas humanas.
guia norma das escolhas, por isso carece da conscincia e da liberdade,
porque s o sujeito consciente e livre capaz de fazer escolhas.

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Atribuir Valor a uma coisa, no ficar indiferente a ela. Isto a
principal caracterstica do valor.

Podemos classificar os assuntos axiolgicos do seguinte modo:

II. O homem e o mundo dos valores

O homem como ser cultural pode receber valores, transmitir, transformar


e se transformar. Podemos citar como exemplo de valores: os econmicos, os
vitais, os lgicos, os ticos, os estticos, os morais, os religiosos etc. Geraes
antecedem e sucedem no tempo e no espao outras geraes, mas deixam
suas marcas, seus traos. O homem aprende, interioriza valores, se transforma
e transforma ao seu redor outros homens. E quando necessrio, capaz de
adulterar alguns valores de maneira favorvel e tambm desfavorvel,
atendendo as necessidades do grupo ou as suas necessidades individuais.
A intencionalidade uma caracterstica humana, e esta nos diferencia
de outros seres, pois nunca agimos ao acaso e, mesmo quando no
respondemos de imediato sobre as nossas aes, sabemos que h sempre

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uma mensagem a ser decodificada por ns mesmos, por algum ou pelo
grupo.
Somos herdeiros e propagadores de valores, tambm procuramos
conserv-los, transmiti-los, mas tambm buscamos superar formas
estereotipadas de valores.
Mas como super-los, critic-los e diferencia-los quando no temos Na
educao, espao privilegiado para discusses produtivas e instaurao de
padres de conduta, ora criticamos o excesso de regras e normas, ora
criticamos a falta de regras e normas. Sabemos o quanto elas so importantes
para a prpria aprendizagem educacional dos indivduos. Sabemos tambm o
valor de uma vida, as prolas que se colocam todo dia em nosso caminho, os
alunos.

Que tipo de escola no quer e no pretende ter regras e normas justas e


coerentes? Que escola acredita que exagera ou que est em falta com as
regras, as normas, com a prpria educao, compromisso supremo de
qualquer instituio?

Se educar influenciar o outro, afet-lo em suas possibilidades


intelectuais, como afet-lo de maneira sbia e favorvel? Como promover uma
autonomia de maneira sbia e responsvel? Como evitar os valores anmicos?
Quando a escola dita comportamentos, quando rejeita e aprova formas
do agir humano, neste ponto ento que a tica vigora.
O homem em todos os tempos atribui valores s coisas e s suas
aes. Falar em tica tambm falar em virtude. Virtude (em latim virtus)
qualidade prpria da natureza humana a prtica constante do bem por
algum ou por um grupo. E a lio de Scrates sobre a virtude enquanto bem
universal fazer o bem desinteressadamente, porque uma felicidade para a
alma que j atingiu certa sabedoria o exerccio virtuoso.
Na filosofia, h inmeros autores que abordam a questo da moral, da
tica e da esttica, a seguir citaremos apenas alguns aspectos de alguns
autores para melhor elucidar nossa reflexo:
Para Hegel (1770-1831), h uma moralidade subjetiva e objetiva
quando fazemos uso de nossa racionalidade (subjetiva) estamos agindo
conforme a moral objetiva ou universal porque estamos de acordo com a lei

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moral fixada pelas normas, leis e costumes o bem universal o nico bem
verdadeiro tanto para o sujeito em particular quanto para a sociedade;
Tambm Kant fala numa lei moral como bem universal, e esta, funciona
quando somos guiados pelo nosso nimo e vontade individual e no apenas
pelas convenes sociais. Tambm o sujeito moral kantiano usa sua
racionalidade a favor do bem universal quando capaz de agir e responder por
suas aes, e Kant diz: age de maneira que possas querer que o motivo que
te levou a agir seja uma lei universal. Agir, mas tambm ser responsvel para
avaliar e julgar o alcance de nossas aes. Para Kant, s o bem pode alcanar
o cumprimento do dever e, quando somos guiados pela nossa razo, somos
capazes de elaborar normas orientadoras para o cumprimento deste bem.
Para os hedonistas: o bem tudo que o nos oferece prazer imediato, e o
mal tudo aquilo que nos causa sofrimento de imediato ou no.
J os epicuristas afirmam que o bem no pode ser considerado um
prazer imediato, mas somente os prazeres relacionados ao bem soberano.
Estes pensadores procuravam separar os prazeres superiores, os prazeres
naturais, os quais esto acima dos artificiais. No entanto, o verdadeiro prazer
est na intelectualidade (na via racional na prtica da virtude e da cultura do
esprito) porque esta via busca o prazer acima das paixes (dos prazeres
imediatos);
Para os estoicos como Zeno de Cicio (340-264 a.C.), fundador da
escola estoica, uma verdadeira vida moral s possvel quando h renncia
total dos desejos (fonte de todo sofrimento) em favor de uma ordem universal
que s pode ser compreendida pela via da razo.
E, para Toms de Aquino (1225-1274), o bem est relacionado f
crist e s pode ser considerado bem aquilo capaz de nos aproximar (pelas
nossas aes) de Deus. Desta forma, o bem s revelado ao homem atravs
da f.
Tambm encontramos indagaes acerca da questo do bem e do mal
no humanismo de Erich Fromm (1900-1980), s o homem pode determinar
para si prprio o que pensa ser o bem e o mal. O bem tudo que bom para a
natureza humana (tudo que faz desenvolver as potencialidades humanas). O
bem a afirmao da vida, o desenvolvimento das capacidades do homem. A
virtude consiste em assumir a responsabilidade por sua prpria existncia. O

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mal constitui a mutilao das capacidades do homem; o vcio reside na
irresponsabilidade perante si mesmo.

A vida, ao contrrio de qualquer objeto, flui no tempo e muda no tempo.


Somos seres incompletos e inacabados, e tambm a vida intelectual aquilo
que que ser e, que est sendo. Mas, ser que podemos dizer que a vida
um valor? Estamos cercados de valores, de qualidades, de coisas que no so
valores, mas valem, valores que imprimimos s coisas, imprimimos vida, e
assim, nossas vidas esto repletas de realidades e de valores. So relevantes
tambm os valores estticos, e estes, esto relacionados ao sentimento, ao
afeto. A palavra Esttica significa: Teoria do belo Teoria da beleza ou ainda
Teoria da arte e da beleza

A palavra - Esttica (em grego, Aisthesis, sensao, percepo) -


significa ainda, teoria da percepo, teoria da faculdade de ter percepes,
teoria da faculdade de ter percepes sensveis.

O homem, ser dotado de muitas faculdades e dentre elas, a razo de


suma importncia, mas isto no significa que podemos excluir as outras
faculdades. Os valores estticos esto relacionados faculdade de sentir,
sensibilidade e ao afeto, e na educao eles esto presentes quando o
sentimento, a intuio e a imaginao nos conduzem para alm das coisas
belas e das feias; quando somos capazes de ver a arte (sob a tica do artista e
tambm do apreciador); quando somos capazes de identific-los na comdia,
no teatro, no cinema e na TV; quando o nosso ser se coloca como abertura
para voos mais altos da filosofia.
Os valores estticos so importantes na formao do educando e do
educador, e como o homem no s razo, nem tampouco vive e sobrevive s
pela razo, deve valorizar todas a s faculdades que complementem seu ser,
desenvolvendo desta forma toda a sua totalidade humana, pois os valores
estticos podem ainda revelar mudanas e formas novas de valorizar a vida
humana.

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III. Educao moral: o sujeito autnomo

a) O que moral?

Numa breve definio de moral, podemos dizer que se trata do conjunto


de valores, de normas e de noes do que certo ou errado, proibido e
permitido, dentro de uma determinada sociedade, de uma cultura. Como
sabemos, as prticas positivas de um cdigo moral so importantes para que
possamos viver em sociedade, fato que fortalece cada vez mais a coeso dos
laos que garantem a solidariedade social. Do contrrio, teramos uma situao
de caos, de luta de todos contra todos para o atendimento de nossas vontades.

Sob esse aspecto, j se destaca a importncia da educao, porque o


ser humano no nasce moral, torna-se moral, precisa aprender a ser moral,
procedimento que no depende de aulas de moral, mas sim da interao
entre seres sociais, ou seja, pelo convvio humano. Mais que isso, no basta a
introjeo de regras, mas sim que o indivduo tenha condies de examin-las
criticamente medida do seu desenvolvimento moral.

Esse processo de conscientizao de valores far a ligao entre a escola e


a vida: educamos para que se formem pessoas capazes do bem viver. A
partir de critrios morais, bem viver significa agir segundo princpios.

O educador Reboul diz que todo professor professor de moral, ainda que
o ignore.

Segundo os tericos da pedagogia construtivista, a construo da vida


moral acontece medida que a criana desenvolve a inteligncia e a
afetividade, tornando-se capaz de perceber racionalmente o mundo por meio
da abstrao e da crtica, ao mesmo tempo em que pela solidariedade e pela
reciprocidade, ultrapassa o egocentrismo infantil. S ento poder rever
maduramente os valores herdados e estabelecer propostas de mudanas.

Por isso mesmo a adolescncia, perodo de tantas crises, configura-se


como o momento por excelncia da elaborao da vida moral. Nesse estgio
de desenvolvimento o jovem pode passar da heteronomia para a autonomia. A
heteronomia (hetero = outro, diferente) tpica do comportamento infantil,
quando a criana obedece s normas impostas do exterior, garantidas pela
autoridade dos pais e professores. A autonomia (auto = prprio) uma
conquista humana, pela qual a lei no vem de fora, mas ditada pelo prprio
sujeito moral.

Nesse sentido somos livres quando capazes de autodeterminao. bom


lembrar que autonomia no se confunde com individualismo, porque ser moral
significa ser responsvel (responder por seus atos) e capaz de reciprocidade
(relao entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto).

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b) Aprender a ser livre

Educao e liberdade so inseparveis. A educao autntica s pode ser


a educao para a liberdade. Podemos considerar inicialmente duas posies
contraditrias, a da liberdade incondicional (livre-arbtrio) e a do determinismo
absoluto.

A liberdade incondicional, o homem teria uma liberdade absoluta.


Enquanto que para a teoria determinista todo ato causado.

O impasse provocado por essas duas posies contraditrias pode ser


superado a partir de uma viso dialtica da liberdade.

A essas duas posies antagnicas, que pecam por sua rigidez, podemos
contrapor a teoria da liberdade situada, a partir de uma viso dialtica de
liberdade. O ser humano vive em certo contexto, sofre mltiplas determinaes
e influncias, mas capaz de agir sobre a realidade, transformando-a.

A partir desses conceitos, podemos ver as dificuldades que surgem diante


de uma proposta coerente de educao para a liberdade, afinal, educar dar
condies para que o educando se encontre e faa seu caminho.

Aprendemos a ser livres lentamente, superando nosso egosmo e


comodismo.

A liberdade no , pois uma ddiva, mas uma tarefa de construo a partir da


situao dada e de condies histricas concretas.

IV. Educao poltica: a cidadania

A palavra poltica est sustentada por uma expresso grega - polis, que
quer dizer cidade e a palavra cidadania se fundamenta em um termo latino
correlato - civitate. Esses dois vocbulos nos remetem vida em sociedade,
com suas aes e atuaes de direitos e deveres. Portanto a escola trabalha a
cidadania, mas deve trabalhar a poltica.

Ao estudarmos a cidadania devemos estudar tambm a poltica, dentro


de um processo democrtico.

A democracia s se constituir como substancial se a formao poltica for


propiciada no ambiente escolar. A escola, enquanto uma criao social um
dos lugares adequados de formao e informao, em que a aprendizagem
deve estar em concordncia com os assuntos sociais que assinalam cada
momento histrico.

Atravs das vivncias plurais os alunos passam a exercer a cidadania


social e poltica.

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a) Educao e cidadania

As expresses educao e cidadania esto inseridas no sentido poltico


da educao, pois desenvolver o cidado para a cidadania no aceitvel sem
antes estabelecer o que seja essa cidadania. Educar politicamente para a
cidadania principalmente educar um sujeito participativo para ser um sujeito
crtico, no sentido de coparticipante da democracia. Essa a verdadeira
educao para uma nova cidadania, que uma postura que precisa ser
estimulada. Os direitos e deveres civis e polticos, devem ser trabalhados por
meio de valores ticos.

A educao para a cidadania pretende fazer de cada pessoa um agente


de transformao. Isso exige uma reflexo que possibilite compreender as
razes histricas da situao de misria e excluso em que vive boa parte da
populao. A formao poltica, que tem no universo escolar um espao
privilegiado, deve propor caminhos para mudar as situaes de opresso.
Muito embora outros segmentos participem dessa formao, como a famlia ou
os meios de comunicao, no haver democracia substancial se inexistir essa
responsabilidade propiciada, sobretudo, pelo ambiente escolar.

V. Educao esttica: a sensibilidade

a) O que esttica?

O ser humano no apenas razo, tambm afetividade. Nenhuma


formao puramente intelectual dar conta da totalidade do humano; da a
importncia da arte como instrumento no s de produo e fruio esttica,
mas de humanizao propriamente dita, ou seja, a educao esttica
instrumento da valorizao humana integral.

A palavra esttica, na sua origem etimolgica (do grego aisthesis), nos


remete aos significados faculdade de sentir, compreenso pelos sentidos,
percepo totalizante. Assim, diferente da cincia e do senso comum, que
apreendem o objeto pela razo, a arte uma forma de conhecimento que
organiza o mundo por meio do sentimento, da intuio e da imaginao. A arte
provoca emoo.

b) A educao como atividade esttica

A arte na Educao infantil tem papel fundamental na construo de um


indivduo crtico, fornecendo-lhe experincias que o ajude a refletir, desenvolver
valores, sentimentos, conhecer a realidade, o outro e a si mesmo e uma viso
questionadora do mundo que o cerca.

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VII. Situaes de Conflito e Confronto na Educao

Situao de confronto e situao de conflito, ambas acontece na


educao e, espera-se que elas sempre aconteam. So situaes que
precisam ser canalizadas e estudadas para serem favorveis a todos os
envolvidos, porque tais situaes sempre trazem um retorno a curto ou em
longo prazo. E o que a educao seno um investimento que demanda
tempo, disponibilidade, esforo e, muitos sacrifcios das mais variadas
espcies?
As situaes mais dolorosas na educao parecem ser aquelas em que
os valores ticos esto envolvidos. Um valor nunca est sozinho, h sempre
outros na mesma trajetria. Quando os valores esto em jogo, funcionam como
suporte e como instrumento de equilibrao nos confrontos e conflitos. As
nossas aes esto envolvidas eticamente, mas quando somos guiados,
apenas pelos afetos, pela sensibilidade, podemos afetar o outro em sua
segurana emocional, financeira, em sua sobrevivncia, em sua dignidade e
em seus princpios etc.
O que ser que um aluno espera e pensa quando algum pede que ele
fale a verdade, mas o que a verdade? E qual a verdade de suas
brincadeiras, ironias, de suas agresses? O que um grupo espera quando
presencia uma situao de injustia? Mas o que ser que um aluno pensa o
que uma situao de injustia? O que deve fazer um professor e a instituio
em tal situao? Como os responsveis pela educao dentro de uma
instituio devem agir para no tomar partidarismo, favoritismo, tampouco,
protecionismo?

A escola no tem poder para prever ou evitar conflitos, alis, a escola


sempre espera conflito de ideias que favoream o despertar de outras, mas, e
quando as brincadeiras ultrapassam a fronteira da inocncia e batem de frente
com a violncia, quando a ironia, tantas vezes salutar, acaba por ser
instrumento de menosprezo, de crticas pejorativas e insanas.
tica e esttica se estreitam quando a Escola garante um espao para
brincadeiras responsveis e equilibradas, quando o vigiar e punir cede lugar

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ao ldico, sonhador, quando o esclarecer de gestos impensados funcionam
como profilaxias contra feridas e rancores.
Os valores ticos falam alto no logos e no corao de todos, e
perguntamos: Que educador pode aceitar que algum numa instituio tora e
retora sua imagem? Que escola conseguir trabalhar corretamente, falar de
Verdade, de tica, de Normas e Regras se passa aos alunos um a ideia
errnea que tudo pode ser resolvido com esperteza, com inteligncia? Se
algum perceber que pode enganar, mentir, adulterar e acusar outro e nada
acontecer, pode deduzir que assim que as coisas funcionam dentro e fora da
instituio escolar.
No ser tambm tarefa do educador procurar mostrar que no
podemos passar por cima e desconsiderar os sentimentos (afetos, sonhos,
criaes etc.), os princpios, a dignidade do outro, pois, caso contrrio, como
dizer que estamos formando algum, educando, quando somos ns que
fazemos diferenas e desavenas dentro da escola?
Uma reflexo filosfica pode nos oferecer um espao para trabalharmos
as diferenas, as divergncias de maneira sbia, clara, real e concreta, evitar
danos, perdas, quedas e engodos lamentveis e incidentes infelizes.
Quando os nossos jovens acreditam que com mentira, falsidade,
desonestidade e muita esperteza que se consegue vencer os obstculos que
aparecem ou que nos colocamos num momento de prazer e espontaneidade.
Cabe escola no espao que lhe compete, no mnimo, procurar mostrar que tal
caminho um lamentvel engano.
Ser que hoje vivemos a falta ou o excesso de valores em educao?
Ser que no estamos vivendo a desvalorizao de alguns valores? Ou ser
que na busca desenfreada por desenvolver um esprito crtico senso crtico,
no estamos presenciando a falta de senso na educao? Ser que tambm
no estamos presenciando novos valores e o que nos falta justamente um
referencial para compreend-los?

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Concluso

Explicitar a questo axiolgica fundamental em qualquer atividade


educativa, porque a formao integral da pessoa supe o cuidado com a
educao tica, poltica e esttica. E, para que no se trate de um tipo de
doutrinao, deve-se estar atento para que se trate de uma educao para a
emancipao, ou seja, que forme o sujeito tico autnomo, o cidado ativo e a
pessoa sensvel e criativa.

A educao a base da cidadania, pois ela possibilita que as crianas,


adolescentes, jovens e adultos saibam respeitar uns aos outros no que tange
as diferenas sociais, raciais, religiosas e culturais.

necessrio que se oferea aos alunos um caminho para reconhecerem


o valor de atitudes positivas diante de si, dos outros e do mundo,
sensibilizando-os sobre a importncia da contribuio de cada um no processo
de criao de valores ticos.

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Bibliografia

ARANHA, Maria Lcia de Arruda. Filosofia da Educao, So Paulo, Ed.


Moderna, 2006.

___________________________. Filosofando: Introduo filosofia, So


Paulo, Ed. Moderna, 2003.

CHAU, Marilena. Convite Filosofia, So Paulo, Ed. tica, 1997.

GEISLER, Norman L. e FEINBERG, Paul D. Introduo Filosofia: Uma


perspectiva crist, So Paulo, Ed. Vida Nova, 2003.

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