25 O Caminho Oculto PDF
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Veneranda
No era muito gentil no trato com os colegas, nem dedicava o respeito devido s
pessoas mais velhas, sendo, por isso, pouco simptico aos companheiros.
Entretanto, era curioso e perguntador, nas lies religiosas. Admirava Jesus e
gostava de ouvir todas as histrias que se referissem a Ele.
Por essa razo, queria preparar a felicidade futura, desejoso de encontrar-se, mais
tarde, no quadro brilhante dos justos.
Parecia-lhe viajar num avio diferente, sobre florestas e mares, cidades e rios,
resplandecendo ao Sol.
Sim.
O quadro desapareceu como por encanto. Nem a figura do Cristo, nem o cu azul,
nem as rvores, nem o grande lago. E ele acordou na cama, atendendo ao
chamado maternal.
O relgio grande da sala de jantar dera sete badaladas e um sol de ouro vivo
derramava-se atravs da vidraa.
E aguardou a vinda de Jesus, supondo que Ele viesse traar-lhe aos olhos
assombrados um grande roteiro, como a professora nas aulas de Geografia.
NO SERVIO PATERNO
V
Venha, Leonardo! convidou o pai sorridente, enxugando o suor que lhe caa
copiosamente do rosto.
Hoje, papai disse ele , no posso ajud-lo. Devo fazer muitos exerccios
escolares.
Nem por isso, todavia, modificou a atitude inicial de indiferena. Julgou que
despenderia muito tempo.
Teve a impresso de que as mudas frgeis lhe pediam socorro; entretanto, olhou
a imensa quantidade de pequenas perturbadoras em movimento, deu de ombros e
exclamou:
RETIROU-SE para as vizinhanas do curral, onde sua ateno foi solicitada por
uma vaca doente.
Era Brinquinha.
Parecia dizer:
Sem qualquer outra reflexo, apanhou uma pedra, a esmo, e, depois de mirar
atentamente a cabea arrepiada da ave infeliz, matou-a sem compaixo.
O VELHO SERVIDOR
IX
Leonardo aproximou-se.
Meu bom rapaz, ajude-me, por favor! Venho do moinho de seu pai, onde
recebi o farelo que devo entregar ao vizinho. . .
Creio, porm, que meu velho corpo no est funcionando bem... A cabea anda-
me roda, tenho as pernas doridas, receio cair a qualquer momento. ..
Leonardo sups que o companheiro talvez tivesse vindo a conselho do tio Manuel,
que o assistia carinhosamente nas lies, e antegozou o prazer de exibir a posse.
Aprumou-se e recebeu-lhe as saudaes com as fumaas da superioridade
mentirosa.
O qu? emprestar meu livro? de modo algum! Se voc quiser estudar, gaste o
seu prprio dinheiro.
No! no e no!...
LOGO aps, entrou Leonardo em casa, onde esperou o pai para o almoo.
Nem sequer olhou para a sua mame que ia afobada, de um lado para outro,
atenta aos preparativos da refeio. Temendo o servio, fechou-se no quarto, at
que a voz materna se fizesse ouvir porta, chamando-o carinhosamente.
Posta a mesa em toalha muito limpa, debalde sua mame lhe recomendava
compostura e silncio.
Sirva-se dos ovos, meu filho! dizia sua mame carinhosa e boa.
E Z Macaco!!!
M-c-co! M-c-a-co!...
Leonardo, hoje ainda no comi coisa alguma... Tive medo de ficar atrasado nas
lies e no quis perder a aula, embora viesse com bastante fome...
Torcia as mos, acanhado por pedir. E porque o colega o fitasse com frieza,
prosseguiu, explicando:
Em vista de nossas dificuldades, quem sabe voc querer ceder-me, por favor, a
merenda que lhe sobrou do recreio?
Ora! voc acha que eu sou padaria? Passe frente! No dou merenda a colegas
vadios!
Orlandinho chorou, porque, de fato, sentia fome, mas Leonardo foi insensvel.
Para que rezar mais? O dia passou sem que Jesus cumprisse a promessa....
Esperei, ansioso, que me viesse revelar a estrada celestial.
Ah! disse, desrespeitoso a senhora quer dizer que sou mau, que no
cumpro meus deveres? quer dizer que sou perverso?
No sou! no sou!
No estou acusando, meu filho. Sei que devemos confiar em seu carter,
reconheo que voc tem sido correto nas obrigaes dirias, mas no podemos
esperar que Jesus venha at ns, sem aperfeioarmos o corao.
Sentiu-se gil e feliz, fora do corpo de carne, e reconheceu que o mesmo carro
desconhecido, de asas macias como o veludo, transportava-o, brandamente, para
muito longe...
Leonardo! Leonardo!
O menino caiu de joelhos, mas notou que Jesus no tinha a mesma alegria
anterior. Parecia triste, muito triste. Mostrava nos olhos profundos e sublimes o
pranto que no chegava a cair. E at a Natureza parecia comungar com o Mestre,
porque as aves silenciaram e as ondas buliosas e lmpidas do lago imenso
aquietaram-se, de manso, obedecendo a estranho poder.
O caminho celeste o dia que Pai nos concede, quando aproveitado por ns
na prtica do bem. Cada hora, desse modo, transforma-se em abenoado trecho
dessa estrada divina, que trilharemos at o encontro com a grandeza e a perfeio
do Supremo Criador, e cada oportunidade de bom servio, durante o dia, um
sinal da confiana de Deus, depositada em ns. Quem aproveita o ensejo de ser
til, caminha para o Alto e avana na senda sublime, mas os que fogem ao
trabalho edificante perdem o tempo e demoram-se retaguarda, lutando com os
perigosos monstros da preguia e do mal.
Perdoa-me, Senhor!...
Nesse momento, notou que sombras espessas caam na paisagem. No mais via
os astros brilhantes, nem as guas, nem as rvores, nem os passarinhos. Cravou
os olhos em Jesus; entretanto, sentia tambm extremas dificuldades para
enxergar o Mestre... Queria prolongar indefinidamente aqueles minutos sublimes
na companhia do Celeste Amigo para saber mais, muito mais. Percebendo,
porm, que o Cristo se afastava, estendeu os braos na direo dEle e interrogou,
ansiosamente:
Leonardo no conseguiu mais divisar o Mestre, mas ouviu-lhe ainda a voz que
respondia:
Depois de penosos minutos de aflio, dentro dos quais se sentia numa noite
horrvel de trevas, acordou, agitado, chorando intensamente...