Livro 1 Cristianismo Puro e Simples - Resumos
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A lei da natureza humana
Todo o mundo j viu pessoas discutindo. s vezes, a discusso soa engraada; em outras, apenas
desagradvel. Como quer que soe, acredito que podemos aprender algo muito importante ouvindo
os tipos de coisas que eles dizem.
Est claro que os envolvidos na discusso conhecem uma lei ou regra de conduta leal, de
comportamento digno ou moral, ou como quer que o queiramos chamar, com a qual efetivamente
concordam. E eles conhecem essa lei. Se no conhecessem, talvez lutassem como animais ferozes,
mas no poderiam discutir no sentido humano desta palavra. A inteno da discusso mostrar que
o outro est errado. No haveria sentido em demonstr-lo se voc e ele no tivessem algum tipo de
consenso sobre o que certo e o que errado.
Ora, essa lei ou regra do certo e errado era chamada de Lei Natural.
A idia era a seguinte: assim como os corpos so regidos pela lei da gravitao, e os organismos,
pelas leis da biologia, assim tambm a criatura chamada homem possui uma lei prpria com a
grande diferena de que os corpos no so livres para escolher se vo obedecer lei da gravitao
ou no, ao passo que o homem pode escolher entre obedecer ou no Lei da Natureza Humana.
Em outras palavras, o homem no pode desobedecer s leis que tem em comum com os outros
seres; mas lei prpria da natureza humana, a esta o ser humano pode desobedecer, se assim quiser.
Sei que algumas pessoas afirmam que a idia de uma Lei Natural ou lei de dignidade de
comportamento, conhecida de todos os homens, no tem fundamento, porque as diversas
civilizaes e os povos das diversas pocas tiveram doutrinas morais muito diferentes. Mas isto no
verdade. Se algum se der ao trabalho de comparar, ficar surpreso com o imenso grau de
semelhana que eles tm entre si e tambm com os nossos prprios ensinamentos morais.
Os povos discordaram a respeito de quem so as pessoas com quem voc deve ser altrusta, mas
sempre concordaram em que voc no deve colocar a si mesmo em primeiro lugar. O egosmo
nunca foi admirado.
Se concordamos com estas premissas, posso passar seguinte: nenhum de ns realmente segue
risca a Lei Natural.
No estou pretendendo fazer pregao ou ser melhor do que ningum. Apenas pretendo chamar a
ateno para um fato: o de que neste ano, neste ms ou, mais provavelmente hoje mesmo, todos nos
deixamos de praticar a conduta que gostaramos que os outros tivessem em relao a ns.
A infinidade de desculpas que nos vm cabea todas as vezes que algum me adverte de que
descumpri a lei apenas a prova disso.
A verdade que acreditamos a tal ponto na decncia e na dignidade, e sentimos com tanta fora a
soberania da Lei, que no temos coragem de encarar o fato de que a transgredimos. Logo, tentamos
transferir para o outro a responsabilidade pela transgresso.
So essas, pois, as duas idias centrais que pretendia expor. Primeiro, a de que os seres humanos,
em todas as regies da Terra, possuem a singular noo de que devem comportar-se de uma certa
maneira, e, por mais que tentem, no conseguem se livrar dessa noo. Segundo, que, na prtica,
no se comportam dessa maneira. Os homens conhecem a Lei Natural e transgridem-na. Esses dois
fatos so o fundamento de todo pensamento claro a respeito de ns mesmos e do universo em que
vivemos.
Referncias Bblicas
Suponhamos que voc oua o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentir dois
desejos: o de prestar socorro (que se deve ao instinto gregrio) e o de fugir do perigo (que se deve
ao instinto de auto-preservao). Mas voc encontrar dentro de si, alm dos impulsos, um terceiro
elemento, que lhe mandar seguir o impulso de ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento,
que pe na balana os dois instintos e decide qual deles deve ser seguido, no pode ser nenhum dos
dois.
Se existe um conflito entre dois instintos e, na mente dessa criatura no h mais nada alm desses
instintos, bvio que o instinto mais forte tem de prevalecer. Porm, nos momentos em que
enxergamos a Lei Moral com maior clareza, ela geralmente nos aconselha a escolher o impulso
mais fraco.
No existe nenhum impulso que s vezes a Lei Moral no nos aconselhe a inibir, nem outro que ela
no nos encoraje a praticar de vez em quando. A coisa mais perigosa que podemos fazer tomar um
certo impulso de nossa natureza como critrio a ser seguido custe o que custar. No existe um nico
impulso que, erigido em padro absoluto, no tenha o poder de nos transformar em demnios.
b) Uma conveno social, algo que nos foi incutido pela nossa educao.
H duas classes de coisas que aprendemos atravs de nossos pais, professores, livros e amigos.
Algumas so somente convenes que poderiam ser diferentes como dirigir do lado direito mas
outras, como a matemtica, so verdades. H duas razes para afirmar que a Lei Moral pertence
mesma classe da matemtica. A primeira que, apesar de haver diferenas entre as idias morais de
certa poca ou pas e as de outras pocas ou lugares, essas diferenas no so to grandes quanto se
imagina. A segunda razo que sempre que consideramos as diferenas morais entre um povo e
outro, sempre achamos que a moral de um melhor ou pior que a do outro. Pois bem, no momento
em que voc diz que um conjunto de idias morais superior a outro, est, na verdade, medindo-os
ambos segundo um padro e afirmando que um deles mais conforme a esse padro que o outro.
Trezentos anos atrs as bruxas na Inglaterra eram queimadas na fogueira. isto que voc chama de
Lei da Natureza Humana ou de Boa Conduta?
Referncias Bblicas
Mt. 5:43
Nm. 19:13
Lc. 10:25-37 Parbola do Bom Samaritano
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A Realidade da Lei
No caso das pedras, das rvores e de coisas dessa natureza, o que chamamos de Lei Natura pode
no ser nada alm de uma fora de expresso. Quando voc diz que a natureza governada por
certas leis, quer dizer apenas que a natureza, de fato, se comporta de certa forma.
No caso do homem, porm, percebemos que as coisas no so bem assim. A Lei da Natureza
Humana, ou Lei do Certo e Errado, algo que transcende os fatos do comportamento humano.
Neste caso, alm dos fatos em si, existe outra coisa uma verdadeira lei que no inventamos e
qual sabemos que devemos obedecer.
A lei da gravidade nos diz o que a pedra faz quando cai; j a Lei da Natureza Humana nos diz o que
os homens deveriam fazer e no fazem. Existe algo alm e acima dos fatos. Existem os fatos (como
os homens se comportam) e tambm uma outra coisa (como deviam se comportar).
Quando voc diz um homem no deveria fazer o que fez, no quer dizer que atitude simplesmente
inconveniente para voc?
No podemos dizer que o que chamamos de boa conduta alheia simplesmente a conduta que nos
til. E quanto nossa prpria conduta, parece-me bvio que no se trata da que nos traz vantagens.
Manter a palavra quando preferamos faltar com ela; dizer a verdade mesmo que pareamos idiotas,
contentar-se com um ganho menor quando poderamos obter mais desonestamente.
Certas pessoas dizem que, apesar de a boa conduta no ser o que traz vantagens individuais, pode
significar o que traz vantagens para a humanidade como um todo mas isto no explica por que
temos tais e tais sentimentos diante do Certo e do Errado.
Existe algo que est alm e acima dos fatos comuns do comportamento humano, algo que, no
entanto, perfeitamente real uma lei verdadeira, que nenhum de ns elaborou, mas que nos
sentimos obrigados a cumprir.
Referncias Bblicas
No universo inteiro existe somente uma coisa que podemos conhecer melhor do que se contssemos
somente com a observao externa: o Ser Humano. Por causa disto sabemos que os seres humanos
esto sujeitos a uma lei moral que no foi criada por eles.
A questo : queremos saber se o universo simplesmente o que , sem nenhuma razo especial ou
se existe por trs dele um poder que o produziu tal como o conhecemos.
Existe apenas um caso no qual podemos saber se esse algo mais existe: o nosso caso. E nesse
caso, ele existe.
Ainda no estou nem perto do Deus da Teologia Crist. Tudo o que obtive at aqui a evidncia de
que Algo dirige o universo e que se manifesta em mim como uma lei que me incita a praticar o certo
e me faz sentir incomodado e responsvel pelos meus erros.
Referncias Bblicas
Rm. 7:19