CP 103683
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CP 103683
JOO PESSOA
2009
Livros Grtis
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES/
CENTRO DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DAS RELIGIES
JOO PESSOA
2009
O48r Oliveira, Vtor Lins.
_____________________________________________
Prof. Dr. Carlos Andr Macedo Cavalcanti
Universidade Federal da Paraba
_____________________________________________
Prof. Dr. Jos Vaz Magalhes Neto
Universidade Federal da Paraba
_____________________________________________
Prof. Dr. Gilbraz de Souza Arago
Universidade Catlica de Pernambuco
RESUMO
ABSTRACT
Since 1614, the cultural phenomenon of the rosicrucianism has been formed by independent
branches with peculiar characteristics through history. At that time, the expression the
fraternity of the Rose Cross, was printed for the first time. However, the signs of its existence
as an organization emerged in the middle of the following century, around 1757. Only after
1860, other rosicrucians organizations came into view. The oldest ones, which are still alive
today, were founded in the first decades of the twentieth century. Nowadays, the AMORC is
the biggest one in terms of members. It was founded in 1915, in the United States of America,
and it is an international organization, which is made up by a brotherhood of men and women
with mystical and cultural character, that gives it a traditional, initiated and philosophical
performance. Beyond the historical approach of the rosicrucianism, the rosicrucian
phenomenon is in the imaginary theory and this is the first scientific masters degree essay on
the theme.
INTRODUO 05
1. MANIFESTOS ROSACRUZES 14
1.1 Fama Fraternitatis (1614) 14
1.2 Confessio Fraternitatis (1615) 26
1.3 Casamento Alqumico de Christian Rosenkreutz (1616) 33
2. HISTRIA ROSACRUZ 54
2.1 Frederico e Elisabete: O Casal Shakespereano 54
2.2 Repercusses dos Manifestos Rosacruzes em Pensadores da poca 56
2.2.1 Michael Maier 57
2.2.2 Robert Fludd 57
2.2.3 Francis Bacon 58
2.2.4 Johann Valentim Andreae 62
2.2.5 Comenius 63
2.2.6 Ren Descartes 64
2.2.7 Isaac Newton 66
2.3 Rosacrucianismo e Franco-Maonaria na Idade Moderna 67
2.4 Instalao do rosacrucianismo na Amrica 70
2.5 Rosacrucianismo na Idade Contempornea 71
2.6 Antiga e Mstica Ordem Rosae Crucis (AMORC) 74
2.6.1 Ordem Rosacruz no Brasil 78
2.6.2 Ordem Rosacruz em Joo Pessoa 82
3. IMAGINRIO ROSACRUZ 84
3.1 Origem mtica do rosacrucianismo 84
3.2 Ensinamentos, rituais e smbolos rosacruzes 96
3.3 Positio Fraternitatis Rosae Crucis (2001) 107
3.4 Trajeto antropolgico do imaginrio rosacruz 112
A importncia destes trs documentos foi tal para a civilizao ocidental, que a
Professora Dra. Frances Amelia Yates, em sua obra O Iluminismo Rosa-Cruz, escreveu (1983,
p. 276):
Do grande reservatrio do poder espiritual e intelectual, da viso moral e
reformadora, representados pelos manifestos rosa-crucianos, a franco-maonaria
desviou uma corrente; outras fluram para a Sociedade Real, para o movimento
alqumico, e em muitas outras direes.
Fazem parte dos ensinamentos rosacruzes temas como: alma, vida e matria;
conscincia humana e Conscincia Csmica; espao-tempo; relaxamento e meditao;
intuio, inspirao e iluminao; criao mental; aura, vibroturgia, telepatia e telecinsia;
magnetismo, teraputica e auxlio metafsico; sons voclicos; sonhos; smbolos e nmeros;
cincias e religies; reencarnao, carma e livre-arbtrio e; alquimia espiritual.
Quanto aos smbolos rosacruzes, cabe agora citar a Cruz Rosa-Cruz assim descrita no
Manual Rosacruz (LEWIS, 1988, p. 125):
Por fim, o Positio Fraternitatis Rosae Crucis, tambm conhecido como o quarto
Manifesto Rosacruz, publicado simultaneamente em aproximadamente vinte lnguas, em
2001, tambm apresentado e analisado. Ele coloca em evidncia os problemas cruciais que
se impem humanidade no alvorecer do terceiro milnio, fazendo um balano da situao do
planeta e destacando o que, segundo os rosacruzes, ameaa seu futuro a mdio termo. Enfim,
conclama humanidade mais humanismo e espiritualidade e insiste na regenerao individual
e coletiva de todos os seres humanos, que s poder ser feita privilegiando-se a tolerncia.
Peter Burke, em sua obra O que histria cultural? problematizou e definiu o termo
cultura (2004, p. 43):
Vale destacar, que a Histria Cultural nesta Dissertao abordada da mesma forma
que Burke (2004, p. 163):
Assim como a histria total aborda a histria como um todo, o imaginrio diz
respeito a todas as cincias. Quanto s cincias humanas, implica em mais uma abordagem da
histria, pois a coloca dentro do trajeto antropolgico; em uma nova pedagogia ocidental, que
no centra mais unicamente o modo de ensino na razo; em outras dimenses da economia,
que mostra no ser somente resultante de um clculo racional; em uma ampliao da viso da
geografia, ao levar em conta, por exemplo, a literatura a respeito da rea estudada; enfim,
tambm permeia as inovaes para a filosofia, a psicologia e a literatura. Quanto s cincias
exatas, a matemtica utiliza conceitos como limites e infinito, entre muitos outros e teorias
como a das catstrofes; a fsica quntica, a qumica e a biologia h muito j trabalham com
conceitos que ultrapassam o puro raciocnio, adentrando no campo do imaginrio. Por fim, o
estudo da relao entre imaginrio e mdia na atualidade necessitaria de toda uma obra.
(PITTA, 2005, p. 39 e 40).
Gilbert Durand, em seu livro As Estruturas Antropolgicas do Imaginrio, tambm
adota a fenomenologia de acordo com o que afirma: Ao recusar separar a conscincia
imaginante das imagens concretas que semanticamente a constituem, optvamos
deliberadamente por uma fenomenologia contra o psicologismo ontolgico de tipo reflexivo
(2002, p. 377).
Essa vontade descritiva devia levar-nos a uma anlise e depois a uma classificao
estrutural dos diversos contedos possveis do imaginrio. Assim, mostramos como
os trs reflexos dominantes [postural, digestivo e copulativo] que tinham servido de
fio condutor psicolgico para a nossa investigao repartiam trs grandes grupos de
esquemas: os esquemas diairticos e verticalizantes por um lado, simbolizados pelos
arqutipos do cetro e do gldio isotpicos de todo um cortejo simblico, e por outro
lado os esquemas da descida e da interiorizao simbolizados pela taa e as suas
componentes simblicas, e por fim os esquemas rtmicos, com os seus matizes
cclicos ou progressistas, representados pela roda denria ou duodenria e o pau
com rebentos, a rvore. Tnhamos agrupado esta tripartio em dois regimes, um
diurno, o da anttese, o outro noturno, o dos eufemismos propriamente ditos. Em
seguida, mostramos como essas classes arquetpicas determinam gneros estruturais
e tnhamos descrito as estruturas esquizomrficas [hericas], as estruturas msticas
[antifrsicas] e por fim as estruturas sintticas [dramticas] do imaginrio.
A pergunta inicial que deve ser feita para qualquer fonte do imaginrio a seguinte:
qual o comportamento adotado diante da iminncia de morte? A esta situao s existem
trs solues possveis: pegar as armas e lutar; criar um refgio no qual ela no entre ou; ter
uma viso cclica na qual toda morte um renascimento. Respectivamente, podemos
classificar estas trs respostas na estrutura herica do regime diurno; na estrutura mstica do
regime noturno e; na estrutura sinttica do regime noturno. (DURAND, 2002; PITTA, 2005).
Contudo, no basta classificar em determinados estrutura e regime. necessrio
determinar o trajeto antropolgico, que o incessante intercmbio, ao nvel do imaginrio,
entre as pulses subjetivas e as intimaes objetivas do meio natural. Afinal, o imaginrio no
mais que este trajeto no qual a representao do objeto se deixa assimilar e modelar pelos
imperativos pulsionais do sujeito e as representaes subjetivas se explicam pelas
acomodaes do sujeito ao meio objetivo. (DURAND, 2002, p. 41).
Ao fim do trabalho, este trajeto antropolgico pode ser exposto atravs de uma escala
com o Regime Diurno em uma extremidade, o Regime Noturno em outra e o objeto da
pesquisa entre eles, pendendo mais para um lado ou mais para o outro, proporcionalmente s
caractersticas deste ou daquele regime.
Vemos, assim, no termo desse percurso da obra de Gilbert Durand, que a maneira
pela qual ele renovou os estudos sobre o imaginrio mostrou que esse um
organismo vivo e limitado, como todo organismo que se deixa classificar de uma
maneira globalizante se levamos em conta o trajeto antropolgico, verdadeira
pedra de toque do edifcio durandiano. (PITTA, 2005, p. 105, grifo nosso).
O Regime Diurno tem a ver com o reflexo dominante postural, a tecnologia das
armas, a sociologia do soberano mago e guerreiro, os rituais da elevao e da purificao. O
cetro e o gldio so os dois smbolos principais da estrutura herica, nica deste regime. O
primeiro faz aluso aos smbolos de ascenso ou elevao, como a montanha, as asas, a
escada, a coroa, o Sol, o olho e o verbo. O segundo faz aluso aos smbolos de diairese ou
diviso, como a espada, a flecha, o machado, o revlver, a metralhadora e as armas em geral,
a circunciso e o batismo. O esquema verbal desta estrutura elenca os verbos que tm como
ao principal distinguir.
MANIFESTOS ROSACRUZES
Alm disso, na regio alem, uma forte aliana poltica e religiosa surgia em 1613
com o casamento de Frederico, o Eleitor Palatino do Reno dirigente da Unio dos Prncipes
Protestantes alemes, com Elisabete, filha de Jaime I da Inglaterra.
Esse texto narra a conferncia entre o deus Apolo com os Sete Sbios da Grcia e
outros Sbios da Antigidade a fim de reformar a humanidade e devolver a ela sua primitiva
pureza. Tales de Mileto props que fosse aberta uma janela no peito dos homens, para que
suas reais intenes fossem expostas, porm, sua proposta foi abandonada quando algum
colocou a objeo de que se todos pudessem ler o corao dos prncipes, seria impossvel
governar. Slon de Atenas optou pela redistribuio dos bens do planeta e aconselhou que
fossem difundidos o amor, a caridade e a tolerncia entre os seres humanos, porm sua
proposta foi considerada utpica. Chilon de Esparta achou melhor acabar com a prata e o
ouro. Cleobulo de Lindus, por outro lado, considerou o ferro mais perigoso porque era mais
freqentemente transformado em armas do que em arados. Ptaco de Mitilena props leis mais
rigorosas para forar os prncipes a tratar corretamente seus sditos, mas Periandro de Corinto
se ops a isso afirmando que os bajuladores dos prncipes eram os culpados. Bias de Priena
props a suspenso da comunicao entre os homens e um isolamento protetor dos deuses. O
romano Cato props um segundo dilvio e a instituio de um novo mtodo de procriao no
qual as mulheres seriam as culpadas de tudo, nesse momento, toda a assemblia se ajoelhou
para orar pela preservao de todas as mulheres. Sneca defendeu a idia de que cada
profisso deveria efetuar sua prpria reforma. Quando o secretrio lembrou que o prprio
paciente deveria ser examinado e questionado, foi considerado to cheio de corrupo que sua
cura seria impossvel. A assemblia decidiu esquec-lo, abandonar a pesquisa e cuidar de sua
prpria segurana, sendo a conferncia concluda, ironicamente, da seguinte forma:
Adam Hasselmayer pode ser includo entre os cristos das igrejas protestantes da
poca, que aclama com entusiasmo a sabedoria iluminista de Fama Fraternitatis e faz
algumas observaes violentamente anti-jesuticas (YATES, 1983, p. 65). Como ser visto a
seguir, seu entusiasmo era excessivo e suas posturas no estavam totalmente em consonncia
com o pensamento rosacruz conforme apresentadas nos Manifestos Rosacruzes.
Considerando que o nico, Misericordioso e Sbio Deus havia derramado com tanta
abundncia sua misericrdia e bondade sobre o gnero humano, misericrdia e
vontade pelas quais alcanamos cada vez mais o conhecimento perfeito de seu Filho
Jesus Cristo e da Natureza [...] e que alm disso elevou os homens com muita
sabedoria, verdadeiramente, temos o direito de pensar que isso poderia renovar e
levar todas as Artes (que em nossa poca esto maculadas e imperfeitas) perfeio,
de sorte que, finalmente o Homem pudesse atravs disso compreender sua prpria
nobreza e sua prpria dignidade, compreender a razo pela qual chamado
Microcosmo, e at onde vai seu conhecimento da Natureza. (AMORC, 1998, p. 73).
J neste primeiro pargrafo, consta uma das idias principais deste Manifesto, que
levar todas as Artes da poca perfeio a fim de escrever o Librum Naturae ou Livro da
Natureza. Para este fim, os conhecimentos j estariam disponveis, graas bondade de Deus,
como citado acima, contudo, no segundo pargrafo consta que a desunio dos eruditos tal
que estes preferem no abandonar o antigo procedimento e continuar estimando o Papa,
Aristteles e Galeno, representantes tradicionais do cristianismo, da filosofia e da medicina,
respectivamente.
O conceito de microcosmo se relaciona com o conceito de macrocosmo. Com base
nos termos gregos mikrokosmos e makrokosmos, o primeiro significa pequeno mundo e
corresponde ao ser humano, enquanto o segundo significa grande mundo e corresponde ao
universo.
Com inteno de Reforma geral, o mui divina e altamente iluminado Pai, nosso
Irmo C.R., um alemo, o chefe e aquele que originou nossa Fraternidade, trabalhou
muito e por longo tempo, ele que por razo de sua pobreza (embora descendesse de
pais nobres) foi colocado em um Claustro, onde aprendeu a lngua grega e a lngua
latina, ele que (segundo seu desejo ardente e a seu pedido) estando ainda em seus
anos de crescimento, foi associado a um certo Irmo, P.A.L., que havia decidido
viajar Terra Santa. (AMORC, 1998, p. 74).
necessrio que fique bem claro que Christian Rosenkreutz deve ser entendido
como um personagem e no como um indivduo histrico.
Embora esse Irmo tenha falecido em Chipre e por isso nunca tenha chegado a
Jerusalm, nosso Irmo C.R. no retornou mas, pelo contrrio, embarcou e foi para
Damasco, tendo em mente a inteno de ir de l at Jerusalm [...] Durante esse
tempo ele por acaso travou conhecimento com os homens Sbios de Damasco na
Arbia e viu que grandes Maravilhas eles realizavam e como a Natureza se
desvendava diante deles [...] assim sendo, ele no pde refrear seu desejo e fez uma
transao com os rabes para que eles o levassem a Damasco por certa soma de
dinheiro; ele tinha apenas dezesseis anos quando ali chegou; [...] l ele aprendeu
ainda melhor a lngua rabe, a tal ponto que no ano seguinte traduziu para o bom
latim o Livro M., que mais tarde levou consigo. Foi nesse lugar que ele adquiriu
seus conhecimentos de fsica e matemtica... (AMORC, 1998, p. 74 e75).
Este terceiro pargrafo confuso porque d a entender que existem duas cidades
Damasco, pois afirma que Christian Rosenkreutz estava em Damasco quando encontrou
homens de Damasco na Arbia e, ento, para esta se dirigiu. Contudo, o segundo Manifesto
esclarece quando faz referncia cidade de Damcar na Arbia (AMORC, 1998, p. 126). De
acordo com o Atlas de Mercator de 1585, esta se localizava no sudoeste da Pennsula Arbica,
conhecida como Arbia Feliz, na regio do atual Imen (REBISSE, 2004, p. 90).
Aps trs anos ele tomou o caminho de volta e, com um salvo-conduto, navegou
para alm do Sinai rabe at o Egito, onde no ficou muito tempo, mas no fez mais
que observar melhor as plantas e as criaturas; navegou por todo o Mar Mediterrneo
at chegar cidade de Fez para a qual os rabes o tinham enviado. [...] Em Fez ele
travou conhecimento com aqueles que se costuma chamar de os habitantes
elementares, que lhe revelaram muitos dos seus segredos... (AMORC, 1998, p. 75)
Estes habitantes elementares correspondem aos que Paracelso evocou em seu
Tratado das Ninfas, dos Silfos, dos Pigmeus, das Salamandras e de outros seres, em contato
com os quais se poderia aprender os segredos da natureza (REBISSE, 2004, p. 91 e 92).
... e encontrou ainda melhor fundamento para sua f, em total consonncia com a
Harmonia do Mundo inteiro, que deixa suas maravilhosas marcas em todos os
perodos do tempo; e de l que procede essa bela concrdia, que faz com que, do
mesmo modo que em cada semente est contida toda a rvore ou todo o fruto, assim
tambm no organismo de pequenas propores do Homem cuja religio, cujo modo
de se governar, cuja sade, cujos membros, cuja natureza, cuja linguagem, cujas
palavras e cujas obras se ajustem, esto em simpatia e nas mesmas tonalidades e
melodia com Deus, o Cu e a Terra est includo todo o grande Mundo; e o que est
em desarmonia com isso erro, falsidade, pertence ao Mal, que causa primeira,
mediana e derradeira do conflito, da cegueira e das trevas do Mundo: assim, se
algum pudesse examinar todas e certas pessoas na Terra, constataria que aquilo que
bom e correto est sempre em harmonia consigo mesmo; mas que todo o resto est
maculado por mil presunes errneas. (AMORC, 1998, p. 76).
Depois de dois anos, ele navegou para a Espanha, onde conferenciou com eruditos
esperando que estes homens cultos Europa se regozijassem, regulamentassem e colocassem
em ordem seus estudos segundo aquelas bases fundamentais e seguras. Contudo, acabou
sendo motivo de riso, pois eles recearam que seus nomes importantes fossem rebaixados, caso
tivessem que reconhecer seus muitos erros.
A mesma antfona lhe foi cantada por outras Naes, a qual o abalou mais (pois para
ele tudo estava acontecendo ao contrrio do que ele esperava) j que ele estava
disposto a compartilhar generosamente todas as suas Artes e os seus Segredos com
os homens instrudos, se apenas eles se tivessem incumbido de escrever os infalveis
Axiomas, extrados de todas as Faculdades, Cincias e Artes, e de toda a Natureza,
como a que ele sabia que os conduziria como um Globo ou um Crculo, ao nico
ponto mdio e ao nico Centro, e (como de costume entre os rabes) que s
serviria aos sbios e aos homens instrudos enquanto Regra; (isso o emocionou mais
do que ele desejava) que pudesse existir tambm na Europa uma Sociedade que
tivesse ouro e prata e pedras preciosas, em quantidade suficiente para beneficiar os
Reis, para suas necessidades e seus projetos necessrios e legtimos: (ouro, prata e
pedras preciosas) com os quais os destinados a serem Governantes poderiam ser
elevados ao conhecimento de tudo o que Deus sofreu que o homem saiba, e com
isso ficassem aptos, a qualquer tempo que fosse necessrio, a dar seus conselhos aos
que os procurassem, como os Orculos Pagos [...] nasceram homens dignos que
sofreram e abriram uma via atravs das trevas e da barbrie, e deixaram para ns
que os sucedemos a preocupao de segui-los: e certamente eles foram o ponto mais
elevado do Trgono gneo cuja chama deveria agora brilhar mais e mais, e que com
certeza dar ao Mundo a Luz final. (AMORC, 1998, p. 78)
Foi desse modo que comeou a Fraternidade da Rosa-Cruz: inicialmente com apenas
quatro pessoas, que elaboraram a linguagem e a escritura mgicas acompanhadas de
um grande Dicionrio que ainda utilizamos diariamente para louvar e glorificar
Deus e onde encontramos grande sabedoria; eles tambm escreveram a primeira
parte do Livro M: mas como esse trabalho era muito pesado e o auxlio aos doentes,
do qual no se pode falar, os atrapalhava, e considerando que sua nova edificao
(chamada Esprito Santo) tinha sido terminada, eles decidiram (uma vez que tinha
chegado a hora) atrair e acolher outros membros em sua Fraternidade; para este fim
forma escolhidos o irmo R.C., filho do falecido irmo de seu pai, o irmo B., um
hbil pintor, G. e P.D., seus secretrios, todos alemes, exceto I.A.; assim, eram eles
oito ao todo, todos solteiros que tinham feito voto de castidade, os quais compilaram
um volume ou livro de tudo o que o homem pode desejar, aspirar ou esperar.
(AMORC, 1998, p. 80).
[1.] nenhum deles deveria professar outra coisa alm da cura dos doentes, e isso
gratuitamente. 2. Dali em diante nenhum deles seria obrigado a usar qualquer hbito
particular, mas nesse respeito deveria seguir o costume do pas. 3. Todo ano, no dia
C., eles deveriam se reunir na casa do Esprito Santo, ou escrever informando o
motivo de sua ausncia. 4. Cada Irmo deveria procurar uma pessoa digna que, aps
sua morte, pudesse suced-lo. 5. O termo C.R. deveria ser o seu selo, emblema e
caracterstica. 6. A Fraternidade permaneceria secreta por cem anos. (AMORC,
1998, p. 82)
O primeiro irmo que faleceu foi I.O., que era muito versado em Cabala e havia
ficado muito conhecido na Inglaterra, onde faleceu, por ter curado o jovem Conde de Norfolk,
que sofria de lepra. Quanto ao local de suas sepulturas, deveria ser mantido em segredo, e o
lugar de cada um era provido de um sucessor adequado. Tambm neste dcimo quinto
pargrafo informado que ser escrita uma Confisso na qual sero expostas 37 razes para
tornar conhecida a Fraternidade. (AMORC, 1998, p. 83).
Este mesmo irmo A., que faleceu na Glia Narbonesa, informou ao seu sucessor
N.N. que a Fraternidade no devia mais ficar to oculta e devia ser til, necessria e
recomendvel para toda a nao germnica (AMORC, 1998, p. 84 e 85).
No ano seguinte ao bem sucedido trmino de seus estudos, quando sentiu vontade de
viajar, estando para isso suficiente provido de fundos sados da bolsa de Fortunatus,
ele [irmo N.N.], (sendo um bom Arquiteto), ele, pensou em modificar um pouco
seu edifcio, tornando-o ainda mais apropriado: nessa remodelao ele descobriu a
placa-memorial fundida em cobre e que contm todos os nomes dos irmos, com
algumas outras coisas; ele quis transferi-la para uma outra cripta mais apropriada:
pois, quando ou onde Fra R.C. falecera, ou em que pas fora enterrado, so coisas
ocultadas a ns por nossos predecessores, sendo por ns desconhecidas. Nessa placa
estava solidamente enterrado um grande prego que, quando foi puxado para fora
com fora, trouxe junto uma grande pedra sem caractersticas particulares que se
destacou da parede ou do reboco da porta oculta, e assim descobrimos
inesperadamente essa porta oculta, razo pela qual derrubamos o resto da parede
com entusiasmo e alegria e limpamos a porta na qual estava escrito o seguinte:
Aps 120 anos eu me abrirei, tendo escrito em baixo o ano do Senhor; demos
ento graas a Deus e nada mais fizemos naquela noite, pois primeiro teramos que
examinar nossa Rotam... (AMORC, 1998, p. 85)
Juntando as datas contidas nos dois primeiros Manifestos Rosacruzes que fazem
referncia ao personagem Christian Rosenkreutz, verifica-se que todas esto relacionadas a
eventos marcantes da histria europia. O seu nascimento ocorreu em 1378, ano Cisma do
Ocidente, que ops Avignon a Roma; a sua morte ocorreu em 1484, ano do nascimento de
Martinho Lutero e; a descoberta do seu tmulo ocorreu em 1604, ano em que ocorreu um
evento astronmico que gerou vrias especulaes profticas:
O cometa que brilha no cu desde 16 de setembro de 1604 nos anuncia que est
prximo o tempo em que j no se encontrar uma casa, um nico refgio em que
no se ouam queixas, lamentaes, gritos de aflio, pois terrveis calamidades vo
cair sobre ns! (Profecia de Paulus Magnus). Essa estrela prodigiosa nos pressagia
calamidades bem mais terrveis que um simples cometa, pois supera em grandeza
todos os planetas conhecidos, e no foi observada pelos sbios desde o comeo do
mundo. Anuncia grandes mudanas na religio, depois uma grande catstrofe sem
precedente... (Profecia de Albinus Mollerus). (DELUMEAU, 1997, p. 78 e 79).
Na manh seguinte abrimos a porta e ento surgiu nossa vista uma cripta com sete
lados e ngulos, cada lado com cinco ps de comprimento e oito ps de altura;
embora o sol no brilhasse nunca nessa cripta, ela estava iluminada por um outro sol
que tinha obtido sua luz do Sol e estava situado na parte superior, no centro do teto:
no meio, em lugar de uma lpide sepulcral, encontrava-se um altar redondo coberto
por uma placa de cobre, na qual estava gravado o seguinte: A.C.R.C. Em vida,
desta imagem resumida do Universo fiz meu tmulo. Em volta do primeiro crculo
ou da borda, estava escrito: Jesus tudo para mim. No meio havia quatro figuras
dentro dos crculos, em cujas bordas estava o seguinte: 1. No existe o vazio. 2. O
jugo da lei. 3. Liberdade do evangelho. 4. ntegra a glria de Deus.
(AMORC, 1998, p. 85 e 86).
Cada lado ou parede tinha uma porta para um cofre onde repousavam diversas
coisas, em particular todas as nossas obras, que por sinal possuamos ao lado do
Vocabulrio de Teoph. Par. Ho. [e os quais usufrumos e transmitimos sem serem
deturpados] [...]. Tambm ali encontramos seu Itinerarium e sua Vitam, de onde
tiramos a maior parte deste relato. Num outro cofre encontramos espelhos com
propriedades diversas e, em outros locais, encontramos pequenos sinos, lmpadas
acesas e sobretudo maravilhosos cnticos artificiais; tudo em geral feito de modo
que todas essas coisas pudessem ser novamente restauradas, pela existncia dessa
nica cripta, se acontecesse que aps numerosas centenas de anos a Ordem ou a
Fraternidade devesse ser extinta. (AMORC, 1998, p. 87).
O livro T. e o seu relato mtico pode ser comparado Tbua de Esmeralda e o relato
mtico de Apolnio de Tiana que afirmou t-la encontrado nas mos de Hermes em seu
tmulo (REBISSE, 2004, p. 93). Como o Fama Fraternitatis no menciona mais sobre o livro
T., eis o texto da Tbua de Esmeralda de Apolnio de Tiana, filsofo do primeiro sculo,
extrado da obra Smbolos Secretos dos Rosacruzes dos Sculos XVI e XVII, publicada em
Altona, em 1785:
verdadeiro, certo e sem falsidade que o que quer que esteja embaixo semelhante
ao que est acima e o que se encontra acima igual ao que est embaixo: para
cumprir-se a Obra maravilhosa. Como todas as coisas so derivadas da nica Coisa,
pela vontade e pela palavra dAquele nico que a criou em Sua Mente, assim
tambm tudo deve a sua existncia a esta Unidade, pela ordem da Natureza, e tudo
pode ser aperfeioado por Adaptao quela mente. Seu pai o Sol; sua Me a
Lua; o Vento a leva em seu ventre; e sua nutriz a Terra. Esta Coisa o Pai de todas
as coisas perfeitas do Mundo. Seu poder perfeitssimo quando tiver sido
novamente transformado em Terra. Separa tu a Terra do Fogo, o sutil do grosseiro,
mas com cuidado e com grande judiciosidade e habilidade. Ela ascende da Terra ao
Cu e novamente desce, renascida, Terra, desse modo tomando para si o poder do
Acima e do Abaixo. Assim, o esplendor de todo o Mundo ser teu, e toda a treva de
ti fugir. Este o mais forte de todos os poderes, a Fora de todas as foras, pois
sobrepuja todas as coisas sutis e pode penetrar tudo o que slido. Pois assim foi o
Mundo criado, e raras combinaes e maravilhas de muitas espcies, so obradas.
Portanto, sou chamado HERMES TRIMEGISTUS, por ter dominado as Trs Partes
da Sabedoria de todo o Mundo. O que tenho a dizer sobre a Obra-Mestra da Arte
Alqumica, a Obra Solar, aqui est dito. (RENES, 1978, p. 29).
Sabemos contudo que aps certo tempo acontecer uma reforma geral, tanto das
coisas divinas quanto das humanas, segundo nosso desejo e segundo o que desejam
e aguardam outros: pois natural que antes do Sol surgir aparea como precursora a
Aurora, ou alguma purificao, ou Luz divina no cu: assim, durante esse intervalo,
uns poucos que daro seus nomes podero se reunir a assim faro crescer e aumentar
o nmero dos que fazem parte de nossa Fraternidade e o respeito por ela, e
contribuir para o jubiloso e desejado surgimento de nossos Cnones Filosficos,
para ns prescritos por nosso irmo R.C., e fazer parte dos que compartilham
conosco os tesouros (que nunca podem se exaurir ou ser desperdiados) com toda a
humildade e com amor, a fim de serem libertados do labor deste mundo, e no mais
caminharem to cegamente no conhecimento das maravilhosas obras de Deus
(AMORC, 1998, p. 89 e 90).
A expresso igreja primitiva se refere igreja crist antes dos conclios. Quanto aos
dois Sacramentos, correspondem ao batismo e eucaristia.
Nossa Filosofia tambm no uma inveno nova, mas a mesma que Ado
recebeu aps sua queda e que Moiss e Salomo utilizaram: alm disso, ela no deve
ser posta em dvida ou contestada por outras opinies, ou outros meios; mas vendo
que a verdade pacfica, breve e sempre coerente consigo mesma em todas as
coisas, e especialmente em conformidade com Jesus in omni parte e todos os seus
membros. E como ele a Imagem verdadeira do Pai, assim tambm a verdade a
sua Imagem; no ser dito, isto verdade segundo a filosofia; e sim isto verdade
segundo a teologia; e (no ser dito) em que a viso de Plato, Aristteles e outros
foi correta e em que Enoque, Abrao, Moiss e Salomo foram excelentes; mas (ser
dito) com que se harmoniza este maravilhoso livro que a Bblia. Todos convergem
e formam uma Esfera ou um Globo, no qual a totalidade das partes eqidistante do
centro, como ser comentado mais ampla e plenamente em conferncia, cristmente.
(AMORC, 1998, p. 91).
Mais uma vez o crculo utilizado como smbolo perfeito do conhecimento. Desta
vez, com referncia ao conhecimento dos filsofos e telogos, que ao invs de se opor, deve
se somar a fim de chegar a um conhecimento perfeito.
Por fim, vale a pena citar aqui as palavras escritas por Frances Amelia Yates (1983,
p. 277):
A Fama pode assim ser considerada agora como o manifesto perfeito, conjugando
como o faz a proclamao do Progresso do Ensino numa era moderna e
esclarecida, com a sua sugesto sutil da invisibilidade, como sendo a marca
distintiva dos Irmos R.C.
Uma Breve Considerao da mais Secreta Filosofia escrita por Philip Gabella, um
estudante de filosofia, agora publicada pela primeira vez junto com a Confisso da
Irmandade R.C. Editada em Cassel por Wilhelm Wessel, editor do Mais Ilustre
Prncipe, 1615. (YATES, 1983, p. 66).
Seu texto era uma espcie de tratado de alquimia destinado a ensinar o estudante a
se nutrir da mais bela e mais flagrante das flores: a rosa. Ele lhe ensinava a fazer mel
com o nctar dessa flor sem se ferir em seus aguados espinhos. (REBISSE, 2004, p.
101).
A Breve Considerao da Mais Secreta Filosofia termina com uma orao num
estilo de intensa piedade e inspirao, tpico da personalidade de Dee, que combinava uma
ardente piedade com um esforo mago-cientfico complexo (YATES, 1983, p. 71).
Seja o que for que tenha sido publicado e levado ao conhecimento de cada um a
respeito de nossa Fraternidade, pelo Fama anteriormente mencionado, que
nenhuma pessoa o tome superficialmente, nem o considere uma coisa sem
importncia ou inventada, e menos ainda o receba como se fosse de nossa parte uma
simples pretenso. (AMORC, 1998, p. 117).
Em seguida, o Confessio Fraternitatis faz uma srie com cinco interrogaes e uma
exclamao: Por que no repousar e permanecer to-somente na verdade? No seria bom se
no tivesse preocupaes e temor pela fome, pobreza, doena e velhice? No seria magnfico
viver conforme no comeo do mundo e assim continuar at o seu fim? No seria excelente
viver sem que povo algum pudesse esconder qualquer coisa? No seria extraordinrio ler num
s livro e mediante esta leitura compreender tudo aquilo que nos outros livros aconteceu,
acontece e acontecer? Como seria agradvel cantar de modo a atrair prolas e pedras
preciosas e comover os poderosos prncipes deste mundo! (AMORC, 1998, p. 121 e 123;
YATES, 1983, p. 313).
Ah sim, vs que ledes estas palavras, o desgnio de Deus bem outro, que decidiu
agora fazer crescer e expandir o nmero de nossa Fraternidade, coisa em que nos
empenhamos com tanta alegria que at o presente obtivemos este grande tesouro que
ultrapassa nossos mritos, sim, que ultrapassa todas as nossas esperanas, todos os
nossos pensamentos e tudo o que projetamos com a mesma fidelidade que tenhamos
tido ao colocar em prtica esta empresa da qual nem a compaixo nem a piedade
para com os nossos filhos (como tm alguns que fazem parte de nossa Fraternidade)
nos afastar, pois sabemos que esses bens inesperados no podem ser herdados nem
obtidos por acaso. (AMORC, 1998, p. 123).
Se contudo existem agora alguns que, por outro lado se queixam de nossa
liberalidade, que faz com que ofereamos nossos tesouros to livremente e sem
qualquer discriminao a todos os homens e que, em vista disso, no consideramos
nem respeitamos mais os que so piedosos, instrudos e sbios ou que so pessoas
principescas, do que as pessoas comuns, esses no podemos contradizer, visto que
este no um assunto fcil ou a ser tomado superficialmente; contudo, fazemos
ainda compreender que nossos Arcanos ou Segredos no sero de forma alguma
comuns nem vulgarizados [...] assim como tambm sabemos que a dignidade dos
que sero aceitos em nossa Fraternidade no ser avaliada e conhecida por ns por
meio de uma observao atenta comum aos homens, e sim segundo a regra de nossa
revelao e manifestao. Esta a razo pela qual, se aqueles que no so dignos
clamam e apelam mil vezes, ou se mostram ou se apresentam diante de ns mil
vezes, no obstante Deus ordenou aos nossos ouvidos que no ouvissem nem
escutassem nenhum deles: sim, Deus tanto nos envolveu com suas Nuvens, que
contra ns, seus servidores, nenhum ato de violncia, nenhum golpe de fora pode
ser cometido; por isso que no podemos ser vistos ou conhecidos de qualquer um,
mas s daquele que tenha olhos de guia. Verificamos ser necessrio que Fama
fosse publicada na lngua materna de cada um, pois (mesmo que certos indivduos
no sejam bem instrudos nela) aqueles que Deus no excluiu do benefcio de nossa
Fraternidade, a qual ser dividida e compartilhada em certos graus, esses no
precisam ser privados do conhecimento que nela se encontra; assim como no o so
os que residem na cidade de Damcar na Arbia, que tm uma ordem poltica muito
diferente da dos outros rabes. Pois l s governam homens sbios e inteligentes
que, com a permisso do Rei, fazem leis particulares; um exemplo de governo que
tambm ser institudo na Europa (governo de que temos uma descrio feita por
nosso Pai Christian), quando ser primeiro feito e executado aquilo que deve
preceder esse acontecimento. (AMORC, 1998, p. 124 e 126).
Neste maior pargrafo deste Manifesto fica claro que, embora este tenha sido
dedicado aos eruditos da Europa, todos os que fossem considerados dignos, independente de
categoria social, poderiam ser admitidos aos segredos fraternidade. Contudo, somente aps
serem avaliados segundo os critrios desta. Em seguida consta uma alegoria que caracteriza a
tpica invisibilidade dos rosacruzes. Por fim, o modelo de governo a ser institudo na Europa,
deve ser inspirado no de Damcar, na Arbia Feliz, no sul da Pennsula Arbica.
Havia nesta poca uma profecia que afirmava que um Leo viria do Setentrio e se
oporia guia antes de instaurar uma era de felicidade. Quanto poltica da poca, o Leo
tambm era o smbolo de Frederico, o Eleitor Palatino do Reno dirigente da Unio dos
Prncipes Protestantes alemes, que se casou em 1613 com Elisabete, filha de Jaime I da
Inglaterra, e a guia tambm era o smbolo dos catlicos habsburgos opositores na disputa
pelo poder na regio. O Confessio Fraternitatis se refere a este animal no seguinte trecho:
ainda existem certas Penas de guias em nosso caminho, as quais estorvam nosso projeto
(AMORC, 1998, p. 132).
Assim como confessamos agora de bom grado que certos homens importantes sero
por seus escritos a causa de um grande passo frente na revoluo que vir, tambm
no desejamos que essa honra nos seja atribuda, como se uma trabalho desse porte
nos tivesse sido exclusivamente ordenado e imposto [...] o Senhor Deus j enviou
certos mensageiros que deviam testemunhar sua Vontade, a saber, certas estrelas que
aparecem e que vemos no firmamento na Serpente e no Cisne, que do sinais e se
fazem conhecer de todos, na medida em que so poderosos sinais precursores de
grandes e importantes coisas. (AMORC, 1998, p. 131).
Esta a razo pela qual advertimos todos a lerem diligente e continuamente a Bblia
sagrada; pois quem encontrar nisso um grande prazer saber que ter preparado para
si um excelente caminho para entrar em nossa Fraternidade: pois, assim como a
soma total e o contedo de nossa Regra que cada letra ou caractere que est no
Mundo deve ser cuidadosamente examinado e estudado, assim tambm so
comparveis a ns e esto muito prximos aqueles que fazem da Bblia sagrada sua
regra de vida e o objetivo e a finalidade de todo o estudo; sim para fazer dela um
resumo para o mundo inteiro e para sua satisfao e no s para t-la continuamente
na boca, mas para saber como aplic-la e dirigir sua compreenso a todas as idades e
pocas do Mundo. Assim, no que nos tange, no nosso costume prostituir e
banalizar as Santas Escrituras; pois elas tm incontveis comentaristas; alguns
citando-as e combatendo-as para servir s suas opinies, outros para delas fazerem
um escndalo, e a maioria por perversidade, fazem-na parecer um nariz de cera que
da mesma maneira deveria servir aos telogos, filsofos, mdicos e matemticos,
coisas contra todas as quais testemunhamos abertamente; e reconhecemos que,
desde o comeo do mundo, no foi dado ao homem livro mais digno, mais
excelente, mais admirvel e salutar que a Bblia sagrada; bendito aquele que a
possui e mais bendito ainda aquele que a l diligentemente, mas mais bendito que
todos aquele que verdadeiramente a compreende, pois ele mais semelhante a Deus
e Dele est bem mais prximo. (AMORC, 1998, p. 132).
Mas seja o que for que tenha sido dito no Fama sobre os impostores a propsito da
transmutao dos metais [alquimia], e sobre a mais alta medicina que existe no
mundo, deve ser compreendido que esse to grande dom de Deus de modo algum
por ns considerado um nada, nem o desdenhamos. Mas porque ela sempre traz
consigo o conhecimento da Natureza, e porque ela no gera s a Medicina, e
tambm porque ela torna manifestos e abertos para ns incontveis segredos e
maravilhas, necessrio, conseqentemente, que tenhamos seriamente o desejo de
alcanar a compreenso e o conhecimento da Filosofia. Ademais, inteligncias
excelentes no devem ser iniciadas tintura dos Metais antes de estarem bem
exercitadas no conhecimento da Natureza. (AMORC, 1998, p. 133 e 134).
Vs que sois sbios, abstende-vos desses livros e voltai-vos para ns, que no
queremos vosso dinheiro e que vos oferecemos com a maior boa vontade nossos
grandes Tesouros: no cercamos vossos bens de tinturas inventadas e mentirosas,
mas desejamos compartilhar nossos bens convosco: falamo-vos por Parbolas, mas
teramos grande prazer em vos conduzir revelao, compreenso, proclamao
e ao conhecimento correto, simples fluente e sincero de todos os Segredos.
Desejamos no ser recebidos por vs, mas vos convidar para nossos mais que rgios
palcios e moradas, e isso, na verdade, no por nosso prprio impluso, mas (a fim de
que vs possais mesmo sab-lo) como que forados a faz-lo por instigao do
Esprito de Deus, por sua admonio [advertncia] e por ocasio da poca presente.
(AMORC, 1998, p. 136 e 137).
A capa original deste terceiro Manifesto Rosacruz apresenta logo abaixo de seu
ttulo o ano de 1459, como referncia ao casamento mencionado. Tambm traz a seguinte
advertncia:
Tornados pblicos, os segredos perdem seu valor; e, profanados, fazem com que se
perca a graa. Portanto: no atireis prolas aos porcos, nem prepareis para um asno
um leito de rosas (AMORC, 1998, p. 160).
Uma vez que este documento histrico cerca de cinco vezes maior que os
anteriores, farei um resumo de cada um dos sete dias e logo em seguida a cada resumo
comentarei:
Aps analisar o seu merecimento e solicitar a Deus uma resposta de alvio, ele
sonhou que era um prisioneiro no fundo de uma torre escura junto com uma multido de
prisioneiros. Finalmente ouviram o soar de clarins e o rufar de tambores, quando a cobertura
da torre foi levantada e um ancio lhes comunicou que uma corda seria descida sete vezes no
fosso e quem conseguisse subir seria libertado. Quando a corda desceu pela sexta vez, ele
conseguiu subir. Aps a stima e ltima subida da corda, a anci, me do ancio citado acima,
consolou os prisioneiros que no haviam conseguido se libertar lhes dizendo que no
invejassem a felicidade dos outros, pois prximos estariam os jubilosos tempos em que todos
seriam iguais. Em seguida, a tampa foi descida e trancada ao som dos clarins e dos tambores.
Depois a cada um dos libertos foi dada uma moeda de ouro comemorativa e vitica, cuja de
um lado estava gravada a imagem de um sol nascente e do outro as letras DLS, significando
Deus Luz Solar. Foram ento dispensados e incitados a servir aos semelhantes sem revelar
coisa alguma que lhes fora confiado. (AMORC, 1998, p. 165 a 170).
Quando ele acordou compreendeu que Deus lhe tinha concedido a graa de
participar do casamento secreto e oculto. Ento, rogando sabedoria e compreenso ele iniciou
os preparativos para a viagem, colocando sua veste de linho branco, cingida com uma faixa
vermelho sangue disposta por cima dos ombros em forma de cruz e colocando quatro rosas
vermelhas no chapu, como sinal de identificao e sua proviso, composta de po, sal e
gua. Antes partir ele fez votos de utilizar as revelaes concedidas no em sua prpria honra,
mas para difundir o nome de Deus e servir aos semelhantes. (AMORC, 1998, p. 170 a 171).
A cruz ansata, que uma cruz cuja parte superior do brao vertical formada por
um lao, o smbolo da imortalidade da vida, mais precisamente, da alma. tambm
interpretada como um signo que exprime a conciliao dos contrrios ou a integrao dos
princpios ativo e passivo. Tambm pode ser interpretada como a chave que fecha os arcanos
para os profanos. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008).
Em suas vestes, o uso da faixa em forma de cruz pode ser comparado ao uso do
avental representando o trabalho e o corpo fsico. A rosa o smbolo do amor e da alma.
Ambos evocam o nmero quatro, que simboliza a estabilidade, pois a faixa tem a forma de
uma cruz, que tem quatro braos e as rosas so dispostas em nmero de quatro no chapu.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008).
O nmero sete o smbolo do ciclo ideal e da totalidade. A cor azul, que predomina
neste primeiro dia a mais profunda, mais imaterial e mais fria das cores. Ela representa a
calma, a tranqilidade e a passividade. O sonho de Christian Rosenkreutz pode ser
classificado como proftico ou didtico, pois um aviso mais ou menos disfarado sobre um
acontecimento crtico futuro e sua origem atribuda a Deus. (CHEVALIER;
GHEERBRANT, 2008).
Aps refletir longamente, ele sentiu fome e sede e cortou uma fatia de po, quando
se aproximou dele uma pomba branca. Ele lhe ofereceu po e ela aceitou, mas um corvo
negro voou sobre a mesma, e esta voou, fugindo para o Sul. Christian Rosenkreutz correu em
perseguio ao corvo e acabou adentrando no segundo caminho. Quando tentou voltar para
pegar seu po, um forte vento lhe impediu ao ponto de lhe derrubar. Ento ele seguiu na
direo sul, evitando os atalhos graas sua bssola, e alcanou no fim do dia um admirvel
Portal Rgio entalhado com inmeras figuras e objetos maravilhosos e na parte superior
estava afixada uma placa enorme com a advertncia: Fora daqui, afastai-vos, profanos.
Neste portal, um homem vestindo um hbito azul celeste o recebeu solicitando sua carta-
convite, perguntando seu nome e se ele havia trazido dinheiro suficiente para comprar uma
insgnia. Christian Rosenkreutz lhe respondeu: sou o irmo da Rosa-Cruz Vermelha e minha
fortuna modesta, mas examinai o que tenho comigo e tomai o que vos aprouver. Este
primeiro guardio lhe pediu a cabaa com gua e lhe deu uma insgnia de ouro e uma carta
lacrada destinada ao segundo guardio. (AMORC, 1998, p. 175 a 177)
O segundo portal era quase idntico ao primeiro, s diferindo nas esculturas e nos
smbolos secretos que o ornamentavam. Na parte superior estava escrito: Dai e recebereis. Um
feroz leo estava acorrentado sob este portal, que ao rugir acordou o segundo guardio que
pegou a carta lacrada e a leu, lhe desejando, a exemplo do primeiro, boas vindas, e lhe
apresentou uma insgnia perguntando se poderia pagar por ela. Christian Rosenkreutz, como
nada mais possua lhe ofereceu o sal que foi aceito com gratido. (AMORC, 1998, p. 178).
Ento um sino soou no interior do castelo e Christian Rosenkreutz teve que correr a
fim de adentrar no castelo. Ele conseguiu cruzar o terceiro e ltimo portal ao mesmo tempo
em que uma bela vestal vestida de azul que estava apagando as seis luzes atrs dela. Assim
que cruzaram, a porta foi fechada to bruscamente que parte da veste dele ficou presa e teve
de ser deixada para trs, pois o guardio deste portal havia entregado as chaves vestal, que
as levara para o ptio interno. Duas esttuas estavam sobre duas colunas nas laterais deste
esplndido portal, uma de aparncia feliz com a inscrio congratulaes e outra com
aparncia triste com a inscrio condolncias. Ao informar novamente seu nome, Christian
Rosenkreutz recebeu outra insgnia. (AMORC, 1998, p. 179 e 180).
Em seguida, recebeu sapatos novos, foi barbeado e tonsurado por dois pajens e
levado para um grande salo com uma multido de convidados de todas as camadas sociais,
dentre os quais alguns o conheciam como o irmo Rosa-Cruz e a maioria lhe disse que havia
escolhido o caminho das rochas. Foi servido a todos um grande banquete acompanhado por
uma boa msica, embora nenhum deles estivesse vendo servial algum. Quando os convivas
tinham se alimentado e o vinho havia eliminado seu comedimento, a maioria comeou a
contar bravatas e gabolices, enquanto Christian Rosenkreutz e alguns permaneciam em
tranqila dignidade. (AMORC, 1998, p. 180 e 185).
Christian Rosenkreutz e mais oito com os quais ele conversava decidiram dormir no
salo e ele sonhou que estava em um vale e via vrias pessoas, cada qual presa ao cu por um
fio amarrado sua cabea. Ento, um velho esvoaava pelos ares com uma tesoura que
cortava os fios de um ou de outro. Os que estavam prximos do cho caam sem rudo, mas os
que tinham uma posio elevada caam de to alto que fazia a terra estremecer. Aquelas
quedas lhe divertiam e ele se alegrou com o espetculo de um deles, que tinha se gabado por
muito tempo de sua elevada posio, antes de despencar de modo to lamentvel que arrastou
em sua queda alguns de seus vizinhos. Mas no auge de sua alegria, ele acordou quando um de
seus companheiros bateu involuntariamente nele e ento passou o restante da noite a
conversar e esperar o amanhecer. (AMORC, 1998, p. 188 e 190).
O terceiro dia se inicia com o julgamento, quando todos estavam reunidos, os clarins
e os tambores ressoaram como na vspera e a vestal reapareceu, toda vestida de veludo
carmesim, cingido com um cinto branco, uma coroa verde de louros e um squito de uns
duzentos guerreiros armados, tambm vestidos de vermelho e branco. Ela reconheceu
Christian Rosenkreutz pelas roupas, lhe proferiu palavras de consolo e reuniu ele e os oito
num local onde pudessem facilmente ver a balana, toda de ouro, que foi trazida para o centro
do salo, e ao lado dela foi colocada uma pequena mesa coberta de veludo vermelho, com sete
pesos em cima. A vestal dividiu os guerreiros em sete fileiras e escolheu de cada fileira um
guerreiro para pesar um dos pesos. (AMORC, 1998, p. 190 e 191). Em seguida proferiu o
seguinte discurso:
Aquele que sem conhecer pintura, entra no ateli de um pintor, e fala de pintura com
nfase, objeto de muito riso. Aquele que sem ter sido eleito, entra na Ordem dos
Artistas, e se faz passar por um deles, objeto de muito riso. Aquele que se
apresenta num casamento, sem ter sido convidado, e que chega com grande pompa,
objeto de numerosas zombarias. Se ele nesta balana subir, os pesos no o
pouparo, quando ele for erguido com estrpito no ar, ser objeto de numerosas
zombarias. (AMORC, 1998, p. 192 e 193).
Quando a vestal terminou seu discurso, um pajem agrupou as pessoas segundo sua
categoria, antes de faz-las subir uma de cada vez no prato da balana. Primeiro subiram os
imperadores, depois os nobres e sbios, e por fim os falsos clrigos e os falsos alquimistas.
Ao fim, o nmero dos que escaparam foi muito pequeno, mas estes receberam uma veste de
veludo vermelho e um ramo de louros da vestal. Finalmente chegou dos nove restantes que,
por sua retido ou conscincia de seu desmerecimento, preferiram dormir no salo. Christian
Rosenkreutz foi o oitavo e depois de resistir a todos os pesos e ainda a trs guerreiros que
subiram no outro prato da balana, recebeu o favor de libertar qual quer um dos ento
prisioneiros, que no conseguiram contrabalanar os pesos. Ele escolheu libertar o primeiro
imperador que s no resistiu ao ltimo peso. Durante a pesagem, a vestal notou a rosa que
Christian Rosenkreutz havia tirado do chapu e segurava na mo. Ela lhe pediu, por
intermdio de seu pajem e ele a deu com alegria. (AMORC, 1998, p. 193 a 196).
s dez horas da manh, mais uma vez ao som da banda, as fileiras de guerreiros
saram da sala com seus prisioneiros. Logo em seguida teve incio um debate para decidir o
comportamento a ser adotado aos indignos por um conselho do qual fazia parte os que foram
bem sucedidos na pesagem, o prisioneiro liberto e sete capites, presidido pela senhora vestal.
A primeira opinio omitida foi puni-los com a morte, outros queriam mant-los presos, o
imperador libertado, um prncipe, o companheiro de Christian Rosenkreutz e ele resolveram o
debate propondo que as pessoas de alta posio deveriam ser levadas para fora do castelo
discretamente; os das categorias seguintes seriam expulsos nus; os da quarta categoria seriam
aoitados com varas e uma matilha de ces seria posta a persegui-los; os que haviam dormido
no salo poderiam deixar o lugar sem punio e; os que se comportaram indecentemente na
refeio da noite seriam punidos no corpo e na alma, segundo a gravidade de suas faltas. Este
parecer foi aprovado pela Presidente que decidiu que a execuo das sentenas seria
comunicada ao meio-dia. (AMORC, 1998, p. 196).
A todos ainda foi concedida uma refeio. Christian Rosenkreutz e seus dignos
companheiros receberam, da parte do Noivo, um toso de ouro com um leo alado sobre ele, e
ocuparam uma mesa superior coberta de veludo vermelho e com todas as taas de ouro e prata
durante o banquete onde podiam ver os que lhes serviam, ao contrrio dos prisioneiros. Aps
o costumeiro soar da banda, a Presidente chegou, adornada tambm com o toso de ouro com
o leo, e recebeu de um pajem uma taa de ouro, destinada pelo Rei aos bem sucedidos, e cuja
tampa representava a deusa Fortuna, e do outro pajem uma carta oficial em pergaminho. Os
prisioneiros foram divididos em dois grupos. Ao primeiro grupo foi dirigida a acusao de dar
crdito a livros falsos e imaginrios, acreditar demais em si prprio e no ter sido convidado
para a festa, por isso mereciam ser castigados. Ao segundo grupo foi dirigida a seguinte
acusao (AMORC, 1998, p. 197 a 199):
Em vosso foro ntimo, em vossa conscincia, como bem o sabeis, havia a convico
de que reis os autores de livros falsos e imaginrios que vos serviram para enganar
e iludir vosso prximo, para desviar de muitos a dignidade real. Sabeis, portanto, de
que figuras mpias e enganadoras fazeis uso. Como no poupastes sequer a
Santssima Trindade e vos servistes dela para lograr as coisas e as pessoas, vemos
agora as prticas que vos permitiram enganar os verdadeiros convivas e abusar dos
ingnuos. Cada um de vs sabia que vivia no deboche, no adultrio, na indisciplina,
em toda sorte de desonras e comportamentos contrrios aos costumes de nosso
Reino. Sabeis, em suma, que rebaixveis Sua Majestade at diante do homem
comum. Confessai, portanto, publicamente desmascarados, que sois culpados de alta
traio, vs, mentirosos e celerados, que mereceis ser separados das pessoas
honestas e severamente punidos. (AMORC, 1998, p. 199).
Os bem sucedidos na pesagem, o prisioneiro liberto e a Presidente assistiram do
segundo nvel de um anfiteatro de madeira construdo no jardim, em cujo primeiro nvel
estavam o Rei e a Rainha, embora no pudessem ser vistos por estarem encobertos por uma
cortina de tafet branco. A cerimnia de julgamento foi aberta pela mesma vestal que havia
entregado a carta-convite a Christian Rosenkreutz no primeiro dia, e as sentenas foram
executadas pelos guerreiros. Ao fim do espetculo, s quatro horas, Christian Rosenkreutz e
os eleitos contemplaram um unicrnio branco com uma faixa dourada, um leo com uma
espada entre suas garras e uma pomba com um pequeno ramo de oliveira no bico. Em
seguida, receberam a permisso de visitar todo o castelo, cada qual na companhia de um
nobre pajem. Ele e seu pajem visitaram inicialmente os tmulos dos reis e a biblioteca.
Posteriormente, eles se reagruparam e visitaram o castelo, com destaque para um grande salo
com um globo no centro. Todas as salas estavam dispostas em semicrculo de modo a darem
para o tear que havia no centro. (AMORC, 1998, p. 205 a 209).
Contudo os convivas responderam com novos enigmas at que dois jovens portando
archotes precederam uma procisso com sete vestais, sendo a ltima uma Rainha. Em seguida
cada qual pegou um dos pesos e suspendeu e colocou cada um em uma sala diferente. Aps o
fim da cerimnia da suspenso dos pesos, a vestal que acompanhou os eleitos ainda
conversou com eles at as duas horas da madrugada. Ento, cada qual ficou em um aposento
regiamente mobiliado na companhia de seu pajem. Christian Rosenkreutz aps conversar
ainda mais algum tempo com o seu, dormiu e sonhou que passava a noite a sacudir uma porta
at que finalmente conseguiu abrir. (AMORC, 1998, p. 215 a 217).
A estatueta do velo de ouro com o leo alado sobre ele o smbolo da Ordem da
qual faz parte o Rei. O velo de ouro simboliza a pureza espiritual e a conquista da verdade. O
leo, rei dos animais, o smbolo do poder, da sabedoria e da justia. As suas asas, smbolo
do alar vo, lhe atribuem o carter da conquista da espiritualidade, j que em toda a tradio,
as asas jamais so recebidas, mas sempre conquistadas mediante uma educao inicitica e
purificadora, por vezes longa e arriscada. A taa com a implacvel deusa romana do destino
fundida na tampa parabenizava aos bens sucedidos pelo feliz destino de que desfrutavam aps
o auto-julgamento, graas aplicao individual do livre-arbtrio. (CHEVALIER;
GHEERBRANT, 2008).
Eis o simbolismo dos animais citados ao longo deste terceiro dia: O leo, rei dos
animais, o smbolo do poder, da sabedoria e da justia. O unicrnio um smbolo de poder,
luxo e riqueza e tambm evoca a pureza e a penetrao do divino na criatura. A pomba um
smbolo de pureza e simplicidade e tambm representa a alma. A fnix o smbolo da
ressurreio, da imortalidade e do reaparecimento cclico. A guia, rainha das aves, simboliza
os estados espirituais superiores, sendo a mensageira destes. tambm o smbolo primitivo e
coletivo do pai e representa o poder e a sabedoria. O grifo a mistura do leo com a guia que
liga o poder terrestre do leo com o poder celeste da guia. O falco, prncipe das aves,
simboliza o princpio celeste e indica superioridade ou vitria. (CHEVALIER;
GHEERBRANT, 2008).
O quarto dia tem incio com uma visita fonte de Hermes, na qual todos se lavaram
e beberam. Christian Rosenkreutz e seus dignos companheiros receberam novas vestes, todas
bordadas de ouro e ornadas com esplndidas flores e, aps terem se banhado nessa fonte e
terem bebido de sua gua, receberam outro toso de ouro, guarnecido de pedras preciosas e
uma pesada medalha de ouro, representando o Sol e a Lua. (AMORC, 1998, p. 219 a 221).
Em seguida, precedidos pela Presidente e pelos msicos, eles subiram 365 degraus e
finalmente chegaram ao alto, num salo onde os aguardavam sessenta vestais. Ento, os
msicos foram dispensados, uma sineta retiniu e outra vestal presenteou a cada um com uma
coroa de louros e Presidente com um ramo. Uma cortina foi erguida e o Rei e a Rainha
estavam majestosamente sentados em seus tronos. A Presidente solicitou ao Casal Real que
cada eleito se apresentasse por si prprio e ento, cada eleito, acompanhado por uma vestal foi
dispensado e se dirigiram para a porta de sada deste salo, onde se encontravam trs
admirveis tronos reais, dispostos em semicrculo, estando o do meio acima dos outros. No
primeiro estavam um rei velho de barbas grisalhas e sua esposa de admirvel beleza e
juventude. No terceiro estavam um rei negro, no auge de seu vigor, e sua esposa, pequena
anci de traos finos. No trono do meio estava um casal de adolescentes com coroas de louros
e acima deles estava suspensa uma esplndida coroa. Atrs, num banco circular, estavam
sentados vrios ancios e um pequeno cupido voava fazendo peraltices. (AMORC, 1998, p.
221 a 223).
Diante dos reis havia um pequeno altar de incomparvel beleza. Nele havia um livro
encapado com veludo negro, apenas um pouco dourado nas bordas das pginas; um pequeno
crio sobre um castial de marfim que, apesar de sua exgua dimenso, ardia sem cessar; um
globo girando graciosamente sobre si mesmo; um pequeno carrilho, tendo em cima uma
minscula fonte de cristal de onde corria continuamente um fio de gua lmpida cor de sangue
e; uma caveira com uma serpente branca, to comprida que nunca saa de sua morada.
(AMORC, 1998, p. 223 e 224).
A pea teatral era composta de sete atos. No primeiro, um velho rei recebe uma arca
contendo uma criana, que era a nica descendente de uma famlia real que escapou da
conquista do rei dos mouros. No segundo, o mouro recaptura a menina e a manda estrangular,
porm enganado por seus prprios servos. No terceiro, o reino mourisco invadido e a
jovem libertada e eleita para ser esposa do jovem filho do rei. No quarto, o reino restitudo
jovem. O mouro trama, fazendo-a desconfiar at mesmo de seu noivo, at que consegue
obter dela a submisso de seus domnios e a condena morte por envenenamento, porm o
veneno no a mata, mas cobre seu corpo de lepra. No quinto, o velho rei envia embaixadores
encarregados de consol-la e repreend-la na masmorra, mas ela se recusa a receb-los e
consente em se tornar concubina do mouro. No sexto, o jovem filho do rei desafia o mouro
em combate e vence. Ele liberta sua noiva e a confia aos cuidados de seu intendente e de seu
capelo. O primeiro a faz sofrer terrveis suplcios e o segundo arrogante e quer dominar o
mundo inteiro. No stimo ocorre o casamento e o povo clama: viva o noivo, viva a noiva!
(AMORC, 1998, p. 228 a 233).
Todos deixaram o teatro e seguiram para o salo, onde foi servido o jantar, que se
passou na maior calma. Quase no fim da ceia, o jovem Rei ordenou que lhe trouxessem o
livro que estava no altar, o abriu e por intermdio de um ancio, submeteu Christian
Rosenkreutz e seus companheiros ao interrogatrio que perguntava se eles permaneceriam
com ele para o melhor e para o pior. Aps todos responderem afirmativamente, foi
perguntado se eles aceitariam se comprometer por escrito. Ento, um de cada vez assinou no
livro. Terminada a cerimnia, foi trazida a fonte cristalina e uma pequena taa de cristal da
qual beberam todas as personalidades reais, os eleitos e as demais pessoas. Este ato foi
chamado de prova do silncio. (AMORC, 1998, p. 234 a 235).
De repente uma sineta retiniu e todos trocaram suas vestes brancas por outras negras
e todo o salo foi forrado de veludo negro. As mesas foram guardadas e a Presidente voltou
com seis lenos de tafet preto, com os quais vendou os olhos das seis personalidades reais.
Ento os serviais trouxeram rapidamente seis caixes e entre eles foi colocado um cepo preto
e baixo. Finalmente entrou um homem negro alto trazendo na mo um machado afiado. O
velho rei foi o primeiro a ser conduzido ao cepo, sendo rapidamente decapitado, a cabea
enrolada num pano e o sangue recolhido numa grande taa de ouro, colocada junto ao cadver
num caixo, que aps lacrado, foi posto de lado. O mesmo aconteceu aos outros cinco e o
homem negro se retirou, seguido por um comparsa que por sua vez o decapitou quando
chegaram ao umbral e depositou sua cabea e o machado numa pequena caixa. A Presidente,
ao notar que Christian Rosenkreutz e seus companheiros choravam desolados, lhes disse que a
existncia daqueles estava agora em suas mos e que lhe seguissem, a morte ia se tornar uma
grande fonte de vida. Ento lhes pediu para que fossem dormir.(AMORC, 1998, p.235 a 237).
O quarto de Christian Rosenkreutz era o nico que dava para um grande lago e aps
soar as doze badaladas da meia-noite ele viu um grande fogo sobre o lago e sete navios que se
aproximavam. Sob o comando da Presidente, os seis caixes e a caixa foram colocados nos
sete navios que os levaram. Todos os fogos se apagaram e as seis chamas reunidas voaram
para o alto-mar, enquanto a Presidente voltava ao castelo, escoltada por um cem guardies e
trancava o castelo. (AMORC, 1998, p. 237 a 238).
A pea teatral est dividida em sete atos, assim como a narrativa do Casamento
Alqumico est dividida em sete dias, e refora o carter teatral deste terceiro Manifesto. Em
seguida ocorre a decapitao das seis personalidades reais que corresponde morte do velho
que deve preceder ao nascimento do novo. A cor preta se ope cor branca e simboliza as
trevas primordiais, a noite e o luto. A janela simboliza a receptividade. O lago simboliza o
olho da Terra por onde os habitantes do mundo subterrneo podem ver os homens, os animais
e as plantas. O navio ou a barca o smbolo da viagem, de uma travessia realizada seja pelos
vivos, seja pelos mortos. Neste caso, durante a noite que ocorre a travessia dos mortos.
Desta vez Christian Rosenkreutz no sonha, mas v o que acontece enquanto os outros
dormem. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008).
No incio do quinto dia, Christian Rosenkreutz, conduzido por seu pajem, fez uma
visita ao subterrneo do castelo, onde apenas os servidores do Rei entravam, e descobriu um
mausolu triangular com uma bacia de cobre polido no centro, que abrigava um anjo que
tinha em seus braos uma rvore desconhecida, da qual pingavam gotas que caam na bacia, e
quando um dos frutos se desprendia imediatamente se dissolvia na gua e escorria para trs
vasos de ouro prximos dali. Este altar era sustentado por trs animais: uma guia, um touro e
um leo. Ao levantar um alapo de cobre no cho, eles desceram e vislumbraram um leito,
fechado por admirveis cortinas no qual estava Vnus e atrs da cama tinha uma tbua em que
estava escrito em caracteres desconhecidos: quando os frutos de minha rvore derreterem
completamente, despertarei e serei mo de um rei. Ao retornar, o Cupido lhes surpreendeu, e
perguntou inquieto o que faziam naquele local, contudo Christian Rosenkreutz no lhe contou
que havia descido, e ao retornar, percebeu que ele ao segui-los de volta, colocava um cadeado
em todas as portas atrs de si. (AMORC, 1998, p. 239 a 243).
Depois, que todos se reuniram no salo, seguiram a Presidente, que estava trajando
um hbito de veludo negro, para um ptio onde estavam os seis caixes, e dali em cortejo
fnebre para o jardim, onde um mausolu de madeira, cujo teto tinha a aba guarnecida com
uma esplndida coroa, sustentado por sete colunas, e no interior havia seis covas abertas, nas
quais foram colocados e lacrados os caixes. Seus companheiros presumiram, ento, que os
corpos estivessem dentro, j que no tinham como presenciar a cena que Christian
Rosenkreutz viu na madrugada anterior. A Presidente fez um discurso incitando que os
convidados eleitos no deveriam poupar esforos e deveriam seguir com ela at a torre do
Olimpo, a fim de obter o remdio adequado e indispensvel para a ressurreio dessas
personalidades reais. (AMORC, 1998, p. 243 a 244).
A torre simboliza a unio dos trs mundos, a saber, cu, terra e mundo subterrneo.
O laboratrio o smbolo do local de trabalho tanto para o alquimista quanto para o cientista.
Desta vez Christian Rosenkreutz tambm no sonha, mas contempla os astros e os interpreta
afirmando que estes se encontram em uma conjuno que demorar a se repetir.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008).
O sexto dia comea com os eleitos debatendo sobre as personalidades reais. Uns
achavam que eles reviveriam juntos, outros que fosse permitido aos mais jovens se
multiplicar, e outros pensavam que outros haviam sido decapitados no lugar delas. Depois, o
velho conferiu os preparativos e experimentos do dia anterior e sorteou entre os dignos
convidados escadas, cordas e asas e saiu da sala, com a caixa que continha os frascos,
aferrolhando a porta. Aps um quarto de hora, a Presidente, que estava no andar superior,
abriu um alapo circular no teto e convidou cada um dos seis a subir cada qual com o seu
acessrio. (AMORC, 1998, p. 251 a 252).
Nessa sala, que ocupava toda a extenso da torre, os convidados foram distribudos
ao longo de seis oratrios e oraram pelo Rei e pela Rainha. Em seguida, vieram msicos e
vestais que levaram um estranho objeto, parecido com uma fonte com uma pequena caldeira
sobre ela, para o centro da sala. Christian Rosenkreutz percebeu que os seis corpos reais
estavam no interior desse objeto. A Presidente aspergiu nessa caldeira a gua preparada na
vspera e a fonte comeou a funcionar gerando um fluido vermelho que ao trmino do
processo, que durou aproximadamente duas horas, foi colocado em um globo de ouro e
retirado da sala. Depois, um alapo foi aberto no teto e eles subiram com seus tradicionais
acessrios. (AMORC, 1998, p. 252 a 255).
Essa sala era completamente envidraada e toda a superfcie estava coberta por um
grande espelho polido. No centro, o globo estava suspenso por uma forte corrente. Quando as
portas e janelas foram abertas, a radiao solar convergiu para o globo, at que esse
esquentasse por um tempo desejado. As portas e janelas foram, ento fechadas e o caf da
manh foi servido por volta das sete horas. Aps, Christian Rosenkreutz e seus companheiros
receberam ordem para baixar o globo e dividi-lo em duas metades iguais, utilizando uma
ponta de diamante. No interior do mesmo, ao invs do fluido vermelho, havia um grande e
belo ovo, branco como a neve, o que representou o sucesso da operao. Este foi retirado da
sala, em seguida, por ordem da Presidente. (AMORC, 1998, p. 255 a 256).
Aps mais um quarto de hora de descanso, eles subiram da maneira habitual para o
quarto nvel da torre. Nessa sala havia um grande caldeiro quadrado vermelho, com um dos
lados trazendo dois versos referentes a prticas alqumicas, cheio de areia amarela aquecido
por um fogo brando, e dentro estava o ovo. Aps algum tempo, uma ave, que ele abrigava,
quebrou a casca. Christian Rosenkreutz e seus companheiros passaram a aliment-la com o
fluido vermelho diludo preparado anteriormente e ela cresceu e emplumou muito
rapidamente. A primeira plumagem foi negra, a segunda foi branca e a ltima foi colorida.
Em seguida, o almoo foi servido e depois subiram com seus instrumentos para o nvel
superior. (AMORC, 1998, p. 256 a 259).
L a ave estava imersa em um banho com gua tingida com um p branco. Quando a
gua do banho comeou a esquentar, devido ao calor das lmpadas, a ave perdeu todas as suas
penas, que tingiram a gua de azul, e em seguida foi retirada desse caldeiro. Sob ele, um
grande fogo foi aceso a fim de que toda a gua evaporasse por ebulio. A matria azul
restante foi triturada e aplicada sobre a pele da ave. (AMORC, 1998, p. 259 a 260).
Aps subirem ao sexto nvel da torre, viram um altar semelhante ao do salo real,
com os mesmos seis itens e um stimo, que era a ave. Esta bebeu um longo gole da fonte de
cristal e em seguida bicou a serpente branca que sangrou fortemente. O sangue foi recolhido
em uma taa de ouro e dado para a ave beber. A serpente teve sua cabea mergulhada na
fonte, se recuperando do ferimento e retornando para o interior da caveira. O globo
continuava a girar e aps marcar trs conjunes, indicadas pelo relgio, respectivamente, a
uma, duas e trs horas, o pssaro colocou voluntariamente a cabea sobre o livro e deixou ser
decapitado por um dos companheiros de Christian Rosenkreutz, que havia sido escolhido por
sorteio. Entretanto, neste momento no fluiu uma gota de sangue. Somente depois, quando
que lhe abriram o peito, o sangue fresco e claro jorrou como uma fonte de rubis. O altar foi
ento desocupado e a ave foi queimada com o fogo aceso pelo crio. Por fim, as cinzas foram
limpas e guardadas em uma caixinha de cipreste. (AMORC, 1998, p. 260; RIJCKENBORGH,
1996, p. LXVIII e LXIX).
As cinzas so o que resta aps a extino do fogo, ou seja, o resduo do corpo depois
que se extinguiu o fogo da vida. Contudo, tudo o que est associado morte liga-se, como ela,
ao simbolismo do eterno retorno. Estas cinzas misturadas gua e depois colocadas no fogo,
ambos elementos de purificao e regenerao, formam o casal de estatuetas. A chama em
todas as tradies a imagem da alma e da transcendncia. (CHEVALIER; GHEERBRANT,
2008).
A realizao da operao ocorre trs vezes para cada estatueta para reforar o carter
trino do ser humano formado pelo corpo fsico, pelo corpo anmico e pelo corpo psquico,
intermedirio entre os dois primeiros. por esta razo que o Rei e a Rainha so descritos
anteriormente como sendo trs casais reais.
Ento eles embarcaram e retornaram. Desta vez, a frota era composta de doze
navios, cada qual com um signo do zodaco. Ao atingir o lago nas proximidades do castelo
real, uma frota de cerca de quinhentos navios os recebeu disparando baterias e ao som de
trompas, clarins e tambores. Em um deles estavam o Rei e a Rainha, cercados por uma corte
de nobres senhores, senhoras e donzelas. Atlas se apresentou em nome do Rei e dirigiu um
discurso de boas vindas. Quando todos desembarcaram, foram repartidos entre os nobres e
cavalgaram rumo ao castelo. Christian Rosenkreutz teve ainda a honra de cavalgar ao lado do
Rei, estando o velho guardio do outro lado, cada qual levando um estandarte branco marcado
com uma cruz vermelha. Ao atingirem o primeiro portal, o guardio deste entregou uma
splica a Christian Rosenkreutz, a fim de que entregasse ao Rei. Ao conversarem sobre este
guardio, o Rei disse que era um clebre e eminente astrlogo, mas por ter contemplado a
Senhora Vnus em seu leito, como punio tinha recebido a funo de guardio do primeiro
portal at que algum cometesse a mesma falta para ocupar o seu lugar e libert-lo de seu
jugo. Consciente de sua culpa, Christian Rosenkreutz lhe entregou a splica sem dizer uma
palavra. (AMORC, 1998, p. 269 a 272).
Aps o banquete, que ocorreu em uma salo que ainda no havia sido visto, as
mesas foram rapidamente arrumadas e algumas poltronas foram trazidas e dispostas em
crculo, nas quais os convidados sentaram junto ao Rei, Rainha, ao velho guardio da torre,
Presidente e s vestais. Um pajem abriu o admirvel livro j descrito anteriormente e Atlas
ficou no centro do crculo e comeou a leitura do que se segue: (AMORC, 1998, p. 274).
O Rei e a Rainha ficaram muito impressionados com a confisso e lhe pediram que
se retirasse por um instante. Quando voltou, Atlas lhe fez um discurso afirmando que, embora
Sua Majestade Real constatasse com sofrimento a desventura sofrida por seu hspede
predileto, era impossvel contrariar a antiga tradio e o perdo concedido seria o de liberar o
guardio e tomar o seu lugar at que algum outro convidado se tornasse culpado do mesmo
erro. Enquanto isso, nenhuma esperana de libertao poderia ser nutrida antes do casamento
de seu futuro filho. Christian Rosenkreutz tomou coragem, agradeceu a sentena e
acrescentou que se ainda lhe fosse possvel o desejo, este seria o de voltar sua ptria.
Responderam-lhe que seu pedido no poderia ser to abrangente, embora pudesse pedir sua
prpria libertao. Ento, a libertao do guardio foi decretada e Christian Rosenkreutz se
retirou da sala. Sua tristeza aumentava ao ver a alegria dos outros convidados ao sarem.
(AMORC, 1998, p. 277 a 278).
Aps pensar por algum tempo como que seria o resto de sua vida como o guardio
do portal, ele colocou o anel antes usado pelo outro guardio e foi aconselhado pelo Rei de
que deveria se conformar sua funo sem agir contra as prescries da Ordem e dele
recebeu um abrao. Quando todos tinham lhe dirigido por algum tempo palavras de consolo,
Atlas e o mestre da torre lhe conduziram para um esplndido apartamento, onde trs leitos os
esperavam. Acreditando que estaria na manh seguinte no portal, Christian Rosenkreutz
retornou sua ptria. (AMORC, 1998, p. 278 a 279).
A moeda, recebida com o Toso de Ouro, o smbolo da alma, pois a alma traz
impressa a marca de Deus, como a moeda traz a do soberano. O nmero doze simboliza o
universo no seu curso cclico espao-temporal e sempre o nmero de uma realizao ou
ciclo concludo. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008).
HISTRIA ROSACRUZ
Contudo o apoio de Jaime I, que parecia ser bvio, no veio ao auxlio de Frederico,
enfraquecendo imensamente sua posio perante os seus demais aliados. Quanto essa
surpreendente indiferena de Jaime:
Jaime apoiava a paz a todo custo; preferira realiz-la pelo casamento de seus filhos
com partes contrrias no grande conflito. [...] Jaime I da Gr-Bretanha aparece como
tendo cado rapidamente num estado de incompetncia e decrepitude senil, incapaz
de tomar decises, evitando assuntos srios, ficando merc de favoritos
inescrupulosos, desprezado e iludido pelos agentes espanhis. (YATES, 1983, p. 39
e 40).
Com isto, o ambiente que favoreceu o alvorecer do pensamento rosacruz atravs dos
Manifestos foi destrudo e ainda foi palco nos anos seguintes da Guerra dos Trinta Anos.
Vale a pena destacar que no estou suscitando a questo destes pensadores terem ou
no participado de alguma sociedade secreta rosacruz de sua poca. Apenas estou
demonstrando as influncias do Iluminismo Rosacruz no pensamento e nas obras destes
escritores.
2.2.1 Michael Maier
Em 1617, em sua obra O Silncio aps os Clamores ele afirmou que a fraternidade
rosacruz era um colgio de sbios que sempre havia existido em todos os povos e respondeu
ainda s crticas daqueles que embora tivessem manifestado publicamente seu desejo de
adentrar fraternidade e no tinham recebido resposta sua solicitao afirmando que isso
tinha ocorrido porque essas pessoas no eram consideradas dignas de ingressar nela
(REBISSE, 2004). Nessa obra, ele afirmou ainda que a sociedade rosacruciana est
interessada na investigao da natureza que est apenas meio-revelada. notria ainda a
influncia das idias de Bacon neste livro de Maier na seguinte afirmao: aquilo que
necessrio , principalmente, experincia e tentativa de investigao (YATES, 1983, p. 122).
Ainda nesta obra de Maier, ele argumenta que a Fraternidade R.C. seria comparvel
a uma Ordem de Cavalaria (YATES, 1983, p. 123).
A fbula comea com a viagem por mar que parte do Peru rumo China e ao Japo
que acaba se desviando da rota e encontrando uma ilha no mar do sul, na qual os viajantes
foram recebidos, ainda em sua embarcao, por um homem que entregou ao comandante um
pergaminho que estava timbrado com um emblema representando as asas de um querubim,
no abertas, mas encurvadas, e junto delas uma cruz. (BACON, 2005, p. 223 e 224).
Assim tambm o selo presente no final do Fama Fraternitatis com o lema sob a
sombra das tuas asas Jeov (AMORC, 1998, p. 97), que aparece com freqncia como
emblema caracterstico em outras obras da literatura rosacruz. (YATES, 1983, p. 170).
Cabe destacar que o nome dessa ilha Bensalm, cujo significado, que vem do rabe
a filha da salvao. Nos dois primeiros Manifestos Rosacruzes, a lngua rabe mencionada
como quela em que Christian Rosenkreutz aprendeu a fim de melhor aprender os seus
conhecimentos, e a cidade de Damcar, na Arbia, mencionada como um exemplo de
governo (AMORC, 1998, p. 126).
A preocupao com os viajantes que por ventura estivessem doentes foi logo
demonstrada pelos anfitries, tanto que receberam um cuidado gratuito e especial, ficando
alojados em celas separadas muito limpas, separadas com madeira de cedro e posteriormente
recebendo tratamento, recuperando rapidamente a sade. (BACON, 2005, p. 226 e 227). Isto
faz lembrar a primeira deliberao rosacruz na poca do seu renascimento, tal qual est
expressa no primeiro Manifesto: nenhum deles deveria professar outra coisa alm da cura
dos doentes, e isso gratuitamente (AMORC, 1998, p. 82).
O mais precioso dessa ilha, segundo o Governador citado acima era a ordem ou
sociedade a que ns chamamos Casa de Salomo, que consideramos a mais nobre fundao
que jamais houve sobre a terra, e o farol deste reino (BACON, 2005, p. 236). O objetivo
dessa instituio, tambm denominada casa ou colgio (BACON, 2005, p. 230) o
conhecimento das causas e dos segredos dos movimentos das coisas e a ampliao dos limites
do imprio humano para a realizao de todas as coisas que forem possveis (BACON, 2005,
p. 245). Esses objetivos correspondem exatamente aos mesmos contidos em O Progresso do
Conhecimento e nos Manifestos Rosacruzes.
Doze navegam por pases estrangeiros sob a bandeira de outras naes (j que
escondemos a nossa), trazendo-nos livros, smulas e modelos de experimentos de
todas as outras partes do mundo. Ns os chamamos de mercadores da luz. Temos
trs que recolhem os experimentos que se encontram em todos os livros. A esses
chamamos de depredadores. Temos trs que renem os experimentos de todas as
artes mecnicas, das cincias liberais, e ainda das prticas que no chegaram ainda a
artes. A estes chamamos homens de mistrio. Temos trs que tentam novos
experimentos considerados teis. A esses chamamos de pioneiros ou mineiros.
Temos trs que recolhem os experimentos dos quatros grupos precedentes,
organizando-as em ttulos e tbuas, para levar luz deduo das observaes e
axiomas deles extrados. A esses chamamos de compiladores. Temos trs que
examinam os experimentos dos seus condiscpulos, procurando uma forma de
extrair coisas de utilidade para a vida humana, para a cincia, no apenas tendo em
vista as obras como tambm para uma plena demonstrao das causas e meios de
adivinhao natural, e o rpido e claro descobrimento das virtudes e partes dos
corpos. A esses chamamos de doadores ou benfeitores. Ento, depois de diversos
encontros e consultas entre todos os membros para considerar e avaliar os trabalhos
e colees antes levados a efeito, temos trs que se encarregam de orientar novos
experimentos, estabelecidos a partir dos precedentes, e so eles dotados de um grau
mais alto de luzes para penetrarem mais a fundo na natureza. A esses chamamos de
luminares. Temos trs que executam os experimentos assim orientados e mantm
informados os orientadores. A esses chamamos de inoculadores. Por ltimo, temos
trs que sintetizam as descobertas anteriores, feitas por experimentos, em
observaes, axiomas e aforismos de maior generalidade. A esses chamamos de
intrpretes da natureza. Temos, por outro lado, como podeis pensar, novios e
aprendizes, para que no se interrompa a continuidade dos homens precedentemente
empregados... (BACON, 2005, p. 251 e 252).
Essa descrio das atividades desses discpulos remete para o Fama Fraternitatis,
particularmente quando este afirma: separaram-se e foram para diferentes pases, no s para
que seus Axiomas pudessem ser examinados em segredo mais profundamente pelos homens
instrudos, mas tambm para que... pudessem se manter mutuamente informados (AMORC,
1998, p. 82), nenhum deles seria obrigado a usar qualquer hbito particular, mas nesse
respeito deveria seguir o costume do pas (AMORC, 1998, p.82), eles deveriam se reunir na
casa do Esprito Santo, ou escrever informando (AMORC, 1998, p. 82), cada Irmo deveria
procurar uma pessoa digna que, aps sua morte, pudesse suced-lo (AMORC, 1998, p.82).
Enfim, o cerne do pensamento cientfico de Francis Bacon clamava por uma reforma
total do conhecimento humano assim como os Manifestos Rosacruzes. E o projeto utpico
dessa sociedade universal reformada que est presente em sua obra Nova Atlntida representa
a aplicao dos princpios rosacruzes tais quais esto apresentadas nestes Manifestos.
Seus ideais se concretizaram em 1660, na Inglaterra, quando foi fundada a
Sociedade Real, tendo como patrono, Carlos II. Seu regulamento era muito cauteloso e
prescrevia que apenas assuntos cientficos deveriam ser discutidos nas reunies. To
respeitvel e bem organizada, era uma manifestao clara do quanto a cincia conseguiu fazer
do Colgio Invisvel uma organizao visvel. Foi o fsico-qumico Robert Boyle (1627-1691)
que escreveu em 1647 a expresso Colgio Invisvel para designar, de maneira velada, o
grupo de rosacruzes que conheceu. (YATES, 1983, p. 231 e 232).
Agora no podemos deixar de notar isso, e perguntar-nos se poderia ter tido uma
aluso s palavras sob a sombra das asas de Jeov, e se o toque da trombeta do
anjo destinava-se a lembrar a Fama, e aquelas esperanas to antigas, to proteladas,
e agora, finalmente, realizadas. (YATES, 1983, p. 241)
Esta obra ocupa uma posio respeitada na literatura europia, como um clssico
secundrio da tradio utpica, derivando de Thomas More. Ela induz a uma comparao com
a quase contempornea Nova Atlntida de Francis Bacon, j que ambas so utopias marcadas
pelo utilitarismo, que pregava a aplicao do conhecimento cientfico para o aperfeioamento
da condio humana, embora seja bem mais matemtica e angelical. (YATES, 1983, p. 191 e
197).
Ele fundou entre 1619 e 1620 a Societas Christiana com base nos preceitos que
escreveu em Christianopolis. Embora no haja um consenso quanto ao seu local de
existncia, ela apresentava uma cultura cientfica orientada para a tecnologia e a utilidade e
estava profundamente marcada pela caridade crist, o que conferiu ao grupo um intenso
ambiente de pietismo. Sua durao foi efmera j que chegou ao seu fim com a derrota do
Palatinado. Andreae tentou ainda reinici-la em 1628 em Nuremberg, contudo o contexto
histrico no lhe era favorvel e ele no obteve xito.
2.2.5 Comenius
Por isso, ao contrrio da cidade utpica dos rosacruzes narrada por Francis Bacon
em A Nova Atlntida, Comenius descreve no captulo XII, intitulado O Peregrino observa os
Rosacruzes, uma cidade labirntica, na qual muitas pessoas viviam futilmente e outros, dentre
os quais o narrador da histria, desejosos de obter conhecimentos ocultos foram assim
recebidos por um dos rosacruzes (YATES, 1983, p. 212):
Ren Descartes (1596-1650) escreveu o clebre adgio Penso, logo existo que traduz
com perfeio a razo de ser dos ensinamentos rosacruzes, j que considera o pensamento
como a principal faculdade racional da existncia humana.
possvel que durante aquelas suas primeiras viagens ele [Descartes] estivesse
procurando um esclarecimento oculto por trs da invisibilidade rosa-cruciana, novos
progressos resultantes das tradies secretas. (YATES, 1983, p. 161).
Descartes conheceu Johann Faulhaber, matemtico que tambm se interessava pela
cabala e pela alquimia e que foi um dos primeiros a publicar um livro dedicado aos ilustres e
clebres Irmos da Rosa-Cruz. Foi provavelmente por ele que ele tomou conhecimento dos
rosacruzes. A esse respeito, seu bigrafo, Adrien Baillet, escreveu que elogiaram para ele os
conhecimentos extraordinrios de uma confraria de sbios estabelecida na Alemanha fazia
algum tempo sob o nome de Irmos da Rosa-Cruz. (REBISSE, 2004, p. 165).
Decidiu ento partir para a Bomia e entrou em Praga com os vencedores da famosa
batalha de Praga. Depois, passou algum tempo na Bomia meridional, e continuou suas
viagens, regressando a Paris em 1623, na mesma poca em que foram afixados os seguintes
cartazes na cidade:
Que Descartes faa da sua prpria visibilidade uma prova de que no um deles,
uma sutileza nas experincias normais dos investigadores rosa-crucianos, a qual
digna de um grande filsofo! (YATES, 1983, p. 160).
Descartes passou os ltimos seis anos de sua vida na Holanda, num pequeno e
tranqilo castelo perto de Leiden, a fim de estar mais prximo da Princesa Elisabete do
Palatinado, que era a filha mais velha do imperador deposto Frederico V. Descartes chegou a
dedicar sua obra Principia, em 1644, a ela, mencionando-a como filha do Rei da Bomia, e
dando ao seu pai o ttulo que seus inimigos haviam-lhe negado. (YATES, 1983, p. 160).
Ele faleceu na Sucia onde aceitou o convite da rainha para falar sobre filosofia e, de
acordo com a opinio do seu bigrafo Baillet, um dos motivos pelos quais aceitara esse
convite foi que ele poderia ter defendido a causa da Princesa Elisabete do Palatinado na corte
sueca (YATES, 1983, p. 160). Esse grande interesse de Descartes pelos assuntos do
Palatinado intrigante e demonstra um forte desejo interior de contribuir para a expanso do
pensamento rosacruz.
A cincia de Newton, mais recente do que a dos filsofos abordados acima, ressaltou
o tipo de pensamento renascentista que existia por trs de seus esforos e sua crena nas
tradies de uma antiga sabedoria disfarada em mito. O prprio Newton tinha a confiana de
ter sido ele mesmo quem descobrira a verdadeira filosofia oculta na mitologia. (YATES,
1983, p. 258).
Segundo Yates, J. E. McGuire e P. M. Rattansi, no artigo Newton e as Flautas de
Pan, demonstraram que Newton descobrira o seu sistema do universo simbolizado na lira de
Apolo com suas sete cordas. (YATES, 1983, p. 258 e 259).
Portanto, o fato comum a todos os grandes pensadores citados acima, que eles
tiveram ligaes com o movimento rosacruz de sua poca, mas mantiveram o sigilo e a
discrio acima de tudo, como forma de preservar suas prprias vidas, a fim de que no
tivessem o mesmo fim trgico da corte da Bomia em 1620. Conseqentemente, as menes
feitas por eles fraternidade rosacruz so veladas e merecem ser cuidadosamente estudadas
para que sejam devidamente compreendidas.
Este panfleto muito importante, pois uma prova clara de que a fraternidade
rosacruz e a manica existiam tambm como organizaes visveis cujos membros possuam
afinidades em comum suficientes para compartilharem um jantar confraternal, inclusive com
outras organizaes afins.
Mais adiante neste panfleto est escrito que as referidas Sociedades faro (como at
agora) o seu Comparecimento Invisvel (YATES, 1983, p. 268) e sugere que as
intercomunicaes anteriores entre as sociedades secretas seriam realizadas sigilosamente, j
que todas elas tinham em comum a tradio da invisibilidade.
importante mencionar que as duas mais antigas referncias que relatam iniciaes
manicas digam respeito a homens que estiveram em relao direta com o rosacrucianismo.
A primeira menciona que Robert Moray, um dos membros fundadores da Sociedade Real e
patrono de Thomas Vaughan, que sob o pseudnimo de Eugenius Philalethe publicou em
ingls, em 1652, Fama Fraternitatis e Confessio Fraternitatis, foi admitido na Loja Manica
Marys Chapel de Edimburgo, no dia 20 de maio de 1641. A segunda menciona que Elias
Ashmole, outro membro fundador da Sociedade Real e em cujos arquivos estavam uma cpia
manuscrita de Fama e de Confessio e uma carta em latim, tambm escrita de prprio punho,
endereada aos rosacruzes solicitando sua admisso, foi admitido numa Loja Manica em
Warrington, no dia 16 de outubro de 1646.
No incio do sculo XVIII, sob forte influncia da alquimia, Sincerus Renatus, com
o pseudnimo de Samuel Richter, publicou, em 1710, em Breslau, na Alemanha, a obra A
verdadeira e perfeita preparao da pedra filosofal pela Fraternidade da Ordem da Rosa
Cruz urea e da Rosa Vermelha. Era um tratado de alquimia que apresentava prticas de
laboratrio e trazia como apndice as cinqenta regras que regiam a fraternidade. No prefcio,
ele afirma que este texto no era de sua obra, mas sim que lhe havia sido passado por um
Professor de Arte. Embora a fraternidade tal qual foi descrita no parece ter existido,
Christopher McIntosh afirma que possvel que o prprio Samuel Ritcher tenha sido um
membro da fraternidade e que Sincerus Renatus teria sido o nome que usava nesta ordem, j
que o termo sincerus significa verdadeiro ou sincero e o termo renatus significa renascido.
(MCINTOSH, 2001; REBISSE, 2004).
Em 1747 Hermann Fictuld escreveu Aureum Vellus, que menciona uma sociedade
dos rosacruzes ureos, herdeiros do Toso de Ouro. Posteriormente, em 1757, ele criou um
rito manico, com tendncia alqumica e pietista e composto de um conjunto de graus
rosacruzes, denominado Societas Rosae et Aureae Crucis ou Sociedade da Rosacruz urea,
cujos estatutos declaravam que a fraternidade deveria ser reformada a cada dez anos. Esta
ordem se desenvolveu, principalmente, na parte sudeste da Europa que falava alemo, com
centros em Viena, Hof, Frankfurt am Main, Marburg, Kassel, Regensburg e Praga, bem como
no norte alemo, com centros principais em Berlim e Hamburgo, onde foi publicado em 1785
a obra Smbolos Secretos dos Rosacruzes dos Sculos XVI e XVII. (MCINTOSH, 2001;
REBISSE, 2004).
Mas, para que os Chefes pudessem escondem melhor seus objetivos e acautelar-se
contra a avidez de conhecimentos por parte dos homens, os trs graus mais baixos
da maonaria foram criados como uma introduo s cincias mais altas. Segue-se
uma descrio dos nove graus rosacruzes, designados de acordo com uma
enumerao cabalstica: Junior, Theoreticus, Practicus, Philosophus, Minor, Major,
Adeptus Exemptus, Magister e Majus. (MCINTOSH, 2001, p. 154).
A Sociedade da Rosacruz urea tambm teve uma grande difuso na Europa central
atraindo importantes personalidades como o imperador Frederico-Guilherme da Prssia e o
escritor e editor Nikolai Novikov da Rssia. Em 1787, ela foi posta em inatividade pelos seus
fundadores. Em seus trinta anos de atividade pblica, ela deu origem ao crculo dos
Arquitetos Africanos, em 1767; a ritos manicos rosacruzes como o que surgiu entre 1770 e
1777 na Bavria, na Bomia, na ustria, e na Hungria e; Ordem dos Irmos Iniciados da
sia, em 1779, de que Charles de Hesse-Kassel, discpulo e protetor do enigmtico conde de
Saint-Germain, foi o Grande Mestre. (MCINTOSH, 2001; REBISSE, 2004).
A pequena comunidade tinha uma vida espiritual intensa e era instruda em campos
variados como astronomia, encadernao, relojoaria, medicina e farmcia. Eles instalaram o
primeiro herbrio da Pensilvnia, construram templos, edifcios e um observatrio
astronmico. Johannes Kelpius e seus discpulos se interessavam pela astrologia, magia,
teurgia, alquimia e davam importncia fundamental prece. A comunidade prosperou durante
uns dez anos quando o grupo comeou a se dissolver pouco a pouco j que a maioria dos
irmos abandonou a vida monstica e formou famlia. (REBISSE, 2004, p. 286).
Uma tardia colnia pietista alem, a austera comunidade Ephrata de Conrad Beissel,
em Lancaster Country, Pensilvnia, que floresceu entre 1735 e 1765, tambm parece ter sido
influenciada pela idias rosacruzes, tanto em seus objetivos utpicos quanto em suas prticas
rituais. Os prdios desta comunidade permanecem hoje conservados como um museu.
(MCINTOSH, 2001, p. 232 e 233).
Em 1893, Karl Kellner fundou a Ordo Templi Orientis (O.T.O.) aps experincias
religiosas que teve no Oriente. Em 1902, Theodor Reuss, ento dirigente do ramo alemo da
S.R.I.A., a reorganizou como uma academia manica cuja funo seria ocultar uma
organizao rosacruz secreta diretamente originada dos autnticos e originais rosacruzes.
Aps a Primeira Guerra Mundial, ele organizou um congresso internacional que reuniu vrios
movimentos iniciticos em Zurique, mas que infelizmente predominou o objetivo lucrativo.
(REBISSE, 2004).
No dia 10 de agosto de 1909, Harvey Spencer Lewis foi iniciado em Tolouse, mais
precisamente nos arredores da cidade velha de Tolosa, em um castelo que era, por volta de
1850, a Loja Rosacruz da qual fazia parte o conde de Lapasse mencionado anteriormente.
Entre seus iniciadores, estava o fotgrafo Clovis Lassalle, amigo do ento falecido Firmin
Boissin, tambm j citado. Sobre as prticas rosacruzes desta poca:
As reunies que se realizavam nos vrios ramos especiais da Ordem, em vrias
regies da Frana, eram to secretas e veladas como as atividades dos mais
importantes escritrios nacionais. Era difcil localizar uma Loja Rosacruz ou
encontrar um Membro, em qualquer parte da Europa [...] Contudo, a Ordem
autntica, conforme constituda no mundo inteiro, tinha vrios ramos oficiais na
Frana, como sedes nacionais. Um deles era o Secretariat, em Paris; outro, um
Colgio de Ritos, em Lyon, originalmente fundado por Cagliostro; havia ainda as
Cmaras de Conselho nacionais, com o templo e os arquivos, nos arredores de
Toulouse, antigo local dos primeiros Rosacruzes que se estabeleceram na Europa.
(LEWIS, 1987, p. 115).
No dia 1 de abril de 1915, quinta-feira, cerca de trinta membros dos mais ativos se
reuniram na 7th Avenue, em Nova York, local que logo se tornaria a primeira loja rosacruz da
AMORC. May Banks-Stacey, Legado da ndia, entregou solenemente a Lewis os documentos
que recebeu neste pas e conforme seu desejo Harvey Spencer Lewis foi escolhido por
unanimidade para ocupar o cargo de Imperator e Grand Master General do Supreme
American Council of the Ancient and Mystical Order of the Rose Cross, tal qual atesta este
documento fundador da AMORC. (AMORC, 1980, p. 6). O termo imperator vem do latim e
significa aquele que comanda. A meno mais antiga deste termo no rosacrucianismo consta
no livro de Sincerus Renatus, publicado em Breslau em 1710.
Cada um dos doze graus da nossa ordem tem sua noite de iniciao, seguida de sete
a dez lies habitualmente duas por ms realizadas no templo. Essas lies so
dadas pelo mestre de cada loja, enquanto os irmos irms permanecem sentados com
seus cadernos e anotam sinais, smbolos e textos. As lies consistem no estudo das
leis e explicaes fundamentais nos antigos ensinamentos, renovados continuamente
em funo das novas descobertas e invenes efetuadas pelos maiores espritos do
mundo. [...] As lies so mantidas em sigilo, numa forma sagrada, em lojas
protegidas e totalmente fechadas, a fim de que ningum possa aprender nenhuma
palavra dos segredos que ali sejam revelados a menos que seja verdadeiramente
membro e devidamente iniciado. (REBISSE, 2004, p. 334).
Nos anos que precederam a Segunda Guerra Mundial, existia grande confuso entre
as organizaes esotricas, j que certos movimentos na Europa e na Amrica plagiavam os
nomes, smbolos e rituais das ordens iniciticas tradicionais. Assim, surgiu a Federatio
Universalis Dirigens Ordines Societatesque Initiationis (FUDOSI), que durante sua
existncia, entre 1933 e 1951, reuniu organizaes diversificadas como a Antiga e Mstica
Ordem Rosae Crucis, a Rosa-Cruz Universitria, a Ordem Hermtica Tetramegista e Mstica,
a Ordem dos Polares, a Ordem Martinista Sinrquica, a Ordem Martinista Tradicional, a
Unio Sinrquica da Polnia, a Ordem Cabalstica da Rosa-Cruz, a Igreja Gnstica Universal,
a Sociedade de Estudos e Pesquisa Templrios, a Ordem da Militia Crucifera Evangelica, a
Ordem do Lrio e da guia, a Ordem dos Samaritanos Desconhecidos e a Ordem Manica de
Mnfis-Misraim. (REBISSE, 2004).
Aps a sua morte, Gary Lee Stewart foi eleito Imperator em 23 de janeiro de 1987.
Contudo, ele foi exonerado de seu cargo aps ter cometido graves erros, segundo todos os
Grandes Mestres da AMORC, que o destituram em 12 de abril de 1990. Gary Lee Stewart
fundou em 1996 nos Estados Unidos a Confraternidade da Rosa+Cruz.
Para substitu-lo, todos estes Grandes Mestres elegeram por unanimidade Christian
Bernard, na poca Grande Mestre da Jurisdio de Lngua Francesa. Sob sua direo, a
AMORC se internacionalizou ainda mais e seus ensinamentos foram novamente revisados,
em conformidade com a regra escrita por Harvey Spencer Lewis, a fim de que sejam sempre
atualizados para corresponderem evoluo das conscincias humanas.
A Soror Maria Aparecida Moura e o Frater Jos de Oliveira Paulo, ambos do Rio de
Janeiro assumiram a grande tarefa de expandir o rosacrucianismo no Brasil. Finalmente, a
Grande Loja do Brasil foi fundada oficialmente, atravs do Registro dos Estatutos, em 9 de
maio de 1956, com sede na Praa Mau, n 7, sala 707, Centro, Rio de Janeiro-RJ. O incio
das atividades estimulou muito o ingresso de novos estudantes, sobretudo pela facilidade de
pagamento em moeda nacional, rapidez no envio das monografias, agora escritas em
portugus, e relatrios de ensino respondidos em tempo. (AMORC, 2000).
Na cidade do Rio de Janeiro, a Grande Loja do Brasil ocupou dois locais alugados.
O primeiro foi no prdio citado acima e o segundo na Rua General Rodrigues, 35, Bairro do
Rocha, a partir de 1957, quando ocorreu a visita do Grande Administrador Regional, Frater
Arthur C. Piepenbrink.
A Grande Loja do Brasil teve quatro Grandes Mestres: desde antes de sua fundao
at 1966, o Frater Rodman Claysson, tambm Grande Mestre das Lnguas Inglesa e
Espanhola, sediado em San Jose, Califrnia, Estados Unidos; de 8 de setembro de 1966 at 31
de janeiro de 1982, a Soror Maria Aparecida Moura; de 29 de outubro de 1982 at 6 de
setembro de 2008, o Frater Charles Veja Parucker e; de 6 de setembro de 2008 at os dias
atuais, o Frater Hlio de Moraes e Marques.
Em 9 de julho de 1967, foi fundado o Pronaos Joo Pessoa, sob a direo dos Fratres
Abel Montenegro Rocha, Aluisio Moreira e da Soror Rosa Vidal Moreira, respectivamente, os
trs primeiros Mestres deste Organismo, e que funcionou no salo de festas da Loja Manica
Padre Azevedo at 1975, quando passou a realizar suas atividades na Loja Manica
Regenerao do Norte, utilizando, tambm de maneira provisria, o salo de festas da mesma.
Com esse intuito, foram realizados, entre 1986 e 1990, uma Jornada Mstica e trs
Encontros Rosacruzes. Em 1989, o II Encontro Rosacruz ocorreu na ASPEP e incluiu
diversos cursos como Construo e Uso de Pirmides. Finalmente, no dia 12 de julho de
1990, ocorreu a almejada elevao Loja, e em comemorao foi realizado o III Encontro
Rosacruz no Seminrio Arquidiocesano da Paraba. Na pauta, alm de cursos como A Fora
Vital, ocorreu a primeira Iniciao ao Primeiro Grau no Templo da Loja Rosacruz Joo
Pessoa. Paralelamente, tambm ocorreu o I Encontro da Ordem Juvenil, com convocaes
ritualsticas, palestras, jograis e atividades artsticas diversificadas.
IMAGINRIO ROSACRUZ
Segundo Harvey Spencer Lewis, a Ordem Rosacruz teve sua concepo e seu
nascimento tradicionais no Egito (1987, p. 23). A partir da existe a ligao mtica entre os
mistrios egpcios antigos e os ensinamentos rosacruzes contemporneos.
Em alguns casos, classes muito seletas eram realizadas nas cmaras privadas do
fara reinante. Os membros dessas congregaes tornaram-se cada vez mais seletos, os
ensinamentos mais profundos e as discusses to dialticas, que delas surgiu uma sociedade
muito autocrtica e secreta, composta das inteligncias verdadeiramente grandes da poca.
Desse modo foram assentados os alicerces da Grande Fraternidade Branca que corresponde ao
conjunto de todos os iniciados que, independentemente de religies ou tradies, tm a
misso de guiar os seres humanos para a Tradio Primordial. (LEWIS, 1987, p. 29).
O primeiro fara a dirigir essas escolas de mistrios em suas cmaras privadas foi
Ahmosis I, que reinou de 1580 a.C. a 1557 a.C. Foi ele sucedido como Fara, por Amenhotep
I, que veio a ser instrutor na escola secreta durante trs anos. Em 1538 a.C., Thutmosis I foi
coroado, sendo assegurado por sua esposa Ahmasi, a primeira mulher que se tornou membro
da classe em igualdade de condies com os homens. Hatshepsut, sua filha, o sucedeu e
governou independentemente como rei e, tambm como co-regente, aps a morte do esposo e
meio-irmo Thutmosis II. Foi Thutmosis III que organizou a presente estrutura fsica da
Fraternidade secreta e esboou muitas de suas normas e de seus regulamentos, reinando
aproximadamente, de 1500 a.C. a 1447 a.C. (LEWIS, 1987, p. 29 e 30).
Como em todas as pocas, havia aqueles que poderiam ser chamados de pensadores
avanados, filsofos autnticos, sbios e eruditos. Muitos deles eram estudantes dos
princpios msticos ensinados pelos antecessores de Thutmosis III e tinham, evidentemente,
grande f no xito final desses princpios; com efeito, quando Thutmosis III props que a
classe que vinha se reunindo em suas cmaras fosse transformada em uma ordem hermtica e
secreta. Nenhuma voz manifestou desacordo e foram estabelecidos estatutos antes que a
assemblia se dispersasse nas primeiras horas do amanhecer. Essa importante Reunio de
Conselho, pois assim considerada em todos os registros oficiais da Ordem, ocorreu no
perodo que corresponderia semana de 28 de maro a 4 de abril de 1489 a.C., de acordo com
nosso atual calendrio. Admite-se geralmente que tenha ocorrido na quinta-feira, 1 de abril,
porm isto pode estar relacionado com a posterior instituio da Quinta-Feira Santa. De
qualquer forma, a quinta-feira tornou-se o dia habitual para reunies rosacruzes e a Quinta-
Feira Santa passou a constituir oportunidade para Convocaes especiais de Templo, em
muitas Lojas da AMORC no mundo inteiro. Doze conhecidos Fratres e Sorores participaram
desse primeiro Conselho Supremo. Portanto eram nove Fratres e trs Sorores, nesse Conselho,
combinao de nmero muito significativa. (LEWIS, 1987, p. 31 e 32).
Antes de sua transio, Thutmosis III nomeou seu filho Amenofis II, que reinou de
1448 a.C. a 1420 a.C. e, por sua vez, foi sucedido por seu filho Thutmosis IV, que reinou de
1420 a.C. a 1411 a.C. Seu filho, Amenofis III, ocupou o trono de 1411 a.C. a 1375 a.C. Com
sua transio, o imprio caiu nas mos de seu filho, Amenofis IV, em 1367 a.C. Foi ele o
ltimo Grande Mestre na famlia dos fundadores e aquele a quem o rosacrucianismo deve a
filosofia e os escritos, to universalmente empregados nas atividades de todas as Lojas do
mundo inteiro. (LEWIS, 1987, p. 35).
Em seguida, uma arrojada reforma foi iniciada em todo o Egito, por seu decreto,
proibindo qualquer outra forma de adorao alm dessa. Ele mudou seu prprio nome, de
modo que no fosse incoerente com sua reforma. Amenofis significava Amon est
satisfeito; isto ele alterou para Akhenaton ou Ikhenaton, que significava devoto de Aton ou
Glria a Aton. Construiu uma nova capital em El Amarna chamada Akhetaton, que
significa o horizonte de Aton, na plancie de Hermpolis, num terreno virgem beira do
deserto, e abandonou Tebas porque ela era a magnfica cidade de Amon. Em El Amarna, ele
construiu tambm um grande templo para a Fraternidade, em forma de cruz, alm de um
grande nmero de casas para o Conselho. (LEWIS, 1987, p. 38 e 39).
A cronologia utilizada pelos rosacruzes da atualidade se inicia com o ano 1353 a.C.,
pois em maro deste ano, o fara Akhenaton reuniu os Mestres de todas as escolas de
mistrios, realizou pela primeira vez o ritual que todos deveriam seguir para iniciar e encerrar
todas as reunies msticas, introduziu a cruz e a rosa como smbolos e adotou a Cruz Ansata,
numa cor especial, como emblema a ser usado por todos os instrutores ou Mestres. Esta data,
portanto, marca o incio da uniformizao das atividades ritualsticas. Com efeito, o ltimo
ano de sua vida foi dedicado elaborao de um maravilhoso sistema de smbolos, usado at
o presente, para exprimir cada fase da cincia, arte e filosofia rosacruzes; e, embora alguns
desses smbolos tenham sido revelados ao profano pelas pesquisas dos egiptlogos, muitos
permanecem secretos e todos eles so compreensveis apenas aos iniciados. No dia 24 de
julho de 1350 a.C., foi ele realmente elevado, por um instante, para depois descer, em suave
repouso, com um sorriso de iluminao em seu semblante. (LEWIS, 1987, p. 39).
Em 1203 a.C., alguns Fratres da Ordem, que pertenciam ao Grau dos Illuminati, que
corresponderia ao dcimo segundo e ltimo grau ou derradeiro crculo dentro da Ordem,
foram incumbidos de se dirigir a outros pases para difundir a doutrina secreta estabelecendo
outras Lojas. Assim como os que foram ao Egito em busca da Luz, considerados qualificados
aps os testes, receberam a incumbncia de retornar aos seus respectivos povos e fundar uma
Loja em nome da Fraternidade. (LEWIS, 1987, p. 46 e 47).
Desejava obter instruo nas mais altas cincias e filosofias egpcias, de modo que
foi encaminhado para El Amarna com uma carta de apresentao do intendente de
Tebas. Chegou a El Amarna no dia 4 de julho de 999, com o nome de Saloman, o
jovem buscador. Saloman no completou seus estudos, pois, indicam os registros
que ele deixou El Amarna antes do quarto exame. Causou uma inequvoca
impresso de amor, sabedoria e virtude, e isto fez com que todos ficassem
consternados diante de sua sbita, porm anunciada partida. (LEWIS, 1987, p. 47).
J nessa poca, os gregos se dirigiam a Tebas para estudar. Foi ento que teve incio
a expanso da organizao pelo mundo inteiro. Entre os primeiros que se tornaram famosos
na Fraternidade havia Solon que ingressou em 618 a.C. e foi o primeiro capelo que no era
egpcio. Anaximandro, que era seu contemporneo, veio de Mileto para estudar em Tebas.
(LEWIS, 1987, p. 49 e 50).
Quanto a Pitgoras:
Pouco antes da era Crist, fundara tambm a Grande Fraternidade Branca, um novo
mosteiro, com um templo e outros prdios, como grande centro de suas atividades, em
Helipolis. Esse templo era conhecido como Templo de Helios, sendo s vezes denominado
Templo do Sol. O intercmbio entre o Templo de Helipolis e o Monte Carmelo era ntimo
e freqente, de modo que muitos dos filsofos que viajavam de vrios pontos da Europa para
o Egito, a fim de estudar, permaneciam por algum tempo no Monte Carmelo. (LEWIS, 1987,
p. 57).
Esse Grande Mestre foi Pltino, que nasceu em Licpolis, no Egito, por volta de
205. Durante onze anos foi discpulo pessoal de Ammonius Saccas, na grande escola de
Alexandria, que lhe transmitiu os ensinamentos de Plato e foi intermedirio para sua
iniciao nos crculos internos da Grande Fraternidade Branca. Chegou ele a Roma no ano
244 e fundou sua escola como parte da ampla atividade externa da Grande Fraternidade
Branca. (LEWIS, 1987, p. 56).
Algumas centenas de anos aps a fundao da Igreja Crist, e enquanto ela estava
sendo ativamente difundida pelos representantes da Grande Fraternidade Branca, nas regies
em que as doutrinas, os ensinamentos, poderiam trazer o maior benefcio, o Templo Supremo
e mosteiro, assim como a biblioteca e os registros do arquivista, foram transferidos do Monte
Carmelo para novos prdios construdos numa regio isolada do Tibete, onde a Sede dos
Grandes Mestres da Organizao foi mantida por algum tempo. (LEWIS, 1987, p. 58).
Foi durante o perodo de luta e discrdia que o movimento cristo enfrentou, que a
Grande Fraternidade Branca acreditou ser aconselhvel o estabelecimento de uma outra
organizao, composta quase exclusivamente de homens, denominada Militia Crucifera
Evangelica. Seu propsito era o de proteger a cruz, como smbolo mstico, contra seu
emprego errneo por parte daqueles que procuravam realizar cruzadas de perseguio s
pessoas que no se inclinavam a aceitar uma interpretao sectria do seu antigo simbolismo.
(LEWIS, 1987, p. 59).
Quando a Grande Fraternidade Branca alcanou a regio que hoje constitui a Frana,
nos primrdios da Era Crist, ali recebeu sua maior acolhida. Nessa poca dirigia Carlos
Magno sua grande escola de sabedoria. (LEWIS, 1987, p. 65).
Um dos filsofos, Arnaud, foi incumbido de viajar para Jerusalm, no ano de 778, a
fim de aprender o mximo acerca dessa maravilhosa sociedade secreta que possua a chave de
todas as cincias e artes. Arnaud viajou para Jerusalm, de onde foi encaminhado para o
Egito. Est registrado que ele pediu humildemente sua admisso Ordem, em Tebas, e
depois, solicitou permisso para fundar uma Loja subsidiria na Frana (ento Imprio
Franco). Arnaud completou seus estudos no Egito em cerca de dois anos e um ms e quando
regressou a Frana em 802, recebeu uma importante ovao na cmara do trono de Carlos
Magno. (LEWIS, 1987, p. 66).
O primeiro Grande Mestre da Frana foi Frees, que serviu de 883 a 899. At ento,
no eram nomeados Grandes Mestres. Deveria funcionar apenas uma Loja em cada pas, de
conformidade com os planos originais, e o Mestre dessa Loja no tinha outro poder ou
autoridade, alm de administr-la. A outorga de cartas constitucionais ainda estava nas mos
do Conselho Supremo. Foi Frees quem sugeriu ao Conselho a convenincia de serem
estabelecidas Grandes Lojas em certos pases, concedendo-se aos seus Mestres o direito de
outorgar cartas constitucionais a outras Lojas, dentro das fronteiras nacionais. Foi somente um
ano antes de sua transio, em 898, que Frees recebeu autoridade e instrues para fundar
outras Lojas na Frana; a segunda Loja foi imediatamente fundada, em Lyons. Havia muitos
estudantes dedicados da Ordem em Tolouse, que viviam em Lyons, de modo que eles no
perderam tempo, aps anos de espera, para ali fundar uma Loja bastante prspera. Finalmente,
em 1001, foi fundado um mosteiro na Frana na antiga cidade romana de Nemausus, hoje
Nimes. Esse mosteiro tornou-se o ncleo do grande Colgio Rosacruz ou cole R.C., que
prosperou na Frana do sculo doze at meados do sculo dezesseis, e que foi restabelecido
em 1882, em Montpellier. (LEWIS, 1987, p. 67 e 68).
Nesse contexto, o Grande Mestre alemo Simon Studion, nascido em 1543, planejou
uma conveno internacional em 1586 com o objetivo de organizar um corpo especial de
membros para a defesa da cruz contra seu abuso em atividades destrutivas e lamentveis. Essa
conveno ocorreu em Hanover, foi oficialmente denominada Cruce Signatorum Conventus e
a sesso de abertura ocorreu em 27 de julho de 1586. (LEWIS, 1987, p. 83).
Alguns anos mais tarde, quando os registros das atividades dessa grande organizao
haviam sido reunidos de todos os pases, Simon Studion compilou um grande livro de 1995
pginas, dedicando-o a Frederick, que era Grande Mestre dos Rosacruzes. Esse livro foi
intitulado Naometria e concludo em 1604. Grande parte do livro dedicada a uma histria da
cruz e de seu verdadeiro significado espiritual ou mstico, da rosa e de seu significado
simblico, e especial significao da rosa e da cruz, quando unidas. Contm ainda um
esboo completo dos princpios Rosacruzes, recordando os antigos ensinamentos dos
Essnios, dos primeiros Cristos, e dando nfase ao significado espiritual ou mstico dos
ideais rosacruzes. O manuscrito original jamais foi compilado ou reeditado em qualquer
forma. (LEWIS, 1987, p. 84).
A afiliao Ordem Rosacruz oferecida a toda e qualquer pessoa que saiba ler e
escrever e possua um bom nvel de compreenso de textos. O indivduo preenche e remete
sede da Grande Loja ou Administrao Regional da sua lngua ou regio uma proposta de
afiliao com a taxa de inscrio e uma contribuio trimestral. Para manter ativa sua
afiliao, necessrio aceitar os juramentos e continuar efetuando suas contribuies
trimestrais. Segundo a organizao, estas trimestralidades so cobradas para cobrir as
despesas de impresso e correio, bem como para manter o seu bom funcionamento.
(AMORC, 2006).
A seo dos iniciados, por exemplo, por sua vez dividida em nove graus, cada qual
abordando um conjunto de assuntos em torno de uma temtica central: no primeiro grau, a
matria; no segundo, a conscincia humana; no terceiro, a vida; no quarto, a ontologia; no
quinto, a filosofia; no sexto, a teraputica rosacruz; no stimo, o corpo psquico; no oitavo, a
alma; no nono grau, a alquimia espiritual.
Essa Ontologia pode ser apresentada por meio de doze leis principais:
A Loja, termo que vem do germnico leubja por meio do francs lodge e que
significa lar, casa, abrigo ou local de trabalho, abrange as atividades de um Captulo e tem
como atividade principal a Iniciao aos Graus, ritual dirigido por quatorze ou quinze oficiais,
incluindo a Columba, com objetivo principal de despertar a conscincia de cada candidato
para sua realidade interior marcando as etapas do avano da senda rosacruz.
O Capelo faz uma invocao a fim de colocar a cerimnia sob os mais elevados
auspcios e depois os pais com a criana so conduzidos pelos Guardies ao sanctum, onde o
Mestre sada os pais diante do smbolo rosacruz e lhes fala brevemente sobre o privilgio e a
responsabilidade de serem pais. Em seguida abenoa a criana colocada sobre uma almofada
branca quadrada com a rosa, derramando punhados de ptalas de rosas sobre ela, e com a
cruz, fazendo o smbolo rosacruz horizontalmente por sobre a criana.
Os pais so conduzidos pelos Guardies ao shekinah e a criana colocada sobre
uma almofada branca triangular. Ento, a Columba pede me ou ao pai seu avental rosacruz,
o coloca sobre o corpo da criancinha e pede ao Mestre que esta receba oficialmente o seu
nome. Aps este perguntar me ou ao pai o nome da criana e obtiver a resposta, o Capelo
ape seu nome e faz uma prece em favor dela. A Columba devolve o avental rosacruz me
ou ao pai e beija a criancinha atestando o afeto que todos lhe dedicam.
O Capelo afirma que, assim como todos os presentes, ouviu as respostas que foram
dadas s perguntas do Mestre, mas que os nubentes devem se prometer viver doravante um
para o outro e um com o outro privilegiando sempre a harmonia na unio. A Columba ordena
que os nubentes voltem-se um para o outro e dem-se a mo direita. Em seguida lhes faz a
seguinte pergunta: conscientes da importncia de todo compromisso assumido diante da
RosaCruz e enquanto se encontram no lugar mais sagrado deste Templo, prometem sempre
cultivar a harmonia entre si e cumprir com amor os deveres que lhe cabem um para o outro?
Os Guardies conduzem o casal ao shekinah. a Columba pega uma das fitas que
esto sobre o altar e a coloca com um lao no brao esquerdo do Frater, prximo ao cotovelo
enquanto o Capelo pega a outra fita e a coloca com um lao no brao direito da Soror. Isto
feito, a Columba e o Capelo entregam a outra extremidade de suas fitas ao Mestre. O Mestre
segura a fita do Frater com a mo direita e a da Soror com a mo esquerda e as estica
ligeiramente, cuidando que se cruzem horizontalmente acima do altar com o cuidado de no
derrubar as velas. Enquanto o Mestre segura as fitas a Columba pega a rosa que est sobre o
altar e a coloca no ponto em que as duas fitas se cruzam.
O Mestre diz para os nubentes que agora esto unidos simbolicamente por laos que
formam uma cruz, no centro da qual a Columba colocou uma rosa, que esta RosaCruz
simblica represente para sempre o ideal que os anima e sob o qual vocs desejam colocar sua
unio, que ela seja tambm o smbolo da harmonia a que vocs aspiram, que assim seja. A
Columba repe a rosa sobre o altar e a Matre diz da sua estao que chegou o momento ao ato
culminante da cerimnia e pergunta, na presena da assemblia se os nubentes prometem se
amar fielmente e nesse amor apoiar a fora para superar as tribulaes, o desejo de
compartilhar as alegrias e a vontade de agir para o bem de toda a humanidade.
Aps a resposta, a Matre prossegue dizendo que ento os laos simblicos que os
unem sejam agora rompidos pelo fogo, a fim de que suas almas se libertem de seus entraves
materiais e se unam para sempre no mundo espiritual, que este ato culminante sele a sua unio
no invisvel e grave em seu corao a lembrana deste momento. O Capelo pega a vela da
ponta oeste do altar e queima as fitas no ponto em que elas se cruzam e o Mestre puxa
suavemente as extremidades, as deixa cair e diz: consummatum est! O Capelo diz que em
nome da Antiga e Mstica Ordem Rosae Crucis e pelo poder da Luz, da Vida e do Amor os
declara marido e mulher aos olhos dos homens e de Deus.
Prossegue ento a entrega das alianas, caso os cnjuges no tiverem antes nenhuma
cerimnia religiosa de casamento. O Capelo afirma que desde o incio do ritual as alianas
estiveram sobre o altar, sendo impregnadas de vibraes espirituais muito elevadas adquirindo
um carter sagrado, que doravante elas simbolizaro, no somente a unio como marido e
mulher, mas tambm a unio que as almas selaram no invisvel durante o ato culminante que
foi realizado. O Mestre faz o smbolo rosacruz horizontalmente por sobre a bandeja das
alianas e diz: per benedictionem rosae crucis! Depois coloca a aliana no dedo do noivo,
pedindo que ele repita as seguintes palavras: um para o outro, um com o outro, que esta
aliana seja sempre, um smbolo de fidelidade, de confiana e de amor para com aquela que
seu corao escolheu para esposa e a quem acaba de se unir solenemente. Em seguida coloca
a aliana no dedo da noiva, pedindo que ela repita as mesmas palavras.
O Mestre une ento as mos direitas dos esposos, coloca sua prpria mo direita
sobre elas, fecha os olhos, inala profundamente pelo nariz e diz: per benedictionem rosae
crucis, que a luz, a vida e o amor estejam sempre em vocs, entre vocs e ao redor de vocs,
que assim seja. O Mestre retorna para sua estao no leste, parabeniza o casal e lhes dirige
alguns conselhos. Em seguida encerra a cerimnia com uma prece. Os Guardies conduzem o
casal para fora do Templo, o Guardio Externo soa o gongo uma vez e o Guardio Interno
convida todos a deixar o Templo.
O Mestre fala um pouco sobre a morte do ponto de vista rosacruz, afirmando que a
morte a mais elevada iniciao que podemos receber, ao termo de nossa encarnao terrena,
pois ela abre os Portais do Alm e d acesso ao mundo espiritual. Afirma tambm que sempre
voltamos a nos encontrar no Alm e experimentamos ento a felicidade dos reencontros
espirituais. Em seguida caminha at o caixo com o corpo do falecido, colocado no sanctum
pouco antes do incio da cerimnia, faz o smbolo rosacruz por sobre o mesmo e diz: per
benedictionem rosae crucis, ad rosam per crucem, ad crucem per rosam.
O Mestre retorna para sua estante e fala que desde o incio desta cerimnia, sobre o
caixo est o avental rosacruz com uma rosa em seu centro, smbolo de sua alma. Posto que
ele(a) deixou este mundo para voltar sua morada espiritual. O Capelo caminha at o caixo,
pega a rosa e a eleva verticalmente pouco acima dos olhos e diz: est feito, a alma do(a)
nosso(a) frater(soror) vive agora na graa de Deus, pela graa de Deus, para a graa de Deus.
Em seguida caminha com a rosa at o shekinah e a coloca no centro do altar. O Mestre afirma
que agora a alma do(a) frater(soror) est na luz, na vida e no amor de Deus e que as trs velas
do altar podem ser apagadas, porque nele(a) que suas chamas esto brilhando agora.
Alm destes trs rituais pblicos que ocorrem no interior do Templo, existe uma
festa pblica que ocorre ao ar livre e que realizada na data mais prxima possvel do
equincio da primavera no hemisfrio sul e do equincio do outono no hemisfrio norte, ou
seja, 21 de setembro, prestando homenagem a todos os rosacruzes do passado e comemorando
a construo da grande pirmide do Egito. Apenas o Mestre, o Capelo e o Guardio atuam
como Oficias neste ritual com trajes civis e utilizando o avental rosacruz. O ritual pode ser
dividido em dois momentos: a leitura de um texto pelo Mestre e a construo de uma pequena
pirmide de pedra por todos os presentes.
O texto lido afirma que cerca de 9.000 anos antes da era crist, a Atlntida, bero da
Tradio Primordial, foi submersa pelas guas que se seguiram a um cataclismo sem
precedente e que deste continente desaparecido, resta hoje apenas o Arquiplago dos Aores,
composto de nove ilhas situadas no meio do Oceano Atlntico, sendo a mais prestigiada pelos
rosacruzes aquela que conhecida pelo nome de Pico. Afirma ainda que os sbios daquela
evoluda civilizao previram o cataclismo muito tempo antes e acompanhados de um grande
nmero de iniciados e de todos os que concordaram em segui-los, eles emigraram para outros
continentes, dos quais alguns foram para o Egito e se fixaram s margens do Nilo, no planalto
de Giz, no muito longe da regio de El Fayoum.
O Mestre continua a leitura que diz que estes emigrantes com a ajuda da populao
mais ou menos primitiva que habitava essa regio erigiram a esfinge e as trs grandes
pirmides, a fim de que seu Conhecimento ficasse gravado na pedra para os sculos futuros.
Cada uma dessas trs pirmides, especialmente aquela que os historiadores atribuem a
Quops, uma sntese da sabedoria que os atlantes possuam e materializa o saber que haviam
adquirido em aritmtica, geometria, fsica, geografia e astronomia e imortalizam at hoje o
caminho inicitico que o ser humano deve seguir para se elevar de sua condio atual e
alcanar o estado de perfeio, meta suprema de sua evoluo espiritual. Com o passar do
tempo, os sobreviventes da Atlntida mesclaram-se s populaes locais e deram origem a um
novo povo, o egpcio antigo que se tornou o guardio da Tradio Primordial e teve por
misso perpetuar esta herana para as geraes futuras, dando incio s primeiras escolas de
mistrios egpcias.
Cruz RosaCruz
A cruz com a rosa no centro evoca a quintessncia e faz referncia ao nmero cinco
que simboliza a manifestao do homem, ao termo da evoluo biolgica e espiritual.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008, p. 245).
Emblema RosaCruz
Cartucho RosaCruz
De modo geral, este smbolo faz meno rosacruz, representada no centro pela
cruz e o pequeno crculo preenchido no centro e pelas siglas R+C. O tringulo com o pice
para baixo representa a perfeio da manifestao espiritual e o crculo tambm representa
esta perfeio. Abaixo est escrito:
Neste primeiro ano do terceiro milnio, sob o olhar do Deus de todos os homens e
de toda a vida, ns, deputados do Conselho Supremo da Fraternidade Rosacruz,
julgamos que era chegada a hora de acender a quarta Chama R+C, a fim de revelar
nossa posio quanto situao atual da Humanidade e trazer luz as ameaas que
pesam sobre ela, mas tambm as esperanas que nela depositamos. (AMORC, 2001,
p. 1).
O Ser Humano evolui atravs do Tempo, como o faz, alis, tudo aquilo que participa
no seu campo de vida, bem como o prprio Universo. A est uma caracterstica de
tudo o que existe no mundo manifesto. Mas consideramos que a evoluo do Ser
Humano no se limita aos aspectos materiais de sua existncia, convictos que
estamos de que ele tem uma alma, ou seja, uma dimenso espiritual. Conforme
pensamos, ela que dele faz um ser consciente, capaz de refletir sobre sua origem e
seu destino. [...] Com base na nossa Ontologia, consideramos que o Ser Humano a
criatura mais evoluda dentre as que vivem na Terra, mesmo se s vezes se comporta
de maneira indigna no tocante a esse status. Ele ocupa essa situao privilegiada
porque dotado de autoconscincia e livre-arbtrio. ento capaz de pensar e
orientar sua existncia por suas prprias escolhas. [...] Cedo ou tarde, as vicissitudes
da existncia levam o Ser Humano a se interrogar quanto razo de sua presena na
Terra. Essa busca de uma justificativa natural, pois parte Integrante da alma
humana e constitui o fundamento de sua evoluo. [...] Se essa busca natural,
acrescentamos que o Ser Humano impelido esperana e ao otimismo por uma
injuno de sua natureza divina e por um instinto biolgico de sobrevivncia. Nisso,
a aspirao Transcendncia aparece como uma exigncia vital da espcie humana.
(AMORC, 2001, p. 7 a 9).
O ideal nessa matria seria que cada nao favorecesse a emergncia de um governo
que reunisse, todas as tendncias amalgamadas, as personalidades mais aptas a
dirigir os negcios do Estado. Por extenso, fazemos votos de que um dia exista um
Governo mundial representativo de todas as naes, do qual a ONU apenas um
embrio. (AMORC, 2001, p. 10 e 11).
Quanto cincia, considera que ela chegou a uma fase particularmente crtica, pois
os objetivos materialistas que ela persegue atualmente, atravs da pesquisa cientfica,
acabaram extraviando seu esprito. Em certa medida, a cincia se tornou uma religio, mas
uma religio materialista, o que paradoxal. Fundada numa abordagem mecanicista do
Universo, da Natureza e do Ser Humano, ela tem seu prprio credo, que s acreditar naquilo
que veja, e seu prprio dogma, que nenhuma verdade fora dela. Alm disso, se torna
irracional ao crer no acaso. Contudo, a clonagem o maior perigo que a cincia atenta contra
os seres vivos, podendo levar a um empobrecimento gentico, principalmente para o ser
humano, pois s leva em conta sua parte material. (AMORC, 2001, p. 12 a 15). Ainda:
Isto posto, observamos no entanto que as pesquisas que ela realiza sobre o como das
coisas levam-na cada vez mais a se interrogar sobre o seu porque, de modo que ela
pouco a pouco toma conscincia de seus limites e comea a se juntar ao misticismo.
Certos cientistas, ainda raros, verdade, chegaram mesmo a propor a existncia de
Deus como postulado. [...] precisamente a reunificao desses dois meios de
conhecimento que precisa ser realizada no decorrer das prximas dcadas.
(AMORC, 2001, p. 13).
Quanto tecnologia, considera que ela tambm est em plena mutao, pois embora
fosse destinada a ajudar os seres humanos e a poup-lo dos sofrimentos, chegou ao ponto de
substitu-lo. (AMORC, 2001, p. 15). E conclui:
O problema colocado atualmente pela tecnologia provm do fato de que ela evolui
muito mais rpido do que a conscincia humana. Consideramos tambm que
urgente que ela rompa com o modernismo atual e se torne um agente do humanismo.
[...] O ideal seria que a tecnologia evolusse de tal maneira que libertasse o Ser
Humano das tarefas mais penosas e ao mesmo tempo lhe permitisse desabrochar
harmoniosamente em contato com os outros. (AMORC, 2001, p. 16).
No que concerne moral, esta definida como o respeito que todo indivduo deveria
ter para com ele prprio, os outros e o ambiente. A moral implica um equilbrio entre os
direitos e deveres de cada um, o que lhe d uma dimenso humanstica. Sendo assim, a moral
coloca toda a questo da educao, que deveria consistir em inculcar valores cvicos e ticos,
despertando as virtudes da alma, independentemente de toda considerao de natureza
espiritual. Naturalmente, isto implica que os pais e os adultos em geral as tenham adquirido,
ou ao menos tenham conscincia da necessidade de adquiri-las. (AMORC, 2001, p. 18 e 19).
E menciona ainda:
Alm do fato de que essas agresses ao ambiente fazem com que a Humanidade
corra riscos muito graves, elas traduzem uma grande falta de maturidade, tanto no
plano individual quanto no coletivo. Seja o que for que se diga, consideramos que as
anormalidades climticas atuais, com seu cortejo de tempestades, inundaes, etc.,
so uma conseqncia das agresses que os seres humanos infligem h muito tempo
em nosso planeta. (AMORC, 2001, p. 24).
No tocante ao universo, este contm cerca de cem bilhes de galxias e cada galxia
cerca de cem bilhes de estrelas, dente os quais milhes de sistemas solares comparveis ao
nosso. Dentre as formas de vidas que povoam outros mundos, provavelmente algumas so
mais evoludas do que as que existem na Terra e outras menos. Mas todas fazem parte do
mesmo Plano Divino e participam na Evoluo Csmica. Sendo assim, os extraterrestres
podem contatar nossa humanidade, mas no fazemos disto objeto de nenhuma expectativa,
pois no dia que isto ocorrer, constituir um evento sem precedente e a histria de nossa
humanidade se fundir a vida universal. (AMORC, 2001, p. 25 a 27).
Deus de todos os seres humanos, Deus de toda vida. Na Humanidade com que
sonhamos: Os polticos so profundamente humanistas e trabalham a servio do bem
comum. Os economistas geram as finanas dos Estados com discernimento e no
interesse de todos. Os sbios so espiritualistas e buscam sua inspirao no Livro da
Natureza. Os artistas so inspirados e expressam em suas obras a beleza e a pureza
do Plano Divino. Os mdicos so motivados pelo amor ao prximo e cuidam tanto
das almas quanto dos corpos. No h mais misria nem pobreza, pois cada qual tem
aquilo que precisa para viver feliz. O trabalho no mais vivenciado como uma
coero, mas como uma fonte do desabrochar e de bem-estar. A natureza
considerada como o mais belo dos templos e os animais como nossos irmos em via
de evoluo. H um Governo mundial, formado pelos dirigentes de todas as naes,
trabalhando no interesse de toda a Humanidade. A espiritualidade um ideal e um
modo de vida que tem sua fonte numa Religio universal, baseada mais no
conhecimento das leis divinas do que na crena em Deus. As relaes humanas so
fundadas no amor, na amizade e na fraternidade, de modo que o mundo inteiro vive
em paz e harmonia. Assim seja! (AMORC, 2001, p. 31).
Mas para que todo Cristo possa saber de qual religio somos e qual a nossa
crena, confessamos ter conhecimento de Jesus Cristo (pois este, sobretudo na
Alemanha de nossos dias, compreendido da maneira mais clara e pura, e est
agora livre e purificado da presena de todos aqueles que dele se desviaram...
(AMORC, 1998, p. 90, grifo nosso). Assim atestamos, que sob o nome de Chymia
muitas obras e imagens so propostas, ultrajando a glria de Deus, como as
revelaremos quando for chegado o momento, e que daremos aos que tiverem um
corao puro... (AMORC, 1998, p. 95, grifo nosso).
O ltimo pargrafo do Confessio exemplifica muito bem o trajeto antropolgico
destes dois primeiros Manifestos Rosacruzes, pois contm aes que constelam tanto em
torno do verbo cobrir quanto do verbo separar:
... de repente se formou uma tempestade to horrvel que no tive outro pensamento
seno o de que, com sua violncia, o morro onde estava minha pequena casa voaria
em pedaos. Todavia [...] tomei coragem e mergulhei de novo em minha
meditao. (AMORC, 1998, p. 161, grifo nosso).
Nisso defendemos a causa de uma Fraternidade humana que faa de todo indivduo
um Cidado do mundo, o que supe que se ponha termo a toda discriminao ou
segregao de ordem racial, tnica, social, poltica ou outra. Finalmente, trata-se de
empreender o advento de uma Cultura da Paz, fundada na integrao e na
cooperao, coisa em que os rosacruzes sempre se empenharam. (AMORC, 2001,
p, 22 e 23, grifo nosso). Pouco importa as idias polticas, as crenas religiosas, as
convices filosficas de cada um. Os tempos no esto mais para diviso,
qualquer que seja sua forma, mas para unio; para a unio das diferenas, a
servio do bem comum. (AMORC, 2001, p. 30, grifo nosso).
Trajeto Antropolgico do Positio Fraternitatis Rosae Crucis:
O Mestre fala um pouco sobre a morte do ponto de vista rosacruz, afirmando que a
morte a mais elevada iniciao que podemos receber, ao termo de nossa
encarnao terrena, pois ela abre os Portais do Alm e d acesso ao mundo
espiritual. Afirma tambm que sempre voltamos a nos encontrar no Alm e
experimentamos ento a felicidade dos reencontros espirituais.
No primeiro captulo, a grande dificuldade foi encontrar uma traduo adequada dos
trs Manifestos Rosacruzes. Na obra de Yates, consta apenas a traduo do Fama e do
Confessio, contudo apresenta graves erros de digitao, como, por exemplo, na pgina 297,
onde consta Galileu, deveria constar Galeno. Na obra da AMORC, falta um pargrafo no
Confessio e outro no Casamento Alqumico. Na obra de Rijckenborgh, os trs Manifestos
Rosacruzes esto fragmentados em quatro livros, pois privilegia os comentrios pessoais do
autor. Por isto, todas estas tradues so utilizadas no primeiro captulo desta Dissertao e a
razo da escolha da edio da AMORC como base foi a viabilidade de conter os trs
documentos histricos em um nico livro. Eu constatei que necessrio fazer uma nova
traduo em portugus destes Manifestos a fim de compreender melhor cientificamente estes
documentos histricos.
Uma pergunta surgiu ao final deste trabalho: quais as fontes que Harvey Spencer
Lewis utilizou para organizar os ensinamentos, rituais e smbolos da AMORC? Para
responder esta pergunta ser necessrio rever todos os seus passos a fim de procurar todas as
fontes s quais ele teve acesso ao longo de sua vida at a fundao e organizao deste ramo
do rosacrucianismo em 1915.
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