Micro 1 Aula 16 T
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MICROECONOMIA 1
Departamento de Economia, Universidade de Braslia
Notas de Aula 16 Graduacao
Prof. Jose Guilherme de Lara Resende
1 Introducao
1.1 Maximizacao de Lucros
Vamos supor que o objetivo da firma seja maximizar lucros. Como firmas tem donos, a hipotese
de maximizacao de lucros e equivalente a hipotese de maximizacao da renda do dono ou donos
(acionistas) da empresa. Se o dono maximiza a sua renda, ele estara maximizando a sua utilidade,
ja que ao aumentar a sua renda, ele pode alcancar uma curva de indiferenca mais alta. Podemos
tambem analisar outros objetivos que nao o de maximizacao de lucros. Mais importante do que a
hipotese de maximizacao de lucros e que a firma seja coerente com o objetivo proposto, ou seja,
que suas acoes estejam de acordo com o objetivo a que se propoe alcancar.
O lucro de uma empresa e a diferenca entre a receita gerada pela venda da sua producao menos
os custos dos fatores usados nessa producao. Para a firma que produz um unico bem, a sua receita
e dada pela quantidade vendida do produto. Como a funcao de producao descreve a relacao entre
insumos e quantidade produzida, temos que q = f (x1 , x2 ), no caso em que a firma utilize apenas
dois insumos (a fim de simplificar a notacao da analise a seguir, vamos continuar considerando
apenas dois insumos. As conclusoes obtidas abaixo sao facilmente generalizadas para o caso de n
insumos).
Dizemos que o mercado de um bem e perfeitamente competitivo se todas as firmas que produzem
esse bem sao tomadoras de preco: cada firma, individualmente, acha que nao pode afetar o preco
do bem que produz, e o toma como dado quando faz suas escolhas de producao e de uso de fatores.
Vamos assumir tambem que o mercado dos insumos e competitivo: cada firma, individualmente,
acha que nao pode afetar o preco dos insumos que utiliza, e os toma como dados quando faz suas
escolhas de producao e de uso de fatores.
A firma entao e tomadora de precos: toma o preco do produto e os precos dos insumos como
fixos, fora da sua capacidade de negociacao. Essa hipotese e razoavel para varias industrias, como a
de padarias, por exemplo. Uma padaria dificilmente vai poder cobrar mais pelo seu pao (controlando
pela qualidade) do que o preco de mercado. Nem vai poder comprar insumos com um desconto
maior do que outras padarias obtem. Nesse caso, dizemos que a firma nao tem poder de mercado.
A hipotese de competicao perfeita e razoavel para mercados onde o numero de firmas e grande, e
cada firma produz uma parcela pequena da producao total do bem ou utiliza uma parcela pequena
do total produzido de cada insumo. Um mercado como o de paes e um mercado competitivo (ou
com caractersticas muito proximas de um mercado competitivo): cada padaria sabe que nao pode
cobrar um preco muito alto pelo seu pao, pois nesse caso perderia sua clientela. Alem disso, cada
padaria nao consegue adquirir os insumos que usa a um preco menor do que as outras padarias.
Outra caracterstica comum a mercados competitivos e entrada e sada livres (ou sem muitas
dificuldades) do mercado. Montar uma padaria e um empreendimento que tem um custo, mas nao
tao alto que impeca o surgimento de novas padarias, como podemos ver em qualquer cidade, onde
novas padarias abrem e velhas padarias fecham.
O mercado em competicao perfeita e uma versao idealizada do mercado concorrencial. Mod-
elos de mercado em concorrencia perfeita normalmente supoem que o numero de compradores e
vendedores e grande o suficiente para dissipar qualquer influencia de uma firma no mercado como
um todo. Alem disso, assume que o bem produzido e homogeneo, em que as firmas nao conseguem
diferenciar a sua producao (por exemplo, a padaria produzir um pao diferente, de qualidade maior
do que as suas concorrentes).
O mercado em concorrencia perfeita e o principal paradigma economico, pois apresenta diversas
caractersticas de eficiencia de bem-estar social. Entre elas, a mais importante e que na ausencia
de falhas de mercado, a alocacao do mercado competitivo maximiza o bem-estar social.
Para que um mercado seja perfeitamente competitivo basta que as firmas participantes desse
mercado sejam tomadoras de precos. Mesmo que existam poucas firmas, se cada uma acha que
o preco do bem que produz independe das acoes que toma, entao o mercado desse bem sera
perfeitamente competitivo.
2 Maximizacao de Lucros
2.1 Set-up
Se a firma vender cada unidade do seu produto pelo preco p, sua receita R sera:
R = p q = pf (x1 , x2 )
A despesa da firma e o custo dos fatores que usa na producao de q = f (x1 , x2 ). Se a firma
comprar os fatores de producao em um mercado competitivo, aos precos w1 e w2 , entao a despesa
D da firma sera:
D = w 1 x1 + w 2 x2
A firma deve escolher quantidades de insumos que maximizam o seu lucro, igual a diferenca
entre receita e despesa:
max pf (x1 , x2 ) w1 x1 w2 x2
x1 ,x2
Esse e o valor do produto marginal de um insumo. Ja o lado direito e o preco do insumo. Como o
mercado de insumos e competitivo, o custo marginal de adquirir uma unidade a mais de um insumo
e sempre igual ao seu preco.
A CPO tem uma interpretacao intuitiva clara. Se a firma aumentar o uso do insumo i em xi
(e mantiver todos os outros insumos inalterados), a sua producao aumentara em q = fi (x)xi =
P M gi (x)xi . A receita adicional obtida e igual a pq = pfi (x)xi = pP M gi (x)xi . Ja a despesa
adicional gerada pelo aumento do uso do fator i e igual a wi xi .
Suponha que o nvel de insumos escolhido pela firma seja tal que pP M gi (x) > wi . Nesse caso,
se a firma aumentar a quantidade do insumo i, o acrescimo de receita obtido sera maior do que
a despesa adicional, o que aumenta o lucro. Portanto, a firma deve aumentar o uso do insumo i
se quiser maximizar lucros. Como o produto marginal de um insumo e decrescente no seu uso, ao
aumentarmos a quantidade do insumo i, a desigualdade pP M gi (x) > wi se torna uma igualdade.
Se o nvel de insumos escolhido for tal que pP M gi (x) < wi , entao a firma deve diminuir o uso
do insumo i, pois o decrescimo de receita obtido sera menor do que a economia gerada pelo uso
menor do fator, o que aumentara o lucro. Portanto, a firma deve diminuir o uso do insumo i se
quiser maximizar lucros. Como o produto marginal de um insumo e decrescente no seu uso, ao
diminuirmos a quantidade do insumo i, a desigualdade pP M gi (x) < wi se torna uma igualdade.
Portanto, a firma maximiza o seu lucro ao escolher os insumos de modo que o valor do
produto marginal de cada insumo seja igual ao seu custo marginal (lembrando que o
custo marginal de um insumo, no caso de uma firma competitiva, e igual ao preco desse insumo).
xi = xi (p, w1 , w2 ) , i = 1, 2.
Essas demandas por insumos sao as demandas otimas da firma: x1 (p, w1 , w2 ) e x2 (p, w1 , w2 ) sao
as escolhas de insumos que maximizam o lucro da firma quando o preco do bem que a firma vende
e p e os precos dos insumos que a firma adquire sao w1 e w2 .
Se substituirmos essas demandas na funcao de producao da firma, encontramos a funcao de
oferta ou oferta otima da firma, denotada por q = q(p, w1 , w2 ):
A funcao lucro da firma diz o lucro maximo que a firma obtem quando o preco do bem que vende
e p e os precos dos insumos que utiliza na producao sao w1 e w2 .
Vamos encontrar as demandas otimas e a funcao de oferta da firma para o caso de uma funcao
de producao Cobb-Douglas.
(x1 ) : pAx1
1 x2 = w1
(x2 ) : pAx1 x1
2 = w2
Vamos multiplicar a primeira CPO por x1 e a segunda por x2 , lembrando que q = f (x1 , x2 ) =
Ax1 x2 :
pq
pAx1 x2 = w1 x1 x1 =
w1
pq
pAx1 x2 = w2 x2 x2 =
w2
As escolhas otimas dos dois insumos acima estao como funcoes dos precos e do nvel de producao
otimo. Observe que essas expressoes para x1 e x2 ainda nao constituem as funcoes demandas
otimas dos insumos: elas estao em funcao de q, a oferta otima, que deve ser determinada. Para
encontrarmos a oferta otima, substitumos as escolhas otimas de insumos em funcao de q na funcao
de producao:
pq pq
1 1
1 +
q = A (x1 ) (x2 ) =A
q =A 1 p 1
w1 w2 w1 w2
Portanto, encontramos a oferta otima da firma. Substituindo q nas escolhas otimas dos insumos
em funcao de q, encontramos as demandas otimas dos insumos (que sao funcoes apenas dos precos
e que dependem de parametros da funcao de producao, como esperado):
1
1
1
1 1
x1 (p, w1 , w2 ) =A 1 p 1
w1 w2
1 1
1
1 1
x2 (p, w1 , w2 ) =A 1 p 1
w1 w2
As solucoes acima para as demandas e oferta otimas nao est ao definidas para o caso em que
+ = 1. Nesse caso, a funcao de producao apresenta retornos constantes de escala. Vamos discutir
abaixo a condicao de segunda ordem do problema de maximizacao de lucro da firma. Veremos que
essa condicao requer, para o caso da funcao de producao Cobb-Douglas, que + < 1, > 0,
> 0. A condicao + < 1 significa que a solucao acima so e valida para funcoes de producao
Cobb-Douglas que apresentam retornos decrescentes de escala.
Essa conclusao e valida em geral para funcoes de producao homogeneas: as demandas e oferta
otimas somente podem ser encontradas por meio da resolucao do problema de maximizacao do lucro
da firma no caso em que a funcao de producao apresente retornos decrescentes de escala (ou seja,
se o grau de homogeneidade for menor do que 1). Abaixo discutiremos a intuicao desse resultado.
As CSO para um maximo sao satisfeitas se a matriz Hessiana for negativa definida. Essa
condicao e satisfeita se o determinante dos menores principais do Hessiano alternam o sinal, ou
seja, se:
pf11 pf12 pf13
pf11 pf12
pf11 < 0, det > 0, det pf21 pf22 pf23 < 0, . . .
pf21 pf22
pf31 pf32 pf33
Para o caso de dois bens, as CSO se resumem a (podemos eliminar p, pois ele nao afeta o sinal
da desigualdade):
2
f11 < 0, f22 < 0, f11 f22 f12 >0
Portanto, para o caso de dois bens (e mais geralmente tambem) nao e suficiente que os produtos
2
marginais de cada bem sejam negativos (fii < 0). A condicao f11 f22 f12 > 0 tambem deve ser
satisfeita.
(11) ( 1)pAx2
1 x2
(22) ( 1)pAx1 x2
2
(12) pAx1
1 x1
2
As CSO sao:
( 1)pAx2
1 x2 < 0, ( 1)pAx1 x2
2 < 0, e
2
2 2 1 1
( 1)pAx1 x2 ( 1)pAx1 x2 pAx1 x2 >0
As duas primeiras condicoes sao satisfeitas se > 0, > 0, < 1, < 1 e A > 0. A terceira
condicao pode ser simplificada para:
Ou seja, as CSO para o problema da firma com tecnologia Cobb-Douglas sao > 0, > 0,
+ < 1 (alem de A > 0).
Portanto, se a firma tiver um lucro positivo > 0 usando uma determinada combinacao de
insumos, denotada por x1 , x2 , quando os precos sao p, w1 e w2 , entao ela podera multiplicar
infinitamente o seu lucro ao replicar a sua escala de producao infinitamente, ja que a despesa
aumenta tambem de modo linear com a escala de producao, como a equacao abaixo mostra:
3 Propriedades
3.1 Propriedades da Funcao Lucro
q = q(p, w1 , w2 ) = f (x1 , x2 ),
onde x1 = x1 (p, w1 , w2 ) e x2 = x2 (p, w1 , w2 ) sao as demandas otimas por insumos da firma. Essas
funcoes otimas sao bem definidas se a a tecnologia da firma apresentar retornos decrescentes de
escala. A funcao lucro, caso exista, pode ser calculada como:
(p, w1 , w2 ) (p, w1 , w2 )
= q(p, w1 , w2 ) ; = xi (p, w1 , w2 ), i = 1, 2.
p wi
Vamos primeiro verificar a validade dessas propriedades, para depois discutir a intuicao de cada
uma delas.
Prova: (1) Suponha que a solucao do problema da firma aos precos (p, w1 , w2 ) e (x1 , x2 ). Repre-
sente a solucao do problema da firma por (x1 , x2 ) quando o preco do produto aumenta para p > p.
Note que:
A primeira desigualdade e valida porque (x1 , x2 ) e a solucao do problema da firma aos precos
(p, w1 , w2 ). A segunda desigualdade e valida porque p > p. Caso a firma de fato produza o bem
(ou seja, a producao q = f (x1 , x2 ) e positiva), entao a segunda desigualdade e estrita.
(2) Similar a prova de (1): Suponha que a solucao do problema da firma aos precos (p, w1 , w2 )
e (x1 , x2 ). Represente a solucao do problema da firma por (x1 , x2 ) quando o preco do insumo 1
aumenta para w1 > w1 . Note que:
(3) Suponha que aumentamos todos os precos pelo mesmo fator t > 0. Entao:
(tp, tw1 , tw2 ) = max tpf (x1 , x2 ) tw1 x1 tw2 x2 = t max pf (x1 , x2 ) w1 x1 w2 x2
x1 ,x2 x1 ,x2
= t(p, w1 w2 ) .
(4) Suponha que as demandas otimas do problema da firma aos precos (p, w1 , w2 ) sao (x1 , x2 ) e,
aos precos (p, w1 , w2 ), (x1 , x2 ). Denote (pt , w1t , w2t ) = t(p, w1 , w2 ) + (1 t)(p, w1 , w2 ), t [0, 1], e
seja (xt1 , xt2 ) a solucao do problema da firma a esses precos. Entao:
(5) Esse resultado e consequencia do Teorema do Envelope. Vamos derivar a funcao lucro com
respeito a w1 (o resultado para w2 e obtido de modo similar):
x1 x2 x1 x2 x1 x2
= pf1 + pf2 w1 + x1 + w 2 = (pf1 w1 ) + (pf2 w2 ) x1
w1 w1 w1 w1 w1 w1 w1
Ou seja,
(p, w1 , w2 )
= q(p, w1 , w2 ) .
p
p (p) = pq w1 x1 w2 x2
Em um grafico com o lucro no eixo vertical e o preco p no eixo horizontal, p (p) e uma reta
com inclinacao q > 0 e intercepto no eixo vertical igual a w1 x1 w2 x2 . Porem, a firma nao age
de modo passivo: se p mudar, ela reajusta sua escolha de insumos e producao de modo a obter
o maior lucro possvel. A convexidade da funcao lucro e consequencia dessa reacao da firma, e e
ilustrada na Figura 1 abaixo.
Note que se o preco aumentar para p e a firma agir de modo passivo, ou seja, nao modificar a
sua escolha de insumos e producao e continuar usando (q, x1 , x2 ), entao o aumento do preco leva a
um aumento do lucro marcado no eixo vertical da Figura 1 como Lucro Passivo. Porem, o aumento
do preco p induz a firma, considerando as suas limitacoes tecnologicas, a reajustar a sua producao
e uso de insumos de modo que ela obtem um aumento no lucro ainda maior do se agisse de forma
passiva (na Figura 1, o Lucro Real, grafado no eixo vertical, e maior do que o Lucro Passivo).
A quinta propriedade diz que se o preco de um insumo aumentar em R$ 1, o lucro diminui em
um valor igual a quantidade de insumo i que esta sendo usada (xi ). Se o preco do produto subir em
R$ 1, o lucro aumenta em um valor igual ao nvel de producao, q . Percebemos que uma variacao
no preco de um insumo nao vai causar impacto no lucro da firma apenas se este insumo nao for
usado pela firma. Se a firma utilizar o insumo, um aumento (uma queda) no seu preco levara a
firma a usar menos (mais) desse insumo
Lucro
6
Lucro Passivo
Lucro Real s
p (p) = pq w1 x1 w2 x2
s
Lucro Passivo
(p, w1 , w2 ) s
-
p
p p
(2) Um aumento no preco de um insumo diminui a demanda por esse insumo, um aumento no
preco do produto aumenta a sua oferta:
q(p, w1 , w2 ) xi (p, w1 , w2 )
0; 0 , i = 1, 2
p wi
(3) Os efeitos-preco cruzados sao iguais para os insumos:
x1 (p, w1 , w2 ) x2 (p, w1 , w2 )
=
w2 w1
Novamente, vamos primeiro verificar a validade dessas propriedades para depois discutir a in-
tuicao de cada uma delas.
Prova: (1) Se aumentarmos todos os precos pelo mesmo fator t, entao a solucao do problema da
firma nao se altera:
(tp, tw1 , tw2 ) = max tpf (x1 , x2 ) tw1 x1 tw2 x2 = t max pf (x1 , x2 ) w1 x1 w2 x2
x1 ,x2 x1 ,x2
= t(p, w1 w2 ).
Portanto, a escolha otima de insumos da firma aos precos (tp, tw1 , tw2 ) e a mesma escolha otima
quando os precos sao (p, w1 , w2 ). Consequentemente, a oferta otima da firma tambem sera a mesma
em ambos os casos.
(2) Esse resultado pode ser obtido usando o Teorema da Funcao Implcita. As CPOs do problema
de maximizacao de lucro da firma sao:
CP O1 : pf1 (x1 , x2 ) = w1
CP O2 : pf2 (x1 , x2 ) = w2
Se as CSO sao satisfeitas, entao a matriz Hessiana e negativa semi-definida e, portanto, invertvel.
As demandas pelos fatores sao:
x1 x1
! 1 1
w1 w2 pf11 pf12 1 0 pf11 pf12
x2 x2 = = ,
w w
pf 12 pf22 0 1 pf 12 pf22
1 2
ja que toda matriz multiplicada pela matriz identidade e igual a ela mesma. Usando o fato de que:
1
pf11 pf12 1 pf22 pf12
= ,
pf12 pf22 det(H) pf21 pf11
Logo:
x1 pf22 x1 pf12
= <0 e = T0
w1 det(H) w2 det(H)
x2 pf12 x2 pf11
= T0 e = <0
w1 det(H) w2 det(H)
(3) Esse resultado, que ja pode ser observado nas equacoes acima para x1 /w2 e x2 /w1 , e
consequencia do lema de Hotteling (/wi = xi ):
xi 2 2 xj
= = = .
wj pj pi pi pj wi
Vamos discutir a intuicao dessas propriedades. A propriedade 1 diz que uma mudanca em todos
os precos na mesma proporcao nao afeta a escolha otima da firma.
A segunda propriedade mostra que nao podem existir insumos de Giffen: as demandas por
insumos de uma firma reagem negativamente (ou nao se alteram) a uma mudanca do preco do
insumo, sem excecoes (veja, por exemplo, as demandas x1 /w1 e x2 /w2 acima). Portanto, se
o preco de um insumo aumentar, tudo o mais constante, entao a firma usara menos desse insumo
(ou usara a mesma quantidade), e nunca usara mais do insumo caso o seu preco aumente. Na
teoria da firma, nao existe efeito analogo ao efeito renda da teoria do consumidor, que permite a
existencia de bens de Giffen.
A terceira propriedade e um tanto inesperada. Se a firma maximiza lucros, entao o efeito de
um aumento no salario sobre o uso de capital na firma e igual ao efeito de um aumento no preco de
capital sobre o uso de trabalho na firma. Essa propriedade nao e intuitiva, mas e uma consequencia
do problema de maximizacao da firma. Se a firma maximiza lucros, entao ela sera verdadeira.
O princpio de LeChatelier diz que um ajuste na producao da firma devido a uma alteracao no
preco do produto e sempre maior no longo prazo do que no curto prazo:
dqLP dq
CP
dp dp
Vamos derivar esse resultado. Primeiro note que o lucro de longo prazo da firma e sempre igual
ou maior do que o lucro de curto prazo. Esse resultado e intuitivamente claro: no curto prazo a
firma pode ajustar apenas os insumos variaveis, enquanto no longo prazo ela pode ajustar todos os
insumos. Portanto, definindo a funcao h(p) como a diferenca entre as funcoes lucro de longo prazo
e de curto prazo, temos que:
h(p) = LP (p) CP (p) 0
Sob certas condicoes, pode ser provado que essas duas funcoes sao iguais apenas em um unico
nvel de preco do bem que a firma vende, denotado por p = p . Portanto, h(p) tem um mnimo em
p e a segunda derivada de h(p) e nao-negativa em p . Ou seja,
4 Lucratividade Revelada
Dizemos que a firma satisfaz o Axioma da Maximizacao de Lucros (AML) se as duas desigual-
dades acima forem validas para cada par de observacoes coletado.
Vamos manipular algebricamente as duas desigualdades que compoem o AML. Multiplique a
segunda desigualdade por -1, invertendo o sinal da desigualdade, e some essa nova desigualdade a
primeira desigualdade, para obter:
pt q t w1t xt1 w2t xt2 ps q t + w1s xt1 + w2s xt2 pt q s w1t xs1 w2t xs2 ps q s + w1s xs1 + w2s xs2
(pt ps )q t (w1t w1s )xt1 (w2t w2s )xt2 (pt ps )q s (w1t w1s )xs1 (w2t w2s )xs2 0
Essa ultima equacao e consequencia do comportamento maximizador da firma e caso nao seja
satisfeita, indica que a firma pode nao estar maximizando lucros. A variacao no preco final mul-
tiplicada pela variacao na producao subtrada de todas as variacoes nos precos de cada insumo
multiplicadas pelas variacoes nas quantidades dos insumos nao podem ser negativas.
Vamos analisar dois casos especiais dessa equacao, e veremos que as conclusoes obtidas sao
similares as obtidas anteriormente.
Caso 1) Suponha que apenas o preco do produto se alterou. Nesse caso, wi = 0 para todo
insumo i. Entao:
pq 0 ,
ou seja, a variacao na producao e na mesma direcao que a variacao no preco do produto: se o preco
do produto aumentar, a oferta deve aumentar caso a firma maximize lucros (ou, permanecera a
mesma, mas um aumento no preco do bem final nunca pode levar a uma queda na quantidade
ofertada).
Caso 2) Suponha que apenas o preco do insumo i se alterou. Nesse caso, wj = 0 para todo
insumo j 6= i e p = 0. Entao:
wi xi 0 ,
ou seja, a variacao na demanda do insumo e na direcao contraria a variacao no seu preco: se o
preco do insumo aumentar, a firma deve usar menos desse insumo (ou nao se alterar a quantidade
usada, mas um aumento no preco do insumo nunca deve levar a um aumento no uso desse insumo).
Na teoria da firma, nao existe um Axioma Forte da Maximizacao do Lucro. O AML ja esgota
todas as implicacoes do comportamento maximizador da firma. Se coletarmos varias observacoes
sobre as escolhas de uma firma, que satisfazem o AML, entao podemos sempre estimar uma funcao
de producao que pode gerar essas escolhas.
Leitura Recomendada
Pindick e Rubinfeld, cap. 8 - Maximizacao de Lucros e Oferta Competitiva, secoes 8.1, 8.2,
8.3 e 8.4.
Exerccios
3. Suponha que voce esta fazendo uma consultoria para uma empresa que utiliza dois insumos,
com o objetivo de verificar se essa empresa esta maximizando lucros. Voce coletou duas
observacoes sobre o comportamento dessa empresa, com os seguintes dados:
w1 w2 x1 x2 p q
Observacao 1 3 1 40 50 4 60
Observacao 2 2 2 55 40 4 60
a) Assuma que o preco do bem que a firma vende caiu de p para p. No contexto da Figura
1, a relacao Lucro Passivo e Lucro Real e o que voce esperaria? Explique a intuicao.
b) A Figura 1 ilustra a relacao de convexidade assumindo variacao apenas para o preco
do bem que a firma vende. Assuma agora que este preco e o preco do insumo 2 estao
fixos e apenas o preco do insumo 1, w1 , varia. Ilustre graficamente como a funcao
lucro varia de acordo com mudancas em w1 , tambem usando a ideia de Lucro Passivo
e Lucro Real. Sua analise esta de acordo com o esperado, no sentido de que a firma
ajusta os insumos sempre de modo a alcancar o maior lucro possvel, dadas as limitacoes
existentes? Explique a intuicao.