Dissertação Luana Lobato Finalizada
Dissertação Luana Lobato Finalizada
Dissertação Luana Lobato Finalizada
Mottainai:
Um estudo de caso nas oficinas de fotografia artesanal
de Miguel Chikaoka
Duque de Caxias
2017
Luana Ediena Cmara Lobato
Mottainai:
Um estudo de caso nas oficinas de fotografia artesanal de Miguel Chikaoka
Duque de Caxias
2017
CATALOGAO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEHB
R375
Autorizo, apenas para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta
dissertao, desde que citada a fonte.
_______________________________________ __________________
Assinatura Data
Luana Ediena Cmara Lobato
Banca Examinadora:
__________________________________________________
Profa. Dra. Liliane Leroux (Orientadora)
Faculdade de Educao da Baixada Fluminense UERJ
__________________________________________________
Prof. Dr. Leandro Pimentel (Coorientador)
Instituto de Artes UERJ
_________________________________________________
Prof. Dra. Anne Danielle Soares Clnio dos Santos
Ibict - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
_________________________________________________
Prof. Dra. Brbara Andrea Silva Copque
Faculdade de Educao da Baixada Fluminense UERJ
Duque de Caxias
2017
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que sempre estiveram presente, nos sorrisos e nas lgrimas, nas
conquistas e derrotas, que me apoiaram incondicionalmente nas minhas decises, que nunca
duvidaram da minha persistncia e fora de vontade. Agradeo tambm a minha tia Dalila que
me acolheu nessa catica cidade do Rio de Janeiro, nos primeiros meses que cheguei e me
senti perdida, que me ajudou emocionalmente e financeiramente nas batalhas difceis que
enfrentei. Ao meu companheiro Renan, pelo amor, cumplicidade e companheirismo nesses
ltimos dois anos de estudos intensos. Tambm agradeo a minha eterna amiga Camila
Aranha, que percorre comigo desde a faculdade de Artes Visuais a intensa batalha acadmica.
minha orientadora, Liliane Leroux, primeiramente por ter aceitado orientar o projeto que
desencadeou neste trabalho, em segundo, pelas discusses e orientaes que contriburam
para o amadurecimento desta pesquisa e em terceiro, por me apoiar em todas as dificuldades
que enfrentei ao longo do curso.
Agradeo ento, ao meu mestre Miguel Chikaoka, por inspirar e instigar esta
pesquisa, por ter me mostrado ao longo dos anos a enxergar o mundo com outros olhos e no
somente os da cmera fotogrfica.
FAPERJ pelo financiamento desta pesquisa.
"Ns no vemos as coisas como elas so, porm como ns somos"
Anais Nin.
LOBATO, Luana Ediena Cmara. Mottainai: A case study in the artisan photography
workshops of Miguel Chikaoka. f Dissertation (Master's Degree in Education, Culture
and Communication) - Baixada Fluminense School of Education, Rio de Janeiro
State University, Duque de Caxias, 2017.
This research carried out a case study of two workshops of handmade photography
mediated by the educator and photographer, Miguel Chikaoka in the city of Rio de
Janeiro. From a look at the daily activities of the workshops and the descriptive
record (text and image), I could observe and investigate the Chikaoka teaching
practice, as well as to understand which major categories appear in their educational
proposals. The research also sought to understand, as the expression of Buddhist
Zen origin, Mottainai, widely used in Japanese culture as a mantra of "non-waste"
becomes the main motto of its methodology, being intrinsic to the values and
philosophies that Chikaoka proposes to disseminate, unveiling themselves in
methods of teaching, experiencing, experiencing and learning handmade
photography.
PERCURSSOS INICIAIS.......................................................................................................... 12
I. Coletivo Cmera Aberta......................................................................................................... 14
II. A Terra Firme sobre o Rio Tucunduba...................................................................................19
III. Belm do Par, uma floresta urbana....................................................................................24
IV. As oficinas de Miguel Chikaoka............................................................................................ 28
SUMRIO
12
1 25
1.1 28
1.1.1 32
1.2 37
1.3 44
1.3.1 49
2 56
2.1 56
2.2 61
2.2.1 68
2.2.2 72
2.3 77
2.4 81
2.4.1 83
2.4.2 91
3 107
3.1 107
3.2 115
3.2.1 125
3.3 130
136
1. PERCURSOS INICIAIS
Os Incio este trabalho falando sobre meus percursos iniciais descritos aqui,,
estes, que proporcionaram o estopim desta pesquisa e me guiaram na busca por
entender as relaes que se constroem na prtica com a conhecer mais as relaes
entre o tempo e o olhar, na fotografia artesanal de Miguel Chikaoka. A partir doe
olhar, de experincias sensoriais, tcnicas e afetivas que apreendi junto com
Chikaoka ao longo de minha formao acadmica e pessoal e em experincias com
a fotografia em outros espaos, pude experimentarcompreender as diferentes
possibilidades estticas e culturais que surgem a partir do uso da fotografia
artesanal e as relaes sociais que ela evidencia.
Minhas primeiras experincias com a fotografia artesanal, e os inmeros
aprendizados que tive como mediadora de oficinas de fotografia, aconteceram
dentro do Coletivo Fotogrfico Coletivo Cmera Aberta e com a participao em
oficinas de diferentes temticas e propostas na Associao Fotoativa 1, em Belm do
Par, sob mediao do fotgrafo e educador Miguel Chikaoka.
Chikaoka me proporcionou o despertar para um mundo repleto de
possibilidades educativas com a fotografia artesanal. Os aprendizados que obtive
em suas oficinas e os valores que absorvi ao conhec-lo melhor, Ttrabalhando como
voluntria nas aes da Fotoativa e participando de diferentes oficinas mediadas por
Chikaoka, aprendi muito sobre a fotografia artesanal e ao mesmo tempo, estes
aprendizados me guiaram at aqui na inteno de compreender mais
profundamente os conceitos e sensibilidades que permeiam sua metodologia, suas
relaes, tanto com a tradio japonesa na qualal Chikaoka foi criado, quanto com o
ambiente paraense ( local(local que escolheu morar) e, por fim, investigar quais os
efeitos de sua proposta ao ser aplicada fora de seu contexto local.
Ao integrar o Coletivo Cmera Aberta, entre os anos de 2011 e 2013, ainda
como estudante do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Par,
participei de algumas aes sociais e educativas, em regies de baixa renda,
utilizando a fotografia pinhole2 como ferramenta educativa. Este, certamente,
1
Fundada em Belm em 1984 por Miguel Chikaoka, se consolidou como um ncleo de referncia
para o desenvolvimento de uma cultura fotogrfica na regio amaznica e como uma das mais
atuantes e criativas organizaes culturais do Brasil.
2
A pinhole (buraco de agulha) basicamente uma cmara escura que tem um pequeno orifcio em
um lado da cmara. O material sensvel luz (filme ou papel fotogrfico) colocado na cmara
13
tambm foi um dos motivos para que a fotografia entrasse na minha vida como uma
curiosidade crescente, que se estende at hoje. As experincias foram to
importantes que culminaram no tema de meu trabalho de concluso de curso em
Artes Visuais, intitulado Coletivo Cmera Aberta: disparos estticos em transe, no
qual relato todos os processos pelos quais passei como participante no Coletivo,
assim como eas discusses tericas e histricas fao uma discusso sobre a
importncia da fotografia analgica e artesanal como arma de disparo cultural, social
e poltico, articuladando com autores que sobre abordam os coletivos de fotografia
contempornea do Brasil.il.
Ao perceber no mbito acadmico de Artes Visuaisno qual estava imersa ,
nas palestras, cursos e e nworkshopsos cursos de fotografia e educao que
frequentava em Belm a crescente influncia de Chikaoka e suas oficinas ao redor
do Brasil, l, tomei a decidiso pesquisarde percorrer o caminho da investigao de
suas propostas educativas, frequentando cada vez mais os cursos e oficinas
ministradas por ele. Ao passo que estas relaes se aprofundavam, compreendi que
a cmera artesanal era somente uma ferramenta, um eixo norteador de suas
propostas metodolgicas, que na verdade eram muito mais complexas. Os
diferentes temas e categorias abordados por Chikaoka, iam muito alm do ensino da
fotografia.
Por este motivo, julgo ser importante para este trabalho, e as discusses que
viro posteriormente, perfazer alguns dos trajetos que percorri ao longo das aes
vigentes no Coletivo Cmera Aberta e tambm resgatar memrias importantes
durante os percursos de aprendizado e experincias sensveis durante as oficinas
que participei comde Chikaoka, j que, a partir destasestas, instigaram o objetivo
central desta pesquisa. surgiram as hipteses que fundamentam as investigaes
deste trabalho.
Inicialmente farei uma introduo do Coletivo Cmera Aberta e de como as
relaes sociais e educativas que aconteceram no decorrer deste projeto tambm
contriburam indiretamente para este trabalhoa pesquisa. Posteriormente,
apresentarei as experincias com as oficinas de Chikaoka em Belm e os objetivos
que impulsionaram esta pesquisa. Posteriormente, no captulo 01, apresento o
primeiro estudo de caso, a oficina Brincando com a Luz, descrevendo as etapas e
escura do lado oposto ao furinho. Qualquer objeto opaco, como uma caixinha de fsforo ou uma lata,
podem virar uma pinhole.
14
dinmicas assim como os registros das imagens que elegemos serem as que melhor
descreveram a oficina. No captulo 02, Fototaxia, em busca do elo perdido, h a
descrio da segunda oficina do estudo de caso, tambm intercalando texto e
imagem. No captulo 03, Chikaoka e um territrio de imagens, apresento os
antecedentes histricos da fotografia no Par, assim como a contribuio de
Chikaoka para a cena fotogrfica em Belm e um breve aspecto atual da fotografia
contempornea paraense. No captulo 04, Chikaoka, Mottainai e o tempo, apresento
reflexes tericas sobre a expresso Mottainai e sua relao com a metodologia de
Chikaoka assim como a discusso sobre o tempo, categoria que aparece na
proposta de Chikaoka.
3
Educao de Jovens e Adultos
17
nenhum conhecia de fato o processo pelo qual a imagem concebida.. Tudo era
novidade no mbito das imagens artesanais e tudo gerava encantamento.
.
FONTE: Acervo CCA.
No decorrer da oficina organizamos uma sada para fotografar com uma das
cmeras produzidas em sala. As imagens foram produzidas com a cmera pinlux4, e
o local escolhido coletivamente pelos participantes para o experimento de suas
cmeras foi o Mercado do Ver -o- Peso5.
Procuramos deixar os alunos livres de qualquer imposio que oslhes
influenciassem ao que fotografar. Tomou-se a liberdade do olhar, guiada pela
intuio de cada um, na explorao de um territrio to prximo culturalmente e
distante imageticamente. Nossa inteno foi a de proporcionar aos alunos alunos o
caminhar, o observar e imaginar o local, direcionando suaa ateno deles mais para
a contemplao e percepo, mesmo que muitos ficassem preocupados com a
tcnica de manipulao da cmera e acabassem esquecendo de fotografar alguns
pontos importantes do local.
. Logo observamos o entusiasmo de um flneur, mas aqui com um sentido de
algum que perambula com compromisso, um compromisso guiado pela vontade
de capturar imagens.
Dentro deste espao de percepes variadas, as imagens iam se construindo
conforme orientaes subjetivas, individuais, coletivas e intuitivas, num explorar de
um territrio pouco frequentado por eles, o mercado do Ver- o - Peso.
4
Uma pinlux uma pinhole feita a partir de caixa de fsforos, onde o material sensvel um filme
fotogrfico de 35mm. Este nome devido as caixinhas de fsforo da marca fiat lux, que so as mais
utilizadas para fazer este tipo de cmera fotogrfica artesanal.
5
O mercado do ver o peso, localizado s margens do rio Guam e amazonas exemplo, por
excelncia, de um mercado popular, de tradio regional e local e, ao mesmo tempo, como um
espao translocal, transnacional, onde se articulam novas e antigas formas de organizao e venda
de produtos, sociabilidades e identidades, num contexto de modernidade amaznica. FONTE:
<www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/_arquivo_lusoafroomercadodover-o-peso-
belem1.pdf> acessado em nov.2015
19
ImagemFigura 03 Foto tirada com a pinlux por um aluno da oficinano Ver o Peso
pblico que pode ser frequentado por eles e por todos que quiserem estar ali. Esta
discusso foi levada posteriormente sala de aula e discutimos muito com eles a
importncia do acesso a estes pontos ditos tursticos, frequentar estes lugares
um ato de resistncia social, afinal espaos pblicos devem ser frequentados por
qualquer classe social. e de direito.
FONTE: GOOGLE/2016
Cortado pelo rio Tucunduba6, assim como vrios outros bairros da cidade de
Belm, a Terra Firme cenrio de constantes alagamentos com a cheia do rio e
potente via de escoamento para o trfico de drogas.
6
O nome do rio Tucunduba deriva da existncia do grande nmero da palmeira Tucun (Astrocaryum
aculeatum) em suas margens no perodo da ocupao da bacia hidrogrfica. Possivelmente criado
pelos ndios Tupinamb, seus provveis primeiros habitantes (ALVES, 2010).
22
(...) a bacia do Tucunduba se enquadra como uma rea que tambm est
na trama das redes ilegais, recebendo boa parte da droga que abastece os
bairros da Terra Firme, uma parte do bairro do Guam, Marco e Canudos,
uma conexo direta com o rio Guam. Da entender o porqu de existirem
muitos conflitos envolvendo faces rivais nos bairros da Terra Firme e
Guam. (COUTO,2013).
7
'Fobpole resultado da combinao de dois elementos de composio, derivados das palavras
gregas phbos, que significa 'medo', e plis, que significa 'cidade'. [] Uma 'fobpole' [...] uma
cidade dominada pelo medo da criminalidade violenta. Mais e mais cidades vo, na atual quadra da
histria, assumindo essa caracterstica (SOUZA, 2008, p. 9)
8
Baixadassoreasalagadasoualagveispelaconcentraodasguasdaschuvasepelosfluxosdasmarsdos
rioseseusafluentesquecortamostiourbanodeBelm.Soterrenoscujascurvasdenveisestoabaixoda
cotade4m[donveldomar](ABELM,1988,p.31)
23
FONTE: GOOGLE.
12
As festas de aparelhagens so realizadas na Regio Norte do Brasil, mais precisamente em Belm
do Par, o altar da aparelhagem, lugar onde ficam posicionados os DJs, centro das atenes da
festa, como uma espaonave que vem descendo no meio do clube, por trs de tudo, um gigantesco
painel de leds iluminando o lugar com imagens remixadas pelos prprios DJs.
25
prpria regio Metropolitana de Belm pode ser caracterizada como uma extensa
periferia precria, com agudas carncias de infraestrutura e servios urbanos. 13
Porm, esta mesma Belm, que comporta agudas carncias de
infraestrutura e profundas desigualdades sociais semelhantes s que esto
presentes em outras metrpolesoutras metrpoles, se configurou como um
importante polo criativo nacional e difusor de umas das cenas fotogrficas mais
importantes do pas.
III.
13
Anlise do ndice de bBem-estar uUrbano - IBEU Local, retirado da pesquisa no site:
<http://www.observatoriodasmetropoles.net> Acessado em 10/12/2016.
26
Andr Lima
Falar de Belm sempre falar com emoo, como na poesia de Andr Lima,
ser belenense ser profundo e profundeza. Belm, terra banhada por rios e mata,
um centro urbano catico imerso dentro da floresta amaznica.
"Em Belm o caloro dilata os esqueletos e meu corpo ficou exatamente do
tamanho da minha alma, registrou o escritor Mrio de Andrade, em sua obra O
Turista Aprendiz, de quando esteve na capital paraense em maio de 1927. Batizada
em 12 de janeiro de 1616, Belm, localizada na regio Norte do pas,
carinhosamente chamada pelos seus de Cidade Morena e popularmente conhecida
pelo calor do incio de tarde seguido pelas chuvas vespertinas nem bela nem
formosa, cabocla desajeitada e pequenina como diz o cantor e compositor Alcyr
Guimares, um pedao da Amaznia, envolta por rios, mitos e mata verde.
Nascer e crescer em Belm estar bem prximo natureza e mesmo assim
neg-la, uma cidade que vive num intenso paradoxo, onde sua populao insiste
em progredir sem se desvencilhar da sua raz ribeirinha. De longe, dos altos prdios
que contornam a cidade possvel avistar as palafitas e barcos, o vento que sopra
de longe traz consigo aquele ar mido e molhado, fruto do clima equatorial. Estar em
Belm vivenciar asfalto e o cheiro de mata verde.
FONTE: GOOGLE/2017.
FONTE: GOOGLE.
14
Retirado do Site <Site: https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2016/10/28/belem-violencia-mundial>
.Acessado em 02/05/2017.
15
(BECKER, 20111) in http://www.ppg-casa.ufam.edu.br/pdf/Bertha%20Becker_2005.pdf.
29
IV.
- As oficinas de Miguel Chikaoka
16
Nos prximos captulos ser discutido mais detalhadamente a origem e conceitos desta expresso
oriental.
32
oficinas, como se constri a relao com o tempo em sua prtica pedaggica. Tempo
este que associado expresso Mottainai, no sentido de desperdcio.
Como esta pesquisa se direciona para as observaes de grupos que
compuseram as oficinas de fotografia artesanal de Chikaoka, optamos pelo estudo
de caso como e mtodo de investigao.
Chikaoka fala de um outro tempo, aquele da expresso Mottainai, que deve
ser desperdiado. Nas oficinas de Chikaoka aprender perder tempo. O que se
contrape diretamente proposta de educao que se construiu socialmente, onde
aprender no perder tempo, no sentido de que no experiencial, vivencial,
sensorial, mas sim um ato puramente cognitivo.
Para o Mottainai expresso que dialoga com a ideia do no desperdio
(material ou imaterial), no desperdiar, pois faltar , Para Chikaoka, o tempo
tornar-se uma categoria que deve ser desperdiada a fim de proporcionar um
aprendizado mais sensvel e experiencial. Na ideia de Mottainai, tal como Miguel
Chikaoka dela se apropria em suas oficinas, acreditamos encontrar algo prximo a
estas discusses, compreendendo que o tempo nas oficinas abordado de uma
maneira diferente da que observamos em nosso sistema educacional formal.
A prtica de Chikaoka artesanal. O artesanal algo que historicamente diz
respeito muito mais mo do trabalhador do que ao gesto do artista. Como se no
primeiro caso se tratasse simplesmente de um ofcio (habilidade, tcnica, repetio)
e, no segundo, de uma obra singular (criao, inteligncia, inspirao, genialidade).
Ao inserir o artesanal dentro de um regime de tempo (perdido), de olhar
(desinteressado) e de presena (sensvel) prprio ao esteta, s elites artsticas e
intelectuais, Chikaoka conecta a inteligncia ao sensvel. Nesta operao, ele se
aproxima de uma perspectiva de igualdade j presente no julgamento acerca do belo
em Kant e no sonho da educao esttica de Schiller.
Buscaremos ento colocar em perspectiva a profanao que suas propostas
realizam sobre o regime comum de tempo social e educativo. Assim como
compreender que outras categorias, alm do tempo, aparecem em sua prtica
educativa.
A escolha por estudar as oficinas no Rio de Janeiro, fundamentada
fundamentada na inteno de se compreender de que maneira, os mtodos de
Chikaoka afetam pessoas de outras culturas e regies, diferentes da realidade
paraense. Chikaoka percorre diferentes regies do Brasil levando seus mtodos
33
CAPTULO 01
1. BRINCANDO COM A LUZ
17
http://www.dicionarioinformal.com.br/alteridade/.
36
Como cheguei 15 minutos atrasada, Chikaoka havia pedido que cada um dos
participantes deixasse sobre a mesa central da sala um objeto intimo seu, que
significasse algo importante. As E as duplas estariam conversando sobre este
objeto, descrevendo as histrias por detrs deles e consequentemente falando um
pouco sobre suas vidas.
Aos poucos, cada um vai falando e descrevendo o seu parceiro, explicando o
porqu da escolha do objeto, os argumentos e estrias variam de dupla em dupla,
os objetos em cima da mesa tambm, so eles: anis, culos, celulares, livros, entre
outros. Cada um ento vai socializando estrias escondidas em objetos ntimos. Um
verdadeiro desafio reflexo da identidade, das caractersticas, dos sonhos que
cada um carrega consigo, diariamente, transcrito em objetos de bem querena.
Ao final da dinmica de apresentao, Chikaoka faz uma pausa e espera que
os participantes falem e expressem o que sentiram durante a experincia. Uma das
falas que resume melhor o que foi dito pelo grupo foi: mais fcil escutar o outro
com os olhos fechados.
Para esta etapa da oficina, Miguel Chikaoka sugere que se formem grupos de trs
pessoas e que os mesmos faam uma lista de coisas queas quais podemos fazer com as
mos. Com um cronometro, ele marca um pequeno tempo de 1 minuto para que se escreva
o mximo de possibilidades deste fazer: Para que servem as mos? Quais suas
potencialidades? Que mos so essas? So perguntas que instigam durante o exerccio.
Muitas palavras so escritas: comer, criar, protestar, acariciar, cuidar, coar,
fotografar, entre outras. Cada grupo l em voz alta e socializa as palavras. interessante
nos darmos conta do tanto de possibilidades que as mos podem nos trazer.
Chikaoka diz: cada verbo nos leva a uma ao fala tambm que, muitas vezes, a
sociedade instala uma proibio do corpo, nos limitando a pensar as possibilidades e
potncias que ele possui.
Na oficina, o fazer manual permeia todo o processo, as mos so as principais
ferramentas do processo criativo. As mos so os olhos dos cegos e voz dos mudos, no
ndos damos conta, pois estamos mecanicamente acostumados a us-las sem perceb-las.
Chikaoka provoca a reflexo sobre nosso corpo, sobre como ele nos importante e a
potncia criativa que emana dele.
18
Origami uma tcnica japonesa, uma arte de dobrar papel, e existe h mais de um sculo, fazendo jus ao
significado do termo, que fazer dobras de papel, sem cortes e nem colas, para criar objetos e outros seres.
42
Antes, h um tempo atrs, quase desisti de fazer este processo, pois fazia
com rgua e medies matemticas e era muito traumtico pois muitas
pessoas no conseguiam fechar a caixa, ou faziam as marcaes e cortes
errados, ento eu tinha que parar e refazer tudo de novo. Era muito
cansativo e frustrava os participantes, principalmente as crianas. Esse
quase desistir, me remeteu a tcnica do origami e do silncio e assim
comeou a dar mais certo. (Chikaoka, 2016.)
O corpo fica impresso na sua cmera, diz Chikaoka, (...) voc passa a ter
uma sensao de pertencimento, autoria e identidade sobre o que est sendo feito.
Conforme as cmeras vo ficando prontas e tomando vida, veem-se as
expresses de alegria e conforto dos participantes ao perceberem que deu certo.
Nossa, que alvio, ficou certinho, diz uma das participantes manuseando sua
cmera obscura de papel.
Ao finalizar a atividade, Chikaoka observa que cada uma das cmeras possui
um tamanho, abertura e encaixe prprio, pois vai da individualidade de cada um o
modo de fazer e que como a marcao das dobraduras feita com o corpo, e cada
pessoa tem suas prprias dimenses corporais, tamanho das mos, dedos e
polegares, a cmera quase que um prolongamento desse corpo.
43
19
Palmeira de at 20 m ( Astrocaryum aculeatum), de estipe com faixas de espinhos negros, folhas ascendentes,
inflorescncia ereta, e frutos amarelos com tons avermelhados; tipicamente encontrada na Amaznia.
44
confeccionar uma cmera obscura. Enquanto isso, Chikaoka fazia uma breve
explicao terica sobre tica, falava sobre a convergncia dos raios luminosos, que
quanto menor o furo para a entrada da luz, mais ntida a imagem. Fez uma
comparao com uma objetiva de cmera digital e explicou um pouco sobre as
diferenas entre os tipos de lente encontradas nas lupas trazidas pelos participantes.
Em alguns momentos, durante as falas de Chikaoka, me senti imersa em uma
aula de fsica, arte e poesia, pois ao mesmo tempo em que a compreenso da
formao da imagem fotogrfica ia se tornando mais ntida, outros saberes iam se
construindo em minha mente. A experincia de construir a partir do artesanato, a
autonomia do fazer e saber como funciona a cmera e o comportamento que a luz
possui ao entrar nela, despertam um aprendizado mais completo. O indivduo
experimenta o processo, e no s experimenta o terico do processo.
Aps o trmino da criao dos olhos ele pede que os participantes formem
grupos de trs pessoas, de modo que uma fique parada no centro segurando o
carto perpendicularmente a uma certa distncia do peito. Os outros dois
participantes ficam posicionados a uma distncia da pessoa ao meio, uma do lado
esquerdo, outra do lado direito, e olhando atravs do furo dos seus respectivos
cartes, buscam cruzar o olhar atravs do furo do carto que est nas mos da
pessoa ao centro.
Chikaoka prope que os mesmos que desloquem ao longo do ambiente, de
modo que no percam o olhar sobre o outro, como se os olhos estivessem
conectados sobre uma linha imaginria. A brincadeira se torna divertida e causa
entusiasmo empor todos.
Esses mesmo cartes iro compor a cmera obscura, sendo colados as
mesmas como visores e acoplados posteriormente a uma lupa que a qual cada
participante trouxe.
Miguel Chikaoka tambm faz uma pequena demonstrao da concentrao
dos raios luminoso com as lupas, demonstrando a convexidade e convergncia da
lente da lupa. Dependendo da distncia entre a lente e o papel, a luz incidente faz o
papel pegar fogo. Ao fazer o experimento os alunos ficam impressionados com o
papel queimando apenas com a energia do sol. o poder da luz, escuto de um dos
participantes.
Para esta dinmica fui convidada a participar e no mais ficar apenas como
observadora, fazendo assim uma observao participante. Novamente, com os olhos
vendados, somos desafiados a ficar em duplas um a frente do outro, a medida em que
Chikaoka passa com uma sacolinha cheia de sementes oriundas da regio de
Belm .Belm. Durante a dinmica, somos convocados a escolher uma semente e toc-la,
sentindo sua textura, cheiro, aroma e dimenso. Ele nos pergunta: Conseguem imaginar de
qual fruto ela vem?vem? , mas difcil, visto a imensido de frutos que habitam a regio.
Atrevo-me a dizer que uma semente de Ing. Outros grupos gritam A nossa de
guaran, A nossa de aa. E aos poucos vou me lembrando dos sabores e aromas de
Belm, quase que numa nostalgia olfativa e ttil. Aps tatearmos e cheiramos a semente,
Chikaoka diz: Imaginem a semente e a associem a uma palavra, depois desenhem a
palavra no papel.
Aps a dinmica somos instigados a pensar: O que so as sementes? O que podem
vir a ser sementes?.sementes? E um dilogo se instaura tendo como tema a permanncia
das coisas, a latncia e continuidade, assim como a potncia que uma semente, ou
qualquer outra coisa pode guardar, tal como a luz.
50
Imagem 24 - Resultado dos experimentos com pincel de luz da oficina Brincando com a luz
Foto: Luana Lobato
CAPTULO 02
2. FOTOTAXIA, EM BUSCA DO ELO PERDIDO
Antes de comear, que tal dizer um pouco sobre o significado de Fototaxia? Segundo
a leitura livre de Miguel Chikaoka com base em trs diferentes dicionrios para elaborao
escrita do projeto Fototaxia:
IMAGEM: Laurinda
Foto: Miguel Chikaoka
1 DIA
Parte II A Oficina
Daqui pra frente a descrio das etapas em que a oficina se desenvolve, as imagens
e a denominao das atividades, foram designadas com base nas observaes e dinmicas
que aconteceram no espao Cultural Laurinda Santos Lobo nos dias 08 e 09 de dezembro
de 2016, no necessariamente em nomes e mtodos descritos previamente por Miguel
Chikaoka.
Chikaoka no segue uma mesma sequenciasequncia em todas as oficinas que
ministra, suas prticas e dinmicas se repetem s vezes, mas ele sempre busca inovar
tendo como base o potencial educativo dos fazeres que nos aproximam sensorialmente da
origem do processo fotogrfico e do dilogo consigo mesmo. A tentativa de nos conectar
um ao outro, e com a natureza, pelo sensvel.
do mundo.
pergunta sobre a importncia do Furoshiki20. Ele diz ser esta prtica muito utilizada na
cultura japonesa a fim de evitar desperdcio, o que remete novamente filosofia Mottainai, j
que o leno serve para carregar e embrulhar vrias coisas e ser lavado e reutilizado
inmeras vezes.
Chikaoka finaliza a atividade falando que As lembranas que temos das nossas
experincias e o compartilhar disso com o outro um ato generosamente humano. As
pessoas ento recolhem seus objetos do circulocrculo e outra dinmica iniciada.
Imagem Figura 27- IMAGEM: Listando em grupo na dinmica mos para fazer
20
O furoshiki a arte tradicional de embrulho japons, atravs da utilizao de um tecido quadrado ,este,
possibilita embrulhar qualquer objeto.
61
Antes de iniciar a construo da cmera obscura Chikaoka enfatiza que vai fazer o
passo a passo em silncio, sem falar sobre as etapas do procedimento de medida, corte e
colagem.
Gesticulando e demonstrando manualmente as etapas do processo a sala segue em
silncio absoluto por cerca de 30 minutos. Os alunos sentados ao cho iniciam a construo
da cmera, escuto apenas o barulho do fincar do papel sobre o cho. Alguns usam objetos
para facilitar a dobradura no papel carto, ecoando barulhos de moedas, chaves e outros
objetos metlicos. Outros utilizam somente os dedos, sem o auxlioilio de nenhum objeto
para fincar o papel.
H tambm uma espcie de respirao conjunta que emana do processo, um som
que ecoa dos participantes durante o fazer da cmera. O despojamento e a leveza tambm
so fatores explcitos. Cada um tem o seu tempo de fazer, de experimentar, so
desconectados do que se passa l fora, o silncio provoca a imerso atenta ao processo,
ocupa toda a sala e assim vai permeando todo o ritual.
22
uma palmeira que chega a 15m de altura e possui espinhos longos e finos. Dela se extrai uma
fibra de nome tucum muito utilizada pelos nativos da amaznia na fabricao de redes de dormir, arco
etc... < http://www.dicionarioinformal.com.br > Acessado em 06/03/2017.
65
Quando a ento teia de luz se forma, Chikaoka inicia um dilogo sobre a velocidade
da luz, sua dimenso e grandezas, sobre a relao tempo x velocidade. Fala da onda de luz
e faz uma analogia com a onda do mar. Conversa sobre a vibrao da luz na retina, a
relao do ser com as grandezas fsicas e naturais da mesma. Discursa ainda sobre as
infinitas relaes que a luz estabelece ao percorre o caminho at a cmera, comenta sobre
seu pensamento equivocado que tivera h muito tempo em achar que a imagem estava na
cmera quando na verdade ela estava no emaranhado de luz que composto o ambiente.
A cmera obscura o ambiente onde eu me permito ver a imagem, no entanto ela j
estava aqui, neste lugar, aponta Chikaoka para o centro da sala. Ele ento finaliza a
dinmica cortando de um a um, os fios de barbante, e os entrega aos participantes falando:
O 1 raio de luz a gente nunca esquece.
O final do primeiro dia de oficina vai se aproximando e Chikaoka antecipa
brevemente o que ser abordado no dia posterior. Fala um pouco sobre a pinhole, sobre os
materiais que podem ser utilizados para cri-la e da facilidade e opo em escolher um
formato pequeno a ser utilizado por ele nesta oficina. Explica basicamente o processo de
funcionamento da pinhole e diz que o processo e a experincia de faz-la a melhor
maneira para entender como ela funciona.
2 DIA
No dia anterior Chikaoka j havia antecipado aos participantes que iria dedicar o
segundo dia somente as experincias com a cmera pinhole. Elas j estavam previamente
prontas, o modelo que ele quase sempre utiliza em suas oficinas o tubinho utilizado para
guardar filmes de 35mm, usados em cmera analgica. Chikaoka enfatiza que uma
70
cmera pinhole j pronta, sendo necessrio somente voc fur-la para entrada de luz e
construir um dispositivo que permita fechar e abrir o furo para a entrada dessa luz.
ImagemFigura 35 -IMAGEM: Cmera Pinhole estilizada, feita com tubo de filme fotogrfico.
23
Termo utilizado por fotgrafos para dizer que o filme ou papel fotogrfico utilizado para conter a imagem
capturada pela cmera, foi ocultada pela longa exposio da luz sobre o filme.
71
A dinmica consiste em observar a linha do olhar por meio dos visores orgnicos
construdos no primeiro dia de oficina. Grupos de trs pessoas se dividem e vo para o ptio
externo do Laurinda, a inteno cruzar o olhar atravs do furo do visor que est nas mos
da pessoa ao centro.
ImagemFigura 46 IMAGEM-: Dinmica: A linha do olhar
80
Aps a dinmica do olhar, Chikaoka distribui lupas para que os participantes colem
em seus visores e faam observaes com os mesmos nas cmeras obscuras. A inteno
demonstrar a diferena entre a cmera obscura com o furinho de tucum e com a lente da
lupa, visto que uma mesma imagem pode ser vista de maneiras distintas quando usadas
com cada um destes recursos.
A lente da lupa permite a formao de uma imagem mais ntida, isso provoca
espanto em alguns dos participantes, hipteses comeam a ser levantadas e a cada
observao da paisagem com a cmera na mo um sorriso se abre.
Posso escutar de longe algumas pessoas falando sobre o quo maravilhoso este
processo e de como crianas iriam ficar fascinadas ao experimentarem.
Aps observaes com a cmera obscura acoplada a lente de uma lupa, Chikaoka
props um exerccio com o pincel de luz, tcnica conhecida tambm como quimigrama, em
que o revelador usado para pintar diretamente no papel fotogrfico. A inteno mostrar
ser possvel fazer uma impresso fotogrfica sem o uso de uma cmera.
Esse exerccio proposto a partir de uma experincia sensorial na qualonde
Chikaoka venda os olhos dos participantes e pede que eles sintam sementes da regio
amaznica. Aps senti-las, so convidados a desenhar com a tcnica do quimigrama,
denominada de pincel de luz, j que o desenho feito com um pincel, em queonde a tinta
o revelador e o papel, fotogrfico.
Os desenhos devem seguir a ideia da potncia que a semente guarda, fazendo uma
aluso a potencia que a luz guarda e que aos poucos revelada. Os materiais so
organizados no centro do cho da sala, bandejas com gua e copinhos plsticos com
revelador qumico sobre um papelo so suficientes, ento, comeam a desenhar.
trinta anos neste local e conhecer melhor o lugar que culminou em suas primeiras
experincias educativas com a luz.
Chikaoka ampliou e desenvolveu o alcance da fotografia no cotidiano cultural da
cidade de Belm, de forma mpar, o que findou por aproximar geraes s questes da arte,
o que veio a se transformar em um aspecto precioso na identificao de Belm como cena
de intensa produo artstica no campo da fotografia.
CAPTULO 03
para todo Brasil e exterior durante anos esta sendo gradativamente substituda por um
entendimento de que o Par e a extensa regio Amaznica muito mais complexa e cheia
de mltiplas significaes, como qualquer outra regio do pas.
Para entender a importncia da cena fotogrfica Paraense e seu papel de destaque
na cena nacional nos dias atuais necessrio que busquemos os antecedentes histricos
para compreender sob que aspectos e contextos isto foi construdo.
Nas ltimas dcadas do sculo XIX, a cidade destacava-se pela economia do ciclo
da borracha, o que facilitou a movimentao cultural e esttica da regio25.
25
Fotografia contempornea paraense: panorama 80/90. Belm: SECULT, 2002.
26
C LEAL, Cludio de La Roque. Retrato paraense.Belm: Fundao Romulo Maiorana,1998.
88
maneira mais significativa no Par. Desembarca tambm nesse perodo, o fotgrafo italiano
Felipe Augusto Fidanza, cujas primeiras imagens - que se tm registro na capital - so dos
arcos construdos em comemorao a abertura dos Portos da Amaznia ao comrcio
exterior (MANESCHY, 2003, p.2). A partir da, Findanzada Findanza se estabelece em
Belm em estdio prprio, localizado no Largo das Mercs, dando incio a uma longa
genealogia de fotgrafos nesta capital.
Sabe-se que o mesmo documentou a cidade em seu cotidiano urbano, e sua obra
ficou registrada nas edies de 1899 e 1902 do lbum do Par. 27. O estdio de Findanza,
hoje conhecido como Galeria Findanza, teve vida longa e foi mantido por diversos outros
profissionais mesmo aps sua morte28..
Vale destacar ainda a intensa produo fotogrfica destinada publicao de
cartes postais, circulados intensamente no perodo de 1900 a 1925. (SECULT,2003,p.21).
Na poca do ciclo da borracha, o carto postal era uma pea muito produzida e utilizada no
Estado. Alm dos postais, a edio de lbuns trazendo imagens impressas ou ainda mesmo
cpias fotogrficas foi significativa no perodo. (MANESCHY,2003,p.2003, p.03).
Belm teve tambm o privilgio de ser uma das primeiras cidades do Brasil a ter um
estabelecimento comercial que produzia retratos (SECULT,2003,p.20)29. Supe-se que tais
coincidncias histricas e pioneirismo fizeram da regio um dos grandes centros de
produo e difuso da fotografia brasileira ao longo dos anos.
Assim como Weick, uma outra figura importante aporta em terras paraenses, porm
desta vez no somente de passagem, mas sim, para somar e detonar um processo novo de
pensar e fazer fotografia, Miguel Chikaoka, o samurai paulista, chega a Belm em abril de
1980 e juntamente com outros fotgrafos como: Luiz Braga, Patrick Pardini e Leila Jinkings
ir impulsionar o movimento fotogrfico na regio tendo por vezes bandeiras de lutas sociais
, sempre apontando para um posicionamento mais firme do fotografo com relao aos seus
direitos polticos.
ento, na dcada de 80 que se evidncia a intensa cena da fotografia Paraense, tendo
Miguel Chikaoka como figura importante na consolidao e articulao desta cena.
Em 1980, ano em que Miguel Chikaoka aporta em terras Belenenses se inicia uma
retomada da fotografia dentro da perspectiva coletiva, porm, de forma paulatina e
silenciosa. Segundo relato do mesmo:
30
O grupo Ajir era um grupo multidisciplinar que reunia profissionais de diferentes reas psicologia,
artes plsticas, teatro, msica entre outras com a finalidade de desenvolver cursos, procurando
agitar culturalmente a cidade com intervenes nas praas e em outros espaos pblicos.
(SECULT,2002,p.25)
31
O grupo Ajir era um grupo multidisciplinar que reunia profissionais de diferentes reas psicologia,
artes plsticas, teatro, msica entre outras com a finalidade de desenvolver cursos, procurando
agitar culturalmente a cidade com intervenes nas praas e em outros espaos pblicos.
(SECULT,2002,p.25)
92
32
Estatutos do Projeto do Fotopar 82 I Mostra Paraense de Fotografia.
33
93
Segundo Rubens Fernandes Jnior (2002, apud MOKARZEl, 2014, p.33), Miguel Chikaoka
provocou o aparecimento de algumas novas geraes de fotgrafos, com gosto tanto pela
fotografia convencional quanto pela pesquisa e pela experimentao.
34
Pioneira na retomada do uso de tcnicas alternativas de produo e impresso de fotografia no
Brasil nos anos 1970.
96
Neste sentido, pode-se dizer que entre os anos de 1980 e 2000 produziu um intenso
trabalho criativo, documental e pioneiro neste pedao da Amaznia brasileira, em especifico,
em Belm do Par. Nesta cidade, aportaram diferentes figuras importantes na construo e
fortalecimento desta cena fotogrfica, construram experincias coletivas importantes para
acentuar ainda mais a importncia de Belm como um potente polo da fotografia nacional.
No entanto, ao longo deste percurso histrico, como encontramos a fotografia
paraense hoje? Quais os novos horizontes alargados pela influncia de Chikaoka e a
Fotoativa?
35
Fotografia contempornea paraense: panorama 80/90. Belm: SECULT, 2002.
97
Hoje uma nova gerao de artistas, exposies e projetos voltados para questes da
arte contempornea so intensamente produzidos e discutidos em Belm. Fbio Castro
(1991) diz que: a fotografia produzida no Par se destaca pelo seu carter universalista,
mas nunca pitoresco. Leon Tostoi escreveu fale de sua aldeia e seja universal 36. Os
fotgrafos paraenses sem se deixarem tomar por uma visualidade extica, fcil e disponvel
da regio, produziram, produzem e criam um olhar para si cada vez mais articulado com o
hibridismo das linguagens artsticas contemporneas.
Verifica-se que muitos artistas-fotgrafos paraenses buscam uma proposta diferente
dessa fotografia de uma matriz prxima cultura popular, alm do fotojornalismo, e da
fotografia documental ser muito forte na regio, tambm a fotografia experimental que traz
consigo uma expanso do fazer fotogrfico, contaminado por outras linguagens e outros
temas.
As oficinas de Miguel Chikaoka, na Fotoativa, sempre geraram questes que eram
deflagradas para que os participantes buscassem encontrar suas linguagens e /ou
identidade prpria, falo das oficinas de Chikaoka e da Fotoativa, pois muitos fotgrafos
contemporneos paraenses que hoje so reconhecidos nacionalmente e internacionalmente
fizeram cursos e/ou trabalharam nos projetos da Fotoativa juntamente com Chikaoka, como
Elza Lima, Dirceu Maus, Paula Sampaio, Luiz Braga, Alexandre Sequeira, entre outros.
Neste sentido visvel e bastante notrio que na cena fotogrfica contempornea de
Belm, a Fotoativa teve e tem sido difusora e propagadora do saber fotogrfico e artstico,
por meio da organizao de palestras, encontros, conferncias, dando apoio tcnico a
exposies, realizando mostras em galerias nacionais e internacionais, participando da
curadoria em publicaes e intervenes artsticas, entre outros.
Como observou o professor e curador Rubens Fernandes Jnior. Essa ao
educativa transformou a fotografia paraense e a colocou como uma das mais instigantes e
produtivas do cenrio da fotografia brasileira contempornea 37.
Outro aspecto importante a se destacar so os Sales e Mostras nos quais a
fotografia paraense sempre esteve presentee., Mmuitos acontecem periodicamente em
Belm e aglutinam um nmero considervel de fotgrafos da regio, dando visibilidade cada
vez mais a um pblico mais jovem e fortalecendo a identidade cultural visual paraense no
cenrio contemporneo das artes visuais no Brasil. Os principais sales e prmios so: O
36
Frase clebre retirada do livro Guerra e Paz de 1989 do autor Leon Tolsti .
37
Retirado do site: <http://www.fotoativa.org.br/?page_id=651.>.Acessado em 14/04/2017.
98
IMAGEM: Fotografia da srie A primeira virtude de Marcelo Lelis, integrante na exposio Cenrio e
Personagem de 2013.
Neste sentido, a partir destas reflexes possvel perceber que a cosmopolita Belm,
envolta pela selva, sculos atrs foi palco de expedies exploratrias de sua visualidade
extica, hoje se reconhece como um importante campo de produo de imagem. As
questes abordadas pela produo artstica contempornea na regio mantem uma sintonia
outras cidades do Brasil. Temas polticos, sociais, intimistas, documentais, experimentais e
potico-pessoais, dentre outros, permeiam os trabalhos dos fotgrafos que se destacam e
contribuem para construo deste movimento atual.
Entendendo alguns destes aspectos e retomando Miguel Chikaoka, como
idealizador e realizador de grandes projetos que circunscreveram a cena fotogrfica
paraense, assim como agente detonador de um processo educativo experimental e
sensvel que provocou o aparecimento de algumas novas geraes de fotgrafos,
em particular na Fotoativa, tentaremos a seguir uma aproximao com um certo
estado de esprito que envolve suas prticas educativas e experimentais com a
fotografia.
100
CAPTULO 04
Lembro da primeira vez que o vi, eu estava procurando um lugar para revelar uns
rolinhos de filme Preto e Branco, fruto de experimentaes as quais eu tinha feitofeitas em
uma pequena toy cmera38, mais especificamente uma action sampler, daquelas que fazem
quatro frames em uma nica foto. Perguntei a uma amiga do curso de Artes Visuais da
UFPA onde eu poderia revel-los e a mesma me indicou a Kamara K residncia, na
poca, e atelier de fotografia de Miguel Chikaoka.
Logo apsAo tocar a campainha da casa, que no estilo dos casares antigos
tpicos do bairro da cidade velha em Belm, Chikaoka atendeu a porta com um semblante
de quem havia acabado de acordar. Trajando shorts de flanela e sem camisa, com leveza e
humildade me atendeu dizendo que eu poderia deixar os filmes l e peg-los depois de trs
dias.
Eu sempre havia escutado falar do Chikaoka durante as aulas de Laboratrio de
fotografia no meu curso de graduao em Artes Visuais na UFPA, mas como trabalhava e
estudava no tinha muito tempo para fazer as oficinas com ele na Fotoativa. Quando
descobri a fotografia analgica e a pinhole em meados de 2010 em uma das aulas da
professora e fotgrafa Cludia Leo, que viria a ser minha futura orientadora da graduao
fiquei fascinada por conhecer e pesquisar a tcnica e produzir experimentaes com ela. A
professora Cludia sempre falava da Fotoativa e da sua importncia na construo do
38
Toy cameras so cmeras simples e baratas, feitas em sua maioria apenas de plstico, por vezes, at suas lentes.
O termo pode confundir, visto que no se tratam apenas de brinquedos e so capazes de tirar fotografias.
101
FONTE: GOOGLE
Chikaoka, como na foto acima, est sempre a procura da luz, com seus olhos
103
cerrados, tipicamente orientais, sempre atentos a nuances que lhe tragam uma possibilidade
educativa e/ou artstica. Como um pescador de imagens, navegante da luz39 . Segundo
Marisa Morkazel:
Foi neste espao entre arte, poltica e sua forte influncia familiar oriental que
Chikaoka cria novos paradigmas para a fotografia e educao.
Miguel Chikaoka se aproxima do Hlio Oiticica denominava artista propositor, [...] um ser
social, criador no s de obras, mas modificador tambm de conscincias [...]. (OITICICA,
1986, p. 95).
Mesmo que no fale diretamente, toda vez que Chikaoka ministra uma oficina ou
palestra, deixa bem claro que os ensinamentos advindos da cultura oriental japonesa e
todas as experincias que trouxe do cotidiano familiar e de seus ancestrais, refletem
profundamente em sua postura enquanto educador- fotgrafo. A espiritualidade, o sensvel e
o artesanal, so basicamente os trs elos que unem suas propostas educativas.
Miguel Chikaoka sempre critica a velocidade tecnolgica, a velocidade da
devastao ambiental do planeta, dos valores e a devastao crtico-cultural. Mottainai a
expresso mais utilizada por ele para refletir nossas relaes as coisas e pessoas ao nosso
redor e de como lidamos com a nossa natureza.
Mottainai uma expresso que simboliza seus valores e como ele v e acredita que
deveriam se construir as relaes com o outro e com o mundo. Pelo modo como Chikaoka
enfatiza, seja em palestras e oficinas, Mottainai mais do que uma expresso para ele,
uma filosofia presente na sua prtica com a fotografia e no seu estilo de vida pessoal.
39
Nome dado pela autora do livro Navegante da luz: Miguel Chikaoka e o navegar de uma produo
experimental, Marisa Mokarzel. - 1. ed. - Belm : Kamara K Fotografi as, 2014.
104
40
Ens uma palavra japonesa que significa "crculo" e tem um conceito fortemente associado ao
Zen. Ens , talvez, o tema mais comum na caligrafia japonesa. Ele simboliza Iluminao, Esforo,
Elegncia, o Universo e o Vazio.
41
O fukinsei (), a negao da perfeio.
105
FONTE: GOOGLE
Esta comparao da prtica educativa de Chikaoka com o smbolo do nso pode ser
percebida em suas oficinas, nas quais o processo e o experimento do fazer so mais
importantes que o resultado final. Chikaoka conduz seus mtodos fundamentado na reflexo
de que as atividades devem levar a mente para um estado livre de pensamento, deixando
os sentidos criarem. Chikaoka no exige regularidade e perfeio, ele prope a prpria
experincia como um aprendizado e no o resultado final. Se a prtica do Enso nada mais
que uma busca para alcanar a espiritualidade plena e um autoconhecimento, mostrando o
estado expressivo do artista noartista no momento que o pinta, os processos de
experimentar e fazer artesanal que Chikaoka prope, nada mais so tambm do que
exerccios que demonstram a expressividade do participante num jogo de busca e
conhecimento de si, do mundo e do outro, como pudemos observar ao longo das oficinas
que acompanhamos. Isso pode ser percebido por exemplo, noexemplo, no momento de
produo da cmera artesanal, quando Chikaoka enfatiza que o processo de feitura da
cmera, cortar, encaixar e medir, realizados, tendo o corpo como ferramenta, simboliza o
estado de espirito de cada um, com um prolongamento do corpo e da alma. Ali, na cmera,
num material de papel, est a expresso individual de cada um, como em um smbolo Enso.
Os zen budistas "acreditam que o carter do artista est completamente exposto na
forma com a qual desenha um Enso. Chikaoka acredita que a expresso individual de cada
um est completamente exposta no modo como ele v e experimenta os processos
artesanais em suas oficinas, que, devem ser encarado com conscincia e Mottainai! Sem
desperdcio material e espiritual.
106
Desta forma, Mottainai nos permite refletir mais profundamente sobre nossa
relao com as coisas (materiais ou no) do universo. Permite-nos avaliar o quo
importante o uso e desuso do que nos rodeia e demonstrar respeito pela essncia
das coisas. Um novo olhar para o que possumos, com mais reconhecimento e
gratido a tudo, a comear pela prpria vida.
As oficinas de fotografia, mediadas por Chikaoka, sempre conduzem para
uma reflexo sobre os tipos de recursos e materiais que utilizamos, tratando o
desperdcio como algo estritamente inaceitvel. Este claramente um
posicionamento que remete palavra Mottainai. Os materiais sempre so
reaproveitados por ele, como a proposta que ele trs consigo de um formato de
cmera artesanal pinhole42, onde se reutilizado o tubinho de filme fotogrfico de
42
Uma cmera pinhole ou cmara estenopeica basicamente um compartimento todo fechado onde
no existe luz, ou seja, uma cmara escura com um pequeno orifcio, portanto uma mquina
fotogrfica sem lente.
107
que:
44
Citao retirada do site: http://www.viazen.org.br/si/site/budismo. Acessado em 28/04/2017.
109
sentidos para alm da viso, discute a possibilidade de nos conectarmos mais com a
natureza e entendermos melhor os materiais que retiramos dela, todas estas
abordagens levando ao preceito do valor do tempo, como cuidar de algo que
limitado, finito.
Chikaoka ao trabalhar em suas oficinas categorias como o silncio, o fazer
manual e artesanal, o reaproveitamento de materiais que nos cercam e a alteridade,
est nos resistindo velocidade das atividades que nos cercam. Um educador
experimental que ensina para alm da fotografia.
Alm desta relao com tempo que Chikaoka media em sua oficinas e que
to stil, percebemos outras categorias interessantes em sua proposta educativa,
como o a importncia que ele d ao percurso traado para sistematizar um
conhecimento, ou seja, ao processo percorrido no aprendizado, propondo sempre,
experincias para alm da imagem.
Sendo um dos fotgrafos mais influentes em todo Brasil, pode se dizer que Chikaoka
possui uma maneira nica e particular de ensinar fotografia, atravs de um olhar sensvel,
ao mesmo tempo cientfico e potico, utilizando a luz como aliada.
Chikaoka, antes mesmo de chegar Belm, possua a conscincia de que o
processo bsico da fotografia captura e formao da imagem diz respeito relao da
natureza da luz com a subjetividade humana. Nestes experimentos, ele se props a pensar
e disseminar a prtica fotogrfica como uma juno do exerccio do olhar e do ser e estar no
mundo.
Seu entendimento tcnico, aliado a um conhecimento sobre a essncia da natureza
fotogrfica lhe possibilitaram a criao de um ambiente propicio para as trocas de saberes, e
transformaram, como j mencionamos, a fotografia paraense, no s no modo de se
produzir imagens, mas de perceber a prpria regio Amaznica como uma potncia
criadora.
Chikaoka pde descobrir um lugar, e paralelamente ao seu descobrimento, proporcionar
para aqueles que em Belm j residiam, um novo olhar sobre a cidade.
A opo, por isso, teria de ser tambm, entre uma educao para a
domesticao, para a alienao, e uma educao para a liberdade.
Educao para o homem-objeto ou educao para o homem-sujeito. []
Expulsar esta sombra [da opresso] pela conscientizao uma das
fundamentais tarefas de uma educao realmente liberadora e por isto
respeitadora do homem como pessoa. ( FREIRE, p. 36-37, 1967)
6.
CONSIDERAES FINAIS
da cmera e de outros recursos plsticos e que abrem novas possibilidades para produo
e criao de cmeras artesanais.
Seguindo essa linha exploratria e ciente de que qualquer coisa tem origens, uma
histria e um caminho at chegar s nossas mos, Chikaoka introduz uma etapa de
reconhecimento fsico sobre materiais que nos cercam, bem como a busca de informaes
sobre as origens histricas e tcnicas destes materiais. Chikaoka procura tambm a
valorizao de materiais ao nosso em torno, como aqueles utilizados por ele na etapa de
explorao do espao na busca de materiais orgnicos.
A expresso Mottainai , mote de sua prtica, nos faz olhar com conscincia para os
materiais que a natureza nos d e poupar o desperdcio. se eles esto l, porque no
utiliz-los?, diz Chikaoka, referindo-se aos materiais que temos disponveis em abundncia
na natureza e que muitas vezes no nos damos conta de suas possibilidades como recursos
e ferramentas educativas. A utilizao dos espinhos de Tucum, as quais utiliza para furar
as pinholes, tambm outro aspecto que fortalece a ideia de que nada deve ser
desperdiado e que temos que aproveitar ao mximo do que dispomos, utilizando tudo de
maneira consciente. Para Chikaoka a grande sacada perceber como um determinado
recurso de sua regio pode ser til em diversas coisas.
Criar tambm faz parte do processo de ensinar, e instigando as pessoas a olhar com mais
cuidado e apreo para natureza e lhes fazer perceber a riqueza de recursos que podemos
dispor com ela, tambm Mottainai.
Ele diz (...) pretendo, atravs da fotografia, trabalhar o indivduo num processo de
descoberta coletiva, de uma maneira total: aguar o olhar e os outros sentidos para que a
viso seja mais ampla e mais aberta.45
A pinhole, outra categoria quase intrnseca prtica de Chikaoka, tambm nos
remete a muitas reflexes: uma sobre a economia de materiais, que o prprio Mottainai,
da ideia do no desperdcio , a proposta de uma cmera minimalista como cita uma das
participantes, que nada mais do que uma cmera fotogrfica reduzida sua expresso
mnima ( necessria e suficiente); um objeto hermtico e opaco, dotado de um pequeno furo
em um dos lados e com um material fotossensvel (papel fotogrfico) que reage com a luz e
forma a imagem. A outra reflexo sobre a experincia da gnese da fotografia, que guarda
toda magia por trs do processo artesanal. O que importa num modelo de iniciao (ou
reiniciao) fotografia a experincia que ele proporciona. No uma negao aos
moldes da fotografia digital e rpida e sim uma reflexo e experimentao do corpo. O que
est em jogo para Chikaoka sempre a experincia do contato, do embate com o primrio e
elementar, trazendo as questes da imagem a nossa contemporaneidade. Afinal, a imagem
contempornea fabrica o seu prprio tempo (DUBOIS, 2014)
45
Declarao ao jornal O Liberal, em 31 de janeiro de 1990.
114
Segundo prprio Chikaoka a escolha pela cmera pinhole de formato de tubinho justifica-se
por:
,
116
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_________. A Noite dos Proletrios Arquivos do Sonho Operrio. So Paulo: Companhia das
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OUTRAS CITAES