Afroperspectividade - Por Uma Filosofia Que Descoloniza - Negro Belchior
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CULTURA RACISMO
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paralisa Direitos Humanos
por 90 dias
junho 16, 2016
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21/08/2017 Afroperspectividade: por uma filosofia que descoloniza - Negro Belchior
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sobre o conceito de epistemicdio (de Suely Carneiro), sobre as loso as africanas a Leste de SP
1 de agosto de 2017
anterior grega e a contempornea e sobre como jovens negros em contextos violentos
podem se descolonizar atravs da Filoso a. Renato ainda critica a ideia de mestiagem e
faz um balano da aplicao das leis 10.639 e 11.645/08 que preveem o ensino de histrias e
O mundo j acabou
culturas indgenas, africanas e afro-brasileiras em nossas escolas. H um pensamento 31 de julho de 2017
negro e crtico ganhando espao nas universidades brasileiras. Renato Noguera e outros
pesquisadores do Afroperspectividade so uma de suas frentes mais interessantes no
campo los co.
Atos e viglias exigem
Numa sociedade racista que apresenta dados alarmantes de Habeas Corpus para Rafael
Braga
violncia urbana em que as principais vtimas so jovens negras e 31 de julho de 2017
negros, losofar pode ajudar a repensar o cenrio poltico e social.
Mas, insisto, eles devem estudar uma Filoso a que seja marginal e
Afrontamento: um combate
antidogmtica. Uma Filoso a que pense o racismo, uma Filoso a que aos racismos
trate da violncia, uma Filoso a que pense o Brasil, uma Filoso a 27 de julho de 2017
enredada no nosso territrio cultural, uma Filoso a que est porvir e
que, talvez, possa estar em semente no pluriverso los co
afroperspectivista. O cina gratuita de Contos,
com Plnio Camillo, tem
RN: Renato Noguera inscries abertas
26 de julho de 2017
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los cas. Depois de ter cado na lista de espera para Direito na UERJ, escolhi Filoso a na
UFRJ. Eu me lembro que desde a infncia vivia me perguntando pelo sentido da vida, cava
comparando o in nito do cu com a nitude humana. En m, dos 18 aos 21 anos z o
bacharelado em Filoso a, aos 22 anos conclui a licenciatura e entrei no Mestrado em
Filoso a na UERJ, sob orientao do professor Gerd Bornheim. Depois de dois semestres
decidi mudar, prestei outra prova de seleo e acabei indo para a UFSCar, onde cursei o
mestrado de 1996 a 29 de fevereiro 2000 (data de defesa da dissertao). No mestrado
pude estudar sob orientao do grande Bento Prado Jr. Na poca, o mestrado durava
quatro anos, toda minha turma usou igualmente o prazo, ns fazamos as disciplinas em
trs ou quatro semestres e cvamos pesquisando e escrevendo pelo mesmo perodo.
Depois do mestrado, voltei a morar no Rio de Janeiro e entrei no doutorado em 2001 na
UFRJ, onde o defendi em 31 de maro de 2006 com apoio do mesmo orientador da minha
monogra a, o generoso Mrio Guerreiro. Eu estudei a Filoso a de Schopenhauer e
participei da fundao do Grupo de Trabalho (GT) Schopenhauer na Associao Nacional
de Ps-Graduao em Filoso a (ANPOF) em 2004. Na tese de doutorado, articulei as
Filoso as de Plato, Schopenhauer e Deleuze para propor uma alternativa
schopenhaueriana para uma formulao feita por Plato. A Filoso a de Deleuze trouxe a
estratgia de criao de conceitos. Durante 11 anos fui professor da Educao Bsica,
trabalhei no Ensino Fundamental, no Ensino Mdio e no Ensino Superior, paralelamente,
dei aula em vrias escolas privadas, tais como a Escola Parque. Trabalhei na Universidade
Estcio de S, fui professor substituto da UERJ, da UFRJ e da rede pblica estadual
uminense. Entre 2005 e 2006 cheguei a ter 27 turmas por semana. No ano de 2008 fui
aprovado em concurso pblico para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ).
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TA: Voc reivindica uma origem africana Filoso a, que teria vindo do Egito para a
Grcia. Quais so os indcios histricos desta a rmao? Quem quiser se aprofundar
nesta questo deve buscar quais referncias?
RN: Eu trabalho com a noo de que a Filoso a pluriversal; no fao coro com a leitura
hegemnica de que losofar seja universal e tenha sido uma inveno grega. Neste sentido,
no reivindico que os africanos inventaram a Filoso a. Eu advogo que o Egito, desde 2780
antes da Era Comum, tem uma produo los ca e possua escolas de rekhet, termo que,
segundo o egiptlogo e lsofo Thephile Obenga, signi ca Filoso a. No h dvida de
que Plato, Pitgoras e Tales de Mileto, dentre outros gregos, passaram algum tempo no
Antigo Egito. Diversas fontes convergem para a tese de que Pitgoras (570-496 A.E.C) foi o
primeiro a usar o termo Filoso a depois de retornar do Egito. Digenes de Larcio e
Ccero so fontes importantes dessa perspectiva bastante conhecida. H um discurso
crtico que atribuiria aos gregos uma espcie de plgio da Filoso a egpcia. Eu no defendo
isso, tampouco a ausncia de in uncia. bvio que todas as culturas so dinmicas. Eu
no defendo que os egpcios inventaram a Filoso a, o que eu digo mais simples: os textos
egpcios so los cos e mais antigos do que os gregos. Ou seja, os registros los cos
africanos so anteriores aos ocidentais. No estou preocupado com primazia, mas com a
legitimidade los ca africana na Antiguidade. Eu sou contra a recusa desse material por
puro dogmatismo, por uma postura que, no encontro outra palavra, tem sido
profundamente anti los ca por parte de colegas com boa formao na rea. Eu no digo
que os africanos inventaram a Filoso a por dois motivos. Primeiro: amanh ou depois
podemos encontrar algum texto mais antigo do que os egpcios com cerca de mais de 2500
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anos antes da Era Comum, isto , de aproximadamente 4500 anos. Segundo: penso que
um falso problema apontar qual povo inventou a Filoso a, qual povo lavrou sua certido de
nascimento. Seria o mesmo que procurar o povo que inventou a Arquitetura. Penso que
todos os povos tinham suas prprias construes. Faz mais sentido apontar as diferenas.
Assim, o que soa estranho reduzir toda diversidade a apenas uma escola. Eu tenho
pensado desse modo. As nossas pesquisas so baseadas em diversas fontes, ainda pouco
examinadas, que con rmam que os textos africanos so anteriores aos ocidentais. Os
egpcios comearam a losofar antes dos gregos. Alm disso, h o fato de que o Egito
antigo era uma sociedade negra, o que foi, conforme Martin Bernal e Cheikh Anta Diop,
falsi cado por conta do racismo antinegro que no aceitaria facilmente que uma sociedade
muito avanada tecnologicamente naquele momento histrico pudesse ser negra. Ainda
hoje encontramos representaes brancas do Antigo Egito. Sem dvida, minhas a rmaes
em torno da ideia de que existia uma produo los ca anterior aos gregos recebe uma
vasta srie de objees. O elenco vasto. Mas para aprofundar o debate eu sempre indico
o exame dos trabalhos de George James com Legado roubado (Stolen Legacy), passando
pelas obras de Cheikh Diop, Thephile Obenga, Mole Asante, at A Filoso a antes dos
gregos, de Jos Nunes Carreira.
TA: A Filoso a trabalhou durante muitos sculos com a ideia de universal. No sculo XX,
principalmente, surgiram as Filoso as da diferena e uma produo terica
impulsionada por grupos historicamente oprimidos e por suas questes e
reivindicaes. possvel entender estas formulaes espec cas sob o pano de fundo do
universal ou elas estariam justamente denunciando a falsidade deste universal?
RN: Penso que as Filoso as da diferena so muito importantes nessa denncia, mas
concordo com o lsofo porto-riquenho Maldonado-Torres que diz que: os lsofos e os
professores de Filoso a tendem a a rmar as suas razes numa regio espiritual
invariavelmente descrita em termos geopolticos: a Europa. Apesar da enorme
compreenso, percebo ainda uma perspectiva, por assim dizer, conservadora. O que no
signi ca que eu no dialogue muito com essa abordagem, reconhecendo os seus limites.
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TA: Qual a importncia da Filoso a produzida hoje no continente africano? Qual sua
relao com o pensamento africano na dispora?
RN: Existem muitos expoentes na Filoso a africana contempornea, posso citar alguns.
Achille Mbembe tem uma obra muito interessante chamada Crtica da razo negra, um
belo trabalho de Filoso a poltica em que ele problematiza o conceito de negro e
apresenta um risco trazido pelo neoliberalismo e pela crise da Europa como centro
poltico mundial. Mbembe diz algo como os riscos sistemticos aos quais os escravos
negros foram expostos durante o primeiro capitalismo constituem agora, se no a norma,
pelo menos o quinho de todas as humanidades subalternas. O trabalho do lsofo sul-
africano Mogobe Ramose questiona o conceito de universalidade, substituindo-o pelo de
pluriversalidade. Ramose explica como os con itos geopolticos entre europeus e africanos
foram responsveis pela invisibilidade sistemtica do pensamento los co africano. Ora,
esse problema tem sido debatido no contexto da afrodispora de diversos modos. O
lsofo afro-americano Charles Mills disse algo muito interessante, mais ou menos assim,
nas Cincias Humanas, a Filoso a a rea mais branca. No Brasil, Sueli Carneiro trouxe a
ideia de epistemicdio. preciso citar outros nomes que tm pesquisado o assunto como
Wanderson Flor Nascimento da Universidade de Braslia (UnB), Eduardo David Oliveira da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Emanoel Soares da Universidade Federal do
Recncavo Baiano (UFRB), alm de estudantes de Programas de Ps-Graduao no Paran
como Roberto Jardim e Thiago Dantas, que lanou o livro Descolonizao Curricular: A
Filoso a Africana no Ensino Mdio (2015). No Rio de Janeiro, um grupo de estudantes de
ps-graduao, professores da educao bsica e um professor da UERJ construram um
projeto que transformou-se no livro Sambo, logo penso: afroperspectivas los cas para
pensar o samba (2015), organizado por Wallace Lopes com participao de Marcelo Rangel,
professor da Universidade Federal de Outro Preto (UFOP), Sylvia Arcuri, Eduardo Barbosa,
Felipe Siqueira, Filipi Gradim, Guilherme Celestino e Marcelo Moraes, professor da UERJ.
Esse grupo tem feito um belo trabalho losofando atravs do samba e usando o repertrio
cultural negro, africano, afro-brasileiro, amerndio e indgena.
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TA: A tradio oral parece fundamental nas diversas culturas africanas. Quais os desa os
em transportar esta tradio para a narrativa e Filoso a escritas?
RN: O pluriverso cultural africano vasto. Conforme a rma Diop, existe algo em comum
entre os povos africanos do mesmo modo que nas culturas ocidentais pode-se identi car
alguns elementos razoavelmente constantes. Penso que existe muito desconhecimento
sobre os povos africanos. O livro Etno-Histria do Imprio Mali de Jos Lampria pode se
juntar ao arsenal de trabalhos organizados pelo historiador africano Joseph Kizerbo e de
tradicionalistas como Hampte B para elucidar que existiam sociedades como o Imprio
Mali, entre os sculos VIII e XVII. A historiogra a africana aponta que no sculo XIV
existiam 150 escolas e uma universidade na cidade de Tombuctu, com um vasto acervo em
suas bibliotecas. Abdel Kader Haidara tem feito um belo trabalho tentando salvar a vasta
documentao que grupos fundamentalistas querem destruir. Ora, fao esse comentrio
para explicar que existem registros escritos e orais no continente africano. Eu percebo que
pouco se fala a respeito do material escrito dos sculos XIV, XV e XVI. Sem contar o vasto
material egpcio de 2780 at 330 antes da Era Comum, conforme catalogado por Thophile
Obenga. A nal, mesmo diante das tentativas de falsi cao histrica, o Egito Antigo no
pode ser embranquecido diante de todas as evidncias que Cheikh Anta Diop nos deixou
em seus trabalhos. Fao essa digresso para mostrar que, alm de material oral, existe
muito material escrito que, no entanto, pouqussimo conhecido. Pois bem, em relao ao
esforo de transpor o texto oral para o registro escrito, penso que a oralitura resolve
esse aparente problema, transformando o que parecia um obstculo intransponvel numa
equao solvel, desde que os devidos protocolos sejam usados. Pio Zirimu, um incrvel
linguista ugandense, e uma dupla nascida no Qunia, o escritor e professor de literatura
comparada Ngg Wa Thiongo e a professora de arte Micere Mugo, explicam que a
oralitura a teoria da composio oral, um modo de catalogar o repertrio de registros
orais. No se trata de oralidade, mas de tcnicas do campo da lingustica que criam um
acervo oral. Ou seja, a tradio oral pode ser preservada atravs dessa abordagem. Vale a
pena ler o artigo Oralidad y oratura de Juan Jos Ferrer a esse respeito para compreender
melhor o tema. A oralitura a alternativa para que o conhecimento los co antigo
registrado oralmente possa ser acessvel do mesmo modo que os registros escritos.
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TA: Em 2003 foi implantada a lei 10.639, que prev o ensino de Histria e Cultura Afro-
brasileiras nas escolas. Por que o estado brasileiro demorou tanto para incluir a histria
dos ancestrais de mais da metade da populao brasileira nas escolas? Passados doze
anos, quais foram os avanos da lei e de sua implantao? O que ainda falta? Quais as
possibilidades de implantao da lei na disciplina de Filoso a?
RN: Esse tema objeto de muitas pesquisas. A Lei 10.639/03 recebeu em 2008 o acrscimo
da Lei 11.645/08 que inclui o ensino de histria e culturas indgenas. A regulamentao da
alterao do Artigo 26 A da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional tem pelo menos
trs documentos fundamentais: 1) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das
Relaes tnico-Raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana de
2004; 2) Orientao e Ao para Educao das Relaes tnico-Raciais de 2006; 3) Plano
Nacional de Implementao das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educao das
Relaes tnico-Raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileira, Africana e
Indgenas de 2008. Existem muitos trabalhos que trazem um belo panorama a respeito do
cenrio de implementao dos contedos obrigatrios africanos, afro-brasileiros e
indgenas no currculo do ensino fundamental e do ensino mdio em todas as disciplinas.
Um bom balano tem sido feito pelos Ncleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indgenas
(Neabis) que integram o cialmente as Instituies Federais de Ensino (IFES), alm de
existirem tambm em diversas universidades privadas e pblicas. difcil discorrer sobre
isso sem fazer uma monogra a. De qualquer modo, existem avanos e resistncias. No
caso da disciplina Filoso a, posso fazer um resumo porque tenho dedicado parte de meu
tempo de pesquisa em investigaes a esse respeito, incluindo a pesquisa que coordeno
com apoio da Fundao Carlos Chagas de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(FAPERJ) intitulada Filosofando com sotaques africanos e indgenas, na primeira verso no
perodo de julho de 2014 at junho de 2016. A maior di culdade no campo da Filoso a est
no desconhecimento da produo fora do circuito ocidental. Eu acredito que o livro Ensino
de Filoso a e a lei 10.639 que foi publicado pela Pallas em parceria com a Biblioteca
Nacional pode ajudar bastante a dirimir dvidas. Penso que o primeiro passo uma
cuidadosa leitura da documentao que regulamenta o Artigo 26 A da LDB. O segundo
passo: descolonizao do pensamento, do currculo e das prticas educativas.
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TA: Em uma entrevista recente revista Ensaios Filos cos voc falou em racismo
epistemolgico. O que isto e como venc-lo?
RN: Sem dvida. Penso que temos um processo de franca expanso da produo e
ocupao acadmica. O que tambm pode ser percebido atravs das reaes de grupos
mais reacionrios que no querem negociar o espao pblico de produo de
conhecimento.
RN: Sem dvida. O que est em jogo no deixa de ser uma disputa pela verso nica da
Histria, da Filoso a, dos modelos e prticas polticas frente diversidade de perspectivas.
A denncia feita por Sueli Carneiro magistral, considero o seu trabalho uma das
referncias mais importantes da rea no Brasil. Por exemplo, quando falamos em culinria
as pesquisas apontam que a atividade de cozinhar um territrio feminino. Em certa
medida, na esfera privada no Brasil as mulheres cozinham mais do que os homens. No
Brasil escravocrata, as mulheres negras escravizadas protagonizaram os servios
culinrios. Mas a alta gastronomia e o papel de chef de cozinha parece ter um elenco
majoritariamente branco e masculino. Tudo isso est relacionado ao epistemicdio, ao
genocdio. A performance na rea da gastronomia inclui a liao tnico-racial. Os dados e
o ranking de melhores chefs mostra que o gnero masculino, a cor/raa branca e o
sotaque francs. bvio que no estou dizendo que homens brancos no podem ser chefs
maravilhosos. O que o exemplo mostra que o epistemicdio di culta a escuta do
discurso gastronmico das mulheres negras, j que os homens brancos so naturalmente
mais empoderados na disputa.
TA: Voc prope uma Filoso a afroperspectivista. O que isto? Quais as origens tericas
e polticas deste conceito? Existem outros pensadores hoje no Brasil e no mundo
dedicados ao seu desenvolvimento? Quais so at agora seus principais trabalhos?
Em relao s pessoas que losofam com algum sotaque afroperspectivista, posso dizer
que esto reunidas em Sambo, logo penso. Eu no quero falar por ningum, nem sou
representante especial dessa abordagem los ca, penso que sou, apenas,
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academicamente mais antigo do que o resto do grupo. No livro Sambo, logo penso:
afroperspectivas los cas para pensar o samba (2015) organizado por Wallace Lopes, numa
coordenao conjunta que z com Sylvia Arcuri e Marcelo Moraes, esto reunidas as
pessoas que fazem esse exerccio afroperspectivista de modo formal ou informal, Marcelo
Rangel, Eduardo Barbosa, Felipe Siqueira, Filipi Gradim, Guilherme Celestino. No projeto
Filosofando com sotaques africanos e indgenas, tenho algumas parcerias: o Prof. Rogrio
Seixas da Universidade de Barra Mansa, Filipe Ceppas da UFRJ, Wanderson Nascimento da
UFBA e Wanderely Silva da UFRRJ, estes so colegas que mesmo no se professando
afroperspectivamente apoiam e so pesquisadores associados do projeto. Em relao s
principais obras: penso que esto porvir, mas Ensino de Filoso a e a Lei 10. 639 (2014)foi o
primeiro livro em que confessei esse desejo intelectual de losofar com sotaques africanos,
indgenas, performances femininas, sambando, jogando bola, com carimb e com um
repertrio suburbano, en m, lanando mo das minhas referncias culturais.
RN: Grande interrogao. Penso que o lugar das mulheres s pode ser de protagonismo.
Atualmente tenho orientado mulheres em cursos de ps-graduao e buscado apoiar suas
iniciativas. Na Filoso a afroperspectivista, estamos cada vez mais pensando em ampli car
e fazer circular com mais intensidade as performances femininas. Por exemplo, em um
artigo sobre a genealogia do drible mencionei personagens conceituais melanodrmicas da
Filoso a afroperspectivista. Ns estamos investindo em estudos a respeito da personagem
da Pomba-Gira, por exemplo. Alm disso, a pensadora burquinense Sobonfu Som uma
das nossas maiores referncias quando se trata de falar de relacionamentos afetivos e
conjugalidades.
conceito de drible, por exemplo, voc faz um interessante resgate histrico do drible no
futebol e busca aplic-lo tradio acadmica europeia, exigindo que o pensamento
pense tambm com o corpo. Traduzir tipos histricos e imagens tradicionais em
conceitos los cos o procedimento principal da Filoso a afroperspectivista?
RN: um dos procedimentos. Um dos modos de atuar trazer o nosso repertrio cultural.
A maioria das pessoas que usam a afroperspectividade tem slida formao nas rodas de
samba, nos terreiros de candombl e umbanda, pajelana, xamanismo, nas rodas de
capoeira, algumas so jogadoras de futebol e/ou estudiosas de esquemas tticos. Nesse
sentido, se o lsofo alemo Adorno usou Ulisses para fazer uma leitura da Modernidade,
se Nietzsche falou de Apolo e Dioniso, ns usamos outras personagens: Exu, Pomba-Gira,
Z Malandro, Zumbi dos Palmares, Ogum, Oxssi, Tupi, Iara, dentre outras.
TA: O lsofo francs Gilles Deleuze uma referncia importante nos seus escritos.
possvel trabalhar com escritores europeus em uma Filoso a afroperspectivista? H
limites e di culdades nesta relao?
RN: A resposta sim para os dois casos. Ou seja, apesar de ser vivel trabalhar com autores
europeus, existem limites. Isto est explcito em uma defesa que o prprio Deleuze faz ao
lado do psicanalista Flix Guattari em O que Filoso a?: Se a Filoso a tem uma origem
grega, como certo diz-lo, porque a cidade, ao contrrio dos imprios ou dos estados,
inventa o agn como regra de uma sociedade de amigos, a comunidade dos homens livres
enquanto rivais (cidados). Por isso, ainda que Deleuze seja muito importante para os
meus escritos, reconheo limites srios. Como eu digo sempre, na esteira do lsofo
Maldonado-Torres, os lsofos europeus tm essa mania colonial. Sem dvida, Deleuze
um dos lsofos que mais tem nos ajudado em nossas insurreies. Mas como desejamos
criar aldeias e quilombos los cos, Deleuze s ajuda a destruir os velhos castelos
ocidentais da Filoso a. Para construir a aldeia quilombista precisamos de pessoas que
losofam com samba.
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RN: A Filoso a pode ser um exerccio de descolonizao. Mas tambm pode ser de
colonizao e recolonizao. Ns defendemos uma Filoso a que descoloniza, uma Filoso a
que declare independncia e autonomia sem dogmas. Numa sociedade racista que
apresenta dados alarmantes de violncia urbana em que as principais vtimas so jovens
negras e negros, losofar pode ajudar a repensar o cenrio poltico e social. Mas, insisto,
eles devem estudar uma Filoso a que seja marginal e antidogmtica. Uma Filoso a que
pense o racismo, uma Filoso a que trate da violncia, uma Filoso a que pense o Brasil,
uma Filoso a enredada no nosso territrio cultural, uma Filoso a que est porvir e que,
talvez, possa estar em semente no pluriverso los co afroperspectivista.
10 Comments
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SECUNIX
Com certeza sou mais um Racismo na TAM: Troca de lugar Tas Arajo e Lzaro Ramos
marginalizado: uma conversa com a feinha (negra) a, diz estreiam O topo da montanha
com o autor de Cartas estudantis funcionrio em vo. no Rio de Janeiro
12 de junho de 2017 21 de dezembro de 2015 17 de janeiro de 2017
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21/08/2017 Afroperspectividade: por uma filosofia que descoloniza - Negro Belchior
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Beatriz Pfau
gostaria que voc soubesse dizer pelo menos um.
Curtir Responder 2 13 de maro de 2017 21:21
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