Tese Sandra Garrido de Barros. 2013
Tese Sandra Garrido de Barros. 2013
Tese Sandra Garrido de Barros. 2013
AIDS NO BRASIL
Salvador
Maro 2013!
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NO BRASIL
Salvador
Maro 2013! !
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Universidade Federal da Bahia
Instituto de Sande Coletiva - ISC
Programa de Pos-gradua~ao em Sande Coletiva
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Pro . Jairm son Silva Palm - ISC/UFBA
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Salvador
2013
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Agradecimentos
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Tentar nomear todos aqueles a quem tenho a agradecer, correr o risco de esquecer de citar
diversos nomes. E no porque estas pessoas no tenham sido importantes. Num dado momento, cada
uma dessas pessoas pode ter sido o responsvel pelo ato mais importante daquele instante. Assim,
inicio agradecendo a todos que direta ou indiretamente de alguma forma contriburam para a
concretizao desse momento, seja me desejando um bom dia, sorrindo pra mim, respondendo meus e-
mails, atendendo minhas solicitaes, me recebendo em casa ou no trabalho para realizao das
entrevistas ou enxugando as minhas lgrimas quando precisei de consolo e incentivo. Muito obrigada
a todos!
De forma muito especial, gostaria de agradecer querida Professora Ligia Maria Vieira da
Silva, que foi minha guia durante esses quatro anos pelos caminhos que resolvi seguir. Um exemplo
de pesquisadora, uma mestre admirvel, uma pessoa de carter e corao enormes. Obrigado pelos
ensinamentos, pelas orientaes precisas, pelo cuidado na leitura das inmeras verses, por abrir mo
do seu descanso para me orientar em Arembepe, pelo carinho sempre. Tenho imenso orgulho de ser
sua orientanda.
Ao querido mestre Professor Jairnilson Paim pelo convvio, pelo carinho e por todos os ricos
momentos de aprendizado, discusses profcuas, sugestes e contribuies a todo momento para a
minha formao acadmica e pessoal.
Agradeo tambm toda equipe do CESSP pelos almoos compartilhados a cada dia, pelos
cafs (ths pra mim) e pela enorme pacincia com o meu francs imperfeito. Merci beaucoup!
s minhas queridas amigas e colegas da Sade Coletiva da FO-Ufba, Bel, Tina, Soninha, Bia,
Eliane, J, Mari, Lana, Andria, Ana Clara, Deni e Patrcia que sempre me incentivaram e souberam
aceitar a minha ausncia nesses anos de afastamento, sem nunca me privarem da sua convivncia.
Tenho muito orgulho de fazer parte desse grupo!
Aos colegas e amigos do grupo de estudos sobre Bourdieu: Gerluce, Alcione, Monique,
Shirley, Catharina, Thais, Ana Souto, Andr. Aprendi muito com todos vocs.
s bolsistas Camila, Deise e Paloma, a Anne, Na e Valria pela pacincia na transcrio das
entrevistas. A Janine e Monique pela ajuda na reviso e edio das transcries.
Aos colegas e amigos do GRAB, em especial a Ana Luiza, Guadalupe, Rosana, Cristiane,
Tnia, Valria e Wellington.
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Aos meus queridos colegas de doutorado pela amizade que conseguimos construir e pela
diviso das dores e alegrias desses quatro anos: Heleni, Cristian, Leo, Yara e, em especial, Jamacy,
com quem dividi orientadora, referencial terico, experincias e muitas emoes.
Aos amigos que no desistiram em nenhum momento da minha amizade, mesmo que o tempo
e o doutorado teimassem em me afastar fisicamente, mas nunca emocionalmente ou espirutualmente
deles: Mrcia, Zeila, Russo, Kinha, Dani, Deni, Luis, Tia Vera, Rosa e Pati.
Aos queridos amigos que fizeram com que o inverno em Paris se tornasse menos frio: Andr,
Eullia, Yannick, Gabriel, Jamacy, Priscila, Letcia, Louise, Lua, Rosangela e Thiago.
Aos meus pais, Rosa e Srgio, meus irmos Srgio e Renato, meus sobrinhos Gui, Gabi,
Joaquim, Breno e Lipe. Joca e Ter, Nando, Grace e Sandra. Sei que fui uma filha, irm, tia, nora, e
cunhada ausente nos ltimos anos, espero um dia poder recompens-los.
Especialmente, gostaria de agradecer a Lo, que me apoiou nos momentos mais difceis,
aceitou as minhas ausncias e me estimulou sempre. Muito obrigada por ter sido meu companheiro
tambm nessa empreitada.
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Pierre Bourdieu1.
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1
Razes Prticas: sobre a teoria da ao, p.15, 1996
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Resumo
Barros, S.G. A poltica nacional de luta contra a aids e o espao aids no Brasil. Salvador, 2013.
274p. Tese (Doutorado em Sade Pblica) Instituto de Sade Coletiva. Universidade Federal da
Bahia
Com o objetivo analisar a gnese e consolidao da poltica nacional de controle da aids no Brasil, foi
realizado um estudo scio-histrico no perodo compreendido entre 1981 e 2001. Foi adotado o
referencial terico da sociologia reflexiva de Bourdieu, apoiado na proposta de Pinell para a anlise
sociolgica de polticas pblicas. A anlise do espao aids foi feita por meio do estudo das trajetrias
dos agentes envolvidos com a formulao e implementao da poltica brasileira e as relaes entre
esses agentes e o espao da sade coletiva, o movimento da reforma sanitria brasileira, o campo
mdico e o campo do poder. Alm disso, foram analisadas as condies de possibilidade histricas que
permitiram a formulao de uma poltica baseada na integralidade e na universalidade da ateno
sade. Verificou-se que o espao aids brasileiro constituiu-se historicamente como um espao de luta
pela organizao da resposta epidemia e de interveno sanitria, onde o que est em disputa a
autoridade de falar sobre o significado da doena, suas formas de preveno e tratamento. Sua
conformao se deu com a emergncia da resposta governamental no Estado de So Paulo, em 1983,
envolvendo inicialmente agentes do campo mdico, do espao da sade coletiva, do campo
burocrtico, do campo cientfico e do movimento homossexual, aos quais mais tarde juntaram-se
outros movimentos em sade e as ONGs/aids, conformando o subespao militante. Trata-se de um
espao de complexas relaes, influenciado pelos campos mdico, poltico, religioso e jurdico. As
primeiras associaes especficas de luta contra a aids surgiram aps a implantao da poltica
governamental, com financiamento do Estado. As principais crticas de oposio poltica residiam na
ausncia de resposta assistencial e na concepo das campanhas preventivas, essa ltima talvez a
maior controvrsia ao interior do espao aids. O fato de o campo mdico ter sempre exercido papel
dominante, bem como a conjuntura do movimento sanitrio, a participao de epidemiologistas na
gesto do Programa e a participao crtica da sociedade civil concorreram para a formulao de uma
poltica avanada, que se contraps s recomendaes das agncias internacionais, de modo a garantir
no apenas aes de carter preventivo (priorizadas at o final da dcada de 80), mas tambm, o
acesso ao tratamento. A partir de meados da dcada de 1990, o Programa Nacional passou a assumir
um papel dominante no espao aids, para o que foi fundamental o aporte financeiro garantido pelos
acordos de emprstimo junto ao Banco Mundial e a deciso de garantir o tratamento aos portadores de
HIV/aids, principal e mais conhecida estratgia da poltica nacional de luta contra a aids.
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Abstract
Barros, S.G. The National anti-AIDS policy and the AIDS space in Brazil. Salvador, 2013. 274p.
Thesis (Doctorate in Public Health) - Institute of Collective Health. Federal University of Bahia.
A socio-historical study was conducted to analyze the genesis and consolidation of the national anti-
AIDS policy in Brazil, between 1981 and 2001. It was adopted the theoretical framework of
Bourdieu's reflexive sociology, supported by the propose of Pinell for the sociological analysis of
public policies. The AIDS space analysis was made by studying the paths of the agents involved in the
formulation and implementation of Brazilian AIDS policy and the relationships between these agents
and the space of collective health, the Brazilian sanitary health reform movement, the medical field
and the field of power. Furthermore we analyzed the historical possibilities that allowed the
formulation of a comprehensive policy based on universal coverage of health care. It was found that
the Brazilian AIDS space was historically constituted as an space of struggle for the organization of
the response to the epidemic and health intervention, that what is at stake is the authority to speak on
the disease significance, its prevention and treatment. The AIDS space was conformed with the
emergency of the governmental response in the state of So Paulo Health Secretariat in 1983, initially
involving agents of the medical, the bureaucratic and the scientific field and the homosexual
movement, which later joined other health movements and NGOs/AIDS, conforming the militant
subspace. This is an space of complex relationships, influenced by the medical, political, religious and
legal fields. The fighting against AIDS specific associations emerged after the implementation of
government policy, with funding from the State. The main criticisms to the policy were related to the
absence of health care response and the prevention campaigns design, the latter perhaps the biggest
controversy inside the AIDS space. The fact that the medical field have always played a dominant
role, as well as the situation of the Brazilian sanitary health reform movement, participation of
epidemiologists in the management of the National AIDS Program and critical participation of civil
society contributed to the formulation of an advanced policy, that ensured not only preventive actions
(priority until the late 80s), but also access to treatment, even if the recommendations of international
agencies, such as the World Bank, forbade expenditure on ARV. From the mid-1990s, the National
Program has assumed a dominant role in AIDS space, for which was fundamental the financial
support granted by the loan agreements with the World Bank and the decision to ensure treatment for
people living with HIV/AIDS, main and best known national policy strategy to combat AIDS.
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Lista de quadros
Quadro 7 Concepes sobre a aids segundo agentes estudados, de acordo com o subespao
de pertencimento, ano de entrada no espao aids, sexo e formao. .................... 72
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Lista de figuras
Figura 1 Reportagem da revista Veja sobre por qu o termo Sida no usado no Brasil,
9/04/1997. .............................................................................................................. 60
Figura 2 Notcia da Folha de So Paulo sobre o tratamento base de interferon para a cura
da aids no Hospital das Clnicas, 09/11/1983. ....................................................... 61
Figura 6 Cartazes da Campanha Aids, voc precisa saber evitar, 1987........................ 88-89
Figura 7 Artigo publicado pela equipe de Bernardo Galvo acerca do isolamento do vrus
HIV no Brasil, 1987............................................................................................... 97
Figura 8 Primeira reunio do Comit de grupos de risco de aids, Min. da Sade, 1986..... 111
Figura 10 Boletim epidemiolgico ano III, n. 13, semana epidemiolgica 40 a 44/1990, capa
e p. 3..................................................................................................................... 128
Figura 13 Capa do Dossi Vacinas, elaborado pelos grupos Pela Vidda RJ e SP e pela
Abia em abril de 1992.......................................................................................... 131
Figura 14 Notcia da Folha de So Paulo sobre a primeira compra de AZT pelo Ministrio
da Sade, em 22 de fevereiro de 1991, segundo subespaos de insero dos
agentes. ................................................................................................................ 132
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Sumrio
1 Introduo .......................................................................................................... 25!
2 Hiptese ............................................................................................................. 33!
3 Objetivos ............................................................................................................ 34!
3.1 Objetivo Geral!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!#$!
3.2 Objetivos especficos!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!#$!
4 Referencial terico ............................................................................................. 35!
4.1 Conceitos fundamentais!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!#%!
4.2 O Estado e a burocracia estatal da sade!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!#&!
4.3 Anlise da gnese de polticas de sade!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!$'!
5 Estratgia do estudo ........................................................................................... 45!
6 A gnese da poltica nacional de controle da aids no Brasil (1981-1989) ......... 51!
6.1 A conformao do espao aids no Brasil (1981-1984)!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!%#!
6.2 Os principais agentes: quem se interessava pela aids e por qu?!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!((!
6.3 A resposta do Ministrio da Sade!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!)#!
6.4 A aids, a 8a Conferncia Nacional de Sade e a Assembleia Nacional Constituinte!"""""!)*!
6.5 A construo de uma identidade: a sada da dermatologia sanitria!"""""""""""""""""""""""""""""""""""!&'!
6.6 O isolamento do vrus no Brasil e as disputas do campo cientfico!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""!*%!
6.7 O espao militante!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!**!
6.7.1 Grupo de Apoio e Preveno Aids Gapa!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+,,!
6.7.2 Associao Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia)!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+,$!
6.7.3 Posies e disputas ao interior do espao militante!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+,)!
6.8 Comisso Nacional de Aids: a construo do discurso oficial!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+,*!
6.9 O campo religioso e o controle da aids!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!++$!
7 Evoluo e consolidao da Poltica Nacional de luta contra a aids (1990-
2001) ................................................................................................................... 119!
7.1 Retrocessos e avanos do governo Collor!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+',!
7.2 Da resposta samaritana Pastoral da aids: a nova atuao da igreja!"""""""""""""""""""""""""""""""""!+#%!
7.3 O papel do Banco Mundial na consolidao da poltica!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+#&!
7.4 Cnaids: nova relao de foras!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+$&!
7.5 O acesso universal aos ARV e o reconhecimento internacional!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!+%%!
7.6 Transformaes no espao aids: quem passou a se interessar pela aids e por qu?!""""""!+)+!
8 Concluses e consideraes finais ................................................................... 180!
9 Entrevistas realizadas ....................................................................................... 189!
10 Referncias .................................................................................................... 191!
Apndices ........................................................................................................... 201!
Apndice I Roteiro para entrevistas em profundidade!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!','!
Apndice II Termo de consentimento informado!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!',#!
Apndice III Resumo das trajetrias dos entrevistados!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!',$!
Apndice IV Relao com a aids!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!'#)!
Apndice V Concepes sobre aids!""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!'$$!
Apndice VII Concepes acerca do conceito de homens que fazem sexo com homens
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Apndice VIII - Concepes dos agentes acerca do significado dos acordos de emprstimo
junto ao Banco Mundial para a poltica nacional de controle da aids.!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""!'$&!
Apndice IX - Concepes sobre a Comisso Nacional de Aids!"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!'%'!
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1 Introduo
A resposta epidemia da aids2 no mundo teve incio em um momento em que o saber mdico
ainda no tinha uma resposta teraputica eficaz (Pinell, Broqua et al., 2002), de modo que se
fatores, pelo momento de identificao dos primeiros casos, pela percepo da doena em cada
sociedade (quem acometido, quantas pessoas, danos causados pela epidemia, natureza da
disseminao dos casos), pelo perfil epidemiolgico, pelas condies polticas e econmicas de cada
pas e pelo estgio do desenvolvimento do conhecimento mdico acerca da doena, como pode ser
identificado nos estudos acerca da resposta governamental em pases como Cuba (Perezstable, 1991;
1992; Arazoza, Joanes et al., 2007), Frana (Pinell, Broqua et al., 2002), China (Wu, Rou et al., 2004;
Wu, Sullivan et al., 2007), Tailndia (Ainsworth, Beyrer et al., 2003), Paquisto (Rai, Warraich et al.,
2007), Bangladesh (Azim, Khan et al., 2008), Sua (Voegtli, 2009), Camares (Boyer, Clerc et al.,
Poucos pases anteciparam a resposta governamental aos primeiros casos de aids, como Cuba,
que em 1983 instituiu as primeiras medidas para o controle da epidemia e teve o primeiro caso
identificado em dezembro de 1985 entre homossexuais (Arazoza, Joanes et al., 2007); e Bangladesh,
que desde 1985 j havia institudo um Comit Nacional de Aids, mas que s teve registro de casos a
partir de 1989 (Azim, Khan et al., 2008). Na maioria dos pases, o desenvolvimento da poltica de
controle da epidemia da aids aconteceu aps a identificao dos primeiros casos no pas, sendo que em
alguns deles, como na Frana (Pinell, Broqua et al., 2002), na Sua (Voegtli, 2009) e no Brasil
(Guerra, 1993; Galvo, 2000; Marques, 2003), por exemplo, com importante participao de
movimentos sociais e a constituio de associaes especficas de luta contra a aids desde a dcada de
1980, enquanto em outros pases, essa articulao entre governo e organizaes no-governamentais
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'!No desenvolvimento do texto, optou-se por utilizar a palavra aids grafada em letras minsculas. Apesar de ter origem na
sigla AIDS, da expresso em ingls Acquired Immune Deficiency Syndrome, na lngua portuguesa, siglas com quatro ou mais
letras devem ser escritas apenas com a inicial maiscula, quando formam uma palavra pronuncivel. Mas, pelo seu uso, o
termo aids terminou adquirindo a condio de substantivo, como nome de doena, devendo ser grafado apenas com letras
minsculas.
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ocorreu principalmente na dcada de 1990, como em Bangladesh (Azim, Khan et al., 2008) e na
(Perezstable, 1991; 1992; Arazoza, Joanes et al., 2007), na Tailndia (Ainsworth, Beyrer et al., 2003)
da sade e preveno, como educao em sade e estmulo ao uso de preservativos (Guerra, 1993;
Galvo, 2000; Piot e Seck, 2001). A partir de 1989 essas estratgias foram associadas ao fornecimento
de zidovudina (AZT) no Estado de So Paulo, e em 1991 pelo Ministrio da Sade (Brasil, 2005b). A
foi o caminho adotado em pases onde a doena manifestou-se mais tardiamente como China,
Paquisto e Camares, por exemplo (Rai, Warraich et al., 2007; Wu, Sullivan et al., 2007; Boyer,
As notcias acerca da nova doena chegaram antes da identificao dos primeiros casos de
aids no pas, atravs da imprensa, que alm da influncia na sua divulgao, no alerta ao seu
preconceito, medo, moralismo, pnico e mesmo de indiferena, como se este fosse um problema
estrangeiro (Marques, 2003). A nova doena era denominada por nomes como doena dos
homossexuais, cncer gay, praga gay, peste gay (Galvo, 2000; Marques, 2003).
governamental de luta contra a aids no pas (Guerra, 1993; Galvo, 2000; Marques, 2003; Frana,
2008). No mbito nacional, apenas a partir de 1985 a aids entrou na agenda poltica do Ministrio da
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3
Um caso foi registrado retrospectivamente como ocorrido em 1980 (Teixeira, P.R. Polticas pblicas em AIDS. In: Parker,
R.G. (Org.). Polticas, instituies e AIDS: enfrentando a epidemia no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p.43-68.)
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propostos pelo movimento da Reforma Sanitria Brasileira e inseridos na constituio federal de 1988
Grangeiro, Silva et al., 2009). Desde 1991, o programa nacional passou a fornecer AZT para pessoas
vivendo com HIV/aids. A partir de 1996 a distribuio universal de antirretrovirais (ARV), estratgia
outros fatores, em decorrncia da presso social exercida pelos inmeros processos judiciais propostos
por pessoas vivendo com HIV/aids, contra as trs esferas do governo, para ter acesso terapia ARV
atravs do Sistema nico de Sade (Galvo, 2000; Brasil, 2005b; Malta e Bastos, 2008).
Entre 1980 e junho de 2011, foram registrados no pas 608.230 casos de aids4 (Brasil, 2011).
Nos primeiros anos, a epidemia atingiu os homossexuais masculinos dos grandes centros urbanos da
Regio Sudeste, principalmente So Paulo, posteriormente, difundindo-se para todos os estados e para
a populao em geral (Bastos e Barcellos, 1995; Szwarcwald, Bastos et al., 2000), e nos estratos
estvel em 0,6% desde 2004, com cerca de 600 mil indivduos vivendo com HIV/aids no Brasil (0,4%
entre as mulheres e 0,8% entre os homens) (Brasil, 2011), ficando bem abaixo da expectativa do
Banco Mundial para o ano 2000, que previa 1.200.000 brasileiros infectados (World-Bank, 1993). A
taxa de incidncia encontra-se estabilizada no pas desde 2000, tendo sido de 17,9 por 100.000
terapia antirretroviral universal no pas (Dourado, Veras et al., 2006). Desde 1996, a distribuio
(Galvo, 2000; Malta e Bastos, 2008), a despeito do fato de que o Banco Mundial, principal agncia
financiadora das polticas de HIV/aids no mundo, priorizava a preveno em detrimento de gastos com
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4
Casos notificados no Sistema de Informaes sobre Agravos de Notificao Compulsria (Sinan) e registrados no Sistema
de Controle de Exames Laboratoriais (Siscel) e no Sistema de Controle Logstico de medicamentos (Sisclom) at 30/06/2011
e declarados no Sistema de Informaes de Mortalidade (SIM) de 2000 a 2010, dados preliminares para os ltimos 5 anos.
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Entre 1980 e 2010, ocorreram alteraes na participao das categorias de exposio doena.
Se no incio da epidemia prevalecia a categoria de homens que fazem sexo com homens (homo e
Entre 1991 e 1993, os UDI passaram a ser a categoria predominante, sendo que a partir de
1994 a principal categoria de exposio passou a ser a heterossexual (Brasil, 2001a), levando tambm
a um maior acometimento do sexo feminino (Bastos e Barcellos, 1995). Assim, a razo de sexo (M:F)
que era de 40:1 em 1983, a partir de 2002, estabilizou-se em 1,5:1 (Brasil, 2009). Desde 2000, a
integralidade da ateno, que busca articular preveno e tratamento. Caracterstica esta que, associada
ao enfrentamento dos preos impostos pela indstria farmacutica, contribuiu tambm para a
implantao dos medicamentos genricos no Brasil (Loyola, 2008; Rodrigues e Soler, 2009).
Nesse sentido, o Brasil assumiu importante papel na luta pela reduo dos preos dos
medicamentos ARV, evidenciada pela disputa entre 2000 e 2001 no mbito da Organizao Mundial
do Comrcio (OMC) com os Estados Unidos da Amrica pela questo da licena compulsria de
impacto sobre indicadores de morbimortalidade, ainda que apresente limitaes no que tange a
adequado para profissionais de sade, alm das questes relacionadas ao financiamento (Piot e Seck,
2001; Malta e Bastos, 2008). Principalmente em funo dos resultados obtidos com a distribuio
!
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universal de ARV (Hacker, Petersen et al., 2004; Oliveira-Cruz, Kowalski et al., 2004), a poltica
brasileira de controle da epidemia de aids tem sido citada como modelo no apenas para outros pases
em desenvolvimento como Costa Rica, El Salvador, Panam (Piot e Seck, 2001) e China (Wu,
Sullivan et al., 2007), mas tambm para os prprios Estados Unidos da Amrica (EUA) (Gmez,
2008; Nunn, 2009; Gmez, 2010). Podem ser citados como exemplos de iniciativas que sofreram
o Presidents Emergency Plan for AIDS Relief (PEPFAR)5, atravs do qual os EUA
2006).
O interesse internacional pela poltica brasileira de controle da aids pode ser evidenciado
universal aos medicamentos ARV, mas tambm as estratgias de preveno adotadas pelo Programa
Estudos que tratam da resposta epidemia e da gnese da poltica tm dado nfase anlise
da participao das organizaes no-governamentais (ONGs) na luta contra a aids no pas (Silva,
1999; Galvo, 2000; Campos, 2005) ou da sua relao com o Estado (Monteiro, 2005), sempre
colocando o campo burocrtico em um segundo plano. Aqueles que fazem uma anlise mais centrada
mdico e cientfico (Marques, 2003; Gmez, 2008; Nunn, 2009). Alm disso, outras investigaes tm
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
5
Iniciativa do governo norte-americano para reduzir o sofrimento das pessoas vivendo com HIV/Aids no mundo que teve
incio em 2003, cujo um dos objetivos expandir preveno, cuidado e tratamento. (Pepfar.The United States President's
Emergency Plan for AIDS Relief.Disponvel em: http://www.pepfar.gov/. Acesso em: 29/10/2012.)
6
A iniciativa 3 by 5 da Organizao Mundial de Sade tinha como objetivo promover acesso a medicamentos ARV a 3
milhes de pessoas vivendo com HIV/Aids at 2005 (Who.The 3 by 5 iniciative: treat three million people with HIV/AIDS
by 2005.Disponvel em: <http://www.who.int/3by5/en/>. Acesso em: 29/10/2012.)
!
#,! !
poltica no Estado de So Paulo (Guerra, 1993; Frana, 2008), para usurios de drogas injetveis
(Fonseca, 2008), acerca da descentralizao da poltica (Barboza, 2006), ou realizando estudos do grau
estudaram o universo de possveis para a emergncia de um movimento de luta contra a aids naquele
pas, assim como a estrutura e a dinmica de relaes dos agentes engajados no espao aids no perodo
de 1981 a 1996. O espao associativo aids na Frana surgiu com a mobilizao popular frente a
buscando substituir as instituies estatais para cumprir uma funo pblica. A luta contra a aids, ao
contrrio do combate a outras doenas como cncer e a tuberculose, tambm estudadas por Pinell
(2010), assumiu, assim, caractersticas de contestao social, estruturada por associaes militantes. A
criao de associaes especficas de luta contra a aids foi anterior resposta governamental e teve
como principais agentes militantes homossexuais, sendo que aquele espao associativo conformou-se
com uma autonomia relativa em relao ao campo homossexual, o que permitiu um alargamento da
base do movimento e a abertura de servios aos demais grupos atingidos pela epidemia. A partir da
atuao dessas associaes, dos avanos no campo mdico e da evoluo da representao da doena
(que passou a atingir a populao geral) pela sociedade francesa, foi formulada a poltica de luta
contra a aids daquele pas, provocando modificaes importantes em reas como a homossexualidade
No Brasil, foi localizado apenas um trabalho baseado no conceito de campo proposto por
Bourdieu, que buscou articular a posio ocupada no campo de polticas pblicas em HIV/aids ou
estudo considerou o grupo de mdicos que assumiu posies importantes no Programa Nacional, em
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
7
O trabalho desenvolvido por Mendona, Alves et al (2010) teve como principal referencial a teoria organizacional neo-
institucionalista.
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sendo as ltimas empreendedores desafiantes por ocuparem uma posio perifrica, alm de terem
especialmente no campo mdico e nas associaes especficas de luta contra a aids, considerando
outsiders a populao geral e as demais reas do setor sade, o campo cientfico e o campo
burocrtico.
possibilidade. Entende-se, que o conceito de espao aids, como sugerido por Pinell, Broqua et al.
(2002), mostra-se mais adequado, haja vista tratar-se de um espao de relaes entre agentes
envolvidos com a organizao da resposta epidemia da aids, que ainda que tenha contribudo para a
dependente do conhecimento mdico acerca da doena (definio das causas, descoberta de testes
diagnsticos, possibilidades teraputicas). Ou seja, o espao aids tem uma relao de dependncia, em
especial com o campo mdico, no podendo ser compreendido como um campo que possui autonomia
especial So Paulo, ou em uma abordagem nacional centrada na relao entre ONGs e Estado, seja
poltica pblica nos diferentes nveis do sistema de sade. Os referidos trabalhos no tm analisado de
forma mais sistemtica a interao entre os agentes dos diferentes subespaos envolvidos na resposta
epidemia da aids no pas, seus pontos de vista sobre a epidemia e as estratgias adotadas na
doena no pas. Dessa forma, diversas perguntas no esto respondidas nas investigaes revisadas:
- Por que foi formulada uma poltica para o controle da aids logo aps a sua descoberta, quando
!
#'! !
- Como e quando se desenvolveu no Brasil uma poltica de controle da aids baseada no apenas
na preveno, mas tambm no tratamento (doenas oportunistas e, mais tarde, acesso a ARV)?
- Como se organizou o espao aids no Brasil? (Qual a sua composio? Quem so seus agentes?
O que estava em disputa? Por que as pessoas interessaram-se pela luta contra a aids? Qual o
- Qual a relao das aes de luta contra a aids e o movimento pela Reforma Sanitria
brasileira?
Bourdieu (2012) destaca que medida que a histria avana, o espao de possveis realizveis
realizados, mortos e esquecidos, afastando-nos da tendncia em aceitar que o que ocorreu era o que
deveria ter acontecido. O estudo da gnese, ento, uma importante estratgia de ruptura com o senso
comum e a anlise a partir do referencial terico bourdieusiano permite a articulao entre estruturas
objetivas e mentais, internas e externas, e as trajetrias dos agentes envolvidos, buscando uma
caso exemplar do possvel, apoiado no referencial terico de Bourdieu, pode fornecer elementos para a
resposta a algumas dessas indagaes, a partir da anlise das condies histricas que contriburam
!
! ##!
2 Hiptese
No Brasil, o fato de a gnese da poltica de controle da aids ter ocorrido durante um momento
de ascenso do movimento sanitrio, bem como a ausncia de uma terapia especfica, podem ter
resultado na priorizao inicial da preveno, mas sempre sob a dominncia do campo mdico,
inicialmente atingido um grupo organizado, como os homossexuais, e com lideranas com alto volume
de capital cultural e social, portanto com uma importante rede de contatos, contribuiu para uma
resposta precoce por parte do Estado, quando ainda no havia evidncias epidemiolgicas da
movimento sanitrio assumiram importantes funes nos diferentes nveis da gesto do sistema de
sade brasileiro, bem como a dominncia do campo mdico podem ter contribudo para a formulao
de uma poltica baseada na integralidade das aes e no acesso universal assistncia, como podem
!
#$! !
3 Objetivos
1981 e 2001;
poltica brasileira para o controle da aids com o espao da sade coletiva, o movimento da
sade.
!
! #%!
4 Referencial terico
Para reconstruir a dinmica do jogo social onde emergiram as respostas epidemia da aids no
Brasil foi adotado o referencial terico da sociologia reflexiva de Bourdieu (Bourdieu, 1996; 2001;
2008), apoiado na proposta de Pinell (Pinell, Broqua et al., 2002; Pinell, 2010) para a anlise
O conceito de espao social foi adotado para estudar a estrutura e a dinmica de relaes dos
agentes engajados em lutas concorrentes em torno de um objetivo comum (Pinell, Broqua et al.,
2002), no caso especfico desse estudo, a luta contra a epidemia da aids. Assim, o espao aids foi
agentes no espao social se d de acordo com as diversas espcies de capital e em particular com o
capital cultural, o capital econmico, o volume de capital global e a trajetria social, mas tambm
com os capitais poltico, social, simblico e mesmo o capital burocrtico. As diferenas entre essas
posies correspondem a diferenas nas disposies (habitus8) e nas tomadas de posio. Ou seja, a
cada classe de posies corresponde uma classe de habitus (ou de gostos) produzidos pelos
conhecimentos incorporados (ser competente em um domnio do saber, ser culto, ter bom domnio da
linguagem), posse de bens culturais (livros, dicionrios, instrumentos, mquinas) e, no seu estado
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
8
Habitus o princpio gerador e unificador das prticas. Representa as caractersticas intrnsecas e relacionais de uma
posio em um estilo de vida (escolhas de pessoas, bens e prticas), gerando prticas distintas e distintivas. o senso prtico
do que se deve fazer em uma dada situao. Corresponde s disposies dos agentes, seus esquemas de percepo,
produzidos pela histria coletiva, modificados pela histria individual de cada um, e incorporados de forma inconsciente
(Bourdieu, P. Razes prticas: sobre a teoria da ao. Campinas, SP: Papirus. 1996. 224 p.; ______. A distino: crtica
social do julgamento. So Paulo, Porto Alegre: Edusp, Zouk. 2008. 560 p.)
!
#(! !
institucionalizado, aos ttulos, diplomas e aprovao em concursos, que nada mais so que a
trabalho contnuo de aprendizagem e acumulao. Sua aquisio demanda tempo e, portanto, bens
materiais, geralmente estando relacionado com o capital econmico do qual seria uma espcie de
converso. Assim, o capital cultural constitudo a partir da interao entre os espaos familiar e
escolar, de modo que agentes com o mesmo capital escolar podem possuir capitais culturais deferentes
O capital social um capital de relaes, trata-se dos ganhos associados existncia de uma
grupo. O capital social tende a ser uma espcie de multiplicador de seus poderes por um efeito de
O capital simblico uma forma de capital que nasce da relao entre uma espcie qualquer
de capital e os agentes socializados de maneira conhecer e reconhecer essa espcie de capital. Para
Bourdieu, mesmo nos casos em que a espcie de capital mais prxima do mundo fsico, no h efeito
fsico que no se acompanhe de efeito simblico, de modo que o conceito de capital simblico permite
fazer uma teoria materialista do simblico. Nesse sentido, o capital econmico no se trata apenas da
riqueza, h um reconhecimento relacionado riqueza que faz que a fora econmica exera tambm
um efeito simblico alm da riqueza, dada pelo reconhecimento (Bourdieu, 2012). O capital
simblico uma propriedade qualquer (de qualquer tipo de capital, fsico, econmico, cultural, social),
percebida pelos agentes sociais cujas categorias de percepo so tais que eles podem entend-las
(perceb-las) e reconhec-las, atribuindo-lhes valor (p.107), ou seja, a forma como qualquer tipo de
de capital social e simblico, obtido a ttulo pessoal, resultado de um capital pessoal de notoriedade e
popularidade (ser conhecido e reconhecido), ou por delegao de uma organizao detentora desse
tipo de capital, como partidos ou sindicatos. medida que a poltica profissionaliza-se, a luta
modo que a objetivao do capital poltico foi realizada a partir do acesso a posies na poltica
!
! #)!
tradicional, ou seja, em postos no seio de um partido e nos organismos de poder e em toda a rede de
empresas em simbiose com esses organismos, bem como na participao em cargos eletivos
agir, intervir ou simplesmente obedecer. Este capital passvel de ser convertido em outros universos,
de um grupo na estrutura social (Matonti e Poupeau, 2004), Sob certas condies, o capital militante
pode ser uma via de acesso ao capital poltico, quando por exemplo um agente associado a
personificao e divulgao de uma ao que permite reconverter sua notoriedade militante adquirida
No espao social, podem ser identificados subespaos constitudos por redes de relaes entre
agentes e instituies com leis prprias, autonomia relativa e um habitus comum, onde existem lutas
especficas que fazem sentido aos seus integrantes, ao que Bourdieu denomina campo.
O espao aids foi considerado um espao onde se articulam agentes (dos campos mdico,
Para a anlise do espao associativo ou militante foi adotado o modelo de anlise dos
movimentos sociais em sade proposto por Brown e cols. (2004) a partir da teoria dos movimentos
sociais, dividindo-os em trs categorias: movimentos de acesso a sade (access health movements),
que lutam por acesso equnime assistncia mdica e para a implementao da oferta de servios de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
9
Os agentes pertencentes s associaes especficas de luta contra a aids, que no Brasil so conhecidas como ONGs/aids,
optam pelo uso do termo ativismo ao invs de militncia. O ativismo seria uma nova maneira de engajamento, em
contraposio militncia caracterstica das ONGs do incio dos anos 1980 no Brasil, que tm como ponto de partida
problemas sociais ou causas pblicas e estavam baseados no que Weber define como tica da convico. O ativismo estaria
baseado na experincia individual e ntima, no caso, o viver com HIV/aids, como condio de mobilizao e de luta,
resultando em um engajamento pessoal, em necessidades urgentes que demandam uma resoluo no presente e centrado na
tica da responsabilidade, conforme definida por Weber. Ou seja, o ativismo no teria um projeto de mudana da sociedade
como um todo, mas da garantia de determinadas condies. (Silva, C.L.C.D. Ativismo, ajuda mtua e assistncia: a atuao
das organizaes no-governamentais na luta contra a aids. (Doutorado). Programa de Ps-Graduao em Sociologia e
Antropologia do Instituto de Filosofia e Cincias Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. 344
p.)
!
#&! !
health movements), direcionados luta contra as desigualdades em sade baseadas em raa, etnia,
gnero, classe e/ou diferenas sexuais, e movimentos de sade incorporados (embodied health
Para fins da anlise da relao dos agentes envolvidos com a formulao e implantao da
poltica de controle da aids no Brasil, a Sade Coletiva foi compreendida enquanto um espao
influenciado de forma importante pelo saber e prticas do campo mdico (de onde surgiu e do qual
seus agentes ainda guardam razes e identidades), mas em busca de autonomia e identidade prpria,
cuja institucionalizao se d no mbito dos campos cientfico e burocrtico, alm da relao estreita
com os campos poltico e do poder, tendo como projeto poltico a Reforma Sanitria10. Assim, a
burocracia estatal da sade ligada Poltica Nacional de DST/aids componente desses dois espaos,
Estado e sua conformao para a anlise das suas respostas a problemas sociais especficos.
Analisando criticamente diversas teorias sobre o Estado, Bourdieu (1996) considerou que para
como usurpadores do universal, mas que se impe a eles uma referncia obrigatria aos valores de
lei do campo burocrtico ser o servio pblico, o universal, os campos onde o desinteresse a norma,
no so regidos apenas pelo desinteresse. Este desinteresse recompensado de alguma forma. O que
est ausente o interesse econmico, mas no significa que outras formas de interesse no estejam
simblicos, que recalca o interesse econmico, que faz com que condutas adequadas sejam aprovadas
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
10
Vieira da Silva et. al. Projeto O Espao da Sade coletiva. Relatrio de pesquisa.
!
! #*!
burocracia, tipo mais puro da dominao legal (Weber, 1982). Este tipo de dominao, exercida
principalmente pelo servidor do Estado, apresenta como caractersticas: ordenamento por meio de leis
treinamento especializado e completo; cargos com competncias e atribuies claras; recrutamento por
meio de critrios objetivos; livre seleo para preenchimento de cargos; promoo meritocrtica;
disciplina sistemtica e rigorosa; e controle do cargo (Weber, 1982; 2003). Weber destaca a
conscincia burocrtica, pela qual o funcionrio deve administrar tudo de forma apartidria, executar
as ordens dos superiores como se fossem suas convices, mesmo que lhe parea errnea. A residiria
a diferena entre o burocrata e o lder poltico: enquanto o primeiro sacrifica as suas convices
o monoplio da violncia simblica legtima (Bourdieu, 2012, p. 14), na medida em que este
condio necessria ao exerccio da prpria violncia fsica. Para Bourdieu, o Estado seria, por
cultural (de informao), simblico, constituindo uma espcie de meta-capital, que lhe permitiria
exercer poder sobre diferentes campos e sobre diferentes tipos de capital. O Estado estaria imbricado
com o campo do poder, onde os agentes detentores de diferentes tipos de capital lutam pelo poder
Uma vez que o Estado resulta da concentrao de diferentes tipos de capital, com poder sobre
os outros tipos de capital, e que o campo burocrtico definido como o espao de agentes e de
instituies que possuem essa espcie de meta-poder, o capital burocrtico foi considerado como um
!
$,! !
capital delegado pelo Estado (Bourdieu, 1996; Bourdieu, 2012). Apesar de Bourdieu no apresentar
uma definio formal de capital burocrtico, apresenta diversas referncias pontuais que permitem
aqueles a quem o Estado delega falar em seu nome, detentores assim de um poder garantido pelo
Estado, de modo que o capital burocrtico seria um capital que tem poder sobre outros tipos de capital
(Bourdieu, 2012).
trataria de uma submisso mecnica, mas de um produto da relao dos agentes com o Estado, visto
que o prprio Estado impe as estruturas segundo as quais percebido, atravs principalmente da
A religio, assim como a escola e o Estado, contribui para manuteno da ordem estabelecida
(legitimao do poder dos dominantes), assim como para a construo de um sistema de prticas e de
poder de nomeao, surgindo ento duas formas de acesso nobreza: a primeira, representada pela
garantida pelas honrarias atribudas pelo Estado, seja um ttulo de nobreza, seja um ttulo escolar.
Assim, cada vez mais, o capital simblico da nobreza deixa de ser baseado apenas no reconhecimento
para encontrar uma objetivao, uma codificao, delegada e garantida pelo Estado, burocratizado,
conferindo posies em virtude de capital cultural adquirido atravs do ttulo escolar (Bourdieu, 1996;
Bourdieu, 2012).
!
! $+!
democratizariam a entrada nos cargos pblicos, permitindo o acesso a agentes de todas as classes, ao
mesmo tempo que poderiam favorecer por algum perodo a entrada das classes dominantes, devido s
Para Bourdieu, o campo burocrtico o prprio Estado, uma vez que ele o criador e
garantidor dos fetiches de classificao, como o ttulo escolar, a cultura legtima, a nao, a
ortografia, a noo de fronteira, entre outros (Bourdieu, 2012). O Estado seria um banco central de
desfamiliarizao, trata-se de sair da lgica familiar, domstica, para uma outra lgica. Ou seja, o
Estado ope-se famlia. Ele substitui a lealdade familiar pelas lealdades formais e condena o
nepotismo. Substitui a sucesso direta e hereditria (modo de reproduo dinstico) pela reproduo
de base escolar (modo de reproduo burocrtico). Ocorre, ento, uma tripartio do poder: entre o rei,
seus irmos e os ministros, de modo que se cria uma cadeia de controle mtuo de uns sobre os outros,
limitando e controlando o poder de cada um. E por fim, concentra o poder de nomeao (Bourdieu,
1997).
Uma nova burocracia, dessa forma, vem estabelecendo-se no mbito da sade ao interior do
Estado brasileiro, os executivos da sade, como denominados por Goulart (2002, 2006), seriam
aqueles funcionrios no concursados que fazem carreira ao interior desse subespao, assumindo
postos em diferentes nveis da gesto da sade pblica, tenderiam mais ao perfil de funcionrios
polticos que administrativos, contudo, a sua manuteno no quadro de funcionrios por perodos
muito longos terminaria por consagr-los como uma espcie de quadro administrativo atpico que
apesar de no dispor de algumas garantias trabalhistas, gozam do mesmo prestgio e tem os mesmos
empreendedorismo militante (Goulart, 2002), caracterstica atravs da qual pessoas que ocupam
envolvimento emocional com o objeto, com a causa em questo, o que terminaria por congregar
!
$'! !
mais sociolgica, segundo Mendona, Alves et al. (2010), visto como um comportamento de desvio
comprometidos com a reproduo e manuteno da sua posio, a no ser que essas inovaes
contribuam para o fortalecimento do status quo. Assim, os agentes perifricos, ou seja, essa burocracia
ainda no estabelecida, seriam aqueles com maior predisposio a desafiar e criar novas prticas.
O poder simblico, conforme definido por Bourdieu (Bourdieu, 2001), um poder invisvel o
qual s pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que no querem saber que lhe esto sujeitos
ou mesmo que o exercem (p. 7-8), um poder conferido por um determinado grupo a partir do
reconhecimento em relao a um capital, qualquer que seja a sua espcie, transmutado em capital de
reconhecimento.
Desta forma, o capital burocrtico foi objetivado atravs dos cargos ocupados, visto que
quanto mais altos os postos ocupados, maior o poder de delegao e maior volume de recursos sob a
resposta social diante dos problemas de sade (danos e riscos) e seus determinantes bem como a
interveno sobre a produo, distribuio e regulao de bens servios e ambientes que afetam a
sade dos indivduos e da coletividade (Paim, 2002), analisar a gnese de uma poltica de sade,
buscar compreender o contexto poltico, cultural e social que determinou a necessidade de interveno
agravo sade como um problema social que exigia uma resposta governamental especfica.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
11
O termo gnese compreendido como origem, como conjunto de fatos ou elementos que concorrem para a formao de
alguma coisa e o termo emergncia usado como seu sinnimo.
!
! $#!
A seleo das categorias analticas foi baseada na proposta de Pinell (2010) a partir do estudo
da gnese de quatro polticas de sade na Frana (poltica em favor da infncia anormal, poltica de
luta contra a toxicomania, poltica de luta contra o cncer e poltica de luta contra a aids). Os estudos
de Pinell tinham a poltica como pano de fundo de um problema sociolgico objeto de estudo, de
modo que o autor realizou um esforo inverso ao da maioria dos pesquisadores de cincias polticas,
analisando a poltica a partir de um referencial terico sociolgico, mas sem uma teoria prvia a ter
sua pertinncia verificada pela anlise de caso. A posteriori, Pinell (2010) elaborou proposies acerca
dos processos comuns emergncia das polticas por ele estudadas a cerca da sua gnese e evoluo.
diferentes pontos de vista sobre o que o problema ou sobre as medidas a serem tomadas;
4. A negociao para a definio de uma viso comum do problema pode levar a conflitos, a
uma luta simblica pela definio do problema e suas consequncias, haja vista a concorrncia
problema como um problema social. Nesse contexto, a definio ser tanto mais precisa (e
restrita) quanto mais forte a concorrncia entre os grupos de agentes e tanto mais imprecisa
6. Quando os grupos chegam a superar seus eventuais conflitos de interesse, a lgica para a
!
$$! !
eventuais contradies;
pelo Estado leva a remodelaes quando tem incio a formulao da poltica especfica pelos
ajustamento das polticas, instituies e estruturas j existentes. Isso se deve ao fato que:
Com relao evoluo das polticas, considera que a implantao e a evoluo de uma
poltica de sade so produtos da dinmica de um jogo social complexo que deve considerar:
encontrados;
justia, etc.) e mais globalmente toda a sociedade (guerras ou mudanas de costumes e nas
!
! $%!
"!#$%&'%()*'!+,!-$%.+,12!
perodo compreendido entre 1981, ano dos primeiros relatos de caso em publicaes cientficas
internacionais, e 2001, quando foi assinado o acordo entre Brasil e EUA no mbito da Organizao
Para reconstruir a gnese da poltica de controle da aids no pas foram analisadas as condies
histricas para a sua emergncia e reconstruda a dinmica do espao aids e da participao dos
agentes dos campos burocrtico, mdico e poltico, bem como do espao militante (ou associativo) e
Sade e do governo federal (boletim epidemiolgico de aids, portarias ministeriais, leis e decretos),
dos movimentos sociais (boletim do Grupo Gay da Bahia GGB, boletim da Associao Brasileira
Interdisciplinar de Aids Abia, boletim de vacinas), o acervo disponibilizado on line dos jornais
Lampio da Esquina, Folha de So Paulo, e O Estado de So Paulo, e da revista Veja, bem como foi
Todas as entrevistas foram realizadas pela autora e o tamanho da amostra foi delimitado pela
saturao de informaes.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
12
Este um subprojeto do Projeto: Vieira da Silva et al. O Espao da Sade Coletiva. Projeto de Pesquisa. ISC/Ufba, 2006.
CNPq processo no 473126/2009-5. Edital Universal.
!
!
$(! !
movimentos sociais, do campo cientfico e do campo mdico, bem como suas relaes, suas posies
- Posio no espao social (aferida atravs da profisso dos pais e dos avs e da trajetria
profissional);
- Posio no espao aids (aferida atravs da trajetria profissional ao interior do espao aids);
participao em partidos);
Indicadores de disposies especficas sobre a aids (posio sobre a doena, posio sobre o
componente preventivo, posio sobre as estratgias de tratamento, posio sobre o acesso universal
aos medicamentos e sobre o termo homens que fazem sexo com homens HSH).
Nesse sentido, as entrevistas realizadas com agentes situados em lugares diferentes do espao
aids (mdico, tcnico do ministrio, representante de ONG) permitiram o mapeamento das posies, e
espao.
A classificao dos agentes de acordo com a insero nos campos sociais foi realizada de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
13
A imagem-objetivo do Sistema nico de Sade (SUS) considerada foi aquela que consta do captulo sade da Constituio
Federal do Brasil, bem como aquela resultante do consenso de experts analisado por Souza, L.E.P.F.D.S., Vieira-Da-Silva,
L.M., et al. Conferncia de consenso sobre a imagem-objetivo da descentralizao da ateno sade no Brasil. In: Hartz,
Z.M.D.A. e Vieira-Da-Silva, L.M. (Ed.). Avaliao em sade: dos modelos tericos prtica na avaliao de programas e
sistemas de sade. Salvador e Rio de Janeiro: EDUFBA e Fiocruz, 2005. Conferncia de consenso sobre a imagem-objetivo
da descentralizao da ateno sade no Brasil, p.65-102
!
! $)!
Acesso a
Entrada Emergncia medicamentos
Graduao no da poltica Lei
Entrevistados
(instituio) espao nacional AZT 9313/
(ano) (1985) 1996
!
$&! !
polticas);
A anlise do volume dos diferentes tipos de capital foi realizada para dois perodos distintos: a
gnese da poltica (1983-1986) e o ltimo ano do perodo estudado (2001). Para a anlise do volume
de capital burocrtico, poltico e militante foram usados os mesmos critrios para os dois perodos,
mas para a anlise do volume de capital cientfico, os critrios foram ajustados situao do campo
cientfico do referido perodo, a partir do perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade cientfica
do CNPq das reas de Sade Coletiva em 2002 (Barata e Goldbaum, 2003) e de Medicina para o
recursos como correio eletrnico e contato telefnico ou skype. As informaes foram confirmadas e
e anais dos eventos da rea, informaes disponveis em bases como currculum Lattes e outras
disponveis na internet.
Foi feita uma sntese dessas informaes a partir do referencial terico utilizado, buscando
reunir elementos capazes de caracterizar a gnese da poltica nacional de controle da aids, o papel do
campo burocrtico e a sua relao com o espao aids, mais especificamente as ONGs.
acordo com a divulgao do seu nome (Anexo II). Esta estratgia foi adotada por tratar-se de
informaes relacionadas com o exerccio de cargos ou posies pblicas. O nico caso em que no
foi possvel o contato pessoal, o consentimento escrito e informado do entrevistado foi encaminhado
!
! $*!
Quadro 2 Critrios de anlise da composio das diferentes espcies de capital no perodo da gnese
do espao aids no Brasil (1981 a 1986)*
!
Volume do Muito Alto (AA) Alto (A) Mdio (M) Pequeno (P)
capital
Tipo de Capital
Cientfico Reconhecimento Reconhecimento Reconhecimento Mestrado
internacional Nacional local
Burocrtico**
Poltico
Ocupao de
cargos Ministro da Sade, Secretrios Estaduais Secretrios Outros cargos
administrativos Presidentes de Sade Municipais de tcnicos de
que resultam em Agncias Sade indicao
articulaes poltica.
especificamente
polticas
!
%,! !
Tipo de Capital
Cientfico Doutorado Doutorado Doutorado Doutorado
Produo compatvel Produo compatvel Produo Integrar
com o perfil de com o perfil de compatvel com o equipe de
bolsista CNPq 1A bolsista CNPq 1B e perfil de bolsista projeto de
1C CNPq 2 pesquisa
rea Sade Coletiva
13 artigos nos ltimos rea Sade Coletiva rea Sade
3 anos (6 em revista 10 artigos nos ltimos Coletiva 9
A) 3 anos (6 em revista artigos nos
A) ltimos 3 anos (3
em revista A)
rea Medicina 20
artigos em revista A rea Medicina 16 rea Medicina
nos ltimos 3 anos artigos em revista A 9 artigos em
nos ltimos 3 anos revista A nos
ltimos 3 anos
!
! %+!
social um processo social cuja evoluo determinada pelas alianas entre os diferentes grupos, de
social no Brasil teve a participao de agentes de diversos campos e subespaos, uma correlao de
foras que contribuiu para o surgimento de um espao especfico de organizao da luta contra a aids
militante, do campo burocrtico, do campo mdico, do campo cientfico, do campo poltico e mesmo
do campo religioso.
O quadro 4 apresenta uma sntese dos principais fatos histricos relacionados ao espao aids e
gnese e evoluo da poltica nacional de controle da aids apresentados a seguir, buscando articul-
como aos subespaos especficos (campos mdico e cientfico, campos burocrtico, espao militante e
imprensa) e evidencia a complexidade das relaes estabelecidas ao interior do espao aids no Brasil.
A abordagem desses diferentes subespaos tornou a anlise bastante complexa, de modo que a
apresentao dos fatos histricos concorrentes para a conformao do espao aids e as lutas e disputas
travadas ao seu interior tentou seguir a ordem cronolgica, mas tambm a sua relao com os
resposta epidemia esto relacionados evoluo do saber mdico e das estratgias de interveno
possveis (Pinell, Broqua et al., 2002), para fins de anlise foram considerados quatro momentos da
poltica nacional de controle da aids, relacionando os principais grupos atingidos, as aes prioritrias
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Quadro 5 Momentos da poltica nacional de controle da aids, principais grupos atingidos, aes
prioritrias e sua relao com o saber mdico, 1981-2001.
Perodo Principais Saber mdico Poltica de luta contra a Aes prioritrias
grupos aids
atingidos*
1981-1984 Homossexuais Descoberta do vrus Governo federal no possui Iniciativas estaduais
Teste sorolgico uma poltica especfica
1985-1989 Homossexuais, AZT Surgimento de uma poltica Aes de vigilncia e
hemoflicos e nacional educao em sade
outros receptores
de sangue e
hemoderivados
1990-1996 Usurios de Realizao de ensaios Consolidao da poltica Distribuio de
drogas injetveis, para estudos de vacinas nacional medicamentos,
heterossexuais no pas 1o acordo de
Terapia combinada emprstimo,
(controle da doena, financiamento ONGs
aumento da sobrevida)
1997-2001 Feminizao** Novos medicamentos Apogeu da poltica nacional: Sustentabilidade da
Envelhecimento (inibidores da protease), reduo de indicadores de estratgia do acesso
Interiorizao reduo de efeitos morbimortalidade universal
Pauperizao colaterais, controle da (estabilizao da epidemia) e
Aumento da doena reconhecimento
sobrevida internacional
captulo 7.
A epidemia da aids chegou ao Brasil no incio dos anos 1980, quando ainda no existia uma
resposta teraputica eficaz. No pas, o final da dcada de 1970 e incio dos anos 1980 foi marcado pelo
processo de abertura poltica e redemocratizao do pas, culminando com a anistia poltica dos
exilados em 1979, na realizao de eleies democrticas nos estados em 1982, na mobilizao por
eleies diretas para a presidncia da repblica e na eleio indireta do primeiro governo federal
democrtico aps o perodo de ditadura militar no incio de 1985 (Macrae, 1990). Essas condies
permitiram a retomada da luta pelos direitos polticos e a constituio de um movimento social mais
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ativo nesse perodo, marcado inclusive pelo surgimento das organizaes no-governamentais
(ONGs14), para o que contriburam os retornados do exlio aps a anistia, bem como outros que
A aids chegou ao pas em um momento de expanso do gueto gay17 (Silva, 1986). Desde
formao de um grupo de discusso homossexual, mas s depois de uma visita do editor do jornal
americano Gay Sunshine, Winston Leyland, em 1977 ao Brasil, que um grupo de intelectuais
Brasil at 1981, quando foi editado seu ltimo nmero. Foi uma discusso sobre homossexualidade, na
Semana da Convergncia Socialista, promovida pela Revista Versus, em 1977, que motivou Joo
realizarem reunies semanais, das quais resultou a formao do Somos Grupo de Afirmao
Homossexual 18 (Somos), o primeiro grupo gay do Brasil, em So Paulo (Macrae, 1990; Facchini,
2003). Foram tambm fundadores do Somos o antroplogo ingls Peter Fry, professor da
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
14
(...) categoria (...) usada para designar subconjuntos de organizaes (como ambientalistas, de negros, mulheres, povos
indgenas, portadores de HIV, etc.) que, embora variadas, ocupam posies anlogas no campo poltico e social e possuem
caractersticas comuns, como por exemplo: so de origem recente e ligadas em grande parte a movimentos sociais,
compreendendo-se como tal tambm os relacionados criao de novas identidades e defesa de direitos especficos ou
difusos; tm portanto determinados horizontes comuns no centro dos seus iderios, como a expanso de valores
democrticos, de direitos civis, da cidadania; inserem-se marcadamente em redes de relaes internacionalizadas, onde a
questo do financiamento est de alguma forma presente. (Landim, L. Experincia militante: histrias das assim chamadas
ONGs. Lusotopie, n.1, p.215-239. 2002. p. 220)
15
Movimento controlado pela igreja catlica que compreendia quatro grupos: Homens da Ao Catlica e Liga Feminina de
Ao Catlica, para os maiores de 30 anos ou casados de qualquer idade; e Juventude Catlica Brasileira e Juventude
Feminina Catlica, para os jovens de 14 a 30 anos. A Juventude Catlica compreendia a Juventude Estudantil Catlica (JEC),
para os jovens secundaristas, a Juventude Universitria Catlica (JUC), para os universitrios, e a Juventude Operria
Catlica (JOC), para os jovens operrios. Em 1962, militantes da JUC e da JEC criaram a Ao Popular (Kornis, M. Ao
Catlica Brasileira. Dicionrio Histrico-Biogrfico Brasileiro - Ps 1930. Abreu, A.a.D., Beloch, I., et al. Rio de Janeiro:
CPDOC/FGV 2010.).
16
Movimento poltico clandestino resultado da atuao dos militantes estudantis da Juventude Estudantil Catlica (JEC) e da
Juventude Universitria Catlica (JUC). Criado em 1962, foi um dos mais importantes movimentos de resistncia ao regime
militar durante a dcada de 1960. Em 1967 mudou sua sigla para APML (Ao Popular Marxista-Lenista) e terminou com
sua incorporao ao Partido Comunista do Brasil (PC do B).
17
O termo gueto era usado entre os homossexuais para denominar locais de encontro, como bares, boates, saunas, parques,
restaurantes frequentados por homossexuais de forma exclusiva ou quase exclusiva, ou para designar ruas ou locais
especficos (Silva, L.L.D. Homossexualidade e aids em So Paulo. (Mestrado). Programa de Estudos Ps-graduados em
Cincias Sociais, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1986. 204 p.).
18
O nome Somos Grupo de Afirmao Homossexual, era uma homenagem publicao da Frente de Liberao
Homossexual Argentina, o primeiro grupo pelos direitos gays na Amrica do Sul, que surgiu em Buenos Aires, em 1971 e foi
extinta pela ditadura militar daquele pas em maro de 1976. (Green, J.N., Fernandes, M., et al. Somos - Grupo de Afirmao
Homossexual: 24 anos depois. Reflexes sobre os primeiros momentos do movimento homossexual no Brasil. Cadernos
AEL, v.10, n.18/19, p.49-73. 2003.).
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idealizadores do primeiro cartaz de preveno da aids no Brasil, e o cineasta belga Jean Claude
Bernadet.
homossexual que lutavam pelos direitos civis dessa minoria por todo o pas (Macrae, 1990; Facchini,
2003).
No Brasil, no existia uma legislao homofbica a ser combatida como nos EUA e na
Frana, por exemplo, mas a homossexualidade constava na lista de doenas do Instituto Nacional de
Assistncia Mdica e Previdncia Social (Inamps), o que tornava a relao com o campo mdico
conflituosa (Macrae, 1990; Facchini, 2003). Apesar da homossexualidade no ser crime no Brasil, a
violncia contra homossexuais, inclusive por parte do aparato de violncia fsica do Estado sempre
esteve presente, sendo esta inclusive uma das principais lutas do movimento gay (Silva, 1986; Macrae,
1990). Mas foram as divergncias internas aos prprios grupos, resultantes do seu crescimento
desejavam uma atuao mais voltada para a garantia de direitos dos homossexuais e os que
propunham um engajamento poltico mais amplo, que levou ruptura do Somos, um racha no
jargo poltico-associativo, aps o 1o de maio de 1980, do qual surgiu o Grupo Outra Coisa Ao
Homossexualista e o Grupo Lsbico-feminista (Macrae, 1990). O Somos ainda continuou, mas por
volta de 1983, o grupo, com dificuldades financeiras e de conseguir novos membros, dissolveu-se.
Uma primeira onda do movimento homossexual no Brasil teria ocorrido at 1983, coincidindo
com a emergncia da epidemia da aids no pas, caracterizada por grupos com carter mais comunitrio
O Lampio da Esquina teve seu ltimo nmero publicado em junho de 1981 e no chegou a
mencionar a nova doena que comeava a aparecer nos EUA e que a imprensa comeava a noticiar no
Brasil19. O fim do Lampio20 foi outro fato que contribuiu para a desmobilizao do movimento, que
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
19
Acervo do Jornal Lampio da Esquina, 1976-1981, disponvel em http://www.grupodignidade.org.br/blog/?page_id=53,
acesso em 26/11/2011.
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perdeu seu principal meio de comunicao. Essa desmobilizao do movimento homossexual resultou
nmero de grupos aconteceria na dcada de 1990, na segunda onda do movimento gay, com grupos
com carter mais formal, para os quais a principal causa era a garantia dos direitos homossexuais e a
As primeiras notcias sobre a nova doena, que matava rapidamente, acometia principalmente
Kaposi, tinham tratamento jornalstico de um problema estrangeiro (Barata, 2006) e contriburam para
a viso de uma doena de homossexuais, designando-a inicialmente de peste gay (Silva, 1986). Mas, a
partir daquele momento, a imprensa tambm assumiu um importante papel na divulgao da doena e
As notcias divulgadas nos meios de comunicao eram vistas com descrdito pela
comunidade homossexual. A crena era que se tratava de mais uma tentativa dos mdicos para atingir
os homossexuais, uma forma de usar um argumento mdico para tentar fazer um retrocesso21 das
problema, exemplificada tambm pela primeira notcia que apareceu no Boletim do Grupo Gay da
Bahia (GGB), em abril de 1982, com o ttulo Uma doena de homossexuais?????. A matria
criticava a Revista Manchete pela divulgao de uma notcia da Time Magazine considerando que se
tratava de uma grande balela e que toda teoria mdica que parte da premissa que somos
histrica dos mdicos com a homossexualidade, considerada como doena mental (Mott, 1987; Fatal,
1988). Contudo, quando o problema foi reconhecido pelo grupo, eles assumiram uma postura de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
20
Sobre o fim do Jornal Lampio da Esquina, Facchini (2003) analisa como natural que no perodo democrtico um meio
de comunicao criado para lutar contra a ditadura, com o fim da censura, tambm tivesse se esgotado (Facchini, R.
Movimento Homossexual no Brasil: recompondo um histrico. Cadernos AEL, v.10, n.18/19, p.83-123. 2003.).
21
Edward Baptista das Neves MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011, Salvador, BA.
22
O termo foi adotado em referncia revoluo molecular de Guattari.
!
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reforo do discurso mdico23 (Mott, 1987). Em dezembro daquele ano, o discurso no Boletim do
GGB j havia mudado, alertando para os sintomas da nova doena, denominada peste rosa,
brasileiros que viajavam para os EUA, e que traziam notcias do pavor e das mortes24, bem como
notcias recebidas atravs dos grupos estrangeiros, em especial americanos25, e ameaa representada
pela epidemia ao comrcio gay que comeava a se desenvolver (Silva, 1986; Perlongher, 1987;
(...) eu fui convidado para fazer uma reportagem nos Estados Unidos e passei uma
semana em Nova Iorque (...) De repente, eu chego l e todos esto apavorados. Eu fiquei
sabendo de gente morrendo feito mosca. (...) Eu voltei para o Brasil e os meus amigos e
antigos companheiros militantes, quase ningum acreditava. (Edward Baptista das
Neves MacRae, entrevista realizada em 16/05/2011)
(...) eu percebi que nem a poltica do avestruz, nem essa poltica da negao da doena
ou apenas da demonizao do HIV como uma doena, como uma pandemia criada em
laboratrio, isso no ia levar a nada. Ento, eu considerei que era fundamental a
participao dos movimentos homossexuais nesse esforo coletivo contra a epidemia.
(Luiz Roberto de Barros Mott, entrevista realizada em 23/03/2011)
fraqueza em abril de 1980, tendo ido a bito no dia 18 de maro de 1981, no Hospital So Paulo, na
depois, na dissertao de mestrado do mdico Antnio Luiz de Arruda Mattos, que constatou tratar-se
de aids26 . O registro desse caso pelo Ministrio da Sade s ocorreu em 1988 (Brasil, 1988a). Esse
fato evidencia que o vrus j circulava no pas no final da dcada de 1970, como enfatizado por Lair
Guerra no texto Aids - A face da discriminao, no Boletim Epidemiolgico Aids, ano II, n. 5, de
Apesar do importante papel assumido pela imprensa na veiculao das primeiras notcias
sobre a nova doena, s em 1983 os primeiros casos brasileiros foram noticiados nos jornais. Aps
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
23
Luiz Roberto de Barros Mott. Entrevista realizada em 23/03/2011, Salvador, BA.
24
Edward Baptista das Neves MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011, Salvador, BA.
25
Luiz Roberto de Barros Mott. Entrevista realizada em 23/03/2011, Salvador, BA.
26
Natali, J.B. H dez anos surgiram os sintomas do 1o paciente de aids no Brasil. Folha de So Paulo. So Paulo. 24/04/1990
1990. Folha de So Paulo
!
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leitura de uma reportagem da jornalista Letnia Menezes27 onde era afirmado que no Brasil ainda no
existiam casos da doena, a mdica Valria Petri28, uma jovem dermatologista da Escola Paulista de
Paulo. Eram dois homens, um de 32, outro de 30 anos, homossexuais, que apresentavam leses de pele
(Sarcoma de Kaposi) e haviam viajado recentemente aos EUA29 (Guerra, 1993; Marques, 2003;
justamente por conta do Sarcoma de Kaposi, uma leso de pele pouco comum em jovens, que se
mostrava presente na maioria dos casos. Naquele momento, ainda no havia testes sorolgicos. O
caractersticas do paciente (homem, homossexual, 32 anos, que viveu em Nova Iorque), ainda que a
A divulgao dos casos causou alguns incmodos, talvez por se tratar de uma mulher jovem,
dessa forma, a veracidade do diagnstico foi questionada por alguns mdicos infectologistas.
Mas foi muito difcil lidar com isso porque alm de no haver perspectiva nenhuma de
tratamento, ainda era tudo muito assustador, havia ainda colegas que insistiam em que
eu estava mentindo. (Valria Petri, entrevista realizada em 20/06/2011)
junho de 1983, quase um ano aps a deteco31. Na literatura mdica brasileira, a Revista Paulista de
Medicina apresentou os primeiros relatos de casos no nmero de julho/agosto de 1983. Dois casos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
27
Jornalista gacha que comeou a carreira no Jornal Zero Hora de Porto Alegre, tendo trabalhado tambm no Globo e na
revista Isto. Foi a primeira a publicar em 1983 uma matria sobre aids e dedicou-se a fazer matrias exclusivamente sobre
esse assunto inicialmente na Isto e posteriormente na Folha de S. Paulo.
28
Valria Petri, mdica dermatologista, filha de imigrantes italianos, que havia terminado de concluir o doutorado eme estava
trabalhando com o professor Anacona Lopes na Escola Paulista de Medicina e no seu consultrio particular.
!"
#Valria Petri. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP.#
$%
#Ibid.#
$&
#Rocha, P. "Doena dos homossexuais" atinge o pas. Folha de So Paulo. So Paulo. 08/06/1983 1983.#
!
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Doenas Transmissveis da Faculdade de Cincias Mdicas da Unicamp, que foi a bito cinco dias
aps a internao (Gonales Jnior, Pedro et al., 1983); outro descrito como primeiro caso autctone
incorporaram o termo em ingls, em uma clara influncia da lngua inglesa, que pode ser classificado
como um estrangeirismo. Durante algum tempo o Ministrio da Sade tentou usar o termo sida,
presente em diversos documentos, mas sempre associado ao termo aids. Em 1997, uma reportagem da
Revista Veja (Figura 1) levantava o porqu do termo Sida no ser adotado no pas e considerava
mirabolante a explicao de o termo no ser usado devido s piadas que faziam com as Aparecidas,
cujo apelido Cida era muito comum, alm da possvel referncia Santa Padroeira do Brasil, Nossa
Senhora Aparecida32. Ainda que o uso do termo aids tenha sido preferido pela imprensa e pelos
mdicos desde as primeiras notcias33, segundo um dos entrevistados, essa discusso acerca do uso dos
termos aids ou sida teria de fato existido, tendo inclusive ocorrido uma reunio no Ministrio da Sade
para decidir que termo usar34. Ou seja, houve uma racionalizao para justificar a submisso aos EUA,
(...) eu participei, naquela poca eu era quase que estagirio, e eu participei das
reunies na criao do programa. E me lembro que o Brasil o nico pais do mundo
que no chama Sida. [O Brasil] o nico pais da Amrica Latina que no chama Sida.
Que era... que em portugus seria Sndrome da Imunodeficincia Adquirida e a gente
chama aids. Eu estava presente na reunio principal onde se decidiu que no Brasil no
ia se chamar Sida. Por causa das Aparecidas, que so Cidas.
!
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tratamento para a aids35 . O mdico Ricardo Veronesi36, um dos responsveis pela aplicao do
interferon como tratamento para aids no Brasil, iniciativa de uma empresa farmacutica sua que
fornecia o medicamento gratuitamente37 (figura 2), realizou uma reunio por volta de maro ou abril
de 1983, buscando uma maior aproximao com o principal grupo acometido pela epidemia, evento
que reuniu diversos militantes do movimento homossexual, entre eles componentes do Grupo Somos
que no se encontravam desde o racha do grupo, alertando-os para a necessidade de uma resposta do
Estado38 .
Figura 1 Reportagem da Revista Veja sobre por qu o termo Sida no usado no Brasil,
9/04/1997.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
35
Interferon teve seus poderes superestimados. Folha de So Paulo. So Paulo. 04/06/1983 1983; Congresso termina com
crtica de mdico ao Inamps. Folha de So Paulo. So Paulo. 06/06/1983 1983.
36
Mdico, Professor da Faculdade de Medicina de So Paulo, fundador da Sociedade Brasileira de Infectologia, criada
justamente porque junto com o Prof. Paulo Augusto Ayrosa Galvo, Veronesi considerava que havia a necessidade de uma
especialidade que englobasse de forma mais abrangente as doenas infecciosas e parasitrias, haja vista que as epidemias
hospitalares e a pandemia de HIV/aids no cabiam na Medicina Tropical, que tratava principalmente das questes de sade
pblica, e que no estavam relacionadas apenas aos trpicos (Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). SBI: consolidao
da infectologia no Brasil. In: _____. 25 anos Sociedade Brasileira de Infectologia. So Paulo: SBI. 2005. p. 7-33.)
37
HC inicia esse ms tratamento de aids. Folha de So Paulo. So Paulo. 09/11/1983 1983.
38
Edward Baptista das Neves MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011, Salvador, BA.
!
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http://acervo.folha.com.br/resultados?q=eduardo+crtes+aids...
So Paulo tinha naquele momento seu primeiro governo estadual eleito pelo voto popular
ainda durante o perodo da ditadura militar, em 1982. O governador era Franco Montoro39, do Partido
do Movimento Democrtico Brasileiro (PMDB), que congregava uma frente de partidos clandestinos
Sade do Estado de So Paulo (SES-SP), Joo Yunes40 foi nomeado para o cargo de secretrio.
Naquele perodo, a SES-SP j contava com um sistema de sade organizado e um quadro tcnico
qualificado, haja vista a reforma administrativa do final da dcada de 1960, denominada Reforma
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
39
Bacharel em Direito pela USP (1938), Montoro foi professor universitrio da PUC-SP (1938-1940), procurador do Estado
de So Paulo (1940-1950), vereador do municpio de So Paulo pelo Partido Democrata Cristo (PDC) em 1950, deputado
estadual em 1954, e deputado federal em 1958, 1962 e 1966, esta ltima j pelo MDB. Foi Ministro do Trabalho e
Previdncia Social (1961-1962) durante o governo parlamentarista. Com a instaurao do bipartidarismo no Brasil, ingressou
no oposicionista Movimento Democrtico Brasileiro (MDB). Foi senador em 1970 e governador do Estado de So Paulo em
1982. Foi sua a iniciativa de realizao do primeiro comcio pelas eleies diretas para presidente da repblica em So Paulo
no ano de 1984. (Dicionrio Histrico Biogrfico Brasileiro ps 1930. 2a ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001)
40
Mdico graduado pela USP em 1963, concluiu o Mestrado na Escola de Sade Pblica da Universidade de Michigan, Ann
Arbor, Estados Unidos, em 1967. Especializou-se em Pediatria em 1970. Em 1971 concluiu o Doutorado na Faculdade de
Medicina da USP. Alm de Secretrio da Sade de So Paulo (1983-1987), Joo Yunes assumiu cargos no Ministrio da
Sade do Brasil (1975-1979; 1998-2000), na OPAS (1987-1998) e foi diretor da Escola de Sade Pblica da USP (2001-
2002).
!
*0! !
Leser, que promoveu a integrao dos servios no nvel local, tendo os Centros de Sade como eixo; a
criao de carreiras especficas no mbito da Sade Pblica, com regime de dedicao exclusiva e
boas condies de trabalho; bem como a criao de uma superintendncia de saneamento ambiental
(Ribeiro, 2008).
reunio de um grupo de militantes do movimento pelos direitos dos homossexuais com o Secretrio da
Sade de So Paulo, Joo Yunes (Guerra, 1993; Teixeira, 1997; Marques, 2003; Barboza, 2006). Essa
audincia foi agendada por Darcy Penteado 42 , motivada pela reunio com o mdico Ricardo
Veronesi43, pela notcia dos primeiros casos de aids identificados no Brasil e diante das notcias
Foi de maneira bem simples, uma demanda iniciada por pessoas que tinham de uma ou
outra maneira, com uma ou outra intensidade, histria de participao no movimento
pelos direitos dos homossexuais. (...) e cobraram da secretaria como, digamos, um
representante da comunidade homossexual, providncias, orientaes, informaes a
respeito da epidemia diante do pnico que se criava no meio homossexual. (Paulo
Roberto Teixeira, entrevista realizada em 03/05/2011)
!
composto por Darcy Penteado, Edward MacRae, Jean Claude Bernadet e Joo Silvrio Trevisan,
aids e providncias no atendimento a futuros casos45. Aps esse encontro, comeou o movimento na
SES-SP para a criao do Programa de Aids. Isso ocorreu atravs de um grupo de trabalho composto
por tcnicos (mdicos sanitaristas, infectologistas, especialistas na rea de laboratrio e na rea social)
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
41
Para uma anlise mais detalhada do surgimento do Programa de aids no estado de So Paulo consultar: Guerra, M.A.T.
Poltica de controle da AIDS da Secretaria de Estado da Sade de So Paulo, no perodo 1983-1992: a histria contada por
seus agentes. (Mestrado). Departamento de Medicina Preventiva, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1993. 280 p.; Silva,
L.L.D. Homossexualidade e aids em So Paulo. (Mestrado). Programa de Estudos Ps-graduados em Cincias Sociais,
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1986. 204 p.; Barboza, R. Gesto do programa estadual de aids de So Paulo:
uma anlise do processo de descentralizao das aes no perodo de 1994 a 2003. (Mestrado). Programa de Ps-graduao
em Cincias, Coordenadoria de Controle de Doenas da Secretaria de Estado da Sade de So Paulo, 2006. 184 p.; Frana,
M.S.J. Cincias em tempos de AIDS: uma anlise da resposta pioneira de So Paulo epidemia. (Doutorado em Histria da
Cincia). Deparatmento de Histria da Cincia, Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2008. 193 p.
42
Valria Petri. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP.
43
Edward Baptista das Neves MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011, Salvador, BA.
44
Edward Baptista das Neves MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011, Salvador, BA; Valria Petri. Entrevista realizada
em 20/06/2011, So Paulo, SP; Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada em 03/05/2011, So Paulo, SP.
45
Ibid.
!
! *#!
que estava estruturando um servio de doenas sexualmente transmissveis (Teixeira, 1997) e que
tinha sua frente o dermatologista sanitrio Paulo Roberto Teixeira, coincidentemente, ex-integrante
do Somos46.
SES-SP, conforme j destacado em outros estudos (Teixeira, 1997; Marques, 2003), foram a
homossexuais, reforado pelo apoio da mdica da Escola Paulista de Medicina, Valria Petri; e as
condies polticas (um governo democrtico onde militantes da reforma sanitria assumiram posies
estratgicas). Acrescente-se a estes o pavor suscitado pela epidemia e o grupo social atingido, no
apenas um grupo organizado, mas de classe social elevada, composta por intelectuais de diferentes
reas e com importante capital social; o fato de o Estado j dispor de um sistema de sade organizado
e um quadro tcnico qualificado desde a dcada de 60, inclusive com a carreira de sanitarista,
homossexual, ou seja, uma pessoa no apenas acostumada a trabalhar com pessoas estigmatizadas,
mas tambm integrante de um grupo minoritrio, o que lhe conferia disposio para trabalhar com
bons costumes como eram vistos os portadores de HIV/aids (homossexuais, usurios de drogas
irresponsabilidade alheia.
(...) quando havia uma insinuao de que eu estava promovendo isso porque eu era
homossexual, eu nunca me envolvi nessa discusso, nunca gastei energia nessa
discusso. E quando eventualmente eu fazia, me lembrava e lembrava as pessoas dos
envolvimento e problemas que tinha por trabalhar com hansenase (...) Ns estamos
falando de um grupo de cidados historicamente estigmatizados, discriminados e o
primeiro responsvel por defender e apoiar essa comunidade o Estado. (Paulo R.
Teixeira, entrevista realizada em 03/05/2011)
!
de articulao entre agentes de diferentes campos e espaos (campo mdico, campo cientfico, campo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
46
Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada em 03/05/2011, So Paulo, SP.
!
*)! !
aids, o espao aids, conforme definido por Pinell, Broqua et al. (2002).
comunidade gay. O grupo era responsvel por distribuir folhetos explicativos sobre os sintomas da
aids e como agir em bares, restaurantes, saunas, ruas e praas pblicas frequentadas pela comunidade
homossexual. A elaborao do primeiro material foi supervisionada pelos mdicos Ricardo Veronesi,
da USP, e Valria Petri, da Escola Paulista de Medicina. O Instituto Adolfo Lutz ficou responsvel
servio de molstias infecciosas do Hospital das Clnicas (USP) ficaram definidos como locais para
atendimento47.
Ainda que nesse momento o Ministrio da Sade no estivesse atento epidemia, tambm
houve envolvimento de instituies federais de ensino e/ou pesquisa, por iniciativa dos prprios
Fiocruz, no Rio de Janeiro. Iniciativa de Bernardo Galvo de Castro Filho, mdico, coordenador do
Cruz. A partir do contato com um paciente de aids, Galvo e Claudio Ribeiro viram a necessidade de
estudar a doena e conseguiram aprovar um projeto junto ao CNPq para estudar casos de aids no
em pacientes de outros pases (Galvo-Castro, 2005). Esta pode ter sido uma oportunidade para os
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
47
Rocha, P. "Doena dos homossexuais" atinge o pas. Folha de So Paulo. So Paulo. 08/06/1983 1983.
48
O projeto foi desenvolvido a partir de 1978, quando Bernardo Galvo havia acabado de retornar de Genebra, onde foi fazer
o Doutorado em Imunologia (1974-1977), onde foi orientado por Paul Henri Lambert (que entre 1975 e 1987 liderava o
Immunology Research and Training Programme da OMS e o Laboratrio de Pesquisas da OMS na Universidade de Genebra
e Lausanne, onde Galvo trabalhou durante os anos que ficou em Genebra). O projeto inicial pedia, por sugesto de Paul
Henri, colaborao de Genebra para a organizao do Laboratrio de Imunologia Parasitria da Fiocruz. Em 1981, o projeto
final foi aprovado. Esse laboratrio, segundo Galvo, tornou-se foco de atrao para recm-doutores que estavam
retornando ao pas (Bernardo Galvo Castro Filho. Entrevista realizada em 12/07/2011, Salvador, BA.).
!
! *"!
dois recm-doutores criarem sua prpria linha de pesquisa, diferente daquela da imunopatologia, com
Alm disso, a mdica Valria Petri, na Escola Paulista de Medicina, assim como ocorreu em
outras escolas federais e estaduais, iniciava a assistncia aos primeiros pacientes identificados, mesmo
Desta forma, o espao aids, desde seus primrdios, envolveu importantes instituies
agentes.
com a epidemia no exerccio profissional e eram, praticamente todos, servidores pblicos, estaduais
e/ou federais. Verificou-se que os servidores federais, no seu discurso destacavam que se tratava, de
alguma forma, de uma iniciativa individual, mas representando o Estado, por se considerarem agentes
do Estado.
Na reunio com o Yunes foi imediata a coisa. Ele disse: voc na Escola Paulista faz o
que voc puder e ns vamos fazer na secretaria o que a gente puder. Quer dizer que no
nvel federal eu estava me mexendo. (Valria Petri, entrevista realizada em
20/06/2011)
especfico de organizao da luta contra a epidemia da aids, sendo tambm um espao de pesquisa e
que tambm eram docentes e pesquisadores (campo cientfico) ou atuavam na secretaria de sade do
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
49
Valria Petri. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP.
!
**! !
burocrtico, seis no subespao militante e seis no subespao cientfico. O interesse desses agentes pela
aids, ou seja, aquilo que os motivou a entrar nesse espao de lutas e interveno mdico-sanitria de
resposta epidemia, no perodo entre 1983 e 1986, esteve relacionado ou ao pertencimento a grupos
de risco ou ao contato prvio com a doena, seja por motivos pessoais (doentes, parentes e amigos, ou
amigos de profissionais ou militantes que tambm se sensibilizavam com a epidemia), seja por
Aqueles que entraram no espao exclusivamente a partir de um motivo pessoal eram todos
insero no espao aids deu-se a partir do subespao militante. Alguns continuaram no espao aids,
como Luiz Mott e Jorge Beloqui, sendo que o primeiro mantendo-se no movimento gay e o segundo
em associaes especficas de luta contra a aids. Outros migraram para os demais subespaos, como
Edward MacRae, que transitou pelo espao burocrtico e consolidou-se no espao cientfico,
desvinculando-se em meados da dcada de 1990 do espao aids. Lutar contra a aids era lutar em
defesa da causa homossexual, no apenas como uma questo de sobrevivncia, mas tambm
Os agentes que comearam a sua relao com a aids devido a questes profissionais inseriram-
no Programa Nacional (Paulo Roberto Teixeira, Pedro Chequer, Alexandre Grangeiro). Duas agentes
incorporaram-se ao espao militante: urea Abbade, do Gapa, e Silvia Ramos, da Abia. importante
notar que so duas situaes bastante especficas. urea Abbade participou de uma das reunies
iniciais de formao do Gapa devido a um encontro profissional com uma cliente que era assistente
social do Hospital Emlio Ribas. Mas no seu relato tambm citou a participao de pelo menos um
!
! *+!
vai ser muito tarde, daria para voc me encontrar l?" (...) Eu fiquei pensando,
para eu sair do escritrio, ir para minha casa... Eu decidi ir direto(...), tinha uma
reunio. A eu comecei a participar. (...) estava todo mundo sentado em crculo e
eu sentei na cadeira depois, no outro crculo. Porque eu no fazia parte daquela
reunio. (...) Sobre aids. Uma das primeiras reunies... O que vai fazer, o que no
vai fazer... E o pessoal todo desesperado. E eu, (...) verificando assim pela parte
mais prtica, sem a emoo da situao, eu via a soluo. Eu ficava pensando:
por que eles no fazem tal coisa? (...) E eu peguei a pessoa falando e eu j
mentalizando como que seria. Quando terminou a reunio, comeou a passar
uma relao em uma lista para saber quem estava presente na reunio e quem
podia ajudar, qual horrio, aquela coisa toda. A veio passando e quando chegou
na mo de um amigo nosso que era voluntrio e estava naquele momento ali, (...)
passou para mim. A eu falei: "Desculpa, mas eu estou fora da rodinha." Ele
falou: "E voc no pode ajudar porque esta fora da rodinha?" (...) eu olhei e vi
que o nico horrio que eu tinha livre era sbado 3 horas da tarde, porque o
resto da semana toda era ocupada.(...) depois eu verifiquei que a maioria tambm
era no sbado. E coincidia o horrio. Ento ns comeamos a fazer as reunies a
partir daquele ano, sbado s 3 horas da tarde.(urea Celeste da Silva Abbade.
Entrevista realizada em 20/06/2011)
!
urea associou a prtica profissional militncia. Ela conseguiu construir uma trajetria
militante relacionada a sua trajetria profissional, criando a primeira assistncia jurdica para pessoas
Silvia Ramos foi convidada por Betinho para elaborar o projeto da Associao Brasileira
posio intermediria na diretoria da Abia, de modo que fez uma trajetria profissional ao interior do
subespao militante. Silvia saiu da Abia em 1991 e tambm da militncia na rea de aids.
(...) Comea com a proposta do Betinho para que eu viesse a ajudar a colocar em p uma
entidade, a Abia, que na poca no tinha o nome de Abia. A ideia era fundar uma
fundao que era um branch, uma sucursal da [International] Interdisciplinary Aids
Foundation, IIAF, a ideia que ele tinha era que fosse uma fundao. Como a legislao de
fundao no Brasil era muito problemtica, resolvemos criar uma associao. A Abia no
existia ainda, ento o Betinho me convidou para isso.(Silvia Ramos de Souza, entrevista
realizada em 15/06/2011)
interessante notar que os agentes com menor volume de capital cultural (ou escolar) e
cientfico foram aqueles relacionados ao campo burocrtico. Praticamente todos os agentes que
associativo. Dos 6 agentes daquele espao aqui analisados, apenas um no possua ps-graduao
stricto senso, todos os demais possuindo mestrado e/ou doutorado, que correspondiam,
respectivamente, a pequeno e mdio volume de capital cientfico. Contudo os que apresentaram maior
!
*,! !
volume de capital cientfico foram aqueles que se mantiveram no subespao cientfico, tambm ao
interior do espao aids, como Bernardo Galvo, Euclides Castilho e Jos da Rocha Carvalheiro, sendo
que Carvalheiro teve uma participao inicial mais tangencial, enquanto Diretor no Instituto de Sade
da SES-SP, depois dando seguimento a sua trajetria acadmica voltado para o estudo de vacinas.
campo, exceo, naquele momento, dos ento estagirios do Programa Estadual de Aids de So
Paulo, Alexandre Grangeiro, e do Programa Nacional de Aids, Manoel Alves, que fizeram carreira
naquele subespao at o final do perodo estudado. Ou seja, os agentes do campo burocrtico que
foram trabalhar na rea de aids eram tcnicos de carreira, que j vinham assumindo posies na
Outra questo importante foi que nos espaos mais institucionalizados, como os campos
administrativos).
Alguns dos agentes que tiveram importante participao na gnese e nas transformaes do
espao aids tiveram uma trajetria poltica dominante. No apenas atravs da filiao a partidos
polticos, mas chegando a cargos eletivos, como o mdico pediatra e ministro Carlos SantAnna e o
mdico sanitarista Srgio Arouca, que foram eleitos deputados federais, ou aqueles que como Herbert
Outros tiveram participao no movimento sanitrio (como Euclides Castilho, Fabola Nunes,
Paulo Roberto Teixeira, Pedro Chequer e Paulo Bonfim); no movimento homossexual (a exemplo de
Jorge Beloqui, Edward MacRae, Luiz Mott, Veriano Terto Jr. e Paulo Roberto Teixeira,); na luta
como o Partido Comunista Brasileiro (PCB)51. Alm disso, houve participaes mais perifricas (no
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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#Betinho foi um dos fundadores da AP, da qual Paulo Roberto Teixeira tambm participou.
51
Bernardo Galvo Castro Filho e Gerson Barreto Winkler militaram no PCB.
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! *-!
Quadro 6 Agente, graduao e ano, subespao (SE) de pertencimento, profisso do pai, volume de
capital cultural, cientfico, poltico e militante, e relao dos agentes com a aids, 1983-1986.
Capital
Graduao Relao com a
Agente SE Prof Pai cultural CC CB CP CM
(ano) aids52
(Escolar)
Manoel Alves - Trabalha com Nvel - - - - Profissional
madeiras fundamental
Alexandre - Dono de um Nvel Mdio - - - - Profissional
Grangeiro expresso
rodoviario
Ieda Fornazier Turismo (S/I) Policial civil Sup. Completo - P - - Profissional
Maria Leide Wan Medicina (1975) S/I Sup. Completo - A - P Profissional
Del Rey de
Oliveira
Paulo Roberto Medicina (1973) Contador Sup. Completo - A - P Profissional
Teixeira
Pedro Chequer Medicina (1977) Comerciante Sup. Completo - A - - Profissional
Burocrtico
(1972) Graduao
Luiz Mott Cincias Sociais Fazendeiro Ps-graduao M - P A Poltica
(1968)
Bernardo Galvo Medicina (1969) Professor Ps-graduao AA P P - Pesquisa
Euclides Castilho Medicina (1965) Telegrafista Ps-graduao A - - - Pesquisa
Jos da Rocha Medicina (1961) Dono de bar Ps-graduao A A P - Profissional
Carvalheiro
Valria Petri Medicina (1973) Fun. Da Ps- M - - - Profissional
limpeza Bco Graduao
Brasil
Eduardo Crtes Medicina (197?) Comerciante Sup. Completo - - - - Profissional
Cientfico
atacadista
Valdila Veloso Medicina (1985) Contador Sup. Completo - - - - Profissional/
Pessoal
* Pai falecido quando a entrevistada tinha apenas 2 meses, av paterno mascate, av materno fabricante de vinhos.
CC: capital cientfico; CB: capital burocrtico; CP: capital poltico; CM capital militante; S/I: sem informao; P: pequeno,
M: mdio; A: alto; AA: muito alto.
!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
52
O apndice IV Relao inicial com a aids apresenta as falas dos entrevistados que resultaram na classificao
apresentada no Quadro 5.
!
+.! !
(PT). A maioria dos agentes que possua algum volume da capital poltico, teve papel de destaque no
espao militante, assumindo posies dominantes, como a direo das ONGs/Aids ou outras
organizaes associativas.
Contudo, o objeto em questo era a luta contra aids. A discusso era de polticas pblicas que
pudessem intervir na epidemia, no se tratando de poltica partidria. O apoio poderia vir de diferentes
correntes polticas que abraassem a causa e apoiassem as propostas da organizao. Isso tambm no
significava que os sujeitos no pudessem ser filiados a partidos polticos, contudo, evitava-se uma
(...) uma vez que eu estava fazendo um curso para magistratura, e o professor chamava
esses aidticos baderneiros, no sei o que, esse movimento petista e eu ficava pensando,
mas meu Deus do cu, j no se fala mais assim h tanto tempo... (...) um dia eu fui falar
com ele, a ele falou: No, para mim assim, vocs esto dentro disso a, que ele ainda
foi bem agressivo, e era desembargador... Para vocs que so petistas... Eu falei: Mas
eu no sou petista. A ele falou: mas no, s pode ser petista para fazer essa baderna. O
trabalho que a gente considerava srio para eles era baderna. E tambm aqui dentro [do
Gapa] nunca se tratou de poltica. Ento podia vir como veio, o talo, como veio a Rita de
Cardoso, como veio outros, a Luisa Erundina, antes dela ser prefeita e antes dela ser
deputada... A gente tinha os encontros... Mas voc no tratava de poltica partidria e sim
de poltica de sade. Ento na cabea da gente isso estava muito claro. Nem bandeirola
no carro, nem nada, voc pensava enquanto voluntrio do Gapa de estarmos fazendo
isso. (urea Abbade, Gapa, entrevista realizada em 20/06/2011)
!
Da mesma forma, o socilogo Herbert de Souza, fundador da Abia, ainda que com uma
operrio e tendo sido exilado poltico, recusava-se a integrar a poltica partidria institucionalizada.
Sua atuao era voltada para associaes como Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas
(Ibase) e Abia.
1. A aids foi considerada como uma doena, uma infeco, ou uma epidemia, o
do campo burocrtico;
!
! +/!
medidas a serem adotadas para o seu enfrentamento, essa diversidade de concepes contribuiu para
uma complementaridade de modo que o problema foi construdo de forma ampla e as aes baseadas
na dignidade dos doentes e nos direitos humanos. Nesse sentido, a Comisso Nacional de Aids, como
instncia estatal onde os poderes cientfico e militante estavam concentrados e transmutados em poder
A partir da criao desse novo espao de lutas, dos enfrentamentos entre os agentes desses
para presidente da repblica marcadas para janeiro de 1985, bem como a ocorrncia de casos de aids
para alm do eixo Rio-So Paulo, que comearam a surgir as primeiras medidas mais especficas para
o controle da epidemia e a implantao de uma poltica nacional de luta contra a aids no pas.
!
"#! !
Quadro 7 Concepes sobre a aids53 segundo agentes estudados, de acordo com subespao de pertencimento, ano de entrada no espao aids, sexo e
formao.
Concepo sobre aids Agente Subespao Ano de entrada Sexo Formao
Doena/ Epidemia Alexandre Grangeiro Burocrtico 1983 Masculino Sociologia
Fabola Nunes Burocrtico 1985 Feminino Medicina
Gerson F. Pereira Burocrtico 1986 Masculino Medicina
Euclides Castilho Burocrtico 1985 Masculino Medicina
Ieda Fornazier Burocrtico 1986 Feminino Turismo
Valria Petri Cientfico 1983 Feminino Medicina
Manoel Alves Burocrtico 1986 Masculino Nvel Mdio
Doena relacionada a morte, ao perigo, a urea Abbade Militante 1983 Feminino Direito
reaes de pnico, pavor e medo, estigma e Silvia Ramos Militante 1986 Feminino Psicologia
discriminao Jorge Beloqui* Militante 1986 Masculino Matemtica
Veriano Terto Jr.* Militante 1985 Masculino Psicologia
Eduardo Crtes Cientfico 1983 Masculino Medicina
Valria Petri Cientfico 1983 Feminino Medicina
Bernardo Galvo Cientfico 1983 Masculino Medicina
Problema social ou de sade pblica Ieda Fornazier Burocrtico 1986 Feminino Turismo
Jorge Beloqui* Militante 1986 Masculino Matemtica
Veriano Terto Jr.* Militante 1985 Masculino Psicologia
Edward MacRae* Militante/ Cientfico 1983 Masculino Antropologia
Problema de pesquisa Herbert de Souza Militante 1986 Masculino Sociologia
Bernardo Galvo Cientfico 1983 Masculino Medicina
Valdila Veloso Cientfico 1986 Feminino Medicina
Eduardo Crtes Cientfico 1983 Masculino Medicina
Ameaa liberao sexual Luiz Mott* Militante 1983 Masculino Cincias Sociais
*Participantes do movimento homossexual
!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
53
As transcries das falas dos agentes que resultaram na elaborao desse quadro encontram-se no apndice V Concepes sobre a aids.
!
! "#!
Nos primeiros anos da epidemia, o governo federal quase no se pronunciava, mas tambm
no era questionado pela imprensa e pela comunidade cientfica. Durante o 20o Congresso da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, realizado em 1984, em Salvador, a aids ainda no era vista
Em 1984, a comunidade acadmica j sabia sobre a expanso da doena nos EUA, mas
no entendia que era ainda um problema brasileiro. Me lembro de ter ido a um
congresso de DST em Salvador com Paulo Teixeira, de So Paulo, e planejamos uma
interveno plenria para falar do problema e a possibilidade de se tirar uma carta ao
Ministrio da Sade. Quase fomos vaiados. Na verdade apenas as SES de So Paulo, Rio
Grande do Sul e Rio de Janeiro comeavam a se organizar tendo como modelo So
Paulo. (Maria Leide Wan del Rey de Oliveira, comunicao por e-mail em 12/04/2012)
ocorrncia de casos em So Paulo, estado com maior nmero de pessoas acometidas pela aids no pas,
e eventualmente nos demais estados; nas aes do Programa de Aids da SES-SP; e em notcias vindas
denominado Aids informaes bsicas que reunia o resumo de alguns artigos publicados no
exterior, falava da epidemia nos EUA, mas no fazia referncia aos casos brasileiros, que j estavam
sendo divulgados pela imprensa mdica e tambm pela imprensa leiga (Teixeira, 1997).
se pautaram por minimizar a dimenso do problema e criticar as aes programticas adotadas pelas
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
54
Consulta ao acervo on line da Folha de So Paulo, disponvel em http://acervo.folha.com.br/, para o perodo de entre
01/01/1983 e 15/03/1985.
!
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No final do perodo da ditadura militar, aps a realizao de eleies indiretas para presidente
Recursos Humanos para o Controle de Infeces Hospitalares55, coordenado pelo Dr. Luiz Carlos
programa houvesse iniciado no final de 1983, a primeira reunio relacionada aids aconteceu em
fevereiro de 1985, ainda nos ltimos meses do governo Figueiredo. O Ministro da Sade era Waldyr
Mendes Arcoverde56 e Fabola de Aguiar Nunes, mdica baiana, sanitarista, com trajetria profissional
representante57.
manteve inicialmente os ministros por ele escolhidos. Carlos SantAnna, mdico pediatra, deputado
baiano pelo PMDB eleito em 1982 (antes havia sido eleito pela Aliana Renovadora Nacional
Quando Carlos SantAnna assumiu o Ministrio, Fabola de Aguiar Nunes, foi convidada a
onde, no mbito da Diviso Nacional de Dermatologia Sanitria (DNDS) seria criado o Programa
Nacional de DST/Aids. A indicao de Fabola Nunes, ainda que esta fosse mulher de Carlos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
55
O Projeto Capacitao de Recursos Humanos para Controle da Infeco Hospitalar foi instalado em fins de 1983 pelo
Ministrio da Sade. Seu primeiro encontro de avaliao aconteceu entre os dias 16 e 19 de dezembro de 1985 (Infeco
Hospitalar. Folha de So Paulo. 1985 dez 17; Cidades: p. 18).
56
Mdico sanitarista, foi Ministro da Sade no perodo de 30/01/1979 a 14/03/1985, pretendia interiorizar as aes bsicas de
sade nas regies mais pobres, na sua gesto tiveram incio as pesquisas na Fiocruz para o desenvolvimento de uma vacina
contra o sarampo.
57
(...) na troca do governo, eu tinha participado enquanto MEC da elaborao do programa nacional de controle de infeco
hospitalar que o ministrio da sade fez e no usou. (...) analisar o problema de infeco hospitalar complicado e ningum
sabia nada, s que estava matando, no adiantava a vigilncia sanitria, tinha que comear com um treinamento. O que que
o ministrio fez? Ainda estava nas AIS, era uma ao interministerial e eu entrei pelo MEC. Se fez uma proposta nacional de
treinamento de profissionais de sade de hospitais, comeando com os de grande porte. (...) Eu participei desse negcio todo
nos bastidores, caladinha l no MEC. (...) Quando chegou no ms de janeiro, que Tancredo tinha ganho, a posse ia ser em
maro. No sei se voc se lembra disso. Foram trs meses, Tancredo eleito e os militares, a, foi uma orgia de jogar dinheiro
fora, para a nova repblica chegar sem dinheiro. No MEC tambm. Eu chamei Dr. Romero, que hoje est no senado, e
naquela poca estava no ministrio da sade (...) Conseguimos todo o dinheiro, entre janeiro e maro a gente treinou 12
hospitais no centro de treinamento, criou todos os manuais. (Fabola de Aguiar Nunes, entrevista concedida Profa. Ligia
Maria Vieira da Silva, em 12/11/2008, Projeto Espao da Sade Coletiva)
!
! "%!
SantAnna, veio do Secretrio de Estado de Sade de So Paulo, Joo Yunes58. O responsvel pela
DNDS era o mdico dermatologista Aguinaldo Gonalves59, que foi mantido inicialmente no cargo.
As primeiras aes realizadas pelo Ministrio da Sade, em 1985, estavam relacionadas com a
Paulo, Paulo Roberto Teixeira, o mdico Vicente Amato Neto61, professor de infectologia da USP, e
tcnicos de outros estados62 . A 1 reunio foi realizada no dia 14 de fevereiro de 1985, no ltimo ms
do Governo Militar, no Ministrio da Sade, com a comunidade cientfica. Teve como objetivo revisar
a literatura especializada sobre aids e como resultado a minuta da portaria para controle da infeco
Rio Grande do Sul j tinham estruturado algumas aes64 , tambm pressionando o governo federal a
tomar uma deciso. Some-se ainda a representao social da doena, associada ao pavor e ao medo.
Na ocasio que eu estou falando, no se sabia nada. Era uma doena nova que tinha
uns sintomas muito agudos, quer dizer, a pessoa adquiria aquela doena, comeava a ter
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
58
Fabola de Aguiar Nunes, entrevista realizada em 14/07/2011, Salvador, Bahia.
59
Aguinaldo Gonalves nasceu em 18 de agosto de 1949, em Santos, So Paulo. Mdico formado pela Unesp (em 1967),
especialista em Medicina de Trabalho (1974), Sade Pblica (1976) pela USP. Mestre (1977) e Doutor (1980) em Cincias
Biolgicas (Biologia Gentica), tambm na USP (1977). Professor de Epidemiologia, Dermatologia Sanitria e Controle da
Hansenase da Faculdade de Sade Pblica da USP entre 1977-1980. Foi convidado pelo ministro da Sade, Waldyr
Arcoverde, para trabalhar como diretor da Diviso Nacional de Dermatologia Sanitria, a partir de 1980. Ao deixar essa
funo, entre 1986 e 1988, atuou como Analista de desenvolvimento cientfico no CNPq. Recebeu a medalha de Mrito
Vacuna contra la Lepra(1983), concedida pela Asociacin para la Investigacin Dermatolgica, em Caracas, Venezuela.
Em 1988 tornou-se professor titular em Sade Coletiva da Faculdade de Educao Fsica, da Universidade de Campinas
(Unicamp), So Paulo.
60
Sant'Anna comea a definir nomes para seu Ministrio. Folha de So Paulo. So Paulo. 19/03/1985 1985.
61
Mdico graduado pela USP (1951), infectologista, professor da Faculdade de Medicina da USP a partir de 1977.
Diagnosticou o primeiro caso de aids autctone brasileiro (1982). Presidiu durante vrios anos a Comisso de Aids da
Secretaria da Sade do Estado de So Paulo. Foi membro e secretrio executivo da Comisso Nacional de Aids.
62
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011, Salvador, BA; Maria Leide Wand del Rey de Oliveira.
Comunicao por correio eletrnico, abril/2012; Gerson Fernando Mendes Pereira. Entrevista realizada em 04/08/2011,
Braslia, DF.
63
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011, Salvador, BA; Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada
em 03/05/2011, So Paulo, SP.
64
Maria Leide Wand del Rey de Oliveira. Comunicao por correio eletrnico, abril/2012
!
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Foram realizadas reunies em So Paulo (13 a 15/03/ 1985) e Braslia (27 a 29/03/1985), com
o objetivo de revisar e discutir os casos diagnosticados at aquele momento, tendo como produtos,
estratgias de ao para o controle da epidemia de aids no pas (Brasil, 1985b) (Figura 3). Propunha-se
(Brasil, 1985b). Alm disso, foi organizado um sistema para que todos os estados que ainda no
tinham casos notificados, a medida que esses fossem sendo identificados, enviassem representantes
Janeiro (SES-RJ) tambm comeou a organizar o seu Programa Estadual. Foi criada a Comisso
Leonel Brizola, fundador do Partido Democrtico Trabalhista (PDT), eleito pelo voto direto em 1982,
e o Secretrio de Sade do Estado era Eduardo Azeredo Costa, mdico com doutorado pela London
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
65
A portaria n. 236, assinada no dia 02 de maio de 1985, criou o programa de controle da aids, delegando DNDS a
coordenao, determinando as medidas de preveno a serem adotadas no pas junto a comunicantes e casos confirmados
(individuo que, pertencendo a algum grupo de risco, apresente uma ou mais das seguintes entidades mrbidas: 1- Sarcoma de
Kaposi, em indivduos com menos de sessenta anos de idade; 2- Linfoma limitado ao crebro; 3- Pneumonia por
Pneumocystis; 4- Toxoplasmose, causando pneumonia ou infeco do sistema nervoso central; 5- Strongiloidiase, causando
pneumonia, infeco do sistema nervoso central ou infeco generalizada; 6- Candidase, causando esofagite; 7-
Criptococose, causando infeco pulmonar, do sistema nervoso central ou disseminada; 8- Micobacterioses atpicas,
comprovadas atravs de cultura; 9- Infeces causadas por citomegalovrus no pulmo, no trato gastrointestinal, sistema
nervoso central, supra-renal e pncreas; 10- Infeces por vrus herpes, tipo um ou dois, mucocutneas (com lceras que
persistem por mais de um ms), pulmonares, do aparelho digestivo, ou disseminadas; 11- Leucoencefalopatia multifocal
progressiva.
66
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011, Salvador, BA; Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada
em 03/05/2011, So Paulo, SP.
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School of Hygiene & Tropical Medicine. A mdica dermatologista Maria Leide Wan del Rey de
organizao do Programa Estadual de Aids, com apoio do Hospital Universitrio Clementino Fraga
Filho (HUCFF), onde eram atendidos os casos suspeitos, e do Laboratrio da Fiocruz, que fazia o teste
Elisa. Aps um treinamento em DST promovido pela OPAS, em Porto Rico, do qual participou junto
referncia de Braslia, elaborou o plano que levou ampliao da equipe da Dermatologia Sanitria do
Rio de Janeiro. Ampliao essa que permitiu a entrada do mdico sanitarista lvaro Matida, no
http://acervo.folha.com.br/resultados/buscade_talh
Programa Estadual de Aids, substituindo Cludio Amaral na presidncia da Comisso. Colaboraram
com o Programa de aids da SES-RJ os grupos homossexuais Tringulo Rosa e, a partir de 1986, o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
67
Maria Leide Wan del Rey de Oliveira, mdica dermatologista, servidora do Inamps e professora da UFRJ, que participou
do Movimento Popular de Sade e fundou o 1o ncleo do Movimento de Reintegrao das Pessoas atingidas pela Hansenase
(Morhan) no Rio de Janeiro, era coordenadora do Programa Estadual de Dermatologia Sanitria do Rio de Janeiro. Havia
trabalhado na SES-RJ (Oliveira, M.L.W.D.R.D. Participao em quatro dcadas da poltica de controle da hansenase no
Brasil: acasos e determinaes. Hansenoligia Internacionalis, v.33, n.2 Suppl. 1, p.45-50. 2008.)
!
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Ainda assim, o Ministro da Sade, Carlos SantAnna, seguia afirmando trata-se de uma
prevalncia como Chagas, hansenase e esquistossomose68 , viso que pode ter limitado a resposta
inicial do governo federal principalmente em relao aos recursos financeiros, ainda que a poltica
nacional tenha sido implantada precocemente quando comparada realidade de outros pases.
conduzida por Aguinaldo Gonalves, Fabola Nunes convidou Maria Leide Wan del Rey de Oliveira
Quando Maria Leide chegou DNDS, em janeiro de 1986, existia uma tcnica responsvel
pela aids, uma sanitarista veterinria, mas no existiam condies de trabalho, nem oramento. Maria
Leide convidou inicialmente Miriam Franchini, que trabalhava com DST em Braslia, e Lcia Amaral,
uma sanitarista recm-sada da Fiocruz, que foi nosso brao direito na aids inicialmente e grande
responsvel pelo sistema de notificao inicial70 . Miriam Franchini ficou responsvel pelas doenas
sexualmente transmissveis (Oliveira, 2008). Lair Guerra de Macedo Rodrigues, biomdica, professora
da UnB, que havia feito especializao nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos
EUA, e trabalhava no Programa da Mulher foi convidada por Maria Leide para assumir a aids devido
a uma palestra que havia assistido em 1984 durante o 20o Congresso da Sociedade de Medicina
Tropical, onde ela falava da experincia nos CDC; s boas referncias sobre o seu trabalho; o fato de
que ela estava saindo do Programa da Mulher; e a possibilidade de influncia e apoio internacional
visto que a mesma era irm de Carlyle Guerra de Macedo, representante da Organizao
Panamericana de Sade (OPAS). Segundo Maria Leide, na mesma semana em que foi convidada, Lair
Guerra entrou na sua sala dizendo: Carlyle me disse que voc colocou em minha mo uma misso de
trabalho para o Brasil71 . Foi tambm com a entrada de Maria Leide na DNDS que teve incio o
Comit de grupos de risco e depois a Comisso Nacional de Aids72. Na minuta da portaria 236, que
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
68
A multiplicao do mal: a Aids se espalha. Revista Veja 1985.
69
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011, Salvador, BA; Maria Leide Wand del Rey de Oliveira.
Comunicao por correio eletrnico, abril/2012.
70
Maria Leide Wand del Rey de Oliveira. Comunicao por correio eletrnico, abril/2012
71
Ibid.
72
O Comit de grupos de risco e a Comisso Nacional de Aids sero detalhados mais adiante em um tpico especfico deste
captulo (5.7).
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SIDA/AIDS, que propunha a criao de uma Comisso Interinstitucional nos estados, incluindo
relacionados. A sua funo seria coordenar as atividades de controle da aids, coletar dados, selecionar
e avaliar o programa local, em consonncia com as diretrizes nacionais. Esse item, contudo, no
interrogaes acerca de uma eventual homossexualidade, como aconteceu com Michle Barzach, na
definio da poltica de aids na Frana (Pinell, Broqua et al., 2002). Ou seja, mulheres, como Fabola
Nunes e Lair Guerra, ou um ex-militante do movimento homossexual, como Paulo Roberto Teixeira.
As articulaes internacionais de Lair nos CDC e na OPAS, assim como sua capacidade de
gesto ajudaram na estruturao inicial e ampliao do Programa de DST/Aids. Este tambm contou
com uma colaborao importante da Fundao Servios Especiais de Sade Pblica (FSESP) para a
sua interiorizao73, atravs de seu representante para doenas transmissveis, o mdico sanitarista
Pedro Chequer, que em seguida iria integrar tambm a equipe do Programa Nacional (Oliveira, 2008).
Conferncia Nacional de Sade (CNS) (figura 4, p.81). Ainda que o relatrio especfico no tenha sido
localizado, como desdobramento das discusses na 8a CNS foram realizados debates em diversos
estados, sob a coordenao do Ministrio da Sade, para se discutir o tema Aids e Constituinte74,
sendo o primeiro realizado em Belo Horizonte, ainda em agosto de 1986. Os debates tinham como
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
73
A FSESP organizou treinamentos em hansenase e doenas sexualmente transmissveis para as suas unidades, iniciando
pelo Centro de Referncia Alfredo da Matta, em Manaus, com os mdicos Adele Benzaken e Jos Carlos Sardinha (Oliveira,
M.L.W.D.R.D. Participao em quatro dcadas da poltica de controle da hansenase no Brasil: acasos e determinaes.
Hansenoligia Internacionalis, v.33, n.2 Suppl. 1, p.45-50. 2008.)
74
Mdico diz que detentos internados no apresentam sintomas de aids. Folha de So Paulo. So Paulo. 08/10/1986 1986.
Brasil. Aids e Constituinte: subtema da 8a Conferncia Nacional de Sade. Ministrio da Sade: Braslia. 1986b;
Memria Roda Viva: Debate aids. 19/01/1987, 1987. 57p.
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objetivo discutir como o novo sistema de sade poderia resolver o problema da aids. Essas discusses,
evitveis por imunizao e AIDS), a aids tambm estava relacionada mobilizao do subtema
qualidade do sangue no pas. Na dcada de 1980, no havia qualquer controle sobre o comrcio de
pessoas submetidas a transfuso foram contaminadas e morreram (Santos, Moraes et al., 1992), sendo
doena pelo sangue, mas sim a falta de sangue75. O segundo alegando falta de recursos76 ou
Hemoderivados, que sugeria que 70 a 84% dos hemoflicos do eixo Rio-So Paulo estariam
recomendaes, ainda que insuficientes, para o controle do sangue no pas, tais como: no aceitar
As associaes especficas de luta contra a aids, que surgiram a partir de 1985, tiveram papel
em 1988, o Comit Pacto de Sangue, uma iniciativa que congregava diversas entidades que
ofereciam apoio jurdico na promoo de aes contra o Estado, hospitais e clnicas onde havia
ocorrido contaminao (Santos, Moraes et al., 1992). A Associao Brasileira Interdisciplinar de Aids
(Abia), tendo o socilogo Herbert de Souza, um hemoflico, na sua direo, realizou uma mobilizao
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
75
No Rio, Congresso de Hematologia debate a doena. Folha de So Paulo. So Paulo. 09/09/1985 1985.
76
Teixeira refuta obrigatoriedade de teste sobre aids nos bancos de sangue. Folha de So Paulo. So Paulo. 01/08/1985 1985.
77
Programa Anti-aids contesta dados sobre contaminao de hemoflicos. Folha de So Paulo. So Paulo. 30/12/1987 1987.!
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que tinha como slogan: Salve o sangue do povo brasileiro. As principais condies para a
aids, assim como as discusses e elaborao de uma nova constituio (Parker e Terto Jr, 2001). Da
mesma forma, Paulo Bonfim, do Gapa, envolveu-se nessa questo (Contrera, 2000). Ambos inclusive
doadores de sangue e da realizao de testes de laboratrio para hepatite B, sfilis, doena de Chagas,
malria, e aids. O projeto de lei foi apresentado em outubro de 1985 pelo Senador Gasto Muller, do
PMDB do Mato Grosso, e teve como relator o deputado Carlos SantAnna. A assinatura da lei
aconteceu dias aps a morte do famoso cartunista Henfil, em 04/01/1988. Sua morte levou a inmeras
manifestaes e protestos em todo o pas, de modo que a lei ficou tambm conhecida como Lei
Henfil (Brasil, 1988c). Esta lei foi regulamentada pelo Decreto 95.721, de 11/02/1988.
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pas ( 4o, art. 199 da Constituio Federal de 1988). Tiveram importante papel nessa discusso na
assembleia constituinte Srgio Arouca, ento presidente da Fiocruz, e o deputado federal Carlos
SantAnna fazendo a defesa do dispositivo nos dois turnos de votao. Carlos SantAnna, embora
fosse chefe do governo na Cmara dos Deputados, fez a defesa na condio de mdico, contrapondo-
se posio do ento Ministro da Sade, Borges da Silveira (Souza, 1988). A partir da, o Ministrio
da Sade elaborou as normas tcnicas para a hemoterapia no pas, atravs da Portaria n. 721 de
11/08/1989. Contudo, o projeto de lei para regulamentao deste pargrafo da constituio foi
apresentado em 1991, pelo deputado Roberto Jefferson, do PTB do Rio de Janeiro, mesmo tendo
regime de tramitao de urgncia, apenas 10 anos depois, em 2001, foi aprovada a Lei 10.205, que
derivados e proibiu o comrcio desses materiais no Brasil. Pelo envolvimento do socilogo Herbert de
Souza nessa luta, a lei conhecida como Lei do Sangue ou Lei Betinho (Brasil, 2001b).
Ministrio divergia daquela defendida por Lair Guerra, que considerava que o programa de aids ao
interior da Diviso Nacional de Dermatologia Sanitria (DNDS) ficava limitado dermatologia e que
este deveria se dissociar da Diviso para ampliar seu leque de aes. Fabola Nunes e Maria Leide de
Oliveira consideravam que para este desligamento antes seria necessria uma negociao com a
Sociedade Brasileira de Dermatologia. Essas divergncias traduziam disputas entre agentes do campo
mdico (Fabola Nunes e Maria Leide), preocupadas com as disputas tambm desse campo, e uma
agente do espao aids (Lair Guerra), um espao emergente que comeava a se consolidar e buscava
Ao final de 1986, havia discordncias tambm entre a secretria Fabola Nunes e o ministro
Roberto Santos acerca da situao sanitria do pas. Para o ministro, o Brasil estava respondendo bem
!
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ao avano da epidemia e estava adotando providncias para reduzir a sua incidncia 78. Na viso de
Fabola, Roberto Santos estava contra a reforma sanitria79 e o avano da aids evidenciava as
fragilidades do setor sade e sua incapacidade de resposta doena. A situao teria agravado-se com
Fabola Nunes imprensa que desagradaram o ministro. Sua demisso, contudo, ainda foi adiada para
depois da visita de Jonathan Mann, diretor do Programa de Aids da OMS, ao Brasil80 em 1987, em
Durante a visita, Mann avaliou o programa brasileiro como completo para 1987 e
considerou que a campanha de preveno proposta pelo Ministrio da Sade era verdadeiramente
(SNPES) no final de 1987, o Ministro Roberto Santos, seguindo a sugesto de Lair Guerra, criou a
Diviso Nacional de DST/Aids84 (Oliveira, 2008), de forma que, sob a gesto de uma biomdica, o
Programa saiu da DNDS, ganhando maior autonomia em relao Dermatologia Sanitria, uma
Ainda que a separao tenha acontecido em 1987, foi oficializada apenas em 1988, atravs da
criao da Diviso Nacional de DST/Aids, sob a direo de Lair Guerra, que permaneceu at maro de
199086, incio de um novo governo. A Diviso foi transferida da Secretaria Nacional de Programas
Especiais de Sade (SNPES) para a Secretaria Nacional de Aes Bsicas de Sade (SNABS) e a sua
criao era avaliada pelo Ministro Roberto Santos como uma valorizao do Programa Nacional.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
78
Secretria acha 'calamitosa' situao sanitria no pas. Folha de So Paulo. So Paulo. 17/12/1986 1986.
79
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011. Salvador, BA.
80
O Diretor do Programa de Aids da Organizao Mundial de Sade esteve no Brasil entre 02 e 04 de fevereiro de 1987,
convite do Ministro da Sade Roberto Santos, acompanhado de Ronald St. John, coordenador do Programa de Anlise de
Situao de Sade e suas Tendncias, da OPAS, e Fernando Zacharias, coordenador do Programa de Aids da Amrica Latina,
OPAS.(Anexo I - Visita de Jonathan Mann Agenda, p. 251)
81
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011. Salvador, BA.
82
At moscas e mosquitos podem portar o vrus da aids, afirma o mdico Veronesi. Folha de So Paulo. So Paulo.
18/02/1987 1987.
83
Campanha de preveno comea dia 16. Folha de So Paulo. So Paulo. 7/02/1987 1987.
84
Fabola de Aguiar Nunes. Entrevista realizada em 14/07/2011. Salvador, BA;.Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada
em 03/05/2001, So Paulo, SP.
85
Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF.
86
Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF; Ieda Fornazier. Entrevista realizada em
04/08/2011, Braslia, DF.
!
'$! ! http://acervo.folha.com.br/resultados?q=fabola+nunes&site=...
interessante notar que naquele perodo, a imprensa ainda tratava a aids de forma
sensacionalista, alimentada pelo incipiente conhecimento acerca da doena pelo campo mdico. Na
mesma notcia o jornal a Folha de So Paulo divulgava trs assuntos relacionados aids: uma fala do
mdico Ricardo Veronesi no congresso de infectologia que acontecia em Curitiba acerca de pesquisas
realizadas na frica que supunham a transmisso do vrus HIV atravs de mosquitos; a demisso de
Contudo, a manchete concentrava-se no primeiro assunto (Figura 5). Essa nfase no aspecto
informado por um mdico infectologista, professor da USP tambm aponta para a dominncia e
reconhecimento do saber mdico como aquele que detm a autoridade sobre a doena.
aids. As atividades a serem implementadas no pas passaram a ser normalizadas de forma centralizada,
invertendo a sua relao com os estados que at ento formulavam e executavam seus programas
especficos (Teixeira, 1997). Alm disso, a gesto de Lair Guerra foi marcada pela crtica das
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
87
A concepo da CNBB acerca da campanha governamental de preveno aids tratada mais adiante neste captulo.
!
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assistncia aos doentes, s campanhas de mdia produzidas, e ao discurso do ministrio, visto pelos
Ns j atendemos diversas pessoas com dvidas sobre o que ouviram e viram na TV.
Temos que fazer uma verdadeira lavagem cerebral para ensin-las corretamente.
(Eduardo de Carvalho Presidente do Gapa-MG Folha de So Paulo, 07/07/1988)
publicitrio Jorge Borges, a diretora da DNDS Maria Leide, o vice-diretor do Gapa-SP Paulo Csar
Bonfim, e o general Aureliano Pinto de Moura, da Diviso da Sade do Exercito, e teve como slogan
Aids, voc precisa saber evitar!88. A campanha contava com cartazes (figura 6) e chamadas de meio
minuto na TV, abordando temas como uso de preservativo (camisa de vnus) nas relaes sexuais, o
transmite na convivncia diria com o doente e incentivando a doao de sangue. Ou seja, o foco da
propaganda era na preveno. Vale destacar que, at mesmo nas campanhas publicitrias, havia
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
88
Governo afirma que no faltaram leitos para a aids. Folha de So Paulo. So Paulo. 04/01/1987 1987.
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referncia ao medo e morte relacionados aids. A seguir esto transcritos os textos de algumas
dessas chamadas89.
A aids uma doena que passa de pessoa para pessoa atravs do esperma e do sangue
contaminado. A aids no tem cura e mata. S tem uma maneira de evitar que esta
epidemia continue: a preveno. Nas suas relaes sexuais use a camisa de Vnus. A
camisinha pode afastar voc da aids, mas no afasta voc de quem voc gosta.
Campanha Aids voc precisa saber evitar domin 1987 PN DST/Aids
O vcio da droga uma agresso para a sade e a agulha da seringa que passa de mo
em mo pode estar contaminada com o vrus da aids Se voc no est conseguindo
largar o vcio, procure ajuda . Evite seringas usadas, assim pelo menos de aids voc no
morre. Campanha Aids voc precisa saber evitar seringas 1987 PN DST/Aids
De todos o sintomas da aids o que causa mais dor a solido. Na maioria dos casos a
famlia e os amigos se afastam do doente da aids por medo e preconceito. Aids no se
pega convivendo com o doente. Aids no se pega com abrao. Aids no se pega com
afago e com afeto. Enquanto a cura no vem, carinho o melhor tratamento. Aids voc
precisa saber evitar! Campanha Aids voc precisa saber evitar carinho 1987 PN
DST/Aids
O medo da aids est assustando algum muito importante para a sade do pas, o
doador de sangue. No tenha medo, no se pega aids doando sangue desde que a agulha
seja descartvel ou nova ou esterilizada. Doe seu sangue. S assim voc impede que a
vida de muitas pessoas se esvazie nos hospitais. Campanha Aids voc precisa saber
evitar doe sangue 1987 PN DST/Aids
Alm dessas, havia peas publicitrias de um minuto com os atores Irene Ravache e Paulo
Jos, esclarecendo sobre a forma de transmisso do vrus, sobre a doao de sangue e os riscos de
sugeriu a substituio dos termos camisa de vnus e coito anal, por preservativo e relao
Vicente Amato Neto, e de Paulo Cesar Bonfim, do Gapa, a aids era um problema srio e questes de
tica e moral no poderiam impedir aes para evitar o crescimento da doena no pas. A informao
veiculada na mdia era que haveria censura prvia para evitar choques com a igreja90. De fato, esses
foram os termos utilizados na campanha, como pode ser observado nos trechos citados anteriormente e
aparentemente, o uso do termo coito anal referia-se ao primeiro filmete (Campanha Aids voc !
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
89
Todos os vdeos analisados e transcritos esto disponveis no sitio eletrnico do Departamento de DST, Aids e Hepatites
Virais do Ministrio da Sade (http://www.aids.gov.br/pagina/videos), acesso em 2012.
!
90
Pastoral pede clareza na campanha. Folha de So Paulo. So Paulo. 26/02/1987 1987.
!
! '"!
precisa saber evitar domin 1987 ) que, de acordo com a reportagem da Folha de So Paulo,
inicialmente teria a imagem de ndegas nuas para reforar a questo do sexo anal.
slogan Aids, pare com isso!, para a qual foram elaborados dois vdeos com cerca de um minuto
cada: no primeiro, uma aeromoa, antes da decolagem, explicava para os passageiros os meios de
Senhores passageiros, bem vindos bordo. Ateno para essas instrues que podem
salvar sua vida nessa viagem: em suas relaes sexuais, qualquer que seja o parceiro, use
sempre camisa de vnus ou faa o seu parceiro usar; e se, por alguma razo, voc tiver que
tomar uma injeo, nunca use seringas e agulhas de outras pessoas, tenha certeza de que a
seringa saiu diretamente de uma embalagem original, esterilizada e descartvel; se precisar
de uma transfuso de sangue, por qualquer motivo, exija o teste anti-aids no sangue que
voc vai receber. Lembre-se a aids mata sem piedade. No deixe que essa seja a ltima
viagem de sua vida. Aids, pare com isso! (Campanha Aids, pare com isso avio 1988
PN DST/Aids)
!
A mensagem responsabilizava os indivduos inclusive por medidas que fugiam a sua alada,
pessoas.
No segundo, enquanto o texto era lido por um narrador imagens da vida noturna de uma
cidade eram alternadas, mostrando principalmente mulheres, e alertando dos perigos da noite, em
especial a aids:
A noite tem alegria, tem diverso, tem amor, mas tem tambm muitos perigos. O maior
deles chama-se aids. uma doena que mata sem piedade. Ela transmitida pelo sexo,
pelas seringas e agulhas contaminadas e pelas transfuses clandestinas de sangue. No d
para saber quem e quem no portador da doena. Quem v cara, no v aids. Use
sempre camisa de vnus, qualquer que seja o seu parceiro sexual e se por alguma razo
tiver que tomar uma injeo, nunca use seringas e agulhas de outras pessoas. Lembre-se de
que a aids uma doena mortal que est se alastrando cada vez mais. Depende de voc, de
todos ns, interromper esta triste ameaa. No permita que esta seja a ltima viagem da sua
vida. Aids, pare com isso! (Campanha Aids, pare com isso perigos da noite 1988 PN
DST/Aids)
!
No texto Onze crticas a uma campanha desgovernada (Abia, 1988b), a Abia classificava a
a) errada porque afirmava que deveria usar preservativo em todas as relaes sexuais, o
medo;
!
''! !
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
j)
k)
l)
m)
n)
o)
p)
q)
r)
s)
t)
u)
v)
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()! !
b) hipcrita porque dizia que as pessoas deviam se cuidar para no receber sangue
os comerciantes de sangue;
e) falsa porque transmitia informaes truncadas devido aos limites impostos pelas
k) intil porque a aids era um problema srio demais para ser tratada com filmetes e
anncios curtos.
Essa viso contudo tinha opositores. Por exemplo, na opinio de Luiz Mott, do GGB, a Abia
(...) Rotular de errada a campanha somente por que nalguns cartazes aconselhou o uso
dos preservativos em todos relaes sexuais, flagrante parcialidade do analista, pois em
questo de vida ou morte, melhor pecar pelo excesso do que pela falta de informaes e
cuidados. Dizer que o governo no est fazendo nada contra a Aids, outra inverdade, pois
por mais tardia, tmida e locunosa, a campanha governamental tem surtido palpveis
resultados na conscientizao de amplas camadas sociais, sobretudo no tocante profilaxia
da Aids. Cham-la de preconceituosa uma injustia, pois esse tem sido um dos aspectos
mais positivos dessa campanha, que evita estigmatizar e mesmo citar os chamados grupos de
risco, desmascarando preconceitos sociais contra os aidticos. Apelidar a campanha de
obscurantista por que usa frmulas metafricas sofisticadas, outra mentira, pois malgrado a
censura dos Bispos, as mensagens e imagens so bastante claras e compreensveis por
qualquer pessoa. Concluindo a avaliao feita pela Abia da Campanha do Governo contra a
Aids peca pela intolerncia, injustia, falta de objetividade e derrotismo.(...) Rotular a
Campanha de alarmista e estimuladora do pnico reflete grave desconhecimento por parte da
Abia dos sentimentos e reaes populares s informaes prestadas pelo Governo,
Convivendo semanalmente com centenas de homossexuais que frequentam a sede do Grupo
Gay da Bahia, tenho elementos empricos para confirmar que lastimavelmente a campanha
no tem sido mais agressiva e dramtica do que gostaria, pois boa parte dos gays baianos
que frequentam o GGB continuam a fazer sexo na mesma frequncia e risco como se a Aids
no os ameaasse, Entre os gays conscientes, h tranquilidade, entre os irresponsveis.
Indiferena. Onde est o pnico aludido pela Abia? A meu ver, falta maior contato dos
!
! (*!
tericos do Abia com o povo brasileiro.(...) (Luiz Mott, GGB, Corrspondncia enviada
Abia, Boletim ABIA, n. 3, julho de 1988)
Foram identificadas trs concepes acerca das campanhas preventivas governamentais: uma
concepo tcnica, expressa principalmente pelos agentes do campo burocrtico; uma concepo
tcnico-cientfica, que aparece na fala de agentes do campo cientfico; e uma concepo poltica,
expressa principalmente pelos agentes do subespao militante, mas tambm por agentes de outros
subespaos com trajetria militante no movimento sanitrio ou na luta pela redemocratizao do pas.
visando a no discriminao desses grupos foi um consenso inicial entre os representantes dos
infeco por HIV entre heterossexuais, ou seja, as mulheres seriam vtimas (por exemplo,
, A oposio associao da doena morte nas campanhas, especialmente por parte das
!
(+! !
discurso claro e verdadeiro e que no associar a doena morte seria escamotear a realidade;
, Existia por parte dos militantes tambm uma oposio ao uso de termos cientficos pelo
SE Concepes
Tcnica Concepo assptica do sexo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"#
!O apndice VI, apresenta os trechos das entrevistas a partir dos quais foi elaborado o quadro 8.
!
! (#!
exemplo seria a interferncia da igreja catlica na censura prvia campanha de 1987, como
j relatado.
compartilhada tambm por tcnicos progressistas que incorporava o cuidado contra o estigma e a
discriminao, sem abrir mo da necessidade da mensagem tcnica. Havia tambm um ponto de vista
interesses envolvidos em um tema relacionado sexualidade que suscita questes morais, polticas e
espao militante: uma associao especfica de luta contra a aids (Abia) e um grupo de homossexuais
(GGB).
A necessidade de uma interveno voltada para os grupos especficos, mais expostos ao risco
aids92 na sua 5a reunio (19 de janeiro de 1988). Prevaleceu entre seus membros, a opinio de que a
campanha deveria ser dirigida para a populao geral, porm com aes para grupos especficos. Entre
1988 e 1989, o Programa Nacional elaborou o Projeto Previna Preveno e Informao sobre aids e
outras DSTs. O projeto teve inicialmente como pblico-alvo profissionais do sexo, usurios de
O referido projeto no foi objeto de discusso especfica na Comisso Nacional de Aids, mas
a priorizao dos grupos segue os temas das discusses e recomendaes das reunies seguintes da
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"$
!A ata da reunio do dia 19 de janeiro de 1988, diz que em votao a maioria optou por campanhas dirigidas populao
geral, com aes para grupos especficos, porm no evidencia as discusses acerca do tema.!!
!
($! !
em 29 de fevereiro de 1988;
abril de 1989; e
As estratgias do projeto Previna foram definidas a partir de uma srie de reunies com outros
em seis estados (Rio Grande do Sul, So Paulo, Rio de Janeiro, Cear, Bahia e Amazonas) e no
Ela [Lair Guerra] criou o Projeto Previna (...) que tinha como misso trabalhar em toda
esfera nacional com 4 populaes: populao carcerria, populaes de trabalhadores
sexuais, populao gay e usuria de drogas. E eu fui chamado por Dr Lair Guerra, logo
depois de o Gapa-Bahia ter menos de 1 ano. (...) para ser o coordenador na regio norte e
nordeste do programa Previna nos presdios. Fiz um treinamento longo em So Paulo, no
Carandiru, e depois eu era o responsvel por toda a regio norte e nordeste no Brasil. (...)
para treinar todos os... Uma equipe de mdicos, de profissionais paramdicos da
populao carcerria, foi muito bom ter sido parte dessa histria. (Harley Henriques do
Nascimento, Gapa-BA. Entrevista realizada em 11/04/2011)
O Previna foi a primeira experincia mais formal de parceria entre o Estado e ONGs na
prestao de servios relacionados aids. Os principais problemas para a sua implementao foram
material didtico, se uma linguagem mais tcnica e cientfica, o que era defendido pelo Programa
Nacional, ou uma linguagem mais prxima da cultura do pblico alvo, reivindicada pelas ONGs
(Campos, 2005).
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
93
Em especial para a realizao dos treinamentos e capacitaes em diversas regies do pas.
!
! (%!
O repasse financeiro para estados e municpios foi realizado atravs da OPAS, tendo o
Ministrio como interveniente. O Previna foi descontinuado durante o governo Collor e retomado em
importante ressaltar que se Lair Guerra no esteve desde o incio da formao do Programa,
a sua chegada deu impulso a uma nova fase, contribuindo para a estruturao inicial do programa, a
a zidovudina (AZT), embora este medicamento apenas tenha sido disponibilizado na rede pblica em
1989 por alguns Estados e em 1991 pelo Ministrio da Sade. A Comisso Nacional de Aids foi um
importante espao de definies tcnicas e polticas a esse respeito, e, embora seu papel fosse
consultivo, diversos documentos discutidos e propostos pela comisso formaram a base do discurso
Em abril de 1985, a Fiocruz recebeu duas garrafas de cultura de HIV trazidas pelo casal
Margueritte Pereira (Peggy) e Hlio Gelli Pereira, ela, inglesa, diretora do Laboratrio de Sade
universidades inglesas. Foi esse material que permitiu o incio dos trabalhos da adaptao da
diagnsticos para o HIV, criando a base para a triagem de bancos de sangue no pas. O Brasil
sangue estavam equipados para realizar esta tcnica, utilizando como teste confirmatrio o Elisa,
!
(&! !
distribudo pela OMS94 (Santos, Moraes et al., 1992). Como destacado por Pinell, Broqua et al.
(2002), o incio da realizao de testes laboratoriais para diagnstico da infeco pelo HIV, levou ao
surgimento de uma nova categoria, a dos soropositivos, trazendo alteraes para o quadro
contudo, at hoje, a vigilncia epidemiolgica trabalha apenas com os casos confirmados de aids,
contando apenas com estimativas para os soropositivos. Se a figura do soropositivo no aparecia nas
estatsticas, no espao militante essas figuras comearam a ter um importante papel, em especial, no
Apenas em maio de 1987 o HIV foi isolado pela primeira vez no Brasil pela equipe
coordenada pelo Dr. Galvo95 (Figura 7)(Galvo-Castro, Ivo-Dos-Santos et al., 1987). Apesar desse
no ter sido um fato cientfico importante (os pases desenvolvidos j haviam isolado o vrus h cerca
de 4 anos) (Galvo-Castro, Ivo-Dos-Santos et al., 1987; Galvo-Castro, 2005), teve ampla divulgao
pela imprensa (Galvo-Castro, 2005), de modo que conferiu ao grupo de pesquisa um reconhecimento
para alm do campo cientfico e terminou por garantir novos financiamentos, funcionando como um
projeto, no valor de 3 milhes de dlares, foi engavetado e s foi aprovado aps interveno do
arcebispo do Rio de Janeiro, D. Eugnio Sales, junto a Camilo Calazans, ento presidente do Banco do
Brasil. Este projeto permitiu a construo do Laboratrio Nacional de Sade Pblica em Salvador, o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
94
Bernardo Galvo Castro Filho. Entrevista realizada em 12/07/2011, Salvador, Bahia.
95
A equipe do Laboratrio dirigido pelo Dr. Galvo era composta por Euclides Ayres de Castilho (epidemiologista), Jairo
Ivo dos Santos (bioqumico), Claudio Ribeiro (imunohematologista), Jos Carlos Couto Fernandez (Bilogo), Vera Bongertz
(bioqumica), Dumith Chequer Bou-Habib (Mdico, Doutorando em Microbiologia da UFRJ, orientando de Bernardo
Galvo) e Carlos Morel (Mdico, Doutor em Biologia Celular, Diretor do Instituto Oswaldo Cruz) (Instituto Oswaldo Cruz
(IOC). A evoluo do estudo da aids por um de seus descobridores. Disponvel em:
<http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1174&sid=32>. Acesso em: 17/11/2011.). A equipe era
composta principalmente por jovens pesquisadores, recm-doutores, que voltavam ao pas, outros como o prprio Galvo,
com elevado capital cientfico nas reas bsicas, mas que ainda no tinham tanto prestgio.
96
Os laboratrios de microbiologia so classificados de acordo com o nvel de biossegurana em quatro nveis. O nvel de
biossegurana 3 (NB-3 ou P-3) aplicvel () onde o trabalho com agentes exticos possa causar doenas srias ou
potencialmente fatais como resultado de exposio por inalao. A equipe laboratorial deve possuir treinamento especfico
no manejo de agentes patognicos e potencialmente letais devendo ser supervisionados por competentes cientistas que
possuam vasta experincia com estes agentes. Todos os procedimentos que envolverem a manipulao de material infeccioso
devem ser conduzidos dentro de cabines de segurana biolgica ou outro sistema de conteno fsica. Os manipuladores
devem usar roupas de proteo individual. (Brasil. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Segurana e controle de
qualidade no laboratrio de microbiologia clnica: modulo II. Braslia: ANVISA. 2004. p. 18-19)
!
! ("!
primeiro laboratrio P3 da Fiocruz, no especfico para aids, mas a partir do qual foi criada uma rede
Figura 7 Artigo publicado pela equipe de Bernardo Galvo acerca do isolamento do HIV
no Brasil, 1987.
Com relao ao espao aids no mundo, no subespao cientfico, houve uma disputa pelo
Instituto Pasteur, liderado pelo francs Luc Montagnier, e da Universidade da Califrnia, liderado pelo
americano Robert Gallo (Camargo Jr., 1994). No Brasil tambm observaram-se disputas pelo
reconhecimento dos feitos cientficos, ainda que estes, como j comentado, nem sempre tenham tido
pginas dos jornais. Em 1988, por exemplo, a notcia da apresentao de um trabalho sobre deteco
do vrus HIV-2 no Brasil na 4a Conferncia Internacional de Aids em Estocolmo, Sucia, pelo mdico
da UFRJ, Eduardo Crtes, que estava fazendo ps-graduao na Universidade da Califrnia (Ucla),
EUA, gerou crticas do professor Ricardo Veronesi, que atribua o mrito da descoberta uma parceria
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
97
Bernardo Galvo, Castro Filho. Entrevista realizada em 12/07/2011, Salvador, BA.!
"%
!Albuquerque, J. Mdico detecta HIV-2 em sangue de brasileiros. Folha de So Paulo. So Paulo. 15/06/1988: A-11 p.
1988.!
!
('! !
Como se tratava de uma doena desconhecida, alm dos mdicos clnicos que atenderam os
maioria, eram jovens pesquisadores, em incio de carreira, buscando afirmar-se no campo cientfico,
de modo que a aids surgiu como a possibilidade de independncia cientfica de alguns recm-doutores,
como Valria Petri, ou pesquisadores em incio de carreira, como Bernardo Galvo, por exemplo.
Assim, as disputas geracionais, entre jovens pesquisadores e pesquisadores veteranos, bem como as
disputas entre instituies, exemplificam as lutas desse subespao: uma luta por reconhecimento
dentro do espao cientfico do espao aids, seja para alcanar ou manter uma posio de autoridade
Eles no aceitavam que no fosse a Fiocruz que fizesse, entendeu? E ns perdemos muita
grana por causa disso. Eu consegui grants nos Estados Unidos. A UFRJ tinha um acordo
firmado com Fiocruz, tem at hoje, de colaborao: professor daqui vai pr l, o de l
vem, pr c. Se quiser. Funcionalmente. E o NIH ofereceu, convidei eles para fazerem
juntos. O Ministrio da Sade no deu carta de que aprovava o trabalho. No deu. E a
gente ia fazer com eles. Convidamos formalmente eles para fazer. Mas como no foram
eles que iam fazer, eles cancelaram. Dois milhes e meio de dlares. (Eduardo Jorge
Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011)
Nessas falas, verificam-se oposies tanto geracionais (Veronesi X Valria Petri, Veronesi X
Eduardo Crtes), bem como entre instituies (USP X Escola Paulista de Medicina, UFRJ X Fiocruz).
Ao interior do campo mdico, estava em jogo a relao de poder entre a recm criada
aspectos que envolviam as doenas infecciosas dentro da Medicina Interna e considerando que o
termo Medicina Tropical no dava conta de uma epidemia como a da aids, que no se restringia
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
((!Veronesi, R. HIV-2. Folha de So Paulo. So Paulo. 29/06/1988 1988.
!
! ((!
exclusivamente aos trpicos (SBI, 2005). Contudo, a Dermatologia, como identificou os primeiros
casos, devido ao Sarcoma de Kaposi, uma leso de pele, e tambm pelo fato de abranger, quela
poca, no Brasil, as DST, foi a especialidade da medicina que criou as bases para a elaborao da
poltica de aids no pas. Se nos EUA, os principais pesquisadores que se envolveram com a aids eram
(...) Naquela poca, eles achavam que uma dermatologista poderia atrapalhar a obra
deles ou aquilo que eles pretendiam fazer. Ento eles declaravam isso na televiso. Uma
vez o Veronesi falou assim Dermatologista s serve para atrapalhar. (...) Era muito mais
difcil... Hoje no. Hoje natural as pessoas aprenderem sobre isso, lidar com os
medicamentos e tudo. (Valria Petri, entrevista realizada em 20/06/2011)
(...) como a aids comeou com a epidemia de sarcoma de kaposi, a oncologia nos
Estados Unidos que tomava conta da aids, da doena aids, compreendeu? E a
Universidade da Califrnia era um dos maiores centro americanos de aids. O que a gente
tinha de doentes, com sarcomas, linfomas, e era um centro de excelncia, que fazia um
monte de pesquisas, ento, todos oncologistas. O Luc Montagnier (...) Ele era chefe da
sesso de virologia tumoral do Instituto Pasteur. O Robert Gallo, o que era? Ele era do
Instituto Nacional do Cncer Americano. (Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista
realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011)
Os agentes dos campos burocrtico, mdico e cientfico sempre mantiveram uma relao
importante com o espao militante, inclusive alguns mantinham relaes com esse subespao ou
mesmo foram fundadores dos movimentos sociais envolvidos na epidemia e das associaes
epidemia, sendo que alguns grupos, exemplo do Grupo Gay da Bahia, at hoje realizam atividades
possibilidade de acesso a outros grupos devido ao preconceito por parte de determinados setores da
sociedade. O prprio GGB, para dar continuidade s aes contra a epidemia da aids e ampliar a
abrangncia do pblico ao qual teria acesso, teve necessidade de criar uma organizao especfica, a
qual compartilhava o mesmo espao e membros que o GGB, mas que se desvinculava do movimento
!
*))!!
homossexual Centro Baiano Anti-Aids (CBAA) 100 . Foi nesse sentido que surgiu a primeira
associao especfica de luta contra a aids, o Grupo de Apoio e Preveno Aids Gapa, em So
Paulo.
muitas delas realizadas no prprio Hospital das Clnicas da USP, com o mdico Ricardo Veronesi.
Grande parte de seus fundadores tinha algum engajamento poltico e, principalmente, era vinculada ao
pice foi uma reunio realizada no Instituto de Sade no incio de 1985, conduzida pelo coordenador
do Programa Estadual de Aids, Paulo Roberto Teixeira. Com objetivo de discutir a preveno de
riscos de infeco, foram apresentadas diversas imagens de leses relacionadas doena, o que causou
Eu ficava assim mais tranquila talvez, (...) porque eu no conhecia as pessoas que
estavam ali, mas 90% dos frequentadores da reunio conheciam os defuntos, as pessoas
mortas. Na poca, se passava muito vdeo, um pedao da pessoa mostrando um sarcoma,
um tumor. (...) Para mim era um pedao, porque era um pedao, mas tinha gente que
reconhecia... Ai! Ali a perna de meu amigo, (...) aparecia muito o rosto, mas tudo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
100
(...) em 87, fundamos o Centro Baiano Anti-AIDS, que eram as mesmas pessoas praticamente do GGB. Mas como para
fazermos palestras, fazermos a situao de preveno em ambientes oficiais ou particulares, em escolas, universidades,
sindicatos, associao de bairro, a palavra Grupo Gay ainda provocava preconceito, ento, ns achamos que era uma forma
de diversificar e de camuflar a nossa atuao atravs do Centro Baiano Anti-AIDS e tambm a possibilidade de
financiamentos nacionais e internacionais. (Luiz Roberto de Barros Mott. Entrevista realizada em 23/03/2011, Salvador,
BA.)
101
As reunies comearam a acontecer alguns meses depois da criao do programa, e as reunies pblicas uma vez por
semana, noite, no nosso servio. (...) eram muito concorridas, principalmente pela comunidade gay, mas tambm pessoas
envolvidas no movimento de hemoflicos, no movimento de transfundidos, profissionais de Sade Pblica, pessoas de
universidade. (...) e as pessoas que tomaram a iniciativa, no primeiro ano, praticamente, do Gapa, se reuniam no nosso
espao. Ns cedemos espao, salas e facilidades de comunicao: correio, telefone, etc., e foi o primeiro, digamos, apoio. (...)
o Gapa nasceu dentro da instituio, na medida em que comeou a se consolidar, e a se estruturar, foi procurar a sua sede
prpria, mas durante pelo menos um ano funcionou no nosso servio. (Paulo Roberto Teixeira. Entrevista realizada em
03/05/2011, So Paulo, SP)
102
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP; Paulo Roberto Teixeira. Entrevista
realizada em 03/05/2011, So Paulo, SP.!
!
! *)*!
com sarcoma e via tudo j deformado. Mas os amigos reconheciam e ento desmaiavam
e gritavam. E a gente ficava assim... Eu, a Yara, a Otlia no, porque a Otlia trabalhava
com isso, ento, para ela era um outro olhar. Mas para mim e pra Yara... (...) Muito
histerismo mesmo, e as reunies, a bem da verdade, no incio, elas mostravam esses
vdeos... como que voc ficava, mas no tinha o que fazer. Ento era s para dizer:
Oh, voc vai morrer assim. (urea Celeste da Silva Abbade, advogada, fundadora do
Gapa-SP, entrevista realizada em 20/06/2011)
Naquele dia, decidiu-se formar uma organizao no-governamental de base comunitria, com
portadores de HIV/aids e seus familiares (Contrera, 2000; Barata, 2006), ou seja, substituir o Estado
em suas funes. O Gapa foi assim criado em janeiro de 1985 e teve a sua ata de fundao registrada
no dia 27 de abril de 1985 (Contrera, 2000). O Centro dos Hemoflicos de So Paulo, na pessoa de D.
Vitalina Dias da Silva, teve papel importante no apoio formalizao do grupo, dividindo a
experincia da sua instituio e orientando os primeiros passos a serem seguidos pelas duas advogadas
Como estava tambm atingindo os hemoflicos, ela fez parte no incio com a gente. Os
hemoflicos e os talassmicos. Mas no com muita vinculao, porque eles tinham medo
de se confundir ou de ter mais um estigma alm do que j tinham. No queriam ser os
transmissores do HIV, ento tinha uma participao mais de orientao.(...) Um modelo
de contrato, modelo de no sei o que, modelo de ata... Isso foi durante a semana... A
sentamos... Primeiro que a gente j sabia como era o fundamento, quais eram as funes
do Gapa, os objetivos, que isso j vinha sendo discutido h tempos. A ns fizemos uma
adaptao disso para aqueles modelos que ela tinha nos dado. (...) (urea Abbade
Celeste da Silva Abbade, entrevista realizada em 20/06/2011)
Entre os fundadores do Gapa havia profissionais da SES-SP, como Paulo Roberto Teixeira,
Paulo Bonfim103, Otlia Simes Janeiro Gonalves104 ; o antroplogo Edward MacRae; as advogadas
urea Celeste da Silva Abbade e Yara Arruda; o publicitrio e professor universitrio Wagner Carmo
Fernandes; o professor de Histria do Cinema da USP, Jean Claude Bernadet; o socilogo Cludio
Monteiro; o jornalista Oilson Pedro Gomes; o economista Zilton Luis Macedo; o servidor pblico
Luiz Carlos Munhoz; os artistas plsticos Jorge Schwartz, Mrio Silvio Gomes e Hudnilson Urbano; e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
103
Baiano, tcnico em Patologia Clnica, militante do PT e candidato a deputado federal de 1990, participante no movimento
da sade atravs da Associao dos Funcionrios do Hospital do Servidor Pblico Estadual AFIAMSP e do Sindicato dos
Funcionrios da Sade SINDSADE, Coordenador do Programa Municipal de DST/Aids de So Paulo de 1989 a 1991,
durante a gesto da prefeita Luiza Erundina
104
Assistente Social do Hospital Emlio Ribas
!
*)+!!
teve importante papel no financiamento do Gapa. Foi o Programa Estadual de Aids que garantiu
estrutura para os primeiros meses da associao, cuja sede provisria era no prdio da prpria SES-SP.
Ao mesmo tempo, o Gapa deu voz s crticas dos profissionais ligados ao programa, os representantes
do Estado, os agentes do oficial, que muitas vezes no podiam denunciar publicamente os atos dos
direitos dos portadores de HIV/aids, tendo participao ativa na Comisso Nacional de Aids desde seu
(Contrera, 2000; Abbade e Baio, 2010), tendo contribudo, atravs da advogada urea Abbade, para
elaborao do texto que subsidiou a elaborao da Lei 7.670/88, que estende aos portadores de
HIV/aids a concesso de licena para tratamento de sade, aposentadoria, reforma militar, penso
especial, auxlio doena e penso por morte aos seus dependentes. Paulo Csar Bonfim foi o
idealizador da proposta e quem a levou para Lair Guerra, numa reunio em Canelas. Lair encaminhou
o pleito ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)106 . Ou seja, a preocupao do Gapa era
sade, haja vista a proximidade estabelecida com os doentes e os ditos grupos de risco107. Alm
disso, foi a assessoria jurdica do Gapa que deu entrada nas primeiras aes contra o Estado para o
O Gapa sempre fazia corpo a corpo junto comunidade gay e com outros grupos vulnerveis
aids em casas de show, boates, saunas e na Parada Gay. Chegou a ter uma casa de apoio, mas as
dificuldades para manuteno da estrutura, mesmo com o apoio financeiro da SES-SP, num perodo de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
105
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP; Paulo Roberto Teixeira. Entrevista
realizada em 03/05/2011, So Paulo, SP.
106
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP
107
Feltrin, R. Gapa tenta coquetel anti-aids para mais 20. Folha de So Paulo. So Paulo. 12/07/1996 1996.
Martins, L. Ao quer que SP pague droga anti-HIV. Folha de So Paulo. So Paulo. 20/07/1996 1996.
108
A primeira liminar para fornecimento de antirretrovirais de ltima gerao pelo Estado foi obtida por uma ao impetrada
pela advogada urea Abbade, do Gapa, em nome da professora Nair Brito (Feltrin, R. Gapa tenta coquetel anti-aids para
mais 20. Folha de So Paulo. So Paulo. 12/07/1996 1996.).
!
! *)#!
O primeiro cartaz de preveno aids foi criado pelo Gapa 109 e foi duramente criticado pela
igreja que considerava que disseminava ideias pecaminosas como sexo fora do casamento e
!
Era do movimento. A gente estava preocupado, queria alertar a populao sobre a aids,
ao mesmo tempo no queria levar uma mensagem repressiva. (...) alertar e lutar contra a
represso. E da, eu vim aqui para Salvador e estava com Mott, que um velho amigo
meu, e l no GGB ele tinha um cartaz americano. E esse cartaz americano dizia, eu no
me lembro o que dizia exatamente, mas alguma coisa assim que voc pode fazer tudo que
sempre fez, mas tem que tomar cuidado. No sei se sugeria o uso da camisinha. Era um
cartaz assim que tinha uma caricatura que era engraadinha e que trazia uma mensagem
no repressiva. Eu peguei esse cartaz e levei pra So Paulo e mostrei pra esse grupo de
pessoas que estava se organizando. E da a gente fez assim Vamos fazer um cartaz nosso.
E esse cartaz, surgiu. A mensagem principal foi eu que bolei. Era TRANSE NUMA
BOA. E da foi o Darcy Penteado que elaborou o cartaz, que ele artista plstico. O
Jean Claude Bernadet, professor da USP, crtico de cinema. (...) e ele ento, ele e o Darcy
Penteado, depois, sentaram e bolaram mais ou menos o cartaz. Que era assim uma poro
de palavrinhas. Boline, beije, acaricie, masturbe, no lembro, mas um monte de coisas que
voc poderia fazer. Assim, e em letras grandes TRANSE NUMA BOA. Ento esse foi o
primeiro cartaz a ser feito no Brasil de preveno a aids. (Edward Baptista das Neves
MacRae. Entrevista realizada em 16/05/2011)
O cartaz estimulava o sexo seguro, ainda que esta no fosse a expresso usada quela poca.
Trazia uma mensagem no repressiva, em oposio quela que posteriormente foi adotada pelo
Ministrio da Sade e destacava a possibilidade de manter o prazer mesmo frente ameaa da aids.
contra a aids. Em 1986, surgem a Associao Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), no Rio de
Janeiro, e o Movimento de Apoio ao Paciente com aids (Mapa), em So Paulo, bem como foram
fundados Gapas em diversas cidades/estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paran, Santa
Catarina e Taubat (1987); Baixada Santista, Bahia e Ribeiro Preto (1988); Rio Grande do Sul,
Cear, Itabuna e So Jos dos Campos (1989), Sergipe e Distrito Federal (1991). Vale destacar que os
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
109
Outras iniciativas surgiram. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Tringulo Rosa elaborou um informe sobre aids, que foi
distribudo a todos que procuravam o grupo (Fatal, P. Invicta: aids aqui. Rio de Janeiro: Gapa-RJ. 1988. 149 p., sendo,
portanto, sua circulao mais limitada).
110
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP. !
!
*)$!!
ditadura militar que havia retornado do exlio em 1979 com a anistia poltica, comeou a reunir no
Ibase um grupo de representantes dos movimentos sociais, mdicos e pesquisadores para discutir a
Estado do Rio de Janeiro, que tambm participava das reunies iniciais, apresentou Betinho ao mdico
Walter Almeida, que tambm passou a participar regularmente. Betinho e seus dois irmos (o
cartunista Henfil, e o msico Chico Mrio) eram hemoflicos. Henfil e Chico Mrio j haviam se
contaminado. Junto com Walter Almeida, Betinho resolveu criar uma organizao no-governamental,
inspirado na International Interdisciplinary AIDS Foundation (IIAF). A psicloga Silvia Ramos, que
naquela poca estava cursando o doutorado em Cincia Poltica no Instituto Universitrio de Pesquisa
contrato de risco com Betinho: a mesma seria remunerada a partir do primeiro financiamento. A
deciso formal de criao da Abia foi tomada no final de 1986, sendo seu estatuto registrado no dia 10
voltadas para a preveno e o combate Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (AIDS), tais como
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
111
O Gapa BR/SP proprietrio da marca Gapa, sendo responsvel pela cesso do seu uso.
112
Silvia Ramos no concluiu o doutorado no IUPERJ. Entre 2004 e 2007, concluiu o doutorado em Sade Pblica na
ENSP/Fiocruz.
!
! *)%!
publicaes, por parte da prpria organizao ou atravs de terceiros e outras atividades pertinentes a
etc.) ao trabalho da nova associao. O primeiro financiamento, de cerca de 5 mil dlares, foi
conseguido junto ao Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social (Inamps), atravs
de contato de Betinho com Hsio Cordeiro, mdico sanitarista, militante da reforma sanitria e,
Estudos e Projetos (Finep)113, estimado entre 100 a 200 mil dlares, foi fundamental o contato de
Silvia Ramos com seu vizinho Reinaldo Guimares, presidente da Finep e, assim como Hsio
Cordeiro, militante da reforma sanitria. Ou seja, assim como aconteceu com o Gapa, foi a partir do
financiamento estatal (Inamps e Finep) que a Abia obteve recursos para a sua estruturao inicial e em
movimento sanitrio. Mas foi com o financiamento assegurado pela Fundao Ford, da qual Peter Fry,
que fazia parte do conselho diretor da Abia, era representante no Brasil, que a associao conseguiu de
fato estruturar-se enquanto organizao, tornando-se mais profissional, passando a remunerar alguns
de seus membros por seu trabalho (Parker e Terto Jr, 2001; Souza, 2002).
Participavam do conselho consultivo da Abia Srgio Luis Carrara 114 , Peter Fry, lvaro
Matida, Peggy Pereira e Hlio Gelli Pereira (Parker e Terto Jr, 2001).
Como no Gapa, tambm havia agentes do campo burocrtico que participavam da Abia, a
exemplo de lvaro Matida, tambm militante do movimento sanitrio, mas esta se conformou
com uma tentativa de distinguir o seu trabalho daquele desenvolvido pelo Gapa. A Abia seria mais
poltica, enquanto o Gapa seria mais assistencialista. Silva (1999) descreve os grupos mais polticos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
113
A Finep uma empresa pblica vinculada ao Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao, criada 1967, que tem a
misso de promover o desenvolvimento econmico e social do pas por meio do fomento pblico cincia, tecnologia e
inovao em empresas, universidades, institutos tecnolgicos e outras instituies pblicas ou privadas.
114
Cientista Social pela Unicamp (1979-1982) e orientando de Peter Fry naquela poca no mestrado de Antropologia Social
da UFRJ.
!
*)&!!
como ativistas, enquanto os assistencialistas seriam aqueles que ofereciam servios e ateno direta,
O Gapa tinha mais a perspectiva da advocacy, a Abia tinha uma concentrao, uma
expertise muito grande em dar informaes e dar esclarecimentos para grupos
especficos. (Silvia Ramos de Souza, entrevista realizada em 15/06/2011)
(...) a parte da Abia era bem mais intelectualizada. (Valria Petri, entrevista realizada em
20/06/2011)
!
Inicialmente, a Abia no tinha portadores do vrus na sua composio115 e sua relao com o
movimento homossexual era menos evidente. Seus membros eram principalmente pesquisadores,
mdicos e profissionais de sade. Era uma associao criada por um mdico e um hemoflico,
Estado, ao contrrio de homossexuais, profissionais do sexo e usurios de drogas injetveis, que eram
vistos como culpados pela sua contaminao (Parker e Terto Jr, 2001).
epidemia, seja como representante na Cnaids (da qual se afastou em 1992 por divergncias acerca do
papel da comisso), seja com relao s campanhas educativas, sempre assumindo uma posio de
descontinuidade da assistncia (Pedrosa, 1997; Souza, 1997). Para a Abia, qualquer campanha de
preveno uma CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE (grifo do autor) (Abia, 1988c, p.7) e deve
em horrio nobre, onde se forneam os dados necessrios para que cada um entenda e decida (Abia,
1988c, p.7), fornecendo informaes para que cada um pudesse entender e decidir, considerando as
Herbert Daniel, que foi para a Abia convidado por Silvia Ramos em 1988, tornou-se
rapidamente uma das principais vozes da instituio. Homossexual, com uma trajetria militante
contra a ditadura e pelos direitos homossexuais, mesmo sem estar vinculado a grupos gays, foi exilado
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
115
O socilogo Herbert de Souza, o Betinho, teve diagnstico de aids depois da fundao da Abia.
116
Referindo-se a programas extensos de TV, em contraposio s chamadas publicitrias curtas, de cerca de meio minuto
que compunham as campanhas governamentais.
!
! *)"!
entre 1974 e 1981, sendo o ltimo anistiado do pas a regressar. Em 1989, descobriu-se soropositivo e
fundou o Grupo Pela Valorizao, Integrao e Dignidade do Doente de Aids (Pela VIDDA), primeiro
grupo criado por pessoas vivendo com aids do pas e que assumiu um perfil poltico-assistencialista,
Com a entrada das associaes especficas de luta contra a aids, houve uma mudana no
espao militante. Se anteriormente esse espao era dominado pelos grupos homossexuais, para os
quais a aids era um tema transversal, um dos diversos problemas enfrentados pela comunidade gay,
assim como para grupos de talassmicos e hemoflicos, menos atuantes por no desejarem vinculao
com mais um fator de estigma e discriminao; os grupos especficos de luta contra a aids, surgiram
buscando se distanciar da causa homossexual e tendo como tema central o controle da epidemia da
aids, a exemplo do Gapa e da Abia, passaram a assumir a posio dominante. Apesar do Gapa ser a
primeira associao, a Abia rapidamente adquiriu um status dominante nesse subespao devido ao
corpo de experts que conseguiu agregar, o capital social de alguns membros do seu conselho
consultivo e seu potencial para a captao de recursos, bem como a penetrao de seus representantes
nos meios de comunicao, em especial de Herbert de Souza e Herbert Daniel. Vale destacar que
alguns agentes desse espao militante, como Betinho e Paulo Bonfim, assumindo a direo dessas
instituies, conseguiram converter seu capital militante em capital poltico e exercer influncia
Da mesma forma, a entrada do grupo Pela Vidda, no incio da dcada de 1990 no espao
outros grupos com essa caracterstica, como Grupo de Incentivo a Vida (GIV), em So Paulo,
VHIVER, de Belo Horizonte (1993), a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids (RNP+)
(1994) e o Movimento Patrocine a Vida, de Santos (1996) (Contrera, 2000; Galvo, 2000).
!
*)'!!
Considerando a proposta de Brown, Zavestoski et al. (2004) para a anlise dos movimentos
sociais em sade, verifica-se que no subespao militante do espao aids existe a convivncia das trs
categorias de movimentos:
luta pelos direitos dos homossexuais, pelos grupos de profissionais do sexo e de mulheres;
b) Movimentos de sade incorporados, onde alm dos grupos de luta especfica contra a aids,
principalmente nos anos iniciais da epidemia, quando o controle do sangue ainda era um
problema; e
reforma sanitria que militavam tambm nas associaes de luta contra a aids, no sendo a
aids uma questo central para a reforma sanitria, mas bandeira de alguns agentes que tinham
As disputas entre esses grupos ficaram bastante evidentes nos Encontros Nacionais de
reunindo os trs Gapas existentes poca (So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Em 1990, no
encontro de Porto Alegre, j contava com a participao de outras instituies, como GGB, Abia e
Iser, quando foi proposta a criao de uma rede brasileira de solidariedade, a ser discutida em um
frum ampliado, em abril de 1990, na cidade de Santos. As disputas ao interior do espao militante
davam-se entre as associaes de luta especfica contra a aids e os grupos onde a aids apareceu como
!
! *)(!
b) Viver com HIV/aids (se inclui apenas aqueles com HIV/aids ou incluiu infectados e no
d) Uso do termo tcnico: homens que fazem sexo com homens HSH (apndice VII) (para
enquanto para outros militantes e profissionais da aids, o termo contribui para a incluso de
(...) afirmo que no Brasil (e talvez devido ao hipottico preconceito) a maioria dos homens
que tm relao sexual com outros homens no se considera e no considerada
Homossexual. Afirmo que o termo Homossexual (ou seus sinnimos, todos pejorativos)
entendido (!) pela quase totalidade da populao brasileira como referente a indivduos
que tm certos trejeitos afeminados e que so considerados marginais, sem vergonhas,
ridculos, doentes, viciados, ligados prostituio e ao crime(...) (Paulo Fatal. Invicta:
aids aqui. 1988. p. 26)
!
Outro espao onde eram tratadas as questes relacionadas epidemia e que permite a
Com a chegada de Maria Leide na DNDS, em fevereiro de 1986, foi realizada uma reunio
Programa Estadual de Aids de So Paulo, na qual foi traado o primeiro plano de ao e foi criado um
comit assessor de aids, denominado Comit de grupos de risco (Figura 8) (Oliveira, 2008).
O Comit foi histrico e coordenado por Paulo [Teixeira] inicialmente tendo grande
ajuda de Jair Ferreira do Rio Grande do Sul, Lucia [Amaral], Eliana [de Paula] da
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
117
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP.
118
Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ;.
Luiz Roberto de Barros Mott. Entrevista realizada em 23/03/2011, Salvador, BA.!
!
**)!!
A partir desse Comit, com a chegada de Lair Guerra, foi criada a Comisso de
Assessoramento em Aids, que se tornou responsvel pela elaborao do discurso de autoridade com
relao aos principais dilemas relacionados epidemia da aids no pas, quando ainda havia pouco
conhecimento sobre a doena e no existia uma resposta teraputica. A Comisso tinha carter
sete membros natos: Conselho Federal de Medicina (CFM), Conselho Federal de Odontologia (CFO),
do Centro Nacional de Referncia em Aids, os diretores dos Centros Nacionais de Referncia das
personalidades de notrio saber e reconhecida atuao no controle da aids, indicados pelo Ministrio
da Sade (Brasil, 1986a), contudo no houve uma relao nominal de quem eram esses
representantes e nem foram localizadas as atas das duas reunies realizadas nesse perodo (Brasil,
1994a; 2003b).
!
! ***!
Figura 8 Primeira reunio do Comit de grupos de risco de aids, Ministrio da Sade, 1986: Paulo
Bonfim e Edward MacRae, fundadores do Gapa-SP; Luiz Mott, GGB; um representante dos
hemoflicos; Maria Leide, Diretora da DNDS/Programa de AIDS; Darcy Valadares e uma tcnica da
Educao em Sade do MS. Em discusso a proposta da primeira grande campanha de aids. (Foto:
Luiz Mott, arquivo da Dra. Maria Leide Wan Del Rey de Oliveira)
A partir de 1987, a sua denominao foi modificada para Comisso Nacional de Controle da
indicando a instituio de cada participante. Os 10 membros da comisso foram indicados pela equipe
Lair Guerra, biomdica, e de Hlio Pereira Dias, assessor jurdico do Ministrio da Sade (Quadro 9).
Assim, houve um retrocesso no nmero de componentes e a excluso do Gapa (Brasil, 1987b), o que
Entre 1986 e 2001, foram publicadas 08 portarias que alteraram a composio e denominao
cada momento. Em 1994, sofreu uma reformulao e recebeu a denominao pela qual conhecida at
hoje: Comisso Nacional de Aids (Cnaids) (Brasil, 1986a; 1987b; 1988e; 1992; 1994a; c; 1996;
2000a; b; 2003b).
!
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incluindo alm do Gapa-SP, outras associaes interessadas na epidemia da aids como GGB, Abia,
Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), Conselho Nacional de Igrejas Crists
sociais, que construam o discurso oficial (Brasil, 2003). A redao das normas/relatrios, segundo
!
! **#!
Pedro Chequer, era delegada ao mdico infectologista Vicente Amato Neto, professor de Doenas
Infecciosas Parasitrias da Faculdade de Medicina da USP119 , apontando mais uma vez para a
posio dominante dos mdicos nos diferentes subespaos do espao aids. No perodo de 1986,
quando foi criada, at 2001, foram realizadas 63 reunies da Cnaids (Brasil, 1994a; 2003b).
Na primeira gesto de Lair Guerra (1986 a 1989), a discusso dos pontos de pauta resultavam
subcomisses de especialistas para a definio de normas tendo como base essas recomendaes, que
incluam membros e no membros da comisso, como no caso da definio dos critrios para uso do
elaborado pela Comisso Nacional de Controle e Preveno da Sida/Aids, deixa claro o seu papel na
Ou seja, naquele perodo, a Comisso era parte do Estado e teve importante papel tcnico e
poltico, assessorando o Programa na definio das estratgias a serem adotadas (Brasil, 1994a).
Contudo, em outras instncias governamentais isso nem sempre ocorria, a exemplo da obrigatoriedade
da testagem para admisso e nos exames peridicos das foras armadas, que ia contra a orientao
tico-legal da Comisso. Essa orientao foi revogada em 2001 atravs de ao civil pblica (Portaria
n. 12/DGS, de 25 de janeiro de 1989) (Brasil, 2003). De modo que a referida comisso era
reconhecida principalmente dentro do espao aids, o que implicava poder simblico, mas no fora
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
119
Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF.
120
Por exemplo os documentos Recomendaes sobre o uso de AZT no pas, posicionamento inicial acerca da Aplicao
de teste anti-HIV para estrangeiros e o documento Crianas e adolescentes em situao de risco, os dois ltimos
publicados inclusive no Boletim Epidemiolgico (ano I, n. 8; ano II n. 10);
!
**$!!
Para Bourdieu, a comisso uma inveno organizacional que aglutina agentes com o
objetivo de fazer coisas que no fariam isoladamente121 . A comisso produz efeitos simblicos da
entrada em cena do oficial, d conformidade oficial representao oficial, elabora uma (nova)
definio de um problema pblico, elabora uma soluo, um relatrio, que se torna discurso de
incorporadas como polticas. Do seu surgimento at o final da primeira gesto de Lair Guerra em
(Conic), mas outras instituies das diferentes tradies religiosas tambm tiveram participao ou
contribuio das diferentes tradies religiosas (Galvo, 1997; Garcia, Laboy et al., 2009; Garcia e
Parker, 2011; Murray, Garcia et al., 2011). Esse estudo no teve como objetivo abordar os aspectos
e, do ponto de vista religioso, a transgresso moral, a questo religiosa algumas vezes emergiu nas
falas dos entrevistados, denotando a importncia de analisar o papel dos agentes desse campo na
configurao da poltica brasileira para controle epidemia da aids no pas, em especial para as
estratgias de preveno.
A anlise apresentada nesse tpico foi embasada em alguns fatos histricos identificados nas
entrevistas e em anlise documental, bem como, reviso bibliogrfica sobre o tema resposta religiosa,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
121
La commission est une invention organisationnelle (...) qui consiste mettre les gens ensemble de telle manire qutant
organiss de cette faon, ils font des choses quils ne feraient pas sils ntaient pas organiss comme a. (Bourdieu, P. Sur
l'tat: cours au Collge de France 1989-1992. Paris: ditions Raisons d'agir ditions Seuil. 2012 p. 49)!
!
! **%!
No Brasil, at a dcada de 1970, havia uma hegemonia da religio catlica entre os brasileiros,
portuguesa e do status de religio oficial at 1891122. Atualmente, a religio catlica continua sendo
diversidade de outros grupos religiosos, em especial de evanglicos, que passaram de 15,4% em 2000
doena fatal tornavam a capacidade de resposta religiosa no nvel local, por vezes, maior que a do
prprio sistema de sade, apesar de a doena historicamente ter sido associada pela religio ao pecado.
Inicialmente, o discurso religioso, em especial da igreja catlica, mas tambm das igrejas
vista os principais grupos atingidos pela epidemia (homossexuais, usurios de drogas injetveis e
profissionais do sexo). Esse ponto de vista reforava o estigma e a discriminao associados aos
grupos de risco. A aids era denominada por Dom Eugnio Salles, arcebispo do Rio de Janeiro, como
um castigo divino, como o preo a pagar pelas transgresses cometidas (Galvo, 1997; Parker,
2009).
Vale lembrar, contudo, que D. Eugnio Salles teve importante papel na viabilizao da
Banco do Brasil, para a reconsiderao da proposta, inicialmente rejeitada pelo responsvel pela
avaliao do projeto, que possibilitou a criao da rede nacional de laboratrios para isolamento e
aids nas diferentes tradies religiosas foi o papel desempenhado na assistncia e preveno,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
122
De acordo com a Constituio Federal de 1891, seco II, artigo 72, 7o: Nenhum culto ou igreja gozar de subveno
oficial, nem ter relaes de dependncia ou aliana com o Governo da Unio ou dos Estados.
!
**&!!
sexualidade124 , a aids implicou tambm a necessidade de novas prticas relacionadas aos rituais,
tesouras, lminas de barbear e outros) (Galvo, 1997; Epega, 1998; Silva, 1998), e condutas em
situaes envolvendo soropositividade dos filhos de santo do terreiro (Galvo, 1997; Epega, 1998;
Silva, 1998), alm da formao de multiplicadores (Galvo, 1997). Muitas aes foram iniciativas de
Treinamento DST/Aids So Paulo (CRT-SP) e Grupo Gay da Bahia (GGB) (Galvo, 1997).
Assim como no campo mdico, burocrtico e no espao militante, So Paulo tambm foi
Paulo Evaristo Arns, implantou o Projeto Esperana, que promovia atendimento jurdico, apoio
religioso e distribuio de cestas bsicas. D. Paulo teve como brao direito nesse Projeto o padre
Anbal Gil Lopes125(Galvo, 1997), tambm mdico e pesquisador, ou seja, a configurao da primeira
iniciativa no campo religioso, ento, teve como um dos seus principais agentes um padre mdico.
Ainda que essa no tenha sido uma situao frequente, evidencia mais uma vez a dominncia do
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
123
A PRAIDS uma casa para atendimento de doentes com HIV/aids, mantida pela Viso Mundial em convnio com o
Centro Evanglico de Apoio Vida, Ceavi, na zona sul de So Paulo.
124
Segundo estudo conduzido pelo Centro Baiano Anti-Aids, entre os pais e mes de santo de 500 terreiros em Salvador,
82% disseram aceitar homossexuais, enquanto na populao brasileira em geral a rejeio a esse grupo chegava a at 80%.
(Mott, L. Os candombls da Bahia e a AIDS: pesquisa em 500 terreiros de Salvador. In: Mott, L. e Cerqueira, M. (Ed.). As
religies afro-brasileiras na luta contra a AIDS. Salvador: Centro Baiano Anti-Aids, 1998. Os candombls da Bahia e a
AIDS: pesquisa em 500 terreiros de Salvador, p.9-28)
125
Filho de uma famlia de pesquisadores, Anbal graduou-se mdico pela USP em 1973. Ainda durante a graduao
resolveu cursar em paralelo o curso de Teologia do Seminrio Arquidiocesano de So Paulo. Foi ordenado padre em 1973
com autorizao do Papa Paulo VI por no ter cumprido as exigncias mnimas para o ingresso oficial na igreja em funo da
formao em paralelo com o curso de medicina. poca, j era doutor em Fisiologia de rgos e Sistemas pela USP (1976)
e tinha feito ps-doutorado na rea de Biofsica de Processos e Sistemas na Universidade de Yale (EUA) (Gamboa,
T.Habemus Padre.Disponvel em: <http://www.olharvital.ufrj.br/ant/2005_07_21/2005_07_21_historiaviva.htm>. Acesso
em: 12/10/2012.).
!
! **"!
em 1988, do Grupo Religioso de Educao, Apoio e Solidariedade, de carter ecumnico, que buscava
definir reas de atuao e capacitar integrantes das diferentes religies; e no dia 1o de dezembro de
1988, dia mundial de combate aids, 20 lderes religiosos participaram de ato ecumnico na Catedral
O principal conflito entre o discurso do campo burocrtico e o campo religioso sempre esteve
relacionado ao uso do preservativo, em especial para as religies de tradio crist, onde predominam
os conceitos relacionados ao campo da moral. Para a igreja, as campanhas que incentivavam o uso do
preservativo para preveno da aids eram um estmulo promiscuidade sexual (Galvo, 1997; Parker,
2009).
Estudos tm evidenciado uma divergncia entre o discurso oficial da igreja catlica, proferido
alguns de seus agentes, principalmente no nvel local. Neste ltimo nvel, as lideranas eclesisticas
locais adotavam posies mais flexveis, semelhante quela da instituio com a qual a diocese
conseguia articular a resposta epidemia (Parker, 2009; Murray, Garcia et al., 2011).
preservativos. De acordo com o levantamento junto a terreiros de Salvador, realizado pelo Centro
informao (15%) como melhores formas de proteo, seguidos da prtica de sexo seguro, utilizao
O fato de Lair Guerra, primeira coordenadora do Programa Nacional de DST/aids ser batista,
!
**'!!
(...) a igreja queria interferir, mas eu acho que foi um momento favorvel
porque a Lair era batista e a interferncia da igreja catlica era vista como uma
coisa esquisita, protestante e a igreja catlica romana. (...)qualquer voz de
interferncia catlica, era mais que a interferncia do estado l, era uma ofensa
do ponto de vista da ideologia religiosa. (...) Ento isso ajudou sabe, ajudou por
que talvez se fosse ao contrrio fosse mais aquiescente, n? J imaginou se
fossem os catlicos carolas, por exemplo, ia ser muito mais aquiescente
interveno da igreja catlica. (...) (Pedro Chequer, entrevista realizada em
03/08/2011)
Contudo, percebe-se que nem sempre o discurso oficial ficou livre da interferncia do campo
religioso, em especial da igreja catlica, predominante no pas, o que pode ser ilustrado pela censura
prvia imposta campanha de 1987 pelo Ministro da Sade que resultou na substituio de termos
como camisa de vnuse coito anal, pelos termos preservativo e relao sexual, por sugesto
da CNBB126.
Essa articulao entre agentes de diferentes subespaos foi uma marca da resposta brasileira
vises, resultando em uma resposta estatal precoce, baseada nos princpios propostos pela Reforma
possibilidades teraputicas da poca e da estrutura do sistema nico de sade brasileiro que comeava
a ser implantado. A criao de novas instituies especializadas naquele primeiro momento, como
! !
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
126
Pastoral pede clareza na campanha. Folha de So Paulo. So Paulo. 26/02/1987 1987.
!
! **(!
grupo afetado quele momento pela aids, o movimento gay teve importante papel na divulgao de
informaes acerca da doena e sua preveno, assim como demandou uma resposta governamental.
A ocorrncia de casos concentrava-se na maior cidade e principal centro econmico do pas, a cidade
de So Paulo, onde tambm surgiu, no final da dcada de 1970, o primeiro grupo homossexual do
Brasil: o grupo Somos, a partir do qual o referido movimento organizou-se no pas. Apesar de em um
primeiro momento o movimento gay ter negado a doena, teve papel fundamental no reconhecimento
formulava uma poltica nacional, que era seguida e operacionalizada pelas unidades federativas. Em
relao aids, diversas aes comearam a ser implementadas em So Paulo, no Rio de Janeiro e no
Rio Grande do Sul, mesmo quando o Ministrio da Sade ainda no tinha proposies para atuao
frente a nova doena e at mesmo negava a necessidade de interveno. A SES-SP foi pioneira,
implantando o seu Programa de DST/aids no segundo semestre de 1983, sendo seguido por outros
governos estaduais como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A poltica nacional de combate
epidemia comeou a ser implantada em 1985, ano de preparao para a 8a Conferncia Nacional de
Sade, quando o movimento da reforma sanitria comeava a debater nacionalmente seu projeto, e
tambm ano da eleio de Tancredo Neves, com diversos quadros do movimento assumindo postos
nas secretarias estaduais de sade desde 1983 e no Ministrio da Sade a partir de 1985, e quando
Foi a partir da dcada de 1990, com a efetiva definio de dispositivos legais para a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
127
O AZT (zidovudina) foi registrado no FDA em maro de 1987; o ddI (didanosina) em 1991; o ddC (zalcitabina) em 1992;
o d4T (estavudina) em 1994; o 3TC (lamivudina) e o SQV (saquinavir) em 1995; o RTV (ritonavir), o IDV (indinavir) e
oNVP (nevirapina) em 1996; o NFV (nelfinavir), DLV (delavirdina) e o AZT+3TC em 1997; o EFV(efavirenz) e o ABV
!
*+)!!
garantia de recursos financeiros atravs do acordo de emprstimo junto ao Banco Mundial que a
poltica nacional de aids consolidou-se. Este captulo trata do perodo de 1990 a 2001, abordando a
A dcada de 1990 iniciou com o primeiro governo federal eleito de forma direta atravs do
voto popular aps o perodo da ditadura militar. O governo Collor foi marcado pela poltica neoliberal
de reduo do Estado embasada numa reforma econmica e administrativa, com importante corte de
gastos pblicos (Faleiros, 2006), o que implicou em grandes entraves para o avano da Reforma
Sanitria e do Sistema nico de Sade. Ainda que tenham sido promulgadas as Leis Orgnicas da
Sade (Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90), a publicao da Norma Operacional Bsica NOB 01/91
subverteu diversas conquistas dessas leis. Os retrocessos polticos levaram a uma desmobilizao do
movimento sanitrio, dando espao para uma maior protagonismo dos gestores municipais e estaduais.
Ao mesmo tempo, se a legislao ampliou o acesso da populao aos servios pblicos de sade,
houve uma reduo da ordem de cerca de 50% dos recursos destinados sade (Paim, 2008).
Foi nessa conjuntura que Alceni Guerra128 assumiu o Ministrio da Sade, nomeando para
Secretrio Nacional de Assistncia Sade, Ricardo Ackel129, que convidou para assumir a Diviso
Nacional de Aids o mdico Eduardo Jorge Bastos Crtes, professor da UFRJ desde 1977, instituio
na qual se formou e fez Residncia em Terapia Intensiva, com mestrado em Oncologia pela
Universidade da Califrnia (Ucla), um dos principais centros de estudo de aids do mundo, onde
estudou as neoplasias da aids. Crtes havia retornado dos EUA expressando uma posio de oposio
poltica nacional, com algum destaque na imprensa. Na sua opinio, a estratgia governamental
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(abacavir) em 1998; APV (amprenavir) em 1999; o LPV (lopinavir+ritonavir), o ddiE (didanosina entrica e o
ABV+AZT+3TC em 2000; e o TNV (tenofovir) em 2001.
128
Mdico formado pelo UFPR (1972), com Ps-Graduao em Pediatria tambm pela UFPR (1973-1974), Chefe do Servio
de Medicina Social do Inamps da agncia da Previdncia Social em Pato Branco (1976-1979), Superintendente Regional do
Instituto de Assistncia Mdica da Previdncia Social do Estado do Paran (1979-1982), elegeu-se Deputado Federal em
1983-1987 pelo PDS-PR e em 1987-1991 pelo PFL-PR; e Prefeito do Municpio de Pato Branco-PR, 1997-2000, tambm
pelo PFL. Ministro de Estado de Sade, 1990-1992, durante o governo Collor.
129
Mdico, Professor Assistente da UFPR (17/06/1980-20/11/1997), Diretor do Hospital de Clnicas da UFPR (1986-1990),
Presidente do Inamps e Secretrio Nacional de Assistncia Sade, durante o governo Collor de Melo (1990-1992).
!
! *+*!
Crtes sobre rdeas curtas131, pois considerava que Lair Guerra tinha autonomia excessiva.
A forma como foi conduzida a troca de dirigentes, com Lair Guerra recebendo a notcia da sua
(...) as pessoas ficaram com medo de serem demitidas. Ento todo mundo se ajeitou. Como
gente saiu de outros lugares e veio tambm. Ento, eu recebi aquilo realmente arrasado,
porque de quarenta e poucas pessoas, ficaram l, quatro. E [devido] a reforma
administrativa, eu s ia poder ter uma secretria, que era no organograma das divises que
foi uma briga grande que eu tive l, uma secretria e dois assessores. Eu tinha trs DAS pra
dar. (...) eu fiquei inicialmente com menos de 10 pessoas. (Eduardo Jorge Bastos Crtes.
Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011)
uma descontinuidade para a poltica de aids, no apenas relacionada entrada de um novo gestor e aos
cortes de recursos do setor sade, mas devido ao esvaziamento da equipe, a perda do status de
prioridade134 , alm do acesso limitado do novo gestor do programa ao Ministro, pelo menos at o
incio do segundo semestre de 1991, quando a situao do programa foi apresentada por Eduardo
O Alceni Guerra incluiu a aids dentro das prioridades do ministrio depois da famosa
reunio que eu disse em pblico que o Programa de aids estava aqum das necessidades para
o controle da epidemia no Brasil. Foi uma reunio fechada, mas pblica, com todo Estado
maior e Estado menor. Na hora que eu fui fazer o meu relato, eu tive a coragem de dizer isso
pra ele. E ele ficou danado da vida, interrompeu a reunio e saiu. No dia seguinte ele
recomeou a reunio e ele no me demitiu. Ele at valorizou isso e incluiu a aids na reunio
estratgica que ele tinha s segundas-feiras (...). Foi quando teve a grande mudana da aids
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
130
"Africanizao" pode mudar quadro no pas. Folha de So Paulo. So Paulo. 19/08/1988 1988; Crtes ir pesquisar o
retrovrus HTLV-I. Folha de So Paulo. So Paulo. 30/10/1988 1988; Operrios podem ter trazido da frica, diz mdico.
Folha de So Paulo. So Paulo. 30/10/1988 1988.
131
Rdeas curtas. Folha de So Paulo. So Paulo. 26/04/1990 1990.
132
(...) muita gente saiu, acho que foi mais por questo de fidelidade, como tudo se processou. Porque eu trabalhei
diretamente com a Dra. Lair desde a criao. Ela fica sabendo que no mais diretora por um jornal do Rio de Janeiro. (...)
Ela ficou sabendo por algum do Rio de Janeiro que ligou pra ela e disse: Olha, quem vai ser o novo coordenador o
Eduardo Crtes. (...) a gente achou que no foi uma maneira poltica e correta de se exonerar uma pessoa que se dedicou a
essa luta, brigou pela luta. (...) eu no ia me sentir a vontade com uma pessoa que eu no conhecia, teve seus mritos claro,
mas eu no conhecia. Ento, como eu era do quadro do ministrio, preferi me ausentar esse momento at para no atrapalhar
o trabalho dele aqui e deixar ele mais a vontade pra montar a equipe dele como ele quisesse. (Ieda Fornazier, entrevista
realizada em 05/08/2012.)
133
Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF; Ieda Fornazier. Entrevista realizada em
04/08/2011, Braslia, DF.
134
(...) antes, como eu te disse, no era prioridade. Na semana que eu entrei teve uma entrevista do Alceni Guerra, no Rio,
que ele veio pedir a Xuxa, que na poca estava no auge, pra fazer parte na campanha de crianas, n? De diarreias,
desnutrio infantil e tal. E a imprensa sempre perguntando sobre aids. Ele falou assim Que aids? Aids no um problema.
Problema diarreia e mortalidade infantil. (Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011,
07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.)
!
*++!!
no Brasil, que eu j tinha ido ao Banco Mundial e ele incluiu a aids e a agente acertou tudo.
(Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e
08/12/2011)
pelo HIV, Crtes foi visto inicialmente como uma possibilidade de revitalizao do Programa
Nacional, cuja gesto anterior era criticada pelo tecnicismo e centralizao (Parker, 2003). Contudo,
sem conseguir articular-se com os pesquisadores da Fiocruz, dominantes no campo cientfico, e com a
oposio das ONGs em reao campanha veiculada em 1991135, mesmo com bons relacionamentos
nos EUA, Eduardo Crtes permaneceu isolado. Ou seja, se no espao aids norte-americano ele
relacionava-se com o plo dominante, ligado oncologia, no Brasil, seu capital cientfico ao interior
do espao aids era restrito. A oncologia, sua especialidade de origem, no teve papel preponderante na
resposta a epidemia da aids no Brasil, como teve nos EUA. De forma que Eduardo Crtes, at aquele
momento, ao interior do espao aids no Brasil, era um recm-chegado tanto no campo cientfico como
partir do momento que assumiu a posio no ministrio que comeou a ganhar experincia na gesto.
Alm disso, tinha como fator complicador a ausncia de prioridade dada pelo Ministro epidemia da
aids.
No perodo de maro de 1990 a janeiro de 1992, quando Eduardo Crtes esteve na direo do
importante ressaltar que a gesto de Crtes iniciou-se quando a aids era manchete nas capas
de revistas voltadas para o pblico feminino, como Contigo e Amiga, onde houve a divulgao de
ator Lauro Corona. A veiculao constante de notcias e a exposio de imagens quase que
a morte dos artistas (1989, Lauro Corona e 1990, Cazuza) permitiram um acompanhamento da
evoluo da doena, evidenciada e materializada nos seus corpos. O preconceito em admitir a doena
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
135
As ONGS consideravam a campanha ameaadora pelo apelo ao medo da aids e do doente de aids, assim como criticava a
omisso do governo federal frente epidemia de aids!
!
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fatos pela famlia e pelo prprio doente (Faustoneto, 1991). Da mesma forma, em 1991, foi
Cnaids passaria de uma comisso de especialistas dos campos mdico, burocrtico e do espao
associativo para uma comisso de personalidades/ pessoas famosas, talvez com maior visibilidade e
capacidade de sensibilizao da sociedade brasileira, mas com menor poder tcnico e cientfico e
mesmo com pouca representatividade dos diversos grupos, o que poderia resultar inclusive em uma
menor legitimidade frente elaborao da poltica e do discurso oficial. Contudo, com o retorno de
Lair Guerra, em maro de 1992, essa comisso no chegou a se concretizar. As pessoas chegaram a
ser contatadas, a comisso foi divulgada no discurso do presidente Collor em comemorao ao dia
mundial de combate aids, em 30 de novembro de 1991, mas no chegou a ocorrer nomeao dos
editorial na gesto de Crtes. Nos anos iniciais (1987-1989), o boletim era um veculo de comunicao
do Programa Nacional que alm das informaes epidemiolgicas apresentava textos acerca das
!
*+$!!
Nacional, resultados de pesquisas ou mesmo anlises da situao epidemiolgica. Sua publicao era
mensal, sempre relativa a 4 semanas epidemiolgicas e impresso em papel branco nas cores vermelha
e preta136 (figura 9). Os dois primeiros nmeros da gesto de Eduardo Crtes mantiveram o formato
anterior, trazendo a traduo de artigos publicados em revistas internacionais, alm dos dados
epidemiolgicos.
objetivos de reduzir custos e buscando assemelhar-se ao padro internacional adotado pela OMS e
pelos EUA, o Boletim Epidemiolgico comeou a ser impresso em tamanho ofcio na prpria grfica
do Ministrio, apresentao que s foi modificada no ano 2000, quando o meio eletrnico passou a ser
a principal forma de difuso do Boletim. A maior modificao foi na proposta editorial: o boletim
passou a apresentar apenas os dados epidemiolgicos consolidados em tabelas, sem qualquer relato,
anlise ou divulgao tcnica de assuntos relacionados epidemia da aids (figura 10). O editorial do
Boletim no 11 informava que apresentaria artigos assinados por especialistas a partir da edio
seguinte. O que, contudo, no aconteceu na gesto de Crtes. O Boletim deixou de ser um veculo de
consolidada em tabelas. Com o retorno de Lair Guerra, em 1992, foi mantida a forma de apresentao,
mas a proposta editorial passou a incorporar novamente anlises da situao epidemiolgica, relatos
De acordo com Eduardo Crtes, durante sua gesto, foi realizada uma reviso dos dados e
atraso na publicao dos boletins na mudana da gesto de Lair Guerra para a de Crtes, bem como
uma irregularidade da publicao de nmeros de acordo com Parker (2003). A anlise dos boletins
realizada no presente estudo, contudo, no foi capaz de evidenciar esse atraso, haja vista o perodo
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
136
De acordo com um dos entrevistados, antes desse Boletim impresso em grfica foram confeccionados artesanalmente
alguns nmeros com as primeiras informaes epidemiolgicas, contudo esses no foram localizados. (Gerson Fernando
Pereira. Entrevista realizada em04/08/2011, So Paulo, SP.)
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Figura 9b Boletim Epidemiolgico ano I n. 2, semana epidemiolgica 30 a 34/1987, parte interna.
Figura 9b Boletim Epidemiolgico ano I n. 2, semana epidemiolgica 30 a 34/1987, parte interna.
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Com a mudana da equipe tcnica, a suspenso das reunies da Cnaids e a nova abordagem do
Boletim Epidemiolgico houve uma quebra nos canais de comunicao anteriormente estabelecidos
pesquisadores, o que pode ter contribudo tambm para o isolamento do coordenador nacional.
disseminadora de pnico e medo (Abia, 1991b; Galvo, 2000; Nascimento, 2005), contendo peas
para a TV, a campanha tinha trs fases previstas durante o ano de 1991.
(...) era uma campanha de longo prazo.(...) a gente foi criticado, mas a nica avaliao que
teve, no Correio Brasiliense, em dezembro de 1990, mostrou que mais de 80% da populao
tinha aprovado aquela campanha. Mas os entendidos de aids falaram que era um horror (...) Foi
a primeira de uma srie programada, em que a gente primeiro ia criar o choque, depois ia fazer
a campanha contra o preconceito (...) As pessoas no queriam que a gente falasse isso. No pode
falar que a aids no tem cura. (...) Tirando as doenas infecciosas, amigdalite, pneumonia,
tuberculose, sfilis, gonorreia, o que voc cura? Voc no cura diabetes, voc no cura
hipertenso arterial, voc no cura cirrose, voc no cura enfisema. A gente usava no tem
cura, como nenhuma tem, mas no queriam dizer isso, e era aquela coisa, aquela dificuldade.
(...). (Eduardo Crtes, entrevista)
Na primeira fase, foi veiculado um filmete de trinta segundos com algumas pessoas falando,
no estilo depoimento, cuja ideia, de acordo com Eduardo Crtes, era (...) comparar trs doenas
conhecidas com essa doena nova137 e mostrar que todos so vulnerveis ao vrus, portanto deveriam
se cuidar.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
137
Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.
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Figura 10 Boletim Epidemiolgico ano III, n. 13, semana epidemiolgica 40 a 44/1990, capa e p.3.
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Essa primeira pea publicitria devido aos inmeros protestos por parte das ONG/Aids,
permaneceu pouco tempo no ar, segundo texto veiculado no endereo eletrnico do prprio Ministrio
da Sade onde est o vdeo138 . Vale destacar que este o nico vdeo cujo texto explicativo refere qual
era o governo e o gestor do Programa Nacional poca da sua produo e a repercusso da campanha
entre as ONGs, apresentando Eduardo Crtes como diretor do Programa de Conscientizao da Aids,
termo no localizado em qualquer material do Ministrio da Sade ou na imprensa, que quela poca ainda
era Diviso Nacional de DST/Aids, o que evidencia a relao conflituosa com o grupo que o sucedeu na
assim aids no tem cura, mas preconceito tem139, enquanto a terceira fase abordaria as formas de
transmisso vertical)140 (figura 12). A crtica dessa vez estava relacionada ao fato da campanha no
tratar do uso do preservativo como principal forma de preveno141 . Foi um perodo em que as idias
do gestor da poltica nacional no estavam em consonncia com a opinio das ONGs e de especialistas
que vinham destacando-se no enfrentamento epidemia no pas, bem como, de pouca participao e
articulao entre a burocracia estatal e os demais subespaos envolvidos na resposta aids no Brasil.
primeira que testa a vacina em humanos, junto com Uganda, Tailndia e Ruanda142. Conforme relatado
pelo ento coordenador, j havia ocorrido uma reunio trs meses antes, com participao de
representantes da OMS, na qual foi negociada a participao do pas em um esforo conjunto com
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
138
http://www.aids.gov.br/index.php?q=midia/1991-se-voce-nao-se-cuidar-aids-vai-te-pegar, acesso em 22/11/2012
139
Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.
140
Crtes, E. Opinio: Campanha de aids entra em sua terceira fase. Folha de So Paulo, Opinio, 16 de julho de 1991,
Cotidiano, p. 4-6!
141
Campanha anti-aids no fala sobre camisinha. Folha de So Paulo. So Paulo. 09/07/1991 1991.
142
Governo se recusa a testar vacinas contra aids sem saber resultados. Folha de So Paulo. 05/12/1991 1991.
143
Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.!
!
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Figura 11 Endereo eletrnico Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais que
apresentava o vdeo da campanha Se voc no se cuidar a aids vai te pegar, com destaque no texto
que faz referencia ao governo e ao diretor do Programa Nacional poca, acesso em 10/12/2012.
!
! "%"!
pesquisadores que iriam acompanhar a pesquisa, sem consulta prvia ao Ministrio da Sade, o
Ministro Alceni Guerra no aceitou participar nessas condies144, posio qual se opuseram as
com a OMS e elaboraram a primeira edio ou o nmero zero do Boletim Vacinas Anti-HIV/aids,
Dossi 01: Vacinas - Grupo PELA VIDDA - RJ / SP e ABIA http://www.giv.org.br/projetos/vacinas/cdrom/boletins/dossie0...
editado por um conjunto de ONGs145 (Figura 13).
Figura 13Como
Capa
copiardo Dossi Vacinas, elaborado pelos Clique
o texto. grupos paraPela Vidda RJ e SP e pela Abia
imprimir.
em abril de 1992.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
144
Ibid.
145
Gpv. Dossi I: Vacinas, . Rio de Janeiro: Grupo PELA VIDDA - RJ, Grupo PELA VIDDA - SP e ABIA. Abril 1992.
Beloqui, J. Uma histria de luta contada em dez edies. Boletim Vacinas Anti-HIV/Aids. So Paulo. no 10: 3-4 p. 2003.!
1 de 1
! 10/12/12 10:41
"%#!!
Embora tenha ficado frente do Programa Nacional de Aids por um perodo relativamente
curto (22 meses) quando comparado s gestes de Lair Guerra e Pedro Chequer, pode-se destacar pelo
menos 3 fatos importantes para a consolidao da poltica de controle da epidemia de aids no Brasil
(Anexo V);
' O incio das negociaes para o primeiro acordo de emprstimo junto ao Banco Mundial148 .
Figura 14 Notcia da Folha de So Paulo sobre a primeira compra de AZT pelo Ministrio da
Sade, em 22 de fevereiro de 1991.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
146
Sade recebe primeiro lote de AZT em abril. Folha de So Paulo. So Paulo. 22/02/1991 1991.
Teixeira, P.R. Polticas pblicas em AIDS. In: Zahar, J. (Ed.). Polticas, instituies e AIDS: enfrentando uma epidemia no
Brasil. Rio de janeiro: Richard Parker, 1997. Polticas pblicas em AIDS, p.43-68
147
Leia o discurso do presidente. Folha de So Paulo. So Paulo. 1/12/1991 1991.
148
Euclides Ayres de Castilho. Entrevista realizada em 05/05/2011, So Paulo, SP, Pedro Novaes Chequer. Entrevista
realizada em 03/08/2011, Braslia, DF; Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e
08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.!
1 sur 1
! "%%!
para a aids na rede pblica tenha se dado em um momento de presso e sem uma articulao prvia
com outros setores do governo149 , como o Ministrio do Oramento, Planejamento e Gesto, que a
oferta de medicamentos tenha sido escassa e irregular e que o acordo de emprstimo s tenha
nacional de aids na gesto seguinte. Pode-se destacar que a entrada de um mdico clnico na gesto do
Programa Nacional, com experincia prvia no tratamento de pacientes com HIV/aids em uma
realidade diferente da brasileira, com acesso de medicamentos para o tratamento dos doentes,
associado presso da mdia e das ONGs, contribuiu para o incio da implantao de uma poltica
momento, pode estar relacionada aos limites do desenvolvimento tecnolgico de uma teraputica
talvez o nico de um presidente abordando a questo da aids, o que evidencia a priorizao da questo
pelo governo federal a partir do segundo semestre de 1991. Aproveitando o interesse manifestado pelo
presidente que passou a questionar o Ministro da Sade sobre a doena, Eduardo Crtes sugeriu o
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
149
Eu fiz uma previso de custos e de remdios, eu tinha isso pronto. No dia que o Alceni me chamou l porque a televiso
estava l e ia cobrar dele e ele me perguntou quanto custaria os remdios, eu disse 30 milhes de dlares. (...) Foi a
primeira vez que eu conversei com ele. Ele mandou me chamar l correndo.(...) A nossa mdia de sobrevida era 6 meses. (...)
Eu vi as pessoas morrerem aos quilos, no tinha remdio, no tinha nada, no AZT, eu estou falando de remdio, no tinha
remdio pra tuberculose pras pessoas, porque no tinham previsto isso. No tinha remdio pra tratar Pneumocystis carinii.
Matava assim... voc via as pessoas morrerem por falta de remdio! Aquele negcio, eu me sentia pssimo. Por isso que eu
quis tanto organizar essa questo. (...) No apenas do AZT, antes do AZT, eu j tinha conseguido aprovar pra tratar todas as
infeces dos doentes de aids e isso foi assim uma mudana enorme. As pessoas estavam cegas, no tinham remdio, as
pessoas morriam de Pneumocystis carinii, ficavam alrgicas ao Bactrim que era o que tinha e no tinha pentamidina. No
tinha, no tinha, simplesmente no tinha. (Eduardo Jorge Bastos Crtes, entrevista realizada nos dias 15/06/2011,
07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ).
!
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Aids, devido a uma viagem do Presidente para a Colmbia no dia seguinte. Segundo Eduardo Crtes,
assim como acontece com todo pronunciamento presidencial, o texto foi elaborado pelo cerimonial do
(...) dois jovens diplomatas que iam l, que eram a interface do presidente comigo, (...) eles
que iam l com o discurso do Collor, pra escrever junto comigo, e eu recheava a questo tcnica.
Foram trs vezes com esse discurso, nas trs eu colocava falar de camisinha, nas trs o Collor
tirou, entendeu? No falou de camisinha. Mas eu colocava. (...) Eles iam l e a? Voc tem que
aprovar o discurso dele, eu recheava, recheava, colocava os grficos e a o Collor fez uns
bonequinhos, fez l os grficos pra mostrar... Foi isso que aconteceu. Foi o Itamaraty. Isso foi
coordenado, provavelmente, pelo Marcos Coimbra, que era o Embaixador, que era acho o chefe
da casa civil dele (...) E eu fiz a parte tcnica do discurso. (Eduardo Jorge Bastos Crtes.
Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011).
O texto foi publicado na ntegra pelo jornal a Folha de So Paulo, no dia 01 de dezembro
(Anexo V), Collor dizia que falava enquanto pai de dois adolescentes e Presidente da Repblica. O
texto dava destaque a questes tcnicas, apresentando informaes sobre a doena, considerada como
uma emergncia mdica, seus modos de transmisso e sua epidemiologia. A aids era caracterizada
como uma doena sem cura, mas evitvel, em expanso, que apesar de ter acometido no incio dos
predominando, entre esses ltimos, adolescentes de 13 a 19 anos, bem como avano para municpios
de menor porte. Ou seja, a aids era apresentada como uma doena que ameaava toda a populao, em
disseminao da doena atravs de milhares de pessoas que no sabiam estar contaminadas, mas
poderiam transmitir a doena. O discurso era contra o preconceito e a discriminao, promovia uma
atitude crist, de misericrdia e ajuda aos doentes, defendia a permanncia dos doentes no exerccio
profissional, mas no mencionava o uso de preservativo (sexo seguro) como uma das formas de
preveno e afirmava que a promiscuidade uma forma de comportamento que atenta para a prpria
vida, evocando a questo moral. Foram apresentadas as aes que o governo federal estava
implantando:
!
! "%)!
' a constituio da nova Comisso Nacional de Aids que teria por presidente o jogador Edson
Arantes do Nascimento, o Pel, com objetivo de mobilizar a sociedade para essa importante
municipais especficas150.
Por fim, conclamava toda a sociedade civil a se engajar na luta contra a aids e que a guerra
contra a aids seria vencida com a ajuda de todos e de cada um dos brasileiros, e, acima de tudo, com
a ajuda de Deus. A ambiguidade permeava todo o discurso, que dava nfase ora explicao tcnica,
samaritana (Arns, 1990), baseada na compreenso, misericrdia, solidariedade e ajuda aos que
sofrem, promovendo informaes sobre a doena, a assistncia aos enfermos, amigos e familiares,
levando formao de casas de apoio e atendimento domiciliar soropositivos (CNBB, 1996; Galvo,
1997; Parker, 2009), bem como o posicionamento contra a discriminao, como pode ser observado
Apesar de pregar que a aids podia atingir qualquer pessoa atravs da contaminao sangunea,
o discurso da CNBB continuava carregado de preconceito. A proposta era de uma educao sexual
que resgatasse a viso sadia da sexualidade humana, incentivando a viver a fidelidade na unio do
1996). Ponto de vista que se contrapunha quele dos homossexuais, que priorizavam o prazer.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
150
Na sequencia da reunio que marcou a priorizao da aids pelo governo, o Ministro Alceni Guerra levou a proposta de
criar programas municipais de aids, como j havia sido implantado para outras doenas. (...) Ele mandou uma carta pra cada
prefeito do pas, eu que coordenei essa operao, falando sobre aids, da necessidade de se criar um programa nas cidades.
(Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011, Rio de Janeiro, RJ.)
!
"%*!!
Caso Sheila
como resultado da consulta da escola Ursa Maior, que no aceitou a matrcula da menor
Sheila Caroline Cortopassi de Oliveira, de 5 anos, que j frequentava a escola, depois de ter
conhecimento que a menina era portadora do vrus HIV. O caso teve ampla divulgao na
mdia. Alm da CNBB, o mdico Vicente Amato Neto, consultado pela justia paulista, e a
Ayrosa Galvo e seu vice-presidente, Andr Vilella Lomar tambm se posicionaram contra
Fonte: Biancarelli, Aureliano. Pais vo a juiz para matricular filha com Aids. Folha de So Paulo, 1o
de maio de 1992, Cotidiano, p. 3-4.; A falta de informao e a aids. Folha de So Paulo, 30 de maio
de 1992, Cotidiano, p.3-3.!
clara essa viso. Excludos os casos de contaminao atravs do sangue, a adoo de comportamentos
baseados em valores de uma moral religiosa seria a nica alternativa segura para evitar a doena.
Nesse sentido, associava o sexo ao pecado e a aids era compreendida como uma punio. Considerava
que o objetivo das campanhas promovidas por rgos pblicos e outras instituies era transformar
prticas de risco em prticas mais seguras, mas que no eliminavam o risco da contaminao, o que
s seria alcanado atravs da adoo dos princpios da moral crist com relao ao valor da
Em 1995, D. Paulo Evaristo Arns passou a classificar o uso do preservativo como um mal
menor, ainda que no recomendasse o seu uso indiscriminado e tratasse a sexualidade como algo
negativo. Sua fala tambm apontava para a adoo de uma linguagem mais popular, usando o termo
camisinha, que a prpria igreja catlica considerava inapropriado nas primeiras campanhas.
!
! "%+!
diferena entre proclamar e garantir direitos. Irmo Henrique foi o responsvel pelas primeiras
articulaes entre o Programa Nacional, representado pelo seu diretor, Pedro Chequer, e o presidente
da CNBB, Dom Jaime Chamelo, que resultaram na criao da comisso de DST/aids da Pastoral da
Sade em 1999 (Costa Filho, 2004, Pastoral da Aids, 2012). Em 2001, a comisso foi desvinculada da
Pastoral da Sade e foi legalizada a Pastoral da Aids, tendo como bispo referencial Dom Eugnio
Rixen. A Pastoral da Aids era um servio de preveno ao HIV e assistncia aos soropositivos
assumido pela igreja cujo logotipo unia dois smbolos: a cruz que representava a solidariedade e o lao
(...) sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende os direitos daqueles e daquelas que
foram infectados pela aids. (Diretrizes Gerais da CNBB 2003-2006, n. 123)
Assim como aconteceu com a poltica Estatal, que incorporou os princpios e diretrizes do que
vinha sendo desenvolvido nos estados, na dcada de 90, a CNBB incorporou no seu discurso o que j
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
151
Apesar dos avanos na relao entre Programa Nacional e igreja catlica, em 2012, questes religiosas interferiram na
divulgao da campanha prevista para o carnaval. Voltada para os jovens homossexuais de 15 a 24 anos, grupo que
apresentou 10% de aumento no nmero de casos entre 1998 e 2010, enquanto entre os heterossexuais do mesmo grupo etrio
houve reduo de 20% (Brasil. Boletim Epidemiolgico - Aids e DST. Departamento De Dst, A.E.H.V. Braslia: Ministrio
da Sade. VIII 2011.), a pea apresentava dois homens homossexuais e tinha como slogan "Na empolgao pode rolar de
tudo. S no rola sem camisinha. Tenha sempre a sua". Mesmo aps o lanamento da campanha no Rio de Janeiro com
exibio do vdeo, a pea veiculada na TV pelo Ministrio da Sade foi substituda por outra na qual um casal heterossexual
falava de dados estatsticos que mostravam o crescimento da infeco entre jovens gays e da reduo do uso do preservativo.
O veto teria vindo do Palcio do Planalto segundo o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministrio da Sade, e
era atribudo ao receio do governo em contrariar grupos religiosos. A informao foi negada pelo Ministro da Sade,
Alexandre Padilha. (Formenti, L. ONGs acusam governo de discriminar gays. Estadao.com.br, 11/02/2012,
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,ongs-acusam-governo-de-discriminar-gays,834415,0.htm)
!
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emprstimo em 1991, os relatos de agentes que ocupavam posies distintas e at mesmo opostas, no
sentido de participarem de polos diferentes na disputa pela dominncia no espao aids (Eduardo
Quando o programa de aids passou a ser prioridade no Ministrio da Sade, sabe, a ns fomos
includos para o financiamento do Banco Mundial. (Eduardo Jorge Bastos Crtes. Entrevista
realizada nos dias 15/06/2011, 07/12/2011 e 08/12/2011)
Uma outra coisa que o Alceni fez, foi aceitar uma proposta do Banco Mundial para firmar um
acordo de emprstimo para o PN. Ele indicou, isso eu quero dizer sem provas documentais, o
Edmur Pastorello, para negociar junto ao Banco. O Edmur me chamou. Foi o Edmur e eu que
fizemos a carta de inteno para apresentar ao Banco, com palpites do Pedro Chequer. (...) o
Acordo de Emprstimo com o Banco Mundial s foi assinado, que passa pelo Senado, o Ministrio
da Fazenda e tudo mais, pelo Ministro Adib Jatene, mas foi uma iniciativa do Ministro Alceni
Guerra. A verdadeira iniciativa, por parte do Banco Mundial, foi da Maureen Lewis, uma norte-
americana que passou a adolescncia aqui no Brasil. (Euclides Ayres de Castilho, entrevista
realizada em 05/05/2011)
Em 1991. Na poca, Edmur Pastorello, que da USP, trabalhava como assessor do ministrio
para o Alceni Guerra. Ele convidou o Euclides. Eu era uma pessoa antema, por que antes eu
trabalhei (...) como diretor do CENEPI, na poca do clera. E como o ministro Alceni Guerra
quis esconder os bitos, eu denunciei, (...) ele me mandou para o Acre, no podia me demitir
porque eu era estvel no governo e ai o Euclides me chamou escondido porque ele no podia
saber que eu estava envolvido. Ai se fez as duas, trs primeiras pginas do que seria o embrio
do projeto de acordo do Banco Mundial, que o Dr. Adib Jatene assumiu. (...) Ns fizemos uma
reunio no prdio da FUNASA, no anexo que ficou a FUNASA, onde depois passou a ser CENEPI
e agora no sei o que mais, no mais CENEPI por que CENEPI no existe mais. E ai ns
discutimos alguns princpios e tal, que o Pastorello utilizou e depois o Pastorello continuou com o
Adib porque como era da USP, terminou continuando e a coisa aconteceu do primeiro acordo de
emprstimo. (Pedro Novaes Chequer, entrevista realizada em 03/08/2011)
milhes de dlares para o controle e preveno da aids, recurso que permitiu a elaborao de
materiais para bancos de sangue e laboratrios de sade pblica, contribuindo para a estruturao do
Programa e na preparao do acordo de emprstimo especfico (World-Bank, 1997). Mas foi o Brasil
que buscou o Banco para o financiamento da sua poltica de HIV/aids, em um momento em que este
produtivo por parte dos economistas (Beyer, Gauri et al., 2005). O financiamento de projetos
!
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especficos para controle da aids pelo Banco estavam restritos ao Zaire (1989) e ndia (1991), ainda
que diversos projetos inclussem componentes para o controle da aids e DSTs (World-Bank, 1993).
de janeiro de 1992. O Ministrio da Sade foi assumido interinamente pelo Ministro da Educao, o
fsico Jos Goldemberg, que acumulou as duas funes at 13 de fevereiro, quando o mdico
substitudo pela sua antecessora, Lair Guerra. A permanncia de Edmur Pastorello153 na assessoria ao
Ministro Adib Jatene permitiu a continuidade do processo de negociao junto ao Banco Mundial e,
sob a coordenao de Lair Guerra, o projeto foi concludo, tendo contado com a consultoria de vrios
ativistas na sua elaborao. O projeto seguiu ento para tramitao na Cmara dos Deputados e no
Senado.
iniciou-se um novo perodo na sade, mas mesmo com a troca de Ministros154, Lair Guerra manteve-se
O primeiro acordo de emprstimo junto ao Banco Mundial foi assinado em 1993, aps duas
Tambm conhecido como AIDS I, o projeto tinha como objetivos gerais a reduo da
responsveis pelo controle de DSTs e HIV/aids, atravs de um aporte financeiro de 250 milhes de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
152
Vaz, L. Adib Jatene o mais cotado para assumir a vaga de Alceni. Folha de So Paulo. So Paulo. 29/01/1992 1992.
153
Mdico sanitarista e professor doutor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Sade Pblica da USP. Entre
1980 e 1983, foi diretor Diviso Nacional de Doenas Crnico-Degenerativas (DNDCD) do Ministrio da Sade, e
superintendente da Campanha Nacional de Combate ao Cncer, de 1980 a 1985. Foi diretor do Instituto de Sade da SES-SP
entre 1987 e 1989, e secretrio geral do Ministrio da Sade de 1989 a 1990. Em 1992, foi Diretor de Operaes da Fundao
Nacional de Sade e depois Chefe de gabinete do Ministrio da Sade, funo que assumiu tambm entre 1995 e 1996. Na
SES-SP, em 1993 coordenou os Institutos de Pesquisa, entre 1997 e1999 assumiu a coordenadoria de Planejamento de Sade,
e em 1999 foi assessor tcnico de gabinete. Entre 2002-2003 foi diretor tcnico-cientfico da Fundao Oncocentro de So
Paulo, da qual foi diretor-presidente entre 2003 e 2011 (Inca. O cncer como problema de sade pblica. Depoimentos para a
histria do controle do cncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA/Fiocruz: p. 36 p. 2011.).
154
Durante o governo Itamar Franco, no perodo de outubro de 1992 a agosto de 1993, o Ministro da Sade foi o mdico
Jamil Haddad, sucedido pelo tambm mdico Henrique Santillo, que permaneceu no cargo at o final do governo Itamar em
01 de janeiro de 1995.
155
A primeira misso composta por M. Lewis (lder da misso), M. Jacobs (analista de operaes), R. Hoffman (oficial de
operaes), J. Wilson (consultor), K. Holmes (consultor), M. Moore (consultor), E. Ayres Castilho (consultor) e S. Dompieri
(consultor); a segunda, por M. Lewis (lder da misso), M. Jacobs (analista de operaes), J. Wilson (Consultor), C. Bertao
(assessor snior), E. Ayres Castilho (consultor), S. Dompieri (consultor), D. Schopper (consultor) e F. Zacharias (consultor).
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distribuio de preservativos;
2. Servios (U$75,7 milhes): servios de sade para pacientes com HIV/aids e DSTs;
2005).
garantido pela poltica brasileira, visto que considerava o tratamento caro e no efetivo, e exigia a
reduo de taxas de importao para preservativos, permitindo uma reduo do preo final ao
(...) Esse um dos artigos que ns estamos trabalhando desde o primeiro momento, desde
1991, 92, 93, a gente j defendia que tratamento era preveno, que o acesso ao tratamento
era preveno.(Valdila Gonalves Veloso dos Santos, entrevista realizada em 14/06/2011)
Um indicador importante da qualidade e efetividade do servio para o Banco Mundial (2004a) foi
a baixa prevalncia de resistncia a medicamentos ARVs (6,6%) documentada por um estudo realizado em
2003 no Brasil (Brindeiro, Diaz et al., 2003). At 2012, contudo, no havia sido monitorada a possibilidade
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
156
Um montante de U$ 23,5 milhes foi reservada para contingncias fsicas e de preo.
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importncia do fornecimento de medicamentos ARVs, quando considerou que tanto o AIDS I como o
AIDS II, assinado em 1998, foram fundamentais para investimentos em capacitao para tratamento e
O primeiro acordo de emprstimo foi executado entre os anos de 1994 e 1998, tendo
fato uma poltica nacional, inclusive legitimando atividades controversas de preveno como a
reduo de danos157, trabalho com presidirios e programas para profissionais do sexo (World-Bank,
O segundo acordo de emprstimo, o AIDS II, vigente entre 1999 e 2002, teve um custo total
de U$ 296,6 milhes, 99% do estimado (300 milhes de dlares, sendo 165 milhes do BIRD e 135
milhes do governo federal). Apesar de no ter recursos para medicamentos, teve investimentos para
O governo tornou-se fonte importante de financiamento para as ONGs. Com o AIDS I (1994-
1998), 181 ONGs receberam financiamento para 444 projetos na rea de preveno, onde foi mais
meta inicial de 261 projetos financiados, o que foi viabilizado devido reduo do teto de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
157
O aumento de casos entre usurios de drogas injetveis a partir de 1989, levou primeira iniciativa de programa de trocas
de seringas, na cidade de Santos, So Paulo, com o mdico Fbio Mesquita frente do Programa Municipal. A implantao
da medida porm foi questionada pela Procuradoria do Municpio de Santos, que baseada nos artigos 12 e 13 da Lei 6368/76,
que trata das medidas de preveno e represso ao trfico ilcito e uso indevido de substncias que causem dependncia fsica
ou psquica, considerava que a prtica de troca de seringas estaria incentivando o uso de drogas e portanto seria um delito,
levando ao adiamento do programa de troca de seringas. A Secretaria de Sade do Estado de So Paulo, desde o incio da
dcada de 1990 tambm j vinha desenvolvendo estratgias de reduo de danos, mas limitados pela justia paulista, apenas
orientavam a limpeza das seringas com hipoclorito de sdio, o que era insuficiente. Assim, em 1995, Salvador foi a primeira
cidade do Brasil a ter um programa de troca de seringas. Na sequencia, outros estados e municpios comearam a criar
legislaes prprias, e apenas em 2002 foi aprovada a nova lei de drogas no pas, permitindo ao Ministrio da Sade
regulamentar as aes que visem reduo de danos sociais e sade (Lei 10409/02).
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financiamento de U$ 100.000 para U$ 50.000, devido constatao que poucas ou nenhuma das ONG
tinha capacidade para usar aquela quantia. No AIDS II (1999-2002) esse nmero foi ainda maior.
Foram financiadas 795 instituies, que executaram 2163 projetos (1709 de preveno e 454 de
pacientes em tratamento fora do domiclio, grupos de apoio, reinsero social, apoio para gerao de renda,
apoio domiciliar, apoio psicossocial, servios de sade mental e assistncia voltados para a avaliao e
aderncia terapia antirretroviral, alm da criao de casas de apoio para pessoas vivendo com
HIV/AIDS(World-Bank, 2004a).
segundo acordo de emprstimos. Ainda que no tenha sido possvel realizar uma anlise mais
governamental.
Os recurso oriundos dos projetos AIDS I e II teriam contribudo para a melhoria da qualidade
dos servios de diagnstico, tratamento e assistncia para pessoas com HIV/aids e DSTs, e sua
permitiram as primeiras transferncias financeiras diretas para governos estaduais e municipais. Essas
Foram criados 237 centros de testagem e aconselhamento (CTA); foi desenvolvida uma rede de
servios especializados de sade para pacientes com HIV/aids; houve um fortalecimento do sistema de
2004a).
Na viso de alguns membros da Abia, como Raldo Bonifcio, Joo Guerra, Jane Galvo,
Rogrio Gondim, Alvaro Matida, Gerson Noronha, Richard Parker e Nelson Solano Vianna, Com
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esse projeto, o Ministrio manifesta sua inteno de superar de uma vez por todas, esperamos os
do HIV em nosso pas (Schwarzstein, 1993), contudo, demandavam uma gesto democrtica,
transparente e eficaz, acompanhada por uma Comisso Nacional que pudesse efetivamente exercer o
financeira pelo Estado brasileiro e criticavam tambm o tempo exguo para a elaborao da parte do
O tempo que nos foi dado (...) foi extremamente curto. (...) Tudo foi feito a toque de caixa.
Mesmo as pessoas responsveis pela Coordenao do programa Estadual de DST e AIDS
estavam desinformadas. As exigncias eram grandes e as planilhas que recebemos foram
decifradas com enorme dificuldade. O pessoal encarregado de coordenar o processo tentou
descentralizar e democratizar, tentou conseguir o maior envolvimento possvel por parte dos
servios pblicos e das ONGs e isso foi bom... Aconteceu que por falta de tempo e de
orientao suficientes muitos dos projetos que recebemos dos servios pblicos no tinham
cabimento. (...) O que acontece que a principal carncia dos servios j existentes diz
respeito falta de pessoal e de medicamentos, e que o Projeto do BM no contempla este tipo
de necessidade. (Raldo Bonifcio, presidente do Pela Vidda de Niteri e membro da
Comisso Estadual de Aids do Rio de Janeiro, Boletim ABIA n. 19, mai/jun 1993, p. 9)
(figura 15).
Vale destacar que em 1996, o socilogo Betinho achava que mesmo com o financiamento do
Banco Mundial, o Programa Nacional ainda no estava consolidado, queixando-se principalmente com
!
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Outro ponto destacado por agentes dos subespaos burocrtico e cientfico foi a questo da
manuteno da autonomia nacional frente tentativa de induo de polticas pelo Banco Mundial que
considerava a preveno como nica via para pases em desenvolvimento (figura 15).
Essa autonomia esteve presente desde o incio, quando Lair Guerra no aceitou a criao de
uma Gerncia do Projeto paralela ao Programa Nacional, prtica frequente nos acordos de
Aids159.
O banco queria estabelecer uma gerencia do projeto do Banco Mundial (...). A Lair foi dura com
isso, no aceitou, e onde isso aconteceu o programa no subexistiu. (...) Isso no funciona. Eu
estive na Argentina e tambm apoiei o Banco na formao do projeto da Argentina e l eles
fizeram a gerncia do projeto LUSIDA e o Programa de Aids do nvel nacional, do Ministrio da
Sade. O programa nunca conseguiu deslanchar, o projeto acabou e o programa no se
beneficiou (...) (Pedro Novaes Chequer, entrevista realizada em 03/08/2011)
Nesse sentido, posteriormente, em 2005, na segunda gesto de Pedro Chequer, o pas recusou um
recurso da ordem de U$40 milhes da U.S. Agency for International Development para aquisio de
preservativos, por discordar da exigncia de condenao da prostituio, como previsto nas leis norte-
americanas. Tal condio foi rejeitada pelo diretor do Programa visto que no Brasil, a prostituio no
Brasileira de Ocupaes (CBO) na categoria prestador de servio (Rodrigues, 2009), alm desta
categoria profissional ser parceira na execuo das suas polticas, inclusive com representao na
Cnaids.
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!Cartas enviadas ao presidente Fernando Henrique Cardoso por Herbert de Souza, o Betinho, publicadas no Boletim
ABIA, n. 31, de janeiro/abril de 1996.
159
Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF.
160
De acordo com o cdigo penal brasileiro, so crimes: induzir ou atrair algum prostituio ou outra forma de
explorao sexual, facilit-la, impedir ou dificultar que algum a abandone (Art. 228); manter, por conta prpria ou de
terceiro, estabelecimento em que ocorra explorao sexual (Art. 229) e tirar proveito da prostituio alheia (Art. 230).
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161
O apndice VIII apresenta as falas dos agentes que resultaram na elaborao dessa figura.
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O AIDS I marcou uma nova fase para a poltica nacional de controle da epidemia e tambm
para o espao aids, determinando uma transformao nas relaes entre o campo burocrtico e os
demais subespaos. Com relao ao espao militante, com a possibilidade de financiar projetos de
associaes especficas de luta contra a aids, em especial as de menor porte e com menor capacidade
de captao de recursos internacionais, gerando uma certa acomodao e em alguns casos dependncia
do Programa Nacional, O que tambm garantiu ao Estado maior controle em relao ao espao aids. O
projeto estimulou o dilogo com gays, usurios de drogas injetveis, profissionais do sexo e, na
promovendo o seu ressurgimento, atravs do estmulo a publicaes, campanhas e aes voltadas para
Eu acho que ao mesmo tempo que foi uma ajuda grande, deu esse retrocesso. (...) Eu acho
que atrapalhou por causa disso, as pessoas se acomodaram com os financiamentos de 30 mil,
40 mil, 50 mil, e pararam de reivindicar qualquer coisa. Ou s fazia isso porque o prprio
Ministrio dava o ttulo. Ento esse ano era mulher, ento s vou trabalhar com mulher. (...)
A epidemia tem tema? No, ento... Se eles mesmos falam, no tem, no escolhe partido, no
escolhe segmento, no tem preconceito com nada, a aids gosta de todo mundo, como que vai
escolher um tema? (urea Celeste da Silva Abbade, entrevista realizada em 20/06/2011)
(...) esse financiamento levou, bom, toda essa ideologia do Banco Mundial, levou ento o
Programa de Aids do Brasil a comear a buscar cada vez mais um dilogo com os gays,
inicialmente, e depois com os usurios de drogas. Especialmente com os gays. (...) com esse
trabalho, o Banco Mundial e o governo brasileiro, querendo ter contato com os gays e
promover essas campanha entre os gays, eles comearam a financiar publicaes, a financiar
reunies e isso deu um novo mpeto para o movimento gay. Ento o primeiro movimento gay
foi assim uma reao contra os mdicos, o segundo movimento j comea, de certa forma,
caudatrio, e vai perdendo a sua estridncia, a sua crtica contra o establishment mdico.
Porque eles passam de crticos a porta-vozes. (...) Foi o dinheiro da aids que financiou esse
ressurgimento do movimento gay. (Edward Baptista das Neves MacRae, entrevista realizada
em 16/05/2011)
subespaos. Esse financiamento foi considerado como positivo no sentido de promover uma maior
associaes e a sua consolidao, mas alguns militantes e agentes do campo cientfico destacaram
como aspectos negativos a perda da autonomia das ONGs, a acomodao e a reduo do seu papel
!
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de apoio institucional, como garantido por algumas agncias internacionais. Um entrevistado chegou a
falar em uma ditadura do projeto162 . O que foi tambm notado por alguns dos entrevistados foi uma
reduo das crticas ao Programa Nacional por parte das ONGs, compreendido por alguns como
(garantida pelos acordo de emprstimo) para os diferentes nveis da gesto das polticas de aids,
emprstimo, possibilitou uma poltica mais efetiva, da qual eles so partcipes, tambm contribuindo
O fato de se tratar de um emprstimo foi destacado como ponto negativo, ainda que
compreendido como necessrio. Da mesma forma, foram citados pelo diretor adjunto do
Departamento em 2011, Eduardo Barbosa, casos pontuais de desvios, que na sua avaliao no
(...) eu acho que o recurso do acordo, h muita crtica porque o pas paga, o pas tem que
pagar essa dvida, mas tem vrios estudos, inclusive feitos por grupos franceses, do uso desses
recursos, e que eu acho que eles tem uma avaliao positiva (...) (Maria Ins da Costa
Dourado, entrevista realizada em 05/09/2011)
(...) uma parte dessas ONGs se constituram por conta do financiamento. Enquanto teve
dinheiro, elas funcionaram e na hora que acaba o financiamento, elas fecham. Teve muito
problema com ONGs. Eu venho de ONGs eu vejo aqui mesmo, voc tem desvios que
aconteceram, pequenos, acho isso dentro do contexto geral, nos fizemos uma avaliao que
importante continuar financiando mesmo com alguns problemas localizados que
aconteceram, mas tem assim, hoje acho que tambm um outro perfil dessas ONGs que esto
sobrevivendo e algumas com muita dificuldade. A gente tem, por exemplo, Abia aqui do Rio
Janeiro, instituio super reconhecida, tem um belo trabalho com dificuldade por qu?
Porque ela teve para alm do governo federal, muitos outros investimentos de fundaes
internacionais que hoje diminuram e no mundo est diminuindo esse investimento. A gente
precisa continuar. Esse o desafio de continuar mantendo a prioridade e o investimento dos
pases ricos. (Eduardo Luiz Barbosa, entrevista realizada em 02/08/2011)
aos portadores do vrus e da rede pblica de laboratrios, fundamentais para o apoio estratgia de
acesso aos medicamentos ARV, mas, de acordo com a avaliao do Banco, o pas no avanou na
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
162
Gerson Barreto Winkler. Entrevista realizada em 16/06/2011, Porto Alegre, RS.
!
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questo da avaliao das estratgias implementadas (World-Bank, 2004a; Beyer, Gauri et al., 2005).
No sentido de superar essa situao, em 2003, foi criado um setor de avaliao na Assessoria de
DST/aids, que como parte das suas estratgias promoveu a realizao de cursos de ps-graduao
Endmicos, com nfase em DST/HIV/aids, oferecidos pela Fiocruz (World-Bank, 2004a) e o sistema de
al., 2010).
At 2012, o governo federal havia realizado quatro acordos de emprstimo junto ao Banco
Mundial para o controle da aids no pas. A anlise dos valores desses acordos apontam para uma
reduo do montante de recursos bem como da participao do banco no acordo, com maior
Quadro 10 Acordos de emprstimo para o controle da aids, perodo de aplicao, montante total,
participao do Banco e do Governo Brasileiro, 1993-2008.
Pode-se destacar duas fases da Comisso Nacional de Aids, a primeira do inicio da sua
implantao at o incio dos anos 1990, quando j existiam as primeiras possibilidades teraputicas.
No primeiro momento, a voz dos especialistas que conformavam a Cnaids era muito importante para a
construo do discurso oficial e, alm do papel consultivo, as tomadas de posio da comisso eram
acatadas e repercutiam na conduo da poltica, de modo que a mesma parecia possuir de fato um
!
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A Comisso Nacional foi descrita pelos entrevistados como uma instncia de assessoria
tcnica e poltica ao Programa Nacional. Consultiva, sem poder de deliberao, mas com influncia na
tomada de decises em funo da sua capacidade tcnica, por se tratar de um grupo de experts. Alguns
a consideraram como instncia de controle social e quase todos destacaram a grande diversidade de
comisso foi retomada na nova gesto de Lair Guerra. Com a maior estruturao da poltica nacional,
entre 1992 e 1993, surgiram outras instncias de assessoramento ao Programa Nacional, como o
comit de vacinas, a comisso para estudos e aes no sistema penitencirio, o comit de pesquisa, e
um setor especfico de articulao com as ONGs, levando a um esvaziamento das funes da Cnaids,
que na primeira gesto de Lair Guerra constitua-se como nico espao de discusso e articulao da
poltica.
Segundo o ponto de vista de alguns entrevistados, o surgimento dessas novas instncias estava
espao aids e aos avanos no saber mdico acerca da doena, bem como a formao de uma expertise
em diversas reas. Ou seja, medida que o espao aids foi especializando-se, seja no campo mdico
disputas ao interior do espao entre mdicos e sanitaristas e militantes com a criao de espaos
tcnico-cientficos.
A Comisso assumiu o papel de construir o discurso oficial, legitimado pelo capital simblico
do grupo que a constitua. Contudo, o avano do conhecimento mdico sobre a doena e o surgimento
de uma possibilidade teraputica no final da dcada de 1980 levaram a uma alterao significativa da
correlao de foras ao interior do espao aids. Foram criados espaos autnomos de experts, e a
participao dos demais grupos passou a ser mais pro forma. Segundo os entrevistados, a
diversificao e especializao de comisses tornava mais gil a discusso dos processos. Por outro
!
")&!!
Alm do aprofundamento da discusso acerca dos aspectos ticos para triagem sorolgica do
HIV e o plano de vacinas, o tema mais frequente nessas reunies foi o projeto do acordo de
emprstimo junto ao Banco Mundial. Mas apesar do Projeto do Banco Mundial ter sido ponto de
2003).
Segundo editorial do Boletim da ABIA, a Comisso Nacional de Aids era (...) o frum de
controle da epidemia de HIV/aids no pas (...) e congregava (...) o que o pas tem de melhor em
(AIDS I). Pelo carter da negociao, esta permaneceu a cargo do poder executivo, envolvendo
inclusive outras instncias estatais como a Presidncia da Repblica, o Senado Federal, o Ministrio
escopo das funes da Comisso. Contudo, o papel assumido anteriormente, com forte influncia
sobre a definio das estratgias tcnicas a serem adotadas levou a uma disputa, encabeada pelo
representante da Abia, Joo Guerra C. Monteiro, pelo papel da Comisso. A Abia criticava a
principalmente no que tangia ao debate e a reflexo do processo de negociao com o Banco Mundial,
de modo que o representante da Abia optou por se afastar da Comisso 163 (Abia, 1993a). A
A gente acha que a Comisso estava totalmente inoperante, era incio do projeto do Banco
Mundial, enfim... Toda ateno era o grande projeto que se montava para o Banco Mundial.
(...) Ela no conseguia mais influenciar as polticas de aids, no se dava ouvidos e ateno ao
que se propunha, e ento a Abia efetivamente resolve se afastar como uma maneira de
denunciar essa inoperncia, vamos dizer assim, da Comisso. (Veriano de Souza Terto Jr.,
entrevista realizada em 15/06/2011)
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
163
Ata da Reunio da Cnaids de 15 de outubro de 1993.
!
! ")"!
A necessidade de discusso do papel da Cnaids foi reconhecida por todos os seus membros,
mas a posio colocada pela Abia do papel da Comisso em relao ao Projeto do Banco Mundial no
era consenso. Manifestaram-se contrariamente ao posicionamento e/ou sada da Abia164 (Brasil, 1994a,
p. 116):
' Lair Guerra, gestora do Programa Nacional, interpretou a sugesto da Abia para que a
' Carlos Alberto Morais de S (Hospital Gaffre e Guinle), Berenice Clemente (MEC) e
' Dirceu Greco (UFMG) assumiu posio de apoio Abia no sentido de que uma
' Adelmo Turra (Gapa-RS) e Aurea Abbade (Gapa-SP) no concordaram com Jair
Ferreira, mas afirmavam tambm no entender a posio da Abia com relao a sua
sada da Comisso;
' Silvia Belluci (Centro Corsini) sugeriu discutir as funes sem considerar o
documento da Abia.
Ou seja, a maioria daqueles que se manifestaram no viam motivo para a retirada da Abia da
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"%&
!Ata de reunio da Cnaids de 15 de outubro de 1993.!!
165
A Abia propunha, entre outras coisas, que a Comisso deveria criar e impor mecanismos de controle social do Projeto do
Banco Mundial (Abia. Comisso Nacional de Aids: o que e para que serve? Boletim ABIA, n. 21, p. 4-5. Rio de Janeiro:
Abia, 1993a.).
!
")#!!
de modificaes na sua estrutura e composio (Brasil, 1994c), influenciadas tambm pela Lei
agregadas novas competncias e normalizou-se a participao social, atravs do acordo de como seria
a representao das ONGs/Aids: um total de 05 representantes, dois da regio sudeste, dois das regies
(Brasil, 2003). A Comisso passou a ter as seguintes competncias, incorporadas na portaria n. 1.028,
DST/aids;
2. Discutir diretrizes a serem observadas pelo Programa Nacional atravs dos Planos
Operativos Anuais;
Essa viso da Cnaids como uma instncia de assessoria tcnica compartilhada por agentes
dos diferentes espaos, contudo, alguns acreditam em uma perda de importncia, relacionada a fatores
como: o surgimento de outros comits e comisses, que passaram a constituir espaos de discusses
mesmo, os diferentes interesses e estratgias de permanncia dos agentes no espao aids e na prpria
Comisso.
Eu acredito que no que ela perde importncia, mas eu acho que ela tem a funo de
capilarizar essas questes para outros espaos, (...) ento, ela tem outro papel. Eu acho que
so papeis diferenciados, mas que se complementam, mas eu no vejo como perdendo fora
poltica, acho que so papeis complementares e obviamente questes que inicialmente eram
discutidas l, ela passa a ter um foco pra ser discutido em um determinado espao e aquela
comisso muito mais poltica, e as outras tem outras funes. (Gilvane Casimiro,
entrevista realizada em 02/08/2011)
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
166
Ata de Reunio da Cnaids de 15 de outubro de 1993.
!
! ")%!
Eu posso te dizer que antes a gente tinha voz. Tinha voz e tinha propostas. Todas as vezes
que ia para uma reunio da Cnaids o Gapa sentava antes, discutia os temas, o que ia ser
falado, como ia ser falado, a gente mesmo se questionava dias e dias naquilo, ento, se levava
quase que um documento pronto com vrios pontos j discutidos e debatidos. Agora, pelo que
eu sei, a coisa j vem pronta para assinar. Ai j no o que era. A nica coisa que eu acho
que isso aconteceu por causa desse financiamento. Por que as pessoas ficaram? Primeiro
porque o Aids-SUS [nota do revisor: referindo-se ao AIDS I, acordo de emprstimo entre
Brasil e o BIRD] muito grande. Todo mundo quer viajar, todo mundo quer ficar em hotis
cinco estrelas, coisa que 90% no sabe nem o que um hotel (...), quer dizer, a orientao do
que discutir no tem, mas tem hotel e isso te compra. Tem a passagem, tem a diria, que pra
gente, voc pode falar 100 reais no nada, mas pra quem no recebe nada, vem de avio,
volta, a pessoa fica assim boba. (urea Celeste da Silva Abbade, entrevista realizada em
20/06/2011)
avanos tcnico-cientficos, houve tambm uma ampliao dos temas pautados no perodo de 1994 a
1998, mas sem a atuao proativa em todos os temas como observado nos perodos anteriores. A
preveno, como j vinha acontecendo no final da dcada de 80, estava dirigida a populaes
Cnaids teve participao ativa em dois momentos: a seleo dos Centros de Referncia Nacional, onde
pesou uma presso da Comisso para participar da operacionalizao do Projeto AIDS I (16 de maro
de 1994); e na atuao junto ao Ministro para cobrar a compra emergencial de medicamentos (31 de
maio de 1995) (Brasil, 2003). Nos dois casos, relacionado principalmente aos representantes de
ONGs.
principalmente na assistncia e nas aes de preveno, as reunies tornaram-se mais informativas das
aes do Programa Nacional, havendo momentos onde foram discutidos temas emergentes como
aids (o Canova). O processo de descentralizao e a sustentabilidade das aes, temas que permeavam
!
")(!!
o projeto AIDS III, ficaram a cargo do Comit Tcnico Assessor de Gestores (Coge)167, criado em
Vale destacar que desde 1990, era o Conselho Nacional de Sade a instncia colegiada do
SUS que tinha carter deliberativo acerca da formulao de estratgias e no controle da execuo da
poltica de sade, inclusive com relao aos aspectos econmicos e financeiros (Brasil, 1990). De
modo que, embora tenha tido papel fundamental na definio do discurso oficial e na formulao da
poltica de controle da aids na primeira dcada da epidemia, diversos fatos estabeleceram uma nova
ordem no espao aids brasileiro. Pode-se citar: os avanos do conhecimento mdico e cientfico sobre
doena; a entrada de novos agentes nesse espao de luta pela organizao da resposta epidemia de
regulamentao das instncias de participao popular na gesto do Sistema nico de Sade nos anos
1990. Alm disso, o advento do primeiro acordo de emprstimo colocou a aids como uma questo de
governo. Esses fatos levaram a criao de novas instncias de participao dos agentes de diferentes
define o espao mdico, tcnico e burocrtico nas subcomisses separando-o do espao militante,
ocupado pelas ONGs, que saram enfraquecidas no seu papel poltico, havendo um deslocamento para
o campo burocrtico.
interessante notar, que as novas instncias como Comit de Vacinas e Comit Assessor para
Terapia Antirretroviral seguem o modelo adotado pela prpria Cnaids em vrias situaes onde havia
a necessidade da discusso de questes especficas para as quais era constituda uma comisso de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
167
O Coge foi criado pela Portaria GM n. 992, de 01 de setembro de 2000. Assim como a Cnaids, tambm uma instncia
consultiva do Programa Nacional, tendo tambm o papel de promover a articulao entre os gestores dos trs nveis de
governo (federal, estadual e municipal) para a incorporao das aes de DST/aids no processo de descentralizao da sade.
!
! "))!
para o qual contriburam agentes dos diferentes subespaos, em especial dos movimentos sociais.
Quando o AZT foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA)168, em 1987, em seguida,
alguns pacientes no Brasil comearam a fazer uso, atravs do contrabando do medicamento, que ainda
suas bagagens169, ou mesmo a importadoras 170. Os compradores eram pacientes ou ONGs como o
Gapa-SP, mas o acesso ainda era muito restrito visto que o AZT ainda no estava disponvel no Brasil
(Souza, 1987).
(...) a gente comprava desde o Zovirax, o AZT, tudo, mesmo comprando fora, mas a gente
comprava ou ganhava. Uma pessoa do Sul, uma vez, eu me lembro, ns tnhamos um paciente
aqui, a eles mandaram do sul para c. Um mandava 15 comprimidos, outro mandava 10 (...) O
que sobrava, vinha e a gente redistribua. E o pessoal da Vasp, se eu no me engano, que ajudou
muito trazendo de fora. (...) o Antnio Angarita que era o presidente. (...) ele dava essas
passagens de cortesia para a gente. Quer dizer, a gente fazia os ofcios endereados a ele, se era
ele que dava ou no... (...) Pra a gente viajar para l e para c, e em uma dessas viagens, os
meninos conheceram esses pilotos e a esses pilotos que tinham viagens internacionais
compravam e depois a gente dava dinheiro. Eu s sei que era em dlar. A a gente dava o
dinheiro, eles compravam e repassavam para a gente ou para os pacientes que tinham grana.
Era assim. (urea Cesleste da Silva Abbade, Gapa, entrevista realizada em 20/06/2011)
A normalizao da venda do AZT no Brasil aconteceu a partir de 08/10/1987, sete meses aps
a aprovao pelo FDA nos EUA, quando a Diviso de Medicamentos (DIMED) publicou portaria com
essa finalidade, questo que foi inclusive debatida na Cnaids (Portaria MS/SNVS/DIMED n. 18, de
08/10/87). Mas o acesso ao medicamento ainda ficou restrito queles que tinham condies
financeiras para arcar com o seu alto custo, numa poca de hiperinflao e grande oscilao do
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
168
Agncia governamental americana responsvel regulao e superviso de alimentos, medicamentos, suplementos
alimentares e outras substncias.
169
urea Celeste da Silva Abbade. Entrevista realizada em 20/06/2011, So Paulo, SP; Jorge Adrian Beloqui. Entrevista
realizada em 18/06/2011, So Paulo, SP; Veriano de Souza Terto Jr. Entrevista realizada em 15/06/2011, Rio de Janeiro, RJ;
Gerson Barreto Winkler. Entrevista realizada em 16/06/2011, Porto Alegre, RS.
170
Jorge Adrian Beloqui. Entrevista realizada em 18/06/2011, So Paulo, SP; Alexandre Grangeiro. Entrevista realizada em
21/06/2011, So Paulo, SP.!
!
")*!!
Lobo, falava como um agente do Estado, usando o nome da DIMED e do Ministrio da Sade (Figura
16).
!
! ")+!
A sua utilizao no Brasil ficou restrita a hospitais, clnicas e mdicos autorizados pelo
Ministrio da Sade (Brasil, 1988d), embora a importao fosse permitida atravs da apresentao de
Ah, era um saco, porque era assim: a Glaxo [Wellcome] estava em Cotia, voc tinha que
comprar e eles vendiam em dlares, no cmbio do dia. E era uma poca de inflao altssima!,
Ento voc tinha que fechar o cmbio do dia, ir no banco, fazer boleto bancrio, tudo formal,
sabe? Mandava isso... Acho que era isso, boleto bancrio ou cheque administrativo, s sei que
era uma burocracia dessa, acho que boleto bancrio. E a eles entregavam na sua casa. (...)
(Jorge Adrian Beloqui, entrevista realizada em 18/06/2011).
Declarao dos direitos do soropositivo (Anexo VIII) que trazia entre outros pontos o direito de
acesso a assistncia e tratamento. A compra de AZT comeou a ser realizada por alguns Estados de
doenas oportunistas acontecia desde 1988, de forma muito tmida, e a partir de 1991 teve incio a
Em 91. Ento eu comecei em 90. Porque eu comecei em outubro, final de outubro, porque eu
tive uma queda um pouco de CD4. (...) eu tive leucoplasia pilosa, ento um amigo disse Ah,
voc tem que comear!. E depois de um tempo me inseriram, porque eu no sei se eu estava,
porque eu no tinha aids, felizmente eu no desenvolvi, mas no sei se eu tinha direito, mas eu
comecei a tomar igual pelo servio pblico. (Jorge Adrian Beloqui, entrevista realizada em
18/06/2011)
(...) no tinha uma regularidade assim, ou logstica de compra e de entrega, no era uma
coisa muito regular. Mas em 1991, que at foi na breve passagem do Eduardo Crtes no
Programa que se comeou, se aumentou o fornecimento de AZT.(...) Depois, em 1992, quando
o Eduardo saiu, j se manteve. (Valdila Gonalves Veloso dos Santos, entrevista realizada
em 14/06/2011)
A distribuio de medicamentos ARV pelo Ministrio da Sade no era uma proposta inicial,
nem em 1988 na gesto de Lair Guerra174, nem do presidencivel Fernando Collor de Mello em 1989,
que em consulta realizada pelo Gapa junto a cinco dos candidatos a presidente, considerava que a
aquisio do AZT deveria ser encargo dos doentes, das empresas, das instituies privadas de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
171
A Cacex foi desativada no governo Collor a partir de 1990. Atualmente, suas funes esto distribudas pela
administrao direta em rgos do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC).
172
Droga importada para tratamento da aids ser liberada em 20 dias. Folha de So Paulo. So Paulo. 11/10/1988 1988.
173
Em 1989 o Estado de So Paulo iniciou a compra de AZT, mas a primeira compra atendia apenas 7% dos pacientes
(Brasil. O remdio via justia: um estudo sobre o acesso a novos medicamentos e exames em HIV/aids no Brasil por meio de
aes judiciais. Braslia: Ministrio da Sade: 136 p. 2005b.).!!
174
Droga importada para tratamento da aids ser liberada em 20 dias. Folha de So Paulo. So Paulo. 11/10/1988 1988.
!
"),!!
Ministro Alceni Guerra terminou cedendo aquisio de AZT pelo governo em 1991.
profissionais, o tratamento apenas com o AZT, ou monoterapia, ainda era pouco eficaz (Cohen, 1993;
(...) o AZT matava antes da doena. Os pacientes me diziam assim Eu no quero morrer com
esses remdios. Meus amigos esto morrendo. Eles ficavam verdes de tomar aquele negcio. E
morriam logo. Hoje eu sei com mais certeza ainda que muitos poderiam ter vivido mais tempo,
at chegar o momento de usar uma coisa que no matasse, que o AZT era usado assim de
tonelada e eles morriam rapidamente. (...) se um filho meu tivesse uma doena que o
medicamento matasse antes da doena, eu no ia deixar ele tomar. E a eles me procuravam
porque eu no obrigava a tomar. E a foi que eles me mandaram para o CRM, fiquei uns 7 anos
nessa histria, porque eu no dei o AZT. Eles no pararam nem quando foi proibido. Foi
proibido usar o AZT naquele modelo. Voc tem que usar uma dose dez vezes menor. (...) E isso
provocava uma anemia profunda e eles morriam mais rapidamente. (Valria Petri, entrevista
realizada em 20/06/2011)
Assim, comeou a ser aplicada a terapia combinada, geralmente, associando duas drogas
(AZT+ddI ou AZT+ddC).
A partir de 1994, com o financiamento do Banco Mundial, foram criadas diversas assessorias
jurdicas nas ONGs, seguindo o modelo do Gapa. Foram essas assessorias e em especial a assessoria
do Gapa, atravs da advogada urea Abbade, que em 1996 iriam promover as aes de demanda de
Secretaria de Ateno Sade do Ministrio da Sade, garantiu a todos os pacientes o acesso a AZT,
didanosina (ddI), pentamidina, ganciclovir, fluconazol e anfotericina B. Mas foi a partir de 1996, na
terceira fase da histria dos antirretrovirais, com os inibidores da protease, que de fato surgiram mais
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
175
Candidatos prometem fiscalizar qualidade do sangue. Folha de So Paulo. So Paulo. 11/10/1989 1989.!
176
Foram Ministros da Sade do governo FHC: Adib Jatene (janeiro/1995 a novembro/1996); Jos Carlos Seixas
(novembro/1996 a dezembro/1996); Carlos Csar de Albuquerque (dezembro/1996 a maro/1998); Jos Serra (abril/1998 a
fevereiro/2002).
!
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significativo da sobrevida dos pacientes, uma verdadeira revoluo no tratamento da aids (Scheffer,
2008).
as manifestaes em espaos pblicos, promovidas principalmente pelas ONG/Aids, mas tambm por
artistas, em iniciativas mais individuais, exigindo a distribuio de medicamentos pelo Estado (Brasil,
2005b).
Desde o surgimento do AZT, Betinho (p. 99) j defendia a garantia de tratamento pelo Estado
aos portadores de HIV/aids. Apesar de no curar a aids, considerava que o AZT dava uma perspectiva
de prolongamento da vida, e que era um dever da sociedade brasileira dar ao aidtico brasileiro essa
chance (Souza, 1987) e teve papel preponderante na definio da poltica de acesso universal aos
medicamentos antirretrovirais.
Com todos os avanos que obtiveram-se no tratamento da aids, Betinho enviou duas cartas ao
Presidente Fernando Henrique Cardoso, uma em janeiro e outra em fevereiro de 1996, pedindo
medidas mais efetivas. Em ambas, o presidente da Abia relatava suas crticas ao enfrentamento da
Banco Mundial, o alto custo de preservativos no pas e a dificuldade para acesso aos medicamentos
oferecidos pelo Ministrio, alm do preo elevado dos medicamentos para aquisio pelos
promovido pela Abia, nos dias 25 e 26 de maro de 1996, alm dos avanos cientficos, destacava-se a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
177
Estas cartas foram publicadas no Boletim da ABIA n. 31, de janeiro/abril de 1996.
!
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medicamentos no pas e Betinho criticou duramente a periodicidade das campanhas dizendo que Para
o governo, a epidemia um festejo carnavalesco, como se fora do carnaval ningum pegasse aids no
Brasil (Corra, 1996), ponto de vista crtico de esquerda sobre a poltica nacional.
David Ho e Martin Markowitz, dos resultados obtidos com um coquetel de 3 drogas, contendo um
advogada do Gapa, urea Abbade, em nome da professora Nair Soares Brito para fornecimento dos
medicamentos neodecapeptil, saquinavir e epivir pelo Estado, serviram de impulso para novas aes
do pas que fornecia por conta prpria o coquetel era a cidade de Santos, So Paulo180.
questo A importao de remdios contra a aids deve ser prioridade do Ministrio da Sade?, para a
qual havia trs respostas, que correspondiam aos argumentos dos grupos a favor, que consideravam
um direito do portador de HIV/aids; daqueles que defendiam uma administrao mais racional dos
recursos; e dos que estavam contra a medida, que consideravam discriminar outras enfermidades
(anexo VII):
a) A estratgia era defendida pelo mdico infectologista David Everson Uip, que destacava
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
178
Bouer, J. Terapia consegue... Folha de So Paulo. So Paulo: 16 p. 1996.
179
Feltrin, R. Gapa tenta coquetel anti-aids para mais 20. Folha de So Paulo. So Paulo. 12/07/1996 1996.
Martins, L. Ao quer que SP pague droga anti-HIV. Folha de So Paulo. So Paulo. 20/07/1996 1996.
180
______. Ao quer que SP pague droga anti-HIV. Folha de So Paulo. So Paulo. 20/07/1996 1996.
!
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cientficos;
aids era tratada de forma paternalista e que a distribuio gratuita de medicamentos para a
aids seria uma medida discriminatria e ilegtima com os pacientes de outras patologias.
Posio que podia estar representando os interesses da medicina supletiva pelos recursos
do SUS.
Essas concepes aparecem na fala de alguns entrevistados, seja refletida na sua prpria
abrangncia, relacionada no apenas aos medicamentos, mas toda a questo da assistncia sade.
Entre eles, a fala parece mais polarizada entre a justia para os doentes e a discriminao contra outras
mas de garantir o direito assistncia sade aos portadores de todas as enfermidades. Esse ltimo
argumento aparece principalmente na fala daqueles que saram do espao aids ou que transitaram por
outros espaos do setor sade. Outra posio destacada por um dos entrevistados era uma posio
homofbica.
(...) eu acho que isso uma obrigao do Estado,(...) existia muitas posies contrrias, que
isso era um absurdo num pas onde voc no tinha as questes mnimas de garantia de direitos,
por que que tinha que dar remdio pra pessoas promscuas. Voc ouvia isso de polticos.
(Gilvane Casimiro, entrevista realizada em 02/08/2011)
(...) eu me lembro de mdicos que tambm atendiam tuberculose e diziam: no, porque meus
pacientes de tuberculose no tem remdios, porque s tem remdios para aids. No tem nada
a ver uma coisa com a outra. (Jorge Adrian Beloqui, entrevista realizada em 18/06/2011)
(...) Eu acho que a Poltica Nacional de aids ela significa para o SUS um exemplo de como a
gente deve trabalhar para as outras doenas. (...) Esse exemplo deveria ser pego, para a gente
trabalhar com as outras, principalmente, com as negligenciadas. (...) eu acho que as outras tem
que se igualar para que a gente possa ter um resultado parecido. (Gerson Fernando Mendes
Pereira, entrevista realizada em 04/08/2011)
!
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(...) para a poltica da aids, eu acho que o que o pblico em geral necessita o que j existe.
atendimento quando e onde eles precisam. Voc no v um indivduo com HIV rodando por
a dizendo que no foi atendido. Isso uma coisa indita. Porque voc v gente com lepra
dizendo que no foi atendido. (...) Ento para aids eu no sinto necessidade de mais do que j
existe em termos operacionais. (...). (Valria Petri, entrevista realizada em 20/06/2011)
Diante dessa diversidade de pontos de vista, cabe indagar porque prevaleceu aquele da
universalizao do tratamento.
O Programa Nacional foi considerado por alguns agentes como exemplo de que o SUS
pode dar certo, ou seja, exemplo de poltica integral, universal, e inclusiva, que aproximou
grupos minoritrios como homossexuais, profissionais do sexo, usurios de drogas dos servios
de sade (Quadro 11). Mas pelo menos uma fala deixou claro que os usurios portadores de
estaria, segundo esse relato, restrita aos soropositivos, excluindo inclusive populaes
preveno da aids, por um lado, e por outro, das limitaes das demais polticas ou de outras
polticas sociais, ou seja, a poltica nacional de controle da aids vista como uma exceo.
(...) se voc tem assim um problema de doena infectocontagiosa, voc vai l [Centro de
Referncia] e no pode ser atendido. A pergunta, voc positivo? A voc fala, no sou. J
aconteceu duas vezes comigo. Porque so servios de primeira, porque tem infectologistas que
em geral nos servios no tem, a voc vai l e voc no positivo. E por outro lado tambm eu
encontrei pobres que se no fossem positivos no seriam to bem assistidos, como so tratados
os pobres. E isso vai desde servios de sade a associaes comunitrias que do suporte. Eu
acompanhei uma ONG de usurios de drogas, 35 usurios de drogas em Osasco, e algumas
pessoas falavam: A sorte que eu tive HIV. Porque agora eu tive esse suporte, tenho esse
suporte comunitrio. Era populao de rua, viviam nas ruas sem estrutura nenhuma, a j
tinham casa, tinham moradia... (Osvaldo Francisco Ribas Lobos Fernandez, entrevista
realizada em 26/05/2011)
Outro aspecto destacado pelos entrevistados foi a discusso da poltica com agentes dos
diferentes subespaos sociais, em especial o espao militante, ou seja, a sua importncia como
exemplo de possibilidade dos movimentos sociais interferirem numa poltica. Da mesma forma, na
Frana, a luta pelo controle epidemia da aids teve um cunho de contestao social, uma forma de
observadas nos casos dos movimentos de luta contra outras doenas, como tuberculose e cncer , por
!
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Quadro 11 Concepes sobre o significado da Poltica Nacional de DST/Aids para o SUS.
Concepo Trecho
Como modelo de A poltica da aids, ela significa que o SUS pode dar certo, porque a poltica da aids, ela promove todas essas questes da equidade, da
poltica integral e intersetorialiade, ela universal, ento no tenha duvida de que ela a prova de que o SUS d certo. (Gil Casimiro)
universal, estruturante (...) No tem nada de bom na aids. Mas o bom da aids foi que a aids mostrou um SUS de altssimo nvel, com todos os princpios
do SUS e sem garantidos possvel, mesmo com todos os problemas que a agente est falando aqui. Ele realizou o SUS de um jeito interessante, tirou o
discriminao vu da hipocrisia, da sexualidade escondida. Eu acho que ampliou a generosidade pra com as pessoas homossexuais (...) Eu acho que um
bom exemplo. Com toda suas limitaes. (Vera Paiva)
(...) eu sempre digo que a aids talvez tenha sido a primeira experincia em que a gente conseguiu concretizar os ideais do SUS. O acesso
universal, a assistncia multiprofissional, integral e a participao da sociedade. Um envolvimento mesmo visceral da sociedade, das
pessoas afetadas. (Valdila Veloso)
Como exemplo da A aids (...) um dos maiores exemplos de aglutinao do movimento social. (...) Se tu pegar, por exemplo, a organizao dos diabticos, a
possibilidade dos luta no travada no campo poltico. Ela muito mais no campo da assistncia, das condies de vida, a da aids no, ela vem do campo
movimentos sociais poltico, porque ela perpassa as questes apenas da doena e entra numa seara poltica, a partir do enfrentamento do preconceito, da
interferirem numa discriminao, das condies de vida, do direito do sujeito ser quem ele , perpassa por tudo. E a partir disso se faz a poltica, se faz um
poltica movimento poltico, se faz um enfrentamento com a sociedade, com as instituies, com a igreja, com o estado, enfim. Ento, a aids ela
vai mexer com todo o sistema de sade. (...)ela vai forar o sistema de sade a ter uma outra lgica. E ai a aids, ela ajuda na questo da
formao do controle social. O que ela provoca de dio e de raiva muito grande. Mas que ela contribui, ela contribui. (Gerson Winkler)
(...) eu diria que o programa de aids, conforme ele se passou no Brasil, colaborou muito para construo do SUS, do ponto de vista do
controle social. No esse controle social que ns vemos dos conselhos, sabe. lamentvel, porque hoje em dia, ns vamos no interior,(...)
e so conselhos que na realidade so apndice do poder executivo. (...) eu acho que o programa de aids, ele teve sua misso importante
enquanto programa vertical, no tenha dvida, porque isso ajudou muito a construir normas e implantar procedimentos. Mas cada vez mais
ns vemos como um processo horizontalizado que faz parte da rede pblica, mas tem que estar presente, como acontece com vrios
programas, ou com vrias abordagens. (Pedro Chequer)
Como exemplo de Sem dvidas, eu acho que representa desafios, porque houve tambm, claro, de ser adaptados, por exemplo, servios especializados
poltica inclusiva de tiveram que ser criados, hospitais-dia tiveram que ser criados. (...) atender e atender bem populaes que estavam longe do servio de
populaes sade. Atender mulheres profissionais do sexo. Os profissionais de sade no estavam acostumados com isso. Discutir sexualidade com
minoritrias e pessoas, fazer pr-aconselhamento, ps-aconselhamento, eu acho que tudo isso foi um longo aprendizado e, mesmo assim, eu acho que
discriminadas pelo ainda h muitas resistncias atender pessoas que so consideradas diferentes. Ento, atender travestis no algo trivial no SUS. (Ins)
SUS (...) acho que o grande contributo da aids foi ter colocado na mesa as necessidades de sade de diferentes populaes que se encontravam
afetadas pela epidemia pra dentro do contexto do sistema nico de sade, quer dizer, trazer os gays, trazer as prostitutas, trazer usurios de
drogas injetveis pro contexto do sistema nico de sade e colocar isso em evidencia, pautando ainda a questo da equidade,
extremamente importante. (Ivo Brito)
!
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das pessoas atingidas e ameaadas pela epidemia.(Pinell, Broqua et al., 2002; Pinell, 2010).
de carro na volta de um congresso de aids em Recife, momento em que o Programa Nacional foi
A relao do PN com a Abia, em especial com seu presidente, Betinho, mudou, seja em
funo da sua relao com o novo diretor, com quem tinha maior proximidade e disposies polticas
Ele tinha uma birra com a Lair, havia uma querela entre ele e a Lair antiga. E comigo no
tinha, porque ideologicamente ns tnhamos coisas em comum, ou quase tudo em comum. E
no final, a gente se entendia muito bem. (Pedro Novaes Chequer, entrevista realizada em
03/08/2011)
O projeto de lei n. 158/1996 (Anexo IV), de autoria do senador Jos Sarney, que props o
acesso universal aos medicamentos para tratamento da aids, representava os anseios de diversos
grupos, em especial da sociedade civil organizada, que j vinha promovendo mobilizaes nesse
sentido. Contudo, o projeto teria resultado de uma articulao entre o socilogo Betinho, o mdico
sanitarista e deputado federal pelo Rio de Janeiro, Srgio Arouca e o ex-ministro da sade e ex-
deputado Carlos SantAnna que poca era chefe de gabinete do senador Jos Sarney e teria escrito a
minuta do projeto.
O Sarney, ele foi procurado pelo prprio Betinho. (Eduardo Luiz Barbosa, entrevista
realizada em 03/08/2011)
Quem redigiu o projeto foi Carlos SantAnna, que era assessor do Sarney. (Euclides Ayres de
Castilho, entrevista realizada em 05/05/2011)
A ideia original foi de Srgio Arouca, provavelmente conversando com Betinho. Porque
Arouca era deputado pelo Rio. A levou, como se davam muito bem Arouca e Carlos, ele foi
presidente da Fiocruz quando Carlos estava l [no Ministrio da Sade] (...) A eles se
conversavam, se apoiavam. Ento quando chegou nessa lei, Carlos sabia escrever lei muito
bem. (...) Todo mundo reconhecia isso. Ento muitos deputados, e Arouca tambm foi l,
levavam para ele para ver a forma, o processo legislativo, aquele negocio todo. E depois, a
forma como caminhar no campo minado que a Cmara para voc chegar promulgar uma lei.
A cmara e o senado, os dois. Ento ele viu tudo e bolou com Carlos uma estratgia que disse
assim: Se voc deixar Sarney apresentar provavelmente mais forte. Mas a ideia original foi
de Arouca. E foi de Arouca trazido do Rio, que eu acho que foi Betinho. (...) Quem levou para
Carlos a proposta, a ideia inicial foi Arouca, Carlos trabalhou na melhoria da proposta com
Arouca (...) Ento eu imagino que nesse desenho da estratgia para fazer com que o projeto de
lei, chegasse a cmara, Carlos deve ter negociado com Arouca, que isso seria atravs de
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Sarney. Ento Carlos entrou nisso no sentido de sensibilizar Sarney para fazer l. Mas a ideia
original foi essa. (Fabola de Aguiar Nunes, entrevista realizada em 14/07/2011)
humanitria, bem como das notcias da XI Conferncia Nacional de Aids, realizada em Vancouver. A
aprovao da contribuio provisria sobre a movimentao financeira (CPMF) era apresentada como
um aporte oramentrio que poderia fazer frente a essa nova despesa, bem como ponderava acerca da
internaes, e que o Brasil como um pas de grandes riquezas no poderia deixar de garantir a
esperana e condies de vida aos indivduos acometidos pela pandemia da aids (Anexo IV).
aprovao transcorreram 90 dias. No houve polarizao dos debates, todos os parlamentares que se
HIV/aids, haja vista que o projeto tratava de uma reafirmao dos direitos constitucionais, ainda que
houvesse oposio de alguns deputados, como percebido na fala do deputado Ayres da Cunha ao
jornal Folha de So Paulo. A votao da proposta na Cmara dos Deputados (PL n. 2.375, 1996) foi
adiada por requerimento do lder do governo, o deputado Benito Gama (PFL-BA), ainda que sob a
discordncia de alguns deputados como Fernando Gabeira (PV-RJ), Eraldo Trindade (PPB-AM),
Alexandre Cardoso (PSB-RJ), Srgio Miranda (PcdoB-MG), Matheus Schmidt (PDT-RS) e Paulo
Rocha (PT-PA) que se opuseram retirada da votao da pauta. A justificativa para o adiamento
estava relacionada principalmente alocao de recursos, uma vez que a despesa no estaria prevista,
havendo necessidade de adequao do oramento pelo governo federal. Nova votao aconteceu no
dia 14 de outubro de 1996, apenas 5 dias depois. O relator, o deputado Arnaldo Farias de S (PTB-
SP), props mudanas redacionais que foram revisadas no retorno ao Senado e incluiu a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
181
O pargrafo 3o do substitutivo proposto pela Cmara dos Deputados dizia: A distribuio gratuita dos medicamentos
observar critrios scio-econmicos, conforme regulamento, e dar prioridade aos pacientes em regime de internao
hospitalar.
!
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internados propostos pelo substitutivo da Cmara dos Deputados, considerando as restries impostas
inconstitucionais, haja vista a sade tratar-se de um direito de todos e um dever do Estado, e que a
mdica de internamento para o uso de antirretrovirais. O co-financiamento pelos gestores do SUS foi
acatado, modificando o art. 2o da PL 158. A redao final foi aprovada em plenrio, correspondendo
ao texto da Lei n. 9.313, sancionada em 13 de novembro de 1996 pelo presidente Fernando Henrique
Ainda que de fato tenha apenas ratificado direitos constitucionais, a nova lei reforou a luta
dos portadores de HIV/aids e das ONGs/aids pela garantia de acesso ao tratamento, levando inclusive
a uma situao diferenciada do acesso aos medicamentos antirretrovirais em relao ao acesso a outros
Em dezembro de 1996, foi criado o Comit Tcnico Assessor para Terapia Antirretroviral que
elaborou o guia de orientaes teraputicas em HIV/aids. Esse Comit era composto pelos mdicos
Pedro Chequer (Dirigente do PN DST/Aids), Celso Ferreira Ramos (Prof. Doenas Infecciosas e
Parasitrias UFRJ), Geraldo Duarte (USP Ribeiro Preto), Helosa Helena de Souza Marques
(Mdica pediatra do Hospital das Clnicas da USP), Helvcio Bueno (Assessor do PN DST/Aids),
Joo Silva de Mendona (Diretor do Servio de Molstias Infecciosas do Hospital do Servidor Pblico
infantil), Norma de Paula Motta Rubini (Unirio), Rosana del Bianco (Chefe da Unidade de Assistncia
Sade do Programa Nacional de DST/aids) e Valdila Gonalves Veloso dos Santos (Fiocruz). Em
1997, foi realizada a primeira reviso, tendo como produto o Consenso para terapia antirretroviral para
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em torno de 39% em 1996, o nmero de casos passou de 36 mil em dezembro de 1996 para 50 mil em
janeiro de 1997. Os mandatos judiciais que obrigavam o Estado a fornecer medicamentos fora das
em novos custos182. Contudo, houve uma reduo dos gastos com internao, em torno de 40% no
CRT de So Paulo e 35% no Hospital Emlio Ribas, e no uso de medicamentos para infeces
oportunistas, para o ganciclovir, que combate o citomegalovrus, houve uma reduo de 20%. Um
paciente em uso de antirretrovirais custava cerca de R$ 10.000,00 por ano, 50% menos que se ficasse
doente183 .
Um dos principais problemas para a implantao do acesso universal era a falta de controle
estoque e o Siscel foi criado para acompanhamento dos exames laboratoriais. Uma outra iniciativa
seria a implantao de um carto aids para identificao dos portadores acompanhados no SUS, mas
que no foi adiante devido inteno do Ministrio da Sade de implantar o carto SUS186.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
182
Falco, D. Registro de casos de aids sobem 39%. Folha de So Paulo. So Paulo. 6/02/1997 1997.
183
Martins, L. e Tosta, W. Coquetel suaviza falta de verba para aids. Folha de So Paulo. So Paulo. 2/12/1997 1997.
184
Falco, D. Registro de casos de aids sobem 39%. Folha de So Paulo. So Paulo. 6/02/1997 1997.
185
Quando esteve no Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), Pedro Chequer participou da criao do Sistema de
Informao de Agravos de Notificao (Sinan).
186
E em seguida ns bolamos o carto, como que era o nome meu Deus do cu? Eu sei, eu tinha uma exemplar desse
carto, era um carto para paciente de aids. Porque mesmo com o SICLOM posto e funcionando precariamente comeamos
com pouco servio, depois com mais 120 servios, 150 servios, hoje no sei quanto est, acho que est em 500, algo assim.
Mas tnhamos um problema que surgia a partir do debate com o campo ou com as redes de pessoas vivendo, pacientes que
moravam em So Paulo, por exemplo, que estavam na Bahia, como que recebia o remdio? Ou se acabasse o remdio, ou
se tivesse que permanecer? Ai ns bolamos um carto, era um carto que ia ter um chip que o paciente ia no SICLOM,
debitava na conta dele. O Ministrio ficou enciumado, a SAS era inimiga. Werneck, Dr. Werneck. Ns tnhamos o ministro
que Morreu, o gacho [Carlos Csar Albuquerque].() Ns chegamos a ter o nosso carto, em 1997, (...), o carto aids. E
lanamos oficialmente e tudo mais, mas a foi vetado! No Vai ter o carto SUS, o carto SUS d conta de tudo. Tudo
bem, infelizmente, esto patinando at hoje. (Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, So Paulo, SP)
!
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importantes transformaes no espao aids brasileiro: a crtica mais cida das ONGs com relao
legislao, em especial o acesso a medicamentos; o Programa Nacional passou a ter uma posio
tambm para a regulamentao dos medicamentos genricos no pas (Loyola, 2008) e influenciou o
posicionamento poltico internacional do pas haja vista a disputa com a indstria farmacutica
internacional pela reduo dos preos dos medicamentos antirretrovirais. Essa foi umas das mais
importantes disputas que aliou mdicos sanitaristas, pesquisadores, agentes do campo burocrtico e
Pedro Chequer saiu da direo do Programa Nacional em maro de 2000, quando foi
convidado para ser representante do programa conjunto das Naes Unidas sobre HIV/Aids (Unaids)
no Cone Sul. Assumiu a direo do Programa, Paulo Roberto Teixeira, primeiro coordenador do
Programa Estadual de So Paulo, que permaneceu na funo at 2003, quando foi para a Direo do
Foi durante a gesto de Paulo Teixeira que o Programa recebeu o prmio Bill e Mellinda
Gates, no valor de um milho de dlares, considerado como a ao de sade pblica mais relevante de
2002. O prmio foi investido em projetos de casas de apoio a portadores de HIV/Aids. Foi tambm na
sua gesto que na busca pela sustentabilidade do acesso a medicamentos antirretrovirais, foi proposta
pela primeira vez pelo governo brasileiro a quebra de patentes (Abbade e Baio, 2010).
tratamento para a aids. Entre o registro de um medicamento e a sua incluso no consenso, aes
judiciais eram movidas por pacientes que necessitavam da nova droga, obrigando o SUS a fornecer
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$So necessrios mais 222 mi. Folha de So Paulo. So Paulo. 23/12/1997 1997.
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antirretrovirais no disponveis na rede pblica, s vezes medicamentos ainda sem registro no pas
(Scheffer, 2008).
da Sade Jos Serra decidiu centralizar e ampliar a produo nacional de antirretrovirais genricos e
ameaou utilizar licenas compulsrias para produzir medicamentos patenteados (Nunn, 2009).
e as negociaes com a indstria farmacutica proporcionaram uma reduo de 72,5% dos preos dos
Frente poltica agressiva adotada pelo Brasil para a reduo dos preos dos medicamentos
para aids, em maio de 2000, os EUA abriram uma consulta na OMC junto ao governo brasileiro acerca
do artigo 68 da Lei 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial), que trata da licena compulsria de
patentes, considerando que a mesma desrespeitava o acordo TRIPS (Agreement Trade-Related Aspects
entraram com uma queixa no Dispute Settlement Body190 (DSB) da OMC em janeiro de 2001 (WTO,
governo dos EUA em resposta ao congelamento de preos proposto pelo governo brasileiro, visando a
reduo de preos pelas indstrias detentoras das patentes, caso contrrio seria usado o dispositivo da
licena compulsria, prevista na Lei de propriedade industrial brasileira (Oliveira e Moreno, 2007). A
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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$Falco, D. Preo de remdio anti-aids cai 72,5%. Folha de So Paulo. So Paulo. 15/03/2000 2000.
189
Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio, entre os membros da OMC,
que estabelece padres mnimos no mbito do direito internacional relacionados s patentes, inclusive de medicamentos.
190
rgo de Soluo de Controvrsias$
!
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compulsria com relao a patentes de empresas daquele pas. interessante notar que no acordo, os
EUA pediam que o Brasil se comprometesse a no recorrer OMC em relao s sees 204 e 209 da
industrial brasileira e que portanto tornavam sem efeito a queixa (WTO, 2001a).
O recuo dos EUA constituiu-se importante vitria para o Brasil. Contudo, as discusses acerca
da necessidade de reviso do acordo TRIPS e da forma de lidar com as patentes nas questes de sade
ONU.
Braslia visando criao de uma Frente Parlamentar de luta contra a aids191, qual se integraram os
Pellegrino (PT-BA), Fernando Gabeira (PT-RJ), Gilmar Machado (PT-MG), Esther Grossi (PT-RS),
Laura Carneiro (PFL-RJ), Lo Alcntara (PSDB-CE), Maria Elvira (PMDB-MG), Marisa Serrano
(PSDB-MS), Rita Camata (PMDB-ES), Marcos Rolim (PT-RS) e Agnelo Queiroz (PCDOB-DF). O
genricos aos portadores de HIV. O pedido dava-se em razo da reunio da OMC no dia 9 de
O Brasil estava liderando a negociao com a OMC desde setembro de 2001 para que o
acordo TRIPS no fosse uma barreira para o acesso aos medicamentos e que esses fossem encarados
como questo de Direitos Humanos193 . A Declarao sobre o acordo TRIPS e sade pblica foi
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
191
Cmara dos Deputados, Discursos e notas taquigrficas da sesso 223.3.51.O, de 31 de outubro de 2001.
192
Agncia Cmara de Notcias. Frente Parlamentar contra Aids define atuao. 01/11/2001, disponvel em:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/NAO-INFORMADO/12432-FRENTE-PARLAMENTAR-CONTRA-
AIDS-DEFINE-ATUACAO.html, acessado em 07/12/2012.
193
Ata da reunio do dia 24 de outubro de 2001, do grupo temtico do Unaids, disponvel em
http://www.unaids.org.br/quem_somos/2001/GT%20UNAIDS%20Brasil%20Outubro%202001.pdf, acessado em:
07/12/2012.
194
Para maiores esclarecimentos consultar Correa, C.M. O Acordo TRIPS e o acesso a medicamentos nos pases em
desenvolvimento. Rev. int. direitos humanos [online], v.2, n.3, 2005. Disponvel em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1806-
64452005000200003. >. Acesso em: 15/11/2012.
!
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internacional da estratgia brasileira, com impacto importante sobre o financiamento internacional que
se deslocou para pases com respostas menos estruturadas e quadro epidemiolgico mais grave.
O Programa Nacional passou a assumir uma posio dominante no espao aids nacional e a
ser reconhecido no cenrio internacional, todos os seus gestores permaneceram no espao aids e
municipais e/ou estaduais e tcnicos do Ministrio da Sade com maior destaque assumiram posies
7.6 Transformaes no espao aids: quem passou a se interessar pela aids e por qu?
A resposta brasileira epidemia da aids foi se tornando mais complexa ao longo dos 20 anos
analisados no presente estudo. A estrutura do espao aids brasileiro mostrou-se bastante dinmica no
referido perodo (1981-2001), com novos grupos de agentes sendo incorporados ao espao militante a
Comrcio, o que levou tambm a um maior envolvimento do campo poltico com a criao da Frente
capital e sua relao inicial com o espao aids tambm em 2001 (Quadro 12). Dos 33 entrevistados, 25
estavam no espao aids em 2001, sendo que 14 desde o perodo de 1983-1986. Dos 20 entrevistados
que se inseriram no espao at 1986 (Quadro 6, p. 69), sete afastaram-se do espao aids: Eduardo
Crtes, Edward MacRae, Fabola Nunes, Maria Leide Wan del Rey de Oliveira, Gerson Fernando
Pereira, Silvia Ramos e Valria Petri. As sadas do espao aids muito revelam de sua natureza de
espao de lutas e conflitos de ordem poltica, burocrtica e geracional, envolvendo paixes (illusio).
!
"&*!!
Quadro 12 Agentes participantes e fundadores do espao aids segundo subespao de pertencimento, graduao,
profisso dos pais, volume de capital cientfico, burocrtico, poltico e militante e relao com a aids, em 2001.
Agente Graduao S Prof. Pai Capital cultural CC CB CP CM Relao com a
(ano) E (Escolar) aids195
Ieda Fornazier Turismo Policial civil Sup. Completo - P - - Profissional
(????)
Valdila Veloso Medicina (1985) Contador Ps-graduao - A - - Profissional
Ivo Brito Sociologia S/I PG Lato - A P - Profissional
(????)
Mrcia Sampaio Medicina Eletrotcnico Sup. Completo - A - - Profissional
(1989)
Renato Girade Proc. De Mdico PG Lato - A - - Profissional
dados(????) pediatra
Manoel Alves Economia Trabalha com Sup. Completo - A - - Profissional
(????) madeiras
Alexandre Grangeiro Cincias Dono de PG Lato - A - - Profissional
Sociais(1992) expresso
rodovirio
Burocrtico
(1968)
urea Abbade Advogada * Sup. Completo - - P A Profissional/Pes
soal
Jos da Rocha Medicina Dono de bar Ps-graduao P A P - Profissional
Carvalheiro (1961)
Osvaldo Fernandez Cincias sociais Comerciante Ps-graduao P - - - Pessoal (HS)
(1987)
Maria Ins Costa Medicina Mdico, prof. Ps-Graduao M M - - Profissional
Dourado (1981) Universitrio
Vera Paiva Psicologia Poltico Ps-graduao M - - P Profissional
(1977)
Cientfico
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$O apndice III Relao com a aids apresenta as falas dos entrevistados que resultaram na classificao apresentada no
Quadro 11.$
!
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, A motivos pessoais, como a perda do irmo e de vrios amigos, vtimas da epidemia, no caso
de Edward MacRae;
gestes) no trabalho, como nos casos de Eduardo Crtes, Silvia Ramos, Mrcia
profissionais, como nos casos de Ana Luiza Vilasboas e de Gerson Fernando, para os
queria limitar a sua atuao a uma poltica de sade especfica e tambm pretendia ter
sua insero prioritria no campo cientfico, o que ocorreu em 2009, quando fez
para a Universidade Federal da Bahia. Gerson Fernando tinha por opo profissional a
dermatologia e o trabalho com hansenase, com a separao das duas reas, optou por
mesmo
Gerson Fernando.
!
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Quadro 13 Justificativas para o afastamento do espao aids
Agente Subespao no Entrevista
momento do
afastamento
Ana Luiza Vilasboas Burocrtico (...) Eu me lembro de que uma vez algum comentou comigo, voc que tem essa habilidade no planejamento, voc podia utilizar isso para ser
uma consultora e essa coisa de carreira internacional, mas eu acho isso uma bobagem. Eu no tenho interesse, eu no tenho, nesse sentido no
(...) eu no teria vontade de trabalhar com uma poltica mais especfica assim na minha vida profissional.
Cristina Cmara Burocrtico (...) eu queria sair daquele ritmo enlouquecido que eu estava no Ministrio ainda que eu pudesse fazer consultorias para o Ministrio mais
pontuais, (...) E depois realmente o ritmo do trabalho mudou, (...) Ento a ONG aqui de So Paula acha que o projeto dela no est bom no sei
porqu, mandava e-mail para o Alexandre, o Alexandre respondia, a ONG do Rio mandava para o Raldo, o Raldo respondia, ento a chefe da
unidade no serve para nada, porque eles resolvem do jeito que querem depois voc fica sem saber, (...) ele nem se tocava que eles passavam por
cima. Paulo nunca fez isso. Chegava uma correspondncia para ele reclamando de tal projeto, ele respondia com copia para mim estou
encaminhando para a chefe da unidade ento, isso te empodera, porque diz a autoridade que voc tem (...).
Eduardo Crtes Burocrtico (...) hoje eu nem sei mais quase nada de aids, desencantei, sai daquela coisa, que uma polticagem que eu no aguentei. No faz bem pra minha
sade mental. Agora, no, agora que virou doena de pobre, n? Mas na poca, era muito virulento... Nossa! (...) foi uma deciso minha, mas eles
comearam a me boicotar. (...) eles foram me solapando e ai eu dei uma entrevista que a campanha do carnaval no saiu porque no autorizaram
a tempo (...) a ele me chamou l, me tirou, disse que iam trazer a Lair de volta porque fazia parte l do grupo dele. Porque o cara que era l da
OPAS, ele tinha muitas conexes entre os sanitaristas brasileiros, um monte de coisa l. (...) Ai muda o ministro, assim mesmo. (...) Eu ainda fiz
algumas coisas, tentei algumas coisas, mas ai tudo que eu fosse tentar, eu ia ser podado, a como eu sou oncologista de formao, fui aos poucos
mudando. No fcil no. (...) eu me interesso at hoje, eu tenho uma viso... acompanho um pouco, mas ai profissionalmente, voc comea a
fazer pesquisa em outras reas, a voc comea a ser absorvido.
Edward MacRae Militante Da, o meu irmo, teve aids. E morreu. E sabe, eu l, militante, uma das pessoas que mais falava sobre o assunto, no sei o que, eu no soube
reconhecer quando ele estava com aids. (...) Da fiquei completamente desgostoso com o tema, com as pessoas, comigo mesmo, com tudo. (...) e
no quis mais lidar muito com esse tema de homossexualidade, o tema da aids. E a eu j estava desgostoso com essa briga do Somos e todas
essas coisas.
Gerson Fernando Pereira Burocrtico (...) O Programa de Aids foi para um canto e o programa de hansenase ficou em outro canto. E a nessa diviso foi que eu sai do Programa de
Aids. Eu preferi, porque eu sou dermatologista e minha formao em hansenase, e a eu fiquei na hansenase. E a s voltei para a aids no ano
de 2004.
Mrcia Sampaio Burocrtico (...) foi uma forma de proteo pra mim. Se eu continuasse vivendo, acompanhando o movimento, eu ia sofrer. Ento eu preferi realmente
apagar, pgina virada, apagada do meu folhetim.
Silvia Ramos Militante Eu j queria sair, eu sentia que j tinha cumprido um ciclo, mas a sada em si foi meio traumtica, porque houve uma briga l, no foi muito
boa...
Valria Petri Cientfico Eu me retirei por uma razo s(...) Porque eu acho que funciona muito bem no sistema. Porque voc tem jovenzinhos nos postos de sade que
so muito mais bem informados do que eu, que vo aos congressos animadamente, que acompanham tudo, que eu no tenho mais pacincia para
acompanhar. Que disputam espaos e tudo isso e eles fazem isso com muito mais habilidade. (...)
!
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geralmente, nvel superior ou ps-graduao lato senso. A exceo foi a mdica Valdila Veloso, que
poca era coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids do Estado do Rio de Janeiro, tendo
Valdila desde 2006 assumiu a diretoria do Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas e em 2008
exclusivamente capital burocrtico. Apenas Paulo Roberto Teixeira, Pedro Chequer e Ivo Brito
contudo, que diversos dos agentes desse subespao gozam de grande reconhecimento (capital
simblico) ao interior dos diferentes subespaos do espao aids , como Paulo Roberto Teixeira e Pedro
Chequer, por exemplo (Quadro 12). Talvez a possesso de um capital (burocrtico) garantido pelo
Estado, que corresponde a um meta capital, lhes tenha garantido poder sobre outros tipos de capital, ou
seja, para alm do capital garantido pelos ttulos ou diplomas, os agentes do Estado possuem o
poder de nomeao, delegado pelo Estado, quer dizer, possuem um capital que d poder sobre outras
espcies de capital e, portanto, sobre outros campos no sentido de Bourdieu (2012). Por exemplo, o
indica ou nomeia quem vai participar do Comit especfico para esse fim.
O subespao militante continuou atraindo principalmente agentes que tinham uma relao
pessoal com a aids (pessoas vivendo com HIV/aids, grupos com maior risco para adquirir a doena,
amigos e familiares). Entre os que ingressaram aps 1986, apenas Cristina Cmara teve uma
aproximao profissional. Os novos agentes possuam em 2001 menor capital cultural que aquele
apresentado pelos militantes que ingressaram no espao aids no perodo entre 1983-1986: se os mais
antigos possuam quase todos ps-graduao (mestrado ou doutorado), a nica exceo era a advogada
urea Abbade, entre os 6 mais novos predominava curso superior completo (50%), seguido do ensino
mdio (33,3%), apenas um (1,7%) agente possuindo Ps-graduao (doutorado). Entre os militantes,
!
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Cristina Cmara e Gerson Winkler possuam um volume alto e mdio, respectivamente, de capital
burocrtico. Em 2001, Cristina assumiu a Unidade de Articulao com a Sociedade Civil e Direitos
Humanos do PN de DST/Aids, de 1992 at aquele momento, seu engajamento era no espao militante
(quadro 12). Contudo, aps a sua insero no Ministrio da Sade, no considerava o retorno
(...) apesar do tempo que eu fiquei no programa e de eu achar que conseguia esse
distanciamento com o movimento, principalmente com o Pela Vidda, (...) mas quando eu
sa do programa eu tinha certeza que eu no queria voltar para ONG, para mim no tinha
nada a ver profissionalmente, por outro lado o fato de eu ter sido do governo tambm no
me deixou vontade no primeiro momento que eu fosse virar ativista de novo, no sentido
pleno do termo (... ) (Cristina Luci Cmara da Silva, entrevista realizada em 04/05/2011).
Gerson Winkler tambm teve uma experincia na gesto, na Secretaria Municipal de Porto
Alegre e inclusive defende que os gestores da poltica de HIV/Aids deveriam ser pessoas vivendo com
HIV/Aids.
(...) isso faz o diferencial. Na medida que eu estou aqui trabalhando, eu sei que nesse
exato momento tem um monte de gente no hospital de clnicas, na emergncia, com
infeco oportunista, com diagnstico tardio. O problema que eu fico pensando isso todo
o tempo. Eu no enxergo isso como um problema do outro apenas. Eu enxergo isso como
um problema de quem vive com isso e quem pode a qualquer momento estar l junto. Ento
eu sei da emergncia disso. Eu sei muito mais da emergncia disso, como uma mulher que
na sade da mulher sabe a emergncia da questo da discusso do aborto. Para um
homem pode at passar batido, mas para uma mulher essa discusso fundamental.
(Gerson Barreto Winkler, entrevista realizada em 16/06/2011)
momento de criao da rede de pessoas vivendo com HIV/aids e mesmo anterior esse perodo, quando
(...) teve uma briga muito grande exatamente assim dessa coisa das ONGs que no
representavam os soropositivos e que faziam dos soropositivos a estrada do
assistencialismo absoluto. Ento as pessoas ia l s para receber e no participavam das
decises e nem da constituio. Ento teve uma briga de um grupo de pessoas que viviam
com HIV/aids com as instituies que estavam constitudas, exatamente para discusso de
qual o espao de quem e o que fazemos aqui. Eu acho que isso era anterior at a
constituio da rede e essa discusso ela foi se ampliando. Quando entrei para o
movimento, logo na sequencia, teve um encontro nacional em So Paulo e essa discusso
ali se aprofundou, da ONG, que bicho esse?, que era o lema, ento comeou uma
discusso muito forte exatamente para ver qual o lugar que esse soropositivo iria ocupar, e
qual era a legitimidade das ONGs que estavam at ali institudas. A princpio a rede acho
que ela foi formada exatamente para poder ter o protagonismo de quem vivia com
HIV/aids, de uma forma diferenciada. Houve uma ruptura entre essas pessoas e as ONGs
mesmo que nessas outras ONGs tivessem pessoas soropositivas. O Gapa So Paulo um
exemplo disso. Paulo Bonfim que era o presidente, era pessoa vivendo com HIV/aids, mas
a forma de trabalho nas ONGS que estava sendo questionada. (Eduardo Luiz Barbosa,
entrevista realizada em 02/08/2011)
!
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Apenas dois dos entrevistados (Osvaldo Fernandez e Maria Ins Costa Dourado) foram
agentes do subespao cientfico que entraram depois de 1986 no espao aids. Osvaldo iniciou sua
relao com o espao aids a partir de questes profissionais e Ins, como objeto de pesquisa de sua
dissertao de mestrado. Os agentes desse subespao em 2001 foram os que apresentaram uma maior
diversidade de capitais. Bernardo Galvo possua alto capital cientfico, e pequeno volume de capital
burocrtico, poltico e militante, sendo o nico agente que apresentava todos os tipos de capital
questo, e capital burocrtico, resultado da participao desses agentes (Jos da Rocha Carvalheiro,
engajaram-se no espao aids por motivo pessoal e referiram que essa era uma posio em que eles
poderiam atuar de forma mais concreta, fazer mais, ir alm da crtica poltica, o que na opinio de
alguns inclusive tornava a sua atuao nesse subespao ainda mais gratificante, como fica claro na fala
de um dos entrevistados:
Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais, sendo Eduardo Barbosa o Diretor Adjunto do Programa em
2012.
ocupasse a direo. As nicas excees foram a sua primeira gestora, que era biomdica e o entre
2003 e 2004, o socilogo Alexandre Grangeiro. Todos os outros gestores eram mdicos: Pedro
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Chequer, Paulo Roberto Teixeira, Maringela Simo e, desde agosto de 2010, Dirceu Greco. O campo
mdico exerceu e ainda exerce papel dominante no espao de forma que uma entrevistada chegou a
afirmar que ser mdico era um dos critrios para assumir a direo do Programa/Departamento.
faziam uma trajetria ao interior desse subespao nos diferentes nveis de gesto do SUS, sendo
confiana, tornando-se o que Goulart (2006) denominou de executivos da sade. Contudo, deve-se
destacar que h exemplos de agentes do espao militante que mesmo tendo assumido funes no
campo burocrtico depois retornaram a esse espao, como, por exemplo, Paulo Bonfim do Gapa que
retorno ao Gapa assumiu a presidncia da entidade (Abbade e Baio, 2010), o que pode ser explicado
pela diversidade de trajetrias dos agentes analisados. Ao assumirem posies na gesto da poltica de
aids, esses agentes adotaram uma postura empreendedora, buscando promover inovaes,
(Goulart, 2002). Esses agentes fizeram uma converso do seu capital militante em burocrtico,
adaptando para o campo burocrtico o conjunto de saberes e prticas adquiridos nas mobilizaes, nas
lutas e na atuao no movimento associativo sob a forma de tcnicas, de disposies de agir, intervir
ou simplesmente obedecer.
Outro aspecto importante referido por todos os entrevistados a satisfao de ter participado
profissional, alguns referiram que preferiam no se sentir realizados, para continuar indignando-se,
mas de uma forma geral, aparecem sentimentos como engajamento e orgulho de ter contribudo para a
elaborao de uma poltica reconhecida internacionalmente pelos seus resultados, ainda que esteja
presente nas falas tambm a necessidade de continuar lutando pela manuteno e sustentabilidade das
conquistas (apndice IX). Alguns agentes do subespao cientfico (Euclides Castilho, Jos da Rocha
Carvalheiro, Valdila Veloso) tambm transitaram pelo espao burocrtico, mas estes ou no se
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desvincularam em nenhum momento de seu espao de origem, atuando em dois subespaos (cientfico
mdicas de renome e referencias nacionais na rea das doenas ditas tropicais como Ricardo
Veronesi e Vicente Amato Neto contriburam para a elaborao do discurso oficial, participando de
reunies e da Cnaids. Eduardo Crtes foi o nico mdico clnico a assumir a direo do Programa no
perodo analisado, mas a participao de mdicos clnicos no campo burocrtico aumentou medida
que foram surgindo possibilidades teraputicas. Essa participao tornou-se mais evidente
com diferentes formaes, inclusive com a contratao do pessoal oriundo dos movimentos sociais,
Departamento de DST, Aids e hepatites virais, desde 2009 (o departamento contava em 2011 com
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autoridade de falar sobre o significado da doena, suas formas de preveno e tratamento, bem como
sobre as estratgias mais adequadas para o seu controle. Sua conformao iniciou-se com a
mais tarde, as ONG/aids (em especial Gapa, Abia, Pela Vidda, GIV e RNP+), como so conhecidas as
associaes especficas de luta contra a aids no Brasil, que compunham o subespao militante. Trata-
A poltica de controle da aids no Brasil teve incio em 1983, no Estado de So Paulo, antes
mesmo de haver uma resposta teraputica mdica eficaz, com clara dominncia de agentes do campo
mdico, com insero no campo burocrtico e no espao da sade coletiva. A poltica surgiu de uma
O movimento homossexual que inicialmente negava a doena foi sensibilizado pelas notcias trazidas
por pessoas que viajavam ao exterior, pela divulgao atravs da mdia em 1983 do diagnstico dos
primeiros casos brasileiros e pela reunio sobre a doena com o mdico infectologista e professor da
USP, Ricardo Veronesi. Esse grupo de representantes do movimento homossexual, composto por
artistas, docentes, pesquisadores, jornalistas, publicitrios, entre outros, alm de alto capital cultural,
tambm possua uma rede de contatos importantes, um capital social que permitiu que fosse agendada
uma audincia com o Secretrio de Sade do Estado para demandar uma atuao especfica do poder
pblico.
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Pode-se destacar como condies histricas de possibilidade para a emergncia precoce dessa
vulnerabilidade:
e com lideranas que ocupavam posies de destaque, com elevado capital econmico
e social;
(Reforma Leser);
epidemia.
Sexualmente Transmissveis constitudo e que o coordenador dessa diviso e do grupo de trabalho era
A resposta nacional, contudo iniciou-se apenas em 1985, aps Estados como So Paulo, Rio
de Janeiro e Rio Grande do Sul j terem organizado programas de sade especficos para combater a
epidemia. No mbito nacional, podem ser consideradas como condies para a deciso da incluso da
Pelo pioneirismo, os agentes do Estado de So Paulo sempre foram dominantes no espao aids
homossexuais, ONG-Aids). Ainda que apenas em 2000, a gesto do Programa Nacional tenha sido
assumida por um paulista, a orientao tcnica e poltica do programa nacional seguiu o referencial do
simblico.
Os agentes que se engajaram no espao aids brasileiro eram pessoas afetadas pela epidemia,
ou seja, pessoas vivendo com HIV/aids, pessoas vulnerveis aids, como homossexuais, usurios de
mdicos e pesquisadores, principalmente. Aqueles que entraram nesse espao de luta por questes de
diversificada e um capital cultural importante, quase todos possuindo ps-graduao stricto senso
aps esse perodo, que em 2001 possuam menor capital cultural, predominando curso superior
completo, seguido do ensino mdio. Nos subespaos burocrtico e cientfico, o predomnio era de
graduados em medicina, sendo que os agentes do campo cientfico possuam ps-graduao stricto
especficas de luta contra a aids surgiram frente a demora do Estado em responder uma nova
epidemia, no Brasil, elas surgiram aps implantao da poltica governamental, inclusive da poltica
nacional, e foi fomentada pelo Estado, no sentido em que este foi o primeiro financiador dessas
associaes. Esse incentivo do Estado na constituio das ONGs/aids no foi exclusivo do Gapa/SP,
que teve apoio da SES-SP inclusive cedendo uma sala no seu prdio e apoio logstico, mas tambm a
Abia teve seus primeiros financiamentos garantidos pelo Inamps e pela Finep, instituies estatais,
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atravs de militantes da reforma sanitria, como Hsio Cordeiro e Reinaldo Guimares que assumiam
e brasileiro: ambos so constitudos por agentes com histrico de militncia de esquerda (na Frana a
base); nos dois pases, os militantes buscavam uma exterioridade ao movimento homossexual, ainda
que muitos de seus integrantes fossem homossexuais e mesmo oriundos desse movimento. No Brasil,
assim como na Frana, inicialmente as associaes surgiram para preencher os vazios e as lacunas
deixadas pela insuficincia da poltica estatal, que aqui no Brasil representam as ONGs de carter
poltico-assistencial, como o Gapa. Mais tarde surgiram associaes de cunho eminentemente poltico,
que criticavam o Estado, mas que tambm se opunham ao reformismo das associaes j
militante, entre associaes especficas de luta contra a aids e movimentos em que a aids apareceu
como questo transversal, entre as king-ONGs e ONGs menores, entre ONGs polticas e ONGs
assistenciais, alm da disputa entre ONGs de pessoas vivendo com HIV/aids e as demais ONGs/aids;
no campo cientfico, entre grupos de diferentes instituies de pesquisa e ensino superior (USP X
associaes especficas de luta contra a aids deram-se at 1993 em torno das campanhas preventivas
(qual deveria ser a populao alvo: grupos especficos ou populao geral, se deveria ser adotada uma
linguagem tcnica ou popular, o que poderia ser dito e o que no poderia ser dito, que termos usar,
etc.). A partir do surgimento do primeiro medicamento ARV e sempre que surgiram novos
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comisso, sua funo, quem a integra), principalmente com o surgimento de novas organizaes no-
governamentais.
O que prevaleceu nas campanhas governamentais foi a concepo tcnica dos agentes do
campo burocrtico, ainda que com influncia do campo religioso, que em algumas oportunidades
conseguiu interferir no contedo das mensagens, e do espao militante que influenciou a promoo de
A relao da doena com a sexualidade e o uso de drogas injetveis levaram a uma influncia
do discurso religioso sobre a concepo da doena, inculcada especialmente pela igreja catlica,
predominante no pas, relacionada ao pecado, transgresso moral e ao castigo divino. Nesse sentido,
Na imprensa, a aids era apresentada como um problema dos homens homossexuais norte-
Inicialmente denominada peste gay, cncer gay, cncer rosa, quando a nova doena passou a
mdicos e pela imprensa. O Brasil foi o nico pas da Amrica Latina que no adotou o termo Sida.
Um estrangeirismo, uma submisso tanto no campo cientfico como cultural aos EUA, que foi
religiosa), ao apelido do nome Aparecida e formalizada em uma reunio no Ministrio da Sade para
As semelhanas entre Brasil e Frana aparecem tambm quanto s primeiras medidas adotadas
pelo Ministrio da Sade de cada um dos pases: vigilncia epidemiolgica, educao e informao
Essa ltima estratgia tinha por objetivo reduzir o estigma e a discriminao dos grupos mais
afetados, de modo que no Brasil, acordou-se que as campanhas seriam voltadas para a populao
geral. Isso s foi alterado a partir do final da dcada de 1980, com o Projeto Previna, voltado para
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preventivas de veiculao nacional, essa ltima talvez a questo de maior controvrsia ao interior do
espao aids. Controvrsia que perdurou at 2012, quando aps a apresentao oficial da campanha
para o carnaval, voltada prioritariamente aos jovens homossexuais, o Ministrio da Sade, mudou a
mensagem da campanha, para evitar atritos com a bancada evanglica, reacendendo a crtica das
ONG/aids.
O fato de o campo mdico ter sempre exercido papel dominante, bem como a conjuntura do
apenas aes de carter preventivo (priorizadas at o final da dcada de 80), mas tambm, o acesso ao
evoluindo para os antirretrovirais em 1991 e universalizando o acesso em 1996 atravs da Lei 9.313).
Assim, essa poltica baseada na integralidade da ateno sade foi sendo conquistada e construda ao
longo do perodo estudado (1981 a 2001), resultando da incorporao de novas tecnologias medida
que o saber e as prticas mdicas sobre a doena avanavam, como resultado da complexa
Ainda que o espao aids tenha sido dominado pelo campo mdico, dentre os principais agentes
influncia crescente do campo burocrtico nesse espao, de modo que a partir de meados da dcada de
1990, o Programa Nacional passou a assumir um papel dominante, o que modificou significativamente
as relaes ao interior do espao aids, levando a uma reduo gradual da crtica de oposio poltica
pelas ONGs/aids, que passaram a brigar pelo cumprimento dos direitos adquiridos pelos portadores de
HIV/aids. Contriburam para essa posio de autoridade dos tcnicos do Programa Nacional, o aporte
financiamento de aes nos Estados e municpios, bem como de projetos junto s ONGs; e a deciso
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poltica dos Ministros da Sade e dos Presidentes da Repblica em assumir, contra as orientaes do
Banco Mundial, da OMS e das presses das indstrias farmacuticas, a garantia ao tratamento para
portadores de HIV/aids.
Ministrio da Sade de projetos de ONGs voltados para preveno da doena e assistncia aos
contrrio das ONGs mais antigas e mais consolidadas, passaram a depender dos recursos
governamentais.
foi considerado como facilitador da expanso e consolidao das ONGs/aids, bem como contribuiu
para a estruturao inicial de uma rede de servios de sade e apoio diagnstico, e para a capacitao
estabelecimento da estratgia de acesso universal aos ARV em 1996. Associado a isso, as evidncias
para pases com respostas menos estruturadas frente epidemia de aids e quadros epidemiolgicos
mais graves. Esse fato, reduziu a oferta de financiamento para ONGs/aids, tornando os editais do
dos recursos para Estados e municpios a partir de 2002, associada baixa capacidade de gasto dos
pas e de conformao do Sistema nico de Sade, contriburam para a formulao de uma poltica
baseada na sade como um direito e dever do Estado. Foi essa premissa constitucional que garantiu a
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base legal para a demanda em juzo pelas assessorias jurdicas de diversas ONGs da garantia de acesso
ao tratamento.
Em que pese o relativo sucesso da poltica nacional e mesmo a vanguarda assumida pelo pas,
xitos pretritos196. Para alm de assegurar as caractersticas consideradas como exemplares, a saber, a
permitiram a elaborao dessa poltica evidenciam que a existncia de um sistema de sade pblico
organizado e universal foi uma das condies para que essa poltica se tornasse possvel, assim como a
participao social, para alm das instncias formais. As pessoas com HIV/aids tornaram-se agentes
da sua prpria histria, no restringindo a sua participao ao subespao militante, mas assumindo
posies tambm no campo burocrtico. Esse trnsito ao interior da burocracia estatal foi garantido
garantindo um corpo tcnico qualificado e diversificado, engajado na luta pelo controle da epidemia.
desfinanciamento, continua ativo, mais silencioso talvez, mas se manifestando sempre que necessrio
e aprimorando-se continuamente.
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!196 Segundo Pedro Chequer, ex-dirigente do Programa Nacional e representante da Unaids no Brasil, (...) o Brasil est
perdendo o momento poltico e tecnolgico da segunda revoluo na aids. (...) Que adotar a abordagem da tecnologia CD4,
abaixo de 500, trata para fim de preveno. () o Brasil no pode ficar s repousando no que fez, tem que fazer coisas novas
e o Brasil podia ser exemplo para o mundo novamente, se tomasse a deciso poltica, por que tecnicamente j est
fundamentado (Pedro Novaes Chequer. Entrevista realizada em 03/08/2011, Braslia, DF).
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por Paim (2008), no movimento de luta contra a epidemia da aids (espao aids), isso acontece porque
cujas diretrizes incluem a justia, a equidade e a universalidade. A poltica da aids compartilha dos
mesmos problemas do SUS, mas tendo um corpo tcnico diferenciado pelo engajamento militante ao
interior do ministrio que promove a participao popular, e um movimento associativo que exerce de
consolidao do espao aids, bem como pelas caractersticas da poltica nacional de controle para este
agravo. No somente auxilia a compreenso acerca da complexidade dos processos evolutivos como
pode contribuir para a anlise de outras polticas de sade e no seu aperfeioamento na direo dos
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9 Entrevistas realizadas
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Entrevistados Relevncia para a pesquisa Local Data
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30 Valdila Gonalves Veloso dos Mdica infectologista, Programa Rio de Janeiro, RJ 14/06/2011
Santos Nacional de DST/AIDS, Diretora
IPEC/Fiocruz
31 Valria Petri Mdica dermatologista, identificou os So Paulo, SP 20/06/2011
primeiros casos de AIDS no pas
32 Vera Silvia Facciolla Paiva Psicloga, pesquisadora e fundadora do So Paulo, SP 21/06/2011
NEPAIDS
33 Veriano de Souza Terto Jr. Psiclogo, Diretor da Abia Rio de Janeiro, RJ 15/06/2011
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Apndices
Apndice VII Concepes sobre o conceito de Homens que fazem sexo com homens
(HSH)
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Fale de sua trajetria social : onde nasceu, onde seus pais trabalhavam?
Fale da sua trajetria profissional (onde estudou, formao inicial, escolhas e justificativas)
Qual sua participao e quem foram os principais agentes responsveis (movimentos sociais,
Quais so seus objetivos profissionais hoje?/ Quais seus objetivos na luta contra a aids hoje?
Voc se sente realizado trabalhando/ militando na rea da aids? / Por que deixou de trabalhar/ militar
na rea de aids?
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Eu, Sandra Garrido de Barros, estou pesquisando o surgimento e implantao da poltica nacional de
controle da aids no Brasil, a fim de contribuir na identificao das condies de possibilidade para sua
formulao e suas especificidades, atravs do estudo do jogo social onde emergem as respostas
epidemia e da identificao dos principais agentes envolvidos na construo da agenda e na
formulao dessa poltica. Voc foi identificado como informante chave para este estudo.
Assumo o compromisso de que sua identidade permanecer confidencial, salvo expressa manifestao
em sentido contrrio, haja vista a ocupao de cargos ou posies pblicas. Caso voc decida
manifestar pblica a sua opinio, ser garantido que a transcrio da entrevista ser submetida a sua
apreciao antes de qualquer divulgao.
Sua participao nessa pesquisa fundamental para a elucidao desse momento da poltica nacional
de controle da aids no Brasil, porm, ela inteiramente voluntria. A qualquer momento voc poder
desistir de continuar a entrevista e s responder as perguntas que desejar.
Voc poder entrar em contato com a coordenao do projeto atravs do telefone (71) 3283-7442.
Eu , ______________________________________________, declaro estar ciente de que entendo os
objetivos e condies de participao na pesquisa A gnese da poltica nacional de controle da aids
no Brasil e aceito nela participar.
Salvador, __/___/_____.
_________________________________ _________________________________
Assinatura do entrevistador Assinatura do entrevistado.
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Alexandre Grangeiro
Nasceu em Bragana Paulista, So Paulo. Seu pai era dono de um expresso rodovirio, que tinha uma
das sedes em Bragana. A me no trabalhava, acompanhava o pai, como uma boa esposa. O av
paterno tambm era comerciante na regio. A famlia no tinha prtica religiosa, mas acreditava em
Deus. Ainda no colgio, se envolveu no movimento estudantil, que na sua opinio, era uma desculpa
para se ter um ativismo poltico. Participou da Convergncia Socialista, se envolve na formao do
PT e depois se distanciou. Alexandre cursou o ensino mdio em escola pblica e em 1987 iniciou o
curso de Cincias Sociais na PUC-SP. Diz que no sabe explicar porque escolheu fazer Sociologia,
relata que ficava entre o tentar entender o indivduo e tentar entender coletivo. Seu envolvimento com
a rea da sade comeou praticamente ao mesmo tempo que o curso de graduao, atuando como
estagirio em um projeto de cooperao para os 60 anos da Hansenase no Brasil, na Grande So
Paulo, especificamente, que resgatava o arquivo histrico sobre hansenase do Instituto de Sade de
So Paulo. Permaneceu como estagirio na Diviso de Hansenologia e Dermatologia Sanitria
(DHDS) do Instituto de Sade. Com a epidemia da aids, todos que estavam na Dermatologia foram
convidados a colaborar. Alexandre foi para o Disque aids, tendo a funo de atender s chamadas
telefnicas e dar orientao. Inicialmente eram apenas dois turnos, mas medida que a demanda do
servio se ampliou, sua carga horria dedicada ao Disque aids tambm foi aumentando. Quando Jos
Aristodemo Pinotti assumiu a SES-SP, Alexandre foi, seguindo Paulo Roberto Teixeira que foi
destitudo do cargo de Diretor da DHDS, para a Vigilncia Epidemiolgica na SES-SP. Retorna ao
Programa de aids quando Mrio Covas assume o governo de So Paulo e Paulo Roberto Teixeira volta
a coordenar o CRT de DST/Aids, ficando na Preveno e depois na direo adjunta. Foi para o
Programa Nacional a convite de Pedro Chequer, que era coordenador do Programa Nacional. L, iria
trabalhar na Vigilncia Epidemiolgica, mas terminou indo para a rea de Planejamento e avaliao, o
que considerou mais interessante por trabalhar com Estados e municpios, chagando a assumir a
direo do setor. Quando Paulo Teixeira assumiu o Programa Nacional, em 2000, Alexandre ficou
como seu adjunto. Entre maro de 2003 e agosto de 2004, Alexandre foi o Diretor do programa
Nacional. Retornou para So Paulo, onde permaneceu como assessor entre 2005 e 2007, quando
assumiu a direo do Instituto de Sade. Aps sua sada, permaneceu como pesquisador no
Departamento de Medicina Preventiva da USP. Alexandre se sente coparticipe da resposta epidemia
da aids no Brasil
Fontes:
3. Frana, M.S.J. Cincias em tempos de AIDS: uma anlise da resposta pioneira de So Paulo
epidemia. (Doutorado em Histria da Cincia). Deparatmento de Histria da Cincia, Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2008. p. 167-174.
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Nasceu em Niteri, Rio de Janeiro. Sua me era professora do Estado, na poca (1960), um emprego
muito importante. Seu pai era funcionrio concursado do Banco do Brasil, formou-se em Direito, mas
s comeou a exercer a profisso de advogado quando se aposentou do Banco. Atualmente seu pai,
aos 76 anos, advogado. O av paterno era chefe da oficina mecnica do IBGE e o av materno, um
pequeno comerciante, proprietrio de um armazm que comercializava tecidos e produtos
alimentcios. De famlia catlica, Ana considera como nica atividade poltica que teve a sua
participao no movimento franciscano, que frequentou dos 14 aos 17 anos. Sempre voltou no PT.
No gostava do PC do B, que considerava uma turma irresponsvel, faziam uma boa poltica, mas
no eram bons alunos. Sempre admirou as pessoas com bom desenvolvimento acadmico, a
meritocracia. Cursou o ensino mdio no Colgio 2 de Julho, em Salvador. E em virtude da sua
formao crist, ainda que hoje se declare no catlica, a escolha da profisso foi pautada na vontade
de querer mudar o mundo, sendo mdica. Fez Medicina na UFBA, entre 1980-1985, em seguida, fez
Residncia em Medicina Social (1986-1987) na mesma instituio. Sua busca por uma disciplina de
excelncia na Faculdade de Medicina da UFBA, a aproximou da Sade Coletiva, pois os
departamentos de excelncia eram a imunologia, a patologia, vinculadas Fiocruz, e a Medicina
Preventiva. A deciso veio quando cursou a Disciplina de Sade Pblica e Medidas de Profilaxia, no
sexto ano, pela possibilidade de correlacionar as condies de vida e sade com aspectos do contexto
poltico, econmico e social. Chegou a trabalhar como mdica clnica durante um perodo muito
curto (cerca de dois meses), mas levava muito tempo conversando com pacientes e no pedia
exames. Fez concurso para Mdico Sanitarista na Secretaria de Sade do Estado da Bahia (SESAB),
permanecendo de 1989 a 1992 nessa funo, quando fez concurso para mdica. Entre 1993 e 1996, foi
tambm assessora tcnica da Secretaria Municipal de Sade de Salvador. Sua relao com a aids se
deu quando participou da elaborao do Plano trienal de combate DST/Aids (1993-1995) do Estado
da Bahia, indicada pela Diretora da Assessoria de Planejamento, onde era lotada, atuando junto a
tcnicos do Ministrio da Sade na elaborao do POA relativo ao 1o acordo de emprstimo do banco
Mundial, o AIDS I. Continuou no quadro da Secretaria, mas cedida ao Instituto de Sade Coletiva da
UFBA como docente da Residncia Multiprofissional em Medicina Social no perodo de 1997 at
2009. Foi docente do curso de Medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) no
perodo de 2006 a 2009. Desde 2009, quando foi aprovada em concurso pblico, professor adjunto
do ISC/UFBA. Ana Luiza no continuou trabalhando na rea de HIV/aids, acha que cumpriu a sua
obrigao, o seu dever profissional, mas que no teria vontade de trabalhar com uma poltica mais
especfica na sua vida profissional.
Fontes:
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Nasceu em 10/12/1947. Sua me trabalhava na Maternidade Pro Mater Paulista, mas desde seus 8 anos
a mesma estava em auxlio doena. Seu pai faleceu quando ainda tinha 2 meses de idade. O av
paterno era mascate e o materno fabricante de vinho. Conviveu com diversas tradies religiosas:
evanglica, catlica, com as diversas religies afro-brasileiras. Gosta da igreja catlica, mas se sente
mais prxima do centro esprita que frequenta. Fez o ensino mdio no Liceu Eduardo Prado, um
colgio particular, de freiras, onde era bolsista. Queria fazer medicina, mas terminou se formado em
Direito na PUC-SP. Durante a faculdade, trabalhava com venda direta (Avon, Christian Gray) ou
fazendo cestas de Natal. Como entrou na faculdade j no perodo do AI-5, no se envolveu no
movimento estudantil. Formada, trabalhou em um escritrio de advocacia at 1972, quando montou
seu escritrio prprio com um colega, mas h cerca de 20 anos j trabalha sozinha. filiada ao PPS,
mas votou em Lula e Erundina. Considera que no possvel conciliar o Gapa com militncia poltica.
Foi como advogada da assistente social do Hospital Emlio Ribas, Otlia Simes Janeiro Gonalves,
que casualmente participou da reunio inicial de formao do Gapa. Otlia estava precisando de
orientaes profissionais de urea e como teria uma reunio agendou com a advogada no prprio
hospital. Quando chegou ao hospital, estava havendo uma reunio sobre aids. Ela participou, mas fora
do crculo, pois havia chegado depois. As pessoas estavam desesperadas e ouvindo as situaes
colocadas, ela sempre via a situao por um lado mais prtico, sem o envolvimento emocional. Eram
tantas providncias a tomar e ela se viu pensando como seria. No final da reunio passaram uma lista
para saber dos presentes quem poderia ajudar, em que horrio, etc. Quando lhe entregaram a lista,
pediu desculpas e disse que estava fora da rodinha e foi questionada se no poderia ajudar. As
reunies passaram a ser realizadas nos sbados s 15h, o horrio que ela podia. urea tornou-se
fundadora do Gapa, criou o primeiro servio de apoio jurdico a portadores do vrus, participou da
elaborao do primeiro cartaz de preveno aids produzido no Brasil (Transe numa boa), redigiu o
documento que deu origem Lei 7.670, de 1989, que libera o FGTS e o PIS/PASEP para portadores
do vrus, foi coordenadora do Projeto Previna do Ministrio da Sade (1989), foi advogada da
primeira reclamao trabalhista no Brasil que reintegrou um portador de HIV/Aids ao trabalho, da
primeira medida cautelar contra convnio mdico, obrigando a prestar assistncia ambulatorial e
hospitalar ao portador de HIV/Aids e a propor ao contra o Estado para obteno da terapia
combinada para portador de HIV/Aids. Atualmente presidente do Gapa-SP, se sente realizada em
termos pois diz que cada dia faltam mais coisas e que faltam novas lideranas.
Fontes:
2. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p.19
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Nasceu em 03/05/1945, em Salvador, Bahia. Seu pai era professor e mantinha um pensionato para
jovens que iam estudar em Salvador no Colgio Sofia Costa Pinto. Sua me era dona de casa. Cursou
o ensino mdio no Colgio Central (pblico). Resolveu fazer medicina porque sempre quis pesquisar e
resolver os problemas das pessoas. Fez teste vocacional e o resultado apontava medicina e
administrao. Foi membro do Partido Comunista. Cursou medicina entre 1964-1969 na UFBA. Fez
Residncia (1970-1971) e mestrado (1971-1974) em Anatomia Patolgica na mesma instituio. Fez o
doutorado em Imunologia na Universidade de Genebra, Suia, sob orientao de Paul Henri Lambert.
No mestrado e doutorado Galvo trabalhou com Tripanosomose africana. Quando retornou ao Brasil,
foi trabalhar na Fiocruz no Rio de Janeiro, pois a instituio ainda no tinha um centro de pesquisa na
Bahia. Conseguiu um grant junto OMS (TDR) para a implantao de um laboratrio de doenas
infecciosas e parasitrias, que tornou-se mais tarde o Departamento de Imunologia do Instituto
Oswaldo Cruz. Em 1982, mobilizado pelo contato com um jovem portador da doena e considerando a
possibilidade de disseminao da aids no pas devido a suas caractersticas (transmitida pelo sexo, pelo
sangue) e a misso da Fiocruz de responder questes de sade pblica, iniciou, com Claudio Ribeiro,
os trabalhos sobre aids na Fiocruz. Adaptou a tcnica da imunofluorescncia usada para Chagas para
identificao do anticorpo para HIV, que possibilitou a implantao das triagens nos bancos de sangue
do pas. Coordenou a equipe que isolou pela primeira vez o HIV no Brasil, em 1987. Implantou o
primeiro laboratrio P3 do Brasil (Laboratrio Avanado de Sade Pblica), no Centro de Pesquisas
Gonalo Muniz/Fiocruz, em Salvador. pesquisador da Fiocruz desde 1979 e bolsista de
produtividade 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), tendo
parte de sua carga horria cedida Fundao Bahiana para o Desenvolvimento da Cincia (FBDC),
atravs de convnio. Membro da Academia Baiana de Medicina (2002), Membro da American
Association for the Advencement of Science (2000). Consultor Ad hoc do CNPq (1979), coordenador
de diversos projetos de pesquisa junto ao CNPq e ao Programa Nacional de DST/Aids, consultor da
OMS (1983). Revisor do peridico Memrias da Fundao Oswaldo Cruz desde 1981, integrando seu
corpo editorial a partir de 1988. tambm revisor de diversos peridicos nacionais e internacionais
como Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (2005), Journal of Medical Virology
(2008), Revista do Instituto de Medicina Tropical de So Paulo (2009), Journal of Clinical Virology
(2009), The Brazilian Journal of Infectious Diseases (2009), BMC Public Health (2009), Human
Immunology (2010), Journal of Virological Methods (2010) eRevista Panamericana de Salud Pblica
(2010) e a partir de 2008, passou a compor o corpo editorial da Revista Brasileira de Neurologia e
Psiquiatria. Recebeu o Prmio Etienne Gorjux, da faculdade de Medicina da Universidade de Genebra,
Suia (1977), VI Prmio Hlio Gelli Pereira da Sociedade Brasileira de Virologia (2002), a medalha
Tom de Souza, da Cmara Municipal de Salvador (2002), entre outros. Foi eleito membro do
Conselho de Sociedade Internacional de Sida/Aids para os binios 1988-1990 e 1990-1992 e do
Conselho da Sociedade Internacional de Retrovirologia em 1995. Mais de 150 artigos publicados.
Fonte:
1. Entrevista realizada em 12/07/2011, Salvador, BA.
Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 23
3. Galvo-Castro, B. (2005). "A batalha contra a aids e outras lutas [entrevista a Marluce Moura]."
Pesquisa FAPESP
4. IOC. (2011). "A evoluo do estudo da aids por um de seus descobridores.", disponvel em:
http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1174&sid=32, Acessado em
17/11/2011.
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Nasceu em So Joo do Meriti, no Rio de Janeiro. A famlia, natural do Rio Grande do Norte, foi
morar em So Joo do Meriti porque o pai, militar da Marinha, havia sido transferido. Sua me era
dona de casa. A famlia sempre quis retornar para Natal, o que aconteceu em 1983, quando iniciou o
curso de Cincias Sociais na UFRN, pois queria entender porque algumas coisas aconteciam. No
segundo grau, havia feito curso tcnico em contabilidade e durante os dois primeiros anos da
faculdade trabalhou nas lojas Americanas, de onde saiu j como supervisora de vendas para ser
bolsista de iniciao cientfica, em um projeto que visava organizar uma proposta de contedo para o
ensino de cincia de 1a a 4a series do primeiro grau, o que foi reprovado pela famlia, mas para ela
significava um investimento na profisso. Cursou uma disciplina de gnero e pela primeira vez se
aproximou do universo da homossexualidade quando decidiu trabalhar com prostituio como tema do
trabalho da disciplina e foi orientada por um amigo a realizar a pesquisa em um bar gay frequentado
por mulheres e onde havia comrcio sexual. Nesse perodo, acompanhou a formao do PT, participou
do movimento pelas diretas j e participou de uma chapa que foi eleita para o Diretrio Acadmico,
mas no chegou a assumir porque em 1986 mudou-se para o Rio de Janeiro outra vez, onde concluiu o
curso na UFRJ. No Rio conseguiu uma bolsa de apoio tcnico, ficando vinculada ao Ncleo de
Estudos e Pesquisas sobre a Infncia (NEPI). Participou da campanha de Fernando Gabeira para
governador do Rio. Ao final da graduao, resolveu seguir a vida acadmica e em 1989 inscreveu-se
no mestrado na prpria UFRJ, quando tambm foi selecionada como docente para a disciplina de
Sociologia do curso de jornalismo da Faculdade da Cidade. Na dissertao de mestrado procurou
reunir sexualidade e poltica atravs do caso do grupo gay carioca Tringulo Rosa. Foi quando se
aproximou do tema da aids. Entre 1989 e 1990, trabalhou em uma das primeiras pesquisas sobre aids
no IMS, coordenada por Maria Andreia Loyola. A partir de 1991, comeou a se aproximar do Grupo
Pela Vidda, tendo aceito um convite para trabalhar no grupo em 1992. Com o doutorado, se afastou da
direo do grupo em 1995, mantendo uma participao mais pontual. O doutorado tambm foi cursado
na UFRJ (1995-1999), tendo como tema Ativismo, ajuda mtua e assistncia: a atuao das
organizaes no-governamentais na luta contra a aids. Tem atuado como docente em diversas
instituies particulares, sendo o principal vnculo com a Universidade Estcio de S, onde ficou entre
1993-2000. Em 2001, assumiu a Chefia da Unidade de Articulao com ONGs do Programa Nacional
de DST/Aids, onde permaneceu at 2003. Saiu do Programa para trabalhar como consultora, tendo
trabalhado para diversas organizaes internacionais na rea de aids (Save the Children, Gr-Bretanha;
Pact, EUA; PNUD, Angola; Interchurch Coordination Commitee, Holanda; Gesellschaft fur
Technische Zusammenarbeit, Alemanha; Schorer, Holanda) e mais recentemente na rea de cncer de
mama (American Cancer Society, EUA). No considera que possa retornar militncia depois de ter
assumido uma funo no Programa Nacional.
Fontes:
1. Entrevista realizada em 04/05/2011, So Paulo, SP.
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Nasceu em 1961 em Chavantes, So Paulo. Sua famlia materna veio do Lbano para o Brasil, onde
conquistaram um bom padro de vida, tornando-se uma famlia conhecida e tradicional na cidade de
Chavantes. Seu pai, filho de trabalhador rural, teve uma loja, mas no era bom administrador na viso
de Eduardo. Elegeu-se vereador e depois assumiu a funo de assessor na prefeitura da sua cidade na
gesto de diferentes prefeitos, sempre ligado ARENA Sua me era dona de casa. Eduardo cursou o
ensino mdio em uma escola pblica no municpio de Chavantes. Com inteno de tornar-se religioso,
Eduardo Barbosa foi para um seminrio catlico, ao mesmo tempo que cursava filosofia na UNESP,
em Marlia, So Paulo. Cursou trs anos do seminrio, no chegando a concluir a formao em
teologia. Teve atuao em grmios estudantis e no movimento eclesial de base, o que considera que o
motivou para a atuao na rea social. Formado em Filosofia, foi para a capital do estado, So Paulo,
onde em 1986 tornou-se professor da rede de ensino Estadual, onde desde aquela poca realizava um
trabalho educativo junto aos alunos abordando aspectos da epidemia, formas de preveno da aids e
questes de sexualidade. Apesar disso, no modificou as suas prticas sexuais, acreditando que as
caractersticas pessoais de seus parceiros (homens e mulheres) no o colocavam em risco. Em 1994,
teve diagnstico positivo para o HIV, e passou a integrar o Grupo de Incentivo a Vida (GIV), onde
junto com outros soropositivos, aprendeu que era possvel ter qualidade de vida apesar da
soropositividade e a lutar pela sua vida e a apoiar outras pessoas a superarem as barreiras que o HIV
impe. Foi presidente do GIV e atuou tambm na Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids
(RNP+). Em 2001 foi eleito presidente do Frum Estadual de ONGs/Aids de So Paulo. Como
desdobramento dessa atuao, em agosto de 2004 foi convidado a trabalhar no Programa Nacional de
DST e Aids do Ministrio da Sade, onde foi responsvel adjunto da Unidade de Articulao com a
Sociedade Civil e Direitos Humanos, passando a responsvel pelo setor em 2006. Desde maio de
2011, Eduardo Barbosa diretor adjunto do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Fonte:
1. Entrevista realizada em 02/08/2011, Braslia, DF.
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Natural de Caratinga, Minas Gerais, seu pai era comerciante e sua me dona de casa. Seu av materno
era mdico. Cursou o ensino mdio em Caratinga at o segundo ano cientfico, concluindo essa etapa
na capital do Estado, Belo Horizonte. Formou-se em Medicina pela UFRJ, onde tambm cursou
Residncia Mdica em Terapia Intensiva. Eduardo Crtes refere que se sentia atrado pela profisso,
assim como outras. Diz que no consegue apontar um motivo especfico. Em 1977, ingressou como
mdico e docente da UFRJ. Em 1983, j docente, optou por fazer mestrado em oncologia na
Universidade da Califrnia (Ucla), um dos principais centros de estudo sobre aids na poca, quando
estudou as neoplasias da aids. Teve a oportunidade de conhecer na Ucla os pesquisadores americanos
que primeiro descreveram a aids. Permaneceu ainda um perodo como Faculty Junior (professor
jnior) na Ucla. Crtes refere que voltou para o Brasil porque sentiu que algum precisava mostrar os
dados do Brasil de que a epidemia era uma problema muito srio e que o governo estava negando.
Crtes sempre participou de grmio na poca do colgio, foi residente chefe e representante de
docentes na associao de docentes na universidade, mas nunca filiou-se a partido poltico. Considera-
se democrtico e refere que sua atuao poltica sempre esteve relacionada questo cientfica.
Realizou estudo que identificou a introduo do HIV-2 no Brasil. Durante a realizao do estudo, teve
apoio do jornalista Tim Lopes, que contribuiu para a divulgao da pesquisa, dando visibilidade ao
trabalho de Eduardo Crtes. Em 1990, no governo Collor de Melo, foi convidado pelo Secretrio
Nacional de Assistncia Sade, Ricardo Ackel para assumir a Diviso Nacional de Aids. Sua
indicao no foi poltica, segundo Crtes, ele foi convidado como um tcnico respeitado na poca,
cargo que permaneceu at fevereiro de 1992. Crtes no permaneceu no espao aids. Aps a sada da
gesto do Programa Nacional, Crtes tentou continuar na rea, mas sentia-se boicotado pelos agentes
dominantes do espao aids, de modo que como oncologista de formao foi mudando aos poucos a
sua linha de pesquisa. Em 2006 concluiu o doutorado em Cirurgia Geral na UFRJ, com a tese Impacto
da superexpresso do oncogen HER-2/neu e de outros marcadores clnico-patolgicos na sobrevida da
mulher com carcinoma de mama, tendo como orientador o Professor Gutemberg Leo Almeida Filho.
Fonte:
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Nasceu em 15 de abril de 1946, em So Paulo, SP. Filho de um escocs e uma brasileira, ele corretor
de seguros, ela, dona de casa. Edward foi criado na Inglaterra, onde cursou o ensino mdio e graduou-
se em Psicologia Social pela University of Sussex (1965-1968). Como no se identificou muito com a
Psicologia, e tinha um interesse em conhecer melhor o Brasil, decidiu fazer o mestrado em Sociologia
da Amrica Latina, na University of Essex (1970-1971) e retornou para o Brasil, onde trabalhou como
professor de ingls durante alguns anos e em 1977 retornou para a universidade para fazer um outro
mestrado, pois considerava que o mestrado no Brasil naquela poca era muito mais que na Inglaterra,
na sua opinio era quase um doutorado. Iniciou o mestrado em Antropologia na Unicamp, que na
poca no tinha doutorado, e conseguiu transferir-se para o doutorado da USP, onde concluiu o curso
(1980-1986), sob a orientao de Eunice Durant. Sua pesquisa, publicada sob a forma de livro com o
ttulo A construo da igualdade: identidade sexual e poltica no Brasil da abertura, em 1990,
versava sobre o primeiro grupo do movimento homossexual do pas, o grupo Somos, que, para ele, foi
uma escola de militncia. Edward MacRae participou da reunio com o mdico infectologista e
professor da USP, Ricardo Veronesi, e comps o grupo de militantes que foi audincia com o
Secretrio de Sade de So Paulo, Joo Yunes. E foi um dos fundadores do Gapa-SP. Foi professor
substituto da Unicamp (1982), professor titular da Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So
Paulo (1986). Com a concluso da tese de doutorado, a briga do Somos e passada a fase inicial da
epidemia da aids, Edward se afastou do grupo e mais tarde da discusso sobre homossexualidade.
Mas seu esprito meio militante, o aproximou de um outro tema que considerava ter um tratamento
hipcrita: a questo do uso da maconha. Interessado nessa rea buscou o Instituto de Medicina Social
e de Criminologia de So Paulo (IMESC), onde existia um grupo de estudos acerca do tema. Foi
apresentado ao ento superintendente do rgo por uma amiga e terminou conseguindo uma bolsa para
realizar um estudo sobre drogas e ficou como diretor desse centro de estudos para preveno do uso de
drogas, entre 1988 e 1989, perodo em que iniciaram as discusses acerca da questo da aids entre
usurios de drogas injetveis no CRT-SP e Edward foi indicado como representante do IMESC e
participou da formulao da poltica voltada para esse grupo no Estado de So Paulo. Em 1990, seu
irmo faleceu, vtima da aids. Eduard ficou muito desgostoso com o tema da aids, pois mesmo
trabalhando na rea no foi capaz de evitar a contaminao do irmo. Resolveu ento afastar-se do
espao aids. Mudou-se para Salvador, onde geralmente passava frias, a partir de uma oportunidade de
trabalhar no Centro de Estudo e Tratamento do Abuso de Drogas (CETAD). Desde 1995 professor
da Universidade Federal da Bahia e desde 2003 colaborador e membro da Cmara Nacional de
Assessoramento tcnico-cientfico do Conselho Nacional de Drogas (CONAD). membro do corpo
editorial da revista Cadernos de Campo (USP), do qual tambm revisor, desde 2006, e do Jornal
Brasileiro de Dependncias Qumicas, desde 2001 e revisor dos peridicos Revista Habitus (2007),
Revista Sade e Sociedade (2008) e Internacional Journal of Drug Policy (2008-atual). Tem escrito
livros sobre sexualidade, movimentos sociais, o uso socialmente integrado de substncias psicoativas e
reduo de danos associados ao uso de drogas. Autor de 12 livros e 37 captulos de livro. Orientador
de mestrado e doutorado.
Fonte:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 41.
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O baiano Euclides Castilho nasceu em Salvador, em 1941. Cursou o ensino mdio no Colgio Central
da Bahia, unidade da rede estadual de ensino de Salvador. Filho de um telegrafista e de uma dona de
casa de origem portuguesa, oriundo de famlia de classe mdia-baixa, fez um teste vocacional e
baseado no resultado, optou por cursar medicina, na Ufba (1960-1965). Em seguida fez Residncia em
Medicina Preventiva (USP Ribeiro Preto), entre 1966 3 1967 e depois foi bolsista da Milbank
Fondation na Universidade Valle Cali, na Colmbia (1967-1968). Em 1968, a convite de Guilherme
Rodrigues da Silva, seu orientador de doutorado, foi o primeiro docente contratado do Departamento
de Medicina Preventiva (DMP) da USP. Doutor em Medicina Preventiva pela USP (1971), entre 1973
e 1975 fez ps-doutorado na Universidade da Califrnia do Norte e tornou-se livre-docente em 1976
(USP). Em 1985 pediu demisso da USP para aceitar o convite de Srgio Arouca, seu contemporneo
na Medicina Preventiva da USP (Arouca era interno quando Euclides Castilho fez a Residncia), para
criar um centro de formao em sade na Fiocruz, que hoje o Instituto de Comunicao e
Informao Cientfica e Tecnolgica em Sade (ICICT). Na Fiocruz iniciou o contato com a epidemia
da aids. Foi convidado por Bernardo Galvo Castro Filho para compor a equipe do Laboratrio de
Imunologia que naquele momento buscava se credenciar como referencia para a OMS e precisava de
um epidemiologista. membro nato da Cnaids desde a sua primeira formulao. Em 1993, foi cedido
pela Fiocruz ao MS, para atuar no Programa Nacional de DST/aids. Entre 1996 e 2000, foi
coordenador adjunto do Programa. Em 2000, ingressou outra vez na USP, atravs de concurso
pblico. professor titular do DMP da USP, pesquisador snior do CNPq, membro do conselho
editorial dos peridicos Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (desde 1985), Revista
do Instituto de Medicina Tropical de So Paulo (desde 2002), Clinics - So Paulo (desde 2003),
Revista de Sade Pblica (desde 2008), Revista Brasileira de Epidemiologia (desde 2008), Cincia e
Sade Coletiva (desde 2007). Recebeu diversos prmios e homenagens, de instituio ligadas rea
da sade e luta contra a aids como CDC (EUA), em 1989; APTA-So Paulo, em 2000; Ministrio da
Sade, em 2009; Gapa-SP, em 2010; assim como de instituies como da Federao de Indstrias de
So Paulo (FIESP), em 2007, em reconhecimento s suas atividades relacionadas epidemia da aids.
Possui 107 artigos publicados, alm de 2 livros e 19 captulos de livro. orientador de mestrado e
doutorado. Entre 2001e 2001, participou como chairdo Evaluation Supervisory Panel Five-year
Evaluation od Unaids. Em 2006, 2008 e 2010 foi consultor do Fundo Global de Aids, Tuberculose e
Malria.
Fontes:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 47
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Nasceu em Salvador, Bahia, em 24/10/1943. Sua me era bacharel em Direito e trabalhava como
consultora jurdica da Cmara. Bisneta, neta e filha de mdico, diz que nunca admitiu outra profisso.
Mas nunca pensou em mdico como clnico, pois o pai era sanitarista e o tinha como exemplo.
Graduou-se em Medicina (1963-1968) pela Ufba. Durante toda a graduao trabalhou como oficial
judicirio na justia do trabalho. Em 1968, ainda estudante de medicina, foi para a Costa Rica fazer
um Curso de registros hospitalares, com bolsa da OPAS, indicada por Jorge Novis, diretor da escola
de medicina, durante o perodo de internato. Quando retornou, formou-se, pediu demisso da justia
do trabalho e, no incio de 1969, j estava como funcionria contratada do Hospital Universitrio
Professor Edgar Santos (HUPES) com a responsabilidade do arquivo mdico. Foi responsvel pela
reestruturao do servio de arquivo mdico do HUPES at 1971. Entre 1971 e 1973, fez o mestrado
em Sade Pblica, com concentrao em administrao de servios de sade, na Escola de sade
Pblica da Universidade da Califrnia, EUA. Retornou ao arquivo do HUPES e ministrava a
disciplina de Servios de Sade e Epidemiologia para o curso de Farmcia. Chegou a assumir a vice-
direo do HUPES (1974) e foi coordenadora do mestrado em Sade Pblica. Fez concursos para
bolsa do DDA, para ir Alemanha, solicitou bolsa ao Conselho Britnico e fez um concurso da
OPAS. Optou pela OPAS. Entre 1980-1981, foi para o Programa de Sade Pblica na Costa Rica, o
programa de Planejamento Estratgico Centro Amrica Panam (Pascap), trabalhar como oficial
mdico de sade pblica em um programa de ateno primria. Quando retornou para o Brasil, foi
trabalhar no Ministrio da Educao (MEC), no programa de infeco hospitalar, e ficou tambm
como docente da UnB, administrando aulas de Administrao de Servios de Sade para os cursos de
medicina, enfermagem e odontologia. Toda a trajetria de Fabola Nunes se deu no servio pblico,
transitando entre a universidade e o servio, mas sempre relacionada gesto. Esposa do tambm
mdico e deputado Carlos SantAnna, que em 1985, assumiu o Ministrio da Sade, Fabola foi
indicada pelo ento secretrio de sade do Estado de So Paulo, Joo Yunes, para a Secretaria
Nacional de Programas Especiais de Sade (SNPES), onde estavam os programas de controle de
agravos como tuberculose e dermatologia sanitria (DST/Aids, hansenase, leishmaniose tegumentar)
e o programa de doenas crnico-degenerativas (diabetes, hipertenso e cncer). Foi durante a gesto
de Fabola na SNPES que foi criado o Programa Nacional de DST/aids. Permaneceu na SNPES at
1987. Fabola foi delegada do Ministrio da Sade na 8a Conferncia Nacional de Sade. Na
Assembleia nacional Constituinte, acompanhou o processo de elaborao do captulo referente
sade por indicao do Ncleo de Estudos em Sade Pblica (NESP) do Departamento de Sade
Coletiva da UnB. Trabalhou no Hospital da UnB. Foi aprovada no concurso da Fundao Hospitalar
do Distrito Federal. Assumiu a coordenao da equipe distrital de controle de infeces e
posteriormente a chefia do servio de controle de infeces hospitalares do Hospital Regional de
Sobradinho (DF). A convite do Ministro da Sade Adib Jatene, em 1995, assumiu a coordenao do
Conselho Nacional de Sade. Em 1997, retornou ao Hospital de Sobradinho. Entre 2001 e 2003,
assumiu a coordenao da Fundao Oswaldo Cruz em Braslia. Retornou as atividades de mdica
sanitarista da Fundao Hospitalar do DF, aposentando-se em julho de 2005. Em 2008, foi
representante do Ministro no Conselho Nacional de Sade. Em 2009, retornou Fiocruz Braslia e em
2010 foi Secretria de Sade do Distrito Federal.
Fonte:
2. Entrevista concedida Profa. Ligia Maria Vieira da Silva, em 12/11/2008 para o Projeto Espao da
Sade Coletiva
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Nasceu em 06/05/1960, em Teresina, Piaui. Filho de um servidor pblico e uma dona de casa, Gerson
estudou em colgios pblicos e em colgios jesutas no Piaui. Seu primeiro vestibular foi para
Odontologia, no ano seguinte fez novo vestibular para Medicina. Passou a frequentar os dois cursos,
as achava que no tinha condio tcnica de fazer odontologia e optou pela Medicina, na UFPB (1977-
1983). Fez Residncia em Dermatologia, no Sanatrio Aimors, Bauru-SP (1984), Especializao em
Sade Pblica, no Centro Universitrio de Braslia (CEUB), Especializao em Epidemiologia pela
Fiocruz-RJ (1988). Fez mestrado em Epidemiologia entre 1996 e 1999, na Escola paulista de
Medicina, Unifesp. Aps a residncia, foi convidado por Aguinaldo Gonalves, seu professor na
Residncia, para trabalhar na Diviso Nacional de Dermatologia Sanitria (DNDS), onde permaneceu
at 1990, onde participoude projetos importantes no combate hansenase, como a introduo efetiva
da poliquimioterapia para todo o Brasil a partir de 1985 e incio do controle da aids. Trabalhou nos
primeiros anos do Programa Nacional de DST/aids. Participou da 8a Conferncia Nacional de Sade.
Era militante do PT, no era filiado ao patido, mas trabalhou o incio. Quando o Programa foi
separado da DNDS em 1987, optou pelo Programa de Hansenase, devido a sua formao, s
retornando em 2004 ao Programa de DST/aids. Foi efetivado como servidor do Ministrio da Sade
quando exercia o papel de mdico da Campanha Nacional de Tuberculose, em 1988. Atuou no
Programa Nacional de Controle da Hansenase entre 1984 e 2003; chefiou a Coordenao Nacional de
Dermatologia Sanitria no Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), da Fundao Nacional de
Sade, em 1994 e 1995, e na Secretaria de Ateno Sade, entre 1999 e 2003. Desde 2004 trabalha
na rea tcnica de Epidemiologia do Programa de DST/Aids do Ministrio da Sade.
Fonte:
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Nasceu em 1959, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Seu pai era vendedor, teve uma empresa e
trabalhou com alugueis de imveis e condomnios. Quando tinha 15 anos de idade, Gerson fazia
transcries da textos em braile para ONGs que prestavam assistncia a portadores de deficincia
visual. Na escola sempre participou de centro de estudantes e era voltado para a militncia. Foi do
partido, e depois migrou para o PT. Em 1983, iniciou a graduao em Servio Social na Universidade
do Vale dos Sinos (Unisinos), mas no chegou a concluir o curso. Em 1986, descobriu-se portador do
HIV. Era um momento em que ainda no existia tratamento e Gerson refere que as pessoas morriam
como moscas e que aquele foi um momento de grande rebeldia das pessoas infectadas. Aps perder
seu companheiro vitimado pela aids, em 1988, Gerson procurou pessoas interessadas em fundar a
primeira ONG/aids do Rio Grande do Sul. Junto com mais algumas pessoas, fundou o Gapa-RS, do
qual foi presidente de 1989 a 1992. Tornou-se o primeiro soropositivo a assumir um programa de
controle da aids: entre 1993 a 1998, foi Coordenador do Programa de DST/aids do Municpio de Porto
Alegre, RS. Entre 1998 e 2000, trabalhou com direitos humanos na Assemblia Legislativa do Estdao,
sendo convidado pelo secretrio da Justia e Segurana, Jos Paulo Bisol, em 2000, para coordenar o
Programa Estadual de Proteo a Testemunhas Ameaadas (Protege). Quando saiu do cargo, por volta
de 2003-2004, resolveu montar o seu prprio negcio e abriu uma padaria. Como sentia falta de
alguma coisa para administrar o negcio, resolveu retornar para a faculdade. Em 2006 iniciou a
graduao em Administrao de Empresas, no Centro Universitrio Metodista, RS, que concluiu em
2009. Em 2011, assumiu a Coordenao do Programa Estadual de DST/aids do Rio Grande do Sul,
cargo no qual permaneceu por 60 dias. Em seguida retornou para a Coordenao do Programa de Aids
do Municpio de Porto Alegre.
Fonte:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 55.
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Gilvane Casimiro
Nasceu em 27/08/1965, no Cear. Oriundo de uma famlia de agricultores, desde muito cedo se
interessou pela rea de educao. Gil dava aulas e chegou a trabalhar na rede de ensino municipal. Fez
curso de qualificao de professor de primeiro grau, dentro de um plano educacional do governo. Ates
de mudar-se para So Paulo, Gil j havia se envolvido com a Comisso Pastoral da Terra, que fazia
parte do movimento eclesial de base. Em So Paulo envolveu-se com um grupo de jovens, ligado
igreja, onde permaneceu cerca de 2 anos, mas terminou se afastando. Formou-se em hotelaria, na
Faculdade Hebraico Brasileira Renascena, SP. Quando terminou os estudos, atravs de um amigo,
Gil comeou a se envolver, ainda timidamente, com o Grupo de Incentivo a Vida (GIV). Inicialmente
trabalhava como garom em festas e eventos promovidos pelo grupo, depois passou a se envolver em
questes mais administrativas. Nesse nterim, Gil se descobriu soropositivo. Na poca, trabalhava no
comrcio, na parte administrativa. Quando a direo da empresa em que trabalhava tomou
conhecimento da sua soropositividade, foi afastado. Durante cerca de 7 anos em que ficou afastado,
dedicou-se exclusivamente ao ativismo, no GIV. Trabalhava mais do que quando trabalhava na
empresa privada, segundo conta. Quando comeou ia dois trs dias por semana quando saa do
trabalho, aos poucos passou a ir todos os dias. Foi suplente da tesouraria, foi tesoureiro, e chegou a
presidente da instituio, permanecendo por trs anos. Seu envolvimento maior com a instituio foi
entre 1996 e 2004. Foi inclusive membro da Cnaids e das comisses em nvel municipal e estadual,
enquanto representante do GIV. No incio de 2005, afastou-se do GIV. Considerava que no estava
crescendo profissionalmente, quando surgiu uma seleo para uma vaga na Secretaria de Sade do
Municpio de So Paulo. Passou ento a trabalhar na articulao com a sociedade civil organizada.
Assumiu como tcnico e em 6 meses passou funo de responsvel pela rea. Permaneceu cerca de 5
anos, de 2005 a final de 2009, quando foi para o Ministrio da Sade, tambm no setor de articulao
com a sociedade civil.
Fonte:
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Nasceu em 1968, em Campina Grande, Paraba. Com um ano de idade foi morar em Feira de Santana,
Bahia. Filho de um comerciante e uma dona de casa, que com a morte do marido passou a costurar
para cliente, chegando, mais tarde, a ter um comrcio de roupas. Harley cursou o ensino mdio em
Feira de Santana. Achava que poderia fazer um curso que permitisse trabalhar na rea de gesto. Foi
para a capital do Estado, Salvador, cursar Administrao de Empresas na Universidade Catlica.
Participante do movimento eclesial de base, foi na segunda metade da dcada de 1980 que passou a
participar mais ativamente do movimento estudantil, momento em que a aids estava bastante presente
na mdia. Na sua opinio, a associao entre sexualidade e morte preocupou o grupo de amigos em
incio da vida sexual. Harley buscou informao sobre a doena na Bahia e no encontrou. No havia
uma organizao no-governamental trabalhando com o tema. Havia aes promovidas pelo Grupo
Gay da Bahia, mas tendo como alvo a comunidade gay. Contudo, no existia uma associao que
trabalhasse de forma exclusiva e ampla (para toda a sociedade) na rea de aids. As aes
governamentais ainda eram muito incipientes no Estado da Bahia em 1988. Harley tomou
conhecimento que naquele momento j existiam ONGs trabalhando na luta contra a epidemia de aids.
Conheceu o Gapa-RJ e o Gapa-SP e resolveu fundar um Gapa em Salvador, junto com um grupo de
amigos, todos universitrios. Envolvido com o Gapa-BA, do qual tornou-se coordenador geral em
1988, Harley adiou a concluso do curso de Administrao, mas considera que sua formao permitiu
uma viso profissional de como trabalhar no terceiro setor. Entre 2003 e 2004, concluiu a graduao
em Administrao de Empresas na Universidade Catlica e, em seguida, fez o mestrado (2005-2008),
na mesma rea, na Ufba. Harley foi assessor do Projeto Previna, do Programa Nacional de DST/aids
do Ministrio da Sade.
Fonte:
2. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 61.
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Ieda Fornazier
Nasceu na dcada de 1960, em Braslia, DF. Seu pai era policial civil e sua me dona de casa. Fez
faculdade de turismo. Pensava em trabalhar com a cultura dos pases, conhecer o seu pas. Estava
cursando a faculdade e trabalhava em um banco quando foi aprovada em concurso para o Ministrio
da Sade. Dois irmos j trabalhavam no Ministrio, tendo sido contratados nas campanhas de
tuberculose e febre amarela, o que a motivou a assumir. Ingressou no ministrio da Sade em outubro
de 1984. Ficou um tempo na Secretaria Executiva, trabalhava no apoio administrativo, quando foi para
o Programa de Aids, em 1986, o mesmo j havia sido estruturado e precisava de uma secretria que
falasse ingls. Ieda diz que vestiu a camisa da aids e permanece como Secretria do Departamento
Nacional de DST, aids e hepatites virais. Ieda s se afastou do Programa Nacional na gesto de
Eduardo Crtes, quando voltou para a Secretaria Executiva. Durante todo o perodo no Programa
Nacional, acompanhou e auxiliou nas demandas de Cnaids. Em 2011, Ieda estava cursando Psicologia.
Seu objetivo era concluir o curso e fazer trabalho comunitrio.
Fonte:
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Ins Dourado natural de Salvador, Bahia. Concluiu o ensino mdio em 1975, no Colgio Maristas,
tradicional colgio da rede privada de Salvador. Filha de um mdico obstetra, professor universitrio
na rea de ginecologia, e uma enfermeira, no seu colgio, s era considerado inteligente quem cursava
medicina, direito e administrao. Mas no teve presso em casa. Cursou medicina da Escola Bahiana
de Medicina e Sade Pblica entre 1976 e 1981. Em setembro de 1981 foi selecionada para a
Residncia de Medicina Social, mas abandonou o curso com apenas dois meses para acompanhar o
marido que tinha recebido uma bolsa para estudar nos EUA. Fez o mestrado em Sade Pblica na
Universidade de Massachussets, Amherst, EUA (1982-1984). No retorno para o Brasil, ingressou
como mdica na Secretaria de Sade do Estado da Bahia, permanecendo como tcnica do Centro de
Informao em Sade, onde permaneceu de 1984 a 1989, e como mdica pesquisadora na Ufba,
passando a docente do Instituto de Sade Coletiva, em 1997. Sua aproximao com a aids se deu a
partir do doutorado, realizado na Universidade da Califrnia entre 1989-1994, sob orientao de Roger
Detels, que coordenava naquele momento um grande projeto de coorte em aids, chamado Multicenter
AIDS Cohort Study, que comeou em 1984. A ideia era trabalhar num projeto sobre urbanizao e
esquistossomose, mas como no havia orientador, foi com os dados desse estudo de coorte que Ins
fez a tese de doutorado. Atua nas seguintes linhas de pesquisa: epidemiologia do HIV, avaliaoo do
impacto de intervenes, doenas imunoprevenveis, epidemiologia de retrovrus, epidemiologia de
doenas infecciosas, HIV/aids, avaliao de tecnologia em sade. Possui 64 artigos publicados e
quatro captulos de livro, vrios relacionados a HIV/aids. pesquisadora 1C do CNPq, orientadora de
mestrado e doutorado.
Fonte:
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Ivo Brito
Nasceu em 25/11/1954, em Fortaleza, Cear. Cursou o ensino mdio em So Paulo. Cursou Sociologia
na Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo. Relata que desde o ensino mdio participava do
movimento estudantil, tendo sido natural escolher uma rea de atuao que as questes sociais
estavam sendo debatidas. Fez especializao no Instituto de Pesquisa Econmica aplicada e na
Faculdade Latino Americana de Cincias Sociais (FLACSO). Iniciou o doutorado na UnB, mas no
chegou a concluir, apesar de ter cursado todas as disciplinas, priorizando a atuao no campo
burocrtico em detrimento da vida acadmica. A aproximao com a rea da sade se deu por
intermdio de diversos agentes importantes da reforma sanitria brasileira, como Srgio Arouca,
Sebastio Loureiro, Jairnilson Paim, Naomar de Almeida Filho, pessoas que estavam pensando a
sade pblica e a reforma sanitria e estavam constituindo a Abrasco e o Centro Brasileiro de Estudos
de Sade (Cebes). Comps a diretoria do Cebes entre 1994 e 1995 (1o suplente da tesouraria). O
primeiro contato com a aids ocorreu alguns anos antes de se tornar tcnico da rea de preveno do
Programa Nacional de DST/aids do Ministrio da Sade, quando foi convidado por Eleutrio
Rodrigues Neto para participar, junto com Alina Maria A. De Souza, de um artigo sob a perspectiva
da sade internacional, tendo como recorte a aids e a questo da cooperao internacional para um
livro da OPAS. Antes de ir para a UnB, foi docente da Universidade Federal da Paraba por cerca de
17 anos, ministrava aulas na disciplina Sade e Sociedade e integrava um grupo de pesquisa que
trabalhava com a questo da sade pblica. Na UnB passou a integrar o Ncleo de Estudos de Sade
Pblica (NESP), lidando principalmente com as questes de anlise de polticas pblicas. Quando
Jamil Haddad assumiu o ministrio em outubro de 1992, Ivo Brito trabalhou no desmonte do Inamps.
Em 1996, entrou no Programa Nacional de DST/aids, como tcnico da rea de preveno, onde
permanece at hoje. Entre 2002 e 2004, trabalhou na frica, junto aos governos de Angola e
Moambique nas aes programticas para a aids. Foi filiado ao PT, atualmente filiado ao Partido
da Causa Operria (PCO).
Fonte:
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Nasceu em 1949, em Buenos Aires, Argentina. Filho de um contador e uma enfermeira. Graduou-se
(1968-1972) e depois fez mestrado em matemtica na Universidade de Buenos Aires. Lutou contra a
ditadura argentina no movimento estudantil em 1969. Participou da corrente socialista do movimento
peronista. Foi nomeado professor assistente logo que concluiu o mestrado, mas em 1974 (um ano e
meio antes da ditadura), foi demitido por razes polticas da universidade. Solicitou uma bolsa para
fazer o doutorado (1976-1981) no Brasil, no Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada
(IMPA). Ingressou no grupo Somos de Afirmao Sexual do Rio de Janeiro, onde conheceu Veriano
Terto Jr, com quem teve um relacionamento. Com o fim do doutorado, mudou-se para So Paulo e
passou a frequentar o Grupo Somos SP, at 1983. Em 1981 ingressou como docente do Instituo de
Matemtica e Estatstica da USP (IME). Sua relao com a aids comeou em 1986, quando um amigo
prximo morreu de aids. Um pouco depois, foi testado, contra a sua vontade, e descobriu-se
soropositivo. Jorge Beloqui havia decidido no se testar porque no via sentido em saber o diagnstico
se no havia tratamento. Em 1986, participou da campanha de Herbert Daniel deputado. Em 1989,
conheceu o Pela Vidda, primeiro grupo de pessoas vivendo com HIV/aids, fundado por Herbert Daniel
no Rio de Janeiro. Gostou do tom militante do grupo e participou da fundao do Pela Vidda So
Paulo, em agosto de 1989. Participou do grupo Pela Vidda at 1995. Em janeiro de 1996, entrou para
o Grupo de Incentivo Vida (GIV). pesquisador colaborador do Ncleo de Estudos e Preveno
Aids (NEPAIDS) da USP. Membro de corpo editorial da HIV Vaccines Bulletin, membro do the
Advisory Board da Associao Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), diretor do Grupo de
Incentivo Vida (GIV), membro da Working Group on Intellectual Property, Working Group on
Prevention for PWHIV/AIDS da National STD-AIDS Program, membro de corpo editorial da
Cadernos pela Vidda, membro de corpo editorial da Boletim pela Vidda, revisor de peridico da
Revista Panamericana de Salud Pblica / Pan American Journal of Public Heal e revisor de peridico
da Revista Brasileira de Epidemiologia.
Fonte:
3. Beloqui, J. Ter HIV na USP: ou o uso do hfen na lngua portuguesa. Revista Adusp maio 1996. p.
19 a 22
4. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 85.
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Nasceu em 1935, numa famlia portuguesa que veio para o Brasil no perodo da guerra. Em So Paulo,
seu pai tinha um bar no qual ele trabalhava na adolescncia. Estudou no colgio Anglo Latino, um
colgio particular. Cursou medicina na USP (1956-1961). Fez especializao em Epidemiologia
tambm na USP (1965-1967), tendo como orientador Jos Lima Pedreira de Freitas. Entre 1965-1970
fez o doutorado em Medicina, sob a orientao de Astolpho Ferraz de Siqueira, defendendo a tese
intitulada Tbuas de vida e capacidade inata de aumento numrico de uma populao de Triatoma
infestans em condies de laboratrio. livre docente pela USP (1975). Em 1963 ingressou como
docente da Faculdade de Medicina da USP de Ribeiro Preto. Foi Coordenador do Campus da USP de
Ribeiro Preto, nos anos 1980, Professor Colaborador do Instituo de Estudos Avanados (IEA) da
USP (1990 a 1992) e Professor do Programa de Integrao da Amrica Latina (PROLAM) da USP
(1995 a 2003). Na Secretaria de Estado da Sade de So Paulo (SES/SP) foi Diretor do Instituto de
Sade entre 1983 e 1985; e entre 1993 e 1999; e Coordenador dos Institutos de Pesquisa nos perodos
de 1983 a 1985 e 1999 a 2003. Era Diretor do Instituto de Sade e dos Institutos de Pesquisa quando
da emergncia da epidemia da aids no Estado de So Paulo, quando foi criado o Programa Estadual de
Aids. No Ministrio da Sade foi Assessor do Ministro Almeida Machado (1975 a 1976) e consultor e
membro de diversos comits. Na Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi diretor do Instituto Nacional
de Controle de Qualidade em Sade (INCQS), na dcada de 80, e recentemente foi vice-presidente de
Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico (2007 a 2009), coordenando o Projeto Inovao em Sade
(2003 a 2009); atualmente participa do Centro de Desenvolvimento Tecnolgico em Sade (CDTS) e
assessor do Presidente da Fiocruz. Assessor da OMS e membro de Comits Tcnicos desde 1999,
em especial do Comit de Vacinas de HIV/aids (2000 a 2001) e do Comit de Registro de Ensaios
Clnicos (2006 a 2008). Membro da Associao Brasileira de Ps Graduao em Sade Coletiva
(Abrasco), foi seu Presidente (2006 a 2009) e, at maro de 2007, Editor Cientfico da Revista
Brasileira de Epidemiologia. Membro do Cebes. Tem experincia na rea de Sade Coletiva, com
nfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: mtodo epidemiolgico;
HIV/aids; Cincia, Tecnologia & Inovao em Sade; polticas de desenvolvimento de vacinas e
imunobiolgicos.
Fonte:
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Fonte:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 105.
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Manoel Alves
Filho de uma famlia baiana, Manoel nasceu e se criou em Braslia. Quando tinha 16 anos, era
estagirio do gabinete da Secretaria Nacional de Programas Especiais de Sade e foi para o Programa
Nacional de DST/aids a convite de Lair Guerra. Seu pai trabalhava com madeiras e sua me era dona
de casa. Manoel estudou em escola pblica em Braslia e nunca se envolveu no movimento estudantil
porque no tinha tempo, trabalhava. Chegou ao Programa quando esta j tinha sado da DNDS, por
volta de 1987. Em 1988, tornou-se quadro efetivo do Ministrio da Sade, atravs da realizao de
concurso pblico. Sempre trabalhou no Programa de DST/aids. Afastou-se apenas um perodo de 5
meses por volta de 2005 para ser assessor do Ministro, mas terminou voltando. No saiu nem no
perodo em que Eduardo Crtes foi coordenador, como a maioria dos tcnicos. Era responsvel pela
reprografia e pela entrega de documentos. Manoel graduou-se em contabilidade pela UnB, fez
especializao em planejamento e gesto e trabalha atualmente no setor de planejamento, o
ordenador de e despesas do Departamento. Em 2011 pretendia fazer mestrado em avaliao na
Fiocruz.
Fonte:
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Fonte:
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Natural de Valena, Bahia, filha de um eletrotcnico e uma professora de portugus, Mrcia Sampaio
estudou no Colgio Maristas, em Salvador. Desde os seis anos de idade dizia que queria ser mdica e
nunca desistiu. Cursou Medicina na Ufba (1984-1989). Sempre quis trabalhar com doenas crnico-
degenerativas. Queria ser cardiologista. Foi aluna de Naomar Almeida Filho na disciplina de
Epidemiologia e comeou a trabalhar numa pesquisa com ele, mas Mrcia no tinha coragem de fazer
Sade Pblica ou Medicina Preventiva porque ela achava que deixaria de ser mdica. Assim, a rea de
doenas infecciosas surgiu como estratgia para juntar as duas reas que gostava de atuar: a clnica e a
epidemiologia. Fez Residncia em Infectologia no Hospital Espanhol (1990-1992), onde trabalhou
com o grupo chefiado pelo infectologista Roberto Badar, que conduzia estudos de aids na Bahia em
parceria com a Unversidade de Cornel. Quando concluiu a Residncia, em 1992, fez concurso para a
Secretaria de Sade do Estado da Bahia e foi trabalhar na enfermaria de aids no Hospital Roberto
Santos, onde permaneceu at 1997, quando foi para o Programa Estadual de DST/aids atuar como
tcnica responsvel pela vigilncia epidemiolgica das DST/aids. Em 1995, fez um treinamento em
So Francisco, EUA, na Universidade da Califrnia em preveno de HIV/aids. No perodo de 1999 a
2004, foi coordenadora do Programa Estadual de DST/aids. Foi exonerada do cargo e desligada do
Programa de DST/aids, sendo transferida para a coordenao de Vigilncia Epidemiolgica
Hospitalar. Fez mestrado em Medicina e Sade (2001-2003) na Ufba, defendendo a dissertao
Programa de preveno da Infeco pelo HIV sobre o comportamento sexual de homossexuais
masculinos em Salvador, Bahia, orientada por Carlos Brites e entre 2003 e 2007, fez o doutorado no
mesmo programa , defendendo a tese 100% adeso: oficinas educativas versus sesses de vdeo para
promover a adeso terapia antirretroviral em pacientes com aids sem tratamento prvio em Salvador,
Bahia.
Fonte:
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Nasceu em 21 de abril de 1950, em Mucurici, Esprito Santo. At os 7 anos foi criada e alfabetizada na
fazenda de sua famlia. Em 1968 foi para Vitria, finalizar os ltimos anos do ensino mdio nos
colgios So Vicente de Paulo e Salesiano. Em 1970 ingressou na Escola de Medicina da Santa Casa
de Misericrdia de Vitria (Emescam), e desde a graduao manifestou interesse pela dermatologia.
Em 1975, aps uma tragdia pessoal, foi para o Rio de Janeiro terminar o ltimo ano de graduao na
UERJ. Durante o perodo em que esteve na UERJ, foi bolsista de iniciao cientfica do CNPq no
Instituto de Leprologia (IL). Nesse momento, a DNDS localizava-se no mesmo espao do Instituto,
presenciou a transferncia do IL para a Fiocruz, e da DNDS para Braslia. Aps a especializao em
Dermatologia (1976-1977) na UERJ, foi aprovada no concurso do Inamps, como Mdica
Dermatologista, no municpio de Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro, onde iniciou seu trabalho
com a Sade Pblica, em hansenase. Perodo em que participou do Grupo Popular de Sade e fundou
o primeiro Ncleo do Movimento de Reintegrao das Pessoas atingidas pela Hansenase (Morhan) do
Rio de Janeiro. Em 1979 entrou para a UFRJ como auxiliar de ensino. Em 1984, a convite de Zulmira
Hatz, foi trabalhar na Gerncia Estadual de Dermatologia Sanitria da Secretaria de Sade do Estado
do Rio de Janeiro, com os programas de hansenase e aids. Em 1986, a convite de Fabola de Aguiar
Nunes, Secretria Nacional de Programas Especiais de Sade, foi para a Diviso Nacional de
Dermatologia Sanitria onde acompanhou o Programa de Aids. Com o governo de Fernando Collor de
Melo retornou UFRJ. Fez mestrado em dermatologia na UFF (1990-1991) e doutorado tambm em
dermatologia na UFRJ (1992-1996). Retornou Coordenao Nacional de Dermatologia Sanitria
entre 1996 e 1998. Coordenou o Departamento de Hansenase da Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD) entre 2005-2006, quando iniciou a estratgia de campanhas municipais de
hansenase em vrios estados. Foi novamente para o Ministrio da Sade em 2007-2008.
Fonte:
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Nasceu em Santa Maria, So Paulo. Filho de um comerciante e uma professora, cursou o ensino mdio
no colgio Luiz Queiroz, um colgio particular da cidade de Piracicaba, So Paulo. Queria fazer
jornalismo, entrou na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e chegou a cursar um semestre.
Como desejava fazer poltica atravs da profisso, resolveu cursar Cincias Sociais na UNESP (1984-
1987), em Araraquara. Fez mestrado em Cincias Sociais - Antropologia pela Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo (PUC-SP), entre 1988 3 1993, com a dissertao A Epidemia Clandestina:
AIDS e Usurios de Drogas Injetveis em So Paulo, um dos primeiros estudos sobre aids entre
usurios de drogas injetveis. Foi professor de vrias faculdades e universidades, como: Instituto de
Cincias Aplicadas (ISCA) (1988-1989), Faculdades Teresa Martin-SP (1990-1992), Universidade
Estadual de Londrina (UEL) (1992-1994), Fundao Armando Alvares Penteado (FAAP-SP) (1996-
2000), Universidade Castelo Branco-SP (1996-1997), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
(1998-2000), Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (FESP-SP) (2001-2002),
Universidade de Salvador (UNIFACS) (2002) e desde 2002 docente da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB). Fez doutorado em Cincias Sociais - Antropologia (2002-2007), na Universidade
Federal da Bahia (Ufba), com a tese denominada Coca light? Usos do Corpo, Rituais de Consumo e
Carreiras de usurios de cocana em So Paulo. Fez estgio de ps-doutorado (2009-2010) na
Universidade de Columbia, Nova Iorque, EUA.
Fonte:
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Nasceu em lvares Machado, So Paulo. Filho de um contador (nvel mdio) e de uma dona de casa.
Seu av paterno era fazendeiro, mas faliu antes do casamento de seus pais. O materno era empregado
rural. A famlia era de formao catlica, mas seus pais no frequentavam a igreja, mas ele
frequentava por conta de atividades escolares e da comunidade. O ensino mdio cursou na cidade de
Dourados e o ltimo ano na capital, So Paulo. Fez Medicina na UNESP-Botucatu entre 1968-1973,
uma escola relativamente nova, organizada com uma participao grande de docentes egressos da
USP, que participavam do movimento de reforma universitria. O curso foi criado tendo como
referncia os princpios de organizao da Universidade de Braslia, com uma nfase grande em
Medicina Preventiva. A escolha da medicina estava relacionada com a imagem de mdico heri dos
romances, o mdico que vai para lugares distantes salvar vidas. Fez Residncia em Dermatologia
(1974-1977) em convnio entre a Escola Paulista de Medicina e o FUNDACENTRO. Participou do
movimento estudantil durante a adolescncia e a faculdade, foi preso por duas vezes por questes
polticas, em 1968, quando era secretrio geral do diretrio acadmico ficou 30 dias no DOPS e no
perodo de desarticulao da AP, da qual participou at 1974, foi sequestrado e ficou 8 dias no DOI-
CODI. Participou do movimento geral em torno do MDB e da anistia, em 1976, e se envolveu
tambm no apoio ao movimento sindicalista do ABC. Fez parte do grupo que criou o PT, j na rea da
sade, influenciado pelo movimento sanitrio. Participou do grupo Somos de Afirmao Homossexual
at 1979. O servio de dermatose profissionais em que ficava um dos turnos da Residncia era
financiado e dirigido pela Fundacentro Fundao Centro Nacional do Trabalho, que era dirigida por
militares. Com a priso em 1974, foi desligado desse servio, passando a se concentrar, a partir
daquele momento, na dermatologia geral. Em 1978 foi aprovado em concurso pblico para a SES-SP,
sendo designado para a Diviso de Hansenologia e Dermatologia Sanitria (DHDS), da qual tornou-se
diretor. Em 1983, coordenou a criao do Programa Estadual de Aids de So Paulo, sendo seu
coordenador nos perodos de 1983-1987, 1990-1991, 1995-1996. Foi consultor da OPAS (1994),
Consultor tcnico do Programa de Aids na ONU Unaids para Amrica Central e Cone Sul (1996-
1999). Entre 2000 e 2003 assumiu a coordenao do Programa Nacional de DST/Aids. Na sua gesto
foi proposta a quebra de patentes e o Programa foi agraciado com o Prmio Bill e Melinda Gates,
considerado a ao de sade pblica mais relevante de 2002. Quando saiu do Programa Nacional foi
Diretor do Programa de Aids da OMS (2003-2004). Se define como um profissional de sade pblica,
com rea de concentrao em aids e diz que fica to aflito hoje quanto a vinte anos atrs, quando v
um caso de transmisso vertical, eu fico louco, mas sente-se satisfeito com o trabalho que fez e com a
perspectiva de continuar.
Fontes:
2. Frana, M.S.J. Cincias em tempos de AIDS: uma anlise da resposta pioneira de So Paulo
epidemia. (Doutorado em Histria da Cincia). Deparatmento de Histria da Cincia, Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2008. p. 115-125.
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 143.
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Nasceu em 1951 em Mucug, na Bahia. Filho de um comerciante e uma dona de casa, seus avs
paternos vieram da Sria e os maternos tinham origem libanesa. Pedro cursou o ensino mdio no Rio
de Janeiro. E ingressou na faculdade de Medicina da UFRJ em 1972. Diz que que decidiu fazer
Medicina por sugesto da irm. Durante a faculdade se filiou ao MDB e participava do Partido
Comunista. Fazia parte da ala pr-moscou. Participava de treinamentos, reunies, simulaes. Em
1978 ingressou como mdico da Fundao Servios Especiais de Sade Pblica (FSESP), que
considera uma grande escola de Sade Pblica. Chefiava o programa de doenas transmissveis da
FSESP em 1986, no Rio de Janeiro. O ministrio havia delegado ao SESP a funo de normalizar
notificao, consolidao de dados relativas s doenas transmissveis no nvel nacional, de modo que
havia uma boa interao com a SNABS e a SNPES, no Ministrio da Sade. A FSESP colaborou para
a interiorizao do programa de DST/Aids, atravs do treinamento de suas unidades. Fez
especializao em Sade Pblica (USP) e Dermatologia Sanitria (ENSP). Em 1987, Pedro Chequer
passou a integrar o PN DST/aids, permanecendo at 1990, no governo Collor, quando retornou para a
FSESP em Braslia. Entre 1991 e 1993, assumiu a Direo do CENEPI. Em 1993, retornou para o
Programa Nacional de DST/aids, assumindo a chefia do servio de epidemiologia, e posteriormente
tornou-se coordenador substituto. Com o acidente sofrido por Lair Guerra, assumiu a direo do PN,
entre 1996 e 2000, quando tornou-se representante do Unaids no Cone Sul, entre 2002 e 2004 foi
representante do Unaids na Rssia. No perodo de 2004 a 2006 foi mais uma vez diretor do PN. Desde
2006 representante do Unaids no Brasil.
Fontes:
2. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 149.
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Renato Girade
Nasceu em 1972, em Braslia, DF. Filho de mdico pediatra e de uma pedagoga, cursou o ensino
mdio em Braslia. tecnlogo em Processamento de dados, com espacializao em informao e
informtica em Sade. Sua relao com a aids iniciou-se quando entrou no Programa Nacional de
DST/aids 1993, atravs de um processo seletivo para secretrio e fez sua trajetria profissional dentro
do Programa Nacional. Um pouco antes de se formar foi para a rea de tecnologia da informao.
Trabalhou em quase todas as reas do setor, assistncia tcnica, programador, analista de rede. Em
seguida foi para a rea de planejamento, onde permaneceu por cerca de 2 anos e meio, trs anos.
Retornou para rea de tecnologia da informao (TI) e atualmente est na coordenao geral, que
abrange oramento, governana de TI, administrao, logstica. Atualmente tambm consultor no
Unaids.
Fonte:
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Fonte:
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Natural da cidade do Rio de Janeiro (RJ), filha de um contador e uma professora primria, cursou o
ensino mdio no Colgio Aplicao da UERJ, era um curso profissionalizante. Entre as possibilidades
que tinha, resolveu fazer anlises clnicas. Foi durante o curso que se decidiu pela medicina, sob a
influncia de um professor cujo grande sonha era ter sido mdico e que convidava seus ex-alunos
mdicos como convidados, de modo que Valdila foi se encantando pela medicina. Fez a graduao
em medicina na UERJ (1980-1985). No segundo ano da faculdade, em 1981, gostou da disciplina de
Parasitologia e permaneceu como monitora e comeou a se envolver com pesquisa. O coordenador da
Parasitologia era Homero Salazar, mas Valdila trabalhava principalmente com Nilceia Freire, Jos
Roberto Machado e Hrcules de Moura. Foi a partir dessa experincia que resolveu seguir a
infectologia. Fez Residncia mdica em Doenas Infecciosas e Parasitrias no Instituto de Infectologia
Emlio Ribas (1986-1988). Quando decidiu seguir infectologia, no queria trabalhar com doenas
crnicas, queria trabalhar com doenas curveis, diz que, com a aids, caiu no oposto. Fez mestrado
em Doenas Infecciosas e Parasitrias (1992-1995) na UFRJ, e Doutorado (2000-2008) em Sade
Pblica na ENSP/Fiocruz, em ambos os cursos os trabalhos de concluso estavam relacionados a
HIV/aids. No mestrado trabalhou com tuberculose em pacientes HIV positivos e no doutorado com a
preveno da transmisso vertical. De 1989 a 1993, foi mdica do servio de DIP da UFRJ. Desde
1989 pesquisadora da Fiocruz. Desde 1996 membro do Comit tcnico assessor para Terapia
Antirretroviral em Adultos do Ministrio da Sade. Entre 1996 e 2000, participou tambm do Comit
tcnico assessor para terapia antirretroviral em crianas. De 1997 a 2000 foi chefe da Unidade de
Assistncia do PN DST/aids. Entre 2000 e 2003 foi Coordenadora do Programa Estadual de DST/aids
do Rio de janeiro. Em 2006 assumiu a direo do Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas
(IPEC/Fiocruz). consultora do Ministrio da Sade. Tem experincia na rea de Medicina, com
nfase em Infectologia, atuando principalmente nos seguintes temas: HIV, AIDS, HIV-l. Tem 48
artigos publicados e 3 captulos de livro.
Fonte:
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Valria Petri
Nasceu em 01/12/1947. O pai era funcionrio da limpeza do banco de Brasil e vendia materiais de
encanamento. A me era dona de casa. Cursou o ensino mdio em sistema de internato, no colgio
Koelle, em Rio Claro. Cursou Medicina da Escola Paulista de Medicina, entre 1968 e 1973. Em 1976,
obteve o ttulo de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Fez
mestrado em microbiologia e imunologia (1980-1981) e doutorado (1981-1982) em Dermatologia na
mesma instituio. Livre-Docente pela Unifesp (1992) e Professor Titular da Unifesp desde 1996.
Identificou os primeiros casos de aids no pas. Fez parte do grupo que participou da reunio com o
Secretrio de Sade do Estado de So Paulo, Joo Yunes, que demandou a atuao do Estado frente
epidemia de aids. Foi representante do Ministrio da Sade no primeiro meeting de aids, na OPAS, em
Washington (EUA). Sua participao poltica sempre foi de bastidores, fazendo cartazes, escrevendo
textos, por implicncia do marido que no deixava que participasse mais ativamente. Desde 1975,
docente da Unifesp. Afastou-se da rea de aids e hoje dedica-se dermatologia. Realiza Pesquisa
clnico-dermatolgica vinculada s reas de Bioqumica, Farmacologia e Biofsica. orientadora de
mestrado e doutorado.
Fontes:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 187.
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Vera filha de Rubens Paiva, engenheiro civil e poltico desaparecido durante o regime militar.
Sempre estudou em colgio de freiras. Vera queria mudar o mundo. Pensou em fazer diversos cursos:
cincias sociais, antropologia, histria. No queria medicina pois achava que no aguentaria o curso e
nem estava disposta os sacrifcios para entrar em um curso de medicina de uma universidade pblica,
nem poderia pagar, visto a difcil situao da famlia, com seu pai desaparecido e sua me tendo que
sustentar a casa e os 5 filhos. Para cursar a universidade tinha que ser em uma universidade pblica e
tinha que ser rpido. Decidiu fazer Psicologia. Fez a graduao na USP (1973-1977). Vera lutou
contra a ditadura, era militante estudantil, foi fundadora do movimento brasileiro pela anistia.
Participou ativamente de uma ONG feminista no incio da dcada de 1970. Fundou o primeiro DCE
no Brasil. Participou da reconstruo da Unio Nacional dos Estudantes em 1979. Participou do
movimento da reforma sanitria brasileira, mais relacionada luta pela reforma anti-manicomial.
Passou a trabalhar como terapeuta. Fez especializao em Sade Mental pela Faculdade de Sade
Pblica da USP (1980) e mestrado em Psicologia Social (1983-1984). Vera era psicloga, hippie,
morava em comunidade e tinha vrios amigos gays, que comearam morrer. Comeou a atender
pessoas vivendo com HIV/aids e que tratavam pessoas vivendo com HIV/aids, em 1984. Desde 1988
docente do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP. Coordena estudos
que abordam as relaes de gnero, as sexualidades e a dimenso psicossocial de tecnologias para
promoo da sade, com foco na preveno primria e secundria ao HIV e da Aids. Fundou e
coordenadora do Ncleo de Estudos para a Preveno da Aids (NEPAIDS-USP), grupo
interdisciplinar que congrega professores de diversos departamentos da USP, de outras universidades e
instituies pblicas de pesquisa, alunos de graduao e ps graduao. Em 1991, coordenou o
primeiro o primeiro congresso da repercusso psicossocial da aids no Brasil na USP (Impacto
psicossocial da epidemia da AIDS). Tem 59 artigos, 4 livros e 25 captulos de livro publicados, alm
de diversos textos em jornais e trabalhos apresentados em congressos. Bolsista de Produtividade em
Pesquisa do CNPq - Nvel 1C.
Fonte:
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Nasceu em Teresina, no Piau, em 1961. Filho de militar, muito cedo saiu de Teresina e foi morar no
Rio de Janeiro. De l foi para o Rio Grande do Sul, onde morou em uma cidade pequena, perto da
fronteira do pas e sua vida foi praticamente dentro do quartel, morando em vila militar. Retornou na
pr-adolescncia para o Rio de Janeiro, de onde no saiu mais. Cursou o ensino mdio no Colgio
Militar no Rio de Janeiro. Em 1980, ingressou no curso de Psicologia da UERJ (1980-1985). Veriano
era militante do movimento homossexual pela afirmao e liberao sexual, atuando no grupo Somos
e Au, no Rio de Janeiro. Com o incio da epidemia da aids, vrios amigos comeam a ficar doentes.
Em 1984, um de seus amigos se contaminou e foi a bito em 1986. Vrios outros depois seguiram a
mesma trajetria. Fez mestrado em Psicologia Clnica (1986-1989), na PUC-RJ, com uma dissertao
sobre homossexualidade. Sua aproximao com a Abia comeou atravs de Carmita, que estava
fazendo um estudo sobre homossexualidade e aids e sabia que Veriano tinha muitos relatos
etnogrficos. Quando chegou na Abia, Herbert Daniel estava fundando o grupo Pela Vidda, um grupo
de pessoas soropositivas, no exclusivamente, e Veriano se aproximou. Em maio de 1989 iniciou
como funcionrio da Abia, onde continua atuando e desde 2001 coordenador geral. Coordenou
diversos projetos na Abia. Fez doutorado em Sade Coletiva na UERJ (1993-1997), abordando a
homossexualidade e a aids, sob a orientao de Richard Parker. Entre 2002 e 2004 foi professor
visitante na UFRGS.
Fonte:
3. Abbade, .C.D.S. e Baio, F. 100 nomes que fizeram a histria da luta contra a aids no Brasil. So
Paulo: Gapa BR SP. 2010. p. 189.
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Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saude
Divisao Nacional de Dermatologia Sanitaria
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Desenvolvidas
12 a 14/02/85 Reuniao revisao da lite Minuta da por-
ratura especia- taria para 0
BRASILIA/OF
lizada sobre controle da in
AIDS. fec~ao hospita
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13 a 15/03/85 Revisao e dis- Normatizac;ao de
cussiio dos ca procediemntos
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27 a 29/03/85 Revisao e ampli~ Reda~ao, por
~ao das normas grupo de espe-
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tecnicas sobre cialistas na-
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basicas para op~ ria ministerial
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Oesenvo1vidas
02/05/85 Assinatura da Por Estabe1ecimento de Normatizac;ao das
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III - Todo portador do vrus da aids tem direito assistncia e ao tratamento, dados sem
qualquer restrio, garantindo sua melhor qualidade de vida.
V - Ningum tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos das pessoas pelo nico
motivo de serem portadoras do HIV/aids, qualquer que seja sua raa, nacionalidade, religio,
sexo ou orientao sexual.
VI - Todo portador do vrus da aids tem direito participao em todos os aspectos da vida
social. Toda ao que visar a recusar aos portadores do HIV/aids um emprego, um
alojamento, uma assistncia ou a priv-los disso, ou que tenda a restringi-los participao
em atividades coletivas, escolares e militares, deve ser considerada discriminatria e ser
punida por lei.
VII - Todas as pessoas tm direito de receber sangue e hemoderivados, rgos ou tecidos que
tenham sido rigorosamente testados para o HIV.
X - Todo portador do vrus tem direito a comunicar apenas s pessoas que deseja seu estado
de sade e o resultado dos seus testes.
XI - Toda pessoa com HIV/aids tem direito continuao de sua vida civil, profissional,
sexual e afetiva. Nenhuma ao poder restringir seus direitos completos cidadania.
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Esta a integra do pronunciamento programado para ser apresentado ontem noite, em cadeia de
rdio e tv pelo presidente Collor.
Boa noite.
Hoje venho falar famlia brasileira sobre um assunto de extrema importncia par todos ns: a Aids.
O que pretendo como pai de famlia informar o Senhor e a Senhora sobre essa doena que no tem
cura, mas que pode ser prevenida.
Mas para isso, precisamos agir rapidamente para conter seu avano, evitando dramticas
consequncias.
H uma guerra a ser vencida.
A Aids uma emergncia mdica que justifica aes urgentes do governo em todos os nveis: no
uma doena que possa ser tratada com meias verdades ou meias medidas.
A falta de informao o primeiro obstculo que temos que vencer.
Nenhum brasileiro, rico ou pobre, velho ou moo, homem ou mulher, pode recusar-se, sob qualquer
pretexto, a buscar informaes sobre a questo.
Os primeiros casos de aids no Brasil apareceram no comeo da dcada passada, com o registro de
alguns poucos doentes em So Paulo e no Rio de Janeiro.
A partir de 1985, esses casos passaram a crescer de forma acelerada, como mostram essas colunas em
vermelho.
Existem hoje, em todo o Pas, espalhados por 900 municpios, 21 mil casos de Aids.
No se trata, vejam bem, de uma doena que s atinge as grandes cidades: um problema que est
crescendo no pas inteiro.
O Ministrio da Sade estima que haja, atualmente, no Pas, entre 500 e 700 mil pessoas infectadas
pelo vrus, o que indica um crescimento acelerado da doena na ltima dcada.
Isso no significa que esses milhares de infectados j tenham os sintomas e nem sequer saibam estar
doentes.
O perodo de incubao da doena de 9 anos em mdia: isso quer dizer que todas essas pessoas, que
no tm qualquer sintoma, podem transmitir o vrus para os outros.
Pensem no que isso significa em perdas de vidas humanas.
Precisamos agir j, para evitar uma verdadeira tragdia.
Este grfico impressionante.
Vejam: ele indica a necessidade de agirmos, Governo e Sociedade, de forma urgente; porque se nada
fizermos, no ano 2000 sero 8 milhes , repito 8 milhes o nmero de brasileiros infectados pela
doena, se no houver campanha visando educar, adotar medidas de preveno.
Mesmo assim possvel que cheguemos ao ano 2000 com dois milhes de doentes.
Como evitar isso?
preciso saber que a doena causada por um tipo de micrbio, um vrus, o HIV, o vrus da Aids,
que destri a capacidade do corpo de resistir a infeces comuns.
O vrus transmitido da seguinte forma: por relaes sexuais com pessoas infectadas, por agulhas e
seringas contaminadas, por transfuses de sangue contaminado, e da mulher infectada ao recm
nascido, durante a gravidez ou o parto.
Essas so as formas de transmisso reconhecidas pela cincia.
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Felizmente no se transmite no trabalho, nas escolas, no nibus, trem, metr ou outros tipos de
transportes.
No se transmite pelo aperto de mo, pelo abrao, pela convivncia normal nas casas; no se transmite
em banheiros, piscinas, pela mordida de insetos, nem pela comida.
Sobretudo, no se transmite pela solidariedade, pelo amor e carinho ao prximo.
Minha gente,
Temos que lutar contra o preconceito e contra a discriminao aos doentes de Aids.
Primeiro, porque esta uma atitude crist que nos deve guiar.
Segundo, porque h hoje 10 milhes de portadores do vrus em todo o mundo, e centenas de pessoas
contraem a doena diariamente, o que em menos de uma dcada far com que todos ns conheamos
algum de nosso crculo mais ntimo de relacionamento contaminado como vrus, caso no sejam
tomadas as medidas preventivas necessrias.
Terceiro, porque o portador da Aids est perfeitamente habilitado a exercer a maioria das profisses,
sem oferecer risco ao prximo.
Quarto, porque a ignorncia a nica justificativa para a discriminao e o preconceito.
Estigmatizar os portadores da doena apenas agrava o profundo drama que vivem essas pessoas, que
merecem a nossa compreenso e sobretudo solidariedade.
Relembro as sbias palavras do Evangelho: Felizes os que tm misericrdia dos outros, pois Deus
ter misericrdia deles tambm .
H poucos dias um grande jogador de basquete norte-americano veio a pblico para revelar a sua
condio de portador do vrus.
Vrios brasileiros tm agido da mesma forma.
Essas atitudes demonstram coragem herica, despertando a ateno do mundo para um fato de
extrema importncia: a Aids no uma doena que atinge os chamados grupos de risco, como
erroneamente tm pensado algumas pessoas.
Ningum que tenha vida sexualmente ativa est livre do risco da doena.
Hoje, segundo dados da Organizao Mundial de Sade, 75% dos portadores do vrus da Aids, no
mundo, so heterossexuais.
Este grfico nos mostra como isso vem acontecendo.
Em 1985, quando a incidncia da doena comeava a crescer mais aceleradamente no Brasil, 60% das
vtimas eram homossexuais.
Hoje so pouco mais de 40%.
A srie em vermelho mostra que tambm o nmero de bissexuais que contraram a doena vem
diminuindo.
Pensem nisso com cuidado!
H outro dado fundamental: o aumento de casos por uso de drogas assustador.
De 1980 a 1986, apenas 3% dos casos no Brasil eram relacionados com usos de drogas injetveis.
Vejam vocs nete grfico que a partir de 1986 a Aids passou a contaminar mais e mais pessoas que
fizeram o uso dessas drogas.
Esse nmero em 1991, subiu para 29%.
O pior, o maior crescimento desse tipo de contaminao no Brasil ocorreu em adolescentes, na
populao de 13 a 19 anos de idade.
Como sabemos, ainda no h cura, mas a epidemia evitvel, porque sabemos a causa da doena: a
transmisso do vrus HIV.
Ouam com ateno as maneiras de prevenir a doena; ouam e transmitam esses conselhos a seus
amigos, amigos, filhos, filhas e parentes.
Voc est se prevenindo contra a Aids:
- se no trocar de parceiros sexuais com frequencia e se tiver um relacionamento sexual seguro;
- se exigir teste anti-Aids nos bancos de sangue: saiba que a doao em locais apropriados segura e
um ato de amor ao prximo;
- se exigir agulhas e seringas descartveis ou esterilizadas em farmcias, hospitais, postos de sade e
laboratrioa, bem como material esterilizado nos dentistas;
- se exigir, em cabelereiros, barbeiros, casas de tatuagem e acupuntura, esterilizao dos objetos que
cortam ou perfuram, como agulhas, alicates, giletes, navalhas.
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Vejam como tomando providncias muito simples, voc pode se ajudar a evitar o pior, porque
cuidando de si prprio, voc estar cuidando tambm do seu prximo.
Minha gente,
Apenas listar as maneiras de previnir no basta.
Precisamos ir mais alm: perteno a uma gerao que prefere encarar os problemas de frente, sem
moralismos falsos ou intolerncias inaceitveis para com o comportamento alheio.
A liberdade indivudual de agir uma das maiores conquistas da civilizao a que pertencemos, e de
modo algum podemos usar a aAids como um pretexto para tolher ou qualificar a liberdade das
pessoas.
Mas preciso tambm fazer uma ressalva: a liberdade, nas sociedades modernas e justas, no existe
dissociada de deveres e obrigaes de parte de cada cidado.
A liberdade tem que estar associada idia de responsabilidade, de respeito e, principalmente, de
amor ao prximo.
Esses so valores universalmente aceitos.
E esses valores so tanto mais importantes quando tratamos da liberdade sexual: a promiscuidade
uma forma de comportamento que atenta para a prpria vida; assim silenciar sobre o tema, por mais
polmico que possa ser, seria contraproducente.
Quando tratamos dessas questes que pertencem ao campo da moral, no estamos falando de algo que
possa ser identificado como a moda, ou que possa ser considerado ultrapassado.
preciso que todos se conscientizem da importncia de se tratar a sexualidade humana, uma das mais
belas e profundas manifestaes da vida, com respeito e reponsabilidade.
Respeito e responsabilidade que so ainda maiores quando h uma epidemia que tem causado tanta
dor, tantas perdas.
Minha gente,
Como pai de dois adolescentes e como Presidente da Repblica, cumpro um dever inadivel em alertar
a Nao e de liderar uma ampla campanha ampla, objetiva e corajosa de combate Aids.
O Governo, consciente da sua obrigao moral e dever cvico, precisa agir rapidamente, combatendo a
epidemia em vrias frentes.
Assim, estamos iniciando uma nova fase de trabalho em preveno e assistncia.
J existe um amplo programa de distribuio de medicamentos, incluindo o AZT, que est sendo
implementado pelo Ministrio da Sade.
Mas o principal papel do Governo o de ajudar a prevenir a doena.
Estou determinado a constituio de uma Comisso Nacional de Aids, presidida pelo senhor Edson
Arantes do Nascimento, o Pel, que vai procurar mobilizar a sociedade para essa importante misso de
combate epidemia.
O Ministrio da Sade j est implantando um grande programa de descentralizao do combate
doena, com a criao de programas municipais em 3.000 cidades brasileiras.
Em cada uma dessas cidades esto sendo criadas Comisses especficas , coordenadas pelas
Secretarias Municipais de Sade.
Esse esforo, porm, no ser completo sem a mobilizao de todos os cidados, das igrejas, escolas,
empresas, sindicatos, associaes comerciais, profissionais de sade, organizaes no-
governamentais, enfim, qualquer pessoa ou grupo que queira dedicar-se a essa tarefa.
O Senhor e a Senhora que esto assistindo a este pronunciamento ajudem a cri-la junto aos Prefeitos
de suas cidades, ou procurem engajar-se no trabalho que j est sendo feito nas localidades onde
morem.
No podemos perder tempo.
Amanh, um programa sobre esse tema e sobre o Programa de Descentralizao do combate Aids
ser levado ao ar em rede nacional de televiso e rdio.
preciso que todos os brasileiros se engajem nessa luta: se falharmos, no poderemos culpar ningum
por nossa omisso, a seno a ns mesmos.
Lembre-se: pode acontecer com qualquer pessoa; no acredite nessa histria do comigo no
acontece .
H uma guerra a ser vencida.
Vamos venc-la, minha gente, com a juda e o empenho de todos e de cada um dos brasileiros, e, acima
de tudo, com a ajuda de Deus. Boa noite.
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