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Comitê Lausanne - O Evangelho e A Cultura

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O EVANGELHO

E A CULTURA

Relatrio da reunio de Consulta


realizada em Willowbank, Somerset Bridge, Bermudas,
entre 06 e 13 de janeiro de 1978.
Patrocinada pelo Grupo de Teologia e Educaa o de Lausanne

ABU Editora e Visa o Mundial.

Traduzido do original em ingle s


THE WILLOWBANK REPORT
Copyright (c) 1978 Comissa o de Lausanne para a
Evangelizaa o Mundial, 186 Kennington Park Road,
Londres SE11 4BT, Inglaterra

1Edia o em portugue s 1983

Publicado conjuntamente por


ABU Editora S-C e Visa o Mundial
Com a autorizaa o da Comissa o de Lausanne
Todos os direitos reservados

Tradua o de Jose Gabriel Said

2
Digitalizao: FB

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SEMEADORES DA PALAVRA e-books evanglicos

Sumrio
Prefa cio Geral.............................................................................................................................. 4
Introdua o.................................................................................................................................... 5
1. Base Bblica da Cultura....................................................................................................... 6
2. Definia o de Cultura............................................................................................................ 7
3. Cultura na Revelaa o Bblica............................................................................................ 9
4. Compreendendo a Palavra de deus Hoje..................................................................14
5. Conteu do e Comunicaa o do Evangelho...................................................................17
6. Procura-se: Mensageiros Humildes do Evangelho!..............................................22
7. Conversa o e Cultura.......................................................................................................... 28
8. Igreja e Cultura.................................................................................................................... 34
9. Cultura, E tica Crista e Estilo de Vida..........................................................................45
Conclusa o................................................................................................................................... 49
3
4
Prefcio Geral
O magno e frutescente Congresso Internacional de Evangelizao Mundial,
realizado em 1974 em Lausanne, Sua, na o foi somente um evento marcante
na vida de 4000 congressistas vindos de muitos pases. Ele desencadeou um
movimento de evangelizaa o de grupos humanos concretos que antes na o
contavam com a presena crista significativa, como tambe m deu impulso a
uma reflexa o teolo gica sobre assuntos relacionados com a evangelizaa o do
mundo. Na verdade, o movimento de Lausanne e um interessante
experimento de convvio entre peritos em estrate gia missiona ria (os
pra ticos) e peritos em teologia (os teo ricos); convvio alia s, por vezes tenso,
mas frutfero e criativo.

O Congresso Brasileiro de Evangelizao (CBE-83) houve por bem tornar mais


explcito o vnculo espiritual, teolo gico e missiolo gico que o liga ao
movimento de Lausanne, atrave s da publicaa o de alguns textos ba sicos que
surgiram sob os auspcios da Comissa o de Lausanne para a Evangelizaa o
Mundial. Estes textos, de leitura preparato ria para o CBE-83 foram
produzidos por grupos de trabalho com ampla participaa o de crentes do
terceiro mundo, inclusive de brasileiros, ainda que alguns tenham sido
comentados por irma os do Hemisfe rio Norte. Mas a releva ncia destes textos
transcende o CBE-83, devendo enriquecer as igrejas evange licas do Brasil
tanto em sua jornada de evangelizaa o como em sua caminhada de reflexa o
sobre esta tarefa priorita ria da missa o integral do Corpo de Cristo. Que eles
produzam entre no s estmulos para uma evangelizaa o, urgente e eficaz.

Resta apenas dizer que, enquanto o CBE-83 na o endossa, necessariamente,


todos os pensamentos expostos nesta se rie de Lausanne, recomenda a sua
leitura e estudo aos lderes e ao povo evange lico brasileiro.

Pr. Manfred Frellert


Presidente do Congresso Brasileiro de Evangelizao

5
Introduo
O processo de comunicaa o do evangelho na o pode ser isolado da cultura
humana de que procede, nem daquela em que deve ser proclamado. Esse fato
constitui uma das preocupao es do Congresso de Lausanne sobre
Evangelizaa o Mundial, em julho de 1974. Assim, o Grupo de Teologia e
Educaa o da Comissa o de Lausanne fixou uma reunia o de consulta sobre o
assunto para janeiro de 1978. Essa reunia o congregou um grupo de 33
pessoas: teo logos, antropo logos, lingu istas, missiona rios e pastores de seis
continentes. Reuniram-se para examinar a questa o Evangelho e Cultura. A
reunia o foi co-patrocinada pelo Grupo de Trabalho Estrate gico da Comissa o
de Lausanne, e tinha em vista quatro objetivos:

1. desenvolver nossa compreensa o da inter-relaa o entre evangelho e


cultura, com especial refere ncia a revelaa o de Deus, a interpretaa o e
comunicaa o da mesma por nossa parte, e a resposta dos ouvintes em
sua conversa o, em suas igrejas e no seu estilo de vida;
2. refletir criticamente sobre as implicao es da comunicaa o
transcultural do evangelho;
3. identificar os instrumentos indispensa veis a uma comunicaa o mais
adequada do evangelho;
4. compartilhar os frutos da consulta com lderes crista os na Igreja e no
trabalho missiona rio.

Este relato rio reflete o conteu do de 17 trabalhos com circulaa o antecipada,


o resumo dos mesmos e a reaa o que suscitaram durante a Consulta, e
numerosos pontos de vista expressos em plena rio e nas discusso es em grupo.

Nosso programa de seis dias foi muito intenso, o que nos obrigou a um
redobrado ritmo de trabalho. Em consequ e ncia na o puderam ser exploradas
as questo es ba sicas de metodologia sobre os pressupostos e procedimentos
da teologia e das cie ncias sociais, bem com a maneira adequada de relaciona -
las. E houve momentos em que nossas discusso es refletiram claramente esse
fato. Ale m disso, muitas das questo es levantadas deixaram de ser
respondidas, e muitos debates particulares tiveram sua conclusa o antecipada
6
no desenrolar dos trabalhos. Estamos conscientes, portanto, que o exposto
aqui apresenta um cara ter proviso rio. Podera vir a ser aguado e
aprofundado, em diversos aspectos, em face de trabalhos futuros. Utilizamos
numerosas generalizao es, o que mostra a necessidade da ana lise de um
maior nu mero de casos concretos, a fim de se constatar como estas
generalizao es se relacionam com situao es especficas.

Antes de se concluir a Consulta, dedicamo-nos a elaboraa o do relato rio e de


sua redaa o final. O documento final e um Relato rio e na o um Manifesto ou
uma Declaraa o; vale dizer que nenhum de no s o assinou. Distribumo-lo no
entanto como resumo do que realizamos em Willowbank, e o recomendamos
a nossos irma os crista os em todo o mundo para estudo e aa o compatvel.

1. Base Bblica da Cultura


Uma vez que o homem e criatura de Deus, parte da sua cultura e rica em
beleza e bondade. Pelo fato de o homem ter cado, toda a sua cultura (usos e
costumes) esta manchada pelo pecado e parte dela e de inspiraa o
demonaca (Pacto de Lausanne, 10).

Deus criou o ser humano macho e fe mea, a sua pro pria imagem dotando-o de
faculdades distintas e peculiares: racionalidade, sociabilidade, moralidade,
criatividade e espiritualidade. Ele tambe m lhe ordenou que tivesse filhos,
ocupasse a Terra e a dominasse (Gn 1:26-28). Esses mandamentos divinos
sa o a origem da cultura humana. O fundamental a cultura e o controle da
natureza (isto e , de nosso meio ambiente) e o desenvolvimento de formas de
organizaa o social. A medida que usamos nosso poder criativo para obedecer
aos mandamentos de Deus, glorificamo-lo, servimos a outros e cumprimos
parte importante de nosso destino na Terra.

Agora, entretanto, estamos cados. Todo nosso trabalho e feito com suor e
luta (Gm 3:17-19) e se desfigura pelo egosmo. Nenhuma das nossas culturas
e perfeita em verdade, beleza e bondade. No a mago de toda cultura (quer seja
esse cerne uma visa o religiosa ou mundana) ha um elemento de
egocentrismo, de auto-adoraa o do homem. Raza o pela qual na o se pode
colocar uma cultura sob o senhorio de Cristo sem uma radical mudana de
lealdade.
7
Em que pese tudo isso, permanece a afirmaa o de que fomos feitos a imagem
de Deus (Gm 9:6; Tg 3:9), embora a semelhana divina tenha sido distorcida
pelo pecado. Deus espera, ainda assim, que exeramos a mordomia da Terra e
de suas criaturas (Gn 9:1-3, 7), e eu sua graa universal torna possvel que
todos possam ser criativos, engenhosos e bem-sucedidos em seus
empreendimentos. Embora Ge nesis 3 registre a queda da humanidade, e
Ge nesis 4 o assassnio de Abel pelas ma os de Caim,s ao os descendentes deste
que sa o apresentados como inovadores da cultura, erguendo cidades, criando
animais para seu sustento, produzindo instrumentos musicais e ferramentas
de metal (Gn 4:17-22).

Muitos de no s, crista os evange licos, fomos bastante pessimistas no passado,


em relaa o a cultura. Na o nos esquecemos de nossa condia o de cados e
perdidos, que requer salvaa o em Cristo. Contudo, queremos iniciar este
Relato rio com a afirmaa o positiva da dignidade e dos sucessos das
realizao es culturais humanas. Onde quer que o ser humano desenvolva sua
organizaa o social, arte e cie ncia, agricultura e tecnologia, sua criatividade
reflete a de seu Criador.

2. Definio de Cultura
A palavra cultura na o pode ser definida facilmente. No sentido mais amplo,
significa simplesmente os padro es seguidos por um determinado grupo. Para
que possa haver algum tipo de vida em comum e um certo grau de aa o
coletiva, tem de existir um consenso, seja oral ou escrito, em relaa o a um
grande nu mero de assuntos. Mas o termo cultura na o se utiliza geralmente
a na o ser que se trate de uma comunidade maior que a famlia, seja esta
restrita ou mais ampla.

A cultura implica uma certa medida de homogeneidade. Mas se a unidade e


maior que o cla ou a tribo pequena, a cultura correspondente ha de
compreender uma quantidade de subculturas, e de subculturas de
subculturas, entre as quais pode haver uma grande variedade e diversidade.
Se as variao es ultrapassam determinado limite, surge uma contracultura, e
este processo pode se tornar algo destrutivo.

A cultura une va rias gerao es durante uma e poca. E recebida do passado, mas
8
na o por um processo de herana natural. Cada geraa o tem de aprende -la por
si mesma. Esta aprendizagem acontece em linhas gerais por um processo de
absora o do meio social, especialmente no lar. Em muitas sociedade certos
elementos culturais se comunicam diretamente por meio dos ritos de
iniciaa o, e por meio de muitas outras formas de instrua o deliberada.
Geralmente, aa o em conformidade com a cultura se realiza no nvel
subconsciente.

Isto significa que a cultura compreende todos os aspectos da vida humana.

No centro ha uma cosmovisa o, ou seja, uma compreensa o geral do cara ter do


universo e do lugar que se ocupa neste universo. Esta compreensa o pode ser
religiosa (relativa a Deus ou a deuses e espritos,e a nossa relaa o com
eles), ou pode expressar um conceito secular da realidade, como na
sociedade marxista.

Desta cosmovisa o ba sica surgem tanto os padro es de julgamento ou valores


(sobre o que e bom no sentido de deseja vel , sobre o que e aceita vel de
acordo com a vontade geral da comunidade e sobre os conceitos contra rios),
como tambe m as normas de conduta (concernente a s relao es entre os
indivduos, os sexos e as gerao es, com a comunidade e com aqueles que
esta o de fora dela).

A cultura esta intimamente ligada a linguagem e se expressa em prove rbios,


mitos, contos populares e diversas formas de arte, que constituem parte do
equipamento mental de todos os membros do grupo. A cultura governa as
ao es que se desenvolvem em comunidade: ao es de culto e de bem-estar
geral; leis e a administraa o da justia; atividades sociais como danas e
jogos; unidades de aa o menores como clubes, sociedades e associao es para
uma imensa variedade de fins comuns.

As culturas jamais sa o esta ticas, mas esta o em contnuo processo de


mudana. Mas esta mudana deve ser um processo gradual que acontece
dentro das normas da sociedade; sena o, ocorre uma ruptura na cultura. A
maior sana o que se pode impor a um rebelde e a exclusa o da comunidade da
sua definia o cultural e social.

9
Homens e mulheres precisam de uma existe ncia unificada. Sua participaa o
em uma cultura e um dos fatores que lhes proporciona o sentido de pertencer
a algo. A cultura da um sentido de segurana, de identidade, de dignidade, de
ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de gerao es anteriores e
tambe m das expectativas da sociedade com respeito a seu pro prio futuro.

Na Bblia podemos encontrar pontos chaves para a compreensa o da cultura


humana na trplice dimensa o de povo, terra e histo ria, nos quais o Antigo
Testamento concentra sua atena o. O e tnico, o territorial e o histo rico (quem
somos, donde somos e donde viemos) aparecem ali com a trplice fonte das
formas da vida econo mica, ecolo gica, social e artstica de Israel, das formas d
trabalho e produa o e da de riqueza e bem-estar. Este modelo proporciona
uma perspectiva para a interpretaa o de todas as culturas.

Talvez possamos tentar condensar estes diversos significados da seguinte


maneira: a cultura e um sistema integrado de crenas (sobre Deus, a
realidade e o significado da vida), de valores (sobre o que e verdadeiro, bom,
bonito e normativo), de costumes (como nos comportar, como nos relacionar
com o s outros, falar, orar, vestir, trabalhar, jogar, fazer come rcio, comer,
trabalhar na lavoura, etc), e de instituio es que expressam estas crenas,
valores e costumes (governo, tribunais, templos ou igrejas, famlia, escolas,
hospitais, fa bricas, lojas, sindicatos, clubes etc.), que unem a sociedade e lhe
proporcionam um sentido de identidade, de dignidade de segurana e de
continuidade.

3. Cultura na Revelao Bblica


A auto-revelaa o pessoal de Deus na Bblia foi dada em termos da pro pria
cultura do ouvinte. Assim, nos perguntamos que luz isso projeta em nossa
tarefa atual de comunicaa o transcultural.

Os autores bblicos usaram criticamente todo o material cultural que


dispunham, a fim de expressar sua mensagem. Por exemplo, o Velho
Testamento faz va rias refere ncias ao monstro marinho da Babilo nia o
leviat enquanto que a forma da aliana de Deus com seu povo lembra o
antigo tratado do suserano hitita com seus vassalos. Aqueles autores
tambe m fizeram uso das imagens conceituais do universo de tre s nveis,
10
embora ainda na o afirmassem com isso uma cosmologia pre -cope rnica.
Ainda fazemos algo semelhante quando falamos do sol que nasce e do sol
que se po e.

Semelhantemente, a linguagem e as formas de pensamento


neotestamenta rias esta o arraigadas tanto na cultura judaica como na
helenstica, e tudo indica que Paulo fez uso do vocabula rio filoso fico grego.
No entanto, o processo pelo qual os autores bblicos se utilizaram de palavras
e imagens de seu meio cultural, usando-as criativamente, estava sob controle
do Esprito Santo, permitindo-lhes depura -las de implicao es falsas ou
nocivas, transformando-as, assim, em veculos da verdade e bondade.

Esses fatos indubita veis levantam uma se rie de questo es com as quais temos
lutado. Mencionamos cinco:

a. A natureza da inspirao bblica

Sera que o uso que os autores bblicos fazem de palavras e ide ias extradas de
sua pro pria cultura e incompatvel com a inspiraa o divina? Na o. Ja fizemos
notar os diferentes ge neros litera rios presentes na Escritura, e as diferentes
formas do processo de inspiraa o que implicam. Por exemplo, a forma da
obra dos profetas, que recebiam viso es e palavras do Senhor, e bastante
distinta da utilizada nos relatos de historiadores e epistolo grafos. No entanto,
foi o mesmo Esprito que inspirou a todos. Deus usou o conhecimento, a
experie ncia e a bagagem cultural desses autores (embora sua revelaa o
constantemente ultrapassasse tais dados), e em cada caso o resultado foi o
mesmo, ou seja, a palavra de Deus atrave s das palavras humanas.

b. Forma e significado

Toda comunicaa o tem ao mesmo tempo um significado (o que desejamos


dizer) e uma forma (a maneira como o fazemos). Ambos forma e significado
sa o insepara veis, tanto na Bblia como em outras formas de
pronunciamentos. Como, enta o, traduzir a mensagem de uma lngua para
outra?

Uma tradua o literal da forma (corresponde ncia formal) pode ocultar ou

11
torcer o significado. Em tais casos, a solua o e procurar na outra lngua uma
expressa o que produza no ouvinte o mesmo impacto produzido pela
expressa o original. Isso pode acarretar a mudana da forma a fim de que se
preserve o significado original. A isso chamamos equivale ncia dina mica.
Consideremos, por exemplo, a tradua o ERAB de Rm 1:17, a qual afirma que
a justia de Deus se revela no evangelho, de fe em fe . Essa e uma tradua o
palavra-por-palavra do original grego, ou seja, uma tradua o a base da
corresponde ncia formal. Mas ela deixa obscuro o significado das expresso es
gregas justia e de fe em fe . Uma tradua o como a BLH o Evangelho
mostra que Deus nos aceita por meio da fe , do comeo ao fim abandona o
princpio da corresponde ncia linear entre o grego e o portugue s, mas
exprime o sentido da frase original mais adequadamente. A tentativa de
produzir uma tradua o a base desse processo de equivale ncia dina mica
pode bem levar o tradutor a uma compreensa o mais profunda da Escritura e
tornar o texto mais significativo a pessoas de outra lngua.

Algumas formas bblicas (palavras, imagens, meta foras), entretanto,


deveriam ser mantidas, pois sa o smbolos importantes decorrentes da
Escritura (p.ex. cruz, cordeiro, taa). Enquanto mante m a forma, os
tradutores esforar-se-iam por reproduzir o sentido. Por exemplo, em Marcos
14:36 a BLH traduz: Afasta de mim este ca lice de sofrimento. A forma (i.e. a
imagem do ca lice) e mantida, ao passo que a expressa o de sofrimento e
acrescida, a fim de dar maior clareza ao significado.

Escrevendo em grego, os autores neotestamenta rios usavam palavras que ja


tinham uma longa histo ria no mundo secular mas revestiam-se de significado
crista o, como quando Joa o se referiu a Jesus como o Logos. Esse era um
procedimento perigoso, pois logos tinha uma larga variedade de
significados na literatura e na filosofia gregas, e a partir da ide ias na o-crista s
sem du vida se associavam a palavra. Assim Joa o teve que fixar o ttulo dentro
de um contexto doutrina rio, afirmando que o Logos era no incio, era com
Deus, era Deus era o agente da criaa o, era a luz e a vida dos homens, e se
tornou um ser humano (Jo 1:1-14). Do mesmo modo, alguns crista os da India
assumiram o risco de tomar emprestada ao sa nscrito a palavra avatar
(descendente), usada no Hindusmo para traduzir as assim chamadas
encarnao es de Vishnu, e aplicaram-na com uma cuidadosa ressalva
explicativa, a u nica encarnaa o que realmente ocorreu, a de Deus em Jesus
12
Cristo. Outros, entretanto, recusam-se a fazer o mesmo, sob a alegaa o de que
nenhuma salvaguarda e capaz de impedir adequadamente o desvio de
interpretaa o.

c. A natureza normativa da Escritura

O Pacto de Lausanne declara que a Escritura e isenta de qualquer erro em


tudo quanto afirma (2). Isso coloca em nosso ombros a se ria tarefa
exege tica de discernir com rigor o que a Escritura afirma. O significado
essencial da mensagem bblica deve, a qualquer custo, ser mantido. Embora
se possam substituir algumas das formas originais utilizadas para produzir
esse sentido, em favor da comunicaa o transcultural, achamos que elas
tambe m te m um aspecto normativo. Pois foi o pro prio Deus quem as escolhei
como veculos inteiramente apropriados de sua revelaa o. Assim e preciso
verificar a fidelidade de toda nova formulaa o ou explicaa o para cada
geraa o ou cultura, remetendo-a sempre ao original.

d. O condicionamento cultural da Escritura

Na o nos tem sido possvel dedicar tanto tempo como gostaramos ao


problema do condicionamento cultural da Escritura. Estamos de acordo em
que alguns mandamentos bblicos (p.ex., o uso de ve u em pu blico pelas
mulheres e lavar os pe s uns dos outros) se referem a costumes ja obsoletos
em muitas partes do mundo. Em face de tais textos, acreditamos que a reaa o
correta na o e nem uma literal obedie ncia servil, nem uma desconsideraa o
irresponsa vel do assunto, mas sim antes de tudo, um discernimento crtico
do significado ntimo do texto e, depois, a tradua o do mesmo em termos de
nossa pro pria cultura. Por exemplo, o significado fundamental daquele
mandamento lavar os pe s uns dos outros e que o mu tuo amor deve
expressar-se em servio humilde. Assim e que, em algumas culturas,
podemos limpar, ao inve s dos pe s, os sapatos. Esta claro que o propo sito de
uma transposia o cultural como essa na o e evitar a obedie ncia mais, ao
contra rio, torna -la atual e aute ntica.

A questa o ta o discutida do status da mulher na o foi debatida na Consulta.


Mas reconhecemos a necessidade de buscar uma compreensa o que,
integramente procure fazer justia a toda a doutrina bblica e que encare as

13
relao es entre o homem e a mulher como sendo de um lado radicadas na
criaa o e, ao mesmo tempo, maravilhosamente transformadas pela nova
criaa o que Jesus introduziu.

e. A obra contnua do Esprito Santo

Sera que nossa e nfase na finalidade e no cara ter normativo da Escritura


significa estarmos pensando que o Esprito Santo ja parou de operar? Na o,
certamente que na o. Mas a natureza de seu ministe rio doutrina rio mudou.
Acreditamos que sua obra de inspiraa o ja foi concluda, no sentido de que
o ca none bblico esta encerrado, mas acreditamos tambe m que sua obra de
iluminaa o continua em toda conversa o (p.ex., 2Co 4:6) e na vida do crista o
e da igreja. De maneira que precisamos orar constantemente para que ele
ilumine os olhos de nossos corao es, fazendo com que conheamos a
inteireza do propo sito de Deus para no s (Ef 1:17ss) e para que em vez de ter
medo, tenhamos coragem de tomar deciso es e empreender novas tarefas.

Percebemos que a nossa experie ncia do ministe rio do Esprito Santo em


revelar a aplicaa o da verdade de Deus a vida pessoal e eclesia stica e ,
geralmente, menos vvida do que deveria ser. Nesse aspecto todos no s
precisamos de mais abertura e mais sensibilidade.

Tpicos para Discusso


1. Os mandamentos de Gn 1:26-28 sa o algumas vezes chamados de
mandamento cultural legado por Deus a humanidade. Com que grau de
responsabilidade esse mandato esta sendo cumprido hoje em dia?
2. A luz da definia o de cultura da Sea o 2, quais sa o os principais elementos
distintivos de sua pro pria cultura?
3. Se voce conhece duas lnguas, componha uma frase numa delas e depois
procure uma equivale ncia dina mica na outra lngua.
4. De outros exemplos de transposia o cultural (ver 3d) que preservem o
significado ntimo do texto bblico, embora trazendo-o para a nossa
pro pria cultura.

14
4. Compreendendo a Palavra de deus Hoje
O fator cultural esta presente na o so na auto-revelaa o de Deus na Escritura,
como tambe m em como a interpretamos. Vejamos agora essa questa o. Todos
os crista os esta o interessados em compreender a palavra de Deus, mas ha
diferentes maneiras de tentar faze -lo.

a. Abordagens tradicionais

O mais comum e ir direto a s palavras do texto bblico sem atentar para a


diferena entre o contexto cultural do autor e do leitor. Este le o texto como
se tivesse sido escrito em sua pro pria lngua, cultura e tempo.

Reconhecemos que em boa parte a Escritura pode ser lida e compreendida


desta maneira, sobretudo se a tradua o for boa. Pois Deus destinou sua
palavra a gente comum. Na o se pode considera -la privile gio de eruditos. As
verdades centrais da salvaa o sa o simples para que todos as percebam. A
Escritura e u til para ensinar a verdade, repreender o erro, corrigir as faltas, e
ensinar a maneira certa de viver (2Tm 3:16, CLH). E o Esprito Santo nos foi
dado para que aprende ssemos com ele.

A restria o que se pode fazer a essa abordagem popular, entretanto, e que


ela na o procura compreender primeiro o texto em sua situaa o original,
correndo o risco de perder de vista o significado verdadeiro que Deus
pretende para no s, estando sujeita, portanto, a substitu-lo por outro.

Uma segunda abordagem considera com seriedade o contexto cultural e


histo rico original. Tambe m procura desvendar o sentido do texto na lngua
original, e a maneira como ele se relaciona com o resto da Escritura. Tudo
isso traduz uma disciplina essencial, pois Deus proferiu sua palavra a um
povo particular, num contexto e tempo particulares. Na mesma medida em
que examinarmos com profundidade tais assuntos, crescera nossa
compreensa o da mensagem de Deus.

O erro dessa abordagem histo rica, entretanto, e que ela negligencia o que a
Escritura possa estar dizendo ao leitor contempora neo. Ela se fixa no sentido
da Bblia para o tempo e a cultura em que foi escrita. Esta sujeita a analisar o
15
texto sem aplica -lo, e a fornecer conhecimento acade mico sem obedie ncia. O
inte rprete talvez tenda a exagerar a possibilidade de uma completa
objetividade, ignorando seus pro prios pressupostos culturais.

b. A abordagem contextual

Uma terceira abordagem combina os elementos positivos tanto da


abordagem popular como da histo rica. Desta vem-lhe a necessidade de
estudar o contexto e lngua originais e, da popular a necessidade de ouvir a
palavra de Deus e obedecer a ela. Porei, essa terceira abordagem vai mais
longe. Ela leva a se rio o contexto cultural dos leitores contempora neos, bem
como o do texto bblico e reconhece que e preciso desenvolver um dia logo
entre ambos.

E a necessidade desse jogo dina mico entre o texto e os inte rpretes que
desejamos enfatizar. Os leitores de hoje na o podem chegar ao texto numa
espe cie de va cuo pessoal, nem deveriam tentar faze -lo. Ao inve s disso,
deveriam aproximar-se conscientes das preocupao es ha o de influir nas
questo es lanadas a s Escrituras. O que voltara , entretanto, na o sera o so
respostas, e sim mais questo es. Ao dirigirmo-nos a Escritura, ela tambe m se
dirige a no s. Descobrimos que nossos pressupostos culturalmente
condicionados esta o sendo questionados, e nossas perguntas corrigidas. Na
verdade, o que acontece e que somos impelidos a reformular nossas questo es
anteriores e a formular novas perguntas. E assim a interaa o viva tem
continuidade.

Atrave s desse processo, aprofundamos nosso conhecimento de Deus e nosso


compromisso com a sua vontade. Quanto mais o conhecemos, maior se torna
nossa responsabilidade de obedecer-lhe em nossas pro pria situaa o e quanto
mais obedientes somos, mais ele se revela a no s.

Esse constante crescimento em conhecimento, amor e obedie ncia, e o


propo sito e benefcio da abordagem contextual. Fora do contexto em que
sua palavra foi originalmente proferida, ouvimos Deus falar conosco em
nosso pro prio contexto. E uma experie ncia transformadora. Esse processo e
uma espe cie de espiral ascendente em que a Escritura permanece sempre
central e normativa.

16
c. A comunidade do aprendizado

Queremos salientar que a tarefa de compreender as Escrituras pertence na o


so a indivduos, mas a toda a comunidade crista , vista como uma comunidade
histo rica e contempora nea.

Ha muitas maneiras pelas quais a igreja local ou regional pode vir a discernir
hoje a vontade de Deus em sua pro pria cultura. Cristo ainda indica pastores e
professores em sua igreja. E em resposta a orao es cheias de expectativa, ele
fala com seu povo, especialmente atrave s da pregaa o de sua palavra no
contexto da adoraa o. Ale m disso, ha lugar para ensinarmos e aconselharmos
uns aos outros (Cl 3:16), tanto em estudos bblicos em grupo quanto na
consulta a igrejas irma s. E necessa rio tambe m ouvir, silenciosamente a voz de
Deus nas Escrituras, o que e um elemento indispensa vel na vida crista
daquele que cre .

A igreja e tambe m uma comunidade histo rica. Do passado recebeu uma rica
herana de teologia, liturgia e devoa o crista s. Nenhum grupo pode
negligenciar essa herana sem se arriscar a um empobrecimento espiritual.
Ao mesmo tempo, essa tradia o na o pode se recebida de maneira acrtica,
quer venha ela na forma de um conjunto de caractersticas denominacionais,
ou de outra forma qualquer. A tradia o precisa ser testada pela Escritura que
ela alega expor. Tampouco deve ser imposta a qualquer igreja. O que e preciso
e torna -la disponvel aos que se utilizam dela como um recurso valioso como
contrapeso ao esprito de independe ncia e como vnculo com a igreja
universal.

Assim o Esprito Santo instrui seu povo atrave s de uma variedade de mestres
tanto do passado como do presente. Precisamos uns dos outros. So com
todos os santos e que podemos comear a compreender as dimenso es
plenas do amor de Deus (Ef 3:18,19). O Esprito ilumina a mente do povo de
Deus, em todos os meios culturais, para receberem a sua verdade (i.e. a
verdade da Escritura) em primeira ma o, por si mesmos, e assim revela a toda
a Igreja mais e mais da multiforme sabedoria de Deus (Pacto de Lausanne,
2, fazendo eco a Efe sios 3:10).

d. Os silncios da Escritura

17
Consideramos tambe m o problema dos sile ncios das Escrituras, isto e ,
aquelas a reas de doutrina e e tica sobre as quais a Bblia nada tem de explcito
a dizer. Escrita na antiga tradia o judaica e Greco-romana, a Escritura na o se
dirige diretamente, por exemplo ao hindusmo, ao budismo e ao isla o de hoje,
nem a teoria so cio-econo mica marxista ou a tecnologia moderna. Na o
obstante, acreditamos que e justo a igreja, guiada pelo Esprito Santo,
procurar nas Escrituras precedentes e princpios que a capacitem a
desenvolver a mente do Senhor Jesus, e assim ter condio es de tomar
deciso es autenticamente crista s. Esse processo continua de maneira ainda
mais frutfera dentro da comunidade crista quando esta adora
verdadeiramente a Deus e se empenha ativamente em obedece -lo no mundo.
Repetimos que a obedie ncia crista e tanto um prelu dio a compreensa o como
uma consequ e ncia dela.

Tpicos para Discusso


1. Voce pode se lembrar se foi induzido em erro por qualquer uma das duas
"abordagens tradicionais" da leitura bblica?
2. Escolha um texto bem conhecido, como Mateus 6: 24-34 (angu stia e ambia o) ou
Lucas 10: 25-38 (o Bom Samaritano), e use a abordagem contextual para estuda -
lo. Dialogue com o texto, interrogando-o e deixando que ele o interrogue. Anote as
etapas da interaa o.
3. Leia as Seo es 3e e 4c, e enta o discuta maneiras pra ticas de buscar a orientaa o do
Esprito Santo hoje.

5. Contedo e Comunicao do Evangelho


Tendo meditado como Deus nos comunica o evangelho atrave s da
Escritura, chegamos agora ao cerne da questa o, ou seja, sobre nossa
responsabilidade de comunica -la a outros, isto e , de evangelizar. Mas antes de
considerarmos a comunicaa o do evangelho, precisamos considerar o
conteu do do evangelho que sera comunicado. Pois "evangelizar e divulgai as
boas novas ..." (Pacto de Lausanne, 4). Na o pode, por conseguinte, haver
evangelizaa o sem evangelho.

a. A Bblia e o evangelho

O evangelho deve ser encontrado na Bblia. De fato, em certo sentido, a


Bblia inteira e evangelho, do Ge nesis ao Apocalipse, pois seu propo sito
18
dominante e dar testemunho de Cristo, proclamar as boas novas de que ele e
doador da vida e Senhor, e persuadir as pessoas a confiarem nele (p. ex., Jo 5:
39, 40; 20: 31; 2 Tm 3:15).

A Bblia relata a histo ria do evangelho de muitas maneiras. O evangelho e


como um diamante multifacetado, com diferentes aspectos que atraem
diferentes pessoas em diferentes culturas. Ele tem profundidades
insonda veis, e desafia toda tentativa de reduzi-lo a uma formulaa o restrita.

b. O cerne do evangelho

Contudo, e importante identificai o cerne do evangelho. Reconhecemos


como centrais os temas de Deus como Criador, a universalidade do pecado,
Jesus Cristo como Filho de Deus, Senhor de tudo, e Salvador atrave s de sua
morte expiato ria e vida ressurreta;

a necessidade de conversa o, a vinda do Esprito Santo e seu poder de


transformaa o, a comunidade e missa o da igreja crista , e a esperana na volta
de Cristo.

Mesmo sendo estes os elementos ba sicos do evangelho, e preciso


acrescentar que nenhuma afirmaa o de cunho teolo gico e independente de
considerao es culturais. Portanto, todas as formulao es teolo gicas devem ser
julgadas pela pro pria Bblia, que fica acima de todas elas. Seu valor deve ser
julgado pela sua fidelidade a ela, bem como pela releva ncia com que aplicam
sua mensagem a sua pro pria cultura.

Em nosso desejo de comunicar o evangelho com eficie ncia, estamos


sempre cientes daqueles seus elementos que desagradam a s pessoas. Por
exemplo, a cruz tem sido tanto uma ofensa aos arrogantes como uma loucura
para os sa bios. Mas Paulo nem por isso a eliminou de sua mensagem. Pelo
contra rio, ele continuou a proclama -la com fidelidade, correndo o risco de
perseguia o, confiante que Cristo crucificado e a sabedoria e o poder de Deus.
No s tambe m, embora preocupados em contextualizar nossa mensagem,
removendo dela toda ofensa desnecessa ria, precisamos resistir a tentaa o de
acomoda -la ao orgulho e preconceito humanos. Ela nos foi dada. Nossa
responsabilidade na o e retoca -la, mas proclama -la.

19
c. Barreiras culturais comunicao do evangelho

Nenhuma testemunha crista pode ter esperanas de comunicar o


evangelho se ignorar o fator cultural. Isso e particularmente verdadeiro no
caso de missiona rios, pois eles pro prios sa o o produto de uma cultura e va o a
pessoas que pertencem a outro tipo de cultura. Desta forma, inevitavelmente
esta o envolvidos na comunicaa o transcultural, com todo o seu estimulante
desafio e exige ncias. Dois problemas principais colocam-se diante deles.

Algumas pessoas resistem ao evangelho, na o porque o achem falso, mas


porque ve em nele uma ameaa a sua cultura, especialmente quanto a
estrutura de sua sociedade e a sua solidariedade nacional ou tribal. Ate certo
ponto na o se pode evitar isso. Jesus Cristo um perturbador da ordem, tanto
quanto um pacifista. Ele e Senhor e exige toda a nossa lealdade. Assim alguns
judeus do primeiro se culo viam o evangelho como algo que minava o
Judasmo, e acusaram Paulo de ensinar por toda a parte "contra o povo,
contra a lei e contra este lugar", isto e , o templo (At 21: 28). De modo seme-
lhante, alguns romanos do primeiro se culo temiam pela estabilidade do
estado, uma vez que, em seu ponto de vista, os missiona rios crista os, ao
dizerem que "ha outro Rei, Jesus", estavam sendo desleais a Ce sar e
advogando costumes cuja pra tica era interdita aos romanos (At 16: 21; 17:7).
Ainda hoje Jesus desafia muitas das crenas e costumes caros a toda cultura e
sociedade.

Ao mesmo tempo, ha em cada cultura aspectos que na o sa o incompatveis


com o senhorio de Cristo, e que, portanto, na o precisam ser ameaados ou
descartados, mas, antes, preservados e transformados. Os mensageiros do
evangelho precisam desenvolver uma compreensa o profunda da cultura local
e aprecia -la genuinamente. So enta o conseguira o perceber se a resiste ncia se
da em relaa o a algum desafio inevita vel de Jesus Cristo, ou a alguma ameaa
a cultura que, seja ela imagina ria ou real, na o e necessa ria.

Outro problema e que o evangelho frequ entemente e apresentado por


meio de formas culturais aliengenas. A surge algum ressentimento contra os
missiona rios e sua mensagem e rejeitada porque seu trabalho e visto na o
como tentativa de evangelizar, mas como tentativa de impor seus pro prios
costumes e forma de viver. Onde os missiona rios trazem consigo maneiras
20
estranhas de pensar e se comportar, ou atitudes de superioridade racial, de
paternalismo ou de preocupaa o com coisas materiais, a comunicaa o eficaz
fica bloqueada.

A s vezes esses dois erros de ordem cultural sa o cometidos ao mesmo


tempo, e mensageiros do evangelho sa o culpados de um imperialismo
cultural, que tanto mina a cultural local desnecessariamente como procura
impor uma cultura aliengena em seu lugar. Alguns dos missiona rios que
acompanharam os conquistadores cato licos da Ame rica Latina e os
colonizadores protestantes na A frica e A sia, sa o exemplos histo ricos desse
duplo erro. Contras-tanto com isso, o apo stolo Paulo continua sendo o
exemplo supremo da pessoa a quem Jesus Cristo primeiro despiu do orgulho
de seus pro prios privile gios culturais (Fp 3:4-9), e depois ensinou-o a
adaptar-se a s culturas alheias, fazendo de si mesmo escravo em meio a elas e
se tornando "tudo para com todos", a fim de, por todas as formas possveis,
salvar alguns (1 Co 9:19-23).

d. Sensibilidade cultural na comunicao do evangelho

Testemunhas transculturais sensveis na o chegam ao seu novo local de


trabalho com um evangelho enlatado. E preciso que tenham uma
compreensa o clara da verdade "dada" do evangelho. Mas estara o fadados ao
fracasso em sua comunicaa o se tentarem impo -la a s pessoas sem refere ncia
a sua pro pria situaa o cultural e a situaa o cultural das pessoas que va o ouvir
a mensagem. Somente atrave s de um compromisso amoroso e ativo com o
povo local, levando em conta sua maneira de pensar, compreendendo sua
cosmovisa o, ouvindo suas perguntas e sendo sensveis a s suas dificuldades, e
que a comunidade inteira dos que cre em (de que o missiona rio e parte) tera
condio es de reagir favoravelmente a s necessidades desse povo. Atrave s da
oraa o, pensamento e aspirao es comuns, e reconhecendo sua inteira
depende ncia do Esprito Santo, os pro prios missiona rios e os crentes locais
podera o aprender juntos como apresentar Cristo e contextualizar o
evangelho com o mesmo grau de fidelidade e releva ncia. Na o estamos
dizendo que isso e fa cil, embora algumas culturas terceiro-mundistas tenham
uma afinidade natural com a cultura bblica. Mas acreditamos que uma
compreensa o nova e criativa surja quando a comunidade de crentes,
conduzida pelo Esprito, ouve e reage sensivelmente tanto a verdade da
21
Escritura como a s necessidades do mundo.

e. Testemunho cristo no mundo islmico

Houve quem manifestasse preocupaa o em face da atena o insuficiente


dispensada na Consulta aos problemas especficos da missa o crista no
mundo isla mico, embora hoje existam aproximadamente 600 milho es de
muulmanos. Se, por um lado, atualmente ha um ressurgimento da fe e
missa o isla micas em muitos pases, por outro, ha uma nova abertura para o
evangelho em diversas comunidades onde os laos com o islamismo
tradicional esta o enfraquecendo.

Ha necessidade de reconhecer os aspectos particulares do isla o que


proporcionam uma oportunidade u nica ao testemunho crista o. Embora
existam no isla o elementos incompatveis com o evangelho, ha tambe m
elementos com certo grau do que se tem chamado de "conversibilidade". Por
exemplo, nossa compreensa o crista de Deus, expressa no grande brado de
Lutero relacionado com a justificaa o "Que Deus seja Deus" poderia muito
bem servir como definia o abrangente ao isla o. A fe isla mica na unidade
divina, a e nfase na obrigaa o do homem de render a Deus uma justa adoraa o
e a inteira rejeia o da idolatria, poderiam ser consideradas tambe m como
estando em harmonia com o propo sito de Deus para a vida humana, tal qual
se revela em Jesus Cristo. As testemunhas crista s contempora neas deveriam
aprender, com humildade e expectativa, a identificar, apreciar e iluminar
estes e outros valores. Deveriam tambe m lutar pela transformaa o (e, onde
possvel, integraa o) de tudo que e relevante no culto isla mico, bem como em
seu modo de orar e jejuai e em sua arte, arquitetura e caligrafia.

Tudo isso so faz sentido dentro de uma apreciaa o realista da situaa o


presente dos pases isla micos caracterizados pelo desenvolvimento
tecnolo gico e pela secularizaa o. As tenso es sociais que surgem por causa da
nova riqueza e da pobreza tradicional, as tenso es da independe ncia poltica, e
a tra gica dispersa o e frustraa o palestinas, em todas essas a reas e relevante o
testemunho crista o 0 problema palestino ja rendeu muita poesia passional,
no que s encontra como um dos temas o paradigma do Jesus sofredor. Este e
outros elementos exigem uma nova sensibilidade crista e um real conscie ncia
dos ha bitos de introversa o sob os quais, por tanto tempo, laborou a igreja no
22
Oriente Me dio. Em outras partes, com na A frica abaixo do Saara, as atitudes
sa o mais flexveis e as possibilidades mais fluidas.

A fim de cumprir mais adequadamente o desafio missiona rio novas


tentativas devem ser feitas para desenvolver meios de juntar crentes e
pessoas interessadas, ate mesmo fora das formas tradicionais da igreja, se for
necessa rio. O cerne da questa o de um senso d responsabilidade vivo.
evangelizador, diante dos muulmanos, estara sempre na qualidade do
discipulado crista o pessoal e coletivo, no amor constrangedor de Cristo.

f. Expectativa de resultados

Mensageiros do evangelho que puderam comprovar pessoalmente que o


evangelho e o "poder de Deus para a salvaa o" (Rm 1:16 esperam, com justa
raza o, que o mesmo se de na experie ncia de outros. Confessemos que
algumas vezes, assim como um dia a fe de um centuria o gentio fez Israel
envergonhar-se de sua descrena em Jesus (Mt 8: 10), assim tambe m, a s
vezes, hoje em dia, a confiante expectativa dos crista os de outras culturas
acaba revelando a falta de fe d missiona rio. De maneira que nos lembramos
das promessas de Deus para abenoar todas as famlias da terra atrave s da
posteridade d Abraa o e para, atrave s do evangelho, salvar todos os que crerei
(Gn 12:14; 1 Co 1: 21). Com base nessas e em muitas outras promessas e que
encorajamos todos os mensageiros do evangelho, incluindo no s mesmos, a
confiarmos em Deus, a fim de que ele salva pessoas e edifique sua igreja.

Ao mesmo tempo, na o nos esquecemos das adverte ncias de nosso Senhor


quanto a oposia o e ao sofrimento. O coraa o humano e duro. As pessoas
nem sempre abraam o evangelho, mesmo quan do a comunicaa o e
tecnicamente impeca vel, e o comunicador dotado de um cara ter acima de
qualquer censura. Nosso Senhor sentia-se completamente a vontade no meio
cultural em que pregava, e contudo, tanto ele como sua mensagem foram
desprezados e rejeitados, e sua Para bola do Semeador parece querer dizer-
nos que a maior parte da boa semente na o dara fruto. Ha nisso um miste rio
que na o podemos explicar. "O Esprito sopra onde ele quer" (Jo 3:8). En-
quanto procuramos comunicar o evangelho com cuidado, fidelidade e zelo,
deixamos, humildemente, os resultados por conta de Deus.

23
Tpicos para Discusso
1. Na Sea o 5 (a e b) o Relato rio recusa-se a fornecer uma "formulaa o" do
evangelho, mas identifica seu "cerne". Voce gostaria de acrescentar alguma coisa a
esses "temas centrais", subtrair-lhes algum dado ou amplia -los?
2. Explicite os "dois erros de ordem cultural" de 5c. Voce poderia dar exemplos?
Como evitar tais erros?
3. Pense na situaa o cultural das pessoas (ou povo) que voce gostaria de ganhar para
Cristo. Que significaria, em seu caso, "sensibilidade cultural"?

6. Procura-se: Mensageiros Humildes do


Evangelho!
Cremos que a chave principal da comunicaa o crista persuasiva se
encontra nos pro prios comunicadores e no tipo de pessoas que representam.
E claro que precisam distinguir-se por uma fe , amor e santidade crista . Ou
seja, precisam ter uma experie ncia pessoal e crescente do poder de
transformaa o do Esprito Santo, de modo que a imagem de Jesus Cristo seja
mais que nunca claramente vista em seu cara ter e em suas atitudes.

Acima de tudo, desejamos ver neles, e especialmente em no s mesmos, "a


mansida o e bondade de Cristo" (2 Co 10: 1). Em outras palavras, a humilde
sensibilidade do amor de Cristo. Ta o importante nos parece isso, que estamos
dedicando toda a segunda parte de nosso Relato rio ao assunto. Ale m disso,
uma vez que na o desejamos apontar nosso dedo para ningue m ale m de no s
mesmos, usaremos sempre a primeira pessoa do plural. Primeiro,
fornecemos uma ana lise da humildade crista numa situaa o missiona ria;
depois, voltamo-nos para a Encarnaa o de Deus em Jesus Cristo como o
modelo que, por sua graa, desejamos seguir.

a. Anlise da humildade missionria

Primeiro, existe a humildade em reconhecer o problema que a cultura


apresenta, e na o em evita -lo ou simplifica -lo excessivamente. Como ja vimos,
diferentes culturas te m infludo poderosamente na revelaa o bblica, em
nossas vidas e nas vidas das pessoas (ou povo) junto a s quais vamos viver.
Como resultado, temos diversas limitao es pessoais na comunicaa o do
evangelho. Somos prisioneiros (consciente ou inconscientemente) de nossa
24
pro pria cultura e assim nossa compreensa o, tanto da cultura da Bblia como
da existente no pas em que servimos, e muito imperfeita. A interaa o entre
todas estas culturas constitui o problema da comunicaa o. Este problema e
ta o complexo que se constitui um enorme desafio a todos que lutam com ele.

Em segundo lugar, existe a humildade em se dar ao trabalho de


compreender e apreciar a cultura do povo ao qual fomos enviados. E esse
desejo que leva naturalmente ao dia logo verdadeiro, "que tem por propo sito
ouvir conscientemente, para melhor compreender" (Pacto de Lausanne, 4).
Arrependemo-nos da ignora ncia que consistem em achar que temos todas as
respostas e que nosso u nico papel e ensinar. Temos muito a aprender.
Arrependemo-nos tambe m do ha bito de julgar. Sabemos que nunca
deveramos condenar ou desprezar outra cultura, mas, ao inve s disso,
respeita -la. Na o advogamos nem a arroga ncia que impo e nossa cultura a
outros, nem o sincretismo que mistura o evangelho com elementos culturais
incompatveis com ele, mas, antes, a humilde partilha das boas novas,
tornada possvel pelo respeito mu tuo de uma amizade genuna.

Em terceiro lugar, existe a humildade em realizar nossa comunicaa o onde


as pessoas realmente esta o, e na o onde gostaramos que elas estivessem. E
isso que vemos Jesus fazer, e desejamos seguir o exemplo dele. Com
frequ e ncia, ignoramos os temores e frustrao es das pessoas, seus
sofrimentos e preocupao es, sua fome, pobreza, privao es e opressa o, e todas
as suas necessidades "imediatas" e temos sido lentos demais em nos
regozijarmos ou chorarmos com elas. Reconhecemos que essas necessidades
"imediatas" podem, a s vezes, ser sintomas de necessidades mais profundas,
que na o sejam ta o facilmente sentidas ou reconhecidas pelas pessoas. Mas o
me dico na o aceita necessariamente o autodiagno stico de seu paciente. Ainda
que vejamos a necessidade de comear onde as pessoas esta o, na o devemos
parar a. Gentil e pacientemente aceitamos nossa responsabilidade de leva -
las a ver-se a si mesmas, da mesma forma que no s nos vemos a no s mesmos,
como rebeldes a quem o evangelho fala diretamente com a mensagem do
perda o e da esperana. Comear onde as pessoas na o esta o e partilhar uma
mensagem irrelevante. Ficar onde as pessoas esta o e na o leva -las a fruir da
plenitude das boas novas de Deus. e partilhar um evangelho truncado. A
humilde sensibilidade do amor evita ambos os erros.

25
Em quarto lugar, existe a humildade em reconhecer que mesmo o
missiona rio mais dotado, dedicado e experiente, raramente podera
comunicar o evangelho em outra lngua ou cultura ta o eficientemente quanto
um crista o local treinado para isso. Esse fato tem sido reconhecido nos
u ltimos anos pelas Sociedades Bblicas, cuja poltica mudou de direa o,
preferindo, ao inve s de publicar traduo es de missiona rios (com ajuda de
pessoas locais), treinar especialistas da lngua-ma e a fazer as traduo es.
Somente crista os locais podera o responder a estas perguntas: "Deus, como tu
dirias isso em nossa lngua?" e "Deus, que quer dizer obedie ncia a ti em.
nossa cultura?" Portanto, quer estejamos traduzindo a Bblia ou comu-
nicando o evangelho, crista os locais sa o indispensa veis. Eles e que devem
assumir a responsabilidade de contextualizar o evangelho em seus pro prios
idiomas e culturas. Isto na o quer dizer que testemunhas transculturais sa o
necessariamente supe rfluas; mas so seremos bem-vindos se formos humildes
bastante para vermos a boa comunicaa o como uma tarefa de equipe, em que
todos os crentes colaboram como parceiros.

Em quinto lugar, existe a humildade em confiar no Esprito Santo de Deus,


que e sempre o principal comunicador. E so ele que abre os olhos dos cegos e
leva as pessoas a experimentar um novo nascimento. "Sem o testemunho
dele, o nosso seria em va o" (Pacto de Lausanne, 14).

b. A Encarnao como modelo do testemunho cristo

Encontramo-nos para a Consulta nas ve speras do Natal, que poderia ser


chamado de o exemplo mais espetacular de identificaa o cultural na histo ria
da humanidade, uma vez que, atrave s da Encarnaa o, o Filho se transformou
num judeu galileu do primeiro se culo.

Lembramo-nos tambe m de que a intena o de Jesus era que a missa o de seu


povo no mundo fosse modelada em sua pro pria missa o. "Assim como o Pai
me enviou, eu tambe m vos envio", disse ele (Jo 20: 21; cf. 17: 18).
Perguntamo-nos, portanto, quais as implicao es da Encarnaa o para todos
no s. A questa o e de interesse especial para as testemunhas transculturais,
seja qual for o pas onde trabalhem, embora, em particular, estejamos
pensando nos procedentes de pases ocidentais que va o servir nos pases do
Terceiro Mundo.
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Meditando em Filipenses 2, vimos que a auto-humilhaa o de Cristo
comeou em seu esprito: "Na o julgou como usurpaa o o ser igual a Deus." De
maneira que somos ordenados a deixar que a mente de Cristo se desenvolva
entre no s e, em humildade de esprito, considerar tambe m outras pessoas
melhores e mais importantes que no s, Essa "mente" ou "perspectiva" de
Cristo e um reconhecimento do valor infinito dos seres humanos e do
privile gio que e servir a eles. As testemunhas que tiverem a mente de Cristo
tera o um profundo respeito pelas pessoas a que servirem, e por suas
culturas.

Dois verbos indicam a aa o a que a mente de Cristo o conduziu: "se


esvaziou . . . se humilhou . . . " O primeiro fala de sacrifcio, aquilo a que
renunciou, e o segundo, de servio, mesmo escravida o, pois ele se identificou
conosco e se colocou a nossa disposia o. Temo-nos esforado por
compreender o que essas duas ao es significam para ele, e o que poderiam
significar para testemunhas transculturais.

Comeamos com sua renncia. Primeiro, a renu ncia ao status. "Cristo,


eternamente honrado, do seu trono se ausentou", temos cantado no Natal.
Por na o podermos conceber como era sua glo ria eterna, e impossvel
compreender a grandeza de seu auto-esvaziamento. Mas certamente ele
renunciou aos direitos, privile gios e poderes de que gozava como Filho de
Deus. "Status" e "smbolos de status" significam muito no mundo moderno,
mas sa o incongruentes em missiona rios. Na o importando onde os
missiona rios estejam, acreditamos que eles na o deveriam assumir o controle,
ou trabalhar sozinhos, mas sempre com e preferencialmente sob a direa o
de crista os locais que possam assessora -los e mesmo orienta -los. E seja
qual for a responsabilidade dos missiona rios, eles deveriam expressar
atitudes, "na o em termos de domnio, mas, sim, de servio" (Pacto de
Lausanne, 11).

A seguir vem a renu ncia a independe ncia. Temos visto Jesus pedir a gua a
uma mulher samaritana, vivendo em casas de outras pessoas e a custa do
dinheiro de outras mais, porque ele mesmo na o o tinha. Vimo-lo tomar um
barco emprestado, um jumento, um cena culo, e ate ser enterrado num
tu mulo emprestado. Semelhantemente, os mensageiros transculturais,
especialmente durante seus primeiros anos de servio, precisam aprender a
27
depender de outros.

Depois vem a renu ncia a imunidade. Jesus se expo s a tentaa o, ao


sofrimento, a limitaa o, a necessidade econo mica e a dor. Assim tambe m
deveria o missiona rio esperar que se tome vulnera vel a novas tentao es,
perigos e doenas; a um clima estranho, a solida o inusitada e, possivelmente,
a morte.

Passando do tema da renu ncia ao da identificao, maravilhamo-nos com a


plenitude da identificaa o de nosso Senhor conosco, particularmente como a
vemos na epstola aos Hebreus. Ele partilhou de nossa "carne e sangue", foi
tentado da mesma forma em que o somos, aprendeu a obedecer atrave s do
sofrimento e provou a morte em nosso lugar (Hb 2:14-18; 4: 15; 5: 8).
Durante seu ministe rio pu blico Jesus fez-se amigo de pobres e de pessoas
humildes, curou doentes, alimentou famintos, tocou intoca veis e arriscou sua
reputaa o associando-se com pessoas que a sociedade rejeitava.

A extensa o de nossa identificaa o com o povo no lugar onde trabalhamos e


mate ria controversa. Certamente que isso inclui dominar a sua lngua,
mergulhar na sua cultura, aprender a pensar como eles pensam, sentir como
eles sentem e fazer como eles fazem. A nvel so cio-econo mico, na o cremos
que seja necessa rio "naturalizar-se", isto e , viver exatamente como o povo
vive, porque a tentativa de um estrangeiro fazer isso pode na o ser vista como
aute ntica, mas como algo falso e artificial. Mas na o achamos que deva haver
uma disparidade berrante entre nosso estilo de vida e o estilo de vida das
pessoas que nos cercam.

Entre esses extremos existe a possibilidade de desenvolvermos um padra o


de vida que expresse o tipo de amor que cuida e partilha, e que acha natural
ser reciprocamente hospitaleiro com outros, sem nenhum constrangimento.
Um profundo teste da nossa identificaa o e perguntar ate que ponto sentimos
que pertencemos ao povo e, mais ainda, ate onde o povo sente que no s
pertencemos a ele. Participamos naturalmente em dias de aa o de graas
nacionais ou tribais? Unimo-nos a eles na dor da opressa o de que sa o vtimas,
tanto quanto em sua busca de justia e liberdade? Se o pas e vtima de um
tremor de terra ou de uma guerra civil, nosso impulso natural e ficar e sofrer
com o povo que amamos ou voltar correndo para casa?
28
Embora Jesus se identificasse completamente conosco, ele na o perdeu sua
pro pria identidade. Ele continuava sendo ele mesmo. "Desceu dos ce us ... e
tornou-se homem" (Credo de Nice ia). Contudo, ao se tornar um de no s, ele
na o deixou de ser Deus. Por isso mesmo, "os evangelistas de Cristo devem,
humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade
pessoal" (Pacto de Lausanne, 10). A Encarnaa o ensina a identificaa o sem
perda de identidade. Acreditamos que o verdadeiro auto-sacrifcio leva a ver-
dadeira autodescoberta. No servio humilde ha abundante gozo.

Tpicos para Discusso


1. Se a chave principal da comunicaa o esta nos comunicadores, que tipo de pessoas
eles deveriam ser?
2. Faa sua pro pria ana lise da humildade que todas as testemunhas crista s deveriam
ter. Onde voce colocaria sua e nfase?
3. Desde que a Encarnaa o envolveu tanto "renu ncia" quanto "identificaa o", e
evidente que foi custosa para Jesus. Qual seria o preo da "evangelizaa o
encarnada" hoje?

29
7. Converso e Cultura
Temos pensado nas relao es entre conversa o e cultura de duas maneiras.
Primeiro, que efeito e produzido pela conversa o na situaa o cultural dos
conversos, na sua maneira de pensar e agir, e em suas atitudes para com seu
ambiente social? Segundo, qual o efeito que nossa cultura tem produzido em
nossa compreensa o da conversa o? Ambas as perguntas sa o importantes. Mas
queremos dizer de imediato que alguns elementos da nossa visa o evange lica
tradicional da conversa o sa o mais culturais do que bblicos e, por isso,
precisam ser desafiados. Com frequ e ncia pensamos em conversa o como
sendo uma crise, ao inve s de ve -la tambe m como processo. Ou a temos visto
em grande parte como uma experie ncia particular, esquecendo suas con-
sequ entes responsabilidades pu blicas e sociais.

a. A natureza radical da converso

Estamos convencidos de que a natureza radical da conversa o a Jesus Cristo


precisa ser reafirmada na igreja contempora nea. Pois sempre corremos o
risco de trivializa -la, como se na o fosse mais do que uma mudana
superficial, uma simples auto-reforma. Mas os autores do Novo Testamento
falam da conversa o como a expressa o externa de uma regeneraa o ou um
novo nascimento pelo Esprito de Deus, uma recriaa o e uma ressurreia o da
morte espiritual. O conceito de ressurreia o parece particularmente
importante. A ressurreia o de Jesus Cristo de dentre os mortos foi o comeo
da nova criaa o de Deus e, pela graa de Deus atrave s da unia o com Cristo,
temos participado dessa ressurreia o. Ingressamos, portanto, numa nova era,
e ja experimentamos seu poder e gozo. Essa e a dimensa o escatolo gica da
conversa o crista . Conversa o e uma parte integrante da Grande Renovaa o
iniciada por Deus, e que sera conduzida a um clmax triunfante quando Cristo
vier em sua glo ria.

A conversa o envolve tambe m uma ruptura ta o completa com o passado,


que dela so se fala em termos de morte. Fomos crucificados com Cristo.
Atrave s de sua cruz morremos para o mundo sem Deus, para sua perspectiva
e seus padro es. Como quem se despe de uma roupa suja, tambe m "nos
despimos" do velho Ada o, nossa antiga e decada humanidade. E Jesus nos
advertiu para o fato de que essa ruptura em relaa o ao passado pode
30
envolver dolorosos sacrifcios, mesmo a perda da famlia e das posses
pessoais (p. ex., Lc 14: 25ss).

E de vital importa ncia inter-relacionarmos os aspectos negativos e


positivos da conversa o: morte e ressurreia o, o despir-se do velho e o vestir-
se do novo. Pois no s, que morremos, estamos vivos novamente, mas vivendo
agora uma nova vida em Cristo, para Cristo e sob o senhorio de Cristo.

b. O senhorio de Jesus Cristo

Esta claro, para no s, que o significado fundamental da conversa o e uma


mudana de lealdade. Outros deuses e senhores (dolos, todos) tiveram
domnio sobre no s. Mas agora Jesus Cristo e Senhor. O princpio que governa
a vida do converso e o fato de que ela e vivida sob o senhorio de Cristo ou (o
que vem a dar no mesmo) e vivida no Reino de Deus. A autoridade de Cristo
sobre no s e total. De maneira que essa nova lealdade libertadora conduz
inevitavelmente a uma reavaliaa o de cada aspecto de nossas vidas e, em
particular, de nossa cosmovisa o, nossa conduta e nossas relao es.

Primeiro, nossa cosmovisa o. Estamos de acordo em que o cerne de toda


cultura e alguma forma de "religia o", mesmo que seja uma religia o irreligiosa,
como o marxismo. "Cultura e religia o tornada visvel" (J. H. Bavinck). E
"religia o" e um conjunto de crenas e valores. Por esta raza o, estamos usando
"cosmovisa o" como expressa o equivalente. A verdadeira conversa o a Cristo
ha de desafiar o cerne de nossa herana cultural. Jesus Cristo insiste em
deslocar do centro de nosso mundo qualquer dolo que se tenha anterior-
mente instalado a, ocupando Ele pro prio o trono. Essa e a radical mudana
de lealdade que constitui a conversa o ou, pelo menos, seu incio. Enta o, uma
vez que Cristo tomou seu justo lugar, tudo o mais comea a mudar. As ondas
de impacto va o do centro para a circunfere ncia. O convertido tem de repensar
suas convico es fundamentais. Isso e metanoia, "arrependimento", visto
como mudana de atitude, a substituia o da "Vontade da carne" pela "mente
de Cristo". Naturalmente, o desenvolvimento de uma cosmo visa o crista
integrada pode levar uma vida inteira mas. em esse ncia, esta la desde o incio.
Se crescer, as consequ e ncias explosivas na o podera o ser preditas.

Segundo, nossa conduta. O senhorio de Jesus desafia nossos padro es

31
morais e nosso estilo de vida e tico. A rigor, isso na o e "arrependimento", mas
antes o "fruto digno do arrependimento" (Mt 3: 8), ou seja, a mudana de
conduta que resulta de uma mudana de perspectiva. Tanto nossa mente
como nossa vontade devem submeter-se em obedie ncia a Cristo (cf. 2 Co
10:5; Mt 11:29, 30; Jo 13: 13).

Ouvindo casos especficos de conversa o, ficamos impressionados em ver a


primazia do amor na experie ncia do novo convertido. A conversa o liberta
tanto da introversa o, que esta preocupada demais consigo pro pria para se
preocupar com outros, como do fatalismo, que considera impossvel ajuda -
los. A conversa o e espu ria se na o nos liberta para o amor.

Terceiro, nossas relao es, Embora o convertido deva fazer o ma ximo para
evitar uma ruptura com a naa o, tribo ou famlia, surgem algumas vezes
conflitos dolorosos. Esta claro tambe m que a conversa o envolve a
transfere ncia de uma comunidade para outra, isto e , de uma humanidade
decada para a nova humanidade de Deus. Isso aconteceu desde o incio, no
dia de Pentecostes: "Salvai-vos desta geraa o perversa", foi o apelo de Pedro.
De maneira que os que receberam sua mensagem foram batizados na nova
sociedade, dedicaram-se a nova comunidade e descobriram que o Senhor
continuava a acrescentar "dia a dia, os que iam sendo salvos" (At 2:40-47). Ao
mesmo tempo, sua "transfere ncia" de um grupo para outro significava, antes
de tudo, que eles eram espiritualmente distintos, na o socialmente
segregados. Eles na o abandonaram o mundo. Pelo contra rio, ganharam um
novo compromisso com ele (e para ele partiram), e se envolveram nele a fim
de que pudessem testemunhar e servir.

Todos no s deveramos alimentar grandes esperanas de radicais


converso es em nossos dias, envolvendo convertidos em um novo esprito,
uma nova forma de vida, uma nova comunidade e uma nova missa o. Tudo
isso sob o senhorio de Cristo. Contudo, sentimos agora necessidade de
esclarecer alguns pontos.

c. O convertido e sua cultura

A conversa o na o deve "desculturalizar" o convertido. Na verdade, como


temos visto, sua lealdade agora pertence ao Senhor Jesus, e todas as coisas do

32
seu contexto cultural devem submeter-se ao escrutnio do Senhor. Isso se
aplica a toda a cultura, na o somente a s culturas hindu, budista, isla mica ou
animstica, mas tambe m a cultura cada vez mais materialista do Ocidente. A
crtica pode produzir uma colisa o, a medida que elementos da cultura forem
submetidos ao juzo de Cristo e tiverem de ser rejeitados. Nesse ponto, como
reaa o, o convertido pode tentar adotar a cultura do evangelista em lugar da
sua. Deve-se resistir firme mas carinhosamente a essa tentativa.

Dever-se-ia estimular o convertido para que visse suas relao es com o


passado como uma combinaa o de ruptura e continuidade. Por mais que os
novos convertidos sintam que precisam renunciar por amor de Cristo, ainda
sa o as mesmas pessoas, com a mesma herana e a mesma famlia. "A
conversa o na o desfaz; ela refaz." E sempre tra gico, embora seja a s vezes
inevita vel, quando a conversa o da pessoa a Cristo e interpretada por outros
como traia o a s suas origens culturais. Se possvel, a despeito do conflito com
sua cultura, os novos convertidos deveriam procurar identificar-se com as
alegrias, esperanas, dores e lutas de sua cultura pro pria.

Testemunhos especficos mostram que os convertidos frequ entemente


passam por tre s esta gios: (1) "rejeia o" (quando se ve em a si pro prios como
"novas pessoas em Cristo" e repudiam tudo que esta associado a seu
passado); (2) "adaptaa o" (quando descobrem sua herana e tnico-cultural, e
sofrem a tentaa o de comprometer sua nova fe crista com essa herana); e
(3) o "reestabelecimento da identidade" (quando a rejeia o do passado ou a
acomodaa o a ele podem aumentar, ou ainda, de prefere ncia, quando
desenvolvem uma autoconscie ncia equilibrada em Cristo e na cultura).

d. O confronto do poder

"Jesus e Senhor" significa mais do que simplesmente Senhor da


cosmovisa o de cada convertido, e de seus padro es e relao es. Significa ainda
mais do que Senhor da cultura. Significa que ele e Senhor dos poderes,
elevado pelo Pai a soberania universal, ficando sujeitos a ele principados e
potestades (1 Pe 3: 22). Alguns dentre no s, particularmente os da A sia, A frica
e Ame rica Latina, falaram tanto da realidade das foras do mal como da
necessidade de demonstrar a supremacia de Jesus sobre elas. Pois a
conversa o envolve um confronto de poder. As pessoas dedicam sua lealdade a
33
Cristo quando ve em que seu poder e superior a magia e a macumba, a s
maldio es e be na os de curandeiros, a malevolencia dos maus espritos; e
que sua salvaa o e uma libertaa o real do poder do mal e da morte.

Sabemos que hoje algumas pessoas negam que a crena nos esp ritos
compatvel com a compreensa o cientfica do universo. Portanto, contra o
mito mecanicista em que se apo ia a cosmovisa o tipicamente ocidental,
queremos afirmar a realidade das intelige ncias demonacas, interessadas, por
todos os meios manifestos e latentes, em desacreditar Jesus Cristo e impedir
que as pessoas venham ate ele. Achamos de vital importa ncia para a
evangelizaa o, em todas as culturas, ensinar a realidade e hostilidade das
foras demonacas, e a proclamar que Deus exaltou Cristo como Senhor de
tudo, e que Jesus Cristo, que de fato possui todo o poder, por mais que
deixemos de reconhecer isso, pode (quando o proclamamos) romper
qualquer cosmovisa o, na mente de qualquer pessoa, manifestando seu poder
e produzindo uma mudana radical de coraa o e perspectiva.

Desejamos salientar que o poder pertence a Cristo. O poder nas ma os


humanas e sempre perigoso. Lembra-nos o tema recorrente das duas cartas
de Paulo aos Corntios: que o poder de Deus, que se ve claramente na cruz de
Cristo, opera atrave s da fraqueza humana (p. ex., 1 Co 1:18-2: 5; 2 Co 4: 7; 12:
9, 10). As pessoas mundanas glorificam a fora; os crista os que a possuem
conhecem seus riscos. E melhor sermos fracos, pois enta o somos fortes.
Prestamos nossa homenagem especial aos ma rtires crista os modernos (p. ex.,
os da Africa Oriental) que renunciaram ao caminho da fora e seguiram o
caminho da cruz.

e. Converses individuais e em grupo

A conversa o na o deveria ser concebida como sendo so e invariavelmente


uma experie ncia individual, embora essa tenha sido a expectativa no padra o
ocidental, por muitos anos. Pelo contra rio, o tema da aliana no Velho
Testamento e os batismos dome sticos no Novo nos levariam a desejar,
esperar e trabalhar tanto pela conversa o familiar como em grupo.
Importantes pesquisas te m sido feitas, ultimamente, sobre "movimentos
grupais", tanto na perspectiva teolo gica como na sociolo gica. Teologicamente,
reconhecemos a e nfase bblica na solidariedade de cada etnia, isto e , naa o
34
ou povo. Sociologicamente, reconhecemos que cada sociedade e composta de
uma variedade de subgrupos, subculturas ou unidades homoge neas. E
evidente que as pessoas recebem o evangelho com mais facilidade quando o
mesmo e apresentado a elas de maneira apropriada, na o alienada, a sua
cultura, e quando podem recebe -lo com e entre seu pro prio povo. Diferentes
sociedades te m diferentes me todos de tomada de decisa o em grupo, p. ex.,
por consenso, pelo chefe da famlia, ou atrave s de um grupo de ancia os ou
dignatarios. Reconhecemos a validade da dimensa o social da conversa o como
parte do processo global, bem como a necessidade de cada membro do grupo
participar nela em pessoa, seja mais cedo ou mais tarde.

f. A converso sbita ou gradual?

A conversa o em geral e mais gradual do que considera a doutrinaa o


evange lica tradicional. Na verdade, isso pode ser apenas uma disputa sobre
palavras. Justificaa o e regeneraa o, a primeira levando a um novo status, e a
segunda a uma nova vida, sa o obras de Deus, e instanta neas, embora na o
estejamos necessariamente cientes de quando ocorrem. A conversa o, por
outro lado, e nossa pro pria aa o (movida peta graa de Deus) de nos
voltarmos para Deus em penite ncia e fe . Embora possa incluir uma crise
consciente, ela e frequ entemente lenta e a s vezes trabalhosa. Tendo como
pano de fundo o vocabula rio hebraico e grego, a conversa o, em esse ncia, e um
voltar-se para Deus, que continua a medida que todas as a reas da vida sa o
colocadas sob o senhorio de Cristo de maneira sempre mais radical. A
conversa o envolve uma completa transformaa o do crista o, bem como uma
total renovaa o da mente e do cara ter, de acordo com a semelhana de Cristo
(Rm 12:1, 2).

Esse progresso nem sempre ocorre, todavia. Dedicamos alguma reflexa o


aos tristes feno menos de "frieza espiritual" (um paulatino afastamento de
Cristo) e "apostasia" (franco repu dio a ele). Ambos te m uma variedade de
causas. Algumas pessoas se desviam de Cristo quando ficam desencantadas
com a igreja; outras capitulam diante das presso es do secularismo ou de sua
antiga cultura. Esses fatos nos desafiam para que proclamemos um evangelho
pleno e sejamos mais conscienciosos em relaa o aos convertidos, nutrindo-os
na fe e treinando-os para o servio.

35
Um dos membros da Consulta descreveu sua experie ncia em termos de se
voltar primeiro para Cristo (recebendo sua salvaa o e reconhecendo seu
senhorio), depois para a cultura (redescobrindo suas origens e identidade
natural) e, terceiro, para o mundo (aceitando a missa o para a qual Jesus
Cristo o enviou). Concordamos que a conversa o e sempre uma experie ncia
complexa, e que a linguagem bblica desse "voltar-se" e usada de diferentes
maneiras e em diferentes contextos. Ao mesmo tempo, todos salientamos que
o compromisso pessoal com Jesus Cristo e essencial. Nele, e somente nele,
encontramos a salvaa o, uma vida nova e a identidade pessoal. A conversa o
precisa tambe m resultar em novas atitudes e relao es, e levar a um
envolvimento responsa vel em nossa igreja, nossa cultura e nosso mundo.
Finalmente, a conversa o e uma jornada, uma peregrinaa o, com novos
desafios, novas deciso es e novos retornos ao Senhor como constante ponto
de refere ncia, ate que ele volte.

Tpicos para Discusso


1. Faa a distina o entre "regeneraa o" e "conversa o" de acordo com o Novo
Testamento.
2. "Jesus e Senhor". Que significa isso para voce em sua pro pria cultura? Veja a Sea o
7 (a e b). Quais os elementos de sua pro pria herana cultural a que voce sente (a)
que deve e (b) na o precisa renunciar por amor de Cristo?
3. Que e su bito e que e (ou pode ser) gradual na conversa o crista ?

8. Igreja e Cultura
No processo de formaa o de igrejas, como na comunicaa o e recepa o do
evangelho, a questa o da cultura e de vital importa ncia. Se o evangelho deve
ser contextualizado, a igreja tambe m o deve. Na verdade. o subttulo de nossa
Consulta foi "a contextualizaa o da Palavra e da Igreja na situaa o
missiona ria".

a. Abordagens antigas e tradicionais

Durante a expansa o missiona ria do princpio do se culo XIX, pressupunha-


se, em geral, que as igrejas resultantes do trabalho missiona rio seriam
moldadas nas igrejas dos pases de origem. A tende ncia era reproduzir
re plicas quase perfeitas. A arquitetura go tica, a liturgia, as vestes clericais, os

36
instrumentos musicais, hinos e mu sicas, processos de tomada de decisa o,
snodos e comisso es, supe-rintendenes e bispos; tudo isso era exportado e,
sem imaginaa o alguma, introduzido nas novas igrejas fundadas pelas
misso es. Acrescente-se que tais padro es eram tambe m ansiosamente
adotados petos novos crista os, resolvidos a na o ficar para tra s de seus amigos
ocidentais, cujos ha bitos e formas de adoraa o tinham sido por eles
atentamente observados. Mas tudo isso se baseava na falsa premissa de que a
Bblia deu instruo es especficas sobre tais assuntos, 2 que o padra o de
governo, culto, ministe rio e vida das igrejas de origem eram modelos
perfeitos.

Em reaa o a esse sistema de exportaa o monocultural, pensadores


missiona rios pioneiros, como Henry Venn e Rufus Anderson, em meados do
se culo passado, e Roland Allen, no incio deste se culo, popularizaram o
conceito de igrejas "auto ctones", que seriam "auto nomas, independentes e
missiona rias". Souberam defender bem seu ponto de vista, salientando que a
poltica do apo stolo Paulo era plantar igrejas, na o fundar "misso es" no
sentido antigo da palavra (um complexo de pre dios, onde tudo se conformava
aos padro es culturais dos missiona rios). Tambe m acrescentaram argumentos
pragma ticos a argumentaa o bblica, ou seja, que uma liderana nacional era
indispensa vel ao crescimento da igreja na maturidade e na missa o. Henry
Venn confiantemente esperava o dia em que as misso es pudessem transferir
toda a responsabilidade a s igrejas nacionais; a, enta o, o que ele chamava de
"a eutana sia da missa o" acabaria ocorrendo. Essas ide ias tiveram larga
aceitaa o e foram bastante influentes.

Entretanto, atualmente sa o criticadas, na o por causa do ideai em si mesmo,


mas por causa da maneira como ele tem sido aplicado. Algumas misso es, por
exemplo, te m aceitado a necessidade de uma liderana auto ctone e, com base
nela, chegado ate o ponto de recrutar e treinar lderes locais, doutrinando-os
(a palavra e dura mas na o injusta) nas formas de pensamento e
procedimento ocidentais. Esses lderes locais ocidentalizados te m enta o
preservado uma igreja de apare ncia muito ocidental e a orientaa o aliengena
tem persistido, so que um pouco disfarada por sua apare ncia auto ctone.

Agora, portanto, um conceito mais radical de vida eclesia stica auto ctone
precisa ser desenvolvido, atrave s do qual toda igreja possa descobrir e
37
expressar sua identidade como o corpo de Cristo dentro de sua cultura.

b. Modelo de equivalncia dinmica

Usando as distino es entre "forma" e "significado", e entre


"corresponde ncia formal" e "equivale ncia dina mica", ja desenvolvidas na
teoria da tradua o, e que comentamos na Sea o 3, sugere-se uma analogia
entre a tradua o bblica e a formaa o de igrejas. "Corresponde ncia formal"
fala de uma imitaa o servil, quer se trate de traduzir uma palavra para outra
lngua, ou de exportar um modelo de igreja para outra cultura. Exatamente
como a "equivale ncia dina mica", na tradua o, procura levar a leitores
contempora neos significados equivalentes aos propiciados aos leitores
originais, usando formas culturais apropriadas, assim tambe m procede a
igreja da equivale ncia dina mica. Ela esta para sua cultura como uma boa
rtadua o da Bblia esta para sua lngua. Ela preserva os elementos e funo es
essenciais que o Novo Testamento estabelece para a igreja, mas procura
expressa -los em formas equivalentes aos originais, desde que apropiadas a
cultura local.

Todos no s achamos esse modelo sugestivo e valioso e afirmamos


decididamente os ideais que ele busca expressar. Esse modelo, com justia,
rejeita as importao es de fora, bem como as imitao es e as estruturas rgidas.
Busca no Novo Testamento os princpios da formao a de igrejas, ao inve s de
ir busca -los quer na tradia o quer na cultura. E corretamente, procura na
cultura local as formas adequadas para a expressa o de tias princpios. Todos
no s (mesmo os que ve em limitao es no modelo) partilhamos a visa o que
esse modelo procura descrever.

Assim, o Novo Testamento aponta a igreja como uma comunidade que adora
a deus, uma comunidade de culto, um sacerdo cio santo, a fim de oferecer
sacrifcios espirituais ... a Deus por interme dio de Jesus Cristo (1Pe 2:5), mas
as formas de culto (incluindo a presena ou ause ncia de diferentes tipos de
liturgia, cerimo nia, mu sica, cores, drama etc) sera o desenvolvidas pela igreja
em harmonia coma cultura local. Semelhantemente, a igreja e sempre uma
comunidade de testemunho e servio, mas seus me todos de evangelizaa o e
seu prorama de envolvimento social certamente sofrera o variao es. Ale m
disso, Deus quer que todas as igrejas tenham supervisa o pastoral (episkope),
38
mas formas de governo e ministe rio podem diferir grandemente, e a selea o,
formaa o, ordenaa o, servio, pagamento e responsabilidade dos pastores
ha o de ser determinados pela igreja, de maneira a concordarem com
princpios bblicos adequando-se ao mesmo tempo a cultura local.

As perguntas que se fazem agora acerca do moedelo de equivale ncia


dina mica procuram saber se, por si so , esse modelo e suficientemente amplo
e dina mico para fornecer toda a orientaa o necessa ria. A analogia entre a
tradua o da Bblia e a formaa o de igrejas na o e exata. Na primeira o tradutor
controla o processo e, quando a tarefa esta completa, e possvel fazer uma
comparaa o dos dois textos. Na u ltima, entretanto, o original para o qual se
procura um equivalente na o e um texto pormenorizado, mas uma se rie de
relances da igreja primitiva em aa o, tornando a comparaa o mais difcil e, ao
inve s de um tradutor que tudo controla, toda a comunidade da fe precisa ser
envolvida. Ale m disso, o tradutor procura ser objetivo, mas quando a igreja
local procura relacionar-se convenientemente com a cultura local, a
objetividade torna-se quase impossvel. Em muitas situao es ela fica no meio
de umconfronto entre duas civilizao es (a de sua pro pria sociedade e a dos
missiona rios). Ale m disto, ela pode encontrar muita dificuldade ao atender a s
vozes conflitantes da comunidade local. Alguns clamam por mudana (em
termos de alfabetizaa o, educaa o, tecnologia, medicina moderna,
industrializaa o etc), enquanto outros insistem na conservaa o da velha
cultura e resitem a chegada de uma nova era. Pergunta-se se o modelo de
equivale ncia dina mica e dina mico o bastante para fazer face a esse tipo de
desafio.

O teste deste ou qualquer outro modelo, criado com a finalidade de ajudar as


igrejas a se desenvolverem adequadamente, esta nele poder habilitar o povo
de Deus a captar em seu coraa o e mente o grande desgnio do qual sua igreja
ha de se a expressa o local qualquer modelo so apresenta uma visa o parcial.
As igrejas locais, em u ltima insta ncia, precisam confiar na presena dina mica
do Senhor Vivo da histo ria. Pois e ele que guiara seu povo em todas as eras, a
fim de que desenvolva sua vida eclesia stica de maneira que obdea a s
instruo es por ele dadas na Escritura e reflita os bons elementos de sua
cultura local.

c. A liberdade da igreja
39
se cada igreja deseja desenvolver-se criativamente de modo que se encontre
e expresse a si mesma, e preciso que ela seja livre para faze -lo. Esse e um
direito inaliena vel que ela tem pois toda igreja e igreja de Deus. Unida a
Cristo ela e uma morada de Deus atrave s de seu Esprito (Ef 2:22). Algumas
misso es e missiona rios te m demorado a reconhecer isso, e em a eitar suas
implicao es na direa o de formas auto ctones e de um ministe rio exrercido
por cada membro. Essa e uma das muitas causas que te m levado a formaa o
de Igrejas Independentes, notadamente na A frica, as quais procuram novas
formas de auto-expressa o em termos de cultura local.

Embora lderes de igrejas locais tambe m tenham algumas vezes impedido o


desenvolviemnto auto ctone, a culpa maior se encontra em outra parte. Na o
seria justo generalizar. A situaa o sempre foi diversificada. Em gerao es mais
antigas houve misso es que nunca manifestaram um esprito de domiaa o.
Neste se culo te m surgido algumas igrejas que nunca foram submetidas a
controle missiona rio, gozando de autonomia desde o incio. Em outros casos,
as misso es te m desistido inteiramente do poder que exerciam, de modo que
algumas igrejas fundadas por elas sa o agora plenamente auto nomas, e muitas
misso es trabalham hoje em genuna parceria com as igrejas.

Mas isso na o diz tudo. Outras igrejas ainda sa o quase completamente


impedidas de desenvolverem sua pro pria identidade e programa por
polticas ditadas de longe, pela introdua o e continuaa o de tradio es
estrangeiras, pelo emprego de liderana estrangeira, por processos
aliengenas de tomada de decisa o e, especialmente, pela manipulaa o do
dinheiro. Os que mante m tal controle podem ainda estar genuinamente
inconscientes da forma pela qual seus atos sa o considerados e
experimentados no ouro lado. Podem ser considerados pelas igrejas em
questa o como tirania. O fato de que isso na o e proposital, nem mesmo
percebido, ilustra perfeitamente como todos no s (quer saibamo-lo ou na o)
nos envolvemos na cultura que fez de no s o que somos. Opomo-nos
resolutamente a essa estrangeirice, onde quer que exista, como se rio
obsta culo a maturidade e missa o, e como forma de dissipar o Esprito Santo
de Deus.

Foi como um protesto contra a continuidade do controle estrangeiro que,


alguns anos ata s, foi feito um apelo para que se retirassem todos os
40
missiona rios dos campos de missa o. Neste debate, alguns de no s procuram
evitar a palavra morato ria, porque ela se tornou um termo emotivo e
algumas vezes revela um ressentimento contra o pro prio conceito de
missiona rio. Entretanto, ha outros que desejam reter a palavra a fim de
enfatizar a verdade que ela expressa. Apra no s, ela significa na o uma rejeia o
de dinheiro e pessoal missiona rio em si mesmos, mas so de seu mau uso, que
sufoca a iniciativa local. Todos no s concordamos com a declaraa o do Pacto
de Lausanne de que uma redua o do nu mero de missiona rios estrangeiros e
de verba... pode a s vezes ser necessa ria para ensejar o crescimento da igreja
nacional na a rea da autoconfiana... (9).

d. A misso e as estruturas de poder

O que acabamos de escrever faz parte de um problema muito mais amplo,


que na o podemos ignorar. O mundo contempora neo na o consiste em
sociedades atomizadas e isoladas mas sim num sistema global inter-
relacionado de macroestruturas econo micas, polticas tecnolo gicas e
ideolo gicas que sem du vida alguma resulta em muita exploraa o e opressa o.

O que isso tem a ver com a missa o? E por que levantamos essa questa o aqui?
Em parte porque se trata do contexto dentro do qual o evangelho deve ser
pregado a todas as nao es hoje. Em parte tambe m porque quase todos no s ou
pertencemos ao Terceiro Mundo, ou vivemos e trabalhamos la , ou ja o
fizemos antes, ou ainda porque ja visitamos alguns pases do Terceiro Mundo.
Vimos com nossos pro prios olhos a pobreza das massas, sentimos com elas e
por elas, e temos conscie ncia de que sua situaa o se deve em parte a um
sistema econo mico controlad, na maior parte, pelos pases do Atla ntico Norte
(embora outros agora estejam envolvidos tambe m). Aqueles dentre no s que
sa o cidada os da Ame dica do Norte ou da Europa na o devem evitar um certo
em barao ou constrangimento em virtude da opressa o que nossos pases,
em graus diversos te m desenvolvido. Naturalmente sabemos que hoje ha
opressa o em muitos pases, muitas vezes com grande sacrifcio pessoal.
Contudo, e preciso confessar que alguns missiona rios refletem em si mesmos
uma atitude neocolonial e, inclusive, a defendem, juntamente com os postos
avanados da fora e da exploraa o ocidentais, tal como na A frica do Sul.

Sendo assim, o que deveramos fazer? A u nica resposta honesta e dizer que
41
na o sabemos. A crtica de gabinete cheira a hipocrisia. Na o temos soluo es
prontas a oferecer para um problema mundial como esse. Na verdade,
sentimos que no s mesmos somos vitimas do sistema. E, no entanto, somos
parte dele. De maneira que so podemos fazer alguns comenta rios.

Primeiro, o pro prio Jesus se identificava constantemente com os pobres e os


fracos. Aceitamos a obrigaa o de seguir suas pegadas nesse assunto, como
em todos os demais. Pelo menos, atrave s do amor que ora e da , pretendemos
fortalecer nossa solidariedade para com eles.

Pore m, o que Jesus fez foi mais que uma obra de auto-identificaa o. Em seu
ensinamento, bem como no dos apo stolos, o corola rio das boas novas aos
oprimidos foi uma palavra de juzo contra o opressor (p.ex. Lc 6:24-26; Tg
5:1-6). Confessamos que, em situao es econo micas complexas na o e fa cil
identificar os opressores, a fim de denuncia -los, sem cair numa reto rica
estridente que na o leva a lugar algum. Na o obstante, concordamos em que ha
ocasio es em que nosso dever de crista os e falar, de alto e bom som, contra a
injustia, em nome do Senhor que e o Deus da justia tanto quanto da
justificaa o. Nele procuraremos a coragem e sabedoria para agirmos assim.

Terceiro, esta Consulota expressou sua preocupaa o sobre o sincretismo nas


igrejas do Terceiro Mundo. Mas na o nos esquecemos de que as igrejas
ocidentais caem no mesmo pecado. De fato, a forma mais insidiosa de
sincretismo no mundo de hoje talvez seja a tentaa o de mesclar um
evangelho privatizado de perda o pessoal com uma atitude mundana (ou
mesmo demonaca) para com a riqueza e o poder. Na o estamos no s mesmos
isentos de culpa nesse assunto. Mas desejamos ser crista os integrados, para
os quais Jesus seja realmente Senhor de tudo. De maneira que no s, que
pertencemos ao Ocidente, ou somos oriundos dele, precisamos examinar a
no s mesmos e procurar nos libertar do sincretismo ao estilo ocidental.
Concordamos que: A salvaa o que afirmamos usufruir deve produzir em no s
uma transformaa o total, em termos de nossas responsabilidades pessoais e
sociais. A fe sem obras e morta (Pacto de Lausanne, 5).

e. O risco do provincianismo

Salientamos que e preciso deixar a igreja se naturalizar, e celebrar, cantar e

42
danar o evangelho em seu pro prio meio cultural. Ao mesmo tempo,
queremos alertar contra os riscos desse processo. Algumas igrejas em todos
os seis continentes, va o ale m de uma grata e jubilosa descoberta de sua
herana cultural local e se tornam jactanciosas e dogma ticas acerca dela
(espe cie de chauvinismo), ou chegam a absolutiza -la (forma de idolatria).
Mais frequ entemente que ambos os extremos, entretanto, e o
provincianismo, isto e , o recolhimento radical a sua pro pria cultura, de
maneira que se separam do resto da igreja e do mundo em geral. Essa e uma
postura comum nas igrejas ocidentais, bem como no Terceiro Mundo. Ela
nega o Deus da criaa o e da redena o. E como proclamar nossa pro pria
liberdade, quando estamos caindo em outro tipo de servida o. Chamamos a
atena o para as tre s razo es principais por que deveramos evitar semelhante
atitude.

Primeiro, cada igreja e parte da igreja universal. O povo de Deus, atrave s de


sua graa, forma uma u nica comunidade multi-racial, multi-nacional e multi-
cultural. Essa comunidade e a nova criaa o de Deus, sua nova humanidade
em que Cristo aboliu todas as barreiras (ver Ef 2 e 3). Na o ha , portanto, lugar
para o racismo na sociedade crista , ou para o tribalismo, quer seja na forma
africana, quer seja na forma das classes sociais europe ias, ou no sistema de
castas indiano. Apesar das falhas da igreja, essa visa o de uma comunidade
supra-e tnica do amor na o e um ideal roma ntico, mas um mandamento do
Senhor. Por isso, enquanto nos regozijamos em nossa herana cultural e no
desenvolvimento de nossas pro prias formas auto nomas, devemos nos
lembrar de que nossa identidade prima ria como crista os na o esta em nossa
cultura particular, mas no u nico Senhor e em seu u nico corpo (Ef 4:3-6).

Segundo, cada igreja adora o Deus vivo da diversidade cultural. Se


agradecemos a ele por nossa herana cultural, devemos faze -lo em prol das
outras tambe m. Nossa igreja nunca deveria se prender tanto a sua cultura, de
maneira que os visitantes de outra cultura na o se sentissem bem-vindos. Na
verdade, cremos que seria enriquecedor para os crista os se tivessem a
oportunidade de desenvolver uma existe ncia bicultural ou mesmo
multicultural, como o apo stolo Paulo, que era ao mesmo tempo um hebreu
dos hebreus, mestre da lngua grega e cidada o romano.

Terceiro, toda igreja deveria participar de um companheirismo no tocante a


43
dar e receber (Fp 4:15). Nenhuma igreja e , ou deveria ser, auto-suficiente. De
maneira que todas as igrejas desenvolveriam entre si relao es de oraa o,
companheirismo, interca mbio de ministe rio e cooperaa o. Visto que
partilhamos as mesmas verdades centrais (incluindo o senhorio supremo de
Cristo, a autoridade da Escritura, a necessidade de conversa o, confiana no
poder do Esprito Santo, e as obrigao es de santidade e testemunho),
deveramos procurar a comunha o de forma decidida e aberta,e na o
timidamente. Deveramos tambe m partilhar nossos dons e ministe rios
espirituais, nosso conhecimento, nossas habilidades, experie ncias e recursos
financeiros. O mesmo princpio se aplica a s culturas. Uma igreja necessita ser
livre para rejeitar formas culturais aliengenas e desenvolver formas
pro prias. Tambe m precisa ser livre para receber de outras culturas. Nisso
consiste a maturidade.

Um exemplo disso diz respeito a teologia. Testemunhas transculturais na o


devem tentar impor uma tradio es teolo gica ja pronta a igreja em que
servem, seja atrave s do ensino pessoal, seja atrave s de literatura ou do
controle de currculos dos semina rios e escolas bblicas. Pois toda a tradia o
teolo gica tanto conte m elementos biblicamente questiona veis e
eclesiasticamente divisionistas, como omite elementos que, embora na o
tenham consequ e ncia no pas de origem, podem ser de grande importa ncia
em outros contextos. Ao mesmo tempo, embora os missiona rios na o devam
impor sua pro pria tradia o a outros, tampouco devem negar-lhes acesso a ela
(na forma de livros, confisso es, catecismo, liturgias e hinos), uma vez que,
sem du vida, ela representa uma rica herana de fe . Ale m disso, embora na o se
deva exportar as controve rsias teolo gicas das velhas igrejas para as novas,
uma compreensa o dos problemas e da obra do Esprito Santo na histo ria da
doutrina crista serviria para protege -las contra a repetia o inu til das mesmas
lutas.

Assim, deveramos procurar com igual cuidado, evitar tanto o imperialismo


quanto o provincianismo teolo gicos. A teologia de uma igreja deveria ser
desenvolvida pela comunidade da fe a partir da Escritura, em interaa o com
outras teologias do passado e o presente e com a cultura local e suas
necessidades.

44
f. O risco do sincretismo

Assim que a igreja comea a expressar sua vida em formas culturais locais, e
logo obrigada a enfrentar o problema dos elementos culturais que sa o maus
ou padecem de ma s associao es. Como a igreja deveria reagir a isso?
Elementos que sa o intrinsecamente falsos ou maus, inegavelmente na o
podem ser assimilados ao Cristianismo sem cair no sincretismo. Esse e um
rico de todas as igrejas em todas as culturas. Se o mal, entretanto, estiver
somente na associaa o, julgamos correto batiza -lo em Cristo. E o princpio
em que William Booth operou, quando adaptou letras crista s a mu sicas
populares, indagando por que e que o diabo everia ficar com as melhores
cano es. Assim e que, agora, muitas igrejas africanas usam tambores para
chamar as pessoas ao culto, embora antes fossem inaceita veis por sua
associaa o a danas guerreiras e ritos mediu nicos.

Esse princpio, contudo, levanta problemas. Numa reaa o contra a presena


estrangeira, pode ocorrer um flerte inconveniente com o elemento
demonaco da cultura local. Assim a igreja, sendo antes e acima de tudo serva
de Jesus Cristo, deve aprender a examinar toda cultura, seja estrangeira ou
local, a luz do senhorio de Cristo e da revelaa o de Deus. Quais as diretrizes,
portanto, que levam uma igreja a aceitar ou rejeitar traos culturais no
processo de contextualizaa o? Que faz ela para impedir ou detectar e
eliminar a heresia (ensino falso) e o sincretismo (a incorporaa o de coisas
prejudiciais da velha maneira de vida)? Que faz ela para se proteger da
ameaa de se tornar uma igreja do povo, em que a igreja e a sociedade sa o
virtualmente sino nimos?

Um dos modelos qu estudamos e o da igreja de Bali, na Indone sia, que agora


tem cerca de 40 anos. Sua experie ncia forneceu as seguintes orientao es:

Inicialmente a comunidade dos crentes examinou as Escrituras e aprendeu


com elas muitas verdades bblicas importantes. Observaram enta o que outras
igrejas (p.ex. ao redor do mediterra neo) usavm a arquitetura para simbolizar
a verdade crista . Isso foi imporante porque os balineses te m uma acentuada
inclinaa o para o visual, e estimam muito os smbolos. Assim, decidiram
expressar sua afirmaa o de fe na Trindade num teto de tre s fileiras, estilo
baline s, para suas igrejas. Inicialmente, o smbolo foi objeto de estudo do
45
conselho de ancia os, o qual, tendo considerado tanto fatores bblicos como
culturais, recomendou-o a s congregao es locais.

A deteca o e eliminaa o da heresia seguiu um padra o semelhante. Quando os


crentes suspeitavam de um erro na vida ou no ensino, comunicavam-no a um
ancia o, que o encaminhava por sua vez, ao Conselho. Tendo examinado a
mate ria, este passava suas recomendao es a s igrejas locais, que tinham a
palavra final.

Qual foi a mais importante salvaguarda da igreja? A essa pergunta a resposta


foi: Cremos que Jesus Cristo e Senhor de todas as pote ncias. Pregando seu
poder, o mesmo ontem, hoje e para sempre, insistindo em todas as ocasio es
na natureza normativa das Escrituras, confiando aos ancia os a obrigaa o de
refletir sobre a Escritura e a cultura, rompendo todas as barreiras que
dificultam a comunha o, e incluindo nas estruturas da igreja o catecismo, as
formas artsticas, o drama, etc., como constantes lembretes da exaltada
posia o de Jesus Cristo, sua igreja tem sido preservada em verdade e
santidade.

A s vezes, em diferentes partes do mundo, um elemento cultural ao ser


adotado pode perturbar profundamente conscie ncias supersensveis,
especialmente de novos convertitos. E esse o problema do irma o mais fraco,
sobre o qual Paulo escreve em conexa o com carnes oferecidas aos dolos.
Uma vez que os dolos nada eram, o pro prio Paulo tinha liberdade de
conscie ncia para comer tais carnes. Mas, por amor aos crista os mais fracos,
dotados de uma conscie ncia demasiadamente sensvel, que se sentiriam
ofentidos vendo-o comer delas, absteve-se de faze -lo, pelo menos nas
situao es especficas em que tal ofensa pudesse de fato ocorrer. Esse
princpio pode ser aplicado ainda hoje. A Escritura leva a conscie ncia a se rio
e recomenda que na o a violentemos. E preciso educa -la para que ela fique
forte, mas enquanto permanece fraca e preciso respeita -la. Uma
conscie ncia forte nos tornara livres, mas o amor limita a liberdade.

g. A influncia da igreja sobre a cultura

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Deploramos o pessimismo que leva alguns crista os a reprovar o engajamento
cultural ativo no mundo, bem como o derrotismo que persuade outros de que
nenhum bem poderiam fazer nestas atividades, e que, portanto, deveriam
esperar imo veis que Cristo conserte as coisas quando voltar. Muitos sa o os
exemplos histo ricos, tirados de diferentes e pocas e pases, que poderiam ser
dados da poderosa influe ncia que, coma ajuda de Deus, a igreja tem exercido
numa cultura predominante, purificando-a, reivindicando-a e embelezando-a
para Cristo. Embora todas as tentativas ate aqui feitas nesse sentido tenham
tido seus defeitos, isso na o prova que estes empreendimentos na o deveriam
ter sido realizados.

Preferimos, entretanto, fundamentar a responsabilidade cultural da igreja na


Escritura e na o na histo ria. Lembremo-nos de que nossos semelhantes foram
feitos a imagem de Deus, e que nos foi recomendado honra -los, ama -los e
servir a eles em todas as esferas da vida. A esse argumento da criaa o de
Deus acrescentamos outro: o de seu reino, que irrompeu no mundo atrave s
de Jesus Cristo. Toda autoridade pertence a Cristo. Ele e Senhor tanto do
universo como da igreja. E nos enviou ao mundo para sermos sal e luz. Como
sua nova comunidade, ele espera que permeemos a sociedade.

Assim, nosso papel e desafiar o mal e afirmar o bem; acolher e procurar


promover tudo o que e sadio e enriquecedor na arte, na cie ncia, na
tecnologia, na agricultura, na indu stria, na educaa o, no desenvolvimento
comunita rio e bem-estar social; denunciar a injustia e apoiar os impotentes
e oprimidos; espalhar o evangelho de Jesus Cristo, que e a fora mais
liberalizante e humanizante do mundo, e empenharmo-nos ativamente nas
boas obras do amor. Embora, tanto nas atividades so cio-culturais como na
evangelizaa o, os resultados devam ficar com Deus, confiamos em que ele
abenoara nossos esforos e fara uso deles para desenvolver em nossa
comunidade uma nova conscie ncia do que e verdadeiro, digno, justo, puro,
ama vel e honesto (Fp 4:8, BLH). Naturalmente, a igreja na o pode impor
padro es crista os a uma sociedade que se mostre indisposta contra eles, mas
pode recomenda -los tanto pelo argumento como pelo exemplo. Tudo isso
trara glo ria a Deus e, para nossos semelhantes, que ele criou e ama, uma
experie ncia cada vez maior de uma vida realmente humana. Como o Pacto de
Lausanne colocou a questa o: As igrejas devem se empenhar em enriquecer e
transformar a cultura local, tudo para a glo ria de Deus ( 10).
47
Apesar disso, o otimismo inge nuo e ta o tolo como o pessimismo total. Em
lugar de ambos procuramos um so brio realismo crista o. Por um lado, Jesus
Cristo reina; por outro, ainda na o destruiu as foras do mal: elas ainda
provocam alvoroo. Assim, em toda cultura os crista os se acham numa
situaa o de conflito e quase sempre de sofrimento. Somos chamados a lutar
contra as foras co smicas desta e poca de escurida o (Ef 6:12 BLH). E assim
precisamos uns dos outros. E necessa rio que todos no s vistamos a armadura
de Deus, especialmente a arma poderosa da oraa o da fe . Tambe m
lembramos as adverte ncias de Cristo e seus apo stolos, segundo as quais antes
do fim havera uma explosa o sem precedentes de perversidade e viole ncia.
Alguns eventos e processos no mundo contempora neo indicam que o esprito
do Anticristo, que esta por vir, ja se acha em aa, na o so em pases na o-
crista os, mas tambe m em nossa pro pria sociedade parcialmente
cristianizada, e mesmo nas pro prias igrejas. Portanto, rejeitamos como
sendo apenas um sonho orgulhoso e autoconfiante a ide ia de que o homem
possa algum dia construir uma utopia neste mundo (Pacto de Lausanne,
15), considerando uma fantasia sem fundamento a ide ia de que a sociedade
venha a se tornar perfeita.

Ao inve s disso, enquanto energicamente trabalhamos na terra, esperamos


com jubilosa antecipaa o o retorno de Cristo, e os novos ce us, bem como a
nova terra, em que a justia habitara . Pois enta o na o so sera transformada a
cultura, a medida que as nao es trouxerem sua glo ria a Nova Jerusale m (Ap
2:24-26), como sera libertada toda a criaa o da presente servida o a
futilidade, decade ncia e sofrimento, de maneira a poder participar da
gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8:18-25). Enta o, finalmente, todo
joelho se dobrara diante de Cristo, e toda lngua proclamara abertamente que
ele e Senhor para a glo ria de Deus pai (Fp 2:9-11).

Tpicos para Discusso


1. Sua igreja local e livre para desenvolver sua pro pria identidade? Se na o,
que foras a esta o impedindo? Veja a Sea o 8 (a ate d).
2. A Sea o 8d tem algumas coisas duras a dizer somre estruturas de poder.
Voce concorda com elas? Se positivo, voce pode fazer alguma coisa a
respeito?
3. Tanto o provincianismo (8e) como o sincretismo (8f) sa o equvocos de
uma igreja que tenta expressar sua identidade em formas culturais locais.
Sua igreja esta cometendo qualquer um dos dois erros? Que fazer para evita -
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los sem repudiar a cultura local?
4. Deveria a igreja de seu pas fazer algo mais para transformar e enriquecer
sua cultura nacional? Em caso afirmativo, de que maneira?

9. Cultura, tica Crist e Estilo de Vida


Tendo considerado, na Sea o 7, alguns dos fatores culturais na conversa o
crista , finalmente chegamos a relaa o entre a cultura e o comportamento
e tico crista o. Pois a nova vida que Cristo concede a seu povo esta destinada a
trazer um novo estilo de vida.

a. Cristocentrismo e semelhana a Cristo

Um dos temas que tiveram presena constante em nossa Consulta foi o


supremo Senhorio de Jesus Cristo. Ele e Senhor do universo e da igreja. Ele
tambe m e Senhor do crente individual. Sentimo-nos dominados pelo amor de
Cristo. Ele nos prende por dentro e na o nos deixa nenhuma sada. Por
gozarmos de uma vida nova atrave s de sua morte, na o temos outr
aalternativa (e nenhum desejo) sena o viver para aquele que morreu por no s
e depois ressuscitou (2Co 5:14,15). Devemos lealdade primeiramente a ele, e
essa lealdade consiste em agrada -lo, viver uma vida digna dele e obedecer a
ele. Isso implica a renu ncia a todas as lealdades menos significativas. De
maneira que na o nos e permitido conformarmo-nos aos padro es deste
mundo, isto e , a qualquer cultura dominante que deixe de honrar a Deus. Em
lugar disso, o mandamento que temos e o de nos transformarmos em nossa
conduta, guiados por mentes renovadas que percebam a vontade de Deus.

A vontade de Deus foi perfeitamente obedecida por jesus. Portanto, a coisa


mais impressionante em relaa o ao crista o deveria ser, na o a sua cultura, mas
sua semelhana com Cristo. Como diz um texto de meados do segundo
se culo, conhecido como Carta a Diogneto: Os crista os na o se distinguem do
resto da humanidade quer seja pelo pas, pela fala ou pelos costumes... Eles
seguem os costumes da terra no tocante a maneira de se vestir, ha bitos
alimentares e outros assntos da vida cotidiana, todavia a condia o de
cidadania que exibem e maravilhosa... Numa palavra, o que a alma e no corpo,
os crista os sa o no mundo.

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b. Padres morais e prticas culturais

A cultura nunca e esta tica. Ela varia tanto de lugar para lugar como de tempo
para tempo. E durante toda a longa histo ria dxa igreja nos diversos pases, o
Cristianismo ate certo ponto tem destrudo a cultura, ten-na preservado e, no
fim, criado uma nova cultura no lugar da velha. De modo que em toda parte
os crista os precisam pensar seriamente sobre como sua nova vida em Cristo
deveria estar relacionada com a cultura contempora nea.

Nos trabalhos lidos preliminarmente em nossa Consulta, dois modelos um


tanto quanto semelhantes foram colocados diante de no s. Sugeriu-se que ha
diversas categorias de costumes que precisam ser distnguidas. A primeira
inclui as pra ticas que o convertido devera abandonar imediatamente como
sendo inteiramente incompatveis com o evangelho crista o (p.ex., a idolatria,
a possessa o de escravos, bruxaria e feitiaria, caar cabeas, lutas sangrentas,
prostotituia o ritual e todas as discriminao es pessoais baseadas na raa, cor,
classe ou casta). Uma segunda categoria poderia englobar costumes
institucionalizados que seriam tolerados por algum tempo, mas que depois
se esperaria desaparecessem gradualmente (p.e., sistemas de casta,
escravida o e poligamia). Uma terceira categoria estaria relacionada com as
tradio es matrimoniais, especialmente com a questa o da consanguinidade,
sobre a qual as igrejas se dividem, enquanto que numa quarta categoria
seriam colocadas as assim chamadas adiaphora, ou assundos indiferentes,
que idzem respeito so aos costumes e na o a mora, e portanto podem ser
preservados sem qualquer compromisso (p.ex., costumes alimentares e de
higiene pessoal, formas de saudaa o pu blica ao sexo oposto, penteado e
maneira de vestir, etc).

O segundo modelo que consideramos distingue os confrontos diretos e


indiretos entre Cristo e a cultura, que correspondm aproximadamente a
primeira e segunda categorias do outro modelo. Aplicado a s Ilhas Fiji do
se culo XIX, no caso que nos foi apresentado, pensou-se que haveria um
confronto direto com pra ticas ta o desumanas como canibalismo, o
estrangulamento de viu vas, o infanticdio, o parricdio, e que se esperaria que
os convertidos abandonassem tais pra ticas depois da conversa o. O confronto
indireto ocorreria, entretanto, quando a questa o moral na o fosse
apresentada de forma bem ntida (p.ex., alguns costumes matrimoniais, ritos
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de iniciaa o, festivais e celebrao es musicais envolvendo cano es, danas e
uso de instrumentos) ou quando ela so passasse a ser percebida depois que o
convertido tivesse comeado a aplicar sua fe na vida crista pra tica. Algumas
dessas pra ticas na o precisaram ser descartadas, mas apenas purificadas de
seus elementos impuros e investidas de significado crista o. Velhos costumes
podem revestir-se de um novo simbolismo, velhas danas podem celebrar
novas be na os, e velhas te cnicas ou processos servir a novos propo sitos. Para
tomar emprestada uma expressa o do Velho Testamento, espadas podem
transformar-se em arados; e lanas em podadeiras.

Diz o Pacto de Lausanne: O evangelho na o pressupo e a superioridade de


uma cultura sobre outr mas avalia todas elas segundo seu pro prio crite rio de
verdade e justia, e insiste na aceitaa o de valores morais absolutos qualquer
que seja a cultura em questa o (10). Queremos endossar esse ponto de vista,
e salientar que mesmo na peresente era da relatividade os absolutos morais
permanecem inalterados. De fato, as igrejas que estudam as Escrituras na o
deveriam achar difcil discernir o que pertence a categoria primeira do
Confronto direto. Sob a liderana do Esprito Santo, os princpios bblicos
tambe m ha o de guia -las em relaa o a categoria do confronto indireto. Um
teste adicional proposto e indagar, no caso de determinada pra tica, se ela
dignifica ou diminui a vida humana.

Perceber-se-a que nossos estudos focalizam principalmente as situao es em


que igrejas mais jovens sa o obrigadas a assumir uma postura moral contra
certos males. Mas ja sabemos que a igreja precisa fazer frente ao mal na
cultura ocidental tambe m. noOcidente do se culo XX, com freque ncia, existem
exmplos mais sofisticados, mas na o menos horrveis, dos males que existiam
nas Ilhas Fiji no se culo XIX. Compara vel ao canibalismo e a injustia social,
que devora o pobre. Compara vel ao estrangulamento de viu vas, a opressa o
a que as mulheres sa o submetidas. Ao infanticdio, o abrto. Ao parricdio, a
criminosa neglige ncia com a velhice. A s guerras tribais, a Primeira e Segunda
Guerras Mundiais. E a prostituia o ritual, a promiscuidade sexual. Ao
considerar tal paralalelismo, e necessa rio lembrar tanto a culpa adicional das
nao es nominalmente crista s, como o corajoso protesto crista o contra tais
males e as trandes (pode m incompletas) vito rias que ate aqui foram
conseguidas no sentido de mitigar tais males. O mal toma muitas formas, mas
ele e universal e, onde quer que aparea os crista os precisam enfrenta -lo e
51
repudia -lo.

c. O processo de mudana cultural

Na o basta aos convertidos renunciar pessoalmente aos males de sua cultura;


e preciso que a igreja inteira se empenhe na sua eliminaa . Daa importa ncia
de indagar como as culturas mudam sob a influe ncia do evangelho.
Naturalmente, o mal e o demonaco esta o profundamente arraigados na
maioria das culturas. Mesmo assim a Escritura clama por arrependimento e
reforma a nvel nacional, e a histo ria registra numerosos casos de mudana
cultural para melhor. De fato, em alguns casos a cultura na o e ta o resistente a
mudana necessa ria como pode parecer. Entretanto, e preciso muito cuidado
ao procurar inicia -la.

Primeiro, as pessoas mudam como e quando querem mudar. Isso parece


axioma tico. Mais ainda: so querem mudar quando percebem os benefcios
que advira o da mudana. E preciso que tais benefcios sejam cuidadosamente
sustentados e pacientemente demonstrados, quer estejam os crista os
advogando, em pas ainda em desenvolvimento os benefcios da alfabetizaa o
ou o valor da a gua tratada, quer estejam advogando em pas ocidental
desenvolvido, a importa ncia de um casamento e uma vida familiar esta veis.

Segundo, as testemunhas transculturais no Terceiro Mundo precisam


respeitar muito os mecanismos intrnsecos a mudana social em geral, bem
como as corretas medidas de inovaa o em cada cultura particular.

Terceiro, e importante lembrar que todos os costumes, geralmente,


desempenham fuo es importantes dentro da cultura, e que mesmo pra ticas
socialmente indeseja veis podem desempenhar funo es construtivas. Sendo
assim, um costume nunca deveria ser abolido sem antes ser discernida sua
funa o e um outro costume colocado em seu lugar, capaz de exercer a mesma
funa o. Por exemplo, pode ser justo desejar abolir alguns ritos iniciato rios
associados a circuncisa o de adolescentes, bem como algumas formas de
educaa o sexual que a acompanham. Com isso na o se quer negar o valor dos
processos de iniciaa o; entretanto, e preciso muito cuidado para que se
possam prover substitutivos adequados para os ritos e formas de iniciaa o
que a conscie ncia crista desejaria ver abolidos.

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Quarto, e essencial reconhecer que algumas pra ticas culturais te m uma base
teolo gica. Neste caso, a cultura so muda se a teologia tambe m mudar. Assim,
se se matam viu vas para seus maridos na o entrarem no outro mundo sem ter
quem lhes preste assiste ncia, ou sese matam velhos antes que a senilidade
tome conta deles, a fim de que no outro mundo sejam bastante fortes para
lutar e caar, enta o a eliminaa o deles por ser fundada numa falsa
escatologia, so sera abandonada quando uma alternativa melhor, a esperana
crista , for aceita em seu lugar.

Tpicos para Discusso


1. Pode a semelhana de Cristo ser reconhecida em toda a cultura? Quais sa o
seus ingredientes?
2. Em sua pro pria cultura, a que voce esperaria que o novo convertido
renunciasse imediatamente?
3. Considere algum costume institucionalizado de seu pas que os crista os
esperam venha a desaparecer gradualmente (p.ex., poligamia, o sistema de
castas, o divo rcio fa cil ou alguma forma de opressa o). Quais as medidas de
aa o que os crista os deveriam tomar para que haja mudana?

Concluso
Nossa Consulta na o nos deixou nenhuma du vida quanto a penetrante
importa ncia da cultura. A redaa o e leitura da Bblia, a apresentaa o do
evangelho, a conversa o, a igreja e a conduta tudo isso e influenciado pela
cultura. E essencial, portanto, que todas as igrejas contextualizaem o
evangelho a fim de partilharem-no eficazmente em sua pro pria cultura. Para
essa tarefa de evangelizsaa o, todos no s conhecemos a nossa urgente
necessidade do ministe rio do Esprito Santo. Ele e o Esprito da verdade, que
pode ensinar a toda a igreja como relacionar-se coma cultura que a envolve.
Ele e tambe m o Esprito do amor, e o amor e a linguagem que toda a cultura
humana compreende. Que o Senhor nos encha, pois, com seu Esprito! Enta o,
falando a verdade em amor, cresceremos em Cristo, que e o cabea, para a
glo ria eterna de Deus (Ef 4:15).

Observao: As citao es ano nimas que aparecem no relato rio foram


extradas de va rios trabalhos apresentados na Consulta.

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FIM

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