Comitê Lausanne - O Evangelho e A Cultura
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Comitê Lausanne - O Evangelho e A Cultura
E A CULTURA
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Sumrio
Prefa cio Geral.............................................................................................................................. 4
Introdua o.................................................................................................................................... 5
1. Base Bblica da Cultura....................................................................................................... 6
2. Definia o de Cultura............................................................................................................ 7
3. Cultura na Revelaa o Bblica............................................................................................ 9
4. Compreendendo a Palavra de deus Hoje..................................................................14
5. Conteu do e Comunicaa o do Evangelho...................................................................17
6. Procura-se: Mensageiros Humildes do Evangelho!..............................................22
7. Conversa o e Cultura.......................................................................................................... 28
8. Igreja e Cultura.................................................................................................................... 34
9. Cultura, E tica Crista e Estilo de Vida..........................................................................45
Conclusa o................................................................................................................................... 49
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4
Prefcio Geral
O magno e frutescente Congresso Internacional de Evangelizao Mundial,
realizado em 1974 em Lausanne, Sua, na o foi somente um evento marcante
na vida de 4000 congressistas vindos de muitos pases. Ele desencadeou um
movimento de evangelizaa o de grupos humanos concretos que antes na o
contavam com a presena crista significativa, como tambe m deu impulso a
uma reflexa o teolo gica sobre assuntos relacionados com a evangelizaa o do
mundo. Na verdade, o movimento de Lausanne e um interessante
experimento de convvio entre peritos em estrate gia missiona ria (os
pra ticos) e peritos em teologia (os teo ricos); convvio alia s, por vezes tenso,
mas frutfero e criativo.
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Introduo
O processo de comunicaa o do evangelho na o pode ser isolado da cultura
humana de que procede, nem daquela em que deve ser proclamado. Esse fato
constitui uma das preocupao es do Congresso de Lausanne sobre
Evangelizaa o Mundial, em julho de 1974. Assim, o Grupo de Teologia e
Educaa o da Comissa o de Lausanne fixou uma reunia o de consulta sobre o
assunto para janeiro de 1978. Essa reunia o congregou um grupo de 33
pessoas: teo logos, antropo logos, lingu istas, missiona rios e pastores de seis
continentes. Reuniram-se para examinar a questa o Evangelho e Cultura. A
reunia o foi co-patrocinada pelo Grupo de Trabalho Estrate gico da Comissa o
de Lausanne, e tinha em vista quatro objetivos:
Nosso programa de seis dias foi muito intenso, o que nos obrigou a um
redobrado ritmo de trabalho. Em consequ e ncia na o puderam ser exploradas
as questo es ba sicas de metodologia sobre os pressupostos e procedimentos
da teologia e das cie ncias sociais, bem com a maneira adequada de relaciona -
las. E houve momentos em que nossas discusso es refletiram claramente esse
fato. Ale m disso, muitas das questo es levantadas deixaram de ser
respondidas, e muitos debates particulares tiveram sua conclusa o antecipada
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no desenrolar dos trabalhos. Estamos conscientes, portanto, que o exposto
aqui apresenta um cara ter proviso rio. Podera vir a ser aguado e
aprofundado, em diversos aspectos, em face de trabalhos futuros. Utilizamos
numerosas generalizao es, o que mostra a necessidade da ana lise de um
maior nu mero de casos concretos, a fim de se constatar como estas
generalizao es se relacionam com situao es especficas.
Deus criou o ser humano macho e fe mea, a sua pro pria imagem dotando-o de
faculdades distintas e peculiares: racionalidade, sociabilidade, moralidade,
criatividade e espiritualidade. Ele tambe m lhe ordenou que tivesse filhos,
ocupasse a Terra e a dominasse (Gn 1:26-28). Esses mandamentos divinos
sa o a origem da cultura humana. O fundamental a cultura e o controle da
natureza (isto e , de nosso meio ambiente) e o desenvolvimento de formas de
organizaa o social. A medida que usamos nosso poder criativo para obedecer
aos mandamentos de Deus, glorificamo-lo, servimos a outros e cumprimos
parte importante de nosso destino na Terra.
Agora, entretanto, estamos cados. Todo nosso trabalho e feito com suor e
luta (Gm 3:17-19) e se desfigura pelo egosmo. Nenhuma das nossas culturas
e perfeita em verdade, beleza e bondade. No a mago de toda cultura (quer seja
esse cerne uma visa o religiosa ou mundana) ha um elemento de
egocentrismo, de auto-adoraa o do homem. Raza o pela qual na o se pode
colocar uma cultura sob o senhorio de Cristo sem uma radical mudana de
lealdade.
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Em que pese tudo isso, permanece a afirmaa o de que fomos feitos a imagem
de Deus (Gm 9:6; Tg 3:9), embora a semelhana divina tenha sido distorcida
pelo pecado. Deus espera, ainda assim, que exeramos a mordomia da Terra e
de suas criaturas (Gn 9:1-3, 7), e eu sua graa universal torna possvel que
todos possam ser criativos, engenhosos e bem-sucedidos em seus
empreendimentos. Embora Ge nesis 3 registre a queda da humanidade, e
Ge nesis 4 o assassnio de Abel pelas ma os de Caim,s ao os descendentes deste
que sa o apresentados como inovadores da cultura, erguendo cidades, criando
animais para seu sustento, produzindo instrumentos musicais e ferramentas
de metal (Gn 4:17-22).
2. Definio de Cultura
A palavra cultura na o pode ser definida facilmente. No sentido mais amplo,
significa simplesmente os padro es seguidos por um determinado grupo. Para
que possa haver algum tipo de vida em comum e um certo grau de aa o
coletiva, tem de existir um consenso, seja oral ou escrito, em relaa o a um
grande nu mero de assuntos. Mas o termo cultura na o se utiliza geralmente
a na o ser que se trate de uma comunidade maior que a famlia, seja esta
restrita ou mais ampla.
A cultura une va rias gerao es durante uma e poca. E recebida do passado, mas
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na o por um processo de herana natural. Cada geraa o tem de aprende -la por
si mesma. Esta aprendizagem acontece em linhas gerais por um processo de
absora o do meio social, especialmente no lar. Em muitas sociedade certos
elementos culturais se comunicam diretamente por meio dos ritos de
iniciaa o, e por meio de muitas outras formas de instrua o deliberada.
Geralmente, aa o em conformidade com a cultura se realiza no nvel
subconsciente.
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Homens e mulheres precisam de uma existe ncia unificada. Sua participaa o
em uma cultura e um dos fatores que lhes proporciona o sentido de pertencer
a algo. A cultura da um sentido de segurana, de identidade, de dignidade, de
ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de gerao es anteriores e
tambe m das expectativas da sociedade com respeito a seu pro prio futuro.
Esses fatos indubita veis levantam uma se rie de questo es com as quais temos
lutado. Mencionamos cinco:
Sera que o uso que os autores bblicos fazem de palavras e ide ias extradas de
sua pro pria cultura e incompatvel com a inspiraa o divina? Na o. Ja fizemos
notar os diferentes ge neros litera rios presentes na Escritura, e as diferentes
formas do processo de inspiraa o que implicam. Por exemplo, a forma da
obra dos profetas, que recebiam viso es e palavras do Senhor, e bastante
distinta da utilizada nos relatos de historiadores e epistolo grafos. No entanto,
foi o mesmo Esprito que inspirou a todos. Deus usou o conhecimento, a
experie ncia e a bagagem cultural desses autores (embora sua revelaa o
constantemente ultrapassasse tais dados), e em cada caso o resultado foi o
mesmo, ou seja, a palavra de Deus atrave s das palavras humanas.
b. Forma e significado
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torcer o significado. Em tais casos, a solua o e procurar na outra lngua uma
expressa o que produza no ouvinte o mesmo impacto produzido pela
expressa o original. Isso pode acarretar a mudana da forma a fim de que se
preserve o significado original. A isso chamamos equivale ncia dina mica.
Consideremos, por exemplo, a tradua o ERAB de Rm 1:17, a qual afirma que
a justia de Deus se revela no evangelho, de fe em fe . Essa e uma tradua o
palavra-por-palavra do original grego, ou seja, uma tradua o a base da
corresponde ncia formal. Mas ela deixa obscuro o significado das expresso es
gregas justia e de fe em fe . Uma tradua o como a BLH o Evangelho
mostra que Deus nos aceita por meio da fe , do comeo ao fim abandona o
princpio da corresponde ncia linear entre o grego e o portugue s, mas
exprime o sentido da frase original mais adequadamente. A tentativa de
produzir uma tradua o a base desse processo de equivale ncia dina mica
pode bem levar o tradutor a uma compreensa o mais profunda da Escritura e
tornar o texto mais significativo a pessoas de outra lngua.
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relao es entre o homem e a mulher como sendo de um lado radicadas na
criaa o e, ao mesmo tempo, maravilhosamente transformadas pela nova
criaa o que Jesus introduziu.
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4. Compreendendo a Palavra de deus Hoje
O fator cultural esta presente na o so na auto-revelaa o de Deus na Escritura,
como tambe m em como a interpretamos. Vejamos agora essa questa o. Todos
os crista os esta o interessados em compreender a palavra de Deus, mas ha
diferentes maneiras de tentar faze -lo.
a. Abordagens tradicionais
O erro dessa abordagem histo rica, entretanto, e que ela negligencia o que a
Escritura possa estar dizendo ao leitor contempora neo. Ela se fixa no sentido
da Bblia para o tempo e a cultura em que foi escrita. Esta sujeita a analisar o
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texto sem aplica -lo, e a fornecer conhecimento acade mico sem obedie ncia. O
inte rprete talvez tenda a exagerar a possibilidade de uma completa
objetividade, ignorando seus pro prios pressupostos culturais.
b. A abordagem contextual
E a necessidade desse jogo dina mico entre o texto e os inte rpretes que
desejamos enfatizar. Os leitores de hoje na o podem chegar ao texto numa
espe cie de va cuo pessoal, nem deveriam tentar faze -lo. Ao inve s disso,
deveriam aproximar-se conscientes das preocupao es ha o de influir nas
questo es lanadas a s Escrituras. O que voltara , entretanto, na o sera o so
respostas, e sim mais questo es. Ao dirigirmo-nos a Escritura, ela tambe m se
dirige a no s. Descobrimos que nossos pressupostos culturalmente
condicionados esta o sendo questionados, e nossas perguntas corrigidas. Na
verdade, o que acontece e que somos impelidos a reformular nossas questo es
anteriores e a formular novas perguntas. E assim a interaa o viva tem
continuidade.
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c. A comunidade do aprendizado
Ha muitas maneiras pelas quais a igreja local ou regional pode vir a discernir
hoje a vontade de Deus em sua pro pria cultura. Cristo ainda indica pastores e
professores em sua igreja. E em resposta a orao es cheias de expectativa, ele
fala com seu povo, especialmente atrave s da pregaa o de sua palavra no
contexto da adoraa o. Ale m disso, ha lugar para ensinarmos e aconselharmos
uns aos outros (Cl 3:16), tanto em estudos bblicos em grupo quanto na
consulta a igrejas irma s. E necessa rio tambe m ouvir, silenciosamente a voz de
Deus nas Escrituras, o que e um elemento indispensa vel na vida crista
daquele que cre .
A igreja e tambe m uma comunidade histo rica. Do passado recebeu uma rica
herana de teologia, liturgia e devoa o crista s. Nenhum grupo pode
negligenciar essa herana sem se arriscar a um empobrecimento espiritual.
Ao mesmo tempo, essa tradia o na o pode se recebida de maneira acrtica,
quer venha ela na forma de um conjunto de caractersticas denominacionais,
ou de outra forma qualquer. A tradia o precisa ser testada pela Escritura que
ela alega expor. Tampouco deve ser imposta a qualquer igreja. O que e preciso
e torna -la disponvel aos que se utilizam dela como um recurso valioso como
contrapeso ao esprito de independe ncia e como vnculo com a igreja
universal.
Assim o Esprito Santo instrui seu povo atrave s de uma variedade de mestres
tanto do passado como do presente. Precisamos uns dos outros. So com
todos os santos e que podemos comear a compreender as dimenso es
plenas do amor de Deus (Ef 3:18,19). O Esprito ilumina a mente do povo de
Deus, em todos os meios culturais, para receberem a sua verdade (i.e. a
verdade da Escritura) em primeira ma o, por si mesmos, e assim revela a toda
a Igreja mais e mais da multiforme sabedoria de Deus (Pacto de Lausanne,
2, fazendo eco a Efe sios 3:10).
d. Os silncios da Escritura
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Consideramos tambe m o problema dos sile ncios das Escrituras, isto e ,
aquelas a reas de doutrina e e tica sobre as quais a Bblia nada tem de explcito
a dizer. Escrita na antiga tradia o judaica e Greco-romana, a Escritura na o se
dirige diretamente, por exemplo ao hindusmo, ao budismo e ao isla o de hoje,
nem a teoria so cio-econo mica marxista ou a tecnologia moderna. Na o
obstante, acreditamos que e justo a igreja, guiada pelo Esprito Santo,
procurar nas Escrituras precedentes e princpios que a capacitem a
desenvolver a mente do Senhor Jesus, e assim ter condio es de tomar
deciso es autenticamente crista s. Esse processo continua de maneira ainda
mais frutfera dentro da comunidade crista quando esta adora
verdadeiramente a Deus e se empenha ativamente em obedece -lo no mundo.
Repetimos que a obedie ncia crista e tanto um prelu dio a compreensa o como
uma consequ e ncia dela.
a. A Bblia e o evangelho
b. O cerne do evangelho
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c. Barreiras culturais comunicao do evangelho
f. Expectativa de resultados
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Tpicos para Discusso
1. Na Sea o 5 (a e b) o Relato rio recusa-se a fornecer uma "formulaa o" do
evangelho, mas identifica seu "cerne". Voce gostaria de acrescentar alguma coisa a
esses "temas centrais", subtrair-lhes algum dado ou amplia -los?
2. Explicite os "dois erros de ordem cultural" de 5c. Voce poderia dar exemplos?
Como evitar tais erros?
3. Pense na situaa o cultural das pessoas (ou povo) que voce gostaria de ganhar para
Cristo. Que significaria, em seu caso, "sensibilidade cultural"?
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Em quarto lugar, existe a humildade em reconhecer que mesmo o
missiona rio mais dotado, dedicado e experiente, raramente podera
comunicar o evangelho em outra lngua ou cultura ta o eficientemente quanto
um crista o local treinado para isso. Esse fato tem sido reconhecido nos
u ltimos anos pelas Sociedades Bblicas, cuja poltica mudou de direa o,
preferindo, ao inve s de publicar traduo es de missiona rios (com ajuda de
pessoas locais), treinar especialistas da lngua-ma e a fazer as traduo es.
Somente crista os locais podera o responder a estas perguntas: "Deus, como tu
dirias isso em nossa lngua?" e "Deus, que quer dizer obedie ncia a ti em.
nossa cultura?" Portanto, quer estejamos traduzindo a Bblia ou comu-
nicando o evangelho, crista os locais sa o indispensa veis. Eles e que devem
assumir a responsabilidade de contextualizar o evangelho em seus pro prios
idiomas e culturas. Isto na o quer dizer que testemunhas transculturais sa o
necessariamente supe rfluas; mas so seremos bem-vindos se formos humildes
bastante para vermos a boa comunicaa o como uma tarefa de equipe, em que
todos os crentes colaboram como parceiros.
A seguir vem a renu ncia a independe ncia. Temos visto Jesus pedir a gua a
uma mulher samaritana, vivendo em casas de outras pessoas e a custa do
dinheiro de outras mais, porque ele mesmo na o o tinha. Vimo-lo tomar um
barco emprestado, um jumento, um cena culo, e ate ser enterrado num
tu mulo emprestado. Semelhantemente, os mensageiros transculturais,
especialmente durante seus primeiros anos de servio, precisam aprender a
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depender de outros.
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7. Converso e Cultura
Temos pensado nas relao es entre conversa o e cultura de duas maneiras.
Primeiro, que efeito e produzido pela conversa o na situaa o cultural dos
conversos, na sua maneira de pensar e agir, e em suas atitudes para com seu
ambiente social? Segundo, qual o efeito que nossa cultura tem produzido em
nossa compreensa o da conversa o? Ambas as perguntas sa o importantes. Mas
queremos dizer de imediato que alguns elementos da nossa visa o evange lica
tradicional da conversa o sa o mais culturais do que bblicos e, por isso,
precisam ser desafiados. Com frequ e ncia pensamos em conversa o como
sendo uma crise, ao inve s de ve -la tambe m como processo. Ou a temos visto
em grande parte como uma experie ncia particular, esquecendo suas con-
sequ entes responsabilidades pu blicas e sociais.
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morais e nosso estilo de vida e tico. A rigor, isso na o e "arrependimento", mas
antes o "fruto digno do arrependimento" (Mt 3: 8), ou seja, a mudana de
conduta que resulta de uma mudana de perspectiva. Tanto nossa mente
como nossa vontade devem submeter-se em obedie ncia a Cristo (cf. 2 Co
10:5; Mt 11:29, 30; Jo 13: 13).
Terceiro, nossas relao es, Embora o convertido deva fazer o ma ximo para
evitar uma ruptura com a naa o, tribo ou famlia, surgem algumas vezes
conflitos dolorosos. Esta claro tambe m que a conversa o envolve a
transfere ncia de uma comunidade para outra, isto e , de uma humanidade
decada para a nova humanidade de Deus. Isso aconteceu desde o incio, no
dia de Pentecostes: "Salvai-vos desta geraa o perversa", foi o apelo de Pedro.
De maneira que os que receberam sua mensagem foram batizados na nova
sociedade, dedicaram-se a nova comunidade e descobriram que o Senhor
continuava a acrescentar "dia a dia, os que iam sendo salvos" (At 2:40-47). Ao
mesmo tempo, sua "transfere ncia" de um grupo para outro significava, antes
de tudo, que eles eram espiritualmente distintos, na o socialmente
segregados. Eles na o abandonaram o mundo. Pelo contra rio, ganharam um
novo compromisso com ele (e para ele partiram), e se envolveram nele a fim
de que pudessem testemunhar e servir.
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seu contexto cultural devem submeter-se ao escrutnio do Senhor. Isso se
aplica a toda a cultura, na o somente a s culturas hindu, budista, isla mica ou
animstica, mas tambe m a cultura cada vez mais materialista do Ocidente. A
crtica pode produzir uma colisa o, a medida que elementos da cultura forem
submetidos ao juzo de Cristo e tiverem de ser rejeitados. Nesse ponto, como
reaa o, o convertido pode tentar adotar a cultura do evangelista em lugar da
sua. Deve-se resistir firme mas carinhosamente a essa tentativa.
d. O confronto do poder
Sabemos que hoje algumas pessoas negam que a crena nos esp ritos
compatvel com a compreensa o cientfica do universo. Portanto, contra o
mito mecanicista em que se apo ia a cosmovisa o tipicamente ocidental,
queremos afirmar a realidade das intelige ncias demonacas, interessadas, por
todos os meios manifestos e latentes, em desacreditar Jesus Cristo e impedir
que as pessoas venham ate ele. Achamos de vital importa ncia para a
evangelizaa o, em todas as culturas, ensinar a realidade e hostilidade das
foras demonacas, e a proclamar que Deus exaltou Cristo como Senhor de
tudo, e que Jesus Cristo, que de fato possui todo o poder, por mais que
deixemos de reconhecer isso, pode (quando o proclamamos) romper
qualquer cosmovisa o, na mente de qualquer pessoa, manifestando seu poder
e produzindo uma mudana radical de coraa o e perspectiva.
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Um dos membros da Consulta descreveu sua experie ncia em termos de se
voltar primeiro para Cristo (recebendo sua salvaa o e reconhecendo seu
senhorio), depois para a cultura (redescobrindo suas origens e identidade
natural) e, terceiro, para o mundo (aceitando a missa o para a qual Jesus
Cristo o enviou). Concordamos que a conversa o e sempre uma experie ncia
complexa, e que a linguagem bblica desse "voltar-se" e usada de diferentes
maneiras e em diferentes contextos. Ao mesmo tempo, todos salientamos que
o compromisso pessoal com Jesus Cristo e essencial. Nele, e somente nele,
encontramos a salvaa o, uma vida nova e a identidade pessoal. A conversa o
precisa tambe m resultar em novas atitudes e relao es, e levar a um
envolvimento responsa vel em nossa igreja, nossa cultura e nosso mundo.
Finalmente, a conversa o e uma jornada, uma peregrinaa o, com novos
desafios, novas deciso es e novos retornos ao Senhor como constante ponto
de refere ncia, ate que ele volte.
8. Igreja e Cultura
No processo de formaa o de igrejas, como na comunicaa o e recepa o do
evangelho, a questa o da cultura e de vital importa ncia. Se o evangelho deve
ser contextualizado, a igreja tambe m o deve. Na verdade. o subttulo de nossa
Consulta foi "a contextualizaa o da Palavra e da Igreja na situaa o
missiona ria".
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instrumentos musicais, hinos e mu sicas, processos de tomada de decisa o,
snodos e comisso es, supe-rintendenes e bispos; tudo isso era exportado e,
sem imaginaa o alguma, introduzido nas novas igrejas fundadas pelas
misso es. Acrescente-se que tais padro es eram tambe m ansiosamente
adotados petos novos crista os, resolvidos a na o ficar para tra s de seus amigos
ocidentais, cujos ha bitos e formas de adoraa o tinham sido por eles
atentamente observados. Mas tudo isso se baseava na falsa premissa de que a
Bblia deu instruo es especficas sobre tais assuntos, 2 que o padra o de
governo, culto, ministe rio e vida das igrejas de origem eram modelos
perfeitos.
Agora, portanto, um conceito mais radical de vida eclesia stica auto ctone
precisa ser desenvolvido, atrave s do qual toda igreja possa descobrir e
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expressar sua identidade como o corpo de Cristo dentro de sua cultura.
Assim, o Novo Testamento aponta a igreja como uma comunidade que adora
a deus, uma comunidade de culto, um sacerdo cio santo, a fim de oferecer
sacrifcios espirituais ... a Deus por interme dio de Jesus Cristo (1Pe 2:5), mas
as formas de culto (incluindo a presena ou ause ncia de diferentes tipos de
liturgia, cerimo nia, mu sica, cores, drama etc) sera o desenvolvidas pela igreja
em harmonia coma cultura local. Semelhantemente, a igreja e sempre uma
comunidade de testemunho e servio, mas seus me todos de evangelizaa o e
seu prorama de envolvimento social certamente sofrera o variao es. Ale m
disso, Deus quer que todas as igrejas tenham supervisa o pastoral (episkope),
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mas formas de governo e ministe rio podem diferir grandemente, e a selea o,
formaa o, ordenaa o, servio, pagamento e responsabilidade dos pastores
ha o de ser determinados pela igreja, de maneira a concordarem com
princpios bblicos adequando-se ao mesmo tempo a cultura local.
c. A liberdade da igreja
39
se cada igreja deseja desenvolver-se criativamente de modo que se encontre
e expresse a si mesma, e preciso que ela seja livre para faze -lo. Esse e um
direito inaliena vel que ela tem pois toda igreja e igreja de Deus. Unida a
Cristo ela e uma morada de Deus atrave s de seu Esprito (Ef 2:22). Algumas
misso es e missiona rios te m demorado a reconhecer isso, e em a eitar suas
implicao es na direa o de formas auto ctones e de um ministe rio exrercido
por cada membro. Essa e uma das muitas causas que te m levado a formaa o
de Igrejas Independentes, notadamente na A frica, as quais procuram novas
formas de auto-expressa o em termos de cultura local.
O que isso tem a ver com a missa o? E por que levantamos essa questa o aqui?
Em parte porque se trata do contexto dentro do qual o evangelho deve ser
pregado a todas as nao es hoje. Em parte tambe m porque quase todos no s ou
pertencemos ao Terceiro Mundo, ou vivemos e trabalhamos la , ou ja o
fizemos antes, ou ainda porque ja visitamos alguns pases do Terceiro Mundo.
Vimos com nossos pro prios olhos a pobreza das massas, sentimos com elas e
por elas, e temos conscie ncia de que sua situaa o se deve em parte a um
sistema econo mico controlad, na maior parte, pelos pases do Atla ntico Norte
(embora outros agora estejam envolvidos tambe m). Aqueles dentre no s que
sa o cidada os da Ame dica do Norte ou da Europa na o devem evitar um certo
em barao ou constrangimento em virtude da opressa o que nossos pases,
em graus diversos te m desenvolvido. Naturalmente sabemos que hoje ha
opressa o em muitos pases, muitas vezes com grande sacrifcio pessoal.
Contudo, e preciso confessar que alguns missiona rios refletem em si mesmos
uma atitude neocolonial e, inclusive, a defendem, juntamente com os postos
avanados da fora e da exploraa o ocidentais, tal como na A frica do Sul.
Sendo assim, o que deveramos fazer? A u nica resposta honesta e dizer que
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na o sabemos. A crtica de gabinete cheira a hipocrisia. Na o temos soluo es
prontas a oferecer para um problema mundial como esse. Na verdade,
sentimos que no s mesmos somos vitimas do sistema. E, no entanto, somos
parte dele. De maneira que so podemos fazer alguns comenta rios.
Pore m, o que Jesus fez foi mais que uma obra de auto-identificaa o. Em seu
ensinamento, bem como no dos apo stolos, o corola rio das boas novas aos
oprimidos foi uma palavra de juzo contra o opressor (p.ex. Lc 6:24-26; Tg
5:1-6). Confessamos que, em situao es econo micas complexas na o e fa cil
identificar os opressores, a fim de denuncia -los, sem cair numa reto rica
estridente que na o leva a lugar algum. Na o obstante, concordamos em que ha
ocasio es em que nosso dever de crista os e falar, de alto e bom som, contra a
injustia, em nome do Senhor que e o Deus da justia tanto quanto da
justificaa o. Nele procuraremos a coragem e sabedoria para agirmos assim.
e. O risco do provincianismo
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danar o evangelho em seu pro prio meio cultural. Ao mesmo tempo,
queremos alertar contra os riscos desse processo. Algumas igrejas em todos
os seis continentes, va o ale m de uma grata e jubilosa descoberta de sua
herana cultural local e se tornam jactanciosas e dogma ticas acerca dela
(espe cie de chauvinismo), ou chegam a absolutiza -la (forma de idolatria).
Mais frequ entemente que ambos os extremos, entretanto, e o
provincianismo, isto e , o recolhimento radical a sua pro pria cultura, de
maneira que se separam do resto da igreja e do mundo em geral. Essa e uma
postura comum nas igrejas ocidentais, bem como no Terceiro Mundo. Ela
nega o Deus da criaa o e da redena o. E como proclamar nossa pro pria
liberdade, quando estamos caindo em outro tipo de servida o. Chamamos a
atena o para as tre s razo es principais por que deveramos evitar semelhante
atitude.
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f. O risco do sincretismo
Assim que a igreja comea a expressar sua vida em formas culturais locais, e
logo obrigada a enfrentar o problema dos elementos culturais que sa o maus
ou padecem de ma s associao es. Como a igreja deveria reagir a isso?
Elementos que sa o intrinsecamente falsos ou maus, inegavelmente na o
podem ser assimilados ao Cristianismo sem cair no sincretismo. Esse e um
rico de todas as igrejas em todas as culturas. Se o mal, entretanto, estiver
somente na associaa o, julgamos correto batiza -lo em Cristo. E o princpio
em que William Booth operou, quando adaptou letras crista s a mu sicas
populares, indagando por que e que o diabo everia ficar com as melhores
cano es. Assim e que, agora, muitas igrejas africanas usam tambores para
chamar as pessoas ao culto, embora antes fossem inaceita veis por sua
associaa o a danas guerreiras e ritos mediu nicos.
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Deploramos o pessimismo que leva alguns crista os a reprovar o engajamento
cultural ativo no mundo, bem como o derrotismo que persuade outros de que
nenhum bem poderiam fazer nestas atividades, e que, portanto, deveriam
esperar imo veis que Cristo conserte as coisas quando voltar. Muitos sa o os
exemplos histo ricos, tirados de diferentes e pocas e pases, que poderiam ser
dados da poderosa influe ncia que, coma ajuda de Deus, a igreja tem exercido
numa cultura predominante, purificando-a, reivindicando-a e embelezando-a
para Cristo. Embora todas as tentativas ate aqui feitas nesse sentido tenham
tido seus defeitos, isso na o prova que estes empreendimentos na o deveriam
ter sido realizados.
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b. Padres morais e prticas culturais
A cultura nunca e esta tica. Ela varia tanto de lugar para lugar como de tempo
para tempo. E durante toda a longa histo ria dxa igreja nos diversos pases, o
Cristianismo ate certo ponto tem destrudo a cultura, ten-na preservado e, no
fim, criado uma nova cultura no lugar da velha. De modo que em toda parte
os crista os precisam pensar seriamente sobre como sua nova vida em Cristo
deveria estar relacionada com a cultura contempora nea.
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Quarto, e essencial reconhecer que algumas pra ticas culturais te m uma base
teolo gica. Neste caso, a cultura so muda se a teologia tambe m mudar. Assim,
se se matam viu vas para seus maridos na o entrarem no outro mundo sem ter
quem lhes preste assiste ncia, ou sese matam velhos antes que a senilidade
tome conta deles, a fim de que no outro mundo sejam bastante fortes para
lutar e caar, enta o a eliminaa o deles por ser fundada numa falsa
escatologia, so sera abandonada quando uma alternativa melhor, a esperana
crista , for aceita em seu lugar.
Concluso
Nossa Consulta na o nos deixou nenhuma du vida quanto a penetrante
importa ncia da cultura. A redaa o e leitura da Bblia, a apresentaa o do
evangelho, a conversa o, a igreja e a conduta tudo isso e influenciado pela
cultura. E essencial, portanto, que todas as igrejas contextualizaem o
evangelho a fim de partilharem-no eficazmente em sua pro pria cultura. Para
essa tarefa de evangelizsaa o, todos no s conhecemos a nossa urgente
necessidade do ministe rio do Esprito Santo. Ele e o Esprito da verdade, que
pode ensinar a toda a igreja como relacionar-se coma cultura que a envolve.
Ele e tambe m o Esprito do amor, e o amor e a linguagem que toda a cultura
humana compreende. Que o Senhor nos encha, pois, com seu Esprito! Enta o,
falando a verdade em amor, cresceremos em Cristo, que e o cabea, para a
glo ria eterna de Deus (Ef 4:15).
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FIM
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