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Microbiologia Médica

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Resumo de

MICROBIOLOGIA MDICA
Danilo Fernando ATM 21/2

Resumo baseado em anotaes de aula e nos livros Microbiologia Mdica de Jawetz 26Ed e
Microbiologia 12Ed - Tortora
1 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 1
2 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 2

Sumrio
Clula Procaritica Bactria ................................................................................................................ 4
Tamanho, Forma e o Arranjo das Clulas Bacterianas ...................................................................... 4
Estrutura Celular Bacteriana .............................................................................................................. 5
Citologia Complementar .................................................................................................................. 10
Fisiologia Bacteriana......................................................................................................................... 12
Microbiota Normal do Corpo Humano ................................................................................................ 16
Pele....................................................................................................................................................... 17
Microbiota Normal da Pele .............................................................................................................. 17
Doenas Microbianas da Pele .......................................................................................................... 18
Infeces de Pele por Staphylococcus ............................................................................................. 18
Infeces de Pele por Streptococcus ............................................................................................... 21
Infeces de Pele por Clostridium.................................................................................................... 23
Trato Respiratrio ................................................................................................................................ 24
Microbiota Normal do Trato Respiratrio ....................................................................................... 24
Infeces do Trato Respiratrio por Streptococcus......................................................................... 24
Infeces do Trato Respiratrio por Haemophilus .......................................................................... 28
Infeces do Trato Respiratrio por Corynebacterium ................................................................... 28
Infeces do Trato Respiratrio por Bordetella pertussis................................................................ 29
Infeces do Trato Respiratrio por Legionella pneumophila ......................................................... 30
Infeces do Trato Respiratrio por Mycoplasma ........................................................................... 32
Infeces do Trato Respiratrio por Mycobacterium ...................................................................... 33
Trato Gastrintestinal (TGI) ................................................................................................................... 37
Microbiota Normal do Trato Gastrintestinal ................................................................................... 37
Infeces do Trato Gastrintestinal ................................................................................................... 38
Infeces do Trato Gastrointestinal por Bactrias da Famlia Enterobacteriaceae ........................ 39
Infeces do Trato Gastrintestinal por Clostridium difficile............................................................. 43
Tratamento de Diarreias Agudas ..................................................................................................... 43
Intoxicaes Alimentares ................................................................................................................. 44
Gastrites e lceras Estomacais e Duodenais ................................................................................... 45
Sistema Nervoso .................................................................................................................................. 47
Meningite Bacteriana ....................................................................................................................... 48
Infeces do Sistema Nervoso por Clostridium ............................................................................... 54
Infeces do Sistema Nervoso por Mycobacterium leprae ............................................................. 57
3 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 3

Sistemas Urinrio e Reprodutivo ......................................................................................................... 61


Microbiota Normal dos Sistemas Urinrio e Reprodutivo ............................................................... 61
Doenas do Sistema Urinrio ........................................................................................................... 62
Infeces Sexualmente Transmissveis (ISTs)................................................................................... 66
Clula Eucaritica Fungos ................................................................................................................. 72
Propriedades Gerais ......................................................................................................................... 72
Componentes Celulares ................................................................................................................... 74
Micoses ................................................................................................................................................ 76
Micoses Superficiais ......................................................................................................................... 76
Micoses Cutneas............................................................................................................................. 79
Micoses Subcutneas ....................................................................................................................... 82
Micoses Sistmicas por Fungos Patognicos ................................................................................... 84
Micoses Sistmicas por Fungos Oportunistas .................................................................................. 88
4 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 4

Clula Procaritica Bactria


Tamanho, Forma e o Arranjo das Clulas Bacterianas
Tamanho da clula procarionte: micrmetro (m)
* Eucariontes = micrmetro (m); vrus = nanmetro (nm)

Morfologia bacteriana
Cocos (arredondados)
Bacilos (alongados)
Vibries (monoencurvados)
Cocobacilos (intermedirios)
Espirilo (poliencurvados)
- Estrutura rgida, com flagelo externo na extremidade
Espiroquetas (poliencurvados)
- Estrutura flexvel, com flagelo interno

Diviso celular bacteriana: cissiparidade (tambm chamada de fisso binria)


Formao de bactria de vida livre que pode se ligar a outras bactrias atravs de ligaes qumi-
cas fracas/frgeis de modo no-dependente
Ligaes so denominadas arranjos
*Importante: toda bactria que capaz de formar arranjos sempre se organizar dessa forma.
*Importante: bactria no realiza reproduo sexuada.

Tipos de arranjos:
a) Cocos: capacidade de dividir em vrios planos
Diplococos: formao de pares
Estreptococos: formao de cadeias
Ttrades: formao de grupos em quatro
Sarcinas: formao de cubo com oito bactrias
Estafilococos: formao de cachos de uva
* Importante: Streptococcus pneumonae, apesar do nome, um diplococo.
5 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 5

b) Bacilos: capacidade de diviso apenas ao longo do eixo curto, ou seja, possui capacidade de divi-
dir em um nico plano resulta em menor quantidade de grupamentos
Diplobacilos: formao em pares
Estreptobacilos: formao em cadeia
Paliada: formao lado a lado

Clulas alongadas (vibrio, espirilo, espiroqueta) no formam arranjos!


So bactrias de vida livre.

Estrutura Celular Bacteriana

Parede Celular
Estrutura complexa, semirrgida e confere o formato da clula.
Funo principal: prevenir a ruptura da clula devido a diferena de presso de dentro da clula
(p.e. DNA livre) e de fora da clula.
Outras funes:
- Proteo fsica, qumica e mecnica;
- Proteo contra dessecao;
- Seleo de molculas para entrar na clula;
- Fixao no tecido do hospedeiro;
- Stio de ao de antibiticos -lactmicos;
- Caractersticas antignicas.

Peptdeoglicano (PG): formado por acetilglicosamina e cido


acetilmurmico (formam as camadas glicdicas) e por correntes
peptdicas (confere adeso a rede formada).
Ligao -1,4 = ligao entre as camadas glicdicas
- Lisozima capaz de destruir a ligao -1,4*
* onde os antibiticos -lactmicos atuam p.e. penicilnicos

Paredes celulares de gram-positivas


Muitas camadas de peptideoglicano sofrem ao de -lactmicos
Contm cidos teicoicos de parede
- Ligados apenas ao peptideoglicano
cidos lipoteicoicos ligados ao peptideoglicano e membrana plasmtica
- Carga negativa (grupo fosfato) controle de ctions na clula;
- Stios de reconhecimento para vrus;
- Stios de ligao com o epitlio do hospedeiro;
- Antgenos celulares identificao sorolgica.
6 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 6

* Nas figuras abaixo temos uma parede de bactria gram-positiva, observe que ela possui vrias
camadas de peptideoglicano e espessa.

Paredes celulares de gram-negativas


Uma ou poucas camadas de peptideoglicano;
No contm cidos teicicos;
Membrana externa bicamada lipdica formada por fosfolipdeos
- Carga negativa evaso de fagocitose, aes de complemento (causam lise fagocitose)
- Barreira/proteo para alguns antibiticos, enzimas digestivas como a lisozima, detergentes, me-
tais pesados, sais biliares etc.
- No fornece barreira para todas as substncias do ambiente
- Possuem porinas formam canais que atravessam as duas camadas garante o metabolismo ce-
lular entrada de nucleotdeos, dissacardeos, peptdeos, aminocidos.
Podem sofrer mutaes resistncia antibiticos.

* Os fosfolipdeos esto presentes em ambas as camadas (interna e externa)


* Lipoprotenas so pontes entre o peptideoglicano e a membrana externa.

Lipopolissacardeo (LPS) formado por polissacardeo O e lipdeo A


- Lipdeo A: poro lipdica do LPS uma endotoxina
Molcula pirognica: causa febre, dilatao dos vasos, choque e formao de cogulos.
- Polissacardeo O: funciona como antgeno
Bactrias gram-negativas possuem sequncias LPS pr-definidas
Atuam como marcadores de identificao (marcadores sorolgicos) p.e. E.coli 0157:H7

*Importante: exotoxinas podem estar presentes em gram-positivas (origem: plasmdeo?)


Tambm podem atuar como uma molcula pirognica;
Tambm podem estar presentes em bactrias gram-negativas.

* Nas figuras abaixo temos uma parede de bactria gram-negativa, observe que ela possui uma
nica camada (ou poucas camadas) de peptdeoglicano e mais fina
7 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 7

*Importante: Em geral, gram-positiva e gram-negativa no esto associadas periculosidade.


Porm, caso a infeco seja sangunea, as bactrias gram-negativas sob ao de bectericidas
liberam a endotoxina causa febre, dilatao dos vasos, choque etc. mais perigoso nesse caso!

(observe na tabela abaixo a comparao entre as bactrias gram-positivas e gram-negativas)

Paredes celulares e mecanismo de colorao de Gram:


1) Corante primrio (cristal violeta): cora os dois tipos (negativo e positivo);
2) Lugol (fixador iodo): forma cristais com o corante, tornando os grandes e fazendo com que
eles no escapem pela parede celular soluo fica bem corada;
3) lcool (descolorao):
- Gram-positiva: desidrata o peptideoglicano e torna a parede impermevel ao corante (fica corada)
- Gram-negativa: dissolve/emulsifica a camada externa e expe a fina camada de peptideoglicano,
fazendo com que o corante se difunda (i.e. saia para fora da clula fica descorada).
Contra-corante (agente contrastante): gram-negativa avermelhada.
8 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 8

*Resumidamente:
Gram-positiva: violeta/azul possui parede com cido teicoico
Gram-negativa: avermelhada com lipopolissacardeo (LPS)

*Importante: gnero Chlamydia (p.e. C. trachomatis) bactrias gram-negativas.


- Pequenos como os vrus (0,2 0,8m)
- Parasitas intracelulares obrigatrios (no sintetizam ATP).

Paredes celulares atpicas (i.e. no classificadas pelo mtodo Gram) pertencem ao gnero Myco-
bacterium
So bacilos corados pelo mtodo Ziehl-Neelsen (p.e. M. leprae, M. tuberculosis)
- Classificados como Bacilo lcool cido Resistente (BAAR)
Parede celular com camada serosa (com cido miclico)
- Resistncia antimicrobiana;
- Patogenicidade naturalmente resistente a vrios antibiticos;
- Resistncia a situaes adversas;
- Crescimento muito lento (2 meses).

Bactrias que no possuem parede celular


Gnero Mycoplasma: com membrana celular contendo esteris
- So os menores microrganismos de vida livre
Possuem pequena superfcie de contato pouca presso do ambiente Estratgia evolutiva
- Esteris conferem resistncia bactria
- No possuem formas definidas porque no possuem parede celular.

Membrana Plasmtica
Formada por fosfolipdeos e protenas
Bicamada lipdica;
Mosaico Fluido: protenas imersas em uma bicamada lipdica
Permeabilidade/seletividade controla o que entra e o que sai da clula
- Protenas integrais com poros.
9 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 9

Citoplasma
Formado por 80% de compostos de gua
Contm ons, carboidratos, protenas (enzimas), lipdeos etc.
As principais estruturas do citoplasma dos procariotos so: uma rea nuclear (contendo DNA),
ribossomos e os depsitos de reserva denominados incluses.

Cromossomo
Uma nica molcula longa e contnua de DNA de fita dupla normalmente arranjada de forma
circular formato circular favorece divises mais rpidas.
Cromossomo bacteriano: sem carioteca e sem histonas
- 1mm de comprimento
- Tamanho do genoma varivel
p.e. E.coli = 4,7 Mb, Haemophilus influenzae = 1,83 Mb, Mycoplasma = 0,58 Mb

Plasmdeos: Pequenas molculas de DNA de fita dupla circular


- Contm elementos genticos extracromossmicos de 5-100 genes;
Tem capacidade de se replicar independentemente do DNA cro-
mossmico bacteriano.
- Podem ser adquiridos ou perdidos sem causar danos clula;
- Pode ser vantajosos resistncia antibiticos, produo de toxi-
nas, sntese de enzimas etc.
- So utilizados para a manipulao gentica em biotecnologia.

Ribossomos
Locais de sntese proteica
Procariotos possuem ribossomos do tipo 70S formados por duas subunidades (50S e 30S)
Corresponde metodologia de Svedberg e indicam a velocidade relativa de sedimentao du-
rante a centrifugao em alta velocidade
- A velocidade de sedimentao uma funo do tamanho, do peso e da forma de uma partcula
Subunidades: 30S (1 molcula de rRNA) e 50S (2 molculas de rRNA)

* Importante: medicamentos que inibem a sntese proteica de bactrias atuam no ribossomo bac-
teriano. Pela teoria endossimbitica, os ribossomos dos procariontes so os mesmos que os das
mitocndrias e dos cloroplastos. Sendo assim, a utilizao de medicamento que atua sobre a sn-
tese proteica de bactrias tambm pode atuar sobre a mitocndria reaes adversas

* Curiosidade: o ribossomo eucarioto do tipo 80S, formado pelas subunidades 40S e 60S razo
pela qual antibiticos que atuam sobre a sntese proteica de bactrias no afetam as demais clulas
(excluindo-se a mitocndria ribossomos iguais aos procariotos) eucariotas.
10 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 10

Citologia Complementar
* Refere-se a estruturas que no esto presentes em todas as bactrias.

Endosporo
*Importante: estrutura diferente do esporo do fungo no tem nada a ver

Forma de resistncia trmica e radiao


Presente em bacilos gram-positivos principais gneros esporulados:
Bacillus (p.e. B. subtilis, B. anthracis, B cereus etc.)
Clostridium (p.e. C. botulinum, C. tetani, C. perfringens etc.).
Localizao (local onde forma o esporo na clula): central, terminal e subterminal
Composio: DNA, RNA, ribossomos, enzimas, cido dipicolinico e clcio.

Formao: bactria duplica o DNA e o protege internamente com at 16 camadas de peptideogli-


cano, clcio e outras estruturas resistentes.
Aps a formao do esporo, h degradao das demais estruturas.
Esporo entra em forma latente desidratada e com metabolismo basal
- Reativa seu metabolismo e retoma o seu formato com a germinao

(o esquema abaixo demostra todo o processo de formao de esporo)


11 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 11

Glicoclice (Cpsula)
Envoltrio de polissacardeo, polipeptdeo ou ambos.
Funes:
Adeso a superfcies celulares, proteo contra fagocitose, marcador sorolgico
Localizado acima da camada externa
Principais gneros produtores de cpsula:
Streptococcus (p.e. S. mutans, S. pneumoniae, etc.)
Pseudomonas (p.e. P. aeruginosa)
Staphylococcus (p.e. S. aures, S. epidermidis)
Formao de biofilme barreira de proteo s bactrias
Possuem alta capacidade de fixao remoo mecnica.
p.e. S. mutans formam a placa nos dentes e o trtaro, que so biofilmes.

Flagelos
Responsvel pela motilidade/movimentao da bactria
Mobilidade via quimiotaxia, fototaxia, aerotaxia.
Partes/componentes
Filamento (protena flagelina);
Gancho: realiza rotao (confere o movimento);
Corpo basal: formada por anis e protenas aderidas membrana.

Caracterstica: altamente antignico (antgeno H marcador sorolgico)


Algumas bactrias podem alterar os antgenos estratgia de virulncia
- Flagelos podem se manifestar em momentos diferentes, ou seja, um flagelo
com antgeno X pode ser detectado e eliminado, porm a bactria emite
um novo flagelo com antgeno Y que no detectvel e permite a sobrevi-
vncia (mobilidade) da bactria.

Filamento axial (endoflagelo): flagelo interno encontrado em espiroquetas


Rotao do filamento (interno) produz o movimento bacteriano.
12 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 12

Fmbrias e Pili
Distribuio: polos e superfcie da bactria
Composio: protenas (pilina)
Funo: fixao (adeso em estruturas ciliadas estrutura respirat-
ria, urinria etc.)
Bactrias conseguem sintetizar diferentes tipos de fmbrias estrat-
gia de virulncia.

Pili Sexual (ou de Conjugao)


Mesma composio das fmbrias
So mais longos
Poucas na clula 1 ou 2 por clula
Funo: conjugao
Recombinao gnica atravs da transferncia de plasmdeos
Clulas com pili de conjugao so divididas em F+ e F-
F+ doam o material gentico e F- recebem.

Fisiologia Bacteriana

Fatores Que Afetam o Crescimento Bacteriano


O crescimento bem sucedido de uma populao bacteriana reflete seu grau de adaptao a um
determinado ambiente e depende primariamente de sua composio
Fatores ambientais:
Condies nutricionais, oxignio, temperatura, osmolaridade, pH, luz etc.

Nutrio
Fontes nutricionais:
Fontes de carbono: carboidratos, aminocidos, lipdios, monxido de carbono
Fontes de nitrognio: nitrognio atmosfrico, amnia, nitratos, nitritos, compostos orgnicos
como protenas ou cidos nuclicos
Fsforo: fosfatos inorgnicos
Oxignio: bactrias aerbias estritas
Minerais: enxofre, magnsio, potssio e sdio
Elementos-trao: clcio, ferro, zinco, cobalto
gua

*Importante: bactrias fastidiosas so aquelas que possuem alguma exigncia nutricional (p.e. al-
guma vitamina) elas podem ser determinadas/conhecidas atravs de meios indicativos com gar.

Obteno de Energia
Processos metablicos para a obteno de energia:
Fermentao de carboidratos
de aminocidos
Independentes de O2
Fotossntese
Respirao anaerbica
aerbica Dependente de O2
13 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 13

Respirao: processo metablico de obteno de energia de molculas orgnicas, na presena de


aceptores de eltrons.
Respirao aerbia: o aceptor final de eltrons o oxignio (O2);
Respirao anaerbia: os aceptores mais comuns so dixido de carbono (CO2) , sulfato (SO42-) e
nitrato (NO3-).

Aerao (compare a imagem abaixo com as descries a seguir)

Aerbios obrigatrios (ou estritos): exigem a presena de oxignio como aceptor de hidrognio;
- Microrganismos crescem somente na superfcie do meio.
- Exemplos: Pseudomonas e Bacillus.
Anaerbios facultativos: tm a capacidade de viver em condies de aerobiose ou anaerobiose;
- Microrganismos crescem em todo o meio de cultura principalmente na superfcie quando h dis-
ponibilidade de O2 respirao aerbia = maior produo de ATP
- Exemplos: Escherichiacoli, Salmonella
Anaerbios obrigatrios (ou estritos): exigem outra substncia diferente do oxignio como
aceptor de hidrognio;
- Microrganismos crescem somente no fundo da cultura onde no h O2
- Exemplo: Clostridium sp.
Microaerfios: necessitam uma concentrao reduzida de oxignio (2-10%) para seu metabo-
lismo aerbio (concentraes maiores so inibitrias);
- Microrganismos no crescem na superfcie do meio onde o O2 est presente em grande quanti-
dade, assim como no h crescimento no fundo da cultura onde no h O2.
- Exemplo: Gardnerella
Anaerbios aerotolerantes: suportam a presena do oxignio, porm no o utiliza aceptor de
hidrognio.
- Microrganismos resistem ao O2.

*Importante: na tabela ao lado temos as enzimas


utilizadas pelos tipos de organismos descritos acima.
- O2 txico para os organismos anaerbicos devido
as formas txicas do O2
nion superxido (O2-), perxido de hidrognio (H2O2) e radical hidroxila (OH)
- A enzima superxido dismutase (SOD) est presente em todos os aerbios e est ausente na
grande maioria dos anaerbios provvel explicao para a intolerncia dos anaerbios ao O2.
14 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 14

Temperatura
De modo geral, o crescimento bacteriano ocorre conforme de-
monstra o grfico de Arrhenius, na imagem ao lado.
Relacionado atividade enzimtica
Temperatura tima = maior crescimento populacional
- Temperatura com a melhor atividade enzimtica.

*Importante: abaixo da temperatura tima, assim como um pouco


acima, tambm ocorre diviso celular (crescimento populacional),
porm ele se d de modo mais lento.

*Importante: temperatura tima pode variar entre os diferentes indivduos de uma mesma popu-
lao (p.e. devido a ao de plasmdeos) forma de adaptao bacteriana.

As faixas de temperatura tima para o crescimento das diferentes espcies microbianas variam
amplamente (grfico ao lado).
Psicrfilos: temperatura tima de 12 a 15C
Termfilos: temperatura tima de 55 a 75C
Mesfilos: temperatura tima de 30 a 45C.
- Compreende a maior parte das bactrias temperatura ambiente
- Possui subclassificao:
Psicrotrficos: temperatura tima geralmente de 25 a 30C, mas
crescem sob refrigerao suportam o frio
Termodricos/hipertermfilo: microrganismos que resistem aos processamentos trmicos, ou
seja, resistem ao calor (p.e. fervura i.e. ela no elimina todos os microrganismos!).

gua e Osmolaridade
Atividade da gua (Aw): expressa o teor de gua livre no alimento e est intimamente relacionado
com a sua conservao, ou seja, possibilidade de contaminao por microrganismos (deteriorao).
Valor mximo da atividade da gua = 1 (gua pura);
Alimentos com valores altos (>0,90): grande chance de contaminao microbiolgica
- Solues diludas dos alimentos servem de substrato para o crescimento de microrganismos.
Em termos gerais, diminuindo-se a Aw, conserva-se mais o alimento, por isso a salga usada com
sucesso desde a antiguidade.

A presena de solutos na gua tais como sais ou aucares que provo-


cam a difuso de gua para dentro ou fora da clula so importantes
para a sobrevivncia de uma bactria.
Ex. bactrias do intestino apresentam crescimento timo em 0,15M
de cloreto de sdio.
Halfilos: bactrias que necessitam de ambientes com elevada [NaCl]
Halfilos extremos (Halobacterium) crescimento em [NaCl] acima de 1,5M.
Osmoflicos: bactrias que necessitam de ambientes com altas presses osmticas.
15 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 15

pH
Neutrfilas: crescimento timo em ambientes com pH prximo da neutralidade
Corresponde a maioria das bactrias atuam dentro de uma faixa de pH entre 6 8
Acidfilas: crescimento em faixas de pH baixos, em torno de 2
Acidfila acidognica (produtoras de cido)
- Porm, algumas bactrias acidfilas podem ser acidognicas.
Alcalinfilas: crescimento em pH acima de 9.

Curva de Crescimento
Reproduo Bacteriana
Fisso binria (diviso simples ou cissiparidade) maioria das bactrias
Diviso celular conduz a um aumento de indivduos clones* Possuem elevada taxa
*no so clones! de mutao variabilidade
Tempo de gerao: tempo que uma bactria leva pra se tornar duas
Crescimento exponencial: 1 2 4 8 16 32 64 128 256 512 1024...
(1G) (2G) (3G) (4G) (5G) (6G) (7G) (8G) (9G) (10G)
Tempo de gerao varia de acordo com cada tipo de bactria diferentes metabolismos.

Condies ideias para a bactria (utilizao industrial biorreator): crescimento infinito


Condies no-ideias (reais): crescimento finito
1) Fase lag (adaptao): fase de adaptao metablica ao novo ambiente; o metabolismo celular
est direcionado para sintetizar as enzimas requeridas para o crescimento nas novas condies am-
bientais n de indivduos no aumenta;
2) Fase log (exponencial): fase na qual o n de clulas da populao dobra a cada gerao;
3) Fase estacionria: taxa de crescimento igual a zero n constante de indivduos;
4) Fase de declnio ou morte: taxa de morte torna-se maior que a taxa de diviso.
- Meio se encontra deficiente em nutrientes e rico em toxinas produzidas pelos microrganismos.

*Importante: crescimento populacional est intimamente relacionado com os fatores que afetam
o crescimento, que configuram o ambiente.
16 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 16

Microbiota Normal do Corpo Humano


Os microrganismos correspondem a 10x do nmero de clulas do
nosso organismo observe a distribuio da quantidade de microrga-
nismos na tabela ao lado e os principais na imagem abaixo.

Importncia da microbiota:
Participa do metabolismo
Proporciona fatores de crescimento p.ex. bactrias da microbiota intestinal secretam vita-
mina K e B12 e bactrias cido lcticas produzem certas vitaminas B.
Protege contra infeces de patgenos por competio por stios de ligao ou por nutrientes
e atravs da produo de substncias antimicrobianas (p.ex. bacteriocinas)
Estimula a resposta imune
Causa doenas superinfeco (fonte endgena distrbios da microbiota, desequilbrio).

Tipos de microbiota:
Microbiota residente: encontrada frequentemente
Microbiota transitria: encontrada esporadicamente

A microbiota pode ser alterada por vrios fatores: dieta, estado hormonal, sade, condies sani-
trias e higiene, utilizao de medicamentos etc.
17 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 17

Pele
A pele o maior rgo do corpo humano em termos
de rea de superfcie e peso.
Dividida em:
- Epiderme: parte mais fina e externa, composta de di-
versas camadas de clulas epiteliais possui camada
impermevel composta por queratina.
Barreira fsica efetiva contra os micro-organismos.
- Derme: poro mais interna e relativamente espessa,
composta principalmente de tecido conectivo.
Importante barreira (fsica) defensiva contra doen-
as a primeira linha de defesa do organismo con-
tra os patgenos
A pele ntegra impenetrvel para a maioria dos
micro-organismos.
- Alguns micrbios podem ter acesso ao corpo atravs
de aberturas na pele, como folculos pilosos e ductos
sudorparos.
Apresenta alto grau de resistncia invaso micro-
biana fatores fsicos e qumicos:
- Fsicos: clulas epiteliais intimamente unidas, ressecamento, baixo pH, alta concentrao de sal;
- Qumicos: produo de sebo e cidos graxos (glndulas sebceas), transpirao (glndulas sudor-
paras) contm lisozima (antimicrobiana).

* Curiosidade: tanto o sebo quanto a transpirao podem atuar como inibidores de muitos micror-
ganismos.
*Curiosidade: o sebo e a transpirao, no entanto, tambm podem servir como nutrientes para
alguns microrganismos.

Microbiota Normal da Pele


Microrganismos resistentes ao ressecamento e a concentraes de sal relativamente altas;
Alguns microrganismos aerbicos so capazes de eliminar substncias (p.e. cidos graxos a partir
do sebo) que inibem o crescimento de outros microrganismos na pele.
Elevado nmero de bactrias gram-positivas;
Alguns microrganismos que compe a microbiota normal da pele:
Staphylococcus epidermidis
Staphylococcus aureus
Difteroides
Corynebacterium sp.
Propionibacterium

*Curiosidade: a lavagem vigorosa pode remover grande parte dos microrganismos, porm aqueles
que restaram nos folculos pilosos e glndulas sudorparas recolonizam a pele novamente.
18 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 18

*abscesso = ndulo inchado doloroso cheio de pus.


Doenas Microbianas da Pele
Tipos de leses na pele:
Vesculas: leses pequenas e cheias de fluido Bolha: vesculas com dimetro maior que
cerca de 1 cm

Mculas: leses planas e avermelhadas Ppulas (pstula): leses elevadas so cha-


madas de ppulas ou pstulas (com ps).

*Importante: leses na pele no indicam necessariamente uma infeco; muitas doenas que se
manifestam como leses na pele so, na verdade, doenas sistmicas que afetam rgos internos.
As variaes dessas leses geralmente so teis para descrever os sintomas da doena.

Infeces de Pele por Staphylococcus


Staphylococcus
Cocos gram-positivos, arranjados em cacho de uva;
Famlia Micrococcaceae: Staphylococcus, Micrococcus e Stomatococcus;
- Gnero Staphylococcus tem 33 espcies, sendo o S. aureus o mais importante.
S. aureus o mais patognico dos estafilococos coagulase-positivo* (*)diferenciao dos demais
relativamente termoresistente;
Caractersticas gerais:
- Crescem em altas concentraes de sal e lipdeos;
- 30 a 40% da populao apresentam S. aureus nas narinas.

Fatores de virulncia
Apresenta cpsula que facilita aderncia (enxertos, prteses valvulares e articulaes)
- Tambm permite evadir da ao fagocitria dos neutrfilos (leuccitos polimorfonucleares).
Ao antifagocitria (11 sorotipos)
Peptideoglicano: ativa o complemento e estimula a produo de pirgenos (via IL-1) e a agrega-
o de neutrfilos.
cido teicico: aderncia s clulas da mucosa (fibronectina) e ativa o complemento.
Protena A: liga-se a IgG impedindo ao como anticorpos.
Produo de enzimas: catalase, -lactamase e coagulase (ligada e livre)
19 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 19

Adeso
- Presena de FNBP (fibronectin-binding protein) permite a fixao do S. aureus em ferimentos
- Receptores para colgeno lV e sialoprotena componentes do tecido conjuntivo, dos ossos e das
articulaes.
- Receptores para laminina protena presente nas membranas basais dos revestimentos epitelial e
endotelial.
Disseminao e multiplicao
- Formao de abscesso: reao inflamatria aguda (neutrfilos)

destruio de neutrfilos pelos Staphylococcus

neutrfilos lisados liberam enzimas lisossomais

*Fibrina
produo da cpsula de fibrina*
hospedeiro: conteno da bactria
bactria: dificulta a ao do
abscesso sistema imune (proteo)

Fatores piognicos (i.e. aqueles que formam pus)


- Foliculite: infeco do folculo piloso (imagem ao lado)
As leses pustulosas tm paredes finas e frgeis e centro branco-amarelado
comuns aps depilao (barba, axila, coxas etc.)
Quadro clnico: pequena pstula folicular que sofre ruptura e desseca-
o para formar crosta.
- Furnculo: extenso da foliculite (imagem ao lado) so ndulos eleva-
dos e dolorosos.
Podem aparecer mltiplas leses subcutneas = carbnculos
- Celulite: infeco subcutnea
No apresenta sinais to claros na pele;
Leso mais difusa e nem sempre possvel saber exatamente aonde co-
mea e aonde termina a infeco.
- Impetigo: inicia como uma infeco superficial (mcula) que evolui para uma
pstula (vescula com pus) e, posteriormente forma uma crosta.
Leso apresenta um discreto relevo e suas bordas so muito ntidas. Ao se
examinar a pele fcil saber aonde comea e aonde termina a infeco. A de-
limitao entre pele doente e pele s clara (conforme a imagem ao lado).

Produo de toxinas:
- 5 exotoxinas citolticas (hemolisinas)- alfa, beta, delta, gama e Panton-Valentine (leucocidina)
- 2 toxinas esfoliativas (1 no cromossomo - ETA e outra no plasmdeo - ETB)
Produzem descamao generalizada na sndrome estafiloccica da pele escaldada por dissolu-
o da matriz mucopolissacardica da epiderme
- 23 enterotoxinas termoestveis, resistem as enzimas intestinais intoxicao alimentar.
- 1 toxina da sndrome do choque txico (cromossmica)
Toxina associada a febre, choque e comprometimento multissistmico.
20 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 20

*Infeces causadas por toxinas


- Sndrome da pele escaldada (SSSS Staphylococcal Scalded Skin Syndrome): caracterizado como
um eritema (rubor) normalmente nas regies perioral e no broto umbilical (nas proximidades) cau-
sado pela toxina esfoliativa dificuldade de limpeza e acesso
contato com os seios e pele da me
Geralmente presente em neonatos (conforme a imagem ao lado) micro-
biota normal no formada possibilita a adeso.
Suscetibilidade a infeces secundrias

- Impetigo bolhoso: manifesta em regies da pele


no colonizadas ocorre em regies localizadas
uma forma localizada da sndrome da pele escaldada

- Sndrome do choque txico (TSST-1): caracterizado por febre alta, exantema eritematoso macular
disseminado da pele, hipotenso e disfuno de vrios sistemas mortalidade.
Na dcada de 1980, no Brasil, mulheres apresentam sndrome do choque txico durante o per-
odo menstrual devido ao uso de absorventes internos (condies favorveis a proliferao).

- Intoxicao alimentar: provocada por uma toxina pr-formada (tempo de


incubao 1 a 6 horas)
Sintomas: diarreia, dores abdominais, vmito.

Identificao de Staphylococcus (observe o fluxograma abaixo)


Microscopia: gram-positivo
- Cocos organizados em cacho de uva
Prova da catalase: deteco da presena de
enzimas citocromo oxidase resultado positivo
Prova da coagulase: resultado positivo
- Estafilococos coagulase-positivos so conside-
rados patognicos para os seres humano
Prova da DNAse: resultado positivo
- Zonas claras ao redor das colnias indicam a
presena de DNAse.

*Importante: prova da catalase diferencia, em


geral, os Staphylococcus dos Streptococcus.
- Catalase positiva = Staphylococcus
- Catalase negativa = Streptococcus
21 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 21

Infeces de Pele por Streptococcus


Streptococcus
Cocos gram-positivo, arranjados em colar de prola
Imveis, catalase negativos
Anaerbios facultativos
Fazem parte da microbiota normal da boca, pele, intestino e trato respiratrio superior.

Classificao:
1) Hemlise
Muitos estreptococos so capases de hemolisar hemcias in-vitro em vrios nveis.
- -hemlise: completa ruptura dos eritrcitos com um clareamento em torno da regio de cresci-
mento bacteriano (colnia);
- -hemlise: lise incompleta dos eritrcitos com a reduo da hemoglobina e formao de um pig-
mento esverdeado causam alterao qumica na hemoglobina da hemcia;
- -hemlise: no so hemolticos no causam nenhuma alterao.

2) Substncia especfica do grupo (classificao de Lancefield) Sorologia


Carboidrato (polissacardeo C carboidrato C) presente na parede celular de muitos estreptoco-
cos e forma as bases do grupamento sorolgico nos grupos de Lancefield A a H e K a U.

3) Propriedades bioqumicas
Provas bioqumicas padres de hemlise em gar-sangue, composio antignica das substn-
cias especficas do grupo da parede celular, reaes bioqumicas etc.
22 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 22

Fatores de virulncia (S. Pyogenes):


cido lipoteicico (LTA): adesina que permite a aderncia s clulas da mucosa (fibronectina).
Protena F: protena que permite a ligao fibronectina;
Produo de exotoxinas pirognicas: atuam como superantgenos induzem a liberao de IL-1 ,
IL-2, e IL-6, fator de necrose tumoral (TNF-), TNF- e interferon ;
Produo de enzimas citolticas: Estreptolisinas S e O,
Estreptoquinases A e B (lisam cogulos sanguneos e ajudam
na disseminao do S. pyogenes);
Desoxirribonucleases (DNAses A a D): facilitam
a disseminao da bactria;

*Para a multiplicao dos Streptococcus, duas molculas


so importantes:
- Cpsula: propriedade antifagocitria mimetizao do cido hialurnico (comum ao hospedeiro)
com o objetivo de escapar do sistema imune pode desencadear infeces recorrentes.
- Protena M: o fator antifagocitrio mais importante.
Presente tambm no corao infeco pode levar a uma doena autoimune.

Estreptococos de Particular Interesse Clnico S. Pyogenes


Streptococcus pyogenes: estreptococos do tipo A principal patgeno humano associado inva-
so local ou sistmica e aos distrbios imunolgicos ps-estreptoccicos.
comum produzir grandes zonas (1 cm de dimetro) de -hemlise ao redor de colnias com
mais de 0,5 mm de dimetro.
Doenas atribuveis ao S. pyogenes estreptococos -hemolticos do grupo A:
- Erisipela: inflamao local (eritema, calor) aumento dos linfonodos e sinais sistmicos (calafrios,
febre, leucocitose)
- Fascete necrotizante (gangrena estreptoccica): ocorre no tecido subcutneo com destruio do
msculo e da gordura gangrena e sintomas sistmicos
- Piodermite = impetigo: o microrganismo introduzido no tecido subcutneo atravs de uma solu-
o de continuidade da pele.
- Febre puerperal: ocorre se houver penetrao de estreptococos no tero aps o parto, a febre
puerperal ir se desenvolver e consistir essencialmente em septicemia que se origina a partir da
ferida infectada (endometrite).
- Bacteriemia ou sepse: infeco de feridas traumticas ou cirrgicas pode ser rapidamente fatal.
- Faringite estreptoccica: infeco mais comum causada por S. pyogenes
Adeso ao epitlio da faringe por meio do cido lipoteicoico que recobre os pili superficiais e
tambm por meio de cido hialurnico em cepas encapsuladas.
Em geral, ocorre aumento dos linfonodos cervicais doena pode persistir por vrias semanas.
Em crianas de mais idade e adultos, a doena mais aguda e caracteriza-se por nasofaringite in-
tensa, amigdalite, bem como hiperemia e edema intensos das mucosas, com exsudato purulento,
aumento e hipersensibilidade dos linfonodos cervicais, alm de (em geral) febre alta.
23 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 23

Infeces de Pele por Clostridium


Clostridium perfringens: bacteria em formato de bastonetes, gram-positivas,
anaerbicas obrigatrias e possuem capacidade de produzir esporos (dificil visualizao)
So imveis e ubquas (esto amplamente distribudas no ambiente)
- Como so anaerbias estritas, realizam esporulao para manter-se no ambiente.

Condies adequadas para a multiplicao e produo de toxinas:


Condies anaerbicas;
Comprometimento do suprimento de sangue fornecimento de O2 comprometido; Tecido lesado
ons clcio;
Disponibilidade de peptdeos e aminocidos.

*Importante: na presena de tecido necrtico (ambiente anaerbio), os esporos germinam e as


clulas vegetativas podem produzir vrias toxinas diferentes essas toxinas so necrosantes e
hemolticas e juntamente com a distenso do tecido pelo gs formado a partir dos carboidratos e
da interferncia no suprimento sanguneo favorecem a propagao da gangrena gasosa.

Fatores de virulncia microrganismo no produz todas, cada tipo de linhagem produz


determinadas toxinas principal caracterstica entre elas a necrose (observe a imagem abaixo).
Produo de 12 toxinas:
- Toxina : toxina letal, aumenta a permeabilidade vascular; lecitinase; hemolitica; necrozante;
- Toxina : toxina letal; necrozante;
- Toxina : toxina letal; permease;
- Toxina : toxina letal; necrozante;
- Toxina : hemolisina;
- Toxina : hemolisina termolabil e O2 lbil; citoltica;
- Toxina : colagenase; gelatinase; necrozante;
- Toxina : protease;
- Toxina : hialuronidase;
- Toxina : DNAse; hemoltica; necrozante;
- Enterotoxina: altera a permeabilidade da membrana (citotxica e enterotxica);
- Neuraminidase: altera receptores de superfcie celular; promove trombose.

Sndromes clnicas por Clostridium perfringens:


Celulite;
Fascete ou miosite supurativa;
Mionecrose ou gangrena gasosa;
- Bolhas de gs (com odor ftido) so produzidas pelo microrganismo gangrena gasosa.

Diagnstico: clnico, raio-X, tomografia computadorizada ou ressonncia magntica observao


de gs no tecido; laboratorial exame cultural do lquido extrado da ferida.
Profilaxia: imunizao ativa com o toxide
Tratamento: droga de escolha penicilina G (natural), pois o C. perfringens possui
poucos/reduzidos mecanismos de resistncia; remoo cirrgica da regio afetada; antibiticos
aps debridamento; O2 sob alta presso.
24 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 24

Trato Respiratrio
sistema respiratrio dividido em trato respirat-
rio superior e trato respiratrio inferior.
Trato respiratrio superior: nariz, faringe (gar-
ganta) e estruturas associadas, incluindo o ouvido
mdio e as tubas auditivas (tuba de Eustquio)
- Os ductos dos seios e os ductos nasolacrimais do
aparato lacrimal (produtor de lgrimas) se abrem na
cavidade nasal
- As tubas auditivas do ouvido mdio se abrem na
poro superior da garganta.

Trato respiratrio inferior: laringe (caixa de


voz), traqueia, tubos bronquiais e alvolos
- Membrana mucosa ciliada reveste o trato respi-
ratrio inferior at os brnquios menores e os
auxilia a impedir que os micro-organismos alcan-
cem os pulmes.
- Clios movem partculas em direo garganta.
- Pulmes possui clulas fagocticas chamadas de
macrfagos alveolares contribui na defesa do
trato respiratrio.

Microbiota Normal do Trato Respiratrio


*exemplo de alguns microrganismos do trato respiratrio

Boca (2 local mais contaminado) e faringe Ouvido mdio e Seios Paranasais


Streptococcus sp. (Grupo A) Geralmente estreis
Lactobacillus Ouvido Externo
Neisseria catarrhalis Microbiota da Pele
Staphylococcus epidermidis S. pneumoniae
bacterodes P. aeruginosa
Fusobacterium sp. Nariz
Pepstreptococcus (anaerbios) Staphylococcus epidermidis
Candida sp. Staphylococcus aureus
Actinomicetos Neisseria catarrhalis
Herpesvrus S. pneumoniae
Vrus de Epstein-Barr Microbiota da pele

Infeces do Trato Respiratrio por Streptococcus


Streptococcus pneumoniae: conhecido como pneumococo
Microrganismo gram-positivo, em forma de cocos cujo formato em ponta
de lana e esto arranjados em diplococos;
Habitante normal das vias respiratrias superiores encontrado entre 5 a
40% da populao;
-hemoltico: realiza hemlise incompleta.
25 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 25

Fatores de virulncia:
Cpsula: fator de virulncia mais importante*
- Existem 90 sorotipos capsulares, sendo 20 responsveis pelas doenas.
- antifagoctica e antignica.
Autolisina: atua sobre o peptideoglicano atravs da hidrolase provoca lise celular liberando os
fatores de virulncia intracelulares;
Pneumolisina: ataca (lise) a membrana citoplasmtica do hospedeiro.

(*) Cpsula o fator mais importante porque a forma que o pneumococo torna-se virulento
(desde que o microrganismo esteja vivo) observe o experimento abaixo:

Note que:
- Camundongo (1) possui cpsula, porm o microrganismo est morto
- Camundongo (2) morto por microrganismos vivos com cpsula
- Camundongo (3) vivo e com microrganismos vivo sem cpsula
- Camundongo (4) morto por pneumococo que estava morto (com cpsula) e se juntou com pneu-
mococo vivo (sem cpsula) Como isso acontece*???

(*) Processo de transformao: recombinao gnica bacteriana atravs de protenas de mem-


brana que so capazes de incorporar fragmentos bacterianos.
- Bactrias encontram-se em diferentes estgios do desenvolvimento, aquelas que se encontram
em multiplicao possuem capacidade de incorporar fragmentos de genes de bactrias mortas
(p.e. o gene que codifica a cpsula) bactria viva sem cpsula passa a sintetiz-la aps a incorpo-
rao do gene bactria se torna virulenta, i.e., passa a conter cpsula).

INFECES POR STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE


Sinusite (infeco dos seios paranasais): precedida por infeco viral , resultando em infiltrao
de leuccitos e obstruo dos seios nasais.
Fatores predisponentes: alergia, desvio de septo nasal, entubao orotraqueal prolongada
Diagnstico: exame fsico e raio-X de face
Tratamento:
- Sintomtico: dor
- Descongestionante
- Antibitico
26 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 26

Otite mdia aguda: presso na orelha mdia, distenso da


membrana do tmpano, dor, febre, produo de exsudado,
perfurao e escamao do tmpano perda da audio
Geralmente acomete crianas
Outros agentes bacterianos: S. pyogenes, H. influenza e
S. aureus

Broncopneumonia: tem incio no incio do trato respi-


ratrio consolidao (coagulao de clulas de defesa)
difusa, pode se espalhar por todo o pulmo.

Pneumonia lobar: as clulas de defesa coagulam nos


alvolos, deixando-os slido (imagem ao lado)
Limitada anatomicamente em um lobo do pulmo
(bacterianas)

Pneumonia: precedida por infeco viral superior ou


mdia que causa o aumento do volume e da viscosi-
dade das secrees e inibio da ao dos clios.
Caracterstica clnica:
- Instalao abrupta de sintomas graves (febre);
- Aspecto enfermo do paciente;
- Escarro cor de ferrugem;
- Comprometimento homogneo de um lobo do pulmo.
Transmisso: perdigotos (gotculas, espirro)
Diagnstico:
- Mtodo de Gram a partir de escarro
Identificao relativamente simples cocos arranjados em diplococos e em forma de lana
Neutrfilos e mais de 10 diplococos em forma de lanceta Gram+ por campo = resultado positivo.
- Teste de intumescimento capsular (reao de Quellung)
Escarro fresco emulsificado e misturado com antisoro = intumescimento capsular
- Teste de susceptibilidade a optoquina (em gar-sangue pneumococos so -hemoflicos)
Optoquina: pneumococos so sensveis a essa substncia
Forma de diferenciar os
S. pyogenes so resistentes a ela
pneumococos dos
Bacitracina: pneumococos resistentes a essa substncia S. pyogenes
S. pyogenes so sensveis a ela

*Importante: pneumonia comunitria tem o pneumococo como o principal fator virulento; os


principais sintomas so febre alta (+39C) que leva a debilitao do indivduo e produo de es-
carro; o tratamento feito, normalmente, atravs de penicilina.

*Importante: pneumonia atpica causada por outros microrganismos (p.e. mycoplasma); neces-
sita de tratamento individualizado e os microrganismos podem ter resistncia a antibiticos.
27 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 27

INFECES POR STREPTOCOCCUS PYOGENESS


Faringite: estreptococos (tipo A) o agente mais frequentemente associado doena;
Tem incio de 2 a 4 dias aps a exposio com o microrganismo;
Sintomas: dor de garganta, mal-estar, febre e cefaleia
Testes sorolgicos e bacteriolgicos diferenciam da faringite viral
- Placas de pus nas tonsilas so utilizadas para diagnstico laboratorial

Escarlatina: uma complicao da faringite estreptoccica


- A bactria lisogenizada por um fago (vrus que infecta bactria) que estimula a produo de uma
exotoxina pirognica (*) toxina eritrognica;
- Surge uma erupo eritematosa difusa (regio
superior do trax membros)
- Exantema descamativo
- Desaparece em 5-7 dias descama

(*) Mtodo de transduo: bacterifagos (fagos)


transferem seus genes para a bactria, que se reproduz
com o novo gene proveniente do fago (bactria com
caractersticas alteradas) recombinao gnica.

Deteco de faringite por Streptoccocus pyogenes


Diagnstico laboratorial:
- Bacterioscopia: cocos gram-positivos;
- Teste da catalase: negativo;
- Hemlise: -hemoltico;
- Teste da Bacitracina: S. pyogenes possui sensibilidade
bacitracina e resistncia optoquina;
- Teste do PYR: determina a atividade da enzima pyrrolidonil
arilamidase produzida pelo S. pyogenes, mas no pelos demais
estreptococos -hemolticos

Teste rpido deteco rpida de faringite causada por estreptococos (infeces na garganta
so comumente causadas por estreptococos).
28 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 28

Infeces do Trato Respiratrio por Haemophilus


Bacilos gram-negativos, alguns so pleomrficos (i.e. possuem di-
versidade conformacional observe as imagens ao lado);
Dentre as espcies a mais associada as doenas;
Requer estimuladores de crescimento (fator X-hematina e fator V-ni-
cotinamida adenina dinucleotideo) presentes em meios com sangue;
Haemophilus influenzae e Haemophilus parainfluenzae no encapsulado microbiota das vias a-
reas superiores.
Associado tambm meningite, epiglotite e bacteremia

Fatores de virulncia: Haemophilus influenzae type B (tipo B mais predominante)


No produz exotoxina
Cpsula antifagocitria (6 tipos de polissacardeos: a f ) b = polirribosil-ribitol-fosfato (PRP)
A protease de IgA degrada a IgA secretora facilitando a colonizao da mucosa do trato respira-
trio superior.

Infeces do Trato Respiratrio por Corynebacterium


Bacilo pleomrfico, gram-positivo, aerbio ou anaerbio facultativo, no formador de esporo;
Existem 46 espcies e mais de 30 esto associadas com doenas humanas;
So ubquas em vegetais e animais, nos seres humanos colonizam a pele, vias areas superiores, o
trato gastrintestinal e o trato urogenital.

Corynebacterium diphtheriae: agente etiolgico da difteria


Exotoxina codificada pelo gene tox foi introduzido por um fago lisognico (fago beta)
- Mtodo de transduo de recombinao gnica
O gene tox do fago regulado por um repressor (DtxR) codificado pela bactria no hospedeiro,
que reprimido sob condies de ferro limitado
- Ausncia de ferro estimula a produo da exotoxina
Exotoxina inibe a sntese proteica eucaritica (hospedeiro)

Difteria: infeco local, geralmente na garganta (mal-estar, farin-


gite exsudativa e aumento da temperatura febre)
- Infeco produz um exsudato espesso, cinzento e aderente (pseu-
domembrana fibrina, tecido morto e clulas bacterianas)
Ocorre porque a inibio da sntese proteica pela exotoxina pode levar a morte do epitlio respi-
ratrio exsudato pode recobrir a garganta e pode levar ao sufocamento (imagem acima)
- Doena pode progredir sintomas generalizados

Diagnstico laboratorial: isolamento de Corynebacteium diphtheriae, exame do exsudato (busca


por "paliada" ou "caracteres chineses"), meios especficos para o bacilo diftrico, e deteco da
toxina (linha de imunoprecipitao teste de Elek)
Tratamento: antibioticoterapia Metronidazol, Eritromicina (VO ou VI), Procana Penicilina G
(intramuscular), alrgicos penicilina rifampina ou clindamicina
Vacina: trplice bacteriana DTP (difteria, ttano e pertssis [tambm chamada de coqueluche])
3 doses (2, 4 e 6 meses) reforo 1 ano aps a 3 dose.
29 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 29

Infeces do Trato Respiratrio por Bordetella pertussis


Agente da pertussis (coqueluche), tambm conhecida popularmente como
tosse comprida;
Cocobacilos gram-negativos, encapsulados, aerbios obrigatrios e fastidiosos;
So organismos imveis e no fermentadores de aucares;
So sorotipados com base nas molculas de superfcie aglutingenos
Aglutingenos possuem adesinas aderem aos clios do epitlio respiratrio;
Os seres humanos so os nicos reservatrios e a nica fonte de infeco;
Pessoas confinadas esto mais suscetveis infeco p.e. crianas.

Caractersticas estruturais importantes:


Fmbrias: NO auxiliam na aderncia;
Adesinas: auxiliam na aderncia;
Endotoxina: febre e manifestaes sistmicas;
Exotoxinas: destruio dos clios acmulo de muco.

Fatores de virulncia:
B. pertussis liga-se ao epitlio ciliado do trato respiratrio superior;
Produzem toxinas e outros fatores de virulncia que interferem na atividade ciliar:
- Toxina pertussis: linfocitose, sensibilizao a histamina, ativao da produo de insulina,
resultando em hipoglicemia alm de ser uma adesina, tambm uma toxina; adesinas
- Hemaglutinina filamentosa (FHA): protena que facilita a fixao nas clulas epiteliais ciliadas
- Toxina adenilato ciclase: provoca reduo da quimiotaxia e fagocitose da bactria
- Toxina dermonecrtica: causa vaso constrio e necrose isqumica toxinas
- Citotoxina traqueal: inibe o movimento ciliar e impede a regenerao das clulas lesadas,
causando um acmulo pulmonar de muco, bactrias e restos inflamatrios tosse.
30 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 30

Coqueluche
Altamente contagiosa com alta taxa de mortalidade;
Doena comum em crianas (1 a 5 anos);
Perodo de incubao varia de 1 a 3 semanas;
Doena pode ser dividida em 3 fases: catarral , paroxstica e convalescncia.
- Fase catarral: inicia com sintomas inespecficos
como rinorreia, congesto conjuntival leve (hipe-
remia), mal-estar e/ou febre leve, tosse seca no
produtiva;
Tosses e espirros liberao de perdigotos
indivduo altamente infeccioso.
- Fase paroxstica: tem incio com a piora da
tosse (tosse de cachorro seguido de uivo).
Grande quantidade de muco produzido e h
aumento no nmero de leuccitos.
- Fase de covalescncia: periodo de diminuio
da tosse, pode durar meses e tambm pode
haver desenvolvimento de infeces secundrias.

Diagnstico:
Cultura de isolado de nasofaringe (fase paroxistica);
Testes de aglutinao com antissoros especficos ou por colorao com anticorpos fluorescentes;
- Colorao direta com anticorpo fluorescente
Uso de PCR mtodo mais sensvel para estabelecer o diagnstico.

Preveno:
Vacina acelular: 5 antgenos purificados (entre eles a toxina pertussis)
Vacina com o microrganismo morto: junto com difteria e ttano (3 doses) vacina DTP.

Infeces do Trato Respiratrio por Legionella pneumophila


Microrganismo livre e ubquo (presente em vrios lugares);
Espcie Legionella foi identificada aps um surto de pneumonia durante a
conveno dos membros da Legio Americana, na Filadlfia (EUA).

Parasitas intracelulares facultativos (parasitam normalmente moncitos e


macrfagos alveolares) tambm podem parasitar amebas.
Bacilos pleomrficos, gram-negativos, no-encapsulados, aerbios e fastidiosos (dependem de
um determinado nutriente L-cistena e ferro).

Bactria penetra no trato respiratrio superior pela aspirao de gua ou aerossol contaminada;
Normalmente em ar condicionado no-residencial hospitais, hotis etc.
Bactria vai para o pulmo;
Macrfagos fagocitam a bactria, porm o fagossomo no se funde com um lisossomo;
As bactrias se multiplicam protegidas do fagossomo at a clula se romper (imagem a seguir).
31 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 31

Patogenia: as Legionellaceae causam duas infeces do trato respiratrio bem diferentes:


1) Legionelose (doena dos legionrios): pneumonia lobar aguda tpica sintomas multissistmicos
Mais comum (ou mais severa) em indivduos imunossuprimidos, como transplantados de medula
ssea ou de rgos slidos, indivduos com doena pulmonar crnica, fumantes ou diabticos.
1 a 5% dos casos de pneumonia em adultos;
Perodo de incubao de 2 a 10 dias;
Sintomas inespecficos: mal-estar, anorexia e ou cefaleia;
Tosse levemente produtiva, diarreia em 25 a 50% dos casos;
Nuseas, vmitos e sintomas neurolgicos.

*Importante: hospitais que tratam pacientes imunossuprimidos deveriam monitorar com ateno
o sistema de abastecimento de gua e ventilao para presena de Legionella.

*Importante: no h evidncias que a legionelose seja transmissvel entre indivduos.

2) Febre de Pontiac
Doena semelhante a influenza, infecta indivduos saudveis (independe de fatores pr-dispo-
nentes).
Taxa de ataque entre os expostos maior que 90%;
Morbidade mnima ao contrrio da Legionelose (taxa de mortalidade de 15 a 20%);
Recuperao completa dentro de uma semana;
Nenhuma terapia especfica necessria (autolimitada).

Diagnstico:
Os mtodos mais eficientes para o diagnstico da Legionella pneumophila passam pela imuno-
fluorescncia direta, mtodo menos sensvel, ou pela imunofluorescncia indireta, com maior sen-
sibilidade.
Mtodos menos eficientes incluem:
- Colorao pelo gram;
- Deteco de antgenos solveis na urina;
- Uso de PCR;
- Cromatografia gasosa.
32 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 32

Infeces do Trato Respiratrio por Mycoplasma


Famlia Mycoplasmataceae representada por 2 gneros: Mycoplasma e Ureaplasma
Mycoplasmas so os menores microrganismos de vida livre (0,2 -0,7m)
Possuem pequena superfcie de contato sofrem pouca presso do ambiente
No possuem parede celular e apresentam uma membrana celular contendo esteris.
Possuem formatos variados devido ausncia de parede celular.
* Colnias de mycoplasma, por outro lado, apresentam formatos bastante caractersti-
cos formato de ovo frito (conforme a imagem ao lado)
Tempo de gerao de 6 horas (caracteriza doena de carter crnico)
Bactria comum tem tempo de gerao de, aproximadamente, 20 minutos.

Mycoplasma pneumoniae
So microrganismos ubquos (amplamente distribudos no ambiente);
M. pneumoniae encontrado apenas em indivduos infectados.
- 1 em 6 adultos sexualmente ativos podem estar colonizados por M. hominis
- 50 a 75% dos adultos sexualmente ativos por U. urealyticum.
a causa mais importante de pneumonia atpica em pessoas jovens.
- Conhecida como pneumonia atpica primria (isto , a pneumonia mais comum no causada por
pneumococos)

Fatores de virulncia:
Protena terminal P1: adere um receptor glicoproteico especfico no epitlio respiratrio pr-
ximo a base dos clios movimento ciliar para
Toxinas (H2O2): causam danos teciduais na mucosa
M. pneumoniae funciona como superantgeno estimula a migrao de clulas inflamatrias,
liberao de citocinas (TNF-) e IL-1.

Diagnstico:
Clnico: reconhecimento da sndrome;
Laboratorial: diagnstico difcil microrganismo no cresce em meios de cultura convencionais
- Mtodo de gram como excluso de Streptococcus pneumoniae (pneumonia mais comum)
Imagem: raio-X acometimento dos lobos inferiores

* De modo geral, o diagnstico feito por excluso:


- Uso de penicilina (-lactmico) efeito positivo = pneumococo
negativo = pneumonia atpica (no pneumococo)*
(*) Possibilidade de ser mycoplasma pneumoniae parede celular sem peptideoglicano (no pos-
suem ligaes -1,4 entre as camadas glicdicas -lactmicos no agem em mycoplasma).
- Verificao dos demais diagnsticos (clnico, laboratorial [imunolgico ELISA], imagem).
33 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 33

Infeces do Trato Respiratrio por Mycobacterium


Mycobacterium: bacilos aerbios obrigatrios, imveis, no formadores de es-
poros e no so nem gram-positivo nem gram-negativo, so Bacilo lcool cido
Resistente (BAAR)
Gnero mycobacterium no possibilita diferenciao da espcie atravs de ima-
gens do microrganismo so todos morfologicamente parecidos.
Possuem parede celular com camada serosa (com cido miclico)
- Resistncia antimicrobiana;
- Patogenicidade; Implicaes da parede celular com camada serosa
- Resistncia a situaes adversas;
- Crescimento muito lento (doena crnica)

*Importante: cido miclico estimula bastante a resposta inflamatria no hospedeiro.

Mycobacterium tuberculosis provoca tuberculose (TB).


Inalao de aerossis infecciosos vias areas terminais (alvolos).
- Mycobacterium so emitidos em gotculas menores que 25m de
dimetro quando pessoas infectadas tossem, espirram ou falam.
Multiplicam-se no interior dos macrfagos
Inibio do fagossomo e da fuso dele com o lisossomo permite
a multiplicao e a destruio das clulas fagocticas.
- Aps 12 meses da exposio leses patognicas nos pulmes.

*Importante: infeco primria de tuberculose costuma ocorrer no trato respiratrio, porm a do-
ena pode se manifestar em qualquer rgo.

Progresso da infeco da tuberculose ativa (observe a descrio e as imagens a seguir):


- Os bacilos so inalados para os alvolos e ingeridos pelos macrfagos, mas muitos no so mortos

- Os bacilos se multiplicam nos macrfagos e fazem com que macrfagos adicionais migrem para a
rea, formando um tubrculo inicial;
34 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 34

- Muitos macrfagos morrem, liberando bacilos e formando um centro caseoso no tubrculo, que
circundado por uma massa de macrfagos e linfcitos os bacilos no crescem bem nessa locali-
zao, no entanto muitos permanecem dormentes (TB latente) e servem de base para uma reativa-
o posterior da doena.
A doena pode ser interrompida nesse estgio com a calcificao do tubrculo.

- Um tubrculo maduro formado, com uma camada externa firme de fibroblastos circundando a
massa de macrfagos e linfcitos.
Em alguns indivduos os sintomas se manifestam quando esse tubrculo maduro formado.
- O centro caseoso preenchido com lquidos e ar, formando uma cavidade tuberculosa onde os
bacilos se multiplicam
- Liquefao: processo de crescimento do centro caseoso devido a multiplicao dos bacilos.

- Se as defesas do corpo falhem no estgio anterior, a liquefao continua at o tubrculo se rom-


per, permitindo que os bacilos liberados atinjam os bronquolos e ento se disseminem atravs dos
pulmes para os sistemas circulatrio e linftico.

*Importante: tuberculose miliar = infeco disseminada pelo organismo


- Formao de tubrculos nos tecidos infectados;
- Fraqueza tsico;
- Perda de peso;
- Perda geral de vigor.
35 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 35

Tuberculose dividida em estgios primrio e secundrio (conforme o esquema abaixo):

a) Tuberculose primria: corresponde a primeira ex-


posio ao microrganismo
Geralmente moderada e assintomtica;
90% dos casos no ocorre evoluo da doena, po-
rm 95% dos indivduos tornam-se PPD+
10% desenvolvem a doena clnica.

Sintomas:
- Suor e calafrios, febre, dor no peito, tosse com es-
carro (muitas vezes sanguinolento), perda de apetite,
perda de peso repentina.

Patogenia
- Necrose tecidual: neste processo esto
envolvidos vrios fatores do hospedeiro:
Toxicidade das citocinas;
Ativao local do complemento; Atuao do sistema imune contra o patgeno
Exposio a enzimas hidrolticas; tambm danifica os tecidos do hospedeiro
Intermedirios de oxignio reativo
- Em indivduos saudveis as leses curam-se espontaneamente (fibrticas ou calcificadas);
- Em indivduos imunocomprometidos as bactrias proliferam (liquefao do centro caseoso) e in-
vadem a corrente sangunea tuberculose miliar (fgado, bao, rins, crebro, meninges).

b) Tuberculose secundria: ocorre apenas em indivduos previamente infectados normalmente


de 1 a 2 anos aps a infeco primria.
A origem, na maioria das vezes, a reativao (endgena) a partir do re-
crudescimento de um foco latente outro mecanismo a reinfeco (ex-
gena) na qual o sistema de defesa no capaz de deter sua progresso.
Infeco normalmente acomete a regio apical do pulmo.
As respostas imunolgicas mediadas pelas clulas T contra os antgenos do
bacilo causam necrose tissular e produo de leses cavitrias cavidades
podem servir de locais para proliferao de fungos pneumonia fngica.
36 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 36

Diagnstico:
Radiografia do trax
Teste da tuberculina ou de PPD (derivado proteico purificado)
- Teste intradrmico utilizado para a avaliao da imunidade contra o
M. tuberculosis presena de eritema e endurao na regio aplicada.
Endurao e eritema so medidos (dimetro) aps 4872h
0-4mm = no reator; 5-9mm = reator fraco, 10 = reator forte
- Se positivo, indica infeco prvia pelo Mycobacterium, no sendo
capaz de distinguir o indivduo infectado do doente.

Laboratorial:
*Importante: baciloscopia e cultura devem ser solicitados em qualquer amostra de paciente HIV+

a) Baciloscopia: teste do escarro na TB pulmo-


nar obrigatria na anlise de todas as amos-
tras, tanto para o diagnstico como para con-
trole do tratamento consiste na anlise de
BAAR na amostra por colorao Zielh-Neelsen
- Critrios para leitura e interpretao (OMS):
Nenhum BAAR em 100 campos = negativo
1 a 9 BARR em 100 campos = relata-se apenas
a quantidade encontrada
10 a 99 BAAR em 100 campos = positivo +
Mdia de 1 a 10 BAAR por campo, nos primei-
ros 50 campos = positivo ++
Mdia mais de 10 BAAR por campo, nos pri-
meiros 20 campos = positivo +++

*Importante: devemos orientar o paciente que o procedimento deve ser feito durante a manh
(acmulo de escarro) e que ele no pode escovar os dentes com creme dental ( anti-bacteriano).

b) Cultura: obrigatria para:


- Diagnstico em todas as outras amostras, que no o
escarro;
- Confirmao diagnstica, em amostras de escarro de
sintomticos respiratrios com baciloscopia repetida-
mente negativa
- Verificao da farmacorresistncia, em qualquer
amostra de casos que no respondem ao tratamento.

*Importante: cultura no tem valor clnico muito relevante, pois o crescimento de mycobacterium
bastante lento e, por conta disso, a espera pelos resultados pode agravar a condio do paciente.
37 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 37

Trato Gastrintestinal (TGI)


Sistema digestrio: essencialmente uma estrutura tubular.
Trato gastrintestinal: boca, faringe (garganta), o esfago
(tubo alimentar que leva ao estmago), o estmago e os in-
testinos delgado e grosso.
- Estruturas acessrias: dentes, lngua, glndulas salivares, f-
gado, vescula biliar e o pncreas.
Relao entre o sistema digestrio e o sistema imune:
As primeiras bactrias a colonizarem o TGI de um lactente
moldam a resposta imune, de modo que ela seja favorvel
sua prpria sobrevivncia, uma vez que o sistema imune re-
age, ento, contra antgenos nocivos e ignora aqueles que no
o so (microbiota normal do TGI).
Cerca de 80% do sistema imune est localizado no trato in-
testinal, sobretudo no intestino delgado.
- Tecido linfoide associado ao intestino (GALT).
Clulas de Paneth: so capazes de fagocitar as bactrias e
tambm produzem protenas antibacterianas (defensivas) e a
enzima antibacteriana lisozima.

Microbiota Normal do Trato Gastrintestinal


Na boca, cada ml de saliva pode conter milhes de bactrias;
Estomago e intestino delgado apresentam relativamente poucos microrganismos acidez (HCl);
Intestino grosso possui uma enorme populao microbiana, excedendo 100 bilhes de bactrias
por grama de fezes at 40% da massa fecal so compostas por material celular microbiano!
Microbiota composta principalmente de anaerbios e anaerbios facultativos
- A maioria dessas bactrias auxilia na degradao enzimtica dos alimentos, principalmente muitos
polissacardeos que, de outra forma, no seriam digerveis.
Algumas delas sintetizam vitaminas teis.

*exemplo de alguns microrganismos do trato gastrintestinal


38 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 38

Infeces do Trato Gastrintestinal


(Observe as duas imagens abaixo viso geral das infeces do TGI)

Doenas do sistema digestrio so essencialmente de dois tipos: infeces e intoxicaes


a) Infeces: resultado da multiplicao do agente etiolgico no tecido infectado so caracteriza-
das por um atraso no aparecimento dos distrbios gastrintestinais enquanto o patgeno aumenta
em nmero ou afeta o tecido invadido.
Presena e multiplicao do microrganismo no organismo distrbio com durao elevada;
- Geralmente gram-negativos.

b) Intoxicaes: resultado da ao de toxinas produzidas pelo agente etiolgico, que no precisa


estar infectando o organismo causada pela ingesto de uma toxina pr-formada.
Toxina produzida fora do organismo (p.e. no alimento);
- Geralmente produzida por microrganismos gram-positivos.
- Distrbios rpidos (at que a toxina seja eliminada).

*Curiosidade: pode acontecer de voc comer o mesmo alimento que os seus


colegas p.e. uma pizza e apenas voc manifestar os efeitos da toxina
(p.e. vmito) porque teve o azar de pegar o pedao que possua a maior quantidade de toxina libe-
rada, enquanto os teus colegas no apresentaram ou manifestaram apenas desconforto abdominal.
39 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 39

Diarreia e Disenteria
Diarreia: condio autolimitante (perodo limitado).
Sintomas: dores abdominais; fezes anormais e evacuaes frequentes e/ou lquidas.
- Doena geralmente do intestino delgado, com perda aumentada de lquidos e eletrlitos e, s ve-
zes, com febre.
- Sintomas semelhantes para diferentes agentes etiolgicos.
- Diagnstico do agente etiolgico apenas atravs de coprocultura (cultura a
partir das fezes do paciente) normalmente no feita porque bastante cus-
tosa (existem muitas bactrias presentes nas fezes para se isolar).

Disenteria: inflamao acompanhada por diarreia com sangue.


Sintomas: distrbio inflamatrio, geralmente no intestino grosso pode es-
tar associada com sangue e pus nas fezes, com dor, febre e clicas abdominais.
- Sintomas semelhantes para diferentes agentes etiolgicos;
- Anlise das fezes para a presena de sangue e pus; diagnstico do agente etiolgico apenas atra-
vs de coprocultura (cultura a partir das fezes do paciente).

*Importante: pode haver contaminao do sangue e, consequentemente, migrao bacteriana


utilizao de antibitico um mtodo profiltico para evitar a sua disseminao (sistmica).

*Importante: presena de sangue fresco nas fezes origem = intestino grosso


presena de sangue hemolisado nas fezes origem = intestino delgado.

Infeces do Trato Gastrointestinal por Bactrias da Famlia Enterobacteriaceae


Principais agentes bacterianos: bacilos gram-negativos.
Escherichia coli, Salmonella, Campylobacter, Vibrio, Cholarae, Shigella

Escherichia coli
Escherichia coli: bacilo flagelado, gram-negativo, anaerbio facultativo, residente da microbiota
intestinal.
Responsvel pela produo de fatores de crescimento e degradao de substncias;
E.coli normalmente so inofensivas, porm possui algumas linhagens (EPEC, ETEC, EHEC, EIEC
etc.) que produzem enterotoxinas causam diarreia.

*Curiosidade: sua presena na gua e nos alimentos uma indicao de contaminao fecal.

Escherichia coli enteropatognica (EPEC): principal causa de diarreia nos pases em


desenvolvimento e potencialmente fatal em lactentes (denominada diarreia do
recm-nascido microbiota pouco desenvolvida).
Desenvolve-se nos entercitos do intestino delgado;
- Achata as microvilosidades (dificulta a absoro celular).
Ocorrncia: surtos espordicos em bebs e crianas de pouca idade;
Perodo de incubao de 1-2 dias e durao de semanas (doena autolimitada);
Sintomas: diarreia aquosa, vmitos, clica abdominal e febre.
40 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 40

Escherichia coli enterotoxignica (ETEC) diarreia do viajante: microrganismo


multiplica-se e libera uma exotoxina que adere nos entercitos.
Exotoxina atua sobre o AMPc (inibio da reabsoro de Cl- [inibio do canal CFTR]
e, consequentemente, de Na+ = gua no lmen) diarreia aquosa;
Ocorrncia: produtora de poderosas enterotoxinas que agem na mucosa;
Perodo de incubao de 1-7 dias e durao de 2-6 dias (doena autolimitada);
Sintomas: diarreia aquosa, vmitos, clica abdominal, sem febre;
Causa mais importante de diarreia bacteriana infantil em pases pobres.

* Denominada diarreia do viajante pois a mudana de ambiente expe o indivduo a diferentes


antgenos (p.e. linhagens diferentes de Escherichia coli) atravs da ingesto de gua e alimentos.

Escherichia coli enterro-hemorrgica (EHEC): geralmente ocorre devido a ingesto


de alimentos de origem animal contaminados.
Ocorrncia: produz uma toxina (semelhante a toxina Shiga) que induz a perda de
lquido das clulas intestinais;
Sintomas: diarreia aquosa ou sanguinolenta (devido a hemorragia por necrose te-
cidual), vmitos, clica abdominal, sem febre;
Perodo de incubao de 3-4 dias e durao de 5-10 dias (doena autolimitada);
Ocorrem surtos espordicos em todo o mundo, a partir de alimentos e leite no pasteurizados;
- Pode causar sndrome urmica hemoltica insuficincia renal aguda (uremia), anemia hemol-
tica e diminuio do nmero de plaquetas (trombocitopenia).

*Importante: E. coli produtoras de toxina semelhante Shiga (STEC) denominao das E. Coli
que produzem toxinas semelhantes a toxina Shiga a maioria dos surtos relacionados ocorre de-
vido a EHEC sorotipo O157:H7.
- Associada colite hemorrgica, uma forma grave de diarreia, e a sndrome urmico-hemoltica.

Escherichia coli enteroinvasiva (EIEC): ocorre devido a ingesto de alimentos


Ocorrncia: penetram nas clulas do clon, multiplicam-se e disseminam-se para
clulas adjacentes;
Sintomas: diarreia com sangue e pus nas fezes, vmitos, clica abdominal e febre;
Perodo de incubao de 1-3 dias e durao de 7-10 dias (doena autolimitada);
Podem provocar destruio tecidual, inflamao, necrose e ulcerao.

Salmonella
Salmonella: bastonetes gram-negativos, anaerbios facultativos, no formadores de endsporos.
Todas as salmonelas so consideradas patognicas em algum grau, causando salmonelose, ou
gastrenterite por Salmonella esto associadas a diarreias.
Nomenclatura da Salmonella difere da nomenclatura usual.
- Em vez de espcies reconhecidas, existem mais de 2.700 sorotipos (ou sorovares) Ag O, H e K
Os produtos base de carne so particularmente suscetveis contaminao por Salmonella.
- Galinhas so altamente suscetveis infeco, e as bactrias contaminam os ovos.
Cozimento normal do alimento destri a Salmonella.
41 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 41

*Importante: tbuas onde carnes infectadas foram cortadas podem


contaminar outros alimentos (microrganismo pode se alojar nas fissu-
ras da tbua) e desencadear salmonelose.

*Importante: existe uma obrigatoriedade de no haver presena de


salmonela em alimentos de origem animal qualquer vestgio, por
menor que seja, deve ser obrigatoriamente notificado e o alimento
ser considerado imprprio para o consumo.

Salmonelose: causa mais comum de diarreia aguda associada a alimentos


e bebidas de origem rural em pases em desenvolvimento.
A maioria das infeces so restritas ao trato gastrintestinal;
Sintomas: diarreias aquosa, vmitos (em jato estimula o centro em-
tico bulbar), clica abdominal e febre (quando invasiva);
Perodo de incubao de 6h-2 dias e durao de 48h a 7 dias (doena autolimitada);
Pode ser excretada nas fezes por vrias semanas aps a infeco.

Vibrio cholerae
Vibrio cholerae: bastonete gram-negativo ligeiramente curvo (monoencurvado), com um nico
flagelo polar e capaz de formar biofilme.
Organismo de vida livre que infecta apenas seres humanos (pode ser assintomtico);
Habita locais com guas salobras, mas tambm so capazes de disseminarem rapidamente na
gua doce;
Em condies desfavorveis podem se tornar dormentes; Ambas as
- Clula encolhe-se at um estado esfrico, no cultivvel. formas so
- Ambiente favorvel: rpida reverso forma cultivvel. infecciosas

Clera: doena endmica em pases com poucas condies de saneamento est associada a in-
gesto de gua contaminada.
Sintomas: diarreia gua de arroz, com perda de at um litro de lquido
por hora; vmitos, clica abdominal, sem febre.
- Vibrio cholerae crescem no intestino delgado e produzem uma exotoxina,
a toxina colrica (atua sobre o AMPc e GMPc), que induz as clulas do hos-
pedeiro a secretarem gua e eletrlitos, sobretudo potssio fezes aquo-
sas contendo massas de muco intestinal e clulas epiteliais esbranquiada
como se fosse gua de arroz.
Perodo de incubao de 2-3 dias e durao at 7 dias;
Diarreia aquosa grave causada pela produo da enterotoxina (toxina colrica) restrita ao intes-
tino necessita de rpida reposio de lquidos e eletrlitos (soluo endovenosa);
Mortalidade: at 60% dos casos.
42 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 42

Shigella
Shigella uma bactria gram-negativa, imvel, no esporulada.
No existe nenhum reservatrio natural nos animais.
- Se disseminam apenas de pessoa para pessoa;
- Surtos so mais frequentemente observados em famlias, creches e cenrios similares.

Shigelose: tambm conhecida como disenteria bacilar


Produz a toxina (Shiga) semelhante a toxina de EHEC;
Gravidade vai depender da espcie de Shigella;
- Existem quatro espcies patognicas de Shigella: S. sonnei, S. dysenteriae, S. flexneri e S. boydii.
Residentes somente do trato intestinal de seres humanos.
Transmisso: pessoa-pessoa pela via fecal-oral;
Sintomas: inicialmente diarreia aquosa, mas que pode passar a sanguinolenta,
com muco e pus; clicas graves no baixo ventre e febre;
- Disenteria o resultado dos danos s paredes intestinais invaso da mucosa
intestinal.
Perodo de incubao de 1-4 dias e durao de 2-3 dias (doena autolimitada);
- Uso de antibiticos somente em casos graves.
Ocorrncia: mais de 70% em menores de 5 anos;
Em casos graves a antibioticoterapia e a reidratao oral so indicadas.

Campylobacter
Campylobacter so bactrias gram-negativas, microaerfilas, curvadas em espiral
Representada por duas espcies mais importantes, que so responsveis pela doena em huma-
nos, o Campylobacter jejuni (responsvel por mais de 90% dos casos) e o Campylobacter coli.

Campilobacteriose: doena gastrointestinal mais comum nos pases desenvolvidos.


Infeces atravs de alimentos (aves, leite ou gua) ou contato com animais infectados;
- Frangos esto altamente associados com a doena;
- Cozimento e fervura so capazes de matar o Campylobacter.
Campylobacter invade clulas do intestino grosso (causa disenteria);
Sintomas: inicialmente diarreia aquosa, mas que pode passar a sanguinolenta, com pus e bacte-
remia (invasiva);
- Tambm causa ulcerao no epitlio intestinal.
Perodo de incubao de 2-11 dias e durao de 3 dias a 3 semanas (doena autolimitada);
A apresentao clnica semelhante ao da diarreia causada pela Salmonella ou disenteria cau-
sada pela Shigella.

*Curiosidade: uma complicao rara da infeco por Campylobacter que ela est associada, em
cerca de 1 a cada 1.000 casos, doena neurolgica denominada sndrome de Guillain-Barr, uma
paralisia temporria.
- Uma molcula de superfcie da bactria assemelha-se a um componente lipdico do tecido ner-
voso e desencadeia uma resposta autoimune.
43 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 43

Infeces do Trato Gastrintestinal por Clostridium difficile


Clostridium difficile: bacilos gram-positivos, endosporulados (forma de
transmisso) e anaerbios estritos.
Ubquo e colonizador do trato gastrintestinal;
Causa doena gastrointestinal associada a antibiticos (cefalosporinas,
clindamicina e ampicilina) resistente -lactmicos;
- Reduo da microbiota normal com o uso de antibiticos favorecem a instalao do C. difficile.
Forma colite pseudomembranosa: placas amareladas compostas de fibrina;
Doena se manifesta em sintomas que variam de um caso brando de diarreia
at colite (inflamao do colo);
- Colite pode resultar em ulcerao e possvel perfurao da parede intestinal.

Fatores de virulncia
Fator adesina;
Hialuronidase: produz atividade hidroltica;
Produo de endsporos;
Enterotoxina (toxina A): produz quimiotaxia, induz produo de citocinas com hipersecreo
de lquido e necrose hemorrgica destruio do epitlio reduo da capacidade absortiva.
Citotoxina (toxina B): induz despolimerao da actina com perda do citoesqueleto celular.

Tratamento de Diarreias Agudas


Hidratao:
Diarreia leve ou moderada: reposio hdrica por via oral com sucos, gua de coco, refrigerantes
ou lquidos isotnicos;
Diarreia com perda lquida mais significativa: reposio hdrica por via oral com solues glicos-
salinas (glicose facilita absoro do Na+ no lmen intestinal);
Diarreia acentuada em pacientes desidratados e com vmitos frequentes: reposio por via pa-
renteral.

Dieta:
Evitar cafena (aumenta o AMPc est relacionado a reduo da reabsoro de gua);
Evitar produtos lcteos (intolerncia transitria lactose agentes virais e bacterianos);
Gorduras (retardam o esvaziamento gstrico).

Sintomtico (uso de antidiarreico) quando no houver:


Febre, dor abdominal, disenteria, desidratao, AIDS, paciente transplantado ou uso de corticoi-
des ou imunossupressor, idoso com mais de 70 anos (imunidade reduzida).

Antibioticoterapia emprica nos seguintes casos:


Febre moderada a grave, disenteria, lmina direta mostrando leuccitos nas fezes, paciente ido-
sos, imunocomprometidos ou hospitalizados.

Antibioticoterapia especfica: aps a identificao do patgeno por meio de coprocultura ou ou-


tros mtodos.
44 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 44

Intoxicaes Alimentares
Geralmente esto associadas presena de exotoxinas pr-formadas no alimento.
No costumam ser surtivas (i.e. esto mais relacionadas a casos isolados).

Infeces do Trato Gastrintestinal por Staphylococcus


Staphylococcus aureus uma das principais causas de gastroenterite.
Coco gram-positivo, no formador de esporos;
So bastante resistentes aos estresses ambientais;
- Calor, dessecao, radiao, osmolaridade elevada permite a sobrevivncia.
Pode contaminar os alimentos abuso de temperatura (microrganismos incubados no alimento)
- Eles reproduzem-se e liberam uma enterotoxina (exotoxina termoestvel).
Intoxicao alimentar estafiloccica ingesto de uma enterotoxina produzida por S. aureus.

Alimento manipulado por algum com Staphylococcus aureus


Abuso de temperatura formao de toxinas (exotoxina).
- Temperatura destri a bactria, mas no a toxina.
Alimento contento as toxinas consumido
Ocorre a intoxicao estafiloccica em 1-6h recuperao em 24 horas.
- Nusea e vmito graves diarreia pouco comum, e no h febre.

*Curiosidade: para produzir uma quantidade de toxina suficiente para causar intoxicao necess-
rio um determinado tempo para que as bactrias se reproduzam e produzam a toxina. Restaurantes
com elevada rotatividade de alimentos (como o nosso saudoso RU) tem menores chances de causa-
rem intoxicao alimentar, pois o tempo de incubao no alimento pequeno.

Infeces do Trato Gastrintestinal por Clostridium botulinum


Clostridium botulinum: bacilos gram-positivos, anaerbios estritos e formadores de endsporos
(resistncia ao calor e sobrevivncia/multiplicao em alimentos no-processados enlatados).
Resistentes fervura (termorresistentes) toleram 100C por at 22 horas;
Produz uma neurotoxina (toxina botulnica) potente capaz de inibir a acetilcolina atinge as si-
napses nervosas colinrgicas perifricas e bloqueia irreversivelmente a liberao de acetilcolina.
- Causa paralisia flcida;
- Os sintomas gastrointestinais tendem a anteceder as manifestaes neurolgicas e so descritos
como nuseas, vmitos, constipao, fadiga muscular e cansao e diarreia no h febre.
- A toxina termolbil inativada facilmente pelo calor, com temperaturas acima de 85C durante
cinco minutos cozimento suficiente para inativar a toxina.
Lavagem gstrica pode ser tentada a fim de diminuir a absoro da toxina remanescente na luz
do intestino.

*Importante: contaminao de mel por Clostridium botulinum


- No se deve fornecer/alimentar crianas menores de 1 ano de idade com mel, porque a ausncia
da microbiota de proteo permite que o esporo de Clostridium botulinum ingerido germine e
ocorra a produo da toxina botulnica na luz intestinal em casos graves pode levar a morte sbita
da criana.
45 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 45

Gastrites e lceras Estomacais e Duodenais


Doenas multifatoriais que costumam ter um agente bacteriano associado Helicobacter pylori.
Helicobacter pylori: bacilo gram-negativo espiralado (rgido) com flagelos externo, fastodioso, mi-
croaerfilo (5% de O2), produtor de urease e possui crescimento lento em meios suplementados.

Transmisso:
Homem parece ser o principal hospedeiro
- Mecanismo exato de transmisso ainda no esclarecido
Pessoa a pessoa por via fecal/oral ou oral/oral.
gua (?)

Fatores de virulncia
Colonizao
- Protena inibitria de cido (induz ao quadro de hipocloridria);
- Urease (neutraliza os cidos, estimula a produo de citocinas inflamatrias);
Bactria se instala nas clulas do fundo gstrico por meio dos flagelos;
Na submucosa cria uma microzona no cida (atravs da urease*).
(*) ureia (produzida no estmago) amnia + dixido de carbono
- Protena do choque trmico: estimula a produo de urease protege a bactria contra situaes
de estresse (p.e. acidez).

Leso tecidual mediada por subprodutos da urease.


- Mucigenase e fosfolipases: degradam o muco gstrico;
- Citotoxina vacuolizante: induz leso das clulas epiteliais e estimula a resposta inflamatria.
46 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 46

Quadro clnico:
Gastrite aguda: inicialmente assintomtico (3 a 7 dias), dor ou mal
estar epigstrico, cefaleia, pirose, nusea, vmito, flatulncia e sialorreia
(aumento da salivao);
Gastrite crnica: primeira regio acometida o antro.
- Menos frequente no corpo do estmago;
- Secreo gstrica aumentada maior risco de lcera duodenal.

Diagnstico:
*pesquisa de bactria somente se houver inteno de tratamento da gastrite.
Exames: conforme histrico de lcera gstrica ou duodenal, histrico familiar de cncer de est-
mago, pacientes que na endoscopia apresentaram leses ou tumores que no se desenvolveram.

Mtodos invasivos (coleta por endoscopia): teste da urease, histolgico e cultural


- Teste da urease: introduo do material da bipsia numa soluo com ureia e um marcador de pH
(resultado rpido) sensibilidade: 90 a 95% pouco falso-negativo
especificidade: 95 a 100% pouco falso-positivo
- Histolgico: sensibilidade e especificidade prximos a 100%
- Cultura: no solicitado rotineiramente
Cresce em meios enriquecidos, suplementados com sangue/carvo em atmosfera microaerfila;
Suplementao do meio protege a bactria dos radicais livres;
Baixa sensibilidade.

Mtodos no invasivos: teste respiratrio e sorologia


- Teste respiratrio: melhor dentre os no-endoscpicos.
Paciente recebe um lquido com ureia marcada com carbono radioativo dosagem de CO2
Sensibilidade: 88 a 95%; Especificidade: 95 a 100%
- Sorologia (IgG ou IgA por ELISA): sensibilidade 90 a 100%; especificidade 76 a 96%
Risco de reao cruzada resultado falso positivo.
- Deteco de antgeno (amostra de fezes): sensibilidade 50-70ng/mL das protenas do H.pylori

Tratamento
Esquema trplice (combinado): cura em 90% dos casos objetivo de minimizar a resistncia dos
microrganismos aos antibiticos.
Antissecretor (inibidor da bomba de prtons): Omeprazol, Lansoprazol ou Pantoprazol
2 ou trs antibiticos: Amoxacilina ou Claritromicina de 7 a 14 dias.
47 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 47

Sistema Nervoso
Sistema nervoso dividido em central e perifrico:
a) Sistema nervoso central (SNC): crebro e medula espinal;
b) Sistema nervoso perifrico (SNP): consiste em todos os ner-
vos que se ramificam do crebro e da medula espinal.

Crebro e medula espinal so revestidos e protegidos por trs membranas contnuas, chamadas
de meninges (conforme a imagem acima, direita).
Meninges so formadas pelas membranas dura-mter (mais externa), aracnoide (intermediria)
e pia-mter (mais interna);
Entre as membranas pia-mter e aracnoide encontra-se um espao, chamado de espao suba-
racnideo, no qual em um indivduo adulto circula de 100-160mL de lquido cerebrospinal (LCS);
- O LCS (tambm chamado de liquor) apresenta baixos nveis de complemento e de anticorpos cir-
culantes e poucas clulas fagocticas bactrias podem se multiplicar com poucas restries.

*Importante: inflamao das meninges chamada de meningite meningoencefalite


inflamao do crebro em si chamada de encefalite

*Importante: meningites provocadas por bactrias, vrus, protozorios, fungos e helmintos.


- Infeco grave que apresenta em alguns casos alta mortalidade e morbidade;
- Mais grave na infncia do que em adultos;
- Adquirida pelo trato respiratrio e depois via hematognica, atravs de infeco adjacente, trau-
matismo craniano, malformaes.

*Importante: meningite viral costuma ser mais comum que a bacteriana, alm de ser uma doena
mais branda ( uma doena autolimitante) normalmente causada por um grupo varivel de vrus
denominado enterovrus, durante os meses de vero e outono.
48 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 48

Meningite Bacteriana
Meningites bacterianas ocorrem porque certas bactrias possuem mecanismos de virulncia es-
pecficos que permitem a invaso bem-sucedida do SNC (p.e. pili, cpsula, fmbrias, protenas de
membrana OmpA).
LCS facilita a proliferao desses microrganismos;
- Ausncia de anticorpos especficos e de complemento mensurveis opsonizao e fagocitose
ineficientes;
- Escassez inicial de clulas fagocticas;
- Penetrao ruim de antibiticos barreira hematoenceflica.
Trs espcies bacterianas tm sido responsveis pela maioria dos casos de meningite e suas mor-
tes resultantes Haemophilus e Neisseria (gram-negativas), e Streptococcus (gram-positivo).

Principais bactrias por faixa etria:


Recm-nascido at 3 meses de vida: predominam em ordem crescente Streptococcus agalac-
tie (estreptococo B), Listeria monocytogenes, bacilos gram-negativos (especialmente a Escherichia
coli e as Salmonelas), e por ltimo o Streptococcus pneumoniae (pneumococo);
4 meses de idade at as crianas menores de cinco anos: predominam o Haemophilus influen-
zae tipo b, Neisseria meningitidis (meningococo) e, por ltimo, o Streptococcus pneumoniae;
Cinco anos at a idade adulta jovem: predominam o Streptococcus pneumoniae e a Neisseria
meningitidis (meningococo).

*Importante: em perodos epidmicos, o meningococo ocupa o primeiro lugar!

Principais bactrias por tipo de infeco:


Traumas de crnio com exposio de massa enceflica: predominam o Staphylococcus aureus e
o Staphylococcus epidermidis;
Procedimentos envolvendo o abdmen: bacilos gram-negativos;
Complicao de puno liqurica: Staphylococcus aureus e bactrias gram-negativas (como
Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae);
Ps-procedimentos neurocirrgicos: anaerbicos, principalmente o Propionebacterium acne.

DIAGNSTICO CLNICO:
A suspeita diagnstica das meningites sempre baseada em dados clnicos.

Recm-nascido e lactente: possuem sistema nervoso e tnus imaturos sinais menngeos no


esto presentes diagnstico extremamente difcil e se caracteriza por pequenos detalhes conhe-
cidos como sinais de alarme:
Febre alta ou hipotermia, apatia, recusa alimentar, vmitos seguidos, sem relao com a alimen-
tao e no precedidos de nuseas; apneia (sem causa cardaca ou pulmonar), fontanela abaulada e
tensa, convulses.

Criana maior e adulto: possuem tnus cervical e dorsal bem estabelecidos sinais clnicos j
so mais comuns, tornando a suspeita clnica mais evidente.
49 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 49

Ocorrem basicamente trs sndromes: sndrome infecciosa, sndrome de irritao radicular ou


menngea e sndrome de hipertenso intracraniana ou encefaltica.

Sndrome infecciosa: caracterizada por febre ou hipotermia, anorexia, apatia e sinais indiretos
de infeco;
Sndrome de irritao radicular ou menngea: caracteriza-se por sinal de Brudzinski (rigidez de
nuca), sinal de Kernig, sinal de Lasgue; na criana o sinal do gatilho de fuzil (deita-se toda enco-
lhida para no estirar as razes nervosas), sinal do trip (senta-se com as mos apoiadas para trs).
Sinal de Brudzinski: levantamento involuntrio das pernas em irritao
menngea quando levantada a cabea do paciente
Sinal de Kernig: verifica o estiramento ou compresso nervosa;
- Coloca-se o paciente em decbito dorsal, sobre uma maca reta, com os
membros inferiores (coxas) fletidos em 90 e faz-se extenso do joelho
ser positivo se houver dor quando o joelho estendido com o quadril
totalmente flexionado e/ou resistncia extenso
Sinal de Lasgue: sinal clnico representado pela exacerbao de dor
em face posterior da coxa por elevao da perna
Sndrome de hipertenso intracraniana ou encefaltica: ocorrem cefaleia
intensa, vmitos, e ao exame do fundo de olho observa-se edema de papila.

QUADRO CLNICO:
Cefaleia, nuseas e vmitos, fotofobia, rigidez de nuca e febre.
Nos casos mais graves h alterao do nvel de conscincia, crises convulsivas, eritema cutneo,
artrites e hipotenso arterial.
80% das meningites so causadas por Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis e Strepto-
coccus pneumoniae
Meningite meningoccica caracterizada pelo incio agudo, de poucas horas com evoluo r-
pida para queda do estado geral.
Meningite por H. influenzae e pneumococo ocorrem em razo das infeces do trato respiratrio
superior, infeces otolgicas ou dos seios da face doena com incio insidioso (com incio lento,
aparentemente benigno, mas que pode se tornar grave e perigosa).

PATOGENIA:
Trs vias de entrada da bactria no SNC:
Hematognica (ponto de entrada o trato respiratrio superior) principal via de acesso!

Por contiguidade de estruturas adjacentes;


Por implantao direta (comunicao com o LCR): congnita, traumtica por fratura de crnio,
coluna ou ferimento penetrante.
50 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 50

DIAGNSTICO:
Exame do LCS: realizado por
meio de puno lombar entre as
vrtebras L1 e S1 so indicados
os espaos L3-L4, L4-L5, ou L5-S1.
Contraindicaes:
- A nica contraindicao formal
para a puno liqurica lombar
a infeco no local da puno;
- Hipertenso endocraniana grave (>40cm H2O): deve-se evitar a retirada de liquor nesta condio
faz-se uso de medicamentos antiedema cerebral para baixar a presso e posteriormente realiz-la.

Obteno da amostra de LCS: atravs do gotejamento do liquor (fluxo ideal para coleta fluxo
lento ou rpido indica variao na presso liqurica).
- Coleta de, aproximadamente, 10mL.
Trs tubos estreis enumerados na ordem de obteno:
- Tubo 1: usado para anlises bioqumicas e sorolgicas;
- Tubo 2: costuma ser utilizado para exame microbiolgico;
- Tubo 3: destinado contagem celular.

Exame do LCS: bioqumico dosagem de glicose, protenas, cloretos e ureia.


Cloreto e a ureia so de pouca importncia nas meningites bacterianas;
Glicose liqurica: deve corresponder a dois teros da glicemia.
- Hipoglicorraquia: indica o consumo de glicose pela bactria (ou fungo).
Protena liqurica: nvel varia com a idade, sendo maior nas primeiras semanas de vida e na ve-
lhice varia tambm com o local da puno.
- Hiperproteinorraquia: corresponde multiplicao das bactrias (ou fungo).
Nas meningites bacterianas a protena costuma estar elevada pelo menos 3x o valor normal.

Exame do LCS: quimiocitolgico


Anlise do aspecto do lquor: lmpido ou incolor (procede-se nova anlise aps centrifugao),
turvo (purulento), xantocrmico ou sanguinolento (conforme os tubos de ensaio abaixo).
51 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 51

- Lmpido: aparncia normal


- Turvo: pode ser causado pela quantidade elevada de clulas, como leuccitos, hemcias, micror-
ganismos e protenas alterao causada por bactrias, fungos ou parasitos.
- Xantocrmico: colorao rosada, laranja ou amarela alterao relacionada ao Mycobacterium
Causas mais comuns: produtos de degradao de eritrcitos, hiperbilirrubinemia, presena de
caroteno, alta concentrao de protenas e pigmento de melanoma.
- Sanguinolento: pode ser por hemorragia ou por traumas durante a coleta aparncia de uma
srie de tubos se o primeiro tubo for fortemente sanguinolento e os outros apresentarem menos
sangue um indicativo de trauma de coleta.
A persistncia da "vermelhido" costuma significar hemorragia.

*Importante: em infeces virais o aspecto visual do liquor praticamente inalterado, assim como
o diagnstico bioqumico para infeces virais pouco expressivo.

Contagem do nmero de clulas (leuccitos): clulas totais por mm3


- Os neutrfilos predominam na fase aguda caracterstico de infeco bacteriana;
- Linfcitos, moncitos e eosinfilos encontrado em casos subjugados e crnicos.
Linfcitos (Mycobacterium, vrus), eosinfilos (parasitos).

Exame do LCS: bacterioscopia


Mtodos de Gram (Haemophilus, Neisseria e Streptococcus) e Ziehl-Neelsen (Mycobacterium).

Exame do LCS: cultura


Cultura no tem valor clnico para Mycobacterium devido ao seu crescimento bastante lento.
52 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 52

Meningite por Haemophilus influenzae


Haemophilus influenzae: cocobacilo pleomrfico, aerbio, gram-negativo, encapsu-
lado e no formador de arranjos.
Requer estimuladores de crescimento (fator X-hematina e fator V-nicotinamida
adenina dinucleotideo) presentes em meios de cultura com sangue;
Haemophilus influenzae so subdivididos em:
- Sorotipos de af ( determinados pela presena de antgenos capsulares);
Sorotipo B o mais importante (possui maior prevalncia na populao);
Vacina conjugada SUS: vacina pentavalente (acima dos 2 meses de idade 3 doses).
- Biotipos IVIII (determinados pelas propriedades bioqumicas);
- Biogrupos (o biogrupo aegypticus o mais importante do ponto de vista clnico).

H. influenzae tipo b (Hib) era a causa mais comum de meningite peditrica.


A frequncia de casos caiu em mais de 80% aps a introduo das vacinas conjugadas (1988).
Pacientes no-imunizados: infeco pela disseminao do microrganismo pela nasofaringe.
Incio da doena caracterizado por uma histria de 1-3 dias de doena branda das vias areas
superiores, seguida de sinais e sintomas tpicos de meningite;
Taxa de mortalidade inferior a 10% em pacientes em tratamento;
Baixa incidncia de sequelas;
Linhagens encapsuladas so mais frequentes em crianas, e no encapsuladas em adultos.

*Importante: meningite causada por H. influenzae tem carter mais brando em relao as demais.

Meningite por Neisseria meningitidis


Neisseria Meningitidis (meningococo): diplococos gram-negativos (pertence aos poucos grupos
de cocos gram-negativos), encapsulados, aerbios, imveis e fastidiosos
N. meningitidis tem cerca de 13 sorogrupos, dos quais 5 (A, B, C, Y e W135) cau-
sam meningite.
- Grupos A e C so responsveis por meningite epidmica;
- Grupos B, X, Y e W por doena endmica.

Fatores de virulncia:
Pilinas: promovem a ligao nas clulas epiteliais;
Lipo-oligossacardeo (LOS): endotoxina produzida muito rpida e que
capaz de causar morte dentro de poucas horas.
Cpsula: ao antifagocitria.

Caractersticas gerais:
Erupo cutnea que no desaparece quando pressionada;
Caso de meningite meningoccica: inicia com infeco de garganta, que resulta em bacteremia
e, por fim, em meningite;
Ocorre, geralmente, em crianas com menos de 2 anos danos residuais surdez;
Vacina: meningoccica C (conjugada) acima de 3 meses (2 doses + reforo) e adolescncia (1);
- No h disponvel uma vacina eficaz na preveno de meningococos do tipo B.
53 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 53

Meningite por Streptococcus pneumoniae


Streptococcus pneumoniae (pneumococo): diplococo gram-positivo, encapsulado, cujo
formato em ponta de lana;
Possuem 90 sorotipos capsulares, sendo 20 responsveis pelas doenas em humanos.

Meningite estreptoccica: pode ocorrer em todas as idades, mas geralmente uma doena pedi-
trica (crianas de 1 ms a 4 anos).
Taxa de mortalidade e deficincias neurolgicas so 4 a 20 vezes mais comuns do que para ou-
tros microrganismos;
- Mortalidade em crianas de 30% e em idosos de 80%.
Vacina: VPP23 vacina pneumoccia 23-valente (polissacardica)
- Recomendada para idosos acima dos 65 anos, adultos com doenas crnicas e pacientes imu-
nocomprometidos.

Meningite por Mycobacterium tuberculosis


Mycobacterium tuberculosis: bacilos aerbios obrigatrios, imveis, no forma-
dores de esporos no so nem gram-positivo nem gram-negativo, so Bacilo l-
cool cido Resistente (BAAR).
Possuem parede celular com camada serosa (com cido miclico)
- Resistncia antimicrobiana;
- Patogenicidade;
Implicaes da parede celular com camada serosa
- Resistncia a situaes adversas;
- Crescimento muito lento (doena crnica)

Meningite tuberculosa: causada por Mycobacterium tuberculosis secundria a outras infeces


(p.e. tuberculose pulmonar, miliar etc.).
Doena de carter crnico, com febrcula, sudorese noturna, mialgia e dores abdominais.
- Aps sintomas caractersticos pode apresentar, em 50% dos casos, crises convulsivas.
Complicaes:
- PPD (teste tuberculnico) fracamente positivo;
- Ausncia de vacinao;
- Presena concomitante de tuberculose pulmonar.

Definio de caso:
Suspeito: todo paciente com sinais e sintomas de meningite e histria de contato com tubercu-
lose pulmonar bacilfera no domiclio.

Confirmado: paciente que apresenta os seguintes critrios:


- Quadro clnico compatvel; quadro liqurico; evidncias radiolgicas de tuberculose pulmonar, tu-
berculose miliar ou tuberculose confirmada bacteriologicamente, em outra localizao que no me-
ningoenceflica; teste tuberculnico reator; em crianas menores de 5 anos sem cicatriz da vacina
BCG; contato intradomiciliar, anterior ou concomitante, com um caso de tuberculose pulmonar ba-
cilfera.
54 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 54

Infeces do Sistema Nervoso por Clostridium

Clostridium tetani
Clostridium tetani: bacilos gram-positivos, anaerbios estritos, formadores de
endsporos terminais arredondados (conforme a imagem ao lado).
Resistentes fervura so destrudos pelo calor a 120C por 15-20min;
Difcil cultivo (necessita de meios bastantes especficos).

Provoca ttano.
Produo de uma neurotoxina termolbil, a teta-
nospasmina.
Tetanospamia se liga aos receptores pr-sinpticos
dos neurnios motores de maneira irreversvel (ob-
serve a imagem ao lado).
- Receptores pr-sinpticos, em condies normais,
liberam o neurotransmissor glicina (inibidora da aceti-
lcolina) uma vez que a glicina est sendo bloqueada
pela toxina, seus nveis caem drasticamente;
- A inibio da glicina faz com que ocorra aumento da
liberao de acetilcolina (ACh) e, consequentemente,
resulta em contrao tnica dos msculos.
Tambm h produo de uma toxina termoestvel de importncia desconhecida, a tetanolisina.

Patogenia:
Clostridium tetani infecta o indivduo atravs de uma porta de
entrada (ferimento/leso);
Condies de anaerobiose (infeco secundria, pus etc.) favore-
cem a germinao do microrganismo;
C. tetani multiplica-se produo de tetanospasmina (durante a
fase estacionria).
Migrao da toxina para o SNC pelos neurnios motores perifri-
cos atravessa a fenda sinptica e se instala no interior das vesculas nas terminaes nervosas
pr-sinptica bloqueia a liberao de neurotransmissores glicina e, consequentemente, aumenta
a liberao de acetilcolina;
Hipertonia muscular mantida e espasmos (paralisia espstica).

Quadro Clnico:
Perodo de incubao: de 2 a 30 dias (mdia 7 a 10 dias);
- Razo pela qual a vacina pode ser eficaz mesmo aps a infeco tempo de produ-
o de anticorpos mais rpido que a proliferao bacteriana.
Primeira manifestao clnica: trismo (contrao da mandbula impede a abertura
da boca), seguido de disfagia (engasgo), riso sardnico (hipertonia da musculatura facial da mmica,
acentuao dos sulcos naturais da face, repuxamento das narinas e da comissura labial, preguea-
mento frontal, arqueamento das sobrancelhas e repuxamento das comissuras externas dos olhos);
55 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 55

Comprometimento da musculatura do pescoo (rigidez de nuca*) e da musculatura paraverte-


bral, do trax , dos msculos intercostais, abdominais e dos membros;
Em casos extremos, devido aos espasmos dos msculos
das costas, a cabea e os calcanhares se inclinam para trs,
condio chamada de opisttono (imagem ao lado).
- Movimento em virtude da contratura da coluna lombar o
corpo passa a se apoiar na cabea e nos calcanhares, e o in-
divduo fica na forma de arco.
A morte resulta de espasmos dos msculos respiratrios.

(*) Como diferenciar a rigidez de nuca da meningite com a de Clostridium? No ttano h presena
de leso (porta de entrada do Clostridium tetani).

Diagnstico:
Realizado baseado nas manifestaes clnicas e no histrico de leso.

Tratamento:
Imunoglobulina humana antitetnica (IGHAT) por via intramuscular;
Soro antitetnico (SAT) segunda escolha;
Desbridamento do ferimento (tambm conhecido como arrancar fora a parte ruim);
Antibiticos (p.e. penicilnicos);
Exerccios fisiolgicos na preveno de complicaes;
Tratamento de suporte.

Preveno:
Vacina: trplice bacteriana DTP (difteria, ttano e pertssis) 3 doses (2, 4 e 6 meses) e reforo a
cada 10 anos.

Clostridium botulinum
Clostridium botulinum: bacilos gram-positivos, anaerbios estritos, formadores de endsporos.
Resistentes fervura (termorresistentes) toleram 100C por at 22 horas;
Produzem uma toxina neurotxica muito poderosa 5.10-9g da toxina capaz de
matar um camundongo;
- A dose letal provvel para o ser humano de cerca de 1-2g/kg.
Existem diversos tipos de toxinas: A, B, C ,D, E, F e G.
- Tipo A a mais prevalente.

Provoca botulismo:
Produo de uma neurotoxina termolbil
Bloqueia a liberao de acetilcolina (ACh) pelas ter-
minaes nervosas no h contrao muscular;
- Bloqueio pela toxina botulnica irreversvel!
Provoca paralisia flcida do msculo.
56 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 56

Formas de botulismo:
a) Botulismo alimentar: causa, inicialmente, intoxicao alimentar.
- Absoro intestinal da toxina, seguida de disseminao por via hematognica atinge as sinapses
nervosas colinrgicas perifricas, bloqueando irreversivelmente a liberao de Ach causa uma
paralisia flcida;
- Lavagem gstrica pode diminuir a absoro da toxina remanescente na luz do intestino.
b) Botulismo infantil: principal causa a ingesto de mel.
c) Botulismo em ferimentos: depende de uma porta de entrada para causar infeco.

Patogenia:
Clostridium botulinum infecta o indivduo atravs de uma
porta de entrada (ferimento/leso);
Condies de anaerobiose (infeco secundria, pus etc.)
favorecem a germinao do microrganismo;
C. botulinum multiplica-se produo da toxina botulnica;
Migrao da toxina para os nervos colinrgicos toxina
atua nas junes entre os neurnios e as clulas musculares
bloqueia a liberao de neurotransmissores (acetilcolina);
Hipotonia e hiporreflexia (paralisia flcida).

Quadro Clnico:
Vmitos, nuseas, diarreia, constipao, fadiga muscular e cansao;
- Intoxicao alimentar e infantil.
Logo aps ocorrem problemas de viso, imagem dupla, viso confusa, ptose (queda das plpe-
bras), reflexo lento das pupilas com o estmulo da luz, boca seca, dificuldade de falar e engolir;
No h febre;
Com a progresso da doena acontece parada respiratria e morte em 3 a 5 dias.

Diagnstico:
Isolamento do microrganismo a partir de cultura de fezes e do alimento envolvido;
Demonstrao da toxina no soro ensaio com camundongo;
ELISA: detectar a toxina no soro ou LCR.

Tratamento:
Suporte ventilatrio adequado;
Eliminao do microrganismo do trato gastrintestinal atravs de lavagens gstricas e terapia com
Metronidazol ou Penicilina.
Utilizao de antitoxina botulnica (antissoro trivalente) contra as toxinas A, B e E para se ligar
toxina circulante na corrente sangunea;
No existe vacina para o botulismo!

*Curiosidade: objetos no-enferrujados (p.e. pregos) so to infectantes quanto os enferrujados a


ferrugem (oxidao) denota apenas que o objeto est a mais tempo exposto ao ambiente e, por
isso, talvez ele tenha maior chance de estar infectado por alguma bactria do gnero Clostridium.
57 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 57

Infeces do Sistema Nervoso por Mycobacterium leprae


Mycobacterium leprae: bastonetes lcool-cido resistentes (BAAR), aerbios
estritos, no formadores de esporos.
Gnero Mycobacterium no possibilita diferenciao da espcie atravs de
imagens do microrganismo so todos morfologicamente parecidos.
Possuem parede celular com camada serosa (com cido miclico)
- Resistncia antimicrobiana;
- Patogenicidade;
Implicaes da parede celular com camada serosa
- Resistncia a situaes adversas;
- Crescimento muito lento (doena crnica)

No so cultivados em meios de laboratrio so parasitas intracelulares;


Em esfregaos obtidos nas leses podem ser observados isoladamente ou em grandes
agrupamentos denominados globias;
A reproduo experimental do bacilo obtida em animais (camundongo e tatu);
- Tatus (mamfero) so considerados reservatrios do Mycobacterium leprae.
Durante a fase de crescimento logartmico, o tempo de gerao de aproximadamente 12 dias;
O bacilo tem afinidade pelo tecido cutneo e pelo sistema nervoso perifrico;
Transmisso: vias areas superiores, pele e por meio de solues de continuidade (leses);
Ocorre contgio por contato ntimo e prolongado (p.e. familiares, cuidadores);
Perodo de incubao de 3 a 5 anos.
Temperatura tima de crescimento: 30C preferncia pelas partes externas e mais frias do
corpo: pele, nervos superficiais, nariz, faringe, olhos e testculos.

*Importante: M. leprae no secreta nenhuma toxina e sua virulncia dada por sua parede celular.

Provoca a doena de Hansen, hansenase ou lepra.


Afeta a pele e nervos perifricos e resulta em deformidades incapacitantes.

Patogenia:
Contato com o Mycobacterium leprae;
Multiplicao do bacilo dentro dos macrfagos (atravs da inibio do fagossomo e da fuso
dele com o lisossomo) e invaso de clulas endoteliais de vasos sanguneos e linfticos trans-
porte dos bacilos aos linfonodos e sistema reticuloendotelial.
- Multiplicao dos bacilos ocorrem em regies mais frias e externas do corpo pele, nervos su-
perficiais, nariz, faringe, olhos e testculos.
Fagocitose, metabolizao e processamento dos bacilos apresentao dos peptdeos aos linf-
citos liberao de citocinas como o IFN- e TNF-
Ativao de macrfagos;
- O resultado da ativao dos macrfagos variar de acordo com o quadro clnico do paciente.

*Importante: Mycobacterium leprae sobrevive ingesto pelos macrfagos e, por fim, invade as
clulas da bainha de mielina do sistema nervoso perifrico, onde a sua presena causa danos aos
nervos, devido resposta imune celular.
58 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 58

Sndromes clnicas
As manifestaes clnicas da doena de Hansen dependem da reao imunolgica do paciente
aos bacilos.
- Imunidade celular (TH1): apresenta variaes na sua expresso
em decorrncia de fatores condicionantes (genticos);
H produo de IL-2 (estimula o crescimento de clulas T
antgeno-especficas) e IFN- (ativa macrfagos) aumen-
tam a imunidade mediada por clulas resulta em doena
mais branda ou cura.

- Imunidade humoral (TH2): ocorre em todos infectados a


produo de anticorpos especficos e inespecficos tanto
maior quanto maior for a carga bacilar.
H produo de IL-4, IL-5 e IL-10 (IL-4 estimula a produo
de IgE, e IL-4 e IL-10 estimulam clulas B e inibem ativao de
macrfago) aumentam a resposta humoral infeco progressiva.

QUADRO CLNICO
Hansenase indeterminada: sintomas clnicos indeterminados
Forma inicial e transitria, ocorre 3 a 5 anos aps contgio;
Evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos;
- Cerca de 25% dos casos pode evoluir para as formas tuberculoide, lepromatosa ou dimorfa.
Ocorre em indivduos que apresentam resposta imune no definida diante do bacilo;
- Geralmente ocorre em crianas.
Alteraes de sensibilidade ttil (sensibilidade a dor e trmica preservadas);
Manchas cutneas com bordos imprecisos, nicas ou mltiplas, hipocrmicas,
acrmicas ou discretamente eritematosas, planas.

Hansenase tubercoloide: forma mais benigna e localizada, ocorre em pessoas


com alta resistncia ao bacilo.
Poucas leses (ou nica) hipocrmicas ou eritematosas bem delimitadas, de
centro claro e borda elevada, principalmente na face (conforme a imagem ao
lado) tende a ocorrer regresso central e crescimento centrfugo;
Leses com poucos bacilos (paucibacilar);
Comprometimento nervoso precoce pode haver perda total da sensibilidade
trmica, ttil e dolorosa.

Hansenase Dimorfa (ou Borderline): forma intermediria da doena.


H mais manchas na pele e cobertura de reas mais extensas, em alguns casos
difcil delimitar onde comea e onde termina (conforme a imagem ao lado);
- Leses pr-foveolares ou foveolares.
Tambm h presena de manchas mais elevadas (ndulos tumorais), que apre-
sentam maior quantidade de bacilos;
O acometimento dos nervos mais extenso.
59 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 59

Hansenase lepromatosa (Virchowiana): forma mais infecciosa da doena.


Ocorre em indivduos que apresentam deficincia na resposta imune celular (resulta em ele-
vada multiplicao bacilar) e predomnio da resposta humoral;
Leses iniciais: mculas ou ppulas, eritematosas ou eritemo-acastanhadas, brilhantes, numero-
sas e distribudas simetricamente;
- Pode ocorrer tubrculos, ndulos (hansenomas) ou infiltrao difusa de pele.
Comprometimento difuso dos nervos e destruio tecidual do nariz, mucosa oral, laringe, olhos,
orelhas etc.
- Grande nmero de bacilos so observados nos macrfagos da derme e nas c-
lulas dos nervos perifricos;
- Anestesia dos ps e mos favorecem os traumatismos e feridas que podem
causar deformidades, atrofia muscular, inchao das pernas e surgimento de le-
ses elevadas na pele.
Em estgio avanado da doena produz um aspecto de face leonina mui-
tos hansenomas com aspecto de queloides na regio da face (imagem ao lado).

DIAGNSTICO:
Pesquisa de sensibilidade: verifica se houve comprometimento dos
nervos perifricos.
a) Sensibilidade trmica: uso de gua quente e fria sobre a pele;
b) Sensibilidade dolorosa: toque sobre a rea lesada com agulha;
c) Sensibilidade ttil: toque com um pedao de algodo sobre a pele.

Baciloscopia: mtodo Ziehl-Neelsen


Pesquisa do bacilo feita nos lbulos auriculares, no muco nasal, nos
cotovelos, nos joelhos e em 2 reas infiltradas de qualquer parte do corpo;
Deve-se pinar a pele entre os dedos para provocar uma isquemia;
Com uma lmina de bisturi, fazer uma escarificao;
Presena de globias (conforme a imagem ao lado).

Reao de Mitsuda: avalia a resposta imune celular.


Inoculao intradrmica de 0,1 mL de lepromina (M. leprae mortos pelo calor);
30 dias aps realizar a leitura observao de nodulaes maiores (+) ou menores (-) de 5mm
nodulaes conforme a imagem abaixo).
- Positividade (+): sempre vista na forma tuberculoide
- Negatividade (-): sempre vista na forma lepromatosa sem resposta celular!

30 dias
60 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 60

TRATAMENTO/PROFILAXIA
Vacina: BCG (bacilo Calmette Gurin) com bacilos vivos atenuados.
As principais drogas so:
Dapsona (quimicamente relacionada com as sulfonamidas);
Rifampicina (antibitico semissinttico de ao bacteriosttica);
Clofazimina (corante com ao anti-inflamatria);
Etanobutol , Fluorquinolonas, Claritomicina, Pirazinamida.

Esquema paucibacilar (PB): utilizado em pacientes com at 5 leses de pele.


Rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cpsulas de 300 mg) com administrao supervisio-
nada (algum profissional da sade observa o paciente deglutindo o medicamento);
Dapsona uma dose mensal de 100 mg supervisionada e uma dose diria auto administrada.
Durao do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de rifampicina;
Critrio de alta: 6 doses supervisionadas em at 9 meses.

Esquema multibacilar (MB): utilizado em pacientes com mais de 5 leses de pele.


Rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cpsulas de 300 mg) com administrao supervisio-
nada (algum profissional da sade observa o paciente deglutindo o medicamento);
Dapsona: uma dose mensal de 100 mg supervisionada e uma dose diria auto administrada;
Clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cpsulas de 100 mg) com administrao supervisio-
nada e uma dose diria de 50 mg auto administrada;
Durao do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina;
Critrio de alta: 12 doses supervisionadas em at 18 meses.
61 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 61

Sistemas Urinrio e Reprodutivo


Sistema urinrio: consiste em dois rins, dois ureteres, uma nica be-
xiga urinria, e uma nica uretra.
Entrada dos ureteres na bexiga presena de vlvulas fisiolgicas
que impedem o fluxo reverso de urina para os rins.
- Proteo do trato urinrio superior contra infeces.
Uretra: na mulher conduz somente a urina para o exterior;
no homem conduto comum para urina e fluido seminal.
Urina: possui propriedades antimicrobianas
- Elevada osmolaridade e pH baixo.

Sistema reprodutivo feminino: consiste em dois ovrios, duas


tubas uterinas, o tero, incluindo o colo uterino, a vagina, e a ge-
nitlia externa (vulva) que inclui o clitris, os lbios e as glndu-
las que produzem uma secreo de lubrificao durante a cpula

*Importante: note na imagem ao lado a proximidade do nus


(trato gastrointestinal) com a vagina favorece infeces.

Sistema reprodutivo masculino: consiste em dois testculos,


um sistema de ductos, glndulas acessrias e o pnis.

Microbiota Normal dos Sistemas Urinrio e Reprodutivo


A urina normal estril pode se tornar contaminada com a microbiota da pele prxima ao final
de sua passagem pela uretra.
As bactrias predominantes na vagina so os lactobacilos.
Estrognio (hormnio sexual) promove o crescimento dos lactobacilos pelo aumento da produ-
o de glicognio pelas clulas do epitlio vaginal metabolizao em cido ltico;
Produzem cido lctico mantm o pH cido da vagina (3,8 4,5) Inibe o crescimento da maioria
Parte desses lactobacilos tambm produzem perxido de hidrognio dos outros microrganismos.
Outras bactrias, como os estreptococos, e vrios anaerbios e algumas gram-negativas, tambm
so encontradas na vagina.
Uretra masculina normalmente estril, exceto por contaminaes microbianas prximas aber-
tura externa.

*Curiosidade: gravidez e menopausa frequentemente esto associadas a altas taxas de infeces


no trato urinrio nveis de estrognio mais baixos populaes reduzidas de lactobacilos e, por-
tanto, menor acidez vaginal.
62 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 62

Doenas do Sistema Urinrio


Considera-se que h infeco quando ocorre proliferao de microrganismo, com invaso teci-
dual, em qualquer parte do trato urinrio.
Microbiota endgena:
Urinrio (uretra inferior): normalmente com poucos microrganismos;
- Na mulher, mais facilmente contaminvel por bactrias da mucosa vaginal e originadas do sistema
digestivo Staphylococcus epidermidis, Enterococcus, Pseudomonas, Klebsiella, Proteus.

Infeces do Trato Urinrio Inferior


Maioria da infeces so agudas e de curta durao, mas que podem ter complicaes quando
passam para o trato urinrio superior.
Doenas mais comuns em mulheres: cistite e uretrite frequentemente se sobrepem;
Aquisio: na comunidade ou hospitalar (pacientes hospitalizados);

Microrganismo pode alcanar o trato urinrio por:


Via ascendente: mais frequente atravs da uretra, bexiga, ureter e rim;
Via hematognica: em decorrncia da intensa vascularizao dos rins via preferencial de Sta-
phylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis, Histoplasma spp.;
Via linftica: rara o microrganismo alcana o rim pelas conexes linfticas entre o intestino e o
rim e ou trato urinrio inferior e superior.

Manifestaes clnicas:
Instalao sbita de: disria dor e/ou ardncia durante a mico;
urgncia na eliminao da urina;
frequncia elevada da mico.
Caractersticas da urina, que apresenta-se turva:
- Piria: presena de pus;
- Bacteriria: presena de bactrias;
- Hematria: presena de sangue (em alguns casos).

*Importante: as infeces podem ser recidivas causadas pelo mesmo microrganismo ou podem ha-
ver reinfeces por microrganismos diferentes.

Possveis patgenos:

Infeces adquiridas na comunidade: Infeces adquiridas em hospitais:


>80% - Escherichia coli 40% Escherichia coli
10% Staphylococcus epidermidis 25% Outros bacilos Gram negativos (Klebsiella,
Staphylococcus saprophyticus Enterobacter, Pseudomonas, Serratia)
5% Proteus mirabilis associado a clculos urinrios 16% Staphylococcus epidermidis,
3% Outros bacilos Gram negativos (Klebsiella, Staphylococcus aureus
Enterobacter, Pseudomonas, Serratia) 11% Proteus mirabilis associado a
clculos urinrios
3% Staphylococcus saprophyticus

*Importante: observe que a Escherichia coli a mais prevalente em ambos os casos proximidade
com o nus favorece as infeces no trato urinrio.
63 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 63

Tratamento de cistite e uretrite:


Em geral resolve-se de modo espontneo em algumas semanas em at 40% dos pacientes;
O tratamento com antibitico (oral) reduz os sintomas e garante a erradicao bacteriana;
Ingesto elevada de lquidos favorece os processos normais de lavagem pela mico;
Aps o trmino do tratamento: refazer exame.

Defesas do hospedeiro:
Propriedades antibacterianas da urina (elevada osmolaridade e pH baixo);
Propriedades antibacterianas da mucosa do trato urinrio (citocinas, mecanismo antiaderente);
Efeito mecnico da mico fluxo urinrio;
Resposta imune e inflamatria;
Integridade anatmica e funcional das vias urinrias.

Fatores de virulncia gerais:


Presena de fmbrias (pili) promove aderncia s clulas
uroepiteliais e vaginais (conforme a imagem ao lado);
- Favorece a colonizao da regio mesmo com o efeito me-
cnico da mico a bactria se mantm aderida clula.
Resistncia atividade bactericida do soro;
Produo de hemolisina e fatores citotxicos.

Diagnstico clnico:
Neonatos e crianas at dois anos: assintomticos ou sintomas inespecficos (irritabilidade, apa-
tia, vmito, diminuio da amamentao);
Crianas maiores: relatam disria (dificuldade de urinar acompanhada de dor), frequncia de
mico (dores durante a mico impedem o total esvaziamento da bexiga) e dor abdominal.

DIAGNSTICO LABORATORIAL:
Anlise de rotina: urina
Anlise fsica da urina, anlise qumica quantitativa e qualitativa dos elementos anormais (pes-
quisa qumica) e sedimentoscopia (exame microscpico da urina);
Preparao prvia: deve-se coletar, preferencialmente, a primeira urina da manh, em frasco
limpo e estril necessria uma higiene local adequada, prvia coleta;
A urina, para a realizao do exame, no pode ultrapassar 4 horas da sua coleta;
Resultados:
- Valores normais: ausncia de protenas e glicose, ausncia de corpos cetnicos, escassas clulas
epiteliais, densidade entre 1010-1025, urobilinognio em pouca quantidade (traos).
- Valores anormais: presena de valores alterados indica que estudos mais aprofundados devero
ser realizados, e tambm devem ser relacionados com os resultados do exame clnico.
64 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 64

Avaliao da Bacteriria *UFC = unidades formadoras de colnias


Mtodos diretos:
- Esfregao de urina no centrifugada e corada pelo Gram: mais de 1 bactria por campo de au-
mento de 1000x = 105 UFC/mL (baixa sensibilidade: 40-70%; alta especificidade: 85-95%);
- Cultura quantitativa (padro ouro).

Mtodo indireto:
- Teste da reduo do nitrato a nitrito presena de enterobactrias
*Em imunodeprimidos, a piria (presena de pus) pode ser negativa e a cultura, positiva.

Critrios clssicos de interpretao (Kass; 1957): > 105 UFC/mL = infeco


< 104 UFC/mL = contaminao
Critrios modernos de interpretao (Stamm et al.; 1987): leva em considerao as variveis.
>102 UFC/mL de E. coli ou S. saprophyticus em mulher sintomtica;
> 105 UFC/mL de qualquer uropatgeno em mulher sintomtica;
>105 UFC/mL em pelo menos duas urinoculturas de mulher assintomtica;
>103 em homem sintomtico;
>104 em crianas, dependendo da colheita.

Urocultura: identificao de microrganismos em grande quantidade


Preparao prvia: deve-se coletar, preferencialmente, a primeira urina da manh, em frasco
limpo e estril necessria uma higiene local adequada, prvia coleta;
- recomendado o jato mdio da urina, pois assim a primeira poro haver limpado a uretra.
- possvel trabalhar com uma urina emitida at 2 horas aps a coleta e mantida temperatura
ambiente alm deste perodo, deve-se refriger-la por no mximo 24 horas, antes do processa-
mento aps este perodo, a urina no poder ser trabalhada.
Centrifugar a urina e semear o sedimento em gar;
Realizar um antibiograma com a bactria que apresentar crescimento.

Resultados:
- Urocultura negativa ou inferior a 100.000 colnias/ml com leucocitria (presena de leuccitos
na urina): pode resultar de uma amostra contaminada por antissptico externo ou de uma infeco
urinaria parcialmente tratada (antibitico por perodo menor que o necessrio ou com dosagem
menor que a devida, geralmente resultante de automedicao);
- Urocultura positiva ou superior a 100.000 colnias/ml sem leucocitria: resulta geralmente de
uma contaminao externa ou m lavagem dos genitais, urina velha ou demora na semeadura. O
exame de urocultura est plenamente associado ao exame de urina rotina. Uma urocultura posi-
tiva, porm sem presena de leuccitos ao exame de urina rotina, faz com que o mdico duvide do
crescimento bacteriano identificado.
- Urocultura positiva ou superior a 100.000 colnias/ml com leucocitria: resultado positivo e in-
dicativo de uma infeco urinaria. Deve-se identificar a bactria e realizar o teste de sensibilidade
(antibiograma), para definir a etiologia e o tratamento apropriado da infeco urinaria.
65 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 65

Teste antibiograma: anlise que indica a sensibilidade de um microrganismo isolado clinicamente


aos antibiticos de uso corrente.
Realiza-se uma urocultura isolamento da bactria semeamento em
placa adio de diferentes discos com antibiticos impregnado (capazes de
difundir em gar) dispostos equidistantemente entre eles ao longo da placa
(conforme a imagem ao lado) incubao a 37C durante 24 horas lei-
tura dos halos de inibio em milmetros (mm);
- Os antibiticos utilizados sero baseados na bactria cultivada.
Formao de halos indica que a bactria sensvel para o antibitico utilizado e
a ausncia de halos indica que a bactria resistente.

*Curiosidade: teste de concentrao inibitria mnima menor concen-


trao da droga capaz de inibir o crescimento bacteriano.
- Fita teste contm faixas graduadas com concentraes variadas de um
determinado antibitico;
- Ocorre formao de halo a partir da menor da concentrao capaz de
inibir o crescimento bacteriano (observe a imagem da cultura ao lado e
note as marcaes com as setas).

Infeces do Trato Urinrio Superior


Principal infeco: pielonefrite (infeco renal)
O agente envolvido em cerca de 75% dos casos a E. coli;
- Tambm pode haver infeco por outros microrganismos da famlia Enterobacteriaceae,
Staphylococcus ou at Mycobacterium tuberculosis.
No h muitos mtodos que possibilitem a distino clara entre uma ITU restrita ao trato urin-
rio inferior de uma ITU que ascendeu ao trato urinrio superior.
- Elas podem ter tambm origem hematognica.

Diagnstico:
1) Exame da urina e observao do seu aspecto (hematria) e anlise da presena de anticorpos
IgA e IgG;
2) Exame de sangue: observando aumentos de neutrfilos na maioria dos casos (nveis avanados
de infeco).

Sintomas:
Sintomas relacionados com o trato urinrio inferior e quase sempre febre, mal estar geral e dor
lombar;
As infeces podem ser assintomticas: nmero significativo de bactrias na urina, na ausncia
de sintomas.

Tratamento:
Atravs de antibitico sabidamente eficaz contra o microrganismo isolado.
O tratamento deve continuar at o desaparecimento de sinais e sintomas (pelo menos 10 dias);
- Pacientes com cateter urinrio: remoo, quando possvel, durante o tratamento.
66 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 66

Infeces Sexualmente Transmissveis (ISTs)


Divididas em:
a) Uretrite gonoccica agente causador a Neisseria gonorrhoeae
b) Uretrite no-gonoccica agente causador no a Neisseria gonorrhoeae.

Uretrite Gonoccica por Neisseria


Neisseria gonorrhoeae (gonococo): diplococo gram-negativo, imvel e com pili
Gonococos atacam as mucosas do trato geniturinrio, dos olhos, do reto e
garganta, causando supurao aguda que pode levar a invaso tecidual.
- Processo seguido de inflao crnica e fibrose.
Apenas em humanos nico hospedeiro conhecido;
Transmisso sempre pelo contato sexual pessoa-pessoa, pois sensvel ao ressecamento.
- Em mdia, mulheres tm 50% de chance de serem infectadas aps ato sexual com homem infec-
tado, e homens tm 20% de chance de serem infectados;
- Indivduos infectados assintomticos so os principais reservatrios (principalmente mulheres).
Transmisso vertical pode ocorrer durante o parto normal.

*Importante: oftalmia neonatal infeco do saco conjuntival adquirida pelo beb


durante a passagem pelo canal de parto de uma me infectada (uretrites
gonoccicas e, tambm, por no-gonoccicas).
- Utiliza-se nitrato de prata nos olhos dos recm-nascido para evitar in-
feco pelos microrganismos (Mtodo de Cred).
Mtodo obrigatrio por lei desde 1977 (Decreto Lei N 19.941).

Diagnstico clnico:
Perodo de incubao: 3 a 10 dias;
Prurido intenso, disria uretral e corrimento mucopurulento;
- Homens: referem dor ao urinar (sensao de queimao) e se-
crees uretrais;
- Mulheres: maioria assintomtica 10 a 30% apresentam disria e
secreo vaginal intensa amarelo-esverdeada e mucopurulenta.

Diagnstico laboratorial:
Exame bacterioscpico: raspagem do exsudato uretral ou endocer-
vical, coletando o material com swab embebido em alginato de clcio.
- Faz-se colorao de Gram presena de diplococos gram-negativos
no interior dos leuccitos polimorfonucleares (imagem ao lado).
Possui elevada especificidade (95%) e sensibilidade (100%).

Exame cultural: deve ser realizada quando o mtodo de Gram obteve resultado negativo ou du-
vidoso deve-se utilizar meios seletivos especficos.

Outros: PCR, deteco de antgenos, pesquisa de beta-lactamases, etc.


67 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 67

Uretrites No-Gonoccicas
Causada por vrios agentes: Chlamydia trachomatis (mais associada as uretrites no-gonocci-
cas), Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma, Trichomonas vaginalis, Candida albicans etc.

Epidemiologia:
Elevada incidncia nos adultos jovens, sexualmente ativos.
- Chlamydia trachomats: presente na uretra de 25-60% dos homens com uretrite no-gonoccica;
- 2-50% dos homens tem Ureaplasma urealyticum;
- 20-30% das uretrites no-gonoccicas no possvel estabelecer a etiologia.

Diagnstico clnico:
dado mediante a excluso de Neisseria gonorrhoeae;
- Perodo de incubao mais prolongado: 7-21 dias (at 5 semanas);
- Manifestaes mais brandas: prurido, disria, secreo uretral de leve a moderada, de colorao
esbranquiada e aspecto mucoide.

Diagnstico laboratorial:
Excluso de Neisseria gonorrhoeae pelo mtodo de Gram
- Deve-se encontrar em torno de 5 ou mais polimorfonucleares;
- Ausncia de diplococo (gonococo) gram-negativo intracelular.
Coleta deve ser feita antes da primeira mico matinal ou aps 4 horas sem urinar.

Uretrites No-Gonoccicas por Chlamydia


Chlamydia trachomatis: bactria gram-negativa, to pequena quanto os v-
rus (0,2 0,8m) e so parasitas intracelulares obrigatrios.
No apresentam peptideoglicano e no sintetizam ATP;
Apresentam ciclo de vida dimrfico:
- 1 forma: corpsculo elementar (CE) pequeno, esfrico e estvel ao stress ambiental;
Existe fora da clula como a forma infecciosa possui elevada afinidade pelo epitlio.
- 2 forma: corpsculo reticulado (CR) forma intracelular reprodutiva (diviso binria).

Ciclo de vida:
- Fixao nas clulas epiteliais da conjuntiva;
- Penetrao por endocitose dos CE e incorporao
dentro de uma vescula endoctica;
- Dentro da vescula a bactria mantm o pH acima de
6,2 e impede a fuso da vescula com o lisossoma;
- CEs infecciosos ficam maiores e metabolicamente
ativos;
- CRs sintetizam macromolculas a partir dos metab-
litos e da energia do hospedeiro, crescem e se multi-
plicam (at 1000 bactrias) por diviso simples dentro das incluses;
- 18 a 23 tubos para a nutrio (canudinhos);
- Transformam-se novamente em CEs.
68 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 68

Clamdia
Pode haver coinfeco com gonococo infectam as mesmas clulas epiteliais colunares;
Prevalncia de mulheres 5x maior em relao aos homens;
- Mulheres: C. trachomatis tambm responsvel pela doena inflamatria plvica*, alm de in-
feces oculares** e pneumonias em lactentes nascidos de mes infectadas.
- Homens: podem desenvolver inflamao do epiddimo.

* Doena inflamatria plvica: pode resultar em esterilidade e predispor a gravidez ectpica.

** Tracoma: infeco ocular grave que pode levar cegueira.


- Inflamao da conjuntiva, vascularizao e fibrose da crnea;
A inflamao afeta o fluxo lacrimal;
A fibrose faz com que a plpebra se volte para dentro (triquase) leso (ulcerao) contnua da
crnea pelos clios infeces secundrias cegueira.
- Sintomas: secreo mucopurulenta, corrimento ocular, plpebras edemaciadas, fotofobia, dor e
lacrimejamento.

Cervites
Processo inflamatrio do epitlio glandular do colo uterino;
Causada por:
Neisseria gonorrhoeae;
- Com exsudato purulento.
Chlamydia trachomatis;
- Sem exsudato pode desenvolver infertilidade na mulher.
Ureaplasma urealyticum;
Alguns Streptococcus.

Diagnstico clnico:
Muitas pacientes so portadoras de cervicite mucopurulenta assintomtica;
Sintomas: disria, corrimento vaginal espesso (ou exsudado mucopurulento saindo do colo ute-
rino) e, s vezes, sangramento vaginal;
Colo uterino apresenta-se edemaciado com sangramento fcil ao to-
que da esptula ou aps o coito;
Se no tratada pode atingir o endomtrio e as trompas (doena infla-
matria plvica, infertilidade, gravidez ectpica e dor plvica crnica).

Diagnstico laboratorial:
Mtodo de Gram para diagnosticar N. gonorrhoeae (diplo-
coco gram-negativo);
Exame cultural para outros agentes Exame Papanicolau
Imunofluorescncia para C. trachomatis visualizao de
incluses citoplasmticas.
69 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 69

Vaginose Bacteriana
Vaginose vaginite
com inflamao
sem inflamao infeco das paredes vaginal, caracterizada pelo aumento de bactrias
na vagina (diminuio de lactobacilos produtores de H2O2).
Infeco polimicrobiana causada por:
Gardnerella vaginalis;
Prevotella sp.
Peptostreptococcus sp.
Mobiluncus e Mycoplasma hominis.

Diagnstico clnico:
Aumento do fluxo vaginal;
Presena de corrimento com odor ftido (cheiro de peixe) Teste de exalao
- Teste de Whiff (adio de KOH 10%) odor torna-se acentuado devido presena de aminas pro-
duzidas pela G. vaginalis.

Diagnstico laboratorial:
Clue cells ou clulas alvo: so clulas de escamao do epitlio vaginal cobertas por bact-
rias (Gardnerella) presena de clue cells sugestiva de infeco por G. vaginalis (imagem abaixo);

Mtodo de Gram para visualizao de clue cells, diminuio de leuccitos e de lactobacilos;


pH vaginal > 4,5, odor desagradvel aps adio de KOH 10% secreo;
- pH aumenta porque h diminuio de lactobacilos reduo da produo de cido lctico.
Cultura: isolamento em meio seletivo (vaginalis gar);
Metodologia de sondas de DNA.

(na tabela abaixo temos as principais infeces (gerais) do sistema reprodutor inferior feminino)
70 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 70

Infeces do Trato Urinrio e Genital por Treponema


Duas espcies causam doena no homem: Treponema pallidum e Treponema carateum;
Treponema carateum: agente causador de pinta doena de pele;
Treponema pallidum: agente causador da sfilis.

Treponema pallidum: espiroqueta (estrutura flexvel, com


flagelo interno) gram-negativa que incapaz de crescer em
culturas livres de clulas, no confere imunidade efetiva e
possui tempo de gerao de 30-60 horas.

SFILIS
Epidemiologia:
Distribuio universal;
- Terceira doena sexualmente transmissvel mais comum nos EUA.
Tem o homem como nico hospedeiro.

Transmisso:
Contato sexual, congnita e transfuso de sangue;
- 30% de chance de contrair aps um nico contato;
- Transmitida no estgio inicial da doena

Patogenia:
Treponema pallidum possui fibronectina (adesina) facilita a penetrao;
Penetra as superfcies cutaneomucosas atravs de microlaceraes (leses, por exemplo, causa-
das por atrito/frico durante o ato sexual);
Em 3 semanas desenvolve-se a sfilis primria lcera indolor (cancro duro) e regular, com
fundo limpo (no purulenta) e com bordos elevados;
Em 2 a 4 semanas h regresso espontnea microrganismo se dissemina pela linfa e sangue;
Perodo assintomtico (at 24 semanas) sfilis secundria;
40% progride para sfilis terciria.

Sndromes clnicas:
Sfilis primria: leso inicia com uma ppula sofre eroso lcera indo-
lor (cancro duro);
- Presena de cancro sifiltico inicial (onde a espiroqueta inoculada).

*Importante: o cancro duro indolor e, por essa razo, facilita a propagao da doena; uma vez
que a lcera contm elevado nmero de treponemas (leso muito contagiosa!).

Sfilis secundria: ocorre com a difuso das espiroquetas pelo sangue atinge a pele e mucosas.
- Caracterizado principalmente por uma erupo cutnea de aparncia varivel e em vrios locais
(tambm so muito infectantes);
Palma das mos e planta dos ps sfilis exantemtica com rosolas palmares e plantares.
71 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 71

Sfilis latente: perodo latente da aps a sfilis secundria sintomas desaparecero com ou sem
tratamento, e a doena entra em um perodo latente.
- Aps 2 a 4 anos de latncia, a doena normalmente no infecciosa, exceto pela transmisso ma-
terno-fetal;
- A maioria dos casos ( dos casos) no progride alm do perodo latente, mesmo sem tratamento.

Sfilis terciria (tardia): ocorre somente aps um intervalo de muitos anos depois da ocorrncia
do perodo latente ocorre em dos casos.
- Menos contagiosa, porm mais degenerativa;
- Inflamao crnica difusa pode causar destruio de qualquer
rgo ou tecido;
- Degenerao do SNC (neurossfilis 10% dos casos), leses car-
diovasculares (aneurisma da aorta);
- Desenvolvimento de leses granulomatosas (gomas) nos ossos,
na pele e em outros tecidos.

Sfilis congnita: transmissvel atravs da placenta para o feto;


- Mais comum quando a gestao ocorre durante o perodo latente da doena prejuzo do desen-
volvimento mental e outros sintomas neurolgicos esto entre as consequncias mais graves.
Infeces latentes, malformaes de mltiplos rgo.
- Gestao durante os estgios primrio e secundrio causa mais comum de natimortos.
- Tratamento da me com antibiticos durante os dois primeiros trimestres (6 meses) geralmente
capaz de prevenir a transmisso congnita.

DIAGNSTICO LABORATORIAL
Nas fases primria e secundria: esfregaos obtidos do material retirado do fundo exame micros-
cpico em campo escuro.

Testes no-treponmicos: utilizao de cardiolipina (lipdeo) de boi que possui lipdeos similares
queles que estimularam a produo de anticorpo reagina (reao do organismo ao trepononema).
VDRL (Veneral Disease Research Laboratory): quantitativo e qualitativo serve como triagem.
- Utilizao de cardiolipina e soro do paciente suspeito;
- Pode gerar falsos positivos reage com doenas crnicas (lpus, hansenase, hepatitite etc.).
Teste rpido de reagina plasmtica (RPR): semelhante ao teste VDRL (imagem abaixo)

FTA-ABS (fluorescent treponemal antibody absorved): teste diferencial (bastante caro).


- Sfilis congnita: FTA-ABS IgM a partir do lquido cefalorraquidiano ou radiografia dos ossos longos
72 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 72

Clula Eucaritica Fungos


Propriedades Gerais
Os fungos crescem em duas formas bsicas: bolores (fungos filamentosos) e leveduras.

a) Fungos filamentosos: so multicelulares (podem ser uninucleadas ou multinucleadas) e consis-


tem em tbulos cilndricos ramificados, denominados hifas, cujo dimetro varia de 2 a 10m.
Conjuntos de hifas = miclio (visvel a olho nu).
Diviso das hifas:
- Maioria das hifas contm paredes cruzadas, chamadas de septos, que
dividem as hifas em unidades semelhantes a clulas uninucleadas (um
ncleo) distintas hifas septadas;
- Algumas hifas se apresentam como clulas longas, continuas e com
muitos ncleos hifas cenocticas.
Hifas crescem por meio do alongamento das extremidades.
- Cada parte de uma hifa capaz de crescer e, quando um fragmento
quebrado, ele pode alongar-se para formar uma nova hifa.

*Importante: estratificao das hifas e do miclio


- Miclio vegetativo: elemento de sustentao e de absoro de nutrientes;
- Miclio areo: miclio que se projeta na superfcie;
- Miclio reprodutivo: sustenta os corpos de frutificao ou propgulos esporos*

(*) So classificados segundo sua origem, em externos ou internos, sexuados e assexuados.


Assexuados: condeos (artrocondios, blastocondeo, clamidocondio) e esporangisporo;
Sexuados: plasmogamia, cariogamia e meiose
73 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 73

a) Leveduras: so clulas isoladas e unicelulares, geralmente de formatos esfricos a elipsoides,


cujo dimetro varia de 3 a 15m.
Leveduras so capazes de realizar crescimento anaerbio facultativo permite que esses fungos
sobrevivam em vrios ambientes;
A reproduo da maioria das leveduras ocorre por brotamento.
- Formam blastocondeos (gmulas ou brotos) gerados a partir de
uma clula primria (conforme a imagem ao lado).
Uma clula de levedura pode produzir mais de 24 clulas-filhas por
brotamento;
Em cada broto gerado h a formao de uma cicatriz na clula pa-
rental possvel verificar, atravs das cicatrizes, a quantidade de ge-
raes formadas.
- Algumas leveduras produzem brotos que no se separam uns dos outros formam uma pequena
cadeia de clulas, denominada pseudo-hifa.
Exemplo: Candida albicans adere-se s clulas epiteliais humanas na forma de levedura, mas re-
quer pseudo-hifas para invadir os tecidos profundos.

*Curiosidade: a respirao anaerbia facultativa de leveduras (Saccharomyces) possibilita a


produo da nossa amada, gostosa e deliciosa cerveja

Tipos de colnias:
Leveduras: cremosas ou pastosa; alongamento apical e ramificao lateral
Filamentosos: algodonosa, pulverulenta, aveludada. (meio de cultura e no organismo)

*Importante: a coleta de material feito nas bordas da colnia (clulas mais novas)

Dimorfismo: alguns fungos, particularmente as espcies patognicas, exibem duas formas de


crescimento podem crescer tanto na forma de fungos filamentosos quanto na forma de levedura.
Forma de fungo filamentoso produz hifas reprodutivas, areas e vegetativas;
Forma de levedura se reproduz por brotamento.
Dimorfismo em fungos patognicos dependente de temperatura:
- Temperatura ambiente (25C): forma filamentosa (bolor);
- Temperatura corporal (37C): forma de levedura.
74 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 74

Componentes Celulares

Parede Celular
Funes: formato do fungo, resistncia mecnica e proteo osmtica
Principais compostos:
Leveduras: mananas, glucanas;
Filamentosos: quitina, celulose;
Alguns lipdios e pigmentos (melanina demceos).

Membrana Citoplasmtica
Atua como uma barreira semipermevel no transporte
ativo e passivo das substncias;
Constituda por uma poro hidrofbica e outra hidro-
flica bicamada lipdica;
Esteris: principal o ergosterol (imagem ao lado);
Stio de atuao dos medicamentos antifngicos.
Lipdeos associados a acar: glicolipdeos importantes
na aderncia da clula fngica s clulas do hospedeiro.

*Importante: ergosterol um esterol e, por essa razo, alguns antifngicos podem atuar erronea-
mente em outro tipo de esterol, o colesterol (presente em humanos) efeitos adversos.

*Importante: antifngicos so hepatotxicos no recomendado para indivduos com hepatite.

Material Gentico
Ncleo: contm o genoma fngico;
Agrupado em cromossomos lineares;
Composto de DNA dupla fita em hlice;
Contm histonas associadas ao DNA cromossomal;
Nuclolo: corpsculo esfrico contendo DNA, RNA e protenas (responsvel pela produo do
RNA ribossomal).

Plasmdeos: mais frequente em bactrias, porm tambm podem


ser encontrados em fungos.
Estruturas circulares de DNA dupla fita de 2m ( 6200 pb);
Localizao extra cromossmica;
Capacidade de autoduplicao de modo independente dos cro-
mossomos;
Auto transferncia para outras clulas.
Exemplos:
- Saccharomyces cerevisiae: fita dupla circular de DNA 3% do DNA da clula e at 100 cpias;
- Kluyveromyces lactis: 2 plasmdeos (linear) associado a produo de toxina.
75 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 75

Ribossomos
Locais de sntese proteica;
Ocorrem no citoplasma da clula;
Compostos por RNA e protenas;
Eucariotos possuem ribossomos do tipo 80S (duas subunidades 40S e 60S).

*Importante: medicamentos antifngicos no atuam sobre a sntese proteica dos fungos pois cau-
sam danos sntese proteica do ser humano.

Mitocndria
Fosforilao oxidativa;
Composta por membranas de fosfolipdeos;
Contm seu DNA e ribossomos prprios (ribossomos do tipo 70S).

Retculo Endoplasmtico
Membrana em forma de rede distribuda por toda a clula fngica;
Ligada membrana nuclear;
Pode haver ribossomos aderidos.

Complexo de Golgi
Agregao interna de membranas;
Envolvidas no armazenamento de substncias teis ao organismo, como glicognio e lipdeos;
Tambm h armazenamento de substncias que sero desprezadas pela clula fngica.

Cpsula
Facultativa;
Formada por mucopolissacardeos;
Fator de virulncia
Funo: resistncia fagocitose (algumas leveduras)
- Exemplo: Cryptococcus neoformans (observe a imagem ao lado e abaixo)
76 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 76

Micoses
So classificadas de acordo com a regio acometida:
Micoses superficiais;
Micoses cutneas;
Micoses subcutneas;
Micoses sistmicas por fungos patognicos;
por fungos oportunistas.

Micoses Superficiais
Os fungos infectam somente as camadas mais superficiais de estrato crneo e os pelos.

Infeces Fngicas Superficiais por Malassezia furfur


Malassezia furfur: leveduras lipoflicas (exige a presena de lipdeos no meio para seu cresci-
mento) e ubquas (com predominncia em reas de clima tropical e subtropical).
Considerada parte da microbiota cutnea humana.
- 97% dos indivduos clinicamente normais so portadores do fungo no couro cabeludo e 92% no
tronco e abdmen.

Provoca pitirase versicolor (micose de praia) doena leve e crnica, de difcil eliminao.
Manchas de cor e formas variadas que descamam facilmente (prurido leve);
- Manchas hipocrmicas: cido azelaico atividade anti-tirosinase interferindo na melanognese;
- Manchas hipercrmicas;
Principalmente adultos jovens e ps-pberes: alteraes dos lipdios na
puberdade.
Fatores predisponentes: alta temperatura e alta umidade relativa do ar,
pele gordurosa, elevada sudorese, fatores hereditrias, uso de terapias
imunossupressoras;
reas mais afetadas: regio cervical, ombros, trax anterior e posterior;
Acomete indivduos de todas as raas e ambos os sexos.

Diagnstico clnico:
Sinal de Besnier: descamao da leso quando raspada; leso torna-se mais evidente
Sinal de Zileri: esfacelamento da queratina aps o estiramento da leso. aps um dos sinais
Exame com lmpada de Wood (ultravioleta 360nm): fluorescncia verde-amarelada.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%) e tinta Parker Quink preta;
- Visualizao de hifas curtas e grossas, leveduras em forma de cacho.
Cultura: fungo lipoflico (depende de meio com lipdeo para multiplicar) utiliza-se azeite.
77 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 77

Infeces Fngicas Superficiais por Hortaea werneckii


Hortaea werneckii: levedura ubqua e demcea (produtora de melanina).
Provoca tinea nigra
Infeco superficial benigna que acomete o estrato crneo da pele;
Assintomtica;
Leses de cor preta ou marrom-escuras com bordas bem definidas e sem
descamao;
Pouco pruriginosa;
Palmas das mos e, com menor frequncia, na planta dos ps, pescoo e trax.

Infeces Fngicas Superficiais por Trichosporon


Trichosporon: gnero de fungo ubquo
Espcies: T. ovoides, T. inkin, T. asahii, T. asteroides, T. cutaneum e T. mucoides.

Provoca piedra branca


Desenvolve-se ao redor do pelo, formando ndulos claros e moles;
- Localizam-se principalmente na poro distal da haste.
Facilmente removveis;
Acometem os pelos pubianos, axilares ou da barba, podendo mais
raramente acometer o couro cabeludo (conforme a imagem ao lado).
- Relacionada a ms condies de higiene.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%);
- Presena de hifas hialinas, artrocondios.
Anlise microscpica do pelo coletado presena de ndulos branco-amarelados ou amarelo-
acastanhados com consistncia gelatinosa fracamente aderidos ao pelo.

Infeces Fngicas Superficiais por Piedraia hortae


Piedraia hortae: fungo ubquo e demceo .

Provoca piedra negra


Ndulos endurecidos e de colorao escura, raramente em pelos
do corpo, preferencialmente no couro cabeludo (imagem ao lado);
Discreta predominncia no sexo masculino;
Frequentes recidivas.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%);
- Presena de hifas demceas, ascos (ascsporos).
Anlise microscpica do pelo coletado ndulos no se destacam facilmente dos pelos;
- Exame cultural: colnias castanho escura, verde oliva ou preta.
78 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 78

Infeces Fngicas Superficiais por Candida


Candida: leveduras da microbiota normal da pele, das mucosas e do trato
gastrintestinal.
80 espcies C. albicans, C. guilliermondi, C. krusei, C. tropicalis,
C. parapsilosis e C. glabrata;
Reproduo: formao de pseudo-hifas (brotos que no se separam uns
dos outros).

Provoca candidase
Micose superficial, subcutnea ou sistmica;
- Espectro bastante extenso: colonizao de mucosas at quadros sistmicos;
- Mucosas mais frequentemente envolvidas: boca, vagina e esfago.
Infeco endgena;
- Quando exgena est comumente relacionada a infeco hospitalar.
Micoses oportunistas infeces so facilitadas por modificaes nas defesas do hospedeiro;
- Queda da imunidade, mudanas na hidratao, pH, alterao da microbiota.

Candidase Cutneo-Mucosa
Candidase intertriginosa
Resultam da extenso de uma vulvovaginite ou de uma balanopostite, quando localizadas nas
regies interglteas e gnitocrurais;
Origem primria: locais onde ocorre intensa macerao (regies inframamrias, axilares, etc.);
Crianas que usam fraldas com ms condies de higiene;
Regies interdigitais palmares e plantares.

Candidase intertriginosa (micose de unha)


Caracterizada por uma paronquia tumefao inflama-
tria na regio periungueal (pele ao redor da unha);
- Altera a formao da unha, que cresce ondulada e com al-
teraes na superfcie;
- Modifica a colorao da unha para um castanho-amare-
lado, marrom ou amarelo-esverdeado, alm de ocorrer
opacificao e espessamento da unha.
Acomete pessoas que submetem as mos a constante
umidade ou portadoras de candidase oral e/ou vulvovaginite por Candida.
Evoluo da micose pode comprometer a matriz da unha (unquia).
- Destruio total das unhas.
79 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 79

Candidase oral (sapinho)


Leso pseudomembranosa esbranquiada, focal a confluente, composta de clulas
epiteliais, leveduras e pseudo-hifas.
Pode ocorrer na lngua, nos lbios, nas gengivas ou no palato;
Desenvolve na maioria dos pacientes com Aids;
- Candidase esofgica pode ser um indicativo para a doena.
Outros fatores de risco incluem tratamento com corticosteroides ou antibiticos,
nveis elevados de glicose e imunodeficincia celular.

Vulvovaginite
Caracterizada por irritao, prurido, corrimento vaginal branco e espesso e sem odor;
Candida spp.: constituintes da microbiota vaginal;
Candida spp.: 20-25% dos corrimentos genitais de origem infecciosa;
- C. albicans: responsvel por 60-70% desses quadros;
75% das mulheres adultas manifestaro a doena em alguma ocasio de suas vidas
- Infeco pode ser recorrente.

Diagnstico:
- Avaliao padro com medida de pH vaginal (no h alterao do pH), teste de Whiff (Candida no
reage no h produo de aminas) e microscopia fresco com KOH 10%;
- Exame fresco: coleta de material das laterais da vagina preparo de lmina com soluo fisiol-
gica ou KOH verificao de pseudo-hifas;
- Exame Papanicolau: microbiota predominantemente de Lactobacillus, presena de moderada
grande quantidade de leuccitos (devido a inflamao).

Balanopostite
Manifestao clnica masculina, com incio na regio da glande ou do sulco
balanoprepucial;
Apresentao: discreto eritema pruriginoso ou vesculas ou pstulas com
contedo branco-cremoso.

Micoses Cutneas
As micoses cutneas so causadas por fungos que s infectam o tecido queratinizado (pele, cabe-
los e unhas) so fungos queratinoflicos.
Formao de dermatofitoses ou tineas;
Agentes etiolgicos: Epidermophyton ssp., Microsporum ssp. e Trichophyton ssp.
Epidermophyton ssp.: infecta apenas a pele;
Microsporum ssp.: infecta a pele e os pelos;
Trichophyton ssp.: infecta a pele, pelos e unhas.
80 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 80

Micoses cutneas possuem duas classificaes: inglesa e francesa


a) Inglesa: todas as infeces so tineas seguida do stio anatmico da leso (tinea pedis, tinea cor-
poris, tinea unguium);
b) Francesa: classifica tinea como qualquer leso dermatoftica que acometa o couro cabeludo e/ou
regio da barba e bigode;
Epidermofitases pele glabra;
Onicomicoses dermatofticas unhas.

Tinea
Qualquer leso dermatoftica que acomete o estrato crneo do couro cabeludo e/ou regio da
barba e bigode subdivididas quanto apresentao:

1) Tinea tonsurante: leses no couro cabeludo.


Infeco associada a condies de higiene;
Identificao:
- Presena de 12 placas de alopecia (perda de cabelo); so fluorescentes a lmpada
de Wood e possuem grande dimetro (>3cm) microsprica;
- Presena de leses alopecias mltiplas, muito descamativas, no fluorescente e de
pequena dimenso (<2cm) tricoftica.

2) Tinea supurativa: leses com exsudato


Agente etiolgico: Trichophyton mentagrophytes
Locais comuns de manifestao: em crianas e mulheres (couro cabeludo), e
no homem (barba e bigode);
Aparecimento gradual de placas escamosas (por vrios dias) demonstram
abruptos sinais clssicos de inflamao (edema, rubor, secreo purulenta), se-
guidos pela perda dos pelos ou cabelos;
- Gotas de pus saem espontaneamente (ou sob presso) dos orifcios pilosos.

3) Tinea favosa/fvica: exsudato seroso em torno dos pelos formam uma massa
amarelada denominada esctula fvica
Agente etiolgico: Trichophyton schoenleinii
Esctula fvica: possui aspecto de crosta amarelada, cncava e centrada por
um pelo, com odor de urina de rato;
Foliculites podem levar a alopcia definitiva (perda de cabelo permanente).

*Importante: dermatofitoses (ou tineas) so bastante frequentes em pacientes imunossuprimidos.

Epidermofitase
Acometem o extrato crneo da pele glabra (regies sem pelo) e so subdivididas em:
1) Herpes circinada: leso superficial de bordo bem definidos e escamativos, inflamatria,
de evoluo centrfuga, localizada na pele glabra uma zoonose (afeta vrios animais).
Agentes etiolgicos: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton.
Pode curar espontaneamente ou evoluir para a forma disseminada.
81 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 81

2) Leses de grandes pregas: mais frequente na regio inguinal, inframamria,


interglteas e axilas.
Regies umidas onde ocorre abafamento favorece a proliferao;
Borda com aspecto eritematosovesiculoso ou pustuloso, que circunscreve
uma regio descamativa;
Bastante contagiosa: contato ntimo de roupas contaminadas, locais de
banho, salas de ginstica, etc.

3) Leses interdigitoplantares e palmares


As manifestaes clnicas variam desde vesculas duras com contedo lquido, placas
escamosas (regio plantar ou borda lateral do p), fissuras (p-de-atleta frieira).

4) Tinea imbricata ou Tokelau: leses com discreto relevo, formando crculos esca-
mosos, concntricos e de dimetros variados (conforme a imagem ao lado).
Elevado prurido: facilita a disseminao.

Onicomicoses Dermatofticas
Dermatfitos: comprometimento distal da unha;
Leveduras: predileo pela borda proximal da unha.

*Importante: lixas de unhas em sales de beleza so propcias


para transmitir micoses uso comunitrio sem higienizao.

Onicomicoses subungueal distal/lateral


Acomete as unhas dos ps e leva ao descolamento da borda livre da unha;
Espessamento as unhas aumentam de espessura, ficando endurecidas e grossas pode ser
acompanhada de dor e ter aspecto de "unha em telha" ou "unha de gavio";
Caractersticas: unha opaca, esbranquiada, espessa.

Onicomicoses subungueal proximal


Forma mais rara: geralmente em imunodeprimidos (aidticos);
Inicia-se pela extremidade proximal observa-se manchas brancas ou amareladas ao nvel da
lnula comprometendo toda a unha;
Adquire depois caractersticas da forma subungueal distal.

Onicomicoses superficial branca


Mais comum nas unhas dos ps;
Manchas brancas na superfcie da unha;
Com a evoluo as manchas ficam amareladas e pode destruir toda a unha.

Onicomicoses distrfica total


Pode ser a forma evolutiva de todas as formas anteriores;
Destruio e deformidades: a unha fica frgil, quebradia e quebra-se nas pores anteriores fi-
cando deformada ou restando alguns restos de queratina aderida ao leito ungueal.
82 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 82

Micoses Subcutneas
Envolvem camadas mais profundas da derme e do tecido subcutneo necessita inoculao;
Podem disseminar-se para as articulaes, ossos, msculos;
Predominncia em imunocomprometidos;
Traumatismo forma de entrada (inoculao);
Causadas geralmente por fungos dimrficos;
Agentes causais: isolados do solo, madeira e vegetao em decomposio.
Micoses ocupacionais proporcionam a inoculao do fungo.

Infeces Fngicas Subcutneas por Sporothrix schenckii


Sporothrix schenckii: fungo termicamente dimrfico que vive em vegetaes, associado a uma
variedade de plantas gramneas, rvores, roseiras e outras horticulturas
Acomete homens e animais encontrado em vrios animais como gato, cachorro, coelho, papa-
gaio, camundongo, camelo, cavalo, mula, jumento, bovinos etc.
- Um arranhado de gato, por exemplo, pode inocular o fungo.

Provoca esporotricose infeco subcutnea de maior incidncia no Brasil (em especial MG).
Perodo de incubao: 1 semana a 6 meses;
Predisposio: fazendeiros, jardineiros, floristas, feirantes
Manifestao clnica: cancro de inoculao (local onde iniciou a esporotricose)
- Pode disseminar para outros locais via circulao linftica.
Formas cutneas:
- Cutnea linftica: formao de cancro cadeia de ndulos ao longo dos vasos linfticos;
- Cutnea localizada; Corresponde a mais de 95% dos casos
- Cutnea disseminada.

*Importante: formas cutneas so resultado da emerso do fungo para a


superfcie (busca de O2) a colnia fngica no tecido subcutneo (interna) muito maior do que
exposta na superfcie, i.e., a manifestao superficial esconde algo ainda maior internamente.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: raramente positivo;
Exame cultural: mtodo de eleio crescimento rpido (5 dias), mais barato e seguro;
Microcultivo a 25C formao de bolor;
- Visualizao microscpica de condios dispostos em cachos terminais (25C).
Microcultivo a 37C formao de leveduras;
- Visualizao microscpica de clulas leveduriformes em forma de charuto (37C).

*Importante: a esporotricose uma doena de carter crnico e de tratamento prolongado utili-


zao de antifngico por mais de 2 anos difcil adeso ao tratamento.
83 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 83

Infeces Fngicas Subcutneas por Loboa (Lacazia) loboi ou Paracoccidioides loboi


Loboa (Lacazia) loboi: levedura encontrada em regies tropicais da Amrica Latina.
Reservatrio e o mecanismo de transmisso do agente so desconhecidos.

Provoca lobomicose.
Doena crnica que inicialmente comea como uma pequena verruga;
Incidncia: adultos jovens que desempenham atividades re-
lacionadas pesca, caa e agricultura;
Forma leses queloidiformes (imagens ao lado);
- Lobomicose pode ser confundida com hansenase, leishmani-
ose, tumores diagnstico diferencial.
Brasil o pas com o maior nmero de casos.

Diagnstico laboratorial:
Colheita de material na biopsia da leso;
- Relativamente fcil o encontro do agente etiolgico em bipsia;
Exame direto: clulas leveduriformes globosas isoladas e em gemulao
ou em cadeias presena de clulas globosas com formato de limo

Infeces Fngicas Subcutneas por Fungos Geoflicos


Fungos geoflicos: habitam o solo mais comum em climas tropicais;
No Brasil o principal agente etiolgico o fungo Fonsecaea pedrosoi;
- Outros agentes: Fonsecaea compacta, Phialophora verrucosa, So todos fungos demceos
Cladosporium carrionii, Rhinocladiella aquaspersa.
Invadem o tecido subcutneo atravs de traumatismos;
A implantao do fungo se faz por traumatismos leses se desenvolvem no local da inoculao.

Provoca cromomicose
Leses se desenvolvem no local da inoculao;
Doena de carter crnico manifestao lenta;
- Leso primria torna-se verrucosa ao longo dos mesesanos;
- rea fica coberta de ndulos semelhantes a uma couve-flor, com abscessos crostosos.
Doena no se transmite de homem para homem, e animais raramente so afetados;
Leses nodulares situam-se nos membros inferiores.

Diagnstico laboratorial:
Colheita de material na biopsia da leso;
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) e observao de corpos fumagides (clulas globosas,
ovaladas de parede espessa e de colorao castanha).
- O agente etiolgico da cromomicose tem cor pardacenta prpria; possui dimetro
entre 812 mm e divide-se por cissiparidade ou bipartio simples, notada em v-
rios espcimes atravs de um sulco equatorial que s vezes d clula o aspecto de
gro de caf.
Exame cultural: cultivo em Sabouraud temperatura ambiente por 2-3 semanas.
84 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 84

Micoses Sistmicas por Fungos Patognicos


Agentes fngicos invadem sistemas ou rgos;
Normalmente invadem via respiratria e, eventualmente, atravs de traumas.
- Acometimento pulmonar fngico tem como caracterstica o fato de ser bilateral.
Virulncia depende da espcie;
Alm disso, tambm depende da condio imunitria do indivduo.
Fungos dimrficos.

Infeces Fngicas Sistmicas (Patognicas) por Paracoccidioides brasiliensis


Paracoccidioides brasiliensis: fungo dimrfico que se limita a regies endmicas das Amricas
Central e do Sul possui alta frequncia no Brasil, Argentina e Colmbia.

Provoca paracoccidioidomicose (tambm denominado paracoco).


Doena ocupacional trabalhador rural;
Contaminao: via inalatria e perfurao da pele;
Afeta pulmes, pele e mucosa;
A base do tratamento so sulfas;
- As recidivas esto mais relacionadas a no-aderncia ao tratamento.

Manifestaes clnicas: so de carter crnico (crescimento fngico lento).


Pulmes: acometimento bilateral, com pequenas cavitaes e ndulos;
- Acomete o tero mdio do pulmo;
- Manifestao clnica mimetiza tuberculose produz leses granulomatosas.
Nariz, boca, orofaringe e laringe: 50% dos pacientes apresentam ulceraes nas mucosas (nicas
ou vrias) dor ingesto de alimentos cidos ou quentes, salivao abundante, comprometi-
mento da fixao dos dentes (perda dos dentes);
- Ulceraes com contorno e bordas irregulares, fundo granuloso e com pequenos pontos averme-
lhados (estomatite moriforme).
Gnglios linfticos: aumento do nmero e tamanho dos linfonodos;
- Eliminao de material purulento atravs de abcessos.
Pele: presente em 2030% dos pacientes com paracoccidioidomicose;
- Infeco aguda mltiplas: face, couro cabeludo, trax e membros inferiores;
- Infeco crnica placas: face (regio perilabial e nasal e, em alguns casos, orelhas e plpebras).
Tubo digestivo:
- Esfago e estmago: raro;
- Intestino: corresponde entre 1040% dos infectados;
- Fgado, vias biliares e bao: corresponde entre 40-60% dos infectados hepatomegalia;
Sistema nervoso: granuloma no crebro, hipertenso intracraniana;
- Cefaleia, alteraes no estado de conscincia e da fala, equilbrio, motricidade, convulso e
edema da papila;
Ossos e articulaes:
- Ossos: corresponde a 58% dos casos assintomtica;
- Articulaes: corresponde entre 30-40% dos casos artrite.
85 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 85

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) com alguma amostra clnica (como escarro, exsudatos,
secrees, raspados de leses ulceradas, lavado brnquico, bipsias etc.)
- Observao de clulas leveduriformes arredondadas de paredes duplas, contendo uma ou duas
vesculas de lipdeos no interior do citoplasma, com um ou vrios brotamentos;
Abundantes clulas fngicas, de parede birrefringentes e mltiplos brotamentos (aspectos pato-
gnomnicos, i.e. exclusivos, de P. brasiliensis) formato de roda de leme ou tipo Mickey Mouse.

Exame cultural:
- Cultivo em gar-sangue, gar infuso de crebro e corao (BHI) ou gar Fava Netto cloranfeni
col-ciclohexamida a 37C observao da fase leveduriforme, com miclio cremoso, de tonalidade
branco-amarelada;
- Cultivo em gar-Sabouraud-cloranfenicol-ciclohexamida a 25C observao da fase filamentosa,
que se cresce lentamente (em torno de 4 semanas) como colnias aveludadas, brancas ou bege.
Observao microscpica de hifas finas e septadas com clamidsporos terminais (esporos de re-
sistncia e reproduo formados ao longo da hifa) e intercalados.

Exame histopatolgico: visualizao de mltiplos brotamentos.


- Hematoxilina-eosina;
- cido peridico de Schiff (PAS)
- Gomori
- Exame anatomopatolgico: material colhido por bipsia das leses e examinado ao microscpio
aps colorao dos cortes histolgicos pela prata (mtodo de Grocott).

Provas sorolgicas:
- Imunodifuso em gel de agarose e o ensaio imunoenzimtico (ELISA) podem ser empregados para
a pesquisa de anticorpos especficos para este fungo.

Infeces Fngicas Sistmicas (Patognicas) por Histoplasma capsulatum


Histoplasma capsulatum: fungo dimrfico que se encontra na forma de bolor no solo e em ambi-
entes avirios (solo enriquecido com excrementos de pssaros, morcegos e galinhas).
Capazes de atingirem e infectarem um raio de 32km;
Regies endmicas: Vale do rio Mississippi (EUA) e Rio Grande do Sul (BR).

Provoca histoplasmose
Fontes de exposio doena: cavernas (espeleologia), galinheiros, ptios
de escolas, solo de priso, chamins, construes velhas e laboratrios.
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Manifestaes clnicas:
Dependem das condies do hospedeiro e da concentrao do inculo;
- Menos de 5% dos indivduos desenvolvem a doena sintomtica aps baixo nvel de exposio;
- Exposio a stios pesadamente contaminados: maioria dos pacientes desenvolvem infeco sinto-
mtica.
Histoplasmose aguda: perodo de incubao de 1018 dias;
- Sempre presentes: febre alta, cefaleia, mialgia
- Geralmente: tosse seca, dor, dispneia, hepatosplenomegalia e linfonodomegalias superficiais.
Histoplasmose pulmonar crnica: relacionada ao enfisema
- Colonizao deste local: material lquido rico em elementos fngicos;
- Disseminam pelos brnquios pneumonite segmentar;
- Praticamente indistinguvel tuberculose pulmonar crnica.
Histoplasmose disseminada: ocorre quando h LES (Lpus Eritematoso Sistmico), AIDS, leuce-
mia, transplantados baixa imunidade!
- Febre: sempre presente
- Hepatomegalia, esplenomegalia, anemia e leucopenia
- Acomete pulmo, fgado, bao, intestinos, rins, suprarrenais, SNC, pele, mucosas, linfonodos.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) em amostra clnica (escarro, sangue, bipsia, etc.).
- Visualizao de macrocondios redondos ou piriformes e microcondios de paredes lisas loca-
lizados nas extremidades de curtos conidiforos semelhantes a mamonas (imagem abaixo).
Exame cultural: caracterizao do dimorfismo em BHI (gar infuso
crebro-corao a 37C)
- Miclio hialino ou acastanhado, hifas hialinas finas, septadas e ramificadas.
Exame histopatolgico: presena de elementos leveduriformes pequenos,
ovalados, unibrotantes colorao de Gomori-Grocott.

Preveno:
No permitir a domiciliao de pombos e morcegos nas residncias;
No caso de problemas com morcegos, vedar frestas e espaos que conduzam ao telhado, poro,
sto ou outro local em que eles estejam. Caso existam morcegos no local, quando estes animais
sarem para se alimentar ao entardecer, fazer a vedao. Retirar a vedao ao anoitecer. Repetir o
procedimento trs vezes de forma a se certificar que nenhum animal restou no local.
No caso de problemas com pombos, elimine toda possvel fonte de alimento. Coloque barreiras
fsicas em locais que eles costumeiramente empoleiram, tais como beirais, sacadas, entre outros;
Caso haja acmulo de fezes de morcegos ou pombos, umedecer as fezes antes de limp-las para
evitar a formao de poeira contaminada com o fungo que possa ser inalada. Utilize uma mscara
facial do tipo cirrgica (descartvel); caso no seja possvel, amarre um leno mido duplo cobrindo
a face (nariz e boca);
No adentre cavernas desconhecidas ou que no estejam liberadas para visitao e locais com
acmulos de fezes de morcegos, pombos e outros pssaros.
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Infeces Fngicas Sistmicas (Patognicas) por Coccidioides immitis


Coccidioides immitis: fungo dimrfico presente em zonas desrticas e semiridas;
Endmico no Sudeste EUA, Norte do Mxico, Amrica Central, Amrica do Sul (Venezuela, Bol-
via, Argentina e nordeste do Brasil);
o fungo mais virulento que se tem conhecimento provoca a micose mais infecciosa.

Provoca coccidioidomicose
Porta de entrada: trato respiratrio;
- Pulmes: artrocondios (fragmentos de hifas) so aspirados e, dentro
dos pulmes, formam as esfrulas (endsporos proteo contra o sis-
tema imune) rompimento das esfrulas liberam muitos artrocondios
(conforme a imagem ao lado) leso pulmonar e em outros rgos;
Clinicamente: doena de carter crnico com anorexia progressiva e
comprometimento pulmonar;
Quando causa leses generalizadas so quase sempre mortais.

Manifestaes clnicas:
Pulmonar aguda: 60% das pessoas infectadas assintomtica;
- Positivos: somente reao intradrmica;
- Sintomticos: sintomas respiratrios brandos a pneumonias;
Disseminada: disseminao hematognica e linftica;
- Mais frequente: pele, medula ssea e meninges;
- Menos frequente: bao, rins, corao.
- Bastante grave (comprometimento articulaes, pele, ndulos linfticos, olhos, SNC, aparelho uro-
genital e corao): condio rara.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) em amostra clnica (escarro, pus, LCR, raspado de le-
so de pele, bipsia etc.) presena de esfrulas;
Exame cultural: cultura de secrees em gar-Sabouround.
- A coleta e o processamento de material para cultura devem ser feitos por pessoal treinado, em
laboratrio de segurana nvel IV
Deve-se evitar o exame cultural, pois o Coccidioides immitis de fcil contgio.
Exame histopatolgico: visualizao de esfrulas com endsporos;
Sorologia: pesquisa de IgM e dos nveis de IgG requerem criteriosa avaliao.
- Os testes cutneos com esferulina tm pouco valor diagnstico, pois permanecem positivos,
mesmo aps a infeco.
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Micoses Sistmicas por Fungos Oportunistas


Acometem indivduos imunocomprometidos.

Infeces Fngicas Sistmicas (Oportunistas) por Cryptococcus


Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii: leveduras ambientais que
possuem uma grande cpsula polissacardica e, alm disso, tambm produ-
zem melanina (ambos so fatores de virulncia).
Relacionada com habitat de aves, excretas secas suspensas no ar, com r-
vores (eucalipto) e em solos contaminados, tambm em centros urbanos e poeira domiciliar;
Possuem tropismo pelo sistema nervoso central.

Provoca criptococose
Doena cosmopolita;
Acomete tanto pessoas com a imunidade normal, como aquelas que esto com a imunidade
comprometida;
Principal porta de entrada: inalatria aspirao de clulas dessecadas de leveduras;
Pode ser inoculado atravs da pele, podendo ocasionar infeco atravs das mucosas em pacien-
tes imunocomprometidos.

Duas entidades distintas do ponto de vista clnico e epidemiolgico:


Oportunista: imunodepresso Cryptococcus neoformans;
- Provoca meningite fngica em indivduos com HIV.
Primria: imunocompetente Cryptococcus gattii
Ambas causam meningoencefalite, de evoluo grave e fatal, acompanhada ou no de leso pul-
monar grave, fungemia e focos secundrios para pele, ossos, rins, etc.;
- Diagnstico laboratorial (LCS): aumento da concentrao do nmero de leuccitos e protenas.
Mortalidade: 43% dos casos (pases em desenvolvimento) e sobrevida de 14 dias.
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Manifestaes clnicas:
Criptococose pulmonar regressiva:
- Leses pulmonares primrias ou de reinfeco exgena;
- Passam despercebidas;
- Diagnstico casual.
Criptococose pulmonar progressiva:
- 10% das formas clnicas da micose;
- Leso cstica representada por massa de clulas fngicas;
- Sintomatologia inespecfica e escassa: tosse, escarro mucoide, dor torcica.
Criptococose disseminada:
- Quase 90% dos casos diagnosticados;
- Por definio: localizao extrapulmonar manifestaes cutneas ou sseas acompanhadas de
leso pulmonar ou do SNC;
- Tropismo pelo SNC;
- Sinais iniciais: cefaleia e febre (em alguns casos);
- Progresso: reduo ou perda da viso, hipertenso intracraniana e hidrocefalia.

Diagnstico laboratorial:
Exame direto: exame microscpico direto para pesquisa de leveduras encapsuladas no lquido
cefalorraquidiano (LCR) utilizando-se tinta da china
- Presena no LCR de leveduras encapsuladas com dimetro mdio de 520m.
Exame histopatolgico:
- Tcnicas histoqumicas bsicas H&E e Gomori-Grocott (GMS) Visualizao
- Tcnicas histoqumicas especiais mucicarmim de Mayer (MM) e Fontana-Masson de endsporo
Exame cultural:
- gar Sabouraud-dextrose: 3035C por 48-72h;
- gar niger: meio enriquecido com sementes de Guizotia abyssinica que contm substratos fenli-
cos e detecta a atividade da fenoloxidase presente em Cryptococcus spp. formando melanina, de
modo que as colnias ficam marrons (caracterstica amplamente utilizada para a identificao de
Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii em laboratrio).
Sorologia: testes utilizam partculas de ltex revestidas com anticorpos policlonais para a cpsula
criptoccica;
- Testes com elevada sensibilidade e especificidade.
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Infeces Fngicas Sistmicas (Oportunistas) por Pneumocystis jiroveci


Pneumocystis jiroveci: fungo oportunista mais comum em indivduos infectados com HIV.
Provoca pneumocistose.
Acomete o tero mdio pulmonar (conforme a imagem ao lado)
Observada em indivduos cujo sistema imunolgico foi compro-
metido pela AIDS ou quimioterapia geralmente um evento ter-
minal em pacientes com AIDS;
Sintomas: febre, tosse seca (no produtiva escarro muito
viscoso, para se tornar produtiva), dispneia, perda ponderal e suo-
res noturnos;
O fungo pode invadir outros rgos com o fgado, bao e rins, mas muito raro;
O mdico suspeita do diagnstico pela presena de febre e tosse seca em pacientes com AIDS.

Diagnstico:
Sinais pulmonares na radiografia de trax auxiliam o diagnstico (infiltrado intersticial difuso e
peri-hilar, leses nodulares, pneumotrax, derrame pleural);
Confirmao do diagnstico feito pela identificao do patgeno no escarro, em lavado brn-
quico ou biopsia do parnquima pulmonar;
Tcnicas que utilizam anticorpos monoclonais deteco do fungo em pacientes HIV-negativos
com menor nmero de elementos fngicos;
Tcnica de PCR: aumento da sensibilidade e especificidade, porm no substitui os mtodos de
microbiologia clnica.

Infeces Fngicas Sistmicas (Oportunistas) por Aspergillus


Aspergillus ssp.: so largamente espalhados na natureza so
fungos que tem o habitat ubquo.
Aspergilose pulmonar: manifestao mais frequente em imu-
nocomprometidos.
Doena geralmente controlada em imunocompetentes.
Os miclios crescem em bolas (aspergilomas) disseminao fi-
lamentosa no pulmo (conforme a imagem ao lado);
- Doena de carter crnico e no exsudativo.
Produzem pneumonia disseminada crnica com expectorao (molde), tosse e falta de ar;
Em doentes com AIDS, o fungo no controlado no pulmo e se dissemina pelos rgos de
forma rpida.
- Infeces podem acometer os olhos devido as feridas no tratadas perda desse rgo (olhos).
- A aspergilose cerebral, cardaca ou da medula ssea resultam quase sempre em morte se no tra-
tadas, devido a hemorragias e falncia mltipla de rgos.

Diagnstico laboratorial:
Radiografia do trax;
Exame de sangue: pesquisa de antgenos especficos de Aspergillus (precipitinas para Aspergillus)
Fibrobroncoscopia: retirada do miclio presente no pulmo via nasal/oral para verificao labo-
ratorial do Aspergillus ssp. se presente, confirma o diagnstico.

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