Microbiologia Médica
Microbiologia Médica
Microbiologia Médica
MICROBIOLOGIA MDICA
Danilo Fernando ATM 21/2
Resumo baseado em anotaes de aula e nos livros Microbiologia Mdica de Jawetz 26Ed e
Microbiologia 12Ed - Tortora
1 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 1
2 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 2
Sumrio
Clula Procaritica Bactria ................................................................................................................ 4
Tamanho, Forma e o Arranjo das Clulas Bacterianas ...................................................................... 4
Estrutura Celular Bacteriana .............................................................................................................. 5
Citologia Complementar .................................................................................................................. 10
Fisiologia Bacteriana......................................................................................................................... 12
Microbiota Normal do Corpo Humano ................................................................................................ 16
Pele....................................................................................................................................................... 17
Microbiota Normal da Pele .............................................................................................................. 17
Doenas Microbianas da Pele .......................................................................................................... 18
Infeces de Pele por Staphylococcus ............................................................................................. 18
Infeces de Pele por Streptococcus ............................................................................................... 21
Infeces de Pele por Clostridium.................................................................................................... 23
Trato Respiratrio ................................................................................................................................ 24
Microbiota Normal do Trato Respiratrio ....................................................................................... 24
Infeces do Trato Respiratrio por Streptococcus......................................................................... 24
Infeces do Trato Respiratrio por Haemophilus .......................................................................... 28
Infeces do Trato Respiratrio por Corynebacterium ................................................................... 28
Infeces do Trato Respiratrio por Bordetella pertussis................................................................ 29
Infeces do Trato Respiratrio por Legionella pneumophila ......................................................... 30
Infeces do Trato Respiratrio por Mycoplasma ........................................................................... 32
Infeces do Trato Respiratrio por Mycobacterium ...................................................................... 33
Trato Gastrintestinal (TGI) ................................................................................................................... 37
Microbiota Normal do Trato Gastrintestinal ................................................................................... 37
Infeces do Trato Gastrintestinal ................................................................................................... 38
Infeces do Trato Gastrointestinal por Bactrias da Famlia Enterobacteriaceae ........................ 39
Infeces do Trato Gastrintestinal por Clostridium difficile............................................................. 43
Tratamento de Diarreias Agudas ..................................................................................................... 43
Intoxicaes Alimentares ................................................................................................................. 44
Gastrites e lceras Estomacais e Duodenais ................................................................................... 45
Sistema Nervoso .................................................................................................................................. 47
Meningite Bacteriana ....................................................................................................................... 48
Infeces do Sistema Nervoso por Clostridium ............................................................................... 54
Infeces do Sistema Nervoso por Mycobacterium leprae ............................................................. 57
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Morfologia bacteriana
Cocos (arredondados)
Bacilos (alongados)
Vibries (monoencurvados)
Cocobacilos (intermedirios)
Espirilo (poliencurvados)
- Estrutura rgida, com flagelo externo na extremidade
Espiroquetas (poliencurvados)
- Estrutura flexvel, com flagelo interno
Tipos de arranjos:
a) Cocos: capacidade de dividir em vrios planos
Diplococos: formao de pares
Estreptococos: formao de cadeias
Ttrades: formao de grupos em quatro
Sarcinas: formao de cubo com oito bactrias
Estafilococos: formao de cachos de uva
* Importante: Streptococcus pneumonae, apesar do nome, um diplococo.
5 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 5
b) Bacilos: capacidade de diviso apenas ao longo do eixo curto, ou seja, possui capacidade de divi-
dir em um nico plano resulta em menor quantidade de grupamentos
Diplobacilos: formao em pares
Estreptobacilos: formao em cadeia
Paliada: formao lado a lado
Parede Celular
Estrutura complexa, semirrgida e confere o formato da clula.
Funo principal: prevenir a ruptura da clula devido a diferena de presso de dentro da clula
(p.e. DNA livre) e de fora da clula.
Outras funes:
- Proteo fsica, qumica e mecnica;
- Proteo contra dessecao;
- Seleo de molculas para entrar na clula;
- Fixao no tecido do hospedeiro;
- Stio de ao de antibiticos -lactmicos;
- Caractersticas antignicas.
* Nas figuras abaixo temos uma parede de bactria gram-positiva, observe que ela possui vrias
camadas de peptideoglicano e espessa.
* Nas figuras abaixo temos uma parede de bactria gram-negativa, observe que ela possui uma
nica camada (ou poucas camadas) de peptdeoglicano e mais fina
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*Resumidamente:
Gram-positiva: violeta/azul possui parede com cido teicoico
Gram-negativa: avermelhada com lipopolissacardeo (LPS)
Paredes celulares atpicas (i.e. no classificadas pelo mtodo Gram) pertencem ao gnero Myco-
bacterium
So bacilos corados pelo mtodo Ziehl-Neelsen (p.e. M. leprae, M. tuberculosis)
- Classificados como Bacilo lcool cido Resistente (BAAR)
Parede celular com camada serosa (com cido miclico)
- Resistncia antimicrobiana;
- Patogenicidade naturalmente resistente a vrios antibiticos;
- Resistncia a situaes adversas;
- Crescimento muito lento (2 meses).
Membrana Plasmtica
Formada por fosfolipdeos e protenas
Bicamada lipdica;
Mosaico Fluido: protenas imersas em uma bicamada lipdica
Permeabilidade/seletividade controla o que entra e o que sai da clula
- Protenas integrais com poros.
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Citoplasma
Formado por 80% de compostos de gua
Contm ons, carboidratos, protenas (enzimas), lipdeos etc.
As principais estruturas do citoplasma dos procariotos so: uma rea nuclear (contendo DNA),
ribossomos e os depsitos de reserva denominados incluses.
Cromossomo
Uma nica molcula longa e contnua de DNA de fita dupla normalmente arranjada de forma
circular formato circular favorece divises mais rpidas.
Cromossomo bacteriano: sem carioteca e sem histonas
- 1mm de comprimento
- Tamanho do genoma varivel
p.e. E.coli = 4,7 Mb, Haemophilus influenzae = 1,83 Mb, Mycoplasma = 0,58 Mb
Ribossomos
Locais de sntese proteica
Procariotos possuem ribossomos do tipo 70S formados por duas subunidades (50S e 30S)
Corresponde metodologia de Svedberg e indicam a velocidade relativa de sedimentao du-
rante a centrifugao em alta velocidade
- A velocidade de sedimentao uma funo do tamanho, do peso e da forma de uma partcula
Subunidades: 30S (1 molcula de rRNA) e 50S (2 molculas de rRNA)
* Importante: medicamentos que inibem a sntese proteica de bactrias atuam no ribossomo bac-
teriano. Pela teoria endossimbitica, os ribossomos dos procariontes so os mesmos que os das
mitocndrias e dos cloroplastos. Sendo assim, a utilizao de medicamento que atua sobre a sn-
tese proteica de bactrias tambm pode atuar sobre a mitocndria reaes adversas
* Curiosidade: o ribossomo eucarioto do tipo 80S, formado pelas subunidades 40S e 60S razo
pela qual antibiticos que atuam sobre a sntese proteica de bactrias no afetam as demais clulas
(excluindo-se a mitocndria ribossomos iguais aos procariotos) eucariotas.
10 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 10
Citologia Complementar
* Refere-se a estruturas que no esto presentes em todas as bactrias.
Endosporo
*Importante: estrutura diferente do esporo do fungo no tem nada a ver
Glicoclice (Cpsula)
Envoltrio de polissacardeo, polipeptdeo ou ambos.
Funes:
Adeso a superfcies celulares, proteo contra fagocitose, marcador sorolgico
Localizado acima da camada externa
Principais gneros produtores de cpsula:
Streptococcus (p.e. S. mutans, S. pneumoniae, etc.)
Pseudomonas (p.e. P. aeruginosa)
Staphylococcus (p.e. S. aures, S. epidermidis)
Formao de biofilme barreira de proteo s bactrias
Possuem alta capacidade de fixao remoo mecnica.
p.e. S. mutans formam a placa nos dentes e o trtaro, que so biofilmes.
Flagelos
Responsvel pela motilidade/movimentao da bactria
Mobilidade via quimiotaxia, fototaxia, aerotaxia.
Partes/componentes
Filamento (protena flagelina);
Gancho: realiza rotao (confere o movimento);
Corpo basal: formada por anis e protenas aderidas membrana.
Fmbrias e Pili
Distribuio: polos e superfcie da bactria
Composio: protenas (pilina)
Funo: fixao (adeso em estruturas ciliadas estrutura respirat-
ria, urinria etc.)
Bactrias conseguem sintetizar diferentes tipos de fmbrias estrat-
gia de virulncia.
Fisiologia Bacteriana
Nutrio
Fontes nutricionais:
Fontes de carbono: carboidratos, aminocidos, lipdios, monxido de carbono
Fontes de nitrognio: nitrognio atmosfrico, amnia, nitratos, nitritos, compostos orgnicos
como protenas ou cidos nuclicos
Fsforo: fosfatos inorgnicos
Oxignio: bactrias aerbias estritas
Minerais: enxofre, magnsio, potssio e sdio
Elementos-trao: clcio, ferro, zinco, cobalto
gua
*Importante: bactrias fastidiosas so aquelas que possuem alguma exigncia nutricional (p.e. al-
guma vitamina) elas podem ser determinadas/conhecidas atravs de meios indicativos com gar.
Obteno de Energia
Processos metablicos para a obteno de energia:
Fermentao de carboidratos
de aminocidos
Independentes de O2
Fotossntese
Respirao anaerbica
aerbica Dependente de O2
13 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 13
Aerbios obrigatrios (ou estritos): exigem a presena de oxignio como aceptor de hidrognio;
- Microrganismos crescem somente na superfcie do meio.
- Exemplos: Pseudomonas e Bacillus.
Anaerbios facultativos: tm a capacidade de viver em condies de aerobiose ou anaerobiose;
- Microrganismos crescem em todo o meio de cultura principalmente na superfcie quando h dis-
ponibilidade de O2 respirao aerbia = maior produo de ATP
- Exemplos: Escherichiacoli, Salmonella
Anaerbios obrigatrios (ou estritos): exigem outra substncia diferente do oxignio como
aceptor de hidrognio;
- Microrganismos crescem somente no fundo da cultura onde no h O2
- Exemplo: Clostridium sp.
Microaerfios: necessitam uma concentrao reduzida de oxignio (2-10%) para seu metabo-
lismo aerbio (concentraes maiores so inibitrias);
- Microrganismos no crescem na superfcie do meio onde o O2 est presente em grande quanti-
dade, assim como no h crescimento no fundo da cultura onde no h O2.
- Exemplo: Gardnerella
Anaerbios aerotolerantes: suportam a presena do oxignio, porm no o utiliza aceptor de
hidrognio.
- Microrganismos resistem ao O2.
Temperatura
De modo geral, o crescimento bacteriano ocorre conforme de-
monstra o grfico de Arrhenius, na imagem ao lado.
Relacionado atividade enzimtica
Temperatura tima = maior crescimento populacional
- Temperatura com a melhor atividade enzimtica.
*Importante: temperatura tima pode variar entre os diferentes indivduos de uma mesma popu-
lao (p.e. devido a ao de plasmdeos) forma de adaptao bacteriana.
As faixas de temperatura tima para o crescimento das diferentes espcies microbianas variam
amplamente (grfico ao lado).
Psicrfilos: temperatura tima de 12 a 15C
Termfilos: temperatura tima de 55 a 75C
Mesfilos: temperatura tima de 30 a 45C.
- Compreende a maior parte das bactrias temperatura ambiente
- Possui subclassificao:
Psicrotrficos: temperatura tima geralmente de 25 a 30C, mas
crescem sob refrigerao suportam o frio
Termodricos/hipertermfilo: microrganismos que resistem aos processamentos trmicos, ou
seja, resistem ao calor (p.e. fervura i.e. ela no elimina todos os microrganismos!).
gua e Osmolaridade
Atividade da gua (Aw): expressa o teor de gua livre no alimento e est intimamente relacionado
com a sua conservao, ou seja, possibilidade de contaminao por microrganismos (deteriorao).
Valor mximo da atividade da gua = 1 (gua pura);
Alimentos com valores altos (>0,90): grande chance de contaminao microbiolgica
- Solues diludas dos alimentos servem de substrato para o crescimento de microrganismos.
Em termos gerais, diminuindo-se a Aw, conserva-se mais o alimento, por isso a salga usada com
sucesso desde a antiguidade.
pH
Neutrfilas: crescimento timo em ambientes com pH prximo da neutralidade
Corresponde a maioria das bactrias atuam dentro de uma faixa de pH entre 6 8
Acidfilas: crescimento em faixas de pH baixos, em torno de 2
Acidfila acidognica (produtoras de cido)
- Porm, algumas bactrias acidfilas podem ser acidognicas.
Alcalinfilas: crescimento em pH acima de 9.
Curva de Crescimento
Reproduo Bacteriana
Fisso binria (diviso simples ou cissiparidade) maioria das bactrias
Diviso celular conduz a um aumento de indivduos clones* Possuem elevada taxa
*no so clones! de mutao variabilidade
Tempo de gerao: tempo que uma bactria leva pra se tornar duas
Crescimento exponencial: 1 2 4 8 16 32 64 128 256 512 1024...
(1G) (2G) (3G) (4G) (5G) (6G) (7G) (8G) (9G) (10G)
Tempo de gerao varia de acordo com cada tipo de bactria diferentes metabolismos.
*Importante: crescimento populacional est intimamente relacionado com os fatores que afetam
o crescimento, que configuram o ambiente.
16 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 16
Importncia da microbiota:
Participa do metabolismo
Proporciona fatores de crescimento p.ex. bactrias da microbiota intestinal secretam vita-
mina K e B12 e bactrias cido lcticas produzem certas vitaminas B.
Protege contra infeces de patgenos por competio por stios de ligao ou por nutrientes
e atravs da produo de substncias antimicrobianas (p.ex. bacteriocinas)
Estimula a resposta imune
Causa doenas superinfeco (fonte endgena distrbios da microbiota, desequilbrio).
Tipos de microbiota:
Microbiota residente: encontrada frequentemente
Microbiota transitria: encontrada esporadicamente
A microbiota pode ser alterada por vrios fatores: dieta, estado hormonal, sade, condies sani-
trias e higiene, utilizao de medicamentos etc.
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Pele
A pele o maior rgo do corpo humano em termos
de rea de superfcie e peso.
Dividida em:
- Epiderme: parte mais fina e externa, composta de di-
versas camadas de clulas epiteliais possui camada
impermevel composta por queratina.
Barreira fsica efetiva contra os micro-organismos.
- Derme: poro mais interna e relativamente espessa,
composta principalmente de tecido conectivo.
Importante barreira (fsica) defensiva contra doen-
as a primeira linha de defesa do organismo con-
tra os patgenos
A pele ntegra impenetrvel para a maioria dos
micro-organismos.
- Alguns micrbios podem ter acesso ao corpo atravs
de aberturas na pele, como folculos pilosos e ductos
sudorparos.
Apresenta alto grau de resistncia invaso micro-
biana fatores fsicos e qumicos:
- Fsicos: clulas epiteliais intimamente unidas, ressecamento, baixo pH, alta concentrao de sal;
- Qumicos: produo de sebo e cidos graxos (glndulas sebceas), transpirao (glndulas sudor-
paras) contm lisozima (antimicrobiana).
* Curiosidade: tanto o sebo quanto a transpirao podem atuar como inibidores de muitos micror-
ganismos.
*Curiosidade: o sebo e a transpirao, no entanto, tambm podem servir como nutrientes para
alguns microrganismos.
*Curiosidade: a lavagem vigorosa pode remover grande parte dos microrganismos, porm aqueles
que restaram nos folculos pilosos e glndulas sudorparas recolonizam a pele novamente.
18 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 18
*Importante: leses na pele no indicam necessariamente uma infeco; muitas doenas que se
manifestam como leses na pele so, na verdade, doenas sistmicas que afetam rgos internos.
As variaes dessas leses geralmente so teis para descrever os sintomas da doena.
Fatores de virulncia
Apresenta cpsula que facilita aderncia (enxertos, prteses valvulares e articulaes)
- Tambm permite evadir da ao fagocitria dos neutrfilos (leuccitos polimorfonucleares).
Ao antifagocitria (11 sorotipos)
Peptideoglicano: ativa o complemento e estimula a produo de pirgenos (via IL-1) e a agrega-
o de neutrfilos.
cido teicico: aderncia s clulas da mucosa (fibronectina) e ativa o complemento.
Protena A: liga-se a IgG impedindo ao como anticorpos.
Produo de enzimas: catalase, -lactamase e coagulase (ligada e livre)
19 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 19
Adeso
- Presena de FNBP (fibronectin-binding protein) permite a fixao do S. aureus em ferimentos
- Receptores para colgeno lV e sialoprotena componentes do tecido conjuntivo, dos ossos e das
articulaes.
- Receptores para laminina protena presente nas membranas basais dos revestimentos epitelial e
endotelial.
Disseminao e multiplicao
- Formao de abscesso: reao inflamatria aguda (neutrfilos)
destruio de neutrfilos pelos Staphylococcus
neutrfilos lisados liberam enzimas lisossomais
*Fibrina
produo da cpsula de fibrina*
hospedeiro: conteno da bactria
bactria: dificulta a ao do
abscesso sistema imune (proteo)
Produo de toxinas:
- 5 exotoxinas citolticas (hemolisinas)- alfa, beta, delta, gama e Panton-Valentine (leucocidina)
- 2 toxinas esfoliativas (1 no cromossomo - ETA e outra no plasmdeo - ETB)
Produzem descamao generalizada na sndrome estafiloccica da pele escaldada por dissolu-
o da matriz mucopolissacardica da epiderme
- 23 enterotoxinas termoestveis, resistem as enzimas intestinais intoxicao alimentar.
- 1 toxina da sndrome do choque txico (cromossmica)
Toxina associada a febre, choque e comprometimento multissistmico.
20 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 20
- Sndrome do choque txico (TSST-1): caracterizado por febre alta, exantema eritematoso macular
disseminado da pele, hipotenso e disfuno de vrios sistemas mortalidade.
Na dcada de 1980, no Brasil, mulheres apresentam sndrome do choque txico durante o per-
odo menstrual devido ao uso de absorventes internos (condies favorveis a proliferao).
Classificao:
1) Hemlise
Muitos estreptococos so capases de hemolisar hemcias in-vitro em vrios nveis.
- -hemlise: completa ruptura dos eritrcitos com um clareamento em torno da regio de cresci-
mento bacteriano (colnia);
- -hemlise: lise incompleta dos eritrcitos com a reduo da hemoglobina e formao de um pig-
mento esverdeado causam alterao qumica na hemoglobina da hemcia;
- -hemlise: no so hemolticos no causam nenhuma alterao.
3) Propriedades bioqumicas
Provas bioqumicas padres de hemlise em gar-sangue, composio antignica das substn-
cias especficas do grupo da parede celular, reaes bioqumicas etc.
22 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 22
Trato Respiratrio
sistema respiratrio dividido em trato respirat-
rio superior e trato respiratrio inferior.
Trato respiratrio superior: nariz, faringe (gar-
ganta) e estruturas associadas, incluindo o ouvido
mdio e as tubas auditivas (tuba de Eustquio)
- Os ductos dos seios e os ductos nasolacrimais do
aparato lacrimal (produtor de lgrimas) se abrem na
cavidade nasal
- As tubas auditivas do ouvido mdio se abrem na
poro superior da garganta.
Fatores de virulncia:
Cpsula: fator de virulncia mais importante*
- Existem 90 sorotipos capsulares, sendo 20 responsveis pelas doenas.
- antifagoctica e antignica.
Autolisina: atua sobre o peptideoglicano atravs da hidrolase provoca lise celular liberando os
fatores de virulncia intracelulares;
Pneumolisina: ataca (lise) a membrana citoplasmtica do hospedeiro.
(*) Cpsula o fator mais importante porque a forma que o pneumococo torna-se virulento
(desde que o microrganismo esteja vivo) observe o experimento abaixo:
Note que:
- Camundongo (1) possui cpsula, porm o microrganismo est morto
- Camundongo (2) morto por microrganismos vivos com cpsula
- Camundongo (3) vivo e com microrganismos vivo sem cpsula
- Camundongo (4) morto por pneumococo que estava morto (com cpsula) e se juntou com pneu-
mococo vivo (sem cpsula) Como isso acontece*???
*Importante: pneumonia atpica causada por outros microrganismos (p.e. mycoplasma); neces-
sita de tratamento individualizado e os microrganismos podem ter resistncia a antibiticos.
27 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 27
Teste rpido deteco rpida de faringite causada por estreptococos (infeces na garganta
so comumente causadas por estreptococos).
28 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 28
Fatores de virulncia:
B. pertussis liga-se ao epitlio ciliado do trato respiratrio superior;
Produzem toxinas e outros fatores de virulncia que interferem na atividade ciliar:
- Toxina pertussis: linfocitose, sensibilizao a histamina, ativao da produo de insulina,
resultando em hipoglicemia alm de ser uma adesina, tambm uma toxina; adesinas
- Hemaglutinina filamentosa (FHA): protena que facilita a fixao nas clulas epiteliais ciliadas
- Toxina adenilato ciclase: provoca reduo da quimiotaxia e fagocitose da bactria
- Toxina dermonecrtica: causa vaso constrio e necrose isqumica toxinas
- Citotoxina traqueal: inibe o movimento ciliar e impede a regenerao das clulas lesadas,
causando um acmulo pulmonar de muco, bactrias e restos inflamatrios tosse.
30 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 30
Coqueluche
Altamente contagiosa com alta taxa de mortalidade;
Doena comum em crianas (1 a 5 anos);
Perodo de incubao varia de 1 a 3 semanas;
Doena pode ser dividida em 3 fases: catarral , paroxstica e convalescncia.
- Fase catarral: inicia com sintomas inespecficos
como rinorreia, congesto conjuntival leve (hipe-
remia), mal-estar e/ou febre leve, tosse seca no
produtiva;
Tosses e espirros liberao de perdigotos
indivduo altamente infeccioso.
- Fase paroxstica: tem incio com a piora da
tosse (tosse de cachorro seguido de uivo).
Grande quantidade de muco produzido e h
aumento no nmero de leuccitos.
- Fase de covalescncia: periodo de diminuio
da tosse, pode durar meses e tambm pode
haver desenvolvimento de infeces secundrias.
Diagnstico:
Cultura de isolado de nasofaringe (fase paroxistica);
Testes de aglutinao com antissoros especficos ou por colorao com anticorpos fluorescentes;
- Colorao direta com anticorpo fluorescente
Uso de PCR mtodo mais sensvel para estabelecer o diagnstico.
Preveno:
Vacina acelular: 5 antgenos purificados (entre eles a toxina pertussis)
Vacina com o microrganismo morto: junto com difteria e ttano (3 doses) vacina DTP.
Bactria penetra no trato respiratrio superior pela aspirao de gua ou aerossol contaminada;
Normalmente em ar condicionado no-residencial hospitais, hotis etc.
Bactria vai para o pulmo;
Macrfagos fagocitam a bactria, porm o fagossomo no se funde com um lisossomo;
As bactrias se multiplicam protegidas do fagossomo at a clula se romper (imagem a seguir).
31 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 31
*Importante: hospitais que tratam pacientes imunossuprimidos deveriam monitorar com ateno
o sistema de abastecimento de gua e ventilao para presena de Legionella.
2) Febre de Pontiac
Doena semelhante a influenza, infecta indivduos saudveis (independe de fatores pr-dispo-
nentes).
Taxa de ataque entre os expostos maior que 90%;
Morbidade mnima ao contrrio da Legionelose (taxa de mortalidade de 15 a 20%);
Recuperao completa dentro de uma semana;
Nenhuma terapia especfica necessria (autolimitada).
Diagnstico:
Os mtodos mais eficientes para o diagnstico da Legionella pneumophila passam pela imuno-
fluorescncia direta, mtodo menos sensvel, ou pela imunofluorescncia indireta, com maior sen-
sibilidade.
Mtodos menos eficientes incluem:
- Colorao pelo gram;
- Deteco de antgenos solveis na urina;
- Uso de PCR;
- Cromatografia gasosa.
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Mycoplasma pneumoniae
So microrganismos ubquos (amplamente distribudos no ambiente);
M. pneumoniae encontrado apenas em indivduos infectados.
- 1 em 6 adultos sexualmente ativos podem estar colonizados por M. hominis
- 50 a 75% dos adultos sexualmente ativos por U. urealyticum.
a causa mais importante de pneumonia atpica em pessoas jovens.
- Conhecida como pneumonia atpica primria (isto , a pneumonia mais comum no causada por
pneumococos)
Fatores de virulncia:
Protena terminal P1: adere um receptor glicoproteico especfico no epitlio respiratrio pr-
ximo a base dos clios movimento ciliar para
Toxinas (H2O2): causam danos teciduais na mucosa
M. pneumoniae funciona como superantgeno estimula a migrao de clulas inflamatrias,
liberao de citocinas (TNF-) e IL-1.
Diagnstico:
Clnico: reconhecimento da sndrome;
Laboratorial: diagnstico difcil microrganismo no cresce em meios de cultura convencionais
- Mtodo de gram como excluso de Streptococcus pneumoniae (pneumonia mais comum)
Imagem: raio-X acometimento dos lobos inferiores
*Importante: infeco primria de tuberculose costuma ocorrer no trato respiratrio, porm a do-
ena pode se manifestar em qualquer rgo.
- Os bacilos se multiplicam nos macrfagos e fazem com que macrfagos adicionais migrem para a
rea, formando um tubrculo inicial;
34 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 34
- Muitos macrfagos morrem, liberando bacilos e formando um centro caseoso no tubrculo, que
circundado por uma massa de macrfagos e linfcitos os bacilos no crescem bem nessa locali-
zao, no entanto muitos permanecem dormentes (TB latente) e servem de base para uma reativa-
o posterior da doena.
A doena pode ser interrompida nesse estgio com a calcificao do tubrculo.
- Um tubrculo maduro formado, com uma camada externa firme de fibroblastos circundando a
massa de macrfagos e linfcitos.
Em alguns indivduos os sintomas se manifestam quando esse tubrculo maduro formado.
- O centro caseoso preenchido com lquidos e ar, formando uma cavidade tuberculosa onde os
bacilos se multiplicam
- Liquefao: processo de crescimento do centro caseoso devido a multiplicao dos bacilos.
Sintomas:
- Suor e calafrios, febre, dor no peito, tosse com es-
carro (muitas vezes sanguinolento), perda de apetite,
perda de peso repentina.
Patogenia
- Necrose tecidual: neste processo esto
envolvidos vrios fatores do hospedeiro:
Toxicidade das citocinas;
Ativao local do complemento; Atuao do sistema imune contra o patgeno
Exposio a enzimas hidrolticas; tambm danifica os tecidos do hospedeiro
Intermedirios de oxignio reativo
- Em indivduos saudveis as leses curam-se espontaneamente (fibrticas ou calcificadas);
- Em indivduos imunocomprometidos as bactrias proliferam (liquefao do centro caseoso) e in-
vadem a corrente sangunea tuberculose miliar (fgado, bao, rins, crebro, meninges).
Diagnstico:
Radiografia do trax
Teste da tuberculina ou de PPD (derivado proteico purificado)
- Teste intradrmico utilizado para a avaliao da imunidade contra o
M. tuberculosis presena de eritema e endurao na regio aplicada.
Endurao e eritema so medidos (dimetro) aps 4872h
0-4mm = no reator; 5-9mm = reator fraco, 10 = reator forte
- Se positivo, indica infeco prvia pelo Mycobacterium, no sendo
capaz de distinguir o indivduo infectado do doente.
Laboratorial:
*Importante: baciloscopia e cultura devem ser solicitados em qualquer amostra de paciente HIV+
*Importante: devemos orientar o paciente que o procedimento deve ser feito durante a manh
(acmulo de escarro) e que ele no pode escovar os dentes com creme dental ( anti-bacteriano).
*Importante: cultura no tem valor clnico muito relevante, pois o crescimento de mycobacterium
bastante lento e, por conta disso, a espera pelos resultados pode agravar a condio do paciente.
37 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 37
Diarreia e Disenteria
Diarreia: condio autolimitante (perodo limitado).
Sintomas: dores abdominais; fezes anormais e evacuaes frequentes e/ou lquidas.
- Doena geralmente do intestino delgado, com perda aumentada de lquidos e eletrlitos e, s ve-
zes, com febre.
- Sintomas semelhantes para diferentes agentes etiolgicos.
- Diagnstico do agente etiolgico apenas atravs de coprocultura (cultura a
partir das fezes do paciente) normalmente no feita porque bastante cus-
tosa (existem muitas bactrias presentes nas fezes para se isolar).
Escherichia coli
Escherichia coli: bacilo flagelado, gram-negativo, anaerbio facultativo, residente da microbiota
intestinal.
Responsvel pela produo de fatores de crescimento e degradao de substncias;
E.coli normalmente so inofensivas, porm possui algumas linhagens (EPEC, ETEC, EHEC, EIEC
etc.) que produzem enterotoxinas causam diarreia.
*Curiosidade: sua presena na gua e nos alimentos uma indicao de contaminao fecal.
*Importante: E. coli produtoras de toxina semelhante Shiga (STEC) denominao das E. Coli
que produzem toxinas semelhantes a toxina Shiga a maioria dos surtos relacionados ocorre de-
vido a EHEC sorotipo O157:H7.
- Associada colite hemorrgica, uma forma grave de diarreia, e a sndrome urmico-hemoltica.
Salmonella
Salmonella: bastonetes gram-negativos, anaerbios facultativos, no formadores de endsporos.
Todas as salmonelas so consideradas patognicas em algum grau, causando salmonelose, ou
gastrenterite por Salmonella esto associadas a diarreias.
Nomenclatura da Salmonella difere da nomenclatura usual.
- Em vez de espcies reconhecidas, existem mais de 2.700 sorotipos (ou sorovares) Ag O, H e K
Os produtos base de carne so particularmente suscetveis contaminao por Salmonella.
- Galinhas so altamente suscetveis infeco, e as bactrias contaminam os ovos.
Cozimento normal do alimento destri a Salmonella.
41 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 41
Vibrio cholerae
Vibrio cholerae: bastonete gram-negativo ligeiramente curvo (monoencurvado), com um nico
flagelo polar e capaz de formar biofilme.
Organismo de vida livre que infecta apenas seres humanos (pode ser assintomtico);
Habita locais com guas salobras, mas tambm so capazes de disseminarem rapidamente na
gua doce;
Em condies desfavorveis podem se tornar dormentes; Ambas as
- Clula encolhe-se at um estado esfrico, no cultivvel. formas so
- Ambiente favorvel: rpida reverso forma cultivvel. infecciosas
Clera: doena endmica em pases com poucas condies de saneamento est associada a in-
gesto de gua contaminada.
Sintomas: diarreia gua de arroz, com perda de at um litro de lquido
por hora; vmitos, clica abdominal, sem febre.
- Vibrio cholerae crescem no intestino delgado e produzem uma exotoxina,
a toxina colrica (atua sobre o AMPc e GMPc), que induz as clulas do hos-
pedeiro a secretarem gua e eletrlitos, sobretudo potssio fezes aquo-
sas contendo massas de muco intestinal e clulas epiteliais esbranquiada
como se fosse gua de arroz.
Perodo de incubao de 2-3 dias e durao at 7 dias;
Diarreia aquosa grave causada pela produo da enterotoxina (toxina colrica) restrita ao intes-
tino necessita de rpida reposio de lquidos e eletrlitos (soluo endovenosa);
Mortalidade: at 60% dos casos.
42 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 42
Shigella
Shigella uma bactria gram-negativa, imvel, no esporulada.
No existe nenhum reservatrio natural nos animais.
- Se disseminam apenas de pessoa para pessoa;
- Surtos so mais frequentemente observados em famlias, creches e cenrios similares.
Campylobacter
Campylobacter so bactrias gram-negativas, microaerfilas, curvadas em espiral
Representada por duas espcies mais importantes, que so responsveis pela doena em huma-
nos, o Campylobacter jejuni (responsvel por mais de 90% dos casos) e o Campylobacter coli.
*Curiosidade: uma complicao rara da infeco por Campylobacter que ela est associada, em
cerca de 1 a cada 1.000 casos, doena neurolgica denominada sndrome de Guillain-Barr, uma
paralisia temporria.
- Uma molcula de superfcie da bactria assemelha-se a um componente lipdico do tecido ner-
voso e desencadeia uma resposta autoimune.
43 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 43
Fatores de virulncia
Fator adesina;
Hialuronidase: produz atividade hidroltica;
Produo de endsporos;
Enterotoxina (toxina A): produz quimiotaxia, induz produo de citocinas com hipersecreo
de lquido e necrose hemorrgica destruio do epitlio reduo da capacidade absortiva.
Citotoxina (toxina B): induz despolimerao da actina com perda do citoesqueleto celular.
Dieta:
Evitar cafena (aumenta o AMPc est relacionado a reduo da reabsoro de gua);
Evitar produtos lcteos (intolerncia transitria lactose agentes virais e bacterianos);
Gorduras (retardam o esvaziamento gstrico).
Intoxicaes Alimentares
Geralmente esto associadas presena de exotoxinas pr-formadas no alimento.
No costumam ser surtivas (i.e. esto mais relacionadas a casos isolados).
*Curiosidade: para produzir uma quantidade de toxina suficiente para causar intoxicao necess-
rio um determinado tempo para que as bactrias se reproduzam e produzam a toxina. Restaurantes
com elevada rotatividade de alimentos (como o nosso saudoso RU) tem menores chances de causa-
rem intoxicao alimentar, pois o tempo de incubao no alimento pequeno.
Transmisso:
Homem parece ser o principal hospedeiro
- Mecanismo exato de transmisso ainda no esclarecido
Pessoa a pessoa por via fecal/oral ou oral/oral.
gua (?)
Fatores de virulncia
Colonizao
- Protena inibitria de cido (induz ao quadro de hipocloridria);
- Urease (neutraliza os cidos, estimula a produo de citocinas inflamatrias);
Bactria se instala nas clulas do fundo gstrico por meio dos flagelos;
Na submucosa cria uma microzona no cida (atravs da urease*).
(*) ureia (produzida no estmago) amnia + dixido de carbono
- Protena do choque trmico: estimula a produo de urease protege a bactria contra situaes
de estresse (p.e. acidez).
Quadro clnico:
Gastrite aguda: inicialmente assintomtico (3 a 7 dias), dor ou mal
estar epigstrico, cefaleia, pirose, nusea, vmito, flatulncia e sialorreia
(aumento da salivao);
Gastrite crnica: primeira regio acometida o antro.
- Menos frequente no corpo do estmago;
- Secreo gstrica aumentada maior risco de lcera duodenal.
Diagnstico:
*pesquisa de bactria somente se houver inteno de tratamento da gastrite.
Exames: conforme histrico de lcera gstrica ou duodenal, histrico familiar de cncer de est-
mago, pacientes que na endoscopia apresentaram leses ou tumores que no se desenvolveram.
Tratamento
Esquema trplice (combinado): cura em 90% dos casos objetivo de minimizar a resistncia dos
microrganismos aos antibiticos.
Antissecretor (inibidor da bomba de prtons): Omeprazol, Lansoprazol ou Pantoprazol
2 ou trs antibiticos: Amoxacilina ou Claritromicina de 7 a 14 dias.
47 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 47
Sistema Nervoso
Sistema nervoso dividido em central e perifrico:
a) Sistema nervoso central (SNC): crebro e medula espinal;
b) Sistema nervoso perifrico (SNP): consiste em todos os ner-
vos que se ramificam do crebro e da medula espinal.
Crebro e medula espinal so revestidos e protegidos por trs membranas contnuas, chamadas
de meninges (conforme a imagem acima, direita).
Meninges so formadas pelas membranas dura-mter (mais externa), aracnoide (intermediria)
e pia-mter (mais interna);
Entre as membranas pia-mter e aracnoide encontra-se um espao, chamado de espao suba-
racnideo, no qual em um indivduo adulto circula de 100-160mL de lquido cerebrospinal (LCS);
- O LCS (tambm chamado de liquor) apresenta baixos nveis de complemento e de anticorpos cir-
culantes e poucas clulas fagocticas bactrias podem se multiplicar com poucas restries.
*Importante: meningite viral costuma ser mais comum que a bacteriana, alm de ser uma doena
mais branda ( uma doena autolimitante) normalmente causada por um grupo varivel de vrus
denominado enterovrus, durante os meses de vero e outono.
48 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 48
Meningite Bacteriana
Meningites bacterianas ocorrem porque certas bactrias possuem mecanismos de virulncia es-
pecficos que permitem a invaso bem-sucedida do SNC (p.e. pili, cpsula, fmbrias, protenas de
membrana OmpA).
LCS facilita a proliferao desses microrganismos;
- Ausncia de anticorpos especficos e de complemento mensurveis opsonizao e fagocitose
ineficientes;
- Escassez inicial de clulas fagocticas;
- Penetrao ruim de antibiticos barreira hematoenceflica.
Trs espcies bacterianas tm sido responsveis pela maioria dos casos de meningite e suas mor-
tes resultantes Haemophilus e Neisseria (gram-negativas), e Streptococcus (gram-positivo).
DIAGNSTICO CLNICO:
A suspeita diagnstica das meningites sempre baseada em dados clnicos.
Criana maior e adulto: possuem tnus cervical e dorsal bem estabelecidos sinais clnicos j
so mais comuns, tornando a suspeita clnica mais evidente.
49 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 49
Sndrome infecciosa: caracterizada por febre ou hipotermia, anorexia, apatia e sinais indiretos
de infeco;
Sndrome de irritao radicular ou menngea: caracteriza-se por sinal de Brudzinski (rigidez de
nuca), sinal de Kernig, sinal de Lasgue; na criana o sinal do gatilho de fuzil (deita-se toda enco-
lhida para no estirar as razes nervosas), sinal do trip (senta-se com as mos apoiadas para trs).
Sinal de Brudzinski: levantamento involuntrio das pernas em irritao
menngea quando levantada a cabea do paciente
Sinal de Kernig: verifica o estiramento ou compresso nervosa;
- Coloca-se o paciente em decbito dorsal, sobre uma maca reta, com os
membros inferiores (coxas) fletidos em 90 e faz-se extenso do joelho
ser positivo se houver dor quando o joelho estendido com o quadril
totalmente flexionado e/ou resistncia extenso
Sinal de Lasgue: sinal clnico representado pela exacerbao de dor
em face posterior da coxa por elevao da perna
Sndrome de hipertenso intracraniana ou encefaltica: ocorrem cefaleia
intensa, vmitos, e ao exame do fundo de olho observa-se edema de papila.
QUADRO CLNICO:
Cefaleia, nuseas e vmitos, fotofobia, rigidez de nuca e febre.
Nos casos mais graves h alterao do nvel de conscincia, crises convulsivas, eritema cutneo,
artrites e hipotenso arterial.
80% das meningites so causadas por Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis e Strepto-
coccus pneumoniae
Meningite meningoccica caracterizada pelo incio agudo, de poucas horas com evoluo r-
pida para queda do estado geral.
Meningite por H. influenzae e pneumococo ocorrem em razo das infeces do trato respiratrio
superior, infeces otolgicas ou dos seios da face doena com incio insidioso (com incio lento,
aparentemente benigno, mas que pode se tornar grave e perigosa).
PATOGENIA:
Trs vias de entrada da bactria no SNC:
Hematognica (ponto de entrada o trato respiratrio superior) principal via de acesso!
DIAGNSTICO:
Exame do LCS: realizado por
meio de puno lombar entre as
vrtebras L1 e S1 so indicados
os espaos L3-L4, L4-L5, ou L5-S1.
Contraindicaes:
- A nica contraindicao formal
para a puno liqurica lombar
a infeco no local da puno;
- Hipertenso endocraniana grave (>40cm H2O): deve-se evitar a retirada de liquor nesta condio
faz-se uso de medicamentos antiedema cerebral para baixar a presso e posteriormente realiz-la.
Obteno da amostra de LCS: atravs do gotejamento do liquor (fluxo ideal para coleta fluxo
lento ou rpido indica variao na presso liqurica).
- Coleta de, aproximadamente, 10mL.
Trs tubos estreis enumerados na ordem de obteno:
- Tubo 1: usado para anlises bioqumicas e sorolgicas;
- Tubo 2: costuma ser utilizado para exame microbiolgico;
- Tubo 3: destinado contagem celular.
*Importante: em infeces virais o aspecto visual do liquor praticamente inalterado, assim como
o diagnstico bioqumico para infeces virais pouco expressivo.
*Importante: meningite causada por H. influenzae tem carter mais brando em relao as demais.
Fatores de virulncia:
Pilinas: promovem a ligao nas clulas epiteliais;
Lipo-oligossacardeo (LOS): endotoxina produzida muito rpida e que
capaz de causar morte dentro de poucas horas.
Cpsula: ao antifagocitria.
Caractersticas gerais:
Erupo cutnea que no desaparece quando pressionada;
Caso de meningite meningoccica: inicia com infeco de garganta, que resulta em bacteremia
e, por fim, em meningite;
Ocorre, geralmente, em crianas com menos de 2 anos danos residuais surdez;
Vacina: meningoccica C (conjugada) acima de 3 meses (2 doses + reforo) e adolescncia (1);
- No h disponvel uma vacina eficaz na preveno de meningococos do tipo B.
53 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 53
Meningite estreptoccica: pode ocorrer em todas as idades, mas geralmente uma doena pedi-
trica (crianas de 1 ms a 4 anos).
Taxa de mortalidade e deficincias neurolgicas so 4 a 20 vezes mais comuns do que para ou-
tros microrganismos;
- Mortalidade em crianas de 30% e em idosos de 80%.
Vacina: VPP23 vacina pneumoccia 23-valente (polissacardica)
- Recomendada para idosos acima dos 65 anos, adultos com doenas crnicas e pacientes imu-
nocomprometidos.
Definio de caso:
Suspeito: todo paciente com sinais e sintomas de meningite e histria de contato com tubercu-
lose pulmonar bacilfera no domiclio.
Clostridium tetani
Clostridium tetani: bacilos gram-positivos, anaerbios estritos, formadores de
endsporos terminais arredondados (conforme a imagem ao lado).
Resistentes fervura so destrudos pelo calor a 120C por 15-20min;
Difcil cultivo (necessita de meios bastantes especficos).
Provoca ttano.
Produo de uma neurotoxina termolbil, a teta-
nospasmina.
Tetanospamia se liga aos receptores pr-sinpticos
dos neurnios motores de maneira irreversvel (ob-
serve a imagem ao lado).
- Receptores pr-sinpticos, em condies normais,
liberam o neurotransmissor glicina (inibidora da aceti-
lcolina) uma vez que a glicina est sendo bloqueada
pela toxina, seus nveis caem drasticamente;
- A inibio da glicina faz com que ocorra aumento da
liberao de acetilcolina (ACh) e, consequentemente,
resulta em contrao tnica dos msculos.
Tambm h produo de uma toxina termoestvel de importncia desconhecida, a tetanolisina.
Patogenia:
Clostridium tetani infecta o indivduo atravs de uma porta de
entrada (ferimento/leso);
Condies de anaerobiose (infeco secundria, pus etc.) favore-
cem a germinao do microrganismo;
C. tetani multiplica-se produo de tetanospasmina (durante a
fase estacionria).
Migrao da toxina para o SNC pelos neurnios motores perifri-
cos atravessa a fenda sinptica e se instala no interior das vesculas nas terminaes nervosas
pr-sinptica bloqueia a liberao de neurotransmissores glicina e, consequentemente, aumenta
a liberao de acetilcolina;
Hipertonia muscular mantida e espasmos (paralisia espstica).
Quadro Clnico:
Perodo de incubao: de 2 a 30 dias (mdia 7 a 10 dias);
- Razo pela qual a vacina pode ser eficaz mesmo aps a infeco tempo de produ-
o de anticorpos mais rpido que a proliferao bacteriana.
Primeira manifestao clnica: trismo (contrao da mandbula impede a abertura
da boca), seguido de disfagia (engasgo), riso sardnico (hipertonia da musculatura facial da mmica,
acentuao dos sulcos naturais da face, repuxamento das narinas e da comissura labial, preguea-
mento frontal, arqueamento das sobrancelhas e repuxamento das comissuras externas dos olhos);
55 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 55
(*) Como diferenciar a rigidez de nuca da meningite com a de Clostridium? No ttano h presena
de leso (porta de entrada do Clostridium tetani).
Diagnstico:
Realizado baseado nas manifestaes clnicas e no histrico de leso.
Tratamento:
Imunoglobulina humana antitetnica (IGHAT) por via intramuscular;
Soro antitetnico (SAT) segunda escolha;
Desbridamento do ferimento (tambm conhecido como arrancar fora a parte ruim);
Antibiticos (p.e. penicilnicos);
Exerccios fisiolgicos na preveno de complicaes;
Tratamento de suporte.
Preveno:
Vacina: trplice bacteriana DTP (difteria, ttano e pertssis) 3 doses (2, 4 e 6 meses) e reforo a
cada 10 anos.
Clostridium botulinum
Clostridium botulinum: bacilos gram-positivos, anaerbios estritos, formadores de endsporos.
Resistentes fervura (termorresistentes) toleram 100C por at 22 horas;
Produzem uma toxina neurotxica muito poderosa 5.10-9g da toxina capaz de
matar um camundongo;
- A dose letal provvel para o ser humano de cerca de 1-2g/kg.
Existem diversos tipos de toxinas: A, B, C ,D, E, F e G.
- Tipo A a mais prevalente.
Provoca botulismo:
Produo de uma neurotoxina termolbil
Bloqueia a liberao de acetilcolina (ACh) pelas ter-
minaes nervosas no h contrao muscular;
- Bloqueio pela toxina botulnica irreversvel!
Provoca paralisia flcida do msculo.
56 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 56
Formas de botulismo:
a) Botulismo alimentar: causa, inicialmente, intoxicao alimentar.
- Absoro intestinal da toxina, seguida de disseminao por via hematognica atinge as sinapses
nervosas colinrgicas perifricas, bloqueando irreversivelmente a liberao de Ach causa uma
paralisia flcida;
- Lavagem gstrica pode diminuir a absoro da toxina remanescente na luz do intestino.
b) Botulismo infantil: principal causa a ingesto de mel.
c) Botulismo em ferimentos: depende de uma porta de entrada para causar infeco.
Patogenia:
Clostridium botulinum infecta o indivduo atravs de uma
porta de entrada (ferimento/leso);
Condies de anaerobiose (infeco secundria, pus etc.)
favorecem a germinao do microrganismo;
C. botulinum multiplica-se produo da toxina botulnica;
Migrao da toxina para os nervos colinrgicos toxina
atua nas junes entre os neurnios e as clulas musculares
bloqueia a liberao de neurotransmissores (acetilcolina);
Hipotonia e hiporreflexia (paralisia flcida).
Quadro Clnico:
Vmitos, nuseas, diarreia, constipao, fadiga muscular e cansao;
- Intoxicao alimentar e infantil.
Logo aps ocorrem problemas de viso, imagem dupla, viso confusa, ptose (queda das plpe-
bras), reflexo lento das pupilas com o estmulo da luz, boca seca, dificuldade de falar e engolir;
No h febre;
Com a progresso da doena acontece parada respiratria e morte em 3 a 5 dias.
Diagnstico:
Isolamento do microrganismo a partir de cultura de fezes e do alimento envolvido;
Demonstrao da toxina no soro ensaio com camundongo;
ELISA: detectar a toxina no soro ou LCR.
Tratamento:
Suporte ventilatrio adequado;
Eliminao do microrganismo do trato gastrintestinal atravs de lavagens gstricas e terapia com
Metronidazol ou Penicilina.
Utilizao de antitoxina botulnica (antissoro trivalente) contra as toxinas A, B e E para se ligar
toxina circulante na corrente sangunea;
No existe vacina para o botulismo!
*Importante: M. leprae no secreta nenhuma toxina e sua virulncia dada por sua parede celular.
Patogenia:
Contato com o Mycobacterium leprae;
Multiplicao do bacilo dentro dos macrfagos (atravs da inibio do fagossomo e da fuso
dele com o lisossomo) e invaso de clulas endoteliais de vasos sanguneos e linfticos trans-
porte dos bacilos aos linfonodos e sistema reticuloendotelial.
- Multiplicao dos bacilos ocorrem em regies mais frias e externas do corpo pele, nervos su-
perficiais, nariz, faringe, olhos e testculos.
Fagocitose, metabolizao e processamento dos bacilos apresentao dos peptdeos aos linf-
citos liberao de citocinas como o IFN- e TNF-
Ativao de macrfagos;
- O resultado da ativao dos macrfagos variar de acordo com o quadro clnico do paciente.
*Importante: Mycobacterium leprae sobrevive ingesto pelos macrfagos e, por fim, invade as
clulas da bainha de mielina do sistema nervoso perifrico, onde a sua presena causa danos aos
nervos, devido resposta imune celular.
58 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 58
Sndromes clnicas
As manifestaes clnicas da doena de Hansen dependem da reao imunolgica do paciente
aos bacilos.
- Imunidade celular (TH1): apresenta variaes na sua expresso
em decorrncia de fatores condicionantes (genticos);
H produo de IL-2 (estimula o crescimento de clulas T
antgeno-especficas) e IFN- (ativa macrfagos) aumen-
tam a imunidade mediada por clulas resulta em doena
mais branda ou cura.
QUADRO CLNICO
Hansenase indeterminada: sintomas clnicos indeterminados
Forma inicial e transitria, ocorre 3 a 5 anos aps contgio;
Evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos;
- Cerca de 25% dos casos pode evoluir para as formas tuberculoide, lepromatosa ou dimorfa.
Ocorre em indivduos que apresentam resposta imune no definida diante do bacilo;
- Geralmente ocorre em crianas.
Alteraes de sensibilidade ttil (sensibilidade a dor e trmica preservadas);
Manchas cutneas com bordos imprecisos, nicas ou mltiplas, hipocrmicas,
acrmicas ou discretamente eritematosas, planas.
DIAGNSTICO:
Pesquisa de sensibilidade: verifica se houve comprometimento dos
nervos perifricos.
a) Sensibilidade trmica: uso de gua quente e fria sobre a pele;
b) Sensibilidade dolorosa: toque sobre a rea lesada com agulha;
c) Sensibilidade ttil: toque com um pedao de algodo sobre a pele.
30 dias
60 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 60
TRATAMENTO/PROFILAXIA
Vacina: BCG (bacilo Calmette Gurin) com bacilos vivos atenuados.
As principais drogas so:
Dapsona (quimicamente relacionada com as sulfonamidas);
Rifampicina (antibitico semissinttico de ao bacteriosttica);
Clofazimina (corante com ao anti-inflamatria);
Etanobutol , Fluorquinolonas, Claritomicina, Pirazinamida.
Manifestaes clnicas:
Instalao sbita de: disria dor e/ou ardncia durante a mico;
urgncia na eliminao da urina;
frequncia elevada da mico.
Caractersticas da urina, que apresenta-se turva:
- Piria: presena de pus;
- Bacteriria: presena de bactrias;
- Hematria: presena de sangue (em alguns casos).
*Importante: as infeces podem ser recidivas causadas pelo mesmo microrganismo ou podem ha-
ver reinfeces por microrganismos diferentes.
Possveis patgenos:
*Importante: observe que a Escherichia coli a mais prevalente em ambos os casos proximidade
com o nus favorece as infeces no trato urinrio.
63 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 63
Defesas do hospedeiro:
Propriedades antibacterianas da urina (elevada osmolaridade e pH baixo);
Propriedades antibacterianas da mucosa do trato urinrio (citocinas, mecanismo antiaderente);
Efeito mecnico da mico fluxo urinrio;
Resposta imune e inflamatria;
Integridade anatmica e funcional das vias urinrias.
Diagnstico clnico:
Neonatos e crianas at dois anos: assintomticos ou sintomas inespecficos (irritabilidade, apa-
tia, vmito, diminuio da amamentao);
Crianas maiores: relatam disria (dificuldade de urinar acompanhada de dor), frequncia de
mico (dores durante a mico impedem o total esvaziamento da bexiga) e dor abdominal.
DIAGNSTICO LABORATORIAL:
Anlise de rotina: urina
Anlise fsica da urina, anlise qumica quantitativa e qualitativa dos elementos anormais (pes-
quisa qumica) e sedimentoscopia (exame microscpico da urina);
Preparao prvia: deve-se coletar, preferencialmente, a primeira urina da manh, em frasco
limpo e estril necessria uma higiene local adequada, prvia coleta;
A urina, para a realizao do exame, no pode ultrapassar 4 horas da sua coleta;
Resultados:
- Valores normais: ausncia de protenas e glicose, ausncia de corpos cetnicos, escassas clulas
epiteliais, densidade entre 1010-1025, urobilinognio em pouca quantidade (traos).
- Valores anormais: presena de valores alterados indica que estudos mais aprofundados devero
ser realizados, e tambm devem ser relacionados com os resultados do exame clnico.
64 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 64
Mtodo indireto:
- Teste da reduo do nitrato a nitrito presena de enterobactrias
*Em imunodeprimidos, a piria (presena de pus) pode ser negativa e a cultura, positiva.
Resultados:
- Urocultura negativa ou inferior a 100.000 colnias/ml com leucocitria (presena de leuccitos
na urina): pode resultar de uma amostra contaminada por antissptico externo ou de uma infeco
urinaria parcialmente tratada (antibitico por perodo menor que o necessrio ou com dosagem
menor que a devida, geralmente resultante de automedicao);
- Urocultura positiva ou superior a 100.000 colnias/ml sem leucocitria: resulta geralmente de
uma contaminao externa ou m lavagem dos genitais, urina velha ou demora na semeadura. O
exame de urocultura est plenamente associado ao exame de urina rotina. Uma urocultura posi-
tiva, porm sem presena de leuccitos ao exame de urina rotina, faz com que o mdico duvide do
crescimento bacteriano identificado.
- Urocultura positiva ou superior a 100.000 colnias/ml com leucocitria: resultado positivo e in-
dicativo de uma infeco urinaria. Deve-se identificar a bactria e realizar o teste de sensibilidade
(antibiograma), para definir a etiologia e o tratamento apropriado da infeco urinaria.
65 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 65
Diagnstico:
1) Exame da urina e observao do seu aspecto (hematria) e anlise da presena de anticorpos
IgA e IgG;
2) Exame de sangue: observando aumentos de neutrfilos na maioria dos casos (nveis avanados
de infeco).
Sintomas:
Sintomas relacionados com o trato urinrio inferior e quase sempre febre, mal estar geral e dor
lombar;
As infeces podem ser assintomticas: nmero significativo de bactrias na urina, na ausncia
de sintomas.
Tratamento:
Atravs de antibitico sabidamente eficaz contra o microrganismo isolado.
O tratamento deve continuar at o desaparecimento de sinais e sintomas (pelo menos 10 dias);
- Pacientes com cateter urinrio: remoo, quando possvel, durante o tratamento.
66 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 66
Diagnstico clnico:
Perodo de incubao: 3 a 10 dias;
Prurido intenso, disria uretral e corrimento mucopurulento;
- Homens: referem dor ao urinar (sensao de queimao) e se-
crees uretrais;
- Mulheres: maioria assintomtica 10 a 30% apresentam disria e
secreo vaginal intensa amarelo-esverdeada e mucopurulenta.
Diagnstico laboratorial:
Exame bacterioscpico: raspagem do exsudato uretral ou endocer-
vical, coletando o material com swab embebido em alginato de clcio.
- Faz-se colorao de Gram presena de diplococos gram-negativos
no interior dos leuccitos polimorfonucleares (imagem ao lado).
Possui elevada especificidade (95%) e sensibilidade (100%).
Exame cultural: deve ser realizada quando o mtodo de Gram obteve resultado negativo ou du-
vidoso deve-se utilizar meios seletivos especficos.
Uretrites No-Gonoccicas
Causada por vrios agentes: Chlamydia trachomatis (mais associada as uretrites no-gonocci-
cas), Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma, Trichomonas vaginalis, Candida albicans etc.
Epidemiologia:
Elevada incidncia nos adultos jovens, sexualmente ativos.
- Chlamydia trachomats: presente na uretra de 25-60% dos homens com uretrite no-gonoccica;
- 2-50% dos homens tem Ureaplasma urealyticum;
- 20-30% das uretrites no-gonoccicas no possvel estabelecer a etiologia.
Diagnstico clnico:
dado mediante a excluso de Neisseria gonorrhoeae;
- Perodo de incubao mais prolongado: 7-21 dias (at 5 semanas);
- Manifestaes mais brandas: prurido, disria, secreo uretral de leve a moderada, de colorao
esbranquiada e aspecto mucoide.
Diagnstico laboratorial:
Excluso de Neisseria gonorrhoeae pelo mtodo de Gram
- Deve-se encontrar em torno de 5 ou mais polimorfonucleares;
- Ausncia de diplococo (gonococo) gram-negativo intracelular.
Coleta deve ser feita antes da primeira mico matinal ou aps 4 horas sem urinar.
Ciclo de vida:
- Fixao nas clulas epiteliais da conjuntiva;
- Penetrao por endocitose dos CE e incorporao
dentro de uma vescula endoctica;
- Dentro da vescula a bactria mantm o pH acima de
6,2 e impede a fuso da vescula com o lisossoma;
- CEs infecciosos ficam maiores e metabolicamente
ativos;
- CRs sintetizam macromolculas a partir dos metab-
litos e da energia do hospedeiro, crescem e se multi-
plicam (at 1000 bactrias) por diviso simples dentro das incluses;
- 18 a 23 tubos para a nutrio (canudinhos);
- Transformam-se novamente em CEs.
68 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 68
Clamdia
Pode haver coinfeco com gonococo infectam as mesmas clulas epiteliais colunares;
Prevalncia de mulheres 5x maior em relao aos homens;
- Mulheres: C. trachomatis tambm responsvel pela doena inflamatria plvica*, alm de in-
feces oculares** e pneumonias em lactentes nascidos de mes infectadas.
- Homens: podem desenvolver inflamao do epiddimo.
Cervites
Processo inflamatrio do epitlio glandular do colo uterino;
Causada por:
Neisseria gonorrhoeae;
- Com exsudato purulento.
Chlamydia trachomatis;
- Sem exsudato pode desenvolver infertilidade na mulher.
Ureaplasma urealyticum;
Alguns Streptococcus.
Diagnstico clnico:
Muitas pacientes so portadoras de cervicite mucopurulenta assintomtica;
Sintomas: disria, corrimento vaginal espesso (ou exsudado mucopurulento saindo do colo ute-
rino) e, s vezes, sangramento vaginal;
Colo uterino apresenta-se edemaciado com sangramento fcil ao to-
que da esptula ou aps o coito;
Se no tratada pode atingir o endomtrio e as trompas (doena infla-
matria plvica, infertilidade, gravidez ectpica e dor plvica crnica).
Diagnstico laboratorial:
Mtodo de Gram para diagnosticar N. gonorrhoeae (diplo-
coco gram-negativo);
Exame cultural para outros agentes Exame Papanicolau
Imunofluorescncia para C. trachomatis visualizao de
incluses citoplasmticas.
69 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 69
Vaginose Bacteriana
Vaginose vaginite
com inflamao
sem inflamao infeco das paredes vaginal, caracterizada pelo aumento de bactrias
na vagina (diminuio de lactobacilos produtores de H2O2).
Infeco polimicrobiana causada por:
Gardnerella vaginalis;
Prevotella sp.
Peptostreptococcus sp.
Mobiluncus e Mycoplasma hominis.
Diagnstico clnico:
Aumento do fluxo vaginal;
Presena de corrimento com odor ftido (cheiro de peixe) Teste de exalao
- Teste de Whiff (adio de KOH 10%) odor torna-se acentuado devido presena de aminas pro-
duzidas pela G. vaginalis.
Diagnstico laboratorial:
Clue cells ou clulas alvo: so clulas de escamao do epitlio vaginal cobertas por bact-
rias (Gardnerella) presena de clue cells sugestiva de infeco por G. vaginalis (imagem abaixo);
(na tabela abaixo temos as principais infeces (gerais) do sistema reprodutor inferior feminino)
70 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 70
SFILIS
Epidemiologia:
Distribuio universal;
- Terceira doena sexualmente transmissvel mais comum nos EUA.
Tem o homem como nico hospedeiro.
Transmisso:
Contato sexual, congnita e transfuso de sangue;
- 30% de chance de contrair aps um nico contato;
- Transmitida no estgio inicial da doena
Patogenia:
Treponema pallidum possui fibronectina (adesina) facilita a penetrao;
Penetra as superfcies cutaneomucosas atravs de microlaceraes (leses, por exemplo, causa-
das por atrito/frico durante o ato sexual);
Em 3 semanas desenvolve-se a sfilis primria lcera indolor (cancro duro) e regular, com
fundo limpo (no purulenta) e com bordos elevados;
Em 2 a 4 semanas h regresso espontnea microrganismo se dissemina pela linfa e sangue;
Perodo assintomtico (at 24 semanas) sfilis secundria;
40% progride para sfilis terciria.
Sndromes clnicas:
Sfilis primria: leso inicia com uma ppula sofre eroso lcera indo-
lor (cancro duro);
- Presena de cancro sifiltico inicial (onde a espiroqueta inoculada).
*Importante: o cancro duro indolor e, por essa razo, facilita a propagao da doena; uma vez
que a lcera contm elevado nmero de treponemas (leso muito contagiosa!).
Sfilis secundria: ocorre com a difuso das espiroquetas pelo sangue atinge a pele e mucosas.
- Caracterizado principalmente por uma erupo cutnea de aparncia varivel e em vrios locais
(tambm so muito infectantes);
Palma das mos e planta dos ps sfilis exantemtica com rosolas palmares e plantares.
71 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 71
Sfilis latente: perodo latente da aps a sfilis secundria sintomas desaparecero com ou sem
tratamento, e a doena entra em um perodo latente.
- Aps 2 a 4 anos de latncia, a doena normalmente no infecciosa, exceto pela transmisso ma-
terno-fetal;
- A maioria dos casos ( dos casos) no progride alm do perodo latente, mesmo sem tratamento.
Sfilis terciria (tardia): ocorre somente aps um intervalo de muitos anos depois da ocorrncia
do perodo latente ocorre em dos casos.
- Menos contagiosa, porm mais degenerativa;
- Inflamao crnica difusa pode causar destruio de qualquer
rgo ou tecido;
- Degenerao do SNC (neurossfilis 10% dos casos), leses car-
diovasculares (aneurisma da aorta);
- Desenvolvimento de leses granulomatosas (gomas) nos ossos,
na pele e em outros tecidos.
DIAGNSTICO LABORATORIAL
Nas fases primria e secundria: esfregaos obtidos do material retirado do fundo exame micros-
cpico em campo escuro.
Testes no-treponmicos: utilizao de cardiolipina (lipdeo) de boi que possui lipdeos similares
queles que estimularam a produo de anticorpo reagina (reao do organismo ao trepononema).
VDRL (Veneral Disease Research Laboratory): quantitativo e qualitativo serve como triagem.
- Utilizao de cardiolipina e soro do paciente suspeito;
- Pode gerar falsos positivos reage com doenas crnicas (lpus, hansenase, hepatitite etc.).
Teste rpido de reagina plasmtica (RPR): semelhante ao teste VDRL (imagem abaixo)
Tipos de colnias:
Leveduras: cremosas ou pastosa; alongamento apical e ramificao lateral
Filamentosos: algodonosa, pulverulenta, aveludada. (meio de cultura e no organismo)
*Importante: a coleta de material feito nas bordas da colnia (clulas mais novas)
Componentes Celulares
Parede Celular
Funes: formato do fungo, resistncia mecnica e proteo osmtica
Principais compostos:
Leveduras: mananas, glucanas;
Filamentosos: quitina, celulose;
Alguns lipdios e pigmentos (melanina demceos).
Membrana Citoplasmtica
Atua como uma barreira semipermevel no transporte
ativo e passivo das substncias;
Constituda por uma poro hidrofbica e outra hidro-
flica bicamada lipdica;
Esteris: principal o ergosterol (imagem ao lado);
Stio de atuao dos medicamentos antifngicos.
Lipdeos associados a acar: glicolipdeos importantes
na aderncia da clula fngica s clulas do hospedeiro.
*Importante: ergosterol um esterol e, por essa razo, alguns antifngicos podem atuar erronea-
mente em outro tipo de esterol, o colesterol (presente em humanos) efeitos adversos.
Material Gentico
Ncleo: contm o genoma fngico;
Agrupado em cromossomos lineares;
Composto de DNA dupla fita em hlice;
Contm histonas associadas ao DNA cromossomal;
Nuclolo: corpsculo esfrico contendo DNA, RNA e protenas (responsvel pela produo do
RNA ribossomal).
Ribossomos
Locais de sntese proteica;
Ocorrem no citoplasma da clula;
Compostos por RNA e protenas;
Eucariotos possuem ribossomos do tipo 80S (duas subunidades 40S e 60S).
*Importante: medicamentos antifngicos no atuam sobre a sntese proteica dos fungos pois cau-
sam danos sntese proteica do ser humano.
Mitocndria
Fosforilao oxidativa;
Composta por membranas de fosfolipdeos;
Contm seu DNA e ribossomos prprios (ribossomos do tipo 70S).
Retculo Endoplasmtico
Membrana em forma de rede distribuda por toda a clula fngica;
Ligada membrana nuclear;
Pode haver ribossomos aderidos.
Complexo de Golgi
Agregao interna de membranas;
Envolvidas no armazenamento de substncias teis ao organismo, como glicognio e lipdeos;
Tambm h armazenamento de substncias que sero desprezadas pela clula fngica.
Cpsula
Facultativa;
Formada por mucopolissacardeos;
Fator de virulncia
Funo: resistncia fagocitose (algumas leveduras)
- Exemplo: Cryptococcus neoformans (observe a imagem ao lado e abaixo)
76 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 76
Micoses
So classificadas de acordo com a regio acometida:
Micoses superficiais;
Micoses cutneas;
Micoses subcutneas;
Micoses sistmicas por fungos patognicos;
por fungos oportunistas.
Micoses Superficiais
Os fungos infectam somente as camadas mais superficiais de estrato crneo e os pelos.
Provoca pitirase versicolor (micose de praia) doena leve e crnica, de difcil eliminao.
Manchas de cor e formas variadas que descamam facilmente (prurido leve);
- Manchas hipocrmicas: cido azelaico atividade anti-tirosinase interferindo na melanognese;
- Manchas hipercrmicas;
Principalmente adultos jovens e ps-pberes: alteraes dos lipdios na
puberdade.
Fatores predisponentes: alta temperatura e alta umidade relativa do ar,
pele gordurosa, elevada sudorese, fatores hereditrias, uso de terapias
imunossupressoras;
reas mais afetadas: regio cervical, ombros, trax anterior e posterior;
Acomete indivduos de todas as raas e ambos os sexos.
Diagnstico clnico:
Sinal de Besnier: descamao da leso quando raspada; leso torna-se mais evidente
Sinal de Zileri: esfacelamento da queratina aps o estiramento da leso. aps um dos sinais
Exame com lmpada de Wood (ultravioleta 360nm): fluorescncia verde-amarelada.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%) e tinta Parker Quink preta;
- Visualizao de hifas curtas e grossas, leveduras em forma de cacho.
Cultura: fungo lipoflico (depende de meio com lipdeo para multiplicar) utiliza-se azeite.
77 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 77
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%);
- Presena de hifas hialinas, artrocondios.
Anlise microscpica do pelo coletado presena de ndulos branco-amarelados ou amarelo-
acastanhados com consistncia gelatinosa fracamente aderidos ao pelo.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: coleta de material e adio de KOH (10-40%);
- Presena de hifas demceas, ascos (ascsporos).
Anlise microscpica do pelo coletado ndulos no se destacam facilmente dos pelos;
- Exame cultural: colnias castanho escura, verde oliva ou preta.
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Provoca candidase
Micose superficial, subcutnea ou sistmica;
- Espectro bastante extenso: colonizao de mucosas at quadros sistmicos;
- Mucosas mais frequentemente envolvidas: boca, vagina e esfago.
Infeco endgena;
- Quando exgena est comumente relacionada a infeco hospitalar.
Micoses oportunistas infeces so facilitadas por modificaes nas defesas do hospedeiro;
- Queda da imunidade, mudanas na hidratao, pH, alterao da microbiota.
Candidase Cutneo-Mucosa
Candidase intertriginosa
Resultam da extenso de uma vulvovaginite ou de uma balanopostite, quando localizadas nas
regies interglteas e gnitocrurais;
Origem primria: locais onde ocorre intensa macerao (regies inframamrias, axilares, etc.);
Crianas que usam fraldas com ms condies de higiene;
Regies interdigitais palmares e plantares.
Vulvovaginite
Caracterizada por irritao, prurido, corrimento vaginal branco e espesso e sem odor;
Candida spp.: constituintes da microbiota vaginal;
Candida spp.: 20-25% dos corrimentos genitais de origem infecciosa;
- C. albicans: responsvel por 60-70% desses quadros;
75% das mulheres adultas manifestaro a doena em alguma ocasio de suas vidas
- Infeco pode ser recorrente.
Diagnstico:
- Avaliao padro com medida de pH vaginal (no h alterao do pH), teste de Whiff (Candida no
reage no h produo de aminas) e microscopia fresco com KOH 10%;
- Exame fresco: coleta de material das laterais da vagina preparo de lmina com soluo fisiol-
gica ou KOH verificao de pseudo-hifas;
- Exame Papanicolau: microbiota predominantemente de Lactobacillus, presena de moderada
grande quantidade de leuccitos (devido a inflamao).
Balanopostite
Manifestao clnica masculina, com incio na regio da glande ou do sulco
balanoprepucial;
Apresentao: discreto eritema pruriginoso ou vesculas ou pstulas com
contedo branco-cremoso.
Micoses Cutneas
As micoses cutneas so causadas por fungos que s infectam o tecido queratinizado (pele, cabe-
los e unhas) so fungos queratinoflicos.
Formao de dermatofitoses ou tineas;
Agentes etiolgicos: Epidermophyton ssp., Microsporum ssp. e Trichophyton ssp.
Epidermophyton ssp.: infecta apenas a pele;
Microsporum ssp.: infecta a pele e os pelos;
Trichophyton ssp.: infecta a pele, pelos e unhas.
80 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 80
Tinea
Qualquer leso dermatoftica que acomete o estrato crneo do couro cabeludo e/ou regio da
barba e bigode subdivididas quanto apresentao:
3) Tinea favosa/fvica: exsudato seroso em torno dos pelos formam uma massa
amarelada denominada esctula fvica
Agente etiolgico: Trichophyton schoenleinii
Esctula fvica: possui aspecto de crosta amarelada, cncava e centrada por
um pelo, com odor de urina de rato;
Foliculites podem levar a alopcia definitiva (perda de cabelo permanente).
Epidermofitase
Acometem o extrato crneo da pele glabra (regies sem pelo) e so subdivididas em:
1) Herpes circinada: leso superficial de bordo bem definidos e escamativos, inflamatria,
de evoluo centrfuga, localizada na pele glabra uma zoonose (afeta vrios animais).
Agentes etiolgicos: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton.
Pode curar espontaneamente ou evoluir para a forma disseminada.
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4) Tinea imbricata ou Tokelau: leses com discreto relevo, formando crculos esca-
mosos, concntricos e de dimetros variados (conforme a imagem ao lado).
Elevado prurido: facilita a disseminao.
Onicomicoses Dermatofticas
Dermatfitos: comprometimento distal da unha;
Leveduras: predileo pela borda proximal da unha.
Micoses Subcutneas
Envolvem camadas mais profundas da derme e do tecido subcutneo necessita inoculao;
Podem disseminar-se para as articulaes, ossos, msculos;
Predominncia em imunocomprometidos;
Traumatismo forma de entrada (inoculao);
Causadas geralmente por fungos dimrficos;
Agentes causais: isolados do solo, madeira e vegetao em decomposio.
Micoses ocupacionais proporcionam a inoculao do fungo.
Provoca esporotricose infeco subcutnea de maior incidncia no Brasil (em especial MG).
Perodo de incubao: 1 semana a 6 meses;
Predisposio: fazendeiros, jardineiros, floristas, feirantes
Manifestao clnica: cancro de inoculao (local onde iniciou a esporotricose)
- Pode disseminar para outros locais via circulao linftica.
Formas cutneas:
- Cutnea linftica: formao de cancro cadeia de ndulos ao longo dos vasos linfticos;
- Cutnea localizada; Corresponde a mais de 95% dos casos
- Cutnea disseminada.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: raramente positivo;
Exame cultural: mtodo de eleio crescimento rpido (5 dias), mais barato e seguro;
Microcultivo a 25C formao de bolor;
- Visualizao microscpica de condios dispostos em cachos terminais (25C).
Microcultivo a 37C formao de leveduras;
- Visualizao microscpica de clulas leveduriformes em forma de charuto (37C).
Provoca lobomicose.
Doena crnica que inicialmente comea como uma pequena verruga;
Incidncia: adultos jovens que desempenham atividades re-
lacionadas pesca, caa e agricultura;
Forma leses queloidiformes (imagens ao lado);
- Lobomicose pode ser confundida com hansenase, leishmani-
ose, tumores diagnstico diferencial.
Brasil o pas com o maior nmero de casos.
Diagnstico laboratorial:
Colheita de material na biopsia da leso;
- Relativamente fcil o encontro do agente etiolgico em bipsia;
Exame direto: clulas leveduriformes globosas isoladas e em gemulao
ou em cadeias presena de clulas globosas com formato de limo
Provoca cromomicose
Leses se desenvolvem no local da inoculao;
Doena de carter crnico manifestao lenta;
- Leso primria torna-se verrucosa ao longo dos mesesanos;
- rea fica coberta de ndulos semelhantes a uma couve-flor, com abscessos crostosos.
Doena no se transmite de homem para homem, e animais raramente so afetados;
Leses nodulares situam-se nos membros inferiores.
Diagnstico laboratorial:
Colheita de material na biopsia da leso;
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) e observao de corpos fumagides (clulas globosas,
ovaladas de parede espessa e de colorao castanha).
- O agente etiolgico da cromomicose tem cor pardacenta prpria; possui dimetro
entre 812 mm e divide-se por cissiparidade ou bipartio simples, notada em v-
rios espcimes atravs de um sulco equatorial que s vezes d clula o aspecto de
gro de caf.
Exame cultural: cultivo em Sabouraud temperatura ambiente por 2-3 semanas.
84 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 84
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) com alguma amostra clnica (como escarro, exsudatos,
secrees, raspados de leses ulceradas, lavado brnquico, bipsias etc.)
- Observao de clulas leveduriformes arredondadas de paredes duplas, contendo uma ou duas
vesculas de lipdeos no interior do citoplasma, com um ou vrios brotamentos;
Abundantes clulas fngicas, de parede birrefringentes e mltiplos brotamentos (aspectos pato-
gnomnicos, i.e. exclusivos, de P. brasiliensis) formato de roda de leme ou tipo Mickey Mouse.
Exame cultural:
- Cultivo em gar-sangue, gar infuso de crebro e corao (BHI) ou gar Fava Netto cloranfeni
col-ciclohexamida a 37C observao da fase leveduriforme, com miclio cremoso, de tonalidade
branco-amarelada;
- Cultivo em gar-Sabouraud-cloranfenicol-ciclohexamida a 25C observao da fase filamentosa,
que se cresce lentamente (em torno de 4 semanas) como colnias aveludadas, brancas ou bege.
Observao microscpica de hifas finas e septadas com clamidsporos terminais (esporos de re-
sistncia e reproduo formados ao longo da hifa) e intercalados.
Provas sorolgicas:
- Imunodifuso em gel de agarose e o ensaio imunoenzimtico (ELISA) podem ser empregados para
a pesquisa de anticorpos especficos para este fungo.
Provoca histoplasmose
Fontes de exposio doena: cavernas (espeleologia), galinheiros, ptios
de escolas, solo de priso, chamins, construes velhas e laboratrios.
86 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 86
Manifestaes clnicas:
Dependem das condies do hospedeiro e da concentrao do inculo;
- Menos de 5% dos indivduos desenvolvem a doena sintomtica aps baixo nvel de exposio;
- Exposio a stios pesadamente contaminados: maioria dos pacientes desenvolvem infeco sinto-
mtica.
Histoplasmose aguda: perodo de incubao de 1018 dias;
- Sempre presentes: febre alta, cefaleia, mialgia
- Geralmente: tosse seca, dor, dispneia, hepatosplenomegalia e linfonodomegalias superficiais.
Histoplasmose pulmonar crnica: relacionada ao enfisema
- Colonizao deste local: material lquido rico em elementos fngicos;
- Disseminam pelos brnquios pneumonite segmentar;
- Praticamente indistinguvel tuberculose pulmonar crnica.
Histoplasmose disseminada: ocorre quando h LES (Lpus Eritematoso Sistmico), AIDS, leuce-
mia, transplantados baixa imunidade!
- Febre: sempre presente
- Hepatomegalia, esplenomegalia, anemia e leucopenia
- Acomete pulmo, fgado, bao, intestinos, rins, suprarrenais, SNC, pele, mucosas, linfonodos.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) em amostra clnica (escarro, sangue, bipsia, etc.).
- Visualizao de macrocondios redondos ou piriformes e microcondios de paredes lisas loca-
lizados nas extremidades de curtos conidiforos semelhantes a mamonas (imagem abaixo).
Exame cultural: caracterizao do dimorfismo em BHI (gar infuso
crebro-corao a 37C)
- Miclio hialino ou acastanhado, hifas hialinas finas, septadas e ramificadas.
Exame histopatolgico: presena de elementos leveduriformes pequenos,
ovalados, unibrotantes colorao de Gomori-Grocott.
Preveno:
No permitir a domiciliao de pombos e morcegos nas residncias;
No caso de problemas com morcegos, vedar frestas e espaos que conduzam ao telhado, poro,
sto ou outro local em que eles estejam. Caso existam morcegos no local, quando estes animais
sarem para se alimentar ao entardecer, fazer a vedao. Retirar a vedao ao anoitecer. Repetir o
procedimento trs vezes de forma a se certificar que nenhum animal restou no local.
No caso de problemas com pombos, elimine toda possvel fonte de alimento. Coloque barreiras
fsicas em locais que eles costumeiramente empoleiram, tais como beirais, sacadas, entre outros;
Caso haja acmulo de fezes de morcegos ou pombos, umedecer as fezes antes de limp-las para
evitar a formao de poeira contaminada com o fungo que possa ser inalada. Utilize uma mscara
facial do tipo cirrgica (descartvel); caso no seja possvel, amarre um leno mido duplo cobrindo
a face (nariz e boca);
No adentre cavernas desconhecidas ou que no estejam liberadas para visitao e locais com
acmulos de fezes de morcegos, pombos e outros pssaros.
87 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 87
Provoca coccidioidomicose
Porta de entrada: trato respiratrio;
- Pulmes: artrocondios (fragmentos de hifas) so aspirados e, dentro
dos pulmes, formam as esfrulas (endsporos proteo contra o sis-
tema imune) rompimento das esfrulas liberam muitos artrocondios
(conforme a imagem ao lado) leso pulmonar e em outros rgos;
Clinicamente: doena de carter crnico com anorexia progressiva e
comprometimento pulmonar;
Quando causa leses generalizadas so quase sempre mortais.
Manifestaes clnicas:
Pulmonar aguda: 60% das pessoas infectadas assintomtica;
- Positivos: somente reao intradrmica;
- Sintomticos: sintomas respiratrios brandos a pneumonias;
Disseminada: disseminao hematognica e linftica;
- Mais frequente: pele, medula ssea e meninges;
- Menos frequente: bao, rins, corao.
- Bastante grave (comprometimento articulaes, pele, ndulos linfticos, olhos, SNC, aparelho uro-
genital e corao): condio rara.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: utilizao de KOH (10-40%) em amostra clnica (escarro, pus, LCR, raspado de le-
so de pele, bipsia etc.) presena de esfrulas;
Exame cultural: cultura de secrees em gar-Sabouround.
- A coleta e o processamento de material para cultura devem ser feitos por pessoal treinado, em
laboratrio de segurana nvel IV
Deve-se evitar o exame cultural, pois o Coccidioides immitis de fcil contgio.
Exame histopatolgico: visualizao de esfrulas com endsporos;
Sorologia: pesquisa de IgM e dos nveis de IgG requerem criteriosa avaliao.
- Os testes cutneos com esferulina tm pouco valor diagnstico, pois permanecem positivos,
mesmo aps a infeco.
88 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 88
Provoca criptococose
Doena cosmopolita;
Acomete tanto pessoas com a imunidade normal, como aquelas que esto com a imunidade
comprometida;
Principal porta de entrada: inalatria aspirao de clulas dessecadas de leveduras;
Pode ser inoculado atravs da pele, podendo ocasionar infeco atravs das mucosas em pacien-
tes imunocomprometidos.
Manifestaes clnicas:
Criptococose pulmonar regressiva:
- Leses pulmonares primrias ou de reinfeco exgena;
- Passam despercebidas;
- Diagnstico casual.
Criptococose pulmonar progressiva:
- 10% das formas clnicas da micose;
- Leso cstica representada por massa de clulas fngicas;
- Sintomatologia inespecfica e escassa: tosse, escarro mucoide, dor torcica.
Criptococose disseminada:
- Quase 90% dos casos diagnosticados;
- Por definio: localizao extrapulmonar manifestaes cutneas ou sseas acompanhadas de
leso pulmonar ou do SNC;
- Tropismo pelo SNC;
- Sinais iniciais: cefaleia e febre (em alguns casos);
- Progresso: reduo ou perda da viso, hipertenso intracraniana e hidrocefalia.
Diagnstico laboratorial:
Exame direto: exame microscpico direto para pesquisa de leveduras encapsuladas no lquido
cefalorraquidiano (LCR) utilizando-se tinta da china
- Presena no LCR de leveduras encapsuladas com dimetro mdio de 520m.
Exame histopatolgico:
- Tcnicas histoqumicas bsicas H&E e Gomori-Grocott (GMS) Visualizao
- Tcnicas histoqumicas especiais mucicarmim de Mayer (MM) e Fontana-Masson de endsporo
Exame cultural:
- gar Sabouraud-dextrose: 3035C por 48-72h;
- gar niger: meio enriquecido com sementes de Guizotia abyssinica que contm substratos fenli-
cos e detecta a atividade da fenoloxidase presente em Cryptococcus spp. formando melanina, de
modo que as colnias ficam marrons (caracterstica amplamente utilizada para a identificao de
Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii em laboratrio).
Sorologia: testes utilizam partculas de ltex revestidas com anticorpos policlonais para a cpsula
criptoccica;
- Testes com elevada sensibilidade e especificidade.
90 Danilo Fernando MICROBIOLOGIA MDICA ATM 21/2 90
Diagnstico:
Sinais pulmonares na radiografia de trax auxiliam o diagnstico (infiltrado intersticial difuso e
peri-hilar, leses nodulares, pneumotrax, derrame pleural);
Confirmao do diagnstico feito pela identificao do patgeno no escarro, em lavado brn-
quico ou biopsia do parnquima pulmonar;
Tcnicas que utilizam anticorpos monoclonais deteco do fungo em pacientes HIV-negativos
com menor nmero de elementos fngicos;
Tcnica de PCR: aumento da sensibilidade e especificidade, porm no substitui os mtodos de
microbiologia clnica.
Diagnstico laboratorial:
Radiografia do trax;
Exame de sangue: pesquisa de antgenos especficos de Aspergillus (precipitinas para Aspergillus)
Fibrobroncoscopia: retirada do miclio presente no pulmo via nasal/oral para verificao labo-
ratorial do Aspergillus ssp. se presente, confirma o diagnstico.