Quantica I A
Quantica I A
Quantica I A
(Notas de Aula)
Roberto V. Ribas
1 de março de 2005
Sumário
4 O Átomo de Bohr 69
4.1 Espectros Atômicos e Séries Espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.2 O Espalhamento Rutherford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.3 O Modelo de Bohr para o átomo de Hidrogênio . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.4 A Experiência de Franck-Hertz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3
Sumário
4
1 Teoria Cinética dos Gases
• Newton (∼1662) tenta explicar a lei de Boyle PV = cte. tratando gases como partícu-
las rígidas estáticas que se repelem mutuamente com força inversamente proporcional
ao quadrado da distância entre as partículas.
• Bernulli (∼1738) primeira descrição cinética dos gases. Formulou um modelo similar
ao que apareceu mais de um século depois, conseguindo antecipar inclusive proprie-
dades dos gases que só seriam conhecidas cerca de 50 anos depois.
5
1 Teoria Cinética dos Gases
e desenvolveu um método para medir a razão entre a carga e a massa dessas partículas, os
elétrons.
No tubo de raios catódicos (gura 1.1), os dois ânodos A e B são ligados ao potencial
positivo e o catodo ao negativo. Com uma pressão baixa, mas ainda com uma quantidade
razoável de gás no interior do tubo, há ionização do gás residual e uma luz é emitida na
região entre o catodo e o ânodo A. Quando a pressão é diminuída abaixo de um certo
valor, tudo se torna escuro, exceto uma faixa (imagem do ânodo) no anteparo fosforescente
colocado na outra extremidade do tubo. Os raios catódicos podem ser desviados por
campos elétricos ou magnéticos. Ao se aplicar uma diferença de potencial V entre as
placas D e E, a imagem é desviada para cima ou para baixo.
mv 2 mv
Fmag = Fcentrpeta : qvB = ; R=
R qB
Para determinar a velocidade v dos raios, Thomson coletava e media a carga total Q=
N q, onde N é o número total de partículas dos raios catódicos atingindo uma pequena
placa condutora onde a carga é coletada. Medindo-se o aumento de temperatura dessa
placa e sabendo-se que a quantidade de calor gerado corresponde à perda de energia W
1 2 Q
das partículas do raio, onde W = N mv . Substituindo-se N = na expressão para a
2 q
2
perda de energia, temos: v = 2W q/mQ o que resulta na expressão:
q 2W
=
m QR2 B 2
Este procedimento resultava em valores muito incertos para a razão q/m, principalmente
devido as diculdades de se determinar W. Num segundo método desenvolvido por J. J.
Thomson, ele aplicava, além do campo magnético B, uma diferença de potencial V na
6
1.1 Evidências para uma descrição Atômica da Matéria
região entre as duas placas. Supondo ser o raio devido a um feixe de partículas de carga q
e massa m atravessando a região entre as placas com velocidade v perpendicular á direção
do campo magnético (e à do elétrico), na região em que há campo B, a força magnética
fará com que as partículas descrevam um arco de círculo de raio R dado pela expressão
mostrada anteriormente, R = mv/qB .
Note que com v na direção do eixo do instrumento e B perpendicular ao plano do papel, a
força magnética terá direção perpendicular ao plano das placas, ou seja, na mesma direção
da força elétrica. Se o campo elétrico entre as placas é E, a força elétrica nas partículas
de carga q será qE. Ajustando-se a intensidade do campo elétrico de modo que a força
elétrica cancele a força de direção oposta devido ao campo magnético (fazendo portanto
que a faixa luminosa no anteparo que na mesma posição em que cava quando não havia
nem B nem E), tem-se a igualdade:
E
qvB = qE; de onde v =
B
Mantendo-se agora este valor de E e desligando-se B, mede-se uma deexão vertical y na
tela. Esta deexão pode ser calculada pela soma de dois termos: na região entre as placas,
a partícula está sob a ação de uma força constante qE na direção vertical e o deslocamento
na posição vertical é dado por:
1 1 qE 2
y1 = at21 = t
2 2m 1
Onde t1 é o tempo de transito da partícula no comprimento x1 das placas: x1 = vt1 e
portanto,
1 qE x21
y1 =
2 m v2
Ao deixar a região de aceleração, a velocidade na direção y é
qE x1
vy = at1 =
m v
e a partícula continua com essa velocidade até atingir o anteparo fosforescente. O tempo
gasto para percorrer a distância x2 é t2 = x2 /v e portanto:
qE x1 x2
y2 = vy t2 =
m v2
e a distância total y é dada por:
qE 1 2
y = y1 + y2 = x + x1 x2
mv 2 2 1
7
1 Teoria Cinética dos Gases
resultado. Valores de q/m para íons eram conhecidos por medidas de eletrólise. Thomson
notou que os valores de q/m para os raios catódicos (que ele chamou de corpúsculos e
que depois seriam chamados de elétrons) eram cerca de 2000 vezes maiores que o q/m
correspondente ao íon mais leve conhecido, o hidrogênio.
Já a partir das medidas realizadas por Faraday, haviam evidências para uma quantidade
mínima de carga elétrica. A quantidade de carga correspondente a 1 Faraday (∼96500 C)
é usada para decompor 1 mol de íons monovalentes e o dobro dessa quantidade para o caso
de íons bi-valentes. Como F = NA e e com as estimativas que haviam para o número de
Avogrado, Faraday estimou e = 10−20 C.
Thomson procurou então determinar o valor da carga elementar, experiências que foram
realizadas por seu aluno J. S. Townsend. Fazendo o gás ionizado produzido por eletrólise
borbulhar através da água, produzia uma nuvem de vapor d'agua, com cada gotícula
contendo um (ou mais) íon. Coletando as gotículas da nuvem, media sua carga total com
um eletrômetro, bem como sua massa. Determinando-se número de gotas como a razão
entre a massa total e a massa se uma gota (o raio médio das gotas era estimado medindo-
se a velocidade de queda livre das gotas - veja experiência de Millikan adiante) e com a
suposição de que cada gotícula continha um íon, a carga elétrica de cada íon pode ser
−19
determinada. Townsend estimou q = 10 C, as principais incertezas no raio das gotas (as
gotículas evaporam muito rapidamente e seu raio varia com o tempo) e no número de íons
contidos em cada gota.
8
1.1 Evidências para uma descrição Atômica da Matéria
tempo gasto na parte acelerada do movimento é muito curto (∼ 10−6 s) a gota é sempre
observada em movimento uniforme. Invertendo-se o campo elétrico (escolhendo-se E de
tal forma que qE > mg) a gota passa a fazer um movimento ascendente. Desprezando-se
o empuxo, as equações de equilíbrio de forças são:
mg + qE = 6πηavd (descida)
qE = mg + 6πηavs (subida)
d
q = 3πηa (vd + vs )
V
O raio pode ser obtido das mesmas medidas de vs , vd . Subtraindo-se as duas equações
obtém-se:
s
9η (vd − vs )
a=
4ρg
4
mg = πa3 ρóleo g = 6πηavq
3
de onde se obtém:
r
9ηvq
a=
2ρo g
9
1 Teoria Cinética dos Gases
−1
b
η = ηo 1+
pa
Onde ηo
é a viscosidade do ar para objetos macroscópicos, p a pressão atmosférica, a o
−4
raio da gota e b =6, 17 · 10 cmHg.cm é uma constante.
Na gura 1.3, vemos a distribuição de valores para cerca de 300 gotas, medidas pelos
alunos da disciplina Física Experimental V do IFUSP, acumuladas durante dois anos em
meados da década de 90. Os resultados mostram claramente a quantização da carga e a
análise de centróide dos três primeiros picos, permitem a determinação da carga elementar
com incerteza menor que ∼ 1%.
10
1.2 A Teoria Cinética da Pressão
Um interessante relato de H. Fletcher sobre seu trabalho com Millikan foi publicado
postumamente (H. Fletcher - My work with Millikan on the oil-drop experiment. Physics
Today, June 1982, p. 43). Neste artigo, Fletcher, conta como foi o desenvolvimento do
método e como Millikan lhe comunicou que seu nome não seria incluído no artigo a ser
publicado sobre a determinação da carga do elétron (e que daria o prêmio Nobel a Robert
Millikan).
Mais recentemente, variações da técnica de Millikan-Fletcher têm sido utilizadas na pro-
cura de cargas fracionárias. Embora previstas no modelo padrão das partículas elementares,
1 2
os quarks (com carga ± e ± ) não devem ser observadas separadamente, mas somente
3 3
combinadas de modo a ter carga total inteira. Mesmo assim, muitos pesquisadores têm
efetuado essas experiências na busca de partículas com cargas fracionárias. Um bom artigo
descrevendo essa busca é o de M. L. Perl e E. R. Lee Searching for elementary particles
with fractional electric charge and the philosophy of speculative experiments - Am. J.
Phys. 65, 698 (1997).
∆tvxi A
Ii = n0i 2mvxi
V
11
1 Teoria Cinética dos Gases
Sabemos que, por denição, o impulso de uma força é igual ao produto da força media
pelo intervalo de tempo em que ela atua. Portanto a força média agindo na parede no
intervalo de tempo ∆t é:
n0i 2mvxi
2
hFi i = A
V
A pressão média devido a essa força será portanto:
n0i 2mvxi
2
Pi =
V
Para obtermos a pressão total, devemos somar para todos os valores de vxi :
X n0 2mv 2 2m X 0 2
i xi
P = = nv
i
V V i i xi
Note que n0i é o número de moléculas com velocidade vxi positiva (atingindo a parede à
direita do recipiente). Se considerarmos o número de partículas com componente −vxi , este
0
número deverá ser também ni , pois não há razão para que haja mais ou menos moléculas
com componente de velocidade numa direção, em relação à outra. Chamando agora de ni
0
o número de partículas com módulo de velocidade vxi , temos que ni = 2ni . Substituindo
na expressão acima, temos:
mX 2
P = ni vxi
V i
O valor quadrático médio do componente x das moléculas do gás é, por denição, dado
por:
2 1 X 2
vx = ni vxi
N i
com
X
N= ni
i
P V = N.m. vx2
2 1 X 1 X
ni vi2 = 2 2 2
2
2
2
v = ni vxi + vyi + vzi = vx + vy + vz
N i N i
12
1.2 A Teoria Cinética da Pressão
Novamente, não há nenhuma razão para que qualquer um dos valores médios à direita
2
2 2
da equação acima seja menor ou maior que um outro. Portanto hvx i = vy = hvz i de
2 2
onde hv i = 3 hvx i e portanto:
1
2 1
2
P V = N m v2 = N m v
3 3 2
1
O termo
2
m hv 2 i corresponde à energia cinética média das moléculas do gás. Assim,
temos nalmente:
2
P V = N hEc i
3
N
Comparando com a lei dos gases, P V = nRT , onde n= NA
, temos:
R 2
N T = N hEc i
NA 3
de onde se obtém,
3 R 3
hEc i = T = kT
2 NA 2
onde k = R/NA é a chamada constante de Boltzmann (k = 1.38 · 10−23 J/K = 8.6 · 10−5
eV/K).
A temperatura absoluta de um gás é portanto diretamente relacionada com a energia
cinética média das moléculas do gás. Por exemplo, à temperatura ambiente (∼300 K), a
energia média das moléculas de um gás é:
3
Ec = · 8.6 · 10−5 · 300 ∼
= 0.04 eV
2
Podemos também, com base nestes resultados, calcular a velocidade média das moléculas,
p
denida comovrms = hv 2 i, onde rms corresponde em inglês a raiz da média quadrática
(root mean square ):
r r
p 2 hEci 3kT
vrms = hv 2 i = =
m m
R
como k= NA
, temos:
r r
3RT 3RT
vrms = =
NA m M
onde M é a massa molar do gás.
Essa velocidade pode ainda ser calculada em termos de grandezas macroscópicas. Com
q
3P V
P V = nRT , temos vrms = nM
. O produto nM corresponde à massa total do gás
13
1 Teoria Cinética dos Gases
q
nM 3P
contida no volume V e portanto
V
= ρ, a densidade do gás e vrms = ρ
. Para o ar em
1 1 1
Ec = mvx2 + mvy2 + mvz2
2 2 2
O argumento para que isso ocorra é que não deve haver uma coordenada privilegiada.
Como cada pequeno volume de gás é homogêneo e isotrópico, as três direções espaciais são
equivalentes naquele volume, e daí a eqüipartição da energia cinética.
Para moléculas monoatômicas, a translação é a única maneira de uma molécula adquirir
energia. Entretanto, moléculas formadas por dois ou mais átomos podem também girar e
vibrar. Novamente observa-se nesses casos, que a energia média das moléculas se distribui
eqüitativamente nos vários modos possíveis para a molécula adquirir energia. Na molécula
monoatômica, como vimos, a energia total é igual à energia cinética de translação e igual
3
a Ec = kT . Portanto, cada termo da energia, escrita como função dos componentes
2
1
da velocidade, corresponde a kT . Vamos generalizar esta observação, com o chamado
2
Teorema da Eqüipartição da Energia:
Num sistema em equilíbrio termodinâmico à temperatura T, a energia média de uma
1
molécula, por grau de liberdade, corresponde a 2 kT .
Como grau de liberdade, entende-se cada coordenada (seja de velocidade ou de posição)
que aparece elevado ao quadrado na expressão para a energia da molécula. Assim, uma
molécula monoatômica pode adquirir energia somente na forma de translação nos três
14
1.4 Capacidade Caloríca dos Gases
1 1
E = m vx2 + vy2 + vz2 + = ωx2 + ωy2
2 2
e portanto E = 25 kT para moléculas diatômicas.
As moléculas diatômicas não são rígidas. Num modelo mais realista, os dois átomos
seriam ligados por uma mola. Esta molécula pode então ter energia de vibração, que
corresponde a outros dois graus de liberdade, uma vez que a energia de vibração é dada
1 2 1 2
por E = kδ + mvr , onde δ é o deslocamento em relação à distância de equilíbrio e vr a
2 2
velocidade dos átomos da molécula em relação ao centro de massa.
15
1 Teoria Cinética dos Gases
No caso das moléculas diatômicas, observa-se entretanto, que o valor de Cv varia com a
5
temperatura. Se numa faixa de temperatura tem-se Cv = R, baixando-se a temperatura
2
3
o valor de Cv diminui, até atingir R e então estabiliza. Aumentando-se a temperatura,
2
7
o valor vai aumentando, podendo atingir
2
R, mas em geral este valor não chega a ser
atingido, pois antes as moléculas se dissociam. Isso pode ser entendido se admitirmos
que abaixo de uma certa temperatura, as moléculas do gás não podem mais rodar e que
somente acima de uma certa temperatura mais elevada, podem vibrar além de rodar. A
explicação para esses fatos só pode ser obtida com a mecânica quântica, como veremos
mais tarde.
Essas idéias podem também ser aplicadas aos sólidos.Considerando-se os átomos num
cristal como ligados uns aos outros por forças como numa mola. Cada átomo pode então
adquirir energia vibrando em quaisquer dos três eixos e portanto,
1 1
E = k x2 + y 2 + z 2 + m vx2 + vy2 + vz2
2 2
correspondendo a seis graus de liberdade. Portanto, para sólidos Cv = 3R, de acordo
com essas premissas. Realmente, este é o valor observado para o calor especíco a volume
constante para sólidos, a altas temperaturas, mas Cv diminui gradativamente, á medida que
a temperatura diminui. Posteriormente iremos estudar um modelo para o calor especíco
dos sólidos, com base na mecânica quântica, onde este comportamento será previsto.
2 1 X 2 0 X 2
vx = vxi ni = vxi fi
N
e os fi obedecem ao que se chama de condição de normalização da distribuição:
X 1 X 0
fi = n =1
i
N i i
16
1.5 A Distribuição de Maxwell-Boltzmann
a denição de média de uma grandeza para uma função de distribuição contínua é dada
por:
2
Z +∞
vx = vx2 f (vx )dvx
−∞
Na verdade, o conjunto {n} ou {f} que utilizamos na sessão anterior poderia ser melhor
interpretado como cada ni correspondendo ao número de moléculas com velocidade dentro
de um pequeno intervalo entre vxi e vxi + ∆vx (e portanto fi correspondendo à fração de
moléculas dentro desse intervalo). Deste modo temos as seguintes relações:
17
1 Teoria Cinética dos Gases
Z Z Z
2
xf (x)dx + x2 f (x)dx = x2 − 2 hxi2 + hxi2 = x2 − hxi2
x f (x)dx − 2 hxi
pelo fato das grandezas vx , vy e vz serem independentes umas das outras. Com isso, basta
encontrar, por exemplo, f (vx ).
Do que vimos na sessão anterior, f (vx ) deve ser uma função simétrica, f (vx ) = f (−vx )
pois não há razão para que as moléculas tenham preferência por vx à direita, em relação a
vx com direção à esquerda. Sem muito rigor, podemos também dizer que como as colisões
entre as moléculas são basicamente ao acaso, as velocidades devem se distribuir como no
caso dos erros estatísticos. Esta foi efetivamente a solução encontrada por Maxwell:
2
f (vx ) = Ce−mvx /2kT
onde
1 m 12
C = R +∞ =
−∞
f (vx )dvx 2πkT
e portanto
18
1.5 A Distribuição de Maxwell-Boltzmann
m 32
e−m(vx +vy +vz )/2kT
2 2 2
F (vx , vy , vz ) =
2πkT
Vamos precisar, nesta e nas próximas sessões, calcular várias integrais de produtos de
funções de vx por f (vx ) para cálculos de valores médios. Abaixo, algumas dessas integrais:
R∞ 2 R∞ 2
e−λx dx = 1
xe−λx dx =
pπ 1
0 2 λ
; 0 2λ
1√
R∞ 2 3 R∞ 2
0
x2 e−λx dx = 4
πλ− 2 ; 0
x3 e−λx dx = 12 λ−2
3√
R∞ 2 5 R∞ 2
0
x4 e−λx dx = 8
πλ− 2 ; 0
x5 e−λx dx = λ−3
Z Z Z
2
vx = vx2 F (vx , vy , vz )dvx dvy dvz
as integrais em dvy e dvz podem ser facilmente efetuadas pois não há termos dependentes
de vy, vz senão na própria função F e cada uma dessas integrais deve ser igual a 1, pela
condição de normalização:
m 12 Z +∞ 2
e−mvy /2kT dvy = 1
2πkT −∞
2 m 12
Z +∞ m 12 1 √ m − 32
2 kT
vx = vx2 e−mvx /2kT dvx = 2 π =
2πkT −∞ 2πkT 4 2kT m
F (x, y, x) = C
19
1 Teoria Cinética dos Gases
Z Z
F (x, y, z)dxdydz = C dxdydz = CV = 1
1
ou F (x, y, z) =
V
, sendo V o volume da caixa. Note que nem sempre a distribuição de
posições é uma constante. Na atmosfera terrestre, por exemplo, a densidade diminui com
a altitude, devido à ação da força gravitacional. Veremos posteriormente como obter essa
distribuição.
Se fôssemos representar gracamente a função F (x, y, z) num plano (x,y), por exem-
plo, poderíamos desenhar um retângulo com as dimensões correspondentes a esse corte
no volume da caixa, com pontos, distribuídos aleatoriamente no plano, representando as
moléculas do gás com densidade uniforme. Poderíamos também desenhar algo semelhante
para a distribuição de velocidades, F (vx , vy , vz ). Note que agora os eixos seriam vx , v y , v z e
o espaço não seria o espaço físico usual, mas o espaço de velocidades. Para partículas loca-
lizadas numa caixa de dimensões (a,b,c), a representação de F (x, y, z) se faz numa região
limitada no espaço físico. Na representação de F (vx , vy , vz ) para essas mesmas partículas,
o espaço (de velocidades) necessário será innito, uma vez que a distribuição gaussiana,
como sabemos, tende exponencialmente a zero, à medida que o valor de um componente
de velocidade aumenta. Se nos restringirmos ao plano (x,y), por questão de simplicidade,
vemos que F (vx , vy ) é máximo para vx = vy = 0 e gradativamente diminui, aumentando-se
vx , v y ou ambos. A representação teria portanto uma densidade de pontos maior na origem
das coordenadas vx , vy e diminuindo radialmente,
p 2 conforme visto na gura 1.4. Uma faixa
circular de raio entre v e v + dv onde v = 2
vx + vy nesse espaço, delimita as partículas que
têm módulo de velocidade entre v e v + dv . O número de partículas nessa faixa é dado pelo
produto da área da faixa, 2πvdv pela densidade de partículas com velocidade v, ou seja:
N F (vx , vy ). No caso real, tridimensional, devemos tomar o produto do volume da casca
esférica de mesmo raio e multiplicar por N F (vx , vy vz ). Agora, se representarmos por g(v)
a função de distribuição dos módulos v de velocidade, esse número será também dado por
N g(v)dv , e portanto:
m 23 2 2 2
N g(v)dv = 4πv 2 dvN F (vx vy vz ) = N 4πv 2 e−m(vx +vy +vz )/2kT
2πkT
de onde
m 32 2
g(v) = 4π v 2 e−mv /2kT
2πkT
Desta função g(v), podemos também facilmente obter a função de distribuição de energia
cinética das moléculas, uma vez que:
1
Ec = mv 2 ; dEc = mvdv
2
20
1.5 A Distribuição de Maxwell-Boltzmann
e
r
v 1 2Ec
v 2 dv = dEc = dEc
m m m
como no expoente da função temos mv 2 /2kT = Ec /kT , a função de distribuição de
energias cinéticas é:
1
F (E)dE = CE 2 e−E/kT dE
1
O fator (E 2 ) que multiplica a exponencial é válido somente para este caso, onde a
energia total corresponde somente ao termo de energia cinética. Como veremos, quando a
energia total depende de outras quantidades (como da posição) o fator será diferente. Da
distribuição de velocidades g(v) podemos agora obter a velocidade média (em módulo) das
moléculas do gás:
Z m 23 r
2 8kT
hvi = v · 4π v 2 e−mv /2kT dv =
2πkT πm
p
note que este valor é ligeiramente inferior ao de vrms = hv 2 i que havíamos obtido
anteriormente. Note também que a distribuição de velocidades não é simétrica. O valor
q
2kT
mais provável para a velocidade das moléculas é dado por: vm = m
(verique). Este
21
1 Teoria Cinética dos Gases
A vericação experimental da distribuição g(v) foi realizada pela primeira vez em 1926,
por O. Stern. Mais recentemente, em 1955 Miller e Kusch repetiram o experimento uti-
lizando o ltro de velocidades mecânico visto na gura 1.6, obtendo um excelente acordo
com a distribuição g(v), conforme se vê na gura 1.7.
As distribuições que obtivemos, F e g são casos particulares de uma distribuição mais
geral, conhecida como a distribuição de Maxwell-Boltzmann, cuja obtenção envolve pro-
cedimentos ainda mais complexos. Consideremos agora o caso geral de um conjunto de
partículas (não somente gás), cuja energia total E é uma função tanto das coordenadas
x, y, z quanto das velocidades, ou melhor, do momento px , py , pz . Podemos pensar então
nessas partículas como pontos de um espaço exa-dimensional (x, y, z, px , py , pz ), chamado
espaço de fase. A probabilidade de se encontrar uma partícula numa célula desse espaço
de volume dτ = dxdydzdpx dpy dpz é dada por:
1 2
E= (p + p2y + p2z ) + mgz
2m x
onde z é a altura em relação ao nível do mar. A distribuição de Maxwell-Boltzmann
para essas moléculas será portanto:
1 2 2 2
f (x, y, z, px , py , pz ) = Ce− 2m (px +py +pz )/kT e−mgz/kT
22
1.5 A Distribuição de Maxwell-Boltzmann
Figura 1.6: Aparelho usado por Miller e Kusch para medir g(v)
Figura 1.7: Comparação entre os valores medidos por Miller e Kusch, com a função de
distribuição teórica g(v)
23
1 Teoria Cinética dos Gases
0
f (z) = C e−mgz/kT
Essa função é conhecida como lei das atmosferas, mostrando que a densidade do ar
decresce exponencialmente com a altitude.
x1 = ±l ⇒ hx1 i = 0; x21 = l2
24
1.6 O Movimento Browniano
..........
√
Portanto, após n passos, o bêbado estará a uma distância xrms = nl da origem, com igual
probabilidade de se encontrar à direita ou à esquerda dela. Para uma partícula browniana,
o número de passos observado n, correspondente ao deslocamento médio medido num
intervalo de tempo t, é proporcional ao número de colisões que a partícula sofre, com as
moléculas do gás. Portanto, o número de passos n também será proporcional ao tempo
2 2
de observação. Portanto, hxn i pode ser dado por hxn i = 2Dt onde D é uma constante,
chamada constante de difusão.
Vejamos agora uma dedução mais formal do deslocamento quadrático médio, onde será
possível obter explicitamente o valor de D. Consideremos a equação de movimento para a
coordenada x da partícula browniana. Agem sobre a partícula, a força viscosa, dada pela
lei de Stokes, Fv = −6πηav , além da força ocasionada pelas colisões com as moléculas do
uido. Essa força é completamente aleatória e tem média zero. Macroscopicamente, essa
força corresponde à pressão do uido sobre a partícula. Microscopicamente, sabemos que
ela é devida às colisões com as moléculas e que não é sempre nula, devido às utuações
no número de colisões. Forças desse tipo são chamadas forças estocásticas ou forças de
Langevin. A equação de movimento para a coordenada x da partícula é portanto:
d2 x dx
m 2
= −µ + Fe
dt dt
onde µ = 6πηa. Multiplicando a equação por x e utilizando as relações:
2
d2 x x2
d dx dx d dx
x = +x 2 e =x
dt dt dt dt dt 2 dt
temos:
2
x2
d dx dx d
m x −m +µ = xFe
dt dt dt dt 2
Tomando a média dessa equação e notando que hxFe i = hxi hFe i = 0 pois não há
nenhuma correlação entre o valor da força e a posição em que se encontra a partícula,
temos:
x2 d x2
d d
− m vx2 + µ
m =0
dt dt 2 dt 2
Z Z
d 2 d 2 d d
2
x = x f (x)dx = x2 f (x)dx = x
dt dt dt dt
25
1 Teoria Cinética dos Gases
d d
Denindo então a função f= dt
x2 = dt
hx2 i, a equação acima ca:
1 df
1
m − m vx2 + µf = 0
2 dt 2
1
Como, pela teoria cinética,
2
m hvx2 i = 12 kT , obtemos a seguinte equação:
df
m + µf = 2kT
dt
2kT dg df
fazendo agora a substituição: g(t) = f (t) − µ
e como
dt
= dt
,
dg µ
− g=0
dt m
m
dendo τ= µ
, a solução dessa equação pode ser escrita como:
g(t) = go e−t/τ
d
2 2kT
x =
dt µ
de onde
2 2kT RT
x = t= t
µ 3πηaNA
Em 1908, Jean-Baptiste Perrin conseguiu confeccionar micro esferas de látex, com raios
determinados e estudou o movimento browniano dessas partículas numa série de emulsões,
variando a dimensão das partículas, o líquido de suspensão, a temperatura, etc. e sembre
23 23
obtendo o mesmo valor para NA , entre 5·5.10 e 7·2.10 , conforme suas próprias palavras,
no discurso que proferiu na entrega do premio Nobel que recebeu por seus trabalhos com
o movimento browniano. A excelente concordância dos resultados fez com que a teoria
atômica da matéria passasse a ter a ampla aceitação.
No laboratório didático, realizamos uma medida do número de Avogrado, com base
no estudo do movimento browniano em gotas de óleo, utilizando o mesmo equipamento
e técnica da experiência de Millikan. Nessas medidas entretanto, escolhe-se gotas bem
menores que as usadas nas medidas da carga do elétron, de modo a aumentar o efeito,
tornando a observação mais fácil e precisa.
Se zermos um gráco, não dos deslocamentos a cada intervalo de tempo ∆t, mas da
posição relativa a uma origem em relação ao tempo, teremos uma curva conforme mostrado
26
1.7 Exercícios
na gura 1.8. A principal característica desta curva, é que ela é semelhante em qualquer
escala de tempo em que a observamos. Por exemplo, se na curva abaixo, tomarmos uma
faixa de 0 a 50 ao invés de 0 a 500, o aspecto da curva não se altera. Uma curva com
comportamento como o da gura abaixo, no qual ele se repete sempre, qualquer que seja a
escala do eixo que utilizamos para observá-lo, é chamado fractal (embora no presente caso,
haja um limite inferior de escala, dado pela escala atômica).
1.7 Exercícios
1.- No aparelho de Thomson mostrado nas notas de aula, as placas D e Estão separadas
por 1.5 cm, têm 5 cm de comprimento e são mantidas a uma diferença de potencial de 50
V. a) Se os elétrons têm energia cinética igual a 2000 eV, encontre a deexão produzida
após o percurso de 5 cm entre as placas. b) Qual a deexão total da mancha na tela,
considerando que os elétrons percorrem uma distância adicional de 30 cm na região livre
de campo, antes de atingir a tela? c) Qual a intensidade de campo magnético que seria
necessária entre as placas para que não houvesse deexão?
2.- Para uma gota de óleo de raio a, caindo sob ação somente da força da gravidade e
da resistência do ar, determina-se a velocidade de queda pela medida do tempo de queda
3
numa distância de 1 mm. Sabendo-se que a densidade do óleo é igual a 0.8 g/cm , e que
−4
o coeciente de viscosidade do ar é ρ = 1, 8 · 10 poises (sistema cgs), faça uma tabela de
27
1 Teoria Cinética dos Gases
2 2
f (vx ) = (2π)−1/2 vo−1 e−vx /2vo
onde vo = vrms = (kT /m)1/2 . Considere 1 mol de um gás e aproxime dvx por ∆vx =
0.01vo . Encontre o número de moléculas em ∆vx para: b) vx = 0. c) vx = vo . c) vx = 8vo .
11.- Considere as seguintes forças em uma gota de óleo no experimento de Millikan:
gravitacional, elétrica, atrito e boiante. Desenhe um diagrama mostrando as forças na
gota a) quando o campo elétrico é desligado e a carga cai livremente. b) quando o campo
elétrico aplicado faz com que a gota suba.
12.- Usando a distribuição de módulos velocidades de Maxwell a) Escreva a integral com
a expressão para o número de moléculas num gas ideal com velocidade v>c a T=293 K.
b) Explique porque o resultado numérico da expressão encontrada em a) é despresível.
28
1.7 Exercícios
13.- Encontre vmp para o gás N2 do ar a) num dia frio com T = -10 C, b) num dia quente,
com T = 35 C.
14.- A função de trabalho do potássio é 2,24 eV. Se potássio metálico é iluminado com luz
de comprimento de onda 350 nm, encontre: a) a energia cinética máxima dos fotoelétrons
e b) o comprimento de onda de corte.
a) 1,3 eV b) 554 nm
15.- Quando césio metálico é iluminado com luz de comprimento de onda 300 nm, os
fotoelétrons emitidos têm energia cinética máxima 2,23 eV. Encontre a) a função de tra-
balho do césio e b) o potencial de freamento se a luz incidente tem comprimento de onda
400 nm.
a) 1,91 eV b) 1,20 V
16.- Luz de comprimento de onda 500 nm incide sobre uma superfície metálica. Se o
potencial de freamento para o efeito fotoelétrico é 0,45V, encontre a) a energia cinética
máxima dos elétrons emitidos b) a função de trabalho e c) o comprimento de onda de
corte.
a) 0,45 eV b) 2,03 eV c) 612 nm
17.- Qual a freqüência de corte para o efeito fotoelétrico em lítio (φ=2,9 eV)? Qual o
potencial de freamento se o comprimento de onda da luz incidente for 400 nm?
18.- Qual o comprimento de onda máximo da luz incidente capaz de produzir efeito
fotoelétrico na prata (φ=4.7eV)? Qual será a energia cinética máxima dos fotoelétrons se
comprimento de onda é reduzido à metade?
264 nm; 4,7 eV
19.- Um laser de 2 mW (λ=530 nm) incide sobre um fotocatodo de césio (φ=1.9 eV).
−5
Assumindo uma eciência de 10 para a produção de fotoelétrons (1 elétron emitido para
5
cada 10 fótons incidentes), qual a corrente fotoelétrica?
29
1 Teoria Cinética dos Gases
30
2 As Origens da Mecânica Quântica
31
2 As Origens da Mecânica Quântica
a+r =1
Não consideramos aqui, os corpos translúcidos, para os quais teríamos ainda uma parte
da radiação térmica transmitida pelo corpo. Para os corpos opacos, o coeciente de trans-
missão é nulo. Um corpo, para o qual r=0 e portanto a=1, é chamado corpo negro, um
absorvedor perfeito de radiação. Corpos de quaisquer materiais, cuja superfície é pintada
com uma tinta preta e fosca (como por exemplo fuligem) são boas aproximações de corpos
negros. Experimentalmente, a realização mais próxima de um corpo negro, é realizada por
um orifício pequeno, num corpo sólido qualquer, no qual há uma ampla cavidade interna,
que se comunica com o exterior somente pelo orifício. O orifício se comporta como um
absorvedor ideal de radiação térmica. Como se vê na gura abaixo, a radiação incidente
nele entra na cavidade e é em parte absorvida pelas paredes da cavidade e parte reetida
para outros pontos da cavidade e (especialmente se as paredes da cavidade tiverem um
coeciente de absorção grande) apenas uma fração muito pequena escapa pelo orifício. Se
compararmos a radiança RT da radiação emitida pelo orifício de um corpo negro a uma
temperatura T, com a de qualquer outro corpo, na mesma temperatura, veremos que a
radiança do corpo negro é sempre maior. Podemos denir o coeciente de emissão de ra-
diação de um corpo, à temperatura T, pela razão da radiança desse corpo em relação à de
um corpo negro, na mesma temperatura:
RT
e=
RTcn
Para superfícies em geral, pode-se vericar experimentalmente que a razão entre a ra-
diança e o coeciente de absorção é uma constante. Para dois corpos com coecientes de
absorção a1 e a 2 e de radianças RT 1 e R T 2 respectivamente, temos portanto:
RT 1 RT 2
= = eRTcn
a1 a2
e
Para um corpo negro, temos
a
= 1 e portanto o corpo negro é também um emissor
perfeito de radiação térmica.
32
2.1 A Radiação do Corpo Negro
Figura 2.1: Corpo Negro construído como orifício numa cavidade metálica.
RTcn = σT 4
33
2 As Origens da Mecânica Quântica
(λT )5
RT (λ) = CT 5 F (λT ) = C = Cλ−5 f (λT )
λ5
Onde f (λT ) = (λT )5 F (λT ). Esta relação pode ser obtida a partir dos conceitos da
termodinâmica e da mecânica estatística e é o máximo que se pode obter na explicação da
radiação do corpo negro, com a física clássica. Como veremos a seguir, a tentativa de se
obter f (λT ) com base na física clássica falha completamente.
34
2.1 A Radiação do Corpo Negro
de um metal não pode ser diferente, sendo sempre cancelado pela mobilidade das cargas
elétricas nos metais. Vamos a seguir obter a função que descreve a densidade de energia
2
eletromagnética no interior de uma cavidade, ρT (λ) = d U/dV dλ. A Quantidade R(λ)
corresponde à potência irradiada pela cavidade, por unidade de área e de comprimento de
3 irr
onda: RT (λ) = d U /dAdλdt. Pode-se mostrar que R(λ) = 4c ρT (λ) .
Usando a teoria cinética clássica, podemos calcular a função de distribuição de energia
das ondas na cavidade. Para isso, devemos conhecer o número total de graus de liberdade
das ondas na cavidade, ou seja o número de ondas por intervalo de freqüências entre
ν e ν + dν ou comprimentos de onda entre λ e λ + dλ. Para obter esta função, vejamos
antes um caso mais simples, unidimensional, como o da corda de um violão. A condição
de ondas estacionárias numa corda de violão de comprimento L implica na amplitude nula
das ondas nas extremidades de xação da corda. Portanto as ondas estacionárias poderão
2L
ter comprimentos de onda λ1 = 2L, λ2 = L, λ3 =
3
, ..., ou de um modo geral: λn = 2Ln
.
c 2L
Como ν = c/λ, as freqüências possíveis correspondentes são dadas por ν = n ou n = ν .
2L c
No caso da radiação do corpo negro, estamos interessados principalmente na faixa de
freqüências acima do infravermelho. Como os comprimentos de onda da radiação eletro-
−6
magnética nessa região são menores que 10 m, com cavidades de dimensões da ordem
4
de alguns cm, os n correspondentes são 10 ou maiores. Portanto, faz sentido, para esses
valores, aproximar n por uma variável contínua e perguntarmos pelo número de ondas es-
tacionárias dn = N (ν)dν com freqüências entre ν e ν + dν . Da expressão acima para n em
função de ν , temos: N (ν)dν = 2L
c
dν . Ou seja, temos uma densidade uniforme de ondas
por unidade de freqüência. No caso tridimensional da cavidade, devemos considerar uma
onda propagando-se numa direção arbitrária, fazendo um ângulo α com a direção do eixo
x, β com a do eixo y e γ com a do eixo z. Uma onda eletromagnética tri-dimensional como
essa, tem seu campo elétrico dado pela relação:
35
2 As Origens da Mecânica Quântica
− −
→ →
− →
− →
−
E (→
r , t) = Ex i + Ey j + Ez k
onde
Ex = Eox sin(2πx/λx ) sin(2πνt)
e expressões semelhantes para Ey e Ez . Para uma cavidade cúbica de lado L, a condição
para ondas estacionárias (componente de E paralelo à parede deve ser sempre nulo) é
dada por: 2L/λx = nx , 2L/λy = ny e 2L/λz = nz , com nx , ny , nz números inteiros.
Conforme visto na gura bidimensional abaixo, as relações entre λ e λx , λy e nz são dadas
por: λ = λx cos α = λy cos β = λz cos γ , onde γ é o ângulo formado com a direção de
propagação da onda, com o eixo z, não mostrado na gura. Portanto temos as equações:
2L 2L 2L
cos α = nx ; cos β = ny ; cos γ = nz
λ λ λ
elevando ao quadrado essas equações e somando, notando-se ainda que os ângulos acima
2 2 2
obedecem a relação cos α + cos β + cos γ = 1 (para o caso bi-dimensional vê-se facilmente
2 2 2
pois cos β = cos (π/2 − α) = sin α) temos então:
2L 2
n2x + n2y + n2z = ( )
λ
p 2
Tomando agora ν = c/λ e r= nx + n2y + n2z substituindo na relação acima, temos:
2L
r= ν
c
Portanto, o número de ondas de freqüência entre ν e ν + dν pode ser obtido pelo volume
da casca esférica de raio entre r e r + dr. Lembrando que somente faz sentido valores
positivos de n x , ny , nz , o volume da casca esférica para esses valores corresponde a 1/8 do
volume de uma casca esférica completa. Portanto temos:
36
2.1 A Radiação do Corpo Negro
37
2 As Origens da Mecânica Quântica
3
4πL3 2
1 π 2L
N (ν)dν = 4πr2 dr = ν 2 dν = ν dν
8 2 c c3
Para cada uma dessas freqüência, temos na verdade duas ondas independentes, com a
direção do campo elétrico em duas direções perpendiculares. Portanto o número total de
ondas estacionárias na cavidade é o dobro da quantidade obtida acima:
8πL3 2
N (ν)dν = ν dν
c3
O teorema de eqüipartição de energia diz que cada grau de liberdade na expressão para
1
a energia de um sistema, corresponde a uma energia média kT . No caso de osciladores
2
e de ondas, a cada oscilador ou onda temos dois graus de liberdade (energias cinéticas
e potencial elástica). Portanto a energia média por onda estacionária será kT. Obtemos
3
então o espectro de densidade de energia por unidade de volume (= L ) e por unidade de
freqüência das ondas na cavidade:
1 8πkT 2
ρT (ν)dν = kT N (ν)dν = ν dν
V c3
Para obtermos a expressão em termos do comprimento de onda, (ρ(λ)dλ) devemos lem-
brar que o número de ondas com freqüência entre ν1 e ν2 = ν1 + dν é o mesmo que o de
ondas com comprimento de onda entre λ1 = c/ν1 λ2 = λ1 + dλ. Como, se para um dado
e
valor de ν a função ρ(ν) tem derivada positiva, a correspondente função ρ(λ) terá derivada
negativa, temos então a relação dρ(λ)/dλ = −dρ(ν)dν ou ρ(λ)dλ = −ρ(ν)dν . Ainda, como
dν = −(c/λ2 )dλ, temos nalmente:
8πkT 2 8πkT 8πk
ρT (λ)dλ = − 3
ν dν = 4
dλ = 5 λT dλ
c λ λ
que é a lei de Rayleigh-Jeans para a radiação do corpo negro. Note que a medida
que vamos para freqüências maiores do espectro (ultravioleta) ρ(ν) cresce continuamente,
enquanto que a curva experimental tende a zero. Esta falha na previsão clássica cou
conhecida como a catástrofe do ultravioleta.
38
2.1 A Radiação do Corpo Negro
Com base nessa hipótese, vamos calcular a energia média dos osciladores:
P
ni Ei 1
hEi = P = (no Eo + n1 E1 + n2 E2 + ...) =
ni N
1
hEi = (0 + ∆Eno e−∆E/kT + 2∆Eno e−2∆E/kT + ...)
N
no ∆Ee−∆E/kT
hEi = (1 + 2e−∆E/kT + 3e−2∆E/kT + ...)
N
observando que o termo entre parênteses na expressão acima pode ser escrito como (1 +
1
2x + 3x2 + ...) e que esta soma é igual a (1−x) 2 , temos:
no ∆Ee−∆E/kT 1
hEi = 2
N (1 − e−∆E/kT )
P
A soma N = ni pode ser também desenvolvida:
X no
N= ni = (no + no e−∆E/kT + no e−2∆E/kT + ...) = no (1 + x + x2 + ...) =
(1 − x)
no
e portanto N= 1−e−∆E/kT
. Substituindo este valor na expressão para , temos:
Aplicando agora o valor obtido para hEi na expressão de Rayleigh-Jeans para a distribuição
de energias da radiação do corpo negro, obtemos:
39
2 As Origens da Mecânica Quântica
8π 8π ∆E 8π λ∆E
ρ(λ)dλ = 4
hEi dλ = 4 ∆E/kT dλ = 5 ∆E/kT dλ
λ λ e −1 λ e −1
Com base no resultado obtido utilizando o deslocamento de Wien generalizado, a ex-
λ∆E
pressão ∆E/kT deve ser portanto uma função f (λT ). Para que isso ocorra, temos duas
e −1
possibilidades na escolha de ∆E . Por exemplo, ∆E = αT ou ∆E = β/λ. Com a primeira
possibilidade, a distribuição para a radiação do corpo negro ca:
8π αλT
ρ(λ)dλ = dλ
λ5 eα/k − 1
e com a segunda possibilidade:
8π β
ρ(λ)dλ = 5 β/λkT
dλ
λ e −1
Notemos que com a escolha da primeira possibilidade para ∆E , continuamos a ter a
catástrofe do ultra-violeta, mas escolhendo-se a segunda possibilidade, essa divergência
para λ→0 não ocorre, pois:
C 1 e−γ/λ
lim = lim =0
λ→0 λ5 eγ/λ − 1 λ→0 λ5
Planck vericou ainda que a expressão obtida para ρ(λ) descrevia perfeitamente os dados
experimentais, escolhendo-se o valor da constante β tal que β = hc onde c é a velocidade
−34
da luz e h = 6.23 · 10 Js = 4.14 · 10−15 eV s é hoje conhecida como a constante de
Planck, considera como uma constante universal da natureza. Usando a relação mostrada
c
anteriormente, RT (λ) = ρT (λ), temos nalmente a expressão:
4
2π hc2
RT (λ) =
λ5 ehc/λkT − 1
ou, em termos de freqüências:
2π 3 h
RT (ν) = 2
ν hν/kT
c e −1
Max Planck apresentou estes resultados numa reunião da Sociedade Alemã de Física
em 14 de dezembro de 1900. Esta data é considerada como a do nascimento da Mecânica
Quântica.
Devemos mencionar ainda um importante detalhe da teoria de Planck. De acordo com
sua hipótese, um oscilador harmônico pode ter energias que são múltiplas de uma quan-
tidade xa, hν : E = 0, hν, 2hν, ..., nhν, .... A emissão (e a absorção) de radiação pelo
oscilador ocorre somente quando ele pula de um estado de energia para um outro vizinho.
Passando do estado de energia nhν para o imediatamente abaixo, (n − 1)hν , o oscilador
40
2.1 A Radiação do Corpo Negro
3NA hν
U = 3NA hEi = hν/kT
e − 1
de onde se obtém:
hν hν 2 hν/kT
ehν/kT
dU 3NA hν kT 2
3NA k kT
e
Cv = = 2 = 2
dT v (ehν/kT − 1) (ehν/kT − 1)
ou, substituindo NA k = R,
hν 2 hν/kT
3R kT
e
Cv = 2
(ehν/kT − 1)
2 !2 2
hν/kT
2 hν 1 hν hν 1 hν
e −1 = 1+ + + ... − 1 = 1+ + ...
kT 2 kT kT 2 kT
41
2 As Origens da Mecânica Quântica
42
2.2 O Efeito Fotoelétrico
Figura 2.7: Fotocélula como a usada por Lenard para o estudo do efeito fotoelétrico.
Mais tarde, por volta de 1900, numa série de experimentos realizados independentemente
por Lenard e por Merrit e Stewart, as propriedades gerais deste fenômeno foram estabe-
lecidas. Utilizando um instrumento semelhante ao visto na gura 2.7, foi demonstrado
serem emitidas partículas do catodo, com mesma razão e/m dos raios catódicos. Todos os
eletrodos são mantidos em vácuo e cuidados especiais devem ser tomados com a qualidade
da superfície do catodo (chamado de fotocatodo), pois em geral, a oxidação ou contami-
43
2 As Origens da Mecânica Quântica
Figura 2.8: Curvas características de IxV, para diferentes intensidades de luz, de mesmo
comprimento de onda.
Sabendo-se que são emitidos elétrons da superfície metálica, pode-se então associar o
potencial reverso Vo para o qual cessa a corrente com a energia máxima dos elétrons
emitidos. Vo é chamado potencial de freamento e a energia máxima dos elétrons emitidos
é dada por:
Ecm = eVo
Classicamente, podemos considerar o elétron atômico recebendo energia através do campo
elétrico oscilante da onda eletromagnética, como num oscilador harmonico forçado. A lu-
2
minosidade da onda estando uniformemente distribuída e sendo igual a I (W/m ) e cada
2
elétron recebe uma energia Iπa por segundo, onde a é a dimensão do sistema oscilante, tipi-
camente o raio atômico. Portanto qualquer que seja a freqüência da onda eletromagnética,
44
2.2 O Efeito Fotoelétrico
o elétron deveria receber a mesma energia, desde que elas tivessem a mesma intensidade.
Por outro lado, mesmo para luz de baixa intensidade, a energia cedida pela onda poderia
ser armazenada pelo elétron oscilante durante um intervalo de tempo ∆t, até que esta
fosse maior que a energia de ligação do elétron ao metal, e então este seria ejetado. Por
exemplo, sabendo-se que para o potássio, a energia de ligação do elétron ao metal é de
−19
cerca de 2.1 eV = 3.4 · 10 J . Fazendo-se incidir numa placa de K luz de intensidade de
1 W/m , e considerando o raio atômico a ∼ 10−10 m o elétron receberá energia a uma taxa
2
dada por:
3.4 · 10−19 ∼
∆t = = 10 s
3.14 · 10−20
Em 1905, Albert Einstein, utilizando de uma forma mais geral as idéias de Planck para
a energia dos osciladores na cavidade do corpo negro, conseguiu explicar as propriedades
observadas no efeito fotoelétrico. Planck, em sua demonstração, se restringiu à quantização
da energia para o caso dos osciladores (elétrons) nas paredes da cavidade. As ondas no
interior da cavidade (produzida pelos elétrons oscilando) eram quantizadas em decorrência
disso. Einstein, ao invés disso, considerou que a própria energia radiante era quantizada,
sendo portanto constituída de corpúsculos cada um portanto uma quantidade xa de ener-
gia. Os fenômenos usuais não permitiriam observar essa característica devido ao enorme
número de fótons normalmente associado à energia radiante (assim como um líquido apa-
renta ser um uido contínuo e não formado por elementos discretos). É interessante notar,
que antes da descoberta da difração da luz, Newton desenvolveu um modelo corpuscular
para a luz, que no entanto não corresponde às idéias de Einstein, principalmente porque
seu modelo não previa a difração da luz, fenômeno tipicamente ondulatório). Para expli-
car a difração e a interferência, Einstein supôs que as partículas de luz (fótons) não se
movem como partículas usuais, mas que se propagam com intensidades médias dada pela
amplitude da onda eletromagnética associada, dada pelo modelo ondulatório. O caráter
corpuscular seria manifestado apenas no processo de interação da radiação eletromagnética
com a matéria (na emissão e absorção). Seguindo as idéias de Planck, associou à radiação
de freqüência ν, fótons de energia E = hν . A intensidade de luz é agora dada pelo número
de fótons emitidos por unidade de tempo. Supôs também, que no efeito fotoelétrico, um
único fóton interage com um elétron, sendo completamente absorvido por este, que após a
interação terá uma energia cinética:
Eco = hν
Após receber esta energia pela interação com o fóton, o elétron deve ainda perder alguma
energia até escapar da superfície do metal. A energia cinética do elétron ejetado do metal
será portanto:
45
2 As Origens da Mecânica Quântica
Ec = Eco − w = hν − w
onde w é o trabalho realizado para arrancar o elétron do metal. Esta energia depende
das condições em que a interação se deu. Aqueles que, após a interação não perdem ne-
nhuma energia extra, mas somente a energia necessária para vencer a barreira de potencial
existente na superfície dos metais, conhecida como função de trabalho, wo , terão energia
cinética máxima. Portanto a energia cinética máxima dos elétron emitidos será dada por:
Ecm = hν − wo
46
2.2 O Efeito Fotoelétrico
Efeitos da temperatura na energia cinética desses elétrons pode ser observados no caso da
chamada emissão termoelétrica, bastante estudado na época. O efeito pode ser entendido
qualitativamente como uma evaporação dos elétrons mais energéticos, que tem que vencer
a barreira de potencial da superfície metálica (função de trabalho) para serem emitidos. A
corrente termoelétrica como função da temperatura é dada pela equação de Richardson:
I = AT 2 e−wt /kT
onde wt é o trabalho realizado pelo elétron para sair do metal. Evidências de que os
fotoelétrons são de mesma origem são obtidas da constatação que os valores medidos para
a função de trabalho de metais pelo efeito termoelétrico e pelo fotoelétrico são iguais (wt =
wo ). Embora para temperaturas próximas à ambiente ou menores, a energia térmica média
é pequena (∼ 0.04 eV) e portanto seu efeito na energia dos elétrons ejetados dicilmente
seria notado. Millikan e Winchester estudaram cuidadosamente a dependência do potencial
de freamento com a temperatura, não observando nenhum efeito, mesmo a temperaturas
bem mais altas, quando a energia térmica chega a cerca de 0.2 eV. A atribuição dos elétrons
atômicos como sendo os responsáveis pelos fotoelétrons emitidos traz outras diculdades
ainda maiores na interpretação do efeito.
A solução para o problema só pode ser obtida mais tarde, quando por volta de 1928
47
2 As Origens da Mecânica Quântica
Sommerfeld introduziu uma nova teoria para a condução elétrica em metais, baseada na
distribuição quântica de energia dos elétrons de condução (distribuição de Fermi-Dirac),
ao invés da distribuição maxwelliana. De acordo com a mecânica quântica, partículas
como o elétron, próton, etc., chamadas férmions, não podem compartilhar um mesmo
estado de energia. A gura 2.9 mostra a diferença entre as distribuições clássicas e as
correspondentes quânticas, para várias temperaturas diferentes. Contrário à distribuição
clássica, na quântica há apenas uma pequena alteração na distribuição dos elétrons com
energia próximas à energia máxima, chamada energia de Fermi. Neste caso, a barreira de
potencial na superfície do metal tem energia Eb = EF + w onde w é a função de trabalho
denida anteriormente. Portanto se um fóton interage com um elétron com energia próxima
e EF ele escapa com energia máxima. Se um elétron mais interno é o que recebeu a
interação, a energia de escape será menor. Os efeitos da temperatura, conforme visto
na gura, são muito pequenos para serem medidos com a técnica utilizada por Millikan.
Entretanto, eles fazem com que a corrente de fotoelétrons, medida como função da tensão
de freamento caia assintoticamente a zero, tornando mais difícil a determinação de Vo . Na
teoria quântica da condução, esses elétrons não são considerados livres, mas ligados ao
metal como um todo. Portanto é a massa metálica total que recebe a quantidade faltante
de momento, necessária para sua conservação.
2.3 Exercícios
1.- Mostre que a lei de radiação de Planck se reduz à lei de Wien para pequenos compri-
mentos de onda e a lei de Rayleigh-Jeans para os grandes. (Sugestão: Expanda o termo
exponencial em série de potências para obter a segunda destas leis.) Dado que:
8πhc 1
ρ(λ) = (Lei de W ien)
λ5 ehc/λkT
2.- Mostre que a densidade de energia total na radiação de corpo negro sobre toda a
∞ é idêntica na forma à lei de Stefan-Boltzmann para radiação
faixa de freqüências de 0 a
−8 2 4
total. Sabendo que a constante de Stefan-Boltzmann é σ = 5, 67 · 10 W/m K , obtenha a
4
R ∞ x3 dx
constante de Planck. Dado que : RT = σT - lei de Stefan-Boltzmann (sugestão: =
0 ex −1
π4
).
15
3.- Uma massa de 10g está pendurada em um elástico com uma constante elástica de 25
N/m. Assuma que este oscilador é quantizado justamente como os osciladores de radiação.
a) Qual a energia mínima que pode ser fornecida a esta massa? b) Se a massa em repouso
absorve a energia da parte a), qual a amplitude resultante? c) Quantos quanta de energia
−33
precisam ser absorvidos para se obter uma amplitude de 10 cm? R.: a) E = 5, 3 · 10 J;
−17 31
b) A= 2 · 10 m; c) ∼ 2, 5 · 10 quanta.
4.- Quando uma certa superfície fotoelétrica é iluminada com luz de diferentes compri-
mentos de onda, os seguintes potenciais de corte são observados:
48
2.3 Exercícios
49
2 As Origens da Mecânica Quântica
50
3 Interação de Fótons com a Matéria
3.1 Introdução
No capítulo 2, vimos um processo de absorção de fótons pela matéria, o efeito fotoelétrico.
Além desse, outros dois processos de interação devem ainda ser descritos: o espalhamento
elástico de fótons (espalhamento Compton) e a criação de um par elétron-pósitron pela
radiação eletromagnética. Nenhum desses efeitos pode ser previsto pela teoria clássica da
radiação eletromagnética. A observação do espalhamento Compton só foi possível após a
descoberta dos raios X e da enorme interesse em seu estudo que se seguiu após a descoberta.
Vamos então ver inicialmente, as propriedades e características dos raios X.
3.2 Raios X
Na tarde de 8 de novembro de 1895, o alemão Wilheim K. Roentgen fazia experiências com
um tubo de raios catódicos. Tendo envolvido o tubo com cartolina preta, acidentalmente
observou que uma folha de papel embebido em cianeto de bário-platina cava uorescente
quando colocado próximo ao tubo de raios catódicos. A uorescência era observada mesmo
com o papel colocado até cerca de 2 metros de distância do tubo. Após alguns experimentos,
Roentgen rapidamente se convenceu que a uorescência se originava no ponto do tubo
onde os raios catódicos atingiam o vidro. Convencido da importância de sua descoberta,
Roentgen procedeu a um estudo detalhado das propriedades desses raios, que por serem
de natureza desconhecida, denominou-os raios X. Ele observou as seguintes propriedades,
entre outras, da nova radiação descoberta:
• Todas as substâncias são mais ou menos transparentes aos raios X. Conseguia obser-
var a uorescência mesmo quando um livro de 1000 páginas, madeira de 2 a 3 cm
ou 15 mm de alumínio era interposto entre o tubo e a tela uorescente. Se a mão é
colocada entre o tubo de descarga e a tela uorescente, uma sombra escura dos ossos
é visível dentro de uma sombra mais clara da mão, reportou textualmente Roentgen.
A importância desta descoberta pode ser medida pelo fato de que, apenas três meses
após a descoberta dos raios X, esses já estavam sendo utilizados em um hospital em
Viena, no auxílio de tratamento de fraturas.
51
3 Interação de Fótons com a Matéria
• Raio-X não são nem reetidos nem refratados e portanto raios X não podem ser
focalizados por lentes. Essa constatação, embora não seja verdadeira, se mostra uma
boa aproximação para a maioria dos casos, dado o pequeno comprimento de onda
dos raios X (∼ 0.1 nm, comparado com ∼ 500 nm para a luz visível). A difração de
raios X só pode ser observada por volta de 1912, após os trabalhos de Laue e Bragg
entre outros. A lei de Bragg para a refração de raios X por cristais, nλ = 2d sin(θ),
tem sido usada em espectrômetros para essa radiação.
• Não são deetidos por campos magnéticos ou elétricos e se propagam em linha reta.
Figura 3.1: Diagrama esquemático de um tubo de raios X moderno. Nos usados por Ro-
entgen o catodo não era aquecido.
52
3.2 Raios X
com os núcleos dos átomos, emitindo portanto radiação a cada colisão. A radiação ele-
tromagnética emitida nesse processo tem o nome genérico de radiação de bremsstrahlung,
termo germânico para radiação (strahlung) de freamento (brems). Do ponto de vista quân-
tico, um fóton é emitido após cada colisão, no que pode ser interpretado como o inverso do
efeito fotoelétrico. No efeito fotoelétrico, um fóton é absorvido e sua energia transferida
para um elétron e um átomo. Aqui um elétron cede parte de sua energia para criar um
fóton, o núcleo recebendo uma pequena parte da energia, mas atuando para garantir a
0
conservação do momento linear. Se a energia inicial do elétron é Eo e E é a energia após
a colisão, a energia do fóton emitido será:
hν = Eo − E 0
hc
λmin =
Eo
Figura 3.2: Espectro de raios X emitidos por uma ampola com várias tensões catodo-anodo
Raios X podem ainda ser emitidos no processo de perda e posterior captura de elétrons
por átomos e íons, principalmente no caso de elementos com número atômico elevado. Esses
raios X têm comprimento de onda bem denido e são característicos de cada material. Mais
53
3 Interação de Fótons com a Matéria
adiante, na discussão dos modelos atômicos, veremos em mais detalhes esse tipo de raios
X.
A difração de raios X por cristais, desde a sua descoberta, tem sido utilizada tanto para
a caracterização dos cristais como para e espectroscopia de raios X. O processo de difração
de Bragg ocorre na reexão das ondas de raios X por planos cristalinos consecutivos e
paralelos. Como visto na gura 3.3, sendo d a separação entre dois planos cristalinos e ϕ
o ângulo de incidência da radiação X, as frentes de onda 1 e 2 mostradas na gura estarão
em fase se tivermos a relação:
nλ = 2d sin ϕ
54
3.3 O Espalhamento Compton de Raios X
55
3 Interação de Fótons com a Matéria
mo c2
E=q
2
1 − vc2
podemos concluir que para que a energia possa ter um valor nito, a massa de repouso
do fóton deve ser nula. Portanto, na expressão relativística para a relação entre energia e
2 2 2 2 4
momento, E = p c + mo c , a expressão correspondente para um fóton de energia hν será
p = E/c ou p = hν/c = h/λ.
Figura 3.5: Espectro de raios X observados por Compton, para vários ângulos de espalha-
mento
p = p0 cos θ + pe cos ϕ
56
3.3 O Espalhamento Compton de Raios X
p0 sin θ = pe sin ϕ
E + mo c2 = E 0 + Ec + mo c2
ou
E = Ec + mo c2
E 2 = p2 c2 + m2o c4
Ec2
p2e = + 2Ec mo
c2
Substituindo agora pe da expressão acima na relação para os momentos obtida anterior-
mente, temos:
Ec02
p2 − 2pp0 cos θ + p02 = + 2Ec mo
c2
Substituindo agora a expressão para e energia cinética do elétron em termos dos mo-
mentos do fóton, temos:
e portanto:
1 1 1
0
− = (1 − cos θ)
p p mo c
57
3 Interação de Fótons com a Matéria
∆λ = λ0 − λ = λc (1 − cos θ)
No espectro da radiação espalhada mostrado na gura 3.5, temos ainda o pico cor-
respondente ao comprimento de onda igual ao da radiação incidente. Este pico tem as
características de dois processos diferentes. Num deles temos o espalhamento descrito por
J.J. Thomson com base na eletrodinâmica clássica, e por este motivo, este tipo de espalha-
mento é hoje chamado espalhamento Thomson. O outro processo é chamado espalhamento
Rayleigh, em homenagem ao seu descobridor. A explicação quântica para esses fenômenos
é entretanto apenas uma variação do espalhamento Compton. No espalhamento Compton
usual, o elétron espalhador está livre, ou fracamente ligado ao átomo (tipicamente a energia
de ligação dos elétrons mais externos dos átomos é da ordem de alguns eV, milhares de
vezes menor que a energia de um fóton de raio-X, sendo arrancado do átomo no processo
de colisão. No caso do espalhamento Rayleigh a colisão se dá com um elétron das camadas
mais internas do átomo, quando a energia de ligação deste pode ser muito maior, e após a
colisão com o fóton, o elétron continua ligado ao átomo. Nesses casos, podemos considerar
que o fóton foi espalhado pelo átomo como um todo, de modo que na expressão para o
deslocamento ∆λ temos que usar agora o parâmetro λc para o átomo e não mais para o elé-
tron. Como a massa do átomo é milhares de vezes maior que a do elétron, o deslocamento
Compton ∆λ nesses casos é desprezível. No chamado espalhamento Thomson, o fóton
é espalhado após uma colisão diretamente com o núcleo atômico. Do ponto de vista de
energia, o resultado é idêntico ao caso do espalhamento Rayleigh, uma vez que a massa do
núcleo é aproximadamente igual à massa do átomo como um todo. A distribuição angular
da radiação espalhada no entanto é diferente para cada caso. Também, devido à enorme
diferença de tamanho entre um átomo e seu núcleo, o espalhamento Thomson é muito
menos provável que o Rayleigh. Para fótons de energia mais baixa que os raios X (como
ultravioleta e luz visível) o espalhamento Compton vai cando cada vez mais improvável,
sendo mesmo impossível para as energias mais baixas, pois não há energia suciente para
arrancar o elétron do átomo.
Uma outra consideração deve ser feita, com respeito à interpretação de Compton para
este efeito. Sendo o fóton uma entidade elementar, é difícil explicar como ele pode
mudar de comprimento de onda numa colisão. A interpretação correta, de acordo com a
teoria quântica atual, é que houve inicialmente a absorção do fóton pelo elétron na colisão.
Posteriormente há a emissão de um outro fóton, de comprimento maior que o absorvido,
de acordo com a equação de Compton.
58
3.4 Produção e Aniquilação de Pares
p2
+V =E
2m
onde o primeiro termo corresponde à energia cinética e V à energia potencial da partícula.
Alguns anos depois de Schroedinger ter apresentado sua equação, Dirac desenvolveu a
equação correspondente relativística, para descrever o movimento de um elétron. Como
a energia relativística de uma partícula, na ausência de potenciais externos é dada por
E 2 = p2 c2 + m2o c4 , a cara da equação de Dirac será algo como:
p
± p2 c2 + m2o c4 + V = E
p
No caso de uma partícula lívre, com momento nulo, E = − m2o c4 = −mo c2 corresponde
a uma partícula com energia (massa) negativa. Se o momento for não nulo, teremos
energias ainda mais negativas. Embora normalmente, nos cálculos relativísticos ignoramos
a solução com energia negativa, Dirac observou que não havia razão para ignorar essa
solução. Assim previu a existência de elétrons com energia negativa. Como o menor valor
para o momento de uma partícula é zero, a equação acima diz que só pode haver elétrons
2 2
com energia E ≥ mo c ou E ≤ −mo c , como mostra a gura 3.6. Um elétron usual,
com energia positiva, tendo disponível um estado possível de energia mais baixa (energia
negativa), migraria para aquele estado, emitindo a diferença de energias na forma de um
fóton. Assim, todos os elétrons disponíveis iriam para esses tais estados negativos e o nosso
mundo não seria possível. Dirac postulou então que a natureza é de tal forma que todos os
estados de energia negativa estão ocupados. Deste modo, não há como os elétrons de nosso
mundo passar para os estados de energia negativa, conhecidos como o mar de Dirac. Pode-
se mostrar que esse mar de partículas com energia negativa (isto é, com massa negativa)
não interage com nosso mundo usual, não podendo portanto ser observado.
Dirac previu ainda a ocorrência de um fenômeno bastante interessante. Um fóton de alta
energia (um raio γ ),
tendo energia maior que a abertura entre as duas faixas de energias
2
permitidas para os elétrons (∆E > 2mo c = 1022 keV ) poderia ceder toda sua energia
para um elétron de energia negativa (como no efeito fotoelétrico) de modo que agora este
elétron teria energia positiva e seria observado como um elétron normal em nosso mundo.
Já no mar de elétrons com energia negativa, sobraria um lugar vago, um buraco. Pode-se
mostrar que num mar de elétrons com energia negativa, um buraco se comporta como uma
partícula de massa positiva (igual a do elétron), e com carga oposta à do elétron. Este
buraco é então visto em nosso mundo como uma partícula similar ao elétron, mas com
carga oposta e é chamado de pósitron ou anti-elétron. Do ponto de vista observacional, o
fenômeno é visto como a criação de um par partícula-antipartícula por um fóton de alta
energia, e daí o nome criação de pares.
59
3 Interação de Fótons com a Matéria
Figura 3.6: Diagrama mostrando as faixas de energia permitidas para os elétrons e a criação
de um par elétron-pósitron
Pode-se também facilmente vericar que, analogamente ao que ocorre no efeito fotoelé-
trico, a interação de absorção do fóton por um elétron com energia negativa também não
permite a conservação do momento linear. Deste modo, a criação de pares só pode ocorrer
nas proximidades de uma partícula pesada, como o núcleo atômico, que então recebe a
parte restante do momento inicial do fóton.
60
3.4 Produção e Aniquilação de Pares
elétrons não têm mobilidade e não podem conduzir eletricidade. à temperatura zero, todos
esses estados estão normalmente ocupados por elétrons e o material se comporta como um
isolante. À medida que a temperatura aumenta, alguns desses elétrons ganham energia tér-
mica suciente para passar a ocupar uma outra faixa de energias maiores, chamada banda
de condução. Entre a faixa de valência e a de condução há uma região de energias em que
não há nenhum estado possível, numa situação muito similar à do processo de criação de
pares. Nos semicondutores, quando um elétron é promovido para a banda de condução,
o buraco na banda de valência se comporta como uma partícula positiva, com mobilidade
dentro do cristal, conduzindo portanto corrente elétrica.
61
3 Interação de Fótons com a Matéria
faz com que este sistema seja considerado um átomo exótico, chamado positrônio. Como
num átomo comum, em que um elétron em camadas atômicas de energia (ou momento
angular) elevada, perde energia passando para órbitas mais baixas, emitindo fótons a cada
passagem, o positrônio também vai perdendo momento angular, o pósitron cada vez mais
perto do elétron, até que se aniquilam mutuamente (o elétron ocupa o buraco!) emitindo
em geral dois ou três fótons (dois sendo muito mais provável. A emissão de um único
fóton é possível, no caso em que o pósitron colide com um elétron fortemente ligado a um
átomo, mas o processo é muito raro. Emissão de mais de três fótons também é possível,
mas são processos igualmente improváveis). Esse processo ocorre muito rapidamente, o
−10
positrônio durando em média cerca de 10 s. No caso de emissão de dois fótons, por
exemplo, a energia total dos fótons deve ser de 1022 keV, supondo que o positrônio se
encontra em repouso, como normalmente se encontra, no momento da aniquilação. Para
que haja também a conservação do momento, é necessário que os fótons tenham a mesma
energia (e portanto mesmo momento), tendo portanto cada um 511 keV, sendo emitidos
em direções opostas.
dI = −Iµdx
o sinal negativo indicando que há um decréscimo no número de fótons. Após atravessar
uma espessura x de um absorvedor, a intensidade I de um feixe de fótons de intensidade
inicial Io será então dada por:
I(x) = Io e−µx
Como a absorção é causada por um dos três processos de interação, o coeciente de
absorção pode ser decomposto em três termos:
µ = µE + µC + µP
62
3.6 Exercícios
3.6 Exercícios
1. O comprimento de onda mínimo no espectro contínuo de raios X emitidos por um tubo
de TV é de 0.124 nm. Qual a tensão de aceleração dos elétrons nesse tubo? R: 10 kV.
2. Um fóton de energia inicial de 100 keV que se move no sentido positivo do eixo
o
x, colide com um elétron livre em repouso. O fóton é espalhado de um ângulo de 90
, indo no sentido positivo do eixo y. Ache os componentes do momento do elétron. R:
px = 0, 33.10−3 eV.s/m; py = 0, 28.10−3 eV.s/m; ϕ = 40◦ .
3. Mostre que ∆E/E , a variação relativa da energia do fóton no espalhamento Compton,
63
3 Interação de Fótons com a Matéria
Figura 3.9: Variação do coeciente de absorção de massa para cada tipo de interação com
a energia do fóton.
64
3.6 Exercícios
θ hν
cot = (1 + ) tan ϕ
2 mo c2
entre as direções de movimento do fóton espalhado e do elétron envolvidos no efeito
Compton.
13.- Raios-X de comprimento de onda 0,200 nm são espalhados por um bloco de carbono.
o
Se a radiação espalhada é detectada a 90 em relação à dos raios incidentes, encontre a) o
deslocamento Compton ∆λ e b) a energia cinética do elétron em recuo.
a) 0,00243 nm b) 74,4 eV
14.- Raios-X com comprimento de onda 0,040 nm sofrem espalhamento Compton. a)
o o o o o o
Encontre o comprimento de onda dos fótons espalhados a 30 , 60 , 90 , 120 , 150 e 210 .
65
3 Interação de Fótons com a Matéria
1/2
λC E
= −1
λ mc2
16.- Raios gama (fótons de alta energia de origem nuclear) de energia 1,02 MeV são
espalhados por elétrons inicialmente em repouso. Se o espalhamento é simétrico, isto é
θ = φ, encontre a) o ângulo de espalhamento θ e b) a energia dos fótons espalhados.
o
a) θ =41,5 b) 0,679 MeV
o
17.- Um fóton de energia inicial 0,1 MeV sofre espalhamento Compton em ângulo de 60 .
Encontre a) a energia do fóton espalhado b) a energia de recuo do elétron e c) o ângulo de
recuo do elétron.
4 o
a) 9, 11x10 eV b) 8,90 keV c) 55,4
18.- Um núcleo excitado de ferro (A=57) decai para o estado fundamental pela emissão
de um fóton. A energia disponível para a transição (diferença de energia entre o estado
excitado e o fundamental) é de 14,4 keV. a) qual a redução da energia do fóton, do valor
máximo possível (14,4 keV), devido a energia de recuo do núcleo? b) Qual o comprimento
de onda do fóton emitido?
−3
a) 1, 95x10 eV b) 0,0861 nm
19.- Numa colisão Compton com um elétron, um fóton de luz violeta (4000A) é retro
o
espalhado em ângulo de 180 . a) Quanta energia (eV) é transferida ao elétron nessa colisão?
b) Compare o resultado com a energia adquirida pelo elétron ao sofrer efeito fotoelétrico
com um fóton de mesmo comprimento de onda. c) Poderia a luz violeta ejetar elétrons de
um metal por espalhamento Compton?
−5
a) 3, 77x10 eV b) 3,10 eV c) Não pois a energia máxima (θ =180) é insuciente.
20.- Uma partícula misteriosa entra na região entre as placas de deexão de um aparêlho
de Thomson, como mostrado na gura. O ângulo de deexão θ é determinado como 0,2
rd (para baixo) para essa partícula quando V=2000 V, comprimento das placas 10 cm
e distância entre as placas 2 cm. Se um campo magnético perpendicular de magnitude
4, 57x10−2 T é aplicado simultaneamente com o campo elétrico, a partícula passa entre as
placas sem deexão. a) Encontre q/m para essa partícula. b) Identique a partícula. c)
Encontre a velocidade horizontal com que a partícula entrou na região entre as placas. d)
Deve-se usar mecânica relativística para este problema?
7
a) 9, 58x10 C/kg b) prótons
21.- Qual o comprimento de onda mínimo produzido por um aparêlho de raios-X ope-
rando a um potencial de 30 kV?
0,0413 nm
66
3.6 Exercícios
22.- O acelerador linear de Stanford pode acelerar elétrons até 50 GeV. Qual o menor
comprimento de onda que pode ser produzido por bremsstrahlung? São esses fótons ainda
chamados raios-X?
23.- Um tubo de TV opera a 20 kV. Qual o λmin para os raios-X produzidos na colisão
desses elétrons com o fósforo da tela?
0,0620 nm
24.- Calcular ∆λ/λ do espalhamento Compton para luz verde (λ=530 nm). Poderia esse
efeito ser facilmente observado?
25.- Se um fóton de 6 keV é espalhado por um próton em repouso, qual a variação no
◦
comprimento de onda do fóton espalhado a 90 ?
26.- Um raio gama de 700 keV de energia é espalhado por um elétron. Encontre a energia
◦
do fóton espalhado a 110 , a energia do elétron espalhado e o ângulo de recuo do elétron.
27.- Qual a energia de um fóton necessária para produzi um par próton-antiproton?
28.- Qual o comprimento de onda mínimo de um foton capaz de produzir elétrons com
energia de 30 keV em um espalhamento Compton?
29.- Mostre que a energia cinética máxima do elétron em recuo em um espalhamento
Compton é dada por:
2hν
cin mc2
Emax = hν 2hν
1 + mc 2
67
3 Interação de Fótons com a Matéria
68
4 O Átomo de Bohr
69
4 O Átomo de Bohr
n2
λ=B
n2 − 4
onde B = 3645.6A é uma constante (limite da série). O acordo dessas previsões com os
dados experimentais é impressionante. Para as quatro primeiras raias a diferença entre o
valor previsto e dados experimentais disponíveis na época é de cerca de 1/10000, chegando
a
a cerca de 1/1000 para a 9 raia, já no ultravioleta.
Figura 4.2: Espectro na região visível e ultravioleta próximo, para o átomo de hidrogênio.
Esta série de raias é conhecida como série de Balmer.
Balmer corretamente previu que a sua série seria um caso particular de uma expressão
mais geral, que pudesse explicar outras séries conhecidas. Alguns anos depois, em 1890,
70
4.2 O Espalhamento Rutherford
1 n2 − 4
1 4 1 1 1 1
k= = 2
= − 2 = RH 2
− 2
λ B n B 4 n 2 n
1 1
k = RH 2
− 2 n = 3, 4, 5, ... série de Balmer
2 n
1 1
k = RH 2
− 2 n = 4, 5, 6, ... série de P ashen
3 n
A constante de Rydberg varia ligeiramente de elemento para elemento, principalmente
entre os elementos mais leves. A diferença entre RH e o R para os átomos muitos pesados
é no entanto muito pequena (∼ 0.05%). O valor atualmente aceito para RH é 10967757.6 ±
1.2m−1 .
Para os átomos dos elementos alcalinos como Li, Na, K, as constantes a e b são não
nulas (são conhecidas como defeito quântico ).
71
4 O Átomo de Bohr
F (r) = k1 r para r ≤ R
Qq 2
∆p = F .∆t =
4πo Rv
72
4.2 O Espalhamento Rutherford
−→
Supondo-se ainda que ∆p é perpendicular à direção do momento inicial, podemos estimar
o ângulo máximo de espalhamento:
∼ ∆p 2Qq 79 · 2 · e2
tan θmax = = =
p 4πo M v 2 R 4πo Eα R
Em unidades convenientes, e2 /4πo = 1.44 · 10−9 eV m
de modo que para uma partícula
α de cerca de 5 MeV, como as emitidas pelos actinídeos, temos tan θmax ≈ 4.5.10−4 ou
θmax ∼ 0.025o .
Espalhamentos com ângulos muito maiores que este podem ser obtidos por uma sucessão
de colisões. Supondo que os átomos numa folha de Au se distribuam mais ou menos
aleatóriamente, uma partícula α vai sofrer colisões ora em uma direção ora em outra, mais
ou menos como no passeio ao acaso que vimos no estudo do movimento browniano. Da
mesma maneira como obtivemos o resultado de que a distância quadrática média do bêbado
2 2
em relação à porta do bar é dada por h∆x i = N l onde l é o tamanho do passo, no caso
do espalhamento de partículas α, depois de N colisões cada uma com passo θ o valor
quadrático médio do ângulo resultante será:
Θ2 = N θ2
Onde θ pode ser aproximado por exemplo pelo valor estimado acima, obtendo-se, para
p
espessuras de Au típicas usadas por Geiger e Marsden, Θrms = hΘ2 i ∼ 1o . O processo
de colisões múltiplas não favorece a ocorrência de eventos com grandes ângulos de espalha-
mento total. Usando os princípios da mecânica estatística, Rutherford pode deduzir que,
com base no modelo atômico de Thomson, o número de partículas α espalhadas em um
ângulo maior ou igual a Θ, após atravessar uma folha de matéria é dado por:
2
N (Θ) = No e−(Θ/hΘi)
Os dados experimentais de Geiger e Marsden mostravam que embora os valores obtidos
para o ângulo médio de espalhamento fossem consistentes com os esperados pelo modelo de
Thomson, eles observavam um número muito grande de partículas espalhadas em ângulos
o
grandes. Para espalhamento com Θ ≥ 90 , por exemplo, eles mediram cerca de uma
partícula espalhada para cada 8000 partículas incidente, enquanto que a fração prevista
pelo modelo de Thomson era N/No = exp[−(90/1) ] ∼ = 10−3500 . Em 1911, com base nesses
2
resultados, Rutherford apresentou um novo modelo para o átomo, no qual a carga positiva
−14
estava concentrada num pequeno volume, de diâmetro de cerca de 10 m, ou seja, cerca
de dez mil vezes menor que o átomo. Demonstrou também a expressão para a distribuição
angular das partículas espalhadas, que foi plenamente comprovada em experimentos mais
detalhados realizados posteriormente por Geiger e Marsden.
Rutherford, um neozelandês que foi a Londres com uma bolsa de estudos para aper-
feiçoamento no Laboratório Cavendish, já havia ganho o prêmio Nobel em 1908 por seus
trabalhos sobre o decaimento radioativo e a química das substâncias radioativas (na verdade
Rutherford ganhou o prêmio Nobel de química, pois embora sendo físico, as atividades de
pesquisa relacionadas com a radioatividade eram em geral atividades típicas de química).
73
4 O Átomo de Bohr
Figura 4.3: Trajetória da partícula α espalhada por um núcleo puntiforme de massa innita
e carga Ze.
74
4.2 O Espalhamento Rutherford
A gura 4.3 mostra a trajetória de uma partícula α, de massa M e carga ze, espalhada
por um núcleo de Au de carga Ze, que tendo massa muito maior que a da partícula α vamos
considerar que permaneça em repouso durante o processo de colisão. A distância b entre os
centros das duas partículas é chamada parâmetro de impacto e o ângulo de espalhamento
(θ ) pode ser expresso em termos desse parâmetro. Uma vez que a força agindo entre as
partículas é central, o momento angular do sistema formado pelos dois núcleos se conserva
na colisão. Portanto, sendo b e v o parâmetro de impacto e a velocidade antes da colisão
e b' e v' os correspondentes após a colisão, temos:
L = M vb = M v 0 b0
Supondo a colisão elástica e desprezando a energia cinética adquirida pelo núcleo de Au,
1 2 1 02 0
temos que M v = M v ou v = v e portanto o parâmetro de impacto também não é
2 2
alterado pela colisão. A trajetória descrita pela partícula é uma hipérbole, o que pode ser
deduzido utilizando-se as equações básicas da mecânica clássica (para a dedução completa,
ver p. ex. o apêndice D do Eisberg-Resnick). Em termos das coordenadas polares r e ϕ
da partícula α, a trajetória é descrita pela equação:
1 1 D
= sin ϕ + 2 (cos ϕ − 1)
r b 2b
onde D é a distância de maior aproximação, numa colisão frontal (θ = 180o ) e pode ser
facilmente obtida igualando-se a energia cinética inicial à energia potencial, uma vez que
na distância de menor aproximação a partícula α inverte a direção do movimento, estando
portanto com velocidade nula:
1 zZe2
D=
4πo M v 2 /2
onde ze é a carga da partícula α e Ze a do núcleo do átomo de Au. A relação entre o
parâmetro de impacto b e o ângulo de espalhamento θ é obtido da expressão da trajetória
fazendo-se r→∞ e usando-se a relação assintótica ϕ = π − θ:
D 1 − cos ϕ D 1 + cos θ D θ
b= = = cot
2 sin ϕ 2 sin θ 2 2
onde foi usada a relação sin θ = tan 2θ (1 + cos θ).
Para calcularmos o número de partículas entre θ e θ + dθ podemos utilizar a relação
acima e calcular o correspondente número entre de partículas com parâmetro de impacto
entre b e b+db. Na gura 4.4 vemos esquematicamente um pedaço de folha de Au, de 1
cm2 de área, mostrando os núcleos dos átomos representados por pontos, bem como as
áreas correspondentes ao parâmetro de impacto entre b e b+db. Supondo que o uxo de
partículas α é uniforme nessa área, a fração de partículas α com parâmetro de impacto
entre b e b+db é basicamente dada pela razão entre a soma das áreas dos anéis mostrados
na gura (N 2πbdb) e a área total da folha. Sendo ρ a densidade do Au (número de átomos
3
por cm ) e t a espessura da folha, esta fração será dada por:
75
4 O Átomo de Bohr
76
4.2 O Espalhamento Rutherford
f = ρt2πbdb
P (b)db = f = ρt2πbdb
db D d θ D 1
= cot = −
θ
d( 2 ) θ
2 d( 2 ) 2 2 sin2 θ
2
de onde se obtém:
D2 cos 2θ D2 sin θ
bdb = − dθ = − dθ
8 sin3 2θ 16 sin4 2θ
(na última passagem foi utilizada a relação 2 sin 2θ cos 2θ = sin θ). Notando-se que, da relação
entre o parâmetro de impacto e o ângulo de espalhamento, quando b aumenta θ diminui
(ver gura 4.5), temos que a relação entre a probabilidade de colisão com parâmetro de
impacto b e b+db e o espalhamento entre θ e θ + dθ é P (θ)dθ = −P (b)db e portanto temos:
π sin θ
P (θ)dθ = ρtD2 4 θ dθ
8 sin 2
2 2
zZe2
1 No ρt2π sin θ
N (θ)dθ = dθ
4πo 2M v 2 sin4 2θ
A expressão para o espalhamento Rutherford, bem como outras semelhantes que ocorrem
na física nuclear, são geralmente expressas em termos do que se chama seção de choque,
ou área efetiva de colisão, denida pela expressão:
dσ
dN = IndΩ
dΩ
dσ
onde dN = N (θ)dθ dΩ, dΩ
é o número de partículas espalhadas no ângulo sólido a seção
de choque diferencial, I = No a intensidade do feixe de partículas e n = ρt o número de
2
centros espalhadores (núcleos) por cm . A denição do ângulo sólido dΩ pode ser visto na
gura 4.5 .
Como dΩ = 2π sin θdθ e da expressão para N (θ), temos:
77
4 O Átomo de Bohr
2 2
zZe2
1 In
dN = dΩ
4πo 2M v 2 sin4 2θ
2 2
zZe2
dσ 1 1
=
dΩ 4πo 2M v 2 sin4 θ
2
78
4.3 O Modelo de Bohr para o átomo de Hidrogênio
Figura 4.6: Resultados experimentais obtidos por Geiger e Marsden comparados com a
previsão de Rutherford (curva sólida).
79
4 O Átomo de Bohr
2. Enquanto descreve o movimento acelerado em sua órbita, o elétron não irradia energia
como prevê a teoria eletromagnética clássica.
3. O elétron pode saltar de uma órbita para outra. Se ele pula espontaneamente de
uma órbita em que sua energia total é Ei para uma outra de energia menor Ef , a
energia perdida é emitida na forma de radiação, cuja freqüência é dada pela relação
ν = (Ei − Ef )/h.
O modelo de Bohr tem aplicação somente no caso de átomos com um só elétron, como o
átomo de hidrogênio ou átomos ionizados de outros elementos, no qual somente um elétron
permanece ligado ao núcleo. Consideremos então um átomo constituído de um núcleo de
carga Ze e massa M ao qual permanece ligado um único elétron de carga -e e massa m,
girando ao redor do núcleo em uma órbita circular. Sendo v sua velocidade orbital, a
condição de equilíbrio é obtida igualando-se a força eletrostática com o produto da massa
do elétron por sua aceleração centrípeta:
1 Ze2 v2
= m
4πo r2 r
De acordo com o primeiro postulado de Bohr, temos ainda que os raios possíveis para
essas órbitas devem ser determinados impondo-se a condição de quantização do momento
angular para o elétron:
h
mvr = n = n~
2π
onde ~, a constante de Planck dividida por 2π é chamado h cortado. Substituindo v
obtido da equação acima na equação de equilíbrio de forças, temos:
1 Ze2 n 2 ~2
=
4πo r mr2
de forma que os raios das órbitas são dados por:
4πo n2 ~2
r=
mZe2
e as velocidades orbitais podem ser então obtidas da expressão:
n~ n~Ze2 Ze2
v= = =
mr 4πo n2 ~2 4πo n~
A energia total de um elétron numa órbita é dada pela soma da energia cinética e da
potencial eletrostática. Como Ec = 12 mv 2 = 12 Ze2 /4πo r e Ep = −Ze2 /4πo r, temos:
1 Ze2
E = Ec + Ep = −
2 4πo r
80
4.3 O Modelo de Bohr para o átomo de Hidrogênio
Figura 4.7: Diagrama de níveis de energia para o átomo de hidrogênio para diferentes
números n, de acordo com o modelo de Bohr.
81
4 O Átomo de Bohr
substituindo agora a expressão para o raio das órbitas obtida acima, temos nalmente a
expressão para a energia dos elétrons em função de n :
mZ 2 e4 1
En = −
(4πo )2 2~2 n2
De acordo com o terceiro postulado de Bohr, a energia emitida na forma de radiação
(fóton) quando o elétron passa de uma órbita de energia En para uma outra de energia
mais baixa Em é dada por:
hν = En − Em
de onde se pode obter a expressão para o número de onda k = ν/c:
2
me4 2
1 1 1 2 1 1
k= Z − = R∞ Z −
4πo 4π~3 c n2 m2 n2 m2
onde
2
me4
1
R∞ =
4πo 4π~3 c
é a constante de Rydberg para um átomo de massa innita. Levando-se em conta a
massa nita do átomo pode-se vericar que a expressão para o número de onda acima se
altera substituindo-se R∞ por:
M
R = R∞
m+M
Com os valores existentes na época Bohr pode vericar que sua previsão estava em bom
acordo com o valor experimental da constante R. Com os valores atualmente aceitos das
constantes fundamentais, a constante R calculada com o modelo de Bohr reproduz o valor
atual da constante R dentro de 1 parte em 100000!
O raio do átomo de hidrogênio pode ser obtido tomando-se o n para o estado de menor
energia:
4πo ~2
ao = ' 0.53A
me2
O valor de ao , chamado raio de Bohr, está em muito bom acordo com as estimativas para
o diâmetro atômico ∼ 1A que haviam na época.
Átomos alcalinos como o Li e o Na, podem ter seus primeiros níveis de energia dados
pelo modelo de Bohr em forma aproximada (intruduzindo-se os tais defeitos quânticos,
como mostrado na fórmula de Rydberg). A razão para isso só pode ser entendida com o
desenvolvimento posterior da teoria quântica. Esses átomos têm sua estrutura denida com
apenas 1 elétron após camadas atômicas fechadas para os elétrons mais internos. Numa
primeira aproximação, esses elétrons mais internos, que são rigidamente ligados, podem
ser incluídos num núcleo com carga total igual a 1e (Z prótons + Z-1 elétrons) e o último
elétron se move em órbitas parecidas com a do elétron do átomo de hidrogênio.
82
4.4 A Experiência de Franck-Hertz
83
4 O Átomo de Bohr
energia suciente para atravessar a região de potencial freador e atingir a placa coletora.
A conclusão inicial de Franck e Hertz é que o átomo estava sendo ionizado. Aumentando-
se ainda mais o potencial acelerador Vo , os elétrons continuariam a ionizar os átomos
de mercúrio, mas agora sobraria energia cinética suciente para atravessar a região de
potencial retardador e conseguiriam portanto chegar ao anodo. Portanto a corrente I
voltaria a aumentar.
A surpresa foi descobrir que essa não era a energia de ionização do mercúrio, mas sim a de
excitação do átomo de mercúrio. Realmente, a diferença de energia de 4.9 eV corresponde
à entre o estado fundamental (estado de menor energia) e o próximo estado de energia
(primeiro estado excitado) do Hg. Elétrons com energia menor que 4.9 eV não podem fazer
colisões inelásticas pois não há um estado disponível para o átomo absorver essa quantidade
de energia. No espectro do átomo de mercúrio, há inúmeras raias, mas a mais intensa, fonte
principal da luz emitida pelas lâmpadas modernas de Hg, tem comprimento de onda de
2530 A, bem conhecido na época. Utilizando-se a relação de Einstein, E = hc/λ = 4.9
eV para esta raia do Hg. Franck e Hertz colocaram ainda o tubo com vapor de Hg, com
potencial acelerador Vo = 4.9 V num espectrômetro e observaram que o espectro continha
somente uma raia, a de 2530 A. A relação entre os estados de energia quantizados e as
raias dos espectros atômicos estava denitivamente comprovada.
84
4.4 A Experiência de Franck-Hertz
85
4 O Átomo de Bohr
86
4.5 Regras de Quantização de Wilson-Sommerfeld
d2 x
m = −kx
dt2
Cuja solução x(t) é dada por:
x(t) = Asen(wt + ϕ)
p
onde A é a amplitude do movimento, w = k/m = 2πν a freqüência angular e ϕ uma fase
que depende das condições iniciais. Por simplicidade vamos fazer ϕ=0 no que segue. A
velocidade da massa m é dada por:
dx
vx = = Aw cos wt
dt
e portanto, px = mvx = mAw cos wt. A ação correspondente pode ser então calculada pela
expressão:
I I I
2 2
px dx = (mAw cos wt)Aw cos wtdt = mA w cos2 wtdt
observando que a energia do oscilador é dada por E = 21 kA2 = 12 mw2 A2 e fazendo θ = wt,
de onde dθ = wdt, temos:
2π
mw2 A2
I Z
2E
pdx = cos2 θdθ = π
w 0 w
utilizando então a regra de Wilson-Sommerfeld, temos
2πE
= nh ⇒ E = nhν,
w
que é a relação de Planck.
Analogamente podemos obter a relação de Bohr. Um elétron descrevendo um movimento
circular e uniforme como no modelo de Bohr tem momento angular constante L = mvr.
A coordenada associada a esse momento é o ângulo de rotação ϕ:
I I
h
Ldϕ = L dϕ = 2πL = nh ⇒ L = n = n~
2π
Essas regras de quantização propiciaram por exemplo a obtenção, pelo próprio Som-
merfeld, da chamada constante de estrutura na para os espectros atômicos. Espectros
87
4 O Átomo de Bohr
atômicos de alta resolução mostravam que algumas linhas eram na verdade duplas ou tri-
plas, detalhes que são conhecidos como estrutura na dos espectros. Sommerfeld admitiu
a possibilidade de órbitas elípticas de diferentes excentricidades. Utilizando expressões
relativísticas, uma vez que em órbitas de alta excentricidades os elétrons têm velocidades
muito maiores ao passar próximo ao núcleo, Sommerfeld obteve para a chamada constante
de estrutura na:
1 e2 ∼ 1
α= =
4πo ~c 137
1 e2 n 2 ~2
v= ; e r = 4πo
4πo n~ me2
de onde se obtém:
me4 1
νo = 2
(4πo ) 2π~3 n3
A freqüência prevista pela teoria quântica é dada pela diferença de energia entre os estados
En e En−1 :
me4
1 1
ν=− − =
(4πo )2 2~2 h n2 (n − 1)2
me4
2n − 1
=
(4πo )2 4π~3 n2 (n − 1)2
88
4.6 Exercícios
me4 1
ν= 2
(4πo ) 2π~3 n3
4.6 Exercícios
1.- Um feixe no de partículas α de energia 4.8 MeV incide normalmente num alvo de
−4 6
Cu de 10 cm de espessura. A intensidade do feixe é de 10 partículas por segundo e
3
a densidade do Cu é 8.9 g/cm . Quantas cintilações por segundo serão produzidas pelas
partículas espalhadas numa tela uorescente de 2x2 mm, colocada a 5 cm do centro do
o
alvo e numa direção fazendo um ângulo de 60 com a do feixe incidente? (Este foi um dos
casos estudados por Geiger e Marsden).
2.- Uma bola de raio desprezível colide elasticamente com uma esfera rígida de raio R,
sofrendo uma deexão de ângulo θ com a direção de incidência. Sabe-se que em relação à
normal no ponto de colisão, o ângulo de incidência é igual ao de emergência. a) Mostre que
o parâmetro de impacto b e ângulo de espalhamento estão relacionados por b = R cos(θ/2).
b) Qual a seção de choque para espalhamento em ângulos maiores que θ? c) Qual a seção
de choque total?
3.- Mostre que o número de partículas espalhadas em um ângulo Θ ou maior no espa-
lhamento Rutherford é dado por:
2 2
zZe2
1
N (Θ) = πIρt cot2 (Θ/2)
4πεo M v2
4.- A fração de prótons com 6 MeV espalhados por uma folha de Au, cuja densidade é
19.3 g/cm3 , em ângulos maiores que 60o é igual a 2 · 10−5 . Calcule a espessura da folha de
Au, usando os resultados do problema anterior.
5.- Usando a fórmula de Bohr, calcule os três maiores comprimentos de onda da série de
Balmer. Entre que limites de comprimento de onda está a série de Balmer?
6.- Calcule o menor comprimento de onda da série de Lyman e o da série de Pashen.
7.- Utilizando o modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio, mostre que durante a
transição do estado n para o estado n-1, a freqüência da luz emitida é dada por:
2π 2 mke4
2n − 1
ν=
~3 n2 (n− 1)2
89
4 O Átomo de Bohr
8.- À partir do resultado acima, mostre que quando n tende ao innito, a expressão
3
varia com 1/n e se reduz à freqüência clássica emitida (sugestão: obtenha classicamente
a freqüência de revolução do elétron numa órbita circular).
9.- Mostre que no estado fundamental do átomo de hidrogênio, a velocidade do elétron
2
pode ser escrita como v = αc onde α = (1/4πεo )e /~c ' 1/137 é a constante de estrutura
na.
10.- Usando o modelo de Bohr, calcule a energia necessária para remover o elétron
restante em um átomo de He ionizado.
11.- Mostre que a freqüência de revolução de um elétron no modelo de Bohr para o átomo
de hidrogênio é dada por ν = 2|E|/hn, onde E é a energia total do elétron.
12.- Observa-se que partículas α com energia cinética 13,9 MeV ou maior, incidindo em
4
folhas de cobre não obdecem a lei de Rutherford (∼ 1/ sin θ/2). Estime o tamanho do
núcleo de Cu à partir dessa observação, supondo que o núcleo de Cu permanece xo na
colisão com as partículas α.
−15
66, 0x10 m
13.- Calcule os comprimentos de onda das três primeiras raias da série de Lyman do
átomo de hidrogênio.
+
14.- a) Construa o diagrama de níveis de energia para o íon He (Z=2). b) Qual a
+
energia de ionização para o He ?
2
a) En = −54, 4/n eV b) 54,4 eV
+ 2+ 3+
15.- Qual o raio da primeira órbita de Bohr para a) He , b) Li e c) Be ?
rHe+ = 0, 0265 nm, rLi2+ = 0, 0177 nm, rBe3+ = 0, 0132 nm
16.- a) Calcule o maior e menor comprimento de onda para a série de Paschen. b)
Determine as energias dos fótons correspondentes.
a) λmax = 1874 nm λmin =820 nm b) Emin =0,663 eV Emax = 1,52 eV
17.- Um átomo de hidrogênio está em seu estado fundamental (n=1). Usando o modelo
de Bohr para o átomo, calcule a) o raio da orbita, b) o momento linear do elétron, c)o
momento angular do elétron d) a energia cinética, e) a energia potencial e f ) a energia
total.
a) 0,0529 eV b) 1, 99x10−24 kg.m/s c) 1, 05x10−34 kg.m2/s= ~
d) 13,6 eV e) -27,2 eV f ) -13,6 eV
18.- Um elétron inicialmente no estado n=3 de um átomo de massa M com 1 elétron
em repouso, faz transição para o estado fundamental n=1. a) Mostre que a velocidade de
recuo do átomo devida à emissão do fóton é dada aproximadamente por v=8hR/9M, onde
R é a constante de Rydeberg. b) Calcule a porcentagem da energia de transição 3->1 que
é carregada núcleo de deutério em recuo.
−8
b) 3, 2x10 %
19.- Um elétron com energia menor que 100 eV colide frontalmente (e elasticamente) com
um átomo de Hg em repouso. a) Se o elétron inverte sua direção de movimento, mostre
que o elétron perde apenas uma pequena fração de sua energia cinética inicial, dada por:
∆Ec /Ec = 4M/[m(1 + M/m)]2
onde m é a massa do elétron, M a do Hg. b) Usando os valores conhecidos de m e M,
mostre que ∆Ec /Ec ∼ 4m/M .
90
4.6 Exercícios
20.- Calcule o parâmetro de impacto para o espalhamento de uma partícula αpor ouro
◦ ◦
em um ãngulo de a) 1 e b) 90 .
−12 −14
a) 1, 69x10 m b) 1, 48x10 m
21.- Um feixe de partículas α
de 8 MeV é espalhado por uma folha na de ouro. Qual a
◦
razão entre o número de partículas α espalhadasa 1 e o número das espalhadas em ãngulo
◦
maior que 2 ?
22.- Para alvos de alumínio (Z=13) e ouro (Z=79), qual a razão de partículas α espa-
lhadas em um ângulo qualquer, para um dado número de partículas incidentes?
36,2
23.- Em um experimento feito espalhando-se partículas α de 5,5 MeV em uma folha na
de ouro, estudantes encontraram que 10000 partículas α são espalhadas em um ângulo
◦
maior que 50 . a) quantas partículas α serão espalhadas em ângulo maior que 90◦? b)
◦ ◦
quantas serão espalhadas entre 70 e 80 ?
a) 2170 b) 1347
24.- Estudantes querem fazer um experimento usando uma fonte muito forte de partículas
α de 5,5 MeV que serão espalhadas por uma folha na de ouro. Eles querem conseguir
◦
uma taxa de de 1 partícula/s a 50 , mas o detector que utilizam é limitado a uma taxa
máxima de 2000 partícula/s. O detetor empregado subentende um pequeno ângulo sólido.
◦
O sistema de medidas poderá ser empregado para medir a taxa a 6 sem modicação?
25.- Os raios nucleares do alumínio e ouro são aproximadamente r=3,6 fm e 7,0 fm
respectivamente. Os raios do próton e da partícula α são respectivamente 1,3 fm e 2,6 fm.
a) Que energia de partícula α seria necessário para que as superfícies nucleares se toquem
em uma colisão frontal? b) Qual a energia no caso de prótons? ( calcular para alumínio e
ouro)
a) Al: 6,04 MeV, Au: 23,7 MeV b) Al: 3,82 MeV, Au: 13,7 MeV
26.- Calcule a velocidade e a aceleração radial para um elétron no átomo de hidrogênio.
++
Faça o mesmo para um átomo de Li .
27.- Calcule o momento angular em kg.m/s para a órbita eletrônica de menor energia no
átomo de hidrogênio.
28.- Use os valores conhecidos de o , h, m, e e calcule as seguintes quantidades (com 4
2 2
algarismos signicativos): hc, e /4πo (em eV.nm), mc (keV), ao (em nm) e Eo (em eV).
−2
1239,8 eV.nm, 1,4400 eV.nm, 511,00 keV 5, 2918x10 nm, 13,606 eV
29.- Um átomo de hidrogênio em um estado excitado absorve um fóton de comprimento
de onda 434 nm. Qual o estado inicial e nal do átomo?
n=2 e n=5
30.- Qual é a energia de ligação calculada para o elétron no estado fundamental do a)
+ +++
deutério? b) He ? c) Be ?
a) 13,6 eV b)54,4 eV c) 218 eV
31.- Um átomo de hidrogênio existe em um estado excitado por um intervalo de tempo
da ordem de 10−8 s. Quantas revoluções faz o elétron no estado n=3 antes de decair?
6
2, 44x10
2
32.- Um átomo muônico consiste de um múon (mc = 106 MeV, carga = -e) no lugar do
elétron. Para o múon no átomo de hidrogênio, calcule: a) o menor raio. b) A energia de
91
4 O Átomo de Bohr
92
5 Propriedades Ondulatórias da
Matéria
h
E = hν; p =
λ
Louis de Broglie postulou que por uma questão de simetria, a matéria, que tem ca-
racterísticas básicas de corpúsculos, deveria também apresentar, em certas circunstâncias,
características ondulatórias. As relações que permitem obter a freqüência e o comprimento
de onda associados a uma partícula são dadas pelas chamadas relações de de Broglie:
E h
ν= ; λ=
h p
De Broglie utilizou, nas aplicações dessas formulas, expressões relativísticas para a ener-
gia e o momento da partícula. Aqui entretanto, utilizaremos expressões clássicas, o que
93
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
não altera o espírito das conclusões. Embora não existisse, até o momento da apresentação
dessas idéias, nenhuma evidência de comportamento ondulatório da matéria, as idéias de
de Broglie tiveram rápida divulgação pelos novos e inéditos conceitos introduzidos. Em seu
trabalho original, de Broglie, apresentando evidências de suas idéias, aplicou os conceitos
acima no modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio. Notou que a condição de Bohr para
a quantização do momento angular, utilizada agora com as novas idéias, correspondiam à
condição de ondas estacionárias para as órbitas eletrônicas:
nh
mvr = n~ =
2π
nh nh
2πr = =
mv p
nλ = S
que é a condição para uma onda estacioária, como visto na gura 5.1.
Figura 5.1: Visualização do elétron como uma onda estacionária, no átomo de hidrogênio.
h h
λ= =√
p 2mE
94
5.1 Postulados de de Broglie
Para E=100 eV, por exemplo, temos λ = 1.2A. Vemos portanto que elétrons de baixa
energia têm comprimento de onda parecidos com o de raios-X típicos. Isso sugere que as
propriedades ondulatórias dos elétrons podem ser observadas em situações semelhantes às
em que efeitos de difração e interferência foram observados com raios-X, ou seja em cristais.
Alguns anos depois, em 1927, essas idéias foram conrmadas em experimentos realizados
independentemente por Davisson e Germer nos Estados Unidos e por G. Thomson na
Escócia. Fazendo um feixe de elétrons acelerados incidir num mono cristal como visto na
gura 5.2, observa-se uma distribuição angular dos elétrons espalhados. Essa distribuição,
mostrada na gura 5.2, só pode ser interpretada se pensarmos num processo de difração
de Bragg, como a observada para raios-X (ver gura 3.3).
Figura 5.2: Diagrama esquemático do equipamento utilizado por Davisson e Germer para
estudo da difração de um feixe de elétrons por um cristal.
95
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
Figura 5.3: Difração de um feixe de elétrons por uma folha na de Au (direita) comparado
com a difração produzida por raios-X (esquerda).
96
5.2 Propriedades Gerais das Ondas
∂2Ψ 1 ∂2Ψ
=
∂x2 v 2 ∂t2
onde v é chamada velocidade de fase da onda. A equação acima pode ser obtida aplicando-
se as leis de Newton a um segmento de corda esticado no qual se produziu um pulso
p
(v = T /µ onde T é a tensão na corda e µ a densidade linear. Analogamente, utilizando-
se as leis dos gases juntamente com a segunda lei de Newton, obtém-se equação idêntica
p
para as ondas sonoras (ondas de pressão) em um meio gasoso (com v= γRT /M , onde
γ = cp /cv ). À partir das equações de Maxwell também se obtém equação como a mostrada
√
acima, com v = c/n onde c = 1/ µo o é a velocidade da luz no vácuo e n o índice de
refração do meio.
Pode-se mostrar que qualquer função que dependa de x e t somente pela combinação
x ± vt é sempre uma solução da equação de onda. Consideremos para isso uma função
f (x − vt) = f (ϕ). Temos as seguintes relações:
∂f df ∂ϕ df ∂f df ∂ϕ df
= = ; = =v
dx dϕ ∂x dϕ dt dϕ ∂t dϕ
∂2f d2 f
d ∂f ∂ϕ
= =
dx2 dϕ ∂x ∂x dϕ2
∂2f 2
d ∂f ∂ϕ 2d f
= = v
dt2 dϕ ∂t ∂t dϕ2
97
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
e portanto,
1 ∂2f d2 f ∂2f
= =
v 2 dt2 dϕ2 ∂x2
A gura 5.4 mostra um pulso em uma corda em dois instantes de tempo consecutivos,
t=0s e t=1s. A função de onda descrevendo o pulso e dada por:
2 (x−vt)2 2
f (x, t) = Ae−k = 1.0e−(x−5t)
x t
Ψ(x, t) = A cos(kx − ωt) = A cos 2π( − )
λ T
98
5.2 Propriedades Gerais das Ondas
Ψ(x, t) = Ae±i(kx−ωt)
Embora esta função não possa ser uma solução física para ondas por ser uma função
complexa, soluções reais podem ser obtidas tomando-se a parte real ou a parte imaginária
da função, bem como combinações lineares, utilizando-se as relações:
Ψ1 = A sin(kx − ωt)
Ψ2 = A sin(kx + ωt)
Lembrando que sin(a ± b) = sin a cos b ± cos a sin b, temos:
O resultado, o produto de uma função somente de x por outra somente de t, não é uma
onda que se propaga nem para esquerda nem para a direita, correspondendo a uma onda
estacionária. Na gura 5.5 vemos exemplos de ondas estacionárias em uma corda. Como
a corda está xa em ambas as extremidades, a amplitude de onda deve ser sempre nula
99
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
λ
kL = nπ ou L = n
2
Um outro caso simples de superposição de ondas corresponde à de duas ondas harmônicas
de freqüências ligeiramente diferentes, mesma amplitude e fase, e caminhando no mesmo
sentido:
k 1 + k2 k 2 − k1 ∆k
k1 = − =k−
2 2 2
e expressões semelhantes, para k2 , ω1 e ω2 . Aplicando estas relações na expressão para a
função de onda temos:
1
Ψ(x, t) = Ψ1 + Ψ2 = 2A cos (∆kx − ∆ωt) cos kx − ωt
2
A forma de onda resultante é vista na gura 5.6. Uma onda de número de onda e
freqüência k, ω tem amplitude 2A cos 12 ((∆kx − ∆ωt)), e é vista como um envoltório na
gura, correspondendo a uma amplitude modulada.
O envoltório, ou modulação tem uma velocidade dada por:
1 1 ∆ω 1
(∆kx − ∆ωt) = ∆k(x − t) = ∆k(x − vg t)
2 2 ∆k 2
100
5.2 Propriedades Gerais das Ondas
ω ~k p v
vf = = = =
k 2m 2m 2
Portanto a velocidade de fase não corresponde à velocidade da partícula. Entretanto, a
velocidade de grupo é dada por:
dω d ~k 2 ~k p
= ( )= = =v
dk dk 2m m m
o que corresponde, portanto à velocidade da partícula.
Figura 5.6: Superposição de duas ondas harmônicas, com comprimento de onda e freqüên-
cias ligeiramente diferentes
Para descrever uma partícula localizada no espaço, devemos construir, por superposição,
um pacote de ondas, cuja amplitude seja não nula apenas numa pequena região do espaço,
como no caso de um pulso em uma corda. O exemplo anterior, com a superposição de
apenas duas ondas, está longe de satisfazer às condições acima, mas mostra que se obteve
alguma localização. Podemos dizer que temos algo localizado a cada meio comprimento de
onda da envoltória. A incerteza ∆x nesta localização corresponde à distância entre dois
101
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
nulos consecutivos do envoltório. Para um dado instante de tempo, a distância entre dois
nulos consecutivos será:
1 1
(∆kx2 − ∆ωt) − (∆kx1 − ∆ωt) = π
2 2
ou
∆k(x2 − x1 ) = ∆k∆x = 2π
De maneira análoga, podemos pensar na localização temporal como o intervalo de tempo
entre dois nulos consecutivos do envoltório, para um dado valor de x, obtendo-se:
∆ω∆t = 2π
Essas relações mostram que quanto mais conseguirmos localizar a partícula no espaço
(menor o ∆x), maior será o intervalo de números de onda (ou comprimentos de onda)
utilizados para a construção do pacote. De maneira análoga, a relação entre as freqüências
e o tempo. Para construir um pacote de ondas realmente localizado, como o pulso gaussiano
da gura 5.3, devemos somar um número innito de ondas, com números de onda variando
continuamente. O procedimento matemático utilizado para isso é chamado transformada
de Fourier, ou análise de Fourier. Por exemplo, se a função que descreve o pulso é
2 /σ 2
f (x, t) = Ae−(x−vt) x
pode-se mostrar que na superposição deve ser usado um conjunto de ondas harmônicas
cujos números de onda variam continuamente e cada uma tem amplitude (A(k)) também
dada por uma função gaussiana:
2 /2σ 2
A(k) = Be−(k−ko ) k
Quanto mais localizado for o pacote (menor o valor de σx ), mais ampla será a distribuição
de k utilizada (σk será grande), conforme visto na gura 5.7. Da análise de Fourier, pode-se
obter a seguinte relação entre os sigmas:
1
σx σk =
2
(note que esta relação é análoga à que encontramos entre ∆x e ∆k para o caso simples que
estudamos).
Utilizando ainda a análise de Fourier, pode-se mostrar que para qualquer outra forma do
pacote (triangular, retangular, trapezoidal, etc.), o produto da largura espacial do pacote
pela largura da distribuição de números de onda utilizada é sempre maior que aquela obtida
para o pacote gaussiano. Chamando de ∆x e ∆k as larguras do pacote e da distribuição
de k utilizada temos então, de uma maneira geral:
1
∆x∆k ≥
2
e analogamente para ω e t:
1
∆ω∆t ≥
2
Na óptica, essas relações são chamadas relações de dispersão.
102
5.2 Propriedades Gerais das Ondas
103
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
~
∆x∆p ≥
2
~
∆E∆t ≥
2
Essas relações são conhecidas na mecânica quântica como o princípio de incerteza e foram
enunciados pela primeira vez em 1927 pelo físico alemão Werner Heisenberg. Elas repre-
sentam uma limitação teórica à precisão com que podemos determinar simultaneamente a
posição e o momento de uma partícula, ou a energia e o tempo. Quanto mais precisamente
determinamos a posição, por exemplo, mais incerto será o momento da partícula. Como
vimos acima, este princípio se origina do comportamento ondulatório das partículas. Vista
de uma outra maneira, essas relações estão ligadas ao fato de que não podemos observar
uma partícula sem interferir na mesma. Por exemplo, quando olhamos um pequeno objeto
no microscópio, devemos iluminá-lo. A colisão dos fótons com o objeto altera portanto o
momento do objeto (espalhamento Compton). Sabemos ainda que se quisermos observar
um objeto muito pequeno, devemos utilizar luz de comprimento de onda muito menor que
as dimensões do objeto, caso contrário a difração será apreciável e a imagem não terá uma
boa denição. Portanto, quanto menor o objeto, maior a interferência ao se determinar a
posição, e não há como diminuir arbitrariamente essa interferência.
Vamos tentar observar (hipoteticamente) um elétron num microscópio, iluminando-o
com um único fóton. Num microscópio em que a abertura angular da objetiva é θ e a luz
utilizada tem comprimento de onda λ, pode-se mostrar que devido a difração, a menor
distância que pode ser determinada é
λ
∆x =
2 sin θ
Podemos considerar este ∆x como sendo a incerteza na determinação da posição do
elétron. Suponha o fóton incidindo na horizontal, como mostra o diagrama da gura
5.8. Após o espalhamento Compton, iremos observar o fóton se ele for espalhado em
qualquer ângulo, dentro do campo de visão θ do microscópio (na ocular, o fóton chegará no
ponto focal e não saberemos que direção tomou). Sendo p o momento do fóton espalhado
(e aproximadamente igual ao do fóton incidente, se a energia do fóton não for muito
grande), o componente horizontal de p poderá ter qualquer valor entre 0 e p sin θ. Assim,
o componente x do momento transferido ao elétron terá uma incerteza da mesma ordem
104
5.4 Interferência Em um Sistema de Duas Fendas
(a incerteza pode ser maior, se o momento do elétron antes de interagir com o fóton, já
tiver alguma incerteza). Portanto:
h λ h
∆p∆x ≥ sin θ =
λ 2 sin θ 2
Esta análise mostra que o princípio de incerteza é uma imposição intrínseca da natureza
e não uma limitação imposta pela nossa incapacidade de medir coisas como a posição do
elétron.
105
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
varia continuamente com a posição, tendo vários pontos de máximo e de mínimo, conforme
visto na curva I12 da parte c) da gura 5.9. Essa é a gura típica para a interferência
das ondas originadas das fendas 1 e 2 da parede no tanque. Se obstruirmos uma das
fendas e medirmos a nova distribuição de intensidades, vamos observar um padrão diferente,
representado pelas curvas I1 ou I2 na parte b) da gura, correspondentesa fechamento das
fendas 2 e 1 respectivamente. O padrão de interferência I12 claramente não corresponde
à soma dos padrões I1 e I2 , sendo característico de um fenômeno ondulatório. Ondas
originadas nas fendas 1 e 2 que chegam em fase numa dada posição do medidor se somam
(interferência construtiva) produzindo um máximo e nas posições em que chegam com
oposição de fase interferem destrutivamente, produzindo um mínimo de intensidade.
106
5.4 Interferência Em um Sistema de Duas Fendas
Como no experimento com ondas no tanque d'agua, podemos perguntar agora - qual a
distribuição de intensidade (número/unidade de tempo) de elétrons como função da posição
ao longo do eixo x? O resultado é a curva P12 mostrado na parte c) da gura 5.10. Um
padrão completamente análogo àquele produzido no experimento com ondas na água!
Ora, se o elétron é uma partícula, ele passa ou pela fenda 1 ou pela 2. como vimos,
sempre chega um elétron inteiro no Geiger, e não uma fração de elétron. Para vericar
por qual fenda passou o elétron, podemos, por exemplo, colocar uma fonte de luz atrás
das fendas, de modo que ao passar por uma das fendas, o elétron espalha luz e vericamos
então um clarão luminoso próximo à fenda 1 ou à fenda 2, dependendo da fenda por qual
passou o elétron. Poderiamos agora contar os cliques no detector como função de x em
duas tabelas: uma quando o clarão indicar que o elétron passou pela fenda 1 e a outra,
quando vier da fenda 2. Esta experiência permite ainda vericar que o clarão vem sempre
apenas de uma das fendas, nunca das duas simultaneamente. Os resultados dessas medidas
0 0
correspondem às curvas P1 e P2 da gura 5.11, correpondentes a elétrons que passaram
0 0 0
pela fenda 1 e 2 respectivamente. A curva P12 = P1 + P2 corresponde à condição do elétron
passando pela fenda 1 ou pela fenda 2.
Concluimos então que quando observamos os elétrons, o resultado (a distribuição de
posições ao longo de x) é diferente daquele obtido quando não observamos os elétrons nas
proximidades das fendas. A observação perturba o movimento dos elétrons. De um modo
diferente, esses resultados indicam que quando não observamos, os elétrons se propagam
como uma onda, desde o canhão de elétrons até o detector, produzindo o padrão típico de
interferência. Quando observamos, vemos um comportamento de partícula, com o elétron
passando por uma dada fenda, mas nesse caso, o fenômeno de interferência não é observado.
Os elétrons são ainda observados no detetor Geiger como partículas. Esta característica,
vista também com os fótons, indica uma característica dualistica onda/partícula para os
elétrons bem como para todas as partículas e corpos. Em sistemas macroscópicos, as pro-
107
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
p2 1
E = Ec + Ep = + kx2
2m 2
A energia total do oscilador é constante e portanto temos que E =< E >. Aplicando o
valor médio na expressão acima, temos:
< p2 > 1
< E >= + k < x2 >
2m 2
Tanto o valor médio da posição quanto o do momento são nulos para o movimento harmô-
nico, pois a partícula executa um movimento em que a posição e a velocidade assumem
valores simétricos em relação ao ponto central de valor zero. Portanto,
108
5.5 Aplicações do Princípio de Incerteza
∆p2 1
E= + k∆x2
2m 2
utilizando agora o princípio de incerteza, temos ∆p ≥ ~/2∆x. Substituindo na equação
acima temos:
~2 1
E≥ 2
+ k∆x2
8m∆x 2
Nota-se que nesta expressão E cresce quando ∆x atinge valores muito pequenos (devido à
contribuição do primeiro termo e cresce também quando ∆x atinge valores muito grandes,
devido ao segundo termo da expressão. Portanto deve haver um valor de ∆x para o qual a
energia é mínima. Este valor pode ser obtido derivando-se a expressão acima e igualando-a
2
a zero. Fazendo a substituição z = ∆x , temos:
~2 ~2
dE d 1 1
= + kz =− 2
+ k=0
dz dz 8mz 2 8mz 2
Portanto:
~2 ~2
z2 = =
4mk 4m2 ω 2
Substituindo o valor de z na expressão para E, temos:
~ω ~ω 1
Emin = + = ~w
4 4 2
Portanto a expressão correta para a energia do oscilador deve ser:
1
E = (n + )~ω
2
Esta é a expressão correta para e energia do oscilador harmônico de acordo com a
1
mecânica quântica. A quantidade ~ω é chamada energia de ponto zero do oscilador. O
2
oscilador não pode ter energia mínima zero, pois se tivesse, a posição e o momento do
oscilador seriam conhecidos com precisão simultaneamente, contrariando o princípio de
incerteza.
No modelo atômico de Bohr, podemos considerar que a incerteza na posição do elétron
é da ordem de grandeza do raio atômico (se essa consideração e razoável ou não veremos
dos resultados abaixo). A energia do elétron a uma distância r do núcleo é dada por:
p2 e2
E= −k
2m r
onde k = 1/4πo . Utilizando o princípio de incerteza e novamente como ∆p2 = p2 , e
com ∆x = r, p2 ≥ ~2 /r2 e portanto:
109
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
~2 e2
E≥ − k
2mr2 r
A energia mínima pode ser obtida derivando-se a expressão acima com respeito a r e
igualando o resultado a zero:
dE ~2 e2
=− 3 +k 2 =0
dr mr r
de onde se obtém:
~2
r= = ao = 0.52A
kme2
portanto reproduzindo corretamente o raio de Bohr. Substituindo este valor na expressão
para a energia, temos:
k 2 e4 m
Emin = − = −13.6eV
2~2
novamente o valor correto da energia total do elétron na primeira órbita de Bohr.
Note que embora os resultados estejam corretos, o conceito de órbita bem denida perde
sentido. O elétron está localizado em qualquer ponto dentro de um volume de raio igual
ao raio de Bohr, mas sua posição correta não pode ser conhecida.
Um terceiro caso interessante corresponde ao movimento de uma partícula livre. Su-
ponha que no instante t =0 determinamos a posição de uma partícula com uma incerteza
∆xo . Com isso, a incerteza no momento da partícula após esta medida será
~
∆p = m∆v ≥
∆xo
Num instante posterior t, a posição da partícula não poderá ser conhecida com precisão
melhor que:
~
∆x = ∆xo + ∆vt = ∆xo + t
m∆xo
portanto, quanto mais precisa for a determinação da posição da partícula em t=0, menos
precisa será o conhecimento da posição em tempos futuros!
5.6 Exercícios
1.- Calcule o comprimento de onda de de Broglie para: a) elétron com energia cinética de
50eV. b) elétron relativístico com energia total de 20 MeV. c) nêutron em equilíbrio térmico
com o meio a T = 500K (nêutron térmico) d) partícula alfa com energia cinética de 60
110
5.6 Exercícios
−1/2
h eV
λ= √ 1+
2mo eV 2mo c2
111
5 Propriedades Ondulatórias da Matéria
112
6 A Equação de Schroedinger
∂2ε 1 ∂2ε
=
∂x2 c2 ∂t2
tomando como solução uma onda harmônica ε = εo cos(kx−ωt) e substituindo esta solução
na equação de ondas, temos:
ω2
k2 =
c2
usando agora as relações de Einstein ω = E/~ e k = p/~ na expressão acima, temos:
E 2 = p2 c2 ou E = pc
que é a relação entre energia e momento para o fóton! No caso do movimento de partículas
podemos procurar por exemplo uma equação de ondas que seja equivalente à relação energia
- momento para uma partícula de massa m : No caso não relativístico temos:
p2
E= +V
2m
113
6 A Equação de Schroedinger
~2 k 2
~ω = +V
2m
Note-se que nesta equação, k aparece ao quadrado, como na equação de ondas tradicional,
sugerindo um termo proporcional à derivada segunda da função de onda em relação a x.
Já o termo em ω , diferentemente do caso das ondas eletromagnética, aparece com potência
um, o que corresponderia a uma derivada primeira em relação ao tempo. Além disso, há no
caso de partículas, um outro termo, correspondente à energia potencial V, onde não há nem
k nem ω não havendo portanto nenhuma derivada envolvida. A equação que corresponde à
expressão acima e que é consistente com as idéias anteriores de de Broglie, Bohr, Einstein,
etc. foi obtida por Schroedinger como:
~2 ∂ 2 Ψ(x, t) ∂Ψ(x, t)
− 2
+ V (x)Ψ(x, t) = i~
2m ∂x ∂t
Podemos tentar vericar essa equação num caso simples, como por exemplo o de uma
partícula livre, onde V=0, com momento p = ~k e energia E = ~ω . Facilmente verica-
mos que funções como A sin(kx − ωt) ou A cos(kx − ωt) não são soluções da equação de
Schroedinger. Entretanto, a função complexa A exp[i(kx − ωt)] é solução.
~2 ∂ 2 Aei(kx−ωt) ∂Aei(kx−ωt)
− = i~
2m ∂x2 ∂t
~2 k 2 i(kx−ωt)
− Ae = i~(iω)Aei(kx−ωt)
2m
e portanto,
~2 k 2
= ~ω
2m
A equação pode também facilmente vericada para o caso de um potencial V constante.
Nos casos em que o potencial depende de x, como o do oscilador harmônico, a solução pode
ser muito mais complicada.
Vimos no caso da partícula livre que a função de onda obtida como solução da equação
de Schroedinger é complexa. Portanto, não pode ser uma quantidade mensurável, como a
amplitude de oscilação de uma corda ou do campo elétrico, como nas ondas tradicionais. A
interpretação do signicado físico da função de onda solução da equação de Schroedinger foi
enunciada ainda em 1926 por Max Born. De acordo com Born, os acontecimentos (eventos)
previstos pela mecânica quântica são de natureza probabilística. Um processo mecânico é
acompanhado por um processo ondulatório, a onda sendo dada pela solução da equação
de Schroedinger. (O curso dos eventos é determinado pelas leis das probabilidades; para
um estado no espaço, corresponde uma probabilidade denida, que é dada pela onda de
114
6.2 Operadores Quânticos
onde Ψ∗ (x, t) é o complexo conjugado de Ψ(x, t), operação que corresponde a trocar o
número imaginário i por -i na expressão para Ψ(x, t). O produto de qualquer número
complexo por seu conjugado é sempre um número real.
∗
Portanto, se Ψ Ψ corresponde a uma densidade de probabilidade, esse produto deve
obedecer à condição de normalização:
Z +∞
Ψ∗ (x, t)Ψ(x, t)dx = 1
−∞
Z +∞ Z +∞ Z +∞
∗
< x >= xP (x)dx = xΨ Ψdx = Ψ∗ xΨdx
−∞ −∞ −∞
note que como em geral o produto Ψ∗ Ψ depende do tempo, também teremos < x(t) >.
Para qualquer função de x, temos também:
Z +∞
< f (x) >= Ψ∗ f (x)Ψdx
−∞
115
6 A Equação de Schroedinger
Para poder calcular a integral acima, devemos obter uma expressão para o momento
em termos da variável de integração, x. Entretanto, sabemos não ser possível relacionar
diretamente p com x como uma função p(x), pois, pelo princípio de incerteza, não há como
determinar precisamente (e simultaneamente) as duas quantidades. Para vermos como
podemos obter o valor médio acima, tomemos por exemplo a onda plana que obtivemos no
caso da partícula livre:
Ψ(x, t) = Ae−i(kx−ωt)
onde sabemos que o momento é constante (< p >= p = ~k ). Tomando a derivada primeira
em relação a x da função acima, temos:
∂Ψ p
= ikAe−i(kx−ωt) = ikΨ = i Ψ
∂x ~
ou
∂Ψ
−i~ = pΨ
∂x
A quantidade i~∂/dx é chamada um operador diferencial. Este operador em particular
tem a propriedade de quando aplicado a uma função de onda, ter o mesmo efeito de se
multiplicar a mesma função de onda pelo momento linear p. Note que este operador é uma
função da variável x, sendo portanto a relação que procurávamos. O operador acima é o
operador momento linear e o valor esperado do momento é então calculado como:
Z +∞
∂
< p >= Ψ∗ − i~ Ψdx
−∞ ∂x
Esta relação, embora tenha sido aqui demonstrada apenas no caso de uma partícula
livre, é no entanto válida em qualquer situação. De maneira análoga, podemos também
notar que i~∂/∂t é o operador para a energia total, uma vez que
∂
i~ (Ae−i(kx−ωt) ) = −i2 ~ωAe−i(kx−ωt) = EAe−i(kx−ωt)
∂t
Outros operadores quânticos serão vistos no decorrer do curso.
Com as denições acima, podemos ver a razão da ordem de por exemplo Ψ∗ pΨ que
utilizamos na graa da expressão para os valores médios. Embora no caso do operador
posição esta ordem não seja relevante, dado o caráter diferencial de grande parte dos
operadores quânticos, eles correspondem a operações não comutativas e facilmente podemos
ver por exemplo que
∂ ∂
Ψ∗ − i~ Ψ 6= −i~ (Ψ∗ Ψ)
∂x ∂x
No caso da onda plana que vimos acima, temos resultados triviais na aplicação, tanto do
operador momento linear pb = −i~∂/∂x quanto do operador de energia total E
b = i~∂/∂t.
116
6.3 Equação de Schroedinger Independente do Tempo
Isso devido ao fato de as ondas planas corresponderem à situação de uma partícula com
momento e energia bem denidos, de modo que < p >= p e < E >= E. Tomemos agora
um caso mais interessante e realista, como o de uma partícula livre dentro de uma caixa.
No caso unidimensional, a partícula está connada a se mover entre duas paredes rígidas
localizadas em x = −a/2 e x = +a/2. Como veremos mais tarde, a função de onda para a
situação de menor energia desta partícula é dada por:
πx −i E t a a
Ψ(x, t) = A cos e ~ para − < x <
a 2 x
e zero fora desse intervalo. A constante de normalização é dada por:
Z +∞ Z +a/2 Z +π/2
∗ 2 2πx a a
Ψ Ψdx = A cos dx = A2 cos2 θdθ = A2
−∞ −a/2 a π −π/2 2
p
ou A= 2/a. Para o valor médio da posição da partícula, devemos esperar um valor nulo,
pois classicamente a partícula tem igual probabilidade de estar à esquerda ou à direita da
origem das ordenadas:
Z +∞ Z +a/2
∗ 2 πx
< x >= Ψ xΨdx = A x cos2 dx = 0
−∞ −a/2 a
uma vez que o integrando é uma função ímpar de x, e a integral é sobre um intervalo
simétrico em relação à origem. Situação análoga ocorre com o momento linear:
Z +a/2 Z +a/2
2 πx ∂ πx π πx πx
< p >= A cos (−i~ ) cos dx = A2 i~ cos sin dx = 0
−a/2 a ∂x a a −a/2 a a
Entretanto, podemos vericar que o módulo do momento linear não é nulo. Podemos
facilmente obter o operador para o quadrado do momento linear:
∂2
pb2 = pbpb = −~2 2
∂x
e portanto,
+∞ +a/2
∂2
Z Z
2 π πx
2 π 2
2 ∗ 2
< p >= Ψ −~ Ψdx = −~ A2 cos2 dx = ~2
−∞ ∂x2 a −a/2 a a
117
6 A Equação de Schroedinger
geral, nesses casos, e em todos os casos em que o potencial V não depende explicitamente
do tempo, pode-se utilizar a chamada técnica de separação de variáveis na solução da
equação de Schroedinger. Fatorando-se a solução da equação num produto de dois termos,
em que um contém a dependência em x e o outro a em t, temos:
Ψ(x, t) = Φ(x)ϕ(t)
~2 ∂ 2
∂ϕ(t)
ϕ(t) − 2
Φ(x) + Φ(x)ϕ(t)V (x) = i~Φ(x)
2m ∂x ∂t
~2 ∂ 2
1 1 ∂ϕ(t)
− 2
Φ(x) + V (x) = i~
Φ(x) 2m ∂x ϕ(t) ∂t
Notamos que o primeiro membro, que depende somente de x, deve ser sempre igual ao
segundo membro, que depende somente de t. A única situação em que isso pode ocorrer
é se ambos os membros forem iguais a uma constante S, chamada constante de separação.
Para o segundo membro temos portanto:
∂ϕ(t)
i~ = Sϕ(t)
∂t
cuja solução é facilmente encontrada:
S
ϕ(t) = Ae−i ~ t
Comparando o ϕ(t) encontrado acima com a parte temporal da função de onda que obti-
vemos nos casos anteriores, vemos que a constante S é identicada como a energia total E
da partícula. Portanto, para o outro membro da equação, correspondente à parte espacial,
temos:
~2 d2 Φ
− + V (x)Φ(x) = EΦ(x)
2m dx2
Esta é a chamada equação de Schroedinger independente do tempo. Note que não há
necessidade do uso de derivadas parciais, uma vez que a equação só contém a dependência
espacial da função.
Uma série de condições podem ser imposta às soluções da equação de Schroedinger para
que tenham sentido físico. Essas condições estão ligadas à interpretação estatística da
função de onda. Assim, ao resolvermos o problema do oscilador harmônico ou do átomo de
hidrogênio, não podemos aceitar uma solução da equação de Schroedinger em que Ψ(x) seja
∞ quando x → ∞ pois sabemos que a partícula tem seu movimento limitado a uma região
nita do espaço. Do mesmo modo, devemos impor condições de continuidade e unicidade
118
6.4 Aspectos Qualitativos das Soluções da Equação de Schroedinger
da função de onda, caso contrário não teríamos como obter a probabilidade de encontrar
a partícula nos pontos de descontinuidade ou onde a função tivesse multiplos valores.
Outra razão se relaciona ao fato de que se a função for descontínua, sua derivada será
innita nos pontos de descontinuidade, fazendo com que o momento linear neste ponto seja
intito. Condições semelhantes devem ainda ser impostas à derivada da função de onda.
Lembrando que a derivada segunda se relaciona com a energia cinética, descontinuidades
na derivada primeira corresponderiam a pontos com energia cinética innita. Resumindo-
se, as condições a serem impostas às funções de onda, soluções da equação de Schroedinger,
são:
d2 Ψ 2m
2
= 2 [V (x) − E] Ψ
dx ~
vemos que a concavidade da função de onda, dada pelo sinal de sua derivada segunda, é
proporcional ao produto da própria função de onda por [V (x) − E]. Portanto, nas regiões
em que V (x) > E , a derivada segunda tem o mesmo sinal da função de onda e então a
concavidade é voltada para cima (côncava) se Ψ é positiva e voltada para baixo (convexa)
se a função de onda é negativa. Nas regiões em que V (x) < E a situação é a oposta.
tomemos por exemplo, o caso de uma partícula sob a ação do potencial visto na gura
6.1a, quando a energia total é E, como mostrado na gura. Temos então o eixo x dividido
0 00 0 00
em três regiões, delimitadas por x e x . Na região x < x < x , se Ψ > 0 teremos a função
0 00
de onda com concavidade para baixo e vice versa. Nas regiões x < x e x > x o oposto,
conforme mostrado esquematicamente na gura 6.1b. Tendo ainda em consideração as
condições sobre o comportamento da função de onda para x → ±∞, possiveis soluções
para este problema são mostradas na gura 6.1c.
119
6 A Equação de Schroedinger
120
7 Aplicações da Equação de
Schroedinger
−~2 d2 d2 2mE
2
Ψ(x) = EΨ(x) ou 2
Ψ(x) = −k 2 Ψ(x), k 2 =
2m dx dx ~2
Soluções para esta equação são bem conhecidas:
A solução geral corresponde a uma combinação linear de duas soluções, por exemplo:
Z +∞ Z +∞ Z +∞
∗ ∗ −i(kx−ωt) ∂
< p >= Ψ pbΨdx = Ae (−i~ )Aei(kx−ωt) dx = ~k Ψ∗ Ψdx = ~k
−∞ −∞ ∂x −∞
pois sendo a função de onda normalizada, a última integral acima deve ser igual a 1.
Portanto:
√
2mE √
< p >= ~k = ~ = 2mE
~
como esperado. Fazendo-se cálculo análogo para a função correspondente à partícula ca-
√
minhando no sentido de x negativos (A=0), obtém-se < p >= − 2mE . Com relação ao
121
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
valor esperado para a posição da partícula, note que |Ψ|2 = Ψ∗ Ψ = A∗ A = cte.. Por-
tanto a probabilidade de encontrar a partícula em qualquer intervalo x, x+dx é a mesma,
conforme previsto pelo princípio de incerteza. A normalização da função de onda de uma
R +∞ ∗
partícula livre traz alguma diculdade formal, uma vez que
−∞
Ψ Ψdx = ∞. Do ponto
de vista operacional, isso pode ser contornado, pois todo cálculo pode sempre ser reali-
zado com a normalização explícita, fazendo-se uma razão de integrais, onde a constante de
normalização A é cancelada. No caso do momento linear que vimos acima, teríamos, por
exemplo:
R ∗ R ∗
Ψ pbΨdx Ψ Ψdx
< p >= R ∗ = ~k R ∗ = ~k
Ψ Ψdx Ψ Ψdx
Partícula livre no espaço todo é uma situação idealizada que nunca ocorre. Um próton
acelerado pelo Pelletron, por exemplo, corresponde a uma partícula livre desde a saída do
acelerador, até o coletor de feixe (copo de Faraday) na câmara, no nal da canalização
em alto vácuo, ou seja, uma distância da ordem de 30 m. Para distâncias dessa ordem, a
incerteza no momento do próton devido às limitações do princípio de incerteza é desprezível
e a função de onda da partícula pode ser aproximada por uma onda plana.
Uma partícula livre para qual a incerteza na posição não é muito grande pode ser des-
crita por um pacote de ondas (superposição de muitas ondas planas). Entretanto, as
diculdades matemáticas para se tratar funções desse tipo são muito grandes e além disso,
como já vimos, à medida que a o tempo passa, aumenta a incerteza na posição da partícula
devido à incerteza em sua velocidade e o pacote continuamente se alarga.
~2 d2 Φ d2 Φ 2m(V0 − E)
x>0: − 2
+ V0 Φ = EΦ ou 2 = k22 Φ; k22 =
2m dx dx ~2
122
7.2 Potencial Degrau
solução:
Impondo agora as condições para que a solução da equação de Schroedinger tenha signi-
cado físico:
Φ(x), dΦ
dx
devem ser f initas
dΦ
Φ(x), dx devem ser continuas
Φ(x), dΦ
dx
devem ser unívocas
com isso devemos impor D=0 para que a função seja bem comportada no innito. Para
a continuidade da função devemos impor, em x=0:
Φ1 (0) = Φ2 (0) ⇒ A + B = C
dΦ1
dx
|x=0 = Aieik1 x − Bik1 e−ik1 x |x=0 = ik1 (A − B)
dΦ2
dx
|x=0 = −Ck2 e−k2 x |x=0 = −Ck2
A+B =C
A − B = iC kk21
k2 C k2
(+) : C(1 + i ) = 2A ⇒ A = (1 + i )
k1 2 k1
k2 C k2
(−) : C(1 − i ) ⇒ B = (1 − i )
k1 2 k1
123
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
( h i
C
2
(1 + i kk12 )eik1 x + (1 − i kk21 )e−ik1 x x≤0
Φ(x) =
−k2 x
Ce x≥0
vr Ψ∗r Ψr B∗B
R= =
vi Ψ∗i Ψi A∗ A
uma vez que vr = vi . Substituindo-se os valores de A e B em termos de C, k1 e k2 ,
encontra-se R=1, em pleno acordo com a previsão da mecânica clássica. Para x > 0,
Ψ∗ Ψ = D∗ De−2k2 x . Nesta região, temos E < V e portanto a energia cinética seria ne-
gativa. Classicamente esta é uma região proibida para as partículas. Do ponto de vista
quântico, pode-se encontrar a partícula nesta região, sendo cada vez menos provável encon-
trar a partícula quanto maior o valor de x. A penetração da partícula na região proibida
(por intervalos de tempo muito pequenos) é possível devido o princípio de incerteza. Du-
rante um pequeno intervalo de tempo, a energia pode não se conservar. A profundidade
da penetração também é muito pequena e pode ser caracterizada pela distância em que
a probabilidade cai para cerca da metade de seu valor em x=0, correspondendo a uma
p
penetração da ordem de 1/k2 = ~/ 2m(Vo − E).
É fácil vericar que a solução geral (incluindo a parte temporal da função de onda,
corresponde a uma onda estacionária). Para isso, vamos escrever a solução para x ≤ 0 em
−k x k
termos de senos e cossenos, substituindo e 1 = cos k1 x+i sin k1 x e chamando α = (1+i 2 ):
k1
D
Φ(x) = [α(cos k1 x + i sin k1 x) + α∗ (cos k1 x − i sin k1 x)] =
2
k2
= D cos k1 x − D sin k1 x
k1
A função de onda completa é obtida multiplicando-se a função acima pela parte temporal
−iωt
e , com ω = E/~:
124
7.2 Potencial Degrau
Figura 7.1:
k2
Ψ(x, t) = D cos k1 x − sin k1 x e−iωt
k1
Note que temos o produto de uma função que depende somente do tempo por outra
que depende somente da posição, correspondendo portanto a uma onda estacionária. A
2
densidade de probabilidade de encontrar a partícula no espaço (|Ψ(x, t)| ) não depende do
tempo:
2
2 2 ∗ k2
|Ψ(x, t)| = |Φ(x)| = D D cos k1 x − sin k1 x
k1
O gráco da densidade de probabilidade, incluindo a região x>0 é visto na gura 7.1.
2m(E − V0 )
x > 0 : Φ2 (x) = Ceik2 x + De−ik2 x k22 =
~2
Considerando a situação inicial de uma partícula (ou feixe de partículas) vindo da esquerda
(−∞) para a direita, temos D = 0, pois não há partículas vindo de +∞. Aplicando as
condições de continuidade de Φ e sua derivada em x =0, temos:
Φ1 (0) = Φ2 (0) ⇒ A + B = C
dΦ1
| = dΦ
dx x=0
2
|
dx x=0
k2
⇒ (A − B) = C k1
C k2 C k2
(+) : A = (1 + ) (−) B = (1 − )
2 k1 2 k1
As funções de onda são:
C
(1 + kk21 )eik1 x
+ C2 (1 − k2 k2 −ik1 x
2 k1
)(1 − k1
)e para x < 0
Ψ(x) = ik2 x
Ce para x > 0
125
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
O primeiro termo da função para x<0 corresponde portanto à onda (uxo) incidente e
o segundo à onda reetida, este sem equivalente clássico. O coeciente de reexão é dado
por:
vB ∗ B (k1 − k2 )2
R= =
vA∗ A (k1 + k2 )2
Para x>0 só há, obviamente a onda transmitida, pois não há nada que possa reetir as
partículas transmitidas. O coeciente de transmissão é denido como:
2
v2 C ∗ C
v2 2k1
T = ∗
=
v1 A A v1 k1 + k2
p1 ~k1 p2 ~k2
v1 = = ; v2 = =
m m m m
portanto
k2 (2k1 )2 4k1 k2
T = 2
=
k1 (k1 + k2 ) (k1 + k2 )2
Note que:
4k1 k2 (k1 − k2 )2
T +R= + =1
(k1 + k2 )2 (k1 + k2 )2
1+ 1 − VEo Vo
E
R = 1 − T = 1 para ≤1
Vo
Note também que a reexão ocorre da mesma maneira quando a partícula vem de uma
região com potencial constante e cai numa região de potencial menor (ou nulo). O
fenômeno de reexão descrito acima é devido basicamente à passagem abrupta da partícula
de um potencial para outro. Este tipo de reexão já era conhecido na óptica, quando a luz
passa, perpendicularmente entre dois meios com diferentes índices de refração.
126
7.3 Barreira de Potencial
127
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
de( a):
k2 k2
2A = F (1 + ) + G(1 − )
k1 k1
k2 k2
2B = F (1 − ) + G(1 + )
k1 k1
de (b):
k1 k1
2F eik2 a = Ceik1 a (1 + ) ou 2F = Cei(k1 −k2 )a (1 + )
k2 k2
k1 k1
2Ge−ik2 a = Ceik1 a (1 − ) 2G = Cei(k1 +k2 )a (1 − )
k2 k2
C i(k1 −k2 )a k1 k2 C k1 k2
2A = e (1 + )(1 + ) + ei(k1 +k2 )a (1 − )(1 − )
2 k2 k1 2 k2 k1
C
ei(k1 −k2 )a (k1 + k2 )2 − ei(k1 +k2 )a (k1 − k2 )2 =
=
2k1 k2
Ceik1 a −ik2 a
(k1 + k2 )2 − eik2 a (k1 − k2 )2
= e
2k1 k2
A eik1 a e−ik2 a 2 2ik2 a 2
(k1 + k2 )2 − e2ik2 a (k1 − k2 )2
= (k1 + k2 ) − e (k1 − k2 ) =
C 4k1 k2 4k1 k2 e−ik1 a e−ik2 a
Coeciente de Transmissão (velocidades são as mesmas antes e depois da barreira):
∗C
T = CA∗ A
128
7.3 Barreira de Potencial
A∗ A ks4 − 2ks2 kd2 + kd4 + 4(k12 − k22 )2 sin2 k2 a (ks2 − kd2 )2 + 4(k12 − k22 )2 sin2 k2 a
= = =
C ∗C 16k12 k22 16k12 k22
( 2mV
~2
) sin2 k2 a
o 2
sin2 k2 a
=1+ =1+
4 2mE
~2
2m(E−Vo )
~2
4 VEo ( VEo − 1)
Portanto,
" #−1
C ∗C sin2 k2 a
T = ∗ = 1+ E E
AA 4 Vo ( Vo − 1)
p
Ψ2 (x) = F ek2 x + Ge−k2 x , k2 = 2m(Vo − E/~
Novamente, como não há inicialmente onda vindo de +∞, temos D=0. O procedimento
algébrico para a obtenção dos coecientes das funções de onda é análogo ao do caso anterior,
trocando-se ik2 do primeiro caso por k2 . O coeciente de transmissão será dado por:
E E
T ' 16 (1 − )e−2k2 a
Vo Vo
A gura 7.3 mostra a densidade de probabilidade Ψ∗ Ψpara as três regiões. Na região I,
a superposição da onda incidente com a reetida, de mesmo comprimento de onda, resulta
num padrão de onda estacionária. Na região II temos uma exponencial decrescente e
nalmente a onda transmitida, sendo uma onda plana, corresponderá a uma densidade de
probabilidade constante nesta região. Este resultado mostra que uma pequena parcela das
partículas incidentes, consegue atravessar a barreira. Novamente isso é uma consequência
do princípio de incerteza, que permite que a conservação de energia seja violada por um
intervalo de tempo muito pequeno, enquanto a partícula atravessa a barreira.
129
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
Como a partícula não tem energia para ultrapassar a barreira por cima, este processo
é chamado de tunelamento. Vários processos que ocorrem na natureza dependem deste
fenômeno. Um dos mais importantes é o da fusão de dois prótons no interior do Sol, o me-
canismo básico de produção de energia nesse tipo de estrêla. A energia cinética decorrente
da temperatura do Sol é insuciente para vencer a barreira de repulsão coulombiana entre
dois prótons. Somente uma pequena fração dos prótons teriam energia acima deste valor e
a taxa de fusão e portanto de produção de energia, seria cerca de 1000 vezes menor que a
realizada pelo Sol. O processo de fusão de dois prótons é dominado pelo tunelamento dessas
partículas pela barreira coulombiana. O diodo de efeito tunel é um dispositivo eletrônico
disponível comercialmente, baseado neste efeito quântico. Com técnicas especiais de cons-
trução, pode-se fazer um diodo semicondutor cuja barreira de potencial é extremamente
na, propiciando que partículas a atravessem por tunelamento. As consequências são uma
inversão na curva característica corrente x tensão desses dispositivos, como mostrado na -
gura 7.4. Numa pequena região, há uma reversão da curva e neste trecho, a derivada dV /dI
é negativa, correspondendo a uma resistência negativa. Dispositivos como esse podem ser
utilizado em circuitos osciladores ou de chaveameno de altissimas freqüências.
O decaimento radiativo por emissão de partículas alfa, que ocorre em vários elemen-
tos pesados próximos ao urânio também depende do tunelamento. Nesse decaimento, as
130
7.4 Partícula em Uma Caixa (Poço Quadrado)
partículas alfa são emitidas com energia cinética de cerca de 5 MeV. Como essa energia
é medida longe do núcleo, onde o potencial é nulo, podemos supor que este é o valor da
energia total da partícula alfa dentro do núcleo. Se tomarmos uma partícula alfa com essa
energia se aproximando de um núcleo, por exemplo de Tório (Th), a distância de maior
aproximação, quando toda a energia está na forma de energia potencial, teremos algo da
−14
ordem de 30 F (3,0x10 m). Se considerarmos o raio do núcleo de Th da ordem de 10F,
o valor da barreira coulombiana nessa distância será:
−14 1 Zze2
V (r = 10 )= ' 30 · 106 eV
4π0 r
Como para distâncias menores que o raio nuclear esta partícula alfa está ligada ao núcleo,
e sabendo-se que sua energia total é 5 MeV, para escapar, ela deve tunelar a barreira de
altura máxima de 30 MeV. Embora não seja uma barreira de altura constante como a que
estudamos, o problema pode ser resolvido de maneira análoga, substituindo-se a barreira
coulombiana por uma série de barreiras de pequena largura e alturas decrescentes. Um
cálculo aproximado pode ser feito trocando-se a barreira original por uma barreira média
equivalente. Por simplicidade, vamos tomar uma barreira de altura 30 MeV e largura a
p
=10 F. Neste caso, temos o produto k2 a = 2mc2 Vo a(1 − E/Vo )/~c ' 20 e podemos usar
a expressão aproximada para T:
T ' 10−28
Para encontrarmos o tempo médio para a partícula alfa escapar, devemos estimar qual a
freqüência com que ela colide com as paredes do núcleo. Supondo o potencial constante no
interior do núcleo (esta aproximação é utilizada em muitos problemas de física nuclear), a
energia cinética da partícula alfa no interior do núcleo será constante e dada por Ec = 5−V
MeV, onde V<0 é o potencial nuclear. sabemos que V corresponde a algumas dezenas de
MeV. Tomando V=-5 MeV, temos Ec =10 MeV e portanto o módulo da velocidade da
partícula alfa dentro do núcleo será:
r
v 2Ec
= ' 0.1
c mc2
21
Com o diâmetro nuclear da ordem de 20 F, a partícula alfa colide cerca de 10 vezes por
−28
segundo com as paredes. Tendo uma chance de escapar a cada 10 colisões, em média
28 21 7
ela levará 10 /10 = 10 s ou um ano para escapar. As vidas médias para decaimento alfa
de núcleos nessa região varia muito, mas este valor está mais ou menos no centro da faixa
de valores.
131
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
A sin ka
2
+ B cos ka
2
= 0 (em x = a2 )
A sin − ka
2
+ B cos − ka
2
= 0 (em x = − a2 )
2B cos ka
2
=0
ka
2A sin 2 = 0
É fácil notar que não há nenhum valor de k que satisfaça simultaneamente as duas condições
acima. No entanto, podemos escolher uma das constantes A ou B iguais a zero, e impor,
no termo com a constante não nula, a condição de que o seno ou cosseno se anule:
A = 0 e cos ka
2
= 0 ⇒ ka
2
= n π2 , n = 1, 3, 5...
ka ka
B = 0 e sin 2 = 0 ⇒ 2 = nπ, n = 1, 2, 3, ..
Portanto temos:
k 2 ~2 π 2 ~2 n 2
En = = , n = 1, 2, 3, ...
2m 2ma2
132
7.4 Partícula em Uma Caixa (Poço Quadrado)
~2 d2 Ψ(x)
− = −(Vo − E)Ψ(x)
2m dx2
ou
d2 Ψ 2m(Vo − E)
= Ψ = k2Ψ
dx2 ~2
p
onde k 1 = k3 = 2m(Vo − E)/~. A solução geral dessa equação corresponde a exponenci-
ais reais:
133
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
k2 a
k2 tan = k1 (i)
2
no outro caso, se B − E 6= 0 e C 6= 0, temos:
134
7.4 Partícula em Uma Caixa (Poço Quadrado)
k2 a
k2 cot = −k1 (ii)
2
As duas condições não podem ser satisfeitas simultaneamente. Isso pode ser vericado
somando-se as duas expressões acima, que resulta em:
k2 a k2 a
k2 (tan + cot )=0
2 2
Multiplicando a relação acima por tan k2 a/2, temos a relação tan2 k2 a/2 = −1, o que é
impossível, visto que o argumento da tangente é real. Portanto devemos impor B-E=C=0
e obter a primeira das relações acima, ou impor B+E=D=0 e obter a segunda das relações
mostradas acima. No primeiro caso, substituindo as relações entre os coecientes nas
expressões (I) e (II), obtemos para as funções de onda:
D cos k22a ek1 a/2 ek1 x para x < − a2
Ψp (x) = D cos k2 x para − a2 < x < a2
D cos k22a ek1 a/2 e−k1 x para x > a2
r r !
mEa2 mEa2 p
tan = m(Vo − E)a2 /2~2
2~2 2~2
a
p
multiplicando a expressão acima por
2
e denindo = mEa2 /2~2 , temos:
r
mVo a2
tan = − 2
2~2
As soluções para os três valores mais baixos de E são vistas na gura 7.4. Pode-se
vericar ainda que para estados com E Vo , os valores de E se aproximam daqueles
que encontramos para o poço innito. De maneira análoga procede-se para encontrar as
soluções do segundo tipo. Neste caso, a equação a ser resolvida será:
p
− cot = mVo a2 /2~2 − 2
135
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
1 dV
V (x) = Kx2 ; F = − = −Kx
2 dx
O potencial mostrado na gura 7.3 é típico da ligação de moléculas di-atômicas, como O2
ou N2 . Classicamente sabemos que uma partícula de massa m sob ação desse potencial,
executa movimento harmônico, descrito pela equação:
d2 x K
m 2
= −Kx; ω 2 =
dt m
Cuja solução é:
x(t) = A cos(ωt + ϕ)
1 1 1
E = Kx2 + mv 2 = KA2
2 2 2
p
A amplitude da vibração é xo = 2E/K onde E é a energia total do sistema e pode ter
qualquer valor. No caso quântico, temos que resolver a equação:
~2 d2 Φ(x) 1
− 2
+ Kx2 Φ(x) = EΦ(x)
2m dx 2
136
7.5 O Oscilador Harmônico
137
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
d2 Φ 2mE m2 ω 2 2
K
2
+ 2
− 2
x Φ = 0; ω 2 =
dx ~ ~ m
d2 Φ
+ (β − α2 x2 )Φ = 0
dx2
√
mudança de variável: u= αx:
dΦ du √ dΦ d2 Φ d2 Φ
dΦ d dΦ du
= = α ; 2
= =α 2
dx du dx du dx du dx dx du
d2 Φ 2 d2 Φ β
α 2
+ (β − αu )Φ = 0 ou 2
+ ( − u2 )Φ = 0
du du α
Para encontrar a solução desta equação, antes vamos tentar descobrir o comportamento
assintótico de Φ para grandes valores de u. Neste caso, podemos escrever a equação acima
como:
d2 Φa 2 d2 Φa
− u Φ a = 0 ou = u 2 Φa
du2 du2
podemos facilmente vericar que a solução assintótica Φa (u) é dada por:
2 /2 2 /2
Φa (u) = Ae−u + Beu
calculando as derivadas:
dΦa 2 2
= −Aue−u /2 + Bueu /2
du
e
d2 Φa 2 2 2 2 2 2
2
= Au2 e−u /2 − Ae−u /2 + Bu2 eu /2 + Beu /2 = (u2 − 1)Ae−u /2 + (u2 + 1)Beu /2
du
o que para grandes valores de u se reduz a:
d2 Φa 2 2
2
= u2 (Ae−u /2 + Beu /2 ) = u2 Φa
du
Para que esta solução seja uma solução sicamente aceitável para a equação de Schroedin-
ger, ela não pode divergir para u → ±∞ e portanto devemos escolher B = 0. A solução
da equação de Schoedinger para qualquer valor de u, pode então ser fatorada como:
138
7.5 O Oscilador Harmônico
2 /2
Φ(u) = Ae−u H(u)
onde H(u)deve ser uma função que varie lentamente para u → ±∞, ou seja: cresça mais
u2 /2
lentamente que e de modo que no produto acima, para grandes valores de u prevaleça
o comportamento assintótico que foi obtido. Calculemos agora a derivada segunda desta
função, para obtermos então a equação para H(u):
dΦ 2 2 dH
= −Aue−u /2 H(u) + Ae−u /2
du du
d2 Φ −u2 /2 2 −u2 /2 −u2 /2 dH −u2 /2 dH
2
−u2 /2 d H
= −Ae H(u) + Au e H(u) − Aue − Aue + Ae =
du2 du du du2
dH d2 H
−u2 /2 2
= Ae −H + u H − 2u +
du du2
substituindo na equação de Schoedinger, temos:
dH d2 H
−u2 /2 β 2
Ae 2
−H + u H − 2u + + − u Ae−u /2 H = 0
2
du du2 α
ou
d2 H
dH β
2
− 2u + −1 H =0
du du α
Como sabemos que a solução H(u) deve ser uma função bem comportada, ela pode
sempre ser escrita na forma de uma série de potências. Denindo a expansão de H(u)
como:
∞
X
H(u) = al ul = a0 + a1 u + a2 u2 + ...
l=0
∞
dH X
= lal ul−1 = a1 + 2a2 u + 3a3 u2 + ...
du l=0
∞
d2 H X
= l(l − 1)al ul−2 = 2 · 1a2 + 3 · 2a3 u + 4 · 3a4 u2 + ...
du2 l=0
X X β X
l(l − 1)al ul−2 − 2u lal ul−1 + ( − 1) al u l = 0
α
139
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
ou
∞ ∞
X
l−2
X β
l(l − 1)al u + − 2l − 1 al ul = 0
l=0 l=0
α
na primeira somatória, os dois primeiros termos são nulos. Podemos redenir os índices
trocando l →l+2 de modo que a equação acima ca:
∞ ∞
X
l
X β
(l + 2)(l + 1)al+2 u + − 2l − 1 al ul = 0
l=0 l=0
α
ou
∞
X β
(l + 2)(l + 1)al+2 + ( − 2l − 1)al ul = 0
l=0
α
para que esta expressão seja nula para qualquer valor de u, devemos impor que os
l
coecientes de u sejam nulos e então obtemos a seguinte relação entre os al :
β
α
− (2l + 1)
al+2 = − al
(l + 1)(l + 2)
com esta expressão, dado a0 podemos calcular todos os outros coecientes pares. Dado
a1 podemos calcular todos os ímpares. A solução H(u) pode então ser dividida em duas
séries distintas:
a2 2 a4 4
Hp (u) = a0 (1 + u + u + ...)
a0 a0
e
a3 2 a5 4
Hi (u) = a1 u(1 + u + u + ...)
a1 a1
Com H(u) = Hp (u) + Hi (u). Resta então vericar se o comportamento da série obtida,
para grandes valores de u, respeita as condições necessárias. Para isso, veriquemos o
comportamento das razões al+2 /al para grandes valores de l:
β
al+2 − (2l + 1) 2
lim = lim α =
l→∞ al l→∞ (l + 1)(l + 2) l
esta razão de coecientes, para grandes valores de l, é idêntica à mesma razão na expansão
u2
em série de potências da função e :
2 u4 u 6 ul ul+2
eu = 1 + u2 + + + ... + l + l+2 + ...
2! 3! ( 2 )! ( 2 )!
140
7.5 O Oscilador Harmônico
al+2 ( l )! ( l )! 1
= l 2 = l 2 l = l
al ( 2 + 1)! ( 2 + 1)( 2 )! 2
+1
que para grandes valores de l é idêntica à razão que obtivemos para os coecientes das
funções Hp e Hi . Embora para pequenos valores de l os coecientes sejam diferentes,
quando queremos comparar o comportamento dessas funções para grandes valores de u,
os termos com pequenas potências de u (pequenos valores de l ) não são importantes e
u2
portanto, vericamos que para grandes valores de u, H(u) ∼ e . Portanto,
2 /2 2 /2 2 2 2 /2 2 /2
lim Ae−u H(u) = Ae−u (a0 eu + a1 ueu ) = a0 Aeu + a1 Aueu
u→∞
β
− (2n + 1) = 0 ou β = (2n + 1)α
α
substituindo as expressões para α e β na exressão acima, obtém-se:
2mE mω
2
= (2n + 1)
~ ~
ou
1
En = (n + )~ω, n = 0, 1, 2, 3, ...
2
que corresponde à quantização da energia para o oscilador harmônico. As funções de ondas
correspondentes são:
2
n=0: Φn (u) = A0 e−u /2
2
n=1: Φ1 (u) = A1 ue−u /2
2
n=2: Φ2 (u) = A2 (1 − 2u2 )e−u /2
2
n=3: Φ3 (u) = A3 (3u − 2u3 )e−u /2
2
n=4: Φ4 (u) = A4 (3 − 12u2 + 4u4 )e−u /2
2
n=5: Φ5 (u) = A5 (15u − 20u3 + 4u5 )e−u /2
Note que para n par, a função Φ(u) é uma função par e para n ímpar, Φ(u) é uma função
ímpar.
141
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
142
7.6 Caixa Cúbica: Equação de Schroedinger em 3 Dimensões
Tb + Vb Φ = EΦ
b
1 2
T = (p + p2y + p2z )
2m x
e portanto o operador quântico correspondente será:
~2 ∂ 2 ∂2 ∂2
Tb = − ( 2 + 2 + 2)
2m ∂x ∂y ∂z
e a equação de Schroedinger em três dimensões será então:
~2 ∂ 2 ∂2 ∂2 ∂
− ( 2 + 2 + 2 )Ψ(x, y, z, t) + V (x, y, z)Ψ(x, y, z, t) = i~ Ψ(x, y, z, t)
2m ∂x ∂y ∂z ∂t
Facilmente podemos vericar que também aqui, se V não depende explicitamente de t,
podemos separar a solução na forma:
~2 ∂ 2 ∂2 ∂2
− ( 2 + 2 + 2 )Φ(x, y, z) + V (x, y, z)Φ(x, y, z) = EΦ(x, y, z)
2m ∂x ∂y ∂z
Consideremos agora um caso simples, o de uma partícula dentro de uma caixa cúbica,
denida pelo potencial:
0 para 0 < x < L
0 para 0 < y < L
V (x, y, z) =
0 para 0 < z < L
∞ f ora da caixa
Aqui também facilmente se verica que como V não depende explicitamente de x,y,z
podemos obter a soluções da equação na forma de um produto de funções, cada uma
correspondendo a uma dimensão espacial. Uma solução possível para este problema é
dado pela função de onda:
143
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
~2 2
E= (k + k22 + k32 )
2m 1
~2 π 2 2
En1 n2 n3 = (n + n22 + n23 ) ni = 1, 2, 3, ...
2mL2 1
3~2 π 2
E111 =
2mL2
O primeiro estado excitado será aquele em que 2 dos n têm valor 1 e um deles assume
2 2 2
o valor 2, com a energia tomando o valor 3π ~ /mL . Existem três estados com essa
mesma energia, descritos pelas funções de onda Φ2,1,1 , Φ1,2,1 e Φ1,1,2 . Quando há mais de
uma função de onda para descrever um mesmo nível de energia, dizemos que esse estado é
degenerado. No caso acima temos um estado com degenerescência tripla.
A degenerescência reete uma simetria do problema. Considerando por exemplo uma
caixa sem simetria cúbica, ou seja com lados desiguais L1 , L2 , L 3 , a solução da equação de
Schroedinger com aplicação das condições de continuidade da função de onda será:
n1 π n2 π n3 π
Φn1 n2 n3 (x, y, z) = A sin x sin y sin z
L1 L2 L3
e portanto E112 6= E121 6= E112 , não havendo portanto estados degenerados, ou seja, a
quebra da simetria do problema removeu a degenerescência.
144
7.7 Exercícios
7.7 Exercícios
1.- Uma partícula está sujeita ao potencial de um oscilador harmônico, cuja função de onda
é dada por:
2 /2~
Ψ(x) = Ae−mωx
(a) Seria a quantidade de movimento uma constante neste estado? Se sua resposta for
positiva, determine o valor da quantidade de movimento. Se for negativa, determine o
valor médio da quantidade de movimento. O que seria obtido em medidas da quantidade
de movimento da partícula neste estado?
(b) É a energia mecânica conservada neste estado? Se sua resposta for positiva, determine
o valor da energia. Se for negativa, determine o valor médio da energia. Que você obteria
numa medida da energia da partícula neste estado?
2
c) Calcule < x > e < x > para essa partícula.
d) Calcule a incerteza na medida da posição da partícula, denida como o desvio padrão.
e) Repita o cálculo de c) e d) para o momento da partícula e verique se o princípio de
incerteza é obedecido neste caso.
2) A função de onda para uma partícula connada numa caixa de largura a é dada por:
145
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
6.- Um átomo do gás nobre kripton exerce um potencial atrativo sobre um elétron não
ligado que varia muito bruscamente. Devido a isto, é uma aproximação razoavel descrever
−10
o potencial como um poço quadrado atrativo de raio igual a 4 · 10 m, o raio do átomo.
As experiências mostram que um elétron com energia cinética de 0,7 eV nas regiões fora
do átomo pode atravessá-lo sem sofrer praticamente reexão nenhuma. O fenomeno é
chamado efeito Ramsauer. Use essa informação para determinar a profundidade (Vo ) do
poço quadrado.
7.- Uma partícula connada numa caixa de paredes impenetráveis e largura L está num
estado cuja função de onda Ψ(x, t) é dada pela combinação linear:
146
7.7 Exercícios
r r
1 1
Ψ(x, 0) = Φ0 (x) + Φ2 (x) + cΦ3 (x)
5 2
onde Φ0 , Φ1 e Φ3 são as autofunções normalizadas do oscilador harmônico. Calcular o
valor numérico de c ? Qual o valor esperado da energia se é efetuada a medida dessa no
instante t=0?
17.- Mostre que um oscilador harmônico com energia
p En = (n + 1/2)~ω corresponde à
amplitude de um oscilador clássico An = (2n + 1)~/mω .
18.- Encontre a constante de normalização (A0 ) para o estado fundamental do oscilador
harmônico.
19.- Calcule a probabilidade de um oscilador harmônico no estado fundamental ser en-
contrado fora da região clássica.
20.- Um elétron está contido numa caixa de paredes rígidas de largura 0.1 nm. a) Desenhe
os níveis de energia até n=4. b) Encontre os comprimentos de onda de todos os possíveis
fótons que poderiam ser emitidos até que o elétron passe do estado n=4 para o n=1.
21.- Um elétron está preso em um poço de potencial innito de 0.3 nm de largura. a) Se
o elétron está no estado fundamental, qual a probabilidade de encontrá-lo a menos de 0.1
nm do lado esquerdo da parede? Repita os cálculos para um elétron no estado n=99. As
respostas são consistentes com o princípio de correspondência?
22.- Se o potencial V é independente do tempo, mostre que o valor esperado de x é
independente do tempo.
23.- Determine o valor médio de Ψ2n (x) dentro de um poço de potencial innito para
n=1,5,20 e 100. Compare esses resultados com a probabilidade clássica de encontrar a
partícula dentro da caixa.
1/L (independente de n, em acordo com a previsão clássica)
147
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
−15
24.- Considere um poço de potencial nito de largura 3 × 10 m que contém uma
2
partícula de massa m= 2GeV/c . Quão profundo deve ser esse potencial para conter três
níveis de energia? (Exceto pelos valores exatos das energias, esta é a situação aproximada
de um núcleo de deutério).
25.- Uma possível solução para o oscilador harmônico simples é:
2 /2
Ψn = A(2αx − 1)e−αx
148
7.7 Exercícios
2 /2
33.- A função de onda para o estado n=2 do oscilador harmônico é A(1 − 2αx2 )e−αx .
a) Mostre que o nível de energia correspondente é 5~ω/2,
substituindo a função de onda
2
diretamente na equação de Schroedinger. b) Encontre <x> e <x >.
2
< x >= 0; < x >= 5/2α
34.- Uma partícula está aprisionada entre x= 0 e L dentro de um poço de potencial
innito. Sua função de onda é uma superposição do estado fundamental e primeiro estado
excitado. A função de onda é dada por:
√
1 3
Ψ(x) = Ψ1 (x) + Ψ2 (x)
2 2
Mostre que esta função de onda está normalizada.
35.- Considere uma partícula de massa m dentro de uma caixa quadrada bi-dimensional
de lado L, alinhada com os eixos x e y. Mostre que as funções de onda e níveis de energia
da partícula são dados por:
2 nx πx ny πy ~π 2
Ψ(x, y) = sin sin ; E= (n2 + n2y )
L L L 2mL2 x
149
7 Aplicações da Equação de Schroedinger
150
8 Apêndice: Constantes Físicas
k = 1, 381 · 10−23 J/K k = 8, 617 · 10−5 eV /K
NA = 6, 023 · 1023 /mol e = 1, 602 · 10−19 C
me = 9, 109 · 10−31 kg me = 0, 5110 M eV /c2
mp = 1, 672 · 10−27 kg mp = 938, 3 M eV /c2
mn = 1, 675 · 10−27 kg mn = 939, 6 M eV /c2
h = 6, 626 · 10−34 Js h = 4, 136 · 10−15 eV s
~ = 1, 055 · 10−34 Js ~ = 0, 6583 · 10−15 eV s
hc = 12, 41 · 10−7 eV m ~c = 1, 975 · 10−7 eV m
1/4πo = 8, 988 · 109 Jm/C 2 c = 2, 998 · 108 m/s
1eV = 1, 602 · 10−19 J σ = 5, 67 · 10−8 W/m2 K 4
151