A Decomposição Imagética
A Decomposição Imagética
A Decomposição Imagética
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
FÁBIO GOVEIA
RIO DE JANEIRO
Março, 2005
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FÁBIO GOVEIA
RIO DE JANEIRO
Março, 2005
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FICHA CATALOGRÁFICA
GOVEIA, Fábio.
A decomposição imagética nas fotografias com pinholes:
A imagem pelo buraco de uma agulha / Fábio Goveia. Rio
de Janeiro, 2005.
xi, 138 f. : il. color.
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FÁBIO GOVEIA
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RESUMO
Este trabalho tem como objeto de estudo a produção de fotografias por meio de
câmeras de orifício ou pinholes. Um aparato despojado que cria possibilidade de
subversão da busca pela representação da realidade de maneira fiel, fato que
esteve presente nos anseios humanos desde os primórdios. As imagens feitas com
pinholes são capazes de fomentar um novo modelo de visão fotográfica, deslocando
o modo de representação: a imagem mais objetiva é aquela que não conta com o
auxílio da objetiva (lente). Para além de seu caráter educativo e lúdico, as fotografias
com pinhole propõem um outro paradigma de visão do mundo. Para comprovar essa
outra forma de ver utilizamos imagens produzidas com latas de leite em pó, caixas
de papelão ou até mesmo um pimentão. O olho humano deixa de ser o único lugar
da visualidade e o fotógrafo passa a ter um trabalho dialógico com a câmera. Mais
que um simples relato desta técnica, a dissertação contempla a produção brasileira
de fotografia com pinholes. Utilizando a internet como corpus, a pesquisa de campo
descobriu, documentou e disponibilizou informações sobre os fotógrafos brasileiros
que usam a rede mundial de computadores para difundir e divulgar a técnica
pinhole.
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ABSTRACT
This work has as study object the photograph production by means of orifice
cameras or pinholes. A deloused apparatus that launches possibility of subversion of
the search for the representation of the reality in faithful way, that was present in the
human yearnings since the beginning. The images made with pinholes are capable
to launch a new model of photographic vision, dislocating the way to represent the
reality: the image most objective is that one that does not count on the aid of the
objective (lens). For beyond its educative and playful character, the photographs with
pinhole consider one another paradigm of vision of the world. To prove this another
form to see we use images produced with milk cans in dust, cardboard boxes or a
red chili. The human eye leaves of being the only place of the visibility and the
photographer starts to have a dialog work with the camera. For beyond a simple story
of this another one technique, this work contemplates the Brazilian photograph
production with pinholes. Using the internet as corpus, the field research aimed at to
discover, to register and it allows the access information on the Brazilian
photographers who use the world-wide-web to spread out and to divulge the
technique pinhole.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me permitido seguir fazendo aquilo que mais gosto: estudar e fotografar. E
por ter me concedido o dom de lutar sempre, mesmo quando tudo parece tão difícil.
À minha mãe e ao meu pai. Exemplos de honradez, sabedoria e perseverança. Aqueles que
não deixarei de pensar e de agradecer um dia sequer. Obrigado por me permitirem existir.
Pai, onde quer que esteja, saiba que este trabalho também é seu.
Aos meus irmãos Paulo, José Carlos, Marcos, Jacimar, Geraldo, Sérgio e Aldacir. Cada um
com seus pensamentos diferentes me permitiram compreender como o mundo é feito de
pessoas distintas. Mas que isso não significa brigas e desavenças.
À minha segunda família: Antônio, Fátima, Luciana e Adriana. Após tantos anos de
convivência espero ter ajudado mais que atrapalhado. Obrigado pela acolhida e por tantas
horas de uso do computador.
Ao grande amigo Fábio. Aliás, mais que um amigo, meu décimo irmão. Generoso e crítico,
inteligente e íntegro, sempre disposto a encontrar uma forma de me apoiar. Sucesso
dobrado para você meu grande companheiro, à sua esposa Francis, grande amiga e pessoa
especial, e ao pequeno Pedro, um dos meus modelos preferidos e um sobrinho emprestado.
Ao meu orientador, André Parente, pela liberdade e pela centralidade imposta ao objeto de
estudo. Seu olhar poupou-me longos dias de dor-de-cabeça. Muito grato.
Às amizades capixabas de Rudson, Hélio, Márcia, Ailton, Júnior, Josiane, Fabrício, Vânia,
Maria Clara, Cristiane... entre tantos outros. Que a cada volta estejam sempre prontos para
sentarmos no mesão do “Teobaldo”, bebermos um pouco e conversarmos muito. Saudades
do Espírito Santo.
E à minha Fabiana, pela atenção com que cuida de mim nesta mais de uma década de
convívio. Agora que vivemos um para o outro espero poder sempre retribuir esse cuidado.
Muito obrigado.
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SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................... 12
CAPÍTULO 1
A pinhole e o desvelamento de um universo paralelo:
Uma outra dimensão imagética ....................................................................... 24
CAPÍTULO 2
Desvendar os aspectos técnicos:
Como funciona a pinhole? ............................................................................... 54
CAPÍTULO 3
A subjetividade na pinhole:
As coisas como medida das coisas ................................................................ 73
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CAPÍTULO 4
Pinhole no Brasil:
Um breve panorama .......................................................................................... 93
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 125
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Universidade Federal do Espírito Santo, tive pela primeira vez contato com as
fotografias produzidas a partir deste processo alternativo. Poder fazer fotos sem a
até por que neste momento já trabalhava profissionalmente como fotógrafo. Usar
uma lata de leite em pó com um ínfimo orifício e capturar uma imagem era algo
trabalho de conclusão de curso sob o título “Vitória Pelo Buraco da Agulha: uma
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fotografia. Fui trabalhar nas redações dos dois principais jornais do Espírito Santo na
com latinhas ou caixas de papelão nunca mais me abandonaram. Nesta busca pela
de pesquisa.
extremos da fotografia. Contudo, a tarefa parecia cada vez mais impossível. Isto por
dois principais motivos: primeiro, porque não encontrava uma produção consistente
caminho tão amplo. O trabalho empírico seria limitado por um espaço temporal em
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trabalho em bases tão movediças e de produzir uma pesquisa datada fez com que
das lentes.
partir do momento em que o foco foi concentrado nas fotos feitas sem alta
bibliográfica acerca deste tema. Era a chance de reunir num só trabalho todas as
mínimo de recursos.
Sendo assim e além dos aspectos pessoais, este projeto se justifica por
ainda mais dois motivos: profissional e acadêmico. Profissional porque acredito que
a prática fotográfica não pode ficar restrita apenas ao “capturar a imagem”. É preciso
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sociedade que não se cansa de produzir e consumir imagens, como afirmou Susan
Sontag (1981). Mas que mantém uma tradição figurativa, apesar de todas as
como predominante desde o Renascimento – mas que permanece refém dos raios
luminosos soa como um desafio aos produtores de imagens de síntese. Não são
de vista.
num trabalho que reúne desde jovens fotógrafos a grandes nomes da cena
do apparatus, as pinholes ganham sempre ares de uma técnica menor. Poucos são
os que se debruçam com profundidade sobre este tema específico, o que imputa um
sempre questões relativas às fotografias com latinhas como uma ferramenta didática
no ensino, seja para crianças ou para adultos. Penso ser esse um erro e o presente
das fotografias com pinholes como um olhar que enxerga o mundo fora das lentes
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c. os pressupostos metodológicos
os seguintes objetivos:
prática que tem no ato de ver um aspecto fundamental, pois o controle sobre as
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bibliográfica, tendo as seguintes categorias como eixo teórico de análise: (1) História
este estudo. Elemento fundante, foi essencial traçar uma história que permitisse
de recursos tecnológicos, como as lentes. Há uma busca por criar um paralelo entre
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primeiros meses de 2004, a fase de coleta de dados. Como pretendia atuar em duas
frentes distintas – a busca por material sobre pinhole em língua portuguesa e traçar
conteúdo sobre pinhole em português. O primeiro passo foi buscar publicações, mas
brasileiros.
fotografias. A partir das limitações impostas pela carência de dados, optei por lançar
trabalho. O corpus da pesquisa foi então constituído pela produção de pinholes que
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capacidade infinita de processar os dados, algo que nem eu nem qualquer outro ser
buscadores não resolveram todo o problema. Mesmo com o apoio deles, o termo
desta gama incontável de páginas virtuais, decidi cruzar as informações via on-line
com pinhole. Somente quando uma informação aparecia com consistência nas duas
busca por trabalhos de Miguel Chikaoka ou Dirceu Maués, em Belém (PA), ou pela
produção do grupo Lata Mágica, de Porto Alegre (RS), somente foi possível devido
ferramenta elementar desta pesquisa, que procura resgatar e valorizar uma técnica
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internet que abordam a questão da fotografia pinhole apenas como fato curioso,
inusitado, do tipo “ver para crer”. Aliás, milhares de homepages citam a pinhole
pouquíssimos são os que mantêm um debate efetivo com esta específica forma de
corpus que delimitei não invalida as tantas imagens que se escondem atrás de cada
que atualmente se produz no Brasil com câmeras de orifício. Isto se deu por força do
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incluídas palestras com fotógrafos até de outros países, como foi o caso da
presença do alemão Jochen Dietrich, que tem um trabalho muito consistente com
percebi a importância futura do trabalho. Muitos dos entrevistados ansiavam por ter
acesso às informações por mim coletadas, numa necessidade de reunir esses tantos
investigação somente foi percebida dentro da pesquisa. E para lançar luz sobre esse
câmeras de orifício.
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busca, portanto, para desvendar os princípios da fotografia com pinholes e criar uma
cronologia desta técnica. Além disso, inicio o debate sobre essa nova visualidade a
correções.
características mais elementares. Assim, o fato de, na maioria das vezes, o próprio
fotógrafo construir sua câmera a partir de materiais simples – como uma lata de leite
fotográfico. Não mais apenas um “apertador de botão”. Também são tratados outros
olho humano deixa de ser a medida das coisas e passamos a perceber o mundo
retratado como se fôssemos uma lata, um ovo ou um pimentão. Ou até mesmo uma
grande torre. Esse é o grande trunfo das pinholes: despertar uma nova visualidade e
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internacional podem ser observados nesta parte do trabalho. Há busca por uma
informações deixa ainda muitas lacunas. Por fim, traçamos um breve panorama dos
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Capítulo 1
“A fotografia tem poderes que nenhum outro sistema jamais possuiu, pois,
ao contrário dos anteriores, ela não depende do fotógrafo”
Susan Sontag
duas décadas, o sentido que se havia dado à imagem fotográfica. Ele buscou a todo
momento encontrar na fotografia não apenas o reflexo desse “espelho” mas também
pouco mais à frente a discussão surge a seguinte questão: por que fotógrafos
1
Neste trabalho, o termo pinhole aparece com significados diferentes. Pode estar sendo utilizado para se referir
ao espaço por onde a luz passa (pin-agulha; hole-furo); ao tipo específico de técnica fotográfica artesanal; ou às
fotografias já produzidas. Quando referido à técnica, pode aparecer também como “fotografia estenopéica”,
nome mais utilizado em alguns países europeus, como Itália, França ou Espanha. Já pinhole é mais utilizado nos
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num universo paralelo dentro da história da fotografia. Este “ver de outra forma”
entra na contramão da história, visto que nunca foi tão difundida a produção de
imagens na sociedade. Para ilustrar isso, basta citar o fato de que a produção de
contato com uma realidade que não foi planejada, que não foi organizada e que
de jogar contra o aparelho (FLUSSER, 2002, p. 75), o fato de estar refém das regras
também faz com que o receio do resultado seja um elemento que não se pode
das imagens com pinhole não podem retornar ao mundo da fotografia tradicional
incólumes. Jamais olharão o mundo sem pensar que há muito mais entre o objeto
de olhos vendados: sabe-se que, mesmo que caia, sentirá o mundo de uma forma
Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil, há predomínio da grafia pinhole, mas também são encontradas citações
com “fotografia sem câmera”.
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livre. Com se fosse um rito de passagem em que o olhar é ensinado a ver de outra
Mas darei um salto para trás na busca pela origem da imagem como
imagem? Tudo o que nos cerca são imagens, e estas se fazem à medida que
do homem, seja qual for a fonte a partir da qual se conte essa história.
“De um modo mais ou menos confuso, lembramos que ‘Deus criou o homem à
sua imagem’. Esse termo, imagem, aqui fundador, deixa de evocar uma
representação visual para evocar uma semelhança. O homem-imagem de uma
perfeição absoluta para a cultura judaico-cristã une o mundo visível de Platão,
sombra, imagem do mundo ideal e inteligível, aos fundamentos da filosofia
ocidental. Do mito da caverna à Bíblia, aprendemos que nós mesmos somos
imagens” (JOLY, 1996, p. 16).
então que não é à toa que os homens já faziam gravuras nas paredes de suas
imagens. Eles poderiam estar tentando, quem sabe, passar também pela posição de
longe, muito longe, mas continua nos intrigando até os dias atuais: das pinturas
história da humanidade.
independente de sua época, e forma uma imagem num ambiente escuro, se faz
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Para Platão o mundo das aparências é uma grande caverna subterrânea onde o ser humano se encontra
acorrentado sem poder mover o pescoço e nem contemplar o verdadeiro mundo (das idéias), de onde as
sombras são projetadas no fundo da caverna. “Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam quer as
sombras vistas são as próprias coisas”. (CHAUI, 1995, p. 40).
3
Imagem de síntese é aquela “obtida através de matrizes numéricas através de algorítimos e cálculos
algébricos. (...) A imagem de síntese é utilizada em videogames, simuladores de vôo, vinhetas, publicidade e em
efeitos especiais no âmbito do audiovisual.” (PARENTE, 1993, p. 284).
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humanidade. Eric Renner (2000) afirma que os homens das cavernas deveriam já ter
pinholes.
formada quando um local escuro é invadido pelos raios luminosos que atravessam
retorno às situações vividas por esses homens poderemos ter uma idéia de como as
Imaginemos que as cavernas onde esses primitivos se abrigavam eram locais com
certo grau de escuridão. Havia uma vegetação que caía nas entradas das cavernas.
imersivos. A situação possivelmente vivida pelos homens das cavernas pôde ser
I climbed a few feet above the floor and turned off the light, again hoping to
draw additional animals to the hollow. After several moments I became aware
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of slight changes in the natural light level within the cavern. For a moment I
thought it was my eyes adjusting to the darkness, but I soon realized the
phenomenon was due to an opening in the opposite wall. Very weak an
wavering light come through a small, cone-shaped hole three feet above the
floor. In effect, the hole end near pitch-black cavern constitute a crude optical
device. The role acted as a lens to cast a fuzzy image of the outside world onto
a well (RENNER, 2000, p. 2-3)
realizada pelo fotógrafo Jochen Dietrich. Ele estabeleceu uma relação entre
ligados à imagem, como é o caso de Dietrich, são surpreendidos pela imagem das
enveredaram no estudo da ótica. Entre os vestígios mais remotos dos estudos das
recentes, porém não menos importantes: remetem a 330 a.C. “Why is it when the
sun passes through quadrilaterals, as for instance in wicker work, it does not produce
orifícios para observar os eclipses solares, evitando assim que os raios do sol
de experiências com pinholes. Um dos maiores foi o egípcio Ibn al-Haitham (965-
1039), conhecido como Alhazen. Ele organizou três velas enfileiradas e colocou um
anteparo com um pequeno furo entre as velas e a parede. Alhazen notou que uma
imagem era formada na parede e que a vela que estava à direita aparecia à
deram origem àquilo que hoje definimos como sociedade da imagem (VIRILIO, 1994,
p. 18).
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Renascimento é o período compreendido entre os séculos XIII e XVI na Europa, quando o pensamento
medieval, dominado pela religião, cede lugar para uma cultura voltada para os valores do indivíduo. Os artistas
buscam uma representação mais fiel possível da realidade, tentando recriar na tela os seres presentes no mundo
visível. (cf. CAVALCANTI, 1968)
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pessoas comuns.
permeia toda a história do homem moderno, justificando assim esse foco de análise.
explicita. O que parece ser apenas um detalhe pode na verdade compor o leque de
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A imagem perspectiva, ou aquela formada segundo as leis da ‘perspectiva artificialis’, é aquela que se produz a
partir de uma convergência das linhas em um plano; em particular as linhas que representam retas
perpendiculares ao plano da imagem convergente em um ponto, o ponto de fuga principal, também chamado de
ponto de vista (cf. AUMONT, 1993, p.216)
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funda uma convenção que determina o modo de ver da maioria da humanidade por
visto pelo homem”6. O olho humano passa a ser a medida de todas as formas de
“homem é a medida de todas as coisas”8, em que o princípio era ser fiel ao visível,
surgem muitos experimentos que buscam tornar o mais real possível a imagem
criada pelos pintores. As obras passam a ter um caráter simbólico de ser como o
6
Ibid., p. 64.
7
Ibid., p. 216-217.
8
Na Antigüidade Protágoras (486 a.C. – 404 a.C.) proclamou essa frase, retomada com muita propriedade para
exemplificar o centralismo no homem durante o Renascimento.
32
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9
Ibid., p. 217.
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demonstrar a perspectiva: ele usou um pequeno orifício como guia, elemento que
também era presente no princípio da câmera escura ou obscura, que há muito fazia
está inaugurada a fase em que a perspectiva artificialis passa a ser “a” perspectiva,
ou seja, a forma como todos deveriam ver o mundo. Para os seus inventores, a
públicos através de livros. Observar imagens formadas através de um furo já não era
novidade para muitos. Mas parece não haver uma concordância de que esses
10
Ibid., p. 218.
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Gemma Frisius (1508-1555) ver o primeiro a publicar uma ilustração de uma câmera
obscura com pinhole (figura 1), isso já no ano de 1545, cerca de 130 anos depois
das considerações feitas por Brunelleschi (RENNER, 2000, p.12)11. Fato curioso
reconhecido por muito tempo como o inventor da câmera obscura. Ele descreveu tal
processo ótico na primeira edição da sua obra Magia Naturalis, ainda no ano de
1558, e ficou por muito tempo com os louros da descoberta. Apesar disso, o que
Giovanni havia descrito não tinha nada de novo em relação ao que muitos haviam
muita publicidade na época e ele foi obrigado a fugir do país para não ser
11
Não há consenso no que diz respeito a quem foi o primeiro a descrever o princípio da câmera obscura. Lev
Manovich (2001, p. 106) afirma que o primeiro relato a respeito data de 1649, com o livro ‘Ars magna Lucis et
umbrae’, em Roma.
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câmara obscura” (MACHADO, 1984, p. 32). O uso dessa tecnologia permitiu que as
portáteis com orifício, sem o auxílio das lentes, que há de se supor eram um fator de
produzir suas obras12. Aliás, Vermmer, protagonista no filme, foi um dos artistas que
realmente utilizou o aparato para pintar suas Vista de Delft (1658) e Menina com
uma Flauta (1665). Algumas anomalias constatadas nos quadros “não poderiam
jamais ter sido imaginados pelo artista”, denunciando o uso do mediador ótico
somente podem ter sido realizadas com o auxilio dessas máquinas, que tinham num
entre os elementos de cenas pintadas. Mas não foram apenas Brunelleschi e Alberti
12
No esforço de produzir obras com mais velocidade, já que seu mecenas exigia ser retratado constantemente, o
artista holandês Johannes Vermmer, protagonista do filme ao lado de sua musa inspiradora, adquire uma
câmera obscura. O objeto, contudo, é mantido escondido, deixando transparecer um preconceito por pinturas
feitas com o aparato (cf. MOÇA com brinco de pérola [Girl With a Pearl Earring], Peter Webber, Holanda, 2003).
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que desenvolveram as primeiras máquinas de visão. Outros dois nomes de peso são
interessante elemento a ser analisado que surge com a invenção dessas máquinas
com pinholes para determinar uma nova forma de ver e representar o mundo, as
relações com o tempo e o espaço também se transformaram. Pela primeira vez foi
das tecnologias na atitude de representar o visível é tão intenso que deixa de ser um
105). Apreender o tempo e o espaço havia se tornado algo possível. Sem dúvida, a
eram pinholes, fato que muitos historiadores não contemplam e suas análises
mundo foi alterada quando do surgimento das primeiras próteses da visão. Com a
irrupção da Modernidade, vemos findar aquilo que Paul Virilio chama de “era da
pintura, gravura e arquitetura. O passo seguinte seria dado com um mergulho ainda
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óticas, o caráter divino e único daquilo que o artista via e transformava em elemento
de observação de outrem mantinha a “aura” daquilo que não pode ser tocado,
século XIII.
cada uma das duas formas de interpretação do real – pintura e fotografia – foi
(in)tenso. O desconcerto social gerado pela fotografia pode ser calculado nas
palavras de Walter Benjamin, quando cita o jornal alemão Leipzig Anzeiger, que
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critica o “sacrilégio” que o novo invento comete ao inscrever a imagem num suporte,
momento marcado pela chegada dessa nova forma de interpretação e até mesmo
pecaminoso desafio ao princípio divino da imagem, para outros foi o elemento que
passagem fundamental no regime das imagens que levou Barthes a precisar que ‘é
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que não podemos dizer que os elementos essenciais que permitiram a chegada da
tempo” (LOPES, 1996, p. 2). Vários estudiosos entendem que pelo menos um século
Como descrito no item 1.3 deste trabalho, as informações sobre o sistema ótico e
“questão de tempo”, por que justamente em 1839 esse “tempo” havia chegado? Não
40
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São Carlos (atual Campinas), no ano de 1833, Hercules Florence desenvolveu uma
experiência pioneira no campo da fotografia. Por estar longe de Paris, capital cultural
naquela época, o francês radicado em terras brasileiras viu anos mais tarde ser
1996, p. 2).
retratos. A redução das dimensões teve como conseqüência uma redução dos
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custos e uma baixa nos preços. Mandar pintar o retrato deixara de ser um privilégio
retratos.
trabalho executado pelos artistas de então. Tal é a estagnação que, em 1786, Gilles-
Contudo, a procura crescente e o pouco tempo de trabalho na obra, fazia com que
as imagens acabassem tendo quase que uma mesma base: havia pouca diferença
técnicos suficientes, está posta uma conjuntura formada pelo aparecimento de uma
massa ávida por imagens e com recursos financeiros. E esses são fatores tão ou
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série que se apropriaram das técnicas do novo invento e pulverizaram imagens por
ligação estreita com o consumo de massas. “Certo (...) é que o invento deu à plebe a
alguns anos – talvez uma década – para se consolidar, ele estava presente desde o
mais citados dos pioneiros da fotografia e, assim como os irmãos Lumiére com o
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44
sociedade imagética.
realidade da qual ela era produto serviu para ampliar ainda mais o impacto da
permearam essa fotografia primeira. O aspecto mágico do novo invento era muitas
felino era colocado no local destinado a quem iria posar. Examinando a íris dos
Com a íris fechada tínhamos fotografia, caso contrário mandava o cliente para
casa à espera de melhores dias! Para esta prática engenhosa o público não
procura a explicação racional, o que passa para a memória coletiva é o insólito
da situação imediatamente associada às práticas de feitiçaria onde era vulgar a
presença do gato (LOPES, 1996, p. 5-6).
negócio. Passado o espanto inicial, a fotografia ganha cada vez mais espaço na
imagem reproduzida, ainda que tivessem que pagar muito caro e passar horas
materiais utilizados. O alto preço fazia com que as imagens produzidas com
daguerreótipo tem uma outra característica que acabou por definir sua decadência:
as chapas metálicas iodadas que eram colocadas sob a ação da câmera obscura
13
Processo patenteado em 1841 por William Henry Fox Talbot pelo qual se utilizavam negativos sobre o papel.
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de imagem: estava criado o retrato carte de visite (que media aproximadamente 6x9
cm). A redução dos custos a partir dessas medidas, tomadas principalmente por
Eugene Disdéri ainda na década de 1850, provocou uma verdadeira “febre do retrato
campo de atuação dos fotógrafos. Junto a essa evolução, cresceu também o debate
apropriavam das novas técnicas para representar o real com mais objetividade.
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começam a ganhar espaço entre os fotógrafos. Por volta de 1870, a duração das
às primeiras imagens fixadas por Nièpce por volta de 1829 – demandavam cerca de
mais sensíveis permite fotografar com câmeras que não tinham objetivas: apenas
(DIETRICH, 2000, p. 140). Sendo assim, a pinhole não foi somente um elemento
objetividade intrínseca ao uso de lentes ainda no século XIX está Peter Henry
Emerson.
Durante algum tempo, ela [a pinhole] foi o dispositivo predileto, pois não tinha a
abundância de detalhes presentes no hiper-realismo da fotografia normal,
característica que, vale a pena lembrar, era criticada pelos fotógrafos-artistas
da época. Sobretudo quando passou a ser combinada com processos como a
goma bicromatada, a impressão em pigmento ou óleo, a pinhole se aproximou
dos resultados obtidos pelo impressionismo, a pintura mais avançada da
época. Dessa forma a fotografia parecia provar sua capacidade de produzir
arte, dignificando um meio até então considerado como uma técnica
meramente artesanal (DIETRICH, 2000, p. 140).
conhecimento acerca das pinholes levou Lord Rayleigh (John William Strutt) a
avançar na linha de Petzval e conquistar, em 1889, o Prêmio Nobel. “For ten years,
Rayleigh worked with pinholes formulas, hoping that pinhole apertures could be
(RENNER, 2000, p. 16). Sua tabela foi resultado de um trabalho tão intenso que é
utilizada até hoje. Petzval também foi um dos primeiros a estudar as lentes.
da arqueologia”. Petrie utilizou câmeras artesanais que foram construídas por ele
amplitude dos usos da câmera fotográfica pinhole que a questão não pode ficar
14
Ibid., p. 44.
48
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15
O aparecimento da placa seca , dos aparelhos portáteis de manuseio
simplificado, e da emulsão sobre filme e a redução do tempo de pose operam
uma verdadeira revolução técnica e colocam a prática da fotografia ao alcance
de um público mais amplo, modificando hábitos sociais e criando novas
expectativas. (...) Em 1888 o americano George Eastman lança seu primeiro
aparelho fotográfico em forma de caixa – Kodak – cujo slogan era: “Aperte o
botão; nós fazemos o resto”. Daí em diante o mercado de aparelhos e
materiais irá suplantar progressivamente o comércio de imagens. O grande
público não compra mais fotografias e sim o meio de produzi-las (MELLO,
1994, p. 29-30)
como arte.
15
Nome dado à chapa de gelatina, já que era utilizada a seco, ao contrário das chapas que eram usadas até
então – de colódio – que eram quase sempre expostas logo após a preparação, ainda úmidas.
16
Ibid., p. 31.
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de arte com as pinholes, que foram utilizadas por muitos pictorialistas, tais como
pinholes não utilizarem lentes proporcionava um custo inferior, o que facilitava ainda
descartável que continha uma câmera, placas secas e material para revelação
pinhole. Entre as empresas que fabricaram esse tipo de aparelho fotográfico estão a
Dehors & Deslandres, primeira pinhole comercial feita na França; a americana Glen
numa das maiores empresas do mundo17. Apesar de não ter sido tão influente no
de uma história paralela da fotografia, e que muitas vezes é esquecida, seja pela
pinhole. Ainda dentro da linha historicista adotada, as fotografias com pinholes foram
fotográficos cada vez mais rápidos e o surgimento de uma cultura imagética de alta
17
Ibid., p. 48-51.
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51
vezes é deixado de lado nas análises históricas está no centro deste estudo: o que
com o paradigma que por tantos anos foi buscado. Não foi por acaso que as lentes –
artista. Este é o principal motivo por que muitos teóricos definem o movimento como
que mais causa impacto é a tentativa de não usar objetivas – sejam para corrigir
interessante que tem passado ao largo da maioria das discussões sobre pinhole. A
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pinhole das imagens que eram vistas com as câmeras obscuras desde a
quando a câmara obscura era utilizada apenas para observação de eclipses; para
conhecer o real visível como ele era; ou para representar esse real fidedigno na
diferencia a técnica da foto com pinhole das imagens trabalhadas desde o princípio
pinholes reside não apenas na ausência da objetiva, mas na junção deste aspecto
52
53
com a existência do suporte sensível. Deste modo, estão postos os dois elementos
que formarão uma corrente fotográfica pouco investigada, mas que tem uma
fotografia com pinhole se constitui no momento em que esse tipo de imagem ganha
espaço como fotografia natural. E pelo fato de as objetivas terem sido deixadas de
artificialis. Nada, então, mais subjetivo que a fotografia com pinhole. Talvez até de
humano, mas sim a do objeto (a câmera fotográfica – pode ser qualquer “coisa”
vedada da luz, tal como uma caixa de papel, uma lata, uma casca de ovo, uma bota
53
54
Capítulo 2
câmera obscura esse ambiente imersivo de imagens, que permite à pinhole inserir
essa específica forma de ver o mundo, ainda que, tal como nos tradicionais meios de
também use a câmera obscura. Contudo, ela não o faz de um modo inocente ou
54
55
possibilidade de ter um espaço contendo imagens de uma maneira ampla que surge
apropriar desse aspecto. Contudo, a modernização fez com que o interior da câmera
Felizmente com a pinhole isso não acontece, a câmera obscura permanece imersa
em imagens.
muitos que trabalham com pinholes não se cansam de utilizar novos espaços,
55
56
não há limites.
que essa é uma nitidez relativa. Por a imagem ser formada através de um ínfimo
orifício, o problema da distância focal, dentro ou fora da câmera, não está mais
fotógrafo produzirá uma imagem, mais ou menos definida, mas uma imagem. Este
humano a uma construção. Contudo, existem alguns formatos que são sempre
56
57
discriminada a seguir. Além disso, cada câmera obscura irá responder de uma forma
fins didáticos e de categorização para nossa análise, já que algumas das fotos
curvada.
57
58
uma câmera muito usada para realizar fotografias com dois furos ou
estereoscópicas.
realidade da maioria das pessoas. Mas os formatos são mais amplos ainda. Mesmo
nesses cinco itens, o formato da câmera pode ser alterado completamente com uma
18
O cálculo aproximado de efeito que o tamanho da câmera irá proporcionar dependerá do tamanho do material
sensível utilizado. Ex: uma câmera com distância focal de 7cm produzirá uma fotografia “normal” se for utilizado
material no formato 4cm x 5cm. A fórmula aproximada é que a diagonal do papel ou filme deve ser igual ao limite
58
59
lente pelo furo. Uma outra experiência é com a utilização da própria câmera como
material sensível.
das câmeras obscuras, uma sala vedada de luz e com apenas um furo para a
externa vaga livremente no interior da câmera-construção. Outro formato que não foi
abordado na definição acima será tratado no próximo item deste capítulo. Trata-se
variam tanto quanto a criatividade dos designers. Nas infovias da rede mundial de
pinholes19. Renner (2000, p. 183-184) também lista vários fabricantes, mas somente
máximo da câmera para a imagem ser considerada normal. Se a diagonal for maior, teremos uma grande
angular e se a diagonal for menor, estaremos diante de uma tele.
19
Entre os sites interessantes para aquisição de câmeras pinholes destaca-se o http://www.pinholeresource.com,
que possui uma gama impressionante de acessórios e máquinas, incluindo uma Finney Pinhole Field Camera,
médio formato, com o preço de US$ 1.195,00. Uma característica interessante no momento em que as câmeras
digitais com preços acessíveis ganham cada vez mais espaço no mercado.
59
60
câmera que se dá uma das etapas mais importantes desta técnica, já que o mais
de “uma caixa retangular com um diafragma central no lado oposto da tela” significa
a visão mais precisa da realidade. Na verdade, quem trabalha com pinhole observa
passagem de uma quantidade ínfima de luz, a baixa sensibilidade dos papéis torna
ainda maior o tempo de exposição. Entre os efeitos causados pela lentidão está
60
61
distante década de 1850 também se assemelha àquele sentido por quem se propõe
estático diante de uma câmera pinhole demanda uma preparação, assim como os
apoios utilizados nos primeiros ateliês. “Os acessórios desses retratos, com seus
duração da pose, os modelos precisavam ter pontos de apoio para ficarem imóveis”
2000, p. 156-158). Neste ponto, a pinhole é uma re-leitura do trabalho dos pioneiros
da fotografia.
imagem feita com o uso de papel fotográfico. Isso por que o máximo que se
61
62
fotograma.
Eric Renner (RENNER, 2000, p. 78-79). Nestes dois últimos casos, além de um
inovação: a fotografia deixa de ser apenas fotografia para ser um híbrido de imagem
descolados e são fundidos num objeto só. A arquitetura da câmera deixa de ser
e a ampliação das fotografias de maneira rápida, algo que é mais complicado com
62
63
como não existe a lente para corrigir a direção dos raios luminosos, há sempre uma
trabalhar com as pinholes. É que, como a sensibilidade é bem maior do que quando
amplo ainda pode ser desvendado. Para os iniciantes que não têm paciência e nem
tempo para construir uma câmera há uma dica interessante: adaptar um furo no
lugar da lente de uma câmera reflex comum. Isso permitirá o uso do corpo da
nuanças que poderiam passar despercebidas para muitos. Uma nuvem encobrindo
parcialmente o sol, por exemplo, pode criar uma situação completamente nova a ser
registrada pela câmera. Outro aspecto que chama a atenção nas pinholes é
63
64
submeter o material sensível à condições de luz não previstas. Essa opção, também,
ausência destas.
ser o último dos três elementos a ser trabalhado neste capítulo se deve em razão do
orifício é fundamental. O furo de uma agulha, como se fosse uma expressão mágica,
conhecido desde alguns séculos antes de Cristo. E o que significa compor imagens
64
65
vislumbrada, uma vista pura, limpa, sem os controles e corretivos a que estamos
partir de um pequeno orifício estão mais perto daquilo que foi fotografado. Não pelo
se baseia na lei da ótica de que os raios luminosos convergem sempre para o ponto
de foco. Quando esse ponto é um orifício, os raios seguem sua viagem e acabam
formando uma imagem no anteparo que estiver no lado oposto à cena. Essa imagem
é formada invertida. Mas o que nos interessa aqui não é meramente o aspecto
desumanização da fotografia.
65
66
cercaram o mundo da fotografia – e que muitas vezes foi alimentado pelos próprios
qualquer sentido de ser. Mas não que fotografar com pinhole seja mais fácil que com
Segundo, os materiais utilizados costumam ser oriundos do lixo ou de algo que não
tinha mais valor. E terceiro, todas as etapas estão intrincadas, assim como todos os
do ato fotográfico e essa ação demorada permite que o fotógrafo vivencie uma outra
66
67
resumidos num “click” para encontrar ressonância num momento muito mais longo.
Novamente entra em cena o aspecto dialógico das pinholes. Diálogo que contribui
produzir imagens próximas do espaço “real” levou à criação de mecanismo cada vez
mais complexos, tais como os jogos de lentes. Ainda que este aparato tenha tornado
possível visões daquilo que não se poderia ver – microscópios ou telescópios – esse
transparência, de não intervenção, permite o conforto aos olhos humanos: “Isso que
Por isso, os modelos de Hill não estavam longe da verdade quando diziam que
“o fenômeno da fotografia” lhes parecia “uma grande e misteriosa experiência”,
mesmo que se tratasse apenas da impressão de estarem diante de um
“aparelho que podia rapidamente gerar uma imagem do mundo visível, com um
aspecto tão vivo e tão verídico como a própria natureza” (BENJAMIN, 1994, p.
95).
do olhar humano para a visão das coisas. Essa desumanização do olhar surge com
67
68
pequeno furo. Ter foco praticamente infinito, contar com uma distância focal não
e a deixa em exposição durante seis meses (RENNER, 2000; DIETRICH, 2000), ele
não está em busca de uma imagem com verossimilhança a partir do homem – até
porque o “autor” da foto não tem que e nem pode estar o tempo todo controlando o
que esta sendo captado – mas sim num olhar da própria caixa de ferro. Jeff Fletcher,
que utiliza cascas de ovos para criar suas imagens, não busca reproduzir uma visão
das imagens. Contudo, existem muitas fórmulas que permitem ao autor da fotografia
68
69
cálculos matemáticos. Neste item serão descritas algumas das muitas tabelas
criadas desde os pioneiros. Como vimos anteriormente (1.4.3) Joseph Petzval foi um
nos anos 1880, avançou ainda mais. Para além do aspecto matemático, o mais
o furo deve ser proporcional à distância focal da câmera obscura. Quanto menor o
comprimento das ondas de luz dentro do espectro visível pode ser substituído por
um valor fracionado entre 0.5 e 1 e f = distância focal. O cálculo de f/stop (ou valor
do diafragma) pode ser conseguido dividindo a distância focal pelo diâmetro do furo.
tentativa de estabelecer uma tabela que pudesse auxiliar os fotógrafos que usam
pinholes, seguir essas fórmulas apenas vai ajudar a conseguir uma imagem nítida. E
essa definição pode não ser interessante em muitos momentos. Além disso, a
20
sqrt é a sigla de square root of, ou, a raiz quadrada.
69
70
Sendo assim, as tabelas a seguir servem mais de parâmetro para o fotógrafo e são
21
Outras tabelas podem ser consultadas na rede mundial de computadores. Entre os sites está
http://home.online.no/~gjon/pinhole.htm, do próprio Jon Gresptad.
70
71
menor for o orifício, mais nítida será a fotografia. Ledo engano. Quando se fecha
espalhamento da luz que atinge a borda do orifício. Quanto menor, mais se espalha
a luz em vez de seguir em linha reta. O que era para ser um ponto de luz do
tamanho do furo acaba sendo um círculo, maior e menos nítido. Por esse motivo é
computador que executa todos os cálculos e informa o “orifício ideal”, além do tempo
71
72
outras ferramentas. O Pinhole Designer é gratuito e seu download pode ser feito a
72
73
Capítulo 3
A subjetividade na pinhole:
As coisas como medida das coisas
“A pinhole questiona os padrões, reinventa a relação do homem com a técnica, incluindo outras
possibilidades de uso, para além da lógica cibernética, instantânea, presumida como infalível”
Ana Elizabeth Lopes
Luciana Becker Sander
preta de Vilém Flusser. Estar no miolo da construção da imagem e poder fazer parte
tal maneira modesto que torna-se um dos caminhos mais acessíveis na pedagogia
muitos recursos. Bastam apenas um ambiente vedado de luz com um pequeno furo,
73
74
todo o universo fotográfico pode ser explorado indefinidamente, seja por uma
complexa.
instituído, daquilo que se consolida como padrão visual: reproduzir o real sem
da câmera e passa a ser um ponto de vista. Aquilo que a câmera capta é o que
existe naquele ambiente, não no olho humano: há uma outra subjetividade. Para
câmara obscura formada pelo ambiente vedado de luz e com um pequeno orifício,
74
75
ainda mais com as máquinas digitais – e a produção de uma fotografia está sempre
com de seu apparatus. Nada está de prontidão e nem disponível. Na medida em que
realização da imagem fotográfica. Ter domínio também sobre aquilo que Flusser
aparelho, mas uma fase, das mais importantes, da fotografia pinhole. Jochen
Dietrich afirma que “o sistema é tão simples que uma criança é capaz de fazer uma
existam câmeras pinhole fabricadas em série (RENNER, 2000), estas ainda assim
ausência da objetiva modifica o status que Flusser confere ao aparelho. Quem passa
75
76
acordo com possibilidades limitadas, ainda que estas sejam quase infinitas. Com as
dispositivo. Mas, ao mesmo tempo, é a partir dessa incursão que se torna possível
as fotografias tradicionais.
não é mais uma prótese somente, mas um sistema independente que proporciona
76
77
processo de produção fotográfica, mas aquilo que o determina. Isto por dois motivos
principais: primeiro, por que a relação homem-máquina deixa de ser apenas um elo
uma câmera-pinhole, ficando claro que há uma noção de reciclagem muito forte. Isso
e o preço das máquinas faz com que apenas poucos homens as possuam: os
capitalistas” (FLUSSER, 2002, p. 21). De outro lado, a presença de uma pessoa com
uma caixa, com um latão ou com um pimentão dizendo que é um fotógrafo cria um
pertinente relatar uma situação vivida por mim e pela maioria dos fotógrafos que
77
78
incomodado, veio a mim para saber o que estava fazendo – ainda bem que naquele
ano ainda não estava iniciada a temporada de terrorismo, pois poderia até ser preso.
Só acredito vendo”. Semelhante dúvida foi revelada por um guardador de carros que
estava nos arredores. Não é possível passar impune ao ato de fotografar com
imbricam num processo de ação e reação que coloca em xeque qualquer busca pela
pseudo-objetividade.
das lentes objetivas. Dos três mecanismos que compõem o aparelho fotográfico –
luz, material fotossensível e lentes – este elemento é o único que, ao ser modificado
potencialidades do aparelho para agente de uma nova situação. Isto por que as
outras duas partes do tripé estão intrinsecamente ligadas. Elas são as duas pontas
78
79
anteriormente, as objetivas, como o próprio nome diz, opera como uma parede
material com o qual são fabricadas a maioria das lentes – um tipo de cristal – leva o
filtros. E são filtros, que deslocam os raios luminosos no caminho até o material
imagem será estilhaçada, enquanto que com as objetivas serão formados halos em
superfície da objetiva.
distância focal pode variar o campo da perspectiva” (1984, p. 134). Assim também
O mais importante a se destacar é que a pinhole cria uma compressão dos espaços
em cada uma das fotografias a partir do que existe na realidade, sem o intermédio
da objetiva.
22
Imagem obtida pela ação da luz sobre uma superfície sensível, sem passar por uma objetiva.
79
80
mecanismo fotográfico faz com que os dois outros elementos sejam postos em
crivos da objetiva. O filme e a luz têm também suas parcelas nas possibilidades
fotográficas, mas são as lentes que criam um mundo limpo no universo fotográfico.
possibilidades estabelecidas, com as regras, sem saber o que está na “caixa preta”
estava montando desde o primeiro momento em que viu a cena. Diz-se que é
imagem e preparar a câmera para fazer uma cópia fiel ao que ele imaginou.
em ter uma imagem noturna do Cristo Redentor, assim como ao fotojornalista, que
que busca a imagem mais que perfeita de um sorvete ou a um fotoartista, que monta
a imagem que lhe convém. O lugar da câmera não é mais lugar do olho humano.
[...] as relações que formam o sistema da fotografia pinhole têm uma estrutura
dialógica. Quem cria um imaginário usando uma câmera obscura está inserido
em um diálogo complexo com o mundo (a parte da realidade que ele quer
representar), com sua cultura, que lhe forneceu aquele artefato (o sistema da
câmara obscura), consigo mesmo, pois foi ele que concretizou o sistema
construindo sua máquina, e com o próprio artefato, a caixa. No triângulo
Sujeito-Meio-Objeto (realidade), o meio específico câmara obscura é capaz de
se inserir em qualquer uma das três posições. Sendo um olho artificial, a
câmera obscura representa sobretudo outra subjetividade, vale dizer, cada
máquina construída significa uma subjetividade virtual (DIETRICH, 2000, p.
156).
lugar da visão deixa de ser o olho e invade outros espaços. Por isso, a câmera está
fora do corpo. Não é mais uma extensão da visão, mas uma visão própria e unívoca,
o que demanda um diálogo do fotógrafo com o aparelho, e não mais somente uma
81
82
não podem ser determinadas, o que resulta numa fotografia com elementos não
sombras densas etc. Dentre as surpresas estão até a ausência total de imagem. A
fotografias digitais, nas quais o que não tem “beleza” é deletado imediatamente após
a captura da imagem.
pela objetividade, pois, como constata Machado, “nada é mais subjetivo do que as
82
83
importante. O resultado sempre será uma surpresa e aí justamente que reside uma
discutido em muitas esferas sociais, não apenas nos bancos acadêmicos. E essa
momento marcado por essa produção indiscriminada de imagens, por que discutir a
produção de imagens com pinholes? Por que a potência dessas imagens está no
de irremediável destaque.
reside a maior força da pinhole. A surpresa é a alma da imagem gerada com esta
“Poucos são os fotógrafos, entretanto, que sabem tirar proveito dos acidentes do
acaso para fazer emergir esse inconsciente ótico e arrancar do mundo dos
1984, p. 49).
mundo. “A camara obscura apareceu então como uma arma importante na luta
situação produtiva nas pinholes: a ausência das lentes, o logo tempo de inscrição da
da imagem. Não contar com fatores de correção contribui para a falta de precisão
84
85
nitidamente, como se a realidade da qual fazemos parte não pudesse nos ser
definitivamente”.
exposições de horas para a obtenção de uma fotografia com a pinhole, fato que
A captura daquilo que não faz parte do universo do fotógrafo se torna evidente. O
objeto e o material sensível. Essa intensidade nada tem a ver com o “click” de uma
imagem ganha uma temporalidade diferente, o que torna propenso o acaso e por
ser demorado não altera apenas o resultado final, ou seja, a fotografia. Também o
a sim mesmos. Quando pedi que falassem sobre suas experiências de ficarem
sentados em frente das máquinas durante tanto tempo, não se lembravam de
muito mais que bichos e formigas que não podiam remover de seus corpos
sem se mexerem, de pedras machucando as costas e do sol batendo na cara.
Falaram da dificuldade de manter fixa uma posição do corpo, sobretudo
quando não tinham atentado para essa possibilidade antes de abrirem a
máquina (DIETRICH, 2000, p. 158)
criam uma dificuldade de repetição rápida da fotografia, já que ela se torna resultado
Deixa de ser obrigatório que a imagem seja apenas aquilo que está entre as
margens, mas pode ser justamente o que fica entre as duas partes. Ou pode ser a
fragmentação do objeto, que não se pode conseguir com a fotografia tradicional sem
ao tato do fotógrafo.
86
87
como conter. O mecanismo escorre por entre os dedos do fotógrafo e adquire uma
passa a ser o instante do nascimento. O acaso permite que exista uma espécie de
universo estocástico.
entre uma fotografia de tradição figurativa e uma fotografia quase sem referente,
neste medium. Além disso, o diálogo com as coisas está estritamente ligado à
pelo menos aquilo que não é visível. Para fotografar com pinhole deve-se
fotógrafo com os objetos antes da maquinização deles. O olhar sobre uma casca de
ovo não tem mais a simplicidade de quem joga o lixo fora. Tudo pode ser um
pinhole com cascas de ovos, de Jeff Fletcher (figura 2), os buracos na terra e a
Strooobant, ou até mesmo as imagens feitas por Marcos Kaiser nos buracos abertos
88
89
a câmera feita com botas pretas ou pimentões vermelhos dos alunos do mesmo
fotografia pinhole.
muito próprio de representação do mundo. “Essa troca de olhares, esse diálogo com
o mundo das coisa é algo que está totalmente fora do alcance da fotografia normal”
(DIETRICH, 2000, p. 145). A inclusão deste mundo paralelo muda todo o contexto
do ato fotográfico. Agora não é mais possível tratar de uma busca pela objetividade,
vínculo remissivo de origem (FATORELLI, 2003, p. 33) mas para algo além disso.
Está dada a possibilidade de o homem ser naquilo que nunca fomos enquanto seres
humanos. Isso implica num processo de deformação que em nada lembra a luta
A natureza que fala à câmera não é a mesma que fala ao olhar; é outra,
especialmente porque substitui a um espaço trabalhado conscientemente pelo
homem, um espaço que ele percorre inconscientemente. Percebemos, em
geral, o movimento de um homem que caminha, ainda que em grandes traços,
mas nada percebemos de sua atitude na exata fração de segundo em que ele
dá um passo. A fotografia nos mostra essa atitude, através dos seus recursos
auxiliares: câmera lenta, ampliação. Só a fotografia revela esse inconsciente
89
90
coisa. E esta, como prêmio, oferece ao seu dialogador uma imagem de seu
inconsciente ótico, daquilo que ele jamais poderia ter acesso. Uma troca justa.
Deixar-se estar no lugar de, ser o que não é, ver o invisível aos olhos humanos.
abandono das consolidadas tradições pictóricas que por tantos séculos guiaram o
processo fotográfico com pinholes. A partir desse deslocamento que afasta da visão
tempo em que o homem deixa de ser o referente, ele passa a ser também uma
câmera. Uma câmera viva. Como toda máquina fotográfica é um objeto de produção
alemão Thomas Bachler. Nos anos 1980 ele realizou uma série de fotografias
utilizando o próprio corpo como câmera obscura. O artista cortou vários pequenos
90
91
relaciona com o corpo do fotógrafo: “The Third Eye, pinhole photographs made with
the mouth, using lips as an aperture, film in mouth, standing in front of a mirror, all
a visualidade seja retratada. Experiência parecida foi realizada pelo americano Jeff
Guess, que produziu imagens das mãos a partir de uma câmera feita com a boca e
humano e máquina fotográfica foi o italiano Paolo Gioli, que transformou seu punho
conceitual.
sobre o resultado das imagens produzidas a partir do próprio corpo. Neste ponto, a
do inconsciente ótico. É a cristalização do que não pode ser visível aos olhos
91
92
atrelado ao passado arcaico e primitivo para assumir definitivamente seu posto como
fotografia os modelos mais modernos podem ser mesclados com técnicas da gênese
92
93
Capítulo 4
Pinhole no Brasil:
Um breve panorama
gênese fotográfica. Quase dois séculos depois das primeira imagens, a atividade
“melhor” imagem.
93
94
cultura nacional.
94
95
de Janeiro. “Fascinado, Dom Pedro II, então com 14 anos, compra um equipamento
comparado com os Estados Unidos e com a Europa. Em 1847, quase uma década
após a passagem de Compte pelo país, havia apenas três fotógrafos em todo o
dos motivos para tal discrepância dava-se em função da distância econômica dos
grandes centros. Além disso, o trabalho era praticamente artesanal, o que dificultava
95
96
contexto da modernidade no fim do século XIX. Não por acaso, somente quando o
período da daguerreotipia entra no seu fim que a fotografia parece crescer no Brasil.
96
97
levantar o debate estético nas artes visuais. Sendo assim, e sabendo que o
é de se supor que tenha havido o emprego da técnica também no Brasil. Isto por
que uma das questões mais importantes dos debates na esfera européia e norte-
uso de pinholes neste período no Brasil. Mas o debate e a curiosidade acerca das
temos, em 1903, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, uma mostra coletiva de artes
Club Brasileiro acaba inserindo o debate estético que já vinha sendo travado
discordância, polarizando uma discussão entre os que eram a favor do flou e os que
radicais, redefinindo suas bases estéticas. Man Ray e Lászlo Moholy-Nagy, por
exemplo, foram importantes para libertar a fotografia da câmera, com seus trabalhos
baseados nos fotogramas. Isso nos anos 20 e 30. E debate parecido apenas iria
98
99
primeira metade do século XX da fotografia brasileira ter sido marcada pela busca de
fotograma de José Oiticica Filho e Geraldo de Barros (COSTA & SILVA, p. 84), em
nenhum momento a produção com pinholes foi relevante. Até por que não há
imagens com esse tipo de câmera artesanal. “Como a técnica é elementar dentro da
Este hiato reforça a constatação de que apenas a partir dos anos das
pinhole que aparece como uma oposição à indústria cultural, aos mass-media.
23
FALIERI, Cleber. Em depoimento ao autor, 2005.
99
100
uma conotação estética própria. Vamos estabelecer, com base em alguns autores
relevantes para a retomada da fotografia com pinhole diz respeito aos aspectos
100
101
técnica dentro de um movimento maior no âmbito artístico. Ele cita alguns fotógrafos
que começam a experimentar a técnica com maior intensidade, entre eles Paolo
Gioli, da Itália, Gottfried Jäger, na Alemanha, além dos americanos David Lebe,
optaram por produzir imagens com pinholes pela sua singularidade, pela amplitude
101
102
“câmeras buraco de agulha” foi adotado largamente no país nos anos seguintes
a preocupação de então era com a formação, com a criação de uma visão nova da
3).
orifício, ainda que com algum atraso. A primeira e mais conhecida publicação
Aquela que pode ser considerada uma das precursoras da técnica no Brasil
70. “Em 1976 tomei contato, na Birmingham School of Art Education and Design,
com o processo conhecido marginalmente como Fotografia sem Câmara, cujo fim é
sofisticação das modernas máquinas fotográficas havia criado o mito técnico que
(ALVAREZ, 1981).
102
103
de Regina Alvarez através das oficinas e cursos. Resultado disso é que ela tornou-
que a própria pioneira define como uma técnica em que o fotógrafo “constrói sua
o mecanismo da luz” (ALVAREZ, 1996, p. 16). Miguel Chikaoka, um dos nomes mais
desenvolvimento da fotografia paraense, afirma que Regina Alvarez foi uma grande
fomentadora da técnica.
Ainda que tenha havido outros fotógrafos anteriores a utilizar a técnica pinhole,
foi Regina Alvarez quem primeiro publicou e divulgou a técnica no Brasil.
Incluindo oficinas em várias partes do território nacional nos anos 80. O meu
primeiro contato com fotografia pinhole foi justamente após uma oficina dela no
24
Pará .
era a forma singular de relação da fotografia com o tempo, que ela qualifica como
“dinâmico”. Sendo assim, a própria fotógrafa afirma que trabalhar com pinholes é
24
CHIKAOKA, Miguel. Em depoimento ao autor, 2005.
103
104
Paula Trope teve contato com a técnica no fim dos anos 80 e desde
então sua produção com pinholes assumiu um padrão qualitativo com destaque
alicerce, sendo que seu maior tema são os meninos de rua. “A fotografia é um meio
no vídeo e no cinema, chegando a filmar com uma câmera super-8 equipada sem
lente e apenas com um pequeno orifício. O principal para Trope é a relação temporal
25
Idem, 1981.
26
Idem, 2003.
104
105
Essa estética diferenciada fica evidente nas imagens da artista (figura 3).
observador olha, mais tensa e tênue fica a imagem. “Trata-se de uma fotografia
observador ativo para assumir uma postura quanto à idéia que está sendo
27
Ibid.
28
ibid.
105
106
Habana, Cuba, 1997; Versiones del Sur: Más Allá del Documento, Centro de Arte
Reina Sofia, Madri, 2001 e A Subversão dos Meios, Instituto Cultural Itaú, São
Imperial, Rio de Janeiro, 1997; Pandora X no Centro Cultural São Paulo e Traslados
no Paço das Artes, São Paulo, 1998. Recebeu o Prêmio Estímulo Price Waterhouse
RIOARTE2000.
pinhole no Brasil não foram apenas Regina Alvarez e Paula Trope. No círculo
paulista, dois artistas aparecem com destaque nesta lista: Paulo Angerami e Kenji
obra, não muito conhecida, aparece como uma tentativa de ilustrar a capital paulista
com um olhar distorcido. Já Kenji Ota foi um dos nomes mais importantes da arte
Vandyke Brown, passando pela pinhole. Ele tem uma vertente que pode ser
106
107
pinhole desde o fim dos anos 80. Atualmente ela mora e trabalha em Nova York e
estrela na fotografia pinhole é a luz. Diferente das máquinas modernas que fazem
partes do Brasil também caminharam por vias parecidas. Contudo, o objetivo deste
pinhole como prática constante, mas sim demonstrar que a técnica passou a fazer
ampliar esse resgate histórico e traçar um completo perfil do uso de pinhole pelos
experiências fosse realizada de uma maneira muito mais rápida que em qualquer
107
108
ganhou muito espaço. Uma iniciativa que demonstra o poder de difusão deste tipo
desde 2001 e o grupo definiu o último domingo do mês de abril como o Dia Mundial
da Fotografia Pinhole.
Neste dia único, nós convidamos pessoas de todo o mundo a: 1) deixar por um
instante de lado o mundo altamente tecnológico em que vivemos e participar
desta data, tirando uma fotografia pinhole; 2) dividir seu olhar sobre as coisas,
e ajudar a difundir a rara beleza desta técnica fotográfica histórica (MILLER,
2005)
naquele dia numa galeria do site. Na primeira edição do evento, 315 imagens foram
exibidas e podem ser visitadas no site. Já em 2004, foram produzidas 1.512 imagens
108
109
como o interesse pela técnica teve uma ampliação considerável. No primeiro ano do
acessos. Em 2002 o número subiu para 907.095 visitas e em 2003 passou para
1.268.356. No ano de 2004 foram quase dois milhões de acessos ao site: 1.779.050.
(MILLER, 2005).
difusão, o perfil foi traçado a partir das experiências brasileiras divulgadas na rede
informacional tem sido fundamental para difundir a pinhole e consolidá-la como uma
produção fotográfica com pinholes tem na virtualidade uma potente arma, ao lado
dos meios convencionais, como museus, galerias de arte e oficinas com grandes
nomes.
com destaque para Paula Trope, muitas outras experiências estão sendo
109
110
Vale lembrar que essas categorias não são excludentes e muitas vezes
em que cada qual trabalha o uso das pinholes de uma maneira específica. Enquanto
que para a inclusão social o uso de pinholes passa pela formação social e muitas
educação do olhar a técnica pode ser apenas – e na maioria das vezes é – o início
de um programa educativo mais amplo, que segue com outras técnicas fotográficas.
4.3.1.1 – Foto-cidadania
Walter Benjamin disse que “o analfabeto do futuro não será quem não
sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar” (BENJAMIN, 1994, p. 107). A
110
111
Para este grupo de fotógrafos, mais que uma técnica arcaica, a pinhole
partir do ensino de fotografia, permitir que seja desenvolvida uma cultura imagética
implantou “A Foto na Lata” em pelo menos 35 escolas públicas. Uma das principais
29
RODRIGUES, Simone. Em depoimento ao autor, 2005.
111
112
também como câmera pinhole gigante. No painel traseiro existe um pequeno orifício
2004, p. 6).
Além do ensino fotográfico, o Olhares no Morro busca criar uma rede de empresas
projeto, aproximando-os das várias profissões ligadas à imagem. Mais que ensinar
fotografia, esta experiência visa modificar a realidade local por meio do processo
fotográfico. Os dados mais recentes mostram que entre o final de 2002 e o fim de
2003, quase 150 pessoas participaram do projeto, que já conta com um banco de
imagens produzidas pelos participantes e que estão disponíveis até mesmo para uso
112
113
paralelas. O diretor do projeto é o fotógrafo Miguel Chikaoka, que conta ainda com o
Essa oficina possui dois objetivos principais: primeiro, possibilitar o registro de todas
ministradas pela fotógrafa inglesa Camilla Watson, que trabalha desde 1999 na
(www.meninosdomorumbi.org.br).
113
114
4.3.1.2 – Foto-arte-educação
conjunto de experiências próprias que têm no trabalho com pinholes uma forma
Coordenado por Simone Rodrigues e Patrícia Gouvêa, tem nomes de peso em sua
equipe que realiza oficinas constantemente, tais como Walter Firmo e Denise
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núcleo de estudos sobre a fotografia sem câmera. “Há cerca de 10 anos iniciamos
esse trabalho e percebemos que o interesse pela pinhole tem aumentado com
responsáveis pela vinda do fotógrafo alemão Jochen Dietrich para o Brasil em 2004,
(www.ateliedaimagem.com.br).
Márcia Pinto, o projeto acontece na região de Guarulhos, São Paulo, desde maio de
Pinhole. Para Márcia, “o mais gratificante desse trabalho é poder fazer o público alvo
(alquimianalata@bol.com.br).
Angélica Costa, Janaína Garcia e Roberta Macedo. Existe desde 2000 e a sede do
utilizando materiais de baixo custo, como latas de alumínio ou caixas de sapato, foi
pode ser formatado de diversas maneiras, pois possui uma estrutura modular. As
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RODRIGUES, Simone. Em depoimento ao autor, 2005.
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Morro dos Prazeres e Baixada Fluminense. O projeto “Pinhole” pode ser aplicado em
carreiras, uma imagem com pinholes. Contudo, ainda são poucos os que adotam a
técnica como forma de expressão, seja como trabalho artístico ou apenas como um
no início dos anos 80, um contingente cada vez mais expressivo passou a trabalhar
educação.
e inseri-la na parte interna da margem, deixando de ser apenas uma forma simples
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Brasil, seja pela relevância estética do trabalho, seja pela facilidade de acesso à
pinholes na busca por uma compreensão das durações das ações cotidianas. Iniciou
o trabalho com câmeras de orifício em 2002 a partir de uma oficina com Paula
2004, trabalho feito com imagens 360° em janelas ou portas, numa relação do
de Aranha é resultante de uma pinhole com até 20 furos (figura 5). A imagem
2004 (rafjohann@hotmail.com).
fotografia no Brasil desde o início dos anos 1980, Chikaoka mantém uma produção
com pinhole. Até mesmo por dirigir a instituição paraense FotoAtiva, que trabalha
também no exterior. Seu último trabalho, Urublues (figura 6), é composto de uma
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imagem formada por 8 mil pequenas fotos de pinholes, feitas por 120 pessoas no
uma oficina com Miguel Chikaoka. Suas fotografias com pinhole dentro do projeto
Ver-O-Peso foram premiadas no Salão de Arte Pará 2003 (figura 7). Também
como meio de divulgação de seu trabalho. Ainda no ano de 1999, inconformado com
potencialidades perspectivas das fotografias feitas com câmeras de orifício (figura 8).
(pinhole@eba.ufmg.br).
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diferencial desta técnica. Uma das ações de grande valia para o surgimento de
novos fotógrafos que trabalhem com pinholes foram os ciclos de oficinas ministradas
(simone@ateliedaimagem.com.br).
Alegre pode ser considerado um dos mais relevantes no cenário atual de produção
com pinhole no Brasil. Guilherme Galarraga, Maisa del Frari (figura 9), Paula Biazus,
Pedro Araújo e Rafael Johann fundaram o grupo em 2001 após participarem de uma
oficina ministrada pelo fotógrafo Jochen Dietrich. O grupo possui um trabalho autoral
técnica a pessoas com menor poder aquisitivo. Entre o trabalho mais expressivo do
expostas nas janelas dos veículos de transporte coletivo de Porto Alegre durante o
fotografia, Neide se utiliza da técnica pinhole para buscar vestígios daquilo que já
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vista, em diferentes ângulos, num mesmo espaço de tempo, para um mesmo objeto.
Ela aparece no cenário paulista como um dos nomes mais interessantes (figura 10)
(neidejallageas@jallageas.art.br).
material autoral e de um trabalho sério de “pensar a técnica”. Ele já veio várias vezes
ao território brasileiro e ministrou oficinas em vários estados, entre eles Rio Grande
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
técnica fotográfica, outras vezes com a história dos fotógrafos, quando, na realidade,
ela abarca em seu objeto de investigação essa e outras histórias” (KOSSOY, 2002,
p. 146). Mesmo tendo corrido o risco ou até mesmo cedido, em algumas vezes, à
de se destacar que desde o início deste trabalho este foi um aspecto sempre a ser
maléfica é admitir que este trabalho é apenas um olhar sobre a produção imagética
findar essa dissertação, ainda há muito trabalho. A tentativa, espero que tenha
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formação de uma consciência crítica sobre as imagens. Num país com índices ainda
que fica circunscrito ao universo daqueles que têm condição financeira privilegiada.
as pinholes para dar esperança a essas pessoas que não têm chance de um futuro
melhor. Muitos fotógrafos já foram formados nesses grupos. Aliado a esse aspecto
com o objetivo de trabalhar com arte-educação. Esta categoria não exclui a outra,
mas não possui a especificidade de trabalhar como projeto de cidadania. Pode ser
forma típica com que os brasileiros lidam com a técnica pinhole. Um modo muito
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Mais que criar uma tabela com quem produz o que com pinholes no
Brasil, este trabalho procurou lançar luz sobre um debate: que outra visualidade é
percebe-se que a grande diferença entre as imagens feitas com câmeras artesanais
olho humano, mas sim a ter uma visualidade própria, uma subjetividade específica.
observador pudesse ver como se fosse uma caixa de papelão. Diferente de observar
por isso deve estar sempre nítida e enquadrada, as imagens pelo furo de uma
agulha não possuem compromisso com essa nitidez – apesar de uma imagem clean
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imagens naquela bem comportada que agrada aos olhos. Mesmo quando há
imprevisibilidade.
surpreende mais que a questão temporal das fotos com câmeras de orifício. O
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REFERÊNCIAS
AZZI, Tales. Filme x Digital. Revista Fotografe Melhor, São Paulo, ano 8, n. 86. p.
36-46. Nov. 2003.
BELLOUR, R. A Dupla Hélice. In: PARENTE, A. (Org.). Imagem Máquina: A Era das
Tecnologias do Virtual. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993
BRANCO, Sérgio. Carta ao leitor. Revista Fotografe Melhor, São Paulo, ano 8, n. 86.
p. 3, Nov. 2003.
___________. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. V.1. São Paulo: Ed. 34, 1995
126
127
GOVEIA, Fábio. Vitória pelo buraco da agulha: uma experiência com fotografia sem
câmera. Monografia. Vitória: UFES, 2000.
HARVEY, David. O Fordismo. In: A Condição Pós Moderna. São Paulo: Loyola, 9
ed., 2000.
KOSSOY, Boris, Fotografia e História. 2 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
127
128
MALINI, Fábio. Fuga dos meios. 2002. 146 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2002.
MILLER, Tom et al. Dia Mundial de Fotografia Pinhole. 2005. Disponível em:
www.pinholeday.com. Acesso em 26 jan. 2005.
128
129
PETER, Jorge; SILVA, Verônica Monteiro da. Cadernos do Mestre Peter: um curso
de fotografia na sua essência. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
POLLACK, Peter. The Picture History of Photography. New York: Harry N. Abrams,
Inc., Publishers. 1977.
RÓNAI, Cora. Sorria, você está recebendo um telefonema. Guia para usuários de
celular., p. 5. Jornal O Globo, 20 nov. 2003.
TROPE, Paula. Foco no Buraco da Agulha. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano 21,
n° 1.053, suplemento Domingo, p. 16-18, 7 jul. 1996. Entrevista concedida a Ana
Madureira de Pinho
VASQUEZ, Pedro, Dom Pedro II e a fotografia no Brasil, Rio de Janeiro: Index, 1985.
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ZUANETTI, Rose et. al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Senac: Rio de
Janeiro.
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ANEXO
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Figura 2: Imagens capturadas com cascas de ovos sensibilizadas. Trabalho de Jeff Fletcher.
Disponível em http://www.pinholeresource.com/gallery/fletcher_carton.html.
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Figura 3: Hilton e Felipe. Leblon, 25 de dezembro de 2000. Still do vídeo Contos de Passagem, Rio
de Janeiro. Paula Trope está produzindo vídeos sem o uso de lentes. Disponível em www.meio.art.br
Figura 4: Cotidiano (?). Ana Angélica Costa. O tempo do dia-dia retratado pela pinhole de Ana
Angélica Costa. Disponível em www.projetosubsolo.com
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Figura 5: Mercado Público. Rafael Johann. Fotografia com múltiplos orifícios e parte do trabalho
Visão de Aranha, de Rafael Johann. Disponível em www.ufrgs.br/fotografia/port/05_portfolio/aranha/
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Figura 6: Urublues (detalhe). Miguel Chikaoka. Obra formada por 8 mil pequenas fotografias pinhole
tiradas por 120 pessoas em Belém.
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Figura 7: Mercado de Ferro. Dirceu Maués. Foto premiada no Salão de Arte Pará de 2003.
Disponível em http://geocities.yahoo.com.br/dmaues/pinpb1.html.
Figura 8: Sem título. Cleber Falieri. O fusca em miniatura demonstra a experimentação perspectiva
de Cleber Falieri. Disponível em http://www.imaginabilis.com.br/artcult/pinhole00.htm.
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Figura 9: Mercado Público. Fotografia pinhole de Maisa del Frari, integrante do projeto Lata Mágica.
Figura 10: Vestígios nº 20. Neide Jallageas. O trabalho de Neide Jallageas mescla pinhole com arte
cênica. Disponível em http://www.jallageas.art.br/IMAGENS/INDEX_IMAGENS/index_imagens.htm
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