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Politecnia, Escola Unitária e Trabalho. - RESUMO

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MACHADO, Lucília R. de Souza.

Politecnia, escola unitária e traba- a partir da única direção, e diversificado, porque estruturado a par-
lho. São Paulo, Cortez, 1989. 271 p. tir da hierarquização existente no interior do trabalho coletivo".

O livro Politecnia, escola unitária e trabalho, de Lucilia R. de Ainda nesta primeira parte, para fundamentar melhor a questão da
Souza Machado, tem por objetivo analisar a questão da unificação divisão de trabalho no sistema capitalista, a autora faz uma expo-
escolar, procurando entender o seu significado, as condições do seu sição-síntese do desenvolvimento do processo de trabalho capitalis-
surgimento e as suas implicações no processo educacional. Este tra- ta com base na leitura de O Capital, de K. Marx, tendo em vista o te-
balho, segundo Saviani, é oportuno e necessário, tendo em vista os ma central da unificação escola e trabalho.
estudos e discussões que se desenvolvem hoje em torno da elabo-
ração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No segundo capítulo, Lucília aborda a proposta liberal, em que se
pretende realizar a unidade nacional sob a hegemonia burguesa, su-
Para uma visão geral desta obra, verifica-se que a autora procurou bordinando-se aos ditames do processo de divisão capitalista do tra-
contemplar o processo de transformação da instituição escolar, co- balho. Assim, surge também uma nova concepção de educação e de
mo parte do processo de transformação do capitalismo; o significa- unificação escolar, que tem por finalidade o desenvolvimento multi-
do da constituição dos modernos sistemas nacionais de ensino; a lateral do indivíduo.
importância e as limitações apresentadas pelas reformas escolares;
o processo de constituição de propostas divergentes e a atuação Segundo a autora, esta unificação escolar "só é possível à medida
concreta das forças sociais em luta através dos movimentos liberais que forem eliminadas as condições geradoras de diferenciação e de
e socialistas. desigualdade social".

Desta forma, Lucília desenvolve, no primeiro capítulo, um estudo so- Os pressupostos teóricos apresentados por Lucília sobre a proposta
bre as conseqüências escolares da diferenciação social impulsiona- liberal estão fundamentados, principalmente, em Émile Durkheim
da pelo desenvolvimento do capitalismo, que teria como uma de (1858-1917), que considerou a divisão do trabalho como uma re-
suas características o processo simultâneo de diferenciação e de gra imperativa de conduta.
significação social. Assim, a escola, como parte deste processo,
também tende a se diferenciar e a se particu/arizar, tornando o siste- No que se refere à diversidade pedagógica, Durkheim formula, ain-
ma de ensino uma estrutura em complexas graduações. Entre os di- da, o princípio da escola única diversificada, ao relembrar o duplo
versos tipos de ensino, esclarece a autora, o problema nevrálgico es- aspecto da educação em cada sociedade: uno e múltiplo.
tá no nível médio como uma "espécie de nó, no centro da contra-
dição: é profissionalizante, mas não é; é propedêutico, mas não Por outro lado, a autora apresenta os princípios filosóficos e pedagó-
é", por não existir, obviamente, clareza nos seus objetivos. gicos da diferenciação escolar, baseados em Ducos (1933), que pro-
cura deixar explícita a idéia de escola única; Luzuriaga (1934), que
Sobre este aspecto, Lucília mostra que "a burguesia elabora, então, defende, também, a escola única, comparando-a com a université
a sua concepção de sistema educacional: único, porque organizado imperiale napoleônica, uniforme e centralizada; Durkheim, que dis-

Em Aberto, Brasília, ano 8, n. 4 1 , jan./mar. 1989


corre, também, sobre a função homogeneizadora e diversificadora Nesta mesma Instituição, Marx chama a a tenção dos operários para a
da educação, para caracterizar este processo. importância da educação, cuja reivindicação compreendia três as-
pectos: educação intelectual, educação corporal (exercícios) e edu-
Nos capítulos três e quatro, Lucília explana amplamente sobre a cação tecnológica.
proposta socialista de unificação escolar, esclarecendo que, en-
quanto a burguesia procurava fundamentar, teoricamente, sua pro- A autora expõe sobre a educação politécnica na visão de Marx, que
posta de unificação escolar, o proletariado encontrava em Marx e mostra a tendência histórica do desenvolvimento da sociedade, sem
Engels os formuladores dos princípios de sua concepção de escola desconsiderar as diversas facetas do homem.
única do trabalho. Além da reivindicação liberal da educação públi-
ca e gratuita para todas as crianças, Marx e Engels propugnam, no Por outro lado, Lucília analisa, ainda, a proposta socialista de unifi-
Manifesto do Partido Comunista de 1848, pela adequação do cação escolar, ressaltando as diversas discussões que se seguiram à
sistema educativo ao processo de produção material. Estes autores, revolução na URSS, voltadas não apenas para a crítica da escola
esclarece Lucília, não escreveram nenhuma obra especificamente burguesa, mas principalmente para busca de novas alternativas.
sobre educação, mas quando trataram deste assunto foi no sentido
de levantar um questionamento crítico do pensamento liberal-bur- A pesquisadora relata e analisa as idéias de pensadores como Lênin,
guês sobre a realidade educacional. Gramsci, Pistrak, Manacorda, B/onsky, Bogdonov, entre outros,
apresentando detalhadamente seus aspectos congruentes e diver-
Sobre este aspecto, a autora enfatiza que Marx e Engels concebiam gentes.
as atividades de trabalho e educação como integrantes de um úni-
co processo, em que se articulava teoria e prática. Quanto à chama- No quinto capítulo, a autora descreve as características específicas
da educação politécnica, acreditavam que seriam atingidos três que o problema assumiu em diferentes formações sociais do modo
objetivos: intensificação da produção social, a formação de homens de produção capitalista, enfocando os momentos históricos e os
plenamente desenvolvidos e a obtenção de poderosos meios de confrontos ideológicos no processo de unificação escolar, ocorridos
transformação da sociedade capitalista. nos seguintes países: Alemanha, França, Itália, Estados Unidos, Es-
panha e Brasil.
Para esta transformação socialista, esclarecem Marx e Engels, "o
proletariado, através de um movimento de luta de c/asse, alcançaria No caso específico do Brasil, Lucília mostra que a experiência da uni-
o seu objetivo por meio de uma revolução e de uma expropriação ficação escolar não possibilita por si a eliminação da diferenciação
dos expropriadores ". Deste modo, o socialismo deixaria de ser utópi- entre propedêuticos e profissionais. As pressões sociais foram tan-
ca e se tornaria científico, conclui a autora. Nestes dois capítulos, tas que mesmo a idéia de eliminação dos ramos não vingou, pois
Lucília mostra que o princípio unitário da proposta socialista de uni- veio a Lei 7.044/82 e suprimiu o caráter compulsório e universal de
ficação escolar é o trabalho, e que o ensino politécnico é a forma de profissionalização, tornando-a facultativa aos estabelecimentos de en-
contribuir para o desenvolvimento multilateral do indivíduo. sino. Na realidade, apesar das tentativas de unificação, permane-
cem grandes desigualdades de acesso aos diversos graus de ensino.
Nas chamadas Instituições aos Delegados do Conselho Provi-
sório, Marx (1866) ressalta, ainda, a importância das leis gerais do No último capítulo, Lucília expõe as perspectivas divergentes no
Estado, como forma do proletariado conseguir se beneficiar de me- meio da luta dos trabalhadores pela escola unitária, em que apare-
didas educacionais. cem por um lado os anarquistas, que denunciam a falácia da escola
pública capitalista, posicionando-se contra a concepção da unifi- Marx e Engels, que preconizavam a escola única do trabalhador, ou
cação escolar. Para estes, o direito ao ensino não pertence nem ao seja, a escola do futuro. Neste sentido, Marx enfatiza que "a apren-
Estado, nem à família, mas sim às comunidades naturais e sociais, dizagem fundamental é, portanto, a da própria práxis revolucioná-
como sindicatos e organizações populares. ria ".

Assim, os anarquistas vislumbram uma escola de classe autônoma, Estes princípios, segundo Lucília, foram tão amplos e fundamenta-
que tivesse liberdade na sua organização e totalmente desvinculada dos que ainda hoje permanecem como referência básica e ponto de
do Estado. partida para todos aqueles que se interessam pelo problema.

Outra perspectiva elaborada refere-se a uma proposição reformista A autora chama a atenção para a importância deste último capítulo,
e gradual da escola, que evoluiu da proposta liberal de unificação es- que ela considera particularmente atual, porque fornece subsídios
colar, com base nas discussões do movimento operário. Esta propos- importantes para mudança da educação brasileira.
ta política consiste na passagem gradual do capitalismo para o so-
cialismo, à semelhança do processo de transformação do feudalis- Portanto, a contribuição teórica apresentada por esta obra ilumina
mo para o capitalismo, entre outras propostas. Mas, para isto, escla- de forma substantiva grande parte das discussões pedagógicas que
rece a autora, seria necessário a conquista do poder, que se daria têm sido travadas na área educacional.
através da luta da classe operária.
Finalmente, convém ressaltar que este livro de Lucília está escrito
No que se refere à educação, a perspectiva reformista procurava dar em linguagem clara e convincente, bem como apoiado em ampla
ênfase a dois pontos: a substituição da escola de c/asse capitalista pesquisa, cujo conteúdo é indispensável a todos aqueles que se inte-
pela educação pública e única para todo o povo e o trabalho como ressam em compreender a escola unitária ou busquem articular a
base fundamental para a edificação de educação socialista. educação com os interesses da transformação social.

A última perspectiva está baseada nos princípios da proposta de Samuel Aureliano da Silva
unificação escolar, de acordo com as concepções elaboradas por TAE/INEP

Em Aberto, Brasília, ano 8, n. 4 1 , jan./mar. 1989

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