Ações Legais No Combate Ao Trabalho Escravo e Seus Reflexos Jurídicos e Sociais
Ações Legais No Combate Ao Trabalho Escravo e Seus Reflexos Jurídicos e Sociais
Ações Legais No Combate Ao Trabalho Escravo e Seus Reflexos Jurídicos e Sociais
Maristela Coppini*
RESUMO
A proposta da pesquisa é apresentar um mapa crono-
lógico, quantitativo e qualitativo, das ações efetivas no
combate ao trabalho escravo no Brasil. Expor a evolu-
ção legislativa, social, cultural que o fenômeno causou
e ainda causa no país e as providências tomadas para
erradicá-lo. Inevitável também é a observação das con-
sequências e do impacto que o fenômeno provoca.
Palavras-chave: escravidão; trabalho degradante; dig-
nidade da pessoa humana; direito do trabalho.
ABSTRACT
The proposed research is to present a chronological
map, quantitatively end qualitatively on the effective
actions to combat slave labour in Brazil. Expose legisla-
tive developments, social, cultural that the phenomenon
has caused and still does in the country and the action
taken to eradicate it. Inevitable also is the observation
of the consequences and the impact that the pheno-
menon causes.
Keywords: slavery; degrading work; human dignity.
labor law.
*
Aluna de graduação do Curso de Direito da Universidade Metodista de São
Paulo.
REVISTA DO CURSO DE DIREITO
Introdução
A sociedade contemporânea tem experimentado alte-
rações nas formas de trabalho, nas suas estruturas e em
sua organização produtiva, como consequência da corrida
capitalista para acumulação material; 1 essa transformação
tem ocorrido com a manifestação declarada da violação de
direitos por meio da desmedida exploração e atos ilegítimos.
A visível taxa de desemprego precariza esse mercado da mão
de obra, deixando-o exposto à exploração desorganizada,
ilegal e, acima de tudo, desumana, falamos aqui do trabalho
escravo contemporâneo.
A herança escravista no Brasil deixou o legado da de-
sigualdade para a construção da sociedade em que vivemos
por meio de diferentes regimes escravistas percebidos por
historiadores em distintas fases após a proibição do tráfico
negreiro, em 1850. Todo o processo de transição do trabalho
escravo para o trabalho livre foi lento, marcado pelas relações
raciais e pela imigração europeia, que ressaltou o rompimento
da cultura escravista e o início do novo ambiente capitalista
que se instalava no país, o que não necessariamente assi-
nalava o trabalho capitalista ou assalariado, como afirma o
sociólogo Adalberto Cardoso em seu ensaio sobre a inércia
social, “Escravidão e Sociabilidade Capitalista”.2
A população recém-libertada não teve influência direta na
estruturação das relações socioeconômicas, os capitalistas pau-
listanos tinham resistência à ideia da mão de obra dos negros
libertados, pois no seu imaginário elitista essa manifestação
somente ocorria por submissão ou ameaça de violência, uma
vez que entendiam o trabalhador escravo como preguiçoso e
privado de “mentalidade moderna”, conceito que contribuiu
1
ANTUNES, Ricardo. O sentido do trabalho. Ensaio sobre a afirmação e
negação do trabalho. 6. ed. 2002.
2
CARDOSO, Adalberto. Escravidão e a sociabilidade capitalista. Ensaio
sobre a inércia social. Novos Estudos, nº 80 mar./2008.
3
GONÇALVES, Vera Olímpia. Dados do Grupo Especial de Fiscalização
Móvel. ESTUDOS AVANÇADOS 14 (38), 2000.
4
Repórter Brasil. www.reporterbrasil.org.br: Acesso em: setembro 2011.
5
Organização Internacional do Trabalho. www.oitbrasil.org.br
6
BIGNAMI, Renato. Trabalho escravo contemporâneo: O SWEATING SYS-
TEM no contexto brasileiro como expressão do trabalho forçado urbano.
http://www.reporterbrasil.org.br/agenciadenoticias/trabalhoescravo.pdf
acesso em: abril de 2012.
7
Ministério do Trabalho e do Emprego. Secretaria da Inspeção do Trabalho.
8
Protocolo de Palermo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/d5015.htm
9
OIT. Convenção 81. www.oitbrasil.org.br/node/457
10
Ministério do Trabalho e do Emprego. Portaria 540/2004. http://por-
tal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BE914E6012BF2B6EE26648F
/p_20041015_540.pdf
11
OIT. Convenção n. 29 Trabalho Forçado ou Obrigatório. www.oitbrasil.
org.br/node/449
12
OIT. Convenção n. 105 Abolição do Trabalho Forçado. www.oitbrasil.org.
br/node/469
13
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. http://pfdc.pgr.mpf.gov.
br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/trabalho-escravo/decreto-
-no-58-563-1966-1
14
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa
Rica) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm
15
DELAMANTO, Celso, et al. Código Penal Comentado. 6a. ed. Rio de Ja-
neiro. Editora Renovar, 2002.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As aulas da disciplina eletiva “Direitos Humanos e Ci-
dadania”, ministradas pelo Professor Mestre Oswaldo Olivei-
ra Santos Junior na Universidade Metodista de São Paulo,
trouxeram o tema “trabalho escravo” à realidade acadêmica;
em toda sua dimensão e indescritível importância para a for-
mação que buscamos no curso. Nos documentários exibidos,
que sempre antecediam os debates, fui apresentada àquele
que inspirou esta pesquisa, “Nas Terras do bem virá” de
direção de Alexandre Rampazzo (RAMPAZZO, 2007), o qual
trazia a questão do trabalho escravo em um Brasil atemporal
e quase silencioso a respeito do assunto. E nesta pesquisa
buscamos tomar conhecimento das formas que nosso país
rompe esse silêncio e se ele atua como deveria, como “mãe
gentil”. Provocação aceita e após doze meses debruçada sobre
a questão, trazemos o resultado dos estudos desse período.
Segundo o Plano Nacional para a Erradicação do Traba-
lho Escravo de 2008, os avanços obtidos até então não foram
suficientes para diminuir a impunidade, garantir empregos e
a reforma agrária nos locais onde o trabalhador é mais vul-
nerável à condição. Considera ainda a Proposta de Emenda
Constitucional 438, que prevê a expropriação de terras nas
quais o trabalho escravo é flagrado, destinando-as à reforma
agrária, um instrumento decisivo na tarefa de erradicar o
trabalho escravo.
Outro instrumento importante é o Pacto Nacional, cujos
signatários se comprometem a não adquirirem qualquer
produto resultante da cadeia produtiva de trabalho escravo,
envolvendo a sociedade civil e autoridades públicas nesse
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Luiza Alberto David; NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. 16. ed. São
Paulo: Editora Verbatim, 2012.