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Papalaqui

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Escola Secundária Anselmo de Andrade

Curso de Educação e Formação de Adultos (Ensino Básico)


Turma – B3 D / Ano Lectivo – 2008 / 2009

Área: Linguagem e Comunicação

Unidade de Competência:LC3B

Critérios de Evidência:
6 – Identificar valores éticos, políticos e religiosos em textos lidos.

Ficha de Trabalho nº _______

Actividade 1 – Leia o texto que se segue e reflica, tendo em conta, as questões


apresentadas.

O PAPALAGUI
O chefe dos índios da ilha de Samoa situada na Polínésía visitou a Europa e
ficou impressionado com o que observou.
Regressado à sua terra fez vários discursos onde contou os costumes e
hábitos do Papalaguí (homem branco de uma forma muito crítica).

O Papalagui mora, como o mexilhão do mar, dentro duma concha dura. Tem
pedras a toda a volta de lado e por cima. A sua cabana assemelha-se a um baú de pedra
posto ao alto; um baú cheio de cubículos e de buracos. É pois nestes baús que o
Papalagui passa a vida.
Há, na Europa, tantos homens a viverem deste modo quantas palmeiras há em
Samoa, ou mesmo muito mais. Alguns hão-de ter, por certo um desejo ardente de ver a
floresta, o sol e a luz; mas isso é geralmente tido por doença a precisar de remédio.
Quando alguém se não mostra contente com aquela vida vivida no meio das pedras,
dizem: «É um indivíduo desnaturado», o que quer dizer: ignora o que Deus destinou para
o homem.
Esses baús de pedra encontram-se em grande número e muito próximos uns
dos outros; nenhuma árvore, nenhum arbusto os separa: encontram-se ombro a ombro,
como homens, e em cada um deles há tantos Papalaguis como numa aldeia de Samoa.
Do outro lado, à distância de uma pedrada, encontra-se uma outra fila de baús,
igualmente ombro a ombro e habitados por homens. Entre essas duas filas há uma
estreita greta a que o Papalagui chama «rua». Essa greta é, às vezes, tão longa como um
rio e coberta de pedras duras. Pode-se deambular dias inteiros entre essas gretas antes
de se dar com uma floresta ou um naco de céu azul. Nunca, no meio das gretas, se vê, na
realidade, a cor do céu. É que em cada cabana há pelo menos um, e por vezes vários
sítios onde se faz fogo, e assim o ar está sempre cheio de fumo e de cinza, como
acontece durante a erupção da grande cratera de Savaii. Esse ar insinua-se pelas gretas,
de modo que os baús de pedra mais altos parecem-se com os limos dos pântanos de
«mangrove», e os homens apanham com terra negra nos olhos e nos cabelos e com areia
dura nos dentes. Mas isso não impede que os homens percorram as tais gretas desde
manhã até à noite.
Alguns sentem mesmo com isso um especial prazer. Em certas gretas reina a
confusão: são as ruas que comportam enormes caixas de vidro onde estão dispostas
todas as coisas de que o Papalagui necessita para viver: panos, ornamentos para a
cabeça, peles para os pés e para as mãos, provisões de comida, carne, alimentos a sério
como sejam os frutos, os legumes, e muitas coisas mais. Tudo ali está para tentação dos
homens. Mas ninguém tem o direito de tirar o que quer que seja, mesmo em caso de
extrema necessidade; para isso é preciso ter recebido uma licença especial e feito uma
oferenda.
Nessas gretas, o perigo ameaça por todo o lado, pois não só os homens
caminham em tropel, como também circulam em todas as direcções ou se fazem
transportar em grandes baús de vidro que deslizam sobre rampas metálicas. O barulho é
enorme.
Resumindo: baús de pedra com os seus muitos homens, fundas gretas de
pedra correndo para um lado e para outro, quais mil e um rios, com seres humanos lá
dentro, barulho e estrondo, poeira negra e fumo por toda a parte, árvore alguma no
horizonte e nada de céu azul, nada de ar puro ou de nuvens - a isto chama o Papalagui
uma «cidade», criação de que muito se orgulha; quando muitos há, que ali vivem, que
nunca viram uma floresta, um céu lavado ou o Grande Espírito, face aface.
Orgulhar-se-á o Papalagui desses calhaus que assim juntou?

O Papalagui, Discursos de Tuiavii Recolhidos por Erich Scheurmann


Este texto não deixa de nos fazer sorrir (e reflectir) devido à forma como o Índio
expõe a sua visão da cidade.

• Como é que ele a via? ___________________________________________________


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• Quais os termos que ele utiliza para designar “casas”, “ruas”, “prédios” e “carros”?
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• Que sentimentos lhe despertou essa visita?
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• Qual terá sido a intenção do autor ao escrever o texto?
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Quais os valores (princípios de vida) que estão subjacentes neste texto.
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Actividade 2 – Leia o seguinte texto.

Era uma montanha à beira-mar, alta, tão alta que parecia tocar o céu, áspera,
abrupta, medonha, com ravinas negras, cheias de rochas escalvadas onde não nascia
uma árvore, nem uma flor, e onde não chegavam homens nem animais.
Todos os dias, fizesse sol ou tempestade, com vento ou chuva, um pássaro,
tão negro como as ravinas, voava constantemente da terra para o mar e do mar para as
rochas, onde parecia impossível qualquer ave procurar abrigo ou fazer ninho. Talvez por
isso ele era o único pássaro que vivia nessas paragens solitárias, pairando lá no alto, tão
alto que mal se via do chão, como se quisesse alcançar o infinito.
E olhando lá de cima tudo quanto abarcava o seu voo e o seu olhar agudo e penetrante
sete léguas em redor, o pássaro dizia para com as suas penas:
- Sou senhor de tudo isto, deste reino imenso de pedra e água. Ninguém me
pode fazer sombra, atacar-me ou roubar os meus domínios. Por isso sou forte, e
poderoso e único.
E grasnava, com uma voz rouca que parecia a gargalhada de um ser diabólico.
Havia na mesma montanha à beira-mar uma pedra tão negra como o pássaro
que, arrancada às rochas abruptas, viera a rolar aos trambolhões por ali abaixo, e ficava
em equilíbrio entre dois pedregulhos, em risco de cair à menor enxurrada ou sopro de
vento. E pelos dois buracos disformes que lhe serviam de olhos, a pedra observava o
pássaro que todos os dias voava cada vez mais alto, descrevendo curvas cada vez
maiores para aumentar os seus domínios.
Sem se poder desviar nem um palmo do sítio onde o acaso a pusera, a pedra
invejava aquela coisa voadora, a vida voadora, que podia ir onde quisesse, sem dar
satisfações a ninguém.
- Maldito sejas, pássaro do mar e das tempestades - gritava a pedra pelo
buraco disforme que lhe servia a boca. - Ave de mau agoiro, que voas em redor como se
fosses dona de tudo isto, enquanto eu não sou ninguém, e às vezes até chego a pensar
que não existo. - E chorava baixinho: - Ai, quem me dera ter asas que me levassem daqui
para fora a correr mundos que devem existir para além desta montanha e deste mar!
Quando passava perto dela, o pássaro orgulhoso ouvia às vezes estes
queixumes, e, grasnando com a tal voz rouca, dizia-lhe:
- Não voa quem quer, minha rica! É um dom da natureza. E mesmo assim, não
é nada fácil. É preciso fazer esforço. Tu, alguma vez te esforçaste por alguma coisa?
- Eu? Como é que eu posso? - lamentava-se a pedra. - Sem patas nem asas,
nem coisa parecida, nem alguém que me ajude?
- Nunca tentaste fazer nada pelos teus próprios meios, sempre à espera que te
empurrem, aos trabalhões da sorte. Ainda por cima és pequena, feia, disforme...
- É dos encontrões que tenho levado - gemeu a pedra.
- Enquanto eu, com as minhas asas abertas, lá no alto, sou forte, belo,
superior, e invulnerável.
- Não és tão invulnerável como julgas - tornou-lhe a pedra. - Também estás
sujeito à tua sorte, e não sabes qual possa ela ser quando menos esperas. Eu própria,
apesar de pequena, posso matar-te com uma pedrada.
- Tu? Grande atrevida – grasnou o pássaro. – Não, sabes, minha parva, que
para uma pedrada não basta a pedra? É preciso haver quem a atire. E por estes sítios,
desde que eu me lembro, nunca passou ninguém. E ria, ria fazendo muita troça da pedra.
- Ah, que se eu um dia te puder ser boa – rosnou a pedra entre os dentes -,
conta a minha pedrada.
E eram sempre conversas deste género, cheias de ódio, inveja, orgulho, ironias
e ameaças, quando afinal um pássaro do mar ou uma pedra da montanha não valem
grande coisa, porque existem na terra e no mar mil outras coisas importantes, e tudo o
tempo destrói.
E o tempo que tudo destrói foi passando, até que um dia apareceu por ali um
homem vindo não se sabe de onde nem porquê. Viu um pássaro, num sítio onde não
havia mais nenhum e quis caçá-lo. Mas como não levava qualquer arma, apanhou uma
pedra – a tal pedra – e, segurando-a com força, esperou que o pássaro lhe ficasse ao
alcance quando descesse para ousar nas rochas. Fez a pontaria e Zás!, assobiando ao
vento e descrevendo uma curva no ar como se voasse, a pedra foi bater em cheio no
coração do pássaro. Berrou o pássaro com a dor, e a pedra riu desta vez, satisfeita
porque chegara a hora da vingança.
- Então – gritou a pedra -, qual de nós é agora o mais forte?
A história não podia acabar aqui. Mas não, porque o pássaro, embora ferido,
continuou o seu voo alto, enquanto a pedra caiu na vertical sobre as rochas mais além,
onde rolou um bocado, e ficou outra vez parada, não sabemos para quanto tempo mais. E
depois do homem se ir embora, o pássaro descreveu uma larga curva, e com os olhos
agudos viu onde tinha caído a pedra. E descendo sobre ela numa fúria, segurou-a nas
garras e, afastando-se outra vez para o largo, deixou-a cair no abismo, onde ela
mergulhou, descendo devagar, devagar, durante muito tempo, até ao fundo do mar, que
era dos mais fundos.
E a pedra lá ficou, desta vez para sempre, e agora nem sequer vê a luz do Sol,
nem ouve o assobio do vento, nem a tempestade, e muito menos pássaros ou homens.
A história também podia acabar aqui. Não acaba. O pássaro, ferido de morte, ainda voou
o mais alto que pôde, numa despedida, soltando gritos de dor - desta vez não ria - até
esgotar as forças e cair também, longe, lá longe, devagarinho até ao fundo do mar, onde
ficou para sempre, e onde não se vê o céu, nem as montanhas, nem as pedras, e onde
muito menos pode voar.
Agora sim, acabou a história. É uma história triste. Se o pássaro e a pedra
quisessem, não poderia ter sido tudo de outra maneira ?

Ricardo Alberty, Fábulas que Ninguém me Contou (conto na íntegra)


Estas são respostas dadas a um questionário sobre o texto. Formule as
respectivas perguntas.

1._____________________________________________________________________?
Estava situada à beira-mar, era alta, áspera, abrupta e medonha, tinha ramos e
não possuia qualquer tipo de vegetação; o único ser vivo que a visitava era um pássaro.
2. _________________________________________________________________?
Essa expressão significa falar consigo próprio.
3. _________________________________________________________________ ?
Ele julgava-se o senhor do mundo.
4. __________________________________________________________________ ?
Uma pedra pequena e negra.
5. ________________________________________________________________ ?
Através de dois buracos disformes.
6.___________________________________________________________________?
Desejava ter asas e poder voar como um pássaro.
7. ___________________________________________________________________?
Um homem.
8. ___________________________________________________________________?
Atirou-lhe uma pedra
9.___________________________________________________________________ ?
Não. Continuou a voar. ..
10.__________________________________________________________________ ?
Porque estava com raiva dela.
11.___________________________________________________________________?
Ficaram ambos no fundo do mar.
12.___________________________________________________________________ ?
A maldade e o egoísmo não fazem bem a ninguém.

Agora dê um final diferente ao conto, partindo da questão final do mesmo.


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A partir desta história poderá partir-se, ainda, para um pequeno debate em


torno das questões ligadas à protecção ambiental: de que modo a maldade e o egoísmo
interferem na nossa relação com a natureza?
Anote as ideias a ser discutidas e os valores a defender, para dar início ao
debate.

Bloco de notas

Bom Trabalho!

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