Língua e Cultura Inglesa
Língua e Cultura Inglesa
Língua e Cultura Inglesa
e Cultura Inglesa
Autor
Orlando Vian Jr.
1.ª edição
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
116 p.
ISBN: 978-85-7638-846-3
CDD 420
O inglês moderno | 29
Primeira fase do inglês moderno | 29
O inglês moderno | 31
Conclusão | 32
Gabarito | 103
Referências | 109
Anotações | 113
Apresentação
O ponto de partida para os aspectos apresentados neste material
é a relação entre língua, linguagem e cultura e como os elementos con-
textuais e situacionais determinam o uso da linguagem e das escolhas
lingüísticas realizadas pelos usuários da língua no dia-a-dia em detrimen-
to do contexto em que está inserido.
O foco central da discussão é a língua inglesa: sua história, sua evo-
lução, seu estado atual.
Serão abordados aspectos desde a origem do idioma, sua forma-
ção, suas transformações e as fases pelas quais passou até configurar-se
como o conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, históricos, po-
líticos, geográficos, econômicos, culturais, entre outros, que alçaram o in-
glês à condição de língua global. Será discutido, ainda, o papel da internet
na disseminação do inglês, além dos reflexos e dos impactos no Brasil da
utilização do inglês como língua global e seu papel no ensino de línguas
estrangeiras.
O objetivo primordial deste trabalho é incitar o futuro profissional
do campo de Letras a refletir criticamente sobre os aspectos do idioma e
seus impactos no ensino do inglês como língua estrangeira no Brasil, le-
vando-se em consideração que ensinar inglês não se restringe apenas aos
elementos da gramática, da pronúncia ou do vocabulário da língua, mas
que todos esses elementos são influenciados pela cultura, tanto do inglês,
como língua-alvo, nos diversos países onde é falado, quanto do português
como língua materna e as variáveis culturais e lingüísticas intervenientes
no processo de ensino e de aprendizagem do idioma.
Que a jornada pela história do inglês e pelos aspectos sociocultu-
rais da língua seja proveitosa e que dela possam emergir aspectos que
possam contribuir para a sua prática social, como cidadão em um mundo
globalizado onde o inglês é a língua internacional para comunicação e,
futuramente, para sua prática pedagógica e profissional!
Bom trabalho!
Orlando Vian Jr.
O inglês como
língua nativa
A idéia de uma língua nativa, língua mãe ou língua pátria está associada à língua oficial falada em
um determinado país utilizada pelos cidadãos para comunicação, além de ser a língua utilizada oficial-
mente no governo, nas instâncias oficiais, nas escolas e em todas as demais atividades em que a língua
é utilizada diariamente.
Passando pelas fases conhecidas por inglês antigo, inglês médio e inglês moderno, sendo que
o inglês moderno apresenta uma fase inicial até se configurar como a língua conforme a conhecemos
hoje, a língua inglesa utilizada primeiramente na Grã-Bretanha como língua nativa espalhou-se pelos
demais continentes.
Sua evolução e seu uso foram ampliados com a colonização inglesa nos demais continentes, o
que fez com que a língua se espalhasse pela América, pela África, pela Ásia e pela Oceania, nos locais
então considerados colônias inglesas.
As antigas colônias inglesas tornaram-se independentes da Inglaterra, mas a língua utilizada oficial-
mente pelos países continuou sendo o inglês. A partir desse contexto, a língua inglesa passa a ser a língua
oficial dos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, África
do Sul e países do Caribe, como a Jamaica, e locais onde o inglês tem status oficial, como Porto Rico.
Primeiramente pela primazia econômica dos Estados Unidos e também com o desenvolvimento cien-
tífico e tecnológico liderado pelo país, o inglês passa a ser a língua da ciência e da tecnologia e, também por
questões políticas e econômicas, passa a ser a língua utilizada para a comunicação internacional.
Os Estados Unidos, por seu turno, foram os responsáveis por imprimir ao inglês o status de língua
mundial, utilizada principalmente na ciência e na tecnologia, mas também em diversas outras áreas.
Inglaterra
A partir do século V, o inglês começa a se espalhar pelas Ilhas Britânicas, no País de Gales, Corwall,
Cumbria e sul da Escócia, locais em que predominavam línguas celtas.
No século XI, a partir de 1066, após a invasão dos normandos, os nobres da Inglaterra migraram
para o norte da Escócia e a língua, em sua variante escocesa, difundiu-se pela região. A partir do século
XII, o inglês vai gradualmente espalhando-se pela Irlanda, levado pelos cavaleiros anglo-normandos. De
acordo com Crystal (1997), o número de falantes de inglês, ao final do século XVI, era em torno de 5 a 7
milhões, em sua maioria habitantes das Ilhas Britânicas.
É importante considerar, do ponto de vista geográfico, as denominações Reino Unido, Grã-Bre-
tanha, Ilhas Britânicas e Inglaterra. É bastante comum nos referirmos ao Reino Unido e à Grã-Bretanha
como Inglaterra. Grã-Bretanha, no entanto, é uma expressão geográfica e Reino Unido é uma expressão
política. A Grã-Bretanha compreende o grupo de ilhas entre o Mar do Norte e o Oceano Atlântico, o
que não inclui a Irlanda, que forma outro grupo de ilhas. Juntos, os dois grupos de ilhas formam o que
se denomina Ilhas Britânicas, ou seja, essa expressão descreve as ilhas e não as divisões políticas ou as
divisões entre os países (HARVEY; JONES, 1992).
Politicamente, as Ilhas Britânicas compreendem dois estados independentes: a República da Irlanda,
cuja capital é Dublin, e o Reino Unido, cuja capital é Londres. A abreviatura UK, de United Kingdom (Reino
Unido), refere-se à denominação United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (Reino Unido da Grã-
Bretanha e Irlanda do Norte). A ilha da Grã-Bretanha é composta pela Inglaterra, Escócia e País de Gales.
Dessa forma, Britain e British têm dois significados, pois podem se referir tanto à Grã-Bretanha
quanto ao Reino Unido, incluindo a Irlanda do Norte. As palavras England e English são usadas inapro-
priadamente para se referir a Grã-Bretanha como um todo (HARVEY; JONES, 1992).
O inglês configura-se, portanto, como o idioma oficial da Ilhas Britânicas e, daí, é espalhado pelo
mundo. Crystal (1997) indica que, entre o reinado de Elizabeth I, em 1603, e o início do reinado de Eliza-
beth II, em 1962, o número de falantes de inglês saltou para 250 milhões, em sua grande maioria, fora
das Ilhas Britânicas, principalmente nos Estados Unidos, para onde o idioma é levado no século XVI e
cuja história é alterada.
Estados Unidos
A primeira expedição aos Estados Unidos chega à Ilha Roanoke em 1584, na região hoje conheci-
da como Carolina do Norte; mas, em função de conflitos com os povos nativos, um navio teve que voltar
à Inglaterra para busca de auxílio e suprimentos (CRYSTAL, 1997).
A segunda expedição ocorre em 1607, que chega a Chesapeake Bay, na região hoje correspondente
ao estado da Virgínia, e fundam a primeira colônia, chamada Jamestown, em homenagem ao rei James I.
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Apesar dessas duas primeiras expedições, uma data marcante na colonização dos Estados Unidos
é o ano de 1620, com a chegada do navio Mayflower, com o primeiro grupo dos chamados puritanos,
composto por membros da English Separatist Church (Igreja Separatista Inglesa) e de outros coloniza-
dores. Como não conseguiram atingir o estado da Virgínia, desviados por uma tempestade, chegam ao
Cape Cod, onde hoje se localiza o estado da Nova Inglaterra (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992).
Esses colonizadores ficaram conhecidos como os pilgrim fathers (pais peregrinos) e, embora fosse
um grupo bastante heterogêneo, com diferentes bagagens regionais, sociais e ocupacionais, tinham
como objetivo a busca por uma terra onde pudessem encontrar um novo reino religioso, livre de perse-
guições (CRYSTAL, 1997).
Em relação ao idioma, as duas colônias, Virgínia ao sul e Nova Inglaterra ao norte, tinham marcas
lingüísticas específicas, trazidas das regiões da Inglaterra das quais provinham os colonizadores, uma
vez que os habitantes do sul eram da região do oeste da Inglaterra e os habitantes do norte eram prove-
nientes de condados do leste inglês e essas diferenças refletiram nos sotaques desses locais.
No século XVIII, há uma onda de imigrantes advindos da Irlanda. Em 1790, no primeiro censo
realizado, a população era de 4 milhões de habitantes, em sua maioria vivendo na costa atlântica. Essa
população cresce enormemente e, um século depois, gira em torno de mais de 50 milhões (CRYSTAL,
1997, 2003).
Como resultado de revoluções, pobreza e fome na Europa, uma grande leva imigra para os Esta-
dos Unidos: irlandeses, alemães, italianos, judeus da Europa oriental. Em 1900, a população dos Estados
Unidos atinge 75 milhões de habitantes e esse número é praticamente dobrado em 1950.
Esse contexto histórico faz com que o inglês cresça como língua materna, aumentando o número
de falantes nos Estados Unidos e, a partir daí, os desenvolvimentos sociais, científicos e tecnológicos e,
principalmente a partir das duas grandes guerras, o inglês espalha-se pelo mundo e passa a ser o idioma
usado para a comunicação internacional no pós-guerra.
América
A partir da colonização dos Estados Unidos, o inglês começa a ser difundido na região da América
do Norte e também da América Central, passando a ser a língua oficial do Canadá e de alguns países nas
ilhas do Caribe, com variações características de acordo com os processos históricos pelos quais passou
cada região.
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Canadá
Embora os primeiros contatos da língua inglesa no Canadá datem de 1497, quando John Cabot che-
ga a Newfoundland (CRYSTAL, 2003), não se estenderam por muito tempo, ao passo que os contatos com
a língua francesa começaram a se intensificar a partir das explorações de Jacques Cartier nos anos 1520.
Por volta de 1750, uma grande leva de colonizadores vindos da Inglaterra, Irlanda e Escócia chega
para substituir os franceses, que foram deportados.
Com a declaração da independência dos Estados Unidos em 1776, muitos colonizadores imigra-
ram para o Canadá e, em seguida, muitos outros imigraram, atraídos principalmente pelos preços bai-
xos das terras.
Dessa forma, em 50 anos a população da província conhecida como Upper Canada, na região
acima de Montreal e ao norte dos Grandes Lagos, atingiu 100 000 habitantes.
Em função da proximidade e das origens, o inglês canadense tem muita semelhança com o inglês
dos Estados Unidos. Existem características, no entanto, que marcam o sotaque e os próprios canaden-
ses recusam as atribuições de que o inglês é parecido com o inglês dos Estados Unidos, como alegam os
britânicos, ou semelhante ao da Inglaterra, como identificam os cidadãos dos Estados Unidos (CRYSTAL,
2003. MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992).
Caribe
Como resultado da colonização dos Estados Unidos, o inglês começou a se espalhar pela região
sul do país, associado ao processo de importação de escravos africanos para trabalhar nas plantações
de cana-de-açúcar. Os primeiros escravos chegaram à Virgínia em 1619.
Com o objetivo de não incitar rebeliões entre os escravos trazidos nos navios, a norma era que se
trouxessem escravos de diferentes tribos com diferentes línguas. Esse fato vai gerar o contato do inglês
com diferentes línguas africanas, fazendo surgir o que chamamos de pidgin, uma língua intermediária
que assimila características tanto do inglês quanto das línguas africanas com as quais tinha contato.
Dessa forma, esse pidgin era usado como meio de comunicação, fazendo surgir, inclusive, outras
variações, como a linguagem utilizada entre os escravos e a tripulação dos navios, que também falavam
inglês. As diferentes variedades de pidgin utilizadas nessas regiões, portanto, vão sendo utilizadas pelos
novos cidadãos nascidos nessas regiões e tornam-se a língua materna dessas populações, produzindo
assim nessas regiões o que se denomina crioulo ou língua crioula (creole).
Diversas formas de crioulo inglês, francês e português também se desenvolveram nessa região,
embora o inglês padrão da Inglaterra tenha se tornado bastante influente, pela forte presença inglesa
na política.
O inglês falado nas ilhas do Caribe, portanto, é repleto de variedades, que refletem as diferenças
políticas, históricas e culturais da região.
No Caribe, dessa forma, a influência do inglês configura-se de três maneiras: como língua oficial,
em locais como Jamaica, Belize e Bahamas, Ilhas Virgens, Ilhas Caimãs, entre outros; como crioulos de
base inglesa, como em Honduras; com status especial, como em Porto Rico.
O inglês como língua nativa | 41
África
A presença inglesa de maior impacto na África é na África do Sul, país que adota o inglês como
língua oficial, embora o país tenha sofrido também influência holandesa.
A colonização inglesa na África do Sul inicia-se em 1795, mas colonizadores holandeses haviam
chegado à Cidade do Cabo por volta de 1652.
Os primeiros lotes recebidos pelos colonizadores ingleses na África do Sul na região da Cidade do
Cabo datam de 1822. O inglês foi instituído como a língua oficial daquela região e um dos objetivos era
impor essa língua sobre a população falante do africâner.
O inglês passou, assim, a ser a segunda língua dos falantes de africâner, mas sempre foi uma lín-
gua minoritária na África do Sul e, segundo dados apresentados por Crystal (1997), em 1996, cerca 3,6
milhões de pessoas, de uma população de 42 milhões, falavam o inglês como primeira língua. O africâ-
ner era a primeira língua da maior parte branca da população.
O inglês é a língua de comunicação internacional e uma parte da população é bilíngüe, pois tam-
bém fala o africâner.
A constituição da África do Sul, no entanto, considera 11 o número de línguas oficiais do país,
entre as quais o inglês e o africâner. O inglês é utilizado em 87% dos discursos feitos no parlamento
sul-africano.
A herança cultural e social da África do Sul, porém, imprime ao inglês falado no país a influência
do africâner, fator que também está relacionado à identidade nacional e étnica.
Oceania
Com a chegada das correntes colonizatórias ao oriente, diversos países já haviam tido contato
com os navegantes portugueses, que chegaram à Índia e ao Japão.
Ao final do século XVIII, a colonização inglesa atinge a Oceania e chega ao que hoje conhecemos
como Austrália e Nova Zelândia.
Austrália
Com a constante colonização britânica no final do século XVIII, o inglês é levado para o sul do
Equador e para o hemisfério oriental e, assim, em 1770, James Cook visita a Austrália, que será utilizada
como colônia penal, uma maneira de aliviar as prisões superlotadas na Inglaterra.
Após a chegada dos componentes da primeira frota à Austrália, foram transportados ao país
c erca de 130 000 prisioneiros. A partir daí, a população aumenta gradativamente e, por volta de 1850,
a Austrália conta com uma população de 400 000, atingindo 4 milhões em 1900, como nos informa
Crystal (1997).
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Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, o processo de colonização começa mais tarde e é mais lento se comparado ao
da Austrália, embora o capitão Cook também tenha chegado às ilhas que formam a Nova Zelândia por
volta de 1769-1770 e negociantes e caçadores de baleias tenham começado a se estabelecer a partir
de 1790.
Os imigrantes ingleses também começaram um processo de colonização dos habitantes nativos
da Nova Zelândia: os maoris. A partir de então, inicia-se um grande fluxo imigratório para a nova colônia
e, dos aproximadamente 2 000 em 1840, esse número salta para algo em torno de 25 000 em 1850. A
população da Nova Zelândia cresce significativamente e, em 1996, registra algo em torno de 3,5 mi-
lhões de habitantes.
Crystal (1997) afirma que a história social da Nova Zelândia difere-se sensivelmente da história
da Austrália em três aspectos: primeiramente no que diz respeito às conseqüências lingüísticas, pois,
segundo o autor, os neozelandeses apresentaram uma maior simpatia pelos costumes ingleses, além de
outros valores e instituições, e apresentam, em seu sotaque, uma clara influência britânica. Em segun-
do lugar, há uma marcante diferença no que diz respeito à identidade nacional da Austrália e da Nova
Zelândia, o que marca bastante as diferenças entre o sotaque nos dois países. Por fim, há uma preocupa-
ção pelos direitos do povo maori na Nova Zelândia, que compreende 10% da população do país, e isso
resultou em um grande número de palavras maoris no inglês neozelandês.
Conclusão
A partir de sua origem na Inglaterra, o inglês espalhou-se pelo mundo, processo iniciado pela
colonização britânica nos diferentes continentes.
Pela colonização dos Estados Unidos, o inglês também chega ao Canadá e às ilhas do Caribe.
No continente africano, o inglês passa a ser a língua oficial da África do Sul.
Na Oceania, a partir das explorações do capitão James Cook, o inglês torna-se a língua oficial
da Austrália e da Nova Zelândia. Na Nova Zelândia há um grande contato do inglês com a língua
nativa: o maori.
Em suma, o inglês é atualmente o idioma oficial em países nos quatro continentes: no continente
europeu, na Grã-Bretanha e na Irlanda; na América do Norte, nos Estados Unidos e no Canadá; na Amé-
rica Central, no Caribe, como a Jamaica, e em locais onde o idioma tem status oficial, como Porto Rico,
além de diferentes línguas crioulas; no continente africano, é oficial na África do Sul; e na Oceania é a
língua oficial da Austrália e Nova Zelândia.
O inglês como língua nativa | 43
Texto complementar
O futuro dos “ingleses”
(CRYSTAL, 2004. p. 19-21)
O surgimento do inglês como verdadeira língua mundial foi a primeira das três tendências que
obtiveram destaque especial durante a década de 1990. A palavra “verdadeira” é de importância cru-
cial. A possibilidade de que o inglês pudesse desempenhar um papel global tinha sido reconhecida
desde o século XVIII. Em 1780, o futuro presidente dos Estados Unidos John Adams disse: “O inglês
está destinado a ser, no próximo século e nos seguintes, uma língua mundial em sentido mais amplo
do que o latim foi na era passada ou o francês é na presente”. Mas foram necessários quase 200 anos
para ficar provado que ele estava certo. Até relativamente há pouco tempo, a perspectiva de o inglês
se tornar uma língua global era incerta. Foi apenas na década de 1990 que a questão veio realmente
à tona, com pesquisas, livros e conferências tentando explicar como uma língua pode se tornar ver-
dadeiramente global, que conseqüências isso acarreta, e por que o inglês veio a ser a primeira língua
candidata. Mas a fim de especular sobre o futuro do inglês – ou, como explicarei abaixo, dos “ingleses”
– devemos primeiro entender onde nos encontramos agora e como a situação atual surgiu.
O presente
Uma caracterização para começar; depois algumas estatísticas. Uma língua não obtém um sta-
tus genuinamente global até desempenhar um papel importante que seja reconhecido em todos
os países. Esse papel será mais óbvio em países onde um grande número de pessoas a fala como
primeira língua – no caso do inglês, isso significa os Estados Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha, a
Irlanda, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul, alguns países do Caribe e uma variedade de
outros territórios. Entretanto, nenhuma língua foi jamais falada como língua materna pela maioria
da população em mais de uma dúzia de países, de modo que o uso como língua materna em si não
pode dar status global a uma língua. Para obter semelhante status, ela tem de ser usada por vários
países do mundo. Estes devem decidir dar a ela um lugar especial dentro de suas comunidades,
mesmo que tenham poucos (ou nenhum) falantes nativos.
Há dois modos principais de se fazer isso. Primeiro, a língua pode se tornar oficial (ou semi-
oficial) e ser usada como meio de comunicação em áreas como governo, tribunais de justiça, mídia
e sistema educacional. Para se ter sucesso nessas sociedades, é essencial dominar a língua oficial o
mais cedo possível na vida. Esse papel é bem ilustrado pelo inglês, que, como resultado da histó-
ria britânica ou americana, tem algum tipo de status administrativo especial em mais de 70 países
– como Gana, Nigéria, Índia, Cingapura e Vanuatu. Isso é muito mais do que o status obtido por
qualquer outra língua (o francês sendo a mais próxima). Segundo, uma língua pode se tornar prio-
ridade no ensino de língua estrangeira em um país. Ela se torna o idioma que as crianças têm mais
possibilidade de aprender quando chegam à escola, e o mais disponível para os adultos que – por
qualquer razão – nunca o aprenderam, ou o aprenderam mal, em seus primeiros anos de estudo.
Mais de 100 países tratam o inglês como esse tipo de língua estrangeira; e na maioria desses países
ele é reconhecido como principal língua estrangeira a ser ensinada nas escolas.
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Por causa desse desdobramento tríplice – de falantes como primeira língua, segunda língua e
língua estrangeira –, é inevitável que uma língua do mundo acabe sendo usada por mais pessoas do
que outra qualquer. O inglês alcançou agora esse status. Cerca de 400 milhões o aprenderam como
primeira língua – embora as estimativas variem muito, porque poucos países mantêm estatísticas
sobre número de falantes. É difícil avaliar o número daqueles que aprenderam o inglês como se-
gunda língua, pois os níveis de fluência adquiridos devem ser levados em conta. Se tomarmos um
nível básico de habilidade para conversação como critério – o suficiente para se fazer compreender,
embora de forma alguma livre de erros, e com pouco domínio de vocabulário especializado –, o
número também gira em torno dos 400 milhões de falantes. O significado desses dois números não
deve ser desconsiderado: o número de pessoas que usa o inglês como segunda língua é idêntico
ao que o tem como língua materna. E como o crescimento populacional nas áreas onde o inglês é
considerado como segunda língua é cerca de três vezes maior do que nas áreas onde é tido como
primeira, os falantes de inglês como segunda língua irão em breve exceder em número os falantes
nativos – uma situação sem precedentes para uma língua internacional [...].
Atividades
1. Em quais países o inglês é língua nativa?