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Intervencoes Enfermagem Controle Cancer Inca

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Intervenções de enfermagem

no controle do câncer 6
Bases do tratamento ›
249
Introdução
Neste capítulo, são mencionadas as intervenções e ações de enfermagem para o controle
do câncer, consideradas mais prevalentes no Brasil. A forma escolhida aqui para abordar o assun-
to é a apresentação de conteúdos e relatos de casos sobre o câncer na infância e topografias se-
lecionadas como sendo as mais relevantes na área da oncologia, em nível nacional.

O câncer na infância, apesar de ser considerado raro, representa de 0,5% a 3% de todas


as neoplasias. Mas cerca de 70% das crianças sobrevivem quando tratadas em centros especia-
lizados, e muitas são consideradas curadas. Esse grande progresso nos índices de cura vincula-
se à aplicação das bases de tratamento em Oncologia, as quais são apresentadas no corpo des-
ta matéria.

Em se tratando de topografias prevalentes, inicia-se o capítulo com o câncer de pele,

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


abordando aspectos importantes do diagnóstico e tratamento cirúrgico dos seus diversos tipos.
Voltados para a detecção precoce de algumas lesões que são consideradas suspeitas ou pré-ma-
lignas, entre elas, os nevos melanocíticos, nevos displásicos, xeroderma pigmentoso, ceratose,
epidermodisplasia verruciforme, leucoceratose, radiodermite, cicatrizes viciosas e ulcerações crô-
nicas. Refere-se, também, às classificações dos tumores de pele mais encontrados entre a popu-
lação. O câncer de mama, atualmente, é o que mais acomete a mulher brasileira e, nessa edição, é
apresentado através de um relato de caso e das condutas realizadas pela equipe de enfermagem,
para esclarecer, da melhor maneira, como cuidar de uma paciente com câncer de mama. Entre
os tumores que atingem o aparelho reprodutor feminino, o do colo uterino é o mais freqüente.
Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, estima-se que o câncer do colo do útero seja o terceiro
mais comum na população feminina. Portanto este capítulo se refere à assistência de enferma-
gem mais eficaz para a mulher portadora dessa doença. O câncer de pulmão, que era uma doença
rara no início do século XX, é atualmente um problema de saúde pública. É o tipo de câncer mais
comum de todos os tumores malignos, apresentando um aumento de 2% ao ano em sua incidên-
cia mundial. Assim, procura-se comentar, através de um conteúdo vasto e um relato de caso, so-
bre esse tipo de câncer e os cuidados que poderão nortear o profissional de enfermagem. Neste
capítulo, também são abordados aspectos do diagnóstico definitivo e tratamento cirúrgico do
câncer de próstata. O estudo mostrado aqui sobre a classificação clínica pré-tratamento mostra
dados importantes para informação e conhecimento desse tipo de topografia tão relevante entre
os homens brasileiros. O câncer de cólon é uma das neoplasias mais freqüentes nos países oci-
dentais, ocorrendo em ambos os sexos e apresentando um aumento da incidência com o avanço
da idade. A prevenção, detecção e a remoção dos pólipos serão assuntos tratados neste capítulo.
O câncer de estômago, também chamado de câncer gástrico, pode se iniciar em qualquer parte
do estômago. Ele pode se espalhar pelos linfonodos próximos e para outras áreas do corpo, como
fígado, pâncreas, intestino grosso (cólon), pulmões e ovários. A taxa de mortalidade relacionada
ao câncer gástrico vem caindo nas últimas seis décadas, essa e outras informações mais específi-
cas sobre esse câncer também são tratadas mais detalhadamente nesse tópico.

Atualmente, o câncer se constitui a segunda causa de morte por doença no Brasil e no


mundo. Quanto ao câncer de cavidade bucal, estima-se que ocorrerão, no Brasil, em 2008, cer-
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
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ca de 14.160 casos novos, sendo que mais de 50% deles, ou seja, 8.010 casos novos, na Região
Sudeste (INCA, 2007b). Apesar de ser uma patologia de fácil diagnóstico, devido às suas lesões
precursoras bem definidas e visíveis, mais de 60% dos casos matriculados no Instituto Nacional
de Câncer chegam em estado avançado (III e IV), o que requer ressecção cirúrgica ampla, impli-
cando em déficits funcionais e seqüelas importantes (INCA, 2007a). Proporcionar cuidado e edu-
cação para estes pacientes e familiares representa um significante desafio para a Enfermagem.

Assim, o enfermeiro é o profissional mais habilitado e disponível para apoiar e orientar o


paciente e a família na vivência do processo de doença, tratamento e reabilitação, afetando de-
finitivamente a qualidade de vida futura. Dessa forma, a proposta desta 3ª edição é a de ser uma
oportunidade para os enfermeiros se atualizarem e participarem ativamente no planejamento e
execução de ações preventivas ou de detecção precoce e assistências do câncer no Brasil.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Bases do tratamento ›
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Câncer na infância

O câncer infantil, apesar de todo avanço da ciência, ainda permanece com a maioria de suas
causas desconhecidas, o que o difere dos tumores em adultos, que atualmente têm um núme-
ro bastante expressivo de fatores de risco relacionados. “Difere do adulto quanto aos tipos histo-
lógicos, comportamento biológico, evolução clínica e respostas terapêuticas” (CAMARGO/2000).
Apesar de ser considerado raro, na maioria das populações representa de 0,5% a 3% de todas as
neoplasias. Cerca de 70% das crianças sobrevivem quando tratadas em centros especializados
por equipe interdisciplinar, e muitas são consideradas curadas. Esse grande avanço nos índices de
cura deve-se à associação de tratamentos como radioterapia, cirurgia e poliquimioterapia.

Com base no Registro de Câncer por Base Populacional (RCBP), que utiliza o limite de 18

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


anos, como é preconizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), observa-se uma predomi-
nância dos casos de leucemia, que pode chegar a 45% de todos os casos de tumores pediátricos,
seguido de linfomas, com 25%. Em se tratando dos tumores considerados sólidos, os tumores do
Sistema Nervoso Central são os mais incidentes e podem atingir a taxa de 22% de todas as neo-
plasias da infância, acometendo principalmente a faixa etária entre 4 e 9 anos de idade. Em cer-
ca de 50% dos casos, as crianças possuem até 5 anos de idade ao diagnóstico. Porém 15% deles
ocorrem em crianças com menos de 2 anos de idade.

Causas e localização

Um número significativo de casos de câncer pediátrico está associado a alterações genéti-


cas. Alguns tumores se relacionam a anomalias congênitas. O retinoblastoma pode ser hereditário
em 40% dos casos, sendo importante o aconselhamento genético. A aniridia pode estar associada
à ocorrência de tumores de Wilms, enquanto a hemi-hipertrofia corporal, ao tumor de Adrenal,
tumor de Wilms e hepatocarcinoma.

A localização e o tipo do tumor variam de acordo com a idade. Setenta por centro dos tu-
mores se localizam na região infratentorial, sendo a maioria de fossa posterior e o restante supra-
tentoriais. O meduloblastoma, o astrocitoma e o ependimoma são os mais comuns.

Sinais, sintomas e diagnóstico

O câncer infantil, muitas vezes, apresenta sinais e sintomas que podem ser confundidos
com diversas patologias pediátricas, o que pode, em muitos casos, obscurecer a visão do pediatra,
retardando assim o diagnóstico precoce, o que é de importância vital para a cura.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
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Clinicamente, os tumores pediátricos possuem um período de latência menor, apresentan-
do um crescimento rápido, porém com melhor resposta ao tratamento do que os tumores de in-
divíduos adultos.

Os sinais e sintomas como alterações de comportamento, cefaléia, vômitos e edema de pa-


pila são sinais clássicos de hipertensão intracraniana.

O diagnóstico dos tumores intracranianos é realizado quando surgem sintomas de com-


pressão em determinada área do cérebro. O quadro clínico se manifesta por sintomas decorren-
tes de sofrimento difuso (hipertensão intracraniana ou de hérnias cerebrais internas) ou de sofri-
mento focal, que depende da localização topográfica do processo expansivo.

Para determinar o estado funcional do Sistema Nervoso Central, é necessário um exame físico
e neurológico minucioso. As informações em pediatria são quase sempre fornecidas pelos familia-
res, porém é muito importante envolver a criança na entrevista, sendo necessário, muitas vezes, uti-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

lizar brincadeiras para facilitar essa interação, o que requer paciência e habilidade por parte do en-
fermeiro. É durante o exame físico que o enfermeiro começa a criar maior interação com a criança e
com a família, podendo, nessa ocasião, esclarecer suas dúvidas e minimizar suas ansiedades.

A arte de examinar em pediatria é uma tarefa difícil, que requer habilidade técnica e sensi-
bilidade por parte do examinador. Além de, muitas vezes, ele ter que lidar com crianças extrema-
mente irritadas pela hospitalização e pela própria patologia, o enfermeiro também precisa lidar
com pais ansiosos, que se encontram diante de um filho com um tumor cerebral e que, muitas
vezes, buscam respostas e responsáveis pela tragédia familiar que estão vivendo. Nesse momen-
to, o enfermeiro e sua equipe precisam ser pacientes e compreensivos e utilizar uma linguagem
acessível e acolhedora.

É importante colher dados que indiquem alterações das atividades diárias da criança (piora
no desempenho escolar, mudanças de comportamento, desinteresse pelos brinquedos etc.), para
que se possa avaliar a qualidade de vida que ela apresenta no momento da entrevista e também
para nortear o tratamento a ser realizado.

O exame clínico deve ser realizado de acordo com cada etapa do processo evolutivo do de-
senvolvimento psicomotor em que se encontra a criança. Aspectos importantes também devem ser
observados, tais como: medida do perímetro cefálico, reflexos (sucção, pressão plantar, marcha re-
flexa, plantar, moro), equilíbrio, coordenação, reflexo de deglutição, controle de esfíncteres, controle
da fala (disartria, dislalia etc.), movimentos espontâneos. Deve-se também avaliar o estado de afeti-
vidade, psiquismo, linguagem, socialização, memória, capacidade de aprendizagem etc.

Os sintomas cardinais de hipertensão intracraniana na infância são cefaléia, vômito e dis-


túrbio da marcha. Em crianças em que as suturas cranianas ainda se encontram abertas, o apare-
cimento dos sinais e sintomas pode levar semanas ou meses para se manifestar e só irão aparecer
depois que os mecanismos fisiológicos cerebrais compensatórios de aumento da pressão intra-
craniana tiverem sido utilizados.
Bases do tratamento ›
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Os vômitos (geralmente em jato) podem ser os primeiros sinais clínicos a surgir e não es-
tão associados à ingestão de alimentos. Geralmente, após episódios de vômito, pode ocorrer me-
lhora da cefaléia.

A cefaléia é o sintoma mais freqüente e pode estar presente na maioria dos casos. Esse sin-
toma nem sempre é valorizado em crianças que ainda não conseguem verbalizar suas necessidades,
porém deve-se observar as alterações comportamentais da criança e valorizar os relatos da mãe,
pois é ela quem melhor conhece o comportamento de seu filho. Geralmente se apresenta na parte
da manhã e, em casos de hipertensão aguda, pode ser de grande intensidade. Em lactentes, pode se
manifestar com sinal de postura antálgica, na qual a criança acomoda a cabeça para evitar a dor.

Apesar do edema de papila ser detectado em um número bastante significativo de pacien-


tes, nem sempre se observa perda de acuidade visual. Porém outros sintomas podem ser obser-
vados, tais como: estrabismo convergente e diplopia (em conseqüência de paralisia do VI nervo

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


craniano), crises convulsivas (podem ser focais ou generalizadas), macrocefalia (crianças com su-
turas cranianas abertas), distúrbios endócrinos por compressão do eixo hipotálamo-hipofisário
causando puberdade precoce, diabetes insipidus, alterações do apetite etc.

O craniofaringeoma é considerado um tumor benigno, de crescimento lento, que represen-


ta 5% a 10% dos tumores intracranianos da infância. Localiza-se na região selar, apresenta for-
mação sólida cística e, embora seja considerado benigno, sua localização dificulta o tratamento,
causando alta taxa de morbidade.

Durante o desenvolvimento embrionário, surge uma invaginação do assoalho da cavida-


de, que se estende em direção à base do crânio para formar a adenoipófise, que se une ao assoa-
lho do III ventrículo, dando origem à neuro-hipófise, um divertículo conhecido como tubo cra-
niofaríngeo ou bolsa de Rathke . É composto por remanescentes do ducto faringo-hipofisário na
embriogênese, massas sólidas e componente cístico. Pode ocupar a região supra-selar, entrando
pelo hipotálamo e ocupando o III ventrículo com compressão do quiasma óptico. A parte sólida
pode infiltrar as estruturas, dificultando a ressecção completa. Também pode causar hidrocefalia
devido à dificuldade de circulação do líqüido cefalorraquidiano (LCR) e, se ocorrer compressão do
nervo óptico, pode também haver alterações oftalmológicas importantes. Disfunções hormonais
endócrinas como, por exemplo, deficiência do hormônio de crescimento e diabetes insipidus tam-
bém são complicações encontradas em portadores de craniofaringeoma.

Os exames radiológicos são de extrema importância para diagnóstico, sendo primeiramente


realizada a tomografia computadorizada (TC) de crânio, na qual podem ser observadas as calcifi-
cações e a parte cística do tumor. A ressonância nuclear magnética (RNM) também deve ser rea-
lizada, por colaborar com informações sobre a extensão, a anatomia do tumor e o planejamento
da terapêutica cirúrgica.

Exames laboratoriais são de extrema importância para controle hormonal e de eletrólitos.

A biópsia estereotáxica define com precisão o local da lesão a ser abordado e possibilita o
diagnóstico em tumores com difícil acesso para a cirurgia convencional. Esse procedimento espe-
cializado é auxiliado por exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
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Tratamento

No tratamento dos tumores de sistema nervoso central, a função prioritária é a melhoria


do quadro clínico, portanto, é importante conhecer os déficits pré-existentes, para posterior ava-
liação das seqüelas após o tratamento.

A cirurgia é a principal forma de tratamento, para a maioria dos tumores primários do


Sistema Nervoso Central, bem como para o craniofaringeoma. Tem como objetivo a ressecção
completa do tumor, preservando o máximo possível de estruturas adjacentes. Quanto mais com-
pleta for a excisão do tumor, maiores serão as chances de sobrevida prolongada.

O resultado da cirurgia depende da habilidade e experiência do cirurgião, mas, muitas ve-


zes, pela localização e características, se torna muito difícil um resultado satisfatório. Apesar de
ser considerado um tumor benigno, apresenta alta taxa de recorrência local.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Quando a ressecção é incompleta, a radioterapia pode vir como tratamento complemen-


tar, contribuindo para diminuir as recorrências no local. Porém, essa modalidade de tratamento,
quando realizada em crianças, pode causar danos neurológicos importantes, com graves altera-
ções cognitivas, sendo contra-indicada em crianças com menos de 5 anos de idade.

As doses de radioterapia eficazes são muito altas, em torno de 5.000 cGy, para as faixas pe-
diátricas e, em alguns casos, pode-se adotar o fracionamento da dose para minimizar os efeitos
negativos, que podem ser: alterações hipofisárias, hipotalâmicas, neurite óptica e danos neuroló-
gicos muito importantes a longo e médio prazo, com alterações cognitivas graves.

O acompanhamento laboratorial é importante, pois, muitas vezes, é necessário acompa-


nhamento endocrinológico, com suplementação hormonal.

Nos cistos, a aspiração do conteúdo líqüido e a ressecção completa da cápsula são procedi-
mentos esperados. Após estudos com contraste, a instilação por via estereotáxica de agentes es-
clerosantes, como a bleomicina, pode ser utilizada somente quando a cápsula tumoral é espessa
ou quando não há possibilidade de ressecção cirúrgica.

Em pacientes com dilatação ventricular, pode ser necessária a colocação de derivação ven-
trículo-peritonial interna ou externa (DVP ou DVE).

Prognóstico e pós-operatório

Com relação ao prognóstico, tumores iguais ou maiores do que 5 cm são de pior prognós-
tico, porém, tumores de tamanhos menores também podem apresentar mau prognóstico, depen-
dendo da sua localização e sua aderência às estruturas cerebrais. As recidivas posteriores são fre-
qüentes, principalmente se ficaram restos da cápsula tumoral, sendo necessária nova intervenção
cirúrgica.
Bases do tratamento ›
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Devido à localização, dificuldades cirúrgicas e seqüelas pós-operatórias, o craniofaringeo-
ma apresenta grande morbidade. Como principal seqüela há a diabetes insipidus, que se caracte-
riza por volume urinário igual ou maior do que 4 ml/kg/hora, com densidade urinária menor do
que 1005 e osmolaridade plasmática menor do que 290 mOsm/l.

Deve-se realizar balanço hídrico para melhor se adequar à dose e ao horário do hormônio
antidiurético a ser administrado. No INCA, utiliza-se a esmopressina (DDAVP). Geralmente, a re-
posição se faz a cada 12 horas, mas deve-se ter atenção para somente administrá-la quando ini-
ciar a poliúria.

Relato de caso

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente
pediátrico portador de craniofaringeoma

Consulta ambulatorial

Identificação: M.C.R.S., 6 anos de idade, sexo feminino, cor branca, natural de Campos (RJ),
em fase pré-escolar. Compareceu ao ambulatório do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital
do Câncer I/INCA, acompanhada pelos genitores.

História da doença atual: pai relata que aos três anos de idade apresentou episódios re-
petidos de cefaléia que cedia com analgésicos. Há três meses, a professora informou que a crian-
ça estava com dificuldade em ler no quadro. Pais procuraram o oftalmologista, sendo indicado
uso de óculos. Há um mês, iniciou quadro de vômitos, sendo solicitada, em outra Instituição que
realizou seu atendimento, uma tomografia de crânio que evidenciou volumosa massa isodensa
de contorno lobulado, localizada na região supra-selar e se estendendo até o ventrículo lateral
e a região temporal esquerda de 10,5 cm x 5,0 cm com compressão e dilatação do III ventrículo.
Lá, foi submetida à colocação de uma derivação ventrículo-peritonial e, após a alta hospitalar, foi
encaminhada a um serviço de Oncologia Pediátrica, onde foi agendada a internação para exere-
se de tumor.

História da patologia pregressa: negam outras cirurgias, hospitalizações, transfusões


sangüíneas. Rubéola aos três anos.

História vacinal: esquema vacinal em dia, inclusive vacinação de varicela. A mãe, apesar
de relatar, não trouxe o cartão de vacinação.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
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História familiar: mãe, 38 anos, e pai, 47 anos, hígidos. Avô materno hipertenso e cardio-
pata, avô paterno hipertenso e avó materna com hipertensão arterial sistêmica e diabetes melli-
tus, faleceu de câncer de mama. Bisavós paternos, ambos tiveram câncer, um deles no pulmão.

Suporte familiar: única filha, reside com os pais e não possui irmãos, mãe informa bom
relacionamento dos familiares com a criança, sendo ela a sua principal cuidadora. Residência pró-
pria com três quartos, sala e cozinha, possui saneamento básico. O pai é engenheiro agrônomo
(funcionário público) e a mãe assistente social (desempregada), a renda familiar informada pelo
pai é suficiente para o sustento da família.

Exame físico: a criança estava lúcida, tranqüila, comunicativa, sorridente, respondendo às


solicitações quando questionada, hidratada, ativa, bastante comunicativa à abordagem interpela-
da, mucosas hidratadas, pele com turgor e elasticidade preservada, boa perfusão periférica, rede
venosa visível, sem linfonodos palpáveis. Com quadro de diminuição de acuidade visual e sensi-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

bilidade aumentada para a luminosidade.

Abdômen plano indolor à palpação superficial, com peristalse presente, diurese presente e
espontânea, mãe refere débito urinário de coloração clara e evacuação presente em dias alterna-
dos com fezes moldadas. Apresentando ferida operatória de colocação de derivação ventrículo-
peritonial (DVP) em região periumbilical e região cefálica, ambas com sutura íntegra, sem sinais
de flogose. Membros inferiores sem edemas. Mãe informa que a criança refere cefaléia, com grau
4, segundo Escala Visual Analógica (EVA), que cede ao uso de analgésicos.

Sinais vitais: temperatura axilar: 36,4ºC. Freqüência cardíaca: 92 bpm. Freqüência respi-
ratória: 24 irpm, com ausculta cardíaca e pulmonar normais. Pressão arterial: 90 x 60 mm/Hg.
Peso: 20,4 Kg (com 6 anos e 1 mês). Altura: 1,10 m. Índice de Massa Corpórea (IMC) (Kg/m2) =
0,09 (eutrófica).
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Quadro 21 – Principais diagnósticos e prescrições para a criança com tumor de Sistema Nervoso Central na consulta de
enfermagem ambulatorial

Diagnóstico Prescrição
• Indagar aos pais as características da dor de modo a incluir o
início/duração, a freqüência, a qualidade, a intensidade e os fatores
precipitantes
Dor na cabeça caracterizada • Determinar o impacto da dor sobre o sono, apetite, cognição e
por relato verbal, relacionada atividade de lazer na próxima consulta
à compressão de tumor
intracraniano • Controlar a luminosidade excessiva, na sua residência, capaz de
influenciar no quadro álgico ocasionando desconforto da criança
• Orientar os pais para oferecer o alívio da dor, observando a
prescrição médica e os horários dos analgésicos
Percepção sensorial • Observar o comportamento da criança em relação à visão
perturbada: visual diminuída (por exemplo: depressão, retraimento e negação), na
caracterizado por dificuldade residência
para ler, relacionada à

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


compressão do nervo • Incentivar a visão que a criança ainda possui, oferecendo livros
óptico causada pelo tumor com letras grandes, na sua residência
intracraniano • Encaminhar para o serviço de oftalmologia pediátrica (problema
colaborativo)
• Orientar os pais a lavar as mãos antes e após cada atividade de
cuidado da criança
• Orientar os pais para durante a higiene corporal não friccionar as
áreas das feridas operatórias
• Orientar os pais sobre sinais e sintomas de infecção na ferida
Risco de infecção operatória (febre, vermelhidão, calor na área, drenagem do
devido à ferida exsudato), duas vezes ao dia
operatória da derivação
• Fornecer material para curativos no domicílio
ventrículo-peritonial
• Orientar os pais para a realização da limpeza diária da ferida
operatória, (manipulando o material do curativo com técnica
limpa), com soro fisiológico 0,9% e gaze estéril, aplicando, após,
óleo à base de ácidos graxos essenciais, duas vezes por dia
• Orientar os pais quanto à melhor posição de descanso (atentando
para mantê-la em posição oposta à ferida operatória) para evitar
fricção
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
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Internação no centro de terapia intensiva pediátrica
no pós-operatório de craniotomia
para exerese de tumor com colocação
de derivação ventricular externa

A criança retornou do centro cirúrgico após ser submetida à ressecção de tumor de fos-
sa posterior. Apresentava-se sob efeito anestésico, não respondendo às solicitações verbais.
Entubada, respirando com suporte de ventilação mecânica em modo assistido-controlado com
FIO2 a 40%, apresentando parâmentros gasométricos PO2: 182 mm/Hg, PCO2: 57 mm/Hg, pH:
7,32 e saturação O2: 99,80%. Reagindo aos estímulos álgicos. A região cefálica apresentava-se
com curativo cirúrgico limpo e seco externamente e derivação ventricular externa aberta, sendo
colocada em nível de 13 cm H2O e com cabeceira elevada a 300. Apresentava hidratação venosa
em acesso venoso profundo em subclávia direita fluindo Ringer Lactato. Quanto à avaliação da
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

pressão arterial média, encontrava-se com cateter em artéria radial direita oscilante em 7 mm/Hg.
Ao exame de pele e mucosas, apresentava-se hipocorada ++ hidratada, com extremidades aque-
cidas e com boa perfusão periférica, pele da região dorsal íntegra. Na avaliação do abdômen, este
encontrava-se flácido com peristalse presente. Devido ao pós-operatório, encontrava-se em dieta
zero com sonda nasogástrica em sifonagem, com drenagem fluida de coloração clara em peque-
no volume. Quanto à palpação da bexiga, esta encontrava-se flácida, dando saída de diurese por
cateter vesical em débito elevado 70 ml/h. Na inspeção dos membros inferiores, apresentavam-se
sem edema.

Em relação à avaliação dos sinais vitais, apresentava temperatura axilar de 35,8ºC, freqüên­
cia cardíaca de 102 bpm, freqüência respiratória de 22 irpm e pressão venosa central medindo
10 cm H2O.

A mãe da criança apresentava-se tranqüila apesar de saber da gravidade da patologia, re-


ferindo que tanto ela quanto a criança receberam informações sobre o pós-operatório.
Bases do tratamento ›
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Quadro 22 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem para a criança em pós-operatório de tumor do Sistema
Nervoso Central

Diagnóstico Prescrição
Risco de infecção devido • Medir a drenagem do líqüido cefalorraquidiano (LCR) pelo cateter de DVE,
à presença de ferida observando a quantidade drenada e aspecto do mesmo a cada 6 horas, mantendo
cirúrgica e cateter de técnica asséptica
derivação ventricular
• Instituir protocolos de emergência, conforme a necessidade: convulsão, bacteremia
externa, entubação,
(coleta de amostras da drenagem do líqüido cefalorraquidiano e hemocultura) e
ventilação mecânica,
sinais de parada cardiorrespiratória nas 24 horas
cateter em artéria radial
direita, acesso venoso • Monitorar o local de inserção do cateter de DVE e da ferida cirúrgica para os sinais
profundo em subclávia de hiperemia e drenagem de LCR, a cada troca de curativo
direita, cateter vesical
• Administrar antibióticos conforme prescrição médica
• Realizar a mudança do circuito do ventilador mecânico uma vez na semana ou por
presença de sangue ou secreção abundante, mantendo técnica asséptica
• Realizar a troca do filtro do circuito do respirador e do sistema fechado de

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


aspiração, a cada 24 horas e quando presença de secreção abundante, mantendo
técnica asséptica
• Realizar a higiene das mãos antes de qualquer procedimento
• Manter curativos limpos e secos
• Orientar a equipe multiprofissional sobre o uso de técnica asséptica em todos os
procedimentos invasivos e administração de medicamentos endovenosos
• Investigar as vias invasivas, acesso venoso profundo, cateter arterial e cateter
vesical a cada 24 horas, observando sinais de hiperemia e flogose

• Realizar monitorização neurológica: avaliar nível de consciência, orientação,


memória, característica da fala, resposta a estímulos de 2 em 2 horas
• Administrar anticonvulsivante conforme prescrição médica
Capacidade adaptativa • Evitar atividades que aumentem a pressão intracraniana, realizando a higiene
intracraniana diminuída corporal com a cabeceira do leito a 30º
relacionada à craniotomia
• Medir a drenagem do LCR pelo DVE, observando a quantidade drenada e aspecto
pela presença da derivação
do mesmo a cada 6 horas, mantendo técnica asséptica
ventricular externa
• Monitorar o ponto zero do cateter de DVE em relação à cabeceira do leito de 6 em
6 horas
• Monitorar a pressão arterial média, pulso, respiração e temperatura axilar de 2 em
2 horas
• Verificar a freqüência, ritmo, profundidade e esforços das respirações de 6 em 6
horas e em qualquer sinal de alerta do ventilador mecânico

Ventilação espontânea
prejudicada caracterizada • Realizar ausculta pulmonar durante o exame físico, observando a presença de
pela presença do tubo ruídos respiratórios, tais como: sibilos, roncos e adventícios
orotraqueal, gasometria
PO2: 182 mm/Hg, PCO2: • Realizar aspiração orotraqueal quando identificados: presença de estertores e
57 mm/Hg, pH: 7,32, roncos nas vias aéreas na ausculta pulmonar
relacionado ao efeito • Monitorizar dispnéia, agitação e ansiedade, devido à presença de secreção no tubo
anestésico orotraqueal nas 24 horas
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
260
Diagnóstico Prescrição
• Posicionar o paciente lateralmente, para prevenir o acúmulo de secreção na
Desobstrução ineficaz de cavidade oral
vias aéreas caracterizada
por secreção oral e • Iniciar tratamento de fisioterapia respiratória (problema colaborativo)
traqueal, relacionada • Orientar o paciente e a família sobre as razões e as sensações esperadas associadas
à presença do tubo ao uso de ventiladores mecânicos, após avaliação diária da criança
orotraqueal e ventilador
mecânico • Verificar nas 24 horas se os alarmes do ventilador estão ativados
• Verificar nas 24 horas se as conexões do ventilador mecânico estão bem
adaptadas
Risco de desequilíbrio • Avaliar e registrar volume e aspecto de drenagem do cateter nasogástrico de 6 em
hidroeletrolítico devido 6 horas
à eliminação de secreção
• Comunicar à equipe médica quando o volume eliminado for excessivo para
gástrica pelo cateter e pelo
prescrição de reposição hidroeletrolítica nas 24 horas
débito urinário de 70 ml/h
devido à manipulação da • Avaliar e registrar volume e aspecto de eliminação do cateter vesical de 6 em 6
glândula hipófise durante horas
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

o ato cirúrgico
• Anotar o volume de líqüidos administrados por via endovenosa nas 24 horas
• Informar a equipe médica quando o volume urinário for superior ao cálculo da
superfície corporal da criança nas 24 horas
• Administrar o hormônio antidiurético conforme prescrição médica
• Monitorar a pressão arterial média de 2 em 2 horas
Bases do tratamento ›
261
Topografias selecionadas

Pele

As ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer de pele foram aborda-


das no capítulo de prevenção do câncer. Nesse capítulo, serão abordados aspectos importantes
do diagnóstico e tratamento cirúrgico dos diversos tipos de câncer de pele.

O profissional de saúde deve estar atento para a detecção precoce de algumas lesões que
são consideradas suspeitas ou pré-malignas. As principais são:

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


•Nevos melanocíticos - lesões pigmentadas, planas, acastanhadas e de tamanho va-
riável. Podem tanto estar presentes desde o nascimento (nevo congênito) ou surgir depois,
na infância ou juventude.

•Nevos displásicos - são nevos melanócitos, com características clínicas e histológi-


cas especiais, geralmente localizados no tronco. São maculopápulas de limites mal defini-
dos, irregulares, com pigmentação variável, geralmente múltiplos, que surgem no período
que vai da adolescência até cerca de 30 anos de idade.

•Xeroderma pigmentoso - é uma doença congênita da pele, caracterizada por alte-


rações degenerativas prematuras sob a forma de ceratoses, epiteliomatose maligna e hiper
ou hipopigmentação.

•Ceratose - é uma hiperqueratose potencialmente maligna, que se admite ser cau-


sada pela exposição crônica à luz solar (ceratose senil e actínica), ou devido à presença de
arsênico no organismo ou resultante da ingestão ou da injeção de arsênico (ceratose arse-
nical), geralmente na região palmar.

•Epidermodisplasia verruciforme - anomalia congênita, na qual ocorrem lesões ver-


rucosas nas mãos, nos pés, na face e no pescoço.

•Leucoceratose - é o espessamento e o embranquecimento anormais do epitélio de


uma membrana mucosa.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
262
•Radiodermite crônica - dermatose de natureza inflamatória ou degenerativa pro-
vocada por radiação ionizante. Manifesta-se clinicamente pelo aparecimento de eritemas
e pequenas vesículas serosas, que determinam ulcerações ou cicatrizes mais ou menos
profundas.

•Cicatrizes viciosas e ulcerações crônicas - lupus eritematoso, queimaduras de


Marjolin, úlcera fagedênica tropical, ulcerações crônicas nos terceiro e quarto espaços in-
terdigitais dos pés com bordos calosos, “calo mole”, liqüinificações circunscritas crônicas e
melanoses blastomatosas.

Classificação dos tumores de pele


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Câncer de pele não-melanoma

Carcinoma basocelular (CBC)

Corresponde a cerca de 70% dos cânceres de pele e há chance de cura quando diagnosti-
cado precocemente e operado corretamente. O carcinoma basocelular pode se apresentar como
um tumor de ulceração central e borda perolada, podendo sangrar e formar crosta, ou como uma
placa seca, áspera e que descama constantemente, sem cicatrizar. Sua localização preferencial é a
cabeça, o pescoço e o tronco. Não ocorre nas regiões plantar, palmar e mucosas. Raramente ocor-
re metástase, porém é amplamente invasivo.

O tratamento do carcinoma basocelular é cirúrgico e pode ser realizado através de cureta-


gem, eletrocoagulação, criocirurgia, terapia fotodinâmica e, em algumas condições clínicas que
impossibilitem a cirurgia, como a diabetes e a hipertensão, indica-se a radioterapia.

Figura 58 – Carcinoma basocelular esclerodermiforme Figura 59 – Carcinoma basocelular ulcerativo


Fonte: Dr. Dolival Lobão (Arquivo pessoal) Fonte: Dr. Dolival Lobão (Arquivo pessoal)
Bases do tratamento ›
263
Carcinoma espinocelular (CEC)

O carcinoma espinocelular, epidermóide ou de células escamosas prefere as regiões da cabe-


ça e pescoço, membros e tronco, sendo mais agressivo nas zonas de transição (entre pele e muco-
sas). Apresenta-se mais como uma lesão vegetante e propensa à ulceração e infiltração dos tecidos
profundos. Corresponde a aproximadamente 20% dos cânceres de pele e é curável quando opera-
do precocemente. O tratamento do CEC é cirúrgico em lesões recentes e menores que 1 cm na pele.
Realiza-se a eletrocoagulação e curetagem. Nas lesões maiores, realiza-se a excisão ou criocirurgia
com nitrogênio líqüido. Nas lesões extensas ou de longa duração, realiza-se a exerese ampla.

A metástase acontece por via linfática e, neste caso, indica-se a linfadenectomia.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Figura 60 – Carcinoma espinocelular ou epidermóide
Fonte: Dr. Dolival Lobão (Arquivo pessoal)

Câncer de pele melanoma

O melanoma maligno é uma lesão cutânea que apresenta uma variação de coloração do
preto ao marrom, que se eleva muito sobre a pele e ocasionalmente ulcera, sangra e se infecta.
Pode surgir por exposição excessiva à irradiação solar, alteração das características fenotípicas,
albinismo, nevo melanocítico pré-existente, nevo congênito, nevo displásico. Apresenta incidên-
cia de 3% a 4% das neoplasias de pele e alto índice de mortalidade. O diagnóstico precoce alcan-
çado por meios de programas educativos favorece a diminuição da taxa de mortalidade.

Figura 61 – Melanoma
Fonte: Dr. Dolival Lobão (Arquivo pessoal)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
264
Melanoma lentigo maligno (MLM)

Representa 4% a 10% de todos os melanomas. É uma lesão superficial sem relevo sobre a
pele, situada preferencialmente em face. Em geral, acomete indivíduos acima de 50 anos. É raro
em pessoas de pele escura ou negra. Apresenta-se com mais freqüência nas áreas fotoexpostas
(cabeça e pescoço, dorso das mãos e terço distal dos membros inferiores).
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Figura 62 – Melanoma lentigo maligno (MLM)


Fonte: Dr. José Francisco Rezende (Arquivo pessoal)

Melanoma tipo disseminação superficial (MDS)

Representa 70% de todos os melanomas. É geralmente associado à lesão preexistente.


Acomete qualquer idade após a puberdade. É mais comum em tronco e cabeça e pescoço.

Figura 63 – Melanoma tipo disseminação superficial (MDS)


Fonte: Dr. José Francisco Rezende (Arquivo pessoal)
Bases do tratamento ›
265
Melanoma acrolentiginoso ou acral (MAL)

Representa 2% a 8% dos melanomas em indivíduos de pele clara, 30% a 60% em indivídu-


os da raça negra, hispânicos e asiáticos. A maior incidência acontece em indivíduos com idades
entre 50 e 65 anos. Apresenta-se nas regiões subungueal, palmar e plantar.

Outros tipos, de forma rara, localmente agressivos e com altos índices de recidiva são o me-
lanoma amelanócito e o melanoma desmoplásico.

Cabe ressaltar que outras lesões possuem características parecidas com o melanoma, ha-
vendo necessidade do diagnóstico diferencial. Entre elas, estão: basocelular pigmentado, hema-
toma subungueal, granuloma piogênico, carcinoma epidermóide, ceratose seborréica.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Figura 64 – Melanoma acrolentiginoso ou acral (MAL)
Fonte: Dr. José Francisco Rezende (Arquivo pessoal)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
266
Estadiamento

Existem duas classificações descritas para localização anatômica dos tumores: a clínica e
a patológica.

Classificação clínica

A classificação clínica (pré-tratamento), designada TNM, tem por base as evidências obti-
das antes do tratamento, tais como: localização anatômica e extensão clínica e patológica da do-
ença; duração dos sinais ou sintomas; gênero e idade do paciente; diagnóstico por imagem e bi-
ópsia pré-operatória.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Estádio 0 - Tis, N0, M0

Conduta: ressecção com margem mínima microscopicamente livre (0,5 cm).

Estádio I - T1–1,0 mm

Conduta: ressecção com margens de 1 cm.

Estádio II - T2 - 1,01–2,0 mm

Conduta: ressecção com margens de 2 cm.

Estádio III - T3 – 2,01–4,0 mm

Conduta: ressecção com margens de 2 cm.

Estádio IV - T4–4,00 mm

Conduta: ressecção com margens de 2 cm.

Classificação patológica

A classificação patológica (classificação histopatológica pós-cirúrgica), designada pTNM,


tem por base as evidências obtidas antes do tratamento, complementadas ou modificadas pelas
evidências através da cirurgia e do exame histopatológico.

O Sistema TNM – T (extensão do tumor primário), N (a ausência ou presença e a extensão


de metástase em linfonodos regionais) e M (a ausência ou presença de metástase a distância) –
trabalha, prioritariamente, com a classificação por extensão anatômica da doença, determinada
clínica e histopatologicamente (quando possível).

Todas essas bases representam variáveis, que têm influência na evolução da doença.
Bases do tratamento ›
267
A primeira tarefa do médico é fazer uma avaliação do prognóstico e decidir qual o trata-
mento mais efetivo a ser realizado.

Prognóstico

O prognóstico depende dos parâmetros de estadiamento pelo TNM (Classificação de


Tumores Malignos), no qual são avaliados os níveis de invasão histológica Clark (quadro 23) e de
espessura do tumor Breslow (quadro 24).
Quadro 23 - Classificação de Clark – tumor primário cutâneo

Nível ( N ) Localização
NI in situ, intraepidérmico, atingindo membrana basal

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


N II derme papilar
N III derme papilar, até o limite da derme papilar-reticular
N IV derme reticular até hipoderme
NV hipoderme
Quadro 24 – Classificação de Breslow - tumor primário cutâneo

Extensão (T) Espessura


Tis in situ
TI até 0,75 mm
T II de 0,75 mm até 1,5 mm
T III de 1,5 mm até 3,0 mm
T IV de 3,0 mm até 4,0 mm
TV acima de 4,0 mm

A regra ABCD é utilizada pelo profissional de saúde para encaminhar as lesões suspeitas
de câncer de pele para uma instituição especializada (vide a descrição da regra no capítulo da
prevenção).

Tratamento do melanoma

A cirurgia é indicada em todas as fases, desde o diagnóstico até o tratamento paliativo,


agindo na fase inicial, na doença locorregional e nas lesões metastáticas passíveis de procedi-
mento cirúrgico.

Na lesão primária, deve ser realizada, preferencialmente, a biópsia excisional, pois ofere-
ce todas as informações necessárias ao microestadiamento e planejamento terapêutico. Para as
grandes lesões e em locais onde a biópsia excisional é de localização difícil, a indicação é de bi-
ópsia incisional.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
268
Nas metástases em trânsito (metástase entre a lesão primária e a cadeia de drenagem lin-
fática), com lesão única ou poucas lesões, deverá ser indicada a ressecção. Nas lesões múltiplas,
deverá ser considerada a radioterapia e a quimioterapia sistêmica.

Quando há metástase, o melanoma é incurável na maioria dos casos. A estratégia de tra-


tamento para a doença avançada deve ter como objetivo aliviar os sintomas e melhorar a quali-
dade de vida do paciente.

Nos melanomas malignos, a radioterapia pode ser indicada nas lesões não ressecáveis na
tentativa de torná-las operáveis de forma paliativa.

A quimioterapia é realizada sistematicamente com Dacarbazina para tratamento paliativo.

O seguimento ambulatorial é realizado por controles periódicos a cada 4-6 meses, por 2
anos, em tumores com menos de 1,0 mm e a cada 4-6 meses, por 5 anos, em tumores maiores
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

do que 1,0 mm.

O exame clínico de controle é realizado pela inspeção do local em que o tumor foi excisa-
do, pela palpação das cadeias linfáticas à procura de linfonodos palpáveis e pela radiografia dos
pulmões.

Linfonodo sentinela

É a identificação do primeiro ou primeiros linfonodos da cadeia linfática. A técnica foi in-


troduzida em 1992, por Morton et al (1992). O método visa a utilizar a linfocentigrafia (tecnécio
associado ao enxofre coloidal com injeção do corante azul patente). Consiste em localizar o lin-
fonodo comprometido com neoplasia para realizar a linfadenectomia.

A avaliação histopatológica do linfonodo sentinela se faz pela técnica imprint e


imunoistoquímica.

Linfadenectomia

É a ressecção da cadeia linfonodal axilar ou inguinal, conforme o sítio da lesão. É indicada


quando há a presença de linfonodo comprometido pela neoplasia, documentado por punção as-
pirativa por agulha fina (PAAF) ou biópsia. É um procedimento cirúrgico com possíveis morbida-
des, tais como: linfedema e linfangite do membro.

 É uma técnica que consiste em fazer a impressão de uma amostra de tecido tumoral em uma lâmina de
vidro.
 Técnica que realiza uma reação enzimática no tecido com suspeita de diagnóstico tumoral, sendo a
técnica de escolha quando o diagnóstico histopatológico (pela coloração hematoxina e eosina) não for
conclusivo.
Bases do tratamento ›
269
Relato de caso

Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com


câncer de pele

Informações gerais: B.B.M., 70 anos, sexo feminino, natural do Estado do Rio de Janeiro, 1º
grau incompleto, do lar, aposentada, com renda insuficiente para auto-sustentação.

Histórico da doença: foi submetida, em uma instituição de saúde, à uma biópsia de le-
são nodular, de aspecto escurecido, em face medial plantar do calcâneo esquerdo. O resultado do
exame anatomopatológico revelou melanoma acral. Após realização de exames pré-operatórios,

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


foi submetida à ressecção desta lesão. Percorridos seis anos, a paciente procurou a mesma uni-
dade de saúde com queixa de aparecimento de uma “ferida” em face medial plantar do calcâneo
esquerdo, que iniciou-se com o aparecimento de uma “mancha marrom, que escureceu, aumen-
tou de tamanho e virou uma ferida”. Foi submetida à biópsia da lesão, sendo revelada recidiva de
melanoma acral. Foi encaminhada a um hospital especializado em Oncologia para tratamento. A
revisão da lâmina, trazida pela paciente, foi solicitada pela clínica de atendimento, sendo confir-
mado o diagnóstico de melanoma acral. Na deliberação da mesa redonda desta clínica, foi indi-
cada a realização da ressecção da lesão. Foram solicitados exames clínicos pré-operatórios e de
estadiamento. O resultado anatomopatológico revelou melanoma maligno acral nível IV Clark e
espessura do tumor Breslow de 4,7 mm, com limites livres de doença.

Antecedentes pessoais: nega diabetes, hipertensão arterial severa, cardiopatias e pneu-


mopatias. Portadora de vitiligo em mãos e membros inferiores.

Antecedentes familiares: nega história de câncer na família.

Hábitos de vida: nega tabagismo e etilismo.

Sinais vitais: pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg (normotensa). Freqüência cardíaca: 82


bpm (cheio e regular). Freqüência respiratória: 22 irpm (eupnéica, sons respiratórios normais).
Temperatura axilar: 36ºC (normotérmica). Peso: 70 Kg. Altura: 1,58 m. IMC (Kg/m2 ) = 22,15
(eutrófica).

Consulta de enfermagem

Na consulta de enfermagem, no período admissional, apresenta-se lúcida, orientada, co-


municativa, respondendo às solicitações verbais com coerência. Nega episódios álgicos. Refere
residir em imóvel próprio, no mesmo terreno que um filho; demais filhos residem nas imedia-
ções. Viúva, oito filhos adultos, convívio familiar amistoso, uma das filhas acompanha e partici-
pa do seu tratamento. É católica praticante e refere que pertence a uma fraternidade religiosa
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
270
em que todos são “irmãos” e se ajudam. Encontra-se tranqüila e apóia-se na religião e nos ami-
gos da fraternidade.

O transporte para o hospital é realizado por um “irmão” da fraternidade. Nega perda de


peso, alergia medicamentosa e alimentar. Informa ter sido orientada sobre o resultado da bi­ópsia,
possíveis tratamento cirúrgico ou medicamentoso e desconhece as rotinas pré-operatórias e as
informações sobre a patologia. Dorme 8 horas por dia, com tranqüilidade, sem interrupções.
Refere dificuldade para realizar higiene corporal e íntima sozinha devido à lesão do calcâneo, que
dificulta a deambulação. Alimenta-se sozinha, quatro vezes ao dia, referindo uma refeição principal
com proteína, carboidratos e leguminosos, com sobremesa doce ou fruta e dois lanches com car-
boidratos e proteínas. A ingesta hídrica é de apenas 1.000 ml por dia. Eliminação urinária de colo-
ração amarela clara; fezes moldadas com freqüência de uma vez ao dia. Apresenta bom estado ge-
ral de higiene, couro cabeludo íntegro, cabelos finos e quebradiços, hipotricose, pele com turgor e
elasticidade diminuída, sem edemas, mucosas oral e jugal íntegras, mucosa ocular normal, ausên-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

cia de cinco elementos dentários na arcada inferior, com prótese dentária na arcada superior, refe-
re consultar o dentista esporadicamente. Houve a necessidade de extração dos elementos dentários
por presença de cárie. Refere alimentar-se com dieta pastosa devido à dificuldade de triturar os ali-
mentos. Apresenta unhas lisas, firmes, de coloração rósea. Presença de nevo elevado de coloração
amarronzada em face medial do braço esquerdo, pele com mobilidade aumentada, presença de le-
são ulcerada em região plantar esquerda, com exsudato seroso, coloração acastanhada, odor discre-
to, drenagem moderada, bordos desvitalizados e área perilesional íntegra.

Refere ter recebido informações sobre a patologia, porém informa ter esquecido.

Pré-operatório

Após a indicação do tratamento cirúrgico, os diagnósticos de enfermagem identificados na


consulta de enfermagem pré-operatória foram os mostrados no quadro 25, a seguir.
Bases do tratamento ›
271
Quadro 25 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem na fase pré-operatória

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar a filha da paciente, na consulta, à continuidade do apoio oferecido
Disposição para enfrentamento no momento em que foi indicada a necessidade de realização de outra
familiar aumentado, devido cirurgia devido à recidiva do melanoma
ao relato de ser viúva, ter oito • Encaminhar a paciente e os familiares ao Serviço Social para que recebam
filhos adultos, convívio familiar orientações sobre os direitos dos pacientes com câncer, e suporte para a
amistoso e envolvimento da filha manutenção do tratamento no dia da consulta
no tratamento
• Informar aos familiares dias e horários de visitas no hospital e o direito da
paciente em permanecer com acompanhante durante o período de internação
hospitalar
Disposição para bem-estar
espiritual aumentado, devido • Encorajar a paciente a procurar a sua rede social (membros da igreja,
ao relato de que é católica parentes, amigos) para apoio espiritual nos dias de encontros da igreja
praticante e que apóia-se
• Orientar a paciente e familiares de que o hospital oferece assistência
na religião e nos amigos da
espiritual no período da internação hospitalar, podendo ser solicitada através

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


fraternidade
do grupo de voluntários

Volume de líqüido deficiente • Orientar o uso de hidratante para a pele diariamente, após higiene
por diminuição do turgor e corporal
elasticidade, relacionado à pouca • Incentivar a ingesta hídrica oral, considerando, no mínimo, 2 litros de água
ingesta líqüida (1.000 ml/dia) por dia nos intervalos das refeições
• Orientar a paciente à realização de procedimentos de higiene oral com
Mastigação prejudicada, escova e creme dental, após todas as refeições ou, no mínimo, três vezes ao
caracterizada pelo relato de dia
dificuldade para triturar os
• Orientar quanto à importância de consulta ao dentista em rede pública
alimentos, relacionada à ausência
duas vezes ao ano
de dentes na arcada inferior
• Sugerir a ingestão de alimentos pastosos que facilitem a mastigação
Déficit no autocuidado para • Orientar a paciente, na consulta, a solicitar o auxílio de outra pessoa ou
higiene corporal e íntima utilizar muleta/bengala que permita apoio do membro inferior esquerdo para
prejudicada, caracterizado permitir o autocuidado
pela incapacidade de realizá-lo • Ensinar a paciente, na consulta, a usar a muleta/bengala de modo a
sozinha, relacionado à lesão do intensificar o conforto, promover a integridade da pele e favorecer a
calcâneo esquerdo independência
Integridade tissular do
calcâneo esquerdo prejudicada,
caracterizada pela lesão ulcerada
• Orientar, na consulta, sobre a renovação da cobertura da lesão tumoral,
em região plantar esquerda, com
realizando limpeza com soro fisiológico 0,9 %, gaze não aderente (gaze
exsudato seroso, de coloração
embebida em parafina ou petrolatum) e oclusão seca (compressa de curativo
acastanhada, de odor discreto,
ou gaze hidrófila) diariamente ou sempre que saturar
drenagem moderada, bordos
desvitalizados e área perilesional
íntegra

• Esclarecer, na consulta, sobre a patologia e a importância do auto-exame da


Conhecimento deficiente sobre
pele, observando o aparecimento de manchas que alteram de cor, aumentam
a rotina do pré-operatório
de tamanho e feridas que não cicatrizam
e patologia (melanoma),
caracterizado pelo relato de • Explicar as rotinas hospitalares da internação
desconhecimento da paciente,
• Explicar, na consulta, a importância da imobilização do pé esquerdo após a
relacionado à falta de informação
cirurgia e a razão desta intervenção até o pós-operatório mediato e tardio
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
272
Pós-operatório

Foi solicitada pelo enfermeiro da clínica cirúrgica a avaliação da ferida operatória pelo en-
fermeiro da comissão de controle e suporte de curativos. Esta comissão utiliza um formulário de
avaliação de feridas (Anexo V) e por meio dele foram identificadas as seguintes características na
ferida na face medial do calcâneo esquerdo: leito da ferida e bordos cruentos, com exsudação he-
mática de drenagem moderada, área periferida íntegra.

Paciente acamada conforme a rotina de pós-operatório mediato do serviço, referindo dor


na ferida operatória com escore 6 na escala visual analógica. Foi realizada a troca do curativo com
orientações à paciente e à cuidadora (filha) sobre a periodicidade de troca do curativo e cuidados
com a ferida operatória, em residência, após a alta hospitalar, ação dos produtos utilizados, ne-
cessidade de proteção do membro inferior esquerdo contra traumas. Foi informada sobre a ne-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

cessidade de retorno ao ambulatório para acompanhamento da cicatrização da ferida operatória.


Também, foi fornecido material para realização do curativo em residência e orientação quanto ao
acesso telefônico para esclarecimento de dúvidas.

Paciente recebeu alta hospitalar após 72 horas de internação. Ao retornar para revisão do
pós-operatório, 7 dias após a alta hospitalar, apresentava-se tranqüila, locomovendo-se com au-
xílio de cadeira de rodas, acompanhada da filha, sendo relatados, pela paciente, trauma mecâni-
co no local da ferida operatória, ocorrido há 24 horas por queda da própria altura e a dificuldade
de adaptar-se à nova rotina de dependência física de terceiros para deambulação, permanecen-
do por longo período na cama. Também, refere dificuldade em realizar a higiene corporal e ínti-
ma e vestir-se sozinha. Ao renovar a cobertura da ferida operatória, pela enfermeira, foi identifi-
cada a presença de exsudação hemática, de drenagem abundante. Foi realizada sutura cirúrgica
pelo médico, troca do curativo e reforçada a importância de proteção do membro operado contra
traumas. O seguimento ambulatorial acontecerá a cada 7 dias, até a total epitelização da lesão e,
após, bimensal, conforme rotina da clínica cirúrgica de origem.

No período pós-operatório, foram identificados os principais diagnósticos de enfermagem,


conforme quadro 26.
Bases do tratamento ›
273
Quadro 26 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Dor aguda na ferida operatória
caracterizada por escore 6 • Proporcionar alívio da dor com analgésico, conforme prescrição médica
na escala visual analógica,
relacionada à imobilidade • Indicar medidas que facilitem o posicionamento do membro operado no
física e mudanças na marcha, leito (mudança de decúbito de hora em hora, mantendo o membro operado
relacionadas às restrições de elevado a 30º)
movimentos do membro operado

Integridade tissular prejudicada, • Orientar a paciente e cuidadora sobre a renovação da cobertura da ferida
caracterizada por ferida na face operatória, diariamente, utilizando soro fisiológico 0,9% e cobertura primária
medial do calcâneo, com leito à base de alginato de sódio e cálcio, finalizando com oclusão seca
e bordos cruentos, exsudação • Realizar renovação da cobertura da ferida operatória, diariamente pela
hemática de drenagem moderada manhã, utilizando soro fisiológico 0,9% e cobertura primária a base de
e área perilesional íntegra, alginato de sódio e cálcio, finalizando com oclusão seca pela equipe de
relacionada ao trauma cirúrgico enfermagem no período de internação hospitalar

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Déficit no autocuidado para
banhar-se, vestir-se/arrumar-se,
na residência, caracterizado por
• Orientar a paciente a solicitar a ajuda da filha durante o banho, utilizar
incapacidade de colocar roupas
cadeira higiênica, e disponibilizar o vestuário e o calçado em local de fácil
na parte inferior do corpo, calçar
acesso diariamente
meias e sapatos, relacionada à
impossibilidade de apoio do pé
no chão
• Encaminhar, na consulta, ao Serviço de Fisioterapia para providenciar
Deambulação prejudicada, equipamentos que facilitem a movimentação
caracterizada por incapacidade
• Reforçar, na consulta, a importância dos exercícios diários para manter ou
de andar curtas distâncias,
aumentar a força muscular dos membros inferiores
relacionada à impossibilidade de
apoio do pé no chão • Orientar a paciente a transferir-se da cadeira de rodas para a cama e vice-
versa com o auxílio de outra pessoa sempre que precisar locomover-se

• Orientar a paciente e cuidadora a observar os sinais e sintomas de infecção


na ferida operatória (febre, vermelhidão, calor no membro operado, drenagem
do exsudato), duas vezes ao dia
• Orientar a paciente e cuidadora a verificar a temperatura axilar a cada 4
horas
• Orientar, na consulta, a paciente e cuidadora sobre medidas para prevenir
Risco de infecção devido às infecção (lavar as mãos antes e depois de realizar os curativos, manipular o
defesas primárias inadequadas material do curativo com técnica limpa) quando realizar o curativo diário na
(ferida operatória) residência
• Orientar a paciente, cuidadora e a equipe de enfermagem a detectar sinais
de sangramento no local da ferida operatória três vezes ao dia, realizando
compressão local com gaze sobre a ferida e procurar o hospital para
avaliação
• Orientar a paciente e a cuidadora a proteger o calcâneo esquerdo contra
trauma mecânico (mantendo o membro operado livre de pressão externa)
Promoção da Saúde relacionada
• Ensinar a avaliação sistemática da pele e orientar sobre a importância da
ao potencial de recidiva de lesão
avaliação mensal para identificar sinais iniciais de lesões de pele
maligna de pele
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
274
Mama

Relato de caso

Conteúdo teórico, diagnóstico e prescrição de enfermagem para


paciente com câncer de mama

Identificação: M.C.S., 46 anos, sexo feminino, branca, viúva, pensionista, natural e proce-
dente de Mangaratiba (RJ).
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Queixa principal: caroço no seio direito.

História da doença atual: a paciente relatou que há cerca de dois meses notou a presen-
ça de um nódulo na mama direita. Procurou assistência em uma unidade de saúde do seu mu-
nicípio e foi então submetida ao exame clínico das mamas, mastografia e biópsia de fragmento
por agulha grossa (core-biopsy). O laudo histopatológico resultou positivo para malignidade, tipo
Carcinoma Ductal Infiltrante (CDI).

Encaminhada ao Hospital do Câncer III, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), depois de


matriculada, lhe foram solicitados os exames complementares pré-operatórios e de estadiamen-
to da doença, para posterior deliberação terapêutica. A paciente referiu “medo de morrer de cân-
cer” e demonstrou resistência à possibilidade de perder a mama e “fazer tratamento que vai cair o
cabelo”, conforme soube por outras pacientes, na sala de espera. Nessa oportunidade, apresenta-
va-se chorosa, com os olhos lacrimejantes, inquieta e com movimentação ativa das mãos. Muito
nervosa, repetia insistentemente que tinha “medo do tratamento”.

Antecedentes pessoais: menarca aos 10 anos. Data da última menstruação: 1º de maio de


2007. Ciclos menstruais irregulares. Gesta II para I, parto normal aos 16 anos e um abortamen-
to espontâneo aos 28 anos. Está em uso de anticoncepcionais orais há 6 anos. Amamentação por
três meses. Viroses próprias da infância. Apendicectomia aos 10 anos. História de hipertensão ar-
terial sistêmica, com relato de controle medicamentoso no Posto de Saúde.

Antecedentes familiares: mãe e prima falecida por câncer de mama. Um tio falecido por
câncer de pulmão. Tia materna com câncer do colo do útero e outra com câncer de fígado. Mãe
com história de hipertensão arterial severa.

Hábitos de vida: etilista social. Boas condições de moradia, alimentação e higiene.

Suporte familiar: reside com companheiro há cinco meses, tem uma filha de 30 anos e
dois netos menores de idade. Refere bom relacionamento familiar. Comparece desacompanhada
para a consulta porque julgou desnecessário o acompanhamento nesse momento. Utiliza trans-
porte da Secretaria Municipal de Saúde.
Bases do tratamento ›
275
Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 160 x 100 mm/Hg. Freqüência
cardíaca: 72 bpm. Temperatura axilar: 36ºC. Freqüência respiratória: 20 irpm. Peso: 84,5 kg. Altura:
1,60 m. Obesidade grau I.

Cabeça e pescoço: faces de ansiedade, mucosas normocoradas, escleróticas anictéricas,


eupnéica, apirética, pele seca, voz rouca, cabelos quebradiços. Diminuição da acuidade visual com
uso de lentes corretivas. Tireóide normal, superfície regular, móvel à deglutição. Linfonodos cer-
vicais impalpáveis.

Tórax: simétrico; expansibilidade torácica diminuída. Ritmo cardíaco regular. Ausência de


sopros.

Exame das mamas: inspeção: mamas volumosas e assimétricas, sendo a mama esquerda
(ME) maior do que a mama direita (MD). À inspeção estática e dinâmica, ausência de retrações e
alteração no contorno mamário.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Palpação: mama direita: nódulo na região retroareolar de aproximadamente 3,0 cm, mó-
vel e endurecido. Outro nódulo móvel e mal definido, de aproximadamente 2,5 cm, no quadrante
superior externo (QSE) (11 horas). Axila direita sem linfonodos palpáveis. Mama esquerda: parên-
quima normal. Axila esquerda sem linfonodos palpáveis. Fossa supraclavicular bilateral: negati-
va, sem nódulos palpáveis.

Abdômen: globoso; palpação prejudicada pela adiposidade.

Membros: sem edemas e/ou outras alterações.

Conduta

Como a paciente residia em outro município, foi encaminhada ao Serviço Social para soli-
citação de transporte através do Programa de Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Devido ao so-
brepeso, também foi encaminhada à nutricionista, para avaliação e orientação dietética.

Apesar de apresentar a pressão arterial alterada, a paciente informa utilizar a medicação


prescrita diariamente e medir a pressão com assiduidade, negando alterações expressivas da mes-
ma, a não ser quando está “nervosa como agora”. A enfermeira procurou tranqüilizar a paciente
e reafirmou a orientação quanto à importância de manter o acompanhamento e a medicação re-
lacionados à hipertensão arterial.

Quanto aos questionamentos da paciente em relação ao diagnóstico e tratamento (“o que


eu tenho?”, “vou ficar curada desta doença?”, “vou ter que tirar a mama ?”, “vou ter que fazer
o tratamento que cai o cabelo?”), foi esclarecido que primeiro seria necessário ter um diagnós-
tico definitivo, para então se discutir sobre as possibilidades de tratamento. Tendo em vista o
grau de ansiedade da paciente, após apoio emocional inicial, ela foi encaminhada ao serviço de
Psicologia.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
276
Recebeu orientação quanto à realização dos exames solicitados na consulta médica e quan-
to ao retorno para a próxima consulta com o médico, quando será decidida a conduta terapêuti-
ca. Foi enfatizada a importância da presença de acompanhante na próxima consulta médica, para
que a paciente se sinta apoiada e discuta com a equipe de saúde e seu acompanhante sobre a
conduta terapêutica a ser proposta.

Nessa oportunidade, espera-se esclarecer as dúvidas e questionamentos que possam ocor-


rer em relação à doença e seu tratamento e, ao final, que a paciente e seu acompanhante sejam
orientados, esclarecidos e estejam em concordância com a proposta terapêutica.

Retorno à consulta médica


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Ao se avaliar os resultados dos exames solicitados, foi definido o seguinte estadiamento clí-
nico: T2 N0 M0 - IIA. Foi indicada a mastectomia simples direita, com estudo do linfonodo senti-
nela à direita, após a confirmação do diagnóstico histopatológico de carcinoma ductal infiltrante,
por meio da revisão da lâmina realizada pelo serviço de Anatomia Patológica.

Após esclarecimento da proposta de tratamento cirúrgico, suas necessidades, finalidade e


possíveis efeitos adversos, a paciente, que estava acompanhada de sua filha, concordou e autori-
zou a mastectomia. Foi, então, marcada a data de internação para a cirurgia.

Consulta de enfermagem na internação hospitalar

A paciente comparece deambulando sem dificuldades, acompanhada pela filha, e relatan-


do estar tranqüila. No entanto, apresenta os olhos lacrimejantes e mostra-se inquieta, com mo-
vimentação constante das mãos. Está ciente e de acordo com a proposta cirúrgica, embora con-
tinue ansiosa em relação ao diagnóstico de câncer e às conseqüências para sua vida, à perda da
mama e à proposta de tratamento adjuvante que será indicada. Informa estar realizando acom-
panhamento com a nutricionista, visando à perda de peso (já perdeu 2 kg) e reeducação alimen-
tar. Nega processo infeccioso e contagioso nas últimas 24 horas. Usou a medicação anti-hiper-
tensiva como de costume. Pressão arterial: 160 x 90 mm/Hg e os demais sinais vitais estáveis:
temperatura axilar: 36ºC, freqüência cardíaca: 82 bpm, freqüência respiratória: 22 irpm, EVA = 0.
Nega alergias. Informa não utilizar nenhum tipo de prótese. À inspeção, a pele se encontra ínte-
gra e com boas condições de higiene. Membros inferiores com ausência de edemas e/ou varizes.
Refere sono tranqüilo, de 7 horas por noite, sem uso de medicação. Eliminação urinária espontâ-
nea, com urina clara e sem dor à micção. Função intestinal diária, com fezes moldadas. Foi orien-
tada quanto às rotinas hospitalares e aos cuidados no pré e no pós-operatório. Reafirmou-se que
o tratamento adjuvante só poderá ser discutido e decidido na consulta médica após a cirurgia,
com o resultado do laudo histopatológico e em conjunto com a paciente.
Bases do tratamento ›
277
Quadro 27 – Principais diagnósticos e prescrições na consulta de enfermagem de internação pré-operatória

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO

• Encorajar a paciente a explicar os motivos de sua ansiedade ante a cirurgia


(na admissão)
• Iniciar o diálogo relativo às preocupações sobre o diagnóstico de câncer
(na admissão)
• Corrigir qualquer conceito ou informação incorreta que a paciente tenha
sobre a cirurgia (na admissão)
Ansiedade relacionada ao
conhecimento deficiente sobre • Explicar os procedimentos necessários para realização da cirurgia (preparo,
os efeitos imediatos e de longo rotinas pré e pós-operatórias, presença de drenos) (na admissão)
prazo da mastectomia e com • Esclarecer as dúvidas e questionamentos que possam ocorrer em relação
o prognóstico e o tratamento à doença e ao tratamento adjuvante, na admissão e durante o período de
adjuvante, caracterizada por internação, quando se fizer necessário
olhos lacrimejantes, inquietação,
movimentação ativa das mãos, • Reforçar as explicações do médico sobre o tratamento cirúrgico (estudo do

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


verborréia linfonodo sentinela e procedimento cirúrgico) (na admissão)
• Explicar os efeitos terapêuticos e colaterais mais comuns do tratamento
cirúrgico (eliminação da doença local; risco para infecção; risco para
linfedema, redução da circulação, realização de exercícios e cuidados com o
membro superior homolateral à cirurgia) (na admissão)
• Fornecer folhetos explicativos com orientações sobre o pré-operatório (na
admissão)

Hipertensão relacionada • Verificar a pressão arterial de 4 em 4 horas, durante o período de


à condição de ansiedade, internação
caracterizada por pressão arterial
elevada (160/90 mm/Hg), mesmo • Administrar medicação anti-hipertensiva, conforme prescrição médica
com medicação apropriada • Minimizar a ansiedade conversando com a paciente, esclarecendo dúvidas
e procurando distraí-la durante o período de internação

• Encorajar a participação da família no processo de internação para a


cirurgia e de reabilitação no pós-operatório (na admissão)

Disposição para processo familiar • Orientar a filha sobre o processo pré-operatório (na admissão)
melhorado, caracterizada • Estimular o vínculo familiar mãe e filha, através da participação nas decisões
por interesse da filha no e atividades de cuidado (na admissão e no dia da alta)
acompanhamento
• Procurar identificar outros membros da família para que participem do
processo de tratamento e reabilitação da paciente (na admissão, no horário
de visita e antes da alta)

Discussão

Sistematização do diagnóstico: o câncer não possui características clínicas específicas e


pode acometer qualquer tecido, órgão ou sistema do corpo humano. Por isso, é necessário siste-
matizar as suas bases diagnósticas, objetivando a avaliação da lesão inicial e a pesquisa de me-
tástases. São necessários conhecimentos básicos sobre o comportamento biológico dos tumores
e suas relações com o hospedeiro, para que se possa prever a sua evolução e para assegurar con-
dutas corretas de diagnóstico e de estadiamento.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
278
Esse caso ilustra alguns aspectos importantes em relação ao câncer de mama. A Sra. M.C.S.
apresenta fatores de risco que estão associados ao câncer de mama, como menarca precoce, his-
tória familiar de câncer de mama (este se configurando em fator de alto risco pela história de
M.C.S.) e a obesidade. A dieta vem sendo apontada como um fator de risco, principalmente quan-
do excessivamente rica em gorduras, carboidratos e proteínas. Já o curto período de aleitamento
não é, ainda, fator de risco bem definido.

Quanto ao auto-exame, através do qual foi descoberto o nódulo na mama da Sra. M.C.S., a
maioria das investigações sugere um impacto positivo e os achados assinalam que quem o pra-
tica, em comparação com quem não o faz, tem tumores primários menores e menor número de
linfonodos axilares acometidos (veja o capítulo sobre ações de enfermagem na prevenção primá-
ria e secundária do câncer).

Com relação ao diagnóstico e tratamento cirúrgico de pacientes com doença mamária ma-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

ligna, a Sra. M.C.S. teve diagnosticado um tumor de mama direita com estadiamento clínico IIA
(T2 N0 M0), no qual:

T2 = Tumor de 2,1 a 5 cm de diâmetro

N0 = sem metástases nos linfonodos regionais

M0 = sem metástase a distância

Estadiamento significa o agrupamento dos pacientes de acordo com a aparente extensão


de seus tumores e é baseado em achados clínicos e histopatológicos. No caso do câncer de mama,
o estadiamento clínico é baseado nas características TNM (T se refere ao tamanho do tumor, N ao
comprometimento nodal e M à presença de metástases) (ver quadro 28).
Bases do tratamento ›
279
Quadro 28 – Classificação clínica do câncer de mama de acordo com o TNM

T - Tumor
Tx Tumor primário, não pode ser avaliado
T0 Sem evidência de tumor primário
Carcinoma in situ
Tis (DCIS) Carcinoma ductal in situ
Tis
Tis (LCIS) Carcinoma lobular in situ
Tis (Paget) Doença de Paget da papila sem tumor

Tumor de até 2,0 cm em sua maior dimensão

T1 mic microinvasão de até 0,1 cm em sua maior dimensão


T1
T1a Lesão entre 0,1 e 0,5 cm em sua maior dimensão
T1b Lesão entre 0,5 e 1,0 cm em sua maior dimensão
T1c Lesão entre 1,1 e 2,0 cm em sua maior dimensão

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


observações:
A Doença de Paget associada a tumor é classificada de acordo com o tamanho do
tumor.
microinvasão é a extensão de células cancerosas além da membrana basal, alcançando
os tecidos adjacentes, sem focos tumorais maiores do que 0,1 cm em sua maior
dimensão. Quando há focos múltiplos de microinvasão, somente o diâmetro do
maior foco é utilizado para classificar a microinvasão (não usar a soma dos focos
individuais). A presença de múltiplos focos de microinvasão deve ser anotada, como
se faz com os múltiplos carcinomas invasores.
T2 Tumor entre 2,1 e 5,0 cm em sua maior dimensão
T3 Tumor de mais de 5,1 cm em sua maior dimensão
Tumor de qualquer dimensão com extensão direta à parede torácica ou
à pele
T4a Extensão à parede torácica
T4b Edema, inclusive “peau d’orange”, ou ulceração de pele
T4
mamária, ou nódulos cutâneos satélites confinados a mesma
mama
T4c Ambos T4a + T4b
T4d Carcinoma inflamatório
observação:
o carcinoma inflamatório da mama é caracterizado por um endurecimento difuso
e intenso da pele com borda erisipelóide, geralmente sem massa subjacente. Se a
biópsia da pele for negativa e não existir tumor primário localizado mensurável, um
carcinoma clinicamente inflamatório é classificado patologicamente como pTX. A
retração da pele, da papila ou outras alterações cutâneas, exceto aquelas incluídas
em T4b ou T4d, podem ocorrer em T1, T2 ou T3, sem alterar a classificação.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
280
N – LiNfoNodos regioNais
Nx os linfonodos regionais não podem ser avaliados (ex.: remoção prévia)
N0 ausência de metástases em linfonodos regionais
N1 Metástase em linfonodo axilar, homolateral, móvel
Metástase para linfonodo axilar homolateral fixo uns aos outros ou a
estruturas vizinhas; ou metástase somente para linfonodo da mamária
interna homolateral, clinicamente aparente sem evidência de doença
N2 axilar
Metástase para linfonodo axilar homolateral fixo uns aos
N2a
outros ou a estruturas vizinhas
Metástase somente para linfonodo da mamária interna
N2b homolateral, clinicamente aparente sem evidência de doença
axilar
Metástase para linfonodo infraclavicular homolateral com ou sem
comprometimento do linfonodo axilar; ou para lifonodo da mamária
interna homolateral clinicamente aparente na presença de evidência
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

clínica de metástase para linfonodo axilar homolateral; ou metástase para


linfonodo supraclavicular homolateral com ou sem comprometimento
de linfonodos axilares ou da mamária interna
Metástase para linfonodo infraclavicular homolateral com ou
N3 N3a
sem comprometimento do linfonodo axilar
Metástase para lifonodo da mamária interna homolateral
N3b clinicamente aparente na presença de evidência clínica de
metástase para linfonodo axilar homolateral
Metástase para linfonodo supraclavicular homolateral com ou
N3c sem comprometimento de linfonodos axilares ou da mamária
interna
observação:
Clinicamente aparente, é definido como detectado por estudos de imagem (exceto
linfocintilografia) ou pelo exame clínico, ou pelo diagnóstico patológico macroscópico.
extensão direta do tumor primário para dentro do linfonodo é classificado como
metástase linfonodal. Metástase para qualquer linfonodo que não seja regional é
classificada como metástase a distância.
M – Metástase a distâNCia
Mx a presença da metástase a distância não pode ser avaliada
M0 ausência de metástase a distância
M1 Metástase a distância
observação:
se houver ressecção de tecido suficiente para avaliar as maiores categorias t e N,
M1, pode ser clínica (cM1) ou patológica (pM1). Caso exista somente confirmação
microscópica da metástase, a classificação é patológica (pM1) e o estádio também.
Fonte: UICC. TNM 6ª ed.
Bases do tratamento ›
281
Métodos de diagnóstico

A Sra. M.C.S. recebeu o diagnóstico de carcinoma ductal infiltrante (CDI), que é o tipo his-
tológico mais comum dos cânceres da mama. Outros tipos são: carcinoma ductal in situ; carcino-
ma mucinoso; carcinoma medular; carcinoma tubular; carcinoma lobular infiltrante; comedocar-
cinoma invasivo; carcinoma inflamatório e Doença de Paget.

A Sra. M.C.S. também realizou procedimento para diagnosticar a doença, em seu caso, a core-
biopsy. A seguir, são apresentados os métodos utilizados para o diagnóstico de lesões da mama:

Citológico

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


• Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) – método ambulatorial que consiste na sucção
de material de tumor sólido com o uso de agulha fina. Está indicado para a coleta de material de
lesão ou órgão sólido acessível. Trata-se de método de fácil execução, de baixo custo e que pres-
cinde anestesia local. No entanto, a PAAF só deve ser realizada por profissional médico experiente
com a técnica, já que ela interfere diretamente na acuidade do exame citopatológico, que se pro-
cessa a partir do material aspirado.

Histopatológico

• Core-biopsy (caso da Sra. M.C.S.) – consiste na retirada ambulatorial de material do tu-


mor da mama (acima de 1 cm) com agulha grossa, sob anestesia local. É um exame mais acurado
do que a PAAF, pois estabelece um diagnóstico histopatológico e a identificação da presença ou
não dos receptores hormonais (estrogênio e progesterona), indispensáveis como guias para con-
dutas terapêuticas relacionadas à hormonioterapia.

• Biópsia excisional – consiste na ressecção ampla da lesão da mama, incluindo o tecido


normal em toda a circunjacência, sob anestesia geral ou local. É indicada em lesões pequenas e
com sinais de benignidade. No caso da Sra. M.C.S., esse tipo de biópsia não é indicado em virtude
do resultado histopatológico positivo para malignidade, já definido pela core-biopsy.

• Biópsia incisional - consiste na retirada de parte da lesão tumoral, geralmente quando o


nódulo suspeito é grande. Essa biópsia pode ser realizada também sob anestesia local e atualmen-
te tem sido substituída pela core-biopsy.

• Biópsia percutânea - é indicada para avaliação de lesões nodulares e/ou impalpáveis da


mama e microcalcificações de origem indeterminada, assim como densidades assimétricas. O
procedimento consiste na obtenção de fragmentos através de método estereotáxico adaptado ao
mamógrafo convencional ou ultra-sonografia, que guiará a agulha. Pode ser usada agulha fina ou
grossa. No caso de uso da agulha grossa, o método é a core-biopsy ou mamotomia.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
282
• Biópsia assistida a vácuo (mamotomia) - é indicada para lesões impalpáveis da mama, a
partir de 5 mm. Esse método possibilita a retirada de excelentes fragmentos através de uma úni-
ca punção.

No exame anatomopatológico da amostra tumoral, utiliza-se:

• A técnica de biópsia por congelação, que permite o conhecimento imediato do resultado


do exame histopatológico.

• A técnica da parafina, que é um exame anatomopatológico mais detalhado da peça cirúr-


gica, indispensável para diagnóstico definitivo. Essa técnica é também utilizada quando o diag-
nóstico por congelação é inconclusivo.

Comentários sobre os exames


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Apesar da paciente M.C.S. não ter evidências clínicas de metástases a distância, é indispen-
sável pesquisá-las nos órgãos que podem apresentar metástases assintomáticas, já que ela apre-
senta tumor mamário.

O câncer de mama dá origem, mais freqüentemente, a metástases para pulmão, pleura, os-
sos, fígado e cérebro.

A metástase cerebral raramente é assintomática, pois quase todas evoluem para hiperten-
são intracraniana de maior ou menor intensidade. A avaliação de metástase cerebral é feita atra-
vés da tomografia computadorizada ou ressonância magnética do cérebro. Esse exame não foi
solicitado, uma vez que a Sra. M.C.S. não apresentava sintomatologia neurológica sugestiva de
hipertensão intracraniana.

Como metástases em osso, fígado, pleura e pulmão podem ser assintomáticas, a paciente
foi submetida aos seguintes exames para se estabelecer o estadiamento clínico:

• Provas de função hepática - alterações decorrentes de metástases hepáticas só se


observam com grande comprometimento do órgão. Porém, o aumento isolado da fosfatase
alcalina alerta para a presença de metástases ósseas ou hepáticas. No caso da Sra. M.C.S.,
os resultados foram normais.

• Radiografia de tórax em PA e perfil - metástases pleurais manifestam-se por derra-


me pleural, e as pulmonares manifestam-se por nódulos múltiplos e bilaterais ou por acome-
timento intersticial difuso (linfangite carcinomatosa). Metástases para linfonodos mediastíni-
cos podem também ser observadas. A radiografia do tórax da Sra. M.C.S. foi normal.

•Cintilografia óssea - capaz de identificar precocemente quaisquer alterações ósseas.


Tem a vantagem, em relação ao exame radiológico, de permitir o exame de todo o esqueleto
Bases do tratamento ›
283
com pequena exposição à radiação, menor custo e maior conforto para a paciente. Em caso
de câncer de mama, a cintilografia óssea deve ser solicitada se o tumor é maior do que 2
cm (caso da Sra. M.C.S.), se a paciente se queixa de dor óssea ou se a dosagem da fosfatase
alcalina sérica mostrar-se elevada. O exame revelou captação uniforme e simétrica em todo
o esqueleto. A Sra. M.C.S. não precisou, portanto, de investigação radiológica adicional, que
estaria indicada caso se verificasse área de hipercaptação no exame cintilográfico.

• Ultra-sonografia abdominal - indicada para a avaliação anatômica do fígado, vesí-


cula biliar, pâncreas, rins e espaço retroperitoneal. No caso da Sra. M.C.S., o interesse era de
detectar metástases hepáticas assintomáticas. O exame ultra-sonográfico foi normal.

Confirmado o diagnóstico de câncer e estabelecido o estadiamento T2 N0 M0, estádio clí-


nico II A (ver quadro 28), é essencial que a paciente tenha conhecimento da natureza de sua do-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


ença, para que possa participar das decisões sobre a terapêutica a ser aplicada.

Cabe aqui ressaltar que, atualmente, preconiza-se as cirurgias conservadoras que poupam
a mama e os linfonodos axilares sempre que possível, pois, comprovadamente, esta indicação não
influi na sobrevida e traduz-se numa melhor qualidade de vida para a paciente. No caso da Sra.
M.C.S., a mastectomia foi indicada devido à multicentricidade da doença, ou seja, ela apresentava
mais do que um tumor em locais diferentes da mama.

Diante do estadiamento estabelecido e após os devidos esclarecimentos à paciente e à sua


filha e da aceitação da proposta cirúrgica pela paciente, a mesma foi encaminhada para a cirur-
gia, sendo submetida à mastectomia simples à direita e linfadenectomia axilar direita, após estu-
do do linfonodo sentinela, o qual resultou positivo para malignidade.

Tratamento cirúrgico

Mulheres com tumor de diâmetro igual ou inferior a três centímetros, sem comprometi-
mento de linfonodos clinicamente aparente (caso da Sra. M.C.S.), podem realizar o estudo do lin-
fonodo sentinela (LS), que visa a identificar aquelas que necessitam ser submetidas à linfade-
nectomia axilar. A utilização da técnica do linfonodo sentinela tem a finalidade de diminuir a
morbidade pós-operatória, evitando a linfadenectomia axilar quando a biópsia do linfonodo re-
sultar negativa para a malignidade.

Já mulheres com lesões não-palpáveis e mamograficamente suspeitas devem ser subme-


tidas à marcação pré-cirúrgica (estereotaxia). Essa técnica consiste na localização da lesão a ser
biopsiada através da introdução de fio metálico guiado por ultra-som ou mamógrafo, que per-
mitirá ao cirurgião a localização exata da área a ser investigada e conseqüente remoção adequa-
da da mesma.

A indicação de diferentes tipos de cirurgia depende do estadiamento clínico e do tipo his-


tológico, podendo ser conservadora com a ressecção de um segmento da mama com margens li-
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
284
vres (engloba a setorectomia, a tumorectomia alargada e a quadrantectomia), com retirada dos
gânglios axilares ou linfonodo sentinela, ou não-conservadora (mastectomia).

São modalidades de mastectomia:

• Mastectomia simples ou total (retirada da mama com pele e complexo aréolo


papilar).

• Mastectomia com preservação de um ou dois músculos peitorais acompanhada de


linfadenectomia axilar (radical modificada).

• Mastectomia com retirada do(s) músculo(s) peitoral(is) acompanhada de linfade-


nectomia axilar (radical).
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

• Mastectomia com reconstrução imediata.

• Mastectomia poupadora de pele.

A paciente retornou à Unidade de Internação após a realização da cirurgia proposta, que


transcorreu sem anormalidades. Apresentava-se sonolenta, porém, referiu ausência de dor no lo-
cal da cirurgia. Com curativo oclusivo em plastrão direito, externamente limpo, dreno tubular em
linha média axilar à direita sem obstrução, dando saída à secreção sanguinolenta. Sinais vitais:
temperatura axilar: 36,5ºC; freqüência cardíaca: 82 bpm; freqüência respiratória: 22 irpm; pres-
são arterial: 130 x 80 mm/Hg; EVA= 0. Foi mantida em repouso no leito até a visita médica no pri-
meiro dia pós-operatório (1º DPO).

1º DPO

Paciente lúcida e orientada, deambulando sem auxílio, com boa aceitação das dietas ofere-
cidas, eliminações intestinal e vesical presentes e sem alterações. Curativos em plastrão direito e
em local de inserção do dreno externamente limpos e sem necessidade de troca. Dreno sem obs-
trução, apresentando saída de secreção sanguinolenta, com volume igual a 120 ml nas 24 horas.
Sinais vitais: temperatura axilar: 36,5ºC; freqüência cardíaca: 84 bpm; freqüência respiratória: 24
irpm; pressão arterial: 130 X 80 mm/Hg; EVA= 0. A paciente mostrou-se preocupada com a alta
hospitalar, pois, segundo informou, não sabia como iria realizar o curativo e manusear o dreno
em casa, mas estava disposta a aprender. Foi tranqüilizada, sendo informada de que não recebe-
ria alta antes de ser orientada sobre tais procedimentos. Participou com interesse e ativamente,
juntamente com a filha, do Grupo Operativo de Orientação para Alta Hospitalar.
Bases do tratamento ›
285
2º DPO

Paciente tranqüila, sem queixas álgicas. Com receio de sentir dor ao movimentar o mem-
bro superior direito (MSD), mantendo-o junto ao corpo. Sinais vitais: temperatura axilar: 36,3ºC;
freqüência cardíaca: 82 bpm; freqüência respiratória: 20 irpm; pressão arterial: 130 x 80 mm/Hg.
Durante a realização do curativo em sítio cirúrgico, observou-se incisão em plastrão direito sem
sinais flogísticos e/ou saída de secreção. A ferida cirúrgica foi então deixada exposta. Circuito de
drenagem sem obstrução, dando saída à secreção serosangüínea. Trocado curativo da área do ós-
tio do dreno, que não apresentava sinais flogísticos. Ao ver-se sem a mama direita, a paciente
mostrou-se chorosa e questionou se poderia usar algum tipo de preenchimento nesse local. Em
relação à mastectomia, a paciente referiu se sentir chocada ao ver a cicatriz do plastrão, mas dis-
se compreender que não havia outra solução e que o importante era “recuperar a saúde”, “que iria
ultrapassar esse mau momento” e se “acostumar com o tempo”. Nessa ocasião, ainda apresenta-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


va MSD junto ao corpo e evitava mobilizá-lo. Iniciou então, com supervisão e orientação da en-
fermeira, a mobilização, que transcorreu sem queixas álgicas.
Quadro 29 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem na internação pós-operatória (2 dias)

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Monitorar sinais e sintomas de infecção da incisão cirúrgica (inchaço, vermelhidão,
separação dos bordos da incisão, presença de drenagem purulenta, febre), três vezes
ao dia
• Tomar medidas para prevenção da infecção, relacionadas ao circuito drenagem
Risco de infecção (lavar as mãos antes e depois da manipulação do dreno a vácuo, manter o curativo
relacionado a do óstio do dreno limpo, protegendo-o durante o banho de aspersão), duas vezes ao
procedimento invasivo dia e sempre que necessário
cirúrgico (mastectomia
• Realizar desinfecção externa do dispositivo de drenagem com álcool a 70%, antes
com linfadenectomia
e após mensurar o volume de drenagem, duas vezes ao dia
axilar) e presença de
dispositivo de drenagem • Utilizar técnica asséptica nos procedimentos de curativo (lavar as mãos antes e
depois do procedimento e utilizar material estéril), uma vez ao dia e sempre que
necessário
• Realizar curativos: em plastrão direito e local de inserção do dreno, com solução
anti-séptica, no 2º DPO, uma vez ao dia e/ou sempre que necessário

• Explicar a necessidade de realizar exercícios e especificar os riscos da imobilidade,


durante o período de internação
• Proporcionar alívio apropriado se ocorrer dor à mobilização
Mobilidade física • Explicar as razões para o desequilíbrio e acompanhar a paciente enquanto caminha,
prejudicada, relacionada ao iniciar a deambulação no 1º DPO
à linfadenectomia, ao
• Orientar a paciente a apoiar confortavelmente o braço afetado sobre um travesseiro
dano ao nervo e ao receio
ao sentar-se ou reclinar-se
de dor à movimentação,
caracterizada por • Providenciar e fornecer orientações por escrito sobre os exercícios com o membro
posicionamento do MSD de acordo com a fase do pós-operatório
junto ao corpo
• Orientar quanto à realização de exercícios com o MSD, restritos a 90º, até a
cicatrização da ferida
• Supervisionar e orientar a realização dos exercícios com membro afetado, três
vezes ao dia
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
286
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO

• Encorajar a paciente a verbalizar os sentimentos sobre a aparência e as percepções


Distúrbio na imagem do impacto sobre o estilo de vida, na visita diária (durante o curativo e na alta)
corporal relacionado • Orientar quanto à possibilidade de uso de sutiã adaptado com enchimento leve,
à perda da mama, macio e antialérgico, nesse período inicial após a cirurgia (durante o curativo)
caracterizado por
resistência inicial à cirurgia, • Explicar que pode ser usada uma prótese macia temporária até a cicatrização
choro, relato de choque ao completa da ferida e, posteriormente, uma prótese de silicone
ver a cicatriz do plastrão • Explicar sobre a possibilidade de reconstrução cirúrgica da mama após um ano da
mastectomia (durante o curativo)

• Orientar quanto aos cuidados com a ferida operatória; cuidados com o circuito de
drenagem, inclusive curativo no local de inserção do dreno; realização de exercícios;
cuidados e precauções com o membro superior direito, necessários para prevenir
complicações como edema braquial e/ou infecção (durante o grupo operativo)
• Ensinar a mensurar o volume da drenagem contido no dreno, nas 24 horas,
seguindo normas assépticas (durante o grupo operativo)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Disposição para o controle


• Orientar quanto ao possível acúmulo de seroma em plastrão após a retirada do
do regime terapêutico
sistema de drenagem, observando que esta ocorrência faz parte do processo normal
caracterizado por aceitação
de cicatrização (durante o grupo operativo)
para participar do grupo
operativo para a alta • Orientar quanto à necessidade de punção em plastrão para a retirada do seroma
hospitalar acumulado, enfatizando ser este procedimento indolor (durante o grupo operativo)
• Fornecer folheto instrucional relacionado às orientações recebidas
• Reforçar a importância e a necessidade da realização dos exercícios (durante o
grupo operativo)
• Reforçar a importância da continuidade do tratamento (durante o grupo
operativo)

A Sra. M.C.S. teve alta hospitalar no segundo dia de pós-operatório. Antes de ir para casa,
discutiu com a enfermeira seu plano de alta ( ver plano de alta no quadro 30). Referiu que nun-
ca havia passado pela experiência de realizar curativo e manusear circuito de drenagem, de modo
que não se sentia muito segura em relação aos cuidados a serem realizados em casa. Antes de
deixar o hospital, foi agendado retorno para o ambulatório de enfermagem, a consulta médica, a
de psicologia e a de nutrição.
Bases do tratamento ›
287
Quadro 30 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no plano de alta hospitalar

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Discutir e orientar para as medidas de autocuidado relacionadas à prevenção e
monitoração de infecção em sítio cirúrgico e local de inserção do dreno a vácuo (na
alta)
• Orientar quanto à mensuração da drenagem de 24 horas do dreno a vácuo (durante
o grupo operativo e na alta)
• Orientar para a prevenção e redução do risco de linfedema (na alta)
Déficit para o autocuidado
relacionado ao • Ensinar as medidas de cuidados com a lesão e circuitos de drenagem: manter o
conhecimento insuficiente plastrão e o curativo em local de inserção do dreno, sempre limpo e seco; manter o
sobre o cuidado da lesão, dreno preso à roupa, sem tracioná-lo, e com sistema de drenagem aberto
a prótese mamária, os • Providenciar informações sobre as próteses mamárias e enfatizar a importância de
sinais e os sintomas uma prótese ajustada apropriadamente (na alta)
de complicações, as
precauções com o braço • Orientar a cliente a comunicar imediatamente qualquer sinal ou sintoma de
e a mão, os recursos complicação (presença de edema no membro afetado, dormência ou formigamento,

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


comunitários e o movimento prejudicado da mão ou do braço, calor ou vermelhidão, aumento e
acompanhamento pós-alta, mudança da coloração sanguinolenta na drenagem do circuito) (na alta)
caracterizado por relato • Discutir os recursos comunitários disponíveis de apoio psicossocial (na alta)
de situação nunca antes
vivenciada • Encorajar o contato com outras pacientes em situação semelhante e iniciar esta
aproximação, se apropriado, na alta e durante os períodos em que a paciente retornar
ao ambulatório de enfermagem
• Orientar sobre a importância e incentivar a adesão ao acompanhamento terapêutico
pós-alta (na alta)
• Explorar os sentimentos, conversando e inquirindo a paciente em relação à terapia
adjuvante (radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia) (na alta)

• Monitorar os sinais e os sintomas de deficiência sensório-motora (movimento


articular prejudicado, fraqueza muscular, dormência ou formigamento) (no
domicílio)
• Monitorar o aparecimento de edema no membro afetado (no domicílio)
• Orientar sobre a proibição de vacinas no braço afetado
Risco de trauma com
MSD relacionado a • Ensinar a paciente a evitar traumatismos no braço afetado: amostras sangüíneas,
comprometimento da punções venosas, injeções e verificação da pressão sangüínea no membro afetado;
drenagem linfática, das jóias e roupas constritivas; carregar peso etc. (no dia-a-dia)
funções motora e sensorial • Ensinar as precauções para a prevenção do traumatismo no membro afetado: usar
no membro superior luvas grossas e longas para limpeza, segurar panelas e jardinagem; evitar contato
afetado com plantas com espinhos; evitar detergentes fortes ou outras substâncias químicas;
usar dedal para costurar; substituir o alicate por removedor de cutícula; utilizar loção
depilatória em axila no braço afetado (durante as atividades diárias)
• Ensinar a limpar, imediatamente, os ferimentos no braço afetado ou na mão,
e observar os sinais precoces de infecção (vermelhidão, dor, calor), procurando
prontamente assistência médica no caso desta ocorrência (sempre que ocorrer)

• Orientar a paciente quanto a métodos contraceptivos, salientando a necessidade


Conhecimento deficiente de autorização médica para a utilização de anticoncepcionais orais ou qualquer
relacionado à falta outro método que utilize terapia hormonal (na alta)
de informação sobre
precaução contraceptiva • Orientar a paciente a procurar o médico antes de utilizar qualquer produto
cosmético à base de hormônio (na alta)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
288
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Controle eficaz
do tratamento
medicamentoso para • Explicar a importância de manter e utilizar a medicação anti-hipertensiva, conforme
hipertensão, caracterizado a orientação médica (na alta)
por conhecimento e • Enfatizar a importância de manter o seguimento periódico de consulta médica (na
adesão à terapêutica alta)
medicamentosa
anti-hipertensiva
• Incentivar a manutenção de um modelo apropriado de alimentação no domicílio,
Disposição para nutrição relacionando a alimentação saudável a um fator de promoção importante no que
melhorada, caracterizada tange à proteção de alguns cânceres, inclusive o da mama (na alta)
por mudança de padrão
alimentar, evidenciada por • Estimular o controle do peso corporal através de uma alimentação equilibrada
perda de peso e da prática de exercícios, enfatizando a importância de seguir as orientações e o
comparecimento às consultas com a nutricionista (na alta)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

7º DPO

Compareceu no 7º DPO ao ambulatório de enfermagem para avaliação da ferida cirúrgica


e dreno, que foi retirado. Durante sua permanência no ambulatório de enfermagem, a paciente
apresentou-se sem queixas álgicas, com boa mobilidade de até 90º do membro superior direito
(MSD). Informou estar realizando adequadamente as medidas de autocuidado constantes de seu
plano de cuidados para alta hospitalar, como os exercícios de mobilização com o MSD e cuidado
com o sítio cirúrgico. Apesar de ainda referir tristeza causada pela mastectomia, a paciente apre-
sentava atitude positiva de enfrentamento da situação, referindo ter se adaptado bem à prótese
mamária macia. Mostrou-se comunicativa, com bom estado de humor, com vontade de retomar
sua vida e atribuições cotidianas. Agendado retorno para o 12º DPO.

Retornou no 12º DPO para avaliação da incisão cirúrgica e presença de seroma em plastrão
direito. A paciente mostrou-se tranqüila, sem queixas e/ou questionamentos e com boa mobilida-
de em membro superior direito. Expressou estar confiante no futuro e em si mesma, tendo certe-
za da superação das dificuldades, inclusive as relacionadas a um possível tratamento adjuvante.
A incisão cirúrgica estava com bom aspecto. Nessa ocasião, foi realizada punção em área de flu-
tuação no plastrão, que resultou em retirada de 50 ml de secreção serosa. Foi programado retor-
no em seis dias, para avaliar a presença de seroma e retirada de pontos.

Cabe aqui ressaltar que, segundo o Documento de Consenso do Câncer de Mama, a enfer-
meira, no seguimento ambulatorial da paciente, deve avaliar a ferida operatória, realizar curati-
vos, retirar dreno, realizar punção de seroma, enfim, acompanhar todo o processo de cicatrização,
realizando as intervenções e agendamentos necessários para acompanhamento.

Nessa perspectiva, denomina-se plastrão a região anteriormente ocupada pela mama, sob
a qual pode ocorrer acumulação de secreção linfática chamada seroma, após a retirada do dreno
Bases do tratamento ›
289
a vácuo. A formação do seroma ocorre principalmente devido à linfadenectomia axilar e reflete
uma fase exsudativa da cicatrização da ferida operatória.
Quadro 31 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no período ambulatorial

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Inspecionar a área de plastrão para verificar abaulamento e flutuação, com a
paciente sentada na mesa de exame

Risco para formação de • Palpar o plastrão para evidenciar a presença e localização da área de flutuação
seroma após retirada • Puncionar área de flutuação, utilizando técnica asséptica (lavar as mãos antes do
do dispositivo de procedimento, utilizar material estéril e solução anti-séptica na pele)
drenagem, relacionado
à linfadenectomia axilar, • Aspirar o seroma com agulha 40x12 (18 g 1 ½) e seringa de 20 ml, até o esvaziamento
caracterizado por acúmulo completo
de secreção linfática no • Anotar o total do volume aspirado e aspecto da secreção, registrando no
plastrão prontuário
• Agendar retorno ambulatorial conforme o volume aspirado ou se julgar necessário

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


antes do prazo estabelecido (em caso de desconforto e dor no plastrão)
• Estimular a retomada das atividades diárias (durante o curativo)
• Estimular a participação em eventos sociais (durante o curativo)
Disposição para
autoconceito melhorado, • Incentivar o aumento do autoconceito, elogiando sua capacidade de superação,
caracterizada por otimismo confiança em si e no futuro (durante o curativo)
e autoconfiança • Reconhecer sua capacidade para o autocuidado, elogiando seu bom desempenho
com os cuidados da ferida operatória, circuito de drenagem e mobilização do MSD
(durante o curativo)

18º DPO

No 18º DPO, não mais se detectou a presença de seroma e foram retirados os pontos. A in-
cisão estava com bom aspecto, sem sinais flogísticos. Boa mobilidade com membro superior di-
reito, sendo liberada para movimentos com amplitude acima de 90º. Indagou se poderia iniciar o
uso de prótese externa conforme orientação discutida no plano de alta, recebendo resposta afir-
mativa. A paciente então recebeu alta do ambulatório.

Seguimento

Vinte dias depois da cirurgia, retornou para consulta médica com o mastologista, na qual
recebeu o resultado do seu laudo histopatológico. Após esclarecimentos do médico, foi encami-
nhada à Oncologia Clínica para discussão e estabelecimento do tratamento adjuvante.

A paciente foi considerada como de risco elevado para recorrência da doença por apresen-
tar tumor maior do que 2 cm e linfonodos axilares positivos para malignidade. Foi então indicado
tratamento adjuvante com quimioterapia (ver os diagnósticos e prescrições de enfermagem as-
sociados ao tratamento quimioterápico no capítulo 7).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
290
Por apresentar mais do que quatro linfonodos comprometidos pela doença, a paciente teve
indicação para tratamento de radioterapia, após o término do tratamento quimioterápico (ver os
diagnósticos e prescrições de enfermagem associados ao tratamento radioterápico no capítulo 7).

O tratamento hormonal por cinco anos, com antiestrogênio (Tamoxifeno), também foi in-
dicado após o término da quimioterapia, já que a dosagem dos receptores hormonais para estro-
gênio e progesterona foi positiva. Antes de iniciar o tratamento hormonal, a paciente recebeu al-
gumas orientações da enfermeira sobre o mesmo.

A terapêutica endócrina é uma forma de tratamento de neoplasias malignas hormônio-


sensíveis. Novos subsídios endocrinológicos para a hormonioterapia antiblástica foram alcança-
dos pela determinação de dosagem bioquímica ou imunoistoquímica dos receptores celulares es-
pecíficos para estrogênios e progesterona em amostras tumorais; pelo estabelecimento de clara
relação entre positividade do receptor e a resposta terapêutica; e pelos avanços verificados no co-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

nhecimento das interações entre receptores hormonais e processos bioquímicos intracelulares.

Essa terapêutica sistêmica envolve a manipulação de hormônios com o objetivo de evitar a


recorrência da doença. A presença dos receptores hormonais, no caso do câncer de mama o re-
ceptor de estrogênio e progesterona, é imprescindível para uma resposta positiva.

Os agentes hormonais mais freqüentemente utilizados em câncer de mama são:

• Antiestrogênios – indicados no tratamento de mulheres e homens, como terapia


ablativa. Podem ser utilizados na pré e na pós-menopausa, sendo então a droga de escolha
em primeira linha, inclusive após ablação cirúrgica.

• Progestágenos e similares sintéticos – são indicados no tratamento de câncer de


mama em caso de refratariedade aos antiestrogênicos, como terapia ablativa.

• Inibidores da ação hipotalâmica e hipofisária – atuam inibindo a liberação pelo hi-


potálamo do hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH) ou a produção pela hi-
pófise do hormônio luteinizante, por meio de substâncias análogas ao LHRH. Todos resul-
tam em efeito antiandrogênico.

• Inibidores de aromatase – bloqueiam a enzima que estimula a conversão periférica


do estrogênio, diminuindo os níveis séricos.

• Supressor de estrogênio – supressor do receptor de estrogênio, sem nenhuma ação


agonista.
Bases do tratamento ›
291
Decorridos dois anos da mastectomia, a Sra. M.C.S. encontrava-se sob controle médico, fa-
zendo exames periódicos (ver quadro 32). Na sua última consulta, a partir do resultado dos exa-
mes, foi detectada metástase óssea em coluna lombar.
Quadro 32 - Recomendações para o seguimento de mulheres com câncer de mama

Tempo decorrido
Recomendação
1 a 5 anos após 5 anos
História e Exame Físico semestral anual
Mamografia anual anual
Exame Ginecológico (quando em uso de
anual anual
Tamoxifeno)
Fonte: Consenso de Mama - MS/2004

No caso de contra-indicação para uso de Tamoxifeno (TMX), tais como: doença tromboem-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


bólica, doença cerebrovascular ou carcinoma de endométrio e naqueles tumores iniciais que se
desenvolvem durante uso de TMX, sugere-se inibidor de aromatase como terapia adjuvante, mas
somente em mulheres na pós-menopausa e com receptores hormonais positivos, pois o inibidor
da aromatase em mulheres que ainda menstruam, que estão na pré-menopausa, tem sua ação
bloqueada pelo nível de estradiol circulante.

A Sra. M.C.S. estava em uso do Tamoxifeno quando, em sua vigência, apareceu doença me-
tastática. Considerando que a Sra. M.C.S. é mulher na pré-menopausa, com positividade para re-
ceptores hormonais de estrogênio e progesterona, e que metástases ósseas podem ser controla-
das com hormonioterapia, pode ser prescrito inibidor da aromatase, no caso de falha da terapia
antiestrogênica com o Tamoxifeno, mas é necessário, antes de se iniciar esse tratamento, fazer
um bloqueio do estrogênio circulante, que pode ser em nível central por bloqueio hipotalâmico
(hormonal), cirúrgico (castração cirúrgica) ou radioterápico (castração actínica).

Ainda pode-se utilizar drogas (Pamidronatos e Zolendronatro), a cada 28 dias, que inibem
a atividade osteoclástica, impedindo assim a progressão das metástases ósseas e também dimi-
nuindo a dor e a hipercalcemia.
Quadro 33 – Principais diagnósticos e prescrições na consulta de enfermagem ambulatorial

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar quanto aos efeitos colaterais mais comuns associados ao Tamoxifeno: ondas de
calor, sangramento vaginal, prurido vulvar, corrimento vaginal, erupção cutânea, náuseas,
vômitos, tontura, alopecia, retenção de líqüidos (na consulta de enfermagem)
• Esclarecer quanto à supressão da menstruação em mulheres na pré-menopausa que estejam
em tratamento com o Tamoxifeno para câncer de mama (na consulta de enfermagem)

Hormonioterapia • Explicar que o Tamoxifeno e o Inibidor da Aromatase são contra-indicados durante a


gravidez e lactação, e as mulheres em idade fértil não devem engravidar, utilizando métodos
anticoncepcionais de barreira para evitar a gravidez (na consulta de enfermagem)
• Orientar quanto aos efeitos colaterais mais comuns associados ao Inibidor da Aromatase:
rubores, astenia, dores nas articulações, secura vaginal, náuseas, diarréia, cefaléia, sangramento
vaginal, vômito, sonolência, hipercolesterolemia, anorexia (na consulta de enfermagem)
• Orientar a procurar o médico se ocorrer qualquer sinal ou sintoma de efeito colateral (durante
a consulta de enfermagem)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
292
Colo do útero

Introdução

Entre os tumores que atingem o aparelho reprodutor feminino, o do colo uterino é o mais
freqüente, em ordem de ocorrência, de acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e
Obstetrícia (FIGO).

Segundo o Ministério da Saúde no Brasil, estima-se que o câncer do colo do útero seja o
terceiro mais comum na população feminina. Este tipo de câncer representa 19% de todos os tu-
mores malignos em mulheres.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Acomete mulheres em fase de atuação social familiar e profissional, gerando custos gover-
namentais em serviços de saúde e sociais. A evolução da doença provoca lesões orgânicas graves
e o tratamento, apesar dos avanços tecnológicos, produze sua melhor eficácia apenas nos está-
dios iniciais.

A doença é prevenida através do exame de Papanicolaou, porém, a abrangência e adesão


das mulheres ao programa de prevenção constituem um desafio enfrentado com persistência
pelo Ministério da Saúde no Brasil, em que a doença apresenta risco estimado de cerca de 20 ca-
sos a cada 100 mil mulheres.

Etiologia

Desde 1992, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a persistência da in-
fecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) representa o principal fator de risco para o desenvolvi-
mento da doença, muito embora estudos tenham demonstrado que a infecção pelo HPV é neces-
sária, mas não suficiente para a evolução do câncer. Além disso, o sorotipo do HPV, a carga viral
e a associação com outros fatores de risco que atuam como co-fatores, tais como: fumo, contra-
ceptivo oral, início precoce da atividade sexual, multiciplicidade de parceiros, história de doenças
sexualmente transmissíveis, baixa escolaridade e renda, são essenciais para que a doença ocorra.

Carcinogênese cervical

O HPV introduz seu material genético no DNA da célula hospedeira, ocasionando mutações
que se acumulam e podem progredir para a malignidade. Embora o processo de inserção de ma-
terial genético viral para células normais seja comum em mulheres com amostras cervicais posi-
tivas para HPV, esse processo não resulta necessariamente em malignidade. A replicação do DNA
do HPV inicia-se com uma fase de modesta amplificação, através da entrada na camada basal da
Bases do tratamento ›
293
célula de um epitélio ferido. Após a cura da ferida, a maioria das células retorna ao estado de des-
canso. O epitélio estratificado é reparado pelas divisões das células basais, sendo similar a um epi-
télio não infectado, exceto pelo fato de as células em divisão serem mais freqüentes. A atividade
transcricional é baixa e o DNA viral replica somente quando as células basais e parabasais entram
na fase S do ciclo celular, resultando num estado de baixo número de cópias do DNA viral. Depois,
as células ascendem, deixam o ciclo celular e submetem-se à diferenciação progressiva.

Os tipos de HPV genital de médio e de alto risco expressam proteínas com potencial onco-
gênico (E6 e E7), que aumentam a probabilidade de reiniciação da transcrição, tornando-se capa-
zes de imortalizar as células infectadas. O processo pelo qual isso ocorre pode ser explicado pelo
fato de que a proteína E7 liga-se ao produto do gene retinoblastoma, que é uma fosfoproteína,
cuja forma fosforilada regula negativamente a entrada para a fase S do ciclo celular. Por sua vez,
a proteína E6 liga-se à proteína supressora de tumor p53, degradando-a. Vale ressaltar que em-
bora a expressão dos genes E6/E7 possa cooperativamente induzir a imortalização celular, eles

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


não podem induzir o fenótipo tumoral diretamente. Portanto, são necessárias alterações adicio-
nais na expressão gênica celular para que as células adquiram um fenótipo maligno. Dado que o
HPV induz proliferações epiteliais que mostram um crescimento limitado e que, freqüentemente,
regridem espontaneamente, a progressão tumoral está também sujeita a fatores ambientais e/ou
restritos ao hospedeiro.

Diversos métodos biomoleculares para a detecção do HPV têm sido descritos nesta última
década. Os métodos baseados na amplificação de DNA são os mais sensíveis, principalmente o da
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR real time), pois permitem a detecção de baixa carga viral e
minimizam o erro de classificação do status de infecção do HPV.

Evolução natural do câncer do colo do útero

O câncer do colo do útero, em sua evolução, passa por uma fase pré-invasiva, na qual in-
tervenções podem evitar seu progresso, e outra invasiva, caracterizada pela invasão de tecidos e
que é de difícil controle.


Figura 64 – Colo do útero com lesão Figura 65 – Colo do útero normal
Fonte: RAMOS ( www.saudevidaonline.com.br/artigo37.htm) Fonte: RAMOS (www.saudevidaonline.com.br/artigo37.htm)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
294
Lesões pré-invasivas
As lesões pré-invasivas são chamadas de Neoplasias Intra-epiteliais Cervicais (NIC), que são
classificadas em graus I, II e III, os quais refletem o seu comportamento biológico. Essa nomencla-
tura sofreu uma revisão em 1988, classificando as NIC I como lesões de baixo grau e colocando as
NIC II e III num mesmo patamar biológico, classificando-as como lesões de alto grau. As altera-
ções celulares que não podem ser classificadas como neoplasia intra-epitelial cervical, mas mere-
cem uma investigação melhor, são classificadas como atipias de células escamosas de significado
indeterminado (ASCUS) ou atipias de células glandulares de significado indeterminado (AGUS). As
lesões pré-neoplásicas, se não tratadas, apresentam um potencial diferenciado de regressão, per-
sistência e progressão, segundo a sua classificação histológica. De acordo com a literatura, lesões
do tipo NIC I teriam um potencial de regressão maior (62% a 70%) quando comparadas às NIC II
e III (45% a 55%) num período de 11 a 43 meses. Por outro lado, a literatura mostra que as NIC
I apresentam um menor potencial de progressão de 4,9% a 16% do que dos NIC II e III, que é de
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

30% a 42%. Porém, o potencial de persistência dessas lesões ainda permanece controverso.

Nos estágios iniciais de anormalidades na diferenciação, as células displásicas, localizadas


na superfície do epitélio, podem ser detectadas através da técnica de Papanicolaou. Caso não haja
intervenção, a displasia poderá estagnar ou mesmo regredir espontaneamente; entretanto, pode
progredir, dando origem à neoplasia localizada sem invasão dos tecidos adjacentes, o chamado
carcinoma in situ. Nessas lesões, o padrão normal da divisão e diferenciação celular é muito mais
severamente deturpado e todas as camadas do epitélio consistem de células proliferativas não di-
ferenciadas, que são altamente variáveis em tamanho e cariótipo. Neste estágio, ainda é fácil al-
cançar cura completa pela destruição ou remoção cirúrgica do tecido anormal, pois as células al-
teradas ainda estão confinadas ao lado epitelial da lâmina basal. Sem o tratamento adequado, as
células displásicas ainda poderão estagnar ou regredir; mas cerca de 20% a 30% dos casos evo-
luirão, num período de alguns anos, originando um carcinoma cervical invasor, cujas células des-
prendem-se do epitélio, atravessam a lâmina basal e começam a invadir o tecido conectivo. À me-
dida que o crescimento invasivo se espalha, a cura passa a ser progressivamente mais difícil.

Lesões invasivas

Nesta fase, a lesão ultrapassa os limites da membrana basal e passa a ser considerada in-
vasiva de tecidos vizinhos ao epitélio, evoluindo de uma área restrita ao colo para órgãos e estru-
turas próximas, como vagina, paramétrios, linfonodos pélvicos e mucosas da bexiga e do reto, a
órgãos e estruturas distantes como pulmões, fígado, ossos e linfonodos, principalmente de acor-
do com o estadiamento, cuja classificação mais utilizada é a FIGO (figura 64). Os tipos histológi-
cos são: escamoso, mais freqüente, tem prognóstico favorável; adenocarcinoma é menos comum,
acomete mulheres jovens e tem pior prognóstico; seguido do sarcoma que é raro e altamente
agressivo.

Estudos epidemiológicos têm mostrado que leva em média 10 anos para que uma célula
normal evolua para o estágio de câncer invasivo, começando por estágios precoces, que são de-
Bases do tratamento ›
295
tectáveis e curáveis, possibilitando que sejam feitos esforços preventivos através de programas
de rastreamento do câncer cervical.

Em relação aos sinais e sintomas, nos estádios iniciais, o câncer cervical pode ser assinto-
mático, tendo como sinal mais comum o sangramento, por perda sangüínea espontânea ou in-
duzida, com corrimento fétido aquoso comumente de cor rósea e constante. A progressão da do-
ença leva ao aparecimento de outros sintomas como disúria, polaciúria, incontinência urinária,
enterorragia, tenesmo, dor lombar e edema de membros inferiores.

Tratamento

O tratamento é indicado com base no estadiamento tumoral, tipo histológico, idade da pa-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


ciente, condição clínica, desejo de procriar e recursos disponíveis. Os procedimentos variam des-
de os mais conservadores, como a retirada de lesões, até tratamentos radicais e complexos como
cirurgia, quimioterapia, radioterapia e associações desses tratamentos (quadro 34).

Tempo de seguimento

Pacientes submetidas à histerectomia total tipos II e III

-Revisão semestral nos dois primeiros anos.

-Revisão anual até cinco anos.

-Caso não haja recidiva após cinco anos, alta.

Pacientes submetidas à radioterapia

-Revisão após quatro meses.

-Revisão semestral até dois anos.

-Revisão anual até cinco anos.

-Caso não haja recidiva ou intercorrências relacionadas ao tratamento após cinco


anos, alta.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
296
Complicações

As complicações são causadas por danos teciduais e funcionais provocados pela evolução
da doença e/ou efeitos do tratamento.

A progressão da doença em evolução gera complicações como fístulas, linfoedema de


membros inferiores, compressão de vias urinárias e intestinais. Os tratamentos, embora eficazes,
sobretudo nos estágios iniciais, trazem danos esperados, por vezes comprometendo a qualidade
de vida pós-tratamento.

No tratamento cirúrgico, as complicações ocorrem com mais freqüência no Wertheim


Meigs, cirurgia caracterizada por histerectomia total, salpingooforectomia bilateral e linfadenec-
tomia. A principal complicação dessa cirurgia é a bexiga neurogênica que é caracterizada pela au-
sência da sensação da necessidade de urinar seguida de retenção urinária, e causada pela mani-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

pulação da enervação dos ureteres e bexiga na realização da dissecção para extirpação do tecido
celular subperitoneal, paravesical e ureteral, além de fístulas envolvendo vias urinárias e intesti-
nais na área pélvica e outras complicações, como infecção da parede, peritonite e hemorragia que
ocorrem com freqüência bastante reduzida.

Na quimioterapia, os efeitos são denominados de toxicidade e estão relacionados à destrui-


ção de células saudáveis, que estão em mitose provocada pela ação sistêmica da cisplatina, cau-
sando nefrotoxicidade, mielotoxicidade, neurotoxicidade e tocicidade gastrointestinal.

No tratamento radioterápico, as complicações são causadas pelos efeitos adversos nos te-
cidos sadios localizados nas áreas adjacentes à irradiada. Os efeitos adversos agudos atingem
pele, membranas mucosas, reto e aparelho geniturinário, e os tardios têm como áreas mais afe-
tadas o retossigmóide, com maior freqüência em estágios mais avançados da doença, na qual a
dose de radioterapia externa é maior; seguido de bexiga, uretra e ureter; útero, ovário e vagina,
gerando disfunção sexual, e mais raramente osso e sangue.
Bases do tratamento ›
297
Quadro 34 – Estadiamento do câncer do colo do útero, segundo a FIGO relacionado ao tratamento no INCA

Carcinoma in situ Biópsia/ Conização

Conização de colo
Invasão do estroma uterino/ histerectomia
Estádio 0 menor do que 3 mm, com abdominal tipo I,
extensão superficial até ou via vaginal, ou
7 mm via laparoscópica/
braquiterapia

Histerectomia radical
modificada tipo II/
Invasão do estroma de 3
traquelectomia radical
mm a 5 mm, com extensão
com linfadenectomia
horizontal até 7 mm
pélvica/ radioterapia
exclusiva
Lesões menores do que 4
Lesões cm - IB1 – histerectomia
Estádio i clinicamente abdominal radical tipo III
CarCinoma iB1 visíveis limitadas
ao colo, com até Lesões menores do que
rEstrito
4 cm 2 cm – histerectomia
à Cérvix,
radical tipo II (em
somEntE
estudo)
diagnostiCado
pEla Traquelectomia radical
miCrosCopia com linfadenectomia
pélvica (no caso de
Lesão clinicamente a cliente desejar
iB2 visível, com mais engravidar)

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


de 4 cm
Lesões maiores do que 2
cm e menores do que 4
cm - IB1 – histerectomia
abdominal radical tipo III
Quimioterapia
concomitante
à teleterapia e
braquiterapia ou
radioterapia exclusiva
Traquelectomia radical
com linfadenectomia
Estádio ii Invasão do terço superior pélvica
e médio da vagina sem
tumor quE infiltração parametrial. Histerectomia
invadE além do radical vaginal com
útEro, mas não linfadenectomia pélvica
atingE a parEdE Radioterapia externa e
pélviCa ou braquiterapia
tErço infErior
da vagina

Tumor invade além


do útero, mas não
iiB atinge a parede
pélvica ou terço
inferior da vagina.

Tumor que
Estádio iii compromete o
tumor quE terço inferior Quimioterapia e
sE EstEndE
iiia da vagina, sem radioterapia (teleterapia
à parEdE extensão à parede + braquiterapia)
pélviCa E ou pélvica concomitantes
CompromEtE o
tErço infErior
da vagina
E/ou Causa
hidronEfrosE Tumor que se
ou ExClusão estende à parede
rEnal iiiB pélvica e/ou causa
hidronefrose ou
exclusão renal

Invade a mucosa
vesical ou retal e/ Tratamento cirúrgico
iva ou se estende além paliativo
da pelve verdadeira
Neste estádio, a doença
é incurável. Tratamentos
são controversos, sendo
a quimioterapia, a
Estádio iv radioterapia e a cirurgia
consideradas paliativas e
tumor fora da
indicadas em cada caso
pElvE Metástase a
ivB distância
Considerar radioterapia
anti-hemorrágica
Tratamentos com
quimioterapia e
radioterapia devem ser
considerados somente
inclusos em protocolos
de estudo

Fonte: UICC, FIGO (1997) e INCA (2006, 2007)


‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
298
Ações de enfermagem no tratamento
do câncer do colo uterino

As ações de enfermagem no tratamento do câncer do colo visam a oferecer assistência de


enfermagem integral individualizada, para cada paciente, informar sobre cada passo do trata-
mento, seja por cirurgia, radioterapia ou tratamento combinado, fornecendo informações que
minimizem as possíveis complicações, orientando para o autocuidado.

As ações iniciam-se no primeiro atendimento pós-matrícula até o período pós-tratamento.


O fluxo das ações de enfermagem (figura 68) compreende consultas de enfermagem para aco-
lhimento no dia da matrícula; pré-cirúrgica eletiva; pós-operatória; pré-teleterapia, primeira, 15ª
e 25ª aplicações de teleterapia; primeira e terceira aplicações de braquiterapia e pós-braquitera-
pia, orientações em grupo com recursos visuais e assistência de enfermagem durante a interna-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

ção através de visita pré-operatória, admissão, planejamento e evolução diária, bem como plane-
jamento de alta hospitalar (figura 65).

Pré-cirúrgico

A abordagem de enfermagem pré-operatória pode ser trabalhada através de consultas, que


visa a acolher e a apoiar a paciente após o diagnóstico e a instruir sobre dúvidas relacionadas ao
tratamento proposto. Os riscos previsíveis pela enfermagem devem ser identificados, assim como
as instruções quanto ao processo de internação durante o tratamento, tais como: jejum, preparos
intestinais e aparos de pêlos e o uso de cateteres; a internação; e, no domicílio, no caso de cirur-
gias de histerectomia total dos tipos II e III mais comumente e outras cirurgias mais radicais.

No momento da internação, é feita uma avaliação sistemática do enfermeiro baseada na


identificação das necessidades afetadas da paciente, visando à elaboração de um plano assisten-
cial que gera intervenções de curto, médio e longo prazo e que podem ser realizadas de forma in-
dependente e ou interdisciplinar. Essa avaliação consta de histórico de enfermagem, exame físico,
dados laboratoriais, de imagem e aplicação de escalas que avaliam nível de consciência, condição
física, nível de algia e autocuidado.

As ações de enfermagem peculiares a este tipo de cirurgia no pré-operatório consistem de


evolução diária, a aplicação do preparo intestinal e de pele, bem como realização do protocolo de
preparo institucional para histerectomia total dos tipos II e III, composto de jejum de 12 horas,
aparo de pêlos da região pubiana e lavagem vesical com clister glicerinado.

No centro cirúrgico, é realizada a avaliação da paciente na recepção pré-operatória imedia-


ta, que consiste na leitura dos registros anteriores, conferência de dados e preparo para cirurgia,
identificação de riscos de enfermagem na cirurgia e pós-operatório, como lesões ou limitações
funcionais. Elaborar plano assistencial e encaminhar à sala de operação.
Bases do tratamento ›
299
A assistência de enfermagem pós-operatória consiste na avaliação do estado geral da pa-
ciente, atentando para o restabelecimento de padrões funcionais relevantes neste período, como:
nutrição, atividade física, integridade da pele, eliminação urinária e intestinal. O exame abdomi-
nal deve ser realizado na busca da identificação do retorno da função intestinal e deverá ser mo-
nitorizado desde o primeiro dia de pós-operatório, atentando para o reinício dos movimentos pe-
ristáticos abdominais, possíveis episódios eméticos. A saída do leito deve ser estimulada tão logo
se tenha condição clínica, avaliando continuamente a competência do autocuidado.

A permanência do cateter de demora durante a internação e no domicílio objetiva prevenir


possível retenção vesical provocada pela denervação das vias urinárias durante o procedimento
cirúrgico. Redução do volume urinário e perdas de diurese por via vaginal são alertas para a pre-
sença de fístulas urinárias, a complicação mais comum neste tipo de cirurgia.

A troca do curativo cirúrgico deve ser feita de forma asséptica, avaliando continuamen-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


te a possibilidade de exposição da ferida, caso haja ausência de exsudato e presença de pontes
epiteliais.

Na alta, é feito o reforço das orientações para o autocuidado e entregue o folheto com
orientações para cirurgia ginecológica (figura 66).


Figura 66 – Folheto de orientação para cirurgia ginecológica
Fonte: INCA (2000)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
300
Pós-alta de internação cirúrgica

A consulta de enfermagem é realizada no 15º dia de pós-operatório nas cirurgias de his-


terectomia II e III. As ações de enfermagem nessas consultas consistem do histórico, exame físi-
co, avaliação do estado geral do paciente no período pós-operatório, exame da ferida pós-ope-
ratória, retirada de pontos, inspeção do local de inserção da sonda vesical, meato urinário em
busca de alterações cutâneas, sinais de fístula, aspecto da urina e realização do teste de resíduo
pós-miccional.

O teste consiste na retirada da sonda vesical, orientação para ingestão de um copo de água
de 250 ml a cada 15 minutos até completar cinco copos. Aguardar um episódio de diurese espon-
tânea e, após, proceder cateterismo vesical. Se o débito for maior do que 100 ml ou se a paciente
não conseguir urinar espontaneamente, deverá permanecer com sonda de demora com circuito
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

fechado por mais uma semana, e se o débito for menor do que 100 ml, a sonda deverá ser reti-
rada. Se a paciente realizar três testes de resíduo sem êxito, deverá ser encaminhada ao médico
ginecologista para avaliação urodinâmica para conduta posterior. O teste tem a finalidade de ve-
rificar o resíduo urinário persistente na bexiga após uma diurese, o que avalia a ineficiência da
função vesical.

O teste de resíduo pós-miccional é realizado no 15º dia de pós-operatório para histerecto-


mia II e no 30º para histerectomia III.

Pré-radioterapia

Antes do início do tratamento, é feita a orientação em grupo por meio de palestra com re-
curso visual sobre radioterapia na pelve feminina, seguida de esclarecimento de dúvidas a pacien-
tes, familiar ou acompanhante, versando sobre a importância do cumprimento da agenda pro-
posta para o tratamento, efeitos adversos que podem acometer a paciente e como minimizá-los.

As consultas de enfermagem são realizadas nos períodos: pré, durante o período de radio-
terapia, pós-teleterapia e durante o período de radioterapia e pós-braquiterapia. Essas consultas
têm a finalidade de avaliar as condições clínicas, identificar riscos para complicações e não efe-
tividade do tratamento, e a elaboração de plano assistencial a curto, médio e longo prazo. Utiliza
como estratégia o histórico de enfermagem, exame físico, escuta apurada das queixas da pacien-
te, avaliação do estado emocional e grau de adesão ao tratamento, procurando evitar falhas no
fluxo; fornecimento de cartilha com orientação para radioterapia ginecológica e informação so-
bre a possibilidade de encaminhamento para equipe multidisciplinar, quando necessário.
Bases do tratamento ›
301

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6



Figura 67 – Folheto de orientação para radioterapia
Fonte: INCA (2000)

Período de radioterapia

Teleterapia

As consultas de enfermagem no Centro de Radioterapia ocorrem de rotina na primeira, 15ª


e 25ª aplicações ou término de tratamento ou quando houver necessidade. Durante estas consul-
tas, são realizados exame físico, identificação de fatores de risco para lesões cutâneas, limitações
funcionais da área a ser irradiada, incentivo ao aumento de ingesta hídrica e fornecimento de
folheto para o autocuidado (Orientações sobre Radioterapia – Disponível em: www.inca.gov.br).
Elabora-se, então, plano de intervenção de enfermagem em tratamento radioterápico e inicia-se
o protocolo de prevenção e tratamento de radiolesões preconizado pelo INCA. Com fornecimento
de creme à base de Aloe Vera Barbadensis Miller e demonstração do uso, a cada consulta é feito o
reforço das orientações, evolução de enfermagem e reavaliação de condutas de enfermagem.

As ações de enfermagem durante o período de tratamento incluem: leitura das consul-


tas anteriores na busca de situações que possam interferir na consulta atual, exame físico com
avaliação da área irradiada, registro de alterações cutâneas, reforço das orientações sobre a ne-
cessidade de aumento da ingesta hídrica diária e do uso correto do creme à base de Aloe Vera
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
302
Barbadensis Miller. Ao término da teleterapia, é feita a leitura das consultas anteriores na busca
de relatos de lesões surgidas durante o tratamento e a conduta adotada, avaliação da área cutâ-
nea irradiada, estímulo à manutenção do aumento da ingesta hídrica, orientação para evitar ex-
posição direta aos raios solares pelo período de 1 ano, uso de creme hidratante na área irradiada
após o término do tratamento, reavaliação do plano assistencial e sua eficácia.

Braquiterapia

A consulta de enfermagem na primeira inserção tem como objetivos: fornecer informações


sobre a dinâmica assistencial na braquiterapia; esclarecer dúvidas; orientar quanto ao autocuida-
do; identificar o quadro que possa prejudicar a inserção do dispositivo utilizado para a braquite-
rapia. São colhidos dados de identificação, escolaridade, diagnóstico, estadiamento, tratamentos
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

realizados e dados relacionados ao tratamento, como: data da inserção, anestesia, tandem, inter-
corrências e evolução.

As ações de enfermagem nessa consulta abrangem: diálogo com a paciente; orientações


sobre protocolo e fluxograma de atendimento hospitalar, autocuidado, possibilidade de efeitos
adversos pós-inserção, tais como dor, sangramento, disúria; histórico de enfermagem e elabora-
ção do plano de intervenção de enfermagem em tratamento braquiterápico; reforço das orienta-
ções anteriores.

A consulta de enfermagem realizada após a última inserção tem como ações: diálogo so-
bre o reinício das relações sexuais ou a sensibilização quanto à realização dos exercícios de dila-
tação vaginal para as não sexualmente ativas; orientação sobre o autocuidado; aumento da in-
gesta hídrica; informações sobre a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos pós-inserção;
fornecimento de prescrição do protocolo para braquiterapia, composto por creme vaginal à base
de Anfotericina B e Tetraciclina, com orientações para utilização; fornecimento de materiais para
exercício de dilatação vaginal.
Bases do tratamento ›
303
Indicação de tratamento

Ações de enfermagem

Radioterapia exclusiva ou Radioterapia complementar à


Cirurgia
combinada com QT cirurgia

Consulta de enfermagem - Acolhimento

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Consulta de enfermagem Orientação em grupo para teleterapia
pré-cirúrgica

Assistência de enfermagem Consulta pré-teleterapia na unidade de origem


hospitalar pré, trans e
pós-cirúrgica
Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia na
Consulta de enfermagem primeira aplicação
pós-alta

Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia na 15ª


aplicação

Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia na 25ª


aplicação

Radioterapia
complementar à Orientação de enfermagem em grupo pós-teleterapia na
cirurgia unidade de origem

Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia


– Braquiterapia – 1ª inserção

Seguimento com
ginecologista e
oncologista
Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia
– Braquiterapia – 3ª inserção

Consulta de enfermagem pós-braquiterapia na


unidade de origem

Figura 68 – Fluxo das ações de enfermagem para pacientes matriculadas no INCA para tratamento de câncer do colo do útero
Fonte: INCA (2006, 2007)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
304
Relato de caso

Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com


câncer do colo do útero

Identificação: A.L.C.S., 41 anos, sexo feminino, moradora do município de São Gonçalo


(RJ).

Antecedentes pessoais e familiares: nega história familiar de câncer, além de tabagismo,


etilismo e uso de drogas. Uso de anticoncepcional por 6 anos e submissão à laqueadura tubária
há 2 anos. Refere realização periódica de Papanicolaou.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Nutrição: eutrófica, corada, hidratada. Informa boa aceitação alimentar e nega desequilí-
brio ponderal nos últimos meses. Abdômen flácido e indolor, sem visceromegalias. Membros in-
feriores sem edema.

Eliminação e Troca

Função urinária: risco de compressão ureteral por evolução do tumor.

Função gastrintestinal: relacionada à baixa de imunidade provocada pela quimioterapia


inalterada.

Atividade e Repouso

Sono/repouso: refere 8 horas de sono diário.

Atividade/exercício: sem queixa de intolerância à atividade física.

Equilíbrio de energia: sem queixa de alteração nas atividades de vida diária.

Respostas cardiovasculares/pulmonares ao exame: murmúrios vesiculares universal-


mente audíveis, ritmo cardíaco regular em dois tempos, hemodinamicamente estável, eupnéica e
acianótica. Perfusão periférica satisfatória.

Autocuidado: possui competência para todos os níveis de autocuidado.

Percepção e Cognição

Atenção e orientação: alerta, orientada e respondendo coerentemente a todos os coman-


dos do examinador.

Sensação/percepção: apresenta percepção sensorial auditiva, olfatória, gustativa, tátil e


visual inalteradas. Boa capacidade de comunicação verbal.

Conhecimento: câncer do colo do útero IIIB de acordo com biópsia e exame realizado em
consulta médica.
Bases do tratamento ›
305
Tratamento médico: teleterapia (5400 cGy) fracionada em 25 aplicações, associada a 420
mg de Cisplatina, dividida em seis ciclos semanais e braquiterapia com três inserções de 700 cGy,
de acordo com protocolo institucional para este estadiamento.

Sexualidade: informa menarca aos 13 anos, sexarca aos 17 anos, ciclo menstrual irregular,
um parceiro sexual, primeiro parto com 18 anos e GII PII (um normal e uma cesária). Queixou-se
de dispareunia esporádica e negou leucorréia. Ao exame ginecológico: vulva normal e lesão ulce-
rada no colo uterino visualizada por espéculo. Informa vida sexual ativa com um parceiro duran-
te toda a vida. Refere dor pélvica esporádica (EVA3) durante o ato sexual.

Enfrentamento e tolerância ao estresse: relata tensão frente ao risco de sofrimento fí-


sico associado ao câncer devido à possibilidade de sentir dores e ao desconhecimento a respei-
to da doença.

Princípios de vida: é católica. Refere ir à missa todos os domingos.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Segurança e Proteção

Infecção: risco de infecção devido a tratamento radioterápico e quimioterápico pela bai-


xa de imunidade.

Lesão física: apresenta lesão ulcerada no colo do útero.


‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
306
Quadro 35 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Anotar o intervalo de tempo entre as eliminações urinárias
Risco para eliminação urinária • Observar e anotar odor, cor e volume de urina a cada micção espontânea
prejudicada devido à possível
compressão ureteral, infiltração • Ingerir no mínimo 2 litros de líqüido diariamente: anotar a quantidade de
de paramétrios até o plano copos de água que ingere diariamente
ósseo e ao uso de cisplatina • Comunicar ao enfermeiro ausência de urina em 12 horas ou sensação de
urina presa
• Utilizar roupas íntimas confortáveis, evitando tecidos à base de lycra ou
renda
• Realizar auto-exame da pele na área irradiada diariamente
• Evitar usar roupas justas
• Lavar a pele do campo de radiação com água morna apenas e secar sem
esfregar
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

• Utilizar para o corpo sabonete neutro


• Realizar higiene íntima com água e sabão neutro, secando com uma toalha
macia, sem esfregar
• Evitar uso de papel higiênico
• Utilizar creme hidratante em área irradiada de acordo com o protocolo do
serviço de radioterapia do INCA
Risco para proteção ineficaz
• Observar e informar à equipe de atendimento o surgimento de vermelhidão,
devido à presença do câncer
inchaço, dor, descamação, erupção e drenagem da pele nos locais de aplicação
e tratamento à base de
da radioterapia e da infusão do quimioterápico
antineoplásicos e radiação
• Procurar o Serviço de Emergência em caso de temperatura axilar maior ou
igual a 37,8ºC
• Dar preferência aos alimentos cozidos devido ao risco de infecção gastrintestinal
relacionado à baixa de imunidade provocada pela quimioterapia
• Realizar higiene corporal diária para evitar infestações devido à baixa de
imunidade provocada pela quimioterapia
• Observar e informar saída de sangue através de fezes ou urina
• Informar à equipe de atendimento a sensação de dor, principalmente
periumbilical, suprapúbica e anal
• Observar e informar alterações súbitas da freqüência intestinal
• Realizar higiene oral com material de cerdas macias
• Observar e informar o aparecimento de lesões em cavidade oral

• Evitar relações sexuais vigorosas enquanto persistir a lesão no colo. Informar


Sexualidade ao profissional de saúde episódios de dor ou sangramento durante ou após o
ato sexual
• Usar camisinha durante as relações sexuais para evitar possíveis infecções
Medo de sofrimento físico
caracterizado por relato de • Enfatizar os riscos associados ao tratamento e às formas de prevenção
tensão associada ao risco de
• Estabelecer um grau de confiança do paciente com a enfermeira clínica
sofrimento físico pela doença,
ambulatorial, informando horário e local para atendimento
relacionado à possibilidade de
dores constantes • Dar preferência às condutas terapêuticas do presente, evitando opinar sobre
o prognóstico da doença de base
Bases do tratamento ›
307
Pulmão

Introdução

O câncer de pulmão, que era uma doença rara no início do século XX, é atualmente um pro-
blema de saúde pública. É o tipo de câncer mais comum de todos os tumores malignos, apresen-
tando um aumento de 2% ao ano em sua incidência mundial. No Brasil, segundo Zamboni (2005),
a partir da década de 1960, as neoplasias malignas, juntamente com as doenças crônico-dege-
narativas, substituíram as doenças infecciosas e parasitárias e destacaram-se como as principais
causadoras de mortalidade no país. Dentre as neoplasias malignas, a de pulmão aparece hoje
como a primeira causa de morte no homem e a segunda, após a de mama, na mulher. O número

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


de casos novos de câncer de pulmão estimado para 2006, conforme Estimativa 2006: Incidência
de Câncer no Brasil (INCA), era de 17.850 entre os homens e de 9.320 nas mulheres, correspon-
dendo a um risco estimado de 19 casos novos a cada 100 mil homens e 10 novos para cada 100
mil mulheres. Segundo Carvalho (2005), 90% dos portadores de câncer de pulmão são ou foram
fumantes, ativos (90%) ou passivos (3,3%). Há uma relação direta com o tempo de duração do
tabagismo e o número de cigarros fumados por dia. O risco de surgimento do câncer de pulmão
diminui progressivamente após a cessação do tabagismo, tornando-se igual ao do não-fumante
após 20 anos, segundo o livro Abordagem e tratamento do fumante - Concenso (INCA, 2001).

Classificação

De acordo com a histopatologia, o câncer de pulmão é classificado em dois tipos:

• Câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC) – corresponde a um grupo he-


terogêneo composto de três subtipos: adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas
(epidermóide) e carcinoma de grandes células.

• Câncer de pulmão pequenas células (CPPC) – corresponde a um grupo, cujo prog-


nóstico é muito pior devido à sua disseminação freqüentemente rápida, com três subtipos:
linfocitóide (oat cell), intermediário e combinado (pequenas células, carcinoma epidermói-
de ou adenocarcinoma).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
308
Diagnóstico

Os altos índices de mortalidade mostram a agressividade da doença, que habitualmente se


apresenta nas suas formas avançadas no momento do diagnóstico, comprometendo a eficácia
do tratamento.

A radiografia de tórax desempenha papel fundamental no diagnóstico do câncer de pul-


mão nos pacientes assintomáticos, que têm o seu diagnóstico feito em exames de rotina, seja em
exames de saúde periódicos habituais ou na realização de exames radiológicos do tórax por ou-
tros motivos. A tomografia computadorizada de tórax é um complemento dos raios X de tórax, e
a broncoscopia deve ser realizada para avaliar a árvore traqueobrônquica e, eventualmente, per-
mitir a biópsia.

É fundamental obter um diagnóstico de certeza, seja pela citologia ou patologia e, a partir


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

da confirmação da doença, realizar o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, se


a doença está restrita ao pulmão ou se está disseminada para outros órgãos.

Fatores de risco

Independentemente do tipo celular ou subcelular, o tabagismo é o principal fator de risco


do câncer de pulmão, sendo responsável por 90% dos casos. Segundo a estimativa de incidência
de câncer do INCA (2006), este hábito é capaz de aumentar o risco em 20 a 30 vezes em tabagis-
tas de longa data e em 30% a 50% em fumantes passivos, não existindo nenhuma dose ou quan-
tidade segura para o consumo de cigarros. Outros fatores relacionados são alguns agentes quí-
micos (como arsênico, sílica, berílio, cromo, radônio, níquel, cádmio e cloreto de vinila, presentes
no ambiente ocupacional), compostos inorgânicos (de asbesto e hidrocarbonetos policíclicos aro-
máticos), fatores dietéticos (baixo consumo de frutas e verduras) e doença pulmonar obstrutiva
crônica (enfisema e bronquite crônica) e fatores genéticos.

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas dessa neoplasia são secundários ao crescimento do tumor primário,


ao comprometimento loco-regional, à disseminação a distância e às síndromes paraneoplásicas,
sendo as mais comuns: tosse, hemoptise e hemoptóicos. A dispnéia não constitui sintoma inicial,
mas poderá manifestar-se na vigência de uma atelectasia pulmonar ou na disseminação linfáti-
ca do tumor.

A disseminação do câncer de pulmão, tanto por extensão direta quanto pela linfangite car-
cinomatosa, pode produzir uma variedade de sinais e sintomas. A invasão da parede torácica, co-
luna ou estruturas nervosas ocasiona dor intensa. A invasão pleural ocasiona dor à respiração e
derrame pleural. Os tumores de Pancoast localizam-se posteriormente no ápice dos lobos supe-
Bases do tratamento ›
309
riores, junto ao plexo braquial, podendo provocar a síndrome de Horner que é secundária ao en-
volvimento da cadeia simpática e do gânglio estrelado, causando a enoftalmia unilateral, pto-
se palpebral, miose e anidrose ipsilateral da face e do membro superior. A rouquidão persistente
aparece em conseqüência da invasão dos nervos laríngeos recorrentes. A paralisia diafragmática
unilateral ocorre quando o nervo frênico é atingido pelo tumor ou por linfonodos. Quando há in-
vasão do tumor para o mediastino superior, pode haver comprometimento das estruturas vascu-
lares, provocando a síndrome da veia cava superior. A linfonodomegalia pode ser encontrada na
região supraclavicular ou cervical. Nas metástases ósseas são características a dor localizada e a
limitação dos movimentos, enquanto as metástases cerebrais se manifestam por cefaléia, náu-
seas e vômitos, confusão mental, convulsões e sinais neurológicos focais. Metástases hepáticas,
adrenais e síndromes paraneoplásicas também podem ser encontradas nos portadores de cân-
cer de pulmão.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Tratamento

Há três alternativas para o tratamento do câncer de pulmão: cirurgia, radioterapia e qui-


mioterapia. Quando o tumor for restrito ao pulmão e em estágios I e II, a cirurgia é indicada e com
proposta para ressecção total, com chance de cura. Porém, pode haver a associação de quimiote-
rapia e radioterapia e eventual resgate cirúrgico em outros estágios. Já no estágio IV, a quimiote-
rapia é o tratamento de escolha, porém com chances de cura reduzidas. Nos casos em que há pos-
sibilidade de recidiva após o tratamento cirúrgico, a quimioterapia adjuvante pode ser indicada.

No câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC), o tratamento cirúrgico é o méto-


do mais eficiente de controle do tumor, desde que seja possível ressecá-lo totalmente e os riscos
de morbimortalidade do procedimento sejam baixos. O objetivo da cirurgia no tratamento des-
tes pacientes é a retirada de todo o tumor, juntamente com o lobo pulmonar, no qual se encon-
tra a lesão, associado à ressecção dos linfonodos mediastinais. Somente os pacientes com tumor
localizado e restrito ao parênquima pulmonar, sem invasão das estruturas adjacentes, são candi-
datos potenciais ao tratamento cirúrgico. Portanto a efetividade do procedimento cirúrgico, as-
sim como a sobrevida estarão relacionadas ao estágio patológico da doença e à ressecção com-
pleta do tumor.

O câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) geralmente é mais agressivo, com alto po-
tencial para desenvolver metástase a distância, e, muitas vezes, o paciente apresenta metástases
detectadas no momento do diagnóstico. Portanto o tratamento cirúrgico é proposto nos estágios
iniciais da doença, estágios I e II, acrescido de quimioterapia pós-operatória. Se houver recusa do
paciente ou não houver indicação clínica para realização do procedimento cirúrgico, a quimiote-
rapia e a radioterapia torácica serão o tratamento de escolha, por conta do tumor ser altamen-
te responsivo a este tratamento. Nos pacientes que apresentarem remissão completa da doença
após o tratamento, será indicado radioterapia profilática do sistema nervoso central.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
310
Relato de caso

Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com


câncer de pulmão

Identificação: J.M.B, 55 anos, sexo masculino, natural do Rio de Janeiro, casado, dois filhos
maiores e um filho menor com 12 anos de idade, 1º grau incompleto, motorista, católico não-pra-
ticante, renda familiar em torno de cinco salários mínimos, referindo ser suficiente para o sus-
tento da família.

Antecedentes pessoais: tabagista desde os 12 anos de idade, fumante de 100 cigarros por
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

dia, etilista (ingestão diária de 1,5 litros de aguardente de cana). Quanto à alimentação, hiperca-
lórica, com alto consumo de alimentos gordurosos, açúcar e proteína, e baixa ingestão de frutas.

Antecedentes familiares: apresenta uma história familiar de câncer, irmã em tratamento


do câncer do colo do útero.

Histórico da doença atual: relata que apresentou um acidente vascular cerebral (AVC) em
novembro de 2005 e, dentre os exames de controle que realizou, fez raios X de tórax, nos quais
foi evidenciado uma lesão de aspecto nodular. Ficou em acompanhamento neurológico e de fi-
sioterapia motora durante quatro meses e não houve nenhum tratamento proposto para a lesão
evidenciada no pulmão. Após um ano, novembro de 2006, ao realizar novos exames de sangue e
raios X de tórax para uma consulta de controle neurológico, outro neurologista que o atendeu, ao
ver a lesão no pulmão, o encaminhou para o pneumologista e este, após avaliá-lo, o encaminhou
para um Serviço de Oncologia.

Conduta

Compareceu ao Serviço de Oncologia, no ambulatório de cirurgia torácica, acompanhado


de sua esposa, para uma avaliação inicial do médico, que solicitou alguns exames complementa-
res. Foi encaminhado à enfermeira do ambulatório para orientações relacionadas aos exames a
serem realizados e rotinas institucionais.

Exames

Após uma semana, retornou ao ambulatório para nova avaliação médica e orientações
quanto aos resultados dos exames realizados, que foram os seguintes: raios X de tórax, que evi-
denciavam condensações interstício-alveolares no lobo superior direito; tomografia computa-
dorizada de tórax, que evidenciava massa irregular de 4,2 x 3,7 cm, captando contraste em lobo
Bases do tratamento ›
311
superior direito, com espessamento pleural e sem sinais de linfonodomegalias; tomografia com-
putadorizada de abdômen superior normal; broncoscopia negativa para tuberculose e células ne-
oplásicas; PAAF (Punção Aspirativa por Agulha Fina) negativa para células neoplásicas; PFR (Prova
de Função Respiratória) com espirometria dentro das normalidades; Eco Doppler de Carótida nor-
mal; ecocardiograma normal; ECG (Eletrocardiograma) normal; e exames laboratoriais normais.
Com base nos resultados e discussão do caso em mesa redonda, houve indicação de programa-
ção de cirurgia e liberação do risco cirúrgico. Por ser tabagista, foi encaminhado ao ambulatório
de fisioterapia, visando a realizar fisioterapia respiratória pré-operatória, e ao ambulatório de tra-
tamento antitabagismo, onde ficou evidenciado que o grau de dependência química era elevado
(7), segundo a escala de Fagenstron. A partir daí, deu início ao tratamento com adesivo cutâneo
de Niquitin 21 mg, com troca a cada 24 horas.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Internação

Em maio de 2007, comparece para internação (véspera da cirurgia), acompanhado pela sua
esposa e apresentando olhar apreensivo, preocupação com a internação e medo da cirurgia e de
morrer, embora feliz por não fumar há uma semana e determinado a não mais fumar e assinto-
mático em relação à evolução da neoplasia. Na admissão de enfermagem, refere AVC isquêmico
sem seqüelas neurológicas, herniorrafia inguinal direita, fazendo uso regular de Carbamazepina
200 mg duas vezes ao dia, alergia medicamentosa à Metoclopramida e Dipirona, ex-etilista há um
mês. Nega tosse, hemoptise, dor torácica, dispnéia, perda de peso (5 kg em 6 meses), hiperten-
são arterial sistêmica, diabetes mellitus, bronquite, asma, tuberculose e transfusões sangüíneas.
Escala Visual Analógica (EVA) = 0.

Ao exame físico, apresenta bom estado geral, lúcido, orientado, cooperativo no exame, res-
pondendo prontamente aos questionamentos. Corado; hidratado; acianótico; anictérico; eupnéi-
co; freqüência respiratória: 20 irpm; aparelho respiratório com murmúrios vesiculares univer-
salmente audíveis, sem roncos adventícios; ausência de linfonodomegalias em cadeia cervical,
supraclavicular e axilar; Performance Status (PS) = zero. Aparelho cardiovascular = bulhas nor-
mofonéticas em dois tempos (ACV=BNF em 2T sem sopros; pulso regular, cheio; freqüência cardí-
aca: 78 bpm; pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Abdômen plano, flácido e indolor à palpação, sem
visceromegalia. Eliminações vesicointestinais dentro do padrão de normalidade (eliminações in-
testinais diariamente e fezes moldadas, eliminações vesicais em bom débito e de coloração ama-
relo claro). Membros superiores e inferiores sem edemas, panturrilhas livres e com presença de
varizes. Foram esclarecidos os procedimentos relacionados à cirurgia, aos cuidados pré-operató-
rios e às rotinas da instituição. Temperatura axilar: 36,6ºC.

No dia seguinte, foi submetido a uma lobectomia radical com esvaziamento dos gânglios
mediatinais peri-hilares por toracotomia póstero-lateral Standard. Evidenciou-se, no transopera-
tório, uma volumosa massa em lobo superior direito, com aderências pleurais no ápice, superfície
pleural lisa e ausência de derrame pleural. O resultado histopatológico por congelação foi com-
patível com adenocarcinoma de pulmão e aguarda resultado histopatológico definitivo por para-
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
312
fina. O estadiamento baseado na extensão anatômica do tumor de pulmão, segundo a classifica-
ção TNM, é T2N0M0, e por grupamento por estádios é IB.

Ao retornar para a enfermaria, após longo período de tempo de recuperação pós-anestési-


ca, encontrava-se sonolento e hipotérmico. Após completa recuperação da anestesia, apresenta
bom estado geral, respondendo prontamente às solicitações verbais, preocupado com o resultado
da cirurgia realizada, queixando-se de dor intensa em hemitórax direito, região da incisão cirúr-
gica, e inserção dos drenos de tórax, dor moderada ao repouso (EVA = 5) e dor intensa ao tossir
e/ou ao mobilizar-se (EVA = 9). Dificuldade para mobilizar-se no leito, resistente quanto aos exer-
cícios respiratórios, medo de tossir e respirar profundamente devido ao aumento da intensida-
de da dor. Hidratação venosa por acesso venoso profundo em subclávia direita, drenos tubulares
anterior e posterior em hemitórax direito, ambos em selo d’água (500 ml), drenagem hemática e
com fuga aérea. Curativos cirúrgicos externamente limpos e secos; catéter peridural para anal-
gesia com solução contínua (em bomba infusora) de Fentanil 50 mg/ml + Ropivacaína 0,5% com
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Analgesia Controlada pelo Paciente (PCA) 3 ml/h. ACV= BNF em 2T, sem sopros. Freqüência cardí-
aca: 68 bpm. Pressão arterial: 110 x 70 mm/Hg. Aparelho respiratório: murmúrios vesiculares uni-
versalmente audíveis (AR= MVUA) sem roncos adventícios. Freqüência respiratória: 18 irpm (eup-
néico). Tosse produtiva com raios sangüinolentos; oxigenioterapia por tenda facial há 3 l/min;
cateter vesical de demora; diurese em bom débito (500 ml) de coloração amarelo-clara. Refere
náuseas, episódios de vômitos em pequena quantidade e de coloração amarelo-esverdeada, dieta
zero. Permanece em repouso, banho/higiene realizados no leito pela equipe de técnicos de enfer-
magem por 24 horas a 48 horas, de acordo com sua evolução clínica. Temperatura axilar: 36,4ºC.

No primeiro dia de pós-operatório, evoluiu em criteriosa observação, pois apresentava qua-


dro de náuseas e vômitos freqüentes, aceitando parcialmente a dieta oferecida; dor de modera-
da intensidade à mobilização no leito para sentar; na ausculta pulmonar apresentava murmúrios
vesiculares universalmente audíveis, com estertores crepitantes na base do pulmão direito, com
expectoração deficiente e retenção urinária após seis horas da retirada do cateter vesical de de-
mora, pois apresentava globo vesical palpável, necessitando cateterização vesical de alívio, con-
trole rigoroso da analgesia e antieméticos oferecidos para o quadro de náuseas e vômitos e exa-
me radiológico do pulmão.

Nos dias subseqüentes evoluiu bem, com melhor resposta álgica, realizando melhor os
exercícios respiratórios, nebulizações regulares, expectoração de secreções traqueobrônquicas,
ferida operatória com pontos íntegros e sem sinais de flogose, deambulação freqüente, diminui-
ção progressiva da drenagem torácica e controle radiológico diário. No quarto dia de pós-ope-
ratório, retirado dreno de tórax anterior (drenagem serosa de 100 ml) e, no quinto dia, retirado
dreno de tórax posterior (drenagem serosa de 100 ml). Seis horas após confirmação de EVA= 0,
retirado cateter peridural e, após orientações médicas e de enfermagem, recebe alta hospitalar
em companhia de familiares.

A seguir (quadros 36 e 37), apresentam-se os diagnósticos de enfermagem identificados de


acordo com a fase do processo terapêutico, envolvendo os pré e pós-operatórios.
Bases do tratamento ›
313
Quadro 36 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pré-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Medo de morrer caracterizado • Proporcionar ao paciente um ambiente tranqüilo e seguro
pelo nervosismo e pelo relato
• Determinar o nível de conhecimento do paciente acerca da sua condição, do
de que está com medo da
prognóstico e das medidas de tratamento
cirurgia, relacionado ao déficit
de conhecimento sobre a • Escutar atentamente as expressões verbais dos sentimentos do paciente e
doença e a cirurgia oferecer a oportunidade de discutir as razões da sua preocupação
• Orientar o paciente e o acompanhante (esposa) sobre a doença (na admissão)
• Orientar o paciente e o familiar (esposa) quanto ao procedimento cirúrgico
(lobectomia radical) e fornecer orientações sobre o tratamento, conforme suas
necessidades ou solicitações
• Orientar o paciente quanto aos procedimentos a serem realizados. Explicar de
forma simples as rotinas hospitalares e fornecer fôlder explicativo
• Encorajar o envolvimento da família em proporcionar apoio emocional ao
paciente

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


• Auxiliar o paciente a estabelecer metas a curto e médio prazos
Comportamento de busca • Identificar fatores como nervosismo, tensão e vontade de fumar capazes de
de saúde, caracterizado pela diminuir a motivação para comportamentos saudáveis
decisão de parar de fumar
• Oferecer informações acerca dos malefícios que o tabagismo proporciona no
e ingerir bebida alcoólica
processo saúde/doença
há um mês, relacionado ao
conhecimento da relação • Enfatizar os benefícios à saúde, imediatos ou a curto prazo, a serem obtidos
dessas condições com sua na cessação de fumar e instalação do adesivo de Niquitin 21 mg, caso persista a
doença/incorporação das vontade intensa de fumar
orientações dadas
• Incorporar estratégias, como a participação em grupos antitabagismo para
orientações e ouvir depoimentos de pacientes que pararam de fumar
• Orientar quanto à possibilidade de sentir vontade de fumar e ensinar estratégias
que possam minimizar essa vontade, como: ingerir líqüidos gelados, comer frutas
geladas, assistir televisão e diminuir a ingestão de café e/ou outros fatores que
estimulem a vontade de fumar
• Envolver familiares no planejamento e implementações dos planos para
modificações dos hábitos de vida

Quadro 37 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Monitorar o nível de consciência, reflexo de tosse, reflexo de náusea e a
capacidade para deglutir
• Monitorar a função pulmonar através de ausculta pulmonar, avaliação dos
gases arteriais e saturação de oxigênio por oxímetro de pulso
• Realizar aspiração de vias aéreas superiores quando necessário
Risco de aspiração devido à
• Certificar-se de que o paciente esteja realmente acordado para alimentar-se
sonolência e aumento das
por via oral
secreções pulmonares
• Administrar medicações antieméticas prescritas uma hora antes do almoço e
jantar, monitorando sua efetividade
• Oferecer dieta em pequenas porções e em períodos fracionados se o quadro de
náuseas persistir, evitando alimentos condimentados e quentes
• Manter cabeceira elevada antes e após as refeições
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
314
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Administrar medicações analgésicas prescritas, avaliando o resultado
• Monitorar características da dor: local, o início/duração, a freqüência, a
qualidade, a intensidade ou a gravidade da dor e os fatores precipitantes
• Documentar a dor do paciente, a intensidade, usando a escala visual analógica
e a resposta ao analgésico, e a ocorrência de efeitos colaterais
• Orientar o paciente para que ele informe a presença de dor, antes que a mesma
se intensifique
• Orientar o paciente e família quanto à ação e aos efeitos secundários das
medicações antiálgicas e opiáceos
• Ensinar o paciente a monitorar a intensidade, a qualidade e a duração da dor
através do instrumento de mensuração de dor da EVA (Escala Visual Analógica)
Dor aguda caracterizada pelo
• Ensinar o paciente a usar o mecanismo de PCA (analgesia controlada pelo
relato verbal do paciente de
paciente), quando estiver sentindo dor, através de demonstração prática de uso
dor, relacionada ao trauma
do dispositivo, que ativa o bolus da solução analgésica, pré-programado em
cirúrgico, tosse e ao mobilizar-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

bomba infusora pelo serviço de anestesiologia


se no leito
• Instituir precauções de segurança durante a infusão contínua de opióide em
bomba infusora (vide capítulo de dor)
• Monitorar sinais e sintomas dos efeitos colaterais da medicação analgésica
em infusão contínua (por exemplo: depressão respiratória, prurido, náusea e
vômito)
• Utilizar uma abordagem multidisciplinar no controle da dor
• Comunicar imediatamente ao anestesiologista se houver qualquer intercorrência
relacionada ao PCA, paciente, medicação, cateter peridural e bomba infusora
• Monitorar sinais vitais, atentando para sinais de depressão respiratória
• Documentar a resposta à terapêutica analgésica e todos os efeitos colaterais
(vide capítulo de dor)
• Encorajar a família a oferecer apoio emocional ao paciente
• Avaliar a condição do paciente para engajar-se na rotina de atividades ou
exercícios respiratórios
• Iniciar medidas de controle da dor antes dos procedimentos, como o banho no
leito, curativos e exercícios respiratórios
• Avaliar as condições ideais do paciente para mobilizar-se
• Orientar o paciente para a percepção do corpo e localização dos dispositivos
para melhor mobilização
• Vestir o paciente com roupas adequadas para proporcionar conforto e
Mobilidade física prejudicada, segurança durante a mobilização
relacionada à dor e aos • Colaborar com o fisioterapeuta no desenvolvimento e execução de exercícios,
dispositivos presentes no conforme adequado
pós-operatório, como: drenos
torácicos anterior e posterior, • Reorientar o paciente para as funções de movimento do corpo quando
cateter venoso profundo, adequado
cateter vesical de demora e • Auxiliar o paciente a sentar-se, ficar de pé para iniciar a deambulação, quando
cateter peridural o mesmo estiver em condições
• Encorajar o paciente a deambular e realizar atividades de maneira independente,
à medida que o mesmo for capaz
• Seqüenciar atividades de cuidados diários visando a aumentar os efeitos dos
exercícios realizados pelo paciente
• Orientar e auxiliar o paciente com os drenos de tórax, bomba de infusão
contínua e hidratação venosa durante a mobilização/deambulação
• Propiciar um ambiente tranqüilo e confortável, para o paciente, após os
períodos de exercícios
Bases do tratamento ›
315
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Monitorizar a freqüência, ritmo, profundidade e expansibilidade torácica
• Proceder à ausculta pulmonar, observando áreas de ventilação diminuída/
ausente e presença de ruídos adventícios
• Determinar a necessidade de aspiração através da ausculta pulmonar,
apresentando estertores e roncos nas vias aéreas
• Observar e registrar o aspecto da secreção traqueobrônquica, pois alterações
podem indicar presença de infecção e/ou alteração do estado pulmonar
• Monitorizar padrões respiratórios: bradipnéia, fadiga muscular e/ou eventos
que possam agravar o quadro
• Manter o paciente em fowler ou semi-fowler, visando a favorecer a drenagem
postural
• Colaborar com o tratamento de fisioterapia respiratória, instalando a
macronebulização contínua
• Realizar aspiração de vias aéreas superiores e estimular a tosse, orientando

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


o paciente em apoiar as mãos sobre o tórax quando tossir, visando ao alívio da
dor
Padrão respiratório ineficaz • Observar mudanças na saturação de oxigênio e mudanças nos valores da
caracterizado por respiração gasometria arterial, conforme apropriado
curta, superficial e tosse,
• Avaliar perfusão capilar, atentando para coloração da pele e cianose de
relacionado à dor sentida
extremidades
ao tossir e ao respirar
profundamente • Orientar e estimular o paciente para a realização dos exercícios respiratórios
com a utilização do exercitador respiratório, quando apropriado
• Orientar quanto à importância de estimular a respiração profunda e
mobilização
• Analisar o tipo e a fonte da dor e assegurar ao paciente cuidados precisos de
analgesia para seu alívio
• Orientar o paciente quanto ao uso do PCA (analgesia controlada pelo paciente)
e encorajá-lo a monitorar a própria dor e interferir adequadamente
• Avaliar a eficácia da analgesia contínua por cateter peridural a intervalos
regulares e freqüentes, utilizando a escala EVA (escala visual analógica)
• Oferecer medicações analgésicas prescritas se analgesia contínua por cateter
peridural for insatisfatória
• Escutar atentamente as expressões verbais dos sentimentos do paciente
e proporcionar um ambiente tranqüilo e confortável, a fim de diminuir a sua
ansiedade
• Monitorar laudos de raios X de tórax
• Monitorar sinais vitais e atentar para depressão respiratória
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
316
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Examinar as condições da incisão cirúrgica e óstios de incisão dos drenos de
tórax, monitorando ressecamento ou umidade excessiva da pele
• Remover resíduos da fita adesiva ao realizar curativos: incisão cirúrgica,
óstios dos drenos de tórax e cateter venoso profundo, monitorando presença de
erupções e escoriações na pele

Risco de infecção devido às • Aderir às precauções universais contra infecção, lavar as mãos antes e após
condições de risco: incisão cada atividade de cuidado com o paciente
cirúrgica, dreno de tórax, • Monitorar os sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção, examinar a
cateter venoso profundo, pele e as membranas mucosas, cateteres e ferida operatória na busca de sinais
cateter peridural, cateter flogísticos
vesical de demora e secreção
pulmonar • Monitorar exames laboratoriais (hemograma completo)
• Orientar quanto à importância dos exercícios respiratórios, deambulação
precoce, visando a mobilizar secreções e expansão pulmonar
• Orientar o paciente e familiares a como evitar infecções através das precauções
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

padrão
• Monitorar sinais vitais (temperatura axilar e freqüência cardíaca)
• Oferecer informações com relação às causas das náuseas e vômitos
• Administrar medicação antiemética conforme prescrição médica
• Encorajar o consumo de pequenas quantidades de alimento
• Oferecer líqüidos frios, puros, inodoros e incolores, quando adequado
• Evitar a ingesta de alimentos quentes, condimentados, gordurosos ou de odor
forte
Náusea e vômito,
caracterizados pelo relato • Observar e registrar dados sobre o vômito quanto à cor, consistência, presença
da sensação de vomitar, de sangue, horários e extensão em que é sentida
relacionados aos efeitos das • Medir ou calcular o volume do vômito
medicações anestésica e
analgésica (opiáceos) • Monitorar exames laboratoriais, atentando para distúrbios hidroeletrolíticos
• Promover repouso adequado para facilitar o alívio da náusea e vômito
• Proporcionar higiene oral freqüente para promover conforto, a menos que
estimule a náusea e o vômito
• Monitorar sinais e sintomas dos efeitos colaterais da analgesia contínua (por
ex.: depressão respiratória, prurido, náusea e vômito)
• Realizar balanço hídrico
Bases do tratamento ›
317
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Colocar toalhas, sabonete, equipamento de barbear e outros acessórios na
cabeceira da cama e no banheiro quando o paciente estiver em condições de
levantar-se
• Providenciar os artigos pessoais desejados (por ex.: desodorante, escova de
dentes e sabonetes) se paciente não possuir
• Realizar mobilização e auxiliar o paciente durante o banho/higiene no leito no
Déficit no autocuidado para pós-operatório imediato
banho/higiene caracterizado • Auxiliar o paciente durante o banho de aspersão quando for apropriado, a fim
pela incapacidade de lavar o de evitar quedas e mantendo cuidados indispensáveis com drenos de tórax
corpo, relacionado à fraqueza,
cansaço, presença de drenos e • Oferecer assistência até que o paciente seja capaz de assumir totalmente o
dor aguda no pós-operatório autocuidado
imediato • Orientar, supervisionar e estimular a participação do acompanhante no auxílio
aos cuidados de banho/higiene do paciente quando for pertinente
• Auxiliar o paciente quando for deambular ou realizar qualquer atividade fora

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


do leito e orientar quanto aos cuidados com os cateteres e drenos de tórax, a fim
de não tracioná-los acidentalmente
• Oferecer alívio da dor com a administração de analgésicos prescritos antes do
banho/higiene e atividades que possam gerar desconforto e dor
• Monitorar a eliminação urinária, incluindo a freqüência, a consistência, o odor,
o volume e a cor, após retirada do cateterismo vesical de demora
• Orientar o paciente quanto à possibilidade de dificuldade para urinar
espontaneamente após a retirada do cateter vesical de demora, devido aos
efeitos das medicações opiáceas
Retenção urinária • Aplicar compressa morna em região suprapúbica se houver relato do paciente
caracterizada por globo de dor, dificuldade para urinar e à palpação de globo vesical
vesical palpável, relacionada
• Proceder ao cateterismo vesical de alívio se permanência de sinais e sintomas
aos efeitos colaterais das
de retenção urinária
medicações anestésica e
analgésica (opiáceos) • Orientar o paciente quanto à importância da ingesta hídrica para normalização
da função vesical
• Orientar o paciente a atender imediatamente a vontade de urinar
espontaneamente e informar assim que ocorrer
• Orientar o paciente a esvaziar a bexiga antes de procedimentos relevantes que
possam demandar longo tempo, com a finalidade de evitar retenção urinária
• Orientar e estimular o paciente quanto à importância da ingesta hídrica
para evitar ressecamento do bolo fecal e favorecer as eliminações intestinais
regulares
• Informar ao serviço de nutrição e dietética a oferecer dieta anticonstipante se
o paciente informar dificuldade e irregularidade na freqüência das eliminações
intestinais
• Monitorar as eliminações intestinais, inclusive freqüência, consistência,
Risco para constipação devido
formato, volume e cor, conforme apropriado
à mudança ambiental, como a
hospitalização, atividade física • Monitorar os efeitos gastrintestinais das medicações prescritas/administradas
insuficiente e os efeitos das que possam contribuir para constipação
medicações opiáceas
• Orientar e estimular a deambulação precoce com auxílio e sua importância
para a motilidade gastrintestinal no pós-operatório
• Administrar laxante ou enema, após prescrição médica, se o paciente referir
desconforto por não evacuar conforme o habitual, mesmo após realização das
medidas preventivas já descritas
• Proporcionar ao paciente conforto e privacidade, auxiliando-o a ir ao banheiro
para realizar suas eliminações intestinais, assim que for oportuno
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
318
Quadro 38 – Plano de enfermagem para alta hospitalar

NA VÉSPERA DA ALTA
• Auxiliar o paciente/familiar a preparar-se para a alta hospitalar, comunicando-os sobre a previsão da mesma
• Determinar as condições de locomoção do paciente e estabelecer, junto à família, o meio de transporte adequado
para levá-lo para casa e encaminhá-lo ao serviço social se houver necessidade de ambulância
• Auxiliar o paciente e seu familiar no planejamento de um ambiente confortável e em condições para manutenção
dos cuidados em domicílio após a alta
• Iniciar o processo de orientações ao familiar e ao paciente com relação à finalização dessa etapa do tratamento
(cirurgia), das condições clínicas atuais e do acompanhamento ambulatorial
• Orientar e estimular o paciente quanto à importância da continuidade do tratamento antitabagismo e retornar
ao seu grupo sete dias após a sua alta, para controle
NO DIA DA ALTA
• Orientar o paciente e familiar para retornar após sete dias ao ambulatório de cirurgia torácica para consulta de
controle pós-operatório
• Certificar-se do entendimento do paciente e familiar acerca das orientações realizadas, e habilidades necessárias
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

para manutenção dos cuidados em domicílio


• Estimular o paciente para o autocuidado e a realização gradativa das atividades habituais, atentando para
alterações do padrão respiratório
• Proporcionar ao familiar apoio relacionado aos cuidados a serem executados após a alta e orientar sobre os
curativos a serem realizados, fornecendo material para execução dos mesmos, se apropriado
• Encaminhar o familiar ao serviço de dispensação da farmácia, para adquirir medicações prescritas que o paciente
deverá fazer uso com continuidade do tratamento em domicílio
• Encaminhar o paciente e seu familiar ao serviço de nutrição e dietética para elaboração de um planejamento
alimentar que atenda às necessidades diárias
• Orientar o paciente e familiar para retornar ao instituto se houver alteração do padrão respiratório, dor persistente
ou qualquer outra anormalidade
• Orientar o paciente e familiar quanto à importância da manutenção da qualidade de vida para o paciente
acometido pelo câncer de pulmão e como fator de sucesso para continuidade do tratamento
• Orientar o paciente a não desenvolver suas atividades laborativas por no mínimo 15 dias após alta hospitalar e
aguardar liberação para voltar a desenvolvê-las após a avaliação médica
• Orientar o paciente e familiar quanto às demais atividades de rotina, que poderão ser realizadas gradativamente
de acordo com as condições físicas e respiratórias
• Oferecer material de suporte educativo para o autocuidado
Bases do tratamento ›
319
Próstata

Introdução

As ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer de próstata foram


abordadas no capítulo de prevenção do câncer.

Este capítulo tratará dos aspectos do diagnóstico e tratamento cirúrgico do câncer de


próstata.

A próstata é uma volumosa glândula mediana, ímpar, rica em tecido muscular liso, do apa-
relho genital masculino. Seu produto de secreção é o suco prostático, importante constituinte do

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


esperma, participando também da movimentação dos espermatozóides. Anatomicamente, locali-
za-se na parte latero-inferior da bexiga (ERHART,1973).

Diagnóstico e estadiamento

O diagnóstico precoce foi abordado amplamente no capítulo A situação do câncer no Brasil.


Neste capítulo, serão descritos os aspectos importantes do diagnóstico definitivo. A classificação
clínica pré-tratamento designada TNM ou cTNM (vide quadro 39) tem por base as evidências ob-
tidas antes do tratamento, tais como: realização do exame físico, mensuração de marcador tumo-
ral, diagnóstico por imagem, biópsia e realização de exames bioquímicos e endoscopia. A classifi-
cação para este tipo de câncer é aplicável apenas para adenocarcinomas. O carcinoma de células
transicionais da próstata é classificado como um tumor uretral, devendo haver confirmação his-
tológica da doença.

No caso de estudos da próstata, T refere-se ao tumor primário com graduações, X ao tu-


mor primário que não pode ser avaliado e 0 quando não há evidência de tumor primário; para N,
designa-se os linfonodos regionais da pelve verdadeira, que são aqueles situados abaixo da bi-
furcação das artérias ilíacas comuns, sendo que a lateralidade não afeta a classificação N; e M é
designado para metástase a distância, que pode (M1) ou não (M0) existir. Para casos de detecção
de metástase, esta poderá ocorrer no tecido ósseo (M1b), na cadeia de linfonodos regionais (M1a)
ou em outra localização (M1c).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
320
Quadro 39 - Resumo esquemático de classificação clínica para próstata

T - Tumor Primário N - Linfonodo Regional M - Metástase a


distância
T1- não palpável ou visível
T1a - menor ou igual a 5% do tecido ressecado
M1a - linfonodo não
T1b - mais do que 5% do tecido ressecado N1 - linfonodo regional regional M1b - osso
T1c - tumor encontrado em um ou ambos os lobos em M1c – outra localização
biópsia por agulha, não palpável ou visível em exame por
imagem

T2 - tumor confinado à próstata, podendo invadir o ápice


ou cápsula prostática, mas não além desta
T2a - menor ou igual à metade de um lobo
T2b - maior do que a metade de um lobo
T2c - ambos os lobos
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

T3 - através da cápsula prostática


T3a - extracapsular
T3b - vesícula seminal

T4 - fixo ou invade estruturas adjacentes (colo vesical,


esfíncter externo, reto, músculos elevadores do ânus,
parede pélvica)

O diagnóstico definitivo é obtido através do exame histopatológico, cuja classificação (pa-


tológica), designada pTNM, é realizada em procedimento cirúrgico. A avaliação histopatológica do
tumor primário (pT) exige a ressecção deste com biópsia adequada para avaliar a maior categoria
pT, não havendo, porém, a categoria pT1, devido à insuficiência de tecido para determinar a cate-
goria pT superior. A avaliação histopatológica dos linfonodos regionais (pN) exige a remoção re-
presentativa de nódulos para comprovar a ausência de metástase em linfonodos regionais (pNo)
e é suficiente para avaliar a maior categoria pN.

Para classificação do câncer de próstata especificamente, o estadiamento utilizado é o de


Gleason, relevando-se o grau de anaplasia das células adenocarcinomatosas. Esta graduação his-
topatológica (G) resume-se em:

• GX - o grau de diferenciação não pode ser avaliado.

• G1 - bem diferenciado (discreta anaplasia) = Gleason 2 – 4.

• G2 - moderadamente diferenciado (moderada anaplasia) = Gleason 5 – 6.

• G3-4 - pouco diferenciado ou indiferenciado (acentuada anaplasia) = Gleason 7 – 10.


Bases do tratamento ›
321
O escore total de Gleason, que varia de 2 a 10, é interpretado relevando-se inclusive
a rapidez de disseminação da doença localmente ou para órgãos vizinhos:

• Gleason de 2 a 4 = há cerca de 25% de chance do câncer disseminar-se para fora


da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida.

• Gleason 5 a 7 = há cerca de 50% de chance de a doença disseminar-se para fora


da próstata em 10 anos, afetando a sobrevida.

• Gleason 8 a 10 = há cerca de 75% de chance de o câncer disseminar-se para fora


da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida ( INCA, 2002).

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Ressalta-se que é fundamental no estadiamento do câncer de próstata com Antígeno
Prostático Específico (PSA) maior do que 20 ng/ml e PSA entre 10 e 20, com graduação histoló-
gica de Gleason maior do que 7, a pesquisa de metástases através de realização de cintilogra-
fia óssea. Esses mesmos parâmetros são utilizados para metástase linfonodal, com agregação de
exames de imagem pélvica, como Ultra-sonografia, Tomografia Computadorizada e Ressonância
Magnética.

Diretrizes terapêuticas

Os fatores que influenciam a decisão terapêutica para o adenocarcinoma de próstata são o


estadiamento clínico (TNM e Performance Status - índice Karnofsky – vide Capítulo 7, sobre qui-
mioterapia), nível sérico de PSA, índice de Gleason, doenças concomitantes, idade e expectativa
de vida do cliente. A progressão tumoral é atestada pelo aumento progressivo do PSA, piora de
lesão óssea ou acometimento visceral.

Bases técnicas

Tumores localizados (T1 ou T2 N0M0)

As opções de tratamento vão variar de acordo com o estadiamento clínico das lesões.
Nestes casos, incluem-se a Prostatovesiculectomia Radical (PTR), radioterapia ou observação vi-
gilante, ou seja, exame físico incluindo o toque retal e dosagem sérica do marcador tumoral PSA.
Nos casos em estádio I (T1aN0M0, Gleason 2-4), utiliza-se freqüentemente a observação vigilan-
te. Os casos em estádio II (T1aN0M0, Gleason maior ou igual a 5, T1b-cT2N0M0) são tratados por
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
322
cirurgia ou radioterapia. Os casos com invasão linfática, observada na peça de prostatectomia
(pN1), têm indicação de radioterapia pós-operatória.

Tumores locorregionalmente avançados (T3-4 ou N1-2, e M0)

São definidos como extensão do tumor por contigüidade (estruturas vizinhas) ou linfono-
dos regionais. Nestes casos, a radioterapia externa (teleterapia) conformacional é opção.

Casos de doença avançada (Tqualquer Nqualquer M1) ou recidivado


com metástase
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Indica-se a hormonioterapia. A ressecção prostática transuretral (RTU) pode se fazer neces-


sária para desobstrução de vias urinárias. A radioterapia paliativa pode ser indicada tanto para le-
sões ósseas metastáticas quanto para paliação de sintomas pélvicos.

Para os casos de adenocarcinoma metastático resistente à hormonioterapia, o plano qui-


mioterápico paliativo pode ser a opção.

Procedimentos

Prostatovesiculectomia radical (PTR)

Após a década de 1970, houve relevante avanço no tratamento cirúrgico radical das neopla-
sias prostáticas, com melhor controle do sangramento peroperatório, preservação dos feixes neu-
rovasculares, contribuindo para preservação da potência sexual e melhor continência urinária.

Considerado padrão ouro para tratamento curativo do câncer prostático organoconfinado,


esse procedimento é delicado e altamente especializado, sendo de escolha sob os critérios: não
infiltração de vesículas seminais, ausência de metástases a distância. Porém, esse procedimento é
passível de complicações mediatas ou tardias como: incontinência urinária, disfunção erétil, es-
tenose uretral ou colovesical, lesão de reto.

Ressecção prostática transuretral (RTU)

Esta cirurgia é realizada quando a doença encontra-se avançada, com vistas à melhor qua-
lidade de vida não-curativa. É de tempo cirúrgico rápido, porém, de complexidade e extremo es-
Bases do tratamento ›
323
tresse para a equipe técnica, pois é realizada em clientes em faixa etária alta, sendo, desta forma,
eleitos os clientes com PS favorável. É utilizado instrumento endoscópico que alcançará o tumor
no intuito de ressecá-lo. Este procedimento requer perícia de toda equipe, inclusive da enferma-
gem, no pós-operatório, pois é de difícil hemostasia e freqüentemente leva o cliente a descom-
pensações hidroeletrolíticas. Este processo é chamado Síndrome de RTU e demanda, principal-
mente, monitoramento de enfermagem especializada nas primeiras 48 horas de pós-operatório,
ininterruptamente, de forma a controlar perdas líqüidas, sangramentos e obstruções de vias uri-
nárias por coágulos. Este momento pode ser de extremo desconforto, ansiedade e dor para o
paciente.

Radioterapia

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Pode ser do tipo teleterapia (externa) ou braquiterapia (intersticial), cujo critério de escolha
é o bom prognóstico do cliente em questão: os que apresentam T1-T2 e Gleason menor do que 7,
são encaminhados à programação para alta taxa de dose (implante de sementes radioativas).

Considera-se a teleterapia conformacional e também a técnica de Radioterapia com


Intensidade Modulada (IMRT) para pacientes selecionados. Aqueles com pior prognóstico são en-
caminhados à programação de teleterapia, que não é recomendada, porém, para tumores volu-
mosos pós-RTU e em próstatas menores do que 20 g. Também é passível de provocar as mesmas
complicações cirúrgicas já citadas , além das complicações comuns ao tratamento radioterápico
conforme escala RTOG – Radiation Therapy Oncology Group (por exemplo: radiodermites, altera-
ções gastrintestinais, cistite actínica – vide Capítulo 7, sobre radioterapia).

Supressão androgênica

É indicada em casos de cura improvável, com utilização de hormônios análogos ao hor-


mônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH), estrógenos e antiandrógenos puros ou mistos.
Porém, o padrão ouro para esta escolha é a orquiectomia bilateral. Esse tipo de tratamento é fei-
to em seqüência de linhas, devendo-se observar resposta à linha anterior e progressão tumoral
na vigência dela, para que se justifique a continuidade da hormonioterapia na linha subseqüen-
te, conforme o esquema a seguir:

1º linha: supressão androgênica cirúrgica (nos casos de homens cardiopatas ou com


vasculopatias) ou medicamentosa.

2º linha: supressão androgênica e bloqueador de testosterona.


‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
324
Procedimentos complementares

Por ocasião da retenção urinária, observada em clientes prostáticos, realiza-se cistostomia


suprapúbica percutânea ou cateterização vesical de demora, dependendo do critério de eleição.
A uretrotomia também é procedimento de escolha em casos avançados (obstrutivos com este-
nose pós-PTR).

Relato de caso

Diagnósticos e prescrição de enfermagem para o paciente com


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

câncer de próstata

Identificação: V.P.S., 74 anos, sexo masculino, branco, natural de Olinda (PE), matriculado
na seção de Urologia do Hospital do Câncer I/INCA.

Queixa principal: dificuldade de urinar, especialmente à noite, quando acorda várias ve-
zes para ir ao banheiro, e cansaço.

Antecedentes pessoais: apresentou doenças comuns na infância. Nega diabetes mellitus,


hipertensão arterial sistêmica, cardiopatias e alergias.

Antecedentes familiares: informa pais falecidos de causa ignorada.

Exames: foi submetido à biópsia orientada por ultra-sonografia transretal, sendo enca-
minhado material para exame histopatológico. Solicitados exames complementares: elementos
anormais de sedimentação (EAS) com resultado para nitrito positivo, proteinúria, piúria e densi-
dade aumentada. Urocultura (positivo para Escherichia colli). Exames laboratoriais para dosagem
de uréia e creatinina, hemograma completo, marcador tumoral prostático (positivo: PSA=10).
Ultra-sonografia de abdômen e pelve com evidências: sem alterações do padrão ecográfico para
fígado, vesícula biliar, loja pancreática e rins, bexiga plena com elevação no soalho e topografica-
mente sem alterações. Porém, a imagem de próstata demonstrou aumento de volume com me-
didas de 50 x 60 x 55 cm, com áreas de baixa densidade ecográfica, compatíveis com lesão ex-
pansiva sólida. O resultado do exame histopatológico do material prostático foi positivo para
malignidade, compatível com adenocarcinoma pouco diferenciado (G 3-4).

O paciente foi encaminhado ao urologista após a consulta de enfermagem.

Na consulta médica, o paciente foi submetido ao exame clínico da próstata através do to-
que digital, que evidenciou: tônus esfincteriano diminuído, mucosa retal lisa, próstata aumentada
de volume, multinodular, assimétrica, de consistência pétrea e fixa aos planos adjacentes.
Bases do tratamento ›
325
Realizada investigação radiológica de tórax para possíveis metástases pulmonares, que evi-
denciou resultado normal. Porém, foi investigada metástase óssea através de cintilografia, com
achado positivo para metástase em fêmur direito. Não foi realizada tomografia computadorizada
para pesquisa de linfonodos regionais.

Em vista do estadiamento indicativo para doença inicialmente avançada (T3NXM1) e clas-


sificação Gleason 7, a opção terapêutica cirúrgica para o caso do Sr. V.P.S. foi a ressecção transu-
retral prostática (tendo em vista a desobstrução das vias urinárias) e orquiectomia bilateral (su-
pressão hormonal), ambas no mesmo tempo cirúrgico. O paciente foi internado em sete dias para
realização do programado.

Consulta de enfermagem

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Procurou a unidade de saúde, onde, em consulta de enfermagem, informou que sua doen-
ça se iniciou há dois anos, quando apresentou três a quatro episódios de micção noturna. Nessa
ocasião, procurou assistência médica, sendo diagnosticada hipertrofia prostática com indicação
de tratamento cirúrgico, o qual foi recusado pelo paciente. Nos cinco meses seguintes, foi subme-
tido a tratamento clínico medicamentoso sem melhora no quadro. Apresentou dificuldade pro-
gressiva para urinar, com retenção urinária, ao que procurou um serviço de emergência, sendo,
neste, submetido a cateterismo vesical de alívio.

Cognição: lúcido, orientado, porém, demonstra incertezas e pouco entendimento sobre a


evolução da doença e o tratamento. Escolaridade primária incompleta.

Atividade laborativa: pescador, refere renda insuficiente para suprimento de necessida-


des básicas (alimentação, vestuário, conforto em domicílio).

Suporte familiar: é viúvo, reside sozinho em casa de alvenaria com instalações sanitárias e
água encanada, tem dois filhos residentes no Estado de São Paulo. Não mencionou nenhum tipo
de estrutura de apoio, familiar ou social. Não refere desejo de apoio na fase de internação.

Hábitos de vida: etilista moderado, nega tabagismo.

Sexualidade: relata atividade sexual irregular e muito insatisfatória nos últimos seis me-
ses, devido ao desconforto urinário e cansaço ao esforço. Refere preocupação quanto ao futuro
neste sentido (potência sexual).

Nutrição: alimentação à base de frutos do mar e farinha de mandioca. Ao exame físico,


apresenta-se emagrecido, panículo adiposo escasso, mucosas descoradas ++4, eupnéico, pele flá-
cida e ressecada, turgor e elasticidade diminuídos. Refere ingesta hídrica de no máximo quatro
copos de água por dia. Ausência de cinco elementos dentários na arcada superior e de quatro na
inferior, não utiliza prótese dentária, ao que refere dificultar mastigação.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
326
Eliminação intestinal: abdômen doloroso à palpação em região hipogástrica, refere difi-
culdade de evacuação (fezes ressecadas, com freqüência de duas vezes por semana). Nega utili-
zação de medicamentos laxantes.

Eliminação urinária: relata dificuldade de urinar, com jato fraco, especialmente à noite,
quando acorda várias vezes para ir ao banheiro; refere descontentamento à interrupção do sono
por este motivo.

Exame físico: eupnéico, tórax simétrico, mamas flácidas sem nódulos palpáveis, ausculta
pulmonar sem anormalidades, ritmo cardíaco regular. Abdômen doloroso à palpação no hipogás-
trio, ausência de visceromegalias, linfonodos não-palpáveis inguinais e abdominais bilateralmen-
te. Genitália externa apresentando bolsa escrotal flácida, pênis pouco retrátil e testículos normais
à palpação.

Atividade física: não realiza de forma regular, referindo cansaço aos esforços mínimos,
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

com dores generalizadas, apresenta marcha orientada e segura.

Sinais vitais: temperatura axilar: 36ºC. Freqüência cardíaca: 72 bpm. Freqüência respira-
tória: 19 irpm.

Reações emocionais: refere ansiedade quanto à eficácia do tratamento e todo o proces-


so daqui por diante, inclusive sobre as possíveis limitações futuras em seu trabalho e meio de
sobrevivência.

Diagnósticos de enfermagem

Diante deste caso clínico, os principais diagnósticos de enfermagem identificados na con-


sulta de enfermagem ambulatorial foram os descritos no quadro a seguir.
Quadro 39 – Principais diagnósticos e prescrições para câncer de próstata na consulta de enfermagem ambulatorial

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Adaptação prejudicada • Oferecer informações claras, de forma calma e receptiva, sobre o processo da
relacionada à não-aceitação doença atual
da mudança do estado de
saúde • Fornecer apoio à tomada de decisão, com esclarecimento de valores
• Realizar entrevista em local privado e quieto com palavras de positivismo
Ansiedade relacionada à
incerteza em relação ao seu • Instruir sobre a doença e seus recursos de tratamento
“estado” e possível tratamento • Fornecer números de telefone para intervenções ou informações de
e atividade sexual, expressados emergência
verbalmente
• Encaminhamento para o serviço de psicologia (problema colaborativo)
Bases do tratamento ›
327
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Motivar paciente à mobilização possível (preservação da mecânica corporal)
Risco de intolerância à
atividade relacionada • Investigar se o paciente é capaz de deambular confortavelmente e com
à expressão verbal de segurança
fraqueza (estado de não-
• Investigar fator relacionado à dor na realização de atividade física de esforço
condicionamento físico)
mínimo
Conhecimento deficiente do • Assegurar utilização de linguagem sem risco de comunicação prejudicada
processo patológico relativo à
limitação cognitiva • Informar paciente sobre cartilha de “direitos do paciente”
• Investigar fatores relacionados a hábitos alimentares com restrição de ingesta
Constipação percebida
hídrica e alimentos fibrosos
conforme relato de eliminação
fecal em freqüência diminuída • Orientar paciente a aumentar ingesta hídrica e ingerir alimentos fibrosos,
e fezes de características evitando uso de laxantes
ressecadas
• Encaminhamento para Serviço de Nutrição (problema colaborativo)
Mastigação prejudicada
• Orientar paciente para realização de procedimentos de higiene oral, com escova

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


caracterizada pelo relato
e creme dental, após todas as refeições ou no mínimo três vezes ao dia
de dificuldade para triturar
os alimentos, relacionada • Sugerir a ingestão de alimentos pastosos que facilitem a mastigação
à ausência de dentes nas
• Encaminhamento para serviço de odontologia (problema colaborativo)
arcadas superior e inferior
• Orientar paciente a fazer diário miccional (anotar volume ingerido e eliminado
por micção) diariamente
Eliminação urinária • Ensinar paciente a monitorar o grau de distensão da bexiga por meio de
prejudicada relativa à retenção palpação e sensação miccional
por obstrução patológica
• Orientar paciente a procurar enfermagem da instituição quando em retenção
para estabelecimento de urina residual e provável uso de autocateterismo limpo
intermitente
• Estabelecer fatores causadores (processo patológico), explicando-os ao paciente,
auxiliando-o a identificar seus pontos fortes, suas capacidades e interesses (criar
quadro de metas)
Fadiga relativa ao cansaço e
comprometimento da libido • Orientação para imagem focalizada em sua reabilitação
• Ratificar importância do plano de maior mobilização para cumprimento do
plano terapêutico a ser proposto
Nutrição desequilibrada
(menos do que as necessidades
• Investigar fatores relacionados (déficit em sistema de apoio)
corporais), relacionada ao
relato de ingestão inadequada • Explicar ao paciente a necessidade de consumo de alimentos de variedade
de alimentos (quantidade nutricional, distribuídos em maior número de refeições por dia, encorajando-o a
e qualidade), bem como repousar antes das mesmas
apresentação de tônus
• Encaminhamento para o serviço de nutrição (problema colaborativo
muscular enfraquecido,
nutricional)
mucosas hipocoradas, turgor
da pele diminuído
Padrão de sono perturbado,
expresso verbalmente por • Estabelecer fatores causadores (dor, ansiedade), explicando-os ao paciente
insatisfação e capacidade
• Auxiliar paciente a reconhecer importância do tratamento e viabilidade de
diminuída em suas funções
melhor qualidade de vida

Volume de líqüidos deficiente, • Investigar fatores relacionados (dor à deglutição, hábitos alimentares com
representado por pele de restrição de ingesta hídrica)
aspecto ressecado, com
diminuição do turgor • Ratificar importância do aumento de ingesta hídrica
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
328
Fase pré-operatória

Conforme programado, o Sr. V.P.S. foi internado na clínica de urologia para intervenção
cirúrgica.
Quadro 40 – Principais diagnósticos e prescrições na fase pré-operatória

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Investigar o nível da ansiedade
• Apresentar-se de forma receptiva
Ansiedade relacionada
à incerteza, relativa ao • Realizar entrevista em local privado e quieto, com palavras de positivismo
processo cirúrgico, expressada
• Instruir sobre a doença e a programação cirúrgica
verbalmente
• Encorajar paciente a expressar sentimentos e pensamentos sobre o ato cirúrgico,
anestesia e perspectivas durante a internação
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Conhecimento deficiente do • Assegurar utilização de linguagem sem risco de comunicação prejudicada


processo cirúrgico relativo à
limitação cognitiva • Disponibilizar-se para esclarecimentos
• Explicar, de forma clara e concisa, as rotinas hospitalares
• Orientar sobre preparo pré-operatório (jejum, exames laboratoriais, clister)
Conhecimento deficiente
relacionado à rotina do • Orientar sobre período pós-imediato (possível presença de cateteres, possível
período de internação sangramento por cateter vesical, controle da dor, restrição no leito a critério
médico ou da enfermagem)
• Orientar sobre procedimento de irrigação vesical
Padrão de sexualidade
modificado relacionado a
alterações fisiopatológicas • Orientar paciente em relação a possíveis alterações no padrão sexual, devido ao
associadas à doença, referido procedimento cirúrgico (dificuldade ou impossibilidade de ereção)
pelo paciente no momento da
• Encaminhamento para o Serviço de Psicologia (problema colaborativo)
admissão na enfermaria

Fase pós-operatória

No período pós-operatório imediato de ressecção transuretral (RTU) e orquiectomia, apre-


senta-se sonolento e pouco responsivo a estímulos verbais, mucosas conjuntivais coradas e hi-
dratadas, mucosa oral hidratada e pele corada e hidratada. Permanece restrito ao leito nas pri-
meiras 24 horas, sendo realizado banho no leito pela enfermagem, mantidos dieta zero, acesso
venoso periférico para soroterapia, antibioticoterapia e analgesia conforme prescrição médica e
cateter vesical de demora tipo three-way. Instalada ainda em fase peroperatória a irrigação con-
tínua com solução fisiológica 0,9% de permanência zero, com vistas à prevenção de obstrução de
vias urinárias por coágulos. Apresentou, neste período, débito hemático maciço por cateter vesi-
cal, porém sem obstrução do mesmo e sem dor, evoluindo para aspecto mais claro até 48 horas
após o ato cirúrgico. Foi observado quadro de hipotermia (35ºC), sendo realizado aquecimento do
Bases do tratamento ›
329
paciente com cobertores. Contudo, não foi observado conjunto de sinais e sintomas característi-
cos de Síndrome de RTU .

Aguarda visita da nutricionista para progressão de dieta conforme aceitação: paciente re-
fere “fome”, bem como expressa maior comunicabilidade com a equipe.

No quarto dia de pós-operatório, o paciente apresenta-se ansioso para retorno ao lar, refe-
rindo melhor disposição e crença em melhora de seu quadro. Apresentou um episódio de evacu-
ação de aspecto pastoso. Recebeu alta hospitalar, deambulando normalmente, sem dor, estável,
hemodinamicamente apto para o autocuidado, alimentando-se por via oral com dieta livre, com
indicação médica de uso de analgésico gotas em caso de dor, manutenção de cateter vesical de
demora até reavaliação médica quando do primeiro retorno, que foi agendado para sete dias, ou
procurar serviço de emergência em caso de sangramento, obstrução ou dor.
Quadro 41 - Plano de cuidados para o período de internação em fase pós-operatória imediata

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Déficit no autocuidado para
banho/higiene, relacionados • Providenciar banho de leito, de procedimento o mais rápido possível, devido
à indicação de restrição ao à alteração de temperatura corporal, com artefatos aquecidos e atraumáticos
leito nas primeiras 24 horas uma vez ao dia, pela manhã
de pós-operatório e barreiras • Auxiliar paciente na higiene oral ao despertar e à noite
ambientais
Mobilidade física prejudicada, • Manter paciente em repouso total no leito nas primeiras 24 horas de
relacionada ao quadro pós- pós-operatório
operatório restritivo para
prevenção de sangramento por • Manter posicionamento de alinhamento corporal e proteção de estruturas
esforço via uretral contra possíveis traumas no próprio leito
Percepção sensorial
perturbada, relacionada ao • Instalar paciente em leito próximo ao posto de enfermagem
desequilíbrio hidroeletrolítico • Manter luzes de cabeceira apagada. Limitar produção de todo tipo de ruído
peroperatório
Risco de queda, relacionado • Manter grades do leito elevadas
ao déficit neuromuscular
por jejum prolongado, perda • Solicitar intervenção do Serviço Social para liberação de acompanhante
hidroeletrolítica peroperatória (problema colaborativo)
Deglutição prejudicada,
relacionada ao déficit
neuromuscular transitório • Manter paciente em dieta com progressão conforme prescrito. Monitorar
por efeito de narcose (risco sinais e referências a quadro de náusea e vômito
de refluxo gastroesofágico,
diminuição de força de • Manter cabeceira elevada a 30º. Realizar higiene oral seca
contração muscular facial para
mastigação)
• Manter paciente aquecido por cobertor
Hipotermia, relacionada
à perda hidroeletrolítica • Manter cuidados especiais com extremidades, procedendo enfaixamento não-
durante processo cirúrgico e compressivo com algodão ortopédico ou utilização de meias de algodão
pós-imediato
• Realizar aquecimento de gases inalatórios

 A Síndrome de RTU refere-se ao conjunto de sinais e sintomas: hipotermia, hipotensão arterial, perda
hidroeletrolítica.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
330
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Incontinência urinária total, • Manter irrigação contínua com solução fisiológica 0,9% de permanência zero,
relacionada ao processo conforme prescrição médica
cirúrgico pélvico com
abordagem traumática de • Manter monitoramento de débito e aspecto urinário por cateter vesical, com
estrutura vizinha às vias atenção para possível obstrução por coágulo e/ou sangramento de volume
urinárias anormal
• Realizar limpeza com solução fisiológica a 0,9% e renovação de cobertura
(oclusão seca) em ferida operatória em região escrotal uma vez ao dia
• Manter permeabilidade de cateter vesical de demora através do
Risco de infecção, relacionado monitoramento de irrigação contínua, permanência zero e fixação de sonda
à ferida operatória em região vesical, eliminando risco de infecção por volume residual
escrotal, cateterização venosa
• Manter cobertura seca e íntegra em acesso venoso
e urinária invasivas
• Proceder troca de acessórios para infusão venosa e inalatória conforme
protocolo
• Monitorar sinais de flebite periférica (dor, calor e rubor locais)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Risco de prejuízo de • Inspecionar pele do paciente durante banho de leito (observar presença de
integridade da pele, hiperemia em áreas de risco para úlcera de pressão, escoriações por adesivos de
relacionado à restrição no fixação)
leito, hipotermia, presença de • Proteger proeminências ósseas conforme protocolo para prevenção de úlcera
proeminências ósseas, idade por pressão
avançada e déficit de resposta
imunológica por doença • Manter roupas de cama sem rugas
oncológica • Manter uso de colchão piramidal
Risco de lesão peroperatória • Realizar inspeção sistemática de panturrilhas (empastamento caracterizado
por posicionamento, por trombose venosa)
relacionado ao tempo cirúrgico
prolongado e posicionamento • Observar presença precoce de bolhas em membros inferiores (síndrome
em mesa cirúrgica compartimental)
Bases do tratamento ›
331
Fase de alta hospitalar
Quadro 42 - Plano de cuidados para alta hospitalar

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Disposição para comunicação
• Estabelecer comunicação constante com o paciente, utilizando linguagem
aumentada, relacionada
acessível
à expressão própria de
verbalização • Encorajar paciente a manter contato com equipe e círculo social (vizinhos,
colegas de trabalho etc.), fornecendo telefones de contato

Disposição para
enfrentamento aumentada,
• Encorajar paciente a manter-se na linha de tratamento proposto sem
relacionada à verbalização
interrupções
de de crença na evolução do
mesmo
Risco de síndrome do desuso,

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


relacionado à ausência de • Manter orientações de encaminhamento para Serviço de Odontologia
dentição (musculatura facial (problema colaborativo)
de mastigação)
Disposição para eliminação
urinária melhorada, • Encorajar paciente a manter observação rigorosa no volume e aspecto de
relacionada à observação de débito urinário, anotando-o diariamente, para trazer no retorno para avaliação
débito e aspecto urinários médica
enquadrados nos padrões de • Orientar paciente a procurar emergência hospitalar em caso de obstrução ou
normalidade, com ausência saque espontâneo de cateter vesical de demora
de dor
Orientar paciente a:
• Manusear coletor urinário sem contaminação de meio interno, fornecendo a
ele um coletor adicional
• Sintomas de infecção urinária (febre, ardência em uretra, coloração turva com
Risco de infecção, relacionado ou sem grumos na urina)
à presença de cateter vesical
• Manter ferida operatória descoberta e seca
de demora e ferida operatória
em região escrotal • Usar cueca de algodão
• Monitorar sinais flogísticos de ferida operatória (dor, rubor, calor e deiscência
de pontos), febre; procurando emergência em caso de identificação destes sinais
• Marcar data de retorno ambulatorial para avaliação e retirada de pontos em
dez dias
Disfunção sexual, relacionada
• Orientar paciente sobre possível disfunção sexual em decorrência de
a limitações reais impostas
procedimento realizado e da doença instalada, com encaminhamento para
pelo progresso da doença e
suporte psicológico (problema colaborativo)
plano terapêutico instituído
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
332
Cólon e reto

Introdução

O câncer de cólon é uma das neoplasias mais freqüentes nos países ocidentais, ocorrendo
em ambos os sexos e apresentando um aumento da incidência com o avanço da idade.

O cólon e o reto são segmentos do intestino grosso. O cólon é subdividido em quatro par-
tes: o cólon ascendente, que termina no ceco; o cólon transverso; o cólon descendente e o cólon
sigmóide. Do sigmóide, o intestino continua pelo reto, que termina no canal anal. Os segmentos
do cólon nos quais o câncer ocorre mais freqüentemente são o sigmóide e o descendente, segui-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

dos pelo cólon ascendente e o transverso.

O câncer de cólon e reto, ou colorretal, pode se iniciar tanto no cólon quanto no reto. A
maioria desses tumores se inicia em pólipos, que são formações não-cancerosas que podem cres-
cer na parede interna do intestino grosso. Alguns tipos de pólipos eventualmente se tornam ma-
lignos. A prevenção, detecção e a remoção dos pólipos antes de se tornarem malignos é uma es-
tratégia efetiva na assistência a esse tipo de neoplasia.

Ficar alerta aos sintomas de câncer colorretal aumenta a possibilidade de um diagnóstico


precoce, ampliando as chances do sucesso do tratamento.

A maioria dos tumores do intestino grosso é chamada de adenocarcinomas, pois se origi-


nam da camada que recobre internamente o intestino grosso. Outros tipos de tumores que po-
dem aparecer no cólon ou reto são os tumores carcinóides, tumores do estroma gastrointestinal
e linfomas.

Uma dieta rica em frutas e verduras e baixa ingestão de carnes vermelhas ajuda a reduzir o
risco para o câncer colorretal. Alguns estudos mostraram que a suplementação de ácido fólico e
cálcio também ajuda a reduzir o risco.

As causas do câncer colorretal são desconhecidas, mas parece que alguns fatores podem
elevar o risco de desenvolvimento da doença:

• Idade – este câncer é prevalente em pessoas acima de 50 anos.

• Presença de pólipos – são estruturas não-malignas que crescem dentro do intesti-


no, mas que alguns tipos podem se transformar em câncer.

• História de câncer – mulheres que já tiveram câncer de ovário, útero ou mama têm
mais chances de desenvolver a doença.
Bases do tratamento ›
333
• História familiar – os pais, irmãos e filhos de uma pessoa com câncer colorre-
tal possuem mais chances de ter a doença, principalmente se a pessoa que teve câncer
o desenvolveu antes dos 60 anos. Famílias com condições hereditárias como a Polipose
Adenomatosa Familiar ou o Câncer Colorretal Hereditário Não-Polipótico possuem maior
risco.

• Enterocolite ulcerativa – nesta condição o cólon se inflama e úlceras aparecem na


camada de revestimento interno do intestino grosso. Essa camada anormal é mais sujeita
às transformações malignas.

• Constipação intestinal crônica – a baixa ingestão de fibras, levando a um funciona-


mento preguiçoso do intestino, aumenta o risco da doença.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


• Fumo – cigarro, charuto ou cachimbo aumentam o risco de câncer colorretal.

• Sedentarismo – não se exercitar e ter altas taxas de gordura corporal, aumenta o


risco de câncer.

Sintomas

Os pólipos pré-cancerosos e o câncer colorretal geralmente não causam sintomas no início.


Em parte, isso confirma a recomendação de que fazer exames regulares é importante para des-
cobrir pólipos pré-cancerosos e câncer do cólon em uma fase precoce. O câncer mais avançado
pode causar quaisquer dos seguintes sintomas:

• Mudança nos hábitos intestinais.

• Diarréia ou constipação.

• Sangue nas fezes (vermelho vivo, preto ou muito escuro).

• Fezes mais finas e estreitas que o usual (“fezes em fita”).

• Inchaço, empachamento ou dores de barriga.

• Anemia sem sangramento aparente em indivíduos acima de 50 anos.


‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
334
• Desconforto abdominal incluindo cólicas, empachamento e excesso de gases.

• A sensação de que o intestino não esvazia completamente.

• Perda de peso sem dieta.

• Fadiga constante e cansaço.

Diagnóstico
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

O diagnóstico precoce é dificultado pela ocorrência tardia dos sintomas, e pelo preconcei-
to que existe contra os métodos de diagnóstico. Existem vários exames disponíveis para rastrear
o câncer colorretal, a saber:

• Toque retal – o médico faz o exame, através de palpação digital no canal retal,
usando o dedo indicador para sentir áreas alteradas que possam ser suspeitas de câncer
de reto.

• Teste de sangue oculto nas fezes – teste usado para verificar se existe sangue não
visível nas fezes, que pode indicar a presença de pólipos ou câncer.

• Sigmoidoscopia – exame realizado através da inserção de um aparelho chamado


sigmoidoscópio no cólon e no cólon terminal, para visualizar a presença de pólipos ou ou-
tras alterações. Durante esse exame, o médico pode retirar pólipos ou amostras de tecido
para exame microscópico.

• Colonoscopia – aparelho chamado colonoscópio é inserido pelo reto e todo o cólon


na procura por pólipos ou outras anormalidades. O médico pode retirar material para exa-
me microscópico durante o procedimento.

• Enema baritado – enema contendo bário é dado ao paciente. Uma série de radio-
grafias é então tirada e examinada para identificar falha de preenchimento, que podem ser
pólipos ou tumores.
Se houver a suspeita ou a visualização de lesão em algum dos exames acima, exames
adicionais poderão ser realizados:
Bases do tratamento ›
335
• Biópsia – nesse procedimento, o médico remove uma pequena amostra do tecido
suspeito e o envia para exame microscópico, realizado pelo patologista. Somente a biópsia
é capaz de fornecer o diagnóstico definitivo de câncer.

• Marcador tumoral – exame que mede os níveis no sangue de uma proteína cha-
mada antígeno carcinoembrionário (CEA). Altos níveis de CEA podem indicar que o câncer
é agressivo ou que já se espalhou para outros órgãos.

• Exames de imagens – tomografia computadorizada para verificar se o câncer se es-


palhou pelo abdômen e/ou pélvis, ultra-som de abdômen para avaliação se houve compro-
metimento do fígado, e Raios X de tórax para avaliar se o câncer atingiu o tórax.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Tratamento

A cirurgia é o método primário de tratamento para o câncer colorretal. A extensão da cirur-


gia e a necessidade de tratamento adicional (com quimioterapia ou radioterapia) dependem da
fase da doença e se ela está no cólon ou no reto.

A conduta primária no tratamento do adenocarcinoma colorretal se baseia na ressecção


cirúrgica do segmento intestinal comprometido, o mesentério adjacente e as respectivas esta-
ções linfonodais de drenagem. Assim, os procedimentos mais freqüentemente realizados são a
colectomia direita, a colectomia esquerda, a retossigmoidectomia e a amputação abdominoperi-
neal do reto.

O limite de ressecção cirúrgica no reto é de no mínimo 2 cm, incluindo-se o tecido conjun-


tivo retrorretal (mesorreto). No câncer de reto de até 8 cm da margem anal, com diâmetro de até
3 cm, infiltrando exclusivamente a parede retal, de baixo grau de diferenciação na biópsia, sem
linfonodos comprometidos (ecoendoscopia) e sem metástases a distância, pode-se indicar a res-
secção local cirúrgica. A margem de segurança analisada pelo patologista com o espécime cirúr-
gico na posição anatômica deve ser adequada.

A indicação de procedimento adjuvante local (radioterapia) e sistêmico (quimioterapia)


está na dependência do estadiamento anatomopatológico e localização da lesão, se reto ou có-
lon. A radioterapia não é empregada para o câncer de cólon, pela possibilidade de lesão actínica
intestinal.

No reto, indicam-se, conforme o grau de estadiamento, a quimioterapia e a radioterapia.


Evidências vêm sendo obtidas com o emprego de tratamento neoadjuvante do câncer de reto, ou
seja, utilizando-se quimioterapia e radioterapia pré-operatória, observando-se diminuição sig-
nificante da recidiva, diminuição da mortalidade sem alteração da sobrevida, principalmente em
pacientes jovens.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
336
Estádios TNM II e III são particularmente sensíveis à terapêutica neoadjuvante do câncer
de reto. No tratamento do câncer colorretal avançado, além da colostomia derivativa, para alívio
da obstrução e do tenesmo, a fotoablação pode ser utilizada para alívio temporário em pacientes
inoperáveis por co-morbidades ou doença intra-abdominal disseminada.

A radioterapia tem efeito moderado na paliação do câncer de reto avançado (dor, tenesmo,
hemorragia e mucorréia), não modificando o quadro obstrutivo. Somente 15% dos casos de cân-
cer de reto avançado são localmente controlados com a radioterapia, apresentando mediana de
sobrevida menor do que 2 anos. Os resultados de aplicação intra-operatória de radioterapia ain-
da estão sendo investigados.

Fatores prognósticos
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

• Obstrução – muitas vezes, o quadro de abdômen agudo obstrutivo é a primeira ma-


nifestação do câncer de cólon, principalmente quando localizado à esquerda. Como a per-
furação por tumor, a obstrução representa doença avançada e de pior prognóstico.

• Extensão do tumor na parede do órgão – quanto maior for a penetração do tumor


na parede do cólon, menores são as taxas de sobrevida. Os tumores precoces in situ ou lo-
calizados na camada muscular sem disseminação local, nem regional ou a distância, apre-
sentam inclusive taxa de cura considerável.

• Linfonodos comprometidos – a presença de linfonodos comprometidos pela neopla-


sia é um fator de pior prognóstico, conseqüentemente maior recidiva e menor sobrevida.

• Grau de diferenciação – quanto mais indiferenciado for o tumor, pior seu prognós-
tico. Mesmo porque, os tumores bem diferenciados respondem melhor à terapêutica adju-
vante e têm uma velocidade de crescimento mais lenta, podendo ser detectado ainda em
fases precoces.

• Embolização sangüínea – alguns autores têm demonstrado que a sobrevida é me-


nor em pacientes que, no estudo anatomopatológico, apresentam embolização sangüínea.

• Invasão neural – as curvas de sobrevida e sobrevida livre de doença dos pacientes


portadores de invasão neural são estatisticamente piores.

• Marcadores – a p53 e a bcl-2 estão incluídas como marcadores prognósticos para


o câncer colorretal, mas, em estudo recente, não foi identificada correlação estatisticamen-
Bases do tratamento ›
337
te significante entre o estadiamento e a expressão das proteínas no prognóstico do cân-
cer de cólon.

Quando descoberto tardiamente, o câncer colorretal pode ser fatal. Quase metade dos pa-
cientes com esse câncer ainda morre em menos de 5 anos após o tratamento. Por isso é tão im-
portante a sua detecção precoce, quando a possibilidade de cura ainda é grande. Quando detec-
tado no começo, a sobrevida ultrapassa 90%.

Relato de caso

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com
câncer de cólon e reto

Identificação: H.L.C, 85 anos, sexo feminino, branca, natural de Belo Horizonte (MG), resi-
dente no Rio de Janeiro, dona de casa, matriculada na seção de Abdômen do Hospital do Câncer
I/INCA.

Antecedentes pessoais: nega melena, alergias medicamentosas e alimentar. Nega hiper-


tensão arterial, tabagismo, etilismo e hemotransfusões anteriores.

Antecedentes familiares: desconhece casos de câncer na família.

Suporte familiar: é viúva e tem três filhos – com 65 anos, 62 anos e 58 anos. Refere ter
um bom relacionamento com os filhos e suas esposas. Relata que a esposa de seu filho mais ve-
lho é como uma filha, pois é ela que lhe acompanha a todas as consultas e, sempre que precisa, é
ela quem está disposta a ajudar, sendo esta nora que ficará de acompanhante durante o período
de internação. Relata saber que receberá diariamente visita dos filhos e netos. Refere ser católica
praticante e gostaria de receber apoio religioso durante o período de internação.

Sinais vitais e medidas antropométricas: peso: 48 kg. Altura: 1,60 m. Índice de Massa
Corpórea (IMC): 18,75. Pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 82 bpm, com ritmo
regular. Freqüência respiratória: 18 irpm. Temperatura axilar: 36,5ºC. Haemoglucoteste: 93 mg/dl.
Eupnéica, murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à esquerda.

Exames

Foi submetida à colonoscopia, que evidenciou massa de aproximadamente 8 cm, e biópsia


da lesão, que revelou adenocarcinoma de cólon direito, sendo indicada hemicolectomia direita.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
338
Conduta

Durante o período que antecedeu a internação, a paciente compareceu com familiar ao


grupo de orientação pré-operatória e ambas receberam orientações quanto às normas e rotinas
do serviço nos períodos de internação, pós-operatório e alta hospitalar.

Foi encaminhada, acompanhada de seu filho, à Central de Internação para internação ele-
tiva, a fim de submeter-se a tratamento cirúrgico. Segundo avaliação médica, encontrava-se com
queixa de diarréia de odor fétido, perda ponderal de 15 kg em dois meses (sic) e astenia há qua-
tro meses.

Na admissão, a paciente se encontrava lúcida, comunicativa, apreensiva, referindo insô-


nia e dormindo 4 horas/dia (sic) há quatro meses, quando houve o diagnóstico da doença. Refere
sentir-se cansada durante o dia, mas não consegue descansar. Alimenta-se por via oral, pou-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

ca quantidade, duas vezes ao dia. Relata aceitar bem somente sopas e caldos. Apresenta mucosa
conjuntival e oral normocoradas e hidratadas, pele normocorada e hipohidratada. Abdômen fláci-
do e doloroso à palpação, peristalse aumentada. Freqüência de evacuações de quatro vezes ao dia,
com fezes líqüidas todos os dias da semana, tendo urgência nas evacuações; urina espontânea
citrina, sem odor. Ausência de linfonodomegalias inguinais. Membros inferiores livres de edema.
Apresenta-se tensa, preocupada quanto ao procedimento cirúrgico proposto, pois sente medo
com o que pode acontecer depois da cirurgia, como ficará sua qualidade de vida e de morrer.

No pré-operatório, foi submetida ao preparo de cólon via anterógrada e retrógrada, com


administração de óleo mineral, bisacodil e clister glicerinado, conforme prescrição médica (ob-
servar quadro 43).
Bases do tratamento ›
339
Pré-operatório
Quadro 43 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pré-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Nutrição desequilibrada: alimentação
menor do que as necessidades corporais,
caracterizada pela perda de 15 kg em dois • Pesar em jejum diariamente
meses; astenia; IMC de 18,75; desequilíbrio
• Orientar sobre a importância da ingesta de alimentos três vezes
relacionado às anormalidades do paladar;
ao dia
disfunção fisiológica do aparelho
gastrintestinal; demandas energéticas • Registrar nível de aceitação das dietas oferecidas, sempre após
excessivas do tumor e menor capacidade de as principais refeições
adaptação do gasto energético aos níveis de
ingesta de nutrientes
• Orientar, de forma clara e concisa, quanto ao tratamento e
Ansiedade relacionada ao câncer, tratamento procedimentos a serem executados

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


e alteração na imagem ou representação de
• Identificar e reduzir fatores ambientais estressantes
morte evidenciada pelo relato da paciente de
insônia (4 h/noite), e apreensão relacionada • Promover o sono com medidas de conforto
à confirmação da doença e internação para
• Oferecer à paciente oportunidade de discutir as razões do medo
cirurgia
• Encaminhar a paciente aos recursos de saúde mental
• Observar e registrar aspecto e freqüência das eliminações
Padrão de evacuação alterado relacionado intestinais
à mudança da atividade normal do
• Avaliar sinais de desidratação
intestino, secundária ao câncer colorretal,
caracterizado pela eliminação de fezes • Estimular ingesta hídrica
líquidas, quatro vezes ao dia, e relato de
• Intensificar higiene perianal
urgência para evacuar relacionada à má
absorção • Monitorar a pele da região perianal em busca de irritações e
ulceração
Disposição para processos familiares
melhorados, caracterizada pelo
funcionamento familiar satisfatório das • Solicitar e estimular o acompanhamento familiar durante o
necessidades físicas e psicológicas e da período de internação hospitalar
manutenção dos laços entre os membros da
família na hospitalização
Disposição para a religiosidade caracterizada
pelo desejo de encontrar-se com líder • Facilitar acesso ao líder religioso
religioso

Pós-operatório

Retornou à enfermaria em pós-operatório imediato de hemicolectomia direita, sob efeito


residual da anestesia geral. Sonolenta, respondendo às solicitações verbais coerentemente, mu-
cosas conjuntivais hipocoradas e hidratadas, mucosa oral hipohidrata, pele corada e hipohidra-
tada. Ventilando espontaneamente em ar ambiente, eupnéica, murmúrios vesiculares universal-
mente audíveis.

Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Freqüência car-
díaca: 65 bpm, com ritmo sinusal. Freqüência respiratória: 16 irpm. Temperatura axilar: 36,4ºC.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
340
Cateter nasogástrico (CNG) em sifonagem com drenagem de efluente acastanhado em
alto débito (300 ml em 2 horas), hidratação venosa com soro glicosado a 5% por cateter venoso
periférico em membro superior esquerdo (MSE) sem sinais flogísticos, com bom fluxo e refluxo.
Cateter peridural fechado.

Abdômen distendido, doloroso à palpação, timpânico, com peristalse e eliminações intes-


tinais ausentes. Incisão cirúrgica abdominal longitudinal, sutura íntegra sem áreas de tensão,
sangramento ou sinais flogísticos. Dreno tubular em selo d’água em flanco direito, com efluente
sero-hemático em alto débito (200 ml em 12 horas).

Diurese por cateter vesical de demora, com urina concentrada em baixo débito (200 ml em
12 horas). Membros inferiores livres de edemas e aquecidos.
Quadro 44 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Reações pós-anestésicas com nível de


consciência rebaixado, caracterizado por
• Verificar e registrar nível de consciência de 6 em 6 horas
sonolência, mas respondendo a estímulos
verbais relacionados à anestesia geral
Risco de infecção devido à presença de • Realizar a higiene das mãos antes de qualquer procedimento
dreno tubular no flanco D, cateter periférico • Manter o ambiente limpo e arejado
em membro superior esquerdo - MSE (sem
sinais flogísticos, com bom fluxo e refluxo), • Manter curativos limpos e secos
cateter peridural fechado, incisão cirúrgica • Orientar quanto à importância de uma higiene adequada
abdominal longitudinal, sutura íntegra sem
áreas de tensão, sangramento ou sinais • Proceder à troca do acesso venoso a cada 72 horas
flogísticos, cateter vesical de demora • Contribuir para minimizar o tempo de internação
Eliminação urinária prejudicada,
caracterizada pela drenagem de urina
• Verificar e registrar o aspecto e o volume de diurese de 4 em 4
concentrada com baixo débito, 100 ml/6
horas
horas, por cateter vesical de demora
relacionado à desidratação
Eliminação intestinal ausente caracterizada
pelo abdômen distendido, doloroso à • Avaliar ruídos hidroaéreos
palpação, peristaltismo ausente, eliminações
ausentes há 24 horas relacionadas ao • Observar e registrar a ocorrência de eliminação de flatos e fezes
preparo de cólon no pré-operatório e uso de de 12 em 12 horas
sedativos no ato anestésico-cirúrgico
Volume de líqüidos deficiente caracterizado
• Avaliar e registrar débito urinário de 4 em 4 horas
por diminuição de turgor da pele e língua,
mucosa oral hipohidratada, diminuição do • Avaliar e registrar débito do cateter nasogástrico e do dreno
débito urinário e aumento da concentração abdominal de 12 em 12 horas
urinária e aumento dos efluentes via dreno
• Verificar e registrar sinais vitais de 4 em 4 horas
abdominal e via cateter nasogástrico

Alta hospitalar

Paciente recebeu alta no sexto dia de pós-operatório, com aceitação plena da dieta via oral
oferecida, incisão cirúrgica íntegra e exposta, sem sinais flogísticos e eliminações vesicointesti-
nais preservadas. Agendado retorno ao ambulatório.
Bases do tratamento ›
341
Estômago

Introdução

O estômago é uma parte do sistema digestivo localizado no abdômen superior, na altura


das costelas, com um papel central no processo de digestão dos alimentos. Quando um alimen-
to é deglutido (engolido), ele passa pelo esôfago e cai no estômago. Os músculos do estômago
moem o alimento e liberam sucos gástricos que digerem e fracionam os nutrientes. Após 3 horas,
o alimento se torna líqüido e se move para o intestino delgado, onde a digestão continua.

O câncer de estômago, também chamado de câncer gástrico, pode se iniciar em qualquer

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


parte do estômago. Ele pode se espalhar pelos linfonodos próximos e para outras áreas do corpo,
como fígado, pâncreas, intestino grosso (cólon), pulmões e ovários.

A maioria dos tumores que atinge o estômago é do tipo adenocarcinoma, que significa que
se desenvolveram da camada que reveste internamente o estômago. Outros tipos de tumores
gástricos incluem linfomas, sarcomas gástricos e tumores carcinóides, mas são raros.

A taxa de mortalidade relacionada ao câncer gástrico vem caindo nas últimas seis décadas,
principalmente graças ao diagnóstico mais precoce e ao tratamento de outras patologias asso-
ciadas ao mesmo.

Os seguintes eventos são sugeridos como fatores de risco para o câncer do estômago:

• Infecção por Helicobacter pylori.

• Dieta que inclui grandes quantidades de carne vermelhas, churrasco, alimentos de-
fumados, carne e peixes salgados e comidas e bebidas que contenham nitratos e nitritos,
como alimentos tipo salsichas frescas, embutidos e bebidas fermentadas e destiladas.

• Uso de tabaco e álcool.

• Cirurgia de estômago prévia.

• Anemia perniciosa (causada pela deficiência de vitamina B12).

• Ser homem - ocorre duas vezes mais em homens do que entre as mulheres.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
342
• Ter 55 anos ou mais – a maioria dos pacientes está na faixa etária entre 60 e 70
anos.

• Ter tipo sangüíneo A.

• Possuir histórico familiar de câncer não-poliposo, polipose adenomatosa familiar


e câncer de estômago.

• História de pólipos estomacais.

• Exposição a fatores ambientais como pó e fumaça no trabalho.


Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Sintomas

A maior parte dos pacientes não tem sintomas nas fases iniciais do câncer de estômago.
Quando eles aparecem, podem ser tão vagos que acabam sendo ignorados ou se confundem com
outras doenças, pois são comuns às úlceras pépticas, às gastrites e a outros problemas gastrin-
testinais. Os sintomas mais comuns do câncer de estômago são:

• Perda do apetite.

• Dificuldade de deglutição.

• Sensação vaga de estômago cheio.

• Náuseas e vômitos.

• Fraqueza e fadiga.

• Dor abdominal.

• Eructação.

• Mau hálito.
Bases do tratamento ›
343
• Excesso de gases e flatos.

• Azia após as refeições.

• Perda de peso.

• Enfraquecimento da saúde geral.

• Sensação prematura de estômago cheio após as refeições.

• Sangramento – sangue no vômito ou nas fezes.

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Diagnóstico

Na suspeita de câncer de estômago após o histórico do paciente e do exame físico, o mé-


dico pode pedir alguns exames, incluindo:

• Sangue oculto nas fezes – detecta sangue não visível nas fezes, que pode ter vin-
do de uma lesão no estômago. Outras condições não neoplásicas podem também apresen-
tar sangramento, assim, a positividade deste teste, por si só, não significa que o paciente
tenha câncer.

• Radiografia do esôfago e estômago – após a ingestão de um contraste, chamado


de bário, são realizadas radiografias (Raios X) seqüenciais que delineiam o interior do esô-
fago e do estômago e o médico procura por áreas anormais ou tumores.

• Endoscopia – permite que o médico visualize diretamente a cavidade do estôma-


go. Após sedar o paciente, o médico insere uma cânula pela boca e desce pelo esôfago
até o estômago. Ao se deparar com áreas alteradas, o médico pode tirar amostras de te-
cido (biópsia) para exame microscópico e fazer o diagnóstico da causa das alterações.

• Tomografia de abdômen e radiografia de tórax – podem ser úteis para estabelecer a


extensão do tumor e se ele se disseminou para outros locais antes de fazer a cirurgia.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
344
Tratamento

Os três tratamentos mais comuns para a maioria dos pacientes com câncer de estômago
são a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. A cirurgia é atualmente a única cura para a doen-
ça. A quimioterapia e a radioterapia são usadas para aliviar os sintomas, reduzir a velocidade de
progressão da doença, e, às vezes, podem prolongar a sobrevida do paciente.

A cirurgia do câncer de estômago, chamada gastrectomia, envolve a remoção de parte


(gastrectomia parcial) ou de todo o estômago (gastrectomia total). Os gânglios linfáticos ao redor
do estômago também podem precisar ser removidos (linfadenectomia).

Podem ser usadas a quimioterapia e a radioterapia, sozinhas ou em combinação, e qual-


quer uma das duas pode destruir células cancerosas efetivamente. Porém, ambos os tratamentos
destroem tecido saudável e podem causar vários efeitos colaterais. Por isso, a quimioterapia e a
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

radioterapia geralmente são acompanhadas de tratamentos para combater os efeitos colaterais.


O tratamento do câncer de estômago também pode exigir ações para assegurar que o paciente
continue recebendo sua nutrição, seja por sonda ou por via venosa.

O prognóstico do câncer de estômago continuará piorando a menos que seja tratado. Os


médicos acreditam que o câncer de estômago desenvolva-se muito lentamente, podendo levar
anos antes de produzir sintomas. Quando a doença é encontrada cedo, antes de penetrar o reves-
timento do estômago ou de se espalhar para fora do estômago, a chance de recuperação comple-
ta é muito maior. É importante lembrar que nenhum paciente com câncer é semelhante a outro,
e as respostas ao tratamento variam de uma pessoa para outra. Mais da metade das pessoas que
forem diagnosticadas com câncer de estômago nas fases precoces da doença viverá mais de cin-
co anos. Entretanto, só 10% a 20% dos cânceres de estômago são diagnosticados nas fases ini-
ciais. A taxa de sobrevida global de cinco anos é em torno de 20%.

Relato de caso

Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com


cancer gástrico

Informações gerais: A.M.F., 65 anos, sexo masculino, negro, natural de Salvador (BA), re-
sidente no Rio de Janeiro, borracheiro, matriculado na seção de Abdômen do Hospital de Câncer
I /INCA.

Antecedentes pessoais: nega hematêmese e ou melena, alergias medicamentosas e ou


alimentares, hipertensão arterial ou diabetes. Informa ter tido catapora na infância. Nega uso de
medicamentos e hemotransfusões anteriores. É ex-tabagista de 20 cigarros/dia a 10 anos e eti-
lista social.
Bases do tratamento ›
345
Antecedentes familiares: tem história de câncer de mama na família (tia paterna).

Sinais vitais e medidas antropométricas: Peso: 50 kg. Na avaliação clínica, referiu “per-
da” de peso de 20 kg em três meses. Altura: 1,68 m. Índice de Massa Corpórea (IMC): 17,7. Pressão
arterial (PA): 120 mmHg x 80 mmHg. Freqüência cardíaca (FC): 82 bpm (batimentos por minuto),
com ritmo regular. Freqüência respiratória (FR): 16 ipm (incursões por minuto). Temperatura axi-
lar: 36,5ºC. Apresenta vômitos em pequena quantidade diariamente, tendo sido tratado em outra
instituição como gastrite.

Exames

Ao exame físico, paciente encontra-se emagrecido, lúcido, linfonodomegalia cervical e axi-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


lar ausentes. Padrão de sono satisfatório, de 8 horas/dia (sic). A endoscopia digestiva alta (EDA)
revelou adenocarcinoma gástrico, sendo indicado gastrectomia subtotal.

Conduta

Durante o período que antecedeu a internação, o paciente compareceu com familiar ao


grupo de orientação pré-operatória e recebeu orientação quanto às normas e rotinas do serviço.
Foram abordados temas referentes ao período de internação, ao pós-operatório e à alta hospita-
lar. Foi encaminhado à Central de Internação, acompanhado de sua esposa, para internação ele-
tiva a fim de submeter-se a tratamento cirúrgico, segundo avaliação médica.

Na avaliação inicial realizada pelo enfermeiro, tanto o paciente quanto a sua esposa en-
contravam-se ansiosos em relação ao tratamento proposto, pois tiveram um amigo com a mes-
ma doença e que depois da cirurgia teve uma sobrevida de dois meses. Refere que deseja que
sua esposa fique de acompanhante, pois os filhos trabalham e ele não quer importunar as noras
nem os netos. Refere ser católico praticante e gostaria de receber apoio religioso durante o perí-
odo de internação.

Alimenta-se por via oral, mas relata melhor aceitação de dieta líqüida. Queixa-se de odino-
fagia e anorexia. Apresenta mucosa conjuntival e oral normocoradas e hidratadas, pele normo-
corada e hidratada. Está eupnéico, murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à
esquerda, com queixa de dor epigástrica, abdômen plano, flácido e indolor à palpação, peristal-
se presente, com freqüência de defecação diária com fezes moldadas, diurese espontânea citri-
na, sem odor e em grande quantidade (sic). Refere ser independente para seus cuidados, mas não
sabe como vai ser depois da cirurgia. Ausência de linfonodomegalia inguinal. Membros inferiores
livres de edemas, ausência de varizes. Paciente relata que o médico, no dia da marcação da cirur-
gia, informou como seria o procedimento e que provavelmente ele precisaria usar uma sonda na
narina para se alimentar por algum tempo, pois perdeu muito peso e que, se fosse preciso, faria
depois tratamento com quimioterapia.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
346
Pré-operatório
Quadro 45 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pré-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Nutrição desequilibrada: ingestão • Pesar em jejum diariamente
menor do que as necessidades corporais,
• Orientar sobre a importância da ingesta de alimentos três vezes
caracterizada pela perda de 20 kg em três
ao dia
meses; astenia; IMC de 17,7; desequilíbrio
relacionado às anormalidades do paladar; • Registrar nível de aceitação das dietas oferecidas, sempre após as
disfunção fisiológica do aparelho principais refeições
gastrintestinal; demandas energéticas
• Observar presença de náusea, vômitos, distensão abdominal e
excessivas do tumor e menor capacidade
plenitude gástrica
de adaptar o gasto energético aos níveis
de ingesta de nutrientes • Solicitar intervenção do serviço de nutrição, se necessário
• Fornecer, de forma clara e concisa, informações quanto ao
Ansiedade relacionada ao câncer, tratamento e procedimentos a serem executados
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

tratamento e alteração na imagem ou • Identificar e reduzir fatores ambientais estressantes


representação de morte evidenciada pelo
relato de perda de pessoa próxima • Oferecer ao paciente oportunidade de discutir as razões do medo
• Encaminhar o paciente aos recursos de saúde mental
Disposição para processos familiares • Solicitar e estimular o acompanhamento familiar durante o período
melhorados, caracterizados pelo de internação hospitalar
funcionamento familiar satisfatório sobre
• Orientar acompanhante e familiares sobre as implicações do
as necessidades físicas e psicológicas e
cuidado ao paciente
manutenção dos laços entre os membros
da família na hospitalização • Oferecer informações à família sobre a rotina de visitas
Disposição para a religiosidade, • Encorajar o uso de recursos religiosos, se desejado
caracterizada pelo desejo de encontrar-se
com líder religioso • Facilitar acesso ao líder religioso
Risco para desequilíbrio hidroeletrolítico, • Monitorar hidratação e equilíbrio eletrolítico
devido à perda anormal de líqüidos e
eletrólitos (sódio, potássio, albumina e • Monitorar exames laboratoriais (sódio, potássio, glicose e albumina)
glicose) diariamente
Problema colaborativo: preparo de cólon • Monitorar resultado do óleo mineral, bisacodil e clister de 8 em 8
via anterógrada e retrógada horas

Pós-operatório

O paciente foi submetido à gastrectomia subtotal com reconstrução de trânsito. Retornou


do centro cirúrgico em pós-operatório imediato acordado, respondendo às solicitações verbais
coerentemente.

Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 110 x 80 mm/Hg. Freqüência car-
díaca: 68 bpm, com ritmo sinusal. Freqüência respiratória: 15 irpm. Temperatura axilar: 36,2ºC.

Referiu “mal-estar”, apresentou tremores e dor abdominal em cólica. Lúcido, mucosas con-
juntivais e oral normocoradas e hipohidratadas, pele normocorada e hipohidratada. Está eup-
néico, com murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à esquerda. Cateter na-
sogástrico em sifonagem, dando saída à secreção amarelo-acastanhada de 500 ml/24 horas.
Bases do tratamento ›
347
Hidratação por cateter venoso periférico em membro superior direito, sem sinais flogísticos, fluin-
do bem. Abdômen plano, flácido, doloroso à palpação, timpânico à percussão, peristalse e elimi-
nações intestinais ausentes, diurese através de cateter vesical de demora de aspecto amarelo-ci-
trino, com drenagem de 1500 ml/24 horas. Incisão cirúrgica abdominal com sutura íntegra, sem
área de tensão, sangramento ou sinais flogísticos. Dreno de sucção em flanco direito, dando sa-
ída à secreção hemática com drenagem de 200 ml/24 horas. Cateter peridural para analgesia.
Membros inferiores livres de edemas e aquecidos.
Quadro 46 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Reações pós-anestésicas com nível de
consciência rebaixado, caracterizadas
por sonolência, mas respondendo • Verificar e registrar nível de consciência de 6 em 6 horas
a estímulos verbais, relacionadas à
anestesia geral

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


Risco para volume de líqüido • Avaliar e registrar volume e aspecto de drenagens do cateter nasogástrico
desequilibrado, relacionado à e dreno de sucção de 6 em 6 horas
alteração eletrolítica e evidenciado
• Pesquisar sinais e sintomas de sangramento de 6 em 6 horas
por alto débito de drenagem pelo
cateter nasogástrico e dreno de • Comunicar ao médico assistente qualquer alteração hemodinâmica,
sucção como taquicardia, sudorese, hipotensão
• Realizar a higiene das mãos antes de qualquer procedimento
• Manter o ambiente limpo e arejado
• Manter curativos limpos e secos
• Orientar o paciente e acompanhante quanto à importância de uma
Risco de infecção devido à presença higiene adequada
de dreno tubular no flanco D, • Orientar a equipe multiprofissional sobre o uso de técnica asséptica
cateter periférico em membro em todos os procedimentos invasivos e administração de medicamentos
superior esquerdo - MSE (sem sinais endovenosos
flogísticos, com bom fluxo e refluxo),
cateter peridural fechado, incisão • Investigar as vias invasivas, acesso venoso periférico, dreno de sucção,
cirúrgica abdominal longitudinal, cateter vesical a cada 24 horas quanto aos sinais de vermelhidão,
sutura íntegra sem áreas de tensão, inflamação, drenagem de secreções e sensibilidade
sangramento ou sinais flogísticos, • Proceder à troca do acesso venoso a cada 72 horas
cateter vesical de demora
• Monitorar exames laboratoriais (hemograma e bioquímica)
diariamente
• Contribuir para minimizar o tempo de internação
• Identificar sinais de infecção: febre, hiperemia, edema e secreção no
local da ferida cirúrgica
Eliminação intestinal ausente,
caracterizada pelo abdômen
distendido, doloroso à palpação, • Observar e registrar a ocorrência de eliminação de flatos e fezes de 12
peristaltismo ausente, eliminações em 12 horas
ausentes há 24 horas e relacionadas • Estimular deambulação do paciente, sempre acompanhando-o, duas
ao preparo de cólon no pré- vezes ao dia
operatório e uso de sedativos no ato
anestésico-cirúrgico
Volume de líqüidos deficientes, • Monitorar e registrar débito urinário de 4 em 4 horas
caracterizado por diminuição de • Monitorar e registrar as drenagens, cateter nasogástrico e dreno de
turgor da pele e língua, mucosa sucção, de 12 em 12 horas
oral hipo-hidratada e aumento dos
efluentes via dreno de sucção e via • Monitorar hidratação e equilíbrio eletrolítico
cateter nasogástrico • Verificar e registrar sinais vitais de 4 em 4 horas
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
348
Alta hospitalar

Paciente recebeu alta no oitavo dia de pós-operatório, com aceitação total da dieta ofere-
cida. A incisão cirúrgica encontra-se íntegra e as eliminações intestinais preservadas. Agendado
retorno ao ambulatório.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Bases do tratamento ›
349
Boca/laringe/cabeça e pescoço

Introdução

Atualmente, o câncer é a segunda causa de morte por doença no Brasil e no mundo.


Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2005, o câncer causou 7,6 milhões de mortes no
mundo, o que representou 13% do total de óbitos em todo o mundo (INCA, 2007b).

Quanto ao câncer de cavidade bucal, estima-se que ocorrerão, no Brasil, em 2008, cerca de
14.160 casos novos, sendo que mais de 50% deles, ou seja, 8.010 casos novos, na Região Sudeste
(INCA, 2007a). A preocupação com o câncer de boca é justificada pelo fato de estar entre as oito

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


neoplasias malignas mais freqüentemente diagnosticadas no Brasil. É considerado o câncer mais
comum da região da cabeça e pescoço, excluindo-se o câncer de pele. Apesar de ser uma patolo-
gia de fácil diagnóstico, devido às suas lesões precursoras bem definidas e visíveis, mais de 60%
dos casos matriculados no Instituto Nacional de Câncer (INCA) chegam em estado avançado (III
e IV), o que requer ressecção cirúrgica ampla, implicando em déficits funcionais e seqüelas (INCA,
2007a).

A falta de detecção do câncer de boca em fase inicial resulta em distúrbios que podem ser
devastadores para os indivíduos. Quando não há tratamento precoce, indivíduos e seus familiares
terão de enfrentar a desfiguração, o déficit sensorial/funcional, os distúrbios psicológicos, altera-
ções na interação social e na sexualidade, ou até a morte (HAGGOOD, 2001).

Proporcionar cuidado e educação para estes pacientes e familiares representa um signifi-


cante desafio para a Enfermagem. Assim, o enfermeiro é o profissional mais habilitado e dispo-
nível para apoiar e orientar o paciente e a família na vivência do processo de doença, tratamen-
to e reabilitação, afetando definitivamente a qualidade de vida futura. Dado o intricado cuidado
e manejo dessa doença para as pessoas portadoras de câncer na cavidade bucal, a prevenção ou,
na pior das hipóteses, a detecção de lesões iniciais, obviamente é o melhor caminho.

O enfermeiro, devido à sua formação, é um profissional que pode participar ativamen-


te no planejamento e execução de ações preventivas ou de detecção precoce. As ações preven-
tivas dependem de investimento na educação da população quanto à eliminação dos fatores de
risco e auto-exame da boca. Já as ações de detecção precoce envolvem a realização de procedi-
mentos técnicos simples e de baixo custo, como os exames de inspeção da cavidade bucal e re-
gião cervical.

Como o melhor controle da saúde bucal é aquele realizado pelo próprio indivíduo, a reali-
zação mensal do auto-exame da boca é fundamental para que lesões possam ser identificadas em
fase inicial. As instruções para o desenvolvimento do auto-exame da boca são difundidas à po-
pulação através de panfletos ou de meio eletrônico (internet).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
350
O câncer de boca

A maioria dos tumores malignos da cavidade bucal é constituída pelo carcinoma epider-
móide, que se classifica como: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferen-
ciado (INCA, 2007a).

O câncer de cavidade bucal é uma doença de multicausalidade, mais freqüente em indiví-


duos do sexo masculino, com idade superior a 40 anos e de baixo status socioeconômico. Os prin-
cipais fatores de risco para o seu desenvolvimento são o efeito sinérgico do tabagismo e etilismo,
má higiene bucal, irritação mecânica crônica pelo uso de próteses mal ajustadas, dieta pobre em
vitaminas A e C, exposição prolongada ao sol (câncer de lábio), dentre outros (INCA, 2007a).

A cavidade bucal está dividida nas seguintes áreas: lábio, 2/3 anteriores da língua, muco-
sa jugal, assoalho da boca, gengiva inferior e superior, área retromolar e palato duro. Todas essas
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

áreas apresentam drenagem linfática para o pescoço, conseqüentemente, o primeiro local para
metástase. O primeiro sítio de drenagem inclui os linfonodos jugulodigástricos, jugulo-omohiói-
deos, submandibulares e submentonianos. Linfonodos do segundo escalão de drenagem são os
parotídeos, jugulares e cervicais posteriores, superior e inferior (RAPOPORT, 2001).

Em relação à taxa de sobrevida após cinco anos para pacientes com câncer da boca, um es-
tudo da sobrevida de casos tratados no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba (PR), no período de
1990 a 1992, mostrou que a sobrevida em cinco anos, independente do estadiamento clínico, foi
de 50,1%. Essas taxas variaram de 29,0% para pacientes em estádio IV a 74,4% para pacientes
em estádio I. Portanto, o prognóstico de pacientes com lesões iniciais pode ser considerado como
bom (RAPOPORT, 2001).

A identificação das lesões pode ser feita através de exame minucioso de toda a cavidade
bucal, de forma que todas as áreas sejam examinadas, incluindo-se próteses dentárias. A visua-
lização de lesões mais posteriores da cavidade bucal necessita de auxílio por espelho de Garcia
(espelho redondo de cerca de 2 cm de diâmetro, com cabo longo). As lesões, sempre que possível,
devem ser palpadas para avaliação de sua textura (dura ou macia) e de seus reais limites. A palpa-
ção das cadeias linfáticas cervicais vai completar o exame, sendo importante para determinação
do tamanho dos linfonodos e sua mobilidade (móvel ou fixa). O diagnóstico histológico é feito em
fragmento da lesão, coletado pelo médico, através de biópsia incisional ou por pinça saca-boca-
do (FERRAZ E TAVARES, 2001).

O estadiamento da doença é o resultado de avaliações clínicas, que são baseadas na melhor


determinação possível da extensão da lesão antes do tratamento. Esta avaliação clínica é baseada
na inspeção, palpação quando possível e por exame endoscópico indireto ou direto, quando ne-
cessário. As áreas de drenagem linfática devem ser examinadas por palpação cuidadosa. Quando
indicado, faz-se o estudo radiográfico panorâmico da mandíbula (avaliação de acometimento ós-
seo), radiografia simples (RX) de seios da face (lesões de palato duro) e, rotineiramente, faz-se RX
de tórax (INCA, 2007a).
Bases do tratamento ›
351
A tomografia computadorizada e o exame de ressonância magnética são procedimentos de
exceção, devendo ser usados para avaliação da extensão da lesão nos casos em que o exame clí-
nico é insuficiente ou em casos em que o tamanho do tumor ou as condições de linfonodos cer-
vicais determinarão a operabilidade ou a extensão da cirurgia a ser proposta (INCA, 2007).

As opções de tratamento vão variar de acordo com o estádio clínico das lesões, que varia de
I a IV, segundo a classificação TNM do American Joint Commitee on Cancer (AJCC), adotada pela
União Internacional Contra o Câncer (UICC) (RAPOPORT, 2001). Dependendo do local e extensão
do tumor primário e do status dos linfonodos cervicais, o tratamento do câncer da cavidade bu-
cal pode ser cirúrgico, radioterápico, quimioterápico, ou uma combinação deles. A cirurgia para
ressecção dos tumores primários deve incluir sempre toda a lesão tumoral e uma margem de 1
cm de tecido livre de tumor em todas as dimensões. Pequenas lesões são facilmente ressecáveis e
não deixam seqüelas. O paciente deverá ser assistido por fisioterapeuta, nutricionista, enfermei-
ro, assistente social, fonoaudiólogo, estômato-odontologista e psicólogo na sua reabilitação após

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


a cirurgia (INCA, 2007).

A radioterapia é contra-indicada em tumores pequenos devido às complicações impor-


tantes como a xerostomia, cáries de irradiação (cárie actínica) ou osteorradionecrose. É indicada
como adjuvante nas lesões extensas, em que deve incluir as cadeias de drenagem linfática, mes-
mo quando clinicamente elas não estejam acometidas. Para o tratamento de casos avançados,
pode-se associar radioterapia convencional e quimioterapia sistêmica. Células resistentes à radio-
terapia podem tornar-se sensíveis na presença de quimioterápicos, particularmente a cisplatina e
o paclitaxel. Como tratamento exclusivo, pode ser indicada como paliação em pacientes conside-
rados inoperáveis. Restaurações dentárias e/ou exodontias devem ser feitas previamente à radio-
terapia. Durante o tratamento, é fundamental que o paciente mantenha rigoroso cuidado dentá-
rio, incluindo a aplicação de flúor (RAPOPORT, 2001).

Fontes radioativas podem ser inseridas para prover irradiação em doses elevadas no tumor
primário e nas margens, com menor distribuição de dose nos tecidos adjacentes e a braquiterapia
em altas taxas de dose. Nesta modalidade terapêutica, considera-se que a dose necessária para
o controle da maioria dos carcinomas espinocelulares de cabeça e pescoço aproxima-se da dose
tolerada pelos tecidos normais. É mais indicada para pacientes portadores de lesões bem delimi-
tadas e acessíveis, ou doença residual mínima após ressecção. Apresenta as vantagens de rapidez
na aplicação, maior destruição de células tumorais com menor dano aos tecidos sadios adjacen-
tes e dispensa de internação hospitalar (RAPOPORT, 2001).

Após o tratamento do câncer de boca, os pacientes devem manter-se sob uma rotina de
acompanhamento em busca da detecção o mais breve possível de qualquer recidiva da lesão pri-
mária ou metastática. O acompanhamento (ou controle) pós-tratamento é mensal no primeiro
ano, trimestral no segundo, semestral após o terceiro ano e anual após o quinto ano. É realiza-
do através de exame da cavidade bucal e cadeias linfáticas cervicais; avaliação do estado geral do
paciente (qualidade de vida); laringoscopia indireta; radiografia simples de tórax anualmente; e
esofagoscopia, realizada anualmente para pesquisa de segundo tumor primário no trato aerodi-
gestivo superior (INCA, 2007a).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
352
Considerações finais

O conhecimento atual mostra a necessidade de outras pesquisas a serem desenvolvidas


pela Enfermagem, com o objetivo de fundamentar estratégias de educação da população sobre
os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de cavidade bucal, formas de prevenção e
de controle das lesões.

O enfermeiro, em relação ao câncer da cavidade bucal, pode desempenhar seu papel social:
planejando e executando ações educativas dirigidas à eliminação ou a controle dos fatores de ris-
co; ensinando o auto-exame da boca; participando ativamente na detecção precoce de lesões ne-
oplásicas através do exame da boca (oroscopia indireta) e da região cervical (palpação); estenden-
do seu conhecimento a outros parceiros da Área da Saúde.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

Relato de caso

Diagnóstico e prescrição de enfermagem para paciente com


câncer de cabeça e pescoço

Informações gerais: P.R.L., 56 anos, sexo masculino, branco, natural do Rio de Janeiro, 1°
grau incompleto, casado, possui três filhos (26, 24 e 20 anos), serralheiro, reside no Município de
Queimados (RJ). Aparentemente, sugere ter bom vínculo familiar.

Histórico da doença: encaminhado da seção de otorrinolaringologia da rede SUS, com


queixa de rouquidão há mais de 15 dias e disfagia para líqüidos. Refere persistência dos sinto-
mas há cerca de um ano. Após vários atendimentos em postos de saúde sem obter melhora do
quadro, resolveu procurar um médico especialista, por orientação da esposa. Ao ser consultado, o
médico realizou o exame de laringoscopia indireta e posteriormente o encaminhou para um hos-
pital oncológico.

Antecedentes pessoais: tabagista de dois maços de cigarros por dia, durante 40 anos; eti-
lista de seis garrafas de cerveja ao dia.

Antecedentes familiares: nega câncer na família. Pai e mãe saudáveis. Possui oito irmãos
também saudáveis até o momento.

Consulta de enfermagem

Paciente matriculado na seção de cirurgia oncológica de cabeça e pescoço para confirma-


ção diagnóstica e tratamento especializado. Depois de um exame físico completo, foi orientado
Bases do tratamento ›
353
sobre a necessidade de realização da revisão de lâmina. Os exames revelaram presença de carci-
noma epidermóide de laringe, atingindo todas as cordas vocais. Diante do diagnóstico médico,
foi indicado procedimento cirúrgico de laringectomia total. Solicitado os exames pré-operatórios.
Com essa deliberação, a recepcionista do ambulatório encaminhou o paciente e sua esposa para
uma consulta de enfermagem.

Paciente e sua esposa comparecem à consulta de enfermagem. O paciente encontra-se


nervoso e relatou preocupação, porque sabe sobre a necessidade da perda da voz. Inicialmente
foi orientado a abandonar alguns hábitos prejudiciais à sua saúde, como o fumo e a bebida alco-
ólica. Relata que está no grupo de Alcoólicos Anônimos da Igreja por incentivo da esposa e dos fi-
lhos. Ainda não conseguiu para de fumar, porque está nervoso, preocupado com o seu estado de
saúde. Refere que “aí a vontade de fumar aumenta, mas vou deixar de fumar”. Foram esclarecidas
as dúvidas sobre a cirurgia de laringectomia total devido à retirada da laringe afetada pelo tumor
localizado nas cordas vocais. Informado sobre a necessidade de utilizar uma sonda para alimen-

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


tação, que será colocada durante a cirurgia, e também sobre o uso definitivo do tubo de traque-
ostomia. Durante a consulta, foi orientado sobre algumas situações relacionadas à cirurgia: anes-
tesia geral, necessidade do uso de drenos na região cervical para controlar o volume hemático
secretado. Também foi informado que o curativo cirúrgico será envolto no pescoço com uma ata-
dura de crepom. Orientado sobre a necessidade de sempre cuspir a saliva depois da cirurgia, pois
o acúmulo de saliva dificulta o processo de cicatrização.

Exames

Exame físico: lúcido, orientado, eupnéico. Apresenta-se emagrecido (64 kg), altura 1,70 m
e índice de massa corporal menor do que 18,5, evidenciando desnutrição. Relata disfagia para só-
lidos. Consegue ingerir alimentos pastosos e líqüidos, odinofagia, mucosas hipocoradas. Região
cervical com adenomegalias palpáveis, laterais, bilaterais e indolores. Oroscopia normal. Dentes
com precárias condições de higiene e presença de cáries. Abdômen sem massas palpáveis. Ausculta
pulmonar apresenta roncos pulmonares bilaterais. Órgãos genitais normais. Deambulação nor-
mal. Refere ter “pressão alta” e fazer uso de medicação anti-hipertensiva (Captopril 25 mg via
oral, duas vezes ao dia).

Informa ser católico praticante e gostar de ir à missa todos os domingos. Gostaria de con-
versar com o padre durante sua internação. Informa que atualmente está trabalhando e é inde-
pendente para as atividades do cotidiano.

Sinais vitais: Pressão arterial: 180 x 120 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 82 bpm. Temperatura
axilar: 37°C. Freqüência respiratória: 24 irpm.

Diagnóstico histopatológico: carcinoma espinocelular de laringe.


‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
354
Pré-operatório
Quadro 47 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem na fase pré-operatória

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar sobre os efeitos do tabagismo e alcoolismo no organismo,
relacionando-os à sua doença
Manutenção ineficaz da saúde
caracterizada pelo tabagismo e • Informar sobre os serviços de apoio: Alcoólicos Anônimos e Narcóticos
etilismo por 40 anos, relacionada ao Anônimos
desconhecimento sobre as implicações
• Corrigir conceitos errados e informações incorretas que o paciente
destas condições em seu adoecimento
possa expressar sobre a relação do tabagismo e etilismo com sua
doença
• Esclarecer os termos e os procedimentos comumente usados;
providenciar informações por escrito para reforçar o ensinamento
(materiais educativos); apresentar dispositivos a serem utilizados
(sonda enteral, cânula traqueal, dreno de sucção)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

• Explicar sobre a cirurgia e suas implicações (uso de sonda enteral


para alimentação, tubo de traqueostomia, curativo e drenos cervicais,
edema de face)
• Explicar as modificações pós-operatórias, na aparência e no
Ansiedade pré-cirúrgica relacionada funcionamento, que o cliente pode esperar (por exemplo: a perda da
à perda da voz em conseqüência do capacidade de assoar o nariz, chupar, gargarejar, assobiar e a diminuição
tratamento cirúrgico, ao conhecimento dos sentidos: olfato e paladar)
insuficiente sobre os seus resultados, às • Encaminhar paciente e esposa para suporte da psicologia
medidas de cuidados e seu novo estilo
de vida, caracterizada por preocupação e • Instruir o paciente sobre as formas alternativas de comunicação
nervosismo como, por exemplo, mímica labial, gestos, escrita, quadro com gravuras,
eletrolaringe e a fala esofágica
• Encaminhar o paciente para orientação com a fonoaudiologia
• Na internação hospitalar, mostrar o quarto, o controle da cama, a
campainha e o banheiro
• Na internação hospitalar, proporcionar tranqüilidade e conforto ao
paciente, encorajá-lo a compartilhar seus sentimentos e preocupações,
ouvir atentamente e transmitir uma sensação de empatia e
compreensão
• Explicar a necessidade da instalação de uma sonda para alimentação,
a fim de repor os nutrientes para uma boa recuperação no
Nutrição desequilibrada (menos do que pós-operatório
as necessidades corporais), relacionada
• Instalar o cateter via nasoenteral para alimentação
à disfagia e odinofagia, e caracterizada
por emagrecimento, relato de ingestão • Fornecer material educativo de cuidados com a pessoa em uso de
inadequada de alimentos (menor do cateter enteral
que a porção diária recomendada),
• Orientar a administração da alimentação por sonda, ensinando os
desnutrição e Índice de Massa Corporal
princípios da dieta enteral por sonda
menor do que 18,5 Kg/m2
• Solicitar orientação e acompanhamento da nutricionista sobre o que
o paciente deve comer e como preparar o alimento
Bases do tratamento ›
355
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Explicar sobre a necessidade de realizar higiene oral antes e depois
das refeições, mesmo em uso de sonda via nasoenteral
Dentição prejudicada relacionada à
higiene oral deficiente, uso crônico de • Ensinar ao paciente a técnica de escovação realizando a escovação
tabaco e álcool e falta de conhecimento dos dentes de cima para baixo, com movimentos lentos, e a escovação
a respeito da saúde bucal, caracterizada da língua
pela presença de cáries na coroa do • Encaminhar para o Serviço de Odontologia
dente, halitose e ausência de alguns
dentes • Na consulta de enfermagem e na alta hospitalar, fornecer enxaguatório
bucal, orientando a higiene da boca antes e após as refeições e sempre
que necessário
• Instruir o paciente sobre a forma apropriada para tosse controlada,
Padrão respiratório ineficaz relacionado como respirar fundo e lentamente, ou sentado na posição vertical
ao tabagismo prolongado, caracterizado
• Ensiná-lo as medidas para reduzir a viscosidade das secreções,
por presença de roncos pulmonares
aumentando a ingesta de líqüidos para dois a três litros por dia
bilaterais
• Encaminhar à fisioterapia respiratória

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


• Explicar ao paciente a relação de sua ansiedade com o aumento da
pressão arterial
• Orientá-lo sobre a necessidade de controle da pressão arterial uma
vez ao dia, três vezes por semana
Risco para controle ineficaz da
• Discutir os conceitos de pressão sangüínea, usando um vocabulário
terapêutica anti-hipertensiva,
que o paciente e sua esposa possam entender
relacionado à ansiedade pré-operatória
• Incentivar e explicar a necessidade de parar de fumar e sua relação
com hipertensão
• Na consulta de enfermagem e na alta hospitalar, destacar que se
torna fundamental o acompanhamento com o cardiologista
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
356
Pós-operatório

Paciente retornou à enfermaria procedente da recuperação pós-anestésica (RPA), após ser


submetido à laringectomia total com esvaziamento cervical bilateral. Acordado, lúcido, orientado,
eupnéico; em uso de cânula de traqueostomia metálica curta n°6, que apresentava-se pérvea; pre-
sença de sonda via nasoenteral fechada, fixada com pontos na narina esquerda; curativo cirúrgi-
co na região cervical envolto com atadura de crepom, limpo e seco externamente; região cervical
com drenos suctores lateral bilateral, dando saída à secreção seroemática. Apresentou discreto
edema facial, nega dor, relata incômodo no pescoço devido ao curativo cirúrgico. Comunicava-
se com a equipe através de escrita na lousa mágica. Mantendo, na prescrição médica, dieta zero.
Presença de diurese espontânea. Encontra-se com a esposa como acompanhante.

Sinais vitais: pressão arterial: 130 x 80 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 90 bpm. Freqüência
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

respiratória: 22 irpm. Temperatura axilar: 36,6°C.

No primeiro dia pós-operatório, paciente queixou-se de insônia e fraqueza muscular. Foi


liberado pelo cirurgião o início da dieta enteral e mantida a dieta zero via oral. Apresentava-se
ansioso, informando que estava com medo de sair do leito, de mexer a cabeça e abrir os pon-
tos do pescoço. Sua esposa estava tranqüila e colaborativa para ajudar o marido e a equipe de
enfermagem.
Bases do tratamento ›
357
Quadro 48 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem na fase pós-operatória

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Ensinar e estimular o paciente a manter uma boa postura, mantendo os
ombros posicionados para trás
• Manter o corpo do paciente na posição elevada à cabeceira da cama em
Alto risco para mobilidade física 30º a 45º. Essa posição promove o retorno venoso, evitando o edema facial
prejudicada (ombro, cabeça), e laríngeo
relacionado à remoção de
músculos, nervos e traumatismo • Evitar que o paciente fique sentado por períodos prolongados
secundário ao procedimento • Solicitar um fisioterapeuta para indicar exercícios específicos para o
cirúrgico e anestesia paciente, a fim de fortalecer a musculatura remanescente e aumentar a
sustentação e a estabilidade da articulação dos ombros, nos quais foram
realizados os esvaziamentos cervicais
• Administrar a medicação para dor, conforme prescrita, antes que o paciente
inicie os exercícios motores
• Conversar e tocar no paciente com freqüência e tratá-lo de maneira
positiva e calorosa

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


• Estimular o paciente para que olhe e toque no estoma e no tubo de
Alto risco para distúrbio no traqueostomia, pois ele necessita de ajuda para aceitar a realidade da
autoconceito, relacionado à alteração na aparência física e da função do corpo (sistema respiratório e
mudança na aparência com o uso fonatório)
do tubo de traqueostomia, sonda
enteral, drenos suctores e curativo • Envolver a esposa no aprendizado dos princípios de cuidados com a
tipo colar cervical ostomia
• Estimular o paciente a expor os auto-atributos, valorizando o autoconceito
positivo
• Sugerir e estimular que o paciente tenha contato com uma pessoa
ostomizada para compartilhar experiências semelhantes
Comunicação verbal prejudicada, • Fornecer e estimular o paciente a usar mecanismos de comunicação não-
caracterizada pela incapacidade verbal, como o uso de gestos e da lousa mágica
de produzir a fala, relacionada ao • Orientar e estimular a esposa para usar as habilidades de escuta ativa,
procedimento cirúrgico com a estimulando o paciente na expressão de seus desejos e anseios
ressecção das cordas vocais
• Explicar à esposa que evite completar as sentenças, permitindo que o
cliente se comunique como desejar
• Explicar ao paciente sobre sua situação atual (uso de sonda enteral para
alimentação, tubo de traqueostomia, curativo e drenos cervicais e presença
de edema facial devido à manipulação da cirurgia), e que algumas dessas
situações são transitórias e outras permanentes
Ansiedade pós-cirúrgica • Explicar ao paciente e sua esposa as modificações pós-operatórias na
relacionada ao impacto da perda aparência e nas funções que o paciente pode esperar (por exemplo: a perda
da voz em conseqüência do da capacidade de assoar o nariz, chupar, gargarejar, assobiar e a diminuição
tratamento cirúrgico, às demandas dos sentidos – olfato e paladar)
de cuidados necessários e ao
novo estilo de vida, caracterizada • Oferecer apoio emocional ao cliente e esposa
por relato de preocupação e • Mostrar e deixar ao alcance do paciente a campainha e um patinho para
nervosismo diurese
• Proporcionar tranqüilidade e conforto ao paciente, encorajando-o a
compartilhar seus sentimentos e preocupações
• Ouvir atentamente e transmitir uma sensação de empatia e compreensão
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
358
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Manter o curativo cirúrgico limpo e seco
• Realizar a troca do curativo todos os dias após o banho de aspersão,
limpando a ferida operatória com solução salina. Após limpeza da ferida,
aplicar álcool a 70%, secar e cobrir com gazes, envolvendo o pescoço com
atadura de crepom
Alto risco de infecção respiratória
• Observar sinais de infecção como: pele vermelha, secreção amarelada e dor
devido ao acúmulo de secreções
local nos pontos cirúrgicos
no bordo da traqueostomia,
superação das defesas respiratórias • Realizar a limpeza em torno do estoma a cada 4 horas e, sempre que
superiores, ao procedimento necessário, usar solução salina e um chumaço de gaze
cirúrgico e à perda da capacidade
• Realizar a aspiração traqueal a cada 4 horas e sempre que necessário
de assoar o nariz
• Iniciar e estimular a deambulação precoce do paciente, com auxílio do
técnico de enfermagem e/ou da esposa
• Instalar um macronebulizador acoplado à cânula traqueal, a fim de
proporcionar uma umidade adequada do ar inspirado
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6

• Realizar nebulização a cada 6 horas com solução salina, a fim de umidificar


a nasofaringe
• Iniciar a dieta enteral a fim de repor os nutrientes para uma boa recuperação
nutricional
• Orientar o paciente e a esposa para a administração da alimentação por
sonda, ensinando os princípios da dieta enteral
• Colocar o paciente em posição sentada para infundir a dieta enteral
Nutrição desequilibrada: menos
ou a cabeceira da cama na posição de Fowler, a fim de prevenir a
do que as necessidades corporais.
broncoaspiração
Relacionada ao jejum prolongado
para o procedimento cirúrgico • Infundir a dieta enteral lentamente e explicar ao paciente e sua esposa
a necessidade disso, para prevenir efeitos adversos, tais como: náuseas,
vômitos, diarréia e plenitude abdominal
• Estimular e explicar ao paciente e sua esposa a necessidade de realizar a
higiene oral a cada duas horas, mesmo em uso de sonda nasoenteral, a fim
de prevenir halitose e infecção, fornecendo solução enxaguatória bucal
• Iniciar e estimular o paciente ao autocuidado, ensinando a necessidade de
Alto risco para déficit no atividades de higiene corporal e oral
autocuidado para alimentação
• Encorajar a participação do paciente e da esposa no autocuidado, dentro
e higiene, relacionado à dor,
dos limites impostos pelo déficit de conhecimento, das restrições de atividade
fraqueza e fadiga, devido
e do processo de recuperação cirúrgica
ao procedimento cirúrgico e
recuperação pós-operatória • Explicar ao paciente que a maioria das estratégias de gerenciamento do
autocuidado podem ser aprendidas

Planejamento para alta hospitalar

No quinto dia de pós-operatório de laringectomia total com esvaziamento cervical bilateral,


encontra-se lúcido, orientado, ansioso para receber alta hospitalar. O médico assistente retirou
os drenos pela manhã e comunicou sua alta. Sua esposa permaneceu como acompanhante cui-
dadora no seu período de internação e foi orientada pela enfermeira quanto aos procedimentos
(curativo, limpeza da subcânula, manipulação da sonda nasoenteral) a serem realizados no domi-
cílio. O paciente usava uma cânula metálica curta n°6, que se encontrava pérvea. Alimentava-se
pela sonda via nasoenteral. Região cervical coberta com um curativo limpo e seco externamente.
Apresentava discreto edema facial. Demonstrava otimismo em relação à sua recuperação de saú-
Bases do tratamento ›
359
de. Entretanto sua esposa apresentava-se ansiosa com a possibilidade da alta hospitalar e a ne-
cessidade de cuidado em nível domiciliar.
Quadro 49 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem na fase de alta hospitalar

DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Estimular o paciente a retornar à sua rotina diária
• Orientar a manter cabeceira da cama em posição elevada,
Imagem corporal perturbada, relacionada à visando a melhorar o retorno venoso e diminuir o edema facial
modificação da aparência física secundária,
ao uso da sonda para alimentação pela • Sugerir para usar camisa de gola alta, a fim de encobrir o
cânula traqueal e à presença do edema facial, traqueostoma
caracterizada por preocupação relatada pelo • Incentivá-lo relembrando que a sonda enteral para alimentação
paciente de sua aparência física frente à sua será tirada pelo médico em 15 dias. A cânula de traqueostomia
família e ao seu meio social será de uso definitivo, podendo ser retirada daqui a seis meses,
de acordo com a adaptação do paciente. Entretanto, sua função
respiratória será feita pelo traqueostoma
• Explicar à esposa a necessidade de manter o curativo cirúrgico

Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6


limpo e seco
• Orientar o paciente a trocar o curativo todos os dias na
residência, limpar a ferida operatória com solução salina, depois
aplicar álcool a 70%, secá-la, cobrir com compressa de gazes e
envolver o pescoço com atadura de crepom
Risco de infecção devido à desnutrição,
acúmulo de secreções no bordo da • Observar sinais de infecção, como: pele vermelha, secreção
traqueostomia, superação das defesas amarelada e dor local nos pontos cirúrgicos
respiratórias superiores, meio de • Orientar a limpeza em torno do estoma a cada 4 horas e, sempre
cultura proporcionado pelas secreções e que necessário, usar solução salina e um chumaço de gaze
procedimento cirúrgico
• Explicar a necessidade de trocar o curativo da traqueostomia a
cada 6 horas e quando necessário
• Instruir a necessidade de proporcionar a umidade adequada
do ar inspirado, realizar nebulização a cada 6 horas com solução
salina, a fim de substituir a umidificação proporcionada pela
nasofaringe
• Estimular a participação da esposa nos cuidados relacionados
ao tubo de traqueostomia e sonda nasoenteral. Deixá-la realizar a
limpeza da subcânula e colocar a dieta enteral sob a supervisão do
enfermeiro, auxiliando-a caso necessite
• Fornecer material educativo de cuidados à pessoa
traqueostomizada e de higiene da cavidade oral
Risco para tensão no papel de cuidador
devido à expectativa da alta hospitalar e à • Encaminhar para o ambulatório de enfermagem, para consulta
necessidade de cuidados em nível domiciliar de revisão cirúrgica
• Encaminhar para suporte de apoio na comunidade, tais como:
Posto de Saúde e Programa de Saúde da Família (PSF)
• Orientar sobre a necessidade de consulta na Nutrição,
Psicologia, Assistência Social e Fisioterapia, procedendo aos
encaminhamentos
• Instruir o paciente sobre os mecanismos de comunicação não-
verbal, como lousa mágica e gestos
• Orientar a esposa para usar as habilidades de escuta ativa,
Comunicação verbal prejudicada, deixando o paciente expressar seus desejos e anseios e felicidade
caracterizada pela incapacidade de produzir
• Explicar à esposa que evite completar as sentenças, permitindo
a fala, relacionada à ressecção das cordas
que o paciente se comunique como desejar
vocais
• Encaminhar o paciente para marcar consulta com a
fonoaudióloga
• Encaminhá-lo para Associação de Pessoas Laringectomizadas
Bases do tratamento ›
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