Intervencoes Enfermagem Controle Cancer Inca
Intervencoes Enfermagem Controle Cancer Inca
Intervencoes Enfermagem Controle Cancer Inca
no controle do câncer 6
Bases do tratamento ›
249
Introdução
Neste capítulo, são mencionadas as intervenções e ações de enfermagem para o controle
do câncer, consideradas mais prevalentes no Brasil. A forma escolhida aqui para abordar o assun-
to é a apresentação de conteúdos e relatos de casos sobre o câncer na infância e topografias se-
lecionadas como sendo as mais relevantes na área da oncologia, em nível nacional.
O câncer infantil, apesar de todo avanço da ciência, ainda permanece com a maioria de suas
causas desconhecidas, o que o difere dos tumores em adultos, que atualmente têm um núme-
ro bastante expressivo de fatores de risco relacionados. “Difere do adulto quanto aos tipos histo-
lógicos, comportamento biológico, evolução clínica e respostas terapêuticas” (CAMARGO/2000).
Apesar de ser considerado raro, na maioria das populações representa de 0,5% a 3% de todas as
neoplasias. Cerca de 70% das crianças sobrevivem quando tratadas em centros especializados
por equipe interdisciplinar, e muitas são consideradas curadas. Esse grande avanço nos índices de
cura deve-se à associação de tratamentos como radioterapia, cirurgia e poliquimioterapia.
Com base no Registro de Câncer por Base Populacional (RCBP), que utiliza o limite de 18
Causas e localização
A localização e o tipo do tumor variam de acordo com a idade. Setenta por centro dos tu-
mores se localizam na região infratentorial, sendo a maioria de fossa posterior e o restante supra-
tentoriais. O meduloblastoma, o astrocitoma e o ependimoma são os mais comuns.
O câncer infantil, muitas vezes, apresenta sinais e sintomas que podem ser confundidos
com diversas patologias pediátricas, o que pode, em muitos casos, obscurecer a visão do pediatra,
retardando assim o diagnóstico precoce, o que é de importância vital para a cura.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
252
Clinicamente, os tumores pediátricos possuem um período de latência menor, apresentan-
do um crescimento rápido, porém com melhor resposta ao tratamento do que os tumores de in-
divíduos adultos.
Para determinar o estado funcional do Sistema Nervoso Central, é necessário um exame físico
e neurológico minucioso. As informações em pediatria são quase sempre fornecidas pelos familia-
res, porém é muito importante envolver a criança na entrevista, sendo necessário, muitas vezes, uti-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
lizar brincadeiras para facilitar essa interação, o que requer paciência e habilidade por parte do en-
fermeiro. É durante o exame físico que o enfermeiro começa a criar maior interação com a criança e
com a família, podendo, nessa ocasião, esclarecer suas dúvidas e minimizar suas ansiedades.
A arte de examinar em pediatria é uma tarefa difícil, que requer habilidade técnica e sensi-
bilidade por parte do examinador. Além de, muitas vezes, ele ter que lidar com crianças extrema-
mente irritadas pela hospitalização e pela própria patologia, o enfermeiro também precisa lidar
com pais ansiosos, que se encontram diante de um filho com um tumor cerebral e que, muitas
vezes, buscam respostas e responsáveis pela tragédia familiar que estão vivendo. Nesse momen-
to, o enfermeiro e sua equipe precisam ser pacientes e compreensivos e utilizar uma linguagem
acessível e acolhedora.
É importante colher dados que indiquem alterações das atividades diárias da criança (piora
no desempenho escolar, mudanças de comportamento, desinteresse pelos brinquedos etc.), para
que se possa avaliar a qualidade de vida que ela apresenta no momento da entrevista e também
para nortear o tratamento a ser realizado.
O exame clínico deve ser realizado de acordo com cada etapa do processo evolutivo do de-
senvolvimento psicomotor em que se encontra a criança. Aspectos importantes também devem ser
observados, tais como: medida do perímetro cefálico, reflexos (sucção, pressão plantar, marcha re-
flexa, plantar, moro), equilíbrio, coordenação, reflexo de deglutição, controle de esfíncteres, controle
da fala (disartria, dislalia etc.), movimentos espontâneos. Deve-se também avaliar o estado de afeti-
vidade, psiquismo, linguagem, socialização, memória, capacidade de aprendizagem etc.
A cefaléia é o sintoma mais freqüente e pode estar presente na maioria dos casos. Esse sin-
toma nem sempre é valorizado em crianças que ainda não conseguem verbalizar suas necessidades,
porém deve-se observar as alterações comportamentais da criança e valorizar os relatos da mãe,
pois é ela quem melhor conhece o comportamento de seu filho. Geralmente se apresenta na parte
da manhã e, em casos de hipertensão aguda, pode ser de grande intensidade. Em lactentes, pode se
manifestar com sinal de postura antálgica, na qual a criança acomoda a cabeça para evitar a dor.
A biópsia estereotáxica define com precisão o local da lesão a ser abordado e possibilita o
diagnóstico em tumores com difícil acesso para a cirurgia convencional. Esse procedimento espe-
cializado é auxiliado por exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
254
Tratamento
As doses de radioterapia eficazes são muito altas, em torno de 5.000 cGy, para as faixas pe-
diátricas e, em alguns casos, pode-se adotar o fracionamento da dose para minimizar os efeitos
negativos, que podem ser: alterações hipofisárias, hipotalâmicas, neurite óptica e danos neuroló-
gicos muito importantes a longo e médio prazo, com alterações cognitivas graves.
Nos cistos, a aspiração do conteúdo líqüido e a ressecção completa da cápsula são procedi-
mentos esperados. Após estudos com contraste, a instilação por via estereotáxica de agentes es-
clerosantes, como a bleomicina, pode ser utilizada somente quando a cápsula tumoral é espessa
ou quando não há possibilidade de ressecção cirúrgica.
Em pacientes com dilatação ventricular, pode ser necessária a colocação de derivação ven-
trículo-peritonial interna ou externa (DVP ou DVE).
Prognóstico e pós-operatório
Com relação ao prognóstico, tumores iguais ou maiores do que 5 cm são de pior prognós-
tico, porém, tumores de tamanhos menores também podem apresentar mau prognóstico, depen-
dendo da sua localização e sua aderência às estruturas cerebrais. As recidivas posteriores são fre-
qüentes, principalmente se ficaram restos da cápsula tumoral, sendo necessária nova intervenção
cirúrgica.
Bases do tratamento ›
255
Devido à localização, dificuldades cirúrgicas e seqüelas pós-operatórias, o craniofaringeo-
ma apresenta grande morbidade. Como principal seqüela há a diabetes insipidus, que se caracte-
riza por volume urinário igual ou maior do que 4 ml/kg/hora, com densidade urinária menor do
que 1005 e osmolaridade plasmática menor do que 290 mOsm/l.
Deve-se realizar balanço hídrico para melhor se adequar à dose e ao horário do hormônio
antidiurético a ser administrado. No INCA, utiliza-se a esmopressina (DDAVP). Geralmente, a re-
posição se faz a cada 12 horas, mas deve-se ter atenção para somente administrá-la quando ini-
ciar a poliúria.
Relato de caso
Consulta ambulatorial
Identificação: M.C.R.S., 6 anos de idade, sexo feminino, cor branca, natural de Campos (RJ),
em fase pré-escolar. Compareceu ao ambulatório do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital
do Câncer I/INCA, acompanhada pelos genitores.
História da doença atual: pai relata que aos três anos de idade apresentou episódios re-
petidos de cefaléia que cedia com analgésicos. Há três meses, a professora informou que a crian-
ça estava com dificuldade em ler no quadro. Pais procuraram o oftalmologista, sendo indicado
uso de óculos. Há um mês, iniciou quadro de vômitos, sendo solicitada, em outra Instituição que
realizou seu atendimento, uma tomografia de crânio que evidenciou volumosa massa isodensa
de contorno lobulado, localizada na região supra-selar e se estendendo até o ventrículo lateral
e a região temporal esquerda de 10,5 cm x 5,0 cm com compressão e dilatação do III ventrículo.
Lá, foi submetida à colocação de uma derivação ventrículo-peritonial e, após a alta hospitalar, foi
encaminhada a um serviço de Oncologia Pediátrica, onde foi agendada a internação para exere-
se de tumor.
História vacinal: esquema vacinal em dia, inclusive vacinação de varicela. A mãe, apesar
de relatar, não trouxe o cartão de vacinação.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
256
História familiar: mãe, 38 anos, e pai, 47 anos, hígidos. Avô materno hipertenso e cardio-
pata, avô paterno hipertenso e avó materna com hipertensão arterial sistêmica e diabetes melli-
tus, faleceu de câncer de mama. Bisavós paternos, ambos tiveram câncer, um deles no pulmão.
Suporte familiar: única filha, reside com os pais e não possui irmãos, mãe informa bom
relacionamento dos familiares com a criança, sendo ela a sua principal cuidadora. Residência pró-
pria com três quartos, sala e cozinha, possui saneamento básico. O pai é engenheiro agrônomo
(funcionário público) e a mãe assistente social (desempregada), a renda familiar informada pelo
pai é suficiente para o sustento da família.
Abdômen plano indolor à palpação superficial, com peristalse presente, diurese presente e
espontânea, mãe refere débito urinário de coloração clara e evacuação presente em dias alterna-
dos com fezes moldadas. Apresentando ferida operatória de colocação de derivação ventrículo-
peritonial (DVP) em região periumbilical e região cefálica, ambas com sutura íntegra, sem sinais
de flogose. Membros inferiores sem edemas. Mãe informa que a criança refere cefaléia, com grau
4, segundo Escala Visual Analógica (EVA), que cede ao uso de analgésicos.
Sinais vitais: temperatura axilar: 36,4ºC. Freqüência cardíaca: 92 bpm. Freqüência respi-
ratória: 24 irpm, com ausculta cardíaca e pulmonar normais. Pressão arterial: 90 x 60 mm/Hg.
Peso: 20,4 Kg (com 6 anos e 1 mês). Altura: 1,10 m. Índice de Massa Corpórea (IMC) (Kg/m2) =
0,09 (eutrófica).
Bases do tratamento ›
257
Quadro 21 – Principais diagnósticos e prescrições para a criança com tumor de Sistema Nervoso Central na consulta de
enfermagem ambulatorial
Diagnóstico Prescrição
• Indagar aos pais as características da dor de modo a incluir o
início/duração, a freqüência, a qualidade, a intensidade e os fatores
precipitantes
Dor na cabeça caracterizada • Determinar o impacto da dor sobre o sono, apetite, cognição e
por relato verbal, relacionada atividade de lazer na próxima consulta
à compressão de tumor
intracraniano • Controlar a luminosidade excessiva, na sua residência, capaz de
influenciar no quadro álgico ocasionando desconforto da criança
• Orientar os pais para oferecer o alívio da dor, observando a
prescrição médica e os horários dos analgésicos
Percepção sensorial • Observar o comportamento da criança em relação à visão
perturbada: visual diminuída (por exemplo: depressão, retraimento e negação), na
caracterizado por dificuldade residência
para ler, relacionada à
A criança retornou do centro cirúrgico após ser submetida à ressecção de tumor de fos-
sa posterior. Apresentava-se sob efeito anestésico, não respondendo às solicitações verbais.
Entubada, respirando com suporte de ventilação mecânica em modo assistido-controlado com
FIO2 a 40%, apresentando parâmentros gasométricos PO2: 182 mm/Hg, PCO2: 57 mm/Hg, pH:
7,32 e saturação O2: 99,80%. Reagindo aos estímulos álgicos. A região cefálica apresentava-se
com curativo cirúrgico limpo e seco externamente e derivação ventricular externa aberta, sendo
colocada em nível de 13 cm H2O e com cabeceira elevada a 300. Apresentava hidratação venosa
em acesso venoso profundo em subclávia direita fluindo Ringer Lactato. Quanto à avaliação da
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
pressão arterial média, encontrava-se com cateter em artéria radial direita oscilante em 7 mm/Hg.
Ao exame de pele e mucosas, apresentava-se hipocorada ++ hidratada, com extremidades aque-
cidas e com boa perfusão periférica, pele da região dorsal íntegra. Na avaliação do abdômen, este
encontrava-se flácido com peristalse presente. Devido ao pós-operatório, encontrava-se em dieta
zero com sonda nasogástrica em sifonagem, com drenagem fluida de coloração clara em peque-
no volume. Quanto à palpação da bexiga, esta encontrava-se flácida, dando saída de diurese por
cateter vesical em débito elevado 70 ml/h. Na inspeção dos membros inferiores, apresentavam-se
sem edema.
Em relação à avaliação dos sinais vitais, apresentava temperatura axilar de 35,8ºC, freqüên
cia cardíaca de 102 bpm, freqüência respiratória de 22 irpm e pressão venosa central medindo
10 cm H2O.
Diagnóstico Prescrição
Risco de infecção devido • Medir a drenagem do líqüido cefalorraquidiano (LCR) pelo cateter de DVE,
à presença de ferida observando a quantidade drenada e aspecto do mesmo a cada 6 horas, mantendo
cirúrgica e cateter de técnica asséptica
derivação ventricular
• Instituir protocolos de emergência, conforme a necessidade: convulsão, bacteremia
externa, entubação,
(coleta de amostras da drenagem do líqüido cefalorraquidiano e hemocultura) e
ventilação mecânica,
sinais de parada cardiorrespiratória nas 24 horas
cateter em artéria radial
direita, acesso venoso • Monitorar o local de inserção do cateter de DVE e da ferida cirúrgica para os sinais
profundo em subclávia de hiperemia e drenagem de LCR, a cada troca de curativo
direita, cateter vesical
• Administrar antibióticos conforme prescrição médica
• Realizar a mudança do circuito do ventilador mecânico uma vez na semana ou por
presença de sangue ou secreção abundante, mantendo técnica asséptica
• Realizar a troca do filtro do circuito do respirador e do sistema fechado de
Ventilação espontânea
prejudicada caracterizada • Realizar ausculta pulmonar durante o exame físico, observando a presença de
pela presença do tubo ruídos respiratórios, tais como: sibilos, roncos e adventícios
orotraqueal, gasometria
PO2: 182 mm/Hg, PCO2: • Realizar aspiração orotraqueal quando identificados: presença de estertores e
57 mm/Hg, pH: 7,32, roncos nas vias aéreas na ausculta pulmonar
relacionado ao efeito • Monitorizar dispnéia, agitação e ansiedade, devido à presença de secreção no tubo
anestésico orotraqueal nas 24 horas
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
260
Diagnóstico Prescrição
• Posicionar o paciente lateralmente, para prevenir o acúmulo de secreção na
Desobstrução ineficaz de cavidade oral
vias aéreas caracterizada
por secreção oral e • Iniciar tratamento de fisioterapia respiratória (problema colaborativo)
traqueal, relacionada • Orientar o paciente e a família sobre as razões e as sensações esperadas associadas
à presença do tubo ao uso de ventiladores mecânicos, após avaliação diária da criança
orotraqueal e ventilador
mecânico • Verificar nas 24 horas se os alarmes do ventilador estão ativados
• Verificar nas 24 horas se as conexões do ventilador mecânico estão bem
adaptadas
Risco de desequilíbrio • Avaliar e registrar volume e aspecto de drenagem do cateter nasogástrico de 6 em
hidroeletrolítico devido 6 horas
à eliminação de secreção
• Comunicar à equipe médica quando o volume eliminado for excessivo para
gástrica pelo cateter e pelo
prescrição de reposição hidroeletrolítica nas 24 horas
débito urinário de 70 ml/h
devido à manipulação da • Avaliar e registrar volume e aspecto de eliminação do cateter vesical de 6 em 6
glândula hipófise durante horas
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
o ato cirúrgico
• Anotar o volume de líqüidos administrados por via endovenosa nas 24 horas
• Informar a equipe médica quando o volume urinário for superior ao cálculo da
superfície corporal da criança nas 24 horas
• Administrar o hormônio antidiurético conforme prescrição médica
• Monitorar a pressão arterial média de 2 em 2 horas
Bases do tratamento ›
261
Topografias selecionadas
Pele
O profissional de saúde deve estar atento para a detecção precoce de algumas lesões que
são consideradas suspeitas ou pré-malignas. As principais são:
Corresponde a cerca de 70% dos cânceres de pele e há chance de cura quando diagnosti-
cado precocemente e operado corretamente. O carcinoma basocelular pode se apresentar como
um tumor de ulceração central e borda perolada, podendo sangrar e formar crosta, ou como uma
placa seca, áspera e que descama constantemente, sem cicatrizar. Sua localização preferencial é a
cabeça, o pescoço e o tronco. Não ocorre nas regiões plantar, palmar e mucosas. Raramente ocor-
re metástase, porém é amplamente invasivo.
O melanoma maligno é uma lesão cutânea que apresenta uma variação de coloração do
preto ao marrom, que se eleva muito sobre a pele e ocasionalmente ulcera, sangra e se infecta.
Pode surgir por exposição excessiva à irradiação solar, alteração das características fenotípicas,
albinismo, nevo melanocítico pré-existente, nevo congênito, nevo displásico. Apresenta incidên-
cia de 3% a 4% das neoplasias de pele e alto índice de mortalidade. O diagnóstico precoce alcan-
çado por meios de programas educativos favorece a diminuição da taxa de mortalidade.
Figura 61 – Melanoma
Fonte: Dr. Dolival Lobão (Arquivo pessoal)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
264
Melanoma lentigo maligno (MLM)
Representa 4% a 10% de todos os melanomas. É uma lesão superficial sem relevo sobre a
pele, situada preferencialmente em face. Em geral, acomete indivíduos acima de 50 anos. É raro
em pessoas de pele escura ou negra. Apresenta-se com mais freqüência nas áreas fotoexpostas
(cabeça e pescoço, dorso das mãos e terço distal dos membros inferiores).
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Outros tipos, de forma rara, localmente agressivos e com altos índices de recidiva são o me-
lanoma amelanócito e o melanoma desmoplásico.
Cabe ressaltar que outras lesões possuem características parecidas com o melanoma, ha-
vendo necessidade do diagnóstico diferencial. Entre elas, estão: basocelular pigmentado, hema-
toma subungueal, granuloma piogênico, carcinoma epidermóide, ceratose seborréica.
Existem duas classificações descritas para localização anatômica dos tumores: a clínica e
a patológica.
Classificação clínica
A classificação clínica (pré-tratamento), designada TNM, tem por base as evidências obti-
das antes do tratamento, tais como: localização anatômica e extensão clínica e patológica da do-
ença; duração dos sinais ou sintomas; gênero e idade do paciente; diagnóstico por imagem e bi-
ópsia pré-operatória.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Estádio I - T1–1,0 mm
Estádio II - T2 - 1,01–2,0 mm
Estádio IV - T4–4,00 mm
Classificação patológica
Todas essas bases representam variáveis, que têm influência na evolução da doença.
Bases do tratamento ›
267
A primeira tarefa do médico é fazer uma avaliação do prognóstico e decidir qual o trata-
mento mais efetivo a ser realizado.
Prognóstico
Nível ( N ) Localização
NI in situ, intraepidérmico, atingindo membrana basal
A regra ABCD é utilizada pelo profissional de saúde para encaminhar as lesões suspeitas
de câncer de pele para uma instituição especializada (vide a descrição da regra no capítulo da
prevenção).
Tratamento do melanoma
Na lesão primária, deve ser realizada, preferencialmente, a biópsia excisional, pois ofere-
ce todas as informações necessárias ao microestadiamento e planejamento terapêutico. Para as
grandes lesões e em locais onde a biópsia excisional é de localização difícil, a indicação é de bi-
ópsia incisional.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
268
Nas metástases em trânsito (metástase entre a lesão primária e a cadeia de drenagem lin-
fática), com lesão única ou poucas lesões, deverá ser indicada a ressecção. Nas lesões múltiplas,
deverá ser considerada a radioterapia e a quimioterapia sistêmica.
Nos melanomas malignos, a radioterapia pode ser indicada nas lesões não ressecáveis na
tentativa de torná-las operáveis de forma paliativa.
O seguimento ambulatorial é realizado por controles periódicos a cada 4-6 meses, por 2
anos, em tumores com menos de 1,0 mm e a cada 4-6 meses, por 5 anos, em tumores maiores
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
O exame clínico de controle é realizado pela inspeção do local em que o tumor foi excisa-
do, pela palpação das cadeias linfáticas à procura de linfonodos palpáveis e pela radiografia dos
pulmões.
Linfonodo sentinela
Linfadenectomia
É uma técnica que consiste em fazer a impressão de uma amostra de tecido tumoral em uma lâmina de
vidro.
Técnica que realiza uma reação enzimática no tecido com suspeita de diagnóstico tumoral, sendo a
técnica de escolha quando o diagnóstico histopatológico (pela coloração hematoxina e eosina) não for
conclusivo.
Bases do tratamento ›
269
Relato de caso
Informações gerais: B.B.M., 70 anos, sexo feminino, natural do Estado do Rio de Janeiro, 1º
grau incompleto, do lar, aposentada, com renda insuficiente para auto-sustentação.
Histórico da doença: foi submetida, em uma instituição de saúde, à uma biópsia de le-
são nodular, de aspecto escurecido, em face medial plantar do calcâneo esquerdo. O resultado do
exame anatomopatológico revelou melanoma acral. Após realização de exames pré-operatórios,
Consulta de enfermagem
cia de cinco elementos dentários na arcada inferior, com prótese dentária na arcada superior, refe-
re consultar o dentista esporadicamente. Houve a necessidade de extração dos elementos dentários
por presença de cárie. Refere alimentar-se com dieta pastosa devido à dificuldade de triturar os ali-
mentos. Apresenta unhas lisas, firmes, de coloração rósea. Presença de nevo elevado de coloração
amarronzada em face medial do braço esquerdo, pele com mobilidade aumentada, presença de le-
são ulcerada em região plantar esquerda, com exsudato seroso, coloração acastanhada, odor discre-
to, drenagem moderada, bordos desvitalizados e área perilesional íntegra.
Refere ter recebido informações sobre a patologia, porém informa ter esquecido.
Pré-operatório
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar a filha da paciente, na consulta, à continuidade do apoio oferecido
Disposição para enfrentamento no momento em que foi indicada a necessidade de realização de outra
familiar aumentado, devido cirurgia devido à recidiva do melanoma
ao relato de ser viúva, ter oito • Encaminhar a paciente e os familiares ao Serviço Social para que recebam
filhos adultos, convívio familiar orientações sobre os direitos dos pacientes com câncer, e suporte para a
amistoso e envolvimento da filha manutenção do tratamento no dia da consulta
no tratamento
• Informar aos familiares dias e horários de visitas no hospital e o direito da
paciente em permanecer com acompanhante durante o período de internação
hospitalar
Disposição para bem-estar
espiritual aumentado, devido • Encorajar a paciente a procurar a sua rede social (membros da igreja,
ao relato de que é católica parentes, amigos) para apoio espiritual nos dias de encontros da igreja
praticante e que apóia-se
• Orientar a paciente e familiares de que o hospital oferece assistência
na religião e nos amigos da
espiritual no período da internação hospitalar, podendo ser solicitada através
Volume de líqüido deficiente • Orientar o uso de hidratante para a pele diariamente, após higiene
por diminuição do turgor e corporal
elasticidade, relacionado à pouca • Incentivar a ingesta hídrica oral, considerando, no mínimo, 2 litros de água
ingesta líqüida (1.000 ml/dia) por dia nos intervalos das refeições
• Orientar a paciente à realização de procedimentos de higiene oral com
Mastigação prejudicada, escova e creme dental, após todas as refeições ou, no mínimo, três vezes ao
caracterizada pelo relato de dia
dificuldade para triturar os
• Orientar quanto à importância de consulta ao dentista em rede pública
alimentos, relacionada à ausência
duas vezes ao ano
de dentes na arcada inferior
• Sugerir a ingestão de alimentos pastosos que facilitem a mastigação
Déficit no autocuidado para • Orientar a paciente, na consulta, a solicitar o auxílio de outra pessoa ou
higiene corporal e íntima utilizar muleta/bengala que permita apoio do membro inferior esquerdo para
prejudicada, caracterizado permitir o autocuidado
pela incapacidade de realizá-lo • Ensinar a paciente, na consulta, a usar a muleta/bengala de modo a
sozinha, relacionado à lesão do intensificar o conforto, promover a integridade da pele e favorecer a
calcâneo esquerdo independência
Integridade tissular do
calcâneo esquerdo prejudicada,
caracterizada pela lesão ulcerada
• Orientar, na consulta, sobre a renovação da cobertura da lesão tumoral,
em região plantar esquerda, com
realizando limpeza com soro fisiológico 0,9 %, gaze não aderente (gaze
exsudato seroso, de coloração
embebida em parafina ou petrolatum) e oclusão seca (compressa de curativo
acastanhada, de odor discreto,
ou gaze hidrófila) diariamente ou sempre que saturar
drenagem moderada, bordos
desvitalizados e área perilesional
íntegra
Foi solicitada pelo enfermeiro da clínica cirúrgica a avaliação da ferida operatória pelo en-
fermeiro da comissão de controle e suporte de curativos. Esta comissão utiliza um formulário de
avaliação de feridas (Anexo V) e por meio dele foram identificadas as seguintes características na
ferida na face medial do calcâneo esquerdo: leito da ferida e bordos cruentos, com exsudação he-
mática de drenagem moderada, área periferida íntegra.
Paciente recebeu alta hospitalar após 72 horas de internação. Ao retornar para revisão do
pós-operatório, 7 dias após a alta hospitalar, apresentava-se tranqüila, locomovendo-se com au-
xílio de cadeira de rodas, acompanhada da filha, sendo relatados, pela paciente, trauma mecâni-
co no local da ferida operatória, ocorrido há 24 horas por queda da própria altura e a dificuldade
de adaptar-se à nova rotina de dependência física de terceiros para deambulação, permanecen-
do por longo período na cama. Também, refere dificuldade em realizar a higiene corporal e ínti-
ma e vestir-se sozinha. Ao renovar a cobertura da ferida operatória, pela enfermeira, foi identifi-
cada a presença de exsudação hemática, de drenagem abundante. Foi realizada sutura cirúrgica
pelo médico, troca do curativo e reforçada a importância de proteção do membro operado contra
traumas. O seguimento ambulatorial acontecerá a cada 7 dias, até a total epitelização da lesão e,
após, bimensal, conforme rotina da clínica cirúrgica de origem.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Dor aguda na ferida operatória
caracterizada por escore 6 • Proporcionar alívio da dor com analgésico, conforme prescrição médica
na escala visual analógica,
relacionada à imobilidade • Indicar medidas que facilitem o posicionamento do membro operado no
física e mudanças na marcha, leito (mudança de decúbito de hora em hora, mantendo o membro operado
relacionadas às restrições de elevado a 30º)
movimentos do membro operado
Integridade tissular prejudicada, • Orientar a paciente e cuidadora sobre a renovação da cobertura da ferida
caracterizada por ferida na face operatória, diariamente, utilizando soro fisiológico 0,9% e cobertura primária
medial do calcâneo, com leito à base de alginato de sódio e cálcio, finalizando com oclusão seca
e bordos cruentos, exsudação • Realizar renovação da cobertura da ferida operatória, diariamente pela
hemática de drenagem moderada manhã, utilizando soro fisiológico 0,9% e cobertura primária a base de
e área perilesional íntegra, alginato de sódio e cálcio, finalizando com oclusão seca pela equipe de
relacionada ao trauma cirúrgico enfermagem no período de internação hospitalar
Relato de caso
Identificação: M.C.S., 46 anos, sexo feminino, branca, viúva, pensionista, natural e proce-
dente de Mangaratiba (RJ).
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
História da doença atual: a paciente relatou que há cerca de dois meses notou a presen-
ça de um nódulo na mama direita. Procurou assistência em uma unidade de saúde do seu mu-
nicípio e foi então submetida ao exame clínico das mamas, mastografia e biópsia de fragmento
por agulha grossa (core-biopsy). O laudo histopatológico resultou positivo para malignidade, tipo
Carcinoma Ductal Infiltrante (CDI).
Antecedentes familiares: mãe e prima falecida por câncer de mama. Um tio falecido por
câncer de pulmão. Tia materna com câncer do colo do útero e outra com câncer de fígado. Mãe
com história de hipertensão arterial severa.
Suporte familiar: reside com companheiro há cinco meses, tem uma filha de 30 anos e
dois netos menores de idade. Refere bom relacionamento familiar. Comparece desacompanhada
para a consulta porque julgou desnecessário o acompanhamento nesse momento. Utiliza trans-
porte da Secretaria Municipal de Saúde.
Bases do tratamento ›
275
Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 160 x 100 mm/Hg. Freqüência
cardíaca: 72 bpm. Temperatura axilar: 36ºC. Freqüência respiratória: 20 irpm. Peso: 84,5 kg. Altura:
1,60 m. Obesidade grau I.
Exame das mamas: inspeção: mamas volumosas e assimétricas, sendo a mama esquerda
(ME) maior do que a mama direita (MD). À inspeção estática e dinâmica, ausência de retrações e
alteração no contorno mamário.
Conduta
Como a paciente residia em outro município, foi encaminhada ao Serviço Social para soli-
citação de transporte através do Programa de Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Devido ao so-
brepeso, também foi encaminhada à nutricionista, para avaliação e orientação dietética.
Ao se avaliar os resultados dos exames solicitados, foi definido o seguinte estadiamento clí-
nico: T2 N0 M0 - IIA. Foi indicada a mastectomia simples direita, com estudo do linfonodo senti-
nela à direita, após a confirmação do diagnóstico histopatológico de carcinoma ductal infiltrante,
por meio da revisão da lâmina realizada pelo serviço de Anatomia Patológica.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Disposição para processo familiar • Orientar a filha sobre o processo pré-operatório (na admissão)
melhorado, caracterizada • Estimular o vínculo familiar mãe e filha, através da participação nas decisões
por interesse da filha no e atividades de cuidado (na admissão e no dia da alta)
acompanhamento
• Procurar identificar outros membros da família para que participem do
processo de tratamento e reabilitação da paciente (na admissão, no horário
de visita e antes da alta)
Discussão
Quanto ao auto-exame, através do qual foi descoberto o nódulo na mama da Sra. M.C.S., a
maioria das investigações sugere um impacto positivo e os achados assinalam que quem o pra-
tica, em comparação com quem não o faz, tem tumores primários menores e menor número de
linfonodos axilares acometidos (veja o capítulo sobre ações de enfermagem na prevenção primá-
ria e secundária do câncer).
Com relação ao diagnóstico e tratamento cirúrgico de pacientes com doença mamária ma-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
ligna, a Sra. M.C.S. teve diagnosticado um tumor de mama direita com estadiamento clínico IIA
(T2 N0 M0), no qual:
T - Tumor
Tx Tumor primário, não pode ser avaliado
T0 Sem evidência de tumor primário
Carcinoma in situ
Tis (DCIS) Carcinoma ductal in situ
Tis
Tis (LCIS) Carcinoma lobular in situ
Tis (Paget) Doença de Paget da papila sem tumor
A Sra. M.C.S. recebeu o diagnóstico de carcinoma ductal infiltrante (CDI), que é o tipo his-
tológico mais comum dos cânceres da mama. Outros tipos são: carcinoma ductal in situ; carcino-
ma mucinoso; carcinoma medular; carcinoma tubular; carcinoma lobular infiltrante; comedocar-
cinoma invasivo; carcinoma inflamatório e Doença de Paget.
A Sra. M.C.S. também realizou procedimento para diagnosticar a doença, em seu caso, a core-
biopsy. A seguir, são apresentados os métodos utilizados para o diagnóstico de lesões da mama:
Citológico
Histopatológico
Apesar da paciente M.C.S. não ter evidências clínicas de metástases a distância, é indispen-
sável pesquisá-las nos órgãos que podem apresentar metástases assintomáticas, já que ela apre-
senta tumor mamário.
O câncer de mama dá origem, mais freqüentemente, a metástases para pulmão, pleura, os-
sos, fígado e cérebro.
A metástase cerebral raramente é assintomática, pois quase todas evoluem para hiperten-
são intracraniana de maior ou menor intensidade. A avaliação de metástase cerebral é feita atra-
vés da tomografia computadorizada ou ressonância magnética do cérebro. Esse exame não foi
solicitado, uma vez que a Sra. M.C.S. não apresentava sintomatologia neurológica sugestiva de
hipertensão intracraniana.
Como metástases em osso, fígado, pleura e pulmão podem ser assintomáticas, a paciente
foi submetida aos seguintes exames para se estabelecer o estadiamento clínico:
Cabe aqui ressaltar que, atualmente, preconiza-se as cirurgias conservadoras que poupam
a mama e os linfonodos axilares sempre que possível, pois, comprovadamente, esta indicação não
influi na sobrevida e traduz-se numa melhor qualidade de vida para a paciente. No caso da Sra.
M.C.S., a mastectomia foi indicada devido à multicentricidade da doença, ou seja, ela apresentava
mais do que um tumor em locais diferentes da mama.
Tratamento cirúrgico
Mulheres com tumor de diâmetro igual ou inferior a três centímetros, sem comprometi-
mento de linfonodos clinicamente aparente (caso da Sra. M.C.S.), podem realizar o estudo do lin-
fonodo sentinela (LS), que visa a identificar aquelas que necessitam ser submetidas à linfade-
nectomia axilar. A utilização da técnica do linfonodo sentinela tem a finalidade de diminuir a
morbidade pós-operatória, evitando a linfadenectomia axilar quando a biópsia do linfonodo re-
sultar negativa para a malignidade.
1º DPO
Paciente lúcida e orientada, deambulando sem auxílio, com boa aceitação das dietas ofere-
cidas, eliminações intestinal e vesical presentes e sem alterações. Curativos em plastrão direito e
em local de inserção do dreno externamente limpos e sem necessidade de troca. Dreno sem obs-
trução, apresentando saída de secreção sanguinolenta, com volume igual a 120 ml nas 24 horas.
Sinais vitais: temperatura axilar: 36,5ºC; freqüência cardíaca: 84 bpm; freqüência respiratória: 24
irpm; pressão arterial: 130 X 80 mm/Hg; EVA= 0. A paciente mostrou-se preocupada com a alta
hospitalar, pois, segundo informou, não sabia como iria realizar o curativo e manusear o dreno
em casa, mas estava disposta a aprender. Foi tranqüilizada, sendo informada de que não recebe-
ria alta antes de ser orientada sobre tais procedimentos. Participou com interesse e ativamente,
juntamente com a filha, do Grupo Operativo de Orientação para Alta Hospitalar.
Bases do tratamento ›
285
2º DPO
Paciente tranqüila, sem queixas álgicas. Com receio de sentir dor ao movimentar o mem-
bro superior direito (MSD), mantendo-o junto ao corpo. Sinais vitais: temperatura axilar: 36,3ºC;
freqüência cardíaca: 82 bpm; freqüência respiratória: 20 irpm; pressão arterial: 130 x 80 mm/Hg.
Durante a realização do curativo em sítio cirúrgico, observou-se incisão em plastrão direito sem
sinais flogísticos e/ou saída de secreção. A ferida cirúrgica foi então deixada exposta. Circuito de
drenagem sem obstrução, dando saída à secreção serosangüínea. Trocado curativo da área do ós-
tio do dreno, que não apresentava sinais flogísticos. Ao ver-se sem a mama direita, a paciente
mostrou-se chorosa e questionou se poderia usar algum tipo de preenchimento nesse local. Em
relação à mastectomia, a paciente referiu se sentir chocada ao ver a cicatriz do plastrão, mas dis-
se compreender que não havia outra solução e que o importante era “recuperar a saúde”, “que iria
ultrapassar esse mau momento” e se “acostumar com o tempo”. Nessa ocasião, ainda apresenta-
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Monitorar sinais e sintomas de infecção da incisão cirúrgica (inchaço, vermelhidão,
separação dos bordos da incisão, presença de drenagem purulenta, febre), três vezes
ao dia
• Tomar medidas para prevenção da infecção, relacionadas ao circuito drenagem
Risco de infecção (lavar as mãos antes e depois da manipulação do dreno a vácuo, manter o curativo
relacionado a do óstio do dreno limpo, protegendo-o durante o banho de aspersão), duas vezes ao
procedimento invasivo dia e sempre que necessário
cirúrgico (mastectomia
• Realizar desinfecção externa do dispositivo de drenagem com álcool a 70%, antes
com linfadenectomia
e após mensurar o volume de drenagem, duas vezes ao dia
axilar) e presença de
dispositivo de drenagem • Utilizar técnica asséptica nos procedimentos de curativo (lavar as mãos antes e
depois do procedimento e utilizar material estéril), uma vez ao dia e sempre que
necessário
• Realizar curativos: em plastrão direito e local de inserção do dreno, com solução
anti-séptica, no 2º DPO, uma vez ao dia e/ou sempre que necessário
• Orientar quanto aos cuidados com a ferida operatória; cuidados com o circuito de
drenagem, inclusive curativo no local de inserção do dreno; realização de exercícios;
cuidados e precauções com o membro superior direito, necessários para prevenir
complicações como edema braquial e/ou infecção (durante o grupo operativo)
• Ensinar a mensurar o volume da drenagem contido no dreno, nas 24 horas,
seguindo normas assépticas (durante o grupo operativo)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
A Sra. M.C.S. teve alta hospitalar no segundo dia de pós-operatório. Antes de ir para casa,
discutiu com a enfermeira seu plano de alta ( ver plano de alta no quadro 30). Referiu que nun-
ca havia passado pela experiência de realizar curativo e manusear circuito de drenagem, de modo
que não se sentia muito segura em relação aos cuidados a serem realizados em casa. Antes de
deixar o hospital, foi agendado retorno para o ambulatório de enfermagem, a consulta médica, a
de psicologia e a de nutrição.
Bases do tratamento ›
287
Quadro 30 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no plano de alta hospitalar
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Discutir e orientar para as medidas de autocuidado relacionadas à prevenção e
monitoração de infecção em sítio cirúrgico e local de inserção do dreno a vácuo (na
alta)
• Orientar quanto à mensuração da drenagem de 24 horas do dreno a vácuo (durante
o grupo operativo e na alta)
• Orientar para a prevenção e redução do risco de linfedema (na alta)
Déficit para o autocuidado
relacionado ao • Ensinar as medidas de cuidados com a lesão e circuitos de drenagem: manter o
conhecimento insuficiente plastrão e o curativo em local de inserção do dreno, sempre limpo e seco; manter o
sobre o cuidado da lesão, dreno preso à roupa, sem tracioná-lo, e com sistema de drenagem aberto
a prótese mamária, os • Providenciar informações sobre as próteses mamárias e enfatizar a importância de
sinais e os sintomas uma prótese ajustada apropriadamente (na alta)
de complicações, as
precauções com o braço • Orientar a cliente a comunicar imediatamente qualquer sinal ou sintoma de
e a mão, os recursos complicação (presença de edema no membro afetado, dormência ou formigamento,
7º DPO
Retornou no 12º DPO para avaliação da incisão cirúrgica e presença de seroma em plastrão
direito. A paciente mostrou-se tranqüila, sem queixas e/ou questionamentos e com boa mobilida-
de em membro superior direito. Expressou estar confiante no futuro e em si mesma, tendo certe-
za da superação das dificuldades, inclusive as relacionadas a um possível tratamento adjuvante.
A incisão cirúrgica estava com bom aspecto. Nessa ocasião, foi realizada punção em área de flu-
tuação no plastrão, que resultou em retirada de 50 ml de secreção serosa. Foi programado retor-
no em seis dias, para avaliar a presença de seroma e retirada de pontos.
Cabe aqui ressaltar que, segundo o Documento de Consenso do Câncer de Mama, a enfer-
meira, no seguimento ambulatorial da paciente, deve avaliar a ferida operatória, realizar curati-
vos, retirar dreno, realizar punção de seroma, enfim, acompanhar todo o processo de cicatrização,
realizando as intervenções e agendamentos necessários para acompanhamento.
Nessa perspectiva, denomina-se plastrão a região anteriormente ocupada pela mama, sob
a qual pode ocorrer acumulação de secreção linfática chamada seroma, após a retirada do dreno
Bases do tratamento ›
289
a vácuo. A formação do seroma ocorre principalmente devido à linfadenectomia axilar e reflete
uma fase exsudativa da cicatrização da ferida operatória.
Quadro 31 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no período ambulatorial
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Inspecionar a área de plastrão para verificar abaulamento e flutuação, com a
paciente sentada na mesa de exame
Risco para formação de • Palpar o plastrão para evidenciar a presença e localização da área de flutuação
seroma após retirada • Puncionar área de flutuação, utilizando técnica asséptica (lavar as mãos antes do
do dispositivo de procedimento, utilizar material estéril e solução anti-séptica na pele)
drenagem, relacionado
à linfadenectomia axilar, • Aspirar o seroma com agulha 40x12 (18 g 1 ½) e seringa de 20 ml, até o esvaziamento
caracterizado por acúmulo completo
de secreção linfática no • Anotar o total do volume aspirado e aspecto da secreção, registrando no
plastrão prontuário
• Agendar retorno ambulatorial conforme o volume aspirado ou se julgar necessário
18º DPO
No 18º DPO, não mais se detectou a presença de seroma e foram retirados os pontos. A in-
cisão estava com bom aspecto, sem sinais flogísticos. Boa mobilidade com membro superior di-
reito, sendo liberada para movimentos com amplitude acima de 90º. Indagou se poderia iniciar o
uso de prótese externa conforme orientação discutida no plano de alta, recebendo resposta afir-
mativa. A paciente então recebeu alta do ambulatório.
Seguimento
Vinte dias depois da cirurgia, retornou para consulta médica com o mastologista, na qual
recebeu o resultado do seu laudo histopatológico. Após esclarecimentos do médico, foi encami-
nhada à Oncologia Clínica para discussão e estabelecimento do tratamento adjuvante.
A paciente foi considerada como de risco elevado para recorrência da doença por apresen-
tar tumor maior do que 2 cm e linfonodos axilares positivos para malignidade. Foi então indicado
tratamento adjuvante com quimioterapia (ver os diagnósticos e prescrições de enfermagem as-
sociados ao tratamento quimioterápico no capítulo 7).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
290
Por apresentar mais do que quatro linfonodos comprometidos pela doença, a paciente teve
indicação para tratamento de radioterapia, após o término do tratamento quimioterápico (ver os
diagnósticos e prescrições de enfermagem associados ao tratamento radioterápico no capítulo 7).
O tratamento hormonal por cinco anos, com antiestrogênio (Tamoxifeno), também foi in-
dicado após o término da quimioterapia, já que a dosagem dos receptores hormonais para estro-
gênio e progesterona foi positiva. Antes de iniciar o tratamento hormonal, a paciente recebeu al-
gumas orientações da enfermeira sobre o mesmo.
Tempo decorrido
Recomendação
1 a 5 anos após 5 anos
História e Exame Físico semestral anual
Mamografia anual anual
Exame Ginecológico (quando em uso de
anual anual
Tamoxifeno)
Fonte: Consenso de Mama - MS/2004
No caso de contra-indicação para uso de Tamoxifeno (TMX), tais como: doença tromboem-
A Sra. M.C.S. estava em uso do Tamoxifeno quando, em sua vigência, apareceu doença me-
tastática. Considerando que a Sra. M.C.S. é mulher na pré-menopausa, com positividade para re-
ceptores hormonais de estrogênio e progesterona, e que metástases ósseas podem ser controla-
das com hormonioterapia, pode ser prescrito inibidor da aromatase, no caso de falha da terapia
antiestrogênica com o Tamoxifeno, mas é necessário, antes de se iniciar esse tratamento, fazer
um bloqueio do estrogênio circulante, que pode ser em nível central por bloqueio hipotalâmico
(hormonal), cirúrgico (castração cirúrgica) ou radioterápico (castração actínica).
Ainda pode-se utilizar drogas (Pamidronatos e Zolendronatro), a cada 28 dias, que inibem
a atividade osteoclástica, impedindo assim a progressão das metástases ósseas e também dimi-
nuindo a dor e a hipercalcemia.
Quadro 33 – Principais diagnósticos e prescrições na consulta de enfermagem ambulatorial
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar quanto aos efeitos colaterais mais comuns associados ao Tamoxifeno: ondas de
calor, sangramento vaginal, prurido vulvar, corrimento vaginal, erupção cutânea, náuseas,
vômitos, tontura, alopecia, retenção de líqüidos (na consulta de enfermagem)
• Esclarecer quanto à supressão da menstruação em mulheres na pré-menopausa que estejam
em tratamento com o Tamoxifeno para câncer de mama (na consulta de enfermagem)
Introdução
Entre os tumores que atingem o aparelho reprodutor feminino, o do colo uterino é o mais
freqüente, em ordem de ocorrência, de acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e
Obstetrícia (FIGO).
Segundo o Ministério da Saúde no Brasil, estima-se que o câncer do colo do útero seja o
terceiro mais comum na população feminina. Este tipo de câncer representa 19% de todos os tu-
mores malignos em mulheres.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Acomete mulheres em fase de atuação social familiar e profissional, gerando custos gover-
namentais em serviços de saúde e sociais. A evolução da doença provoca lesões orgânicas graves
e o tratamento, apesar dos avanços tecnológicos, produze sua melhor eficácia apenas nos está-
dios iniciais.
Etiologia
Desde 1992, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a persistência da in-
fecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) representa o principal fator de risco para o desenvolvi-
mento da doença, muito embora estudos tenham demonstrado que a infecção pelo HPV é neces-
sária, mas não suficiente para a evolução do câncer. Além disso, o sorotipo do HPV, a carga viral
e a associação com outros fatores de risco que atuam como co-fatores, tais como: fumo, contra-
ceptivo oral, início precoce da atividade sexual, multiciplicidade de parceiros, história de doenças
sexualmente transmissíveis, baixa escolaridade e renda, são essenciais para que a doença ocorra.
Carcinogênese cervical
O HPV introduz seu material genético no DNA da célula hospedeira, ocasionando mutações
que se acumulam e podem progredir para a malignidade. Embora o processo de inserção de ma-
terial genético viral para células normais seja comum em mulheres com amostras cervicais posi-
tivas para HPV, esse processo não resulta necessariamente em malignidade. A replicação do DNA
do HPV inicia-se com uma fase de modesta amplificação, através da entrada na camada basal da
Bases do tratamento ›
293
célula de um epitélio ferido. Após a cura da ferida, a maioria das células retorna ao estado de des-
canso. O epitélio estratificado é reparado pelas divisões das células basais, sendo similar a um epi-
télio não infectado, exceto pelo fato de as células em divisão serem mais freqüentes. A atividade
transcricional é baixa e o DNA viral replica somente quando as células basais e parabasais entram
na fase S do ciclo celular, resultando num estado de baixo número de cópias do DNA viral. Depois,
as células ascendem, deixam o ciclo celular e submetem-se à diferenciação progressiva.
Os tipos de HPV genital de médio e de alto risco expressam proteínas com potencial onco-
gênico (E6 e E7), que aumentam a probabilidade de reiniciação da transcrição, tornando-se capa-
zes de imortalizar as células infectadas. O processo pelo qual isso ocorre pode ser explicado pelo
fato de que a proteína E7 liga-se ao produto do gene retinoblastoma, que é uma fosfoproteína,
cuja forma fosforilada regula negativamente a entrada para a fase S do ciclo celular. Por sua vez,
a proteína E6 liga-se à proteína supressora de tumor p53, degradando-a. Vale ressaltar que em-
bora a expressão dos genes E6/E7 possa cooperativamente induzir a imortalização celular, eles
Diversos métodos biomoleculares para a detecção do HPV têm sido descritos nesta última
década. Os métodos baseados na amplificação de DNA são os mais sensíveis, principalmente o da
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR real time), pois permitem a detecção de baixa carga viral e
minimizam o erro de classificação do status de infecção do HPV.
O câncer do colo do útero, em sua evolução, passa por uma fase pré-invasiva, na qual in-
tervenções podem evitar seu progresso, e outra invasiva, caracterizada pela invasão de tecidos e
que é de difícil controle.
Figura 64 – Colo do útero com lesão Figura 65 – Colo do útero normal
Fonte: RAMOS ( www.saudevidaonline.com.br/artigo37.htm) Fonte: RAMOS (www.saudevidaonline.com.br/artigo37.htm)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
294
Lesões pré-invasivas
As lesões pré-invasivas são chamadas de Neoplasias Intra-epiteliais Cervicais (NIC), que são
classificadas em graus I, II e III, os quais refletem o seu comportamento biológico. Essa nomencla-
tura sofreu uma revisão em 1988, classificando as NIC I como lesões de baixo grau e colocando as
NIC II e III num mesmo patamar biológico, classificando-as como lesões de alto grau. As altera-
ções celulares que não podem ser classificadas como neoplasia intra-epitelial cervical, mas mere-
cem uma investigação melhor, são classificadas como atipias de células escamosas de significado
indeterminado (ASCUS) ou atipias de células glandulares de significado indeterminado (AGUS). As
lesões pré-neoplásicas, se não tratadas, apresentam um potencial diferenciado de regressão, per-
sistência e progressão, segundo a sua classificação histológica. De acordo com a literatura, lesões
do tipo NIC I teriam um potencial de regressão maior (62% a 70%) quando comparadas às NIC II
e III (45% a 55%) num período de 11 a 43 meses. Por outro lado, a literatura mostra que as NIC
I apresentam um menor potencial de progressão de 4,9% a 16% do que dos NIC II e III, que é de
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
30% a 42%. Porém, o potencial de persistência dessas lesões ainda permanece controverso.
Lesões invasivas
Nesta fase, a lesão ultrapassa os limites da membrana basal e passa a ser considerada in-
vasiva de tecidos vizinhos ao epitélio, evoluindo de uma área restrita ao colo para órgãos e estru-
turas próximas, como vagina, paramétrios, linfonodos pélvicos e mucosas da bexiga e do reto, a
órgãos e estruturas distantes como pulmões, fígado, ossos e linfonodos, principalmente de acor-
do com o estadiamento, cuja classificação mais utilizada é a FIGO (figura 64). Os tipos histológi-
cos são: escamoso, mais freqüente, tem prognóstico favorável; adenocarcinoma é menos comum,
acomete mulheres jovens e tem pior prognóstico; seguido do sarcoma que é raro e altamente
agressivo.
Estudos epidemiológicos têm mostrado que leva em média 10 anos para que uma célula
normal evolua para o estágio de câncer invasivo, começando por estágios precoces, que são de-
Bases do tratamento ›
295
tectáveis e curáveis, possibilitando que sejam feitos esforços preventivos através de programas
de rastreamento do câncer cervical.
Em relação aos sinais e sintomas, nos estádios iniciais, o câncer cervical pode ser assinto-
mático, tendo como sinal mais comum o sangramento, por perda sangüínea espontânea ou in-
duzida, com corrimento fétido aquoso comumente de cor rósea e constante. A progressão da do-
ença leva ao aparecimento de outros sintomas como disúria, polaciúria, incontinência urinária,
enterorragia, tenesmo, dor lombar e edema de membros inferiores.
Tratamento
O tratamento é indicado com base no estadiamento tumoral, tipo histológico, idade da pa-
Tempo de seguimento
As complicações são causadas por danos teciduais e funcionais provocados pela evolução
da doença e/ou efeitos do tratamento.
pulação da enervação dos ureteres e bexiga na realização da dissecção para extirpação do tecido
celular subperitoneal, paravesical e ureteral, além de fístulas envolvendo vias urinárias e intesti-
nais na área pélvica e outras complicações, como infecção da parede, peritonite e hemorragia que
ocorrem com freqüência bastante reduzida.
No tratamento radioterápico, as complicações são causadas pelos efeitos adversos nos te-
cidos sadios localizados nas áreas adjacentes à irradiada. Os efeitos adversos agudos atingem
pele, membranas mucosas, reto e aparelho geniturinário, e os tardios têm como áreas mais afe-
tadas o retossigmóide, com maior freqüência em estágios mais avançados da doença, na qual a
dose de radioterapia externa é maior; seguido de bexiga, uretra e ureter; útero, ovário e vagina,
gerando disfunção sexual, e mais raramente osso e sangue.
Bases do tratamento ›
297
Quadro 34 – Estadiamento do câncer do colo do útero, segundo a FIGO relacionado ao tratamento no INCA
Conização de colo
Invasão do estroma uterino/ histerectomia
Estádio 0 menor do que 3 mm, com abdominal tipo I,
extensão superficial até ou via vaginal, ou
7 mm via laparoscópica/
braquiterapia
Histerectomia radical
modificada tipo II/
Invasão do estroma de 3
traquelectomia radical
mm a 5 mm, com extensão
com linfadenectomia
horizontal até 7 mm
pélvica/ radioterapia
exclusiva
Lesões menores do que 4
Lesões cm - IB1 – histerectomia
Estádio i clinicamente abdominal radical tipo III
CarCinoma iB1 visíveis limitadas
ao colo, com até Lesões menores do que
rEstrito
4 cm 2 cm – histerectomia
à Cérvix,
radical tipo II (em
somEntE
estudo)
diagnostiCado
pEla Traquelectomia radical
miCrosCopia com linfadenectomia
pélvica (no caso de
Lesão clinicamente a cliente desejar
iB2 visível, com mais engravidar)
Tumor que
Estádio iii compromete o
tumor quE terço inferior Quimioterapia e
sE EstEndE
iiia da vagina, sem radioterapia (teleterapia
à parEdE extensão à parede + braquiterapia)
pélviCa E ou pélvica concomitantes
CompromEtE o
tErço infErior
da vagina
E/ou Causa
hidronEfrosE Tumor que se
ou ExClusão estende à parede
rEnal iiiB pélvica e/ou causa
hidronefrose ou
exclusão renal
Invade a mucosa
vesical ou retal e/ Tratamento cirúrgico
iva ou se estende além paliativo
da pelve verdadeira
Neste estádio, a doença
é incurável. Tratamentos
são controversos, sendo
a quimioterapia, a
Estádio iv radioterapia e a cirurgia
consideradas paliativas e
tumor fora da
indicadas em cada caso
pElvE Metástase a
ivB distância
Considerar radioterapia
anti-hemorrágica
Tratamentos com
quimioterapia e
radioterapia devem ser
considerados somente
inclusos em protocolos
de estudo
ção através de visita pré-operatória, admissão, planejamento e evolução diária, bem como plane-
jamento de alta hospitalar (figura 65).
Pré-cirúrgico
A troca do curativo cirúrgico deve ser feita de forma asséptica, avaliando continuamen-
Na alta, é feito o reforço das orientações para o autocuidado e entregue o folheto com
orientações para cirurgia ginecológica (figura 66).
Figura 66 – Folheto de orientação para cirurgia ginecológica
Fonte: INCA (2000)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
300
Pós-alta de internação cirúrgica
O teste consiste na retirada da sonda vesical, orientação para ingestão de um copo de água
de 250 ml a cada 15 minutos até completar cinco copos. Aguardar um episódio de diurese espon-
tânea e, após, proceder cateterismo vesical. Se o débito for maior do que 100 ml ou se a paciente
não conseguir urinar espontaneamente, deverá permanecer com sonda de demora com circuito
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
fechado por mais uma semana, e se o débito for menor do que 100 ml, a sonda deverá ser reti-
rada. Se a paciente realizar três testes de resíduo sem êxito, deverá ser encaminhada ao médico
ginecologista para avaliação urodinâmica para conduta posterior. O teste tem a finalidade de ve-
rificar o resíduo urinário persistente na bexiga após uma diurese, o que avalia a ineficiência da
função vesical.
Pré-radioterapia
Antes do início do tratamento, é feita a orientação em grupo por meio de palestra com re-
curso visual sobre radioterapia na pelve feminina, seguida de esclarecimento de dúvidas a pacien-
tes, familiar ou acompanhante, versando sobre a importância do cumprimento da agenda pro-
posta para o tratamento, efeitos adversos que podem acometer a paciente e como minimizá-los.
As consultas de enfermagem são realizadas nos períodos: pré, durante o período de radio-
terapia, pós-teleterapia e durante o período de radioterapia e pós-braquiterapia. Essas consultas
têm a finalidade de avaliar as condições clínicas, identificar riscos para complicações e não efe-
tividade do tratamento, e a elaboração de plano assistencial a curto, médio e longo prazo. Utiliza
como estratégia o histórico de enfermagem, exame físico, escuta apurada das queixas da pacien-
te, avaliação do estado emocional e grau de adesão ao tratamento, procurando evitar falhas no
fluxo; fornecimento de cartilha com orientação para radioterapia ginecológica e informação so-
bre a possibilidade de encaminhamento para equipe multidisciplinar, quando necessário.
Bases do tratamento ›
301
Período de radioterapia
Teleterapia
Braquiterapia
realizados e dados relacionados ao tratamento, como: data da inserção, anestesia, tandem, inter-
corrências e evolução.
A consulta de enfermagem realizada após a última inserção tem como ações: diálogo so-
bre o reinício das relações sexuais ou a sensibilização quanto à realização dos exercícios de dila-
tação vaginal para as não sexualmente ativas; orientação sobre o autocuidado; aumento da in-
gesta hídrica; informações sobre a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos pós-inserção;
fornecimento de prescrição do protocolo para braquiterapia, composto por creme vaginal à base
de Anfotericina B e Tetraciclina, com orientações para utilização; fornecimento de materiais para
exercício de dilatação vaginal.
Bases do tratamento ›
303
Indicação de tratamento
Ações de enfermagem
Radioterapia
complementar à Orientação de enfermagem em grupo pós-teleterapia na
cirurgia unidade de origem
Seguimento com
ginecologista e
oncologista
Consulta de enfermagem no Centro de Radioterapia
– Braquiterapia – 3ª inserção
Figura 68 – Fluxo das ações de enfermagem para pacientes matriculadas no INCA para tratamento de câncer do colo do útero
Fonte: INCA (2006, 2007)
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
304
Relato de caso
Nutrição: eutrófica, corada, hidratada. Informa boa aceitação alimentar e nega desequilí-
brio ponderal nos últimos meses. Abdômen flácido e indolor, sem visceromegalias. Membros in-
feriores sem edema.
Eliminação e Troca
Atividade e Repouso
Percepção e Cognição
Conhecimento: câncer do colo do útero IIIB de acordo com biópsia e exame realizado em
consulta médica.
Bases do tratamento ›
305
Tratamento médico: teleterapia (5400 cGy) fracionada em 25 aplicações, associada a 420
mg de Cisplatina, dividida em seis ciclos semanais e braquiterapia com três inserções de 700 cGy,
de acordo com protocolo institucional para este estadiamento.
Sexualidade: informa menarca aos 13 anos, sexarca aos 17 anos, ciclo menstrual irregular,
um parceiro sexual, primeiro parto com 18 anos e GII PII (um normal e uma cesária). Queixou-se
de dispareunia esporádica e negou leucorréia. Ao exame ginecológico: vulva normal e lesão ulce-
rada no colo uterino visualizada por espéculo. Informa vida sexual ativa com um parceiro duran-
te toda a vida. Refere dor pélvica esporádica (EVA3) durante o ato sexual.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Anotar o intervalo de tempo entre as eliminações urinárias
Risco para eliminação urinária • Observar e anotar odor, cor e volume de urina a cada micção espontânea
prejudicada devido à possível
compressão ureteral, infiltração • Ingerir no mínimo 2 litros de líqüido diariamente: anotar a quantidade de
de paramétrios até o plano copos de água que ingere diariamente
ósseo e ao uso de cisplatina • Comunicar ao enfermeiro ausência de urina em 12 horas ou sensação de
urina presa
• Utilizar roupas íntimas confortáveis, evitando tecidos à base de lycra ou
renda
• Realizar auto-exame da pele na área irradiada diariamente
• Evitar usar roupas justas
• Lavar a pele do campo de radiação com água morna apenas e secar sem
esfregar
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Introdução
O câncer de pulmão, que era uma doença rara no início do século XX, é atualmente um pro-
blema de saúde pública. É o tipo de câncer mais comum de todos os tumores malignos, apresen-
tando um aumento de 2% ao ano em sua incidência mundial. No Brasil, segundo Zamboni (2005),
a partir da década de 1960, as neoplasias malignas, juntamente com as doenças crônico-dege-
narativas, substituíram as doenças infecciosas e parasitárias e destacaram-se como as principais
causadoras de mortalidade no país. Dentre as neoplasias malignas, a de pulmão aparece hoje
como a primeira causa de morte no homem e a segunda, após a de mama, na mulher. O número
Classificação
Fatores de risco
Sinais e sintomas
A disseminação do câncer de pulmão, tanto por extensão direta quanto pela linfangite car-
cinomatosa, pode produzir uma variedade de sinais e sintomas. A invasão da parede torácica, co-
luna ou estruturas nervosas ocasiona dor intensa. A invasão pleural ocasiona dor à respiração e
derrame pleural. Os tumores de Pancoast localizam-se posteriormente no ápice dos lobos supe-
Bases do tratamento ›
309
riores, junto ao plexo braquial, podendo provocar a síndrome de Horner que é secundária ao en-
volvimento da cadeia simpática e do gânglio estrelado, causando a enoftalmia unilateral, pto-
se palpebral, miose e anidrose ipsilateral da face e do membro superior. A rouquidão persistente
aparece em conseqüência da invasão dos nervos laríngeos recorrentes. A paralisia diafragmática
unilateral ocorre quando o nervo frênico é atingido pelo tumor ou por linfonodos. Quando há in-
vasão do tumor para o mediastino superior, pode haver comprometimento das estruturas vascu-
lares, provocando a síndrome da veia cava superior. A linfonodomegalia pode ser encontrada na
região supraclavicular ou cervical. Nas metástases ósseas são características a dor localizada e a
limitação dos movimentos, enquanto as metástases cerebrais se manifestam por cefaléia, náu-
seas e vômitos, confusão mental, convulsões e sinais neurológicos focais. Metástases hepáticas,
adrenais e síndromes paraneoplásicas também podem ser encontradas nos portadores de cân-
cer de pulmão.
O câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) geralmente é mais agressivo, com alto po-
tencial para desenvolver metástase a distância, e, muitas vezes, o paciente apresenta metástases
detectadas no momento do diagnóstico. Portanto o tratamento cirúrgico é proposto nos estágios
iniciais da doença, estágios I e II, acrescido de quimioterapia pós-operatória. Se houver recusa do
paciente ou não houver indicação clínica para realização do procedimento cirúrgico, a quimiote-
rapia e a radioterapia torácica serão o tratamento de escolha, por conta do tumor ser altamen-
te responsivo a este tratamento. Nos pacientes que apresentarem remissão completa da doença
após o tratamento, será indicado radioterapia profilática do sistema nervoso central.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
310
Relato de caso
Identificação: J.M.B, 55 anos, sexo masculino, natural do Rio de Janeiro, casado, dois filhos
maiores e um filho menor com 12 anos de idade, 1º grau incompleto, motorista, católico não-pra-
ticante, renda familiar em torno de cinco salários mínimos, referindo ser suficiente para o sus-
tento da família.
Antecedentes pessoais: tabagista desde os 12 anos de idade, fumante de 100 cigarros por
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
dia, etilista (ingestão diária de 1,5 litros de aguardente de cana). Quanto à alimentação, hiperca-
lórica, com alto consumo de alimentos gordurosos, açúcar e proteína, e baixa ingestão de frutas.
Histórico da doença atual: relata que apresentou um acidente vascular cerebral (AVC) em
novembro de 2005 e, dentre os exames de controle que realizou, fez raios X de tórax, nos quais
foi evidenciado uma lesão de aspecto nodular. Ficou em acompanhamento neurológico e de fi-
sioterapia motora durante quatro meses e não houve nenhum tratamento proposto para a lesão
evidenciada no pulmão. Após um ano, novembro de 2006, ao realizar novos exames de sangue e
raios X de tórax para uma consulta de controle neurológico, outro neurologista que o atendeu, ao
ver a lesão no pulmão, o encaminhou para o pneumologista e este, após avaliá-lo, o encaminhou
para um Serviço de Oncologia.
Conduta
Exames
Após uma semana, retornou ao ambulatório para nova avaliação médica e orientações
quanto aos resultados dos exames realizados, que foram os seguintes: raios X de tórax, que evi-
denciavam condensações interstício-alveolares no lobo superior direito; tomografia computa-
dorizada de tórax, que evidenciava massa irregular de 4,2 x 3,7 cm, captando contraste em lobo
Bases do tratamento ›
311
superior direito, com espessamento pleural e sem sinais de linfonodomegalias; tomografia com-
putadorizada de abdômen superior normal; broncoscopia negativa para tuberculose e células ne-
oplásicas; PAAF (Punção Aspirativa por Agulha Fina) negativa para células neoplásicas; PFR (Prova
de Função Respiratória) com espirometria dentro das normalidades; Eco Doppler de Carótida nor-
mal; ecocardiograma normal; ECG (Eletrocardiograma) normal; e exames laboratoriais normais.
Com base nos resultados e discussão do caso em mesa redonda, houve indicação de programa-
ção de cirurgia e liberação do risco cirúrgico. Por ser tabagista, foi encaminhado ao ambulatório
de fisioterapia, visando a realizar fisioterapia respiratória pré-operatória, e ao ambulatório de tra-
tamento antitabagismo, onde ficou evidenciado que o grau de dependência química era elevado
(7), segundo a escala de Fagenstron. A partir daí, deu início ao tratamento com adesivo cutâneo
de Niquitin 21 mg, com troca a cada 24 horas.
Em maio de 2007, comparece para internação (véspera da cirurgia), acompanhado pela sua
esposa e apresentando olhar apreensivo, preocupação com a internação e medo da cirurgia e de
morrer, embora feliz por não fumar há uma semana e determinado a não mais fumar e assinto-
mático em relação à evolução da neoplasia. Na admissão de enfermagem, refere AVC isquêmico
sem seqüelas neurológicas, herniorrafia inguinal direita, fazendo uso regular de Carbamazepina
200 mg duas vezes ao dia, alergia medicamentosa à Metoclopramida e Dipirona, ex-etilista há um
mês. Nega tosse, hemoptise, dor torácica, dispnéia, perda de peso (5 kg em 6 meses), hiperten-
são arterial sistêmica, diabetes mellitus, bronquite, asma, tuberculose e transfusões sangüíneas.
Escala Visual Analógica (EVA) = 0.
Ao exame físico, apresenta bom estado geral, lúcido, orientado, cooperativo no exame, res-
pondendo prontamente aos questionamentos. Corado; hidratado; acianótico; anictérico; eupnéi-
co; freqüência respiratória: 20 irpm; aparelho respiratório com murmúrios vesiculares univer-
salmente audíveis, sem roncos adventícios; ausência de linfonodomegalias em cadeia cervical,
supraclavicular e axilar; Performance Status (PS) = zero. Aparelho cardiovascular = bulhas nor-
mofonéticas em dois tempos (ACV=BNF em 2T sem sopros; pulso regular, cheio; freqüência cardí-
aca: 78 bpm; pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Abdômen plano, flácido e indolor à palpação, sem
visceromegalia. Eliminações vesicointestinais dentro do padrão de normalidade (eliminações in-
testinais diariamente e fezes moldadas, eliminações vesicais em bom débito e de coloração ama-
relo claro). Membros superiores e inferiores sem edemas, panturrilhas livres e com presença de
varizes. Foram esclarecidos os procedimentos relacionados à cirurgia, aos cuidados pré-operató-
rios e às rotinas da instituição. Temperatura axilar: 36,6ºC.
No dia seguinte, foi submetido a uma lobectomia radical com esvaziamento dos gânglios
mediatinais peri-hilares por toracotomia póstero-lateral Standard. Evidenciou-se, no transopera-
tório, uma volumosa massa em lobo superior direito, com aderências pleurais no ápice, superfície
pleural lisa e ausência de derrame pleural. O resultado histopatológico por congelação foi com-
patível com adenocarcinoma de pulmão e aguarda resultado histopatológico definitivo por para-
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
312
fina. O estadiamento baseado na extensão anatômica do tumor de pulmão, segundo a classifica-
ção TNM, é T2N0M0, e por grupamento por estádios é IB.
Analgesia Controlada pelo Paciente (PCA) 3 ml/h. ACV= BNF em 2T, sem sopros. Freqüência cardí-
aca: 68 bpm. Pressão arterial: 110 x 70 mm/Hg. Aparelho respiratório: murmúrios vesiculares uni-
versalmente audíveis (AR= MVUA) sem roncos adventícios. Freqüência respiratória: 18 irpm (eup-
néico). Tosse produtiva com raios sangüinolentos; oxigenioterapia por tenda facial há 3 l/min;
cateter vesical de demora; diurese em bom débito (500 ml) de coloração amarelo-clara. Refere
náuseas, episódios de vômitos em pequena quantidade e de coloração amarelo-esverdeada, dieta
zero. Permanece em repouso, banho/higiene realizados no leito pela equipe de técnicos de enfer-
magem por 24 horas a 48 horas, de acordo com sua evolução clínica. Temperatura axilar: 36,4ºC.
Nos dias subseqüentes evoluiu bem, com melhor resposta álgica, realizando melhor os
exercícios respiratórios, nebulizações regulares, expectoração de secreções traqueobrônquicas,
ferida operatória com pontos íntegros e sem sinais de flogose, deambulação freqüente, diminui-
ção progressiva da drenagem torácica e controle radiológico diário. No quarto dia de pós-ope-
ratório, retirado dreno de tórax anterior (drenagem serosa de 100 ml) e, no quinto dia, retirado
dreno de tórax posterior (drenagem serosa de 100 ml). Seis horas após confirmação de EVA= 0,
retirado cateter peridural e, após orientações médicas e de enfermagem, recebe alta hospitalar
em companhia de familiares.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Medo de morrer caracterizado • Proporcionar ao paciente um ambiente tranqüilo e seguro
pelo nervosismo e pelo relato
• Determinar o nível de conhecimento do paciente acerca da sua condição, do
de que está com medo da
prognóstico e das medidas de tratamento
cirurgia, relacionado ao déficit
de conhecimento sobre a • Escutar atentamente as expressões verbais dos sentimentos do paciente e
doença e a cirurgia oferecer a oportunidade de discutir as razões da sua preocupação
• Orientar o paciente e o acompanhante (esposa) sobre a doença (na admissão)
• Orientar o paciente e o familiar (esposa) quanto ao procedimento cirúrgico
(lobectomia radical) e fornecer orientações sobre o tratamento, conforme suas
necessidades ou solicitações
• Orientar o paciente quanto aos procedimentos a serem realizados. Explicar de
forma simples as rotinas hospitalares e fornecer fôlder explicativo
• Encorajar o envolvimento da família em proporcionar apoio emocional ao
paciente
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Monitorar o nível de consciência, reflexo de tosse, reflexo de náusea e a
capacidade para deglutir
• Monitorar a função pulmonar através de ausculta pulmonar, avaliação dos
gases arteriais e saturação de oxigênio por oxímetro de pulso
• Realizar aspiração de vias aéreas superiores quando necessário
Risco de aspiração devido à
• Certificar-se de que o paciente esteja realmente acordado para alimentar-se
sonolência e aumento das
por via oral
secreções pulmonares
• Administrar medicações antieméticas prescritas uma hora antes do almoço e
jantar, monitorando sua efetividade
• Oferecer dieta em pequenas porções e em períodos fracionados se o quadro de
náuseas persistir, evitando alimentos condimentados e quentes
• Manter cabeceira elevada antes e após as refeições
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
314
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Administrar medicações analgésicas prescritas, avaliando o resultado
• Monitorar características da dor: local, o início/duração, a freqüência, a
qualidade, a intensidade ou a gravidade da dor e os fatores precipitantes
• Documentar a dor do paciente, a intensidade, usando a escala visual analógica
e a resposta ao analgésico, e a ocorrência de efeitos colaterais
• Orientar o paciente para que ele informe a presença de dor, antes que a mesma
se intensifique
• Orientar o paciente e família quanto à ação e aos efeitos secundários das
medicações antiálgicas e opiáceos
• Ensinar o paciente a monitorar a intensidade, a qualidade e a duração da dor
através do instrumento de mensuração de dor da EVA (Escala Visual Analógica)
Dor aguda caracterizada pelo
• Ensinar o paciente a usar o mecanismo de PCA (analgesia controlada pelo
relato verbal do paciente de
paciente), quando estiver sentindo dor, através de demonstração prática de uso
dor, relacionada ao trauma
do dispositivo, que ativa o bolus da solução analgésica, pré-programado em
cirúrgico, tosse e ao mobilizar-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Risco de infecção devido às • Aderir às precauções universais contra infecção, lavar as mãos antes e após
condições de risco: incisão cada atividade de cuidado com o paciente
cirúrgica, dreno de tórax, • Monitorar os sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção, examinar a
cateter venoso profundo, pele e as membranas mucosas, cateteres e ferida operatória na busca de sinais
cateter peridural, cateter flogísticos
vesical de demora e secreção
pulmonar • Monitorar exames laboratoriais (hemograma completo)
• Orientar quanto à importância dos exercícios respiratórios, deambulação
precoce, visando a mobilizar secreções e expansão pulmonar
• Orientar o paciente e familiares a como evitar infecções através das precauções
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
padrão
• Monitorar sinais vitais (temperatura axilar e freqüência cardíaca)
• Oferecer informações com relação às causas das náuseas e vômitos
• Administrar medicação antiemética conforme prescrição médica
• Encorajar o consumo de pequenas quantidades de alimento
• Oferecer líqüidos frios, puros, inodoros e incolores, quando adequado
• Evitar a ingesta de alimentos quentes, condimentados, gordurosos ou de odor
forte
Náusea e vômito,
caracterizados pelo relato • Observar e registrar dados sobre o vômito quanto à cor, consistência, presença
da sensação de vomitar, de sangue, horários e extensão em que é sentida
relacionados aos efeitos das • Medir ou calcular o volume do vômito
medicações anestésica e
analgésica (opiáceos) • Monitorar exames laboratoriais, atentando para distúrbios hidroeletrolíticos
• Promover repouso adequado para facilitar o alívio da náusea e vômito
• Proporcionar higiene oral freqüente para promover conforto, a menos que
estimule a náusea e o vômito
• Monitorar sinais e sintomas dos efeitos colaterais da analgesia contínua (por
ex.: depressão respiratória, prurido, náusea e vômito)
• Realizar balanço hídrico
Bases do tratamento ›
317
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Colocar toalhas, sabonete, equipamento de barbear e outros acessórios na
cabeceira da cama e no banheiro quando o paciente estiver em condições de
levantar-se
• Providenciar os artigos pessoais desejados (por ex.: desodorante, escova de
dentes e sabonetes) se paciente não possuir
• Realizar mobilização e auxiliar o paciente durante o banho/higiene no leito no
Déficit no autocuidado para pós-operatório imediato
banho/higiene caracterizado • Auxiliar o paciente durante o banho de aspersão quando for apropriado, a fim
pela incapacidade de lavar o de evitar quedas e mantendo cuidados indispensáveis com drenos de tórax
corpo, relacionado à fraqueza,
cansaço, presença de drenos e • Oferecer assistência até que o paciente seja capaz de assumir totalmente o
dor aguda no pós-operatório autocuidado
imediato • Orientar, supervisionar e estimular a participação do acompanhante no auxílio
aos cuidados de banho/higiene do paciente quando for pertinente
• Auxiliar o paciente quando for deambular ou realizar qualquer atividade fora
NA VÉSPERA DA ALTA
• Auxiliar o paciente/familiar a preparar-se para a alta hospitalar, comunicando-os sobre a previsão da mesma
• Determinar as condições de locomoção do paciente e estabelecer, junto à família, o meio de transporte adequado
para levá-lo para casa e encaminhá-lo ao serviço social se houver necessidade de ambulância
• Auxiliar o paciente e seu familiar no planejamento de um ambiente confortável e em condições para manutenção
dos cuidados em domicílio após a alta
• Iniciar o processo de orientações ao familiar e ao paciente com relação à finalização dessa etapa do tratamento
(cirurgia), das condições clínicas atuais e do acompanhamento ambulatorial
• Orientar e estimular o paciente quanto à importância da continuidade do tratamento antitabagismo e retornar
ao seu grupo sete dias após a sua alta, para controle
NO DIA DA ALTA
• Orientar o paciente e familiar para retornar após sete dias ao ambulatório de cirurgia torácica para consulta de
controle pós-operatório
• Certificar-se do entendimento do paciente e familiar acerca das orientações realizadas, e habilidades necessárias
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Introdução
A próstata é uma volumosa glândula mediana, ímpar, rica em tecido muscular liso, do apa-
relho genital masculino. Seu produto de secreção é o suco prostático, importante constituinte do
Diagnóstico e estadiamento
Diretrizes terapêuticas
Bases técnicas
As opções de tratamento vão variar de acordo com o estadiamento clínico das lesões.
Nestes casos, incluem-se a Prostatovesiculectomia Radical (PTR), radioterapia ou observação vi-
gilante, ou seja, exame físico incluindo o toque retal e dosagem sérica do marcador tumoral PSA.
Nos casos em estádio I (T1aN0M0, Gleason 2-4), utiliza-se freqüentemente a observação vigilan-
te. Os casos em estádio II (T1aN0M0, Gleason maior ou igual a 5, T1b-cT2N0M0) são tratados por
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
322
cirurgia ou radioterapia. Os casos com invasão linfática, observada na peça de prostatectomia
(pN1), têm indicação de radioterapia pós-operatória.
São definidos como extensão do tumor por contigüidade (estruturas vizinhas) ou linfono-
dos regionais. Nestes casos, a radioterapia externa (teleterapia) conformacional é opção.
Procedimentos
Após a década de 1970, houve relevante avanço no tratamento cirúrgico radical das neopla-
sias prostáticas, com melhor controle do sangramento peroperatório, preservação dos feixes neu-
rovasculares, contribuindo para preservação da potência sexual e melhor continência urinária.
Esta cirurgia é realizada quando a doença encontra-se avançada, com vistas à melhor qua-
lidade de vida não-curativa. É de tempo cirúrgico rápido, porém, de complexidade e extremo es-
Bases do tratamento ›
323
tresse para a equipe técnica, pois é realizada em clientes em faixa etária alta, sendo, desta forma,
eleitos os clientes com PS favorável. É utilizado instrumento endoscópico que alcançará o tumor
no intuito de ressecá-lo. Este procedimento requer perícia de toda equipe, inclusive da enferma-
gem, no pós-operatório, pois é de difícil hemostasia e freqüentemente leva o cliente a descom-
pensações hidroeletrolíticas. Este processo é chamado Síndrome de RTU e demanda, principal-
mente, monitoramento de enfermagem especializada nas primeiras 48 horas de pós-operatório,
ininterruptamente, de forma a controlar perdas líqüidas, sangramentos e obstruções de vias uri-
nárias por coágulos. Este momento pode ser de extremo desconforto, ansiedade e dor para o
paciente.
Radioterapia
Supressão androgênica
Relato de caso
câncer de próstata
Identificação: V.P.S., 74 anos, sexo masculino, branco, natural de Olinda (PE), matriculado
na seção de Urologia do Hospital do Câncer I/INCA.
Queixa principal: dificuldade de urinar, especialmente à noite, quando acorda várias ve-
zes para ir ao banheiro, e cansaço.
Exames: foi submetido à biópsia orientada por ultra-sonografia transretal, sendo enca-
minhado material para exame histopatológico. Solicitados exames complementares: elementos
anormais de sedimentação (EAS) com resultado para nitrito positivo, proteinúria, piúria e densi-
dade aumentada. Urocultura (positivo para Escherichia colli). Exames laboratoriais para dosagem
de uréia e creatinina, hemograma completo, marcador tumoral prostático (positivo: PSA=10).
Ultra-sonografia de abdômen e pelve com evidências: sem alterações do padrão ecográfico para
fígado, vesícula biliar, loja pancreática e rins, bexiga plena com elevação no soalho e topografica-
mente sem alterações. Porém, a imagem de próstata demonstrou aumento de volume com me-
didas de 50 x 60 x 55 cm, com áreas de baixa densidade ecográfica, compatíveis com lesão ex-
pansiva sólida. O resultado do exame histopatológico do material prostático foi positivo para
malignidade, compatível com adenocarcinoma pouco diferenciado (G 3-4).
Na consulta médica, o paciente foi submetido ao exame clínico da próstata através do to-
que digital, que evidenciou: tônus esfincteriano diminuído, mucosa retal lisa, próstata aumentada
de volume, multinodular, assimétrica, de consistência pétrea e fixa aos planos adjacentes.
Bases do tratamento ›
325
Realizada investigação radiológica de tórax para possíveis metástases pulmonares, que evi-
denciou resultado normal. Porém, foi investigada metástase óssea através de cintilografia, com
achado positivo para metástase em fêmur direito. Não foi realizada tomografia computadorizada
para pesquisa de linfonodos regionais.
Consulta de enfermagem
Suporte familiar: é viúvo, reside sozinho em casa de alvenaria com instalações sanitárias e
água encanada, tem dois filhos residentes no Estado de São Paulo. Não mencionou nenhum tipo
de estrutura de apoio, familiar ou social. Não refere desejo de apoio na fase de internação.
Sexualidade: relata atividade sexual irregular e muito insatisfatória nos últimos seis me-
ses, devido ao desconforto urinário e cansaço ao esforço. Refere preocupação quanto ao futuro
neste sentido (potência sexual).
Eliminação urinária: relata dificuldade de urinar, com jato fraco, especialmente à noite,
quando acorda várias vezes para ir ao banheiro; refere descontentamento à interrupção do sono
por este motivo.
Exame físico: eupnéico, tórax simétrico, mamas flácidas sem nódulos palpáveis, ausculta
pulmonar sem anormalidades, ritmo cardíaco regular. Abdômen doloroso à palpação no hipogás-
trio, ausência de visceromegalias, linfonodos não-palpáveis inguinais e abdominais bilateralmen-
te. Genitália externa apresentando bolsa escrotal flácida, pênis pouco retrátil e testículos normais
à palpação.
Atividade física: não realiza de forma regular, referindo cansaço aos esforços mínimos,
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Sinais vitais: temperatura axilar: 36ºC. Freqüência cardíaca: 72 bpm. Freqüência respira-
tória: 19 irpm.
Diagnósticos de enfermagem
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Adaptação prejudicada • Oferecer informações claras, de forma calma e receptiva, sobre o processo da
relacionada à não-aceitação doença atual
da mudança do estado de
saúde • Fornecer apoio à tomada de decisão, com esclarecimento de valores
• Realizar entrevista em local privado e quieto com palavras de positivismo
Ansiedade relacionada à
incerteza em relação ao seu • Instruir sobre a doença e seus recursos de tratamento
“estado” e possível tratamento • Fornecer números de telefone para intervenções ou informações de
e atividade sexual, expressados emergência
verbalmente
• Encaminhamento para o serviço de psicologia (problema colaborativo)
Bases do tratamento ›
327
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Motivar paciente à mobilização possível (preservação da mecânica corporal)
Risco de intolerância à
atividade relacionada • Investigar se o paciente é capaz de deambular confortavelmente e com
à expressão verbal de segurança
fraqueza (estado de não-
• Investigar fator relacionado à dor na realização de atividade física de esforço
condicionamento físico)
mínimo
Conhecimento deficiente do • Assegurar utilização de linguagem sem risco de comunicação prejudicada
processo patológico relativo à
limitação cognitiva • Informar paciente sobre cartilha de “direitos do paciente”
• Investigar fatores relacionados a hábitos alimentares com restrição de ingesta
Constipação percebida
hídrica e alimentos fibrosos
conforme relato de eliminação
fecal em freqüência diminuída • Orientar paciente a aumentar ingesta hídrica e ingerir alimentos fibrosos,
e fezes de características evitando uso de laxantes
ressecadas
• Encaminhamento para Serviço de Nutrição (problema colaborativo)
Mastigação prejudicada
• Orientar paciente para realização de procedimentos de higiene oral, com escova
Volume de líqüidos deficiente, • Investigar fatores relacionados (dor à deglutição, hábitos alimentares com
representado por pele de restrição de ingesta hídrica)
aspecto ressecado, com
diminuição do turgor • Ratificar importância do aumento de ingesta hídrica
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
328
Fase pré-operatória
Conforme programado, o Sr. V.P.S. foi internado na clínica de urologia para intervenção
cirúrgica.
Quadro 40 – Principais diagnósticos e prescrições na fase pré-operatória
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Investigar o nível da ansiedade
• Apresentar-se de forma receptiva
Ansiedade relacionada
à incerteza, relativa ao • Realizar entrevista em local privado e quieto, com palavras de positivismo
processo cirúrgico, expressada
• Instruir sobre a doença e a programação cirúrgica
verbalmente
• Encorajar paciente a expressar sentimentos e pensamentos sobre o ato cirúrgico,
anestesia e perspectivas durante a internação
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Fase pós-operatória
Aguarda visita da nutricionista para progressão de dieta conforme aceitação: paciente re-
fere “fome”, bem como expressa maior comunicabilidade com a equipe.
No quarto dia de pós-operatório, o paciente apresenta-se ansioso para retorno ao lar, refe-
rindo melhor disposição e crença em melhora de seu quadro. Apresentou um episódio de evacu-
ação de aspecto pastoso. Recebeu alta hospitalar, deambulando normalmente, sem dor, estável,
hemodinamicamente apto para o autocuidado, alimentando-se por via oral com dieta livre, com
indicação médica de uso de analgésico gotas em caso de dor, manutenção de cateter vesical de
demora até reavaliação médica quando do primeiro retorno, que foi agendado para sete dias, ou
procurar serviço de emergência em caso de sangramento, obstrução ou dor.
Quadro 41 - Plano de cuidados para o período de internação em fase pós-operatória imediata
A Síndrome de RTU refere-se ao conjunto de sinais e sintomas: hipotermia, hipotensão arterial, perda
hidroeletrolítica.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
330
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Incontinência urinária total, • Manter irrigação contínua com solução fisiológica 0,9% de permanência zero,
relacionada ao processo conforme prescrição médica
cirúrgico pélvico com
abordagem traumática de • Manter monitoramento de débito e aspecto urinário por cateter vesical, com
estrutura vizinha às vias atenção para possível obstrução por coágulo e/ou sangramento de volume
urinárias anormal
• Realizar limpeza com solução fisiológica a 0,9% e renovação de cobertura
(oclusão seca) em ferida operatória em região escrotal uma vez ao dia
• Manter permeabilidade de cateter vesical de demora através do
Risco de infecção, relacionado monitoramento de irrigação contínua, permanência zero e fixação de sonda
à ferida operatória em região vesical, eliminando risco de infecção por volume residual
escrotal, cateterização venosa
• Manter cobertura seca e íntegra em acesso venoso
e urinária invasivas
• Proceder troca de acessórios para infusão venosa e inalatória conforme
protocolo
• Monitorar sinais de flebite periférica (dor, calor e rubor locais)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Risco de prejuízo de • Inspecionar pele do paciente durante banho de leito (observar presença de
integridade da pele, hiperemia em áreas de risco para úlcera de pressão, escoriações por adesivos de
relacionado à restrição no fixação)
leito, hipotermia, presença de • Proteger proeminências ósseas conforme protocolo para prevenção de úlcera
proeminências ósseas, idade por pressão
avançada e déficit de resposta
imunológica por doença • Manter roupas de cama sem rugas
oncológica • Manter uso de colchão piramidal
Risco de lesão peroperatória • Realizar inspeção sistemática de panturrilhas (empastamento caracterizado
por posicionamento, por trombose venosa)
relacionado ao tempo cirúrgico
prolongado e posicionamento • Observar presença precoce de bolhas em membros inferiores (síndrome
em mesa cirúrgica compartimental)
Bases do tratamento ›
331
Fase de alta hospitalar
Quadro 42 - Plano de cuidados para alta hospitalar
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Disposição para comunicação
• Estabelecer comunicação constante com o paciente, utilizando linguagem
aumentada, relacionada
acessível
à expressão própria de
verbalização • Encorajar paciente a manter contato com equipe e círculo social (vizinhos,
colegas de trabalho etc.), fornecendo telefones de contato
Disposição para
enfrentamento aumentada,
• Encorajar paciente a manter-se na linha de tratamento proposto sem
relacionada à verbalização
interrupções
de de crença na evolução do
mesmo
Risco de síndrome do desuso,
Introdução
O câncer de cólon é uma das neoplasias mais freqüentes nos países ocidentais, ocorrendo
em ambos os sexos e apresentando um aumento da incidência com o avanço da idade.
O cólon e o reto são segmentos do intestino grosso. O cólon é subdividido em quatro par-
tes: o cólon ascendente, que termina no ceco; o cólon transverso; o cólon descendente e o cólon
sigmóide. Do sigmóide, o intestino continua pelo reto, que termina no canal anal. Os segmentos
do cólon nos quais o câncer ocorre mais freqüentemente são o sigmóide e o descendente, segui-
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
O câncer de cólon e reto, ou colorretal, pode se iniciar tanto no cólon quanto no reto. A
maioria desses tumores se inicia em pólipos, que são formações não-cancerosas que podem cres-
cer na parede interna do intestino grosso. Alguns tipos de pólipos eventualmente se tornam ma-
lignos. A prevenção, detecção e a remoção dos pólipos antes de se tornarem malignos é uma es-
tratégia efetiva na assistência a esse tipo de neoplasia.
Uma dieta rica em frutas e verduras e baixa ingestão de carnes vermelhas ajuda a reduzir o
risco para o câncer colorretal. Alguns estudos mostraram que a suplementação de ácido fólico e
cálcio também ajuda a reduzir o risco.
As causas do câncer colorretal são desconhecidas, mas parece que alguns fatores podem
elevar o risco de desenvolvimento da doença:
• História de câncer – mulheres que já tiveram câncer de ovário, útero ou mama têm
mais chances de desenvolver a doença.
Bases do tratamento ›
333
• História familiar – os pais, irmãos e filhos de uma pessoa com câncer colorre-
tal possuem mais chances de ter a doença, principalmente se a pessoa que teve câncer
o desenvolveu antes dos 60 anos. Famílias com condições hereditárias como a Polipose
Adenomatosa Familiar ou o Câncer Colorretal Hereditário Não-Polipótico possuem maior
risco.
Sintomas
• Diarréia ou constipação.
Diagnóstico
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
O diagnóstico precoce é dificultado pela ocorrência tardia dos sintomas, e pelo preconcei-
to que existe contra os métodos de diagnóstico. Existem vários exames disponíveis para rastrear
o câncer colorretal, a saber:
• Toque retal – o médico faz o exame, através de palpação digital no canal retal,
usando o dedo indicador para sentir áreas alteradas que possam ser suspeitas de câncer
de reto.
• Teste de sangue oculto nas fezes – teste usado para verificar se existe sangue não
visível nas fezes, que pode indicar a presença de pólipos ou câncer.
• Enema baritado – enema contendo bário é dado ao paciente. Uma série de radio-
grafias é então tirada e examinada para identificar falha de preenchimento, que podem ser
pólipos ou tumores.
Se houver a suspeita ou a visualização de lesão em algum dos exames acima, exames
adicionais poderão ser realizados:
Bases do tratamento ›
335
• Biópsia – nesse procedimento, o médico remove uma pequena amostra do tecido
suspeito e o envia para exame microscópico, realizado pelo patologista. Somente a biópsia
é capaz de fornecer o diagnóstico definitivo de câncer.
• Marcador tumoral – exame que mede os níveis no sangue de uma proteína cha-
mada antígeno carcinoembrionário (CEA). Altos níveis de CEA podem indicar que o câncer
é agressivo ou que já se espalhou para outros órgãos.
A radioterapia tem efeito moderado na paliação do câncer de reto avançado (dor, tenesmo,
hemorragia e mucorréia), não modificando o quadro obstrutivo. Somente 15% dos casos de cân-
cer de reto avançado são localmente controlados com a radioterapia, apresentando mediana de
sobrevida menor do que 2 anos. Os resultados de aplicação intra-operatória de radioterapia ain-
da estão sendo investigados.
Fatores prognósticos
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
• Grau de diferenciação – quanto mais indiferenciado for o tumor, pior seu prognós-
tico. Mesmo porque, os tumores bem diferenciados respondem melhor à terapêutica adju-
vante e têm uma velocidade de crescimento mais lenta, podendo ser detectado ainda em
fases precoces.
Quando descoberto tardiamente, o câncer colorretal pode ser fatal. Quase metade dos pa-
cientes com esse câncer ainda morre em menos de 5 anos após o tratamento. Por isso é tão im-
portante a sua detecção precoce, quando a possibilidade de cura ainda é grande. Quando detec-
tado no começo, a sobrevida ultrapassa 90%.
Relato de caso
Identificação: H.L.C, 85 anos, sexo feminino, branca, natural de Belo Horizonte (MG), resi-
dente no Rio de Janeiro, dona de casa, matriculada na seção de Abdômen do Hospital do Câncer
I/INCA.
Suporte familiar: é viúva e tem três filhos – com 65 anos, 62 anos e 58 anos. Refere ter
um bom relacionamento com os filhos e suas esposas. Relata que a esposa de seu filho mais ve-
lho é como uma filha, pois é ela que lhe acompanha a todas as consultas e, sempre que precisa, é
ela quem está disposta a ajudar, sendo esta nora que ficará de acompanhante durante o período
de internação. Relata saber que receberá diariamente visita dos filhos e netos. Refere ser católica
praticante e gostaria de receber apoio religioso durante o período de internação.
Sinais vitais e medidas antropométricas: peso: 48 kg. Altura: 1,60 m. Índice de Massa
Corpórea (IMC): 18,75. Pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 82 bpm, com ritmo
regular. Freqüência respiratória: 18 irpm. Temperatura axilar: 36,5ºC. Haemoglucoteste: 93 mg/dl.
Eupnéica, murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à esquerda.
Exames
Foi encaminhada, acompanhada de seu filho, à Central de Internação para internação ele-
tiva, a fim de submeter-se a tratamento cirúrgico. Segundo avaliação médica, encontrava-se com
queixa de diarréia de odor fétido, perda ponderal de 15 kg em dois meses (sic) e astenia há qua-
tro meses.
ca quantidade, duas vezes ao dia. Relata aceitar bem somente sopas e caldos. Apresenta mucosa
conjuntival e oral normocoradas e hidratadas, pele normocorada e hipohidratada. Abdômen fláci-
do e doloroso à palpação, peristalse aumentada. Freqüência de evacuações de quatro vezes ao dia,
com fezes líqüidas todos os dias da semana, tendo urgência nas evacuações; urina espontânea
citrina, sem odor. Ausência de linfonodomegalias inguinais. Membros inferiores livres de edema.
Apresenta-se tensa, preocupada quanto ao procedimento cirúrgico proposto, pois sente medo
com o que pode acontecer depois da cirurgia, como ficará sua qualidade de vida e de morrer.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Nutrição desequilibrada: alimentação
menor do que as necessidades corporais,
caracterizada pela perda de 15 kg em dois • Pesar em jejum diariamente
meses; astenia; IMC de 18,75; desequilíbrio
• Orientar sobre a importância da ingesta de alimentos três vezes
relacionado às anormalidades do paladar;
ao dia
disfunção fisiológica do aparelho
gastrintestinal; demandas energéticas • Registrar nível de aceitação das dietas oferecidas, sempre após
excessivas do tumor e menor capacidade de as principais refeições
adaptação do gasto energético aos níveis de
ingesta de nutrientes
• Orientar, de forma clara e concisa, quanto ao tratamento e
Ansiedade relacionada ao câncer, tratamento procedimentos a serem executados
Pós-operatório
Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 120 x 80 mm/Hg. Freqüência car-
díaca: 65 bpm, com ritmo sinusal. Freqüência respiratória: 16 irpm. Temperatura axilar: 36,4ºC.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
340
Cateter nasogástrico (CNG) em sifonagem com drenagem de efluente acastanhado em
alto débito (300 ml em 2 horas), hidratação venosa com soro glicosado a 5% por cateter venoso
periférico em membro superior esquerdo (MSE) sem sinais flogísticos, com bom fluxo e refluxo.
Cateter peridural fechado.
Diurese por cateter vesical de demora, com urina concentrada em baixo débito (200 ml em
12 horas). Membros inferiores livres de edemas e aquecidos.
Quadro 44 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Alta hospitalar
Paciente recebeu alta no sexto dia de pós-operatório, com aceitação plena da dieta via oral
oferecida, incisão cirúrgica íntegra e exposta, sem sinais flogísticos e eliminações vesicointesti-
nais preservadas. Agendado retorno ao ambulatório.
Bases do tratamento ›
341
Estômago
Introdução
A maioria dos tumores que atinge o estômago é do tipo adenocarcinoma, que significa que
se desenvolveram da camada que reveste internamente o estômago. Outros tipos de tumores
gástricos incluem linfomas, sarcomas gástricos e tumores carcinóides, mas são raros.
A taxa de mortalidade relacionada ao câncer gástrico vem caindo nas últimas seis décadas,
principalmente graças ao diagnóstico mais precoce e ao tratamento de outras patologias asso-
ciadas ao mesmo.
Os seguintes eventos são sugeridos como fatores de risco para o câncer do estômago:
• Dieta que inclui grandes quantidades de carne vermelhas, churrasco, alimentos de-
fumados, carne e peixes salgados e comidas e bebidas que contenham nitratos e nitritos,
como alimentos tipo salsichas frescas, embutidos e bebidas fermentadas e destiladas.
• Ser homem - ocorre duas vezes mais em homens do que entre as mulheres.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
342
• Ter 55 anos ou mais – a maioria dos pacientes está na faixa etária entre 60 e 70
anos.
Sintomas
A maior parte dos pacientes não tem sintomas nas fases iniciais do câncer de estômago.
Quando eles aparecem, podem ser tão vagos que acabam sendo ignorados ou se confundem com
outras doenças, pois são comuns às úlceras pépticas, às gastrites e a outros problemas gastrin-
testinais. Os sintomas mais comuns do câncer de estômago são:
• Perda do apetite.
• Dificuldade de deglutição.
• Náuseas e vômitos.
• Fraqueza e fadiga.
• Dor abdominal.
• Eructação.
• Mau hálito.
Bases do tratamento ›
343
• Excesso de gases e flatos.
• Perda de peso.
• Sangue oculto nas fezes – detecta sangue não visível nas fezes, que pode ter vin-
do de uma lesão no estômago. Outras condições não neoplásicas podem também apresen-
tar sangramento, assim, a positividade deste teste, por si só, não significa que o paciente
tenha câncer.
Os três tratamentos mais comuns para a maioria dos pacientes com câncer de estômago
são a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. A cirurgia é atualmente a única cura para a doen-
ça. A quimioterapia e a radioterapia são usadas para aliviar os sintomas, reduzir a velocidade de
progressão da doença, e, às vezes, podem prolongar a sobrevida do paciente.
Relato de caso
Informações gerais: A.M.F., 65 anos, sexo masculino, negro, natural de Salvador (BA), re-
sidente no Rio de Janeiro, borracheiro, matriculado na seção de Abdômen do Hospital de Câncer
I /INCA.
Sinais vitais e medidas antropométricas: Peso: 50 kg. Na avaliação clínica, referiu “per-
da” de peso de 20 kg em três meses. Altura: 1,68 m. Índice de Massa Corpórea (IMC): 17,7. Pressão
arterial (PA): 120 mmHg x 80 mmHg. Freqüência cardíaca (FC): 82 bpm (batimentos por minuto),
com ritmo regular. Freqüência respiratória (FR): 16 ipm (incursões por minuto). Temperatura axi-
lar: 36,5ºC. Apresenta vômitos em pequena quantidade diariamente, tendo sido tratado em outra
instituição como gastrite.
Exames
Conduta
Na avaliação inicial realizada pelo enfermeiro, tanto o paciente quanto a sua esposa en-
contravam-se ansiosos em relação ao tratamento proposto, pois tiveram um amigo com a mes-
ma doença e que depois da cirurgia teve uma sobrevida de dois meses. Refere que deseja que
sua esposa fique de acompanhante, pois os filhos trabalham e ele não quer importunar as noras
nem os netos. Refere ser católico praticante e gostaria de receber apoio religioso durante o perí-
odo de internação.
Alimenta-se por via oral, mas relata melhor aceitação de dieta líqüida. Queixa-se de odino-
fagia e anorexia. Apresenta mucosa conjuntival e oral normocoradas e hidratadas, pele normo-
corada e hidratada. Está eupnéico, murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à
esquerda, com queixa de dor epigástrica, abdômen plano, flácido e indolor à palpação, peristal-
se presente, com freqüência de defecação diária com fezes moldadas, diurese espontânea citri-
na, sem odor e em grande quantidade (sic). Refere ser independente para seus cuidados, mas não
sabe como vai ser depois da cirurgia. Ausência de linfonodomegalia inguinal. Membros inferiores
livres de edemas, ausência de varizes. Paciente relata que o médico, no dia da marcação da cirur-
gia, informou como seria o procedimento e que provavelmente ele precisaria usar uma sonda na
narina para se alimentar por algum tempo, pois perdeu muito peso e que, se fosse preciso, faria
depois tratamento com quimioterapia.
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
346
Pré-operatório
Quadro 45 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pré-operatório
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Nutrição desequilibrada: ingestão • Pesar em jejum diariamente
menor do que as necessidades corporais,
• Orientar sobre a importância da ingesta de alimentos três vezes
caracterizada pela perda de 20 kg em três
ao dia
meses; astenia; IMC de 17,7; desequilíbrio
relacionado às anormalidades do paladar; • Registrar nível de aceitação das dietas oferecidas, sempre após as
disfunção fisiológica do aparelho principais refeições
gastrintestinal; demandas energéticas
• Observar presença de náusea, vômitos, distensão abdominal e
excessivas do tumor e menor capacidade
plenitude gástrica
de adaptar o gasto energético aos níveis
de ingesta de nutrientes • Solicitar intervenção do serviço de nutrição, se necessário
• Fornecer, de forma clara e concisa, informações quanto ao
Ansiedade relacionada ao câncer, tratamento e procedimentos a serem executados
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Pós-operatório
Sinais vitais e medidas antropométricas: pressão arterial: 110 x 80 mm/Hg. Freqüência car-
díaca: 68 bpm, com ritmo sinusal. Freqüência respiratória: 15 irpm. Temperatura axilar: 36,2ºC.
Referiu “mal-estar”, apresentou tremores e dor abdominal em cólica. Lúcido, mucosas con-
juntivais e oral normocoradas e hipohidratadas, pele normocorada e hipohidratada. Está eup-
néico, com murmúrios vesiculares universalmente audíveis à direita e à esquerda. Cateter na-
sogástrico em sifonagem, dando saída à secreção amarelo-acastanhada de 500 ml/24 horas.
Bases do tratamento ›
347
Hidratação por cateter venoso periférico em membro superior direito, sem sinais flogísticos, fluin-
do bem. Abdômen plano, flácido, doloroso à palpação, timpânico à percussão, peristalse e elimi-
nações intestinais ausentes, diurese através de cateter vesical de demora de aspecto amarelo-ci-
trino, com drenagem de 1500 ml/24 horas. Incisão cirúrgica abdominal com sutura íntegra, sem
área de tensão, sangramento ou sinais flogísticos. Dreno de sucção em flanco direito, dando sa-
ída à secreção hemática com drenagem de 200 ml/24 horas. Cateter peridural para analgesia.
Membros inferiores livres de edemas e aquecidos.
Quadro 46 – Principais diagnósticos e prescrições de enfermagem no pós-operatório
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
Reações pós-anestésicas com nível de
consciência rebaixado, caracterizadas
por sonolência, mas respondendo • Verificar e registrar nível de consciência de 6 em 6 horas
a estímulos verbais, relacionadas à
anestesia geral
Paciente recebeu alta no oitavo dia de pós-operatório, com aceitação total da dieta ofere-
cida. A incisão cirúrgica encontra-se íntegra e as eliminações intestinais preservadas. Agendado
retorno ao ambulatório.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Bases do tratamento ›
349
Boca/laringe/cabeça e pescoço
Introdução
Quanto ao câncer de cavidade bucal, estima-se que ocorrerão, no Brasil, em 2008, cerca de
14.160 casos novos, sendo que mais de 50% deles, ou seja, 8.010 casos novos, na Região Sudeste
(INCA, 2007a). A preocupação com o câncer de boca é justificada pelo fato de estar entre as oito
A falta de detecção do câncer de boca em fase inicial resulta em distúrbios que podem ser
devastadores para os indivíduos. Quando não há tratamento precoce, indivíduos e seus familiares
terão de enfrentar a desfiguração, o déficit sensorial/funcional, os distúrbios psicológicos, altera-
ções na interação social e na sexualidade, ou até a morte (HAGGOOD, 2001).
Como o melhor controle da saúde bucal é aquele realizado pelo próprio indivíduo, a reali-
zação mensal do auto-exame da boca é fundamental para que lesões possam ser identificadas em
fase inicial. As instruções para o desenvolvimento do auto-exame da boca são difundidas à po-
pulação através de panfletos ou de meio eletrônico (internet).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
350
O câncer de boca
A maioria dos tumores malignos da cavidade bucal é constituída pelo carcinoma epider-
móide, que se classifica como: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferen-
ciado (INCA, 2007a).
A cavidade bucal está dividida nas seguintes áreas: lábio, 2/3 anteriores da língua, muco-
sa jugal, assoalho da boca, gengiva inferior e superior, área retromolar e palato duro. Todas essas
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
áreas apresentam drenagem linfática para o pescoço, conseqüentemente, o primeiro local para
metástase. O primeiro sítio de drenagem inclui os linfonodos jugulodigástricos, jugulo-omohiói-
deos, submandibulares e submentonianos. Linfonodos do segundo escalão de drenagem são os
parotídeos, jugulares e cervicais posteriores, superior e inferior (RAPOPORT, 2001).
Em relação à taxa de sobrevida após cinco anos para pacientes com câncer da boca, um es-
tudo da sobrevida de casos tratados no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba (PR), no período de
1990 a 1992, mostrou que a sobrevida em cinco anos, independente do estadiamento clínico, foi
de 50,1%. Essas taxas variaram de 29,0% para pacientes em estádio IV a 74,4% para pacientes
em estádio I. Portanto, o prognóstico de pacientes com lesões iniciais pode ser considerado como
bom (RAPOPORT, 2001).
A identificação das lesões pode ser feita através de exame minucioso de toda a cavidade
bucal, de forma que todas as áreas sejam examinadas, incluindo-se próteses dentárias. A visua-
lização de lesões mais posteriores da cavidade bucal necessita de auxílio por espelho de Garcia
(espelho redondo de cerca de 2 cm de diâmetro, com cabo longo). As lesões, sempre que possível,
devem ser palpadas para avaliação de sua textura (dura ou macia) e de seus reais limites. A palpa-
ção das cadeias linfáticas cervicais vai completar o exame, sendo importante para determinação
do tamanho dos linfonodos e sua mobilidade (móvel ou fixa). O diagnóstico histológico é feito em
fragmento da lesão, coletado pelo médico, através de biópsia incisional ou por pinça saca-boca-
do (FERRAZ E TAVARES, 2001).
As opções de tratamento vão variar de acordo com o estádio clínico das lesões, que varia de
I a IV, segundo a classificação TNM do American Joint Commitee on Cancer (AJCC), adotada pela
União Internacional Contra o Câncer (UICC) (RAPOPORT, 2001). Dependendo do local e extensão
do tumor primário e do status dos linfonodos cervicais, o tratamento do câncer da cavidade bu-
cal pode ser cirúrgico, radioterápico, quimioterápico, ou uma combinação deles. A cirurgia para
ressecção dos tumores primários deve incluir sempre toda a lesão tumoral e uma margem de 1
cm de tecido livre de tumor em todas as dimensões. Pequenas lesões são facilmente ressecáveis e
não deixam seqüelas. O paciente deverá ser assistido por fisioterapeuta, nutricionista, enfermei-
ro, assistente social, fonoaudiólogo, estômato-odontologista e psicólogo na sua reabilitação após
Fontes radioativas podem ser inseridas para prover irradiação em doses elevadas no tumor
primário e nas margens, com menor distribuição de dose nos tecidos adjacentes e a braquiterapia
em altas taxas de dose. Nesta modalidade terapêutica, considera-se que a dose necessária para
o controle da maioria dos carcinomas espinocelulares de cabeça e pescoço aproxima-se da dose
tolerada pelos tecidos normais. É mais indicada para pacientes portadores de lesões bem delimi-
tadas e acessíveis, ou doença residual mínima após ressecção. Apresenta as vantagens de rapidez
na aplicação, maior destruição de células tumorais com menor dano aos tecidos sadios adjacen-
tes e dispensa de internação hospitalar (RAPOPORT, 2001).
Após o tratamento do câncer de boca, os pacientes devem manter-se sob uma rotina de
acompanhamento em busca da detecção o mais breve possível de qualquer recidiva da lesão pri-
mária ou metastática. O acompanhamento (ou controle) pós-tratamento é mensal no primeiro
ano, trimestral no segundo, semestral após o terceiro ano e anual após o quinto ano. É realiza-
do através de exame da cavidade bucal e cadeias linfáticas cervicais; avaliação do estado geral do
paciente (qualidade de vida); laringoscopia indireta; radiografia simples de tórax anualmente; e
esofagoscopia, realizada anualmente para pesquisa de segundo tumor primário no trato aerodi-
gestivo superior (INCA, 2007a).
‹ Ações de prevenção primária e secundária no controle do câncer
352
Considerações finais
O enfermeiro, em relação ao câncer da cavidade bucal, pode desempenhar seu papel social:
planejando e executando ações educativas dirigidas à eliminação ou a controle dos fatores de ris-
co; ensinando o auto-exame da boca; participando ativamente na detecção precoce de lesões ne-
oplásicas através do exame da boca (oroscopia indireta) e da região cervical (palpação); estenden-
do seu conhecimento a outros parceiros da Área da Saúde.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Relato de caso
Informações gerais: P.R.L., 56 anos, sexo masculino, branco, natural do Rio de Janeiro, 1°
grau incompleto, casado, possui três filhos (26, 24 e 20 anos), serralheiro, reside no Município de
Queimados (RJ). Aparentemente, sugere ter bom vínculo familiar.
Antecedentes pessoais: tabagista de dois maços de cigarros por dia, durante 40 anos; eti-
lista de seis garrafas de cerveja ao dia.
Antecedentes familiares: nega câncer na família. Pai e mãe saudáveis. Possui oito irmãos
também saudáveis até o momento.
Consulta de enfermagem
Exames
Exame físico: lúcido, orientado, eupnéico. Apresenta-se emagrecido (64 kg), altura 1,70 m
e índice de massa corporal menor do que 18,5, evidenciando desnutrição. Relata disfagia para só-
lidos. Consegue ingerir alimentos pastosos e líqüidos, odinofagia, mucosas hipocoradas. Região
cervical com adenomegalias palpáveis, laterais, bilaterais e indolores. Oroscopia normal. Dentes
com precárias condições de higiene e presença de cáries. Abdômen sem massas palpáveis. Ausculta
pulmonar apresenta roncos pulmonares bilaterais. Órgãos genitais normais. Deambulação nor-
mal. Refere ter “pressão alta” e fazer uso de medicação anti-hipertensiva (Captopril 25 mg via
oral, duas vezes ao dia).
Informa ser católico praticante e gostar de ir à missa todos os domingos. Gostaria de con-
versar com o padre durante sua internação. Informa que atualmente está trabalhando e é inde-
pendente para as atividades do cotidiano.
Sinais vitais: Pressão arterial: 180 x 120 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 82 bpm. Temperatura
axilar: 37°C. Freqüência respiratória: 24 irpm.
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Orientar sobre os efeitos do tabagismo e alcoolismo no organismo,
relacionando-os à sua doença
Manutenção ineficaz da saúde
caracterizada pelo tabagismo e • Informar sobre os serviços de apoio: Alcoólicos Anônimos e Narcóticos
etilismo por 40 anos, relacionada ao Anônimos
desconhecimento sobre as implicações
• Corrigir conceitos errados e informações incorretas que o paciente
destas condições em seu adoecimento
possa expressar sobre a relação do tabagismo e etilismo com sua
doença
• Esclarecer os termos e os procedimentos comumente usados;
providenciar informações por escrito para reforçar o ensinamento
(materiais educativos); apresentar dispositivos a serem utilizados
(sonda enteral, cânula traqueal, dreno de sucção)
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Sinais vitais: pressão arterial: 130 x 80 mm/Hg. Freqüência cardíaca: 90 bpm. Freqüência
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Ensinar e estimular o paciente a manter uma boa postura, mantendo os
ombros posicionados para trás
• Manter o corpo do paciente na posição elevada à cabeceira da cama em
Alto risco para mobilidade física 30º a 45º. Essa posição promove o retorno venoso, evitando o edema facial
prejudicada (ombro, cabeça), e laríngeo
relacionado à remoção de
músculos, nervos e traumatismo • Evitar que o paciente fique sentado por períodos prolongados
secundário ao procedimento • Solicitar um fisioterapeuta para indicar exercícios específicos para o
cirúrgico e anestesia paciente, a fim de fortalecer a musculatura remanescente e aumentar a
sustentação e a estabilidade da articulação dos ombros, nos quais foram
realizados os esvaziamentos cervicais
• Administrar a medicação para dor, conforme prescrita, antes que o paciente
inicie os exercícios motores
• Conversar e tocar no paciente com freqüência e tratá-lo de maneira
positiva e calorosa
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO
• Estimular o paciente a retornar à sua rotina diária
• Orientar a manter cabeceira da cama em posição elevada,
Imagem corporal perturbada, relacionada à visando a melhorar o retorno venoso e diminuir o edema facial
modificação da aparência física secundária,
ao uso da sonda para alimentação pela • Sugerir para usar camisa de gola alta, a fim de encobrir o
cânula traqueal e à presença do edema facial, traqueostoma
caracterizada por preocupação relatada pelo • Incentivá-lo relembrando que a sonda enteral para alimentação
paciente de sua aparência física frente à sua será tirada pelo médico em 15 dias. A cânula de traqueostomia
família e ao seu meio social será de uso definitivo, podendo ser retirada daqui a seis meses,
de acordo com a adaptação do paciente. Entretanto, sua função
respiratória será feita pelo traqueostoma
• Explicar à esposa a necessidade de manter o curativo cirúrgico
CAMARGO, B.; LOPES, L. F. Pediatria oncológica: noções fundamentais para o pediatra. São
Paulo: Editora Marina, 2000.
PIZZO A. P.; POPLACK, D. G. Principles and pratice of pediatric oncology. 5th ed. New
York: Lippiincott Williams & Wilkins, 2006.
Pele
HOLLAND, J. F. et al. Cancer medicine. 4th. Ed. Philadelphia: Williams e Wilkins, 1997. v.
2, 3367 p.
MORTON, D. L. et al. Technical details of intraoperative lymphatic mapping for early stage
melanoma. Archives of Surgery, Chicago, v. 27, no. 4, p. 392-399, apr. 1992.
SAMPAIO, S. A. P.; RIVITTI, E. A. Dermatologia básica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas,
2001.
SANTOS, C. E. R.; MELLO, E. L. R. (Orgs). Manual de cirurgia oncológica. São Paulo: Ed.
Tecmedd, 2006. 500 p.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
Mama
BOFF, R. A.; WISINTAINER, F. Mastologia moderna. Caxias do Sul: Editora Mesa Redonda,
2006.
Colo do útero
ALBERTS, B. et al. Molecular biology of the cell. 3th ed. New York, London: Garland
Publishing, 1999.
Bases do tratamento ›
363
ALTMANN, A.; JOCHMUS, I.; RÖSL, F. Intra - and extracellular control mechanisms of human
papillomavirus infeccion. Intervirology, Basel, Karger, v. 37, no. 3-4, p. 180-188. 1994.
ANDERSON, G. H. et al. Organization and results of the cervical cytology screening program
in British Columbia, 1955-85. BMJ, London, v. 296, no. 6627, p. 975-978, apr. 1988.
BORRÁS, C. et al. Clinical effects in a cohort of cancer patients overexposed during external
beam pelvic radiotherapy. International Journal of Radiation Oncology Biology Physivcs,
new York, v. 59, no. 2, p. 538-50, jun. 2004.
BRINTON, L. A. et al. Risk fator cervical cancer by histology. Gynecology Oncology, New
York , v. 51, no. 3, p. 301-306, dec.1993.
DYSON, N. et al. The human papillomavirus –16 E7 oncoprotein is able to bind to the reti-
noblastoma gene product. Science, Washington, v. 243, no. 4893, p. 934-937, feb. 1989.
FRANCO, E. L.; ROHAN, T.; VILLA, L. Epidemiologic evidence and human papillomavirus in-
fection as a necessary cause of cervical cancer. Journal of National Cancer Institute, Bethesda,
v. 91, no. 6, p. 506-511, mar. 1999.
GRAM, I. T.; AUSTIN, H.; STALSBERG, H. Cigarette smoking and the incidence of cervi-
cal intraepithelial neoplasia, grade III, and cancer of the cervix uterine. American Journal of
Epidemiology, Cary, v. 135, no. 4, p. 341-346, feb. 1992.
HOLOWAY, P. et al. Natural history of dysplasia of the uterine cervix. Journal of the
National Cancer Institute, Bethesda, v. 91, no. 3, p. 252-258, feb. 1999.
KOSS, L. G. The papanicolaou test for cervical cancer detection: a triumph and a tragedy.
JAMA, Chicago, v. 261, no. 75, p.737-743, feb. 1989.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
KURMAN, R. J.; SOLOMON, D. The Bethesda system for reporting cervical/vaginal cyto-
logic diagnosis. New York: Springer-Verlag, 1994.
MUÑOZ, N.; BOSCH, F. X. Human papillomavirus and cervical cancer: epidemiological evi-
dence. Salud Publica de Mexico, Cuernavaca, v. 39, no. 4, p. 274-282, july./ago.1997.
NASIELL, K.; ROGER, V.; NASIELL, M. Behavior of mild cervical dysplasia during long-term
follow-up. Obstetric Gynecology, New york, v. 67, no. 5, p. 665-669, may. 1986.
PEI, X. F. et al. Cotransfection of HPV-18 and v-fos DNA induces tumogenicity of primary
human keratinocytes. Virology, New York, v. 196, no. 2, p. 855-860, oct. 1993.
SANJOSÉ, S. et al. HPV types in woman with normal cervical cytology. In: MUÑOZ, N. et al.
Epidemiology of cervical cancer and human papillomavirus. Paris: Lyon, IARC, 1993.
SCHLECHT, N. F. et al. Viral load as a predictor of the risk of cervical intraepithelial neopla-
sia. International Journal of Cancer, New York, v. 103, no. 4, p. 519-524, feb. 2003.
SHERMAN, L. et al. Expression and splicing patterns of human papillomavirus type-16 mR-
NAs in pre-cancerous lesions and carcinomas of the cervix, in human keratinocytes immortalized
by HPV-16 and in cell lines established from cervical cancer. International of Journal Cancer,
New York, v. 50, no. 3, p. 356-364, feb. 1992.
Bases do tratamento ›
365
SCHNEIDER, A. Natural history of genital papillomavirus infections. Intervirology, Basel,
Karger, v. 37, no. 3-4, p. 201-214, 1994.
VILLA, L. L. Papilomavirus humano e câncer do colo do útero. São Paulo: Editora Laes &
Haes, 1996.
Pulmão
BARACAT, F. F.; FERNANDES JR, J.; SILVA, M. J. Cancerologia atual: um enfoque multidis-
ciplinar. São Paulo: Roca, 2000.
HOHENFELLNER, R.; MACEDO, J. R.; FICHTNER, J. (Orgs). Avanços em urologia. São Paulo:
Atheneu, 1996.
______. Ações de enfermagem para o controle do câncer. 2. ed. Rio de Janeiro, 2002.
376 p.
MURAD, A. M.; KATZ, A. Oncologia: bases clínicas do tratamento. Guanabara Koogan: Rio
de Janeiro, 1990.
POHL; PETROIANU. Tubos, sondas e drenos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 574 p.
Cólon e reto
BRENTANI, M. M.; COELHO, F. R. G.; KOWALSKI, L. P. Bases da oncologia. São Paulo: Editora
Marina, 1998.
DE VITA JR, V. T.; HELLMAN, S.; ROSENBERG, S. A. (Orgs). Cancer: principles and practice of
oncology. 7th ed. Philadelphia: Lippincott, Williams & Wilkins, 2005. 3120 p.
TOWNSEND, C. M. et al. Sabiston: tratado de cirurgia. 17th. Ed. Philadelphia: Ed. Elsevier,
2005. 2520 p.
Estômago
BRENTANI, M. M.; COELHO, F. R. G.; KOWALSKI, L. P. Bases da oncologia. São Paulo: Editora
Marina, 1998.
DE VITA JR, V. T.; HELLMAN, S.; ROSENBERG, S. A. (Org). Cancer: principles and practice of
oncology. 7th ed. Philadelphia: Lippincott, Williams & Wilkins, 2005. 3120 p.
Boca/Laringe/Cabeça e pescoço
FERRAZ, A. R.; TAVARES, M. R. Alteração da cavidade oral. In: NICODEMO, A. C.; SIQUEIRA, I.
C. Manual de condutas médicas do Programa Saúde da Família. São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2001. Disponível em: http://ids-saude.uol.com.br/psf/medicina/tema2/texto13_defini-
cao.asp. Acesso em: 05 ago 2003.
HAGGOOD, A. S. Head and neck cancers. In: OTTO, S. E. (Ed). Oncology nursing. 4 th. ed. St
Louis: Mosby, c2001. p. 285-325.
Intervenções de enfermagem no controle do câncer– Capítulo 6
______. Estimativa 2008: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2007b. Disponível
em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2008/versaofinal.pdf. Acesso em: 12 fev 2008.