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Período Interbíblico

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O Período Interbíblico

O período interbíblico ou intertestamentário se trata de um espaço de tempo de cerca de 430 anos que separa o último relato
do Antigo Testamento e o primeiro do Novo Testamento. Neste período ocorre o chamado “silêncio profético”, pois não há
escritos canônicos nestes anos. É comum que para a maioria dos leitores da Bíblia isso seja abstraído, mas para os que se dispõe
a estudar as escrituras com maior afinco, se trata de um evento de grande importância na compreensão plena dos eventos e
doutrinas descritos no Novo Testamento, obviamente atrelado aos escritos do antigo testamento.

Primeiramente, é bom listar as principais mudanças que ocorrem entre AT e NT:

AT NT
Situação política Domínio Persa Domínio Romano
Governo Governador nomeado pelo rei persa Herodes (idumeus)
Influência cultural/filosófica Egípcia Grega
Classe social dominante Príncipes (casa real) Sacerdotes/Saduceus
Autoridade religiosa Escribas Escribas e Fariseus
Culto Templo Templo/Sinagoga

Embora não tenhamos relato bíblico deste período, existem profecias a respeito de alguns acontecimentos históricos que se
deram nesta época. O objetivo deste estudo é, baseado tanto no teor histórico quanto nas menções e profecias bíblicas, trazer
um esclarecimento a respeito desse período, que julgamos vital para a melhor compreensão dos eventos históricos do Novo
Testamento, bem como as influências filosóficas que chegaram à Judéia e que se refletiram na formação da doutrina da igreja
tanto no ministério apostólico quanto no primeiro século.

Escritos históricos dos Judeus

A mais fiável fonte histórica do período interbíblico vem de um historiador Judeu nascido por volta do ano 37 AD, Yosef ben
Mattityahu, também conhecido como Josefo. Era da casa sacerdotal e se opôs à Grande Revolta Judaica, tentando mediar a
questão entre revoltosos e os generais romanos Vespasiano e Tito, passando a ser muito benquisto por eles, a ponto de lhe
conferirem cidadania romana, quando passou a ser chamado Flávio Josefo. Produziu duas obras de suma importância para a
história judaica. A primeira foi “A Guerra dos Judeus”, escrito em aramaico (mais tarde transcrito para o grego), onde narra fatos
acontecidos na época da revolta dos Macabeus até pouco depois da destruição da cidade e do templo na Grande Revolta Judaica.
Já “Antiguidades”, escrito em grego, narra a história do povo judeu desde o Genesis até o início das revoltas no ano 60 AD. No
Brasil, recentemente a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) lançou uma compilação contendo as duas obras
completas, sob o título “História dos Hebreus”, podendo ser facilmente encontrada em livrarias evangélicas.

Outro registro histórico está nos livros de I e II Macabeus. Estes livros fazem parte do cânon católico romano da bíblia, mas não
são aceitos como canônicos nem pelos judeus e nem pelos cristãos protestantes. Seu valor histórico, contudo, é genuíno. Narra
com detalhes a resistência de Judas Macabeu, seu pai e seus irmãos contra a dominação selêucida, revolta motivada
especialmente no que tange aos assuntos religiosos, até a vitória judia sobre os selêucidas, estabelecendo um breve período de
reinado autônomo em Israel sob a dinastia dos Macabeus, que passam a ser chamados de Hasmoneus. Embora tenham
assumido o reino, os Hasmoneus não eram da linhagem do rei Davi, mas permaneceram no poder até serem dominados pelos
romanos, em 63 AC.

Escritos Bíblicos que fazem referência ao período


As revelações do profeta Daniel, que constam em seu livro, são a principal fonte bíblica de informações sobre este período, já
que mencionam fatos ainda vindouros na sua época, sendo que muitos deles aconteceriam no intervalo intertestamentário. As
profecias se encontram em 2:31-35 (sonho de Nabucodonosor), capítulo 7 (visão dos 4 animais), capítulo 8 (visão do bode contra
o carneiro) e capítulo 11 (profecia da guerra entre o rei do norte e o rei do sul). Em nosso estudo, verificaremos a relação entre
essas visões e profecias com os fatos históricos.

A primeira referência a acontecimentos deste período aparece nos relatos de Daniel, na interpretação do primeiro sonho do rei
babilônico Nabucodonosor (Dn. 2:31-35), que descrevia uma estátua gigante feita de diferentes materiais, que era destruída por
uma grande rocha. Na interpretação, Daniel esclarece que a rocha era o Reino de Deus que seria estabelecido sobre toda Terra,
enquanto as partes da estátua representavam reinos humanos, alguns deles relativos ao período interbíblico, que iremos
analisar.
 Cabeça de Ouro – Império babilônico, de 605 AC a 539 AC, atual Iraque. A nação de
Judá foi exilada nesse período, em 597 AC. Jerusalém e o templo foram obliterados em 586
AC, após a rebelião de Zedequias, que se encontra nos livros da Bíblia (II Rs. 25:18-20 e
26:5-7; II Cr. 36:11-17; Jr. 39:1-7).

 Peito e Braços de Prata – Império Medo-Persa, de 539 AC a 331 AC, atual Irã. Após a
queda da Babilônia, a capital do império passa a ser Susã, onde o profeta Daniel
provavelmente foi sepultado (530 AC) e onde acontece a história relatada no livro de Ester
(479 AC). O primeiro retorno dos judeus para Jerusalém (Zorobabel, 538 AC), o segundo
(Esdras, 458 AC) e o terceiro (Neemias, 422 AC) também aconteceram nesse período.

 Ventre e coxas de bronze – Dominação Grega, de 331 AC a 168 AC, que não chegou a se
estabelecer como um império unificado, uma vez que o grande conquistador Alexandre da
Macedônia faleceu prematuramente. Após a morte, as conquistas foram divididas entre
seus 4 maiores generais. Israel ficou inicialmente sob domínio egípcio, na dinastia dos
Ptolomeus, e mais tarde sob os Selêucidas, contra os quais se revoltou em 167 AC, vindo a
se tornar novamente um reino independente em 142 AC, sob governo da dinastia dos
Hasmoneus (ou Macabeus).

 Pernas de Ferro – Império Romano, de 168 AC a 476 AD, atual Itália. Conquistou
Jerusalém em 63 AC, que ficou sob seu domínio até 638 AD. Jesus Cristo nasce nesse
período e também nessa época todo o Novo Testamento é escrito.

 Leão com Asas – Babilônia (Dn. 7:4)

O leão é o mais nobre dos animais, bem como o ouro da cabeça da estátua é o mais nobre
dos metais, embora não seja o mais resistente. As asas conferem ao leão ainda maior poder
e glória, sendo um símbolo muito comum da cultura babilônica (um leão alado com rosto
humano é comum na mitologia babilônica e persa, chamado Manticore). O império
babilônico, embora opressor como qualquer inimigo, não era tão violento e sanguinário
como os Assírios, que desterraram as 10 tribos do norte de Israel para que fossem extintas,
no que tiveram êxito, além de ser historicamente um reino de glória. Podemos notar que há
um interesse babilônico não apenas de manter os judeus, mas de aproveitar todo aspecto
cultural deles, como se pode ver no livro de Daniel, bem como é permitido que
continuassem praticando sua religião. Na visão de Daniel, as asas do leão são arrancadas,
provavelmente um aspecto que apontava a queda gradativa do poder do império após a
morte de Nabucodonosor.

 Urso – Medo-Pérsia (Dn. 7:5)

Embora não tão nobre quanto o Leão, o urso é mais forte, resistente e voraz, sendo o maior
animal carnívoro terrestre (tal qual a prata tem maior resistência que o ouro). A força do
império Persa obliterou os babilônicos, bem como a Lídia e o Egito, as 3 grandes potências à
época, representadas pelas 3 costelas entre os dentes do animal. Essa força persa era
suficiente para garantir que as nações dominadas não fossem capazes de se levantar contra
o império, o que veio a calhar para os Judeus. Além disso, os soberanos medo-persas eram
hábeis políticos e faziam concessões aos dominados, dando grande autonomia política e
religiosa aos reinos vassalos, na intenção de evitar revoltas e guerras internas. É por esta
razão que Ciro e Dario não apenas decretaram liberdade aos judeus como incentivaram o
retorno a Jerusalém.
 Carneiro – Medo-Pérsia (Dn. 8:1-4)

Outro símbolo da Medo-Pérsia, que Daniel menciona na sua visão da cidadela de Susã. O
carneiro tem 2 chifres, sendo que um cresce primeiro, mas o segundo supera o crescimento
do primeiro, numa provável representação da formação do império, onde os Medos
exerceram soberania sobre os persas num primeiro momento, mas acabaram sendo
absorvidos pelos persas. Esta visão de Daniel trata exclusivamente da queda do império
persa diante da Grécia. No ano de 430 AC, praticamente 100 anos antes da queda persa, o
profeta Malaquias fazia seu clamor contra a apatia espiritual dos Judeus, sendo a última
palavra profética vinda do Senhor por mais de quatro séculos, até o nascimento de Jesus.

 Leopardo – Grécia (Dn. 7:6)

O Leopardo é um dos carnívoros que tem o bote mais rápido. Dominavam a fundição do
bronze para fazer suas armas. A visão de Daniel exagera na hipérbole, com um Leopardo de
4 cabeças e ainda com 4 asas, tudo para tentar deixar claro como este reino será avassalador
num curto espaço de tempo. O símbolo das 4 cabeças aponta para 4 governantes, uma vez
que o grande conquistador Alexandre Magno, “O Grande”, reinou por apenas 12 anos, mas
nesse curto espaço de tempo conquistou boa parte da Grécia, Egito, Pérsia, Síria, Babilônia e
Ásia Menor, chegando até o subcontinente indiano, uma façanha nunca vista no mundo da
antiguidade. Os limites de seu reino iam do Mar Adriático até o rio Indo. Na sua morte, 4 de
seus generais, após cerca de 47 anos de guerras internas, dividiram o reino entre si.
Cassandro ficou com a maior parte da Grécia e Macedônia; Lisímaco dominou sobre a Frígia,
Jônia, Lídia e grande parte da atual Turquia; a Seleuco coube a Babilônia, Susã e o centro do
império Persa (atual Irã) e partes da Ásia Central; por fim, Ptolomeu ficou com o Egito e
regiões adjacentes, o que incluía a Palestina e Judéia. Inicialmente, após a morte de
Alexandre, Israel era domínio da dinastia Ptolomaica, vindo mais tarde a ser território
selêucida.

 Bode – Grécia (Dn. 8:5-7)

Na visão de Susã, o carneiro representando a Pérsia é atacado por um bode unicórnio, que
vem correndo em sua direção sem tocar o chão, e o mata com seu chifre poderoso. Este
bode representa a Grécia, e o chifre representa Alexandre Magno, que comandou sua nação
nesta conquista. Logo à frente, ainda na mesma visão, esse chifre cairá e brotarão outros 4
chifres, assim como na visão do leopardo que possuía 4 cabeças.

Início da dominação Grega por Alexandre

Alexandre Magno, “O Grande”, sucedeu seu pai Filipe, no trono da Macedônia em 336 AC. Mesmo jovem, com apenas 20 anos,
Alexandre já havia se tornado um perito militar e não teve dificuldade em unificar a Grécia em torno de si. Através de bem sucedidas
campanhas, permitindo que logo começasse a expandir seu império, primeiramente na região dos Balcãs e península Grega, se
voltou para Pérsia. No caminho, conquistou Damasco, Tiro e Sidon, se aproximando da Palestina e Jerusalém, no ano de 332 AC.
Durante o cerco de Tiro, Alexandre enviou mensageiros ao então sumo sacerdote Jado (ou Jadua), solicitando: 1) Que Israel
fornecesse homens para suas tropas; 2) Que se permitisse comércio livre entre o exército macedônio e Jerusalém; 3) Que lhe
fosse dada toda a ajuda, assim como eles haviam dado a Dario III (que se tornaria o último imperador persa). A carta ainda trazia
uma recomendação ao sumo sacerdote de refletir bem se preferiria estar ao lado do vencedor ou do vencido. Entretanto, Jado
respondeu que os judeus juraram vassalagem aos persas e que por isso não podiam pegar em armas contra Dario, mencionando
que trair juramentos como esse já havia custado muito caro a eles, como quando Zedequias rompeu com a Babilônia.
Embora não fosse a resposta que Alexandre queria, não significava que os Judeus pretendiam resistir ao novo governo, mas um
inimigo histórico de Israel tentou incitar Alexandre contra Jerusalém: Sambalate, o governador de Samaria, que já havia resistido
a Neemias na época da reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne. 2:10). Ele, que já era de idade avançada, contava com as
graças de Dario III, mas não conseguia estender sua influência a Jerusalém, já que os líderes judeus tinham se blindado contra o
culto misto dos samaritanos, estabelecido sob direção do rei assírio na reocupação do reino das 10 tribos desterradas Israel (II Rs.
17:24-34). Sambalate conseguiu que Manassés, irmão de Jado, se tornasse seu genro, mas a pressão dos líderes religiosos
levaram Jado a afastar Manassés do serviço no templo, pois este não aceitou dispensar sua mulher samaritana. Manassés
procurou a Sambalate e disse que, mesmo amando sua filha, não podia abrir mão do sacerdócio e se tornar um pária, mas seu
sogro disse que convenceria o rei Dario a construir um templo semelhante a Jerusalém no monte Gerizim, em Samaria, e
orientou a Manassés que convidasse outros sacerdotes judeus também excluídos do serviço pelos mesmos motivos para se
agregarem a ele. Dario lhe prometeu que o templo seria construído assim que derrotasse Alexandre, o que nunca aconteceu, já
que o rei grego desbaratou o exército persa, mesmo com um exército em menor número. Ao saber da derrota persa e da
resposta de Jado a Alexandre, Sambalate trai Dario, indo a Alexandre com 8.000 homens para ingressar em seu exército, que o
recebeu muito bem. Sambalate falou-lhe de Manassés e sobre os planos do templo que planejava constituir em Samaria, ao
mesmo tempo em que caluniava os judeus com argumentos muito parecidos com os que usou contra Neemias: que Jerusalém
era conhecida por ser uma cidade rebelde, com reis revoltosos e que não se submetiam a ninguém. Também afirmou que a
construção de outro templo deixaria os judeus divididos e minaria a força de possíveis revoltas. Essas palavras pareceram bem a
Alexandre, que ordenou que o templo fosse construído o quanto antes, ao mesmo tempo em que jurou que Israel sentiria sua
cólera em breve. Enquanto o templo era construído em Samaria, Sambalate permaneceu com Alexandre durante todo o cerco de
Tiro e dois meses no cerco de Gaza, quando morreu de velhice.

Ao final do cerco de Gaza, em 331 AC, Alexandre marchou contra Jerusalém. Sabendo disso, Jado convocou a cidade a um clamor
ao Senhor, com orações e sacrifícios, buscando seu favor. Segundo Josefo, Deus falou a Jado em sonho que ele deveria receber a
Alexandre com honra, que espalhasse flores pelas ruas, mantivesse os portões da cidade abertos e que fosse ao encontro do
general com vestes sacerdotais, acompanhado por todos os demais, vestidos de linho branco. Quando Alexandre estava próximo,
Jado lhe saiu ao encontro dessa forma e, para o espanto de todos, Alexandre se curvou em reverência a Yahweh, cujo nome
estava na mitra na cabeça de Jado, e saudou ao sumo sacerdote. Os liderados por ele não entenderam, pois Alexandre não se
curvava a ninguém, deus ou homem, a ponto de Parmênio, que era amigo próximo de seu rei, perguntar por que ele se curvava
àquele homem, ao que Alexandre respondeu que não estava adorando ao sacerdote, mas sim ao Deus de quem Jado era
ministro, pois havia sonhado com Yahweh nestas mesmas vestes, lhe garantindo que poderia prosseguir pois entregaria os persas
nas suas mãos e ainda mais outros domínios. Jado recebeu a Alexandre na cidade, fizeram juntos sacrifícios no templo e lhe foi
apresentado o livro do profeta Daniel, que continha profecias a seu respeito. Alexandre foi benevolente com os judeus,
garantindo aos que quisessem se alistar no seu exército que poderiam praticar sua religião sem serem molestados, que todo
judeu poderia viver segundo as leis dos seus antepassados e até mesmo isenção de impostos a cada 7 anos, no descanso da terra
(Lv. 25:1-4), pedindo pouca coisa em contrapartida à vassalagem. Uma delas foi que todas as crianças judias do sexo masculino
nascidas no espaço de 1 ano recebessem o nome “Alexandre”. Pouco tempo depois, sendo Jerusalém uma cidade vassala sem
rei, o cargo de sumo sacerdote passou a ser praticamente o de regente da cidade. Esse cargo seria disputado por sua riqueza e
prestígio, ficando a vocação religiosa em segundo plano.

Os samaritanos de Siquém, capital de Samaria e onde ficava o monte Gerizim com o templo, ao verem que Alexandre foi bondoso
com os judeus, se apresentaram a ele também como judeus, mas não conseguiram os mesmos benefícios, embora já estivessem
seguros pela ação de Sambalate. Curiosamente, os Samaritanos causaram problemas ao domínio grego quando, anos mais tarde,
assassinaram Andrômaco, governador da Judéia estabelecido por Alexandre, sendo, por isso, punidos com morte e exílios, e a
região foi repopulada por macedônios. A construção do templo samaritano prosseguiu, mas foi interrompida com a morte de
Alexandre em 323 AC, ficando incompleto até a sua destruição em 128 AC.

A inimizade entre judeus e samaritanos


Os samaritanos se mantiveram em conflito com os judeus desde a reconstrução de Jerusalém e se tornaram inimigos odiáveis
pelo seu culto misto, pois neste e em vários outros momentos se diziam judeus quando isto lhes favorecia, mas se opunham a
eles e se aliavam a adversários e dominadores hostis a Jerusalém quando isso era conveniente, inclusive na assolação de Antíoco
Epifânio, onde se afirmaram colonos persas. Os samaritanos tentaram replicar o templo de Jerusalém no monte Gerizim, que
construíram com a ajuda de Alexandre Magno, mas foi destruído por João Hircano em 128 AC. Por várias vezes os samaritanos se
aliaram aos adversários de Israel. Em cerca de 7 AC, no governo romano de Copônio, Samaritanos conseguiram entrar no templo
por ocasião da páscoa e encheram a colunata do templo de ossos humanos para impedir a cerimônia.

Com certa razão, por tudo isso, os judeus não se davam bem com os samaritanos. Para os judeus, chamar alguém de
“samaritano” equivalia a uma ofensa pessoal (Jo. 8:48) e aos mestres da lei era proibido comer comidas vindas de Samaria ou
mesmo dirigir a palavra a um deles (Jo. 4:9). A mulher samaritana confronta Jesus sobre a autoridade do templo do monte
Gerizim (Jo. 4:19-20). A imagem dos samaritanos só seria restaurada por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37).
Daí em diante, o termo “samaritano” passou a ser sinônimo de misericórdia indulgente.
Domínio Egípcio (dinastia dos Ptolomeus)
Após a morte de Alexandre, seus principais generais guerrearam entre si para repartir suas conquistas. Ptolomeu era o sátrapa de
Alexandre no Egito e conseguiu tomar posse desta parte do reino por volta de 312 AC. Deu a si mesmo o título “Sóter” (Salvador
ou Sábio) e estabeleceu uma dinastia que perduraria firme até por volta de 198 AC, quando começaria a perder territórios para
os adversários, em especial, os selêucidas. Embora Ptolomeu Sóter fosse um guerreiro de respeito, não sabia ser tão político
como seu antecessor e logo começou a levantar pequenas intrigas nas terras conquistadas, aumentando impostos e colocando a
si mesmo como deus (Faraó Sóter). Apesar dessa falta de tato, não interferiu nos aspectos religiosos dos judeus e até mesmo
convidou-os para formar uma colônia judaica no Egito, especificamente em Alexandria, cidade egípcia fundada pelo próprio
Alexandre e que viria a se tornar o maior centro de ciência e filosofia da antiguidade. Ptolomeu Sóter morre em 283 AC e, até
então, os judeus permaneciam gozando de certa paz.

O sucessor de Sóter, Ptolomeu Filadelfo, assume o trono em 281 AC. Filadelfo era um homem menos guerreiro e mais filósofo, o
que o levou a enriquecer a biblioteca de Alexandria com o máximo de livros que pudesse conseguir, chegando a manter mais de
meio milhão de obras na biblioteca, entre elas uma tradução para o grego da Lei dos Judeus, que conhecemos como Antigo
Testamento, tradução esta que ficou conhecida como Septuaginta (LXX), numa época onde a presença judaica em Alexandria
resultou em grande prestígio para os judeus diante do imperador. No governo de Filadelfo começam as chamadas Guerras Sírias,
onde selêucidas e ptolomeus disputam territórios sírios e circunvizinhanças, o que inclui a palestina.

Morre Filadelfo em 246 AC e assume Ptolomeu Evergeta no mesmo ano, já entrando na terceira Guerra Síria. Evergeta consegue
não somente sustentar seus territórios mediante os selêucidas como também levar a dinastia ptolomaica a seu apogeu,
chegando a pressionar com seus exércitos o rei Seleuco II, às portas de Babilônia. Contudo, seu sucessor, Ptolomeu Filopátor,
matou seus pais para assumir o trono em 221 AC. Durante seu reinado, pela primeira vez os selêucidas tomaram o território da
Palestina das mãos do Egito, através de Antíoco III (Antíoco Magno), que passou de 221 AC a 217 AC em Jerusalém, usando a
cidade como seu quartel-general durante a quarta Guerra Síria, mas foi derrotado por Filopátor na Batalha de Ráfia e Israel foi
devolvida ao domínio egípcio. Anos depois, em 200 AC, já no reinado de Ptolomeu Epifânio, que era apenas um infante (uma
criança com cerca de 10 anos de idade), Antíoco se aproveitou da instabilidade da corte egípcia, já que seu rei dependia de
conselheiros e tutores, retomou territórios perdidos e também anexou novos, como a Síria e a Palestina, além de ameaçar o
próprio Egito, o que forçou Ptolomeu Epifânio a assinar um tratado de Paz com Antíoco Magno em 198 AC, onde, entre outras
concessões, dava a ele a posse da região conhecida como Celessíria, que abarcava a Síria e regiões adjacentes, entre elas, a
Palestina, Samaria e Judéia. Israel ficou sob domínio selêucida até 164 AC.

A primeira tradução do Antigo Testamento

Durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo, a cidade de Alexandria era uma referência de cultura, tendo sua famosa biblioteca
milhares de exemplares. Incentivado por seu soberano, o responsável pela biblioteca, chamado Demétrio Falero, enviou
mensageiros a Eleazar, então sumo sacerdote, pedindo um exemplar da lei pra que fosse traduzido para o grego e que lhe fosse
enviado um ou dois tradutores, o que muito agradou ao sacerdote, que enviou 6 tradutores para cada tribo de Israel, num total
de 72. A tradução teria levado 72 dias e, apesar de os tradutores terem sido mantidos em salas separadas, todos eles produziram
versões idênticas do texto em setenta e dois dias, fruto do trabalho dos escribas desenvolvido no cativeiro babilônico, mas
também uma maneira de demonstrar o zelo do próprio Deus pela sua palavra expressa, fato que agradou muito ao rei e a Falero.

A Septuaginta, LXX ou Tradução do Setenta foi largamente usada até o século 2 AD. Jesus e os discípulos citam trechos da
Septuaginta em seus discursos. Segundo estudiosos do texto bíblico, pelo menos 300 citações da LXX aparecem no Novo
Testamento. Também foi a base para a tradução do AT para as versões eslava, armênia, georgiana e copta.

Domínio Selêucida e as Profecias de Daniel


Seleuco I foi o general de Alexandre que se apossou do centro do reino persa em 306 AC, na divisão das conquistas macedônias,
criando a dinastia dos selêucidas. Inicialmente estabeleceu Babilônia como sua capital, mas seu interesse na região da Síria
levou-o a fundar sua própria capital, Antioquia, batizada assim em homenagem a seu pai, Antíoco. O domínio de Seleuco era
maior que o de todos os outros generais, mas mesmo assim o império selêucida era expansionista e sempre esteve em guerra
com os demais generais, principalmente com a dinastia dos Ptolomeus, no Egito, que haviam ficado com o controle da Celessíria,
um ponto de honra para Seleuco. Jerusalém e a Palestina foram tomadas por seu descendente, Antíoco Magno, em 200 AC.
Ainda ancorando nossa pesquisa na Bíblia, o capítulo 11 de Daniel nos descreve a profecia das guerras Sírias e o resultado da
dominação selêucida. Vamos fazer um paralelo entre as profecias e os fatos históricos:
(Dn. 11:3-4): Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver. Mas, no auge, o
seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o
poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes.

Foi o que aconteceu na conquista de Alexandre, O Grande, que expandiu seus domínios rapidamente e subjugou o império persa,
mas também morreu prematuramente deixando suas conquistas para 4 herdeiros que não eram seus descendentes.

(Dn. 11:5-6): O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este será mais forte do que ele, e reinará, e será grande
o seu domínio. Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do Sul casará com o rei do Norte, para
estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela
será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos.

O citado reino do Sul é o Egito, enquanto o do norte são os selêucidas, representados pela Síria. Para tentar manter a paz entre
os impérios, Ptolomeu Filadelfo ofereceu sua filha, Berenice, em casamento ao neto de Seleuco, Antíoco Theos. Para tanto,
Antíoco repudiou sua esposa, Laódice, tratando-a como concubina. Mais tarde, restituiu o status real a Laódice, que se
aproveitou para livrar-se tanto de Antíoco quando de Berenice e seu filho, mantendo sua prole como descendência real e
quebrando o pacto com os Ptolomeus.

(Dn. 11:7-8): Mas, de um renovo da linhagem dela, um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte, e
entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá. Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas,
com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte.

Ptolomeu Evergeta não só derrotou o filho de Laódice, Seleuco II, como também a matou em vingança por sua irmã Berenice.
Numa demonstração de superioridade, atacou o território selêucida, dominou todas as terras da Síria até o rio Eufrates e pilhou
Babilônia. Os Ptolomeus só confrontariam novamente os selêucidas quando o filho de Seleuco II, Antíoco Magno, chegasse ao
poder.

(Dn. 11:15-19): O rei do Norte virá, levantará baluartes e tomará cidades fortificadas; os braços do Sul não poderão resistir, nem o
seu povo escolhido, pois não haverá força para resistir. O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá resistir a
ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos. Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele,
e lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem.

Antíoco Magno domina a Celessíria em definitivo, com apoio do rei Filipe V da Macedônia, e também a Palestina, a “terra
gloriosa”, submetendo o Egito a um tratado de paz que muito favorecia o império selêucida. Nesse ato, Ptolomeu Epifânio, rei do
Egito, aceitou se casar com a filha de Antíoco Magno, Cleópatra. Antíoco visava assim poder manter os Ptolomeus sob controle,
mas ela buscou garantir a hegemonia do Egito e seu lugar no trono, buscando ajuda dos romanos. Depois dela, a dinastia das
Cleópatras permaneceu no poder até o fim da dinastia ptolomaica.

(Dn. 11:18-19): Depois, se voltará para as terras do mar e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar-lhe o opróbrio e ainda fará
recair este opróbrio sobre aquele. Então, voltará para as fortalezas da sua própria terra; mas tropeçará, e cairá, e não será achado.

Motivado pelas vitórias contra o Egito, Antíoco Magno volta suas atenções para a Europa, mais especificamente para Roma.
Antíoco invadiu Trácia e Pérgamo, declarando-as sua posse, o que fez com que Roma voltasse as atenções para seu avanço. O
“príncipe” é o general romano Lúcio Cornélio Cipião, que derrotou Antíoco em seguidas batalhas, até sua vitória definitiva em
189 AC. No ano seguinte, Cipião faz com que Antíoco Magno assine a Paz de Apaméia, tratado que tomava dos selêucidas toda a
parte da Ásia que permitisse acesso ao Mar Mediterrâneo. Antíoco voltou para a Pérsia, onde morreu. Sabe-se que seus filhos
foram levados como reféns para Roma, mas a partir desse ponto (187 AC), Antíoco Magno desaparece da história e, de fato, não
foi mais achado.

(Dn. 11:20): Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um que fará passar um exator pela terra mais gloriosa do seu reino; mas, em
poucos dias, será destruído, e isto sem ira nem batalha.

Essa é uma menção a Seleuco Filopater, sucessor de Antíoco Magno, que, em dívida com os romanos, que agora eram seus
suseranos, decidiu enviar um exator chamado Heliodoro ao templo de Jerusalém a fim de cobrar impostos do sumo sacerdote
Onias, um homem tão avarento que preferiu arriscar a integridade de Jerusalém e Israel a pagar qualquer imposto que fosse.
Mesmo sendo rei, Seleuco Filopater era tão inócuo que nada fez a respeito, provocando a revolta de seus servos, inclusive
Heliodoro, que o matou em 176 AC.
Antíoco Epifânio e a “Abominação Desoladora”

(Dn. 11:21-24): Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá
caladamente e tomará o reino, com intrigas. As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como
também o príncipe da aliança. Apesar da aliança com ele, usará de engano; subirá e se tornará forte com pouca gente. Virá
também caladamente aos lugares mais férteis da província e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais:
repartirá entre eles a presa, os despojos e os bens; e maquinará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo.

Antíoco Epifânio (“deus manifesto” ou “deus visível”), irmão mais novo de Seleuco Filopater, foi liberto em Roma para ser o
regente após a morte do irmão até que seu sobrinho alcançasse idade para assumir o reino. Epifânio, no entanto, providenciou
não só a morte de Heliodoro, assassino de Seleuco, mas também de seu sobrinho, também chamado Antíoco, herdeiro do trono.
Como o irmão mais velho de Seleuco, Demétrio Sóter, permanecia refém em Roma, Epifânio passa a ser o único herdeiro legítimo
a pleitear o trono selêucida, e o assume em 175 AC.

 O chifre que cresceu muito – Antíoco Epifânio (Dn. 8:9-14)

Alguns estudiosos tentam apontar que a “ponta” que brota de um dos chifres e cresce muito
faz referência a Roma, mas o consenso geral aponta para uma situação mais estrita. Os 4
chifres representam os 4 herdeiros de Alexandre Magno. De um desses chifres sai uma ponta
lateral que rapidamente se torna muito grande. Trata-se de Antíoco Epifânio, rei selêucida
que dominou com mão de ferro a região de Israel, principalmente no que diz respeito à
cultura. Epifânio tentou inserir elementos gregos na cultura e no culto judaicos, culminando
na profanação do templo ao oferecer porcos no altar do sacrifício. Sua intenção era que os
judeus aderissem ao sincretismo religioso, mostrando que qualquer coisa poderia ser
oferecida aos deuses e que Yahweh não seria único. O texto de Daniel diz que o chifre
cresceu para o sul e para a “terra gloriosa” (a Palestina e Jerusalém ficavam ao sul do
império de Epifânio, Vv. 9), que atingiu o “exército dos céus” e as estrelas (Vv. 10) e que
aboliu o sacrifício ao Senhor (Vv. 11).

Diferente dos Ptolomeus, que não faziam questão de nenhuma mudança religiosa da parte dos moradores dos territórios
conquistados desde que se mantivessem fiéis ao império e pagassem seus impostos, os selêucidas impunham não somente a
deidade do imperador e de sua esposa, mas também forçavam a adoção da cultura grega pelos dominados, e não apenas
religiosa. Os dominados deveriam aprender a cultura, filosofia e hábitos gregos, além de acolher o politeísmo. Por este motivo, o
trato dos judeus com os dominadores selêucidas não foi simples nem fácil, levando a revoltas e muitas mortes. A real intenção de
Epifânio era fazer com seus dominados abraçassem a cultura helenista a fim de minar o poderio romano na região, unificando as
cidades de seu domínio sob a égide grega.

Em 175 AC, morre o sumo sacerdote Onias. Como só deixara um filho de pouca idade, o cargo deveria ser passado a um de seus
irmãos, Jesus (Jasão) ou Onias (Menelau). Como era o mais velho, Epifânio constitui Jasão como sumo sacerdote, mas logo ficou
insatisfeito com este e passou o cargo a Menelau. Com isso houve uma cisão na casa sacerdotal, polarizada em 2 partidos, o dos
“piedosos” ou judaizantes, que defendiam a manutenção das práticas religiosas e sociais judaicas, defendido por Menelau e a
classe sacerdotal, e o dos “helenizantes”, que defendiam a absorção da religião e costumes gregos. Para tentar conseguir o favor
de Epifânio, Jasão, que era mais benquisto entre os Judeus que seu irmão, procurou o monarca e disse que o povo estava
disposto a abandonar os costumes judaicos e receber a religião e costumes gregos, além de pedir autorização para construir um
ginásio e uma praça de esportes em Jerusalém. Ele consentiu, o que fez com que muitos judeus aderissem a práticas gregas, ao
ponto de esconderem seu sinal de circuncisão quando na prática de esportes gregos como luta e corrida, que os atletas
disputavam nus. Já o partido de Menelau, composto pelos mais ricos da cidade, ofereceu um dote a Epifânio pelo cargo, que
aceitou e manteve Menelau como sumo sacerdote em 172 AC.

(Dn. 11:29-30): No tempo determinado, tornará a avançar contra o Sul; mas não será nesta última vez como foi na primeira,
porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; voltará, e se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe
aprouver; e, tendo voltado, atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança.

Epifânio partiu para tentar conquistar o Egito, no que avançou bastante, e teria conseguido se não fosse a intervenção da
república Romana (“navios de Quitim”), que o lembrou de sua vassalagem, além de ameaçar a integridade de seu reino.
Frustrado no seu intento, retorna a Jerusalém em 167 AC e descobre que desde 169 AC Jasão havia tomado posse da cidade e
matado vários partidários de Menelau. Já sem paciência para lidar com aquela cidade complicada, e sob conselho de Menelau,
mandou matar várias pessoas, inclusive alguns que lhe abriram os portões e o receberam como senhor, revogou os privilégios de
cidadania dos habitantes, queimou os maiores edifícios, derribou muralhas e pilhou completamente o templo, levando os vasos
consagrados, o candelabro, as mesas e todos os tesouros que encontrou lá, fechando por fim o templo e suspendendo todo culto
na forma de sacrifício. Na Cidade Baixa, construiu uma fortaleza com grandes torres e colocou uma guarnição de macedônios e
judeus simpatizantes, com as ruas e entradas da cidade permanentemente controladas por soldados, que cometiam muitas
atrocidades contra os habitantes.
(Dn. 11:31-35): Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a
abominação desoladora. Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará
forte e ativo. Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por
algum tempo. Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas. Alguns dos sábios
cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado.

Ainda na sua cólera, Epifânio mandou fazer um altar no templo e ordenou que ali se sacrificassem porcos constantemente,
profanando o santuário. Proibiu também a prática da circuncisão e das restrições alimentares prescritas na Lei. Queimou todos os
livros das sagradas escrituras que pôde encontrar, além de torturar e matar todos que estivessem na casa onde foram
encontradas. Finalmente, mandou trazer uma imagem de Zeus para ser posta no templo, que a profecia chama de “abominação
desoladora”. A maioria se submetia pelo medo das represálias, mas nunca deixaram de existir os que permaneceram fiéis a
Yahweh e às leis de seus pais. Como é perceptível no AT, Deus nunca deixa de estar à frente da situação e sempre preserva seu
remanescente.

O surgimento e ascensão dos Hasmoneus

Em meio a esse cenário, numa aldeia da Judéia chamada Modim, havia um sacerdote de nome Matatias, nascido em Jerusalém,
que se via incomodado com o autoritarismo de Epifânio e com a situação religiosa da cidade, sempre deixando bem claro a seus 5
filhos que estaria disposto a morrer pela defesa do país e da religião judaica genuína do que se dobrar aos dominadores. Em
pouco tempo, chegaram emissários de Epifânio e, sendo ele o principal sacerdote da região, o procuraram, dando ordens para
que instituísse os sacrifícios pagãos e prometendo favores e recompensas, mas ele se recusou imediatamente. O emissário então,
diante de Matatias, encontrou outro judeu disposto a oferecer sacrifício. Inconformado, Matatias e seus filhos sacaram suas
espadas e mataram o judeu, o oficial do rei e a guarnição de soldados que o acompanhava. Em seguida, Matatias derribou o altar
e chamou para junto de si todo homem que amava a religião judaica e o serviço a Deus. Era o começo da revolta dos Macabeus.

Matatias seguiu para o deserto com seus filhos e um grupo considerável de seguidores. Ele precisou orientar os judeus piedosos
que o acompanhavam sobre como funcionava uma guerrilha, já que alguns estavam sendo mortos pelos macedônios por se
recusarem a lutar no sábado. Também promoveu circuncisões dos filhos de judeus, que tinham sido impedidos por Epifânio de
cumprir o ritual. Judeus que se encontravam refugiados nas nações vizinhas se juntaram às tropas de Matatias. Em pouco tempo,
já tinham força suficiente para rechaçar os destacamentos que Epifânio mandava para tentar captura-los. Também invadia as
vilas e pequenas cidades da Judéia, onde matava os que se tornaram adeptos da idolatria grega e derribava seus altares. Cerca de
1 ano desde o começo da revolta, Matatias adoeceu mortalmente, mas antes de falecer deu ordem a seus filhos que
continuassem a resistir, que ficassem sempre unidos e que perseverassem fiéis à Deus e à religião, sabendo que Yahweh lhes
seria favorável se assim procedessem. Nomeou seu filho Simão como conselheiro e Judas Macabeu como líder militar dos
revoltosos e pouco depois faleceu.

Macabeu, de fato, era um general habilidoso, que sabia incentivar suas tropas. Seu mote era a guerra santa, sempre firmado na
história de Israel pré-exílica, onde o livramento vinha de Deus e não dos homens, usando discursos inflamados que tocavam o
orgulho dos rebeldes e os fazia lutar com grande bravura, o que garantiu a vitória em diversas batalhas onde o número inferior
de soldados e a situação estratégica pareciam desfavoráveis. Em questão de 3 anos, em 164 AC, Macabeu já tinha novamente o
controle de Jerusalém. Nesse mesmo ano, restaurou o templo, removeu os ídolos, derribou o altar profanado e construiu outro
de acordo com a Lei em seu lugar. Repôs o candelabro, a mesa dos pães da proposição e os incensários, fez sacrifícios sobre o
altar e, assim, reconsagrou o templo numa grande festa de 8 dias, que passou a ser comemorada como Hanukkah. Mandou
também restaurar as muralhas da cidade, fortificou as torres e colocou soldados para defendê-las. Em seguida, lutou contra os
povos vizinhos que faziam oposição aos judeus, especialmente os samaritanos e idumeus, tomou deles cidades e as fez parte da
Judéia.

(Dn. 11:44-45): Mas, pelos rumores do Oriente e do Norte, será perturbado e sairá com grande furor, para destruir e exterminar a muitos.
Armará as suas tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte santo; mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra.

Ainda nesse ano, Antíoco Epifânio, que não enfrentou diretamente os Macabeus por estar envolvido com outras revoltas em seus
domínios, é acometido de uma terrível doença (suspeita-se ser um câncer) e morre, desgostoso pelas derrotas militares e sem a
possibilidade que alguém o socorresse. Por suas ações, Epifânio é a representação do Anticristo, já que as profecias de Daniel
reúnem eventos da época intertestamentária, mas que também fazem alusão ao fim dos tempos. A guerra dos Macabeus não
terminou com a morte de Epifânio. Antíoco Eupátor, seu herdeiro, prosseguiu na tentativa de sufocar a rebelião. Eupátor tinha
apenas 12 anos e era tutorado pelo general Lísias. Inicialmente tentou estabelecer a paz com judeus, fazendo com eles um
tratado onde jurava não interferir na prática religiosa judaica, desde que lhe permanecessem vassalos. Além disso, destituiu o
infame Menelau do cargo de sumo sacerdote e o deportou para Antioquia, onde foi morto sem honra. Isso não pareceu ruim aos
judeus, que estavam inclinados a honrar o pacto, mas duas atitudes de Eupátor fizeram com que entendessem que ele tinha
violado o tratado: 1) Escolheu um outro sacerdote, Alcim, e não o filho de Onias, legítimo sucessor, que era muito jovem quando
Menelau assumiu; 2) Ao ver o muro do templo, achou que era muito forte e tornaria aquele lugar um refúgio em caso de guerra,
por isso o derribou. Estas duas ações impediram que a rebelião chegasse ao fim.
Nesse ínterim, Demétrio Sóter, irmão mais velho de Antíoco Epifânio e herdeiro legítimo do trono selêucida, escapa de Roma
com ajuda de senadores e se estabelece na cidade Trípoli, no Líbano. Foram entregues a ele pelo próprio povo Lísias e Antíoco
Eupátor, que foram executados por sua ordem. Demétrio foi procurado pelo sumo sacerdote Alcim, que era inimigo de Macabeu,
e fez falsas denúncias e calúnias contra o líder rebelde. Segundo Josefo, Alcim era um orador imponente, capaz de convencer a
quase todos que o ouviam, mas que por trás dessa fachada era ganancioso e maligno. Demétrio, convencido pelo testemunho de
Alcim, enviou contra Macabeu seus maiores generais, Báquides e Nicanor. O primeiro tentou matar Macabeu à traição, se
apresentando como aliado, mas a pressa o fez entregar seu estratagema, de forma que teve de voltar ao rei. O segundo entrou
em embates aguerridos contra os Macabeus, provocando grandes baixas, mas não pode resistir às estratégias de Judas e foi
morto em combate. Na mesma ocasião, Alcim é vítima de uma doença fulminante e morre em 3 dias. O povo e a casa sacerdotal
unanimemente escolheram a Judas Macabeu como o novo sacerdote, por volta de 163 AC.

Macabeu percebe, mesmo saindo vitorioso dos embates, que os inimigos eram cada vez mais fortes, que a conquista de
Jerusalém para eles era questão de honra familiar e que viriam cada vez mais exércitos, maiores e mais fortes, de forma que
Israel precisaria de um aliado poderoso. E constatou, com muita razão, que Roma era a mais poderosa nação da época, de forma
que encaminhou dois emissários ao senado romano para lhes pedirem que fosse ordenado a Demétrio Sóter o fim das
hostilidades contra a Judéia. Este foi o primeiro contato dos líderes judeus com os romanos. Os romanos deram parecer favorável
ao pedido de Macabeu, mas é bem provável que esta resposta não tenha chegado a tempo, pois em 160 AC Demétrio enviou
Báquides novamente, com um exército ainda mais poderoso, que derrotou e matou Judas Macabeu. Imediatamente os judeus
elegeram a Jônatas, irmão de Macabeu, como líder. Jônatas enfrentou a cólera do general Báquides, mas acuou o inimigo no
cerco de Bete-Busi e obrigou-o a assinar a paz, num tratado que previa, entre outras coisas, que Báquides jamais voltaria à Judéia
como um militar. Demétrio Sóter não voltou mais a investir contra Jerusalém, possivelmente em razão do pacto entre Roma e os
judeus, mas também foi uma época onde precisou lidar com conflitos internos. Entrementes, Jônatas também se torna um líder
tão respeitado quanto Judas, ficando estável no governo da província da Judéia até sua morte, em 142 AC.

O grande desafio de Demétrio Sóter naquele momento tinha pouco a ver com os judeus. Um cidadão humilde de Éfeso percebeu
ter grande semelhança com as imagens e esculturas de Antíoco Epifânio e passou a tentar convencer as pessoas que era um filho
bastardo do rei selêucida. Seu nome era Alexandre Balas e certamente devia ser muito parecido com Epifânio, pois foi apoiado
como herdeiro pelo reino de Pérgamo, pelo Egito e até pelo senado romano. Balas e Demétrio disputaram a aliança com Jônatas,
sendo que ele se aproveitou de ambos (seu ódio era inteiramente contra Demétrio), conseguindo do rei a reconstrução e o
reforço das muralhas e fortes de Jerusalém, enquanto Balas lhe assegurou o cargo de sumo sacerdote. Com a morte de Demétrio
pelas mãos de Balas, Jônatas recebeu grandes honras do novo rei e ascendeu a sumo sacerdote. Alexandre Balas é morto pelo
filho de Demétrio Sóter, Demétrio Nicator, que assume o reino em 145 AC. Nicator diminuiu o soldo de suas tropas em tempos
de paz e se torna muito impopular entre seus próprios soldados. Um de seus generais, Diódoto Trifão, salvou em segredo o filho
de Alexandre Balas, Antíoco Dionísio, e, num golpe militar em 144 AC, promoveu Dionísio ao trono, colocando Nicator como um
de seus militares subordinados.

Jônatas estava atento às agitações na família real selêucida e, já prevendo que poderiam acontecer novas incursões militares em
Israel, buscou novamente o auxílio dos aliados romanos e também de Esparta. Embora militarmente correta, esta atitude
começou a dividir opiniões, tanto num aspecto religioso, onde se discutia se essas alianças com povos pagãos não iriam contra o
conceito de que era Deus quem manteria segurança e hegemonia de Israel, quanto político, onde se questionava se as ações dos
Macabeus eram válidas, já que o sumo sacerdócio foi dado a eles por conveniência política, uma vez que não eram de uma
família da linhagem dos sumos sacerdotes. As diferentes posições políticas, religiosas, filosóficas e sociais dividiam os judeus,
levando ao surgimento de 3 seitas divergentes dentro do judaísmo: os Fariseus, os Saduceus e os Essênios.

As 4 seitas dentro do judaísmo

Na época dos Macabeus, 3 seitas dominantes surgiram, a saber, os fariseus, os saduceus e os essênios. Não há como saber
exatamente como surgiram, mas a primeira citação ocorre no tempo dos Macabeus, quando Jônatas Macabeu era sumo
sacerdote. As 3 seitas divergiam em diferentes medidas da posição de Jônatas de se aliar aos romanos para garantir a
estabilidade de Israel diante dos selêucidas. Segundo Josefo, para os fariseus, certas coisas dependem apenas do destino, mas
nem tudo, logo a ação humana nos permite a realização; para os essênios, tudo na nossa vida só é definido pelo destino e não há
nada que o homem possa fazer; já os saduceus não criam em destino e acreditavam que todo bem ou mal era fruto exclusivo de
nossas ações. Dessa simples diferença filosófica essas seitas evoluíram para verdadeiros partidos e centros de poder no governo
da Judéia.

Os Fariseus talvez fosse o ramo mais equilibrado dos três. Para eles, as escrituras eram a Torá (lei) e os escritos sagrados
(profetas), além da tradição oral (Mishná, Talmude, Gemara). Atribuem ao destino tudo o que acontece, mas sem excluir a
responsabilidade humana nas ações, ou seja, sendo tudo feito por ordem de Deus, depende, no entanto, da nossa vontade
entregarmo-nos à virtude ou ao vício. Criam na imortalidade da alma e que as ações em vida seriam julgadas em outro mundo,
sendo recompensadas ou castigadas de acordo com o que foram nesta vida — virtuosas ou viciosas. O ensinamento de uma
recompensa pós-vida para um povo que vivia debaixo de tão grande sofrimento faziam com que a maior parte do povo estivesse
submetida ao ensino dos fariseus. Mas o que aconteceu é que os fariseus se viram inflados na sua religiosidade, se achando
superiores ao povo comum, acabando por se tornarem opressores tão agressivos nas questões de conduta e práticas religiosas
que criavam regras que nem mesmo eles estavam dispostos a seguir. Foi a única seita que permaneceu após a queda de
Jerusalém em 70 AD e foi dela que se originou o atual judaísmo rabínico.

Os Saduceus compunham uma seita menos espiritual, embora fosse a mais fundamentalista, o que é estranho, já que seriam da
descendência do sumo sacerdote Zadoque, do tempo de Davi e Salomão. Não se sabe muito sobre suas doutrinas, mas é fato que
eram fundamentalistas, não aceitavam nenhum escrito sagrado além da Torá, rejeitavam a tradição oral dos fariseus, não criam
em anjos ou na imortalidade da alma. Mesmo a Torá era interpretada com relativização. Também eram mais abertos a doutrinas
helenizantes. Os adeptos dessa seita sempre estiveram em menor número que os fariseus, mas era composta de pessoas ricas e
poderosas, que mantinham o controle e a administração do templo. À exceção de Salomé Alexandra, todos os governadores de
Israel estiveram mais alinhados aos Saduceus. Eles controlaram o templo e as coisas públicas de Jerusalém até a destruição da
cidade, em 70 AD, quando desapareceram.

Os Essênios eram um grupo asceta, apocalíptico e messiânico. Constituíram comunidades quase monásticas, que viviam no
deserto, nos montes ou em assentamentos. Sobre a questão do destino, entendiam que tudo, sem exceção, se deve à
providência de Deus. Criam que as almas são imortais e que se devia fazer todo o possível para praticar a justiça. Enviavam suas
ofertas ao Templo, sem oferecer lá os sacrifícios, porque o faziam em particular, com cerimônias ainda maiores. Os seus
costumes eram extremamente frugais, como habitar em tendas, sem confortos. A principal atividade era agrícola, para
subsistência. Possuíam todos os bens em comum, sem ricos ou pobres. Não tinham mulheres nem escravos. Tinham um grande
senso de preservação das escrituras, além de uma esperança nas promessas da vinda do messias de Deus, apoiados em trechos
proféticos messiânicos que falavam da restauração de Israel. Segundo Josefo, os essênios eram pouco mais de 5.000 pessoas, que
foram erradicadas pelos romanos no último cerco a Jerusalém, em 68 AD. No Novo Testamento, o perfil de João Batista, a
descrição de seu visual, práticas e sua pregação messiânica, são itens que o assemelham aos essênios, sendo bastante provável
que João Batista vivesse entre os essênios ou que mantivesse contato estreito com eles.

Por fim, a seita dos Zelotes, a mais tardia, foi fundada no ano 6 AD por Judas de Gamala (ou Judas o Galileu, citado por Gamaliel
em Atos 5:37), durante o censo de Quirino, que visava aumentar os impostos sobre os judeus. Era composta de radicais
inspirados nas ações de Matatias, pai dos Macabeus, que “zelou” pela manutenção da lei religiosa judaica, tradição que só
poderia ser garantida pela força das armas e com Israel livre das amarras de seus opressores. A ideologia dos zelotes era de que
em breve surgiria um messias militar, que libertaria o país e subjugaria os romanos com mão de ferro. O comportamento dos
zelotes lembra o que hoje em dia os terroristas fundamentalistas praticam. Jesus teve dois discípulos zelotes, Simão e Judas
Iscariotes. Os zelotes a sua evolução, os sicários, seriam os responsáveis por desencadear a primeira Guerra Judaico Romana, que
culminaria com a destruição de Jerusalém e do templo, em 70 AD.

O fim do domínio Selêucida


Como era previsto, Trifão via a Judéia, agora província autônoma, como uma ameaça à hegemonia selêucida e discordava da
forma benevolente como Dionísio tratava os judeus. Por este motivo, tentou uma aproximação amistosa com Jônatas e o
convenceu a segui-lo ate a cidade de Ptolemaida, onde o traiu, matou sua tropa e o fez refém. Imediatamente os judeus
constituíram Simão Macabeu, irmão de Judas e Jônatas, como sumo sacerdote. Simão trata imediatamente de fortalecer os
muros de Jerusalém e de inflamar as tropas contra Trifão, já que muitos desanimavam com a captura de Jônatas. Trifão fez
menção de libertar Jônatas se lhe fossem enviados 2 de seus filhos com uma soma de resgate de 100 talentos de prata. Embora
Simão não confiasse em Trifão, tentou salvar o irmão e enviou seus sobrinhos e o resgate, porém, como esperado, Trifão matou
não só a Jônatas como também seus filhos e tentou tomar Jerusalém novamente, mas foi obrigado a recuar mediante a fúria das
tropas de Simão. De volta a Antioquia, em 142 AC, Trifão encomendou a morte de Antíoco Dionísio, fazendo parecer um
acidente, e usurpa o trono selêucida. Isso poderia acabar com a dinastia selêucida, se o próprio exército de Trifão, insatisfeito
com os desmandos do novo líder, não tivesse procurado Cleópatra Thea, ex-mulher de Alexandre Balas e Demétrio Nicator,
buscando uma forma de destronar Trifão. Cleópatra localizou então o irmão de Nicator, Antíoco Sideta, que se encontrava no
ostracismo, e propôs que se casasse com ela e herdasse assim o trono selêucida, o que aconteceu em 138 AC. Trifão, por sua vez,
foi condenado e preso em Apaméia, mas se suicidou pouco depois do cárcere.

Nesse imbróglio da família real dos selêucidas, Simão Macabeu se aproveita do momento pacífico e consegue no senado romano
o reconhecimento da dinastia dos Hasmoneus, o que conferia à Judéia uma semi-independência do reino dos selêucidas, em 139
AC. Como não poderia deixar de ser, Antíoco Sideta logo voltou sua atenção para Jerusalém, tratando a Simão Macabeu
inicialmente como aliado, mas logo se voltando contra ele. Simão resistiu a Sideta, que não foi capaz de vencê-lo e acabou
envolvido com problemas internos de seu reino, deixando os judeus em paz, o que serviu bem à consolidação da dinastia
Hasmoneana. Buscando estabelecer relações pacíficas com os povos ao redor, Simão havia dado sua filha em casamento ao
governador de Jericó, chamado Ptolemeu. Em 135 AC, Ptolemeu convidou seu sogro, mulher e filhos para um banquete, mas sua
intenção era tomar o controle da Judéia, motivo pelo qual assassinou Simão à traição e fez de reféns a viúva e seus dois filhos,
além de mandar matar o único filho ausente, João Hircano. Ao ser avisado do acontecido, Hircano fugiu para Jerusalém, que o
abrigou e fechou as portas para Ptolemeu. Hircano não conseguiu resgatar sua mãe e irmãos, que foram mortos, enquanto
Ptolemeu fugiu para Filadélfia, na Ásia Menor. O sucessor de Sideta, Antíoco Sóter, após um cerco a Jerusalém, faz um tratado de
paz com Hircano, que lutou contra os partos ao seu lado, mas Sóter viria a morrer nesse embate, em 129 AC. O trono selêucida
entraria em franca decadência logo em seguida.

Hircano se valeu da morte de Antíoco Sóter e da perda de poder dos selêucidas para consolidar seu governo e a força da Judéia
sobre as cidades-estados vizinhas. Reforçou suas tropas, pois já não se recolhiam impostos para nenhum dominador. Apoderou-
se de Medeba e Samega, na Síria, Siquém, Gerizim e Citópolis, em Samaria, e Adora e Maressa, de Edom, impondo a essas
cidades as práticas religiosas e leis judaicas. Arrasou Sebaste, principal cidade de Samaria, e, em 128 AC, destruiu o templo no
monte Gerizim. Também fez, assim como seus antecessores, uma renovação da aliança com a república romana. Hircano era
mais alinhado com os interesses dos fariseus, embora alguns considerassem que ele não seguia à risca toda a lei, muito
provavelmente devido aos aspectos políticos de seu governo, sem falar que nenhum dos Macabeus ou seus descendentes
pertenciam à estirpe sacerdotal, o que o levou a se aproximar dos saduceus, que em alguns anos seriam os principais
responsáveis pela administração do templo e das coisas públicas.

Embora tenha levado Jerusalém praticamente à posição de cidade-estado e consolidado uma posição de poder na região da
Judéia, Hircano nunca se declarara rei. O cargo de sumo sacerdote, no entanto, passaria a ter uma forte representação política e
de status. Faleceu em 104 AC, deixando Israel na condição de reino independente e aliado da república romana.

Israel volta a ser reino independente


O esforço dos Macabeus fez com que, em pouco mais de 60 anos, Israel deixasse de ser um reino vassalo para se tornar
independente. Contudo, manter essa condição não seria muito simples, pois a ganância dos herdeiros de João Hircano e o
cumprimento de uma das profecias de Daniel em breve iriam cooperar para a ruína deste povo.

Hircano teve 5 filhos. Em seu leito de morte, deixou o governo nas mãos de sua mulher. Porém seu filho mais velho, Judas, que
assumiu o nome de Aristóbulo, mandou encarcerar sua própria mãe e 3 de seus 4 irmãos, mantendo consigo apenas seu irmão
Antígono como co-regente, pois assumiu oficialmente o título de rei. Os atos de Aristóbulo incomodavam o povo e os líderes,
uma vez que deixou sua mãe morrer de fome na prisão e mandou matar Antígono por uma calúnia de ameaça ao trono, sem nem
confirmar os fatos, o que depois se provou não ser verdade. Aristóbulo já estava doente e, pouco depois do assassinato de
Antígono, se viu tomado de um remorso tão grande que agravou seu estado. Morreu em 103 AC, com pouco mais de 1 ano de
reinado. Sua mulher, Salomé Alexandra, soltou seus outros irmãos e fez do mais velho deles, Alexandre Janeu, rei no lugar de
Aristóbulo. O primeiro ato de Janeu foi mandar matar um dos irmãos, que disse ser um conspirador que cobiçava o trono, e
tratou o outro com benevolência, pois preferiu levar uma vida comum e privada.

Janeu deu continuidade às conquistas iniciadas por Hircano, mas a imposição das regras rituais às cidades vencidas começaram a
provocar revoltas. Internamente, com incitação principalmente dos fariseus, Janeu também era odiado pelos judeus, mas tinha
ciência disso, tanto que, pouco antes de morrer, disse à rainha Salomé Alexandra, sua esposa, que se aproximasse deles a fim de
garantir a simpatia do povo e a estabilidade do reino. Janeu morreu em seguida, em 76 AC, e Alexandra fez segundo suas
orientações, apresentando inclusive o corpo de seu marido aos fariseus para que fizessem a ele como achassem melhor, se
entregando completamente a seu conselho. O efeito disso é que, subitamente, Janeu se tornou um grande homem, lhe foi feito
um suntuoso funeral e, a seu pedido em testamento, Alexandra foi feita regente de Israel até que seus filhos tivessem idade para
governar, mas o que aconteceu foi que ela governou até sua morte, pois enxergava a ambição de seus filhos, Hircano e
Aristóbulo, pelo poder. Nesse período, os fariseus tiveram plenos poderes na corte judaica, estando ombro a ombro com a
rainha, que não criava muitas barreiras para o que queriam fazer. Os fariseus se aproveitaram muito dessas concessões, fizeram
do Sinédrio o mais alto tribunal de causas religiosas e sociais dos judeus, composto integralmente por fariseus, e condenaram à
morte muitos adversários, ao ponto de quase causarem uma guerra civil. Alexandra fez de Hircano, seu filho mais velho, sumo
sacerdote, enquanto Aristóbulo empreendia causas próprias.

A rainha morreu em 67 AC, deixando os filhos em ferrenha disputa pelo trono. João Hircano II assumiu como rei por ser o filho
mais velho, mas ficou por apenas alguns meses no trono, pois seu irmão Aristóbulo II o destituiu e tomou o lugar de rei. Hircano
foi se refugiar com o governador dos Edomitas, agora chamados Idumeus, Antipater, que percebeu a falta de maldade de
Hircano e o encorajou a se levantar contra Aristóbulo, mas ele não reagiu. Após muita insistência de Antipater, a seu pedido
Hircano foi se refugiar com Aretas, rei dos árabes, a quem o rei Idumeu pediu com insistência que ajudasse Hircano a voltar ao
poder, o que ele aceitou com a promessa que os territórios árabes tomados pelos judeus lhe fossem devolvidos.

As intenções de Antipater, embora parecessem muito bondosas e fraternas, na verdade traziam um estratagema de poder e
vingança. Os Idumeus eram historicamente inimigos e Israel, representados no AT por Edom, nação irmã de Israel, fundada por
seu irmão Esaú, que estavam subjugadas ao governo judeu desde o reinado de João Hircano. Ao dominar os Idumeus, Israel lhes
colocou impostos e ainda obrigou-os a adotar a lei e os costumes religiosos judaicos, entre eles a circuncisão forçada. Antipater
era submisso aos romanos e havia conseguido alguma autonomia para os Idumeus, de modo que o real escopo de suas intenções
era enfraquecer o estado judeu para, em breve, tomar o poder. Ele era o pai daquele que seria conhecido como Herodes, O
Grande.
Em 65 AC, Aretas atacou e tomou Jerusalém, mas Aristóbulo se refugiou no templo, que ficou sob cerco por mais 1 ano. Como
nenhum dos lados cedia, tanto Hircano quanto Aristóbulo solicitaram um terceiro para mediar a questão, uma nação aliada que
poderia garantir o trono de qualquer um deles: A república romana.

A dominação Romana

 Monstro – Roma (Dn. 7:7)

A descrição do último animal é de um ser incomensurável, não havendo forma de


representação que o defina. Alguns o representam como um tipo de dragão com 10 cornos,
desenhos mais antigos o mostram como um tipo de felino de grande porte dotado de chifres.
Representa o império romano, que é um misto de poderoso e pagão. Com dentes e garras de
ferro, dominaria a todos, assim como de fato fizeram, utilizando sua disciplinada e poderosa
legião. Roma se tornou uma república a partir de 509 AC e passa a ser classificada como
império em 27 AC. O grande poderio romano manteve Israel como vassalo de 63 AC até a
queda de Roma em 476 AD. No ano 66 AD, após uma revolta de sicários, judeus tomaram a
praticamente inexpugnável fortaleza de Massada e a cidade de Jerusalém, levando à Primeira
Guerra Judaico-Romana (ou Grande Revolta Judaica), sufocada em 73 AD. Na tomada de
Jerusalém, ocorrida no ano 70 AD, a cidade e o templo foram destruídas pelo general romano
Tito. Quanto aos cristãos, sofreram severa perseguição nos primeiros séculos, mas em 313
receberam indulto do imperador Constantino, que decretou liberdade religiosa no império
(Édito de Milão), e em 380 o cristianismo foi declarada religião oficial pelo imperador
Teodósio (Édito de Tessalônica).

Tanto Hircano quanto Aristóbulo procuraram os romanos a fim de garantir seu próprio reinado, enviando até mesmo subornos
em troca de uma intervenção contra seu adversário. Depois te tomar o dinheiro de ambos, Pompeu, militar e político romano,
marchou contra Jerusalém e levantou cerco contra ela em 63 AC. Ao custo da vida de 12.000 judeus mas poucos romanos,
Pompeu invadiu Jerusalém e o templo, derrotando Aristóbulo. Ele respeitou o templo, não destruindo nada e nem tomando
nenhum de seus tesouros, antes mandou limpar o templo para que rapidamente fosse reestabelecido o culto na sua
normalidade. Também reestabeleceu Hircano como sumo sacerdote, mas o proibiu de voltar a se apresentar como rei, pois Israel
agora pertencia à república romana e por isso devia tributos a Roma, pelo que Hircano passou a ser tratado pelos romanos como
etnarca (o principal de uma etnia), tendo seu poder restrito a Jerusalém. Era o fim da curta independência de Israel pós-exílio.

A natureza pacata e a forma pouco tenaz de governar de Hircano, que deixava até de recolher impostos, foram cooperando para
o aumento de poder dos idumeus, na figura de Antipater e seus filhos, que manipulavam Hircano como queriam. Em 47 AC,
Hircano perde a pouca autoridade que lhe restara quando os romanos entregam a Anipater o governo da Judéia, que coloca seu
filho mais velho Fasael como governador de Jerusalém e seu filho mais novo Herodes como governador da Galiléia. Antipater
seria assassinado em 43 AC, deixando o caminho ao poder pavimentado para seus filhos, mas outros dominadores tentavam
abarcar a Judéia e anexar a seu império. Os Partos estavam fazendo várias incursões na região e, numa delas, chegaram a
Jerusalém, em 40 AC, capturaram Fasael e Herodes, depuseram e mutilaram as orelhas de Hircano para que não pudesse voltar a
ser sumo sacerdote (com base em Levítico 21:17-21) e estabeleceram Antígono II, filho de Aristóbulo II, como rei e sumo
sacerdote. Fasael se suicidou na prisão, mas Herodes conseguiu escapar dos partos e buscar auxílio dos romanos, conseguindo
que o senado o declarasse “rei dos judeus”. Com o apoio dos romanos e suas legiões, Herodes levantou cerco contra Jerusalém
de 39 AC a 37 AC, culminando na deposição de Antígono II, que foi deportado para Antioquia e executado com outros 45
apoiadores. Hircano seria morto em 30 AC, acusado por Herodes de traição. A dinastia dos Hasmoneus chegava ao fim e os
herodianos ficariam por quase 130 anos no governo da Judéia.

Governo Idumeu

Com o apoio dos romanos, a partir de 37 AC a dinastia herodiana foi estabelecida, tendo como primeiro rei Herodes, O Grande.
Este rei fez muitas coisas para tentar ser aceito pelos judeus: durante o cerco, conseguiu impedir o general romano Sósio de
profanar e saquear o templo, pagando um resgate de sua própria mão; casou-se com a filha de Aristóbulo II, Mariamne, da
linhagem dos hasmoneus, a fim de dar a imagem de continuidade da dinastia; empreendeu uma grande obra de reforma do
templo, com mais de 1.000 trabalhadores; construiu o porto de Cesaréia, o que movimentava o comércio de Israel com outras
nações; reconstruiu prédios e fortalezas de Jerusalém e da Judéia, inclusive seu próprio palácio; abriu poços de água e canalizou
águas para dentro da cidade; proveu cultura e educação helenizada para o povo. Nada disso, porém, ajudou muito na reputação
do governante. O que sempre sobressaía de Herodes era seu comportamento colérico, por vezes vil e até mesmo homicida.

Embora houvesse benefícios, a população sofria com impostos pesados. Levantes ou pequenas revoltas eram sufocadas com
extrema violência pela guarda pessoal de Herodes, que contava com cerca de 2.000 soldados, além da presença das legiões
romanas. Muito das ações e obras dele visavam impressionar os romanos e assegurar sua posição sem que tivesse que se
submeter a um governador romano, o que de fato aconteceu, mas essa posição também o tornava impopular diante dos judeus.
Diz-se ainda que era ciumento e possessivo, vendo sempre a traição em seus familiares, o que o levou a assassinar Mariamne e,
anos depois, seus 2 filhos, Aristóbulo III e Alexandre, o que erradicou os hasmoneus em definitivo. Outra prova dessa cólera
descontrolada aparece no relato bíblico de Mateus, onde Herodes promove um infanticídio em seus domínios, já que, segundo
uns astrônomos que apareceram em seu palácio, um novo rei havia nascido e isso ameaçava seu trono. O ano é cerca de 6 AC,
onde começa o relato bíblico do Novo Testamento.

Herodes morreria em 4 AC, deixando seu reino a seu filho Arquelau. A dinastia herodiana que se seguiu nunca teve um líder com
a mesma capacidade de Herodes, O Grande, tanto que o governo de Arquelau durou apenas 3 anos. Logo, os outros filhos de
Herodes seria tetrarcas ou etnarcas, mas não conseguiram se firmar sobre o título de “rei dos judeus” como seu pai, o que levou
o agora império romano a colocar governadores sobre a região, que faziam a conexão do rei com Roma.

A busca pelo Messias

Depois da queda dos governantes Hasmoneus, Israel entrou num período misto de melancolia e revolta. A dinastia hasmonéia
mal havia durado 1 século e novamente dominadores externos reinavam sobre eles. Tão logo Herodes assumiu, pessoas
proeminentes mais revoltadas se voltaram para o conceito messiânico pregado pelos essênios, onde o messias seria o libertador
de Israel, mas à medida que o ensino ia se difundindo, a imagem do messias esperado ia se transformando na de um general
resignado como Judas Macabeu. Pelas palavras de Jesus, advertindo quanto aos falsos “cristos”, e os relatos de Josefo, era
comum que todos os dias surgisse um novo autoproclamado messias.

A Bíblia nos cita pelo menos dois deles, que também podem ser confirmados historicamente nos relatos de Josefo. Um deles é o
já citado Judas Galileu, que iniciou a seita dos zelotes, mas sua morte prematura impediu que ele fosse considerado assim,
embora a seita dos zelotes perseverasse. O outro é Teudas, que atuou como um pregador messiânico que se propunha a liderar
massas judaicas, para fins de renovação religiosa e social. Proclamando-se um profeta mandado por Deus para socorrer o povo,
recorreu à tradição do herói nacional, Moisés, assegurando ser capaz de "abrir as águas" do rio Jordão. Segundo o relato bíblico,
Teudas arrebanhou cerca de 400 pessoas, mas foi capturado e morto, o que fez seus seguidores se dispersarem. A descrição,
tanto de Teudas quanto de Judas, é dada pelo mestre Gamaliel em Atos 5:35-39. Por sinal, a profecia de Jesus sobre o surgimento
de diversos messias depois dele, em Mateus 24:4-5 e 23-24, continua se cumprindo até hoje.

Conclusão

Mesmo diante das situações difíceis que Israel passou, seja em apostasia, seja em renovação religiosa, vemos que Deus continua
cumprindo sua aliança. Povos e impérios caíram, civilizações desapareceram, guerras aconteceram, mas Israel continua a existir e
os judeus não são erradicados, como tantos povos da época que não existem mais. Por mais que o homem falhe, a promessa de
Deus de manter o seu povo é eterna, imutável e não pode falhar.

Biografia

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus: De Abraão à queda de Jerusalém. Rio de Janeiro: CPAD, 2013

Bíblia Católica, livros I e II Macabeus

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