Anéis 1.1
Anéis 1.1
Anéis 1.1
Aula 2.1
Anéis
Nesta aula vamos definir o conceito de anéil e identificar as propriedades que caracterizam um anel.
Apresentar as estruturas algébricas de domínio de integridade e corpos.
Definição 2.1.1. Um conjunto não vazio R, juntamente com duas operações binárias +, · é dito
ser um anel se:
Observação. Observe que a multiplicação não necessita ser comutativa, isto é, ab , ba para alguns
a, b ∈ R. Quando temos a · b = b · a para todo a, b ∈ R, dizemos que R é um anel comutativo. Caso
contrario R é não comutativa.
1 = 1 · 1′ = 1′ .
Notação (Subtração) Em qualquer anel R, para todo a ∈ R escrevemos o inverso aditivo por (−a). Pela
definição temos que a + (−a) = (−a) + a = 0. Para qualquer a, b ∈ R denotamos a + (−b) por a − b.
Exemplo 2.1.1. (Z, +, ·) é um anel comutativo com unidade, onde + e · são a adição e a
multiplicação usuais dos inteiros.
então
f (x) + g(x) = (a0 + b0 ) + (a1 + b1 )x + · · · + (ak + bk )xk , onde k = max{n, m}
e
f (x) · g(x) = c0 + c1 x + · · · + cn+m xn+m , onde c j = a j b0 + a j−1 b1 + · · · + a0 b j
Exemplo 2.1.4. (Matrizes). O conjunto M2×2 (F) das matrizes 2 × 2 com entradas em F, onde
F = Z, Q, R, ou C com a soma e produto usuais de matrizes, é um anel não comutativo com
1 0
unidade I = .
0 1
Exemplo 2.1.5. O conjunto dos inteiros pares 2Z, com a soma e produto usuais é um anel
comutativo sem unidade.
R = { f : X → R; f é continua}
√ √
Z[ d] = {a + b d | a, b ∈ Z}
√ √ √
(m + n d) − (a + b d) = (m − a) + (n − b) d
√ √ √
(m + n d)(a + b d) = (ma + nbd) + (mb + na) d
√ √
Além disto, se m + n d = m′ + n′ d então m = m′ e n = n′ .
(−1)(−1) = 1 e
(a) a0 + 0 = a0 = a(0 + 0) = a0 + a0, e portanto pela lei do cancelamento do grupo aditivo (R, +),
concluímos que 0 = a0. Analogamente podemos provar que 0 = 0a.
(b) (−a)b + ab = (−a + a)b = 0b = 0, portanto (−a)b = −(ab). Analogamente a(−b) = −ab.
(c) (−a)(−b) = −(a(−b)) = −(−(ab)) = ab, sendo que na última igualdade usamos o fato se tomar
a inversa de um elemento duas vezes obtemos o elemento.
146
Definição 2.1.3. (Subanel). Um subconjunto não vazio S de um anel R é dito ser um subanel
de R se, com as operações induzidas pelas operações de R (restrições), S é um anel.
Demonstração. Exercício
a
Exemplo 2.1.8. Mostre que o conjunto D7 = ; a é inteiro e k ∈ {1, 2, 3 · · · } é um subanel de
7k
(Q, +, ·).
a1 a2
• Sejam x = k
e y = k ∈ D7
7 1 72
Suponhamos, sem perda de generalidade, que k1 ≤ k2 . Temos
a1 a2 a1 7k2 −k1 − a2
(i) x − y = − = ∈ D7
7k1 7k2 7k2
a1 a2 a1 a2
(ii) x · y = k · k = k +k ∈ D7
7 1 7 2 71 2
Resulta de (i) e (ii) que D7 é subanel de Q.
147
• um ideal de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ a · r ∈ I e r · a ∈ I.
• um ideal à direta de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ a · r ∈ I.
• um ideal à esquerda de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ r · a ∈ I.
Observação. Note que num anel comutativa, os ideais à direta e à esquerda são iguais.
(i) a − b ∈ I
(ii) a · r ∈ I e r · a ∈ I.
Demonstração. Segue diretamente da definição do ideal e do Lema 2.1.3 (Teste para Subanel)
Exemplo 2.1.9.
(a) Dado um anel R, então R e {0} são sempre ideais de R, chamados ideais triviais.
(b) Para qualquer inteiro positivo n, nZ = {0, ±n, ±2n, ±3n, · · · } é um ideal de Z.
Definição 2.1.5. Um anel com 1 é chamada de simples se R e {0} são os únicos ideais de R.
Demonstração. Temos que I ⊂ R. Falta provar que R ⊂ I. Seja r qualquer elemento de R, então
r = r · 1 = 1 · r ∈ I. Portanto R ⊂ I, logo R = I.
a b
Exemplo 2.1.10. Seja T =
a, b ∈ R ⊂ M2 (R)
0 a
(a) Prove que T é um subanel de M2 (R).
0 b
(b) Mostre que I =
b ∈ R é um ideal de T.
0 0
Solução.
a b c d
(a) Sejam ,
∈ T. Então
0 a 0 c
0 0
• T , ∅ pois ∈ T
0 0
a b c d a + c b + d
• + = ∈ T
0 a 0 c 0
a+c
a b c d ac ad + bc
• · = ∈ T
0 a 0
c 0 ac
Portanto I é um ideal de T.
Definição 2.1.6. (Ideais gerados por conjuntos). Seja R um anel comutativo com unidade e
seja X = {x1 , x2 , · · · , xn } um subconjunto de R. Então definimos ideal gerado por X de R, por
• Um ideal I de R é dito finitamente gerado se I =< X >, para algum conjunto X com
|X| < ∞.
Demonstração.
• Se R = Z, então < m >= mZ ⊂ Z é o principal ideal gerado por m. Como cada subanéis,
S ⊂ Z é também um subgrupo e todos os subgrupos de Z são da forma mZ para algum
m ∈ Z, (Corolário 2 de Aula 1) seguir que todos os subgrupos de (Z, +) são de fato os
ideais principais.
150
Solução. Como Z12 é comutativa, não há diferença entre ideais à esquerda e à direta. Os ideais de Z12
são:
• I1 = {0}
Definição 2.1.8. Seja R um anel com unidade. Uma unidade do anel é um elemento a ∈ R tal
que existe um elemento b ∈ R com ab = ba = 1. Este elemento será denotado por a−1 .
Usaremos a notação U(R) = {x ∈ R; x é uma unidade de R} para denotar as unidades de R.
151
Lema 2.1.7. Seja R é um anel com 1. Se um elemento a ∈ R tem inverso multiplicativo b, então b
é único, e escrevemos b = a−1 .
Demonstração. Mesmo demonstração feito para grupos, isto é se b, b′ são inversos multiplicativos
de a, então
b = b · 1 = b(a · b′ ) = (b · a)b′ = 1 · b′ = b′
Demonstração.
= a1a−1
= aa−1
= 1
Analogamente (b−1 a−1 )(ab) = 1. e portanto b−1 a−1 é o inverso multiplicativo de ab e por-
tanto ab ∈ U(R).
Exemplo 2.1.12.
1 = r · a = ra mod m
ou seja existe t ∈ Z tal que ra − 1 = tm. Como 1 = ra − tm seguir que mdc(a, n) = 1, ou seja
a ∈ U(m).
Reciprocamente, se a ∈ U(m) ⇔ mdc(a, m) = 1 que implica que existem s, t ∈ Z tal que
sa + tm = 1. Tomando mod m deste equação e fazendo b := s mod m ∈ Zm , temos que
b · a = 1 em Zm , ou seja a ∈ U(Zm ).
(e) Em Z[i], temos que U(Z[i]) = {1, −1, i, −i}. De fato suponha que a + bi ∈ U(Z[i]) é uma
unidade, então
(a + bi)(c + di) = 1 para alguns c, d ∈ Z.
⇒ (a2 + b2 )(c2 + d2 ) = 1
√ √
(f) Em Z[ d], d < −1, então U(Z[ d]) = {±1}
153
(a) R é comutativa,
(d) 0 , 1.
ab = 0 ⇒ ou a = 0 ou b = 0.
Demonstração. Suponha que m é primo. Sabemos que U(Zm ) = U(m) = Zm \{0}. Portanto se
a, b ∈ Zm com a , 0 e ab = 0 então b = a−1 ab = a−1 0 = 0. Portanto Zm é um domínio de
integridade.
Agora suponha que m não é primo, ou seja, m = a · b com a, b ∈ Zm \{0}, então ab = 0 mod m,
logo a e b são divisores de zero, portanto Zm não é domínio de integridade.
154
Exemplo 2.1.15. O anel M2 (R) possui muitos divisores de zero. Por exemplo
0 a 0 b 0 0
=
0 0 0 0 0 0
Portanto, em M2 (R) não podemos concluir que B = 0 se AB = 0 com A , 0, ou seja não vale a lei do
cancelamento.
155
2.1.5 Corpos
(a) R é comutativa,
Exemplo 2.1.16.
(a) Q, R, C, Z2 , Z3 são corpos. Z não é um corpo pois por exemplo 2 , 0 tem não inverso
multiplicativo.
√ 1 √
(b) Z[ d] não é um corpo, pois < Z[ d].
2
√ √
(c) Q[ d] = {x + y d | x, y ∈ Q} é um corpo. De fato, se x , 0, y , 0 temos que
√
1 x−y d
√ = √ √
x+y d (x − y d)(x + y d)
√
x−y d
=
x2 − y2 d
Demonstração. Basta provar que não existe divisores de zero. Suponha que ab = 0, a , 0, b , 0.
Então a−1 existe, e
0 = a−1 0 = a−1 ab = b
Contradição.
Demonstração. Basta provar que todo elemento não nulo é inversível. Seja R = {r1 , · · · , rn } (todos
distintos) um domínio de integridade. Tomar r ∈ R, r , 0 qualquer. Considere {rr1 , rr2 , · · · , rrn }.
Se para algum i e j temos que rri = rr j então ri = r j pela lei do cancelamento.
Portanto {rr1 , rr2 , · · · , rrn } é um conjunto de n elementos distintos de R. Como R tem n elementos,
Portanto qualquer ri pode ser escrito como rr j para algum j. Em particular, 1 = rr j para algum
j, portanto r j = r−1 .
Demonstração.
(⇒) Se m não é primo sabemos do Lema 2.1.9 que Zm não é um domínio de integridade,
portanto não é um corpo.
Observação. Quando p é primo, denotamos Zp por Fp para indicar que estamos olhando Zp como um
corpo.
157
Proposição 2.1.15. Seja R um corpo. Então as únicas ideais de R são triviais, ou seja, as únicas
ideais são {0} e R.
Demonstração. Suponha que I ⊂ R é um ideal tal que I = {0}. Então existe x ∈ I, x , 0. Como R
é um corpo, x−1 ∈ R. Mas I é um ideal, portanto 1 = x−1 x ∈ I. Portanto pelo Proposição 2.1.5
temos que I = R.
Se n ∈ N definimos
an := a · a · · · a
| {z }
n fatores
Demonstração. Exercício
158
(ma)(nb) = (mn)(ab)
Demonstração. Suponha que n = car(R) não é primo, ou seja n = pq com 1 < p < n e 1 < q < n.
Então
(p1)(q1) = (pq)(1 · 1) = (pq)1 = n1 = 0
Corolário 10. Todo corpo tem característica zero ou primo. Em particular, todo corpo finito tem
característica primo.
√
Exemplo 2.1.17. Os anéis Q, R, C, Q[ d], Z[x], Q[x], R[x] tem caraterística 0.
Para cada m ∈ Z+ , Zm e Z[m] são anéis com caraterística m.
a⊕b=a+b+1 a⊙b=a+b+a·b
Solução.
(a) M2×2 (R), +, · :
• M2×2 (R), +, · é um anel pois
160
(A1):
a b a′ b′ a′′ ′′
b a + a b + b a′′
′ ′
b ′′
+ = + =
′ ′ + ′′
c d c d c d′′ c + c′ d + d′ c′′ d′′
(a + a′ ) + a′′ (b + b′ ) + b′′ a + (a′ + a′′ ) b + (b′ + b′′ )
=
= =
(c + c′ ) + c′′ (d + d′ ) + d′′ c + (c′ + c′′ ) d + (d′ + d′′ )
a b a′ + a′′ b′ + b′′ a b a′ b′ a′′ b ′′
= + = +
′ ′ + ′′
.
c d c′ + c′′ d + d′′
c d c d c d′′
(A2):
a b a′ b′ a + a′ b + b′ a′ + a b′ + b a′ b′ a b
.
+ = =
′ ′ = ′ ′ ′ +
c d c d c + c′ d + d′ c + c d′ + d c d c d
(A3):
0 0 a b 0 0 a b
O elemento neutro da adição é a matriz , pois
+
=
.
0 0 c d 0 0 c d
(A4):
a b −a −b
O simétrico da matriz é a matriz
, pois
c d −c −d
a b −a −b 0 0
=
+ .
c d −c −d 0 0
(A5):
a b a′ b′ a′′ b′′ aa′ + bc′ ab′ + bd′ a′′ b′′
= · · = · =
c d c′ d′ c′′ d′′ ca′ + dc′ cb′ + dd′ c′′ d′′
(aa′ + bc′ )a′′ + (ab′ + bd′ )c′′ (aa′ + bc′ )b′′ ) + (ab′ + bd′ )d′′
= =
(ca′ + dc′ )a′′ + (cb′ + dd′ )c′′ (ca′ + dc′ )b′′ + cb′ + dd′ )d′′
a(a′ a′′ ) + b(c′ a′′ ) + a(b′ c′′ ) + b(d′ c′′ ) a(a′ b′′ ) + b(c′ b′′ ) + a(b′ d′′ ) + b(d′ d′′ )
= =
c(a′ a′′ ) + d(c′ a′′ ) + c(b′ c′′ ) + d(d′ c′′ ) c(a′ b′′ ) + d(c′ b′′ ) + c(b′ d′′ ) + d(d′ d′′ )
a(a′ a′′ + b′ c′′ ) + b(c′ a′′ + d′ c′′ ) a(a′ b′′ + b′ d′′ ) + b(c′ b′′ + d′ d′′ )
= =
c(a′ a′′ + b′ c′′ ) + d(c′ a′′ + d′ c′′ ) c(a′ b′′ + b′ d′′ ) + d(c′ b′′ + d′ d′′ )
a b a′ a′′ + b′ c′′ a′ b′′ + b′ d′′ a b a′ b′ a′′ b′′
= ·
=
·
·
c d c a +d c c b +d d c d c d c
′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′ ′′
d
′′
161
(A6):
a
b a b a′′ b′′
′ ′ a b a′ + a′′ b′ + b′′
· + = · =
′
c d c′ d′ c′′ d′′ c d c + c′′ d′ + d′′
a(a′ + a′′ ) + b(c′ + c′′ ) a(b′ + b′′ ) + b(d′ + d′′ )
=
c(a′ + a′′ ) + d(c′ + c′′ ) c(b′ + b′′ ) + d(d′ + d′′ )
aa′ + aa′′ + bc′ + bc′′ ab′ + ab′′ + bd′ + bd′′
=
′′
ca + ca + dc + dc cb + cb + dd + dd
′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′
aa′ + bc′ ab′ + bd′ aa′′ + bc′′ ab′′ + bd′′
= +
ca′ + dc′ cb′ + dd′ ca′′ + dc′′ cb′′ + dd′′
a b a′ b′ a b a′′ b′′
= ·
+
·
c d c′ d′ c d c′′ d′′
A outra lei distributiva (A7) é mostrada de forma análoga.
• M2×2 (R), +, · é um anel não comutativo, pois por exemplo
1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0
· = , mas · = .
0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1
1 0
• M2×2 (R), +, · é um anel com unidade , pois
0 1
a b 1 0 1 0 a b a b a b
· = · =
, para todo
∈ M2×2 (R).
c d 0 1 0 1 c d c d
c d
• M2×2 (R), +, · não é um domínio de integridade pois possui divisores de zero, por exemplo
2 2 1 −1 0 0 1 −1 2 2
· = = ·
2 2 −1 1 0 0 −1 1 2 2
2 2
logo é um divisor de zero.
2 2
2 2
• M2×2 (R), +, · não é um corpo, pois não possui elemento inverso multiplicativo.
2 2
162
(b) Z × Z, ⊕, ⊙ :
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel pois
(A1):
(a, b) ⊕ (c, d) ⊕ (e, f ) = (a + c, b + d) ⊕ (e, f ) = (a + c) + e, (b + d) + f =
= a + (c + e), b + (d + f ) = (a, b) + (c + e, d + f ) =
= (a, b) ⊕ (c, d) ⊕ (e, f ) .
(A2):
(a, b) ⊕ (c, d) = (a + c, b + d) = (c + a, d + b) = (c, d) ⊕ (a, b).
(A3):
O elemento neutro da adição é o par (0, 0), pois (a, b) ⊕ (0, 0) = (a, b).
(A4)
O simétrico do elemento (a, b) é o par (−a, −b), pois
(a, b) ⊕ (−a, −b) = a + (−a), b + (−b) = (0, 0)
(A5):
(a, b) ⊙ (c, d) ⊙ (e, f ) = (a ·c, b ·d) ⊙ (e, f ) = (a ·c) · e, (b ·d) · f =
= a · (c ·e), b · (d ·f ) = (a, b) ⊙ (c · e, d·f ) =
= (a, b) ⊙ (c, d) ⊙ (e, f ) .
(A6):
(a, b) ⊙ (c, d) ⊕ (e, f ) = (a, b) ⊙ (c + e, d + f ) = a ·(c + e), b ·(d + f ) =
= a · c + a ·e, b · d + b ·f = (a · c, b · d) ⊕ (a · e, b·f ) =
= (a, b) ⊙ (c, d) ⊕ (a, b) ⊙ (e, f ) .
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel comutativo, pois
(a, b) ⊙ (c, d) = (a ·c, b ·d) = (c ·a, d ·b) = (c, d) ⊙ (a, b) para todo (a, b), (c, d) ∈ Z × Z.
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel com unidade (1, 1), pois
(a, b) ⊙ (1, 1) = (a ·1, b ·1) = (a, b) para todo (a, b), (c, d) ∈ Z × Z.
163
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um domínio de integridade, pois não possui divisores de zero. De fato,
(a, b) ⊙ (c, d) = (0, 0) ⇔ (a, b) = (0, 0) ou (c, d) = (0, 0).
• Z × Z, ⊕, ⊙ não é um corpo, pois (2, 2) não possui um inverso multiplicativo.
(c) P(X), △, ∩ :
• P(X), △, ∩ é um anel pois
(A2):
A△B = (A ∪ B) − (A ∩ B) = (B ∪ A) − (B ∩ A) = B△A
pois ∩ e ∪ são operações comutativos.
(A1):
Para provar a lei da associatividade, vamos usar os seguintes fatos:
– Leis de Morgan: (A ∩ B) = A ∪ B e (A ∪ B) = A ∩ B
" # " #
A△(B△C) = A ∩ (B△C) ∪ (B△C) ∩ A
" !# " ! #
= A ∩ (B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ (B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # " ! !#
= A ∩ B ∩ C ∩ C ∩ B ∪ (B ∩ C) ∩ A ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # ! !
= A ∩ B ∪ C ∩ C ∪ B ∪ (B ∩ C) ∩ A ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # ! !
= A ∩ B ∩ (C ∪ B) ∪ C ∩ (C ∪ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i
= A ∩ B ∩ C) ∪(B ∩ B) ∪(C ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i
= A ∩ B ∩ C) ∪ ∅ ∪ ∅ ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i
= A ∩ B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
= A∩B∩C ∪ A∩C∩B ∪ B∩C∩A ∪ C∩B∩A
(A△B)△C = A∩B∩C ∪ A∩C∩B ∪ B∩C∩A ∪ C∩B∩A
= C∩A∩B ∪ C∩B∩A ∪ A∩B∩C ∪ B∩A∩C
= C△(A△B)
(A3):
O elemento neutro da adição é o conjunto ∅, pois A△∅ = A.
(A4):
O simétrico do elemento A é o conjunto A pois A△A = ∅
(A5):
165
(A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C).
(A6):
A ∩ (B△C) = A ∩ (B − C) ∪ (C − B) = A ∩ (B − C) ∪ A ∩ (C − B) =
= (A ∩ B) − (A ∩ C) ∪ (A ∩ C) − (A ∩ B) =
= (A ∩ B)△(A ∩ C).
• P(X), △, ∩ é um anel comutativo, pois A ∩ B = B ∩ A para todo A, B ∈ P.
• P(X), △, ∩ é um anel com unidade X, pois A ∩ X = A.
• P(X), △, ∩ não é um domínio de integridade, pois possui divisores de zero. Por exemplo
A ∩ A = A ∩ A = ∅.
• P(X), △, ∩ não é um corpo pois, se A e B são subconjuntos de X não temos em geral que
A ∩ B = X.
(d) R, ⊕, ⊙ :
• R, ⊕, ⊙ é um anel pois
(A1)
a ⊕ b ⊕ c = a + b + 1 ⊕ c = (a + b + 1) + c + 1 = a + (b + c + 1) + 1 = a ⊕ (b ⊕ c).
(A2)
a ⊕ b = a + b + 1 = b + a + 1 = b ⊕ a.
(A3)
O elemento neutro da adição é (−1), pois a ⊕ (−1) = a + (−1) + 1 = a − 1 + 1 = a.
(A4)
O simétrico do elemento a é (−2 − a), pois
a ⊕ (−2 − a) = a + (−2 − a) + 1 = a − 2 − a + 1 = −1
(A5)
166
a ⊙ b ⊙ c = (a + b + a · b) ⊙ c = (a + b + a · b) + c − (a + b + a · b) · c =
= a + b + a · b + c + a · c + b · c + a · b · c = a + (b + c + bc) + ·(a · b + a · c + a · b · c) =
= a + (b + c + bc) + a · (b + c + b · c) = a ⊙ b ⊙ c .
(A6)
a ⊙ b ⊕ c = a ⊙ (b + c + 1) = a + (b + c + 1) + a · (b + c + 1) =
= a + b + c + 1 + a · b + a · c + a = (a + b + a · b) + (a + c + a · c) + 1 =
= (a ⊙ b) + (a ⊙ c) + 1 = (a ⊙ b) ⊕ (a ⊙ c).
• R, ⊕, ⊙ é um anel comutativo pois a⊙b = a+b+a·b = b+a+b·a = b⊙a para todo a, b ∈ R.
• R, ⊕, ⊙ é um anel com unidade −1, pois a ⊙ −1 = a − 1 + 1 = a para todo a ∈ R.
• R, ⊕, ⊙ é domínio de integridade pois não possui divisores de zero. De fato se a ⊙ b =
−1 ⇔ a = −1 ou b = −1.
−a
• R, ⊕, ⊙ é um corpo, pois cada elemento a , (−1), possui inverso multiplicativo b = .
1+a
√
(e) Z[ −2], +, ·
√
• Z[ −2], +, · é um anel pois
(A1)
√ √ √ √ √
(a + b −2) + (c + d −2) + (e + f −2) = (a + c) + (b + d) −2 + (e + f −2) =
√ √ √
= (a + c + e) + (b + d + f ) −2 = (a + b −2) + (c + e) + (d + f ) −2 =
√ √ √
= (a + b −2) + (c + d −2) + (e + f −2) .
(A2)
√ √ √ √
(a + b −2) + (c + d −2) = (a + c) + (b + d) −2 = (c + a) + (d + b) −2 =
√ √
= (c + d −2) + (a + b −2)
(A3)
√
O elemento neutro da adição é (0 + 0 −2), pois
√ √ √
(a + b −2) + (0 + 0 −2) = a + b −2.
167
(A4)
√ √
O simétrico do elemento (a + b −2) é (−a − b −2), pois
√ √ √ √
(a + b −2) + (−a − b −2) = (a − a) + (b − b) −2 = 0 + 0 −2.
(A5)
√ √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)= (ac − 2bd) + (ad + bc) −2 · (e + f −2) =
√
= e(ac − 2bd) − 2 f (ad + bc) + f (ac − 2bd) + e(ad + bc) −2 =
√
= eac − 2ebd − 2 f ad − 2 f bc + f ac − 2 f bd + ead + ebc −2.
Por outro lado,
√ √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2) = (a + b −2) · (ce − 2 f d) + (c f + de) −2 =
√
= a(ce − 2 f d) − 2b(c f + de) + a(c f + de) + b(ce − 2 f d) −2 =
√
= ace − 2a f d − 2bc f − 2bde + ac f + ade + bce − 2b f d −2.
Portanto
√ √ √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)=(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)
(A6)
√ √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) + (e + f −2) = (a + b −2) · (c + e) + (d + f ) −2 =
√
= a(c + e) − 2b(d + f ) + a(d + f ) + b(c + e) −2 =
√
= ac + ae − 2bd − 2b f + ad + a f + bc + be −2.
Por outro lado,
√ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) + (a + b 2) · (e + f −2) =
√ √
= (ac − 2bd) + (ad + bc) −2 + (ae − 2b f ) + (a f + be) −2 =
√
= (ac − 2bd) + (ae − 2b f ) + (ad + bc) + (a f + be) −2 =
√
= ac − 2bd + ae − 2b f + ad + bc + a f + be −2.
Portanto
√ √ √ √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) +(e + f −2)=(a + b −2) · (c + d −2) + (a + b 2) · (e + f −2)
√
• Z[ −2], +, · é um anel comutativo pois
√ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) = (ac − 2bd) + (ad + bc) −2
Por outro lado,
√ √ √
(c + d −2) · (a + b −2) = (ca − 2db) + (cb + da) −2.
168
Portanto
√ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) = (c + d −2) · (a + b −2)
√ √
• Z[ −2], +, · um anel com unidade (1 + 0 −2), pois
√ √ √
(a + b −2) · (1 + 0 −2) = a + b −2.
√
• Z[ −2], +, · é um domínio de integridade pois não possui divisores de zero. De fato
√ √ √ √ √ √ √
(a+b −2)·(c+d −2) = 0+0 −2 ⇔ (a+b −2) = 0+0 −2 ou (c+d −2) = 0+0 −2.
√ √ √
• Z[ −2], +, · não é um corpo. De fato se (c + d −2) é o inverso de (a + b −2) então
a −b
c= 2 2
<Z e d= 2 < Z.
a + 2b a + 2b2
Exercício 2.1.2. Seja (A, +, ·) um anel comutativo com identidade. Prove que:
(c) Se o produto de dois elementos de A é um divisor de zero então algum dos fatores o é.
(d) A soma de dois divisores de zero pode não ser um divisor de zero.
Solução.
a , 0 tal que a · e
(b) Seja a um divisor de zero de A. Então existe e a = 0.
Seja c = a · b, b ∈ A qualquer.
• Se b = 0 ou b = e
a, então c = 0.
• Suponha que b , 0 e b , e
a. Portanto c , 0.
Multiplicando c por e
a temos
a · (ab) = (e
a·c =e
e a · a) · b = 0 · b = 0
169
(d) Em Z6 = {0, 1, 2, 3, 4, 5} temos que 3 e 4 são divisores de zero. Mas 3 + 4 = 1 não é um divisor zero.
Exercício 2.1.3. Estabeleça uma relação de inclusão entre anel, corpo e domínio de integridade
e justifique.
Solução.
corpo ⊂ domínio de integridade ⊂ anel
Exercício 2.1.4. Quais dos seguintes conjuntos são subanéis e/ ou ideais dos anéis indicados.
(a) P = {2k, k ∈ Z} em Z, +, ·
(b) I = {2k − 1, k ∈ Z} em Z, +, ·
(c) Z em Q
√
(d) {a + b 2, a, b ∈ Z} em R, +, ·
a b
; a, b ∈ Z
(e)
em M 2×2 (Z), +, ·
0 0
170
a 0
; a ∈ Z
(f)
em M 2×2 (Z), +, · ,
0 1
Solução.
(a) P = {2k, k ∈ Z}
• a · n = 2k1 n = 2(k1 n) = 2k ⇒ a · n ∈ P
Como a − b ∈ P e a · b ∈ P, temos que P é um ideal em Z, +, · .
(b) I = {2k − 1, k ∈ Z} em Z, +, ·
O conjunto I dos inteiros ímpares não é um subanel nem ideal de Z, pois para
a = 3 e b = 1, a − b = 2 < I.
(c) Z em Q
a b
; a, b ∈ Z
(e) M =
em M 2×2 (Z), +, ·
0 0
a b a b
1 1 2 2 . Assim
(e1) Sejam A, B ∈ M quaisquer. Ou seja, A = e B =
0 0
0 0
a b a b a − a b − b
1 1 2 2 1 2 1 2
⇒ A − B ∈ M.
• A − B = − =
0 0 0 0 0 0
a b a b a a a b
1 1 2 2 1 2 1 2
• A · B = · = ⇒ A · B ∈ M
0 0 0 0 0 0
a 0 a 0 a − a 0
1 2 1 2
A − B = −
=
⇒ A − B < M.
0 1 0 1 0 0
(a) I + J é ideal de A
(b) I ∩ J é ideal de A
Solução.
x + y = (x1 + x2 ) + (y1 + y2 )
= (x1 + y1 ) + (x2 + y2 )
x · r = (x1 + x2 ) · r
= x1 · r + x2 · r
x+y∈ Iex+y ∈ J
Logo x + y ∈ I ∩ J.
x·r∈ Iex·r ∈ J
Logo x · r ∈ I ∩ J.
n
X m
X
• Sejam x, y ∈ IJ, então x = ai bi e y = c j d j com ai , c j ∈ I e bi , d j ∈ J.
i=1 j=1
n
X m
X
Portanto x + y = ai bi + c j d j ∈ IJ
i=1 j=1
pois ela é uma soma finita (n + m termos) com os termos obtidos de produtos de elementos de
I com elementos de J.
n
X n
X
• Seja x ∈ IJ e r ∈ A. Assim x = ai bi e temos que x · r = (rai )bi ∈ IJ pois rai ∈ I. Logo
i=1 i=1
x · r ∈ I ∩ J.
n
X
• Além disto, observe que x = ai bi ∈ I pois ai ∈ I, bi ∈ A e I é ideal de A.
i=1
Da mesma forma, x ∈ J pois ai ∈ A, bi ∈ J e J é ideal de A.
Portanto, temos que IJ ⊆ I ∩ J.
Exercício 2.1.6. Em cada um dos casos abaixo diga se o elemento r é uma unidade no anel R.
Justifique suas respostas.
(a) R = Z11 , r = 5, (b) R = Z12 , r = 4 (c) R = Z[i], r = 2 + i
Solução.
(c) 2 + i não é uma unidade de Z[i] pois as únicas unidades de Z[i] são {1, −1, i, −i}.
De fato se existe a + ib ∈ Z[i] tal que
(2 − i)(a + ib) = 1
2 1
Mas + i < Z[i].
5 5
174
n n n
(b) Mostre que, para todo n inteiro positivo, (x + y)p = xp + yp .
Solução.
= xp + yp
sendo que na segunda igualdade, usamos o fato que se R é uma anel comutativo com característica
p, temos do Lema 2.1.17 que px = 0 para todo x ∈ R.
n n n
P(n) : (x + y)p = xp + yp . (∗)
(x + y)p = xp + yp ,
• Suponha que, para algum n ∈ N, se tenha que P(n) é verdadeira, isto é, (∗) é válida.
Pretendemos provar que P(n + 1) também é verdadeira, ou seja
n+1 n
(x + y)p = (x + y)p ·p
n p
= (x + y)p
n
n p
= xp + yp usando (∗)
n+1 n+1 −1 p(p − 1) pn+1 −2 2 n+1 n+1
= xp + pxp y+ x y + · · · + pxyp −1 + yp
2
0 (p − 1) pn+1✘ 0 ✿ 0 pn+1
n+1 n+1 ✿
✘ −2✘2✘
✿ ✘
n+1 −1
= xp p ✘−1 ✘p✘✘
✘
+✘px✘ y+ px
✘ ✘ y pxy
+ · · · +✘ +y
2 ✘
n+1 n+1
= xp + yp
Isso mostra que P(n + 1) é verdadeira, toda vez que P(n) é verdadeira. Portanto, pelo princípio
de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.
(c) Considere Z4 = {0, 1, 2, 3}. Temos que a característica de Z4 é 4. Tomamos x = y = 1 temos que
Logo (x + y)4 , x4 + y4 .