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Anéis 1.1

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142

Aula 2.1

Anéis

Nesta aula vamos definir o conceito de anéil e identificar as propriedades que caracterizam um anel.
Apresentar as estruturas algébricas de domínio de integridade e corpos.

2.1.1 Definição de anel, exemplos e propriedades básicas

Definição 2.1.1. Um conjunto não vazio R, juntamente com duas operações binárias +, · é dito
ser um anel se:

(a) (R, +) é um grupo abeliano, ou seja

(A1): a + (b + c) = (a + b) + c, para todo a, b, c ∈ R;

(A2): a + b = b + a; para todo a, b ∈ R.

(A3): ∃ 0 ∈ R; a + 0 = 0 + a = a, para todo a ∈ R;

(A4): Para todo a ∈ R, ∃ − a ∈ R; a + (−a) = 0 = (−a) + a;

(b) · é associativa, ou seja,

(A5): a · (b · c) = (a · b) · c, para todo a, b, c ∈ R.

(c) Valem as leis distributivas, ou seja,

(A6): a · (b + c) = (a · b) + (a · c) para todo a, b, c ∈ R;

(A7): (b + c) · a = (b · a) + (c · a) para todo a, b, c ∈ R.


143

Notação: (R, +, ·) denotará um anel R com as operações + e ·.

Observação. Observe que a multiplicação não necessita ser comutativa, isto é, ab , ba para alguns
a, b ∈ R. Quando temos a · b = b · a para todo a, b ∈ R, dizemos que R é um anel comutativo. Caso
contrario R é não comutativa.

Definição 2.1.2. Se existe um elemento 1 ∈ R tal que a · 1 = 1 · a = a para todo a ∈ R, então


chamamos 1 a unidade ou identidade do anel R.
Quando um anel R possui o elemento identidade dizemos que R é um anel com unidade, ou
simplesmente um anel com 1.

Lema 2.1.1. Se R é um anel com 1, então 1 é única.

Demonstração. Mesmo demonstração feito para grupos, isto é

1 = 1 · 1′ = 1′ .

Notação (Subtração) Em qualquer anel R, para todo a ∈ R escrevemos o inverso aditivo por (−a). Pela
definição temos que a + (−a) = (−a) + a = 0. Para qualquer a, b ∈ R denotamos a + (−b) por a − b.

Exemplo 2.1.1. (Z, +, ·) é um anel comutativo com unidade, onde + e · são a adição e a
multiplicação usuais dos inteiros.

Exemplo 2.1.2. O conjunto Zn = {0, 1, 2, · · · , n − 1} com as operações +n (adição modulo n)


e ·n (multiplicação modulo n) é um anel comutativo com unidade. Este anel é chamado o anel
dos inteiros módulo n.

Exemplo 2.1.3. (Anéis de polinômios ). Sejam R = Z, Q, R ou C e seja R[x] denota todos os


polinômios na variável x com coeficientes em R, ou seja,

R[x] = { f (x) = a0 + a1x + · · · + anxn : a j ∈ R}.


144

R[x] muindo com a multiplicação e adição usuais, isto é, se

f (x) = a0 + a1 x + · · · + an xn e g(x) = b0 + b1 x + · · · + bm xm ∈ R[x]

então
f (x) + g(x) = (a0 + b0 ) + (a1 + b1 )x + · · · + (ak + bk )xk , onde k = max{n, m}

e
f (x) · g(x) = c0 + c1 x + · · · + cn+m xn+m , onde c j = a j b0 + a j−1 b1 + · · · + a0 b j

é um anel comutativo e sua unidade é f (x) = 1.

Exemplo 2.1.4. (Matrizes). O conjunto M2×2 (F) das matrizes 2 × 2 com entradas em F, onde
F = Z, Q, R, ou C com  a soma e produto usuais de matrizes, é um anel não comutativo com
 1 0 
unidade I =   .

 0 1 

Exemplo 2.1.5. O conjunto dos inteiros pares 2Z, com a soma e produto usuais é um anel
comutativo sem unidade.

Exemplo 2.1.6. (Anéis de funções). Se X é um conjunto não vazio, então o conjunto

R = { f : X → R; f é continua}

muindo com a soma e multiplicação usuais de funções, isto é

( f + g)(x) = f (x) + g(x) e ( f · g) = f (x)g(x) para todo x ∈ X

então R é um anel comutativo com unidade f (x) ≡ 1.


√ √
Exemplo 2.1.7. (Anel dos Inteiros de Gauss). O conjunto Z[ −1] = {a + b −1, a, b ∈ Z} com
operações
√ √ √
(a1 + b1 −1) + (a2 + b2 −1) = (a1 + a2 ) + (b1 + b2 ) −1
√ √ √
(a1 + b1 −1) · (a2 + b2 −1) = (a1 a2 − b1 b2 ) + (a1 b2 + a2 b1 ) −1

é um anel comutativo com unidade 1 chamado de anel dos inteiros de Gauss.


145

Em geral se d ∈ Z não é um quadrado então

√ √
Z[ d] = {a + b d | a, b ∈ Z}

é um anel comutativo com unidade, com operações

√ √ √
(m + n d) − (a + b d) = (m − a) + (n − b) d

√ √ √
(m + n d)(a + b d) = (ma + nbd) + (mb + na) d
√ √
Além disto, se m + n d = m′ + n′ d então m = m′ e n = n′ .

Lema 2.1.2. (Alguns propriedades básicas de anéis). Seja R um anel. Então

(a) a0 = 0 = 0a para todo a ∈ R.

(b) (−a)b = −(ab) = a(−b) para todo a, b ∈ R.

(c) (−a)(−b) = ab para todo a, b ∈ R. Em particular, se R é um anel com 1, então

(−1)(−1) = 1 e

(−1)a = −a para todo a ∈ R.

(d) Se a, b, c ∈ R, então a(b − c) = ab − ac e (b − c)a = ba − ca.

Demonstração. Para todo a, b ∈ R;

(a) a0 + 0 = a0 = a(0 + 0) = a0 + a0, e portanto pela lei do cancelamento do grupo aditivo (R, +),
concluímos que 0 = a0. Analogamente podemos provar que 0 = 0a.

(b) (−a)b + ab = (−a + a)b = 0b = 0, portanto (−a)b = −(ab). Analogamente a(−b) = −ab.

(c) (−a)(−b) = −(a(−b)) = −(−(ab)) = ab, sendo que na última igualdade usamos o fato se tomar
a inversa de um elemento duas vezes obtemos o elemento.

(d) a(b − c) := a(b + (−c)) = ab + a(−c) = ab + (−ac) = ab − ac.


146

2.1.2 Subanéis e Ideais


Vamos define o conceito de um subanel da forma semelhante ao conceito de um subgrupo.

Definição 2.1.3. (Subanel). Um subconjunto não vazio S de um anel R é dito ser um subanel
de R se, com as operações induzidas pelas operações de R (restrições), S é um anel.

Lema 2.1.3. (Teste para Subanel).


Um subconjunto S , ∅ de um anel R é um subanel de R se, e somente se valem as seguinte afirmações:

(i) Para todo a, b ∈ S ⇒ a − b = a + (−b) ∈ S

(ii) Para todo a, b ∈ S ⇒ ab ∈ S.

Demonstração. Exercício

 
a
Exemplo 2.1.8. Mostre que o conjunto D7 = ; a é inteiro e k ∈ {1, 2, 3 · · · } é um subanel de
7k
(Q, +, ·).

Solução. Tomando a = 0 ⇒ 0 ∈ D7 . Portanto D7 , ∅.

a1 a2
• Sejam x = k
e y = k ∈ D7
7 1 72
Suponhamos, sem perda de generalidade, que k1 ≤ k2 . Temos

a1 a2 a1 7k2 −k1 − a2
(i) x − y = − = ∈ D7
7k1 7k2 7k2
a1 a2 a1 a2
(ii) x · y = k · k = k +k ∈ D7
7 1 7 2 71 2
Resulta de (i) e (ii) que D7 é subanel de Q.
147

Definição 2.1.4. (Ideais). Um subanel I de um anel R é

• um ideal de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ a · r ∈ I e r · a ∈ I.

• um ideal à direta de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ a · r ∈ I.

• um ideal à esquerda de R, se ∀ a ∈ I e r ∈ R ⇒ r · a ∈ I.

Observação. Note que num anel comutativa, os ideais à direta e à esquerda são iguais.

O próximo teorema caracteriza um ideal.

Teorema 2.1.4. Sejam R um anel e I , ∅ um subconjunto de R. I é um ideal de R se, e somente se


para todo a, b ∈ I e r ∈ R, temos:

(i) a − b ∈ I

(ii) a · r ∈ I e r · a ∈ I.

Demonstração. Segue diretamente da definição do ideal e do Lema 2.1.3 (Teste para Subanel) 

Exemplo 2.1.9.

(a) Dado um anel R, então R e {0} são sempre ideais de R, chamados ideais triviais.

(b) Para qualquer inteiro positivo n, nZ = {0, ±n, ±2n, ±3n, · · · } é um ideal de Z.

Definição 2.1.5. Um anel com 1 é chamada de simples se R e {0} são os únicos ideais de R.

Observação. Um ideal (subanel) I ⊂ R tal que I , R é chamado de ideal (subanel) próprio.


148

Proposição 2.1.5. Suponha que R é um anel com 1 e I é um ideal de R. Se 1 ∈ I, então I = R.

Demonstração. Temos que I ⊂ R. Falta provar que R ⊂ I. Seja r qualquer elemento de R, então
r = r · 1 = 1 · r ∈ I. Portanto R ⊂ I, logo R = I. 
  

  a b  


 
 

Exemplo 2.1.10. Seja T =   

a, b ∈ R ⊂ M2 (R)

 
 
 

 0 a 
(a) Prove que T é um subanel de M2 (R).
  

  0 b  


 
 

(b) Mostre que I =   

b ∈ R é um ideal de T.

 
 
 

 0 0 

Solução.
   
 a b   c d 
   
(a) Sejam   ,



 ∈ T. Então

 0 a 0 c 
 
 0 0 
 
• T , ∅ pois   ∈ T

 0 0 
     
 a b   c d   a + c b + d 
  
•   +   =   ∈ T
 0 a   0 c   0
 
a+c 

     
 a b   c d   ac ad + bc 
  
•   ·   =   ∈ T
 0 a   0  
c   0 ac


Então T é um subanel de M2 (R)


     
 0 c   0 d   a b 
  ,   ∈ I e   ∈ T. Então
(b) Seja      
 0 0   0 0   0 a 
     
 0 c   0 d   0 c − d 

•   − 
 
 = 
 
 ∈ I

 0 0   0 0   0 0 
      
 


  a b   0 c   0 ac 

   ·   =   ∈ I

      


 0 a   0 0   0 0 



• 


      

 


  0 c   a b   0 ac 
  

   ·   =   ∈ I

 
  
0 0   0 a
 
0 0 

149

Portanto I é um ideal de T.

Definição 2.1.6. (Ideais gerados por conjuntos). Seja R um anel comutativo com unidade e
seja X = {x1 , x2 , · · · , xn } um subconjunto de R. Então definimos ideal gerado por X de R, por

hXi = hx1 , x2 , · · · , xn i = {r1 x1 + r2 x2 + · · · rn xn | ri ∈ R}

É fácil verificar que hXi é o menor ideal de R que contêm X.

Definição 2.1.7. (Ideais Principais). Sejam R um anel comutativo com unidade.

• Um ideal I de R é dito finitamente gerado se I =< X >, para algum conjunto X com
|X| < ∞.

• Um ideal I de R é dito principal se I =< a >, para algum elemento a ∈ R.


Note que < a >= {ra | r ∈ R}

Teorema 2.1.6. (Ideais de Z e Zn ). Seja R = Z ou Zm para algum m ∈ Z+ . Então

os subgrupos de (R, +) = os subaneis de R = os ideais de R.

Além disto, todo ideal de R é principal.

Demonstração.

• Se R = Z, então < m >= mZ ⊂ Z é o principal ideal gerado por m. Como cada subanéis,
S ⊂ Z é também um subgrupo e todos os subgrupos de Z são da forma mZ para algum
m ∈ Z, (Corolário 2 de Aula 1) seguir que todos os subgrupos de (Z, +) são de fato os
ideais principais.
150

• Suponha agora que R = Zn . Então para qualquer m ∈ Zn ,

< m >= {km : k ∈ Z} = mZn (∗)

é o ideal principal em Zn gerado por m.


Reciprocamente se S ⊂ Zn é um subanel então em particular S é um subgrupo de Zn .
De Corolário 3 de Aula 1 sabemos que S =< m >=< mdc(n, m) > para algum m ∈ Zn .
Portanto todo subgrupo de (Zn , +) é um ideal principal como em Eq. (∗)


Exemplo 2.1.11. Determine os ideais do anel Z12 .

Solução. Como Z12 é comutativa, não há diferença entre ideais à esquerda e à direta. Os ideais de Z12
são:

• I1 = {0}

• I2 =< 1 >=< 5 >=< 7 >=< 11 >= Z12

• I3 =< 2 >=< 10 >= {0, 2, 4, 6, 8, 10}

• I4 =< 3 >=< 9 >= {0, 3, 6, 9}

• I5 =< 4 >=< 8 >= {0, 4, 8}

• I6 =< 6 >= {0, 6, }

2.1.3 Unidades de um anel


Os elementos não nulos de um anel com unidade não necessitam ter inversos multiplicativos (isto é,
y inverso multiplicativo de x se e somente se xy = yx = 1). Os elementos de um anel R que possuem
inverso multiplicativo são chamados de invertíveis de R ou unidades de R.

Definição 2.1.8. Seja R um anel com unidade. Uma unidade do anel é um elemento a ∈ R tal
que existe um elemento b ∈ R com ab = ba = 1. Este elemento será denotado por a−1 .
Usaremos a notação U(R) = {x ∈ R; x é uma unidade de R} para denotar as unidades de R.
151

Lema 2.1.7. Seja R é um anel com 1. Se um elemento a ∈ R tem inverso multiplicativo b, então b
é único, e escrevemos b = a−1 .

Demonstração. Mesmo demonstração feito para grupos, isto é se b, b′ são inversos multiplicativos
de a, então
b = b · 1 = b(a · b′ ) = (b · a)b′ = 1 · b′ = b′

Proposição 2.1.8. O conjunto U(R) muindo com a operação de multiplicação em R é um grupo,


chamado de o grupo das unidades de R.

Demonstração.

• U(R) é fechado em relação ao multiplicação em R :


seja a, b ∈ U(R) e a−1 , b−1 seus inversos multiplicativos respectivamente em R. Então

(ab)(b−1 a−1 ) = a(bb−1 )a−1

= a1a−1

= aa−1

= 1

Analogamente (b−1 a−1 )(ab) = 1. e portanto b−1 a−1 é o inverso multiplicativo de ab e por-
tanto ab ∈ U(R).

• U(R) possui elemento neutro para a multiplicação pois 1 ∈ U(R).

• Cada elemento de U(R) possui inverso:


seja a ∈ U(R) e a−1 seu inverso em R. Então aa−1 = 1 e a−1 a = 1. Portanto a−1 ∈ U(R).
Portanto U(R) é um grupo.

152

Exemplo 2.1.12.

(a) Em Z, as unidades são 1 e −1. Logo U(Z) = {−1, 1}.

(b) Em M2 (R), as unidades são os elementos de GL(2, R), isto é

U(M2 (R)) = GL(2, R) = {A ∈ M2 (R) : det(A) , 0}

(c) Em R, as unidades são os elementos em R∗ := R\{0}, ou seja U(R) = R∗ .

(d) Em Zm , m ≥ 2, temos que U(Zm ) = U(m) = {a ∈ Zm ; mdc(a, m) = 1}

Demonstração. Se a ∈ U(Zm ), então existe r ∈ Zm tal que

1 = r · a = ra mod m

ou seja existe t ∈ Z tal que ra − 1 = tm. Como 1 = ra − tm seguir que mdc(a, n) = 1, ou seja
a ∈ U(m).
Reciprocamente, se a ∈ U(m) ⇔ mdc(a, m) = 1 que implica que existem s, t ∈ Z tal que
sa + tm = 1. Tomando mod m deste equação e fazendo b := s mod m ∈ Zm , temos que
b · a = 1 em Zm , ou seja a ∈ U(Zm ). 

(e) Em Z[i], temos que U(Z[i]) = {1, −1, i, −i}. De fato suponha que a + bi ∈ U(Z[i]) é uma
unidade, então
(a + bi)(c + di) = 1 para alguns c, d ∈ Z.

Então (a − bi)(c − di) = 1. Portanto

(a + bi)(c + di)(a − bi)(c − di) = 1

⇒ (a2 + b2 )(c2 + d2 ) = 1

Portanto a2 + b2 = 1, logo a + bi ∈ {1, −1, i, −i}.

√ √
(f) Em Z[ d], d < −1, então U(Z[ d]) = {±1}
153

2.1.4 Divisores de zero e Domínios de Integridade

Definição 2.1.9. (Divisores de zero). Sejam R um anel. Um elemento a ∈ R, a , 0 é chamado


de divisor de zero se existe outro elemento b ∈ R, b , 0 tal que ab = 0.

Definição 2.1.10. (Domínio de integridade). Um anel R é chamado domínio de integridade,


se

(a) R é comutativa,

(b) R possui o elemento identidade 1,

(c) R não possui divisores de zero, ou seja, ab , 0 para todo a, b ∈ R com a , 0 , b,

(d) 0 , 1.

Observação. Se 0 = 1, então x = x · 1 = x · 0 = 0. Portanto se 0 = 1 então R = {0}.



Exemplo 2.1.13. Os anéis Z, Q, R, C, Z[ d] não tem divisores de zero e portanto são domínios
de integridade. Neste sistemas sabemos que

ab = 0 ⇒ ou a = 0 ou b = 0.

Exemplo 2.1.14. O anel Z6 não um domínio de integridade. Por exemplo, 2 · 3 = 0 com


, 0 , 3, portanto ambos 2 e 3 são divisores de zero.

Lema 2.1.9. O anel Zm é um domínio de integridade se e somente se m é primo.

Demonstração. Suponha que m é primo. Sabemos que U(Zm ) = U(m) = Zm \{0}. Portanto se
a, b ∈ Zm com a , 0 e ab = 0 então b = a−1 ab = a−1 0 = 0. Portanto Zm é um domínio de
integridade.
Agora suponha que m não é primo, ou seja, m = a · b com a, b ∈ Zm \{0}, então ab = 0 mod m,
logo a e b são divisores de zero, portanto Zm não é domínio de integridade. 
154

Proposição 2.1.10. Se R é um domínio de integridade, então R[x] também é.

Demonstração. Seja f, g ∈ R[x] dois polinômios não nulos. Então f (x) = an xn + · · · + a1 x + a0 e


g(x) = bm xm + · · · + b1 x + b0 ∈ R[x] com an , 0 , bn e portanto,

f (x)g(x) = an bm xm+n + · · · a0 b0 , 0 pois an bm , 0.

Proposição 2.1.11. (Cancelamento). Se R é um domínio de integridade e ab = ac, com a , 0


então b = c.
Reciprocamente se R é um anel comutativa com 1 satisfazendo a a propriedade de cancelamento então
R não possui divisores de xeros e portanto R é um domínio de integridade.

Demonstração. Se ab = ac, então a(b−c) = 0. Portanto com a , 0 e R é um domínio de integridade,


então b − c = 0, ou seja b = c.
Reciprocamente, suponha que R satisfaz a lei do cancelamento e ab = 0. Se a , 0, então ab = a · 0
e pela lei do cancelamento b = 0. Mostrando que R não possui divisores de zero. 

Exemplo 2.1.15. O anel M2 (R) possui muitos divisores de zero. Por exemplo
    
 0 a   0 b   0 0 
     
    =  
     
0 0 0 0 0 0

Portanto, em M2 (R) não podemos concluir que B = 0 se AB = 0 com A , 0, ou seja não vale a lei do
cancelamento.
155

2.1.5 Corpos

Definição 2.1.11. (Corpos). Um anel R é chamado um corpo, se

(a) R é comutativa,

(b) R possui o elemento identidade 1,

(c) Todo os elementos não nulo de R são unidades, isto é, ∀a ∈ R, ∃ b ∈ R : ab = ba = 1.

Exemplo 2.1.16.

(a) Q, R, C, Z2 , Z3 são corpos. Z não é um corpo pois por exemplo 2 , 0 tem não inverso
multiplicativo.
√ 1 √
(b) Z[ d] não é um corpo, pois < Z[ d].
2
√ √
(c) Q[ d] = {x + y d | x, y ∈ Q} é um corpo. De fato, se x , 0, y , 0 temos que

1 x−y d
√ = √ √
x+y d (x − y d)(x + y d)

x−y d
=
x2 − y2 d

Note x2 − y2 d , 0 pois d não é quadrado de um racional.

Proposição 2.1.12. Seja R um anel comutativo com 1. Então R é simples se e somente se R é um


corpo.

Demonstração. (⇒:) Suponha que R é simples e comutativo e seja 0 , a ∈ R. Então Ra = {ra| r ∈ R}


um ideal de R. Como Ra , 0 (pois a ∈ Ra) e R é simples, Ra = R. Portanto 1 ∈ Ra, logo existe
algum elemento r ∈ R tal que ra = 1, ou seja, a é inversível em R. Portanto todo elemento
diferente de zero em R é inversível. Logo R é um corpo.
(⇐:) Suponha que R é um corpo. Seja I , 0 um ideal de R. Se 0 , r ∈ I, então r é um unidade
(pois R é um corpo). Portanto r = r · 1 ∈ I, ∀r ∈ R. Portanto R = I. 
156

Lema 2.1.13. (Corpos são domínios). Todo corpo R é um domínio de integridade.

Demonstração. Basta provar que não existe divisores de zero. Suponha que ab = 0, a , 0, b , 0.
Então a−1 existe, e
0 = a−1 0 = a−1 ab = b

Contradição. 

Lema 2.1.14. Todo domínio de integridade finito R é um corpo.

Demonstração. Basta provar que todo elemento não nulo é inversível. Seja R = {r1 , · · · , rn } (todos
distintos) um domínio de integridade. Tomar r ∈ R, r , 0 qualquer. Considere {rr1 , rr2 , · · · , rrn }.
Se para algum i e j temos que rri = rr j então ri = r j pela lei do cancelamento.
Portanto {rr1 , rr2 , · · · , rrn } é um conjunto de n elementos distintos de R. Como R tem n elementos,

{rr1 , rr2 , · · · , rrn } = R = {r1 , r2 , · · · , rn }.

Portanto qualquer ri pode ser escrito como rr j para algum j. Em particular, 1 = rr j para algum
j, portanto r j = r−1 . 

Corolário 8. O anel Zm é um corpo se e somente se m é prime.

Demonstração.

(⇒) Se m não é primo sabemos do Lema 2.1.9 que Zm não é um domínio de integridade,
portanto não é um corpo.

(⇐) Se m é primo, então Zm é um domínio de integridade finito, portanto é um corpo pela


Lema 2.1.14.


Observação. Quando p é primo, denotamos Zp por Fp para indicar que estamos olhando Zp como um
corpo.
157

Proposição 2.1.15. Seja R um corpo. Então as únicas ideais de R são triviais, ou seja, as únicas
ideais são {0} e R.

Demonstração. Suponha que I ⊂ R é um ideal tal que I = {0}. Então existe x ∈ I, x , 0. Como R
é um corpo, x−1 ∈ R. Mas I é um ideal, portanto 1 = x−1 x ∈ I. Portanto pelo Proposição 2.1.5
temos que I = R. 

2.1.6 Caraterística de um anel


Notação. Sejam que R um anel e a ∈ R. Então para cada n ∈ Z definimos


 n vezes

 z }| {




 a+ a + ··· + a se n ≥ 1



na := 
 0 se n = 0



 vezes
|n|

 z }| {



 −(a + a + · · · + a) = |n| · (−a) se n ≤ −1

Se n ∈ N definimos
an := a · a · · · a
| {z }
n fatores

(Aqui a0 = 1) Se a é uma unidade, então an é definida por todo n ∈ Z. Para n ∈ Z− , definimos

an := a−1 · a−1 · · · a−1


| {z }
|n| fatores

Lema 2.1.16. Sejam R um anel e a, b ∈ R. Então para todo m ∈ Z temos

(ma)b = m(ab) = a(mb)

Demonstração. Exercício 
158

Corolário 9. Sejam R um anel e a, b ∈ R. Então para todo m, n ∈ Z temos

(ma)(nb) = (mn)(ab)

Demonstração. Usando o lema anterior temos

(ma)(nb) = m(a(nb)) = m(n(ab)) = (mn)(ab).

Definição 2.1.12. (Característica de um anel). Seja R um anel com 1 ∈ R. Definimos a


característica de R, denotado por car(R), como sendo a ordem do elemento 1 no grupo (R, +).
Portanto car(R) é o menor inteiro em Z+ tal que n · 1 = 0. Caso não existe tal n ∈ Z+ dizemos
que car(R) é igual 0.

Lema 2.1.17. Seja R um anel com 1 e car(R) = n ≥ 1. Então nx = 0 para todo x ∈ R.

Demonstração. Para qualquer x ∈ R, nx = n(1x) = (n1)x = 0x = 0. 

Lema 2.1.18. Seja R um domínio de integridade. Então car(R) = 0 ou car(R) é primo.

Demonstração. Suponha que n = car(R) não é primo, ou seja n = pq com 1 < p < n e 1 < q < n.
Então
(p1)(q1) = (pq)(1 · 1) = (pq)1 = n1 = 0

Como p1 , 0 e q1 , 0 concluímos que ambos p1 e q1 são divisores de zero contradizendo o fato

que R é um domínio de integridade. 


159

Corolário 10. Todo corpo tem característica zero ou primo. Em particular, todo corpo finito tem
característica primo.


Exemplo 2.1.17. Os anéis Q, R, C, Q[ d], Z[x], Q[x], R[x] tem caraterística 0.
Para cada m ∈ Z+ , Zm e Z[m] são anéis com caraterística m.

2.1.7 Exercícios Resolvidos


Exercício 2.1.1. Verifique se os seguintes conjuntos com as operações indicadas são anéis. Dos
anéis, decida se é anel com unidade e se tem divisores de zero. Algum deles é corpo? Algum
deles é anel de integridade?
 
(a) M2×2 (R), +, · , onde M2×2 (R) é o conjunto das matrizes quadradas 2 × 2 de números reais,
+ e · as operações de adição e multiplicação usuais de matrizes respectivamente.
 
(b) Z × Z, ⊕, ⊙ , em que as operações ⊕ e ⊙ são definidas por

(a, b) ⊕ (c, d) = (a + c, b + d) (a, b) ⊙ (c, d) = (a.c, b.d)

com a, b, c, d ∈ Z e + e · as operações de adição e multiplicação usuais em Z.


 
(c) P(X), △, ∩ , onde P(X) é o conjunto das partes de um conjunto não vazio X e A△B =
(A ∪ B) − (A ∩ B), ∀ A, B ∈ P(X)
 
(d) R, ⊕, ⊙ , em que as operações ⊕ e ⊙ são definidas por

a⊕b=a+b+1 a⊙b=a+b+a·b

com a, b, c, d ∈ R e + e · as operações de adição e multiplicação usuais em R.


 √  √ √
(e) Z[ −2], +, · , onde Z[ −2] = {a + b −2; a, b ∈ Z} e + e · as operações de adição e
multiplicação usuais em Z.

Solução.
 
(a) M2×2 (R), +, · :
 
• M2×2 (R), +, · é um anel pois
160

(A1):
         
 a b   a′ b′   a′′ ′′ 
 
b   a + a b + b   a′′
 ′ ′ 
b ′′ 
     
  +     =   +   =
   ′ ′  +  ′′     
c d c d c d′′   c + c′ d + d′   c′′ d′′
   
 (a + a′ ) + a′′ (b + b′ ) + b′′   a + (a′ + a′′ ) b + (b′ + b′′ ) 
    =
=   = 
  
 (c + c′ ) + c′′ (d + d′ ) + d′′ c + (c′ + c′′ ) d + (d′ + d′′ ) 
         
 a b   a′ + a′′ b′ + b′′   a b   a′ b′   a′′ b ′′ 
         
=   +   =   +   
  ′ ′  +  ′′
 .
 c d   c′ + c′′ d + d′′  
c d c d c d′′


(A2):

           
 a b   a′ b′   a + a′ b + b′   a′ + a b′ + b   a′ b′   a b 
            .
 +  =   = 
   ′ ′  =    ′   ′ ′ + 
c d c d c + c′ d + d′ c + c d′ + d c d c d 

(A3):        
 0 0   a b   0 0   a b 
       
O elemento neutro da adição é a matriz   , pois 
 
 + 
 
 = 
 
 .

 0 0 c d 0 0 c d

(A4):    
 a b   −a −b 
   
O simétrico da matriz   é a matriz 
 
 , pois

 c d  −c −d
     
 a b   −a −b   0 0 
    =  
  +     .
     
c d −c −d 0 0 

(A5):          
 a b   a′ b′   a′′ b′′   aa′ + bc′ ab′ + bd′   a′′ b′′ 
         
=   ·   ·   =   ·   =
 c d   c′ d′   c′′ d′′   ca′ + dc′ cb′ + dd′   c′′ d′′ 
        
 
 (aa′ + bc′ )a′′ + (ab′ + bd′ )c′′ (aa′ + bc′ )b′′ ) + (ab′ + bd′ )d′′ 
 
=   =
 (ca′ + dc′ )a′′ + (cb′ + dd′ )c′′ (ca′ + dc′ )b′′ + cb′ + dd′ )d′′ 
 
 a(a′ a′′ ) + b(c′ a′′ ) + a(b′ c′′ ) + b(d′ c′′ ) a(a′ b′′ ) + b(c′ b′′ ) + a(b′ d′′ ) + b(d′ d′′ ) 
 
=   =
 c(a′ a′′ ) + d(c′ a′′ ) + c(b′ c′′ ) + d(d′ c′′ ) c(a′ b′′ ) + d(c′ b′′ ) + c(b′ d′′ ) + d(d′ d′′ ) 
 
 a(a′ a′′ + b′ c′′ ) + b(c′ a′′ + d′ c′′ ) a(a′ b′′ + b′ d′′ ) + b(c′ b′′ + d′ d′′ ) 
 
=   =
 c(a′ a′′ + b′ c′′ ) + d(c′ a′′ + d′ c′′ ) c(a′ b′′ + b′ d′′ ) + d(c′ b′′ + d′ d′′ ) 
           
 a b   a′ a′′ + b′ c′′ a′ b′′ + b′ d′′   a b    a′ b′   a′′ b′′  
           
=   · 
 
 = 
 
 ·  
  
 · 
 
 
 
 c d   c a +d c c b +d d   c d    c d   c
′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′ ′′
d  
′′
161

(A6):
         
 a 
 
 
b   a b   a′′ b′′
 ′ ′    a b   a′ + a′′ b′ + b′′ 
     
  ·   +   =   ·   =
         ′ 
c d   c′ d′   c′′ d′′ c d c + c′′ d′ + d′′
 
 a(a′ + a′′ ) + b(c′ + c′′ ) a(b′ + b′′ ) + b(d′ + d′′ ) 

=  

 c(a′ + a′′ ) + d(c′ + c′′ ) c(b′ + b′′ ) + d(d′ + d′′ ) 
 
 aa′ + aa′′ + bc′ + bc′′ ab′ + ab′′ + bd′ + bd′′ 

=  
 ′′ 
ca + ca + dc + dc cb + cb + dd + dd 
′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′
   
 aa′ + bc′ ab′ + bd′   aa′′ + bc′′ ab′′ + bd′′ 

=   + 
 


 ca′ + dc′ cb′ + dd′   ca′′ + dc′′ cb′′ + dd′′ 
       
 a b   a′ b′   a b   a′′ b′′ 

=   · 
 
 + 
 
 · 
 


 c d   c′ d′   c d   c′′ d′′ 
A outra lei distributiva (A7) é mostrada de forma análoga.

 
• M2×2 (R), +, · é um anel não comutativo, pois por exemplo

           
 1 1   0 0   1 1   0 0   1 1   0 0 
           
  ·   =   , mas   ·   =   .
           
0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1

 
   1 0 
 
• M2×2 (R), +, · é um anel com unidade  , pois
 0 1 
           
 a b   1 0   1 0   a b   a b   a b 
  ·   =   ·   =  
 , para todo



 ∈ M2×2 (R).
        
 c d   0 1   0 1   c d   c d  
c d


 
• M2×2 (R), +, · não é um domínio de integridade pois possui divisores de zero, por exemplo
         
 2 2   1 −1   0 0   1 −1   2 2 
         
  ·   =   =   ·  
         
2 2 −1 1 0 0 −1 1 2 2 
 
 2 2 
 
logo   é um divisor de zero.
 2 2 

 
   2 2 

• M2×2 (R), +, · não é um corpo, pois   não possui elemento inverso multiplicativo.

 2 2
162

 
(b) Z × Z, ⊕, ⊙ :
 
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel pois

(A1):
   
(a, b) ⊕ (c, d) ⊕ (e, f ) = (a + c, b + d) ⊕ (e, f ) = (a + c) + e, (b + d) + f =
 
= a + (c + e), b + (d + f ) = (a, b) + (c + e, d + f ) =
 
= (a, b) ⊕ (c, d) ⊕ (e, f ) .

(A2):
(a, b) ⊕ (c, d) = (a + c, b + d) = (c + a, d + b) = (c, d) ⊕ (a, b).

(A3):
O elemento neutro da adição é o par (0, 0), pois (a, b) ⊕ (0, 0) = (a, b).

(A4)
O simétrico do elemento (a, b) é o par (−a, −b), pois
 
(a, b) ⊕ (−a, −b) = a + (−a), b + (−b) = (0, 0)

(A5):
   
(a, b) ⊙ (c, d) ⊙ (e, f ) = (a ·c, b ·d) ⊙ (e, f ) = (a ·c) · e, (b ·d) · f =
 
= a · (c ·e), b · (d ·f ) = (a, b) ⊙ (c · e, d·f ) =
 
= (a, b) ⊙ (c, d) ⊙ (e, f ) .

(A6):
   
(a, b) ⊙ (c, d) ⊕ (e, f ) = (a, b) ⊙ (c + e, d + f ) = a ·(c + e), b ·(d + f ) =
 
= a · c + a ·e, b · d + b ·f = (a · c, b · d) ⊕ (a · e, b·f ) =
   
= (a, b) ⊙ (c, d) ⊕ (a, b) ⊙ (e, f ) .

A outra lei distributiva é mostrada de forma análoga.

 
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel comutativo, pois
(a, b) ⊙ (c, d) = (a ·c, b ·d) = (c ·a, d ·b) = (c, d) ⊙ (a, b) para todo (a, b), (c, d) ∈ Z × Z.

 
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um anel com unidade (1, 1), pois
(a, b) ⊙ (1, 1) = (a ·1, b ·1) = (a, b) para todo (a, b), (c, d) ∈ Z × Z.
163

 
• Z × Z, ⊕, ⊙ é um domínio de integridade, pois não possui divisores de zero. De fato,
(a, b) ⊙ (c, d) = (0, 0) ⇔ (a, b) = (0, 0) ou (c, d) = (0, 0).

 
• Z × Z, ⊕, ⊙ não é um corpo, pois (2, 2) não possui um inverso multiplicativo.

 
(c) P(X), △, ∩ :

 
• P(X), △, ∩ é um anel pois

(A2):
A△B = (A ∪ B) − (A ∩ B) = (B ∪ A) − (B ∩ A) = B△A
pois ∩ e ∪ são operações comutativos.

(A1):
Para provar a lei da associatividade, vamos usar os seguintes fatos:

– Se A, B são conjuntos e X o conjunto universo. Então A − B = A ∩ B.

– Leis de Morgan: (A ∩ B) = A ∪ B e (A ∪ B) = A ∩ B

– Portanto, podemos reescrever A△B = (A ∩ B) ∪ (B ∩ A)


164

" # " #
A△(B△C) = A ∩ (B△C) ∪ (B△C) ∩ A
" !# " ! #
= A ∩ (B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ (B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # " ! !#
   
= A ∩ B ∩ C ∩ C ∩ B ∪ (B ∩ C) ∩ A ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # ! !
   
= A ∩ B ∪ C ∩ C ∪ B ∪ (B ∩ C) ∩ A ∪ (C ∩ B) ∩ A
" # ! !
   
= A ∩ B ∩ (C ∪ B) ∪ C ∩ (C ∪ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i    
= A ∩ B ∩ C) ∪(B ∩ B) ∪(C ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i    
= A ∩ B ∩ C) ∪ ∅ ∪ ∅ ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
h i    
= A ∩ B ∩ C) ∪ (C ∩ B) ∪ B ∩ C ∩ A ∪ C ∩ B ∩ A
       
= A∩B∩C ∪ A∩C∩B ∪ B∩C∩A ∪ C∩B∩A

Agora usando o fato que △ é comutativa (A1) e se trocamos conjuntos na expressão


original A△(B△C) no seguinte maneira: A ↔ C; B ↔ A; C ↔ B temos que

(A△B)△C = C△(A△B) por A1


       
= C∩A∩B ∪ C∩B∩A ∪ A∩B∩C ∪ B∩A∩C

Agora com ∩ e ∪ são comutativos temos,

       
(A△B)△C = A∩B∩C ∪ A∩C∩B ∪ B∩C∩A ∪ C∩B∩A
       
= C∩A∩B ∪ C∩B∩A ∪ A∩B∩C ∪ B∩A∩C

= C△(A△B)

(A3):
O elemento neutro da adição é o conjunto ∅, pois A△∅ = A.

(A4):
O simétrico do elemento A é o conjunto A pois A△A = ∅

(A5):
165

(A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C).

(A6):
     
A ∩ (B△C) = A ∩ (B − C) ∪ (C − B) = A ∩ (B − C) ∪ A ∩ (C − B) =
   
= (A ∩ B) − (A ∩ C) ∪ (A ∩ C) − (A ∩ B) =
= (A ∩ B)△(A ∩ C).

A outra lei distributiva é mostrada de forma análoga.

 
• P(X), △, ∩ é um anel comutativo, pois A ∩ B = B ∩ A para todo A, B ∈ P.

 
• P(X), △, ∩ é um anel com unidade X, pois A ∩ X = A.

 
• P(X), △, ∩ não é um domínio de integridade, pois possui divisores de zero. Por exemplo
A ∩ A = A ∩ A = ∅.

 
• P(X), △, ∩ não é um corpo pois, se A e B são subconjuntos de X não temos em geral que
A ∩ B = X.
 
(d) R, ⊕, ⊙ :
 
• R, ⊕, ⊙ é um anel pois

(A1)
 
a ⊕ b ⊕ c = a + b + 1 ⊕ c = (a + b + 1) + c + 1 = a + (b + c + 1) + 1 = a ⊕ (b ⊕ c).

(A2)
a ⊕ b = a + b + 1 = b + a + 1 = b ⊕ a.

(A3)
O elemento neutro da adição é (−1), pois a ⊕ (−1) = a + (−1) + 1 = a − 1 + 1 = a.

(A4)
O simétrico do elemento a é (−2 − a), pois
a ⊕ (−2 − a) = a + (−2 − a) + 1 = a − 2 − a + 1 = −1

(A5)
166

 
a ⊙ b ⊙ c = (a + b + a · b) ⊙ c = (a + b + a · b) + c − (a + b + a · b) · c =
= a + b + a · b + c + a · c + b · c + a · b · c = a + (b + c + bc) + ·(a · b + a · c + a · b · c) =
 
= a + (b + c + bc) + a · (b + c + b · c) = a ⊙ b ⊙ c .

(A6)
 
a ⊙ b ⊕ c = a ⊙ (b + c + 1) = a + (b + c + 1) + a · (b + c + 1) =
= a + b + c + 1 + a · b + a · c + a = (a + b + a · b) + (a + c + a · c) + 1 =
= (a ⊙ b) + (a ⊙ c) + 1 = (a ⊙ b) ⊕ (a ⊙ c).

A outra lei distributiva é mostrada de forma análoga.

 
• R, ⊕, ⊙ é um anel comutativo pois a⊙b = a+b+a·b = b+a+b·a = b⊙a para todo a, b ∈ R.

 
• R, ⊕, ⊙ é um anel com unidade −1, pois a ⊙ −1 = a − 1 + 1 = a para todo a ∈ R.

 
• R, ⊕, ⊙ é domínio de integridade pois não possui divisores de zero. De fato se a ⊙ b =
−1 ⇔ a = −1 ou b = −1.

  −a
• R, ⊕, ⊙ é um corpo, pois cada elemento a , (−1), possui inverso multiplicativo b = .
1+a
 √ 
(e) Z[ −2], +, ·

 √ 
• Z[ −2], +, · é um anel pois

(A1)
 √ √  √ √ √
(a + b −2) + (c + d −2) + (e + f −2) = (a + c) + (b + d) −2 + (e + f −2) =
√ √ √
= (a + c + e) + (b + d + f ) −2 = (a + b −2) + (c + e) + (d + f ) −2 =
√  √ √ 
= (a + b −2) + (c + d −2) + (e + f −2) .

(A2)
√ √ √ √
(a + b −2) + (c + d −2) = (a + c) + (b + d) −2 = (c + a) + (d + b) −2 =
√ √
= (c + d −2) + (a + b −2)

(A3)

O elemento neutro da adição é (0 + 0 −2), pois
√ √ √
(a + b −2) + (0 + 0 −2) = a + b −2.
167

(A4)
√ √
O simétrico do elemento (a + b −2) é (−a − b −2), pois
√ √ √ √
(a + b −2) + (−a − b −2) = (a − a) + (b − b) −2 = 0 + 0 −2.
(A5)
 √ √  √  √  √
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)= (ac − 2bd) + (ad + bc) −2 · (e + f −2) =
   √
= e(ac − 2bd) − 2 f (ad + bc) + f (ac − 2bd) + e(ad + bc) −2 =
   √
= eac − 2ebd − 2 f ad − 2 f bc + f ac − 2 f bd + ead + ebc −2.
Por outro lado,
√  √ √  √  √ 
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2) = (a + b −2) · (ce − 2 f d) + (c f + de) −2 =
   √
= a(ce − 2 f d) − 2b(c f + de) + a(c f + de) + b(ce − 2 f d) −2 =
   √
= ace − 2a f d − 2bc f − 2bde + ac f + ade + bce − 2b f d −2.
Portanto
 √ √  √ √  √ √ 
(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)=(a + b −2) · (c + d −2) · (e + f −2)
(A6)
√  √ √  √  √ 
(a + b −2) · (c + d −2) + (e + f −2) = (a + b −2) · (c + e) + (d + f ) −2 =
   √
= a(c + e) − 2b(d + f ) + a(d + f ) + b(c + e) −2 =
   √
= ac + ae − 2bd − 2b f + ad + a f + bc + be −2.
Por outro lado,
√ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) + (a + b 2) · (e + f −2) =
 √   √ 
= (ac − 2bd) + (ad + bc) −2 + (ae − 2b f ) + (a f + be) −2 =
   √
= (ac − 2bd) + (ae − 2b f ) + (ad + bc) + (a f + be) −2 =
   √
= ac − 2bd + ae − 2b f + ad + bc + a f + be −2.
Portanto
√  √ √  √ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) +(e + f −2)=(a + b −2) · (c + d −2) + (a + b 2) · (e + f −2)

A outra lei distributiva é mostrada de forma análoga.

 √ 
• Z[ −2], +, · é um anel comutativo pois
√ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) = (ac − 2bd) + (ad + bc) −2
Por outro lado,
√ √ √
(c + d −2) · (a + b −2) = (ca − 2db) + (cb + da) −2.
168

Portanto
√ √ √ √
(a + b −2) · (c + d −2) = (c + d −2) · (a + b −2)

 √  √
• Z[ −2], +, · um anel com unidade (1 + 0 −2), pois
√ √ √
(a + b −2) · (1 + 0 −2) = a + b −2.

 √ 
• Z[ −2], +, · é um domínio de integridade pois não possui divisores de zero. De fato
√ √ √ √ √ √ √
(a+b −2)·(c+d −2) = 0+0 −2 ⇔ (a+b −2) = 0+0 −2 ou (c+d −2) = 0+0 −2.

 √  √ √
• Z[ −2], +, · não é um corpo. De fato se (c + d −2) é o inverso de (a + b −2) então
a −b
c= 2 2
<Z e d= 2 < Z.
a + 2b a + 2b2
Exercício 2.1.2. Seja (A, +, ·) um anel comutativo com identidade. Prove que:

(a) Se u ∈ A é unidade (invertível) então u não é divisor de zero.

(b) O produto de um divisor de zero por qualquer elemento de A é nulo ou é um divisor de


zero.

(c) Se o produto de dois elementos de A é um divisor de zero então algum dos fatores o é.

(d) A soma de dois divisores de zero pode não ser um divisor de zero.

Solução.

(a) Se u é unidade em A, então existe t ∈ A tal que u · t = t · u = 1.


u , 0 tal que u · e
Agora suponha que u é um divisor de zero em A. Então existe e u=0
Agora 0 , e u·1=e
u=e u · (u · t) = (e
u · u) · t = 0 · t = 0
Contradição, logo u não é um divisor de zero.

a , 0 tal que a · e
(b) Seja a um divisor de zero de A. Então existe e a = 0.
Seja c = a · b, b ∈ A qualquer.

• Se b = 0 ou b = e
a, então c = 0.

• Suponha que b , 0 e b , e
a. Portanto c , 0.
Multiplicando c por e
a temos

a · (ab) = (e
a·c =e
e a · a) · b = 0 · b = 0
169

Logo c é um divisor de zero de A.

(c) Sejam a, b ∈ A tal que (a · b) é um divisor. Então existe c , 0 tal que c · (a · b) = 0.


Pela lei da associatividade, temos que



 ou (c · a) , 0 ⇒ b é divisor de zero

c · (a · b) = (c · a) · b = 0 ⇒ 


 ou (c · a) = 0 ⇒ a é divisor de zero

(d) Em Z6 = {0, 1, 2, 3, 4, 5} temos que 3 e 4 são divisores de zero. Mas 3 + 4 = 1 não é um divisor zero.

Exercício 2.1.3. Estabeleça uma relação de inclusão entre anel, corpo e domínio de integridade
e justifique.

Solução.
corpo ⊂ domínio de integridade ⊂ anel

• Seja A um corpo e considere a, b ∈ A tais que a · b = 0. Para garantir que A é um domínio de


integridade precisamos mostrar que a = 0 ou b = 0.
Se a = 0, conclui-se não há o que fazer.
Se a , 0, então a é inversível (pois A é um corpo) e, portanto

b = 1 · b = (a−1 · a) · b = a−1 · (a · b) = a−1 · 0 = 0.

Logo, A é um domínio de integridade e, assim, tem-se a primeira inclusão.

• A segunda inclusão segue diretamente da definição de domínio de integridade.

Exercício 2.1.4. Quais dos seguintes conjuntos são subanéis e/ ou ideais dos anéis indicados.
 
(a) P = {2k, k ∈ Z} em Z, +, ·
 
(b) I = {2k − 1, k ∈ Z} em Z, +, ·

(c) Z em Q
√  
(d) {a + b 2, a, b ∈ Z} em R, +, ·
  

   
  
 a b
  
 ; a, b ∈ Z
(e) 
  
 em M 2×2 (Z), +, ·
 0 0
  

170

  

   
  
 a 0
  
 ; a ∈ Z
(f) 
  
 em M 2×2 (Z), +, · ,
 0 1
  

Solução.

(a) P = {2k, k ∈ Z}

(a1) Sejam a, b ∈ P quaisquer. Ou seja, a = 2k1 e b = 2k2 , onde k1 , k2 ∈ Z. Assim

• a − b = 2k1 − 2k2 = 2(k1 − k2 ) = 2k ⇒ a − b ∈ P.

• a · b = 2k1 2k2 = 2(2k1 k2 ) = 2k ⇒ a · b ∈ P


 
Como a − b ∈ P e a · b ∈ P, temos que P é um subanel em Z, +, · .

(a2) Sejam a, b ∈ P e n ∈ Z quaisquer. Assim

• a + b = 2k1 + 2k2 = 2(k1 + k2 ) = 2k ⇒ a + b ∈ P.

• a · n = 2k1 n = 2(k1 n) = 2k ⇒ a · n ∈ P
 
Como a − b ∈ P e a · b ∈ P, temos que P é um ideal em Z, +, · .
 
(b) I = {2k − 1, k ∈ Z} em Z, +, ·
O conjunto I dos inteiros ímpares não é um subanel nem ideal de Z, pois para

a = 3 e b = 1, a − b = 2 < I.

(c) Z em Q

(c1) Sejam a, b ∈ Z quaisquer. Então a − b ∈ Z e a · b ∈ Z. Portanto Z é um subanel em Q.


1 3
(c2) Z não é ideal em Q pois a = 3 ∈ Z e b = ∈ Q, mas a · b = < Z.
2 2
√  
(d) A = {a + b 2, a, b ∈ Z} em R, +, ·
√ √
(d1) Sejam x, y ∈ A quaisquer. Ou seja, x = a1 +b1 2 e y = a2 +b2 2, onde a1 , a2 , b1 , b2 ∈ Z.
Assim
√ √ √
• x − y = (a1 + b1 2) − (a2 + b2 2) = (a1 − a2 ) + (b1 − b2 ) 2 ⇒ x − y ∈ A
√ √ √
• x · y = (a1 + b1 2) · (a2 + b2 2) = (a1 a2 + 2b1 b2 ) + (a1 b2 + b1 a2 ) 2 ⇒ x · y ∈ A

Como x − y ∈ A e a · b ∈ A, temos que A é um subanel em R.


√ 1 3 4√
(d2) A não é ideal em R pois a = 3 + 4 2 ∈ A e b = ∈ R, mas a · b = + 2 < A.
5 5 5
171

  

   
  
 a b
  
 ; a, b ∈ Z
(e) M = 
  
 em M 2×2 (Z), +, ·
 0 0
  

   
 a b   a b 
 1 1   2 2  . Assim
(e1) Sejam A, B ∈ M quaisquer. Ou seja, A =   e B =  
 0 0  
0 0 
     
 a b   a b   a − a b − b 
 1 1   2 2   1 2 1 2 
 ⇒ A − B ∈ M.
• A − B =   −   =  
 0 0   0 0   0 0 
     
 a b   a b   a a a b 
 1 1   2 2   1 2 1 2 
• A · B =   ·   =   ⇒ A · B ∈ M
 0 0   0 0   0 0 

Como A − B ∈ M e A · B ∈ M, temos que M é um subanel em M2×2 (Z).

(e2) Sejam A, B ∈ M e C ∈ M2×2 quaisquer. Assim


     
 a b   a b   a + a b + b 
 1 1   2 2   1 2 1 2 
• A + B =   +   =   ⇒ A + B ∈ M.

 0 0   0 0   0 0 
     
 a b   c c   a c + b c a c + b c 
 1 1   1 2   1 1 1 3 1 2 1 4 
• A · C =   · 
 
 = 
 
 ⇒ A · B ∈ M.

 0 0   c3 c4   0 0 

Como A − B ∈ P e A · B ∈ M, temos que M é um ideal a esquerda de M2×2 .


  

  a 0  
  

  ; a ∈ Z

(f) M1 = 
   
 em M 2×2 (Z), +, · ,
 0 1 
 

   
 a 0   a 0 
 1   2 
Sejam A, B ∈ M1 quaisquer. Ou seja, A =   e B = 
 
 . Assim
 0 1   0 1 

     
 a 0   a 0   a − a 0 
 1   2   1 2 
A − B =   − 
 
 = 
 
 ⇒ A − B < M.

 0 1   0 1   0 0 

O conjunto M1 não é um subanel nem ideal de M2×2 (Z)

Exercício 2.1.5. Sejam A um anel e I, J ideais de A. Mostre que

(a) I + J é ideal de A

(b) I ∩ J é ideal de A

(c) IJ é ideal de A contido em I ∩ J.


172

Solução.

(a) I + J = {x + y ∈ A | x ∈ I e y ∈ J} é ideal de A pois

• Sejam x, y ∈ I + J, ou seja , x = x1 + x2 e y = y1 + y2 com x1 , y1 ∈ I e x2 , y2 ∈ J. Temos que

x + y = (x1 + x2 ) + (y1 + y2 )

= (x1 + y1 ) + (x2 + y2 )

Como I e J são ideais de A, vale (x1 + y1 ) ∈ I e (x2 + y2 ) ∈ J.


Logo, x + y ∈ I + J

• Seja x ∈ I + J, ou seja x = x1 + x2 com x1 ∈ I e x2 ∈ J e seja r ∈ A. Temos que

x · r = (x1 + x2 ) · r

= x1 · r + x2 · r

Como I e J são ideais de A, vale que x1 · r ∈ I e x2 · r ∈ J


Logo x · r ∈ I + J.

Concluímos, assim, que I + J é um ideal de A.

(b) I ∩ J = {x ∈ A | x ∈ I e x ∈ J} é ideal de A pois

• Sejam x, y ∈ I ∩ J, então x, y ∈ I e x, y ∈ J. Como I e J são ideais de A, vale que

x+y∈ Iex+y ∈ J

Logo x + y ∈ I ∩ J.

• Seja x ∈ I ∩ J e r ∈ A. Assim x ∈ I e x ∈ J. Como I e J são ideais de A, vale que

x·r∈ Iex·r ∈ J

Logo x · r ∈ I ∩ J.

Concluímos, assim, que I ∩ J é um ideal de A.


 n 
 
X
 

(c) IJ = 
 ai bi ; ai ∈ I, bi ∈ J, n ∈ N 
 é ideal de A pois
 
i=1
173

n
X m
X
• Sejam x, y ∈ IJ, então x = ai bi e y = c j d j com ai , c j ∈ I e bi , d j ∈ J.
i=1 j=1
n
X m
X
Portanto x + y = ai bi + c j d j ∈ IJ
i=1 j=1
pois ela é uma soma finita (n + m termos) com os termos obtidos de produtos de elementos de
I com elementos de J.
n
X n
X
• Seja x ∈ IJ e r ∈ A. Assim x = ai bi e temos que x · r = (rai )bi ∈ IJ pois rai ∈ I. Logo
i=1 i=1
x · r ∈ I ∩ J.
n
X
• Além disto, observe que x = ai bi ∈ I pois ai ∈ I, bi ∈ A e I é ideal de A.
i=1
Da mesma forma, x ∈ J pois ai ∈ A, bi ∈ J e J é ideal de A.
Portanto, temos que IJ ⊆ I ∩ J.

Concluímos, assim, que IJ é um ideal de A contido em I ∩ J.

Exercício 2.1.6. Em cada um dos casos abaixo diga se o elemento r é uma unidade no anel R.
Justifique suas respostas.
(a) R = Z11 , r = 5, (b) R = Z12 , r = 4 (c) R = Z[i], r = 2 + i

Solução.

(a) r = 5 é uma unidade em Z11 pois Z11 é um corpo. De fato, 5 · 9 = 45 ≡ 1 em Z11

(b) r = 4 não é uma unidade pois r = 4 é um divisor de zero, isto é 3 · 4 ≡ 0 em Z12 .

(c) 2 + i não é uma unidade de Z[i] pois as únicas unidades de Z[i] são {1, −1, i, −i}.
De fato se existe a + ib ∈ Z[i] tal que

(2 − i)(a + ib) = 1

então teremos os sistema 




 2a + b = 1
 2 1

 ⇒a= , b= .

 −a + 2b = 0 5 5

2 1
Mas + i < Z[i].
5 5
174

Exercício 2.1.7. Seja R um anel comutativo com característica p, número primo.

(a) Mostre que (x + y)p = xp + yp

n n n
(b) Mostre que, para todo n inteiro positivo, (x + y)p = xp + yp .

(c) Determine os elementos x, y um anel comutativo de caraterística 4 tal que (x + y)4 , x4 + y4 .

Solução.

(a) Usando a expansão binômio e o fato que R é comutativo, temos que

p(p − 1) p−2 2 p(p − 1)(p − 2) p−3 3


(x + y)p = xp + pxp−1 y + x y + x y + · · · + pxyp−1 + yp
2 3!
✟✟✯ 0 (p − 1)  p−2 ✘2✘
 0 (p − 1)(p − 2) 
✿  0

✘ ✯0 p
✟✟
= xp + ✟
px✟p−1
y+ px
✘✘ y + ✘p−3
px ✘✘ y3 + · · · + ✟ ✟p−1
pxy +y
2 ✘ 3! ✘

= xp + yp

sendo que na segunda igualdade, usamos o fato que se R é uma anel comutativo com característica
p, temos do Lema 2.1.17 que px = 0 para todo x ∈ R.

(b) Provamos por indução:


Consideremos a condição

n n n
P(n) : (x + y)p = xp + yp . (∗)

Pretendemos mostrar que P(n) é válida para todo o número natural n.

• Para n = 1 a condição reduz-se a

(x + y)p = xp + yp ,

logo P(1) é verdadeira pelo parte (a).

• Suponha que, para algum n ∈ N, se tenha que P(n) é verdadeira, isto é, (∗) é válida.
Pretendemos provar que P(n + 1) também é verdadeira, ou seja

n+1 n+1 n+1


(x + y)p = xp + yp
175

Para isto, note que

n+1 n
(x + y)p = (x + y)p ·p
 
n p
= (x + y)p
 n 
n p
= xp + yp usando (∗)
n+1 n+1 −1 p(p − 1) pn+1 −2 2 n+1 n+1
= xp + pxp y+ x y + · · · + pxyp −1 + yp
2
0 (p − 1)  pn+1✘  0 ✿ 0 pn+1
n+1 n+1 ✿
✘ −2✘2✘
✿ ✘
n+1 −1
= xp p ✘−1 ✘p✘✘

+✘px✘ y+ px
✘ ✘ y pxy
+ · · · +✘ +y
2 ✘
n+1 n+1
= xp + yp

Isso mostra que P(n + 1) é verdadeira, toda vez que P(n) é verdadeira. Portanto, pelo princípio
de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.

(c) Considere Z4 = {0, 1, 2, 3}. Temos que a característica de Z4 é 4. Tomamos x = y = 1 temos que

(x + y)4 = (1 + 1)4 = 24 = 16 = 0 mas x4 + y4 = 14 + 14 = 2

Logo (x + y)4 , x4 + y4 .

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